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AS PRIMEIRAS LETRAS EM SERGIPE E OS INDÍCIOS DA PROFISSÃO


DOCENTE NO SÉCULO XVIII E XIX

Vera Maria dos Santos1


Universidade Federal de Sergipe - NPGED
Simone Silveira Amorim2
Universidade Federal de Sergipe - NPGED

1 Introdução

A ideia de fazer um texto em parceria materializa a discussão que estamos


desenvolvendo no Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Uma das
pesquisas tem como tema a mulher e a instrução dos órfãos menores da elite setecentista
sergipana e a outra a configuração do trabalho docente em Sergipe no século XIX.
Percebendo a afinidade entre os dois objetos decidimos, neste texto especificamente,
ampliar a discussão sobre o ensino de primeiras, analisando primeiramente, o seu
surgimento, a partir de uma releitura da historiografia sergipana sobre o período colonial e
num segundo momento, perscrutar o estabelecimento dessa modalidade de ensino no século
XIX.
Considera-se que o termo Primeiras Letras no XVIII 3 teve uma abrangência e
um significado diferente do século XIX, sendo a análise aqui proposta embasada nessa
distinção. O corpo documental que deu suporte para a elaboração dessa reflexão é
constituído por uma vasta bibliografia sobre o período e ainda as legislações de ensino,
ofícios, correspondências de professores e anúncios de jornais.
Vale frisar que tal análise inicial não pode ser desvinculada da realidade do
Iluminismo Português, implementado pela Reforma Pombalina do ensino, que se
concretizou a partir da expulsão dos jesuítas e da substituição da sua ação educativa por
uma nova dinâmica racionalista. Ressalta-se que essa nova dinâmica racionalista respeitava
a hierarquia eclesial, e ainda subordinava-se ao Estado.
Para atender a esse intento foi utilizada a discussão de Locke por ser um dos
filósofos que influenciou sobremaneira, o Iluminismo Português e discutiu amplamente o
significado de educação e instrução no período. Sobre o ensino de primeiras letras, autores
como Adão (1997), Fernandes (1994) e Andrade (1982) são utilizados para embasar a
discussão. Quanto ao século XIX, os autores que referenciam a citada reflexão são Roger
Chartier (1990), Norbert Elias (2001), Pierre Bourdieu (1996), Gondra e Schueler (2008),
Vicentini e Lugli (2009). Estes respaldam a discussão em torno de que havia uma constante
discussão a respeito da necessidade de haver uma normatização do magistério, de criação
de cadeiras públicas para o ensino primário e um investimento na formação de professores
em novos métodos.
O Estado procurava interferir nas tentativas de delimitação do espaço de
atuação dos professores a fim de estabelecer valores e práticas que deveriam permear a
atuação deles. No entanto, através da análise das fontes, percebeu-se que havia uma
convivência de práticas e que houve um processo de profissionalização do magistério.
Assim essa discussão se alicerça e nos possibilita a compreender as “vozes”
correspondentes aos diferenciados sujeitos sociais que vivenciaram a instrução no século
XVIII e XIX.
2

2 As primeiras letras ou instrução elementar no século XVIII em Sergipe Del Rey

As leituras realizadas a partir da historiografia educacional sergipana,


resultaram no quadro a seguir, o qual sistematiza os dados a cerca da instrução elementar na
Capitania de Sergipe Del Rey, contextualizados em quatro momentos importantes da nossa
História: o domínio dos jesuítas, expulsão dos jesuítas e ascensão de Pombal e o reinado de
D. Maria I.

No Ano Tipo de indícios Mestre Ensinamento Local


1 1575 Escola de São João Salônio _ Itaporanga DOMÍNIO
Sebastião DOS
2 1575 Aldeia ou _ Doutrina Cristã Distante seis JESUÍTAS
Missão de São léguas do rio ATÉ 1759 E
Tomé Real DE
3 1575 Aldeia ou _ Doutrina Cristã Itaporanga OUTRAS
Missão de Santo ORDENS
Inácio
4 1679 Matriz de N. S. Pároco Moral do N. S. da
da Piedade Evangelho com a Piedade do
palavra e o Lagarto
exemplo pelas
máximas Santas
do Cristianismo.

5 1679 Missão de N. Um Carmelita Doutrina Cristã N. Senhora


Senhora do do Carmo da
Carmo da Japaratuba
Japaratuba
6 1698 Missão do Geru Jesuíta – Luiz Doutrina Cristã Geru
Vicêncio
Mamiani.
7 1719 Aula de Pregador Frei Gramática Latina Cidade de
Gramática Antonio de Sergipe Del
Latina Nazareth Rey
(Franciscano)
8 1759 Aula de Franciscanos Gramática Latina Cidade de EXPULSÃO
Gramática e Ler e Escrever Sergipe Del DOS
Latina e de Ler e Rey JESUÍTAS
Escrever EM 1759 E
9 1760 Colégios de São _ _ _ ASCENSÃO
Gonçalo e DE
Jaboatão POMBAL
10 Depois _ Um mestre de Ler e Escrever _ ATÉ 1777
de 1772 Ler e Escrever,
José de Sousa
3

11 Por Uma aula de _ _ Villa de DOMÍNIO


volta de Primeiras Letras Santo- DE D.
1778 e outra de Antonio – de MARIA I
Latim. – Villanova–
do–Rio – de
–São –
Francisco
12 1780 Foram Mestres de Gramática Latina Capital de
nomeados os Gramática e Ler e Escrever Sergipe e na
primeiros Latina e de vila de S.
professores para Primeiras Letras, Luzia
a cidade de São pagos pelo
Cristóvão e para Erário da Bahia.
as vilas de Santa
Luzia e Nova
Real do Rio São
Francisco.
13 1798 Representação Padre Felix Primeiras Letras Villa de
enviada pelos Pacheco Álvares e Gramática Santo Amaro
oficiais da da Silva e João das Brotas
Câmara da, uma Góis de Melo.
solicitando a
criação de uma
cadeira de
ensino de
Latina.

14 1799 Mestre de Ler e Ler e Escrever Cidade de


Escrever, Sergipe Del
Joaquim José Rey
Moreira
Indícios de um modelo de instrução elementar em Sergipe Del Rey
Fonte: Quadro elaborado a partir dos seguintes autores: Serafim Leite (1938), Souza (2005),
Bezerra (1952), Férrer (1997), Nunes (1986; 1996; 2006), Alves e Freitas (2001).

De acordo com os dados deste quadro, percebe-se a existência de dois modelos


de instrução elementar, para os meninos: a doutrinação e o ensino das primeiras letras.
Quanto à Gramática Latina, que também consta deste quadro, não será abordada, pois
constitui outro campo de estudo.
O primeiro modelo de instrução elementar, ou seja, a doutrinação, refere-se a
um conjunto de ensinamentos oferecidos pelas missões jesuíticas, ou por outras ordens
religiosas, que tinham o intuito de catequizar os povos. Catequizar, por sua vez, é “[...]
ensinar aos meninos e ou aos ignorantes o Catecismo” (BLUTEAU, 1712-1728, Disponível
em: <http://www.brasiliana. usp.br/dicionario/1/catequizar.>. Acesso em: 10 mar. 2010).
Ainda de acordo com esse mesmo dicionário, catequese pode ser definida como:

[...] palavra grega que significa instrução de viva voz. Na igreja primitiva
se chamava assim, aquela breve e metódica instrução dos Mistérios da Fé,
porque se fazia vocalmente, e não por escritos e nem em livros como
agora, de medo que os Sagrados Mistérios da Lei Evangélica caíssem nas
mãos dos gentios que por não entendê-las faziam zombaria das Escrituras
4

(BLUTEAU, 1712-1728, Disponível em: <http://www.brasiliana.


usp.br/dicionario/1/instruçam.>. Acesso em: 10 mar. 2010).

Note-se que o autor tratou a instrução como sinônimo de catequese. Portanto,


considero a doutrinação um tipo de instrução elementar própria das missões, colégios e (ou)
igrejas. Geralmente quem ministrava essas aulas era um pároco, que ensinava a Doutrina
Cristã ou Moral dos Evangelhos com a palavra e o exemplo, como foi citado o caso da vila
N. S. da Piedade do Lagarto e da Missão de N. Senhora do Carmo da Japaratuba, com os
seus trezentos índios doutrinados por um religioso Carmelita. Essas aulas aconteciam
geralmente na paróquia ou igreja, como sugere o quadro.
Em Sergipe Del Rey, temos conhecimento que os ensinamentos da Catequese
estiveram grafados no Catecismo da Doutrina Christã, produzido na Língua dos índios
Kiriris pelo padre jesuíta Luiz Vicêncio Mamiani 4, em 1698, na missão5 do Geru para
cristianizar os índios. Impressos dessa natureza subsidiaram o trabalho de padres na tarefa
de doutrinação, ou seja, de iniciação dos alunos nos princípios da fé católica.
Portanto, o predomínio da doutrinação como modelo de instrução elementar,
conforme a bibliografia analisada ocorreu aproximadamente até 1698, sendo lecionada por
padres de diversas ordens religiosas. Mas o ensino da Doutrina continuou marcando
presença no século XVIII com outra roupagem, a do Iluminismo português, que respaldou
o ensino com base nas ciências experimentais conciliadas à fé.
O segundo modelo constatado refere-se ao ensino de primeiras letras. É um tipo
de instrução elementar oferecida nas escolas, ou em casas mantidas pelo Estado ou na
própria casa dos alunos, quando a mãe sabia ler ou quando contratava um professor.
Observem que, conforme o quadro, essa modalidade só apareceu em Sergipe nos anos
setecentos, mais especificamente em 1759, quando foram expulsos os jesuítas.
Em 1772, ano em que houve uma ampla reforma 6 dos Estudos Menores,
implementada por Pombal, quando criou as escolas 7 de Ler e Escrever e contar, que
apareceu na historiografia consultada a expressão “mestre de Primeiras Letras” sendo este,
de nome José de Sousa, proveniente de Portugal.
Nessa discussão sublinho que a instrução elementar, desde a época mais remota,
inseria-se na educação religiosa em parceria com o ensino do catecismo. De acordo com
Férrer (1997), o Brasil, na condição de colônia de Portugal, herdou toda a cultura religiosa
daquele país, sendo a prática da virtude cristã e a salvação da alma o objeto de estudo de
qualquer das suas escolas, onde se ensinavam as letras para permitir principalmente a
leitura do catecismo.
Esse viés religioso que enfatiza a prática da virtude cristã e a salvação da alma
remonta à proposta de educação de Comênius. Tal proposta é pautada nas Sagradas
Escrituras e está encaixada no projeto de escolarização moderna, que estabeleceu novos
costumes e padrões de comportamento para a sociedade europeia. Em seu projeto de
educação, Comênius afirma que “[...] quanto maior for nosso empenho, nesta vida, para
alcançar a Erudição, a Virtude e a Piedade, mais nos aproximaremos de Deus. Aqueles
princípios [...] hão de ser os três objetivos de nossa vida; tudo o mais é pompa vã, carga
inútil, torpe engano” (ABU-MERHY, 1953, p. 16). Pois, para Comênius, educar é:

[...] procurar que sua alma se preserve da corrupção do mundo. É


favorecer, com bons e contínuos conselhos e exemplos, a germinação das
sementes e da honestidade, que já estão plantadas. É, finalmente, dar, à
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sua inteligência o verdadeiro conhecimento de Deus, de si próprio, das


coisas: com o que se habituará a ver a claridade na luz de Deus, a amar e a
venerar, sobre todas as coisas, o Pai de todas as Luzes.
E ainda: Educar retamente a juventude não é enchê-la de palavras, frases,
sentenças e opiniões tomadas dos autores, mas abrir sua inteligência às
coisas para que dela brotem rios como de uma fonte viva, flores e frutos; e
cada ano que passa tornem a germinar (COMÊNIUS, 1978, p. 15-16).

Para esse autor, a Erudição, a Virtude e a Piedade são os princípios do seu


modelo de educação. E dentro desse modelo os “bons costumes” e a “Piedade” integravam
um conjunto de saberes que possibilitavam ao homem saber, para agir bem, agir bem, para
ser digno de Deus e participar de seu reino ou da vida eterna. Esses princípios representam
o meio para se chegar à vida eterna.
O primeiro princípio, a erudição ou sabedoria é a aptidão ou a tendência que o
homem tem para adquirir o conhecimento das coisas, das artes e das línguas. É uma
tendência que está incorporada ao ser humano, pois ele já nasce com ela, “[...] o homem
encerra em si tudo o que há no mundo: microcosmo; o homem é dotado de sentidos e de
inteligência; é imanente ao homem o desejo de saber” (COMÊNIUS, 1978, p.17). É através
da Erudição que o homem atinge o patamar da sabedoria e se tornará sublime, forte e
magnânimo.
O segundo princípio, a Virtude ou Prudência e (ou) Bons costumes, significa
não somente a aparência externa, mas também a disposição ordenada, interna e
externamente, de nossas paixões. Conforme o autor, o homem já nasce com essa tendência
natural ou aptidão para aprender os “bons costumes”.
O terceiro princípio é a Piedade, por meio da qual o homem pode modelar-se à
imagem e semelhança de Deus através da religião ou da piedade. Significa a “veneração
íntima pela qual a alma do homem se une e se entrelaça com o ser supremo” (COMÊNIUS,
1978, p. 59). Para este autor, o homem tem uma tendência, que é inata, para reverenciar a
divindade; o homem deseja o Sumo Bem. É a partir dos Costumes e da Piedade que nos
elevamos sobre as criaturas e nos aproximamos de Deus. O homem que obtém a erudição
ou sabedoria, virtude ou prudência e a religião ou piedade representa o protótipo da
perfeição divina.

3 As primeiras letras no século XIX

A discussão sobre educação e instrução permeou todo o século XIX. Quanto a


esta, ligava-se mais nitidamente às habilidades intelectuais tais como ler, escrever, calcular,
identificar acidentes naturais ou conhecer aspectos relacionados com a História, por
exemplo. “Traduzia-se, portanto, nos conteúdos selecionados, nos métodos adotados, na
organização do espaço das escolas, na atuação dos professores.” (ALVES, 2002, p. 202).
No entanto, “[...] a educação era entendida, sobretudo, como um processo mais profundo,
de transformação dos indivíduos, visando trazê-los sobretudo para os valores fundamentais
da nacionalidade.” (ALVES, 2002, p. 202).
É nesse debate que se baseia os estudos de Vasconcelos (2003) a respeito do
Governo da Casa e do Estado, ou seja, a partir do momento em que este inicia o processo
de tomada de responsabilidade tanto da instrução quanto da educação. O fato é que aquela
não pretendia abrir mão do seu papel, baseado na convenção social existente, pois que é
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possível inferir que ela , até então, encampava ambas, não intencionando permitir que essa
função fosse totalmente transferida para a escola emergente.
Esse debate fez com que a oposição entre instrução e educação ficasse acirrada,
sendo este um assunto extremamente controverso. No entanto, é preciso ter em mente que o
modelo de escola utilizado pelo governo brasileiro era francês e inspirado em Condorcet.
Ele defendia a instrução como sendo um conjunto de conhecimentos certos e que tinha
como despenseiro natural o Estado, enquanto que a educação abrangia sentimentos em
assunto religioso e político, área reservada onde o Estado deveria se manter distante.
(CONDORCET, 2008). Apesar do que acreditava o autor mencionado, o momento de
construção e implementação do Estado Imperial soberano com o objetivo de constituir uma
nação impunha ao mesmo a incumbência de ambas.
Assim, a ideia de educação estava intrinsecamente ligada aos projetos de nação
e formação do Estado brasileiro, pois uma das funções atribuídas à educação foi a de
unificar o povo desse vasto território, sendo a escola o local eleito para tal. Nesse sentido,
muitas iniciativas foram criadas e mantidas pelo Estado, Igrejas, empresários, intelectuais,
militares, entre outros, e é por meio de uma ação articulada que as escolas públicas,
particulares, asilos, liceus vão sendo criados com o objetivo de educar e disciplinar a
população, incluindo-se crianças pobres, imigrantes, mulheres, negros e índios, além dos
filhos da elite (GONDRA e SCHUELER, 2009).
Assim, a proposta de estudo deste trabalho respalda-se em elementos históricos
que têm como foco as mudanças ocorridas no cenário educacional sergipano quando das
perspectivas de alterações nas relações que se estabeleceriam nesse campo a partir da
crescente hegemonia da escola. Esse fato provocou a delimitação no campo de atuação das
Casas8 e do Estado, sendo que a “[...] a educação na Casa pode ser caracterizada como
prática largamente aceita e utilizada no período estudado. Ela se realizava de diferentes
maneiras, conforme as circunstâncias contextuais de posses, conveniências e oportunidades
existentes de seus usuários e agentes.” (VASCONCELOS, 2003, p. 11).
Ressalta-se que durante todo o século XIX havia uma constante discussão a
respeito da necessidade de haver uma normatização do magistério, de criação de cadeiras
públicas para o ensino primário e um investimento na formação de professores em novos
métodos. Assim sendo, ao longo da segunda metade do século XIX, foi exigida e oferecida
aos professores uma formação para que eles exercessem suas cadeiras e esta foi colocada
como condição essencial para o ingresso no magistério primário a fim de que houvesse uma
unificação dos conhecimentos adquiridos por eles, ampliando assim as habilidades que
deveriam possuir.
A partir dessas questões é possível observar nos discursos a necessidade de
reformas em uma demonstração clara de uma história repleta de esforços, progressivamente
mais sistemáticos, para dar ao sistema escolar uma lógica burocrática.
Nesse processo, diversos agentes, especialmente o Estado, procuravam
interferir nas tentativas de delimitação do espaço de atuação os professores a fim de
estabelecer valores e práticas que deveriam permear a atuação deles. Os relatos do poder
público revelam impasses, conflitos e embates políticos em torno das representações
culturais sobre a escola primária. Esses fatos corroboraram para que os professores
encontrassem as condições para a profissionalização da categoria.
Esse processo de profissionalização do magistério pode ser exemplificado
através da correspondência enviada pela professora primária Maria Clemência da
Conceição Leal ao Presidente da Província Zacarias de Góes Vasconcellos. Ela registrou
7

sua posse ano dia 24 de dezembro de 1846 na Câmara Municipal de Villa Nova, através de
juramento conforme estatuto em vigor, para reger vitaliciamente a cadeira para meninas.
Observa-se a intencionalidade da professora em registrar o procedimento pelo
qual passou para exercer sua função ao mesmo tempo em que demonstrava estar ciente de
suas atribuições quando afirmou que se empenharia para desempenhar sua função de
melhorar a instrução da qual foi encarregada (Correspondência enviada ao Presidente da
Província Zacarias de Góes e Vasconcellos por Maria Clemência da Conceição Leal. Villa
Nova, 7 de janeiro de 1842. APES G1, 960)
A partir de tal situação é possível pensar a história da profissionalização
docente como estando relacionada tanto à instituição de mecanismos internos e de uma
materialidade própria, quanto à produção da noção de educabilidade da infância e, ainda, ao
deslocamento que se operou nas maneiras anteriores de educar e instruir as novas gerações.
(INÁCIO, 2006, p. 89).
É preciso lembrar que, a partir do momento em que a responsabilidade pelo
ensino foi assumida pelo Estado (Reforma Pombalina em Portugal e colônias), instituiu-se
o concurso para a seleção dos professores. Assim, ninguém podia ministrar aulas sem a
obtenção de licença através de concurso, não importando se o objetivo do candidato era o
ensino particular ou público, sendo esta uma ação significativa quanto ao processo de
institucionalização da profissionalização docente.
As discussões em torno da formação dos professores contribuíram para a
construção de uma espécie de um discurso basilar a respeito da instrução e da configuração
da profissão docente9, pois elas fomentaram diversas ações do Estado. Nesse sentido, a
escola aparece como local de transmissão de um saber pedagógico, fruto da construção de
diversos discursos à época, constituindo-se também como local de circulação desse saber e
de grande importância para a instrução elementar no século XIX.
No que diz respeito à formação e desenvolvimento das nações, pode-se afirmar
que o papel da escola primária foi de suma importância especialmente no que diz respeito à
socialização e produção da infância em conformidade com o projeto político da sociedade
que se pretendia formar. Nesse processo, houve lutas e resistências, obstáculos que
impuseram limites às ações pensadas para alcançar esse objetivo e que, em determinadas
circunstâncias, sofreram reapropriações, mutações ou simplesmente aconteceram
posteriormente num processo mais lento de aceitação, configurando-se em relações de
forças10.
Diversos mecanismos, articulados entre si, podem ser observados quanto ao
processo de escolarização no XIX como a legislação escolar e a política educacional, a
inspeção e controle dos serviços escolares inclusive para recrutamento, além da ferramenta
Estatística com o objetivo de produzir dados e representações sobre o Estado e a população
através do conhecimento. Assim, a partir da década de 1830, surgiram diversas discussões
sobre a implantação da escola pública elementar e da escolarização de crianças, negros,
índios e mulheres. O fato é que

o século XIX pode ser caracterizado como o tempo de invenção e


legitimação da forma escolar moderna no Brasil, ainda que iniciativas
nesta direção possam ser evidenciadas desde o período colonial, seja por
meio das iniciativas católicas, seja por intermédio das aulas régias
(GONDRA e SHUELER, 2008, p. 82).
8

No que diz respeito às escolas de Primeiras Letras, a primeira lei no século XIX
sobre esse assunto foi promulgada por D. Pedro I em 15 de outubro de 1827, como foi
afirmado anteriormente. Através dessa lei o imperador autorizou a criação desse tipo de
escola em todas as vilas, cidades e lugares mais populosos onde elas fossem necessárias.
A referida lei ainda estipulou os ordenados dos professores que seriam entre
200$000 (duzentos mil réis) e 500$000 (quinhentos mil réis) anuais 11; o método a ser
utilizado, o mútuo; e que a Fazenda Pública assumiria os custos relacionados aos utensílios
necessários às aulas e que o professor que não conhecesse esse método deveria instruir-se
nas escolas das capitais à sua própria custa.
Nas escolas de Primeiras Letras os professores ensinariam além de ler e
escrever, as quatro operações de Aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções,
noções mais gerais de Geometria Prática, Gramática da Língua Nacional, princípios de
moral cristã e da doutrina da religião católica apostólica romana, proporcionados à
compreensão dos meninos. Para as leituras seriam utilizadas a Constituição do Império e a
História do Brasil.
Também foi permitida a criação de escolas femininas nas cidades e vilas mais
populosas, desde que os Presidentes dos Conselhos julgassem-nas necessárias. Para as
meninas o currículo seria diferenciado, pois não seriam ensinadas noções de Geometria,
mas somente seriam instruídas em Aritmética no que diz respeito às quatro operações e
aprenderiam as prendas que servem à economia doméstica, além das disciplinas acima
mencionadas.
Para essas aulas seriam nomeadas mestras que, sendo brasileiras e de
reconhecida honestidade, mostrassem ter maior conhecimento quando dos exames feitos
publicamente perante o Presidente da Província, em Conselho. Após serem nomeadas, elas
receberiam os mesmos ordenados e gratificações concedidas aos mestres.
Essa Lei demonstrou a preocupação que as autoridades brasileiras tinham
quanto à remodelação do modelo educacional que vigorava até então, tendo como meta
incutir novos padrões ideológicos e culturais que dessem ao povo brasileiro uma nova
identidade. Assim, era preciso educar e instruir essa jovem nação e a Lei de Instrução de 15
de outubro de 1827 foi um dos instrumentos utilizados para alcançar tal objetivo.
No que dia respeito à diversificação do trabalho docente, é possível observar
que desde o início da segunda metade do século XIX os professores e professoras de
primeiras letras já divulgavam seus serviços através dos jornais, evidenciando o fato de que
havia o fomento da instrução/educação em Sergipe.
Com o objetivo de divulgar seus serviços, na edição de 18 de novembro de
1854 do jornal “Correio Sergipense”, Roza Senhorinha de Carvalho se identificou como
mulher de Fidel José de Carvalho, deu ciência aos pais de família que ela se comprometeria
a ensinar suas filhas a ler, escrever, contar, cozer, e marcar. Além disso, ela também
ensinaria a dança, mediante o pagamento mensal de 4$000 rs (quatro mil réis). Ela se
dispôs a negociar um valor menor, caso os pais fizessem a opção de não serem ensinadas
todas essas matérias, mas parte delas. A fim de conquistar a confiança dos pais a professora
se comprometia a “[...] desvelar-se pelo progresso de suas alumnas, e de tratal-as com
amisade, e brandura” (Correio Sergipense, Aracaju, n. 86, p. 4, nov. 1854).
Quanto à profissão de preceptora, pode-se verificar que ela persistia em meio à
profusão de aulas públicas e escolas particulares. Fazer público e notório o fato dos filhos
terem estudado com uma delas representava status na sociedade. Tanto que o engenheiro
Pedro Pereira de Andrada e o juiz de direito Luiz Barbosa Accciole de Brito resolveram
9

publicar e um jornal Oficial, o “Jornal do Aracaju”, uma nota intitulada “Agradecimento”


reconhecendo perante indivíduos letrados da sociedade sergipana o trabalho exímio e as
qualidades pessoais da preceptora D. Julia Eugênia Barbosa de Castro como sendo “a mais
desvelada e digna preceptora da infância”.

Ella, á uma vocação decidida para o ensino, reune uma perfeita delicadeza
de trato, a arte de substituir a ferula pela constante vigília, qualidades que,
longe de produzirem o desgosto e repulsão das creanças, fazem-nas
amigas cordiaes de seus mestres, interessadas e amantes da escola e dos
livros. (Agradecimento. Jornal do Aracaju. Sergipe, n. 231, p. 3,
jan.1872).

Os pais de Julieta de Andrada e de Luiz de Britto ainda afirmaram que ela sabia
ensinar não somente as matérias constitutivas do ensino primário, como também Geografia,
História do Brasil, Francês, Música, dava aulas de piano e, para as meninas, Prendas
Domésticas.
É possível também visualizar a intencionalidades dos pais dessas crianças, um
engenheiro e o outro formado em Direito, que apresentavam à sociedade sergipana filhos e
futuros profissionais ensinados por uma preceptora com tantas qualidades e conhecimentos,
transferindo para seus filhos a representação de que eram possuidores dos conhecimentos
ministrados por D. Julia Eugênia Barbosa de Castro. De fato, eles estavam aproveitando
uma oportunidade singular de propagar para uma parcela seleta da população, os letrados,
que os jovens estavam sendo preparados para um futuro brilhante e promissor.
Sob o título “Ao collegio S. Salvador: propriedade da exm.ª snr.ª D. Julia
Eugenia Barbosa de Castro”, na sessão de “publicações a pedido”, foi escrito um anúncio
tecendo elogios à “dona e preceptora” do colégio criado por Julia, possuidora de”lhaneza e
fino trato”, e convidando os pais de família a visitar a instituição. Ela também foi
identificada como esposa de João Emygdio da Silva Castro, empregado de Fazenda. O
texto convidava pessoas de outras localidades a estudar na instituição deixando óbvia a
intenção de demarcação do campo educacional no que diz respeito à legitimação de uma
instituição particular (Ao collegio S. Salvador: propriedade da exm.ª snr.ª D. Julia Eugenia
Barbosa de Castro. Jornal do Aracaju, Sergipe, n. 239, p. 4, fev. 1872).
O campo educacional12 também era composto por professores que se tornavam
donos dos seus próprios colégios e anunciavam seus serviços em jornais. Um deles foi a
propaganda do Colégio de Nossa Senhora do Amparo, dirigido pelo padre Francisco Vieira
de Mello.O anúncio informava a data de início das aulas (15 de janeiro) e fim (30 de
novembro) das “férias pequenas da Semana Santa” (15 dias).
Também dizia que a casa do colégio era espaçosa e podia acomodar alunos
internos em quantidade e externos. A pensão era módica (280 mil réis) pagas de 4 vezes. A
primeira parcela no dia 15 de janeiro, a segunda em 1 de abril, a terceira 15 de junho e a
última em 1 de setembro. Era fornecida “roupa preparada” e as matérias ministradas eram
Latim, Francês, primeiras letras, música se os pais quisessem pagar (Collegio de Nossa S.
do Amparo na Villa de Capella sob a Direção do Padre Francisco Vieira de Mello. Jornal
do Aracaju. Sergipe, n. 222, p. 4, dez. 1871).
Através dos estudos aqui descritos, pode-se inferir que o trabalho do
pesquisador não se restringe a reportar o que as fontes “dizem”, pois narrar os fatos com
maestria e desenvoltura e tornar a informação inteligível é um exercício que demanda
10

esforço intelectual que vai além do que está posto por elas. Para exercer esse ofício com
eficácia faz-se necessário, além de tantas coisas mais, adquirir um grau de erudição que
permita uma maior compreensão do objeto de estudo.

4 Conclusão

No plano teórico do projeto iluminista a instrução se refere à aprendizagem do


conteúdo voltado para as ciências experimentais, sem o enfoque religioso. Já no plano
prático, a instrução elementar em Sergipe Del Rey é percebida a partir da análise da
bibliografia utilizada, que demonstra a existência de dois modelos: o primeiro que
denominei de doutrinação e que vigorou até 1679. Ressalto que à frente desse ensino não
havia apenas os jesuítas como mestres, mas também padres de outras ordens religiosas que
ministravam as aulas, como os Carmelitas e os Franciscanos. Esse viés religioso é também
o alicerce do segundo modelo, que denominei de instrução elementar ou ensino de
primeiras letras.
Tal modelo adentrou o século XVIII sob a atmosfera do Iluminismo português,
implementado pelas Reformas Pombalinas do ensino que se concretizaram a partir da
expulsão dos jesuítas. Essas reformas não foram de oposição à Igreja e a tudo que era
religioso. Houve, na verdade, uma adequação dos princípios religiosos à nova ordem
estabelecida.
Esse modelo de instrução elementar em Sergipe Del Rey foi ainda ensinado por
padres e por não padres que fizeram jus ao conceito de instrução grafado no dicionário
setecentista de Bluteau (1712-1728). Esses ensinamentos tinham como base os princípios
da Doutrina Cristã, que por sua vez possibilitaria ao indivíduo alcançar o conhecimento das
ciências humanas, das ciências divinas e consequentemente estar apto a viver uma vida
pautada nos princípios morais. Nos jornais e nas correspondências foi possível perceber que
essa prática se perpetuou durante o XIX.
De fato, a partir das fontes analisadas, percebe-se que havia uma convivência de
práticas e que houve um processo de profissionalização do magistério. Assim essa
discussão se alicerça e nos possibilita a compreender as “vozes” correspondentes aos
diferenciados sujeitos sociais que vivenciaram a instrução no século XVIII e XIX.
A palavra impressa indica formas de atuação políticas para diferentes
segmentos, assim, a publicação de jornais, além de apresentar as mais diversas tendências e
temas, representa uma maneira legitimada de encaminhamento de lutas políticas, de
conferir visibilidade.
É nesse sentido que se insere o alargamento e o crescente interesse de
pesquisadores pelas relações culturais e sociais vistas através dos jornais como fontes de
pesquisas, pois através dos debates neles inscritos é possível observar como eram marcadas
as posições dos professores primários oitocentistas na sociedade, através das suas
reivindicações. Elas, na verdade, representavam posições no campo que precisavam ser
marcadas no processo de busca da legitimação, demonstrando uma tomada de consciência,
apesar de sua composição heterogênea.
Diversas pesquisas realizadas recentemente têm lançado um novo olhar,
despido de rigidez e linearidade, demonstrado o período fértil que foi o Império quando
debates e uma pluralidade de iniciativas e práticas educativas se perpassavam e produziam
uma forma escolar que foi implementada ao longo do XIX. Elas têm demonstrado que os
11

agentes daquele processo promoveram uma remodelação dos espaços, tempos e saberes
educativos deixando um legado educacional que não pode ser negado.
Assim, pode-se afirmar que a representação13 que os professores buscavam
perante a sociedade sergipana relacionava-se com a imagem que eles teriam perante ela, no
sentido de uma adequação ao que era esperado deles. No entanto, também se refere a como
eles queriam ser vistos por ela e, nesse sentido, era necessário buscar representantes que
firmassem essa imagem através de anúncios em jornais, de ofícios onde eles
demonstrassem que estavam cientes dos seus deveres, como o de apresentar os mapas
escolares, mas também de seus direitos, cobrando salários atrasados.
Portanto, era preciso se apropriar 14 do discurso de que eles sabiam como
proceder em suas práticas cotidianas e, mais do que isso, era preciso mostrar à sociedade
através do uso dos jornais como ferramenta de legitimação provando que eles cumpriam os
seus papéis com grande responsabilidade e comprometimento.
Observou-se uma crescente participação do Estado no campo da instrução elementar,
pois foi percebida como um dos elementos da afirmação do Estado Imperial. Assim, no movimento
de construção da Nação Brasileira, a organização e regulamentação da instrução e da educação não
poderiam ficar senão sob a responsabilidade do governo.
1
Doutoranda em Educação (NPGED - UFS) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação/UFS
2
Doutoranda em Educação (NPGED - UFS), membro doa SBHE, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em História
da Educação/UFS e do Grupo de Pesquisas História das Práticas Educacionais/UNIT.
3
Conforme Férrer (1997, p. 67), a expressão Estudos Menores, “[...] em textos oficiais assinados por D. José I, surgiu pela
segunda vez no texto do Alvará de 6 de novembro de 1772 para englobar os dois primeiros níveis de estudos”[primeiras
letras e preparatórios]. “A primeira aplicação da expressão teve lugar no diploma de 4 de junho de 1771 que entregou à Real
Mesa Censória a direção da instrução pública. Na documentação por nós consultada essa expressão é sempre utilizada
quando se trata do ensino preparatório para os estudos universitários”. É importante fazer essa distinção porque no
dicionário de Bluteau (1712-1728) o termo Estudos Menores aparece como Cadeiras de ler e escrever, existentes na
Universidade de Coimbra.
4
O jesuíta italiano Luiz Vicenço Mamiani viveu 16 anos no Brasil e foi o guia espiritual e missionário dos indígenas Cariris
(também grafado Kiriris) na Freguesia de Nossa Senhora do Socorro do Tomar (depois Tomar do Geru). O padre publicou,
na Oficina de Miguel Delandes, em Lisboa, Portugal, O Catecismo da doutrina cristã na lingua brasilica da Nação Kiriri
em 1698. Essa publicação é composta por duas partes: a primeira, “dos primeiros elementos da fé cristã”, e a segunda, “em
que se contem a explicação dos mistérios da nossa Santa Fé, dos mandamentos da Lei de Deus, sobre a Igreja, dos
Sacramentos, do Pecado e boas obras”. No ano seguinte, 1699, na mesma oficina gráfica, o padre Mamiani publicou Arte
da Gramatica da lingua brasilica da Nação Kiriri. As duas edições foram aprovadas, em 1697, pelo Provincial dos Jesuítas
no Brasil, padre Alexandre de Gusmão. (Este dado foi cedido por Luiz Antonio Barreto em 16/ 03/ 2010).
5
Ressalto que existiram outras missões em Sergipe, como foi percebido no trabalho de Santana (2004), que realizou
mapeamento e análise dos aldeamentos indígenas do período colonial, todavia o autor não mencionou a educação e ou
instrução. As missões ou aldeamentos funcionaram como uma forte estratégia no que tange à ocupação do território e defesa
contra os invasores.
6
Para Férrer (1997), a reforma do ensino elementar em Portugal passou em primeiro lugar, pela modificação no processo de
recrutamento dos docentes, pois tanto esses como o mestre de Ler e Escrever foram convertidos em funcionários do Estado
e ainda estabeleceu as normas que regravam ou disciplinavam a atuação dos docentes. Assim, a lei de 6 de novembro de
1772 reafirmou tudo o que fora defendido com a Reforma de 1759 para o professor régio. Logo, a instrução elementar a
partir desse momento se tornou um assunto de responsabilidade do Estado. Depois de Pombal, um dos traços essenciais da
política de ensino de D. Maria I foi a expansão da rede de escolas de ler, escrever e contar.
7
Bluteau (1712-1724, p. 217-217) estabeleceu uma diferença entre o termo escola no singular e no plural. Na língua
portuguesa, quando utilizada no singular, esta palavra significa casa onde os meninos aprendem a ler, a escrever e a contar.
No plural, seu significado está associado a colégios ou universidades onde se estudam as ciências. Entendo a “casa”
mencionada pelo autor, como um local (casa, missão ou igreja) onde ocorria o processo de aprendizagem através de um
pároco ou um professor que ensinava aos alunos.
Conforme Férrer (1997, p. 67), a expressão Estudos Menores, “[...] em textos oficiais assinados por D. José I, surgiu pela
segunda vez no texto do Alvará de 6 de novembro de 1772 para englobar os dois primeiros níveis de estudos”[primeiras
letras e preparatórios]. “A primeira aplicação da expressão teve lugar no diploma de 4 de junho de 1771 que entregou à Real
Mesa Censória a direção da instrução pública. Na documentação por nós consultada essa expressão é sempre utilizada
quando se trata do ensino preparatório para os estudos universitários”. É importante fazer essa distinção porque no
dicionário de Bluteau (1712-1728) o termo Estudos Menores aparece como Cadeiras de ler e escrever, existentes na
Universidade de Coimbra.
8
A partir do estudo de Vasconcelos (2003), o termo Casa(s) será grafado com inicial em maiúscula no sentido de identificar
o local onde acontecia o processo de instrução de forma sistemática.
9
Esta configuração foi analisada nessa pesquisa tendo em vista a abordagem desenvolvida por Norbert Elias: “na análise
das configurações, os indivíduos singulares são apresentados da maneira como podem ser observados: como sistemas
próprios, abertos, orientados para a reciprocidade, ligados por interdependências dos mais variados tipos e que formam entre
si figurações específicas, em virtude de suas interdependências. [...] Na maior parte das vezes, as figurações que os
indivíduos formam em sua convivência mudam bem mais lentamente do que os indivíduos que lhes dão forma, de maneira
que homens mais jovens podem ocupar a mesma posição abandonada por outros mais velhos. Assim em poucas palavras,
figurações iguais ou semelhantes podem muitas vezes ser formadas por diferentes indivíduos ao longo de bastante tempo; e
isso faz com que tais figurações pareçam ter um tipo de ‘existência’ fora dos indivíduos. [...] Aqui e agora, os indivíduos
singulares que formam uma figuração social específica entre si podem de fato desaparecer, dando lugar a outros, entretanto,
seja como for essa substituição, a sociedade, e com isso a própria figuração, será sempre formada por indivíduos.” (ELIAS,
2001, p. 50-51).
10
Quanto a essa categoria, Ginzburg (2002, p. 43) afirma que os historiadores deveriam recordar que, ao avaliar as provas,
todo ponto de vista sobre a realidade, além de ser seletivo e parcial, dependendo das relações de força que impõem
condicionantes, através da possibilidade de acesso aos documentos, demonstrando a imagem total que uma sociedade deixa
de si. “[...] é preciso aprender a ler os testemunhos às avessas, contra as intenções de quem os produziu. Só dessa maneira
será possível levar em conta tanto as relações de força quanto aquilo que é irredutível a elas.”
11
“Esse detalhe é interessante na medida em que possibilitou aos professores participarem da vida política. De acordo com
a constituição, o voto era indireto e masculino, e os cidadãos eram divididos em três categorias: cidadão ativo, com renda
mínima de 100$000 e que podia votar nos cidadãos eleitores; cidadão ativo eleitor, com renda mínima de 200$000 e que
escolhia deputados e senadores; e cidadão ativo elegível, com renda mínima de 400$000 para deputados e de 800$000 para
senadores.” (VEIGA, 2007, p. 155).
12
[...] é o espaço de relações de força entre os diferentes tipos de capital ou, mais precisamente, entre os agentes
suficientemente providos de um dos diferentes tipos de capital para poderem dominar o campo correspondente e cujas lutas
se intensificam sempre que o valor relativo dos diferentes tipos de capital é posto em questão (por exemplo, a “taxa de
câmbio” entre o capital cultural e o capital econômico); isto é, especialmente quando os equilíbrios estabelecidos no interior
do campo, entre instâncias especificamente encarregadas da reprodução do (BOURDIEU, 1996, p. 52).
13
“É do crédito concedido (ou recusado) à imagem que uma comunidade produz de si mesma, portanto de seu “ser
percebido”, que depende a afirmação (ou a negação) de seu ser social. O porquê da importância da noção de representação,
que permite articular três registros de realidade: por um lado, as representações coletivas que incorporam nos indivíduos as
divisões do mundo social e organizam os esquemas de percepção a partir dos quais eles classificam, julgam e agem; por
outro, as formas de exibição e de estilização da identidade que pretendem ver reconhecida; enfim, a delegação a
representantes (indivíduos particulares, instituições, instâncias abstratas) da coerência e da estabilidade da identidade assim
afirmada. A história da construção das identidades sociais encontra-se assim transformada em uma história das relações
simbólicas de força.” (CHARTIER, 2002, p. 10-11).
14
Quanto à apropriação, como a compreendemos, ela “[...] visa uma história social dos usos e das interpretações,
relacionados às suas determinações fundamentais e inscritos nas práticas específicas que os produzem.” (CHARTIER, 2002,
p. 68).

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JORNAIS

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