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SOBRE AS MOTIVAÇÕES
PARA A CONJUGALIDADE
J o ã o A lv e s d a S ilv a N eto
M a rle n e N e ve s S tre y
A n d re a S e ix a s M a g a lh ã e s

O número de formalizações de uniões consensuais vem aumentando


desde 2003 e tem mantido essa tendência como mostram os dados do IBGE
(2007). Porém, em contrapartida, também cresceram as taxas de divórcios de
2004 a 2007, assim como as de separações de 2004 a 2005, sendo que estas
últimas têm mantido índices estáveis de 2005 a 2007 (IBGE, 2007). Ainda
assim, ser “pedida(o)” em casamento ou “pedir a mão” de alguém ainda hoje
é o sonho de muitas pessoas.
O casamento não é uma instituição falida como se acreditou, mas sim
uma instituição que tem sofrido abalos nos modelos predominantemente
praticados, construídos a partir da ideologia do amor romântico e de outras
idéias que não levam em consideração as demandas relacionais de um mundo
em constante transformação. Repetimos padrões relacionais reconhecidos e
valorizados socialmente, muitas vezes perpetuados através da educação. Con­
tudo, uma análise sobre a educação para a conjugalidade aponta um para­
doxo. Os fatores vistos como desejáveis na relação conjugal podem ser os
mesmos que a dificultam.
Neste capítulo, com base em estudos sobre as relações de gênero e
família, focalizamos as motivações para a construção da relação conjugal.
Os fatores que motivam o estabelecimento de uma relação conjugal são es­
boçados muito precocemente e se transformam por toda a vida, de acordo
com as experiências pessoais dos indivíduos. Esses fatores compõem o arsenal
educacional oferecido, formal e informalmente, e transformado conforme as
necessidades materiais e históricas do momento vivido. Porém, muitas vezes,
as transformações educacionais ficam aquém das necessidades sociais.
40 ADRIANA W A G N E R & CO L S.

Na sociedade contemporânea, o convívio social permanece basicamente


calcado nas identidades de gênero e nas suas regulações. Desde a infância,
meninos e meninas são educados de maneira a fortalecer tais identidades,
que reforçam a hegemonia masculina e a heterossexualidade aparentemente
inabalável. Com isso, ocorre a permanência da valorização de modelos rela­
cionais tradicionais e a consequente inibição de outros possíveis modelos, os
quais são refutados e desqualificados. Esse processo centra-se na tendência
das instituições familiares, de ensino e sociais em repetir interações regulares
e previsíveis.
Conhecer os fatores que motivam o estabelecimento e a construção da
conjugalidade possibilita a formulação de estratégias educacionais mais am­
plas para a vida conjugal, o desenvolvimento da consciência acerca das esco­
lhas e favorece a obtenção de maior satisfação nas relações.
Nos Estados Unidos, existe a preocupação nas políticas públicas em
desenvolver programas de educação para a conjugalidade; isso ajuda a
diminuir os custos dos problemas relacionados a sofrimentos emocionais in­
dividuais, familiares e sociais (DeMaria, 2005; Goddard e Olsen, 2004; Hal­
ford et al, 2004). Portanto, cabe perguntar: o que motiva a opção pela relação
conjugal na atualidade? Quais são as suas características? De que forma as
motivações para o casamento facilitam ou dificultam o desenvolvimento de
relações mais satisfatórias? Que aspectos estão sendo socialmente levados em
consideração para a construção da relação conjugal no tocante a necessidades
de satisfação de desejos e anseios pessoais?
Responder essas questões exige discutir uma série de aspectos que
tornam as relações conjugais bastante complexas. Em épocas passadas,
as tradições culturais exerciam uma influência muito mais direta sobre
comportamentos individuais e coletivos no que se refere aos padrões de
relações familiares. Por exemplo, no final do século XIX até meados do sé­
culo XX, esperava-se que os homens sustentassem a família e as mulheres
se dedicassem ao cuidado do lar, dos filhos e do marido. E era muito raro
conseguir escapar desses ditames. Os sujeitos que fugiam aos padrões tradi­
cionais permaneciam estigmatizados.
A contemporaneidade abriga famílias monoparentais, homoafetivas, re-
casadas e tantas outras possíveis configurações, com menor resistência social.
Contudo, ainda não temos distância histórica suficiente para poder afirmar se
isso decorre de uma maior aceitação da diversidade, de uma crítica compulsi­
va a valores tradicionais ou se tudo muda com tanta velocidade que não existe
tempo e/ou disponibilidade para escolhas mais reflexivas, mais condizentes
com as necessidades individuais e coletivas em relação à convivência afetiva
e/ou familiar. Assim, tudo parece possível, mas não necessariamente aceito.
Por outro lado, os modelos socialmente oferecidos não mostram muita varia­
ção em relação a modelos do passado e isso torna o fenômeno da conjugali­
dade bastante complexo.
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMÍLIA C O N T E M P O R Â N E A 4 1

Com o objetivo de abordar a motivação para o estabelecimento da relação


conjugal, neste capítulo, discutimos os resultados de uma pesquisa concluída
em 2008. Participaram desse estudo homens e mulheres pertencentes a ca­
madas médias e baixas da sociedade nas cidades de Porto Alegre e Viamão,
no estado do Rio Grande do Sul. Foram constituídos cinco grupos focais de
discussão. Participaram no total 50 pessoas distribuídas em grupos, 36 mu­
lheres e 14 homens, sendo que os dois sexos estiveram presentes em todos os
grupos. Para formar esses grupos, contatamos a população em duas escolas da
rede pública, em uma clínica interdisciplinar, em uma academia de ginástica e
na comunidade em geral, que compuseram uma amostragem por conveniência.
Os dados demográficos das pessoas participantes dos grupos variaram muito.
O grau de escolaridade abarcou desde adultos em alfabetização a professor
universitário com mestrado. A idade se estendeu de adulto jovem até a terceira
idade. Os grupos foram muito heterogêneos, porém cada um se caracterizou
pela sua homogeneidade em relação aos dados demográficos de escolaridade
e estrato socioeconômico das pessoas participantes, sendo que as idades esti­
veram de uma maneira geral distribuídas em todos os grupos, com exceção de
um que concentrou predominantemente pessoas na terceira idade. A partir dos
registros discursivos dos grupos focais, desenvolvemos a presente análise.

FORÇAS PROPULSORAS DA CONJUGALIDADE


Assim como existem famílias muito distintas entre si, também as razões
pelas quais as pessoas decidem estabelecer relações conjugais podem ser
muito diversas. Estudos sobre conjugalidades contemporâneas apontam para
a convivência de padrões tradicionais e modernos (Féres-Carneiro e Ziviani,
2009; Jablonski, 2007; Silva Neto e Strey, 2008). A coexistência de valores
e padrões tradicionais e atuais se desdobra em mudanças na maneira como
as pessoas se relacionam. E isso pode levar a mudanças nas motivações
subjacentes aos novos modos de relacionamento amoroso na contempora-
neidade. Nas discussões dos grupos focais, na pesquisa em questão, sobre o
que era importante na opção pela vida conjugal, foram ressaltados a busca
da satisfação de desejos individuais em termos de atração, a sexualidade,
o amor, a maternidade e a consolidação da identidade como fatores moti-
vacionais para o estabelecimento da conjugalidade. Além disso, também foi
considerado importante que a qualidade das relações conjugais seja satis­
fatória para ambos os parceiros e não apenas para um deles, apontando a
tendência igualitária nas relações amorosas. Outros estudos na área confir­
mam essas evidências (Cordova, Gee e Warren, 2005; Falcke, Diehl e Wagner,
2002; Rosen-Grandon, Myers e Hattie, 2004).
A satisfação conjugal, nos relatos dos sujeitos, nos grupos de discussão,
foi relacionada sobretudo à satisfação das necessidades individuais. Os man-
42 ADRIANA W A G N E R & C O L S

dados sociais ou familiares, que tradicionalmente eram centrais nas esco­


lhas conjugais, parecem estar perdendo força como fator motivacional. No
entanto, considera-se que as famílias de origem continuam influenciando, na
maioria das vezes de forma indireta, por meio dos processos de socialização
de valores tradicionais, que são transmitidos geracionalmente. Isso nos leva a
refletir que, se as necessidades sociais e relacionais mudam conforme o con­
texto sócio-histórico, os modos de estabelecer os relacionamentos conjugais
também devem se transformar.
Quando os sujeitos dos grupos focais discutiram as mudanças que se­
riam necessárias para obter maior satisfação conjugal nos dias de hoje, emer­
giu a ideia de que direitos e deveres individuais deveríam ser mais bem equi­
librados no relacionamento conjugal. Considerou-se que deveria existir mais
igualdade entre os sexos. As mulheres explicitaram mais claramente essa
noção, referindo-se a uma distribuição equitativa de direitos e de responsabi­
lidades entre os sexos dentro e fora do ambiente doméstico. No entanto, al­
guns homens posicionaram-se contrariamente a isso. Para alguns deles, o que
asseguraria a satisfação conjugal seria exatamente a manutenção do modelo
tradicional, baseado na complementaridade entre os sexos, em que homens e
mulheres tivessem papéis bem diferenciados; ressaltaram o papel do homem
no espaço público e a importância da mulher no espaço privado. Giddens
(1992) apontou que os homens são retardatários nas transições que afetaram
o casamento e a vida pessoal na modernidade, excluindo-se do domínio da
intimidade e apresentando uma visão de família mais tradicional.
As diferenças entre os posicionamentos de homens e mulheres condu­
zem a alguns impasses frequentemente estabelecidos nas relações conjugais
contemporâneas. As negociações conjugais requerem o reconhecimento da
autonomia e da independência dos parceiros, considerando a satisfação das
necessidades individuais, sem deixar de levar em conta a complementaridade
conjugal. O mito da busca da “cara metade”, da “alma gêmea” ou da “metade
da laranja”, que tem suporte num modelo absolutamente complementar, su­
pondo a existência de seres incompletos e dependentes que encontrariam no
parceiro amoroso a completude plena, tende a se revelar cada vez mais ino­
perante. Na sociedade contemporânea, os ideais individualistas entram em
conflito com os ideais de complementaridade que embasam a dependência
conjugal, tornando cada vez mais complexo o convívio entre individualidade
e conjugalidade.
As discussões nos grupos focais também tornaram evidente a influência
de alguns preconceitos sobre a combinação de amor, casamento e satisfação
individual. O relacionamento conjugal é visto como “muito difícil”. A bus­
ca pela felicidade conjugal envolve a busca pela manutenção do sentimento
amoroso. Essas idéias são transmitidas muito precocemente, tomando-se
parte da visão de mundo. Os sujeitos acreditam que buscar a felicidade dis­
tante da conjugalidade pode levar a uma vida solitária e isolada. Nesse senti-'
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMlLIA C O N T E M P O R Â N E A 43

do, uma participante relatou que a solução é alternar, ora satisfazer-se como
indivíduo, ora como casal, como par. A busca de construção de uma satisfação
conjunta, individual e conjugal, é vista com pouca esperança.
Se a construção de uma parceria que leve em consideração tanto as
individualidades quanto as necessidades conjugais não é possível, corre-
-se o risco de retornar aos modelos tradicionais de conjugalidade. Esses
modelos tradicionais eram regidos pela ideologia do amor romântico e o re­
lacionamento conjugal era estruturado de acordo com as relações de poder
que submetiam, sobretudo, as mulheres de acordo com os papéis culturais
tradicionais.
Os grupos focais apontaram na direção desse desequilíbrio entre homens
e mulheres em relação ao tema da satisfação conjugal. Os homens, mesmo in­
satisfeitos, não querem romper o laço conjugal e, por vezes, buscam a satisfa­
ção em relações extraconjugais. As mulheres, que dizem buscar relações mais
cooperativas, não as encontram e revelam-se também insatisfeitas. Alguns
estudos (Magalhães, 1993b; Féres-Carneiro, 1995 e 1997) evidenciam que os
homens definem casamento como “constituição de família”, enquanto as mu­
lheres concebem o casamento como “relação amorosa”. Concepções distintas
podem também conduzir a expectativas díspares. Esse desequilíbrio contribui
para uma roda-viva de insatisfações nos relacionamentos, que ou se romperão
quando o limiar de tolerância à frustração for ultrapassado, provavelmente
pelas mulheres, como nos mostram as estatísticas atuais (IBGE, 2007), ou,
então, conduzirão a relacionamentos insatisfatórios e aprisionantes.
Considerando as transformações nas motivações para o estabelecimento
da conjugalidade e a crescente valorização da busca de satisfação nas rela­
ções conjugais, passamos à análise dos principais fatores associados à questão
da satisfação conjugal.

A atração física
Nas discussões desdobradas nos grupos focais, a atração foi referida
como desejável e, ao mesmo tempo, temida nos relacionamentos conjugais.
Os sujeitos relatam que a atração física contribui para a aproximação inicial
do casal. No entanto, ressalvam que se a relação for edificada prioritaria­
mente com base nisso, ela tende a ser superficial e fugaz. Os sujeitos pontu­
aram que, nesses casos, à medida que a atração diminui, esgota-se o desejo.
Relações pautadas na atração física podem comprometer o desenvolvimento
da intimidade conjunta. Para o desenvolvimento da intimidade, é necessário
construir afinidade emocional com o outro, além da intimidade corporal.
Nos grupos em que a atração física foi valorizada, embora não tenha
sido considerada um fator essencial para que a conjugalidade ocorra, ela foi
destacada como um ingrediente importante para estimular o relacionamento.
44 ADRIANA W A G N ER & C O L S

A fala de uma das participantes dos grupos ilustra a discussão: “Ah, não sou
a favor da química, porque a química não necessariamente chega na relação
conjugal. Em havendo a química, nossa! Falando a gente chega suar, né?”. A
atração física é considerada um fator importante quando associada a outros
fatores que influenciam no estabelecimento da conjugalidade.
Ainda nas discussões grupais, homens e mulheres concluíram que a
atração física é importante para o estabelecimento e para a manutenção da
conjugalidade. Contudo, os homens demonstraram valorizar mais a escolha
de parceiras atraentes fisicamente do que as mulheres. Em seus relatos, eles
revelaram a expectativa de que suas parceiras permaneçam atraentes e se
dediquem ao cuidado com a aparência física, apesar das sobrecargas geradas
por afazeres domésticos, pelo nascimento e pelo cuidado dos filhos, assim
como pelas características do processo de envelhecimento. A importância
dada pelos homens a atributos físicos como beleza e jovialidade na escolha
amorosa também foi ressaltada nas pesquisas de Féres-Carneiro (1997) e
Thompson (1989).
As mulheres nos grupos focais revelaram-se conscientes das expectati­
vas masculinas de que permaneçam belas e joviais para garantir a satisfação
conjugal, embora homens e mulheres também tenham consciência acerca das
dificuldades em atingir o cumprimento de tais expectativas. Ressalta-se que
os veículos de massa também são responsáveis pela estimulação do culto à
beleza e à juventude eterna, ideais de consumo que influenciam os modelos
de relacionamento conjugal contemporâneo. Como esse é um objetivo inal-
cançável, reforça-se a insatisfação, potencializando sucessivas trocas de par
conjugal. Nos grupos focais, contudo, as mulheres demonstraram valorizar a
relação “para sempre”, baseada em prerrogativas do “amor romântico”.
De acordo com o relato das mulheres participantes desse estudo, a
combinação de fatores como “atração física” e o “durar para sempre” aumen­
tam a responsabilidade feminina na manutenção da relação conjugal. Mesmo
em tempos de maior igualdade de direitos entre os homens e mulheres, essa
situação revela a permanência de mecanismos tradicionais patriarcais, colo­
cando sobre os ombros das mulheres a responsabilidade pela manutenção
da relação, o que dificulta a desnaturalização de padrões relacionais que são
sócio-históricos, além de dificultar o estabelecimento da corresponsabilidade
pela conjugalidade.
Associado à busca de uma parceira atraente, nos discursos dos homens,
emergiu também o desejo de que as mulheres se ocupem e zelem pela casa
e por eles. Quando as mulheres estão mais envolvidas com seus próprios ob­
jetivos, os homens parecem correr o risco de terem suas vidas precariamente
zeladas, considerando que muitos não desenvolveram as habilidades necessá­
rias para o autocuidado. Tais dificuldades podem ser mais um fator que refor­
ça a menor expectativa de vida dos homens quando comparados às mulheres
(IBGE, 2008).
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMlLIA C O N T E M P O R Â N E A 45

0 amor
Na maioria das vezes, os grupos perceberam o amor como elemento fun­
damental para o estabelecimento de uma relação conjugal, assim como para
sua manutenção. Isso foi ressaltado tanto por homens quanto por mulheres.
No entanto, também surgiram idéias contrárias a isso. Observou-se, por meio
das falas de alguns sujeitos da pesquisa, uma desconfiança sobre a solidez do
amor conjugal. Discutiu-se sobre a fragilidade desse sentimento, que conduz
a uniões baseadas em atos impulsivos, levando a sucessivos casamentos e pos­
teriores rompimentos. A fragilidade dos laços humanos tem sido discutida por
muitos autores contemporâneos. Bauman (2004) denomina esse sentimento
fugaz de “amor líquido”, que inspira o conflitante desejo de tornar os laços
intensos e frouxos, simultaneamente.
A valorização do amor na conjugalidade está relacionada à esperança de
solidificar a confiança e a amizade no casal. Os parceiros buscam, por meio
do investimento afetivo, alcançar o sentimento de pertencimento e de solida­
riedade. A solidariedade conjugal é necessária para a elaboração de um pro­
jeto de vida conjunto. Além disso, busca-se o reasseguramento do eu a partir
do outro e, assim, a valorização da identidade individual e conjugal.

A maternidade
Para muitas mulheres, a conjugalidade está associada à maternidade.
Embora na atualidade tenha aumentado o número de famílias monoparen-
tais, formadas na maioria das vezes por mães e filhos e/ou filhas (IBGE,
2008), provenientes de separações ou não, os grupos focais evidenciaram que
preferencialmente associa-se a conjugalidade com a maternidade. Discutiu-se
também que o desejo de ter filhos dentro de uma relação conjugal implica
compatibilizar o casamento com o ciclo de fertilidade feminina, pois com o
aumento da idade a fertilidade feminina diminui e os riscos de problemas na
gravidez aumentam.
Ser mãe continua sendo um dos aspectos centrais da feminilidade; algumas
teorias psicológicas postulam que a maternidade é um fator importante para o
desenvolvimento da identidade feminina. Ainda que as mulheres tenham pas­
sado a investir cada vez mais fortemente na formação educacional e na carrei­
ra profissional, inúmeros estudos apontam que ser mãe faz parte do “sentir-
-se” mulher (Barbosa e Rocha-Coutinho, 2007; Meyer, 2003; Moura e Araújo,
2004; Vargas, 1999). Embora na contemporaneidade não seja essencial ter
um parceiro fixo para ser mãe, ainda persiste a representação da associação
entre maternidade e conjugalidade para muitas mulheres. As pressões para
que isso aconteça vêm do interesse da sociedade em normatizar a família e o
desenvolvimento infantil, com reflexos na vida das mulheres.
46 ADRIANA W A G N E R & C O L S

As estudiosas feministas atribuem essa associação entre mulher e ne­


cessidade de ser mãe à naturalização da capacidade biológica de conceber,
gestar e parir. Essa naturalização leva ao mito de que as mulheres são por­
tadoras de um instinto materno iniludível, embora o clássico estudo de Ba-
dinter (1985) tenha questionado fortemente sua existência. Nesse sentido,
ainda que muitos caminhos e objetivos de vida sejam possíveis hoje para as
mulheres, a vinculação de feminilidade e maternidade, assim como a pressão
do “relógio biológico” para conceber uma criança pode ser visto como um
pesadelo para muitas delas. Por outro lado, a conjugalidade também é pres­
sionada pelo desejo/mandato de conceber filhos. Os filhos são vistos como
produtos “naturais” da conjugalidade, sendo, na maioria das vezes, colocados
no centro do projeto conjugal.

Consolidação da identidade
Nessa pesquisa, observamos que as diversas forças motivadoras da
escolha conjugal estão associadas à busca de consolidação da identidade
individual. O estabelecimento da conjugalidade e a satisfação conjugal se
associam a fatores subjetivos que fortalecem identidades valorizadas social­
mente. A própria condição de casado é promovida na maioria dos grupos
sociais. E, nessa pesquisa, essa condição foi percebida como importante na
construção das subjetividades nos moldes socialmente esboçados.
Ao analisarmos a associação entre conjugalidade e a consolidação da
identidade individual, a partir dos discursos emergentes nos grupos focais,
ressaltou-se a importância das influências sociais e familiares sobre as pessoas
quando pensam na escolha conjugal. Observamos que, mesmo quando não
têm influência direta na escolha do(a) parceiro(a), as famílias permanecem
importantes, exercendo pressão através dos aspectos transmitidos geracional-
mente na educação. Mas como se caracteriza a transmissão dessas forças na
escolha conjugal nas falas dos sujeitos investigados?

A carga transmitida geracionalmente nas


motivações para a conjugalidade
A transgeracionalidade, entendida como o conjunto de aspectos nas his­
tórias das famílias que se repete através das gerações, interfere em diversos
fatores que promovem ou desqualificam os modos de relacionamento conju­
gal. Nos grupos focais, a força da transgeracionalidade na escolha conjugal
apareceu na descrição das expectativas de homens e mulheres quanto a seus
parceiros. No discurso dos homens, a escolha conjugal foi relacionada à es­
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMlLIA C O N T E M P O R Â N E A 47

perança de reencontrar as características da mãe na companheira e, assim,


poder reviver o modelo da sua família de origem. Em contrapartida, as mu­
lheres afirmaram que buscam parceiros que fortaleçam e respeitem o valor de
suas carreiras profissionais.
As características que homens e mulheres relataram buscar na escolha
do parceiro podem criar impasses para o relacionamento conjugal. Emer­
giram necessidades femininas de suporte e de valorização, por um lado, e
necessidades masculinas de cuidado, por outro. Essas necessidades são se­
melhantes e simétricas, gerando dificuldades de conciliação. Emergiram
impasses, considerando que tanto para os homens quanto para as mulheres
o desenvolvimento individual é o principal foco de interesse na contempo-
raneidade. A partir do reconhecimento dessas dificuldades, nos grupos de
discussão, as mulheres apontaram a alternativa de permanecer solteira, afir­
mando que os preconceitos em relação ao celibato diminuíram.
A necessidade que os homens apresentam de serem cuidados por mu­
lheres foi expressa de forma indireta nas falas analisadas. Eles consideraram
que há uma necessidade complementar feminina de cuidar, transmitida ge-
racionalmente. Um exemplo disso pode ser ilustrado com a fala de um parti­
cipante, o qual disse acreditar que as mulheres entram na relação já sabendo
que sua vida é naturalmente atrelada aos cuidados da casa e da família, re­
petindo o que lhes foi ensinado: “[...] a mulher já tem toda uma ideia do que
ela quer. Ela já entra sabendo o que ela quer Tem também, talvez, o espelho do
pai e da mãe. Mas, ela já entra com uma ideia de família, quer ter a própria
casa, quer ter um marido de quem ela vai cuidar, as coisas que ela gostaria de
ter, que é dela e não da mãe dela” (sic). Observam-se aqui os mecanismos ideo­
lógicos subjacentes, propiciando uma aparente impossibilidade de descolar
mulher e vida doméstica. O funcionamento familiar como fator importante
na sobrevivência dos indivíduos, incluindo a transmissão do capital cultural e
econômico, a proteção e a socialização de seus membros e a solidariedade en­
tre gerações, permanece como responsabilidade depositada principalmente
sobre as mulheres.
Ressalta-se que, para buscar o desenvolvimento pessoal de acordo com
o que vem sendo socialmente valorizado na contemporaneidade - auto­
nomia e independência - é necessário haver igualdade de direitos. Para
analisar as relações entre homens e mulheres, torna-se importante explici­
tar nossa concepção de poder. Partindo da compreensão de que o poder é
exercido em sistemas abertos, ou seja, de que o poder é relacionai e multidi-
recional, é possível entendermos suas formas contextualizadas de exercício.
Ainda nos dias de hoje, são desenvolvidas socialmente algumas estratégias
familiares, como a disciplina, que reforçam as características do poder no
modelo patriarcal. A disciplina se constitui como uma forma de exercício
de poder nós diversos níveis. As famílias podem assegurar tal reforço pela
46 ADRIANA W A G N E R & C O L S.

As estudiosas feministas atribuem essa associação entre mulher e ne­


cessidade de ser mãe à naturalização da capacidade biológica de conceber,
gestar e parir. Essa naturalização leva ao mito de que as mulheres são por­
tadoras de um instinto materno iniludível, embora o clássico estudo de Ba-
dinter (1985) tenha questionado fortemente sua existência. Nesse sentido,
ainda que muitos caminhos e objetivos de vida sejam possíveis hoje para as
mulheres, a vinculação de feminilidade e maternidade, assim como a pressão
do “relógio biológico” para conceber uma criança pode ser visto como um
pesadelo para muitas delas. Por outro lado, a conjugalidade também é pres­
sionada pelo desejo/mandato de conceber filhos. Os filhos são vistos como
produtos “naturais” da conjugalidade, sendo, na maioria das vezes, colocados
no centro do projeto conjugal.

Consolidação da identidade
Nessa pesquisa, observamos que as diversas forças motivadoras da
escolha conjugal estão associadas à busca de consolidação da identidade
individual. O estabelecimento da conjugalidade e a satisfação conjugal se
associam a fatores subjetivos que fortalecem identidades valorizadas social­
mente. A própria condição de casado é promovida na maioria dos grupos
sociais. E, nessa pesquisa, essa condição foi percebida como importante na
construção das subjetividades nos moldes socialmente esboçados.
Ao analisarmos a associação entre conjugalidade e a consolidação da
identidade individual, a partir dos discursos emergentes nos grupos focais,
ressaltou-se a importância das influências sociais e familiares sobre as pessoas
quando pensam na escolha conjugal. Observamos que, mesmo quando não
têm influência direta na escolha do(a) parceiro(a), as famílias permanecem
importantes, exercendo pressão através dos aspectos transmitidos geracional-
mente na educação. Mas como se caracteriza a transmissão dessas forças na
escolha conjugal nas falas dos sujeitos investigados?

A carga transmitida geracionalmente nas


motivações para a conjugalidade
A transgeracionalidade, entendida como o conjunto de aspectos nas his­
tórias das famílias que se repete através das gerações, interfere em diversos
fatores que promovem ou desqualificam os modos de relacionamento conju­
gal. Nos grupos focais, a força da transgeracionalidade na escolha conjugal
apareceu na descrição das expectativas de homens e mulheres quanto a seus
parceiros. No discurso dos homens, a escolha conjugal foi relacionada à es­
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMlLIA C O N T E M P O R Â N E A 47

perança de reencontrar as características da mãe na companheira e, assim,


poder reviver o modelo da sua família de origem. Em contrapartida, as mu­
lheres afirmaram que buscam parceiros que fortaleçam e respeitem o valor de
suas carreiras profissionais.
As características que homens e mulheres relataram buscar na escolha
do parceiro podem criar impasses para o relacionamento conjugal. Emer­
giram necessidades femininas de suporte e de valorização, por um lado, e
necessidades masculinas de cuidado, por outro. Essas necessidades são se­
melhantes e simétricas, gerando dificuldades de conciliação. Emergiram
impasses, considerando que tanto para os homens quanto para as mulheres
o desenvolvimento individual é o principal foco de interesse na contempo-
raneidade. A partir do reconhecimento dessas dificuldades, nos grupos de
discussão, as mulheres apontaram a alternativa de permanecer solteira, afir­
mando que os preconceitos em relação ao celibato diminuíram.
A necessidade que os homens apresentam de serem cuidados por mu­
lheres foi expressa de forma indireta nas falas analisadas. Eles consideraram
que há uma necessidade complementar feminina de cuidar, transmitida ge-
racionalmente. Um exemplo disso pode ser ilustrado com a fala de um parti­
cipante, o qual disse acreditar que as mulheres entram na relação já sabendo
que sua vida é naturalmente atrelada aos cuidados da casa e da família, re­
petindo o que lhes foi ensinado: “[...] a mulher já tem toda uma ideia do que
ela quer. Ela já entra sabendo o que ela quer. Tem também, talvez, o espelho do
pai e da mãe. Mas, ela já entra com uma ideia de família, quer ter a própria
casa, quer ter um marido de quem ela vai cuidar, as coisas que ela gostaria de
ter, que é dela e não da mãe dela” (sic). Observam-se aqui os mecanismos ideo­
lógicos subjacentes, propiciando uma aparente impossibilidade de descolar
mulher e vida doméstica. O funcionamento familiar como fator importante
na sobrevivência dos indivíduos, incluindo a transmissão do capital cultural e
econômico, a proteção e a socialização de seus membros e a solidariedade en­
tre gerações, permanece como responsabilidade depositada principalmente
sobre as mulheres.
Ressalta-se que, para buscar o desenvolvimento pessoal de acordo com
o que vem sendo socialmente valorizado na contemporaneidade - auto­
nomia e independência - é necessário haver igualdade de direitos. Para
analisar as relações entre homens e mulheres, torna-se importante explici­
tar nossa concepção de poder. Partindo da compreensão de que o poder é
exercido em sistemas abertos, ou seja, de que o poder é relacionai e multidi-
recional, é possível entendermos suas formas contextualizadas de exercício.
Ainda nos dias de hoje, são desenvolvidas socialmente algumas estratégias
familiares, como a disciplina, que reforçam as características do poder no
modelo patriarcal. A disciplina se constitui como uma forma de exercício
de poder nós diversos níveis. As famílias podem assegurar tal reforço pela
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importância que têm na vida das pessoas, e assim perpetuam esse modelo
através das gerações.
A disciplina reforça a necessidade de repetição de padrões relacionais
penosos, como foi percebido por uma participante ao ressaltar o sofrimento
que passou para cumprir incumbências recebidas na sua educação: “A gente
já vinha de casa com essa carga, tem que ser esposa, tem que cuidar da casa,
tem que cuidar do marido, tem que cuidar dos filhos, a gente já vinha de
casa com essa carga”. No entanto, o padrão aparentemente imutável, re­
forçado pela disciplina, não se sustenta no atual contexto sócio-histórico.
Na atualidade, novas necessidades surgiram com as modificações sociais,
como foi verbalizado nos grupos, sobretudo pelas mulheres. “A mulher hoje
é mais independente, então ela tem outras idéias de procura", opinou uma
participante. Tais mudanças apontam o aspecto dinâmico e transformativo
da transgeracionalidade. Outra participante contou que educou sua filha,
atualmente adulta, considerando as mudanças sociais, reforçando mais seu
desenvolvimento profissional do que o preparo para a vida doméstica e, até
mesmo, do que os projetos de ter uma vida conjugal. Considerou-se que
com a possibilidade de construção da autonomia econômico-financeira, as
mulheres estariam menos vulneráveis, não necessitando submeter-se a re­
lações de dependência.
Ressalvamos que, por outro lado, a transformação social deve ser pen­
sada em termos parciais. Há uma concomitância de padrões tradicionais e
outros indicativos de mudanças, inclusive nas relações conjugais contempo­
râneas. A convivência de códigos e valores conflitantes propicia a emergência
de sentimentos ambivalentes, gerando dúvidas e desconfortos em relação às
mudanças no relacionamento entre homens e mulheres. Além disso, há uma
necessidade premente de alívio dessa tensão. Tal alívio pode ocorrer através
da repetição de modelos já conhecidos. Isso se reflete na fala de um parti­
cipante, que relatou seu saudosismo do modelo patriarcal na educação das
mulheres: “Era melhor nesse tempo que já vinha com a esposa preparada de
casa".
A ambivalência está vinculada também às crises de lealdade, que muitas
vezes dificultam a mudança. Crises de lealdade na relação conjugal se mani­
festam por meio das dificuldades que surgem ante a possibilidade de constru­
ção emocional de um novo modelo relacionai, que possui tanto aspectos das
relações vivenciadas nas famílias de origem quanto outros que serão constru­
ídos na nova relação conjugal. A construção do modelo relacionai do novo
casal possui grande importância para a qualidade conjugal. Porém, para que
consigam desenvolver esse modelo, é necessário que as pessoas envolvidas
atinjam certo distanciamento afetivo do modelo praticado nas suas famílias
de origem, sem que se sintam traidoras.
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMÍLIA C O N T E M P O R Â N E A 49

AS EXPECTATIVAS E A PERCEPÇÃO DA
VIVÊNCIA DA CONJUGALIDADE ENTRE OS SEXOS

Os grupos discutiram aspectos relacionados às expectativas que homens


e mulheres possuem quanto à relação conjugal, evidenciando as características
construídas socialmente na educação recebida, que edifica papéis de gênero
e seus reflexos no casamento. Ainda que tanto homens quanto mulheres, nos
dias de hoje, estejam voltados para o desenvolvimento pessoal no âmbito
profissional, existem perspectivas diferentes quanto ao que se acredita serem
características predominantes de um sexo ou de outro. Foi destacado pelos
participantes que, de forma ampla, dois aspectos são relevantes quando se fala
em papéis de gênero na atualidade. Dos homens, é esperado que adquiram
maturidade na relação conjugal; das mulheres, espera-se a concomitância do
desenvolvimento profissional e da manutenção dos cuidados domésticos.
Tais fatores parecem estar estreitamente vinculados. Quando se falou
na possibilidade de amadurecimento dos homens na relação conjugal, pre­
dominou a expectativa de que isso aconteça através dos cuidados recebidos
das mulheres. O amadurecimento masculino foi relacionado à capacidade
de desenvolver tolerância com as diferenças e autocuidado. As dificuldades
dos homens, nesse sentido, foram atribuídas a falhas na educação recebida
na infância. Os participantes homens relataram que é difícil tolerar e res­
peitar as diferenças nas suas relações, pois foram educados predominante­
mente para a conquista do sucesso na carreira profissional. Este sucesso está
ligado a comportamentos de liderança, frequentemente confundidos com
autoritarismo. Flexibilidade e tolerância nos relacionamentos não são temas
recorrentes na educação dos meninos. Os homens adultos de hoje possuem
pouco preparo para a construção de relações de intimidade que requerem
tais capacidades, assim como para o envolvimento no autocuidado e nas ta­
refas domésticas. Já as mulheres ressaltaram que a educação que receberam
também incorporava a conquista da carreira profissional, porém precisavam
continuar responsáveis pelo cuidado dos outros e de si mesmas. As mudanças
evidentes referentes à profissionalização feminina convivem com padrões e
valores educativos de responsabilidade pelos cuidados com a vida familiar e
com a conjugalidade. As dificuldades se apresentam na confluência do auto
e do heterocuidado, algumas vezes resultando no comprometimento de um
destes aspectos.
Nas discussões dos grupos focais, os participantes ressaltaram a com­
petência dos homens em manter relações que não envolvem intimidade e a
competência das mulheres em desenvolver relações de intimidade. Os valores
passados na educação continuam a direcionar homens predominantemente
para a vida pública e as mulheres para a vida privada. A aquisição do espaço
50 ADRIANA W A G N E R & C O L S.

público pelas mulheres e a crescente necessidade de conquista de direitos


reforçam a esperança de que os homens consigam desenvolver a capacidade
de se corresponsabilizar pela vida doméstica, no casamento. No entanto, exis­
tem resistências a essas mudanças, na medida em que é difícil mudar papéis
de gênero tradicionais, que são naturalizados. Alguns participantes desse
estudo argumentaram que tais comportamentos são biologicamente deter­
minados.
Na busca de relações cooperativas para o incremento do desenvolvimento
social, é necessário que a educação seja sensibilizada para a concepção dos
seres humanos para além dos estereótipos de gênero, pois eles induzem a per­
cepções simplistas e rígidas sobre qualquer fenômeno humano, principalmente
no que se refere aos relacionamentos entre homens e mulheres. Os estereó­
tipos de gênero se manifestaram no discurso dos participantes dessa pesqui­
sa por meio de jargões como “homens são todos iguais” ou “mulheres são
assim mesmo”. Superar as questões de gênero exige olhar e compreender o
comportamento de ambos os sexos como comportamentos humanos e não
necessariamente comportamentos exclusivos de homens ou de mulheres.
As mudanças na educação para a conjugalidade abrem possibilida­
des, mas também geram incertezas associadas aos medos e inseguranças
quanto à convivência na relação conjugal. Ao mesmo tempo em que mu­
danças são buscadas socialmente, também são esperados indicadores para
o desenvolvimento de uma boa relação. A convivência com a incerteza do
futuro das relações gera ansiedade. Os sujeitos buscam segurança através
da construção de referenciais racionais lógicos e aplicáveis. No entanto, a
busca de fatores universais que de alguma forma orientem a relação para a
conquista da satisfação conjugal é frustrante, uma vez que a própria satisfa­
ção é fortemente vulnerável quanto à sua caracterização, pois possui muitas
variáveis contextuais.

AFINAL, COMO PREVER A QUALIDADE DA RELAÇÃO CONJUGAL?


Nos grupos de discussão, os participantes enfatizaram que existe um
equívoco em considerar a relação de namoro como fator de previsão para a
relação conjugal. O contexto do namoro parece diferir bastante do contexto
da vida conjugal. Uma participante jovem relatou: “[...] Porque enquanto tu
é namorado [...] tu transa todo o dia, [...], o namorado quer sexo, ele quer
que tu saia bonitinha, gostosa pra ele te mostrar pros amigos dele, e isso tu
fa z enquanto é namorado. Depois que casa, ela vira a chata, a louca, a mal
arrumada e a doméstica, que é o que ele não quer" (sic). Durante o namoro,
o clima de romance parece ajudar a contornar possíveis insatisfações. Com
o casamento, o romance dificilmente consegue se manter compatível com a
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMlLIA C O N T E M P O R Â N E A 5 1

rotina doméstica. No dia a dia da relação conjugal, os estereótipos de gênero


revelam-se em sua plenitude, causando insatisfação tanto em quem deseja
escapar deles quanto em quem pretende se adequar a eles. A vida conjugal
exige muitas adaptações nas relações entre os cônjuges. Embora atualmente o
namoro e o noivado tenham algumas similitudes com o casamento, somente
no cotidiano da vida conjugal aparecem situações que estiveram ausentes nos
estágio anteriores.
Os participantes, durante as discussões, levantaram outros indícios que
pudessem assinalar a qualidade da relação. O sentimento de pertencimento,
relacionado com a vontade de construção de um projeto conjugal e com a
manutenção da relação, foi enfatizado como indicador de boa qualidade da
relação conjugal. O sentimento de estranheza, por outro lado, foi considerado
um fator indicativo de má qualidade da relação conjugal. A fala de uma das
participantes ilustra bem essa oposição pertencimento/estranheza: “Eu acho
que o desejo de casar é o desejo de pertencer, e acho que o desejo de descasar é
o estranhamento”. O sentimento de pertencimento está associado tanto ao
sentimento amoroso quanto à segurança dos parceiros na relação conjugal. A
permanência em uma relação conjugal foi relacionada ao amor correspondi­
do, à satisfação mútua e à participação dos parceiros nas realizações de cada
um. A busca da segurança parece ser uma tentativa de minimizar a ansiedade
causada pela ambivalência característica dos laços humanos na contempora-
neidade, laços estreitos e frouxos. A intensidade e a velocidade das mudanças
na sociedade contemporânea abrem possibilidade para relacionamentos mais
fugazes, baseados na grande oferta de momentos prazerosos e na necessida­
de de satisfação urgente, ao mesmo tempo em que as relações profundas e
estáveis ainda são valorizadas.
Ao discutir e analisar escolha, manutenção e término da relação con­
jugal, os participantes demonstraram insegurança. Consideraram que não
há indicadores seguros de que uma relação deva ser iniciada, mantida ou
finalizada. Nas falas, os sujeitos ressaltaram que deve haver cuidado com a
relação, que ela deve permanecer dinâmica, com movimentos de aproximação
e distanciamento. Foi referido que existem movimentos de “casamento e des-
casamento na mesma relação”. Podemos afirmar que há uma exigência de que
o dinamismo característico das transformações das relações contemporâneas
deve ser assimilado pela relação conjugal, tornando-a múltipla e multifaceta-
da, abrigando o novo e o antigo, liberando-a de definições aprisionadoras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo das relações conjugais exige que levemos em consideração que
as definiçõeS e as representações sociais com as quais trabalhamos são parciais
52 ADRIANA W A G N E R & C O L S.

e relativizadas. A partir das contribuições dos estudos de campo e da diver­


sidade de modelos de relação encontrados, pode-se reformular os construtos
teóricos da literatura da área de família e casal. No entanto, as famílias e a
sociedade, como um todo, evitam discutir abertamente essa diversidade. De
modo geral, quando se pergunta sobre conjugalidade, a descrição se refere ao
modelo tradicional, mesmo que existam outras necessidades sociais não mais
satisfeitas por tal modelo. Dessa forma, o pensamento crítico acerca dos modos
de estabelecimento das relações conjugais e das motivações a elas subjacentes
é limitado. Os modelos estabelecidos parecem ser modelos compulsórios.
Porém, mesmo considerando os modelos compulsórios de conjugali­
dade, existem mudanças subliminares em curso nas relações, que dizem
respeito aos motivos que levam as pessoas ao relacionamento. As motiva­
ções para a conjugalidade são muitas vezes contraditórias e ambivalentes,
caracterizando-se tanto pelo desejo de construir novos padrões relacionais
quanto pelo retorno aos sólidos padrões tradicionais. Além disso, as moti­
vações são muito diversificadas e, a cada novo casal que se forma, a síntese I
de motivações deve dar origem a algo inédito. Dessa forma, por um lado,
elas podem possibilitar mudanças; por outro, podem também reforçar a
manutenção de modelos tradicionais. Percebendo que as famílias e a escola,
na condição de instituições educadoras, são capazes de influenciar tanto as
mudanças quanto a perpetuação dos modelos relacionais, elas necessitam
estar atentas para não construir mecanismos de inferiorização e formas de
subalternidade.
A manutenção dos modelos tradicionais é reforçada, dentre outros
fatores, pela transgeracionalidade. Mudanças nas características relacionais
podem fazer surgir sentimentos de deslealdade com as famílias de origem.
Além disso, a repetição dos padrões relacionais mais conhecidos é entendi- I
da por muitos como um indicativo de garantia da satisfação conjugal. No
entanto, a transgeracionalidade não é imutável; pelo contrário, ela é dinâ- j
mica e, assim, passível de transformação. E a busca de um modelo único que
garanta a satisfação conjugal através de padrões relacionais pré-estabelecidos
não mais encontra ressonância na atualidade.
Na tentativa de satisfazer as novas demandas nos relacionamentos
são buscados novos parâmetros. No entanto, as dificuldades se instalam
quando são utilizadas velhas formas de pensar para entender novas ne­
cessidades sociais. Diante dessas dificuldades, emerge uma diversidade de
modelos existentes, antes mantidos na invisibilidade. Nesse sentido, se faz
necessário ampliar o âmbito e a profundidade das discussões sobre o tema,
enfrentando toda sua complexidade e diversidade. Os processos educacio­
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMÍLIA C O N T E M P O R Â N E A 53

nais, ao incluir a análise das necessidades individuais dos sujeitos, deve­


ríam levar em consideração as indefinições e as ambiguidades inerentes
aos fenômenos subjetivos. Para isso, é preciso atingir a conscientização de
que a conjugalidade é um fenômeno social e subjetivo. Assim, poderíam ser
abertas vias de transformação dos modelos relacionais, levando a maiores
possibilidades de satisfação individual e de convivência com a diversidade
na sociedade.
Em nosso estudo, a percepção da necessidade de mudanças no modelo
relacionai conjugal apareceu predominantemente no discurso das mulheres.
Os homens mostraram algum engajamento na busca de maior igualdade en­
tre os sexos, mas muitos deles, contraditoriamente, reforçaram os moldes
patriarcais de convivência. Esses achados apontam que as mudanças sociais
nas relações entre homens e mulheres, sobretudo no que diz respeito à conju­
galidade, são bastante parciais, associando-se a dois fatores:

1. a distorção das análises sobre os seres humanos baseadas no sexo,


por meio da naturalização de comportamentos que são construídos
e sustentados pela cultura e pela ideologia;
2. a manutenção da heteronormatividade, que coloca o homem hete­
rossexual como figura central de direito sobre os demais.

As mulheres, impulsionadas pelo aumento em seu nível educacional,


assim como pela profissionalização, que aumenta a possibilidade de exercer a
liberdade de escolhas, se sobressaem na busca pelo reconhecimento da diver­
sidade, mobilizadas pela luta por direitos há muito abafados pelo machismo.
Uma vez que aderem mais prontamente aos valores que enaltecem a indivi­
dualidade, e estando mais conscientes sobre seus posicionamentos na relação
conjugal, elas exercem mais intensamente o poder de escolha e diversificam
mais os motivos que as fazem escolher. As mulheres parecem estar cada vez
mais questionadoras, na medida em que têm investido no autoconhecimento
e na autonomia. Com isso passaram também a questionar a naturalização do
ciclo evolutivo vital, que preconiza a seguinte ordem: nascer, crescer, casar e
multiplicar-se.
A noção de relação conjugal baseada nas afinidades entre os parcei­
ros, como resultante do encontro de individualidades, da cooperação entre
elas e das transformações daí decorrentes, pode favorecer a ampliação da
compreensão das motivações para a conjugalidade. A afinidade fomenta a
coconstrução e, assim, a corresponsabilização pela relação, possibilitando
mudanças e formas alternativas relacionais.
54 ADRIANA W A G N E R & C O L S.

■ R elem b ran d o ...


■ / A s m otivações p ara o esta b e le cim e n to de re la çõ e s co njugais sào baseadas na
satisfação de necessid a d e s individuais, fa m ilia re s e sociais.
V A ideologia d o a m o r rom ântico contribui para o e n g a ja m e n to a m oroso nas re la ­
ções conjugais, m as tam bém para a ide a liza çã o e xce ssiva d essas relações.
■S A educação fa m ilia r e a transm issão ge ra cio n a l interferem no m odo com o as p e s­
soas se relacionam conjugalm ente.
S O que satisfaz os cô n ju g e s num a época inicial do relacionam ento não g arante
perm anentem ente a satisfação conjugal. A s nece ssid a d e s e as m otivações rela­
cionais se transform a m ao longo do ciclo evolutivo.
■ / M odelos de relacion a m e n to conjugal tra d icio n a is não são m ais suficientes para a
satisfação de necessid a d e s relacionais co ntem porâneas.
S A s rela çõ e s de g ê n e ro tra d ic io n a is s a tisfa ze m m a is a o s ho m e n s d o q u e ás m u ­
lheres.
■S A atração física e o a m o r são m otivos im p o rta nte s na busca do re lacionam ento
conjugal, m as se tra n sfo rm a m ao longo d o tem po.
• / A m aternidade é um e le m e n to im portante da iden tid a d e fem inina e m otiva as rela­
ções conjugais.
v '' H om ens e m ulheres costum am se frustrar em razão de expectativas m uito idealiza­
das com respeito ás relações conjugais.
■ / A pesar de todas as transform ações, as relações conjugais continuam sendo im por­
tantes na vida e na construção das identidades contem porâneas.

1. O que leva as pessoas a qu e re re m se re la cion a r conju g a lm e n te ?


2. É possível que os o b jetivo s de vida de hom ens e de m ulheres possam se e n co n tra r nas
relações conjugais?
3. C om o com pa tib iliza r os enco n tro s e os d e se n co n tro s e n tre as relações co njugais tra d icio ­
nais e as novas possibilidades em ergentes?
4. Q ual a relação entre a persistência da ideologia do a m o r rom â n tico e o a u m ento das sepa­
rações e divórcios?
D E S A F IO S P S IC O S S O C IA IS DA FAMÍLIA C O N T E M P O R Â N E A 55

Filmes:

M A M M A M IA
S in o p s e : 1999, na ilha grega de K alokairi. S ophie (A m anda S eyfrie d ) está p re ste s a
se ca sa r e, sem saber quem é seu pai, envia convites para S am C a rm ich a e l (P ierce
B rosnan), H arry B right (Colin Firth) e B ill A nd e rso n (S tellan S karsgard). E les vêm de
diferentes partes do mundo, dispostos a reencontrar a mulher de suas vidas: Donna
(M eryl S treep), m ãe de Sophie. A o chegarem D onna é su rp re e n d id a , te n d o que inven­
tar d esculpas para não revelar quem é o pai de Sophie.
A s p e c to s a s e re m d is c u tid o s /tra b a lh a d o s : O film e ilustra c o m o os segredos
fam iliares podem interferir na fo rm ação de um no vo casal e su a s re ve rberações em
todos os m em bros da fam ília.

DANÇA COMIGO?
S in o p s e : H á v ários anos o a dvogado John C lark (R ichard G ere), e sp e cia lista e m testa­
m entos, leva um a vida rotineira d o trabalho para casa e d e casa p a ra o trabalho. A pesar
de a m a r sua m ulher, B everly (Susan S arandon), e seus filhos, John sente que algo está
faltando algo em sua vida. Por a caso vê, na ja n e la de um a a ca d e m ia , P aulina (Je n n ife r
Lopez), um a bela professora de dança. E sperando se a proxim ar dela, Jo h n se m atri­
cula na academ ia. N o entanto, P aulina rapid a m e n te elim ina q u a lq u e r po ssib ilid a d e de
envolvim ento com John, m as isso não o fa z d e ixa r de freq u e n ta r o local, pois e le acha
cada vez m ais relaxante e d ivertido dançar. E ntretanto, John não se se n te à vontade
para contar isso para Beverly, que, ao ver m udanças no c o m p o rta m e n to do m arido,
contrata um detetive, pois suspeita que ele esteja envo lvid o com alguém .
A s p e c to s a s e re m d is c u tid o s /tra b a lh a d o s : O film e evidencia as tra n sfo rm a çõ e s nas
aspirações iniciais de um ou am bos os cônjuges no d e co rre r da vida conjugal e d e ­
m onstra que um a longa vida em co n ju n to pode não ser ne ce ssa ria m e n te um a vida de
intim idade e confiança.

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