objetivo que tinha na Grécia Antiga: ao contrário do que muita gente pensa, os acentos não têm a função de distinguir entre duas palavras muito parecidas, mas são usados para sinalizar, quando for necessário, a prosódia de uma palavra. Numa definição simplificada, a prosódia seria a correta colocação da sílaba tônica dentro do vocábulo; quem diz RUbrica, com a tônica no "RU", está cometendo exatamente um erro de prosódia, pois a forma correta é ruBRIca. Como aprendemos desde os primeiros anos de escola, a sílaba tônica pode ser a última sílaba da palavra (as oxítonas), a penúltima (as paroxítonas) ou a antepenúltima (as proparoxítonas). Como é natural, a maior parte de nossos vocábulos não necessita de acento porque sua prosódia está de acordo com a expectativa dos falantes. Os vocábulos acentuados - na verdade, apenas 20% de nosso vocabulário total - são exatamente os que se afastam dessa pronúncia esperada, como você verá logo a seguir. Neste caso, o acento indica aquela sílaba tônica que fica onde normalmente não se esperaria que ela ficasse. Por exemplo: por que táxi é acentuado? Usando a experiência que todos nós temos do Português escrito, vemos que a maioria dos vocábulos que terminam em i são lidas instintivamente como oxítonos: sucuri, aqui, saci. Esta é uma tendência comprovada estatisticamente. Em TAxi, portanto, o acento nos avisa de que esta palavra não segue o padrão, já que sua tônica não é a última. Examine os exemplos abaixo e verá que os vocábulos que recebem acento são os que contrariam a tendência normal:
doutor, amor, calor, vapor, compor / Mas flúor
doce, pobre, volte, grave, parede / Mas você
saci, aqui, colibri, desisti, escrevi / Mas táxi
Com base nesse princípio muito simples -
assinalar o inesperado, deixar sem marca o que é previsível -, a Comissão de 1943 com sua lógica geométrica passou a decidir quais são os vocábulos que precisam de acento. Isso foi feito através de regras que são aplicadas a determinados perfis de vocábulos, sem casos especiais ou exceções: (1) Como o tipo de vocábulo mais freqüente do Português são os paroxítonos terminados em A(s), E (s), O(s), EM e ENS, estes ficaram sem acento. Inversamente, todos os que tiverem outros finais (i, um, á, l, r, ps, etc.) ficaram com acento. É por isso que escrevemos tolo, cera, coroa, totem, vezes, doce, gelo, deve (sem acento), mas hífen, ónix, flúor, ímã, órgão, ravióli, álbum (com acento). Esta distribuição de acento nos paroxítonos vai determinar o acento dos oxítonos, classe muito menos importante:
PAROXÍTONOS final A(s), E(s), O(s), EM, ENS: sem acento.
PAROXÍTONOS o resto: com acento.
OXÍTONOS final A(s), E(s), O(s), EM, ENS: com acento.
OXÍTONOS o resto: sem acento.
(2) - Todos os proparoxítonos recebem
acento gráfico para assinalar que a sílaba mais forte é a antepenúltima; caso contrário, a tendência normal seria lê-las como paroxítonos:
médico pólvora intrépido víramos
Aqui se incluem os paroxítonos terminados
em ditongo crescente (-ie, -ia, -uo, -ua, etc.): série, água, mágoa, núcleo, história. Devido à elasticidade dos ditongos crescentes na fala, essa sílaba final pode (repito: pode), numa pronúncia mais escandida ser dividida em duas (/sé-ri-e/, /nú-cle-o) o que transforma essas palavras, na fala, em proparoxitonas. Alguns autores, inclusive, para assinalar o fato, dizem que essas palavras especiais podem ser chamadas de "proparoxítonas eventuais ou relativas" -. mas isso só diz respeito à acentuação, pois continuam a ser paroxítonas, como atesta a sua divisão em sílabas:
sé-rie, nú-cleo, his-tó-ria.
(3) - Em seguida, são contemplados com
acento gráfico alguns encontros vocálicos (hiatos e ditongos) cuja pronúncia a Comissão julgou necessário assinalar: os ditongos abertos éi, éu e ói (oxítonos).