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GRUPO I
PARTE A
Leia o texto.
MARIA (Como quem lhe vai tapar a boca) – Agora é que tu ias mentir de todo … Cala-te. Não sei
para que são estes mistérios: cuidam que eu hei de ser sempre criança! Na noite que viemos para
esta casa, no meio de toda aquela desordem, eu e minha mãe entrámos por aqui dentro sós e
viemos ter a esta sala. Estava ali um brandão1 aceso, encostado a uma dessas cadeiras que tinham
5 posto no meio da casa: dava todo o clarão da luz naquele retrato… Minha mãe, que me trazia pela
mão, põe de repente os olhos nele e dá um grito. Oh, meu Deus!... ficou tão perdida de susto, ou
não sei de quê, que me ia caindo em cima. Pergunto-lhe o que é, não me respondeu. Arrebata da
tocha, e leva-me com uma força… com uma pressa a correr por essas casas, que parecia que vinha
alguma coisa má atrás de nós. Ficou naquele estado em que a temos visto há oito dias, e não lhe
10 quis falar mais em tal. Mas este retrato que ela não nomeia nunca de quem é, e só diz assim às
vezes: “O outro, o outro…”, este retrato e o de meu pai que se queimou, são duas imagens que lhe
não saem do pensamento.
TELMO (com ansiedade) – E esta noite ainda lidou2 muito nisso?
MARIA Não; desde ontem pela tarde, que cá esteve o tio Frei Jorge e a animou com muitas
15 palavras de consolação e de esperança em Deus, e que lhe disse do que contava abrandar os
governadores, minha mãe ficou outra; passou-lhe de todo, ao menos até agora. Mas então,
vamos, tu não me dizes do retrato? Olha: (designando o de el-rei D. Sebastião) aquele do meio,
bem sabes se o conhecerei; é o do meu querido e amado rei D. Sebastião. Que majestade! Que
testa aquela tão austera, mesmo dum rei moço e sincero ainda, leal, verdadeiro, que tomou a
20 sério o cargo de reinar, e jurou que há de engrandecer e cobrir de glória o seu reino! Ele ali está… E
pensar que havia de morrer às mãos de mouros, no meio de um deserto, que numa hora se havia
de apagar toda a ousadia refletida que está naqueles olhos rasgados, no apertar daquela boca!...
Não pode ser, não pode ser. Deus não podia consentir em tal.
TELMO Que Deus te ouvisse, anjo do céu!
25 MARIA Pois não há profecias que o dizem? Há, e eu creio nelas. E também creio naquele outro
que ali está (indica o retrato de Camões), aquele teu amigo com quem tu andaste lá pela Índia,
nessa terra de prodígios e bizarrias, por onde ele ia… como é ? ah, sim…
“N’ũa mão sempre a espada e noutra a pena…”3
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (dir. Annabela Rita), Porto, Edições Caixotim, 2004.
2. Explique por que razão a perda do retrato de Manuel de Sousa e a presença do retrato
“que ela não nomeia nunca de quem é” (l. 10) incomodam D. Madalena.
3. Explicite as referências à crença sebástica e a importância que esta assume para certas
personagens, fundamentando a resposta com citações textuais pertinentes.
1.
PARTE B
Leia o excerto do canto X de Os Lusíadas.
146 148
E não sei por que influxo de Destino Por vos servir, a tudo aparelhados6;
Não tem um ledo orgulho e geral gosto, De vós tão longe, sempre obedientes;
Que os ânimos levanta de contino A quaisquer vossos ásperos mandados,
A ter pera trabalhos ledo o rosto. Sem dar reposta, prontos e contentes.
Por isso vós, ó Rei, que por divino Só com saber que são de vós olhados,
Conselho1 estais no régio sólio2 posto, Demónios infernais, negros e ardentes,
Olhai que sois (e vede as outras gentes) Cometerão7 convosco, e não duvido
Senhor só de vassalos excelentes. Que vencedor vos façam, não vencido.
147
Olhai que3 ledos vão, por várias vias, Luís de Camões, Os Lusíadas [canto X] (leitura, prefácio
e notas de A. Costa Pimpão), 4.a ed., Lisboa,
Quais rompentes liões e bravos touros, Instituto Camões – Ministério dos Negócios
Dando os corpos a fomes e vigias4, Estrangeiros, 2000, pp. 523-524.
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolátras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo5.
1 divino / Conselho = providência de Deus; 2 trono (de Portugal); 3 quão; 4 vigílias; 5 abismo da morte; 6 preparados;
7 acometerão.
7. Nas duas obras, Os Lusíadas e Frei Luís de Sousa, o rei D. Sebastião é uma figura
particularmente destacada.
Escreva uma breve exposição na qual evidencie o modo como este monarca é
apresentado na obra de Garrett e na epopeia Camoniana.
GRUPO II
O mar: rumo para o futuro de Portugal
5. A oração “que poderão vir a representar 15 a 20 mil milhões de euros” (ll. 18-19)
classifica-se como subordinada
(A) substantiva completiva.
(B) adverbial consecutiva.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) adjetiva relativa explicativa.
GRUPO III
Desde tempos imemoriáveis o mar tem feito parte dos destinos e da ação dos portugueses.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
e cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre o facto de Portugal ter como
fronteira natural o mar, apresentando vantagens e desvantagens, considerando quer o nosso
passado histórico quer o presente.
No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois
argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
FIM
COTAÇÕES
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I
16 16 16 8 16 16 16 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
8 8 8 8 8 8 8 56
III Item único 40
TOTAL 200
Proposta de correção
GRUPO I
PARTE A
1. Este excerto integra-se na primeira cena do ato II. A ação tem lugar na sala dos retratos do
palácio de D. João de Portugal, palácio para onde a família de Manuel de Sousa Coutinho se viu
obrigada a mudar após este ter incendiado o seu. Essa ação teve como objetivo impedir que os
governadores, representantes do poder castelhano, fossem habitar a casa de Manuel de Sousa.
Esta mudança vai influenciar a família, mas mais diretamente Madalena de Vilhena, cujos
terrores e anseios se agravam, em virtude dos medos que a presença constante do seu
primeiro marido lhe trazem. Esta sensação é exacerbada pelos três retratos (principalmente o
do seu primeiro marido) que ocupam lugar de destaque na sala e que remetem, de forma
indireta, para o regresso do passado, facto que aterroriza Madalena de Vilhena, agudizando o
seu estado emocional ao ponto de esta adoecer durante os primeiros oito dias de permanência
neste segundo palácio.
2. A perda do retrato de Manuel de Sousa Coutinho no incêndio tem uma influência negativa no
comportamento de Madalena de Vilhena. De facto, neste desaparecimento, D. Madalena
antevê o desaparecimento físico do marido e, consequentemente, o fim do seu segundo
casamento. Ao longo de toda a ação, D. Madalena de Vilhena sofre com a possibilidade de
D. João de Portugal ainda estar vivo, uma vez que o seu corpo nunca foi encontrado. Este
temor torna-se ainda mais real quando entra na sala dos retratos do palácio do seu antigo
marido e o clarão proveniente de uma tocha destaca o de D. João. Madalena de Vilhena toma
isso como um sinal de recriminação e censura do seu amor por Manuel de Sousa Coutinho.
3. As referências à crença sebástica estão presentes na réplica de Maria (ll. 14-23), em que esta
expressa a sua dúvida quanto à morte do rei D. Sebastião (“Não pode ser, não pode ser. Deus
não podia consentir em tal.”). Esta crença de Maria é também a de Telmo e a da generalidade
da população portuguesa, que vê o regresso do messiânico rei como a possibilidade de
reconquistar a independência perdida para Castela.
A convicção de Maria é também a de Telmo, que se recusa a acreditar na morte de seu
primeiro amo, D. João de Portugal, cujo retrato ainda o fascina.
4. A jovem Maria de Noronha é muito perspicaz como se pode verificar na sua primeira réplica
onde refere a influência da visão do retrato de D. João no estado de espírito de sua mãe
(“Minha mãe, que me trazia pela mão, põe de repente os olhos nele e dá um grito. Oh, meu
Deus!... ficou tão perdida de susto, ou não sei de quê, que me ia caindo em cima.”, ll. 5-7);
mostra-se também esclarecida e conhecedora da História de Portugal, uma vez que se refere a
D. Sebastião e à sua importância (“e jurou que há de engrandecer e cobrir de glória o seu reino!
Ele ali está… E pensar que havia de morrer às mãos de mouros, no meio de um deserto, ll. 20-
-21). Revela também ser culta, na medida em que se mostra conhecedora da vida e obra de
Camões, como se verifica na última réplica e na citação de um verso de Os Lusíadas.
PARTE B
6. A enumeração inicia-se no verso 3 e prolonga-se até ao final da estrofe. Ao longo dos versos, o
poeta refere os inúmeros e gravíssimos perigos e riscos que os portugueses enfrentam pelo rei
e pela pátria, para o seu engrandecimento, correndo mesmo risco de vida (v. 8) sem, no
entanto, demonstrarem medo, portando-se, ao contrário, como “rompentes liões e bravos
touros”. Esta enumeração exalta assim o valor, a força e a honradez dos lusitanos.
PARTE C
7. O sebastianismo tem sido um tema recorrente na literatura portuguesa, convocado por
diversos autores e em diferentes épocas, começando em Luís de Camões até aos nossos dias.
No século XVI, o épico português dirige-se ao monarca vigente, D. Sebastião, dedicando-lhe
Os Lusíadas. Em dois momentos distintos da epopeia, na Dedicatória e no canto X, Camões
toma o rei como recetor do seu discurso e elogia-o, antevendo para o seu reinado glórias e
vitórias futuras, por um lado, e, por outro, exorta-o a proteger e a valorizar os seus súbditos
(como se pode ver nas estâncias reproduzidas do canto X).
Garrett, três séculos depois, alimentará o mito sebastianista através das personagens Telmo
Pais e Maria de Noronha, que, num drama que recupera o final do século XVI e a perda da
independência de Portugal, se apresentam como fervorosos patriotas, alimentando a crença no
rei desaparecido em Alcácer Quibir e desejando o seu regresso para que Portugal retomasse a
sua independência.
Assim, pode-se perceber que, enquanto em Os Lusíadas a figura de D. Sebastião é física, real
e o seu reinado estava apenas iniciado, em Frei Luís de Sousa a imagem do rei é sobretudo
simbólica: o fracasso da batalha de Alcácer Quibir era um facto e o monarca estava
desaparecido. Assim, o homem físico presente em Os Lusíadas deu lugar ao mito que
personagens como Telmo e Maria transportam em si. (231 palavras)
GRUPO II
1. (C)
2. (A)
3. (D)
4. (B)
5. (A)
6. a) Complemento direto.
b) Sujeito.
7. “o imenso mar”.
GRUPO III
O mar é um dos limites geográficos de Portugal desde os primórdios da sua fundação, talvez o único
que não sofreu alteração. Como diz o poeta, “aqui acaba a terra”, o mar acabou por ser encarado pelo
povo português não como uma barreira, mas como uma possibilidade de expansão.
No passado, os ousados portugueses enfrentaram o mar e lograram dilatar o país, criando um
verdadeiro império, feito que levou poetas e escritores a imortalizarem tão bravos “guerreiros”. No
entanto, também eles referiram o lado negro desta ousadia: a morte andou de mãos dadas com a fama
e a glória. Mas todo o sofrimento valeu a pena pois foram inúmeras as vantagens que os
Descobrimentos portugueses trouxeram ao país e ao mundo: as trocas comerciais, a expansão
económica, a variedade cultural e linguística.
Por outro lado, embora o país viva, atualmente, tempos de estabilidade em termos geopolíticos, e
até económicos, esta situação nem sempre se verificou. Nesses tempos, Portugal beneficiou da sua
localização no globo, tendo sido o mar uma barreira natural que dificultava ataques e invasões por via
marítima, protegendo desta forma o país.
A passagem do tempo e a evolução trouxeram ao mar novas abordagens. Atualmente, a sua
importância estende-se por diversas áreas, desde o turismo até à pesca, passando pela exploração de
minerais e pelo aproveitamento das ondas, o que permite um incremento a nível económico. Além
disso, também ganhou relevo a nível científico, já que a sua fauna e flora são objeto de estudo assim
como a sua influência na sustentabilidade do planeta. De facto, o conhecimento do mar e o incremento
de atividades económicas com ele relacionado otimizaram as comunicações com o resto do globo.
A localização de Portugal à beira mar plantado continua a constituir, ainda hoje, um desafio.
Continua a ser o porto ou a porta de embarque do e para o resto do mundo, um constante desafio para
o desenvolvimento social, cultural, científico, turístico e económico.
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