Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Sumário
1. Introdução. 2. A dicotomia entre direito
natural e direito positivo. 3. O conceito de Es-
tado e sua evolução. 4. Estado estamental. 5.
Estado de Polícia. 6. Liberalismo e Estado de
Direito. 7. The Rule of Law e o Rechtsstaat. 8. Es-
tado Legal. 9. Estado Social. 10. O Estado De-
mocrático de Direito. 11. Conclusão.
1. Introdução
O termo “Estado Democrático de Direi-
to”, conquanto venha sendo largamente uti-
lizado em nossos dias, é pouco compreen-
dido e de difícil conceituação em face das
múltiplas facetas que ele encerra.
No Estado contemporâneo, em virtude
da maximização do papel do poder públi-
co, que se encontra presente em praticamente
todas áreas das relações humanas, a expres-
são “Estado Democrático de Direito” ganha
uma extensão quase que ilimitada, mas, con-
seqüente e paradoxalmente, perde muito em
compreensão.
O fato de esse termo ter sido incluído em
nosso atual texto constitucional, no seu
Enio Moraes da Silva é Procurador do Esta- primeiro artigo, adjetivando a República
do de São Paulo, Mestre em Direito pela Uni- Federativa do Brasil, torna obrigatória a sua
versity of Florida, Doutorando em Direito do compreensão, com todas as conseqüências
Estado pela USP. que dela podem e devem advir.
Brasília a. 42 n. 167 jul./set. 2005 213
Não obstante, esse status constitucional Nesse diapasão, será abordada ainda a
não torna essa tarefa mais fácil: ao contrá- questão da proeminência, em dada época,
rio, aumenta a responsabilidade do intér- do chamado Estado de legalidade ou, sim-
prete constitucional, especialmente em ra- plesmente, Estado Legal, com todas as suas
zão das implicações, das mais diversas na- características, e como o mesmo evoluiu –
turezas, que possam se originar do entendi- ou deve evoluir – para um Estado Democrá-
mento – e sua conseqüente aplicação – do tico de Direito.
que venha a ser “O Estado Democrático de
Direito”. 2. A dicotomia entre direito
O presente estudo não tem a pretensão natural e direito positivo
de entregar, ao final de suas poucas pági-
nas, uma definição perfeita e acabada do Para alcançar uma compreensão do Es-
termo em tela. Até porque se trata de um tema tado de Direito, não se pode prescindir de
dinâmico e em constante evolução. uma análise da distinção entre direito natu-
A fluidez do termo ora em exame está ral e direito positivo, considerando que essa
diretamente relacionada aos diferentes tipos é uma dicotomia estabelecida pelo pensa-
de Estados hoje existentes, variações essas mento jurídico ocidental, e que influenciou
que influenciam e dificultam uma generali- e ainda influencia fortemente as relações
zação a esse respeito. E, além disso, impor- sociedade–Estado e Estado–indivíduo, sen-
lhe uma definição única, indisputável, se- do que não se pode falar da instituição Es-
ria desconsiderar a existência de inúmeras tado sem falar no Direito.
formulações teóricas e constatações empíri- Dessa divisão teórica resultam vários ques-
cas do que sejam “democracia” e “direito”, tionamentos quando se perquire da relação
conceitos ligados ao primeiro termo e que do Estado com o Direito. Um deles diz respei-
também correm como líquido. to aos limites do poder estatal no que toca ao
Entretanto, sem embargo das vicissitu- direito natural. O Estado sofreria limitações
des que se apresentam, o estudo do “Estado do direito natural? Ou somente o direito posi-
Democrático de Direito” permite uma abor- tivo limitaria a ação do poder público?
dagem histórica, pela qual se pode enten- Outra intrigante questão surge quando
der a sua evolução no tempo e em face dos se afirma que o próprio Estado deve ser sub-
fatos que o influenciaram, que certamente metido ao Direito para o seu controle. Mas
serve de caminho para a sua melhor com- como pode, então, o Direito se limitar às
preensão. Além disso, a análise de princípi- normas que o próprio Estado produz? Não
os que com ele se relacionam e o dirigem se revela uma incongruência deixar a cargo
ajudará a explicar os laços que enfeixam o do Estado produzir as próprias normas que
referido conceito. irão controlá-lo?
A análise da evolução do Estado de Di- Norberto Bobbio (1995, p. 17) esclarece
reito para o Estado Democrático de Direito é que a distinção entre direito natural e direi-
de suma importância para entender o senti- to positivo já havia sido identificada até
do que se deve empregar hodiernamente mesmo na antiguidade, com Platão e Aris-
para o termo que dá nome ao presente escrito. tóteles. Este último utilizou-se de dois crité-
O caminho que procuraremos percorrer rios para chegar a tal diferenciação: (1) o
neste trabalho, portanto, passará pelo estu- direito natural é aquele que tem em toda parte
do dos fatores históricos que influenciaram a mesma eficácia, enquanto o direito positi-
a formação do conceito em questão, tanto vo tem eficácia apenas nas comunidades
com relação à evolução do Direito como à políticas singulares em que é posto; (2) o
transformação do Estado Liberal em Estado direito natural prescreve ações cujo valor
Social. não depende do juízo que sobre elas tenha o