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PUC-SP
DOUTORADO EM FILOSOFIA
SÃO PAULO
2012
EVANDRO OLIVEIRA DE BRITO
DOUTORADO EM FILOSOFIA
SÃO PAULO
2012
2
Banca Examinadora:
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3
AGRADECIMENTOS
4
porvenir de la filosofia (1936), Vom Ursprung sittlicher Erkenntnis /
herausgegeben und eingeleitet von Oskar Kraus (1889) e (1921), Religion und
Philosophie: ihr Verhältnis zueinander (1954), Von der mannigfachen
Bedeutung des Seienden nach Aristoteles und ihre gemeinsamen Aufgaben
(1960). Sou grato, além disso, pela possibilidade de acessar a base de dados
da University of California Santa Barbara e pesquisar em 311 artigos escritos
pelos principais comentadores de Brentano. Ao admirável amigo Luiz
Hebeche, sou grato pela cópia do livro que amarrou este trabalho, Wahrheit
und evidenz: erkenntnistheoretische abhandlugen und briefe (1974). À amiga
Mirena dos Santos, sou grato pelo livro L‟origene de la connaissance moral
suive de la doctrine du jugement corret (2003).
Agradeço imensamente aos professores que aceitaram participar da
banca de avaliação deste trabalho na qualificação e na defesa final. Sou grato
também aos professores da Universidade Federal de Santa Catarina que me
aceitaram como aluno especial no curso de pós-graduação em filosofia.
Agradeço especialmente aos professores Arlene Reis, Celso Braida, Darlei
Dall’agnol, Luiz Hebeche e Marcos Müller Granzotto. Sou grato aos colegas
do programa de pós-graduação em Filosofia da PUC-SP, aos colegas do
Centro Universitário Municipal de São José, aos colegas do Departamento de
Metodologia de Ensino da UFSC vinculados ao projeto de ensino de filosofia no
E.E.B. Henrique Stodieck, especialmente aos professores Nestor Habkost,
Jason Lima e Silva e Aguinaldo Amaral.
Agradeço imensamente a todos que dedicaram parte de seu
precioso tempo para ler as versões iniciais e finais desta tese. À amiga Gislene
Santos, sou grato ainda pela revisão e auxílio na redação dos termos gregos e
pelas longas discussões sobre meu tema de pesquisa. À minha amiga Elise
Jaquim e ao amigo e professor Charles Feldhaus, sou grato pelo pronto
auxílio na revisão do abstract. Ao meu colega pesquisador e professor Ernest
Giusti, sou grato ainda pela análise e pelas sugestões pontuais para correção
das versões finais deste texto. Ao meu amigo Emerson Martins, sou grado
pelas cuidadosas observações sobre as partes iniciais do texto. Ao colega
Célio Escher, sou grato pela revisão final do texto principal.
Aos membros da minha família sou eternamente grato pelo apoio
emocional e financeiro. Agradeço especialmente a minha querida mãe Maria
5
Rosa Brito, seu marido Manoel Reis e meus irmãos Ednan Brito e Eliana
Moiano, mas agradeço também a grande família Pereira que sempre me
recebeu de portas abertas a qualquer hora do dia ou da noite. Agradeço
aqueles amigos que escolhi como família quando morei na cidade de São
Paulo, Carolina Bianchi, Gabriel Bianchi, Eliane Santos, Ulises Sininho,
Amay e Fernando Monteiro e George França. Agradeço também aqueles
amigos que escolhi como família na minha ilha preferida. Muito obrigado
Gislene Vale Santos, Ana Beatriz Cerisara, Lia Vainer e a família Vainer
Schucman, Nara e Erick Sciasci, Daniel Monteiro e Diana Garay, Rogério
Lacerda e, principalmente, a minha família Morelli Matos, José Claudio, João
Carlos, Margarida, Janira e Georgina. Muito obrigado à família Jaquim e,
especialmente, à Elise Jaquim, não penas por me visitar no inverno de
Düsseldorf, mas também por me receber em Paris como membro da família.
Sou grato aos amigos “republicanos” com os quais dividi moradia nos anos de
pós-graduação. Entre eles, aos amigos de todas as horas José Cláudio
Matos, Fernando Monteiro, Graziela Barbosa, Marinês e Gabriel Angenot,
Nathalia Lambert, e Roberto Laufenschlager.
Sou grato de modo especial à amiga Lia Vainer Schucman por todo
auxílio prestado durante todos estes anos e, especialmente, obrigado por
resolver os detalhes burocráticos junto à secretaria do programa de pós-
graduação em filosofia da PUC-SP.
Finalmente, agradeço ao CAPEs pela bolsa parcial que serviu como
ajuda na concretização desta tarefa.
6
Para o grande amigo
Luiz Hebeche.
7
RESUMO
8
ABSTRACT
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I............................................................................................................................................ 24
A TEORIA DO CONHECIMENTO MORAL: O PROBLEMA FUNDAMENTAL E SEU
CONTEXTO ............................................................................................................................................ 24
1.1 A defesa da tese acerca da origem do conhecimento moral (1889) na sociedade jurídica de Viena ......... 24
1.2 Chisholm e a indicação do fenômeno psíquico de preferência como pedra de toque da ética
brentaniana ...................................................................................................................................................... 27
1.3 As noções psíquicas de fins e meios como modo de indicação da intencionalidade no ato psíquico de
preferência. ...................................................................................................................................................... 35
1.5 A proposta de superação do subjetivismo moral por meio da correta descrição dos fenômenos que
constituem a esfera psíquica. ........................................................................................................................... 50
CAPÍTULO II
A ÉTICA DO SENTIMENTO MORAL COMO DESCRIÇÃO DO FENÔMENO PSÍQUICO
DE AMOR E ÓDIO NAS FORMULAÇÕES TEÓRICAS DE 1874 ................................................. 55
2.2 A recepção da noção aristotélica de in-existência intencional do objeto como critério de distinção das
partes da alma na teoria aristotélica ............................................................................................................... 56
2.3 A definição brentaniana das três classes de fenômenos psíquicos orientanda pela dupla distinção
aristotélica entre pensamento e apetite ( e ). .............................................................................. 66
2.4 A dependência ontológica e epistemológica dos fenômenos de amor ou ódio como fundamento da
ética do sentimento moral. ............................................................................................................................... 80
2.5 O esboço de uma teoria do sentimento moral no contexto da Psicologia do ponto de vista empírico. ...... 91
CAPÍTULO III
OS FUNDAMENTOS DA DESCRIÇÃO DOS FENÔMENOS PSÍQUICOS NO CONTEXTO
DA PSICOLOGIA DESCRITIVA (1889) ........................................................................................... 112
3.2 A orientação cartesiana para a descrição das atividades da consciência em 1889................................. 114
3.3 A descrição das partes separáveis das atividades psíquicas por meio da análise das relações entre as
partes e o todo da consciência na Psicologia descritiva. ............................................................................... 119
3.4 A descrição das partes distinguíveis das atividades psíquicas por meio da análise das relações entre
as partes e o todo da consciência na Psicologia descritiva. .......................................................................... 123
10
3.5 A reformulação da descrição cartesiana da atividade psíquica fundamental: as ideae. ......................... 141
3.7 O critério brentaniano e a distinção cartesiana entre ideae e judicia ..................................................... 150
3.9 O critério brentaniano para a fundamentação da teoria da verdade como evidência ............................. 155
CAPÍTULO IV
A TEORIA ÉTICA DO CONHECIMENTO MORAL COMO DESCRIÇÃO DO FENÔMENO
PSÍQUICO DE PREFERÊNCIA NAS FORMULAÇÕES TEÓRICAS DE 1889 ......................... 167
4.2 A indicação da fonte originária do conhecimento moral a partir da descrição da justeza dos
sentimentos de amor e ódio, estabelecido por meio de uma analogia para com a definição de justeza dos
juízos .............................................................................................................................................................. 169
4.3 A análise da definição tautológica de verdade como juízo justo e a distinção entre fenômenos
psíquicos de ordem superior e ordem inferior ............................................................................................... 174
4.4 A analogia entre juízo justo e amor justo como modo de indicar os fenômenos psíquicos de ordem
superior .......................................................................................................................................................... 190
4.5 O fenômeno psíquico da preferência como fundamento da teoria do conhecimento moral ..................... 197
11
O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA NA FILOSOFIA DO PSÍQUICO DE FRANZ
BRENTANO
INTRODUÇÃO
1
Cf. Durkheim, Émile. La science positive de la morale en Allemagne. Revue philosophique, 24, 1887, p.
33-142 e 275-284.
2
Conferir o capítulo Économistes et sociologistes em Durkheim, Émile. La science positive de la morale
en Allemagne, p. 5-16.
3
Conferir o capítulo Les juristes. M. Ihering em Durkheim, Émile. La science positive de la morale en
Allemagne, p. 17-24.
4
Conferir o capítulo Les moralistes. M. Wundt em Durkheim, Émile. La science positive de la morale en
Allemagne, p. 25-47.
12
das teorias morais da época. Desse modo, o contexto do problema acerca da
moral enfrentado pelos pensadores alemães foi apresentado, então, por
Durkheim a partir da seguinte comparação com a produção intelectual
francesa:
5
“Nous ne connaissons guère en France que deux sortes de morale: celle des spiritualistes et des kantiens
d'une part, celle des utilitaires de l'autre. Cependant il s'est depuis peu constitué en Allemagne une école
de moralistes qui a entrepris de constituer l'éthique comme une science spéciale, ayant sa méthode et
ses principes. Les différentes sciences philosophiques tendent de plus em plus à se détacher les unes des
autres et à se dégager des grandes hypothèses métaphysiques qui leur servaient de liens. La psychologie
n'est plus aujourd'hui ni spiritualiste ni matérialiste, pourquoi n'en serait-il pas de même de la morale?”
Durkheim, Émile. La science positive de la morale en Allemagne, p. 4.
13
filosofia brentaniana do psíquico6 marcou explicitamente o combate ao
relativismo moral, bem como explicitou os problemas teóricos, acerca do
conhecimento moral, considerados relevantes no debate político e acadêmico
germânico na segunda metade do século XIX7.
14
evidências textuais e históricas, nossa tese compartilha a interpretação de que,
na perspectiva da ética, a originalidade dessas reformulações brentanianas
estava relacionada diretamente à possibilidade de se explicitar a evidência do
fenômeno psíquico de preferência, pois, tal como defendem Roderick Chisholm
e seus seguidores, o fenômeno psíquico de preferência passou a ser descrito
como evidente apenas nas teorias formuladas a partir de 1889 9. Assim, no que
se refere à ética brentaniana, portanto, nossa tese afirma a superação da teoria
do sentimento moral, encontrada na Psicologia do ponto de vista empírico
(1874), pela teoria da evidência do fenômeno de preferência, encontrada na
Origem do conhecimento moral (1889).
9
Chisholm foi o primeiro a indicar essa mudança. Como veremos no decorrer desta tese, sua
interpretação defende que o abandono da noção de objeto intencional (tese ontológica de Brentano) está
na base da introdução da noção de fenômeno psíquico de preferência. Cf. Roderick M. Chisholm.
Brentano on descriptive psychology and the intentional, in: Phenomenology and existentialism, p. 1-24.
10
“This is far better discussion of the most fundamental principles of Ethics than any others with which I
am acquainted. Brentano himself is fully conscious that he has made a great advance in the theory of
Ethics (...) and his confidence both in the originality and in the value of his own work is completely
justified”. G. E. Moore, International Journal of Ethics, p. 115.
15
passar por uma reformulação suficientemente consistente e capaz de redefinir
a sua filosofia do psíquico. Tratava-se, como veremos a seguir, daquilo que os
estudiosos de Brentano classificam como reformulação do ramo teórico de sua
teoria do conhecimento, chamado psicologia no sentido mais geral11. Além
disso, essa reformulação também sustentaria as reformulações dos três ramos
práticos da teoria do conhecimento, a saber: a estética, a lógica e a ética.
Acerca dessa tripartição cabe apresentar agora uma pequena observação.
Nossa análise se delineará sobre uma tese discutível, mas que não
será analisada, uma vez que não é o ponto central do nosso debate. Essa tese
afirma o status filosófico da psicologia no contexto da Psicologia do ponto de
vista empírico. Acerca desse ponto, adotaremos o consenso apresentado por
Linda McAlister12, Alfred Kastil13 e Lucie Gilson14, de que, ao menos
implicitamente, o estatuto da filosofia do psíquico, psicologia filosófica ou
filosofia da mente já se encontrava estabelecido, tal como foi efetivamente
explicitado por Brentano nas obras posteriores. Assim, como McAlister nos
lembra, já na Psicologia do ponto de vista empírico Brentano afirmava o
seguinte:
11
Cf. McAlister, Linda. The development of Franz Brentano‟s ethics, p. 10.
12
McAlister, Linda. The Development of Franz Brentano‟s Ethics, p. 10-12.
13
Kastil, Alfred. Die Philosophie Franz Brentano, p. 27-28.
14
Gilson, Lucie. La Psychologie descriptive selon Franz Brentano, p. 77.
15
„Nur ganz flüchtig weise ich darauf hin, wie in der Psychologie die Wurzeln der Ästhetik liegen, die
unfehlbar bei vollerer Entwickelung das Auge des Künstlers klären und seinen Fortschritt sichern wird.
Auch das sei nur mit einem Worte berührt, daß die wichtige Kunst der Logik, von der ein Fortschritt
tausend Fortschritte in der Wissenschaft zur Folge hat, in ganz ähnlicher Weise aus der Psychologie
ihre Nahrung zieht. Aber die Psychologie hat auch die Aufgabe, die wissenschaftliche. Grundlage einer
Erziehungslehre, des Einzelnen wie der Gesellschaft, zu werden. Mit Ästhetik und Logik erwachsen
auch Ethik und Politik auf ihrem Felde. Und so erscheint sie als Grundbedingung des Fortschrittes der
16
É oportuno, ainda, indicar o contraponto dessa interpretação no
contexto da teoria ética brentaniana e colocar essa distinção de modo mais
objetivo.
Para ser exato, a ética mantém o mesmo tipo de relação interna para
com o braço teórico da filosofia, especificamente para com a
psicologia, da mesma maneira que a agricultura e a medicina se
relacionam com a química orgânica e a fisiologia. Mas existem outras
disciplinas com o mesmo status na filosofia, a saber, estética e lógica.
Cada uma tem a função de explicitar um ideal particular em sua
própria perfeição psíquica. Existem três ideais, os quais
correspondem aos três tipos básicos de atividades psíquicas:
representações, juízos e interesses. A perfeição própria das
representações é a beleza; dos juízos, a verdade; dos interesses
17
(amor e ódio), bens morais .
Menschheit gerade in dem, was vor allem ihre Würde ausmacht“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Erst Band, p. 30.
16
Cf. Brentano, Franz. Grundlegung und Aufbau der Ethik, p. 6-7.
17
„Gewiss ist ihre Beziehung zu den theorethischen Zweigen der Philosophie, insbesondere zur
Psychologie, ähnlich innig wie bei jenen zur organichen Chemie und Physiologie. Aber auch andere
praktische Disziplinen gehören in solcher Weise zum Gebiete der Philosophie, wie namentlich die
Ästhetik und die Logik. Jede hat die Aufgabe, einem besonderen Ideal, einer eigentümlichen
seelischen Vollkommenheit zu dienen. Es gibt drei solcher, entsprechend den drei psychischen
Grundklassen: Vorstellen, Urteilen und Interesses. Die eigentümliche Vollkommenheit des Vorstellens
ist die Schönheit, die des Urteils die Wahrheit, die des Interesses (Liebens und Hassens) die sittliche
Güte“. Brentano, Franz. Grundlegung und Aufbau der Ethik, p. 6.
17
psicologia e a metafísica) e o ramo prático (que comporta a estética, a lógica e
a ética). Trata-se da dependência do conhecimento prático em relação ao
teórico. Desse modo, diz ela:
18
“He believes it (philosophy) to be composed of two theoretical branches, (episteme in the Aristotelian
sense), psychology and metaphysics, and three practical branches (tecnai), logic, ethics and aesthetics.
It would, of course, fallacious to argue straightway that since something is true one of the parts of
philosophy, i.e. of psychology, that it is true of philosophy as a whole. Psychology, however, is in a
unique position in Brentano‟s view; he defines it as a study of mental phenomena and he believes that
you cannot arrive at correct theories in any of the other branches of philosophy (except by fortuitous
accident) unless you start from the correct account of mental phenomena. So, although psychology is
one among several branches of philosophy, it is the branch upon all other depends. It must be for this
reason that Brentano concludes that what is true of psychology is true of philosophy as a whole”. L.
McAlister, The development of Franz Brentano‟s ethics, p. 10.
19
Optamos pelo termo in-existência por entendermos que ele contempla o propósito brentaniano de
caracterizar a expressão como modo de existência-em e, com isso, elimina o equivoco que o termo
inexistência comporta ao sugerir o sentido de não existência para o referido termo. Agradeço a
orientação do Prof. Pedro Monticelli acerca deste ponto.
18
empiristas20 e positivistas21 norteadores da Psicologia do ponto de vista
empírico.
20
Acerca do seu comprometimento com o empirismo, diz Brentano, “O título que atribuí à minha obra
explicita por si mesmo o objeto e o método. Em psicologia eu coloco-me no ponto de vista empírico.
Meu único mestre é a experiência. Eu compartilho, portanto, com outros filósofos, a convicção de que
certa fonte de ideal não é incompatível com este ponto de vista”. [„Die Aufschrift, die ich meinem
Werke gegeben, kennzeichnet dasselbe nach Gegenstand und Methode. Mein Standpunkt in der
Psychologie ist der empirische: die Erfahrung allein gilt mir als Lehrmeisterin: aber mit anderen teile
ich die überzeugung, daß eine gewisse ideale Anschauung mit einem solchen Standpunkte wohl
vereinbar ist“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 1.
21
Sobre a relevância da filosofia positiva para o desenvolvimento científico da humanidade, conferir o
artigo Quatro fases da filosofia e seu estado atual (Die Vier Phasen der Philosophie und ihr
augenblicklicher Stand em traduções para o espanhol e inglês), onde Brentano destaca a superioridade
da posição histórica de Comte para com a história da filosofia. Conferir, ainda, a introdução de Münch
em seu artigo Brentano and Comte (p. 33–39). Em sua análise direta da filosofia comtiana, diz
Brentano, “[...] o que distingue nossa condição daquela dos céticos é nossa exigência de que é possível
conhecer a verdadeira relação que existe entre as coisas. Nós não podemos determinar o tamanho
absoluto de um objeto, mas nós podemos calcular seu tamanho relativo com precisão. Nós nunca
poderemos saber o absoluto momento no qual um evento ocorre, mas nós podemos ser capazes de
especificar quando ele ocorre em relação a outro evento” (Brentano, Franz. Augusto Comte, 114, in:
Dieter Münch, Brentano and Comte, p. 40). Outra citação análoga é apresentada por Kraus no prefácio
da Psicologia do ponto de vista empírico. “Neste ponto nós (Brentano se referindo a Comte)
permanecemos com os céticos. E que outro ponto existe que nos diferenciaria deles, se não a indicação
do reconhecimento da verdadeira relação entre as coisas? O tamanho de um corpo não é determinável,
mas podemos medir e calcular sua relação com exatidão... É assim que nos separamos dos céticos e
deles nos distanciamos em mil milhas“. [„In diesem Punkte müssen wir Alle (Comte und Brentano) zu
den Skeptikern stehen. Und was Anderes bleibt, das uns von ihnen unterscheiden könnte, wenn nicht
die Behauptung der Erkennbarkeit der wahren Verhältnisse der Dinge? - Die absolute Größe eines
Körpers ist nicht bestimmbar, die relative können wir mit Genauigkeit messen und berechnen; (...) Das
also ist, was uns von den Skeptikern trennt, und es entfernt uns von ihnen weit und auf tausend
Meilen“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. LXXXIII.
22
„Keiner hat die Erkenntnisprinzipien der Ethik so bestimmt, wie es hier auf Grund neuer Analysen
19
O exposto é suficiente para apresentar o problema que vamos
analisar no decorrer desta tese. Segundo a análise de Moore, exposta em sua
resenha do livro Origem do conhecimento moral, o problema é evidenciado a
partir de dois pontos, pois, mesmo proclamando o rompimento com o
subjetivismo ético, (1) a tese brentaniana consistia na afirmação de que “[...] o
que nós sabemos, quando sabemos que uma coisa é boa em si mesma, é que
o sentimento de amor dirigido a tal coisa (o prazer na tal coisa) é justo (richtig).
Similarmente, que uma coisa é má, é meramente outro modo de dizer que a
rejeição de tal coisa deve ser justa”23. Além disso, (2) essa tese central
apresentada por Brentano retomava os conceitos próprios das teorias éticas
baseadas no sentimento moral, tal como o sentimento de prazer e desprazer
arduamente criticado por ele mesmo. Indicado o problema, impõe-se de
imediato a necessidade de dissolução dessa aparente contradição por meio da
apresentação da teoria brentaniana acerca do conhecimento moral.
geschehen mußte; keiner insbesondere, der das Gefühl bei der Grundlegung beteiligt glaubte, so
prinzipiell und vollständig mit dem ethischen Subjektivismus gebrochen“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 4.
23
Moore, George Eduard. Review of Franz Brentano‟s The Origen of the Knowledge of Right and Wrong.
In: International Journal of Ethics, p. 115.
20
brentaniana para a solução desse problema. Essa proposta de solução tomou
como norte as considerações textuais de Brentano acerca da necessidade de
correção da teoria do sentimento moral, pois, segundo Brentano, foi preciso
apresentar uma descrição da atividade psíquica capaz de fundamentar “[...] o
fato de que juntamente com a experiência da atividade sentimental está unido
concomitantemente o conhecimento da bondade do objeto”24. Com esta
exposição da proposta brentaniana de fundamentação da ética, abriremos o
caminho investigativo para a análise do modo brentaniano de descrever a
atividade psíquica, tanto em 1874 como em 1889.
24
„Daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte
des Objekts immer zugleich gegeben ist“ Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
21
(c) porque, com base na regra que se inferia de uma relação de
causa e efeito entre objetos amados, descrevia-se a ética como
a retidão do amor que se encontrava em conformidade com essa
sua regra25.
25
Cf. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
22
O quarto capítulo aprofundará a análise do fundamento
epistemológico que instituiu a evidência na atividade psíquica do sentimento.
Desse modo, explicitaremos a distinção entre o sentimento justo de ordem
superior, análogo ao juízo evidente, e o sentimento de ordem inferior, análogo
ao juízo cego. Tomaremos como base os resultados dessa distinção e
apresentaremos sua principal implicação: a possibilidade de descrição do
fenômeno psíquico de preferência como um tipo de atividade psíquica de
terceira classe, ao lado do sentimento de amor e ódio. Em outras palavras,
apresentaremos a descrição da atividade de sentimento justo de amor e ódio e,
com base nessa descrição, apresentaremos a natureza cognoscível da justa
eleição de um fim ou um meio que se toma como objeto. Desse modo,
poderemos concluir que a teoria brentaniana do conhecimento moral estava
baseada no fato de que a noção de ato intencional estabelecia uma relação
intrínseca e imediata chamada de consciência da preferência do moral sobre o
imoral ou fenômeno psíquico de preferência.
26
Granados, Sergio Sánchez-Migallón. La ética de Franz Brentano, p. 118.
23
CAPÍTULO I
27
Para um esclarecimento acerca do desenvolvimento da teoria de Ihering até 1889, conferir
especialmente o capítulo intitulado Les juristes: M. Ihering, em Durkheim, Émile. La science positive
de la morale en Allemagne, p. 17-24.
28
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 7.
24
Essa tomada de posição possuía, ainda, duas implicações. Por um
lado, ela negava a noção de princípios morais inatos e, também, negava os
princípios fundamentais tanto do jus naturae como do jus gentius29. Por outro
lado, ela afirmava a possibilidade de se estabelecer o fundamento acerca do
conhecimento do bom e do preferível a partir da descrição da estrutura
psíquica. Este último é um ponto que deve ser enfatizado, pois aqui há uma
indicação sutil do caminho argumentativo adotado por Brentano.
[2] Há uma lei moral natural no sentido de que esta lei, por sua
natureza, tenha validade universal e necessária para todos os
homens de todos os lugares e tempos, bem como para todas as
31
espécies de seres dotados de pensamento e sentimento?
29
“Coincido completamente com Ihering quando este, seguindo o precedente de John Locke, nega todos
os princípios morais inatos. Além disso, concordando com ele, não concebo nem o estranho jus naturae
[quod natura ipsa omnia animália docuit (direito natural é o que a natureza ensinou a todos os
animais)], nem tampouco o jus gentium (caracterizado como direito natural da razão por resultar da
coincidência universal dos povos)”. [„Ich bin vollkommen mit Ihering einig, wenn er nach dem
Vorgange von John Locke alle angeborenen Moralprinzipien leugnet. Noch mehr, mit ihm glaube ich
weder an das barocke jus naturae, i. e. quod natura ipsa omnia animalia docuit, noch an das jus
gentium, an ein Recht, welches durch die allgemeine Übereinstimmung der Völker als natürliches
Vernunftrecht gekennzeichnet ist, wie die römischen Rechtslehrer es faßten“]. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 7-8.
30
„Hier sind wir an der Stelle, wo ich mich mit Ihering veruneinige. Dem ‚Nein„, das er auch hier spricht,
setze ich ein entschiedenes ‚Ja„ entgegen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 9.
31
„(1) Gibt es eine unabhängig von aller kirchlichen lind politischen und überhaupt von aller sozialen
Autorität durch die Natur selbst gelehrte sittliche Wahrheit? (2) Gibt es ein natürliches Sittengesetz in
dem Sinne, daß es, seiner Natur nach allgemeingültig und unumstößlich, für die Menschen aller Orte
und aller Zeiten, ja für alle Arten denkender und fühlender Wesen Geltung hat (...)?“. Brentano, Franz.
Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 9.
25
A resposta positiva atribuída por Brentano a essas questões exige
duas observações fundamentais. Seria plausível esperar que Brentano tivesse
seguido dois caminhos na sua refutação à doutrina jurídica de Ihering. O
primeiro deles afirmaria a verdadeira existência de uma realidade moral e
exigiria que a teoria brentaniana acerca do conhecimento moral apresentasse
uma fundamentação ontológica. O segundo caminho argumentativo afirmaria a
validade universal e necessária dessa lei moral e exigiria a apresentação de
uma fundamentação epistemológica. Essas, no entanto, não foram as questões
a que a teoria brentaniana de 1889 respondeu separadamente. Desse modo,
não foram questões tratadas e resolvidas em seus aspectos ontológicos ou
epistemológicos. Para Brentano, a fundamentação ontológica e epistemológica,
que norteava a teoria acerca do conhecimento moral, deveria ser explicitada a
partir da descrição da estrutura da consciência, ou seja, por meio de uma
análise filosófica do psíquico. Nesse sentido, a análise brentaniana mostrou
que a questão mais fundamental desconsiderada por Ihering, e que dissolvia as
duas questões acima, indagava pelo caráter cognoscível da lei moral na esfera
da atividade psíquica. Por isso, Brentano insistiu no questionamento contra a
teoria moral de Ihering do seguinte modo:
32
„Fällt seine Erkenntnis in das Bereich unserer psychischen Fähigkeiten? (...) Dem 'Nein', das er auch
hier spricht, setze ich ein entschiedenes 'Ja' entgegen. Und wer von uns hier im Rechte sei, das wird
hoffentlich unsere heutige Untersuchung über die natürliche Sanktion für sittlich und recht ins klare
setzen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 9.
26
1.2 Chisholm e a indicação do fenômeno psíquico de preferência
como pedra de toque da ética brentaniana
33
Cf. Olson, Jonas. Brentano on pleasure. In: Rabinowicz, W. Ronnow-Rasmussen, T. Patterns of value:
essays on axiology and formal value analysis, p. 138-44.
34
Cf. McAlister, Linda. The development of Franz Brentano‟s ethics, p. 133-140.
35
McAlister, Linda. The Development of Franz Brentano‟s Ethics, p. 2.
27
und Aufbau der Ethik. Desse modo, ela analisou a última publicação da teoria
moral brentaniana da seguinte maneira:
36
“His later moral philosophy which began to evolve around the turn of the century, and which reflects
the changes taking place in his philosophical thought generally, was not set out by Brentano in any
published or polished form. It can, however, be pieced together from references in letters and in papers
from his extensive Nachlass. It is also reflected in a work published posthumously under the title
Grundlegung und Aufbau der Ethik. It is the form of editing adopted for this book which does so much
to obscure the development of Brentano‟s lectures on ethics delivered at the University of Vienna
between 1876 and 1894, and so it represents in a more detailed form than does Ursprung, Brentano‟s
early ethical philosophy. But Professor Mayer-Hillebrand and Professor Alfred kastil, who worked on
this material before her, have chosen to incorporate into this early text Brentano‟s later ethical views as
well, and they have apparently tried to edit out all those sections of the early text which do not agree
with these later views. In short they have tried to turn an early text into a later one by virtually
rewriting it in places. The resulting book is, needless to say, somewhat misleading, for it give the
impression that Brentano had expounded the same ethical theory throughout his life”. McAlister,
Linda. The development of Franz Brentano‟s ethics, p. 1-2.
28
de vista empírico (1874) e a teoria do conhecimento moral, proposta na Origem
de conhecimento moral (1889).
37
Cf. Chisholm, Roderick M. Brentano on Descriptive Psychology and the Intentional, in:
Phenomenology and existentialism, p. 1-24.
38
Chisholm foi o primeiro a indicar essa mudança, tomando por base a introdução da noção de fenômeno
psíquico de preferência. Cf. Roderick M. Chisholm. Brentano on Descriptive Psychology and the
Intentional, in: Phenomenology and existentialism, p. 1 – 24.
39
Recentemente vários trabalhos têm apontado essa mudança, ainda que o objetivo não seja a análise da
ética brentaniana. Cf., por exemplo, Mulligan, Kevin. Brentano on the mind, in: The Cambridge
Companion to Brentano, Cambridge University Press, United Kingdon, 2004. p. 66-97. Além disso,
duas linhas de pesquisa convergentes têm se destacado pelo fato de vincularem essa mudança à origem
do positivismo lógico. Basta comparar a proposta de uma tradição filosófica austro-saxônica defendida
por Barry Smith (Austrian philosophy – the legacy of Franz Brentano. Chicago: Open Court
Publishing Company and Illinois: LaSalle, 1994.) e a linha de pesquisa história do brentanismo
fundada por Liliana Albertazzi (Immanent realism: an introduction to Brentano. Dordrecht: Springer,
2006).
40
“In his Psychology Brentano thinks that the relation I may stand in of hating one object more than some
other object should be understood in terms of differences of intensity between my simple affective
attitudes to these objects. This view, Brentano came to think, is wrong. “More” does not refer to a
relation between the intensities of two acts. But he continues to speak of preferring as a type of
comparison”. Mulligan, Kevin. Brentano on the mind, p. 86.
29
em intensidade? Esses dois problemas são aspectos da questão: se, e em que
sentido, emoções „espirituais‟ superiores diferem das emoções sensórias ou
vitais inferiores?”41. O ponto relevante para a nossa tese está no fato de que
uma solução para tais problemas foi encontrada pelos seguidores de Chisholm
nos textos brentanianos de 1889 – 1901. Nessas fontes, esses comentadores
reconhecem a fundamentação da ética brentaniana como resultado da
substituição das bases oferecidas na Psicologia do ponto de vista empírico
pelas novas bases propostas pela vindoura Psicologia descritiva42. Então, o
que disse Chisholm afinal? Vejamos:
41
”Brentano seems to have changed his mind about the emotions as a result of asking himself two
questions: What is the relation between pain and love? Do emotions vary in strength? These two
problems are aspects of the question whether, and in what sense, higher, “spiritual” emotions differ
from lower, sensory or vital emotions”. Mulligan, Kevin. Brentano on the mind, p. 83.
42
Liliana Albertazzi concebe a relação entre a ética e a reformulação da filosofia do psíquico brentaniana
do seguinte modo. “Given that Brentano‟s ethical theory was also grounded in his descriptive
psychology, the problem of right and wrong linked closely with discussion of the nature of judgments
and emotions, which constituted the second and third classes of psychic phenomena. A reading of
Brentano‟s ethics may therefore usefully begin with his Psychologies, in particular its first two
volumes. Conversely, Brentano‟s lectures on ethics clarify a number of aspects of his descriptive
psychology left implicit or undefined in the volumes of the Psychologies (…) Regardless of its specific
argument, therefore, The Origin of our Knowledge of Right and Wrong was also a development of
Brentano‟s psychology from an empirical standpoint in that it introduced a more strongly descriptive
component (...) The danger of giving subjective colouring to an ethics based on a psychological
definition of good, and in particular on psychic acts of love and hate, was very evident to Brentano. He
also distinguished two different types of pleasure and displeasure relative to a particular object of
presentation: 1. a type of pleasure closely connected with habit, instinct and reaction to particular sense
impressions, and which differs among species and among individuals. 2. A type of pleasure connected
with acts of desiring something good or something bad. Once again, the feature that differentiates
between these two types of pleasure is not the content of the act of intentional reference but the nature
of the act itself, which is characterized as either right or wrong. L. Albertazzi, Immanent realism: an
introduction to Brentano, p. 296-299.
43
“Now we may turn to Brentano's conception of the intentional, beginning with the doctrine of
intentional inexistence which he propounded in 1874 and was subsequently to abandon. In his
Psychologie vom empirischen Standpunkt, first published in 1874, Brentano proposed .the doctrine of
intentional inexistence as a means of distinguishing the mental or psychical from the physical (…) We
30
No momento oportuno exporemos as principais implicações que
essa interpretação de Chisholm impôs para a teoria da ética brentaniana.
Agora importa apenas considerar que ela tinha duas noções fundamentais da
Psicologia descritiva no seu horizonte. Assim, é interessante fazermos uma
breve apresentação.
have here an ontological thesis concerning "intentional inexistence," which Brentano was later to
abandon, and a psychological thesis, implying that reference to an object is what distinguishes the
mental from the physical. Each of these theses seems to me to be important. The ontological thesis
seems to me to be problematic and not, as Brentano subsequently thought, to be obviously false. And
the psychological thesis seems to me to be true”. Chisholm, Roderick M. Brentano on Descriptive
Psychology and the Intentional, p. 6.
44
“Vor allem also ist es eine Eigenheit, welche für das Bewußtsein allgemein charakteristisch ist, daß es
immer und überall, d.h. In jedem seiner ablösbaren Teile eine gewisse Art von Relation zeigt, welche
ein Subjekt zu einem Objekt in Beziehung setzt. Man nennt sie auch "intentionale Beziehung". Zu
jedem Bewußtsein gehört wesentlich eine Beziehung. Wie bei jeder Beziehung finden sich daher auch
hier zwei Korrelate. Das eine Korrelat ist der Bewußtseinsakt, das andere das, worauf er gerichtet ist”.
Brentano, Franz. Deskriptive psychologie, p. 21.
45
“Erläuterungen des Ausdrucks Objekt: etwas innerlich Gegenständliches ist gemeint. Draußen braucht
ihm nichts zu entsprechen. Zur Verhütung von Mißverständnissen mag man es "inwohnendes"
"immanentes" Objekt nennen. ' Es ist dies etwas a) allgemein und b) ausschließlich dem Bewußtsein
31
Com a exposição dessas duas referências no texto brentaniano
pretendemos apenas situar a tese de Chisholm e indicar que ela reconheceu o
abandono, não apenas do conceito de objeto intencional in-existente, mas, de
modo mais apropriado, da própria teoria da imanência do objeto intencional in-
existente. Eis que ele diz:
32
De fato, na primeira edição da Psicologia do ponto de vista empírico
(1874), Brentano utilizou o termo „preferência‟ (Vorzug) em seis passagens49,
no entanto em nenhum desses usos o termo preferência designava um
fenômeno psíquico de terceira classe. Do mesmo modo, o do verbo „preferir‟
(Vorziehen), que caracteriza o ato psíquico de preferência, não foi utilizado no
corpo do texto dessa edição. Sua introdução na Psicologia do ponto de vista
empírico ocorreu em 1911, no apêndice elaborado por Brentano para a
tradução italiana dessa obra.
49
Cf. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 10, 29 e 189, Zweite
Band, p. 9, 37, 99.
50
“Mehr als drei Dezennien waren seit dem Erscheinen meines Buches verflossen, und neue Forschungen
hatten bei mir zwar der Hauptsache nach die damals ausgesprochenen Ansichten bestehen lassen, aber
doch in manchem nicht unwichtigen Punkt zu einer Fortbildung oder, wie ich wenigstens glaube,
berichtigenden Modifikation geführt. Es schien mir unmöglich, dieselben unerwähnt zu lassen. Und
doch empfahl es sich zugleich, die Darlegung in ihrer ursprünglichen Gestalt, in der sie auf die
Zeitgenossen gewirkt hatte, beizubehalten; und dies um so mehr, als ich die Erfahrung gemacht hatte,
daß manche angesehene Psychologen, die meiner Lehre ernste Beachtung geschenkt, ihr mehr in der
früheren Fassung beizupflichten, als auf den neueingeschlagenen Wegen mir zu folgen geneigt waren.
So entschloß ich mich zu einer so gut wie unveränderten Wiedergabe des alten Textes, zugleich aber
33
No que se refere especificamente ao conceito de preferência,
utilizado por Brentano para descrever uma parte do fenômeno psíquico de
sentimento a partir de 1889, é fundamental destacarmos uma observação
muito precisa do editor Oskar Kraus.
zu seiner Bereicherung durch gewisse Bemerkungen, die ich zum Teil als Fußnoten, zum Teil aber,
und vorzüglich, als Anhang beifügte. Sie enthalten neben einer Verteidigung gegen gewisse Angriffe,
welche meine Lehre von anderer Seite erfahren, auch eine Angabe von solchen Momenten, für die ich
selbst eine Korrektur nötig finde“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter
Band. p. 1-2.
51
“Wie die verschiedenen Stufen der überzeugung im Anerkennen und Verwerfen, so lassen auch die
Gradunterschiede im Lieben und Hassen sich miteinander vergleichen. Wie ich ohne Inkonvenienz
sagen kann, daß ich das eine mit größerer Gewißheit annehme, als ich das andere leugne: so kann ich
auch sagen, daß ich das eine in höherem Maße liebe, als ich das andere hasse.9) Und nicht bloß die
Stärke von Gegensätzen, sondern auch die von Freude und Verlangen und Willen und Vorsatz kann ich
im Verhältnis zueinander als größer und geringer bestimmen. Ich freue mich mehr darüber, als ich
nach jenem verlange; mein Verlangen ihn wieder zn sehen ist nicht so stark, als mein Vorsatz, ihn
meine Mißbilligung- empfinden zu lassen usf“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band. p. 107.
34
Em primeiro lugar, Kraus utilizou o termo „preferência‟ para designar
o fenômeno psíquico descrito por Brentano como substituto da avaliação
comparativa do amor ou ódio. Assim, disse ele que, “[...] posteriormente,
Brentano concebeu tais diferenças de graus, não como uma avaliação
comparativa no amor e ódio tendo diferentes graus de intensidade, mas como
diferenças em uma espécie particular de atividade emocional, ou seja,
preferência” 52.
52
„Solche wertvergleichende Gradunterschiede im Lieben und Hassen hat Br. später nicht als Intensität
gefaßt, sondern als eine besondere Spezies der Gemütstätigkeit, nämlich als "Vorziehen"“. Brentano,
Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band. p. 290.
53
„Vorziehen ist ein "relatives Werten", das im "Ursprung sittlicher Erkenntnis" (Philos. BibI. 55) und
auch im Anhange unter V näher charakterisiert ist“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band. p. 290-291.
54
„Für die Wertlehre, auch die ökonomische, sind die "Bevorzugungen" von besonderer Wichtigkeit“.
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band. p. 291.
35
As orientações de Chisholm e Kraus, apresentadas no ponto
anterior, permitem que o desenvolvimento da ética brentaniana seja
apresentado a partir da seguinte sistematização:
36
fenômeno psíquico de preferência como o conhecimento imediato da origem de
todo o conhecimento moral. Existem, no entanto, alguns detalhes que exigem
esclarecimentos.
Quem quer os fins, quer também (na medida em que a razão tem
influxo decisivo sobre as ações) os meios indisponivelmente
necessários de alcançá-lo, e que estão em seu poder. Esta
proposição é, no que diz respeito ao querer, analítica, porque o ato de
querer um objeto, efeito de minha atividade, supõe já a minha
causalidade, como causalidade de uma causa agente, isto é, o uso
57
dos meios.
55
„Die Mittel, die wir ergreifen, um zu einem Zwecke zu gelangen, können verschieden und können bald
die richtigen, bald unrichtige Mittel sein. Richtig werden sie dann sein, wenn sie wirklich zu dem
Zwecke zu führen geeignet sind“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 15.
56
Kant, Immanuel, Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 79.
57
Idem, Ibidem.
37
A sutileza da argumentação kantiana consistia em demonstrar que
havia uma contradição teorética em supor a volição do fim sem que fosse
suposta imediatamente a volição do meio que o efetivasse, pois Kant entendia
que a atividade da vontade finita era sempre um dever e, no caso dos
imperativos hipotéticos, quem quisesse os fins deveria (necessariamente)
querer os meios para obtê-los, uma vez que a volição dos primeiros implicaria a
volição dos últimos. Por isso Kant concluiu que a necessidade teorética dos
imperativos hipotéticos demonstrava a possibilidade, ou as condições de
validade, desses imperativos. É, no entanto, fundamental explicitarmos o que
estava pressuposto, na argumentação kantiana, como base da sustentação
dessa tese.
58
Idem, Ibidem.
38
como dizemos habitualmente, de modo apodítico), e muitos outros
que alguns filósofos modernos, não tendo conseguido descobrir sua
verdadeira origem, consideram como categorias dadas
59
imediatamente .
59
„Die Begriffe ‚Wollen„, ‚Schließen„ werden nicht aus sinnlichen Anschauungen gewonnen; man müßte
denn den Begriff ‚sinnlich„ so allgemein fassen, daß aller Unterschied von ‚sinnlich„ und
‚Übersinnlich„ sich verwischte. Sie stammen aus Anschauungen psychischen Inhalts. Ebendaher
stammen die Begriffe ‚Zweck', ‚Ursache„ (wir bemerken z. B. zwischen unserem Glauben an die
Prämissen und unserem Glauben an den Schlußsatz eine ursächliche Beziehung), ‚Unmöglichkeit„ und
‚Notwendigkeit„ (wir gewinnen sie aus Urteilen, welche etwas nicht einfach assertorisch, sondern, wie
man sich auszudrücken beliebt, apodiktisch anerkennen oder verwerfen) und viele andere, welche
manche Moderne, denen die Erforschung des wahren Ursprungs mißlang, als von vornherein gegebene
Kategorien betrachten wollten“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 53-54, nota
18.
60
É interessante antecipar aqui as seguintes observações de Liliana Albertazzi. “Another significant
aspect of Brentano‟s ethical analysis concerns value from the standpoint of the part/whole relation.
This analysis was subsequently reprised and developed by Husserl and Moore and it relates to the
difference between summmative wholes and organic wholes. Brentano argues that a whole made up of
goods is better than each of its parts. From this point of view, Brentano’s ethics is not mere a
mereological ethics in which the parts are what really matter. Each value whole is a point of
arrival which does not require further integration because a part is always a function of the
whole. The second point concerns the relationship between different wholes which are not parts of
each other. Brentano states that “One good is preferred to another good which is not a part of it but is
equal in every respect to a determination of its parts”. In other words, two value wholes are
comparable in respect to the quantity of value only if they are made up of values of the same kind.
From this point of view, it is impossible to conduct universal comparison among values, since these are
only comparable with respect to a particular region or category of value. A category of value consists
of those values that can join together in an organic whole: that is, a whole which is different from the
sum of its parts”. Albertazzi, Liliana, Immanent realism: an introduction to Brentano, p. 300.
39
a análise de Chisholm, encontrava-se aqui o abandono do problema imposto
pela noção de „relação meio-fim‟ e iniciava-se o problema da cognição imediata
da „relação parte-todo‟, que seria esclarecido plenamente no trabalho póstumo
intitulado Sobre a consciência sensória e noética61. No momento, interessa-nos
o fato de que, no escopo da obra brentaniana de 1889, essa relação intrínseca
e imediata entre meio e fim foi chamada de consciência da preferência do
moral sobre o imoral ou, como apresentaremos detalhadamente no último
capítulo, fenômeno psíquico de preferência. É exatamente essa indicação que
encontramos no seguinte comentário:
61
Segundo a análise de Chisholm, Brentano se vale de um caminho iniciado por Leibniz para solucionar a
falta de base empírica do conhecimento da relação de causa e efeito. A solução está, diz Chisholm, em
reconhecer a distinção entre vontade antecedente e vontade consequente como uma distinção própria
do ato psíquico de vontade. “According to the traditional distinction between antecedent will and
consequent will, one's attitude toward a compound situation is a consequence of one's attitude toward
its various components. The attitude toward the component states was referred to as one's antecedent
will; and the resulting attitude toward the compound state was referred to as a consequent will. Thus
Leibniz mentions the view of certain Christians, according to which God wills to save all men
according to his antecedent will, but not according to his consequent. The distinction enables him to
say that evil is never the object of God's antecedent will; it is, rather, part of the object of God's
consequent will. Brentano's version of this distinction is not, strictly speaking, a distinction between
types of willing, for he introduces the concept of will only at a later stage. His distinction pertains to
antecedent and consequent attitudes: There may be an antecedent and consequent pro attitude and there
may be an antecedent and consequent anti attitude. For example, a certain pleasurable activity may be
the object of an antecedent pro attitude. Considering just that object - considering it in and for itself
and as if alone - I desire the object as an end in itself. I may then consider the possibility of bringing
about that object. If I am reasonable, I will also consider the wider situation that, according to my
evidence, is most likely to result if I should try to bring about the pleasurable situation. The wider
situation includes the pleasurable activity as only one of its parts. It will also include any difficulties
that are thought to be involved in bringing about this activity, as well as the consequences one thinks
would result from this activity. Brentano observes that the antecedent attitudes may be distinguished
from the consequent attitudes in the following way. There is no irrationality or inconsistency in making
incompatible things the objects of one's antecedent attitudes. A person contemplating a career may
look favorably upon being a doctor and not a lawyer; and he may also look favorably upon being a
lawyer and not a doctor. There may thus be many such objects of the antecedent attitude. But there can
be only one object of the consequent attitude. Brentano says that, if a wider whole is loved in and for
itself, then any part of that whole is loved implicitly - even though that part may be hated in and for
itself. And he says that, if a wider whole is hated in and for itself, then any part of that whole is hated
implicitly - even though that part may be loved in and for itself”. Chisholm, Roderick M. Brentano and
Intrinsic Value, p. 20-21.
62
„Und so wird es denn auch eine gewisse innere Richtigkeit sein, welche den wesentlichen Vorzug
gewisser Akte des Willens vor andern und entgegengesetzten und den Vorzug des Sittlichen vor dem
Unsittlichen ausmacht“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 3-4.
40
Uma descrição análoga à escolha dos meios foi apresentada por
Brentano em sua análise da noção de „fins‟. Brentano também apresentou essa
descrição com o propósito de elucidar o estatuto exclusivamente psíquico de
todo e qualquer fim que pudesse existir.
63
„Aber auch die Zwecke, und zwar die eigentlichsten und letzten Zwecke, können verschieden sein“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 15.
64
„Also das steht fest: auch die letzten Zwecke sind verschieden; auch zwischen ihnen schwebt die Wahl;
und sie ist - da der letzte Zweck ein für alles maßgebendes Prinzip ist - die wichtigste unter allen“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 15.
41
resolvido. Em outras palavras, para além dos motivos éticos fundados no
sentimento moral aos quais só foi possível atribuir a designação de crença,
Brentano apresentou o modo de conhecer a própria atividade psíquica de
preferir. Foi, portanto, o conhecimento do fenômeno psíquico de preferência
que recebeu a designação de motivo ético justo, pois o conhecimento desse
fenômeno estabeleceu o único sentido do termo sanção que Brentano
considerou válido. Tal como ele mesmo afirmou, “[...] a crença em dita
preferência é um motivo ético. O conhecimento de dita preferência é o motivo
ético justo, a sansão que confere consistência e validez à lei ética”65.
Qual o fim é justo? Por qual deve ser decidido nossa eleição?
Quando o fim está estabelecido e se trata apenas de eleger os meios,
diremos “elege meios que, realmente, conduzam ao fim“. Mas quando
se trata de eleger os fins, diremos “elege um fim que, razoavelmente,
possa ser considerado como realmente exeqüível”. Mas esta resposta
não é suficiente. Existem coisas exeqüíveis que devemos muito mais
de evitar que não procurar. “Elege, pois, o melhor entre o acessível!”
Esta será a única resposta conveniente. No entanto, esta resposta é
obscura. O que significa isso “O melhor”? O que geralmente nós
chamamos “Bom”? E como adquirimos o conhecimento de que uma
66
coisa é boa é melhor que a outra?
65
„Der Glaube an diesen Vorzug ist ein ethisches Motiv; die Erkenntnis dieses Vorzugs das richtige
ethische Motiv, die Sanktion, welche dem ethischen Gesetze Bestand und Gültigkeit verleiht“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 3-4.
66
„Welcher Zweck ist richtig? Für welchen soll sich unsere Wahl entscheiden? Wo der Zweck feststeht
und es sich nur um die Wahl von Mitteln handelt, werden wir sagen: wähle Mittel, die wirklich zu dem
Zwecke führen! Wo es sich um die Wahl von Zwecken handelt, werden wir sagen: wähle einen Zweck,
der vernünftigerweise für wirklich erreichbar zu halten ist. Aber diese Antwort genügt nicht; manches
Erreichbare ist vielmehr zu fliehen als zu erstreben: wähle das Beste unter dem Erreichbaren! Das wird
also allein die entsprechende Antwort sein. Aber sie (die Antwort) ist dunkel; was heißt das ‚das
beste„? Was nennen wir überhaupt ‚gut„? Und wie gewinnen wir die Erkenntnis, daß etwas gut und
besser ist als ein anderes?“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 15 - 16.
42
Brentano utilizou um argumento aparentemente circular, pois ele
supôs um modo justo de preferir e deslocou a indagação acerca do fim justo
para a um leque de possibilidades onde a resposta foi “elege aquilo que é o
melhor”. Ocorre, no entanto, que o ponto principal está no fato de que a
argumentação brentaniana exigiu uma definição eficiente do conceito de
melhor. Desse modo, a aparência de circularidade argumentativa se desfaz ao
apontar a necessidade de se elucidar a origem do conceito. Assim, tal como
havia feito ao deslocar a descrição dos conceitos de „fins‟ e „meios‟ para o
âmbito da atividade psíquica, Brentano também remeteu a descrição da origem
do conceito de „melhor‟ para o âmbito da atividade da consciência. Em outras
palavras, a origem do conceito de „melhor‟ resultaria da descrição de sua
experiência intuitiva concreta, ou seja, no modo como a filosofia do psíquico
descreveu o fenômeno psíquico da preferência.
67
“O título que atribuí à minha obra explicita por si mesmo o objeto e o método. Em psicologia eu me
coloco no ponto de vista empírico. Meu único mestre é a experiência. Eu compartilho, portanto, com
outros filósofos, a convicção que certa fonte de ideal não é incompatível com este ponto de vista”.
[„Die Aufschrift, die ich meinem Werke gegeben, kennzeichnet dasselbe nach Gegenstand und
Methode. Mein Standpunkt in der Psychologie ist der empirische: die Erfahrung allein gilt mir als
Lehrmeisterin: aber mit anderen teile ich die Überzeugung, daß eine gewisse ideale Anschauung mit
einem solchen Standpunkte wohl vereinbar ist“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Erster Band, p. 1.
43
é injusto?” e relembrar que, “como Aristóteles já nos fez notar, esta é a
pergunta mais própria e fundamental da ética”68, Brentano tinha como propósito
apontar a origem empírica dos conceitos da filosofia prática. Em outras
palavras, tratava-se de explicitar a origem dos conceitos práticos que
estruturam a ética, a partir da descrição das representações intuitivas
concretas que os constituem. Tratava-se, portanto, de demarcar a esfera de
origem de todo e qualquer conceito a partir da experiência que os
fundamentava69. Vejamos, por exemplo, como ele se referiu à possibilidade do
conhecimento acerca da origem do conceito de Bom e estendeu esse critério
de conhecimento para todo e qualquer conceito:
68
„Was soll ich erstreben? Welcher Zweck ist richtig, welcher unrichtig? Das ist darum, wie schon
Aristoteles hervorhebt, die eigentlichste und hauptsächlichste Frage der Ethik“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 15 - 16.
69
Se, por um lado, a extensão da proposta brentaniana tem a pretensão de oferecer os fundamentos para a
elaboração de uma nova tábua de categorias, por outro lado, ele insiste que se trata da retomada de
questões apresentadas pelo filósofo de Estagira: “Aristóteles já conhecia esta verdade (conferir, por
exemplo, De Anima, III, 8). A idade média a manteve, mas não lhe atribuiu expressão feliz no
princípio: nihil est in intellectu quod non prius fuerit in sensu”. [„Schon Aristoteles war diese
Wahrheit bekannt (vergl. z. B. De Anim. III, 8). Das Mittelalter hielt sie fest, drückte sie aber nicht
glücklich aus in dem Satze: nihil est in intellectus, quod non prius fuerit in sensu“]. Brentano, Franz.
Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 53-54, nota 18..
70
„Um diese Fragen in befriedigender Weise zu beantworten, müssen wir vor allem den Ursprung des
Begriffs des Guten aufsuchen, der, wie der Ursprung aller unserer Begriffe, in gewissen konkret
anschaulichen Vorstellungen liegt. Wir haben anschauliche Vorstellungen physischen Inhalts; sie
zeigen uns sinnliche Qualitäten, in eigentümlicher Weise räumlich bestimmt. Aus diesem Gebiet
stammen die Begriffe der Farbe, des Schalles, des Raumes und viele andere. Der Begriff des Guten
aber hat nicht hier seine Quelle. Es ist leicht zu erkennen, daß er, wie der des Wahren, der ihm als
verwandt mit Recht zur Seite gestellt wird, den anschaulichen Vorstellungen psychischen Inhalts
entnommen ist“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 16.
44
as correções que Brentano apresentou na sua filosofia do psíquico tiveram
implicação direta na fundamentação da sua ética da preferência. Vejamos qual
foi o principal problema para a ética brentaniana estabelecido pela filosofia do
psíquico apresentada na obra Psicologia do ponto de vista empírico.
71
„Der Begriff des (in sich selbst) Guten ist hiernach ein einheitlicher im strengen Sinne und nicht, wie
Aristoteles (infolge einer Verirrung, auf die wir noch zu sprechen kommen werden) lehrte, bloß in
analoger Weise einer“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 62, nota 26.
45
pôde descrever o fenômeno psíquico de preferência como uma representação
intuitiva concreta originária do conceito de melhor.
72
Conferir especialmente a última parte da extensa nota 28 em Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher
Erkenntnis, p. 78.
73
„Interessant ist es insbesondere, daß (was ich erst nachträglich bemerkte) schon er den ethischen
Subjektivismus mit dem logischen des Protagoras zusammenstellt und beide gleichmäßig verwirft.
(Metaph. K, 6 p. 1062 b 16 und 1063 a 5.) Dagegen scheint es nach den nächstfolgenden Zeilen, als ob
Aristoteles der allerdings begreiflichen Versuchung erlegen sei, zu glauben, wir erkännten das Gute als
gut, unabhängig von der Erregung der Gemütstätigkeit (ebend. 29; vgl. De Anim. III, 9 u. 10)“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 78, nota 28.
46
como bom, independente da comoção da atividade sentimental” 74. Assim,
Brentano considerou que a ética aristotélica foi indiretamente responsável por
dois problemas filosóficos.
47
preferência) caracterizado como justo. Desse modo, Brentano concluiu que o
estagirita não evitou que se concebesse indistintamente, tanto o amor
caracterizado como justo, como o amor não caracterizado como justo76, e, por
isso, não superou o subjetivismo moral. Vejamos:
76
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 78, nota 28.
77
„Die einen fassen die Sache so, als sei alles Gefallen, die anderen so, als sei kein Gefallen als richtig
charakterisiert“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 73, nota 28.
78
„„Begehrenswert„ im Unterschied von ‚begehrbar„ ist ein Wort ohne Sinn. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 73, nota 28.
79
“É patente que, sendo conseqüentes, deveriam ter sustentado isto e, de fato, assim o ensinaram. Aqui os
hedonistas têm o seu ponto extremo, e com eles, muitos outros. Por exemplo, na idade média encontra-
se a doutrina de São Tomás de Aquino, cuja grandeza foi novamente honrada por Ihering (v. Sum.
Theol., 1ª, q. 80 e q. 82, art. 2, ad 1)“. [„Offenbar müssen sie, konsequent, dieses behaupten und haben
es wirklich gelehrt. Die extremen Hedoniker gehören alle hierher, aber mit ihnen auch viele andere; im
Mittelalter z. B. findet sich die Lehre selbst bei dem von Ihering wieder in seiner Größe gewürdigten
Thomas von Aquino. (Vgl. z. B. Summ. theol., la qu. 80. qu. 82, art. 2 ad 1 u. ö.)”]. Brentano, Franz.
Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 73, nota 28.
80
„Den ersteren bleibt 'begehrenswert' wohl als ein besonderer Begriff bestehen, so daß es keine
Tautologie ist, wenn sie sagen: nichts ist in sich begehrbar, außer insofern es in sich begehrenswert, in
sich gut ist“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 73, nota 28.
48
Podemos, então, justificar o fato de que essa consequência do erro
de Aristóteles funcionou como pedra de toque para a construção da
argumentação brentaniana de 1889. Brentano se apoiou no fato de que essa
concepção permitiu a relativização do conhecimento da origem dos conceitos
de bem e mal. Assim, com outra face da mesma moeda, essa relativização do
conhecimento da origem desses conceitos sustentou, também, um subjetivismo
moral. Segundo a análise brentaniana81, tal subjetivismo moral era análogo ao
subjetivismo protagórico acerca dos conceitos de verdade e falsidade e, por
isso, precisou ser refutado. Desse modo, concluiu ele:
81
O fundamento dessa relação de analogia entre relativismo e subjetivismo, atribuído por Brentano a
Protágoras, também deve ser concebido à luz da própria teoria brentaniana do psíquico tomada como
referência.
82
„Wie nach diesem Subjektivisten auf dem Gebiete des Urteils jeder das Maß von allem ist, so daß oft,
was für den einen wahr, für den anderen zugleich falsch sein müßte: so sind die Vertreter der Meinung,
nur Gutes könne geliebt, nur Schlechtes gehaßt werden, eigentlich genötigt anzunehmen, daß auf
diesem Gebiete jeder für alles maßgebend sei, für das Gute dafür, daß es in sich gut, für das Schlechte
dafür, daß es in sich schlecht sei, so daß oft etwas zugleich in sich gut und schlecht sein würde; in sich
gut für alle, die es um seiner selbst willen lieben, in sich schlecht für alle, die es um seiner selbst willen
hassen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 73-74, nota 28.
83
“A falsificação subjetivista do conceito de bem é tão reprovável como a falsificação subjetivista do
conceito de verdade e da existência em Protágoras. Mesmo que, no terreno do justamente agradável e
desagradável, o erro subjetivista se fecundou de modo mais fácil e, até o momento, tenho infectado a
maioria dos sistemas de moral”. [„Die subjektivistische Fälschung des Begriffs des Guten ebenso
verwerflich, als die subjektivistische Fälschung des Begriffs der Wahrheit und der Existenz bei
Protagoras verwerflich war, obwohl der subjektivistische Irrtum auf dem Gebiete des mit Recht
Gefallenden und Mißfallenden viel leichter Platz greift und bis heute die meisten ethischen Systeme
infiziert“]. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 74, nota 28.
49
muito sutil, por entender que “[...] a tentação em que Aristóteles caiu é muito
bem explicável84”. Tratava-se, para Brentano, de corrigir tanto (1) a noção de
relação causal que determinava a concepção do amor como consequência do
conhecimento, como também (2) a noção de correspondência que determinava
o conhecimento da retidão do amor pela conformidade com sua regra. Vejamos
sua análise incisiva sobre esse ponto:
84
„Ich sagte, die Versuchung, der Aristoteles erlegen, erscheine begreiflich”. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
85
„Ich sagte, die Versuchung, der Aristoteles erlegen, erscheine begreiflich. Sie entspringt daraus, daß
mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte des
Objekts immer zugleich gegeben ist. Da kann es denn leicht geschehen, daß man das Verhältnis
verkehrt und meint, man liebe hier infolge der Erkenntnis und erkenne die Liebe als richtig an der
Übereinstimmung mit dieser ihrer Regel“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
86
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
50
o relativismo (da verdade) e o subjetivismo (do bem) são análogos e estão
concebidos na tese protagórica não deve ser procurada nos argumentos de
Protágoras ou no contexto de formulação de sua tese. Tratava-se, a partir
1889, de uma relação encontrada na descrição da unidade da consciência, ou
seja, na classificação brentaniana dos fenômenos psíquicos de representação,
de juízo e de amor ou ódio. A estratégia argumentativa brentaniana não
consistiu, no entanto, apenas na tomada da teoria ética do mestre estagirita
como boneco de palha e, indiretamente, sua teoria de 1874. Brentano
incorporou, a essa análise, uma análise acerca da teoria cartesiana do juízo
com a mesma finalidade. Em outras palavras, para descrever a justeza do ato
sentimental, a análise brentaniana apontou a existência de um erro análogo ao
de Aristóteles na teoria cartesiana dos juízos caracterizados como justos87.
Façamos aqui uma breve antecipação para estabelecer a relação entre
Aristóteles e Descartes.
87
Idem, Ibidem.
88
„Es ist nicht ohne Interesse, den Fehler, den hier Aristoteles in betreff der als richtig charakterisierten
Gemütstätigkeit begeht, mit jenem zu vergleichen, dem wir bei Descartes hinsichtlich des als richtig
charakterisierten Urteils begegnet sind. Der eine ist dem anderen wesentlich analog; in beiden Fällen
wird der auszeichnende Charakter, statt in dem als richtig charakterisierten Akte selbst, vielmehr in der
51
Se o problema dos erros aristotélico e cartesiano descrito pela
análise de Brentano pôde ser explicitado de modo simples, sua solução não
seguiu a mesma simplicidade. A complexidade da solução estava no fato de
que, contra toda tradição filosófica e contra sua teoria de 1874, Brentano não
apenas apresentou uma reformulação das teorias do juízo e do sentimento de
amor ou ódio, mas sustentou essas reformulações numa teoria mais radical da
verdade, resultante do abandono da teoria da in-existência intencional do
objeto. Em outras palavras, Brentano considerou que era preciso apresentar
uma teoria da verdade capaz de substituir o critério de correspondência (que
não escapa da regressão ad infinitum) pelo critério de evidência. Vejamos
como ele sistematizou o problema e preparou o terreno para a apresentação de
sua teoria ética:
Besonderheit der ihm zugrunde liegenden Vorstellung gesucht. In der Tat scheint mir in der
Abhandlung 'Les Passions' aus vielen Stellen ersichtlich, daß Descartes selbst die Sache hier ganz
ähnlich wie Aristoteles und wesentlich analog seiner Lehre vom evidenten Urteile gedacht habe“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
89
„Dem Irrtume Descartes' bezüglich des Charakteristischen der Evidenz kommen heutzutage viele nahe
(wenn man nicht lieber sagen will, daß sie ihn implicite geradezu teilen), wenn sie die Sache sich so
vorstellen, als halte man sich bei jedem evidenten Urteil an ein Kriterium. Dieses müßte dann
irgendwie vorher gegeben sein; entweder als erkannt - das würde aber ins Unendliche führen - oder
(und das bleibt eigentlich allein übrig) als in der Vorstellung gegeben. Auch hier kann man sagen, daß
die Versuchung zu solchem Mißgriff naheliege, und sie mag auch auf Descartes beirrend eingewirkt
haben. In den Irrtum des Aristoteles fällt man weniger; aber wohl nur darum, weil man überhaupt das
Phänomen der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit weniger als das des als richtig
charakterisierten Urteils in Betrachtung gezogen hat. Wenn man dieses in seinem Wesen verkannte, so
hat man jenes oft nicht einmal genügend bemerkt, um es in seinem Wesen zu mißdeuten“. Brentano,
Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79-80, nota 28.
52
Psicologia do ponto de vista empírico. Foi, portanto, como solução para o
problema da apreensão da justeza do sentimento, cujas raízes não se
encontravam na teoria ética ou na teoria do conhecimento, e sim na Psicologia
do ponto de vista empírico, que Brentano apresentou, em 1889, sua teoria
acerca da origem do conhecimento moral inspirada na “futura” Psicologia
descritiva.
54
CAPÍTULO II
2.1 Introdução
90
Conferir especialmente a última parte da nota 28. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher
Erkenntnis, p. 79.
91
„Sie entspringt daraus, daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die
Erkenntnis der Güte des Objekts immer zugleich gegeben ist“. Brentano, Franz. Vom Ursprung
Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
55
ato intencional. De modo mais específico, afirmamos que o abandono da
primeira noção de intencionalidade (descrita como in-existência intencional do
objeto tomado como correlato do ato) e a sua reformulação (como um ato
intencional da consciência referido a um objeto imanente) constituíram o
horizonte da passagem da teoria brentaniana do sentimento moral à ética como
teoria do conhecimento moral.
92
„Es bleiben von den betrachteten Klassifikationen noch diejenigen übrig, welche die verschiedene
Beziehung zum immanenten Gegenstande der psychischen Tätigkeit oder die verschiedene Weise
seiner intentionalen Existenz zum Einteilungsgrunde haben. Dieser Gesichtspunkt war es, den
Aristoteles bei der Anordnung des Stoffes vor allen übrigen bevorzugte, und den häufiger als
irgendeinen anderen auch die verschiedensten Denker späterer Zeit, mehr oder minder bewußt, bei der
Grundeinteilung der psychischen Phänomene einnahmen. Die psychischen Phänomene unterscheiden
sich von allen physischen durch nichts so sehr als dadurch, daß ihnen etwas gegenständlich inwohnt.
Und darum ist es sehr begreiflich, wenn die am tiefsten greifenden Unterschiede in der Weise, in
welcher ihnen etwas gegenständlich ist, zwischen ihnen selbst wieder die vorzüglichsten
Klassenunterschiede bilden. Je mehr die Psychologie sich entwickelte, um so mehr hat sie auch
gefunden, daß an die fundamentalen Unterschiede in der Weise der Beziehung zum Objekt sich mehr
als an irgendwelche andere gemeinsame Eigentümlichkeiten und Gesetze knüpfen“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 32 – 33.
57
Para esclarecer os detalhes envolvidos nos argumentos desta
citação será preciso apresentar alguns pontos centrais da análise brentaniana.
93
Conferir especialmente o capítulo V do Livro II da Psicologia do ponto de vista empírico (1874) ou sua
reedição no capítulo I do Livro II da edição de 1911, intitulado Olhada sobre os primeiros ensaios de
uma classificação dos fenômenos psíquicos [Überblick über die vorzüglichsten Versuche einer
Klassifikation der psychischen Phänomene]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 3-27.
94
Além dos três modos aristotélicos, Brentano descreve que “a isto se agrega ainda o principio da
segunda divisão de Bain, que divide os fenômenos psíquicos em fenômenos primitivos e em
fenômenos derivados destes por evolução” [„Hierzu kommt dann noch das Prinzip der zweiten
Einteilung von Bain, welche die Psychischen Erscheinungen in primitive und in solche zerlegt, welche
sich aus primitiven entwickeln“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter
Band, p. 27. Não nos ocuparemos aqui desta divisão, uma vez que ela nos desviaria dos nossos
propósitos.
95
„Er hatte die psychischen Tätigkeiten geschieden: einmal, insofern er sie teils an dem Leibe haftend,
teils nicht an ihn gebunden glaubte; dann, insofern er sie teils dem Menschen mit den Tieren gemein,
teils ihm ausschließlich eigentümlich dachte, und endlich nach dem Unterschied der Weise der
intentionalen Inexistenz oder, wie wir sagen könnten, nach dem Unterschiede der Weise des
Bewußtseins. Das letzte Einteilungsprinzip sehen wir besonders häufig und zu allen Zeiten
angewandt“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 27.
58
modalidade de referência ao objeto intencional in-existente. Brentano apontou,
então, dois problemas: (1) o critério da aderência e o critério do pertencimento
não eram efetivamente distintos; (2) o critério da aderência e o critério do
pertencimento se valiam da percepção indireta para definir os fenômenos
psíquicos. Por questões metodológicas, apresentaremos apenas os detalhes
do primeiro problema.
96
“Denn Aristoteles glaubte gewisse Seelenvermögen dem Menschen ausschließlich eigen, und hielt diese
für immateriell, die allgemein animalischen dagegen für Vermögen eines körperlichen Organes. Es
sondert also, wenn wir die Richtigkeit seiner Anschauungen voraussetzen, jene Einteilung in dem
ersten Gliede Erscheinungen für sich ab, welche auch in der Natur von den anderen isoliert auftreten“.
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 30.
97
„Er zählt darum einen vegetativen, sensitiven und intellektiven Teil der Seele auf. Der erste, der die
59
Apesar da indicação dos três modos de atividades psíquicas, a
análise brentaniana insistiu que a aplicação moderna desse critério aristotélico
estabelecia uma divisão polarizada, pois Brentano considerava que os
modernos distinguiram apenas entre aqueles fenômenos psíquicos comuns aos
animais e aqueles peculiares ao homem. Assim, ele denominou essa aplicação
de redução moderna da clássica divisão tripartite da atividade anímica.
Phänomene der Ernährung, des Wachstums und der Erzeugung in sich schließt, soll allen irdischen
lebenden Wesen, auch den Pflanzen, gemeinsam zukommen. Der zweite, der Sinn und Phantasie und
andere verwandte Erscheinungen und mit ihnen die Affekte enthält, gilt ihm als der spezifisch
animalische. Den dritten endlich, welcher das höhere Denken und Wollen in sich begreift, glaubt er
unter den irdisch lebenden Wesen dem Menschen ausschließlich eigentümlich“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 7.
98
„Aber infolge der Beschränkung, welche der Begriff der psychischen Tätigkeit später erfuhr; fällt das
erste der drei Glieder gänzlich außerhalb ihres Bereiches“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 7.
99
„Diese Glieder fallen mit den Gliedern der ersten zusammen. Ihre Ordnung aber bestimmt der Grad der
Allgemeinheit ihres Bestehens“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter
Band, p. 7.
60
das classes revelará importantes propriedades e leis comuns. Mas a opinião
aristotélica, sobre a base das quais a divisão seria aceitável, contém muitos
pontos impugnáveis”100. Podemos sintetizar a impugnação brentaniana destes
pontos do seguinte modo.
100
„Aristoteles schied die psychischen Phänomene in solche, welche dem Menschen mit den Tieren
gemein, und solche, welche ihm eigentümlich seien. Stellen wir uns auf den Standpunkt der
Aristotelischen Lehre, so wird diese Einteilung in vieler Hinsicht vorzüglich scheinen. Denn
Aristoteles glaubte gewisse Seelenvermögen dem Menschen ausschließlich eigen, und hielt diese für
immateriell, die allgemein animalischen dagegen für Vermögen eines körperlichen Organes. Es
sondert also, wenn wir die Richtigkeit seiner Anschauungen voraussetzen, jene Einteilung in dem
ersten Gliede Erscheinungen für sich ab, welche auch in der Natur von den anderen isoliert auftreten;
und der Umstand, daß die einen Funktionen eines Organs sind, die anderen nicht, läßt erwarten, daß
jede der beiden Klassen wichtige gemeinsame Eigentümlichkeiten und Gesetze zeigen werde. Aber
die Aristotelischen Ansichten, auf Grund deren die Einteilung sich empfehlen würde, enthalten gar
manches, was bestritten werden kann“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 30.
101
„Dieser Umstand sowohl als auch der Wunsch keine unerwiesenen Voraussetzungen zu machen, hat
selbst Aristoteles abgehalten, sie bei der systematisch geordneten Darlegung seiner Seelenlehre als
Grundeinteilung zu verwenden“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter
Band, p. 31.
61
se nos critérios da argumentação aristotélica para refutar as duas primeiras
possibilidades de divisão básica dos fenômenos que caracterizavam a
atividade psíquica. Assim, o caminho está aberto para a exposição do terceiro
modo de divisão.
102
„Eine andere Haupteinteilung, die Aristoteles gibt, scheidet die psychischen Phänomene, - das Wort in
unserem Sinne genommen, - in Denken und Begehren, und , im weitesten Sinne. Diese
Einteilung kreuzt sich bei ihm mit der vorigen, so weit sie für uns in Betracht kommt. Denn in der
Klasse des Denkens faßt Aristoteles mit den höchsten Verstandesbetätigungen, wie Abstraktion,
Bildung allgemeiner Urteile und wissenschaftlicher Schlußfolgerung, auch Sinneswahrnehmung und
Phantasie, Gedächtnis und erfahrungsmäßige Erwartung zusammen. In der des Begehrens aber sind
ebenso das höhere Verlangen und Streben wie der niedrigste Trieb, und mit ihnen alle Gefühle und
Affekte, kurzum alles, was von psychischen Phänomene der ersten Klasse nicht einzuordnen ist,
begriffen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 7-8.
62
pensamento e desejo ( e ), mas o fato de que essa teoria
apresentava o fundamento dessa divisão e estabelecia o critério para a
classificação de qualquer fenômeno psíquico. Assim, o critério encontrado foi a
diferença de modo de referência ao objeto intencional in-existente na
consciência. Em outras palavras, a análise brentaniana encontrou, na teoria
aristotélica, o modo de dividir os fenômenos que caracterizam a atividade
psíquica. Essa divisão estava explícita na diferença existente entre os modos
que o pensamento e o apetite comportam na sua referência a tal objeto
intencional in-existente. Somente por isso, as diferenças no modo de referência
ao objeto intencional in-existente foram tomadas como o critério fundamental. A
citação a seguir descreve a proclamação desse encontro:
103
Brentano refere-se às passagens de De Anima, III, 10 e Metafísica, A, 7.
104
„Wenn wir untersuchen, was Aristoteles dazu geführt habe, vermöge dieser Einteilung zu verbinden,
was die frühere Einteilung geschieden hatte: so erkennen wir leicht, daß ihn dabei eine gewisse
Ähnlichkeit bestimmte, welche das sinnliche Vorstellen und Scheinen dem intellektuellen,
begrifflichen Vorstellen und Fürwahrhalten und ebenso das niedere Begehren mit dem höheren
Streben zeigt. Er fand hier und dort, um es mit einem Ausdrucke, den wir schon früher einmal den
Scholastikern entlehnten, zu bezeichnen, die gleiche Weise der intentionalen Inexistenz. Und aus dem
selben Prinzipe ergab sich dann auch die Trennung von Tätigkeiten, welche die frühere Einteilung
verbunden hatte, in verschiedene Klassen. Denn die Beziehung auf den Gegenstand ist bei Denken
und Begehren verschieden. Und darein eben setzte Aristoteles den Unterschied der beiden Klassen.
Nicht auf verschiedene Objekte glaubte er sie gerichtet, sondern auf dieselben Objekte in
verschiedener Weise. Deutlich sagte er, sowohl in seinen Büchern von der Seele als in seiner
Metaphysik, daß dasselbe Gegenstand des Denkens und Begehrens sei und, zuerst im Denkvermögen
aufgenommen, da das Begehren bewege“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 8 - 9.
63
divisão dos fenômenos psíquicos, pois ela apresentou dois pontos relevantes
para a formulação da teoria moral brentaniana de 1874.
Aristóteles falou aqui com uma clareza que não deixa nada a desejar.
„Bom‟ e „apetecível‟ são termos sinônimos para ele. „O objeto do
apetite‟ (), diz ele em seus livros da alma, „é o bom ou o
que aparece como bom‟. E, no começo de sua Ética, explica: „toda
ação e toda eleição parece tender a algo bom, pelo qual se designou
106
o bom, com razão, como aquilo a que todos tendem‟ . Por isso
107
identifica-se, também, a causa final com o bem . Esta teoria
105
“Esta expressão tem sido mal compreendida, acreditando que se trata de proposição e persecução de
um fim. Assim, teria sido melhor evitá-la. Os escolásticos usam ainda com mais freqüência a
expressão „objetivo‟, em vez de „intencional‟. Trata-se do fato de que para o objeto psiquicamente
ativo, e como tal, algo está presente em sua consciência de certo modo, seja como meramente
pensado, seja como apetecido, evitado ou outro modo semelhante. Se dei preferência à expressão
„intencional‟, foi porque considerava maior ainda o perigo de cometer um equívoco se designasse o
pensado com os termos de pensado como „ser objetivo‟. Pois, os modernos costumam chamar ser real
sendo aquilo que existe na realidade em contraposição aos „fenômenos meramente subjetivos‟, aos
quais nenhuma realidade se emana”. [„Dieser Ausdruck ist in der Art mißverstanden worden, daß man
meinte, es handle sich dabei um Absicht und Verfolgung eines Zieles. So hätte ich vielleicht besser
getan, ihn zu vermeiden. Die Scholastiker gebrauchen weit häufiger noch statt "intentional" den
Ausdruck "objektiv". In der Tat handelt es sich darum, daß etwas für das psychisch Tätige Objekt und
als solches, sei es als bloß gedacht oder sei es auch als begehrt, geflohen oder dergleichen,
gewissermaßen in seinem Bewußtsein gegenwärtig ist. Wenn ich dem Ausdruck "intentional" den
Vorzug gab, so tat ich es, weil ich die Gefahr eines Mißverständnisses für noch größer hielt, wenn ich
das Gedachte als gedacht "objektiv seiend" genannt hätte, wo die Modernen, im Gegensatz zu "bloß
subjektiven Erscheinungen", denen keine Wirklichkeit entspricht, das wirklich Seiende so zu nennen
pflegen“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 8-9.
106
Brentano refere-se às passagens das seguintes obras: De Anima., III, 10; Ética à Nicômaco, I, I;
Metafísica., A, 7; Retórica., I, 6.
107
Brentano refere-se especificamente à Metafísica, A, 10 e seguintes.
64
subsistiu na Idade Média. Tomas de Aquino ensinava, com todo
clareza, que assim como o pensamento entra em relação com um
objeto enquanto cognoscível, o apetite entra em relação com ele
108
enquanto bom . Deste modo, pode suceder que um e o mesmo
109
objeto seja objeto de atividades psíquicas heterogêneas.
108
Brentano refere-se à Súmula Teológica, P. I. Q. 80. A. 1 ad 2.
109
„Aristoteles spricht hier mit einer Deutlichkeit, die nichts zu wünschen Übrig läßt. „Gut„ und
„begehrbar„ sind ihm gleichbedeutende Ausdrücke. „Der Gegenstand des Begehrens„
(„“), sagt er in seinen Büchern von der Seele, „ist das Gute oder das als gut
Erscheinende„; und am Anfange seiner Ethik erklärt er: „Jede Handlung und jede Wahl scheint nach
einem Gute zu streben; weshalb man mit Recht das Gute als dasjenige bezeichnet hat, wonach alles
strebt. Daher identifiziert er auch die Zweckursache mit dem Guten. Dieselbe Lehre erhielt sich dann
im Mittelalter. Thomas von Aquin lehrt mit aller Klarheit, daß, wie das Denken zu einem Objekt als
erkennbarem, das Begehren zu ihm als gutem in Beziehung trete. So könne es geschehen, daß ein und
dasselbe Gegenstand ganz heterogener psychischer Tätigkeiten sei“. Brentano, Franz. Psychologie
vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 92.
110
„Wie also bei der früheren Einteilung die Verschiedenheit des Trägers der psychischen Phänomene so
wie die Verbreitung über einen weiteren oder engeren Kreis psychisch begabter Wesen den
Einteilungsgrund bildete, so bildet ihn bei dieser der Unterschied in ihrer Beziehung auf den
immanenten Gegenstand. Die Ordnung der Aufeinanderfolge der Glieder ist durch die relative
Unabhängigkeit der Phänomene bestimmt. Die Vorstellungen gehören zur ersten Klasse; ein
Vorstellen aber ist die notwendige Vorbedingung eines jeden Begehrens“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 9.
65
estava na imediata identificação da noção aristotélica de pensamento () à
sua noção de representação. Veremos que Brentano formulou um novo
conceito de representação e o definiu como classe fundamental dos fenômenos
psíquicos. Nosso interesse específico, aqui, está no fato de que esse salto tem
implicação direta na teoria do sentimento moral que emerge da psicologia de
1874.111
111
Conforme a teoria brentaniana de 1889, como elucidaremos no final deste capítulo, o que está em jogo
é o fato de que, em 1874, a descrição da consciência atribui evidência apenas à primeira classe dos
fenômenos psíquicos. As demais classes – juízos e sentimento – possuem sua validade epistemológica
orientada pela noção de verdade como referência. Em outras palavras, tomados à luz da descrição do
conceito de verdade (evidência – correspondência), os critérios aristotélicos de descrição dos
fenômenos psíquicos não são recebidos da mesma maneira nas teorias de 1874 e 1889. Assim, é
justamente em função dessa explícita orientação pelos critérios aristotélicos de classificação dos
fenômenos psíquicos, sugerida principalmente na dependência de todo apetite para com a
representação, que Brentano reconhece, em 1889, o fato de que sua primeira teoria estava
impossibilitada de apresentar uma ética como teoria do conhecimento.
66
definição positiva válida conjuntamente para todos os fenômenos
psíquicos?”112. A resposta brentaniana para essas questões reintroduziu a
noção aristotélica como critério positivo de classificação dos fenômenos
psíquicos.
112
„Welches positive Merkmal werden wir nun anzugeben vermögen? Oder gibt es vielleicht gar keine
positive Bestimmung, die von allen psychischen Phänomenen gemeinsam gilt?“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 112.
113
De fato, o debate sobre a reintrodução dos critérios aristotélicos está aberto, ainda que recentes estudos
tenham tentado consolidar essa interpretação. Para uma análise contra essa interpretação, ver
Spiegelberg, Herbert. „Intention‟ and „intentionality‟ in the scholastics, Brentano and Husserl, 1976.
Para uma análise favorável a essa interpretação, ver: Sorabji, Richard. From Aristotle to Brentano.
The development of the concept of intentionality, 1991, p. 227-259; Marras, Ausonio. Scholastic roots
of Brentano‟s conception of intentionality, 1976. p. 128-139; George, Rolf. e Koehn, Glen. Brentano‟s
relation to Aristotle, 2004. p. 20 – 44.
67
apreenderia empiricamente esse fenômeno psíquico. Algumas considerações
sobre o modo como Brentano apresenta a definição positiva de fenômenos
psíquicos bastarão para esclarecer a recepção do referido critério aristotélico.
114
(Brentano indica como fonte bibliográfica dessa citação a introdução ao cap. 1 da obra Mental science
de Bain). „Dieselbe Bestimmung gibt neuerdings A. Bain: Das Gebiet des Objekts oder die objektive
(äußere) Welt, sagt er, ist genau umschrieben durch ein e Eigentümlichkeit, die Ausdehnung. Die Welt
der subjektiven Erfahrung (die innere Welt) entbehrt dieser Eigentümlichkeit. Von einem Baume oder
von einem Bache sagt man, er besitze eine ausgedehnte Größe. Ein Vergnügen hat nicht Länge, Breite
oder Dicke; es ist in keiner Hinsicht ein ausgedehntes Ding. Ein Gedanken oder eine Idee mag sich
auf ausgedehnte Größen beziehen, aber man kann nicht von ihnen sagen, sie hätten eine Ausdehnung
in sich selbst. Und ebensowenig können wir sagen, daß ein Willensakt, eine Begierde, ein Glauben
einen Raum nach gewissen Richtungen erfülle. Daher spricht man von Allem, was in das Bereich des
Subjekts fällt, als von dem Unausgedehnten. Gebraucht man also, wie es gemeiniglich geschieht, den
Namen Geist für die Gesamtheit der inneren Erfahrungen, so können wir ihn negativ durch eine
einzige Tatsache definieren, durch den Mangel der Ausdehnung“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 121.
68
entre os fenômenos psíquicos e os fenômenos físicos. A análise brentaniana
valeu-se dessa distinção entre fenômenos e apresentou os dois próximos
passos da argumentação. O primeiro deles consistiu na necessidade de
redefinir a noção de (ser) representado. Brentano propôs que fenômeno físico
seria sinônimo de (ser) representado. O segundo consistiu na necessidade de
redefinir a noção de representação. Brentano propôs que, em alguns casos,
fenômeno psíquico seria sinônimo de representação. Vejamos como ele
chegou a essa definição.
115
A simplicidade dessa afirmação é mera aparência. Não é possível, no entanto, retomar o debate sobre
os problemas que ela levanta. Insistiremos apenas no ponto destacado por Linda McAlister em sua
análise da carta enviada por Brentano a Anton Marty (17 de março de 1905). “Though written during
Brentano's later philosophical period, the crucial parts of this letter refer back to his earlier position
which he attempts to clarify. He says: it has never been my view that the immanent object is identical
with thought-of object, what we think is the object or thing and not the thought of object. If, in our
thought, we contemplate a horse, our thought has as its immanent object – not a contemplated horse,
but a horse. And strictly speaking only the horse – not the contemplated horse – can be called an
object. ["Es ist aber nicht meine Meinung gewesen, dass das immanente Objekt vorgestelltes Objekt
sei. Die Vorstellung hat nicht vorgestelltes Ding, sondern das Ding, also z.B. die Vorstellung eines
Pferdes nicht vorgestelltes Pferd, sondern Pferd, zum (immanenten, d.h. Allein eigentlich Objekt zu
nennenden) Objekt.]“. McAlister, Linda. The Development of Franz Brentano‟s Ethics, p. 22-23.
116
„Und auch die psychischen wären dann den physischen gegenüber mit derselben Exaktheit als
diejenigen Phänomene zu bestimmen, welche keine Ausdehnung und örtliche Bestimmtheit zeigen“.
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 121.
69
Esse passo argumentativo de Brentano estabeleceu dois pontos
fundamentais. Um desses pontos foi a relação intrínseca entre esses dois tipos
de fenômenos. O outro ponto foi a impossibilidade de se definir um dos
fenômenos sem ter como referência direta o outro. Assim, a argumentação
brentaniana mostrou que só havia um modo de compreender essa relação.
Para isso, seria preciso reformular a noção de representação. Desse modo, o
próximo passo argumentativo formulou uma noção relacional de representação,
ou seja, uma relação entre representação e (ser) representado.
117
„Allein jenes Gegenwärtig-sein jedes einzelnen der genannten Dinge ist eben schon ein Vorgestelltsein
in unserem Sinne. Und ein solches kommt Überall vor, wo etwas im Bewußtsein erscheint: mag es
gehaßt oder geliebt oder gleichgültig betrachtet; mag es anerkannt oder verworfen oder, bei völliger
Zurückhaltung des Urteils - ich kann mich nicht besser ausdrücken als -, vorgestellt werden. Wie wir
das Wort vorstellen gebrauchen, ist vorgestellt werden so viel wie erscheinen“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 114.
118
“Exemplos de fenômenos físicos são: uma cor, uma figura, uma paisagem que vejo; um acorde que
ouço; o calor, o frio, o odor que sinto; e as coisas semelhantes que me aparecem na fantasia. Estes
exemplos bastarão para tornar intuitiva a distinção de ambas as classes”. [“Beispiele von physischen
Phänomen dagegen sind eine Farbe, eine Figur, eine Landschaft, die ich sehe; ein Akkord, den ich
höre; Wärme, Kälte, Geruch, die ich empfinde; sowie ähnliche Gebilde, welche mir in der Phantasie
erscheinen. Diese Beispiele mögen hinreichen, den Unterschied der beiden Klassen anschaulich zu
70
seria um fenômeno psíquico119 e se constituiria como a atividade de
representação (ou seja, a audição) do fenômeno físico representado (ou seja,
do som). Assim, portanto, enquanto fenômeno psíquico, a representação
deveria ser entendida sempre como uma atividade ou ato da consciência. Por
sua vez, enquanto fenômeno físico, o correlato do ato deveria ser entendido
sempre como aquilo que é representado120. Por mais que parecesse trivial,
machen“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 112.
119
“Toda representação, mediante sensação ou fantasia, oferece um exemplo de fenômeno psíquico. Aqui
eu entendo por representação, não aquilo que é representado, mas o ato de representar. A audição de
um som, a visão de um objeto colorido, a sensação de calor ou frio, assim como os estados
semelhantes da fantasia, são exemplos aos quais aludo. Do mesmo modo é também (exemplo) o
pensamento de um conceito geral, sempre que tenha lugar realmente. Todo juízo, todo recordo, toda
prospecção, toda conclusão, toda convicção ou opinião, toda dúvida é um fenômeno psíquico. Como
também o é todo movimento anímico, alegria, tristeza, medo, esperança, valor, covardia, cólera, amor,
ódio, apetite, volição, intento, assombro, admiração, desprezo, etc.” [„Ein Beispiel für die psychischen
Phänomene bietet jede Vorstellung durch Empfindung oder Phantasie; und ich verstehe hier unter
Vorstellung nicht das, was vorgestellt wird, sondern den Akt des Vorstellens. Also das Hören eines
Tones, das Sehen eines farbigen Gegenstandes, das Empfinden von warm oder kalt, sowie die
ähnlichen Phantasiezustände sind Beispiele, wie ich sie meine; ebenso aber auch das Denken eines
allgemeinen Begriffes, wenn anders ein solches wirklich vorkommt. Ferner jedes Urteil, jede
Erinnerung, jede Erwartung, jede Folgerung, jede Überzeugung oder Meinung, jeder Zweifel - ist ein
psychisches Phänomen. Und wiederum ist ein solches jede Gemütsbewegung, Freude, Traurigkeit,
Furcht, Hoffnung, Mut, Verzagen, Zorn, Liebe, Haß, Begierde. Willen, Absicht, Staunen,
Bewunderung', Verachtung, usw“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster
Band, p. 111 - 112.
120
É fundamental relembrar que a preocupação de Brentano é a definição empírica de fenômeno psíquico.
Por isso mesmo, salta aos olhos a simplicidade dessa definição, quando comparada às análises que os
interlocutores e os próprios pupilos de Brentano apresentaram posteriormente. Cabe, no entanto,
antecipar duas distinções clássicas que ainda não aparecem nas obras brentanianas de 1874. Tal como
foram apresentadas por Twardowski, são aquelas elaboradas por Zimmermann e Höfler. Segundo
Twardowski, a distinção de Zimmermann estabelece que “[...] faz-se necessário somente, quando se
fala do fato de qualquer coisa ser representada, acrescentar se ela é representada na representação
ou pela representação. No primeiro caso, o que é significado com o representar é o conteúdo de
representação; no segundo, é o objeto da representação” (Twardowski, K. Para a doutrina do
conteúdo e do objeto das representações, Uma investigação psicológica, p. 63). Ainda segundo
Twardowski, “[...] mesmo evitando-se assim a confusão do ato psíquico com seu conteúdo, resta
ainda por ser superada uma ambigüidade sobre a qual Höfler chamou atenção. Após ele pronunciar-
se sobre a relação com um conteúdo, própria dos fenômenos psíquicos, ele continua 1. O que nós
chamamos ‘conteúdo da representação e do juízo’ encontra-se inteiramente no interior do sujeito,
tal como o ato de representação e de juízo. 2. As palavras ‘Gegestand’ e ‘Object’ são usadas em
dois sentidos: por um lado, para aqueles existentes em si (an sich Bestehende), ... para o qual nosso
representar e julgar igualmente se dirigem, por outro lado, pela ‘imagem’ (Bild) psíquica ‘em’ nós
existente mais ou menos aproximada daquela real (Realen), aquela quase-imagem (mais
precisamente: signo) idêntica ao que em (1) denomina-se conteúdo. Em contraposição ao
Gegenstand ou objeto, suposto como independente do pensamento, denomina-se o conteúdo de um
representar e julgar (igualmente, sentir e querer) também o objeto o ‘objeto imanente ou
intencional’ desse fenômeno psíquico” (Twardowski, K. Para a doutrina do conteúdo e do objeto
das representações, Uma investigação psicológica, p. 63). Se, no entanto, de um lado Brentano não
distingue explicitamente conteúdo e objeto, cabe aqui antecipar uma distinção entre objeto que se
institui a partir da descrição da percepção interna. A saber: a distinção dos correlatos do ato em objeto
primário e objeto secundário. Acerca dessa distinção, diz Twardowski que “[...] as expressões objeto
primário e objeto secundário encontram em Brentano num sentido ligeiramente diferente (do dele).
Pois embora Brentano designe como objeto primário o objeto da representação, tal como é feito aqui
71
essa redefinição do conceito de representação tinha duas implicações
epistemológicas.
(na obra de Twardowski), ele entende por objeto secundário de uma representação o ato e o conteúdo
tomados em conjunto, na medida em que ambos, durante a atividade de representar um objeto, são
apreendidos pela consciência interna, e aí a representação torna-se assim consciente”. Twardowski,
Kasimir. Para a doutrina do conteúdo e do objeto das representações, Uma investigação psicológica,
p. 62-63, nota 2.
121
Não é possível, nesta tese, fazermos uma exposição dos pressupostos epistemológicos que
fundamentam essa dependência, pois migraríamos da ética para a psicologia brentaniana. Por isso,
deixemos aberta essa questão. Voltaremos a ela, ao menos indiretamente no final do capítulo V, no
contexto da apresentação da teoria brentaniana do ato psíquico.
72
representar; ou (2) eram atividades da consciência que tinham por base
representações:
122
„Doch wir wollen noch in einer anderen und einheitlicheren Weise eine Erklärung des psychischen
Phänomens zu geben suchen. Hierfür bietet sich uns eine Bestimmung dar, von der wir schon früher
Gebrauch machten, indem wir sagten, mit dem Namen der psychischen Phänomene bezeichneten wir
die Vorstellungen, sowie auch alle jene Erscheinungen, für welche Vorstellungen die Grundlage
bilden. Daß wir hier unter Vorstellung wiederum nicht das Vorgestellte, sondern das Vorstellen
verstehen, bedarf kaum der Bemerkung. Dieses Vorstellen bildet die Grundlage des Urteilens nicht
bloß, sondern ebenso des Begehrens, sowie jedes anderen psychischen Akte. Nichts kann beurteilt,
nichts kann aber auch begehrt, nichts kann gehofft oder gefürchtet werden, wenn es nicht vorgestellt
wird. So umfaßt die gegebene Bestimmung alle eben angeführten Beispiele psychischer Phänomene
und überhaupt alle zu diesem Gebiete gehörigen Erscheinungen“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 112.
123
Cf. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 120.
73
Tal como manifesta a citação a seguir, Brentano considerou como
condição sine qua non de todo juízo ou sentimento, enquanto tipos especiais
de fenômenos psíquicos, a existência da atividade fundamental da consciência
chamada representação:
124
„Wir dürfen es demnach als eine unzweifelhaft richtige Bestimmung der psychischen Phänomene
betrachten, daß sie entweder Vorstellungen sind, oder (in dem erläuterten Sinne) auf Vorstellungen als
ihrer Grundlage beruhen. Hierin hätten wir also eine zweite, in wenigere Glieder zerfallende
Erklärung ihres Begriffes gegeben. Immerhin ist sie nicht ganz einheitlich, da sie vielmehr die
psychischen Phänomene in zwei Gruppen geschieden uns vorführt“. Brentano, Franz. Psychologie
vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 120.
125
„Nichtsdestoweniger haben schon Psychologen älterer Zeit auf eine besondere Verwandtschaft und
Analogie aufmerksam gemacht, die zwischen allen psychischen Phänomenen bestehe, während die
physischen nicht an ihr Teil haben“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster
Band, p. 124.
74
uma realidade), ou a objetividade imanente. Todo fenômeno psíquico
contém algo em si como seu objeto, ainda que nem todos do mesmo
modo: na representação há algo representado; no juízo há algo
admitido ou rechaçado; no amor, amado; no ódio, odiado; no apetite,
126
apetecido, etc. .
126
„Jedes psychische Phänomen ist durch das charakterisiert, was die Scholastiker des Mittelalters die
intentionale (auch wohl mentale) Inexistenz eines Gegenstandes genannt haben, und was wir, obwohl
mit nicht ganz unzweideutigen Ausdrücken, die Beziehung auf einen Inhalt die Richtung auf ein
Objekt (worunter hier nicht eine Realität zu verstehen ist) oder die immanente Gegenständlichkeit
nennen würden. Jedes enthält etwas als Objekt in sich. obwohl nicht jedes in gleicher Weise. In der
Vorstellung ist etwas vorgestellt. in dem Urteile ist etwas anerkannt oder verworfen, in der Liebe
geliebt, in dem Hasse gehaßt, in dem Begehren begehrt usw“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 124 - 125.
127
„Um sogleich unsere Ansicht auszusprechen, so halten auch wir dafür, daß hinsichtlich der
verschiedenen Weise ihrer Beziehung zum Inhalte drei Hauptklassen von Seelentätigkeiten zu
unterscheiden sind. Aber diese drei Gattungen sind nicht dieselben wie die, welche man gemeiniglich
aufstellt, und wir bezeichnen in Ermangelung passenderer Ausdrücke die erste mit dem Namen
Vorstellung, die zweite mit dem Namen Urteil, die dritte mit dem Namen Gemütsbewegung, Interesse
oder Liebe! Keine dieser Benennungen ist von der Art, daß sie nicht mißverständlich wäre; vielmehr
wird jede häufig in einem engeren Sinne angewandt“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 33.
75
psíquicos em três classes seguiu plenamente a orientação do mestre de
Estagira. Vejamos como sua análise esclareceu essa possibilidade:
128
„Wir behaupten vielmehr, daß jeder Gegenstand, der beurteilt werde, in einer doppelten Weise im
Bewußtsein aufgenommen sei, als vorgestellt und als anerkannt oder geleugnet. So wäre denn das
Verhältnis ähnlich dem, welches mit Recht, wie wir sahen, von der großen Mehrzahl der Philosophen,
und von Kant nicht minder als von Aristoteles, zwischen Vorstellen und Begehren angenommen wird.
Nichts wird begehrt, was nicht vorgestellt wird; aber doch ist das Begehren eine zweite, ganz neue
und eigentümliche Weise der Beziehung zum Objekte, eine zweite, ganz neue Art von Aufnahme
desselben ins Bewußtsein. Nichts wird auch beurteilt, was nicht vorgestellt wird; aber wir behaupten,
daß, indem der Gegenstand einer Vorstellung Gegenstand eines anerkennenden oder verwerfenden
Urteils werde, das Bewußtsein in eine völlig neue Art von Beziehung zu ihm trete“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 38.
76
da orientação aristotélica utilizada por Brentano para descrever, em sua
Psicologia do ponto de vista empírico, a representação como aquela atividade
psíquica fundamental, que se constituía como base dos juízos e dos
sentimentos. Havia, no entanto, algo mais.
129
„Er ist dann doppelt im Bewußtsein aufgenommen, als vorgestellt und als für wahr gehalten oder
geleugnet“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 38.
77
Todo objeto que é conteúdo de uma representação pode ser
130
conteúdo de um juízo, segundo as circunstâncias.
130
„Hätte man dies von Anfang erkannt, so wäre wohl niemand auf den Gedanken gekommen,
Vorstellungen und Urteile dadurch zu unterscheiden, daß der Inhalt der ersteren ein einfacher, der
Inhalt der letzteren ein zusammengesetzter Gedanke sei. Denn in Wahrheit besteht hinsichtlich des
Inhaltes nicht der geringste Unterschied. Der Bejahende, der Verneinende und der ungewiß Fragende
haben denselben Gegenstand im Bewußtsein; der letzte, indem er ihn bloß vorstellt, die beiden ersten,
indem sie ihn zugleich vorstellen und anerkennen oder verwerfen. Und jedes Objekt, das Inhalt einer
Vorstellung ist, kann unter Umständen auch Inhalt eines Urteils werden“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 68.
131
„Wie er, wenn die Begierde auf ihn sich richtet, als vorgestellt zugleich und als begehrt ihm
innewohnt“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 38.
132
„Vergleichen wir zu diesem Zwecke das Verhältnis von Vorstellung und Urteil mit dem Verhältnis
zwischen zwei Klassen von Phänomenen, deren tiefgreifende Verschiedenheit in der Beziehung zum
Objekt außer Frage steht: nämlich mit dem Verhältnis zwischen Vorstellungen und Phänomenen von
Liebe oder Haß. So sicher es ist, daß ein Gegenstand, der zugleich vorgestellt und geliebt, oder
zugleich vorgestellt und gehaßt wird, in zweifacher Weise intentional im Bewußtsein ist: so sicher gilt
dasselbe auch in betreff eines Gegenstandes, den wir zugleich vorstellen und anerkennen, oder
zugleich vorstellen und leugnen. Alle Umstände sind hier und dort analog; alle zeigen, daß, wenn in
dem einen, auch in dem anderen Falle eine zweite, grundverschiedene Weise des Bewußtseins zu der
ersten hinzugekommen ist“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band,
p. 65.
78
Explicitamente orientado pela atividade psíquica classificada por
Aristóteles como desejo (), Brentano assumiu sem ressalvas esse
critério para a terceira classe de fenômenos psíquicos. Essa assunção está
descrita do seguinte modo:
Pois bem, creio que algo é amado – ou, dito com mais exatidão, algo
é amado ou odiado - em todo ato pertencente a esta terceira classe,
tomado no sentido que a palavra tem no segundo caso. Assim como
todo juízo toma um objeto por verdadeiro ou falso, também de um
modo análogo todo fenômeno pertencente à terceira classe toma um
133
objeto por bom ou mau.
133
„In einem Sinne wie dem, welchen das Wort in dem zweiten Falle hat, glaube ich nun, daß in jedem
Akte, der zu dieser dritten Klasse gehört, etwas geliebt, genauer gesprochen etwas geliebt oder gehaßt
wird. Wie jedes Urteil einen Gegenstand für wahr oder falsch nimmt, so nimmt in analoger Weise
jedes Phänomen, welches der dritten Klasse zugehört, einen Gegenstand für gut oder schlecht“.
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 36.
79
valor de verdade e uma descrição do valor moral do objeto imanente orientada
pelo estatuto ontológico que ele possuía.
134
„Die Aufschrift, die ich meinem Werke gegeben, kennzeichnet dasselbe nach Gegenstand und
Methode. Mein Standpunkt in der Psychologie ist der empirische: die Erfahrung allein gilt mir als
Lehrmeisterin: aber mit anderen teile ich die Überzeugung, daß eine gewisse ideale Anschauung mit
einem solchen Standpunkte wohl vereinbar ist“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Erster Band, p. 1.
135
Uma descrição das relações entre os conceitos da psicologia aristotélica e a psicologia brentaniana é
apresentado por Münch como boneco de palha do seu argumento que pretende estabelecer a
influência de Comte na psicologia de Brentano. Cf. Münch, Dieter. Brentano and Comte, p. 33-38.
136
Conferir especialmente a introdução de Münch em seu artigo Brentano and Comte (p. 33-39). Sobre a
relevância da filosofia positiva para o desenvolvimento científico da humanidade, conferir o artigo
Quatro fases da filosofia e seu estado atual (Die Vier Phasen der Philosophie und ihr
augenblicklicher Stand), onde Brentano destaca a superioridade da posição histórica de Comte para
80
envolvido na compreensão da filosofia empírica, especialmente a assim
chamada filosofia positiva desenvolvida por Comte. Como consequência dessa
aproximação, Münch considera que a teoria brentaniana dos fenômenos
psíquicos foi uma resposta para a questão: „Como podemos lidar com
fenômenos psíquicos no contexto da filosofia positiva?‟. Em outras palavras,
Brentano estava tentando resolver um problema gestado dentro da própria
filosofia positiva e que buscava estabelecer a lei da fundação da psicologia
como ciência137.
81
Ora, para a filosofia positiva, as ciências eram as ciências dos
fenômenos, pois elas estabeleciam as leis gerais da relação entre eles140. É
nessa ótica que a psicologia como ciência dos fenômenos psíquicos deve ser
observada. Assim, no entanto, uma questão se impõe de imediato: Qual é o
critério da filosofia positiva recepcionado por Brentano no que se refere às leis
que governam as relações entre os fenômenos psíquicos? Tal como expõe a
exigência de Comte, na citação a seguir, tratava-se da generalidade, da
simplicidade e da independência recíproca:
140
Em sua análise direta da filosofia comtiana, diz Brentano: “[...] o que distingue nossa condição daquela
dos céticos é nossa exigência de que é possível conhecer a verdadeira relação que existe entre as
coisas. Nós não podemos determinar o tamanho absoluto de um objeto, mas nós podemos calcular seu
tamanho relativo com precisão. Nós nunca poderemos saber o absoluto momento no qual um evento
ocorre, mas nós podemos ser capazes de especificar quando ele ocorre em relação a outro evento”
(Brentano, Franz. Augusto Comte, p. 114, in: D. Münch, Brentano and Comte, p. 40). Outra citação
análoga é apresentada por Kraus no prefácio da Psicologia do ponto de vista empírico. “Neste ponto
nós (Brentano se referindo a Comte) permanecemos com os céticos. E que outro ponto existe que nos
diferenciaria deles, se não a indicação do reconhecimento da verdadeira relação entre as coisas? O
tamanho de um corpo não é determinável, mas podemos medir e calcular sua relação com exatidão...
É assim que nos separamos dos céticos e deles nos distanciamos em mil milhas“. [„In diesem Punkte
müssen wir Alle [Comte und Brentano] zu den Skeptikern stehen. Und was Anderes bleibt, das uns
von ihnen unterscheiden könnte, wenn nicht die Behauptung der Erkennbarkeit der wahren
Verhältnisse der Dinge? - Die absolute Größe eines Körpers ist nicht bestimmbar, die relative können
wir mit Genauigkeit messen und berechnen; die absolute Zeit eines Ereignisses ist uns unbekannt, das
Früher und Später können wir vielleicht auf Stunde und Minute angeben. Das also ist, was uns von
den Skeptikern trennt, und es entfernt uns von ihnen weit und auf tausend Meilen“]. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt,Erster Band, p. 132.
141
Comte, Augusto. Curso de filosofia positiva, p. 14
82
Em outras palavras, a ordem hierárquica proposta por Brentano, mediante os
três critérios positivistas, explicitou a dependência ontológica do sentimento
para com o juízo e do juízo para com a representação. Vejamos
detalhadamente como Brentano apresentou essa descrição.
142
„Ich sage dies nicht, als wollte ich leugnen, daß auch Urteil und Liebe in jedem psychischen Zustande
irgendwie vertreten seien; dies haben wir vielmehr soeben noch ausdrücklich hervorgehoben. Aber
wir haben dennoch zugleich einen gewissen Unterschied der Allgemeinheit bemerkt, insofern das
primäre Objekt notwendig und allgemein nur in der dem Vorstellen eigenen Weise der intentionalen
Einwohnung im Bewußtsein gegenwärtig ist“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 127.
143
„Auch könnte man sich ohne Widerspruch ein Wesen denken, welches, ohne Vermögen für Urteil und
Liebe, allein mit dem Vermögen der Vorstellung ausgestattet wäre, nicht aber umgekehrt“. Brentano,
Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 127.
144
"As leis do curso das representações, em uma ficção psíquica semelhante, poderiam ser algumas das
leis cujo influxo se revela atualmente em nossa vida psíquica”. [„Die Gesetze des Vorstellungslaufes
bei einer solchen psychischen Fiktion könnten einige von den Gesetzen sein, die auch jetzt in unserem
83
Façamos uma observação importante. A argumentação brentaniana
que estamos analisando se desenvolveu à luz do seguinte pressuposto. Os
fenômenos psíquicos de representação possuíam um estatuto epistemológico
privilegiado. Tratava-se da descrição do modo como a consciência apreendia
imediatamente todo ato de representar, por meio de uma coconsciência que
acompanhava o próprio ato. Brentano explicitou a evidência desse ato psíquico
por meio de um juízo existencial que, não se caracterizando como atribuição de
verdade ou falsidade, se restringia a reconhecer a representação do fenômeno
físico.
psychischen Leben ihren Einfluß offenbaren“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 127-128.
145
Cf. Brentano, Franz. Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 98-99.
146
„Sie ist das einfachste der drei Phänomene, indem Urteil und Liebe immer eine Vorstellung in sich
schließen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 127.
147
„Sie ist ebenso das unabhängigste unter ihnen, da sie die Grundlage der übrigen ist; und ebendarum ist
dieses Phänomen auch das allgemeinste“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 127.
84
argumenta ele, “[...] não existiria contradição na idéia de um ente que unisse a
atividade do juízo com a de representação, mas carecesse de todo movimento
de amor ou ódio”148. Como esse era um caso possível, a análise brentaniana
também considerou possível a complementação das leis da representação
pelas leis do juízo. Em outras palavras, as leis específicas inferidas a partir da
atividade do juízo poderiam ser acrescentadas àquelas inferidas a partir da
pura atividade de representação. Esclareçamos esse ponto de outra maneira.
148
„Der Gedanke eines Wesens, das mit der Tätigkeit zum Vorstellen die zum Urteilen verbände, aber
ohne jede Regung der Liebe oder des Hasses bliebe, enthält keinen Widerspruch“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 128.
149
„In bezug auf Unabhängigkeit, in bezug auf Einfachheit, und eben darum auch in bezug auf
Allgemeinheit steht also diese Klasse der des Urteiles nach; an Allgemeinheit natürlich nur in dem
Sinne, in welchem allein auch bei Vorstellung und Urteil von einem Unterschiede der Allgemeinheit
gesprochen werden konnte“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band,
p. 128-129.
85
específico, são as consequências que resultaram da aplicação desse critério à
representação e ao juízo, pois essas consequências se impuseram sobre a
definição do fenômeno de amor ou ódio. Distinguiremos, para isso, dois pontos
da argumentação brentaniana.
150
„Es ist gewiß nicht nötig, daß derjenige, welcher etwas liebt, glaubt, daß es existiere, oder auch nur
existieren könne; aber dennoch ist jedes Lieben ein Lieben, daß etwas sei“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 128.
151
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 127 - 128.
152
„Je nach dem Urteile über das Sein oder Nichtsein, die Wahrscheinlichkeit oder Unwahrscheinlichkeit
dessen, was man liebt, ist der Akt der Liebe bald Freude, bald Trauer, bald Hoffnung, bald Furcht, und
nimmt so noch mannigfache andere Formen an. So scheint es in der Tat undenkbar, daß ein Wesen
mit dem Vermögen der Liebe und des Hasses begabt wäre, ohne an dem des Urteiles Teil zu haben“.
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 128.
86
sobre o pressuposto de que todo sentimento tinha por base um juízo e este,
por sua vez, uma representação, estava o fato de que seria impossível
estabelecer qualquer lei de sucessão para os fenômenos de amor ou ódio se
eles não estivessem baseados em juízos. Reconhecemos essa consequência
da análise brentaniana na descrição abaixo, que tratou dos aspectos análogos
existentes entre os juízos e os sentimentos:
153
„Wenden wir uns zu dem letzten Punkte des Vergleiches, zu den Gesetzen der Sukzession der
Erscheinungen. Bei den Urteilen, obwohl sie von den allgemeinen Gesetzen des Vorstellungslaufes
sich keineswegs unabhängig zeigen, kommen doch noch andere, besondere Gesetze hinzu, welche aus
ihnen nicht abgeleitet werden können. Wir bemerkten bereits, daß diese Gesetze die vorzügliche
psychologische Grundlage der Logik ausmachen. Bei Liebe und Haß, sagten wir damals, sei etwa
ähnliches der Fall; und in der Tat sind zwar diese Phänomene weder von den Gesetzen des
Vorstellungslaufes noch von denen der Entstehung und Sukzession der Urteile unabhängig; aber
dennoch zeigen auch sie besondere unableitbare Gesetze ihrer Aufeinanderfolge und Entwickelung,
welche die psychologische Grundlage der Ethik bilden“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 109.
87
Ao tomar por base os fundamentos teóricos da sua Psicologia do
ponto de vista empírico, a análise brentaniana propôs a reformulação dos
ramos práticos da psicologia. A lógica, que até então fora concebida como
teoria do silogismo, deveria ser reformulada. Em outras palavras, Brentano
propôs uma correção para as clássicas proposições universais afirmativas e
negativas, bem como para as proposições particulares afirmativas e negativas.
De fato, tais correções estavam orientadas pela própria teoria brentaniana do
juízo existencial que descrevia a evidência imediata da percepção interna.
Assim, os juízos a serem reformulados seriam, disse ele, “[...] os particulares
afirmativos, os universais negativos e os erroneamente chamados universais
afirmativos e particulares negativos”154. A análise brentaniana, portanto, propôs
uma redução para as proposições que constituíam o quadrado de oposições do
silogismo, pois Brentano considerava que, “[...] como a redução anterior à
forma existencial permite reconhecer claramente, nenhum juízo afirmativo é
universal (ou teríamos que chamar de universal ao juízo com matéria
individual), nenhum juízo negativo é particular”155.
154
„Die partikulär bejahenden, die allgemein verneinenden, und die irrtümlich sogenannten allgemein
bejahenden und partikulär verneinenden“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 57.
155
„In Wahrheit ist, wie die obige Rückführung auf die existentiale Formel deutlich erkennen läßt, kein
bejahendes Urteil allgemein es müßte denn ein Urteil mit individueller Materie allgemein genannt
werden) und kein verneinendes Urteil partikulär“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 57.
88
sobre se o objeto deve ser admitido, admitirá também a admissibilidade do
objeto, ou seja, a verdade do objeto (pois a expressão bárbara não significa
outra coisa)” 156. Nesse sentido, essa era também uma descrição da estrutura
do juízo que, no entanto, rompia como o modelo clássico da predicação „A é B‟.
Tratava-se aqui, por analogia ao fundamento epistemológico da percepção
interna, de um tipo de predicação existencial de inspiração aristotélica. Cabe
ressaltar que Brentano a apresentou pela primeira vez em sua tese doutoral, ao
descrever o sentido impróprio do ser como verdadeiro. Naquele contexto,
tratava-se de uma predicação do tipo [(A é B)é], ou ainda, [(A)é]. No momento
oportuno, trataremos do modo como as leis lógicas são inferidas a partir do
juízo existencial. No momento, basta indicar sua origem.
156
„Wer etwas für wahr hält, nicht bloß den Gegenstand anerkennt, sondern dann, auf die Frage, ob der
Gegenstand anzuerkennen sei, auch das Anzuerkennensein des Gegenstandes, d. h. (denn nichts
anderes bedeutet der barbarische Ausdruck) die Wahrheit des Gegenstandes ebenfalls anerkennen
wird“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 89-90.
157
“Vimos como nas representações não há nem virtude e nem maldade, por um lado, e nem
conhecimento nem erro, por outro. Os dois últimos aparecem com os fenômenos do juízo. Os
primeiros encontram-se exclusivamente na esfera do amor e do ódio, como já dissemos”. [„Wir sahen,
wie in den Vorstellungen einerseits weder Tugend noch sittliche Schlechtigkeit, anderseits weder
Erkenntnis noch Irrtum liegt. Mit den Phänomenen des Urteilens kommen die letzten beiden hinzu;
das erste Paar dagegen liegt, wie schon gesagt, ausschließlich in dem Gebiete der Liebe und des
Hasses“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 108.
89
psíquicas de sentimento de amor ou ódio se referiam às experiências
constituídas por existências e ações reais de um gênero especial de forças. Em
outras palavras, Brentano considerava que “[...] a força de certos fenômenos de
amor para a realização dos objetos aos quais estão dirigidos, é, pois, uma
condição prévia da volição”158. Essa dependência impunha-se, então, como
uma tentativa de dar conta do problema ético no contexto da Psicologia do
ponto de vista empírico. Seu fundamento encontrava-se, como descreveu
Brentano no texto a seguir, não apenas na unidade da terceira classe de
fenômenos psíquicos, mas também na dependência epistemológica dessa
classe de fenômenos para com os juízos:
Ora, o que estava sendo exigido para evitar o círculo vicioso era o
fato de que a vontade não poderia supor a experiência da volição, assim como
158
“A força de certos fenômenos de amor para realizar os objetos aos quais estão dirigidos é, pois, uma
condição prévia da volição. Apenas ela (ainda quando não se considere a faculdade de agir como a
faculdade mesma de querer, como fez Bain) dá, de certo modo, a capacidade para esta”. [“Somit ist
die Kraft gewisser Phänomene der Liebe zur Verwirklichung der Gegenstände, auf welche sie
gerichtet sind, eine Vorbedingung des Wollens, und gibt, auch wenn man nicht, wie Bain es getan hat,
das Vermögen zu handeln als das Vermögen der Wollens selbst betrachtet, in gewisser Weise erst die
Fähigkeit zu ihm“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 115.
159
„Wenn das Wollen die Erfahrung eines Einflusses von Phänomenen der Liebe zur Hervorbringung des
geliebten Gegenstandes voraussetzt, so setzt es offenbar voraus, daß auch Phänomene der Liebe,
welche kein Wollen genannt werden können, ähnlich wie das Wollen, wenn auch vielleicht in
schwächerem Grade, sich wirksam erweisen. Denn würde eine solche Einwirkung sich ausschließlich
an das Wollen knüpfen, so würde man in einen verhängnisvollen Zirkel verwickelt. Das Wollen würde
die Erfahrung des Wollens voraussetzen, während natürlich umgekehrt auch diese das Wollen
voraussetzt. Anders, wenn auch schon das bloße Verlangen nach gewissen Ereignissen ihr Eintreten
zur Folge hat; es kann dann mit der Modifikation, welche die Kenntnis von dieser Kraftbeziehung ihm
gibt, d. i. als Wollen sich wiederholen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 116.
90
a experiência da volição não poderia supor a vontade. Como um modo de
evitar esse círculo vicioso, Brentano apresentou um tipo de solução que ele
mesmo reconhece, no contexto da formulação da sua teoria do conhecimento
moral de 1889, como o erro de Aristóteles. Como havíamos afirmado em partes
anteriores, Brentano é confesso acerca do reconhecimento tardio desse erro e
orientou sua nova teoria moral de 1889 pela necessidade de reformular o que
aqui ficava estabelecido. À luz da análise tardia do próprio Brentano, essa tese
de 1874 se ocupava de dois pontos. Descrever (a) o fenômeno psíquico do
amor como consequência do conhecimento (de uma relação de causa e efeito
entre objetos amados) e, com base na regra que se inferia dessa relação, (b)
descrever a ética como a retidão do amor que se encontrava em conformidade
com essa sua regra160.
O que, de fato, ainda não havia sido concebido pela teoria ética
proposta na Psicologia do ponto de vista empírico era, como já indicamos
acerca da análise brentaniana de 1889, o fato de que “[...] juntamente com a
experiência da atividade sentimental está unida concomitantemente o
conhecimento da bondade do objeto”.161 Em outras palavras, o círculo vicioso,
que Brentano rejeitava em 1874, foi retomado como um círculo virtuoso
descrito a partir da teoria da evidência do juízo e do sentimento superior,
tornando-se a tese central em 1889.
160
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
161
„Daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte
des Objekts immer zugleich gegeben ist“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
91
Fazia parte do projeto da Psicologia do ponto de vista empírico
apresentar uma teoria do sentimento moral fundada na descrição da atividade
psíquica do sentimento de amor ou ódio. Ocorreu, no entanto, que essa tarefa,
que foi projetada para ocupar o livro V dessa mesma obra, nunca foi cumprida.
Os dois principais motivos teóricos que justificam esse abandono já foram
mencionados ao longo deste trabalho e serão analisados no próximo capítulo.
A saber: (1) a reformulação da noção de relação intencional, uma vez que
Brentano substituiu a noção in-existência intencional do objeto imanente pela
noção de ato intencional; (2) a reformulação da noção de verdade, uma vez
que Brentano passou a distinguir verdade como evidência e verdade como
correspondência no âmbito da atividade psíquica de juízos e, de modo análogo,
no âmbito da atividade psíquica de sentimentos. Mesmo assim, ainda que a
Psicologia do ponto de vista empírico apresente uma ética rudimentar e
também refutada pelo próprio autor, sua retomada consiste em uma etapa
indispensável para a compreensão daquela que foi apresentada em seu lugar.
Vejamos como os poucos detalhes antecipados explicitamente por Brentano
estruturaram a proposta de uma ética fundada em uma teoria do sentimento
moral.
92
Tomemos cada um desses pontos separadamente e vejamos o
modo como Brentano se valeu dos fundamentos da sua Psicologia do ponto de
vista empírico para indicar as bases da ética como teoria do sentimento moral.
162
„Wir sahen, wie in den Vorstellungen einerseits weder Tugend noch sittliche Schlechtigkeit, anderseits
weder Erkenntnis noch Irrtum liegt. Mit den Phänomenen des Urteilens kommen die letzten beiden
hinzu; das erste Paar dagegen liegt, wie schon gesagt, ausschließlich in dem Gebiete der Liebe und des
Hasses. Findet es sich nun vielleicht nur in der einen der beiden Klassen, in welche man das Gebiet
zerlegt hat, in dem Willen, nicht aber in dem der Gefühle?“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 108.
93
apreendia imediatamente as diversas atividades da consciência. Para, no
entanto, dar conta de sua efetiva solução e, com isso, estabelecer o alicerce da
ética enquanto ramo da psicologia empírica, Brentano retomou o problema com
o propósito de especificar as relações internas existentes entre os tipos de atos
que caracterizavam os fenômenos psíquicos de amor ou ódio. Assim, sua
análise precisou descrever o modo como o bom e o mau emergiam em todos
os atos psíquicos de terceira classe.
94
argumentativo estava restrito às descrições das atividades psíquicas
estabelecidas pelo discurso em primeira pessoa. Isso significava que não havia
espaço para deduzir os atos particulares de terceira classe do ato psíquico de
sentimento de amor e ódio. Assim, impossibilitado de apresentar uma
demonstração, Brentano recorreu, com o exemplo apresentado acima, às
expressões da linguagem ordinária. Essa estratégia argumentativa indicou que
as atividades psíquicas intermediárias estavam dispostas em uma série que
ligava o sentimento à vontade164. Em um extremo estaria o sentimento da
tristeza, como anseio por um bem não possuído. Como atos psíquicos
intermediários, que se aproximam cada vez mais à vontade, estariam: (1) a
esperança de que tal bem se efetive; (2) o desejo de procurá-lo; (3) decisão de
empreender a sua busca; e, finalmente, (4) a resolução pela ação voluntária 165.
95
sentido estritamente rigoroso. Para Brentano, seria necessário que termos
como 'virtude' e 'maldade' fossem compreendidos no sentido estrito. O
desenvolvimento da Psicologia do ponto de vista empírico estabeleceria o
sentido rigoroso desses termos, sob pena de inviabilizar a ética como ramo da
psicologia:
96
sentimento. Tratava-se de uma aplicação desse princípio estabelecido na
Psicologia do ponto de vista empírico. Assim, o propósito de tal analogia era
estabelecer que o bom e o mau fossem conteúdos de um ato psíquico de amor
ou ódio, assim como a verdadeiro e falso seriam conteúdos do juízo. Por isso,
como explicita a seguinte citação, o ato judicativo de admissão ou de rechaço
do objeto imanente era análogo ao ato sentimental de amor ou de ódio para
com tal objeto imanente:
168
„Wie die allgemeine Natur des Urteils darin besteht, daß eine Tatsache angenommen oder verworfen
wird, so besteht nach dem Zeugnisse der inneren Erfahrung auch der allgemeine Charakter des
Gebietes, welches uns jetzt vorliegt, in einem gewissen Annehmen oder Verwerfen; nicht in
demselben, aber in einem analogen Sinne. Wenn etwas Inhalt eines Urteils werden kann, insofern es
als wahr annehmlich oder als falsch verwerflich ist, so kann es Inhalt eines Phänomens der dritten
Grundklasse werden, insofern es als gut genehm (im weitesten Sinne des Wortes) oder als schlecht
ungenehm sein kann. Es handelt sich, wie dort um Wahrheit und Falschheit, hier um Wert und Unwert
eines Gegenstandes“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 88-
89.
97
O próprio Brentano foi incisivo acerca desse ponto, dizendo
expressamente: “[...] acredito que ninguém entenderá minhas palavras como se
eu quisesse dizer que os fenômenos desta classe são atos de conhecimento,
por meio dos quais se percebe bondade e maldade, valor ou não valor de
certos objetos”169.
169
„Ich glaube, niemand wird meine Worte so verstehen, als wollte ich sagen, die Phänomene dieser
Klasse seien Erkenntnisakte, vermöge deren Güte oder Schlechtigkeit, Wert oder Unwert in gewissen
Gegenständen wahrgenommen werde“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 89.
170
„Wenn wir sagen, jedes anerkennende Urteil sei ein Fürwahrhalten, jedes verwerfende ein
Fürfalschhalten, so bedeutet dies also nicht, daß jenes in einer Prädikation der Wahrheit von dem
Fürwahrgehaltenen, dieses in einer Prädikation der Falschheit von dem Fürfalschgehaltenen bestehe;
unsere früheren Erörterungen haben vielmehr dargetan, daß, was die Ausdrücke bedeuten, eine
besondere Weise intentionaler Aufnahme eines Gegenstandes, eine besondere Weise der psychischen
Beziehung zu einem Inhalte des Bewußtseins ist. Nur das ist richtig, daß, wer etwas für wahr hält,
nicht bloß den Gegenstand anerkennt, sondern dann, auf die Frage, ob der Gegenstand anzuerkennen
sei, auch das Anzuerkennensein des Gegenstandes, d. h. (denn nichts anderes bedeutet der barbarische
Ausdruck) die Wahrheit des Gegenstandes ebenfalls anerkennen wird. Und damit mag der Ausdruck
'Fürwahrhalten' zusammenhängen. Der Ausdruck 'Fürfalschhalten' aber wird in analoger Weise sich
erklären“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 89-90.
98
teoria brentaniana de 1874. Tratava-se de uma atribuição de valor de verdade
ao ato psíquico (relação) que se referia ao objeto intencional in-existente. Essa
atribuição de valor de verdade estava “orientada” (por isso mesmo) pelo objeto
que ela continha (de certo modo), pois era nesse sentido que a verdade do
objeto deveria ser concebida e não como uma predicação da verdade acerca
de um sujeito (S é verdade).
99
Apenas mais uma observação acerca dos pressupostos da
Psicologia do ponto de vista empírico que fundamentam essa descrição. Essa
valoração moral era, por si só, uma experiência imediata da própria atividade
psíquica do sentimento de amor e ódio, tal como estabelecia a percepção
interna de todo ato psíquico. Em outras palavras, a percepção interna, que
garantia a divisão das atividades psíquicas, consistia também na experiência
imediata da valoração descrita acima. Não se atentar para esse ponto, como
insistiu o próprio Brentano em argumentos análogos ao citado abaixo, significa
não reconhecer os critérios fundamentais da sua teoria de 1874:
172
„Im Sinne der gegebenen Erläuterungen wiederhole ich also jetzt ohne Besorgnis mißverstanden zu
werden, daß es sich analog wie bei den Urteilen um Wahrheit oder Unwahrheit bei den Phänomenen
dieser Klasse um Güte und Schlechtigkeit, um Wert oder Unwert der Gegenstände handelt. Und diese
charakteristische Beziehung zum Objekte ist es, die, wie ich behaupte, bei Begehren und Wollen
sowie bei allem, was wir Gefühl oder Gemütsbewegung nennen, die innere Wahrnehmung in gleich
unmittelbarer und evidenter Weise erkennen läßt“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 90.
100
outras palavras, Brentano considerou que “[...] o amor e o ódio, ainda que não
sejam independentes das leis do curso das representações, estão submetidos
a leis especiais de sucessão e desenvolvimento, que constituem as bases
psicológicas da ética”173.
173
„Obwohl von den Gesetzen des Vorstellungslaufes nicht unabhängig, unterliegen doch Liebe und Haß,
als eine besondere, in der ganzen Weise des Bewußtseins grundverschiedene Gattung von
Phänomenen, noch besonderen Gesetzen der Sukzession und Entwickelung, welche vornehmlich die
psychologische Grundlage der Ethik ausmachen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 67-68.
174
„Wenden wir uns zu dem letzten Punkte des Vergleiches, zu den Gesetzen der Sukzession der
Erscheinungen. Bei den Urteilen, obwohl sie von den allgemeinen Gesetzen des Vorstellungslaufes
sich keineswegs unabhängig zeigen, kommen doch noch andere, besondere Gesetze hinzu, welche aus
ihnen nicht abgeleitet werden können. Wir bemerkten bereits, daß diese Gesetze die vorzügliche
psychologische Grundlage der Logik ausmachen. Bei Liebe und Haß, sagten wir damals, sei etwa
ähnliches der Fall; und in der Tat sind zwar diese Phänomene weder von den Gesetzen des
Vorstellungslaufes noch von denen der Entstehung und Sukzession der Urteile unabhängig; aber
dennoch zeigen auch sie besondere unableitbare Gesetze ihrer Aufeinanderfolge und Entwickelung,
welche die psychologische Grundlage der Ethik bilden“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 109.
101
psíquicos: representação; juízo; e sentimento de amor e ódio. Diretamente
orientada pelo positivismo comtiano, a análise brentaniana apresentou cada
uma delas e mostrou o acréscimo da lei posterior em relação à anterior.
175
Cf. Brentano, Franz. Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 98-99.
176
Acerca da lógica de Brentano, é fundamental relevarmos as seguintes considerações de Peter Simon.
“Brentano was versed in the logical doctrines of Aristotle, the Scholastics, and the British empiricists.
He was not a specialized logician, nor did he have any great interest in logic for its own sake or for its
history: his main interests were metaphysical, ethical, and psychological. His logic was a by-product
of these interests developed for teaching at the Universities of Würzburg and Vienna. He was an
admirer and correspondent of John Stuart Mill, whose 1843 A System of Logic for some time held
back the tide of mathematization in deductive logic while promoting inductive methods. Brentano did
not keep up with contemporary developments in logic. He conceived early in his career an antipathy
to mathematical logic, because he associated it with Hamilton‟s (to Brentano wildly erroneous)
doctrine of the quantification of the predicate, and he thereafter ignorantly opposed the idea of treating
logic with mathematical methods as if it must always make such an error”. Simon, Peter. Judging
correctly: Brentano and the reform of elementary logic, p. 46.
102
admissibilidade do objeto, ou seja, a verdade do objeto” 177. A descrição dessa
atividade psíquica constituinte da base de todo juízo, dissemos, consistia
naquela predicação existencial de inspiração aristotélica do tipo [(A é B) é], ou,
ainda, [(A) é].
177
„Nur das ist richtig, daß, wer etwas für wahr hält, nicht bloß den Gegenstand anerkennt, sondern dann,
auf die Frage, ob der Gegenstand anzuerkennen sei, auch das Anzuerkennensein des Gegenstandes,
(...) die Wahrheit des Gegenstandes ebenfalls anerkennen wird“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 89-90.
178
Cf. Brentano, Franz. Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 56-57.
179
„Wohlan denn, - es bedarf nicht mehr als dieses Zugeständnisses, welches unsere Gegner allgemein
inbetreff der Copula machen, um daraus mit Notwendigkeit zu folgern, daß auch dem 'ist' und 'ist
nicht' des Existentialsatzes keine andere Funktion zugeschrieben werden könne. Denn aufs
Deutlichste läßt sich zeigen, daß jeder kategorische Satz ohne irgend welche Änderung des Sinnes in
einen Existentialsatz übersetzt werden kann, und daß dann das 'ist' und 'ist nicht' des Existentialsatzes
an die Stelle der Copula tritt. Ich will dies an einigen Beispielen nachweisen. Der kategorische Satz
'irgendein Mensch ist krank' hat denselben Sinn wie der Existentialsatz 'ein kranker Mensch ist' oder
103
Esse é o esboço da sua nova teoria silogística e Brentano utilizou-o
para exemplificar o modo como se daria a inferência das leis da lógica. Antes
de apresentarmos a analogia entre a origem dessas leis da lógica e das leis da
ética, resumamos o que se estabeleceu com o exposto neste ponto.
'es gibt einen kranken Menschen'. Der kategorische Satz 'kein Stein ist lebendig' hat denselben Sinn
wie der Existentialsatz 'ein lebendiger Stein ist nicht' oder, 'es gibt nicht einen lebendigen Stein'. Der
kategorische Satz 'alle Menschen sind sterblich' hat denselben Sinn wie der Existentialsatz 'ein
unsterblicher Mensch ist nicht' oder 'es gibt nicht einen unsterblichen Menschen'. Der kategorische
Satz 'irgendein Mensch ist nicht gelehrt' hat denselben Sinn wie der Existentialsatz 'ein ungelehrter
Mensch ist' oder 'es gibt einen ungelehrten Menschen'. Da in den vier Beispielen, die ich wählte, die
sämtlichen vier Klassen von kategorischen Urteilen, welche die Logiker zu unterscheiden pflegen,
vertreten sind, so ist die Möglichkeit der sprachlichen Umwandlung der kategorischen Sätze in
Existentialsätze dadurch allgemein erwiesen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 56-57.
180
Existem alguns estudos de Peter Simon que analisam a formalização existencial da proposta do
silogismo brentaniano. Entre esses estudos está o trabalho Judging correctly: Brentano and the reform
of elementary logic, in: The Cambridge Companion to Brentano, p. 45-95. Apresentá-los aqui seria,
porém, fugir dos propósitos da nossa tese.
181
„Die in Wahrheit affirmativen sind nach dem (…) partikulär bejahenden und verneinenden“. Brentano,
Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 58, (nota *).
182
„Die in Wahrheit negativen Behauptungen, zu welchen auch die allgemein bejahenden gehören,
enthalten selbstverständlich nicht die Anerkennung des Subjekts, da sie ja Überhaupt nicht etwas
anerkennen, sondern verwerfen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter
Band, p. 58, (nota *).
183
“Em lugar das antigas regras dos silogismos categóricos, aparecem como regras capitais que permitem
uma aplicação imediata a cada figura e são perfeitamente suficientes em si mesmas para a apreciação
de todo silogismo, as três seguintes: 1. Todo silogismo categórico contém quatro termos, dos quais
dois são mutuamente opostos e os outros dois figuram duas vezes. 2. Se a conclusão é negativa, cada
uma das premissas tem em comum com ela a qualidade e um termo. Se a conclusão é afirmativa, uma
das premissas terá a mesma qualidade e um termo igual, a outra premissa terá qualidade oposta e
termo oposto. Essas são regras que um lógico da antiga escola não poderia ouvir sem horror. Eu digo:
que o silogismo tem quatro termos e o quaternio terminorum sempre foi condenado como um
paralogismo; que as conclusões negativas tenham premissas puramente negativas, e sempre foi
ensinado que nada pode se seguir de duas premissas negativas; que sob as premissas da conclusão
104
“Brentano achava que tinha mostrado, com isto, que toda a lógica formal
decorre apenas do princípio de não-contradição. Vários de seus discípulos
assumiram este ponto de vista. Mas esta concepção é sem dúvida incorreta”184.
afirmativa se encontra um juízo negativo e se jurou que ela exige inevitavelmente duas premissas
afirmativas. Além disso, não restou lugar para uma conclusão categórica de premissas afirmativas e se
ensinava que as premissas afirmativas eram as melhores, pois quando uma negativa se associava a ela,
denominava-a a pejor par. Finalmente, nas novas regras não se ouve nada de „universal‟ e „particular‟,
e tinham-se essas expressões na ponta da língua, por assim dizer. E suas antigas regras não se
mostraram tão adequadas no exame do silogismo que agora, de modo inverso, os mil silogismos
medidos por ela consistem numa prova e uma garantia para elas mesmas? Vamos deixar de
reconhecer como válido o célebre silogismo „todos os homens são mortais; Caio é um homem, logo
Caio é mortal‟ e todos os seus companheiros? Isto parece uma pretensão impossível”. [„An die Stelle
der früheren Regeln von den kategorischen Schlüssen treten als Hauptregeln, die eine unmittelbare
Anwendung auf jede Figur gestatten, und für sich allein zur Prüfung eines jeden Syllogismus
vollkommen ausreichend sind, folgende drei: (1) Jeder kategorische Syllogismus enthält vier Termini,
von denen zwei einander entgegengesetzt sind und die beiden anderen zweimal zu stehen kommen.
(2) Ist der Schlußsatz negativ, so hat jede der Prämissen die Qualität und einen Terminus mit ihm
gemein. (3) Ist der Schlußsatz affirmativ, so hat die eine Prämisse die gleiche Qualität und einen
gleichen Terminus, die andere die entgegen gesetzte Qualität und einen entgegen gesetzten Terminus.
Das sind Regeln, die ein Logiker der alten Schule zunächst nicht ohne Grauen hören wird. Vier
Termini soll jeder Syllogismus haben: und er hat die Quaternio terminorum immer als Paralogismus
verdammt. Negative Schlußsätze sollen lauter negative Prämissen haben: und er hat immer gelehrt,
daß aus zwei negativen Prämissen nichts gefolgert werden könne. Auch unter den Prämissen des
affirmativen Schlußsatzes soll sich ein negatives Urteil finden: und er hätte darauf geschworen, daß er
unumgänglich zwei affirmative Prämissen verlange. Ja, für einen kategorischen Schluß aus
affirmativen Prämissen ist gar kein Raum gelassen: und er hatte doziert, daß die affirmativen
Prämissen die vorzüglichsten seien, indem er, wo eine negative sich dazu gesellte, diese als die 'pejor
pars' bezeichnete. Von 'allgemein' und 'partikulär' endlich hört man in den neuen Regeln gar nichts:
und er hatte diese Ausdrücke sozusagen immer im Munde geführt. Und haben nicht seine alten Regeln
sich bei der Prüfung der Syllogismen so geeignet erwiesen, daß nun umgekehrt wieder die tausend an
ihrem Maßstabe gemessenen Schlüsse für sie selbst Probe und Bewährung sind? Sollen wir den
berühmten Schluß: 'Alle Menschen sind sterblich, Cajus ist ein Mensch, also ist Cajus sterblich', und
alle seine Begleiter nicht mehl' als bündig anerkennen - Das scheint eine unmögliche Zumutung“].
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 78-79.
184
Stegmüller, Wolfgang. Filosofia da evidência: Franz Brentano, p. 52.
105
fundadas na psicologia. Finalmente, exporemos o modo como a teoria
brentaniana respondeu a essas questões recepcionadas de J. S. Mill.
Mas isto disse com razão J. St. Mill em sua lógica das ciências do
espírito: “no que se refere à crença, os psicólogos haverão de
investigar sempre mediante estudos específicos e segundo as regras
da indução, (a) que crença temos por meio da consciência imediata,
(b) que leis regem a gênese de uma crença a partir de outra, (c) em
virtude de quais leis uma coisa é considerada como prova de outra
para nosso espírito, com razão ou sem ela. No que se refere ao
apetite, haverão de investigar, do mesmo modo, (d) que objetos
apetecemos primordialmente e (e) que causas nos conduzem a
185
„Sehr häufig wird ein Gegenstand wegen eines andern geliebt und gehaßt, während er an und für sich
in keiner von beiden Weisen oder vielleicht nur in einer entgegengesetzten uns bewegen würde“.
Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 68.
186
„Und oft haftet die Liebe, einmal in dieser Weise übertragen, ohne Rücksicht auf den Ursprung
bleibend an dem neuen Objekte“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter
Band, p. 68.
106
apetecer coisa que são primordialmente indiferentes ou inclusive
187
desagradáveis, etc. (Ded. u. lnd. Logik B. VI, Kap. 4, § 3)”.
187
„So sagt denn mit Recht J. St. Mill in seiner Logik der Geisteswissenschaften: In betreff des G1aubens
werden die Psychologen immer durch spezifisches Studium nach den Regeln der Induktion zu
untersuchen haben, welchen Glauben wir durch unmittelbares Bewußtsein haben, und nach welchen
Gesetzen ein Glaube den anderen erzeugt; welches die Gesetze sind; kraft deren ein Ding, mit Recht
oder mit Unrecht, von unserem Geiste als Beweis für ein anderes Ding angesehen wird. In bezug auf
das Begehren werden sie ebenso zu untersuchen haben, welche Gegenstände wir ursprünglich
begehren, und welche Ursachen uns dazu führen, Dinge zu begehren, die uns ursprünglich
gleichgültig oder sogar unangenehm sind usw. (Ded. u. lnd. Logik B. VI, Kap. 4, § 3)". Brentano,
Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 68.
107
desagradáveis?). A resposta para essa questão deveria conter duas partes:
(1ª) a uma teoria ética análoga à nova teoria do silogismo, pois tal teoria
permitiria descrever a gênese de um amor a partir de outro; e (2 ª) as regras
que justificariam a validade ou invalidade das inferências de um amor a partir
do outro. Tal como Brentano afirma a seguir, esses dois últimos pontos
constituem o já mencionado compromisso da Psicologia do ponto de vista
empírico, que nunca foi levado a público por Brentano:
188
„Sehr häufig wird ein Gegenstand wegen eines andern geliebt und gehaßt, während er an und für sich
in keiner von beiden Weisen oder vielleicht nur in einer entgegengesetzten uns bewegen würde. Und oft
haftet die Liebe, einmal in dieser Weise übertragen, ohne Rücksicht auf den Ursprung bleibend an dem
neuen Objekte. Auch in dieser Hinsicht aber finden wir eine ganz analoge Tatsache bei den Urteilen.
Auch bei ihnen kommen zu den allgemeinen Gesetzen des Vorstellungslaufes, deren Einfluß auf dem
Gebiete des Urteils nicht zu verkennen ist, noch besondere Gesetze hinzu, die speziell für die Urteile
Geltung haben, und in ähnlicher Beziehung zur Logik, wie die Gesetze der Liebe und des Hasses zur
Ethik stehen. Wie ein e Liebe aus der anderen nach besonderen Gesetzen entsteht, so wird ein Urteil aus
dem anderen nach besonderen Gesetzen gefolgert“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 68.
189
"Jedes Wollen oder Streben im eigentlicheren Sinne bezieht sich auf ein Handeln. Es ist nicht einfach
ein Begehren, daß etwas geschehe, sondern ein Verlangen, daß etwas als Folge des Verlangens selbst
eintrete“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 115.
108
disse ele, “[...] antes de haver alcançado o conhecimento, ou ao menos a
presunção, de que certos fenômenos de amor e desejo arrastam atrás de si os
objetos amados como suas conseqüências imediatas ou mediatas, uma volição
é impossível”190. Brentano considerava que uma questão se impunha como
consequência desse argumento. A saber: Qual é o modo de chegar a tal
conhecimento ou presunção?191. Ora, se retomarmos o que foi apresentado
acerca da referência que constitui a atividade psíquica do juízo, nós devemos
considerar que a resposta de Brentano apontaria um tipo de conhecimento
apodítico descrito pela estrutura [(S é P)é]. O conhecimento, ou a crença
descrita por Mill, de que um ato de amor implicará outro ato de amor teria seu
fundamento prévio na atividade psíquica do juízo 192. Assim, vale reiterar a
190
„Ehe jemand die Erkenntnis oder wenigstens die Vermutung gewonnen hat, daß gewisse Phänomene
der Liebe und des Verlangens die geliebten Gegenstände unmittelbar oder mittelbar als Folge nach
sich ziehen, ist ein Wollen für ihn unmöglich“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 115.
191
„Como chegar, então, a tal conhecimento ou presunção? [„Wie soll er nun aber zu einer solchen
Erkenntnis oder Vermutung gelangen?“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 115.
192
“Assim, (J. S. Mill) não apenas refuta a opinião de James Mill e de Herbert Spencer em uma de suas
notas ao Analisis daquele autor (J. Mill), segundo a qual a crença consiste em uma associação
inquebrantável de representações, mas também nega que a crença se forme apenas pelas leis de
associação de idéias, como estes dois pensadores teriam que admitir necessariamente. Se este fosse o
caso, diz ele, o sentimento seria coisa do hábito e do acaso, e não da razão. Uma associação entre
duas representações, por forte que seja, não é uma razão suficiente para o assentimento. Não é uma
prova de que os fatos correspondentes estejam entrelaçados na natureza exterior. A teoria parece
suprimir toda diferença entre o assentimento do sábio, regido pelas demonstrações que correspondem
às sucessões e coexistências reais dos fatos no mundo, e o assentimento do louco, produzido
mecanicamente por qualquer associação causal que provoque a representação de uma sucessão ou
coexistência no espírito. Assentimento este que se caracteriza exatamente pelo ditado comum de
afirmar algo „porque veio à cabeça‟( Lógica Ded. e ind., libro VI, ch. XI, nota 108). Seria supérfluo
nos determos mais em um ponto que está suficientemente claro, e que é reconhecido por todos os
pensadores, com raras exceções. Discussões posteriores iluminarão mais ainda o que foi dito aqui
sobre as leis especiais dos juízos e emoções (Brentano esclarece, em 1911, que se trata dos prometidos
livros IV e V que não foram publicados)”. [„Dem entsprechend verwirft er in seinen Noten zur
Analyse von James Mill nicht bloß die Ansicht des Verfassers so wie Herbert Spencers, daß der
Glaube in einer untrennbar festen Assoziation von Vorstellungen bestehe, sondern er leugnet auch,
daß, wie diese beiden Denker notwendig annehmen mußten, der Glaube nur nach den Gesetzen der
Ideenassoziation sich bilde. Wäre dies der Fall, sagt er, so würde das Fürwahrhalten eine Sache der
Gewohnheit und des Zufalls und nicht der Vernunft sein. Sicher ist eine Assoziation zwischen zwei
Vorstellungen, so stark sie auch sein mag, kein hinreichender Grund des Fürwahrhaltens; sie ist kein
Beweis dafür, daß die betreffenden Tatsachen in der äußeren Natur verbunden sind. Die Theorie
scheint jeden Unterschied aufzuheben zwischen dem Fürwahrhalten des Weisen, welches durch
Beweisgründe geleitet wird und den wirklichen Sukzessionen und Coexistenzen der Tatsachen in der
Welt entspricht, und dem Fürwahrhalten eines Toren, welches durch irgendwelche zufällige
Assoziation, welche die Vorstellung einer Sukzession oder Coexistenz in dem Geiste hervorruft,
mechanisch hervorgebracht worden ist, einem Fürwahrhalten, das treffend charakterisiert wird durch
die gemeinübliche Bezeichnung, 'etwas für wahr halten, weil man es sich in den Kopf gesetzt hat'
(Ded. u. lnd. Logik B. VI, ch. XI, Note 108). Es wäre überflüssig, jetzt länger bei einem Punkte zu
verweilen, der genügend klar und, mit geringen Ausnahmen, auch von allen Denkern anerkannt wird.
109
afirmação de Brentano: “[...] quem assente a algo, não apenas admite o objeto,
mas também, à pergunta sobre se o objeto deve ser admitido, admitirá também
a admissibilidade do objeto, ou seja, a verdade do objeto”193. Esse era,
portanto, o tipo de conhecimento considerado como experiência de um influxo
da atividade psíquica do sentimento de amor e ódio:
Spätere Erörterungen werden das, was hier über die besonderen Gesetze der Urteile und der
Gemütsbewegungen gesagt worden ist, noch mehr ins Licht setzen. [Buch IV und V. (Nicht zum
Druck gelangt.) Anmerkung von 1911]“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 68-69.
193
„Wer etwas für wahr hält, nicht bloß den Gegenstand anerkennt, sondern dann, auf die Frage, ob der
Gegenstand anzuerkennen sei, auch das Anzuerkennensein des Gegenstandes, (...) die Wahrheit des
Gegenstandes ebenfalls anerkennen wird“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 89-90.
194
„Wenn das Wollen die Erfahrung eines Einflusses von Phänomenen der Liebe zur Hervorbringung
des geliebten Gegenstandes voraussetzt, so setzt es offenbar voraus, daß auch Phänomene der Liebe,
welche kein Wollen genannt werden können, ähnlich wie das Wollen, wenn auch vielleicht in
schwächerem Grade, sich wirksam erweisen“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 116.
110
precede ao amor e ao ódio em geral, e mais ainda ao fenômeno
195
relativamente tardio da volição.
195
„Nicht bloß das Vorstellen ist offenbar eine Vorbedingung des Wollens; die eben geführten
Erörterungen zeigen, daß auch das Urteilen dem Lieben und Hassen überhaupt, und um so mehr dem
relativ späten Phänomene des Wollens vorgeht“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 129.
196
Cf. Brentano, Franz. Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
197
„So scheint es in der Tat undenkbar, daß ein Wesen mit dem Vermögen der Liebe und des Hasses
begabt wäre, ohne an dem des Urteiles Teil zu haben. Und ebenso ist es unmöglich, irgendwelches
Gesetz der Aufeinanderfolge für diese Gattung von Phänomenen aufzustellen, welches von den
Phänomenen des Urteiles gänzlich absieht“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt,
Zweiter Band, p. 128.
111
CAPÍTULO III
3.1 Introdução
112
experiência da atividade sentimental está unido concomitantemente o
conhecimento da bondade do objeto”199. Tomando por base o explícito
propósito brentaniano de levar a cabo essa tarefa em 1889, nossa tese está
sustentada na interpretação de que o novo modo de descrição das atividades
psíquicas consistiu numa reformulação de sua filosofia do psíquico de 1874.
Consequentemente, esse novo modo de descrição resultou no abandono da
noção de in-existência intencional do objeto e da noção de verdade como
correspondência. Em outras palavras, iniciada em 1889, a reformulação da
teoria brentaniana da intencionalidade substituiu o fundamento ontológico da
noção de intencionalidade, encontrado na in-existência intencional do objeto,
por um fundamento epistemológico, encontrado no ato intencional da
consciência. Assim, nossa hipótese a ser corroborada sustenta que a ética,
como teoria do conhecimento moral, se explicitou na medida em que a
atividade psíquica passou a ser descrita como um ato intencional, em si mesmo
evidente.
199
„Daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte
des Objekts immer zugleich gegeben ist“ Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
113
tal descrição estabeleceu a distinção entre o sentimento justo de ordem
superior e o sentimento de ordem inferior. Essa distinção descreveu o ato
intencional de sentimento superior e sua cognição imediata do sentimento
justo. Partiremos, portanto, do fato de que as raízes do problema moral não se
encontravam na teoria ética ou na teoria do conhecimento, e sim na psicologia.
Mostraremos que a solução brentaniana para o problema da apreensão da
justeza do sentimento foi apresenta em 1889 como uma teoria acerca da
origem do conhecimento moral inspirada na futura Psicologia descritiva.
114
intencional – tal como foi chamada – a algo que, ainda que não seja
real, no entanto está dado interiormente como objeto. Não existe
audição sem algo ouvido, nem crença sem algo crido, nem esperança
sem algo esperado, nem aspiração sem algo a que se aspire, nem
regozijo sem algo de que nos regozijemos, e assim
200
sucessivamente.
200
„Der gemeinsame Charakterzug alles Psychischen besteht in dem, was man häufig mit einem leider
sehr mißverständlichen Ausdruck Bewußtsein genannt hat, d. h. in einem subjektischen Verhalten, in
einer, wie man sie bezeichnete, intentionalen Beziehung zu etwas, was vielleicht nicht wirklich, aber
doch innerlich gegenständlich gegeben ist. Kein Hören ohne Gehörtes, kein Glauben ohne Geglaubtes,
kein Hoffen ohne Gehofftes, kein Streben ohne Erstrebtes, keine Freude ohne etwas, worüber man
sich freut, und so im Übrigen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 16.
201
“Jedes psychische Phänomen ist durch das charakterisiert, was die Scholastiker des Mittelalters die
intentionale (auch wohl mentale) Inexistenz eines Gegenstandes genannt haben, und was wir, obwohl
mit nicht ganz unzweideutigen Ausdrücken, die Beziehung auf einen Inhalt, die Richtung auf ein
Objekt (worunter hier nicht eine Realität zu verstehen ist), oder die immanente Gegenständlichkeit
nennen würden. Jedes enthält etwas als Objekt in sich. obwohl nicht jedes in gleicher Weise. In der
Vorstellung ist etwas vorgestellt, in dem Urteile ist etwas anerkannt oder verworfen, in der Liebe
geliebt, in dem Hasse gehaßt, in dem Begehren begehrt usw“. Brentano, Franz. Psychologie vom
empirisch Standpunkt, Erster Band, p. 124-125.
115
citado apenas como precursor desse critério202. Em segundo lugar, explicita-se
o fato de que o elemento relevante de definição de 1889 era a natureza
epistemológica da „atitude do sujeito‟, pois ela consistia em uma referência
intencional – tal como foi chamada – a algo dado interiormente como objeto.
Por isso, tratava-se de uma reformulação conceitual, uma vez que a clássica
definição de 1874 estabelecia como relevante o estatuto ontológico da noção
de in-existência do objeto intencional, pois ela afirmava que “[...] todo fenômeno
psíquico está caracterizado por aquilo que os escolásticos da idade média
chamaram de in-existência intencional (ou mental) de um objeto”203.
202
Para esclarecer essa definição, Brentano acrescenta a seguinte nota: “Também se encontra em
Aristóteles os primeiros germes desta doutrina. Conferir principalmente Metafísica, Δ, 15, 1021, a 29.
O termo „intencional‟ procede dos escolásticos, como um bom número de outras denominações de
conceitos importantes”. [„Auch von dieser Lehre finden sich die ersten Keime bei Aristoteles, vgl.
insbes. Metaph. Δ, 15, p. 1021 a 29. Der Terminus ‚intentional„ stammt, wie so manche andere
Bezeichnung wichtiger Begriffe, von den Scholastikern her“]. Brentano, Franz. Vom Ursprung
Sittlicher Erkenntnis, p. 54, nota 19.
203
“Jedes psychische Phänomen ist durch das charakterisiert, was die Scholastiker des Mittelalters die
intentionale (auch wohl mentale) Inexistenz eines Gegenstandes genannt haben“. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt,Erster Band, p. 124.
204
„Wie bei den Anschauungen mit physischem Vorstellungsinhalt die sinnlichen Qualitäten, so zeigen
bei denen mit psychischem Inhalt die intentionalen Beziehungen mannigfaltige Unterschiede. Und wie
dort nach den tiefgreifendsten Unterschieden der sinnlichen Qualitäten (die Helmholtz Unterschiede
der Modalität genannt hat) die Zahl der Sinne, so wird hier nach den tiefgreifendsten Unterschieden
der intentionalen Beziehung die Zahl der Grundklassen der psychischen Phänomene festgestellt“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 16-17.
116
Acerca desta citação é interessante dissolver uma aparente
contradição textual. Apesar da explícita proposta de uma noção reformulada de
intencionalidade em 1889, Brentano ainda remetia à obra de 1874 ao afirmar
que “[...] a questão acerca dos fundamentos da divisão está tratada de modo
detalhado em minha Psicologia do ponto de vista empírico”205.
205
„Eingehender findet man die Frage nach dem Einteilungsgrunde erörtert in meiner Psychologie vom
empirischen Standpunkte (1874, Buch II Kap. 6; vgl. ebend. Kap. 1 § 5)“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 54, nota 20.
206
Segundo a interpretação de Chisholm, o critério cartesiano de classificação dos fenômenos psíquicos
foi o critério básico de classificação adotado por Brentano em 1889. Sua análise ressalta o seguinte:
"in Sections 18 through 20 of his 1889 lecture, The Origin of Our Knowledge of Right and Wrong,
edited by Oskar Kraus, he set forth what we may call his basic system of classifying psychological
phenomena, a system he was later to revise in various ways. Referring to the classification Descartes
had set forth in the third of his Meditations, Brentano says of it that we may now look upon it as
something that has been established [The Origin of Our Knowledge of Right and Wrong (London:
Routledge and Kegan Paul, 1969). p. 15; Vom Urspung sittlicher Erkenntnis (Hamburg: Felix Meiner
Verlag, 1969). p. 17.]. The following is Descartes's statement: … Of my thoughts some are, so to
speak, images of the things, and to these alone is the title idea properly applied; examples are my
thought of a man or of a chimera, of heaven, of an angel, or [even] of God. But other thoughts possess
other forms as well. For example in willing, fearing, approving, denying, though I always perceived
something as the subject of the action of my mind, yet by this action I always add something else to the
idea which I have of that thing; and of the thoughts of this kind some are called volitions or affections
and others judgments (E. S. Haldane and G. R. T. Ross, eds., Philosophical Work of Descartes, vol. 1
(Cambridge: Cambridge University Press, 1931), p. 159). Descartes here tells us that there are three
fundamental classes of psychological phenomena: (1) thinking, or having ideas; (2).judging; and (3)
willing or feeling. The second and third presuppose the first; they always add something else to the
idea. Phenomena of the second type - judging - differ from those of the first and the third types in that
they are either true or false. Volitions, according to Descartes and Brentano, fall within the third class:
Acts of will are a kind of feeling or emotion". Chisholm, Roderick M. Brentano and intrinsic value, p.
1-2.
117
originalidade dessa descoberta passou a ser atribuída efetivamente à
Descartes:
207
Em suas Meditações , Descartes foi o primeiro a expô-las (as três
classes de fenômenos psíquicos) exata e integralmente. No entanto,
suas observações não foram suficientemente entendidas e caíram
imediatamente no esquecimento, até que em nossa época, o fato foi
redescoberto, independentemente dele. Hoje se pode considerar
208
como suficientemente assegurado.
207
Brentano apresenta a seguinte citação como base textual: “Cumpre aqui que eu divida todos os meus
pensamentos em certos gêneros e considere em quais desses gêneros há propriamente verdade ou erro.
Entre meus pensamentos, alguns são como as imagens das coisas, e só àqueles convém propriamente
o nome de idéia: como no momento em que eu represento um homem ou uma quimera, ou o céu, ou
um anjo, ou mesmo Deus. Outros, além disso, têm algumas outras formas: como, no momento em que
eu quero, que eu temo, que eu afirmo ou que eu nego, então concebo efetivamente uma coisa como o
sujeito da ação de meu espírito, mas acrescento também alguma outra coisa por esta ação à idéia que
tenho daquela coisa; e deste gênero de pensamentos, uns são chamados vontades ou afecções, e outros
juízos”. Descartes, René. Meditações, III § 5 – 6.
208
„Danach gibt es drei Grundklassen. Descartes in seinen Meditationen hat sie zuerst richtig und
vollständig aufgeführt; aber auf seine Bemerkungen wurde nicht genügend geachtet, und sie waren
bald ganz in Vergessenheit geraten, bis in neuester Zeit die Tatsache unabhängig von ihm wieder
entdeckt wurde. Sie darf wohl heutzutage als hinreichend gesichert gelten“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.
209
„Ela pertence à esfera ideológica de uma Psicologia descritiva, que espero poder dar publicidade em
toda sua extensão dentro de pouco tempo. [„Sie gehören zum Gedankenkreise einer Deskriptiven
Psychologie, den ich, wie ich nunmehr zu hoffen wage, in nicht ferner Zeit seinem ganzen Umfange
nach der Öffentlichkeit erschließen kann“]. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p.
3.
210
Acerca dessas publicações, é interessante considerar as seguintes informações apresentadas em 1982
por Chisholm, na introdução de sua edição da Deskriptive Psychologie, e também em 1995, como
segunda parte da introdução da edição inglesa (Descriptive Psychology) elaborada por Benito Müller.
“Unfortunately, he did not publish a work entitled „Descriptive Psychology‟, but many of his writings
and dictations on the subject have been published in the various post-humous works in the
Philosophische Bibliothek (See, in particular, Volume II of the second edition of the Psychologie vom
empirischen Standpunkt, Von der Klassifikation der psychischen Phänomene, Leipzig: 1874, 2nd ed.
O. Kraus (ed.), Hamburg: Meiner 1925 (unaltered reprint Hamburg: Meiner 1971), [Engl. tr.:
Psychology from an Empirical Standpoint, The Classification of Mental Phenomena, L. McAlister
(ed.), London: Routledge & Kegan Paul 1973, p. 271– 311]; Volume 3 of the Psychologie, Vom
118
Nossa estratégia de análise adotará o seguinte procedimento. Para
fundamentar a descrição das teses presentes em A origem do conhecimento
moral (1889), nós apresentaremos as análises brentaniana encontradas nos
manuscritos de 1887 a 1891. Esses manuscritos fazem parte da obra
Psicologia descritiva, pois, disse Brentano, suas teses seriam compreendidas
“[...] não como uma continuação, mas como desenvolvimento da Psicologia do
ponto de vista empírico”211.
sinnlichen und noetischen Bewusstsein, O. Kraus (ed.), Leipzig: Meiner 1928, (2nd ed. Hamburg:
Meiner 1968 (unaltered reprint with new introduction by F. Mayer-Hillebrand, Hamburg: Meiner
1974) [Engl. tr.: Sensory and Noetic Consciousness, L. McAlister (tr.), London: Routledge & Kegan
Paul 1981]; Grundzüge der Ästhetik, F. Mayer-Hillebrand (ed.), Hamburg: Meiner 1959;
Untersuchungen zur Sinnespsychologie, 2nd ed. Roderick M. Chisholm and Reinhard Fabian (eds),
Hamburg: Meiner 1979). And he gave several courses of lectures on the subject at the University of
Vienna. Three different lecture manuscripts have been preserved. The first of these was given in
1887–8 and was entitled Deskriptive Psychologie. The second, entitled Deskriptive Psychologie oder
beschreibende Phänomenologie was given in 1888–9. (Although the term „Phänomenologie‟ occurred
in the title, it does not seem to have been used in the lectures themselves.) The third, entitled simply
Psychognosie, was given in 1890–1. The main text of the present book is taken from the lecture of
1890–1. The following material is added in the appendices: (1) the description of „inner perception‟
from the lectures of 1887–8; (2) the general account of „descriptive psychology‟ from the lectures of
1888–9; (3) „Of the Content of Experiences‟ from the lectures of 1887–8; (4) „Psychognostic Sketch
I‟, from 1901; (5) „Psychognostic Sketch II‟, also from 1901; and (6) an undated manuscript from the
same general period entitled „Perceiving and Apperceiving‟”. Brentano, Franz. Descriptive
Psychology, p. xvi – xvii.
211
„Die nicht als eine Fortsetzung, wohl aber als eine Fortentwicklung meiner "Psychologie vom
empirischen Standpunkte" erscheinen wird“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p.
56, nota 22 (final).
212
Cf. Brentano, Franz. Descriptive Psychology, p. xvi – xvii.
119
e a Psicognose. Há algo, porém, que nos interessa especificamente, além da
demarcação desses dois ramos da psicologia.
213
„Die Psychologie ist die Wissenschaft vom Seelenleben des Menschen, d. i. von jenem Teil des
Lebens, welcher in innerer Wahrnehmung erfaßt wurde“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p.
1.
214
„Sie sucht die Elemente des menschlichen Bewusstseins und ihre Verbindungsweisen (nach
Möglichkeit) erschöpfend zu bestimmen und die Bedingungen anzugeben, mit welchen die einzelnen
Erscheinungen ursächlich verknüpft sind“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 1.
215
„Das Erste ist Sache der Psychognosie, das Zweite fällt der genetischen Psychologie anheim“.
Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 1.
216
“A diferença entre estas duas disciplinas é fundamental. Ela se manifesta, especificamente, em duas
relações essenciais: (a) Psycognose, pode-se dizer, é psicologia pura, desde que não seja
inapropriado se referir à psicologia genética como psicologia fisiológica; (b) a primeira é uma
ciência exata, enquanto a última presumidamente terá renunciado para sempre qualquer exigência de
exatidão. Ambos (os pontos) podem ser estabelecidos com algumas palavras”. [„Der Unterschied
beider Disziplinen greift tief und macht sich insbesondere in zwei sehr wesentlichen Beziehungen
geltend: a) Die Psychognosie, könnte man sagen, ist reine Psychologie, während die genetische
Psychologie nicht unpassend als physiologische Psychologie zu bezeichnen wäre. b) Jene gehört zu
den exakten Wissenschaften, während diese in allen ihren Bestimmungen wohl für immer auf den
120
Para dar conta dessa tarefa, Brentano utilizou uma estratégia
expositiva diferente daquela apresentada na Psicologia do ponto de vista
empírico. Não se tratava mais de analisar o problema a partir do debate com os
fisiologistas, pois essa tarefa agora estava destinada à Psicologia genética.
Cabia à psicologia pura, ou seja, à Psicognose, descrever a unidade da
consciência (o todo) e, imediatamente, estabelecer as relações com as partes
que a constituíam.
Anspruch der Exaktheit verzichten muß. Beides läßt sich mit wenigen Worten dartun“]. Brentano,
Franz. Deskriptive Psychologie, p. 1.
217
Granados, Sergio Sánchez-Migallón. La ética de Franz Brentano, p. 71.
121
pelo qual eles estavam conectados, pois a consciência deveria ser tomada
como uma unidade e seus constituintes como as partes dessa unidade218.
218
“Nós dissemos que a Psicognose investiga os elementos da consciência humana e estabelece seu modo
de conexão. Isto implica que a consciência é algo constituído de uma multiplicidade de partes“. [“Wir
sagten, die Psychognosie suche die Elemente des menschlichen Bewußtseins und ihre
Verbindungsweisen zu bestimmen, darin liegt eingeschlossen, daß das Bewußtsein etwas sei, was aus
einer Vielheit von Teilen bestehe“]. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 10.
219
„Es bietet sich unserer inneren Wahrnehmung nicht als etwas Einfaches dar, sondern zeigt sich
zusammengesetzt aus vielen Teilen“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 12.
220
“Pois, ainda que estas partes nunca ocorram lado a lado como partes de um contínuo espacial, algumas
delas podem estar de algum modo efetivamente separadas de outras, como as partes de um contínuo
espacial. O sentido no qual uma dessas partes pode ser efetivamente separada de outra consiste em
que a primeira, tendo existido primeiro como pertencente à mesma unidade real [reale Einheit] que a
segunda, continua existindo quando a última deixa de existir”. [„Ja wenn diese Teile auch nie als ein
Nebeneinander erscheinen wie Teile eines räumlichen Kontinuums, so gilt doch von vielen unter
ihnen, ähnlich wie von Teilen eines solchen Kontinuums, daß der eine von dem andern in gewisser
Weise in Wirklichkeit losgelöst werden kann, indem er, der früher mit ihm als zur selben realen
Einheit gehörig bestanden, dann noch besteht, wenn der andere aufgehört hat zu existieren“].
Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 12.
221
“(Exemplos de bi-lateral/mutual) separabilidade real: ver e ouvir, partes de ver e partes de ouvir,
respectivamente, ver e lembrar ter visto”. [„Beispiele von beiderseitiger] wirklicher Abtrennbarkeit:
Sehen und Hören, je Teile des Sehens und Teile des Hörens, sehen und sich erinnern, gesehen zu
haben“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 12.
122
pertencessem à mesma unidade real, ainda que fosse possível continuar vendo
quando a percepção do que se vê cessa, o contrário não seria possível222.
222
“(Exemplos de) separabilidade unilateral: ver e perceber, visão de uma cor particular e representação
do conceito, conceito e juízo, premissa e conclusão, etc.”. [„(Beispiele) einseitiger Abtrennbarkeit:
Sehen und Bemerken, Vorstellen und Begehren, Sehen einer besonderen Farbe und Vorstellendes
Begriffs, Begriff und Urteil, Prämissen und Schluß, usw.“]. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie,
p. 12.
223
„Obwohl das irgendwann wirkliche Bewußtsein eines Menschen zu einer einzigen Realität gehört, so
ist, sagten wir, damit nicht gesagt, daß es ob dieser Einheit etwas Einfaches sei. Von räumlich
auseinandertretenden Teilen zeigt allerdings die innere Wahrnehmung nichts. Aber dennoch ist es
unzweifelhaft zusammengesetzt aus vielen Teilen, von welchen die einen wie z.B. Sehen -Hören
gegenseitig, andere, wie z.B. das Sehen, vom Bemerken des Gesehenen, wenigstens einseitig ablösbar
sind“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 13.
123
Para apresentar a distinção como outro modo de divisão dos
elementos últimos constituintes das partes da consciência, Brentano deu o
quarto passo de sua descrição. Ele afirmou que, “[...] em certo sentido é
possível falar em outras partições [Teilungen], ainda que seja o caso dessas
partes últimas realmente separáveis. Essas partições seriam encontradas, não
por meio de uma separação real, mas por meio de uma distinção”224. Tratava-
se, como explicita a citação a seguir, das partes distincionais. Brentano
classificou-as desse modo, sob a inspiração da teoria química 225, para
evidenciar o contraste como as partes separáveis:
224
„Aber, sagten wir, auch bei den letzten wirklich ablösbaren Teilen, könne in einem gewissen Sinn
noch von weiteren Teilungen gesprochen werden, welche nicht durch wirkliches Ablösen, sondern
durch Unterscheidung gefunden würden“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 13.
225
“Em contraste com as partes realmente separáveis, eu a denominei partes distincionais. E, eu expliquei
o termo usando as partes que, de acordo como os atomistas, são dotadas dos menores corpúsculos
separáveis”. [„Ich nannte sie, im Unterschied von den wirklich ablösbaren, distinktionelle Teile. Und
erläuterte den Begriff an den Teilen, welche nach dem Atomisten die kleinsten abtrennbaren
Körperehen besitzen“]. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 13. E ainda, “Aquele que
acredita em átomos acredita em corpúsculos que não podem ser dissolvido em corpos menores. Mas,
ainda assim, ele pode falar em meios, quartos, etc., de átomos: partes que são distinguíveis ainda que
não possam ser separáveis. Para diferenciar estas das outras, nós podemos nos referir a elas como
partes distincionais. E, como a distinção vai além da separabilidade real, se pode falar em partes ou
elementos de elementos”. [„Wer an Atome glaubt, der glaubt an Körperchen, die nicht in kleinere
Körper auflösbar sind. Aber auch bei ihnen mag er von Hälften, Vierteln etc. sprechen: Teilen, die
nicht wirklich ablösbar, aber doch unterscheidbar sind. Wir mögen sie im Unterschied von andern
distinktionelle Teile nennen. Auch in dem menschlichen Bewußtsein gibt es nun außer ablösbaren
auch bloß distinktionelle Teile. Und indem das Unterscheiden weitergeht, als die wirkliche
Ablösbarkeit, könnte man von Teilen, resp. von Elementen der Elemente sprechen“]. Brentano, Franz.
Deskriptive Psychologie, p. 13.
226
„Solche bloß distinktionelle Teile gebe es nun auch im menschlichen Bewußtsein, also auch hier in
gewissem Sinne Teile der Elemente. Und wenn einmal wie von Teilen, so möge man ohne
Widerspruch in letzter Instanz auch von Elementen der Elemente sprechen (nämlich von letzten bloß
distinktionellen Teilen der letzten ablösbaren Teile)“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 14.
124
Em seguida, ele dividiu novamente as partes estritamente
distincionais em quatro classes: i‟) a classe das partes mutuamente
pertencentes (sich durchwohnende); i‟‟) a classe das partes lógicas; i‟‟‟) a
classe das partes dos pares de correlatos intencionais; i‟‟‟‟) e a classe das
partes meramente distincionais da relação psíquica primária e secundária
[Diploseenergie]227. Estabelecidas as definições, vejamos separadamente suas
aplicações a partir dos exemplos brentanianos.
227
“Os quarto gêneros de partes distincionais no sentido estrito, que nós dissemos serem encontrados no
domínio da consciência, são, portanto: (1) mutuamente pertencentes; (2) lógica; (3) partes de pares de
correlatos intencionais; (4) partes meramente distincionais da Diploseenegie psíquica (relação
psíquica primária e secundária), ficando aberta a questão se essa relação dual não pode ainda ser
divisível em duas (outras) classes”. [„Das also waren die vier Gattungen von distinktionellen Teilen
im eigentlichen Sinne, die, wie wir sagten, das Gebiet des „Bewußtseins aufweist: (1) sich
durchwohnende,„(2) logische, (3) die Teile des intentionalen Korrelatenpaares, (4) bloß distinktionelle
Teile der psychischen Diploseenergie, (primäre und sekundäre psychische Beziehung), wobei
dahingestellt (sei), ob sie nicht wieder von zweifacher Klasse (ist)“]. Brentano, Franz. Deskriptive
Psychologie, p. 25.
228
„Die folgenden sind sich durchwohnende Teile im Urteilsakt ‚Es gibt eine Wahrheit„: a) bejahende
Qualität, b) das Gerichtetsein auf das Objekt ‚Wahrheit„, c) Evidenz, d) die apodiktische Modalität,-
daß eine Wahrheit ist, wird als notwendig wahr erkannt“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p.
20.
229
„Da hätten wir also in einem Akte 4 einander durchwohnende Besonderheiten“. Brentano, Franz.
Deskriptive Psychologie, p. 20.
125
possamos ser capazes de descobrir, no mesmo ato, um número ainda maior de
partes distincionais mutuamente pertencentes”230.
230
„Vielleicht würden wir in demselben Akte noch eine größere Zahl sich durchwohnender
distinktioneller Teile zu entdecken vermögen“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 20.
231
"Erkenne ich z.B. einen Spatzen an, so auch einen Vogel, weil Vogel logischer Teil des Spatzen ist,
und einen Schnabel, weil er physischer Teil des Spatzen ist". Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz,
1974, p. 99, in: Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 168, nota 8.
232
O Würzburger Metaphysikkolleg não publicado está no Brentano-Nachlass at Brown University,
Providence, RI, USA, under the reg. no. M 96 I and II. Cf. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie,
p. 168, nota 8.
233
„Das logische Ganze ist ein Individuum einer Gattung. Ein logischer Teil ist jeder Teil seiner
Definition, also Gattung, Differenz, weitere Differenz (Differenz der Differenz) u.s.f. bis zur
niedrigsten Allgemeinheit. Es ist bezeichnend für logische Teile, „daß die distinktionelle
Abtrennbarkeit nur eine einseitige ist„". Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 168, nota 8.
126
uma parte lógica de ver - vermelho (Rotsehen)”234. Estabelecidas as distinções,
detenhamo-nos em outro problema apontado por Chisholm com o propósito de
explicitar o ponto de demarcação entre as partes distincionais lógicas e as
partes mutuamente pertencentes.
234
„Denken ist also ein logischer Teil von Empfinden; Empfinden ist ein logischer Teil von Sehen; Sehen
ist ein logischer Teil von Rotsehen“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 168, nota 8.
235
„Rotsehen z.B. hat Sehen als logischen Teil; Sehen hat Empfinden als logischen Teil; und Empfinden
hat Denken als logischen Teil“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 168, nota 8.
236
„Analog ist Urteilen logischer Teil von Anerkennen“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p.
168, nota 8.
237
„Die affirmative Qualität wäre jedoch durchwohnender Teil von Anerkennen Brentano, Franz.
Deskriptive Psychologie, p. 168, nota 8.
127
correlatos intencionais. Esse foi o sexto e penúltimo ponto. Vejamos como ele o
anunciou:
238
„Diese zwei Klassen distinktioneller Teile im eigentlichen Sinn waren alte Bekannte. Es kommen aber
auf dem Gebiet des Bewußtseins noch zwei andere hinzu. Die eine ist die psychische Beziehung,
welche für jedes Bewußtsein wesentlich ist, die andere die untrennbare Verbindung der primären und
concomitierenden psychischen Beziehung“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 20-21.
239
„Vor allem also ist es eine Eigenheit, welche für das Bewußtsein allgemein charakteristisch ist, daß es
immer und überall, d.h. in jedem seiner ablösbaren Teile eine gewisse Art von Relation zeigt, welche
128
Ao aceitar essa relação intencional, e Brentano considerou que sua
apreensão estava evidenciada pela percepção interna, o que estava em jogo
era a distinção das partes que a constituíam. Assim, a análise brentaniana dos
pares de correlatos intencionais estabeleceu, primeiramente, que dois
correlatos seriam encontrados em toda relação. Além disso, a análise
especificou o seguinte: “[...] um dos correlatos é o ato da consciência e o outro
é aquilo ao qual este ato está dirigido”.240 Estabelecida a distinção e o critério,
vejamos as especificidades a partir dos exemplos.
ein Subjekt zu einem Objekt in Beziehung setzt. Man nennt sie auch "intentionale Beziehung". Zu
jedem Bewußtsein gehört wesentlich eine Beziehung“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p.
21.
240
„Das eine Korrelat ist der Bewußtseinsakt, das andere das, worauf er gerichtet ist“. Brentano, Franz.
Deskriptive Psychologie, p. 21.
241
„(Das eine Korrelat ist der Bewußtseinsakt, das andere das, worauf er gerichtet ist.) Sehen und
Gesehenes, Vorstellen und Vorgestelltes, Wollen und Gewolltes, Lieben und Geliebtes, Leugnen und
Geleugnetes, usw.“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 21.
129
duas partes puramente distincionais de pares de correlatos, uma das
242
quais é real e a outra não.
242
„Bei diesen Korrelaten zeigt sich, wie schon ARISTOTELES hervorhob, die Eigentümlichkeit, daß
das eine allein real, das andere dagegen nichts Reales ist. (...) Trennbar sind die Korrelate· nicht von
einander, außer [wenn sie] distinktionell [sind]“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 21.
243
Brentano, Franz. Descriptive Psychology, p. 180, nota 8a.
130
frente à pessoa que vê na medida em que ela seria o segundo correlato, ou
seja, o „objeto imanente‟ desse ato de ver. A interpretação de Müller considera,
então, o fato de que Brentano usou „referência a um conteúdo‟ como paráfrase
de „direção a um objeto‟. Nesses termos, o segundo correlato „Ov‟ seria
designado ser o conteúdo de „Av‟.
Uma pessoa que está sendo pensada [ein gedachter Mensch] é tão
pouco real como uma pessoa que deixou de existir [gewesener
Mensch]. A pessoa que está sendo pensada, portanto, não tem causa
própria e não pode propriamente ter um efeito. Mas, quando o ato da
consciência (o pensar a pessoa) é efetivo, a pessoa que está sendo
244
pensada (o correlato não-real da pessoa) coexiste [ist mit da].
244
Para evidenciar a coerência da interpretação de Benito Müller, acompanhamos sua interpretação da
tradução da seguinte passagem citada. „So wenig ein gewesener Mensch, so wenig ist ein gedachter
etwas Reales. Der gedachte Mensch hat darum auch keine eigentliche Ursache und kann nicht
eigentlich eine Wirkung üben, sondern indem der Bewußtseinsakt, das Denken des Menschen gewirkt
wird, ist der gedachte Mensch, sein nichtreales Korrelat, mit da“. Brentano, Franz. Deskriptive
Psychologie, p. 21.
245
Para um aprofundamento dessa linha de interpretação, Müller remete ao trabalho de B. Smith („The
Soul and Its Parts II: Varieties of Inexistence‟, in Brentano Studien IV, Brentano Forschung:
Würzburg, 1993).
131
Se essa interpretação está correta, diz Müller, então todos os
fenômenos psíquicos possuíam uma estrutura relacional assimétrica particular.
Essa estrutura seria representada simbolicamente como „A‟→‟O‟, com (a) um
ato particular de consciência „A‟ (de pensar, de ver, etc.) e (b) o conteúdo „O‟
desse ato, como correlato, no entanto o ponto fundamental desta interpretação
estaria no fato de que ela definiu os fenômenos psíquicos como atos psíquicos,
a partir desta estrutura relacional assimétrica. Isso significava que deveria ser
enfatizado o fato de que Brentano não concebeu esses correlatos como partes
dos fenômenos psíquicos separados uns dos outros, mas como modos
meramente distincionais, pois seria impossível existir um ato de consciência
sem um conteúdo correlato.
246
“Psychical phenomena (the actually separable parts of consciousness) are thus neither merely acts nor
merely contents, but wholes in which content and act are inseparably related through intentionality”.
Brentano, Franz. Descriptive Psychology, p. 180, nota 8a.
247
“This must be kept in mind even when Brentano himself chooses to refer to these phenomena merely
as „psychical acts‟”. Brentano, Franz. Descriptive Psychology, p. 180.
248
„Erläuterungen des Ausdrucks Objekt: etwas innerlich Gegenständliches ist gemeint. Draußen braucht
ihm nichts zu entsprechen. Zur Verhütung von Mißverständnissen mag man es "inwohnendes"
"immanentes" Objekt nennen. ' Es ist dies etwas a) allgemein und b) ausschließlich dem Bewußtsein
eigenes“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 22.
132
Os esclarecimentos apresentados expuseram as especificidades do
segundo correlato da relação intencional, ou seja, o objeto imanente. Ocorre,
no entanto, que ainda não analisamos suficientemente o primeiro correlato, ou
seja, as especificidades constituintes da própria relação intencional. Esse foi o
último passo da análise brentaniana e consistiu na distinção das partes que
compunham a própria relação psíquica.
249
Brentano refere-se à Metafísica, 1021a, 30.
250
„Schon ARlSTOTELES [betont], daß in dem psychischen Phänomene selbst das Bewußtsein von ihm
mitbeschlossen sei“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 22.
251
„Im Vorstellen der Farbe also zugleich ein Vorstellen dieses Vorstellens“. Brentano, Franz.
Deskriptive Psychologie, p. 22.
252
„So gewiß es ist, daß kein Bewußtsein überhaupt ohne intentionale Beziehung ist, so gewiß ist es, daß
es außer dem, worauf es primär gerichtet ist, sich selbst nebenher zum Objekte hat. Es gehört dies
wesentlich zur Natur jedes psychischen Aktes“ (...) ”Jedes Bewußtsein, primär auf was immer für ein
Objekt gerichtet, geht nebenher auf sich selbst“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 22-24.
133
Deter-nos-emos um pouco mais nos detalhes epistemológicos
envolvidos nesse modo de distinção das partes constituintes do ato intencional.
O que estava em jogo nessa descrição da relação intrínseca entre as
atividades primárias e secundárias era a possibilidade de descrever a natureza
evidente das atividades psíquicas. Analisaremos esse ponto a partir da
proposta de interpretação sugerida por Chisholm, acerca das especificidades
características da relação primária e secundária, nas notas da sua edição da
Deskriptive Psychologie.
253
„Was meint Brentano, wenn er sagt, daß jeder psychische Akt sich zum sekundären Objekt hat?“.
Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 169, nota 11.
254
„Jeder psychische Akt ist von der Art, daß er, wenn er auftritt, für das Subjekt evidentermaßen
auftritt“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 169, nota 11.
134
apenas no sentido estendido de consciência que todo ato psíquico pode ser
dito ser um objeto da consciência”255. Isso implica o fato de que, ao lado da
percepção interna que nos dava a conhecer de maneira imediata e evidente os
três modos distintos de relação intencional, a filosofia do psíquico brentaniana
de 1890 estendeu o estatuto da verdade como evidência para um tipo de juízo
e, ainda, o estatuto análogo à evidência para um tipo de sentimento de amor e
ódio. Então se pergunta novamente: Por que isso foi possível a partir da
Psicologia descritiva?
255
„Es sei noch angemerkt, daß er "Bewußtsein im engeren Sinn" mit dem "Bemerkten"
(Psychognostische Skizze II = Anhang V) identifiziert. So kann nur im erweiterten Verständnis von
Bewußtsein gesagt werden, daß jeder psychische Akt Objekt des Bewußtseins ist. Brentano, Franz.
Deskriptive Psychologie, p. 170, nota 11.
256
“It may be used to refer to what Brentano had called „sense qualities‟ and what others have called
„sense data‟ or „sense impressions‟. Or it may be used to refer to the sensing, experiencing, or having
of such sense qualities”. Chisholm, Roderick M. Brentano and intrinsic value, p. 25.
257
Cf. Chisholm, Roderick M. Brentano and intrinsic value, p. 25-26.
135
sensação. Pois ambos, insiste ele, o conteúdo e o ato são objetos do
258
nosso conhecimento.
258
“If one senses a red patch (Brentano would say a "red quality"), then the red patch is the content of
sensation and the sensing of the red patch is the act of sensation. Brentano also says that the red patch
is the primary object of the sensation and that the sensing of the red patch is the secondary object of
the sensation. For, he insists, both the content and the act are objects of our awareness. The content of
a sensation, then, is always a sense quality. Chisholm, Roderick M. Brentano and Intrinsic Value, p.
25.
259
Brentano says that sensory pleasure and sensory pain are acts of love and hate that are directed upon
"the appearance [Erscheinung] of certain qualities, but not upon the qualities themselves" (Franz
Brentano, Sensory and Noetic Consciousness, London, Routledge and Kegan Paul, 1981, p. 114).
When one experiences sensory pleasure, then (1) there is a sense content A that is the primary object
of a certain sensing, and (2) this sensing in turn is the primary object of an act of' love. If now the
person attends to this experience and asks what is going on, it will be evident to him that he is sensing
A and that he loves the sensing of A. Chisholm, Roderick M. Brentano and Intrinsic Value, p. 25-26.
136
Detenhamo-nos e esclareçamos um pouco mais essa tese de
Chisholm. Se voltarmos ao velho exemplo da mancha vermelha, poderemos
analisar o prazer sensorial da seguinte forma: (a) a estrutura psíquica da
experiência sensorial (ou seja, de uma representação); e (b) a estrutura
psíquica do prazer que pressupõe a experiência sensorial (ou seja, uma
representação).
137
meramente representada, alguma coisa pode ser evidente (ou análoga a algo
evidente) para um sujeito, se o sujeito a julgar (ou, então, a ama ou a odeia)
como evidente. Assim, portanto, tal como descreve Chisholm na citação a
seguir, a evidência perpassaria a atividade da consciência apesar de não poder
ser encontrada em lugar algum, a não ser no juízo:
260
„In diesem Sinne kann Brentano sagen, daß jede "psychische Tätigkeit in unsere innere Wahrnehmung
fällt". Alles Psychische ist notwendig von der Art, daß, wenn es vorkommt, und wenn man zugleich
urteilt, daß es vorkommt, man dann mit Evidenz urteilt. Und wenn Brentano hinzufügt, daß "aber
nicht alles [Psychische] darum bemerkt" wird, dann erinnert er uns, daß etwas Psychisches
vorkommen kann, ohne daß man urteilt, daß es vorkommt“. Brentano, Franz. Deskriptive
Psychologie, p. 170, nota 11.
261
„Wenn ein psychischer Akt statthat, kann er für das Subjekt evident sein im folgenden erweiterten
Verständnis des Wortes ‚evident„: Jeder psychische Akt ist notwendig von der Art, daß jemand, der
138
Ora, ao considerarmos essa interpretação de Chisholm, torna-se
manifesto o modo como essa descrição da relação intencional secundária
estabeleceu a necessidade de abandono da antiga descrição do juízo e do
sentimento. Em 1874, a descrição do juízo admitia a admissibilidade do
objeto262 e a descrição do sentimento afirmava a referência sentimental
correspondente à natureza do objeto263. Orientada pelo objeto intencional in-
existente, a descrição brentaniana não atribuía a evidência que a análise de
1890 considera como própria do caráter intencional da relação psíquica
diesen Akt vollzieht und gleichzeitig urteilt, daß er ihn vollzieht, dann mit Evidenz urteilt, daß er ihn
vollzieht“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p. 170, nota 11.
262
Em 1874, como já explicitamos, Brentano descrevia o ato do juízo orientado pelo estatuto do objeto
intencional do seguinte modo. “Quando dissemos que todo juízo que admite é assentimento e todo
juízo que rechaça é dissentimento, isto não significa que aquele consista em uma predicação da
verdade com respeito ao assentido, nem este em uma predicação da falsidade com relação ao
dissentido. Nossas explicações anteriores demonstraram que o significado destas expressões é uma
modalidade especial da recepção intencional de um objeto, uma modalidade especial da referência
psíquica a um conteúdo de consciência. O que há de exato é que quem assente a algo, não apenas
admite o objeto, mas também, à pergunta sobre se o objeto deve ser admitido, admitirá também a
admissibilidade do objeto, ou seja, a verdade do objeto. A expressão de assentimento se explica assim
e a expressão de dissentimento se explicará de um modo análogo”. [„Wenn wir sagen, jedes
anerkennende Urteil sei ein Fürwahrhalten, jedes verwerfende ein Fürfalschhalten, so bedeutet dies
also nicht, daß jenes in einer Prädikation der Wahrheit von dem Fürwahrgehaltenen, dieses in einer
Prädikation der Falschheit von dem Fürfalschgehaltenen bestehe; unsere früheren Erörterungen haben
vielmehr dargetan, daß, was die Ausdrücke bedeuten, eine besondere Weise intentionaler Aufnahme
eines Gegenstandes, eine besondere Weise der psychischen Beziehung zu einem Inhalte des
Bewußtseins ist. Nur das ist richtig, daß, wer etwas für wahr hält, nicht bloß den Gegenstand
anerkennt, sondern dann, auf die Frage, ob der Gegenstand anzuerkennen sei, auch das
Anzuerkennensein des Gegenstandes, d. h. (denn nichts anderes bedeutet der barbarische Ausdruck)
die Wahrheit des Gegenstandes ebenfalls anerkennen wird. Und damit mag der Ausdruck
'Fürwahrhalten' zusammenhängen. Der Ausdruck 'Fürfalschhalten' aber wird in analoger Weise sich
erklären“]. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 89-90.
263
Em 1874, de modo análogo à descrição dos juízos, Brentano descrevia o ato de sentimento orientado
pelo estatuto do objeto intencional do seguinte modo. “Do mesmo modo, as expressões „ser grato
como bom‟ e „ser ingrato como mal‟ que usamos aqui de modo análogo, não significam para nós, que
nos fenômenos desta classe, a bondade seja atribuída a uma coisa grata como boa ou a maldade a uma
ingrata como má. Entretanto, significam uma modalidade especial da referência da atividade psíquica
a um conteúdo. O que há de exato, aqui também, é que aquela pessoa cuja consciência se refere deste
modo a um conteúdo, em conseqüência disso afirmará a pergunta sobre se o objeto é de tal natureza
que se pode entrar na referência correspondente com ele. O que não significa nada mais que atribuir-
lhe bondade ou maldade, valor ou não valor. Um fenômeno desta classe não é um juízo, como „isto se
deve amar‟ ou „isto se deve odiar‟, mas é um ato de amor ou de ódio. [„Ebenso bedeuten uns denn die
Ausdrücke, die wir hier in analoger Weise gebrauchen, 'als gut genehm sein', 'als schlecht ungenehm
sein', nicht, daß in den Phänomenen dieser Klasse Güte einem als gut Genehmen, oder Schlechtigkeit
einem als schlecht Ungenehmen zugeschrieben werde, vielmehr bedeuten auch sie eine besondere
Weise der Beziehung der psychischen Tätigkeit auf einen Inhalt. Nur das ist auch hier richtig, daß
einer, dessen Bewußtsein sich in solcher Weise auf einen Inhalt bezieht, die Frage, ob der Gegenstand
von der Art sei, daß man zu ihm in die betreffende Beziehung treten könne, infolge davon bejahen
wird; was dann nichts anderes heißt, als ihm Güte oder Schlechtigkeit, Wert oder Unwert zuschreiben.
Ein Phänomen dieser Klasse ist nicht ein Urteil: 'dies ist zu lieben', oder 'dies ist zu hassen' (das wäre
ein Urteil über Güte oder Schlechtigkeit); aber es ist ein Lieben oder Hassen“]. Brentano, Franz.
Psychologie vom empirisch Standpunkt, Zweiter Band, p. 90.
139
secundária para com a relação primária (tomada como uma representação). De
fato, como explicita a citação a seguir, a evidência da percepção interna estava
orientada pelo estatuto ontológico do objeto intencional que sustentava a
Psicologia do ponto de vista empírico:
264
„Im Sinne der gegebenen Erläuterungen wiederhole ich also jetzt ohne Besorgnis mißverstanden zu
werden, daß es sich analog wie bei den Urteilen um Wahrheit oder Unwahrheit bei den Phänomenen
dieser Klasse um Güte und Schlechtigkeit, um Wert oder Unwert der Gegenstände handelt. Und diese
charakteristische Beziehung zum Objekte ist es, die, wie ich behaupte, bei Begehren und Wollen
sowie bei allem, was wir Gefühl oder Gemütsbewegung nennen, die innere Wahrnehmung in gleich
unmittelbarer und evidenter Weise erkennen läßt“. Brentano, Franz. Psychologie vom empirisch
Standpunkt, Zweiter Band, p. 90.
265
„Das Empfinden einer Farbe ist stets begleitet vom Mitempfinden dieses Empfindens, sagt man: Das
Empfinden der Farbe ist notwendigerweise von der Art, daß, wenn jemand so empfindet und zugleich
urteilt, daß er so empfindet, er dann mit Evidenz urteilt“. Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie, p.
170, nota 11.
140
relação psíquica primária e secundária) não poderia ainda ser divisível em duas
(outras) classes.
141
texto resultante do curso ministrado na Universidade de Viena em setembro de
1901266 e publicado como anexo 4 da Deskriptive psichologie.
266
As referências apresentadas pelo editor Chisholm são as seguintes.”PSYCHOGNOSTIC SKETCH
Outline of a psychognosy, begun on 4 September 1901 and finished on 7 September 1901. From the
Nachlass. Registered as Ps 86“.
267
„Jeder von uns erscheint sich selbst in persönlicher Einheit und Besonderheit; was diese Einheit und
Besonderheit ausmacht, nennen wir unsere Seele. Diese Seele zeigt sich in mannigfacher Tätigkeit; sie
beginnt und hört auf in einer Weise tätig zu sein, während sie in anderer Weise unverändert tätig
bleibt; sie wird als tätig gewirkt und ist als tätig wirksam, also wesenhaft [wahrgenommen]. Wir
sprechen in dieser Beziehung von einer Mehrheit von Seelentätigkeiten. Indem sie tätig ist, hat sie
etwas zum Gegenstand. DESCARTES hat dieses Zum-Gegenstande-Haben als Denken (im
allgemeinsten Sinne), andere haben es als Bewußtsein (im allgemeinsten Sinne), wieder andere als
geistiges Gegenwärtig-Haben, geistiges Inhaben, wieder andere als intentionale Beziehung und noch
andere noch anders bezeichnet. Wir wollen es der Kürze und Deutlichkeit Rechnung tragend
Gegenständlichhaben und das Korrelat Gegenständlichsein nennen. Es besteht darin die spezifisch
seelische Beziehung, die Seelen-Beziehung ” Brentano, Franz. Deskriptive Psychologie,
p. 146.
142
Tal como afirmou esta citação, o elemento fundamental para a
descrição das atividades psíquicas era a relação intencional entre ato e
correlato da consciência. Por esse motivo, segundo a interpretação de
Brentano já mencionada268, o valor da análise cartesiana estava no fato de ser
a primeira a apresentar uma divisão das classes constituintes das atividades
psíquicas, determinada por aquilo que o critério brentaniano descrevia como
partes da consciência constituintes dos pares de correlatos intencionais.
268
“Em suas Meditações, Descartes foi o primeiro a expô-las (as três classes de fenômenos psíquicos)
exata e integralmente. No entanto, suas observações não foram suficientemente entendidas e caíram
imediatamente no esquecimento, até que em nossa época, o fato foi redescoberto, independentemente
dele. Hoje se pode considerar como suficientemente assegurado”. [„Danach gibt es drei Grundklassen.
Descartes in seinen Meditationen hat sie zuerst richtig und vollständig aufgeführt; aber auf seine
Bemerkungen wurde nicht genügend geachtet, und sie waren bald ganz in Vergessenheit geraten, bis
in neuester Zeit die Tatsache unabhängig von ihm wieder entdeckt wurde. Sie darf wohl heutzutage
als hinreichend gesichert gelten“]. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.
143
para medir a intensidade do conteúdo de certas representações
269
intuitivas.
269
„Das psychophysische Gesetz Fechners, selbst wenn es gesichert wäre, während es mehr und mehr
Zweifel und Widerspruch hervorruft, würde nur für die Messung der Intensität des Inhalts gewisser
anschaulicher Vorstellungen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 88, nota 40.
270
„Die erste Grundklasse ist die der Vorstellungen im weitesten Sinne des Wortes (Descartes' ideae).
Sie umfaßt die konkret anschaulichen Vorstellungen, wie sie uns z. B. die Sinne bieten, ebenso wie
die unanschaulichsten Begriffe“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.
271
Descartes, René. Meditações, p. 109.
144
Em outras palavras, tal como estabeleceu Brentano em 1874, a representação
consistiu no ato de representar. Esse ato necessariamente possuía um objeto
intencional in-existente como correlato representado. Em 1889, a interlocução
com Descartes chamou a atenção para o seguinte ponto. Ao recusar a noção
de ideae como cópia e atribuir-lhe uma função assimétrica, Descartes
apresentou a relação intencional destituída do pressuposto de um objeto
intencional in-existente. Por esse motivo, ainda segundo os argumentos
brentanianos, Descartes foi o primeiro filósofo a distinguir os pares de
correlatos que constituem a relação intencional.
272
Idem, Ibidem, nota 52.
145
nas Terceiras Respostas: "Pelo nome de idéia, ele (Hobbes) quer somente que
se entendam aqui as imagens das coisas materiais pintadas na fantasia
corpórea”273. De fato, era essa definição hobbeseana que interessava a
Descartes refutar, pois a intenção de Hobbes podia ser resumida na
formulação da seguinte implicação. “Sendo isso suposto (idéias são pinturas na
fantasia), é-lhe fácil mostrar que não se pode ter nenhuma idéia própria e
verdadeira de Deus nem de um anjo..."274.
273
Idem, Ibidem.
274
Idem, Ibidem.
275
Idem, René. Meditações, p. 109.
276
Idem, Ibidem.
146
poderiam, propriamente falando, ser falsas”277, uma vez que a atribuição de
verdade ou falsidade cabe ao juízo. Para Brentano, esse foi outro ponto
fundamental da análise cartesiana, pois a restrição da verdade e falsidade à
esfera de atividade psíquicas do juízo era outro modo de estabelecer a não
existência de relação entre os elementos que compõem a ideae e algo exterior
à consciência. Desse modo, tal como sustentou Descartes, “[...] se eu
considerasse as idéias apenas como certos modos ou formas de meu
pensamento, sem querer relacioná-las a algo de exterior, mal poderiam elas
dar-me ocasião de falhar”278. Assim, portanto, restrita à atividade do cogito, a
ideae possuía, como afirma Lebrun, uma “realidade objetiva” ou valor objetivo.
Foi justamente essa objetividade que Brentano concebeu como existência não
real do objeto imanente, abandonando definitivamente a terminologia
aristotélico-tomista.
277
Idem, Ibidem.
278
Idem, Ibidem.
147
Já indicamos que esse modo de referência específico de ambas as
atividades, juízos e sentimentos, foi redefinido pelos critérios de descrição das
relações entre as partes e o todo da consciência norteadores da Psicologia
descritiva de 1889. Por quê? Porque a nova descrição dos juízos e dos
sentimentos apresentou outro critério para distingui-los das representações.
Em 1889, foi a descrição da relação psíquica primária e secundária
(Diploseenergie) que definiu os fenômenos psíquicos de juízo e de sentimento.
Assim, Brentano afirmou ter encontrado nas definições cartesianas a
possibilidade de explicitar, ao menos parcialmente, o tipo de relação que
definia essas classes de atividades psíquicas. Vejamos os passos da
argumentação brentaniana.
279
„Die zweite Grundklasse ist die der Urteile (Descartes' judicia). Diese hatte man vor Descartes mit
den Vorstellungen in einer Grundklasse geeinigt gedacht; ja nach ihm verfiel man zum andern Male in
diesen Fehler. Man meinte nämlich, das Urteil bestehe wesentlich in einem Zusammensetzen oder
Beziehen von Vorstellungen aufeinander. Das war eine gröbliche Verkennung seiner wahren Natur“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.
148
esperança e no temor, como também em toda a manifestação da
280
vontade.
280
„Die dritte Grundklasse ist die der Gemütsbewegungen im weitesten Sinn des Wortes, von dem
einfachsten Angemutet - oder Abgestoßenwerden beim bloßen Gedanken bis zu der in Überzeugungen
gründenden Freude und Traurigkeit und den verwickeltsten Phänomenen der Wahl von Zweck und
Mitteln. Aristoteles schon hatte alles das als (όρεξις)- zusammengefaßt. Descartes sagte, die Klasse
begreife in sich die voluntates sive affectus. Wenn in der zweiten Grundklasse die intentionale
Beziehung ein Anerkennen oder Verwerfen war, so ist sie in der dritten ein Lieben oder Hassen oder
(wie man sich ebenso richtig ausdrücken könnte) ein Gefallen oder Mißfallen. Ein Lieben, ein
Gefallen, ein Hassen, ein Mißfallen haben wir in dem einfachsten Angemutet- und
Abgestoßenwerden, in der siegreichen Freude und verzweifelnden Traurigkeit, in der Hoffnung und
Furcht und ebenso in jeder Betätigung des Willens vor uns“. Brentano, Franz. Vom Ursprung
Sittlicher Erkenntnis, p. 18.
149
3.7 O critério brentaniano e a distinção cartesiana entre ideae e
judicia
281
É interessante anteciparmos uma parte do comentário de Twardowski que desenvolveremos adiante.
O próprio Twardowski fez referência ao modo como Brentano concebeu essa noção de representação
e, também, deixou indicada a recepção cartesiana, pois Twardowski afirmou que a noção brentaniana
de objeto secundário era o ato e o conteúdo tomado em conjunto. Além disso, como veremos adiante,
essa representação consistia no objeto ao qual o juízo se referia intencionalmente. “Embora Brentano
designe como objeto primário o objeto da representação, tal como é feito aqui (na obra de
Twardowski), ele entende por objeto secundário de uma representação o ato e o conteúdo tomados
em conjunto, na medida em que ambos, durante a atividade de representar um objeto, são
apreendidos pela consciência interna, e aí a representação torna-se assim consciente”. Twardowski,
Kasimir. Para a doutrina do conteúdo e do objeto das representações, Uma investigação psicológica,
p. 62-63, nota 2.
150
Existe um contraponto dessa posição epistemológica que é
fundamental relembramos. Brentano não reconheceu a noção moderna de
juízo (relação entre ideias) no âmbito da teoria do conhecimento cartesiana. A
análise brentaniana esclareceu que a noção cartesiana de juízo não poderia
ser descrita como uma atribuição de um sujeito a um predicado [A é B]. Tal
como descreve a citação a seguir, Brentano nos fez lembrar, também em 1889,
que uma composição de “idéias” ou uma “idéia composta”, por si só, nada mais
seria que uma parte (ou o correlato) da representação (ou do ato). Do mesmo
modo, uma “idéia” simples seria também uma parte (ou o correlato) da
representação (ou do ato). Isso significava que a representação, como um ato
intencional, estava referida a um objeto imanente, portanto, tendo uma
representação como base, um juízo seria uma referência intencional a essa
representação, fosse ela um ato que se referisse a um correlato simples ou
composto:
282
„Man mag Vorstellungen zusammensetzen und aufeinander beziehen wie man will, wie wenn man
sagt, ein grüner Baum, ein goldener Berg, ein Vater von 100 Kindern, ein Freund der Wissenschaft:
solange und sofern man nichts weiteres tut, fällt man kein Urteil. Auch ist es zwar richtig, daß dem
Urteilen sowie auch dem Begehren immer ein Vorstellen zugrunde liegt; nicht aber, daß man dabei
immer mehrere Vorstellungen wie Subjekt und Prädikat aufeinander beziehe. Solches geschieht wohl,
wenn ich sage: Gott ist gerecht; nicht aber, wenn ich sage: es gibt einen Gott“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.
151
3.8 O critério brentaniano para a definição da evidência do juízo
283
"The principal respects in which Brentano's system of 1889 differs from that of Descartes are these:
(1) He replaces Descartes's concept of truth by what he believes is the more basic concept of
correctness; (2) he adds that phenomena of the third sort - emotions and volitions - are like judgments
in being either correct or incorrect; and (3) he holds that phenomena of the second and third sorts are
alike in being either positive or negative. He refers to phenomena of the second sort as phenomena of
acceptance and rejection (compare "believing" and "disbelieving"); and he refers to phenomena of the
third sort as the "phenomena of love and hate." Chisholm, Roderick M. Brentano and intrinsic value,
p. 2-3.
152
Em linhas gerais, tal como descreve o argumento a seguir, a
definição de juízo apresentada em 1889 parece idêntica àquela apresentada
em 1874:
284
„Was unterscheidet also die Fälle, wo ich nicht bloß vorstelle, sondern auch urteile? - Es kommt hier
zu dem Vorstellen eine zweite intentionale Beziehung zum vor gestellten Gegenstande hinzu, die des
Anerkennens oder Verwerfens. Wer Gott nennt, gibt der Vorstellung Gottes, wer sagt: es gibt einen
Gott, dem Glauben an ihn Ausdruck“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.
153
psíquica primária, pois esse seria tomado como correlato do ato constituinte da
segunda relação intencional.
154
(enquanto relações psíquicas secundárias) tinham as representações
(enquanto relações psíquicas primárias) como objetos correlatos.
285
O texto “Sobre o conceito de Verdade” (Über den Begriff der Wahrheit), editado por Oskar Kraus,
foi publicado como parte 1 do primeiro capítulo do livro “Verdade e Evidência” (Wahrheit und
Evidenz: Erkenntnistheoretische Abhandlugen und Briefe) em 1930, 1958 e 1974.
286
A verdade e a falsidade tomadas no sentido próprio se encontram no juízo. Assim, todo juízo é
verdadeiro ou falso. [„die Wahrheit und Falschheit im eigentlichen Sinne findet sich im Urteil. Und
zwar ist jedes Urteil entweder wahr oder falsch“]. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 6.
287
Quando, segundo ele (Aristóteles), um juízo é falso e quando é verdadeiro? [„Wann ist nun aber nach
ihm ein Urteil wahr?, wann falsch?]. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 7.
155
como descreve a citação a seguir, a resposta para essa pergunta colocou o
ponto de partida da análise brentaniana:
288
ARISTOTELES antwortet darauf, wahr sei es, wenn der Urteilende sich den Dingen entsprechend,
falsch, wenn er sich ihnen entgegengesetzt verhalte. „Wenn Einer, was geschieden ist, für geschieden,
was verbunden ist, für verbunden hält, urteilt er wahr, und er irrt, wenn er sich entgegengesetzt
verhält, wie die Sachen (Metaph. IX, 10, 1051b 3)“. Damit war eine Wahrheit für die
Übereinstimmung des Urteils mit den wirklichen Dingen erklärt. Brentano, Franz. Wahrheit und
Evidenz. p. 7.
289
„ARISTOTELES sagt in seinem Buch De Interpretatione, das Urteil bestehe in einer Verflechtung
von Gedanken ( ), es sei eine Zusammensetzung (). Und
diese bestehe darin, daß man, wenn man urteile, etwas Reales mit etwas Realem für verbunden, für
eins oder etwas Reales von etwas Realem für getrennt, geschieden halte. Halte man für verbunden
Dinge, die wirklich verbunden, für getrennt Dinge, die wirklich getrennt seien, so urteile man wahr;
falsch dagegen, wenn man sich entgegengesetzt wie die Dinge verhalte“. Brentano, Franz. Wahrheit
und Evidenz. p. 18-19.
156
(Realität)”290. Orientado pela teoria do juízo fundada na filosofia do psíquico,
Brentano considerou que “[...] a proposição segundo a qual a verdade seria a
concordância do juízo com a coisa (ou toda formulação similar) ou é
necessariamente falsa ou deve ser compreendida de uma maneira inteiramente
diferente”291. De fato, Brentano pretendeu afirmar a segunda hipótese dessa
bifurcação. Assim, por meio de um silogismo disjuntivo, ele apresentou as
clássicas contradições que envolviam a possibilidade de concordância entre
alguns juízos e as coisas. Tais contradições envolviam tanto os casos de
alguns juízos negativos292, como os casos de alguns juízos afirmativos293. A
290
„Welche bei der Wahrheit eine gewisse Relation der Identität oder Gleichheit oder Ähnlichkeit von
einem Denken und einer Realität gegeben glauben“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 23.
291
„Wir sehen: der Satz, die Wahrheit sei die Übereinstimmung des Urteils mit der Sache (oder wie man
sich ähnlich ausdrücken mag), muß entweder grundfalsch oder ganz anders zu verstehen sein“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 23.
292
As contradições que envolvem a possibilidade de correspondência (entre os juízos negativos e as
coisas) são exemplificadas por Brentano, como descreve a citação a seguir, a partir do fato de que
aquilo que deveria ser o correspondente do juízo negativo verdadeiro não existe como coisa real. Ou,
nos termos brentanianos, é um existente não-real. “A dúvida aparece de maneira particularmente
simples em uma simples negação. Se a verdade „não existe dragão‟ consistisse em uma concordância
de meu juízo com uma coisa, qual deveria ser então esta coisa? O dragão, certamente, não, pois ele
absolutamente não é dado (nicht vorhanden ist), mas tampouco qualquer coisa real que pudesse ser
considerada (como concordante)” [„Besonders im Falle der einfachen Leugnung tritt das Bedenkliche
klar hervor. Wenn die Wahrheit: ‚es gibt keinen Drachen„ in einer Übereinstimmung zwischen
meinem Urteil und einem Dinge bestände, welches sollte dann dieses Ding sein? Der Drachen doch
nicht, der ja dann gar nicht vorhanden ist. Aber ebensowenig ist irgendwelches Reale da, das (als
übereinstimmend) in Betracht kommen könnte“]. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 22. O
argumento exposto, como sustenta Brentano, propõe a refutação da clássica interpretação da noção de
correspondência baseando-se no fato de que os juízos negativos verdadeiros, assim o são,
independentemente da realidade do que está sendo afirmado. Isto significa que Brentano já está
analisado a correspondência dos juízos negativos baseado nos critérios de outra noção de verdade. O
mesmo ocorre, como destacamos na citação que se segue, com o juízo existência negativo. “Ora, o
seguinte caso também comporta algo completamente similar. Onde eu não nego simplesmente uma
coisa, mas eu nego a tal coisa uma tal determinação real. Quando eu digo: algum homem não é negro,
então, para a verdade da sentença, como já dissemos, um negro não está separado do homem, mas a
falta de negro no homem, falta que existe efetivamente. Esta falta, este não-negro é como tal coisa
alguma (kein Ding), logo é por sua vez coisa alguma (kein Ding) dada efetivamente que concorde
com meu juízo. Assim, como dissemos, todos os juízos negativos verdadeiros são os primeiros a
apontar (e da maneira mais inegável uma vez que estes juízos são simples negações) que esta relação
de concordância entre juízo e realidade, que seria pretensamente própria de todo juízo verdadeiro, não
existe”. [„Ganz ähnlich aber verhält es sich auch in den Fällen, wo ich ein Ding nicht schlechtweg
leugne, sondern nur etwas einem anderen als reale Bestimmung abspreche. Wenn ich sage: irgendein
Mensch sei nicht schwarz, so ist -- wir sagten es bereits - zur Wahrheit des Satzes nicht ein Schwarz
getrennt von Mensch, sondern der Mangel eines Schwarz an dem Menschen, der in Wirklichkeit ist,
erforderlich. Dieser Mangel, dieses NichtSchwarze aber ist als solches kein Ding; also ist wieder kein
Ding als das, was mit diesem meinem Urteile übereinstimmte, in Wirklichkeit gegeben. - So zeigt sich
denn, wie gesagt, zunächst bei allen wahren, negativen Urteilen (und am unverkennbarsten freilich bei
den einfachen negativen), daß jene Relation der Übereinstimmung zwischen Urteil und Realität, die
angeblich zu jedem wahren Urteil gehören würde, nicht vorhanden ist“]. Brentano, Franz. Wahrheit
und Evidenz. p. 22.
157
partir de tais contradições, a análise brentaniana inferiu a necessidade de uma
nova interpretação para aquilo que seria a concepção aristotélica de
concordância entre o juízo e a “coisa”. A análise Brentaniana avançou por meio
dos seguintes passos.
293
Ainda segundo Brentano, também as contradições que envolvem a possibilidade de correspondência
entre os juízos afirmativos e as coisas são exemplificadas, como descreve a citação a seguir, a partir
do fato de que aquilo que deveria ser o correspondente desses juízos verdadeiros não existe como
coisa real. Ou, nos termos brentanianos, é um existente não-real. “A outra classe de casos, onde
parecer ocorrer a mesma coisa, é encontrada quando examinamos de modo claro todo o domínio onde
se exerce a função afirmativa. Nós descobrimos que o juízo afirmativo se refere sempre, como efeito,
às coisas. Mas, como eu clarificarei rapidamente a partir de alguns exemplos, eles também tratam de
objetos que não se pode qualificar de modo algum como coisa. Uma vez que um juízo afirmativo se
refira à coisa, seja ela uma coisa específica que reconhecemos, seja ela atribuição de uma outra
determinação real a uma realidade, nós certamente poderíamos reconhecer uma concordância da coisa
com o juízo nos casos onde o juízo é verdadeiro. Mas, onde não fosse o caso, como deveríamos ser
capazes de dar conta de semelhante concordância? De fato, nossos juízos afirmativos, verdadeiros, às
vezes dizem respeito a uma coisa, a uma coleção de coisas, às vezes a uma parte, um limite de tal
coisa, etc. – numerosos objetos que não são eles mesmos coisas. Ou, se alguém no entanto arriscasse a
afirmá-los, indubitavelmente seria ele conduzido a supor que um ser, que ocorreu há muito tempo ou
que se situa no futuro distante, se encontra fora de mim como uma coisa? E ainda, o que acontece
quando eu reconheço a falta ou a ausência de uma coisa? Se diria que a falta do que está ausente em
uma coisa é também uma coisa? Ou ainda, quando digo que existe uma impossibilidade, ou que existe
certas verdades eternas – por exemplo as leis matemáticas – se acreditará então que, de modo
semelhante às idéias platônicas, existiriam os seres eternos concordantes com meu juízo em qualquer
parte no mundo ou fora do mundo? Certamente não. Parece que a concepção de l'adaequatio rei et
intellectus foi aqui completamente abatida”. [„Der andere Fall, wo sich dasselbe zu zeigen scheint,
begegnet uns sofort, wenn wir den Umfang des Gebietes, in welchem die affirmative Funktion geübt
wird, klar überblicken. Wir finden dann, daß sich das affirmative Urteil zwar oft auf Dinge bezieht;
aber auch - ich werde dies sogleich an Beispielen verdeutlichen - daß es oft auf Gegenstände geht, die
keineswegs mit dem Namen "Dinge" zu benennen sind. Wo sich nun ein affirmatives Urteilen auf
Dinge bezieht, sei es daß man einfach ein Ding anerkennt, sei es daß man einer Rea1ität eine weitere
reale Bestimmung zuspricht, da werden wir allerdings im Falle der Wahrheit eine Übereinstimmung
der Dinge mit dem Urteil aufweisen können. Wo aber nicht, wie sollten wir da noch ebenso dasselbe
zu tun vermögen? Und tatsächlich geht unser wahres, affirmatives Urteilen, wie manchmal auf ein
Ding, so ein anderes Mal auf ein Kollektiv von Dingen; dann wieder einmal auf einen Teil, auf eine
Grenze von einem Ding und dergleichen - lauter Gegenstände, die selber keine Dinge sind. Oder,
wenn einer dies doch noch zu behaupten wagte, wird er vielleicht ebenso noch behaupten wollen, ein
Wesen, das ich als längst vergangen oder als fern zukünftig erkenne, sei außer mir als Ding zu finden?
Und weiter noch! Wie ist es, wenn ich den Mangel, wenn ich das Fehlen eines Dinges anerkenne?
wird er sagen, dieser Mangel, dieses Fehlen eines Dinges sei auch ein Ding? Und wieder, wenn ich
sage, es bestehe eine Unmöglichkeit oder es gebe gewisse ewige Wahrheiten, wie z. B. die
mathematischen Gesetze; wird er da vielleicht glauben, daß, ähnlich etwa den platonischen Ideen, mit
einem Urteile übereinstimmende ewige Wesen irgend wo in oder außer der Welt beständen? Gewiß
nicht. - Der Begriff der adaequatio rei et intellectus scheint hier ganz und. gar in Brüche zu gehen“].
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 22-23.
294
Brentano sintetiza a crítica de Górgias à noção de verdade como correspondência do seguinte modo.
158
Brentano era descrever o modo como o problema colocado por Górgias
poderia ser dissolvido. De que modo? Por meio da aplicação dos critérios de
análise encontrados na descrição das relações entre as partes e o todo da
consciência, norteadores de sua Psicologia descritiva.
“Górgias nega que alguma coisa seja realmente conhecida e, ainda que fosse o caso, que o
conhecimento possa ser comunicado entre um e outro. A não ser consigo mesmo, nada corresponde
completamente a qualquer outra coisa. O que está fora de mim, não está em mim. O que esta em mim
e permanece, não passa para outra coisa. Assim não há verdade e não há possibilidade de
comunicação verdadeira. Se alguma coisa por nós pensada fosse tomada como verdadeira, dizia
Górgias, então tudo o que nós pensamos seria tomado como verdadeiro, pois cada pensamento é um
em si mesmo e diferente de todos os outros. Mas o fato de que cada pensamento fosse tomado como
verdadeiro, também seria quando eu pensasse em uma batalha de carroças sobre o mar, o que é uma
contradição”. [„GORGIAS leugnet daraufhin, daß irgend etwas Wirkliches erkennbar, und daß, wenn
dies sogar der Fall wäre, die Kenntnis von einem dem anderen mitteilbar sei. Vollkommen stimmt
nichts mit etwas überein außer mit sich selbst. Was außer mir ist, ist nicht in mir, was in mir ist und
bleibt, geht nicht in einen anderen über. Also ist keine Wahrheit und keine Mitteilung von Wahrheit
möglich. Wenn etwas, was wir denken, wahr zu nennen wäre, meinte GORGIAS, so wäre alles, was
wir denken, wahr zu nennen; denn jeder Gedanke ist mit sich eins und jeder von allen anderen
verschieden. Daß aber jeder Gedanke wahr zu nennen wäre, auch wenn ich einen Wagenkampf auf
dem Meere denke, sei ein Widersinn“]. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 7-8.
295
„Es beruht auf der Verkennung eines Unterschiedes, den DESCARTES als den Unterschied von
formaler und objektiver Realität bezeichnet“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 17.
296
„den aber lange zuvor schon ARISTOTELES ins volle Licht setzte und dadurch die Absurditäten und
die Sophistereien des PARMENIDES, EMPEDOKLES, GORGIAS, PROTAGORAS u.a.
Überwand“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 17.
297
„Wenn ich etwas glaube, so ist dieser Glaube "formal" in mir. Wenn ich mich später dieses Glaubens
159
No contexto da realidade formal, o ato psíquico de crer consistiria
formalmente na crença. Nesse caso, a crença seria o ato psíquico em seu
pleno exercício (ou, nos termos brentanianos, um juízo). No contexto da
realidade objetiva, o ato psíquico de lembrar consistiria objetivamente na
crença. Neste caso, a crença seria o objeto imanente ao ato psíquico de
lembrar. Assim, para Brentano, aquilo que era um ato de 2º tipo (juízo como
crença) passava a ser concebido como uma parte distinguível de um ato de 1º
tipo (lembrança como representação). Vejamos os detalhes dessa distinção
quando aplicada aos critérios de análise encontrados na descrição das
relações entre as partes e o todo da consciência, norteadores da Psicologia
descritiva.
erinnere, so ist er nach DESCARTES Ausdruck "objektiv" in mir; es handelt sich um denselben
individuellen Glaubensakt; aber das einemal übe ich ihn aus, das andere Mal ist er nur der immanente
Gegenstand der Erinnerungstätigkeit, die ich übe“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 18.
160
evidência que seria própria da atividade de conhecimento. Seriam os juízos, na
medida em que estavam estruturados pelas relações psíquicas primárias e
secundárias (Diploseenergie), e não as representações constituídas por
realidades objetivas, que explicitariam a noção de verdade como evidência na
teoria brentaniana do conhecimento. Esse era, para Brentano, o argumento
fundamental para a rejeição da atribuição de evidência à classe das
representações. Por isso não havia como conceber as representações como
conhecimento.
298
“Ähnlich ist bei jeder anderen psychischen Funktion, Wollen, Begehren, Fliehen usw. Mit dem
psychischen Akt, der formal gegeben ist, etwas als immanenter Gegenstand des psychischen Aktes,
also mit DESCARTES zu reden objektiv, oder wie wir, um Mißverständnisse zu vermeiden, uns
besser ausdrücken werden, intentional gegeben. Und es enthält offenbar gar keinen Widerspruch, daß
individuell dasselbe intentional in mir und formal nicht in mir sei oder umgekehrt, was wie durch das
Beispiel der Erinnerung durch tausend andere anschaulich gemacht werden könnte. Die Verkennung
dieser Tatsache erscheint wie ein Rückfall in die rohesten Zeiten der Erkenntnistheorie“. Brentano,
Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 18.
161
Como Aristóteles, uma vez que ele declara que o juízo verdadeiro
tem por reunido o que é reunido, e assim por diante, nós podemos de
todo modo dizer daqui em diante: é verdadeiro o juízo que afirma de
alguma coisa que é o que ela é. E, nega que alguma coisa que não é
que ela seja (de modo contrário, falso, uma vez que, em vista disto
299
que é e disto que não, o juízo adotaria uma posição contrária).
299
„Und so können wir denn, ähnlich wie ARISTOTELES, wenn er erklärt, wahr sei ein Urteil, wenn es
für zusammen geeinigt halte, was zusammen geeinigt sei, und wie er sich des weiteren ausdrückte,
allerdings nunmehr sagen: wahr sei ein Urteil dann, wenn es von etwas, was ist, behaupte, daß es sei;
und von etwas, was nicht ist, leugne, daß es sei (falsch aber, wenn es mit dem, was sei und nicht sei,
sich im Widerspruch finde)“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 24.
300
“A verdade e a falsidade tomadas no sentido próprio se encontram no juízo. Assim, todo juízo é
verdadeiro ou falso“. [„Die Wahrheit und Falschheit im eigentlichen Sinne findet sich im Urteil. Und
zwar ist jedes Urteil entweder wahr oder falsch“]. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 6.
162
representações de “coisas” e “não-coisas” correlatas. Embora fosse uma
reorientação relativamente simples, o próprio Brentano reconheceu que a
tradição filosófica não se apercebeu das vantagens dessa distinção:
301
”Wir werden endlich nicht, wie es immer und immer wieder geschieht, den Begriff des Realen und
den des Existierenden zu verwechseln versucht sein. Ein paar tausend Jahre ist es her, seitdem
ARISTOTELES die mannigfachen Bedeutungen des Seienden untersuchte; und es ist traurig, aber
wahr, daß noch heute die meisten aus seinen Forschungen keine Frucht gezogen haben“. Brentano,
Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 27.
302
„Was den Umfang des Gebietes betrifft, so ist es schlechterdings unbegrenzt. Die Materie kann ganz
beliebig gewählt werden. ‚Irgend etwas„ wird freilich immer beurteilt. Aber was bedeutet dieses
163
Em segundo lugar, o modo de referência intencional do juízo à
representação explicitou uma estrutura bipolarizada em afirmativa e negativa.
Isso significava, tal como afirmou Brentano, que “[...] este domínio totalmente
ilimitado se divide de imediato em dois”303: o juízo afirmativo e juízo negativo.
Além disso, essa “[...] oposição entre juízo afirmativo e juízo negativo implica
que, em cada caso, de fato, uma única das duas modalidades será apropriada,
enquanto a outra não será”304. Ainda segundo Brentano, tratava-se aqui “[...]
disto que nós exprimimos ordinariamente quando dizemos que, de dois juízos
contrários, um é sempre verdadeiro e outro é falso”305. Por isso, tratava-se, em
terceiro lugar, da descrição do domínio afirmativo do juízo como atribuição de
ser-real à representação e o domínio negativo como atribuição de ser-não-real
à representação. Como partes do todo psíquico, o ser-real constituinte da
atividade de julgar estaria relacionado de alguma maneira com o existente, ou
seja, com o constituinte do correlato do ato de representar. Essa relação, como
ressalta Brentano a seguir, é o primeiro indicativo da harmonia ou
correspondência entre as partes do ato psíquico:
‚Irgend etwas„? Es ist ein Terminus, der auf Gott und die Welt, auf jedes Ding und Unding
angewendet werden könnte“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 24.
303
“Dieses völlig grenzenlose Gebiet scheidet sich nun aber sofort in zwei Teile“. Brentano, Franz.
Wahrheit und Evidenz. p. 24.
304
“Der Gegensatz des bejahenden und verneinenden Urteils bringt es nämlich mit sich, daß in jedem
Falle die eine und aber auch nur die eine von den beiden Beurteilungsweisen passend und die andere
unpassend ist“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 24.
305
“Was wir gemeiniglich so ausdrücken, daß wir sagen, von zwei kontradiktorischen Urteilen sei
immer das eine wahr und das andere falsch“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 24.
306
“Das Gebiet, für welches die bejahende Beurteilungsweise die passende ist, nennen wir nun das
Gebiet des Existierenden, ein Begriff, der also wohl zu unterscheiden ist von dem Begriffe des
Dinglichen,Wesenhaften, Realen; das Gebiet, für welches die verneinende Beurteilungsweise die
passende ist, nennen wir das des Nichtexistierenden“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 24.
164
irrealidade (ser-não-real). Nesse caso, a contribuição da filosofia do psíquico
está na possibilidade de descrever a justeza desse ato de julgar.
165
uma referência à “não coisa” – ao não existente). Por outro lado, o falso
explicitava-se na injusta atribuição de irrealidade (ser-não-real) à representação
(quando ela era uma referência à “coisa” – ao existente). Desse modo, tornava-
se compreensível o esforço teórico de Brentano anunciado a seguir, ao
redefinir a noção de correspondência como harmonia ou concordância:
Em nenhum dos outros tantos modos dito, além do que eu disse aqui,
se estabelece a concordância do juízo verdadeiro com o objeto.
Concordar não significa aqui ser idêntico ou parecido, mas
corresponder, ser apropriado, ser pertinente, se harmonizar com, ou
307
outra expressão equivalente que se possa aplicar aqui.
307
„In nichts anderem als dem, was ich hier sage, besteht die Übereinstimmung des wahren Urteils mit
dem Gegenstande, von der soviel gesprochen wurde. Übereinstimmen heißt hier nicht gleich oder
ähnlich sein; sondern übereinstimmen heißt hier entsprechend sein, passend sein, dazu stimmen, damit
harmonieren, oder was für andere äquivalente Ausdrücke man hier noch anwenden könnte“. Brentano,
Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25.
166
CAPÍTULO IV
4.1 Introdução
167
psíquico do amor e ódio como consequência do conhecimento (de que o amor
a um objeto-causa tem outro objeto como efeito); (c) porque, com base na
regra que se inferia dessa relação, descrevia a ética como a retidão do amor
que se encontrava em conformidade com essa sua regra308. Assim, em função
da relação de dependência da ética para com a psicologia, sustentamos que os
equívocos encontrados na teoria do sentimento moral seriam decorrentes dos
princípios aristotélicos que fundamentavam a filosofia brentaniana do psíquico
de 1874.
308
Cf. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79, nota 28.
309
„Daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte
des Objekts immer zugleich gegeben ist“ Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
168
Para sustentarmos nossa hipótese, deveremos apresentar o critério
brentaniano de descrição da justeza dos sentimentos de amor. Isso exigirá uma
análise da relação entre a definição de justeza dos juízos verdadeiros e a
definição de justeza dos sentimentos de amor.
169
representação comportaria uma estrutura bipolarizada entre amor ou ódio. De
modo análogo ao juízo, (c) o domínio positivo do sentimento de amor e ódio
consistiria na justa atribuição de amor ou ódio à representação e o domínio
negativo consistiria na injusta atribuição de amor ou ódio à representação.
Finalmente, (d) de modo análogo ao juízo, a justa atribuição de amor ou ódio à
representação seria definida como experiência originária do conceito de bem e
a injusta atribuição de amor ou ódio à representação seria definida como
experiência originária do conceito de mal.
170
absolutamente de alguma coisa que existe no sentido em que alguma
310
coisa é real, coisal, efetiva de ser.
310
„Da hätten wir also das genaue Analogon dessen, was die übereinstimmung des wahren Urteilens mit
seinem Gegenstande oder mit der Existenz und Nichtexistenz seines Gegenstandes bedeutet. Von
einem Seienden im Sinne des Realen, Dinglichen,Wesenhaften ist dabei zunächst gar nicht die Rede“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25.
311
“ Auch auf dem Gebiete des Gemüts findet sich ein Gegensatz, nämlich der von Lieben und Hassen:
und für jegliches, was in Frage kommen mag, ist in jedem Fall eine der beiden 'Weisen dieses
Verhaltens passend, die andere unpassend“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25.
171
pertence à primeira classe, nós o denominamos bem, e mal o que é
312
compreendido na outra classe.
312
“Und demgemäß zerfällt alles Denkbare in zwei Klassen, von welchen die eine alles, wofür die Liebe,
die andere alles, wofür der Haß passend ist, enthält. Das der ersten Klasse Zugehörige nennen wir gut,
das in der anderen Klasse Begriffene schlecht“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25.
313
Especificaremos no próximo ponto que, no primeiro caso, a justa atribuição do amor à representação
do existente explicita a valoração do puro bem e, no segundo caso, a justa atribuição do ódio à
representação do não existente explicita a valoração do bem impuro (mesclado com o mau).
172
atribuição de ódio à representação (quando ela fosse uma referência à “coisa”
– ao existente)314. Assim, por meio de uma analogia direta para com a atividade
psíquica do juízo, também se tornou compreensível o esforço teórico de
Brentano anunciado a seguir, ao redefinir a noção de correspondência como
harmonia ou concordância do sentimento de amor e ódio:
Assim, uma vez que nós amemos o bem ou odiamos o mal, ou, ao
contrário, se nós odiamos o bem ou amamos o mal, nós podemos
declarar justo ou injusto um amor ou um ódio. Além disso, (nós
podemos dizer) que no caso de um ato justo nossa atividade
sentimental corresponde ao objeto, está de acordo com seu valor. E,
por outro lado, ela o objeta no caso do ato contrário, está em
315
desarmonia para com seu valor.
314
Também especificaremos, no próximo ponto, que atribuição injusta de ódio à representação do
existente explicita a valoração do puro mau e, no segundo caso, a injusta atribuição de ódio à
representação do não existente explicita a valoração do mau impuro (mesclado com o bem).
315
„So können wir sagen, richtig oder unrichtig sei ein Lieben und Hassen, je nachdem wir darin Gutes
lieben oder Schlechtes hassen oder umgekehrt Schlechtes lieben und Gutes hassen; ferner, daß in den
Fällen richtigen Verhaltens unsere Gemütsbewegung dem Gegenstande entspreche, mit seinem Werte
im Einklang sei, in den Fällen verkehrten Verhaltens dagegen ihm widerspreche, mit seinem Werte
disharmoniere“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25.
173
A tautologia envolvida nessa definição brentaniana do bom, tal qual
aquela que envolve a definição de verdade como evidência, não consistiu em
um complicador para a teoria do conhecimento moral. Pelo contrário, ela
consistiu em outra etapa fundamental da análise, pois, nos detalhes específicos
da argumentação de Brentano, o esclarecimento acerca da utilidade de uma
definição tautológica tinha uma função específica. Ao esclarecer a função de
uma definição tautológica, a análise brentaniana estabeleceu duas distinções
fundamentais. A primeira delas era a distinção entre o juízo cego e o juízo
evidente. A segunda era a distinção entre sentimento inferior de amor e ódio e
o sentimento superior de amor. Essas distinções nos levarão ao ponto central
da teoria brentaniana do conhecimento moral, pois a definição de sentimento
superior de amor foi o ponto de partida para a descrição do fenômeno psíquico
da preferência.
174
superior e fenômeno psíquico de ordem inferior. Retomaremos essa proposta a
partir de outro ângulo.
175
Em seguida, (b) enfatizaremos o modo como a teoria brentaniana de
1889 se valeu da tautologia envolvida na definição de verdade para indicar os
avanços epistemológicos almejados pela sua filosofia do psíquico. Em outras
palavras, analisada a partir dos pressupostos da Psicologia descritiva, a
tautologia envolvida na definição de verdade consistiu num avanço
epistemológico pelo seguinte motivo: ela explicitava de tal modo a relação entre
os elementos distinguíveis do ato psíquico de julgar com justeza (ou seja, as
partes elementares constituintes das relações psíquicas primárias e
secundárias) e, ao descrever esse ato psíquico, caracteriza o juízo como
evidente, distinguindo-o do juízo cego.
Como Aristóteles, uma vez que ele declara que um juízo é verdadeiro
quando tem por reunido o que é reunido, e assim por diante, nós
podemos de todo modo dizer daqui em diante: é verdadeiro o juízo
que afirma de alguma coisa que é, que ela é. E, nega que alguma
coisa que não é, que ela seja (de modo contrário, falso, uma vez que,
em vista disto que é, e disto que não, o juízo adotaria uma posição
316
contrária) (grifo nosso).
176
Além disso, o mesmo pode ser dito para a descrição brentaniana de verdade
explicitada a partir dos pressupostos da Psicologia descritiva.
Assim, uma vez que nós amamos o bem ou odiamos o mal, ou, ao
contrário, se nós odiamos o bem ou amamos o mal, nós podemos
declarar justo ou injusto um amor ou um ódio. Além disso, (nós
podemos dizer) que no caso de um ato justo, nossa atividade
sentimental corresponde ao objeto, está de acordo com seu valor. E,
por outro lado, ela o objeta no caso do ato contrário, está em
319
desarmonia para com seu valor.
319
„So können wir sagen, richtig oder unrichtig sei ein Lieben und Hassen, je nachdem wir darin Gutes
lieben oder Schlechtes hassen oder umgekehrt Schlechtes lieben und Gutes hassen; ferner, daß in den
Fällen richtigen Verhaltens unsere Gemütsbewegung dem Gegenstande entspreche, mit seinem Werte
im Einklang sei, in den Fällen verkehrten Verhaltens dagegen ihm widerspreche, mit seinem Werte
disharmoniere“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25.
177
tautologias envolvidas nas definições de verdade e de bem. Além disso, a
diploseenergie, enquanto ponto convergente entre atos psíquicos de julgar e de
sentir, não consistia apenas no pressuposto da análise brentaniana acerca das
definições tautológicas de verdade e de bem. Ela consistia no ponto
arquimediano utilizado por Brentano para explicitar a objetividade do juízo e do
sentimento. Em função desses pressupostos, Brentano iniciou sua análise
ressaltando o fato de que a desconsideração desse tipo específico de relação
intencional fez com que a questão toda parecesse análoga ao procedimento de
definição do efeito pela causa. Por isso, Brentano resumiu o problema da
seguinte maneira:
320
„Wenn wir den Begriff der Wahrheit des affirmativen Urteils durch den korrelaten Terminus der
Existenz des Gegenstandes, den Begriff der Wahrheit des negativen Urteils durch den korrelaten
Terminus der Nichtexistenz des Gegenstandes erläutern, so verfahren wir ähnlich, wie wenn einer den
Begriff der Wirkung durch seine Beziehrillg zum Begriff der Ursache oder den Begriff des Größeren
durch seine Beziehung zum Begriff des Kleineren definiert“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz.
p. 27.
321
„Was ist da viel gewonnen? Der eine Ausdruck ist so bekannt und gebräuchlich wie der andere“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 26-27.
178
preciso ressaltar que a referência à analise de Twardowski é, apenas, uma
estratégia322 de exposição que adotamos para enfatizar a singularidade da
teoria brentaniana de 1889, seja frente à posição teórica de seus “discípulos”,
seja frente à sua própria teoria de 1874.
322
Nossa estratégia releva as seguintes considerações que Barry Smith apresenta em seu livro “Austrian
philosophy – the legacy of Franz Brentano” para demarcar a relação entre Twardowski e a tradição
brentaniana psicologista: “From 1885 to 1889 Twardowski studied philosophy at the University of
Vienna, receiving his doctoral degree in 1891 for a dissertation entitled Idea and Perception. An
Epistemological Study of Descartes. While Twardowski studied especially under Franz Brentano, his
official supervisor was in fact Zimmermann, Brentano having been obliged to resign his chair in 1880.
During this time Twardowski made the acquaintance of Meinong, who had been Privatdozent in the
University since 1878, and Twardowski played a not unimportant role in the development of
Meinong‟s thinking in the direction of a general „theory of objects‟. At around this time Twardowski
also helped to found the Vienna Philosophical Society (he would later go on to found the first Polish
Philosophical Society in Lvov in 1904). On completing his studies, he was awarded a one year travel
scholarship, which he used principally as a means of becoming acquainted with new work in
psychology. In 1892, he studied in Munich, attending courses by Stumpf, and visited also Leipzig,
where Wundt had instituted the world‟s first laboratory of experimental psychology in 1879
(Twardowski would himself go on to establish the first laboratory of experimental psychology in
Poland in 1907). Smith, Barry. Austrian Philosophy – The legacy of Franz Brentano. p. 156.
323
Ainda segundo Smith, é interessante ressaltar os seguintes traços da influência brentaniana na
formação de Twardowski: “In 1894 Twardowski received the venia legendi in Vienna for a
monograph, much inspired by Brentanian doctrines, On the Doctrine of the Content and Object of
Presentations, and it is this work, translated into English only in 1977, which established his
credentials as one of the most important promoters and extrapolators of Brentano‟s philosophy. The
principal message of the work may be summarized as follows. Where Brentano had spoken
indiscriminately of the „contents‟ and „objects‟ of mental acts, as though content and object were
identical, Twardowski argued in favour of a strict distinction between the two - a distinction parallel,
in many ways, to Frege„s distinction between sense and referent, though translated into the
psychological mode. Where Brentano had seen content and object as effectively one and the same,
Twardowski regarded the content as a mental „picture‟ or „image„ of the object of the act. Every act,
according to Twardowski, has both a content and an object, though the object of an act need not in
every case exist. Even non-existent objects are seen by Twardowski as enjoying properties of their
own, a doctrine later transmuted by Meinong and Mally into the „principle of the independence of
being from being-so‟”. Smith, Barry. Austrian Philosophy – The legacy of Franz Brentano. p. 156-
157.
324
Segundo Twardowski, “[...] mesmo evitando-se assim a confusão do ato psíquico com seu conteúdo,
resta ainda por ser superada uma ambiguidade sobre a qual Höfler chamou atenção. Após ele
pronunciar-se sobre a relação com um conteúdo, própria dos fenômenos psíquicos, ele continua 1. O
que nós chamamos ‘conteúdo da representação e do juízo’ encontra-se inteiramente no interior
do sujeito, tal como o ato de representação e de juízo. 2. As palavras ‘Gegestand’ e ‘Object’ são
usadas em dois sentidos: por um lado, para aqueles existentes em si (an sich Bestehende), ... para
o qual nosso representar e julgar igualmente se dirigem, por outro lado, pela ‘imagem’ (Bild)
psíquica ‘em’ nós existente mais ou menos aproximada daquela real (Realen), aquela quase-
imagem (mais precisamente: signo) idêntica ao que em (1) denomina-se conteúdo. Em
179
Zimmermann e Höfler apresentaram grandes avanços ao distinguirem entre
conteúdo de uma representação e objeto de uma representação, a partir
daquilo que a teoria brentaniana de 1874 definira como o fenômeno físico dado
como correlato do ato de representar. Acerca desse ponto, nós ressaltamos,
em uma nota do capítulo primeiro, que, segundo a análise de Twardowski,
diferentemente de Höfler, a teoria brentaniana de 1874 tomara indistintamente
as noções de conteúdo e objeto da representação. Em resumo, a análise de
Twardowski considerava que essa indistinção entre conteúdo e objeto (do juízo
e da representação) deixava a teoria brentaniana de 1874 na antessala da
teoria do conhecimento da virada do século XX.
180
Foi a clássica distinção do correlato do ato psíquico em conteúdo representado
e o objeto representado. Considerando, no entanto, que estamos tratando da
teoria brentaniana de 1889, o que nos interessa especificamente na
argumentação de Twardowski não é a plausibilidade das soluções que ele
indicou a partir dos trabalhos de Zimmermann e Höfler, mas o fato de que essa
distinção entre conteúdo e objeto do juízo, caracterizada pelo problema do
estatuto objetivo do conhecimento, anunciou o problema que as análises
epistemológicas ocupadas com os avanços no campo do conhecimento
pretendiam resolver. Em outras palavras, a principal questão que também
envolveu a teoria brentaniana indagava pela indicação do caminho para a
elucidação desse problema filosófico, a saber, o estatuto objetivo do
conhecimento. Para essa questão, a teoria brentaniana de 1889 apresentou
uma resposta baseada na justeza do juízo evidente, ainda que o caminho
tomado desconsiderasse a distinção twardowskeana entre o conteúdo e o
objeto do juízo, tomados a partir da análise do correlato do ato.
326
Twardowski, Kasimir. Para a doutrina do conteúdo e do objeto das representações, Uma investigação
181
Essas considerações de Twardowski enfatizaram que, desde sua
Psicologia do ponto de vista empírico, Brentano abordava a questão da
objetividade do conhecimento, no entanto essa questão estava orientada pela
descrição do tipo de relação que se estabelecia entre o ato psíquico de
representar (um objeto) e o ato psíquico de julgar tal representação (embora
orientado pelo objeto). Podemos, então, considerar que a proposta de avanço
epistemológico apresentada por Brentano (em 1889) estava sustentada na
plausibilidade do aprimoramento presente na descrição da diploseenergie, que
caracterizava o ato psíquico de julgar e de sentir. Isso significou, ao menos,
que a busca pela objetividade do conhecimento pôde avançar por um caminho
da filosofia do psíquico que tratou do problema do conteúdo do conhecimento
apenas de modo indireto. Deixemos, porém, isso como sugestão e retornemos
ao modo como Brentano efetivamente apresentou os avanços epistemológicos
de sua teoria de 1889, a partir dos problemas que ela elucidou.
psicológica, p. 63. Se, no entanto, de um lado Brentano não distingue explicitamente conteúdo e
objeto, cabe aqui antecipar uma distinção entre objeto que se institui a partir da descrição da
percepção interna. A saber: a distinção dos correlatos do ato em objeto primário e objeto secundário.
Acerca dessa distinção, diz Twardowski que “[...] as expressões objeto primário e objeto secundário
encontram em Brentano num sentido ligeiramente diferente (do dele). Pois embora Brentano designe
como objeto primário o objeto da representação, tal como é feito aqui (na obra de Twardowski), ele
entende por objeto secundário de uma representação o ato e o conteúdo tomados em conjunto, na
medida em que ambos, durante a atividade de representar um objeto, são apreendidos pela
consciência interna, e aí a representação torna-se assim consciente”. Twardowski, Kasimir. Para a
doutrina do conteúdo e do objeto das representações, Uma investigação psicológica, p. 62-63, nota 2.
182
definição de verdade, a partir dos critérios da Psicologia descritiva, explicitava o
fundamento da objetividade do conhecimento, pois, de um lado, tal análise
distinguia a objetividade dos juízos (o tipo de relação intencional entre dois
objetos) ao explicitar o caráter evidente de alguns juízos verdadeiros. E, de
outro lado, tal análise distinguia a subjetividade dos juízos (o tipo de relação de
um juízo para com o conteúdo psíquico) ao explicitar o caráter cego de alguns
juízos verdadeiros. O fundamental para nossa tese está no fato de que a
dissolução do problema que envolveu a tautologia acerca da definição de
verdade se aplica, por analogia, à solução para a tautologia acerca da definição
de bem.
327
”(Dennoch dürften die von uns gepflogenen Untersuchungen in manchen Beziehungen für uns
lehrreich sein. 1. Ist schon dies von Belang,) daß wir fortan hinter der Definition nicht mehr suchen,
als in Wirklichkeit gegeben ist. Auch erscheint die Bestimmung jetzt nicht eigentlich wertlos“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 27.
183
muitos outros mal entendidos, os quais muitos espíritos se deixaram
328
seduzir ao mal compreender a definição.
Eles não veem que, no juízo, não se trata sempre de coisa real e,
além disso, também não consideram que, ainda quando é esse o
caso, a coisa real já deve ter sido reconhecida como tal por mim, para
328
”Tautologische Ausdrücke, selbst ohne jede begriffliche Gliederung, bieten bei der Erklärung oft
wesentliche Vorteile, wenn von den beiden gleichbedeutenden Terminis der eine nicht ebenso wie der
andere einem Mißverstande unterliegt. (...) So sind wir denn jetzt vor Begriffsverschiebungen und
dadurch vor noch manch anderem, weiterem Mißgriffe bewahrt, zu welchem viele durch Mißverstand
der Definition sich verleiten ließen“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 26-27.
329
„[...] Wir werden z. B. nicht die Wahrheit der Urteile, wie es manche tun, in formale und materiale
scheiden; vielmehr uns darüber klar sein, daß, was manche formale Wahrheit (die innere
Widerspruchslosigkeit) nennen, gar keine Wahrheit im eigentlichen, sondern im ganz uneigentlichen
Sinn sein müsse, ähnlich wie wir ja auch vieles, was gar kein Urteil ist, wahr nennen könnten.“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 27.
330
”Wir werden ebensowenig glauben, wie manche es törichterweise tun, man müsse, wo immer man
eine Wahrheit erkenne, ein reales Ding mit einem Urteil vergleichen“. Brentano, Franz. Wahrheit und
Evidenz. p. 27.
184
que a identificação de uma coisa real e de um juízo seja possível.
331
Esta concepção nos levaria a uma regressio ad infinitum.
Para uma parte dos juízos verdadeiros, existe uma articulação, como
dizemos, direta de sua verdade sobre alguma coisa de real. É o caso
daqueles (juízos verdadeiros) que são sustentados por uma
representação na qual o conteúdo é real. É claro que a verdade do
juízo afirmativo e, do modo contrário, a verdade do juízo negativo são
determinadas pela persistência, a aparição ou desaparição da
realidade concernente. Sem que ele mesmo seja modificado,
frequentemente o juízo adquire ou perde sua verdade se, para além
dele, a realidade concernente é produzida ou destruída (grifo
332
nosso).
331
”Sie ahnen nicht, daß es sich beim Urteilen nicht immer um reale Dinge handelt, und bemerken auch
nicht, daß, wo dies selbst der Fall ist, zur Ermöglichung des Vergleiches eines realen Dinges mit
einem Urteil, das reale Ding, wie es ist, bereits von mir erkannt sein müßte So würde diese Theorie ins
unendliche führen. Wir werden endlich nicht, wie es immer und immer wieder geschieht, den Begriff
des Rea.len und den des Existierenden zu verwechseln versucht sein. Ein paar tausend Jahre ist es her,
seitdem ARISTOTELES die mannigfachen Bedeutungen des Seienden untersuchte; und es ist traurig,
aber wahr, daß noch heute die meisten aus seinen Forschungen keine Frucht gezogen haben“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 26-27.
332
„Bei einem Teile der wahren Urteile besteht ein s. z. s. direkter Bezug ihrer Wahrheit zu etwas
Realem; das sind jene, bei denen die dem Urteile zugrunde liegende Vorstellung einen realen Gehalt
hat; es ist klar, daß von dem Bestehen, Entstehen oder Vergehen der betreffenden Realität die
Wahrheit des affirmativen und im umgekehrten Sinn die Wahrheit des negativen Urteils bedingt ist.
Ohne daß das Urteil selbst sich geändert hätte - wenn draußen die betreffende Realität erzeugt oder
zerstört wird, gewinnt oder verliert ein solches Urteil oft seine Wahrheit“. Brentano, Franz. Wahrheit
und Evidenz. p. 25-26.
185
psíquicos de representar e julgar). Ora, se considerarmos que o problema que
ocupou Brentano foi a busca da objetividade do conhecimento, essa omissão
estava coerente com os fundamentos da Psicologia descritiva, ou seja, a
realidade do conteúdo de consciência não era um problema central para a
teoria brentaniana de 1889. Por esse motivo, Brentano apenas se referiu a tal
realidade na medida em que ela tangenciou o problema da objetividade do
conhecimento. Em outras palavras, diretamente irrelevante no contexto da
análise dos tipos de relações intencionais entre as partes do todo psíquico do
juízo, os conteúdos psíquicos reais foram caracterizados para explicitar os
juízos contingentes que pressupunham (modalmente) a objetividade do
conhecimento. Assim, como indicou a análise brentaniana, a especificidade dos
juízos cegos estava no fato de que sua verdade se mantinha em função de
algo dado como conteúdo real, embora a estrutura do próprio juízo
permanecesse a mesma. A metáfora utilizada na caracterização de tais juízos
verdadeiros elucidou muito bem a sua definição, pois seriam juízos cegos
verdadeiros aqueles juízos que permaneceriam verdadeiros em função do
conteúdo real, dado concomitantemente sobre o pressuposto modal da
objetividade psíquica.
333
„Bei den übrigen Urteilen, bei jenen wo die Vorstellung keinen realen Gehalt hat, ist ein zweifaches
denkbar“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 25-26.
186
contradição e aos demais juízos analíticos, onde o objeto seria absolutamente
necessário ou absolutamente impossível. Nesse caso, diz Brentano:
334
„a) Entweder sie sind in ihrer Wahrheit gar nicht von einer Realität abhängig; dies gilt bei allen jenen,
deren Gegenstand schlechterdings in sich selbst notwendig oder unmöglich ist. Dahin gehört z. B. der
Satz des Widerspruches und mit ihm alle analytischen Urteile“. Brentano, Franz. Wahrheit und
Evidenz. p. 26.
335
b) „Oder sie sind, wenn auch nicht direkt, doch indirekt von einer Realität abhängig, d. h. die Tatsache,
daß ihr Gegenstand zum Existierenden oder Nichtexistierenden gehört, ist, obwohl die Vorstellung
187
O conteúdo real, mencionado aqui novamente de modo tangencial,
exerceu uma função: “indicar” o objeto (ou o ato de representar um correlato
existente ou não existente), constituinte da relação intencional caracterizada
como objeto primeiro. Para voltar ao nosso velho exemplo, o ato de julgar estar
vendo o vermelho consistiria num juízo evidente, no que diz respeito à
evidência do julgar estar vendo algo. Com base no exposto por essa definição
de Brentano, o conteúdo real (o vermelho) tem a função de “indicar” o objeto
primeiro (ato de ver algo, ou seja, o representar referindo-se ao objeto existente
representado) ao qual o objeto segundo se refere atribuindo-lhe realidade. A
objetividade do conhecimento, que se explicitou na evidência do ato de julgar,
encontrava-se nas relações entre as partes do todo psíquico caracterizada
como diploseenergie. Ela, no entanto, tangencia a realidade na medida em que
a objetividade não pode prescindir do caráter modal do conteúdo real.
keinen realen Gehalt hat, doch eine Folge davon, daß eine gewisse Realität oder gewisse Realitäten
und keine anderen bestehen oder bestanden haben oder bestehen werden. So bestehen, entstehen und
schwinden ein leerer Raum und überhaupt ein Mangel, eine Befähigung, ein Gedankending und was
dergleichen mehr angeführt werden könnte, im Zusammenhang mit und in Abhängigkeit von den
realen Veränderungen“. Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 26.
188
continua, e assim por diante. E, também, na nossa capacidade de
compreender determinadas relações necessárias e inteligíveis entre
336
os elementos, assim, distinguido.
336
“This descriptive psychology is in fact seen by Brentano as a Cartesian science providing an
epistemologically sure foundation for the entire discipline of philosophy, as also for scientific
knowledge of other sorts. At the same time, however, Brentano conceives descriptive psychology as a
new sort of empirical science, with its own empirical technique, a technique resting on our capacity to
notice psychological distinctions between the different sorts of simple and complex mental acts,
between the intuitive and non-intuitive components in psychic phenomena, between the various
different sorts of phenomenally given qualities, boundaries and continua, and so on, and then also on
our capacity to grasp certain necessary and intelligible relations between the elements thus
distinguished”. Smith, Barry. Austrian philosophy – the legacy of Franz Brentano. p. 27.
337
„Und wenn es uns, wie ich hoffe, gelungen ist, den in ihr getrübten Begriff zu klären, so ist es nur
geschehen, indem wir die Beispiele wahrer Urteile besser ins Auge faßten, wo wir dann alsbald sahen,
wie jene Beziehung einer Gleichheit, oder was es sonst sei, sahen deshalb keine Wahrheit sein könne,
weil Affirmation und Negation sich oft gar nicht mit n!alen Dingen befassen. Auch jetzt, nach
Ausschluß der Mißverständnisse, würde die Definition demjenigen nichts sagen, dem die Anschauung
fehlte. Das also dürfte etwa, unser Lohn und Gewinn sein; gewiß genug bei einer so bescheidenen
Frage, wie die von uns gewählte, bei der es sich ja um nichts als um die Erklärung eines durch
alltäglichen Gebrauch jedem geläufigen Ausdruckes handelt“. Brentano, Franz. Wahrheit und
Evidenz. p. 28.
189
4.4 A analogia entre juízo justo e amor justo como modo de indicar
os fenômenos psíquicos de ordem superior
190
A pedra de toque da argumentação brentaniana, na análise da
evidência do sentimento de amor e ódio, foi a tautologia envolvida na definição
de Bem. Brentano tomou o fenômeno psíquico do amor justo ao Bem e do ódio
justo ao Mal e estabeleceu que “[...] uma vez que nós amemos o Bem ou
odiamos o Mal, ou, ao contrário, se nós odiamos o Bem ou amamos o Mal, nós
podemos declarar justo ou injusto um amor ou um ódio”338. O ponto relevante
na análise brentaniana, tal qual se estabeleceu na descrição dos juízos justos,
foi a descrição da experiência constituinte do fenômeno psíquico do amor justo.
O fenômeno psíquico do amor justo foi analisado à luz dos critérios
estabelecidos na Psicologia descritiva e, continuou Brentano, “[...] nós
podemos dizer que, além disso, no caso de um ato justo, nossa atividade
sentimental corresponde ao objeto, está de acordo com seu valor. E, por outro
lado, ela o objeta no caso do ato contrário, está em desarmonia para com seu
valor”339. Voltaremos a esse problema da justeza do amor e do ódio em
seguida, pois é preciso apresentar outro aspecto relacionado à tautologia
envolvida nessa definição.
338
„So können wir sagen, richtig oder unrichtig sei ein Lieben und Hassen, je nachdem wir darin Gutes
lieben oder Schlechtes hassen oder umgekehrt Schlechtes lieben und Gutes hassen“. Brentano, Franz.
Wahrheit und Evidenz. p. 25.
339
„So können wir sagen, (...) ferner, daß in den Fällen richtigen Verhaltens unsere Gemütsbewegung
dem Gegenstande entspreche, mit seinem Werte im Einklang sei, in den Fällen verkehrten Verhaltens
dagegen ihm widerspreche, mit seinem Werte disharmoniere“. Brentano, Franz. Wahrheit und
Evidenz. p. 25.
191
(a atividade de sentimento) a outro elemento também psíquico (a atividade de
representação).
192
bondade do objeto”342. O ponto central da argumentação brentaniana estava na
ampliação da análise da noção de bom à noção de Bem. Nesses termos,
Brentano uniu a experiência sentimental à sua cognição e definiu o Bem como
o “conhecimento” da origem do sentimento de amor justo ou sentimentos de
ódio justo, pois o ponto fundamental estava na experiência imediata do caráter
justo desse ato psíquico. Do mesmo modo, definiu-se o Mal como o
“conhecimento” da origem do sentimento de amor injusto ou sentimento de ódio
injusto, pois nesse caso estava a experiência imediata da falta do caráter justo
do ato psíquico.
342
„Daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte
des Objekts immer zugleich gegeben ist“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
343
„Hier also und aus solchen Erfahrungen einer als richtig charakterisierten Liebe entspringt uns die
Erkenntnis, daß etwas wahrhaft und unzweifelhaft gut ist, in dem ganzen Umfange, in dem wir einer
solchen fähig sind“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 23-24.
193
Brentano sistematizou os avanços epistemológicos a partir de dois
aspectos principais encontrados na análise da tautologia que envolvia a
definição de Bem: (a) essa tautologia tinha a virtude de indicar a restrição do
âmbito cognitivo ao âmbito semântico; (b) essa tautologia também tinha a
virtude de indicar a eliminação da necessidade de se identificar uma coisa real
a todo sentimento de amor. Tomando por base a sistematização desses dois
aspectos da definição tautológica de Bem, Brentano novamente tocou
tangencialmente no problema levantado por Twardowski (acerca da distinção
entre conteúdo e objeto). Para resolver esse problema, ele apresentou o
critério de análise que permitiu distinguir entre sentimentos superiores e
sentimentos inferiores.
344
”(Dennoch dürften die von uns gepflogenen Untersuchungen in manchen Beziehungen für uns
lehrreich sein. 1. Ist schon dies von Belang,) daß wir fortan hinter der Definition nicht mehr suchen,
als in Wirklichkeit gegeben ist. Auch erscheint die Bestimmung jetzt nicht eigentlich wertlos“.
Brentano, Franz. Wahrheit und Evidenz. p. 27.
345
“Also das wirkliche Vorkommen der Liebe bezeugt keineswegs ohne weiteres die Liebwürdigkeit, wie
ja auch das wirkliche Anerkennen keineswegs ohne weiteres die Wahrheit beweist“. Brentano, Franz.
Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 20.
195
moral estava explícita na experiência constituinte da atividade psíquica
caracterizada pela diploseenergie (a partir da descrição das relações psíquicas
primárias e secundárias). Assim, análogo ao modo como Brentano tratou o
conteúdo real do juízo enfatizado por Twardowski, a presença real do amor não
consistia em um elemento psíquico relevante para a cognição objetiva do Bem,
pois tal conteúdo não era um elemento constituinte das relações intencionais
objetivas do todo psíquico (em seu ato de amar).
Pois existe uma coisa que deve ser explicitada de imediato. Não
possuímos garantia alguma de que tudo aquilo que é bom nos atraia
sempre com um amor caracterizado como justo. Quando isto não
sucede, nosso critério falha como se o bom não tivesse presente para
346
nosso conhecimento e nossa reflexão prática .
346
„Denn das allerdings dürfen wir uns nicht verhehlen: wir haben keine Gewähr dafür, daß wir von
allem, was gut ist, mit einer als richtig charakterisierten Liebe angemutet werden. Wo immer dies
nicht der Fall ist, versagt unser Kriterium, und das Gute ist für unsere Erkenntnis und praktische
Berücksichtigung soviel wie nicht vorhanden“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis,
p. 24.
196
positivo para análise dos sentimentos, capaz de distinguir entre sentimento
superior e sentimento inferior. Assim, cabe indagar: Qual é o critério
brentaniano de distinção entre sentimentos superiores e sentimentos
inferiores? A resposta a esta questão explicitou o modo como Brentano
descreveu o fundamento da ética como teoria do conhecimento moral a partir
do fenômeno psíquico de preferência.
347
„Hier also und aus solchen Erfahrungen einer als richtig charakterisierten Liebe entspringt uns die
Erkenntnis, daß etwas wahrhaft und unzweifelhaft gut ist, in dem ganzen Umfange, in dem wir einer
solchen fähig sind“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 23-24.
197
acerca dos fenômenos psíquicos de sentimento superiores e como tal
argumentação estabeleceu a evidência do fenômeno psíquico de preferência.
348
„Wir haben, sagten wir eben, von Natur ein Gefallen an gewissen Geschmäcken und einen
Widerwillen gegen andere; beides rein instinktiv. Wir haben aber auch von Natur ein Gefallen an
klarer Einsicht und ein Mißfallen an Irrtum und Unwissenheit. "Alle Menschen", sagt Aristoteles in
den schönen Eingangsworten zu seiner Metaphysik3"), "begehren von Natur nach dem Wissen". Dies
Begehren ist ein Beispiel, das uns dient. Es ist ein Gefallen von jener höheren Form, die das Analogon
ist von der Evidenz auf dem Gebiete des Urteils. In unserer Spezies ist es allgemein; würde es aber
eine andere Spezies geben, welche, wie sie in bezug auf Empfindungen anders als wir bevorzugt, im
Gegensatz zu uns den Irrtum als solchen liebte und die Einsicht haßte, so würden wir gewiß nicht so
wie dort sagen: das ist Geschmackssache, "de gustibus non est disputandum"; nein, wir würden hier
mit Entschiedenheit erklären, solches Lieben und Hassen sei grundverkehrt, die Spezies hasse, was
unzweifelhaft gut, und liebe, was unzweifelhaft schlecht sei in sich selbst. - Warum hier so und anders
dort, wo der Drang gleich mächtig ist? - Sehr einfach! Dort war der Drang ein instinktiver Trieb; hier
ist das natürliche Gefallen eine höhere, als richtig charakterisierte Liebe. Wir bemerken also, indem
wir sie in uns finden, daß ihr Objekt nicht bloß geliebt und liebbar und seine Privation und sein
Gegensatz gehaßt und haßbar sind, sondern auch, daß das eine liebenswert, das andere hassenswert,
also das eine gut, das andere schlecht ist“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p.
22-23.
198
Esse exemplo pode ser analisado da seguinte maneira. Toda
descrição do domínio afirmativo do sentimento (onde ocorre a valoração de
algo como Bom) mostra que ele consiste, por um lado, na justa atribuição de
amor à representação (quando ela é uma referência à “coisa” – ao existente) e,
por outro lado, na justa atribuição de ódio à representação (quando ela é uma
referência à “não coisa” – ao não existente)349. O exemplo citado explicitou que,
tratando-se do domínio afirmativo do sentimento, ocorre a valoração (ato de
amar ou odiar, enquanto objeto segundo) da compreensão (ato de representar
algo ou não algo, enquanto objeto primeiro) como boa ou má. Assim, tal
domínio consiste, por um lado, na justa atribuição de amor à representação
(compreensão de algo) e, por outro lado, como na justa atribuição de ódio à
representação (compreensão de “não algo”, ou seja, a incompreensão de algo).
349
Especificaremos, no próximo ponto, que, no primeiro caso, a justa atribuição do amor à representação
do existente explicita a valoração do puro bem e, no segundo caso, a justa atribuição do ódio à
representação do não existente explicita a valoração do bem impuro (mesclado com o mau).
350
O segundo exemplo diz o seguinte: “assim como preferimos a compreensão ao amor, em termos gerais
também preferimos a alegria à tristeza, que não seja precisamente alegria de algo mau. Se houvesse
seres que tivessem preferências contrárias, com razão qualificaríamos essa atitude de viciosa. Aqui
também nosso ódio e nosso amor se caracterizam como justos”. [„Ein anderes Beispiel! Wir geben,
wie der Einsicht vor dem Irrtum, so, allgemein gesprochen, der Freude (wenn es nicht gerade eine
Freude am Schlechten ist) vor der Traurigkeit den Vorzug. Wenn es Wesen gäbe, welche hier
umgekehrt bevorzugten, so würden wir dies, und mit Recht, als ein verkehrtes Verhalten bezeichnen.
Es sind eben auch hier unsere Liebe und unser Haß als richtig charakterisiert“]. “Um terceiro caso é
apresentado pela atitude sentimental justa e caracterizada como justa. Assim como a justeza e a
evidência do juízo estão computadas entre o bom, pela mesma razão também estão a justeza e o
caráter superior da própria atividade sentimental. De modo contrário, o amor ao mal também é mau”.
[„Einen dritten Fall bietet die richtige und als richtig charakterisierte Gemütstätigkeit selbst. Wie die
Richtigkeit und Evidenz des Urteils, so zählt darum auch die Richtigkeit und der höhere Charakter der
Gemütstätigkeit selbst zu dem Guten, während die Liebe zum Schlechten selber schlecht ist“].
Finalmente, o quarto exemplo diz: “e, para não deixar intactas as mesmas experiências referentes à
esfera das representações, diremos que nelas se explicitam igualmente que todo representar é algo
bom em si mesmo e toda ampliação da vida de representação também aumenta o bom em nós mesmo,
independentemente de todo bom ou mau que pode estar enlaçado com ela”. [„Und um auch in bezug
auf das Gebiet des Vorstellens die entsprechenden Erfahrungen nicht unberührt zu lassen, so zeigt sich
hier auf dieselbe Weise, daß jedes Vorstellen in sich selbst etwas Gutes ist und daß mit jeder
Erweiterung des Vorstellungslebens - von allem, was sich von Gutem oder Schlechtem daran knüpfen
mag, abgesehen - das Gute in uns vermehrt wird“]. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher
Erkenntnis, p. 23.
199
como Bom, uma vez que a objetividade do conhecimento acerca do amor justo,
circunscrito à esfera psíquica poderia valorar uma infinidade de representações
(de “coisas” e “não coisas”) como boas ou más.
São muitas, e não apenas uma, as coisa que conhecemos como boa
desta maneira. Assim, permanece em pé a pergunta: o que é melhor
entre o bom e, principalmente, entre o bom exequível? Qual é o bem
prático supremo que, como fim, dará a medida para nossas ações?
Primeiramente, perguntemos: quando uma coisa é melhor que outra e
nós a conhecemos como melhor? O que significa „o melhor‟, de modo
351
geral?
351
„Aber nicht eines, vieles ist, was wir so als gut erkennen. Und daher bleiben die Fragen: welches ist
unter dem Guten und insbesondere unter dem erreichbaren Guten das Bessere? und welches das
höchste praktische Gut, damit es als Zweck maßgebend werde für unser Handeln? Fragen wir also
zunächst: wann ist etwas besser als etwas anderes und wird als besser von uns erkannt? und was heißt
das überhaupt: das "Bessere"?“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 23.
200
um fenômeno psíquico complexo, cujo modo de referência intencional seria
universalmente conhecido:
352
„Und doch muß man sagen, das Bessere sei dasjenige, was mit Recht mehr geliebt werde, was mit
Recht mehr gefalle; aber in ganz anderem Sinne. Das "mehr" bezieht sich nicht auf das
Intensitätsverhältnis zweier Akte, sondern auf eine besondere Spezies von Phänomenen, die zur
allgemeinen Klasse des Gefallens und Mißfallens gehört, nämlich auf die Phänomene des Vorziehens.
Es sind dies beziehende Akte, die in ihrer Eigentümlichkeit jedem aus der Erfahrung bekannt sind“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 25.
353
„Die einfache Erkenntnis als gut und schlecht vorausgesetzt, scheinen wir - die Analogie legt es nahe
diese Einsicht aus gewissen Akten des Vorziehens, die als richtig charakterisiert sind, zu schöpfen“.
Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 25.
354
„Denn wie die einfache Betätigung des Gefallens, ist auch das Vorziehen teils niederer Art, d. h.
triebartig, teils höherer Art und, analog dem evidenten Urteil, als richtig ausgezeichnet“. Brentano,
Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 25.
201
experiência empírica fundante do conhecimento do Bem; (c) e o juízo justo era
a experiência empírica fundante do conhecimento da Verdade.
355
„Und nun zur Frage: wie erkennen wir, daß etwas wirklich das Bessere sei?“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 25.
356
Especificaremos no próximo ponto que, no primeiro caso, a justa atribuição do amor à representação
do existente explicita a valoração do puro bem e, no segundo caso, a justa atribuição do ódio à
representação do não existente explicita a valoração do bem impuro (mesclado com o mau).
202
do puro bem, ou seja, do melhor. No segundo caso, no entanto, a justa
atribuição do ódio à representação do não existente explicitava a valoração do
bem impuro (mesclado com o mau). Assim, Brentano pode sustentar que, em
relação ao puro bem, esse bem impuro sempre será pior.
357
Também especificaremos, no próximo ponto, que atribuição injusta de ódio à representação do
existente explicita a valoração do puro mau e, no segundo caso, a injusta atribuição de ódio à
representação do não existente explicita a valoração do mau impuro (mesclado com o bem).
358
„Damit ein Akt der Gemütstätigkeit in sich selbst rein gut zu nennen sei, dazu gehört: 1. daß er richtig
sei, 2. daß er ein Akt des Gefallens, nicht ein Akt des Mißfallens sei. Fehlt ihm das eine oder andere,
so ist er bereits in gewisser Beziehung in sich selbst schlecht; die Schadenfreude ist schlecht aus dem
ersten, der Schmerz beim Anblick der Ungerechtigkeit aus dem zweiten Grunde. Fehlt ihm beides, so
ist er noch schlechter, entsprechend dem Prinzip der Summierung, von welchem später im Vortrage
die Rede sein wird“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 81.
203
bem). Esse seria o fenômeno psíquico que originaria o conceito
de melhor, uma vez que consistiria no bem em si.
359
„Demselben Prinzip entsprechend wächst in dem Falle, wo die Gemütstätigkeit gut ist, die Güte des
Aktes mit seiner Steigerung, während in analoger Weise in den Fällen, in welchen der Akt rein
schlecht ist oder wenigstens in irgendwelcher Beziehung an dem Schlechten teil hat, die
Schlechtigkeit des Aktes mit seiner Intensität zunimmt“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher
Erkenntnis, p. 81.
360
„Im Falle der Mischung wachsen und schwinden, offenbar einander einfach proportional, Güte und
Schlechtigkeit. Das auf der einen oder anderen Seite sich findende Plus muß so beim Wachsen der
Intensität des Aktes immer größer, bei ihrer Abnahme immer kleiner werden.“. Brentano, Franz. Vom
Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 81.
204
melhor, a seguinte consideração brentaniana sobre a clareza do ato psíquico
de preferir tornava-se coerente:
É claro que aqui se dá, antes de tudo, (1) o preferir algo bom e
conhecido como bom a algo mau e conhecido como mau. Dá-se
também (2) o caso de preferir a existência de algo conhecido como
bom a sua não existência, ou a não existência de algo conhecido
361
como mau a sua existência.
361
„Hierher gehört offenbar vor allem (1.) der Fall, wo wir etwas Gutes und als gut Erkanntes etwas
Schlechtem und als schlecht Erkanntem vorziehen. Dann aber (2.) ebenso der Fall, wo wir die
Existenz eines als gut Erkannten seiner Nichtexistenz vorziehen oder die Nichtexistenz eines als
schlecht Erkannten seiner Existenz vorziehen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis,
p. 25.
362
„Dieser Fall begreift eine Reihe von wichtigen Fällen unter sich; so den Fall, wo wir ein Gutes rein für
sich dem gleichen Guten mit Beimischung von Schlechtem, dagegen ein Schlechtes mit Beimischung
von Gutem diesem selben Schlechten rein für sich vorziehen“. Brentano, Franz. Vom Ursprung
Sittlicher Erkenntnis, p. 25.
363
„Daß mit der Erfahrung der als richtig charakterisierten Gemütstätigkeit auch die Erkenntnis der Güte
des Objekts immer zugleich gegeben ist“ Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 79,
nota 28.
205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
364
“Brentano‟s ethical theory, however, did not receive the clarification and the thorough elaboration of
its principles that it deserved. The same consideration applies to his writings on aesthetics, which
Mayer-Hillebrand collected and published in 1959 as Grundzüge der Ästhetik (Fundamentals of
Aestetics)”. Albertazzi, Liliana. Immanent realism: an introduction to Brentano, p. 300-301.
206
definido pelo próprio autor como a época de formulação da teoria
conhecimento moral. A “antiga” tese doutoral de Linda McAlister (The
development of Franz Brentano‟s ethics, 1982.), a “recente” tese doutoral de
Sergio Granados (La ética de Franz Brentano, 1996.) ou a clássica
interpretação de Chisholm (Brentano and intrinsic value, 1986.), todos esses
trabalhos estão ocupados com a interpretação do resultado final da ética
brentaniana. Em outras palavras, trata-se de estudos de grande envergadura
ocupados em analisar o resultado final do desenvolvimento da filosofia do
psíquico, filosofia apresentada por Brentano como uma ética ou teoria do
conhecimento moral.
207
os pares de conceitos que formaram a espinha dorsal da nossa tese: (a) objeto
intencional e relação intencional; (b) verdade como correspondência e verdade
como evidência. Além disso, Chisholm ofereceu-nos as ferramentas para
lidarmos temporalmente com esses pares de conceito, pois ele concebeu a
passagem da Psicologia do ponto de vista empírico para a Psicologia descritiva
como um desenvolvimento da filosofia brentaniana do psíquico. Certamente, a
linha de interpretação adotada por Chisholm e sua escola se consolidou com a
publicação do trabalho The Cambridge Companion to Brentano (2004). Mesmo
assim, no entanto, interpretações como a de Sanches Granados insistem em
interpretar o período das conferências de 1889 como uma época de indecisão
entre a filosofia brentaniana do psíquico de 1874 e o reísmo. Indiretamente,
mas contra as teses como a de Granados, nós explicitamos textualmente que a
solução para o problema da apreensão da justeza do sentimento foi
apresentada em 1889, pois suas raízes não se encontravam na teoria ética ou
na teoria do conhecimento, e sim na psicologia brentaniana concebida como
uma filosofia do psíquico. Explicitamos, portanto, como a teoria brentaniana
acerca da origem do conhecimento moral, inspirada na futura Psicologia
descritiva, rompeu com os pressupostos da Psicologia do ponto de vista
empírico norteadores da teoria do sentimento moral.
208
BIBLIOGRAFIA
209
_______________. The four phases of philosophy and its present condition. In:
Philosophy Today, DePaul University, vol. 43, Issue 1, p. 14-28, jun. 1999.
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intencional. Kriterion Revista de Filosofia, Minas Gerais, vol. XLIII, nº. 105, p. 7-
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Companion to Brentano. United Kingdon: Cambridge University Press, 2004. p.
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p. 33-54.
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on truth. The Logica Yearbook, p. 110-120, Prague, 1998.
SIMONS, Peter. Judging correctly: Brentano and the reform of elementary logic.
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University Press, 2004. p. 45-95.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
OWEN, Gwilym E. L. The platonism of Aristotle. In: Logic, Science and Dialectic
(edited by Martha Nussbaum), London: Duckworth, 1986.
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