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CAPÍTULO 1
Quando o ser humano dançou pela primeira vez? Como? E por quê? São perguntas
que inevitavelmente são pensadas quando se fala em dança. Indagações essas que
Faro (1986, p. 13), em seu livro “Uma pequena história da dança”, discorre que não
é algo simples indicar com tamanha exatidão quando os indivíduos dançaram pela primeira
vez, no entanto, aponta que há vestígios nos tempos pré-históricos, em cavernas e grutas,
de figuras desenhadas nas paredes de pessoas em movimento, dando uma ideia que
Dordonha, perto de Mussidan, na França (CLAUS, 2005). Como era da cultura dos
homens daquela época, externar nas paredes apenas aquilo que era importante, como a
caça, alimentação, vida e morte, é possível que tais figuras dançantes fizessem parte de
surgiu como parte integrante desses rituais religiosos ou até mesmo junto a ela.
Garaudy (1980, p. 13) também infere que desde os tempos mais remotos, antes de
ser arte e espetáculo, a dança era uma forma de celebrar a existência. Os homens, ditos
como ancestrais dançaram grande parte dos momentos importantes e significativos da sua
prazer. Assim, pode-se inferir que a dança é fruto da necessidade de expressão do ser
humano.
Diante disso, Faro (1986, p. 13) afirma que a dança para ser compreendida em sua
história, pode ser dividida em três formas distintas: étnica ou religiosa, folclórica e teatral,
sendo que uma descende da outra. Dessa forma, tem-se que a religiosa, sugere que o
sentido de sagrado atribuído à dança era o de consagrar algo, ela, portanto era tida como
neolítico, em que o homem passa de coletor a produtor, deixa de ser nômade e começa a
formar as cidades se tornando mais sedentário, ocorre uma modificação das práticas e um
Antiga, sendo Platão o primeiro filósofo a fazer alusão à dança em suas obras. (CLAUS,
2005)
Com isso, tem-se que de forma paulatina, as danças religiosas foram sendo
liberadas pelos sacerdotes para serem realizadas também em outros ambientes, como nas
apenas nos templos, o que permitiu se tornar algo de caráter mais popular e cotidiano,
caracterizando assim as danças folclóricas. Com ela, percebe-se que há uma forte ligação
com algumas características da vida diária dos indivíduos, como o homem camponês
dançando de felicidade por uma boa colheita, no Egito as danças fúnebres em torno de
relacionada ao dia a dia dos indivíduos, fazendo parte desde os ritos religiosos até aos
uma prática que formava de modo completo o cidadão, pois a partir da noção de que corpo
e espírito estariam interligados, essa prática além de proporcionar saúde, através dos
na educação grega. Observa-se também que no período romano, a dança era mais voltada
para os reis, república e império, e dentre essas épocas a que rompeu de fato com o
sagrado foi durante o império, com as danças dos jogos de circo, de banquetes e entre
outras, sendo duramente criticadas pela igreja católica, já com o seu poder em ascensão, na
Nesse ínterim, com a idade média, as mais diversas formas artísticas foram
censuradas pela igreja católica, incluindo a dança, prática expressiva que utilizava o corpo,
sendo que naquela época o corpo era percebido como inimigo da alma, por carregar em si
pecados e fraquezas, que deveriam a partir do espírito buscar a santidade. (ZOBOLI, 2007)
mudanças sociais e políticas, surgiram àquelas danças nomeadas de danças de salão, que
faziam parte da nobreza europeia e estavam mais atreladas à diversão, além disso, elas
nota-se um enrijecimento da dança, que outrora havia surgido com o desejo de expressar
aquilo que era latente na vida dos indivíduos. Com isso, surge a dança teatral remontando a
Luís XVI, rei da França, que fundou em 1661 L’Académie de Musique et de danse. A
escola tinha como diretor o compositor e dançarino Jean Baptiste Lully e o mestre de dança
foi Pierre Beauchamps, teve como sua primeira bailarina profissional, a famosa Lafontaine
que para manter os filhos entretidos durante seu governo, trazia da Itália artistas e
cortesãos que tinham espetáculos grandiosos abarcando a dança, o canto e textos falados,
remetendo ao teatro. Infere-se que a dança teatral surgiu como uma forma de entreter uma
nobreza aparentemente vazia. Pouco a pouco, esses espetáculos passaram das cortes aos
palcos de teatro. Les Indes Galantes, de Rameau, era um dos espetáculos apresentados na
A partir disso, pouco a pouco esse estilo foi se desenvolvendo tanto em técnica,
com os passos de dança ficando mais aprimorados; quanto em vestuário, que permitiram
mais mobilidade aos bailarinos, dando origem a dança clássica ou balé clássico. Segundo
Amaral (2009), em meados do século XVII, fora estabelecido as cinco posições básicas
dos pés, por Pierre Beauchamps (1639-1705), em que os pés ficavam com os dedos
visto como espetáculo surgiu nas cortes durante o Renascimento. E após algumas
com ideias referentes a uma busca por mais naturalidade, expressão e drama, buscando por
algo que permitisse vincular significados e emocionar, ao mesmo tempo, que exigiriam o
desenvolvimento de movimentos mais coreografados, inaugurando assim o balé accion ou
plasticidade.
romântico, que para o escritor e cronista Ivor Guest, surge por volta de 1820 com a estreia
de Clari, ou La Promesse de Miriage, de Louis Millon, sendo que o ápice desse estilo se
deu com o endeusamento das bailarinas e personagens, como Graham, Taglioni, Cerrito e
entre outras, elas sempre eram vistas como seres extraterrenos, figuras de lenda ou
imaginação, que eram inalcançáveis. Devido a isso, e a exacerbada repetição, uma arte
costumes ofereceu um espaço propício para que emergisse novamente a era do balé
clássico, mas com um toque especial de um grande nome chamado Marius Petipa (1822-
abertura à incidência dos balés de repertório, como A Bela Adormecida, O lago dos
técnica. Outros grandes nomes dessa época são o sueco Gustav Johannsen e o italiano
É importante destacar segundo Faro (1986, p. 77), que assim como as outras
vertentes do balé, o clássico teve seu período de declínio, em que mesmo tendo seus
bailarinos com a técnica cada vez mais aperfeiçoada e os seus coreógrafos geniais, deixou
de agradar uma sociedade que entendia que qualquer arte que permanecia estagnada,
sucumbia. Até que no início do século XX, houve indícios de uma revolução, tendo como
grande expoente a renomada Isadora Ducan. Inspirada pela arte grega chamou sua dança
de “dança livre”, por não seguir nenhuma escola da época, seja francesa, italiana ou russa.
Foi a primeira bailarina a dançar de pés descalços e sem malhas. Em 1904, abriu sua escola
momentos, Ducan subia nos palcos e improvisava ao som de ilustres músicos como
apenas as obras mais consagradas do balé romântico e clássico, e assim darem início ao
que chamaram de Dança Moderna, sendo uma dança como uma característica singular de
estilo na época foi o membro da nobreza russa Dighilev e o coreógrafo Michel Fokine,
Tem-se que L’Après Midi d’un Faune, coreografado por Nijinski, baseado no
poema sinfônico de Debussy, foi o primeiro grande balé moderno, estreado em 1912. A
partir disso, e com a influência de Isadora Ducan e St. Denis, nomes como Rudolph Laban
(Europa) e Marta Graham (EUA), em meados da década de 20, puderam não apenas ser
por academias de dança, teatro, cinema, comédia musicada e entre outros. Diante disso,
infere-se que na dança moderna há um princípio de que cada ideia, emoção e impulso
expressão do interior do intérprete com aquele interior do indivíduo que assiste, abordando
como base questões humanas envolvendo sexualidade, crenças e etc. (FARO, 1986, p. 118
e 119) Além disso, a dança moderna também funcionando como veículo para a
dos anos, se abriu caminhos e possibilidades para que diversos artistas pensassem a dança
para além das academias clássicas e de uma forma mais livre também, criando-se outros
artista/artesão. Como exemplo tem-se Trisha Brown, que fez diversas experiências e uma
(Contato Improvisação), durante a década de 70, que tinha como ideia principal pensar a
de uma participação igualitária das pessoas em um grupo. Para ele, a dança encontrava-se
no movimento do dia a dia e no que se faz “aqui e agora”, com a indeterminação. Daí a
com onze estudantes na Oberlin College (cidade de Oberlin, Ohio, Estados Unidos),
organizada por Paxton, onde a falta de controle dos corpos em movimento embasavam a
caracterizado como um estilo de movimento que deriva da interação do grupo, mas que
pode ser pensado e experimentado por um indivíduo sozinho, tendo como foco a sensação
e integralidade física do corpo. Paxton, não tinha como foco os sentimentos e simbolismos
que emergiam nos processos, todavia posteriormente algumas questões passaram a ser
pesquisas acerca do tema, tornando-se base para muitas performances, incluindo a dança
de modo a abarcar todos os públicos, idades, corpos singulares em suas diferenças e etc.
receber o peso, seguir os pontos de contato, se desorientar, relaxar, cair e rolar. Princípios
esses que sempre deveriam perpassar pelo cuidado e à responsabilidade consigo e com o
afirma que significa dar forma espontânea aos movimentos, a partir de condições
e/ou da ação. Ela desvia-se dos rígidos processos de aprendizagem de outros tipos de dança
sensações, percepções e afetos com seu corpo, além de atribuírem sentidos e significados
em torno das experiências e poder compartilhá-las, estreitando uma relação existente entre
É notório que a dança, de forma gradativa foi saindo de moldes rígidos permeados
de virtuosismo e técnica, para estilos de movimento que davam liberdade aos artistas e que
aos poucos, a expressão corporal, entendida como sendo, de acordo com Stokoe e Harf
(1987, citado por, Silva; Schwartz, 1999), uma linguagem através da qual os indivíduos
alguns coreógrafos e artistas em relação ao que move as pessoas. Até que alguns processos
passaram a ser mencionados como Dança contemporânea, referentes ao que estava sendo
feito dentro dessa arte, dentro daquele/nosso tempo, não se implicando por apresentar algo
JOSÉ (2011) em relação ao conceito de dança contemporânea afirma que não existe
apenas um conceito que possa abarcar sua complexidade. Todavia ela é uma forma de arte
tempo. Diante disso, Tomazzi (2006, citado por José, 2011) afirma que há quatro fatos
dança contemporânea sendo um jeito de pensar a própria dança; não havendo um modelo
onde o corpo em movimento estabelece sua própria dramaturgia num outro tipo de
sucinta foi abordada, pois poucas páginas não suficientes para abarcar a complexidade da
dança em suas variadas formas e transições. Tem-se o seu conceito explanado de uma
forma geral, mas com uma pontuação referente a um tema que nos convida a ter um outro
olhar para a dança, quando Faro (1986, p. 124) afirma que ela é a arte do movimento, e a
partir dela pode-se expressar uma gama diversificada de questões humanas, inclusive
Mediante ao que foi abordado acima, porque não pensar a dança como um recurso
terapêutico e de transformação?
Movimento Terapia (DMT), em meados da década de 60. Muitos estudos comprovam seus
reabilitação e etc.
Cerruto (2005), afirma que a Dançaterapia, surgiu tendo como base algumas
mesmo, e a ideia referente ao “descer”, no sentido de trazer para a prática, conectando com
o movimento da respiração. Maria Fux, ao criar seu método pegou esses questionamentos e
os utilizou como ponto de partida para entrar em contato com sua própria dor, perceber sua
vida e história, com o intuito de criar uma “ponte” para encontrar outras pessoas, para que
a partir desse contato houvesse uma forma de dar margem a lugares de sofrimento
existentes nelas, de uma forma que abarcasse a todos, sem exceções, para assim possibilitar
pela emoção, afeto e sensibilidade. Inicialmente trabalhou com o público surdo e uma de
suas criações chama-se “Diálogo com o silêncio”, estreado em 1987, por uma aluna surda,
mesmo e do outro. Questiona-se que dança é dançada nesse método, Cerruto (2005) infere
que há quem chame de “movimento criativo”, “expressões primitivas”, mas que suas
pesquisas apontam para o que Isadora Ducan, durante o surgimento da Dança Moderna,
apontou em suas aspirações, inferindo ideias referentes a uma “dança livre”, exprimindo o
sentir.
com fins terapêuticos foi a Biodança ou Psicodança, tendo como autor o chileno Rolando
Toro. Para defini-la faz-se necessário inferir que ela pressupõe o conceito de vivência, e
método Biodança. E para além delas, faz-se um resgate dos sentidos e significados que
circundam a prática almejando uma integração e desenvolvimento humano. A Biodança
propõe vivências integradoras por artes variadas como o canto, a música, a dança
sentimentos, sendo fundamental a expressão da identidade como via de unir aquilo que é
intrínseco e naturalizado ao ser e a cultura, seu contexto. TORO, (2002, citado por
VECCHIA, 2004).
Nesse ínterim, esse método busca fazer um resgate através das artes, a partir da
intimidade, da exaltação do ser e do impulso de união pela via das vivências. (PINHO et al.
2009)
De acordo com Cavalcante (1999, citado por Vecchia, 2004) tem-se como os
descoberta e inclinação para o prazer e criatividade, além disso, também uma capacidade
que pode ser utilizado com fins terapêuticos, visto que, em especial a psicologia corporal
Segundo Volpi & Volpi (2003, citado por, Moro, 2004), a bioenergética, uma das
abordagens da psicologia corporal, criada por Alexader Lowen, une expressão do corpo e
satisfação.
Moro (2004) infere que ao dançar se faz perceptível a impossibilidade que algumas
pessoas têm de entrar em contato com partes de si mesmo, visto que o corpo revela sua
história e jeito de ser. Nota-se que tanto a psicoterapia, como alguns estilos e métodos em
dança tem o objetivo em comum de ambas buscarem para o ser uma via de possibilitar que
a energia flua por todo o corpo, trazendo um sentimento de vivavidade, prazer, contato,
permite que o indivíduo tenha consciência de si e suas questões, e possa ser livre para
CAPÍTULO 2
AMARAL, Jaime. Das danças rituais ao ballet clássico. REVISTA ENSAIO GERAL,
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