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Centro Universitário Senac - Santo Amaro

Bacharelado em Audiovisual

Desenho Sonoro
Professor Guilherme

Análise sonora do filme "O som ao redor" de Kleber Mendonça Filho, 2012

Luísa Vasques de Camargo


6º semestre B

2017
O filme de Kleber Mendonça Filho, O som ao redor, cria desde os
minutos iniciais até os créditos uma atmosfera muito peculiar. O filme tranca o
espectador durante a maior parte do filme num pequeno bairro, ou até, em
algumas ruas. Apesar da claustrofobia que isso poderia causar, o som faz o
papel inverso, ele traz toda a sinfonia de sons externos para dentro de cada
casa, para dentro de cada personagem, engrandecendo as sensações.
Logo no início, ainda nas cartelas iniciais, um silêncio com sons de
pássaros perdura, logo depois ouve-se uma melodia, uma das raríssimas
vezes em que há melodia no filme, que parece vir de um teclado e esse som
para de uma vez. Aparecem uma série de fotos em preto e branco, que
retratam uma época antiga, com lavouras e fazendas permeadas de escravos.
Nesse momento uma música começa a se constituir de batidas, sons que não
são precisamente reconhecíveis, chocalhos e instrumentos de percussão. Essa
música começa a aumentar gradualmente até que para bruscamente e ouve-se
o barulho do patins da criança a brincar.
O filme todo se costura nesse padrão, o som guiando o olhar do
espectador e dando a ele uma espécie de prévia do que esperar para a
próxima cena, ou para o próximo acontecimento, e algumas vezes fazendo
rimas sonoras de uma cena para a outra. Um som parecido com a melodia
inicial, lembrando talvez o som de um helicóptero junto com alguns ruídos,
volta a aparecer no ambiente das crianças brincando, onde aparecem babás
com os filhos das patroas. Nessa cena o som faz o papel de relacionar a época
escravocrata em sua forma atual, na contemporaneidade do filme, utilizando a
mesma sonoridade de certa forma agonizante, para relacionar as fotos antigas
com a cena.
O filme traça padrões sonoros para cada personagem em seu ambiente.
Começando com a personagem da atriz Maeve Jinkings, Bia. Sua casa é
extremamente silenciosa, exceto por um cachorro que late incessantemente
durante quase todo o filme, cada vez mais alto. Logo na primeira vez em que
aparece, ela já acorda no meio da noite por causa dos uivos e latidos,
incomodada, porém não se ouve praticamente mais nada em sua casa. O filme
em geral traz uma ambiência muito forte, junto com os sons de pequenos
detalhes, como talheres, água da torneira, passos e coisas do tipo.
O personagem João, corretor de imóveis e neto de Francisco, o grande
coronel do bairro, é levado ao armário com a nova companheira, Sofia, logo na
primeira cena por ouvir o som da empregada entrando na casa. Eles entram no
guarda-roupas e fecham a porta, logo ouve-se o som de um programa infantil
colocado na TV para as crianças assistirem, enquanto há um silêncio forçado
dentro do armário. Na cena seguinte, quando estão comendo todos juntos, o
som dos talheres e texturas é muito nítido, quase chamando mais atenção do
que o próprio diálogo que é estabelecido no momento.
A forma com que o filme constrói uma unidade espacial entre todos os
indivíduos e suas moradias é através de um som ambiente de uma obra, uma
serra elétrica que se mantém quase que constantemente durante a narrativa,
desde a primeira cena em que as crianças brincam, até praticamente o final do
filme. O som em alguns momentos leva o espectador a acreditar que algo vai
acontecer; ele aumenta criando um suspense, uma expectativa, mas se
interrompe bruscamente e o filme continua a se desenvolver sem grandes
surpresas. Isso pode-se relacionar com o medo constante dos personagens (e
porquê não das pessoas reais) que vivem numa cidade perigosa, presos em
suas próprias casas e contratando segurança para vigiar a rua, é um constante
suspense e medo de que algo aconteça.
Em outro momento, ainda do personagem João, ele mostra o
apartamento para uma possível proprietária e sua filha. Um grande silêncio
envolve a cena, os ruídos que o espectador consegue ouvir são apenas os
passos, o deslizar da porta da sacada que permite a entrada de alguns sons
externos. A filha ouve um menino jogar bola num muro de um terreno quando
ele pede a ela para jogar de volta. Ela não emite sons, apenas aponta para a
bola; o único contato daquelas pessoas com o "fora da bolha", com o mundo
exterior, é mudo, hesitante e completamente distante.
Ainda em outra cena da casa de Bia, um silêncio se faz quando ela se
preocupa por ter dado um calmante para o cachorro. Dessa vez quem late para
ele, é ela, tentando reanimá-lo. Uma quebra do silêncio se faz com a
campainha para a entrega de uma nova televisão. Numa próxima cena, Bia
fuma maconha escondida no quarto com o aspirador de pó ligado e uma
poluição sonora se faz e se intensifica com a imagem de um close do rosto
dela, da fumaça do cigarro e do barulho intenso do aspirador, quase que
demonstrando a agonia da própria personagem de ter uma forma de escape do
estresse ainda tão agonizante em meio a sua rotina. A construção da cena
chega a ser tão minuciosa que em certo ponto consegue-se imaginar que o
som do aspirador sai da boca dela ao invés do aparelho eletrodoméstico.
Um momento em que o som também interfere diretamente na narrativa é
quando João conversa com um amigo na cozinha da casa dele e no pequeno
monitor da câmera externa se ouve um bater de palmas do novo segurança da
rua. De início ambos ignoram o som e continuam a conversa, mas o som se
torna insistente e incomoda os dois quando eles decidem ir ver do que se trata.
O som no filme se permeia dessa forma, sendo quase incômodo, interferindo
às vezes diretamente na evolução dos acontecimentos, muito nítido em alguns
instantes possibilitando se ouvir pequeníssimos detalhes e antecipando
algumas coisas de próximas cenas, ambientando o espectador no que vai
acontecer e onde as coisas estão se passando.
Duas situações em que o som demonstra a separação de classes
naquele ambiente são as seguintes: a primeira em que Bia vai levar os filhos à
aula de inglês e os três entram no carro. Na rua um barulho dos garotos
jogando bola, falando alto, enquanto dentro do carro um silêncio abafado, com
apenas o suave ronco do motor ressoando. Bia chega a estourar a bola dos
meninos, terminando com aquele momento de diversão e eles dentro do carro
não conseguem nem ouvir o barulho, ela continua dirigindo e eles se afastam
daquela situação. Outro momento é quando uma moradora fala ao celular e é
abordada por um homem que oferece ajuda para carregar suas sacolas, ela
nega atenção, continua falando no celular e faz gesto de silêncio para ele, que
está ali naquele momento incomodando a sua tranquila existência. Ele com
raiva pega uma chave e risca o carro dela, o som se faz muito nítido fazendo o
espectador ter a aflição daquele atrito e sentir a intensidade do sentimento
dele.
O som que envolve os personagens seguranças da rua, Clodoaldo e
Fernando, principalmente, que têm destaque no filme, é um som sempre de
objetos externos, carros, pneus cantando, chuva, sirenes e buzinas. Eles não
têm relação com um ambiente interno, não se ouve junto a eles nenhum som
de talheres, copos ou lençóis, como se ouve com os outros personagens. Estes
seguranças chegam trazendo tranquilidade para alguns moradores, mas
tensão para outros, principalmente àqueles com mais poder no bairro, que
questionam a presença destes.
Os únicos momentos em que o som se faz um pouco diferente, que o
filme é trazido levemente para fora daquele bairro, são quando Francisco dá
um mergulho noturno na praia e o som das ondas é muito alto, forte, diferente
de tudo que tinha se ouvido até o momento no filme e une-se posteriormente
com um som da chuva que aparece na cena com os seguranças. Na segunda
situação é quando João e Sofia vão visitar uma antiga fazenda em que ela
morava, isolada no interior. Neste ambiente há sons de pássaros, vento, folhas
e até uma intervenção sonora quando o casal encontra um cinema
abandonado e se imagina assistindo a um filme de terror, e um som não-
diegético (que é recurso raro neste filme) toma conta da cena. Nesse ambiente
também o som de pequenos movimentos, talheres, comidas, se faz muito nítido
e alguns sons muito diferentes também aparecem, como algumas crianças que
fazem exercício vocal numa escola próxima da fazenda.
Já nas cenas finais, um paralelo se constrói entre as bombinhas que Bia
arma para o cachorro se assustar e parar de latir, e a conversa dos seguranças
com Francisco. Nesse diálogo descobre-se que alguém matou um grande
amigo de Francisco e ele pede ajuda para os seguranças por medo de ser uma
vingança. Uma tensão vai aumentando e Clodoaldo revela que ele matou seu
pai e seu tio, os três personagens se levantam e quando o conflito vai
acontecer a cena vai para as bombinhas de Bia e elas estouram e se
assemelham muito com um som de tiro de revólver, fazendo assim um
suspense sobre o que aconteceu depois daquele diálogo entre os três.
Em geral, O som ao redor mantém como prioridade sonora a ambiência
e as relações desta com os personagens da trama, trazendo rimas sonoras,
confusões para o espectador que vez ou outra não identifica qual é o som que
está a ouvir e de onde ele vem. Os diálogos são muito limpos, são poucos. O
som chama atenção o tempo todo no filme, interfere nas ações e tem ligação
direta com cada realidade de cada personagem que aparece. O som diz muito
neste filme quando ligado à imagem, mas também diz muito sozinho.
Referências:

Adriano Medeiros da Rocha. A busca de sons ao redor: uma análise fílmica


auditiva. Revista de Audiovisual. Ouro Preto. Sala 206, nº 3, dez/2013.
<http://repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/6187/1/ARTIGO_BuscaSonsRe
dor.pdf> Acesso em 21.11.17.

Elder Dias. "O som ao redor" é o Brasil acontecendo. Revista Bula.


<http://www.revistabula.com/84-o-som-ao-redor-e-o-brasil-acontecendo/>
Acesso em 20.11.17.

Hermes Leal. "O som ao redor" e o cinema de estética. Revista de Cinema


UOL. Janeiro de 2013. <http://revistadecinema.uol.com.br/2013/01/o-som-ao-
redor-e-o-cinema-de-estetica/> Acesso em 21.11.17.

João Gabriel Paixão. O som ao redor ou o naturalismo à brasileira.


Contracampo Revista de Cinema. Novembro de 2012.
<http://www.contracampo.com.br/99/pgosomaoredor.htm> Acesso em
21.11.17.

SALGADO, Lucas. O Som ao Redor, a força do silêncio. Crítica no site


Adorocinema <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-202700/criticas-
adorocinema/> Acesso em 20.11.17

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