Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
_____
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
EMENTA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
VOTOS
inciso XVIII;
VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para contratação
e administração de pessoal sob regime da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, de forma a assegurar a preservação dos mais elevados e
rigorosos padrões de atendimento à população;
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do IHBDF deve ser
conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da
economicidade e da eficiência, nos termos do regulamento próprio a ser
editado pelo Conselho de Administração;
X - o contrato de gestão confere ao IHBDF poderes para fixar níveis de
remuneração para o pessoal da entidade, em padrões compatíveis com os
respectivos mercados de trabalho, segundo o grau de qualificação exigido e
os setores de especialização profissional;
XI - é vedado ao IHBDF ceder, total ou parcialmente, em caráter
permanente ou temporário, a qualquer título, seus empregados para o
Poder Público ou entidade privada;
XII - as aquisições, alienações e contratações pelo IHBDF são realizadas
conforme seu regulamento próprio de compras e contratações, aprovado
pelo Conselho de Administração, observados:
a) os princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da
economicidade e da eficiência;
b) o princípio do julgamento objetivo;
c) o julgamento das propostas feito de acordo com os critérios fixados no
edital;
d) a igualdade de condições entre todos os fornecedores;
e) a garantia ao contraditório e à ampla defesa;
XIII - o contrato de gestão pode ser modificado de comum acordo no curso
de sua execução, inclusive para incorporar ajustes aconselhados pela
supervisão ou pela fiscalização;
XIV - o IHBDF apresenta anualmente à Secretaria de Estado de Saúde e ao
TCDF, até 31 de março de cada ano, relatório circunstanciado sobre a
execução do plano no exercício findo, com a prestação de contas dos
recursos públicos nele aplicados, a avaliação do andamento do contrato e
as análises gerenciais cabíveis;
XV - no prazo de 30 dias, a Secretaria de Estado de Saúde apresenta
parecer sobre o relatório do IHBDF ao TCDF, que julga a respectiva
DA INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Os partidos políticos autores asseveram que há vícios no processo
legislativo que resultou na edição do diploma impugnado. Sustentam que a Lei
5.899/2017 afronta os seguintes dispositivos da LODF:
complexidade e magnitude."
.....................................................................
E) "Art. 131. As isenções, anistias, remissões, benefícios e incentivos fiscais
que envolvam matéria tributária e previdenciária, inclusive as que sejam
objeto de convênios celebrados entre o Distrito Federal e a União, Estados
e Municípios, observarão o seguinte:
I - só poderão ser concedidos ou revogados por meio de lei específica,
aprovada por dois terços dos membros da Câmara Legislativa, obedecidos
os limites de prazo e valor;"
1
Art. 53. São Poderes do Distrito Federal, independentes e harmônicos entre si, o Executivo e o Legislativo.
§ 1º É vedada a delegação de atribuições entre os Poderes.
§ 2º O cidadão, investido na função de um dos Poderes, não poderá exercer a de outro, salvo as exceções
previstas nesta Lei Orgânica.
2
Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado ao Governador que, aquiescendo, o
sancionará e promulgará.
(...)
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da Constituição Federal, o veto será
incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições até a sua votação final, só
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados, em votação ostensiva.
Presidencial:
quanto à apreciação dos vetos executivos, lei tal mora ensejará tão somente a
obrigatoriedade da apreciação cronológica dos vetos apostos e não do
engessamento da agenda legislativa, razão pela qual inexistente a
inconstitucionalidade apontada.
No que tange a alegada inobservância de normas regimentais pela
Casa Legislativa, assinalo que é firme o entendimento desta e. Casa e do Supremo
Tribunal Federal no sentido de que não cabe ao Poder Judiciário, a pretexto de
realizar o controle de atos legislativos, imiscuir-se em matérias interna corporis, sob
pena de violação ao princípio da separação dos Poderes, senão vejamos:
Direta ou Indireta, tais entes não estão obrigados a atuar como entidades da
Administração, ou seja, não se vinculam ao regime jurídico de direito público.
Assim, os serviços sociais autônomos não de modo que tanto as contratações de
pessoal, bem como a aquisição de produtos e/ou serviços não se subordinam às
regras de contratação de pessoal, bem como ao regime de licitações e contratos
administrativos.
Sobre o tema, Alexandre Santos de Aragão3preleciona que:
3
Aragão, Alexandre dos Santos de. Curso de direito administrativo - Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 138.
4
Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras, alienações e serviços da administração serão
contratados mediante processo de licitação pública, nos termos da lei.
5
Art. 28. É vedada a contratação de obras e serviços públicos sem prévia aprovação do respectivo projeto, sob
pena de nulidade do ato de contratação.
6
Art. 22. Os atos da administração pública de qualquer dos Poderes do Distrito Federal, além de obedecer aos
princípios constitucionais aplicados à administração pública, devem observar também o seguinte:
(...)
§ 3º Os Poderes do Distrito Federal mandarão publicar, mensalmente, nos respectivos sítios oficiais na internet,
demonstrativo de todas as despesas realizadas por todos os seus órgãos, de forma clara e compreensível ao
cidadão, inclusive os da administração indireta, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
mantidas pelo Poder Público, com a discriminação do beneficiário, do valor e da finalidade, conforme dispuser
a lei
7
8
Art. 151. São vedados:
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia
inclusão no plano plurianual ou sem lei que autorize sua inclusão, sob pena de crime de responsabilidade.
5.899/2017 traz hipótese de isenção fiscal, motivo pelo qual deveria ter sido
aprovada com quorum de 2/3 dos membros, consoante estabelecido no artigo 131, I,
da LODF, melhor sorte não assiste aos demandantes.
Preleciona o artigo 10 da Lei impugnada:
Art. 10. O IHBDF deve pleitear:
9
MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO. Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 961.
10
In Comentário Contextual à Constituição, 6ª edição, Editora Malheiros, pág. 538.
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
O vício material ocorre quando um ato normativo afronta qualquer
preceito ou princípio da Lei Orgânica (ou da Constituição Federal), motivo pelo qual
deve ser declarado inconstitucional.
PONTO I - DESRESPEITO AO ART. 3º, I E IV, DA LODF
O PMDB/DF a alega que a lei impugnada viola o art. 3º, I e IV, da Lei
Orgânica, porquanto, em última análise, impede a promoção dos direitos humanos e
o bem de todos.
O art. 3º, I e V, da LODF, estabelece que são objetivos prioritários do
Distrito Federal "garantir e promover os direitos humanos assegurados na
Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos; e "promover
o bem de todos".
Ora, o novo modelo de gestão implantado pela lei impugnada, sem
tecer comentários sobre o seu acerto ou desacerto, foi uma solução encontrada pelo
Administrador para melhorar a prestação do serviço de saúde a fim de atender aos
anseios da população mais carente, que clama por um atendimento mais eficiente
do Sistema de Saúde Público do Distrito Federal, o que se traduz justamente em "
garantir e promover os direitos humanos e promover o bem de todos".
PONTO II - VIOLAÇÃO AO ART. 16, II, e 204, II, § 2º, DA LODF
O PMDB/DF argumenta que foram violados os art. 16, II, e 204, da
LODF, porquanto há transferência da administração de bens públicos do Hospital de
Base do Distrito Federal a particular.
Eis o teor das normas tidas por afrontadas:
disposições:
I - o Poder Executivo, por intermédio da Secretada de Estado
de Saúde, celebra contrato de gestão com o IHBDF, para o
cumprimento das finalidades previstas nesta Lei;
(...)
VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para
contratação e administração de pessoal sob regime da
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, de forma a
assegurar a preservação dos mais elevados e rigorosos
padrões de atendimento à população;
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do
IHBDF deve ser conduzido de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios da publicidade, da
impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da
eficiência, nos termos do regulamento próprio a ser editado
pelo Conselho de Administração;
X - o contrato de gestão confere ao IHBDF poderes para fixar
níveis de remuneração para o pessoal da entidade, em padrões
compatíveis com os respectivos mercados de trabalho,
segundo o grau de qualificação exigido e os setores de
especialização profissional;
(...)
XII - as aquisições, alienações e contratações pelo IHBDF são
realizadas conforme seu regulamento próprio de compras e
contratações, aprovado pelo Conselho de Administração,
observados:
a) os princípios da publicidade, da impessoalidade, da
moralidade, da economicidade e da eficiência;
b) o princípio do julgamento objetivo;
c) o julgamento das propostas feito de acordo com os critérios
fixados no edital;
d) a igualdade de condições entre todos os fornecedores;
e) a garantia ao contraditório e à ampla defesa;
11
ADI 1923, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 16/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-254 DIVULG 16-12-2015 PUBLIC 17-12-2015.
PONTO VII - VIOLAÇÃO AOS ART. 149, §§7º E 8º, E 151, I, §1º,
DA LODF
O PMDB/DF sustenta que os recursos públicos destinados ao
IHBDF não estão contemplados na Lei Orçamentária, o que está em confronto com
o art. 149, §§7º e 8º, e 151, I, §1º, da LODF.
Confira-se o teor das normas tidas por violadas:
ser feitas:
I - se houver autorização específica na lei de diretrizes
orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
sociedades de economia mista;
II - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para
atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos
dela decorrentes.
DA CONSENSUALIDADE E DA PARTICIPAÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 175, CAPUT, DA
CONSTITUIÇÃO. EXTINÇÃO PONTUAL DE ENTIDADES
PÚBLICAS QUE APENAS CONCRETIZA O NOVO MODELO.
INDIFERENÇA DO FATOR TEMPORAL. INEXISTÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AO DEVER CONSTITUCIONAL DE LICITAÇÃO
(CF, ART. 37, XXI). PROCEDIMENTO DE QUALIFICAÇÃO
QUE CONFIGURA HIPÓTESE DE CREDENCIAMENTO.
COMPETÊNCIA DISCRICIONÁRIA QUE DEVE SER
SUBMETIDA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA
PUBLICIDADE, MORALIDADE, EFICIÊNCIA E
IMPESSOALIDADE, À LUZ DE CRITÉRIOS OBJETIVOS (CF,
ART. 37, CAPUT). INEXISTÊNCIA DE PERMISSIVO À
ARBITRARIEDADE. CONTRATO DE GESTÃO. NATUREZA
DE CONVÊNIO. CELEBRAÇÃO NECESSARIAMENTE
SUBMETIDA A PROCEDIMENTO OBJETIVO E IMPESSOAL.
CONSTITUCIONALIDADE DA DISPENSA DE LICITAÇÃO
INSTITUÍDA PELA NOVA REDAÇÃO DO ART. 24, XXIV, DA
LEI DE LICITAÇÕES E PELO ART. 12, §3º, DA LEI Nº
9.637/98. FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO.
OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE,
DA PUBLICIDADE, DA EFICIÊNCIA E DA MOTIVAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO PARA OS
CONTRATOS CELEBRADOS PELAS ORGANIZAÇÕES
SOCIAIS COM TERCEIROS. OBSERVÂNCIA DO NÚCLEO
ESSENCIAL DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA (CF, ART. 37, CAPUT). REGULAMENTO PRÓPRIO
PARA CONTRATAÇÕES. INEXISTÊNCIA DE DEVER DE
REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO PARA
CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS. INCIDÊNCIA DO
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IMPESSOALIDADE,
ATRAVÉS DE PROCEDIMENTO OBJETIVO. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DOS
SERVIDORES PÚBLICOS CEDIDOS. PRESERVAÇÃO DO
REGIME REMUNERATÓRIO DA ORIGEM. AUSÊNCIA DE
SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PARA O
PAGAMENTO DE VERBAS, POR ENTIDADE PRIVADA, A
12
ADI 1923, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 16/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-254 DIVULG 16-12-2015 PUBLIC 17-12-2015.
MÉRITO
da Lei 5.899/2017).
A administração pública federal, estadual e municipal têm instituído
serviços sociais autônomos como forma de organização da gestão de atividades
próprias. Assim demonstrou o Governador do Distrito Federal em sua manifestação
nos autos da ADI 2017.00.2.013758-5. Confira-se:
indireta.
I) O art. 80 da LODF refere-se à manutenção e sistemas integrados
de controle interno, pelos Poderes Legislativo e Executivo. Bem se vê, pois, que a
norma se dirige à Administração Pública, razão pela qual não procede a alegação de
que o art. 22, inciso XIV da Lei 5.899/2017 se mostra inconstitucional ao prever
somente o controle externo.
J) Improcedente, também, é a alegação de inconstitucionalidade da
Lei 5.899/2017, frente ao art. 149, § 7° e 8o da LODF. Com efeito, os dispositivos
dados como afrontados referem-se à lei orçamentária. Nos termos da lei impugnada
os recursos orçamentários do IHBDF serão aqueles destinados atualmente à
unidade Hospital de Base do Distrito Federal, da Secretaria de Estado de Saúde do
Governo do DF (art. 13 da Lei 5.899/2017). E, depois de ser implementado o
orçamento-programa do IHBDF para execução das atividades previstas no contrato
de gestão, deve tal orçamento ser submetido anualmente à Secretaria de Estado de
Saúde (art. 2º, inciso V, da Lei 5.899/2017).
L) Com a mesma argumentação lançada no item anterior afasta-se a
suposta inconstitucionalidade do art. 151, inciso I, § 1º da LODF que tratam de
vedação ao início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual,
ou que ultrapassem um exercício financeiro sem prévia inclusão no plano plurianual
ou sem lei autorizadora.
M) O art. 157, § 1º, e seus incisos I e II, da LODF, estabelecem que
deve ser observada a lei de diretrizes orçamentárias e a existência de prévia
dotação orçamentária para a concessão de vantagem ou aumento de remuneração
na Administração Pública. Como já fora dito por mais de uma vez, o IHBDF é um
serviço social autônomo, pessoa jurídica de direito privado, de sorte que não se
encontra sob o foco luminoso do art. 157, § 1º, incisos I e II, da LODF. Aqui também
não se vislumbra inconstitucionalidade.
N) A alegação de que a transformação do HBDF em instituto de
personalidade jurídica de direito privado foi uma maneira de burlar o art. 186, I, da
LODF não prospera. Com efeito, já restou assentado neste voto que a Lei
impugnada autorizou o Poder Executivo a criar o serviço social autônomo Instituto
Hospital de Base do Distrito Federal sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de
utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência médica qualificada e gratuita
à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e gestão no campo da
saúde, em cooperação com o Poder Público. Como se vê, não se cuida de
privatização nem de extinção de empresa pública ou de sociedade de economia
mista. Ademais, aadministração pública federal, estadual e municipal têm instituído
2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF, art. 209,
caput), cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e
tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram
serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao
mencionar que "são deveres do Estado e da Sociedade" e que são
"livres à iniciativa privada", permite a atuação, por direito próprio, dos
particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder
público, de forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da
Constituição.
3. A atuação do poder público no domínio econômico e social pode ser
viabilizada por intervenção direta ou indireta, disponibilizando utilidades
materiais aos beneficiários, no primeiro caso, ou fazendo uso, no segundo
caso, de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares executem
atividades de interesses públicos através da regulação, com coercitividade,
ou através do fomento, pelo uso de incentivos e estímulos a
comportamentos voluntários.
4. Em qualquer caso, o cumprimento efetivo dos deveres constitucionais de
atuação estará, invariavelmente, submetido ao que a doutrina
contemporânea denomina de controle da Administração Pública sob o
ângulo do resultado (Diogo de Figueiredo Moreira Neto).
5. O marco legal das Organizações Sociais inclina-se para a atividade de
fomento público no domínio dos serviços sociais, entendida tal atividade
como a disciplina não coercitiva da conduta dos particulares, cujo
desempenho em atividades de interesse público é estimulado por sanções
premiais, em observância aos princípios da consensualidade e da
participação na Administração Pública.
6. A finalidade de fomento, in casu, é posta em prática pela cessão de
recursos, bens e pessoal da Administração Pública para as entidades
privadas, após a celebração de contrato de gestão, o que viabilizará o
direcionamento, pelo Poder Público, da atuação do particular em
consonância com o interesse público, através da inserção de metas e
de resultados a serem alcançados, sem que isso configure qualquer
forma de renúncia aos deveres constitucionais de atuação.
7. Na essência, preside a execução deste programa de ação institucional a
lógica que prevaleceu no jogo democrático, de que a atuação privada pode
ser mais eficiente do que a pública em determinados domínios, dada a
agilidade e a flexibilidade que marcam o regime de direito privado.
[1] Odete Medauar. Direito Administrativo Moderno. 1 I ed. São Paulo: Editora RT.
p. 96, grifou-se.
destaca o MPDFT, "O ato normativo apenas altera a forma de gestão de uma das
unidades de saúde da rede pública do Distrito Federal na busca de melhorias e
eficiência na prestação dos serviços à população".
Sustenta-se, ainda, que é patente a inconstitucionalidade da lei no
ponto em que institui vantagens remuneratórias e autoriza a contratação de pessoal
sem autorização específica na Lei de Diretrizes Orçamentárias e sem prévia
aprovação em concurso público.
O tema é objeto dos arts. 2° e 14 da Lei distrital n° 5.899/2017,
verbis:
"Art. 2º Compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar a
gestão do IHBDF, observadas as seguintes normas e disposições:
(...)
VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para
contratação e administração de pessoal sob regime da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, de forma a assegurar a preservação dos mais elevados e rigorosos
padrões de atendimento à população;
(...)
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do IHBDF
deve ser conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da
eficiência, nos termos do regulamento próprio a ser editado pelo Conselho de
Administração;
X - o contrato de gestão confere ao IHBDF poderes para fixar níveis
de remuneração para o pessoal da entidade, em padrões compatíveis com os
respectivos mercados de trabalho, segundo o grau de qualificação exigido e os
setores de especialização profissional;
Art. 14. O IHBDF fica dispensado do processo seletivo a que se
refere o art. 2º, IX, para contratação de servidores do quadro da Secretaria de
Estado de Saúde lotados na unidade denominada HBDF, ativos ou aposentados,
pelo prazo de 180 dias de sua instalação.
Parágrafo único. Podem ser destinados, na primeira admissão de
trabalhadores para o IHBDF, até 30% das vagas para contratação, em regime
celetista, de candidatos aprovados em concurso público atualmente vigente para os
cargos efetivos da Secretaria de Estado de Saúde, independentemente de processo
seletivo, sem prejuízo de eventual nomeação para cargo público".
O colendo STF examinou a questão no bojo da ADI n° 1864/PR:
(fls. 311-320).
Parecer da Procuradoria de Justiça (às fls. 322-333v) pela
improcedência das ações diretas de inconstitucionalidade interpostas.
O d. Relator determinou o apensamento dos presentes autos aos da
ADI 2017.00.2.013822-5 para julgamento conjunto.
É o breve relatório.
Ante a similitude das objeções trazidas em ambas as ações diretas
de inconstitucionalidade, passo a analisá-las conjuntamente.
De pronto,afasto a preliminar de extinção do feito trazida pela
Câmara Legislativa do DF em razão de ausência de procuração com poderes
específicos, haja vista a presença de documento de representação processual com
os poderes específicos às fls. 258 e 260/261.
Das Inconstitucionalidades Formais
No que alude à alegada inconstitucionalidade formal, consistente na
deliberação do ato normativo malgrada existência de vetos pendentes de
apreciação, ensejando ofensa aos artigos 5313 e 74, §5º14 da LODF, sem razão os
demandantes.
Consoante entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal
Federal, quando da apreciação do trancamento da pauta legislativa decorrente da
inércia deliberatis das medidas provisórias (MS 27931/DF) restou estabelecido que
interpretação dada pelo Poder Legislativo ao art. 62, §6º, da CRFB, é no sentido de
reduzir teleologicamente o alcance do trancamento de pauta ali previsto para
alcançar somente projetos de lei ordinária que veiculem matéria suscetível de
disciplina pela mesma proposição legislativa, qual seja, medida provisória.
13
Art. 53. São Poderes do Distrito Federal, independentes e harmônicos entre si, o Executivo e o Legislativo.
§ 1º É vedada a delegação de atribuições entre os Poderes.
§ 2º O cidadão, investido na função de um dos Poderes, não poderá exercer a de outro, salvo as exceções
previstas nesta Lei Orgânica.
14
Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado ao Governador que, aquiescendo, o
sancionará e promulgará.
(...)
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da Constituição Federal, o veto será
incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições até a sua votação final, só
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados, em votação ostensiva.
público.
Contudo, pelo fato de trabalharem com verbas de natureza pública,
tais entidades se submetem ao controle do Poder Público, controle de natureza
finalístico e de prestação de contas dos valores recebidos para sua manutenção.
Tais entidades devem, ainda, observância aos princípios que orientam a
Administração Pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência).
Destarte, em razão da natureza dos serviços sociais autônomos, que
é ente de cooperação com o Poder Público e não de entidade da Administração
Direta ou Indireta, tais entes não estão obrigados a atuar como entidades da
Administração, ou seja, não se vinculam ao regime jurídico de direito público.
Assim, os serviços sociais autônomos não de modo que tanto as contratações de
pessoal, bem como a aquisição de produtos e/ou serviços não se subordinam às
regras de contratação de pessoal, bem como ao regime de licitações e contratos
administrativos.
Sobre o tema, Alexandre Santos de Aragão15preleciona que:
15
Aragão, Alexandre dos Santos de. Curso de direito administrativo - Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 138.
16
Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras, alienações e serviços da administração serão
contratados mediante processo de licitação pública, nos termos da lei.
17
Art. 28. É vedada a contratação de obras e serviços públicos sem prévia aprovação do respectivo projeto, sob
pena de nulidade do ato de contratação.
18
Art. 22. Os atos da administração pública de qualquer dos Poderes do Distrito Federal, além de obedecer aos
princípios constitucionais aplicados à administração pública, devem observar também o seguinte:
(...)
§ 3º Os Poderes do Distrito Federal mandarão publicar, mensalmente, nos respectivos sítios oficiais na internet,
demonstrativo de todas as despesas realizadas por todos os seus órgãos, de forma clara e compreensível ao
cidadão, inclusive os da administração indireta, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
mantidas pelo Poder Público, com a discriminação do beneficiário, do valor e da finalidade, conforme dispuser
a lei
19
20
Art. 151. São vedados:
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia
inclusão no plano plurianual ou sem lei que autorize sua inclusão, sob pena de crime de responsabilidade.
149, § 7°, e 151, § 1º, ambos da LODF. Esses dispositivos referem-se à lei
orçamentária. A lei impugnada prevê que os recursos orçamentários do IHBDF serão
aqueles destinados atualmente ao Hospital de Base do Distrito Federal, que se
submetem anualmente à Secretaria de Estado de Saúde (art. 2º, inciso V, da Lei
5.899/2017).
Não há afronta ao art. 204, § 2º, da LODF, pois IHBDF não será o
resultado da criação de uma entidade privada, conforme se alega na impugnação,
mas um serviço social autônomo, com modelo de gestão submetido ao controle da
Secretaria de Saúde.
Portanto, não há paradigma de confronto que ampare o pedido de
declaração de inconstitucionalidade das presentes ADIs.
Pelo exposto, ausente ofensa à LODF, julgo improcedente o pedido.
É como voto.
DECISÃO