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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : CONSELHO ESPECIAL


Classe : AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE
N. Processo : 20170020138225ADI
(0014729-69.2017.8.07.0000)
Requerente(s) : PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO
BRASILEIRO - PMDB-DF E OUTROS
Requerido(s) : GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL E
OUTROS
Relator : Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA
Acórdão N. : 1064789

EMENTA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


DISTRITAL Nº 5.899, DE 03 DE JULHO DE 2017 -
A U T ORIZAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DO INSTI T U T O
HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL. VÍCIOS NO
PROCESSO LEGISLATIVO - VIOLAÇÕES AO ART. 19,
INCISO XVIII, ALÍNEAS "A" E "B", §§ 7º E 13; ART. 33, § 1º;
ART. 74 § 5º; ART.109 E ART.131, INCISO I, TODOS DA LEI
ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL. AUSÊNCIA DE VÍCIOS
FORMAIS NO DIPLOMA LEGAL IMPUGNADO -
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL - DESOBEDIÊNCIA
AO DISPOSTO NO ART. 3º, INCISOS I, II, III E IV; ART. 16,
INCISO II, ART. 19, INCISOS II, IX; ART. 22, § 3, ART. 26;
ART. 28; ART. 53; ART. 60, INCISO XVI; ART. 80; ART. 149,
§§ 7º E 8º; ART. 151, INCISO I, § 1º; ART. 157, § 1º, INCISOS
I E II; ART. 186, INCISO I, ART. 204, INCISO II, § 2º E ART.
214, TODOS OS ANTERIORES DA LODF.
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL NÃO DETECTADA.
IMPROCEDÊNCIA.
A Lei 5.899/2.017 não trata de privatização nem de extinção de
empresa pública ou de sociedade de economia mista; não
institui regime único ou planos de carreira para servidores da
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administração pública direta, autarquias e fundações públicas,


e não rege matéria de isenção tributária. Assim, rejeitam-se as
alegações de que a lei impugnada viola os artigos 19, §§ 7º e
13; 33, § 1º, e 131, inciso I, da Lei Orgânica do Distrito Federal.
A existência de vetos pendentes de exame e o alegado
descumprimento de normas regimentais não configuram afronta
ao art. 74, § 5º, da LODF, eis que a decisão acerca da
necessidade de deliberação do projeto de lei é matéria que se
circunscreve ao âmbito interno do Parlamento e, portanto,
imune a crítica pelo Poder Judiciário (precedentes).
Desnecessário o pronunciamento do Conselho de Governo na
espécie, uma vez que a Lei 5.899/2017 não põe em risco a
estabilidade das instituições, nem trata de problemas
emergentes de grave complexidade e magnitude. Violação ao
art. 109 da Lei Orgânica do Distrito Federal não configurada.
Se o PL 1486/2017 teve por objeto a autorização para a criação
do Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, e sendo essa
a matéria regulada pela Lei 5.899/2017, não há que se falar em
impertinência temática ao objeto inicial da proposição
legislativa.
Improcedência das alegações de inconstitucionalidade formal.
Se a tese de que a lei impugnada afronta a LODF está
fundamentada na alegação de vício formal não demonstrado,
arreda-se a suposta violação ao art. 53 da Lei Orgânica do
Distrito Federal.
A Lei 5.899/2017 confere uma autorização para o Poder
Executivo criar o serviço social autônomo Instituto Hospital de
Base do Distrito Federal - IHBDF, pessoa jurídica de direito
privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade
pública, com o objetivo de prestar assistência médica
qualificada e gratuita à população e de desenvolver atividades
de ensino, pesquisa e gestão no campo da saúde, em
cooperação com o Poder Público. A administração pública
federal, estadual e municipal têm instituído serviços sociais
autônomos como forma de organização da gestão de
atividades próprias. O Supremo Tribunal Federal reconheceu a
possibilidade de instituição de Serviços Sociais Autônomos,
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como pessoa jurídica de direito privado criada para fins de


prestação de serviços públicos de cooperação com o Estado,
inclusive, para atuar na prestação de assistência médica
qualificada (ADI 1.864/PR e RE 789874).
O objetivo legal da lei impugnada é a prestação de assistência
médica qualificada e gratuita à população e o desenvolvimento
de atividades de ensino, pesquisa e gestão no campo da
saúde, em cooperação com o Poder Público. O IHBDF é
incumbido de administrar os bens móveis e imóveis que
compõem o patrimônio da unidade da Secretaria de Estado de
Saúde de denominação correlata (art. 4º da Lei 5.899/2017).
Portanto, a lei impugnada não representa afronta aos objetivos
prioritários do Distrito Federal previstos nos incisos I a IV, do
art. 3º, da LODF, nem contraria o disposto no art. 16, inciso II,
da Lei Orgânica do Distrito Federal, quanto à conservação do
patrimônio público.
Os Serviços Sociais Autônomos não integram a administração
pública direta ou indireta, de sorte que não se submetem aos
regramentos constantes dos artigos 19, incisos II e IX; 22, § 3º;
26; 28; 60, inciso XIV, 80, 149, §§ 7º e 8º, 151, inciso I, 157, §
1º, incisos I e II, 186, inciso I, 204, § 2º e 214, todos da Lei
Orgânica do Distrito Federal.
Inconstitucionalidades materiais não constatadas.
Demonstrado que o diploma legal não padece dos vícios
formais ou materiais alegados, julgam-se improcedentes os
pedidos formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do CONSELHO


ESPECIAL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, ROMÃO C.
OLIVEIRA - Relator, CARMELITA BRASIL - 1º Vogal, CRUZ MACEDO - 2º Vogal,
WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - 3º Vogal, HUMBERTO ULHÔA - 4º Vogal,
J.J. COSTA CARVALHO - 5º Vogal, SANDRA DE SANTIS - 6º Vogal, ANA MARIA
AMARANTE - 7º Vogal, JOSÉ DIVINO - 8º Vogal, ROBERVAL CASEMIRO
BELINATI - 9º Vogal, SÉRGIO ROCHA - 10º Vogal, ARNOLDO CAMANHO - 11º
Vogal, FERNANDO HABIBE - 12º Vogal, SIMONE LUCINDO - 13º Vogal,
TEÓFILO CAETANO - 14º Vogal, JOÃO BATISTA TEIXEIRA - 15º Vogal,
GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA - 16º Vogal, GETÚLIO DE MORAES
OLIVEIRA - 17º Vogal, MARIO MACHADO - 18º Vogal, sob a presidência do
Senhor Desembargador MARIO MACHADO, em proferir a seguinte decisão:
JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 21 de Novembro de 2017.

Documento Assinado Eletronicamente


ROMÃO C. OLIVEIRA
Relator

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RELATÓRIO

Senhor Presidente, cuida-se de ADI ajuizada pelo Partido do


Movimento Democrático Brasileiro – PMDB/DF, sustentando a inconstitucionalidade
formal e material da Lei Distrital nº 5.899, de 03 de julho de 2017, que autorizou o
Poder Executivo a criar o Instituto Hospital de Base do Distrito Federal.
1. Alega o autor que a matéria deveria ter sido veiculada em Projeto
de Lei Complementar, pois trata de isenção tributária. Argumenta que o PL
1.486/2017 foi aprovado sem a observância de quorum especial previsto nos artigos
19, § 7º e 131, inciso I, ambos da Lei Orgânica do Distrito Federal, que estabelecem
a necessidade de aprovação por dois terços dos membros da Câmara Legislativa
para a privatização de empresa pública e para a concessão de benefícios fiscais,
respectivamente. Ademais, o § 13º do art. 19 da LODF não admite a privatização da
gestão administrativa de órgão da administração pública.
2. Argumenta que a lei impugnada viola o inciso II do art. 16 e o § 2º
do art. 204, ambos da LODF, na medida em que transfere a administração dos bens
públicos do HBDF ao particular.
3. Assevera que a transformação do HBDF em instituto de
personalidade jurídica de direito privado foi uma maneira de burlar o disposto no art.
186 e seu inciso I, da LODF, pois, segundo estes dispositivos, os serviços de saúde
devem ser prestados diretamente pelo Poder Público e excepcionalmente sob o
regime de concessão ou permissão, sempre por meio de licitação.
4. Sustenta que ao transferir a gestão do orçamento anual da
Secretaria de Saúde e do Fundo de Saúde do Distrito Federal, o diploma legal
hostilizado contrariou o § 3º do art. 22, da LODF, que exige a publicação mensal das
despesas realizadas por todos os órgãos públicos.
5. Segundo o autor da ADI, a Lei nº 5.899/2017 mitiga a fiscalização
e o controle realizados pela Câmara Legislativa, nos termos do art. 60, XVI, e
desrespeita a forma de controle interno exigido no art. 80, ambos da LODF.
6. Salienta que a previsão constante no inciso VII do art. 2º da Lei
impugnada, no sentido de que os recursos públicos serão gastos como entender a
pessoa jurídica de direito privado, afronta diretamente os artigos 26 e 28 da LODF.
Ademais, a Lei 5.899, de 03 de julho de 2017, viola a regra do concurso público e,
ao tratar de matérias relacionadas a servidores públicos, malfere os artigos 19,
incisos II e IV, e 33, § 1º, ambos da LODF. Acrescenta que o IHBDF será gerido
integralmente por recursos públicos, contudo, essa ação governamental não foi

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contemplada na Lei orçamentária, contrariando os §§ 7º e 8º do art. 149 da Lei


Orgânica do Distrito Federal.
7. Destaca que a previsão de duração do contrato de gestão por
vinte anos (art. 2º, IV, da Lei 5.899, de 03 de julho de 2017) deixou de observar a
vedação do art. 151, inciso I, § 1º da LODF. Afirma, ainda, que em ultima ratio, a Lei
arrostada nesta ADI viola o art. 3º, incisos I e IV da LODF, pois impede a promoção
dos direitos humanos e o bem de todos.
8. Prossegue aduzindo que a Lei 5.899/2017 alberga situação de
“impertinência temática ao objeto inicial do projeto de lei. Aponta vícios
procedimentais e de competência e verbera que somente uma lei complementar
poderia transferir os recursos da Secretaria de Saúde para uma entidade privada,
nos termos do art. 163 da Lei Orgânica do Distrito Federal.
9. O autor aponta violações ao Regimento Interno da Câmara
Legislativa na tramitação do PL 1.486 de 2017, convertido na Lei 5.899/201.
Sustenta que restou malferido ao art. 74, § 5º da LODF, porquanto a deliberação e a
aprovação do projeto de lei se deram quando havia 153 vetos do Governador
pendentes de exame pela Câmara Legislativa.
Pede a concessão de medida cautelar, argumentando que a Lei nº
5.899, de 03 de julho de 2017, entrou em vigor na data de sua publicação, sem
estabelecer uma vacatio legis e já contempla prazos curtíssimos para a
implementação do IHBDF, privatizando um patrimônio público no prazo de 90 dias,
conforme se verifica no art. 2º, inciso XV, da Lei 5.899/2017.
Ao final, requer que o Relator submeta ao Eg. Conselho Especial,
inaudita altera pars, o pedido de liminar, nos termos do § 3º do art. 10 e §§ 1º e 2º da
Lei nº 9.868/99, para suspender a eficácia da Lei Distrital nº 5.899, de 03 de julho de
2017.
O autor carreou para os autos procuração com poderes específicos
para atacar a norma impugnada (fls. 196/197).
Considerando a relevância da matéria e o especial significado para
a ordem social e a segurança jurídica imprimi ao feito o rito preconizado pelo art. 12
da Lei 9.869/99 (fls. 199/203).
A Mesa Diretora da Câmara Legislativa, preliminarmente, pede a
extinção do feito, alegando irregularidade do instrumento de mandato. No mérito,
pugna pela improcedência do pedido, a fundamento de que a Lei 5.899, de
03.07.2017, autorizou o Poder Executivo a criar o Instituto Hospital de Base do
Distrito Federal – IHBDF como serviço social autônomo, cuja natureza jurídica de
pessoa jurídica de direito privado, afasta as alegadas inconstitucionalidades. Afirma

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que é legítimo no ordenamento jurídico brasileiro a instituição por lei do Poder


Executivo, de pessoa jurídica de direito privado, com a natureza jurídica de Serviço
Social Autônomo para atuar na prestação de assistência médica qualificada,
hipótese em que princípios como o da licitação e do concurso público podem ser
mitigados. Daí sustenta que a Lei impugnada não afronta os artigos 16, inciso II; 19,
caput, incisos II e IX; 22 § 3º; 26; 28; 60, inciso XVI; 80 e 186, inciso I, todos das
LODF. Afirma que não se trata de privatização ou de extinção de empresa pública ou
sociedade de economia mista e tampouco está se instituindo autonomia gerencial,
orçamentária e financeira à unidade Hospital de Base. Alega que a Lei impugnada
institui o IHBDF, Serviço Social Autônomo, que assumirá a gestão da Unidade
Hospital de Base do Distrito Federal, razão pela qual deve ser afastada a alegada
inconstitucionalidade frente aos artigos 19, §§ 7º e 13, da LODF. Sustenta que não
se faz necessária a oitiva de entidades representativas dos servidores públicos do
HBDF a que alude o art. 33, § 1º da LODF, eis que a Lei impugnada não cuida dos
servidores públicos (a não ser quando estabelece a possibilidade de trabalharem ou
serem cedidos ao IHBDF). Assevera que não ocorre violação ao art. 149, § 7º da
LODF, porque os recursos orçamentários do IHBDF serão os então destinados à
unidade Hospital de Base do Distrito Federal, da Secretaria de Estado de Saúde do
DF, em um primeiro momento, e, quando implementado, lhe serão diretamente
dirigidos após aprovação de seu orçamento programa. Argumenta que as alterações
orçamentárias no contrato de gestão deverão constar do orçamento programa a ser
aprovado e constarão do orçamento geral do Distrito Federal. Além disso, a duração
por vinte anos do contrato de gestão se refere ao vínculo entre o Poder executivo e o
IHBDF, cujos termos poderão ser revistos e, por isto mesmo a lei impugnada não
malfere o art. 151, I e § 1º da LODF. Também não se faz presente a suposta
violação ao art. 109 da LODF, que se trata de norma composta de conceito aberto e
a matéria tratada na Lei atacada não diz respeito à estabilidade das instituições.
Assevera que é equivocada a assertiva de que a lei impugnada contraria o disposto
no art. 131, I, da LODF na medida em que concede isenções tributárias sem o
quorum de dois terços dos membros da Câmara Legislativa, porquanto o art. 10 da
Lei 5.899/20177 dispõe que o IHBDF deve requerer o certificado de entidade
beneficente de assistência social, e após a concessão desse certificado, pleitear a
isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita Federal. Por derradeiro,
afirma que não restaram comprovadas as alegadas inconstitucionalidades da lei
impugnada em face do art. 3º, I a IV e 204, § 2º, da LODF, que são normas
principiológicas. Pede a extinção do feito sem exame do mérito e, sucessivamente,
requer a improcedência do pedido.

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O Governador do Distrito Federal alega que as ações diretas de


inconstitucionalidade ajuizadas em face da Lei 5.899/2017 são instrumentos de uma
batalha político-ideológica que agasalha interesses corporativistas, mas sem
qualquer fundamentação jurídica. Argumenta que a idéia-força do IHBDF é trazer um
novo modelo de gestão para o serviço de saúde, que melhore sua qualidade e corrija
suas distorções. Afirma que a Lei impugnada estrutura-se a partir da criação de um
serviço social autônomo, que passa a administrar o hospital com lastro em contrato
de gestão. Destaca que o IHBDF presta serviços de forma exclusiva e gratuita aos
usuários do SUS, sob comando de uma diretoria Executiva e um Conselho de
Administração supervisionados pela Secretaria de Estado de Saúde. Salienta que a
contratação de pessoal se dará pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
Assevera que não há vício formal, porquanto o projeto de lei é de iniciativa do Poder
Executivo (art. 71, § 1º, inciso IV c/c o art. 100, incisos VI e X, ambos da LODF).
Argumenta que inexiste vício de inconstitucionalidade material, haja vista que a lei
impugnada intenta promover descentralização a partir de um modelo testado e
referendado pelo STF, o qual assegura a universalidade de atendimento na área de
saúde, em sintonia com o art. 204, inciso II e § 2º da LODF. Sustenta que a cessão
de servidores públicos não importará qualquer alteração da situação jurídica do
servidor. Assevera que a possibilidade de o IHBDF administrar bens móveis e
imóveis da unidade de denominação correlata encontra amparo nos artigos 47, 48,
58, inciso XV e 71, § 1º, inciso VII, todos da LODF. Salienta que a previsão de
repasse de recursos financeiros ao IHBDF, observa previsão genérica dos artigos
147 e seguintes c/c o art. 206, todos da LODF. Afirma que a natureza jurídica da
entidade a dispensa de realizar concurso público. Quanto às inconstitucionalidades
formais, o Governador do Distrito Federal afirma que não procede a alegação de que
a pauta estaria trancada pela existência de 153 vetos não apreciados, eis que se
trata de questão interna corporis do parlamento. Prossegue aduzindo que não ocorre
violação ao art. 131, inciso I da LODF, uma vez que a lei impugnada não concede
isenção fiscal. Por derradeiro, sustenta que inexiste vulneração ao art. 157, § 1º,
incisos I e II da LODF, considerando que em relação aos servidores estatuários não
há criação de despesa adicional e a fonte para o pagamento dos salários dos
celetistas será a contrapartida que o instituto irá receber, de acordo com o contrato
de gestão. Ao final, sustenta a constitucionalidade da Lei 5.899/2017.
A Procuradora-Geral do Distrito Federal, na qualidade de curadora
do ato impugnado, assevera que as circunstâncias que cercam a deliberação,
votação e aprovação da Lei Distrital 5.899/2017 revelam que o autor pretende
imiscuir-se em questão de natureza interna corporis da Câmara Legislativa, pois a

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forma como determinada deliberação é realizada, sobretudo quanto à interpretação


das normas regimentais, se insere no âmbito da economia interna e da autonomia
político-institucional do Poder Legislativo local que resultou na decisão de imprimir-
se velocidade à tramitação de uma proposta normativa com o amplo apoio da
sociedade, dos integrantes da Câmara Legislativa e do Poder Executivo. Indica
precedentes do STF e sustenta que considerando a importância e a dimensão da
atividade parlamentar e tendo como presente a necessidade de observância do
chamado poder de agenda do Legislativo, deve-se reconhecer que o art. 74, § 5º, da
LODF não possui o alcance que lhe pretende outorgar a parte autora. Argumenta
que uma norma de processo legislativo não pode sobrepujar o princípio de
separação de poderes e o próprio sistema de checks and balances, desautorizando
e inviabilizando as atividades da Câmara Legislativa. Sustenta que o alegado vício
de inconstitucionalidade formal não se faz presente. Afirma que o diploma legal
hostilizado não contraria o art. 131, I, da LODF, porquanto em momento algum
outorga benefícios fiscais ao IHBDF, mas apenas estabelece que o instituto deve
pleitear a isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita Federal.
Destaca que sendo o IHBDF entidade de direito privado, as instituições/acréscimos
remuneratórios e demais dispêndios financeiros aplicáveis ao seu quadro de pessoal
e à sua estrutura não demandam previsão na legislação orçamentária ou mesmo a
oitiva do Conselho do Governo. Daí sustenta que os serviços sociais autônomos não
são alcançados pelas disposições previstas nos artigos 109, 149, §§ 7º e 8º, e 151,
inciso I, § 1º da Lei Orgânica do Distrito Federal. Salienta que o mesmo raciocínio
se aplica à alegação de privatização de entidade pública e, por isto mesmo, não
ocorrem violações aos artigos 16, inciso II, 19, § 13º, 22, § 2º, 60, inciso XVI, 80, 186
e 204, todos da Lei Orgânica do Distrito Federal e, pela mesma razão, a contratação
de pessoal dispensaria, em tese, a realização de concurso público. Ainda
considerando a natureza jurídica do IHBDF, a Doutora Procuradora-Geral do Distrito
Federal na qualidade de curadora do ato normativo destaca que o STF firmou o
entendimento de que os regramentos da Lei de Licitações não se aplicam aos
serviços Sociais Autônomos. Ao final, sustenta que deve ser reconhecida a validade
constitucional dos dispositivos impugnados nesta ADI, pois, compreendida a
natureza jurídica do IHBDF e dos serviços sociais autônomos, não houve a alegada
violação aos postulados do concurso público e da licitação, nem ocorreu o alegado
desrespeito aos regramentos aplicáveis à remuneração de servidores públicos.
Pugna pela improcedência dos pedidos.
A douta Procuradoria de Justiça oficiou pela improcedência do
pedido.

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À fl. 280 determinei o apensamento destes autos à ADI


2017.00.2.013758-5, para julgamento conjunto.
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA - Relator


Senhor Presidente, estão em julgamento as ações diretas de
inconstitucionalidade 2017.00.2.013758-5, e 2017.00.2.013822-5, ajuizadas pelo
Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal e pelo Partido do Movimento
Democrático Brasileiro, respectivamente.
De início deve ser afastada a preliminar de extinção do feito
suscitada pela Mesa Diretora da Câmara Legislativa, uma vez que os autores das
ações diretas de inconstitucionalidade carrearam para os autos instrumento
procuratório com poderes específicos para impugnar a Lei 5.899/2017, conforme
consta do relatório.
O diploma legal impugnado é do seguinte teor:

"LEI Nº 5.899, DE 3 DE JULHO DE 2017


(Autoria do Projeto: Poder Executivo)
Autoriza o Poder Executivo a instituir o Instituto Hospital de Base do Distrito
Federal - IHBDF e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL,
Faço saber que a Câmara Legislativa do Distrito Federal decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1ºFica o Poder Executivo autorizado a instituir o serviço social
autônomo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal - IHBDF, pessoa
jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de
utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência médica qualificada e
gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e
gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público.
§ 1º O IHBDF tem sede e foro no Distrito Federal e duração por tempo
indeterminado.
§ 2º O IHBDF observa os princípios do Sistema Único de Saúde - SUS,
expressos no art. 198 da Constituição Federal e no art. 7º da Lei federal nº
8.080, de 19 de setembro de 1990, bem como as políticas e as diretrizes
estratégicas da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.
§ 3º O IHBDF presta atendimento exclusivo e gratuito aos usuários do SUS,
em auxílio à atuação do Poder Público.

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§ 4º O estatuto do IHBDF estabelece as áreas e os limites de atuação


assistencial, de acordo com a política e o planejamento de saúde do Distrito
Federal, dentro das diretrizes de descentralização, participação social,
relevância pública, hierarquização e formação de rede.
Art. 2º Compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar a gestão do
IHBDF, observadas as seguintes normas e disposições:
I - o Poder Executivo, por intermédio da Secretada de Estado de Saúde,
celebra contrato de gestão com o IHBDF, para o cumprimento das
finalidades previstas nesta Lei;
II - observado o disposto nesta Lei, a Secretaria de Estado de Saúde define
os termos do contrato de gestão, que discrimina as atribuições, as
responsabilidades e as obrigações do Poder Público e do IHBDF;
III - o contrato de gestão deve observar os princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e economicidade, e
deve especificar o programa de trabalho proposto pelo IHBDF, estipular as
metas a ser atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como a
previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a ser
utilizados, mediante indicadores de qualidade e produtividade, atendendo ao
quadro epidemiológico e nosológico do Distrito Federal e respeitando as
características e a especificidade da entidade;
IV - o contrato de gestão tem prazo de vigência de até 20 anos, podendo ser
renovado ou prorrogado, conforme interesse público, e deve ser aditivado
anualmente para repactuação dos recursos de fomento destinados, das
metas e dos indicadores de desempenho;
V - o orçamento-programa do IHBDF para execução das atividades
previstas no contrato de gestão é submetido anualmente à Secretaria de
Estado de Saúde;
VI - a execução do contrato de gestão é supervisionada pela Secretaria de
Estado de Saúde e fiscalizada pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal -
TCDF, que verifica, especialmente, a legalidade, a legitimidade, a
operacionalidade e a economicidade no desenvolvimento das respectivas
atividades e na consequente aplicação dos recursos repassados, com base
nos critérios referidos no inciso III;
VII - para a execução das atividades acima referidas, o IHBDF pode
celebrar contratos de prestação de serviços com quaisquer pessoas físicas
ou jurídicas, sempre que considere ser essa a solução mais econômica para
atingir os objetivos previstos no contrato de gestão, observado o disposto no

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inciso XVIII;
VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para contratação
e administração de pessoal sob regime da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, de forma a assegurar a preservação dos mais elevados e
rigorosos padrões de atendimento à população;
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do IHBDF deve ser
conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da
economicidade e da eficiência, nos termos do regulamento próprio a ser
editado pelo Conselho de Administração;
X - o contrato de gestão confere ao IHBDF poderes para fixar níveis de
remuneração para o pessoal da entidade, em padrões compatíveis com os
respectivos mercados de trabalho, segundo o grau de qualificação exigido e
os setores de especialização profissional;
XI - é vedado ao IHBDF ceder, total ou parcialmente, em caráter
permanente ou temporário, a qualquer título, seus empregados para o
Poder Público ou entidade privada;
XII - as aquisições, alienações e contratações pelo IHBDF são realizadas
conforme seu regulamento próprio de compras e contratações, aprovado
pelo Conselho de Administração, observados:
a) os princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da
economicidade e da eficiência;
b) o princípio do julgamento objetivo;
c) o julgamento das propostas feito de acordo com os critérios fixados no
edital;
d) a igualdade de condições entre todos os fornecedores;
e) a garantia ao contraditório e à ampla defesa;
XIII - o contrato de gestão pode ser modificado de comum acordo no curso
de sua execução, inclusive para incorporar ajustes aconselhados pela
supervisão ou pela fiscalização;
XIV - o IHBDF apresenta anualmente à Secretaria de Estado de Saúde e ao
TCDF, até 31 de março de cada ano, relatório circunstanciado sobre a
execução do plano no exercício findo, com a prestação de contas dos
recursos públicos nele aplicados, a avaliação do andamento do contrato e
as análises gerenciais cabíveis;
XV - no prazo de 30 dias, a Secretaria de Estado de Saúde apresenta
parecer sobre o relatório do IHBDF ao TCDF, que julga a respectiva

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prestação de contas e, no prazo de 90 dias, delibera sobre o cumprimento


do contrato de gestão;
XVI - o TCDF fiscaliza a execução do contrato de gestão durante seu
desenvolvimento e determina, a qualquer tempo, a adoção das medidas que
julgue necessárias para corrigir falhas ou irregularidades que identifique,
incluindo, se for o caso, a recomendação do afastamento de dirigente ou da
rescisão pela Secretaria de Estado de Saúde do referido contrato, que
somente será renovado se a avaliação final da execução do contrato de
gestão demonstrar a consecução dos objetivos preestabelecidos;
XVII - o Conselho de Saúde do Distrito Federal promove o controle social do
contrato de gestão durante o seu desenvolvimento e recomenda, a qualquer
tempo, a adoção das medidas que julgue necessárias para corrigir falhas ou
irregularidades que identifique no atendimento à população;
XVIII - o IHBDF fará publicar, no Diário Oficial do Distrito Federal, no prazo
de 90 dias após o registro do estatuto em cartório, os manuais de seleção
que disciplinarão os procedimentos que deverá adotar, objetivando a plena
consecução dos incisos IX e XII.
Parágrafo único. Entende-se, para efeito desta Lei, contrato de gestão como
o instrumento firmado entre o Poder Público e o IHBDF, decorrente de
vínculo legal, com vistas à formação de parceria entre as partes para
fomento e execução de atividades e projetos.
Art. 3º Fica facultada à Secretaria de Estado de Saúde a cessão especial
de servidor para o IHBDF, com ônus para a origem.
§ 1º O servidor cedido faz jus a todos os direitos previstos nos regimes
jurídico e de previdência, no seu cargo e carreira de origem, e à contagem
de tempo de serviço.
§ 2º O servidor cedido percebe as vantagens do cargo a que faça jus no
órgão de origem.
§ 3º É permitido o pagamento de vantagem pecuniária temporária ou
eventual pelo IHBDF a servidor cedido, com recursos provenientes do
contrato de gestão, por adicional relativo ao exercício de função temporária
de direção, chefia e assessoramento.
§ 4º Não é incorporada aos vencimentos ou à remuneração de origem do
servidor cedido qualquer vantagem pecuniária que venha a ser paga pelo
IHBDF.
§ 5º Os servidores cedidos são submetidos aos mesmos processos de
avaliação e metas de desempenho aplicados aos empregados do IHBDF,

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devendo ser devolvidos à Secretaria de Estado de Saúde em caso de


insuficiência de desempenho, na forma do contrato de gestão.
§ 6º A qualquer momento, os servidores cedidos podem ser devolvidos à
Secretaria de Estado de Saúde, por solicitação própria ou por decisão do
IHBDF.
§ 7º Somente os servidores em exercício na unidade da Secretaria de
Estado de Saúde denominada Hospital de Base do Distrito Federal - HBDF
na data da publicação desta Lei, bem como aqueles que tiveram o HBDF
como última lotação antes da assunção de cargo ou função de gestão ou
coordenação na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, podem
ser cedidos na forma deste artigo, sendo permitida excepcionalmente, até o
final do primeiro ano de vigência do contrato de gestão do IHBDF, a cessão
de servidores de outras unidades em substituição a servidores atualmente
em exercício no HBDF que não forem cedidos ao IHBDF.
Art. 4º O IHBDF é incumbido de administrar os bens móveis e imóveis que
compõem o patrimônio da unidade da Secretaria de Estado de Saúde de
denominação correlata.
§ 1º O patrimônio da unidade da Secretaria de Estado de Saúde de que
trata o caput continua incorporado ao do Distrito Federal na Secretaria de
Estado de Saúde.
§ 2º Os bens móveis públicos administrados na forma do caput podem ser
permutados por outros de igual ou maior valor, contanto que os novos bens
integrem o patrimônio do Distrito Federal.
§ 3º A permuta de que trata o § 2º depende de prévia avaliação do bem e
expressa autorização do Poder Público.
§ 4º No caso de extinção do IHBDF, os legados, as doações e as heranças
que lhe tiverem sido destinados, bem como os demais bens que tenha vindo
a adquirir ou produzir, serão incorporados ao patrimônio do Distrito Federal.
Art. 5º São órgãos de direção do IHBDF:
I - o Conselho de Administração, composto de 11 membros;
II - a Diretoria Executiva.
§ 1º O IHBDF conta com Conselho Fiscal composto por 3 membros
nomeados pelo Governador do Distrito Federal, sendo 1 deles indicado em
lista tríplice pelo Conselho de Saúde do Distrito Federal.
§ 2º Os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e os indicados
para os cargos da Diretoria Executiva são escolhidos entre cidadãos de
reputação ilibada e de notório conhecimento, devendo ser atendidos,

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cumulativamente, os seguintes requisitos:


I - ter, no mínimo, formação acadêmica superior completa, compatível com o
cargo para o qual sejam indicados;
II - não se enquadrar nas hipóteses de inelegibilidade previstas nas alíneas
do art. 1º, I, da Lei Complementar federal nº 64, de 18 de maio de 1990,
com as alterações introduzidas pela Lei Complementar federal nº 135, de 4
de junho de 2010.
§ 3º É vedada a indicação para os Conselhos de Administração ou Fiscal e
para a Diretoria Executiva:
I - de dirigente estatutário de partido político e de titular de mandato no
Poder Legislativo de qualquer ente da federação, ainda que licenciado do
cargo;
II - de pessoa que tenha atuado, nos 36 meses anteriores, como
participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho
vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral;
III - de pessoa que tenha atuado, nos 36 meses anteriores, como
participante da estrutura decisória de organização sindical.
§ 4º A vedação prevista no § 3º estende-se também aos parentes
consanguíneos ou afins até o terceiro grau das pessoas nele mencionadas.
§ 5º O membro do Conselho de Administração que vier a integrar a Diretoria
Executiva do IHBDF deve renunciar ao assumir funções executivas.
Art. 6º O Conselho de Administração tem a seguinte constituição:
I - o Secretário de Estado da Saúde do Distrito Federal, como membro nato,
que é seu Presidente;
II - 5 conselheiros e seus suplentes, indicados e designados pelo
Governador do Distrito Federal, conforme estabelecido no estatuto do
IHBDF;
III - 5 conselheiros e seus suplentes, com mandato de 2 anos, que pode ser
prorrogado 1 única vez, sendo 1 indicado por entidade com
representatividade técnica em área de saúde, 1 indicado por entidade da
sociedade civil representativa dos usuários do SUS do Distrito Federal, 1
indicado pelo Conselho de Saúde do Distrito Federal, 1 indicado pelos
trabalhadores ocupantes de cargos e empregos de nível superior da área de
saúde do IHBDF e 1 indicado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal.
§ 1º Os membros do Conselho de Administração e seus respectivos
suplentes de que trata o inciso III são indicados em lista tríplice pelas
respectivas entidades ou categorias e escolhidos e designados pelo

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Governador do Distrito Federal.


§ 2º O Conselho de Administração se reúne trimestralmente, ou
extraordinariamente, por convocação de seu Presidente.
§ 3º O Conselho de Administração delibera por maioria dos presentes,
observado o quórum mínimo de 6 membros, cabendo ao Presidente, além
do voto ordinário, o de qualidade.
§ 4º Os membros da Diretoria Executiva participam das reuniões do
Conselho de Administração com direito a voz, mas sem direito a voto, na
forma do estatuto.
Art. 7º A Diretoria Executiva é composta de Diretor-presidente, Diretor-vice-
presidente e até 3 Diretores, eleitos para mandato de 3 anos pelo Conselho
de Administração, admitida a reeleição.
§ 1º Até que seja nomeada a Diretoria Executiva pelo Conselho de
Administração, os cargos de Diretor-presidente, Diretor-vice-presidente e
Diretor do IHBDF serão exercidos, respectivamente, pelos atuais ocupantes
dos cargos de Diretor-geral, Diretor de Atenção à Saúde e Diretor
Administrativo da unidade da Secretaria de Estado de Saúde denominada
HBDF.
§ 2º O Diretor-presidente do IHBDF é indicado pelo Presidente do Conselho
de Administração, e seu nome deve ser aprovado pelo Conselho de
Administração e ratificado pelo Governador do Distrito Federal.
§ 3º Os demais Diretores são aprovados pelo Conselho de Administração,
por indicação de seu Presidente e com a concordância do Diretor-
presidente.
§ 4º O Diretor-presidente, o Diretor-vice-presidente e os Diretores do IHBDF
podem, a qualquer tempo, ser substituídos por decisão do Conselho de
Administração, mediante proposta de seu Presidente.
Art. 8º Os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal não recebem
remuneração pelos serviços que prestem ao IHBDF, ressalvada a ajuda de
custo por reunião da qual participem.
Art. 9º A remuneração dos membros da Diretoria Executiva do IHBDF é
fixada pelo Conselho de Administração em valores compatíveis com os
níveis prevalecentes no mercado de trabalho para profissionais de grau
equivalente de formação profissional e de especialização.
Art. 10. O IHBDF deve pleitear:
I - certificado de entidades beneficentes de assistência social na forma do
art. 3º, parágrafo único, da Lei federal nº 12.101, de 27 de novembro de

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2009, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde;


II - isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita Federal do
Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal nº 9.532, de 10 de dezembro de
1997.
§ 1º Aplica-se ao IHBDF, dada a forma de instituição, a origem dos
recursos, a finalidade pública e o atendimento integral aos usuários do SUS,
o regime de impenhorabilidade de seus bens, serviços e rendas.
§ 2º Os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e os da Diretoria
Executiva respondem pessoalmente por seus atos ou omissões ilícitos
ocorridos durante os seus respectivos mandatos no IHBDF.
Art. 11. O estatuto do IHBDF será aprovado no prazo de 60 dias da
publicação desta Lei pelo Conselho de Administração, por proposta do seu
Presidente, mediante aprovação da maioria absoluta de seus membros, e
será submetido à deliberação do Governador para homologação mediante
ato próprio e posterior registro em cartório.
Parágrafo único. As alterações do estatuto do IHBDF são processadas na
forma do rito previsto no caput.
Art. 12. O Conselho de Administração aprovará o regimento interno do
IHBDF no prazo de 90 dias após o registro do estatuto em cartório,
observado o disposto nesta Lei.
Parágrafo único. Somente após o início da vigência do contrato de gestão, o
IHBDF assume a gestão da unidade Hospital de Base do Distrito Federal da
Secretaria de Estado de Saúde, devendo-se manter, até esse momento, o
funcionamento normal do hospital com o suporte logístico da Secretaria de
Estado de Saúde.
Art. 13. Além da Secretaria de Estado de Saúde, outros órgãos e entidades
governamentais são autorizados a repassar recursos ao IHBDF, mediante
convênios e termos de parceria, fomento ou cooperação, para custear a
execução de projetos de interesse social nas áreas das atividades previstas
no objetivo social desta Lei.
Parágrafo único. O IHBDF presta contas aos órgãos repassadores da
aplicação dos recursos públicos recebidos em convênio ou outros
instrumentos, nos termos da legislação vigente.
Art. 14. O IHBDF fica dispensado do processo seletivo a que se refere o art.
2º, IX, para contratação de servidores do quadro da Secretaria de Estado de
Saúde lotados na unidade denominada HBDF, ativos ou aposentados, pelo
prazo de 180 dias de sua instalação.

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Parágrafo único. Podem ser destinados, na primeira admissão de


trabalhadores para o IHBDF, até 30% das vagas para contratação, em
regime celetista, de candidatos aprovados em concurso público atualmente
vigente para os cargos efetivos da Secretaria de Estado de Saúde,
independentemente de processo seletivo, sem prejuízo de eventual
nomeação para cargo público.
Art. 15. Fica o IHBDF autorizado a suceder a Secretaria de Estado de
Saúde nos contratos e convênios, ou parcelas destes relativos à
manutenção e ao funcionamento da unidade da Secretaria de Estado de
Saúde denominada HBDF, nos termos do estatuto, sub-rogando-se nos
direitos e obrigações deles decorrentes relativos à execução, a partir do
início da vigência do contrato de gestão.
Art. 16. Ficam mantidas no IHBDF as qualificações e as certificações da
unidade da Secretaria de Estado de Saúde denominada HBDF.
Art. 17.ASecretaria de Estado de Saúde prestará o apoio necessário à
implementação e à manutenção das atividades do IHBDF, até a sua
completa organização.
Art. 18. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação."

DA INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Os partidos políticos autores asseveram que há vícios no processo
legislativo que resultou na edição do diploma impugnado. Sustentam que a Lei
5.899/2017 afronta os seguintes dispositivos da LODF:

A) "Art. 19. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes do Distrito Federal obedece aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, motivação,
transparência, eficiência e interesse público, e também ao seguinte:
(Caputcom a redação da Emenda à Lei Orgânica nº 80, de 2014.)
.....................................................................
XVIII - somente por lei específica pode ser: (Inciso com a redação da
Emenda à Lei Orgânica nº 80, de 2014.)
.....................................................................
a) criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de

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sociedade de economia mista e de fundação, cabendo a lei complementar,


neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
b) transformada, fundida, cindida, incorporada, privatizada ou extinta
entidade de que trata a alínea a;
.....................................................................
§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou sociedade de
economia mista a que se refere o inciso XVIII deste artigo, a lei específica
dependerá de aprovação por dois terços dos membros da Câmara
Legislativa. (Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 59, de
2010.)
.....................................................................
§ 13. A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e
entidades da administração pública pode ser ampliada mediante contrato, a
ser firmado entre seus administradores e o Poder Público, que tenha por
objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou a entidade,
cabendo à lei dispor sobre:(Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei
Orgânica nº 80, de 2014.)"
.....................................................................
B) "Art. 33. O Distrito Federal instituirá regime jurídico único e planos de
carreira para os servidores da administração pública direta, autarquias e
fundações públicas, nos termos do art. 39 da Constituição Federal.
§ 1º No exercício da competência estabelecida no caput, serão ouvidas as
entidades representativas dos servidores públicos por ela abrangidos."
.....................................................................
C) "Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado
ao Governador que, aquiescendo, o sancionará e promulgará.
.....................................................................
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da
Constituição Federal, o veto será incluído na Ordem do Dia da sessão
imediata, sobrestadas as demais proposições até a sua votação final, só
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados, em
votação ostensiva. (Parágrafo com a redação da Emenda à Lei Orgânica nº
47, de 2006.)"
.....................................................................
D) "Art. 109. Compete ao Conselho de Governo pronunciar-se sobre
questões relevantes suscitadas pelo Governo do Distrito Federal, incluída a
estabilidade das instituições e os problemas emergentes de grave

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complexidade e magnitude."
.....................................................................
E) "Art. 131. As isenções, anistias, remissões, benefícios e incentivos fiscais
que envolvam matéria tributária e previdenciária, inclusive as que sejam
objeto de convênios celebrados entre o Distrito Federal e a União, Estados
e Municípios, observarão o seguinte:
I - só poderão ser concedidos ou revogados por meio de lei específica,
aprovada por dois terços dos membros da Câmara Legislativa, obedecidos
os limites de prazo e valor;"

Examina-se a alegação de que seria necessária a observância de


quorum especial para a deliberação, votação e aprovação da lei impugnada.
A) O art. 1º da Lei 5.899/2.017 autorizou o Poder Executivo a instituir
o serviço social autônomo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal sem fins
lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública, com o objetivo de prestar
assistência médica qualificada e gratuita à população e de desenvolver atividades de
ensino, pesquisa e gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder
Público. Depreende-se, pois que não se cuida de privatização nem de extinção de
empresa pública ou de sociedade de economia mista e, por isto mesmo, não
procede a alegação de inconstitucionalidade frente ao art. 19, §§ 7º e 13º, da Lei
Orgânica do Distrito Federal.
B) A oitiva das entidades representativas dos servidores públicos
abrangidos pela Lei 5.899/2017 é relevante em se tratando da instituição de regime
único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta,
autarquias e fundações públicas. A Lei 5.899/2017 não cuidou dessas matérias.
Com efeito, o art. 3º faculta à Secretaria de Estado de Saúde a cessão especial de
servidor para o IHBDF, com ônus para a origem, enquanto os parágrafos 1º a 7º
disciplinam a cessão especial. Por isto mesmo, não prospera a alegação de
inconstitucionalidade por inobservância do art. 33, § 1º, da Lei Orgânica do Distrito
Federal.
C) A existência de 153 vetos pendentes de exame, motivando o
sobrestamento da pauta, e o alegado descumprimento de normas regimentais não
configuram afronta ao art. 74, § 5º, da LODF, eis que a decisão acerca da
necessidade de deliberação do projeto de lei é matéria que se circunscreve ao
âmbito interno do Parlamento e, portanto, imune a crítica pelo Poder Judiciário.

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Nesse sentido, confira-se a jurisprudência do excelso Supremo Tribunal Federal:

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Artigo


93, XI, CF. Ausência de afronta. Lei Estadual nº 18.370/14. Processo legal
legislativo. Afronta reflexa. Fatos e provas. Súmulas 280, 279 e 636 do STF.
1. O acolhimento da pretensão de inconstitucionalidade formal da Lei nº
18.370/14 do Estado do Paraná, por atropelo do processo legal legislativo,
importaria no reexame da causa à luz das normas do Regimento Interno da
Assembléia Legislativa do Estado do Paraná e dos fatos e das provas
constantes dos autos. A ofensa ao texto constitucional seria, caso
ocorresse, apenas indireta ou reflexa, o que é insuficiente para amparar o
recurso extraordinário. Incidência das Súmulas nºs 279, 280 e 636 da Corte.
2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de não caber
ao Poder Judiciário, a pretexto de realizar o controle de atos legislativos,
imiscuir-se em matérias interna corporis, sob pena de violação do princípio
da separação dos Poderes. Precedentes. 3. Agravo regimental ao qual se
nega provimento, com imposição de multa de 2% (dois por cento) do valor
atualizado da causa, consoante o art. 1.021, § 4º, do Novo CPC, caso seja
unânime a votação. Não se aplica ao caso dos autos a majoração dos
honorários prevista no art. 85, § 11, do novo Código de Processo Civil, uma
vez que os recorrentes não foram condenados no pagamento de honorários
sucumbenciais pela instância de origem." (ARE 1028435 AgR, Relator(a):
Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 30/06/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 14-08-2017 PUBLIC 15-08-2017).

D) Do mesmo modo, desnecessário o pronunciamento do Conselho


de Governo, porquanto a expressão "questões relevantes" traduz-se em conceito
aberto e, na espécie, a Lei impugnada não põe em risco a estabilidade das
instituições, nem se trata de problemas emergentes de grave complexidade e
magnitude. Ausente, portanto, qualquer afronta ao art. 109 da Lei Orgânica do
Distrito Federal.
E) A assertiva de que o art. 10 da Lei impugnada está a reger
matéria de isenção tributária não resiste à literalidade do dispositivo. Confira-se:

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"Art. 10. O IHBDF deve pleitear:


I - certificado de entidades beneficentes de assistência social na forma do
art. 3º, parágrafo único, da Lei federal nº 12.101, de 27 de novembro de
2009, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde;
II - isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita Federal do
Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal nº 9.532, de 10 de dezembro de
1997."

Assim, não prospera a alegação de inconstitucionalidade em razão


da inobservância do quorum previsto no art. 131, I da LODF.
Alega-se, ainda, a "impertinência temática ao objeto inicial do PL",
contudo os autos revelam que o Governador do Distrito Federal submeteu à
apreciação da Câmara Legislativa "Projeto de Lei que autoriza o Poder Executivo a
instituir o Instituto Hospital de base do Distrito Federal - IHBDF e dá outras
providências" (fls. 46/55). Observe-se que o entendimento do STF na ADIn 5.127/DF
não tem aplicação, porquanto ali se tratava de "inserção, mediante emenda
parlamentar no processo legislativo de conversão de medida provisória em lei, de
matérias de conteúdo temático estranho ao objeto originário da medida provisória".
Destarte, a Lei 5.899/2017 não padece de vícios formais.
Rejeito a alegação de inconstitucionalidade formal. Peço destaque.

A Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL - Vogal


Senhor Presidente, quanto à inconstitucionalidade formal, acompanho na íntegra
o voto do eminente Relator.

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O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador WALDIR LEÔNCIO JÚNIOR - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador HUMBERTO ADJUTO ULHÔA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador J.J. COSTA CARVALHO - Vogal


Trata-se de Ações Diretas de Inconstitucionalidade aviadaspelo
Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal e peloPartido do Movimento
Democrático Brasileiro, na qual se vindicam a declaração de inconstitucionalidade
da Lei Distrital n. 5.899, de 03 de julho de 2017, ato normativo que "autoriza o
Poder Executivo a criar o Instituto Hospital de Base do Distrito Federal".
Alega o Partido dos Trabalhadores (PT/DF) afronta ao artigo 74, §5º
da Lei Orgânica do Distrito Federal, sob o argumento de que o Projeto de Lei
1.486/2017, que culminou na edição da Lei ora impugnada, foi apreciado pela
Câmara Legislativa do Distrito Federal em situação de sobrestamento de pauta, ante
a existência de 153 vetos pendentes de apreciação. Aduz que a ação da Casa
Legislativa macula o sistema de freios e contrapesos e o postulado da Separação de
Poderes estampados no artigo 53 da LODF. Salienta que o artigo 131, inciso I,
também da LODF restou inobservado, uma vez que, para concessão de isenções

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fiscais sobre matéria tributária e previdência, é necessário quorum de apreciação de


2/3 dos membros da Casa Legislativa, o que não ocorreu na hipótese. Preleciona
que a norma impugnada "cria despesas novas relativas a pessoal, de caráter
continuado, para o Distrito Federal, tais como: pagamento de vantagem temporária
aos servidores cedidos pela Secretaria de Saúde para o IHB (art. 3º, §3º); b) ajuda
de custo para os membros do Conselho de Administração e Conselho Fiscal (art. 8º
)" além de instituição de vantagens e aumentos remuneratórios, entre outros, sem
previsão em Lei Orçamentária para tanto, razão pela qual sustenta violação ao artigo
157, §1º, I e II, da LODF. Ao fim, assinala que a lei traz hipótese de contratação de
pessoal sem concurso público, bem como aquisição de bens e/ou serviços sem a
obrigatoriedade de realização de licitação, o que encerra mácula aos artigos 26 e
214 da LODF.
O Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB/DF), por sua
vez, apresenta as insurgências levantadas pelo PT/DF, bem como afirma que a
norma não observou o quorum qualificado ao promover a desestatização de uma
entidade pública, violando o artigo 19,§7º da LODF. Sustenta a inviabilidade da
privatização de órgão público. Assevera que a referida lei distrital envolve alocação
de recursos públicos sem a previsão orçamentária respectiva e sem a oitiva do
Conselho de Governo estabelecida nos artigos 109, 149, §§7º e 8º e 151, I, §1º da
LODF.
Distribuído os autos, o d. Relator imprimiu ao feito, o rito do artigo 12
da Lei 9.868/99 (fls. 263/264v).
A Mesa Diretora da Câmara Legislativa sustentou, preliminarmente,
irregularidade do instrumento de mandato. No mérito, requereu o julgamento
improcedente das ações diretas de inconstitucionalidade (fls. 267/288).
O Governador do Distrito Federal apresentou parecer no sentido da
constitucionalidade e legitimidade do projeto de lei que resultou na Lei Distrital n.
5899/2017 (fls. 290/309v).
A Procuradoria-Geral do Distrito Federal, na qualidade de curadora
da norma impugnada, defende a constitucionalidade do diploma legal questionado
(fls. 311-320).
Parecer da Procuradoria de Justiça (às fls. 322-333v) pela
improcedência das ações diretas de inconstitucionalidade interpostas.
O d. Relator determinou o apensamento dos presentes autos aos da
ADI 2017.00.2.013822-5 para julgamento conjunto.
É o breve relatório.
Ante a similitude das objeções trazidas em ambas as ações diretas

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de inconstitucionalidade, passo a analisá-las conjuntamente.


De pronto,afasto a preliminar de extinção do feito trazida pela
Câmara Legislativa do DF em razão de ausência de procuração com poderes
específicos, haja vista a presença de documento de representação processual com
os poderes específicos às fls. 258 e 260/261.
Das Inconstitucionalidades Formais
No que alude à alegada inconstitucionalidade formal, consistente na
deliberação do ato normativo malgrada existência de vetos pendentes de
apreciação, ensejando ofensa aos artigos 531 e 74, §5º2 da LODF, sem razão os
demandantes.
Consoante entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal
Federal, quando da apreciação do trancamento da pauta legislativa decorrente da
inércia deliberatis das medidas provisórias (MS 27931/DF) restou estabelecido que
interpretação dada pelo Poder Legislativo ao art. 62, §6º, da CRFB, é no sentido de
reduzir teleologicamente o alcance do trancamento de pauta ali previsto para
alcançar somente projetos de lei ordinária que veiculem matéria suscetível de
disciplina pela mesma proposição legislativa, qual seja, medida provisória.
Em outro julgamento de igual envergadura, decidiu a Corte
Constitucional que os vetos

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR.


REQUISITOS. PROCESSO LEGISLATIVO. APRECIAÇÃO DE

1
Art. 53. São Poderes do Distrito Federal, independentes e harmônicos entre si, o Executivo e o Legislativo.
§ 1º É vedada a delegação de atribuições entre os Poderes.
§ 2º O cidadão, investido na função de um dos Poderes, não poderá exercer a de outro, salvo as exceções
previstas nesta Lei Orgânica.
2
Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado ao Governador que, aquiescendo, o
sancionará e promulgará.
(...)
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da Constituição Federal, o veto será
incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições até a sua votação final, só
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados, em votação ostensiva.

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VETOS PRESIDENCIAI S (CF, ART. 66, §§ 4º E 6º).


1. A concessão de liminar, em mandado de segurança, supõe,
além do risco de ineficácia da futura decisão definitiva da
demanda, a elevada probabilidade de êxito da pretensão, tal
como nela formulada.
2. No caso, o que se pretende, na impetração, é provimento
que iniba o Congresso Nacional de apreciar o Veto Parcial n.º
38/2012, aposto pela Presidente da República ao Projeto de Lei
n.º 2.565/2011, antes da votação de todos os demais vetos
anteriormente apresentados (mais de 3.000 - três mil), alguns
com prazo vencido há mais de 13 - treze - anos.
3. A medida liminar, que tem natureza antecipatória, não pode
ir além nem deferir providência diversa da que deriva da
sentença definitiva. Assim, no entender majoritário da Corte,
não há como manter a determinação liminar ordenando ao
Congresso Nacional que "se abstenha de deliberar acerca do
Veto Parcial nº 38/2012 antes que proceda à análise de todos
os vetos pendentes com prazo de análise expirado até a
presente data, em ordem cronológica de recebimento da
respectiva comunicação". Isso porque se mostra pouco
provável que tal determinação venha a ser mantida no
julgamento definitivo da demanda, especialmente pela
gravidade das consequências que derivariam do puro e simples
reconhecimento, com efeitos ex tunc, da inconstitucionalidade
da prática até agora adotada pelo Congresso Nacional no
processo legislativo de apreciação de vetos presidenciais (ADI
nº 4.029/DF, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 27.06.2012).
4. Agravo regimental provido.
(MS 31816 MC-AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/
Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em
27/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG 10-
05-2013 PUBLIC 13-05-2013 RTJ VOL-00226-01 PP-00444).

A il. Corte Constitucional ressaltou, ainda, que o mesmo raciocínio


deve ser adotado quando o sobrestamento decorrer da não apreciação de veto

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Presidencial:

"a solução adequada também para a previsão do trancamento


de pauta previsto no art. 66, §6º, da Constituição. Isso porque,
em primeiro lugar, as situações são extremamente similares,
reclamando soluções coerentes entre si. Em ambos os casos
há uma previsão de interdição do funcionamento do Poder
Legislativo em razão de ato do Presidente da República. Nada
mais razoável do que fixar a mesma compreensão quanto aos
regimes jurídico-constitucionais do trancamento da pauta
legislativa. Em segundo lugar, a exegese restritiva do comando
constitucional é oriunda do próprio Poder Legislativo, cujo papel
na fixação de sentido ao texto constitucional não pode ser
negligenciado. Com efeito, uma sociedade verdadeiramente
democrática requer um Poder Judiciário que não se arvore à
condição de monopolista da hermenêutica constitucional. A
restrição do alcance do art. 66, §6º, da Constituição não
configura, portanto, qualquer voluntarismo judicial, senão
apenas aplicação analógica de entendimento já existente e
criado pelo Congresso Nacional brasileiro. Não bastasse o
exposto, a interpretação legislativa é também a que melhor
acomoda os bens jurídicos em jogo, evitando que os poderes
constitucionais da Presidência da República acabem por
inviabilizar o próprio funcionamento parlamentar.
Assim é que o rigor com que redigido o art. 66, §6º, da
Constituição deve ser mitigado, de modo que a pendência
de veto presidencial ainda não apreciado pelo Congresso
Nacional acarrete, a partir do trigésimo primeiro dia do
prazo constitucional, apenas a supressão do poder de
escolha aleatória de vetos para fins de análise e
deliberação".

Destarte, o que se percebe é que, no que alude a inércia legislativa

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quanto à apreciação dos vetos executivos, lei tal mora ensejará tão somente a
obrigatoriedade da apreciação cronológica dos vetos apostos e não do
engessamento da agenda legislativa, razão pela qual inexistente a
inconstitucionalidade apontada.
No que tange a alegada inobservância de normas regimentais pela
Casa Legislativa, assinalo que é firme o entendimento desta e. Casa e do Supremo
Tribunal Federal no sentido de que não cabe ao Poder Judiciário, a pretexto de
realizar o controle de atos legislativos, imiscuir-se em matérias interna corporis, sob
pena de violação ao princípio da separação dos Poderes, senão vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA.


2. Oferecimento de denúncia por qualquer cidadão imputando
crime de responsabilidade ao Presidente da República (artigo
218 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados).
3. Impossibilidade de interposição de recurso contra decisão
que negou seguimento à denúncia. Ausência de previsão legal
(Lei 1.079/50).
4. A interpretação e a aplicação do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados constituem matéria interna
corporis, insuscetível de apreciação pelo Poder Judiciário.
5. Agravo regimental improvido.
(MS 26062 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal
Pleno, julgado em 10/03/2008, DJe-060 DIVULG 03-04-2008
PUBLIC 04-04-2008 EMENT VOL-02313-03 PP-00469
LEXSTF v. 30, n. 355, 2008, p. 216-225, grifos aditados).

MANDADO DE SEGURANÇA - PRETENDIDA


SUSTENTAÇÃO ORAL NO JULGAMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL - INADMISSIBILIDADE -
CONSTITUCIONALIDADE DA VEDAÇÃO REGIMENTAL
(RISTF, ART. 131, § 2º) - IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DA
MESA DO CONGRESSO NACIONAL QUE APROVOU A
NOMEAÇÃO DOS INTEGRANTES DO CONSELHO DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL - ALEGADA INOBSERVÂNCIA DO
RITO PROCEDIMENTAL EM SUA COMPOSIÇÃO -

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PRETENSÃO DOS IMPETRANTES, ENTRE OS QUAIS


DIVERSAS ENTIDADES DE DIREITO PRIVADO, AO
CONTROLE JURISDICIONAL DO "ITER" FORMATIVO
CONCERNENTE A REFERIDO ÓRGÃO COLEGIADO -
LEGITIMIDADE ATIVA, PARA ESSE EFEITO, APENAS DOS
CONGRESSISTAS - DELIBERAÇÃO DE NATUREZA
"INTERNA CORPORIS" - NÃO CONFIGURAÇÃO, EM
REFERIDO CONTEXTO, DA COMPETÊNCIA DO PODER
JUDICIÁRIO - HIPÓTESE DE INCOGNOSCIBILIDADE DA
AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA - PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO.
Não se revela admissível mandado de segurança, sob pena de
ofensa ao postulado nuclear da separação de poderes (CF, art.
2º), quando impetrado com o objetivo de questionar
divergências "interna corporis" e de suscitar discussões
de natureza regimental: apreciação vedada ao Poder
Judiciário, por tratar-se de temas que devem ser resolvidos
na esfera de atuação do próprio Congresso Nacional (ou
das Casas que o integram). - A submissão das questões de
índole regimental ao poder de supervisão jurisdicional dos
Tribunais implicaria, em última análise, caso admitida, a
inaceitável nulificação do próprio Poder Legislativo,
especialmente em matérias em que não se verifica evidência
de que o comportamento impugnado tenha efetivamente
vulnerado o texto da Constituição da República. Precedentes.
(MS 33705 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal
Pleno, julgado em 03/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
056 DIVULG 28-03-2016 PUBLIC 29-03-2016, grifos aditados).

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE


SEGURANÇA. LIMINAR: (IN)DEFERIMENTO. PRELIMINAR:
OBJETO DO PEDIDO. DECISÃO DO CONGRESSO
NACIONAL. INTERPRETAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO.
MATÉRIA INTERNA CORPORIS. HIPÓTESE DE NÃO-
CONHECIMENTO.
I- O tema da cognoscibilidade do pedido precede o da

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apreciação do agravo regimental contra despacho concessivo


de liminar, e de seu cabimento à vista da jurisprudência do
Supremo.
II- A natureza interna corporis da deliberação congressional -
interpretação de normas do Regimento Interno do Congresso -
desautoriza a via utilizada. Cuida-se de tema imune à análise
judiciária. Precedentes do STF. Inocorrência de afronta a direito
subjetivo. Agravo regimental parcialmente conhecido e provido,
levando ao não-conhecimento do mandado de segurança.

(MS 21754 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,


Relator(a) p/ Acórdão: Min. FRANCISCO REZEK, Tribunal
Pleno, julgado em 07/10/1993, DJ 21-02-1997 PP-02829
EMENT VOL-01858-02 PP-00280)

Por tal razão, não configurada as inconstitucionalidades formais


trazidas a lume.
Das Inconstitucionalidades Materiais.
Com efeito, a Lei Distrital 5.899/2017 autoriza o Poder Executivo a
instituir o Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, pessoa jurídica de direito
privado, sob a forma de serviço social autônomo, sem fins lucrativos, de interesse
coletivo, com o escopo de auxiliar de prestar assistência médica qualificada e
gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e gestão no
campo da saúde, em cooperação com o Poder Público (art. 1º).
Na lição de Hely Lopes Meirelles, citado por Maria Silvia Zanella di
Pietro, serviços sociais autônomos:

são todos aqueles instituídos por lei, com personalidade de


Direito Privado, para ministrar assistência ou ensino a certas
categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos,
sendo mantidos por dotações orçamentárias ou por
contribuições parafiscais. São entes paraestatais, de
cooperação com o Poder Público, com administração e

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patrimônio próprios, revestindo a forma de instituições


particulares convencionais (fundações, sociedades civis ou
associações) ou peculiaridades ao desempenho de suas
incumbências estatuárias".

O Autor acrescenta, ainda, que:

tais entidades, embora oficializadas pelo Estado, não


integram a Administração direta nem a indireta,mas
trabalham ao lado do Estado, sob seu amparo, cooperando nos
setores, atividades e serviços que lhes são atribuídos, por
considerados de interesse específico de determinados
beneficiários. Recebem, por isso, oficialização do Poder
Público e autorização legal para arrecadarem e utilizarem na
sua manutenção contribuições parafiscais, quando não
subsidiadas diretamente por recursos orçamentários da
entidade que as criou.

Ou seja, o fato de o serviço social autônomo ser subvencionado pelo


Estado não o torna integrante da Administração Direta e ou Indireta. Outrossim, o
serviço de interesse público desempenhado pelo IHBDF não se traduz em
delegação/descentralização e tampouco privatização de atividade administrativa,
mas configura tão somente de exercício de atividade de interesse público, sendo a
atividade estatal, na hipótese, atividade de fomento e não de prestação de serviço
público.
Contudo, pelo fato de trabalharem com verbas de natureza pública,
tais entidades se submetem ao controle do Poder Público, controle de natureza
finalístico e de prestação de contas dos valores recebidos para sua manutenção.
Tais entidades devem, ainda, observância aos princípios que orientam a
Administração Pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência).
Destarte, em razão da natureza dos serviços sociais autônomos, que
é ente de cooperação com o Poder Público e não de entidade da Administração

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Direta ou Indireta, tais entes não estão obrigados a atuar como entidades da
Administração, ou seja, não se vinculam ao regime jurídico de direito público.
Assim, os serviços sociais autônomos não de modo que tanto as contratações de
pessoal, bem como a aquisição de produtos e/ou serviços não se subordinam às
regras de contratação de pessoal, bem como ao regime de licitações e contratos
administrativos.
Sobre o tema, Alexandre Santos de Aragão3preleciona que:

"dentro do tema da participação do Estado em entidades


privadas, merecem destaque os serviços sociais autônomos
, entidades de direito privado, instituídas por lei, sob formas
privadas comuns - associações ou fundações - com vistas a
prestar assistência, sem fins lucrativos, a certos grupos sociais
e categorias profissionais, e que são financiadas por
dotações orçamentárias públicas ou por contribuições
parafiscais de natureza tributária (....). Tais entes só atuam
sob o amparo, inclusive financeiro, e autorização do Estado,
que sobre elas possui certas ingerências (...). Por serem
custeadas pelo Erário (recebem contribuições parafiscais
de interesse das categorias econômicas e sociais - art. 149,
caput, da Constituição), estão sujeitas à fiscalização do
Tribunal de Contas, devendo, ainda, observar os princípios
da igualdade, da impessoalidade e da moralidade nas suas
contratações, inclusive de pessoal, mesmo que não
estejam sujeitas aos estritos termos da Lei Federal de
Licitações e Contratos Administrativos"

Assinalo, ainda, que o Supremo Tribunal Federal, quando o


julgamento da ADI 1864/PR, consignou entendimento no sentido da
dispensabilidade do procedimento licitatório e do processo seletivo para contratação

3
Aragão, Alexandre dos Santos de. Curso de direito administrativo - Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 138.

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de pessoal quando se tratar de Serviço Social Autônomo:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.


EDUCAÇÃO. ENTIDADES DE COOPERAÇÃO COM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LEI 11.970/1997 DO ESTADO
DO PARANÁ. PARANAEDUCAÇÃO. SERVIÇO SOCIAL
AUTÔNOMO. POSSIBILIDADE. RECURSOS PÚBLICOS
FINANCEIROS DESTINADOS À EDUCAÇÃO. GESTÃO
EXCLUSIVA PELO ESTADO. AÇÃO DIRETA JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE.
1. Na sessão plenária de 12 de abril de 2004, esta Corte,
preliminarmente e por decisão unânime, não conheceu da ação
relativamente à Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação-CNTE. Posterior alteração da jurisprudência da
Corte acerca da legitimidade ativa da CNTE não altera o
julgamento da preliminar já concluído. Preclusão. Legitimidade
ativa do Partido dos Trabalhadores reconhecida.
2. O PARANAEDUCAÇÃO é entidade instituída com o fim de
auxiliar na Gestão do Sistema Estadual de Educação, tendo
como finalidades a prestação de apoio técnico, administrativo,
financeiro e pedagógico, bem como o suprimento e
aperfeiçoamento dos recursos humanos, administrativos e
financeiros da Secretaria Estadual de Educação. Como se vê, o
PARANAEDUCAÇÃO tem atuação paralela à da Secretaria de
Educação e com esta coopera, sendo mero auxiliar na
execução da função pública - Educação.
3. A Constituição federal, no art. 37, XXI, determina a
obrigatoriedade de obediência aos procedimentos
licitatórios para a Administração Pública Direta e Indireta
de qualquer um dos Poderes da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios. A mesma regra não
existe para as entidades privadas que atuam em
colaboração com a Administração Pública, como é o caso
do PARANAEDUCAÇÃO.
4. A contratação de empregados regidos pela CLT não

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ofende a Constituição porque se trata de uma entidade de


direito privado. No entanto, ao permitir que os servidores
públicos estaduais optem pelo regime celetista ao
ingressarem no PARANEDUCAÇÂO, a norma viola o artigo
39 da Constituição, com a redação em vigor antes da EC
19/1998.
(...)
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente, para declarar a inconstitucionalidade do artigo 19,
§ 3º da lei 11.970/1997 do estado do Paraná, bem como para
dar interpretação conforme à Constituição ao artigo 3º, I e ao
artigo 11, incisos IV e VII do mesmo diploma legal, de sorte a
entender-se que as normas de procedimentos e os critérios de
utilização e repasse de recursos financeiros a serem geridos
pelo PARANAEDUCAÇÃO podem ter como objeto,
unicamente, a parcela dos recursos formal e especificamente
alocados ao PARANAEDUCAÇÃO, não abrangendo, em
nenhuma hipótese, a totalidade dos recursos públicos
destinados à educação no Estado do Paraná.
(ADI 1864, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/
Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado
em 08/08/2007, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-
2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00089 RTJ VOL-00204-02
PP-00535, grifos aditados).

Infere-se, pois, que a Lei 5.899, de 03 de julho de 2017 caminha em


consonância à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não havendo, ainda,
qualquer ofensa à Lei Orgânica do Distrito Federal e tampouco à Constituição
Federal. Assim, não há que se falar em ofensa aos seguintes artigos da Lei Orgânica
do Distrito Federal:

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a) artigos 264 e 285 - que dispõe sobre a necessidade de licitação


pública para compras, alienações e serviços da administração, bem como veda a
contratação de obras e serviços sem prévia aprovação de projeto - uma vez que os
Serviços Sociais Autônomos não vinculados a tal encargo;
b) artigo 22, §3º6, porquanto tal comando se apenas às pessoas
jurídicas de direito público integrante da Administração, o que não é o caso. Embora,
conforme já salientado, o IHBDF deverá observar os princípios que norteiam a
Administração Pública além de se submeter suas contas aos órgãos de controle,
incluindo aqui o Tribunal de Contas, consoante estabelecido nos incisos XVI a XVII
do artigo 2º da Lei 5.899/2017.
c) artigos 1497 e 151, §1º8¸ uma vez que o repasse orçamentário
feito pela Secretaria de Estado da Saúde é previamente obtido mediante
observância dos rito orçamentário previsto da Lei Orgânica do Distrito Federal, bem
como das diretrizes estabelecidas pela Constituição Federal.
Por fim, no que alude à alegação de que o artigo 10 da Lei

4
Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras, alienações e serviços da administração serão
contratados mediante processo de licitação pública, nos termos da lei.
5
Art. 28. É vedada a contratação de obras e serviços públicos sem prévia aprovação do respectivo projeto, sob
pena de nulidade do ato de contratação.
6
Art. 22. Os atos da administração pública de qualquer dos Poderes do Distrito Federal, além de obedecer aos
princípios constitucionais aplicados à administração pública, devem observar também o seguinte:
(...)
§ 3º Os Poderes do Distrito Federal mandarão publicar, mensalmente, nos respectivos sítios oficiais na internet,
demonstrativo de todas as despesas realizadas por todos os seus órgãos, de forma clara e compreensível ao
cidadão, inclusive os da administração indireta, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
mantidas pelo Poder Público, com a discriminação do beneficiário, do valor e da finalidade, conforme dispuser
a lei
7

8
Art. 151. São vedados:
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia
inclusão no plano plurianual ou sem lei que autorize sua inclusão, sob pena de crime de responsabilidade.

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5.899/2017 traz hipótese de isenção fiscal, motivo pelo qual deveria ter sido
aprovada com quorum de 2/3 dos membros, consoante estabelecido no artigo 131, I,
da LODF, melhor sorte não assiste aos demandantes.
Preleciona o artigo 10 da Lei impugnada:
Art. 10. O IHBDF deve pleitear:

I- Certificado de entidades beneficentes de assistência social


na forma do art. 3º, parágrafo único, da Lei federal 12.101, de
27 de novembro de 2009, com o apoio da Secretaria de Estado
de Saúde;
II- Isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita
Federal do Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal 9.532, de
10 de setembro de 1997;
(...)

Note-se que a redação do dispositivo ora questionado é clara no


sentido de que o IHBDF deverá pleitear o certificado de entidade beneficente e a
isenção fiscal cabível aos Serviços Sociais Autônomos, ou seja, trata-se de comando
de postulação e não da concessão da benesse fiscal, como pretende fazer crer o
demandante, motivo pelo qual inexiste inconstitucionalidade, no ponto.
Ante o exposto, não vislumbrando nenhuma mácula aos dispositivos
da Constituição Federal e da Lei Orgânica do Distrito Federal, JULGO
IMPROCEDENTE as Ações Diretas de Inconstitucionalidade 2017.00.2.013758-5 e
2017.00.2.013822-5 aviadas pelo Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal e
pelo Partido Movimento Democrático Brasileiro.
É como voto.

A Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

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A Senhora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO - Vogal


Trata-se de ações diretas de inconstitucionalidade proposta pelo
PARTIDO DOS TRABALHADORES-PT/DF e PARTIDO DO MOVIMENTO
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO - PMDB/DF impugnando a Lei nº 5.899/2017, cujo
instrumento normativo autoriza o Poder Executivo a instituir o Instituto Hospital de
Base do Distrito Federal - IHBDF, sob a alegação de inconstitucionalidade formal,
por afronta aos art. 19, XVIII, a e b, §§ 7º e 13, 33, 74, 109 e 131, e material, por
violação aos art. 3º, I a IV, 16, II, 19, II e IX, 22, §3º, 26, 28, 53, 60, XVI, 80, 149, §§
7º e 8º, 151, §1º, 157, §1º, II, 186, I, 204, II, §º, e 214, parágrafo único, todos da Lei
Orgânica do Distrito Federal.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Os autores sustentam que o processo legislativo que resultou na
aprovação do diploma impugnado contém vícios formais, daí a necessidade de seu
afastamento do cenário jurídico.
Vícios formais são aqueles que "traduzem defeito de formação do
ato normativo, pela inobservância de princípio de ordem técnica ou procedimental ou
pela violação de regras de competência. Nesses casos, viciado é o atonos seus
pressupostos, no seu procedimento de formação, na sua forma final".9

9
MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO. Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 961.

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A inconstitucionalidade formal, conforme ensina JOSÉ AFONSO DA


SILVA, se manifesta quando "... as normas são formuladas por autoridades
incompetentes ou em desacordo com formalidades ou procedimentos estabelecidos
pela Constituição.10
PONTO I - VIOLAÇÃO AOS ART. 19, §§7º E 13 DA LEI
ORGÂNICA
O PMDB/DF alega que a privatização de empresa pública e a
concessão de benefícios fiscais devem ser aprovadas por dois terços dos membros
da Câmara Legislativa, e que, ademais, não é admissível a privatização da gestão
de órgão da administração pública.
Eis o disposto nos artigos 19, parágrafos 7º, e 13 da Lei Orgânica:

Art. 19. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes do Distrito Federal obedece aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
razoabilidade, motivação, transparência, eficiência e interesse
público, e também ao seguinte:
(...)
§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou
sociedade de economia mista a que se refere o inciso XVIII
deste artigo, a lei específica dependerá de aprovação por dois
terços dos membros da Câmara Legislativa.
(...)
§ 13. A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
órgãos e entidades da administração pública pode ser ampliada
mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e
o Poder Público, que tenha por objeto a fixação de metas de
desempenho para o órgão ou a entidade, cabendo à lei dispor
sobre:
I - prazo de duração do contrato;
II - controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidade dos dirigentes;

10
In Comentário Contextual à Constituição, 6ª edição, Editora Malheiros, pág. 538.

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III - remuneração do pessoal.


(...)

O Instituto Hospital de Base do Distrito Federal - IHBDF, cuja


instituição foi autorizada pelo art. 1º do diploma impugnado, possui a natureza de
pessoa jurídica de direito privado na forma de serviço social autônomo, com a
finalidade de prestar assistência médica gratuita à população.
Confira-se:

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o serviço


social autônomo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal -
IHBDF, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos,
de interesse coletivo e de utilidade pública, com o objetivo de
prestar assistência médica qualificada e gratuita à população e
de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e gestão no
campo da saúde, em cooperação com o Poder Público.

PONTO II - VIOLAÇÃO AOS ART. 33, § 1º, DA LODF


O PMDB/DF alega que, ao versar sobre matérias relacionadas a
servidores públicos, seria necessária a prévia oitiva das entidades representativas
dos servidores abrangidos pela Lei nº 5.899/2017.
O art. 33, §1º, da LODF, preconiza que, antes da aprovação de lei
versando sobre regime jurídico único e planos de carreiras para os servidores da
Administração Pública Direta, Autarquias e Fundações públicas, devem ser ouvidas
as entidades representativas dos servidores, temas que não são objeto da lei em
comento.
PONTO III - VIOLAÇÃO AO ART. 74, § 5º, DA LEI ORGÂNICA
Os autores alegam que há vícios procedimentais e que a pauta
estava sobrestada, porquanto havia 153 vetos aguardando deliberação, razão pela
qual o PL 1.486/2017, que resultou na lei impugnada, não poderia ter sido votado,
daí a violação ao art. 74, § 5º, da Lei Orgânica.
A norma do art. 74, § 5º, da LODF, está assim redigida:

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Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele


enviado ao Governador que, aquiescendo, o sancionará e
promulgará.
(...)
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art.
66, § 4º, da Constituição Federal, o veto será incluído na
Ordem do Dia da sessão imediata, sobrestadas as demais
proposições até a sua votação final, só podendo ser rejeitado
pelo voto da maioria absoluta dos Deputados, em votação
ostensiva.

Os atos interna corporis devem ser resolvidas no âmbito da Casa


Legislativa, sendo vedado ao Poder Judiciário imiscuir-se na discussão acerca do
tema, sob pena de afronta ao princípio da separação dos poderes, máxime porque a
"submissão das questões de índole regimental ao poder de supervisão jurisdicional
dos Tribunais implicaria, em última análise, caso admitida, a inaceitável nulificação
do próprio Poder Legislativo, especialmente em matérias em que não se verifica
evidência de que o comportamento impugnado tenha efetivamente vulnerado o texto
da Constituição da República "(MS 33705 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-056 DIVULG
28-03-2016 PUBLIC 29-03-2016)"
PONTO IV - AFRONTA AO ART. 109 DA LEI ORGÂNICA
O art. 109 da Lei Orgânica e os artigos 1º, 2º e 5º da Lei nº 1.123/96,
que a regulamentou, estão assim redigidos:

Art. 109. Compete ao Conselho de Governo pronunciar-se


sobre questões relevantes suscitadas pelo Governo do Distrito
Federal, incluída a estabilidade das instituições e os problemas
emergentes de grave complexidade e magnitude.
Art. 1º O Conselho de Governo do Distrito Federal, órgão
superior de consulta do Poder Executivo, tem sua organização

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e funcionamento estabelecidos nesta Lei.


Art. 2º Compete ao Conselho de Governo do Distrito Federal
pronunciar-se, quando convocado pelo Governador, sobre
assuntos de relevante complexidade e magnitude.
Art. 5º O Conselho de Governo do Distrito Federal reunir-se-á
por convocação do Governador.

Pelo que se infere das normas acima reproduzidas, a convocação do


Conselho de Governo, órgão de consulta do Governador do Distrito Federal, é ato
que se insere no juízo de conveniência do Chefe do Poder Executivo, quando,
considerada a relevância da questão, incluída a estabilidade das instituições e os
problemas emergentes de grave complexidade e magnitude, julgar necessário a sua
manifestação.
PONTO V - VIOLAÇÃO AOS ART. 131, I, DA LODF
Os autores alegam que as isenções fiscais envolvendo matéria
tributária e previdenciária somente podem ser concedidas pelo voto da maioria de
2/3 dos membros da Câmara Legislativa, nos termos do art. 131, I, da LODF, assim
redigida:

Art. 131. As isenções, anistias, remissões, benefícios e


incentivos fiscais que envolvam matéria tributária e
previdenciária, inclusive as que sejam objeto de convênios
celebrados entre o Distrito Federal e a União, Estados e
Municípios, observarão o seguinte:
I - só poderão ser concedidos ou revogados por meio de lei
específica, aprovada por dois terços dos membros da Câmara
Legislativa, obedecidos os limites de prazo e valor;
(...)

O art. 10 da lei impugnada não versa sobre matéria tributária e


previdenciária, conforme se infere de seu teor, verbis:

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Art. 10. O IHBDF deve pleitear:


I - certificado de entidades beneficentes de assistência social
na forma do art. 3º, parágrafo único, da Lei federal nº 12.101,
de 27 de novembro de 2009, com o apoio da Secretaria de
Estado de Saúde;
II - isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita
Federal do Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal nº 9.532,
de 10 de dezembro de 1997.
§ 1º Aplica-se ao IHBDF, dada a forma de instituição, a origem
dos recursos, a finalidade pública e o atendimento integral aos
usuários do SUS, o regime de impenhorabilidade de seus bens,
serviços e rendas.
§ 2º Os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e
os da Diretoria Executiva respondem pessoalmente por seus
atos ou omissões ilícitos ocorridos durante os seus respectivos
mandatos no IHBDF.

INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
O vício material ocorre quando um ato normativo afronta qualquer
preceito ou princípio da Lei Orgânica (ou da Constituição Federal), motivo pelo qual
deve ser declarado inconstitucional.
PONTO I - DESRESPEITO AO ART. 3º, I E IV, DA LODF
O PMDB/DF a alega que a lei impugnada viola o art. 3º, I e IV, da Lei
Orgânica, porquanto, em última análise, impede a promoção dos direitos humanos e
o bem de todos.
O art. 3º, I e V, da LODF, estabelece que são objetivos prioritários do
Distrito Federal "garantir e promover os direitos humanos assegurados na
Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos; e "promover
o bem de todos".
Ora, o novo modelo de gestão implantado pela lei impugnada, sem
tecer comentários sobre o seu acerto ou desacerto, foi uma solução encontrada pelo
Administrador para melhorar a prestação do serviço de saúde a fim de atender aos

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anseios da população mais carente, que clama por um atendimento mais eficiente
do Sistema de Saúde Público do Distrito Federal, o que se traduz justamente em "
garantir e promover os direitos humanos e promover o bem de todos".
PONTO II - VIOLAÇÃO AO ART. 16, II, e 204, II, § 2º, DA LODF
O PMDB/DF argumenta que foram violados os art. 16, II, e 204, da
LODF, porquanto há transferência da administração de bens públicos do Hospital de
Base do Distrito Federal a particular.
Eis o teor das normas tidas por afrontadas:

Art. 16. É competência do Distrito Federal, em comum com a


União:
(...)
II - conservar o patrimônio público;
(...)"
Art. 204. A saúde é direito de todos e dever do Estado,
assegurado mediante políticas sociais, econômicas e
ambientais que visem:
I - ao bem-estar físico, mental e social do indivíduo e da
coletividade, à redução do risco de doenças e outros agravos;
II - ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de
saúde, para sua promoção, prevenção, recuperação e
reabilitação.
(..)
§ 2º As ações e serviços de saúde são de relevância pública, e
cabe ao Poder Público sua normatização, regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita,
preferencialmente, por meio de serviços públicos e,
complementarmente, por intermédio de pessoas físicas ou
jurídicas de direito privado, nos termos da lei.

Nos termos do art. 16, I, da LODF, compete ao Distrito Federal,


dentre outros, conservar o patrimônio público.
Conforme dispõe o art. 4º da Lei nº 5.899/2017:

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Art. 4º O IHBDF é incumbido de administrar os bens móveis e


imóveis que compõem o patrimônio da unidade da Secretaria
de Estado de Saúde de denominação correlata.
§ 1º O patrimônio da unidade da Secretaria de Estado de
Saúde de que trata o caput continua incorporado ao do Distrito
Federal na Secretaria de Estado de Saúde.
§ 2º Os bens móveis públicos administrados na forma do caput
podem ser permutados por outros de igual ou maior valor,
contanto que os novos bens integrem o patrimônio do Distrito
Federal.
§ 3º A permuta de que trata o § 2º depende de prévia avaliação
do bem e expressa autorização do Poder Público.
§ 4º No caso de extinção do IHBDF, os legados, as doações e
as heranças que lhe tiverem sido destinados, bem como os
demais bens que tenha vindo a adquirir ou produzir, serão
incorporados ao patrimônio do Distrito Federal.

Como visto, o IHBDF foi incumbido apenas de administrar os bens


públicos que compõem o patrimônio da Secretaria de Saúde, os quais permanecem
incorporados ao acervo do Distrito Federal.
PONTO III - VIOLAÇÃO AO ART. 19, II E IV, 26 E 214, DA LODF
Os autores alegam que a contratação de pessoal, sem a realização
de concurso público, bem como a dispensa do dever de licitar, ofende diretamente
os art. 19, II e IV, 26, 33, §1º, e 214 da LODF.
Veja o teor das normas acima elencadas:

Art. 19. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes do Distrito Federal obedece aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
razoabilidade, motivação, transparência, eficiência e interesse
público, e também ao seguinte:

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I - os cargos, os empregos e as funções públicas são


acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
da legislação;
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas
e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo
ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado, em lei, de livre
nomeação e exoneração;
(...)
Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras,
alienações e serviços da administração serão contratados
mediante processo de licitação pública, nos termos da lei.
(...)
Art. 214. A política de recursos humanos para o SUS será, nos
termos da lei federal, organizada e formalizada articuladamente
com as instituições governamentais de ensino e de saúde, com
aprovação pela Câmara Legislativa.
Parágrafo único. O plano de carreira da área de saúde da
administração pública direta, indireta e fundacional deverá
garantir a admissão por concurso público.

O art. 2º do diploma impugnado determina a celebração de contrato


de gestão, ficando assegurado ao IHBDF a autonomia para contratação de pessoal
sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, bem como conduzir o
respectivo processo de seleção, podendo fixar níveis de remuneração para o
pessoal da entidade, e que as aquisições, alienações e contratações serão
realizadas conforme regulamento próprio.
Confira-se:

Art. 2º Compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar


a gestão do IHBDF, observadas as seguintes normas e

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disposições:
I - o Poder Executivo, por intermédio da Secretada de Estado
de Saúde, celebra contrato de gestão com o IHBDF, para o
cumprimento das finalidades previstas nesta Lei;
(...)
VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para
contratação e administração de pessoal sob regime da
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, de forma a
assegurar a preservação dos mais elevados e rigorosos
padrões de atendimento à população;
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do
IHBDF deve ser conduzido de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios da publicidade, da
impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da
eficiência, nos termos do regulamento próprio a ser editado
pelo Conselho de Administração;
X - o contrato de gestão confere ao IHBDF poderes para fixar
níveis de remuneração para o pessoal da entidade, em padrões
compatíveis com os respectivos mercados de trabalho,
segundo o grau de qualificação exigido e os setores de
especialização profissional;
(...)
XII - as aquisições, alienações e contratações pelo IHBDF são
realizadas conforme seu regulamento próprio de compras e
contratações, aprovado pelo Conselho de Administração,
observados:
a) os princípios da publicidade, da impessoalidade, da
moralidade, da economicidade e da eficiência;
b) o princípio do julgamento objetivo;
c) o julgamento das propostas feito de acordo com os critérios
fixados no edital;
d) a igualdade de condições entre todos os fornecedores;
e) a garantia ao contraditório e à ampla defesa;

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No entanto, a natureza jurídica do IHBDF é de serviço social


autônomo. Portanto, não integra a Administração Pública, Direta ou Indireta.
Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, as "organizações
sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do conceito constitucional
de Administração Pública, razão pela qual não se submetem, em suas contratações
com terceiros, ao dever de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de
flexibilidade do setor privado, finalidade por detrás de todo o marco regulatório
instituído pela Lei (...) Os empregados das Organizações Sociais não são servidores
públicos, mas sim empregados privados, por isso que sua remuneração não deve ter
base em lei (CF, art. 37, X), mas nos contratos de trabalho firmados
consensualmente. Por identidade de razões, também não se aplica às Organizações
Sociais a exigência de concurso público (CF, art. 37, II), mas a seleção de pessoal,
da mesma forma como a contratação de obras e serviços, deve ser posta em prática
através de um procedimento objetivo e impessoal."11
PONTO IV - CONTRARIEDADE AO ART. 22, § 3º, DA LODF
O PMDB/DF sustenta que a transferência da gestão do orçamento
anual da Secretaria de Saúde e do Fundo de Saúde contraria o art. 22, § 3°, da
LODF, pois a norma exige a publicação mensal das despesas realizadas por todos
os órgãos públicos.
Eis o teor do art. 22, §3º, da Lei Orgânica:

Art. 22. Os atos da administração pública de qualquer dos


Poderes do Distrito Federal, além de obedecer aos princípios
constitucionais aplicados à administração pública, devem
observar também o seguinte:
(...)
§ 3º Os Poderes do Distrito Federal mandarão publicar,
mensalmente, nos respectivos sítios oficiais na internet,

11
ADI 1923, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 16/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-254 DIVULG 16-12-2015 PUBLIC 17-12-2015.

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demonstrativo de todas as despesas realizadas por todos os


seus órgãos, de forma clara e compreensível ao cidadão,
inclusive os da administração indireta, empresas públicas,
sociedades de economia mista e fundações mantidas pelo
Poder Público, com a discriminação do beneficiário, do valor e
da finalidade, conforme dispuser a lei.

Conforme dito acima (Ponto III), o IHBDF tem a natureza jurídica de


serviço social autônomo e, portanto, não integra a Administração Direta ou Indireta.
PONTO V - AFRONTA AOS ART. 26 E 28
Os autores alegam que a previsão normativa de que os recursos
públicos serão gastos como entender o IHBDF afronta os art. 26 e 28 da LODF,
assim redigidos:

Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras,


alienações e serviços da administração serão contratados
mediante processo de licitação pública, nos termos da lei.
(...)
Art. 28. É vedada a contratação de obras e serviços públicos
sem prévia aprovação do respectivo projeto, sob pena de
nulidade do ato de contratação.

A regra e a vedação constante das normas acima citadas não se


aplicam ao IHBDF, porquanto, repete-se, ele não integra a Administração Pública
Direta e Indireta, que são as destinatárias dos preceitos normativos.
PONTO VI - INCOMPATIBILIDADE DO ART. 2º FRENTE AOS
ART. 60, XVI, e 80, DA LODF
O PMDB/DF sustenta que o art. 2º, XIV, do diploma normativo
impugnado flexibiliza e desrespeita a forma de fiscalização e controle, cuja
competência é atribuída à Câmara Legislativa, conforme estabelecem os art. 60 e 80
da LODF.
O art. 2º, XIV, da Lei nº 5.899/2017, tem o seguinte teor:

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Art. 2º Compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar


a gestão do IHBDF, observadas as seguintes normas e
disposições:
(...)
XIV - o IHBDF apresenta anualmente à Secretaria de Estado
de Saúde e ao TCDF, até 31 de março de cada ano, relatório
circunstanciado sobre a execução do plano no exercício findo,
com a prestação de contas dos recursos públicos nele
aplicados, a avaliação do andamento do contrato e as análises
gerenciais cabíveis;
(...)

Os artigos 60 e 80 da Lei Orgânica estão assim redigidos:

Art. 60. Compete, privativamente, à Câmara Legislativa do


Distrito Federal:
(...)
XIV - convocar Secretários de Estado do Distrito Federal,
dirigentes e servidores da administração direta e indireta do
Distrito Federal a prestar pessoalmente informações sobre
assuntos previamente determinados, importando crime de
responsabilidade a ausência sem justificativa adequada ou o
não atendimento no prazo de trinta dias, bem como a prestação
de informações falsas, nos termos da legislação pertinente;
(...)
Art. 80. Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, de forma
integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:
(...)

Cumpre acentuar, mais uma vez, que o IHBDF não integra a


Administração Pública, Direta ou Indireta, e a norma do art. 80 tem como
destinatários os Poderes Legislativo e Executivo.

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PONTO VII - VIOLAÇÃO AOS ART. 149, §§7º E 8º, E 151, I, §1º,
DA LODF
O PMDB/DF sustenta que os recursos públicos destinados ao
IHBDF não estão contemplados na Lei Orçamentária, o que está em confronto com
o art. 149, §§7º e 8º, e 151, I, §1º, da LODF.
Confira-se o teor das normas tidas por violadas:

Art. 149. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


(...)
§ 7º Integrarão o projeto de lei orçamentária, além daqueles
definidos em lei complementar, demonstrativos específicos com
detalhamento das ações governamentais, dos quais constarão:
I - objetivos, metas e prioridades, por Região Administrativa;
II - identificação do efeito sobre as receitas e despesas
decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e
benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia;
III - demonstrativo da situação do endividamento, no qual se
evidenciará, para cada empréstimo, o saldo devedor e
respectivas projeções de amortização e encargos financeiros
correspondentes a cada semestre do ano da proposta
orçamentária.
§ 8º A lei orçamentária incluirá, obrigatoriamente, previsão de
recursos provenientes de transferências, inclusive aqueles
oriundos de convênios, acordos, ajustes ou instrumentos
similares com outras esferas de governo e os destinados a
fundos.
(...)
Art. 151. São vedados:
I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei
orçamentária anual;
(...)
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um
exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no
plano plurianual ou sem lei que autorize sua inclusão, sob pena
de crime de responsabilidade.

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Conforme se infere do art. 13 do diploma impugnado, os recursos


orçamentários destinados ao IHBDF serão retirados do orçamento da Secretaria de
Saúde, bem como outros órgãos entidades governamentais.
Confira-se:

Art. 13. Além da Secretaria de Estado de Saúde, outros órgãos


e entidades governamentais são autorizados a repassar
recursos ao IHBDF, mediante convênios e termos de parceria,
fomento ou cooperação, para custear a execução de projetos
de interesse social nas áreas das atividades previstas no
objetivo social desta Lei.
Parágrafo único. O IHBDF presta contas aos órgãos
repassadores da aplicação dos recursos públicos recebidos em
convênio ou outros instrumentos, nos termos da legislação
vigente.

PONTO VIII - VIOLAÇÃO AO ART. 157, § 1º, II, DA LEI


ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL
O PT/DF argumenta que há violação ao art. 157, §1º, I e II, da Lei
Orgânica, porquanto a concessão de vantagem, aumento de remuneração e
contratação de pessoal dependem de autorização específica na Lei de Diretrizes
Orçamentárias.
O art. 157, § 1º, I e II, possui a seguinte redação:

Art. 157. A despesa com pessoal ativo e inativo fica sujeita às


disposições e limites estabelecidos na lei complementar a que
se refere o art. 169 da Constituição Federal.
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de
remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou a
alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou a
contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e
entidades da administração direta ou indireta, inclusive
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, só podem

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ser feitas:
I - se houver autorização específica na lei de diretrizes
orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
sociedades de economia mista;
II - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para
atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos
dela decorrentes.

Cumpre relembrar que, conforme acima demonstrado (Ponto III), o


IHBDF não está inserido no âmbito da Administração Pública, daí porque são
inaplicáveis as normas acima transcritas.
PONTO IX - VIOLAÇÃO AO ART. 186, I, DA LODF
O PMDB/DF assevera que a transformação do Hospital de Base do
Distrito Federal - HBDF em instituto de personalidade jurídica de direito privado foi
uma solução encontrada para viabilizar a burla ao disposto no art. 186, I, da LODF,
cuja norma dispõe que os serviços de saúde devem ser prestados diretamente pelo
Poder Público.
Confira-se:

Art. 186. Cabe ao Poder Público do Distrito Federal, na forma


da lei, a prestação dos serviços públicos, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, e sempre por meio de
licitação, observado o seguinte:
(...)

Conforme se extrai do conteúdo do art. 1º da Lei nº 5.899/2017, o


IHBDF não foi criado para substituir o Poder Público na área de prestação de
serviços de saúde, mas para auxiliá-lo (em cooperação) no desenvolvimento de
ações no setor:

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Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o serviço


social autônomo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal -
IHBDF, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos,
de interesse coletivo e de utilidade pública, com o objetivo de
prestar assistência médica qualificada e gratuita à população e
de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e gestão no
campo da saúde, em cooperação com o Poder Público.

Ao meu sentir, portanto, a lei impugnada não contém vício a ser


proclamado.
A propósito, destaco o seguinte precedente:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TERCEIRO SETOR.
MARCO LEGAL DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS. LEI Nº
9.637/98 E NOVA REDAÇÃO, CONFERIDA PELA LEI Nº
9.648/98, AO ART. 24, XXIV, DA LEI Nº 8.666/93. MOLDURA
CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NO
DOMÍNIO ECONÔMICO E SOCIAL. SERVIÇOS PÚBLICOS
SOCIAIS. SAÚDE (ART. 199, CAPUT), EDUCAÇÃO (ART.
209, CAPUT), CULTURA (ART. 215), DESPORTO E LAZER
(ART. 217), CIÊNCIA E TECNOLOGIA (ART. 218) E MEIO
AMBIENTE (ART. 225). ATIVIDADES CUJA TITULARIDADE É
COMPARTILHADA ENTRE O PODER PÚBLICO E A
SOCIEDADE. DISCIPLINA DE INSTRUMENTO DE
COLABORAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA. INTERVENÇÃO
INDIRETA. ATIVIDADE DE FOMENTO PÚBLICO.
INEXISTÊNCIA DE RENÚNCIA AOS DEVERES ESTATAIS DE
AGIR. MARGEM DE CONFORMAÇÃO
CONSTITUCIONALMENTE ATRIBUÍDA AOS AGENTES
POLÍTICOS DEMOCRATICAMENTE ELEITOS. PRINCÍPIOS

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DA CONSENSUALIDADE E DA PARTICIPAÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 175, CAPUT, DA
CONSTITUIÇÃO. EXTINÇÃO PONTUAL DE ENTIDADES
PÚBLICAS QUE APENAS CONCRETIZA O NOVO MODELO.
INDIFERENÇA DO FATOR TEMPORAL. INEXISTÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AO DEVER CONSTITUCIONAL DE LICITAÇÃO
(CF, ART. 37, XXI). PROCEDIMENTO DE QUALIFICAÇÃO
QUE CONFIGURA HIPÓTESE DE CREDENCIAMENTO.
COMPETÊNCIA DISCRICIONÁRIA QUE DEVE SER
SUBMETIDA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA
PUBLICIDADE, MORALIDADE, EFICIÊNCIA E
IMPESSOALIDADE, À LUZ DE CRITÉRIOS OBJETIVOS (CF,
ART. 37, CAPUT). INEXISTÊNCIA DE PERMISSIVO À
ARBITRARIEDADE. CONTRATO DE GESTÃO. NATUREZA
DE CONVÊNIO. CELEBRAÇÃO NECESSARIAMENTE
SUBMETIDA A PROCEDIMENTO OBJETIVO E IMPESSOAL.
CONSTITUCIONALIDADE DA DISPENSA DE LICITAÇÃO
INSTITUÍDA PELA NOVA REDAÇÃO DO ART. 24, XXIV, DA
LEI DE LICITAÇÕES E PELO ART. 12, §3º, DA LEI Nº
9.637/98. FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO.
OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE,
DA PUBLICIDADE, DA EFICIÊNCIA E DA MOTIVAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO PARA OS
CONTRATOS CELEBRADOS PELAS ORGANIZAÇÕES
SOCIAIS COM TERCEIROS. OBSERVÂNCIA DO NÚCLEO
ESSENCIAL DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA (CF, ART. 37, CAPUT). REGULAMENTO PRÓPRIO
PARA CONTRATAÇÕES. INEXISTÊNCIA DE DEVER DE
REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO PARA
CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS. INCIDÊNCIA DO
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IMPESSOALIDADE,
ATRAVÉS DE PROCEDIMENTO OBJETIVO. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DOS
SERVIDORES PÚBLICOS CEDIDOS. PRESERVAÇÃO DO
REGIME REMUNERATÓRIO DA ORIGEM. AUSÊNCIA DE
SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PARA O
PAGAMENTO DE VERBAS, POR ENTIDADE PRIVADA, A

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SERVIDORES. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 37, X, E 169,


§1º, DA CONSTITUIÇÃO. CONTROLES PELO TRIBUNAL DE
CONTAS DA UNIÃO E PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.
PRESERVAÇÃO DO ÂMBITO CONSTITUCIONALMENTE
DEFINIDO PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO
(CF, ARTS. 70, 71, 74 E 127 E SEGUINTES).
INTERFERÊNCIA ESTATAL EM ASSOCIAÇÕES E
FUNDAÇÕES PRIVADAS (CF, ART. 5º, XVII E XVIII).
CONDICIONAMENTO À ADESÃO VOLUNTÁRIA DA
ENTIDADE PRIVADA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À
CONSTITUIÇÃO. AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE PARA CONFERIR INTERPRETAÇÃO
CONFORME AOS DIPLOMAS IMPUGNADOS.
1. Aatuação da Corte Constitucional não pode traduzir forma de
engessamento e de cristalização de um determinado modelo
pré-concebido de Estado, impedindo que, nos limites
constitucionalmente assegurados, as maiorias políticas
prevalecentes no jogo democrático pluralista possam pôr em
prática seus projetos de governo, moldando o perfil e o
instrumental do poder público conforme a vontade coletiva.
2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF,
art. 209, caput), cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art.
217), ciência e tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF,
art. 225) configuram serviços públicos sociais, em relação aos
quais a Constituição, ao mencionar que "são deveres do
Estado e da Sociedade" e que são "livres à iniciativa privada",
permite a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem
que para tanto seja necessária a delegação pelo poder público,
de forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da
Constituição.
3. Aatuação do poder público no domínio econômico e social
pode ser viabilizada por intervenção direta ou indireta,
disponibilizando utilidades materiais aos beneficiários, no
primeiro caso, ou fazendo uso, no segundo caso, de seu
instrumental jurídico para induzir que os particulares executem
atividades de interesses públicos através da regulação, com
coercitividade, ou através do fomento, pelo uso de incentivos e

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estímulos a comportamentos voluntários.


4. Em qualquer caso, o cumprimento efetivo dos deveres
constitucionais de atuação estará, invariavelmente, submetido
ao que a doutrina contemporânea denomina de controle da
Administração Pública sob o ângulo do resultado (Diogo de
Figueiredo Moreira Neto).
5. O marco legal das Organizações Sociais inclina-se para a
atividade de fomento público no domínio dos serviços sociais,
entendida tal atividade como a disciplina não coercitiva da
conduta dos particulares, cujo desempenho em atividades de
interesse público é estimulado por sanções premiais, em
observância aos princípios da consensualidade e da
participação na Administração Pública.
6. Afinalidade de fomento, in casu, é posta em prática pela
cessão de recursos, bens e pessoal da Administração Pública
para as entidades privadas, após a celebração de contrato de
gestão, o que viabilizará o direcionamento, pelo Poder Público,
da atuação do particular em consonância com o interesse
público, através da inserção de metas e de resultados a serem
alcançados, sem que isso configure qualquer forma de
renúncia aos deveres constitucionais de atuação.
7. Na essência, preside a execução deste programa de ação
institucional a lógica que prevaleceu no jogo democrático, de
que a atuação privada pode ser mais eficiente do que a pública
em determinados domínios, dada a agilidade e a flexibilidade
que marcam o regime de direito privado.
8. Os arts. 18 a 22 da Lei nº 9.637/98 apenas concentram a
decisão política, que poderia ser validamente feita no futuro, de
afastar a atuação de entidades públicas através da intervenção
direta para privilegiar a escolha pela busca dos mesmos fins
através da indução e do fomento de atores privados, razão pela
qual a extinção das entidades mencionadas nos dispositivos
não afronta a Constituição, dada a irrelevância do fator tempo
na opção pelo modelo de fomento - se simultaneamente ou
após a edição da Lei.
9. O procedimento de qualificação de entidades, na sistemática
da Lei, consiste em etapa inicial e embrionária, pelo

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deferimento do título jurídico de "organização social", para que


Poder Público e particular colaborem na realização de um
interesse comum, não se fazendo presente a contraposição de
interesses, com feição comutativa e com intuito lucrativo, que
consiste no núcleo conceitual da figura do contrato
administrativo, o que torna inaplicável o dever constitucional de
licitar (CF, art. 37, XXI).
10. Aatribuição de título jurídico de legitimação da entidade
através da qualificação configura hipótese de credenciamento,
no qual não incide a licitação pela própria natureza jurídica do
ato, que não é contrato, e pela inexistência de qualquer
competição, já que todos os interessados podem alcançar o
mesmo objetivo, de modo includente, e não excludente.
11. Aprevisão de competência discricionária no art. 2º, II, da Lei
nº 9.637/98 no que pertine à qualificação tem de ser
interpretada sob o influxo da principiologia constitucional, em
especial dos princípios da impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência (CF, art. 37, caput). É de se ter por
vedada, assim, qualquer forma de arbitrariedade, de modo que
o indeferimento do requerimento de qualificação, além de
pautado pela publicidade, transparência e motivação, deve
observar critérios objetivos fixados em ato regulamentar
expedido em obediência ao art. 20 da Lei nº 9.637/98,
concretizando de forma homogênea as diretrizes contidas nos
inc. I a III do dispositivo.
12. Afigura do contrato de gestão configura hipótese de
convênio, por consubstanciar a conjugação de esforços com
plena harmonia entre as posições subjetivas, que buscam um
negócio verdadeiramente associativo, e não comutativo, para o
atingimento de um objetivo comum aos interessados: a
realização de serviços de saúde, educação, cultura, desporto e
lazer, meio ambiente e ciência e tecnologia, razão pela qual se
encontram fora do âmbito de incidência do art. 37, XXI, da CF.
13. Diante, porém, de um cenário de escassez de bens,
recursos e servidores públicos, no qual o contrato de gestão
firmado com uma entidade privada termina por excluir, por
consequência, a mesma pretensão veiculada pelos demais

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particulares em idêntica situação, todos almejando a posição


subjetiva de parceiro privado, impõe-se que o Poder Público
conduza a celebração do contrato de gestão por um
procedimento público impessoal e pautado por critérios
objetivos, por força da incidência direta dos princípios
constitucionais da impessoalidade, da publicidade e da
eficiência na Administração Pública (CF, art. 37, caput).
14. As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei
nº 8.666/93 e no art. 12, §3º, da Lei nº 9.637/98 têm a
finalidade que a doutrina contemporânea denomina de função
regulatória da licitação, através da qual a licitação passa a ser
também vista como mecanismo de indução de determinadas
práticas sociais benéficas, fomentando a atuação de
organizações sociais que já ostentem, à época da contratação,
o título de qualificação, e que por isso sejam reconhecidamente
colaboradoras do Poder Público no desempenho dos deveres
constitucionais no campo dos serviços sociais. O afastamento
do certame licitatório não exime, porém, o administrador
público da observância dos princípios constitucionais, de modo
que a contratação direta deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a
todos os interessados.
15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor,
não fazem parte do conceito constitucional de Administração
Pública, razão pela qual não se submetem, em suas
contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que consistiria
em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade
por detrás de todo o marco regulatório instituído pela Lei. Por
receberem recursos públicos, bens públicos e servidores
públicos, porém, seu regime jurídico tem de ser minimamente
informado pela incidência do núcleo essencial dos princípios da
Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre os quais se
destaca o princípio da impessoalidade, de modo que suas
contratações devem observar o disposto em regulamento
próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e
impessoais para o dispêndio de recursos públicos.
16. Os empregados das Organizações Sociais não são

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servidores públicos, mas sim empregados privados, por isso


que sua remuneração não deve ter base em lei (CF, art. 37, X),
mas nos contratos de trabalho firmados consensualmente. Por
identidade de razões, também não se aplica às Organizações
Sociais a exigência de concurso público (CF, art. 37, II), mas a
seleção de pessoal, da mesma forma como a contratação de
obras e serviços, deve ser posta em prática através de um
procedimento objetivo e impessoal.
17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos
cedidos às organizações sociais, na medida em que
preservado o paradigma com o cargo de origem, sendo
desnecessária a previsão em lei para que verbas de natureza
privada sejam pagas pelas organizações sociais, sob pena de
afronta à própria lógica de eficiência e de flexibilidade que
inspiraram a criação do novo modelo.
18. O âmbito constitucionalmente definido para o controle a ser
exercido pelo Tribunal de Contas da União (CF, arts. 70, 71 e
74) e pelo Ministério Público (CF, arts. 127 e seguintes) não é
de qualquer forma restringido pelo art. 4º, caput, da Lei nº
9.637/98, porquanto dirigido à estruturação interna da
organização social, e pelo art. 10 do mesmo diploma, na
medida em que trata apenas do dever de representação dos
responsáveis pela fiscalização, sem mitigar a atuação de ofício
dos órgãos constitucionais.
19. Aprevisão de percentual de representantes do poder
público no Conselho de Administração das organizações
sociais não encerra violação ao art. 5º, XVII e XVIII, da
Constituição Federal, uma vez que dependente, para
concretizar-se, de adesão voluntária das entidades privadas às
regras do marco legal do Terceiro Setor.

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20. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido é julgado


parcialmente procedente, para conferir interpretação conforme
à Constituição à Lei nº 9.637/98 e ao art. 24, XXIV, da Lei nº
8666/93, incluído pela Lei nº 9.648/98, para que: (i) o
procedimento de qualificação seja conduzido de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput
do art. 37 da CF, e de acordo com parâmetros fixados em
abstrato segundo o que prega o art. 20 da Lei nº 9.637/98; (ii) a
celebração do contrato de gestão seja conduzida de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios
do caput do art. 37 da CF; (iii) as hipóteses de dispensa de
licitação para contratações (Lei nº 8.666/93, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei nº 9.637/98,
art. 12, §3º) sejam conduzidas de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37
da CF; (iv) os contratos a serem celebrados pela Organização
Social com terceiros, com recursos públicos, sejam conduzidos
de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do
regulamento próprio a ser editado por cada entidade; (v) a
seleção de pessoal pelas Organizações Sociais seja conduzida
de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do
regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e (vi) para
afastar qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo
Ministério Público e pelo TCU, da aplicação de verbas
públicas. 12

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES as ações.


É como voto.

12
ADI 1923, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 16/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-254 DIVULG 16-12-2015 PUBLIC 17-12-2015.

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O Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador FERNANDO HABIBE - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora SIMONE LUCINDO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

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O Senhor Desembargador TEÓFILO CAETANO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador GILBERTO DE OLIVEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Presidente e Vogal


Acompanho o eminente Relator.

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MÉRITO

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA - Relator


DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
Os autores das ações diretas de inconstitucionalidade asseveram
que a Lei 5.899/2017 está em rota de colisão com os seguintes dispositivos da Lei
Orgânica do Distrito Federal:

A) "Art. 3º São objetivos prioritários do Distrito Federal:


I - garantir e promover os direitos humanos assegurados na Constituição
Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
II - assegurar ao cidadão o exercício dos direitos de iniciativa que lhe
couberem, relativos ao controle da legalidade e legitimidade dos atos do
Poder Público e da eficácia dos serviços públicos;
III - preservar os interesses gerais e coletivos;
IV - promover o bem de todos;"
.....................................................................
B) "Art. 16. É competência do Distrito Federal, em comum com a União:
.....................................................................
II - conservar o patrimônio público;"
.....................................................................
C) "Art. 19 .Aadministração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes do Distrito Federal obedece aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, motivação,
transparência, eficiência e interesse público, e também ao seguinte: (Caput
com a redação da Emenda à Lei Orgânica nº 80, de 2014.)
....................................................................
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação
prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado, em lei,
de livre nomeação e exoneração;(Inciso com a redação da Emenda à Lei

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Orgânica nº 80, de 2014.)


.....................................................................
IX - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o art.
33, § 5º, somente podem ser fixados ou alterados por lei específica,
observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral
anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Inciso com a
redação da Emenda à Lei Orgânica nº 80, de 2014.)
.....................................................................
D) "Art. 22. Os atos da administração pública de qualquer dos Poderes do
Distrito Federal, além de obedecer aos princípios constitucionais aplicados à
administração pública, devem observar também o seguinte:
.....................................................................
§ 3º Os Poderes do Distrito Federal mandarão publicar, mensalmente, nos
respectivos sítios oficiais na internet, demonstrativo de todas as despesas
realizadas por todos os seus órgãos, de forma clara e compreensível ao
cidadão, inclusive os da administração indireta, empresas públicas,
sociedades de economia mista e fundações mantidas pelo Poder Público,
com a discriminação do beneficiário, do valor e da finalidade, conforme
dispuser a lei. (Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 68, de
2013.)"
.....................................................................
E) "Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras, alienações e
serviços da administração serão contratados mediante processo de licitação
pública, nos termos da lei."
.....................................................................
F) "Art. 28. É vedada a contratação de obras e serviços públicos sem prévia
aprovação do respectivo projeto, sob pena de nulidade do ato de
contratação."
.....................................................................
G) "Art. 53. São Poderes do Distrito Federal, independentes e harmônicos
entre si, o Executivo e o Legislativo."
.....................................................................
H) "Art. 60. Compete, privativamente, à Câmara Legislativa do Distrito
Federal:
.....................................................................
XVI - fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da
administração indireta;

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I) "Art. 80. Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, de forma


integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:
.....................................................................
J) "Art. 149. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
.....................................................................
§ 7º Integrarão o projeto de lei orçamentária, além daqueles definidos em lei
complementar, demonstrativos específicos com detalhamento das ações
governamentais, dos quais constarão:
.....................................................................
§ 8º A lei orçamentária incluirá, obrigatoriamente, previsão de recursos
provenientes de transferências, inclusive aqueles oriundos de convênios,
acordos, ajustes ou instrumentossimilares com outras esferas de governo e
os destinados a fundos.
.....................................................................
L) "Art. 151. São vedados:
I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual;
.....................................................................
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro
poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual ou sem lei que
autorize sua inclusão, sob pena de crime de responsabilidade."
.....................................................................
M) "Art. 157. A despesa com pessoal ativo e inativo fica sujeita às
disposições e limites estabelecidos na lei complementar a que se refere o
art. 169 da Constituição Federal. (Artigo com a redação da Emenda à Lei
Orgânica nº 80, de 2014.)
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a
criação de cargos, empregos e funções ou a alteração de estrutura de
carreiras, bem como a admissão ou a contratação de pessoal, a qualquer
título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, só podem ser feitas:
I - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias,
ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista;
II - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às
projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes."
.....................................................................
N) "Art. 186. Cabe ao Poder Público do Distrito Federal, na forma da lei, a
prestação dos serviços públicos, diretamente ou sob regime de concessão

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ou permissão, e sempre por meio de licitação, observado o seguinte:


I - a delegação de prestação de serviços a pessoa física ou jurídica de
direito privado far-se-á mediante comprovação técnica e econômica de sua
necessidade, e de lei autorizativa;"
.....................................................................
O) "Art. 204. A saúde é direito de todos e dever do Estado, assegurado
mediante políticas sociais, econômicas e ambientais que visem:
.....................................................................
II - ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, para sua
promoção, prevenção, recuperação e reabilitação.
.....................................................................
§ 2º As ações e serviços de saúde são de relevância pública, e cabe ao
Poder Público sua normatização, regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita, preferencialmente, por meio de serviços
públicos e, complementarmente, por intermédio de pessoas físicas ou
jurídicas de direito privado, nos termos da lei.
.....................................................................
P) "Art. 214. A política de recursos humanos para o SUS será, nos termos
da lei federal, organizada e formalizada articuladamente com as instituições
governamentais de ensino e de saúde, com aprovação pela Câmara
Legislativa.
Parágrafo único. O plano de carreira da área de saúde da administração
pública direta, indireta e fundacional deverá garantir a admissão por
concurso público."

Como já fora dito quando da análise da alegação de


inconstitucionalidade formal por inobservância de quorum especial para a
deliberação e votação, a Lei 5.899/2017 não cuida de privatização nem de extinção
de empresa pública ou de sociedade de economia mista.
O que o diploma impugnado estabelece é uma autorização para o
Poder Executivo instituir o serviço social autônomo Instituto Hospital de Base do
Distrito Federal - IHBDF, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de
interesse coletivo e de utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência
médica qualificada e gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino,
pesquisa e gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público (art. 1º

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da Lei 5.899/2017).
A administração pública federal, estadual e municipal têm instituído
serviços sociais autônomos como forma de organização da gestão de atividades
próprias. Assim demonstrou o Governador do Distrito Federal em sua manifestação
nos autos da ADI 2017.00.2.013758-5. Confira-se:

"Embora classicamente a estruturação e a denominação Serviço Social


Autônomo designasse as entidades que compõem o chamado 'Sistema S',
passou a administração pública, inclusive no cenário federal, a valer-se
dessa forma de organização na gestão de atividades próprias. Citem-se,
como exemplo, no âmbito da União, o Serviço Social Autônomo Agência de
Promoção de Exportações do Brasil - APEX-Brasil (lei federal n.
10.668/03), o Serviço Social Autônomo Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial - ABDI (lei federal n. 11.080/04) e o Serviço
Social Autônomo Associação das Pioneiras Sociais - APS, mantenedor da
Rede SARAH (lei federal n. 8.246/91), que atua justamente na área de
saúde.
Cabe destacar que tal iniciativa - instituição de serviços sociais autônomos
para a colaboração na prestação de serviços públicos - foi acompanhada
por outros entes federados, valendo enfatizar a experiência do Estado do
Paraná, onde se instituíram, sob a forma de serviço social autônomo, a
PARANAPREVIDENCIA (lei estadual paranaense n. 12.498/98), a
PARANACIDADE (lei estadual paranaense n. 11.498/96) e a
PARANAEDUCAÇÃO (lei estadual paranaense n. 11.970/97). Observem-se,
ainda, os casos do Serviço Social Autônomo Hospital Alcides Carneiro -
SEHAC (lei municipal de Petrópolis-RJ n. 6.483/2007), o Instituto Curitiba de
Saúde, do Município de Curitiba (lei municipal curitibana n. 9.626/1999), a
Agência São Paulo de Desenvolvimento - ADE SAMPA (lei municipal
paulistana n. 15.838/13), dentre outros."
A sistemática e o regime jurídico dos serviços sociais autônomos já foram
objeto de análise pela doutrina administrativista. Como regra, os autores
brasileiros têm admitido e reconhecido a importância dessa figura jurídica,
ressaltando o seu papel de cooperação como a administração na
perspectiva da prestação de serviços públicos. Esses mesmos professores
ressaltam a natureza privada de tais instituições, enfatizando a sua

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desvinculação da estrutura da administração pública direta e indireta. Nesse


sentido, observe-se o magistério de Odete Medauar:
[Os Serviços Sociais Autônomos] São pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, destinadas a propiciar assistência social, médica ou
ensino à população ou a certos grupos profissionais. Não integram a
Administração indireta, nem a direta. Alguns, como o SESI, SESC, SENAI,
SENAC, têm seus recursos oriundos principalmente de contribuições de
empresas, arrecadadas e repassadas pela Previdência Social. Outros
celebram contrato gestão com órgão da Administração direta ou convênios
com entidades governamentais e privadas, como é o caso do Serviço Social
Autônomo 'Associação das Pioneiras Sociais', cuja instituição foi autorizada
pela Lei federal 8.246, de 22.10.1991. [1]
Perfilhando semelhante orientação, José dos Santos Carvalho Filho
categoriza essa figura jurídica como pessoas de cooperação
governamental, ressaltando a sua natureza jurídica de direito privado e
destacando a circunstância de que tais instituições não integram a
administração pública:
Pessoas de cooperação governamental são aquelas entidades que
colaboram com o Poder Público, a que são vinculadas, através da execução
de alguma atividade caracterizada como serviço de utilidade pública. Alguns
autores as têm denominado de serviços autônomos. A denominação
também tem sido adotada por leis mais recentes que autorizaram a
instituição de tais entidades.
(...)
As pessoas de cooperação governamental são pessoas jurídicas de direito
privado, embora no exercício de atividades que produzem algum benefício
para grupos sociais ou categorias profissionais.
Apesar de serem entidades que cooperam com o Poder Público, não
integram o elenco das pessoas da Administração Indireta, razão por que
seria impróprio considerá-las pessoas administrativas. Não há regra que
predetermine a forma jurídica dessas pessoas [2]."

Nesse ponto, convém trazer a lume a doutrina de José Eduardo


Sabo Paes [3], colacionada no parecer da douta Procuradoria de Justiça, in verbis:

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"(...) A natureza própria dos serviços sociais autônomos, como entes de


cooperação com o Poder Público ou pessoas de cooperação
governamental, com administração e patrimônio próprios, não tem o condão
de obrigá-los a atuar como entidades da administração pública direta ou
indireta. Mesmo porque não estão inseridos no hall dos que integram ou
pertencem à administração pública (veja-se a propósito o art. 4.°, inc. I e II,
do Decreto-Lei n.° 200/1967. com a alteração dada pela Lei n.° 7.596/1976).
No entanto, os serviços sociais autônomos, embora não integrantes da
administração pública, são destinatários de recursos públicos, e nesta
situação devem adotar na execução de suas despesas regulamentos
próprios e uniformes, livres do excesso de procedimentos burocráticos, em
que sejam preservados, todavia, os princípios gerais que norteiam a
execução da despesa pública. Entre eles, podemos citar os princípios da
legalidade - que, aplicado aos serviços sociais autônomos, significa a
sujeição às disposições de suas normas internas - da moralidade, da
finalidade, da isonomia, da igualdade e da publicidade. Além desses,
poderão ser observados nas licitações os princípios da vinculação ao
instrumento convocatório e do julgamento objetivo.
Verifico, ainda, não haver na Lei n.º 8.666/1993 dispositivo que abranja os
serviços sociais, não se podendo assim exigir dessas instituições - que são
privadas - a obediência expressa às disposições da Lei de Licitações.
Deve-se, sim, admitir a contratação de compras, obras e serviços pelos
serviços sociais autônomos, com observância das regras previstas em
regulamento próprio, devidamente publicado, que observe os princípios
constitucionais, que entendo, devam ser aplicados a todas as entidades de
direito privado, ou seja, às associações e às fundações que tenham
finalidades sociais na forma em que são aplicadas as instituições
qualificadas como Oscips, por força do art. 14 c/c o art. 4.°. inc. I, ambos
daLei n.° 9.790/1999.
(...) Vale ressaltar que recentemente, em 20.03.2015, o STF, por decisão
liminar do Ministro Gilmar Mendes - MS 33442, suspendeu a decisão do
Tribunal de Contas da União que determinava ao Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC) a inclusão, em seus editais de licitação,
de dispositivos previstos na Lei 8.666/1993, tendo por base o entendimento

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de que o as entidades do chamado "Sistema S" têm natureza privada e não


integram a administração pública direta ou indireta, não se aplicando a elas
a observância do disposto no inciso XXI do artigo 37 da Constituição
Federal e nem as regras do artigo 37 (inciso II)da Constituição. Na
oportunidade, inclusive, ressaltou-se que as entidades do "Sistema S"
desempenham atividades privadas de interesse coletivo, em regime de
colaboração com o Poder Público, e possuem patrimônio e receitas
próprias, bem como a prerrogativa de autogestão de seus recursos.
Com relação à obrigatoriedade do concurso público para as entidades
consideradas como serviços sociais autônomos, entendo, primeiro, que a
norma constante do inciso II do art. 37 da Constituição Federal refere-se à
Administração Pública, e não são serviços sociais integrantes, como cediço,
da Administração Pública direta ou indireta, somente entes paraestatais.
No entanto, nem por isso estão desobrigadas a realizar processo seletivo
público para admissão de pessoal, conforme previsto em seus normativos
internos e em observância aos princípios constitucionais da legalidade, da
moralidade, da finalidade, da isonomia, da igualdade e da publicidade."

Conforme salientado nos autos, o Supremo Tribunal Federal por


ocasião do julgamento da ADI 1.864/PR, reconheceu a possibilidade de instituição
de Serviços Sociais Autônomos, como pessoa jurídica de direito privado criada para
fins de prestação de serviços públicos de cooperação com o Estado. Eis a ementa
do julgado:

"EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. EDUCAÇÃO.


ENTIDADES DE COOPERAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LEI
11.970/1997 DO ESTADO DO PARANÁ. PARANAEDUCAÇÃO. SERVIÇO
SOCIAL AUTÔNOMO. POSSIBILIDADE. RECURSOS PÚBLICOS
FINANCEIROS DESTINADOS À EDUCAÇÃO. GESTÃO EXCLUSIVA
PELO ESTADO. AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE. 1. Na sessão plenária de 12 de abril de 2004, esta Corte,
preliminarmente e por decisão unânime, não conheceu da ação
relativamente à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação-
CNTE. Posterior alteração da jurisprudência da Corte acerca da legitimidade

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ativa da CNTE não altera o julgamento da preliminar já concluído.


Preclusão. Legitimidade ativa do Partido dos Trabalhadores reconhecida. 2.
O PARANAEDUCAÇÃO é entidade instituída com o fim de auxiliar na
Gestão do Sistema Estadual de Educação, tendo como finalidades a
prestação de apoio técnico, administrativo, financeiro e pedagógico, bem
como o suprimento e aperfeiçoamento dos recursos humanos,
administrativos e financeiros da Secretaria Estadual de Educação. Como se
vê, o PARANAEDUCAÇÃO tem atuação paralela à da Secretaria de
Educação e com esta coopera, sendo mero auxiliar na execução da função
pública - Educação. 3. A Constituição federal, no art. 37, XXI, determina a
obrigatoriedade de obediência aos procedimentos licitatórios para a
Administração Pública Direta e Indireta de qualquer um dos Poderes da
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. A mesma regra
não existe para as entidades privadas que atuam em colaboração com a
Administração Pública, como é o caso do PARANAEDUCAÇÃO. 4. A
contratação de empregados regidos pela CLT não ofende a Constituição
porque se trata de uma entidade de direito privado. No entanto, ao permitir
que os servidores públicos estaduais optem pelo regime celetista ao
ingressarem no PARANEDUCAÇÂO, a norma viola o artigo 39 da
Constituição, com a redação em vigor antes da EC 19/1998. 5. Por fim, ao
atribuir a uma entidade de direito privado, de maneira ampla, sem restrições
ou limitações, a gestão dos recursos financeiros do Estado destinados ao
desenvolvimento da educação, possibilitando ainda que a entidade exerça a
gerência das verbas públicas, externas ao seu patrimônio, legitimando-a a
tomar decisões autônomas sobre sua aplicação, a norma incide em
inconstitucionalidade. De fato, somente é possível ao Estado o desempenho
eficaz de seu papel no que toca à educação se estiver apto a determinar a
forma de alocação dos recursos orçamentários de que dispõe para tal
atividade. Esta competência é exclusiva do Estado, não podendo ser
delegada a entidades de direito privado. 6. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente, para declarar a
inconstitucionalidade do artigo 19, § 3º da lei 11.970/1997 do estado do
Paraná, bem como para dar interpretação conforme à Constituição ao artigo
3º, I e ao artigo 11, incisos IV e VII do mesmo diploma legal, de sorte a
entender-se que as normas de procedimentos e os critérios de utilização e
repasse de recursos financeiros a serem geridos pelo PARANAEDUCAÇÃO
podem ter como objeto, unicamente, a parcela dos recursos formal e

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especificamente alocados ao PARANAEDUCAÇÃO, não abrangendo, em


nenhuma hipótese, a totalidade dos recursos públicos destinados à
educação no Estado do Paraná." (ADI 1864, Relator(a): Min. MAURÍCIO
CORRÊA, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal
Pleno, julgado em 08/08/2007, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-
05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00089 RTJ VOL-00204-02 PP-00535).

Em outro precedente, da relatoria do saudoso Ministro Teori Zavaski,


o excelso pretório reafirmou a possibilidade de instituição de serviço social
autônomo. Veja-se:

Ementa: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. SERVIÇOS SOCIAIS


AUTÔNOMOS VINCULADOS A ENTIDADES SINDICAIS. SISTEMA "S".
AUTONOMIA ADMINISTRATIVA. RECRUTAMENTO DE PESSOAL.
REGIME JURÍDICO DEFINIDO NA LEGISLAÇÃO INSTITUIDORA.
SERVIÇO SOCIAL DO TRANSPORTE. NÃO SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO
DO CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II, DA CF). 1. Os serviços sociais
autônomos integrantes do denominado Sistema "S", vinculados a entidades
patronais de grau superior e patrocinados basicamente por recursos
recolhidos do próprio setor produtivo beneficiado, ostentam natureza de
pessoa jurídica de direito privado e não integram a Administração Pública,
embora colaborem com ela na execução de atividades de relevante
significado social. Tanto a Constituição Federal de 1988, como a
correspondente legislação de regência (como a Lei 8.706/93, que criou o
Serviço Social do Trabalho - SEST) asseguram autonomia administrativa a
essas entidades, sujeitas, formalmente, apenas ao controle finalístico, pelo
Tribunal de Contas, da aplicação dos recursos recebidos. Presentes essas
características, não estão submetidas à exigência de concurso público para
a contratação de pessoal, nos moldes do art. 37, II, da Constituição Federal.
Precedente: ADI 1864, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 2/5/2008. 2.
Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE 789874, Relator(a):
Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2014, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-227 DIVULG 18-
11-2014 PUBLIC 19-11-2014)

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No bojo do voto condutor do RE 789874, restou consignado que os


serviços sociais autônomos não vinculados ao sistema "S" possuem algumas
peculiaridades, conforme se verifica da transcrição do seguinte trecho:

"4 . É importante não confundir essas entidades, nem equipará-las com


outras criadas após a Constituição de 1988, cuja configuração jurídica tem
peculiaridades próprias. É o caso, por exemplo, da Associação das
Pioneiras Sociais - APS (serviço social responsável pela manutenção da
Rede SARAH, criada pela Lei 8.246/91), da Agência de Promoção de
Exportações do Brasil - APEX (criada pela Lei 10.668/03) e da Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI (criada pela Lei 11.080/04).
Diferentemente do que ocorre com os serviços autônomo do Sistema 'S',
essas novas entidades (a) tiveram sua criação autorizada por lei e
implementada pelo Poder Executivo, não por entidades sindicais; (b) não se
destinam a prover prestações sociais ou de formação profissional a
determinadas categorias de trabalhadores, mas a atuar na prestação de
assistência médica qualificada e na promoção de políticas públicas de
desenvolvimento setoriais; (c) são financiadas, majoritariamente, por
dotações orçamentárias consignadas no orçamento da própria União (art.
2º, § 3º, da Lei 8.246/91, art. 13 da Lei 10.668/03 e art. 17, I, da Lei
11.080/04); (d) estão obrigadas a gerir seus recursos de acordo com os
critérios, metas e objetivos estabelecidos em contrato de gestão cujos
termos são definidos pelo próprio Poder Executivo; e (e) submetem-se à
supervisão do Poder Executivo, quanto à gestão de seus recursos."

Verifica-se, portanto, que é possível a instituição por lei de iniciativa


do Poder Executivo, de pessoa jurídica de direito privado com a natureza jurídica de
serviço social autônomo, para atuar na prestação de assistência médica qualificada.
No caso em exame, o Instituto Hospital de Base do Distrito Federal
foi criado a partir de Lei autorizativa do Poder Executivo (art. 1º da Lei 5.899/02017);
não tem vinculação do objetivo legal com a formação profissional ou com a
prestação de assistência social a categorias gerais; o objetivo legal é a prestação
assistência médica qualificada e gratuita à população, além do desenvolvimento de
atividades de ensino, pesquisa e gestão no campo da saúde, em cooperação com o

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Poder Público; o IHBDF está a assumir as funções de órgão preexistente, ou seja, a


unidade de Base do DF da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal,
administrando os bens preexistentes (art. 12 da Lei 5.899/02017); suas receitas
advirão majoritariamente do orçamento da Secretaria de Estado de Saúde e também
de outros órgãos e entidades governamentais (art. 13 da Lei 5.899/2017); a lei
impugnada prevê que contrato de gestão deve observar os princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e economicidade e
especificando o programa de trabalho proposto pelo IHBDF, estipulando as metas a
serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como a previsão
expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a ser utilizados,
mediante indicadores de qualidade e produtividade (artigo 2o, I, II, III e parágrafo
único, da Lei 5.899/2017); está prevista a supervisão do contrato de gestão pelo
Poder Executivo (Secretaria de Estado de Saúde e Conselho de Saúde do Governo
do Distrito Federal) e fiscalização da execução do contrato de gestão e julgamento
das contas pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (artigo 2o, caput, VI, XIV, XV,
XVI, XVII, da Lei 5.899/2017); a contratação de pessoal se dará em obediência a
regulamento a ser editado pelo Conselho de Administração do IHBDF e processos
seletivos objetivos, impessoais, com observância dos princípios da publicidade,
impessoalidade, moralidade, economicidade e eficiência, bem como planos de
cargos e salários dos funcionários condizentes com o mercado (artigo 2o, IX e X, da
Lei 5.899/2017).
Assim posta a questão e considerando que o IHBDF é pessoa
jurídica de direito privado, com natureza jurídica de Serviço Social Autônomo,
conclui-se que:
A) a lei impugnada não viola os objetivos prioritários do Distrito
Federal previstos nos incisos I a IV, do art. 3º, da LODF. Observe-se que a Lei
5.899/2017 tem como objetivo legal a prestação assistência médica qualificada e
gratuita à população, além do desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e
gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público. Nesse ponto,
convém que se transcreva a argumentação do Governador do Distrito Federal, em
suas informações na ADI2017.00.2.013822-5:

"A ideia-força do IHBDF é trazer um novo modelo de gestão para o serviço


essencial de saúde que melhore sua qualidade e corrija suas distorções,
tudo em benefício da população, especialmente a mais humilde que sofre

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com o sucateamento da rede pública em geral. Talserviço social autônomo


passa a administrar o hospital, com lastro em contrato de gestão específico
firmado com o Distrito Federal (art. 2°, I).
Nesses moldes, o IHFB presta seus serviços de forma exclusiva e gratuita
aos usuários do SUS, em auxílio à atuação direta do Poder Público, sob
comando de uma Diretoria Executiva e um Conselho de Administração (arts.
5º a 7º), supervisionados pela SES (art. 2o).
A existência de um Conselho de Administração próprio é um importante
ganho, pois a gestão de hospitais possui um forte componente empresarial
cuja dinâmica não é compatível com a concentração do processo da tomada
de decisão, do planeamento e do controle dos recursos no sistema
organizacional atualmente vigente.
Mas nem por isso tal administração deixa de ser submetida ao controle
interno, por intermédio de Conselho Fiscal (art. 5º, §1°) e externo por
intermédio dos órgãos constitucionalmente e legalmente competentes
(TCDF, Conselho de Saúde, etc - art. 2 o , XV, XVI e XVII).
A contratação de seu pessoal é pelo regime da Consolidação das Leis do
Trabalho-CLT, mediante processo seletivo que observe os princípios de
regência da Administração Pública (art. 2°, VIII e IX), bem como a
submissão a regime próprio de contratações de bens e serviços (art. 2o,
XII)."

B) a conservação do patrimônio público não sofre qualquer abalo em


razão da lei impugnada, em face da previsão de que o IHBDF é incumbido de
administrar os bens móveis e imóveis que compõem o patrimônio da unidade da
Secretaria de Estado de Saúde de denominação correlata, nos termos do art. 4º da
Lei 5.99/2017. Assim, não ocorre a inobservância do art. 16, inciso II, da Lei
Orgânica do Distrito Federal.
C) O art. 19, caput, seus incisos II e IX da LODF têm como
destinatários a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes do
Distrito Federal. Os Serviços Sociais Autônomos não integram a administração
pública direta ou indireta. Mesmo assim, verifica-se que o art. 2º e seus incisos, da
Lei 5.899/2017, estabelecem que a Secretaria de Estado de Saúde deve
supervisionar a gestão do IHBDF e definir os termos do contrato de gestão, com
observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,

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eficiência e economicidade, entre outras obrigações e execução será fiscalizada pelo


Tribunal de Contas do Distrito Federal - TCDF. O processo de seleção para
admissão de pessoal do IHBDF observará o regime celetista e deverá ser conduzido
de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios da
publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da eficiência,
nos termos do regulamento próprio a ser editado pelo Conselho de Administração.
D) Quanto à suposta violação ao art. 22, § 3º da LODF, observe-se
que tais dispositivos são destinados à Administração Pública. Ademais, o IHBDF
deve apresentar anualmente à Secretaria de Estado de Saúde e ao TCDF relatório
circunstanciado sobre a execução do plano no exercício findo, com a prestação de
contas dos recursos públicos nele aplicados, a avaliação do andamento do contrato
e as análises gerenciais cabíveis.
E) O mesmo raciocínio deve ser feito em face da alegação de que a
Lei 5.899/2017 malfere o art. 26 da LODF, que dispõe sobre a necessidade da
licitação pública para as obras, compras, alienações e serviços da administração.
Com efeito, a doutrina e a jurisprudência proclamam que os serviços sociais não
integram a Administração Publica direta ou indireta. Aqui convém registrar que o
inciso XII do art. 2º da Lei impugnada, estabelece que as aquisições, alienações e
contratações pelo IHBDF são realizadas conforme seu regulamento próprio de
compras e contratações, aprovado pelo Conselho de Administração, observados os
princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da
eficiência; o princípio do julgamento objetivo; do julgamento das propostas feito de
acordo com os critérios fixados no edital, da a igualdade de condições entre todos os
fornecedores, e da garantia ao contraditório e à ampla defesa.
F) Pelo mesmo motivo acima exposto, não ocorre violação ao art. 28
da LODF, que veda a contratação de obras e serviços públicos sem prévia
aprovação do projeto.
G) A suposta violação ao art. 53 da LODF foi apontada como
consequência de alegado malferimento ao art. 74, § 5º, da LODF, já apreciado neste
voto no capítulo atinente à inconstitucionalidade formal. Assim, rejeitada aquela
alegação, não há que se falar em inconstitucionalidade do diploma legal impugnado
frente ao art. 53 da Lei Orgânica do Distrito Federal.
H) Considerando que IHBDF é uma pessoa jurídica de direito
privado com a natureza de serviço social autônomo, não se vislumbra a alegada
inconstitucionalidade art. 2o, XVI, da Lei 5.899/2017, frente ao art. 60, inciso XIV, da
LODF, que prevê a competência privativa da Câmara Legislativa do Distrito Federal
fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração

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indireta.
I) O art. 80 da LODF refere-se à manutenção e sistemas integrados
de controle interno, pelos Poderes Legislativo e Executivo. Bem se vê, pois, que a
norma se dirige à Administração Pública, razão pela qual não procede a alegação de
que o art. 22, inciso XIV da Lei 5.899/2017 se mostra inconstitucional ao prever
somente o controle externo.
J) Improcedente, também, é a alegação de inconstitucionalidade da
Lei 5.899/2017, frente ao art. 149, § 7° e 8o da LODF. Com efeito, os dispositivos
dados como afrontados referem-se à lei orçamentária. Nos termos da lei impugnada
os recursos orçamentários do IHBDF serão aqueles destinados atualmente à
unidade Hospital de Base do Distrito Federal, da Secretaria de Estado de Saúde do
Governo do DF (art. 13 da Lei 5.899/2017). E, depois de ser implementado o
orçamento-programa do IHBDF para execução das atividades previstas no contrato
de gestão, deve tal orçamento ser submetido anualmente à Secretaria de Estado de
Saúde (art. 2º, inciso V, da Lei 5.899/2017).
L) Com a mesma argumentação lançada no item anterior afasta-se a
suposta inconstitucionalidade do art. 151, inciso I, § 1º da LODF que tratam de
vedação ao início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual,
ou que ultrapassem um exercício financeiro sem prévia inclusão no plano plurianual
ou sem lei autorizadora.
M) O art. 157, § 1º, e seus incisos I e II, da LODF, estabelecem que
deve ser observada a lei de diretrizes orçamentárias e a existência de prévia
dotação orçamentária para a concessão de vantagem ou aumento de remuneração
na Administração Pública. Como já fora dito por mais de uma vez, o IHBDF é um
serviço social autônomo, pessoa jurídica de direito privado, de sorte que não se
encontra sob o foco luminoso do art. 157, § 1º, incisos I e II, da LODF. Aqui também
não se vislumbra inconstitucionalidade.
N) A alegação de que a transformação do HBDF em instituto de
personalidade jurídica de direito privado foi uma maneira de burlar o art. 186, I, da
LODF não prospera. Com efeito, já restou assentado neste voto que a Lei
impugnada autorizou o Poder Executivo a criar o serviço social autônomo Instituto
Hospital de Base do Distrito Federal sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de
utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência médica qualificada e gratuita
à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e gestão no campo da
saúde, em cooperação com o Poder Público. Como se vê, não se cuida de
privatização nem de extinção de empresa pública ou de sociedade de economia
mista. Ademais, aadministração pública federal, estadual e municipal têm instituído

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serviços sociais autônomos, com o aval da doutrina e da jurisprudência.


O) As mesmas razões que embasaram o item anterior servem para
refutar a alegação de que o GDF pretende tornar o maior centro de saúde pública do
Distrito Federal em uma entidade privada, afrontando o art. 204, § 2º da LODF. Ora,
a Lei 5.899/2017 promove a descentralização utilizando-se da criação de um serviço
social autônomo, cujo modelo já foi testado em outras unidades da federação e que
se encontra referendado pela doutrina e pela jurisprudência. Assim, não se
vislumbra afronta ao art. 204, inciso II, 2º da Lei Orgânica do Distrito Federal.
P) Quanto à alegação de inconstitucionalidade do art. 14 da Lei
5.899/2017 em face do art. 214 da LODF repita-se que o IHBDF tem a natureza
jurídica de serviço social autônomo, pessoa jurídica de direito privado que não
integra a Administração Pública direta ou indireta. E, conforme proclamou o STF,
"presentes essas características, não estão submetidas à exigência de concurso
público para a contratação de pessoal, nos moldes do art. 37, II, da Constituição
Federal." (RE 789874, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado
em 17/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-227 DIVULG 18-11-2014 PUBLIC 19-11-2014)
Feitas essas considerações, transcreve-se, com a devida licença,
como parte integrante deste voto, o parecer da douta Procuradoria de Justiça, onde
se lê:

"Assim delineada a natureza jurídica dos serviços sociais autônomos e as


consequências práticas de referida qualificação, não vislumbra este órgão,
na qualidade de custos constitutionis, a alegada situação de afronta direta à
Lei Orgânica do Distrito Federal pelo ato normativo questionado, que
autorizou a instituição do serviço social autônomo Instituto Hospital de Base
do Distrito Federal - IHBDF.
Isso porque a lei impugnada, de fato, observou os limites delineados tanto
pela Constituição da República quanto pela Lei Orgânica do Distrito Federal
para o tratamento legislativo do tema, como ressaltado em detalhe pela
Câmara Legislativa, pelo Governador do Distrito Federal e pela
Procuradora-Geral do Distrito Federal em suas Informações.
Assim, apesar de os partidos políticos autores discordarem da opção
político-governamental levada a efeito pelo administrador público e
chancelada pelo Poder Legislador local em termos de prestação dos

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serviços de saúde pública no âmbito do Hospital de Base do Distrito


Federal, os limites constitucionais para o tratamento do tema, fixados,
especialmente, pelo c. Supremo Tribunal Federal, restaram preservados,
consoante será demonstrado na sequência.
Primeiramente, necessário destacar que a Lei distrital 5.899/2017 deixa
claro que a atuação do serviço social autônomo Instituto Hospital de Base
do Distrito Federal - IHBDF na prestação de assistência médica qualificada
e gratuita à população se dará 'em cooperação com o Poder Público'
(art. 1o,caput),'em auxílio à atuação do Poder Público' na (art. 1o, § 3o),
com a necessária observância dos 'princípios do Sistema Único de
Saúde - SUS,expressos no art. 198 da Constituição Federal e no art. 7º da
Lei federal n° 8.080, de 19 de setembro de 1990', bem como das 'políticas e
as diretrizes estratégicas da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
Federal' (art. 1o, § 2o).
Tal configuração encontra amparo na própria Lei Orgânica do Distrito
Federal, que, em seu artigo 204, § 2o, prevê expressamente que 'As ações
e serviços de saúde são de relevância pública e cabe ao Poder Público sua
normatização, regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita, preferencialmente, por meio de serviços públicos e,
complementarmente, por intermédio de pessoas físicas ou jurídicas de
direito privado, nos termos da lei' (g-n.)
Tal dispositivo reproduz norma expressa da Constituição da República, que
assim preceitua (grifos acrescentados):
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde,
cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita
diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.
Da mesma forma, a lei estabelece expressamente que compete à Secretaria
de Estado de Saúde celebrar o contrato de gestão, discriminando 'as
atribuições, as responsabilidades e as obrigações do Poder Público e do
IHBDF', além de determinar a observância dos 'princípios constitucionais da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência
e da economicidade' (art. 2o).
A referida lei cria, também, rígidos mecanismos de acompanhamento e
controle periódico da execução do contrato de gestão tanto pela
Secretaria de Saúde quanto pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal e

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pelo Conselho de Saúde do Distrito Federal, exigindo detalhada


prestação de contas dos recursos públicos aplicados e avaliação de
desempenho com indicadores objetivos de qualidade e produtividade (art. 2
o).

A própria composição do Conselho de Administração do IHBDF


,estabelecida pela lei (art. 6o), a ser presidido pelo Secretário de Estado
da Saúde do Distrito Federal, torna evidente os limites da autonomia
concedida pela lei e a efetividade prevista para o controle da execução do
contrato de gestão e dos recursos destinados em função das metas
estabelecidas pelo Poder Público e dos resultados alcançados.
Após prever a submissão anual e obrigatória do orçamento-programa do
IHBDF à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (art. 2o, V), a
norma impugnada estabelece que a autonomia do IHBDF para a
contratação e a administração de pessoal sob o regime da Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, bem como para as aquisições, alienações e
contratações necessárias, deverá observar os princípios que regem a
administração pública, em especial o da publicidade, da
impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da eficiência (art.
2o, IX e XII).
Prevê, ainda, a possibilidade de 'cessão especial' de servidores públicos
distritais do atual Hospital de Base para o IHBDF, o que, além de não
ensejar qualquer modificação em relação ao vínculo de tais servidores com
o ente político Distrito Federal ou alteração no seu regime jurídico, garante a
necessária continuidade da prestação de serviços essenciais de saúde
para a população (art. 3o).
No que se refere à alegada inobservância do quorum para concessão de
isenções tributárias, observa-se, a partir de análise mais comedida e
criteriosa, que o artigo 10 da lei impugnada, de fato, não concede qualquer
isenção ou benefício fiscal.
Isso porque o referido dispositivo limita-se a estabelecer que o IHBDF deve
pleitear o 'certificado de entidades beneficentes de assistência social na
forma do art. 3 o, parágrafo único, da Lei federal n° 12.101, de 27 de
novembro de 2009, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde', bem
como a 'Isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita
Federal do Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal n° 9.532, de 10 de
dezembro de 1997'. Referidas previsões em nada se confundem com a
concessão, por via legislativa, de isenções ou benefícios fiscais.

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Da mesma forma, e diferentemente do que se alega nas iniciais, a lei


impugnada não promove a privatização ou a extinção de empresa pública
ou sociedade de economia mista, a exigirem aprovação por intermédio de
dois terços dos membros da Câmara Legislativa, mas, tão somente, muda,
a partir de legítima opção político-governamental, a forma de gestão de
umadas unidades de saúde da rede pública do Distrito Federal na
busca por melhorias e eficiência na prestação dos serviços à população.
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n.° 1864/PR ajuizada contra uma lei estadual que
criava um Serviço Social Autônomo (PARANÁEDUCAÇÃO) para atuar em
colaboração aoSistema Estadual da Educação do Paraná, teve a
oportunidade de analisar detidamente a questão e fixou entendimento
paradigmático em relação a cada um dos limites de atuação de tais
entidades paraestatais, reconhecendo sua natureza jurídica de pessoas
jurídicas de direito privado e ressaltando, em função disso, a
desnecessidade de contratação via procedimento licitatório ou
concurso público. Confira-se (grifos acrescentados):
(...)
Em síntese, pode-se extrair desta decisão do Supremo Tribunal Federal
acerca dos Serviços Sociais Autônomos as seguintes conclusões: (i)
devem ser criados por lei específica; (ii) trata-se de instituições de direito
privado, com ocorrelato regime jurídico; (iii) seus fins traduzem-se na
cooperação, com o Estado, para a prestação de serviços públicos, tais
como educação e saúde: (iv) não integram formalmente a estrutura da
administração pública direta e/ou indireta; (v) o STF admite a possibilidade
de sua instituição; (vi) em geral são financiados com recursos públicos; e
(vii) têm sido amplamente utilizados nos níveis municipal, estadual e federal,
inclusive para a prestação de serviços de saúde.
Tal decisão, considerando a ainda incipiente formação de jurisprudência dos
Tribunais Superiores sobre o assunto, tem norteado a produção
legislativa no âmbito dos estados-membros e dos municípios e parece
também ter colaborado para a elaboração da lei distrital objeto da presente
ação direta em diversos aspectos, o que evitou que se incidisse nos
alegados vícios de inconstitucionalidade.
Especificamente em relação à forma de contratação dos funcionários
pelos chamados 'Serviços Sociais Autônomos', vale a pena conferir o
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado em outro importante

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precedente, ver bis (grifos acrescentados):


(... ementa já transcrita neste voto...)
Como se pode ver, a lei impugnada, de fato, observou os parâmetros
fixados pelo Supremo Tribunal Federal para o tratamento do tema,
delineados tanto pela Constituição da República quanto, no que aqui
interessa, pela Lei Orgânica do Distrito Federal.
Por arremate, vale ressaltar que, em situação assemelhada, mutatis
mutandis, em que o Conselho Especial do Tribunal de Justiça local foi
instado a se manifestar sobre a constitucionalidade de lei distrital que
tratava das chamadas 'Organizações Sociais' no âmbito do Distrito
Federal, aquele órgão colegiado foi enfático ao ressaltar a necessária
observância do modelo federal, reconhecendo a inconstitucionalidade, tão
somente, dos dispositivos e expressões legais que extrapolaram tais
limitações. Veja-se (grifos acrescentados):
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEIS DISTRITAIS N°S
4.081/08, 4.249/08 E LEGISLAÇÃO REVOGADA - QUALIFICAÇÃO DE
ENTIDADES PRIVADAS COMO ORGANIZAÇÕES SOCIAIS -
CONTRATOS DE GESTÃO - PRELIMINAR DE INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA PREJUDICADA E DE INCOMPETÊNCIA DO TJDFT PARA O
JULGAMENTO DA AÇÃO REJEITADA - MÉRITO: O AUTOR IMPUTA
VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 3o, INCISO VI, 15, INCISO VI, 19, CAPUT, 26,
48, 49, 51 E 151,INCISO IV, TODOS DA LODF - JULGOU-SE
PARCIALMENTE PROCEDENTE A AÇÃO, COM EFEITOS EX TUNC E
EFICÁCIA ERGA OMNES - MAIORIA.
I - A preliminar de inadequação da viaeleita por ausência de interesse de
agir, frente aos parágrafos únicos dos artigos 19. 20 e 21 da Lei distrital n.°
4.081/08, encontra-se prejudicada, em razão da revogação dos referidos
dispositivos pela Lei distrital n.° 4.249/08.
II - O Conselho Especial do TJDFT é competente para processar e julgar
ação direta de inconstitucionalidade de Lei distrital em face da Lei Orgânica
do Distrito Federal.
III - A Lei distrital n.° 4.081/08, acoimada de inconstitucional, reproduz, em
essência, o modelo de Organizações Sociais de que cuida a Lei federal
n.° 9.637/98, surgidas no bojo do Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado com a finalidade precípua de desempenharem atividades
não-exclusivas do Estado, mediante os denominados contratos de
gestão.

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IV - Referidas organizações, em sua gênese federal, surgiram para


prestar serviços não-exclusivos do Estado na área de ensino,
pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, cultura, saúde,
preservação e
proteção do meio ambiente. Nesse passo,o modelo distrital não deve
afastar-se do modelo federal, Depreende-se, pois que
V- Da leitura do artigo 24, inciso XXIV, da Lei federal n.° 8.666/93, extrai-se
que a dispensa de licitação aplica-se à celebração do contrato de gestão,
mas não à seleção da entidade privada candidata a qualificar-se como
organização social, não devendo o Poder Público furtar-se a
selecionar a melhor capacitada a executar o objeto do contrato de gestão,
preservando-se os princípios do interesse público, da moralidade e da
isonomia.
VI - Estando a organização social totalmente voltada para a execução
do objeto do contrato, qual seja, prestar serviço de utilidade pública,
com pesados mecanismos de cobrança de resultado e sob estreita
vigilância da entidade supervisora da área de atuação correspondente
à atividade fomentada, do Tribunal de Contas e do Ministério Público
(seção IV), descabida é a exigência de licitação no desenvolvimento
regular de suas atividades, bem como a negativa de dotação
orçamentária, utilização de bens públicos mediante permissão de uso
(§ 3º do art. 13) e cessão de servidores, observando-se, na última
hipótese, a compatibilidade dos direitos, deveres e restrições impostas
aos servidores públicos.
VII - As entidades de direito privado devem conformar-se aos requisitos
específicos da lei para fins de qualificação como organização social, sendo
esse um dos pontos que confere legitimidade às citadas entidades e,
por outro lado, segurança ao patrimônio público que lhes é dado gerir.
Assim sendo, inconstitucional é a previsão legal de qualificação de outras
entidades de natureza e regime institucional diverso, que não obedeçam ao
modelo criado especificamente para as organizações sociais.
VIII - Julga-se parcialmente procedente a ação, para declarar, com efeito, ex
tunc e eficácia erga omnes, a inconstitucionalidade as expressões 'e
institucional, da flora e da fauna', ação social', 'defesa do consumidor',
'esporte', 'agricultura e ao abastecimento', contidas no artigo 1.°; a
inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 3.°; a
inconstitucionalidade da expressão 'A contratação da entidade' contida

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no §1.° do artigo 6.°; e a inconstitucionalidade do artigo 18, todos da Lei


4.081/08, com a redação dada pela Lei n.° 4.249, de 14 de novembro de
2008. (Acórdão n. 470862. 20090020123053ADI, Relator: LECIR MANOEL
DA LUZ CONSELHO ESPECIAL, Data de Julgamento: 19/10/2010,
Publicado no DJE: 07/01/2011. Pág.: 15)
Em recente julgado, o Supremo Tribunal Federal, ao analisar a
constitucionalidade da Lei federal 9.637/98, que fixa o marco legal das
Organizações Sociais, disciplinando esse outro instrumento semelhante de
colaboração público-privada em áreas como a da saúde e da educação,
assim fixou a forma e os limites de atuação de tais organizações. Veja-
se (grifos acrescentados):
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TERCEIRO SETOR. MARCO
LEGAL DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS. LEI Nº 9.637/98 E NOVA
REDAÇÃO, CONFERIDA PELA LEI Nº 9.648/98, AO ART. 24, XXIV, DA
LEI Nº 8.666/93. MOLDURA CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO
ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO E SOCIAL. SERVIÇOS PÚBLICOS
SOCIAIS. SAÚDE (ART. 199, CAPUT), EDUCAÇÃO (ART. 209, CAPUT),
CULTURA (ART. 215), DESPORTO E LAZER (ART. 217), CIÊNCIA E
TECNOLOGIA (ART. 218) E MEIO AMBIENTE (ART. 225). ATIVIDADES
CUJA TITULARIDADE É COMPARTILHADA ENTRE O PODER PÚBLICO
E A SOCIEDADE. DISCIPLINA DE INSTRUMENTO DE COLABORAÇÃO
PÚBLICO-PRIVADA. INTERVENÇÃO INDIRETA. ATIVIDADE DE
FOMENTO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE RENÚNCIA AOS DEVERES
ESTATAIS DE AGIR. MARGEM DE CONFORMAÇÃO
CONSTITUCIONALMENTE ATRIBUÍDA AOS AGENTES POLÍTICOS
DEMOCRATICAMENTE ELEITOS. PRINCÍPIOS DA CONSENSUALIDADE
E DA PARTICIPAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 175,
CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO. EXTINÇÃO PONTUAL DE ENTIDADES
PÚBLICAS QUE APENAS CONCRETIZA O NOVO MODELO.
INDIFERENÇA DO FATOR TEMPORAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO
AO DEVER CONSTITUCIONAL DE LICITAÇÃO (CF, ART. 37, XXI).
PROCEDIMENTO DE QUALIFICAÇÃO QUE CONFIGURA HIPÓTESE DE
CREDENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DISCRICIONÁRIA QUE DEVE SER
SUBMETIDA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PUBLICIDADE,
MORALIDADE, EFICIÊNCIA E IMPESSOALIDADE, À LUZ DE CRITÉRIOS
OBJETIVOS (CF, ART. 37, CAPUT). INEXISTÊNCIA DE PERMISSIVO À

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ARBITRARIEDADE. CONTRATO DE GESTÃO. NATUREZA DE


CONVÊNIO. CELEBRAÇÃO NECESSARIAMENTE SUBMETIDA A
PROCEDIMENTO OBJETIVO E IMPESSOAL. CONSTITUCIONALIDADE
DA DISPENSA DE LICITAÇÃO INSTITUÍDA PELA NOVA REDAÇÃO DO
ART. 24, XXIV, DA LEI DE LICITAÇÕES E PELO ART. 12, §3º, DA LEI Nº
9.637/98. FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO. OBSERVÂNCIA DOS
PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE, DA PUBLICIDADE, DA EFICIÊNCIA
E DA MOTIVAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO
PARA OS CONTRATOS CELEBRADOS PELAS ORGANIZAÇÕES
SOCIAIS COM TERCEIROS. OBSERVÂNCIA DO NÚCLEO ESSENCIAL
DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (CF, ART. 37,
CAPUT). REGULAMENTO PRÓPRIO PARA CONTRATAÇÕES.
INEXISTÊNCIA DE DEVER DE REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO
PARA CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA IMPESSOALIDADE, ATRAVÉS DE
PROCEDIMENTO OBJETIVO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS
CONSTITUCIONAIS DOS SERVIDORES PÚBLICOS CEDIDOS.
PRESERVAÇÃO DO REGIME REMUNERATÓRIO DA ORIGEM.
AUSÊNCIA DE SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PARA O
PAGAMENTO DE VERBAS, POR ENTIDADE PRIVADA, A SERVIDORES
. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 37, X, E 169, §1º, DA CONSTITUIÇÃO.
CONTROLES PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO E PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO. PRESERVAÇÃO DO ÂMBITO
CONSTITUCIONALMENTE DEFINIDO PARA O EXERCÍCIO DO
CONTROLE EXTERNO (CF, ARTS. 70, 71, 74 E 127 E SEGUINTES).
INTERFERÊNCIA ESTATAL EM ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES
PRIVADAS (CF, ART. 5º, XVII E XVIII). CONDICIONAMENTO À ADESÃO
VOLUNTÁRIA DA ENTIDADE PRIVADA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À
CONSTITUIÇÃO. AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE PARA CONFERIR INTERPRETAÇÃO CONFORME AOS
DIPLOMAS IMPUGNADOS.
1. A atuação da Corte Constitucional não pode traduzir forma de
engessamento e de cristalização de um determinado modelo pré-
concebido de Estado, impedindo que, nos limites constitucionalmente
assegurados, as maiorias políticas prevalecentes no jogo democrático
pluralista possam pôr em prática seus projetos de governo, moldando
o perfil e o instrumental do poder público conforme a vontade coletiva.

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2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF, art. 209,
caput), cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e
tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram
serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao
mencionar que "são deveres do Estado e da Sociedade" e que são
"livres à iniciativa privada", permite a atuação, por direito próprio, dos
particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder
público, de forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da
Constituição.
3. A atuação do poder público no domínio econômico e social pode ser
viabilizada por intervenção direta ou indireta, disponibilizando utilidades
materiais aos beneficiários, no primeiro caso, ou fazendo uso, no segundo
caso, de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares executem
atividades de interesses públicos através da regulação, com coercitividade,
ou através do fomento, pelo uso de incentivos e estímulos a
comportamentos voluntários.
4. Em qualquer caso, o cumprimento efetivo dos deveres constitucionais de
atuação estará, invariavelmente, submetido ao que a doutrina
contemporânea denomina de controle da Administração Pública sob o
ângulo do resultado (Diogo de Figueiredo Moreira Neto).
5. O marco legal das Organizações Sociais inclina-se para a atividade de
fomento público no domínio dos serviços sociais, entendida tal atividade
como a disciplina não coercitiva da conduta dos particulares, cujo
desempenho em atividades de interesse público é estimulado por sanções
premiais, em observância aos princípios da consensualidade e da
participação na Administração Pública.
6. A finalidade de fomento, in casu, é posta em prática pela cessão de
recursos, bens e pessoal da Administração Pública para as entidades
privadas, após a celebração de contrato de gestão, o que viabilizará o
direcionamento, pelo Poder Público, da atuação do particular em
consonância com o interesse público, através da inserção de metas e
de resultados a serem alcançados, sem que isso configure qualquer
forma de renúncia aos deveres constitucionais de atuação.
7. Na essência, preside a execução deste programa de ação institucional a
lógica que prevaleceu no jogo democrático, de que a atuação privada pode
ser mais eficiente do que a pública em determinados domínios, dada a
agilidade e a flexibilidade que marcam o regime de direito privado.

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8. Os arts. 18 a 22 da Lei nº 9.637/98 apenas concentram a decisão política,


que poderia ser validamente feita no futuro, de afastar a atuação de
entidades públicas através da intervenção direta para privilegiar a escolha
pela busca dos mesmos fins através da indução e do fomento de atores
privados, razão pela qual a extinção das entidades mencionadas nos
dispositivos não afronta a Constituição, dada a irrelevância do fator tempo
na opção pelo modelo de fomento - se simultaneamente ou após a edição
da Lei.
9. O procedimento de qualificação de entidades, na sistemática da Lei,
consiste em etapa inicial e embrionária, pelo deferimento do título jurídico de
"organização social", para que Poder Público e particular colaborem na
realização de um interesse comum, não se fazendo presente a
contraposição de interesses, com feição comutativa e com intuito lucrativo,
que consiste no núcleo conceitual da figura do contrato administrativo, o
que torna inaplicável o dever constitucional de licitar (CF, art. 37, XXI).
10. A atribuição de título jurídico de legitimação da entidade através da
qualificação configura hipótese de credenciamento, no qual não incide a
licitação pela própria natureza jurídica do ato, que não é contrato, e
pela inexistência de qualquer competição, já que todos os
interessados podem alcançar o mesmo objetivo, de modo includente, e
não excludente.
11. A previsão de competência discricionária no art. 2º, II, da Lei nº 9.637/98
no que pertine à qualificação tem de ser interpretada sob o influxo da
principiologia constitucional, em especial dos princípios da impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37, caput). É de se ter por
vedada, assim, qualquer forma de arbitrariedade, de modo que o
indeferimento do requerimento de qualificação, além de pautado pela
publicidade, transparência e motivação, deve observar critérios objetivos
fixados em ato regulamentar expedido em obediência ao art. 20 da Lei nº
9.637/98, concretizando de forma homogênea as diretrizes contidas nos inc.
I a III do dispositivo.
12. A figura do contrato de gestão configura hipótese de convênio, por
consubstanciar a conjugação de esforços com plena harmonia entre
as posições subjetivas, que buscam um negócio verdadeiramente
associativo, e não comutativo, para o atingimento de um objetivo
comum aos interessados: a realização de serviços de saúde, educação
, cultura, desporto e lazer, meio ambiente e ciência e tecnologia, razão pela

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qual se encontram fora do âmbito de incidência do art. 37, XXI, da CF.


13. Diante, porém, de um cenário de escassez de bens, recursos e
servidores públicos, no qual o contrato de gestão firmado com uma entidade
privada termina por excluir, por consequência, a mesma pretensão
veiculada pelos demais particulares em idêntica situação, todos almejando a
posição subjetiva de parceiro privado, impõe-se que o Poder Público
conduza a celebração do contrato de gestão por um procedimento público
impessoal e pautado por critérios objetivos, por força da incidência direta
dos princípios constitucionais da impessoalidade, da publicidade e da
eficiência na Administração Pública (CF, art. 37, caput).
14. As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei nº
8.666/93 e no art. 12, §3º, da Lei nº 9.637/98 têm a finalidade que a
doutrina contemporânea denomina de função regulatória da licitação,
através da qual a licitação passa a ser também vista como mecanismo de
indução de determinadas práticas sociais benéficas, fomentando a atuação
de organizações sociais que já ostentem, à época da contratação, o título de
qualificação, e que por isso sejam reconhecidamente colaboradoras do
Poder Público no desempenho dos deveres constitucionais no campo dos
serviços sociais. O afastamento do certame licitatório não exime, porém,
o administrador público da observância dos princípios constitucionais,
de modo que a contratação direta deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos os
interessados.
15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem
parte do conceito constitucional de Administração Pública, razão pela
qual não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao dever
de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do
setor privado, finalidade por detrás de todo o marco regulatório instituído
pela Lei. Por receberem recursos públicos, bens públicos e servidores
públicos, porém, seu regime jurídico tem de ser minimamente
informado pela incidência do núcleo essencial dos princípios da
Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o
princípio da impessoalidade, de modo que suas contratações devem
observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º,
VIII), fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de
recursos públicos.
16. Os empregados das Organizações Sociais não são servidores

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públicos, mas sim empregados privados, por isso que sua


remuneração não deve ter base em lei (CF, art. 37, X), mas nos
contratos de trabalho firmados consensualmente. Por identidade de
razões, também não se aplica às Organizações Sociais a exigência de
concurso público (CF, art. 37, II), mas a seleção de pessoal, da mesma
forma como a contratação de obras e serviços, deve ser posta em
prática através de um procedimento objetivo e impessoal.
17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos cedidos às
organizações sociais, na medida em que preservado o paradigma com o
cargo de origem, sendo desnecessária a previsão em lei para que
verbas de natureza privada sejam pagas pelas organizações sociais,
sob pena de afronta à própria lógica de eficiência e de flexibilidade que
inspiraram a criação do novo modelo.
18. O âmbito constitucionalmente definido para o controle a ser exercido
pelo Tribunal de Contas da União (CF, arts. 70, 71 e 74) e pelo Ministério
Público (CF, arts. 127 e seguintes) não é de qualquer forma restringido pelo
art. 4º, caput, da Lei nº 9.637/98, porquanto dirigido à estruturação interna
da organização social, e pelo art. 10 do mesmo diploma, na medida em que
trata apenas do dever de representação dos responsáveis pela fiscalização,
sem mitigar a atuação de ofício dos órgãos constitucionais.
19. A previsão de percentual de representantes do poder público no
Conselho de Administração das organizações sociais não encerra
violação ao art. 5º, XVII e XVIII, da Constituição Federal, uma vez que
dependente, para concretizar-se, de adesão voluntária das entidades
privadas às regras do marco legal do Terceiro Setor.
20. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido é julgado parcialmente
procedente, para conferir interpretação conforme à Constituição à Lei nº
9.637/98 e ao art. 24, XXIV, da Lei nº 8666/93, incluído pela Lei nº 9.648/98,
para que: (i) o procedimento de qualificação seja conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do
art. 37 da CF, e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o
que prega o art. 20 da Lei nº 9.637/98; (ii) a celebração do contrato de
gestão seja conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com
observância dos princípios do caput do art. 37 da CF; (iii) as hipóteses de
dispensa de licitação para contratações (Lei nº 8.666/93, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei nº 9.637/98, art. 12, §3º)
sejam conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância

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dos princípios do caput do art. 37 da CF; (iv) os contratos a serem


celebrados pela Organização Social com terceiros, com recursos públicos,
sejam conduzidos de forma pública, objetiva e impessoal, com observância
dos princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento
próprio a ser editado por cada entidade; (v) a seleção de pessoal pelas
Organizações Sociais seja conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF, e nos
termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e (vi) para
afastar qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério
Público e pelo TCU, da aplicação de verbas públicas.
(ADI 1923, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 16/04/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-254 DIVULG 16-12-2015 PUBLIC 17-12-2015).
Assim, seja em relação aos Serviços Sociais Autônomos, seja em relação
às denominadas Organizações Sociais, vê-se que a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal tem legitimado a adoção alternativa desses
modelos de cooperação governamental, ressaltando sempre a
necessária observância dos princípios que regem a administração
pública, em especial o da publicidade, da impessoalidade, da moralidade,
da economicidade e da eficiência, expressamente prevista na lei distrital ora
impugnada.
Nesse passo, dificuldade inexiste em se aquilatar a inocorrência de
paradigma de confronto suficiente a ensejar a declaração abstrata de
inconstitucionalidade da lei distrital hostilizada, editada à luz da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o tema. que deverá ser
mantida em vigor, sem prejuízo, no entanto, das ações cabíveis destinadas
à eventual averiguação de suposta afronta à legislação infraconstitucional e
da responsabilização dos agentes públicos e atores privados por eventuais
prejuízos ao erário e ao interesse público que possam vir a resultar da
celebração e da execução dos contratos de gestão autorizados pela norma,
mediante apuração fática, concreta e específica incabível em sede de
fiscalização abstrata de constitucionalidade."

A Lei 5.899/2017 autorizou a criação do IHBDF, como serviço social


autônomo, com natureza de pessoa jurídica de direito privado, que não se confunde

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com órgão da Administração Pública, direta ou indireta. Essa circunstância afasta a


maioria das supostas violações à LODF alegadas pelos partidos políticos autores.
No mais, restou demonstrado neste voto que a criação de um serviço social
autônomo para atuar na prestação de assistência médica qualificada é um modelo já
adotado por outros entes da federação, bem assim, que tal meio de descentralização
tem sido referendado pela doutrina e pela jurisprudência.
Ante a inexistência de inconstitucionalidade formal ou material,
julgam-se improcedentes as ações diretas de inconstitucionalidade
2017.00.2.013758-5 e 2017.00.2.013822-5, ajuizadas pelo Partido dos
Trabalhadores do Distrito Federal e pelo PMDB - Partido do Movimento Democrático
Brasileiro.
E é o voto.

[1] Odete Medauar. Direito Administrativo Moderno. 1 I ed. São Paulo: Editora RT.
p. 96, grifou-se.

[2] José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito


Administrativo. 17 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. P. 458-459,
grifou-se.

[3] José Eduardo Sabo Paes. Fundações, Associações e Entidades


de Interesse Social. Brasília: Forense

A Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

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O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


De início, assim como o em. Relator, afasto a preliminar de extinção
do feito arguida pelo Mesa Diretora da Câmara Legislativa, uma vez que os
instrumentos procuratórios juntados aos autos conferem poderes específicos para
impugnar a Lei nº 5.899/2017 (fl. 196/197).
Da inconstitucionalidade formal
Conforme relatado, os partidos políticos sustentam vício formal na
lei, porque o processo legislativo que deu origem à Lei nº 5.899/2017 afrontou os
seguintes dispositivos da Lei Orgânica do Distrito Federal: art. 19, capute inciso
XVIII, §§ 7º e 13º; 33, §1º; art. 74, §5º; art. 109 e art. 131, inciso I.
Os Partidos Autores entendem, portanto, que a norma impugnada é
formalmente inconstitucional porque:
(a)o projeto de lei não observou o quorum especial (art. 19, §7º e art.
131, I);
(b)as entidades representativas dos servidores públicos não foram
ouvidas (art. 33, §1º);
(c)apesar da pauta estar trancada por 153 vetos do Governador
pendentes de exame, houve deliberação do projeto (art. 74, §5º);
(d)o Conselho de Governo não se pronunciou (art. 109).
Pois bem.
Quanto ao quorum especial, da simples leitura do art. 1º da Lei
impugnada, depreende-se que não se trata de privatização nem de extinção de
empresa pública ou de sociedade de economia mista, de modo que dispensado o
quorum especial exigido pelo art. 19, §§7º e 13, da LODF.

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o serviço social


autônomo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal - IHBDF, pessoa
jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de
utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência médica qualificada e
gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e
gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público.

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Do mesmo modo, não se vislumbra, da leitura do art. 10 da Lei nº


5.899/2017, a alegada isenção tributária, que também exigiria quorum especial (art.
131, I).

Art. 10. O IHBDF deve pleitear:


I - certificado de entidades beneficentes de assistência social na forma do
art. 3º, parágrafo único, da Lei federal nº 12.101, de 27 de novembro de
2009, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde;
II - isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita Federal do
Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal nº 9.532, de 10 de dezembro de
1997.
§ 1º Aplica-se ao IHBDF, dada a forma de instituição, a origem dos
recursos, a finalidade pública e o atendimento integral aos usuários do SUS,
o regime de impenhorabilidade de seus bens, serviços e rendas.
§ 2º Os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e os da Diretoria
Executiva respondem pessoalmente por seus atos ou omissões ilícitos
ocorridos durante os seus respectivos mandatos no IHBDF.

No que diz respeito à oitiva das entidades representativas dos


servidores, a exigência é para o caso de instituição de regime jurídico único e planos
de carreira para os servidores da administração direta, autarquias e fundações
públicas, nos termos do §1º, do art. 33, da LODF, entretanto, a Lei ora impugnada
não cuidou desses matérias.
Verifica-se, na leitura de seu art. 3º, que a Lei questionada faculta à
Secretaria de Saúde a cessão especial de servidor para o IHBDF, com ônus para a
origem, e, em seus parágrafos 1º a 7º, disciplina-se a cessão especial.
Portanto, a oitiva das entidades representativas é dispensada no
caso, não havendo, assim, ofensa à LODF.
Confira-se, no que interessa, o teor da norma:

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Art. 3º Fica facultada à Secretaria de Estado de Saúde a cessão especial de


servidor para o IHBDF, com ônus para a origem.
§ 1º O servidor cedido faz jus a todos os direitos previstos nos regimes
jurídico e de previdência, no seu cargo e carreira de origem, e à contagem
de tempo de serviço.
§ 2º O servidor cedido percebe as vantagens do cargo a que faça jus no
órgão de origem.
§ 3º É permitido o pagamento de vantagem pecuniária temporária ou
eventual pelo IHBDF a servidor cedido, com recursos provenientes do
contrato de gestão, por adicional relativo ao exercício de função temporária
de direção, chefia e assessoramento.
§ 4º Não é incorporada aos vencimentos ou à remuneração de origem do
servidor cedido qualquer vantagem pecuniária que venha a ser paga pelo
IHBDF.
§ 5º Os servidores cedidos são submetidos aos mesmos processos de
avaliação e metas de desempenho aplicados aos empregados do IHBDF,
devendo ser devolvidos à Secretaria de Estado de Saúde em caso de
insuficiência de desempenho, na forma do contrato de gestão.
§ 6º A qualquer momento, os servidores cedidos podem ser devolvidos à
Secretaria de Estado de Saúde, por solicitação própria ou por decisão do
IHBDF.
§ 7º Somente os servidores em exercício na unidade da Secretaria de
Estado de Saúde denominada Hospital de Base do Distrito Federal - HBDF
na data da publicação desta Lei, bem como aqueles que tiveram o HBDF
como última lotação antes da assunção de cargo ou função de gestão ou
coordenação na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, podem
ser cedidos na forma deste artigo, sendo permitida excepcionalmente, até o
final do primeiro ano de vigência do contrato de gestão do IHBDF, a cessão
de servidores de outras unidades em substituição a servidores atualmente
em exercício no HBDF que não forem cedidos ao IHBDF.

Os partidos autores também questionam a deliberação do projeto de


lei, apesar de 153 vetos do Governador pendentes de exame, o que, em tese,

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deveria trancar a pauta e impedir a votação pelo plenário.


Ocorre que, no caso, não se vislumbra a alegada ofensa ao §5º, do
art. 74, da Lei Orgânica, pois a decisão acerca da necessidade de deliberação, ou
não, do projeto de lei é matéria de competência interna da Câmara Legislativa, não
cabendo ao Poder Judiciário imiscuir-se em temas interna corporis, sobe pena de
violação do princípio da separação dos Poderes, como já decidido pelo c. Supremo
Tribunal Federal.
Quanto à alegada necessidade de pronunciamento do Conselho de
Governo, também não se verifica, no caso, qualquer ofensa ao art. 109 da LODF,
porquanto a Lei nº 5.899/2017 não apresenta risco a "estabilidade das instituições"e
não se traduz em "problemas emergentes de grave complexidade".
Também não se verifica a alegada "impertinência temática" ao objeto
inicial do projeto de lei, pois o Governador submeteu à Câmara Legislativa "projeto
de lei que autoriza o Poder Executivo a instituir o Instituto Hospital de base do
Distrito Federal - IHBDF", e não houve inserção de matérias de conteúdo temático
estranho ao objeto do projeto originário.
Com esses fundamentos, afastotodos os alegados vícios formais da
Lei nº 5.899/2017.
Da inconstitucionalidade material
PMDB-DF e PT-DF também sustentam vícios materiais na norma,
que estaria em descompasso com os artigos 3º, incisos I a IV; 16, inciso II; 19, inciso
II e IX; 22, §3º; 26; 28; 53; 60, inciso XVI; 80; 149, §§ 7º e 8º; 151, inciso I e §1º; 157,
§1º, incisos I e II; 186, inciso I; 204, inciso II e §2º; 214, parágrafo único, todos da Lei
Orgânica.
O primeiro ponto que deve ser esclarecido, como já mencionado
quando da análise da alegada inconstitucionalidade formal, é que a lei impugnada
não cuidou de privatização nem de extinção de empresa pública ou de sociedade de
economia mista, e sim autorizou o Poder Executivo a instituir o IHBDF, como serviço
social autônomo, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, "de interesse
coletivo e de utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência médica
qualificada e gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e
gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público"(art. 1º, Lei nº
5.899/2017).
Assim, de pronto, afastam-se vários dos argumentos dos Partidos
Autores, no sentido de que a lei impugnada afronta a Lei Orgânica do Distrito
Federal, em especial porque:
1º.Não há privatização nem extinção de empresa pública;

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2º.O Instituto Hospital de Base do Distrito Federal foi criado como


serviço social autônomo, natureza de pessoa jurídica de direito privado sem fins
lucrativos, com finalidade a prestação de assistência médica qualificada.
Sobre a questão, vale registrar que o Supremo Tribunal Federal
reconheceu a possibilidade de instituição de serviços sociais autônomos, como
pessoa jurídica de direito privado, criada para fins de prestação de serviço público de
cooperação com o Estado (ADI 1.864/PR e RE 789874).
Portanto, já neste ponto, verifica-se que a instituição do IHBDF, pela
Lei ora impugnada, com a finalidade de prestar assistência médica gratuita à
população, não viola os objetivos prioritários do Distrito Federal previstos no art. 3º,
tampouco prejudica o patrimônio público, como afirmam os Partidos Autores, e não
afronta os artigos 186, inciso I, e 204, §2º, todos da Lei Orgânica.
Como mencionado pelo Governador, em sua manifestação em
defesa da norma impugnada, o modelo planejado para o Instituto IHBDF segue o
padrão adotado por outros entes da federação, inclusive a União, que tem se valido
dos serviços sociais autônomos para auxiliar na gestão da administração pública.
Como exemplo, cita, entre outros, o modelo de sucesso do Serviço Social Autônomo
Associação das Pioneiras Sociais - APS, mantenedora da Rede Sarah (Lei Federal
nº 8.246/91), que atua na área de saúde e é amplamente conhecida pela boa
qualidade de atendimento, inclusive para a população do Distrito Federal.
Peço vênias para, assim como o em. Relator, colacionar trecho da
manifestação do Governador sobre o tema, porque acredito ser pertinente para o
esclarecimento da questão quanto à instituição de Serviços Sociais Autônomos na
gestão da Aministração Pública:

A sistemática e o regime jurídico dos serviços sociais autônomos já foram


objeto de análise pela doutrina administrativista. Como regra, os autores
brasileiros têm admitido e reconhecido a importância dessa figura jurídica,
ressaltando o seu papel de cooperação como a administração na
perspectiva da prestação de serviços públicos. Esses mesmos professores
ressaltam a natureza privada de tais instituições, enfatizando a sua
desvinculação da estrutura da administração pública direta e indireta. Nesse
sentido, observe-se o magistério de Odete Medauar:
[Os Serviços Sociais Autônomos] São pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, destinadas a propiciar assistência social, médica ou

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ensino à população ou a certos grupos profissionais. Não integram a


Administração indireta, nem a direta. Alguns, como o SESI, SESC, SENAI,
SENAC, têm seus recursos oriundos principalmente de contribuições de
empresas, arrecadadas e repassadas pela Previdência Social. Outros
celebram contrato gestão com órgão da Administração direta ou convênios
com entidades governamentais e privadas, como é o caso do Serviço Social
Autônomo 'Associação das Pioneiras Sociais', cuja instituição foi autorizada
pela Lei federal 8.246, de 22.10.1991. (Odete Medauar. Direito
Administrativo Moderno. 1 I ed. São Paulo: Editora RT. p. 96)
Perfilhando semelhante orientação, José dos Santos Carvalho Filho
categoriza essa figura jurídica como pessoas de cooperação
governamental, ressaltando a sua natureza jurídica de direito privado e
destacando a circunstância de que tais instituições não integram a
administração pública:
Pessoas de cooperação governamental são aquelas entidades que
colaboram com o Poder Público, a que são vinculadas, através da execução
de alguma atividade caracterizada como serviço de utilidade pública. Alguns
autores as têm denominado de serviços autônomos. A denominação
também tem sido adotada por leis mais recentes que autorizaram a
instituição de tais entidades.
(...)
As pessoas de cooperação governamental são pessoas jurídicas de direito
privado, embora no exercício de atividades que produzem algum
benefíciopara grupos sociais ou categorias profissionais. Apesar de serem
entidades que cooperam com o Poder Público, nãointegram o elenco das
pessoas da Administração Indireta, razão por que seria impróprio considerá-
las pessoas administrativas. Não há regra que predetermine a forma jurídica
dessas pessoas. (José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito
Administrativo. 17 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. P. 458-459)

Assim, se o IHBDF foi instituído, de modo legítimo, como pessoa


jurídica de direito privado, não se vislumbram os alegados vícios materiais, em
especial no que diz respeito à necessidade de licitação e de concurso público. Aliás,
exatamente por ser o IHBDF pessoa jurídica de direito privado, incabíveis os
argumentos referentes ao regime jurídico único dos servidores públicos.

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Também pela mesma razão, por ser pessoa jurídica de direito


privado, não se aplica, ao IHBDF, o disposto no art. 157, §1º, incisos I e II da LODF,
porque os citados dispositivos cuidam da devida observância da lei de diretrizes
orçamentárias e a existência de prévia dotação orçamentária para a concessão de
vantagem ou aumento de remuneração da Administração Pública.
Na mesma linha de raciocínio, afasta-se a alegada ofensa ao §3º do
art. 22, porque o IHBDF não integra a Administração Indireta e, portanto, não teria a
obrigação de apresentar mensalmente os demonstrativos de despesas, nem deve
ser alvo de controle interno, como determinam os artigos 60, inciso XVI e 80, todos
da Lei Orgânica.
Registre, quanto ao ponto, que, de acordo com a Lei impugnada,
compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar a gestão do IHBDF, e ao
Tribunal de Contas do Distrito Federal fiscalizar "a legalidade, a legitimidade, a
operacionalidade e a economicidade no desenvolvimento das respectivas atividades
e na consequente aplicação dos recursos repassados", nos termos do art. 2º, inciso
VI, da Lei nº 5.899/2017, de modo que, ao contrário do alegado, a Lei tratou de
referendar meios de controle da gestão do IHBDF.
No mais, quanto às questões referentes ao orçamento do IHBDF,
nos termos da lei questionada, os recursos serão aqueles destinados à unidade
Hospital de Base do Distrito Federal, da Secretária de Saúde, e, após a efetiva
implementação do IHBDF, o orçamento-programa (para execução das atividades
previstas no contrato de gestão) será submetido à Secretaria de Saúde. Não se
verifica, portanto, a alegada ofensa aos artigos 149, §§ 7º e 8º e 151, inciso I, §1º, da
LODF.
Diante de todo o exposto, não vislumbro os apontados vícios
materiais na Lei nº 5.899/2017, tendo em vista que, como já exaustivamente
consignado, o IHBDF foi criado como serviço social autônomo, sem fins lucrativos,
de interesse coletivo e de utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência
médica qualificada e gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino,
pesquisa e gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público, assim
como tem feito outros entes da Federação, inclusive a União, em diversos campos
de atuação, com a anuência da doutrina e da jurisprudência.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES as ações diretas de
inconstitucionalidade nº 2017.00.2.013758-5 e nº 2017.00.2.013822-5, por não
vislumbrar os vícios formais e materiais apontados pelo PMDB-DF e PT-DF.
É como voto.

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O Senhor Desembargador WALDIR LEÔNCIO JÚNIOR - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador HUMBERTO ULHÔA - Vogal


Cuida-se de ações diretas de inconstitucionalidade, com pedido de
liminar, ajuizadas pelo Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal - PT/DF (autos
n° 2017.00.2.013758-5) e pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro -
PMDF/DF (autos n° 2017.00.2.013822-5), cujo objeto é a impugnação da Lei
distrital nº 5.899, de 3 de julho de 2017, em face dos arts. 3°, incisos I e IV, 16,
inciso II, 19, caput, incisos II e IX e § 13; 22, § 3°; 26; 28; 33, § 1°, 60, inciso XVI;
80; 109; 131, inciso I; 149, § 7°; 151, inciso I e § 1°; 186, inciso I; 204, § 2°, todos da
Lei Orgânica do Distrito Federal.
Na inicial, sustentam os autores, em síntese, que a lei objeto de
ambas as ADI(s), que "autoriza o Poder Executivo a Instituir o Instituto Hospital de
Base do Distrito Federal - IHBDF na forma de serviço social autônomo", foi aprovada
pela Câmara Distrital apesar de pender o exame de inúmeros vetos do Governador,
o que constitui violação ao princípio da separação dos poderes.
Aduzem que também não foi observado o quórum especial de dois
terços dos integrantes da Câmara Legislativa necessário para a privatização de
empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como para a aprovação
de lei que concede isenção fiscal, como na hipótese ocorreu em benefício do IHBDF.
Sustentam que é patente a inconstitucionalidade da lei no ponto em
que institui vantagens remuneratórias e autoriza a contratação de pessoal sem
autorização específica na Lei de Diretrizes Orçamentárias e sem prévia aprovação
em concurso público.
Argumentam, por fim, que a lei impugnada autoriza o IHBDF a
adquirir bens e serviços sem prévia licitação pública, o que afronta os dispositivos
constitucionais que tratam do tema.
Considerando ser indiscutível a plausibilidade da pretensão de

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inconstitucionalidade deduzida nos feitos, bem como a possibilidade do advento de


dano irreparável decorrente da demora no julgamento do mérito, uma vez que a lei
impugnada já está em vigor, razão pela qual é iminente a privatização do patrimônio
público, requerem a concessão de liminar, inaudita altera pars, para a imediata
suspensão da eficácia da Lei distrital n° 5.899/2017, até julgamento definitivo de
ambas as ações, conforme autorizado pelo art. 10, caput, c/c § 3°, da Lei federal n°
9.868/99, bem como pelos arts. 144 e seguintes do Regimento Interno desse eg.
Tribunal.
Ao final, pugnam pela procedência dos pedidos, declarando-se a
inconstitucionalidade da Lei distrital n° 5.899/2017, com efeitos erga omnes e ex
tunc, tendo em vista a violação aos arts. 3°, incisos I e IV, 16, inciso II, 19, caput,
incisos II e IX e § 13; 22, § 3°; 26; 28; 33, § 1°, 60, inciso XVI; 80; 109; 131, inciso I;
149, § 7°; 151, inciso I e § 1°; 186, inciso I; 204, § 2°, todos da Lei Orgânica do
Distrito Federal.
O em. Relator imprimiu aos feitos o rito do art. 12 da Lei n° 9.869/99.
Os autores juntaram aos autos procurações com poderes
específicos para impugnar a Lei distrital n° 5.899/2017.
Vieram aos autos as informações da Câmara Legislativa do Distrito
Federal, postulando a extinção dos feitos em virtude da irregularidade das
procurações outorgada aos patronos dos autores. Uma vez superada a preliminar,
no mérito, pugna, em síntese, pela improcedência dos pedidos deduzidos em ambos
os processos.
O Governador do Distrito Federal, em longo arrazoado, destaca que
o eg. STF legitimou o modelo de gestão instituído pela Lei n° 5.899/17 no bojo da
ADI n° 1864/PR, de agosto de 2007. Cita exemplos de serviços sociais autônomos
existentes no âmbito federal e estadual. Aduz que a cessão excepcional de
servidores púbicos para o IHBDF está autorizada pela Lei Complementar distrital n°
840/2011, ressaltando que a LODF ampara a gestão de bens móveis e imóveis das
unidades de saúde do IHBDF. Afirma que a contratação de pessoal prevista na lei
não destoa da natureza de serviço social autônomo, destacando, por fim, quanto à
alegada isenção tributária, que a lei somente previu que o IHBDF pleiteasse tal
benefício, tendo em vista a jurisprudência do eg. STF. Com relação as
irregularidades apontadas pelo autor no processo legislativo que culminou com a
aprovação da lei, afirma ser questão interna corporis que não pode ser submetida à
análise do Poder Judiciário.
A Procuradoria-Geral do Distrito Federal manifesta-se pela
constitucionalidade do ato normativo impugnado.

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O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios oficia pela


improcedência dos pedidos.
É a síntese do que interessa.
Inicialmente, destaco que a preliminar de não conhecimento das
ações diretas de inconstitucionalidade, arguida pela Câmara Legislativa do Distrito
Federal, ficou superada após a juntada, pelos autores, de procuração com poderes
específicos para impugnar a Lei distrital n° 5.899/2017.
Deixo de transcrever a Lei distrital n° 5.899/2017, vez que o texto foi
integralmente reproduzido pelo em. Relator.
Feitas essas considerações, passo à análise conjunta do mérito das
ADI (s) n° 2017.00.2.013758-5 e n° 2017.00.2.013822-5.
Como bem destaca o Parquet em sua manifestação, a alegação de
que a Lei distrital n° 5.899/2017 padece de inconstitucionalidade formal, face às
infrações regimentais perpetradas no curso de sua aprovação pela Câmara
Legislativa do DF, é matéria estranha à ação direta de inconstitucionalidade em
razão de sua natureza interna corporis.
Nesse sentido, confira-se os seguintes julgados:

"MANDADO DE SEGURANÇA - PRETENDIDA


SUSTENTAÇÃO ORAL NO JULGAMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL - INADMISSIBILIDADE -
CONSTITUCIONALIDADE DA VEDAÇÃO REGIMENTAL
(RISTF, ART. 131, § 2º) - IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DA
MESA DO CONGRESSO NACIONAL QUE APROVOU A
NOMEAÇÃO DOS INTEGRANTES DO CONSELHO DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL - ALEGADA INOBSERVÂNCIA DO
RITO PROCEDIMENTAL EM SUA COMPOSIÇÃO -
PRETENSÃO DOS IMPETRANTES, ENTRE OS QUAIS
DIVERSAS ENTIDADES DE DIREITO PRIVADO, AO
CONTROLE JURISDICIONAL DO "ITER" FORMATIVO
CONCERNENTE A REFERIDO ÓRGÃO COLEGIADO -
LEGITIMIDADE ATIVA, PARA ESSE EFEITO, APENAS DOS
CONGRESSISTAS - DELIBERAÇÃO DE NATUREZA
"INTERNA CORPORIS" - NÃO CONFIGURAÇÃO, EM
REFERIDO CONTEXTO, DA COMPETÊNCIA DO PODER

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JUDICIÁRIO - HIPÓTESE DE INCOGNOSCIBILIDADE DA


AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA - PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO. - Não se revela admissível mandado de
segurança, sob pena de ofensa ao postulado nuclear da
separação de poderes (CF, art. 2º), quando impetrado com o
objetivo de questionar divergências "interna corporis" e de
suscitar discussões de natureza regimental: apreciação
vedada ao Poder Judiciário, por tratar-se de temas que
devem ser resolvidos na esfera de atuação do próprio
Congresso Nacional (ou das Casas que o integram). - A
submissão das questões de índole regimental ao poder de
supervisão jurisdicional dos Tribunais implicaria, em
última análise, caso admitida, a inaceitável nulificação do
próprio Poder Legislativo, especialmente em matérias em
que não se verifica evidência de que o comportamento
impugnado tenha efetivamente vulnerado o texto da
Constituição da República. Precedentes". (MS 33705 AgR,
Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado
em 03/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-056 DIVULG
28-03-2016 PUBLIC 29-03-2016).

"Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo.


Artigo 93, XI, CF. Ausência de afronta. Lei Estadual nº
18.370/14. Processo legal legislativo. Afronta reflexa. Fatos e
provas. Súmulas 280, 279 e 636 do STF. 1. O acolhimento da
pretensão de inconstitucionalidade formal da Lei nº 18.370/14
do Estado do Paraná, por atropelo do processo legal legislativo,
importaria no reexame da causa à luz das normas do
Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do
Paraná e dos fatos e das provas constantes dos autos. A
ofensa ao texto constitucional seria, caso ocorresse, apenas
indireta ou reflexa, o que é insuficiente para amparar o recurso
extraordinário. Incidência das Súmulas nºs 279, 280 e 636 da
Corte. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
no sentido de não caber ao Poder Judiciário, a pretexto de
realizar o controle de atos legislativos, imiscuir-se em

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matérias interna corporis, sob pena de violação do


princípio da separação dos Poderes. Precedentes. 3. Agravo
regimental ao qual se nega provimento, com imposição de
multa de 2% (dois por cento) do valor atualizado da causa,
consoante o art. 1.021, § 4º, do Novo CPC, caso seja unânime
a votação. Não se aplica ao caso dos autos a majoração dos
honorários prevista no art. 85, § 11, do novo Código de
Processo Civil, uma vez que os recorrentes não foram
condenados no pagamento de honorários sucumbenciais pela
instância de origem".
(ARE 1028435 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 30/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-178 DIVULG 14-08-2017 PUBLIC 15-08-2017)

O argumento de que a lei atacada, mesmo concedendo isenções


tributárias, foi aprovada sem a observância do quórum mínimo de dois terços dos
integrantes da Câmara Legislativa, também não prospera.
A simples leitura do art. 10 da Lei distrital n° 5.899/2017 evidencia
que ele não concede isenção ou benefício fiscal, verbis:
"Art. 10. O IHBDF deve pleitear:
I - certificado de entidades beneficentes de assistência social na
forma do art. 3º, parágrafo único, da Lei federal nº 12.101, de 27 de novembro de
2009, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde;
II - isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita
Federal do Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal nº 9.532, de 10 de dezembro de
1997.
§ 1º Aplica-se ao IHBDF, dada a forma de instituição, a origem dos
recursos, a finalidade pública e o atendimento integral aos usuários do SUS, o
regime de impenhorabilidade de seus bens, serviços e rendas.
§ 2º Os membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e os da
Diretoria Executiva respondem pessoalmente por seus atos ou omissões ilícitos
ocorridos durante os seus respectivos mandatos no IHBDF".
Diversamente do que alegam os autores, a lei citada também não
privatiza ou extingue empresa pública ou sociedade de economia mista, o que
também exigiria o quórum mínimo de dois terços para aprovação. Como bem

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destaca o MPDFT, "O ato normativo apenas altera a forma de gestão de uma das
unidades de saúde da rede pública do Distrito Federal na busca de melhorias e
eficiência na prestação dos serviços à população".
Sustenta-se, ainda, que é patente a inconstitucionalidade da lei no
ponto em que institui vantagens remuneratórias e autoriza a contratação de pessoal
sem autorização específica na Lei de Diretrizes Orçamentárias e sem prévia
aprovação em concurso público.
O tema é objeto dos arts. 2° e 14 da Lei distrital n° 5.899/2017,
verbis:
"Art. 2º Compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar a
gestão do IHBDF, observadas as seguintes normas e disposições:
(...)
VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para
contratação e administração de pessoal sob regime da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, de forma a assegurar a preservação dos mais elevados e rigorosos
padrões de atendimento à população;
(...)
IX - o processo de seleção para admissão de pessoal do IHBDF
deve ser conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios da publicidade, da impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da
eficiência, nos termos do regulamento próprio a ser editado pelo Conselho de
Administração;
X - o contrato de gestão confere ao IHBDF poderes para fixar níveis
de remuneração para o pessoal da entidade, em padrões compatíveis com os
respectivos mercados de trabalho, segundo o grau de qualificação exigido e os
setores de especialização profissional;
Art. 14. O IHBDF fica dispensado do processo seletivo a que se
refere o art. 2º, IX, para contratação de servidores do quadro da Secretaria de
Estado de Saúde lotados na unidade denominada HBDF, ativos ou aposentados,
pelo prazo de 180 dias de sua instalação.
Parágrafo único. Podem ser destinados, na primeira admissão de
trabalhadores para o IHBDF, até 30% das vagas para contratação, em regime
celetista, de candidatos aprovados em concurso público atualmente vigente para os
cargos efetivos da Secretaria de Estado de Saúde, independentemente de processo
seletivo, sem prejuízo de eventual nomeação para cargo público".
O colendo STF examinou a questão no bojo da ADI n° 1864/PR:

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"CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. EDUCAÇÃO.


ENTIDADES DE COOPERAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. LEI 11.970/1997 DO ESTADO DO PARANÁ.
PARANAEDUCAÇÃO. SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO.
POSSIBILIDADE. RECURSOS PÚBLICOS FINANCEIROS
DESTINADOS À EDUCAÇÃO. GESTÃO EXCLUSIVA PELO
ESTADO. AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE.
1. Na sessão plenária de 12 de abril de 2004, esta Corte,
preliminarmente e por decisão unânime, não conheceu da ação
relativamente à Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação-CNTE. Posterior alteração da jurisprudência da
Corte acerca da legitimidade ativa da CNTE não altera o
julgamento da preliminar já concluído. Preclusão. Legitimidade
ativa do Partido dos Trabalhadores reconhecida.
2. O PARANAEDUCAÇÃO é entidade instituída com o fim
de auxiliar na Gestão do Sistema Estadual de Educação,
tendo como finalidades a prestação de apoio técnico,
administrativo, financeiro e pedagógico, bem como o
suprimento e aperfeiçoamento dos recursos humanos,
administrativos e financeiros da Secretaria Estadual de
Educação. Como se vê, o PARANAEDUCAÇÃO tem atuação
paralela à da Secretaria de Educação e com esta coopera,
sendo mero auxiliar na execução da função pública -
Educação.
3. A Constituição federal, no art. 37, XXI, determina a
obrigatoriedade de obediência aos procedimentos
licitatórios para a Administração Pública Direta e Indireta
de qualquer um dos Poderes da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios. A mesma regra não existe para as
entidades privadas que atuam em colaboração com a
Administração Pública, como é o caso do
PARANAEDUCAÇÃO.
4. A contratação de empregados regidos pela CLT não

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ofende a Constituição porque se trata de uma entidade de


direito privado. No entanto, ao permitir que os servidores
públicos estaduais optem pelo regime celetista ao ingressarem
no PARANEDUCAÇÂO, a norma viola o artigo 39 da
Constituição, com a redação em vigor antes da EC 19/1998.
5. Por fim, ao atribuir a uma entidade de direito privado, de
maneira ampla, sem restrições ou limitações, a gestão dos
recursos financeiros do Estado destinados ao desenvolvimento
da educação, possibilitando ainda que a entidade exerça a
gerência das verbas públicas, externas ao seu patrimônio,
legitimando-a a tomar decisões autônomas sobre sua
aplicação, a norma incide em inconstitucionalidade. De fato,
somente é possível ao Estado o desempenho eficaz de seu
papel no que toca à educação se estiver apto a determinar
a forma de alocação dos recursos orçamentários de que
dispõe para tal atividade. Esta competência é exclusiva do
Estado, não podendo ser delegada a entidades de direito
privado.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente, para declarar a inconstitucionalidade do artigo 19,
§ 3º da lei 11.970/1997 do estado do Paraná, bem como para
dar interpretação conforme à Constituição ao artigo 3º, I e ao
artigo 11, incisos IV e VII do mesmo diploma legal, de sorte a
entender-se que as normas de procedimentos e os critérios
de utilização e repasse de recursos financeiros a serem
geridos pelo PARANAEDUCAÇÃO podem ter como objeto,
unicamente, a parcela dos recursos formal e
especificamente alocados ao PARANAEDUCAÇÃO, não
abrangendo, em nenhuma hipótese, a totalidade dos
recursos públicos destinados à educação no Estado do
Paraná". (ADI 1864. Relator (a): Min. MAURÍCIO CORRÊA.
Relator (a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA. Tribunal
Pleno, julgado em 08/08/2007, DJe-078 DIVULG 30-04-2008
PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00089 RTJ
VOL-00204-02 PP-00535).

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Segundo bem destaca o MPDFT em sua manifestação, da referida


jurisprudência do colendo STF é possível concluir que os serviços sociais
autônomos "(i) devem ser criados por lei específica; (ii) trata-se de instituições de
direito privado, com o correlato regime jurídico; (iii) seus fins traduzem-se na
cooperação, com o Estado, para a prestação de serviços públicos, tais como
educação e saúde; (iv) não integram formalmente a estrutura da administração
pública direta e/ou indireta; (v) o STF admite a possibilidade de sua instituição; (vi)
em geral são financiados com recursos públicos; e (vii) tem sido amplamente
utilizados nos níveis municipal, estadual e federal, inclusive para a prestação de
serviços de saúde".
Destarte, sendo o IHBDF serviço social autônomo, que não integra a
Administração Pública direta ou indireta, não há falar-se em inconstitucionalidade da
Lei n° 5.899/2017 no ponto em que autoriza a contratação de pessoal sem concurso
público, uma vez que o instituto não está submetido à exigência prevista no inciso II
do art. 37 da CF.
No mesmo sentido, confira-se os seguintes julgados:

"ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. SERVIÇOS


SOCIAIS AUTÔNOMOS VINCULADOS A ENTIDADES
SINDICAIS. SISTEMA "S". AUTONOMIA ADMINISTRATIVA.
RECRUTAMENTO DE PESSOAL. REGIME JURÍDICO
DEFINIDO NA LEGISLAÇÃO INSTITUIDORA. SERVIÇO
SOCIAL DO TRANSPORTE. NÃO SUBMISSÃO AO
PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II, DA CF).
1. Os serviços sociais autônomos integrantes do denominado
Sistema "S", vinculados a entidades patronais de grau superior
e patrocinados basicamente por recursos recolhidos do próprio
setor produtivo beneficiado, ostentam natureza de pessoa
jurídica de direito privado e não integram a Administração
Pública, embora colaborem com ela na execução de
atividades de relevante significado social. Tanto a
Constituição Federal de 1988, como a correspondente
legislação de regência (como a Lei 8.706/93, que criou o

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Serviço Social do Trabalho - SEST) asseguram autonomia


administrativa a essas entidades, sujeitas, formalmente,
apenas ao controle finalístico, pelo Tribunal de Contas, da
aplicação dos recursos recebidos. Presentes essas
características, não estão submetidas à exigência de
concurso público para a contratação de pessoal, nos
moldes do art. 37, II, da Constituição Federal. Precedente:
ADI 1864, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 2/5/2008. 2.
Recurso extraordinário a que se nega provimento". (RE
789874, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno,
julgado em 17/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-227 DIVULG 18-11-
2014 PUBLIC 19-11-2014)

"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEIS


DISTRITAIS NºS 4.081/08, 4.249/08 E LEGISLAÇÃO
REVOGADA - QUALIFICAÇÃO DE ENTIDADES PRIVADAS
COMO ORGANIZAÇÕES SOCIAIS - CONTRATOS DE
GESTÃO - PRELIMINAR DE INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA
PREJUDICADA E DE INCOMPETÊNCIA DO TJDFT PARA O
JULGAMENTO DA AÇÃO REJEITADA - MÉRITO: O AUTOR
IMPUTA VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 3º, INCISO VI, 15,
INCISO VI, 19, CAPUT, 26, 48, 49, 51 E 151, INCISO IV,
TODOS DA LODF - JULGOU-SE PARCIALMENTE
PROCEDENTE A AÇÃO, COM EFEITOS EX TUNC E
EFICÁCIA ERGA OMNES - MAIORIA.
I - A preliminar de inadequação da via eleita por ausência de
interesse de agir, frente aos parágrafos únicos dos artigos 19,
20 e 21 da Lei distrital n.º 4.081/08, encontra-se prejudicada,
em razão da revogação dos referidos dispositivos pela Lei
distrital n.º 4.249/08.
II - O Conselho Especial do TJDFT é competente para
processar e julgar ação direta de inconstitucionalidade de Lei
distrital em face da Lei Orgânica do Distrito Federal.
III - A Lei distrital n.º 4.081/08, acoimada de inconstitucional,
reproduz, em essência, o modelo de Organizações Sociais de
que cuida a Lei federal n.º 9.637/98, surgidas no bojo do Plano

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Diretor da Reforma do Aparelho do Estado com a finalidade


precípua de desempenharem atividades não-exclusivas do
Estado, mediante os denominados contratos de gestão.
IV - Referidas organizações, em sua gênese federal,
surgiram para prestar serviços não-exclusivos do Estado
na área de ensino, pesquisa científica, desenvolvimento
tecnológico, cultura, saúde, preservação e proteção do
meio ambiente. Nesse passo, o modelo distrital não deve
afastar-se do modelo federal, ampliando as áreas de
atuação, pois o que se acresce perde legitimidade perante
diversos dispositivos da LODF, dada a competência
concorrente do Distrito Federal para dispor acerca de
licitação, bem como de sua dispensa.
V - Da leitura do artigo 24, inciso XXIV, da Lei federal n.º
8.666/93, extrai-se que a dispensa de licitação aplica-se à
celebração do contrato de gestão, mas não à seleção da
entidade privada candidata a qualificar-se como organização
social, não devendo o Poder Público furtar-se a selecionar a
melhor capacitada a executar o objeto do contrato de gestão,
preservando-se os princípios do interesse público, da
moralidade e da isonomia.
VI - Estando a organização social totalmente voltada para a
execução do objeto do contrato, qual seja, prestar serviço
de utilidade pública, com pesados mecanismos de
cobrança de resultado e sob estreita vigilância da entidade
supervisora da área de atuação correspondente à atividade
fomentada, do Tribunal de Contas e do Ministério Público
(seção IV), descabida é a exigência de licitação no
desenvolvimento regular de suas atividades, bem como a
negativa de dotação orçamentária, utilização de bens
públicos mediante permissão de uso (§ 3º do art. 13) e
cessão de servidores, observando-se, na última hipótese, a
compatibilidade dos direitos, deveres e restrições
impostas aos servidores públicos.
VII - As entidades de direito privado devem conformar-se aos
requisitos específicos da lei para fins de qualificação como
organização social, sendo esse um dos pontos que confere

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legitimidade às citadas entidades e, por outro lado, segurança


ao patrimônio público que lhes é dado gerir. Assim sendo,
inconstitucional é a previsão legal de qualificação de outras
entidades de natureza e regime institucional diverso, que não
obedeçam ao modelo criado especificamente para as
organizações sociais.
VIII - Julga-se parcialmente procedente a ação, para declarar,
com efeito ex tunc e eficácia erga omnes, a
inconstitucionalidade das expressões "e institucional, da flora e
da fauna", "ação social", "defesa do consumidor", "esporte",
"agricultura e ao abastecimento", contidas no artigo 1.º; a
inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 3.º; a
inconstitucionalidade da expressão "A contratação da entidade"
contida no §1.º do artigo 6.º; e a inconstitucionalidade do artigo
18, todos da Lei 4.081/08, com a redação dada pela Lei n.º
4.249, de 14 de novembro de 2008".
(Acórdão n.470862, 20090020123053ADI, Relator: LECIR
MANOEL DA LUZ CONSELHO ESPECIAL, Data de
Julgamento: 19/10/2010, Publicado no DJE: 07/01/2011. Pág.:
15)

Forte em tais considerações, julgo IMPROCEDENTES OS


PEDIDOS deduzidos nas ações diretas de inconstitucionalidade n°
2017.00.2.013758-5 e n° 2017.00.2.013822-5.
É como voto.

O Senhor Desembargador J.J. COSTA CARVALHO - Vogal


Trata-se de Ações Diretas de Inconstitucionalidade aviadaspelo
Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal e peloPartido do Movimento
Democrático Brasileiro, na qual se vindicam a declaração de inconstitucionalidade
da Lei Distrital n. 5.899, de 03 de julho de 2017, ato normativo que "autoriza o
Poder Executivo a criar o Instituto Hospital de Base do Distrito Federal".
Alega o Partido dos Trabalhadores (PT/DF) afronta ao artigo 74, §5º

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da Lei Orgânica do Distrito Federal, sob o argumento de que o Projeto de Lei


1.486/2017, que culminou na edição da Lei ora impugnada, foi apreciado pela
Câmara Legislativa do Distrito Federal em situação de sobrestamento de pauta, ante
a existência de 153 vetos pendentes de apreciação. Aduz que a ação da Casa
Legislativa macula o sistema de freios e contrapesos e o postulado da Separação de
Poderes estampados no artigo 53 da LODF. Salienta que o artigo 131, inciso I,
também da LODF restou inobservado, uma vez que, para concessão de isenções
fiscais sobre matéria tributária e previdência, é necessário quorum de apreciação de
2/3 dos membros da Casa Legislativa, o que não ocorreu na hipótese. Preleciona
que a norma impugnada "cria despesas novas relativas a pessoal, de caráter
continuado, para o Distrito Federal, tais como: pagamento de vantagem temporária
aos servidores cedidos pela Secretaria de Saúde para o IHB (art. 3º, §3º); b) ajuda
de custo para os membros do Conselho de Administração e Conselho Fiscal (art. 8º
)" além de instituição de vantagens e aumentos remuneratórios, entre outros, sem
previsão em Lei Orçamentária para tanto, razão pela qual sustenta violação ao artigo
157, §1º, I e II, da LODF. Ao fim, assinala que a lei traz hipótese de contratação de
pessoal sem concurso público, bem como aquisição de bens e/ou serviços sem a
obrigatoriedade de realização de licitação, o que encerra mácula aos artigos 26 e
214 da LODF.
O Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB/DF), por sua
vez, apresenta as insurgências levantadas pelo PT/DF, bem como afirma que a
norma não observou o quorum qualificado ao promover a desestatização de uma
entidade pública, violando o artigo 19,§7º da LODF. Sustenta a inviabilidade da
privatização de órgão público. Assevera que a referida lei distrital envolve alocação
de recursos públicos sem a previsão orçamentária respectiva e sem a oitiva do
Conselho de Governo estabelecida nos artigos 109, 149, §§7º e 8º e 151, I, §1º da
LODF.
Distribuído os autos, o d. Relator imprimiu ao feito, o rito do artigo 12
da Lei 9.868/99 (fls. 263/264v).
A Mesa Diretora da Câmara Legislativa sustentou, preliminarmente,
irregularidade do instrumento de mandato. No mérito, requereu o julgamento
improcedente das ações diretas de inconstitucionalidade (fls. 267/288).
O Governador do Distrito Federal apresentou parecer no sentido da
constitucionalidade e legitimidade do projeto de lei que resultou na Lei Distrital n.
5899/2017 (fls. 290/309v).
A Procuradoria-Geral do Distrito Federal, na qualidade de curadora
da norma impugnada, defende a constitucionalidade do diploma legal questionado

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(fls. 311-320).
Parecer da Procuradoria de Justiça (às fls. 322-333v) pela
improcedência das ações diretas de inconstitucionalidade interpostas.
O d. Relator determinou o apensamento dos presentes autos aos da
ADI 2017.00.2.013822-5 para julgamento conjunto.
É o breve relatório.
Ante a similitude das objeções trazidas em ambas as ações diretas
de inconstitucionalidade, passo a analisá-las conjuntamente.
De pronto,afasto a preliminar de extinção do feito trazida pela
Câmara Legislativa do DF em razão de ausência de procuração com poderes
específicos, haja vista a presença de documento de representação processual com
os poderes específicos às fls. 258 e 260/261.
Das Inconstitucionalidades Formais
No que alude à alegada inconstitucionalidade formal, consistente na
deliberação do ato normativo malgrada existência de vetos pendentes de
apreciação, ensejando ofensa aos artigos 5313 e 74, §5º14 da LODF, sem razão os
demandantes.
Consoante entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal
Federal, quando da apreciação do trancamento da pauta legislativa decorrente da
inércia deliberatis das medidas provisórias (MS 27931/DF) restou estabelecido que
interpretação dada pelo Poder Legislativo ao art. 62, §6º, da CRFB, é no sentido de
reduzir teleologicamente o alcance do trancamento de pauta ali previsto para
alcançar somente projetos de lei ordinária que veiculem matéria suscetível de
disciplina pela mesma proposição legislativa, qual seja, medida provisória.

13
Art. 53. São Poderes do Distrito Federal, independentes e harmônicos entre si, o Executivo e o Legislativo.
§ 1º É vedada a delegação de atribuições entre os Poderes.
§ 2º O cidadão, investido na função de um dos Poderes, não poderá exercer a de outro, salvo as exceções
previstas nesta Lei Orgânica.
14
Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado ao Governador que, aquiescendo, o
sancionará e promulgará.
(...)
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da Constituição Federal, o veto será
incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições até a sua votação final, só
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados, em votação ostensiva.

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Em outro julgamento de igual envergadura, decidiu a Corte


Constitucional que os vetos

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR.


REQUISITOS. PROCESSO LEGISLATIVO. APRECIAÇÃO DE
VETOS PRESIDENCIAI S (CF, ART. 66, §§ 4º E 6º).
1. A concessão de liminar, em mandado de segurança, supõe,
além do risco de ineficácia da futura decisão definitiva da
demanda, a elevada probabilidade de êxito da pretensão, tal
como nela formulada.
2. No caso, o que se pretende, na impetração, é provimento
que iniba o Congresso Nacional de apreciar o Veto Parcial n.º
38/2012, aposto pela Presidente da República ao Projeto de Lei
n.º 2.565/2011, antes da votação de todos os demais vetos
anteriormente apresentados (mais de 3.000 - três mil), alguns
com prazo vencido há mais de 13 - treze - anos.
3. A medida liminar, que tem natureza antecipatória, não pode
ir além nem deferir providência diversa da que deriva da
sentença definitiva. Assim, no entender majoritário da Corte,
não há como manter a determinação liminar ordenando ao
Congresso Nacional que "se abstenha de deliberar acerca do
Veto Parcial nº 38/2012 antes que proceda à análise de todos
os vetos pendentes com prazo de análise expirado até a
presente data, em ordem cronológica de recebimento da
respectiva comunicação". Isso porque se mostra pouco
provável que tal determinação venha a ser mantida no
julgamento definitivo da demanda, especialmente pela
gravidade das consequências que derivariam do puro e simples
reconhecimento, com efeitos ex tunc, da inconstitucionalidade
da prática até agora adotada pelo Congresso Nacional no
processo legislativo de apreciação de vetos presidenciais (ADI
nº 4.029/DF, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 27.06.2012).
4. Agravo regimental provido.
(MS 31816 MC-AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/
Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em

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27/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG 10-


05-2013 PUBLIC 13-05-2013 RTJ VOL-00226-01 PP-00444).

A il. Corte Constitucional ressaltou, ainda, que o mesmo raciocínio


deve ser adotado quando o sobrestamento decorrer da não apreciação de veto
Presidencial:

"a solução adequada também para a previsão do trancamento


de pauta previsto no art. 66, §6º, da Constituição. Isso porque,
em primeiro lugar, as situações são extremamente similares,
reclamando soluções coerentes entre si. Em ambos os casos
há uma previsão de interdição do funcionamento do Poder
Legislativo em razão de ato do Presidente da República. Nada
mais razoável do que fixar a mesma compreensão quanto aos
regimes jurídico-constitucionais do trancamento da pauta
legislativa. Em segundo lugar, a exegese restritiva do comando
constitucional é oriunda do próprio Poder Legislativo, cujo papel
na fixação de sentido ao texto constitucional não pode ser
negligenciado. Com efeito, uma sociedade verdadeiramente
democrática requer um Poder Judiciário que não se arvore à
condição de monopolista da hermenêutica constitucional. A
restrição do alcance do art. 66, §6º, da Constituição não
configura, portanto, qualquer voluntarismo judicial, senão
apenas aplicação analógica de entendimento já existente e
criado pelo Congresso Nacional brasileiro. Não bastasse o
exposto, a interpretação legislativa é também a que melhor
acomoda os bens jurídicos em jogo, evitando que os poderes
constitucionais da Presidência da República acabem por
inviabilizar o próprio funcionamento parlamentar.
Assim é que o rigor com que redigido o art. 66, §6º, da
Constituição deve ser mitigado, de modo que a pendência
de veto presidencial ainda não apreciado pelo Congresso
Nacional acarrete, a partir do trigésimo primeiro dia do
prazo constitucional, apenas a supressão do poder de

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escolha aleatória de vetos para fins de análise e


deliberação".

Destarte, o que se percebe é que, no que alude a inércia legislativa


quanto à apreciação dos vetos executivos, lei tal mora ensejará tão somente a
obrigatoriedade da apreciação cronológica dos vetos apostos e não do
engessamento da agenda legislativa, razão pela qual inexistente a
inconstitucionalidade apontada.
No que tange a alegada inobservância de normas regimentais pela
Casa Legislativa, assinalo que é firme o entendimento desta e. Casa e do Supremo
Tribunal Federal no sentido de que não cabe ao Poder Judiciário, a pretexto de
realizar o controle de atos legislativos, imiscuir-se em matérias interna corporis, sob
pena de violação ao princípio da separação dos Poderes, senão vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA.


2. Oferecimento de denúncia por qualquer cidadão imputando
crime de responsabilidade ao Presidente da República (artigo
218 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados).
3. Impossibilidade de interposição de recurso contra decisão
que negou seguimento à denúncia. Ausência de previsão legal
(Lei 1.079/50).
4. A interpretação e a aplicação do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados constituem matéria interna
corporis, insuscetível de apreciação pelo Poder Judiciário.
5. Agravo regimental improvido.
(MS 26062 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal
Pleno, julgado em 10/03/2008, DJe-060 DIVULG 03-04-2008
PUBLIC 04-04-2008 EMENT VOL-02313-03 PP-00469
LEXSTF v. 30, n. 355, 2008, p. 216-225, grifos aditados).

MANDADO DE SEGURANÇA - PRETENDIDA


SUSTENTAÇÃO ORAL NO JULGAMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL - INADMISSIBILIDADE -

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CONSTITUCIONALIDADE DA VEDAÇÃO REGIMENTAL


(RISTF, ART. 131, § 2º) - IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DA
MESA DO CONGRESSO NACIONAL QUE APROVOU A
NOMEAÇÃO DOS INTEGRANTES DO CONSELHO DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL - ALEGADA INOBSERVÂNCIA DO
RITO PROCEDIMENTAL EM SUA COMPOSIÇÃO -
PRETENSÃO DOS IMPETRANTES, ENTRE OS QUAIS
DIVERSAS ENTIDADES DE DIREITO PRIVADO, AO
CONTROLE JURISDICIONAL DO "ITER" FORMATIVO
CONCERNENTE A REFERIDO ÓRGÃO COLEGIADO -
LEGITIMIDADE ATIVA, PARA ESSE EFEITO, APENAS DOS
CONGRESSISTAS - DELIBERAÇÃO DE NATUREZA
"INTERNA CORPORIS" - NÃO CONFIGURAÇÃO, EM
REFERIDO CONTEXTO, DA COMPETÊNCIA DO PODER
JUDICIÁRIO - HIPÓTESE DE INCOGNOSCIBILIDADE DA
AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA - PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO.
Não se revela admissível mandado de segurança, sob pena de
ofensa ao postulado nuclear da separação de poderes (CF, art.
2º), quando impetrado com o objetivo de questionar
divergências "interna corporis" e de suscitar discussões
de natureza regimental: apreciação vedada ao Poder
Judiciário, por tratar-se de temas que devem ser resolvidos
na esfera de atuação do próprio Congresso Nacional (ou
das Casas que o integram). - A submissão das questões de
índole regimental ao poder de supervisão jurisdicional dos
Tribunais implicaria, em última análise, caso admitida, a
inaceitável nulificação do próprio Poder Legislativo,
especialmente em matérias em que não se verifica evidência
de que o comportamento impugnado tenha efetivamente
vulnerado o texto da Constituição da República. Precedentes.
(MS 33705 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal
Pleno, julgado em 03/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
056 DIVULG 28-03-2016 PUBLIC 29-03-2016, grifos aditados).

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE

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SEGURANÇA. LIMINAR: (IN)DEFERIMENTO. PRELIMINAR:


OBJETO DO PEDIDO. DECISÃO DO CONGRESSO
NACIONAL. INTERPRETAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO.
MATÉRIA INTERNA CORPORIS. HIPÓTESE DE NÃO-
CONHECIMENTO.
I- O tema da cognoscibilidade do pedido precede o da
apreciação do agravo regimental contra despacho concessivo
de liminar, e de seu cabimento à vista da jurisprudência do
Supremo.
II- A natureza interna corporis da deliberação congressional -
interpretação de normas do Regimento Interno do Congresso -
desautoriza a via utilizada. Cuida-se de tema imune à análise
judiciária. Precedentes do STF. Inocorrência de afronta a direito
subjetivo. Agravo regimental parcialmente conhecido e provido,
levando ao não-conhecimento do mandado de segurança.

(MS 21754 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,


Relator(a) p/ Acórdão: Min. FRANCISCO REZEK, Tribunal
Pleno, julgado em 07/10/1993, DJ 21-02-1997 PP-02829
EMENT VOL-01858-02 PP-00280)

Por tal razão, não configurada as inconstitucionalidades formais


trazidas a lume.
Das Inconstitucionalidades Materiais.
Com efeito, a Lei Distrital 5.899/2017 autoriza o Poder Executivo a
instituir o Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, pessoa jurídica de direito
privado, sob a forma de serviço social autônomo, sem fins lucrativos, de interesse
coletivo, com o escopo de auxiliar de prestar assistência médica qualificada e
gratuita à população e de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e gestão no
campo da saúde, em cooperação com o Poder Público (art. 1º).
Na lição de Hely Lopes Meirelles, citado por Maria Silvia Zanella di
Pietro, serviços sociais autônomos:

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são todos aqueles instituídos por lei, com personalidade de


Direito Privado, para ministrar assistência ou ensino a certas
categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos,
sendo mantidos por dotações orçamentárias ou por
contribuições parafiscais. São entes paraestatais, de
cooperação com o Poder Público, com administração e
patrimônio próprios, revestindo a forma de instituições
particulares convencionais (fundações, sociedades civis ou
associações) ou peculiaridades ao desempenho de suas
incumbências estatuárias".

O Autor acrescenta, ainda, que:

tais entidades, embora oficializadas pelo Estado, não


integram a Administração direta nem a indireta,mas
trabalham ao lado do Estado, sob seu amparo, cooperando nos
setores, atividades e serviços que lhes são atribuídos, por
considerados de interesse específico de determinados
beneficiários. Recebem, por isso, oficialização do Poder
Público e autorização legal para arrecadarem e utilizarem na
sua manutenção contribuições parafiscais, quando não
subsidiadas diretamente por recursos orçamentários da
entidade que as criou.

Ou seja, o fato de o serviço social autônomo ser subvencionado pelo


Estado não o torna integrante da Administração Direta e ou Indireta. Outrossim, o
serviço de interesse público desempenhado pelo IHBDF não se traduz em
delegação/descentralização e tampouco privatização de atividade administrativa,
mas configura tão somente de exercício de atividade de interesse público, sendo a
atividade estatal, na hipótese, atividade de fomento e não de prestação de serviço

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público.
Contudo, pelo fato de trabalharem com verbas de natureza pública,
tais entidades se submetem ao controle do Poder Público, controle de natureza
finalístico e de prestação de contas dos valores recebidos para sua manutenção.
Tais entidades devem, ainda, observância aos princípios que orientam a
Administração Pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência).
Destarte, em razão da natureza dos serviços sociais autônomos, que
é ente de cooperação com o Poder Público e não de entidade da Administração
Direta ou Indireta, tais entes não estão obrigados a atuar como entidades da
Administração, ou seja, não se vinculam ao regime jurídico de direito público.
Assim, os serviços sociais autônomos não de modo que tanto as contratações de
pessoal, bem como a aquisição de produtos e/ou serviços não se subordinam às
regras de contratação de pessoal, bem como ao regime de licitações e contratos
administrativos.
Sobre o tema, Alexandre Santos de Aragão15preleciona que:

"dentro do tema da participação do Estado em entidades


privadas, merecem destaque os serviços sociais autônomos
, entidades de direito privado, instituídas por lei, sob formas
privadas comuns - associações ou fundações - com vistas a
prestar assistência, sem fins lucrativos, a certos grupos sociais
e categorias profissionais, e que são financiadas por
dotações orçamentárias públicas ou por contribuições
parafiscais de natureza tributária (....). Tais entes só atuam
sob o amparo, inclusive financeiro, e autorização do Estado,
que sobre elas possui certas ingerências (...). Por serem
custeadas pelo Erário (recebem contribuições parafiscais
de interesse das categorias econômicas e sociais - art. 149,
caput, da Constituição), estão sujeitas à fiscalização do
Tribunal de Contas, devendo, ainda, observar os princípios
da igualdade, da impessoalidade e da moralidade nas suas

15
Aragão, Alexandre dos Santos de. Curso de direito administrativo - Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 138.

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contratações, inclusive de pessoal, mesmo que não


estejam sujeitas aos estritos termos da Lei Federal de
Licitações e Contratos Administrativos"

Assinalo, ainda, que o Supremo Tribunal Federal, quando o


julgamento da ADI 1864/PR, consignou entendimento no sentido da
dispensabilidade do procedimento licitatório e do processo seletivo para contratação
de pessoal quando se tratar de Serviço Social Autônomo:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.


EDUCAÇÃO. ENTIDADES DE COOPERAÇÃO COM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LEI 11.970/1997 DO ESTADO
DO PARANÁ. PARANAEDUCAÇÃO. SERVIÇO SOCIAL
AUTÔNOMO. POSSIBILIDADE. RECURSOS PÚBLICOS
FINANCEIROS DESTINADOS À EDUCAÇÃO. GESTÃO
EXCLUSIVA PELO ESTADO. AÇÃO DIRETA JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE.
1. Na sessão plenária de 12 de abril de 2004, esta Corte,
preliminarmente e por decisão unânime, não conheceu da ação
relativamente à Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação-CNTE. Posterior alteração da jurisprudência da
Corte acerca da legitimidade ativa da CNTE não altera o
julgamento da preliminar já concluído. Preclusão. Legitimidade
ativa do Partido dos Trabalhadores reconhecida.
2. O PARANAEDUCAÇÃO é entidade instituída com o fim de
auxiliar na Gestão do Sistema Estadual de Educação, tendo
como finalidades a prestação de apoio técnico, administrativo,
financeiro e pedagógico, bem como o suprimento e
aperfeiçoamento dos recursos humanos, administrativos e
financeiros da Secretaria Estadual de Educação. Como se vê, o
PARANAEDUCAÇÃO tem atuação paralela à da Secretaria de
Educação e com esta coopera, sendo mero auxiliar na
execução da função pública - Educação.
3. A Constituição federal, no art. 37, XXI, determina a

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obrigatoriedade de obediência aos procedimentos


licitatórios para a Administração Pública Direta e Indireta
de qualquer um dos Poderes da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios. A mesma regra não
existe para as entidades privadas que atuam em
colaboração com a Administração Pública, como é o caso
do PARANAEDUCAÇÃO.
4. A contratação de empregados regidos pela CLT não
ofende a Constituição porque se trata de uma entidade de
direito privado. No entanto, ao permitir que os servidores
públicos estaduais optem pelo regime celetista ao
ingressarem no PARANEDUCAÇÂO, a norma viola o artigo
39 da Constituição, com a redação em vigor antes da EC
19/1998.
(...)
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente, para declarar a inconstitucionalidade do artigo 19,
§ 3º da lei 11.970/1997 do estado do Paraná, bem como para
dar interpretação conforme à Constituição ao artigo 3º, I e ao
artigo 11, incisos IV e VII do mesmo diploma legal, de sorte a
entender-se que as normas de procedimentos e os critérios de
utilização e repasse de recursos financeiros a serem geridos
pelo PARANAEDUCAÇÃO podem ter como objeto,
unicamente, a parcela dos recursos formal e especificamente
alocados ao PARANAEDUCAÇÃO, não abrangendo, em
nenhuma hipótese, a totalidade dos recursos públicos
destinados à educação no Estado do Paraná.
(ADI 1864, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/
Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado
em 08/08/2007, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-
2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00089 RTJ VOL-00204-02
PP-00535, grifos aditados).

Infere-se, pois, que a Lei 5.899, de 03 de julho de 2017 caminha em


consonância à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não havendo, ainda,

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qualquer ofensa à Lei Orgânica do Distrito Federal e tampouco à Constituição


Federal. Assim, não há que se falar em ofensa aos seguintes artigos da Lei Orgânica
do Distrito Federal:
a) artigos 2616 e 2817 - que dispõe sobre a necessidade de licitação
pública para compras, alienações e serviços da administração, bem como veda a
contratação de obras e serviços sem prévia aprovação de projeto - uma vez que os
Serviços Sociais Autônomos não vinculados a tal encargo;
b) artigo 22, §3º18, porquanto tal comando se apenas às pessoas
jurídicas de direito público integrante da Administração, o que não é o caso. Embora,
conforme já salientado, o IHBDF deverá observar os princípios que norteiam a
Administração Pública além de se submeter suas contas aos órgãos de controle,
incluindo aqui o Tribunal de Contas, consoante estabelecido nos incisos XVI a XVII
do artigo 2º da Lei 5.899/2017.

16
Art. 26. Observada a legislação federal, as obras, compras, alienações e serviços da administração serão
contratados mediante processo de licitação pública, nos termos da lei.
17
Art. 28. É vedada a contratação de obras e serviços públicos sem prévia aprovação do respectivo projeto, sob
pena de nulidade do ato de contratação.
18
Art. 22. Os atos da administração pública de qualquer dos Poderes do Distrito Federal, além de obedecer aos
princípios constitucionais aplicados à administração pública, devem observar também o seguinte:
(...)
§ 3º Os Poderes do Distrito Federal mandarão publicar, mensalmente, nos respectivos sítios oficiais na internet,
demonstrativo de todas as despesas realizadas por todos os seus órgãos, de forma clara e compreensível ao
cidadão, inclusive os da administração indireta, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
mantidas pelo Poder Público, com a discriminação do beneficiário, do valor e da finalidade, conforme dispuser
a lei

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c) artigos 14919 e 151, §1º20¸ uma vez que o repasse orçamentário


feito pela Secretaria de Estado da Saúde é previamente obtido mediante
observância dos rito orçamentário previsto da Lei Orgânica do Distrito Federal, bem
como das diretrizes estabelecidas pela Constituição Federal.
Por fim, no que alude à alegação de que o artigo 10 da Lei
5.899/2017 traz hipótese de isenção fiscal, motivo pelo qual deveria ter sido
aprovada com quorum de 2/3 dos membros, consoante estabelecido no artigo 131, I,
da LODF, melhor sorte não assiste aos demandantes.
Preleciona o artigo 10 da Lei impugnada:
Art. 10. O IHBDF deve pleitear:

I- Certificado de entidades beneficentes de assistência social


na forma do art. 3º, parágrafo único, da Lei federal 12.101, de
27 de novembro de 2009, com o apoio da Secretaria de Estado
de Saúde;
II- Isenção de tributos federais perante a Secretaria da Receita
Federal do Brasil, na forma do art. 12 da Lei federal 9.532, de
10 de setembro de 1997;
(...)

Note-se que a redação do dispositivo ora questionado é clara no


sentido de que o IHBDF deverá pleitear o certificado de entidade beneficente e a
isenção fiscal cabível aos Serviços Sociais Autônomos, ou seja, trata-se de comando
de postulação e não da concessão da benesse fiscal, como pretende fazer crer o
demandante, motivo pelo qual inexiste inconstitucionalidade, no ponto.
Ante o exposto, não vislumbrando nenhuma mácula aos dispositivos

19

20
Art. 151. São vedados:
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia
inclusão no plano plurianual ou sem lei que autorize sua inclusão, sob pena de crime de responsabilidade.

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da Constituição Federal e da Lei Orgânica do Distrito Federal, JULGO


IMPROCEDENTE as Ações Diretas de Inconstitucionalidade 2017.00.2.013758-5 e
2017.00.2.013822-5 aviadas pelo Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal e
pelo Partido Movimento Democrático Brasileiro.
É como voto.

A Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

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O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador FERNANDO HABIBE - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora SIMONE LUCINDO - Vogal


Senhor Presidente, a matéria foi muito bem analisada no voto do eminente
Relator, de forma que me coloco de acordo com S. Ex.a, julgando improcedentes as
ações diretas de inconstitucionalidade.

O Senhor Desembargador TEÓFILO CAETANO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 126


Fls. _____
Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

O Senhor Desembargador GILBERTO DE OLIVEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 127


Fls. _____
Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Vogal

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 128


Fls. _____
Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

Senhor Presidente, quero principiar este voto pelo seu final.


Acompanho o Relator, mas preciso deixar esclarecidos alguns pontos. Não vou
arguir qualquer questão preliminar, mas creio que essa lei tem um reflexo direto na
Constituição Federal, arts. 37 a 39, em que se estabeleceu um modelo de gestão
administrativa com realização de concursos públicos, licitações, etc.
Portanto, o precedente que se cita é do Supremo Tribunal Federal. Por quê?
Porque, no caso da ADI 1864, o preceito testilhado foi da Constituição Federal,
exatamente o art. 37, XXI, que é o presente caso. Então, poderia soar como uma
usurpação de competência do Supremo Tribunal Federal o julgamento desta ação
direta de inconstitucionalidade, nesta oportunidade, em face da Lei Orgânica, que
replicou, apenas e tão somente, normas da Constituição Federal.
Faço esse registro porque chegou ao conhecimento que essa lei está suspensa
em razão de um controle difuso exercido por um juiz de direito do Distrito Federal,
em ação civil pública, que reconheceu que a lei é inconstitucional. Não cheguei a
ver no despacho se é em face da Constituição Federal, e se for a decisão do juiz
poderia até continuar vigendo, mesmo com esta decisão do egrégio Conselho
Especial.
De todas as autoridades que visitaram o gabinete e colocaram seus argumentos,
o que mais me impressionou - e não é do meu feitio falar mal de políticas públicas,
mas nesta oportunidade sou obrigado a reconhecer esta realidade - é a falência
completa do sistema de saúde do Distrito Federal. Falência mesmo, o povo está
sofrendo. Então, essa autoridade me disse: "Essa lei pode não ter uma
constitucionalidade cristalina, mas é uma chance que o povo do Distrito Federal
tem. Para mim é o quanto basta nesta oportunidade."
Não sei se esse modelo previsto na lei será exitoso, espero que sim. Espero que
retornemos às velhas práticas que existiam, principalmente antes da famigerada e
execrável lei, do ponto de vista de gestão, Lei 8.666/1993. É uma lei que engessa e
que torna impossível administrar. Neste egrégio Tribunal chegamos a ver - não foi
meu caso e nem o do Desembargador Mario Machado, porque procuramos agilizar
- licitações que duraram 510 dias. A Administração passa toda uma gestão para
fazer uma licitação, cumprindo rituais hierárquicos inflexíveis, em que pequenezas,
às vezes, podem inviabilizar uma licitação graandiosa.
As nações anglo-saxônicas se deram muito bem, porque as contratações são
rápidas, assim como as dispensas também. Se não está bom, passa no setor de
recursos humanos e acerta. Essa é uma realidade.
A Petrobrás adotou um modelo semelhante, porque, como uma empresa de porte
internacional, não poderia submeter-se à Lei 8.666/1993 integralmente, porque

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 129


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Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

senão estaria engessada. Houve problemas, infelizmete.Espero que não aconteça


esse problema aqui no Distrito Federal. É uma esperança que manifestamos.
De modo que, com essas considerações adicionais...

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA - Relator


Desembargador Getúlio Moraes Oliveira, se V. Ex.ª me permite, tenho em mãos
uma sentença passada pelo nobre Juiz Daniel Eduardo Branco Carnacchioni, em
que S. Ex.ª, após examinar a matéria, concluiu assim:

Revogo a liminar, em parte, que determinou aos Conselheiros a alteração dos


estatutos sociais para adequá-las às regras da fundação pública com personalidade
de direito privado, tendo em vista que, com a suspensão definitiva da vigência dos
referidos artigos do estatuto social do Instituto Hospital de Base de Brasília, este
estará obrigado a se sujeitar aos regimes de licitação, concurso público e teto
remuneratório.

E concluiu dizendo: "Julgo o processo, com resolução do mérito, e condeno os


autores a pagar honorários de advocacia de 15% (quinze por cento), etc..."
Eu não tinha atinado, Senhor Desembargador, para essa eventual possibilidade
de que a matéria esteja sendo decidida em 1.º Grau à luz exclusiva da Constituição
Federal, porque me parece que aí a norma é de repetição obrigatória pela LODF.
Tenho o ponto de vista aqui. Não sei se é esse o enfoque de V. Ex.ª, mas é o
campo que tenho em mãos.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 130


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Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Desembargadores Romão C. Oliveira e Getúlio Moraes Oliveira, também tenho
conhecimento dessa decisão do Juiz da 2.ª Vara de Fazenda Pública, Daniel
Eduardo Carnacchioni.
Parece-me que já é julgamento de mérito, já tem sentença, e S. Ex.ª confirma em
parte, mas, salvo engano, obriga o Distrito Federal a instituir uma fundação.
Portanto, é bem diverso do que estabelece a lei. Parece-me também que já há
recurso e a Turma terá oportunidade de deliberar, inclusive, considerando, se for o
caso, a decisão deste Tribunal.
Realmente, na fundamentação, o Juiz considera a lei inconstitucional, por violar
princípios fundamentais da Administração Pública.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Vogal


Desembargador Cruz Macedo, não vou perder a chance de dar uma chance, de
modo que não vou arguir essa preliminar. Só coloquei a questão para que todos
tenham consciência dela e, eventualmente, se este processo vier, por exemplo, em
grau de recurso com essa sentença, provavelmente ela vai aportar aqui no
Conselho, porque será uma inconstitucionalidade difusa em face da Constituição
Federal. Com a reserva de plenário, a Turma terá que mandar para cá.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 131


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Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Desembargador Getúlio Moraes Oliveira, parece-me que, o Tribunal já tendo
deliberado, ficaria prejudicada até essa declaração. O Tribunal está julgando a lei,
encaminha-se para reconhecer a constitucionalidade, portanto, entendo que a
Turma não poderia sequer suscitar o incidente com relação à LODF.
Concordo também com V. Ex.ª.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Vogal


Como disse, Senhor Presidente - sou o último a votar, antes da Presidência -,
não vou arguir essa preliminar. Só coloquei essa questão para que saibamos das
implicações que porventura possam ter este julgamento, inclusive no que diz
respeito à competência do egrégio Tribunal, que foi lembrada pelo Desembargador
Romão C. Oliveira.
Com essas considerações, acompanho o Relator.

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Vogal


Presentes os respectivos pressupostos, admito as ações diretas de
inconstitucionalidade.
Rejeito a preliminar de extinção do feito, porque não há
irregularidade nos instrumentos de mandato juntados aos autos. Das respectivas
procurações, verifica-se que foram outorgados poderes específicos para a
impugnação da Lei Distrital 5.899/2017.
Da alegação de inconstitucionalidade formal
Ao contrário do que alegam os requerentes, a Lei 5.899/2017 não
promoveu privatização nem extinção de empresa pública ou de sociedade de
economia mista, mas somente autorizou o Poder executivo a instituir serviço social
autônomo, intitulado Instituto Hospital de Base do Distrito Federal - IHBDF, cuja

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 132


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finalidade é prestar assistência médica gratuita à população, além de desenvolver


ensino, pesquisa e gestão na área da saúde, em cooperação com o Poder Público.
Dessa forma, não houve violação do art. 19, §§ 7º e 13º, da LODF.
Quanto à questão dos servidores públicos, a Lei 5.899/2017, § 3º,
facultou à Secretaria de Estado de Saúde a cessão especial de servidores para o
IHBDF, de forma que não se trata de instituição de regime júridico único e plano de
carreira, o que afasta a alegação de ofensa ao art. 33, § 1º, da LODF.
No que se refere aos 153 vetos do Governador pendentes de exame
pela Câmara Legislativa, é questão interna corporis do Poder Legislativo, o que foge
da competência do Poder Judiciário, sob pena de violação do princípio da separação
dos Poderes.
Também não houve ofensa ao art. 109 da LODF, pela ausência de
pronunciamento do Conselho de Governo, sob o fundamento de que este deve ser
ouvido em "questões relevantes". Essa expressão, dado seu conceito aberto, não
autoriza concluir, no caso concreto, pela existência de risco à estabilidade das
instituições ou de problemas emergentes de grave complexidade e magnitude.
A alegação de que a Lei impugnada regulou matéria atinente à
isenção tributária não vinga diante da clareza do art. 10, pois este apenas prevê que
o IHBDF deve pleitear certificação de entidade beneficente de assistêncai social e
isenção de tributos federais perante a Receita Federal, observadas as formas das
leis federais que regulam cada uma destas questões.
Dessa forma, não se tratando de concessão de isenção tributária
pela Lei 5.899/2017, não ocorreu violação do quórum previsto no art. 131, I, da
LODF.
No tocante à alegação de impertinência temática do projeto de lei
inicial, também não merece acolhimento, pois, conforme se verifica do texto juntado
aos autos (fls. 46/55), o Governador do Distrito Federal submeteu à apreciação da
Câmara Legislativa "Projeto de Lei que autoriza o Poder Executivo a instituir o
Instituto Hospital de base do Distrito Federal - IHBDF e dá outras providências". Ou
seja, não houve inserção de matéria estranha ao projeto de lei inicial.
Portanto, não há vício de inconstitucionalidade formal na Lei
5.899/2017.
Da inconstitucionalidade material
A instituição de serviços sociais autônomoas é uma opção dada pela
lei aos entes estatais que visam ao aperfeiçoamento da gestão de atividades
próprias.
OSupremo Tribunal Federal já reconheceu a possibilidade de

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GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 133


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instituição de serviços sociais autônomos como pessoa jurídica de direito privado,


criada para o fim de prestação de serviços públicos de cooperação com o Estado
(ADI 1864, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 08/08/2007, DJe-078 DIVULG 30-
04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00089 RTJ VOL-00204-02
PP-00535 e RE 789874, Relator(a):Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado
em 17/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-227 DIVULG 18-11-2014 PUBLIC 19-11-2014).
No caso, a Lei 5.899/2017 criou o IHBDF, cujo fim é a prestação
assistência médica qualificada e gratuita à população, com desenvolvimento de
ensino, pesquisa e gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder
Público. As receitas do IHBDF estarão previstas no orçamento da Secretaria de
Estado de Saúde e de outros órgãos e entidades governamentais (art. 13 da Lei
5.899/2017). O contrato de gestão deve observar os princípios da administração
pública e especificar metas, prazos de execução, critérios objetivos de avaliação de
desempenho, tudo com a supervisão do Poder Executivo e julgamento das contas
pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal.
A contratação de pessoal deve ocorrer por meio de processo de
seleção pública, objetiva e impessoal, observado o regime celetista e conforme
regulamento do Conselho de Administração do IHBDF. Não há violação do art. 19, II
e IX, e do art. 214, ambos da LODF, que se aplicam à administração pública direta e
indireta, que não abrange os serviços sociais autônomos.
A lei impugnada não provoca abalo ao patrimônio público pelo fato
de o IHBDF ficar incumbido de administrar os bens móveis e imóveis que compõem
o patrimônio do Hospital de Base, não ocorrendo, portanto, ofensa ao art. 16, inciso
II, da Lei Orgânica do Distrito Federal.
Quanto aos arts. 26 e 28 da LODF também não se aplicam ao
IHBDF, porque, como dito, este não integra a administração pública. Mas, conforme
o art. 2º, XII, da lei impugnada, as aquisições e alienações pelo Instituto devem
obedecer aos critérios de edital devidamente publicado e aos princípios da
administração pública e deverão ser aprovadas pelo Conselho de Administração, o
que reforça a certeza da inocorrência de inconstitucionalidade.
Também não há inconstitucionalidade da lei impugnada em face dos
arts. 60, XIV, e 80 (sistema de controle interno), que se referem à administração
pública, enquanto o IHBDF é pessoa de direito privado, sujeito ao controle externo,
conforme explanado.
Não procede a alegação de inconstitucionalidade em relação ao art.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 134


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Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

149, § 7°, e 151, § 1º, ambos da LODF. Esses dispositivos referem-se à lei
orçamentária. A lei impugnada prevê que os recursos orçamentários do IHBDF serão
aqueles destinados atualmente ao Hospital de Base do Distrito Federal, que se
submetem anualmente à Secretaria de Estado de Saúde (art. 2º, inciso V, da Lei
5.899/2017).
Não há afronta ao art. 204, § 2º, da LODF, pois IHBDF não será o
resultado da criação de uma entidade privada, conforme se alega na impugnação,
mas um serviço social autônomo, com modelo de gestão submetido ao controle da
Secretaria de Saúde.
Portanto, não há paradigma de confronto que ampare o pedido de
declaração de inconstitucionalidade das presentes ADIs.
Pelo exposto, ausente ofensa à LODF, julgo improcedente o pedido.
É como voto.

Quanto a essa questão, o fato é que, cuidando-se de norma de repetição


obrigatória, estamos julgando o feito em face da LODF. Então, a competência é
efetivamente nossa. Eventualmente, naquele processo, poderá haver afronta
alegada à Constituição, ou não. Se a Turma assim considerar, terá de remeter ao
plenário. Mas, para o julgamento da ADI,...

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Desembargador Mario Machado, neste caso o Plenário já não teria atendido?

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Presidente e Vogal


Em face da LODF, mas teria de dizer isso em face da lei federal.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 135


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Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Inclusive, no meu voto considero que não há inconstitucionalidade, não viola
princípios constitucionais.
Não sei se o Desembargador Romão C. Oliveira também considera assim,
porque seria uma forma de dar uma definitividade a este julgamento.

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Presidente e Vogal


O importante é que a competência para o julgamento desta ADI é nossa,
porquanto se alega afronta à LODF.
Aqui nos pronunciamos no sentido de que não há essa afronta, que neste ponto é
constitucional a norma. O resto deve ser decidido no outro processo, se for o caso.

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA - Relator


Senhor Presidente, antes de V. Exª concluir o seu douto voto, o Desembargador
Cruz Macedo parece que deseja ouvir a minha opinião.
Digo que este nosso acórdão poderá, inclusive, ser objeto de recurso para o
Supremo Tribunal Federal, porque estamos dizendo que a lei é constitucional frente
a alguns dispositivos que vieram por repetição. O Supremo terá a palavra final,
dizendo se é ou não. Esse mesmo julgamento poderá ser examinado pelo STF.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 136


Fls. _____
Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


V. Ex.ª considera que encerramos o processo?

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA - Relator


Encerramos frente à LODF. Agora, se o juiz estiver decidindo frente à
Constituição Federal, poderemos fazer um exame, aí, sim, frente à Constituição
Federal pura e simples, porque é inconstitucionalidade difusa. Aqui, a concentrada
em relação à LODF.

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Deixo registrado que amplio já o exame.
Em se tratando de matéria constitucional, penso que a Corte pode ampliar,
inclusive dizendo que, sendo norma de repetição, não há inconstitucionalidade
também em face à Constituição Federal.

DECISÃO

Julgar improcedente o pedido. Unânime.

Código de Verificação :2017ACOU66ODE2NW6J8O6BEE453

GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 137


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Ação Direta de Inconstitucionalidade 20170020138225ADI

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GABINETE DO DESEMBARGADOR ROMÃO C. OLIVEIRA 138

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