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PEREIRA, Josemeire Alves. Quilombos Urbanos. In: Cidinha da Silva. (Org.).

Africanidades e Relações Raciais: Insumos para Políticas Públicas na Área do Livro,


[da] Leitura, Literatura e [das] Bibliotecas no Brasil. 1ed.Brasília: Fundação Cultural
Palmares, 2014, v. I, p. 48-50.
Palavras-chave: Quilombo Urbano; história; conceito.
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Quilombos Urbanos

A noção de “quilombos urbanos” é uma construção que se insere – como o próprio


conceito de quilombo –, nas lutas pelo reconhecimento de direitos territoriais das populações
afrodescendentes. Neste sentido, é possível tomá-las, a ambas as expressões, como referentes
a categorias em disputa, por diferentes sujeitos e de acordo com perspectivas e interesses tão
diversos quanto os do âmbito jurídico, acadêmico e político. De acordo com o Kabengele
Munanga (1995-1996), a expressão “quilombo”, utilizada entre os falantes de umbundu, foi
empregada em África provavelmente a partir de fins do século XVI, para designar uma
associação de homens, “aberta a todos sem distinção de filiação a qualquer linhagem, na qual
os membros eram submetidos a dramáticos rituais de iniciação que os retiravam do âmbito
protetor de suas linhagens e os integravam como co-guerreiros num regimento de super-homens
invulneráveis às armas de inimigos.” Assim, os “quilombos” (acampamentos) ou “mocambos”
(expressão que designava, originalmente, “estruturas para erguer casas”) que se desenvolveram
no Brasil, entre os séculos XVII e XIX, guardam reconhecida familiaridade com aqueles
costituídos pelos povos bantu. São descritos, em geral, pela historiografia recente, como uma
das formas de reação à escravidão. Comunidades originadas por aquelas e aqueles que
decidiram não se sujeitar ao jugo de um senhor e formaram sociedades que agregavam também
populações de livres e libertos, abrigando-se em regiões de difícil acesso – que poderiam,
inclusive, não ser fixas. Estas comunidades estabeleciam relações com diferentes setores da
sociedade, ou seja, não eram necessariamente isoladas e, de acordo com Flávio Gomes e Maria
Helena Machado (2011), em muitas regiões chegaram a ser reconhecidas “como povoados de
camponeses”.

No Brasil contemporâneo, especialmente a partir da Constituição de 1988 (Artigo 68 do


Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT CF88), o Estado reconhece os direitos à
propriedade definitiva dos territórios ocupados pelos remanescentes destas comunidades e
prevê a emissão de titulação definitiva. As disputas em torno da efetivação deste direito são
árduas, envolvendo a resistência dos que, ao longo de décadas, ocuparam indevidamente tanto
as terras originalmente herdadas por estas antigas comunidades quilombolas, quanto aquelas
adquiridas por ex-escravos ou libertos, por herança ou compra. Muitas destas propriedades
coletivas encontram-se, atualmente, em terrenos urbanos e têm reivindicado seu status de
“quilombo urbano”, com vistas a garantir os direitos previstos constitucionalmente.

Mas “quilombo urbano” é também auto-atribuição que se fazem as comunidades de


favela das grandes cidades brasileiras, cuja população majoritariamente negra sofre,
historicamente, os impactos da segregação socioespacial, econômica e racial operada nas
sociedades capitalistas. “Quilombo urbano” é, num contexto de lutas pelo direito à cidade,
evocação de uma tradição de resistência de mulheres e homens negros que, por meio das
sociedades quilombolas do passado, atuaram como sujeitos da própria liberdade.

Referências Bibliográficas

ARRUTI, José Maurício. Quilombos. In: PINHO, Osmundo (Org.). Raça: Perspectivas
Antropológicas. Salvador: EDUFBA, 2008.

GOMES, Flávio dos Santos; MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Interiorização e os
quilombos em São Paulo. Iberoamericana, XI, 42 (2011), p. 93-109.

MATTOS, Hebe. “Remanescentes das comunidades dos quilombos”: memória do cativeiro e


políticas de reparação no Brasil. In: REVISTA USP, São Paulo, n.68, p. 104-111,
dezembro/fevereiro 2005-2006.

MUNANGA, Kabengele. Origem e histórico do quilombo na África. REVISTA USP, São Paulo, n.28,
p. 56-63, dezembro/fevereiro 1995-1996.

VOGT, Carlos; FRY, Peter. A descoberta do Cafundó. In: VOGT, Carlos; FRY, Peter. Cafundó – A
África no Brasil: Linguagem e sociedade. 2ª. ed. [Com a colaboração de Robert Slenes]. São
Paulo: Ed. da Unicamp, 2013.

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