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Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: PET 9.892-SP; REsp 1.050.659-RJ; REsp 1.388.442-DF; Leia-os ao final deste Informativo.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
Legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar no STJ
DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL
Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de preso.
DESAPROPRIAÇÃO
Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel.
DIREITO CIVIL
CONTRATOS
Ação revisional por conta da desvalorização do real frente ao dólar em contrato celebrado em moeda estrangeira.
CONTRATO DE CORRETAGEM
Responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem.
DIREITOS REAIS
Direito exclusivo do pesquisador à exploração da jazida.
UNIÃO ESTÁVEL
Inaplicabilidade da Lei 9.278/96 a situações ocorridas antes de sua vigência.
DIREITO DO CONSUMIDOR
VÍCIO NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS
Devolução dos valores pagos em virtude de defeitos na construção de imóvel.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada.
RECURSO ESPECIAL
Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída antes de sua edição.
Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso especial fundado em
alegada violação de enunciado de súmula.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação,
depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte
executada.
PROCESSO COLETIVO
Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC.
DIREITO PENAL
ROUBO
Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa, mas subtração de um só patrimônio.
PROCEDIMENTO
Necessidade de apreciação das teses suscitadas na defesa preliminar.
PROVAS
Validade do depoimento sem dano nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes.
REMIÇÃO DA PENA
Remição da pena pelo estudo em dias não úteis.
IMPOSTO DE RENDA
Isenção de imposto de renda sobre proventos oriundos de previdência privada complementar para portadores de
doenças graves.
ICMS
Garantia estendida e base de cálculo do ICMS.
COFINS
Incidência da COFINS sobre receita proveniente de locação de vagas em estacionamento de shopping center.
DIREITO FINANCEIRO
TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA DE RECURSOS FEDERAIS
Restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no CAUC
DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
Legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar no STJ
Importante!!!
Atenção! Ministério Público
O Ministério Público Estadual tem legitimidade para atuar diretamente no STJ nos processos
em que figure como parte. Assim, o MPE possui legitimidade para atuar diretamente em
recurso por ele interposto e submetido a julgamento perante o STJ.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.327.573-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Ari Pargendler, Rel. para
acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/12/2014 (Info 556).
Se o Ministério Público Estadual é parte em um processo e houve recurso para o STJ, ele poderá atuar
diretamente neste recurso ou ele precisará da participação do MPF?
Poderá atuar sozinho, sem a participação do MPF. O Ministério Público Estadual tem legitimidade para
atuar diretamente como parte em recurso submetido a julgamento perante o STJ.
Por que esse tema foi discutido pelo STJ? Havia polêmica sobre o assunto?
Sim. Havia uma tese, aceita durante vários anos, no sentido de que somente o Ministério Público Federal
poderia atuar diretamente no STJ e no STF.
Dessa forma, o Ministério Público Estadual, por meio do Procurador-Geral de Justiça, não poderia, por
exemplo, propor uma reclamação, impetrar mandado de segurança, interpor agravo regimental, fazer
sustentação oral, entre outros atos processuais, quando envolvesse o STF/STJ. Segundo se entendia, isso
teria que ser feito por intermédio do Procurador-Geral da República.
Desse modo, conclui-se que o Ministério Público é dividido em dois ramos distintos (MPE e MPU), não
havendo qualquer relação de hierarquia ou subordinação entre eles.
O chefe do Ministério Público da União é o Procurador-Geral da República (art. 128, § 1º da CF/88).
Por sua vez, o chefe de cada Ministério Público estadual é o seu respectivo Procurador-Geral de Justiça
(art. 128, § 3º).
Logo, não há qualquer sentido em se permitir que o MPF atue diretamente nas Cortes Superiores e
negar esse poder aos Ministérios Públicos Estaduais.
2) Princípio federativo
Viola o regime federativo impedir que o Ministério Público Estadual tenha acesso aos Tribunais
Superiores, uma vez que haveria uma diferença de tratamento em relação ao MPF, o que mitigaria sua
autonomia funcional.
3) Autonomia do MPE
Está também relacionada com o princípio federativo, considerando que não permitir que o Ministério
Público Estadual atue, no STF e STJ, nos processos de seu interesse, significaria tolher a autonomia e
liberdade de atuação do Parquet estadual.
5) Os interesses defendidos pelo MPE podem, eventualmente, ser conflitantes com os do MPU
Poderia acontecer de os Ministérios Públicos Estaduais deduzirem pretensão no STF e STJ com a qual
não concorde, eventualmente, a chefia do Ministério Público da União, o que obstaria o acesso do
Parquet estadual aos Tribunais Superiores (STF Rcl 7358/SP).
6) Paridade de armas
Fazer com que o Ministério Público estadual ficasse na dependência do que viesse a entender o
Ministério Público Federal seria incompatível, dentre outros princípios, com o da paridade de armas,
considerando que, em eventual conflito entre o MPE e o MPU, o chefe do MPU (PGR) poderia atuar
diretamente no STF, mas não o MPE (STF Rcl 7358/SP).
Qual órgão do Ministério Público participa no STF e STJ como custos legis?
MPF. É importante ressaltar que a atuação do Ministério Público como custos legis no STF e STJ continua
sendo feita sempre pelo Procurador-Geral da República ou pelos Subprocuradores da República (por
delegação ou designação).
Desse modo, o que se passou a permitir foi a atuação direta do Ministério Público Estadual como parte no
STF e STJ.
Vale sublinhar, inclusive, que nos processos em que o MPE for parte, no STJ e STF, o MPF atuará como
custos legis (fiscal da lei), oferecendo parecer.
Nos casos de ação penal de competência originária do STF e do STJ, qual órgão do Ministério Público
oferecerá a denúncia e atuará no processo criminal?
MPF. Em tais hipóteses, a atribuição continua sendo do MPF, por meio do Procurador-Geral da República
(ou um Subprocurador-Geral, mediante delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido: STJ Corte Especial.
APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.
Trata-se de previsão legal do art. 46, parágrafo único, III e 48, II, da LC n. 75/93.
O Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para atuar diretamente no STF e STJ?
NÃO. A jurisprudência continua entendendo que o MPT não pode atuar diretamente no STF e STJ. Nesse
sentido: STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão geral)
(Info 759).
Se for necessário, por exemplo, propor uma reclamação no STF e que seja do interesse do MPT, quem
deve manejar essa reclamação é o Procurador-Geral da República.
O Procurador do Trabalho não pode atuar diretamente no STF (nem mesmo o Procurador-Geral do
Trabalho).
O exercício das funções do Ministério Público da União junto ao Supremo Tribunal Federal cabe
privativamente ao Procurador-Geral da República (ou aos Subprocuradores por ele designados), nos
termos do art. 46 da LC 75/93 (Estatuto do Ministério Público da União):
Art. 46. Incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao
Supremo Tribunal Federal, manifestando-se previamente em todos os processos de sua competência.
Art. 47. O Procurador-Geral da República designará os Subprocuradores-Gerais da República que
exercerão, por delegação, suas funções junto aos diferentes órgãos jurisdicionais do Supremo Tribunal
Federal.
Assim, o MPT é parte ilegítima para, em sede originária, atuar no STF e STJ, uma vez que integra a
estrutura orgânica do Ministério Público da União, cuja atuação funcional compete, em face da própria
unidade institucional, ao seu chefe, qual seja, o Procurador-Geral da República.
LC 75/93:
Art. 24. O Ministério Público da União compreende:
I - o Ministério Público Federal;
II - o Ministério Público do Trabalho;
III - o Ministério Público Militar;
IV - o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL
Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de preso
Importante!!!
Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o ocorrido.
Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
• Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição
será o trânsito em julgado da sentença penal.
• Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo inicial da
prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 12/2/2015 (Info 556).
Veja um precedente antigo do STJ que espelha esse entendimento, mas que continua válido:
(...) A coisa julgada na instância penal constitui o termo inicial da contagem do prazo de prescrição da ação
de indenização em face do Estado.
(...)
Alguns de vocês podem estar se confundindo e pensando: “eu li em algum lugar que as ações de
indenização em caso de tortura são imprescritíveis”. Isso é correto?
Não é bem assim. Se você pensou nisso, não se confunda. Vou relembrar essa situação:
As ações de indenização por danos morais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, por motivos
políticos, durante o regime militar, são imprescritíveis. Para esses casos, não se aplica o prazo
prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932 (STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013. Info 523).
O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período (regime militar) em
que a ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo havido, sem dúvida,
incontáveis abusos e violações dos direitos fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa
humana (AgRg no Ag 1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011).
No exemplo acima, a tortura ocorreu depois do regime militar, ou seja, já no período em que vivemos um
regime democrático. Logo, a ação de indenização submete-se ao prazo de 5 anos.
DESAPROPRIAÇÃO
Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel
Se, em procedimento de desapropriação por interesse social, ficar constatado que a área
medida do bem é maior do que a escriturada no Registro de Imóveis, o expropriado receberá
indenização correspondente à área registrada, ficando a diferença depositada em Juízo até
que, posteriormente, se complemente o registro ou se defina a titularidade para o pagamento
a quem de direito. A indenização devida deverá considerar a área efetivamente
desapropriada, ainda que o tamanho real seja maior do que o constante da escritura, a fim de
não se configurar enriquecimento sem causa em favor do ente expropriante.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.466.747-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/5/2014 (Info 540).
No procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária, caso se constate que a área registrada
em cartório é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá levantar somente o valor da
indenização correspondente à área registrada, devendo o depósito indenizatório relativo ao espaço
remanescente ficar retido em juízo até que o expropriado promova a retificação do registro ou até que
seja decidida, em ação própria, a titularidade do domínio.
DIREITO CIVIL
CONTRATOS
Ação revisional por conta da desvalorização do real frente ao dólar
em contrato celebrado em moeda estrangeira
Importante!!!
Determinado médico importou um equipamento para utilizar em sua atividade profissional. A
aquisição foi feita por meio de um financiamento celebrado em moeda estrangeira (dólar). Na
época, o valor do dólar e do real eram muito próximos, sendo a conversão próxima de 1 real
para cada 1 dólar. Ocorre que, em janeiro 1999, ocorreu na economia brasileira uma grande
desvalorização do real e o dólar passou a valer cerca de 2 reais.
No caso concreto, o médico pode ser considerado consumidor?
NÃO. Não há relação de consumo entre o fornecedor de equipamento médico-hospitatar e o
médico que firmam contrato de compra e venda de equipamento de ultrassom com cláusula de
reserva de domínio e de indexação ao dólar americano, na hipótese em que o profissional de
saúde tenha adquirido o objeto do contrato para o desempenho de sua atividade econômica.
É possível acolher o pedido do médico para a revisão do contrato com base na teoria da
imprevisão e da onerosidade excessiva?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas
consumeristas –, a maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de
janeiro de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade
excessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de indexação ao dólar americano.
Por último: é possível acolher o pedido do médico para a revisão do contrato com base na teoria da
imprevisão e da onerosidade excessiva?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas consumeristas –, a
maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza a
aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, com intuito de promover a
revisão de cláusula de indexação ao dólar americano.
CONTRATO DE CORRETAGEM
Responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem
Contrato de corretagem é o ajuste por meio do qual o corretor obriga-se a obter para uma
pessoa que o contrata ( “cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios, conforme as instruções
recebidas (art. 722 do CC).
O contrato de corretagem é informal, não precisando ser escrito (pode ser verbal).
De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do vendedor ou do
comprador?
• Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que efetivamente contrata o
corretor (não importa se é o comprador ou o vendedor).
• Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em sentido contrário,
ou seja, poderá prever que comprador e vendedor irão dividir o pagamento, que só o vendedor
irá pagar etc.
A remuneração do corretor, se não foi fixada no contrato nem na lei, será arbitrada segundo a
natureza do negócio e os usos locais. No dia-a-dia imobiliário, não havendo previsão
contratual, deverá ser pago ao corretor 6% sobre o valor do imóvel urbano vendido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
Mesmo não tendo havido contrato escrito, pode-se dizer que foi celebrado contrato de corretagem entre
o corretor e a empresa “X”?
SIM. O contrato de corretagem é classificado como informal, não precisando ser escrito. Logo, a
jurisprudência admite que o contrato de corretagem seja verbal, desde que haja prova inequívoca da
existência do pacto.
No caso concreto, a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem é de qual das duas
empresas?
Da empresa “X”, ou seja, daquele que efetivamente contratou o corretor.
Veja como funciona o sistema de responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem:
Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que efetivamente contrata o corretor
(não importa se é o comprador ou o vendedor).
Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em sentido contrário, ou seja,
poderá prever que comprador e vendedor irão dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc.
No mercado imobiliário, há hipóteses em que o proprietário é que está buscando um corretor para vender
seu imóvel. Em outras situações ocorre o contrário, ou seja, a pessoa procura um corretor para comprar
um imóvel. A depender do caso, quem procurou o corretor (vendedor ou comprador) é quem deverá
pagar a comissão.
E qual valor será pago a João? Nos casos em que não houve contrato prevendo o percentual da comissão
de corretagem, como será calculado esse valor?
A solução para esses casos é dada pelo art. 724 do Código Civil:
Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será
arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais.
Não há lei estipulando o valor da comissão de corretagem na venda de imóveis. Aplica-se, portanto, os
usos e costumes. No dia-a-dia imobiliário, não havendo previsão contratual, deverá ser pago ao corretor
6% sobre o valor do imóvel urbano vendido, conforme prevê a tabela do CRECI.
DIREITOS REAIS
Direito exclusivo do pesquisador à exploração da jazida
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica
constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à
União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
Logo, segundo entendeu o magistrado, se alguém sofreu prejuízos não foi a mineradora, mas sim a União.
Ainda que a União seja a proprietária exclusiva das reservas minerais existentes no solo e subsolo, ao
concessionário particular (mineradora) é garantida a propriedade do produto de sua exploração, fazendo
emergir da nossa ordem constitucional o princípio do livre acesso aos recursos minerais.
Nesse cenário, o Código de Mineração trouxe o importante instituto da prioridade, ou seja: cumpridas as
determinações legais, o minerador faz jus à obtenção de um título minerário, obedecida a prioridade
prevista no art. 11, “a”, do Decreto-Lei 227/67. Desse modo, para fins de fixação do direito de prioridade,
o referido dispositivo estabelece que se tomará em consideração a data do requerimento relativo à
pesquisa ou à exploração de área considerada livre. Concedido o alvará de pesquisa e verificada a
viabilidade da exploração em conclusão dos trabalhos de pesquisa, o autorizatário terá o prazo
decadencial ânuo para requerer a concessão da lavra ou negociar seu direito com terceiros (arts. 31 e 32
do Decreto-Lei 227/67, ambos com redação dada pela Lei n. 6.403/76). Daí se extrai que, uma vez
autorizada a pesquisa para fins de mineração, nasce para o autorizatário o direito subjetivo e exclusivo à
futura exploração da mina, como decorrência do direito de prioridade, durante o prazo decadencial de um
ano, contado da aprovação do relatório final da pesquisa. Portanto, fixado legalmente o direito subjetivo à
futura concessão da lavra como decorrência da autorização de pesquisa, a exploração indevida, exercida
clandestina e ilicitamente por terceiro, que não detinha nenhum título minerário, resulta em prejuízo
injusto ao legítimo autorizatário. Esse dano deve ser ressarcido.
A tese do réu (Pedro) está correta? O prazo de 4 anos previsto no art. 1.614 do CC aplica-se também
para a ação de investigação de paternidade?
NÃO. A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo decadencial de 4 anos estabelecido
no art. 1.614 do CC/2002 aplica-se apenas aos casos em que se pretende, exclusivamente, desconstituir o
reconhecimento de filiação, não tendo incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação
do registro civil constitui mera consequência lógica da procedência do pedido.
Desse modo, o art. 1.614 somente incide nas hipóteses em que o filho não concordou com o ato
voluntário de seu pai registral que o reconheceu como sendo seu filho e, por isso, ajuíza uma ação
questionando apenas isso (reconhecimento), sem pedir investigação de paternidade. Veja precedente do
STJ espelhando esse entendimento:
- A regra que impõe o prazo de quatro anos para impugnar o reconhecimento da paternidade constante
do registro civil só é aplicável ao filho natural que pretende afastar a paternidade por mero ato de
vontade, com o objetivo único de desconstituir o reconhecimento da filiação, sem contudo buscar
constituir nova relação.
- A decadência, portanto, não atinge o direito do filho que busca o reconhecimento da verdade biológica
em investigação de paternidade e a consequente anulação do registro com base na falsidade deste.
STJ. 3ª Turma. RESP 987.987⁄SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/08/2008.
Resumindo:
Ação pedindo apenas a desconstituição do reconhecimento de filiação: prazo de 4 anos.
Ação pedindo a investigação de paternidade e a consequente desconstituição do reconhecimento de
filiação: imprescritível.
UNIÃO ESTÁVEL
Inaplicabilidade da Lei 9.278/96 a situações ocorridas antes de sua vigência
ANTES da Lei 9.278/96, quando chegava ao fim uma união estável, cada companheiro somente
teria direito aos bens que contribuiu para a formação do patrimônio comum. Não havia
presunção legal de esforço comum para a partilha de bens. Ao término do relacionamento, os
bens amealhados no período eram divididos proporcionalmente ao esforço comprovado,
direto ou indireto, de cada convivente. Ainda vigorava, em parte, o raciocínio da súmula 380
do STF quanto à necessidade de provar o esforço comum.
DEPOIS da Lei 9.278/96, foi criada uma presunção legal de comunhão dos bens adquiridos a
título oneroso durante a união estável. Quando há a dissolução da união estável, para que o(a)
companheiro(a) tenha direito aos bens adquiridos durante a relação, ele(a) não precisará
provar que contribuiu para a aquisição. Com a edição desta, os bens a partir de então
adquiridos por pessoas em união estável passaram a pertencer a ambos em meação, salvo se
houver estipulação em sentido contrário ou se a aquisição patrimonial decorrer do produto de
bens anteriores ao início da união. Ficou superada a súmula 380 do STF.
Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000. Somente o
homem trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999, adquiriu uma casa e
Se duas pessoas vivem uma união como se fossem casadas, qual é o nome que se dá para essa relação?
A lei prevê regras para disciplinar o patrimônio desse casal?
Trata-se de uma união estável, que é prevista atualmente no art. 1.723 do CC.
O Código Civil de 2002 estabelece que, na união estável, as relações patrimoniais entre o casal obedecem
às regras do regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725). Em outras palavras, é como se as pessoas
que vivem em união estável estivessem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens.
Nessa espécie de regime, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento,
com exceção dos casos previstos no Código Civil. Dito de outro modo, os bens adquiridos durante a união
passam a ser de ambos os companheiros, salvo em algumas situações que o Código Civil determina a
incomunicabilidade.
Não é necessário que se prove o esforço em comum. Ex: João e Maria vivem em união estável, sendo que
apenas João possui trabalho remunerado. Um dia, João compra um apartamento. Esse imóvel pertence
igualmente ao casal, metade para cada um deles. Não é necessário que Maria comprove que ajudou
financeiramente na compra do bem.
Se uma união estável foi dissolvida antes da Lei n. 9.278/96, mas a partilha dos bens somente foi
julgada após essa Lei, ela poderá ser aplicada ao caso?
NÃO. As regras relativas ao patrimônio dos companheiros estabelecidas pela Lei n. 9.278/96 não se
aplicam às uniões estáveis dissolvidas antes de sua vigência, devendo a partilha de bens submeter-se à
prova do esforço comum (RESP 147.098/DF, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 7/8/2000).
Somente a partir do regime da Lei n. 9.278⁄96 é que se estabeleceu que os bens adquiridos na constância
da união estável por um ou pelos conviventes passariam a pertencer a ambos, em partes iguais. Apenas
com a Lei n. 9.278/96 ficou dispensada a prova da contribuição de cada companheiro(a) na formação do
patrimônio comum para poder pleitear sua divisão.
Assim, para uniões estáveis dissolvidas antes da vigência dessa Lei, ainda que tenham sido jugadas após o
novo diploma, deverão ser aplicadas as regras da prova do “esforço comum”.
Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000. Somente o homem
trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999, adquiriu uma casa e um sítio. Em 2000,
chegou ao fim a união. As regras da Lei n. 9.278/96 poderão ser aplicadas para todos os bens
adquiridos durante a união (dois apartamentos, uma casa e um sítio)? Presume-se que a mulher tenha
direito aos dois apartamentos, à casa e ao sítio?
NÃO. Os bens adquiridos anteriormente à Lei n. 9.278⁄96 têm a propriedade - e, consequentemente, a
partilha ao fim da união - disciplinada pelo ordenamento jurídico vigente quando da respectiva aquisição.
Assim, tem-se o seguinte:
Quanto aos bens adquiridos antes da Lei n. 9.278/96 (dois apartamentos): aplica-se o regime da
prova do esforço comum (Súmula 380 do STF).
Quanto aos bens adquiridos após a Lei n. 9.278/96 (casa e sítio): aplica-se a presunção legal de que a
mulher tem direito à meação dos bens, independentemente de prova do esforço comum.
DIREITO NOTARIAL E
REGISTRAL
TABELIONATO DE PROTESTO
Protesto do cheque após o prazo de apresentação
DIREITO DO CONSUMIDOR
VÍCIO NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS
Devolução dos valores pagos em virtude de defeitos na construção de imóvel
RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada
Se a ECT não comprovar a efetiva entrega de carta registrada postada por consumidor nem
demonstrar causa excludente de responsabilidade, há de se reconhecer o direito a reparação
por danos morais in re ipsa, desde que o consumidor comprove minimamente a celebração do
contrato de entrega da carta registrada.
O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem necessidade de
comprovação do prejuízo), devendo os Correios indenizar o consumidor.
A responsabilidade civil dos Correios é objetiva (art. 37, § 6º da CF/88 e arts. 14 e 22 do CDC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2014 (Info 556).
Carta registrada
Existem dois tipos de correspondência nos Correios: as cartas simples e as cartas registradas.
A carta registrada é uma correspondência enviada pelos Correios na qual o cliente pagou por um serviço
adicional, qual seja, o aviso de recebimento.
O aviso de recebimento, mais conhecido como AR, é um serviço por meio do qual o carteiro, ao entregar a
Se houver o extravio (perda, sumiço) da carta registrada e esta não chegar ao seu destinatário, os
Correios podem ser condenados a indenizar o cliente por danos morais?
SIM. O consumidor pode enviar uma correspondência simples ou registrada. Tendo optado por enviar
carta registrada, é dever dos Correios comprovar a entrega da correspondência, ou a impossibilidade de
fazê-lo, por meio da apresentação do aviso de recebimento ao remetente. Afinal, quem faz essa espécie
de postagem possui provável interesse no rastreamento e no efetivo conhecimento do recebimento da
carta pelo destinatário, por isso paga mais.
Portanto, se os Correios não comprovaram a efetiva entrega da carta registrada postada pelo consumidor,
que pagou tarifa especial para possibilitar o rastreamento pelo próprio órgão de postagem, deve ser
reconhecida a falha do serviço prestado, a ensejar a devida reparação por dano moral.
É necessário que o consumidor prove o dano moral, ou seja, é necessário que ele prove que a carta era
importante para ele?
NÃO. O STJ entende que esse dano moral é in re ipsa (sem necessidade de comprovação do prejuízo).
Os Correios poderão se isentar da responsabilidade alegando que não agiram com culpa?
NÃO. Isso porque os Correios possuem responsabilidade civil objetiva tanto por força do art. 37, § 6º da
CF/88 como por conta dos arts. 14 e 22 do CDC.
DIREITO EMPRESARIAL
CHEQUE
Protesto do cheque após o prazo de apresentação
Conceito
O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar
pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá
ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco
efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará
exigível sempre no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).”
(TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).
Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o
direito de receber o valor escrito no cheque.
Natureza jurídica
Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.
Legislação aplicável
O cheque é regido atualmente pela Lei n.º 7.357/85.
Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao
sacado, desde que não esteja prescrito.
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação?
SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde
que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.
Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de
apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de
pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” Não estou
entendendo...
Calma. A exigência de realização do protesto antes de expirado o prazo de apresentação prevista no art.
48 da Lei n. 7.357/85 é dirigida apenas ao protesto necessário, isto é, contra os coobrigados, para o
exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
Portanto, nada impede o protesto facultativo do cheque, mesmo que apresentado depois do prazo
mencionado no art. 48, c/c o art. 33, ambos da Lei n. 7.357/85. Isso porque o protesto do título pode ser
utilizado pelo credor com outras finalidades que não o ajuizamento da ação de execução do título executivo.
Findo o prazo de apresentação previsto no caput do art. 48 da Lei n. 7.357/1985, o credor tem a
faculdade de cobrar seu crédito por outros meios, sendo legítima a realização do protesto.
Resumindo:
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve
ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação. Trata-se do chamado protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de
apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
AÇÃO RESCISÓRIA
Valor da causa na ação rescisória
Valor da causa
O autor da ação deve indicar, na petição inicial, o valor da causa (art. 282, V do CPC).
A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato (art. 258).
O valor da causa deve ser estipulado em reais.
Além disso, o valor da causa servirá, em regra, para determinar o quantum a ser pago como taxa judiciária.
A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da
teoria da relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que fixou
equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando
deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja
excessivo e possa prejudicar os demais credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014 (Info 556).
Diante da presente situação, indaga-se: é possível rever essa decisão aplicando-se a chamada teoria da
relativização da coisa julgada?
NÃO. A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da teoria da
relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que fixou equivocadamente os honorários
advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando deveria ter utilizado o § 4º do referido
dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os demais credores.
Vale ressaltar, no entanto, que o mero argumento de que houve aplicação equivocada de um dispositivo
legal não enseja a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada. Afinal, magistrados não são seres
humanos infalíveis e estão, como todas as pessoas, sujeitos a erros. Ocorre que, para a correção desses
erros, a legislação confere às partes os meios cabíveis, em especial os recursos disponíveis e ação
rescisória.
É temerário e perigoso aplicar a teoria da relativização da coisa julgada para toda e qualquer sentença
errada ou injusta, o que permitiria que fosse revista a qualquer tempo, independentemente da
propositura de ação rescisória. Se isso fosse possível, haveria um enorme grau de incerteza e insegurança.
RECURSO ESPECIAL
Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova
a situação jurídica já constituída antes de sua edição
Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art. 6º da Lei
de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo acórdão
recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual ensejou a
aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
Recurso especial
Recurso especial (REsp) é um recurso previsto no art. 105, III, da CF/88, julgado pelo STJ, interposto contra
decisões proferidas em causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais
(TRF’s) ou pelos Tribunais dos Estados/DF (TJ’s) quando a decisão proferida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou
c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Ocorre que a definição desses institutos está em uma lei infraconstitucional, qual seja, o Decreto-lei n.
4.657/42, a chamada LINDB, que tem status de lei federal. Veja:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como
aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a
arbítrio de outrem.
Diante disso, surge a dúvida: no caso concreto, a parte terá que interpor recurso extraordinário,
alegando que o acórdão do TJ violou o art. 5º, XXXVI, da CF/88, ou recurso especial, invocando ofensa ao
art. 6º da LINDB?
Recurso especial. Segundo decidiu o STJ, cabe recurso especial (e não recurso extraordinário) para
examinar se ofende o art. 6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação
feita pelo acórdão recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual
ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição.
A jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que não cabe recurso extraordinário por ofensa aos
princípios constitucionais da legalidade, do devido processo legal, da coisa julgada, do direito adquirido,
entre outros, se, para apreciá-la, for necessária a interpretação de legislação ordinária (AgRg no AG
135.632-RS, Primeira Turma, DJ 3/9/1999).
Duas situações são possíveis de serem imaginadas:
1) Se a lei ordinária possui uma previsão dizendo que ela é retroativa e que se aplica a fatos pretéritos:
essa lei, em tese, viola diretamente o art. 5º, XXXVI, da CF/88, sendo cabível recurso extraordinário.
2) Se a lei ordinária não diz que é retroativa e cabe ao intérprete decidir se a lei nova se aplica ou não a
determinada relação jurídica existente quando de sua edição: a questão será infraconstitucional porque irá
depender da análise dos conceitos de ato jurídico perfeito e coisa julgada, definições que são fornecidas
pelo art. 6º da LINDB. Logo, caberá recurso especial.
RECURSO ESPECIAL
Não cabe REsp por violação de súmula
Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso
especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).
Recurso especial
Recurso especial (REsp) é um recurso previsto no art. 105, III, da CF/88, julgado pelo STJ, interposto contra
decisões proferidas em causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais
(TRF’s) ou pelos Tribunais dos Estados/DF (TJ’s) quando a decisão proferida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou
c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Para os fins do art. 105, III, “a”, o que se entende por “lei federal”?
A expressão “lei federal” é interpretada em sentido amplo e abrange:
a) Lei complementar federal/nacional;
b) Lei ordinária federal/nacional;
c) Lei delegada federal/nacional;
d) Decreto-lei federal/nacional;
e) Medida provisória federal/nacional;
f) Decreto autônomo federal/nacional.
Quando a pessoa interpõe recurso especial e fundamenta no art. 105, III, “a”, da CF/88, ela deverá indicar,
de forma individualizada, o dispositivo da “lei federal” que foi violado. Se não o fizer, o REsp não será
conhecido. “A ausência de indicação de dispositivo de lei federal que teria sido violado pelo acórdão
recorrido ou interpretado de forma divergente pelos tribunais, torna o recurso especial interposto com
base nas alíneas ‘a’ e ‘c’ do permissivo constitucional deficiente em sua fundamentação. Incidência, por
analogia, da Súmula 284/STF.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 635.592/SP, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 24/02/2015).
Conforme explicam Fredie Didier e Leonardo da Cunha (p. 329), os demais atos, diplomas ou instrumentos
normativos, uma vez desatendidos, não são objeto de análise em recurso especial. Assim, NÃO cabe
recurso especial por ofensa a:
a) Portaria;
b) Instrução normativa;
c) Resolução;
d) Decreto-legislativo;
e) Parecer normativo.
“(...) o recurso especial não constitui via adequada para análise de interpretação de resoluções, portarias
ou instruções normativas, por não estarem tais atos normativos compreendidos na expressão ‘lei federal’,
constante da alínea ‘a’ do inciso III do art. 105 da Constituição Federal.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp
1494995/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/02/2015).
Também não cabe recurso especial se a norma violada for estadual ou municipal.
Por quê?
O motivo é muito singelo: súmula não é lei. Súmula é enunciado que expressa o entendimento
consolidado do Tribunal sobre determinado tema. Não pode ser considerada como um “ato normativo”.
Em resumo, o conceito de súmula não se enquadra na definição de lei federal, não podendo a ela ser
equiparada.
Até aqui, tudo bem, você já entendeu a súmula 518. Vamos agora avançar e aprofundar em um aspecto
de ordem prática. O que a parte prejudicada deverá fazer se o acórdão do TJ ou TRF contrariar o
entendimento exposto em uma súmula do STJ?
Uma súmula do STJ nada mais é do que a intepretação que este Tribunal deu para determinada lei federal.
Logo, se o acórdão do TJ ou TRF afronta entendimento exposto em súmula do STJ, isso significa que, em
última análise, essa decisão viola a intepretação que o STJ deu para aquele tema.
Assim, neste caso, a parte prejudicada deverá interpor recurso especial alegando que o acórdão do TJ ou
TRF, ao decidir daquele modo, contrariou não a súmula (porque aí não caberá REsp), mas sim que a
decisão violou o art. XX da Lei Federal XX (cuja intepretação deu origem àquela súmula).
Exemplo: no acórdão, o TJ afirmou que as regras do CDC não se aplicam para os contratos de plano de
saúde. O STJ possui um enunciado que diz o contrário (Súmula 469: Aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos de plano de saúde). Se a parte prejudicada interpuser recurso especial alegando
que o acórdão violou a súmula 469, ele nem será conhecido. Dessa forma, a parte deverá interpor o REsp
aduzindo que o TJ contrariou o art. 3º da Lei federal n. 8.078/90. Isso porque o STJ editou a Súmula 469
com base na interpretação dada a esse dispositivo legal.
Fredie Didier e Leonardo da Cunha explicam o tema com mais técnica e elegância:
“Não cabe, entretanto, recurso especial, com base na letra “a”, por ter havido suposto desrespeito a
entendimento jurisprudencial ou sumular do próprio STJ. Na verdade, a jurisprudência firma orientação a
respeito da interpretação a ser conferida a dispositivos legais. O que se permite é que, no recurso especial,
se demonstre que o dispositivo foi interpretado pelo tribunal de origem diferentemente do STJ. Em outras
palavras, a jurisprudência do STJ não foi seguida, exatamente porque determinado dispositivo foi
interpretado diferentemente da orientação por ele ministrada. Logo, deve o recurso especial apontar
violação ao respectivo dispositivo legal, e não à jurisprudência ou ao enunciado da súmula do STJ.” (p.
330).
Concursos
Súmula muito importante para todos os concursos.
Obra citada:
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. Salvador:
Juspodivm, 2013.
Cumprimento de sentença
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:
a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em
julgado da decisão.
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo
discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS).
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor.
A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o
próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicação na imprensa
oficial?
Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do advogado do devedor,
por meio de publicação na imprensa oficial.
Essa multa pode ser aplicada em caso de execução provisória ou somente se houver trânsito em
julgado?
Essa multa é própria da execução definitiva, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do
CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).
Para que haja condenação em honorários, é necessário que o devedor tenha apresentado impugnação?
NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou
o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%.
Os honorários são devidos depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a
intimação do advogado da parte executada.
Resumindo:
Se o credor inicia o cumprimento de sentença, o devedor é intimado e paga dentro do prazo de 15
dias, isso é considerado pelo STJ como sendo pagamento espontâneo do devedor.
Em outras palavras, há pagamento espontâneo do devedor que, intimado a fazê-lo, cumpre a
determinação dentro do prazo de 15 dias previsto no art. 475-J do CPC.
“Na fase de cumprimento de sentença, o devedor deverá ser intimado, na pessoa de seu advogado,
mediante publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, a
partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir a multa de 10% (dez por cento) sobre o
montante da condenação (art. 475-J do CPC).” (STJ. Corte Especial. REsp 1.262.933⁄RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 19⁄6⁄2013).
Não há que se falar em cobrança de honorários advocatícios quando há cumprimento espontâneo da
obrigação. Assim, havendo o adimplemento espontâneo do devedor no prazo fixado no art. 475-J do
CPC, não são devidos honorários advocatícios, uma vez que foi desnecessária a prática de quaisquer
atos para obrigar o devedor a pagar (STJ. 4ª Turma. REsp 1.264.272/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 15/5/2012).
Por outro lado, se o devedor foi intimado e passou o prazo de 15 dias sem que ele pagasse, a partir daí
já são cabíveis honorários advocatícios, haja ou não impugnação.
São cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença, haja ou não impugnação,
Em uma leitura mais rápida, a Súmula 519 parece contradizer o enunciado 517, mas isso não é verdade.
Confira os comentários à Súmula 519 para entender melhor.
Concursos
Súmula muito importante para todos os concursos.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:
c) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
d) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em
julgado da decisão.
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo
discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS).
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor.
A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o
próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicação na imprensa
oficial?
Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do advogado do devedor,
por meio da publicação na imprensa oficial.
Essa multa pode ser aplicada em caso de execução provisória ou somente se houver trânsito em
julgado?
Essa multa é própria da execução definitiva, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do
CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).
Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15 dias, o que
acontecerá em seguida?
1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%;
2) o credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e
requerendo a expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para
satisfação do crédito. Neste momento, inicia-se a execução forçada do título, diante do não
cumprimento espontâneo.
Para que haja condenação em honorários, é necessário que o devedor tenha apresentado impugnação?
NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou
o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%.
IMPUGNAÇÃO
Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor?
Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação.
Para que o devedor apresente impugnação é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário que
haja penhora, depósito ou caução?
SIM. A garantia do juízo constitui condição para a própria apresentação de impugnação ao cumprimento
de sentença, e não apenas para sua apreciação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013 (Info 526).
A tese do credor é aceita pelo STJ? Se a impugnação oferecida pelo devedor é julgada improcedente, o
devedor terá que pagar, por causa disso, novos honorários advocatícios (além dos que já deverá pagar
por força do cumprimento de sentença ter se iniciado)?
NÃO. Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis novos
honorários advocatícios. Dito de outro modo: o devedor não terá que pagar novos honorários advocatícios
pelo fato de ter perdido a impugnação (obs: esse devedor continuará tendo que pagar honorários
advocatícios por não ter pago voluntariamente a obrigação, ou seja, terá que pagar honorários
advocatícios por causa do cumprimento de sentença).
E se a impugnação oferecida pelo devedor for julgada procedente, haverá condenação em honorários?
SIM. Se a impugnação for julgada procedente o credor será condenado a pagar honorários advocatícios em
favor do devedor.
Em suma:
Se a impugnação é rejeitada: NÃO cabem novos honorários advocatícios.
Se a impugnação é acolhida (ainda que parcialmente): serão arbitrados honorários em benefício do
executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC.
Veja o REsp repetitivo que foi o principal precedente que originou a súmula:
(...) 1.1. São cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença, haja ou não
impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário a que alude o art. 475-J do CPC, que
somente se inicia após a intimação do advogado, com a baixa dos autos e a aposição do "cumpra-se"
(REsp. n.º 940.274/MS).
1.2. Não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença.
1.3. Apenas no caso de acolhimento da impugnação, ainda que parcial, serão arbitrados honorários em
benefício do executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC.
2. Recurso especial provido.
STJ. Corte Especial. REsp 1134186/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/08/2011.
Concursos
Súmula muito importante para todos os concursos.
PROCESSO COLETIVO
Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC
Importante!!!
O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de
advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
• ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
• ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
• na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros
tipos de ação (como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a impugnação ao valor
da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).
Determinada associação ajuizou ação civil pública buscando a defesa de direitos dos consumidores.
Antes de ajuizar a ação, essa associação precisará recolher as custas processuais?
NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o autor da ACP de
adiantar as custas processuais. Isso está previsto tanto no art. 18 da Lei n. 7.347/85 como no art. 87 do
CDC. Veja:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé,
em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
Imagine agora que essa ACP tenha sido julgada improcedente e tenha transitado em julgado. A
associação não desiste e resolve propor uma ação rescisória. Antes de ajuizar a rescisória, a associação
precisará recolher as custas processuais?
SIM. O STJ decidiu que não é possível estender a regra de isenção prevista no art. 18 da Lei n. 7.347/85
(LACP) e no art. 87 da Lei 8.078/1990 (CDC) para outras ações ou incidentes processuais que não estejam
previstos nos referidos artigos. Isso porque a regra contida nos referidos dispositivos legais – que isenta o
autor de ações civis públicas e de ações coletivas do adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas –, por ser regra de isenção tributária, deve ser interpretada
restritivamente (art. 111 do CTN).
As custas judiciais têm natureza tributária (são classificadas como taxas de serviço). Logo, aplica-se a elas a
regra do art. 111, II do CTN:
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:
II - outorga de isenção;
Assim, o STJ entendeu que as regras de isenção dos arts. 18 da LACP e 87 do CDC só se aplicam para as
custas judiciais em:
ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível aplicar, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros tipos de ação,
como a rescisória, ou para incidentes processuais (como a impugnação ao valor da causa), mesmo que
tratem sobre direito do consumidor.
DIREITO PENAL
ROUBO
Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa, mas subtração de um só patrimônio
Importante!!!
Atenção! Defensoria Pública
No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio,
estará configurado apenas um crime, ainda que, no modus operandi (modo de execução), seja
utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado
pretendido. Ex: Maria estava saindo do banco, acompanhada de seu segurança. João, de arma
em punho, deu uma coronhada no segurança, causando lesão leve, e subtraiu a mala que
pertencia a Maria. O agente praticou um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo
(art. 157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.490.894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/2/2015
(Info 556).
Por quê?
O roubo é um crime contra o patrimônio. Logo, para o STJ, se a intenção do agente foi direcionada à
subtração de um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, para a sua execução,
seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa.
Importante!!!
A prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-
A do CP) permanece suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa
em razão de decisão de antecipação dos efeitos da tutela no juízo cível. Isso porque a decisão
cível acerca da exigibilidade do crédito tributário repercute diretamente no reconhecimento
da própria existência do tipo penal, visto ser o crime de apropriação indébita previdenciária
um delito de natureza material, que pressupõe, para sua consumação, a realização do
lançamento tributário definitivo.
STJ. 5ª Turma. RHC 51.596-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015 (Info 556).
A apropriação indébita previdenciária é um crime tributário material? Para que haja a consumação do
delito é necessária a constituição definitiva do crédito tributário? Aplica-se a SV 24-STF?
SIM. A apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) é crime omissivo material (e não formal), de
modo que, por força do princípio da isonomia, aplica-se a ele também a SV 24 (STJ. 6ª Turma. HC
270.027/RS, julgado em 05/08/2014). Assim, para a sua consumação, é indispensável o prévio
exaurimento da via administrativa em que se discute a exigibilidade do tributo. Em outras palavras, é
necessário que, no âmbito administrativo-fiscal, a questão já tenha sido definitivamente julgada e haja
uma certeza de que o tributo é realmente devido. Relembre o que diz a SV 24-STF:
SV 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei
nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
Desse modo, a apropriação indébita previdenciária também é crime material, exigindo, para sua
consumação, a ocorrência de resultado naturalístico consistente em dano para a Previdência (o que é
demonstrado por meio da constituição definitiva do crédito tributário, no qual fica patente que o
contribuinte está realmente devendo a contribuição previdenciária, que é uma espécie de tributo).
Enquanto estiver em vigor a decisão na tutela antecipada, a Fazenda Pública poderá ajuizar execução
fiscal cobrando a dívida tributária de João?
NÃO. O juiz, na ação cível proposta pelo contribuinte, determinou, em tutela antecipada, que a
constituição definitiva não foi válida. Logo, a exigibilidade do crédito tributário está suspensa (art. 151, V,
do CTN).
Enquanto estiver em vigor a decisão na tutela antecipada, o MPF poderá denunciar João pelo crime de
apropriação indébita previdenciária?
NÃO. A jurisprudência entende que, enquanto não houver constituição definitiva do crédito tributário, não
haverá o crime tributário material. Se existe uma decisão judicial, ainda que provisória, afirmando que a
constituição definitiva não é válida, seria temerário ajuizar a ação penal com base nesta autuação. Por
isso, a jurisprudência entende que a decisão cível que questiona a exigibilidade do crédito tributário
repercute diretamente no reconhecimento da própria existência do tipo penal.
Importante!!!
Atualize seu livro de 2013
Nos crimes tributários materiais (ex: apropriação indébita previdenciária), o pagamento
integral do débito tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito em julgado,
interfere na condenação?
SIM. O pagamento integral do débito tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito
em julgado, acarreta a extinção da punibilidade com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003.
E se o pagamento integral ocorrer após o trânsito em julgado, mesmo assim haveria a extinção
da punibilidade?
NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário após o trânsito
em julgado da sentença condenatória NÃO acarreta a extinção da punibilidade.
O art. 9º da Lei 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida antes
do trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão punitiva
do Estado. Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de
punir (fixar sanção). Começa, a partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um
instituto diferente.
STJ. 6ª Turma. HC 302.059-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 556).
Esse pagamento irá influenciar na condenação? O pagamento integral do débito tributário feito após a
condenação (antes do trânsito em julgado) interfere na condenação?
SIM. O pagamento integral do débito tributário feito após a condenação (antes do trânsito em julgado)
acarreta a extinção da punibilidade. Segundo decidiu o STF (AP 516 ED/DF), o pagamento integral do
débito fiscal realizado pelo réu, mesmo após a condenação do acusado, é causa de extinção de sua
punibilidade, conforme previu o art. 9º, § 2º da Lei n. 10.684/2003 (que continua em vigor mesmo com o
advento da Lei n. 12.382/2011):
Art. 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive
acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011)
Caso o agente ingresse no regime de parcelamento dos débitos tributários: fica suspensa a pretensão
punitiva penal do Estado (o processo criminal fica suspenso).
Até aqui, a Lei n. 12.382/2011 disciplinou o tema de forma semelhante ao que já fazia a Lei n.
10.684/2003 acima exposta.
Veja que não há nenhuma exigência de que o Veja que há exigência de que o pedido de
parcelamento ocorra antes do recebimento da parcelamento tenha sido formalizado antes do
denúncia. recebimento da denúncia.
§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes § 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes
referidos neste artigo quando a pessoa jurídica referidos no caput quando a pessoa física ou a
relacionada com o agente efetuar o pagamento pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar
integral dos débitos oriundos de tributos e o pagamento integral dos débitos oriundos de
contribuições sociais, inclusive acessórios. tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido
objeto de concessão de parcelamento.
E se o pagamento integral tivesse ocorrido após o trânsito em julgado, mesmo assim haveria a extinção
da punibilidade?
O STJ entendeu que NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário após o
trânsito em julgado da sentença condenatória NÃO acarreta a extinção da punibilidade.
Segundo decidiu o STJ, o art. 9º da Lei n. 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento
da dívida antes do trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão
punitiva do Estado.
Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção).
Começa, a partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um instituto diferente.
Repito: o art. 9º da Lei n. 10.684/2003 fala em extinção da PUNIBILIDADE. Esse artigo somente poderia
ser aplicado após o trânsito em julgado se ele falasse em extinção da punibilidade e da EXECUTORIEDADE.
Resumindo:
Pagamento integral antes da condenação: extingue a punibilidade do crime.
Pagamento integral depois da condenação, mas antes do trânsito em julgado: extingue a punibilidade
do crime.
Pagamento integral depois do trânsito em julgado: NÃO irá interferir no crime. A condenação persiste.
Isso porque a punição já foi imposta e o art. 9º não fala em extinção da pretensão executória.
COMPETÊNCIA
Validade de atos processuais praticados antes
de causa superveniente de modificação da competência
No caso em que, após iniciada a ação penal perante determinado juízo, ocorra modificação da
competência em razão da investidura do réu em cargo que atraia foro por prerrogativa de
função, serão válidos os atos processuais – inclusive o recebimento da denúncia – realizados
antes da causa superveniente de modificação da competência, sendo desnecessária, no âmbito
do novo juízo, qualquer ratificação desses atos, que, caso ocorra, não precisará seguir as
regras que deveriam ser observadas para a prática, em ação originária, de atos equivalentes
aos atos ratificados.
Ex: o réu foi denunciado pelo Promotor, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª
instância. O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito Prefeito. Diante
disso, foi declinada a competência para que o TJ julgasse a causa. No Tribunal, o processo teve
prosseguimento e o réu foi condenado. Nesse caso, quando o processo chegou ao TJ, não se
fazia necessária a ratificação da denúncia e dos atos praticados pelo juízo. Isso porque não se
tratam de atos nulos, mas sim válidos à época em que praticados, cabendo ao Tribunal apenas
prosseguir no julgamento do feito a partir daquele instante.
OUTRA SITUAÇÃO
Veja esta situação um pouco diferente envolvendo um caso no qual a denúncia ainda não havia sido
recebida pelo juízo de 1ª instância:
Exemplo hipotético:
O Procurador Geral de Justiça (Ministério Público estadual) ofereceu denúncia, no Tribunal de Justiça,
contra “X” (Prefeito).
Deve-se lembrar que os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça (art. 29,
X, da CF/88).
Antes que a denúncia fosse recebida, “X” foi eleito e diplomado Governador do Estado.
A competência para processar e julgar os Governadores pela prática de infrações penais comuns é do STJ
(art. 105, I, a, da CF/88). Logo, o TJ perdeu a competência para analisar se deveria ou não receber a
denúncia, devendo remeter o processo ao STJ.
Chegando o processo ao STJ, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual somente poderá ser
examinada por aquela Corte se for ratificada pelo Procurador-Geral da República (ou por um dos
Subprocuradores-Gerais que atue por delegação), em homenagem ao princípio do promotor natural. Isso
porque o órgão ministerial que tem legitimidade para atuar no STJ é o Procurador-Geral da República (ou
Assim, se o Ministério Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é
posteriormente encaminhada ao STJ, tal denúncia somente poderá ser processada e julgada se for
ratificada pelo Procurador-Geral da República ou por um dos Subprocuradores-Gerais.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do feito,
a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for ratificada
pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência originária do
Tribunal da Cidadania.
STJ. Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012 (Info 511).
PROCEDIMENTO
Necessidade de apreciação das teses suscitadas na defesa preliminar
A decisão que acolher ou não as teses defensivas declinadas na resposta à acusação (“defesa
preliminar”) estabelecida no art. 396-A do CPP deve ser fundamentada?
SIM. O juiz deverá fundamentar, ainda que sucintamente, a decisão que acolher ou não as teses
defensivas declinadas na defesa preliminar estabelecida no art. 396-A do CPP, sob pena de
configurar a negativa de prestação jurisdicional (STJ. 5ª Turma. HC 183.355-MG, julgado em
3/5/2012. Info 496).
Conceito de procedimento penal: é a sucessão coordenada de atos que ocorrem no processo destinado à
apuração de crimes.
Absolvição
sumária
Citação (art. 397)
Defesa preliminar
Recebimento Réu citado p/ responder à
(art. 396-A)
acusação em 10 dias.
Rejeição da absolvição
Denúncia sumária e designação
de audiência
Rejeição
(art. 395, CPP)
Assim, após o MP oferecer a denúncia, o juiz irá decidir se ela deverá ser recebida ou rejeitada. A denúncia
é recebida, portanto, antes de o réu ter sido citado e de ter apresentado sua defesa.
A decisão que acolher ou não as teses defensivas declinadas na resposta à acusação (“defesa
preliminar”) estabelecida no art. 396-A do CPP deve ser fundamentada?
SIM. O juiz deverá fundamentar, ainda que sucintamente, a decisão que acolher ou não as teses
defensivas declinadas na defesa preliminar estabelecida no art. 396-A do CPP, sob pena de configurar a
negativa de prestação jurisdicional (STJ. 5ª Turma. HC 183.355-MG, julgado em 3/5/2012. Info 496).
Se o juiz decidir negar a absolvição sumária e determinar o prosseguimento do processo, ele precisará
refutar as teses trazidas pela defesa na resposta escrita?
SIM. O magistrado, ao proferir decisão que determina o prosseguimento do processo, deverá ao menos
aludir àquilo que fora trazido na defesa preliminar, não se eximindo também da incumbência de enfrentar
questões processuais relevantes e urgentes.
Na fase do art. 397 do CPP, o juiz, ao negar a absolvição sumária, não irá enfrentar o mérito de forma
aprofundada, até para não prejulgar a causa antes da instrução, mas deverá fundamentar sua decisão, de
forma não exauriente, mencionando aquilo que fora trazido na defesa preliminar e refutando os
argumentos apresentados.
É também dever do magistrado enfrentar questões processuais relevantes e urgentes, tenham estas sido
suscitadas ou não.
O simples fato de uma pessoa responder a um processo criminal já configura uma forma de
constrangimento e sofrimento para o réu, de forma que a decisão que rejeita a absolvição sumária e
determina a continuidade do processo deve sim ser motivada, sob pena de nulidade.
Caso concreto
Na situação julgada pelo STJ, o juiz, após receber a resposta à acusação oferecida pela defesa, negou a
absolvição sumária com uma decisão de apenas duas linhas, que dizia apenas o seguinte:
“As matérias alegadas se tratam de defesa de mérito e nele serão analisadas.
Diante do exposto, designo audiência de instrução e julgamento para o dia XX⁄XX⁄XX, às XX horas.”
O STJ entendeu que a decisão acima foi deficiente e anulou o processo a partir dela, determinando que
seja proferida outra decisão, apreciando-se, desta vez, os termos da resposta preliminar (STJ. 6ª Turma.
RHC 46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/2/2015. Info 556).
PROVAS
Validade do depoimento sem dano nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes
Importante!!!
O depoimento sem dano consiste na oitiva judicial de crianças e adolescentes que foram
supostamente vítimas de crimes contra a dignidade sexual por meio de um procedimento
especial, que consiste no seguinte: a criança ou o adolescente fica em uma sala reservada,
sendo o depoimento colhido por um técnico (psicólogo ou assistente social), que faz as
perguntas de forma indireta, por meio de uma conversa em tom mais informal e gradual, à
medida que vai se estabelecendo uma relação de confiança entre ele e a vítima. O juiz, o
Ministério Público, o réu e o Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real, o
depoimento em outra sala por meio de um sistema audiovisual que está gravando a conversa
do técnico com a vítima.
Obs: vale ressaltar, ainda, que, no caso concreto noticiado neste Info 556, a defesa do réu, no momento da
oitiva da vítima, não se opôs à utilização do “depoimento sem dano”, tendo suscitado o argumento da
nulidade somente após a condenação. Desse modo, além de não encontrar vício no “depoimento sem
dano”, o STJ afirmou ainda que, diante da inércia da defesa, que não alegou a nulidade no momento
oportuno, houve preclusão.
A defesa se opôs ao pedido afirmando que não se pode aplicar a Lei n. 11.343/2006, já que o réu não está
sendo acusado de crimes relacionados com tráfico de drogas.
O pedido da Polícia Federal poderá ser atendido? O juiz poderá autorizar que a aeronave seja utilizada
pelo órgão mesmo o réu não estando respondendo por tráfico de drogas?
SIM. É possível a aplicação analógica dos arts. 61 e 62 da Lei n. 11.343/2006 para admitir a utilização
pelos órgãos públicos de aeronave apreendida no curso da persecução penal de crime não previsto na Lei
de Drogas, sobretudo se presente o interesse público de evitar a deterioração do bem.
O art. 3º do CPP afirma que a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. Assim, é possível a aplicação da Lei de Drogas
para crimes regidos pelo CPP com base no uso da analogia.
REMIÇÃO DA PENA
Remição da pena pelo estudo em dias não úteis
REMIÇÃO
O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) estabelece:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho
ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
O que é a remição?
Remição é...
o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente
É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma atividade
produtiva (trabalho ou estudo), servindo ainda como forma de ressocialização e de preparação do
apenado para que, quando termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no
mercado de trabalho.
O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art. 128).
Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa outra coisa, qual seja,
perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão
do débito.
Obs.: somente poderão ser considerados, para fins Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser divididas
de remição, os dias em que o condenado cumprir a em, no mínimo, 3 dias.
jornada normal de trabalho, que não pode ser
inferior a 6h nem superior a 8h (art. 33).
Somente é aplicada se o condenado cumpre pena Pode ser aplicada ao condenado que cumpra pena
em regime em regime fechado, semiaberto, aberto ou, ainda,
fechado ou semiaberto. que esteja em livramento condicional.
É possível computar a remição pelo estudo ainda que as aulas ocorram durante finais de semana e dias
não-úteis?
Claro que sim. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a atividade estudantil
ser desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei n. 7.210/84 dispõe que a contagem de tempo para
remição da pena pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de frequência
escolar, não havendo qualquer ressalva sobre a consideração apenas dos dias úteis para realização da
referida contagem, sendo, inclusive, expressamente mencionada a possibilidade de ensino à distância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.487.218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do
TJ/SP), julgado em 5/2/2015 (Info 556).
DIREITO TRIBUTÁRIO
PENA DE PERDIMENTO
Pena de perda de veículo condutor de mercadoria sujeita à pena de perdimento ainda que o
valor do carro seja bem superior ao das mercadorias
Art. 688. Aplica-se a pena de perdimento do veículo nas seguintes hipóteses, por configurarem dano ao
Erário:
V - quando o veículo conduzir mercadoria sujeita a perdimento, se pertencente ao responsável por
infração punível com essa penalidade;
IMPOSTO DE RENDA
Isenção de imposto de renda sobre proventos oriundos de previdência privada
complementar para portadores de doenças graves
Em palavras mais simples: pessoas portadoras de doenças elencadas pela legislação não pagarão imposto
de renda sobre os rendimentos que receberem a título de aposentadoria, pensão ou reforma.
Para ter direito à isenção do imposto de renda é necessária a cumulação de dois requisitos pelo
contribuinte:
a) receber proventos de aposentadoria, pensão ou reforma; e
b) estar acometido de uma das doenças arroladas no dispositivo legal.
A isenção do imposto de renda prevista no referido art. 6º, XIV engloba também benefício complementar
pago por entidade de previdência privada.
A isenção concedida aos portadores de doença grave consubstancia benefício fiscal que tem por objetivo
abrandar o impacto da carga tributária sobre a renda necessária à sua subsistência e sobre os custos
inerentes ao tratamento da doença, permitindo que a pessoa tenha um “padrão de vida” digno diante do
estado de enfermidade.
ICMS
Garantia estendida e base de cálculo do ICMS
O valor pago pelo consumidor final ao comerciante a título de “seguro de garantia estendida”
não integra a base de cálculo do ICMS incidente sobre a operação de compra e venda da
mercadoria.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.346.749-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/2/2015 (Info 556).
ICMS
PREVISÃO
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;
CARACTERÍSTICAS
Principais características do imposto:
plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade;
real: as condições da pessoa são irrelevantes;
proporcional: não é progressivo;
fiscal: tem como função principal a arrecadação.
FATOS GERADORES
Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de
Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
circulação de mercadorias;
Garantia legal
O consumidor, ao adquirir um produto, possui prazos de garantia previstos no próprio CDC. Trata-se da
chamada “garantia legal”, que decorre de lei, independentemente de termo expresso e é obrigatória (art.
24). Assim, se o serviço ou produto der algum problema (“não for adequado aos fins a que se destina”), o
consumidor poderá reclamar sobre a existência desses vícios nos prazos fixados no art. 26 do CDC.
Garantia contratual
Em determinadas situações, o fornecedor do bem ou serviço, para agradar o cliente e demonstrar que
comercializa um produto ou serviço de qualidade, oferece a todos os consumidores uma garantia
contratual por meio de contrato escrito. Essa garantia contratual é complementar à garantia legal. Ex:
determinada fabricante de TV vendeu seus televisores durante a Copa do Mundo de 2014 e afirmou que
ela tinha garantia até a Copa de 2018. Isso consiste na chamada garantia contratual.
Garantia estendida
É uma terceira espécie. A garantia estendida, na verdade, é um seguro oferecido normalmente pela loja ao
consumidor e, se este aceitar, irá pagar um valor extra (além do preço normal do produto/serviço) com o
objetivo de ter um tempo de garantia superior à garantia legal e contratual.
Assim, se o adquirente pagar pela garantia estendida, ele continuará tendo direito de consertar ou trocar,
gratuitamente, o produto/serviço que apresentar algum vício mesmo que isso ocorra após o fim do prazo de
garantia contratual (estipulado pelo fabricante) e do término do prazo de garantia legal (fixado pelo CDC).
A garantia estendida tem natureza jurídica de seguro, sendo regulamentada pela SUSEP e é contratada
não com a loja, mas sim com uma companhia seguradora (Curiosidade: a maioria das grandes redes de
varejo possui também uma companhia de seguros que faz parte do mesmo grupo econômico. Assim,
quando a pessoa compra o produto na loja, o vendedor já oferece a garantia estendida. Ocorre que, se o
consumidor aceitar, ele não estará contratando essa garantia estendida da loja, mas sim da empresa de
seguros que integra o conglomerado econômico. Ex: a rede de lojas “Magazine Luiza” possui uma
companhia de seguros chamada de “Luizaseg” que oferece serviços de garantia estendida aos
consumidores).
Se o consumidor aceita contratar a garantia estendida, o valor por ele pago irá se somar ao preço da
mercadoria e também integrará a base de cálculo do ICMS? Ex: o consumidor aceitou pagar mais R$ 100 pela
garantia estendida de uma geladeira. A base de cálculo do ICMS deverá incluir também esses R$ 100?
NÃO. O valor pago pelo consumidor final ao comerciante a título de “seguro de garantia estendida” não
integra a base de cálculo do ICMS incidente sobre a operação de compra e venda da mercadoria.
Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 54
Inicialmente, convém esclarecer que o “seguro de garantia estendida” é um contrato de adesão voluntária
estabelecido entre o consumidor (segurado) e uma sociedade seguradora, sendo rotineiramente oferecido
e comercializado pela empresa que vendeu a mercadoria, que intermedeia o negócio.
Essa espécie de seguro tem por escopo fornecer ao segurado/consumidor a extensão e/ou
complementação de garantia original da mercadoria adquirida. Segundo o STJ, o “seguro de garantia
estendida” não integra a base de cálculo do ICMS pelas razões seguintes:
O pagamento do prêmio dessa modalidade de seguro não deve ser exigido do comprador como
condição indispensável para a aquisição da mercadoria. Isso porque o seguro em questão é de adesão
voluntária, podendo, ou não, ser contratado diretamente pelo consumidor final.
O seguro não é pago pelo vendedor para depois ser exigido do comprador, na composição do preço da
operação, para o fechamento do negócio. Ele é pago diretamente pelo adquirente para a seguradora.
O seguro de garantia estendida pode ser contratado pelo consumidor quando da aquisição do bem ou
posteriormente, durante o prazo de garantia do fabricante, o que demonstra que esse negócio
jurídico, embora relacionado, é autônomo e subsequente à operação de compra, sendo possível a sua
contratação depois de já circulada a mercadoria (fato gerador do ICMS), configurando, portanto, nova
relação jurídica e, por isso, não pode compor o valor da operação anterior já concretizada.
Os valores pagos pelo consumidor ao comerciante devem ser repassados à companhia seguradora por
força contratual da parceria, não configurando, portanto, receita do varejista (não é receita da loja,
mas sim da companhia de seguro).
A garantia estendida é estabelecida entre o consumidor e a empresa seguradora, inexistindo relação
jurídico-tributária entre o fisco e o comerciante que possa imputar ao último o dever de recolher
tributo sobre receita pertencente a terceiro, sob pena de afronta ao princípio da capacidade
contributiva.
Obs: se o “seguro de garantia estendida” vier a ser indevidamente exigido pelo comerciante, como
condição do negócio, haverá descaracterização de sua condição de seguro de adesão facultativa e, nessa
hipótese, será possível que o Fisco estadual inclua o valor cobrado na base de cálculo do ICMS porque terá
havido simulação por parte da empresa, podendo a Receita estadual autuar essa conduta irregular do
contribuinte com fundamento no princípio da realidade (art. 116, I, do CTN).
COFINS
Incidência da COFINS sobre receita proveniente de
locação de vagas em estacionamento de shopping center
COFINS
Natureza jurídica
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela
Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88.
Base de cálculo
A base de cálculo da COFINS é o valor do faturamento (art. 1º, § 2º da Lei nº 10.833/2003).
Obs.: no § 3º do art. 1º são listadas algumas receitas que não integram a base de cálculo da COFINS. Ex.: as
receitas referentes a vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos não são incluídas na
base de cálculo da contribuição.
Se uma empresa aluga vagas em estacionamento de shopping center, o valor por ela recebido integra a
base de cálculo da COFINS?
SIM. Compõe a base de cálculo da COFINS a receita proveniente da locação de vagas em estacionamento
de shopping center ou de centros comerciais de prestação de serviços ou de venda de produtos, mesmo
que esses estejam constituídos na forma de condomínio e que não haja a intervenção de terceira pessoa
jurídica empresária.
Mesmo na forma de condomínio – destituído de personalidade jurídica – e sem a intervenção de terceira
pessoa jurídica empresária, o shopping center ou o centro comercial de prestação de serviços ou venda de
produtos é considerado unidade econômica autônoma para fins de tributação, nos termos do art. 126, III,
do CTN.
Assim, se o empreendimento gera renda por meio de locação de bens e/ou prestação de serviços –
mesmo que em benefício de sua infraestrutura ou a favor dos condôminos – sem a intervenção de terceira
pessoa jurídica empresária, os valores que recebe compõem a base de cálculo de contribuições sociais (no
caso, a COFINS), porquanto referidos valores fazem parte de seu faturamento.
Portanto, se o empreendimento aufere renda da locação de vagas de estacionamento e/ou outra espécie
de prestação de serviços, essa renda deve compor a base de cálculo da COFINS.
CONTRIBUIÇÕES
CIDE para o INCRA
INCRA
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) é uma autarquia federal, criada pelo
Decreto-Lei n. 1.110/70 e que tem como finalidades:
a) executar a reforma agrária; e
b) realizar o ordenamento fundiário nacional.
Concursos
Essa súmula pode ser cobrada em alguns concursos federais, como de Procurador Federal, Servidor do
INSS, Juiz Federal. Mesmo assim, se for cobrada, penso que será exigida apenas a redação literal do
enunciado.
Onde está prevista a impossibilidade de repasse de recursos de convênios federais para os Estados e
Municípios inadimplentes com o Governo federal?
Na própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/2000). Veja:
Art. 25. Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega de
recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência
financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de
Saúde.
§ 1º São exigências para a realização de transferência voluntária, além das estabelecidas na lei de
diretrizes orçamentárias:
(...)
IV - comprovação, por parte do beneficiário, de:
a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente
transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos;
Existe alguma exceção a essa regra, ou seja, uma hipótese em que seja possível a transferência dos
recursos mesmo estando o ente figurando no CAUC?
SIM. Tais situações excepcionais são previstas tanto na LC n. 101/2000 como na lei que regulamenta o
CADIN (Lei n. 10.522/2002)
Dessa forma, se as transferências de recursos federais tiverem por objeto (finalidade) a realização de
ações de educação, saúde, assistência social ou outras ações sociais, bem como ações em faixa de
fronteira, será permitido o repasse dos valores mesmo que o Estado ou Município esteja figurando no
CAUC.
A reforma de um prédio público pode ser enquadrada nessas exceções? Voltando ao nosso exemplo, o
Município poderá receber os recursos do Ministério da Cidade?
NÃO. O STJ decidiu que a restrição para transferência de recursos federais a Município que possui
pendências no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser
suspensa sob a justificativa de que os recursos destinam-se à reforma de prédio público. Isso porque a
reforma de prédio público não pode ser enquadrada no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei
n. 10.522/2002.
Em que pese a infraestrutura urbana estar inclusa no rol dos direitos a cidades sustentáveis, a reforma de
prédio público não pode ser enquadrada no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei n.
10.522/2002. A interpretação da expressão “ações sociais” não pode ser ampla a ponto de incluir
hipóteses não apontadas pelo legislador, haja vista que, se assim se procedesse, qualquer atuação
governamental em favor da coletividade seria passível de enquadramento nesse conceito. Assim,
interpretando o art. 26 da Lei 10.522/2002, verifica-se que a ação social é referente às ações que
objetivam atender a direitos sociais assegurados aos cidadãos, cuja realização é obrigatória por parte do
Poder Público.
A suspensão da restrição para a transferência de recursos federais aos Estados, Distrito Federal e
Municípios inscreve-se em norma de direito financeiro e é exceção à regra, estando limitada às situações
de execução de ações sociais ou ações em faixa de fronteira, não podendo sua interpretação ser
abrangente a ponto de abarcar situações que o legislador não previu.