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Márcio André Lopes Cavalcante

Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: PET 9.892-SP; REsp 1.050.659-RJ; REsp 1.388.442-DF; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
 Legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar no STJ

DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL
 Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de preso.

DESAPROPRIAÇÃO
 Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel.

DIREITO CIVIL
CONTRATOS
 Ação revisional por conta da desvalorização do real frente ao dólar em contrato celebrado em moeda estrangeira.

CONTRATO DE CORRETAGEM
 Responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem.

DIREITOS REAIS
 Direito exclusivo do pesquisador à exploração da jazida.

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


 Inaplicabilidade do prazo decadencial do art. 1.614 do CC para a ação de investigação de paternidade.

UNIÃO ESTÁVEL
 Inaplicabilidade da Lei 9.278/96 a situações ocorridas antes de sua vigência.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


TABELIONATO DE PROTESTO
 Protesto do cheque após o prazo de apresentação.

DIREITO DO CONSUMIDOR
VÍCIO NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS
 Devolução dos valores pagos em virtude de defeitos na construção de imóvel.

RESPONSABILIDADE CIVIL
 Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO EMPRESARIAL
CHEQUE
 Protesto do cheque após o prazo de apresentação.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AÇÃO RESCISÓRIA
 Valor da causa na ação rescisória.

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA


 Inaplicabilidade da teoria da relativização da coisa julgada inconstitucional para erro na fixação dos honorários
advocatícios.

RECURSO ESPECIAL
 Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída antes de sua edição.
 Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso especial fundado em
alegada violação de enunciado de súmula.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
 Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação,
depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte
executada.

IMPUGNAÇÃO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


 Súmula 519-STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis
honorários advocatícios.

PROCESSO COLETIVO
 Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC.

DIREITO PENAL
ROUBO
 Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa, mas subtração de um só patrimônio.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168-A DO CP)


 Efeitos da suspensão da exigibilidade de crédito tributário na prescrição da pretensão punitiva.

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


 Extinção da punibilidade pelo pagamento integral de débito.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
 Validade de atos processuais praticados antes de causa superveniente de modificação da competência.

PROCEDIMENTO
 Necessidade de apreciação das teses suscitadas na defesa preliminar.

PROVAS
 Validade do depoimento sem dano nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes.

REMIÇÃO DA PENA
 Remição da pena pelo estudo em dias não úteis.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


DIREITO TRIBUTÁRIO
PENA DE PERDIMENTO
 Pena de perda de veículo condutor de mercadoria sujeita à pena de perdimento ainda que o valor do carro seja
bem superior ao das mercadorias.

IMPOSTO DE RENDA
 Isenção de imposto de renda sobre proventos oriundos de previdência privada complementar para portadores de
doenças graves.

ICMS
 Garantia estendida e base de cálculo do ICMS.

COFINS
 Incidência da COFINS sobre receita proveniente de locação de vagas em estacionamento de shopping center.

CIDE PARA O INCRA


 Súmula 516-STJ: A contribuição de intervenção no domínio econômico para o Incra (Decreto-Lei n. 1.110/1970),
devida por empregadores rurais e urbanos, não foi extinta pelas Leis ns. 7.787/1989, 8.212/1991 e 8.213/1991,
não podendo ser compensada com a contribuição ao INSS.

DIREITO FINANCEIRO
TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA DE RECURSOS FEDERAIS
 Restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no CAUC

DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
Legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar no STJ

Importante!!!
Atenção! Ministério Público
O Ministério Público Estadual tem legitimidade para atuar diretamente no STJ nos processos
em que figure como parte. Assim, o MPE possui legitimidade para atuar diretamente em
recurso por ele interposto e submetido a julgamento perante o STJ.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.327.573-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Ari Pargendler, Rel. para
acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/12/2014 (Info 556).

Se o Ministério Público Estadual é parte em um processo e houve recurso para o STJ, ele poderá atuar
diretamente neste recurso ou ele precisará da participação do MPF?
Poderá atuar sozinho, sem a participação do MPF. O Ministério Público Estadual tem legitimidade para
atuar diretamente como parte em recurso submetido a julgamento perante o STJ.

Por que esse tema foi discutido pelo STJ? Havia polêmica sobre o assunto?
Sim. Havia uma tese, aceita durante vários anos, no sentido de que somente o Ministério Público Federal
poderia atuar diretamente no STJ e no STF.
Dessa forma, o Ministério Público Estadual, por meio do Procurador-Geral de Justiça, não poderia, por
exemplo, propor uma reclamação, impetrar mandado de segurança, interpor agravo regimental, fazer
sustentação oral, entre outros atos processuais, quando envolvesse o STF/STJ. Segundo se entendia, isso
teria que ser feito por intermédio do Procurador-Geral da República.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Qual era o fundamento para essa tese?
Argumentava-se que o Ministério Público é uma instituição una, cabendo a seu chefe, o Procurador-Geral
da República, representá-la, atuando, em seu nome, junto às Cortes Superiores: STF e STJ.
Assim, segundo o entendimento anterior, o Ministério Público Estadual, por meio de seus Procuradores-
Gerais de Justiça, até podiam interpor Recurso Extraordinário e Recurso Especial contra os acórdãos dos
Tribunais de Justiça, no entanto, depois de interposto, a atribuição para oficiar junto aos tribunais
superiores seria do Procurador-Geral da República ou dos Subprocuradores da República.

Esse entendimento restritivo ao MPE foi superado?


SIM. O primeiro passo foi dado em 2011, quando o STF reconheceu a legitimidade ativa autônoma do
Ministério Público estadual para propor reclamação perante aquela Corte (Rcl 7358/SP, rel. Min. Ellen
Gracie, julgado em 24/2/2011).
O STJ seguiu no mesmo correto caminho e decidiu que o Ministério Público Estadual tem legitimidade
recursal para atuar também no STJ (AgRg no AgRg no AREsp 194.892-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 24/10/2012 – brilhante voto).

Qual a posição que prevalece, portanto, atualmente?


O Ministério Público estadual possui legitimidade para atuar no STF e no STJ de forma autônoma, ou seja,
por meio de seu Procurador-Geral de Justiça ou alguém por ele designado (até mesmo um Promotor de
Justiça).
Dessa forma, atualmente, os interesses do Ministério Público Estadual podem ser defendidos diretamente
pelo Procurador-Geral de Justiça no STF e STJ, não sendo necessária a atuação do Procurador-Geral da
República (chefe do MPU), como se entendia até então.

Veja interessante trecho do voto do Min. Ari Pargendler sobre o tema:


“Perante o Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público Federal exerce ambas as funções:
- no âmbito cível, ele atua como autor, portanto como parte, quando propõe, por exemplo, uma ação
rescisória, e age como custos legis quando, v.g, opina em mandado de segurança, em recursos, etc;
- no âmbito criminal, ele é autor da ação, portanto parte, quando esta deve ser processada e julgada
originariamente, e funciona como custos legis quando, v.g., opina em habeas corpus, em recursos, etc.
Tais funções podem ser cumuladas no mesmo processo; é o caso da ação rescisória, em que o Ministério
Público Federal opina mesmo sendo o autor (AR nº 384, PR, de minha relatoria, DJ, 1º.09.97).
Quid, se a ação, cível ou penal, é proposta pelo Ministério Público Estadual, perante o 1º grau de
jurisdição, e o processo é alçado ao Superior Tribunal de Justiça por meio de recurso?
Salvo melhor juízo, em sede de recursos, o Ministério Público Federal exerce apenas uma de suas funções,
qual seja, a de custos legis; o recurso é da parte, e o Ministério Público, à vista do ordenamento jurídico,
pode opinar pelo provimento ou pelo desprovimento da irresignação.
Cindido em um processo o exercício das funções do Ministério Público (o Ministério Público Estadual
sendo o autor da ação, e o Ministério Público Federal opinando acerca do recurso interposto nos
respectivos autos), não há razão legal, nem qualquer outra ditada pelo interesse público, que autorize uma
restrição ao Ministério Público Estadual enquanto autor da ação.
Do ponto de vista legal, como exposto, o Subprocurador Geral da República opina como custos legis em
recursos interpostos pelo Ministério Público dos Estados.
Sob o prisma do interesse público, nada justifica a restrição à atuação do Ministério Público Estadual, que
tem o direito de atuar perante o Superior Tribunal de Justiça no interesse dos recursos que interpõe,
sustentando-os oralmente, interpondo agravos regimentais contra decisões que os denegam etc.”

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Argumentos que fundamentam a atuação do MP Estadual no STF e STJ:
1) Inexistência de hierarquia entre MPU e MPE
A CF/88 organiza o Ministério Público brasileiro em dois segmentos:
I – o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II – os Ministérios Públicos dos Estados.

Desse modo, conclui-se que o Ministério Público é dividido em dois ramos distintos (MPE e MPU), não
havendo qualquer relação de hierarquia ou subordinação entre eles.
O chefe do Ministério Público da União é o Procurador-Geral da República (art. 128, § 1º da CF/88).
Por sua vez, o chefe de cada Ministério Público estadual é o seu respectivo Procurador-Geral de Justiça
(art. 128, § 3º).
Logo, não há qualquer sentido em se permitir que o MPF atue diretamente nas Cortes Superiores e
negar esse poder aos Ministérios Públicos Estaduais.

2) Princípio federativo
Viola o regime federativo impedir que o Ministério Público Estadual tenha acesso aos Tribunais
Superiores, uma vez que haveria uma diferença de tratamento em relação ao MPF, o que mitigaria sua
autonomia funcional.

3) Autonomia do MPE
Está também relacionada com o princípio federativo, considerando que não permitir que o Ministério
Público Estadual atue, no STF e STJ, nos processos de seu interesse, significaria tolher a autonomia e
liberdade de atuação do Parquet estadual.

4) MPU e MPE não são unos entre si


O Ministério Público, de fato, é uno (art. 127, § 1º, CF/88). No entanto, a unidade institucional é
princípio aplicável apenas no âmbito de cada Ministério Público. Não é possível dizer, por exemplo,
que entre o Ministério Público estadual e o Ministério Público federal exista unidade. Desse modo,
quando houver necessidade de atuação do Ministério Público Estadual nos processos que tramitam no
STF e STJ, esta deverá ocorrer por meio do seu Procurador-Geral de Justiça, não suprindo isso o fato
de haver a intervenção do Procurador-Geral da República.

5) Os interesses defendidos pelo MPE podem, eventualmente, ser conflitantes com os do MPU
Poderia acontecer de os Ministérios Públicos Estaduais deduzirem pretensão no STF e STJ com a qual
não concorde, eventualmente, a chefia do Ministério Público da União, o que obstaria o acesso do
Parquet estadual aos Tribunais Superiores (STF Rcl 7358/SP).

6) Paridade de armas
Fazer com que o Ministério Público estadual ficasse na dependência do que viesse a entender o
Ministério Público Federal seria incompatível, dentre outros princípios, com o da paridade de armas,
considerando que, em eventual conflito entre o MPE e o MPU, o chefe do MPU (PGR) poderia atuar
diretamente no STF, mas não o MPE (STF Rcl 7358/SP).

Exemplos de atuação direta dos Ministérios Públicos estaduais no STF e STJ:


 Mandado de segurança (contra decisão do CNMP, v.g.);
 Reclamação constitucional;
 Pedido de suspensão de segurança;
Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
 Pedido de tutela antecipada;
 Recursos contra as decisões proferidas no STF e STJ (embargos de declaração, embargos de
divergência, agravo regimental etc.).

Qual órgão do Ministério Público participa no STF e STJ como custos legis?
MPF. É importante ressaltar que a atuação do Ministério Público como custos legis no STF e STJ continua
sendo feita sempre pelo Procurador-Geral da República ou pelos Subprocuradores da República (por
delegação ou designação).
Desse modo, o que se passou a permitir foi a atuação direta do Ministério Público Estadual como parte no
STF e STJ.
Vale sublinhar, inclusive, que nos processos em que o MPE for parte, no STJ e STF, o MPF atuará como
custos legis (fiscal da lei), oferecendo parecer.

Nos casos de ação penal de competência originária do STF e do STJ, qual órgão do Ministério Público
oferecerá a denúncia e atuará no processo criminal?
MPF. Em tais hipóteses, a atribuição continua sendo do MPF, por meio do Procurador-Geral da República
(ou um Subprocurador-Geral, mediante delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido: STJ Corte Especial.
APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.
Trata-se de previsão legal do art. 46, parágrafo único, III e 48, II, da LC n. 75/93.

O Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para atuar diretamente no STF e STJ?
NÃO. A jurisprudência continua entendendo que o MPT não pode atuar diretamente no STF e STJ. Nesse
sentido: STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão geral)
(Info 759).
Se for necessário, por exemplo, propor uma reclamação no STF e que seja do interesse do MPT, quem
deve manejar essa reclamação é o Procurador-Geral da República.
O Procurador do Trabalho não pode atuar diretamente no STF (nem mesmo o Procurador-Geral do
Trabalho).
O exercício das funções do Ministério Público da União junto ao Supremo Tribunal Federal cabe
privativamente ao Procurador-Geral da República (ou aos Subprocuradores por ele designados), nos
termos do art. 46 da LC 75/93 (Estatuto do Ministério Público da União):
Art. 46. Incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao
Supremo Tribunal Federal, manifestando-se previamente em todos os processos de sua competência.
Art. 47. O Procurador-Geral da República designará os Subprocuradores-Gerais da República que
exercerão, por delegação, suas funções junto aos diferentes órgãos jurisdicionais do Supremo Tribunal
Federal.

Assim, o MPT é parte ilegítima para, em sede originária, atuar no STF e STJ, uma vez que integra a
estrutura orgânica do Ministério Público da União, cuja atuação funcional compete, em face da própria
unidade institucional, ao seu chefe, qual seja, o Procurador-Geral da República.

LC 75/93:
Art. 24. O Ministério Público da União compreende:
I - o Ministério Público Federal;
II - o Ministério Público do Trabalho;
III - o Ministério Público Militar;
IV - o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

Art. 25. O Procurador-Geral da República é o chefe do Ministério Público da União (...)

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Vale ressaltar, no entanto, que, quando se diz que o MPT não pode atuar diretamente no STF, isso significa
que não pode ajuizar ações originárias no STF nem pode recorrer contra decisões proferidas por essa
Corte. Importante esclarecer, dessa forma, que o membro do MPT pode interpor recurso extraordinário, a
ser julgado pelo STF, contra uma decisão proferida pelo TST.

DIREITO ADMINISTRATIVO

RESPONSABILIDADE CIVIL
Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de preso

Importante!!!
Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o ocorrido.
Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
• Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição
será o trânsito em julgado da sentença penal.
• Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo inicial da
prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 12/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi preso e torturado por policiais no interior da Delegacia, vindo a falecer em virtude das lesões
sofridas, fato ocorrido em 2000.
Foi instaurado inquérito policial para apurar o ocorrido, tendo este sido concluído apenas em 2006,
arquivado por falta de provas de quem seriam os autores do crime.
Em 2007, a família de João ajuizou ação de indenização por danos morais contra o Estado.
Em contestação, o Estado alegou que a pretensão estaria prescrita, considerando que o prazo prescricional
é de 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/32, tendo esse prazo sido iniciado no momento do
fato delituoso (no ano de 2000) e se esgotado em 2005.

A tese do Estado está correta? Houve prescrição?


NÃO. Não houve prescrição. Isso porque o prazo inicial da prescrição apontado pelo Estado está incorreto.
Segundo a jurisprudência do STJ, o termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de
suposta tortura e morte de preso custodiado pelo Estado, nos casos em que não chegou a ser ajuizada
ação penal para apurar os fatos, é a data do arquivamento do inquérito policial.

Veja como o STJ encara o tema:


 Se tivesse sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição da ação de
indenização seria o trânsito em julgado da sentença penal.
 Como o inquérito policial foi arquivado e, consequentemente, não foi ajuizada ação penal: o termo
inicial da prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.

Veja um precedente antigo do STJ que espelha esse entendimento, mas que continua válido:
(...) A coisa julgada na instância penal constitui o termo inicial da contagem do prazo de prescrição da ação
de indenização em face do Estado.
(...)

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


3. A regra nesses casos é a de que o termo a quo seja o trânsito em julgado da sentença condenatória
penal, porquanto a reparação do dano ex delicto é consequente. Enquanto pende a incerteza quanto à
condenação, não se pode aduzir a prescrição, posto instituto vinculado à inação, inocorrente quando em
curso inquérito policial militar para apurar responsabilidade de militar pela morte de outro colega de
corporação.
4. Aliás, é precedente da Corte que ‘se o ato ou fato danoso está sendo apurado na esfera criminal, com
ilícito, em nome da segurança jurídica aconselha-se a finalização, para só então ter partida o prazo
prescricional, pelo princípio da actio nata.” (REsp 254.167/PI).
5. In casu, versa hipótese em que a questão estava sendo discutida na esfera criminal, mas não chegou a
ser ajuizada a competente ação penal, motivo pelo qual o termo a quo da prescrição da ação indenizatória
é a data do arquivamento do inquérito policial militar. (...)
(STJ. 1ª Turma. REsp 591.419/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/10/2004)

Alguns de vocês podem estar se confundindo e pensando: “eu li em algum lugar que as ações de
indenização em caso de tortura são imprescritíveis”. Isso é correto?
Não é bem assim. Se você pensou nisso, não se confunda. Vou relembrar essa situação:
As ações de indenização por danos morais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, por motivos
políticos, durante o regime militar, são imprescritíveis. Para esses casos, não se aplica o prazo
prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932 (STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013. Info 523).
O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período (regime militar) em
que a ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo havido, sem dúvida,
incontáveis abusos e violações dos direitos fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa
humana (AgRg no Ag 1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011).
No exemplo acima, a tortura ocorreu depois do regime militar, ou seja, já no período em que vivemos um
regime democrático. Logo, a ação de indenização submete-se ao prazo de 5 anos.

DESAPROPRIAÇÃO
Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel

Se, em procedimento de desapropriação por interesse social, ficar constatado que a área
medida do bem é maior do que a escriturada no Registro de Imóveis, o expropriado receberá
indenização correspondente à área registrada, ficando a diferença depositada em Juízo até
que, posteriormente, se complemente o registro ou se defina a titularidade para o pagamento
a quem de direito. A indenização devida deverá considerar a área efetivamente
desapropriada, ainda que o tamanho real seja maior do que o constante da escritura, a fim de
não se configurar enriquecimento sem causa em favor do ente expropriante.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.466.747-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/5/2014 (Info 540).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Pedro ocupava uma fazenda de 5.000ha (hectares) que foi desapropriada por interesse social para fins de
reforma agrária, por ser improdutiva.
Ocorre que, no cartório do Registro de Imóveis, constava a informação de que a fazenda apresentava
apenas 4.000ha.
Desse modo, a área registrada em cartório era inferior à medida pelos peritos.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Pedro poderá receber a indenização relativa aos 5.000ha?
NÃO. Pedro terá direito de receber a indenização correspondente ao total da área registrada (4.000ha) e o
valor restante ficará depositado em juízo até que ele consiga fazer a retificação do registro ou até que seja
decidida, em ação judicial própria, de quem é a titularidade desses 1.000ha. Isso está previsto no art. 34
do Decreto-lei nº 3.365/41:
Art. 34. O levantamento do preço será deferido mediante prova de propriedade, de quitação de dívidas
fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de editais, com o prazo de 10 dias, para
conhecimento de terceiros.
Parágrafo único. Se o juiz verificar que há dúvida fundada sobre o domínio, o preço ficará em depósito,
ressalvada aos interessados a ação própria para disputá-lo.

No procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária, caso se constate que a área registrada
em cartório é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá levantar somente o valor da
indenização correspondente à área registrada, devendo o depósito indenizatório relativo ao espaço
remanescente ficar retido em juízo até que o expropriado promova a retificação do registro ou até que
seja decidida, em ação própria, a titularidade do domínio.

DIREITO CIVIL

CONTRATOS
Ação revisional por conta da desvalorização do real frente ao dólar
em contrato celebrado em moeda estrangeira

Importante!!!
Determinado médico importou um equipamento para utilizar em sua atividade profissional. A
aquisição foi feita por meio de um financiamento celebrado em moeda estrangeira (dólar). Na
época, o valor do dólar e do real eram muito próximos, sendo a conversão próxima de 1 real
para cada 1 dólar. Ocorre que, em janeiro 1999, ocorreu na economia brasileira uma grande
desvalorização do real e o dólar passou a valer cerca de 2 reais.
No caso concreto, o médico pode ser considerado consumidor?
NÃO. Não há relação de consumo entre o fornecedor de equipamento médico-hospitatar e o
médico que firmam contrato de compra e venda de equipamento de ultrassom com cláusula de
reserva de domínio e de indexação ao dólar americano, na hipótese em que o profissional de
saúde tenha adquirido o objeto do contrato para o desempenho de sua atividade econômica.

É possível a aplicação da teoria da base objetiva na presente situação?


NÃO. A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação restrita às
relações jurídicas de consumo, não sendo aplicável às contratuais puramente civis.

É possível acolher o pedido do médico para a revisão do contrato com base na teoria da
imprevisão e da onerosidade excessiva?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas
consumeristas –, a maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de
janeiro de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade
excessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de indexação ao dólar americano.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


O histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível que ocorresse uma
desvalorização do real frente ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso era um fato
imprevisível ou extraordinário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Em 1997, João, médico ginecologista, importou dos EUA um moderno sistema de ultrassom para utilizar
em sua atividade profissional.
Como o custo do aparelho era muito alto, a aquisição foi feita por meio de um financiamento celebrado
em moeda estrangeira (dólar). Em outras palavras, as prestações que o médico pagava mensalmente eram
fixadas em dólar e, no momento do pagamento, era feita a conversão para real (ex: cada prestação era de
10 mil dólares).
Vale ressaltar que, na época, o valor do dólar e do real eram muito próximos, sendo a conversão próxima
de 1 real para cada 1 dólar.
Estava correndo tudo bem e o médico pagava pontualmente todos os meses o financiamento.
Ocorre que, em janeiro de 1999, ocorreu na economia brasileira uma grande desvalorização do real frente
ao dólar (“efeito samba”) quando o Banco Central abandonou o regime de câmbio fixo, passando a operar
pelo câmbio flutuante. O dólar que custava cerca de 1 real dobrou e passou a valer cerca de 2 reais.
Com isso, João, que pagava cerca de 10 mil reais de prestação, de uma hora para outra passou a ter que
pagar o dobro (por volta de 20 mil reais).
Diante disso, João ajuizou ação revisional de contrato pedindo a diminuição do valor das prestações. Como
fundamento para esse pedido apresentou três argumentos:
1) alegou que era consumidor e, portanto, hipossuficiente na relação jurídica;
2) afirmou que o contrato poderia ser revisto com fundamento na teoria do rompimento da base
objetiva;
3) por fim, argumentou que, se não fosse acolhida a teoria da base objetiva, poderia ser aplicada no caso
a teoria da imprevisão ou a teoria da onerosidade excessiva, permitindo assim a revisão do contrato;

Vejamos o que decidiu o STJ.

No caso concreto, o médico pode ser considerado consumidor?


NÃO. Não há relação de consumo entre o fornecedor de equipamento médico-hospitatar e o médico que
firmam contrato de compra e venda de equipamento de ultrassom com cláusula de reserva de domínio e
de indexação ao dólar americano na hipótese em que o profissional de saúde tenha adquirido o objeto do
contrato para o desempenho de sua atividade econômica.
Com efeito, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário final,
produto ou serviço oriundo de um fornecedor. Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pelo
STJ, destinatário final é aquele que ultima a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do
mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria. Por isso,
fala-se em destinatário final econômico (e não apenas fático) do bem ou serviço, haja vista que não basta
ao consumidor ser adquirente ou usuário, mas deve haver o rompimento da cadeia econômica com o uso
pessoal a impedir, portanto, a reutilização dele no processo produtivo, seja na revenda, no uso
profissional, na transformação por meio de beneficiamento ou montagem ou em outra forma indireta.
Desse modo, a relação de consumo (consumidor final) não pode ser confundida com relação de insumo
(consumidor intermediário).
Na hipótese em foco, não se pode entender que a aquisição do equipamento de ultrassom, utilizado na
atividade profissional do médico, tenha ocorrido sob o amparo do CDC.
Obs: imagino que muitos de vocês devem estar pensando: não seria o caso de aplicar a teoria finalista
mitigada? Penso que sim, contudo, nenhum dos votos sequer aventou essa possibilidade. Assim, nas

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


provas de concurso, caso seja cobrada uma situação semelhante à narrada acima, responda exatamente o
que foi decidido, ou seja, que não há relação de consumo porque o equipamento foi adquirido pelo
médico para o desempenho de sua atividade econômica.

O que é a teoria da base objetiva?


O CDC, ao contrário do CC-2002, não adotou a teoria da imprevisão, mas sim uma outra teoria chamada de
teoria do rompimento da base objetiva do negócio jurídico, inspirada na doutrina alemã, muito bem
desenvolvida por Karl Larenz.
Pela teoria da base objetiva, haverá revisão do contrato se um fato superveniente alterou as bases
objetivas do ajuste, ou seja, o ambiente econômico inicialmente presente. Não interessa se este fato era
previsível ou imprevisível.
Conforme lição do Professor Leonardo Garcia, podemos fazer as seguintes comparações entre as duas
teorias (Direito do Consumidor. Código Comentado e Jurisprudência. 3ª ed., Niterói: Impetus, 2007, p. 39):

Teoria da imprevisão Teoria da base objetiva do negócio jurídico


Surgida na França, no pós 1ª Guerra. Surgida na Alemanha, também no pós 1ª Guerra.
É uma teoria subjetiva. É uma teoria objetiva.
Prevista nos arts. 317 e 478 do CC. Prevista no art. 6º, V do CDC.
Exige a imprevisibilidade e a extraordinariedade Dispensa a imprevisibilidade e o caráter
do fato superveniente. extraordinário dos fatos supervenientes.
Somente exige um fato superveniente que rompa
a base objetiva.
Exige a extrema vantagem para o credor. Não exige esta condição.

É possível a aplicação da teoria da base objetiva na presente situação?


NÃO. A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação restrita às relações
jurídicas de consumo, não sendo aplicável às contratuais puramente civis.
Como visto no quadro acima, a teoria da base objetiva difere da teoria da imprevisão por prescindir
(dispensar) da imprevisibilidade de fato que determine oneração excessiva de um dos contratantes.
Conforme está expresso no art. 6°, V, do CDC, para que seja possível a postulação da revisão ou resolução
do contrato basta a superveniência de fato que determine desequilíbrio na relação contratual diferida ou
continuada.
Em palavras simples, não se exige que o fato seja imprevisível ou extraordinário para se aplicar a teoria da
base objetiva, sendo necessária apenas a modificação nas circunstâncias indispensáveis que existiam no
momento da celebração do negócio, ensejando onerosidade ou desproporção para uma das partes.
Com efeito, a teoria da base objetiva tem por pressuposto a premissa de que a celebração de um contrato
ocorre mediante consideração de determinadas circunstâncias, as quais, se modificadas no curso da
relação contratual, determinam, por sua vez, consequências diversas daquelas inicialmente estabelecidas,
com repercussão direta no equilíbrio das obrigações pactuadas.
A teoria da base objetiva, por dispensar o requisito de imprevisibilidade, foi acolhida em nosso
ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam especial proteção. Não se admite a
sua aplicação para relações de direito civil, como a que foi construída entre o médico e a empresa que
vendeu o aparelho.

Por último: é possível acolher o pedido do médico para a revisão do contrato com base na teoria da
imprevisão e da onerosidade excessiva?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas consumeristas –, a
maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza a
aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, com intuito de promover a
revisão de cláusula de indexação ao dólar americano.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Na relação contratual, a regra é a observância do princípio pacta sunt servanda, segundo o qual o contrato
faz lei entre as partes e, por conseguinte, impõe ao Estado o dever de não intervir nas relações privadas.
Ademais, o princípio da autonomia da vontade confere aos contratantes ampla liberdade para estipular o
que lhes convenha, desde que preservada a moral, a ordem pública e os bons costumes, valores que não
podem ser derrogados pelas partes.
Desse modo, a intervenção do Poder Judiciário nos contratos, à luz da teoria da imprevisão ou da teoria da
onerosidade excessiva, exige a demonstração de mudanças supervenientes das circunstâncias iniciais
vigentes à época da realização do negócio, oriundas de evento imprevisível (teoria da imprevisão) e de
evento imprevisível e extraordinário (teoria da onerosidade excessiva), que comprometam o valor da
prestação, demandando tutela jurisdicional específica, tendo em vista, em especial, o disposto nos arts.
317, 478 e 479 do CC.
Assim, constitui pressuposto da aplicação das referidas teorias, a teor dos arts. 317 e 478 do CC, como se
pode extrair de suas próprias denominações, a existência de um fato imprevisível em contrato de
execução diferida, que imponha consequências indesejáveis e onerosas para um dos contratantes.
A par disso, o histórico inflacionário e as sucessivas modificações no padrão monetário experimentados
pelo País desde longa data até julho de 1994, quando sobreveio o Plano Real, seguido de período de
relativa estabilidade até a maxidesvalorização do real em face do dólar, ocorrida a partir de janeiro de
1999, não autorizam concluir pela inexistência de risco objetivo nos contratos firmados com base na
cotação da moeda norte-americana, em se tratando de relação contratual paritária.
Em resumo, o histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível que ocorresse uma
desvalorização do real frente ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso era um fato
imprevisível ou extraordinário.

CONTRATO DE CORRETAGEM
Responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem

Contrato de corretagem é o ajuste por meio do qual o corretor obriga-se a obter para uma
pessoa que o contrata ( “cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios, conforme as instruções
recebidas (art. 722 do CC).
O contrato de corretagem é informal, não precisando ser escrito (pode ser verbal).
De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do vendedor ou do
comprador?
• Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que efetivamente contrata o
corretor (não importa se é o comprador ou o vendedor).
• Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em sentido contrário,
ou seja, poderá prever que comprador e vendedor irão dividir o pagamento, que só o vendedor
irá pagar etc.
A remuneração do corretor, se não foi fixada no contrato nem na lei, será arbitrada segundo a
natureza do negócio e os usos locais. No dia-a-dia imobiliário, não havendo previsão
contratual, deverá ser pago ao corretor 6% sobre o valor do imóvel urbano vendido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação adaptada:


A empresa “X” procurou João, corretor de imóveis, porque desejava comprar um terreno para ali instalar
sua sede.
João conseguiu identificar que a empresa “Y” tinha um imóvel com as características que a empresa “X”
necessitava.

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Assim, a empresa “Y” vendeu o terreno para a empresa “X”, negócio facilitado pelo corretor que localizou
o imóvel objeto da transação.
Até aí, estava tudo bem. O problema aconteceu no momento em que o corretor foi receber sua comissão
pela venda do imóvel. João foi descuidado e não fez um contrato escrito com nenhuma das partes, o que
gerou um impasse sobre quem seria o responsável pelo pagamento e o valor da comissão.
João procurou inicialmente a empresa “X” (compradora) e esta disse que a comissão deve ser paga pela
empresa vendedora. Ao se dirigir a empresa “Y”, esta respondeu a João que a responsabilidade pelo
pagamento é de quem contratou os serviços do corretor, ou seja, da empresa “X”.
Não sabendo mais o que fazer, o corretor ajuizou ação de cobrança de comissão de corretagem contra
ambas as empresas.
Sobre a situação acima, vejamos as seguintes perguntas e respostas:

O que é um contrato de corretagem?


Pelo contrato de corretagem, o corretor obriga-se a obter para uma pessoa que o contrata (denominada
“cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas.
O contrato de corretagem está previsto, de forma genérica, nos arts. 722 a 729 do CC.
Quando se fala neste contrato, normalmente as pessoas só se lembram da corretagem de imóveis. No
entanto, existem outras espécies de corretagem, como é o caso do corretor de ações na Bolsa de Valores
ou o corretor de mercadorias (bens móveis).
No caso do corretor de imóveis, a profissão está regulamentada pela Lei n. 6.530/78 e pelo Decreto n.
81.871/78, sendo necessário que a pessoa esteja inscrita no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI).

Mesmo não tendo havido contrato escrito, pode-se dizer que foi celebrado contrato de corretagem entre
o corretor e a empresa “X”?
SIM. O contrato de corretagem é classificado como informal, não precisando ser escrito. Logo, a
jurisprudência admite que o contrato de corretagem seja verbal, desde que haja prova inequívoca da
existência do pacto.

No caso concreto, a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem é de qual das duas
empresas?
Da empresa “X”, ou seja, daquele que efetivamente contratou o corretor.
Veja como funciona o sistema de responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem:
 Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que efetivamente contrata o corretor
(não importa se é o comprador ou o vendedor).
 Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em sentido contrário, ou seja,
poderá prever que comprador e vendedor irão dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc.

No mercado imobiliário, há hipóteses em que o proprietário é que está buscando um corretor para vender
seu imóvel. Em outras situações ocorre o contrário, ou seja, a pessoa procura um corretor para comprar
um imóvel. A depender do caso, quem procurou o corretor (vendedor ou comprador) é quem deverá
pagar a comissão.

E qual valor será pago a João? Nos casos em que não houve contrato prevendo o percentual da comissão
de corretagem, como será calculado esse valor?
A solução para esses casos é dada pelo art. 724 do Código Civil:
Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será
arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais.

Não há lei estipulando o valor da comissão de corretagem na venda de imóveis. Aplica-se, portanto, os
usos e costumes. No dia-a-dia imobiliário, não havendo previsão contratual, deverá ser pago ao corretor
6% sobre o valor do imóvel urbano vendido, conforme prevê a tabela do CRECI.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Importante. Não confundir com o encargo relacionado com outras despesas (art. 490 do CC).
 Despesas feitas com a escritura e registro do bem imóvel vendido: são de responsabilidade do
COMPRADOR, salvo estipulação contratual em contrário.
 Despesas para a tradição (entrega) do bem móvel: são de responsabilidade do VENDEDOR, salvo
estipulação contratual em contrário.

DIREITOS REAIS
Direito exclusivo do pesquisador à exploração da jazida

Determinada mineradora obteve da União outorga para realizar pesquisas de viabilidade de


lavra de minérios em determinado sítio. Ocorre que um terceiro retirou do local, sem
autorização da mineradora, grande quantidade de minérios. Ao descobrir esse fato, a
mineradora ajuizou ação de indenização por danos materiais contra esse terceiro pedindo que
ele fosse condenado a pagar o valor dos minérios extraídos.
Em sua defesa, o terceiro alegou que a mineradora não teria direito à indenização,
considerando que os recursos minerais presentes no subsolo são de propriedade da União
(arts. 20, IX e 176 da CF/88). Logo, se alguém sofreu prejuízo, não foi a mineradora, mas sim a
União. Esse raciocínio está correto?
NÃO. O STJ entendeu que o terceiro que explorou clandestinamente área objeto de outorga
para pesquisa de viabilidade de lavra de minérios deve sim indenizar o particular que possuía
o direito de pesquisa e de lavra. Ainda que a União seja a proprietária exclusiva das reservas
minerais existentes no solo e subsolo, ao concessionário particular (mineradora) é garantida a
propriedade do produto de sua exploração, fazendo emergir da nossa ordem constitucional o
princípio do livre acesso aos recursos minerais. A fim de ordenar o livre acesso aos recursos
minerais, o Código de Mineração utiliza-se do direito de prioridade, e, por consequência,
assegura ao pesquisador, de forma exclusiva, a futura exploração da reserva pesquisada, bem
como a possibilidade de eventual negociação desse direito. Terceiro que explora, clandestina e
ilicitamente, a reserva pesquisada, atenta contra o direito de prioridade e causa dano direto
ao legítimo pesquisador, devendo, pois, ressarcir-lhe integralmente o prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.571-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Determinada mineradora (Mineradora Pedra Bonita Ltda.) obteve da União outorga para realizar
pesquisas de viabilidade de lavra de minérios em determinado sítio.
Ocorre que uma outra pessoa (terceiro) retirou, sem autorização da mineradora, grande quantidade de
minérios do local, ficando para si.
Ao descobrir esse fato, a mineradora ajuizou ação de indenização por danos materiais contra esse terceiro
pedindo que ele fosse condenado a pagar o valor dos minérios extraídos.
O Juiz de Direito (Justiça Estadual) julgou improcedente o pedido, alegando que a mineradora não tem
direito à indenização, considerando que as jazidas e demais recursos minerais presentes no subsolo são de
propriedade da União, nos termos dos arts. 20, IX e 176 da CF/88:
Art. 20. São bens da União:
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica
constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à
União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
Logo, segundo entendeu o magistrado, se alguém sofreu prejuízos não foi a mineradora, mas sim a União.

O STJ concordou com o entendimento da sentença?


NÃO. O STJ entendeu que o terceiro que explorou clandestinamente área objeto de outorga para pesquisa
de viabilidade de lavra de minérios deve sim indenizar o particular que possuía o direito de pesquisa e de
lavra.

Ainda que a União seja a proprietária exclusiva das reservas minerais existentes no solo e subsolo, ao
concessionário particular (mineradora) é garantida a propriedade do produto de sua exploração, fazendo
emergir da nossa ordem constitucional o princípio do livre acesso aos recursos minerais.

Nesse cenário, o Código de Mineração trouxe o importante instituto da prioridade, ou seja: cumpridas as
determinações legais, o minerador faz jus à obtenção de um título minerário, obedecida a prioridade
prevista no art. 11, “a”, do Decreto-Lei 227/67. Desse modo, para fins de fixação do direito de prioridade,
o referido dispositivo estabelece que se tomará em consideração a data do requerimento relativo à
pesquisa ou à exploração de área considerada livre. Concedido o alvará de pesquisa e verificada a
viabilidade da exploração em conclusão dos trabalhos de pesquisa, o autorizatário terá o prazo
decadencial ânuo para requerer a concessão da lavra ou negociar seu direito com terceiros (arts. 31 e 32
do Decreto-Lei 227/67, ambos com redação dada pela Lei n. 6.403/76). Daí se extrai que, uma vez
autorizada a pesquisa para fins de mineração, nasce para o autorizatário o direito subjetivo e exclusivo à
futura exploração da mina, como decorrência do direito de prioridade, durante o prazo decadencial de um
ano, contado da aprovação do relatório final da pesquisa. Portanto, fixado legalmente o direito subjetivo à
futura concessão da lavra como decorrência da autorização de pesquisa, a exploração indevida, exercida
clandestina e ilicitamente por terceiro, que não detinha nenhum título minerário, resulta em prejuízo
injusto ao legítimo autorizatário. Esse dano deve ser ressarcido.

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


Inaplicabilidade do prazo decadencial do art. 1.614 do CC para a ação de investigação de paternidade

A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo decadencial de 4 anos


estabelecido no art. 1.614 do CC/2002 aplica-se apenas aos casos em que se pretende,
exclusivamente, desconstituir o reconhecimento de filiação, não tendo incidência nas
investigações de paternidade, nas quais a anulação do registro civil constitui mera
consequência lógica da procedência do pedido.
• Ação pedindo apenas a desconstituição do reconhecimento de filiação: prazo de 4 anos.
• Ação pedindo a investigação de paternidade e a consequente desconstituição do
reconhecimento de filiação: imprescritível.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.259.703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/2/2015
(Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Lucas, 30 anos, foi registrado como sendo filho de João e Maria.
Ocorre que Lucas possui indícios de que seu pai biológico é Pedro.
Diante disso, Lucas ajuíza ação de investigação de paternidade contra Pedro pedindo que seja reconhecido
como seu pai.
Na contestação, o réu afirma que, ao pedir que ele (Pedro) seja declarado pai do autor, o que o autor
(Lucas) está fazendo, em última análise, é questionar o ato de João que reconheceu o requerente como

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


sendo seu filho. Assim, para o réu, a ação teria sido atingida pela decadência, já que é de 4 anos o prazo
para que o indivíduo questione o ato do pai que o reconheceu como sendo seu filho. Esse prazo está
previsto no art. 1.614 do CC:
Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o
reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.

A tese do réu (Pedro) está correta? O prazo de 4 anos previsto no art. 1.614 do CC aplica-se também
para a ação de investigação de paternidade?
NÃO. A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo decadencial de 4 anos estabelecido
no art. 1.614 do CC/2002 aplica-se apenas aos casos em que se pretende, exclusivamente, desconstituir o
reconhecimento de filiação, não tendo incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação
do registro civil constitui mera consequência lógica da procedência do pedido.
Desse modo, o art. 1.614 somente incide nas hipóteses em que o filho não concordou com o ato
voluntário de seu pai registral que o reconheceu como sendo seu filho e, por isso, ajuíza uma ação
questionando apenas isso (reconhecimento), sem pedir investigação de paternidade. Veja precedente do
STJ espelhando esse entendimento:
- A regra que impõe o prazo de quatro anos para impugnar o reconhecimento da paternidade constante
do registro civil só é aplicável ao filho natural que pretende afastar a paternidade por mero ato de
vontade, com o objetivo único de desconstituir o reconhecimento da filiação, sem contudo buscar
constituir nova relação.
- A decadência, portanto, não atinge o direito do filho que busca o reconhecimento da verdade biológica
em investigação de paternidade e a consequente anulação do registro com base na falsidade deste.
STJ. 3ª Turma. RESP 987.987⁄SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/08/2008.

Resumindo:
 Ação pedindo apenas a desconstituição do reconhecimento de filiação: prazo de 4 anos.
 Ação pedindo a investigação de paternidade e a consequente desconstituição do reconhecimento de
filiação: imprescritível.

UNIÃO ESTÁVEL
Inaplicabilidade da Lei 9.278/96 a situações ocorridas antes de sua vigência

ANTES da Lei 9.278/96, quando chegava ao fim uma união estável, cada companheiro somente
teria direito aos bens que contribuiu para a formação do patrimônio comum. Não havia
presunção legal de esforço comum para a partilha de bens. Ao término do relacionamento, os
bens amealhados no período eram divididos proporcionalmente ao esforço comprovado,
direto ou indireto, de cada convivente. Ainda vigorava, em parte, o raciocínio da súmula 380
do STF quanto à necessidade de provar o esforço comum.
DEPOIS da Lei 9.278/96, foi criada uma presunção legal de comunhão dos bens adquiridos a
título oneroso durante a união estável. Quando há a dissolução da união estável, para que o(a)
companheiro(a) tenha direito aos bens adquiridos durante a relação, ele(a) não precisará
provar que contribuiu para a aquisição. Com a edição desta, os bens a partir de então
adquiridos por pessoas em união estável passaram a pertencer a ambos em meação, salvo se
houver estipulação em sentido contrário ou se a aquisição patrimonial decorrer do produto de
bens anteriores ao início da união. Ficou superada a súmula 380 do STF.
Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000. Somente o
homem trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999, adquiriu uma casa e

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um sítio. Em 2000, chegou ao fim a união. As regras da Lei 9.278/96 poderão ser aplicadas
para todos os bens adquiridos durante a união (dois apartamentos, uma casa e um sítio)?
Presume-se que a mulher tenha direito aos dois apartamentos, à casa e ao sítio?
NÃO. Os bens adquiridos anteriormente à Lei 9.278⁄96 têm a propriedade - e,
consequentemente, a partilha ao fim da união - disciplinada pelo ordenamento jurídico
vigente quando respectiva aquisição. Assim, tem-se o seguinte:
• Quanto aos bens adquiridos antes da Lei 9.278/96 (dois apartamentos): aplica-se o regime
da prova do esforço comum (Súmula 380 do STF).
• Quanto aos bens adquiridos após a Lei 9.278/96 (casa e sítio): aplica-se a presunção legal de
que a mulher tem direito à meação dos bens, independentemente de prova do esforço comum.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).

Se duas pessoas vivem uma união como se fossem casadas, qual é o nome que se dá para essa relação?
A lei prevê regras para disciplinar o patrimônio desse casal?
Trata-se de uma união estável, que é prevista atualmente no art. 1.723 do CC.
O Código Civil de 2002 estabelece que, na união estável, as relações patrimoniais entre o casal obedecem
às regras do regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725). Em outras palavras, é como se as pessoas
que vivem em união estável estivessem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens.
Nessa espécie de regime, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento,
com exceção dos casos previstos no Código Civil. Dito de outro modo, os bens adquiridos durante a união
passam a ser de ambos os companheiros, salvo em algumas situações que o Código Civil determina a
incomunicabilidade.
Não é necessário que se prove o esforço em comum. Ex: João e Maria vivem em união estável, sendo que
apenas João possui trabalho remunerado. Um dia, João compra um apartamento. Esse imóvel pertence
igualmente ao casal, metade para cada um deles. Não é necessário que Maria comprove que ajudou
financeiramente na compra do bem.

Essa realidade acima sempre foi assim?


NÃO. A união estável nem sempre teve esse nome e nem sempre foi protegida com a mesma amplitude
que é atualmente. Veja rapidamente a evolução histórica do tema:

Antes da CF/88 Depois da CF/88 A partir da Lei 9.278/96


e antes da Lei 9.278/96
A “união estável” não tinha esse Abandonou-se o termo Continua sendo usado o termo
nome e era chamada de concubinato e passou-se a “união estável”.
concubinato. utilizar a nomenclatura “união A Lei n. 9.278/96 estabeleceu
O concubinato não gozava da estável”. uma presunção legal relativa de
mesma proteção porque a visão A CF/88 afirmou que a união comunhão dos bens adquiridos a
que o Direito tinha era a de que estável deve ser reconhecida título oneroso durante a união
só existia família no casamento como entidade familiar, ou seja, estável.
(entre homem e mulher). o Direito passou a tratar a união Assim, em regra, para todos os
Assim, as pessoas que viviam em estável como família. bens adquiridos durante a união
concubinato não formavam uma Quanto aos bens, cada estável, presume-se que foram
entidade familiar, mas sim uma companheiro da união estável adquiridos pelo esforço comum
“sociedade de fato” (equiparada somente continuava tendo do casal (ambos terão direitos
a uma empresa informal). direito aos bens que contribuiu iguais sobre eles). Como
Quando ocorria a dissolução da para a formação do patrimônio exceção, não haverá esta
sociedade de fato, o concubino comum. No entanto, a presunção se a aquisição se der
só ficava com os bens que ele interpretação do que fosse com o produto de bens

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


tinha contribuído (com dinheiro “contribuição para a formação adquiridos anteriormente ao
ou trabalho) para adquirir. Logo, do patrimônio comum” tornou- início da união.
se apenas o homem tivesse se mais abrangente, incluindo Quando há a dissolução da união
comprado o bem, somente ele também a solidariedade e o estável, para que o(a)
ficaria com a coisa quando apoio recíprocos no âmbito companheiro(a) tenha direito
ocorresse a dissolução. Isso familiar. aos bens adquiridos durante a
estava previsto na súmula 380 Não havia presunção legal de relação, ele(a) não precisará
do STF. esforço comum para a partilha provar que contribuiu para a
de bens. Ao final do aquisição.
relacionamento, os bens Com a edição da Lei 9.278⁄96, os
amealhados no período eram bens a partir de então
divididos proporcionalmente ao adquiridos por pessoas em união
esforço comprovado, direto ou estável passaram a pertencer a
indireto, de cada convivente. ambos em meação, salvo se
Ainda vigorava, em parte, o houver estipulação em sentido
raciocínio da súmula 380 do STF contrário ou se a aquisição
quanto à necessidade de provar patrimonial decorrer do produto
o esforço comum (o enunciado de bens anteriores ao início da
havia sido superado quanto ao união.
caráter da união estável, que Com a Lei n. 9.278/96 fica
deixou de ser concubinato e superada a súmula 380 do STF.
passou a entidade familiar).

Se uma união estável foi dissolvida antes da Lei n. 9.278/96, mas a partilha dos bens somente foi
julgada após essa Lei, ela poderá ser aplicada ao caso?
NÃO. As regras relativas ao patrimônio dos companheiros estabelecidas pela Lei n. 9.278/96 não se
aplicam às uniões estáveis dissolvidas antes de sua vigência, devendo a partilha de bens submeter-se à
prova do esforço comum (RESP 147.098/DF, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 7/8/2000).
Somente a partir do regime da Lei n. 9.278⁄96 é que se estabeleceu que os bens adquiridos na constância
da união estável por um ou pelos conviventes passariam a pertencer a ambos, em partes iguais. Apenas
com a Lei n. 9.278/96 ficou dispensada a prova da contribuição de cada companheiro(a) na formação do
patrimônio comum para poder pleitear sua divisão.
Assim, para uniões estáveis dissolvidas antes da vigência dessa Lei, ainda que tenham sido jugadas após o
novo diploma, deverão ser aplicadas as regras da prova do “esforço comum”.

Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000. Somente o homem
trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999, adquiriu uma casa e um sítio. Em 2000,
chegou ao fim a união. As regras da Lei n. 9.278/96 poderão ser aplicadas para todos os bens
adquiridos durante a união (dois apartamentos, uma casa e um sítio)? Presume-se que a mulher tenha
direito aos dois apartamentos, à casa e ao sítio?
NÃO. Os bens adquiridos anteriormente à Lei n. 9.278⁄96 têm a propriedade - e, consequentemente, a
partilha ao fim da união - disciplinada pelo ordenamento jurídico vigente quando da respectiva aquisição.
Assim, tem-se o seguinte:
 Quanto aos bens adquiridos antes da Lei n. 9.278/96 (dois apartamentos): aplica-se o regime da
prova do esforço comum (Súmula 380 do STF).
 Quanto aos bens adquiridos após a Lei n. 9.278/96 (casa e sítio): aplica-se a presunção legal de que a
mulher tem direito à meação dos bens, independentemente de prova do esforço comum.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Por que a Lei n. 9.278/96 não pode ser aplicada para os bens adquiridos antes de sua vigência?
Porque senão haveria a retroação da Lei para atingir ato jurídico perfeito e direito adquirido.
Segundo decidiu o STJ, com base nas lições de Francisco José Cahali, a titularidade dos bens se consuma no
momento da respectiva aquisição, tornando-se um ato jurídico perfeito. A pessoa que adquiriu o bem
tornou-se titular de um direito adquirido. Logo, essa aquisição, esse negócio jurídico, estará imune à nova
legislação, que não poderá retroagir para interferir nesse patrimônio.

DIREITO NOTARIAL E
REGISTRAL

TABELIONATO DE PROTESTO
Protesto do cheque após o prazo de apresentação

• O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso


deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do
chamado protesto necessário.
• O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de
apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Veja comentários em Direito Empresarial.

DIREITO DO CONSUMIDOR
VÍCIO NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS
Devolução dos valores pagos em virtude de defeitos na construção de imóvel

Havendo vícios de construção que tornem precárias as condições de habitabilidade de imóvel


incluído no Programa de Arrendamento Residencial (PAR), não configura enriquecimento sem
causa a condenação da CEF a devolver aos arrendatários que optaram pela resolução do
contrato o valor pago a título de taxa de arrendamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.227-RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação;


O Governo Federal, por meio da Lei n. 10.188/2001, lançou um programa habitacional chamado de
“Programa de Arrendamento Residencial” (PAR), que tinha como objetivo conferir moradia para
população de baixa renda, sob a forma de arrendamento residencial com opção de compra.
A Caixa Econômica Federal ficaria responsável tanto pela aquisição como pela construção dos imóveis, que
seriam arrendados por pessoas de baixa renda que pagariam prestações mensais e teriam, ao final do
contrato, a opção de comprar o imóvel.
Em um dos conjuntos residenciais desse programa, edificado na cidade de Natal (RN), as unidades
entregues aos arrendatários apresentaram diversos vícios de construção.
Diante disso, o Ministério Público Federal (por envolver a CEF e recursos da União) ajuizou ação civil
pública contra a Caixa Econômica pedindo a resolução do contrato e a devolução dos valores pagos pelos
arrendatários.
Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19
Em sua defesa, a CEF argumentou que os arrendatários moraram durante um tempo no imóvel e que,
portanto, mesmo que o contrato fosse rescindido, não haveria motivo para eles receberem de volta o
valor que pagaram, já que usufruíram da unidade habitacional por determinado período. Assim, para a
CEF, se os arrendatários tivessem o valor devolvido, isso significaria enriquecimento sem causa, já que
teriam morado de “graça” durante esse tempo nos imóveis.

A tese da CEF foi acolhida pelo STJ?


NÃO. Havendo vícios de construção que tornem precárias as condições de habitabilidade de imóvel
incluído no Programa de Arrendamento Residencial (PAR), não configura enriquecimento sem causa a
condenação da CEF a devolver aos arrendatários que optaram pela resolução do contrato o valor pago a
título de taxa de arrendamento.
A CEF, como agente-gestor do Fundo de Arrendamento Residencial, é responsável tanto pela aquisição
como pela construção dos imóveis, que permanecem de propriedade do referido fundo até que os
particulares que firmaram contratos de arrendamento com opção de compra possam exercer o ato de
aquisição no final do contrato. Assim, compete à CEF a responsabilidade pela entrega aos arrendatários de
bens imóveis aptos à moradia, respondendo por eventuais vícios de construção.
Em que pese a aquisição do imóvel arrendado configurar uma opção do arrendatário somente ao final do
período do arrendamento, o PAR tinha por objetivo resolver o problema da moradia das populações de
baixa renda, e o alcance desse objetivo, inegavelmente, ocorreria com a aquisição, ao final, do imóvel
objeto do arrendamento.
O fato de os arrendatários terem escolhido ingressar no programa (em vez de alugarem um imóvel, por
exemplo) demonstra que o objetivo era de, ao final, fazerem a opção de compra. Desse modo, o valor que
pagaram, mais do que uma simples taxa de arrendamento (“aluguel”), era, na verdade, como se já
estivessem pagando as parcelas necessárias para adquirir o imóvel.
Os arrendatários somente não continuaram pagando as prestações e optaram pela resolução do contrato
pelo fato de o imóvel ter apresentado inúmeros vícios. Assim, foi por causa da incúria (negligência) da CEF
que a aquisição do imóvel ao final do contrato não foi possível.
Desse modo, inexiste enriquecimento sem causa (arts. 884 e 885 do CC), pois há motivo para a devolução
aos arrendatários dos valores por eles despendidos para residir em imóvel que apresentou assomados
problemas decorrentes de vícios de construção.

RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada

Se a ECT não comprovar a efetiva entrega de carta registrada postada por consumidor nem
demonstrar causa excludente de responsabilidade, há de se reconhecer o direito a reparação
por danos morais in re ipsa, desde que o consumidor comprove minimamente a celebração do
contrato de entrega da carta registrada.
O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem necessidade de
comprovação do prejuízo), devendo os Correios indenizar o consumidor.
A responsabilidade civil dos Correios é objetiva (art. 37, § 6º da CF/88 e arts. 14 e 22 do CDC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2014 (Info 556).

Carta registrada
Existem dois tipos de correspondência nos Correios: as cartas simples e as cartas registradas.
A carta registrada é uma correspondência enviada pelos Correios na qual o cliente pagou por um serviço
adicional, qual seja, o aviso de recebimento.
O aviso de recebimento, mais conhecido como AR, é um serviço por meio do qual o carteiro, ao entregar a

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


correspondência, pede que o destinatário assine um comprovante de que recebeu a referida carta.
Além disso, com a carta registrada é possível que o consumidor acompanhe a tramitação da
correspondência enviada.

Se houver o extravio (perda, sumiço) da carta registrada e esta não chegar ao seu destinatário, os
Correios podem ser condenados a indenizar o cliente por danos morais?
SIM. O consumidor pode enviar uma correspondência simples ou registrada. Tendo optado por enviar
carta registrada, é dever dos Correios comprovar a entrega da correspondência, ou a impossibilidade de
fazê-lo, por meio da apresentação do aviso de recebimento ao remetente. Afinal, quem faz essa espécie
de postagem possui provável interesse no rastreamento e no efetivo conhecimento do recebimento da
carta pelo destinatário, por isso paga mais.
Portanto, se os Correios não comprovaram a efetiva entrega da carta registrada postada pelo consumidor,
que pagou tarifa especial para possibilitar o rastreamento pelo próprio órgão de postagem, deve ser
reconhecida a falha do serviço prestado, a ensejar a devida reparação por dano moral.

O que o consumidor precisa provar para receber a indenização?


Basta que o consumidor comprove, ainda que minimamente, que contratou esse serviço dos Correios, ou
seja, que enviou a carta registrada.

É necessário que o consumidor prove o dano moral, ou seja, é necessário que ele prove que a carta era
importante para ele?
NÃO. O STJ entende que esse dano moral é in re ipsa (sem necessidade de comprovação do prejuízo).

O que os Correios podem fazer para se livrar da indenização?


Os Correios somente deixarão de pagar a indenização se provarem que:
a) não houve o fato delituoso (não houve extravio);
b) ocorreu alguma causa excludente de responsabilidade.

Os Correios poderão se isentar da responsabilidade alegando que não agiram com culpa?
NÃO. Isso porque os Correios possuem responsabilidade civil objetiva tanto por força do art. 37, § 6º da
CF/88 como por conta dos arts. 14 e 22 do CDC.

DIREITO EMPRESARIAL

CHEQUE
Protesto do cheque após o prazo de apresentação

• O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso


deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do
chamado protesto necessário.
• O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de
apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Conceito
O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar
pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá
ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco
efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará
exigível sempre no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).”
(TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o
direito de receber o valor escrito no cheque.

Natureza jurídica
Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.

Legislação aplicável
O cheque é regido atualmente pela Lei n.º 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo que Eduardo
tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do pagamento Se o cheque for de praça diferente
(município onde foi assinado é o município da (município onde foi assinado é diferente do
agência pagadora). município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão do O prazo será de 60 dias se o local da emissão do
cheque (preenchido pelo emitente) for o mesmo cheque (preenchido pelo emitente) for diferente
lugar do pagamento (local da agência pagadora do lugar do pagamento (local da agência
impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-
cheque é da mesma praça (mesmo município). se que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo
(SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP) (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM)
como local da emissão. como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao
sacado, desde que não esteja prescrito.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


Então para que serve esse prazo de apresentação?
A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro do
prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os
codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o
cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de pagamento
perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de
apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n.
7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?


6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.
Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de apresentação, e não da
sua efetiva apresentação ao banco sacado.

O que é um protesto de título?


Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a
inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos
de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação?
SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde
que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de
apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de
pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” Não estou
entendendo...
Calma. A exigência de realização do protesto antes de expirado o prazo de apresentação prevista no art.
48 da Lei n. 7.357/85 é dirigida apenas ao protesto necessário, isto é, contra os coobrigados, para o
exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
Portanto, nada impede o protesto facultativo do cheque, mesmo que apresentado depois do prazo
mencionado no art. 48, c/c o art. 33, ambos da Lei n. 7.357/85. Isso porque o protesto do título pode ser
utilizado pelo credor com outras finalidades que não o ajuizamento da ação de execução do título executivo.
Findo o prazo de apresentação previsto no caput do art. 48 da Lei n. 7.357/1985, o credor tem a
faculdade de cobrar seu crédito por outros meios, sendo legítima a realização do protesto.

Resumindo:
 O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve
ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação. Trata-se do chamado protesto necessário.
 O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de
apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AÇÃO RESCISÓRIA
Valor da causa na ação rescisória

É necessário que o autor da ação rescisória atribua um valor à causa?


SIM. A ação rescisória é uma ação e, portanto, o autor, na petição inicial, deverá indicar o valor
da causa.

Qual é o critério para se atribuir o valor da causa na ação rescisória?


Em regra, o valor da causa na ação rescisória deverá ser o mesmo que foi atribuído para a ação
principal (originária), devidamente atualizado monetariamente (valor da causa da ação
originária + correção monetária).
Exceção: é possível que, mesmo o autor tendo indicado o mesmo valor da ação principal, a
parte ré impugne o valor da causa demonstrando que o benefício econômico pretendido na
rescisória está em descompasso com essa fixação (ex: provando que houve uma excepcional
valorização do bem pretendido na ação rescisória). O impugnante deverá demonstrar, com
precisão, o valor correto que entende devido para a ação rescisória, instruindo a inicial da
impugnação com os documentos necessários à comprovação do alegado.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).

Valor da causa
O autor da ação deve indicar, na petição inicial, o valor da causa (art. 282, V do CPC).
A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato (art. 258).
O valor da causa deve ser estipulado em reais.

Importância do valor da causa


A fixação do valor da causa é importante porque pode influenciar nos seguintes aspectos, além de outros:
a) determinação da competência (art. 91 do CPC);
b) definição do procedimento que será aplicado (ordinário, sumário, sumaríssimo);
c) limitação ao direito de recorrer (art. 34 da Lei nº 6.830/80);
d) dispensa de reexame necessário (art. 475, § 2º do CPC);
e) condenação dos honorários, que podem ser calculados com base no valor da causa.

Além disso, o valor da causa servirá, em regra, para determinar o quantum a ser pago como taxa judiciária.

Tipos de valor da causa


Há dois tipos de valor da causa:
• valor da causa legal: é o valor da causa calculado de acordo com um critério legal previsto no art. 259 do
CPC;
• valor da causa arbitrado pelo autor: quando não há previsão no art. 259.

Critério para o valor da causa arbitrado pelo autor


Quando o valor da causa não estiver previsto no art. 259, o valor a ser atribuído pelo autor deve
corresponder à vantagem econômica que se busca com a demanda judicial. Em outras palavras, deve ser
verificado o valor econômico do bem da vida pleiteado, sendo este o valor da causa.

É necessário que o autor da ação rescisória atribua um valor à causa?


SIM. A ação rescisória é uma ação e, portanto, o autor, na petição inicial, deverá indicar o valor da causa.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Qual é o critério para se atribuir o valor da causa na ação rescisória?
Em regra, o valor da causa na ação rescisória deverá ser o mesmo que foi atribuído para a ação principal
(originária), devidamente atualizado monetariamente (valor da causa da ação originária + correção monetária).
Exceção: é possível que, mesmo o autor tendo indicado o mesmo valor da ação principal, a parte ré impugne o
valor da causa demonstrando que o benefício econômico pretendido na rescisória está em descompasso com
essa fixação (ex: provando que houve uma excepcional valorização do bem pretendido na ação rescisória). O
impugnante deverá demonstrar, com precisão, o valor correto que entende devido para a ação rescisória,
instruindo a inicial da impugnação com os documentos necessários à comprovação do alegado.

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA


Inaplicabilidade da teoria da relativização da coisa julgada inconstitucional
para erro na fixação dos honorários advocatícios

A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da
teoria da relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que fixou
equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando
deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja
excessivo e possa prejudicar os demais credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Em uma sentença, o juiz condenou a parte vencida a pagar honorários advocatícios e os calculou na forma
do § 3º do art. 20 do CPC.
Após ter ocorrido o trânsito em julgado da decisão, percebeu-se o equívoco considerando que deveria ter
sido utilizado o § 4º do art. 20 do CPC para calcular a verba honorária.
Vale ressaltar que já havia se passado o prazo para a ação rescisória.

Diante da presente situação, indaga-se: é possível rever essa decisão aplicando-se a chamada teoria da
relativização da coisa julgada?
NÃO. A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da teoria da
relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que fixou equivocadamente os honorários
advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando deveria ter utilizado o § 4º do referido
dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os demais credores.

Teoria da relativização da coisa julgada


A jurisprudência do STJ até admite, em alguns casos, a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada,
contudo somente a aceita em situações excepcionais, nas quais a segurança jurídica, que é o seu princípio
informador, tiver que ceder espaço em favor de outros princípios ou valores mais importantes.
É o caso, por exemplo, da relativização da coisa julgada feita com o objetivo de se proteger:
 a busca da verdade real (ex: ações tratando sobre filiação nas quais a decisão transitada em julgado
conflite com resultados de exames de DNA posteriores);
 a força normativa da Constituição e a máxima eficácia das normas constitucionais (ex: nas execuções
de títulos judiciais fundados em norma declarada inconstitucional pelo STF); e
 a justa indenização (ex: ações de desapropriação que estabelecem indenizações excessivas ou
incompatíveis com a realidade dos fatos).

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25


O que se percebe na teoria em questão é a preocupação em compatibilizar a segurança jurídica, princípio
informador do instituto processual da coisa julgada, com a justiça e a constitucionalidade das decisões
judiciais, valores maiores que informariam todo o ordenamento jurídico.

Vale ressaltar, no entanto, que o mero argumento de que houve aplicação equivocada de um dispositivo
legal não enseja a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada. Afinal, magistrados não são seres
humanos infalíveis e estão, como todas as pessoas, sujeitos a erros. Ocorre que, para a correção desses
erros, a legislação confere às partes os meios cabíveis, em especial os recursos disponíveis e ação
rescisória.

É temerário e perigoso aplicar a teoria da relativização da coisa julgada para toda e qualquer sentença
errada ou injusta, o que permitiria que fosse revista a qualquer tempo, independentemente da
propositura de ação rescisória. Se isso fosse possível, haveria um enorme grau de incerteza e insegurança.

Assim, o erro decorrente da aplicação equivocada do § 3° do art. 20 do CPC, em vez do § 4° do referido


dispositivo, mesmo gerando um crédito excessivamente elevado, não tem o condão de afastar a
imutabilidade da coisa julgada, ainda que o pagamento do referido valor possa prejudicar os demais
credores concursais. Caso contrário, abrir-se-ia a possibilidade de que em todos os processos concursais
(falência, recuperação judicial, liquidação extrajudicial, concurso de credores, etc.) os créditos
representados por títulos judiciais transitados em julgado fossem casuisticamente revistos, em prejuízo,
frise-se mais uma vez, da segurança jurídica que a coisa julgada visa garantir e preservar.

RECURSO ESPECIAL
Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova
a situação jurídica já constituída antes de sua edição

Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art. 6º da Lei
de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo acórdão
recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual ensejou a
aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).

Recurso especial
Recurso especial (REsp) é um recurso previsto no art. 105, III, da CF/88, julgado pelo STJ, interposto contra
decisões proferidas em causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais
(TRF’s) ou pelos Tribunais dos Estados/DF (TJ’s) quando a decisão proferida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou
c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João ajuizou uma ação pedindo que a nova lei X (editada em 2015) fosse aplicada para um contrato que
ele mantém com Pedro.
Vale ressaltar que essa lei não diz que ela é retroativa, mas mesmo assim João alega que ela se aplica ao
contrato em vigor porque esse pacto não pode ser considerado como ato jurídico perfeito nem direito
adquirido.
O juiz julgou o pedido procedente e o TJ, ao julgar o recurso, manteve a sentença.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


O réu deseja interpor recurso contra essa decisão alegando que o acórdão do TJ violou ato jurídico
perfeito e direito adquirido.
A CF/88 prevê a inviolabilidade do ato jurídico perfeito e do direito adquirido em seu art. 5º, XXXVI:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Ocorre que a definição desses institutos está em uma lei infraconstitucional, qual seja, o Decreto-lei n.
4.657/42, a chamada LINDB, que tem status de lei federal. Veja:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como
aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a
arbítrio de outrem.

Diante disso, surge a dúvida: no caso concreto, a parte terá que interpor recurso extraordinário,
alegando que o acórdão do TJ violou o art. 5º, XXXVI, da CF/88, ou recurso especial, invocando ofensa ao
art. 6º da LINDB?
Recurso especial. Segundo decidiu o STJ, cabe recurso especial (e não recurso extraordinário) para
examinar se ofende o art. 6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação
feita pelo acórdão recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual
ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição.
A jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que não cabe recurso extraordinário por ofensa aos
princípios constitucionais da legalidade, do devido processo legal, da coisa julgada, do direito adquirido,
entre outros, se, para apreciá-la, for necessária a interpretação de legislação ordinária (AgRg no AG
135.632-RS, Primeira Turma, DJ 3/9/1999).
Duas situações são possíveis de serem imaginadas:
1) Se a lei ordinária possui uma previsão dizendo que ela é retroativa e que se aplica a fatos pretéritos:
essa lei, em tese, viola diretamente o art. 5º, XXXVI, da CF/88, sendo cabível recurso extraordinário.
2) Se a lei ordinária não diz que é retroativa e cabe ao intérprete decidir se a lei nova se aplica ou não a
determinada relação jurídica existente quando de sua edição: a questão será infraconstitucional porque irá
depender da análise dos conceitos de ato jurídico perfeito e coisa julgada, definições que são fornecidas
pelo art. 6º da LINDB. Logo, caberá recurso especial.

RECURSO ESPECIAL
Não cabe REsp por violação de súmula

Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso
especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).

Recurso especial
Recurso especial (REsp) é um recurso previsto no art. 105, III, da CF/88, julgado pelo STJ, interposto contra
decisões proferidas em causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais
(TRF’s) ou pelos Tribunais dos Estados/DF (TJ’s) quando a decisão proferida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou
c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27


Hipóteses
As hipóteses de cabimento do recurso especial estão previstas na própria CF/88.
Veja a primeira hipótese, trazida pelo art. 105, III, “a”:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
(...)
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

Para os fins do art. 105, III, “a”, o que se entende por “lei federal”?
A expressão “lei federal” é interpretada em sentido amplo e abrange:
a) Lei complementar federal/nacional;
b) Lei ordinária federal/nacional;
c) Lei delegada federal/nacional;
d) Decreto-lei federal/nacional;
e) Medida provisória federal/nacional;
f) Decreto autônomo federal/nacional.

Quando a pessoa interpõe recurso especial e fundamenta no art. 105, III, “a”, da CF/88, ela deverá indicar,
de forma individualizada, o dispositivo da “lei federal” que foi violado. Se não o fizer, o REsp não será
conhecido. “A ausência de indicação de dispositivo de lei federal que teria sido violado pelo acórdão
recorrido ou interpretado de forma divergente pelos tribunais, torna o recurso especial interposto com
base nas alíneas ‘a’ e ‘c’ do permissivo constitucional deficiente em sua fundamentação. Incidência, por
analogia, da Súmula 284/STF.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 635.592/SP, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 24/02/2015).

Conforme explicam Fredie Didier e Leonardo da Cunha (p. 329), os demais atos, diplomas ou instrumentos
normativos, uma vez desatendidos, não são objeto de análise em recurso especial. Assim, NÃO cabe
recurso especial por ofensa a:
a) Portaria;
b) Instrução normativa;
c) Resolução;
d) Decreto-legislativo;
e) Parecer normativo.

“(...) o recurso especial não constitui via adequada para análise de interpretação de resoluções, portarias
ou instruções normativas, por não estarem tais atos normativos compreendidos na expressão ‘lei federal’,
constante da alínea ‘a’ do inciso III do art. 105 da Constituição Federal.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp
1494995/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/02/2015).

Também não cabe recurso especial se a norma violada for estadual ou municipal.

Cabe recurso especial por violação a regimento interno de tribunal?


NÃO. Não cabe recurso especial por violação de lei federal, quando a ofensa alegada for a regimento de
tribunal. Esse tema foi pacificado há muitos anos com a edição da Súmula 399 do STF (época em que ainda
nem havia STJ nem recurso especial).
Assim, é “inviável a análise, em recurso especial, do preceito regimental, pois não se enquadra no conceito de
lei federal, por aplicação analógica da Súmula 399/STF” (STJ. REsp 1316889/RS, julgado em 19/09/2013).

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28


Cabe recurso especial, com base no art. 105, III, “a”, por violação a súmula? A pessoa pode interpor recurso
especial, com fundamento no art.105, III, “a”, alegando que o acórdão do TJ/TRF violou uma súmula?
NÃO. Para fins do art. 105, III, “a”, da Constituição Federal, não é cabível recurso especial fundado em
alegada violação de enunciado de súmula.

Por quê?
O motivo é muito singelo: súmula não é lei. Súmula é enunciado que expressa o entendimento
consolidado do Tribunal sobre determinado tema. Não pode ser considerada como um “ato normativo”.
Em resumo, o conceito de súmula não se enquadra na definição de lei federal, não podendo a ela ser
equiparada.

Até aqui, tudo bem, você já entendeu a súmula 518. Vamos agora avançar e aprofundar em um aspecto
de ordem prática. O que a parte prejudicada deverá fazer se o acórdão do TJ ou TRF contrariar o
entendimento exposto em uma súmula do STJ?
Uma súmula do STJ nada mais é do que a intepretação que este Tribunal deu para determinada lei federal.
Logo, se o acórdão do TJ ou TRF afronta entendimento exposto em súmula do STJ, isso significa que, em
última análise, essa decisão viola a intepretação que o STJ deu para aquele tema.
Assim, neste caso, a parte prejudicada deverá interpor recurso especial alegando que o acórdão do TJ ou
TRF, ao decidir daquele modo, contrariou não a súmula (porque aí não caberá REsp), mas sim que a
decisão violou o art. XX da Lei Federal XX (cuja intepretação deu origem àquela súmula).
Exemplo: no acórdão, o TJ afirmou que as regras do CDC não se aplicam para os contratos de plano de
saúde. O STJ possui um enunciado que diz o contrário (Súmula 469: Aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos de plano de saúde). Se a parte prejudicada interpuser recurso especial alegando
que o acórdão violou a súmula 469, ele nem será conhecido. Dessa forma, a parte deverá interpor o REsp
aduzindo que o TJ contrariou o art. 3º da Lei federal n. 8.078/90. Isso porque o STJ editou a Súmula 469
com base na interpretação dada a esse dispositivo legal.

Fredie Didier e Leonardo da Cunha explicam o tema com mais técnica e elegância:
“Não cabe, entretanto, recurso especial, com base na letra “a”, por ter havido suposto desrespeito a
entendimento jurisprudencial ou sumular do próprio STJ. Na verdade, a jurisprudência firma orientação a
respeito da interpretação a ser conferida a dispositivos legais. O que se permite é que, no recurso especial,
se demonstre que o dispositivo foi interpretado pelo tribunal de origem diferentemente do STJ. Em outras
palavras, a jurisprudência do STJ não foi seguida, exatamente porque determinado dispositivo foi
interpretado diferentemente da orientação por ele ministrada. Logo, deve o recurso especial apontar
violação ao respectivo dispositivo legal, e não à jurisprudência ou ao enunciado da súmula do STJ.” (p.
330).

Concursos
Súmula muito importante para todos os concursos.

Obra citada:
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. Salvador:
Juspodivm, 2013.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 29


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Cabimento de honorários advocatícios se não houve pagamento voluntário

Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou


não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a
intimação do advogado da parte executada.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).

Cumprimento de sentença
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:
a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Imagine a seguinte situação hipotética:


“A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”.
O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”.
“B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.

O que acontece agora?


“A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.

O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em
julgado da decisão.
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo
discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS).
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz?


O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias, sob pena do
valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J do CPC.

Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, é contado a partir de quando?


A multa de 10% prevista no artigo 475-J depende de intimação prévia do devedor, ainda que na pessoa de
seu patrono.
Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para
começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação.

A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o
próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicação na imprensa
oficial?
Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do advogado do devedor,
por meio de publicação na imprensa oficial.

Essa multa pode ser aplicada em caso de execução provisória ou somente se houver trânsito em
julgado?
Essa multa é própria da execução definitiva, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do
CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30


Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15 dias, o que
acontecerá em seguida?
1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%;
2) o credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e
requerendo a expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para
satisfação do crédito. Neste momento, inicia-se a execução forçada do título, diante do não
cumprimento espontâneo.

Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor?


Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação.

Há condenação de honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença? Em outras palavras, o


devedor pode ser condenado a pagar novos honorários advocatícios de sucumbência?
SIM. É cabível o arbitramento de honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença.
Os honorários advocatícios fixados na sentença remuneram o trabalho desenvolvido pelo advogado na
fase de conhecimento.
Como é necessário que o credor faça um requerimento, por meio de advogado, para que seja dado início à
fase de cumprimento de sentença, além de acompanhar toda a tramitação, o STJ entendeu que caberá a
condenação do devedor ao pagamento de novos honorários advocatícios de sucumbência, salvo se ele
decidir cumprir voluntariamente a obrigação.
Assim, se o credor iniciar a fase de cumprimento de sentença e o devedor, sendo intimado para pagar em
15 dias, efetuar o pagamento, não haverá condenação em honorários.
Por outro lado, se o devedor for intimado para pagar, e não o fizer no prazo, será multado em 10% e ainda
terá que pagar, ao final, honorários advocatícios de sucumbência ao advogado do credor.

Para que haja condenação em honorários, é necessário que o devedor tenha apresentado impugnação?
NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou
o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%.
Os honorários são devidos depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a
intimação do advogado da parte executada.

Resumindo:
 Se o credor inicia o cumprimento de sentença, o devedor é intimado e paga dentro do prazo de 15
dias, isso é considerado pelo STJ como sendo pagamento espontâneo do devedor.
 Em outras palavras, há pagamento espontâneo do devedor que, intimado a fazê-lo, cumpre a
determinação dentro do prazo de 15 dias previsto no art. 475-J do CPC.
 “Na fase de cumprimento de sentença, o devedor deverá ser intimado, na pessoa de seu advogado,
mediante publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, a
partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir a multa de 10% (dez por cento) sobre o
montante da condenação (art. 475-J do CPC).” (STJ. Corte Especial. REsp 1.262.933⁄RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 19⁄6⁄2013).
 Não há que se falar em cobrança de honorários advocatícios quando há cumprimento espontâneo da
obrigação. Assim, havendo o adimplemento espontâneo do devedor no prazo fixado no art. 475-J do
CPC, não são devidos honorários advocatícios, uma vez que foi desnecessária a prática de quaisquer
atos para obrigar o devedor a pagar (STJ. 4ª Turma. REsp 1.264.272/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 15/5/2012).
 Por outro lado, se o devedor foi intimado e passou o prazo de 15 dias sem que ele pagasse, a partir daí
já são cabíveis honorários advocatícios, haja ou não impugnação.
 São cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença, haja ou não impugnação,

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31


depois de escoado o prazo para pagamento voluntário a que alude o art. 475-J do CPC, que somente
se inicia após a intimação do advogado, com a baixa dos autos e a aposição do "cumpra-se" (STJ. Corte
Especial. REsp 1134186/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/08/2011. Recurso repetitivo).

Súmula 519 do STJ


O presente enunciado é complementado pela Súmula 519 do STJ, que possui a seguinte redação:
Súmula 519-STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis
honorários advocatícios.

Em uma leitura mais rápida, a Súmula 519 parece contradizer o enunciado 517, mas isso não é verdade.
Confira os comentários à Súmula 519 para entender melhor.

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Súmula muito importante para todos os concursos.

IMPUGNAÇÃO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


Não cabimento de honorários advocatícios na impugnação

Súmula 519-STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são


cabíveis honorários advocatícios.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:
c) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
d) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Imagine a seguinte situação hipotética:


“A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”.
O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”.
“B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.

O que acontece agora?


“A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.

O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em
julgado da decisão.
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo
discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS).
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz?


O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias, sob pena do
valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J do CPC.

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Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, é contado a partir de quando?
A multa de 10% prevista no artigo 475-J depende de intimação prévia do devedor, ainda que na pessoa de
seu patrono.
Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para
começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação.

A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o
próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicação na imprensa
oficial?
Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do advogado do devedor,
por meio da publicação na imprensa oficial.

Essa multa pode ser aplicada em caso de execução provisória ou somente se houver trânsito em
julgado?
Essa multa é própria da execução definitiva, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do
CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).

Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15 dias, o que
acontecerá em seguida?
1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%;
2) o credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e
requerendo a expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para
satisfação do crédito. Neste momento, inicia-se a execução forçada do título, diante do não
cumprimento espontâneo.

Há condenação de honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença? Em outras palavras, o


devedor pode ser condenado a pagar novos honorários advocatícios de sucumbência?
SIM. Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não
impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do
advogado da parte executada.

Para que haja condenação em honorários, é necessário que o devedor tenha apresentado impugnação?
NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou
o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%.

IMPUGNAÇÃO
Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor?
Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação.

Qual é a natureza jurídica da impugnação? Possui natureza jurídica de ação?


NÃO. Para o STJ, trata-se de mero incidente processual (REsp 1134186/RS). Obs: existem posições
diferentes na doutrina.

Para que o devedor apresente impugnação é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário que
haja penhora, depósito ou caução?
SIM. A garantia do juízo constitui condição para a própria apresentação de impugnação ao cumprimento
de sentença, e não apenas para sua apreciação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013 (Info 526).

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 33


Vamos agora voltar ao nosso exemplo:
“A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”.
O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”.
“B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.
“A” ingressou com uma petição requerendo ao juízo o cumprimento da sentença.
O juízo determinou a intimação do devedor, na pessoa de seu advogado.
Passaram-se os 15 dias e o devedor não fez o pagamento voluntário.
Isso significa que, a partir de agora, o credor terá, em tese, direito aos honorários advocatícios decorrentes
do cumprimento de sentença já que não houve pagamento voluntário.
O credor formula petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e requerendo a
expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor.
O juízo consegue penhorar um prédio do devedor no valor de 2 milhões de reais.
Tendo havido penhora, considera-se que o juízo está garantido e, diante disso, o devedor oferece
impugnação ao cumprimento de sentença.
A impugnação é julgada improcedente (rejeitada).
O credor pede, então, que o devedor seja condenado a pagar, além dos honorários advocatícios já fixados
em virtude de ele não ter feito o pagamento voluntário (cumprimento de sentença – Súmula 517), outro
percentual de honorários por causa do fato de o executado ter perdido a impugnação proposta.
Em outras palavras, o credor pediu X% de honorários advocatícios por força do cumprimento de sentença
mais Y% de honorários por causa da impugnação rejeitada.

A tese do credor é aceita pelo STJ? Se a impugnação oferecida pelo devedor é julgada improcedente, o
devedor terá que pagar, por causa disso, novos honorários advocatícios (além dos que já deverá pagar
por força do cumprimento de sentença ter se iniciado)?
NÃO. Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis novos
honorários advocatícios. Dito de outro modo: o devedor não terá que pagar novos honorários advocatícios
pelo fato de ter perdido a impugnação (obs: esse devedor continuará tendo que pagar honorários
advocatícios por não ter pago voluntariamente a obrigação, ou seja, terá que pagar honorários
advocatícios por causa do cumprimento de sentença).

E se a impugnação oferecida pelo devedor for julgada procedente, haverá condenação em honorários?
SIM. Se a impugnação for julgada procedente o credor será condenado a pagar honorários advocatícios em
favor do devedor.
Em suma:
 Se a impugnação é rejeitada: NÃO cabem novos honorários advocatícios.
 Se a impugnação é acolhida (ainda que parcialmente): serão arbitrados honorários em benefício do
executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC.

Relação entre as súmulas 517 e 519


Não se pode confundir o raciocínio das Súmulas 517 e 519. Elas não são contraditórias. Ao contrário,
completam-se:
A SITUAÇÃO GERA
SITUAÇÃO FUNDAMENTO
HONORÁRIOS?
No cumprimento de sentença, devedor
Súmula 517-STJ
é intimado e não faz o pagamento
SIM O devedor deu causa ao início da
voluntário no prazo de 15 dias. Não
execução forçada.
interessa se houve ou não impugnação.
Devedor apresenta impugnação e esta é Súmula 519-STJ
NÃO
rejeitada. O devedor, ao apresentar impugnação,

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 34


iniciou um mero incidente no processo,
sendo isso insuficiente para gerar novos
honorários. Ele continua tendo que pagar
os honorários por causa do cumprimento
de sentença.
Devedor apresenta impugnação e esta é
SIM STJ. REsp 1.134.186/RS (recurso repetitivo).
acolhida (ainda que parcialmente).

Veja o REsp repetitivo que foi o principal precedente que originou a súmula:
(...) 1.1. São cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença, haja ou não
impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário a que alude o art. 475-J do CPC, que
somente se inicia após a intimação do advogado, com a baixa dos autos e a aposição do "cumpra-se"
(REsp. n.º 940.274/MS).
1.2. Não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença.
1.3. Apenas no caso de acolhimento da impugnação, ainda que parcial, serão arbitrados honorários em
benefício do executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC.
2. Recurso especial provido.
STJ. Corte Especial. REsp 1134186/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/08/2011.

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PROCESSO COLETIVO
Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC

Importante!!!
O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de
advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
• ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
• ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
• na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros
tipos de ação (como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a impugnação ao valor
da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).

Determinada associação ajuizou ação civil pública buscando a defesa de direitos dos consumidores.
Antes de ajuizar a ação, essa associação precisará recolher as custas processuais?
NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o autor da ACP de
adiantar as custas processuais. Isso está previsto tanto no art. 18 da Lei n. 7.347/85 como no art. 87 do
CDC. Veja:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé,
em honorários de advogado, custas e despesas processuais.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 35


Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorário de advogados, custas e despesas processuais.

Imagine agora que essa ACP tenha sido julgada improcedente e tenha transitado em julgado. A
associação não desiste e resolve propor uma ação rescisória. Antes de ajuizar a rescisória, a associação
precisará recolher as custas processuais?
SIM. O STJ decidiu que não é possível estender a regra de isenção prevista no art. 18 da Lei n. 7.347/85
(LACP) e no art. 87 da Lei 8.078/1990 (CDC) para outras ações ou incidentes processuais que não estejam
previstos nos referidos artigos. Isso porque a regra contida nos referidos dispositivos legais – que isenta o
autor de ações civis públicas e de ações coletivas do adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas –, por ser regra de isenção tributária, deve ser interpretada
restritivamente (art. 111 do CTN).
As custas judiciais têm natureza tributária (são classificadas como taxas de serviço). Logo, aplica-se a elas a
regra do art. 111, II do CTN:
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:
II - outorga de isenção;

Assim, o STJ entendeu que as regras de isenção dos arts. 18 da LACP e 87 do CDC só se aplicam para as
custas judiciais em:
 ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
 ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
 na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).

Não é possível aplicar, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros tipos de ação,
como a rescisória, ou para incidentes processuais (como a impugnação ao valor da causa), mesmo que
tratem sobre direito do consumidor.

DIREITO PENAL

ROUBO
Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa, mas subtração de um só patrimônio

Importante!!!
Atenção! Defensoria Pública
No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio,
estará configurado apenas um crime, ainda que, no modus operandi (modo de execução), seja
utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado
pretendido. Ex: Maria estava saindo do banco, acompanhada de seu segurança. João, de arma
em punho, deu uma coronhada no segurança, causando lesão leve, e subtraiu a mala que
pertencia a Maria. O agente praticou um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo
(art. 157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.490.894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/2/2015
(Info 556).

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 36


Imagine a seguinte situação hipotética:
Maria, rica empresária, estava saindo do banco, acompanhada de seus dois seguranças, carregando uma
mala de dinheiro que havia sacado.
João, experiente ladrão, aproximou-se do trio e, de arma em punho, deu uma coronhada em um dos
seguranças, causando lesão leve, e ameaçou o outro, mandando que ele corresse.
Ato contínuo, João subtraiu a mala da empresária e fugiu do local sem ser incomodado.

Quantos crimes o agente cometeu?


Um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º, I do CP).
No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio, estará
configurado apenas um crime, ainda que, no modus operandi (modo de execução), seja utilizada violência
ou grave ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado pretendido.
“Se o agente utiliza grave ameaça ou violência (própria ou imprópria) simultaneamente contra duas ou
mais pessoas, mas subtrai bens pertencentes a apenas uma delas, responde por um só crime de roubo”.
(MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª ed., São Paulo: Método, 2014).

Por quê?
O roubo é um crime contra o patrimônio. Logo, para o STJ, se a intenção do agente foi direcionada à
subtração de um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, para a sua execução,
seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa.

E a lesão leve praticada contra o segurança?


Fica absorvida pelo crime mais grave (roubo). Aplica-se o princípio da consunção. Vale ressaltar, no
entanto, que esse fato poderá ser considerado como circunstância judicial negativa na 1ª fase da
dosimetria da pena.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168-A DO CP)


Efeitos da suspensão da exigibilidade de crédito tributário na prescrição da pretensão punitiva

Importante!!!
A prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-
A do CP) permanece suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa
em razão de decisão de antecipação dos efeitos da tutela no juízo cível. Isso porque a decisão
cível acerca da exigibilidade do crédito tributário repercute diretamente no reconhecimento
da própria existência do tipo penal, visto ser o crime de apropriação indébita previdenciária
um delito de natureza material, que pressupõe, para sua consumação, a realização do
lançamento tributário definitivo.
STJ. 5ª Turma. RHC 51.596-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015 (Info 556).

Apropriação indébita previdenciária


O delito de apropriação indébita previdenciária encontra-se previsto no art. 168-A do Código Penal, nos
seguintes termos:
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo
e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 37


A apropriação indébita previdenciária é uma espécie de crime tributário?
SIM. Normalmente, imagina-se que os crimes contra a ordem tributária são apenas aqueles previstos nos
arts. 1º e 3º da Lei nº 8.137/90. Trata-se de um engano. Além dos delitos previstos nesse diploma, existem
também crimes tributários tipificados no Código Penal, dentre eles a apropriação indébita previdenciária.

A apropriação indébita previdenciária é um crime tributário material? Para que haja a consumação do
delito é necessária a constituição definitiva do crédito tributário? Aplica-se a SV 24-STF?
SIM. A apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) é crime omissivo material (e não formal), de
modo que, por força do princípio da isonomia, aplica-se a ele também a SV 24 (STJ. 6ª Turma. HC
270.027/RS, julgado em 05/08/2014). Assim, para a sua consumação, é indispensável o prévio
exaurimento da via administrativa em que se discute a exigibilidade do tributo. Em outras palavras, é
necessário que, no âmbito administrativo-fiscal, a questão já tenha sido definitivamente julgada e haja
uma certeza de que o tributo é realmente devido. Relembre o que diz a SV 24-STF:
SV 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei
nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Desse modo, a apropriação indébita previdenciária também é crime material, exigindo, para sua
consumação, a ocorrência de resultado naturalístico consistente em dano para a Previdência (o que é
demonstrado por meio da constituição definitiva do crédito tributário, no qual fica patente que o
contribuinte está realmente devendo a contribuição previdenciária, que é uma espécie de tributo).

Imagine agora a seguinte situação:


João, empresário, foi autuado pela Receita Federal, por ter deixado de repassar, em 2008, à Previdência
Social as contribuições previdenciárias recolhidas de seus empregados. Após todo o processo
administrativo-fiscal, no qual o contribuinte teve ampla defesa, a autuação foi julgada válida e houve a
constituição definitiva do crédito tributário em abril/2010.
Vale ressaltar que, somente a partir do lançamento definitivo do tributo (abril/2010) é que o Ministério
Público Federal poderia denunciar João por apropriação indébita previdenciária, nos termos da SV 24-STF.
Importante também destacar que apenas nesta data (abril/2010) é que o prazo prescricional para punir o
crime de apropriação indébita previdenciária começou a correr.
Ocorre que, em junho/2010, João ajuizou uma ação ordinária, na Justiça Federal, questionando a
constituição definitiva do crédito tributário, alegando que houve vícios no processo fiscal. O juiz concedeu
tutela antecipada determinando que a exigibilidade do crédito tributário deveria ficar suspensa. Em outras
palavras, o magistrado, em cognição sumária, entendeu que os argumentos do autor eram pertinentes e
que, por isso, enquanto não fosse julgada definitivamente a ação cível, o tributo não poderia ser exigido.

Enquanto estiver em vigor a decisão na tutela antecipada, a Fazenda Pública poderá ajuizar execução
fiscal cobrando a dívida tributária de João?
NÃO. O juiz, na ação cível proposta pelo contribuinte, determinou, em tutela antecipada, que a
constituição definitiva não foi válida. Logo, a exigibilidade do crédito tributário está suspensa (art. 151, V,
do CTN).

Enquanto estiver em vigor a decisão na tutela antecipada, o MPF poderá denunciar João pelo crime de
apropriação indébita previdenciária?
NÃO. A jurisprudência entende que, enquanto não houver constituição definitiva do crédito tributário, não
haverá o crime tributário material. Se existe uma decisão judicial, ainda que provisória, afirmando que a
constituição definitiva não é válida, seria temerário ajuizar a ação penal com base nesta autuação. Por
isso, a jurisprudência entende que a decisão cível que questiona a exigibilidade do crédito tributário
repercute diretamente no reconhecimento da própria existência do tipo penal.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 38


Enquanto estiver em vigor a decisão na tutela antecipada, o prazo prescricional do crime de apropriação
indébita previdenciária estará correndo em favor de João? Se o processo cível durar 12 anos, por
exemplo, pode-se dizer que estará prescrito o crime?
NÃO. A prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP)
permanece suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa em razão de decisão de
antecipação dos efeitos da tutela no juízo cível. Ora, se a exigibilidade do crédito tributário está suspensa e
não é possível que o Ministério Público ajuíze a ação penal, logo, deve-se concluir que o prazo prescricional
não pode estar correndo, já que o Estado-acusação não está sendo inerte por vontade própria.

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


Extinção da punibilidade pelo pagamento integral de débito

Importante!!!
Atualize seu livro de 2013
Nos crimes tributários materiais (ex: apropriação indébita previdenciária), o pagamento
integral do débito tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito em julgado,
interfere na condenação?
SIM. O pagamento integral do débito tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito
em julgado, acarreta a extinção da punibilidade com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003.

E se o pagamento integral ocorrer após o trânsito em julgado, mesmo assim haveria a extinção
da punibilidade?
NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário após o trânsito
em julgado da sentença condenatória NÃO acarreta a extinção da punibilidade.
O art. 9º da Lei 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida antes
do trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão punitiva
do Estado. Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de
punir (fixar sanção). Começa, a partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um
instituto diferente.
STJ. 6ª Turma. HC 302.059-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação:


O réu foi condenado pela prática dos delitos de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, § 1º, I do
CP) e de sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A, III do CP).
Ocorre que, quatro dias após a condenação (antes do trânsito em julgado), o réu pagou integralmente o
débito tributário devido no caso.

Esse pagamento irá influenciar na condenação? O pagamento integral do débito tributário feito após a
condenação (antes do trânsito em julgado) interfere na condenação?
SIM. O pagamento integral do débito tributário feito após a condenação (antes do trânsito em julgado)
acarreta a extinção da punibilidade. Segundo decidiu o STF (AP 516 ED/DF), o pagamento integral do
débito fiscal realizado pelo réu, mesmo após a condenação do acusado, é causa de extinção de sua
punibilidade, conforme previu o art. 9º, § 2º da Lei n. 10.684/2003 (que continua em vigor mesmo com o
advento da Lei n. 12.382/2011):
Art. 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 39


1940 - Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
estiver incluída no regime de parcelamento.
(...)
§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com
o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive
acessórios.

Lei n. 12.382/2011


Em 2011, foi editada a Lei n. 12.382, que alterou o art. 83 da Lei n. 9.430/96 e passou a dispor sobre os
efeitos do parcelamento e do pagamento dos créditos tributários no processo penal. Veja o que diz a Lei:
Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos
arts. 1º e 2º da Lei n. 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social,
previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a
exigência fiscal do crédito tributário correspondente. (Redação dada pela Lei nº 12.350/2010)
(...)
§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período
em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída
no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da
denúncia criminal. (Incluído pela Lei 12.382/2011)
§ 3º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. (Incluído pela Lei
12.382/2011)

§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive
acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011)

O que estabeleceu a Lei n. 12.382/2011?


No caso dos seguintes delitos:
 crimes contra a ordem tributária (arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90);
 apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP); e
 sonegação previdenciária (art. 337-A do CP):

Caso o agente ingresse no regime de parcelamento dos débitos tributários: fica suspensa a pretensão
punitiva penal do Estado (o processo criminal fica suspenso).

Caso o agente pague integralmente os débitos: haverá extinção da punibilidade.

Até aqui, a Lei n. 12.382/2011 disciplinou o tema de forma semelhante ao que já fazia a Lei n.
10.684/2003 acima exposta.

No que a Lei n. 12.382/2011 foi diferente da Lei n. 10.684/2003?

Lei n. 10.684/2003 Lei n. 12.382/2011


(art. 9º) (alterou o art. 83 da Lei n. 9.430/96)
Pela Lei n. 10.684/2003, o pedido de Pela Lei n. 12.382/2011, o pedido de
parcelamento e o pagamento integral dos débitos parcelamento e o pagamento integral dos débitos
irão produzir efeitos no processo penal mesmo somente irão produzir efeitos no processo penal
que a denúncia já tenha sido recebida. se tiverem sido formalizados antes do

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 40


recebimento da denúncia criminal.
Na verdade, o pagamento integral do débito irá Assim, pela redação literal do dispositivo, se o
ocasionar a extinção da punibilidade mesmo que pagamento integral ocorrer após a denúncia ter
já tenha sido proferida sentença condenatória. sido recebida, não haverá extinção da
punibilidade.
Art. 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, Art. 83 (...)
referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da § 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado
Lei n. 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos referente aos crimes previstos no caput, durante o
arts. 168A e 337A do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 período em que a pessoa física ou a pessoa
de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o jurídica relacionada com o agente dos aludidos
período em que a pessoa jurídica relacionada com crimes estiver incluída no parcelamento, desde
o agente dos aludidos crimes estiver incluída no que o pedido de parcelamento tenha sido
regime de parcelamento. formalizado antes do recebimento da denúncia
criminal.

Veja que não há nenhuma exigência de que o Veja que há exigência de que o pedido de
parcelamento ocorra antes do recebimento da parcelamento tenha sido formalizado antes do
denúncia. recebimento da denúncia.
§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes § 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes
referidos neste artigo quando a pessoa jurídica referidos no caput quando a pessoa física ou a
relacionada com o agente efetuar o pagamento pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar
integral dos débitos oriundos de tributos e o pagamento integral dos débitos oriundos de
contribuições sociais, inclusive acessórios. tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido
objeto de concessão de parcelamento.

A redação do § 4º é um pouco confusa, mas, em


resumo, o que ele diz é o seguinte: extingue-se a
punibilidade quando ocorre o pagamento integral
dos débitos que tenham sido objeto de
parcelamento.

Tudo bem! Vale lembrar, no entanto, que o § 2º


afirma que o processo criminal só fica suspenso se
o parcelamento ocorre antes do recebimento da
denúncia.
Em outras palavras, se o parcelamento ocorre
depois do recebimento da denúncia, o processo
criminal prossegue normalmente e pode ser que o
réu seja condenado mesmo com o débito
parcelado.

Obs.: a Lei n. 12.382/2011, ao tratar sobre


extinção da punibilidade, caracteriza-se como lei
penal e, sendo desfavorável ao réu, não se aplica a
fatos ocorridos antes de sua vigência.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 41


Resumindo:
O art. 9º da Lei n. 10.684/2003 continua em vigor?
SIM. O pagamento do tributo, a qualquer tempo, extingue a punibilidade do crime tributário. O art. 9º da
Lei n. 10.684/2003 não foi revogado e continua em vigor. Ao contrário das Leis 11.941/2009 e
12.382/2011, a Lei n. 10.684/2003 trata de pagamento direto (e não de pagamento após parcelamento).
Assim, o pagamento integral implica a extinção da punibilidade por força do § 2º do art. 9º da Lei
10.684/2003.

E se o pagamento integral tivesse ocorrido após o trânsito em julgado, mesmo assim haveria a extinção
da punibilidade?
O STJ entendeu que NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário após o
trânsito em julgado da sentença condenatória NÃO acarreta a extinção da punibilidade.
Segundo decidiu o STJ, o art. 9º da Lei n. 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento
da dívida antes do trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão
punitiva do Estado.
Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção).
Começa, a partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um instituto diferente.
Repito: o art. 9º da Lei n. 10.684/2003 fala em extinção da PUNIBILIDADE. Esse artigo somente poderia
ser aplicado após o trânsito em julgado se ele falasse em extinção da punibilidade e da EXECUTORIEDADE.

Resumindo:
 Pagamento integral antes da condenação: extingue a punibilidade do crime.
 Pagamento integral depois da condenação, mas antes do trânsito em julgado: extingue a punibilidade
do crime.
 Pagamento integral depois do trânsito em julgado: NÃO irá interferir no crime. A condenação persiste.
Isso porque a punição já foi imposta e o art. 9º não fala em extinção da pretensão executória.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Validade de atos processuais praticados antes
de causa superveniente de modificação da competência

No caso em que, após iniciada a ação penal perante determinado juízo, ocorra modificação da
competência em razão da investidura do réu em cargo que atraia foro por prerrogativa de
função, serão válidos os atos processuais – inclusive o recebimento da denúncia – realizados
antes da causa superveniente de modificação da competência, sendo desnecessária, no âmbito
do novo juízo, qualquer ratificação desses atos, que, caso ocorra, não precisará seguir as
regras que deveriam ser observadas para a prática, em ação originária, de atos equivalentes
aos atos ratificados.
Ex: o réu foi denunciado pelo Promotor, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª
instância. O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito Prefeito. Diante
disso, foi declinada a competência para que o TJ julgasse a causa. No Tribunal, o processo teve
prosseguimento e o réu foi condenado. Nesse caso, quando o processo chegou ao TJ, não se
fazia necessária a ratificação da denúncia e dos atos praticados pelo juízo. Isso porque não se
tratam de atos nulos, mas sim válidos à época em que praticados, cabendo ao Tribunal apenas
prosseguir no julgamento do feito a partir daquele instante.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 42


STJ. 6ª Turma. HC 238.129-TO, Rel. originária Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/9/2014 (Info 556).
STJ. 5ª Turma. HC 202.701-AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013 (Info 522).

Imagine a seguinte situação:


O réu foi denunciado pelo Promotor de Justiça, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª instância.
O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito Prefeito.
Diante disso, considerando que os prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de
Justiça (art. 29, X da CF/88), o juiz de 1ª instância declinou da competência a partir do momento da
diplomação.
No TJ, o processo teve prosseguimento e o réu foi condenado.
Após a condenação, a defesa alegou que houve nulidade, tendo em vista que o Procurador-Geral de
Justiça, que atuou no processo no TJ, precisaria ter ratificado a denúncia quando o processo foi para lá
deslocado.

O STJ concordou com esse argumento?


NÃO. No caso em que, após iniciada a ação penal perante determinado juízo, ocorra modificação da
competência em razão da investidura do réu em cargo que atraia foro por prerrogativa de função, serão
válidos os atos processuais – inclusive o recebimento da denúncia – realizados antes da causa
superveniente de modificação da competência, sendo desnecessária, no âmbito do novo juízo, qualquer
ratificação desses atos, que, caso ocorra, não precisará seguir as regras que deveriam ser observadas para
a prática, em ação originária, de atos equivalentes aos atos ratificados.
Reconhecida a incompetência, a posteriori, de determinado juízo, deve o processo ser encaminhado ao
juízo competente, que pode aproveitar os atos já praticados.
A ratificação de atos processuais é uma providência necessária quando o ato foi praticado por autoridade
incompetente. Não se trata, contudo, do caso aqui analisado, em que, após iniciada a ação penal, ocorre
modificação da competência em razão da investidura, pelo réu, no curso do processo, em cargo que atraia
foro por prerrogativa de função.
Nesse caso, devem ser mantidos íntegros todos os atos processuais até então praticados em atenção ao
princípio do tempus regit actum, uma vez que, no momento em que os atos foram praticados, o juiz era
competente para tanto. Desnecessária, portanto, qualquer ratificação, visto que os atos até então
praticados são válidos.

OUTRA SITUAÇÃO
Veja esta situação um pouco diferente envolvendo um caso no qual a denúncia ainda não havia sido
recebida pelo juízo de 1ª instância:

Exemplo hipotético:
O Procurador Geral de Justiça (Ministério Público estadual) ofereceu denúncia, no Tribunal de Justiça,
contra “X” (Prefeito).
Deve-se lembrar que os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça (art. 29,
X, da CF/88).
Antes que a denúncia fosse recebida, “X” foi eleito e diplomado Governador do Estado.
A competência para processar e julgar os Governadores pela prática de infrações penais comuns é do STJ
(art. 105, I, a, da CF/88). Logo, o TJ perdeu a competência para analisar se deveria ou não receber a
denúncia, devendo remeter o processo ao STJ.
Chegando o processo ao STJ, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual somente poderá ser
examinada por aquela Corte se for ratificada pelo Procurador-Geral da República (ou por um dos
Subprocuradores-Gerais que atue por delegação), em homenagem ao princípio do promotor natural. Isso
porque o órgão ministerial que tem legitimidade para atuar no STJ é o Procurador-Geral da República (ou

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 43


um Subprocurador-Geral, mediante delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido, confira o art. 48, II, da
LC nº 75/93:
Art. 48. Incumbe ao Procurador-Geral da República propor perante o Superior Tribunal de Justiça:
(...)
II - a ação penal, nos casos previstos no art. 105, I, "a", da Constituição Federal.
Parágrafo único. A competência prevista neste artigo poderá ser delegada a Subprocurador-Geral da
República.

Assim, se o Ministério Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é
posteriormente encaminhada ao STJ, tal denúncia somente poderá ser processada e julgada se for
ratificada pelo Procurador-Geral da República ou por um dos Subprocuradores-Gerais.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do feito,
a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for ratificada
pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência originária do
Tribunal da Cidadania.
STJ. Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012 (Info 511).

PROCEDIMENTO
Necessidade de apreciação das teses suscitadas na defesa preliminar

A decisão que acolher ou não as teses defensivas declinadas na resposta à acusação (“defesa
preliminar”) estabelecida no art. 396-A do CPP deve ser fundamentada?
SIM. O juiz deverá fundamentar, ainda que sucintamente, a decisão que acolher ou não as teses
defensivas declinadas na defesa preliminar estabelecida no art. 396-A do CPP, sob pena de
configurar a negativa de prestação jurisdicional (STJ. 5ª Turma. HC 183.355-MG, julgado em
3/5/2012. Info 496).

Se o juiz decidir negar a absolvição sumária e determinar o prosseguimento do processo, ele


precisará refutar as teses trazidas pela defesa na resposta escrita?
SIM. O magistrado, ao proferir decisão que determina o prosseguimento do processo, deverá
ao menos aludir àquilo que fora trazido na defesa preliminar, não se eximindo também da
incumbência de enfrentar questões processuais relevantes e urgentes.
STJ. 6ª Turma. RHC 46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/2/2015 (Info 556).

Conceito de procedimento: procedimento é a sucessão coordenada de atos processuais.

Conceito de procedimento penal: é a sucessão coordenada de atos que ocorrem no processo destinado à
apuração de crimes.

Espécies de procedimentos penais:


Existem várias espécies de procedimentos penais, que variam de acordo com o crime que está sendo apurado.

O procedimento penal divide-se em:


I – COMUM:
Rito para apuração de crimes para os quais não haja procedimento especial previsto em lei. Aplica-se a
todos os processos o procedimento comum, salvo disposição em contrário do CPP ou de lei especial.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 44


II – ESPECIAL:
São os ritos previstos no CPP ou em leis especiais para determinados crimes específicos.
Ex1: procedimento dos crimes contra a honra (arts. 519 a 523 do CPP).
Ex2: procedimento para os processos de competência do Júri (arts. 406 a 497).
Ex3: procedimento para os crimes da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006).

O procedimento COMUM, por sua vez, subdivide-se em:


a) Procedimento comum ordinário: rito para processamento de crimes cuja pena máxima prevista seja
igual ou superior a 4 anos. É previsto no CPP.
b) Procedimento comum sumário: rito para processamento de crimes cuja pena máxima prevista seja
inferior a 4 anos, excluídos os casos do sumaríssimo. É previsto no CPP.
c) Procedimento comum sumaríssimo: rito para processamento de contravenções penais e crimes de
menor potencial ofensivo (pena máxima prevista não superior a 2 anos). Aqui, aplica-se a Lei n.
9.099/95.

Vejamos algumas etapas do procedimento comum (ordinário e sumário):


1) Denúncia.
2) Ao analisar a denúncia apresentada, o juiz terá duas opções:
2.1) Recebimento da denúncia.
2.2) Rejeição da denúncia (art. 395 do CPP).
3) Sendo a denúncia recebida, é determinada a citação do réu para responder à acusação em 10 dias.
4) O acusado apresenta, então, uma peça defensiva chamada de resposta escrita ou resposta preliminar,
conforme prevê o art. 396-A do CPP (obs: esta resposta não tem uma nomenclatura pacífica. O CPP chama
de “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência denomina “resposta preliminar”. Alguns
julgados do STJ falam em “defesa preliminar”).
5) Com base no que foi alegado pelo acusado na resposta escrita, o juiz poderá:
5.1) Absolver sumariamente o réu (art. 397 do CPP).
5.2) Rejeitar a absolvição sumária e designar audiência de instrução e julgamento.

Absolvição
sumária
Citação (art. 397)
Defesa preliminar
Recebimento Réu citado p/ responder à
(art. 396-A)
acusação em 10 dias.
Rejeição da absolvição
Denúncia sumária e designação
de audiência
Rejeição
(art. 395, CPP)

Assim, após o MP oferecer a denúncia, o juiz irá decidir se ela deverá ser recebida ou rejeitada. A denúncia
é recebida, portanto, antes de o réu ter sido citado e de ter apresentado sua defesa.

Por quais motivos o juiz pode absolver sumariamente o réu?


Os fundamentos pelos quais o juiz pode absolver sumariamente o réu estão previstos no art. 397:
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verificar:

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 45


I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

A decisão que acolher ou não as teses defensivas declinadas na resposta à acusação (“defesa
preliminar”) estabelecida no art. 396-A do CPP deve ser fundamentada?
SIM. O juiz deverá fundamentar, ainda que sucintamente, a decisão que acolher ou não as teses
defensivas declinadas na defesa preliminar estabelecida no art. 396-A do CPP, sob pena de configurar a
negativa de prestação jurisdicional (STJ. 5ª Turma. HC 183.355-MG, julgado em 3/5/2012. Info 496).

Se o juiz decidir negar a absolvição sumária e determinar o prosseguimento do processo, ele precisará
refutar as teses trazidas pela defesa na resposta escrita?
SIM. O magistrado, ao proferir decisão que determina o prosseguimento do processo, deverá ao menos
aludir àquilo que fora trazido na defesa preliminar, não se eximindo também da incumbência de enfrentar
questões processuais relevantes e urgentes.
Na fase do art. 397 do CPP, o juiz, ao negar a absolvição sumária, não irá enfrentar o mérito de forma
aprofundada, até para não prejulgar a causa antes da instrução, mas deverá fundamentar sua decisão, de
forma não exauriente, mencionando aquilo que fora trazido na defesa preliminar e refutando os
argumentos apresentados.
É também dever do magistrado enfrentar questões processuais relevantes e urgentes, tenham estas sido
suscitadas ou não.
O simples fato de uma pessoa responder a um processo criminal já configura uma forma de
constrangimento e sofrimento para o réu, de forma que a decisão que rejeita a absolvição sumária e
determina a continuidade do processo deve sim ser motivada, sob pena de nulidade.

Caso concreto
Na situação julgada pelo STJ, o juiz, após receber a resposta à acusação oferecida pela defesa, negou a
absolvição sumária com uma decisão de apenas duas linhas, que dizia apenas o seguinte:
“As matérias alegadas se tratam de defesa de mérito e nele serão analisadas.
Diante do exposto, designo audiência de instrução e julgamento para o dia XX⁄XX⁄XX, às XX horas.”

O STJ entendeu que a decisão acima foi deficiente e anulou o processo a partir dela, determinando que
seja proferida outra decisão, apreciando-se, desta vez, os termos da resposta preliminar (STJ. 6ª Turma.
RHC 46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/2/2015. Info 556).

PROVAS
Validade do depoimento sem dano nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes

Importante!!!
O depoimento sem dano consiste na oitiva judicial de crianças e adolescentes que foram
supostamente vítimas de crimes contra a dignidade sexual por meio de um procedimento
especial, que consiste no seguinte: a criança ou o adolescente fica em uma sala reservada,
sendo o depoimento colhido por um técnico (psicólogo ou assistente social), que faz as
perguntas de forma indireta, por meio de uma conversa em tom mais informal e gradual, à
medida que vai se estabelecendo uma relação de confiança entre ele e a vítima. O juiz, o
Ministério Público, o réu e o Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real, o
depoimento em outra sala por meio de um sistema audiovisual que está gravando a conversa
do técnico com a vítima.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 46


Atualmente, a legislação não prevê expressamente essa prática.
Apesar disso, o STJ entende que é válida nos crimes sexuais contra criança e adolescente, a
inquirição da vítima na modalidade do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição
especial de pessoa em desenvolvimento, inclusive antes da deflagração da persecução penal,
mediante prova antecipada. Assim, não configura nulidade por cerceamento de defesa o fato
de o defensor e o acusado de crime sexual praticado contra criança ou adolescente não
estarem presentes na oitiva da vítima devido à utilização do método de inquirição
denominado “depoimento sem dano”.
STJ. 5ª Turma. RHC 45.589-MT, Rel. Min.Gurgel de Faria, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Em que consiste o chamado “depoimento sem dano”?


O depoimento sem dano consiste na oitiva judicial de crianças e adolescentes que foram supostamente
vítimas de crimes contra a dignidade sexual por meio de um procedimento especial que consiste no
seguinte: a criança ou o adolescente fica em uma sala reservada, sendo o depoimento colhido por um
técnico (psicólogo ou assistente social), que faz as perguntas de forma indireta, por meio de uma conversa
em tom mais informal e gradual, à medida que vai se estabelecendo uma relação de confiança entre ele e
a vítima. O juiz, o Ministério Público, o réu e o Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real,
o depoimento em outra sala por meio de um sistema audiovisual que está gravando a conversa do técnico
com a vítima.

Qual é a razão de ser desse projeto?


O objetivo principal desse programa é o de evitar que a vítima seja submetida a um novo trauma, que é o
de ter que relatar um episódio triste e difícil de sua vida para pessoas estranhas, em um ambiente formal,
frio e, para ela, assustador. A experiência demonstra que se a criança ou adolescente é chamada a depor
pelo método tradicional, ela pouco irá contribuir para o esclarecimento da verdade porque se sentirá
envergonhada e amedrontada, esquecendo ou evitando fazer um relato fiel do que aconteceu, com
detalhes que, por vezes, são necessários para o processo penal. Os Juízes, Promotores, Defensores não
possuem a mesma capacidade técnica que um psicólogo ou assistente social para dialogar com uma
criança ou adolescente. Além disso, mesmo quando a vítima contribui, esse momento de sua inquirição
representa, em uma última análise, uma nova violência psíquica contra si, o que poderá trazer novos
traumas para a sua formação.

Essa modalidade de depoimento só ocorre na fase judicial?


NÃO. Nada impede que a sistemática do “depoimento sem dano” seja utilizada também na fase pré-
processual (inquérito policial).

Como essa prática surgiu?


O programa “depoimento sem dano” surgiu no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por volta do ano
de 2003, por iniciativa do então juiz, atualmente Desembargador, José Antônio Daltoé Cezar, tendo sido
adotado por diversos outros juízos ao redor do país.

Essa prática é prevista na legislação?


NÃO. Atualmente, a legislação não prevê expressamente essa sistemática. Existe um projeto de lei (PL
7.524/2006), de autoria da Dep. Maria do Rosário (PT/RS), disciplinando o “Depoimento sem Dano”.
Além disso, é importante mencionar que o CNJ editou uma Recomendação 33/2010 afirmando que os
Tribunais deverão implantar o sistema do depoimento especial para crianças e adolescentes, em sala
separada, com a presença do técnico, sendo registrada por meio audiovisual.

A realização do “Depoimento sem Dano” configura nulidade por cerceamento de defesa?


NÃO. O STJ entende que é válida nos crimes sexuais contra criança e adolescente, a inquirição da vítima na

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 47


modalidade do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição especial de pessoa em
desenvolvimento, inclusive antes da deflagração da persecução penal, mediante prova antecipada.
Assim, não configura nulidade por cerceamento de defesa o fato de o defensor e o acusado de crime
sexual praticado contra criança ou adolescente não estarem presentes na oitiva da vítima devido à
utilização do método de inquirição denominado “depoimento sem dano”.

Obs: vale ressaltar, ainda, que, no caso concreto noticiado neste Info 556, a defesa do réu, no momento da
oitiva da vítima, não se opôs à utilização do “depoimento sem dano”, tendo suscitado o argumento da
nulidade somente após a condenação. Desse modo, além de não encontrar vício no “depoimento sem
dano”, o STJ afirmou ainda que, diante da inércia da defesa, que não alegou a nulidade no momento
oportuno, houve preclusão.

UTILIZAÇÃO POR ÓRGÃO PÚBLICO DE BEM APREENDIDO


Aplicação analógica dos arts. 61 e 62 da Lei de Drogas para crimes regidos pelo CPP

Os arts. 61 e 62 da Lei 11.343/2006 permitem que, após autorização judicial, veículos,


embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte sejam utilizados pela
autoridade de polícia judiciária, comprovado o interesse público.
O juiz poderá autorizar que a aeronave seja utilizada pelo órgão mesmo o réu não estando
respondendo por tráfico de drogas?
SIM. É possível a aplicação analógica dos arts. 61 e 62 da Lei 11.343/2006 para admitir a
utilização pelos órgãos públicos de aeronave apreendida no curso da persecução penal de
crime não previsto na Lei de Drogas, sobretudo se presente o interesse público de evitar a
deterioração do bem. O art. 3º do CPP afirma que a lei processual penal admitirá interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
Assim, é possível a aplicação da Lei de Drogas para crimes regidos pelo CPP com base no uso
da analogia.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.420.960-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi denunciado por corrupção passiva e outros crimes contra a administração pública.
Como medida cautelar, foi apreendido um avião de sua propriedade.
A Polícia Federal pediu ao juiz que, enquanto o processo se encerrasse, a aeronave ficasse sendo utilizada
pela instituição em suas atividades funcionais.
O pedido foi fundamentado nos arts. 61 e 62 da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas):
Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e comprovado o interesse público ou
social, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante autorização do juízo competente, ouvido o
Ministério Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou
pelas entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas,
exclusivamente no interesse dessas atividades.
Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à
autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório
de registro e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do
pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o
seu perdimento em favor da União.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 48


Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários,
utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos
nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária,
excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica.
§ 1º Comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens mencionados neste artigo, a
autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua
conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

A defesa se opôs ao pedido afirmando que não se pode aplicar a Lei n. 11.343/2006, já que o réu não está
sendo acusado de crimes relacionados com tráfico de drogas.

O pedido da Polícia Federal poderá ser atendido? O juiz poderá autorizar que a aeronave seja utilizada
pelo órgão mesmo o réu não estando respondendo por tráfico de drogas?
SIM. É possível a aplicação analógica dos arts. 61 e 62 da Lei n. 11.343/2006 para admitir a utilização
pelos órgãos públicos de aeronave apreendida no curso da persecução penal de crime não previsto na Lei
de Drogas, sobretudo se presente o interesse público de evitar a deterioração do bem.
O art. 3º do CPP afirma que a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. Assim, é possível a aplicação da Lei de Drogas
para crimes regidos pelo CPP com base no uso da analogia.

REMIÇÃO DA PENA
Remição da pena pelo estudo em dias não úteis

Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o


tempo de cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de
estudo ou de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho.
É possível computar a remição pelo estudo ainda que as aulas ocorram durante finais de
semana e dias não-úteis?
SIM. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a atividade estudantil
ser desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei 7.210/84 dispõe que a contagem de tempo
para remição da pena pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de
frequência escolar, não havendo qualquer ressalva sobre a consideração apenas dos dias úteis
para realização da referida contagem, sendo, inclusive, expressamente mencionada a
possibilidade de ensino à distância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.487.218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do
TJ/SP), julgado em 5/2/2015 (Info 556).

REMIÇÃO
O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) estabelece:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho
ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

O art. 126 da LEP trata, portanto, da remição (ato de remir).

O que é a remição?
Remição é...
 o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 49


 de reduzir o tempo de cumprimento da pena
 mediante o abatimento
 de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou
 de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho.

É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma atividade
produtiva (trabalho ou estudo), servindo ainda como forma de ressocialização e de preparação do
apenado para que, quando termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no
mercado de trabalho.

O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art. 128).

Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa outra coisa, qual seja,
perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão
do débito.

Remição pelo TRABALHO Remição pelo ESTUDO


A cada 3 dias de trabalho, A cada 12 horas de estudo,
diminui 1 dia de pena. diminui 1 dia de pena.

Obs.: somente poderão ser considerados, para fins Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser divididas
de remição, os dias em que o condenado cumprir a em, no mínimo, 3 dias.
jornada normal de trabalho, que não pode ser
inferior a 6h nem superior a 8h (art. 33).
Somente é aplicada se o condenado cumpre pena Pode ser aplicada ao condenado que cumpra pena
em regime em regime fechado, semiaberto, aberto ou, ainda,
fechado ou semiaberto. que esteja em livramento condicional.

Obs.: não se aplica se o condenado estiver Atenção: perceba a diferença em relação à


cumprindo pena no regime aberto ou se estiver remição pelo trabalho.
em livramento condicional.

É possível a remição para condenados que cumprem pena em regime aberto?


 Remição pelo trabalho: NÃO.
 Remição pelo estudo: SIM.

Outras regras importantes sobre a remição:


 As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino
à distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos
frequentados (§ 2º do art. 126). Ex: cursos pela internet.
 É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo estudo, desde que as horas diárias
de trabalho e de estudo sejam compatíveis (§ 3º do art. 126).
 O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, continuará a
beneficiar-se com a remição (§ 4º do art. 126).
 O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) caso o condenado
consiga concluir o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do
art. 126).
 A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º do art. 126). Assim, se o
indivíduo está preso preventivamente e decide trabalhar, esse tempo será abatido de sua pena caso

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 50


venha a ser condenado no futuro.
 A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa (§ 8º do art. 126).

É possível computar a remição pelo estudo ainda que as aulas ocorram durante finais de semana e dias
não-úteis?
Claro que sim. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a atividade estudantil
ser desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei n. 7.210/84 dispõe que a contagem de tempo para
remição da pena pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de frequência
escolar, não havendo qualquer ressalva sobre a consideração apenas dos dias úteis para realização da
referida contagem, sendo, inclusive, expressamente mencionada a possibilidade de ensino à distância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.487.218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do
TJ/SP), julgado em 5/2/2015 (Info 556).

DIREITO TRIBUTÁRIO

PENA DE PERDIMENTO
Pena de perda de veículo condutor de mercadoria sujeita à pena de perdimento ainda que o
valor do carro seja bem superior ao das mercadorias

Atenção! Concursos federais


A conduta dolosa do transportador que utiliza carro próprio para conduzir ao território
nacional mercadoria estrangeira sujeita à pena de perdimento acarreta a pena de perda do
veículo, independentemente de o valor do carro ser desproporcional (muito superior) ao valor
das mercadorias apreendidas.
A pena de perda do veículo é prevista expressamente no art. 104, V, do Decreto-Lei 37/66 e no
art. 688, V do Decreto 6.759/2009, sendo essa punição severa com o objetivo de coibir o
descaminho e o contrabando.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.498.870-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, dirigindo um Honda Civic que, na época, custava uns R$ 70 mil, foi até o Paraguai e lá comprou
diversos produtos eletrônicos avaliados em R$ 20 mil. No mesmo dia voltou à Foz do Iguaçu, onde morava,
atravessando a fronteira sem pagar o imposto de importação.
Alguns metros à frente, foi parado em uma blitz da Receita Federal, que constatou a ocorrência do
descaminho.
Foi lavrado auto de infração e o Fisco cobrou o imposto de importação, além de aplicar multa. O pior, no
entanto, estava por vir: os bens importados e o carro de João foram apreendidos e, depois do processo
administrativo-fiscal, foi decretado o seu perdimento com base no art. 104, V, do Decreto-Lei n. 37/66 e
art. 688, V do Decreto n. 6.759/2009:
Art. 104. Aplica-se a pena de perda do veículo nos seguintes casos:
V - quando o veículo conduzir mercadoria sujeita à pena de perda, se pertencente ao responsável por
infração punível com aquela sanção;

Art. 688. Aplica-se a pena de perdimento do veículo nas seguintes hipóteses, por configurarem dano ao
Erário:
V - quando o veículo conduzir mercadoria sujeita a perdimento, se pertencente ao responsável por
infração punível com essa penalidade;

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 51


João impetrou mandado de segurança contra essa decisão de perdimento alegando que o valor do veículo
era muito superior ao valor das mercadorias apreendidas e do tributo sonegado. Desse modo, argumentou
que o perdimento do carro viola o princípio da proporcionalidade.

A tese do impetrante foi aceita?


NÃO. A conduta dolosa do transportador que utiliza carro próprio para conduzir ao território nacional
mercadoria estrangeira sujeita à pena de perdimento acarreta a pena de perda do veículo,
independentemente de o valor do carro ser desproporcional (muito superior) ao valor das mercadorias
apreendidas.
A pena de perda do veículo é prevista expressamente no art. 104, V, do Decreto-Lei n. 37/66 e no art.
688, V do Decreto n. 6.759/2009, sendo essa punição severa com o objetivo de coibir o descaminho e o
contrabando.

IMPOSTO DE RENDA
Isenção de imposto de renda sobre proventos oriundos de previdência privada
complementar para portadores de doenças graves

São isentos do imposto de renda os proventos percebidos de fundo de previdência privada a


título de complementação da aposentadoria por pessoa física acometida de uma das doenças
arroladas no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/1988.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.507.320-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/2/2015 (Info 556).

Isenção de imposto de renda sobre os proventos da aposentadoria para doentes graves


O imposto de renda é regido pela Lei n. 7.713/88. Esta Lei prevê que as pessoas portadoras de neoplasia
maligna ou outras doenças graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os
rendimentos recebidos a título de aposentadoria, pensão ou reforma (art. 6º, XIV).

Em palavras mais simples: pessoas portadoras de doenças elencadas pela legislação não pagarão imposto
de renda sobre os rendimentos que receberem a título de aposentadoria, pensão ou reforma.

Para ter direito à isenção do imposto de renda é necessária a cumulação de dois requisitos pelo
contribuinte:
a) receber proventos de aposentadoria, pensão ou reforma; e
b) estar acometido de uma das doenças arroladas no dispositivo legal.

Veja a previsão legal:


Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por pessoas físicas:
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos
portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia
maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de
Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da
doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência
adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída
depois da aposentadoria ou reforma;

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 52


Essa isenção abrange também os valores que a pessoa receber a título de aposentadoria de previdência
privada? Se o doente grave estiver recebendo aposentadoria complementar, ele também terá direito à
isenção do imposto de renda? Ele ficará desobrigado de pagar o IR sobre os valores que receber da
previdência privada?
SIM. São isentos do imposto de renda os proventos percebidos de fundo de previdência privada a título de
complementação da aposentadoria por pessoa física acometida de uma das doenças arroladas no art. 6º,
XIV, da Lei n. 7.713/1988.

A isenção do imposto de renda prevista no referido art. 6º, XIV engloba também benefício complementar
pago por entidade de previdência privada.

O capital acumulado em plano de previdência privada representa patrimônio destinado à geração de


aposentadoria – ainda que intitulada de complementar –, possuindo natureza previdenciária, o que
legitima a isenção sobre a parcela complementar.

A isenção concedida aos portadores de doença grave consubstancia benefício fiscal que tem por objetivo
abrandar o impacto da carga tributária sobre a renda necessária à sua subsistência e sobre os custos
inerentes ao tratamento da doença, permitindo que a pessoa tenha um “padrão de vida” digno diante do
estado de enfermidade.

ICMS
Garantia estendida e base de cálculo do ICMS

O valor pago pelo consumidor final ao comerciante a título de “seguro de garantia estendida”
não integra a base de cálculo do ICMS incidente sobre a operação de compra e venda da
mercadoria.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.346.749-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/2/2015 (Info 556).

ICMS
PREVISÃO
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;

CARACTERÍSTICAS
Principais características do imposto:
 plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade;
 real: as condições da pessoa são irrelevantes;
 proporcional: não é progressivo;
 fiscal: tem como função principal a arrecadação.

FATOS GERADORES
Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de
Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
 circulação de mercadorias;

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 53


 prestação de serviços de transporte intermunicipal;
 prestação de serviços de transporte interestadual;
 prestação de serviços de comunicação.

BASE DE CÁLCULO DO ICMS INCIDENTE SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS


Base de cálculo é o valor sobre o qual será aplicada a alíquota para que se calcule o quanto de imposto
será devido.
A base de cálculo do ICMS irá variar de acordo com o fato gerador (art. 13 da LC 87/96).
No caso de circulação de mercadorias, a base de cálculo será o valor da operação.

Seguro de garantia estendida


Algumas vezes, ao comprar um eletrodoméstico (geladeira, fogão, TV etc) em uma grande rede de varejo,
você talvez já tenha ouvido a seguinte pergunta: “o senhor deseja pagar mais XX reais e ter direito a mais
dois anos de garantia para o produto?”.
Esse serviço oferecido é denominado juridicamente de “garantia estendida”.
Vejamos algumas diferenças entre as espécies de garantia existentes.

Garantia legal
O consumidor, ao adquirir um produto, possui prazos de garantia previstos no próprio CDC. Trata-se da
chamada “garantia legal”, que decorre de lei, independentemente de termo expresso e é obrigatória (art.
24). Assim, se o serviço ou produto der algum problema (“não for adequado aos fins a que se destina”), o
consumidor poderá reclamar sobre a existência desses vícios nos prazos fixados no art. 26 do CDC.

Garantia contratual
Em determinadas situações, o fornecedor do bem ou serviço, para agradar o cliente e demonstrar que
comercializa um produto ou serviço de qualidade, oferece a todos os consumidores uma garantia
contratual por meio de contrato escrito. Essa garantia contratual é complementar à garantia legal. Ex:
determinada fabricante de TV vendeu seus televisores durante a Copa do Mundo de 2014 e afirmou que
ela tinha garantia até a Copa de 2018. Isso consiste na chamada garantia contratual.

Garantia estendida
É uma terceira espécie. A garantia estendida, na verdade, é um seguro oferecido normalmente pela loja ao
consumidor e, se este aceitar, irá pagar um valor extra (além do preço normal do produto/serviço) com o
objetivo de ter um tempo de garantia superior à garantia legal e contratual.
Assim, se o adquirente pagar pela garantia estendida, ele continuará tendo direito de consertar ou trocar,
gratuitamente, o produto/serviço que apresentar algum vício mesmo que isso ocorra após o fim do prazo de
garantia contratual (estipulado pelo fabricante) e do término do prazo de garantia legal (fixado pelo CDC).
A garantia estendida tem natureza jurídica de seguro, sendo regulamentada pela SUSEP e é contratada
não com a loja, mas sim com uma companhia seguradora (Curiosidade: a maioria das grandes redes de
varejo possui também uma companhia de seguros que faz parte do mesmo grupo econômico. Assim,
quando a pessoa compra o produto na loja, o vendedor já oferece a garantia estendida. Ocorre que, se o
consumidor aceitar, ele não estará contratando essa garantia estendida da loja, mas sim da empresa de
seguros que integra o conglomerado econômico. Ex: a rede de lojas “Magazine Luiza” possui uma
companhia de seguros chamada de “Luizaseg” que oferece serviços de garantia estendida aos
consumidores).

Se o consumidor aceita contratar a garantia estendida, o valor por ele pago irá se somar ao preço da
mercadoria e também integrará a base de cálculo do ICMS? Ex: o consumidor aceitou pagar mais R$ 100 pela
garantia estendida de uma geladeira. A base de cálculo do ICMS deverá incluir também esses R$ 100?
NÃO. O valor pago pelo consumidor final ao comerciante a título de “seguro de garantia estendida” não
integra a base de cálculo do ICMS incidente sobre a operação de compra e venda da mercadoria.
Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 54
Inicialmente, convém esclarecer que o “seguro de garantia estendida” é um contrato de adesão voluntária
estabelecido entre o consumidor (segurado) e uma sociedade seguradora, sendo rotineiramente oferecido
e comercializado pela empresa que vendeu a mercadoria, que intermedeia o negócio.

Essa espécie de seguro tem por escopo fornecer ao segurado/consumidor a extensão e/ou
complementação de garantia original da mercadoria adquirida. Segundo o STJ, o “seguro de garantia
estendida” não integra a base de cálculo do ICMS pelas razões seguintes:
 O pagamento do prêmio dessa modalidade de seguro não deve ser exigido do comprador como
condição indispensável para a aquisição da mercadoria. Isso porque o seguro em questão é de adesão
voluntária, podendo, ou não, ser contratado diretamente pelo consumidor final.
 O seguro não é pago pelo vendedor para depois ser exigido do comprador, na composição do preço da
operação, para o fechamento do negócio. Ele é pago diretamente pelo adquirente para a seguradora.
 O seguro de garantia estendida pode ser contratado pelo consumidor quando da aquisição do bem ou
posteriormente, durante o prazo de garantia do fabricante, o que demonstra que esse negócio
jurídico, embora relacionado, é autônomo e subsequente à operação de compra, sendo possível a sua
contratação depois de já circulada a mercadoria (fato gerador do ICMS), configurando, portanto, nova
relação jurídica e, por isso, não pode compor o valor da operação anterior já concretizada.
 Os valores pagos pelo consumidor ao comerciante devem ser repassados à companhia seguradora por
força contratual da parceria, não configurando, portanto, receita do varejista (não é receita da loja,
mas sim da companhia de seguro).
 A garantia estendida é estabelecida entre o consumidor e a empresa seguradora, inexistindo relação
jurídico-tributária entre o fisco e o comerciante que possa imputar ao último o dever de recolher
tributo sobre receita pertencente a terceiro, sob pena de afronta ao princípio da capacidade
contributiva.

Obs: se o “seguro de garantia estendida” vier a ser indevidamente exigido pelo comerciante, como
condição do negócio, haverá descaracterização de sua condição de seguro de adesão facultativa e, nessa
hipótese, será possível que o Fisco estadual inclua o valor cobrado na base de cálculo do ICMS porque terá
havido simulação por parte da empresa, podendo a Receita estadual autuar essa conduta irregular do
contribuinte com fundamento no princípio da realidade (art. 116, I, do CTN).

COFINS
Incidência da COFINS sobre receita proveniente de
locação de vagas em estacionamento de shopping center

A receita proveniente da locação de vagas em estacionamento em centros comerciais


(shopping centers), mesmo que estes estejam estruturados na forma de condomínio, compõe a
base de cálculo da COFINS, por força do art. 2º da LC n. 70/1991, porquanto referidos centros
comerciais são unidades econômicas autônomas para fins de tributação, nos termos do art.
126, inciso III, do CTN.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.301.956/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/2/2015 (Info 556).

COFINS

Natureza jurídica
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela
Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88.

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Fato gerador
O fato gerador da COFINS é o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas auferidas pela
pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº
10.833/2003). Isso com base no art. 195, I, “b”, da CF/88:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos
da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I — do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
(...)
b) a receita ou o faturamento;

Base de cálculo
A base de cálculo da COFINS é o valor do faturamento (art. 1º, § 2º da Lei nº 10.833/2003).
Obs.: no § 3º do art. 1º são listadas algumas receitas que não integram a base de cálculo da COFINS. Ex.: as
receitas referentes a vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos não são incluídas na
base de cálculo da contribuição.

Se uma empresa aluga vagas em estacionamento de shopping center, o valor por ela recebido integra a
base de cálculo da COFINS?
SIM. Compõe a base de cálculo da COFINS a receita proveniente da locação de vagas em estacionamento
de shopping center ou de centros comerciais de prestação de serviços ou de venda de produtos, mesmo
que esses estejam constituídos na forma de condomínio e que não haja a intervenção de terceira pessoa
jurídica empresária.
Mesmo na forma de condomínio – destituído de personalidade jurídica – e sem a intervenção de terceira
pessoa jurídica empresária, o shopping center ou o centro comercial de prestação de serviços ou venda de
produtos é considerado unidade econômica autônoma para fins de tributação, nos termos do art. 126, III,
do CTN.
Assim, se o empreendimento gera renda por meio de locação de bens e/ou prestação de serviços –
mesmo que em benefício de sua infraestrutura ou a favor dos condôminos – sem a intervenção de terceira
pessoa jurídica empresária, os valores que recebe compõem a base de cálculo de contribuições sociais (no
caso, a COFINS), porquanto referidos valores fazem parte de seu faturamento.
Portanto, se o empreendimento aufere renda da locação de vagas de estacionamento e/ou outra espécie
de prestação de serviços, essa renda deve compor a base de cálculo da COFINS.

CONTRIBUIÇÕES
CIDE para o INCRA

Súmula 516-STJ: A contribuição de intervenção no domínio econômico para o Incra (Decreto-Lei n.


1.110/1970), devida por empregadores rurais e urbanos, não foi extinta pelas Leis ns.
7.787/1989, 8.212/1991 e 8.213/1991, não podendo ser compensada com a contribuição ao INSS.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/02/2015 (Info 556).

INCRA
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) é uma autarquia federal, criada pelo
Decreto-Lei n. 1.110/70 e que tem como finalidades:
a) executar a reforma agrária; e
b) realizar o ordenamento fundiário nacional.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 56


Contribuição destinada ao INCRA
Para que pudesse realizar suas atividades, foi destinado ao INCRA, por lei, o valor de 0,2% sobre a folha de
salários das empresas. Vale ressaltar que essa contribuição é de responsabilidade de todas as empresas,
independentemente do setor, ou seja, é paga tanto por empregadores rurais como urbanos.

Lei n. 7.787/89


A Lei n. 7.787⁄89 instituiu novas contribuições previdenciárias e revogou diversas que existiam na época,
dentre elas, a contribuição para o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL).
Essa contribuição para o FUNRURAL era prevista no mesmo artigo que a contribuição destinada ao INCRA
(art. 15, da LC 11/71).
Em virtude disso, passou-se a defender que a Lei n. 7.787/89 teria revogado a contribuição destinada ao
INCRA, substituindo-a pelas contribuições previdenciárias que instituiu.
Para essa corrente, a contribuição destinada ao INCRA era uma espécie de “contribuição para o
financiamento da seguridade social” e, como as contribuições para a seguridade social foram unificadas
(para os trabalhadores urbanos e rurais), ela foi revogada, sendo substituída pelas outras contribuições
previdenciárias arrecadadas pelo INSS.
Como o Governo continuava cobrando tanto a contribuição destinada ao INCRA como também as
contribuições destinadas ao INSS, algumas empresas que pagaram a contribuição destinada ao INCRA
ingressaram com ações judiciais pedindo que fosse declarada a inexigibilidade desta contribuição e que os
valores já pagos fossem compensados em relação aos débitos das demais contribuições previdenciárias.
Invocavam, para tanto, o art. 66 da Lei n. 8.383/91:
Art. 66. Nos casos de pagamento indevido ou a maior de tributos, contribuições federais, inclusive
previdenciárias, e receitas patrimoniais, mesmo quando resultante de reforma, anulação, revogação ou
rescisão de decisão condenatória, o contribuinte poderá efetuar a compensação desse valor no
recolhimento de importância correspondente a período subsequente.
§ 1º A compensação só poderá ser efetuada entre tributos, contribuições e receitas da mesma espécie.

O STJ acatou a tese?


NÃO. O entendimento que prevaleceu no STJ foi o de que a contribuição destinada ao INCRA, devida por
empregadores rurais e urbanos, não foi extinta pelas Leis ns. 7.787/1989, 8.212/1991 e 8.213/1991. Logo,
não pode ser compensada com a contribuição destinada ao INSS.
Segundo o STJ, a quantia revertida ao INCRA possui natureza jurídica de “contribuição de intervenção no
domínio econômico” (CIDE), encontrando fundamento no art. 149 da CF/88. Não se trata, portanto, de
contribuição previdenciária. Isso porque o INCRA nunca foi responsável pela prestação de serviços
previdenciários ou de assistência social para os trabalhadores do campo. Sua finalidade sempre esteve
ligada à reforma agrária.
Desse modo, quando as Leis ns. 7.787/1989, 8.212/1991 e 8.213/1991 unificaram a Previdência dos
trabalhadores rurais e urbanos em uma só (Previdência Social) e unificaram também o tratamento
legislativo das contribuições previdenciárias, elas não revogaram a contribuição destinada ao INCRA
porque esta autarquia não tinha nada a ver com Previdência Social.
Não houve revogação expressa porque tais leis não fizeram menção expressamente aos dispositivos legais
onde está prevista a contribuição para o INCRA; também não houve revogação tácita, uma vez que a CIDE
e as contribuições previdenciárias são exações distintas, não sendo incompatíveis entre si.

Concursos
Essa súmula pode ser cobrada em alguns concursos federais, como de Procurador Federal, Servidor do
INSS, Juiz Federal. Mesmo assim, se for cobrada, penso que será exigida apenas a redação literal do
enunciado.

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DIREITO FINANCEIRO

TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA DE RECURSOS FEDERAIS


Restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no CAUC

A restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no


Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa
sob a justificativa de que os recursos destinam-se à reforma de prédio público. Essa atividade
(reforma) não pode ser enquadrada no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei
10.522/2002.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.439.326-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
24/2/2015 (Info 556).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Determinado Município firmou ajuste com o Ministério das Cidades, por meio do qual receberia 200 mil
reais destinados à reforma de um prédio público.
A reforma foi concluída, mas o Ministério não efetuou o repasse por ter constatado que o Município
possui pendências no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC).
O CAUC é um instrumento de consulta, por meio do qual se pode verificar se os Estados-membros ou
Municípios estão com débitos ou outras pendências perante o Governo federal.
O CAUC é alimentado com as informações constantes em bancos de dados como o SIAFI e o CADIN.
Se houver, por exemplo, um atraso do Município na prestação de contas de um convênio com a União,
essa informação passará a figurar no CAUC e ele ficará impedido de receber verbas federais.
Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na prova!), seria como se fosse um
“Serasa” de débitos dos Estados e Municípios com a União.

Onde está prevista a impossibilidade de repasse de recursos de convênios federais para os Estados e
Municípios inadimplentes com o Governo federal?
Na própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/2000). Veja:
Art. 25. Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega de
recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência
financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de
Saúde.
§ 1º São exigências para a realização de transferência voluntária, além das estabelecidas na lei de
diretrizes orçamentárias:
(...)
IV - comprovação, por parte do beneficiário, de:
a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente
transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos;

Existe alguma exceção a essa regra, ou seja, uma hipótese em que seja possível a transferência dos
recursos mesmo estando o ente figurando no CAUC?
SIM. Tais situações excepcionais são previstas tanto na LC n. 101/2000 como na lei que regulamenta o
CADIN (Lei n. 10.522/2002)

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 58


LC 101/2000:
Art. 25 (...)
§ 3º Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta Lei
Complementar, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social.

Lei n. 10.522/2002:


Art. 26. Fica suspensa a restrição para transferência de recursos federais a Estados, Distrito Federal e
Municípios destinados à execução de ações sociais ou ações em faixa de fronteira, em decorrência de
inadimplementos objetos de registro no Cadin e no Sistema Integrado de Administração Financeira do
Governo Federal - SIAFI. (Redação dada pela Lei nº 12.810/2013)

Dessa forma, se as transferências de recursos federais tiverem por objeto (finalidade) a realização de
ações de educação, saúde, assistência social ou outras ações sociais, bem como ações em faixa de
fronteira, será permitido o repasse dos valores mesmo que o Estado ou Município esteja figurando no
CAUC.

A reforma de um prédio público pode ser enquadrada nessas exceções? Voltando ao nosso exemplo, o
Município poderá receber os recursos do Ministério da Cidade?
NÃO. O STJ decidiu que a restrição para transferência de recursos federais a Município que possui
pendências no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser
suspensa sob a justificativa de que os recursos destinam-se à reforma de prédio público. Isso porque a
reforma de prédio público não pode ser enquadrada no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei
n. 10.522/2002.

Em que pese a infraestrutura urbana estar inclusa no rol dos direitos a cidades sustentáveis, a reforma de
prédio público não pode ser enquadrada no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei n.
10.522/2002. A interpretação da expressão “ações sociais” não pode ser ampla a ponto de incluir
hipóteses não apontadas pelo legislador, haja vista que, se assim se procedesse, qualquer atuação
governamental em favor da coletividade seria passível de enquadramento nesse conceito. Assim,
interpretando o art. 26 da Lei 10.522/2002, verifica-se que a ação social é referente às ações que
objetivam atender a direitos sociais assegurados aos cidadãos, cuja realização é obrigatória por parte do
Poder Público.

A suspensão da restrição para a transferência de recursos federais aos Estados, Distrito Federal e
Municípios inscreve-se em norma de direito financeiro e é exceção à regra, estando limitada às situações
de execução de ações sociais ou ações em faixa de fronteira, não podendo sua interpretação ser
abrangente a ponto de abarcar situações que o legislador não previu.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 59


JULGADOS NÃO COMENTADOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INCIDENTE PROCESSUAL DE IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA E
RECOLHIMENTO DE CUSTAS JUDICIAIS NO ÂMBITO DO STJ.
Não se pode exigir, no âmbito do STJ, o recolhimento de custas judiciais quando se tratar de incidente
processual de impugnação ao valor da causa, conforme a Lei 11.636/2007. As custas judiciais são tributos
da espécie taxa, prevista no art. 145, II, da CF, razão pela qual só podem ser fixadas em lei específica, dado
o princípio constitucional da reserva legal para a instituição ou aumento de tributo (STF, RE 116.208-MG,
Tribunal Pleno, DJ 8/6/1990; e STJ, AI no RMS 31.170-SP, Corte Especial, DJe 23/5/2012). No âmbito do STJ,
a Lei 11.636/2007 dispõe sobre as custas judiciais devidas nos processos de competência originária e
recursal. Como a impugnação ao valor da causa não consta na Lei 11.636/2007, não se pode exigir o
recolhimento das custas judiciais nesse tipo de incidente processual.
PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015, DJe 3/3/2015.

DIREITO EMPRESARIAL. LEI APLICÁVEL NO CASO DE PEDIDO DE REGISTRO DE DESENHO INDUSTRIAL EM


ANDAMENTO QUANDO DA VIGÊNCIA DA LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL.
Na hipótese em que o pedido de registro de desenho industrial tenha sido formulado quando vigente o
revogado Código de Propriedade Industrial (Lei 5.772/1971) e a concessão do registro tenha ocorrido já na
vigência da Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/1996), a divulgação do objeto de registro ocorrida durante o
“período de graça” (art. 96, § 3º, da Lei 9.279/1996) não afasta a caracterização do requisito da “novidade”,
ainda que não realizado previamente requerimento de garantia de prioridade (art. 7º da Lei 5.772/1971). De
acordo com o revogado Código de Propriedade Industrial, encontrar-se-ia o desenho industrial no “estado da
técnica” quando tornado público antes do depósito, perdendo, assim, o requisito da “novidade”, sem o qual o
registro não poderia ser concedido (art. 6º). Excepcionalmente, seria autorizada a publicidade antes do depósito
desde que previamente requerida a denominada “garantia de prioridade”, destinada a permitir que a invenção,
o modelo ou o desenho industrial fossem submetidos a entidades científicas ou apresentadas em exposições
oficiais ou oficialmente reconhecidas (arts. 7º e 8º). A Lei 5.772/1971 foi revogada pela Lei 9.279, publicada no
DOU de 15/5/1996, que passou a vigorar integralmente em 15/5/1997, na forma do art. 243. A nova lei
modificou a definição do “estado da técnica” e, reflexamente, do requisito da “novidade”, que permaneceu
sendo exigido. A “garantia de prioridade”, por sua vez, disciplinada nos arts. 7º e 8º do diploma anterior, foi
substituída pelo denominado “período de graça” regido no § 3º do art. 96 da nova Lei, segundo o qual: “Não
será considerado como incluído no estado da técnica o desenho industrial cuja divulgação tenha ocorrido
durante os 180 (cento e oitenta) dias que precederem a data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se
promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12”. Posto isso, surge a seguinte controvérsia: qual a
legislação aplicável para definir “estado de técnica” e o requisito material da “novidade” na hipótese em que o
pedido de registro do desenho industrial tenha sido formulado quando vigente a Lei 5.772/1971 e a concessão
do registro tenha ocorrido já na vigência da Lei 9.279/1996? A propósito do tema, a nova Lei dispôs, em seu art.
229, que aos “pedidos em andamento serão aplicadas as disposições desta Lei, exceto quanto à
patenteabilidade das substâncias, matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos e as
substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos de qualquer
espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou modificação, que só serão privilegiáveis nas
condições estabelecidas nos arts. 230 e 231” (redação original, posteriormente modificada pela Lei
10.196/2001). Desse modo, na situação em análise, incidirá a primeira parte desse dispositivo – que determina a
aplicação da Lei 9.279/1996 aos pedidos em andamento –, já que o desenho industrial objeto de registro não se
insere nas exceções discriminadas pelo artigo, relacionadas à patenteabilidade de produtos e processos
químicos, farmacêuticos e alimentícios. Observe-se que, quando o legislador desejou fosse indeferido o pedido
em andamento que não preenchesse os requisitos materiais da lei anterior, ele o fez expressamente (vide art.
229-A da Lei 9.279/1996), situação essa que não ocorre na hipótese em apreço, na qual se deve aplicar a nova
Lei. Não se trata propriamente de fazer retroagir a lei aos casos consolidados, decididos pelo INPI, mas de
reconhecer que cabe ao Poder Legislativo modificar os requisitos para a concessão de patentes de invenção e de
modelo de utilidade e de registro de desenho industrial e de marca. Assim como a lei pode modificar, por

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 60


exemplo, os requisitos para a usucapião antes da sua aquisição, as hipóteses de retomada de imóveis locados e
as regras pertinentes à herança e aos limites de construção civil (leis de posturas), pode também alterar as
hipóteses relativas à possibilidade de concessão de registro de propriedade industrial. Frise-se, de mais a mais,
que o STF, analisando o art. 117 da Lei 5.772/1972 (dispositivo semelhante ao art. 229 da Lei 9.279/1996),
considerou o art. 9º da Lei 5.772/1972 – que relacionou as invenções “não privilegiáveis” – aplicável aos pedidos
em andamento quando este diploma entrou em vigor (RE 93.679-3/RJ, Plenário, DJ de 9/3/1984). Ora, assim
como a lei nova pode restringir as hipóteses de privilégio, também pode ampliá-las mediante alteração dos
requisitos materiais respectivos, aplicando-as aos pedidos em andamento. Ante o exposto, nos termos do art. 96
da Lei 9.279/1996, o desenho industrial, no caso em análise, não se encontra inserido no “estado da técnica”,
não estando descaracterizado, por esse motivo, o requisito material de “novidade”.
REsp 1.050.659-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 24/2/2015, DJe 4/3/2015.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. REQUERIMENTO DE SUSTENTAÇÃO ORAL REALIZADO APÓS O HORÁRIO


LIMITE DETERMINADO PELA PRESIDÊNCIA DO ÓRGÃO JULGADOR.
O advogado que teve deferido pedido de sustentação oral previamente formulado ao relator por meio de
petição e que compareceu à sessão de julgamento antes de apreciada a apelação pelo colegiado não pode ser
impedido de exercer o seu direito sob a justificativa de que, no dia da sessão de julgamento, não se inscreveu,
antes do término do horário fixado pela Presidência do órgão julgador, para sustentação. A CF assegura, como
alguns de seus princípios fundamentais, a observância do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório. Vistos, portanto, como um direito da parte, o contraditório e o respeito a todas as regras que
subjazem ao devido processo legal se concretizam no exercício dos poderes processuais necessários para agir ou
defender-se em juízo e para poder influir de modo positivo no convencimento judicial. São, desse modo,
entendidos como o direito à observância das normas que evitam a lesão ao próprio direito da parte, tornando-
se, portanto, uma garantia para o correto desenvolvimento do processo. Ademais, o art. 133 da CF também
dispõe que o advogado é indispensável à administração da justiça, o que demonstra a importância da sua
atuação no processo judicial. Sob essa perspectiva, a Lei 8.906/1994 estabelece, em seu art. 2º, § 2º, que “No
processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao
convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público”. Por ser o advogado um partícipe no
processo de administração da justiça, é assegurado a esse profissional, dentre outras prerrogativas, a
possibilidade de realizar sustentação oral. Cabe ressaltar que a sustentação oral permite ao advogado
apresentar pessoalmente ao colegiado os argumentos indicados, por escrito, nas peças processuais e, ainda,
buscar, com o poder da fala, melhor explicitar dados fáticos e jurídicos inerentes à causa sob julgamento. É
importante ferramenta para chamar a atenção, durante a realização do próprio julgamento, de pontos
relevantes a serem analisados pelo órgão julgador, oportunizando aos magistrados que não tiveram a
possibilidade de manusear o processo, de terem conhecimento dos principais pontos a serem discutidos. A
realização da sustentação oral proporciona, portanto, maior lisura ao julgamento, condizente com a finalidade
precípua de todo e qualquer processo, qual seja, a busca da justiça. Considerando o viés do respeito ao devido
processo legal, o CPP ainda estabelece, no parágrafo único do art. 610, que, “Anunciado o julgamento pelo
presidente, e apregoadas as partes, com a presença destas ou à sua revelia, o relator fará a exposição do feito e,
em seguida, o presidente concederá, pelo prazo de 10 (dez) minutos, a palavra aos advogados ou às partes que
a solicitarem e ao procurador-geral, quando o requerer, por igual prazo”. Dessa forma, não é possível cercear o
direito do advogado de realizar a sustentação oral em um processo que ainda não tenha sido apreciado, apesar
de ele estar presente no momento do julgamento, tão somente porque não se inscreveu, antes do horário
fixado pela Presidência do órgão julgador, para a realização de pedido de sustentação oral. Ressalte-se, por fim,
que não há ilegalidade alguma no fato de se estabelecerem regramentos para, em reforço às normas
regimentais de cada tribunal, conferir maior racionalidade e eficiência no desenvolvimento das sessões; mas,
havendo conflito entre direito da parte (e do advogado) de realizar sustentação oral já deferida e eventual
restrição regulamentar, há de prevalecer aquele direito.
REsp 1.388.442-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/12/2014, DJe 25/2/2015.

Informativo 556-STJ (25/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 61

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