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Praia
Abril de 2007
O Poder Local então instituído reflectia a legislação vigente na época a qual, por
sua vez, era resultante das concepções politico-ideológicas dominantes sobre o
Estado e o direito, ou seja, próprias de regime de partido único ou, então, de
democracia nacional revolucionária que preconizava forte participação das
populações na resolução dos seus problemas
No pensamento que vem prevalecendo desde 1991, era um Poder Local não
democrático, o que é irrelevante para análise que se pretende fazer.
Não haverá seriedade se se tratar do Poder Local instituído naquele período, à luz
de concepções, princípios e regras de um regime de democracia pluralista
instituído em Setembro de 19902.
Tendo em conta que o conceito público do Poder Local e das autarquias locais se
alterou consideravelmente ao longo da sua evolução desde 1975, é preciso
contextualizá-lo no ambiente político-ideológico e jurídico da época (1975/1990),
a fim de que a análise a fazer possa ser credível.
1
O termo Poder Local foi utilizado pela primeira vez na legislação cabo-verdiana, em 1979, no
Decreto-Lei nº 19/79, de 24 de Março, que instituiu Comissões de Moradores. Mais tarde, a
Constituição de 1980 referenciou-o na epígrafe do Capítulo V do Título IV que só abrangia o
artigo 88º. Os textos partidários falavam mais em órgãos locais de Poder do Estado.
2
Regime já então preconizado na revisão da Constituição da República de Setembro de 1990 e
materializada em 1991 com as primeiras eleições livres e democráticas de 13 de Janeiro de 1991, e
retomada na Constituição de 1992.
O Estado de Cabo Verde era uma pessoa colectiva de direito público interno
português, dotado de autonomia politica, administrativa e financeira, nos termos
das leis constitucionais da República Portuguesa. Não era evidentemente um
Estado soberano.
3
O Estatuto Orgânico do Estado de Cabo Verde foi aprovado pela Lei nº 13/74, de 17 de
Dezembro, dimanada do Conselho de Estado de Portugal e vigorou até 5 de Julho de 1975.Até
então, Cabo Verde era, segundo a Constituição, a Lei Orgânica do Ultramar (Lei nº 5/72, de 23 de
Junho, e o seu Estatuto Politíco-Administrativo, aprovado pelo Decreto nº 541/72, de 22 de
Dezembro, uma região autónoma da República Portuguesa.
A designação como Estado tinha cobertura no Título VII da Parte Segunda da Constituição de
1933.
A soberania portuguesa no Estado de Cabo Verde competia ao Alto Comissário, nomeado e
exonerado pelo Presidente da República Portuguesa.
As funções legislativas e executivas estavam a cargo do Governo de Transição constituída pelo
Alto Comissário e por cinco Ministros, nomeados e exonerados pelo Presidente da República.
O Estatuto Orgânico não concebeu um novo regime para administração municipal cabo-verdiana,
por razões óbvias, tendo-se limitado a incumbir o Governo de Transição de estabelecer:
a) A divisão administrativa do território;
b) O regime jurídico da administração municipal;
c) O regime jurídico das relações entre os órgãos da administração central e os da
administração municipal.
A importante tarefa legislativa assim atribuída ao Governo de Transição justificava-se pelo facto
de o legislador ter tido exacta noção de que o ordenamento jurídico da administração municipal
constante da Reforma Administrativa Ultramarina (aprovada pelo Decreto-Lei nº 23.229, de 15 de
Novembro de 1933), que foi um verdadeiro Código Administrativo com 801 artigos e vigorou,
ainda que parcialmente, até Julho de 1990), estava completamente ultrapassado em todos os
aspectos. Infelizmente, o curto mandato do Governo de Transição e a falta de quadros
especializados em direito e não só não permitiram que a tarefa legislativa fosse sequer iniciada.
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O Governo de Transição era constituído de sete Ministérios (Administração Interna, Justiça,
Coordenação Económica, Educação e Cultura, Equipamento Social e do Ambiente, Trabalho; e
Assuntos Sociais, a cargo de quatro Ministros (Justiça e Assuntos Sociais, Educação e Cultura,
Coordenação Económica e Trabalho, Administração Interna, e Equipamento Social e Ambiente,
sendo os três primeiros indicados pelo PAIGC). Verificava-se assim a experiência de ministros
coordenadores incumbidos da gerência de mais do que um ministério, o que não teve
posteriormente continuidade como regra.
5
O Decreto-Lei nº 5/75, de 22 de Janeiro, definiu o regime jurídico das comissões administrativas,
sendo posteriormente completado pelo Decreto nº 6/75, de 2 de Fevereiro. A dissolução dos corpos
assim força legal ao slogan dos comícios, dos textos partidários e do próprio texto da Proclamação
da Independência de Cabo Verde” “PAIGC, força luz e guia do nosso povo”.
O texto da Proclamação da Independência de Cabo Verde, aprovado por unanimidade e por
aclamação pela Assembleia Nacional, dizia que o “Partido Africano da Independência da Guine e
Cabo Verde foi e continuará a ser a força luz e guia do nosso povo. Como na República irmã da
Guiné-Bissau o Partido de Amilcar Cabral, o PAIGC, expressão suprema da vontade soberana do
nosso povo na Guiné e em Cabo Verde, continuará a ser a força política dirigente da nossa
Sociedade hoje totalmente livre ”. Com tal posição, ficou previamente determinada a missão dos
deputados em sede de aprovação da Lei sobre a Organização Política do Estado.
A citada Lei contrariou o Acordo assinado entre a República Portuguesa e o PAICV, em Dezembro
de 1974, bem como a Lei Eleitoral para a Assembleia Nacional. Na verdade, tinha ficado
consagrado nas leis aprovadas pelo Governo Português que o povo de Cabo Verde elegeria a 30 de
Junho de 1975 uma Assembleia Nacional que teria por finalidade proclamar a Independência de
Cabo Verde e dotar o País de uma Constituição, pelo que aquela Assembleia era constituinte.
A estruturação do novo Estado poderia ser feito no âmbito da citada Lei. Mas a mesma não era a
sede própria para se instituir o regime de partido único e alterar a natureza constituinte da
Assembleia Nacional eleita a 30 de Junho de 1975.
A violação quer do Acordo quer da Lei Eleitoral não suscitou qualquer oposição generalizada no
Pais ou reacção na comunidade internacional, nomeadamente em Portugal. O que se justificava já
que nos anos da descolonização em África, a comunidade intelectual mundial entendia que a
emergência de partidos únicos nos jovens países independentes de África era uma necessidade para
o seu desenvolvimento, para unidade de acção, de organização e de objectivos. Cabo Verde
poderia ser diferente, já que a Nação precedeu o nascimento do Estado.
Para o primeiro quinquénio da Independência Nacional havia toda a compreensão para o regime de
partido único, face aos esforços da Reconstrução Nacional que eram necessários empreender. Mas
a partir de 1981, dever-se-ia dar passos mais decisivos rumo á democracia representativa.
Concretamente, no Congresso Constitutivo do PAICV, ocorrido em Janeiro de 1981, dever-se-ia
encarar essa realidade já que a questão da Unidade Guiné e Cabo Verde deixou em definitivo de
constar da agenda política.
No país, os opositores declarados, notórios e coerentes do Regime do Partido Único não chegavam
a uma trintena, sendo que alguns deles tiveram que emigrar para outros países, aonde adquiriram o
estatuto de asilado político. Outros, ficando no País, distanciaram-se dos cargos políticos e das
mordomias concedidas pela nomenclatura, e não se coibiram de criticar publicamente o regime
mesmo em órgãos de comunicação social do Estado. Todavia, apesar do reduzido número de tais
opositores, uma maioria silenciosa aspirava pela instauração da democracia e pelo fim de partido
único, num clima de paz e concórdia. Muitos quadros mantinham relações com a Administração
Pública, mesmo em cargo de confiança politica, colaborando deste modo para o desenvolvimento
económico e social de Cabo Verde.
9
A Constituição de 1992 pôde fazer destrinça entre a Administração Directa do Estado (sujeita à
direcção do Governo), a Administração Indirecta do Estado (sujeita à superintendência do
Governo) e a Administração Autónoma (sujeita à tutela do Governo), fazendo ressaltar o princípio
de descentralização e a configuração pluralista da administração Pública.
Ao se prever a administração autónoma, não se faz do Estado de Cabo Verde um “Estado de
autonomias” como em Espanha.
10
A subalternização da administração local face ao Governo justificou, por exemplo, a requisição,
em Julho de 1975, do Paço do Concelho da Praia para albergar a Chefia do Governo, durante toda
a I República. Apesar de inexistência de edifícios condignos na altura poder-se-ia encontrar uma
Porque o Partido foi erigido pela Lei sobre a Organização Politica do Estado como
“força politica dirigente na nossa Sociedade” implantou-se não um regime de
democracia representativa, mas o regime de democracia de nacional
revolucionária11, o qual preconizava ampla participação popular na definição dos
problemas a resolver e na sua própria resolução.
Nesse quadro, não havia lugar para outros partidos políticos12. Era o regime de
partido único que, entre nós, felizmente, não fez nascer o sistema de
Partido/Estado13, não tendo, assim, a filiação partidária sido jamais valorada como
critério de selecção dos funcionários e agentes públicos14.
outra alternativa que preservasse o elevado significado do Poder Local, bem como a imagem do
Município da Praia.
11
A continuação da política de democracia nacional revolucionária foi incentivada no II Congresso
do PAIGC (e também o último, enquanto força única da Guiné e de Cabo Verde), reunido em
Bissau, de 15 a 20 de Novembro de 1977, que ao assunto dedicou o nº 5 do II da Resolução Geral.
A referida Resolução Geral chegou a ser publicada no Boletim Oficial da República de Cabo
Verde (BO nº 52, de 24 de Dezembro de 1977), o que não deixou de ter um significado para a
época. Igual procedimento não teve lugar relativamente aos demais Congressos.
12
Não existia na Lei da Organização Política do Estado ou em qualquer outro diploma qualquer
disposição que proibisse formalmente a constituição, existência e funcionamento de partidos
políticos.
13
O Estado subsidiava o Partido e suas organizações de massas, o que era natural tendo em conta
o papel do Partido na sociedade.
14
No acto de posse, os servidores públicos juravam cumprir com lealdade os deveres da função
para eram nomeados, com fidelidade total aos objectivos do Partido (Cfr artigo 7º nº 2 do Decreto
nº 4/76, de 10 de Janeiro. Era um exagero que só veio a ser corrigido em 1990.!
15
Segundo o PAICV, o poder do Estado era único e unitário, sendo exercido através dos seus
diversos órgãos, de forma global, não havendo, consequentemente, divisão do poder.
Porque o município não era um instrumento quer da acção local do Partido, quer
de domínio político sobre os dirigentes municipais, e porque a presença do Partido
na administração municipal não podia ser ignorada, colocou-se na agenda política
da época a questão complexa de relacionamento entre os responsáveis da
administração municipal e das estruturas locais do Partido16. Por falta de
compreensão da forma correcta daquele relacionamento, houve, em alguns
concelhos, alguma tensão entre as duas estruturas locais que sempre foi resolvida
ao mais alto nível do poder.17
16
A nível do Poder Local, o relacionamento Partido-Estado processou-se através dos membros do
Partido ou de pessoas da sua absoluta confiança, inseridos nos órgãos desse nível . Além disso, o
Partido deveria seguir a acção dos órgãos do poder municipal, propondo com oportunidade
medidas que considerasse necessárias e convenientes; manter reuniões com tais órgãos, com vista à
analise da situação nas respectivas áreas e à discussão dos problemas que afectassem a vida
municipal e à busca conjunta e coordenada de soluções. (Cfr Documentos para o II Congresso “O
Estado”, páginas 21 e 22, Edições do DIP do PAICV, Maio de 1983)
17
Graças à intervenção pessoal, oportuna e pedagógica do então Primeiro-Ministro que, desde
sempre, foi amigo e pessoa de extrema confiança dos responsáveis pela administração municipal,
as tensões não chegaram a ser do domínio público, não pondo assim em causa a imagem do
regime.
18
Era tido como Programa de Governo o discurso feito pelo então Primeiro Ministro num comício
popular feito na cidade do Mindelo no dia 7 de Julho de 1975, aquando da apresentação da nova
Direcção do País. No discurso, o Primeiro Ministro abordou a questão de poder, já que tal questão
se punha em todas as revoluções.
Transcreve-se uma pequena passagem de tal discurso: “ A nível do Poder (Administração) é
necessário criar um poder novo e eficaz. A estrutura administrativa que serviu os interesses
coloniais não pode servir os interesses dum Cabo Verde livre e democrático.
Torna-se necessário implantar um Poder (uma Administração) que seja capaz de praticar uma
política revolucionária e defender os interesses do Povo. Além de defender os interesses do povo,
esse novo Poder dever permitir a participação das massas populares na solução dos seus próprios
problemas, que é a única maneira de não entravar a capacidade criadora do povo.......A
Administração deve estar ao serviço do Povo.
O novo poder deve ser eficaz para poder solucionar rapidamente os graves problemas que vamos
enfrentar.”
Uma trintena de dias após a Independência, o então Primeiro Ministro, numa entrevista concedida
aos de comunicação social e publicada no número do Jornal Voz di Povo de 28 de Agosto de 1975,
abordava de novo a problemática do poder.
21
Dispunha o artigo 410º da Reforma Administrativa Ultramarina, que os “concelhos, com o seu
corpo administrativo, constituem autarquias locais, dotadas de personalidade jurídica e de
autonomia, nos termos da presente Reforma”. Os concelhos eram também circunscrições
territoriais.
22
Em Portugal, a substituição da designação da autarquia local concelho por município foi feita
sem discussão na Assembleia Nacional Constituinte, segundo Vital Moreira e Gomes Canotilho, na
anotação ao artigo 249º da Constituição, in Constituição da República Portuguesa, 1978.
23
O Decreto-Lei nº 41/80, de 14 de Junho, que procedeu à primeira Reforma das Finanças Locais já
se referia aos Municípios, em vez de concelhos. Igual referência é feita nos Decretos-Leis nº 31/80,
de 10 de Maio, e nº 38/80, de 24 de Maio.
24
Poderiam ter sido mantidas as denominações anteriores de Câmara Municipal e Presidente da
Câmara Municipal, já que não havia razões para uma mudança tão radical de denominação. Tais
denominações foram ressuscitadas em 1991.
25
Podia não ser militante do Partido.
26
Cfr o Decreto-Lei nº 24/78, de 15 de Abril.
28
Já no ano de 1977, na II Conferência dos Delegados da Administração Interna, realizada na
cidade do Mindelo, de 20 a 24 de Fevereiro, foi analisado um ante-projecto de Lei da Organização
do Poder Local. O citado projecto foi reformulado totalmente em 1978, dando origem ao ante-
projecto de Lei da Administração Municipal que foi submetido à III Conferência dos Delegados do
Governo, realizada em S. Vicente, em 1979 e posteriormente enviado ao Conselho de Ministros
para aprovação, a qual não teve lugar.
10. Efectivamente, já nos finais da década de oitenta, uma nova concepção do sistema
político estava sendo arquitectada nos bastidores do poder. Sentiu-se isso já nos
actos preparatórios do III Congresso do Partido. Este Congresso, realizado em
Novembro de 1988, poderia ter declarado a abertura democrática, o que traria
ganhos acrescidos ao Partido, já que o Muro de Berlim ainda mantinha-se de pé…
E Cabo Verde seria um dos pioneiros na abertura à democracia representativa em
África, após anos de regime de partido único.
30
De entre os documentos para o II Congresso do PAICV, destacava-se “ A Participação Popular”,
Edições do DIP do PAICV, Maio de 1983) ” onde a páginas 17 se lia o seguinte: “Embora as
instituições locais de poder sejam designadas após uma ampla consulta realizada através do
Partido, da Administração e das organizações sociais, à medida que essas instituições se vão
afirmando, é necessário proceder à sua eleição especialmente no que respeita aos Conselhos
Deliberativos e às Comissões de Moradores”. Parece que essa tese de eleição dos órgãos
municipais não foi sufragada pelos congressistas, razão por que nada figurou a esse respeito nas
conclusões do Congresso.
31
Mais afirmou que acreditava que o III Congresso irá emitir orientações mais concretas sobre o
assunto, possibilitando a aceleração do processo.
32
Tratava-se da Lei nº 47/III/89, de 13 de Julho. Já nessa altura estava em crise aguda o sistema de
partido único no leste europeu e todos sabiam que isso teria reflexos no regime político implantado
no arquipélago.
11. Com a evolução do sistema político rumo a uma democracia pluralista, consentida
pelo Partido, então partido único no poder desde 197535, que atingiu o seu apogeu
com a histórica Revisão da Constituição em Setembro de 1990, o então Governo
33
Tratava-se da Lei nº 48/III/89, de 13 de Julho. Segundo o artigo 21º da citada Lei, podiam
apresentar listas de candidatos às eleições da Assembleia Municipal:
a) Os órgãos correspondentes do PAICV;
b) A JAACV, a OMCV e a UNTC_CS, através dos respectivos órgãos; e
c) Grupos de cidadãos correspondentes a 50 vezes o número de mandatos atribuídos
ao respectivos circulo eleitoral.
Creio que não se podia avançar mais em termos de apresentação de candidaturas, já que estava de
pé o artigo 4º da Constituição e a reforma política deveria ser feita no respeito pela Constituição.
Mesmo com o quadro jurídico-legal sobre tais eleições publicado no Boletim Oficial, jamais foi
marcada a data das mesmas, por razões que se desconhecem.
34
Reconhece-se que as reformas feitas em 1989, poderiam ter tido lugar no decurso da II
Legislatura, já que nessa altura o sistema de escolha dos membros dos órgãos da administração
começava a dar sinais fortes de esgotamento. A população estava mais culta e mais consciente dos
seus direitos. Enfim, a sociedade civil já reclamava mais em termos de participação política. A
inclusão, por vontade popular, de nomes de pessoas não afectas ao Partido nas listas para
candidatos a deputados à Assembleia Nacional Popular nas eleições legislativas de 1985, era prova
desse desejo e um aviso à navegação do PAICV que não foi tido em devida conta.
Nessas eleições dos 98.692 votantes, 5. 038 (5,10%) votaram contra as listas apresentadas pelo
PAICV.
35
Pode-se dizer que Cabo Verde começou, na prática, a viver em democracia, a partir do dia 19 de
Fevereiro, data em que o Presidente do Conselho Nacional do PAICV, Comandante Pedro Pires,
anunciou, nas instalações da Assembleia Nacional Popular, à Nação a abertura política, o que foi
muito bem recebido.
Em 1980, procedeu-se à reforma das finanças locais38, a qual trouxe como grandes
novidades, nomeadamente, a participação dos municípios nas receitas directas e
indirectas do Estado em percentagem não inferior a 5 por cento, e a bonificação de
crédito aos municípios.
36
A Reforma Administrativa Ultramarina teve revogação faseada da seguinte forma: Em 1975,
deixara de ter aplicação aos funcionários e agentes municipais; em 1980, ao orçamento e
contabilidade municipal; 1983, ao contencioso administrativo; em 1990, à organização e
atribuições das autarquias locais e competência dos respectivos órgãos.
37
O Imposto de Desenvolvimento Local foi criado pelo Decreto-Lei nº 2076, de 6 de Março, e
regulamentado pelo Decreto nº 61/76, de 9 de Junho. Em 1981, foi totalmente remodelado pelo
Decreto-Lei nº 1/81, de 10 de Janeiro. Deixou-se de ser cobrado a partir de 1996, com fundamento
de ser inconstitucional, não tendo contudo sido editado nenhum diploma legal revogatório.
38
Cfr o Decreto-Lei nº 41/80, de 14 de Junho que vigorou durante 10 anos, tendo sido substituído
pela II Reforma das Finanças Locais, operada pelo Decreto
Em 1990, procedeu-se à nova reforma das finanças locais40. Desta feita, a grande
novidade foi a municipalização dos seguintes impostos: contribuição predial
rústica e urbana, sisa, imposto de circulação de veículos automóveis e imposto de
produção de cana sacarina e a institucionalização de juízos municipais de
execuções fiscais. Além disso, ficou estabelecido que a participação dos
municípios no produto da cobrança dos impostos directos e indirectos do Estado
não podia ser inferior a 6 por cento.
39
Cfr o Decreto-Lei nº 119/78, de 5 de Março, que aprovou a tabela de emolumentos municipais, a
qual foi actualizada pelo Decreto-Lei nº 11/83, de 5 de Março.,
40
Tratava-se do Decreto-Lei nº 101-O/90, de 23 de Novembro, que vigorou até 1998.
41
A história regista que os primeiros acordos de geminação e de cooperação foram celebrados
entre os Municípios da Praia e Lisboa, em 1983.
Foi essa a herança que o PAICV deixou, em Janeiro de 1991, ao Movimento para
a Democracia, na área da administração municipal44. È bom que isso fique aqui
registado, pois houve no passado tentativa para olvidar e deturpar grosseiramente
o Poder Local prevalecente na I República.
42
Cfr o Despacho do Ministro da Administração Interna Engenheiro João Pereira Silva, de 9 de
Outubro de 1990, publicado no Boletim Oficial nº 43. Idênticas medidas não foram tomadas, a
quando das eleições municipais de Dezembro de 1991.
43
Cfr o Despacho do Ministro da Administração Interna, Engenheiro João Pereira Silva, de 9 de
Outubro de 1990, publicado no Boletim Oficial nº 43.
44
O Programa do I Governo Constitucional da II República referiu-se, no proémio do nº 2 da Parte
I que o “poder local em Cabo Verde foi reduzido nos últimos anos a mera figura de retórica. A
autonomia das autarquias locais foi praticamente eliminada”. Em 1991, depois de toda a reforma
legislativa empreendida nos anos anteriores, tal afirmação não podia ser levada a sério. Ainda no
mesmo Programa lia-se “....e recusou-se a articulação, no âmbito municipal, dos serviços
desconcentrados da Administração Central, cada qual dependendo directamente de um ministério,
na capital, o que inviabilizou a sua racionalização com vista à resolução dos problemas reais da
população do município ou da região em que se situam.”. Tal articulação só veio a ser instituída
sete anos depois, com a criação do cargo de Governador Civil, pela Lei nº 82/V/98, de 21 de
Dezembro. Com a cessação automática da comissão de serviço dos Governadores Civis, em
Fevereiro de 2001, não foram nomeados mais Governadores Civis.
45
Cfr o Decreto-Lei nº 123/91, de 20 de Setembro.
46
Segundo o nº 2 do artigo 11º da Lei nº 48/III/89, de 13 de Julho, na redacção dada pelo Decreto-
Lei nº 122/91, de 20 de Setembro, é eleito Presidente da Câmara o primeiro candidato da lista mais
votada para a câmara municipal.
47
In Curso de Direito Administrativo, Volume I, 2ª Edição, página 489.
48
A extinção das Comissões de Moradores foi levada a cabo pelo Decreto-Lei nº 174/91, de 7 de
Dezembro, ficando os municípios incumbidos de organizar a gestão dos assuntos autárquicos nas
circunscrições territoriais correspondentes aos povoados e bairros situados nos concelhos.
49
O Governador do Distrito de Barlavento estava já empossado, em Portugal, quando se deu o 25
de Abril, e por aí ficou.
50
Dezassete anos depois, e já em 1991, através da Lei nº 23/IV/92, de 30 de Dezembro, foi criado
o Concelho dos Mosteiros, e nele o Município dos Mosteiros, passando o então Concelho e
Município do Fogo a designar-se Concelho e Município de S. Filipe.
51
Segundo o artigo 7º do Decreto Provincial nº 10/74, de 11 de Julho, o diploma entraria em
vigor na data em que vier a ser estabelecida pelo Governo, o que jamais se verificou.
52
Porque não foram preenchidos os cargos de governador de distrito, o Governo, confrontado com
os problemas de coordenação, de representação e controlo nas ilhas de S. Vicente e Santo Antão,
criou a figura de Delegado Regional de Governo (Cfr o Decreto-Lei nº 23/78, de 15 de Abril). O
Delegado Regional do Governo não chefiava nem dirigia os serviços regionais e os serviços
personalizados do Estado sediados nas ilhas sob sua jurisdição. Além disso, não tinha poderes de
tutela sobre a administração local.
Mais tarde, concretamente, em 1981, foi extinto tal cargo, passando a coordenação a ser feita por
um membro de Governo residente em Mindelo, com a designação de Ministro-Adjunto do
54
Já nos finais do ano de 1985, as autoridades reconhecendo a existência de unidades territoriais
portadoras de traços que lhes conferiam uma certa especificidade no cômputo dos concelhos em que se
inseriam, como era o caso dos Mosteiros (no concelho do Fogo), Tarrafal (no concelho de S. Nicolau) e
Calheta (no concelho do Tarrafal), e não obstante a inconveniência da adopção de autarquia infra-
municipal como regra, encararam a hipótese de, naqueles casos concretos, se proceder a experiências
conducentes à instituição de órgãos autárquicos próprios (Cfr Relatório de Execução do Programa do
Governo (1981-1985, parte II, pág. 6). Em concreto, nada foi feito.
Bibliografia