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SCRUTON, ROGER – O QUE É CONSERVADORISMO

- Um cético pode afirmar que a Igreja e o Estado representam os únicos poderes capazes
de compelir as pessoas a abdicarem de suas vidas, mas tal ceticismo é infundado. Não
foi o Estado que impeliu os aqueus a se reunirem diante das muralhas de Traia, mas a
percepção de sua identidade social comum e a honra e a obediência como gregos (o
horror e a impessoalidade da guerra moderna naturalmente tornam difíceis a defesa de
tal atitude. Pp. 65

- Este é o padrão de pensamento: os seres humanos, enquanto agentes livres e


autônomos, estão submetidos à regra da justiça, o que quer dizer - grosso modo e,
novamente, segundo a terminologia abstrata de Kant - que eles devem ser tratados como
fim e não como meio. Tratá-los apenas como meio significa desrespeitar sua liberdade
e, portanto, sacrificar o direito de uma pessoa a qualquer respeito semelhante por parte
deles. Pp. 68

- A vantagem do contrato é que ele é composto inteiramente de direitos concedidos


livremente, e é nessa liberdade (como sempre sugeriram o senso comum e o direito
consuetudinário) que está sua legitimidade. Pp. 69

- Nós já imaginamos instituições compartilhadas e uma concepção de liberdade humana


que dificilmente poderiam ter sua origem na própria prática do contrato que elas ajudam
a tornar possível. Isso não quer dizer que uma pessoa não possa enxergar a sociedade
segundo essa perspectiva contratual, ao modo do liberalismo norte-americano, e assim
explicar todas as formas de organização social como sendo assembleias de seus
membros, tendo a escolha ou o consentimento como seu princípio de ligação
fundamental. P. 69

- individualistas radicais - aqueles que não conseguem reconhecer virtude alguma em


qualquer arranjo que, em última instância, não derive da escolha consciente -
começaram a atacar a família, a fabricar a ideia de sua "dispensabilidade", a declarar
guerra a ela por considerá-la uma forma de "opressão patriarcal", da qual mulheres e
crianças devem ser libertadas caso queiram desfrutar de uma liberdade e satisfação
próprias. Pp. 70

- Os conservadores depositam sua fé em sistemas conhecidos e testados e desejam


impregná-los com toda a autoridade necessária para constituir um domínio público
aceito e objetivo. É daí que surge seu respeito pela tradição e pelos costumes e não de
qualquer fim - como a liberdade - em relação ao qual essas práticas são tomadas como
meios. Pp. 74

- Se, porém, a individualidade ameaça a obediência - como certamente deve ocorrer


numa sociedade em que a individualidade procura conceber a si mesma em oposição às
instituições e às tradições a partir das quais emerge -, então a ordem civil também é
ameaçada. Essa certamente é a situação que surgiu na Europa e nos Estados Unidos
durante a década de 1960 e de cujos efeitos ainda padecemos. A função da política é
preservar a ordem civil e evitar "o pó e as cinzas da individualidade" que Burke
descreveu como sendo sua ruína. Pp. 75

- A mera individualidade, relegada primeiramente à família e em seguida a todo o


organismo social, é finalmente substituída pela obediência madura, a única forma de
"liberdade" politicamente desejável. É óbvio que tal obediência é uma questão de
intensidade, sendo ardente em alguns momentos e passiva ou deficiente noutros. A
possibilidade do conservadorismo supõe apenas que ela exista até certo ponto, e na
maioria das pessoas ativas. Pp. 76

- alguém pode aludir à "cultura" de uma sociedade ou nação. Com "cultura" eu me


refiro a todas as atividades que dotam o mundo de sentido, de modo que ele carregue a
marca da ação e da resposta apropriadas. É isso o que constitui a compreensão que o
indivíduo tem de sua natureza social. Tal compreensão não se dá por meio da escolha,
mas antes por meio de conceitos e percepções incorporados no organismo social,
práticas (tais como o casamento) que não podem ser tomadas como produtos da vontade
individual ou como o resultado de algum "contrato social" cujos termos ninguém pode
determinar ou lembrar. Uma prática pertence à cultura quando ela leva seus membros a
perceberem o valor do que fazem. Pp. 80

- Seremos, porém, forçados a reconhecer que não importa o que postulemos sob a forma
de um ideal: o próprio ideal pode ter pouca vida fora do sistema social que forneceu os
conceitos e as percepções daqueles que o perseguem. E quando fica claro que a maior
parte - e talvez central - daqueles conceitos e percepções é herdada, então o costume, a
tradição e a cultura comum se tornam concepções predominantes na política. Pp. 81
- Os liberais modernos tendem a ridicularizar a ideia de tradição. Eles nos dizem que
todas as tradições são "inventadas", sugerindo com isso que elas podem, portanto, ser
aniquiladas.9 Isso só parece plausível se tomarmos exemplos triviais - a dança rural
escocesa, o vestuário das regiões montanhosas, a cerimônia de coroação, os cartões de
Natal e o que quer que tenha um rótulo de "herança". Uma verdadeira tradição não é
uma invenção; é o subproduto involuntário da invenção, o qual também torna possível
essa invenção. Nossa tradição musical é um exemplo surpreendente disso. Nenhuma
pessoa a criou. Cada colaborador baseou-se em conquistas anteriores, descobrindo
problemas e resolvendo-os por meio da constante expansão da sintaxe comum. Pp. 85

- Sem nenhum movimento nessa direção (em direção ao poder constituído), uma pessoa
não é nem livre, nem sem liberdade, mas vive como os nômades da comunidade
anarquista, num perpétuo delírio de liberdade que pode ser traduzido apenas em atos
solipsistas. Tratar o Estado como fim, e não como meio, é considerar que os objetivos
do Estado surgem internamente, fora de sua própria vida e de sua autointeração. Pp. 99

- Desde o Iluminismo, parece natural supor que a causa da "liberdade individual" é o


que está em jogo em cada questão de direito; e, enquanto isso não é como a lei é, é
como ela foi teorizada. Deveríamos remover a liberdade desta pessoa para proteger a
liberdade daquela pessoa? Tal filosofia vê a lei como legítima apenas na medida em que
ela protege os indivíduos de danos; e a lei deveria permitir o máximo de liberdade
individual compatível com aquele objetivo. Pp. 136

- Como já sugeri, a visão liberal é individualista. Ela vê os indivíduos como


potencialmente completos em si mesmos e possuidores de razão, a qual eles podem usar
bem ou mal. Usá-la bem é usá-la livremente - viver uma vida de acordo com os
preceitos de escolha autônoma (ou mesmo autêntica). É do exercício dessa escolha
autônoma, alegou Kant, 1 que todo o bem da natureza humana deriva, e a mais
importante degradação dessa natureza está na "heteronomia da vontade" - ação de
acordo com preceitos que não são autocomandados. É fácil ver nessa filosofia -
ancestral do existencialismo sartriano, e a quintessência do conceito iluminista de
homem -a base para a visão de que nosso bem-estar reside na liberdade, e de que todo
governo é válido apenas como um meio para esse fim pp. 135

- As pessoas têm livre-arbítrio: elas fazem escolhas, agem com motivos, são guiadas em
tudo por uma concepção de quem elas são e do que desejam ser. A forma da liberdade,
porém, requer um conteúdo. A liberdade é inútil para um ser que carece de conceitos
com os quais valorar as coisas, que vive em um vácuo solipsista, ociosamente querendo
ora isto, ora aquilo, mas sem conceber urna ordem objetiva que poderia ser afetada por
sua escolha. Pp. 136

- Liberdade individual é o grande artefato social que, ao tentar representar a si próprio


como a própria natureza, gera o mito do liberalismo. Pp. 137

- A sociedade civil não pode munir a si própria de uma autoimagem, do mesmo modo
que um indivíduo não adquire autoconsciência olhando o próprio reflexo em um
espelho. A sociedade civil se confirma nas instituições do Estado, e a lei, como a
vontade do Estado, é, então, a realidade concreta da vida civiL Na medida em que, um a
um, os costumes, os modos, a moral, a educação, o trabalho - e tudo mais - são
"libertados" da jurisdição da lei, o sentido de sua validade social sofre um declínio, já
que os cidadãos percebem um abismo se ampliando entre seus costumes e sua forma de
vida e a lei que - supostamente - os protege. Pp. 148-149

- A visão conservadora da lei é, como sugeri, clara, consistente e, por estar em harmonia
com os sentimentos normais, divergente das ideias preconcebidas. Como a vontade do
Estado, a lei precisa expressar a vontade da sociedade. A ideia de "liberdade individual"
não pode ser o suficiente para gerar leis que serão ou aceitáveis para a consciência
normal, ou compatíveis com as necessidades administrativas normais. Pp. 164

- Em particular, a liberdade do indivíduo é proposta como O Que t Conservadorismo I


Apêndice Filosófico: Liberalismo versus Conservadorismo inquestionavelmente
preciosa e como o único ou principal critério à luz do qual a legitimidade da norma
social e das instituições políticas deve ser testada. Como bem se sabe, o critério revela-
se complexo e talvez até mesmo contraditório em sua aplicação. O mesmo instinto que
nos conduz a respeitar a liberdade de um indivíduo também nos conduz a restringi-la,
por causa da liberdade de seu próximo. Além disso, a reivindicação por um "tratamento
igualitário" muitas vezes parece ser uma exigência tão urgente da perspectiva liberal
que justificaria a interferência mais massiva nos projetos espontâneos do típico homem
capitalista - o "individualista possessivo" cuja ideologia é supostamente essa. Não deve
passar despercebido que a mesma ênfase no indivíduo livre e autossuficiente está na
base tanto da visão de Milton Friedman de uma ordem espontânea de propriedade
privada quanto na do espectro do "comunismo total'' de Karl Marx, em que a liberdade
de todos é garantida pelo simultâneo desaparecimento da propriedade privada e das
instituições do Estado "burguês" (ou seja, liberal). Pp. 306

- Fica imediatamente claro que o liberalismo alicerçado na autonomia não tem


dificuldade em explicar o valor da liberdade ou em achar a razão para elevar a liberdade
individual ao teste definitivo da ordem política. Não respeitar a liberdade, na verdade, é
ameaçar a existência daqueles indivíduos em função dos quais a ordem política existe e
para os quais ela deve aparecer sob as cores amenas da legitimidade. Pp. 307

- A visão liberal da liberdade humana é simplesmente uma generalização do ponto de


vista da primeira pessoa: sua ideia de justificação é circunscrita pela ideia de uma razão
em primeira pessoa. A justificação de qualquer coação deve consistir em razões que
podem ser oferecidas ao agente: razões para que eu obedeça. E o valor da liberdade jaz
precisamente no fato de que isso está pressuposto em todo ponto de vista de primeira
pessoa. Pp. 308

- Embora Hume nunca tenha se expressado nos termos que escolhi, conseguimos ver
sua insistência em que "a razão é, e somente deve ser, a escrava das paixões", e seu
ataque à ideia da razão prática em geral, como uma rejeição da perspectiva de primeira
pessoa, com base no fato de que está repleta de ilusões. Para Hume, a perspectiva
correta quanto ao universo humano precisa adotar o ponto de vista da terceira pessoa,
em que as pessoas são vistas imersas nas contingências da vida social, agindo movidas
por paixões que respondem às variá veís circunstâncias da existência. Pp. 315

- É impossível que eu deva ser um eu transcendental; mas é neçessário que eu deva


sofrer a ilusão de que sou. Se eu tenho de ser completamente satisfeito, tenho de
pertencer a um mundo no qual essa ilusão pode ser sustentada, de modo que meus
projetos sejam também valores para mim, e meus desejos estejam integrados à visão do
bem. Pp. 318

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