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- Um cético pode afirmar que a Igreja e o Estado representam os únicos poderes capazes
de compelir as pessoas a abdicarem de suas vidas, mas tal ceticismo é infundado. Não
foi o Estado que impeliu os aqueus a se reunirem diante das muralhas de Traia, mas a
percepção de sua identidade social comum e a honra e a obediência como gregos (o
horror e a impessoalidade da guerra moderna naturalmente tornam difíceis a defesa de
tal atitude. Pp. 65
- Seremos, porém, forçados a reconhecer que não importa o que postulemos sob a forma
de um ideal: o próprio ideal pode ter pouca vida fora do sistema social que forneceu os
conceitos e as percepções daqueles que o perseguem. E quando fica claro que a maior
parte - e talvez central - daqueles conceitos e percepções é herdada, então o costume, a
tradição e a cultura comum se tornam concepções predominantes na política. Pp. 81
- Os liberais modernos tendem a ridicularizar a ideia de tradição. Eles nos dizem que
todas as tradições são "inventadas", sugerindo com isso que elas podem, portanto, ser
aniquiladas.9 Isso só parece plausível se tomarmos exemplos triviais - a dança rural
escocesa, o vestuário das regiões montanhosas, a cerimônia de coroação, os cartões de
Natal e o que quer que tenha um rótulo de "herança". Uma verdadeira tradição não é
uma invenção; é o subproduto involuntário da invenção, o qual também torna possível
essa invenção. Nossa tradição musical é um exemplo surpreendente disso. Nenhuma
pessoa a criou. Cada colaborador baseou-se em conquistas anteriores, descobrindo
problemas e resolvendo-os por meio da constante expansão da sintaxe comum. Pp. 85
- Sem nenhum movimento nessa direção (em direção ao poder constituído), uma pessoa
não é nem livre, nem sem liberdade, mas vive como os nômades da comunidade
anarquista, num perpétuo delírio de liberdade que pode ser traduzido apenas em atos
solipsistas. Tratar o Estado como fim, e não como meio, é considerar que os objetivos
do Estado surgem internamente, fora de sua própria vida e de sua autointeração. Pp. 99
- As pessoas têm livre-arbítrio: elas fazem escolhas, agem com motivos, são guiadas em
tudo por uma concepção de quem elas são e do que desejam ser. A forma da liberdade,
porém, requer um conteúdo. A liberdade é inútil para um ser que carece de conceitos
com os quais valorar as coisas, que vive em um vácuo solipsista, ociosamente querendo
ora isto, ora aquilo, mas sem conceber urna ordem objetiva que poderia ser afetada por
sua escolha. Pp. 136
- A sociedade civil não pode munir a si própria de uma autoimagem, do mesmo modo
que um indivíduo não adquire autoconsciência olhando o próprio reflexo em um
espelho. A sociedade civil se confirma nas instituições do Estado, e a lei, como a
vontade do Estado, é, então, a realidade concreta da vida civiL Na medida em que, um a
um, os costumes, os modos, a moral, a educação, o trabalho - e tudo mais - são
"libertados" da jurisdição da lei, o sentido de sua validade social sofre um declínio, já
que os cidadãos percebem um abismo se ampliando entre seus costumes e sua forma de
vida e a lei que - supostamente - os protege. Pp. 148-149
- A visão conservadora da lei é, como sugeri, clara, consistente e, por estar em harmonia
com os sentimentos normais, divergente das ideias preconcebidas. Como a vontade do
Estado, a lei precisa expressar a vontade da sociedade. A ideia de "liberdade individual"
não pode ser o suficiente para gerar leis que serão ou aceitáveis para a consciência
normal, ou compatíveis com as necessidades administrativas normais. Pp. 164
- Embora Hume nunca tenha se expressado nos termos que escolhi, conseguimos ver
sua insistência em que "a razão é, e somente deve ser, a escrava das paixões", e seu
ataque à ideia da razão prática em geral, como uma rejeição da perspectiva de primeira
pessoa, com base no fato de que está repleta de ilusões. Para Hume, a perspectiva
correta quanto ao universo humano precisa adotar o ponto de vista da terceira pessoa,
em que as pessoas são vistas imersas nas contingências da vida social, agindo movidas
por paixões que respondem às variá veís circunstâncias da existência. Pp. 315