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O transumanismo e a questão da morte na filosofia segundo Hans Jonas

O nosso objetivo é apresentar o transumanismo como movimento filosófico


contemporâneo que pretende superar o conceito de morte a partir da convergência entre
as áreas da nanotecnologia, da biotecnologia, das ciências da informação e das ciências
cognitivas. A partir desses elementos transumanistas que entendem a morte como uma
falha orgânica, apresentaremos as contribuições filosóficas de Hans Jonas sobre o tema
da morte, que a associa tanto como sendo uma benção como um fardo que devemos
conviver, mas que, segundo o autor, nos constitui como seres humanos. Apesar de Hans
Jonas associar a morte como um fardo, isto é, um elemento natural que a vida busca
constantemente superar, mas que no fim será sucumbida, o autor também alerta para a
possível benção que ela representa, pois com ela há a possibilidade de renovação da
vida e o surgimento da novidade. A partir disso, nossa questão é: a morte é uma
condição da vida? Ou de fato é um empecilho que nos impede de evoluir enquanto
espécie?
O(s) transumanismo(s) considera o homem um ser frágil e limitado por estar
preso a condições naturais que moldam sua existência. Essa limitação natural é a morte.
No entanto, entendemos que ela é um elemento fundamental para manifestação da vida,
ela é parte da nossa existência, e superar a morte pode ameaçar aquilo que Jonas
preconizou como autenticidade da vida humana. Apesar de muitas correntes filosóficas
transumanistas terem como elemento fundamental a superação da morte e o alcance da
imortalidade, devemos lembrar que tal tema é possivelmente tão antigo quanto a própria
história da humanidade e remonta a textos como A Epopéia de Gilgamesh, um dos
primeiros textos escritos pelo homem na qual temos acesso. A novidade do
transumanismo na contemporaneidade é que, ao invés de buscar a imortalidade e
associá-la a um atributo divino e transcendental, através da convergência entre ciência e
tecnologia podemos produzir seres humanos aprimorados geneticamente o que nos
conduzirá a um estágio pós-humano, esses, por sua vez, poderão viver ilimitadamente.
De acordo com Hans Jonas, a mortalidade foi tomada como uma condição
humana, a ponto de tal característica servir para designar quem é o homem, e nos
diferenciar dos deuses, seres imortais. Mas a mortalidade, não é uma caracteristica
exclusiva do ser humano, ela é um atributo da vida como um todo. Toda criatura viva
está exposta constantemente a possibilidade da morte, essa ameaça constante
chamaremos de fardo; por outro lado, a morte se revela como uma necessidade última
da vida, essa necessidade chamo de benção.
Começo com uma análise sobre o fardo da mortalidade. A possibilidade da morte
reside na constituição orgânica de qualquer ser vivo, isto é, em seu próprio modo de ser.
Mas o que é esse modo de ser de um organismo? Vale lembrar que o organismo é a
forma física da qual ocorre a vida. Para Jonas, o ser do organismo é o seu fazer, ou seja,
ele só existe a medida que faz algo. Em outras palavras, é um exercício constante que
permite que os organismos continuem existindo. Um organismo (vivo) não pode deixar
de fazer, caso contrário, ele deixará de existir, isto é, ele morre. Esse exercício constante
do organismo de ter que fazer para sobreviver, também é chamado de metabolismo. O
metabolismo é o conceito que define a vida para Hans Jonas, ou seja, a troca de matéria
com o meio ambiente faz com que o organismo fuja da ameaça do não ser, do não
existir.
Ao contrário da matéria que tem sua existência garantida simplesmente por estar
aí, isto é, ela permanece idêntica a si mesma por um longo período de tempo e mantém
sua identidade, no organismo vivo, as trocas de matéria com o meio ambiente
transformam constantemente esse ser vivo, mesmo assim, ele continua sendo um
indivíduo que está vivo. Mas podemos pensar isso como um paradoxo:

Corpo vivo é um composto de matéria, e em qualquer outro momento sua


realidade coincide totalmente com seu material atual – quer dizer, com uma
multiplicidade determinada de componentes individuais. Por outro lado, ele
não é simultaneamente idêntico a esta ou qualquer outra totalidade, enquanto
esta sempre desvanece no fluxo torrencial da troca. A este respeito, ele é
diferente de seu material, mas não da soma deste material (FBM, 268-269).

Desse modo, podemos dizer que existe uma certa liberdade e independência do
organismo vivo em relação a mesmidade da matéria, no entanto, esse organismo torna-
se dependente da troca de matéria, é um tipo de liberdade necessária, na qual o ser vivo
tem que conviver. Esta necessidade, que também pode ser compreendida como carência,
é uma propriedade exclusiva da vida. Por poder se relacionar com o mundo, a vida
também partilha da obrigação e da necessidade de ter que se relacionar, pois caso não o
faça ela deixa de existir. Desse modo, podemos perceber que a existência da vida está
sempre ameaçada pelo não ser, ou seja, “a vida carrega a morte em si mesma” (FBM,
269).
“Comprometida consigo mesma, estando à mercê de sua própria realização, a
vida depende necessariamente de condições sobre as quais ela não tem controle e que
podem alterar-se a todo momento. Assim, dependente do favor e desfavor da realidade
exterior, a vida está exposta ao mundo do qual ela se liberou e através do qual ela
própria, entretanto, deve manter-se. Emancipada da identidade com a matéria, a vida,
entretanto, carece desta; livre, mas ainda sob o aguilhão da necessidade; separada, mas
em contato indispensável; procurando contato, mas correndo o risco de ser destruída por
este [contato] e não menos ameaçada por seu querer – exposta ao risco, portanto, por
ambos os lados, pela importunidade e indiferença do mundo, e tentando se equilibrar na
crista estreita entre esses dois lados. Neste processo, que deve ser ininterrupto, mas
sujeito à interferência; na tensão de sua temporalidade que sempre se depara com o
iminente não-mais: assim a forma viva realiza sua existência separatista em uma matéria
paradoxal, instável, precária, finita, e em íntima companhia com a morte. O temor da
morte que pesa sobre o risco dessa existência é apenas uma amostra da audaciosa
aventura original em que a substância [primordial] embarcou ao tornar-se orgânica”
(FBM, 270).
Nossa próxima reflexão diz respeito à mortalidade enquanto benção. Até aqui
vimos que a morte espreita a vida, esta por sua vez, busca constantemente se
autopreservar. Porém, mesmo diante de sua afirmação a vida sucumbirá, a morte marca
o fim do processo do envelhecimento (que Jonas entende como a extenuação orgânica
da vida). Mas com os avanços da medicina, a morte, enquanto fenômeno comum entre
os seres humanos, deixou de ser uma necessidade pertinente e inerente à natureza do
homem. Agora podemos ampliar a existência da espécie humana, tratar e adiar a morte,
e quiçá viver indefinidamente. O problema é: quão desejável é isto? Quão desejável
para a humanidade e para o indivíduo?
Do ponto de vista da humanidade, acreditamos que é necessária uma renovação
das gerações, para isso é preciso manter o equilíbrio entre o nascimento e a morte. Fato
é, se abolimos a morte devemos acabar com a procriação, pois uma é condição a outra.
Se abolirmos a morte “teríamos um mundo de velhice sem juventude e de indivíduos já
conhecidos, sem a surpresa daqueles que nunca existiram. Mas talvez seja exatamente
esta sabedoria na severa disposição de nossa mortalidade: a de que ela nos oferece a
promessa, continuamente renovada, da novidade, da imediaticidade e do ardor da
juventude” (PR, 58). Para Jonas, o começo da vida é a esperança da humanidade, a
preservação da espontaneidade da vida. Escapar da mortalidade pode fazer com que
mergulhemos no tédio e na rotina. Pensando no indivíduo, quem seriam os beneficiados
pela imortalidade? Todos teriam acesso a uma vida longa e saudável? Ou seriam apenas
aqueles que podem pagar, aqueles que possuem algum status social e econômico?
Certamente não seriam todos.
Para os transumanistas, a superação de nossa mortalidade consiste em
revertermos o processo de envelhecimento 1. Na comunidade científica é conhecido que
uma das causas da degeneração física associada ao envelhecimento envolve os
telômeros, que são segmentos de DNA encontrados nas extremidades dos
cromossomos. Toda vez que uma célula se divide, seus telômeros ficam mais curtos e,
uma vez que uma célula fica sem telômeros, ela não pode mais se reproduzir e
morre. Mas há uma enzima chamada telomerase que reverte esse processo; esta é uma
das razões pelas quais as células cancerígenas vivem tanto tempo. Então, por que não
tratar células não cancerosas comuns com a telomerase? Pesquisadores da Harvard
Medical School anunciaram na Nature que fizeram exatamente isso. Eles administraram
telomerase a um grupo de ratos que sofriam de degeneração relacionada à idade. O dano
foi embora. Os ratos não melhoraram apenas; eles ficaram mais jovens.
Há uma diferença entre expectativa de vida e prolongamento da vida. O aumento
da expectativa de vida deve estar associado a vivência saudável do indivíduo, que por
sinal, Jonas considera que a mortalidade somente de fato é uma benção a medida que a
pessoa viva uma vida inteira saudável, repleta de dias. Dessa forma, para o autor
alemão, é um dever da humanidade o combate a morte prematura entre os seres
humanos, bem como todas as suas causas, como doenças, guerra, fome, etc. Por sua vez,
o prolongamento da vida precisa de uma manipulação genética que altere nossa
constituição psicofísica, fazendo-nos viver mais tempo, resta saber se todas as pessoas
que prolongarem suas vidas, a terão com saúde.
Como dissemos no início, a sociedade contemporânea banalizou a morte de tal
forma que ela é entendida como uma falha que a medicina e a tecnologia poderão
reparar. Resta-nos saber se de fato viver eternamente ou indefinidamente é uma benção2.
Seguindo o pensamento de Jonas, a resposta é não. Pois para ele, a vida só pode ser
chamada de vida, porque ela busca se afirmar diante de sua negação, ela é frágil,
precária, instável3 e mortal. Quem deve garantir a sobrevivência e a continuação da
1
Nick Bostrom, pensador e defensor do transumanismo, compara o envelhecimento como um “dragão
tirano” que até agora, com o advento da biotecnologia, apenas foi alimentado com humanos, agora
podemos definitivamente destruí-lo para sempre, e acabar com esse mal que aterroriza as pessoas.
2
Uma criança nascida em 2018 terá apenas 82 anos no início do século 22 e terá o benefício de toda
inovação biotecnológica imaginável (e inimaginável) no decorrer deste século. Lembrem-se que muitos
pesquisadores postularam que o ser humano que viverá 150 anos nasceu no início dessa década.
3
Devido ao fato dos seres vivos, serem estruturas complexas e instáveis, para Jonas a manipulação
genética possui certos entraves, isto é, não sabemos ao certo quais as consequências ou os êxitos de uma
espécie? Poderíamos continuar confiando nas adaptações cegas da natureza que até
então permitiram a continuação da espécie humana, mas com os avanços da
biotecnologia e da medicina que pretendem acabar com a morte, o ser humano torna-se
o único ser vivo responsável que pode garantir a permanência e a existência da
humanidade. A responsabilidade nos obriga a garantir sua permanência no mundo, e isso
em virtude de sua essência; uma essência, certamente, vulnerável, frágil, precária e
mortal, mas ainda uma essência, à qual Jonas se refere com a expressão "imagem do
homem". É essa essência que constitui sua natureza, além de toda a sua história. O
homem é algo único no processo evolutivo e é por esta razão que nos sentimos
obrigados para proteger a integridade de sua imagem e de agir com cautela, cuidado,
contenção e respeito.

alteração genética em seres vivos, uma vez que seus resultados somente serão comprovados e verificados
nas próximas gerações.

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