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278 Transcrição de registos Sequência  1.

Fernando Pessoa

manual p. 68

A poesia de Ricardo Reis 02 min 47 s

CD1
Faixa 9
Aproximando-se do seu mestre, Alberto Caeiro, Reis situa o ser humano na mesma escala

OEXP12 DP © Porto Editora


existencial dos seres que integram o universo […] o que implica uma desvalorização da individua-
lidade e da ideia de que o Homem pode controlar a sua existência, ao contrário dos animais irra-
cionais, por exemplo, ou das árvores e das pedras. É a constatação desta verdade que leva Ri-
5 cardo Reis a defender a ataraxia, o estado de não perturbação, a inércia como única possibilidade
perante o reconhecimento da inevitabilidade do destino e da morte.
É, pois, de reter que, apesar das estruturas estróficas e métricas, da latinização da sintaxe,
do léxico erudito e arcaico, à maneira clássica, a poesia de Ricardo Reis deixa sempre perpassar
a angústia metafísica do próprio Fernando Pessoa face ao enigma da existência.
10 Ricardo Reis foi aquele que melhor traduziu a evidência da tragédia humana. Existir é nada
ter, nada poder.
Este poeta não acredita na obtenção de verdades e a sua única certeza é que não fugiremos
ao nosso fado, ao nosso destino que culminará, inevitavelmente, na morte. Então, propõe a anu-
lação da vontade, a aceitação passiva de todas as coisas, a recusa da emoção e do prazer exage-
15 rado. Para Ricardo Reis, o homem é um ser que está preso na sua própria condição. […]
A renúncia é a única coisa que nos resta perante uma vontade divina que nos transcende,
perante Cronos (o Tempo), que devora os seus próprios filhos. Assim, Reis propõe o gozo do mo-
mento, o carpe diem, pois o futuro é incógnito e a vida é efémera. O poeta prefere vier numa aurea
mediocritas, com a tranquilidade que se adquire através da recusa dos prazeres violentos e das
20 emoções fortes. […]
Ricardo Reis cultiva o individualismo, o que o leva a afastar-se dos outros. Seguindo as lições
filosóficas do epicurismo e do estoicismo, abdica dos prazeres violentos a favor da tranquilidade,
renuncia a qualquer ação inútil e evita a dor. Para este heterónimo, a liberdade (que os próprios
deuses não detêm, pois acima deles existe uma entidade superior, uma Lei, um Fado) e a felici-
25 dade (apagada pela consciência da morte inevitável) são ilusórias. […]
Esta consciência perpassa na poesia de Ricardo Reis, marcada pela ideia de que a vida não é
mais do que a condenação à morte, uma espera mais ou menos longa do nada.

JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 2013. Fernando Pessoa – Ortónimo e Heterónimos.


Porto: Porto Editora (pp. 49-53)
fotocopiável

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