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o caso do Ceará
1
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ERLE CAVALCANTE MESQUITA
FORTALEZA
IDT
2011
3
Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social Decreto
Estadual nº 25.019, de 03/07/98.
Análise e Redação
Erle Cavalcante Mesquita
Apoio Técnico
Geovane Sousa Pereira
Revisão
Regina Helena Moreira Campelo
Normalização Bibliográfica
Paula Pinheiro da Nóbrega
Correspondência para:
Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT
Av. da Universidade, 2596 - Benfica
CEP 60.020-180 Fortaleza-CE
Fone: (085) 3101-5500
Endereço eletrônico: idt@idt.org.br
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Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 9
REFERÊNCIA
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8
APRESENTAÇÃO
A atividade industrial foi apontada, nas últimas décadas, como uma alternativa
de trabalho, emprego e renda, especialmente nas áreas em que o “emprego não-
agrícola” era (e ainda é) mais necessário.
Motivado pela política de atração de investimentos, capitaneada pelo governo
estadual, nas últimas décadas, o emprego industrial ganhou relevância na economia e
no mercado de trabalho cearense, uma vez que ocupa atualmente quase 1/5 das
oportunidades de trabalho do estado. Assim, pode-se dizer que a expansão do setor
industrial no Ceará, em grande medida, teve influência de um projeto político e de
uma política pública que visava à descentralização da economia estadual para o
Interior, especialmente para aquelas áreas em que o “emprego agrícola” não vingava,
dadas as intempéries do semiárido cearense, bem como pela própria estrutura
demográfica e econômica da maioria dos municípios cearenses, nos quais o “emprego
público” era (e ainda é) um dos poucos horizontes possíveis de inserção profissional.
Desse modo, se a indústria tem se ampliado e se fortalecido como uma
estratégia de desenvolvimento econômico e social no Ceará, o presente estudo
apresenta os elementos centrais desse setor como forma de evidenciar a situação
geoeconômica da indústria local. Para isso, utiliza-se especialmente dos registros
administrativos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que monitora tanto os
vínculos trabalhistas1 quanto os estabelecimentos.
Devido esse objetivo, o presente estudo está estruturado da seguinte forma: na
primeira parte, é mostrado um balanço geral da economia brasileira diante da recente
crise econômica internacional (2008-2009), que desacelerou o ritmo das contratações
na indústria brasileira neste interstício. Na segunda parte, analisa-se a tendência do
emprego no Estado do Ceará numa perspectiva de mais longo prazo (1999-2009),
possibilitando uma análise mais segmentada do desenvolvimento geoconomico da
indústria cearense (Capítulo 3) e do perfil desse emprego (Capítulo 4), seguida de uma
breve síntese dos achados deste estudo.
1
Nessa base de informação, vínculo representa qualquer relação empregatícia mantida com o
empregador, o que será denominada ao longo deste estudo como vínculo ou emprego.
9
Estas questões são por demais pertinentes para o entendimento do
desenvolvimento econômico do Ceará, em particular, no que se refere às próprias
disparidades intrarregionais presentes neste estado. Mesmo que boa parte dessa
reflexão esteja limitada ao comportamento do mercado de trabalho, especialmente o
do emprego formal, é oferecido ao leitor uma análise da contribuição da indústria na
criação de empregos, sobretudo no Interior do estado.
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1 A CRISE MUNDIAL DO EMPREGO E SUAS REPERCUSSÕES NO BRASIL
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Em grande medida, atribuí-se que o resultado nacional tenha sido puxado pelo
crescimento do mercado consumidor interno, cujo incremento representava um dos
grandes eixos da agenda desenvolvimentista do País, desde meados do século XX. Em
2008, por exemplo, 61% do Produto Interno Bruto (PIB) do País estava relacionado ao
mercado de consumo interno. (OIT, 2009).
É importante destacar que, em grande medida, esse crescimento do consumo
interno está associado à ampliação do emprego e das políticas de transferência de
renda, especialmente com ganho real de salários para os trabalhadores que compõem
a base da pirâmide social. Desse modo, o aumento da massa salarial cresceu tanto
pelo aumento do nível de ocupação quanto dos salários, uma vez que a política de
valorização do salário mínimo também contribuiu para este desempenho. 2
Tomando-se como exemplo o ano de 2009, quando os efeitos da crise
internacional atingiram mais fortemente a economia nacional, verificou-se que foram
gerados quase um milhão de empregos e mais de 11 milhões de famílias foram
atendidas pelo programa Bolsa-Família, (BRASIL, 2011), ou seja, cifra bastante
expressiva de oportunidades de trabalho e de famílias atendidas por iniciativas de
transferência de renda, uma vez que a maior parcela destes recursos foi direcionada
ao consumo.
Observando a dinâmica da geração de postos de trabalho no País, chama
atenção o desempenho das regiões Nordeste, Sul e Sudeste, tal como indica a Mapa 1.
É notável que este desempenho é mais expressivo no Estado de São Paulo, unidade da
federação que concentrou 28% das oportunidades geradas no Brasil, em 2009. Nesse
sentido, é interessante destacar que se, por um lado, a agenda desenvolvimentista
avançou com relação ao fortalecimento do mercado consumidor interno, por outro, os
desequilíbrios regionais ainda prevalecem, mesmo com os esforços recentes.
2
Entre 2002 e 2009, o ganho real do salário mínimo foi de 42,72%, ao passar de R$ 303,00 para R$
465,00. Para maior debate sobre o tema ver: IPEA (2010).
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Mapa 1 – Saldo do Emprego Formal – Brasil - 2009
Fonte: CAGED/MTE.
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Tabela 1 – Saldo do Emprego Formal por Grandes Regiões e Setores de Atividade - Brasil – 2006 –
2009
Centro-
Setores de Atividade Norte Nordeste Sudeste Sul
Oeste
Extrativismo Mineral 5.383 3.843 18.884 2.935 1.476
Indústria de Transformação 2.823 151.256 400.079 220.813 59.392
Serviços Industriais e Utilidade Pública 2.450 6.806 10.329 8.305 180
Construção Civil 37.340 132.170 347.019 81.935 39.140
Comércio 62.919 229.655 758.423 282.609 87.654
Serviços 64.409 288.225 1.441.317 344.185 119.012
Administração Pública 1.041 6.189 37.150 8.402 -886
Agropecuária 307 -15.975 25.974 10.635 9.589
TOTAL 176.672 802.169 3.039.175 959.819 315.557
Fonte: Elaboração Própria do Autor com base no CAGED/MTE.
Gráfico 2 – Saldo do Emprego Formal por Setor de Atividade - Brasil – 2006 – 2009
Fonte: CAGED/MTE.
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Verifica-se ainda pelo Gráfico 2 , que os setores da agropecuária e a indústria
de transformação foram os que sofreram maior impacto com relação à redução de
postos de trabalho, em 2009. Esta redução foi mais expressiva na indústria, que
apresentou forte retração no ritmo das contratações no biênio 2008-2009, o que, em
grande medida, motivou a realização deste estudo.
O Emprego Industrial
Entre 2006 e 2009, a indústria nacional gerou 834,4 mil postos de trabalho, cujo
desempenho foi mais expressivo nos anos de 2006 (250,2 mil) e 2007 (394,6 mil).
Neste biênio, praticamente, todos os subsetores da indústria ampliaram seus volumes
de contratações, chegando até a quadruplicarem a demanda por mão de obra, como
no caso da indústria de material de transporte (de 10,9 mil para 49,6 mil) e de material
elétrico e comunicações (de 5,6 mil para 20,6 mil), conforme evidencia a Tabela 2.
15
mais diversas fontes de informações. Segundo a Associação Brasileira de
Supermercados (ABRAS), por exemplo, a venda nesses estabelecimentos teve uma
expansão de 5,5%, entre 2008 e 2009, sinalizando o aumento do mercado consumidor
nacional, tal como na demanda por gêneros alimentícios e bebidas.
Por outro lado, deve-se registrar que as maiores perdas no emprego industrial
aconteceram nos segmentos de metalurgia, material e transporte, mecânica, elétrica e
comunicações, responsáveis, conjuntamente, pela eliminação de quase 70 mil
empregos, em 2009, isto é, segmentos que apesar de também terem sidos
contemplados com o recente desempenho da economia nacional - como no apoio ao
escoamento da produção brasileira (fabricação de veículos de cargas e o próprio
transporte das mercadorias, por exemplo), bem como aqueles que receberam
estímulos diretos nas suas cadeias produtivas, tais como o da construção civil e das
indústrias automotivas e de eletrodomésticos, que receberam incentivos de
desoneração tributária – sofreram significativamente os efeitos do contexto da crise
econômica internacional e diminuíram drasticamente as oportunidades de trabalho
que vinham sendo geradas.
Nessa perspectiva, o Mapa 2 mostra claramente essa desaceleração do
emprego industrial, de acordo com a sua locação espacial ao longo do território
nacional. A distribuição das manchas mais claras e escuras no mapa aponta o quão
incisiva foi essa movimentação, haja vista esta ter sido observada em todas as grandes
regiões, especialmente no Sul e Sudeste, que concentram os maiores centros
industriais do País.
16
Mapa 2 – Saldo do Emprego Formal na Indústria – Brasil – 2006 – 2009
Fonte: CAGED/MTE.
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Estado de Minas Gerais, enquanto a indústria têxtil e de calçados alcançou maiores
resultados nos estados de Santa Catarina e Ceará, respectivamente. (Tabela 3).
Não obstante essa realidade, o Estado de São Paulo ainda possui o maior
estoque de empregos em onze dos dozes segmentos industriais, perdendo apenas no
ramo calçadista para o Rio Grande do Sul. Aliás, cabe chamar atenção que o estoque
de assalariados com carteira na indústria calçadista paulista passou a ocupar a terceira
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colocação no ranking nacional, dado o maior desempenho deste segmento econômico
no Ceará, que atingiu 62,5 mil vínculos formais de emprego, em 2009.
Aliás, foi exatamente a industria calçadista que puxou o crescimento do
emprego industrial no Ceará, estado da federação que apresentou o maior número de
contratações nesse setor de atividade econômica, em 2009, segundo informações do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho
e Emprego.
Em relação ao estoque de empregos, o Ceará ocupa a sétima colocação entre
os estados da federação com maior número de vínculos formais de trabalho no setor
industrial, ficando atrás de São Paulo (2,6 milhões), Minas Gerais (750,2 mil), Rio
Grande do Sul (662,2 mil), Paraná (620,2 mil), Santa Catarina (585,8 mil) e Rio de
Janeiro (395,2 mil). No contexto regional, percebe-se que o desempenho da indústria
no Ceará é seguido de perto por Pernambuco (212,1 mil) e Bahia (205 mil),
evidenciando o fortalecimento de “parques industriais” no Nordeste, mesmo que estes
ainda sejam bastante concentrados nas regiões Sul e Sudeste. 3
Com efeito, o próximo módulo traz uma radiografia da indústria cearense, que
fora apontada, por algumas décadas, como alternativa para o desenvolvimento
econômico e regional das áreas interioranas do estado, sobretudo, o semiárido
cearense.
3
É digna de nota a disputa regional por estabelecimentos industriais no Nordeste, uma vez que até
1997, o estado de Pernambuco era o que liderava no estoque de empregos neste setor de atividade
econômica e fora ultrapassada pelo Estado do Ceará, em 1999.
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2 RECENTE DINÂMICA DO EMPREGO FORMAL NO CEARÁ
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Tabela 4 – Estoque de Emprego Formal por Setor de Atividade – Ceará – 1999/2009
ANO
Setor de Atividade 1999 2009
Estoque (%) Estoque (%)
Extrativa mineral 2.201 0.3 2.713 0.2
Indústria de transformação 130.038 19.5 236.851 19.2
Serviços industriais de utilidade pública 7.492 1.1 6.874 0.6
Construção civil 28.053 4.2 58.435 4.7
Comércio 84.078 12.6 185.522 15.0
Serviços 180.170 27.0 334.959 27.1
Administração pública 225.359 33.8 386.474 31.3
Agropecuarária, extr vegetal, caça e pesca 9.633 1.4 24.433 2.0
Total 667.032 100,0 1.236.261 100.0
Fonte: CAGED/MTE.
Tabela 5 – Estoque de Emprego Formal, por Nível Geográfico – Ceará – 1999 - 2009
Nível geográfico
Ano
Estado do Ceará Área Metropolitana Área Não-Metropolitana
1999 667.032 484.951 182.081
2000 691.093 495.382 195.711
2001 724.954 512.446 212.508
2002 793.312 542.354 250.958
2003 825.062 552.513 272.549
2004 860.435 574.236 286.199
2005 920.161 622.026 298.135
2006 989.490 658.731 330.759
2007 1.059.392 701.477 357.915
2008 1.129.999 767.477 362.522
2009 1.236.261 834.352 401.909
Fonte: RAIS/MTE.
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desconcentração do emprego, conforme apregoava a política de desenvolvimento
industrial?
Os dados analisados apontam que esta é uma pergunta de difícil resposta. De
início, ao investigar a evolução do estoque de empregos formais, diferenciando os
mercados de trabalho metropolitano e não-metropolitano, é possível fazer algumas
reflexões e os achados podem não indicar exatamente essa direção. Um primeiro
aspecto a ser considerado é que o estoque de empregos formais cresceu em
praticamente todos os setores de atividade econômica, na série 1999-2009, tanto na
área metropolitana, como não-metropolitana. As exceções ficaram por conta dos
serviços de utilidade pública, que fecharam vagas em ambos os níveis geográficos,
bem como a agropecuária, na área metropolitana, e o extrativismo mineral, na não-
metropolitana. (Gráfico 4).
Metropolitano Não-metropolitano
Gráfico 4 – Estoque de Emprego Formal por Nível Geográfico e Subsetor de Atividade Econômica –
Ceará – 1999/2009
Fonte: RAIS/MTE.
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Inicialmente, observa-se, nos dados apresentados, que o crescimento do
emprego formal na área não-metropolitana ocorreu principalmente pelo desempenho
da administração pública. Este setor de atividade econômica foi responsável por mais
da metade dos postos formais de trabalho gerados (51,1%), seguido da indústria de
transformação (20,3%), comércio (14,6%), agropecuária (7%), serviços (5,6%) e
construção civil (1,4%). Já na área metropolitana, a administração pública ficou em
terceiro lugar na geração de empregos formais, ficando atrás do setor de serviços e da
indústria de transformação.
Assim, é igualmente elucidativo observar o comportamento da geração de
empregos promovido pela administração pública (celetistas e estatutários) de ano para
ano. O Gráfico 5 permite verificar o crescimento vertiginoso do estoque de empregos
neste setor de atividade econômica, especialmente na área não-metropolitana, onde
atingiu mais de duzentos mil vínculos formais de trabalho, em 2009, ou seja, em pouco
mais de seis anos, dobrou o número de empregos na administração pública nesse nível
geográfico, o que elevou significativamente a participação do emprego público na
estrutura setorial dos municípios, mesmo entre aqueles que foram beneficiados pela
política de atração de investimentos.
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O realce dado ao comportamento da administração pública na geração de
postos de trabalho, sobretudo na área não-metropolitana do estado, pode ser melhor
avaliado quando observada a dinâmica municipal. Em 1999, havia 59 municípios
cearenses (32%) que não possuíam nenhum registro de vínculo de trabalhadores
estatutários (municipal, estadual e/ou federal) e que passaram a contabilizar,
conjuntamente, 50.774 vínculos, em 2009. Uma das hipóteses explicativas para esta
situação pode estar associada à própria formalização das relações de trabalho no
âmbito da municipalidade.
Além disso, cabe ressaltar que tal aparelhamento pode também estar associado
às próprias necessidades do setor público, uma vez que os anos 1990 foram perversos
para o emprego, tanto para a iniciativa privada, como para o setor público, devido às
crises econômicas que se sucederam no citado período e à necessidade de
enquadramento orçamentário do gasto com pessoal nas administrações públicas
(municipais, estaduais e federal), por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal,
estabelecida no início dos anos 2000.
Apesar desse desempenho do setor público, cabe mencionar que os setores da
indústria e do comércio ampliaram também significativamente os seus estoques de
empregos na área não-metropolitana do estado, entre 1999 e 2009, passando de
33.481 para 78.210, e de 18.542 para 50.667, respectivamente. Assim, é possível
perceber que outros segmentos econômicos puxaram o crescimento do estoque de
empregos formais para além do setor público no Interior do estado, cujos resultados
estão para além do fortalecimento da atividade industrial propriamente dita, mesmo
que a ampliação do emprego neste setor tenha dado significativa contribuição.
Em síntese, o crescimento do emprego formal associado às próprias políticas de
transferência de renda proporcionou um maior dinamismo na economia cearense,
cujas sessões seguintes deste estudo abordam duas questões relevantes: a dinâmica
do emprego industrial no Ceará e a sua locação espacial, especialmente na observância
da chamada “interiorização da indústria”.
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3 GEOECONOMIA DO EMPREGO INDUSTRIAL NO CEARÁ
1
Tabela 6 – Estabelecimentos Industriais , segundo o Porte, e o Estoque de Empregos – Ceará –
1999/2009
Estabelecimentos Estoque
Tamanho
1999 2009 Var (%) 1999 2009 Var (%)
Microempresa 4.143 6.906 66,7 22.692 38.553 69,9
Pequena 690 1.250 81,2 27.584 50.508 83,1
Média 133 243 82,7 26.158 49.502 89,2
Grande 42 49 16,7 53.604 98.288 83,4
TOTAL 5.008 8.448 68,7 130.038 236.851 82,1
Fonte: RAIS/MTE.
Nota (1): Estabelecimentos com vínculos ativos
4
Nome dado às disputas tributárias praticadas pelos estados federados para atração de investimentos,
especialmente através do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), bem como garantias
de infraestrutura (terrenos, pavimentação, eletrificação, dentre outras) para instalação dos
empreendimentos.
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indústrias de médio porte (entre 100 e 499 empregados), tanto em termos de
empregos, como de estabelecimentos, vis a vis, os seus percentuais de crescimento
diante das micros, pequenas e grandes indústrias.
E qual é o perfil da indústria do Ceará? Em termos de estabelecimentos,
destaca-se o maior quantitativo de empresas nos segmentos têxtil e vestuário,
alimentos e bebidas, metalúrgica, madeira e mobiliário, papel e gráfica, dentre outros.
Com relação ao estoque de empregos, sobressaem-se os já mencionados segmentos
têxteis e vestuário, e o de alimentos e bebidas, bem como a indústria calçadista, tal
como ilustra a Tabela 7.
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“industrialização do interior” que algumas questões se tornaram menos opacas,
conforme pode ser observado a seguir.
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Mapa 3 – Estoque de Empregos Formais na Indústria – Ceará
Fonte: Elaboração Própria do Autor a partir da RAIS/MTE.
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Mapa 4 – Estoque de Empregos Formais na Indústria – Ceará – 2009
Fonte: Elaboração Própria do Autor a partir da RAIS/MTE.
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E o que isto significa? De um lado, é possível observar o fortalecimento da
atividade econômica nos municípios litorâneos que, tanto por conta de sua
proximidade com a Capital cearense, quanto de suas belezas naturais, já dispõem de
certo nível de atividade econômica e de infraestrutura urbana (estradas,
pavimentação, serviços, dentre outros), especialmente pelas próprias necessidades da
cadeia produtiva do turismo explorada nesses municípios; e, do outro, constatam-se as
limitações do desenvolvimento das economias de aglomerações, pois mesmo sendo
observável o crescimento do emprego no entorno de alguns municípios beneficiados
pela “política de atração de investimentos” (Sobral, Iguatu, Crato, dentre outros), este
resultado é bastante limitado, pelo menos, em termos de empregos.
Um exemplo claro das dificuldades da “interiorização da indústria” é o caso da
Região do Sertão dos Inhamúns, em que o emprego industrial não consegue se
desenvolver, uma vez que este espaço geográfico é uma das áreas mais carentes do
estado de alternativas “não-agrícolas” de trabalho, emprego e renda, dadas as
próprias intempéries do semiárido cearense. Na maioria dos municípios desta
microrregião, os estoques de empregos totais na atividade industrial nessas
localidades não atingem sequer cinqüenta postos de trabalho.
Ao mesmo tempo, cabe relatar que a centralização econômica do estado na
RMF tende a se fortalecer nos próximos anos, especialmente com os investimentos
previstos para o entorno do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), tais
como a Siderúrgica e a Refinaria.
Ainda no que diz respeito aos grandes empreendimentos, é perceptível na
Figura a seguir que a concentração das fábricas de maior porte ocorre nos municípios
pertencentes à RMF. Além dessa região, registra-se a presença de grandes indústrias
nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Sobral, Itapipoca, Uruburetama
e Paraipaba, em 2009.
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1999 2009
Um fato curioso nessa discussão é que apesar das grandes fábricas estarem
concentradas na RMF, houve, nos últimos anos, uma desconcentração dessas unidades
fabris dentro deste próprio perímetro, onde o número de indústrias com quinhentos
funcionários ou mais, em Fortaleza, caiu de vinte (1999) para dez empresas, em 2009.5
Diante de tal situação, outros municípios pertencentes à RMF tiveram acréscimos de
grandes indústrias, como é o caso de Eusébio (3), Aquiraz (3), Caucaia (1), Maracanaú
(1), Horizonte (1), Maranguape (1) e Pindoretama (1).6
Ainda no contexto do mercado de trabalho metropolitano no Ceará, destaca-se
que a participação do “emprego industrial” para a população ocupada local é,
proporcionalmente, uma das maiores dos mercados de trabalho metropolitanos do
País (17,8%), equiparável à realidade paulistana (17,9%), o maior centro industrial
brasileiro. (Gráfico 7).
5
Segundo a RAIS 2009, do MTE, há, em Fortaleza, quatro grandes indústrias ligadas ao segmento de
alimentos e bebidas, três, na indústria têxtil e de artefatos de tecidos; e nos ramos de material elétrico e
comunicações, no de transporte e o de calçados, uma empresa em cada um.
6
Somente com utilização de bases de dados identificáveis seria possível maior compreensão desse
fenômeno, se seria deslocamento físico das empresas ou apenas “abertura” e/ou “fechamento” de
empreendimentos de razões sociais diferentes.
32
(Em porcentagem)
33
favorece o desenvolvimento de políticas públicas, especialmente voltadas à
qualificação profissional e ao apoio às cadeias produtivas da indústria.
Mineral Não-metálico
Metalúrgico
34
metálicas, enquanto a produção de tubos de aço pode ser encontrada no município de
Caucaia, em termos de empregos formais.
Mecânica
Material de Transporte
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Em Fortaleza, cidade que concentra o maior número de empregos formais
neste ramo de atividade, no estado (1,4 mil), destacam-se a construção de
embarcações e estruturas flutuantes (634 empregos), a fabricação de cabines,
carrocerias e reboques para veículos automotores (258 empregos), o
recondicionamento e recuperação de motores (190 empregos), entre outras.
Já a fabricação de automóveis, camionetas e utilitários faz-se presente no
município de Horizonte, com 494 empregos, segundo a RAIS 2009.
Madeira e Mobiliário
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Borracha, Couro, Fumo, Peles e Similares
Química
Têxtil e Vestuário
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Outro município com forte atividade no ramo têxtil e de vestuário é
Maracanaú, com 12,9 mil empregos formais neste ramo de atividade, especialmente
na tecelagem de fios (3,4 mil), preparação e fiação de fibras (2,8 mil), fabricação de
tecidos (2,2 mil) e confecção de peças de vestuário (1,4 mil). Este fabrico de peças de
vestuário é também significativo nos municípios de Caucaia e Pacatuba e o de peças
íntimas, em Maranguape.
Calçados
7
Em 1999, a participação do setor calçadista no estoque de empregos industriais era de 17,6%, fato que
evidencia claramente a ampliação desse ramo de atividade econômica na geração de oportunidades de
trabalho, no Ceará.
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alimentos e bebidas possui maior expressão, tanto em termos de estoque de
empregos, quanto de estabelecimentos.
Cabe mencionar que este segmento envolve dezenas de atividades, tais como:
fabricação de conservas de frutas, sucos de frutas, massas e biscoitos, malte, cervejas
e refrigerantes, preservação de pescados, entre outras. Segundo estes segmentos,
destacam-se a produção de maltes, cervejas e chope (Aquiraz, Eusébio e Pacatuba), de
massas (Fortaleza, Maracanaú, Caucaia e Eusébio), de panificação (Fortaleza), de
conservas de frutas (Fortaleza e Cascavel), de sucos de frutas (Aracati), de preservação
de pescados (Aracati), de moagem e fabricação de produtos vegetais (Chorozinho) de
refrigerantes (Maracanaú, Juazeiro do Norte e Sobral).
39
Mapa 6 – Estoque de Empregos Formais na Indústria de Minerais não Metálicos – Ceará – 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
40
Mapa 7 – Estoque de Empregos Formais na Indústria Metalúrgica – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
41
Mapa 8 – Estoque de Empregos Formais na Indústria Mecânica – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
42
Mapa 9 – Estoque de Empregos Formais na Indústria de Materiais Eletrônicos e Comunicações
– Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
43
Mapa 10 – Estoque de Empregos Formais na Indústria de Materiais de Transporte – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
44
Mapa 11 – Estoque de Empregos Formais na Indústria da Madeira e do Mobiliário – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
45
Mapa 12 – Estoque de Empregos Formais na Indústria do Papel, Papelão, Editorial e Gráfica –
Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
46
Mapa 13 – Estoque de Empregos Formais na Indústria da Borracha, Fumo, Couros, Peles e
Similares – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
47
Mapa 14 – Estoque de Empregos Formais na Indústria Química – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
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Mapa 15 – Estoque de Empregos Formais na Indústria Têxtil – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
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Mapa 16 – Estoque de Empregos Formais na Indústria Calçados – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
50
Mapa 17 – Estoque de Empregos Formais na Indústria de Alimentos e Bebidas – Ceará - 2009
Fonte: Elaboração do IDT a partir da RAIS/MTE.
51
4 O PERFIL DO INDUSTRIÁRIO LOCAL
52
1
Tabela 9 – Estoque de Empregos Formais na Indústria , segundo as Características Pessoais -
Ceará – 1999/2009
ANO
Setor de Atividade 1999 2009
Estoque (%) Estoque (%)
Sexo
Homens 76.897 59,1 143.852 60,7
Mulheres 53.141 40,9 92.999 39,3
Faixa etária
Até 17 1.316 1,0 711 0,3
18 a 24 36.008 27,7 64.015 27,0
25 a 29 28.683 22,1 54.340 22,9
30 a 39 41.827 32,2 70.318 29,7
40 a 49 16.508 12,7 35.236 14,9
50 a 64 5.432 4,2 11.846 5,0
65 anos ou mais 252 0,2 384 0,2
Escolaridade
Analfabeto 2.960 2.3 1.442 0.6
Até a 9ª do Ensino Fundamental 62.155 47.8 41.521 17.5
Ensino Fundamental Completo 28.330 21.8 44.893 19.0
Ensino Médio Incompleto 12.915 9.9 30.217 12.8
Ensino Médio Completo 19.871 15.3 107.095 45.2
(2)
Ensino Superior 3.803 2.9 11.683 4.9
Total 130.038 100.0 236.851 100.0
Fonte: RAIS/MTTE.
Nota 1: Incluídos os casos ignorados.
Nota 2: Incluem os trabalhadores universitários, os de ensino superior completo e os pós-
graduados.
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Gráfico 8 - Estoque de Emprego Formal na Indústria de Transformação, segundo o Sexo e o
Ramo de Atividade - Ceará – 2009
Fonte: RAIS/MTE.
54
Total
Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico
Indústria de calçados
Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos
Ind. química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria, ...
Ind. da borracha, fumo, couros, peles, similares, ind. diversas
Indústria do papel, papelao, editorial e gráfica
Indústria da madeira e do mobiliário
Indústria do material de transporte
Indústria do material elétrico e de comunicaçoes
Indústria mecânica
Indústria metalúrgica
Indústria de produtos minerais nao metálicos
1
Tabela 10 – Estoque de Empregos Formais na Indústria , segundo o Tempo de
Emprego - Ceará – 1999/2009
ANO
Tempo de emprego
1999 2009
(em meses)
Estoque (%) Estoque (%)
Até 2,9 12.523 9.6 23.107 9.8
De 3,0 a 5,9 15.099 11.6 29.185 12.3
De 6,0 a 11,9 18.534 14.3 31.271 13.2
De 12,0 a 23,9 27.392 21.1 44.096 18.6
De 24,0 a 35,9 17.004 13.1 28.009 11.8
De 36,0 a 59,9 18.732 14.4 29.447 12.4
De 60,0 a 119,9 13.509 10.4 37.191 15.7
120 meses ou mais 7.245 5.6 14.524 6.1
Total 130.038 100.0 236.851 100.0
Fonte: RAIS/MTE.
Nota 1: Incluídos os casos ignorados.
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Percebe-se que os ciclos de contratações seguem a dinâmica do próprio
desempenho geral da economia, uma vez que o volume de contratações tem
apresentado resultados bastante diferenciados nos últimos anos, indo desde a
destruição líquida de postos de trabalho, como ocorreu em 2001, como o fechamento
de 1,5 mil empregos, até a geração de 21,1 mil “novos” postos de trabalho, em 2009,
melhor resultado da movimentação do emprego formal na indústria cearense, na série
avaliada. (Gráfico 10).
56
1
Tabela 11 – Estoque de Empregos Formais na Indústria , segundo a Jornada de
Trabalho Semanal - Ceará – 1999/2009
ANO
Jornada semanal
1999 2009
(em horas)
Estoque (%) Estoque (%)
Até 12 263 0.2 225 0.1
De 13 a 15 7 0.0 24 0.0
De 16 a 20 317 0.2 1.247 0.5
De 21 a 30 910 0.7 1.560 0.7
De 31 a 40 2.096 1.6 2.374 1.0
De 41 a 44 126.445 97.2 231.421 97.7
Total 130.038 100.0 236.851 100.0
Fonte: RAIS/MTE.
Nota 1: Incluído os casos ignorados.
57
Gráfico 11 – Remuneração Média na Indústria de Transformação, segundo as Unidades da
Federação – Brasil – 2009
Fonte: RAIS/MTE.
* Em valores nominais
58
(Em percentagem)
70.0
57.6
60.0
50.0 42.5
40.0 34.9
30.0 23.4
20.0 13.1 11.4
10.0
10.0 4.1 1.7
1.3
0.0
Até 1 1,01 a 1,50 1,51 a 4,00 > 4,00 Ignorado
1999 2009
Total
Alimentos e bebidas
Calçados
Têxtil
Química
Borracha, fumo e couro
Papel e gráfica
Madeira e mobiliário
Material de transporte
Elétrico e de comunicações
Mecânica
Metalúrgica
Mineral não-metálico
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
60
A apresentação da locação espacial da indústria cearense, especialmente
relacionada aos seus ramos de atividade e ao porte desses estabelecimentos, fornece
subsídios e provocações para se (re)pensar o aperfeiçoamento da política industrial do
estado, especialmente a qualificação profissional e a melhoria das desigualdades
regionais, sobretudo nas áreas mais carentes de alternativas de emprego, trabalho e
renda, no Ceará.
61
REFERÊNCIA
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