Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
SÃO PAULO
2018
1. Introdução
O autor do texto abordado nesta resenha crítica, Philippe Chevallier, faz uma
(1961), uma série de diálogos com Bataille, Blanchot e Klossowski (década de 1960),
dossiês históricos acerca da confissão (1975) e da pastoral cristã (1978) nos cursos
no Collége de France, mas ressalta, sobretudo, a relevância dos escritos, entre 1978
não é muito utilizada por Foucault, ainda que esteja falando de relações de poder, ou
cultural cristão.
na obra de Foucault até 1980; o termo foi utilizado anteriormente como responsável
pela repressão da sexualidade humana no Ocidente nos anos 70, e em 1977 como
no tocante ao cristianismo medieval se dava por sua percepção de que, foi naquele
1 Nas palavras do próprio Max Weber, citado por Chevallier, um conceito histórico é "um complexo de
relações presentes na realidade, histórica, que reunimos, em virtude de sua significação cultural, num
todo conceitual" (CHEVALLIER, 2012, p. 46).
período em que a confissão foi transformada em um instrumento de controle dentro
de relações de poder2.
de uma realidade exata, objetiva e constante, e sim um conceito que pode chegar a
Philippe Chevallier vai buscar expor, durante todo seu texto, qual era este
percepção da realidade divina. O que antes era uma investigação, de certa forma, até
léxica sobre o uso do termo “cristianismo” de Foucault, passa a ser uma investigação
prática da confissão constante, confissão esta que expõe sua verdade mais intima, a
penitência tratava de faltas mais graves e seu exercício se dava de maneira pública;
não obstante, Foucault; em sua leitura de Tertuliano (Do governo dos vivos); tece o
seguinte comentário:
Até este momento, a ideia é que a penitencia deve expor, publicamente, provas
sozinha.
confissão tem valor intrínseco, substancial, em si e por si, em outras palavras, ganha
força própria. Chevallier ressalta que o foco de Foucault se situa entre os séculos III e
V; onde houve, de certa forma, uma transformação conceitual fazendo com que a
confessado, e desta forma, é um ato que torna o perdão mais acessível ao pecador
ato de relevância própria, e o conceito de “speech act” (ato da fala), de John L. Austin;
dois sujeitos. No caso do estóico, Chevallier entende que a verdade não é uma
“verdade das profundezas” que deva ser alcançada via introspecção, mas é uma
verdade ativa, “ordenada a ação”, que oferece uma preparação atlética, para que o
e Pierre Hadot, cujo foco de pesquisa tinha a ver com a influencia da filosofia antiga
especial “Do governo dos vivos”, Foucault descreve “um processo finalmente muito
cristianismo”, revelando que temia se entediar, tal como Foucault revelou ter-se
também que o curso “Do governo dos vivos” (1980), traz esclarecimentos acerca da
“ruptura cristã”, onde, segundo sua opinião, se encontra “toda a força e a originalidade
conceito de “regime de verdade”, onde o sujeito tem autonomia para jejuar, fazer
da verdade e sua relação com o saber e poder. A verdade não é passiva, sua
lado; é requerido realizar uma série de ações, ou atos, para que seja possível sua
intelectual”
A questão colocada aqui é “que verdade seria esta, que nasce com o
também dizer a sua verdade” (CHEVALLIER, 2012, p. 52). Antes, acreditava-se que
um sujeito que fora iluminado pela verdade, jamais recairia no erro, e caso cometesse;
por exemplo, um cristão após receber o Espírito Santo através do rito do batismo;
“confessio”.
confessor.
que o cristão deve viver em conversão constante, o que, segundo Chevallier, reflete a
repouso possível, fazendo da penitência, que antes era um movimento único, a própria
3 No monasticismo das igrejas orientais; tal como a grega-ortodoxa; os monges podem ficar dias em
silêncio absoluto, segurando um kombolói; terço cristão ortodoxo; e realizando incessantemente a
“oração do coração”: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, tende piedade de mim pecador”.
condição humana. E a partir disso, Chevallier aponta que Foucault percebia este
momento como um momento revolucionário, onde nasce uma nova relação com a
verdade, porque “a verdade não é mais o que incorporo mais um pouco cada dia pelo
uso de minha razão, sempre melhor esclarecida... mas ela é o que não cesso de
perder a despeito do fato que ela me é dada e dada de novo sem cessar”
queda, ou céu e inferno, mas a possibilidade de uma recaída. E justamente por isso,
“não contra, mas a partir da fraqueza humana”, e por isto, o cristianismo foi chamado,
3. Conclusão
dentro desta tradição espiritual que se torna difícil defini-lo. Cristianismo pode
exato de sua pesquisa, pela simples razão de não perceber, de não figurar o
cristianismo como tal objeto histórico, concreto, e exato que possa ser reduzido a “isto”
ou “aquilo”. Darcy Ribeiro se recusava a falar de “Brasil”, optava por “Brasis”, talvez
4. Referências