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Estudos Biblicos

É Melhor Serem Dois do que Um - Luciano Sunirá

Após a conclusão de cada etapa da criação, vemos nas Escrituras que o Senhor Deus
reconhece que aquela obra feita era algo bom (Gn 1.10,12,18,21,25,31). A única declaração
de teor diferente acontece quando Deus olha para o homem que estava sozinho e
afirma: “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). A sabedoria divina condena o
isolamento e nos ensina as bênçãos do companheirismo:

“O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria”


(Provérbios 18.1).

Viver sozinho, salvo exceções como nascer “eunuco” (com este dom) ou se fazer “eunuco”
pelo Reino de Deus (por uma situação onde não é permitido um novo casamento), não é o
ideal de Deus para todo o homem (Mt 19.12). A Bíblia diz que “melhor é serem dois do que
um”, o que deixa isto bem claro:

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se
caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não
haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas
um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe
resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4.9-
12)

O rei Salomão, instrumento divino para nos trazer estas palavras, não estava falando
especificamente sobre o casamento; ele falava sobre um exemplo de unidade que cabe num
relacionamento de amigos, de parceiros de trabalho e ainda outros. E embora estas palavras
não se apliquem exclusivamente ao matrimônio, este princípio bíblico também não exclui, em
hipótese alguma, a relação conjugal. E é dentro deste contexto, da vida do casal, que
queremos buscar entender não apenas o texto em si, mas como estas verdades se
relacionam com outras declarações bíblicas acerca do casamento. O escritor de Eclesiastes
menciona quatro áreas onde o companheirismo faz toda a diferença e justifica a afirmação
de que é melhor serem dois do que um. São elas:

1) Parceria – 2) Suporte – 3) Cuidado – 4) Proteção

Sem estas quatro expressões de companheirismo talvez fosse melhor declarar que é melhor
ser um do que dois, uma vez que os “benefícios”que justificam esta afirmação deixaram de
estar presentes. Queremos refletir um pouco sobre cada um deles.
PARCERIA

O primeiro benefício mencionado na declaração bíblica de que é melhor serem dois do que
um é que os dois terão “melhor paga do trabalho”. Isto fala de duas coisas: da parceria nas
conquistas e de sinergia, que é o resultado desta parceria.

Primeiramente queremos analisar a visão de parceria e como isto se encaixa na união


matrimonial. A mulher foi criada por Deus para ser uma auxiliadora idônea, capaz (Gn 2.18).
Isto significa que o homem não foi criado por Deus para conquistar sozinho e, somente
depois, partilhar o “despojo” com sua esposa. Mesmo tendo a responsabilidade de provedor,
o homem precisa viver a relação de parceria em cada conquista no casamento. Deus
reconheceu que o homem precisaria de ajuda e, ao criar a mulher a fez com toda capacidade
de prover ajuda!

Isto fala não só das conquistas materiais e geração de renda. Embora a palavra hebraica
traduzida como “paga do trabalho” seja “sakar” – que significa “soldo, salário, pagamento” –
ela também tem o significado de “recompensa”. O casamento é uma parceria contínua!
Desde a procriação, cuidado, provisão e educação dos filhos até os ganhos materiais e
financeiros o casal deve caminhar em parceria. Mesmo sendo o cabeça do lar e tendo a
responsabilidade final nas decisões, o esposo deve ouvir os conselhos de sua esposa e
incluí-la em seus projetos.

Se cada um quiser viver por si, como se fossem dois solteiros dividindo a mesma cama e o
mesmo teto, não poderão dizer que é melhor serem dois do que um. A beleza da parceria,
além do companheirismo e cumplicidade nas conquistas, pode também ser vista nos
resultados. Melhor paga do trabalho não significa um salário que é dobrado para depois ser
repartido entre os dois; isto não faria a menor diferença! Se cada um sozinho ganha quatro
mil reais e pode ficar com tudo para si, qual é a vantagem de juntarem suas rendas que,
totalizadas, chegam a oito mil reais e depois dividi-la em dois voltando ao resultado inicial?
A verdade é que, juntos, mesmo repartindo, o casal conquista mais! Por exemplo, se cada
um sozinho produz uma renda de quatro mil reais, mas juntos conseguem produzir doze mil
reais (em vez de só os oito mil reais que conseguem sozinhos), então temos uma sinergia.
Em vez de somar resultados, a parceria os multiplica! Isto é sinergia e vemos este princípio
na Bíblia:

“Como poderia um só perseguir mil, e dois fazerem fugir dez mil, se a sua Rocha lhos
não vendera, e o Senhor lhos não entregara?” (Deuteronômio 32.30)

“Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós


perseguirão a cem, e cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos
cairão à espada diante de vós. Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e vos
multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco.” (Levítico 26.7-9)
Falando das batalhas que o povo de Israel iria travar ao entrar na terra Prometida, Moisés,
da parte de Deus, fala aos hebreus que um deles perseguiria mil, mas dois juntos não
somariam os resultados para dois mil, mas o multiplicariam para dez mil! Também afirma que
cinco perseguiriam a cem (o equivalente a vinte pessoas por perseguidor), mas cem
perseguiriam a dez mil (o equivalente a cem pessoas por perseguidor). Isto é sinergia. Tanto
em um exemplo como no outro vemos que neste tipo de parceria os resultados não se
somam, se multiplicam. Podemos trazer este princípio para o planejamento familiar, para a
criação dos filhos, para o trabalho e conquistas materiais e, não só para a dimensão natural,
mas também para a espiritual: a vida de oração do casal.

Tenho aprendido a incluir a participação de minha esposa em tudo que faço. Desde o
planejamento financeiro e decisões que precisam ser tomadas nesta área até as questões
do ministério; a Kelly participa na forma como prego e ensino (antes, na preparação, e depois,
na avaliação), como conduzo as reuniões ministeriais e a vida da Igreja, em minhas viagens
(mesmo quando não pode me acompanhar faz a retaguarda de oração)… Sou muito grato a
Deus por me permitir viver em parceria com minha esposa!

Porém, se os cônjuges decidem viver cada um por si, sem a dimensão de parceria proposta
nas Escrituras, não poderá se dizer que é melhor serem dois do que um… Reveja estes
valores em seu casamento. Não deixe de buscar viver esta poderosa parceria. O casamento
não é apenas duas pessoas que decidiram viver juntas, é o ato de construírem juntos uma
vida!

SUPORTE

Outra característica importante do companheirismo e que valida a afirmação de que é melhor


serem dois do que um, é o suporte. A Escritura Sagrada declara que “se caírem, um levanta
o companheiro”. Nos momentos de altos e baixos que enfrentamos, o que está melhor ajuda
o outro. Encorajamento, apoio, suporte, são essenciais a união matrimonial.

Muitas pessoas entram com a motivação e expectativa errada no matrimônio; elas entram na
aliança matrimonial pensando muito mais em receber do que em oferecer algo. Esperam que
o cônjuge, ou mesmo a própria relação, façam-nas felizes. Porém, como já afirmamos, o fato
é que não nos casamos com o único propósito de sermos felizes, mas primeiramente, para
fazermos o cônjuge feliz (Dt 24.5). A Palavra de Deus nos ensina que o homem casado deve
agradar a sua esposa e vice-versa (1 Co 7.33,34).

É correto esperar receber suporte do seu cônjuge, mas antes de esperar receber (ou mesmo
cobrar esta atitude), devemos oferecer suporte! Estamos falando dos padrões de Deus para
o casamento e não do matrimônio segundo o mundo. Portanto, espera-se dos cônjuges
cristãos um comportamento que demonstre maturidade cristã. E esta maturidade nos faz
compreender que dar é mais importante do que receber (At 20.35).
Em sua carta aos coríntios, Paulo declara que “o amor não busca os seus próprios interesses”
(1 Co 13.5). Escrevendo aos filipenses, o apóstolo também ensina o crente a não olhar só
para si, mas para os outros, e afirma o seguinte:

“Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o
que é dos outros.” (Filipenses 2.4)

O Senhor Jesus também nos ensinou (não só com palavras, mas principalmente por seu
exemplo) acerca da virtude de servir em vez de apenas buscar ser servido:

“Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são
considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus
maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser
tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro
entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Marcos 10.42-45)

A maioria das queixas dos casados contra o próprio cônjuge são cobranças do que o outro
deveria ter feito. Infelizmente, somos egoístas demais e focados no próprio umbigo! Contudo,
quando em vez de somente querer ser servidos, colocamos nossos cônjuges à frente e
passamos primeiro a servir, alimentamos um outro ciclo onde nossos cônjuges, em vez de
também apenas cobrarem, passarão a também nos servir com alegria. Não é fácil colocar o
outro à frente de seus sonhos, projetos e vontades!

Lembro-me que na ocasião em que o Israel – nosso primeiro filho – nasceu a Kelly entrou
numa crise enorme. Estávamos casados há dois anos e meio nesta ocasião, mas a Kelly
havia saído de casa e mudado para a nossa cidade cerca de um ano antes do casamento;
portanto já estava há pelo menos três anos e meio morando longe dos pais. A distância de
quase setecentos quilômetros entre nossa casa e a casa dos meus sogros, somada à uma
certa limitação financeira dos primeiros anos de casado, não nos permitia vê-los com tanta
frequência como gostaríamos, mas mesmo assim a Kelly nunca deixou de me apoiar e de
sustentar a mesma declaração que Rute fez à sua sogra Noemi:

“Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te;
porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu
povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.” (Rute 1.16)

De repente, após o nascimento do Israel, minha esposa começou a demonstrar sinais de


tristeza por estar tão longe do restante da família (dela e minha, pois meus pais moravam
numa cidade próxima à dos pais dela). Ela dizia que havia se dedicado em me apoiar e
acompanhar e que nunca havia se arrependido disto, mas que partia o coração dela saber
que o nosso filho iria crescer longe dos avós e do restante da família. Conversamos e oramos
acerca disso várias vezes e a situação parecia somente se agravar.
Um dia, tive uma conversa séria com ela; disse que percebia que ela não estava conseguindo
superar aquilo, embora continuasse se esforçando muito para me apoiar. Expliquei que,
embora ela não reclamasse nem pedisse para nos mudarmos, era evidente que, naquele
momento, seu coração não estava mais ali na cidade. Então declarei a ela que, em função
do que ela estava enfrentando, eu estava disposto a deixar o pastorado daquela igreja para
nos mudarmos para mais perto da cidade dos nossos pais, uma vez que, depois de Deus, a
família é nossa maior prioridade. A Kelly se alarmou com minha sugestão e disse que não
queria atrapalhar meu ministério. Retruquei que eu poderia exercer o ministério onde quer
que estivesse, que já tínhamos uma boa equipe ministerial naquela igreja, e que não havia
me mudado para lá afim de ficar ali para sempre. Mesmo assim, ela preferiu orar mais e
buscar ao Senhor antes de qualquer decisão precipitada e, acabou entendendo da parte de
Deus que não era a hora de nos mudarmos e que o Senhor traria graça e ela venceria aquela
crise, como de fato aconteceu.

Mesmo não tendo nos mudado, naquele dia a Kelly percebeu que meu compromisso com ela
era bem maior do que ela imaginava. Foi algo parecido com o sacrifício que Deus pediu a
Abraão; ainda que ele não tenha chegado ao ponto de imolar Isaque, soube-se que ele teria
ido até o fim. Esta foi a minha primeira experiência no casamento onde realmente
enxergamos a importância de oferecer suporte um ao outro. Eu faria qualquer coisa para
apoiar minha esposa e vê-la feliz; ela, por sua vez, lutava com sua crise não querendo me
tirar do propósito divino e achando que, mesmo em meio à lutas e dificuldades, deveria estar
ao meu lado a qualquer preço.

Penso que se tivéssemos agido de forma egoísta, com ela lutando para estar perto dos pais
e eu lutando pelo meu ministério, nossa relação, em vez de consolidada como foi, teria sofrido
um sério desgaste. Oferecer suporte ao cônjuge é algo de um valor imensurável. Se
trouxermos este padrão de conduta cristã ao nosso casamento tudo será diferente! Porém,
se os cônjuges decidem apenas esperar (ou mesmo cobrar) por suporte da parte do outro,
então não poderá se dizer que é melhor serem dois do que um…

Reveja estes valores em seu casamento. Nunca deixe de ser um instrumento divino de apoio
e fortalecimento, de consolo e amparo ao seu cônjuge!

CUIDADO

O texto de Eclesiastes também afirma que “se dois dormirem juntos, se aquentarão”. Acredito
que isso fala – dentro do contexto da união matrimonial – de levar calor para a vida do
companheiro, ajudá-lo a superar os desconfortos da vida, bem como promover pequenas
alegrias e cuidados.

Um casal “brigado” normalmente não gosta de dormir junto, porque este é um ato de
intimidade. Na minha primeira semana de casado, a Kelly brincou comigo acerca disso. Ela
me falou que a mãe dela a havia aconselhado antes de casar, dizendo: “Aconteça o que
acontecer, não importa o desentendimento que um dia você e o Luciano possam vir a ter,
nunca saia do quarto!”E quando eu ia elogiar a sabedoria da minha sogra ao dar este
conselho, ela terminou com a seguinte frase: “Se alguém tiver que sair do quarto, que seja
ele! Você, minha filha, defenda o seu território!” Nós rimos juntos da brincadeira, mas
decidimos desde aquele dia vigiar para que isto não viesse a acontecer de fato. A Palavra de
Deus nos adverte:

“Irai-vos e não pequeis; não se ponha o Sol sobre a sua ira, nem deis lugar ao diabo.”
(Efésios 4.26,27)

Isto significa que um casal nunca deve deixar a ira durar até o dia seguinte; pelo contrário,
os cônjuges devem se reconciliar antes de dormir! Mas por que a tendência de um casal que
se desentende é dormir separado? A verdade é que dormir junto fala de intimidade. Também
fala do leito do casal e da sua vida sexual. O conceito de amor e intimidade de um casal está
fortemente associado ao quarto e à cama. E este tipo de cuidado mútuo não pode faltar.
Porém, aquecer um ao outro é algo que, no casamento, fazemos não só de modo literal, sob
cobertas, mas também no âmbito emocional. São conversas, expressões de carinho por meio
de palavras, presentes e atitudes que não permitem que o coração do cônjuge se esfrie.

Cuidado não é só prover e arrumar a casa; também fala de coisas pessoais de um para o
outro, dos pequenos mimos, de tudo aquilo que mostra que o cônjuge se importa de fato.
Quando isso falta, a relação se deteriora, e então, sem estes valores, acabamos tendo que
dizer que é melhor ser um do que dois. Reveja a importância do cuidado mútuo em seu
casamento. E faça valer a afirmação “é melhor serem dois do que um”.

PROTEÇÃO

O texto de Eclesiastes ainda revela que “se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe
resistirão”. Isso fala de proteção, defesa mútua, cobertura recíproca. Quando as batalhas
surgem, o casal deve aprender a se unir e resistir juntos. Há muitos tipos de lutas e de
inimigos que tentam prevalecer contra nós. Uma delas, é a batalha que é continuamente
travada no reino espiritual contra todo cristão (e matrimônio):

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas
do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as
forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de
Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo,
permanecer inabaláveis.” (Efésios 6.11-13)

Paulo escreve aos efésios advertindo acerca da realidade da batalha espiritual, mostra
claramente quem é o inimigo e revela que, para oferecer resistência, o cristão deve se revestir
da armadura de Deus (que é detalhada nos versículos 14 a 17). Mas depois de falar das
armas é que ele ensina como se trava esta batalha:
“Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando
com toda perseverança e súplica por todos os santos”. (Efésios 6.18)

A oração não é apresentada como uma arma. O ato de orar é a própria guerra onde entramos
munidos de toda a armadura de Deus. O primeiro nível de resistência que um casal deve
aprender a oferecer é mediante a oração. Temos que cobrir a vida de nosso cônjuge de
oração; devemos fazer guerra contra o inimigo (e as circunstâncias) por meio da oração!

Recordo-me de certa ocasião em que o entendimento da necessidade deste tipo de batalha


pelo cônjuge ficou, na prática, muito claro para mim. No nosso primeiro ano de casado, a
Kelly enfrentou uma luta que vencemos em oração. Certo dia saí cedo de viagem para voltar
no fim da tarde do mesmo dia. Por conta de um atraso causado pelo tráfego da rodovia, liguei
para casa para dizer a minha esposa que chegaria depois do previsto, o que me faria ir direto
para a igreja, uma vez que era dia de culto. Quando pedi que fosse me encontrar na reunião,
a Kelly disse que preferia não ir ao culto, pois não estava bem. Perguntei o que ela estava
sentindo, posto que pela manhã, quando saí de viagem, ela estava bem. Ela me falou de
sintomas físicos, mas também de uma grande batalha emocional e espiritual que passara a
sentir no fim da tarde e que não entendia o que era aquilo nem porque estava acontecendo.
Senti que deveria orar com ela por telefone mesmo e, travei batalha contra as forças das
trevas, abençoei a vida dela, intercedi e desliguei o telefone. Ela me contou depois do culto
que estava deitada quando eu orei por ela; de repente, um calorão começou a percorrer seu
corpo e fazê-la suar e os sintomas desapareceram completamente. Fiquei espantado quando
voltei para casa e ela me mostrou os lençóis e o travesseiro completamente molhados! A
Kelly testemunhou que foi imediatamente curada no corpo e que toda nuvem de opressão
desapareceu enquanto eu orava por ela. Isto nos fez levar mais a sério a realidade da batalha
espiritual que travamos e a importância de cobrirmos de oração a vida um do outro. Gosto
de um exemplo bíblico que mostra alguém lutando por outro em oração:

“Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós
em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a
vontade de Deus.” (Colossenses 4.12 – ARC)

A palavra grega traduzida como “combatendo” neste versículo é “agonizomai” e, conforme o


Léxico da Concordância de Strong, significa: “entrar em uma competição, competir com
adverários, lutar, esforçar-se com zêlo extremo, empenhar-se em obter algo”. A versão KJA
(King James Atualizada) traduziu como “guerreando”, a versão Atualizada de Almeida
escolheu esta palavra como “esforça-se sobremaneira”, a e a versão Revisada optou por
“sempre luta por vós”.

Além da batalha espiritual, que travamos por meio da oração, há outros níveis de resistência
a oferecer. É a guerra contra a sensualidade e as propostas de envolvimento sexual ilícito,
cujo apelo é cada dia maior. Já nos dez mandamentos, na Antiga Aliança, temos dois
mandamentos que envolvem a saúde matrimonial: 1) “não adulterarás” e 2) “não cobiçarás a
mulher do próximo”. Portanto, percebemos que Deus sempre tratou disso como uma área
que requer cuidado. O apóstolo Paulo advertiu os irmãos de Corinto:
“Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo,
para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos
tente por causa da incontinência.” (1 Coríntios 7.5)

A Bíblia diz que Satanás, como tentador, vai tentar explorar as brechas que os cônjuges dão
nesta área. Reconheço, porém, que esta batalha não se trava somente com oração e que o
tipo de resistência que o casal deve oferecer contra os ataques sensuais envolve cuidar e
suprir as necessidades físicas um do outro. Um cônjuge suprido emocional e sexualmente
não estará exposto a este tipo de ataque como aquele que tem sido negligenciado nesta
área. Há uma declaração no Livro de Provérbios que nos mostra isto:

“A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce.” (Provérbios
27.7)

O casal deve lutar junto, e não um contra o outro. Talvez um dos tipos de defesa que deva
ser praticado pelo marido e mulher seja o de proteger ao cônjuge de si mesmo. Muitas vezes
existem ataques verbais (e emocionais) que ferem profundamente ao cônjuge e ainda
entristecem ao Espírito Santo:

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para
edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não
entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Longe
de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda
malícia.” (Efésios 4.29-31)

O matrimônio é o mais profundo laço de relacionamento, supera o dos filhos com seus pais,
por isso o homem deixa pai e mãe para se unir à sua mulher (Gn 2.24). Contudo, muitos
cônjuges erram deixando haver interferência dos pais no relacionamento. Devemos honrar
ao pais, isto é bíblico, mas quando os pais (ou sogros) começam a atacar e implicar com seu
cônjuge, penso que você deve protegê-lo (a menos que ele esteja realmente insistindo no
pecado). Ao longo dos anos de ministério pastoral tenho visto muitos problemas e mágoas
causados por esta falta de cuidado e proteção.

Neste nível de relacionamento, a cobertura recíproca é importantíssima. Nunca descubra seu


cônjuge a quem quer que seja; não exponha as fraquezas dele, não o critique em público.
Proteja-o de ser ferido emocionalmente!

Estes são ingredientes importantíssimos para um


relacionamento: parceria, suporte, cuidado e proteção. Sem eles não dá para dizer que é
melhor serem dois do que um! Se não trouxermos estes valores e práticas para nossa relação
conjugal, então, tristemente teremos que reconhecer que é melhor ser um do que dois.
Negligenciando estas práticas acabaremos por concluir que era melhor ter ficado solteiro. E
muitos casados estão tentando viver sob o mesmo teto como se ainda fossem solteiros; isto
tem que mudar, caso contrário, seu relacionamento estará condenado.
Paulo disse aos coríntios: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino,
pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisiti das coisas próprias de
menino” (1 Co 13.11). Parafraseando a afirmação do apóstolo, poderiamos dizer: “quando eu
era solteiro, falava como solteiro, sentia como solteiro, pensava como solteiro; quando
cheguei a ser casado, desisiti das coisas próprias de solteiro”.

O Cordão de Três Dobras – Luciano Subirá

A Bíblia diz em Eclesiastes 4.9-12 que “melhor é serem dois do que um”, mas termina falando
sobre o cordão de três dobras e revelando que é melhor serem três do que dois. Fica implícito
que a conta de uma terceira dobra no cordão está mostrando que o “time” aumentou.

“Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras
não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4.12)

Salomão afirma que se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão. Isto mostra
que um cordão dobrado oferece maior resistência. Porém, ao acrescentar-se uma terceira
dobra, ele fica ainda mais resistente! Se há benefícios em ser dois, há muito mais em ser
três!

Como já afirmamos, Salomão não fez esta afirmação direcionada exclusivamente ao


casamento; ele fala de relacionamento de um modo geral. E, em qualquer relacionamento, a
terceira dobra poderia ser mais uma pessoa. Porém, quando examinamos a revelação bíblica
acerca do casamento, descobrimos que, no modelo divino, deve sempre haver a participação
de uma terceira parte. E isto não fala da presença de algum filho e nem tampouco de um
(abominável) triângulo amoroso! Fala da participação do Senhor no casamento.

A presença de Deus é a terceira dobra e deve ser cultivada na vida do casal. Adão e Eva não
ficaram sozinhos no Éden, Deus estava diariamente com eles e, da mesma forma como
idealizou com o primeiro casal, Ele quer participar do nosso casamento também!

Vemos esta questão do envolvimento de Deus na união matrimonial sob três diferentes
perspectivas:

1. Deus como parte do compromisso do casal;

2. Deus como fonte de intervenção na vida do casal;


3. Deus como modelo e referência para o casal.

UMA DUPLA ALIANÇA

Como já afirmamos no primeiro capítulo, o casamento é uma aliança que os cônjuges firmam
entre si e também com Deus. O Senhor, através do profeta Malaquias, referiu-se ao
casamento como sendo uma aliança entre o homem e a sua mulher:

“Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com
a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança”.
(Malaquias 2.14)

A esposa foi chamada por Deus como “a mulher da tua aliança”, o que deixa claro qual é o
enfoque bíblico do casamento. Esta aliança matrimonial não é apenas uma aliança dos
cônjuges entre si, mas do casal com Deus. O matrimônio, portanto, é uma dupla aliança.
Malaquias diz que Deus se faz presente testemunhando a aliança do casal. O mesmo
conceito também nos é apresentado no livro de Provérbios:

“Para te livrar da mulher adúltera, da estrangeira, que lisonjeia com palavras, a qual
deixa o amigo da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus”. (Provérbios
2.16,17)

Novamente as Escrituras condenam o abandono ao cônjuge, pois neste texto, assim como
em Malaquias, a infidelidade é abordada. Nesta situação, é a mulher quem foi infiel ao amigo
de sua mocidade e é chamada de alguém que se esqueceu da aliança do seu Deus. A palavra
“aliança”, neste versículo de Provérbios, fala não apenas da aliança entre os cônjuges, mas
da aliança deles com Deus. Fala da obediência que alguém deve prestar à Lei do Senhor e
também se refere ao matrimônio como uma aliança da qual Deus quer participar.

No Antigo Testamento vemos Deus, por intermédio de Moisés, seu servo, entregando a Israel
dez mandamentos que se destacavam de todos os demais. Eles foram chamados de “as
palavras da aliança”:

“E, ali, esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem
bebeu água; e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras”. (Êxodo
34.28)

Um destes mandamentos mostra que preservar o casamento não é apenas uma obrigação
da aliança contraída entre os cônjuges; é parte da aliança firmada com o próprio Deus: “Não
adulterarás” (Êx 20.14). As ordenanças do Senhor foram escritas (incluindo a ordem de não
adulterar) e o livro onde foram registradas passou a ser chamado de “o livro da aliança”:
“Moisés escreveu todas as palavras do Senhor… E tomou o livro da aliança e o leu ao
povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos. Então,
tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue
da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras.” (Êxodo
24.4a,7,8)

Portanto, o casamento é uma dupla aliança; é uma aliança dos cônjuges entre si, mas
também é uma aliança de ambos com Deus. Logo, o Senhor está presente na aliança, no
compromisso do casamento. Esta é uma das formas em que Deus pode ser a terceira dobra
no relacionamento conjugal.

EDIFICAR COM A BÊNÇÃO DE DEUS

Outra forma como Deus pode e quer participar no casamento é podendo intervir, agir em
nossas vidas e relacionamento conjugal. Não temos a capacidade de fazer este
relacionamento funcionar somente por nós mesmos; aliás, temos que admitir nossa
dependência de Deus para tudo, pois o Senhor Jesus Cristo mesmo declarou: “sem mim
nada podeis fazer” (Jo 15.5). A Palavra de Deus nos ensina que precisamos aprender a
edificar com a bênção de Deus, e não apenas com nossa própria força e capacidade:

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor
não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” (Salmo 127.1)

“Edificar a casa” é uma linguagem bíblica para a construção do lar, não do prédio em que se
mora. Provérbios 14.1 declara que “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com
as próprias mãos, a derriba”. Isto não quer dizer que temos uma mulher “pedreira” e outra
“demolidora”, pois o texto fala do ambiente do lar e não de um edifício físico.

Há ingredientes importantes para edificação da casa (Pv 24.3), mas o essencial é cultivar
diária e permanentemente a presença de Deus.

PARECIDOS COM DEUS

Uma outra maneira como Deus se torna parte em nosso casamento é como modelo e
referência para nossas vidas. O Senhor é o padrão no qual devemos nos espelhar!

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados.” (Efésios 5.1)

O Novo Testamento revela com clareza que o plano divino para cada um de nós é conformar-
mo-nos com a imagem do Senhor Jesus Cristo:
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos.” (Romanos 8.29)

As Escrituras declaram que fomos “predestinados” (destinados de ante-mão) para sermos


conformes à imagem de Jesus! Cristo é nosso referencial de conduta; o apóstolo João
declara que “aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele
andou” (1 Jo 2.6). O apóstolo Pedro afirmou que devemos seguir os Seus passos, o que
significa: caminhar como Ele caminhou (1 Pe 2.21). A transformação que experimentamos
na vida cristã é progressiva (a Bíbia chama “de glória em glória) e tem endereço certo: tornar-
nos semelhantes a Jesus (2 Co 3.18).

O Senhor Jesus atribuiu ao “coração duro” o grande motivo da falência do matrimônio (Mt
19.8). As promessas de Deus ao Seu povo no Antigo Testamento eram de um transplante de
coração (Ez 36.26); o Senhor disse que trocaria o coração de pedra (duro, da natureza
humana decaída) por um coração de carne (maleável, com a natureza divina). A nova
natureza deve afetar nosso casamento. Se Deus passar a ser o modelo ao qual os cônjuges
buscam se conformar, certamente se aproximarão um do outro e viverão muito melhor!

Pense em dois cônjuges cristãos manifestando as nove características do fruto do Espírito


(Gl 5.22,23): “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, domínio próprio”. Se manifestarmos a natureza de Deus, andaremos na plenitude
do propósito divino para os relacionamentos.

Cresci ouvindo meu pai dizer (e aplicar em relação ao casamento) o seguinte: “Quando duas
coisas se parecem com uma terceira, forçosamente serão iguais entre si”. Ele dizia que se o
marido e a mulher vão se tornando parecidos com Deus, então eles ficam mais parecidos um
com o outro. No ano de 1995, quando eu era ainda récem-casado, eu vi num curso do
“Casados Para Sempre”, ministrado pelo Jessé e Sueli Oliveira (hoje presidentes nacionais
do MMI – Marriage Ministries Internacional), uma ilustração interessante: um triângulo que
tinha na ponta de cima palavra “Deus” e nas duas de baixo as palavras “marido” e “esposa”.
Nesta ilustração eles nos mostraram que quanto mais o marido e a esposa subiam em
direção a Deus, mais próximos ficavam um do outro. Nunca mais eu a Kelly esquecemos
este exemplo.

Quero falar de apenas três (entre muitos) valores que encontramos na pessoa de Deus e que
deveríamos reproduzir em nossas vidas. Certamente muitos casamentos podem ser salvos
somente por praticar estes princípios: amar, ceder e perdoar.

Amar

Se Deus será parte de nosso casamento como modelo e referência, então temos que
aprender a andar em amor, uma vez que as Escrituras nos revelam que Deus é amor (1 Jo
4.8). A revelação bíblica de que Deus é amor não foi dada apenas para que saibamos quem
Deus é, mas para que nos tornemos imitadores d’Ele:

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também
Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus,
em aroma suave.” (Efésios 5.1,2)

Há diferentes palavras usadas no original grego (língua em que foram escritos os manuscritos
do Novo Testamento) para amor: “eros” (que retrata o amor de expressão física, sexual),
“storge” (que fala de amor familiar), “fileo” (que aponta para o amor de irmão e/ou amigo), e
“ágape” (que enfoca o amor sacrificial). Quando a Bíblia fala do amor de Deus, usa a palavra
“ágape”; este é o amor que devemos manifestar! Ao escrever aos coríntios, o apóstolo Paulo
ensina como é a expressão deste amor:

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se
ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não
se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se
com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Coríntios 13.4-7)

Se imitarmos a Deus e manifestarmos este tipo de amor, as coisas certamente serão bem
diferentes em nosso matrimônio!

Ceder

A grande maioria das brigas e discussões gira em torno de quem está certo, de quem tem a
razão. Muitas vezes, não vale à pena ter a razão; há momentos em que a melhor coisa é
ceder, quer isto seja agradável, quer não! Observe o que Jesus Cristo nos ensinou a fazer:

“Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face
direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica,
deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.” (Mateus
5.39-41)

Se seguirmos a Deus, como nosso modelo e referencial, e aos seus princípios, o casamento
tem tudo para funcionar. O matrimônio não é um desafio por causa da pessoa com quem
convivemos, e sim porque este convívio suscita nossa carnalidade e egoísmo e mostra quem
nós somos! A dificuldade não está no cônjuge e sim em nossa inaptidão em ceder. Se
amadurecermos nesta área, nossa vida conjugal definitivamente colherá os frutos.

Perdoar
Se imitarmos nosso modelo e referencial, que é Deus, e perdoarmos como Ele perdoa –
como um ato de misericórdia e não de merecimento, incondicional e sacrificialmente –
levaremos nosso relacionamento a um profundo nível de cura, restauração e intervenção
divina. A instrução bíblica é muito clara em relação a isto:

“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos
outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.” (Efésios 4.32)

Concluindo, sem Deus (presente, intervindo e como nosso referencial) no casamento será
impossível viver a plenitude do propósito divino para o matrimônio. Mesmo um casal que
nunca se divorcie, viverá toda sua vida conjugal aquém do plano de Deus; por melhor que
pareça sua relação matrimonial aos olhos humanos, ainda estará distante do que poderia e
deveria viver.

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Dívida de Gratidão – Luciano Subirá

Em 1993 eu vivi uma experiência marcante em Itajaí, no Estado de Santa Catarina. Eu estava
na praia com um grupo de irmãos, depois de pregar num encontro de igrejas, e eu ouvi
alguém gritando por ajuda. O pedido de socorro vinha de um lugar de onde havíamos
acabado de sair, por conselho de um morador local que nos acompanhava. Ele nos orientou
que, com a maré do jeito que estava (com a praia estando inclusive sinalizada com bandeiras
vermelhas indicando o perigo), em pouco tempo teríamos dificuldades para sairmos de lá.
Portanto, prontamente o ouvimos e fomos a um local mais raso e mais seguro. Ao ouvir os
gritos do rapaz que estava em apuros, nadei em sua direção, para ajudá-lo a sair da água,
enquanto os outros irmãos foram chamar os salva-vidas. Com muito esforço eu consegui
trazê-lo até a metade do caminho. Foi o suficiente para que os bombeiros tivessem o tempo
de entrarem na água e tirarem a ele e a mim, pois eu também já me encontrava
completamente exausto!
Lembro-me que, ao sair do mar e conseguir chegar até a praia, eu tive que me deitar para
recobrar o fôlego e as forças. Enquanto eu ainda estava deitado na areia, os amigos daquele
rapaz que eu ajudei a salvar o trouxeram carregado (ele também não tinha forças para andar)
e o colocaram na minha frente, dizendo: “Agradece à pessoa que te salvou!”
Eles ficaram tão tocados com o fato de termos salvado o seu amigo que não aceitavam a
idéia de que ele não havia agradecido ainda, mesmo que ele, assim como eu, mal
conseguisse colocar-se em pé! O que aconteceu nesta ocasião é o tipo de coisa que eu
denomino “dívida de gratidão”. Assim sendo, aproveitei para pedir-lhe algo em sinal de
gratidão a Deus (que foi de fato quem poupou a vida dele): que ele fosse a uma igreja
evangélica e entregasse o seu coração ao Senhor Jesus Cristo!
A maioria de nós carrega no coração um sentimento especial por pessoas que nos ajudaram
em momentos de necessidade ou que serviram de apoio e suporte em horas difíceis.
Recordar o que fizeram por nós dispõe o nosso coração a desejar retribuir e fazer algo em
troca.
Quando falamos de amor ao Senhor na dimensão que Ele quer é natural o desejo de
crescermos e amadurecermos neste amor. Assim que eu comecei a entender a importância
desta manifestação mais intensa de amor, eu também comecei a procurar meios de fazer
com que o meu amor aumentasse.
Jesus nos falou sobre o que leva as pessoas a amarem mais, ou menos, e fez uma relação
disso com a compreensão do Seu perdão estendido a cada um de nós. Assim sendo, eu
afirmo que a compreensão da dimensão do que o Senhor fez por nós nos leva a uma
manifestação maior de amor para com Ele. Por outro lado, uma compreensão limitada do
que Ele fez por nós nos prende a uma manifestação igualmente limitada de amor e gratidão.
Foi neste contexto que Deus fez com que eu compreendesse o texto a seguir, como também
o poderoso princípio nele embutido: a dívida de gratidão!
“E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa
do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus
pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos;
e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. Ao ver isto, o fariseu que o convidara
disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que
lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa
tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um
lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com
que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe
Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E,
voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não
me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os
enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei
não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com
bálsamo, ungiu os meus pés. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos
pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. Os que estavam com ele à
mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Mas Jesus
disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.” (Lucas 7.37-50)
CONTRASTES
Temos nesta história duas personagens bem distintas. De um lado, representando a
dedicação à religião, temos um fariseu, um membro da mais rígida casta religiosa dos judeus.
Do outro lado, como expressão da distância de Deus aos olhos dos homens, temos uma
mulher chamada de “pecadora”, provavelmente uma prostituta. Os contrastes não param aí.
Simão era o dono da casa, o anfitrião da festa, e tinha todo direito de estar lá. A mulher, no
entanto, causou indignação nos presentes por causa do que era, e certamente apareceu por
lá sem ter sido convidada. Simão agiu da forma mais polida e discreta possível, mas aquela
mulher pecadora foi um escândalo diante das pessoas presentes.
Aos olhos daquelas pessoas, a grande diferença entre ambos era definida pelo pecado que
se via (ou não) em suas vidas. Resumindo-se, as diferenças eram definidas pela aparência.
Aos olhos de Jesus, os contrastes continuavam, mas, pela Sua explicação, percebemos que
os papéis de “herói” e “vilão” se invertiam. O Senhor disse que esperava ter recebido um
ósculo de Simão, mas ele não fez isto. Esta prática era um sinal de respeito, e Simão o
negligenciou. Não sabemos a razão, mas ele não fez o que Jesus esperava. Contudo, a
mulher desconhecida não cessava de beijar os Seus pés. Simão não lavou os pés de Jesus
e nem mandou que um dos seus servos o fizesse, mas a pecadora os regou com lágrimas e
os enxugou com os seus cabelos. Simão não ungiu a Jesus com óleo, mas a mulher usou
um perfume caríssimo para executar tal tarefa. Simão não se via como um pecador
necessitado da graça e do perdão de Deus, mas a mulher sim!
Aos olhos de Jesus, a grande diferença entre ambos era definida pelo amor e gratidão que
se via (no caso da mulher) ou não (no caso do fariseu) em suas vidas. E a diferença vista por
Jesus – que não se baseava na aparência – anulava completamente a diferença percebida
pelos homens, uma vez que as acusações de pecado que poderiam fazer contra aquela
mulher foram completamente removidas pelo perdão de Deus que foi estendido a ela.
A QUEM MUITO SE PERDOA
É natural, como já afirmamos, esperar-se que uma pessoa se sinta em dívida com uma outra
que lhe ofereceu uma grande ajuda. Todos nós sabemos o que é isto, de uma maneira ou de
outra. Como pastor, eu sigo a ética pastoral convencional de nunca ser fiador de ninguém,
pois a reputação do ministério pode ser facilmente destruída pelo erro de alguém que possa
usar o meu nome indevidamente, sem que eu possa fazer nada a respeito. No entanto,
recordo-me de uma vez em que avalizei um irmão em Cristo muito querido para mim. O valor
era muito alto para a minha condição financeira, e, se ele tivesse problemas com o
pagamento da sua dívida, eu poderia até mesmo perder a minha casa. Ainda assim, eu e a
minha esposa fizemos por ele o que não faríamos por quase ninguém, por uma única razão:
dívida de gratidão! Todas as vezes que eu precisei de um aval ou de qualquer tipo de ajuda,
ele era o primeiro a oferecer-se. Ele sempre se importou comigo e foi uma grande bênção
para mim. Assim sendo, com a anuência da minha esposa, tomei a decisão de avalizá-lo,
mesmo que isto pudesse nos custar a casa que possuíamos!
A maioria de nós sabemos, por experiência própria, o que é sermos ajudados pelas pessoas
a ponto de carregarmos no coração uma grande gratidão pelo que recebemos delas. Este
princípio é algo natural, que se manifesta na vida de qualquer um que tenha consciência,
quer seja um crente ou um incrédulo. E o Senhor Jesus o aplicou a nós. Ele disse que quando
entendemos o Seu perdão e a dimensão dos pecados que Ele removeu das nossas vidas,
ficamos naturalmente gratos e O amamos mais. Ele falou sobre dois devedores, com dívidas
distintas e que foram perdoados. No entanto, um deles devia dez vezes mais do que o outro,
e ficou mais agradecido. E, em Seu ensino, Jesus revela que a gratidão não está ligada
meramente ao perdão da dívida, e sim à consciência da dimensão (do tamanho) do perdão.
Isto fica muito claro em Sua afirmação àquela mulher: “Por isso, te digo: perdoados lhe são
os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco
ama.”
REMOVENDO O ENGANO
Hoje, este trecho das Escrituras abençoa muito o meu coração e faz com que eu cresça na
expressão do meu amor a Deus, mas nem sempre foi assim! Este mesmo texto já trouxe
muitas dúvidas e conflitos ao meu coração!
Eu tive o grande privilégio de nascer num lar genuinamente cristão. O meu primeiro presente
foi uma Bíblia. Desde cedo fui ensinado, tanto em casa como na igreja, a seguir os princípios
da Palavra, e eu decidi seguí-los. Não cresci me achando santo ou perfeito, mas me afastei
de tudo o que, aos meus olhos, eu considerava ofensivo a Deus. Nunca fiquei embriagado
ou drogado, nunca traí ninguém, nem em amizades ou namoro, nunca roubei, e sempre fugi
da prostituição. Eu me considerava alguém separado para Deus, mas, cada vez que eu lia
esta passagem bíblica, eu entrava num conflito interior.
Por muitas vezes o Diabo sugeriu que eu jamais entenderia o amor e o perdão de Deus sem
pecar. Eu me flagrava pensando que eu nunca amaria ao Senhor como os “ex-malucos” que
víamos se convertendo. De fato eu tenho visto muitos que saíram do mais profundo abismo
de drogas, alcoolismo, prostituição, magia, e de tudo o que degrada o ser humano. Eles,
como Jesus disse, carregam uma profunda consciência do perdão de Deus e caminham na
consciência da dívida de gratidão que possuem para com Ele.
Contudo, o Maligno me levava a pensar que, semelhantemente a Simão, que foi criado
segundo a verdade da Palavra de Deus e a seguiu, eu nunca valorizaria a obra de Cristo em
minha vida! É evidente que, com tais pensamentos, Satanás não queria me ensinar a amar
mais profundamente a Deus. Eu sabia que o que ele de fato queria era desviar-me do Senhor,
e eu nunca lhe dei ouvidos, mas eu não conseguia ter o entendimento do ensino de Jesus.
Enganado, passei a considerar que o que antes me parecia ser um privilégio poderia ser um
impedimento para que eu pudesse verdadeiramente amar ao Senhor. Mais tarde, descobri
que este dilema não era somente meu. Até hoje, quando ensino sobre isto, muitos crentes
que nasceram e cresceram no Evangelho me confidenciam que tinham o mesmo
questionamento.
Satanás tenta promover o engano por meio da distorção dos princípios bíblicos. Vemos isto
claramente na tentação de Jesus no deserto. O Inimigo tentou distorcer a aplicação do Salmo
91, no que dizia respeito à proteção dos anjos. Eu lutei contra estas setas de engano no que
diz respeito à afirmação de Jesus de que quem muito é perdoado muito ama. Eu sabia que
a Palavra de Deus é perfeita e nunca erra. Eu sabia também que eu não poderia desviar-me.
Assim sendo, comecei a achar que este princípio era um pouco injusto, pois, na limitação do
meu entendimento, eu achava que eu estava sendo impedido de amar profundamente ao
Senhor e que Ele havia privilegiado os rebeldes e desobedientes, ao invés dos que tentam
honrá-Lo por meio da obediência! Um dia, finalmente, Deus me respondeu e removeu o
engano que oprimia o meu coração!
O QUE JESUS QUIS DIZER COM “MUITOS PECADOS”?
Deus fez com que eu visse e compreendesse um princípio em Sua Palavra: Jesus
reconheceu que aquela mulher havia sido perdoada dos seus “muitos pecados”, e isso me
levava a crer que Cristo concordava com o fato de que ela era mais pecadora do que Simão,
pois Ele mesmo falou sobre dois devedores com dívidas diferentes. Tiago, no entanto,
mostrou-nos em sua epístola um princípio normalmente pouco entendido pelos crentes:
“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado
de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não
matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei.” (Tiago
2.10,11)
Quem tropeça num só ponto da Lei tropeça em todos. Aos olhos de Deus, todo tipo de pecado
é pecado. Todos eles produzem separação entre nós e Deus (Is 59.1,2). É lógico que as
consequências são diferentes, mas, para efeito de separação de Deus e necessidade de
perdão, todos os pecados são iguais! Observe o que Cristo ensinou:
“Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para
uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” (Mateus 5.27,28)
O Senhor Jesus afirma que a cobiça dos olhos nos faz tão imorais quanto os que julgamos
adúlteros. Contudo, não podemos pressupor que, se porventura tivermos pecado com os
olhos, não haverá razão para interrompermos este processo antes de se tornar um adultério
com envolvimento físico. Os dois “tipos” de adultério são pecado, mas as consequências de
cada um são diferentes. Contudo, no que tange à contaminação do homem e à sua
separação de Deus, os dois “tipos” de pecado produzem o mesmo efeito!
Ao escrever aos romanos, mostrando que não havia distinção entre judeus e gentios, Paulo
declarou que, independentemente do quanto conheciam a Lei, todos se encontravam numa
mesma condição:
“Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já
temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado;
como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem
busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o
bem, não há nem um sequer.” (Romanos 3.9-12)
A Bíblia encerrou todos os homens, independentemente do que cada um tenha feito, sob a
mesma condenação do pecado:
“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale
toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será
justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado.” (Romanos 3.19,20)
Eu creio que a razão pela qual Deus lidou com essas coisas dessa maneira é uma só, e
Paulo fala sobre isso: “ a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1 Co 1.29).
Nenhum de nós pode orgulhar-se de nada. Ninguém pode discutir sobre quem é mais
pecador ou sobre quem merece a atenção e a justificação de Deus. Jesus também ensinou
o seguinte sobre isto:
“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se
considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com
o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de
si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais
homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas
vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé,
longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa,
e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será
exaltado.” (Lucas 18.9-14)
Diante de tudo isto que Jesus declarou sobre o pecado, como também sobre a forma de os
homens verem a si mesmos e à sua própria condição miserável diante de Deus, comecei a
entender que Ele não poderia ter afirmado que Simão, o fariseu, era menos pecador do que
aquela mulher. Na verdade, aparentemente Ele chegou a afirmar o contrário em outros
momentos do Seu ensino:
“E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse:
Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi.
Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero;
depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo.
Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem
no reino de Deus. Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não
acreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo
vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele.” (Mateus 21.28-32)
Cristo ensinou sobre o mantermos as aparências e sobre a verdadeira obediência. Ele
mostrou que, assim como para aquele pai não interessava o fato de a resposta inicial ser
agradável ou não, e sim o que os filhos fizessem depois, assim também é no Reino de Deus.
Alguns dizem “sim” depressa, mas tornam-se religiosos e posteriormente não demonstram
uma obediência permanente, vindo a pecar com uma aparência de obediência. Outros, por
outro lado, demoram a dizer “sim”. No início somente dizem “não” e se rebelam, mas depois
demonstram que possuem a capacidade de se arrependerem e mudarem o seu
posicionamento no sentido de obedecerem ao pai.
A declaração de Jesus foi muito forte! Ele disse que publicanos e prostitutas entrariam antes
dos fariseus no Reino de Deus. Este contraste também é aplicável no caso de Simão e da
mulher pecadora. Portanto, concluímos que o Senhor Jesus não estava comparando a “ficha
corrida” de cada um, nem Se referindo ao volume de pecados que cada um tinha aos olhos
de Deus. A chave do entendimento deste texto é sabermos que, ao falar de dívida maior e
menor, de muitos e poucos pecados, Cristo está, na verdade, falando da forma como cada
um vê a si mesmo, da capacidade de enxergarmos muito ou pouco dos nossos próprios
pecados!
E esta não foi a única vez que Jesus agiu assim ao falar sobre o pecado e a nossa
necessidade de Deus. Outra afirmação de Cristo confirma a diferença que há, especialmente
neste contexto dos diferentes pecados dos fariseus e dos publicanos:
“Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus,
perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? Respondeu-
lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar
justos, e sim pecadores, ao arrependimento.” (Lucas 5.30-32)
Jesus chamou os pecadores de doentes e disse que eles precisavam de um médico (um
“salvador”). Contudo, Ele chamou os fariseus de sãos e disse que eles não precisavam de
um médico (um “salvador”). A “doença” aqui é o pecado, e o “médico” é Jesus, na condição
de Salvador. Porém, ao chamar os fariseus de sãos, Cristo não quis dizer que eles não
haviam pecado, pois todos são pecadores. Jesus Se referia à maneira pela qual eles se viam
aos seus próprios olhos!
Esta é a chave para entendermos o que o Senhor ensinou sobre “devermos muito ou
devermos pouco”. Na verdade, isto não se refere à maneira como Deus nos vê, e sim à
maneira como nós mesmos nos vemos! Não interessa o quanto pecamos e erramos em
nossas vidas, e sim o quanto conseguimos enxergar das nossas próprias faltas e nos
arrependermos!
OLHANDO PARA A VIDA DE PAULO
A prova disto pode ser vista na vida de Paulo. Ele também foi alguém que cresceu “certinho”,
sem cometer grandes ofensas contra Deus:
“Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode
confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da
tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo,
perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.” (Filipenses 3.4-6)
Ele declarou de forma enfática que, segundo a justiça que há na Lei Mosaica, ele viveu de
forma irrepreensível. Portanto podemos dizer que ele se encontrava numa condição
semelhante à minha de talvez pensar que jamais chegaria a amar tanto ao Senhor, pelo fato
de não ter sido perdoado por Deus de uma dívida de pecado muito grande! No entanto, Paulo
nunca agiu nem pensou desta maneira!
Podemos vê-lo demonstrando um grande amor pelo Senhor, não apenas pelo que fez (ele
foi o apóstolo que mais trabalhou para Deus), mas também pelo que falou e ensinou à Igreja:
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo,
todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para
si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5.14,15)
Com base na afirmação de Jesus, que abordamos desde o início deste estudo, de que quem
muito é perdoado também muito ama, eu faço a seguinte pergunta: “Será que Paulo poderia
ter demonstrado um amor tão grande como demonstrou, sem a consciência de ter sido
perdoado de uma dívida igualmente grande?” Não! Na verdade, ele tinha esta consciência!
Ele se via como o pior de todos os pecadores:
“Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar
os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi
concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a
sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para
a vida eterna.” (1 Timóteo 1.15,16)
Isto nos mostra que, ao falar sobre uma “grande dívida”, Jesus estava Se referindo à
capacidade de entendermos a gravidade dos nossos pecados e de nos arrependermos.
Sabemos que Paulo, como alguém que viveu de forma irrepreensível no tocante à Lei de
Moisés (que era extremamente rígida), não foi um devasso, nem um ladrão, ou tampouco um
bêbado, ou outras coisas que o rotulariam como um “grande pecador”. Contudo, ele se via
assim, em função da sua rendição à ação do Espírito Santo e por desejar experimentar um
profundo arrependimento.
ENXERGANDO AS NOSSAS FALTAS
Esta é a chave! Ao falar sobre os “muitos pecados” daquela mulher na casa de Simão, Jesus
não Se referia ao fato de que ela era uma prostituta, e sim que ela enxergou profundamente
a sua dívida para com Deus.
No momento em que Deus me deu este entendimento, Ele também me mostrou a minha vida
sob um outro ponto de vista. Ele fez com que eu visse a minha sujeira e as minhas misérias!
Ele fez com que eu visse que, se eu cresci perto d’Ele, isto não aconteceu devido a uma
ausência de rebeldia em meu íntimo, mas porque, além de eu haver recebido instruções e
ensinos bíblicos, eu também tive muitas orações e intercessões cobrindo a minha vida!
O Senhor fez com que eu visse quantas vezes eu quase me desviei d’Ele, e que essas
batalhas foram ganhas pelos meus pais com orações intercessórias a meu favor. O Senhor
fez com que eu visse os sentimentos, pensamentos, julgamentos e inclinações carnais que
de tal maneira ainda existem em mim que eu me senti o mais miserável e pecador de todos
os homens!
Aí então eu comecei a entender também porque o Diabo tenta nos transformar em pessoas
religiosas e espiritualmente orgulhosas. Comecei a perceber que, quando os nossos
corações perdem a capacidade de serem sensíveis a Deus e de se arrependerem, perdemos
também a capacidade de crescermos em amor ao Senhor.
Jesus nos mostrou que temos grandes dificuldades em enxergarmos as nossas próprias
faltas, muito embora tenhamos facilidade de enxergarmos os erros dos outros:
“Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está
no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho,
quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás
claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mateus 7.3-5)
Muitas vezes não enxergamos as nossas misérias porque não permitimos que o Senhor as
mostre a nós. Mas, se começarmos a entender pelo Espírito de Deus (que nos convence do
pecado) a dimensão dos nossos erros e pecados e verdadeiramente nos arrependermos
perante o Senhor, então a consciência de tudo o que Ele nos fez encherá as nossas almas
de gratidão, e acontecerá uma verdadeira revolução em nosso íntimo. Tiago desafiou os
crentes de seus dias a praticarem o arrependimento, enxergando as suas faltas:
“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de
duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai;
converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza. Humilhai-vos perante
o Senhor, e ele vos exaltará.” (Tiago 4.8-10)
O que é “sentir as nossas misérias”? É permitirmos que Deus faça com que enxerguemos a
gravidade dos nossos pecados e nos aflijamos por eles!
O tamanho do nosso pecado e da nossa dívida não pode ser medido apenas pelas coisas
que fizemos contra Deus, e sim pela forma como enxergamos (ou não) o que fizemos!
A CONSCIÊNCIA DO QUE CRISTO FEZ POR NÓS
Uma vez que temos a capacidade de vermos os nossos erros e pecados, também precisamos
ser capazes de olharmos para a Cruz e para o sacrifício de Cristo, para assim nos mantermos
conscientes do que Ele fez por nós!
Paulo dizia que o amor de Cristo o “constrangia” (2 Co 5.14). Quanto mais ele enxergava o
amor de Deus em contraposição aos seus erros, tanto mais gratidão ele percebia brotando
dentro de si. O Senhor não quer que nenhum de nós se esqueça do que Ele fez. Esta é a
razão da Ceia Memorial que Ele instituiu, como escreveu o apóstolo Paulo:
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na
noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo,
depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança
no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.
Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte
do Senhor, até que ele venha.” (1 Coríntios 11.23-26)
Ao cearmos, anunciamos a Sua morte, até que Ele volte. Ao comermos o pão e bebermos
do cálice em memória de Cristo, mantemo-nos conscientes do sacrifício que nos remiu!
Precisamos viver nesta esfera de consciência do que Jesus fez! Esta é a melhor forma de
alimentarmos o nosso amor por Ele. Os cânticos do Apocalipse são um retrato claro de que
esta ênfase de gratidão durará para todo o sempre! A morte de Cristo por nós parece ser
uma das maiores ênfases no louvor e adoração lá na glória:
“E entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos,
porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda
tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e
reinarão sobre a terra. Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres
viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares,
proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e
riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.” (Apocalipse 5.9-12)
“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de
todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro,
vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz,
dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.”
(Apocalipse 7.9,10).
De modo semelhante, também precisamos aprender a recordarmos constantemente o que
Cristo fez por nós! Se aprendermos a viver com esta consciência, tudo será diferente! O
nosso amor aumentará, e assim passaremos a viver com uma permanente dívida de gratidão
com Deus!

Afiando o Machado – Luciano Subirá

“Nesta era de correria e incessantes atividades, precisamos de algum chamado especial para
nos retirarmos e nos colocarmos a sós com Deus por um tempo, todos os dias” (D. L. Moody)

A falta de tempo a sós com Deus impede que O sirvamos melhor. Atualmente há até mesmo
ministérios que estão sendo formados de maneira errada. Eles são ensinados a faze, fazer
e fazer, mas é somente depois de investirmos tempo com o Senhor que aumentamos o
proveito do nosso serviço. Veja este princípio bíblico:

“Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se deve por mais força; mas a
sabedoria é proveitosa para dar prosperidade.” Eclesiastes 10.10

Quando o Rei Salomão foi inspirado pelo Espírito Santo a escrever estas palavras, ele não
nos deixou apenas um princípio natural, mas também, paralelamente, ele estabeleceu um
fundamento espiritual.

Assim como a sabedoria de se afiar o corte do machado para se rachar lenhas torna o
trabalho mais eficaz, também há recursos espirituais que tornam o nosso andar em Deus
mais frutífero.

Se o machado do lenhador encontra-se embotado e sem corte, ele tem que exercer muito
mais força e energia em seu trabalho, consumindo assim mais do seu tempo. Mas, ao investir
uma parte do seu tempo afiando o corte do machado, no fim ele economiza tempo e energia.

A partir do momento em que a ferramenta adquire um corte melhor, será o corte que
determinará o resultado e não a força do golpe na lenha. Resumindo: Se tentarmos
economizar o tempo que usaríamos para a manutenção da ferramenta, acabaremos
perdendo mais tempo ainda no trabalho que executamos. O povo de Deus precisa aprender
urgentemente esta lição!

O que precisamos aprender e provar na prática é que o tempo gasto com Deus é o machado
sendo afiado. Se economizarmos nesta prática, perderemos muito mais tempo e energia
depois e não conseguiremos fazer o serviço tão bem…
A correria gerada principalmente pelo crescimento do ministério pode tornar-se o maior
inimigo do próprio ministério. No livro de Atos, vemos que o crescimento da igreja trouxe
consigo alguns problemas:

“Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos
helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na
distribuição diária.” Atos 6.1
Era tanta gente se convertendo, chegando à igreja, que alguns passaram a ser esquecidos.
Os apóstolos decidiram resolver não apenas o problema do atendimento a todos, mas
também de voltarem ao que nunca poderiam ter negligenciado:

“Então os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável


que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei
dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais
encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao
ministério da palavra.” Atos 6.2-4
Nada deve nos afastar de nossa fonte!

O nosso relacionamento diário com Deus determina o sucesso do nosso ministério e não
pode jamais ser negligenciado.

Quando a ideia de que há muito para fazer me incomoda, pois sei que isto rouba do meu
tempo com Deus, procuro lembrar-me de que cada minuto investido na presença de Deus
significará menos esforço e mais eficiência no ministério depois.

Afiar o machado é algo estratégico, sábio, que traz prosperidade no trabalho. Da mesma
forma, o tempo com Deus não significa uma falta de produtividade, e sim um aumento da
nossa capacidade produtiva.

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