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(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
TERESINA
PIAUÍ – BRASIL
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
TERESINA
PIAUÍ – BRASIL
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)
TERESINA, 2009
C377e Cavalcante, Vitor Hugo Gomes Lacerda
91 fls.
C. D. D. – 597.6
VITOR HUGO GOMES LACERDA CAVALCANTE
___________________________________________________
Profa. Dra. Cristina Arzabe
Embrapa Meio – Norte (PRODEMA/UFPI)/ Orientadora
___________________________________________________
Profa. Dra. Larissa Nascimento Barreto
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
____________________________________________________
Prof. Dr. José Machado Moita Neto
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
A Deus, aos meus pais (Lindianalva e Nunes), a minha esposa (Josenília), as minhas irmãs
(Dani e Poly), a minha orientadora (Cristina) e aos lagartos e serpentes do Piauí.
Dedico
AGRADECIMENTOS
Two distant fragments of cerrado 34 km one of the other had studied in ecotone area
in the northern zone of the Piauí (José de Freitas). One of them presents typical cerrado
vegetation (Santa Fé) and another one cerrado vegetation with influence of semi deciduous
estacional forest (Nazareth). They had registered differences in the biodiversity indices and
the wealthy estimators in species for the two areas, where Nazareth presented as more diverse
and with bigger values in the wealthy estimators in species. The comparison of the
composition and diversity of species of the showed localities can be associated with the
floristic, where the area most homogeneous presented lower diversity of reptiles (Squamata).
Parallel interviews with local inhabitants had carried through aiming at the attainment of the
social and historical representations of the ambient changes. According to perception of the
inhabitants, atropicans disturbances as fires and hunting occur more on Santa Fé area, what
also he was registered during the expeditions carried through in the study areas. A direct
causal linking only can be proven by means of controlled experimentation. The hypothesis
most reasonable to explain the different results found in the registered estimators and indices
is related to the heterogeneous space offered by the vegetation, more heterogeneous in
Nazareth due to presence of closed species of and semi decidual estacional forest coexisting
in one same environment. It fits to wait that the more heterogeneous environments space
contain extra species because they provide a bigger variety of micron-habitats, a ampler
microclimate gamma and more types of places to hide itself of the predators, among others,
extending the specter of resources. In relation to the occurred untropical disturbances in the
areas, these remove vegetal and animal organisms and intervene with the community by
means of influence in the availability of ecological niches, being able still to intervene with
the microclimate, being diminished the amplitude of the specter of resources. It was perceived
by the inhabitants which area more affected is Nazareth, what it was corroborated by the field
comments, suggesting that Nazareth is more susceptible to the disturbances. The difference
found in such a way in the vegetation as in the community of reptiles studied can be a reply to
the abiotic, relative conditions to a bigger water availability in Nazareth, due to presence of
the açude do Bezerro, that is, it is possible that the gradients of wealth in registered species
can be explained by local ecological variable.
Mapa 2 Localização dos fragmentos de cerrado utilizados neste trabalho (Nazareth e Santa
Fé), do Açude do Bezerro e zona urbana do município de José de Freitas (PI)...................... 29
Mapa 3 Localização do fragmento Nazareth (cerca de 230 ha, em azul) e áreas de entorno, no
município de José de Freitas (PI). A área ecotonal onde o fragmento está inserido é coberta
por matas de encosta e remanescentes de floresta estacional semidecidual, com manchas de
caatinga, cerrado e babaçuais, cuja vegetação recebe influência do Açude do Bezerro (cerca
de 500 ha e 11.000.000 m³, em amarelo). A zona urbana de José de Freitas (PI) (ponto verde)
fica a 6 km do fragmento......................................................................................................... 30
Foto 1 (a,b) Imagens fotográficas de formas de obtenção de renda das famílias que residem no
entorno dos fragmentos Nazareth e Santa Fé. a – agricultura de subsistência; b – obtenção da
palha de carnaúba para extração da cera. ................................................................................ 34
Foto 2 (a, b, c, d, e, f) Imagens registradas in loco dos Impactos antrópicos nas bordas e
dentro dos fragmentos estudados. a e b - Presença de animais domésticos dentro e fora dos
fragmentos; c - trânsito de pessoas e veículos dentro e fora dos fragmentos; d - cupinzeiros
destruídos por bovinos; e - caça predatória; f - extração de madeira, dentro dos
fragmentos................................................................................................................................ 36
Foto 4 (a, b) Imagens da realização das entrevistas individuais e grupais, com o auxílio do
diário de campo, realizadas nos fragmentos Nazareth e Santa Fé........................................... 46
Gráfico 3 Distribuição das espécies registradas nos fragmentos Nazareth e Santa Fé segundo
listas de répteis para os biomas Cerrado e Caatinga................................................................ 50
Gráfico 7 (a, b, c, d) Curva dos estimadores de riqueza para os dois grupos de répteis
observadas (lagartos e serpentes), baseados no número de amostras válidas (PLT e AIQ), para
os fragmentos Nazareth (a, b) e Santa Fé (c, d)....................................................................... 55
Gráfico 12 Curvas de rarefação baseadas no número de espécies por amostras, para as duas
áreas estudadas......................................................................................................................... 62
Gráfico 13 (a, b) Curvas de rarefação por método quantificável de amostragem (AIQ e PLT),
para os dois fragmentos estudados, Nazareth (a)e Santa Fé (b)............................................... 63
Gráfico 14 (a, b) Abundância absoluta de espécies de répteis squamata registrada por método
quantificável de amostragem (AIQ e PLT), para os dois fragmentos estudados, Nazareth (a) e
Santa Fé (b).............................................................................................................................. 64
Tabela 1 Data e número de dias de amostragem nos dois fragmentos estudados (Nazareth e
Santa Fé), localizados no município de José de Freitas, PI, durante o ano de 2008................ 37
Tabela 2 Dados de área total (ha), área de cerrado típico (ha), distância para o fragmento
Nazareth (km), distância para o fragmento Santa Fé (km), dias de amostragem em cada área e
o ano da amostragem das localidades com levantamentos herpetofaunísticos em áreas de
cerrado no Piauí, utilizadas para este estudo............................................................................ 43
Tabela 4 Dados dos moradores entrevistados, residentes no entorno do fragmento Santa Fé.
.................................................................................................................................................. 46
Tabela 5 Lista de espécies de répteis (squamata) registrados nas duas áreas amostrais (Santa
Fé e Nazareth), nomes comuns, número total de espécimes encontrados (N) e porcentagem em
relação ao total (%).................................................................................................................. 48
Tabela 6 Valores máximos dos estimadores de riqueza utilizados para as duas áreas
analisadas................................................................................................................................. 54
Tabela 7 Índices ecológicos calculados para os dois fragmentos estudados, Nazareth e Santa
Fé.............................................................................................................................................. 58
Tabela 10. Padrão de distribuição das espécies de répteis (Squamata), registradas nos dois
fragmentos analisados (Nazareth e Santa Fé), e mais três áreas de cerrado típico com
levantamentos de répteis no Piauí............................................................................................ 66
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16
2 INVENTÁRIOS HERPETOFAUNÍSTICOS EM ÁREAS DE CERRADO E
CAATINGA E ESTUDO DA RIQUEZA EM ESPÉCIES ............................................... 21
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E MEIO AMBIENTE ............................................... 25
4 METODOLOGIA ........................................................................................................... 27
4.1 Área de estudo - Caracterização ecológica ...................................................................... 27
4.2 Área de estudo e objeto de estudo - Caracterização sócio-econômica.............................. 32
4.3 Coleta, preparação e análise de dados ecológicos............................................................ 36
4.3.1 Coleta de dados ........................................................................................................... 36
4.3.2 Preparação e identificação do material zoológico coletado ........................................... 39
4.3.3 Análise dos dados ecológicos ...................................................................................... 39
4.3.4 Coleta, preparação e análise de dados botânicos – Equipe Botânica/PELD .................. 43
4.4 Coleta (Construção), preparação e análise de dados históricos e etnobiológicos .............. 44
4.4.1 Coleta de dados históricos e etnobiológicos ................................................................. 44
4.4.2 Preparação e análise de dados históricos e etnobiológicos............................................ 47
5 RESULTADOS ............................................................................................................... 48
5.1 Riqueza e abundância de espécies de répteis Squamata................................................... 48
5.1.2 Composição de espécies .............................................................................................. 48
5.1.3 Riqueza de espécies ..................................................................................................... 53
5.1.4 Abundância e índices ecológicos ................................................................................. 56
5.2 Desempenho dos métodos quantificáveis de amostragem ............................................... 59
5.3 Similaridade entre áreas de cerrado no Piauí................................................................... 65
5.4 Representações sociais e percepção ambiental dos entrevistados .................................... 67
6 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 71
7 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 81
ANEXOS ............................................................................................................................ 89
16
1 INTRODUÇÃO
O planeta está perdendo sua diversidade biológica à medida que espécies da flora e
da fauna são destruídas mais rapidamente do que evoluem. Esse empobrecimento biológico da
Terra é conseqüência da destruição de habitats, poluição, alteração climática e caça. Em cada
atualização do seu Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas, a International Union for
Conservation of Nature and Natural Resorces (IUCN), mostra como estamos avançando em
direção a um período de extinção em massa (BROWN, 2003). Para Primack (2001), as
maiores ameaças à diversidade biológica que resultam da atividade humana são: a destruição,
fragmentação, degradação do habitat, superexploração das espécies para uso humano,
introdução de espécies exóticas e o aumento da ocorrência de doenças.
A degradação crescente e descontrolada que vem ocorrendo nas florestas tropicais
tem gerado verdadeiros mosaicos na vegetação, onde encontramos manchas de mata primária,
ladeada por pastagens, áreas cultivadas e fragmentos de vegetação secundária. Dois efeitos
imediatos da fragmentação de um ambiente natural são a redução da área total do habitat
original e a criação de áreas de borda entre este habitat e a nova paisagem alterada (efeito de
borda). Tal evento abrange modificações abióticas, bióticas diretas e bióticas indiretas,
resultando em mudanças na interação das espécies. A extensão e as implicações destas
alterações ainda são pouco compreendidas. Acredita-se que estes variem de acordo com a
idade e o tamanho do fragmento e/ou o parâmetro físico ou organismo abordado, no entanto
existe pouca informação sobre os efeitos da fragmentação sobre a biota (CASTRO, et al.
2007; COLLI, 2003). Em algumas situações esse processo de formação dos fragmentos é
natural e a zona de transição entre os fragmentos e os habitats não florestados é menos
abrupta (PÉRICO, et al. 2005).
O termo biodiversidade aparece com freqüência tanto nos meios de comunicação
populares quanto na literatura científica, mas sua definição muitas vezes é ambígua. Na sua
definição mais simplificada, a biodiversidade é apresentada como sinônimo de riqueza em
espécies. A biodiversidade, no entanto, pode ser vista em escalas menores (subpopulações e
subespécies geneticamente distintas) e maiores (diferentes tipos de comunidades em uma
região). No entanto, é sobre a riqueza em espécies que está disponível a maior parte dos dados
sobre a biodiversidade (BEGON et al., 2007).
Segundo Sachs (2002), o estudo da biodiversidade não deveria estar limitado a um
inventário de espécies e genes, por dois motivos: primeiro, porque o conceito de
17
formações ecotonais, sendo estas áreas marcadas principalmente pela presença de fragmentos
de cerrado e caatinga (e respectivos subtipos como campo cerrado, cerradão, caatingas
arbóreas e arbustivas), além de florestas semideciduais e babaçuais. Importantes inventários
herpetofaunísticos foram realizados nas áreas de transição do Piauí. No município de Valença
foram registradas 15 espécies de lagartos e 19 de serpentes (VANZOLINI, 1976;
RODRIGUES, 2003). No Parque Nacional de Sete Cidades registrou-se 12 espécies de
lagartos e 24 de serpentes (ROCHA, 2007; CAVALCANTE, 2005). Para a área de transição
localizada em propriedade da ECB rochas ornamentais no município de Castelo do Piauí,
registrou-se 13 espécies de lagartos e 18 espécies de serpentes no total (RODRIGUES, 2007).
A precariedade de inventários no Estado do Piauí é preocupante principalmente
frente ao avanço dos impactos antrópicos sobre as áreas naturais. O nível de ameaça a estas
espécies e aos ecossistemas é considerável e crescente. Impactos ambientais diretos (e. g.
destruição e fragmentação de habitats, exaustão dos recursos naturais, incêndios) são
resultantes de uma longa lista de ameaças comuns (infra-estruturas em grande escala,
conversão de terras, ações humanas não-sustentáveis) que resultam na perda da
biodiversidade na região tropical (BRANDON et al., 2005). Para a Caatinga, estima-se que
entre 30,4% e 51,7% de sua área encontra-se alterada por ações humanas e o que ainda resiste
está altamente fragmentado, a desertificação já ameaça 15% do bioma. Esta realidade
provavelmente levará agricultores e familiares a outros locais ainda não cultivados (LEAL et
al., 2005). Mais da metade do Cerrado (1 milhão km²) foi transformado em pasto e agricultura
extensiva nos últimos 35 anos, e a conversão agrícola para a soja e a criação de gado em larga
escala ainda são sua maior ameaça (KLINK; MACHADO, 2005, BARRETO, 2007).
Diferentes grupos biológicos estão sendo utilizados nos estudos sobre perda de
biodiversidade através dos efeitos de fragmentação e antropização de habitat. Cada grupo
parece apresentar respostas diferentes a estes distúrbios (DONATELLI, et. al., 2007). No caso
da herpetofauna anfíbios e répteis são considerados bons modelos para estudos sobre os
efeitos da fragmentação e impactos antrópicos devido à sua baixa mobilidade, especificidade
de habitat e facilidade de estudo (MMA, 2003). No caso específico de répteis Squamata,
Rodrigues (2005) afirma que espécies desta ordem são, em geral, muito resistentes à
fragmentação do habitat. Fragmentos de florestas isolados recentemente mantêm sua alta
diversidade por um tempo, independentemente de seu tamanho. A principal ameaça à
conservação de anfíbios e répteis no Brasil é a destruição de seus habitats através dos
desmatamentos, avanço da fronteira agrícola, mineração, fogo e projetos de desenvolvimento
(barragens e estradas, por exemplo) (SILVANO; SEGALLA, 2005). As espécies mais
23
diante. Na prática, a amplitude do espectro de recursos fica ampliada. A maioria dos estudos
sobre heterogeneidade espacial tem relacionado à riqueza de espécies animais à diversidade
estrutural das plantas do ambiente em que estes vivem ocasionalmente em conseqüência de
manipulação experimental das plantas, porém mais comumente por meio de comparações de
diferentes comunidades naturais.
Quer se origine intrinsecamente do ambiente abiótico ou se estabeleça por outros
componentes biológicos da comunidade, a heterogeneidade espacial é capaz de promover um
aumento na riqueza em espécies (BEGON et al., 2007), assim como sua perda pode ocasionar
o empobrecimento da diversidade biológica.
Alguma das perguntas mais importantes em estudos sobre a diversidade de espécies
de diferentes grupos de organismos é se a mesma esta correlacionada, em particular se a
diversidade de plantas influencia na diversidade de animais (QIAN, 2007). Pesquisas
realizadas com diferentes grupos de animais (vertebrados e invertebrados) apontam para uma
correlação positiva e/ou paralela com as plantas (CAMPOS et. al., 2006; QIAN; RICKLEFS,
2008). No entanto estes estudos ainda são escassos e precisam ser incrementados com análises
em diferentes ecossistemas.
25
rurais, que constituem na sua maioria agentes políticos que podem ou não contribuir para a
disseminação dos impactos ao meio ambiente. Os assentamentos remetem ao processo de
fixação dos trabalhadores rurais a terra, com disponibilidade de condições adequadas para o
uso do solo e o incentivo à organização comunitária. No Brasil, em todas as experiências de
assentamento, o Governo Federal foi e continua sendo até hoje o gestor, através do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que é o responsável, como instituição
federal, pela implantação dos mesmos considerando todas as etapas necessárias a sua
sustentabilidade. Muito pouco se conhece quanto às áreas de assentamento rural, definido
pelo (INCRA, 1996), como uma unidade empresarial associativa, de base familiar, autônoma
e gerida pelos trabalhadores, que visa o desenvolvimento econômico e social do conjunto de
assentados. Supostamente eles apresentariam características especiais que os diferenciariam
de outros grupos sociais (VEIGA; BURLANDY, 2001).
Os assentados, entretanto, possuem uma tradição cultural e são acostumados a
executar ordens e tarefas, assim, na hora de administrar o lote como uma empresa, ocorre uma
inversão de papéis, pois passam de empregados a dono e terão que planejar, executar e
controlar seus negócios (CASTRO; GOMES, 2007). O acesso a terra possibilita a estes
assentados construírem e ocuparem novos espaços sociais também fora dos assentamentos,
com reflexos sobre os centros urbanos dos municípios onde se localizam. É nesses espaços
que se exprime a nova identidade desses trabalhadores como grupo social, deixando de lado
as relações de submissão vivenciadas por eles quando subordinados ao capital (SOUSA,
2007). No entanto estes novos espaços sociais propiciam mudanças drásticas no modo de vida
destes trabalhadores, principalmente os mais idosos, o que gera conflitos sociais antes
inexistentes. Daí a importância da investigação das tangências culturais com o ambiente que é
proposta neste trabalho.
27
4 METODOLOGIA
O Estado do Piauí está situado numa área de tensão ecológica, com vegetação de
transição ou de ecótonos, sofrendo influência de três províncias florísticas: a floresta
amazônica, o cerrado e a caatinga. Devido à elevada heterogeneidade espacial e ambiental, a
cobertura vegetal do Piauí apresenta-se como um complexo mosaico de tipos vegetacionais
que vão desde os mais secos, como as caatingas, distribuídas a leste e sudeste; passando pelos
carrascos em sua parte central e nordeste; seguidos dos cerrados em sua porção centro-norte e
sudoeste, até os mais úmidos, como as matas de babaçuais e florestas estacionais
semideciduais instaladas nos limites dos estados do Piauí e Maranhão (OLIVEIRA, 2004;
CASTRO, 2003) (Mapa 1).
31.0 100
30.0 90
80
29.0
70
28.0 60
27.0 50
2008 40 2008
26.0
30
25.0
20
24.0 10
23.0 0
Out
Nov
Ago
Ago
Jun
Jun
Mar
Abr
Set
Out
Set
Fev
Nov
Fev
Mai
Jan
Mai
Jul
Jan
Jul
Dez
Mar
Dez
Abr
a b
600.0 600.0
2002
500.0 500.0
2003
400.0 400.0 2004
2005
300.0 300.0
2008 2006
200.0 200.0 2007
Ago
Set
Out
Set
Out
Fev
Nov
Fev
Nov
Jan
Mai
Jun
Jul
Jan
Mai
Jun
Jul
Mar
Dez
Mar
Dez
Abr
Abr
c d
Gráfico 1 Dados da Estação Climatológica de Teresina/PI, a mais próxima do Município de José de Freitas, PI
(distante 40 km da sede do município). a – Temperatura média (ºC) mensal para o ano de 2008; b – Média
mensal da umidade relativa do ar (%) para o ano de 2008; c – Precipitação total (mm) mensal para o ano de
2008, período da coleta de dados deste trabalho; d – Precipitação total (mm) mensal para o período de Janeiro de
2002 a Abril de 2009, em destaque o ano de 2008 (linha e marcador vermelhos). (adaptado).
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, (2009).
Mapa 2 Localização dos fragmentos de cerrado utilizados neste trabalho (Nazareth e Santa Fé), do Açude do
Bezerro e zona urbana do município de José de Freitas (PI). (adaptado).
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Imagem de satélite CBERS (2008).
Mapa 3 Localização do fragmento Nazareth (cerca de 230 ha, em azul) e áreas de entorno, no
município de José de Freitas (PI). A área ecotonal onde o fragmento está inserido é coberta por
matas de encosta e remanescentes de floresta estacional semidecidual, com manchas de caatinga,
cerrado e babaçuais, cuja vegetação recebe influência do Açude do Bezerro (cerca de 500 ha e
11.000.000 m³, em amarelo). A zona urbana de José de Freitas (PI) (ponto verde) fica a 6 km do
fragmento. (adaptado).
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Imagem de satélite CBERS (2008).
31
Mapa 4 Localização do fragmento Santa Fé (cerca de 300 ha, em vermelho) e áreas de entorno,
no município de José de Freitas (PI). A área ecotonal onde o fragmento está inserido é coberta
por manchas de cerrado e carnaubais. (adaptado)
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Imagem de satélite CBERS (2008).
32
Nº de Habitantes
36000 35164
35000
Número de habitantes
34000 32858
33000
32000
31000
29451 29405
30000
29000
28000
27000
26000
1991 1996 2000 2007
Ano
A maioria dos moradores da zona rural de José de Freitas são pessoas de baixa renda
que geralmente prestam serviço aos donos de propriedades que praticam a agropecuária, ou
são pequenos produtores que praticam a agricultura de subsistência em suas propriedades.
Muitos dos moradores da zona rural de José de Freitas são oriundos de assentamentos
promovidos por órgãos governamentais desde a década de 1980, estes assentamentos podem
34
ser de dois tipos. Existem os assentamentos individuais, onde cada assentado recebe um lote
de terra e este possui em média 60 ha, desta forma cada família mora dentro de seus lotes e
distante de seus vizinhos, sendo responsáveis por sua produção. O outro modelo de
assentamento é o implantado atualmente pelo INCRA, conhecido como assentamentos
coletivos, onde várias famílias vivem em vilas, com casas próximas e a produção se dá através
do trabalho coletivo em um mesmo espaço de terra.
No caso dos fragmentos de cerrado estudados (Nazareth e Santa Fé), estes possuem
nos seus entorno os dois modelos de assentamentos citados. No fragmento Nazareth há 6 anos
foram assentadas 30 famílias no Assentamento São Domingos, dentre estes assentados estão
antigos moradores da região que trabalhavam nas grandes fazendas e/ou viviam como
arrendatários, e ex sem-terras de José de Freitas e de municípios vizinhos. Além dos
moradores oriundos dos assentamentos, existe no entorno de Nazareth famílias com pequenas
propriedades derivadas da repartição e venda de terras entre herdeiros. A base econômica
destas famílias é a agricultura de subsistência, a criação de pequenos animais, auxílios
governamentais e a aposentadoria (Foto 1a).
No fragmento Santa Fé existe atualmente os dois modelos de assentamentos citados.
Aproximadamente 20 anos atrás foi implantado o Assentamento Salva Terra, que seguiu o
modelo de assentamento individual. Parte das terras do entorno de Santa Fé pertence a estes
assentados. Recentemente foi implantado um assentamento coletivo na região, este ainda esta
na sua fase inicial com os moradores sendo dependentes de subsídios públicos. Alem da
agricultura de subsistência, as famílias do entorno de Santa Fé dependem economicamente de
auxílios governamentais, de aposentadorias e da renda oriunda da venda da cera de carnaúba
(Fotos 1- a, b). A carnaúba (Corpenicia sp) é uma espécie vegetal abundante na região
a b
Foto 1 Imagens fotográficas de formas de obtenção de renda das famílias que residem no entorno dos
fragmentos Nazareth e Santa Fé. a – agricultura de subsistência; b – obtenção da palha de carnaúba para
extração da cera.
Fonte: O autor, 2008.
35
a b
c d
e f
Foto 2 Imagens registradas in loco dos Impactos antrópicos nas bordas e dentro dos fragmentos
estudados. a e b - Presença de animais domésticos dentro e fora dos fragmentos; c - trânsito de
pessoas e veículos dentro e fora dos fragmentos; d - cupinzeiros destruídos por bovinos; e - caça
predatória; f - extração de madeira, dentro dos fragmentos.
Fonte: O autor, 2008.
Tabela 1 Data e número de dias de amostragem nos dois fragmentos estudados (Nazareth e Santa Fé),
localizados no município de José de Freitas, PI, durante o ano de 2008.
Nazareth e quatro em Santa Fé). As estações de coleta possuíam uma distância mínima de 300
metros uma da outra, permitindo assim que as mesmas pudessem ser consideradas como
unidades amostrais independentes (ENGE, 2001; RIBEIRO – JUNIOR, 2006).
Procura Limitada por Tempo (PLT) - consistiu em fazer uma busca ativa durante
um tempo determinado, realizando um deslocamento a pé, muito lento, em trilhas pré-
existentes dentro das áreas, onde é realizada a inspeção de tocas, cupinzeiros, vegetação
arbórea, arbustiva, gramíneas, etc. (SANTOS-COSTA, 2003; ROCHA, 2007). Este tipo de
coleta ocorreu em dois períodos distintos, sendo 4 h de duração no período da manhã e 4 h
durante a noite (dois coletores 2 h cada), os exemplares foram coletados manualmente ou com
auxilio de equipamento adequado (gancho, pinças, bandas de borracha).
Encontro Ocasional (EO) - consistiu em considerar animais encontrados ao acaso
entre os intervalos de PLT, de visita as AIQ’s, ou ainda no recebimento de espécimes
encontrados mortos, trazidos por terceiros: trabalhadores e moradores locais, entre outros
(SANTOS-COSTA, 2003; ROCHA, 2007).
Composição de espécies
Com base no total de registros de espécies através dos métodos de amostragem nos
fragmentos e em regiões circunvizinhas, foi elaborada uma lista de espécies e abundância
absoluta. Através da abundância absoluta registrada para cada espécie foi elaborado um
gráfico com a porcentagem de registros por área amostral estudada.
Com o auxílio de listas de espécies de répteis squamata para o bioma Cerrado
(COLLI et al., 2002) e para o bioma Caatinga (RODRIGUES, M. 2003), ambos que mais
influenciam floristicamente o estado do Piauí, foi elaborado um gráfico a partir da
composição de espécies registradas neste estudo e a presença destas nas referidas listas.
de Procura Limitada por Tempo (PLT), considerando-se as horas de campo realizadas nos
diferentes fragmentos. Para Armadilhas de Interceptação e Queda (AIQ), o esforço foi medido
em dias e correspondeu ao período em que as mesmas permaneceram abertas, considerando-
se o total de baldes por área amostral trabalhada. O índice de intensidade amostral e a
completude do inventário foram calculados separadamente para cada um dos métodos
quantificáveis obtidos pela razão entre o número total de espécimes e a riqueza observada.
Para avaliar o esforço de coleta e permitir comparações da riqueza entre os diferentes
fragmentos de cerrado, foram produzidas curvas de acumulação de espécies (GOTELLI;
COLWELL 2001). Outro cálculo de amostragem realizado permitiu a confecção de curvas de
rarefação para as áreas analisadas. As curvas de rarefação são importantes por permitirem
comparações do número de espécies entre comunidades, quando o tamanho das amostras não
é igual (MORENO, 2001). O cálculo é realizado através do número esperado de espécies
obtido em cada amostra ou indivíduos, permitindo assim a comparação de n amostras ou
indivíduos (fixando assim um ponto de comparação). As curvas de acumulação e rarefação
bem como os demais estimadores de riqueza foram construídos com o programa EstimateS
v.8.0. (COLWELL, 2006).
A fim de visualizar a efetividade dos métodos quantificáveis de amostragem foram
construídas tabelas para cada fragmento estudado com os números absolutos e relativos, em
cada técnica de amostragem, de unidades amostrais com registro de indivíduos (“ocorrência”),
e da abundância de cada espécie de réptil registrada.
sócio-ambientais desde o início do referido projeto, a EEUU foi amostrada por Zaher et al.,
nos anos de 2000 e 2001, e é considerada como “área de atenção especial” dentro do PELD
(CASTRO, et al., 2007).
comparação entre as cinco áreas foi construída uma tabela com dados das regiões e dos
levantamentos realizados (Tabela 2).
Tabela 2 Dados de área total (ha), área de cerrado típico (ha), distância para o fragmento Nazareth (km),
distância para o fragmento Santa Fé (km), dias de amostragem em cada área e o ano da amostragem das
localidades com levantamentos herpetofaunísticos em áreas de cerrado no Piauí, utilizadas para este
estudo.
total (AT). Todos os indivíduos foram numerados com arame e etiqueta para posterior
identificação ou confirmação de identificação.
A coleta foi feita através de uma tesoura de poda. Espécies fora e nas proximidades
dos quadrantes foram também observadas e coletadas. Para as amostragens detalhadas, três
transeções foram alocadas aleatoriamente, com auxílio de bússola de mira e trena, ao longo
dos diferentes habitats de cada fragmento estudado, de modo a amostrar tanto a borda como o
centro de cada ambiente. Ao longo das transeções, foram instaladas parcelas de 20x20 m.
Cada parcela foi dividida ao meio, formando uma subparcela de 10x20 m para a amostragem
florística e fitossociológica e outra, de mesma dimensão, para coleta de dados destrutivos,
como amostras de solo. O critério de inclusão das espécies arbustivo-arbóreas nas parcelas foi
de 3 cm de DNS no cerrado e 3 cm de DAP na mata ciliar. A numeração e coleta dos
indivíduos foram feitas do mesmo modo descritas acima. Todo o material coletado foi
preparado para inclusão nos herbários Graziela Barroso (TEPB) do Departamento de Biologia
da Universidade Federal do Piauí - UFPI e Departamento de Biologia da Universidade
Federal do Maranhão - UFMA. A identificação foi feita a partir de bibliografia especializada,
consulta a outros herbários nacionais e envio de material a especialistas, quando necessário.
Foram feitas as análises convencionais dos dados fitossociológicos e análises de similaridade
e ordenação entre áreas, utilizando-se os programas de domínio público FITOPAC, MATA
NATIVA, TWINSPAN e CANOCO (CASTRO, et al. 2007).
1
Geertz defende que “o nativo é o detentor do primeiro discurso” a fim de mostrar e alertar que o trabalho do
pesquisador é apenas uma representação, interpretação dos fatos sociais, pois ele muitas vezes não vivenciou e
nem pertence àquela cultura pesquisada.
2
Termo sociológico utilizado por Bourdieu, para destacar que o sociólogo deve estar atento as representações
simbólicas e instituições que estão por detrás do discurso do(s) indivíduo(s) estudados.
3
Conceito social construído por Bourdieu, que trata sobre a postura acessível que o pesquisador deve
manter diante do entrevistado independente da sua posição na sociedade, para evitar o
constrangimento do mesmo e a falta de ética profissional.
46
Tabela 4 Dados dos moradores entrevistados, residentes no entorno do fragmento Santa Fé.
Foto 4 Imagens da realização das entrevistas individuais e grupais, com o auxílio do diário de campo,
realizadas nos fragmentos Nazareth e Santa Fé.
Fonte: O autor, 2008.
4
Através de e-mail ao autor: vitorherpeto@yahoo.com.br.
48
5 RESULTADOS
Tabela 5 Lista de espécies de répteis (squamata) registrados nas duas áreas amostrais (Santa Fé e
Nazareth), nomes comuns, número total de espécimes encontrados (N) e porcentagem em relação ao total
(%).
Nazareth, a segunda espécie mais abundante neste trabalho (C. gr. ocellifer) também obteve a
maioria dos registros em Santa Fé com 68% do total contra 32% em Nazareth (Gráfico 4).
12% 8%
15%
65%
Gráfico 3 Distribuição das espécies registradas nos fragmentos Nazareth e Santa Fé segundo listas
de répteis para os biomas Cerrado e Caatinga.
Fonte:Pesquisa direta,2009.
100%
90%
% de indivíduos por área
80%
70%
60%
50%
40% Santa Fé
30%
Nazareth
20%
10%
0%
Tu me
Ep ce
Dr co
Li po
Mi ib
Am al
Cn gr oc
Ma cf ni
Ps ni
Th sp A
Th sp B
He ma
Mi ma
Li cf pa
Am am
Ma cf ar
Ox tr
Ph na
Ig ig
Tr se
Ph of
Ta me
Le po
Le anu
Li cf vi
Tr hi
Espécies registradas
Gráfico 4 Abundância absoluta das 26 espécies de répteis (Squamata) registradas em Nazareth e Santa
Fé, por PLT e AIQ: Am al\A. alba; Le po\L. polystegum; Ig ig\I. iguana; Tr hi\T. hispidus;Tr se\T.
semitaeniatus; He ma\H. mabouia; Am am\A. ameiva; Cn gr. oc\C. gr. ocellifer; Tu me\T. merianae; Mi
ma\M. maximiliani; Ma cf. ar\M. cf. arajara; Ma cf. ni\M. cf. nigropunctata; Ep ce\E. cencria; Dr co\D.
corais;Le na\L. annulata; Li cf. pa\L. cf. paucidens; Li po\L. poecilogirus; Li cf. vi\ L. cf. viridis; Ox tr\
O. trigeminus; Ph na\ P. nattereri; Ph of\ P. olfersii; Ps ni\P. nigra; Ta me\T. melanocephala; Th sp
A\T. sp A; Th sp B\T. sp B; Mi ib\M. ibiboboca.
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
51
a b
c d
e f
g h
i j
k l
m n
o p
40
Número de espécies estimada
35
30 Sobs 95%
25 Sobs
Chao 1
20
Chao 2
15 Jack 1
10 Jack 2
Bootstrap
5
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Amostras
Gráfico 5 Curva dos estimadores de riqueza para as duas metodologias quantificáveis e espécies
observadas, baseados no número de amostras válidas (PLT e AIQ), para o fragmento Nazareth.
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
54
40
5 Jack 2
Bootstrap
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Amostras
Gráfico 6 Curva dos estimadores de riqueza para as duas metodologias quantificáveis e espécies
observadas, baseados no número de amostras válidas (PLT e AIQ), para o fragmento Santa Fé.
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
Tabela 6 Valores máximos dos estimadores de riqueza utilizados para as duas áreas analisadas.
22 22
20
Lagartos Nazareth 20
Serpentes Nazareth
18 18
16 16
Riqueza estimada
Riqueza estimada
Sobs Sobs
14 14
12 Chao 1 12 Chao 1
10 10
Chao 2 Chao 2
8 8
6 Jack 1 6 Jack 1
4 4
Jack 2 Jack 2
2 2
0 Bootstrap 0 Bootstrap
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37
Amostras a Amostras b
22 22
20
Lagartos Santa Fé 20
Serpentes Santa Fé
18 18
16 16
Riqueza estimada
Riqueza estimada
Sobs Sobs
14 14
12 Chao 1 12 Chao 1
10 10
Chao 2 Chao 2
8 8
6 Jack 1 6 Jack 1
4 4
Jack 2 Jack 2
2 2
0 Bootstrap 0 Bootstrap
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37
Amostras c Amostras d
Gráfico 7 Curva dos estimadores de riqueza para os dois grupos de répteis observadas (lagartos e serpentes),
baseados no número de amostras válidas (PLT e AIQ), para os fragmentos Nazareth (a, b) e Santa Fé (c, d).
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
Muitas das variações dos valores dos estimadores de riqueza de espécies estão
relacionadas com a quantidade de espécies raras, singletons e doubletons (espécies
representadas por somente um ou dois indivíduos respectivamente), e/ou espécies
infreqüentes, uniques e duplicates (presentes em uma ou duas amostras respectivamente)
encontradas em cada fragmento estudado. Do total de espécies registradas no fragmento
Nazareth, dez são representadas por singletons e apenas duas por doubletons, os uniques deste
fragmento totalizaram 11 registros e os duplicates dois (Gráfico 8a). O fragmento Santa Fé
apresentou números inferiores ao anterior totalizando sete singletons e três doubletons, esses
registros se repetiram em relação aos uniques e duplicates registrados (sete e três
respectivamente) (Gráfico 8b).
56
12 12
Nazareth Santa Fé
10 10
Registro de espécies
Registro de espécies
8 8
Singletons Singletons
6 6
Doubletons Doubletons
4 4
Uniques Uniques
2 Duplicates 2 Duplicates
0 0
1 5 9 13172125 293337 1 5 9 13 1721 252933 37
Amostras aa Amostras b
Gráfico 8 Curvas acumulativas de espécies raras (singletons e doubletons) e infreqüentes (uniques e duplicates),
para os fragmentos Nazareth (a) e Santa Fé (b).
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
180
160
140
120
100
80 Santa Fé
60 Nazareth
40
20
Ig ig
Tr se
Ta me
Dr co
Le po
Le anu
Mi ib
Li cf vi
Tr hi
Cn gr oc
Th sp A
Li cf pa
Mi ma
He ma
Th sp B
Ma cf ar
Ox tr
Am am
Tu me
Ph of
Ep ce
Li po
Ma cf ni
Ps ni
Am al
Ph na
Gráfico 9 Abundância absoluta das 26 espécies de répteis (squamata) registradas em Nazareth e Santa
Fé, por PLT e AIQ: Am al\A. alba; Le po\L. polystegum; Ig ig\I. iguana; Tr hi\T. hispidus; Tr se\T.
semitaeniatus; He ma\H. mabouia; Am am\A. ameiva; Cn gr. oc\C. gr. ocellifer; Tu me\T. merianae; Mi
ma\M. maximiliani; Ma cf. ar\M. cf. arajara; Ma cf. ni\M. cf. nigropunctata; Ep ce\E. cencria; Dr co\D.
corais;Le na\L. annulata; Li cf. pa\L. cf. paucidens; Li po\L. poecilogirus; Li cf. vi\ L. cf. viridis; Ox tr\
O. trigeminus; Ph na\ P. nattereri; Ph of\ P. olfersii; Ps ni\P. nigra; Ta me\T. melanocephala; Th sp
A\T. sp A; Th sp B\T. sp B; Mi ib\M. ibiboboca.
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
180 5
Abundância Lagartos Abundância Serpentes
Número de indivíduos registrados
160
140 4
120
100 3
80
Santa Fé 2 Santa Fé
60
40 Nazareth Nazareth
1
20
0 0
Tr se
Le po
Mi ma
Tu me
Tr hi
Ma cf ni
He ma
Ma cf ar
Ig ig
Cn gr oc
Am am
Le anu
Li cf pa
Ph na
Th sp B
Ta me
Th sp A
Ep ce
Li po
Dr co
Ps ni
Mi ib
Li cf vi
Ox tr
Ph of
Gráfico 10 Abundância absoluta separado por grupos de espécies de répteis (lagartos a; e serpentes b),
registradas para os dois fragmentos estudados.
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
58
Com o auxílio dos dados de abundância por espécie registrada em cada fragmento,
foram calculados os índices de diversidade de Shannon-Wiener (H’), Simpson (D),
Equitabilidade (J) e Margalef. Em praticamente todos os índices ecológicos calculados o
fragmento Nazareth apresentou maiores valores em relação ao fragmento Santa Fé, a única
exceção foi na abundância absoluta de indivíduos (Tabela 7).
Alguns dos índices calculados para os répteis também foram registrados para a
vegetação dos fragmentos estudados (Abundância, Riqueza de espécies, Shannon e
Equitabilidade), semelhante aos índices para répteis, os dados de vegetação também se
apresentaram superiores para o fragmento Nazareth (CASTRO, A. A. J. F., comunicação
pessoal). Estes dados, e outros já apresentados (tamanho da área, perímetro, abundância
absoluta e riqueza máxima e mínima estimada), foram agrupados na mesma tabela a fim de
facilitar a comparação entre índices ecológicos de répteis e vegetação (Tabela 7).
Tabela 7 Índices ecológicos calculados para os dois fragmentos estudados, Nazareth e Santa Fé.
Nazareth Santa Fé
Índices Ecológicos
(230 ha; 5,3 km) (300 ha; 6,9 km)
Abundância absoluta - Répteis 178 (0,77) 262 (0,87)
Abundância absoluta - Vegetação 400 400
Riqueza de espécies (S) - Répteis 19 18
Riqueza de espécies (S) - Vegetação 67 42
Riqueza Mínima estimada (Bootstrap) 23,3 21,06
Riqueza Máxima estimada (Jack 2) 38,3 28,7
Índice de Simpson (D) 0,7746 0,7208
Shannon-Wiener (H’) - Vegetação 3,35 2,54
Shannon-Wiener (H’) - Répteis 1,893 1,663
Equitabilidade (J) - Vegetação 0,8 0,68
Equitabilidade (J) - Répteis 0,64 0,57
Margalef - Répteis 3,474 3,053
Tabela 8 Números absoluto e relativo, em cada técnica de amostragem, de unidades amostrais com
registro de indivíduos (“ocorrência”), e da abundância de cada espécie de réptil Squamata registrada para
o fragmento Nazareth.
Tabela 9 Números absoluto e relativo, em cada técnica de amostragem, de unidades amostrais com
registro de indivíduos (“ocorrência”), e da abundância de cada espécie de réptil Squamata registrada para
o fragmento Santa Fé.
A partir dos dados registrados nos dois métodos de coleta (AIQ + PLT) foram
construídas curvas de acumulação de espécies de répteis (Squamata) para cada fragmento de
cerrado trabalhado (Nazareth e Santa Fé, Gráfico11). Estas curvas foram produzidas sem
randomização de amostras, facilitando assim a comparação com outros trabalhos. Os
resultados obtidos tanto para Nazareth quanto para Santa Fé mostraram que as curvas ainda
não atingiram uma estabilização permanente, ou assíntota, desta forma seria necessário um
aumento na amostragem para termos um inventário mais completo.
A partir dos dados de cada fragmento amostrado foram construídas curvas de
rarefação baseadas no número de espécimes por espécie registrada. As curvas de rarefação
62
para os dois fragmentos também não atingiram a assíntota, reforçando o indicativo de que o
inventário das áreas ainda não está completo (Gráfico 12).
30
28
26
24
22
20
Nº de espécies
18
16 Sobs 95% Nazareth
14
Sobs Nazareth
12
10 Sobs 95% Sta Fé
8 Sobs Santa Fé
6
4
2
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Amostras
Gráfico 11 Curvas de acumulação de espécies de répteis (Squamata) para as duas áreas de coletas,
baseadas no número de espécies registradas por amostras. Legenda: Sobs Nazareth / Santa Fé = Número
médio observado em Nazareth e Santa Fé; Sobs 95% Nazareth / Santa Fé = Intervalo de confiança de 95
% para mais e para menos.
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
30
28
26
24
22
20
Nº de espécies
18
16
14
Nazareth
12
10 Santa Fé
8
6
4
2
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Amostras
Gráfico 12 Curvas de rarefação baseadas no número de espécies por amostras, para as duas áreas
estudadas.
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
63
14 14
Nazareth Santa Fé
12 12
10 10
Nº de espécies
Nº de espécies
8 8
6 AIQ 6 AIQ
4 PLT 4 PLT
2 2
0 0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Amostras a Amostras b
Gráfico 13 Curvas de rarefação por método quantificável de amostragem (AIQ e PLT), para os dois
fragmentos estudados, Nazareth (a) e Santa Fé (b).
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
máxima de 26,1 espécies para PLT (14 observadas) e 18,36 para AIQ (12 observadas)
(Gráfico 15 – a, b, c, d).
100 100
Nazareth Santa Fé
80 80
Nº de indivíduos
Nº de indivíduos
60 60
40 40
PLT PLT
AIQ AIQ
20 20
0
0
Ig ig
Th sp B
Am am
Ta me
Tu me
Ep ce
Ma cf ni
Tr hi
Le po
Mi ib
Li po
Mi ma
Li cf pa
Ph na
He ma
Ox tr
Cn gr oc
Th sp A
Le anu
Ox tr
Ta me
Tr se
Tu me
Am am
Ma cf ni
Tr hi
Li cf vi
Am al
Ps ni
He ma
Mi ma
Li po
Dr co
Cn gr oc
Mi ib
Ph of
Ma cf ar
Gráfico 14 Abundância absoluta de espécies de répteis squamata registrada por método quantificável de
amostragem (AIQ e PLT), para os dois fragmentos estudados, Nazareth (a)e Santa Fé (b).
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
28 28
26 PLT Nazareth 26 AIQ Nazareth
24 24
Riqueza estimada
Riqueza estimada
22 22
20 20
18 Sobs 18 Sobs
16 16
14 Chao 1 14 Chao 1
12 Chao 2 12 Chao 2
10 10
8 Jack 1 8 Jack 1
6 6
4 Jack 2 4 Jack 2
2 2
0 Bootstrap 0 Bootstrap
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Amostras a Amostras b
28 28
26 PLT Santa Fé 26 AIQ Santa Fé
24 24
Riqueza estimada
Riqueza estimada
22 22
20 20
18 Sobs 18 Sobs
16 16
14 Chao 1 14 Chao 1
12 12
Chao 2 Chao 2
10 10
8 Jack 1 8 Jack 1
6 6
4 Jack 2 4 Jack 2
2 2
0 Bootstrap 0 Bootstrap
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Amostras c Amostras d
Gráfico 15 Riqueza observada e estimada para os métodos quantificáveis de amostragem (PLT e AIQ),
utilizados nos dois fragmentos estudados, Nazareth (a, b) e Santa Fé (c, d).
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
65
Dendrograma 1 Similaridade entre cinco fragmentos de cerrado no Estado do Piauí, segundo a riqueza de
espécies de répteis Squamata registrada.
Fonte: Pesquisa direta, 2009.
Tabela 10. Padrão de distribuição das espécies de répteis (Squamata), registradas nos dois fragmentos
analisados (Nazareth e Santa Fé), e mais três áreas de cerrado típico com levantamentos de répteis no
Piauí.
“Eu conheço mata por mata, vereda por vereda, estradas. Sei onde era caminho e não
é mais que foram entupidos com cerca de arame, os donos, que foram comprando,
foram cercando e hoje onde era caminho não existe mais porque foi cercado”. “A
BR não era asfaltada, era só na piçarra, meu irmão ali é coisa nova”. “Na minha
época não tinha canaviais de cana, não tinha COMVAP (Usina sucro-alcooleira
instalada na região), não tinha campo de milho, 2000 ha, pro trabalhador trabalhar,
não tinha, e a vida era melhor” (L. P. S., 60 anos, Nazareth).
“A mata era grande com muita fartura, todo tipo de planta ali tem, não como era de
primeiro. Primeiro era tudo crescido e a fartura era grande. Hoje foi cortado,
devastado e não tem mais o que tinha antes. De primeiro todo tipo de fruta, ali tinha,
pequi, bacuri, murici, maria-preta, manga, laranja, caju, tinha muita cajuá, que o
velhinho mandou plantar aqui. Agora ta acabado e não tem quase nada. E tinha na
região quase toda!Tinha muito coco tucum, carnaubal grande. Hoje quase não tem,
foi cortado tudo. Pra fazer a barragem derrubaram tudo, pra vender. Hoje ta tudo
pouco, porque nós tínhamos grande fartura” (L. A. O. 74 anos, Nazareth)
[...] onde tinha dez casas, tem 100! Tem assentamento! Aquilo não é bom não, você
sabia?... Vem quatro de Teresina, quatro de outro lugar que não conhece de onde é, e
a maioria desse pessoal não é gente boa não... Onde tinha uma armadilha pra peixe
hoje tem um monte, os caçadores! É perigoso atirar um no outro; antigamente você
atirava em uma juriti e achava a comida do dia, e tinha muita e não se acabava! Hoje
não vá mais não, que não tem [...] (L. P. S., 60 anos, Nazareth)
69
“[...] antigamente tinha mais mato, hoje tem menos [...] aqui no Boi Morto (povoado
vizinho ao fragmento Santa Fé) tinha uns lugares fechados, não sei por que
desapareceu. “Em Santa Fé já teve, muito incêndio, já queimou tudo, mas acabou a
vista do que tinha. “Aqui tinha muita fruta que dava muito, o Araticum, hoje em dia
tem os pés mais não dá mais, não sei por quê. “Outra coisa que a gente tinha muito e
agora não tem mais de jeito nenhum, era a ema [...] era bonita a ema”. “Os paus de
madeira grande ainda tem, mas é muito pouco”. “Eles compravam as terras,
achavam que comprava barato, ai o que eles fazia, vendia a madeira e passava os
caminhões cheio de madeira, carradas e carradas. “Mas nunca mais foi tirada
madeira, faz uns 15 anos” (S. N. 65 anos, Santa Fé).
futura reserva particular do patrimônio natural (RPPN - Nazareth Eco Resort) na região gera
controvérsias entre os entrevistados, as pessoas que não tem vínculo (empregatício e/ou
parentesco com empregados) com a futura RPPN, não reconhecem a importância ecológica de
uma área de preservação e a consideram improdutiva, os entrevistados que possuem vínculo
com a futura RPPN demonstram absorver em parte o discurso preservacionista do proprietário
da futura RPPN.
“Olha eu quero lhe dizer bem aqui, você nunca mais vai vê na vida o que seus pais,
seus avós, seus bisavós viram. Nenhum de nós mais, nenhum filho meu nunca!
“Quanto mais reserva, quanto mais coisa a gente poder fazer em cima dessa terra é
melhor!”“. “Cada dono de terreno dessa região nossa, conseguisse plantar 500 pés
de árvores por ano, tava uma maravilha, uma coisa fria”. “cada vez mais as coisas
vão pior pra tudo, pra todos [...]”. “quando se cultiva é até bom, o negócio é quando
se acaba, e aquela terra foi destruída pra mais nunca voltar o que era [...]”.(L. P. S.,
60 anos, Nazareth)
“Quando eu tomei entendimento de gente, morava pouca gente aqui, a coisa era
muito difícil e hoje é mais fácil para sobreviver”. “No meu entendimento o governo
deu terra hoje pra todo mundo, deu boa condição pra comprar o que quiser: gado,
animal, tudo enquanto” (F. R. B. 65 anos, Santa Fé).
71
6 DISCUSSÃO
própria de riqueza de espécies. Fica evidente que mais áreas devem ser amostradas na região
norte do Piauí para termos uma média precisa da riqueza de répteis squamata.
Os Cerrados marginais do Nordeste possuem uma flora diferenciada (CASTRO,
1994b). Inventários herpetofaunísticos conduzidos nestes cerrados marginais, como o
realizado por Zaher et al. (2001), na Estação Ecológica de Uruçui-Una, no sudoeste piauiense,
registrou para todas as fitofisionomias de cerrado da região 25 espécies de lagartos e 34 de
serpentes, mas se considerarmos apenas as áreas de cerrado típico, estes números caem para
nove espécies de lagartos e nove de serpentes.
Considerando as áreas ao norte do Piauí, os inventários realizados no Parque
Nacional de Sete Cidades registraram para todas as fitofisionomias 12 espécies de lagartos e
24 de serpentes, se considerarmos só as áreas consideradas de cerrado típico os números são
de seis espécies de lagartos e 18 de serpentes, o inventário na ECB rochas ornamentais,
registrou 13 espécies de lagartos e 18 espécies de serpentes no total, e para as áreas de cerrado
típico 12 lagartos e 11 serpentes. Estes dados indicam que a diversidade de répteis do cerrado
está positivamente associada à variedade de fitofisionomias presente nas áreas trabalhadas. A
riqueza em espécies pode variar numa escala espacial (WOLTERS; BENGTSSON;
ZAITSEV, 2006). Desta forma a heterogeneidade dos habitats amostrados pode ser um dos
fatores determinantes da riqueza encontrada. No caso dos fragmentos Nazareth e Santa Fé,
por se tratarem de áreas relativamente pequenas (230 e 300 ha respectivamente), estas não
apresentam internamente uma grande variação em termos fitofisionômicos, sendo inexistente
ou pouco expressiva a presença de subtipos de cerrado (cerrado rupestre, cerradão, veredas,
campos, etc.) geralmente presentes em extensões maiores do bioma Cerrado (PAGOTTO, et
al., 2006) ou outras formas vegetacionais.
A fauna de répteis (Squamata) registrada nos fragmentos Nazareth e Santa Fé, é
predominantemente de áreas de Cerrado e Caatinga (COLLI et al., 2002; RODRIGUES, M.
2003), com algumas espécies de ampla ocorrência, isto pode ser devido ao fato de o Estado do
Piauí estar localizado em uma área de tensão ecológica, que segundo Castro et al. (2007),
trata-se de uma região de transição entre comunidades que contém espécies características de
cada e presumivelmente é intermediária em termos de condições ambientais. Desta forma a
vegetação tende a ser formada por mosaicos vegetacionais, o que gerou fragmentos naturais
que ainda conservam características físicas muito semelhantes às áreas centrais destes biomas.
Esta característica ecotonal é marcante na região de estudo, onde é possível
reconhecer variados tipos vegetacionais em espaços relativamente pequenos. Como descrito
anteriormente os fragmentos Nazareth e Santa Fé apesar de compartilharem diversos
73
hispidus). As serpentes apresentaram baixos índices populacionais nos dois fragmentos, este
fato pode estar associado ao modo de vida críptico deste grupo o que dificulta a sua
amostragem.
Os índices ecológicos de Shannon, Simpson, Equitabilidade e de Margalef
calculados para os fragmentos Nazareth e Santa Fé, obtiveram maiores resultados para o
primeiro fragmento. Os índices obtidos para a vegetação dos fragmentos também se
apresentaram maiores para Nazareth, confirmando a tendência de que este fragmento seja o
mais diverso. Um índice importante apresentado nos estudos de vegetação é a riqueza de
espécies observada para cada fragmento, onde Nazareth obteve um total de 67 espécies
enquanto que Santa Fé registrou 42 espécies de plantas. Estes dados indicam que o fragmento
Nazareth é mais heterogêneo em termos de vegetação o que pode explicar uma possível
riqueza maior de espécies de répteis. Colli (2003) analisou os efeitos da fragmentação natural
e antrópica do Cerrado sobre a diversidade de lagartos e concluiu que a heterogeneidade
espacial dentro dos fragmentos pode favorecer a riqueza de lagartos, e que o tamanho dos
fragmentos, não apresentou relação com a diversidade de lagartos.
Alguns estudos envolvendo espécies da herpetofauna sugerem uma associação
positiva entre a heterogeneidade de habitats e a diversidade deste grupo. Barreto (1999), em
estudos de fragmentação na Amazônia com anfíbios não observou diferenças significativa em
nenhum dos parâmetros populacionais e da comunidade analisados devido o tamanho do
fragmento, mas sim devido à presença de habitats reprodutivos. Vieira et. al., (2008), em
estudos com anfíbios na caatinga observou uma crescimento na diversidade de modos
reprodutivos associado à maior diversidade estrutural de plantas e maior hidroperíodo. Para os
répteis a relação com a heterogeneidade da vegetação também é positiva como já citado.
As análises dos métodos quantificáveis de amostragem demonstraram que a PLT foi
mais eficiente que a AIQ considerando o total de indivíduos registrados para os dois
fragmentos (60% de registros para PLT e 40% para AIQ), no entanto está tendência não
continua quando comparamos os resultados separados por fragmento estudado. Em Nazareth
o método de PLT registrou menos indivíduos que em AIQ. Em Santa Fé aconteceu o inverso,
o método PLT registrou um número bem maior de espécimes do que em AIQ. Mais uma vez
as diferenças foram devidas as duas espécies mais abundantes nos dois fragmentos (T.
hispidus e C. gr. ocellifer), que em Santa Fé eram constantemente registradas na PLT.
Os métodos quantificáveis de amostragem mostraram-se complementares em relação
às espécies que acessaram, principalmente no fragmento Nazareth, onde das 19 espécies
registradas sete foram exclusivas de PLT e sete exclusivas de AIQ (73,6% de
76
complementaridade). Para Santa Fé estes números foram menores, das 18 espécies registradas
seis foram exclusivas de PLT e quatro de AIQ (55,5% de complementaridade). Estes dados
confirmam a importância de se utilizarem métodos complementares para a amostragem de
répteis.
A análise do dendrograma formado a partir da similaridade entre as espécies
registradas nas áreas de estudo e outros três levantamentos de répteis em áreas de cerrado do
Piauí, permitiu a visualização de quatro grupos com similaridades variáveis entre 70% e 50%.
Existe uma associação negativa entre a distância das áreas e o percentual de similaridade, ou
seja, as áreas mais próximas (menor distância em quilômetros) apresentaram-se como as mais
similares em termos de composição de espécies.
No entanto outros fatores podem influenciar a composição de espécies de cada
fragmento, o tempo de fragmentação a ligação com fragmentos vizinhos e a proximidade com
áreas naturais, bem como os próprios processos de fragmentação e antropização de habitat
influenciam na diversidade de répteis (BARRETO, com. pess.).
Os dados dos últimos censos demográficos realizados pelo IBGE, no município de
José de Freitas, demonstram um crescimento de aproximadamente 20% da população nos
últimos 10 anos. Este crescimento populacional foi percebido de maneiras diferentes pelos
entrevistados do entorno dos fragmentos Nazareth e Santa Fé. Esta percepção diferenciada
pode ser explicada pela maior densidade demográfica na área do entorno de Nazareth, em
relação à Santa Fé. Como visto nos mapas do capitulo I, o fragmento Nazareth fica localizado
entre os municípios de Teresina (capital do Estado do Piauí) e José de Freitas, fato este que
acaba agregando maior quantidade de moradores em busca de acesso mais rápido e eficiente a
estrutura de serviços urbanos dos dois municípios. Em conseqüência disto, segundo os
entrevistados do entorno deste fragmento, ocorre maior divisão territorial das antigas fazendas
em propriedades menores, através da venda de terras. No fragmento Santa Fé ocorre o
contrário do anterior, pois este está mais distante da estrutura urbana dos municípios de José
de Freitas e Teresina o que dificulta o acesso a estrutura de serviços urbanos e
conseqüentemente a fixação dos moradores na região.
O município de José de Freitas apresentou como principal fonte de ocupação o setor
primário, ou seja, a maior parte da população economicamente ativa do município trabalha
(com ou sem salários) em estabelecimentos rurais (aproximadamente 82%), sendo que a
estrutura empresarial do município fornece ocupação nos setores secundários (indústrias) e
terciários (prestação de serviços, comércio e administração pública) (aproximadamente 18%)
77
(IBGE, 2008). Estes números evidenciam a importância da zona rural para a economia do
município de José de Freitas, e conseqüentemente a pressão antrópica que esta zona recebe.
Os relatos orais denunciam o desmatamento descontrolado para o plantio de
pequenas roças e criação de animais além das queimadas descontroladas e da caça predatória.
Estes impactos antrópicos geram diferentes conseqüências ao meio ambiente bem como a
fauna de répteis Squamata registrada. Os impactos antrópicos podem estar associados a uma
homogeneização da flora e fauna (OLDEN, et. al., 2006)
A presença de animais domésticos de pequeno porte (caprinos e suínos) nos
fragmentos pode afetar a cobertura vegetal da região. Estudos sobre herbivoria de caprinos na
Caatinga indicam que estes são importantes herbívoros para a vegetação de Caatinga, pois
utiliza partes da maioria das espécies de árvores e arbustos encontrados na região como
forragem. Desta forma é proposto que a herbivoria por caprinos constitui um importante fator
de seleção natural capaz de afetar a abundância e a distribuição geográfica de espécies
lenhosas da Caatinga (LEAL, et. al., 2003). Estudos em outros ecossistemas têm relatado
mudanças na abundância de populações, na riqueza e diversidade de espécies, na estrutura
física de comunidades vegetais em decorrência da herbivoria por caprinos (LEAL, et. al.,
2003). Os relatos dos moradores e as observações in loco, demonstram que os suínos, na
busca pelo bulbo na raiz do capim-gordura, acabam por remover o solo e matar a planta.
No entorno e dentro do fragmento Santa Fé, além dos animais domésticos de
pequeno porte, também foi observado à presença de animais de grande porte (bovinos e
eqüinos) geralmente estes são encontrados formando grandes aglomerações que se alimentam
de gramíneas e plantas jovens. Além dos impactos já citados pela herbivoria em áreas naturais
os animais maiores podem causar a compactação ou adensamento de solos de pastagens
cultivadas ou nativas, problema atualmente considerado notório e generalizado (COSTA E
JÚNIOR, 2000). A remoção ou raleamento da vegetação podem aumentar a incidência solar
no solo e prejudicar o forrageio de algumas espécies de répteis consideradas forrageadoras
ativas, principalmente as que procuram o alimento nas horas mais quentes do dia. Algumas
espécies de répteis registradas nos dois fragmentos pertencem ao grupo citado (VITT, 1995).
Outro fator relacionado com os danos a vegetação seria a diminuição da proteção contra
predadores propiciada pela vegetação.
A presença de bovinos, além dos impactos citados anteriormente, ocasiona na região
do fragmento Santa Fé, a destruição de cupinzeiros, conforme observado in loco (Fig. 2d).
Segundo os relatos dos moradores este fato é devido ao ato de “amolar os chifres” que o gado
pratica, roçando a ponta dos chifres nos cupinzeiros acabando por destruí-los totalmente. Os
78
cupinzeiros são uns dos principais abrigos da herpetofauna do cerrado e sua destruição pode
afetar a abundância deste grupo (COLLI, et al., 2002).
A caça predatória foi relatada pelos entrevistados dos dois fragmentos como sendo o principal
fator de desaparecimento de espécies de mamíferos e aves, um dos exemplos citados seria o
da Ema que segundo os moradores tratava-se de uma espécie abundante na região e a pelo
menos 10 anos não é vista, este animal encontra-se ameaçado de extinção, sendo listado em
algumas “listas vermelhas” estaduais (e. g. Espécies aves ameaçadas de extinção no Estado de
São Paulo, 2008).
O único relato de desaparecimento de espécies de répteis (serpentes) estaria
relacionado ao desmatamento. A caça predatória e a remoção da vegetação natural, por sua
vez, podem ocasionar a quebra de ciclos ecológicos, diminuindo a predação sobre alguns
grupos de répteis e limitando os recursos para outros. Desta forma, as espécies consideradas
generalistas tendem a aumentar suas populações, se sobrepondo às espécies mais sensíveis,
que vão desaparecendo (MMA, 2003).
A questão social que mais incomoda os entrevistados, segundo os seus relatos, é o
crescimento populacional e as mudanças no modo de vida causadas por este fato. O aumento
da população no entorno dos dois fragmentos estudados, é em parte propiciada pela instalação
recente dos assentamentos rurais. A política de criação de assentamentos rurais como parte do
processo de reforma agrária no Brasil foi iniciada de fato em meados dos anos 80 (período de
criação do Assentamento Salva Terra no entorno de Santa Fé). Esta política teve impulso nos
governos Fernando Henrique e Lula (períodos de criação dos assentamentos recentes em
Nazareth e Santa Fé) (LAMERA, 2008).
No entanto nestes assentamentos, principalmente nos mais recentes, persistem graves
problemas sociais ainda sem equacionamento. Isso reafirma que “a conquista da terra não
significa que seus ocupantes passem a dispor da necessária infra-estrutura social (saúde,
educação, transporte, moradia) e produtiva (terras férteis, assistência técnica, eletrificação,
apoio creditício e comercial)” (BERGAMASCO, 1997). Os programas governamentais de
criação de assentamentos rurais incorrem na inserção de indivíduos alheios à região e que
muitas vezes não sabem lidar com o manejo adequado das terras que recebem, causando
problemas socioambientais. Este fato aponta para o paradoxo das políticas públicas, que por
um lado tentam proteger um aspecto, como é o caso da biodiversidade brasileira, e por outro
lado, visando o “social”, propiciam a sua destruição. Para que tenhamos assentamentos
viáveis do ponto de vista sócio-ambiental e econômico é preciso, por exemplo, planejar
cuidadosamente a apropriação coletiva da água e das florestas, associando conservação
79
ambiental e produção agrícola e agroflorestal. Essa mudança de padrão, para ser efetiva, deve
envolver tanto os órgãos públicos quanto os órgãos de luta pela terra (PÁDUA, 2004).
Apesar de os relatos dos entrevistados serem unânimes em perceberem as mudanças
sócio-ambientais ocorridas nas últimas décadas, ficou evidente nos discursos uma
diferenciação entre as percepções dos entrevistados do entorno de Nazareth e Santa Fé. Os
primeiros demonstraram perceber de forma mais evidente os problemas de desmatamento e
crescimento populacional, que no caso de Santa Fé apesar de citados não foram evidenciados
em todas as entrevistas.
Uma das possíveis explicações para este fato seriam os diferentes processos de
sensibilização pelos quais passam os moradores do entorno dos fragmentos estudados. Os
moradores do entorno de Nazareth convivem com a presença de uma futura RPPN, e
conseqüentemente com as medidas e o discurso preservacionista do proprietário (cercas,
coibição da caça e pesca, manutenção de grandes áreas naturais intactas, etc.). Além disso, os
lotes de terras são pequenos e a relação com os vizinhos é mais intensa. Os moradores do
entorno de Santa Fé não convivem com a presença de áreas e discursos de preservação e a
proximidade com os vizinhos é menor devido ao distanciamento maior entre vizinhos.
Desta forma a presença ou ausência de áreas de conservação pode estar servindo de
referência e facilitando a diferenciação entre área conservada (o fragmento no caso de
Nazareth) e não-conservada (o entorno).
80
7 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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VITT, L. J. The ecology of tropical lizards in the Caatinga of northeast Brazil. Occ. Pap.
Oklahoma Mus. Nat. Hist. 1:1–29. 1995.
ANEXOS
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2. O(A) senhor(a) afirma conhecer bem a região? O(A) que o Senhor(a) conhece por aqui?
3. O(A) Senhor(a) acha que aqui mudou muito do tempo que era criança?
3.2. Como era essa região antes? E os animais e as plantas (fauna e a flora) como eram?
3.3. Quais animais e plantas (fauna e flora) do seu tempo de criança que não se vê mais
por aqui?
3. Não haverá benefícios direto, principalmente financeiro relacionado com sua participação,
enquanto sujeito da pesquisa.
5. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do pesquisador
principal para localizá-lo a qualquer tempo. Seu nome é (Acadêmico/ Mestrando: Vitor Hugo
Gomes Lacerda Cavalcante, sob orientação da Profª Drª Cristina Arzabe, telefone
(86)32274541/(86)88146548.O seu anonimato será preservado por questões éticas.
Considerando os dados acima, CONFIRMO estar sendo informado por escrito e verbalmente
dos objetivos deste estudo científico e em caso de divulgação por foto e/ou vídeo AUTORIZO
a publicação.
Eu:.................................................................................................................................................
Idade:...............Sexo:...........Reside no local há:.................................... portador(a) do
documento RG Nº..................................... UF:..............., declaro que entendi os todos os itens
deste termo e concordo em participar.
_____________________________________________________________
Assinatura do participante
_______________________________________________________________
Assinatura do pesquisador