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Vilém Flusser - Função Política do Desenraizamento

VILÉM FLUSSER E A FUNÇÃO POLÍTICA DO


DESENRAIZAMENTO

UM SUPLEMENTO CULTURAL PRECISA ESTAR CONECTADO


COM PENSADORES QUE MOBILIZAM UMA ÉPOCA. VILÉM
FLUSSER, NASCIDO EM PRAGA, EM 12 DE MAIO DE 1920,
VIVEU NO BRASIL E LECIONOU NA USP. MORREU EM 27 DE
NOVEMBRO DE 1991 NA SUA TERRA NATAL.
INTELECTUAL JUDEU, CUJOS PAIS MORRERAM EM CAMPOS
DE CONCENTRAÇÃO, FLUSSER MIGROU PARA OS TRÓPICOS
FUGINDO DO NAZISMO. FILÓSOFO CADA VEZ MAIS
ADMIRADO NO MEIO UNIVERSITÁRIO, AUTOR DE TEXTOS
CULTUADOS COMO “PÓS-HISTÓRIA”, “BODENLOS: UMA
AUTOBIOGRAFIA FILOSÓFICA” E “A ESCRITA – HÁ FUTURO
PARA A ESCRITA?”, ELE DEVE SER APRESENTADO A UM
PÚBLICO MAIS AMPLO. É O QUE FAZ O CADERNO DE
SÁBADO COM TEXTOS DE ESPECIALISTAS QUE
PARTICIPARAM DO SEMINÁRIO, NA FILOSOFIA DA PUCRS,
“VILÉM FLUSSER: PÓS-HISTÓRIA E A CRITICA DA
IDOLATRIA”. UM MESTRE.

Nem de longe podemos dizer que Vilém Flusser foi um filósofo


engajado no sentido corrente do termo, como diríamos, por
exemplo, de um Sartre, de um Focault ou de um Toni Negri, e
certamente que cada um desses não gostaria de ser
enquadrado numa categoria comum. Mas dizer que ele não
foi um filósofo engajado é desconsiderar o conteúdo político
de seu pensamento, que a rigor seria desconsiderar todo o
seu pensamento: um instrumento filosófico altamente
relevante para os tempos de terror e nacionalismo que não
cessam de recomeçar. O engajamento de Flusser foi de um
escritor desenraizado de sua terra natal e de sua língua-mãe,
e decidido a fazer de sua vocação de ensaísta poliglota uma
forma de, primeiramente, sobreviver à violência do exílio
forçado no Brasil, provocado pela vaga nazista, e depois de
afirmar a condição existencial da liberdade. Parece um
paradoxo, pois a violência que obriga ao deslocamento anula a
liberdade, porém em terra nova o recém-chegado descobre
nova liberdade.
A liberdade do exilado é penosa, como diz Emmanuel Levinas
é uma difficile liberte – primeiro porque ele tem que se
desprender dos laços da cultura de origem, depois ele tem
que encarar a tarefa nada fácil de dominar os códigos do novo
mundo, ao ponto de com seguir se compreender e se fazer
compreender. É aí que a gente reconhece o engajamento de
Flusser: escrever para se criar, se criar para oferecer algo ao
mundo e ao seu tempo. O desprendimento do exilado é uma
espécie de morte e a apropriação dos novos códigos é como
um novo nascimento. De fato, o exilado faz lembrar que não
nascemos amarrados (enraizados) em nosso solo cultural, que
nos enraizamos com o passar do tempo, que o
desenraizamento é uma espécie de condição originária e
adormecida de todos nós.
No Brasil, muito bem munido da língua portuguesa, bem como
conhecendo e reconhecendo os problemas dessa realidade
latino-americana no século XX, Flusser começa a conceber
uma obra filosófica marcada do início ao fim pela questão do
desenraizamento. Essa abrangência do tema permite, como
consequência, múltiplas abordagens: desde a questão mais
biográfica, lembrando que “Bodenlos” (sem chão, em alemão)
é o título da autobiografia filosófica do autor, até a sofisticada
análise da condição pós-histórica, do mundo dos aparelhos e
da proliferação das imagens técnicas como código preferencial
de comunicação. Hannah Arendt propõe o conceito de
natalidade como a categoria fundamental do pensamento
político, ela diz que é porque nascemos que somos capazes de
tomar iniciativa e de realizar aquilo que é improvável, aquilo
que não existia antes. Pois o bodenlos flusseriano poderia
bem servir de modelo para Arendt, que aliás era outra
desenraizada. De fato, o exilado nasce de novo quando se
apropria dos códigos do novo mundo, obviamente que num
processo que exige esforço e paciência, numa temporalidade
que deveria ser reconhecida como nova experiência de
liberdade ou lição política.
Mas é uma liberdade de outra natureza, diferente da liberdade
perdida na terra nativa. Se o exilado deseja recuperar a
liberdade perdida, o que resgata é uma outra maneira de ser
livre. A diferença pode ser percebida no grau de naturalidade
da própria experiência. A liberdade nativa é como que
espontânea, é liberdade de quem se sente em casa: é natural
que falemos português, é natural a saudade que sentimos
quando estamos fora do Brasil, é natural que queiramos voltar
como quem deseja simplesmente voltar pra casa. O
estrangeiro acusa a pretensão dessa naturalidade, ele a torna
artificial. Em sua experiência, ele até pode chegar a sentir tão
espontaneamente como um nativo, mas o sentimento é de
uma certa maneira mais caro, exatamente porque sua
espontaneidade foi elaborada penosamente, num processo
que exigiu uma dose maior de escolha e deliberação, uma
dose mais consciente de iniciativa, se compararmos com o
tanto de escolha que foi necessário para o nativo naturalizar a
saudade de seu chão cultural. Mas não é preciso se exilar de
fato para tomar essa lição de liberdade, a filosofia e a
literatura são métodos mais acessíveis. Pois é exatamente
uma experiência nova de liberdade o que sentimos quando
lemos Flusser.
Fonte: Correio do Povo-CS Caderno de Sábado/André Brayner de Farias (Professor de Filosofia da
UCS e da PUCRS e organizador do livro “Vilém Flusser – Filosofia do Desenraizamento”, publicado
em 2015 pela Editora Clarinete. Em 16 de janeiro de 2016.

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