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MONS.

ASCANIO BRANDÃO

Óant'Ana
1flãe da 11tãe de 'Deu�

http://alexandriacatolica.blogspt.com.br

EDI06E8 PAULINAS

SÃO PAULO -- P6RTO ALEGRE -- PELOTAS

BELO HORIZONTE -- RIO DE JANEIRO -- CURITIBA

CAXIAS DO SUL -- BAHIA -- RECIFE


REIMPRIMATUR

S. Paulo, 30 - 9 - 1954

Conhapeyettc

(Ex delegatione)
..A- ��ão dêJfe lívro

Não quis apenas acrescentar mais um livm a


tantos que por aí existem. Notei como SanfAm é in­
vocada e amada em todo êste Brasil. Mais de cem, pa­
róquias a têm como padroeira. E) onde não lhe dedi­
cam um templo há sempre o altar de Sant'Ana ou a
imagem querida da Mãe de Nossa Senhora ce·rcada
de veneração e fervorosamente invocada. É Patrona
principal das duas maiores Arquioceses brasileiras:
Rio de Janeiro e S. Paulo. Patrona de onze dioceses
e prelazias. Cidades) vilas) rios) montanhas; Colé­
gios) Instituições) conventos) obras pias) etc. sob a in­
vocação e proteção de Sant'Ana) já nem é p_ossível
en-umerá-los.
A devoção à Mãe de Maria Santíssima é uma das
tradi�ces mais belas e edificantes da nossa boa gente.
Todavia ainda não se escreveu entre nós algo que nos
revelasse as glórias de SanfAna.
Aparentemente escassa é a matéria) porque Ana
e Joaquim mais que José e Maria) viveram no silên­
cio e na obscuridade. Havemos de recorrer à Tradi-

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ção e aos PadT�s da Igreja para algumas notas e lt�­
zes sôbre os pais de Maria. E então que riqueza de
assunto e quanta meditação profunda nos leva só
o considerarmos as glórias e privilégios de Sant'Ana!
Algumas obras me chegaram às mãos e me foi
possível sintetisar nêste livro muita coisa bela e edi­
ficante que por aí encontrei sôbre a grande Ma­
triarca e avó bendita do Salvador do mundo. Seja Ela
pois mais conhecida e amada através destas poucas
páginas.
As paróquias� sobretudo paróquias e institui­
ções ou Colégios sob o patrocínio de Sant'Ana, terão
neste livro um manual prático de devoção á sua Pa­
droeira.
Procurei sempre firmar-me em Autores abali­
sados e não fugir do campo da boa e sã doutrina para
o da lenda e o das afirmações piedosas talvez, mas
sem fundamento algum. Não há nestas páginas causa
alguma de que não tenha sido já bem estudada e ave­
riguada por Autores respeitáveis, quer pela santida­
de, quer pela erudição.
Todavia há fatos e questões sôbre os quais mui­
ta vez é impossível qualquer averiguação rigorosa­
mente histórica. A tradição� os teólogos e os santos
doutores nos guiam então, e a luz da fé nos leva a
concluir sempre em favor da glória de Sant'Ana
quando consideramos a Missão priv?legiada e admi­
rável desta criatura - Mãe da Mãe de Deus e Avó
de Jesus Cristo Nosso Senhor. Não creiam seja tal­
vez exagero de piedade pouco esclarecida afirmar

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tantas glórias� tantos prod-ígios de Sant�Ana. Sempre
ficaremos muito a quem da sublime realidade.
E aqui desde já quero declarar como ordena o
Santo Padre Urbano VIII: os nomes de Santo, Beato,
Venerável atribuidos a ilustres personagens, bem co­
mo os fatos miraculosos e prodígios aqui narrados,
em nada pretendo com o citá-los e comentá-los, adi­
antar-me aos juizos da Santa Madre Igreja. Merecem
fé puramente humana. Aí está "SANT'ANA - Es­
creví-o com um só desejo: Tornar mais conhecida,
mais amada, a Santa mais querida de nossa boa gen­
te depois de Maria - A Senhora Sant'Ana. É a ra­
zão deste livro.

Mons. Ascânio Brandão


Ouem é Sant'Ana

É aquela privilegiada criatura que Deus predes­


tinou e escolheu para ser na terra - Mãe da Vir­
gem Imaculada, Mãe da Mãe de Deus e avó de Jesus
Cristo nosso Salvador. Sant'Ana, 8. Joaquim, e o
glorioso S. José, os Pais, e Espôso castíssimo de Ma­
ria, estão envoltos no silêncio e na humildade. Bem
pouco dêles se conhece. E no entanto, o Universo in­
teiro hà séculos não cessam de cantar os seus louvo­
res. 'J'E'mplos, altares, livros, estudos, festas, cânti­
cos e súplicas em honra dos que formaram na terra
a família mil vêzes bendita do Verbo de Deus huma­
nado. A glória tôda de Maria vem do privilégio úni­
co da Maternidade Divina. É êste o ápice de tôda
glória concedida à criatura humana. Não se pode rli­
zer mais de Nossa Senhora: é Mãe de Deus. 8. Jose
e o maior dos santos, é maior que os próprios An­
jos, é o maior doR eleitos der,ois de :Maria E a glória
de S. José vem das suas elações com o Verbo incar­
nado e a Mãe Santíssima de Deus. Jos(.. Frri alot·i.vo
de Jesus e Espôso de Maria. Só êstes dois títulos o

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colocam r,um plíln':> singular e acima de todos os San­
tos, só inferior a Nossa Senhora na glória e na graça.
Sant'AnaJ depois de S. José foi a criatura mais ín­
tima do Verbo Incarnado, a Intimidade do sangue e
do parentesco. Mãe de Maria, a Virgem concebida
sem pecado, e por Maria, Avó de Jesus Cristo; Há
1.1m véu de mistério e um grande silêncio da história
e das Escrituras sôbre Sant' Ana. O Evangelho fala
bem pouco de Maria e de José, mas as poucas pala­
vras sagradas encerram um mundo de grandezas e
delas a teologia e a piedade católicas tiram os mais
tocantes ensinamentos e as conclusões mais sublimes
e consoladoras da glória e do poder de Maria e de
S. José. Ora, de Sant' Ana bem pouco nos dizem a
história e a tradição, mas basta para sabermos o que
Ela é e quão grande é seu poder e sua glória, basta­
nos só isto: - É Mãe da Mãe de Deus e Avó de
Jesus Cristo.

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Mãe da Mãe de Deus

Em nada pode ficar prejudicado o louvor de


Sant'Ana e de S. Joaquim porque a Escritura não
trás os seus nomes benditos. Uns herejes tentaram
negar a santidade dos pais de Maria Santíssima à
vista dêste silêncio dos 1h ros sag;rado�. e não que­
riam admitir culto algum na Igreja a tão grandes
santos. S. Pedro Canisio, num tratado maravilhoso,
humilhou com lógica de ferro e argumentos irres­
pondíveis a audácia dos inimigos de Sant'Ana. Es­
creveu o belo trataão "De Maria Deipara Virgini'-'
no qual defende os privilégios de S. Joaquim e
Sant'Ana. Não diz o Eclesiástico que não se conhece
melhor ·um homem do que pelos filhos que deixa? E
o livro dos Provérbios afirma que o mérito do filho
faz a glória do pai". É impossível maior grandeza que
a de Maria Santíssima. Portanto, o louvor da Mãe
de Deus, não encerra de certo modo o louvor e a gló­
ria da Mãe da Mãe de Deus? Que filha foi mais ele­
vada e glorificada que Maria? Beata '!2e dicent omnes
generaUones - tôdas as gerações mr:- :\ão de chamar

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bcmaventumâa, disse Nossa Senhora ·.10 êxtase do
l/Iagnificat.
E porque? Porque dela nasceu o Redentor do
mundo, e a fez bendita entre tôdas as mulheres. Que
Mãe depois de Maria foi mais honrada, mais privi­
legiada que a Mãe daquela que foi a Mãe do seu Cria­
dor? Podemos dizer também a Sant'Ana nas devidas
proporções do louvor: - Tôdas as gerações vos hão
de chamar bernaventurada, porque sois bendita en·
tre tôdas as mulheres e bend·ito é o fruto do wosso
ventre - Maria. Louvamos a Maria porque é Mãe
de D�us. Louvamos a Sant'Ana porque é Mãe da
mãe de Deus. Não se pode fazer uma idéia mais eleva­
da, mais nobre e ao mesmo tempo mais exata do mé­
rito e das virtudes extraordinárias de Sant'Ana,
diz o Pe. Croiset, que dizendo e meditando esta ver­
dade: - Ela deu ao mundo a Mãe do Filho de Deus
Humanado!

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Esposa de S. Joaquim

Segundo o testemunho de S. Gregório de Nys­


se, S. Joaquim foi educado por piedosos pais na
prática de tôdas virtudes, pois aquêJe de quem de­
via ter origem Maria, era um homem de uma sobe­
rana virtude, ilustre pela observância perfeita da lei
e um verdadeiro paraíso terrestre destinado a dar
ao mundo à Arvore da 'Vida que é Maria Santís­
sima. Segundo a tradição dos antepassados, Joa­
quim chegado o tempo de contrair o matrimônio,
foi procurar na família de Davi, entre a gente da
sua estirpe, uma espôsa digna e virtuosa. Encon­
trou em �a a privilegiada criatura do seu ideal.
Não era ricó mas possuia algtms bens, e, segundo
a u·adição, vivia do comércio de lãs e de carneiros
(Acta Sanct. Martir, Tom m - Anné chretien­
ne -) - Desposou Ana e viveram santamente.
A Providência uniu estas duas criaturas tão san­
·

tas - Joaquim e Ana, porque as destinava a mais


bela missão de que uma criatura podia receber de
Deus, depois de Maria - a missão de dar ao mun-

15
do a Mãe do próprio Deus. Como não havia de ser
santa e imaculada a união daqueles dois corações
privilegiados e enrjquecidos de graças do Céu! E
Deus de tal modo se compraz na santidade des­
tas duas almas, que as escolhe para receberem a
Mãe Santissima de Jesus nosso Divino Redentor.
A virtude de S. Joaquim, era digna da missão que
havia de receber. Se Deus, segundo Santo Tomás) dá
a cada um as graças necessárias para o cumpri­
mento da missão a que o destina, quais não foram
as virtudes e as graças recebidas por S. Joaquim
para merecer a honra de esposar aquela mulher
que depois de Maria Santíssima sua filha bendita,
foi a maior e a mais previlegiada dentre tôdas as
mulheres! Joaquim e Ana viveram santamente. E
após tantas amarguras, trabalhos e sofrimentos, o
Céu lhes concedeu a filha única e bendita que dê­
les nasceu predestinada e Imaculada para ser l\I��
do seu próprio Criador.

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Grande Santa

S. Bernardino de Sena para louvar o Patri­


arca S. José diz: - Há uma regra geral para apre­
ciar a medida das graças singulares concedidas a
uma criatura racional, e é esta: "Tôdas as vêzes
que Deus destina alguém a um ministério elevado,
a um estado mais sublime o enriquece, o adorna
de tôdas as graças, de todos os dons necessários
ou convenientes para o desempenho dêste ofício
Pe.
ou desta missão. Êste princípio, é claro diz o
Marc-Martts em sua obra clássica sôbre Sant'Ana,
mas o compreenderemos melhor à luz dos livros
sagrados. Quando Deus quís que constituissem a
Arca do Testamento e o Tabernáculo da Antiga
Aliança, e os altares para o Sacrifício; quando man­
dou preparar os ornamentos dos Sacerdotes e dos
Pontífices, os óleos e os perfumes para as Unções
Sagradas e os Sacrifícios escolheu e designou es­
pecialmente dois homens, Beseleel e Goliab. E o
Senhor, diz a Escritura, lhes encheu do espírito

l7
de Deus, de sabedoria, de inteligência e de ciê'ncia
pera tôdas as obras (Exodo XXXI) .
É um princípio elementar do cristianismo que
o culto da Antiga lei figurava Jesus e Maria. Nã.o
era Nossa Senhora simbolisada naquela Arca da
Aliança, tôda feita de madeira incorruptível, de ou­
ro purissímo, para conter a vara de Arão, o Maná,
e as táboas da Lei? Ora Sant'Ana e S. Joaquim ha­
viam de dar ao mtmdo a Arca da Aliança do Novo
Testamento, Maria Santíssima. Não haviam de pos­
suir muito mais, o Espírito de Deus, a sabedoria,
a inteligência das coisas Celestes, a santidade en­
fim, em grau superior mil vêzes a dos operários
da Arca da Aliança que era apenas um símbolo?
Deus santifica a João Batista desde o ventre ma­
terno porque havia de ser o Precursor de Jesus;
José para ser espôso de Maria, a que pureza a que
santidade não chegou! Quanto mais próximos do
Redentor mais santidade exige Deus da raça de
Davi. Pois Sant' Ana mereceu dar ao mundo a Mãe
do Redentor a Rainha de todos os Santos. Não ha­
via de ter chegado às culminâncias da Santidade?

18
Maternidade Gloriosa

Não há dúvida, nenhuma das mães da terra


depois de Maria foi mais venturosa que Sant'Ana.
Pelo fruto se conhece a árvore dis Nosso Senhor
no Evangelho. S. João Damasceno aplica êste sa­
grado texto a Sant'Ana e conclui não ter havido
pois árvore mais santa e gloriosa depois daquela
que produziu o fruto Divino do Verbo Incarnado.
Maria. E depois desta Árvore da vida, que outra
produziu mais rico fruto que Sant'Ana? Se o fru­
to é a glória da árvore, não se pode afirmar tam­
bém que a árvore é a glória do fruto que produz?
Eis aí as razões profundas da glória da maternidade
de Sant'Ana. Aquela mulher do Evangelho ao ver os
prodígios do Divino Salvador, não poude conter o
entusiasmo pela Mãe de Jesus: - Bemaventurado,
exclama ela,· o ventre que te trouxe, e os peitos
que te amamentaram. O mesmo louvor damos a
Mãe de Nossa Senhora. Tôda a cristandade quan­
do honra Sant' Ana glorifica a sua Maternidade San­
tíssima. Dizia célebre orador sagrado num panegí-

19
rico da gloriosa Santa: - Meus irmãos, Ana, teve
Maria por filha Imaculada desde o instante daquela
Conceição única entre a de tôdas as criaturas. De­
pois disto, silêncio! Porque tudo o que dissemos pa­
parecerá supérfluo e temerário". O seio puro de
Sant'Ana foi o primeiro e glorioso Templo que se
erigiu na terra à Imaculada Conceição. De Maria
canta a Igreja. "Aquêle a quem adoram os astros,
cantam os Céus, a Trindade que rege a máquina
do mundo, esteve no claustro Virginal do Ventre pu­
ríssimo da Virgem". Pois também Aquela a quem os
os Anjos e Santos veneram no mais alto da glória,
a Rainha dos Céus e da terra, a Soberana a quem
Deus constituiu em todo poder sôbre os Anjos os
homens e tôdas as criaturas, enfim Maria, cuja gran­
deza e poder não há linguagem humana que os pos­
sam traduzir, foi concebida sem pecado e veio ao
mundo por Sant'Ana. É o fruto bendito do Ventre
de Sant'Ana. Eis mais gloriosa maternidade humana
que já houve na teiTa!

2J
Família de Sant1Ana

Jesus, o Messias prometido, havia de nascer da


família de Daví. A Igreja canta no ofício da Nativi-·
dade: Nativitas gloriosa Virginis Mariae ortae de·
tribu Juda, clara ex estirpe Daví. Sant'Ana é pois.
da família nobre do Rei-Profeta. Maria quer da par-·
te de S. Joaquim, quer da origem materna é filha.
de Davi. Ana é pois originária da tribu de Judá da es-­
tirpe Davídica. Cornélio a Lapide afirma ser Maria
descendente de Daví não só por S. Joaquim, mas
também por Sant'Ana. Os descendentes de Daví
observa um teólogo e mestre da Escritura, não fa­
ziam questão em dar suas filhas em casamento a
homens de outras tribus, mas êles mesmos só se ca­
savam com mulheres descendentes de Daví. E esta
lei era observada rigorosamente, sobretudo quando
estavam já próximos os dias da vinda do Messias�
Ora S. Joaquim, modêlo de virtude, não podia deso­
bedecer esta lei ao esposar Ana. A família da mãe de
Nossa Senhora é das mais ilustres pelos frutos de·
santidade. O pai de Sant'Ana chamava-se Mathan
e a mãe, lvía1'ia. Tiveram os seguintes filhos: -Ma­
ria, mãe de Salomé que veio a ser mãe de Zebedeu
com o qual teve os dois filhos Tiago, o maior e João
Evangelista, ambos apóstolos; Sobé, ntãe de Santa
Isabel e avó de S. João Batista; Jacó pai de Cléo­
fas ou Alfeu tornou-se por Salomé sua filha, avô de
S. Tiago e S. João Evangelista. Teve êles outros
filhos também de outra mulher:-uma filha chama­
da Maria, um José chamado o justo, Tiago menor,
primeiro bispo de Jerusalém e chamado por S. Pau­
lo irmão do Senhor, Judas o apóstolo, Simeão suces­
sor de S. Tiago em Jerusalém e martirizado soo
Trajano. Finalmente a terceira filha de Mathan foi
Ana, mãe da Virgem Maria. Eis a família gloriosa.
Sant'Ana foi pois tia-avó de S. José, de S. João Ba­
tista, de S. João Evangelista, e de S. Tiago e S. Judas.
O precursor de Jesus e o maior dos profetas e dos
santos depois de S. José, o discípulo amado e gran­
des apóstolos. Os filhos ou netos do irmão e das ir­
mãs de Sant'Ana são aquêles parentes de Jesus, que
o Evangelho chama os irmãos e as irmãs de Je&us.
Segundo o uso coiTente da linguagem da Escritura os
nomes de irmão e irmã são dois dados a todos os pa­
rentes mais próximos. Maria só teve um filho- Je­
sus nosso Deus, o Verbo Encarnado, e neto de Sant'A­
na. De Sant' Ana se pode cantar como de Maria: -
Regali ex progenie Anna exorta refulge. . . clara u
estirpe!

22
O nome de Sant1Ana

Há uma festa litúrgica do Santíssimo nome


de Jesus, e outra do nome Santo de Maria. É a
Igreja a nos convidar a invocação dêstes nomes
benditos pelos quais nos vieram a salvação e a gra­
ça. Unimos êstes três nomes: Jesus, Maria e José.
A Trindade da terra, espêlho da Trindade do céu.
O nome de Sant'Ana é poderoso e santo. Ana se­
gundo S. Epifâno e S. João Damasceno, quer dizer
graça, misericórdia ou graciosa misericórdia. Sim, a
Mãe da Mãe das Graças e mediadora de tôdas as gl"d­
ças do céu, a Mãe da Mãe de Misericórdia, trás no seu
nome bendito a indicação do poder e da beleza que
possui na glória do céu. Ana fôra enriquecida de
graças. É graciosa porque tôda beleza da virtude
resplandeceu em sua alma. É misericordiosa por­
que a misericórdia Divina, concedeu à Maria sua
filha bendita, o privilégio de usar tôdas as rique­
zas do Sangue Divino de Jesus em favor dos pe­
cadores. Chamamos a Nossa Senhora Regina,
J'.!atcr 111i.3ericordiae - Rainha, Mãe de Miseri-

23
có1·dia. Ana é Mãe da Mãe de Misericórdia. Quem
depois de Maria, há de ser chamada com mais jus­
tiça - a Misericordiosa? Segundo as Revelações
de Santa Brígida) (1) Sant'Ana, como Maria foi
tão misericordiosa que em vida deu aos pobres
quanto possuía, para viver também na pobreza
- O nome de Sant'Ana nos inspira confiança e
nos fala da graça e da misericórdia. Honremos ês­
te nome bendito, e, como faz a piedade tradicional
de nossa gente, unamos todos êstes nomes da fa­
mília de Jesus na bela invocação de nosso povo de­
voto: JemtSJ José) Joaquim) Ana e Maria) vaZei­
nos em nossa última agonia. Esta jaculatória não
é uma prova do quanto as almas verdadeiramente
piedosas não querem separar o que Deus uniu na
terra e no céu? Honremos e invoquemos sempre
com devoção o poderoso e bendito nome de Sant'
Ana!

(1) Omnia quae habere potuit, dedit indigentibus; nlh1IIque


nlsi victuem, et vestitum reservavit - Palavras de Maria a San­
ta Brígida - (Revel. Lib. I Cap. X).

24
A grande provação

Maria Santíssima veio ao mundo em circuns­


tâncias miraculosas. Ana e Joaquim estavam na
velhice e viviam amargurados porque Deus não
lhes havia dado um só filho. Entre os judeus a este­
rilidade era sinal de maldição do céu. Estavam che­
gados segundo as profecias os tempos da vinda
do Messias, o Salvador de Israel. As mulheres de
Israel queriam ser mãe na espectativa de que nas­
cesse de alguma delas o Prometido. Estas circuns­
tâncias ainda mais agravaram a dor e opróbio dos
santos espôsos. Quantas lágrimas e chemidos, quan­
tas humilhações não sofreram Joaquim e Ana! A
Providência lhes reservava, porém um tesouro, uma
graça que nenhuma das famílias de Israel recebera
antes dêles- haviam de dar ao mundo a Virgem­
Mãe profetizada por !saias, a Mãe do Salvador e Re­
dentor da Humanidade. Tão imensa glória deveria
custar muita amargura antes de obtê-la. A prova da
esterilidade dos pais de Maria Santíssima diz o Pe.
Marc Ramus, após haver consultado as tradições,

25
esta prova segundo as mais seguras opiniões durou
cêrca de quarenta anos. Foi penoso depois para Sant'
Ana ter chegado a velhice, sem um filho, e sem­
pre humilhada e triste a espera da morte na este­
rilidade! João Batista nasce de pais velhos por um
milagre. Abraão e Sara tiveram o filho pelo qual
foram abençoadas tôdas as nações da terra, na ve­
lhice. Ana espôsa de Elcano, concebe e dá a luz a
Samuel na velhice. Ora a maternidade de Sant'Ana,
destinada a ser a única e privilegiada, não podia ser
comum. O milagre maior e mais estupendo have­
ria na Conceição Imaculada de Maria, aurora da
salvação e da graça. Deus inspirou a Joaquim e Ana
o desejo ardente e sobrenatural de não morrerem
sem dar ao mundo um filho e contribuirem para
c nascimento do Redentor, o Messias prometido. E
o que parecia impossível aos homens se realizou por
\·ontadt: do Altíssimo.

26
A boa nova

Após tantas e prolongadas orações, esmolas, je­


juns e obras de caridade S. Joaquim e Sant'P...na, se­
gundo o dizem o grande Suarez e, antes já o afir­
maram S. João Crisóstomo e S. Jerônimo, tiveram
do céu a revelação da Conceição e do nascimento mi­
raculoso de Maria Santíssima. O argumento de Su­
rez é êste: é um princípio admitido como certo pela
teologia católica, que tôda graça concedida aos san­
tos, o foi também em grau eminente à Santíssima
Virgem Maria, além daquelas graças singulares, ex­
clusivas e pessoais que do céu recebeu para missão
da maternidade Divina (Suarez - I. C. 2. Disp. I.
Sect. n- 4) -Ora, se o nascimento de João Ba­
tista destinado a ser o precursor de Jesus fôra anun­
ciado pelo Anjo a Zacarias, não o seria da Mãe do
Redentor? Sara tivera do céu a revelação do fim de
sua esterilidade, e Ana que concebeu por milágre
a maior das criaturas nascidas de uma mulher, não
seria avisada pelo alto de tão estupenda graça? Um
Anjo foi enviado do céu primeiramente a S. Joaquim,

Z1
e depois a Sant'Ana para anunciar-lhes a feliz no­
va: dariam ao mundo uma filha e por ela viria a
terra o Salvador. Nossa Senhora revelou isto a San­
ta Brígida (Revel. Lib. I. Cap. IX) Ana ouviu a pa­
. do Anjo Gabriel, segundo a opinião de Suarez,
lavra
e acreditou humilde e cheia de gratidão, não obs­
tante a impossibilidade humana em conceber e dar
ao mundo uma filha na mais avançada idade, e após
tão longa esterilidade. Adão, Abraão, Isaac, Jacó,
Daví, exultaram de alegria quando souberam que o
Messias prometido havia de nascer da sua raça. Qual
não foi a alegria de Ana e Joaquim quando o Anjo
lhes anunciou que a Virgem-Mãe profetizada, a Mãe
do Salvador de Israel, havia de nascer dêles, seria
sua própria filha!

28
Nascimento de Maria

A Igreja celebrando jubilosa o nascimento de


Nossa Senhora no dia 8 de setembro diz na oração
litúrgica da Santa Missa: - " Concedei Senhor aos
vossos servos) nós vos imploramos o dom da gmça
celestial, e) assim como o parto da Bemaventumda
Virgem foi o princípio da nossa salvação, assim
também a piedosa solenidade da sua Natividade nos
alcance um aumento de paz '' Jesus nasce de Maria
como o sol eterno que veio iluminar a triste noite
do pecado, e Maria nasce de Sant'Ana como a Auro­
ra que precede as fulgurações do Astro- Rei Divi­
no dos céus e da terra. A Liturgia da festa da Nati­
vidade recorda-nos a glória da maternidade Divi­
na de Nossa Senhora, começando na gloriosa ma­
ternidade de Sant'Ana. O nascimento de Maria se­
gundo a opinião dos antigos Padres da Igreja se deu
sem causar a sua Santa Mãe as dores e as lutas do
parto. S. Jerônimo com a autoridade de Doutor da
Igreja fala disto como uma verdade conhecida je
todos os cristãos do seu tempo. Nenhuma dor e gran-

29
de alegria trouxe o nascimento de Nossa Senhora ao
Mundo. A Igreja Canta: Natividade tua Dei genetrix
Virgo gaudium anunciabit universo mundo - O Vos­
so nascimento ó Vir-gem Mãe de Deus, anunciou a
todo o universo �tma grande alegria! Sim, porque
nasceu Aquela privilegiada criatura concebida sem
a mancha do pecado original. Ana, Mãe de Maria
segundo a natureza, e Maria Santíssima, Mãe de
Sant'Ana na ordem da graça! Maria deu ao mundo
Aquêle que a criou. Ana deu ao mundo a Mãe do
seu Criador e sua própria Mãe do Céu! Que mistérios
profundos! Quanto mais os meditamos, tanto mais
cresce nossa veneração por Sant'Ana. O nome de
Maria foi revelado pelo Anjo quando anunciou a
Conceição Imaculada da Mãe de Deus. Norne de
bençãos, nome de graças, nome de Salvação. Ana
foi a primeira criatura que o invocou no berço, e
sendo Mãe, foi a um tempo a filha mais amada e
enriquecida de graças por Maria Mãe de tôdas as
criaturas, Filha que viu nascer sua própria Mãe!
Quanto mistério e quanta beleza, quanta glória no
dia bendito do Nascimento de Maria! Foi o maior
dia e a origem da glória de Sant'Ana.
Apresentação

S. Joaquim e Sant'Ana haviam prometido ao Se­


nhor a filha que miraculosamente dêles nasceu. Ma­
ria, segundo a tradição, foi levada ao Templo na ida­
de de três anos e oferecida generosamente por seus
benditos pais ao serviço da casa de Deus. :l!:ste uso
de consagrar os filhos no Templo era dos mais anti­
gos e primitivos entre os Judeus. Piedosas jovens
passavam em orações e jejuns, ao lado do Tabernáculo
e julgavam-se honradas em adornar a Casa de Deus,
preparar os objetos e alfaias para as cerimônias do
culto. As virgens consagradas, ali recebiam esmerada
educação. Era uma espécie de colégio e convento.
Ana foi generosa e fiel à promessa. Quando Maria
cheia de encantos, e na idade em que as crianças mais
necessitam da ternura materna e mais alegria cau­
sam aos pais, nesta idade encantadora é oferecida e·
entregue por seus pais no Templo, num gesto heróico
de fé e abnegação. Assim descreve Santo Afonso ba­
seado nas Tradições: "Eis que Joaquim e Ana, gene­
rosamente sacrificando a Deus a parte mais cara dos

31
seus corações que na terra possuiam, partem para Je­
rusalém, levando ora um, ora outro, nos braços, a Fi­
lha amada, pois não era ela ainda capaz de uma via­
gem tão longa, como a G.e Nazaré a Jerusalém, de cêr­
ca de oitenta milhas como dizem muitos Autores. Ca­
minhavam seguidos de poucos parentes, mas esqua­
drões de Anjos os seguiam. Chegada a comitiva ao
Templo a bela menina se voltou para os Pais e lhes
pediu a bênção. Depois sobe os quinze degraus do
Templo e se apresenta ao sacerdote (segundo S. Ger­
mano, era S. Zacarias) , despede-se do mundo, renun­
cia todos os bens e se oferece e se consagra ao Criador.
Ana e Joaquim voltam para o silêncio, o trabalho e a
oração da vida humilde, após haverem consagrado a
Deus o tesouro mais rico e mais precioso que recebe­
ram do céu, a custa de tantos sacrifícios e de lon­
ga espera cheia de provações. Mãe heróica e admirá­
vel, a Senhora Sant'Ana!

32
Protetora das mães

É Sant'Ana invocada como protetora especial


das mães. Foi a mais santa e a maior das mães de­
pois da Mãe de Deus que é sua filha bendita. As
mães cristãs a invocam cheias de confiança. Consa­
gram a ela os filhos ainda mesmo antes que venham
à luz do mundo. Assim em Roma, desde séculos
havia o piedosso costume da benção das velas des­
tinadas às mães. Benção realizada no altar de Sant'
Ana e em algumas Basílicas entre elas a de S. Pau­
lo. As senhoras guardavam estas velas para acendê­
las na ocasião do parto. Contam-se prodígios obti­
dos da Mãe de Nossa Senhora em favor de pobres
mães sofredoras naquelas dolorosas circunstâncias.
Esta bênção não tem formula própria. É a mesma
bênção comum das velas como está no ritual. Bênção
prodigiosa! Eis a sua formula: - Senhor Jesus Cris­
to Filho de Deus Vivo, abençoai Vos suplicamos,
estas velas; infundí-lhes Senhor pela invocação da
Santa Cruz, uma bênção celestial, já que as destes
ao gênero humano para dissipar as trevas, e que
recebem tal bênção, com o sinal da Cruz para que

33
em todos os lugares em que forem colocadas e acesas�
se afastem e aniqu,ilem os príncipes das trevas� fu­
gindo aterrados dessas habitações com todos os seus
satélites� e nunca mais cogitem inquietar ou molestar
os que, ó Deus Onipotente, Vos servem, ó Vos que
sendo Deus reinais por todos os séculos dos séculos -
Assim seja! Esta oração diz quanto é eficaz o uso
da vela benta, êste rico sacramental da Igreja. A
vela benta na festa de Sant'Ana, para as mães tor­
nou-se uma grande devoção muito generalizada. É
um estímulo para o uso dêste belo sacramental e
um penhor de proteção da Mãe da Virgem Maria,
a Santa e Imaculada Mãe de Jesus. Seria bom
mandar gravar a efígie de Sant'Ana na vela de cêra,
OJ.J uma medalha. Esta bênção ·se faz, é evidente, em
qualquer época do ano e de modo especial e com
alguma solenidade, se se quiser, na Festa de Sant'
Ana.

34
Virtudes de Sant' Ana

Tôdas as virtudes resplandeceram na alma eleita


de Sant'Ana. Deus havia de a encher de graças para
que em seu ventre santo habitasse a Mãe das Graças
e. se realizasse o mistério da Conceição Imaculada de
de Maria. O Amor Divino, isto é, a caridade, rai­
nha de tôdas as virtudes e essência da perfeição
abrazava o coração de Sant' Ana. As virtudes teolo­
gais. constroem os . templos místicos das almas onde
vem Deus habitar. A alma de Ana, templo místico
da. Trindade Santíssima, casa de ouro que a Sabedo­
ria E�rna, construiu para Maria Santíssima, possuiu
tôdas as virtudes em grau elevado. Caridosa, des­
ta Caridade Amor Divino e amor do próximo,
viveu Ana abrazada nas chamas celestes. Com S.
Joaquim seu espôso, vivia no silêncio de uma vida
humilde e obscura, no trabalho e na oração, cheia do
Santo temor de Deus. Nossa Senhora revelou a San­
ta Brígida que nenhum matrimônio foi mais casto
que o de Ana e Joaquim, e viviam êles na prática de
tôdas as virtudes e num.grande amor para com Deus.

" 35
Preferiam a morte ao afastarem do menor ponto
da lei Divina (Revel. Lib. I, Cap. IX- Lib VI) . Uma
fé viva na Providência, uma esperança nos bens
eternos que os levava sempre à consideração da ca­
ducidade dos bens terrenos. Uma virtude sobretudo
foi admirável em Sant'Ana- a humildade. Em tôr­
no dela como de S. José reina silêncio, Silêncio das
Escrituras, silêncio de uma vida oculta, sem brilho,
sem glória humana. Teve a honra de ser a mulher
privilegiada, escolhida para Mãe da Mãe do Messias
prometido, conheceu pela inspiração do Divino Es­
pírito Santo, e segundo a Tradição, pelo aviso de
um Anjo, que teria a honr� sem par de dar ao mun­
do a Virgem Mãe do Salvador, e no entanto, guarda
silêncio, oculta-se, vive como tôdas as mulheres
de Israel, desconhecida e humilde. Não foi ela mais
honrada que as mães dos Profetas e dos Reis de Is­
rael? Mais honrada que a Mãe de S. João Batista?
De S. José se disse que fôra o Patriarca do silêncio.
Não foi Sant'Ana a Matriarca do silêncio? E nêste
silêncio como numa bela noite brilham as estrêlas
fulgurantes de tôdas as virtudes.

36
Morte de Sant'Ana e de S. Joaquim

Segundo as Tradições Joaquim e Ana após a en­


trega de Maria no Templo, deixaram Nazaré e vie­
ram residir em Jerusalém onde se achava a filha. En­
quanto Maria levava na Casa de Deus uma vida an­
gélica, êles progrediam também cada dia no Amor a
Deus e na prática de tôdas as virtudes. Não se pode
saber com precisão, diz o Pe. Marc-Ramus, quanto
tempo viveu ainda S. Joaquim, mas há indícios segu­
ros de que morreu antes de Sant'Ana, cheio de méri­
tos, e chegou à idade de oitenta anos (Sainte Anne
-

P. Marc-Ramus C. X). Ana passou todo o tempo da


sua viuvez na oração, no recolhimento, entregue tôda
a Deus. Viuva e sem a filha querida a quem oferecera
a Deus generosamente no Templo, a Santa Matrona
suspirava pela morte na certeza de que muito em
breve, pela Redenção trazida ao mundo por seu Di­
vino Neto, poderia entrar na glória. Ana viu duran­
tes alguns anos Maria crescer no Templo cheia de
graça e de sabedoria. Teve muitas vêzes a felicidade
de se entreter na intimidade com sua Filha Ima-

37
culada, nas visitas ao templo. Viu-a interpretar
a Sagrada Escritura e conhecer perfeitamente os
.oráculos dos Profetas da Antiga Lei. A iconografia
representa Ana a ensinar à Maria Santíssima Me­
nina a Escritura Sagrada. Na verdade, Nossa Se­
�hora possuía tôda sabedoria e inteligênca perfei­
ta dos Livros Sagrados. Nada tinha a aprender de
sua Bendita Mãe. Ambas liam e interpretavam a
Escritura Sagrada para cumprimento da lei e me­
<litação quotidiana das coisas celestes. Depois de
alguns anos, quando Maria ainda se encontrava
no Templo, e antes do Matrimônio Virginal com
S. José, Ana abrazada no Divino Amor, expirou
suàvemente. Havia chegado a idade de setenta e no­
ve anos. Fôra sepultada em Jerusatém junto de seu
Santo Espôso S. Joaquim. A Igreja chamou a esta
morte, dormito isto é, o sono.

as
O culto de Sant'Ana

Tem um caráter universal, católico no senti­


do perfeito da palavra, o culto de Sant'Ana em tô­
da Igreja. A missa e a festa litúrgica não são tão
antigas pois, remontam ao ano de 1584 quando no
dia 1. Q de maio Gregório XIII por inspiração do
Espírito Santo, diz Baronius, ordenou que em tô­
da a Igreja se celebrasse com solenidade de rito
duplo a festa da Santa Mãe de Maria. O Papa Gre­
gório }QV que ocupou a cátedra de Pedro de 1621
a 1623 quís que a Festa de 26 de julho fosse de pre­
ceito. Era um ato de gratidão para com sua Prote­
tora especial. l!;ste Papa fôra condenado à morte
pela gravidade de uma doença, e os médicos o de­
senganaram. Mandou então chamar a um grande
devoto e pregador das glórias de Sant' Ana, o Ve­
nerável Inocêncio de Glusa da Ordem Franciscana
e lhe disse que se a Mãe de Maria Santíssima o
curasse, mandaria celebrar cada ano a festa de 26
de julho como obrigatória em todo o mundo. O
Papa restabeleceu-se e cumpriu a promessa. O sá­
bio Pontífice Bento XIV, observa entretanto que

39
a festa de Sant'Ana é mais antiga, e diz que o Pa­
pa Gregório XIII não a instituiu, mas confirmou-a
apenas e deu-lhe mais esplendor. As expressões:
firmou, aumentou - firmavit, auxitque demons­
tram que a festa já existia. Ao mesmo Papa deve­
mos também a festa do espôso de Sant'Ana o glo­
rioso S. Joaquim. Nos últimos tempos o grande Leão
XIII devotíssimo dos Pais da Bemaventurada Vir­
gem Maria, determinou pelo Decreto '' Docet Eccle­
siasticus }} de 1. 9 de agôsto de 1879 que daquela da­
ta em diante as Festas de S. Joaquim e Sant'Ana,
seriam elevadas a rito duplo de 2.� classe e obriga­
tórias em tôda Igreja Universal. Cresce cada vez
no mundo a bela devoção a Maria. Estamos nos tem­
pos do esplendor do culto à Mãe de DeU:s. Pois a
glória de Sant'Ana cresce também, porque quanto
mais se louva a Maria, mais se louva e se glorifica
também a Mãe dá Mãe de Deus, e Avó Santíssima
de Jesus.

40
Louvores de SanfAna

Outrora rezavam-se ladainhas em honra de Sant'


Ana com todo fervor. Hoje são aprovadas para cul­
to público só as cinco principais: - Ladainhas de
Todos os Santos, do Santíssimo Nome de Jesus, do
Sagrado Coração de Jesus, de Maria .Santíssima, ou
Lauretanas e as de S. José. Tôdas as mais só podem
servir para recitação em particular. Podemos toda­
via aproveitar as belas invocações das antigas la­
dainhas de Sant'Ana em forma de jaculatórias pie­
dosas porque são elas tão cheias de ensinamentos
e encerram louvores que hão de tocar o coração
cheio de bondade de nossa Avó Santíssima. Quan­
tos títulos belos possui a Senhora Sant'Ana! Invo­
quemo-la por estas glórias -
Sant'Ana avó de Jesus Cristo!
Sant' Ana Mãe da Virgem Maria!
Sant'Ana espôsa de S. Joaquim!
Sant'Ana sogra de S. José!
Rogai por nós ao vosso Neto, à vossa Filha, por
amor de vosso Espôso e do Espôso Virginal de Ma-.

41
ria! As ladainhas antigas chamavam a Sant'Ana -
.Montanha de Hereb) raiz de Jessé - Árvore fecun­
da) vinha frutífera) alegria dos Anjos) filha dos Pa­
.triarcas) oráculo dos Profetas, glória dos Santos,
.glória dos Sacerdotes e Levitas, nuvem cheia de ce­
leste orvalho, nuvem de brilhante alvura, vaso de
graça, espêlho de obediência, modêlo de paciência,
.cheia de misericórdia, refúgio dos pecadores, reden­
·çáo dos escravos, consoladora dos esposos, Mãe das
viuvas, mestra das virgens, pôrto dos navegantes,
.caminho dos viajantes, cura dos enfermos, luz dos
·cégos, lingua dos mudos, ouvido dos surdos, conso­
ladora dos aflitos! Quantas invocações tão belas e
edificantes! Em outras éras, almas piedosas nos
célebres Santuários de Nossa querida Santa, entoa­
vam êstes louvores com vozes altissonantes e êstes
brados de amor e de confiânça atraiam go céu as
graças e os milágres de Sant'Ana.

42
Sant' Ana e os pecadores

Ela é Mãe daquela que Deus constituiu Refú­


gio seguro de todos os pecadores e nossa esperança.
Mãe de Maria a quem dizemos sempre: - Rogai
por nós pecadores agora e na hora da nossa morte!
não há de ter todo poder e tôda piedade para socor­
rer os miseráveis pecadores que a ela recorrem?
Sim, não duvidemos do poder de Sant'Ana em fa­
vor dos miseráveis que ofendem a Deus e necessi­
tam do perdão e da graça.. Inúmeras conversões se
contam, alcançadas pela intercessão misericordiosa
do Mãe de Nossa Senhora. Recomendemos a ela os
pobres pecadores, sobretudo nossos parentes e pes­
soas queridas de nossa amizade e de nossa famí­
lia, afastados de Deus. Não se pode duvidar diz o
Pe. Oroiset no seu Ano Cristão, Sant'Ana tem uma
caridade tôda particular em favor dos pecadores. O
piedoso Mons. de Segur em sua obra: Merveilles
de Bain�Anne d'Auray conta êste exemplo edífican­
te: Uma pobre mulher era vítima de um espôso
dado a embriaguês e extremamente brutal. Empre-

43
gou todos os recursos para o converter. Orações,
lágrimas, conselhos, súplicas, tudo inútil. Fêz uma
peregrinação ao Santuário de Sant'Ana d'Auray, em
longa viagem que lhe custou grandes sacrifícios. De
volta foi recebida pelo marido ainda de modo mais
grosseiro que antes. Parecia-lhe pior ainda. Era ru­
de a prova de fé que Sant' Ana lhe dava. Não desa­
nimou. Chorou e de joelhos bradou à sua proteto­
ra: - " Sant'Ana, refúgio dos pecadores e conso­
ladora dos aflitos, não perdi nem minha fé, nem
minha confiança em vossa proteção. Voltarei de no­
vo ao vosso Santuário! E assim fêz nova peregrina­
ção, súplicas e sacrifícios de penosa viagem. Tanta
confiança não podia ser em vão. De volta o marido
a espera com lágrimas nos olhos, pede-lhe perdão,
reconsilham-se. Emendou-se o pobre pecador e to­
dos o viram transformado repentinamente num mo­
dêlo de espôso e de chefe de família.

44
Antiguidade do culto de Sant'Ana

Se a festa litúrgica de Sant'Ana é relativamen­


te nova, pois data do século XVI, o culto à glorio­
sa Santa é dos mais antigos e tradicionais de tôda
cristandade. Cristãos de mais remotas éras cons­
truiram na Terra Santa, berço do cristianismo, al­
gumas igrejas e capelas dedicadas a Sant' Ana. Uma
delas foi tomada pelos Turcos e transformada em
Mesquita. Mais tarde os franceses a retomaram e
restabeleceram o culto. No ano 550 Justiniano I fêz
construir em Constantinopla um Templo magnífico,
verdadeira maravilha de arte, e o dedicou a '' Avó
de Jemts-Cristo e Mãe da Virgem Maria ". No ano
705 Justiniano n construiu novo templo a Sant' Ana.
" A cidade imperial, diz Mons. Mermillod, não era
a única privilegiada dos templos em honra da Mãe
da Mãe de Deus. Nas ilhas mais remotas do ociden­
te e nas regiões longínquas do oriente nos séculos
passados erguiam-se magestosas igrejas a Sant'Ana
(culte et Patronage de Sainte Anne - Pág. 114-
115). Na Europa, Urbano VI, no ano de 1378, a pe­
dido de vários Arcebispos e Bispos da Inglaterra

45
concede àquele reino a licença :!_)ara celebrar com
tôda pompa litúrgica, a festa de Sant'Ana. No ano
1425, um Concílio Provincial de Copenhage, em Da­
nemark ordena a celebração de uma festa de Sant'
Ana no dia 9 de dezembro após a festa da Imacu­
lada Conceição. Na Austria, na Hugria, na Boêmia,
na Polônia havia santuários célebres onde se conta­
vam prodígios extraordinários. A França, a Bélgica,
e todos os países católicos da Europa, todos êles
guardam na sua história e nas suas tradições de fé,
o nome da Mãe da Mãe de Deus mil vêzes glorifi­
cado. Tôda Europa foi enriquecida de magestosos
santuários e altares de Sant' Ana. Tornaram-se cé­
lebres os santuários de Annaberg na Austria, Sant"
Ana d'Auray na F'rança (Bretanha) e Sant'Ana de
Apt que possui o tesouro imenso das relíquias rlo
corpo da gloriosa Santa, que a Providência mira­
culosamente permitiu fôsse lá venerado.

46
Reliquias de Sant'Ana

A cidade de Apt na França, Diocese de Avignon


e outrora séde episcopal, tem a honra de possuir
as relíquias de Sant'Ana. Como foram lá parar?
Mons. MermiUod, numa das suas obras - " Le cul­
te et le Patronage de Sainte Anne '', reproduz de
um documento oficial, um mandamento do Bispo
Mons. Loois Debrel de Avignon, esta bela tradição :
Maria Madalena, Marta e Lázaro, os irmãos daque-­
la família privilegiada que Jesus amava, e São Má-­
ximino, numa barca atirada ao mar em tempo das·
perseguições, iam perecer quando aportaram em Mar­
selha. Levaram êles consigo um tesouro, uma re-.
líquia preciosa, o corpo de Sant'Ana. Uma parte ­
destas relíquias foi para a Bretanha e outra foi tra-.
zida por Santo Auspício, Bispo de Apt para sua ci­
dade episcopal. Há séculos alí se veneram as relí-­
quias gloriosas da Mãe da Mãe de Deus. Papas, Reis, .
principes, guerreiros ilustres, e as multidões des-­
filam diante dêste tesouro e se contam prodígios.
de Sant'Ana naquele célebre e magestoso santuário.
:urbano III foi lá pedir fôrça para libertar o santo
sepulcro. Roberto de Nápoles, Luís li, Urbano V, Pe­
dro de Luxemburgo, visitaram Apt e prestaram
homenagens devotas a Sant'Ana. O rei Louis XIII
.de França sentia amarga dor por não ter um her­
deiro para o trono. A rainha fêz a Sant'Ana de Apt
.a súplica de um filho, e em breve dava a luz aque­
le que mais tarde fôra Luís XIV. Em sinal de gra­
tidão deixou Paris e foi se prostrar humildemente
no Santuário de sua Protetora. Mandou construir
uma riquíssima capela lateral para as relíquias da
.Santa. Os soberanos Pontífices enriqueceram o San­
tuário de muitas indulgências. Era um dos centros
de grandes peregrinações. Em 1877 S. S. Pio IX
permitiu a coroaçã-:) de Sant' Ana. Perante um gran­
de número de Prelados e Sacerdotes e uma multidão
imensa foi coroada solenemente a imagem de Sant'­
Ana junto de suas gloriosas relíquias. A solenida­
-de se deu em 8 de Setembro, festa do nascimento
de Maria Santíssima, e festa que anuncia o maior
P. o mais extraordinário dos privilégios de Sant'Ana.
-o de ser Mãe da Mãe de Deus.

48
Invenção do corpo de Sant' Ana
Há para algumas igrejas a festa e o ofício litur­
túrgico daInvenção do Corpo de Sant'Ana. Inven­
venção quer dizerencontro. Daí as festas ln·venção
da Santa Cruz em 3 de Maio, comemorando o en­
contro feliz do Sagrado Lenho por Santa Helena,
Invenção de Santo Estêvão, o encontro miraculoso
das relíquias do mártir, etc. As relíquias preciosís­
simas de Sant'Ana estiveram longo tempo igno­
radas. No tempo das invasões bárbaras, Santo Aus­
pício em Apt antes do perigo da invasão dos Sarra­
cenos, escondeu as relíquias de Sant' Ana em lugar
seguro, na espectativa de melhores dias. Depois pas­
saram-se séculos e todos tinham a certeza de que as
relíquias estavam guardadas no Santuário pelo San­
to Bispo, mas ninguém podia saber o lugar certo
porque não ficou s2 quer uma indicação. Deus po­
rém quis glorificar as relíquias da Mãe de Maria
Santíssima. Carlos Magno, que era devotíssimo de
Sant'Ana, depois de uma das suas triunfantes ex­
pedições guerreiras, veio ao Santuário de Apt nu­
ma festa de Páscoa. O Imperador assistia ao Ofício
Divino cercado de sua côrte e dos Pares de França
e os Cavalheiros. Um milagre chamou a atenção de

49
tôda multidão e do Imperador. Um nobre
Casanova
de Simiane que hospedava Carlos Magno com tô­
da pompa, tinha um filho cego, surdo e mudo de nas­
cença. O moço aparece no Templo de olhos abertos
a enchergar perfeitamente e como que inspirado pe­
lo céu, convida por gestos o povo a que o siga. A
multidão sem se saber como, levanta-se e acom­
panha o jovem até a um canto do Santuário. Carlos
Magno também segue o moço profundamente im­
pressionado. Gesticulando sempre, pede o mundo que
se levante uma pedra enorme. O Imperador ordena
que assim façam. Levanta-se a pedra e se descobre
a entrada de uma cripta desconhecida. Descem to­
dos e com surpresa percebem raios luminosos que
partem de uma outra pequena cripta abaixo da­
quela. As luzes partiam de uma urna com as relíquias
de Sant'Ana. O moço desata a língua e fala : - Ê
Ela, Ela! A multidão caí de joelhos. Tomam de uma
urna, envoltas em precioso sudário, as relíquias com
êstes dizeres com letras bem claras : Aqui repou­
-

sa o corpo de Sant'Ana, Mãe da gloriosa Virgem


Maria. A êste milagre seguiram-se outros inumerá­
veis pelos quais a Mãe da Mãe de Deus quis provar
a autencidade das relíquias.

50
Milagres de Sant' Ana

Os Bollandistas, nas suas Vidas d e Santos, após


estudos criteriosos e pacientes consultas à história,
atesta inúmeráveis prodígios obtidos do céu pela in­
tercessão de Sant' Ana. Podemos dizer com um autor
o Pe. Tritheme em seu livro : ((Tmité des louanges
de Sainte Anne": Se a frequência dos milagres é um
sinal para a nossa grande veneração aos santos, a
Bemaventurada Ana, é digníssima de tôdas as hon­
ras, porque Ela concede cada dia tantos e tão grandes
benefícios e graças aos seus devotos que é simples­
mente impossível inumerá-Ios todos". Êste piedoso
Autor experimentara o poder da Avó Santa de Jesus.
Conseguiu salvar uma Abadia e reformá-Ia tôda em
situação difícil, com a invocação de Sant' Ana. Acre­
dito, dizia êle, e sustento com todo ardor de minh'al­
ma, a Avó de Jesus Cristo, tem um crédito ilimitado
e um grande poder junto de Deus. Não só foi ela
enriquecida de favores do Alto para si, mas para to­
dos os fiéis devoto!; que a invocarem. Se cremos
no poder da intercessão dos apóstolos e dos outros san-

51
tos, como não nos convencermos de que os parentes
de Nosso Senhor, seus avós benditos tenham maior
podet ? Deus nada pode recusar às súplicas de Sant'
Ana. Os Bollandistas dos antigos documentos Jo
santuário de Sant'Ana d'Auray antiquíssima igreja
df' Frar.ça, recoiher-am e catalogaram milhares de
prodígios alcançado!:> através de novP séculos · pela
intercessão da Mãe da Mãe de Deus. Sabemos com
que rigor de crítica estudaram e publicaram os Bol­
landistas suas obras. Pois relatam seis mortos res­
suscitados, centenas de curas de cegos, paralíticos,
epiléticos e de outras moléstias graves e incuráveis.
Prodígios realizados por Sant' Ana repentinamente e
com grande admiração das multidões, tais como os
que já se deram e ainda se vêm em Lourdes. Um
piedoso Carmelita o Pe. João Tomaz de São Cirilo,
em sua obra sôbre Sant'Ana : Mater honorificata,
cita doze 1·essurreições, setenta agonizantes volta­
dos à plena saúde, nove cegos, dez surdos, trinta
e seis paralíticos e centenas de cativos, todos curados
e salvos pelo poder de Sant'Ana. Sant'Ana d'Auray
foi a Lourdes da Mãe de Nossa Senhora. Deus quiz
glorificar por meio de tantos prodígios em alguns
séculos, aquela que mereceu ser chamada Avó de
Jesus e Mãe do Redentor do Mundo !

52
Devoção dos Santos à Mãe de
Maria Santissima

Os Santos pelo amor ardente a Jesus Cristo e


a devoção a Maria, eram levados a amar e honrar
a família santa que trouxe ao mundo o Divino Sal­
vador. A devoção a S. José por exemplo, abrazou
de zêlo a alma da Seráfica Santa Tereza, porque me­
ditara a união íntima do Santo Patriarca com Nosso
Senhor e chegou a concluir daí o poder e a glória no
céu daquele que foi chamado Pai do Filho de Deus
e Espôso da Virgem das Virgens. Esta mesma de­
voção foi cultivada pc-r Gm S. Francisco de Sales.
um Santo Afonso de Ligório e tantos outros Santos.
Ora, a devoção a Sant' Ana foi também sempre que­
rida dos heróis da santidade. Santa Tereza legou ao
Carmelo, com a devoção a São José a devoção a
Sant'Ana e S. Joaquim. A apóstola e arauto do Co­
ração de Jesus, Santa Margarida Maria, juntava as
invocações a Nossa Senhora as de Sant'Ana e seu
Santo Espôso. Nas saudações escritas por Elas estão
estas : - Eu Vos saudo Maria bendita entre tôdas

53
as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre Je­
sus. Bendito seja vosso espôso S. José! E bendito
seja vosso Pai S. Joaquim e bendita vossa Mãe Sant'
Anat' A grande Santa Brígida cujas revelações são
tão conhecidas e célebres, era devotíssima da gran ­
de Matriarca. Um dia procurava ela um meio de hon­
rar convenientemente uma relíquia de Sant' Ana que
lhe fôra dada. Apareceu-lhe a Mãe de Nossa Senhora
dizendo : - Eu sou Ana, mestra de tôdas as espôsas
de Cristo antes da Nova Lei, e Mãe de todos depois
da Redenção. E, porque Deus quiz nascer do fru­
to bendito de minhas entranhas, quero minha fi­
lha que rezes sempre esta oração : - " Bendito se­
jais ó Jesus, Filho de Deus e da Virgem que esco­
lhestes por Mãe do matrimônio santo de Ana e
Joaquim. Pelas orações de Sant'Ana, tende pieda­
de de todos os que estão no estado de matrimônio
para que produzam frutos do Senhor. Dirigi e guiai
os que se preparam para o matrimônio, para q1te
Deus seja honrado por êles ". Bela oração e hoje tão
necessária! Os santos enfim, pelo amor de Jesus e
Maria, amaram e invocaram muitos deles com devo­
ção especial e fervorosa a gloriosa Sant'Ana.

54
Um apóstolo de Sant'Ana

A gloriosa Mãe da Mãe de Deus teve n o sécu­


lo XVI, um grande apóstolo do seu culto e foi o Ve­
nerável Inocente de Glusa, falecido em Roma no
ano de 1601 em odor de santidade. Êste ilustre fi­
lho de S. Francisco teve um ideal em sua vida : pu­
blicar as glórias de Sant' Ana. Fêz prodígios em
milagres que lhe atrairam uma grande fama de
santidade já em vida. Sant' Ana lhe apareceu mui­
tas vêzes, dizem os historiadores do seu tempo. Pro­
fetizou que Urbano vm, seria Papa muitos anos
antes da eleição e do conclave que o elegeu, em re­
compensa do muito que havia feito pela propaga­
ção do culto da Mãe de Maria Santíssima. O Irmão
Inocente construiu magestoso templo a Sant'Ana
pedindo esmolas de porta em porta. Uma sehora
da nobreza da Lombardia desejava ardentemente
que Deus lhe desse filhos. Recorreu ao Irmão Ino­
cente - Terás uma filha, diz o franciscano, e lhe
darás o nome de Ana Realmente, nove mêses de­
.

pois veio ao mundo uma criança, porém morta . A

55
pobre mãe chama de novo o Irmão : ó que amar­
gura a minha, diz ela, tive uma filha como pedi a
Sant'Ana e me nasce morta ! Desata em copioso
pranto. Inocente se ajoelha em silêncio. Num ins­
tante a criança volta à vida, se move e chora. Um
dia viajava o santo irmão de Marsala a Trapani
quando em pleno mar falta água e os marinheiros
se põem a blasfemar desesperados pela sêde. O Fran­
ciscano lhes súplica : - Não blasfemem assim, meus.
irmãos, recorramos a Sant'Ana! óra, bradam êles,
onde esta Senhora Sant'Ana nos vai arranjar água
e livrar-nos de morrer de sêde ? O Irmão Inocente
cala-se e depois inspirado diz a um marinheiro : -
Tira água daquele tonel ! - Está vazio, responde
o marujo. Insiste ainda - Tira água ! E do tonel
sai água pura e cristalina salvando tôda a tripula­
ção sedente. Um principe da Cecília há já algrms
anos lamentava que sua espôsa não tivesse wn
só filho, um herdeiro. Rogaram ao Irmão Inocente
que lhes obtivesse de Sant' Ana esta graça. O hu­
milde Irmão lhes disse : - Tereis três filhos, com
a condição de erguerdes um templo a Sant'Ana e
um mosteiro. Obtiveram a graça e infelismente não
cumpriram com a promessa. Morreram-lhe os três
filhos. Enfim, em tôda a vida de Inocente de Glusa
se contam inwneráveis prodígios de Sant'Ana. Deus
o suscitou para revelar os poderes e a glória da
Mãe de Nossa Senhora.

56
Santu ários de Sant' Ana

Entre os santuários célebres do mundo em hon­


ra de Sant'Ana se conta o de Annaberg na Austria
que é um dos países onde mais popular e querida é a
devoção da Mãe d� Maria Santíssima. Chamam-na
os austríacos a Santa Mãe Ana (Die hellige Muttem·
Anna ) . O nome de Ana é muito comum entre as mu­
lheres. Inumeráveis templos e altares consagrados
à grande santa. O Santuário de Annaberg fica na es­
trada que leva no maior Santuário Mariano das pe­
Mariazell. Em
regrinações daquele povo católico · -
1217 um abade Gelbart enviou alguns monjes para
que estabelecessem numa região inhóspita da mon­
tanha de Fannberg, pequena colônia afim de socor­
rer aos peregrinos e viajantes. Um leigo,
Irmão Ro­
dolfo, artista excelente, esculpiu em madeira as
imagens de Jesus, Maria e Sant'Ana. Nesta solidão
tornou-se célebre a afluência dos fiéis de tôda parte.
levados por uma gr-ande devoção a Sant'Ana. De­
pois de um século, em 1327 foi consagrado naquelas.
alturas, magestoso templo à Mãe de Maria. E a mon-

57
tanha de Fannberg passou a se denominar Annaberg.
Papas, Imperadores, Prelados ilustres visitaram o
.Santuário. Não houve imperador ou membro da fa­
mília real durante séculos, que não tivesse visitado
Sant'Ana da Annaberg. O pai do Imperador Fran­
-cisco José lá ia todos os anos em romaria piedosa.
Na Hungria o reino consagrado por Santo Estêvão
a Nossa Senhora, a devoção a Sant'Ana é querida de
todo católico. Na Polônia um piedoso sacerdote o Pa­
dre Nicolau Sokoniki fêz-se ardoroso apóstolo da
.Mãe da Mãe de Deus. Propagou a devoção das terças­
feiras do ano em honra de Sant'Ana e morreu santa­
mente numa terça. feira do ano de 1522. Em Durem
na Alemanha, em vasta igreja se invoca a Santa
Avó de Jesus e dela se conserva uma relíquia precio­
.sa. Esta relíquia quando se abre a caixa difunde um
perfume delicioso e celestial. Um missionário ao es­
·crever a Mons. Mermillod autor de uma obra impor­
tante sôbre Sant'Ana disse : - Eu respirei êste ma­
ravilhoso perfume quando tive a felicidade de ver
se abrir o relicário. É um milagre permanente da
Mãe de Maria.

'58
O dia de Sant'Ana

A Missa da Festa de Sant' Ana tem um belo in­


tróito Ei-lo :
''Alegremo-nos todos no Senhor, cele­
brando neste dia a festa em honra da Bemaventu­
da Ana, pois os Anjos rejubilam com esta festivida­
de e em harmonias louvam o Filho de Deus ". Sim,
alegremo-nos todos com a festa de Nassa Avó ce­
lestial, a grande Mãe de Nassa Mãe Imaculada !
Neste dia descem as bençãos do céu por Ela. Se as
festas dos santos nos trazem as graças e a prote­
ção especial daqueles que invocamos nos dias de seus
triunfos, quanto mais a festa de Sant' Ana, Mãe da
Mãe de Jesus Cristo Nosso Salvador. Eis porque
a Igreja nos diz : Alegremo-nos! A oração litúrgi­
ca da missa é bem expressiva : 6 Deus que vos
-

dignastes conferir à Bemaventurada Ana a graça


de ser escolhida para dar ao mundo a Mãe do vos­
so Filho Unigênito, concedei-nos propícios que se­
jamos auxiliados junto de vós pelo patrocínio da­
quela cuja festa celebramos." Que bela oração tão

59
própria para excitar nossa confiança na proteção va­
liosa de Sant' Ana ! A Epís1 ola da Missa lembra a­
quela mulher forte que mereceu os elogios do Es­
pírito Santo no Livro da Sabedoria. Que mulher
mais Rdmirável que Sant' Ana? Lá está o panegí­
rico perfeito de Mãe de Maria na espístola da San­
ta Missa da festa. A Secreta reza : Olhai propício�
Senhor� Vos suplicamos� para êstes sacrifícos afim
de que� pela intercessão da Bemaventurada Ana que
foi Mãe d�Aquela que deu ao mundo o vosso Filho�
Nosso Senhor Jesus Cristo, êles sejam proveitosos
à nossa piedade ". Mais uma tocante súplica à Se­
nhora SantAna lembrando sempre a sua prerroga­
tiva de Mãe de Maria, Mãe da Mãe de Deus ! E fi­
nalmente no Pos-Comunio lembrando o mesmo pre­
vilégio, pede-se a salvação eterna. Eis como a Li­
turgia, a prece oficial da Igreja nos convida a ce­
lebrar a Festa de Sant' Ana.

60
Dois santuáries

A França tem a glória de possuir os dois mais


veneráveis santuários de Sant' Ana e as relíquias da
Mãe da Mãe de Deus. Sant'Ana d'Auray e Sant'Ana
de Apt encerram os maiores prodígios e as mais
escolhidas graças do céu pela intercessão da Santís­
sima Matriarca Avó de Jesus. Do velho santuário
de Apt já narramos os prodígios. Sant'Ana d'Auray
na Bretanha, região de mais viva fé de tôda a ca­
tólica França, possuiu o mais antigo Templo dedi ­
cado à Mãe de Nossa Senhora. Havia alí uma pe­
quena Capela em ruínas. Sant' Ana apareceu a uma
ht.:milde camponês Yves Nicolazic, em 1624 e lhe
disse que naquele lugar fôra construido um templo
em sua honra há novecentos e quatro anos e seis
mêses, e que era mister reconstruí-lo quanto an­
tes. Daí a origem do Templo famoso e das peregri­
nações de célebre santuário francês de Sant'Ana
d'Aum,y. Yves Nicolazic construiu com esmolas, pe­
didas de portas, humilde capela. Em breve porém
eram tantos os peregrinos que afluíam de tôda Bre-

61
tanha, que se reconstruiu novo Templo. Finalmente
e'11 1877 foi consagrada solenemente com verdadeiro
entusiasmo devoto de tôda a França católica, a ma­
jestosa basílica onde até hoje Sant' Ana é honrada
pelos milhares de devotos que a visitam. Sant'Ana
d' Auray guarda uma das relíquias da grande Santa
vinda de Apt. Nêste Santuário piedoso quiz ser se­
pultado aquêle piedoso e Santo Mons. S'egur, uma
das glórias da Igreja de França. O piedoso sacerdote
escrevera em seu testamento : -Morro num amor
m'uito filial pela ViTgem Maria Imaculada e a bôa
Mãe Sant'Ana. Felizes seremos si na hora derradei­
ra êstes dois amores abrazarem nossos corações ! A
'
devoção a Sant' Ana veio do Oriente para a França
e lá se irradiou maravilhosa e rapidamente para
todo mundo. Os monumentos mais ricos da Tradi­
ção piedosa em torno das relíquias da Mãe de Maria,
os maiores prodígios e estupendos milagres de Sant'
Ana são, não há dúvida, os do santuário d' Auray e
de Apt.

62
Uma devota de Sant'Ana

A venerável Ana de S. Agostinho, carmelita des­


calça, alma de uma grande santidade a quem chama­
va Santa Tereza, a filha querida e a menina dos seus
olhos, foi para com Sant'Ana o que a Santa Matriar­
ca com S. José. Chamaram-na a filha priviligiada
de Sant' Ana. Devo confessar, escreveu ela, tôdas as
vêzes que em minhas necessidades, recorri a pro­
teção da Mãe de Maria Santíssima, senti a eficácia de
sua intervenção. Ela apareceu três vezes à Santa.
Carmelita para lhe pedir a construção da Igreja e do
mosteiro de Vila-Nova com o nome Carmelo de Sant'
Ana. A bôa Madre, sem dinheiro, sem nenhum apôio
humano pôs mão a obra e lutando contra tôda espe­
rança nunca lhe faltaram recursos até a conclusão
do Templo e do convento. Construída a igreja, falta­
va a imagem da Santa. A venerável Madre não sabia
como adquirí-la. Invocou com mais fervor a sua
Santa Padroeira. Um dia, escreve ela, durante a
meditação senti claramente que havia de receber a
imagem. Paracia-me desempenhar o ofício de portei­
ra e receber uma bela estátua de Sant'Ana que vi

63:
muitas vêzes em minha imaginação cada vez que me­
ditava. Realmente assim se deu. Estavam no recreio
.as carmelitas quando uma pomba branca vôa em tor­
no delas e uma voz se ouve : -Abre a porta à minha
Mãe que bate! Nêste instante tange a sineta. Na por­
taria chega um enorme caixão destinado à Madre
Ana de Santo Agostinho. Quem o remeteu ? Não o
disseram. Tôda indagação era sem resultado. Abrem
<> misterioso volume. Continha uma linda escultura
·de Sant'Ana em tamanho natural e tão bela como
nenhuma outra tinham visto. Quando transladam a
bela imagem para o altar no dia da inaug-uração e
bênção da capela, a Venerável contemplou San'Aná
que lhe sorria e a imagem lhe pareceu então mai�
ama pessoa viva que estátua. O Padre Cirilo de San­
to Tomaz conta que Madre Ana de Santo Agosti­
nho pouco depois esteve à morte gravemente enfer­
ma e sarou repentinamente com admiração dos mé­
dicos, com a invocação do nome de Sant'Ana. Foi
ela uma das grandes almas que no seu tempo mais
concorreram para a glorificação da Mãe de Nossa
Senhora.
Sant'Ana protege os viajantes

Invocam Sant' Ana como bôa protetora dos via­


jantes. Quando segundo a tradição a barca lançada
ao mar com Lázaro, Marta e Maria, trazia tam­
bém as · relíquias da gloriosa Mãe de Maria Santls­
sima, sem vela e sem remo, venceu tôdas as
tempestades e escolhos até aportar feliz em Mar­
selha. É costume invocar a grande Santa nas viagens ;
não são poucos os marujos, os peregrinos agrade­
cidos a Sant'Ana pela eficaz proteção nas viagens
e perigos. Entre os prodígios se narra êste.
Guiao
Routoux negociante de Saint Nazaire na França
no tempo em que milhares de cristãos faziam ca­
tivos dos Turcos equipou um navio para reunir ca­
tivos. Infelizmente em meio do caminho êle mesmo
caiu em poder dos infiéis que o atormentaram du­
rante quatro longos mêses para que renunciasse à
fé cristã. Permaneceu fiel e um dia com seis outros
companheiros de infortúnio recomendo-se a Nossa
Senhora das Mercês e a Sant'Ana a quem invocava
sempre com particular devoção e fêz um voto se

65
fôsse livre ir em peregrinação ao grande Santuário
de Bretanha. Tiver:J.m a inspiração de construir uma
barca ou jangada de madeiras e um dia os sete com­
panheiros confiados em Sant' Ana atiraram-se ao
mar nesta frágil embarcação. Durante cinco dias
e cinco noites em meio de tempestades as vêzes sem
conhecer a rota da viagem foram lutando em pleno o­
ceano. Faltaram as provisões de alimentos. Três
dias sem comer. Já quase exaustos invocaram com
mais confiança a proteção de . Sant'Ana. Afinal che­
gam ao pôrto de Palma na ilha de Majorca sãos e
salvos. Os Padres da Ordem de Nossa Senhora das
Mercês ficaram cheios da profunda admiração ao
verem a frágil embarcação em que viajaram os se­
te cativos. Guido de Routoux nêste mesmo ano de
1656, tomou a barca e levou-a ao Santuário de Sant'­
Ana em cumprimento do voto. Como êste contam-se
tantos prodígios que atestam como a grande Santa
protege, guia, abençoa e leva com segurança ao seu
destino o viajante que nela confia.

66
O culto de Sanf Ana no Brasil

O povo brasileiro devotissimo de Nossa Senhora


como poucos no mundo, a terra onde do Norte ao
Sul se levantam majestosos templos e capelinhas
humildes em honra de Maria, invocada numa varieda­
de de títulos que dificilmente poderíamos citá-los to­
dos. O Brasil é a terra querida de Maria. Nosso Povo
ama a Sagrada Família e os Santos mais íntimos de
Jesus Cristo são os mais queridos da nossa boa gen­
te. Vede que grande devoção a S. José por tôda parte !
Pois Sant'Ana e seu bendito espôso S. Joaquim não
são menos invocados e queridos. Templos, altares
em quase tôdas as paróquias. A igreja de Sant' Ana
é uma Tradição de quase tôdas as velhas. cidades bra­
sileiras. Os lugares tomam o nome da Padroeira.
Quantas cidades e paragens sob a invocação de Sant'­
Ana! É a titular de Dioceses, de paróquias, colégios
e instituições. Praças e ruas, montanhas e rios, edifí­
cios e lojas, colégios e conventos, inúmeros dentre
êles, sob a proteção e com o nome de Sant'Ana ! Os
Jesui tas trouxeram para o Brasil com a devoção a

61
Imaculada Virgem a devoção a Sant' Ana e S. Joa­
quim. Velhas igrejas coloniais conservam imagens
da Mãe de Maria Santíssima dos tempos coloniais.
Nosso povo canta e reza a jaculatória que é uma tra­
dição tocante de nossa gente : --Jesus, José, Joa­
quim, Ana e Maria, -t;alei-me na minha última agonia.
Nosso sertanejo chama com respeito à Nossa Mde
Senhora Sant'Ana! Há tanta lenda piedosa, tanta
cantiga devota, tantos versos do nosso flok-lore que
lembram a Senhora Sant'Ana ! Peçamos à Mãe ben­
dita de Nossa Mãe Imaculada a Senhora Aparecida
Padroeira do Brasil, peçamos a Senhora Sant' Ana
nos proteja sempre e nos conserve o dom preciosís­
simo da fé. Com Nossa Senhora Aparecida e seu
Bendito Filho, Vosso Neto Divino, vinde em nosso
socorro, Senhora Sant'Ana !

68
Práticas da devoção a Sãnt'Ana

A primeira e a melhor prática da devoção aos


Santos consiste em lhes imitar as virtudes. Glória
Sanctomm, imitatio eorum. A glória dos Santos
está em procurarmos imitá-los. Aquelas virtudes ad­
miráveis que meditamos, da vida da Mãe da Mãe de
Deus devem nos estimular sempre na prática do bem.
Imitemos sua profunda humildade e aquêle silêncio e
simplicidade, aquela vida sempre fiel à vontade san­
tíssima de Deus ainda nas mais duras povoações. De­
pois honremos Sant' Ana cada dia louvando-a com
algumas orações piedosas. Assim como rezamos sem­
pre à família santa Jesus, Maria e José, acrescente­
mos em nossas devoções quotidianas o louvor de
Sant' Ana e de S. Joaquim. Há inúmeras e belas prá­
ticas devotas e exercícios utilíssimos. A devoção das
terças-feiras do ano consagrado à Santa Matriarca.
A piedade cristã dedica a segunda-feira às Almas
do Pu.rgatório, quae ta a S. José quinta ao Santíssimo
Sacramento, sexta d. memória da Paixão e do Cora­
ção de Jesus, sábado à Mãe de Deus Maria Santissi-

69
ma. É costume. tradicional dos mais antigos consa-
grar a terça-feira a Sant' Ana. O Pe. Marc Ramus,
diz ter encontrado sempre a tradição de que Sant' Ana
nasceu numa t�rça-feira, morreu numa terça-feira
e ainda numa terça-feira concebeu sem a mancha
do pecado original � Mãe de Deus Maria Santíssima.
A Igreja aprova e enriquece de indulgências a prá­
tica da devoção das nove terças-feiras em honra
de Sant'Ana. Consiste em piedosos exercícios, em
honra da Santa, feita em nove terças-feiras em se­
guida antes da festa de 26 de julho, ou em qual­
quer época. Lucra-se uma indulgência plenária em
eã.da terça-feira e uma na festa das condições do
costume. Qualquer novena em honra de Sant'
Ana tem sete anos de indulgência cada dia e plenária
no fim. O mês de julho consagram ao culto da piedosa
Mãe de Maria com exercícios quotidianos em seu lou­
vor. Enfim há inúmeras e belas práticas devotas para
honrarmos a Santa Matriarca. Invoquemos sempre
em nossas necessidades e aflições à grande Santa.
Procuremos ter conosco em casa a imagem ou o qua­
dro de Sant'Ana. É uma das devoções muito agradá­
veis a Jesus Cristo e à sua Mãe Santíssima. E tô­
das as almas verdadeiramente devotas da Mãe da
Mãe de Deus podem dizer em verdade como dizia
Santa Tereza de S. José : - Nunca recorri a Sant'­
Ana que Ela não me tivesse atendido!

70
Novena e orações a Sant' Ana
Mãe da Mãe de Deus

ORACÃO

ó Deus que enchestes de graça a alma de Sant'­


Ana que mereceu ela trazer em seu ventre Maria·
vossa Mãe, concedei-nos pela intercessão de tão San­
ta Mãe e de sua Filha Imaculada, a abundância da
vossa misericórdia e propiciação, afim de que pelas
orações e os méritos daquela cuja memória celebra­
mos com amor e devoção, mereçamos chegar a celes­
te Jerusalém, por Jesus Cristo Nosso Senhor, Neto,
bendito de Vossa Mãe. Assim seja.
Ave Maria . . .

JACULATóRIA

- Eu vos saúdo Ana Bemaventurada


- Que merecestes ser Mãe da Virgem Imaculada:...

ORAÇÃO

ó Deus todo poderoso que elevastes às alegrias.


da vida celeste a gloriosa Sant'Ana, Mãe d' Aquela
que vos gerou, concedei-nos pela vossa Bondade In­
finita que pela sua intercessão possamos chegar à
eterna bemaventurança onde viveis e reinais por to­
dos os séculos dos séculos. Assim seja.
Ave Maria . . . .
Eu vos saúdo Ana Bemaventurada
Que merecestes ser Mãe da Virgem Imaculada.

ORAÇÃO

õ Deus, que vos dignastes conceder a Sant' Ana,


uma tal abundância de graças que mereceu Ela ser
Mãe da Mãe de vosso Filho Unigênito Jesus Cris­
to, concedei-nos pela vossa misericórdia, que seja­
mos ajudados e protegidos por Aquela cuja memó­
ria celebramos com devoção e amor.
Ave Maria . . . .
Eu vos saúdo Ana Bemaventurada
Que merecestes ser Mãe da Virgem Imaculada.

ANTIFONA

ó Maria cheia de graça, o Senhor é convosco.


Esteja comigo vossa graça. Bendita sois entre tô­
das as mulheres, e bendita seja Sant' Ana vossa Mãe
da qual nascestes sem a mancha do pecado.

LOUVORES DE SANT'ANA

Sant' Ana - Rogai por nós.


Sant'Ana Avó de Jesus Cristo.

74
Sant'Ana espôsa de S. Joaquim.
Sant'Ana sogra de S. José.
Sant' Ana arca de salvação.
Sant'Ana arca da Aliança do Senhor.
Sant'Ana montanha de Horeb.
Sant'Ana, Raiz de Jessé.
Sant,Ana árvore fecunda.
Sant'Ana vinha frutífera.
Sant' Ana descendente de Reis.
Sant'Ana alegria dos Anjos.
Sant'Ana filha dos Patriarcas.
Sant'Ana oráculo dos profetas.
Sant'Ana glória dos Santos.
Sant'Ana glória dos sacerdotes e levit as.
Sant'Ana nuvem de celeste orvalho.
Sant' Ana de esplendente alvura.
Sant'Ana vaso cheio de graça.
Sant'Ana modêlo de obediência.
Sant' Ana modêlo de misericórdia.
Sant' Ana riqueza da Igreja.
Sant'Ana refúgio dos pecadores .
.Sant' Ana auxilio dos cristãos.
Sant' Ana libertação dos cativos.
Sant' Ana consolo das espôsas.
Sant'Ana Mãe das viúvas.
Sant' Ana mestra das Virgens.
Sant' Ana porto dos navegantes.
Sant'Ana guia dos viajantes.
Sant' Ana saúde dos enfermos.
Sant'Ana Mãe da Mãe de Deus.
Sant'Ana luz dos cegos.
Sant'Ana língua dos mudos.
Sant' Ana ouvido dos surdos.
Sant' Ana consolação dos aflitos.
Sant'Ana socorro de todos os que vos invocam.

NOTA: - Estas orações e louvores são do Peque­


no Ofício de Sant'Ana, antiquíssima de­
voção aprovada pelo Sumo Pontífice Cle­
mente VIII.

ORAÇÃO PELAS FAMILIAS

Esta oração foi ditada por Sant'Ana numa das


aparições de Santa Brígida. Diz o Pe. Marc Ramus
em sua obra "Lá devotion a Sainte Anne" : Um
dia Santa Brígida orava diante de uma relíquia de
Sant'Ana, quando lhe aparece a Mãe de Maria : -

Eu sou, diz Ela, Ana, Mestra e Modêlo das espôsas


fiéis antes da Nova Lei. Sou Mãe de tôdas as es­
pôsas depois da Lei do Evangelho. Deus quiz nascer
do fruto bendito de meu ventre. Eis porque, Brígi­
da minha filha, honra a Deus desta maneira, reci­
tando esta oração :

ORAÇÃO

" Bendito sejais Jesus, Filho de Deus e Filho


da Virgem Maria, que escolhestes vossa Mãe da
nmtrimônio de Sant'Ana, de todos que vivem no

íG
matrimônio. Dirig, gwa1 os que vão abraçar
a vida do casamento e dai-lhes boas disposições
e santos frutos de uma santa vida conjugal ".

ORAÇÃO NOS PERIGOS E TENTACõES


"Sant'Ana minha Mãe, com vossa Filha Imacula­
da e vosso Neto Divino, vinde em meu socorro !"

INDULGI!:NCIAS
A Santa Igreja concede aos fiéis sete anos de
indulgência cada dia de qualquer novena feita em
honra de Sant' Ana e plenária no fim, nas condições
do costume, isto é, confissão, comunhão e orar pelo
Santo Padre o Papa. (P. et P. 6. nQ 455)

NOVE TERÇAS-FEIRAS

Consagram tradicionalmente a terça-feira ao


.

culto de Sant' Ana. A todos os fiéis que praticarem


exercícios piedosos e rezarem algumas preces em
honra de Sant' Ana nas terças-feiras é concedida uma
indulgência de sete anos, para cada terça-feira. Aos
que participarem durante 9 dias em seguida, uma
indulgência plenária cada terça- feira - nas condi­
ções ordinárias, isto é, algumas preces a Sant' Ana,
visita a uma igreja, confisão e comunhão. A sér·ie
das nove terça-feiras em seguida, pode ser em pre­
paração à festa de Sant' Ana ou em qualquer outra
época do ano. (P. et P. 6. n� 455)

77
ORAÇÃO A SANT'ANA

O Vós que sois bendita entre tôdas as Mães,


gloriosa Sant'Ana, que tivestes por filha obediente e
dócil a Mãe de Deus, admiro a sublimidade de vossa
eleição e as graças com que Vós adornou o Altíssimo.
Uno-me a Maria sempre Virgem para vos honrar,
para vos amar e para me entregar confiante à vos­
sa proteção. A Jesus, a Maria e a Vós consagro
tôda minha vida como triunfo humilde de minha de­
voção. Alcançai-me que minha vida seja santa e
digna do paraíso. Assim seja.

ORAÇÃO

O Bemaventurada Sant' Ana, eis-me prostrado


diante de Vós, cheio da mais sincera veneração em
minha alma. Sois esta criatura priviligiada e par...
ticularmente amada por vossas extraordinárias vir:.
tudes e vossa santidade, merecestes de Deus o insig­
ne favor de dar à luz do mundo a Tesoreira de to­
das as graças, a mulher bendita entre tôdas as mu­
lheres, a Mãe do Verbo Incarnado, a Santíssima
Virgem Maria. Por tão sublimes privilégios, dignai­
vos, eu Vos suplico, ó dulcíssima e querida Santa,
receber-me no número de vossos verdadeiros ser­
vos aos quais eu �rtenço e quero pertencer todos
os dias de minha vida. Cercai-me com vossa prote-

78
As orações desta novena, ou qualquer outro exercí­
ção eficaz e obtende-me de Deus a imitação daque­
las virtudes que tão generosamente praticastes. Oh­
tende-me a graça de conhecer meus pecados e ter dê­
les uma sincera dor, amar ardentemente a Jesus e
Maria e cumprir com fidelidade e perseverança meus
deveres de estado. Livrai-me de todos os perigos na
vida e assisti-me na hora da morte, afim de que me
salve e chegue ao céu, e possa convosco ó Mãe feliz,
bendizer e louvar o Verbo Divino que se fez homem
no ventre de vossa Filha a Puríssima Virgem Maria.
Assim seja.
Três Padre-Nossos.
Três Ave-Marias.
Três Glória Patri.
300 dias de indulgências uma vez ao dia. (Pre­
ces et Pia Opera n� 456) .

Plenária sob as costumadas condições se a dita


oração for recitada, diàriamente, durante um mês.

Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li­


vrastes o Ló de Sodoma e das chamas do fogo.
Amém.
Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li­
vrastes Moisés do poder de Faraó, rei dos egipcíos.
Amém.
Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li­
vrastes Daniel da cova dos leões. Amém.
Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li-

79
·vrastes os três meninos ja fornalha ardente e das
:mãos do inimigo. Amém.
Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li­
vraste Susana do falso crime. Amém.
Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li­
vraste Davi das mãos do Rei Saúl, e das mãos de Go­
Jias. Amém.
Livrai, Senhor, a alma do vosso servo, como li­
·vraste Pedro e a Paulo das prisões. Amém.
E assim como livrastes a vossa bem-aventura­
, da Virgem e Mártir Santa Tecla de três atrocíssimos
tormentos, assim vos digneis livrar a alma dêste vos­
so servo das penas eternas, e fazê-la gozar convosco
·dos bens celestes. Amém.

Depois de expirar
Vinde, Santos de Deus, acorrei, Anjos do Se­
nhor. Recebei a sua alma e apresentai-a na presença
,do Altíssimo.
V. Receba-te Cristo que te chamou, e os Anjos te
· conduzam ao seio de Abraão.
R. Recebendo a sua alma e conduzindo-a à pre­
. sença do Altíssimo.
V. Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso, entre oo
· esplendores da luz perpétua.
R. Apresentando-a na presença do Altíssimo.
Kyrie, eleison. Criste, eleison. Kyrie, eleison .
Padre Nosso . . .
V. E não nos deixeis cair em tentação .

.:so
R. Livrai, Senhor, a sua alma .
V. Descansem em paz.
R. Amém.
V. Ouvi, Senhor, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu cla�or.

Omção

Nós, Senhor, vos recomendamos a alma dêste vos­


so servo F . . . (ou serva F . . . ) afim de que morto
ao mundo, viva para Vós; purificai com o perdão
de vossa misericordiosíssima compaixão os pecados,
que por fragilidade da humana natureza cometeu. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

VELAS BENTAS DE FJANT)ANA

Há uma piedosa e antiquíssima tradição da bên­


ção das velas no dia de Sant' Ana em 26 de julho de
cada ano nas terças-feiras em honra da gloriosa Sant'
Ana, e destinadas às mães de família. Não há fórmu­
la especial para esta bênção. É a do ritual : Beneditio
candelarum. Devem ser velas de cera e seria bom que
tivessem gravadas em pintura ao relêvo ou simples­
mente em uma medalha, a imagem de Sant' Ana. To­
davia, não é absolutamente necessária esta condição
piedosa. Basta seja a vela de cêra e tenha recebido
o. bênção de um sacerdote.
Reunem-se as mães de família junto ao altar ou
à i magem de SantAna e recebem as velas benzidas

81
das mãos do sacerdote. Aconselha-se a tézarem rtéS·
ta ocasião em comum esta prece ensinada por Sant'­
Ana em revelação á Santa Brígida :

Oração

Bendito sejais, ó Jesus Filho de Deus, Filho da


Virgem e que escolhestes vossa Mãe do matrimônio
de Ana e de Joaquim. Pelos rogos de Sant'Ana, tend<�
piedade todos que vivem no estado de matrimônio pa­
ra que dêm frutos ao Senhor. Dirigí, Senhor, todos
quantos se preparam para o casamento afim de que
por êles seja Deus honrado e louvado. Assim seja.
- Deus vos salve Ana Bemaventurada.
- Que merecestes ser Mãe da Virgem Imaculn-
da.

BENEDITIO CANDELARUM

V. Adjutorium nostrum, etc.

OREMUS

t
Domine Jesu Criste, Fili Dei vivi, bene dic can ·

delas istas suplicationibus nostris; infunde eis, De­


mine, per virtutem sanctae crucis, beneditionem coc­
lestem, qui eas ad repellendas tenebras humano g('­
neri tribuisti, talemque beneditionem signaculo san­
t
tae cru cis accipiant, ut quibuscumque locis accen­
sae, sive positae fuerint, discedant príncipes tene­
brarum, et contremiscant, et ft·giant, pavidi cum
omni tus Ministris ab habitationibus illis, nec prae­
:;umant amplius in:]uietare, aut molestare servientes
tibi omnipotenti Dei. Qui vivis et regnas in saecula
saeculorum. Amém.
Postodum aspergantum aqua benedicta:
Nota : É aconselhável acender a vela benta de
':ant' Ana no quarto das parturientes.

BÊNÇÃO DEPOIS DO PARTO

O piedoso costume da bênção depois do parto,


outrora recebida dor tôdas as mães, e hoje tão des­
curada, é mister seja restaurado. A devoção a Sant'­
Ana, devoção própria das mães de família, deve con­
�.�orrer para isto. Logo que as mães possam depois
de restabelecidas, vir à Igreja Matriz, peçam ao pá­
roco a bênção tão bela e que atrai, como um sacra­
mental, tôda sorte de graças sôbre quem u. recebe.
Para a cerimônia tragam uma vela benta de Sant'­
Ana.

BENEDITIO

MULIERIS POST PARTUM


Si qua puerpera post partum, juxta piam ac
1audabilem consuetudinem ad Acclesiam venire vo­
' :.�erit pro incolumitate sua Deo gratias actura, pe­
.ieritque a Sacerdote benedictionem, ipse, superpelli­
ceo et stola alba indutus, cum ministro aspergitum
deferente, ad fores Ecclesiae accedat. ubi illam foris

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ad limina genuflectentem, espergat, deinde dicat :
V. - Adjutorum nostrum in nomine Domini.
R - Qui !'ecit coelum et terram.
Antiph : Haec accepiet benedictionem a Domino
Psalmi : Domini est terra.
Antiph. Haec accipiet benedictionem a Domino, et
misericordiam a Deo salutari suo : qui haee est ge­
neratio quaerentium Dominum.
Deinde, porrigens ad manum mulieris extremam
partem stolae, eam introducit in Ecclesiam, dicens :
Ingredere in templum Dei, adora Filium beatae
Mariae Virginis, qui tibi foecunditatem tribuit prolis.
SANT'ANA GLORIOSA

CORO

Ana santa e gloriosa A11a santa e gloriosa


De Maria Mãe querida ·socorrei minha pobreza
Pedi-lhe que nos socorra Dando-me em tôda virtude
Nos trabalhos desta vida. Perseverança e firmeza.

Ana santa e gloriosa Ana santa e �loriosa


Mãe da Mãe de nosso Deus Bem conheceis meus pecados
Fazei que não seja ingrata Alcançai de vosso Neto
Minha alma aos favores seus. Que me sejam pt_ aoados.

Ana santa e gloriosa Ana santa e gloriosa


Glorio-me de vossa dita Não me largueis da memória
Serdes por Deus escolhida Vinde buscar a minha alma
Para sua avó bendita. Conduzir-me para a glória.

Ana santa e gloriosa Ana santa e gloriosa


Atendei o meu clamor A vosso querido Neto
Contra o poder do demônio Pedi que me faça santo
Sede sempre em meu favor. E nas minhas obras reto.

Ana santa e gloriosa


Não vos esqueçais de mim
Fazei-me vosso devoto
Para ter ditoso fim.
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