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Unidade II

Unidade II
Modo de produção escravista

Nesta unidade, trabalharemos com o conceito de modo de produção escravista e de que maneira
ele se manifestou nas civilizações clássicas – grega e romana. Esse conceito, criado por Marx e Engels,
seria uma etapa posterior ao modo de produção asiático, no qual o trabalho compulsório existia,
porém esporadicamente, e o número de escravos nunca excedia o de trabalhadores livres. No caso
mediterrânico ocorreu algo distinto: sendo uma via de acesso para as mais diversas regiões costeiras, o
Mediterrâneo proporcionou não apenas o movimento de bens, mas o trânsito de pessoas, e essa facilidade
de deslocamento estimulou a formação de um ativo comércio de prisioneiros de guerra transformados
em escravos. O trabalho livre nunca deixou de existir no mundo clássico, mas o contingente de escravos
formava agora a base da mão de obra de uma economia que repousava antes de tudo na agricultura.

Diferentemente de épocas anteriores, em que a escravidão era uma situação ocasional e não
contava com uma base jurídica, no mundo clássico a escravidão tornou‑se uma instituição per si.
Como afirma Anderson:

Na Grécia clássica, os escravos foram, assim, empregados pela primeira vez


na manufatura, na indústria e na agricultura, além da escala doméstica.
Ao mesmo tempo, enquanto o uso da escravidão se tornava generalizado,
sua natureza, de maneira correspondente, se tornava absoluta: ela já não
era mais uma forma de servidão relativa entre muitas, no decorrer de uma
continuidade gradual, e sim uma condição polarizada da perda completa
da liberdade, justaposta a uma nova liberdade sem impedimentos
(ANDERSON, 2000, p. 18).

Ainda segundo o autor, a condição escrava foi importante para categorizar e elevar a própria
condição de cidadão, em oposição à situação de mero instrumento falante imposta ao cativo. A presença
do escravo nos campos e nas tarefas básicas do dia a dia acabou por liberar os proprietários para a
política e, mesmo, para a filosofia. Nesse sentido, não há “milagre” senão a partir do trabalho forçado
de milhares de pessoas,

[...] pois foi exatamente a formação de uma subpopulação escrava nitidamente


delimitada o que, inversamente, elevou a cidadania grega a alturas até então
desconhecidas de liberdade jurídica consciente. A escravidão e a liberdade
helênicas eram indivisíveis: uma era a condição estrutural da outra, num
sistema diádico sem precedente ou equivalente nas hierarquias sociais dos
impérios do Oriente Próximo, que também ignoravam tanto a noção de
livre‑cidadania quanto a de propriedade servil (ANDERSON, 2000, p. 19).
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Outra particularidade desse modo de produção em relação ao asiático é a presença da propriedade


privada como tipo dominante. Na sociedade mesopotâmica e na egípcia, a propriedade privada era
existente, mas sob determinadas circunstâncias e não se constituía na principal forma de apropriação.
Nas sociedades clássicas, a terra era de propriedade exclusiva de um senhor, bem como os meios de
produção – incluindo o escravo. Sendo uma mera ferramenta, poderia ser comprado e vendido, e a
exploração sobre seu trabalho era total. No entanto, a situação do escravo na Antiguidade Clássica era
ligeiramente melhor que a dos escravos à época do capitalismo comercial, muitos inclusive chegando a
ocupar postos administrativos ou ainda ser filósofos e professores.

Outra diferença entre o escravismo antigo e o moderno é que o primeiro não se estruturou sobre
uma lógica capitalista, como aquela verificada durante a fase de acumulação primitiva de capital,
entre os séculos XIV e XVIII. É certo que na Antiguidade existia a economia de mercado e o lucro,
mas o acúmulo capitalista era inexistente. Isso, segundo Moses Finley, se devia ao fato de que toda
a produção era primordialmente consumida na cidade, e apenas o que sobrava era vendido, não
havendo, portanto, uma lógica produtiva ligada ao acúmulo de capital com o intuito de expansão
empresarial (FINLEY, 1989).

5 GRÉCIA ANTIGA

O termo Grécia Antiga é usado para definir o conjunto das cidades‑estado localizadas no sul da
Península Balcânica, ilhas do Egeu e suas colônias no sul da Península Itálica, Sicília e Ásia Menor.
Embora a expressão Grécia Antiga seja utilizada com frequência, é do ponto de vista político uma
generalização atual, já que antes do domínio macedônico nunca houve uma unidade territorial entre as
várias poleis, sendo mais comum a divergência militar e a diversidade política. Se houve alguma unidade,
ela pode ser considerada somente do ponto de vista cultural, esta observada pelos próprios gregos que
se denominavam helenos – com língua, costumes e cosmogonia em comum. Todos os que estavam
fora dessa esfera cultural eram denominados bárbaros, cuja fala era desordenada como o “cantar dos
pássaros” (em alusão aos idiomas estrangeiros).

A importância da civilização grega é indiscutível. O seu legado atual compreende a democracia,


a filosofia, expressões linguísticas, o teatro, a arte e toda uma gama de manifestações culturais que
constituem os pilares da civilização ocidental contemporânea. No século XIX, durante o período de
formação dos Estados Nacionais, as primeiras referências históricas foram traçadas a partir dos gregos,
cujo “milagre” teria sido o despertar da razão como fonte de conhecimento em detrimento da mitologia.
Embora essa visão seja bastante datada e existam claros indícios do legado oriental sobre os próprios
gregos, não deixa de ser notável a influência exercida por eles. Uma influência que, na verdade, nunca
deixou de existir, seja entre os romanos, seja na Idade Média e mais claramente durante o Renascimento
e nas Revoluções Burguesas da Idade Contemporânea.

É no Período Clássico – a partir do século V a.C. – que irão surgir os elementos mais típicos da cultura
grega, sobretudo no campo da filosofia socrática e das artes em geral. No entanto, devemos observar
antecedentes importantes como a própria formação da polis durante o século VIII a.C., resultado de um
processo de exclusão social característico da desagregação da economia comunitária baseada no genos.
Antes das poleis, houve ainda as diversas ondas migratórias que foram responsáveis pela formação do
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povo grego, produzindo uma série de contatos entre povos autóctones – sejam comunidades agrícolas
simples ou civilizações bem estabelecidas, como a Minoica – e recém‑chegados. E tais contatos nem
sempre foram pacíficos, a exemplo da furiosa chegada dos dóricos que alterou radicalmente o cenário
econômico e político na Hélade, resultando na Primeira Diáspora.

O domínio macedônico no século IV a.C. pôs termo na fase clássica da civilização grega, inaugurando
a fase cultural helenística cuja principal característica seria a fusão de elementos orientais e ocidentais.
Para muitos, essa fase é considerada de decadência, na medida em que a monarquia alexandrina se
sobrepõe à democracia ateniense e a presença do misticismo oriental na cultura helênica seria um claro
indício de um retrocesso em relação à razão. Para outros, é apenas uma fase de transformação, que teria
inclusive preparado o terreno para a posterior difusão de religiões monoteístas.

5.1 Período Pré‑Homérico

O período a seguir possui esse nome por se tratar de um momento cujos acontecimentos referem‑se
a contextos históricos anteriores àqueles narrados na épica de Homero – a Ilíada e a Odisseia. O Período
Pré‑homérico é caracterizado por sociedades que apresentam um tipo de organização social baseada no
grande palácio, centro da vida econômica e política, de forma semelhante às sociedades médio‑orientais.
A diferença é que na Grécia os cultos religiosos eram absorvidos pelo palácio, enquanto no Oriente
Médio foi mantida a polaridade templo‑palácio.

5.1.1 Civilização minoica

A civilização minoica – nome derivado do lendário Rei Minos – surgiu na Ilha de Creta e dominou
o comércio no Mediterrâneo até aproximadamente 1500 a.C., quando foi enfraquecida por catástrofes
naturais e invasões estrangeiras. Era uma sociedade bastante inspirada nos moldes orientais,
principalmente o sistema político centrado nos palácios, que monopolizavam a vida econômica
e religiosa. Não existem indícios claros sobre a existência de uma unidade territorial ou do grau de
autonomia das cidades em relação às outras, embora pesquisas recentes apontem conflitos internos
entre os diversos centros de poder. No final de sua vida, a civilização minoica foi totalmente absorvida
pelos aqueus, fundadores da civilização micênica, e superada no mar pelos fenícios, que poderiam agora
desenvolver livremente seu comércio.

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Gré
Ma
Ásia Menor
rE
cia

geu
Sicília Thira
Cnossos Chipre
Creta
Mar Mediterrâneo

Egito

Figura 43 – Mapa que destaca a ilha de Creta, local de surgimento da civilização minoica

Importantes legados da civilização minoica foram a língua e os sistemas de escrita: Linear A e Linear
B. O Linear A, ainda em fase de decifração, descende da escrita hieroglífica egípcia, enquanto o Linear B,
já decifrado, foi um sistema que se adaptou melhor ao idioma aqueu. A arte minoica foi caracterizada
por afrescos que demonstram a influência da lei da frontalidade dos egípcios e eram representadas
figuras naturalistas.

Figura 44 – Golfinhos decorando as paredes do palácio de Cnossos, exemplo de tema naturalista da arte minoica

Economia

A Ilha de Creta, berço da civilização minoica, é uma ilha montanhosa, situada no Mar Egeu, e a maior
da chamada Grécia Insular. Por ser um terreno recente, resultado do choque entre placas tectônicas,
é também um local de intensa atividade sísmica e vulcânica: por diversas vezes, a civilização minoica
foi destruída por catástrofes naturais. O enfraquecimento decorrente de tais catástrofes sempre foi um
atrativo para a invasão estrangeira.
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Embora a quantidade de terras férteis fosse restrita, técnicas avançadas de cultivo permitiram a
produção de excedentes utilizados em trocas comerciais pelo Mediterrâneo. Os minoicos cultivavam
cereais, como trigo e cevada, e também hortaliças em regime de policultura, o que aumentava
a produtividade e a vida útil do solo. Eram também especialistas no cultivo de pomares e grandes
floricultores, cuja produção destinava‑se à decoração de palácios e templos. O aumento populacional da
ilha, no entanto, sempre representou uma ameaça ao abastecimento: uma vez que o foco da agricultura
era o comércio externo, não eram raros períodos de carestia pontuados por infames episódios de
canibalismo. O pastoreio era uma atividade bem desenvolvida, mas a pesca ocupava um papel mais
decisivo na economia minoica.

O comércio marítimo era a principal fonte de renda e era rigidamente controlado pelo Estado. O
subsolo de Creta é pobre de recursos minerais, que eram obtidos por meio da troca de excedentes
agrícolas e de produtos manufaturados, como têxteis, recipientes de cerâmica, azeite e vinho. As
principais rotas eram o Egito, Chipre, Grécia Continental e até mesmo a Península Ibérica. Internamente,
uma complexa rede de estradas conectou as diversas cidades de Creta, acelerando as trocas regionais.

História política

Pouco se sabe sobre a origem dos minoicos, sendo mais provável que resultem da miscigenação entre
populações autóctones que viviam em comunidades neolíticas e imigrantes de origem incerta – talvez
egípcios –, responsáveis pela introdução do bronze na ilha. O bronze, uma liga de estanho e cobre, já era
largamente utilizado por volta de 3000 a.C., mas sua obtenção dependia em grande medida do mercado
externo, como as rotas provenientes do Chipre e do Império Hitita, tradicional exportador de estanho.
De fato, a introdução do metal na ilha provocou inúmeras alterações sociais e políticas, permitindo o
surgimento de uma sociedade complexa desenvolvida em torno do comércio marítimo. Daí a civilização
minoica, a exemplo dos fenícios, constituírem uma talassocracia (ou “governo dos homens do mar”).

A intensificação do comércio marítimo propiciou um notável desenvolvimento técnico, que resultou


em uma maior produtividade agrícola em detrimento das limitações naturais e na fabricação de objetos
artesanais de grande sofisticação. Assim, passa a existir na ilha diversos centros de trabalho artesanal,
logo concentrados nos palácios, uma inovação social e política característica da passagem do III para o II
milênio a.C. Esses palácios, indícios da centralização do poder, apresentavam uma arquitetura complexa,
repleta de armazéns, onde era estocado o excedente agrícola para posterior redistribuição, e oficinas,
em que se realizava o trabalho artesanal. O regime de governo adotado na época de fundação dos
palácios é incerto, embora indícios apontem a existência de uma monarquia teocrática que substituiu a
antiga autoridade dos clãs. Portanto, entre 2000 e 1700 a.C., a civilização minoica já era uma sociedade
com uma divisão do trabalho bem estabelecida, amparada por um complexo sistema burocrático que
permitia uma maior controle sobre o movimento dos bens. A economia minoica encontrava‑se sólida o
bastante para sobreviver ao momentâneo declínio de seus parceiros orientais. Nem mesmo catástrofes
naturais e revoltas que assolaram a ilha de Creta entre 1700 e 1400 a.C. impediram a consolidação da
talassocracia cretense no Egeu, liderada principalmente pela cidade de Cnossos.

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Figura 45 – Imagem em um palácio cretense que demonstra a importância da navegação para a economia minoica

No entanto, por volta de 1400 a.C., um grande terremoto ocorrido devido a uma erupção vulcânica
na ilha de Thera, teria conduzido os minoicos à sua ruína. Após a catástrofe, há uma grave crise
econômica e os aqueus, um povo de origem indo‑ariana que deu início à civilização micênica, ocupam
Creta e impõem sua cultura aos conquistados. Os antigos e opulentos palácios minoicos dão lugar a
construções bem mais modestas. Diversas revoltas locais tentaram, sem sucesso, expulsar o invasor. Por
volta de 1200 a.C., os dórios arrasam Creta e puseram termo à Idade do Bronze na ilha, introduzindo
o ferro como material predominante e destruindo as antigas manifestações culturais minoicas, dentre
elas as práticas funerárias e a própria escrita. Embora a invasão dórica tenha sido o marco do final da
civilização minoica, ela não explica totalmente a decadência cretense: uma parte dos pesquisadores
afirma que as constantes catástrofes naturais teriam afetado duramente a ilha e estariam na origem
da derrocada dos minoicos. Outros afirmam que os terremotos e erupções na verdade causaram uma
grande crise econômica que culminaram em revoltas contra o poder palaciano, ou seja, a decadência
de Creta iniciou‑se internamente. Outros acreditam que as cidades cretenses eram pouco fortificadas e
propícias à invasão. Seja como for, o debate é longo e parece ainda sem solução. Todas as hipóteses, no
caso, parecem plausíveis e é razoável supor uma conjunção de fatores.

Cultura minoica

A cultura minoica foi profundamente influenciada por sociedades orientais, devido ao intenso contato
comercial experimentado desde os primórdios da civilização em Creta. As principais manifestações
culturais são a arquitetura, os afrescos e a escrita. A religião, por sua vez, apresenta elementos orientais
e pouco tem a ver com a posterior religião grega.

Os palácios cretenses eram organizações que centralizavam o poder político e econômico e que
também possuíam funções religiosas. Eram edifícios bastante compartimentados e os materiais mais
usados eram pedras de calcário, gesso e madeira. As colunas dos palácios eram normalmente pintadas
com cores vivas e eram diametralmente maiores no topo do que na base. Um palácio, no caso, era um
complexo de edifícios, localizados em geral em colinas de modo a possuírem uma visão privilegiada do
entorno, assim como cumprirem a função monumental de “serem vistos”. Os principais palácios são:

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Cnossos, Mália, Festo, Hagia Triada e Cato Zacro. Além dos palácios, uma característica da arquitetura
minoica eram os tholoi, grandes estruturas funerárias circulares precedidas por um corredor retangular
e onde eram realizados enterramentos coletivos.

Figura 46 – Ruínas do palácio de Cnossos

Os afrescos minoicos tinham grande influência egípcia, sobretudo com relação à lei da frontalidade,
embora de maneira mais imperfeita. Eles decoravam as paredes dos palácios, e os principais motivos
eram conjuntos de animais, seres mitológicos, pessoas oriundas da elite, eventos festivos e esportivos,
como lutas e o salto sobre touros. Assim como na arte egípcia, as cores eram escolhidas segundo sua
função simbólica e, de certo modo, refletiam a pujança do comércio cretense uma vez que o material
a partir do qual se obtinha as tintas eram provenientes de outros locais, como o próprio Egito. Além da
pintura de paredes, a cerâmica minoica monumental apresentava motivos semelhantes, constituindo‑se
em uma importante influência para a arte cerâmica grega dos períodos Arcaico e Clássico.

Figura 47 – As “Damas de Cnossos”, afresco que demonstra influência da arte egípcia

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A escrita minoica foi criada para facilitar o controle sobre as transações comerciais e procedimentos
administrativos, e suas principais manifestações são o Linear A e o Linear B, como já mencionamos
anteriormente. O Linear A é um sistema hieroglífico e, embora exista a certeza de reproduzirem
graficamente o idioma minoico, ainda não foi decifrado. Já o Linear B surgiu com a ocupação micênica
e foi resultado da adaptação do Linear A para o idioma dos aqueus. Diversos sinais do Linear B foram
emprestados de sistemas orientais e formaram a base, juntamente com o alfabeto fenício, do alfabeto
grego. Com a invasão dos dóricos e o fim da Idade do Bronze, a escrita desaparece momentaneamente
e retorna já bem estabelecida representando o idioma grego antigo.

Finalmente, a religião minoica apresentava traços de culto à deusa‑mãe, uma religião tipicamente
oriental ligada à fertilidade. Os cultos eram presididos por sacerdotes em santuários normalmente
anexados aos palácios, e pouco se sabe sobre como eram realizados. Há indícios de sacrifícios humanos,
embora tal hipótese precise ainda ser comprovada com melhores evidências.

5.1.2 Civilização micênica

Por volta de 1500 a.C., a chegada dos aqueus – um povo indo‑ariano proveniente das estepes
russas – à península balcânica provocou diversas transformações. Em primeiro lugar, os pelasgos – povo
autóctone que vivia em comunidades neolíticas – foram absorvidos e, em seguida, o contato entre
aqueus e minoicos teve como consequência a formação de uma civilização baseada no sistema palacial.
O fortalecimento dos micênicos resultou ainda na dominação de Creta e subjugação da civilização
minoica, impondo‑lhes seu idioma e seus costumes. Com a invasão dórica, as civilizações micênica e
minoica desapareceram, e os aqueus se dispersaram pelo mar Egeu, chegando à Ásia Menor e travando
conflitos com cidades hititas, das quais a mais famosa foi Troia.

A tradução dos tabletes escritos no sistema Linear B revelou que os micênicos – nome atribuído
pelos arqueólogos – são os ancestrais diretos dos gregos dos períodos Arcaico e Clássico. Embora
existam controvérsias, os aqueus que formavam a civilização micênica podem ter sido aqueles que
teriam participado da Guerra de Troia, conforme visto na Ilíada, ou ainda os ahhiyawa, segundo as
fontes hititas. Embora falassem um idioma que claramente antecede o grego clássico, sua organização
política era bastante distinta, e o rei, ao contrário do que ocorria nas poleis gregas em que existia a
monarquia, tinha um grande poder. Também não há clareza quanto à unificação dos vários palácios
micênicos, se todos faziam parte de um mesmo território ou preservavam sua independência ao modo
das cidades‑estado posteriores.

É digna de nota a continuidade de práticas administrativas micênicas e aquelas encontradas


nas poleis. Além da política, a religião micênica – bem diferente da minoica – já apresenta aspectos
mitológicos, característicos da religião grega, assim como o idioma. Dessa forma, é possível concluir que
os aqueus, fundadores da sociedade micênica, foram de fato os primeiros helenos.

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Mar
Egeu

Micenas
Trinto

Figura 48 – Localização de Micenas e Tirinto, duas das principais cidades micênicas

Economia

A agricultura micênica era realizada em terras controladas diretamente pelo Estado, divididas entre
aquelas pertencentes ao chefe do exército e as cedidas às autoridades palacianas pelo próprio rei. Os
cultivos principais eram a vinha, a oliveira, a cevada e o trigo, dos quais obtinha‑se um excedente
utilizado em trocas comerciais. A utilização de ferramentas de bronze e de técnicas avançadas de cultivo
garantia uma notável produtividade, que era absorvida pelo palácio e, posteriormente, redistribuída à
população. Além dos produtos alimentícios, cultivava‑se o linho, com a finalidade de se produzir têxteis
que também poderiam ser comercializados.

Assim, a manufatura ocupava um papel de destaque na economia micênica, uma vez que a fabricação
de azeite de vinho gerava a maior parte das rendas auferidas em trocas comerciais. Os micênicos eram
grandes artífices de metal, com destaque para os machados duplos – um símbolo religioso – e as
espadas curtas e longas feitas em bronze. A ourivesaria também era bastante desenvolvida, sobretudo
os trabalhos em ouro e marfim.

Ao contrário do comércio minoico, o micênico foi pouco registrado pela administração palaciana,
e são raros os documentos escritos que atestem as entradas e saídas de produtos. Em vez da escrita,
o sistema utilizado nas trocas comerciais era um mecanismo de identificação por etiquetas de argila,
somado à presença de selos. Esse sistema complexo trazia todas as informações necessárias em uma
troca: a proveniência, a propriedade e a autenticidade do produto comercializado, assim como a sua
trajetória física. Como faltam informações mais precisas em relação aos objetos exportados, a presença
de ânforas micênicas, da Sicília ao Egito, supõe que os micênicos eram grandes vendedores de azeite ou
vinho, produtos normalmente transportados naqueles recipientes. Em troca, provavelmente obtinham
metais para a fabricação de instrumentos, armas e adornos.

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Sociedade e política

Assim como a civilização minoica, o poder era irradiado a partir do palácio, que controlava tanto a
vida econômica quanto a política. A partir dos vestígios disponíveis, é possível concluir que a sociedade
micênica era baseada em estamentos, tendo no topo um rei divinizado (wanaka), seguido do chefe
militar (rawagetai), funcionários e escribas, uma gama de homens livres – artesãos camponeses – e
escravos. Há poucos indícios arqueológicos sobre tentativas de exercício de hegemonia de um palácio
sobre outros, mas a notável habilidade na construção de armas, a presença de fortalezas e o prestígio do
chefe militar são indicadores da presença constante da guerra na vida dos micênicos, que se expandiram
de forma violenta ocupando diversas ilhas do Egeu, dentre elas, Creta. Os principais centros de poder
foram Micenas, Pilos, Tirinto e Cnossos, antiga cidade minoica.

Documentos provenientes do palácio de Pilos demonstram que as práticas políticas e administrativas


oriundas desse centro de poder foram mantidas até os primeiros séculos após a formação das poleis. A
cidade ao redor do palácio era administrada por um korete, que governava um município dividido em
damo (demos), cada qual governado por um damokoro e um qasireu (basileu). Este qasireu era o chefe da
kerosia (gerúsia, ou conselho de anciãos, presente em algumas poleis como, por exemplo, Esparta). Embora
o qasireu tenha sido um chefe local, sua preponderância posterior pode ser explicada pela maneira como
a sociedade micênica foi destruída: a invasão dórica causou o colapso do sistema palacial que, em termos
históricos, significou o fim da centralização do poder. O damo, antes um subdistrito, transformou‑se em
uma comunidade autossuficiente, na qual o título de qasireu foi mantido e reformulado.

A civilização micênica teve uma curta duração (1500 a 1100 a.C.), e sua existência esteve diretamente
atrelada aos movimentos populacionais característicos do fim da Idade do Bronze. Entre 1500 e 1450
a.C., os aqueus se estabeleceram na Península Balcânica e em pouco tempo seus palácios já estavam
erigidos sobre quase toda a Ática e litoral sudeste do Peloponeso. Seu fortalecimento militar e econômico,
incentivado pelas catástrofes naturais que assolaram o Egeu por volta de 1450 a.C., estimulou‑os a invadir
a Ilha de Creta e subjugar os palácios minoicos, sobretudo Cnossos. Não apenas Creta, mas diversas ilhas do
Egeu foram povoadas e até mesmo a Ásia Menor tornou‑se o destino dos aqueus. Por volta de 1300 a.C., a
civilização micênica entra em seu auge, sendo destruída pela invasão dórica, cem anos depois.

Figura 49 – Ruínas da cidade de Micenas, destruída pelos dórios por volta de 1200 a.C.

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A diáspora provocada pela intrusão dos dórios está na base das sucessivas invasões dos ahhyiawa
(segundo alguns estudiosos, esse seria o nome hitita para os aqueus) à cidade de Wilum (Ílion, mais
conhecida como Tróia). É muito difícil estabelecer a partir do registro arqueológico qual o nível de Troia
que corresponde à guerra narrada por Homero, uma vez que a cidade foi destruída sucessivas vezes. É
possível ainda que a Ilíada se refira a um movimento populacional generalizado que durou séculos e que
foi sintetizado nos versos do poeta grego.

Figura 50 – A incursão dos dórios provocou a Primeira Diáspora Grega – na qual os aqueus foram dispersos pelo Egeu – e marca o fim
do Período Pré‑homérico. A Guerra de Troia, presente na Ilíada de Homero, pode estar relacionada com esse evento

Figura 51 – Sir Arthur Evans acreditava que esta máscara funerária pertenceu a Agamemnon, um dos chefes da expedição contra
Troia. Hoje se sabe que sua hipótese não tem fundamento algum e foi elaborada em um momento de euforia pela descoberta das
tumbas micênicas

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Cultura micênica

A cultura micênica deve a maior parte de suas manifestações à civilização minoica e às culturas
indo‑europeias preexistentes na Hélade. A arquitetura palacial demonstra uma notável continuidade
com os palácios cretenses, enquanto os tholoi, grandes estruturas funerárias, remontam a populações
antigas e foram aperfeiçoados com a utilização de técnicas de construção em pedra. Essas estruturas
tinham a finalidade de demarcar o território dos ancestrais e, inicialmente, apresentavam enterramentos
coletivos, sendo individualizados com o passar do tempo. Uma particularidade das cidades micênicas em
relação às minoicas era o maior cuidado com a defesa interna, sendo comum a presença de fortalezas
construídas com grandes blocos de pedra. A cerâmica micênica também foi uma criação original, sendo
mais comuns os motivos geométricos, que serão reutilizados na arte grega dos séculos seguintes.

Figura 52 – Detalhe de um vaso micênico, retratando guerreiros

A escrita Linear B, um silabário composto por 87 sinais, descoberto em 1900 por Arthur Evans e
traduzido em 1952 por Michael Ventris, foi utilizado para representar graficamente o idioma aqueu
e sua tradução revelou que essa língua foi o ancestral direto do grego clássico. Ela foi inscrita em
tabletes de argila que, a exemplo dos mesopotâmicos, eram utilizados na administração interna dos
palácios. Esses tabletes se constituem na principal fonte de informação a respeito das práticas políticas
e administrativas entre os micênicos, embora pouco revelem sobre práticas religiosas ou comerciais.

A religião, por sua vez, apresenta similaridades importantes com a grega. No panteão micênico, Poseidon
(ou Posidaio) ocupa um lugar de destaque. Deuses como Zeus, Atena, Dionísio, Ártemis e Ares também fazem
parte da mitologia micênica. Outros, como Apolo e Afrodite, serão incorporados ao panteão posteriormente,
oriundos da mitologia hitita. Não restaram documentos sobre as práticas religiosas do período, nem mesmo
os locais de culto são facilmente identificáveis, uma vez que, diferentemente das poleis, as cidades palacianas
não dispunham de um templo que demarcasse territorialidade e, ao mesmo tempo, fosse o local de cultos
públicos. Há uma grande probabilidade de que o wanaka presidisse os cultos, talvez realizados nas dependências
do palácio. Sabe‑se da existência de sacerdotes (iyereu), mas o papel deles também não é claro.
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5.2 Período Homérico

A invasão dórica na Península Balcânica marca o fim do período Pré‑homérico e o início do Período
Homérico, também conhecido como Idade das Trevas, em virtude do desaparecimento de documentos
escritos do registro arqueológico. Esse evento, por sua vez, relaciona‑se com o quadro maior da crise da
Idade do Bronze que atingiu as sociedades mediterrânicas entre 1300 e 1100 a.C., devido ao deslocamento
populacional dos chamados “povos do mar”. Na Península Balcânica, a penetração dos dórios levou ao
colapso do sistema palacial e à Primeira Diáspora Grega, quando os habitantes da sociedade micênica
espalham‑se pelas ilhas do Mediterrâneo e costa da Ásia Menor.

A marca distintiva desse período é a presença de uma cerâmica decorada com motivos geométricos
simples e a utilização massiva de ferro, um metal muito mais barato do que o bronze. A difusão do
ferro foi um dos fatores que colocou em xeque a centralização do poder baseada no uso da força, uma
vez que o acesso à fabricação das armas foi “democratizado” (o ferro é um metal muito mais barato), e
houve a valorização da infantaria no lugar da cavalaria; com o uso de lanças de ferro, teriam antecedido
os hoplitas.

A sociedade modificou‑se radicalmente, devido a um considerável decréscimo populacional


e isolamento. Com o fim dos palácios, uma organização política altamente centralizada dá lugar à
pulverização do poder, que passa a ser exercido localmente em comunidades gentílicas. A difusão do
ferro e o armamento generalizado da população promoveu um crescente igualitarismo, em virtude do
desafio às antigas autoridades. Assim, o princípio de autoridade foi constituído pelos laços de parentesco
e o poder se relacionava diretamente com a ancestralidade do pater familias, o chefe do clã. Tal situação
é ainda reforçada pelo próprio aspecto físico do terreno da Península Balcânica: bastante montanhoso,
o que dificultou o contato entre as comunidades.

Surgiu, portanto, o genos, uma comunidade igualitária baseada na propriedade coletiva da terra
e chefiada por um pater famílias, responsável pelo culto aos ancestrais, o que lhe outorgava poder.
Para esse chefe, era importante traçar uma linhagem que atestasse sua nobreza e não era raro buscar
origens entre deuses, entre os heróis da guerra de Troia e mesmo entre a nobreza dórica. Nesse tipo de
comunidade, o grau de proximidade de parentesco com o pater famílias era fator de distinção social.

Por volta do século VIII a.C., uma explosão demográfica levou à desestruturação do genos como
unidade social básica. Cada genos possuía uma capacidade produtiva limitada, voltada para a subsistência
e qualquer alteração populacional traria sérios problemas. Nesse contexto de potencial crise social, o pater
famílias e seus parentes mais próximos apossaram‑se das terras mais férteis, antes coletivas, constituindo
uma nova ordem social: os eupátridas. Parentes mais afastados do pater famílias apossaram‑se das
terras mais longínquas, de menor capacidade produtiva e passaram a constituir o grupo dos georgoi,
dependentes dos eupátridas. Por último, formou‑se um grande grupo de marginalizados, ou seja, que
restaram sem terras, dedicando‑se posteriormente ao comércio e ao artesanato. São os thetas. Então,
uma forma encontrada para diminuir o impacto do crescimento populacional foi o estabelecimento de
colônias pelo Mediterrâneo, em um movimento denominado 2ª Diáspora Grega. Foram criadas colônias
no sul da Itália, Ásia Menor e até mesmo no sul da atual Rússia, às margens do Mar Negro.

84
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Gália

Heracleia
Adria
Marselha Nice
Odessa Mar Negro

Itá
lia
Córsega Epidauro
Roma
Nápoles Epidamo
Sardenha Mar Tarento
Mar
Tirreno Sibaris Ásia Menor
Egeu
Sicília Atenas
Cartago
Grécia
MagnaSiracusa Esparta
Éfeso
Mar Cnossos Nicósia
Jônico Chipre
Creta

Mar Mediterrâneo Cirene


Naucratis

África
Egito

Figura 53 – O processo de apropriação de terras coletivas levou a uma nova diáspora, dessa vez atingindo locais mais distantes no
Mediterrâneo. As áreas em destaque demonstram as colônias formadas no século VIII a.C.

5.3 Período Arcaico

O Período Arcaico é compreendido entre os séculos VIII e V a.C. e se caracteriza pela formação
das primeiras poleis gregas. Nunca existiu um modelo único: cada cidade‑estado possuía aspectos
particulares, portanto, é equivocado pensar que uma ou outra pólis seja o modelo mais correto ou mais
bem acabado. Estudaremos agora o conceito de pólis e as cidades de Esparta e Atenas como forma de
demonstrar essa diferença de organização política.

85
Unidade II

Macêdonia

Épiro Tessália
Córoifa

Hélade
Leuctras
Ática
Corinto Atenas
Poloponeso

Esparta

0 200

Figura 54 – A península balcânica e a localização das principais poleis helenas

5.3.1 A formação da pólis

A pólis foi o modelo de organização social predominante no mundo grego entre os séculos VIII e III a.C.
e é caracterizada por um tipo de governo baseado nas deliberações de um grupo social economicamente
superior, que constituía uma comunidade de cidadãos, ou seja, possuidores de direitos políticos. Para os
próprios gregos, a pólis referia‑se ao tipo de governo e não tanto às características urbanas, um estilo de
governo no qual a autoridade de um soberano, baseada nas armas, é substituído pela força da oratória.

O que implica o sistema da pólis é primeiramente uma extraordinária


preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder.
Torna‑se o instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade
no Estado, o meio de comando e de domínio de outrem [...]. A palavra
não é mais o termo ritual, a fórmula justa, mas o debate contraditório
(VERNANT, 2002, p. 54).

As origens da pólis grega são largamente debatidas, uma vez que seus processos formativos
ocorreram durante a chamada “Idade das Trevas”. Correntes mais recentes apontam o seu surgimento
na Ásia Menor, durante o final da Idade do Bronze, tendo convivido com o sistema palacial. Visões mais
tradicionais sugerem que, por volta do século VIII a.C., as antigas comunidades gentílicas igualitárias
progressivamente deram lugar a uma organização social centrada em cidades‑estado, com notável
diferenciação social e econômica. Após a apropriação de terras pelos parentes mais próximos do pater
famílias, as comunidades recém‑formadas agruparam‑se por motivos defensivos, em parte contra o
86
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

inimigo estrangeiro, em parte devido à potencial sublevação daqueles excluídos da posse da terra. Assim,
por meio de um agrupamento populacional, as pequenas frátrias agruparam‑se em tribos que, por sua
vez, formaram uma polis, que em grego significa “muitos”.

Há diversos tipos de argumentos que buscam explicar as origens da pólis: um primeiro, de natureza
agrícola, afirma que as novas modalidades de apropriação de terra e o sucesso da agricultura intensiva
literalmente moldaram as instituições gregas (HANSON,1995); outro argumento, defendido por
Anthony Snodgrass, sugere que a formação da pólis está diretamente vinculada com a formação das
falanges de hoplitas – ou o soldado de infantaria – na medida em que uma falange é composta por
elementos idênticos entre si, um exército de iguais. Esse fenômeno seria chamado de Revolução Hoplita
(SNODGRASS, 1992). Finalmente, o argumento religioso, defendido por Polignac, no qual a polis formaria
suas características por meio de cultos realizados dentro de suas fronteiras. Para ele, a tese militarista
seria incompleta, e afirma que:

A criação de órgãos políticos que institucionalizaram novos modos de exercício


da autoridade pública poderia por si mesma não atingir nada, a não ser que
estivesse guarnecida por um corpo social cujas motivações e desejo por unidade
foram inspirados por algo além da guerra. A religião foi o único agente que
afetou todo o corpo social. Isto a assinalou a emergência de uma sociedade que
pareceu adquirir autoconsciência ao retomar posse de seu passado dotando‑o
de uma característica sagrada (POLIGNAC, 1995, p. 151‑152).

As diversas poleis surgidas no seio da cultura helênica mantiveram sua independência e isolamento,
embora em momentos diversos tenham procurado exercer uma hegemonia sobre outras cidades vizinhas
– como foi o caso de Atenas, Esparta e Tebas. As hipóteses que procuram compreender esse fenômeno de
isolamento são diversas (e também controversas): a mais famosa diz respeito às próprias características
do relevo grego que, sendo montanhoso, teria dificultado as comunicações entre as cidades‑estado.
É necessário observar que o modelo da cidade‑estado já era conhecido por povos orientais, como os
fenícios e mesmo os sumérios. Ainda, como sugerem autores recentes, esses processos formativos não
são totalmente capazes de explicar o tipo de governo surgido, uma vez que Atenas e Esparta – duas
poleis bem distintas – surgiram a partir de agrupamentos similares.

Em geral, uma pólis situava‑se próxima a uma colina cujo topo era denominado acrópole,
normalmente ocupada por um templo onde se realizavam os cultos públicos e com uma função de
demarcação territorial. Logo abaixo da acrópole situava‑se a Asty, a parte urbanizada da pólis e onde
se localizavam os centros comerciais, edifícios públicos e um largo espaço similar a uma praça pública
– a ágora – onde os cidadãos reuniam‑se para realizar deliberações políticas. Essa parte da pólis era
protegida por um muro, que a separava da Khora, a parte rural que, por sua vez, abastecia a cidade.
Essa constituição fundamentava a principal característica da pólis, que é um governo autárquico e
independente, política e economicamente.

É praticamente impossível estabelecer um modelo único para todas as poleis. Nesse caso, a diversidade
de modelos era a regra. Estudaremos dois desses modelos: Esparta e Atenas.

87
Unidade II

5.3.2 Esparta

Segundo a lenda, a região da Lacedemônia foi ocupada por Eurotas, que deu origem ao rio de mesmo
nome. Lacedemon, filho de Zeus, casou‑se com Esparta, filha de Eurotas, batizando a região com seu nome.
Anos mais tarde, Hércules interveio na cidade, entronando seu aliado Tíndaro, e seus descendentes Eurístenes
e Prócles inauguraram a diarquia espartana, sendo ancestrais dos Agidas e Europõntidas. Essa lenda é de
vital importância em uma época em que faltam registros escritos e revela que, desde seus primórdios, a
Lacedemônia foi objeto de disputa entre povos diversos. Os arqueólogos e historiadores afirmam que Esparta
surgiu por meio do sinecismo de diversas aldeias às margens do Eurotas. Os dórios invadiram a região e
disputaram‑na com os aqueus e outras tribos dóricas, fundando a cidade por volta do século IX a.C.

A disputa pela região é compreensível, já que se trata de um vale fértil, no qual o Eurotas é a principal
fonte de água doce. A planície da Lacônia, no sudeste do Peloponeso, é uma região protegida por cadeias
montanhosas que, durante a antiguidade, serviram como verdadeiras fortalezas. Embora férteis, as terras
cultiváveis eram escassas, dependendo de avançadas técnicas agrícolas para a produção de excedentes.
Os principais cultivos eram a vinha, a oliveira – o vinho e o azeite de oliva eram importantes produtos
de exportação – e cereais como trigo e cevada, utilizados como alimentação básica. Tais gêneros eram
cultivados em terras cedidas pelo Estado a membros das camadas mais altas da sociedade. O pastoreio
também ocupou um lugar de destaque, sendo realizado nos planaltos que circundavam a cidade.

Existem pouquíssimos documentos que possam informar a respeito da sociedade e da economia


espartana, entre os séculos IX e VII a.C., sendo mais comuns as narrativas míticas e os escritos de Homero
e Tucídides, que viveram quase 500 anos depois. Antes do século VII a.C., Esparta encontrava‑se sob um
período de estabilidade social, com perfeito equilíbrio entre oferta de produtos agrícolas e demanda.
No entanto, um rápido aumento populacional provoca uma crise de abastecimento, desestabilizando a
frágil economia espartana. Diante de tal situação, os lacedemônios empreendem conquistas militares de
regiões vizinhas como a Messênia, anexando terras e escravizando um grande contingente de pessoas.
Tais eventos ficaram conhecidos como Guerras Messênias.

As relações entre a Lacedemônia e a Messênia sempre foram tensas, e bastava um simples motivo
para um conflito. Espartanos e messênios eram de origens distintas: enquanto estes eram aqueus,
aqueles descendiam diretamente dos invasores dórios e sempre reivindicaram aquela região. Segundo o
geógrafo grego Pausânias, o estopim para o conflito ocorreu porque, segundo a versão espartana, jovens
messênios teriam estuprado jovens espartanas no templo de Artemis, local sagrado de peregrinação
situado na fronteira entre Lacedemônia e Messênia. Após esse episódio, uma série de incidentes
diplomáticos radicalizaram as posições e o inevitável conflito se iniciou em 743 a.C., resultando na
escravização dos messênios e anexação de seu território, em 724 a.C.

Com os messênios escravizados, surgia um novo estamento: o dos hilotas, cuja posse pertencia primeiro
ao Estado, que arrendava os escravos aos proprietários. O número de escravos era consideravelmente superior
ao de homens livres e, em função do ódio mútuo alimentado ao longo dos anos, uma revolta de escravos
sempre representou um perigo para os espartanos. De fato, em 685 a.C., os hilotas iniciam uma luta pela
sua liberdade que, no entanto, fracassa. Além dessa, diversas outras revoltas hilotas ameaçaram a soberania
espartana e nesse contexto é que deve ser compreendida a legislação de Licurgo.
88
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

A origem de Licurgo não está clara, sendo considerado por muitos como um legislador lendário,
cuja existência é mais detalhada na obra do historiador greco‑romano Plutarco, séculos mais tarde.
O princípio básico das leis de Licurgo é o de que as leis dos homens não deveriam vir dos deuses, mas
ter origem na própria sociedade, estando acima e sobrevivendo a qualquer indivíduo. Esse princípio é
conhecido como eunomia, ou leis “ideais”, estabelecendo a igualdade entre os cidadãos.

Figura 55 – Licurgo: representação presente no Capitólio, EUA

É creditada também a Licurgo uma legislação específica que regeu a vida militar de Esparta. Com
o intuito de estabelecer a ordem frente à instabilidade provocada pelo brusco aumento populacional
e defender Esparta de possíveis invasões e revoltas, era necessário organizar um exército poderoso e
disciplinado, formado por cidadãos dispostos a morrer pela sua pátria. A escolha pelos melhores soldados
começava no nascimento: crianças que apresentassem algum tipo de deficiência eram mortas e aquelas
consideradas perfeitas eram entregues ao Estado aos sete anos de idade, quando efetivamente começava
sua vida militar. Dos sete aos dez anos, o menino treinava pela manhã e à noite voltava para casa.
Dos dez aos vinte, o treinamento tornava‑se mais rigoroso, e o jovem deveria ficar permanentemente
aquartelado, suportando rigorosas privações. Ao completar vinte, ele deveria passar por uma provação
final: matar um determinado número de hilotas, sendo esse o seu “batismo de sangue”. Dos vinte aos
trinta, o jovem deveria obrigatoriamente servir o exército, para que com trinta anos ele pudesse se casar
e fazer parte da ápela, a assembleia dos cidadãos.

89
Unidade II

a) b)

Figura 56

A organização política de Esparta também refletia o princípio da eunomia e mesmo os reis não poderiam
tomar decisões contrárias à constituição. Em Esparta, o regime era uma diarquia, ou seja, era governada por
dois reis cuja autoridade repousava na tradição: eram considerados como descendentes de Hércules e cada
qual era representante da dinastia dos Ágidas ou Europôntidas, que remontam aos fundadores de Esparta.
Sua função era, sobretudo, militar, sendo comandantes do exército em tempos de guerra. Teoricamente
abaixo dos reis – pois na prática possuíam mais poder – estavam os éforos, que eram eleitos pela assembleia
para um mandato anual e detinham poder de veto sobre qualquer proposta de lei. Além disso, eram os éforos
que decidiam sobre declarações de guerra, convocavam assembleias e possuíam amplos poderes judiciários.
A seguir, estava a Gerúsia, composta por vinte e oito cidadãos com mais de sessenta anos, responsáveis
por elaborar projetos de leis a serem votados na assembleia. Por fim a ápela, composta por todos aqueles
considerados cidadãos, com mais de 30 anos que serviram o exército. A ápela, ou a assembleia, tinha a função
de eleger os magistrados e votar os projetos de leis apresentados pela Gerúsia.

Éforos
Espartanos

Espartanos

Diarquia Gerúsia

Assembleia
Exército de cidadãos
(+ de 30 anos)

Periecos
(Habitantes da periferia, livres,
mas sem direitos políticos)

Hilotas
(Massa escrava)

Figura 57 – Estrutura política e social de Esparta após o século VII a.C.

90
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

A sociedade espartana era estamental, caracterizada por relações de hostilidade entre os seus
segmentos. No topo encontravam‑se os espartíatas, descendentes diretos dos dórios. Eram os grandes
proprietários de terras e não havia entre eles qualquer tipo de desigualdade: eram iguais entre si e
obrigatoriamente servidores do Estado. A classe média era composta pelos periecos, descendentes dos
antigos habitantes da Lacedemônia antes da chegada dos dórios. Os periecos, apesar de desprezados pelos
espartanos, eram livres, mas não possuíam direitos políticos, sendo pequenos proprietários ou artesãos
e comerciantes, convocados em tempos de guerra. Por último, constituindo a maior parte da população,
os hilotas ou escravos, sobretudo os messênios subjugados. Estes eram fortemente controlados pelo
Estado e frequentemente se revoltavam. Sua condição de escravo era vitalícia e hereditária.

5.3.3 Atenas

A cidade de Atenas, fundada no século VIII a.C., localiza‑se na região da Ática, mais precisamente na
Eubeia, localizada no sudeste da atual Grécia. É uma área com relevo bastante variado, apresentando
uma região costeira bastante recortada, repleta de portos naturais. A parte litorânea é delimitada por
um território montanhoso, que dificulta o acesso ao interior do continente. As planícies mais férteis
localizam‑se próximas à costa, enquanto nas regiões de encosta as terras produtivas disponíveis são
poucas e o cultivo de vinhas e oliveiras era predominante. Também o pastoreio de gado pequeno,
como cabras e cordeiros, possuía grande importância, bem como a pesca. Além da agropecuária, sua
posição litorânea e a presença de poucas terras férteis estimularam o comércio marítimo, ramo em que
Atenas destacou‑se como uma potência, porém por meio da ação de grupos sociais distintos daqueles
envolvidos com a agricultura.

Figura 58 – A Acrópole de Atenas

5.3.4 Oligarquia

No século seguinte, a sociedade ateniense sofreu uma grande transformação. O estabelecimento de


colônias no século VIII a.C. (lembrando que Atenas não se lançou imediatamente ao estabelecimento de
colônias, mas formou uma lucrativa rede comercial) estimulou o desenvolvimento do comércio marítimo,

91
Unidade II

que era realizado pelos thetas, uma vez que foram excluídos do processo de apropriação de terras. Isso
resultou no enriquecimento de uma parte significativa dos thetas, mas que ainda continuavam de
fora da política. Por outro lado, os georgoi tornaram‑se extremamente dependentes dos eupátridas,
frequentemente contraindo dívidas. A situação dos georgoi piorou com o avanço do comércio, pois não
tinham como concorrer com os produtos importados das colônias. Para eles, o resultado foi desastroso:
não tendo como pagar seus empréstimos, muitos foram escravizados por dívidas, assim como perderam
suas terras para os eupátridas, agravando o problema da concentração fundiária.

Assim, Atenas estava à beira de uma crise social. Os thetas enriquecidos exigiam participação
na política, os georgoi reivindicavam o fim da escravidão por dívidas e os eupátridas lutavam para
manter o status quo. O estopim para a guerra civil foi o massacre de revoltosos no templo de Atena
Poliá, culminando na revolta de Cílon contra o Arconte Mégacles, que acabou expulso da cidade. A
partir desse evento, formaram‑se facções distintas: os pedianos, os representantes da elite agrária
e os paralianos, aqueles que habitavam a costa e se dedicavam ao comércio marítimo. A situação
parecia incontrolável quando Drácon recebeu do arcontado a tarefa de restabelecer a ordem por meio
de uma reforma na legislação.

As reformas de Drácon (622 a.C.) incluíam o estabelecimento de leis escritas, que eram, até então,
orais e conhecidas por poucos. Apesar disso, sua legislação era caracterizada pela severidade, com pena
de morte para maioria dos crimes, com o intuito de evitar a escalada de violência devido às frequentes
vinganças pessoais. As leis de Drácon, extremamente repressoras (chegando até mesmo a punir objetos
inanimados, como estátuas) acabariam favorecendo os eupátridas, e a crise social não seria resolvida.

Em 594 a.C., surgiu um novo legislador: Sólon, que baniu boa parte da legislação de Drácon e procurou
realizar uma reforma profunda na sociedade ateniense. Primeiro, Sólon criou um regime censitário,
dividindo os cidadãos em quatro classes sociais: pentakosyodimnoi, possuidores de 500 medidas de
trigo; hippeis, que dispunham de 300 a 500 medidas; zeugitai, que tinham 200 e 300 medidas; e thetas
(o nome foi mantido, mas o conceito reformulado), que contavam com medidas inferiores a 200. Com
o fim dos antigos estamentos, todas as classes sociais poderiam participar da Eclésia, a assembleia
popular. Sólon estabeleceu a Bulé – 400 membros eleitos pela Eclésia – restrita às primeiras classes
sociais. Os arcontes seriam ainda membros da primeira classe. Em relação aos mais pobres, Sólon acabou
com a escravidão por dívidas por meio da lei seisachteia e forneceu terras e crédito, buscando solucionar
o problema da concentração de terras em Atenas.

5.3.5 Tirania

Ao assumir, Pisístrato contava com apoio de parte da aristocracia e do povo, mas logo que assumiu
foi deposto pelos seus opositores. Uma série de problemas envolvendo as facções atenienses contribuiu
para que o tirano voltasse ao poder. De personalidade excêntrica, entrou em Atenas triunfante na ocasião
de sua volta, acompanhado de um enorme séquito e de uma jovem trajada como a deusa Atena, que
o teria escolhido para governar. No ano seguinte, em 555 a.C., Pisístrato foi novamente expulso, mas
durante dez anos ele enriquece ainda mais, formando um exército que finalmente conquistou Atenas
pela força. A partir de então, governou até sua morte em 527 a.C.

92
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

A importância de Pisístrato para a história de Atenas é inegável. Embora tenha governado de forma
despótica, transformou a cidade em uma grande potência comercial e agrícola, concedeu terras à
população pobre, que o apoiava, e reduziu os impostos. Além disso, notabilizou‑se no campo cultural,
sendo responsável pela construção de grandes obras públicas, restauração de templos e incentivador
das artes e da literatura. Em virtude de seu governo de caráter popular, ganhou ferrenhos inimigos na
facção aristocrática.

Em 527 a.C., Pisístrato foi sucedido pelo seu filho Hiparco, que busca levar adiante a mesma visão
administrativa do pai. Sem a mesma habilidade política, acabou assassinado por membros da facção
dos pedianos. Com sua morte, assumiu seu irmão, Hípias, que se tornou um ditador brutal e passou a
cometer atentados contra seus inimigos políticos, condenando‑os sumariamente à morte. O despotismo
de Hípias levou a uma aliança temporária das facções, que o derrubaram e o exilaram. Hípias então
pediu ajuda aos persas, mas foi derrotado. O próximo tirano, Iságoras, venceu Clístenes – que desejava
assumir o poder – e realizou um governo que favoreceu diretamente a aristocracia e, em virtude da
pressão popular, acabou pedindo auxílio da maior rival de Atenas: Esparta. O exército espartano, porém,
foi derrotado, Iságoras banido e em seu lugar assume seu antigo inimigo: Clístenes. Atenas entra em
uma nova fase em sua história.

5.3.6 Democracia

Após o banimento de Iságoras, a aristocracia que o apoiava em aliança com Esparta desejava acabar
de uma vez por todas com as reformas iniciadas por Sólon e aprofundadas por Pisístrato. Para os nobres,
a abolição da escravidão por dívidas e a concessão de terras para os camponeses mais pobres resultou
no fim do latifúndio, e a pequena e média propriedade tornaram‑se predominantes. A redução das
propriedades significava uma potencial queda de rendimento, algo alarmante, uma vez que a sociedade
ateniense baseava‑se nesse momento em critérios censitários. Por outro lado, Clístenes, um aristocrata,
desejava implantar reformas que alterariam drasticamente o cenário social e político em Atenas. Apoiado
pelo povo, Clístenes derrotou seus adversários políticos e, em 508 a.C., promoveu uma reformulação da
Constituição de Atenas, instaurando a democracia.

A primeira transformação radical foi de ordem administrativa. Clístenes reorganizou a divisão


político‑administrativa da cidade, dividindo‑a em cem demos. Dez demos formariam uma tribo, e estas,
por sua vez, também em número de dez. Cada habitante de Atenas, independente de sua classe social,
pertenceria a um demos de acordo com o local que habitava. Do ponto de vista geral, essa divisão teria
a vantagem de eliminar a influência das famílias tradicionais e a divisão social por meio de um caráter
censitário, uma vez que a participação política seria condicionada pelo pertencimento a um lugar, não
mais à família a que se pertence ou à renda anual auferida.

Cada demos e tribo, portanto, teriam um representante político independente da sua condição
econômica. Para garantir a participação de todos, Clístenes ainda propôs a remuneração de cargos
públicos para os que não tinham condições de se dedicar integralmente aos afazeres políticos. A
organização política sofreu algumas alterações importantes:

93
Unidade II

• Eclésia: a assembleia do povo, cuja função era discutir e votar leis elaboradas pela Bulé, decidia
também assuntos relativos à guerra e fiscalizava a ação de magistrados, podendo, se fosse o caso,
destituí‑los por improbidade. As reuniões eram longas e abertas a todos os cidadãos.

• Bulé: na época de Sólon, a Bulé possuía quatrocentos membros, número aumentado para
quinhentos por Clístenes (cinquenta por tribo). As funções da Bulé eram legislativas, elaborando
leis para serem votadas pela Eclésia, e judiciárias. Cuidavam também da administração pública.
Os membros reuniam‑se no bouletérion, edifício próximo à Ágora. A Bulé era administrada pelos
prítanes, um grupo de pessoas pagas pelo Estado para dedicar‑se 24 horas aos afazeres políticos.

• Estrategos: em número de dez (um por tribo), os estrategos eram generais do exército, eleitos pela
Eclésia e cada um deles ficava a cargo de dez unidades de infantaria e dez unidades de cavalaria.
Eram também responsáveis pelo alistamento militar e submetiam‑se às ordens de um arconte
polemarco. Ao final de seu mandato, eram avaliados pelos cidadãos quanto à sua idoneidade e
competência demonstrada em serviço.

• Arcontes: os três arcontes tradicionais – polemarco, tesmótetas e epônimo – foram substituídos


por dez, cada um representando uma tribo. Os títulos foram mantidos: havia um epônimo, um
polemarco, um arconte supremo (que presida os cultos públicos) e o restante tesmótetas, que
tinham poder de veto sobre as leis aprovadas pela Eclésia. O cargo, antes vitalício, passou a ser
exercido por um ano.

Figura 59 – Ruínas da Eclésia, em Atenas

As reformulações no campo da participação política não garantiriam, por si só, o fim da ameaça do
surgimento de novos tiranos. Para tanto, Clístenes instituiu a prática do ostracismo, que consistia na suspensão
de direitos políticos e seu banimento de Atenas por dez anos a todos aqueles considerados como elementos
perturbadores da ordem pública. O exílio era aprovado não menos do que por 6 mil votos e, em caso afirmativo,
a pessoa deveria deixar a cidade em dez dias, podendo usufruir de sua renda no lugar em que se instalasse.

Embora existam poucos registros das práticas políticas durante o governo de Clístenes, as evidências
disponíveis sugerem que as deliberações públicas demandavam um tempo considerável dos cidadãos
envolvidos. A Bulé e os Prítanes organizavam a Eclésia pelo menos uma vez por semana, e as sessões
poderiam durar mais de um dia, dependendo da questão a ser discutida. A pauta era lida por um membro
94
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

da Bulé com grande capacidade de oratória e as decisões eram tomadas de acordo com a contagem dos
braços levantados. A decisão era encaminhada aos arcontes, que davam a palavra final sobre o tema
em questão. Os temas mais comumente tratados eram relativos a assuntos militares, abastecimento e
fiscalização de magistrados, que poderiam ser destituídos de seus cargos mediante a votação popular.
Os bouletai, membros da Bulé, eram convocados entre todos os cidadãos, o que sugere a ocupação de
cargos importantes independentemente da renda. Tal era o objetivo de Clístenes, ou seja, ampliar a
participação política até mesmo entre os menos favorecidos.

Na prática, no entanto, a participação política era condicionada pela autonomia financeira, uma
vez que demandava muito tempo e nem todos os cargos públicos eram remunerados. Disso resulta
que a introdução massiva da escravidão a partir do século V a.C. foi um fator que possibilitou o pleno
desenvolvimento da democracia. Além disso, é necessário ressaltar que, apesar da prática política ser
condicionada pelo princípio da isonomia – a igualdade de todos os cidadãos perante a lei – os que
detinham poderes políticos (os cidadãos) representavam uma parcela bastante reduzida da população
ateniense: cerca de 10%. Isso porque só era considerado cidadão o homem com mais de 21 anos que
prestou no mínimo 2 anos de serviço militar, filho de ambos os pais atenienses, nascido em Atenas e, o
principal, que fosse livre. Portanto, ao contrário do que se observa na democracia atual, a democracia
ateniense era exclusiva e não inclusiva.

5.4 Período Clássico

O Período Clássico, ocorrido entre os séculos IV e III a.C., pode ser caracterizado pelas lutas fratricidas
entre cidades‑estado helênicas que buscavam exercer sua hegemonia sobre outras regiões. É também
considerado o momento em que a cultura grega entra em seu auge, com o surgimento da Filosofia,
do Teatro, da História e de grandes realizações artísticas que se constituirão no paradigma do espírito
grego. Após os constantes conflitos, as cidades‑estado se enfraquecem e se submetem a uma nova força
política que empreende pela primeira vez uma unificação territorial. Trata‑se do Império Macedônico,
iniciado por Felipe e consolidado por seu filho, Alexandre o Grande.

5.5 As Guerras Médicas

O antecedente direto das lutas por hegemonia entre as cidades‑estado helênicas foi o conflito entre
gregos e persas pelo controle do Mediterrâneo, conhecido como Guerras Médicas (490 a 478 a.C.). Do lado
oriental, um dos exércitos mais temidos do mundo conhecido, capaz de conquistar um império jamais visto
até então; do lado ocidental, a fragmentação política e a rivalidade entre as cidades‑estado, bem como
a inferioridade numérica dos efetivos militares pareciam selar o destino dos gregos como subalternos à
autoridade dos imperadores persas. No entanto, a disciplina militar e um esforço em conjunto acabaram
por rechaçar os invasores, que acabariam reconhecendo a supremacia grega no Mediterrâneo e Ásia Menor.

5.5.1 A ofensiva persa

O Império de Dario I, em 490 a.C., alcançara uma extensão considerável, tendo subjugado
potências tradicionais como a Babilônia e o Egito. O sucesso da política imperial devia‑se, em parte,
à tradicional estratégia de dominação baseada na tolerância cultural e no melhoramento das grandes
95
Unidade II

cidades dominadas. Além disso, a construção de redes de estradas e a criação de um padrão monetário
transformaram a Pérsia em uma potência comercial, cujos rendimentos foram responsáveis pelo sucesso
da reorganização administrativa e pela formação de um efetivo militar permanente e bem remunerado.
Tudo levava a crer que a extensão do Império Persa seria equivalente à vontade de seu soberano. E seus
olhos se haviam voltado para o Mediterrâneo, cujo comércio era dominado incontestavelmente pelos
gregos, sobretudo Atenas.

Figura 60 – Mapa do Império Persa. Os soberanos persas, para manter um império tão extenso e culturas tão diversas, usaram a
tolerância cultural como estratégia de dominação assim como um eficiente sistema de fiscalização

• Território original dos persas.

• Máxima extensão do Império Persa.

A guerra entre os gregos e persas se inicia na Ásia Menor, em virtude de uma revolta na cidade de
Mileto, apoiada por Atenas. As cidades jônicas possuíam um comércio marítimo desenvolvido até que
foram conquistadas pelos lídios e, em seguida, por Ciro II, da Pérsia. A dominação persa, em um primeiro
momento não foi contestada, até que o comércio das cidades jônicas tivesse sido preterido em favor dos
fenícios, também dominados. Assim, estourou a Revolta de Mileto. Atenas interveio em favor da cidade
dominada, apoiando a revolta contra os persas, sem sucesso. Dario, imperador persa à época da revolta,
declara guerra à Atenas e envia suas tropas à Ática.

O perigo iminente mobilizou os atenienses, que sabiam que pouco poderiam fazer contra os inúmeros
e bem treinados soldados persas. Milcíades, um estratego ateniense descendente de uma rica família
da Jônia, buscou recuperar a confiança do povo e restabelecer a moral nas tropas. Com seus discursos
inflamados, fazia acreditar que as lanças eram capazes de manter o inimigo distante e anular o ataque
da cavalaria. Assim, em 490 a.C., a frota persa comandada pelo general Datis e apoiada por Hípias,
antigo tirano de Atenas, desembarcou próxima à cidade. O número de soldados persas impressionava
e os arcontes atenienses solicitaram ajuda de Esparta, que nunca chegou. Forçado a agir, Milcíades
96
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

lançou uma ofensiva que, segundo Heródoto, neutralizou os persas que, portando espadas curtas,
não puderam fazer nada contra as lanças gregas. Sua cavalaria havia sido destruída e os habilidosos
arqueiros persas igualmente rechaçados. Aproveitando‑se do terreno local, os atenienses (em menor
número) empurraram os persas de volta ao mar, vencendo uma batalha que parecia perdida. Esse célebre
episódio ficou conhecido como a Batalha de Maratona, por causa da planície onde ocorreu o conflito.

Figura 61 – A imagem, proveniente das ruínas de Persépolis, mostra o batalhão de elite das forças persas: os imortais

Cerca de 20 anos depois, os persas iniciaram uma nova ofensiva, desta vez liderados por Xerxes I,
filho de Dario. Antes de enviarem soldados, os persas buscaram a rendição pacífica das cidades gregas
mandando embaixadores. A maioria das cidades – incluindo Tebas – aceitou a submissão, exceto Atenas
e Esparta, que haviam colocado as diferenças de lado e firmado uma aliança. Em 480 a.C., os exércitos
persas marcharam contra a Hélade, anexando as cidades que aceitaram a submissão e saqueando as
que ofereceram resistência, incluindo Atenas. O percurso dos persas foi interrompido no desfiladeiro das
Termópilas, onde espartanos liderados pelo rei Leônidas detiveram o inimigo até que o exército ateniense
se reorganizasse. Ao final, os famosos 300 de Esparta – a guarda de elite de Leônidas – sucumbiram na
Batalha das Termópilas diante das forças persas, após serem traídos por um lacedemônio.

A resistência espartana deu novo alento aos atenienses que, liderados pelo arconte Temístocles,
organizaram uma marinha de guerra a partir da experiência em navegação adquirida no comércio
mediterrânico. Temístocles, após reformar o porto de Pireu e ter construído uma frota de barcos
menores e mais rápidos, atraiu um conflito contra os persas fazendo‑se passar por um traidor. Os persas,
demasiado confiantes, atiraram sua frota contra os navios atenienses e foram surpreendidos pelas ágeis
embarcações gregas, muito melhor adaptadas ao litoral recortado do que os grandes e desajeitados
navio persas. Assim, na Batalha de Salamina, os atenienses impuseram uma nova derrota aos persas, que
saíram bastante enfraquecidos.
97
Unidade II

Figura 62 – Os trirremes gregos eram embarcações ágeis, perfeitamente adaptadas ao litoral recortado da península balcânica.
O olho em frente à embarcação possuía a função simbólica de afastar o mal

A derrota naval levou os persas a lutarem por terra com todo o seu contingente. Os espartanos,
aliados à cidade de Corinto e apoiados pelas cidades messênias conseguiram vitórias importantes ao
sul de Atenas, obrigando Xerxes a retornar à Pérsia para garantir sua segurança. Após um segundo
saque à Atenas, o exército persa retirou‑se para a planície de Plateia para forçar um combate aberto
contra os espartanos que se aproximavam, liderados pelo general Pausânias. Em 479 a.C., uma coalizão
entre Esparta e Atenas pôs fim definitivamente às ambições de Xerxes de conquistar o Mediterrâneo na
Batalha de Plateia. Esta seria a primeira e última vez que atenienses e espartanos lutariam lado a lado.

Dardanelos

Ásia Menor
Termópilas

Platéia
Maratona Sardis
Corinto
Salamina Atenas
Esparta Delos

Creta

Figura 63 – O avanço persa (em verde os exércitos e em vermelho as frotas de navios) e as batalhas travadas em solo grego

98
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

5.5.2 A ofensiva grega

Animados com as vitórias em Plateia e na Batalha de Micale, uma revolta contra a dominação persa
na Jônia, os atenienses e espartanos lançaram‑se a um contra ataque rápido, libertando em menos de
um ano diversas regiões, como a Jônia, Bizâncio e a ilha do Chipre. Após essa campanha, a aliança entre
Esparta e Atenas terminou, já que a primeira acreditava que os objetivos haviam sido cumpridos e a
segurança estava restabelecida.

Os atenienses, no entanto, planejavam entrar mais profundamente em território inimigo,


impingindo‑lhes uma vingança. Nesse contexto, surgiu a Confederação de Delos, uma aliança de cidades
liderada por Atenas cuja finalidade era angariar recursos para iniciar a invasão do Império Persa. As
cidades envolvidas na Confederação enviavam a Atenas soldados, navios e ouro. Com os cofres públicos
abarrotados de riquezas e dispondo de um enorme efetivo militar, os Atenienses lançaram‑se novamente
ao combate em 477 a.C. Após uma campanha que durou cerca de 10 anos, as forças atenienses e persas,
bastante enfraquecidas, selaram um acordo de paz – a paz de Cálias – em 466 a.C., celebrado em Susa. À
parte os debates historiográficos acerca da natureza desse acordo, é inegável que teria sido um esforço
entre as partes beligerantes para terminar os conflitos.

Graças às contribuições de seus aliados, Atenas conheceu um período de grande desenvolvimento


cultural, com a construção de templos como o Parthenon e o incentivo a artistas e intelectuais, como
Fídias e Heródoto. Por essa razão, o governo de Péricles – governante de Atenas no período – é conhecido
como o “século de ouro”.

Figura 64 – Péricles

99
Unidade II

Figura 65 – O Parthenon, construído por Fídias, no século V a.C. Sua construção foi possibilitada graças às contribuições dos aliados
de Atenas na Confederação de Delos

5.6 A hegemonia ateniense e a Guerra do Peloponeso

Após o término da guerra contra os persas, não haveria mais razão para a continuidade da
Confederação de Delos. No entanto, Atenas não desfez a Confederação por se tornar economicamente
dependente das contribuições de seus aliados e, diante da recusa das cidades‑estado sob sua influência
em contribuir, passou a exigir tais riquezas, mas sob a forma de tributos. A experiência obtida nas
Guerras Médicas transformou o exército ateniense em uma força temível. Esparta, por sua vez, temia
que o crescimento da hegemonia ateniense pudesse afetá‑la diretamente e reagiu criando a Liga do
Peloponeso, uma aliança de cidades lideradas por Esparta similar à rival, cuja finalidade era fazer frente
à Confederação de Delos.

100
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Mar Egeu

Tebas

Corinto Atenas

Esparta

Creta

Figura 66

• Confederação de Delos.

• Liga do Peloponeso.

• Territórios neutros.

A tensão entre as duas cidades aumentou significativamente, bastando um mero pretexto formal
para que o conflito entre elas se iniciasse. As próprias cidades submetidas pela hegemonia ateniense,
como Corinto, incitavam Esparta a pegar em armas contra Atenas. O estopim para a guerra se deu
devido à aliança de Córcira, colônia de Corinto (portanto aliada de Esparta), com Atenas e o embargo
realizado por esta contra a cidade de Mégara, também aliada de Esparta. Em 431 a.C., o ataque de Tebas
a cidades vizinhas de Atenas iniciou os conflitos, que duraram mais de 20 anos e se dividiram em dois
momentos, intercalados por um frágil acordo de paz.

Animada pela investida Tebana, Esparta invade diretamente a Ática. Péricles, alarmado com a
ofensiva inimiga, ordenou que toda a população ateniense fosse para dentro das muralhas da Asty,
procurando resistir ao máximo aos hoplitas espartanos, enquanto a frota naval ateniense, superior
às dos lacedemônios, atacasse diretamente o Peloponeso. A estratégia foi bem sucedida inicialmente,
enfraquecendo o moral das tropas de Esparta até que uma grave epidemia, ocorrida em 430 a.C.,
assolasse a cidade de Atenas, provocando a morte de inúmeras pessoas, dentre elas o próprio Péricles. De
430 a 422 a.C., os resultados da guerra foram inconclusivos e as mortes abundavam dos dois lados. Tal
situação forçou um acordo de paz – a Paz de Nícias – que previa uma trégua de 50 anos entre as partes.
101
Unidade II

No entanto, em 415 a.C., a paz foi quebrada pelo então arconte ateniense Alcibíades. A paz contra
os espartanos afetara duramente a Confederação, uma vez que as cidades subjugadas por Atenas
aproveitaram a desmilitarização de sua opressora para libertarem‑se de seu jugo. Alcibíades então
rompe o acordo, buscando atacar os celeiros que abasteciam a Liga do Peloponeso, ou seja, as colônias
localizadas na Magna Grécia, como Tarento e Siracusa. No entanto, Alcibíades possuía fortes opositores
em Atenas, sendo assim destituído de seu cargo e, como vingança, fugiu para Esparta e voltou‑se
contra sua própria pátria. Apesar do poderio naval ateniense, Esparta conseguiu a vitória em Siracusa e
agravavou ainda mais a crise da rival.

Após um curto momento de vantagem ateniense, os anos compreendidos entre 412 e 404 a.C.
selaram o destino da Ática. Após uma aliança com os persas, os Espartanos receberam ajuda financeira
de seus antigos inimigos e reorganizaram seu exército. A vitória espartana na Batalha de Egospótamos
e os acordos impostos à Atenas em 404 a.C. marcaram a derrota final e a decadência da cidade outrora
resplandecente.

5.7 A hegemonia de Esparta e de Tebas e o enfraquecimento das


cidades‑estado

A derrota de Atenas abriu caminho para que a maior potência militar da Hélade pudesse exercer
sua hegemonia. De maneira similar à imposição exercida por Atenas décadas antes, Esparta exigiu de
seus aliados que continuassem a pagar tributos mesmo após a vitória na Guerra do Peloponeso. Para
Esparta, esta era a única maneira de se recuperar rapidamente após os longos anos de guerra contra
Atenas. Para as cidades sob influência do militarismo espartano, o pagamento de tributos era inaceitável
justamente devido às altas despesas com a guerra. Assim, as cidades‑estado mergulharam em novos
conflitos fratricidas, dessa vez buscando libertar‑se do jugo lacedemônio.

Tebas, antiga aliada de Esparta, junta suas forças com Atenas que, mesmo debilitada, envia suas
tropas. A decadência da hegemonia espartana se inicia com a Batalha de Leuctras, em 371 a.C., na qual
o gênio militar do general tebano Epaminondas rompeu com as tradições estabelecidas no campo da
estratégia militar. Ao armar suas tropas com lanças cujo tamanho era quase o dobro do convencional
e dispô‑las em uma formação inusitada – em formato escalar – obrigou os inimigos a se espalharem
pelo campo de batalha, enquanto eram esmagados por uma sólida falange hoplita que concentrava os
melhores soldados. Com essa vitória, Tebas exerceria um curto período de hegemonia, findado por uma
inusitada aliança entre atenienses e espartanos na Batalha de Mantineia, em 362 a.C.

102
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Aliados de Atenas
Aliados de Esparta
Aliados de Tebas

Figura 67 – As campanhas militares entre as cidades durante o Período Clássico

O longo período de guerras que assolou a Península Balcânica por mais de 100 anos – de 480 a.C.
a 362 a.C. –, especialmente as lutas pela hegemonia ocorridas a partir de 430 a.C. com a Guerra do
Peloponeso, conduziu as cidades‑estado à ruína. Entrementes, surgia silenciosamente ao norte uma nova
força política que, aproveitando‑se da fraqueza das cidades‑estado, inicia um processo de expansão que
resulta na anexação de toda a Hélade e, posteriormente, quase todo o mundo conhecido. Trata‑se da
Macedônia sob seus soberanos Filipe II e Alexandre, o Grande, respectivamente. O domínio macedônico
marca, portanto, o fim do Período Clássico.

5.8 Período Helenístico

Após a Batalha de Mantineia, não apenas a hegemonia de Tebas restou ameaçada, como todas as
cidades‑estado da Hélade encontravam‑se notavelmente enfraquecidas. Essa fragilidade, causada pelo
longo período de lutas fratricidas, facilitou a expansão do reino macedônico. Na ótica de seus soberanos,
em especial Felipe II, a conquista macedônica justificava‑se pelo seu papel de “protetora”, ou seja, uma
pacificação que impediria as cidades de lutarem até seu esgotamento completo. A dominação dos
macedônios ocorreu relativamente rápido e, após a Batalha de Queroneia 338 a.C., as cidades‑estado
gregas finalmente conheceram a unidade política – porém, por meio de mãos estrangeiras.

A unificação da Hélade foi o primeiro, mas um importante passo. Felipe II, vítima de uma conspiração
palaciana, morreu assassinado, e seu filho Alexandre viu‑se diante da obrigação de continuar a obra de
seu pai. Em 334 a.C., ao cruzar o Helesponto lançando um desafio ao Império Persa, abriam‑se diante
dele as portas para os recursos do Oriente.

103
Unidade II

Figura 68 – Alexandre, o Grande. Detalhe de um mural encontrado nas ruínas da cidade romana de Pompeia

Ele anexou a Ásia Menor, a Palestina, o Egito, a Mesopotâmia, o Planalto Iraniano e chegou às bordas
da Índia, passando pela Ásia Central (Oxus). Esperava, literalmente, encontrar os limites do mundo
quando suas tropas, cansadas, famintas e longe do seu lar, recusaram‑se a prosseguir. No caminho de
volta, consolidou a anexação da Caxemira e retornou à Babilônia, onde morreu de febre aos 33 anos de
idade, no ano 323 a.C.

Rio
Mar de Yax
artes
Aral
Macedônia Mar Negro Mar Samarcanda
Cáspio Rio
Oz
o
Ásia Oxiana
Grécia Menor
Mar
Isso Afeganistão
Mediterrâneo Mesopotânia Alexandria
Aracosiana
Alexandria
Babilônia Pérsia Alexandria
io

Persépolis
Índia
Ind

Egito Go
Rio

lfo
Mar

Pér
sic
o
Verm
elho

Figura 69 – A trajetória de Alexandre e seu império na extensão máxima

Após a morte de Alexandre, seu jovem império dividiu‑se entre seus três principais generais: o primeiro,
Antígono, passou a comandar um território que abarcava parte da Grécia e a própria Macedônia; o
segundo, Ptolomeu, assumiu o Egito e a Palestina; e o terceiro, Seleuco – daí a denominação reino
selêucida – dominou a parte oriental do antigo império alexandrino, incluindo a Ásia Menor. Esses três
reinos, em especial o ptolomaico e o selêucida, estiveram permanentemente em conflito devido à disputa
pela Palestina e Síria. Muitas cidades helênicas nunca aceitaram o domínio macedônico e organizaram‑se
em diversas ligas ou confederações para expulsar o invasor e recobrar sua independência. Esse projeto,
104
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

no entanto, nunca foi concluído e, após o final das Guerras Púnicas, uma vez que o soberano macedônico
Felipe V havia se aliado com Cartago, inimiga de Roma, a Macedônia e a Hélade foram anexadas pelos
romanos e tornaram‑se as províncias da Macedônia, Epiro e Aqueia.

5.9 A filosofia grega

A filosofia surgiu no século VII a.C. nas colônias gregas da Ásia Menor, em especial na cidade de
Mileto. Nesse período, a pólis consolidava‑se como forma de governo e o poder era exercido não por
meio da força, mas pela argumentação racional praticada entre iguais (homoioi). Do campo da aplicação
política, a razão passou a ser utilizada como um instrumento de conhecimento per si. Segundo Vernant,
essas são as bases materiais do surgimento da Filosofia na Grécia (VERNANT, 2002).

A intenção dos primeiros filósofos, os chamados pré‑socráticos, era a de obter uma explicação
racional para a physis, ou seja, a natureza, a essência e origem dos objetos no mundo. Características
como o frio, o calor, o maleável, o sólido etc. passaram a ser qualidades em si próprias, que mereciam
atenção especial. Para Tales de Mileto, o elemento primordial era a água, de onde teria surgido o mundo.
Anaxímenes chegou à conclusão de que o ar era a physis, e a textura dos objetos era proporcional à
densidade do ar: quanto mais denso, mais sólido o objeto. Anaximandro, por sua vez, introduziu a
metafísica na busca pelos elementos: para ele, os elementos têm origem em um lugar eterno – a Apeiron
–, onde são indistintos e adquirem qualidades específicas ao virem para o mundo. Empédocles, por sua
vez, acreditava que todos os objetos, dependendo de suas qualidades, possuíam parcelas dos quatro
elementos – água, fogo, terra e ar. Para outros pré‑socráticos, como Heráclito, a physis era um assunto
menos importante. Heráclito, filósofo dos contrários, acreditava na transformação como condição do
mundo apoiado nos sentidos, contrapondo‑se a Parmênides de Eleia, que o julgava um charlatão e
afirmava a necessidade de não confiarmos nos sentidos, e sim nas ideias.

A virada na filosofia grega ocorreu no século V. Um filho de um pedreiro e de uma parteira que havia
lutado na Guerra do Peloponeso chamado Sócrates foi o responsável por provocar uma mudança significativa
no objeto da filosofia: a physis dava lugar ao homem como um objeto de estudo em si: afirmava a existência
de uma única verdade essencial, compartilhada por todos os homens e acessível através de um método que
ele denominava maiêutica – a parteira. Esse método consistia na realização de perguntas que colocavam
em xeque os valores e opiniões do interlocutor, até o ponto que este admitia sua ignorância. A partir desse
ponto, Sócrates afirmava ser possível conhecer a Verdade. Daí atribuírem‑lhe a frase “só sei que nada sei”.
Sócrates foi um grande adversário dos sofistas, mestres da retórica que buscavam convencer as pessoas de
seus argumentos por meio da arte do discurso. Para Sócrates, os sofistas, como Protágoras, estavam em busca
da vaidade pessoal e não tinham comprometimento algum com a Verdade. Por desafiar a autoridade dos
sofistas, foi acusado de perturbar a ordem pública e condenado à morte, que aceitou serenamente.

Lembrete

Graças ao desenvolvimento da cultura no Século de Ouro de Péricles,


em Atenas, os debates filosóficos são conduzidos ao seu auge. Portanto, a
filosofia socrática relaciona‑se diretamente a esse contexto.
105
Unidade II

Seu discípulo, Platão, foi um continuador de seu trabalho e, ao contrário de seu mestre, deixou
um importante legado de obras escritas que podem ser divididas em três fases: uma primeira de total
identificação com as ideias de Sócrates; uma segunda, de maturidade, na qual ele desenvolve sua
filosofia metafísica; e uma terceira, marcada pelo pessimismo diante da corrupção da vida política. Platão
lamentava o fato de Atenas ter sido governada por pessoas que desconheciam a Verdade essencial e que
isso estava na base da ruína da cidade, que caíra sob domínio espartano. Para Platão, o mundo sensível,
perceptível, é uma versão corrompida da verdade, que se encontra fora, no Mundo das Ideias. Para ele,
o que é percebido está a dois graus de afastamento do Real (em primeiro grau, o pensamento), o que é
exemplificado no famoso mito da caverna. A morte daquele que tenta conduzir à luz é análoga à morte
de Sócrates. Platão também desprezava a política e a arte, por considerar preocupações próprias de um
mundo degenerado.

Figura 70 – A imagem representa o mito da caverna, de Platão.


Segundo o filósofo, vivemos em um mundo de falsidade que tomamos como verdadeiro (o que é
representado pelas sombras na parede). A verdade encontra‑se fora da caverna e é representada pelo Sol

Aristóteles, discípulo de Platão, possuía uma visão distinta da de seu mestre. Ele acreditava que a essência
(seu lado metafísico) encontrava‑se nos próprios objetos. A partir daí, ele buscava organizar o mundo
segundo categorias que reúnem objetos aparentemente distintos, mas que guardam uma determinada
relação essencial. A partir dessa lógica, Aristóteles dividiu o mundo em reinos: Animal, Vegetal e Mineral,
subdividindo‑os de acordo com as características em comum dos objetos. O método da lógica dedutiva
foi aprofundado. Sua obra é bastante variada, abarcando temas como política, biologia etc. Foi preceptor
de Alexandre, o Grande, e fundou o Liceu, local onde se estudava a filosofia, artes e se cultivava o corpo.

A filosofia grega nunca deixou de fazer parte da vida do homem ocidental, nem mesmo oriental. As
ideias de Platão foram adaptadas pelo cristianismo e têm em Santo Agostinho seu principal expoente,
ao passo que Aristóteles foi recuperado por São Tomás de Aquino, quando este procura provar a
existência de Deus pela lógica dedutiva, inaugurando a Escolástica. A Revolução Científica também
foi grandemente influenciada pelos filósofos gregos: René Descartes, assim como Platão, duvidava de
um conhecimento que se restringisse aos sentidos, reintroduzindo a metafísica por meio da linguagem
matemática, simples e rigorosa. Acreditava na existência de ideias inatas, como o triângulo perfeito,
oriundas de um mundo ideal. Retoma Aristóteles quando elabora o método dedutivo, ou seja, uma
conclusão que parte do geral para o particular. Tudo isso graças ao minucioso trabalho de tradução
realizado pelos árabes, que reintroduziram os filósofos gregos na Europa.
106
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

6 ROMA

Agora nós estudaremos uma das civilizações mais longevas da história da humanidade, responsável
por legar à nossa sociedade a maior parte de suas instituições: o Direito, o idioma, o urbanismo,
instituições políticas etc. É digno de nota que um pequeno vilarejo de pouco mais de mil pessoas tenha
se transformado em um extenso império que circundava todo o mar Mediterrâneo e além, congregando
sob uma única coroa – e sob a força das armas – povos extremamente distintos. Ainda hoje podemos
vê‑los no cinema, em referências literárias, na música, na arte e nos vestígios de sua grandiosa civilização.

No entanto, não são raras as histórias dos grandes imperadores e de seus feitos, as excentricidades de
Nero e Calígula, o desregramento moral que marcou a sociedade romana. Nesse caso, é necessário que você
tenha uma postura crítica diante dessas informações, procurando detectar a produção documental da época.
Era importante para os imperadores justificarem seu cargo, encomendando grandes relatos de escritores e
oradores responsáveis pela opinião pública. Boa parte de documentos que chegaram até nós sobre Nero e
outros foram produzidos pelos seus adversários políticos, e a influência cristã típica do final do império levou
à criação de relatos que censuravam o estilo de vida romano, enquanto os cristãos viam‑se como piedosos.
Assim, cuidado com os estereótipos: como professor de História, você deve ficar atento às intenções da
produção documental da época e à maneira como nós resgatamos a imagem dos romanos nos dias de hoje.

Vamos estudar, portanto, a História de Roma por meio da tradicional periodização Monarquia,
República e Império, este dividido em alto e baixo; mas não devemos esquecer aqueles que efetivamente
construíram a grandeza de Roma, milhares de anônimos. Assim, para irmos além de uma abordagem
estritamente política, vamos desvendar como era a vida privada, a escola, o comércio, o dia a dia dos
romanos em cada uma das épocas mencionadas.

Monarquia República Império

753 a.C 509 a.C 27 a.C 476


Fundação Fim do
de Roma Nascimento Império
de Cristo Romano do
Ocidente

Figura 71

6.1 Monarquia

Desde suas origens, Roma já estava destinada pelos deuses a ser grandiosa, pelo menos era o que diziam
os próprios romanos. Diz‑se que Enéas, herói de Troia, vagou pelo Mediterrâneo após fugir da guerra que
destruiria sua cidade. Depois de uma série de contratempos, chegando a ter um romance com a tempestuosa
rainha de Cartago Dido, que se suicidou após a partida de seu amado, Enéas aporta nas praias romanas e,
enfrentando chefes locais, consegue se estabelecer como soberano. Dentre seus descendentes encontra‑se
Numitor, o velho rei de Alba Longa que havia sido destronado por seu irmão Amúlio. A filha de Numitor, uma
sacerdotisa chamada Reia Sílvia estava grávida de gêmeos, filhos de Marte: Rômulo e Remo que, por ordem
de Amúlio, foram atirados no rio Tibre para que não lutassem pelo trono quando crescessem.

107
Unidade II

Mas os deuses intervêm e, após um tempo na correnteza, os bebês conseguem chegar à margem e
são salvos por uma loba, que os amamenta. Após um tempo, são encontrados por um camponês que os
cria fortes e saudáveis. Após uma série de eventos, Rômulo e Remo conhecem suas origens e voltam à
Alba Longa para restabelecer o trono de seu avô, e o conseguem. Como recompensa, Numitor concede
aos dois um pedaço de terra para que eles próprios fundem sua cidade. Os dois, no entanto, entram em
conflito e Rômulo mata Remo após este ter transgredido a linha divisória traçada pelo irmão, num gesto
de desafio. Assim, inicia‑se com Rômulo a monarquia romana, em 753 a.C.

Figura 72 – Segundo a lenda, Rômulo e Remo teriam sido salvos por uma loba que, em vez de devorá‑los, os amamentou. Isso
demonstraria, na visão dos romanos, a predestinação dos futuros fundadores de Roma, uma vez que os deuses estavam ao seu lado

Esta é, sem dúvida, a origem lendária de Roma, narrada em parte pelo poeta Virgílio e pelo historiador
romano Tito Lívio, preocupados em estabelecer as origens das tradições romanas, seus pontos de contato,
sua vocação divina e, ao mesmo tempo, guerreira. Tais relatos são de grande valia para o historiador, na
medida em que restaram pouquíssimos documentos sobre o período em questão. Por meio da lenda, é
possível observar alguns elementos importantes, como a tentativa dos autores de “criar” uma tradição
baseada nos valentes troianos da Ilíada; também não é inocente a filiação dos gêmeos: Marte, o deus
da guerra. Vemos ainda a concessão de terras como um mecanismo próprio da nobreza e o parentesco
como o fundamento de laços políticos. As descobertas arqueológicas demonstram um quadro mais
completo, embora reforcem a ideia presente na lenda a respeito de constantes conflitos na região do
Lácio, lar dos primeiros romanos: por volta do século VIII a.C., um grupo de aldeias – as aldeias das sete
colinas de Roma – fundiram‑se em uma cidade fortificada no Monte Palatino, que resistia às invasões
de povos vizinhos, especialmente os etruscos, um povo que se encontrava em pleno desenvolvimento ao
Norte da Península Itálica e que irradiava sua hegemonia às pequenas tribos italiotas do centro.

108
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Figura 73 – Os habitantes da Península Itálica

1‑ Italiotas 4‑ Cartagineses
2‑ Tribos Ilíricas 5‑ Gregos
3‑ Etruscos

A influência etrusca foi cultural e política. Os romanos deviam aos etruscos a introdução da cultura
grega, elementos arquitetônicos e técnicas de composição que formariam a base da cultura romana.
Politicamente, os etruscos exerciam sua hegemonia por meio da presença de reis que governaram Roma
com mãos de ferro. Mas os contatos não se resumiam apenas ao etruscos: desde seus primórdios, Roma
buscava integrar‑se com seus vizinhos e essa tendência pode ser revelada na lenda do rapto das sabinas.
Segundo esse relato, Rômulo tinha enviado seus homens de confiança para desposar mulheres entre os
sabinos, um povo que vivia nos arredores de Roma. Eles foram, no entanto, recusados, e Rômulo teve
a ideia de chamar os homens sabinos para uma festa em Roma com a condição de que levassem suas
mulheres e filhas. Eles aceitaram e, após o banquete, foram capturados (alguns mortos) e suas mulheres
convidadas a casar com homens romanos. Estes lhes prometeram as maiores riquezas que elas podiam
imaginar, e a maior de todas: gerariam homens livres. Embora tal evento fosse pouco provável, nos dá
a pista para pensarmos a composição heterogênea da população romana, bem como a adoção de uma
estratégia de expansão que não fosse apenas pela força das armas.

109
Unidade II

Figura 74 – Os etruscos exerceram grande influência cultural em Roma. Foi principalmente por meio deles que os romanos tomaram
contato com a cultura grega. A arquitetura romana também teve grande influência etrusca. Na imagem, uma estatueta etrusca do
século V a.C.

Do ponto de vista administrativo, segundo a tradição, para auxiliá‑lo em suas funções, Rômulo
convocou um grupo de pessoas ilustres que formaram o primeiro Senado, palavra que é um sinônimo de
Conselho de Anciãos. Para facilitar a administração, dividiu a cidade de Roma em unidades menores (ou
tribos), conhecidas como Cúrias, que, chefiadas por tribunos, formavam por sua vez uma assembleia – a
Assembleia ou Comitia Curiata – cuja função era votar leis e decidir sobre declarações de guerra. Nessa
época, os poderes reais eram amplos e cabia ao monarca o exercício de funções religiosas, jurídicas
e, sobretudo, militares, sendo o chefe supremo de um exército numeroso e bem organizado. Embora
vitalício, o cargo de rei não era hereditário, cabendo ao Senado governar durante o período transcorrido
entre a morte do rei e a escolha de um novo soberano. Assim, o poder do Senado foi progressivamente
aumentando e, com o tempo, passou a limitar o próprio poder real.

As divisões internas da sociedade romana, por sua vez, remontam a organizações de parentesco que
existiam antes mesmo da fundação da cidade: as gentes. Cada gens possuía um ancestral em comum e
buscava justificar sua posição de proeminência vinculando‑se a heróis do passado ou a alguma divindade.
Os patrícios, o estamento mais alto de Roma, descendiam dessas gentes e foram investidos de autoridade
política quando o primeiro Senado foi convocado a partir de membros de famílias ilustres. Eram os
grandes proprietários e, ao lado do rei, controlavam o poder político. Logo abaixo estavam os clientes
que, por sua vez, não necessitavam possuir ligações de sangue com as gentes, sendo apenas homens
livres que buscavam a proteção de patrícios por meio da prestação de serviços, dentre eles, cumprir com
obrigações militares e arrendar terras. Finalmente, na base da sociedade, estavam os membros da plebe,
pequenos agricultores ou comerciantes completamente destituídos de poder político, apesar de serem
mais numerosos.

110
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Embora esse número seja incerto e as fontes disponíveis sejam lacônicas, Roma possuiu sete reis:
dois latinos, dois sabinos e três etruscos, respectivamente. Os quatro primeiros reis, alternadamente
romanos e sabinos, governaram em uma relação de equilíbrio com o Senado, que ganhava importância.
Foram eles:

• Rômulo: fundador da cidade e criador das instituições romanas.

• Numa Pompílio: elaborou leis, foi responsável por sistematizar a religião romana e criou um
calendário lunar.

• Túlio Hostílio: reprimiu violentamente uma revolta em Alba Longa, destruindo‑a. Foi o primeiro rei
a empreender conquistas militares.

• Anco Márcio: seguiu a orientação do governo de Numa Pompílio. Assim como ele, também era um
sabino.

Os três últimos foram impostos ao Senado romano pelos etruscos, inaugurando uma época de
constantes conflitos políticos, na medida em que os reis estrangeiros desejavam impor sua autoridade
sobre as instituições romanas. Os reinados dos etruscos assemelhavam‑se em grande medida às tiranias
gregas. Eram eles:

• Tarquínio Prisco: aclamado pelas massas, continuou as guerras de Túlio Hostílio e realizou grandes
obras em Roma. Foi morto pelos filhos de Anco Márcio.

• Sérvio Túlio: foi o responsável pela divisão de Roma em tribos segundo o domicílio, e não de
acordo com as gentes. Concedeu direitos aos plebeus e criou as bases da Assembleia Centuriata,
ampliando os direitos políticos aos mais pobres. Foi morto pela própria filha, em uma conspiração
para que seu marido (portanto, genro de Túlio) subisse ao trono.

Observação

Como forma de conseguir apoio contra inimigos políticos, tanto os


tiranos gregos, como os reis etruscos de Roma contaram com o apoio da
grande massa popular. Essa era uma estratégia política conhecida e também
desprezada pelas elites.

O último dos reis de Roma, Tarquínio, o Soberbo, merece destaque. Seu epíteto não foi à toa: esse
rei governou de forma tirânica, sobrepondo‑se à autoridade do Senado e concedendo inúmeros direitos
à plebe, que passou a apoiá‑lo incondicionalmente. Ele realizou imensas obras públicas, confiscou as
terras de seus patrícios inimigos e as doou para seus amigos mais próximos. Militarmente, seu governo
foi um fracasso, embora tenha reformulado a cidade de Roma transformando‑a em um majestoso
centro urbano.

111
Unidade II

Os patrícios, representados pelo Senado, temiam a crescente influência de Tarquínio e desejavam


destroná‑lo a qualquer custo. A conspiração que seguiu, no entanto, chegou até nós por meio de um
relato cuja veracidade é discutível. Um dos filhos de Tarquínio, Sextus, teria violentado Lucrécia, filha
de aristocratas casada com um patrício. Envergonhada pelo adultério, suicidou‑se. Esse fato causou a
revolta do patriciado e da população romana como um todo, e Sextus foi banido da cidade, buscando
voltar com a ajuda dos exércitos do também etrusco Porsena. A batalha foi longa e os romanos eram
chefiados pelos irmãos Horácios, que a vencem. Tendo caído em desgraça pela corrupção moral do filho,
Tarquínio é deposto e acaba a Monarquia em Roma.

Antes de continuarmos é importante que você reflita sobre algumas questões. Primeiro, como
sabemos desses relatos? Quem os escreveu e para quê? Em segundo lugar, qual teria sido o significado
político concreto da queda da Monarquia? A história de Roma nesse período foi escrita principalmente
por Tito Lívio, que viveu na conturbada transição da República para o Império, momento em que as
instituições romanas entravam em decadência. Sua obra fez parte do projeto cultural de Augusto, que se
colocava como o protetor das sagradas instituições romanas – embora as tenha subvertido – e usando
a história como um exemplo. O Senado representaria fielmente as instituições não corrompidas e seu
poder não deriva da vontade tirânica, mas de um sistema que envolve decisões tomadas por diversas
pessoas, investidas de autoridade moral. Portanto, a queda da Monarquia significou politicamente a
tomada do poder pelo Senado e, consequentemente, pelos patrícios, inaugurando uma fase oligárquica
que duraria até 27 a.C. Trata‑se da República.

6.2 A República Romana

Você deve estar imaginando: “será que os romanos fundaram um sistema político igual ao nosso,
em que os governantes são eleitos mediante o voto direto e existe a separação bem definida entre o
Poder Executivo, Legislativo e Judiciário? Será que os pobres foram incluídos?” A resposta é: não, pelo
contrário. Apesar de a palavra República ser formada por res publica (ou “aquilo que é do povo”), a
ideia de pública entre os romanos era bem diferente da nossa. Ser “do povo” não se relaciona com
nossa ideia de poder político derivado da vontade geral da população (algo que só será pensado na
Revolução Francesa, milênios mais tarde!), mas era uma noção relacionada à manutenção dos costumes
e tradições romanos, que são maiores do que a vontade individual, e tais costumes estariam na base
das leis romanas, cuja integridade deveria ser reafirmada. Assim, por República devemos entender um
sistema político que buscou garantir a ordem social vigente, ameaçada pela tirania monárquica e pela
excessiva intromissão da plebe na vida política, base do apoio aos reis. Os guardiões dos costumes
romanos eram (na própria visão deles!) os patrícios.

A tendência oligárquica – a saber, um governo de poucos – logo começou a se manifestar na maneira


como os cargos foram se estruturando. Acima de todos estava o Senado, órgão inicialmente composto
por patrícios, que encarnava as tradições romanas e estava à frente da maior parte das decisões políticas.
Dentre suas funções estavam a de recomendar magistrados, deliberar sobre a política externa e cultos
religiosos; além disso, detinham poder de veto sobre leis consideradas contrárias às tradições romanas.
Era também o Senado que recomendava os magistrados a serem eleitos pela Assembleia Centuriata (a
Curiata perdeu grande parte de seu poder ainda na Monarquia e se restringia a cultos públicos).

112
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Enquanto o Senado grosso modo reunia funções judiciárias e legislativas, a magistratura romana
representava o Poder Executivo. Os magistrados mais importantes eram os cônsules, eleitos pela
Assembleia, e cujo mandato era anual, improrrogável. No lugar do rei, haveria dois cônsules, com
poderes semelhantes aos dos reis no período monárquico e suas funções eram, basicamente, o comando
supremo do exército e a indicação de membros para o Senado. Eram em número de dois justamente
para vigiarem‑se mutuamente (assim como um cargo político atual de natureza colegiada), e a diferença
básica entre eles é que um se dedicava com mais afinco aos afazeres externos enquanto o outro
administrava questões relativas à própria cidade de Roma. O poder consular, embora amplo, estava
restrito por todos esses princípios e não eram afetados diretamente pelas decisões do senado. Em caso
de exceção – como uma guerra civil ou a proximidade de uma invasão estrangeira – era permitido que
um ditador assumisse com amplos poderes, por um período máximo de seis meses.

Os cônsules eram auxiliados por diversos outros magistrados, a saber:

• Censores: responsáveis por zelar pela manutenção das tradições romanas entre a população,
assim como realizar a contagem da população expressa no álbum senatorial. Sua função era
extremamente importante para orientar a execução de obras públicas.

• Questores: eram “interventores” do Senado, agindo como os atuais “oficiais de justiça”.


Atualmente, esse cargo se refere à administração de recursos financeiros.

• Pretores: tinham função judiciária, sendo diretamente subordinados aos cônsules. Agiam como
juízes de primeira instância e suas decisões poderiam ser contrariadas somente pelo Senado.

• Edis: o edil era o responsável pela administração das obras públicas e infraestrutura das cidades.
Inicialmente, o cargo era o de edil curul e progressivamente foram surgindo outros edis.

• Tribunos da plebe: cargo criado como resposta às pressões da plebe por representação política.
Inicialmente, tinham apenas poder de veto de leis consideradas contrárias aos interesses da plebe.

Finalmente, a Assembleia Centuriata era a instância legislativa básica, da qual participava a maior
parte dos habitantes de Roma, não importando sua condição social. Para votar os projetos de leis, a
população saía da cidade e se dirigia para o Campo de Marte, organizada em centúrias, uma formação
militar composta de cem homens cada (note a relação entre a guerra e a política!). Ao contrário da
Assembleia Curiata, em que os votos eram por tribo, cada centúria era organizada de acordo com o
nível de renda e os mais ricos votavam antes. Uma vez atingida a maioria absoluta dos votos, o que
geralmente correspondia aos interesses dos mais abastados, as centúrias plebeias de segunda à quinta
classe eram dispensadas e, com isso, raramente participavam das decisões. Assim, a plebe – embora
participasse! – ficava virtualmente excluída da política e à mercê de decisões contrárias à sua vontade,
como guerras e aumento de impostos.

113
Unidade II

6.2.1 As lutas sociais em Roma

As condições de um plebeu pobre em Roma eram péssimas. Plebs era um termo em latim que designava
o homem simples, sem ascendentes notáveis e normalmente referia‑se ao comerciante, camponês, artesão
etc. Em suma, eram considerados como o “resto” da população e sua situação era ainda pior quando,
frequentemente, eram escravizados por dívidas em virtude dos diversos aumentos de impostos ou mortos
nas diversas guerras empreendidas pelos romanos. Durante a República, a população romana aumentou
exponencialmente: de 100.000 para quase um milhão na época da transição para o Império. Enquanto os
nobres desfrutavam de suas luxuosas villae, comendo as melhores iguarias e bebendo do melhor vinho,
os plebeus amontoavam‑se em pequenos caixotes de concreto que chamavam de lar. A parte baixa da
cidade, onde viviam os plebeus e sua numerosa prole, sofria com a falta de saneamento básico. Nas casas,
umas espremidas às outras, entrava pouca luminosidade e era um ambiente bastante insalubre. O esgoto
a céu aberto propiciava um sem‑número de epidemias. Comerciantes e artesãos sonhavam com uma vida
melhor caso seus negócios prosperassem, mas logo eram frustrados com uma nova convocação forçada
para a guerra ou assolados por impostos cada vez mais altos. No campo a situação era ainda pior: muitos
camponeses perdiam suas terras devido à concorrência e escravizados por dívidas. A concentração de
terras aumentava ainda mais e os patrícios utilizavam‑se indevidamente das terras do Estado. E os plebeus
nada podiam fazer, pois estavam praticamente fora do processo de decisões políticas.

Figura 75 – Interior de uma casa de patrícios, descoberta entre as bem preservadas ruínas de Pompeia

Figura 76 – Maquete representando uma moradia coletiva de plebeus em Roma

114
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Revoltados com tal situação, em 494 a.C. estourou uma revolta no chamado Monte Sagrado
(ou Aventino). Os generais romanos partiam para uma expedição punitiva contra cidades vizinhas
quando os soldados recusaram‑se a lutar, exigindo melhores condições de vida. Ao mesmo tempo,
milhares de plebeus ocuparam o Monte Aventino e criaram uma Assembleia própria, elegendo seus
próprios representantes a partir do que eles chamaram de lex sacrata. Esse evento marca o despertar
da consciência política da plebe, até então completamente subjugada pelo patriciado e pelos seus
clientes, a menor parte da população. Assim, a desobediência civil passou a ser um instrumento de
luta política utilizado pelos plebeus nos anos seguintes. A partir daí, surge o cargo Tribuno da Plebe,
um cargo ocupado exclusivamente por plebeus. Não tinham o imperium (fonte de poder tradicional),
mas possuíam potestas, ou seja, um poder de facto, característico do Executivo. Poderiam vetar leis que
fossem contrárias ao interesse da plebe.

E a plebe necessitava de mais. Até então, as leis não eram compiladas e os únicos conhecedores
delas eram aqueles que as formulavam e ratificavam. Terentílio, aproveitando‑se de uma guerra entre
romanos e volscos, faz uma petição ao Senado exigindo a codificação e publicação das leis romanas,
até então orais e profundamente conhecidas apenas pelos senadores. A constituição então foi suspensa
e um grupo de legisladores, os decênviros, criou a Lei das Doze Tábuas, que versavam sobre diversos
aspectos da vida cotidiana como a família, o matrimônio, heranças e também um rudimentar código
criminal. Um dos pontos da Lei das Doze Tábuas, no entanto, era a proibição do casamento entre
patrícios e plebeus, o que foi revogado com a lei Canuleia em 445 a.C., após um nova onda de protestos
da plebe e também por motivação de patrícios decadentes que se aproveitavam da fortuna de plebeus
enriquecidos com o comércio para manter seu prestígio; além disso, o casamento com patrícios era um
meio de ascensão social para os plebeus.

Após a Lei das Doze Tábuas e a Lei Canuleia, as lutas sociais enfraqueceram e a cidade passou por
um momento de relativa estabilidade. As primeiras conquistas sociais foram importantes para a plebe,
já que diversos indivíduos de origem popular começaram a conquistar posições importantes dentro da
política. O comércio começava a se desenvolver com os primeiros ímpetos expansionistas, e comerciantes
plebeus enriqueceram. No entanto, em 390 a.C. os gauleses invadiram e destruíram Roma, mergulhando
a cidade em um período de anarquia que se estendeu por décadas. Várias facções disputavam o poder
até que em 367 a.C. a Lei Licínia Sextia restabelece o consulado, permitindo que plebeus ocupassem o
cargo e acabando com a escravidão por dívida, a última e mais importante das reivindicações plebeias.
Finalmente, em 287 a.C., a Lei Hortênsia estabeleceu o plebiscito, ou seja, as decisões da plebe em
assembleia teriam força de lei e os tribunos não teriam apenas poder de veto, senão o poder de aprovar
estas leis sem o consentimento do Senado.

As lutas sociais, portanto, se iniciaram com a finalidade de acabar com a opressão generalizada da
plebe, que acabou afastada das decisões políticas. Com as graduais conquistas, a plebe, consciente de
sua importância, não apenas conseguiu direitos, como também ascensão política e econômica, caso
de muitos plebeus. Isso produziu uma classe nova, a nobilitas, ou seja, plebeus enriquecidos. Porém, a
expansão romana, que se iniciou no século V a.C., resultou na virtual anulação das conquistas da plebe
e consolidou o escravismo como mão de obra.

115
Unidade II

6.2.2 A expansão romana

Se levarmos em conta as lendas e tradições orais a respeito das origens de Roma, é possível concluir
que desde o início os romanos são devotados à guerra, seja para a defesa ou integração dos povos
vizinhos. Em menos de 300 anos, com as primeiras conquistas do rei Túlio Hostílio, Roma deixa de ser
uma mera cidade fortificada e passa a abarcar todo o Mediterrâneo, assenhoreando‑se do comércio
marítimo e obtendo mão de obra escrava dos prisioneiros de guerra.

Além dos atraentes mercados estrangeiros e da busca por cativos, um dos principais fatores da
expansão foi o próprio exército romano. Segundo a tradição, Rômulo foi o primeiro a perceber a
importância de manter um exército numeroso e bem disciplinado, mesmo que formado inicialmente de
pessoas comuns que voltavam à sua vida normal quando as guerras acabavam. Durante a Monarquia,
não havia uma disposição de ataque, embora os armamentos em bronze fossem bastante avançados e
garantissem a vantagem dos romanos sobre seus inimigos. Durante a República, foi criada a legião, com
60 centúrias (ou 6000 homens) dispostas em falanges. Os mais jovens situavam‑se na linha de frente
e os mais velhos na retaguarda. O serviço militar era pago com um soldo em dinheiro ou em sal (daí
a expressão “salário”), um artigo bastante valorizado na época. A infantaria e a cavalaria pesada eram
o cérebro do exército romano, normalmente auxiliado por forças compostas de guerreiros de povos
dominados. O ataque era realizado por lanças ou espadas curtas sem gume, chamadas gládios, que
apenas perfuravam o inimigo.

Figura 77 – Um legionário, um dos principais agentes da expansão de Roma

116
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Além do exército bem treinado, os romanos eram grandes engenheiros de guerra, construindo e
desmontando rapidamente fortalezas de madeira, erguendo pontes e abrindo estradas que permitiam
o rápido deslocamento das tropas e facilitavam a chegada de suprimentos. Portanto, além da força das
tropas, organizavam toda a infraestrutura necessária para assegurar as vitórias militares: um exército
formado não apenas por soldados, mas também por engenheiros, construtores e artesãos.

Podemos dividir a expansão romana em três fases: a primeira, na qual os romanos conquistam o
Lácio; a segunda, a Península Itálica; e a terceira, o Mediterrâneo. Na primeira parte da expansão, Roma
buscava proteção contra os inimigos, assegurando sua independência frente à ameaça vizinha. Assim,
buscaram a todo custo subjugar os povos do Lácio, dentre eles os volscos, os úmbrios e, especialmente,
os samnitas. Estes, por sua vez, demonstraram uma tenaz resistência contra os romanos ao ponto
de serem lembrados por toda a história romana como um povo valoroso que foi batido apenas pela
coragem e disciplina das tropas romanas, um inimigo feroz e ao mesmo tempo um adversário digno.
Para derrotá‑los, foram necessárias pelo menos três campanhas, até sua progressiva integração na
sociedade romana. Na terceira guerra samnita, uma coalizão de povos latinos, junto com etruscos e
gauleses, foi derrotada por Roma, que estendeu seu território até a região que atualmente corresponde
ao sul da França.

Uma vez assegurado o controle do Lácio e afastada de uma vez por todas a ameaça etrusca do norte,
os romanos passaram a assediar as colônias gregas do sul. Tais colônias foram conquistadas sem grande
dificuldade, anexadas permanentemente após a Batalha de Benevento, quando o famoso general grego
Pirro foi derrotado. A conquista das cidades de Tarento e de Messina foi extremamente benéfica para os
romanos, que anexaram regiões cuja produção agrícola era abundante. No entanto, os romanos entram
em choque com os interesses de uma potência comercial que dominava o mercado no Mediterrâneo: os
cartagineses (chamados de Punii pelos romanos).

Alpes
Rio Pó

Etrúria
Ma
r
Rio Tibé

Ad
riá

Córsega
tic
o

Roma Ilíria
Sa
mn
ita
s

Sardenha Tarento
Mar Tirreno Grécia

Mar Mediterrâneo
Mar Jônico
Sicília
Cartago Siracusa

Figura 78 – A Península Itálica unificada pelos romanos

117
Unidade II

A terceira fase da expansão romana é o resultado das conquistas militares nas Guerras Púnicas, um
longo conflito entre Roma e Cartago pelo controle do Mediterrâneo. A Primeira Guerra Púnica foi travada
pelo controle da Sicília, importante zona de abastecimento de cereais. Esse conflito iniciou‑se quando o
exército romano atacou a cidade cartaginesa de Agrigento, o que levou à declaração de guerra formal
entre as duas potências. Para enfrentar o poderio cartaginês, Roma dá início ao desenvolvimento de sua
esquadra, composta por ágeis e sólidos quinqueremes. A Primeira Guerra Púnica ocorreu, portanto, no
mar e após espetaculares vitórias romanas – imagine que antes desse conflito Roma praticamente não
possuía navios de guerra, o que torna suas vitórias ainda mais admiráveis! – a Sicília foi anexada ao
território da República em 241 a.C.

Os cartagineses, porém, jamais aceitaram a perda da Sicília e duas décadas depois empreenderam
uma contraofensiva. Aproveitando‑se da guerra entre romanos e macedônios – que se aliaram mais
tarde aos cartagineses contra Roma – Aníbal Barca, um habilidoso general cartaginês, ataca a cidade
romana de Sagunto, localizada na atual Espanha. Os romanos exigem a retratação e Aníbal oferece a
guerra. Esperando um ataque na Península Ibérica, os romanos são surpreendidos com o deslocamento
das forças de Aníbal para os Alpes, esperando atacar a Itália pelo norte. Apesar das sucessivas vitórias
contra os romanos e seus novos aliados (gauleses e etruscos, principalmente), o exército de Aníbal havia
se enfraquecido progressivamente ao chegar próximo dos portões de Roma. Para repelir o inimigo e
prejudicar a logística de suprimentos, o general Cipião Africano é quem dessa vez realiza um ataque
surpresa e, em vez de enfrentar o inimigo frontalmente, despacha um poderoso exército para atacar a
própria cidade de Cartago, que é capturada na Batalha de Zama, em 202 a.C. Apesar dos reforços de
Asdrúbal, irmão de Aníbal, os cartagineses foram mais uma vez derrotados e os romanos apossaram‑se
de colônias cartaginesas na Espanha, norte da África e da Ilha da Sardenha. Em 149 a.C., ocorreu a
Terceira Guerra Púnica e Cartago foi finalmente destruída.

A essa altura, os romanos já empreendiam a conquista do mediterrâneo oriental, uma vez que a parte
ocidental havia sido anexada após o final das Guerras Púnicas. Roma vence os exércitos de Felipe V e anexa
a Macedônia. A seguir, anexa a Ásia Menor e regiões da Palestina, passando a influenciar diretamente na
política egípcia. Assim, a rápida expansão romana colocou problemas administrativos e alterou radicalmente
a economia e a sociedade romana, levando a República a um novo período de crise.

Primeiro, a conquista territorial gerou uma grande quantidade de terras que seriam incorporadas ao ager
publicus, ou seja, propriedade do Estado. Essas terras, no entanto, foram sendo apropriadas indevidamente
pelos patrícios, o que agravou o problema da concentração de terras. Além disso, a chegada de cereais das
províncias acabou com a agricultura em Roma, que não conseguia competir com os baixos preços dos produtos
importados. Desse modo, os patrícios, proprietários de terras, foram prejudicados e passaram a depender de
cargos públicos e alianças com plebeus enriquecidos com o comércio para manter sua fortuna e seu prestígio.
A situação para o pequeno camponês era ainda mais grave: além da concorrência de produtos importados,
suas terras ficaram subutilizadas durante o longo período das Guerras Púnicas (lembrando que a infantaria
era formada por pessoas comuns), o que os forçou a vender suas terras aos patrícios. Os camponeses livres,
que trabalhavam nas terras do patriciado, foram substituídos por escravos, bastante numerosos, e assim
obrigados a se retirarem para a cidade, provocando um grande êxodo rural. Ao chegarem à cidade, não
encontravam emprego, pois os escravos haviam sido alocados para o trabalho antes assalariado. Assim, Roma
mergulhava mais uma vez em uma crise social que culminou com a derrocada da República.
118
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

6.2.3 A crise da República

A crise do regime vigente em Roma caracterizou‑se pela inadequação das instituições romanas frente
às novas exigências sociais e políticas decorrentes da expansão territorial. Assim, a luta entre facções
distintas assumiu os ares de uma verdadeira guerra civil, na qual os patrícios lutavam pela manutenção
de seu status, e os cavaleiros ou homens novos lutavam para aumentar seu poder enfraquecendo os
patrícios, o Senado e a plebe que, juntamente com o exército, tornaram‑se instrumentos políticos
importantes para determinados indivíduos.

A concentração de terras era um grave problema em Roma, pois gerava uma massa de despossuídos
que buscava a sorte na cidade, agravando ainda mais o problema da rápida urbanização. Assim, quando
eleito tribuno da plebe em 133 a.C., Tibério Graco propôs uma lei que proibiria a apropriação indevida do
ager publicus e limitaria a quantidade de terras por família em Roma. Essa proposta encontrou grande
oposição dos patrícios e também dos cavaleiros que, enriquecidos, passaram a adquirir grandes lotes de
terras. Sem saída, Tibério apelou para o povo, mobilizando‑o contra os patrícios. Assim, em 133 a.C., foi
assassinado em virtude de uma conspiração aristocrática.

Seu irmão, Caio, dez anos depois, quando eleito tribuno da plebe, propôs um aprofundamento
das reformas. Insistia na reforma agrária, mas também propunha leis que aumentassem o poder
popular frente ao Senado, que perderia seu poder de veto. Criou leis que barateavam o preço
do trigo e propôs conceder a cidadania romana aos povos italiotas, garantindo assim seu apoio
militar. Suas propostas também foram rechaçadas e, perseguido pelos seus inimigos por ocasião
de sua reeleição como tribuno, fugiu para o Monte Capitolino junto com uma força rebelde de
aproximadamente 4000 homens. Ao ver‑se derrotado, Caio Graco, temendo cair nas mãos de seus
inimigos, pediu para um escravo que o matasse. Terminava com Caio a primeira tentativa de ampliar
o poder popular em Roma.

Após as investidas frustradas em reformas dos irmãos Graco, a crise social em Roma agravou‑se
consideravelmente. Uma série de cônsules fracos não conseguiu contornar a situação, até que Mário,
um general de origem plebeia beneficiado pela Lei Licínia Sêxtia, fosse eleito cônsul após uma bem-
sucedida campanha militar contra a Numídia. Sua brilhante vitória granjeou‑lhe grande prestígio
frente ao Senado, cujo poder diminuiu consideravelmente em favor do partido popular, com o qual
se aliou. Anos mais tarde, em 88 a.C. entra em cena o maior dos adversários de Mário, um general de
origem aristocrática chamado Lucio Cornélio Sila. Este havia sido eleito apontado como general em
uma guerra no Oriente, o que foi revogado por Mário, desejoso de assumir o comando do exército. Esse
fato desencadeou uma grande rivalidade entre os dois e, quando Sila partiu para o Oriente, o partido de
Mário assumiu o poder em Roma, realizando manobras políticas que permitiram a reeleição seguida de
Mário como cônsul.

119
Unidade II

Figura 79 – Busto de Sila, que arquitetou a reação das elites contra as reformas populares de Mário

Sila, ao saber da notícia, volta rapidamente para Roma e entra em choque direto contra as forças de
Mário. O que parecia um conflito pessoal entre os generais escondia um grande conflito político entre
os populares e os optimates, partido aristocrático aliado a Sila. Após um longo e devastador conflito,
Sila vence as forças de Mário e, com a vitória, assume como ditador e revoga a maior parte das reformas
de caráter popular implementadas por Mário. Após restabelecer o poder político do Senado e diminuir
a influência popular, Sila retira‑se da vida pública, vindo a falecer em sua fazenda em 78 a.C. Seus
sucessores diretos, Pompeu e Crasso, consolidam a reação de Sila, não sem enfrentar forte oposição:
após debelarem uma revolta de escravos liderada pelo gladiador Espártaco, Pompeu e Crasso tiveram
ainda que enfrentar a rebelião de Catilina.

Catilina buscava apoio popular denunciando a ganância dos aristocratas, embora ele próprio
pertencesse ao patriciado. No entanto, não havia conseguido o apoio da plebe e muito menos do
Senado, que o desprezava. Assim, aliando‑se aos populares, organizou uma conspiração para tomar o
poder, valendo‑se de seu exército particular e seus seguidores. Cícero, hábil orador romano, ocupava o
consulado e conseguiu reunir provas suficientes para incriminar Catilina do crime de conspiração contra
o governo. Após perder a maior parte de seu exército e seus aliados no governo, Catilina foi morto em
um combate com suas legiões remanescentes.

A situação em Roma parecia incontornável. A guerra entre Mário e Sila, a revolta de Espártaco e
a conspiração de Catilina apenas denunciavam a fraqueza das instituições romanas, que estavam à
mercê de lutas pelo poder entre facções que utilizavam o povo e o exército como instrumentos de luta.
É importante que você tenha a noção de que, nesse momento, embora as legiões fossem profissionais,
elas não tinham uma mentalidade patriótica, e sim de lealdade a seus generais. Por isso, o Período dos
Triunviratos é marcado pela luta civil entre os membros do governo, antes de tudo generais.

120
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Após a repressão à revolta de Catilina, Pompeu aliou‑se à Crasso e a César, tendo permissão do
Senado para estabelecer um governo tripartite: o triunvirato. No entanto, logo no início começaram as
divergências entre os membros, fortalecidas pela morte de Crasso. Tomado pela inveja de seus colegas,
famosos generais, Crasso resolveu lutar contra os persas para receber honrarias como general, já que não
possuía nenhuma. No entanto, é humilhantemente derrotado e morre no campo de batalha, após forçar
uma marcha pelo deserto, sem suprimentos disponíveis. César, em virtude de sua origem plebeia, busca
a todo instante apoio popular e vê suas medidas constantemente rechaçadas pelo Senado. Pompeu
recebe apoio incondicional da nobreza e, aproveitando‑se da ausência de César, que lutava na Gália,
intitula‑se defensor perpétuo de Roma, destituindo César. Ao saber de sua destituição, César cruza a
ponte sobre o Rio Rubicão em sinal de desafio contra Pompeu. Os triúnviros entram em conflito e César
vence Pompeu, que foge para o Egito e lá é assassinado.

Com a derrota de Pompeu, César consegue do Senado a ditadura vitalícia, o que era uma exceção
na medida em que as ditaduras eram de seis meses. Graças ao seu prestígio e à força de suas legiões,
consegue estabilizar as lutas sociais por meio da adoção de medidas populares, embora não tenha
alterado em praticamente nada as estruturas sociais vigentes. Além disso, aliou‑se ao Egito, casando‑se
com Cleópatra, com quem teve um filho – Cesário – que nunca ocupou um cargo de prestígio. Além
de dispor da força de um exército leal e bem treinado, César agora dominava o maior celeiro do
Mediterrâneo, o que possibilitou grandes distribuições gratuitas de alimentos. Mas o plano de César era
ainda mais ambicioso: ele desejava obter a hereditariedade, o que na prática significava restabelecer a
monarquia.

a) b)

Figura 80 – Os bustos dos primeiros triúnviros: à esquerda Pompeu, líder da facção aristocrática
e, à direita, César, que buscava apoio popular

Após os Tarquínios, as tradições romanas desprezavam profundamente a ideia da realeza, ou seja,


a concentração de poderes. E o Senado jamais poderia aprovar tal projeto, ainda mais de alguém com
quem entrava em desacordo frequentemente. Assim, preparou uma conspiração que mudaria os rumos
da história romana. No dia 14 de março de 44 a.C., o Senado manda avisar a César que aprovaria seu
projeto de hereditariedade. Então, no dia seguinte, César dirige‑se ao Fórum para selar sua vitória.
Mas lá chegando, quem o espera é a morte: após fecharem a saída do prédio, os senadores, um a um,
apunhalam César, que morre sem ver sua obra concluída. Ao saber da morte de César, o povo se enfurece
e Roma mergulha em uma nova crise social.

121
Unidade II

Para acalmar o povo, o Senado elege um triunvirato formado por apoiadores de César: seu braço
direito Marco Antônio, seu sobrinho Otávio e Lépido, um general de expressão menor que logo foi
afastado. Mesmo pertencendo ao mesmo partido, os dois logo começam a se desentender e os territórios
são divididos: Otávio fica com o Ocidente e Marco Antônio, com o Oriente, principalmente Egito. Marco
Antônio também se casa com Cleópatra. As diferenças entre os dois aumentam, culminado na Batalha
Naval de Actium, em 27 a.C., com uma espetacular vitória de Otávio. Com a derrota, Marco Antônio e
Cleópatra se suicidam e Otávio se apossa do Egito, dominando também os celeiros abarrotados de trigo.
Ao voltar para Roma, Otávio inicia uma distribuição gratuita de trigo e o povo o enaltece, considerando‑o
como um sucessor natural de César, título que já havia adotado para ressaltar seu parentesco.

Após a derrota de Marco Antônio, Otávio realiza uma manobra de excepcional habilidade política:
em uma sessão no Senado, ele declara restaurada a República em seu formato original, renunciando
a todos os seus poderes. O Senado, em contrapartida, restaura seu poder e concede‑lhe títulos que se
somam aos já adquiridos (em 40 a.C.) de imperator e caesar: pontifex maximus, princeps senatus, ou
seja, o principal membro do Senado e, finalmente, augusto, venerável, título reservado às divindades e
que dava o direito a Otávio de ser adorado como um deus após sua morte. Embora aparentemente se
trate da restauração republicana, Otávio passa a centralizar o poder e inaugura‑se o Império.

Figura 81 – Otávio Augusto, o primeiro imperador romano

6.3 O Império Romano

Quando Otávio – agora Otávio Augusto – recebe do Senado os títulos de princeps e Augustus, tem
início o Império. Na aparência, Augusto procurou restaurar os poderes republicanos de acordo com o
esperado nas tradições, e o Senado procurou restaurar sua influência ao conceder os títulos a Augusto.
No entanto, na prática, o que houve foi a centralização do poder por meio de uma série de medidas
de naturezas diversas. Durante o Império, continuou a política expansionista que sustentava o sistema
escravista, até que no século III a retração das guerras provocou a crise do Império, cuja porção ocidental
sucumbiu diante dos invasores bárbaros em 476 d.C.
122
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

6.3.1 O Alto Império

A primeira dinastia a efetivar‑se no poder foi a Dinastia Julio‑Claudiana, formada pelos descendentes
de César e sucessores diretos de Augusto, o que nem sempre implica hereditariedade de sangue. Otávio
Augusto, o primeiro imperador, procurou teoricamente restabelecer as instituições republicanas,
bastante abaladas após um longo período de agonia da República Romana. De fato, ele renuncia a seus
títulos e os recobra do próprio Senado que via em Augusto um defensor de seus interesses. No entanto,
Augusto passa a centralizar o poder, transformando o próprio Senado – que adquirira nesse momento
as atribuições e poderes da Assembleia Centuriata – em uma instituição de fachada. O poder de Augusto
equivalia ao de um cônsul vitalício cuja autoridade assentava‑se no imperium (poder tradicional) e
potestas (poder efetivo), sobrepujando‑se às decisões senatoriais. Augusto possuía ainda o poder
tribunício, sendo o representante direto dos negócios da plebe e era o chefe da religião, exercendo o
cargo de pontífice supremo.

Administrativamente, Augusto reorganizou as províncias em imperiais, diretamente


subordinadas ao poder central, como o Egito, e as senatoriais, nas quais o poder do Senado
ainda era efetivo. Nas províncias distantes, a grande quantidade de funcionários e a avidez dos
administradores tinham como consequência nefasta a corrupção, um problema endêmico da
sociedade romana. Em vista disso, Augusto procurou reformar o sistema de tributação, separando‑o
de outras instâncias políticas e garantindo assim a máxima eficácia da transferência de recursos
das províncias para o centro.

A sociedade foi reorganizada segundo critérios censitários, abolindo‑se de vez a antiga divisão entre
patrícios, clientes e plebeus. Foram criadas as ordens: senatorial, pessoas com renda maior do que um
milhão de sestércios, a moeda romana; a equestre, renda de 400 mil sestércios, normalmente pessoas
que ocupavam cargos em províncias; e a ordem inferior, com renda inferior a 400 mil sestércios e que
não possuíam direitos políticos, que na prática era constituída pela antiga plebe. Com essa divisão
censitária, procurava evitar conflitos decorrentes da insatisfação de indivíduos enriquecidos alijados das
decisões políticas.

No plano militar, Augusto reformou o exército e iniciou um processo de fixação das legiões
romanas nas regiões de fronteira, uma prática seguida por todos os seus sucessores. Ele lançou
ofensivas bem-sucedidas à Península Ibérica e anexou a Récia, atual Áustria, a Galácia, próxima
à atual Istambul, e a Judeia. No entanto, seu tenente e braço direito Públio Quintílio Varo, em
campanha na Germânia, foi derrotado vergonhosamente, suicidando‑se antes de ser capturado.
Três legiões foram perdidas e esse fato causou em Augusto tamanha comoção e, segundo Suetônio,
o imperador deixou de fazer sua higiene pessoal e ficou deprimido por muitos dias. Com isso,
Augusto interrompeu as guerras de conquista temporariamente, em um período conhecido como
Pax Augusta.

123
Unidade II

Germanos

Gália
Da Dácia
lm
Itá ác
ia
lia
Espanha
Armênia

Mauritânia Nu

dia
Alexandria
África Egito Árabes

Figura 82 – Território romano à época de Augusto

Culturalmente, Augusto deu grande incentivo a uma produção genuinamente romana, exaltando
as tradições e o glorioso passado, vinculado à vontade dos deuses e estabelecendo uma relação com os
troianos. Graças à atuação de seu ministro e amigo íntimo Caio Mecenas, houve a proteção de diversos
escritores e artistas em geral. Augusto era também um grande admirador da arquitetura e, por meio
da genialidade de Vitrúvio, transformou uma cidade de tijolos em uma cidade de mármore. Foram
construídos o Fórum de Augusto, os banhos públicos, templos etc. E não apenas na cidade de Roma,
como em todo o Império.

Após a morte de Augusto, seu enteado Tibério – filho da imperatriz Lívia Drusila – assumiu o trono,
levando a cabo uma política bastante semelhante à de seu padrasto. Tibério foi sucedido pelo excêntrico
Calígula, que arruinou as finanças do Império com suas extravagâncias e foi morto por ocasião de uma
conspiração palaciana fomentada pelo Senado. Outro imperador da mesma dinastia, Nero, foi também
bastante controverso, mas devemos lembrar que boa parte do que chegou até nós sobre ele proveio
de seus adversários políticos. Apesar de excêntrico, Nero foi um administrador bastante competente
e um conquistador memorável, subjugando a maior parte dos povos germânicos da fronteira. A ele
são atribuídas perseguições cruéis aos cristãos, que se recusavam a adorar o imperador como uma
divindade e, portanto, eram martirizados publicamente. Houve ainda o famoso incêndio de Roma, que
lhe é tradicionalmente atribuído, mas cuja acusação é infundada.

Figura 83 – Moeda com a efígie do imperador Tibério, governante à época do nascimento de Cristo

124
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

A dinastia seguinte, a dos Antoninos, destacou‑se pela manutenção da estabilidade do Império, pela
realização de grandes obras públicas e pelo auge da Pax Romana, a saber, a pacificação das províncias
conquistadas pela fixação das legiões em tais regiões. Dessa dinastia destacam‑se os imperadores Vespasiano,
construtor do Coliseu, Tito, que foi responsável pela diáspora judaica em 70 d.C., e o general Trajano, que,
sucedendo o popular imperador Nerva, fez com que o Império Romano atingisse sua máxima extensão.
Na próxima dinastia, a dos Severos, destaca‑se Caracala, hábil general que pacificou as instáveis fronteiras
germânicas, construiu grandes edifícios e concedeu a cidadania romana a todos que estavam sob o domínio de
Roma, constituindo assim um império universal. Após a morte do último imperador dos Severos – Alexandre
Severo – a retração das guerras expansionistas acaba por mergulhar Roma em uma crise cujo desfecho seria
a própria decadência da porção ocidental do Império. Termina assim o Alto Império.

Figura 84 – Roma em sua máxima extensão, sob o reinado de Trajano

Figura 85 – O circus maximus, ou Coliseu, construído sob a dinastia dos Antoninos

125
Unidade II

6.3.2 Baixo Império

Roma foi vítima de sua própria extensão. A política expansionista, iniciada ainda na República, foi
responsável pela consolidação do modo de produção escravista, alimentado pelos prisioneiros de guerra
capturados durante as conquistas. No entanto, o crescimento territorial do Império Romano demandava
a constante vigilância dos dominados: a Pax Romana, embora eficaz, era uma política altamente onerosa
para os cofres públicos, sendo essencialmente limitada. O crescimento do exército, acompanhado da
necessidade de vigiar um território cada vez mais extenso, tornou‑se inviável e Roma foi obrigada
a cessar com as guerras de expansão, limitando‑se apenas a guarnecer as fronteiras, sobretudo na
Germânia e na Pérsia, tenazes inimigos nunca derrotados. Assim, inicia‑se uma crise com características
cíclicas, agravada ainda mais pela instabilidade do poder político – período conhecido por Anarquia
militar – e pela pressão dos povos bárbaros. Internamente, o cristianismo ganhava força e ameaçava,
perante a população, a autoridade divina do Imperador. Estende‑se da morte de Alexandre Severo até
as primeiras reformas tomadas por Diocleciano, que consegue estabilizar momentaneamente o Império.

A retração das guerras e o fim da chegada de novos cativos aumentou consideravelmente o preço
dos escravos, antes numerosos e baratos. A expansão romana para além dos territórios já estabelecidos
era impossível, uma vez que, durante a época dos Severos, os imperadores procuravam obter apoio do
exército aumentando o soldo dos oficiais e dos soldados rasos. A isso, soma‑se a incapacidade do Império
Romano de somar rapidamente ao erário os impostos arrecadados, pois a política fiscal não suportava
os gastos militares e os sistemas de arrecadação encontravam‑se totalmente decadentes. A corrupção
acelerava o déficit público e o tesouro romano agora deveria sustentar proprietários decadentes em
cargos públicos, dependentes da mão de obra escrava cujo preço aumentou sensivelmente. Diante desse
quadro de aumento de despesas, a moeda romana sofreu um fortíssimo processo de depreciação (a
porcentagem de prata era inferior a 40% em cada moeda, feita majoritariamente de escória de metal),
ocasionando uma superinflação que atingiu com força a população mais pobre. A adoção do valor
nominal (assim como na moeda de Real, já que o metal a partir do qual é fabricada a nossa moeda não
tem valor expressivo) foi uma solução temporária, que não pôde ocultar a inflação por muito tempo.

As moedas logo começam a sumir e, com isso, o comércio interno e externo foi radicalmente
afetado, assim como a tributação, que passou a ser realizada em espécie. Isso paralisou virtualmente o
artesanato e a economia urbana de um modo geral e provocou uma onda de ruralização. Uma vez que os
preços eram altíssimos e, literalmente, faltava comida, a solução encontrada foi a retirada para o campo,
no único grande exemplo histórico de êxodo urbano. Para não morrerem de fome, inúmeros plebeus
renunciam à sua cidadania e se colocam sob a proteção de aristocratas nas suas villae. Inicialmente os
colonos eram livres, mas com o tempo foram fixados à terra. Sua condição era hereditária e o colonato
formou a base da servidão medieval.

Politicamente, o Império atravessava o caos. A crescente influência do exército interferiu diretamente


nas sucessões imperiais entre os Severos e Domiciano: todos os imperadores foram assassinados
conforme os interesses divergentes. Essa instabilidade política provocou um desmembramento
temporário do Império: no Ocidente, formou‑se o Império Gálico, na região correspondente à França, e
no Oriente formou‑se o Império de Palmira, sob o comando da célebre Zenóbia. Além disso, a fraqueza
administrativa motivou diversas invasões germânicas que saquearam o Império, debilitando ainda
126
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

mais a já fragilizada economia. Graças à habilidade do general e imperador Aureliano, os bárbaros


foram rechaçados e as partes dissidentes do Império foram reconquistadas. Tais guerras aceleraram
a ruralização durante o período da anarquia militar, na medida em que a população pobre procurava
refúgio em terras aristocráticas.

A situação de extrema pobreza e a crescente desigualdade social foram também combustíveis


para a propagação do cristianismo. No século III, a antiga religião romana já não mais existia, dando
lugar a uma série de cultos sincréticos e, em meio a esses cultos, crescia cada vez mais o cristianismo,
um culto de origem judaica que ganhava mais e mais adeptos seduzidos pelo discurso de igualdade
na vida após a morte. As comunidades paleocristãs eram bastante humildes e faziam questão de
se diferenciarem moralmente dos romanos. Entre os cristãos primitivos era visível a influência do
estoicismo helenístico em contrapartida com o hedonismo romano, pontuado pelos excessos, orgias
e desregramento moral. O ponto de discórdia entre cristãos e romanos era o fato de que os cristãos
se recusavam a adorar o Imperador como uma divindade e desse modo passaram a ser perseguidos.
Mesmo assim, seu número crescia vertiginosamente e isso colocava uma ameaça à autoridade
imperial, baseada no caráter divino.

Diante desse quadro caótico, uma série de reformas iniciadas pelo imperador Diocleciano consegue
momentaneamente frear a decadência de Roma. Diocleciano instaura a tetrarquia, composta de quatro
soberanos: dois augustos e dois césares. A ideia da tetrarquia era realizar um governo consensual
entre governantes de regiões distintas, buscando assim aplacar as conspirações do exército contra
a autoridade central. Diocleciano dividia o Império com Maximiano e os dois césares eram Galério
e Constâncio, sendo Diocleciano o Augusto Sênior. Uma prática comum na tetrarquia era o fato de
que os soberanos eram itinerantes e, com frequência, modificavam a sede do governo. Nessa época,
Roma já havia deixado de ser a residência imperial. Diocleciano também foi famoso por intensificar
a perseguição aos cristãos.

A tetrarquia, no entanto, logo fracassa. Maxêncio e Constantino (filho de Constâncio),


coimperadores, tornam‑se inimigos mortais e, após se enfrentarem abertamente, Constantino se
torna o único Imperador. Isso representa um marco na história cristã, uma vez que triunfou aquele
que concederia liberdade de culto e acabaria com as perseguições religiosas. Segundo a tradição
católica, Constantino teria tido um sonho e, por causa dele, mandou pintar cruzes no escudo de
seus soldados. Assim, sua vitória teria sido garantida por Deus, e Constantino, embora não fosse
cristão, é um personagem bem visto no mundo católico. A versão histórica, no entanto, apresenta
uma visão menos romântica: uma vez que o cristianismo crescia velozmente entre a população,
ao proclamar o Édito de Milão, Constantino acabou com as perseguições, procurando assim apoio
popular contra os conspiradores do trono.

127
Unidade II

Oceano
Atlântico
Mar do Ásia
Norte

Mar Negro
Roma

Mar Mediterrâneo

Ano 43 d.C.
Ano 325 d.C.

Figura 86 – Mapa que demonstra a expansão do cristianismo entre o ano 43 e 325 d.C.

Constantino também precisava resolver o problema da governabilidade, já que a grande


extensão do Império dificultava as comunicações entre as províncias. Assim, o Imperador inicia o
remodelamento e, em 330, reinaugura a antiga colônia grega de Bizâncio e a transforma na capital
do Império: Constantinopla, a cidade de Constantino. Assim, a sede do Império localizar‑se‑ia bem no
centro do território de Roma. Após sua morte, em 337, Roma voltaria a ser sede do Império, embora
já não fosse há muito a residência oficial dos imperadores, que preferiam a tranquilidade das cidades
imediatamente vizinhas.

Após Constantino, reinaram Valente e Graciano. Este último concedeu o governo do Império
Romano do Oriente a Teodósio em 395, que dividiu definitivamente o Império, antes separado por
duas grandes regiões administrativas por Diocleciano. Além da divisão administrativa, Teodósio,
um cristão fervoroso, transformou a religião cristã na oficial do Império Romano, por meio da
Lei Tessalônica. Com isso, os papéis se inverteram: as religiões não cristãs foram violentamente
perseguidas e os vestígios da cultura greco‑romana foram duramente atacados, incluindo templos
e as escolas filosóficas.

128
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Figura 87 – Antes da queda do Ocidente, a divisão do Império era de caráter puramente administrativo. Com a tomada de Roma
pelos Hérulos em 476 d.C., a divisão tornou‑se permanente

Do lado ocidental, por sua vez, as crises eram cada vez mais frequentes e, após a morte de
Teodósio, imperadores fracos não lograram evitar a “pressão” cada vez maior dos povos bárbaros,
pressionados pelos hunos. Em 410, Roma já havia caído sob as armas dos visigodos, que imploram
ao governo central proteção contra os hunos, pedindo para se assentarem dentro das fronteiras
romanas. No entanto, os visigodos aproveitam‑se da situação e saqueiam o Império por volta de
410. Os vândalos também invadem Roma, mas apenas saqueiam a cidade, sequestram as mulheres e
não obtêm o governo em um curioso caso de guerra tribal travada contra os romanos. No entanto,
foi em 476 que se deu a derrocada do Império. O imperador Julius Nepus, favorável à integração
dos germânicos a partir do sistema de confederação, é deposto pelo seu general Orestius, que
coloca no trono seu filho Rômulo, um jovem de 15 anos. O rei Odoacro, dos Hérulos, aliado de
Nepus, intervém na cidade e, para salvar a legitimidade de Nepus (ou seja, os bárbaros, em sua
própria concepção, buscam salvar o Império Romano!) mata Orestius e depõe Rômulo Augusto.
Odoacro poupa a vida do jovem e o deixa viver. Após a tomada de Roma, Odoacro instala‑se na
cidade e manda as insígnias do poder imperial para a parte oriental, nunca tendo sido senão um
patrício nomeado por Zenon, imperador da parte oriental à época. Assim, devemos ter cuidado
em pensar sobre os bárbaros como destruidores sanguinários que devastaram o Império. Muitos
deles já estavam integrados na população, no exército, e alguns imperadores foram de origem
germânica. Assim, a tomada de Roma por Odoacro foi apenas mais um episódio de um longo
processo e é considerado o fim da parte ocidental.

129
Unidade II

Figura 88 – Os reinos bárbaros

Saiba mais

Há uma grande e rica produção cinematográfica sobre Grécia e Roma, tanto


filmes como documentários e seriados. De toda a produção, destacamos:

300. Dir. Zack Snyder. Estados Unidos: Warner Bros.; Legendary Pictures;
Virtual Studios, 2006. 117 minutos.

ALEXANDRE. Dir. Oliver Stone. Estados Unidos: Warner Bros, 2004. 214 minutos.

ÉDIPO rei. Dir. Pier Paolo Pasolini. Itália; Romênia: Arco Film; Somafis,
1967. 104 minutos.

GLADIADOR. Dir. Ridley Scott. Estados Unidos; Reino Unido: DreamWorks


SKG; Universal Pictures; Scott Free Productions, 2000. 155 minutos.

MEDEA. Dir. Pier Paolo Pasolini. Itália; França; Alemanha: San Marco; Les
Films Number One; Janus Film und Fernsehen, 1969. 118 minutos.

ROMA. Série (duas temporadas). Dir. John Milius. Reino Unido; Estados
Unidos: BBC; HBO, 2005‑2007. 55 minutos.

SPARTACUS. Dir. Stanley Kubrick. Estados Unidos: Bryna Productions,


1960. 184 minutos.

130
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Resumo

A Antiguidade Clássica caracterizou‑se pela implementação decisiva do


modo de produção escravista. Tanto a economia romana quanto a grega
tornaram‑se extremamente dependentes da escravidão, que se constituiu
na principal forma de mão de obra. A propriedade de homens por outros
homens é um fenômeno antigo, existente antes das civilizações grega e
romana, mas o uso de escravos nunca foi – com exceção do Egito em um
breve momento – tão impactante.

A civilização grega notabilizou‑se por suas importantes realizações no


campo político e cultural, em grande medida graças ao trabalho escravo.
Ao falarmos em civilização grega, devemos levar em consideração as
múltiplas influências e desdobramentos, que vão desde os legados da
cultura creto‑micênica até a fusão da cultura ocidental e oriental
durante o Período Helenístico. A pólis – ou a cidade‑estado helênica –
foi a principal forma de organização política e cada qual possuía suas
particularidades.

Dos vários modelos existentes, Esparta e Atenas representam duas


formas de organização bastante peculiares. A primeira consolidou‑se
como um pequeno estado guerreiro assentado sobre a opressão de
grandes populações escravizadas, desenvolvendo uma mentalidade
militarista para garantir sua sobrevivência a ataques externos e para
manter o status vigente. Já em Atenas, o conflito entre a Aristocracia
tradicional e os Demiurgos – comerciantes enriquecidos – promoveu
uma intensa luta política que desembocou na criação da democracia.
As poleis gregas entram em declínio com a invasão dos macedônicos,
que se aproveitaram da debilidade das cidades enfraquecidas por
guerras fratricidas.

Em Roma, a aristocracia tradicional – os patrícios – teve de enfrentar


diversos problemas para consolidar o poder em suas mãos. Em tempos
monárquicos, um golpe de Estado derrubou o rei, que diminuiu o poder
do Senado. Na República – que, na verdade, constituiu‑se em um governo
oligárquico – o patriciado obteve o acesso direto ao poder, mas a exclusão
da numerosa plebe custou caro e a elite foi obrigada a negociar com o povo.
Ao final, a República Romana encontrava‑se imensamente desgastada
devido às guerras de expansão e, após as experiências com os triunviratos,
Augusto assume como um aparente defensor da República, mas centraliza
o poder e o Império é instaurado.

131
Unidade II

O Império Romano possuiu duas fases: o Alto Império, caracterizado


pelas reformas de Augusto, pela máxima extensão atingida pelo Império e
pela concessão da cidadania romana a todos os que habitavam as fronteiras
romanas pelo Edito de Caracala, instituindo o universalismo romano, no
entanto, Roma foi vítima de seu próprio tamanho, pois o fim das guerras
de expansão afetou duramente a escravidão, a economia de um modo geral
e, consequentemente, a política e sociedade romana; e o Baixo Império,
portanto, corresponde a tal crise, que culminou com a crescente ruralização
da economia romana, a ascensão do cristianismo e as invasões bárbaras,
que acabam com a parte ocidental do Império em 476 d.C.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2008) Em sua obra História, Heródoto (484-425 a.C.) narra as Guerras Médicas e
menciona as inóspitas e longínquas terras da Cítia, atual Ucrânia. Segundo Heródoto,

A leste [...] chega-se ao território dos citas nômades, que nada semeiam e não lavram terra
alguma. Todo aquele território [...] é desprovido de árvores. [...] O inverno é tão rigoroso que durante
oito meses do ano o frio é insuportável; [...] o mar congela [...] e os citas [...] passam por cima do
gelo e irrompem com seus carros no território dos sendo. [...] [Nos] quatro meses restantes ainda
faz frio. Esse inverno é de uma espécie diferente daquele de todas as outras terras; nessa estação,
normalmente chuvosa em outras regiões, as chuvas lá são insignificantes, mas durante todo o
verão chove ininterruptamente. [...].

Fonte: Heródoto. História. Brasília: UnB, 1988, IV, p. 19-30.

A partir da citação acima, pode-se identificar algumas estratégias usadas pelo historiador grego para
narrar o “outro”. No caso da caracterização dos citas, Heródoto:

A) conjugava vida comunitária, engenhosidade e isolamento.

B) dissociava a descrição dos costumes da influência dos fatores naturais.

C) relacionava o espaço natural e social à condição de selvageria.

D) valorizava o nomadismo como pressuposto para o exercício da liberdade.

E) reconhecia a diversidade e a fundamentava em termos étnicos.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas

132
HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a visão de que as vicissitudes naturais teriam promovido a necessidade de soluções


criativas não está explícita no trecho, no qual Heródoto conclui que as características sociais citas estão
totalmente vinculadas e determinadas pelas condições naturais.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: de forma alguma. Os fatores naturais são fundamentais para descrever as características
sociais dos citas.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa é perigosa, mas pode ser decifrada com uma leitura atenta, sem considerar
pressupostos. Nada no texto se refere a algum tipo de condição de selvageria, conceito criado apenas no
século XIX em uma perspectiva evolucionista social. O bárbaro, na visão dos gregos, não era atrasado em
algum tipo de escala evolutiva, embora fosse desprezado.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há liberdade alguma relacionada ao nomadismo. Pelo contrário, o nomadismo, no caso,
refere-se a uma determinação natural, a uma necessidade de sobrevivência. Não eram nômades porque queriam!

E) Alternativa correta.

Justificativa: em certo sentido, Heródoto seria um antecessor da Antropologia Estruturalista ao


reconhecer as diferenças culturais e associá-las às diversas etnias. No entanto, sendo ele um homem de
seu tempo, os não gregos eram depreciados por Heródoto, cuja análise era, muitas vezes, um contraponto
à sociedade grega, em especial a ateniense.

Questão 2. (Enade 2008) Ao estudar o Império Romano na época de Trajano (98-117), o professor propõe a
análise iconográfica de um aureus, uma moeda de ouro, detendo-se na efígie e na legenda que a acompanha.

Figura 89

133
Unidade II

Legenda:

IMP (Imperatori – título atribuído após triunfo militar ou púrpura imperial)

TRAIANO (Trajano)

AVG (Augustus – venerável)

GER (germânico – vencedor dos germanos)

DAC (dacico – vencedor dos dácios)

PM (Pontifex Maximus – Sumo Pontífice)

TRP (Tribunicia Potestas – Poder do Tribuno)

COS VI (Consuli VI – Cônsul pela VI vez)

PP (Pater Patriae – Pai da Pátria, chefe das famílias romanas).

Com base na análise do documento e considerando o domínio dos conhecimentos sobre o Império
Romano nos dois primeiros séculos da era cristã, ao nível de Educação Básica, os alunos podem concluir que:

I – os imperadores romanos usavam as moedas como “imagens em movimento” para propagarem


seus feitos político-militares e marcarem a presença imperial em todo o território;
II – o cargo de Pontífice Máximo e o título de Augusto proporcionavam prestígio político à pessoa
do imperador, além de embasarem um sistema de governo teocrático;
III – o cargo de cônsul e o poder de tribuno do imperador eram exercidos no âmbito do sistema
republicano de governo tanto em Roma como nas províncias;
IV – a autoridade do imperador provinha da concentração de poderes e funções que já existiam na
República e parte de seus cargos eram de natureza eletiva.
São corretas apenas as conclusões:

A) I e II.
B) I e IV.
C) II e III.
D) II e IV.
E) III e IV.

Resolução desta questão na plataforma.


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