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A POSIÇÃO DO LIVRO O ALIENISTA DENTRO DA OBRA DE MACHADO DE ASSIS

O Alienista, publicado entre 1881 e 1882 no jornal A Estação é, semelhante a Memórias


Póstumas de Brás Cubas, uma resposta de Machado de Assis aos dilemas e às contradições na
formação ética e moral da sociedade carioca de sua época. Se, por um lado, Memórias Póstumas
de Brás Cubas é o romance inaugurador do Realismo brasileiro, por outro lado, O Alienista é
uma espécie de complemento às formulações críticas do escritor Machado de Assis quanto à
associação entre Ciência e Poder. Certamente, Machado de Assis, com um olhar relativamente
cético – isto é, desconfiado – em relação à ascensão e à autoridade do discurso científico,
observou que a maneira de exposição e de afirmação da linguagem científica estão bastante
próximas das formas e dos estilos do discurso político.

O Alienista, pois, é uma reação que se constitui como tema tipicamente machadiano: a
sociedade entende que a atividade intelectual, em primeiro lugar, é uma postura solitária,
resumida em si mesma; tal postura gerava um efeito “encantador”, o que, para Machado, é
resultado de uma admiração bajuladora (pensemos em Crispim Soares, o boticário de Itaguaí),
totalmente desvirtuada dos reais e honestos objetivos da Ciência: contribuir para auxiliar
naquilo que urgentemente a sociedade precisa.

Alguns críticos consideram O Alienista uma prosa com humor transcendental. Isso significa que
o humor gerado na leitura desta ficção machadiana é menos barulhento e mais sutil, mais suave,
porque debocha da nossa busca por explicar fenômenos e situações ao pé da letra. Aliás,
fazendo uma revisão da obra machadiana, verificaremos que todos os seus protagonistas levam
às últimas consequências suas certezas. Basta nos recordarmos de, por exemplo, Bentinho, em
Dom Casmurro, ou até mesmo o Brás Cubas, firmes em todos os seus posicionamentos, este
último personagem até mesmo após a morte. Machado de Assis, com O Alienista, contribui para
a galeria das personagens – ou tipos humanos – que, cegos pelas próprias considerações, não
se permitem sensibilizar com os equívocos humanos. Se existe um fundo moralizante nas obras
machadianas, pressuporíamos que até a impassibilidade e a não aceitação dos erros humanos
são também atitudes errôneas.

Simão Bacamarte, por exemplo, não admite que questionem os critérios por meio dos quais
seleciona quem deverá ser internado na Casa Verde. A maestria de Machado de Assis está, em
contraposição, mostrar, a partir do narrador, quais são as justificativas para que certas
personagens sejam internadas, permitindo que nós, leitores, julguemos se são relevantes ou
não. Da mesma maneira que ocorre com a exposição da vida de Brás Cubas, em Memórias
Póstumas de Brás Cubas, e em Dom Casmurro, com o olhar de Bentinho sobre situações que,
para ele, são o atestado de culpa de Capitu, em O Alienista, todas as informações são
apresentadas de maneira caricata para que o leitor – do século XIX, mas também o leitor atual
– possa, ao mesmo tempo, rir e entender o quanto são absurdas certas reações.

Na obra de Machado de Assis, os homens se colocam em condição de solidão – para poderem


pensar e agir. Em O Alienista, podemos perceber que esta condição está em dois extremos: em
uma ponta, o suposto cientista Simão Bacamarte articula para que sua solidão de pesquisador
seja uma forma de fazer valer toda sua autoridade. Tal solidão tem várias ilustrações ao longo
do romance: desde sua recusa a acompanhar a esposa. D. Evarista, para viajar à Corte (cidade
do Rio de Janeiro) até o discurso altamente pretensioso durante a rebelião dos itaguaienses
liderados pelo barbeiro Porfírio – representante também, como se saberá ao longo do enredo,
do poder político; na outra ponta, está toda a sociedade itaguaiense, amostra da sociedade
brasileira, que encontra-se solitária na Casa Verde, carente de uma figura verdadeiramente
intelectual (ou seja, de um cientista que concilie interesses pessoais com um lastro ético a fim
de atender a própria sociedade a qual pertence), mas que também carece de uma figura política
que dê a esta mesma sociedade a justiça necessária.

Outro personagem emblemático desta prosa machadiana, Porfírio, o barbeiro que lidera a
revolta contra a Casa Verde, descobre algo que o próprio Simão Bacamarte ignora: a diferença
entre loucos e sãos nunca esteve fundamentada na Ciência, mas em questões sociais. A Ciência,
pois, é legitimada pela utilidade que dá ao poder político, o que significa que todo o ideal que
se criou acerca da ingenuidade e da boa vontade dos investimentos científicos não tem razão
de existência a não ser para manutenção dos poderes já estabelecidos.

Se entendermos a organização da Ciência como apresentação de uma verdade, com a capa da


autoridade, encontraremos nas obras de Machado de Assis variações deste mesmo tema. As
personagens machadianas acreditam, sempre, serem detentoras de uma verdade ou que estão
próximas de uma verdade; não levam em consideração que jamais estarão satisfeitas com a
estabilidade que elas próprias construíram para si. Como exemplo, além de Dom Casmurro, com
a figura do advogado Bentinho, e em Memórias Póstumas de Brás Cubas, com o advogado Brás
Cubras, em Ressurreição (1872), o protagonista, Doutor Félix, embora esteja num feliz
relacionamento com a viúva Lívia, não acredita que ela lhe seja fiel. Recebe anonimamente uma
carta que difama a moça, acredita em seu conteúdo e rompe com Lívia antes de se casar com
ela. Vê-se que se trata de mais um dos personagens que, semelhante a Simão Bacamarte,
acredita em suas suposições e demora a reconhecer que a crença é o próprio sinal de falência.
Podemos afirmar, pois, que, Simão Bacamarte representa a falência da instituição Ciência que,
em terras brasileiras, só ganha sua justificativa por meio do regime de autoridade – e de caos -.
Essa situação, sem dúvidas, é o sinal do seu desajuste e de seu fracasso.

O NARRADOR E O PONTO DE VISTA DE O ALIENISTA

O narrador de O Alienista está em terceira pessoa e o seu foco narrativo está de acordo com o
que era defendido no Realismo. Afinal, o narrador, construído em terceira pessoa, é uma
entidade onisciente e responsável pela objetividade do relato, sem, aparentemente, incluir seus
juízos de valor e opiniões sobre as personagens e as situações relatadas. Claro que, se pararmos
para pensar, essa objetividade é tão marcada, que sabemos, inclusive, dos detalhes íntimos das
personagens, seus pensamentos e conjecturas. De modo geral, a narrativa balança em focalizar
as ações e os pensamentos de Simão Bacamarte e quando se faz a mudança de foco para outras
personagens, o protagonista está sempre à cena, como se fosse uma espécie de personagem de
transição.

Existe uma certa oscilação quanto à possibilidade de julgarmos as personagens sem a


intervenção do narrador. Isso se deve ao fato de que quando o narrador expõe, por exemplo, as
ações de personagens como as de Crispim Soares, Padre Lopes e até mesmo os momentos
iniciais em que aparece o Porfírio, o barbeiro, tem-se a impressão de que a intenção é indicar o
que há de mais ridículo das personagens. Devemos lembrar, contudo, que, se o narrador pinta
as personagens da sua “crônica” desta maneira, não há, portanto, imparcialidade. O narrador
não consegue compreender o que está se passando, gerando uma certa comicidade que é sua
postura irônica. Basta verificarmos a exposição dos casos das pessoas que foram internadas na
Casa Verde, como por exemplo, o de Matheus, que possuía “amor das pedras”; ou então o caso
do Costa e de sua prima que, ao interceder por ele, acaba sendo também internada.
Pode-se dizer que, inclusive, pelo início da novela machadiana, há uma flutuação entre fato e
ficção. Ao começar, por exemplo, O Alienista, da seguinte forma:

As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali


um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o
maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em
Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não
podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a
universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia
(ASSIS, 2018, p.13)

o narrador coloca em jogo a condição de verdade do relato. Trata-se de um velho recurso


conhecido como verossimilhança. A possibilidade desta narrativa estar tão próxima da realidade
é reforçada não apenas pela linguagem objetiva, mas pela ideia de que as ações e as
personagens narradas podem servir de “relato histórico”. Não se pode, porém, ser ingênuo. O
aspecto irônico de Machado de Assis está também nessa indecisão em afirmar se é
verdadeiramente relato ou ficção. Se a pequena cidade de Itaguaí, por Machado de Assis como
um ecossistema onde os mais fracos e ignorantes são usados pelos mais fortes, ao menos, no
discurso, o narrador, ao ficcionalizar, buscando elementos da realidade, não apenas elabora a
intenção de descrever a sociedade tal qual ela é, mas, a partir do absurdo da situação, mostrar
como a sociedade está se encaminhando para que assim se possa confeccionar suas próprias
soluções.

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