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Perguntas e Respostas – A Unidade Transcendente das Religiões e o Caminho Para o Homem

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Perguntas e Respostas – A Unidade Transcendente das


Religiões e o Caminho Para o Homem
Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho

Transcrição não revisada ou corrigida pelo professor.

Pergunta: Sabemos que a unidade entre as grandes religiões existe somente no


plano metafisico, visto que seus ritos e doutrinas podem variar enormemente, e que,
no entanto, todas elas conduzem à verdade primordial. Contudo, em alguns casos
específicos, não consigo entender como alguns aspectos contraditórios entre
doutrinas diferentes podem ser igualmente verdadeiros. Por exemplo, o
Cristianismo sustenta que Deus é trino e uno, enquanto o Islam sustenta que ele é só
uno. Outro exemplo é a questão da ressurreição: para os cristãos, Jesus Cristo foi
crucificado e ressuscitou, enquanto no Alcorão se diz que Ele não foi crucificado e,
portanto, não ressuscitou. Se ambas as religiões são inspiradas por Deus, como
elas podem, pelo menos aparentemente, entrar em flagrante contradição sobre a
natureza do próprio Deus? De que forma se pode entender essas contradições e
aceitar ambas as doutrinas como igualmente verdadeiras? De que modo a idéia de
economia espiritual das doutrinas se aplica nesse caso? E, por último, o senhor
poderia comentar as diferenças entre a idéia da unidade transcendente das religiões
e a idéia do pluralismo religioso, onde cada religião tem uma parte da verdade e
que poderia ser representada por aquela história do elefante e dos cinco cegos?

Prof: Em primeiro lugar, quanto à afirmação de que “sabemos que a unidade


entre as grandes religiões existe somente no plano metafisico”, bem, só esse único
juízo é tão complicado que daria uma aula inteira para explicá-lo, porque aí há
muitos pressupostos incluídos que devem se explicitados. Quando você diz que
existe uma unidade entre duas religiões, o sentido só pode ser o de que, ou elas estão
afirmando a mesma coisa, ou ordenando a mesma coisa, como, por exemplo, no
mandamento: “Não matarás”. Existe aí uma unidade entre todas as religiões que
não é metafísica, mas sim uma unidade moral. Então, nesse sentido moral existem
inúmeras razões de unidade entre as grandes religiões ou tradições espirituais.

Quando você fala de uma unidade no plano metafísico, a que isso pode estar se
referindo? Como estabelecer, primeiro, se existe alguma unidade metafísica entre
uma religião e outra? A questão é que o estudo de religião comparada não é como o
estudo geografia comparada. Se você quer estudar um terreno, a geografia de um

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lugar, e depois a de outro lugar, você pode se deslocar do primeiro lugar para o
segundo, e viver no segundo como viveu no primeiro, e experimentar ou vivenciar o
segundo lugar como vivenciou o primeiro. Isso já não acontece com as religiões. Por
quê? Isso se dá pelo fato de que a sua existência humana não está absolutamente
determinada pelo lugar. Você muda de lugar e continua sendo exatamente a mesma
pessoa. A mesma pessoa que estava num lugar e estudou a condição geográfica
daquele lugar agora vai para outro lugar e estuda a condição geográfica do outro. E
você é a mesma pessoa, você é um terceiro elemento que está fora e quase que
completamente separado dos dois lugares estudados.

Estudar religião comparada é como estudar filosofia comparada, pois você não
existe como um terceiro independente dos dois fenômenos. Você não pode falar
“Em princípio, eu como homem não dependo da religião, a religião não é parte
constitutiva da minha existência humana”. Um sujeito dizer que pode viver sem
religião e olhá-las desde fora já é se colocar numa situação meio infra-humana; na
verdade, já é atribuir-se uma prerrogativa sobre-humana. Isso significa que não há
como estudar duas religiões de fora das duas. Por outro lado, estudar duas religiões
de dentro de uma é necessariamente ver a outra sob o filtro da primeira, então,
significa que não há como estudá-las como se você fosse um juiz, ou seja, como se
houvesse duas partes e você fosse um juiz fora da situação, e aí uma parte lhe
apresenta a situação do ponto de vista dela, a outra parte lhe apresenta o segundo
ponto de vista, e você, que está fora da situação, vai julgar qual parece mais
razoável. Você nunca está realmente fora da situação, porque todas as grandes
religiões tratam de coisas que são fundamentais para o homem: todas elas afirmam
que você tem certas responsabilidades como homem, que se você não corresponder a
elas, é a sua desgraça que você cria. Logo, seria como se as duas partes tivessem o
poder de ameaçar o juiz – e aí ele realmente já não pode julgar de fora, ele foi
colocado dentro da situação.

Como então estudamos religião comparada? O método não é como o estudo


que um juiz faz de uma situação na qual ele não está inserido. O método consiste no
seguinte: o ser humano tem certos problemas (morais, intelectuais, existenciais e
espirituais); como o Cristianismo tratou estes problemas do homem? E como os
mesmos problemas foram tratados pelo Islamismo, pelo Budismo etc.? Então, com
esse estudo, você pode chegar à seguinte conclusão: o Cristianismo tratou deste
problema fundamental, que é um problema espiritual do homem, de maneira
suficiente e completa, e oferece uma solução razoável para esse problema; e o
Islamismo, ao tratar do mesmo problema, oferece outra solução, às vezes
radicalmente diferente, mas que, no entanto, também parece razoável e suficiente.

É evidente que esse tipo de estudo nunca vai poder resolver certos problemas
abstratos: se o Budismo falou isto, o Cristianismo falou aquilo, que é completamente
diferente, o estudo do Cristianismo e do Budismo não vai resolver a questão. Aí
entra essa noção de “economia espiritual” dentro de uma doutrina. Veja bem, uma

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religião é algo integral. Se você pega uma parte para resolver um problema, saiba
que como a religião lida com o homem, que é um ente limitado, essa solução é
sempre parcial e tem que ser compensada por outra solução para outro problema.
Logo, uma parte da religião é completada pela outra parte da mesma religião; e se
num aspecto a religião dá apenas o mínimo indispensável, no outro aspecto ela
compensa justamente esse mínimo que foi dado.

Por exemplo, se você estudar a teologia católica, você vai perceber que existem
dois tipos de coisas que são necessárias para a salvação do homem. Certas coisas são
necessárias como meios intrínsecos, ou elementos indispensáveis, para que o homem
tenha uma relação saudável com Deus; e existem outras exigências que são parte da
revelação cristã, são instrumentos de salvação que Deus deu para os cristãos. Na
teologia se afirma que nenhum homem pode escapar desse primeiro conjunto de
exigências. Por exemplo, a existência de um único princípio absoluto que premia os
bons e castiga os maus – se você não acredita nisso, não há como você formar uma
relação saudável com Deus pela qual Ele possa lhe salvar (se você nem acredita que
Ele existe, você não pode ser salvo). Agora, você precisa crer que Deus é uno e trino
para que Ele lhe salve? Sim e não. Se você entendeu o sentido dessa mensagem no
contexto cristão e captou a evidência da salvação que o Cristo oferece, então, sim;
não é possível um cristão ser salvo sem acreditar que Deus é uno e trino. Mas é
perfeitamente possível para um não-cristão ser salvo estando completamente
desinformado a respeito. Então, é possível que a questão de contradição aqui seja
somente que um sabe uma coisa e o outro não sabe.

Mas não é só isso. Existe também a dificuldade, no caso específico da Trindade


e da unidade divina, a questão complicada de como se explica o que é Deus. O ser
humano pode ter certeza intelectual de que existe um princípio absoluto que é a
origem de todas as coisas, e da qual todas elas dependem; agora, como definimos
quais os limites exatos que diferenciam este princípio das coisas contingentes ou das
outras coisas – do que não é este princípio? Deus tem uma vida eterna, Deus é vivo,
não é morto. Evidentemente não estamos falando de vida biológica ou orgânica, pois
Deus não tem corpo, Ele é puro espírito, e também não estamos falando que a vida
Dele é como a nossa vida psíquica, como nossos sentimentos, desejos etc... Não é
assim, mas Ele tem vida. Uma maneira de explicar essa vida é falar das pessoas da
Trindade; as pessoas da Trindade são uma expressão dessa vida interna de Deus. Se
você entender a teologia trinitária cristã, ela diz: o Pai gera o Filho, o Filho procede
do Pai, e é gerado por Ele, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (ou,
utilizando a expressão ortodoxa: procede do Pai e repousa no Filho. As distinções
teológicas entre essas duas expressões são sutis, são uma questão de ênfase). Essa é
uma forma de os cristãos descreverem como é Deus.

Se você perguntar a um muçulmano sobre Deus, ele vai falar “Deus é aquele
que não tem princípio”. Se você fala que o Verbo procede do Pai, imediatamente o
muçulmano entende “O que procede de algo não é Deus – pois Deus é o princípio

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sem princípio”. Não adianta você falar que essa é uma posição interna, porque aí ele
vai argumentar: o seu pensamento é uma processão interna, ele procede da sua alma,
mas o seu pensamento não é a sua alma, e muito menos o seu pensamento é você.
Note que a ênfase teológica no Islam está em que Deus não tem princípio. Cavando
um pouco na teologia islâmica, na mais estritamente tradicional do ponto de vista
islâmico – e é preciso lembrar que hoje em dia existem muitas seitas no ambiente
muçulmano, ou seja, se você entrar em qualquer mesquita você não necessariamente
vai ouvir o que vamos explicar agora; e se for numa mesquita no Brasil, não é isso
também que as pessoas vão falar, porque por aqui elas pertencem a duas escolas de
Islamismo que são muito recentes e meio heréticas. (Nós falamos “o Cristianismo”,
mas se andarmos de igreja em igreja, no ocidente, veremos que esse “Cristianismo”
é “N” coisas diferentes; o Edir Macedo não concorda com Bento XVI, este não
concorda com o Papa Chenuda, e este não concorda com o patriarca de Moscou. Um
sujeito de fora, digamos, um egípcio, pode achar que tudo isso é Cristianismo e
parece uma coisa só. Do mesmo jeito, para nós, tudo o que é Islamismo parece uma
só coisa, mas não é assim: existem muitas divisões internas, pois já é algo milenar,
que abarca povos inteiros.)

Na teologia islâmica [tradicional] eles dizem que o Verbo divino, o Logos, é


divino, mas não é Deus – assim como seu pensamento é humano, mas não é homem.
Note que essa maneira de encarar Deus não é ilegítima, porque ao falar que Deus
não tem princípio, realmente se estabelece uma diferença entre Ele e qualquer
criatura. É uma diferença real, que não dá para aplicar à diferença entre uma criatura
e outra (dizer que alguma criatura não tem princípio), é uma diferença suficiente
para estabelecer que o objeto do qual você está falando é Deus – o Deus no qual
todos os homens têm que acreditar para serem salvos. Essa ênfase teológica não faz
dela uma teologia intrinsecamente deficiente (que confunde Deus e a criatura). Quer
dizer, é insuficiente uma teologia em que você não sabe se o que você está adorando,
se aquele de quem você espera a sua salvação é a criatura ou o Absoluto; se é
contingente ou absoluto. Agora, é evidente que nenhuma teologia ou discurso
metafísico pode estabelecer exaustivamente todas as diferenças entre o absoluto e o
relativo – ninguém pode descrever o Absoluto em toda a sua realidade –, então trata-
se apenas de estabelecer uma distinção suficiente. Ora, a distinção feita pela teologia
islâmica é suficiente do ponto de vista metafísico e até teológico.

Por outro lado, o muçulmano, na sua teologia estrita, aceita que o Verbo é algo
divino – e é por isso mesmo que ele nega que o Cristo foi crucificado e morto,
porque o que é divino não morre. De certo modo, isso também é uma consequência
da mesma distinção original do muçulmano. Quem está certo aqui? O Cristo foi
crucificado ou não? É evidente que foi. Mas pensarmos o Cristo como um
muçulmano pensa, é evidente que ele não pode ter sido crucificado. Não existe uma
teologia da Encarnação no Islamismo. Toda a explicação da crucificação do Cristo
está na teologia da Encarnação: da união de duas naturezas. A crucificação acontece
porque o Cristo era realmente Deus e homem; se Ele não se encarnasse, Ele não

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poderia ser crucificado, evidentemente.

Existe então um ponto de contradição doutrinal evidente entre o Cristianismo e


o Islamismo, que consiste em duas diferenças. Primeiro, a questão sobre se o Verbo
é uma pessoa divina, ou se ele é simplesmente algo da natureza divina, mas que não
pode ser considerada uma pessoa. Essa questão, do ponto de vista do diálogo entre
cristãos e muçulmanos, não tem solução. É impossível, não há como resolver isso.

A segunda diferença, que na verdade é quase que uma consequência desta, é a


questão da encarnação. A teologia islâmica não dá conta da ideia de encarnação.
Veja bem, ideia de encarnação é tão complicada, que, na verdade, o uso do termo
“Trindade” no Cristianismo se tornou frequente para explicar doutrinalmente o que
acontecia no processo da encarnação, para explicar de que modo aquela pessoa era
Deus. A expressão “O Verbo se fez carne” é bíblica, o termo “Trindade” não; a ideia
de encarnação, que é um termo que define ou resume essa expressão, está
explicitamente expressa nas Sagradas Escrituras, já o termo “Trindade” surge para
explicar o que significa dizer que “Deus se encarnou”. O termo “Trindade” é uma
consequência natural e direta da revelação cristã, mas o próprio termo não é
escritural. Isso é para mostrar que não é uma doutrina trinitária que exige a
encarnação, é uma teologia da encarnação que exige uma doutrina trinitária.

Perceba que a aceitação da encarnação do Verbo é justamente o que caracteriza


a adesão ao Cristianismo. Aceitar a encarnação tal como está na Escritura é entrar no
Cristianismo, e negá-la é estar fora do Cristianismo. Se o Islamismo incluísse em si
mesmo uma doutrina da encarnação, ele seria um modo de Cristianismo! Mesmo as
outras religiões que parecem entender a encarnação, na verdade, acontece que elas
têm conceitos análogos, e dizem que a encarnação do Cristo é um caso específico
desse conceito análogo. Por exemplo, o Hinduísmo tem a noção de “avataras”, que
são enviados divinos; então se diz que o Cristo é um avatara. Mas a doutrina da
encarnação não é bem essa. Se você estudar detalhadamente a doutrina dos avataras
e a doutrina da encarnação, você vai ver que elas não estão tratando de fenômenos
da mesma ordem (senão o Hinduísmo seria simplesmente um Cristianismo muito
estranho).

Isso significa que o estudo de religião comparada não tem como resolver isso,
porque o estudo de religião comparada não pode borrar ou até apagar as diferenças
entre as religiões – “Não, é tudo uma religião só”. O estudo de religião comparada
pode lhe levar a compreender, por exemplo, o seguinte: se você aceita a encarnação
do Verbo, você tem que aceitar a trindade também – uma coisa exige a outra. Se
você aceita apenas que Deus é “aquilo que de modo algum tem algum princípio”,
você tem que negar a encarnação. E esta é exatamente a fronteira entre o
Cristianismo e o Islamismo.

Agora: “De que forma pode-se aceitar essas contradições e aceitar ambas as
doutrinas como igualmente verdadeiras?”. Não, você não tem como aceitar ambas

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as doutrinas como igualmente verdadeiras! É impossível exigir isto de um ser


humano. O que você pode, ao estudar honestamente as diversas religiões, é julgar se
elas correspondem àquelas exigências divinas que são por necessidade de meio, ou
seja, que fazem parte intrínseca da relação entre Deus e o homem. Por exemplo, o
Islamismo oferece, dentro da perspectiva islâmica, só com o conhecimento das
coisas da religião islâmica, os requisitos mínimos para satisfazer estas necessidades?
E o Cristianismo? E o Budismo? E o Hinduísmo? Eles são soluções eficazes para
este problema?

A existência de uma solução eficaz para um problema não implica na


inexistência de outra solução eficaz que seja contraditória com a primeira. Suponha
que você tenha uma propensão a uma doença cardíaca; você pode evitá-la fazendo
exercícios, fazendo Yoga, tomando um comprimido, mudando a sua alimentação...
Tudo isso são soluções razoáveis e possíveis. E é perfeitamente possível que
combinar duas delas lhe leve a ter uma doença do coração, é possível que duas delas
sejam incompatíveis no seu organismo, o que não significa que elas não sejam
soluções razoáveis.

O problema aqui é tentar colocar no mesmo plano questões que estão em


planos diferentes e que não há como solucionar no mesmo plano. Quando você
chega à idade adulta, você tem diante de si um problema humano universal: você
tem que prover para as suas próprias necessidades, pois você tem que encher o seu
estômago. Existem várias maneiras de fazer isso, mas você não pode combinar
todas, não pode fazer todas (você nem pode fazer muitas ao mesmo tempo). Logo,
uma questão é: “Quais são teoricamente os meios admissíveis para que eu me
sustente – do ponto de vista moral, do ponto de vista da sociedade (existe essa
profissão nessa sociedade ou não?)”. Você pode analisar tudo isso, mas ainda que
você responda que a solução é A, B, C ou D, você não pode dizer que as soluções E,
F, G, H, I, J não são admissíveis em outras circunstâncias; e a existência das
soluções E, F, G, H, I, J não anula a existência real, aqui e agora, das soluções A, B,
C e D. Outro problema é: “Qual seria a profissão ideal do homem?”. Esse é outro
problema. A solução para esse problema o estudo de religião comparada não vai
poder lhe dar, não há como dar.

Se você tentar comparar o Islam e o Cristianismo para ver qual é melhor, esta
comparação, primeiro, subentende que você não tem nenhuma das duas religiões,
que você não é praticante de nenhuma e não aceitou nenhuma. Então, já comece a
rezar fervorosamente para que Deus lhe dê alguma religião, porque se você
continuar assim, sem nenhuma, você vai para o Inferno. Agora, quem vai poder lhe
responder qual é a melhor? O que cada ser humano pode fazer quando tem uma
religião é o seguinte: “Você venha aqui e eu tento lhe ensinar a minha, tento lhe
mostrar todas as qualidades da minha”. Porque a resposta concreta para esta
pergunta “Qual é a melhor?” é a resposta que você realmente achar. Não há outra
resposta melhor; se existisse uma resposta melhor, que pudesse ser obtida de outro

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modo, existiria imposição quanto à fé: ou você entra nessa, ou morre! Essa atitude
seria perfeitamente legítima.

Aluno: A religião também não é algo como uma estante, em que você escolhe...

Prof: Exatamente. Para começar, a religião não se oferece para você de todo
este modo, de um modo geral só nos é oferecida uma religião – quando é oferecida
uma. Às vezes acontece como o Sócrates: para aquele povo inteiro, naquela
circunstância histórica, não foi oferecida uma religião acessível e praticável para
todos, só aquilo que o Sócrates estava fazendo era certo, e não havia como a maioria
fazê-lo. Portanto, às vezes Deus não oferece.

E eu não conheço nenhum caso em que Deus ofereça igualmente: “Aqui: vire
muçulmano, vire cristão. Eu estou lhe dando as duas”. Ainda que isso acontecesse e
você recebesse uma oferta igual, você deveria escolher aquela na qual foi criado.
Primeiro, porque você já a recebeu parcialmente antes, e, portanto, já há algo em
você que é incompatível com a oferta nova, e que você vai ter que superar caso você
se converta. Segundo, justamente porque você foi criado com ela você já possui
algum critério para avaliar, dentro dela, quem está falando o que é da religião e
quem está falando loucura da cabeça dele. Porque não é assim: o sujeito se
converteu para o Islam e então todo muçulmano para quem ele pergunta alguma
coisa sobre Islam vai ensinar alguma coisa [verdadeira] de Islam. Se ele é cristão, se
perguntar aos cristãos o que é Cristianismo, a maior parte não vai dar a informação
correta! Então, em relação ao Hinduísmo, Budismo, ou Islamismo, você não tem a
menor idéia de qual é a relação entre as idéias, facções, ou crenças que apresentam
uma certa continuidade histórica e intelectual com a origem da religião e aquelas que
são só invenções posteriores. Você não sabe, não tem meio de saber, porque você
não tem nenhuma experiência daquela religião. Não é por nada, é que é assim: se
você nasce numa religião, seus pais, seus avós foram daquela religião, todas essas
pessoas amaram você – antes de você existir –, porque você é parte delas, e elas
rezaram e pediram a Deus daquele jeito para que lhe desse algum discernimento, e
esse discernimento está no fundo do seu ser. Isso é uma questão muito complicada
mesmo.

É claro que existe o caso em que o que o sujeito tem da religião, de fato, é só
uma aparência. Vou citar o caso clássico de São Pedro e São Paulo: São Pedro
praticava o Judaísmo direitinho, o Judaísmo era uma religião viva para ele, e quando
ele conhece Jesus cristo, ele percebe “Isto é a coroa da religião, é a consumação das
minhas esperanças”. Então, ele não se converte do Judaísmo para o Cristianismo, ele
completa um processo, ele não vê nenhuma contradição entre uma coisa e outra –
porque não há mesmo!

São Paulo é o caso contrário: o que ele chamava de Judaísmo era um negócio
que sei lá quem havia inventado e que consistia principalmente em matar cristãos...
Então é assim: “Você tem que abandonar isso e adotar a religião de Deus”. Ele tem

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mais ou menos a impressão de que aquilo que era válido para o que ele praticava era
válido para todo o Judaísmo; ele tem uma impressão e uma atitude em relação ao
Judaísmo que é completamente diferente da impressão que os outros apóstolos
tinham. Os outros apóstolos, diante [da questão do] do Judaísmo e Cristianismo, não
ficaram na escolha entre o “erro” e o “acerto”; para eles, de um certo modo, o
Cristianismo era a consequência natural daquilo que eles estavam fazendo. Depois
da descida do Espírito Santo, São Pedro começa o discurso falando “Lembram
aquela promessa que Deus enviaria um profeta semelhante a Moisés? Pois bem, é
esta a promessa que foi cumprida aqui”. Ou seja, esta religião não é uma nova
religião, é aquela! Para ele aparece claramente assim. Para São Paulo, não: “Deus
inventou a Lei para que o homem a transgredisse” – uma atitude que, é claro,
podemos interpretar em sentido místico, espiritual ou metafísico, mas que
literalmente é muito estranha.

O que queremos dizer é que raramente Deus propõe para o sujeito assim:
“Aqui há duas coisas igualmente verdadeiras e você tem que escolher uma delas”.
Quando Deus apresenta duas coisas como verdadeiras, Ele apresenta uma como a
coroa da outra, efetivamente. Agora, isso depende não somente da objetiva origem
daquela religião. É evidente que o Judaísmo tem origem em Deus, foi revelado por
Deus, mas aquilo que São Paulo praticava não era o Judaísmo. Em nenhum caso
Deus apresentou duas coisas no mesmo plano – nem para São Pedro, nem para São
Paulo. Também, para nós, embora hoje nós tenhamos acesso a toda a bibliografia
sobre todas as grandes religiões do mundo, Deus não apresenta essas coisas todas no
mesmo plano. Exceto do ponto de vista abstrato: este ponto de vista abstrato é
justamente o ponto que o estudo de religião comparada resolve; mas do ponto de
vista real Ele não nos oferece essas coisas no mesmo plano, nunca.

Na maior parte dos convertidos há um certo desequilíbrio. Porque é ele que


tinha estabelecido uma relação doentia entre a pessoa dele e certos aspectos
puramente formais da religião dele, e dificilmente a conversão para outra religião vai
curar esse vício no sujeito. Por incrível que pareça, “a maior parte dos convertidos é
desequilibrado” é algo que eu li pela primeira vez (e também eu nunca tinha
reparado, porque não conheço tantas pessoas convertidas) naquele que é talvez um
dos maiores defensores desse negócio da “unidade das religiões”, que é o René
Guenon – é ele que fala numa de suas cartas “Todos os convertidos que eu conheci
são pessoas desequilibradas”. Trata-se do sujeito que renunciou a uma herança sem
antes tentar tomar posse dela, e, portanto, ignorando o valor real dela. Dificilmente
as riquezas que, em teoria, ele poderia absorver na nova religião vão ser mais reais
para ele do que essa herança que ele já não olhou.

A maior parte dos ocidentais – mas, veja bem, Deus sabe mais sobre cada caso
individual – que diz “Acho que vou me tornar budista; acho que vou me tornar
muçulmano; acho que vou me tornar hindu” deveria começar por pegar o que há de
mais certo no Cristianismo e praticá-lo por dois ou três anos fervorosamente, para

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ver se Deus fechou realmente esta herança para você, se Deus lhe excluiu realmente
desta herança, ou se é você quem está desperdiçando ela prodigamente, e ela aparece
para você como pobreza. Tente tomar posse dela primeiro.

E lembremos sempre que o estudo de religião comprada não pode ser feito
como um estudo sendo alguém de fora da situação. As decisões são tomadas aqui do
mesmo jeito que as decisões entre tratamentos médicos para uma mesma doença são
tomadas: um médico fala que o tratamento da sua doença é este, outro médico fala
que é aquele, e outro médico fala que é outro ainda. Meu filho, não existem razões
teoréticas que vão demonstrar para você a razão da escolha correta. Assim é na vida
prática e assim é também na vida religiosa. A mesma coisa. O que você pode
entender é a razoabilidade dos tratamentos ou não, ou seja, ao analisar o tratamento
você pode encontrar naquela proposta uma contradição tal que você fala “Não é
possível que isto resolva este problema, não é admissível, não tem como funcionar”.
O estudo da religião comparada, na verdade, é o estudo justamente disto: encontrar
quais são as razões fundamentais que uma herança espiritual não pode contradizer,
as verdades fundamentais que ela não pode contradizer de modo algum. Se você vai
conseguir tomar posse dessas verdades nessa ou naquela religião, só Deus sabe... Eu
não sei!

Portanto, “aceitar ambas as doutrinas como igualmente verdadeiras” – não,


ninguém nunca aceita duas doutrinas religiosas como igualmente verdadeiras. Você
as aceita como igualmente razoáveis. Porque a verdade de uma religião é algo que
você só experimenta dentro dela. Então, seria assim: meu filho, primeiro fique santo
cristão, depois se torne muçulmano e fique santo muçulmano, e depois se torne
hindu e fique santo hindu. Bem, o único caso na história que fez mais ou menos isso
foi o Rama Krishna. De vez em quando acontece isso, um sujeito pensa “Tudo isso é
razoável, então eu quero ficar santo de um jeito, do outro e do outro”. Mas, primeiro,
o Rama Krishna nasce num ambiente hindu, que é um ambiente que favorece esses
“abusos”; segundo, ele é uma pessoa de uma natureza quase angelical. Existem
pessoas de uma bondade e uma inocência muito grande, o que também é raro. Nós
mesmos não podemos fazer isso. Até mesmo porque, se você entra numa religião e
então vive aquela religião e descobre a verdade dela, você sabe que não precisa da
verdade da outra, mesmo que ela seja verdadeira (assim como quem se submeteu a
um tratamento médico e curou uma doença não vai se submeter a outro, para ver se
também funciona, se ele continua curado).

É importante entender que nas religiões, embora o elemento doutrinal seja


extremamente importante (não é assim: “Não há doutrina, podemos pensar qualquer
coisa e acreditar em qualquer coisa!”, o elemento doutrinal é parte integral da
religião), este elemento doutrinal está subordinado a um fruto, que é o homem
efetivamente ligar-se com Deus. Então, a simples comparação entre as doutrinas das
religiões, nesse sentido, não é muito eficaz, porque o máximo que podemos discernir
é o seguinte: ”Está aqui, a teologia cristã, a teologia islâmica. Ambas são razoáveis,

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ambas são possíveis, nenhuma delas é absurda, nenhuma delas fala que o absoluto é
relativo e que o relativo é absoluto”. Isso é o máximo que podemos fazer
comparando essas duas teologias. Se você analisar bem, você verá que ambas
implicam e contêm elementos que podem ser deduzidos pela razão humana a partir
de premissas evidentes, e outros elementos que não podem ser deduzidos a partir de
premissas evidentes – “Isto aqui só pela inteligência não dá para saber”. Isso
significa que a verdade total dessa doutrina não pode ser avaliada de maneira
puramente abstrata. Não tem como.

Transcrição: Carlos Augusto G. Nascimento, Fabio Damasceno, Tiago Pietro

Revisão: Jefferson Ferreira

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