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Objetivos de ensino
I. Introdução
A descoberta dos antimicrobianos foi uma das mais importantes contribuições da Medicina.
Infelizmente, o aparecimento de microrganismos cada vez mais resistentes tem ameaçado este avanço.
Principalmente no ambiente hospitalar, a resistência microbiana tem um grande impacto na
morbidade e mortalidade, além de custos mais altos de tratamento.
O primeiro antibiótico para uso clínico, a penicilina, começou a ser utilizado em 1940, durante a
Segunda Guerra Mundial. A partir de então, uma competição entre a busca de novos antimicrobianos e
o surgimento de resistência a cada um deles marcou os últimos 60 anos.
Nos últimos 20 anos, houve redução de 56% na liberação de novos antimicrobianos para uso clínico
pelo Food and Drug Administration - EUA. Assim, nos próximos anos, poucas perspectivas restarão para
o tratamento de microrganismos com resistência simultânea a várias drogas. Deste modo, medidas de
prevenção e controle de germes multirresistentestambém devem ser priorizadas em unidades de
assistência à saúde.
Para que o antimicrobiano exerça sua atividade, primeiramente deverá atingir concentração ideal no
local da infecção, ser capaz de atravessar, de forma passiva ou ativa, a parede celular,
apresentar afinidade pelo sítio de ligação no interior da bactéria e permanecer tempo
suficiente para exercer seu efeito inibitório (Figura 1).
O que é?
A farmacocinética estuda a atividade do antimicrobiano no interior do
organismo a partir dos parâmetros de velocidade de absorção,
distribuição e eliminação da droga e de seus metabólitos. Com os
conhecimentos de farmacocinética e das características do microrganismo
frente ao antimicrobiano, é possível adequar posologia, via de
administração e intervalo entre cada dose, visando melhorar o resultado
terapêutico e, ao mesmo tempo, reduzir a probabilidade de desenvolver
efeitos tóxicos potenciais.
Concentração Sérica
Após a administração de dose padronizada de um antimicrobiano, sua concentração plasmática aumenta
rapidamente, até atingir a concentração sérica máxima. Depois disso, na medida em que se distribui
entre os tecidos e é eliminado ou metabolizado, sua concentração no sangue vai diminuindo
progressivamente até tornar-se nula. A concentração do antimicrobiano detectada no sangue antes da
administração da dose seguinte (respeitando o intervalo padronizado) corresponde à concentração
sérica mínima.
Representação gráfica
A representação gráfica da relação entre a concentração sérica do fármaco e o tempo (em horas) é dada
pela curva de concentração sérica-tempo de antimicrobiano (Figura 2).
IMPORTANTE:
Excreção
A eliminação (excreção) das drogas no organismo é realizada, principalmente, através dos rins e
do fígado, embora algumas possam ser eliminadas pelo pulmão, trato gastrintestinal ou pele.
As substâncias eliminadas nas fezes são geralmente aquelas ingeridas por via oral e não absorvidas ou
metabólitos eliminados pela bile e não reabsorvidos:
pode haver eliminação pelo leite, pouco importante como via de eliminação, mas de interesse
pela possibilidade decausar efeitos no lactante;
pequenas quantidades do medicamento podem ser eliminadas pelo suor ou na saliva.
Conceito
A farmacodinâmica relaciona as concentrações do fármaco com
sua atividade antimicrobiana. A suscetibilidade dos microrganismos aos
antimicrobianos é representada pela concentração inibitória mínima (CIM) de
cada microrganismo para cada antimicrobiano, que corresponde à menor
concentração do antimicrobiano capaz de inibir o desenvolvimento
visível do microrganismo.
Classificação
A partir dos estudos farmacodinâmicos, os antimicrobianos podem ser classificados em:
tempo-dependentes;
concentração-dependentes.
A - Antimicrobianos tempo-dependentes
São aqueles que têm sua ação regida pelo tempo de exposição das
bactérias às suas concentrações séricas e teciduais. A ação destes
antimicrobianos independe dos níveis séricos que atingem, mas
depende do tempo que permanecem acima da concentração inibitória
mínima para o microrganismo.
vancomicina
antimicrobianos β-lactâmicos
Atenção:
Os antimicrobianos β-lactâmicos apresentam melhor atividade
quando suas concentrações permanecem, constantemente, acima das
CIM dos microrganismos.
Efeito pós-antimicrobiano
O efeito pós-antimicrobiano reflete a manutenção da supressão de
crescimento bacterianomesmo quando as concentrações séricas do fármaco já são inferiores à CIM.
Concentração do antimicrobiano
Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento da resistência bacteriana aos
antimicrobianos, um dos fatores de risco mais importantes é a exposição repetida a concentrações
de antimicrobianos abaixo da adequada!
Para o tratamento adequado do quadro infeccioso, é necessário que o diagnóstico microbiológico seja
realizado com agilidade, em tempo hábil para que o paciente seja beneficiado com o resultado do
exame. Ainda, o diagnóstico deve ser preciso, ou seja, deve identificar corretamente o microrganismo e
o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos, tarefa que requer um microbiologista experiente e
atualizado.
A candidíase invasiva e outras infecções por leveduras têm causado uma fração maior de sepse e
infecções urinárias hospitalares, em pacientes imunodeprimidos e internados em unidades de terapia
intensiva. As previsões para as próximas décadas sugerem que microrganismos resistentes assumirão
uma importância ainda maior nos hospitais.
Nos hospitais brasileiros a resistência microbiana representa um grave problema, principalmente em
hospitais de maior complexidade. Em 2007, cerca de 60% das cepas de S. aureus isolados de pacientes
internados em UTIs, em hospitais da cidade de São Paulo, eram resistentes à oxacilina.
Além do S. aureus, também pode ser observado o aumento da incidência de infecções
por Acinetobacter spp. e Pseudomonas aeruginosa resistentes às cefalosporinas, carbapenens,
quinolonas e aminoglicosídeos. Um fato importante é adisseminação destas cepas entre hospitais.
A maior parte dos tratamentos de infecções bacterianas do trato respiratório, tanto superior como
inferior, é realizada empiricamente. Assim, o tratamento antimicrobiano deve levar em consideração:
Com o advento de novos antimicrobianos de uso oral, com excelente ação para diversas infecções
adquiridas na comunidade, muitos pacientes podem ser tratados de forma eficaz no ambiente domiciliar.
Entretanto, uma análise criteriosa deve levar em consideração doenças associadas (imunodeprimidos
desenvolvem freqüentemente complicações mais graves como bacteremias e abscessos), gravidade da
infecção e a possibilidade de aderência ao tratamento.
Antes de iniciar uma terapêutica antimicrobiana
para infecção do trato respiratório, o médico deve
avaliar se está realmente diante de umainfecção
bacteriana. Com muita freqüência, as infecções
virais, principalmente do trato respiratório
superior, são tratadas com antimicrobianos
determinando custos desnecessários, efeitos
adversos e seleção de resistência.
A – Pneumonia
Hospitalização e Mortalidade
Apesar dos grandes avanços terapêuticos a pneumonia ainda é a primeira causa de óbito por
pneumopatia no Brasil, com cerca de 40.000 mortes por ano.
Estima-se que:
Decisão terapêutica
Quase invariavelmente a decisão terapêutica é iniciada empiricamente e baseada em estudos
epidemiológicos. Odiagnóstico clínico é suspeitado em todo paciente com tosse e febre, e necessita da
presença de infiltrado pulmonar ao estudo radiológico para sua confirmação. O maior problema consiste
em relacionar o diagnóstico sindrômico da pneumonia aos diferentes agentes etiológicos.
São raros os estudos brasileiros que avaliam os agentes etiológicos das pneumonias adquiridas na
comunidade e o verdadeiro papel dos agentes atípicos. Certamente, a incidência de pneumonia por
legionela, no Brasil, é inferior à dos países europeus. A legionela é transmitida por circuitos de água ou
ar quente, equipamentos pouco utilizados no Brasil pelas condições climáticas. Porém, já foram descritos
surtos de legionela em unidades de transplante renal, relacionados à colonização de circuitos de água
quente.
Existem diversos fatores que podem determinar maior suscetibilidade à infecção por um
microrganismo específico.
A incidência de pneumonia pneumocócica aumenta, acentuadamente, em indivíduos com
exacerbações agudas de bronquite crônica (inclusive relacionadas ao tabagismo), asma brônquica,
cardiopatias, desnutrição, esplenectomia, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e demais
doenças imunodepressoras.
O etilismo tem sido associado com pneumonia por Klebsiella pneumoniae e abscesso pulmonar por
bactérias anaeróbias.
Em pacientes com exacerbações agudas de brônquite crônica, além do pneumococo, devem ser
considerados H. influenzae eMoraxella catarrhalis.
Quadro clínico
O quadro clínico da pneumonia bacteriana pode ser altamente variável, dependendo do período da
doença em que o paciente procura assistência médica, da idade do paciente, do uso prévio de
antimicrobianos, da presença ou ausência de defesa satisfatória do hospedeiro e da existência de fatores
de risco para a disseminação da bactéria (por exemplo: asplenia, neutropenia e agamaglobulinemia). A
apresentação pode ser leve ou rapidamente letal.
Etiologia
Um regime terapêutico empírico deve considerar, para as pneumonias comunitárias, o importante papel
do Streptococcus pneumoniae (agente mais freqüente tanto de pneumonias leves como graves, que
requerem internação), Haemophilus influenza e vírus da gripe (influenza), principalmente em idosos.
Embora poucos estudos nacionais tenham determinado a etiologia das pneumonias
comunitárias, Mycoplasma pneumoniae, Legionella spp. e Chlamydia pneumoniae são importantes
microrganismos envolvidos nestes quadros, em diversos países.
Resistência
Recentemente, tem sido relatado o aumento de cepas de pneumococos moderadamente
resistentes à penicilina e, mais raramente, de cepas com alto nível de resistência, problema que
atualmente é enfrentado no Brasil, porém em menor escala que nos Estados Unidos, nos países asiáticos
e latino americanos, como México, Argentina, Chile e Uruguai. Da mesma forma, tem aumentado a
resistência do Haemophilus influenzae e do Staphylococcus aureus a diversos antimicrobianos.
Internação hospitalar
No Brasil, ainda é muito elevado o índice de internação hospitalar para o tratamento de pneumonia,
refletindo o grave problema social enfrentado.
Entretanto, a análise objetiva de parâmetros que incluem a idade, sexo, comorbidades, alterações do
exame físico, anormalidades laboratoriais e padrão do infiltrado radiológico, permite ao médico
a classificação do paciente em grupos de risco e, conseqüentemente, decidir com maior segurança
a necessidade de internação hospitalar ou em terapia intensiva.
Diversos critérios têm sido utilizados para classificar os pacientes com pneumonia de acordo com a
gravidade. A importância destas classificações está na relação direta entre a gravidade da doença
e a mortalidade.
Os critérios de Fine (1997), que estratificam os pacientes de I a V, conforme parâmetros clínicos e
laboratoriais, são osmais utilizados para avaliar a gravidade das pneumonias:
Pacientes que não precisam ser hospitalizados e não apresentam fator de risco de gravidade
amoxicilina;
macrolídeo (azitromicina ou claritromicina ou eritromicina);
fluoroquinolona com atividade anti-pneumocócica (levofloxacina ou gemifloxacina ou
moxifloxacina).
Alternativas:
Cefpodoxima, cefuroxima, cefprozil, amoxicilina-clavulanato.
Observações:
as tetraciclinas não foram incluídas como agentes antimicrobianos preferidos, devido às altas
taxas de resistênciado pneumococo no Brasil;
sulfametoxazol - trimetoprima não é recomendada devido à alta resistência entre S.
pneumoniae. e H. influenzae no Brasil;
não são recomendadas as cefalosporinas com baixa atividade para pneumococo: cefalexina,
cefaclor, cefoxima e cefadroxil.
Pacientes que não precisam ser hospitalizados, mas apresentam fator de risco de gravidade
Alternativas:
Amoxicilina - clavulanato ou ampicilina - sulbactam mais claritromicina, quando há suspeita de
"pneumonia atípica".
Observações:
ampicilina - sulbactam pode ser usado neste grupo de pacientes; porém, sugere-se empregar
este agente principalmente para tratar infecções causadas por Acinetobacter spp.
multirresistente;
quando há aspiração ou quando existe suspeita de infecção por bactérias anaeróbias, como a
causa de pneumonia (em paciente alcoólatra, idosos com estado mental alterado) é necessária
a adição de uma droga com atividade anaerobicida (clindamicina ou ampicilina - sulbactam ou
amoxicilina - clavulanato ou metronidazol).
Alternativa:
Fluoroquinolona intravenosa (levofloxacina ou moxifloxacina).
Observações:
ceftazidima não é recomendada devido a sua baixa atividade contra bactérias gram-positivas,
especialmente S. pneumoniae e S. aureus, quando comparado a outras cefalosporinas, como
ceftriaxona e cefepima;
a experiência clínica com o uso isolado de fluoroquinolonas, com atividade contra pneumococo,
no tratamento de pneumonia grave, em unidade de terapia intensiva, ainda é limitada;
rifampicina pode ser associada, quando existe suspeita de pneumonia por Legionella;
oxacilina pode substituir qualquer regime, quando pneumonia por S. aureus sensível a oxacilina
é diagnosticado. Porém, esquemas com cefalosporina de quarta geração ou fluoroquinolona
também apresentam boa atividade contra este patógeno;
vancomicina ou teicoplanina deve ser associado quando há suspeita de S. aureus resistente à
oxacilina. Outra opção é a linezolida;
cefalosporina de quarta geração e/ou ciprofloxacina e/ou aminoglicosídeo pode ser associado
quando há suspeita de pneumonia por P. aeruginosa.
Você pode acessar as
Diretrizes brasileiras em
pneumonia adquirida na
comunidade em pediatria
- 2007 clicando aqui.
CONSIDERAÇÕES:
Fatores de risco
A DPOC associa-se a diferentes fatores de risco, sendo que o fator de maior relevância é o consumo de
cigarros. Otabagismo elevou-se de forma importante na América Latina, nas décadas de 60 e 70. Os
dados disponíveis indicam uma prevalência média de tabagismo na região de 37% em homens e 20%
em mulheres. Entretanto, existe uma grande variabilidade entre os resultados observados nos diferentes
países. No Brasil existe uma diminuição do tabagismo na última década.
De menor importância entre os fatores de risco temos a contaminação atmosférica. A evidência atual
demonstra que a DPOC pode sofrer agravamento por exposição à poluição ambiental, especialmente por
partículas que provocam sintomas de exacerbação. Há, contudo, pouca evidência de que a contaminação
ambiental possa, por si mesma, causar DPOC.
Etiologia
Através de múltiplos estudos, considera-se que os patógenos implicados com maior freqüência nas
exacerbações da DPOC são Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e Streptococcus pneumoniae.
Tratamento
Atualmente, diversas sociedades científicas têm recomendado os seguintes antimicrobianos no
tratamento das reagudizações da doença pulmonar obstrutiva crônica:
amoxicilina - clavulanato;
quinolonas respiratórias (levofloxacina, gemifloxacina ou moxifloxacina);
macrolídeos;
cefalosporinas de segunda geração.
O problema da doença pulmonar obstrutiva crônica no Brasil passa a ser relevante não apenas na
atualidade como também no futuro, em virtude do tabagismo na juventude, o que justifica a
importância das campanhas preventivas.
Atualmente, é preciso estar consciente de que as exacerbações agudas são um fator freqüente de
descompensação da DPOC, principalmente com o recente surgimento de cepas resistentes à penicilina e
a outros antimicrobianos, o que torna seu controle mais difícil. As infecções virais, principalmente pelo
vírus influenza, é uma importante causa de descompensação do DPOC.
C – Faringites e Amigdalites
estreptocócicas
As faringites e as amigdalites agudas
são síndromes clínicascausadas por diversos
microrganismos. A maioria dos casos é
deetiologia virótica freqüentemente
associada ao resfriado comum, às infecções
pelo vírus influenza e ao vírus Epstein-Barr
(agente da mononucleose infecciosa).
Etiologia
Aproximadamente 15% a 30% de todos os casos de faringites e amigdalites são causados
pelo Streptococcus pyogenes(estreptococo beta-hemolítico do grupo A), principalmente em crianças na
idade escolar. Os estreptococos dos grupos C e G têm sido associados a surtos de amigdalites
relacionados a alimentos. Diversos outros microrganismos, como a associação de bactérias anaeróbias
(angina de Vincent), Neisseria gonorrhoeae, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia
pneumoniae eCorynebacterium diphtheriae, podem ser causas de faringites e amigdalites agudas.
A amigdalite aguda também pode fazer parte da infecção primária pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV). Freqüentemente este quadro está associado com febre, poliadenomegalia, exantema e
diarréia e, por vezes, meningite linfomocitária. Também devem ser lembrados os quadros de dor de
garganta relacionados com reações medicamentosas (síndrome de Stevens Johnson), mucosites
(quimioterapia), síndrome de Kawasaki, e os casos de estomatites, como a Doença de Behçet.
Quadro clínico
As faringoamigdalites causadas pelo S. pyogenes geralmente determinam quadro agudo de dor à
deglutição, febre elevada (acima de 38,5ºC), cefaléia, calafrios e, em alguns casos, dor abdominal. A
toxemia pode ser intensa, principalmente em adultos. A orofaringe geralmente está hiperemiada, com
pronunciado edema de úvula e pontos purulentos nas amígdalas. A adenomegalia cervical é comum.
Tratamento
Suficiente concentração do antimicrobiano pode ser mantida com uma única injeção intramuscular
de penicilina benzatina50.000 unidades/Kg dose única para crianças até 10 anos e 1,2 a 2,4 milhões
unidades/dia dose única para pacientes acima dessa idade. Na vigência de casos graves, o prescritor
está autorizado a usar penicilina cristalina por via intravenosa, 25.000 a 400.000 unidades/kg/dia
para crianças e 4 a 24 milhões unidades/dia para adultos, didividas em quarto a seis doses.
A via oral poderá ser a preferida, com o inconveniente de que, na maioria dos casos, quando ocorre a
melhora, o paciente tende a abandonar o tratamento e se expor a recaídas. Por esta via, a duração do
tratamento é de dez dias e as doses são as seguintes: penicilina V (fenoximetilpenicilina) – 50
mg/kg/dia para crianças e 750 mg/dia para adultos, divididos em três doses ou amoxicilina - 20 a 40
mg/kg/dia para crianças e 1,5 a 3 g/dia para adultos, divididos em três doses.
Nos casos de sensibilidade à penicilina, poderá ser usada a eritromicina, na dose de 30 a 50 mg/kg/dia
para crianças e 2 a 4 g/dia para adultos, dividida em quatro doses.
Outros macrolídeos também podem ser utilizados como a azitromicina (crianças: 5 a 12 mg/Kg/dia e
adultos: 500 mg/dia dose única) ou claritromicina (crianças: 15 mg/kg/dia e adultos: 1 g/dia divididos
em duas doses). Devido à meia-vida da azitromicina e à manutenção da concentração intracelular por
longos períodos, tem-se sugerido que o tempo de tratamento da amigdalite estreptocócica possa ser
abreviado para cinco dias. A clindamicina (crianças: 10 a 40 mg/kg/dia e adultos: 900 a 2.400 mg,
divididos em 4 doses) poderá ser usada nos casos de amigdalite por germes anaeróbios ou abscessos
amigdalianos, por via intravenosa.
Entre 0,5% e 2% dos casos de resfriado comum associam-se ao crescimento de bactérias, favorecendo
o desenvolvimento da RSBA. Se estimarmos a incidência de dois a três resfriados por ano na população
adulta, é possível calcularmos a freqüência de RSBA de etiologia viral na população de adultos.
Outros casos de RSBA associam-se à presença de rinite alérgica perene ou sazonal; obstrução nasal,
principalmente por desvio de septo nasal; imunodepressão e/ou refluxo gastroesofágico. Pode ainda
estar associada ao tabagismo, à exposição a contaminantes ambientais e às atividades físicas, como a
natação. Embora o padrão para o estabelecimento do diagnóstico microbiológico da rinosinusite aguda
seja a punção e aspiração dos seios paranasais, este é um procedimento que não deve ser realizado de
rotina.
Classificação
A sinusite é classificada de acordo com a duração dos sintomas e freqüência do processo:
sinusite aguda: a sinusite aguda dura até 4 semanas. Geralmente é precedida por um quadro
de infecção de via aérea superior e os sintomas costumam evidenciar-se a partir do 5° dia após
o início do referido quadro;
sinusite subaguda: presença de sintomas leves a moderados, que duram de 4 a 12 semanas;
sinusite crônica: caracteriza-se pela persistência dos sintomas e sinais por mais de 12
semanas. É acompanhada de alterações anatômicas e histológicas na mucosa nasal e dos seios
paranasais;
sinusite recorrente: a sinusite recorrente consiste em 4 ou mais episódios de sinusite aguda
em um ano, cada um com uma duração maior do que 7 dias e com resolução completa do
quadro entre os episódios;
exacerbação aguda: consiste na agudização e/ou exacerbação dos sintomas da sinusite
crônica;
sinusite complicada: é aquela infecção que se estende mais além dos limites das fossas
nasais e dos seios paranasais, podendo ser uma complicação local, orbitária, intracraniana ou
sistêmica.
Diagnóstico
Atualmente, com o uso de endoscópios rígidos, é possível realizar uma exploração detalhada
da cavidade nasal, facilitando a coleta de culturas diretamente do meato médio. A correlação
radiológica e endoscópica permite estabelecermos odiagnóstico de rinosinusite aguda com uma certeza
superior a 90%.
Em adultos as bactérias mais comumente isoladas nos seios paranasais de pacientes com rinosinusite
bacteriana são:
S. pneumoniae: 35 - 42%;
H. influenzae e M. catarrhalis: 21 - 28%;
Streptococcus pyogenes e os anaeróbios: 3 - 7%.
Tratamento
Embora 40% dos pacientes com sinusite se recuperem espontaneamente, o tratamento
antimicrobiano é indicado em uma sinusite bacteriana corretamente diagnosticada. O objetivo do
tratamento é erradicar a infecção aguda para prevenir complicações, evitar as recorrências e o
aparecimento de quadros crônicos. A duração do tratamento para a sinusite maxilar aguda varia entre 7
e 10 dias.
A amoxicilina é o antimicrobiano mais utilizado por sua atividade contra o Streptococcus
pneumoniae (o principal agente desta patologia) e o H. Influenzae não produtor de beta-lactamases (70
a 80%). É de baixo custo e de boa tolerância. Deve-se avaliar a possibilidade de resistência bacteriana,
de acordo com as variações regionais.
Atualmente, deve ser levado em consideração que, tanto H. influenzae como M. catarrhalis (os agentes
que seguem S. pneumoniae em incidência), podem ser produtores de beta-lactamases e, portanto,
podem inativar a amoxicilina, razão pela qual as terapias alternativas são freqüentemente utilizadas.
Dentro das alternativas terapêuticas encontram-se:
amoxicilina-clavulanato;
cefalosporinas de segunda geração: cefuroxima axetil;
fluorquinolonas respiratórias: levofloxacina, gemifloxacina e moxifloxacina;
macrolídeos: azitromicina, claritromicina ou eritromicina;
telitromicina.
Diagnóstico
O primeiro ponto a ser considerado na escolha do antimicrobiano nas infecções de partes moles
consiste em determinar se foi obtida informação suficiente para se fazer diagnóstico presuntivo para
que seja instituída uma terapêutica empírica eficaz.
O diagnóstico diferencial deve ser produto de uma boa história clínica e de um exame clínico
minucioso. A terapêutica empírica no tratamento de infecções de partes moles adquiridas na
comunidade será a regra, em vez da exceção.
A coleta de material, para a realização de Gram e cultura de uma lesão de partes moles,
preferencialmente por punção, deve ser feita nos quadros de maior gravidade, que envolvem sinais e
sintomas sistêmicos.
Para o tratamento das infecções de partes moles adquiridas na comunidade onde raramente são
encontrados estafilococos resistentes à oxacilina, as cefalosporinas de primeira geração são boas opções
terapêuticas.
A terapêutica parenteral é muito adequada nos pacientes com infecções graves e nos casos em que é
difícil atingir níveis antimicrobianos significativos, como nas infecções graves de partes moles. Nestes
casos, se dá preferência à via intravenosa, em vez da intramuscular, porque permite obter níveis mais
rápidos e previsíveis. A administração intramuscular está contra-indicada nos pacientes com distúrbios
da coagulação.
A terapêutica antimicrobiana deve ser alterada caso os estudos de sensibilidade mostrem que o
organismo é resistente ao tratamento atual ou que se pode usar um antimicrobiano de menor
espectro, menos tóxico e mais barato.
A seguir, serão discutidas algumas das principais infecções de pele e partes moles adquiridas na
comunidade.
A - Impetigo
Impetigo é uma infecção superficial da pele que inicia como uma
vesícula e evolui para crosta.
Etiologia
O impetigo pode ser causado tanto pelos estreptococos (principalmente do grupo A, porém também dos
grupos B, C e G), quanto Staphylococcus aureus. A maioria dos casos ocorre em crianças.
No passado, os estreptococos do grupo A foram considerados a principal causa de impetigo, isolados em
aproximadamente 80% dos casos. A partir da última década, Staphylococcus aureus tem sido
considerado o mais freqüente agente do impetigo. Entretanto, o papel dos estafilococos pode estar
superestimado, pois este microrganismo pode determinar infecções secundárias nas lesões.
Diagnóstico
O aspecto histopatológico do impetigo consiste em uma lesão vésico-pustular intradérmica,
superficial. Estudos epidemiológicos demonstram que uma colonização pelo estreptococo ocorre,
aproximadamente, 10 dias antes do início das lesões. O impetigo é mais freqüente durante as épocas de
calor e de maior umidade.
Pequenos ferimentos, como picadas de inseto e escoriações, podem predispor ao aparecimento de
impetigo. A colonização da orofaringe pelo estreptococo do grupo A ocorre em 30% das crianças com
lesões de pele. Em contraste, nos casos de impetigo pelo S. aureus, a colonização nasal freqüentemente
precede o aparecimento das lesões de pele.
O impetigo é uma infecção altamente transmissível. Surtos ocorrem em famílias, principalmente entre
crianças na idade pré-escolar. O impetigo também está associado a más condições de higiene.
Quadro clínico
O impetigo causado por estreptococos inicia como pequenas vesículas ou como lesões
eritematosas que rapidamente evoluem para pústulas e ruptura. As lesões são indolores. Os locais
mais comuns são as áreas expostas. O prurido é freqüente. Ocasionalmente, crostas grandes são
produzidas por coalescência de pústulas menores. As lesões permanecem superficiais e não ulceram ou
infiltram a derme. A linfadenopatia regional é comum.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com varicela, tinea corporis e herpes simples.
B - Impetigo bolhoso
O impetigo bolhoso está associado à infecção pelo S. aureus fagotipo II
(normalmente tipo 71) e acontece principalmente no recém-nascido e
em crianças na idade pré-escolar. Ocorre em aproximadamente 10% de
todos os casos de impetigo.
As lesões começam como vesículas que se transformam em bolhas com conteúdo inicialmente
amarelo claro. Geralmente, não existe eritema perilesional e o sinal de Nikolsky está ausente. As bolhas
se rompem rapidamente e deixam uma superfície vermelha, úmida, com posterior formação de crosta. O
impetigo bolhoso, como a síndrome da pele escaldada estafilocócica, representa uma forma de resposta
cutânea às toxinas extracelulares produzidas pelo S. aureus fagotipo II. Febre e sintomas constitucionais
são incomuns. A cura ocorre sem cicatriz.
C - Foliculite
A foliculite é uma infecção que ocorre dentro dos folículos pilosos.
As lesões consistem depequeno eritema, às vezes pruriginosas,
papulares com uma pústula central. S. aureus é o mais freqüente agente
da foliculite. Lesões em fases diferentes de desenvolvimento estão
simultaneamente presentes. Os locais mais comuns são as nádegas,
quadris e axila. São poupadas as palmas e plantas dos pés.
A foliculite causada por enterobactérias pode ocorrer como uma complicação em pacientes com acne,
normalmente durante cursos prolongados de terapia com antimicrobiano oral. Foliculite em pavilhão
auditivo está associada a banhos de piscina e, habitualmente, é causada por P. aeruginosa. Candida spp.
por vezes é o agente etiológico das foliculites, particularmente em pacientes em uso de antimicrobiano
prolongado ou terapia com corticosteróides.
Tratamento local, com compressas quentes ou agentes anti-fúngicos tópicos, como o clotrimazol,
normalmente é suficiente para controlar a infecção.
D - Furúnculos e carbúnculos
Furúnculo é um nódulo inflamatório profundo que normalmente se
desenvolve a partir de uma foliculite.
Carbúnculo é um processo mais extenso que envolve o tecido
subcutâneo. Staphylococcus aureus,quase que invariavelmente, é o
agente etiológico.
Etiologia
Os furúnculos acontecem em áreas de pele sujeitas a fricção, transpiração e contendo folículos pilosos
(pescoço, axila, nádegas). Fatores predisponentes incluem: obesidade, discrasias sangüíneas,
tratamento com corticosteróides, defeitos funcionais dos neutrófilos e diabetes. O furúnculo começa
como um nódulo vermelho que rapidamente torna-se doloroso e flutuante. Drenagem espontânea de
pus acontece comumente e a lesão diminui.
O carbúnculo tem maior extensão e freqüentemente é mais profundo, endurecido e normalmente
localiza-se na região posterior do pescoço ou nas coxas. Febre e calafrios são freqüentes e alguns
pacientes evoluem com toxemia intensa. A lesão evolui para drenagem.
A leucocitose acontece, particularmente, quando a lesão contém uma grande quantidade de pus não
drenado ou quando evolui para celulite. Esta infecção pode evoluir para osteomielite, sepse e
endocardite. Lesões sobre o lábio superior ou no nariz podem evoluir para tromboflebite de seio
cavernoso. Esta complicação é muito grave e apresenta alta mortalidade.
Tratamento
A maioria dos furúnculos é tratada satisfatoriamente pela aplicação de calor úmido, que promove
localização e drenagem do processo.
O carbúnculo ou o furúnculo em que o paciente evolui para toxemia ou celulite deve ser tratado
em regime hospitalar, com antimicrobiano parenteral. A droga de escolha é oxacilina (50 a 200
mg/Kg/dia para crianças e 4 a 12 g/dia para adultos, dividida em quatro ou seis doses).
No adulto alérgico a penicilina, clindamicina (crianças: 30 mg/kg/dia e adultos: 1200 a 2400 mg/dia,
dividida em quatro doses) ou vancomicina (crianças: 40 mg/kg/dia e adultos: 2 g/dia, dividida em
duas ou quatro doses) ou a teicoplanina (crianças: 10 mg/kg/dia, nas primeiras três aplicações,
seguido de 6 a 12 mg/kg/dia e adultos: 400 a 800 mg/dia) são alternativas.
Reincidência e profilaxia
O acompanhamento de pacientes com furunculose de repetição é problemático. Esta doença não parece
estar associada a propriedades específicas dos estafilococos ou deficiências imunológicas sistêmicas. A
profilaxia de episódios reincidentes envolve várias medidas:
E - Erisipela
As portas de entrada são: úlceras de pele, micoses superficiais (principalmente dos pés, na região
interdigital), traumas, incisões cirúrgicas e, em recém-nascidos, coto umbilical. Alguns fatores
predispõem à infecção, como estase venosa, diabetes, paraparesia e obstrução linfática.
Quadro clínico
O início do quadro é abrupto e sintomas sistêmicos podem estar presentes. Bacteremia é descrita em
5% dos casos. Em alguns pacientes é possível identificar exatamente o horário do início do quadro
(febre, calafrios e sensação de mal-estar).
Os membros inferiores e a face são locais mais atingidos. As lesões iniciais são de cor vermelha
brilhante, com bordas demarcadas, dolorosas, edema local e calor.
O paciente apresenta-se habitualmente febril, 39 a 40º C, com calafrios. Após, surgem vesículas e
bolhas que, ao se romperem, formam crostas. Durante a evolução, as áreas centrais apresentam
coloração mais clara e a pele deve retornar ao aspecto normal, porém com pigmentação residual escura.
Ocorre adenite satélite à região comprometida, nos membros inferiores, classicamente na região crural.
Diagnóstico
O diagnóstico da erisipela é eminentemente clínico. A recuperação do estreptococo do grupo A é rara,
exceto na erisipela complicada, quando o microrganismo é cultivado em 30% dos casos. A colonização
das lesões por estafilococos é comum e, muitas vezes, dirige a atenção do clínico para uma falsa
etiologia da doença. A hemocultura deve ser colhida antes do início do tratamento. A doença evolui com
leucocitose e desvio à esquerda, sem outras importantes alterações laboratoriais.
O diagnóstico diferencial é realizado com alguns quadros infecciosos e não infecciosos, tais como
celulites (causadas por S. aureus), herpes zoster, dermatite de contato e trombose venosa profunda.
Tratamento
Para o tratamento das erisipelas, a penicilina procaína deve ser administrada na dose de 400.000 a
800.000 unidades, duas vezes ao dia, via intramuscular. Em pacientes alérgicos, a alternativa é a
clindamicina. Em casos mais graves, o paciente deve ser hospitalizado e indica-se o uso de penicilina
cristalina em doses de 200.000 U/Kg/dia, via intravenosa, dividida a cada quatro horas, durante dez a
quatorze dias. Cuidados locais e repouso com o membro elevado a 45º, assim como o tratamento dos
fatores predisponentes (úlceras de pele, dermatomicoses, etc.) são fundamentais. Em casos de erisipela
de repetição (mais de dois episódios no ano), pode ser utilizada a profilaxia com penicilina benzatina,
1.200.000 unidades, intramuscular, a cada 28 dias. Em pacientes alérgicos a penicilina, as alternativas
são clindamicina, vancomicina ou teicoplanina.
F - Celulite
A celulite é uma infecção aguda da pele que se estende mais
profundamente que a erisipela e envolve os tecidos subcutâneos. Pode
ser causada tanto pelo estreptococo como estafilococo, embora este
último seja o mais freqüente.
Quadro clínico
Um trauma prévio ou uma lesão de pele subjacente (furúnculo, úlcera) predispõem ao
desenvolvimento de celulite. Alguns dias após o trauma, tem início um quadro de dor, calor, eritema que
rapidamente intensificam, associado a febre e calafrios. A área envolvida é freqüentemente extensa.
Em contraste com a erisipela, as bordas de uma área de celulite não são elevadas e nitidamente
demarcadas. Linfadenopatia regional é comum e bacteremia pode acontecer. Podem ocorrer áreas de
necrose e abscessos. Infecções secundárias por bacilos Gram-negativos ocorrem principalmente em
diabéticos.
A celulite é uma doença grave devido a possibilidade da evolução para sepse. A celulite que acomete
os membros inferiores pode evoluir para tromboflebite, principalmente em idosos.
Alterações de drenagem linfática e insuficiência venosa estão relacionadas à maior incidência de celulite,
além de formas mais graves da doença. O processo inflamatório decorrente de um episódio inicial de
celulite, erisipela ou linfangite pode determinar uma obstrução da drenagem linfática e aumentar a
predisposição para novos episódios.
Tratamento
A droga de escolha é oxacilina (100 a 200 mg/Kg/dia para crianças e 8 a 12 g/dia para adultos, dividida
em quatro ou seis doses). Cefalosporina de primeira geração (cefalotina – crianças: 80 a 160
mg/kg/dia e adultos: 4 a 12 g/dia dividida em seis doses) pela ação, tanto sobre estafilococos como
estreptococos, também representa uma excelente alternativa nas infecções causadas por estafilococos
sensíveis. No adulto alérgico à penicilina e/ou
cefalosporinas, clindamicina,vancomicina ou teicoplanina são alternativas.
Nas infecções causadas por S. aureus resistentes à oxacilina (CA-MRSA) adquiridos na comunidade pode
ser utilizadosulfametoxazol-trimetoprim (crianças: 6 a 20 mg de trimetoprim kg/dia e adultos: 10 a
20 mg de trimetoprim por kg/dia) ou clindamicina, de acordo com a sensibilidade da cepa. Em infecções
graves, recomendamos a utilização de glicopeptídeos até a realização de estudos que demonstrem a
atividade de outros antimicrobianos.
G - Síndrome de Fournier
A fasceíte necrotizante de tecidos perineais e genitais, também
conhecida como síndrome de Fournier, foi descrita em 1883, por Jean
Alfred Fournier, sendo caracterizada, na época, por abrupto início em
adultos jovens, com rápida progressão e ausência de agente etiológico.
Fatores predisponentes
É considerada idiopática em até 42% dos relatos, tendo como fatores predisponentes: lesões
penetrantes na região, grandes queimados, procedimentos cirúrgicos urológicos ou proctológicos,
trauma fechado, idosos (faixa etária superior a 65 anos), diabéticos, imunossuprimidos. A taxa de
mortalidade é elevada, podendo atingir até 33% dos casos.
Etiologia
Quanto à etiologia, caracteriza-se por infecção polimicrobiana, com a presença de Enterobactérias
(Escherichia coli,Proteus spp., etc), Streptococcus spp., Staphylococcus spp. e anaeróbios
(Bacterioides spp., Clostridium spp., etc).
Tratamento
O tratamento contempla a cirurgia com ressecção ampla da fasceíte necrotizante (muitas vezes
associada a colostomia e cateterismo urinário), oxigenioterapia hiperbárica (em média, 5 a 10 sessões)
e antibioticoterapia de amplo espectro (terapia empírica), de acordo com as seguintes situações:
infecção adquirida na comunidade: ampicilina-sulbactam (crianças 150 mg/kg/dia e adultos:
1,5 a 12 g, intravenoso, dividido em 4 doses) ou piperacilina-tazobactam (crianças: 100 a
300 mg/kg/dia e adultos: 13,5 a 18,0 g/dia dividida em quatro doses)
associado ciprofloxacina em adulto (400mg IV 12/12h) ou aminoglicosídeos (gentamicina –
crianças: 7,5 mg/kg/dia e adultos: 3,0 a 5,0 mg/kg/dia ou amicacina – crianças 15 a 30 mg
mg/kg/dia 15 mg/kg/dia, administradas 1 x ao dia, não ultrapassando 1,5 g/dia). Outro
esquema é a associação de cefalosporina de 3ª geração com anaerobicidas (metronidazol –
crianças: 30 mg/kg/dia e adultos: 1,5 a 2,0 g dividido em 3 doses ou clindamicina crianças:
10 a 40 mg/kg/dia e adultos: 900 a 2.400 mg dividida em 4 doses);
infecção relacionada a procedimentos invasivos no ambiente hospitalar:
carbapenêmicos (imipenem – crianças: 60 a 100 mg/kg/dia e adultos: 2 a 4 g/dia,
intravenoso, dividido em quatro doses ou meropenem – crianças: 60 a 120 mg/kg/dia e
adultos: 3 a 6 g/dia, intravenoso em três doses) associados à vancomicina.
Com os resultados microbiológicos, a terapia antimicrobiana pode ser ajustada e sua duração dependerá
da evolução clínica do paciente (geralmente, 3 a 4 semanas).
Incidência
Na infância, as infecções do trato urinário (ITUs) podem ser encontradas
em qualquer idade, podendo ter início no período neonatal. A incidência de
infecções do trato urinário em lactantes, até seis meses, é de 2 casos por 1.000
nascidos vivos. Muitas vezes ocorrem bacteremias. Durante o período pré-
escolar as infecções do trato urinário são mais comuns no sexo feminino. Quando
ocorre em meninos, habitualmente está associada a anomalias congênitas. As ITUs
na infância, principalmente nas meninas, comumente são assintomáticas e podem
ser recidivantes.
Quadro clínico
A infecção do trato urinário pode afetar apenas o trato urinário inferior ou o trato urinário superior,
comprometendo um dos rins. O termo cistite tem sido utilizado para descrever uma síndrome que
compreende: disúria, polaciúria, dificuldade de micção e, ocasionalmente, dor à palpação da região
suprapúbica. Entretanto, estes sintomas também podem estar associados à inflamação do trato urinário
inferior, produzidos por uretrites, como a gonorréia ou a infecção por clamídias.
A pielonefriteaguda é uma síndrome clínica que envolve o rim, caracterizada por dor e/ou
sensibilidade à palpação no flanco, febre e freqüentemente bacteriúria, sendo que, por vezes, ocorre
disúria, polaciúria, dificuldade à micção e elevação das proteínas de fase aguda. Entretanto, 10 a 20%
das infecções do trato urinário não podem ser classificadas como inferiores ou superiores.
Bacteriúria assintomática
A bacteriúria assintomática é freqüentemente identificada em exames de triagem, pois não é
acompanhada da sintomatologia comum à cistite ou à pielonefrite. A definição de bacteriúria
assintomática para homens sem uso de cateter vesical corresponde ao isolamento bacteriano
quantitativo em uma única amostra de urina, colhida de forma adequada, de ≥ 105 UFC/mL. No caso de
uso de cateter vesical, o isolamento em uma única amostra valores ≥ 102 UFC/mL define bacteriúria
assintomática. Para mulheres, são necessárias duas amostras de urina com isolamento bacteriano ≥
105 UFC/mL.
Não se recomenda o tratamento de bacteriúria assintomática nas seguintes situações, pois não se
demonstrou redução do número de episódios sintomáticos, hospitalizações ou número de recidivas da
bacteriúria:
não-gestantes e pré-menopausadas;
mulheres com diabetes;
população geriátrica, na comunidade ou institucionalizada;
pessoas com patologias em medula espinhal;
pacientes com cateter vesical que permanecem com o dispositivo in situ;
pacientes submetidos a transplante de órgão sólido.
Recidiva: recaída ou re-infecção?
As infecções do trato urinário podem ser recidivantes. Nestes casos, é importante diferenciar se estamos
diante de umarecaída ou uma re-infecção. A recaída de uma infecção se refere ao isolamento do
mesmo microrganismo que estava presente antes de iniciar o tratamento. Esta situação freqüentemente
está associada à falha da terapêutica antimicrobiana, devido à resistência ou à dificuldade de penetração
do antimicrobiano no foco de infecção.
A re-infecção é uma infecção por um microrganismo diferente do inicial. É, de fato, uma nova infecção.
Ocasionalmente, pode ocorrer re-infecção com o mesmo microrganismo, que pode ter persistido,
principalmente na vagina.
O termo pielonefrite crônica geralmente refere-se a alterações patológicas dos rins decorrentes de
infecções de repetição ou recidivas. Entretanto, diversas entidades podem determinar alterações renais
crônicas, como a nefropatia por antiinflamatórios, as doenças vasculares e a nefropatia por ácido úrico.
Muitas vezes, é difícil diferenciar as alterações ocasionadas por infecção das produzidas por outras
complicações não infecciosas.
Etiologia
As ITUs são causadas por uma variedade de microrganismos, principalmente Gram-negativos, que
ascendem o trato urinário e determinam uma bacteriúria maior ou igual a 105 unidades formadoras de
colônia. Existe importante diferença entre os microrganismos que causam um episódio agudo de
infecção do trato urinário, em comparação com os quadros recidivantes:
infecções agudas - Escherichia coli é o microrganismo mais freqüente das infecções agudas.
Em mulheres jovens, além da E.coli, tem importância o Staphylococcus saprophyticus;
infecções recidivantes - Nas infecções recidivantes, especialmente na presença de anomalias
estruturais (uropatia obstrutiva, anomalias congênitas, bexiga neurogênica, fístulas), aumenta
muito a freqüência relativa de infecções produzidas
por Proteus spp., Pseudomonas spp., Klebsiella spp., Enterobacter spp., Pseudomonas spp.
e Enterococcusspp. A presença de alterações estruturais também está associada a infecções
polimicrobianas.
Os adenovírus, em particular o tipo 11, têm sido implicados em quadros de cistites
hemorrágicas, principalmente em pacientes pediátricos e imunodeprimidos.
Considerações importantes
O objetivo do tratamento das infecções urinárias é a eliminação das
bactérias do tecido renal e das vias excretoras. Antes de decidir sobre
a terapêutica a ser empregada, é importante que a natureza, a sede e
as alterações produzidas pelas infecções sejam cuidadosamente
definidas. Qualquer condição patológica que leve a uma obstrução
no trato urinário deve ser removida.
São os exames de urina repetidos, que permitem avaliar a eficácia da terapêutica em cada doente. A
persistência da bacteriúria e da leucocitúria constituem índices da persistência da inflamação do trato
urinário e indicam que o antimicrobiano não está sendo eficaz. Devemos distinguir as recidivas das re-
infecções verdadeiras. As recidivas nada mais são do que a re-agudização de uma infecção crônica por
germes bem caracterizados, cuja eliminação jamais foi obtida. As re-infecçõesverdadeiras são a
implantação e o desenvolvimento, em lesões teciduais, de um outro microrganismo.
A cultura de urina é fundamental para a decisão acerca da terapia adequada, nas seguintes situações:
Tratamento
Uretrites
Diagnóstico
O diagnóstico clínico de uretrite se faz pela presença de corrimento uretral muco-purulento no paciente,
podendo ser dividido em dois grupos: uretrites gonocócicas e não-gonocócicas, das quais são os
principais agentes etiológicos: Chlamydia trachomatis, em 15 a 55% dos casos; Ureaplasma
urealyticum e Mycoplasma genitalium. Além disso, a co-infecção pelaChlamydia spp. ocorre em 10 a
30% das uretrites gonocócicas e, caso o profissional de saúde não possa realizar uma bacterioscopia da
secreção uretral, está indicado o tratamento de ambas. Quando feito o diagnóstico de uretrite,
recomenda-se a solicitação de sorologias para HIV, sífilis e hepatites B e C.
No tratamento das uretrites gonocócicas a primeira opção de tratamento é ciprofloxacina 500 mg,
por via oral ouceftriaxona 250 mg, intramuscular, administradas em dose única.
a primeira opção, azitromicina 1 g, por via oral, dose única ou doxiciclina 100 mg, por via oral,
a cada 12 horas, durante 7 dias;
e como segunda opção, ofloxacina 400 mg/dia, por 7 dias.
Nesses casos, após nova coleta de amostra e análise, recomenda-se: eritromicina 500 mg, por via oral,
a cada 6 horas, durante 7 dias, associado a Metronidazol 2 g, por via oral, dose única.
A boca pode ser afetada por infecções e lesões de origem local ou por doenças sistêmicas como, por
exemplo, diabete, AIDS e neoplasias. Muitas vezes, os primeiros sinais dessas doenças manifestam-se
na boca e são identificados por um dentista.
Durante a anamnese de uma possível infecção odontogênica ou antes de um procedimento odontológico
deve-se ter conhecimento dos antecedentes do paciente, principalmente sobre endocardite, próteses
coronárias, diabete e doenças que comprometem o sistema imunológico para que lesões suspeitas
possam ser identificadas ou para a avaliação da necessidade do uso profilático de antimicrobianos (como
será discutido mais adiante).
As infecções que acometem a cavidade bucal podem ser divididas, de acordo com Maestre, 2002, em:
A - Lesões ulceradas
Úlcera herpética
A infecção oral primária por herpes (gengivoestomatite herpética primária) é uma infecção primária
causada pelo vírus herpes simples. Ela pode causar lesões dolorosas de desenvolvimento rápido nas
gengivas e em outras partes da boca. O herpes secundário (herpes labial recidivante) é uma reativação
local do vírus que produz uma úlcera nos lábios.
É comum um lactente contrair o vírus do herpes simples de um adulto com herpes labial. A infecção
primária geralmente ocorre em lactentes e crianças (herpes primário), causa inflamação generalizada
das gengivas e uma dor generalizada na boca, podendo apresentar febre, linfoadenomegalia cervical e
mal-estar generalizado. Os indivíduos que não apresentam herpes oral na infância mas contraem a
infecção na vida adulta, geralmente apresentam sintomas mais graves.
Os episódios recidivantes comumente causam o herpes labial e, em geral, são desencadeados por
queimaduras solares, viroses sistêmicas ou por lesões bucais, por um tratamento odontológico. Um ou
dois dias antes do surgimento de uma vesícula, o indivíduo pode sentir um formigamento ou um
incômodo (pródromo) no local onde irá ocorrer a erupção.
As feridas da boca começam como pequenas vesículas que rapidamente coalescem e formam uma
úlcera vermelha e dolorosa.
Diagnóstico diferencial deve ser feito com úlceras aftosas, úlceras orais que podem surgir no eritema
multiforme, as quais, em geral, não requerem tratamento antimicrobiano específico.
B - Lesões brancas
Candidíase oral
Infecção fúngica causada pela Candida albicans. Manifesta-se por lesões brancas e placas na língua,
gengiva, lábios e mucosa oral. Quando esta placa é removida, evidencia-se uma superfície cruenta,
sangrante e dolorida. Encontrada freqüentemente, sob prótese dentária. Pacientes
imunocomprometidos, com AIDS ou neoplasia, usuários de corticosteróides inalatórios apresentam um
aumento acentuado de candidíase.
O diagnóstico da candidíase mucocutânea está baseado no aspecto e localização da lesão podendo ser
realizada biópsia para análise anatomopatológica. Diante do achado da candidíase oral, recomenda-se
uma investigação clínica mais detalhada para descartar doenças sistêmicas e até mesmo candidíase
disseminada.
Diagnóstico diferencial deve ser feito com líquen plano, leucoplaquia pilosa e neoplasias.
C - Abscessos odontogênicos
D - Angina de Ludwig
É uma celulite aguda e tóxica dos espaços submandibular e sublingual bilateralmente e do espaço
submentoniano. É uma doença de origem dentária ou a partir de infecções mandibulares (adenite da
glândula submandibular), fratura mandibular composta, lacerações dos tecidos moles bucais, feridas
perfuro-cortantes do assoalho oral e infecções secundárias em neoplasias orais.
As características clínicas típicas são edema endurecido dos espaços submandibular e sublingual
bilateralmente, elevação da língua, obstrução da via aérea e pequena quantidade de pus.
Microrganismos da microbiota oral são os mais comumente envolvidos
(Streptococcus spp., Bacterioides spp., Fusobacterium spp.).
Tratamento
O tratamento inclui diagnóstico precoce, manutenção de via aérea pérvia, terapia antimicrobiana
sistêmica (clindamicina -crianças: 30 mg/kg/dia e adultos: 1800 a 2400 mg/dia, por via intravenosa,
dividida em quatro doses ou amoxicilina - clavulanato (crianças: 45 a 90 mg de amoxicilina/kg/dia e
adultos: 1,5 g de amoxicilina/dia, dividida em três doses), extração dos dentes afetados, hidratação e
drenagem cirúrgica precoce.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:
E. coli entero-invasiva;
Shigella spp.;
Salmonella spp.;
Campylobacter jejuni;
Clostridium difficile;
Citomegalovírus;
Entamoeba histolytica.
Quadro clínico
Na maior parte das vezes, a diarréia tem início abrupto e apresenta antecedente epidemiológico
sugestivo de intoxicação alimentar, viagens recentes ou transmissão por contato. A evolução é benigna,
dificilmente ultrapassa 10 dias e, na maioria das vezes, sem maiores danos ao estado geral, pelo menos
entre adultos previamente sadios. Em alguns casos a diarréia se apresenta com intensidade moderada
ou grave, seja pela toxicidade do agente etiológico, seja pela demora da resolução dos sintomas ou
pelas defesas do hospedeiro. As conseqüências deste quadro podem ser graves, requerendo maiores
cuidados e intervenção médica imediata. Crianças, idosos e adultos portadores de doenças debilitantes
ou imunodeprimidos são os mais acometidos.
Nos casos mais graves, os sintomas têm início rápido (aproximadamente 6 horas), pois decorrem da
ingestão de produtos contendo toxinas pré-formadas, como nas infecções
por Staphylococcus aureus e Bacillus cereus. As diarréias que surgem após 8 a 12 horas da possível
contaminação são indicativas de provável infecção por bactérias do grupo Salmonella ouShigella.
Diarréia do viajante
O patógeno predominante nessas infecções é representado por cepas de E.coli enterotoxigênica e
enteroagregante; porém sua origem pode ser de outros agentes como Salmonella e Shigella. Mais rara,
porém não deve ser esquecida, é a possibilidade da infecção por parasitas como a Giardia lamblia. De
forma geral, a evolução da infecção é benigna, mas alguns casos devem ser medicados, considerando-se
a necessidade de hidratação e de antimicrobianos.
Cólera
Embora no Brasil, nos últimos anos, não tenha ocorrido epidemias pelo vibrião colérico, esta etiologia
merece ser lembrada. Seus reservatórios são, principalmente, produtos do mar, peixes e moluscos. Sua
manifestação clínica decorre da grande secreção de água e potássio provocada pela toxina do
microrganismo; isso coloca o doente em risco de morte, pois se as reposições não equilibrarem as
perdas volumosas ocorrem complicações hemodinâmicas e metabólicas. Esses dados devem ser
considerados na história epidemiológica.
Diarréia em imunossuprimidos
Fatores de risco devem ser cuidadosamente investigados, como hábitos pessoais, tratamentos
imunossupressores, e concomitância de doenças auto-imunes ou neoplásicas. Na suspeita de infecção
pelo HIV, incluir a contagem de linfócitos CD4, o que pode direcionar os infectados para exames
complementares específicos com o objetivo de detectar determinados microrganismos oportunistas,
como citomegalovírus, Mycobacterium avium, Cryptosporidium spp., Microsporidium spp.,Isospora
belli e E. histolytica. Esse grupo de doentes apresenta alto risco de complicações sépticas,
recomendando-se tratamento imediato, independentemente da gravidade inicial dos sintomas.
Endocardite infecciosa
O termo endocardite infecciosa refere-se à infecção na superfície endocárdica. Também são
consideradas endocardites as infecções em "shunts" anteriovenosos e arterioarteriais, coarctação da
aorta e infecções de cabos de marca-passo e valvas protéticas.
A apresentação clínica varia de acordo com o agente causal que está relacionado a fatores
epidemiológicos específicos.
Etiologia
Estreptococos: é o agente mais freqüentemente encontrado. A maioria
é causada pelo grupoViridans (S. mitis, S. salivarius, S. bovis, S.
mutans) e a minoria por S. pneumoniae e S. pyogenes. O quadro clínico
tem evolução subaguda, acometendo, em geral, valvas com lesão
preexistente. Nas endocardites por S. bovis, há associação com diversas
patologias de cólon, sendo recomendada avaliação colonoscópia como
parte da rotina diagnóstica.
Outros agentes
Fungos, principalmente Candida spp., podem ser encontrados em usuários de drogas endovenosas e de
pacientes internados com fatores de risco definidos. Em geral são endocardites com vegetações de
grande diâmetro e possuem um prognóstico ruim. Agentes do grupo HACEK
(Haemophilus spp., Actinobacillus spp., Cardiobacterium hominis, Eikenella spp. e Kingellaspp.) são
Gram-negativos que crescem em meio de cultura seletivo e de maneira fastidiosa, sendo responsáveis
por menos de 5% das endocardites. Corynebacterium não-dipheteriae predominam em usuários de
drogas e em portadores de próteses.
Fisopatologia e quadro clínico
Na maioria das situações, há uma lesão preexistente nas valvas que predispõe a colonização por
microrganismos. Incluem-se, dependendo da faixa etária, cardiopatias congênitas, lesões degenerativas
(calcificações), prolapso de válvula mitral, prótese e lesões provocadas por doença reumática. O
intervalo de tempo entre a ocorrência de bacteremia e o início das manifestações clínicas pode ser curto
(15 dias), embora o tempo para diagnóstico usualmente seja maior (cinco semanas).
As manifestações clínicas da endocardite incluem:
Muitas das manifestações clínicas mencionadas são comuns a outras patologias, por
isso o diagnóstico diferencial é amplo e pode atrasar o diagnóstico.
Diagnóstico
A investigação deve incluir exames gerais como hemograma e sedimento urinário, além da hemocultura.
O ecocardiograma transtorácico e, preferencialmente, o transesofágico, são importantes para
visualização da vegetação em valvas.
Critérios maiores:
Hemocultura positiva:
agentes típicos de endocardite (S. viridans, S. bovis, HACEK
ou S. aureus ou Enterococcusspp.) em duas amostras diferentes
de hemocultura na ausência de um foco infeccioso à distância;
hemoculturas persistentemente positivas para qualquer agente
(amostras colhidas com mais de 12 horas de diferença);
três ou mais hemoculturas positivas para qualquer agente,
sendo que a primeira e a última amostra tenham sido colhidas
com intervalo mínimo de 1 hora;
evidência de envolvimento miocárdico.
Critérios menores:
doença cardíaca predisponente ou uso de droga intravenosa;
febre (temperatura acima de 38ºC);
fenômenos vasculares: embolização arterial, infartos
pulmonares sépticos, aneurisma micótico, hemorragia
intracraniana, lesões de Janeway;
fenômenos imunológicos: glomerulonefrite, nódulos de Osler,
manchas de Roth, fator reumatóide;
ecocardiograma consistente com endocardite, mas não
compatível com os achados dos critérios maiores acima;
hemocultura positiva que não preenche os critérios maiores;
evidência sorológica de infecção ativa por agente causador de
endocardite bacteriana.
Critério Clínico:
Endocardite provável
Sinais sugestivos de endocardite que não preencham todos os critérios de endocardite definitiva e não
possam excluir diagnóstico de endocardite.
Endocardite excluída
O diagnóstico de endocardite é excluído quando:
Tratamento
Algumas vezes o tratamento antimicrobiano precisa ser iniciado antes do resultado final de culturas.
Para isso, existem algumas características que podem guiar a escolha empírica:
Tratamento das endocardites bacterianas após a identificação do agente etiológico
Estreptococos
Penicilina cristalina ou ampicilina, nesta ordem, são as drogas de escolha. A associação com um
aminoglicosídeo (gentamicina ou estreptomicina) pode reduzir o tempo total de tratamento de quatro
para duas semanas, porém, sua utilização e redução do tempo de tratamento não são consenso. Para
cepas com suscetibilidade reduzida à penicilina, o uso de altas doses de penicilina associado à
gentamicina algumas vezes pode trazer resultados, mas, em geral, há a necessidade de utilizar a
vancomicina ou teicoplanina.
Estafilococos
A droga de escolha é a oxacilina associada ao uso de aminoglicosídeo por um curto período de tempo (3
a 7 dias). A vancomicina deve ser reservada para as cepas resistentes à oxacilina, pois no caso
de cepas de estafilococos sensíveis à oxacilina, os glicopeptídeos têm ação antimicrobiana
inferior à oxacilina. Outras opções são linezolida ou daptomicina. Clindamicina tem taxa elevada de
recidiva e não deve ser utilizada rotineiramente. O uso da rifampicina em associação com uma droga
anti-estafilocócica de primeira linha é controverso, mas há algumas evidências de melhora do
prognóstico em infecções de valvas protéticas. Os tratamentos de endocardites estafilocócicas devem
ser prolongados (de 4 a 6 semanas no caso de endocardites por S. aureus) em razão do risco de
recidiva.
Enterococos
Combinação da gentamicina com penicilina ou ampicilina (sendo este último o composto mais ativo)
durante pelo menos quatro semanas. Quando existe resistência aos aminoglicosídeos ou ampicilina as
drogas de escolha são os glicopeptídeos (vancomicina ou teicoplanina), embora as taxas de erradicação
sejam menores. Quando os enterococos são resistentes à vancomicina o tratamento dependerá do
antibiograma: podem ser utilizadas linezolida ou daptomicina e, no caso deEnterococcus
faecium também pode ser utilizada quinopristina/dalfopristina.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico é regra em pacientes com endocardite de valva protética. Em outras situações,
não obedece a critérios rígidos e deve ser discutido caso a caso. Algumas situações que devem ser
consideradas na indicação do tratamento cirúrgico:
Meningite bacteriana aguda (MBA) é uma doença inflamatória secundária à invasão do sistema
nervoso central (SCN) por bactérias, envolvendo a pia-máter, a aracnóide, o espaço subaracnóide e os
ventrículos cerebrais.
Indivíduos de todas as faixas etárias podem adquirir esta infecção por diferentes vias, sendo
as principais:
Via direta:
fraturas de crânio;
fístula liquórica após procedimento cirúrgico;
defeitos congênitos de fechamento do tubo neural (espinha
bífida, meningocele, meningomielocele, meningo-
encefalocele);
infecção secundária à punção liquórica realizada de maneira
não asséptica.
Contigüidade:
secundária a otite média, mastoidite, sinusite.
Hematogênica:
secundária a outro sítio infeccioso, atingindo o SNC pela
corrente sangüínea. Via freqüente de infecção por
meningococo e pneumococo.
Próteses de SNC:
catéteres de derivação ventricular (externa ou peritoneal);
fixadores de coluna.
Fatores relacionados ao hospedeiro também podem predispor às MBA, como: asplenia, deficiência do
complemento, uso crônico de corticóide e infecção pelo HIV.
Entre neonatos com sepse precoce, 5 a 10% apresentam meningite concomitante e entre os principais
fatores de risco para esta associação destaca-se baixo peso ao nascer (< 2500 g), rotura prematura de
membranas, parto traumático, hipóxia fetal e infecção materna periparto.
Para MBA relacionada à assistência à saúde os principais fatores de risco de aquisição são os
procedimentos neurocirúrgicos, punção liquórica com agulha contaminada e a presença de dispositivos
invasivos, como derivação ventricular.
Agentes etiológicos
Dentre as meningites bacterianas, Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus
pneumoniae (pneumococo) eHaemophylus influenzae tipo b (Hib) são responsáveis por 90% dos casos.
Importante salientar a redução progressiva da ocorrência de MBA por Haemophylus influenzae tipo b nos
últimos anos devido à ampla cobertura vacinal.
Outras bactérias menos comuns são: Streptococcus do grupo B, bacilos Gram-negativos entéricos
(Escherichia coli, Proteusspp. e Salmonella spp.), Pseudomonas aeruginosa e Listeria spp. As meningites
podem ser causadas por micobactérias,Brucella spp., espiroquetas (Treponema
pallidum e Leptospira spp.). Não se devem descartar outras causas de meningites, como fungos
(Candida spp., Cryptococcus neoformans, Paracoccidioides brasiliensis, etc.), vírus (poliomielite,
caxumba,Coxsackie, ECHO, gripe, herpes simples, varicela, Epstein-Barr vírus, vírus da coriomeningite
linfocítica e citomegalovírus).
Os agentes etiológicos mais freqüentes nas MBA estão diretamente relacionados à faixa etária e à via de
aquisição, possibilitando fazer as correlações apresentadas no Quadro 7.
Quadro clínico
Entre os pacientes com diagnóstico de MBA adquiridas na comunidade, 40% apresentam antecedentes
de infecções de vias aéreas superiores, outros 15%, antecedente de episódio de otite.
O quadro clínico é de instalação rápida (menos de 24 horas).
Os sintomas mais clássicos desta síndrome são febre, rigidez de nuca e alteração
do nível de consciência. Em crianças a tríade completa é menos freqüente, e os
sinais e sintomas podem ter instalação mais lenta.
Nos neonatos a MBA pode ser inicialmente indistinguível de uma sepse neonatal
precoce sem meningite; até os seis meses de idade, todo o quadro clínico pode se
limitar a sintomas como febre, choro fácil, irritabilidade, anorexia e abaulamento de
fontanela, que algumas vezes pode estar ausente pela desidratação da criança.
Diagnóstico
A punção liquórica é exame fundamental diante da suspeita de MBA. O exame macroscópico do líquor
(límpido ou turvo e purulento), associado ao quadro clínico e tempo de doença, permite classificação
inicial da meningite em bacteriana e não-bacteriana.
O diagnóstico final é dado pela identificação do agente etiológico em 70 a 85% das vezes. Geralmente,
nas MBA a celularidade está entre 100 e 5.000 células por mm3, embora alguns casos possam atingir
valores de 50.000 células por mm3, com predomínio de neutrófilos, pressão liquórica aumentada,
elevação do nível de proteínas e valor da glicose diminuído em relação ao nível plasmático. No exame
bacterioscópico, após centrifugação do LCR, pode-se demonstrar o agente infectante em mais da
metade dos casos.
Infelizmente, algumas vezes não é possível isolar o microrganismo responsável pela doença, sendo
estas meningites bacterianas consideradas de etiologia indeterminada. Atribui-se ao uso prévio de
antimicrobianos este insucesso no diagnóstico etiológico.
Tratamento específico
Reconhecendo a resposta inflamatória exacerbada como o principal
desencadeante da maioria dos sinais e sintomas na MBA, diversos estudos
têm sido publicados para avaliar o impacto do uso de dexametasona na
evolução clínica e na mortalidade relacionadas a esta síndrome infecciosa.
Até o presente momento, ainda são insuficientes as evidências favoráveis
ao uso de dexametasona em neonatos com MBA; em crianças, por outro
lado, o efeito anti-inflamatório desta droga parece ser benéfico diante de
meningite por Haemophilus influenzae tipo b, prevenindo principalmente
seqüelas auditivas. Em adultos com MBA ocorre redução tanto da
morbidade quanto da mortalidade quando a dexametasona é utilizada previamente à infusão do
antimicrobiano, principalmente quando o agente envolvido é S. pneumoniae e diante de quadro clínico
grave.
Nesta faixa etária deve ser evitado o uso de ceftriaxona, pela alta ligação protéica
que predispõe ao desenvolvimento de kernicterus.
No Brasil, felizmente, é raro o encontro de cepas altamente resistentes à penicilina (CIM maior
que 2,0 µg/mL). Nestes casos, é obrigatório o uso da vancomicina associada a uma cefalosporina de
terceira geração. Geralmente, as cepas resistentes à penicilina também o são ao cloranfenicol, o que
inviabiliza o uso deste agente. A maioria das cepas de S. pneumoniae resistentes à penicilina são do
sorotipo 23F e, por análise de perfil molecular, idênticas em várias partes do mundo.
Veja estas e demais indicações terapêuticas guiadas pela identificação do agente etiológico e teste de
suscetibilidade no Quadro 8.
Terapia intratecal é geralmente desnecessária no tratamento das MBA adquiridas na comunidade,
devido ao surgimento das cefalosporinas de terceira geração, que atingem altos níveis de concentração
no SNC. Da mesma forma, a cefalosporina de quarta geração e os carbapenens têm se mostrado
bactericidas para a maioria dos bacilos Gram-negativos causadores das MBA relacionadas à assistência à
saúde, o que praticamente eliminou o uso de aminoglicosídeos na maioria das situações.
Ocasionalmente, em meningites refratárias, o tratamento intratecal ou intraventricular pode ser
considerado. A gentamicina é utilizada no tratamento de meningites por enterococos quando o uso de
ampicilina e gentamicina, intravenosos, não for satisfatório. A polimixina B pode ser utilizada no
tratamento de meningites por P. aeruginosa e A. baumannii multirresistente.
As MBA relacionadas com a presença de derivação ventricular que se apresentem refratárias à terapia
sistêmica, além da terapia intratecal, também devem ser avaliadas quanto à possibilidade de retirada
ou troca do sistema de drenagem.
Acompanhamento do tratamento
A segunda punção pode ser realizada na ocasião da alta, a fim de verificar se o líquor apresenta
células em número abaixo de 100 células/mm3, com predomínio de linfomononucleares e a glicose e as
proteínas apresentam valores normais ou discretamente alterados. As punções de líquor no decorrer do
tratamento só devem ser realizadas quando a evolução clínica não for favorável (após 48 horas de
terapia) ou quando se tratar de meningite por Pseudomonas spp. outuberculose. Estas punções
devem ser feitas com o máximo cuidado para evitar contaminação secundária do LCR.
Tempo de tratamento
Veja não Quadro 9 os intervalos de dias de terapia antimicrobiana recomendados para as meningites
bacterianas, segundo o microrganismo isolado em cultura de líquor.
2. Ambiente hospitalar - infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) - infecções
hospitalares
2.1. Conceitos importantes
Terapia Empírica
A execução de exame físico minucioso, com especial atenção para manifestações cutâneas (lesões
petequiais, escaras de decúbito em locais pouco usuais, como região occipital ou auricular), presença de
sopro cardíaco, sinais de irritação meníngea, auxiliam no diagnóstico etiológico presuntivo e orientam a
terapêutica.
IMPORTANTE:
O início do uso do antimicrobiano no paciente com infecção grave é realizado na fase de suspeita de
infecção, e os possíveis agentes infecciosos, relacionados ao foco mais provável, devem ser cobertos
(terapia empírica). Após o isolamento do agente relacionado ao quadro séptico, o médico deve optar
por trocar o antimicrobiano (terapia guiada) levando em consideração:
Origem da infecção
A origem da infecção, comunitária ou relacionada à assistência à saúde, é uma questão importante a ser
considerada, quando se trata de terapia antimicrobiana. Não só o agente infeccioso pode ser diferente,
como o foco primário pode diferir:
infecções urinárias, abdominais, pulmonares e cutâneas são as mais comuns com origem na
comunidade;
pneumonia, infecção da corrente sangüínea e infecção operatória são as mais comuns, quando a
origem pode ser relacionada aos procedimentos hospitalares.
Estudos recentes mostraram ser relevante, na formação de biofilmes, o fenômeno do quorum sensing,
que se refere àcomunicação microrganismo-microrganismo, utilizada para regular os diferentes
processos, como: o intercâmbio de moléculas, de nutrientes e de material genético. Pode-se interpretar
que o biofilme é um mecanismo de sobrevida microbiano, que lhes permite receber nutrientes e ficar
protegidos das ações antimicrobianas, tendo portanto implicação terapêutica. Até o momento, na
maioria das vezes, foi necessário retirar o dispositivo ou implante, para o controle do biofilme.
Co-morbidades do paciente
Alguns pacientes são particularmente suscetíveis a certos tipos de agentes, os quais devem ser
fortemente considerados no início da terapia:
pacientes com asplenia, funcional ou cirúrgica, são mais suscetíveis a germes encapsulados
como Streptococcus pneumoniae, Haemophillus influenzae, Neisseria
meningitidis e Salmonella spp.;
pacientes neutropênicos, com lesão de mucosa oral (mucosite) secundária à quimioterapia
têm maior risco de infecção por Streptococcus viridans ou bacteremia por bacilos Gram-
negativos;
pacientes portadores de diabetes têm maior predisposição a desenvolver bacteremia por S.
aureus, devido à elevada freqüência de colonização de pele e mucosa destes indivíduos,
especialmente nos insulino-dependentes. Todavia, as infecções cutâneas crônicas são
polimicrobianas (bacilos Gram-negativos, anaeróbios) e requerem, portanto, cobertura
antimicrobiana mais ampla;
pacientes cirróticos: Microrganismos de origem entérica são responsáveis pela maioria dos
quadros de peritonite em cirróticos, sendo E. coli e K. pneumoniae os mais recuperados em
culturas, bem como pneumococos.
Resistência microbiana
A resistência aos antimicrobianos, fenômeno relacionado ao seu uso, varia segundo o espaço geográfico,
podendo variar de cidade para cidade, de hospital para hospital e até de enfermaria para enfermaria. O
uso de antimicrobianos exerce pressão seletiva, que consiste em eliminação de patógenos sensíveis e
recolonização por cepas resistentes, não havendo, portanto, vazio ecológico. Assim, apenas dados de
epidemiologia da resistência local podem nortear a adequada escolha antimicrobiana empírica.
Considerando o mesmo espaço, pode ocorrer variação ao longo do tempo paulatinamente, ou
mesmo abruptamente, quando ocorre um surto causado por uma cepa com perfil maior de resistência,
por exemplo. Esta variação pode ocorrer tanto em infecções de origem comunitária, quanto nas
de origem hospitalar. Nesta última, de maneira muito mais pronunciada.
A prevalência de resistência bacteriana em bactérias Gram-positivas é mais pronunciada no hemisfério
norte, enquanto que a de Gram-negativas é mais pronunciada no sul.
Para que a questão da resistência microbiana seja contemplada de forma completa, ainda é
necessário que seja considerado o uso de antimicrobianos anterior ao episódio de infecção atual.
É o que identificamos como anamnese dirigida para o risco de infecção por microbiota
selecionada, quando se pergunta ao paciente:
Pacientes com mais de cinco a sete dias de ventilação mecânica e uso prévio de antimicrobianos de
amplo espectro são propensos a infecções por agentes multirresistentes, em geral, S. aureus resistente
à oxacilina (MRSA), Gram-negativos não-fermentadores (Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter spp.)
e Gram-negativos produtores de β-lactamases de amplo espectro (Klebsiella pneumoniae).
Esses pacientes devem receber antimicrobianos de espectro ampliado. Embora não se tenha um
consenso sobre o tempo ideal para a duração do tratamento, mais recentemente há uma tendência para
redução do tempo de tratamento, raramente devendo ultrapassar 14 dias para bacilos Gram-negativos
não-fermentadores (P. aeruginosa e Acinetobacter spp.) e 8 dias para os demais patógenos.
O uso de antimicrobiano contra Gram-positivos resistentes para terapia de PAV deve ser considerado
quando o paciente for colonizado por MRSA, houver fator de risco para tal (Quadro 12), ou na suspeita
de transmissão cruzada na unidade de internação onde o paciente desenvolveu a infecção.
Você pode acessar as diretrizes brasileiras para tratamento das pneumonias adquiridas no hospital e das
associadas à ventilação mecânica – 2007 do Jornal Brasileiro de Pneumonia clicando aqui ou da
Sociedade Paulista de Infectologia clicandoaqui.
2.3. Corrente sanguínea - Infecções relacionadas ao uso de cateteres vasculares
Em muitos países, incluindo o Brasil, o Staphylococcus coagulase negativa tem papel de maior destaque
entre as infecções da corrente sangüínea. Este fato deve ser bem avaliado, pois este microrganismo
pode ser apenas um contaminante e, portanto, estar relacionado a um procedimento inadequado
de coleta, sendo superestimado.
Mesmo assim, em situações específicas, como pacientes com cateteres implantados ou neonatos, este
patógeno pode aparecer entre os mais freqüentes. Observa-se que o Staphylococcus coagulase negativa
apresenta elevada resistência à oxacilina, sendo causa comum da necessidade do uso de glicopeptídeos
no paciente grave. A redução do uso dos glicopeptídeos é um fator importante, pois seu uso tem-
se mostrado como fator independente relacionado ao aparecimento de Enterococcus resistente à
vancomicina (VRE).
Considerando que o uso de dispositivos está relacionado a estas infecções, fica claro que a retirada do
cateter (vascular ou vesical) é a regra na ocorrência de infecção. Caso seja necessário um novo cateter
central, este deve ser colocado, preferencialmente, em outro sítio de punção. No caso de cateteres
semi-implantados ou totalmente implantados, a remoção deve ser realizada, sempre que houver
infecção do túnel ou abscesso no sítio de inserção do catéter.
Não há dados suficientes que determinem a duração do tratamento de infecções relacionadas aos
cateteres vasculares em pacientes com sepse. Estes pacientes devem ser separados entre aqueles
com infecções complicadas, isto é, trombose séptica, endocardite, osteomielite ou outros possíveis
focos metastáticos, daqueles com bacteremia não-complicada, nos quais não há evidência de tais
complicações.
Havendo resposta, após a terapia inicial, a maioria dos pacientes pode receber terapia entre 7 e 10 dias.
Um curso maior de terapia antimicrobiana pode ser necessário se ocorrer bacteremia ou fungemia
persistente, mesmo após a retirada do cateter, ou se houver diagnóstico de alguma das complicações já
citadas.
B - Infecções intra-abdominais
Neste cenário, o antimicrobiano tem papel
complementar, pois a maior parte das
infecções intra-abdominais só apresentam
melhora significativa após abordagem
cirúrgica, com a remoção do foco e a lavagem
abundante da cavidade, permitindo uma
rápida eliminação do restante do inóculo com
poucas doses de antimicrobianos.
As infecções abdominais são freqüentemente polimicrobianas,
causadas na grande maioria das vezes por bacilos Gram-negativos e
anaeróbios. A necessidade de tratamento primário
paraEnterococcus spp. permanece controversa nas infecções
abdominais.
Em pacientes com persistência de peritonite ou que já tenham feito uso
de esquemas antimicrobianos amplos prévios é recomendada a
cobertura para MRSA, Enterococcus spp., enterobactérias produtoras
de ESBL, bacilos Gram-negativos não-fermentadores e Candida spp.
As perfurações do tubo gastrintestinal, deiscências de anastomose com
ocorrência de fístulas e pancreatites com necrose são situações de
risco para peritonite fúngica.
C - Infecções fúngicas
Ainda dentro das infecções hospitalares, vale a pena ressaltar a importância das
infecções fúngicas, com destaque às candidemias. Em muitas instuições
brasileiras, principalmente em unidades de terapia intensiva de hospitais
privados, tem sido observado aumento de espécies não-albicans.Algumas
destas espécies podem apresentar maior resistência ao fluconazol.
Como já visto, os antimicrobianos têm ação direta contra o agente etiológico sensível e ação indireta,
selecionando cepas resistentes no local da infecção e na microbiota do paciente. Assim, o paciente, o
antimicrobiano e o microrganismosão variáveis importantes a serem consideradas na escolha de
uma droga para o tratamento de uma infecção.
A prescrição adequada dos antimicrobianos ainda deve considerar que o objetivo da terapia é o
sucesso clínico, reduzindo a possibilidade de resistência bacteriana: aumentar a erradicação bacteriana
para aumentar os resultados clínicos. Assim, considerando essa relação, a eficácia de um
antimicrobiano tem sido relacionada com a avaliação integrada da farmacocinética e da
farmacodinâmica. Não apenas para a terapia guiada, mas também para a terapia empírica, a
prescrição deve considerar as propriedades farmacológicas.
Estes conhecimentos são necessários para qualquer médico que prescreva antimicrobianos. No caso de
infecções graves, se conhecemos a concentração inibitória mínima (CIM) da bactéria, as propriedades
mínimas de concentração da droga e o estado do paciente, ou seja, conhecemos a farmacodinâmica das
drogas, podemos escolher a melhor opção e, desta forma, conseguir melhor eficácia.
In vivo, a concentração sérica máxima (Cmax) dividida pela CIM – razão Cmax/CIM – é a correlação
clínica usada como preditor de boa evolução para os antimicrobianos nesta categoria. Veja aqui na
Figura 2.
Como é expresso em percentagem, o tempo acima da CIM deve ser de 50% para penicilinas, 65% a
75% para cefalosporinas e 40% para carbapenêmicos. A exigência mais baixa de % T>CIM para os
carbapenêmicos pode ser uma função de seu efeito pós-antimicrobiano contra as bactérias Gram-
negativas, definido como o tempo que deve transcorrer para que um microrganismo se recupere do
efeito do antimicrobiano, depois que o antimicrobiano foi removido do sistema. Veja aqui na Figura 2.
A duração da infusão pode ser ampliada para atingir os melhores perfis farmacodinâmicos destes
antimicrobianos: os β-lactâmicos, como as penicilinas e cefalosporinas, são idealmente prescritos em
infusão contínua, e os carbapenêmicos podem ser prescritos com infusões prolongadas
(aproximadamente três horas).
Situações onde a farmacodinâmica deve ser aplicada
O rápido desenvolvimento de microrganismos resistentes aos antimicrobianos
representa um grave problema.
Pseudomonas aeruginosa é um dos principais patógenos da pneumonia
associada à ventilação mecânica com crescente aquisição de resistência.
Acinetobacter spp. e Enterobacter cloacae são outros bacilos Gram-negativos
com CIMs progressivamente mais elevadas.
Por outro lado, a utilização de terapia combinada para evitar o surgimento da resistência ou diante de
infecções, aparentemente, mais graves, ainda merece estudos mais detalhados.
Safdar et al. (2004) revisaram a literatura com foco nas bacteremias causadas por bacilos Gram-
negativos e o impacto da terapia combinada de β-lactâmicos mais aminoglicosídeos na mortalidade.
Revisaram 17 estudos, englobando 3077 pacientes, e concluíram que a combinação não reduz
mortalidade.
Estas conclusões têm sido encontradas também em pacientes imunossuprimidos, com evidências
de não haver vantagens clínicas para a terapia combinada. Devemos ressaltar que a maioria dos
estudos considerou combinação com aminoglicosídeos e demonstrou mais nefrotoxicidade nesses
esquemas.
Além do exposto, outros pontos fundamentais a
serem abordados na terapia de infecções
relacionadas à assistência à saúde são: