108 Sudários

O trabalho consiste na impressão de memórias inconscientes da

minha ancestralidade, suplementados pela percepção de
expressões faciais de sentimentos e emoções, expostos na minha
vivência.

Nesta composição de marcas de expressão e cicatrizes aparentes,

representadas por ação punctória alinhavada e riscos, pretendo
ressignicar uma complexa teia de sensações subjetivas e captadas
nas convivências e inter-relações humanas. Represento uma
imagem dentro da outra, como uma vida acontecendo a partir da
sua origem acrescida dos efeitos sofridos pela psique. Nas linhas que
se continuam além da imagem criada, represento a perpetuação
das conexões entre os seres humanos e a ligação a sua própria
origem genética, tudo sob intervenção da exposição às dores e suas
sequelas, exteriorizadas em expressões faciais.
Uma formação artística que utiliza um suporte simples e simplório – o
pano de chão - do cotidiano de todos e que se modica com o seu
uso primordial por ação das sujidades, representando a simplicidade
da vida e ao mesmo tempo sua fragilidade e impermanência, pela
vulnerabilidade do acaso ou destino. Uma imagem cicatrizada em
um pano, como um sudário. Transformar algo aparentemente
simples em expressão artística.

O trabalho será apresentado numa replicação de 108 objetos

artísticos, expostos em forma de instalação, utilizando-se varais para
sua xação. A disposição em varais permitirá o uxo de pessoas
entre estes, facilitando a fruição de perto e melhor entendimento do
processo criativo. Além disso, nesta disposição, o trabalho
conservará sua liberdade de movimento, o que simboliza bem o
status de espalhar arte, como uma dissipação de sua vibração, sob
efeito do vento e da energia dos visitantes. A quantidade de 108
vezes é utilizada como a representação do innito, sendo
considerado um número sagrado e místico, que representa o tempo
passado, presente e futuro.
O trabalho é realizado com sacos alvejados (pano de chão)
como suporte, no qual será feita a pintura de expressões faciais
em técnica mista, utilizando-se tinta acrílica, aquarela, tinta
metálica e tinta em spray, sobre base inicialmente pintada em
café. Acrescenta-se, ao trabalho, linhas e os em pontos de
bordado, intensicando as expressões e rmando as marcas e
cicatrizes de cada face, representando diversos tipos étnicos. As
linhas ultrapassam o limite de cada pano, representando a
extensão da vida e da conectividade entre cada indivíduo. O
trabalho será apresentado disposto em varais de cabo de aço,
com alguns os tocando o solo e outros interligando uns aos
outros. Durante a montagem, cada pano será costurado ao
transpassar o varal para aumentar a segurança da sua xação,
porem serão utilizados pregadores de madeira (rústicos) para
compor o resultado nal no varal. Quando expostos, em conjunto,
terão a força de uma unidade, de uma massa como único corpo,
signicando a sociedade ou a humanidade. Terão a totalidade de
108 unidades artísticas, com expressões faciais diferentes.