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LEIS PENAIS ESPECIAIS

Sumário
1. Lei dos Crimes Hediondos e Equiparados (Lei 8.072/90) ............................................. 2

2. Lei de Drogas (Lei 11.343/06) ..................................................................................... 13

3. Lei de Terrorismo (Lei 13.260/16) .............................................................................. 41

4. Lei de Tortura (Lei 9.455/97) ...................................................................................... 48

5. Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03) .............................................................. 55

6. Lei de Contravenções penais (Decreto-Lei 3.688/41) ................................................ 74

7. Crimes de Trânsito (Lei 9.503/97) .............................................................................. 94

8. Crimes contra o Consumidor (Lei 8.078/90) ............................................................ 112

9. Crimes contra as Relações de Consumo (Lei 8.137/90) ........................................... 122

10. Lei de Genocídio (Lei 2.889/56) .............................................................................. 126

11. Lei de Abuso de Autoridade (Lei 4.898/65) ............................................................ 130

12. Crimes de Preconceito ou Discriminação (Lei 7.716/89) ....................................... 146

13. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492/86) ................................ 155

14. Crimes de Licitações (Lei 8.666/93) ........................................................................ 175

15. Crimes contra a Ordem Tributária (Lei 8.137/90) .................................................. 183

16. Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) ................................................................ 193

17. Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98) ............................................................ 219

18. Lei de Organização Criminosa (Lei 12.850/13) ....................................................... 233

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LEIS PENAIS ESPECIAIS

Aula 01. Crimes hediondos e equiparados. Lei 11.343/06.

1. Lei dos Crimes Hediondos e Equiparados (Lei 8.072/90)

I. Introdução

Art. 5º, XLIII.

A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da


tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem.

 Trata-se de um mandado de criminalização e mandado de recrudescimento do


tratamento destes crimes pela legislação infraconstitucional, já que a lei considerará
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia.
 O dispositivo alcança os crimes hediondos e os crimes equiparados a hediondos
(3 Ts).

II. Rol dos crimes hediondos

Lei 8.072/90.

O caráter hediondo de um crime depende da previsão legal.

A natureza hedionda do crime independe de o crime estar consumado ou ser tentado


(art. 1º).

Art. 1º. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Código
Penal, consumados ou tentados:

 Homicídio simples, quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado;

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Doutrina  Homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio:
basta que seja caracterizado por uma impessoalidade na escolha da vítima. Ex.: matar alguém
que pertença determinada classe social, que seja homossexual, policial etc.

Basta que o crime de homicídio tenha sido exercido em atividade típica de grupo de
extermínio. Não é necessário que o agente faça parte de algum grupo de extermínio.

Se houver efetivamente um grupo de extermínio, aplica-se a causa de aumento de 1/3


ao crime de homicídio (121, §6º, CP).

Homicídio qualificado-privilegiado

Doutrina diverge sobre a possibilidade ou não de o homicídio qualificado-privilegiado


ter caráter hediondo:

1ªC: Damásio. O crime de homicídio qualificado-privilegiado não é hediondo.

Fundamento: o CP diz que devem preponderar circunstâncias de caráter subjetivo. O


privilégio é subjetivo.

Entendimento majoritário e adotado pelo STJ.

2ªC: o homicídio qualificado-privilegiado deve ser considerado hediondo, pois não se


deve equiparar a qualificadora com o privilégio.

Fundamento: a qualificadora implica nova tipificação (novo intervalo da pena). O


privilégio é simples causa de diminuição da pena. Logo, deve preponderar a qualificadora.
Entendimento minoritário.

 Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima e lesão corporal seguida de morte,


quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição;

Lesão corpora gravíssima funcional e homicídio preterdoloso funcional.

Perceba: a expressão parentesco consanguíneo foi utilizada para excluir o parentesco


por afinidade.

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Doutrina: caso o agente de segurança pública tenha um filho adotivo, haverá incidência
do dispositivo para incluir o crime como hediondo. Não haveria analogia in malam partem,
pois a CF proíbe qualquer distinção entre filhos. Trata-se de interpretação extensiva.

 Latrocínio
Roubo seguido de morte, culposa ou dolosa, decorrente de violência.
 Extorsão qualificada pela morte
extorsão qualificada pela morte decorrente de violência.

Lembre-se: o sequestro relâmpago pode

caracterizar o crime de extorsão:

158, § 3º. Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa


condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6
(seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.

Este sequestro relâmpago pode ser qualificado pelo resultado morte.

Doutrina: o crime de sequestro-relâmpago qualificado pela morte é ou não é crime


hediondo, visto que não há expressamente na Lei 8.072/90 a previsão do art. 158, §3º?

1ªC: não é hediondo. Fundamento: não cabe analogia in malam partem. Precedentes
dos Tribunais Superiores.

2ªC: é hediondo. A lei manda aplicar as mesmas penas do crime de extorsão mediante
sequestro qualificado, e este é sempre crime hediondo (art. 1º, V, da Lei 8.072/90). Se é para
aplicar as mesmas penas, quer dizer que é crime hediondo.

3ªC:

O sequestro relâmpago é uma modalidade do crime de extorsão. A extorsão, quando é


qualificada pela lesão corporal grave, não é hedionda. Então o sequestro-relâmpago
qualificado pela lesão grave também não poderá ser hediondo.

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A extorsão, quando qualificada pelo resultado morte, será considerado crime hediondo.
Então, o sequestro-relâmpago, quando qualificado pelo resultado morte, também deve ser
considerado crime hediondo. Victor Rios Gonçalves.

 Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada


Veja: a extorsão mediante sequestro simples é crime hediondo.
 Estupro
 Estupro de vulnerável

 Epidemia com resultado morte (267, §1º, CP)

Epidemia: surto de uma doença que atingirá número indeterminado de pessoas de uma
determinada região ou local. Isto se dá através de propagação de germes patogênicos.

Provocar a epidemia, por si só, não é crime hediondo. Para ser hediondo, é preciso que
essa epidemia tenha resultado em morte. A epidemia deve ser de forma dolosa. Não é
hedionda a epidemia culposa com resultado morte (267, §2º, CP).

 Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais
Para que incida a natureza hedionda do delito, esta falsificação deve ter se dado
dolosamente. Caso tenha se dado culposamente, não haverá crime hediondo.
 Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável
 Genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889/56, tentado ou
consumado
Art. 1º. Constitui crime de genocídio quem, com a intenção de destruir, no todo ou em
parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso:
• Mata membros do grupo: será aplicada a pena do homicídio qualificado
(12 a 30 anos).
• Causa lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo:
será aplicada a pena da lesão corporal gravíssima (2 a 8 anos).

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• Submete intencionalmente o grupo a condições de existência capazes
de ocasionar a eles a destruição física total ou parcial: aplica-se a pena do envenenamento
de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal (10 a 15 anos).
• Adota medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo:
aplica-se a pena do aborto provocado por terceiro (3 a 10 anos).
• Efetua a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo:
aplica-se a pena do sequestro (1 a 3 anos).

Art. 2º
II) Crime de associação para fins de genocídio: associarem mais de 3 pessoas para
prática dos crimes de genocídio. Pena: metade da cominada aos crimes ali previstos.

Art. 3º
III) Crime de incitação ao genocídio: incitar, direta e publicamente, alguém a cometer
qualque
r dos crimes de genocídio. Pena: metade da cominada aos crimes ali previstos.
§1º do art. 3º: a pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este
se consumar.
§2º do art. 3º: a pena será aumentada de 1/3, quando a incitação for cometida pela
imprensa.

• Art. 4º: a pena será aumentada de 1/3, no caso dos arts. 1º, 2º e 3º,
quando cometido o crime por governante ou funcionário público.
• Art. 5º: será punida com 2/3 das respectivas penas a tentativa dos crimes
definidos nesta lei.
• Art. 6º. Os crimes acima previstos não serão considerados crimes
políticos para efeitos de extradição.

• Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei


10.826/03) – incluído pela lei 13.497/17.
Novatio legis in pejus.

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Existe discussão sobre a abrangência do tipo penal: se alcança o caput e o parágrafo
único do artigo 16 do ED, ou apenas o caput.

Apesar de entendimentos em sentido diverso, entendemos que as figuras descritas no


parágrafo único são alcançadas pela nova lei e, portanto, são também consideradas crimes
hediondos.

Fundamentos:

A) onde o legislador não diferenciou, não cabe ao intérprete diferenciar.

B) o legislador pune as condutas do caput e do parágrafo único com a mesma pena, de


maneira que possuem igual reprovabilidade, o que significa que merecem idêntico
tratamento.

Apesar de entendimentos em sentido diverso, entendemos que as figuras descritas no


parágrafo único são alcançadas pela nova lei e, portanto, são também consideradas crimes
hediondos.

Fundamentos:

A) onde o legislador não diferenciou, não cabe ao intérprete diferenciar.

B) o legislador pune as condutas do caput e do parágrafo único com a mesma pena, de


maneira que possuem igual reprovabilidade, o que significa que merecem idêntico
tratamento.

Artigo 16 da Lei 10.826/03:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de


fogo ou artefato;

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II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma
de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a
erro autoridade policial, perito ou juiz;

III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem


autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,


marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;

V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,


munição ou explosivo a criança ou adolescente; e

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer


forma, munição ou explosivo.

Observações:

1. STF e STJ: o crime de associação para o tráfico de drogas (art. 35 LD) não é
considerado crime equiparado a hediondo.

Fundamento: a Lei 8.072/90 não faz menção ao crime.

2. A Lei 8.072/90 não faz menção aos crimes militares. Dessa forma, o crime militar,
ainda que seja uma das condutas previstas como hediondas, não será considerado hediondo.

Fundamento: infrações penais cometidas por militares em serviço são crimes militares.

III. Anistia, graça, indulto e fiança

Art. 2º. Os crimes hediondos, a tortura, o tráfico ilícito de drogas e o terrorismo são:

• Insuscetíveis de anistia, graça e indulto


• Insuscetíveis de fiança

CF não tinha mencionado o indulto. A Lei dos Crimes Hediondos acrescentou a


insuscetibilidade do indulto.

STF: não há qualquer inconstitucionalidade, pois graça e indulto ontologicamente não


se distinguem.

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• Graça: perdão de caráter individual
• Indulto: perdão em sentido coletivo.

Se está vedada a graça, está vedado o indulto.

Lei de Torturas (Lei 9.455/97)  veio após a Lei 8.072/90 e não previu a
insuscetibilidade de indulto para tortura, apenas abrangendo a anistia e a graça. Existe
discussão doutrinária.

CESPE (Delta GO/2017) considerou correta a seguinte assertiva: “Embora tortura, tráfico
de drogas e terrorismo não sejam crimes hediondos, também são insuscetíveis de fiança,
anistia, graça e indulto”.

Art. 44 da Lei de Drogas  proíbe expressamente o indulto, graça e anistia aos crimes
de tráfico de drogas e equiparados.

IV. Regime inicial fechado

Art. 2º, §1º. A pena por crime hediondo será cumprida inicialmente em regime fechado.

STF: essa redação é inconstitucional. Viola o princípio da individualização da pena.


Aplica-se o art. 33, §2º, do CP.

V. Regras para progressão de regime

Art. 2º, §2º. A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes hediondos ou
equiparados a hediondos, se dará:

Primário: após o cumprimento de 2/5 da pena


Reincidente: após o cumprimento de 3/5 da pena.

Pela redação originária da Lei 8.072, o sujeito deveria cumprir a pena em regime
integralmente fechado. STF reputou inconstitucional.

Posteriormente, a Lei 11.464/07 trouxe a nova redação (cumprimento de 2/5 pelo


primário e 3/5 pelo reincidente), qualquer que seja a reincidência.

STF, SV 26: para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º
da Lei 8.072/90, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos

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objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado,
a realização de exame criminológico.

Conclusão

Até 2007, como não havia a regra da Lei 11.464, aplicam-se as regras previstas no Código
Penal e da Lei de Execuções Penais: progressão de regime por meio do cumprimento de 1/6
da pena, desde que cumpridos os demais requisitos objetivos e subjetivos.

VI. Direito de apelar em liberdade

Art. 2º, §3º. Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se


o réu poderá apelar em liberdade.

Em verdade, o direito de apelar independe da liberdade. Mesmo que o indivíduo esteja


foragido, poderá o sujeito interpor recurso de apelação.

Refere-se à prisão preventiva.

VII. Prisão temporária

Dá-se no curso do inquérito policial (imprescindível para as investigações policiais ou


para esclarecimento da identidade do investigado)

Regra: prazo de 5 dias, prorrogável por mais 5 dias.

Art. 2º, §4º. A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960/89, nos crimes
hediondos e equiparados, terá o prazo de 30 dias, prorrogável por igual período em caso de
extrema e comprovada necessidade.

VIII. Estabelecimentos penais

Art. 3º. A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados


ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência
em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.

IX. Livramento condicional

Art. 5º da Lei 8.072/90 inseriu o inciso V ao art. 83 do CP.

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LC para condenados por crime hediondo, tortura, tráfico de drogas, tráfico de pessoas
e terrorismo (redação Lei 13.344/16). Necessário que o condenado:

• Cumpra mais de 2/3 da pena


• Não seja reincidente específico em crimes de natureza hedionda ou equiparada
a hedionda

Lembrando... (artigo 83 do CP):

Art. 83 - O juiz poderá conceder LC ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou


superior a 2 anos, desde que:

I - cumprida + de 1/3 da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e


tiver bons antecedentes;

II - cumprida + da 1/2 se o condenado for reincidente em crime doloso;

III - comprovado comportamento satisfatório + bom desempenho no trabalho + aptidão


para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;

IV - tenha reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo

Art. 44, parágrafo único, da Lei de Drogas:

Nos crimes dos arts. 33, caput e § 1º, e 34, 35, 36 e 37, caberá o LC após o cumprimento
de 2/3 da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.

Vale lembrar: o crime de associação para o tráfico de drogas (art. 35 da LD) não é
hediondo nem equiparado. Bastará o cumprimento de 1/6 da pena para progressão de
regime. Por outro lado, STJ: o prazo para se obter o LC será de 2/3 porque este requisito é
exigido pelo parágrafo único do art. 44 da LD (Inf. 568).

X. Delação eficaz

Art. 7º. Ao art. 159 do CP (extorsão mediante sequestro) fica acrescido o §4º:

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Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coautor que denunciá-lo à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois
terços.

Causa de diminuição da pena. Requisitos necessários:

• Número plural da agentes


• Delação feita por um deles
• Eficácia da delação para proporcionar a libertação da vítima

O quantum da redução variará conforme a maior ou menor contribuição para a


libertação da vítima.

XI. Associação criminosa qualificada

Art. 8º. Será de 3 a 6 anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal,
quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico de drogas ou terrorismo.

Lembrando: há associação criminosa quando 3 ou mais pessoas se reúnem para a


prática de crimes.

Perceba: a associação criminosa qualificada não é crime hediondo.

Não constitui crime hediondo a conduta de associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim
específico de cometer crimes hediondos.

XII. Traição benéfica

Art. 8º, § único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou


quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

Lei 11.343/06, art. 35. Associação para o tráfico. Delito específico.

• Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,


reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta
Lei:

Apesar de a redação do artigo dizer “reiteradamente ou não”, a jurisprudência entende


que, para a configuração da associação para o tráfico, são necessárias a estabilidade e
permanência.

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2. Lei de Drogas (Lei 11.343/06)

I. Crimes e das penas

a) Porte e cultivo para consumo próprio

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:

• I - advertência sobre os efeitos das drogas;

• II - prestação de serviços à comunidade;

• III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

• § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,


cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

Destrinchando o tipo:

• “Adquirir”: crime instantâneo.

• “Guardar”, “ter em depósito”, “transportar” ou “trouxer consigo”: crime


permanente.

• “Para consumo pessoal”: elemento subjetivo do tipo. Especial fim de agir.

• “Droga”: Portaria 344 da Anvisa. Norma penal em branco.

• “Sem autorização ou em desacordo com determinação legal”: elemento


normativo do tipo.

• Penas: advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à


comunidade e medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.

Não há pena privativa de liberdade.

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• Lei de Introdução ao CP  para ser crime, é necessário haver pena de reclusão
ou de detenção no preceito secundário.

• Lei específica pode prever crime sem pena privativa de liberdade.

STF: houve apenas a despenalização, mas não a descriminalização do delito de porte ou


cultivo para consumo próprio da droga. Outros: houve apenas a descarcerização.

• Crime de ação múltipla: tipo misto alternativo.

• Observe: o tipo penal não pune o uso pretérito da droga.

Sujeito que faz o teste antidoping em que fica constatado que, há menos de 60 dias,
fumou maconha  não responderá pelo crime. A lei pune quem coloca em risco à sociedade,
ou seja, o perigo social. Esse perigo é representado pela detenção atual da droga.

→ Elemento subjetivo do tipo

Ter a droga para uso exclusivamente seu, consumo próprio.

Norma interpretativa: art. 28, §2º.

Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá:

• À natureza e à quantidade da substância apreendida

• Ao local e às condições em que se desenvolveu a ação

• Às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes


do agente

→ Natureza do crime

Crime de perigo abstrato.

Jurisprudência: não se aplica o princípio da insignificância para este crime.

→ Sujeitos do crime

O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa.

O sujeito passivo é a coletividade, ou seja, a saúde pública.

→ Consumação

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Quando o agente adquire (momento em que fecha o negócio, bastando o acordo).

STJ: para configurar a conduta de "adquirir", não é necessária a tradição do


entorpecente e o pagamento do preço, bastando que tenha havido o ajuste.

Não é indispensável que a droga tenha sido entregue ao comprador e o dinheiro pago
ao vendedor, bastando que tenha havido a combinação da venda (Inf. 569). Este julgado serviu
para o tráfico de drogas, mas seus fundamentos são válidos.

• Com relação às condutas “guardar”, “ter em depósito”, “transportar” ou


“trouxer consigo”: crime é permanente. A consumação se protrai no tempo. A captura do
agente em flagrante é admitida enquanto não cessar a permanência.

Captura, porque não se admite a prisão em flagrante para o crime de porte de drogas
para uso próprio.

→ Pena

Pena para o crime de porte de drogas para uso próprio será de:

• Advertência sobre os efeitos das drogas;

• Prestação de serviços à comunidade;

• Medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.

• Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o
defensor.

§3º do art. 28.

As penas de prestação de serviços à comunidade e de medida educativa de


comparecimento à programa ou curso educativo serão aplicadas pelo:

• Prazo máximo de 5 meses

• Prazo máximo de 10 meses, em caso de reincidência.

§5º. A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários,


entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou

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privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo
ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§6º. Para garantia do cumprimento das medidas educativas, caso o agente,


injustificadamente, se recuse a cumpri-las, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

• Admoestação verbal

• Multa

• Dias-multa: mínimo de 40 e máximo de 100, devendo o juiz atender à


reprovabilidade da conduta do agente.

• Valor do dia-multa: de 1/30 avos até 3 vezes o valor do maior salário mínimo,
obedecida à capacidade econômica do agente.

• Os valores serão creditados ao Fundo Nacional de Antidrogas.

§7º. O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,


gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento
especializado.

Art. 30. Prescrevem em 2 anos a imposição e a execução das penas, observado, no


tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

Lembrando: caso o agente seja menor de 21 anos na data do fato, a prescrição deverá
ser reduzida da metade - art. 115 CP.

STF: não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a liberdade do
adolescente caso tenha praticado ato infracional análogo ao delito do art. 28 da LD, tendo
em vista que o tipo penal não prevê penas privativas de liberdade caso um adulto cometa esse
crime (Inf. 772).

→ Ação penal e procedimento

Pública incondicionada.

Procedimento: Lei 9.099/95. Trata-se de IMPO.

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b) Tráfico ilícito de drogas

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500


(mil e quinhentos) dias-multa.

→ Sujeitos do crime

Crime comum.

A pena será aumentada de 1/6 a 2/3 se o agente pratica o crime:

• Prevalecendo-se da função pública

• No desempenho da função de educação, função de poder familiar, função de


guarda ou função de vigilância.

• O sujeito passivo é a coletividade.

Crime de ação múltipla.

→ Elemento subjetivo

Crime doloso.

Especial fim de agir: intenção de entregar a droga para outra pessoa.

→ Objeto material

É a droga (Portaria 344 da Anvisa - norma penal em branco em sentido estrito).

Art. 1º, Parágrafo único, LD. Consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.

→ Consumação

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No momento em que o indivíduo pratica o núcleo do tipo.

STJ: para que se configure a conduta de "adquirir", prevista no art. 33 da Lei nº


11.343/2006, não é necessária a tradição do entorpecente e o pagamento do preço,
bastando que tenha havido o ajuste.

“Dessa forma, a conduta consistente em negociar por telefone a aquisição de droga e


também disponibilizar o veículo que seria utilizado para o transporte do entorpecente
configura o crime de tráfico de drogas em sua forma consumada (e não tentada), ainda que
a polícia, com base em indícios obtidos por interceptações telefônicas, tenha efetivado a
apreensão do material entorpecente antes que o investigado efetivamente o recebesse” (Inf.
569).

→ Flagrante preparado

Policial finge-se de usuário.

Crime impossível apenas na modalidade “vender” drogas.

Na modalidade “ter em depósito” ou “guardar”, por se tratar de crime permanente,


poderá ser realizada a prisão em flagrante.

Portanto, o flagrante será considerado válido.

→ Pena

Art. 42 da LD. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre as
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, a:

• Natureza e a quantidade da substância ou do produto; E

• Personalidade e a conduta social do agente.

STF: o grau de pureza da droga é irrelevante para fins de dosimetria da pena.


Preponderam apenas a natureza e a quantidade da droga apreendida para o cálculo da
dosimetria da pena (Inf. 818).

Art. 43. Na fixação da multa, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei,
determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições

18
econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 vezes o maior
salário-mínimo.

§ único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre


cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação
econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

STF

Se o réu, não reincidente, for condenado, por tráfico de drogas, a pena de até 4 anos,
e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem positivas (favoráveis), o juiz deverá
fixar o regime aberto e deverá conceder a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, preenchidos os requisitos do art. 44 do CP.

A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a


fixação do regime mais gravoso (Inf. 821).

→ Progressão de regime

Para haver a progressão de regime nos crimes da LD, exige-se o cumprimento de:

• 2/5 da pena, se for primário

• 3/5 da pena, se for reincidente

→ Livramento condicional (art. 44, §único, CP)

LC para condenado a tráfico de drogas: necessário que se obedeça, além dos demais
requisitos do CP, o cumprimento de 2/3 da pena, desde que o agente não seja reincidente
específico.

Reincidente específico: agente que tenha cometido anteriormente outro crime de


tráfico de drogas, associação, fabricante, informante...

→ Ação penal: pública incondicionada.

→ Tráfico privilegiado

19
Art. 33, §4º. Nos delitos definidos no art. 33, caput, e no art. 33, §1º, as penas poderão
ser reduzidas de 1/6 a 2/3, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o
agente seja:

• Primário

• Bons antecedentes

• Não se dedique às atividades criminosas

• Não integre organização criminosa

STF considerou inconstitucional a disposição do art. 33, §4º, que dizia ser “vedada a
conversão em penas restritivas de direitos”.

Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o
benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas encontrada com
ele foi muito elevada?

1ªC: 1ª Turma do STF  a grande quantidade de droga pode ser utilizada como
circunstância para afastar o benefício.

“Não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja
integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o
afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC 130981/MS,
Rel. Min. Marco Aurélio, 18/10/2016. Info 844).

2ªC: A 2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui,


isoladamente, fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena previsto no
tráfico privilegiado (HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/11/2016.
Info 849).

STJ, Súmula 512 (CANCELADA): a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no


art. 33, § 4º, da LD não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas.

Acompanhando entendimento do STF, a Terceira Seção do STJ estabeleceu que: o


tráfico privilegiado de drogas não constitui crime de natureza hedionda (Inf. 595).

20
STF

Há evidente constrangimento ilegal ao se enquadrar o tráfico de entorpecentes


privilegiado às normas da Lei 8.072/90, especialmente porque os delitos desse tipo
apresentam contornos menos gravosos e levam em conta elementos como o envolvimento
ocasional e a não reincidência.

Critério que o juiz levará em conta para aplicar a causa de redução de pena do tráfico
privilegiado. Lei silente.

STF: não é possível considerar a quantidade e natureza da droga na primeira fase da


dosimetria da pena e usar novamente na terceira fase, a fim de diminuir para menos de 2/3
da pena. Princípio do ne bis in idem.

STF não diz qual seria o critério para reduzir de 1/6 a 2/3 para o tráfico privilegiado.

Observação:

Como o crime de associação para o tráfico de droga exige estabilidade e permanência,


o agente não poderá ser beneficiário da causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado.

Conclusão: quem está sendo condenado por associação ao tráfico de drogas não poderá,
ao mesmo tempo, receber a causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado.

STJ

O fato de o crime ter sido cometido nas dependências de estabelecimento prisional


(inciso III do art. 40) não pode ser utilizado como fator negativo para fundamentar uma
pequena redução da pena na aplicação da causa de diminuição de pena do tráfico
privilegiado e, ao mesmo tempo, ser empregado para aumentar a pena. Bis in idem. A
circunstância deverá ser utilizada apenas como causa de aumento do art. 40, III (Inf. 586).

STJ: ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional lícita, se, de forma
concomitante, ele se dedicava a atividades criminosas, não terá direito à causa especial de
diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas).

Além disso, o tráfico de drogas praticado por intermédio de adolescente que, em troca
da mercancia, recebia comissão, evidencia que o acusado se dedicava a atividades criminosas,

21
circunstância apta a afastar a incidência da causa especial de diminuição de pena prevista
no art. 33, § 4º, da LD (Inf. 582, STJ).

STJ

É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação
da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício
legal previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006 (Inf. 596).

c) Figuras equiparadas ao tráfico de drogas

– Condutas relacionadas a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à


preparação de drogas

§1º do art. 33. Nas mesmas penas de reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a
1.500 dias-multa incorre quem:

• I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,


oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

A matéria-prima, insumo ou produto químico não precisam ser drogas, bastando que
sejam idôneos à preparação dos entorpecentes.

– Condutas relacionadas a plantas que se constituam em matéria-prima para


preparação de drogas

• II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a
preparação de drogas;

A simples posse de sementes não se encontra no tipo penal.

Se o sujeito é encontrado na posse de semente de planta que é matéria-prima para


droga, é necessário fazer um exame químico-toxicológico da semente, a fim de verificar se, na
semente, há o princípio ativo da Lei de Drogas.

Se tiver o princípio ativo, haverá o crime do art. 33, caput.

22
Se a semente em si não contiver o princípio ativo, como o é a semente de maconha:

1ªC: O indivíduo não comete o crime do art. 33, §1º, II, mas cometerá o crime do art.
33, §1º, I, tendo em vista que, apesar de não ser planta, não deixa de ser matéria-prima,
insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas.

2ªC: Fato atípico. A semente da maconha não contém o tetrahidrocanabinol (THC). A


semente é matéria-prima, mas não é utilizada para a preparação da maconha, e sim para a
produção da maconha. Como não há vedação à produção da maconha no art. 33, §1º, I, o fato
seria atípico.

STJ: classifica-se como "droga", para fins da Lei de Drogas, a substância apreendida que
possua "canabinoides", ainda que naquela não haja tetrahidrocanabinol (THC) (Inf. 582).

Art. 32 da Lei de Drogas.

As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia por


meio de incineração, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo
lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local,
asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova.

Art. 243 da Constituição Federal.

Haverá a expropriação da terra, como medida sancionatória, e sem qualquer direito à


indenização, nas propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas. Essas terras serão destinadas à reforma
agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único.

Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito


de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e
reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.

Para a desapropriação confiscatória, é necessário processo judicial. Competência: JF. A


União proporá "ação expropriatória" contra o proprietário do imóvel. Vale ressaltar: apenas

23
a União é competente para realizar a expropriação de que trata o art. 243 da CF/88, não
podendo ser feita pelos outros entes federativos.

STF: a expropriação recairá sobre a totalidade do imóvel, ainda que o cultivo ilegal ou
a utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele.

STF: o proprietário poderá evitar a expropriação se provar que não incorreu em culpa,
ainda que in vigilando ou in eligendo, pelo fato de estarem cultivando plantas psicotrópicas
em seu imóvel (Info 851). – Responsabilidade Subjetiva.

Para que a sanção do art. 243, não se exige a participação direta do proprietário no
cultivo ilícito, mas como se trata de sanção, exige-se algum grau de culpa.

• Culpa in vigilando: é a falta de atenção com a conduta de outra pessoa. Ocorre


quando não há uma fiscalização efetiva.

• Culpa in eligendo: consiste na má escolha daquele a quem se confia a prática de


um ato. Também chamada de “responsabilidade pela má eleição”.

Se o imóvel pertencer a dois ou mais proprietários (condomínio), haverá a


expropriação mesmo que apenas um deles tenha participação ou culpa. Restará ao inocente
apenas o direito buscar reparação daquele que participou ou teve culpa.

Importante destacar: cabe ao proprietário, e não à União, o ônus da prova de que não
agiu com culpa.

– Utilização de local ou bem para o tráfico ou consentimento de uso de local ou bem


para que terceiro pratique tráfico

Art. 33, §1º, III. Nas mesmas penas incorre quem utiliza local ou bem de qualquer
natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente
que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

O crime só se consuma com o efetivo tráfico no local, ainda que por uma única vez.

Atenção: não há menção sobre a punição para o indivíduo que cede a utilização do local
ou bem para o uso de drogas.

24
Art. 63 da LD. O juiz, ao proferir a sentença de mérito, decidirá sobre o perdimento do
produto, bem ou valor apreendido, sequestrado ou declarado indisponível.

Aula 02. Lei 11.343/06 (continuação).

d) Induzimento, instigação ou auxílio ao uso de droga

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa. I Médio PO.

ADIN 4.274

STF deu interpretação conforme ao art. 33, §2º, a fim de excluir qualquer intepretação
que enseje proibição de manifestação ou debate público sobre a descriminalização ou da
legalização do uso de drogas, mais especificamente à maconha, denominada “Marcha da
Maconha”.

Fundamento: liberdade de expressão. Não há instigação ao uso de drogas. Não há


direcionamento especial a qualquer pessoa.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa

Sujeito passivo é a coletividade.

→ Consumação

No momento em que a pessoa instigada, induzida ou auxiliada efetivamente faça uso da


droga.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

e) Oferta eventual e gratuita para consumo conjunto

25
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a


1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. IMPO

O oferecimento da droga deverá ser:

• Eventual

• Sem objetivo de lucro

• A pessoa do relacionamento do ofertante

• Com finalidade de juntos consumirem

Não pode haver habitualidade nem finalidade lucrativa.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa

Sujeito passivo é a coletividade (saúde pública).

→ Consumação

Doutrina: trata-se de crime formal.

Consuma-se no momento em que a droga é oferecida, ainda que não haja o efetivo
uso da droga.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

f) Maquinismos e objetos destinados ao tráfico de drogas

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho,
instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou
transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:

26
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a
2.000 (dois mil) dias-multa.

Crime de conteúdo misto.

Há subsidiariedade entre os crimes do tráfico de drogas e o tráfico de maquinismos e


objetos destinados ao tráfico.

O art. 33 absorverá o art. 34, quando não houver contextos autônomos.

Ex.: sujeito comprou maquinário para produzir aquela droga. Tendo terminado a
produção, o instrumento ou maquinário já não mais subsiste. Nesse caso, o crime do art. 33
absorverá o delito do art. 34.

→ Objeto material do crime

É o objeto utilizado na criação da droga.

Ex.: não se pode punir quem porta lâmina de barbear para separar cocaína em doses,
ou cachimbos para uso da maconha. Ambos não auxiliam no processo criativo da droga.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa

Sujeito passivo é a coletividade (saúde pública).

→ Ação penal Pública Incondicionada.

g) Associação para o tráfico

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou
não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200


(mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para
a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Crime plurissubjetivo.

27
Requisitos:

• Envolvimento de ao menos 2 pessoas (crime de concurso necessário)

• Prática de tráfico de drogas (art. 33, caput), figuras equiparadas ao tráfico (art.
33, §1º) ou tráfico de maquinário (art. 34).

STJ:

A participação do menor pode ser considerada para configurar o crime de associação


para o tráfico (art. 35) e, ao mesmo tempo, para agravar a pena como causa de aumento do
art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006 (Inf. 576).

STJ e doutrina

A associação deve ter estabilidade e permanência.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa

Sujeito passivo é a coletividade (saúde pública).

→ Consumação

Crime formal. Consuma-se no momento em que há a união dos envolvidos para a


prática do tráfico.

Caso efetivamente pratiquem o tráfico, haverá associação em concurso material com


tráfico.

→ Ação penal Pública Incondicionada.

h) Financiamento ao tráfico de drogas

• Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts.
33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

• Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e


quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Veja: esta pena é a mais severa da lei.

28
O financiamento atingirá os crimes de tráfico de drogas (art. 33, caput), figuras
equiparadas ao tráfico (art. 33, §1º) ou tráfico de maquinário (art. 34).

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa

Sujeito passivo é a coletividade (saúde pública).

→ Consumação

No momento em que o agente financia ou custeia de forma habitual o tráfico de drogas


(Victor Rios Gonçalves e José Baltazar).

Fernando Capez: é desnecessária a habitualidade. Para consumação basta um só


financiamento.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

→ Causa de aumento x crime de financiamento

O financiamento também pode ser causa de aumento de pena (art. 40, VII, LD).

Se o agente trafica e financia, somente responderá pelo tráfico com a pena majorada.
Princípio da especialidade.

Se o agente apenas financia, responderá pelo art. 36.

i) Informante colaborador

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados
à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700


(setecentos) dias-multa.

O agente não integra efetivamente o grupo, mas colabora por meio do seu papel de
informante. Ex.: fogueteiro.

29
 Se o agente integrar efetivamente o grupo, não responderá por este crime, e sim
pela associação para o tráfico (art. 35).

 Policial que informa aos traficantes sobre a data da operação de combate ao tráfico
que ocorrerá no morro: crime de colaboração ao tráfico de drogas (informante colaborador).
Se receber dinheiro para isso, concurso material com corrupção passiva.

 Em geral, o informante recebe dinheiro para colaborar, mas não há exigência legal
nesse sentido.

Funcionário público que se aproveita de suas funções para informar traficantes sobre
eventual diligência e recebe dinheiro por isso: corrupção passiva + 37 da LD, na forma do art.
69 CP.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Passivo: coletividade.

→ Ação penal Pública Incondicionada.

j) Prescrição culposa

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o
paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200


(duzentos) dias-multa. IMPO

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria


profissional a que pertença o agente.

Prescrever: receitar.

Ministrar: introduzir a substância.

→ Sujeitos do crime (crime próprio)

Sujeito ativo: médico ou o dentista, no caso de prescrever.

30
Sujeito ativo: médico, dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem, no caso
de ministrar.

Sujeitos passivos: a coletividade e a pessoa a quem a droga foi ministrada.

→ Ação penal Pública Incondicionada.

k) Condução de embarcação ou aeronave após o consumo de droga

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano
potencial a incolumidade de outrem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo,


cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena
privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-
multa. I Médio PO

Crime qualificado:

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as


demais, serão de 4 a 6 anos e de 400 a 600 dias-multa, se o veículo referido no caput deste
artigo for de transporte coletivo de passageiros.

É necessário que, em razão do consumo da droga, o agente conduza a embarcação ou


aeronave de forma anormal. Não é necessário que uma pessoa específica tenha ficado em
situação de risco. Basta demonstrar que o agente conduziu de forma anormal. Crime de perigo
concreto. Se for veículo automotor, art. 306 do CTB.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa

Sujeito passivo é a coletividade (saúde pública).

→ Ação penal

Incondicionada.

II. Causas de aumento de pena

31
Art. 40. as penas previstas nos arts. 33, 34, 35, 36 e 37 desta Lei são aumentadas de 1/6
a 2/3, se:

• A natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as


circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

Competência: Justiça Federal.

 Não é necessário que o agente consiga sair do país ou ingressar no país com a droga.
Basta que fique demonstrado que esta era a sua finalidade.

• O agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no


desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

A infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos


prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais,
recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se
realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em
transportes públicos;

O espírito que orienta a norma é a maior reprovabilidade do comportamento e a maior


capacidade de difundir o uso.

STJ: para incidência dessa causa de aumento de pena pelo tráfico de drogas em
transporte público, exige-se a comercialização efetiva da droga no transporte público.

STF: se o agente vende a droga nas imediações de um presídio, mas o comprador não
era um dos detentos nem qualquer pessoa que estava frequentando o presídio, ainda assim
deverá incidir a causa de aumento. É irrelevante se o agente infrator visa ou não aos
frequentadores daquele local (Inf. 858).

• O crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de
fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; Autoriza interpretação
teleológica.

No caso de o indivíduo utilizar de arma de fogo para traficar, o sujeito não responderá
pelo crime de tráfico de drogas e pelo crime de porte ilegal de arma de fogo, mas apenas pelo

32
tráfico majorado pelo emprego de arma de fogo, salvo se ficar constatado que o sujeito utiliza
a arma em outros momentos diversos das atividades de tráfico de drogas.

• Caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre Estados e o


Distrito Federal;

Competência: Justiça Estadual.

Para a incidência, basta que fique demonstrada a finalidade de transporte para outro
Estado da federação, não sendo necessária a efetiva transposição de um Estado para outro.

Observação

Agente que importa droga com objetivo de vendê-la apenas em seu Estado da
Federação.

Ainda que para chegar ao seu destino tenha a droga que passar por outros Estados,
incidirá apenas a causa de aumento da transnacionalidade (art. 40, I). O fato de o agente, por
motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu
destino final não é suficiente para caracterizar a interestadualidade. (Inf. 586, STJ).

• Sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha,


por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e
determinação;

Vulnerável como vítima ou coautor.

Quem pratica tráfico na companhia de um menor não responde por corrupção de


menores, mas pelo tráfico majorado pelo envolvimento do menor. Princípio da especialidade.

STJ

Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar
previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de
corrupção de menores.

Por outro lado, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será
possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no
art. 40, VI, da Lei de Drogas (Inf. 595).

33
STJ

Participação do menor pode ser considerada para configurar associação para o tráfico
(art. 35) e, ao mesmo tempo, majorar a pena como causa de aumento do art. 40, VI, da LD
(Inf. 576).

Causa de aumento do art. 40, VI, LD pode ser aplicada tanto para majorar o tráfico de
drogas (33) quanto para majorar a associação para o tráfico (35) praticados no mesmo
contexto.

Fundamento: não há bis in idem. São delitos diversos, totalmente autônomos, com
motivação e finalidades distintas.

STJ

O fato de o agente ter envolvido um menor na prática do tráfico e, ainda, tê-lo


retribuído com drogas, para incentivá-lo à traficância ou ao consumo e dependência,
justifica a aplicação, em patamar superior ao mínimo, da causa de aumento de pena do art.
40, VI, da Lei nº 11.343/2006, ainda que haja fixação de pena-base no mínimo legal. Gravidade
concreta do delito. (Inf. 576, STJ).

• O agente financiar ou custear a prática do crime.

Agente que, além de traficar, financia o tráfico.

III. Causa de diminuição de pena (colaboração premiada)

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação


policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e
na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena
reduzida de um terço a dois terços.

Quanto maior a colaboração, maior a redução de pena devida.

IV. Procedimento penal

a) Fase policial

34
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará,
imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do
qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

 Após a prisão, para lavratura do APF e estabelecimento da materialidade, é


necessário laudo de constatação provisória sobre a natureza e a quantidade da droga.

O laudo provisório é firmado por um perito ou, na falta do perito, por uma pessoa
idônea. Normalmente, será o escrivão, agente da polícia, policial militar, etc.

Para lavratura do APF é suficiente o laudo de constatação.

Após a prisão, prazo para conclusão do IP: 30 dias.

Caso o indivíduo esteja solto, prazo de 90 dias.

Os prazos poderão ser duplicados pelo juiz, ouvido o MP, desde que haja pedido
justificado do delegado de polícia.

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei,
são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o MP, os
seguintes procedimentos investigatórios:

I. Infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos


especializados pertinentes;

II. Não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou


outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a
finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de
tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

STJ

A investigação policial que tem como única finalidade obter informações mais concretas
acerca de conduta e de paradeiro de determinado traficante, sem pretensão de identificar

35
outros suspeitos, não configura a ação controlada do art. 53, II, da LD, sendo dispensável a
autorização judicial para a sua realização (Inf. 570, STJ).

b) Instrução criminal

Terminado o IP, os autos serão remetidos ao juízo, o qual remeterá os autos ao MP, a
fim de que, no prazo de 10 dias:

a) requeira o arquivamento,

b) requeira novas diligências ou,

c) entendendo suficiente, ofereça denúncia.

 Denúncia: MP arrola testemunhas (número máximo 5).

 Após, o juiz determina a notificação do acusado para apresentação de defesa prévia


no prazo de 10 dias.

 Após, volta ao juiz, que irá, no prazo de 5 dias, receber a denúncia, rejeitá-la ou
determinar diligências que repute imprescindíveis.

 Se determinar diligências imprescindíveis, o juiz fixará um prazo máximo de 10 dias,


a fim de que sejam realizados estes exames ou perícias. Depois, o juiz terá mais 5 dias para
receber ou rejeitar a denúncia.

 Recebida a denúncia, o juiz determinará a citação do acusado e intimação do MP


para o dia e hora da audiência de instrução, e requisitará laudos periciais faltantes.

Obs.: se estivermos diante do art. 33, caput, §1º, ou do art. 34 a 37, o juiz, ao receber a
denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for
funcionário público, comunicando ao órgão respectivo. Especialmente se o sujeito se valeu
da função de funcionário público para a atividade. O sujeito continuará recebendo
remuneração.

 Se o sujeito não for encontrado para citação pessoal, será então citado por edital.

Caso o sujeito não compareça à audiência nem nomeie defensor, o juiz suspenderá o
processo e o prazo prescricional, nos moldes do art. 366 do CPP.

36
 O acusado será citado para audiência de instrução e julgamento, a qual deve
acontecer no prazo de 30 dias, a contar do momento em que foi recebida a denúncia.

Observe: isso irá acontecer, caso não tenha sido determinada a realização de perícia
para verificar se o acusado é dependente de drogas. Neste caso, o prazo para a AIJ será de 90
dias (art. 56, §2º).

Começada a audiência, SEGUNDO A LETRA DA LEI (ARTIGO 57) o primeiro ato será o
interrogatório do acusado. No CPP, o interrogatório é o último. Hoje prevalece que o
interrogatório, mesmo no procedimento da Lei de Drogas, será o último ato do processo.

ATENÇÃO:

INFORMATIVO 609 DO STJ

O art. 400 do CPP prevê que o interrogatório deverá ser realizado como último ato da
instrução criminal.

Essa regra deve ser aplicada:

• nos processos penais militares;

• nos processos penais eleitorais e

• em todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (ex: lei de


drogas).

A tese do interrogatório como último ato da instrução em todos os procedimentos


penais só se tornou obrigatória a partir da data de publicação da ata de julgamento do HC
127900/AM pelo STF (11/03/2016).

Os interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da lei de drogas


até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido efetivados como o primeiro ato da
instrução. STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli (Info 816). STJ. 6ª Turma. HC
397382-SC (Info 609).

Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a


inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do

37
Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte)
minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.

Obs.: se o réu declara-se dependente e o juiz percebe que há indícios nesse sentido,
deve determinar a realização do exame para verificar essa dependência do acusado.

Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em 10


(dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.

Na sentença, o juiz deverá decretar também a perda de veículos, embarcações,


aeronaves, bem como de maquinários, utensílios e objetos utilizados para a prática do crime.

c) Destruição da droga

§ 3o Recebida cópia do APF, o juiz, no prazo de 10 dias, certificará a regularidade


formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas,
guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo.

Art. 72. Encerrado o processo penal ou arquivado o inquérito policial, o juiz, de ofício,
mediante representação do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público,
determinará a destruição das amostras guardadas para contraprova, certificando isso nos
autos.

d) Competência

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se
caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.

Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara
federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

STJ, Súmula 528: compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do
exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.

e) Laudo de constatação e laudo toxicológico

Apreendida a droga, dois exames serão necessários:

• Laudo de constatação: laudo provisório, sem caráter científico, que é feito por
um perito oficial ou pessoa idônea, caso não haja perito oficial.

38
O laudo de constatação afere a natureza e a quantidade da droga. Com ele, permitem-
se a lavratura do APF, o oferecimento da denúncia e o recebimento da denúncia.

• Laudo definitivo: laudo que resulta de exame químico-toxicológico,


comprovando a materialidade do delito.

Art. 50, §2º. O perito que subscrever o laudo de constatação não ficará impedido de
participar da elaboração do laudo definitivo.

Atenção:

O laudo definitivo deverá ser juntado antes da realização da AIJ.

É comum que não seja juntado a tempo, sendo realizada a AIJ com a oitiva das
testemunhas e interrogatório e, após, aguarda-se a chegada do laudo definitivo para que as
partes se manifestem acerca dele nas alegações finais, apesar da ausência de previsão legal.
Após, o juiz prolata a sentença, já que não há qualquer prejuízo ao réu.

f) Inimputabilidade na Lei de Drogas

Art. 45 da LD. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito,
proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão,
qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Há 3 espécies de inimputabilidade na Lei de Drogas:

• Dependência da droga: réu que, em razão da dependência, era, ao tempo da


ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

Enseja absolvição imprópria

• Caso fortuito: réu que, por estar sob o efeito de droga, proveniente de caso
fortuito, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

39
• Força maior: réu que, por estar sob o efeito de droga, proveniente de força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Hipóteses de caso fortuito ou força maior: absolvição própria.

Os semi-imputáveis serão condenados, mas sua pena será reduzida de 1/3 a 2/3, e,
eventualmente, substituída por medida de segurança.

Art. 26.

A pessoa condenada pela prática de qualquer infração penal, que seja dependente de
droga, e que esteja cumprindo pena privativa de liberdade ou medida de segurança, deverá
ter assegurado o tratamento dentro do sistema penitenciário ou dentro do hospital de
custódia.

O condenado dependente que esteja cumprindo pena fora do sistema prisional deverá
ser submetido a tratamento por um profissional de saúde.

g) Exame de dependência

A realização do exame de dependência toxicológica deverá ser determinada pelo juiz,


caso o acusado declare ser dependente ou se houver indícios nesse sentido.

Não suspenderá o trâmite da ação penal.

h) Apreensão, arrecadação e destinação dos bens do acusado

→ Bens ou valores obtidos com o tráfico

Sendo um bem móvel, imóvel ou valores consistentes em produtos ou proveitos dos


crimes, o juiz poderá determinar a apreensão desses bens móveis, imóveis ou valores.

Art. 61. O juiz poderá autorizar que o bem apreendido seja utilizado por órgãos ou pelas
entidades que atuam na prevenção do uso indevido de drogas, na atenção e reinserção social
de usuários de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.

Ao proferir a sentença, o juiz vai decretar a perda desses bens e valores que sejam
decorrentes do tráfico de drogas.

40
h) Bens utilizados para o tráfico

Ex.: carro utilizado para o tráfico (o agente comercializa drogas dentro do carro por ser
mais discreto).

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte,


os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a
prática dos crimes definidos nesta Lei, serão apreendidos e ficarão sob custódia da
autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de
legislação específica.

A perda desses bens e valores apreendidos será decretada na sentença pelo juiz, caso
em que serão perdidos em favor da União, devendo ser revertidos ao Fundo Nacional
Antidrogas (FUNAD).

3. Lei de Terrorismo (Lei 13.260/16)

Art. 1º. Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal
e:

• Disciplina o terrorismo

• Trata de disposições investigatórias e processuais

• Reformula o conceito de organização terrorista

• Art. 5º, XLIII, da CF (mandado de criminalização):

• A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a


prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem.

• A Lei 13.260/16 concretiza esse dispositivo constitucional.

I. Conceito de terrorismo

41
Art. 2º. O terrorismo consiste na prática dos atos definidos no §1º do art. 2º, quando
praticados por um ou mais indivíduos:

• Por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e


religião

• Cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado

• Expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

Perceba:

Ato descrito no §1º

Motivação (ex.: xenofobia)

especial fim de agir (ex.: provocar terror social)

Exposição a perigo (crime de perigo concreto).

Crime formal: o sujeito não precisa provocar efetivamente o terror social ou


generalizado. Basta tal finalidade.

II. Atos de terrorismo

Art. 2º, § 1º. São atos de terrorismo:

• Usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo


explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros
meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa;

Autoriza interpretação analógica.

Tipo penal misto alternativo.

42
 A lei pune atos preparatórios (ameaça usar, portar, guardar e transportar o explosivo
 Direito Penal de 3º Velocidade).

• Sabotar o funcionamento ou apoderar-se,

com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do


controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de
transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de
saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços
públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares,
instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias
e sua rede de atendimento.

 Entidades com enorme relevância social.

Ex.: o indivíduo apodera-se do sistema aeroportuário para derrubar aviões e causar


terror social, tendo em vista entender que os cidadãos brasileiros são inescrupulosos.

• Atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa

Basta uma única pessoa.

Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou
à violência.

Sistema de cúmulo material.

§ 2o

O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em


manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria
profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar,
criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades
constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei

Art. 3o Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta


pessoa, a organização terrorista:

Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.

43
A lei pune a associação para o terrorismo. O autor poderá ser:

• Líder da organização: “promover”;

• Fundador da organização: “constituir”;

• Integrar posteriormente à criação: “integrar”;

• Auxiliar de qualquer forma: “prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta


pessoa”.

Art. 5º. Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de


consumar tal delito.

Pena: a correspondente ao delito consumado, diminuída de 1/4 até 1/2.

 O artigo 5º diz que o ato preparatório “do ato preparatório” é crime. Princípio da
ofensividade absolutamente ignorado.

 O tipo penal não diz quais atos são considerados preparatórios de terrorismo.
Violação ao princípio da legalidade estrita.

§ 1º. Incorre nas mesmas penas, o agente que, com o propósito de praticar atos de
terrorismo:

• Recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país


distinto daquele de sua residência ou nacionalidade; ou

• Fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua residência


ou nacionalidade.

Terrorismo com caráter transnacional.

Tipo misto alternativo.

Treinamento ou recrutamento privilegiado.

§2º. Nas hipóteses do § 1º, quando a conduta não envolver treinamento ou viagem
para país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade, a pena será a correspondente
ao delito consumado, diminuída de 1/2 a 2/3.

44
Financiamento do terrorismo

Art. 6º. Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar,
investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores
ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a preparação ou a execução dos
crimes de terrorismo.

Pena: reclusão de 15 a 30 anos.

É pena mais grave do que a de terrorismo.

Parágrafo único.

Incorre na mesma pena de reclusão de 15 a 30 anos quem oferecer ou receber, obtiver,


guardar, mantiver em depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a
obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a finalidade de financiar, total ou
parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização criminosa que
tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática dos
crimes de terrorismo.

Pune o lobista, ou seja, aquele que arrumou o financiador.

Art. 7º. Salvo quando for elementar da prática de qualquer crime de terrorismo, se de
algum deles resultar:

• Lesão corporal grave: aumenta-se a pena de 1/3

• Morte: aumenta-se a pena da 1/2 (metade)

Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do


art. 5o desta Lei, aplicam-se as disposições do art. 15 do CP (arrependimento eficaz e
desistência voluntária).

Ex.: sujeito alugou local para guardar os explosivos para atentado terrorista, mas desiste
de o fazer. O sujeito somente responde pelos atos até então praticados.

III. Competência

Art. 11.

45
Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei 13.260/16
são praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação
criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento,
nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal.

IV. Medidas assecuratórias

Art. 12. O juiz, DE OFÍCIO, a requerimento do MP ou mediante representação do


delegado de polícia, ouvido o MP em 24 horas, havendo indícios suficientes de crime de
terrorismo, poderá decretar, no curso da investigação ou da ação penal, medidas
assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em
nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes de
terrorismo.

§1º. Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre
que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver
dificuldade para sua manutenção.

§2º.

O juiz determinará a liberação, total ou parcial, dos bens, direitos e valores quando
comprovada a licitude de sua origem e destinação, mantendo-se a constrição dos bens,
direitos e valores necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de
prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal.

§3º. Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do


acusado ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz
determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem
prejuízo do disposto no §1º.

§4º. Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores
para reparação do dano decorrente da infração penal ANTECEDENTE ou da prevista nesta
Lei ou para pagamento de prestação pecuniária, multa e custas.

Art. 13.

46
Quando as circunstâncias o aconselharem, o juiz, ouvido o MP, nomeará pessoa física
ou jurídica qualificada para a administração dos bens, direitos ou valores sujeitos a medidas
assecuratórias, mediante termo de compromisso.

Art. 14. A pessoa responsável pela administração dos bens:

 Fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que será satisfeita preferencialmente
com o produto dos bens objeto da administração;

 Prestará contas, por determinação judicial, além de dar informações periódicas da


situação dos bens sob sua administração, bem como explicações e detalhamentos sobre
investimentos e reinvestimentos realizados.

Parágrafo único. Os atos relativos à administração dos bens serão levados ao


conhecimento do MP, que requererá o que entender cabível.

Art. 15. O juiz determinará, na hipótese de existência de tratado ou convenção


internacional e por solicitação de autoridade estrangeira competente, medidas
assecuratórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de crimes de terrorismo praticados no
estrangeiro.

§1º. Será aplicada essa disposição, independentemente de tratado ou convenção


internacional, quando houver reciprocidade do governo do país da autoridade solicitante.

§ 2o Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos ou valores sujeitos a medidas


assecuratórias por solicitação de autoridade estrangeira competente ou os recursos
provenientes da sua alienação serão repartidos entre o Estado requerente e o Brasil, na
proporção de metade, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé.

Art. 16. será aplicado ao crime de terrorismo as disposições da Lei nº 12.850/13 para a
investigação, processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei.

Art. 17. Aplicam-se aos crimes de terrorismo as disposições da Lei de Crimes Hediondos
(Lei 8.072/90).

Art. 18. No caso de crimes de terrorismo, caberá também prisão temporária, inserindo
a alínea “p” ao rol dos crimes que a autorizam.

47
Aula 03. Tortura. Estatuto do desarmamento.

4. Lei de Tortura (Lei 9.455/97)

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, que é de 1948, vai dizer no seu art. 5º
que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. A CF
também diz o mesmo no art. 5º, III, da CF.

A CF ainda diz, no art. 5, XLIII, que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis
de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Perceba que o dispositivo traz o chamado mandado de criminalização.

I. Crimes em espécie

a) Tortura-prova, tortura-crime e tortura discriminatória

Segundo o art. 1º, inciso I, constitui crime de tortura a conduta de constranger alguém
com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

• Com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de


terceira pessoa:

Esta é a denominada tortura-prova. Ex.: pai tortura filho para que faça uma confissão
de uma travessura. Mãe tortura o filho para que o pai confirme que traiu a mãe.

• Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa:

Denominada pela doutrina de tortura-crime. Ocorre quando alguém tortura outrem


para que pratique um crime, seja omissivo ou comissivo.

• Em razão de discriminação racial ou religiosa:

É a tortura-discriminatória.

A pena do crime é de reclusão de 2 a 8 anos.

48
Perceba que acima estão os elementos subjetivos especiais do agente.

Importante ressaltar que o crime de tortura poderá ser absorvido, caso constitua um
meio imediato e direto para a prática de crimes mais graves, como o crime de roubo e de
extorsão.

Perceba que, para o legislador, o crime de tortura é mais leve do que tais crimes, tendo
em vista que a tortura possui pena de 2 a 8 anos, enquanto o roubo e a extorsão possuem
pena de 4 a 10 anos. Dessa forma, se alguém tortura para roubar, a tortura ficará absorvida
pelo crime de roubo. Esta é a posição do Samer.

Eu, particularmente, discordo desse entendimento.

Por esta razão, entendo que deveria haver concurso formal impróprio, tendo em vista
que a tortura e o roubo têm bens jurídicos absolutamente distintos, além de ser possível que
o agente atue com desígnios autônomos.

Ora, se o agente tem a intenção de torturar, digamos que para a prática de um crime
(tortura crime), não seria possível que este mesmo desígnio estivesse inserido dentro do
elemento subjetivo especial no caso do roubo (animus rem sibi habendi), motivo pelo qual
não poderia se falar em princípio da consunção.

Na tortura-crime, o agente que tortura responderá pelo crime de tortura, por óbvio,
mas também responderá em concurso material pelo crime que a vítima da tortura praticar,
caso este crime seja efetivamente praticado. Não é necessário que este crime ocorra para
consumar a tortura-crime.

Neste caso, o torturador será autor mediato do crime.

Não abrange aqui o emprego de violência ou grave ameaça para a prática de


contravenção penal. A lei penal não fala em tortura para a prática de contravenção.

Caso alguém torture outrem para que haja a prática de contravenção penal, não
haverá o crime de tortura, motivo pelo qual este constrangimento configurará o delito de
constrangimento ilegal em concurso material com a contravenção que o constrangido
praticar.

49
Perceba que nos casos de tortura-prova, tortura-crime e tortura discriminatória trata-
se de um crime formal, ou seja, há um especial fim de agir, mas não precisa este acontecer
para consumação do crime de tortura.

No caso de crime de tortura perpetrado contra criança, em que há prevalência de


relações domésticas e de coabitação, não configura bis in idem a aplicação conjunta da causa
de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura) e da
agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal (Inf. 589, STJ).

→ Sujeitos do crime

O sujeito ativo é qualquer pessoa.

O art. 1º, §4º diz que a pena será aumentada de 1/6 até 1/3 se cometido por agente
público.

O sujeito passivo é qualquer pessoa.

No entanto, o art. 1º, §4º, diz que poderá a pena ser aumentada de 1/6 até 1/3, caso o
crime seja cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior
de 60 anos.

Lembrando que, no caso de o agente torturar o filho para que o pai confesse alguma
coisa, haverá dois sujeitos passivos do crime de tortura.

→ Ação penal

É incondicionada.

→ Competência

A competência é da Justiça Comum, podendo ser federal ou estadual, a depender do


caso.

Ainda que o crime de tortura seja praticado por policial militar em serviço, o crime
será de competência da Justiça Comum. Isso porque a Justiça Militar somente julga delito
previstos no Código Penal Militar e esse código não prevê o crime de tortura.

b) Tortura-castigo

50
O art. 1º, II, diz que constitui crime de tortura a conduta de submeter alguém, sob sua
guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou sofrimento mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.

A pessoa quer educar dessa forma, causando intenso sofrimento físico ou sofrimento
mental à criança, por exemplo.

A pena do crime é de reclusão de 2 a 8 anos.

O crime é de ação livre, ou seja, não se sabe como dará a prática do crime. Ex.: privar a
criança de alimentos, privar a criança de cuidados indispensáveis, privar da liberdade da
criança, etc.

Há aqui um elemento subjetivo especial, que é a conduta de expor à vítima a um intenso


sofrimento físico ou mental, para a finalidade de aplicar castigo ou alguma medida de caráter
preventivo. Na tortura-castigo exige animus corrigendi, ou seja, ânimo de correção. O agente
quer educar!

Essa forma de tortura se assemelha ao crime de maus-tratos. A diferença é o elemento


normativo da tortura, que é o “intenso sofrimento físico ou mental”. A caracterização do crime
de tortura-castigo fica reservada para situações extremas.

→ Sujeitos do crime

No caso da tortura-castigo, há um crime próprio, motivo pelo qual somente poderá


cometer o crime quem tem dever de guarda, poder ou autoridade para com a vítima. Ex.:
babá.

→ Ação penal

É incondicionada.

c) Tortura de preso ou de pessoa sujeita à medida de segurança

De acordo com o §1º do art. 1º, na mesma pena de reclusão de 2 a 8 anos incorre quem
submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

51
Estamos diante de uma norma penal em branco, pois é necessário fazer algo contra a
lei para configurar o crime.

→ Sujeitos do crime

Qualquer pessoa poderá praticar esse crime, apesar de geralmente ser o agente público.
Ex.: agente penitenciário, carcereiro, etc.

Agente sujeito à medida socioeducativa não poderá ser vítima desse crime, pois não
está abrangido no tipo penal. A tortura praticada contra este indivíduo poderá ser enquadrada
em outro inciso do caput do art. 1º, mas não neste.

→ Ação penal

É incondicionada.

d) Tortura-omissão

O art. 1º, §2º, diz que, aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o
dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de 1 a 4 anos.

Trata-se de infração de médio potencial ofensivo, pois cabe suspensão condicional do


processo.

Segundo Victor Eduardo Rios Gonçalves, em relação ao dever de evitar que a tortura
ocorra e o sujeito deixa de agir, em verdade, deveria responder pelo próprio crime de tortura.
E é essa interpretação que deve ser dada, segundo Samer.

Mas pela leitura do tipo, percebe-se que há uma exceção à teoria monista, de forma
que, aquele que não impede a tortura, quando deveria fazê-lo para impedir, não responderá
pela tortura, mas sim pelo crime de omissão pela tortura.

Em relação àquele que não apura o delito de tortura, haverá um crime próprio, visto
que incumbe às autoridades policiais.

Nesse caso, apesar de haver previsão de causa de aumento de pena de 1/6 a 1/3,
quando o crime é cometido por agente público, não haverá incidência dessa majorante, eis
que tal circunstância é inerente ao próprio tipo penal do art. 1º, §2º, sob pena de bis in idem.

II. Formas qualificadas

52
O §3º do art. 1º diz que, se resulta:

• Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: a pena é de reclusão de 4 a 10


anos

• Morte: a pena é de reclusão é de 8 a 16 anos.

Veja, trata-se de infrações preterdolosas, pois tanto a lesão corporal ou a morte foram
causadas culposamente.

Com relação à morte, devemos diferenciar o homicídio qualificado pela tortura deverá
se diferenciar da tortura qualificada pela morte.

No homicídio qualificado pela tortura, há pena de 12 a 30 anos, enquanto a tortura


qualificada pela morte tem pena de 8 a 16 anos.

A diferença é de que, na tortura qualificada pela morte, o agente quer torturar, mas
acaba matando culposamente. No homicídio qualificado pela tortura, o agente quer matar,
ou assume o risco de matar, mas se vale da tortura como meio para alcançar o resultado
morte.

III. Causas de aumento de pena

Segundo o §4º do art. 1º, aumenta-se a pena de 1/6 até 1/3:

• Se o crime é cometido por agente público;

• Se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,


adolescente ou maior de 60 anos;

• Se o crime é cometido mediante sequestro.

Veja, é preciso que haja um nexo de causalidade entre o crime e a função que o sujeito
exercer. Ou seja, que tenha sido praticado o crime no exercício da função ou em razão da
função pública, pois, do contrário, não incidirá a causa de aumento.

No caso criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 anos,


por óbvio, o agente deve ter conhecimento dessa condição da vítima para incidir a majorante,
sob pena de responsabilidade penal objetiva.

53
Com relação à majorante do sequestro, é necessário compreender que, em geral, o
crime de tortura exige uma certa privação da liberdade da vítima, por algum curto espaço de
tempo. O dispositivo somente se justificará se o período de privação da liberdade ser um
período relativamente longo.

IV. Efeitos da sentença condenatória

O art. 1º, §5º diz que a condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

Ex.: se o indivíduo foi condenado a 4 anos pelo crime de tortura, não poderá exercer
cargo, função ou emprego público pelo prazo de 8 anos.

Essa é uma consequência obrigatória, dispensando motivação específica na sentença


para decretação da perda do cargo, função ou emprego público.

Veja, apesar de se tratar de um efeito automático da condenação, é indispensável que


o juiz se manifeste expressamente na sentença, como por exemplo “o condenado perderá a
função pública com base no art. 1º, §5º, da Lei 9.455/97”.

V. Vedações processuais e penais

O art. 1º, §6º, diz que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia.

Essa previsão traz uma discussão, quando comparara à Lei de Crimes Hediondos, pois
nesta lei veda a graça, anistia e o indulto. A Lei de Tortura não fala nada sobre o indulto, e a
Constituição Federal não fala em indulto.

1ªC: Entendem que graça é gênero e indulto é espécie, motivo pelo qual não caberia, no
crime de tortura, indulto.

2ªC: Entende que a CF não veda indulto para quem pratica a tortura, sendo possível
conceder indulto.

Lembrando que o CESPE (Delta GO/2017) considerou correta a seguinte assertiva:


“Embora rotura, tráfico de drogas e terrorismo não sejam crimes hediondos, também são
insuscetíveis de fiança, anistia, graça e indulto”.

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VI. Regime inicial de cumprimento de pena

O §7º diz que o condenado por crime de tortura, salvo a hipótese de tortura omissão,
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Todavia, esta previsão é inconstitucional, pois, na verdade, será analisado o regime


inicial do cumprimento de pena conforme o quantum da pena, aplicando-se o art. 33, §2º, do
CP.

VII. Extraterritorialidade da lei

O art. 2º diz que o disposto nesta Lei de Tortura aplica-se ainda quando o crime não
tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou se o agente
torturador estiver em local sob jurisdição brasileira.

Ex.: o crime de tortura não foi praticado no Brasil, mas a vítima é brasileira, ou o crime
não foi cometido no Brasil, porém o torturador está agora no Brasil, então será aplicada a lei
brasileira.

5. Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03)

I. Posse irregular de arma de fogo de uso permitido

Segundo o art. 12, constitui crime a conduta de possuir ou manter sob sua guarda arma
de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de
trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa.

A pena é de detenção, de 1 a 3 anos, e multa. Cabe suspensão condicional do processo.

O bem jurídico é a incolumidade pública.

O art. 3º diz que é obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente. O


órgão competente é a Polícia Federal, que emitirá um certificado de registro de arma de fogo.
Esse certificado vai autorizar o proprietário da arma ter a posse de arma na sua residência ou
no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou responsável legal pelo estabelecimento
ou empresa.

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Pergunta: e se esse registro, que tem validade de 3 anos, vencer e o sujeito não renovar
o registro junto à Polícia Federal, haverá o crime do art. 12 ou não?

Segundo o STJ, não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo a conduta do
agente que mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de fogo de uso
permitido com registro vencido. Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do
prazo é mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação
de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal. (Inf. 572).

Pergunta: e se o indivíduo tiver a arma na residência alheia?

Neste caso, haverá o crime de porte ilegal de arma de fogo.

Pergunta: motorista que dorme no caminhão, mas leva a arma consigo no caminhão?

Neste caso, cometerá o crime de porte ilegal de arma de fogo.

As armas de fogo são de uso permitido conforme aquilo descrito pelo Comando do
Exército.

Ou seja, arma de fogo de uso permitido ou de uso restrito dependem de outa norma,
motivo pelo qual se trata de uma norma penal em branco em sentido estrito. Atualmente
este rol de armas estão descritas no art. 17 do Decreto 3665/2000.

Via de regra, a jurisprudência entende que é inviável a aplicação do princípio da


insignificância para o crime de posse ilegal de arma, munição ou de acessório. Na verdade,
é crime de perigo abstrato (presumido), sendo dispensável colocação do bem jurídico em
risco. Esta é a posição do STJ.

Vale lembrar que o STF decidiu que é atípica a conduta daquele que porta, na forma
de pingente, munição desacompanhada de arma (Inf. 826).

a) Sujeitos do crime

Poderá praticar qualquer pessoa.

Sujeito passivo é a coletividade.

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Há aqui um crime permanente, pois enquanto o sujeito tiver a arma em sua casa, a
consumação estará se protraindo no tempo, admitindo prisão em flagrante a qualquer
tempo, enquanto não cessar a permanência.

b) Vigência do dispositivo

É necessário compreender o teor do art. 30 do Estatuto.

Este dispositivo concedeu um prazo para que os possuidores e proprietários de arma de


fogo de uso permitido ainda não registrada solicitassem até o dia 31 de dezembro de 2009
o registro, apresentando nota fiscal da arma ou comprovando a origem lícita da arma, de
maneira que se fosse encontrada arma de uso permitido na casa de alguém, e esta tivesse
origem ilícita, e o sujeito não tivesse o registro, o indivíduo não poderia ser punido.

Isso porque presumia-se a boa-fé. Isto quer dizer que se presume que o sujeito iria
solicitar o registro dessa arma dentro do prazo penal.

Tanto é que o STJ fala que a abolitio criminis para a posse de arma de uso permitido,
restrito ou com numeração raspada teve final em 2005, mas para as armas, munições e
acessórios de uso permitido se prorrogou até o dia 31/12/2009, pois estariam abarcadas pela
abolitio criminis.

Armas de fogo de uso restrito poderiam ter sido registradas ou entregues até
23/10/2005, mas as armas de fogo de uso permitido puderam ser entregues até 31/12/2009.

Dito de outra forma:

• De 23/12/2003 a 31/12/2009: não é crime a posse de arma de fogo de que trata


o art. 12.

• De 24/12/2003 a 23/10/2005: não é crime a posse de arma de fogo de que trata


o art. 16.

O STJ diz que ainda que a abolitio criminis temporária do Estatuto do Desarmamento
só abrange o crime de posse ilegal de arma de fogo, não abrangendo o crime de porte ilegal
de arma de fogo.

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Por conta disso, o STJ editou a Súmula 513, estabelecendo que a abolitio criminis
temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso
permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido
ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.

c) Entrega da arma

O Estatuto regula a entrega da arma.

O art. 32 diz que os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la à


Polícia Federal, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão
indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse
irregular da referida arma.

Perceba que este dispositivo não prevê qualquer prazo para a entrega da arma, motivo
pelo qual até hoje é possível entregar a arma, ficando extinta a punibilidade do crime de posse
ilegal de arma de fogo.

II. Omissão de cautela

Segundo o art. 13, constitui crime a conduta de deixar de observar as cautelas


necessárias para impedir que menor de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental
se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade.

A pena é de detenção, de 1 a 2 anos, e multa. Trata-se de IMPO.

Segundo a doutrina, trata-se de um crime culposo, pois a pessoa foi negligente.

Ex.: Pessoa deixa a arma no banco de um carro e não tranca a sua porta, ou deixa a arma
em uma gaveta da sala de casa, sem trancá-la etc.

a) Sujeitos do crime

Qualquer pessoa poderá praticar o crime.

Se o agente não possui o registro da arma de fogo, incorrerá no crime de omissão de


cautela em concurso com o delito de posse ilegal de arma de fogo.

Perceba que a omissão de cautela em relação a munição ou acessório não está prevista
no tipo penal.

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O sujeito passivo é a coletividade, bem como o menor ou deficiente mental que se
apodere da arma de fogo.

b) Consumação

A consumação deste crime se dá no momento em que a criança ou pessoa com


deficiência se apodera da arma.

É crime de perigo abstrato, mas não é necessário demonstrar que houve uma situação
de perigo, quando a criança ou pessoa com deficiência pegou a arma.

III. Omissão de comunicação de perda ou subtração de arma de fogo

É preciso ter um controle muito rígido de quem é que tem a arma, se ela foi perdida ou
se ela foi subtraída.

O parágrafo único do art. 13 vai dizer que, nas mesmas penas de detenção, de 1 a 2
anos, e multa, incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e
transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia
Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou
munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 horas depois de ocorrido o fato.

Perceba que estamos diante de um crime a prazo. Crime omissivo puro não admite
tentativa.

É crime a prazo, pois necessita do prazo de 24 hrs para que se perfectibilize o crime.

O art. 7º diz que as armas de fogo utilizadas pelos empregados das empresas de
segurança privada e de transporte de valores, devem ficar no nome dessas empresas, devendo
a empresa apresentar ao SINARM, semestralmente, a lista de seus empregados habilitados.

Esses empregados poderão portar armas de fogo, mas apenas em serviço.

Caso haja a perda ou subtração da arma, deverá comunicar em 24 horas a Polícia Federal
e registrar boletim de ocorrência.

Segundo o STJ, o fato de o empregador obrigar seu empregado a portar arma de fogo
durante o exercício das atribuições de vigia não caracteriza coação moral irresistível capaz de
excluir a culpabilidade do crime de "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" atribuído

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ao empregado que tenha sido flagrado portando, em via pública, arma de fogo, após o
término do expediente laboral, no percurso entre o trabalho e a sua residência (Inf. 581).

a) Sujeitos do crime

Sujeito ativo é próprio, pois somente poderá ser cometido pelo proprietário da arma ou
pelo diretor responsável pela empresa de segurança ou de transporte de valores.

IV. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

Segundo o art. 14, constitui crime a conduta de portar, deter, adquirir, fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

A pena é reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

Quando houver a posse da arma na sua própria casa ou no seu trabalho, quando se é o
responsável pela empresa, mas o sujeito não tenha autorização para possuir a arma, ainda
que ele oculte, incidirá no crime de posse ilegal de arma de fogo.

Por outro lado, se o agente ocultar a arma na casa de outrem, o crime será o de porte
ilegal de arma de fogo do art. 14.

Trata-se de crime de mera conduta, pois não se prevê qualquer resultado para a
infração penal.

Além disso, se a pessoa porta mais de uma arma de fogo ao mesmo tempo, neste caso,
o agente cometerá crime único. Isso porque há uma única situação de perigo.

Caso João porte uma arma de numeração raspada, que será considerada de uso restrito
(art. 16) e outra arma de uso permitido (art. 14), neste caso, estará praticando crime único
descrito no art. 16, pois é mais gravoso.

Todavia, este não é o entendimento do STJ.

Segundo o STJ, o referido entendimento não pode ser aplicado no caso em que a
conduta praticada pelo réu se amolda a tipos penais diversos, sendo que um deles, o do
artigo 16, além da paz e segurança públicas também protege a seriedade dos cadastros do

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Sistema Nacional de Armas, razão pela qual é inviável o reconhecimento de crime único e o
afastamento do concurso material.

O art. 25 do Estatuto exige a elaboração de um laudo pericial das armas de fogos,


munições e acessórios apreendidos, a fim de demonstrar que havia potencialidade lesiva dos
instrumentos.

O CESPE adotou na prova de delegado de Goiás de 2017 o gabarito como sendo crime
único.

Para se condenar alguém pelo porte de arma de fogo de uso permitido, não é
necessário que essa arma de fogo tenha sido apreendido. Ex.: fotos no facebook demonstram
que o sujeito portava arma de fogo em certa festa.

Após, ainda que tenha sumido a arma, é possível condenar alguém por conta das fotos
e sem que tenha havido perícia da arma. Ainda que não se tenha apreendido a arma, as fotos
e testemunhas podem comprovar que o sujeito portava ilegalmente uma arma de fogo de uso
permitido.

Todavia, se a arma foi apreendida, ela deverá ser submetida à perícia. Caso a perícia
constatar que não há potencialidade lesiva na arma, não haverá a incidência no crime.

Se a arma estiver desmuniciada, da mesma forma haverá o crime de porte ilegal de


arma de fogo. Isso porque, se portar munição é crime, muito mais será considerado se portar
a arma.

Segundo o STF, a posse (art. 12) ou o porte (art. 14) de arma de fogo configura crime
mesmo que ela esteja desmuniciada. Da mesma forma, a posse ou o porte apenas da munição
configura crime. Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja
caracterização não importa o resultado concreto da ação (Inf. 844).

Da mesma forma, não há crime de porte ilegal de arma de fogo quando o instrumento
está quebrado e totalmente inapto para realizar disparos, conforme constatado pela perícia.
Se ficar constatado que as munições estão aptas, haverá o crime, pois o porte das munições
já se mostra suficiente para configurar o crime (Inf. 570, STJ).

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O STJ entende também que o porte de arma de fogo a que têm direito os policiais civis
não se estende aos policiais aposentados.

Isso porque, de acordo com o art. 33 do Decreto 5.123/2004, que regulamentou o art.
6º da Lei 10.826/2003, o porte de arma de fogo está condicionado ao efetivo exercício das
funções institucionais por parte dos policiais, motivo pelo qual não se estende aos
aposentados (Inf. 554, STJ).

Por outro lado, o Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua
guarda arma ou munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei 10.826/2003.

Os Conselheiros dos Tribunais de Contas são equiparados a magistrados e o art. 33, V,


da LC 35/79 (LOMAN) garante aos magistrados o direito ao porte de arma de fogo (Inf. 572,
STJ).

a) Sujeitos do crime

O crime é comum.

Segundo a jurisprudência do STF (Inf. 775), o crime de porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido poderá ser absorvido quando a arma for utilizada exclusivamente para a
prática do outro crime.

Ou seja, se não houver provas de que o réu já portava a arma antes de um homicídio,
ou se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a vítima, ficará o porte absorvido
pelo homicídio.

Ex.: sujeito porta arma de fogo exclusivamente para roubar. Neste caso, não haverá
condenação pelo crime de porte ilegal de arma de fogo, tendo em vista que o sujeito somente
responderá pelo crime de roubo majorado pelo emprego de arma.

Diferentemente é o caso do sujeito que porta ilegalmente arma de fogo em outras


oportunidades. Ex: a instrução demonstrou que João adquiriu a arma de fogo três meses antes
de matar Pedro e não a comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima. Neste
caso, o crime de porte não será absorvido se ficar provado nos autos que o agente portava
ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do homicídio e que
ele não se utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato.

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V. Disparo de arma de fogo

Segundo o art. 15, constitui crime a conduta de disparar arma de fogo ou acionar
munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela,
desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime.

A pena é de reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

A realização de vários disparos, em um mesmo momento, configura crime único, não se


aplicando a regra do concurso formal ou da continuação delitiva, já que a situação de risco à
coletividade é única.

O projétil tem de ser verdadeiro. A deflagração de balas de festim não configura a


infração, porque não causa perigo.

De acordo com o tipo penal, o fato só constitui crime se ocorrer:

• Em lugar habitado ou suas adjacências; e

• Em via pública ou em direção a ela.

Se uma cidade ou vila tiver sido totalmente evacuada, por exemplo, para a futura
instalação de uma hidrelétrica e, depois disso, alguém efetuar disparos no meio de uma das
ruas, o fato será atípico, porque, apesar de ter ocorrido em via pública, o local não é
habitado.

O delito em análise também é de perigo abstrato, em que não é necessária prova de


que pessoa determinada tenha sido exposta a risco. O perigo é presumido, porque o disparo
em via pública ou em direção a ela, por si só, coloca em risco a coletividade.

Quem efetua disparo na rua, de madrugada, sem ninguém por perto, mas em local
habitado, comete o crime.

a) Sujeito ativo

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.

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Se o delito for cometido por qualquer das pessoas elencadas nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei,
a pena será aumentada em 1/2 (metade).

O sujeito passivo é, em primeiro plano, a coletividade. Em segundo, as pessoas que,


eventualmente, tenham sofrido perigo de dano decorrente do disparo da arma.

b) Consumação

No momento em que ocorre o disparo ou quando a munição é acionada por qualquer


outro modo.

c) Absorção

A própria lei somente confere autonomia ao crime de disparo de arma de fogo quando
essa conduta não tem como objetivo a prática de outro crime. Ex.: autor dispara, visando
matar alguém, responderá por homicídio.

d) Disparo e crime de periclitação para a vida ou para a saúde de outrem (art. 132 do
CP)

O art. 132 do Código Penal descreve a seguinte infração penal: “expor a vida ou a saúde
de outrem a perigo direto e iminente”.

O crime do art. 132 é de perigo concreto, porque o agente quer expor pessoa
determinada a situação de risco, enquanto a o crime de disparo de arma de fogo, do art. 15
do Estatuto do Desarmamento, possui pena consideravelmente maior do que a prevista no
art. 132, além de ser um crime de perigo abstrato.

Deve prevalecer aquele que tem maior pena, ou seja, o do art. 15 do Estatuto. O crime
de periclitação da vida, assim, continua tendo aplicação em outras hipóteses (lançar objetos
próximos a alguém, passar com o carro do lado de uma pessoa para assustá-la etc.).

VI. Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito

ATENÇÃO: A Lei 13.497/17 tornou o crime do artigo 16 do Estatuto do Desarmamento


hediondo. Vide comentários no estudo dos crimes hediondos.

Segundo o art. 16, constitui crime a conduta de possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,

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empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso
proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.

A pena é de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.

Note-se que, tratando-se de arma de fogo de uso proibido ou restrito, o crime é sempre
o mesmo, quer a arma esteja no interior de residência sem ser registrada (posse), quer esteja
na cintura do agente em uma via pública (porte). Se a arma fosse de uso permitido, a posse
configuraria o crime do art. 12, e o porte tipificaria aquele do art. 14.

• Armas de fogo de uso restrito: nos termos do art. 11 do Decreto n. 5.123/2004,


são aquelas de uso exclusivo das Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de
pessoas físicas ou jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército,
de acordo com legislação específica.

São consideradas de uso restrito, exemplificativamente, as armas automáticas, de


qualquer calibre (metralhadoras, p. ex.), as armas de fogo dissimuladas (em forma de caneta,
p. ex.), as de pressão por gás comprimido ou por ação de mola, com calibre superior a 6 mm,
as de alma lisa (parte interna do cano sem raias) de calibre doze ou maior com comprimento
de cano menor que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros, as de ar
comprimido, etc.

• Armas de uso proibido: são aquelas para as quais há vedação total ao uso, como,
por exemplo, as que possuam agentes químicos ou biológicos. Elas, na verdade, não foram
definidas no Decreto.

O delito em análise é uma espécie de figura qualificada dos crimes de posse e porte de
arma, previsto, porém, em um tipo penal autônomo.

Cuida-se, também, de crime de perigo abstrato e de mera conduta, em que é


desnecessária prova de que pessoa determinada tenha sido exposta a risco e cuja
configuração independe de qualquer resultado.

a) Sujeito ativo

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Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Se o delito for cometido por
qualquer das pessoas elencadas nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei, a pena será aumentada em
metade.

b) Absorção

Só haverá absorção se o porte da arma de uso restrito for meio para outro crime.
Assim, se, após uma discussão, o agente vai até sua casa e pega a arma com o intuito específico
de matar o desafeto, a jurisprudência entende que o crime de porte fica absorvido.

Veja-se, porém, que, se o agente não tinha o registro da arma de uso restrito,
responderá pela posse anterior da arma (art. 16), em concurso material com o homicídio.
Apenas o porte ficará absorvido em tal caso.

c) Vigência do dispositivo

O art. 30 concedeu prazo aos possuidores e proprietários de armas de fogo de uso


permitido ou restrito ainda não registradas para que solicitassem o registro até 23/10/05,
mediante apresentação de nota fiscal ou outro comprovante de sua origem lícita, pelos meios
de prova em direito admitidos.

A partir de 24/10/05, as pessoas flagradas com a posse de arma de fogo de uso restrito
ou proibido no interior de sua residência ou de seu estabelecimento comercial devem ser
punidas como incursas no art. 16, caput, do Estatuto.

Nesse sentido, existe a Súmula 513 do Superior Tribunal de Justiça.

Lembrando que o porte em via pública não foi abrangido por esses prazos, de modo
que, desde a entrada em vigor do Estatuto, a punição por porte ilegal já é possível.

As pessoas que tenham sido flagradas, desde a entrada em vigor do Estatuto até
31/12/09, com a posse de arma de uso permitido não podem ser punidas. Se o fato tiver
ocorrido a partir de 01/01/10, o agente estará incurso no art. 12 do Estatuto.

VII. Figuras com penas equiparadas

No art. 16, parágrafo único, o legislador descreve vários tipos penais autônomos.

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Não há nenhuma exigência de que essas condutas típicas sejam relacionadas a arma de
uso proibido ou restrito.

a) Supressão ou alteração de marca ou numeração

Segundo o art. 16, parágrafo único, inciso I, nas mesmas penas de reclusão, de 3 a 6
anos, e multa, incorre quem suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato.

O crime pune o responsável pela supressão (eliminação completa) ou alteração


(mudança) da marca ou numeração.

Se existir prova de que o réu foi o autor da supressão, responderá por tal delito. Se
não tiver sido ele o autor da adulteração, a posse ou o porte da arma com numeração
suprimida ou alterada tipificará a conduta do art. 16, parágrafo único, IV, do mesmo Estatuto.

O bem jurídico tutelado é a veracidade do cadastro das armas no SINARM.

O crime pode ser cometido por qualquer pessoa.

b) Modificação de características da arma

Segundo o art. 16, parágrafo único, inciso II, nas mesmas penas de reclusão, de 3 a 6
anos, e multa, incorre quem modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-
la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de
qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz.

É comum a conduta de serrar o cano de uma espingarda, tornando maior o seu potencial
lesivo, e deixando equivalente a arma de uso restrito. O dispositivo em análise pune o autor
da modificação.

Na segunda figura, o agente altera as características da arma para, por exemplo, evitar
que o exame de confronto balístico tenha resultado positivo.

Pela redação legal, o delito se caracteriza ainda que o agente não consiga enganar a
autoridade, perito ou juiz. Trata-se de crime formal. Se o indivíduo busca enganar promotor
de justiça, não haverá este delito.

c) Posse, detenção, fabrico ou emprego de artefato explosivo ou incendiário

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Segundo o art. 16, parágrafo único, inciso III, nas mesmas penas de reclusão, de 3 a 6
anos, e multa, incorre quem possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Esse tipo penal, por ser mais recente e com pena maior, torna inaplicável o art. 253 do
Código Penal, no que se refere a artefatos explosivos.

O art. 253 continua em vigor em relação a gases tóxicos ou asfixiantes, bem como em
relação a substâncias explosivas (tolueno, p. ex.), já que a nova lei só se refere a artefato
explosivo (dinamite já pronta, p. ex.).

A Lei n. 10.826/2003 incrimina também a posse ou transporte de artefato incendiário,


como, por exemplo, de coquetel molotov. Como a Lei não menciona substância, mas apenas
artefato incendiário, a posse de álcool, evidentemente, não caracteriza o delito.

d) Posse ou porte de arma de fogo com numeração raspada ou adulterada

Segundo o art. 16, parágrafo único, inciso IV, nas mesmas penas de reclusão, de 3 a 6
anos, e multa, incorre quem portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado.

A posse, ainda que em residência, ou o porte, de arma de fogo com numeração raspada,
por si só, torna a pena maior, pela aplicação do dispositivo em análise.

Segundo o STF, para configuração do delito de porte ilegal de arma de fogo com a
numeração suprimida, não importa ser a arma de fogo de uso restrito ou permitido, basta que
a arma esteja com o sinal de identificação suprimido ou alterado, pois o que se busca proteger
é a segurança pública, por meio do controle realizado pelo Poder Público das armas existentes
no País.

e) Venda, entrega ou fornecimento de arma, acessório, munição ou explosivo a menor


de idade

Segundo o art. 16, parágrafo único, inciso V, nas mesmas penas de reclusão, de 3 a 6
anos, e multa, incorre quem vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma
de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente.

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Esse dispositivo se aplica qualquer que seja a arma de fogo. O art. 242 da Lei n. 8.069/90
(Estatuto da Criança e do Adolescente) pune com reclusão de três a seis anos a venda ou
fornecimento de arma, munição ou explosivo a criança ou adolescente, porém esse crime
acabou sendo derrogado pelo dispositivo em análise do Estatuto do Desarmamento.

Dessa forma, o art. 242 só continua aplicável a armas de outra natureza (que não sejam
armas de fogo).

Aquele que fornece explosivo a pessoa menor de 18 anos comete o crime do art. 16,
parágrafo único, V, mas, se o destinatário for pessoa maior de idade, o crime será o do art.
253 do CP.

f) Produção, recarga ou reciclagem indevida, ou adulteração de munição ou explosivo

Segundo o art. 16, parágrafo único, inciso VI, nas mesmas penas de reclusão, de 3 a 6
anos, e multa, incorre quem produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou
adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.

A finalidade desse dispositivo é a de abranger algumas condutas não elencadas nos arts.
14 e 16 do Estatuto do Desarmamento, em relação a munições e explosivos.

VIII. Comércio ilegal de arma de fogo

Segundo o art. 17, constitui crime a conduta de adquirir, alugar, receber, transportar,
conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.

A pena é de reclusão de 4 a 8 anos, e multa.

O parágrafo único traz uma norma penal explicativa, estabelecendo que se equipara à
atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de
serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

O dispositivo não faz distinção entre arma de uso permitido e restrito, mas o art. 19 diz
que a pena será aumentada em 1/2 (metade) se a arma de fogo, acessório ou munição forem
de uso proibido ou restrito.

69
Comete o crime o agente que não tem autorização para vender arma, aquele que
descumpre determinação legal, não mantendo a arma registrada em nome da empresa antes
da venda, ou vendendo munição de calibre diverso. Igualmente haverá crime na venda de
munição sem a apresentação do registro da arma, ou em quantidade superior à permitida etc.

O delito em análise é também crime de perigo abstrato e de mera conduta, porque


dispensa prova de que pessoa determinada tenha sido exposta a efetiva situação de risco,
bem como a superveniência de qualquer resultado.

Como se trata de tipo misto alternativo, a realização de mais de uma conduta em


relação às mesmas armas constitui crime único.

Se o agente compra arma de fogo roubada e depois comercializa referida arma, incorre
nos crimes de receptação qualificada (art. 180, § 1º, do CP) e comércio ilegal de arma de
fogo, em concurso material.

a) Sujeito ativo

Trata-se de crime próprio, já que o tipo penal exige que o delito seja cometido por
comerciante ou industrial.

Se o delito for cometido por qualquer das pessoas elencadas nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei,
a pena será aumentada em metade.

IX. Tráfico internacional de arma de fogo

Segundo o art. 18, constitui crime de tráfico internacional de arma de fogo a conduta de
importar, exportar, favorecer a entrada ou favorecer a saída do território nacional, a qualquer
título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente.

A pena é de reclusão de 4 a 8 anos, e multa.

A lei também pune quem favorece tal entrada ou saída, de modo que o agente é
considerado autor, e não partícipe do crime.

O dispositivo não faz distinção entre arma de uso permitido e restrito, mas o art. 19 diz
que a pena será aumentada em 1/2 (metade) se a arma de fogo, acessório ou munição forem
de uso proibido ou restrito.

70
O delito em análise é também crime de perigo abstrato e de mera conduta, porque
dispensa prova de que pessoa determinada tenha sido exposta a efetiva situação de risco,
bem como a superveniência de qualquer resultado.

a) Sujeito ativo

Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Se o delito for cometido por
qualquer das pessoas elencadas nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei, a pena será aumentada de 1/2
(metade).

Não se tratando de uma dessas pessoas, mas sendo o agente funcionário público,
responderá também por crime de corrupção passiva, caso tenha recebido alguma vantagem
para facilitar a entrada ou saída da arma no território nacional.

b) Consumação

Ocorre a consumação do delito quando o objeto material entra ou sai do território


nacional. No caso de importação, se o agente entra com a arma no Brasil e é preso na
alfândega, o crime já está consumado.

X. Causas de aumento de pena

O Estatuto do Desarmamento determinou acréscimo de 1/2 (metade) da pena para


alguns de seus ilícitos penais:

• Se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso restrito ou proibido:


crime de comércio ilegal de arma de fogo ou tráfico internacional de arma de fogo.

• Se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts.
6º, 7º e 8º:

o Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 14)

o Disparo de arma de fogo (art. 15)

o Porte ilegal de arma de uso proibido ou restrito (art. 16)

o Comércio ilegal (art. 17) e

o Tráfico internacional de armas de fogo (art. 18).

71
Refere-se a crimes cometidos por:

• Integrantes das Forças Armadas, policiais civis ou militares

• Integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios
com mais de 500.000 habitantes

• Integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 e menos
de 500.000 habitantes, quando em serviço

• Agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e agentes do


Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República

• Policiais da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal

• Agentes e guardas prisionais

• Integrantes de escolta de presos, guardas portuários

• Trabalhadores de empresas de segurança privada e de transporte de valores que


estejam devidamente habilitados

• Integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas cujas atividades


esportivas demandem o uso de armas de fogo

• Integrantes da Carreira de Auditor da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-


Fiscal do Trabalho, Auditores-Fiscais e Analistas Tributários

• Servidores dos Tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da Constituição


Federal e dos Ministérios Públicos da União e dos Estados.

• Segundo Damásio de Jesus, o aumento só se justifica quando o delito for


praticado no exercício da função ou em razão dela, ainda que fora da atividade funcional,
ou da realização da atividade profissional.

• XI. Competência da justiça estadual

• O fato de a Polícia Federal ser o órgão responsável pelos registros das armas de
fogo e pela expedição de autorizações para o porte, e de o SINARM (órgão do Ministério da

72
Justiça) ser o responsável pelo cadastramento das armas de fogo, não faz com que a
competência para os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento seja da Justiça Federal.

Os Tribunais Superiores firmaram entendimento de que tais crimes não atingem bens,
serviços ou interesses da União, suas autarquias ou empresas públicas pelo fato de os órgãos
responsáveis serem federais, e, assim, inaplicável se mostra o art. 109, IV, da Constituição
Federal, que transfere a competência para a Justiça Federal.

XII. Destruição dos objetos apreendidos

O art. 25 do Estatuto dispõe que as armas de fogo, acessórios e munições que não mais
interessarem à persecução penal, ou que não constituam prova em inquérito policial ou ação
penal, deverão ser encaminhados pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo
máximo de 48 horas, para destruição ou posterior doação aos órgãos de segurança pública
ou às Forças Armadas.

De acordo com tal dispositivo, mesmo as armas apreendidas que tenham sido utilizadas
como instrumento para a prática de outros crimes (roubo, extorsão, homicídio, estupro etc.)
devem ser encaminhadas pelo juízo ao Comando do Exército, não se aplicando, assim, a regra
do art. 91, II, “a”, do Código Penal, segundo a qual o juiz, ao proferir sentença, deve decretar
a perda em favor da União dos instrumentos de crime cuja detenção ou porte constitua
ilícito penal.

XIII. Referendo popular

No Capítulo VI da Lei n. 10.826/2003, que trata das chamadas “disposições finais”, o


legislador estabeleceu uma regra que só entraria em vigor se fosse aprovada por referendo
popular.

Esse dispositivo (art. 35, caput e § 1º) proibia a comercialização de arma de fogo e
munição em todo o território nacional, exceto para as entidades previstas no art. 6º.

O referendo foi realizado no dia 23 de outubro de 2005, e o dispositivo foi rejeitado por
63,94% dos eleitores, de modo que não se encontra proibida a venda de armas e munições
no território nacional, embora a aquisição pressuponha certas condições, conforme já

73
estudado no tópico referente ao crime de posse de arma de fogo (art. 12), no subtítulo
“elementos do tipo”.

Em suma, o Estatuto do Desarmamento dificultou a aquisição e a autorização para o


porte de arma de fogo e munição, mas a efetiva proibição foi rechaçada pelo referendo
popular.

Aula 04. Contravenções penais.

6. Lei de Contravenções penais (Decreto-Lei 3.688/41)

I. Parte Geral

Nelson Hungria: contravenção é um crime-anão.

Compete ao legislador definir se a conduta será crime ou cp.

Lei de Introdução ao CP (DL 3.914/41). Art. 1º: Considera-se crime a infração penal que
a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.

Crime Contravenção
Pena de reclusão ou detenção, cominada Prisão simples ou multa
ou não com multa
Ação penal pública, condicionada ou Ação penal pública incondicionada
incondicionada, ou ação penal privada.
É punível o crime tentado Não se pune a tentativa de crime
Admite extraterritorialidade da lei penal Não admite extraterritorialidade da lei
penal
Pode ser de competência da Justiça Não são da competência da Justiça
Federal Federal

74
Art. 1º - Decreto-Lei 3.688/41. Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código
Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo diverso.

Art. 2º. A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.

a) Voluntariedade, dolo e culpa

Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntária. Deve-se,


todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer
efeito jurídico.

Se a lei não previsse dolo ou culpa, bastaria que a conduta fosse voluntária. Este
dispositivo não tem mais aplicação. Adotamos a teoria finalista da conduta.

b) Tentativa

Art. 4º. Não é punível a tentativa de contravenção.

c) Penas principais

Art. 5º As penas principais são:

• I – prisão simples.

• II – multa.

→ Prisão simples

• Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em
estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semiaberto ou
aberto.

• § 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos


condenados a pena de reclusão ou de detenção.

• § 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias.

Obs.: o condenado a prisão simples, nem mesmo em caráter regressivo, poderá ser
transferido para o regime fechado.

→ Multa

75
Adota-se o critério do Código Penal:

Mínimo de 10 e máximo de 360 dias-multa.

Valor no mínimo de 1/30 do maior salário mínimo vigente na época dos fatos, ou até 5
vezes o maior salário-mínimo vigente no país, de acordo com as condições econômicas do
apenado.

d) Reincidência

Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de


passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por
qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

e) Erro de direito

Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a


pena pode deixar de ser aplicada.

Espécie de perdão judicial.

Damásio: esse artigo está revogado desde a reforma do CP em 1984. Fundamento: o


art. 21 do CP diz que o erro sobre a ilicitude do fato, quando escusável isenta o sujeito de
pena. Redação mais benéfica.

f) Limites das penas

Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a
cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.

g) Suspensão condicional da pena e livramento condicional

→ Sursis

Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender por tempo não
inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem como
conceder livramento condicional.

Art. 77 CP - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos,


poderá ser suspensa, por dois a quatro anos, desde que:

76
• condenado não reincidente em crime doloso;

• culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem


como os motivos e as circunstâncias favoráveis;

• não seja indicada ou cabível a substituição do art. 44 do CP.

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.

→ Livramento condicional

83 CP - condenado a pena privativa = ou > a 2 anos, desde que:

• I - cumprida mais de 1/3 da pena se não reincidente em crime doloso e tiver bons
antecedentes;

• II - cumprida mais da 1/2 se reincidente em crime doloso;

• III - comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho


no trabalho e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;

• IV - reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano;

• V - cumpridos mais de 2/3 da pena, nos casos de crime hediondo, 3Ts e tráfico
de pessoas, se não reincidente específico em crimes dessa natureza.

h) Medidas de segurança e internação em manicômio judiciário ou em casa de


custódia e tratamento

Art. 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, as medidas de segurança


estabelecidas no Código Penal, à exceção do exílio local.

Prazo mínimo de duração da internação: 6 meses (art. 16 LCP)

São medidas de segurança previstas no CP:

• Internação em hospital de custódia

• Tratamento ambulatorial

Via de regra, a medida de segurança imposta ao sujeito será tratamento ambulatorial,


pois se trata de contravenção penal.

77
i) Ação penal

A ação penal é pública incondicionada.

j) Infração de menor potencial ofensivo

Art. 61 da Lei 9.099/95. São infrações de menor potencial ofensivo aquelas cuja pena
máxima não seja superior a 2 anos de privação de liberdade e todas as contravenções penais.

Não há limite ao quantum da pena.

Ex.: Autor de uma contravenção penal é flagrado  levado à DP, onde será lavrado TCO,
sendo encaminhado ao Juizado Especial (caso não seja possível seu comparecimento ao
Juizado, deverá assinar um termo de compromisso de comparecimento).

Juizado Especial. Audiência preliminar. Se presentes os requisitos do art. 76 da Lei


9099/95, MP proporá transação penal. Aceito o acordo, homologado pelo juiz e cumprido pelo
indivíduo  extinção da punibilidade.

Lembre-se: a homologação da transação penal não produz coisa julgada material (SV
35 STF). Havendo descumprimento, poderá o MP oferecer denúncia.

Caso o autor não faça jus à transação ou não compareça à audiência preliminar, o MP
oferecerá denúncia oral. O indivíduo será citado desde então, ficando ciente da data da AIJ.
Caso o acusado não esteja presente, o juiz determina a sua citação pessoal.

Não sendo o acusado encontrado para citação pessoal, os autos serão remetidos ao
juízo comum, correndo pelo rito sumário. Juizado Especial Criminal não faz citação por edital.

No início da AIJ, é verificada a possibilidade de transação penal, caso não tenha sido
proposta anteriormente.

Se não for o caso, o juiz decretará aberta a audiência e passará a palavra ao defensor
responder à acusação (sustentação oral).

Caso o juiz rejeite a denúncia, no Juizado Especial, não caberá RESE, mas apelação no
prazo de 10 dias.

Se o juiz receber a denúncia, serão ouvidas as testemunhas de acusação e, em seguida,


as testemunhas de defesa.

78
Controvérsia sobre o número de testemunhas. A parte criminal da Lei 9.099 é omissa.
Procedimento sumário: 5 testemunhas. Parte cível da LJE: 3 testemunhas.

Ouvidas as testemunhas, o juiz interrogará o réu.

Interrogado o réu, debates orais: 20 minutos para a acusação, prorrogáveis por mais
10, e 20 minutos para a defesa, prorrogáveis por mais 10.

Em seguida, o juiz prolata a sentença. A sentença dispensa relatório. Da sentença cabe


apelação no prazo de 10 dias.

Lembre-se: contravenção penal é de competência da Justiça Estadual sempre

II. Parte especial

Cap. I - Das contravenções referentes à pessoa

→ Porte de arma

Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da
autoridade.

Pena: prisão simples, de 15 dias a 6 meses, ou multa, ou ambas.

Deixou de ter aplicação em relação à arma de fogo, pois há previsão específica no


Estatuto do Desarmamento.

Contravenção de perigo abstrato e de mera conduta.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: a coletividade.

Obs.: quando se utiliza uma faca para um homicídio ou uma lesão corporal, aplica-se o
princípio da consunção, respondendo o agente apenas pelo homicídio ou lesão corporal.

Se o sujeito carrega duas facas, haverá um só crime, pois a situação de perigo é única.

§1º, art. 19: a pena é aumentada de 1/3 até 1/2, se o agente já foi condenado, em
sentença irrecorrível, por violência contra pessoa.

Art. 19, § 2º: incorre na pena de prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa, quem,
possuindo arma ou munição:

79
• Deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina;
norma penal em branco

• Permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de


arma a tenha consigo;

• Omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente


alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la. Aqui a conduta é culposa.

→ Vias de fato

Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem:

• Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a
um conto de réis, se o fato não constitui crime. Subsidiariedade expressa

• Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 até a metade se a vítima é maior


de 60 anos.

Sujeito ativo: qualquer pessoa

Sujeito passivo: a vítima das vias de fato.

Ex.: desferir tapa, empurrar, puxar o cabelo etc.

 O que distingue a contravenção das vias de fato para a tentativa de lesão é a intenção
do agente.

Eventuais vias de fato empregadas para a prática de roubo, estupro ou extorsão ficam
absorvidas.

Obs.:

No tocante à ação penal, apesar do art. 17 dizer que as contravenções são apuradas por
meio de ação penal pública incondicionada, a jurisprudência tem se inclinado no sentido de
ser necessária a representação, pois para lesões leves, que são crimes, exige-se a
representação.

Cap. II – Das contravenções referentes ao

patrimônio

80
→ Posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto

Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo,
ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo,
gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de
crime de furto, desde que não prove destinação legítima.

Pena: prisão simples, de 2 meses a 1 ano, e multa.

STF: essa contravenção não foi recepcionada pela CF. Violação ao princípio da isonomia.
Pune-se o indivíduo pelo que ele é e não pelo que ele fez. Direito penal do autor.

c) Capt. III – Das contravenções referentes à incolumidade pública

→ Desabamento de construção

Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, por erro no projeto ou na


execução, dar-lhe causa.

Pena: multa, se o fato não constitui crime contra a incolumidade pública.


Subsidiariedade expressa.

 A conduta de provocar o desabamento da construção é dolosa.

Obs. 1: se o desabamento coloca em risco a vida, a integridade física ou mesmo o


patrimônio de um número elevado de pessoas, haverá o crime do art. 256 do CP, desde que
cause o perigo comum.

Obs. 2: se o agente provoca intencionalmente o desabamento de uma construção


alheia, sem causar perigo comum, incorrerá em crime de dano.

Haverá a contravenção quando o indivíduo provocar o desabamento de construção


própria dolosamente, sem causar perigo comum, ou quando provocar o desabamento de
construção alheia, sem causar perigo comum, mas com a autorização do dono.

Conduta: dar causa ao desabamento por erro no projeto ou na execução

Somente poderá ser cometida por engenheiro, arquiteto, pedreiro, projetista etc.

 Há aqui uma contravenção culposa.

81
Também ficará absorvida quando houver resultado em perigo comum,  art. 256,
parágrafo único, do CP.

Sujeito ativo, na modalidade dolosa: qualquer pessoa.

Na modalidade culposa, a contravenção é própria.

Sujeito passivo: a coletividade.

→ Omissão de cautela na guarda ou condução de animais

Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar
com a devida cautela animal perigoso.

Pena: prisão simples, de 10 dias a 2 meses, ou multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

• Na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa


inexperiente;

• Excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;

• Conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia.

 Contravenções do art. 31, caput e alínea “a” são contravenções de perigo abstrato.
Dispensam a comprovação da situação de perigo.

 Alíneas “b” e “c”: contravenções são de perigo concreto, pois o tipo penal exige a
exposição de perigo a segurança alheia.

Caso haja efetivamente ofensa à integridade física de uma pessoa, o sujeito não
responderá pela omissão de cautela, mas pelo crime de lesão corporal culposa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha ou possua o animal.

Sujeito passivo: a coletividade e, secundariamente, a vítima exposta a uma situação de


perigo, provocada pelo animal.

→ Falta de habilitação para dirigir veículo

82
Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a
motor em aguas públicas.

Pena: multa.

Contravenção de perigo abstrato.

Em relação ao veículo automotor, o dispositivo encontra-se revogado. CTB trata de tal


conduta e a classifica como infração administrativa.

Os casos que vão justificar a criminalização da conduta de quem vai dirigir sem
habilitação são expressamente previstos no CTB.

S. 720 do STF: o art. 309 do CTB, que reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou
o art. 32 da LCP no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.

Por essa razão, só continua o dispositivo ter aplicação, no tocante à condução, em águas
públicas, de embarcação motorizada, sem a devida habilitação.

Qualquer pessoa poderá praticar essa contravenção.

O sujeito passivo é a coletividade.

→ Direção perigosa de veículo na via pública

Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públicas, pondo em
perigo a segurança alheia.

Pena: prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa.

Perceba que é necessário que seja na via pública. Na garagem não vale. É preciso que
seja em águas públicas. Se for nas águas de dentro da fazenda, não vale.

A lei não exige que o veículo seja motorizado, motivo pelo qual abrange carroças,
charretes, bicicletas etc.

Obs.: dirigir o veículo, pondo em risco a segurança alheia, dentro de condomínio


fechado configura contravenção. Fundamento: as ruas de condomínios particulares,
conforme a Lei 6.766/99, pertencem ao Poder Público, são vias públicas.

83
Não constitui via pública o interior da fazenda particular, garagem da residência
particular, estacionamento particular etc.

Apesar das divergências, prevalece que a contravenção é de perigo abstrato.

 O CTB não derrogou o art. 34, pois não esgotou toda e qualquer modalidade de
direção perigosa, elencando apenas aquelas mais gravosas, tais como o racha e a direção sem
habilitação gerando perigo de dano, mas não abarca outras situações, bem como os veículos
não automotores.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, habilitada ou não habilitada.

Sujeito passivo: a coletividade. Se alguém foi exposto a perigo, também essa pessoa
será sujeito passivo da contravenção.

Distinção entre essa contravenção e o art. 132 do CP (expor a vida ou a saúde de


outrem a perigo direto e iminente):

Doutrina: a contravenção poderá atingir qualquer pessoa, pois de perigo abstrato. O


crime de perigo à saúde de outrem exige que uma pessoa determinada seja visada pelo
agente.

d) Cap. IV – Das contravenções referentes à paz pública

→ Associação secreta

Art. 39. Participar de associação de mais de 5 pessoas, que se reúnam periodicamente,


sob compromisso de ocultar à autoridade a existência, objetivo, organização ou
administração da associação.

Pena: prisão simples, de 1 a 6 meses, ou multa.

Contravenção plurissubjetiva.

• § 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante de prédio que o cede,


no todo ou em parte, para reunião de associação que saiba ser de caráter secreto.

• § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar de aplicar a pena,


quando lícito o objeto da associação.

84
Art. 5º, XVII, da CF: é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar. É livre ainda o direito de reunião e de associação (art. 5º, XVI a XIX, CF).

Victor Rios Gonçalves e José Baltazar dizem: tais direitos não têm caráter absoluto. As
autoridades devem ter ciência da existência da associação, de sua finalidade, bem como saber
quem são seus administradores.

Trata-se de contravenção de caráter habitual.

→ Falso alarma

Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar


qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto.

Pena: prisão simples, de 15 dias a 6 meses, ou multa.

Ex.: sujeito liga para o dono da loja e informa que existem ladrões no seu interior,
quando sabe que o perigo não existe.

Obs.: Se o sujeito ligar para a polícia para dizer que está ocorrendo assalto na loja, não
há contravenção, mas crime de comunicação falsa de crime (340 CP).

 A contravenção também ocorre quando o agente provoca ação da autoridade


pública, mediante comunicação de desastre inexistente.

Ex.: telefonar para os bombeiros para mentir que está ocorrendo incêndio.

Qualquer pessoa poderá praticar. Sujeito passivo: a coletividade.

→ Perturbação do trabalho ou do sossego alheios

Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:

• Com gritaria ou algazarra;

• Exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições


legais;

• Abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;

• Provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que


tem a guarda.

85
Pena: prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa.

Contravenção penal de ação vinculada (o tipo especifica as suas formas de execução).

Ex.: pratica o art. 42, I, o sujeito que sai às 2:00 AM para bater panela na rua.

 Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: a coletividade.

Não basta que apenas uma pessoa se sinta atingida, devendo ser um número
considerável de pessoas incomodadas. Critério do homem-médio.

e) Cap. V. Das contravenções referentes à fé pública

→ Recusa de moeda de curso legal

Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país.

Pena: multa.

Essa contravenção não está configurada se há motivação legítima. Ex.: deixar de


receber nota com mancha de tinta, ou notas rasgadas.

Qualquer pessoa poderá praticar. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa que teve sua
moeda recusada.

→ Simulação da qualidade de funcionário público

Art. 45. Fingir-se funcionário público.

Pena: prisão simples, de 1 a 3 meses, ou multa.

A contravenção é subsidiária. O indivíduo atua por vaidade etc.

Se a intenção do agente é obter vantagem indevida, ou causar prejuízo a outra pessoa,


há crime de falsa identidade (art. 307).

Ex.: indivíduo é parado pela polícia por excesso de velocidade. O indivíduo diz, para
evitar a multa, que é promotor de justiça e tem uma audiência em 10 minutos.

Se o agente vai além e começa a realizar atos próprios do funcionário público de forma
habitual, haverá o crime de usurpação de função pública (art. 328).

86
Sujeito ativo: qualquer pessoa, podendo até mesmo ser o funcionário público que finge
ocupar uma função diversa.

Sujeito passivo: o Estado.

Para configuração da contravenção, basta que o indivíduo finja ser funcionário público
por uma única vez.

f) Contravenções referentes à organização do trabalho

→ Exercício ilegal da profissão ou atividade

Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem
preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício.

Pena: prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa.

Norma penal em branco. Se a lei não regulamenta a atividade econômica, o fato é


atípico.

Observações:

- Essa norma penal abrange o profissional suspenso ou impedido de exercer a profissão


por determinação de sua entidade.

- Em relação aos médicos, dentistas e farmacêuticos, há o crime específico de exercício


ilegal da medicina (art. 282 do CP).

- Se o sujeito está privado do exercício de sua profissão por conta de uma decisão
judicial, haverá o crime do art. 359 do CP.

- Se está privado de sua função por conta de decisão administrativa, haverá o crime do
art. 324 do CP.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: o Estado e eventualmente as pessoas


enganadas.

Contravenção de perigo e habitual.

g) Cap. VI - Das contravenções referentes à polícia de costumes

→ Jogos de azar

87
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público,
mediante o pagamento de entrada ou sem ele.

Pena: prisão simples, de 3 meses a 1 ano, e multa, estendendo-se os efeitos da


condenação à perda dos móveis e objetos de decoração do local.

§1º. A pena é aumentada de 1/3, se existe entre os empregados ou participa do jogo


pessoa menor de 18 anos. Causa de aumento plicável somente ao responsável pelo jogo.

§2º. Incorre na pena de multa, de R$ 2.000,00 a R$ 200.000,00, quem é encontrado a


participar do jogo, ainda que pela internet ou por qualquer outro meio de comunicação,
como ponteiro ou apostador.

§3º. Consideram-se, jogos de azar:

• O jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da


sorte;

• As apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou fora de local onde


sejam autorizadas;

• As apostas sobre qualquer outra competição esportiva.

§4º. Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar

acessível ao público:

• A casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitualmente


participam pessoas que não sejam da família de quem a ocupa;

• O hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se


proporciona jogo de azar;

• A sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo de


azar;

• O estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se


dissimule esse destino.

 Estabelecer é criar um lugar para a prática de jogo.

88
 Explorar é tirar proveito, auferindo lucro com os jogos de azar, fora da condição de
apostador.

Doutrina: no que toca às casas particulares, só existe a contravenção penal, quando o


proprietário admite aleatoriamente pessoas para participar dos jogos que ali acontecem,
desde que seja de modo habitual. Se os jogos acontecem com amigos e familiares, fazendo
apostas, não haverá contravenção, ainda que haja apostas.

 A exploração por meio de máquinas caça-níquel ou de videopôquer poderá


configurar a contravenção.

 Obs.: é comum que tais máquinas sejam adulteradas para limitar a possibilidade de
ganho do apostador. Neste caso, as vítimas são indeterminadas, motivo pelo qual estará
configurado um crime contra a economia popular (art. 2º, IX, da Lei 1.521/51: obter ou tentar
obter ganhos ilícitos mediante processos fraudulentos).

Os jogos que dependam mais da habilidade do jogador, mais do que a sorte, não se
incluem entre os chamados jogos de azar. Ex.: sinuca, truco, pôquer etc.

Aposta online de jogo de azar, se o provedor estiver fora do território nacional será
punível no Brasil?

Não será punível, pois inexiste extraterritorialidade de contravenção penal. O


comando foi feito no Brasil, porém a aposta foi feita no exterior. O resultado também ocorrerá
no exterior.

 Só ocorre a contravenção se o jogo de azar for praticado mediante aposta. Se não há


aposta, não há contravenção.

 Se houver aposta, ainda que a finalidade seja beneficente, continuará existindo a


contravenção penal. Só deixará de existir se houver autorização da autoridade competente.

A consumação dessa contravenção se dá com a reiteração dos atos: contravenção


habitual.

Obs.: para o apostador não se aplica a habitualidade, cabendo a ele a pena de multa por
ser apostador.

89
→ Importunação ofensiva ao pudor

Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo


ofensivo ao pudor.

Pena: multa.

 Importunar = incomodar

 Pudor: sentimento de timidez, de vergonha que uma pessoa tem diante de certos
fatos que ferem sua decência.

A contravenção se dá com a utilização de palavras, de gestos etc. que ofendam a moral


comum da pessoa.

Ex.: encostar-se lascivamente na vítima, a fim de passar a mão em suas nádegas, sem
que haja violência ou grave ameaça.

Para configurar a importunação ofensiva ao pudor, é necessário que se dê em local


público ou ao menos em local acessível ao público.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Distinção entre importunação ofensiva ao pudor, ato obsceno, estupro e assédio


sexual:

• Ato obsceno: o indivíduo quer ser visto, ou ao menos assume o risco de ser visto,
enquanto pratica ato sexual, de caráter sexual ou que expõe suas partes pudendas.

• Assédio sexual: as condutas são as mesmas da contravenção, mas quem comete


o crime de assédio sexual se vale da superioridade hierárquica ou de ascendência de seu
emprego, cargo ou função. Além disso, não precisa ser realizado em local público ou acessível
ao público.

• Estupro: o sujeito age com violência ou grave ameaça. O sujeito pratica


conjunção carnal ou outro ato libidinoso, mediante violência ou grave ameaça.

Obs.: se for a vítima menor de 14 anos, a violência é presumida. No entanto, é


indispensável que haja algum ato libidinoso. Caso o agente tenha falado algo, poderá ter
havido importunação ofensiva ao pudor em relação ao menor.

90
→ Embriaguez

Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause


escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia.

Pena: prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa.

 Contravenção de perigo concreto

 Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: a coletividade.

§ único: se habitual a embriaguez, o contraventor é internado em casa de custódia e


tratamento.

→ Bebidas alcoólicas

Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:

• A quem se acha em estado de embriaguez;

• A pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais;

• A pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida de frequentar lugares


onde se consome bebida de tal natureza.

Pena: prisão simples, de 2 meses a 1 ano, ou multa.

 Pode ocorrer mediante pagamento ou não.

 Não importa o local.

Caso o fornecimento de bebidas alcoólicas se dê a pessoas menores de 18 anos, crime


do art. 243 ECA (13.106/2015)

Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é a coletividade e a vítima direta.

→ Perturbação da tranquilidade

Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovável.

Pena: prisão simples, de 15 dias a 2 meses, ou multa.

91
É a conduta de atrapalhar o sossego, atrapalhar a paz, sendo praticado por maldade ou
por motivo censurável, torpe.

Ex.: passar trotes para o desafeto, colocar sujeiras na casa de alguém, fazer barulho para
incomodar determinada pessoa...

Há o especial fim de agir, que é agir por acinte ou por motivo reprovável.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa.

h) Cap. VIII – Das contravenções

referentes à administração pública

→ Omissão de comunicação de crime por funcionário público

Art. 66 - primeira parte. Deixar de comunicar à autoridade competente crime de ação


pública, de que teve conhecimento no exercício de função pública, desde que a ação penal
não dependa de representação. Pena: multa.

Contravenção omissiva própria.

Não se exige que o funcionário público tenha o conhecimento da autoria do crime,


importando que o indivíduo tenha o conhecimento do crime em razão de sua função.

É necessário fazer uma distinção.

 Se o sujeito se omite para a satisfação de interesse ou sentimento pessoal, haverá


prevaricação.

 Se o sujeito se omite para beneficiar um subordinado que tenha praticado uma


infração no exercício do cargo, haverá condescendência criminosa.

Portanto, a depender do que motivou o sujeito a não comunicar a ocorrência de crime


de ação penal pública incondicionada, poderá haver contravenção ou crime.

Sujeito ativo: funcionário público (contravenção própria). Sujeito passivo: o Estado.

Obs.: a consumação vai depender da ausência de comunicação por um tempo


juridicamente relevante.

→ Omissão de comunicação de crime por médico ou profissional da área de saúde

92
Art. 66, segunda parte. Deixar de comunicar à autoridade competente crime de ação
pública, de que teve conhecimento no exercício da medicina ou de outra profissão sanitária,
desde que a ação penal não dependa de representação e a comunicação não exponha o
cliente a procedimento criminal.

Contravenção omissiva própria.

Ex.: médico que atenda mulher, vítima de lesão corporal grave, praticada pelo marido.
Por se tratar de ação penal pública incondicionada, estará o médico praticando esta
contravenção, se não comunicar a ocorrência do crime.

Veja, a vítima não ficará exposta ao procedimento criminal. É diferente do marido que
bateu na mulher e enquanto batia quebrou a mão e buscou o médico. Neste caso, o médico
não estará cometendo a contravenção penal, caso não comunique à autoridade competente.

Sujeito ativo: médico ou profissional da área sanitária (contravenção própria). Sujeito


passivo: o Estado.

A consumação vai depender da ausência de comunicação por tempo juridicamente


relevante.

→ Inumação ou exumação de cadáver

Art. 67. Inumar ou exumar cadáver, com infração das disposições legais:

Pena: prisão simples, de 1 mês a 1 ano, ou multa.

Norma penal em branco.

 Inumar é enterrar e exumar é desenterrar.

 Cadáver: corpo humano morto, abrangendo o natimorto. Não abrange o feto.

 Se a intenção do agente é esconder o cadáver, há crime de ocultação de cadáver (art.


211, CP). A subtração de cadáver ou de partes de cadáver, encontra disposição no art. 211, se
a finalidade é ocultar o cadáver.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: a coletividade.

→ Recusa de dados sobre própria identidade ou qualificação

93
Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justificadamente solicitados ou
exigidos, dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado, profissão,
domicílio e residência.

Pena: multa.

Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de 1 a 6 meses, e multa, se o fato


não constitui infração penal mais grave, quem, nas mesmas circunstâncias, faz declarações
inverídicas a respeito de sua identidade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência.

A autoridade pediu o documento, mas o indivíduo se recusou.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: o Estado.

Forma qualificada X Crime de falsa identidade:

• Falsa identidade (art. 307): o sujeito falseia a identidade para obter vantagem
para si ou para outrem.

• Recusa de dados da própria identidade qualificada: o sujeito falseia a


identidade, mas não para obter vantagem.

Ex.: mentir a sua identidade na delegacia para não ser preso, já que há contra si
mandado de prisão  307 CP.

Quando falseia a identidade e esta é uma finalidade em si mesma, tem-se a


contravenção qualificada.

Aula 05. Crimes de trânsito. Crimes contra o consumidor.

7. Crimes de Trânsito (Lei 9.503/97)

I. Procedimentos nos crimes de trânsito

Art. 291 do CTB (Lei 9.503/97):

94
Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código,
aplicam-se as normas gerais do CP e do CPP, se este Capítulo não dispuser de modo diverso,
bem como a Lei n 9.099/95, no que couber.

§1o Aplica-se aos crimes de trânsito o disposto nos

arts. 74, 76 e 88 da Lei n 9.099/95, exceto se o agente:

• Cometer lesão corporal culposa por estar sob a influência de álcool ou qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência;

• Cometer lesão corporal culposa por estar participando, em via pública, de


corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em
manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;

• Cometer lesão corporal culposa por estar transitando em velocidade superior


à máxima permitida para a via em 50 km/h.

Conceito de veículo automotor (Anexo I do CTB): é todo o veículo a motor de propulsão


que circule por seus próprios meios. Além disso, o termo compreende veículos conectados a
uma linha elétrica, que não circulam sobre trilhos. Ex.: ônibus elétrico.

Ex.: moto, trator, carro, caminhão, ônibus, trem, metro.

Carroça é veículo tracionado por animais, não sendo veículo automotor. Bicicleta é
veículo de propulsão humana, não estando incluído ao conceito.

II. Suspensão e proibição de habilitação ou permissão para dirigir veículo

Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir


veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades.

Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a


habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de 2 meses a 5 anos.

§ 1º. Transitada em julgado a sentença que condenou à penalidade de suspensão da


habilitação, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em 48 horas, a Permissão
para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.

95
§2º. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de
condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.

A lei prevê, expressamente, a aplicação da pena de suspensão ou proibição de obtenção


de habilitação ou de permissão para dirigir veículo automotor, para os seguintes crimes:

• Homicídio culposo, quando praticado na direção de veículo automotor

• Lesão corporal culposa, quando praticada na direção de veículo automotor

• Embriaguez ao volante

• Violação de suspensão ou de proibição

• Participação de competição não autorizada

Nos demais crimes previstos no CTB, não existe esta previsão expressa. Entende-se que,
quando há previsão expressa no preceito secundário, serão aplicados os arts. 292 e 293.

Caso o crime não traga pena cumulativa de suspensão ou proibição da habilitação, só


caberá tal penalidade se o sujeito for reincidente na prática de crime de trânsito do Código
de Trânsito Brasileiro (inteligência do art. 296 CTB).

Mínimo de 2 meses e máximo de 5 anos. O juiz deverá se valer do critério trifásico de


Nelson Hungria (68 CP)

STF analisará a constitucionalidade da “Suspensão de habilitação para dirigir de


motorista profissional condenado por homicídio culposo na direção de veículo automotor”
(Rep. Geral - RE 607.107). Direito ao exercício da profissão.

Efeito extrapenal obrigatório da condenação pela prática de crime de trânsito: o


condutor é obrigado a se submeter a novos exames para que consiga voltar a dirigir.
Independe de qualquer previsão na sentença, e nem de motivação na sentença.

III. Suspensão ou proibição cautelar

Art. 294.

96
Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a
garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento
do MP ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão
motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a
proibição de sua obtenção dessa habilitação ou permissão.

 Da decisão do juiz, deferindo ou indeferindo a suspensão ou a medida cautelar,


caberá RESE, sem efeito suspensivo.

 A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão


ou a habilitação será sempre comunicada pelo juiz ao CONTRAN, e ao órgão de trânsito do
Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.

IV. Multa reparatória

Essa multa não é pena. Visa reparar os prejuízos que a vítima experimentou.

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito


judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto
no § 1º do art. 49 do CP, sempre que houver prejuízo material resultante do crime.

Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do CP. Ou seja: a multa será
dívida de valor, mas, neste caso, será executada pela vítima ou pelo interessado, não
cabendo à procuradoria da fazenda executá-la.

 A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no


processo.

 §3º. Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.

Na multa reparatória há um efeito secundário da condenação, que exige expressa


menção na sentença, pois o juiz deverá fixar um valor.

Não consiste apenas em tonar certo o dever de indenizar.

V. Agravantes genéricas

Art. 298, são circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito
ter o condutor do veículo:

97
• Cometido a infração com dano potencial para 2 ou mais pessoas ou com grande
risco de grave dano patrimonial a terceiros;

É crime de perigo.

• Cometido a infração utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou


adulteradas;

Atenção: essa agravante só se faz presente quando não é o autor da infração quem
falsificou ou adulterou a placa.

Se foi o indivíduo que alterou ou falsificou a placa, há o crime de trânsito em concurso


material com o crime do art. 311 do CP (adulteração de sinal identificador de veículo
automotor).

• Cometido a infração sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de


Habilitação;

Obs.: não é possível valorar essa agravante quando for elementar do tipo. Ex.:direção
perigosa (309 CTB).

• Cometido a infração com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de


categoria diferente da do veículo;

• Cometido a infração quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados


especiais com o transporte de passageiros ou de carga;

• Cometido a infração utilizando veículo em que tenham sido adulterados


equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de
acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;

Ex.: sujeito que rebaixa o carro, deixa o motor envenenado etc.

• Cometido a infração sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente


destinada a pedestres.

• VI. Prisão em flagrante e fiança

98
Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e
integral socorro à vítima.

Ex.: indivíduo chamar socorro.

Objetivo: estimular o princípio da solidariedade entre as pessoas.

VII. Crimes em espécie

a) Homicídio culposo na direção de veículo automotor

Quem deve estar na direção de veículo automotor é o autor do delito, e não a vítima.

Ex.: o amigo que está na garupa da moto faz graça e a moto cai, matando o piloto. O
amigo responderá por homicídio culposo, mas não na direção de veículo automotor.

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de 2 a 4 anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a


habilitação para dirigir veículo automotor.

Tipo penal aberto.

Caso tenha havido concorrência da vítima para o crime (ex.: vítima estava na contramão
e o agente estava em excesso de velocidade), não haverá compensação de culpas, devendo
o juiz valorar o comportamento da vítima nas circunstâncias judiciais.

Art. 1º do CTB. O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território


nacional, abertas à circulação, rege-se pelo CTB.

Art. 2º do CTB. São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros,
os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo
órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as
circunstâncias especiais.

Apesar do art. 2º, entende-se que devem ser aplicados os crimes de homicídio culposo
e lesão corporal culposa do CTB, ainda que o fato não ocorra na via pública.

99
Fundamento: o legislador, quando quis exigir que o crime fosse cometido em via
pública, o fez expressamente. No caso do HC na direção de veículo automotor e de LC culposa
na direção de veículo automotor, não há essa exigência.

Ex. dessa exigência: participação de competição não autorizada e 309 CTB.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa, desde que esteja conduzindo veículo automotor.

Sujeito passivo é qualquer pessoa.

→ Perdão judicial (causa de extinção da punibilidade)

Será aplicado com as regras do Código Penal, art. 121, §5º.

É o princípio da bagatela imprópria.

STJ  cabível quando: o sujeito sofre sequelas físicas, a vítima é parente, possui laços
sanguíneos ou afetivos com o agente.

Perdão judicial é circunstância de caráter pessoal. Se houver concurso de pessoas, não


se comunicará ao outro agente.

→ Ação penal

Incondicionada.

STJ: é inepta a denúncia que imputa a prática de homicídio culposo na direção de


veículo automotor sem descrever, de forma clara e precisa, a conduta negligente, imperita
ou imprudente que teria gerado o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção de
que o suposto autor estava na direção do veículo no momento do acidente (Inf. 553).

→ Causas de aumento de pena

Art. 302, §1º. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena
é aumentada de 1/3 à 1/2:

• Se o agente não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

• Se o agente praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

100
• Se o agente deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à vítima do acidente;

• Se o agente no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo


veículo de transporte de passageiros.

Observações:

1. Várias dessas causas de aumento de pena são descritas como agravantes.

2. O aumento não poderá ser aplicado se a vítima, de imediato, foi socorrida por terceira
pessoa e o agente presenciou tal fato, ou mesmo quando a vítima estiver evidentemente
morta.

STJ: o fato de o autor de homicídio culposo na direção de veículo automotor estar com
a CNH vencida não justifica a aplicação da causa especial de aumento de pena descrita no
inciso I do § 1º do art. 302 do CTB.

O dispositivo pune o condutor que "não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de
Habilitação". O fato de o condutor estar com a CNH vencida não se amolda a essa previsão
não se podendo aplicá-lo por analogia in malam partem (Inf. 577).

LEI Nº 13.546, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2017.

• § 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de


qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:

• Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

ENTRA EM VIGOR 120 DIAS DEPOIS DA PUBLICAÇÃO.

b) Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor.

Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão


ou a habilitação para dirigir veículo automotor. IMPO

101
Parágrafo único (que agora será o §1ª). As causas de aumento de pena de 1/3 até 1/2,
previstas no homicídio culposo na direção de veículo automotor, se aplicam aqui.

• Se o agente não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

• Se o agente praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

• Se o agente deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco


pessoal, à vítima do acidente;

• Se o agente no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo


veículo de transporte de passageiros.

Também é cabível o perdão judicial.

§ 2o A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima.”
Lei13.546/17

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa, desde que esteja conduzindo veículo automotor.

Sujeito passivo é qualquer pessoa.

→ Ação penal

Regra: é ação pública condicionada à representação, pois se aplica a Lei 9.099/95.

Todavia, não será aplicada a Lei 9.099/95 nos casos em que:

• Estiver sob a influência de álcool;

• Corrida, aposta, racha ou de demonstração não autorizada;

• Excesso de velocidade em mais de 50 km/h a mais do que o permitido para a via.

Logo, nesses casos, ação penal pública incondicionada.

c) Omissão de socorro

102
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato
socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar
auxílio da autoridade pública.

Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de


crime mais grave.

IMPO

Crime omissivo puro, não cabendo tentativa.

Este crime somente será aplicável àquela pessoa que não praticou lesão corporal
culposa.

Ex.: sujeito estava trafegando dentro das regras de trânsito, quando uma pessoa
atravessou na frente do carro, tendo o motorista atropelado a vítima.

Art. 304, parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo,
ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte
instantânea ou com ferimentos leves.

Deve ser interpretado de forma ponderada.

 O sujeito somente responderá pela omissão, no caso de ter havido socorro por 3º, se
a prestação do socorro não chegou ao seu conhecimento.

 No caso da morte instantânea, inaplicável o dispositivo se a morte era evidente.

 No caso da vítima com lesões leves, a incidência do dispositivo se dará quando o caso
demandar atendimento hospitalar ou similar.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é apenas o condutor do veículo, desde que não tenha agido culposamente,
pois se enquadraria em outro crime.

Crime próprio.

Obs.: se o motorista que não está envolvido no acidente e vê outra pessoa necessitando
de socorro, mas não socorre, haverá o crime de omissão de socorro do art. 135 do CP.

103
Sujeito passivo é qualquer pessoa.

→ Ação penal

Incondicionada.

d) Fuga do local do acidente

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à


responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída.

Pena: detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa. IMPO.

Corrente minoritária: este dispositivo é inconstitucional, pois ninguém pode ser


obrigado a fazer prova contra si mesmo.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é apenas o condutor do veículo. Crime próprio.

Sujeito passivo é o Estado e, secundariamente, a pessoa prejudicada com aquela


conduta.

→ Consumação

Quando o sujeito foge, ainda que seja identificado e não consiga fugir de sua
responsabilidade.

Crime formal, bastando que fuja com a intenção de não ser responsabilizado civil ou
criminalmente.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

e) Embriaguez ao volante

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência.

Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a


permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. I Médio PO

104
§1º. As condutas previstas no caput podem ser constatadas por:

• Concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou


igual ou superior a 0,3 miligramas de álcool por litro de ar alveolar; ou

Como há uma margem de erro, o bafômetro exige 0,34 miligramas de álcool por litro de
ar alveolar, a fim de configurar.

• Sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da


capacidade psicomotora.

Odor etílico, andar cambaleante, fala confusa etc.

§2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros
meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou


toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa.

Sujeito passivo é a coletividade.

Crime de perigo abstrato.

Se o agente provoca o homicídio culposo ou a lesão corporal culposa, na direção de


veículo automotor, agora é MODALIDADE QUALIFICADA.

Se o autor de crime de embriaguez ao volante não tem habilitação para dirigir veículo,
não responderá pelo art. 309 e art. 306. Responderá apenas pelo art. 306, pois o fato de ele
não ter permissão ou habilitação, implicará a incidência da agravante genérica do art. 298,
III, do CTB.

→ Ação penal Incondicionada.

f) Violação da suspensão ou proibição imposta

105
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor imposta com fundamento no CTB.

Pena: detenção, de 6 meses a 1 ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico
prazo de suspensão ou de proibição.

IMPO

Parágrafo único diz. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no
prazo estabelecido no prazo de 48 horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.

O parágrafo único traz um crime a prazo.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo: pessoa que esteja proibida de obter permissão ou habilitação para dirigir,
ou que esteja com esse direito suspenso. Crime próprio.

Sujeito passivo é a coletividade.

Crime de perigo abstrato.

→ Ação penal

Incondicionada.

g) Participação em competição não autorizada (racha)

Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa
ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra
de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco
à incolumidade pública ou privada (Redação Lei 13.546/17):

Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a


permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. I Médio PO

 Participar de competição nao autorizada. Pressupõe que o agente esteja na disputa,


ou seja, na direção do veículo automotor. Quem fica do lado de fora torcendo ou auxiliando
com bandeiras responderá na condição de partícipe desse delito.

106
 Crime de Perigo Abstrato: é desnecessário provar que uma pessoa certa ou
determinada tenha sido exposta a perigo.

→ Sujeitos do crime

O sujeito ativo é qualquer pessoa.

O sujeito passivo é a coletividade.

§1º. Se da prática do crime resultar lesão corporal de natureza grave, e as circunstâncias


demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena
privativa de liberdade é de reclusão, de 3 a 6 anos, sem prejuízo das outras penas previstas
neste artigo.

§2º. Se da prática do crime resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem que o


agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade
é de reclusão de 5 a 10 anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

h) Direção de veículo sem permissão ou habilitação

Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir
ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano.

Pena: detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa. IMPO.

É indispensável que o condutor esteja gerando perigo de dano. Caso contrário, há mera
infração administrativa.

Se o agente está com a permissão ou habilitação suspensa, o crime é o do art. 307.

Se o agente é legalmente habilitado e está conduzindo, gerando perigo de dano, há


mera infração administrativa.

Não é necessário que uma pessoa certa e determinada tenha sido exposta ao perigo.

Trata-se crime de perigo abstrato. Basta que seja demonstrado que alguém sem
habilitação dirigiu de forma anormal.

107
→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Crime de mão própria: a pessoa deverá estar dirigindo efetivamente. Caso alguém
esteja do lado incentivando, responderá na condição de partícipe.

Se alguém entrega a chave do veículo para alguém sem habilitação dirigir, responderá
pelo art. 310.

Sujeito passivo: a coletividade.

→ Absorção

Se o agente, ao dirigir sem habilitação, infringir os arts. 306, 308 e 311, responderá
apenas por tais infrações, com as agravantes do art. 298, III, do CTB.

Se a pessoa não habilitada comete homicídio culposo ou lesão corporal culposa,


responderá apenas por estes crimes, mas com aumento da pena de 1/3 até a metade, sob
pena de bis in idem. STF.

Obs.: o crime de dirigir veículo sem habilitação gerando perigo de dano, apesar de ser
crime de ação penal pública incondicionada, quando consunto pela lesão corporal culposa,
não altera a natureza desta, que é crime de ação pública condicionada à representação.
Haverá a incidência do prazo decadencial 6 meses para fins de representação (Inf. 796 - STF).

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

i) Entrega de veículo a pessoa não habilitada

Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem,
por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de
conduzi-lo com segurança.

Pena: detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa. IMPO

Crime de perigo abstrato.

108
STJ, Súmula 575:

Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo


automotor à pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações
previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de
dano concreto na condução do veículo.

No voto, o Min. Rogerio Schietti Cruz faz uma importante ressalva dizendo que não se
exclui a possibilidade de, no caso concreto, ocorrerem situações nas quais se verifique que,
mesmo a pessoa conduzindo o veículo sem habilitação, não houve qualquer risco potencial à
segurança viária.

Ex: indivíduo, desejando carregar uma caminhonete com areia, pede ao seu ajudante
não habilitado, que realize manobra de poucos metros, em área rural desabitada e sem
movimento, para melhor posicionar a carroceria do automóvel.

Neste caso, mesmo o delito do art. 310 sendo delito de perigo abstrato, não haveria
crime por ausência de tipicidade material, já que tal comportamento é absolutamente
inidôneo para pôr em risco a segurança de terceiros (Inf. 563).

→ Sujeitos do crime

O sujeito ativo é qualquer pessoa.

Sujeito passivo é a coletividade.

→ Consumação

No momento em que o terceiro coloca o veículo em movimento.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

Excesso de velocidade em determinados locais

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança, gerando perigo de


dano, nas proximidades de:

• Escolas

109
• Hospitais

• Estações de embarque e desembarque de passageiros

• Logradouros estreitos ou

• Local onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas


(interpretação analógica).

Pena: detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa. IMPO

É necessário fazer interpretação restritiva do texto.

Caso haja excesso de velocidade em horário em que não haja funcionamento dos locais
citados, ou onde não haja grande movimentação de pessoas, não haverá incidência do
dispositivo penal.

Ex.: trafegar às 2 horas da manhã em alta velocidade na frente à uma escola.

 Trata-se de crime de perigo concreto.

Este crime será absorvido quando, em razão dessa imprudência, houver um acidente
que resulte em lesão ou morte. Princípio da consunção.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa.

Sujeito passivo é a coletividade.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

k) Fraude no procedimento apuratório

Art. 311. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na


pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo
penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o
perito, ou juiz.

Pena: detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa. IMPO

110
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da
inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

Ex.: indivíduo apaga os sinais do freio antes da polícia chegar; sujeito retira placas de
sinalização para dizer que não havia informação sobre velocidade; altera local do corpo da
vítima...

Perceba: o tipo penal exige que haja o especial fim de agir: para induzir a erro o agente
policial, perito ou o juiz.

Induzir a erro o promotor de justiça não é crime.

Não é preciso que consiga efetivamente enganar para fins de consumação.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é qualquer pessoa, ainda que não tenha sido o condutor do veículo.

Sujeito passivo é o Estado.

→ Consumação

No momento em que o sujeito altera o estado do lugar da coisa, ainda que não atinja a
sua finalidade. Crime é formal.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

VIII. Substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos para
fins de reeducação do condenado Art. 312-A: norma geral.

Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações
em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de
direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, em
uma das seguintes atividades:

• Trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros


e em outras unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito;

111
• Trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que
recebem vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados;

• Trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de


acidentados de trânsito;

• Outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de


vítimas de acidentes de trânsito.

8. Crimes contra o Consumidor (Lei 8.078/90)

Conceito de consumidor, fornecedor e relação de consumo

Relação de consumo: é a relação que se estabelece entre fornecedor e consumidor.

Consumidor é qualquer pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza um produto ou


um serviço como destinatário final.

Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que


haja intervindo nas relações de consumo.

Fornecedor: é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,


bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.

II. Objetividade jurídica

Bem jurídico tutelado: as relações de consumo.

Podem haver outros bens jurídicos especialmente tutelados, mas em sentido amplo é a
proteção das relações de consumo.

III. Crimes em espécie

a) Omissão de dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de


produtos ou serviços

112
Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de
produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade.

Pena: detenção 6 seis meses a 2 anos e multa. IMPO

O consumidor tem direito à informação.

§1º. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações
escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.

§2º. Se o crime é culposo:

Pena é de detenção de 1 a 6 meses ou multa. IMPO

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é fornecedor, sendo crime próprio.

Sujeito passivo é a coletividade e, eventualmente, os consumidores.

Delito omissivo puro.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

b) Omissão na comunicação da nocividade ou periculosidade de produtos

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a


nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação
no mercado.

Pena: detenção de 6 meses a 2 anos e multa. IMPO.

Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado,
imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou
perigosos, na forma deste artigo.

Art. 10, §1º, do CDC: o fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua
introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem,
deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores,
mediante anúncios publicitários.

113
→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é fornecedor, sendo crime próprio.

Sujeito passivo é a coletividade e, eventualmente, os consumidores.

→ Consumação

Quando decorre tempo suficiente para o sujeito informar ao mercado e às autoridades


competentes a respeito da nocividade ou da periculosidade, ou, na forma do parágrafo
único, decorrer tempo suficiente para retirar o produto do mercado.

Delito é omissivo puro.

→ Ação penal

Incondicionada.

c) Execução de serviço de alto grau de periculosidade

Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação


de autoridade competente

Pena: detenção de 6 meses a 2 anos e multa.

Parágrafo único: as penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes
à lesão corporal e à morte. Cúmulo material.

Ex.: serviços prestados em brinquedos de parques de diversões. O sujeito presta o


serviço sem a segurança e os procedimentos exigidos pelas autoridades competentes. Caso
aconteça um desastre no parque, este sujeito responderá pela lesão ou homicídio que der
causa, sem prejuízo de responder por este crime.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é o prestador de serviço.

Sujeito passivo é o consumidor e eventualmente a pessoa exposta a perigo ou lesionada.

Crime de perigo abstrato. Basta que tenha procedido ao serviço perigoso sem observar
a determinação da autoridade competente para fins de consumação.

114
→ Ação penal

Pública Incondicionada.

Aula 06. Crimes contra o consumidor (continuação). Crimes contra as relações de


consumo. Genocídio. Abuso de autoridade.

d) Propaganda enganosa

Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço
ou garantia de produtos ou serviços:

Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. IMPO.

§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.

§2º. Se o crime é culposo, pena de detenção de 1 a 6 meses ou multa.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é o fornecedor e o patrocinador do produto ou serviço.

Sujeito passivo é a coletividade e os consumidores que tenham adquirido o produto.

O crime é formal. Consuma-se no momento em que a informação falsa é emitida, ainda


que o consumidor não tenha adquirido o produto ou serviço.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

e) Publicidade enganosa

Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou
abusiva.

Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. IMPO.

Art. 37, §1º.

115
É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão,
capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

Art. 37, §2º.

É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que


incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento
e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou sua segurança.

Vale ressaltar!

A publicidade abusiva, em geral, configura o crime do art. 67. Por outro lado, a
publicidade abusiva, que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial à sua saúde, ou à sua segurança, configura o crime específico do art. 68.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo: é o responsável pela empresa, o fornecedor que trabalha no


departamento de marketing.

Sujeito passivo: é a coletividade e os consumidores que tenham adquirido o produto.

Crime formal. Consuma-se no momento em que essa publicidade é veiculada,


independentemente de qualquer outro resultado.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

f) Publicidade capaz de provocar comportamento perigoso

Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir
o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança.

Pena: detenção de 6 meses a 2 anos e multa. IMPO.

116
Exemplo: publicidade que tenha a sugestão de veículo em excesso de velocidade. Incita
o consumidor a se comportar de forma perigosa à sua segurança.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo: os profissionais responsáveis pela elaboração da publicidade.

Sujeito passivo: a coletividade e os consumidores que tenham adquirido o produto.

Crime de perigo abstrato ou presumido.

Crime formal. Consuma-se no momento em que a publicidade é veiculada,


independentemente de qualquer outro resultado.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

g) Omissão de organização de dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à


publicidade

Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à
publicidade.

Pena: detenção de um a seis meses ou multa. IMPO.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo: os profissionais responsáveis pela elaboração da publicidade.

Sujeito passivo: a coletividade e os consumidores que tenham adquirido o produto.

Crime formal. Consuma-se no momento em que a publicidade é veiculada,


independentemente de qualquer outro resultado.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

h) Emprego de peças ou componentes de reposição usados sem consentimento do


consumidor

117
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição
usados, sem autorização do consumidor.

Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. IMPO

São as famosas peças recondicionadas.

Obs.: se o fornecedor empregar peça usada sem autorização do consumidor, e cobrar o


valor da peça nova, o crime será de fraude no comércio (art. 175 do CP - Enganar, no exercício
de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: II - entregando uma mercadoria por
outra: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa).

Se o fornecedor cobra do consumidor, mas não troca a peça, o crime é de estelionato -


art. 171 do CP.

→ Sujeitos do crime

O sujeito ativo é o fornecedor.

O sujeito passivo é o consumidor.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

i) Cobrança abusiva ou vexatória

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou


moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que
exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso
ou lazer.

Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. É IMPO.

Ex.: carro de som na frente da casa do consumidor para cobrar dívida.

Esse delito pressupõe que o agente exponha o consumidor ao ridículo para fins de
efetuar a cobrança da dívida.

118
Se alguém ofende o consumidor, taxando-o de inadimplente, quando não há, em
verdade, dívida a ser cobrada, pode configurar difamação e/ou injúria (a depender da
imputação de fato ou simples qualidade negativa).

→ Sujeitos do crime

O sujeito ativo é o fornecedor.

O sujeito passivo é o consumidor.

É crime de mera conduta.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

j) Criação de óbice ao consumidor acerca de suas informações cadastrais

Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele
constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros.

Pena: detenção de 6 meses a 1 ano ou multa. IMPO

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é o fornecedor do banco de dados.

Sujeito passivo é o consumidor.

É crime de mera conduta.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

k) Omissão de correção sobre informações cadastrais do consumidor

Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de


cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata.

Pena: detenção de 1 a 6 meses ou multa. IMPO.

→ Sujeitos do crime

119
Sujeito ativo é o fornecedor do banco de dados.

Sujeito passivo é o consumidor.

É crime de mera conduta.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

l) Omissão de fornecimento de termo de garantia ao consumidor

Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente


preenchido e com especificação clara de seu conteúdo.

Pena: detenção de 1 a 6 meses ou multa. IMPO.

→ Sujeitos do crime

Sujeito ativo é o fornecedor.

Sujeito passivo é o consumidor.

→ Ação penal

Pública Incondicionada.

IV. Agravantes genéricas

Não excluem as agravantes genéricas previstas no CP.

Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste Código:

• Serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de


calamidade;

• Ocasionarem grave dano individual ou coletivo;

• Dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;

• Quando cometido por servidor público, ou por pessoa cuja condição


econômico-social seja manifestamente superior à da vítima;

120
• Quando cometido em detrimento de operário ou rurícola, de menor de 18 ou
maior de 60 anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental interditadas ou não;

Doutrina: para o operário ou rurícola há violação ao princípio da isonomia. Obs.: para


fins de prova adote a letra da lei.

• Quando praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou


quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.

V. Pena de multa

Art. 77. A pena pecuniária prevista será fixada em dias-multa, correspondendo ao


mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime.

Na individualização da pena de multa, o juiz observará o disposto no art. 60, §1° do


CP. Mínimo: 1/30 do SM. Máximo: 5 vezes o SM. O juiz poderá triplicar o máximo se entender
que o valor final é pequeno, diante da situação econômica do réu.

VI. Penas restritivas de direito

Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas,
cumulativa ou alternadamente, observado o disposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:

• Interdição temporária de direitos;

• Publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às


expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;

• Prestação de serviços à comunidade.

Apesar de o dispositivo falar em imposição cumulativa ou alterna, não se poderá


aplicar conjuntamente à pena privativa de liberdade  art. 44 do CP.

Dessa forma, pode-se fixar cumulativamente a interdição temporária de direitos, a


publicação em órgão de comunicação e a prestação de serviços à comunidade, mas não se
pode cumulá-las com a pena privativa de liberdade.

Doutrina critica a possibilidade da fixação da publicação em órgãos de comunicação


de grande circulação ou audiência às expensas do condenado, noticiando o fato e a
condenação.

121
Fundamento: isso seria obrigá-lo a prejudicar a sua imagem, violando a dignidade da
pessoa.

9. Crimes contra as Relações de Consumo (Lei 8.137/90)

 Art. 7º da Le 8.137/90: regula os crimes contra as relações de consumo.

 Bem jurídico tutelado: as relações de consumo.

Sujeito ativo: os fornecedores

Sujeito passivo: os consumidores.

 Ação penal: pública incondicionada.

I. Incidência da Lei 9.099/95

Nos crimes dolosos contra as relações de consumo, a pena será sempre de detenção de
2 a 5 anos, ou multa.

 Como a pena máxima ultrapassa 2 anos, não se trata de IMPO.

 Todavia, como a pena é de 2 a 5 anos, ou multa, é possível fixar isoladamente a pena


de multa. Dessa forma, a pena poderá ser inferior a 1 ano de pena privativa de liberdade.
Logo, segundo o entendimento prevalente, é possível a Sursis Processual

II. Crimes em espécie

a) Favorecimento ou preferência injustificada de comprador ou freguês

Art. 7º, inciso I. Favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês,
ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou
revendedores.

b) Venda ou exposição à venda de mercadoria em desacordo com as prescrições legais


ou classificação oficial

122
Art. 7º, inciso II. Vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo,
especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não
corresponda à respectiva classificação oficial. Norma Penal em Branco

Pode ser cometido na forma culposa. § único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-
se a modalidade culposa, reduzindo-se a pena e a detenção de 1/3 ou a de multa à quinta
parte.

c) Mistura de gêneros ou mercadorias para obtenção de lucro indevido.

Art. 7º, inciso III:

- Misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à


venda como puros;

- Misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à


venda por preço estabelecido para os demais mais alto custo.

Especial fim de agir: intenção de obter lucro indevido.

Crime formal

Pode ser cometido na forma culposa. § único: redução da pena detenção de 1/3 ou da
pena de multa à quinta parte.

d) Fraude de preço, mediante alteração não essencial ou de qualidade de bem ou


serviço

Art. 7º, inciso IV – fraudar preços por meio de:

a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como


denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume,
peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço;

Ex.: tamanho de rolo do papel higiênico. Modificar a embalagem para aumentar o preço.
Para configuração do crime, basta alterar preço, sem necessidade de que alguém tenha
comprado.

• Divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em


conjunto.

123
Só existe crime se não contar com a anuência do consumidor.

• Junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado.

Indivíduo une bens que eram normalmente vendidos em separado, a fim de vender mais
caro o conjunto.

• Aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na


prestação dos serviços.

e) Aumento de preço em venda ou prazo mediante exigência de comissão ou taxa de


juros ilegal

Art. 7º, inciso V. Elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços,
mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais.

Norma penal em branco

f) Sonegação de produtos para descumprimento de oferta pública ou para o fim de


especulação

Art. 7º, inciso VI. Sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda
comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação.

Ex.: o sujeito anuncia que está vendendo feijão a 5 reais. Quando todos chegam, o
fornecedor diz que não tem mais. Daí as pessoas que se dirigem ao local passam a comprar
outras coisas.

g) Indução de consumidor ou usuário em erro mediante afirmação falsa ou enganosa

Art. 7º, inciso VII. Induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou
afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de
qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária

O delito é mais grave do que a publicidade ou propaganda enganosa, pois pressupõe que
o consumidor seja efetivamente enganado ou sofra prejuízo. Crime material.

h) Dano em matéria-prima ou mercadoria para provocar alta de preço

124
Art. 7º, inciso VIII. Destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o
fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou de terceiros.

Crime formal.

i) Venda, manutenção em depósito, exposição à venda ou entrega de produto


impróprio para o consumo

Art. 7º, inciso IX. Vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de
qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao
consumo.

Ex.: o sujeito que tenha mercadoria vencida na geladeira do estabelecimento poderá


responder pelo crime.

Há entendimento no sentido de que:

Trata-se de crime de perigo abstrato, dispensando comprovar que a mercadoria esteja


efetivamente estragada. A simples exposição à venda de produto vencido já configura a
infração, independentemente da existência de um laudo que ateste que produto tenha se
tornado perigoso para a saúde do consumidor.

STJ: Para caracterizar o delito do art. 7º, IX, da Lei 8.137/90, é imprescindível a
realização de perícia a fim de atestar se as mercadorias apreendidas estão em condições
impróprias para o consumo, não sendo suficiente, para a comprovação da materialidade
delitiva, auto de infração informando a inexistência de registro do Serviço de Inspeção
Estadual (SIE) (Inf. 560, STJ). No mesmo sentido, STF.

Fundamento: trata-se de delito que deixa vestígios materiais, sendo indispensável,


portanto, a realização de perícia para a sua comprovação, nos termos do art. 158 do CPP.

Crime formal, pois é desnecessário comprovar o prejuízo.

Caso cometido na forma culposa, haverá a redução da pena detenção de 1/3 ou da


pena de multa à quinta parte.

III. Causas de aumento de pena

125
Art. 12 da Lei 8.137/90. As penas dos delitos previstos no art. 7º poderão ser agravadas
de 1/3 até 1/2, quando o crime:

• Ocasionar grave dano à coletividade;

• Cometido por servidor público no exercício de suas funções;

• Praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais


à vida ou à saúde.

10. Lei de Genocídio (Lei 2.889/56)

Define e pune o crime de genocídio

I. Crime de genocídio

Art. 1º. Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico,
racial ou religioso:

• Matar membros do grupo: será punido com a pena do homicídio qualificado


(12 a 30 anos).

• Causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo: será


punido com a pena da lesão corporal gravíssima (2 a 8 anos).

• Submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de


ocasionar a eles a destruição física total ou parcial: será punido com a pena do
envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal (10 a 15 anos).
Crime permanente.

• Adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo: será


punido com a pena do aborto provocado por terceiro (3 a 10 anos).

• Efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo: será


punido com a pena do sequestro e cárcere privado (1 a 3 anos).

a) Sujeito ativo

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum.

126
Art. 4º. A pena será aumentada de 1/3, no caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido
o crime por:

• Governante

• Funcionário público

Sujeito passivo: qualquer pessoa que integra o grupo e que, nessa condição, venha a ser
atingida.

b) Elemento subjetivo

Finalidade de destruir, no todo ou em parte, o grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

c) Consumação e tentativa

Crime formal. O sujeito não precisa conseguir destruir o grupo para fins de consumação.

No caso de matar membros do grupo ou causar lesão grave de membros do grupo,


como a lei se vale de plural, a doutrina diverge:

1ªC: Se o agente matar apenas um membro do grupo, há tentativa de genocídio.

2ªC: A lei somente se referiu a membros, pois estaria se referindo a grupos. Se matar
um só membro, já está consumado o crime. Heleno Fragoso

Tentativa: plenamente possível.

Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das respectivas penas a tentativa dos crimes
definidos nesta lei.

d) Concurso de crimes

STF RE 351487-RR: a prática de mais de uma das condutas previstas no art. 1º implica
crime único de genocídio.

Fundamento: o bem jurídico no crime de genocídio é a existência do grupo, “o ser


humano em relação ao seu grupo e este em relação a humanidade” (Simone de Alcantara).

O bem jurídico tutelado é a existência do grupo racial, religioso, étnico, nacional, etc.,
não se confundindo com bem individual, como a integridade física, liberdade, vida etc.

127
Assim, o STF, na decisão, dá a entender que um não poderá absorver o outro. Em outras
palavras, quem comete genocídio será punido por ele, mas também pelos crimes individuais
que tenha cometido. Ex.: se o agente matou 5 pessoas para destruir parcialmente grupo
nacional, responderá por 5 homicídios e 1 genocídio.

e) Crime hediondo

Lei de Crimes Hediondos, art. 1º, parágrafo único: o crime de genocídio é delito
hediondo.

f) Prisão temporária

Lei 7.960/89 - cabe prisão temporária no crime de genocídio. Prazo de 30 dias,


prorrogável justificadamente por mais 30.

g) Extradição

É possível a extradição de quem comete o genocídio.

Art. 6º. Os crimes acima previstos não serão considerados crimes políticos para efeitos
de extradição.

h) Ação penal

Pública Incondicionada.

i) Competência

Competência para julgamento do genocídio: juízo singular.

No entanto, se o indivíduo matar, a competência será do Tribunal do Júri, que atrairá a


competência para julgar o genocídio.

Regra: a competência para o genocídio é da Justiça Estadual.

Poderá ser da Justiça Federal, caso seja instaurado um incidente de deslocamento da


competência pelo PGR no STJ: grave violação de direitos humanos e necessidade de assegurar
o cumprimento pelo Brasil de tratados e convenções sobre direitos humanos.

STJ

128
A competência da JF para processar e julgar ações penais de delitos praticados contra
indígena somente ocorre quando o processo versa sobre questões ligadas à cultura e aos
direitos sobre suas terras.

CF, art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

STF, RE 419.528:

A competência da JF, fixada no art. 109, XI, da CF, só se dá quando a acusação seja de
genocídio, ou quando, na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o agente ou
a vítima, tenha havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja aquele imputado
a silvícola, nem que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido praticado dentro de
reserva indígena.

Art. 6º da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio.

As pessoas acusadas de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no art.


III serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido
ou pela corte penal internacional competente com relação às Partes Contratantes que lhe
tiverem reconhecido a jurisdição.

Basicamente, se o indivíduo cometeu genocídio, será julgado no país em que cometeu


genocídio.

O TPI tem competência para processar e julgar o crime de genocídio. Mas somente
será acionado quando o Tribunal do país não se mostrar suficiente.

Art. 1º do Dec. 4.388: prevê que a competência do TPI é complementar. Só tem lugar
quando há inércia e insuficiência do Tribunal do país.

II. Associação para fins de genocídio

Art. 2º da Lei 2.889/56. Constitui crime a conduta de se associarem mais de 3 pessoas


para prática dos crimes de genocídio, sendo que a pena será da metade da cominada aos
crimes ali previstos.

 No mínimo, 4 membros. Crime de concurso necessário.

129
 Crime formal. Não é necessário praticar essas infrações para fins de consumação.

 Ação penal pública incondicionada.

Cabe ressaltar: também é considerado hediondo.

Lembrando:

 Tentativa será punida com 2/3 das respectivas penas.

 A pena será aumentada de 1/3, quando cometido o crime por:

• Governante

• Funcionário público

III. Incitação ao genocídio

Art. 3º. Incitar, direta e publicamente, alguém a cometer qualquer dos crimes de
genocídio, sendo que a pena será da metade da cominada aos crimes ali previstos.

§1º. A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se
consumar.

§2º. A pena será aumentada de 1/3, quando a incitação for cometida pela imprensa.

Crime comum, formal e de perigo abstrato.

 Ação penal pública incondicionada.

Cabe ressaltar: também é considerado hediondo.

Lembrando:

 Tentativa será punida com 2/3 das respectivas penas.

 A pena será aumentada de 1/3, quando cometido o crime por:

• Governante

• Funcionário público

11. Lei de Abuso de Autoridade (Lei 4.898/65)

130
Prova CESPE sempre cai abuso de autoridade.

Os tipos previstos na lei de abuso de autoridade são subsidiários: somente irão incidir
quando a conduta não se enquadrar em nenhuma outra mais grave ou especial.

I. Bem jurídico tutelado

Os crimes de abuso de autoridade possuem as seguintes objetividades jurídicas,


segundo o STJ:

• Administração pública

• Moralidade administrativa

• Direitos fundamentais das pessoas físicas e jurídicas

II. Sujeitos do crime

a) Sujeito ativo

Somente poderá praticar esses crimes quem é autoridade.

Art. 5º. Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego
ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.

Portanto, os crimes de abuso de autoridade são crimes próprios.

Somente existirá o crime se foi praticada a conduta no exercício da função ou quando o


funcionário invoque ou use a autoridade da qual é investido para tanto. Ou seja, só há crime
quando o agente pratica o abuso no exercício da função ou em razão dela.

Conclusão: funcionário público exonerado, demitido ou aposentado não pode cometer


abuso de autoridade sozinho, porque não ostenta mais a qualidade de autoridade.

 As pessoas que exercem múnus público não são autoridades, para fins penais.

Ex.: curador e tutor dativos, depositário judicial, administrador de falência, advogado


dativo.

 O particular sozinho que não exerce nenhuma função pública não pode cometer
abuso de autoridade.

131
No entanto, poderá cometer o crime de abuso de autoridade juntamente com uma
autoridade, desde que saiba que o comparsa é autoridade.

Se o particular comete crime juntamente com a autoridade, sabendo que ela é


autoridade, a condição pessoal da autoridade, sendo elementar do crime, transmite-se
àquele, coautor ou partícipe (art. 30 do CP).

Ex.: o policial bate em torcedor no estádio e é auxiliado por pessoa da torcida adversária.

b) Sujeito passivo

Uma vez que o crime de abuso de autoridade tem dupla/tripla objetividade jurídica:

• Sujeito passivo imediato ou direto: a pessoa física ou jurídica que sofre o abuso;

• Sujeito passivo mediato ou indireto: a administração pública representada pelo


autor do abuso, cujo serviço foi prejudicado.

O abuso de autoridade pode ter como vítima uma autoridade.

Ex.: o Delegado comete abuso contra o agente policial ou o Oficial do Exército comete
abuso contra o Praça.

Pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de abuso de autoridade. Tanto faz se de
direito privado ou público.

Criança ou adolescente pode ser vítima de abuso de autoridade, desde que o fato
não configure crime do ECA, que é lei especial em relação à Lei de Abuso de Autoridade.

III. Elemento subjetivo

Dolo. Não existe abuso de autoridade culposo.

É necessária, ainda, a finalidade específica de abusar, ou seja, a intenção de agir


abusivamente.

Assim, se a autoridade, na justa intenção de cumprir seu dever e proteger o interesse


público, acaba se excedendo, haverá ilegalidade no ato, mas não crime de abuso de
autoridade, por ausência da intenção específica de abusar.

IV. Crimes do art. 3º

132
Os crimes de abuso de autoridade podem ser praticados por ação (comissivos) ou por
omissão (omissivos).

Doutrina: os crimes do art. 3º não admitem tentativa (Art. 3º. Constitui abuso de
autoridade qualquer atentado...). O simples atentado já configura crime consumado.

A consumação se dá com a simples prática da conduta, mesmo que não ocorra o efetivo
resultado naturalístico (crime formal ou de consumação antecipada).

Obs.: os crimes previstos nas alíneas “c”, “d”, “g” e “i” do art. 4º não admitem tentativa,
por serem omissivos puros ou próprios. As demais alíneas admitem tentativa.

a) Atentado à liberdade de locomoção

Art. 3º, “a”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado à liberdade de


locomoção.

Direito à liberdade de locomoção, incluindo o direito de permanecer em locais públicos.


É o direito de ir, vir e ficar.

Jurisprudência já condenou, por abuso de autoridade, Policiais Militares que expulsaram


pessoas de uma praça pública, sem nenhum motivo (o famoso “circulando”).

Restrições legítimas à liberdade de locomoção configuram exercício de poder de polícia.

Exemplos: bloqueio policial, retirada de pessoas de certos locais, por estarem causando
tumulto.

A detenção momentânea é ato legítimo de poder de polícia. A prisão para averiguação


é sempre crime de abuso de autoridade (a pessoa é arrebatada e permanece por dias
incomunicável e encarcerada sem autorização judicial).

b) Atentado à inviolabilidade do domicílio

Art. 3º, “b”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado à inviolabilidade do


domicílio.

Domicílio: qualquer local não aberto ao público onde alguém exerça atividade, profissão
ou moradia, ainda que momentânea.

133
Ex.: quarto de hotel ocupado.

STF: escritórios profissionais e de contabilidade são domicílios para fins


constitucionais e, por consequência, para fins penais.

Se fiscais ingressam em escritórios de contabilidade (do balcão para dentro) ou em


escritórios profissionais de empresários para a apreensão de documentos comprobatórios de
crimes contra a ordem tributária sem ordem judicial, a prova é ilícita, por violação ao
domicílio.

c) Atentado ao sigilo da correspondência

Art. 3º, “c”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado ao sigilo da


correspondência.

Art. 5º da Lei 6.538/78 (dispõe sobre serviços postais). O sigilo da correspondência é


inviolável.

Art. 10 da Lei 6.538/78. Não constitui violação de sigilo da correspondência postal a


abertura de carta:

• I. Endereçada a homônimo, no mesmo endereço;

• II. Que apresente indícios de conter objeto sujeito a pagamento de tributos;

• III. Que apresente indícios de conter valor não declarado, objeto ou substância
de expedição, uso ou entrega proibidos;

• IV. Que deva ser inutilizada, na forma prevista em regulamento, em virtude de


impossibilidade de sua entrega e restituição.

§ único. Nos casos dos incisos II e III a abertura será feita obrigatoriamente na presença
do remetente ou do destinatário.

O tipo penal previsto no art. 3º, “c”, protege o sigilo das correspondências escritas e
eletrônicas.

Quanto às escritas, o tipo penal somente protege as que estão fechadas. As abertas
perdem o caráter sigiloso.

134
Ex.: o funcionário recebe uma carta, lê e deixa sobre a mesa. O chefe passa, pega a carta
e a lê. Isso não é crime de abuso de autoridade nem de violação de correspondência. O mesmo
ocorre com a correspondência eletrônica impressa deixada sobre a mesa.

i. Correspondência de advogados

Art. 7º, II, do EAOAB (Lei 8.906/1994): prevê a inviolabilidade de quaisquer


correspondências do advogado, desde que relativas ao exercício da advocacia, sem qualquer
ressalva.

Se o advogado é o próprio indiciado ou acusado, não há sigilo profissional a ser


observado. O sujeito está sendo investigado na condição de suspeito do crime, e não como
advogado.

ii. Interceptação telefônica, de informática

ou telemática

A interceptação de comunicação telefônica, de informática ou telemática ilegal não


configura crime de abuso de autoridade, mas crime do Art. 10 da Lei 9.296/1996 (Lei de
Interceptação Telefônica):

Realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou


quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

Pena: reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

iii. Correspondência do preso

STF: a Administração Penitenciária, com fundamentos em questões de segurança


pública e de disciplina prisional, ou de preservação da ordem jurídica, pode,
excepcionalmente, e observando a Lei de Execuções Penais, proceder a interceptação da
correspondência remetida pelos sentenciados.

O sigilo da correspondência não pode ser utilizado como instrumento a viabilizar a


prática de crimes.

d) Atentado às liberdades de consciência e de crença

135
Art. 3º, “d”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado à liberdade de
consciência e de crença.

e) Atentado às liberdades de consciência e de crença

Art. 3º, “e”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado ao livre exercício do culto
religioso.

Protege a liberdade religiosa.

f) Atentado à liberdade de associação

Art. 3º, “f”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado à liberdade de associação.

g) Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto

Art. 3º, “g”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado aos direitos e garantias
legais assegurados ao exercício do voto.

Somente existirá se não configurar crime eleitoral. Crime subsidiário.

h) Atentado ao direito de reunião

Art. 3º, “h”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado ao direito de reunião.

Liberdade de reunião. Não protege qualquer aglomeração humana, e sim a reunião de


pessoas com objetivo determinado de discussão, de manifestação pública e coletiva do
pensamento.

Se a reunião for pacífica, desarmada, realizada em local aberto ao público, desde que
tenha sido previamente comunicada às autoridades, não há como proibir a reunião. Cabe às
autoridades acompanhar a reunião.

i) Atentado à incolumidade física do indivíduo

Art. 3º, “h”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado à incolumidade física do
indivíduo.

Pode ir desde as vias de fato até o homicídio. O tipo protege também, de acordo com
a maioria da doutrina, a integridade psíquica do indivíduo.

136
Victor Rios Gonçalves: se o atentado à incolumidade resultar em lesões corporais ou
homicídio, haverá concurso formal impróprio.

Jurisprudência: em se tratando de lesões corporais ou homicídio, o abuso de autoridade


fica absorvido por estes delitos.

Há julgado do STF entendendo que, neste caso, configuraria concurso material.

Doutrina: se o ato de abuso configurar tortura, ele resta absorvido.

STJ: admite o concurso de crimes entre abuso de autoridade e tortura.

 Se o abuso de autoridade consistir em vias de fato (ex.: o policial dá um empurrão na


vítima), predomina o entendimento de que as vias de fato ficam absorvidas pelo abuso.

Violência arbitrária (322 CP)

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.

STF, o crime de violência arbitrária previsto no CP não foi tacitamente revogado pelo
art. 3º, “i”, da Lei de abuso de autoridade (STF RHC 95.617/MG, j. em 2009).

i) Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional

Art. 3º, “h”. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado aos direitos e garantias
legais assegurados ao exercício profissional.

Norma penal em branco

Ex.: Juiz que se recusa a receber um advogado imotivadamente pode cometer abuso de
autoridade.

Outro exemplo: delegado impediu o promotor de justiça de visitar os presos na cadeia.


TJSP entendeu que o Delegado praticou abuso de autoridade, pois violou prerrogativa
profissional do promotor de fiscal da lei e da execução penal (o MP tem o dever de visitar os
presos).

Ex.3: Delegado impede advogado de ter acesso

aos autos do IP:

137
Art. 7º, XIV, EOAB: são direitos do advogado: examinar em qualquer repartição policial,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda
que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos.

SV 14: é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos


elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

V. Crimes do art. 4º

a) Crime do art. 4º, “a”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade ordenar ou executar medida privativa
da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder.

Art. 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada.

Não cumprindo essas formalidades dolosamente, haverá o crime de abuso de


autoridade.

Art. 10 da LC 75/93 (trata do MPU): a prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade
federal ou do Distrito Federal e Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao MP
competente, com indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos documentos
comprobatórios da legalidade da prisão.

Art. 7º, IV, do EOAB. São direitos do advogado: ter a presença de representante da OAB,
quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do
auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à
seccional da OAB.

Na conduta de “ordenar”: crime formal, consumando-se com a simples ordem abusiva,


ainda que não seja cumprida. A tentativa é possível, na forma escrita.

Na conduta de “executar”: crime material, consumando-se com a efetiva execução da


restrição ilegal. A tentativa também é perfeitamente possível.

138
Privar ilegalmente criança ou adolescente de sua liberdade configura crime do art. 230
do ECA.

b) Crime do art. 4º, “b”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade submeter pessoa sob sua guarda ou
custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei.

Em se tratando de vexame ou constrangimento legal, não há crime de abuso de


autoridade.

Exemplo de vexame ou constrangimento legal: algemar, pública e necessariamente, em


razão da resistência à prisão.

Sujeito passivo: não é somente o preso ou a pessoa submetida a medida de segurança.


Pode ser qualquer pessoa.

Ex.: paciente psiquiátrico exposto a constrangimento por enfermeiro no hospital


público.

Outro exemplo de abuso de autoridade que se enquadra no art. 4º, “b”: expor a imagem
de pessoa presa na mídia, contra a vontade dela.

 Vale observar: se a conduta for praticada contra criança ou adolescente, haverá


crime do art. 232 do ECA. Ao crime do ECA aplica-se tudo o quanto dito acerca do art. 4º, “b”,
exceto quanto ao sujeito passivo, que deve ser criança ou adolescente.

Veja: o ECA não menciona que o vexame deve ser ilegal. No entanto, a ilegalidade deve
estar presente, caso contrário, a autoridade estará agindo no estrito cumprimento do dever
legal.

O crime do art. 4º, “b”, é material, consumando-se com a efetiva submissão da vítima
ao vexame ou constrangimento.

i. Emprego de algemas

Exemplo de medida privativa de liberdade com abuso de poder é algemar


desnecessariamente o sujeito, violando a SV nº 11.

139
SV 11: só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga
ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se
refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

A responsabilidade penal a que se refere é o crime de abuso de autoridade. Isso restou


consignado na sessão em que aprovada a Súmula.

c) Crime do art. 4º, “c”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade deixar de comunicar, imediatamente,


ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa.

Art. 5º, LXII, da CF impõe o duplo dever de comunicação da prisão, ao juiz competente
e à família do preso ou pessoa por ele indicada.

“Imediatamente”: regulamentado pelo art. 306, §1º, do CPP: em até 24 horas após a
realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o APF e, caso o autuado não
informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

A comunicação deve ser ao juiz competente.

Se a autoridade, dolosamente, comunicar o juiz incompetente para atrasar o controle


judicial sobre a prisão, há abuso de autoridade.

Se a comunicação não ocorrer ou ocorrer equivocadamente, por culpa da autoridade,


não há crime de abuso, pois não existe modalidade culposa. Ex.: o Delegado se esquece de
comunicar o juiz ou comunica crime estadual a juiz federal.

Vale observar: se a vítima for criança ou adolescente, incide o crime do art. 231 do ECA.

Atenção! Lei de Abuso de Autoridade: é crime apenas deixar de comunicar a prisão ao


juiz competente. Deixar de comunicar a prisão à família do preso ou pessoa por ele indicada
não é crime, nos termos do art. 4º, “c”.

Já o art. 231 do ECA. Deixar de comunicar a apreensão ao juiz e à família do apreendido


ou à pessoa por ele indicada.

140
O crime do art. 4º, “c” consuma-se com a simples omissão. A tentativa não é possível -
crime omissivo puro (ou próprio).

d) Crime do art. 4º, “d”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade deixar o Juiz de ordenar o relaxamento
de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada.

Delito omissivo próprio. Trata-se de crime próprio.

Se a vítima for criança ou adolescente, o juiz comete o crime do art. 234 do ECA. O art.
234 pode ser praticado por qualquer autoridade, não somente o juiz: “Deixar a autoridade
competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão
logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão”

A expressão “juiz”, constante da alínea “d”, refere-se a qualquer autoridade judicial (juiz,
desembargador, ministro).

e) Crime do art. 4º, “e”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade levar à prisão e nela deter quem quer
que se proponha a prestar fiança, permitida em lei.

Se a autoridade, ilegalmente, deixa de arbitrar fiança, ou arbitra, mas impede o preso


de prestá-la, haverá crime de abuso de autoridade.

Consuma-se no momento em que o preso é levado ou mantido ilegalmente na prisão. A


tentativa é possível.

f) Crime do art. 4º, incisos “f” e “g”

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,


emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer
quanto à espécie quer quanto ao seu valor;

g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida


a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;

141
 Na letra “f”, a cobrança realizada pelo carcereiro não tem previsão legal (a cobrança
é ilegal).

 Na letra “g”, a cobrança tem previsão legal, mas o carcereiro ou o agente público
recusa-se a dar recibo ilegalmente.

Ocorre que no Brasil não há nenhuma lei prevendo custas ou emolumentos


carcerários.

Desse modo, a cobrança de custas ou emolumentos carcerários é sempre ilegal e,


portanto, sempre configurará crime de abuso de autoridade.

Nucci: como não há lei prevendo essas custas, a cobrança configura crime de concussão
ou corrupção passiva, e a letra “g” será mero exaurimento da cobrança feita de maneira ilegal
(a letra “g” pressupõe que a cobrança seja legal, o valor devido).

Consumação: com a simples cobrança, ainda que o valor não seja pago.

g) Crime do art. 4º, “h”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade o ato lesivo da honra ou ato lesivo do
patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder
ou sem competência legal.

Veja: PJ pode ser vítima de abuso de autoridade.

Constitui abuso de autoridade o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa física


ou jurídica, desde que praticado:

• Com abuso ou desvio de poder; ou

• Sem competência legal para o ato.

Exemplo: fiscais da vigilância sanitária interditam o restaurante que não cumpre as


normas de higiene. Trata-se de um ato lesivo à honra (objetiva) e ao patrimônio do
restaurante, mas praticado legalmente. Portanto, legítimo exercício de poder de polícia
(estrito cumprimento do dever legal).

142
No mesmo exemplo, se o fiscal interditar o restaurante sem qualquer motivo justo, mas
porque seu irmão tem um restaurante concorrente nas proximidades, a conduta configurará
abuso de autoridade.

O crime do art. 4º, “h”, é material. Consuma-se com a efetiva lesão ao patrimônio ou à
honra da vítima. A tentativa é perfeitamente possível.

h) Crime do art. 4º, “i”

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade prolongar a execução de prisão


temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno
ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.

Crime de conduta mista: o tipo penal exige uma ação e uma omissão, consubstanciadas
em “prolongar” e “deixar de”.

VI. Pena

Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa, civil e penal.

§1º. A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso


cometido e consistirá em:

• Advertência

• Repreensão

• Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 a 180 dias, com perda de
vencimentos e vantagens;

• Destituição de função;

• Demissão;

• Demissão, a bem do serviço público.

§2º. A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento
de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.

§3º. A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código
Penal e consistirá em:

143
• Multa:

Deve ser calculada na forma do art. 49 do CP (a pena de multa consiste no pagamento


ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no
mínimo, de 10 dias-multa e, no máximo, de 360 dias-multa).

Valor do dia-multa. Mínimo: 1/30 do maior SM vigente ao tempo do fato. Máximo: 5


vezes esse salário. Possível x3 (60, §1º, CP)

• Detenção por 10 dias a 6 meses:

IMPO.

A pena de detenção não pode ser substituída por multa vicariante, pois está cominada
cumulativamente com a multa e prevista em lei especial.

Súmula 171 do STJ: cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativas de


liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa.

• Perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função


pública por prazo até 3 anos:

Perceba: a perda do cargo e a inabilitação são penas principais, e não efeitos


automáticos da condenação. Isso significa que o juiz pode ou não aplicar a perda do cargo e a
inabilitação.

§ 4º. As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de
qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de
um a cinco anos.

VII. Prescrição

Lei de Abuso de Autoridade não tem regras sobre a prescrição. Aplica-se, portanto, o
CP.

Pena máxima: 6 meses. Prazo prescricional: 3 anos.

144
VIII. Ação penal nos crimes de abuso de autoridade

Pública incondicionada.

Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou


justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do
abuso.

A representação a que se refere o art. 12 é apenas o direito de petição contra abuso de


poder, garantido no art. 5º, XXXIV, “a”, da CF.

IX. Competência para julgar crime de abuso de autoridade

Regra: competência do JECRIM estadual ou federal.

Se o abuso for praticado contra servidor federal, no exercício das funções, a


competência é do JECRIM federal.

Súmula 147 do STJ. Compete à JF processar e julgar os crimes praticados contra


funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.

Por outro lado, se o abuso for praticado por servidor federal, ou seja, o autor do abuso
é o servidor federal, há duas correntes:

1ªC: a competência é do JECRIM federal. O abuso atinge a regularidade (normalidade) e


a lisura do serviço público federal. Esta é a corrente que prevalece na doutrina.

2ªC: a competência é do JECRIM estadual, se o crime não atingiu interesse da União. O


fato de o autor do abuso ser servidor federal, por si só, não justifica a competência do JECRIM
federal (Nucci).

STJ: no caso de abuso de autoridade praticado por servidor federal fora das funções,
mas em razão delas, a competência é do JECRIM Estadual (HC 102.049/ES, julgado em 14 de
junho de 2010).

O caso foi o seguinte: um Delegado Federal foi a um pronto-socorro, fora das suas
funções, se identificou como Delegado e exigiu que a médica lhe entregasse prontuários
médicos, tendo ela se recusado. O Delegado a agrediu fisicamente. O Delegado Federal estava
fora da função e queria os prontuários para fins particulares.

145
STJ: ele estava fora da função e agiu por motivos particulares, não havendo qualquer
interesse da União no caso, razão pela qual a competência é do JECRIM estadual.

Abuso praticado por militar é da competência do JECRIM, Estadual ou Federal. Não é


competência da Justiça Militar, mesmo que o abuso seja praticado contra outro militar.
Fundamento: não se trata de crime militar.

S. 172 STJ: compete à Justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.

Caso seja praticado abuso de autoridade conexo com crime militar, haverá separação
de processos (STF HC 92.912/RS e STJ HC 81.752/RS).

Exemplo: lesão corporal conexa com abuso de autoridade. Lesão é crime militar, abuso
não. Haverá separação de processos.

Aula 07. Crimes de preconceito ou discriminação. Crimes contra o Sistema Financeiro


Nacional.

12. Crimes de Preconceito ou Discriminação (Lei 7.716/89)

Bem jurídico tutelado: direito de igualdade, corolário do princípio da dignidade da


pessoa humana.

CF, art. 3º, IV, dentre os objetivos fundamentais da República: promover o bem de todos
sem preconceito de origem, de sexo, de cor, de idade ou quaisquer outras formas de
discriminação.

Art. 5º, XLII, CF - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,


sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. Mandado de criminalização.

II. Conceitos

Racismo: teoria, segundo a qual determinados povos ou nações são dotados de


qualidades psíquicas ou biológicas, que os tornam superiores a outros povos ou nações
humanas.

146
Preconceito: conceito formado antes do conhecimento. Sentimento em relação a
determinada raça ou povo, por conta de crença racista.

Discriminação: atitude de quem tem preconceito. Dinâmica de apartação, separação e


segregação. Manifestação fática do preconceito. É a discriminação negativa, vedada pelo d.
penal.

Obs.: há as discriminações positivas.

Neste caso, existem as chamadas ações afirmativas: programas adotados pelo Estado e
por particulares, a fim de promover a correção de desigualdades entre raças.

A discriminação positiva é constitucional, já que é objetivo fundamental da República


diminuir a desigualdade social.

Modalidades específicas de discriminação

Análise geral antes de ingressar nos crimes em espécie.

Art. 1º, Lei 7.716/89 - Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

a) Sujeito ativo

Crimes dos arts. 3º a 14: são crimes comuns. Podem ser praticados por qualquer pessoa,
inclusive por membro do grupo que está sendo discriminado.

Os tipos objetivos devem ser sempre interpretados em consonância ao disposto no


art. 1º da Lei.

Ex.: não aceitar que determinada pessoa entre em certo restaurante. O “não aceitar” só
será crime se ocorrer em razão de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional.

A motivação deve ser o racismo, preconceito ou discriminação.

b) Elementos objetivos

Raça: conjunto de indivíduos que têm caracteres somáticos, como conformação do


rosto, tipo de cabelo, cor da pele, que são semelhantes e são transmissíveis por meio

147
hereditário. Cientificamente, não existe diferentes raças humanas, mas em sentido amplo é
isto que é raça.

Grupo étnico: grupo que, além dos caracteres somáticos e fatores biológicos que ligam
seus integrantes, possui um fator cultural em comum.

Ex.: comunidade indígenas.

Religião: crença em Deus. Religação do homem a Deus.

Procedência nacional: discriminação que o nacional faz em relação a alguém que venha
de um Estado estrangeiro.

Obs.: não se limita a isso. Existe discriminação em razão da procedência de quem vem
de um Estado-membro para outro, ou de uma região do país para outra. Ex.: discriminação
em face de gaúchos, nordestinos, nortistas etc.

STJ: A lei brasileira não tipifica a discriminação em razão da orientação sexual.

Se alguém sofre uma conduta ofensiva em razão de sua orientação sexual, poderá ser
vítima de crime contra a honra.

c) Consumação

Delitos descritos nos arts. 3º a 14: crimes formais.

IV. Crimes em espécie

a) Acesso ou promoção no serviço público

Art. 3º. Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer


cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços
públicos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Elemento normativo do tipo: pessoa devidamente habilitada.

148
O juiz verificará se o sujeito estava habilitado e se a recusa se deu por conta da
discriminação.

Obs.: a lei menciona apenas “cargo”. Não menciona emprego ou função pública 
pode gerar crime de outro dispositivo, mas não este.

b) Emprego em empresa privada

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

Pena: reclusão de 2 a 5 anos.

Atenção:

1. Não abrange prestação de serviço eventual, empreitada etc., Exige-se relação de


emprego.

2. Não configura o crime a discriminação pelo empregador doméstico, por profissional


liberal ou por sociedade não empresária.

c) Discriminação na vigência do contrato

Art. 4º, §1º. Incorre na mesma pena (reclusão de 2 a 5 anos) quem, por motivo de
discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou
origem nacional ou étnica:

I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de


condições com os demais trabalhadores;

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício


profissional;

III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho,


especialmente quanto ao salário.

d) Anúncio e recrutamento

Art. 4º, 2º. Ficará sujeito às penas de multa e às penas de prestação de serviços à
comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou

149
qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência
próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.

Perceba: não prevê pena privativa de liberdade.

e) Acesso a estabelecimento comercial

Art. 5º. Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir,


atender ou receber cliente ou comprador.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos.

O crime é configurado não só quando o cliente é impedido de acessar o estabelecimento,


mas também quando, após ter acessado, lhe é negado o serviço, atendimento ou a venda.

Tipo misto alternativo.

f) Ingresso em instituição de ensino

Art. 6º. Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento


de ensino público ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de 3 a 5 anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de 18 anos a pena é agravada
de 1/3.

“De qualquer grau”: abrange todas as situações de ensino regular, mas não as que não
são ensino regular.

Ex.: curso preparatório para concurso não está abrangido nesta situação, podendo estar
previsto em outro tipo.

g) Acesso ou hospedagem em hotéis e similares

Art. 7º. Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou


qualquer estabelecimento similar.

Pena: reclusão de 3 a 5 anos.

O tipo autoriza interpretação analógica, abrangendo albergue, pousada, pensão etc.

150
h) Acesso a restaurantes e similares

Art. 8º. Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias,


ou locais semelhantes abertos ao público.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos.

O tipo autoriza interpretação analógica, sendo essencial que o local seja aberto ao
público.

i) Acesso a locais de diversão ou clubes sociais

Art. 9º. Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos,


casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos.

Obs.: se o clube for fechado e houver impedimento, não há crime.

*Impedir: abrange não deixar o indivíduo entrar no clube, se associar ou comprar cota
do clube etc.

j) Acesso a salões de cabelereiros e similares

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros,


barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos.

k) Acesso a entrada ou elevador social

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e


elevadores ou escada de acesso aos mesmos.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos.

Objetivo: evitar que o empregado doméstico seja obrigado a utilizar o elevador de


serviço, não subindo no elevador social, por motivo de discriminação.

l) Acesso ou uso de transportes públicos

151
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas,
barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos.

m) Acesso ao serviço público militar

Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas.

Pena: reclusão de 2 a 4 anos.

n) Casamento ou convivência familiar ou social

Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência
familiar e social.

Pena: reclusão de 2 a 4 anos.

o) Tipo genérico

Abrange as condutas que não se enquadrem nos demais tipos penais.

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional.

Pena: reclusão de 1 a 3 anos e multa.

Basta praticar discriminação.

Sujeito ativo: comum.

Sujeito passivo: a coletividade e, secundariamente, poderá ser uma pessoa específica.

Obs.: imunidade parlamentar

A imunidade parlamentar poderá, eventualmente, trazer implicações no que tange à


caracterização do crime de racismo.

Os parlamentares têm uma imunidade material, a qual se apresenta em dois âmbitos:

• Dentro do parlamento: há imunidade absoluta.

152
• Fora do parlamento: para que haja imunidade material, é preciso que sua
opinião tenha nexo com o exercício de sua função parlamentar. Ex.: Pet 5714 AgR / DF
(28/11/17). 1ª Turma STF.

Dessa forma, eventual crime de racismo praticado por parlamentar não estaria
configurado caso cometido dentro do parlamento. Eventuais abusos cometidos ficarão sujeito
a punições parlamentares.

§2º: se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios
de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:

Pena: reclusão de 2 a 5 anos e multa.

p) Divulgação do nazismo

Art. 20, §1º. Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,


ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo.

Pena: reclusão de 2 a 5 anos e multa.

Só há crime quando a conduta é animada para fins de divulgação do nazismo (especial


fim de agir).

Ex.: veicular a cruz suástica em livro de história não é o crime.

V. Concurso de crimes

a) Injúria racista

Injúria: ofende a honra subjetiva. Intenção de ofender pessoa determinada.

Racismo: ofende a dignidade da pessoa humana e a igualdade. Intenção de ofender


determinada coletividade, em razão de sua etnia, raça, religião ou procedência.

Ex.: negros não podem entrar em certo restaurante.

STF: quando alguém pratica racismo, a injúria racista resta absorvida.

b) Tortura

153
Lei 9.455/97: tipifica como tortura o ato de constranger alguém com emprego de
violência ou grave ameaça, causando sofrimento físico ou mental, em razão de
discriminação racial ou religiosa.

O crime de tortura também afasta o de racismo. Princípio da especialidade.

VI. Efeitos da condenação

Art. 16. Constitui efeito da condenação:

• Perda do cargo ou função pública para o servidor público

• Suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não


superior a 3 meses.

Não são efeitos automáticos. Deverão ser declarados na sentença.

No caso do §2º do art. 20 (sujeito se valeu da imprensa para praticar a discriminação),


diz o §4º do art. 20: constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão,
a destruição do material apreendido.

Neste caso, será um efeito automático que independe de motivação em sentença.


Mesmo assim deverá ser mencionado!

VII. Ação penal

Pública incondicionada.

VIII. Competência

STJ: A Justiça Federal é competente, conforme disposição do inciso V do art. 109 da


Constituição da República, quando se tratar de infrações previstas em tratados ou convenções
internacionais, como é caso do racismo (Conflito de Competência 2016/0338448-1 – Data do
julgamento: 26/04/17)

Com relação à competência territorial, STJ: a competência para processar e julgar os


crimes praticados pela internet será do local em que foi disponibilizada ou enviada a
mensagem discriminatória.

154
Ex.: sujeito mora em Porto Velho/RO e lá publicou a mensagem. Neste caso, será juízo
federal de Porto Velho o competente.

IX. Medidas cautelares

§3º, art. 20: no caso do §2º (sujeito se valeu da imprensa para pratica da discriminação),
o juiz poderá determinar, ouvido o MP ou a pedido deste, ainda antes do IP, sob pena de
desobediência:

• Recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material


respectivo;

• Cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou


da publicação por qualquer meio;

• Interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede


mundial de computadores.

X. Inafiançabilidade

Os crimes de racismo são inafiançáveis.

Isso não impede que o autuado seja posto em liberdade, caso não estejam presentes os
requisitos da prisão preventiva (liberdade provisória sem fiança).

13. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492/86)

CF, art. 192:

O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento


equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o
compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares
que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o
integram.

Dessa forma, o sistema financeiro nacional é composto por um conjunto de órgãos que
fiscalizam, executam e operacionalizam atividades necessárias para a circulação da moeda e
para circulação do crédito na economia.

155
Esses crimes vão envolver, via de regra, instituições financeiras.

I. Conceito de instituição financeira

Art. 1º, considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de
direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de
terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição,
negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.

Norma penal explicativa.

De um modo geral, os crimes somente irão se concretizar quando as condutas se derem


no âmbito do sistema financeiro nacional ou, mais restritamente, no âmbito das instituições
financeiras.

II. Instituições financeiras por equiparação

Art. 1º. parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:

• Pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio,


capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;

• Pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo,
ainda que de forma eventual. Ex.: doleiro.

STJ.

Compete à Justiça Estadual o processamento e julgamento de ação penal que apura


supostas fraudes praticadas por administrador na gestão de operadora de plano de saúde
não caracterizada como seguradora (Inf. 595).

Fundamento: a Lei nº 9.656/98 autoriza que os planos de saúde possam ser constituídos
por diferentes formas jurídicas. Existem planos de saúde que são cooperativas, sociedades
empresárias, entidades de autogestão etc.

A Lei nº 10.185/2001 permite que sociedades seguradoras atuem como "plano de


saúde". Dessa forma, existem alguns planos de saúde que são "entidades seguradoras".

156
Se a operadora de plano de saúde for uma "seguradora", ela será considerada
instituição financeira, ensejando a competência da Justiça Federal. Caso contrário, ela não
se enquadrará no art. 1º, caput ou parágrafo único, da Lei nº 7.492/86.

III. Casuísticas

a) Doleiro

Equiparado à instituição financeira. Realiza operações de câmbio.

b) Empresas de cartão de crédito

São instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não
sofrem as limitações da Lei de Usura (S. 283 STJ)

c) Empresas de previdência privada

São consideradas instituições financeiras, pois administram recursos financeiros de seus


associados.

d) Operadoras de planos de saúde

Podem ser consideradas instituição financeira.

e) Agiota

Instituição financeira opera recursos de terceiros. Agiota opera com recursos próprios.
Logo, não poderá ser considerado instituição financeira, apesar de poder cometer crime
contra a economia popular. Obs.: poderá cometer crime contra o sistema financeiro, caso
utilize recursos de terceiros.

f) Empresa de faturamento mercantil

Não são consideradas instituições financeiras, pois não praticam atividades típicas de
instituições financeiras, visto que, normalmente, se utilizam do capital próprio.

g) Instituição financeira estrangeira

Se a instituição financeira estrangeira é administrada no exterior não incidirá a lei penal


brasileira, pois o objeto de proteção da lei é o sistema financeiro nacional, não sendo caso de
extraterritorialidade.

157
IV. Sujeito ativo

Art. 25. São penalmente responsáveis:

• Controlador de instituição financeira

• Administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores e


seus gerentes

§1º. Equiparam-se aos administradores de instituição financeira:

• Interventor

• Liquidante

• Síndico (administrador judicial)

A instituição financeira, por meio dessas pessoas, nos crimes contra o sistema financeiro
nacional, poderá figurar como autor dos crimes. Também poderá figurar como vítima, ou, até,
como autora e vítima ao mesmo tempo, quando alguém de dentro da instituição cometeu o
delito.

V. Sujeito passivo

Sujeito passivo principal: a União ou o Estado-membro e, secundariamente, as pessoas


prejudicadas no caso concreto.

VI. Crimes em espécie

a) Fabricação não autorizada de papel representativo de valor imobiliário

Art. 2º. Imprimir, reproduzir ou, de qualquer modo, fabricar ou pôr em circulação, sem
autorização escrita da sociedade emissora, certificado, cautela ou outro documento
representativo de título ou valor mobiliário.

Pena: reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.

Trata-se de crime comum.

Certificado: documento que comprova propriedade e a existência de um determinado


valor mobiliário.

158
Cautela: certificado provisório de um determinado número de ações e debêntures.

i. Tipo derivado

Parágrafo único do art. 2º: incorre na mesma pena de reclusão, de 2 a 8 anos, e multa,
quem imprime, fabrica, divulga, distribui ou faz distribuir prospecto ou material de
propaganda relativo aos papéis referidos neste artigo.

ii. Consumação

Com a simples impressão do papel representativo do título imobiliário.

Crime formal.

iii. Concurso de crimes

Se o mesmo agente divulga, imprime e distribui os certificados, a cautela ou o


documento representativo, sem autorização escrita, e, após, põe em circulação o papel,
haverá crime único, pois só há uma violação ao Sistema Financeiro Nacional.

b) Divulgação de informação falsa ou prejudicialmente incompleta

Art. 3º. Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição


financeira.

Pena: reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum.

Tipo subjetivo: dolo de divulgar a informação falsa ou prejudicialmente incompleta.

Necessário também o especial fim de agir: intenção de causar prejuízo à instituição.

Crime de mera conduta, bastando a divulgação.

c) Gestão fraudulenta

Art. 4º. Gerir fraudulentamente instituição financeira.

Pena: reclusão, de 3 a 12 anos, e multa.

i. Natureza do crime

Uma corrente: crime próprio  somente as pessoas do art. 25 que podem cometê-lo.

159
Outra corrente, que inclusive tem precedente no STF: crime de mão própria  exige-
se atuação pessoal do controlador. Não admite coautoria com quem não o é.

Gerir fraudulentamente é administrar com má-fé, enganando terceiros, podendo ser


sócio, empregado, cliente, fiscalização do Estado etc.

ii. Habitualidade

A doutrina discute se é necessária habitualidade para caracterização do crime de gestão


fraudulenta.

1ªC: Não. Basta a prática de um ato isolado. Há decisões do STF e do STJ nesse sentido:
basta um único ato para sua caracterização. Trata-se de crime acidentalmente habitual. Ou
seja, é crime habitual impróprio: basta uma conduta para sua consumação, mas a reiteração
de condutas não caracteriza concurso de crimes. Majoritária.

2ªC: o crime de gestão fraudulenta ocorre com um único ato, desde que esse ato seja
capaz de levar a instituição financeira à falência ou insolvência.

3ªC: entende que gerir dá ideia de habitualidade. Minoritária.

iii. Instituição financeira irregular

O delito da gestão fraudulenta poderá ocorrer numa instituição financeira regular ou


mesmo numa instituição financeira irregular.

Neste caso, além desse crime, também estará caracterizado o crime do art. 16 (fazer
operar sem autorização instituição financeira), em concurso formal com a gestão fraudulenta.

iv. Crime formal

É crime formal, pois dispensa a ocorrência de prejuízo.

v. Gestão fraudulenta x gestão temerária

Gestão fraudulenta: o indivíduo administra com má-fé, com engodo, com fraude.

Gestão temerária: o indivíduo administra de forma impetuosa, inconsequente, mas não


há fraude. O sujeito administra de uma forma extremamente ousada.

vi. Gestão fraudulenta x estelionato

160
Gestão fraudulenta: não exige a intenção de se obter vantagem ilícita, nem mesmo o
prejuízo de pessoa identificada ou identificável. Basta a gestão fraudulenta (crime formal).

Estelionato: necessário obter a vantagem ilícita e causar o prejuízo a uma vítima


identificável.

d) Gestão temerária

Parágrafo único do art. 4º: se a gestão é temerária: Pena - Reclusão, de 2 a 8 anos, e


multa.

Gestão temerária: é aquela excessivamente arriscada, atrevida, impetuosa, que


ultrapassa os limites dos riscos aceitáveis, e do próprio risco da atividade financeira (STJ).

Elemento normativo do tipo: a gestão ser caracterizada como temerária ou não. Isto
será analisado no caso concreto.

Jurisprudência baliza alguns critérios. Ex.:

Se sujeito desrespeita as normas dos órgãos financeiros, tem-se gestão temerária.

Se o sujeito se afasta dos costumes da boa técnica bancária.

Se o sujeito aplica recursos em campanhas políticas com desvio da finalidade societária.


Obs.: hoje não se admitem doações de pessoas jurídicas às campanhas eleitorais.

i. Princípio da insignificância

Não é aplicável o princípio da insignificância ao crime de gestão temerária. Crime de


perigo, dispensando-se o dano para fins de sua consumação.

STF: trata-se de crime eventualmente permanente. Ocorrendo a gestão temerária, a


consumação se protrai no tempo.

e) Apropriação indébita e desvio

Art. 5º. Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25, de dinheiro,
título, valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo em proveito
próprio ou alheio.

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

161
Crime é próprio  pessoas previstas no art. 25: controlador de instituição financeira,
administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores e seus gerentes,
interventor, liquidante ou síndico (administrador judicial).

É um forma especial de apropriação indébita. O sujeito tem posse lícita da coisa e se


apropria.

Objeto material: dinheiro, título, valor mobiliário ou qualquer outro bem móvel. Bem
imóvel não poderá ser objeto dessa apropriação indébita.

f) Negociação não autorizada

Art. 5º, parágrafo único: incorre na mesma pena de reclusão, de 2 a 6 anos, e multa,
qualquer das pessoas mencionadas no art. 25, que negociar direito, título ou qualquer outro
bem móvel ou imóvel de que tem a posse, sem autorização de quem de direito.

Crime próprio.

Consumação  doutrina: só há crime se houver prejuízo.

g) Sonegação de informação ou prestação de informação falsa

Art. 6º. Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente,
relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a
falsamente.

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

Sujeito ativo: qualquer das pessoas previstas no art. 25.

Somente haverá crime se ocorrido dentro de uma instituição financeira.

Consumação. Quando a vítima é mantida em erro ou induzida em erro. Não se exige o


prejuízo (crime de mera conduta).

h) Emissão, oferecimento ou negociação irregular de títulos ou valores mobiliários

Art. 7º. Emitir, oferecer ou negociar, de qualquer modo, títulos ou valores mobiliários:

• Falsos ou falsificados;

162
• Sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, em condições
divergentes das constantes do registro ou irregularmente registrados;

• Sem lastro ou garantia suficientes, nos termos da legislação (norma penal em


branco);

• Sem autorização prévia da autoridade competente, quando legalmente exigida


(norma penal em branco);

Pena: reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.

Sujeito ativo: somente gestor de instituição financeira poderá praticar esse crime. Crime
próprio

Esse registro prévio da emissão de valores mobiliários se dá na CVM. Objetivo: conferir


maior segurança à operação e ao adquirente do título, além de dar maior transparência.

Cumprimento do princípio full disclosure.

É o princípio de acesso do investidor a informação para que ele possa tomar uma decisão
informada e esclarecida sobre a conveniência da operação.

Pode o indivíduo experimentar prejuízo com a operação, mas é preciso conhecer a


situação da empresa e do título. Quando é dada essa informação para o investidor, não há
crime.

Crime de mera conduta.

i) Exigência de remuneração em desacordo com a legislação

Art. 8º. Exigir, em desacordo com a legislação, juro, comissão ou qualquer tipo de
remuneração sobre operação de crédito ou de seguro, administração de fundo mútuo ou
fiscal ou de consórcio, serviço de corretagem ou distribuição de títulos ou valores
mobiliários.

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Norma penal em branco.

163
Sujeito ativo: qualquer pessoa, desde que esteja atuando em instituição financeira
(STJ).

Consumação. Com a mera exigência, em desacordo com a legislação. Desnecessário que


haja o pagamento pela vítima ou que ela experimente o prejuízo, bastando que haja essa
exigência acima do legalmente permitido.

Aula 08. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (continuação) .

j) Falsidade em título

Art. 9º. Fraudar a fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em


documento comprobatório de investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração
falsa ou diversa da que dele deveria constar.

Pena: reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.

Sujeito ativo (crime próprio): pressupõe que a inserção ou determinação de inserção


tenha partido de uma das pessoas descritas no art. 25.

É uma forma especial de falsidade ideológica.

Consumação: com a inserção da declaração falsa. Não é preciso que ocorra prejuízo.
Trata-se de crime formal.

k) Falsidade em demonstrativos contábeis

Art. 10. Fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela legislação, em
demonstrativos contábeis de instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do
sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários.

Pena: reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.

Sujeito ativo (crime próprio): pressupõe que, para inserir em demonstrativo contábil
informação falsa, deve ser uma das pessoas descritas no art. 25.

164
Incluem-se: balanços patrimoniais, demonstrações de resultado, demonstrações de
mutações patrimoniais experimentadas, demonstrações de lucros ou prejuízos acumulados,
dentre outros.

Consumação: com a inserção falsa ou omissão do elemento que deveria constar no


demonstrativo contábil. Crime formal.

l) Contabilidade paralela (caixa 2)

Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida


pela legislação.

Pena: reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.

 Norma penal em branco. Admite-se ato normativo infralegal (norma penal em


branco em sentido estrito).

 Tipo misto alternativo.

Sujeito ativo: apenas as pessoas elencadas no art. 25  crime próprio.

Normalmente este crime é cometido para fins de sonegação. Dessa forma, há discussão
se a sonegação absorveria ou não o caixa 2.

Este delito só é aplicável às instituições financeiras, pois estamos tratando de crimes


contra o sistema financeiro nacional.

n) Omissão de informação

Art. 12. Deixar, o ex-administrador de instituição financeira, de apresentar, ao


interventor, liquidante, ou síndico, nos prazos e condições estabelecidas em lei as
informações, declarações ou documentos de sua responsabilidade.

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Crime omissivo puro e a prazo.

Norma penal em branco.

Doutrina: trata-se crime pluriofensivo: atenta contra o Sistema Financeiro Nacional e


contra os credores e investidores da instituição financeira.

165
Crime próprio: somente poderá ser praticado pelo ex-administrador de instituição
financeira, englobando as pessoas do art. 25 da Lei.

Pergunta: há o crime quando o sujeito deixa de prestar as informações, porque as


informações prestadas podem incriminá-lo?

Direito constitucional de não autoincriminação. Não se pode considerar que há crime.


Há entendimento em sentido diverso.

Consumação: no momento em que o prazo legal é esgotado e o ex-administrador não


entrega as informações ou documentos.

o) Desvio de bens

Art. 13. Desviar bem alcançado pela indisponibilidade legal resultante de intervenção,
liquidação extrajudicial ou falência de instituição financeira.

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

Art. 36 da Lei 6.024/74 (Dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de


instituições financeiras):

Os administradores das instituições financeiras em intervenção, em liquidação


extrajudicial ou em falência, ficarão com todos os seus bens indisponíveis não podendo, por
qualquer forma, direta ou indireta, aliená-los ou onerá-los, até apuração e liquidação final de
suas responsabilidades.

Desviar os bens indisponíveis configura o crime.

Sujeito ativo: somente poderá praticar esse crime o ex-administrador de instituição


financeira, crime próprio.

Consumação: com o efetivo desvio do bem, mesmo que não haja proveito ou prejuízo.
Crime formal.

p) Apropriação ou desvio de bens

Art. 13, parágrafo único. Na mesma pena (reclusão, de 2 a 6 anos, e multa), incorre o
interventor, o liquidante ou o síndico (administrador judicial) que se apropriar de bem
abrangido pelo caput deste artigo, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio.

166
Exige-se o animus apropriandi, especial fim de agir para fins de configuração da infração.

q) Falsidade em declaração de crédito ou reclamação

Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou em falência de instituição financeira,


declaração de crédito ou reclamação falsa, ou juntar a elas título falso ou simulado.

Pena: reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre o ex-administrador ou falido que reconhecer,


como verdadeiro, crédito que não o seja.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o ex-administrador ou falido, pois incorrerá no


parágrafo único (exceção pluralista à teoria monista).

r) Falsa manifestação

Art. 15. Manifestar-se falsamente o interventor, o liquidante ou o síndico, a respeito


de assunto relativo a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição financeira:

Pena: reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.

Crime de mão própria

Consumação: com a declaração falsa. Crime de mera conduta.

s) Operação sem autorização

São as instituições financeiras irregulares.

Essas instituições poderão cometer quaisquer crimes desta lei, mas também praticam o
crime do art. 16.

Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante
declaração falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou
de câmbio.

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Art. 18 da Lei 4.595/64: as instituições financeiras somente poderão funcionar no


País mediante prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do
Poder Executivo, quando forem estrangeiras.

167
Sujeito ativo: qualquer pessoa.

A doutrina diverge se é necessária ou não a habitualidade para fins de configuração


do crime:

1ªC: o tipo indica habitualidade quando fala “fazer operar”.

2ªC: basta a prática de um único ato para fazer operar a instituição financeira.

Atenção: uma instituição financeira legalmente autorizada poderá cometer este crime
quando abrir filial sem autorização.

Crime de perigo abstrato e de mera conduta.

Importante distinguir!

Agiotagem: o sujeito empresta dinheiro próprio.

Operação sem autorização: o sujeito se utiliza de dinheiro de outras pessoas para


operar a instituição financeira, fazendo repasse a outras pessoas, mas sem autorização para
tanto.

Outra distinção é a pessoalidade, que é comum na agiotagem. No crime de operação


sem autorização, o indivíduo faz mútuos em círculos indeterminados.

t) Empréstimo ou adiantamento vedados

Art. 17. Tomar ou receber crédito, na qualidade de qualquer das pessoas mencionadas
no art. 25, ou deferir operações de crédito vedadas, observado o disposto no art. 34 da Lei
no 4.595, de 31 de dezembro de 1964 (diretores, sócios, controladores, cônjuge, companheiro
e parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau): (Redação dada pela Lei nº 13.506,
de 2017)

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

Objetivo: evitar prejuízo ao investidor e ao mercado.

Sujeito ativo: somente uma das pessoas descritas no art. 25 da Lei.

Princípio da insignificância não é aplicável. Crime de perigo.

168
Crime de mera conduta. O fato de o empréstimo ser pago posteriormente não
desqualifica a infração penal.

u) Adiantamento de pagamento

Art. 17, parágrafo único.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena (reclusão, de 2 a 6 anos, e multa) quem:

I - em nome próprio, como controlador ou na condição de administrador da sociedade,


conceder ou receber adiantamento de honorários, remuneração, salário ou qualquer outro
pagamento, nas condições referidas neste artigo;

v) Distribuição disfarçada de lucros

Parágrafo único. Incorre na mesma pena (reclusão, de 2 a 6 anos, e multa) quem:

II - de forma disfarçada, promover a distribuição ou receber lucros de instituição


financeira.

Ex.: lançando eventuais distribuições como verba indenizatória.

w) Quebra de sigilo

Art. 18. Violar sigilo de operação ou violar sigilo de serviço prestado por instituição
financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de que tenha
conhecimento, em razão de ofício.

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Este dispositivo foi derrogado pelo art. 10 da LC 105/01 (Art. 10. A quebra de sigilo das
operações de instituições financeiras, fora das hipóteses autorizadas nesta LC, constitui crime
e sujeita os responsáveis à pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa, aplicando-se, no
que couber, o CP, sem prejuízo de outras sanções cabíveis).

Este dispositivo tem aplicação quando as instituições previstas no art. 18 não estejam
abrangidas pela LC 105/01.

Ex.: instituições de seguros, que não estão na LC 105.

x) Fraude na obtenção de financiamento

169
Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira.

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

Financiamento é empréstimo com finalidade específica. Ex.: financiar a casa.

§ único: a pena é aumentada de 1/3 se o crime é cometido em detrimento de


instituição financeira oficial ou por ela credenciada para o repasse de financiamento.

 Forma especial de estelionato.

 Sujeito ativo: crime comum.

 Competência: Justiça Federal.

y) Desvio de finalidade

Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, recursos


provenientes de financiamento concedido por instituição financeira oficial ou por instituição
credenciada para repassá-lo.

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

O sujeito recebeu o dinheiro corretamente, mas desviou o montante para finalidade


distinta da que justificou seu recebimento.

Sujeito ativo: crime comum.

Só há o crime quando a destinação efetiva é distinta da prevista na lei ou em contrato:


norma penal em branco, podendo ser complementada, inclusive, por contrato!

z) Operação de câmbio com falsa identidade e prestação de informação falsa em


operação de câmbio

Art. 21. Atribuir-se, ou atribuir a terceiro, falsa identidade, para realização de operação
de câmbio

Pena: detenção, de 1 a 4 anos, e multa.

Ex.: dar o nome de outra pessoa quando se está comprando dólar.

170
Parágrafo único: incorre na mesma pena quem, para o mesmo fim, sonega informação
que devia prestar ou presta informação falsa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Finalidade: realizar operação de câmbio. Especial fim de agir.

Crime formal. Não se exige a obtenção do valor e a realização efetiva da operação de


câmbio. Dispensa prejuízo.

Não se confunde com o art. 22, pois este tem a finalidade de remeter as divisas ao
exterior.

a1) Operação de câmbio com o fim de evasão de divisas

Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão
de divisas do País.

Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

Divisas: são as reservas internacionais do país.

Compreende-se no conceito de divisas os depósitos, letras de câmbio, ordens de


pagamentos, cheques, valores mobiliários etc. A evasão dessas divisas configura operação
internacional.

O sujeito realiza uma operação de câmbio não autorizada com o fim de promover a
evasão de divisas, ou seja, a saída de recursos para fora do país.

Crime comum. Sujeito passivo: a União.

STF: passe de jogador de futebol não é divisa, assim como não o são os diamantes. O
ouro poderá servir como ativo, mas o diamante não.

Somente há crime quando a operação de câmbio não é autorizada (elemento normativo


do tipo).

Crime formal. Basta a operação de câmbio para consumação do crime. Não é necessário
que haja efetivamente a evasão de divisa. Especial fim de agir.

b1) Evasão de divisas

171
Art. 22, parágrafo único. Incorre na mesma pena de reclusão, de 2 a 6 anos, e multa,
quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o
exterior, ou no exterior mantiver depósitos não declarados à repartição federal
competente.

Norma penal em branco.

Aqui há efetiva evasão das divisas. Crime material.

Se o sujeito praticou a operação de câmbio e ele mesmo promoveu a saída,


responderá pelo parágrafo único. Haverá crime único  progressão criminosa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, crime comum.

Moeda: tudo aquilo que é aceito publicamente como pagamento.

c1) Prevaricação

Art. 23. Omitir, retardar ou praticar, o funcionário público, contra disposição expressa
de lei, ato de ofício necessário ao regular funcionamento do sistema financeiro nacional,
bem como a preservação dos interesses e valores da ordem econômico-financeira.

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Sujeito ativo: crime próprio. Somente pode ser praticada pelo funcionário público.

É especial em relação ao art. 319 do CP. Aqui o tipo não exige o elemento subjetivo da
prevaricação do CP (Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,
ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal).

VII. Pena de multa nos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional

Art. 33. Na fixação da pena de multa relativa aos crimes, o limite a que se refere o § 1º
do art. 49 do Código Penal (5 vezes o SM) pode ser estendido até o décuplo, se verificada a
situação nele cogitada.

VIII. Colaboração premiada

Este dispositivo perdeu força após a Lei 12.850/13.

172
Art. 33, §2º. Nos crimes previstos nesta Lei, quando cometidos em quadrilha ou
coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade
policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.

IX. Ação penal

Pública incondicionada.

X. Competência

Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo MPF, perante
a Justiça Federal.

Parágrafo único. Será admitida a assistência da Comissão de Valores Mobiliários - CVM,


quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade sujeita à disciplina e à fiscalização
dessa Autarquia, e também será admitida a assistência do Banco Central do Brasil quando,
fora daquela hipótese, houver sido cometido na órbita de atividade sujeita à sua disciplina e
fiscalização.

Art. 109, VI, da CF: autoriza que lei atribua à JF competência para processamento e
julgamento de crimes para contra a ordem financeira. O art. 26 dá regulamentação a esse
dispositivo.

Nos crimes contra o sistema financeiro nacional, há exceção à regra de fixação de


competência da JF. A competência aqui se dá em razão da matéria, e não em razão da pessoa.

Logo, se houver crime contra instituição financeira estadual, a competência será da JF,
caso atinja o sistema financeiro nacional.

XI. Competência territorial

Competência do local de realização da operação (STJ).

Ainda que o local não seja a sede da empresa ou da instituição financeira, se, no local
foi realizada a operação financeira, lá será competente para julgamento do feito.

XII. Representação do ofendido

173
Art. 27. Quando a denúncia não for intentada no prazo legal, o ofendido poderá
representar ao PGR, para que este a ofereça a denúncia, designe outro órgão do Ministério
Público para oferecê-la ou determine o arquivamento das peças de informação recebidas.

Veja, quem faz isso é o ofendido!

Esta previsão não impede que seja proposta a AP privada subsidiária da pública, por
conta da autorização constitucional.

XIII. Questões processuais

a) Requisição de documentos pelo MP

Art. 29. O órgão do MPF, sempre que julgar necessário, poderá requisitar, a qualquer
autoridade, informação, documento ou diligência, relativa à prova dos crimes previstos nesta
lei.

Parágrafo único. O sigilo dos serviços e operações financeiras não pode ser invocado
como óbice ao atendimento da requisição feita pelo MPF.

STF: não é oponível o sigilo ao MP, quando as verbas tiverem origem pública.

Fundamento: neste caso, o princípio da publicidade admitirá que o MP tenha acesso às


transações efetuadas, pois envolvem dinheiro público.

STF: a administração tributária poderá ter acesso a informações bancárias, não


havendo violação ao sigilo bancário.

b) Prisão preventiva

Art. 30. Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal, a prisão
preventiva do acusado da prática de crime previsto nesta lei poderá ser decretada em razão
da magnitude da lesão causada.

“Sem prejuízo do disposto no art. 312 do CPP”  é necessário que estejam presentes os
requisitos do art. 312.

Se não houver gravidade em concreto, incabível a prisão preventiva.

c) Inafiançabilidade

174
Art. 31. Nos crimes previstos nesta (Lei 7.492/86) e punidos com pena de reclusão, o réu
não poderá prestar fiança, nem apelar antes de ser recolhido à prisão, ainda que primário e
de bons antecedentes, se estiver configurada situação que autoriza a prisão preventiva.

Leitura possível. Basicamente: não caberá fiança e deve ser preso provisoriamente o
réu quando estiverem presentes os requisitos da prisão preventiva.

d) Papel dos órgãos de regulamentação e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional

Art. 28. Quando, no exercício de suas atribuições legais, o BACEN ou a Comissão de


Valores Mobiliários - CVM, verificar a ocorrência de crime previsto nesta lei, disso deverá
informar ao MPF, enviando-lhe os documentos necessários à comprovação do fato.

Parágrafo único. A conduta de que trata este artigo será observada pelo interventor,
liquidante ou administrador judicial que, no curso de intervenção, liquidação extrajudicial ou
falência, verificar a ocorrência de crime de que trata esta lei.

Há um dever legal criado pelo dispositivo.

Aula 09. Crimes de licitações. Crimes contra a ordem tributária.

14. Crimes de Licitações (Lei 8.666/93)

I. Âmbito de aplicação

Art. 85. As infrações penais previstas nesta Lei referem-se às licitações e aos contratos
celebrados pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios, e respectivas autarquias,
empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, e quaisquer outras
entidades sob seu controle direto ou indireto.

II. Bem jurídico tutelado

Moralidade administrativa, em especial os princípios da competitividade e da isonomia.

III. Sujeitos

Alguns delitos são crimes comuns. Outros são próprios.

175
Art. 84 (norma penal explicativa): considera-se servidor público, para os fins da Lei de
Licitações, aquele que exerce, mesmo que transitoriamente ou sem remuneração, cargo,
função ou emprego público.

§1º. Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo, emprego
ou função em entidade paraestatal, assim consideradas, além das fundações, empresas
públicas e sociedades de economia mista, as demais entidades sob controle, direto ou
indireto, do Poder Público.

§2º. A pena imposta será acrescida de 1/3, quando os autores dos crimes previstos
nesta Lei forem ocupantes de cargo em comissão ou de função de confiança em órgão da
Administração direta, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, fundação
pública, ou outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo Poder Público.

Sujeito passivo: o ente público prejudicado pelo ato.

IV. Crimes em espécie

a) Dispensa ou inexigibilidade indevida

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de
observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade.

Pena: detenção, de 3 a 5 anos, e multa.

§ único diz: na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido
para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para
celebrar contrato com o Poder Público.

Norma penal em branco em sentido amplo

Sujeito ativo: crime próprio no caput (somente pode ser praticado pelo servidor) e
comum no § único.

Tipo subjetivo:

Dolo + especial fim de agir (STF e STJ): finalidade de causar dano ao erário.

STJ: este crime se consuma no momento em que o prejuízo efetivamente ocorre. Exige-
se dano ao erário. Crime material.

176
STF, Informativo 856: o objetivo do art. 89 não é punir o administrador público
despreparado, inábil, mas sim o desonesto, que tinha a intenção de causar dano ao erário
ou obter vantagem indevida.

É necessário analisar se a conduta do agente foi apenas um ilícito civil e administrativo


ou se chegou a configurar crime.

Deverão ser analisados 3 critérios para se verificar se o ilícito administrativo


configurou também o crime do art. 89:

1. Existência ou não de parecer jurídico autorizando a dispensa ou a inexigibilidade.


Trata-se de indicativo da ausência de dolo do agente, salvo se as circunstâncias demonstrem
o contrário.

2. A denúncia deverá indicar a existência de especial finalidade do agente de lesar o


erário ou de promover enriquecimento ilícito.

3. A denúncia deverá descrever o vínculo subjetivo entre os agentes.

Desse modo, o STF entende que o tipo penal do art. 89 da Lei de Licitações é crime
formal, que dispensa o resultado danoso para o erário.

Este entendimento reafirma a decisão exarada pelo Ministro Edson Fachin (AP 971):

Não se exige, para sua configuração, prova de prejuízo financeiro ao erário, uma vez
que o bem jurídico tutelado não se resume ao patrimônio público, mas coincide com os fins
buscados pela CF/88, ao exigir, com base no art. 37, XXI, “licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes”. Tutela-se, igualmente, a moralidade
administrativa, a probidade, a impessoalidade e a isonomia.

b) Frustração ou fraude de caráter competitivo

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro


expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para
si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.

Pena: detenção, de 2 a 4 anos, e multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa

177
Sujeito passivo: o ente licitante e os demais concorrentes prejudicados.

Crime doloso + especial fim de agir.

Consumação: com o mero ajuste de vontades, dispensando-se a ocorrência efetiva


do proveito do objeto da adjudicação.

Concurso de crimes.

Pergunta: quando a licitação é fraudada e, depois, há uma licitação superfaturada,


temos dois crimes em concurso material entre os delitos do art. 90 e do art. 96, I?

1ª C: Sim. Há precedente do STJ neste sentido.

2ª C: se a fraude foi concebida com a intenção de se contratar de forma superfaturada,


a conduta fica absorvida, por conta dessa contratação superfaturada, não havendo concurso
material.

c) Advocacia administrativa

Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a


Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja
invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário.

Pena: detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. IMPO

Forma especial de advocacia administrativa

Sujeito ativo: qualquer pessoa*.

*No CP, deve ser funcionário público

A invalidação da licitação ou do contrato pelo Poder Judiciário é condição objetiva


de punibilidade.

Vontade: dolo de patrocinar o direito privado + finalidade específica de representar


direito escuso perante à administração.

Consumação

Doutrina: no momento em que a decisão judicial transita em julgado, anulando a


licitação ou contrato.

178
Trata-se de crime material, pois é preciso que esta conduta gere um resultado no
mundo dos fatos.

d) Modificação ilegal do contrato e

pagamento antecipado

Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou vantagem,


inclusive prorrogação contratual, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos
celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação ou
nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem
cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto no art. 121 desta Lei.

Pena: detenção, de 2 a 4 anos, e multa.

Sujeito ativo: servidor que pode influir sobre a modificação de contrato ou sobre o
pagamento antecipado da fatura. Crime próprio.

Consumação: quando há o efetivo favorecimento de adjudicatário (resultado


naturalístico). Crime material.

Jurisprudência admite continuidade delitiva quando há sucessivas prorrogações


criminosas no mesmo contrato.

e) Contrato favorecido

§ único do art. 92: incide na mesma pena de detenção, de 2 a 4 anos, e multa, o


contratado que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade,
obtém vantagem indevida ou se beneficia, injustamente, das modificações ou prorrogações
contratuais.

Sujeito ativo: o contratado, ou seja, aquele que já é adjudicatário. Crime próprio.


Exceção à teoria monista

Tipo subjetivo: dolo de concorrer para alcançar a alteração contratual + fim de obter a
vantagem indevida.

Crime material.

f) Impedimento, perturbação ou fraude a ato licitatório

179
Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento
licitatório.

Pena: detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. IMPO

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Ex.: atrapalhar a licitação.

Ex. de fraude: sujeito apresenta certidão de regularidade fiscal falsa.

 Se a fraude consiste em uma concessão de vantagem ao contratado, o crime será do


art. 92 (Modificação ilegal do contrato e pagamento antecipado). Para caracterizar a fraude
do art. 93, não se pode gerar vantagem ao contratado.

g) Quebra de sigilo de proposta

Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, ou


proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo.

Pena: detenção, e 2 meses a 3 anos, e multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Consumação: no momento em que o acesso à informação sigilosa é devassado. Não é


preciso que se divulgue a informação, tampouco que haja prejuízo ou proveito para os
sujeitos. Crime de mera conduta.

h) Afastamento de licitante

Art. 95. Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de violência, grave ameaça,
fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo.

Pena: detenção, de 2 meses a 4 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Crime de atentado

Parágrafo único: incorre na mesma pena quem se abstém ou desiste de licitar, em


razão da vantagem oferecida.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

180
i) Superfaturamento ou fraude na execução do contrato

Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada para aquisição
ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente:

• Elevando arbitrariamente os preços;

• Vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou


deteriorada;

• Entregando uma mercadoria por outra;

• Alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida;

• Tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta ou a


execução do contrato.

Pena: detenção, de 3 a 6 anos, e multa.

Crime de conduta vinculada.

Observe: o tipo não se refere a serviços!

Sujeito ativo: o contratado ou o administrador da empresa contratada. Crime


próprio.

 Este é o crime mais grave da lei, podendo a pena chegar a 6 anos de detenção.

 Consumação: com o efetivo prejuízo. Crime material.

j) Admissão à licitação ou contratação de profissional inidôneo

Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profissional declarado
inidôneo

Pena: detenção de 6 meses a 2 anos, e multa. IMPO

§ único: incide na mesma pena aquele que, declarado inidôneo, venha a licitar ou a
contratar com a Administração. Exceção à teoria monista.

Crime próprio.

181
Consumação: quando há a mera admissão à licitação ou à contratação. Não é necessário
que haja prejuízo ou proveito às partes. É crime de mera conduta.

k) Obstaculização, impedimento ou dificultação de registro

Art. 98. Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a inscrição de qualquer interessado


nos registros cadastrais ou promover indevidamente a alteração, suspensão ou
cancelamento de registro do inscrito.

Pena: detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. IMPO

Sujeito ativo: servidor que tenha atribuição para atuar no procedimento de registro.
Crime próprio.

V. Multa

Art. 99. A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98 consiste no pagamento de quantia
fixada na sentença e calculada em índices percentuais, cuja base corresponderá ao valor da
vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente.

§ 1o Os índices a que se refere este artigo não poderão ser inferiores a 2%, nem
superiores a 5% do valor do contrato licitado ou celebrado com dispensa/inexigibilidade de
licitação.

§ 2o O produto da arrecadação da multa reverterá, conforme o caso, à Fazenda Federal,


Distrital, Estadual ou Municipal.

VI. Efeito da condenação

Art. 83. Os crimes definidos na Lei 8.666/93, ainda que simplesmente tentados,
sujeitam os seus autores, quando servidores públicos, além das sanções penais, à perda do
cargo, emprego, função ou mandato eletivo.

A perda do cargo independe do quantitativo da pena aplicada.

VII. Ação penal

Pública incondicionada.

VIII. Competência

182
Dependerá do ente público que promoveu a licitação ou celebrou o contrato.

Se União, autarquia federal ou empresa pública federal: JF

Obs.: quando há verba federal para uma entidade estadual ou municipal, a


competência somente será da JF se a verba transferida estiver pendente de prestação de
contas perante o TCU ou perante outro órgão federal. Se a verba tiver sido incorporada pelo
ente municipal ou estadual, a competência será da Justiça Estadual.

15. Crimes contra a Ordem Tributária (Lei 8.137/90)

I. Inadimplemento, sonegação e elisão

Inadimplemento não é crime por si só. Ex.: contribuinte declara o fato gerador,
cumpre as obrigações acessórias regularmente, mas não paga o tributo.

Elisão: prática legítima do contribuinte que, por meio de planejamento tributário,


impede a ocorrência do fato gerador ou diminui o valor do tributo a pagar, sem que haja a
fraude.

Sonegação: supressão ou redução do tributo por meio de fraude (supressão ou


redução + fraude)

II. Bem jurídico

A ordem tributária.

III. Sujeito ativo

Via de regra, crimes comuns.

IV. Sujeito passivo

A pessoa jurídica titular do direito de cobrar o respectivo tributo.

V. Responsabilidade subjetiva

Só existe responsabilidade penal subjetiva. No âmbito da pessoa jurídica, responderá


quem tinha o poder de gestão e de administração dela.

Duas observações:

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• Não basta que a pessoa conste como sócio-administrador da pessoa jurídica
para responder por sonegação fiscal. É preciso verificar o que foi praticado.

• Não basta não figurar no quadro de administração para não responder pela
infração penal.

Nos delitos contra a ordem tributária, a jurisprudência adota a teoria do domínio do


fato.

Fundamento: normalmente, é o funcionário quem preenche a nota com o valor abaixo


do real ou vende a mercadoria sem emitir a nota fiscal. O núcleo do tipo é praticado por
pessoas que estão abaixo do gerente, sócio-administrador etc.

O diretor, gerente e sócio-administrador têm o domínio do fato, têm capacidade de


planejar e preparar a ação delituosa, sendo os autores intelectuais do delito.

VI. Tipo básico (crimes contra a ordem tributária praticados por particulares)

Lei 8.137/90, 1º. Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo,
ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

I. Omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

II. Fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo


operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal (norma penal
em branco)

III. Falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro
documento relativo à operação tributável;

IV. Elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber
falso ou inexato (dolo eventual);

Note!

Do inciso I ao IV, há crimes materiais. Exigem a constituição definitiva do crédito


tributário para persecução penal.

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V. Negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento
equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente
realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.

No inciso V, há um crime tributário formal. Dispensável a constituição definitiva do


crédito tributário para persecução penal.

Quando há o esgotamento da via administrativa, tem-se o lançamento definitivo.

STF, SV 24: não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previstos nos incisos
Ia IV, da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

STF (Inf. 819)

Nos crimes de sonegação tributária, apesar de a jurisprudência do STF condicionar a


persecução penal à existência do lançamento tributário definitivo, o mesmo não ocorre
quanto à investigação preliminar.

Em outras palavras, mesmo não tendo havido ainda a constituição definitiva do crédito
tributário, já é possível o início da investigação criminal para apurar o fato.

Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução


ou supressão de tributo e conseguir atingir o resultado almejado, tem-se crime de sonegação
fiscal, na modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90.

A constituição do crédito tributário, por vezes, depende de uma obrigação acessória do


contribuinte, como a declaração do fato gerador da obrigação tributária (lançamento por
declaração).

Vale destacar!

Quando há decadência, o crédito tributário sequer nasce (atipicidade da conduta).

Também haverá atipicidade da conduta quando houver decisão anulatória de


lançamento efetuado.

Fundamento: se ocorrer a decadência ou a anulação do lançamento, seja por decisão


judicial ou administrativa, a conduta é atípica, pois não há lançamento definitivo.

Obs.: a extinção do crédito tributário implica extinção da punibilidade.

185
Parcela da doutrina: na prescrição, como há a extinção do crédito tributário, extingue-
se a punibilidade.

STJ: o reconhecimento de prescrição tributária em execução fiscal não é capaz de


justificar o trancamento de ação penal referente aos crimes contra a ordem tributária
previstos nos incisos I a IV do art. 1º da Lei nº 8.137/90.

A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente para tipificar as


condutas previstas no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, não influenciando em nada, para fins
penais, o fato de ter sido reconhecida a prescrição tributária.

Isso porque o delito de sonegação fiscal se consuma no momento do trânsito em julgado


do processo administrativo-fiscal. Neste instante, há a constituição definitiva do crédito
tributário e o crime tributário se consuma.

Por essa razão, uma vez regular e definitivamente constituído o crédito tributário, sua
eventual extinção na esfera tributária, pela prescrição (art. 156 do CTN), em nada afeta o
jus puniendi estatal, que também resta ileso diante da prescrição para a ação de cobrança
do referido crédito (Inf. 579, STJ).

O contribuinte que não presta informações, com vistas a não pagar o tributo devido
ou a reduzir o seu valor, comete o mesmo crime daquele que presta informação incompleta.

A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário,


ante a omissão do contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta.

Arbitramento efetivado pelo fisco: medida adotada para reparar a evasão decorrente
da omissão. Evidencia que a conduta omissiva foi apta a gerar supressão ou redução do
tributo.

STJ(Inf. 579): a omissão na entrega da antiga Declaração de Informações Econômico-


Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a tipicidade do crime
de sonegação fiscal previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o Fisco dispusesse de
outros meios para a constituição do crédito tributário.

Obs: DIPJ foi substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF).

VII. Princípio da insignificância

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STF: aplica-se a Portaria 75/12 do Ministério da Fazenda, que dispensa a execução,
quando o crédito tributário for igual ou inferior a 20 mil reais. Este é um dos parâmetros para
que se fale em princípio da insignificância.

STJ utiliza o patamar de 10 mil reais, com base na Lei 10.52202. Ag. Interno no HC
2017/0050287-9. 5ª turma. Rel.: Min. Jorge Mussi. 24/10/17

 Além disso, é preciso que haja: OPRIL

VIII. Consumação

O crime do art. 1º (I a IV) é crime material. Consuma-se com o lançamento definitivo.

IX. Crime único

Doutrina: trata-se de um crime de conduta múltipla, razão pela qual, se o sujeito


praticar várias ações dentro de um mesmo contexto fático, haverá um crime só.

X. Crime continuado

Admite-se crime continuado e, neste caso, será relativizada a vigência de 30 dias entre
a prática de um crime e outro. Isso porque o recolhimento tributário se dá mensalmente.

Ex.: sujeito pagou o imposto de janeiro e não pagou de fevereiro, cometendo fraude
(sonegação fiscal). Em março, ele também não pagou. Em abril, ele pagou, mas, em maio, não
pagou.

XI. Terceira fase

(Causas de aumento e diminuição).

Art. 12 da Lei 8.137/90: são circunstâncias que podem agravar de 1/3 até a 1/2 as
penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°:

• Ocasionar grave dano à coletividade;

• Crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;

• Crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens


essenciais à vida ou à saúde.

XII. Colaboração premiada

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Art. 16, parágrafo único: nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou
coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade
policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.

Victor Rios Gonçalves: ficou superada pela Lei 12.850/13.

XIII. Multa

Art. 8º. Nos crimes definidos nos arts. 1° a 3° desta lei, a pena de multa será fixada entre
10 e 360 dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime.

§ único: o dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a 14 nem superior a 200
Bônus do Tesouro Nacional BTN.

Como não existem mais, o juiz deverá se utilizar dos parâmetros do CP: 1/30 a 5 vezes
o salário mínimo.

Art. 10. Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique
a insuficiência ou excessiva onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá
diminuí-las até a décima parte ou elevá-las ao décuplo.

XIV. Crime de desobediência

§ único do art. 1º: a falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10


dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da
matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista
no inciso V.

Ou seja, também será crime formal, ainda que omissivo. Desnecessário aguardar a
constituição definitiva do crédito tributário.

XV. Crimes contra a ordem tributária que

não exigem o lançamento definitivo

Art. 2°. Constitui crime da mesma natureza (contra a ordem tributária):

I. Fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar
outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo:

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Crime formal: desnecessário o lançamento definitivo. O sujeito fez a declaração falsa
com a finalidade de se eximir de pagamento de tributo.

Doutrina: este crime é a forma tentada do art. 1º.

II. Deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social,


descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher
aos cofres públicos:

Crime omissivo

Sujeito ativo: o responsável pela pessoa jurídica e que manda não pagar. Apropriação
indébita: o agente não é o contribuinte, mas apenas o responsável, apropriando-se do valor
que seria do governo. É inexigível o lançamento definitivo.

III. Exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer


percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como
incentivo fiscal:

Sujeito ativo: particular que solicita ou exige um valor, percentual já deduzido.

Exemplo: responsável por entidade beneficente que exige parte do valor doado, a fim
de que o doador possa descontar do IR o valor da doação, situação na qual será possível
conceder o documento a ser apresentado à Receita Federal.

IV. Deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou


parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento:

Sujeito abateu o valor do imposto, mas deixou de aplicar para aquilo que justificou o
abatimento.

Ex.: o agente que deixa de recolher parcela de determinado tributo com o argumento
de que utilizará aquele valor para o estabelecimento industrial em determinada região. No
entanto, o sujeito deixa de aplicar os recursos na finalidade que ele declarou. Desnecessário
lançamento definitivo.

189
V. Utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito
passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei,
fornecida à Fazenda Pública.

Programa de computador que permite que o contribuinte ou responsável tenha um


caixa 2.

Sujeito ativo: contribuinte ou terceiro que divulga o programa.

Se a consumação da sonegação se der, não responderá por este crime, ficando


absorvido por aquela.

Tais crimes terão a STJ: o simples fato de o sujeito ser sócio, gerente ou administrador
da empresa não autoriza que contra ele seja instaurado processo criminal, se não ficar
comprovada uma mínima relação de causa e efeito entre a imputação feita pelo MP e a
função que o sujeito efetivamente exerce.

Jurisprudência: a inexistência de elementos hábeis a descrever a relação entre os fatos


delituosos e a sua autoria ofende o princípio constitucional da ampla defesa, significando
inépcia da inicial, por não descrever os fatos com suas circunstâncias.

pena de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. IMPO

STJ: se estivermos diante de crime de falsidade ideológica, cometido exclusivamente


para que haja sonegação fiscal, aplica-se o princípio da consunção: o crime meio será
absorvido pelo crime fim, respondendo o sujeito apenas pelo crime contra a ordem tributária.

STJ: o simples fato de o sujeito ser sócio, gerente ou administrador da empresa não
autoriza que contra ele seja instaurado processo criminal, se não ficar comprovada uma
mínima relação de causa e efeito entre a imputação feita pelo MP e a função que o sujeito
efetivamente exerce.

Jurisprudência: a inexistência de elementos hábeis a descrever a relação entre os fatos


delituosos e a sua autoria ofende o princípio constitucional da ampla defesa, significando
inépcia da inicial, por não descrever os fatos com suas circunstâncias.

XVI. Crimes contra a ordem tributária praticados por funcionários públicos

190
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no CP:

I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda
em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento
indevido ou inexato de tributo ou contribuição social;

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Crime material: só se consuma quando há o pagamento inexato ou indevido.

Crime próprio.

XVII. Corrupção e concussão

Art. 3º, II. Constitui crime funcional contra a ordem tributária:

II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda


que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida;
ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
social, ou cobrá-los parcialmente.

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

É a corrupção passiva na seara tributária.

Crime próprio: somente praticado por servidor fazendário.

Tipo subjetivo: dolo + especial fim de agir: finalidade de deixar de lançar ou cobrar
tributo ou contribuição social.

Crime formal.

XVIII. Advocacia administrativa

Art. 3º, III. Constitui crime funcional contra a ordem tributária:

III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração


fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e
multa. I Médio PO

É a advocacia administrativa fazendária.

191
crime próprio: somente servidor fazendário comete o delito.

XIX. Extinção da punibilidade

A extinção da punibilidade se refere ao:

• Pagamento:

Lei 11.941/09, art. 69.

Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no art. 68 (que abrange os crimes contra
a ordem tributária), quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento
integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que
tiverem sido objeto de concessão de parcelamento.

Parágrafo único: na hipótese de pagamento efetuado pela pessoa física, a extinção da


punibilidade ocorrerá com o pagamento integral dos valores correspondentes à ação penal.

O pagamento integral, gerando a extinção da punibilidade, pode se dar a qualquer


momento da persecução penal e, inclusive após o trânsito em julgado: ausência de termo
ad quem na lei. Não cabe ao intérprete inserir requisitos que o legislador não inseriu. STJ

• Parcelamento:

Lei 9.430/96, art. 83, §1º:

Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a representação fiscal


para fins penais somente será encaminhada ao MP após a exclusão da pessoa física ou
jurídica do parcelamento.

§2º: fica suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes contra a ordem
tributária, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o
agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de
parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal.

Extingue-se a punibilidade quando a pessoa efetuar o pagamento integral dos débitos


oriundos de tributos, inclusive acessórios que tiverem sido objeto de parcelamento. Em
relação ao pagamento integral, se o sujeito pagar integralmente o débito tributário, mesmo
depois do recebimento da denúncia, será extinta a punibilidade.

192
STJ: poderá haver o pagamento integral, inclusive após o trânsito em julgado,
extinguindo a punibilidade. HC nº 362478 / SP – 5ª turma. Rel.: Min. Jorge Mussi.
14/09/2017

Vale ressaltar!

Se foi extinta a punibilidade, não é possível promover a ação penal pelo crime-meio.

Ex.: se o sujeito fez um falsificação de um documento para sonegar, caso pague o tributo
integralmente, não responderá pela falsificação.

Aula 10. Crimes contra o meio ambiente.

16. Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98)

I. Bem jurídico

O meio ambiente.

Art. 3º, I, da Lei 6.938.

Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,


química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Art. 225 CF. Meio ambiente é bem de uso comum do povo.

II. Princípio da insignificância

A depender das peculiaridades do caso concreto, é possível aplicar o princípio da


insignificância.

III. Sujeito ativo

Art. 2º da Lei 9.605.

Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide
nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o
administrador, o membro de conselho e membro de órgão técnico, o auditor, o gerente, o

193
preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem,
deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

A primeira parte é semelhante ao art. 29 do CP.

Na segunda parte, há a consagração do administrador, membro do conselho, auditor


etc. como garantidores.

III. Responsabilidade penal da pessoa jurídica

225, §3º, da CF.

As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,


pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

Art. 3º da Lei 9.605.

As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente


conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou por decisão de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade.

§ único. A responsabilidade das PJ não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras
ou partícipes do mesmo fato.

Responsabilidade penal da pessoa jurídica

a) Requisitos

2 requisitos:

• Crime praticado pelo representante legal ou contratual, ou ainda por decisão


do órgão colegiado, da pessoa jurídica;

• Decisão deve ter sido tomada em benefício ou no interesse da pessoa jurídica.

b) Dupla imputação

Parágrafo único  a pessoa física também responderá pelo crime.

194
É preciso que haja uma denúncia simultânea da pessoa jurídica e do representante
legal da pessoa jurídica?

Não é mais adotada a teoria da dupla imputação. STJ.

c) Penas para pessoas jurídicas

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas


jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

• Multa

• Restritivas de direitos

• Prestação de serviços à comunidade

Perceba: não se está falando de penas com caráter substitutivo, mas da pena direta
principal.

i. Restritivas de direitos

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

-Suspensão parcial ou total de atividades: aplicada quando essas atividades não


estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente.

-Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade: aplicada quando estiver


funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação
de disposição legal ou regulamentar.

• Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações: (§3º - não poderá exceder o prazo de 10 anos).

Fundamento: não se admite a pena de caráter perpétuo.

ii. Prestação de serviços à comunidade

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:

• Custeio de programas e de projetos ambientais;

195
• Execução de obras de recuperação de áreas degradadas;

• Manutenção de espaços públicos;

• Contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

As prestações de serviços à comunidade estão relacionadas ao meio ambiente.

José Baltazar  a primeira e a última prestação de serviços à comunidade não são, em


verdade, prestação de serviços à comunidade.

Com relação às penas restritivas de direito e a pena de prestação de serviços à


comunidade, não há previsão expressa do lapso temporal.

Doutrina: o máximo de período que poderá ser cumprido como pena restritiva de
direito ou pena de prestação de serviços à comunidade é equivalente à maior pena privativa
de liberdade aplicada à pessoa física nas mesmas circunstâncias.

d) Efeito da condenação

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de


permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime ambiental terá decretada sua liquidação
forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor
do Fundo Penitenciário Nacional.

“Pena de morte”. Doutrina: é constitucional, visto que se trata da morte da pessoa


jurídica. Há entendimento em sentido diverso.

IV. Penas

a) Primeira fase

A dosimetria da pena tem 3 fases:

• Circunstância judiciais

• Atenuantes e agravantes

• Causas de diminuição e causas de aumento

Art. 6º. Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:

196
• Gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e consequências da
infração para a saúde pública e para o meio ambiente;

• Antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse


ambiental;

• Situação econômica do infrator, no caso de multa.

Código Penal (aplicado subsidiariamente): para fixação do dia-multa considerar-se-á a


situação econômica do infrator.

b) Segunda fase

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:

• Baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;

• Arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano,


ou limitação significativa da degradação ambiental causada;

• Comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;

• Colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

Aplicável o arrependimento posterior (até o recebimento da denúncia)  Após, será a


atenuante do art. 14, II, da Lei 9.605.

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam
o crime:

• Reincidência nos crimes de natureza ambiental

Também agravará se não for de natureza ambiental, pois incidirá, CP.

• Ter o agente cometido a infração para obter vantagem pecuniária;

• Ter o agente cometido a infração coagindo outrem para a execução material da


infração;

• Ter o agente cometido a infração afetando ou expondo a perigo, de maneira


grave, a saúde pública ou o meio ambiente;

197
• Ter o agente cometido a infração concorrendo para danos à propriedade alheia;

• Ter o agente cometido a infração atingindo áreas de unidades de conservação


ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso;

• Ter o agente cometido a infração atingindo áreas urbanas ou quaisquer


assentamentos humanos;

• Ter o agente cometido a infração em período de defeso à fauna;

• Ter o agente cometido a infração em domingos ou feriados;

• Ter o agente cometido a infração à noite;

• Ter o agente cometido a infração em épocas de seca ou inundações;

• Ter o agente cometido a infração no interior do espaço territorial


especialmente protegido;

• Ter o agente cometido a infração com o emprego de métodos cruéis para abate
ou captura de animais;

• Ter o agente cometido a infração mediante fraude ou abuso de confiança;

• Ter o agente cometido a infração mediante abuso do direito de licença,


permissão ou autorização ambiental;

• Ter o agente cometido a infração no interesse de pessoa jurídica mantida, total


ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

• Ter o agente cometido a infração atingindo espécies ameaçadas, listadas em


relatórios oficiais das autoridades competentes;

• Ter o agente cometido a infração facilitada por funcionário público no exercício


de suas funções.

c) Multa (art. 18)

A multa será calculada segundo os critérios do CP.

Se o valor da multa se revelar ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser
aumentada até 3 vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

198
V. Penas restritivas de direito

Penas restritivas de direito em geral.

Art. 7º. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de


liberdade quando:

• Tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade


INFERIOR a 4 anos;

• Culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição
seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.

§ único. As penas restritivas de direitos terão a mesma duração da pena privativa de


liberdade substituída.

Essas penas restritivas de direitos são aplicáveis às pessoas físicas, pois substituem
penas privativas de liberdade.

ATENÇÃO! Diferentemente do CP, a Lei 9.605/98 não exige que o crime tenha sido
cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e não coloca como pressuposto negativo
que o sujeito não seja reincidente.

a) Rol das penas restritivas de direito

Art. 8º. São penas restritivas de direito:

• Prestação de serviços à comunidade;

• Interdição temporária de direitos;

• Suspensão parcial ou total de atividades;*

• Prestação pecuniária;

• Recolhimento domiciliar.*

*Restritivas de direito não previstas no CP.

Obs.: a Lei Ambiental não prevê a limitação de fim de semana.

199
b) Prestação de serviços à comunidade (art. 9º).

A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas


gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de conservação.

No caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, a prestação de serviços à


comunidade consistirá na restauração desta coisa, se possível.

Busca a conscientização da pessoa em relação ao meio ambiente.

c) Interdição temporária de direito

Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado


contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios,
bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos,
e de três anos, no de crimes culposos.

d) Suspensão de atividades

Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às prescrições legais.

e) Prestação pecuniária

Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à


entidade pública ou privada com fim social.

Não poderá ser inferior a 1 salário mínimo nem superior a 360 salários mínimos.

O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for
condenado o infrator.

f) Recolhimento domiciliar

É muito semelhante ao regime aberto domiciliar.

Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de


responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou
exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em

200
residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido
na sentença condenatória.

VI. Suspensão condicional da pena

Pelo Código Penal, o sursis se dá quando o sujeito é condenado a pena não superior a 2
anos de privação de liberdade (regra).

Art. 16. Nos crimes previstos na Lei 9.605/98, a suspensão condicional da pena pode ser
aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a 3 anos.

VII. Medidas despenalizadoras

a) Transação penal

Art. 27.

Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, caberá transação penal, desde
que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada
impossibilidade de reparar o dano.

b) Suspensão condicional do processo

Art. 28. As disposições relativas à suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei


9.099/95) aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as
seguintes modificações:

Inciso I: a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação


de reparação do dano ambiental, salvo impossibilidade de repará-lo.

Inciso II: Na hipótese de o laudo de constatação atestar que não foi feita a reparação
completa, o prazo de suspensão do processo será prorrogado até o período máximo,
acrescido de mais 1 ano, suspendendo-se o prazo prescricional.

Inciso III: no período de prorrogação, o sujeito não ficará submetido às condições


inicialmente previstas. Ficará suspenso o prazo prescricional, prorrogando-o ao máximo, e
mais um ano, até que o sujeito consiga reparar o dano ambiental causado.

201
Inciso IV: após o período de prorrogação, será feito um novo laudo de constatação de
reparação do dano ambiental, podendo ser novamente prorrogado o período de suspensão
até o máximo, caso não tenha ainda sido reparado o dano ambiental.

Inciso V: esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de


punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as
providências necessárias à reparação integral do dano.

c) Termo de compromisso

Art. 79-A.

Para o cumprimento da Lei de Crimes Ambientais, os órgãos ambientais integrantes do


SISNAMA ficam autorizados a celebrar termo de compromisso com pessoas físicas ou
jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores, que terá força de título executivo extrajudicial.

STF: a assinatura do termo de compromisso não afasta a tipicidade penal da conduta.

VIII. Questões processuais

a) Competência

Justiça Estadual, salvo hipóteses do art. 109 CF.

b) Perícia

Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

§ único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada
no processo penal, instaurando-se o contraditório.

c) Apreensão de bens

Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos,


lavrando-se os respectivos autos.

202
§1º. Sendo apreendidos animais, serão eles libertados prioritariamente em seu
habitat.

 Sendo inviável, ou não recomendável por questões sanitárias, libertar os animais em


seu habitat, eles serão entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades
assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilitados.

§2º. Até que os animais sejam entregues aos jardins zoológicos, fundações ou entidades
assemelhadas, o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em condições
adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar físico.

§3º. Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados


a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.

§4º. Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a


instituições científicas, culturais ou educacionais.

§5º. Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua


descaracterização por meio da reciclagem.

§4º. Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a


instituições científicas, culturais ou educacionais.

§5º. Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua


descaracterização por meio da reciclagem.

d) Sentença

Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido ou pelo meio ambiente.

STJ: é possível fixar dano moral como prejuízo sofrido pelo ofendido.

Vale ressaltar! O juiz poderá fixar execuções ou medidas específicas, não devendo
necessariamente condenar o acusado a pagar valores em dinheiro. A ideia maior é da
execução específica.

203
§ único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se
pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano
efetivamente sofrido.

IX. Crimes contra a fauna

a) Crime de caça

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos
ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida.

Pena: detenção de 6 meses a 1 ano, e multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

§ 2º. No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de


extinção, poderá o juiz deixar de aplicar a pena, considerando as circunstâncias do caso
concreto. Perdão judicial.

§ 3º. São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas,
migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo
de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais
brasileiras. Norma penal explicativa.

§1º. Incorre nas mesmas penas:

• Quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo


com a obtida;

• Quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;

• Quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou


depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota
migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não
autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

Tipo misto alternativo.

204
§ 4º A pena é aumentada de 1/2, se o crime é praticado:

• I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente


no local da infração;

• II - em período proibido à caça;

• III - durante a noite;

• IV - com abuso de licença;

• V - em unidade de conservação;

• VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição


em massa.

• § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça


profissional.

• § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

b) Exportação de peles e couros

Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a
autorização da autoridade ambiental competente:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. I Médio PO

c) Introdução irregular de espécie de animal

Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e
licença expedida por autoridade competente:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. IMPO

d) Maus tratos

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

205
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal
vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

Vivissecção: é o ato de dissecar um animal vivo com o propósito de realizar estudos de


natureza anatomo-fisiológica.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

O que se pune é o tratamento cruel ao animal.

e) Crime do art. 33

Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o


perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías
ou águas jurisdicionais brasileiras:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:

I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura de domínio


público;

II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença,


permissão ou autorização da autoridade competente;

III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de
moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.

f) Pesca predatória

Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar,
extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes,
crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento
econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da
fauna e da flora.

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou pescar em lugares
interditados por órgão competente.

206
Pena: detenção de 1 ano a 3 anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

• Pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos


inferiores aos permitidos;

• Pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de


aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

• Transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da


coleta, apanha e pesca proibidas.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Norma penal em branco

Tipo penal misto alternativo

Crime de perigo abstrato

g) Pesca com explosivos e substâncias tóxicas

Art. 35. Pescar mediante a utilização de:

I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante;

II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:

Pena - reclusão de 1 ano a 5 anos.

h) Exclusão do crime (normal penal permissiva)

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:

• Em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;

• Para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora


de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;

• Por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

X. Crimes contra a flora

207
a) Destruição, dano ou utilização de floresta de preservação permanente

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo


que em formação, ou utilizar floresta considerada de preservação permanente com
infringência das normas de proteção.

Pena: detenção, de 1 a 3 anos, ou multa, ou ambas.

§ único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

O tipo exige complemento normativo, a fim de descobrir-se o que é floresta de


preservação permanente.

Art. 6º da Lei 12.651/12. Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando


declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com
florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
(...)

Norma penal em branco ao quadrado.

b) Art. 38-A

Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado


ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas
de proteção:

Pena - detenção, de 1 a 3 anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

§ único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

c) art. 39

Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem


permissão da autoridade competente:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

d) Dano a unidades de conservação de proteção integral

208
Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que
trata o art. 27 do Decreto nº 99.274/90 (áreas circundantes às UC – raio de 10 km),
independentemente de sua localização.

Pena - reclusão, de 1 a 5 anos.

“Causar dano”  crime material.

§ 1o Entende-se por UC de Proteção Integral :

Estações Ecológicas

Reservas Biológicas

Parques Nacionais

Monumentos Naturais

Refúgios de Vida Silvestre

§2º. A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das


UC de PI será considerada circunstância agravante para a fixação da pena.

§3º. Se o crime for culposo, a pena será reduzida de 1/2.

e) Dano a unidades de conservação de uso sustentável

Art. 40-A. Valerá a redação do art. 40, caput.

§ 1º. Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável:

• Áreas de Proteção Ambiental

• Áreas de Relevante Interesse Ecológico

• Florestas Nacionais

• Reservas Extrativistas

• Reservas de Fauna

• Reservas de Desenvolvimento Sustentável

• Reservas Particulares do Patrimônio Natural

209
§2º. A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das
Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para
a fixação da pena.

§3º. Se o crime é culposo, a pena será reduzida à metade.

f) Incêndio em mata ou floresta

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta.

Pena. Reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de 6 meses a 1 ano, e


multa.

Diferença entre mata e floresta:

Mata: conjunto de árvores de porte médio.

Floresta: formação arbórea, densa, de grande porte, cobrindo as terras.

g) Soltar balões

Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios:

• Nas florestas e demais formas de vegetação

• Em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano.

Pena - detenção de 1 a 3 anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

h) Extração de pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais de florestas ou APP

Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação


permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. IMPO

i) Art. 45

Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do
Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração,
econômica ou não, em desacordo com as determinações legais:

210
Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.

j) Art. 46

Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão
e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada
pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até
final beneficiamento:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em
depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal,
sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela
autoridade competente.

k) Art. 48

Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de


vegetação:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

l) Destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros


público ou em propriedade privada alheia

Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de
ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia.

Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

§ único. No crime culposo, a pena é de 1 a 6 meses, ou multa.

Trata-se de crime de dano culposo.

Trata-se de crime material.

m) Art. 50

Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de


dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação:

211
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. IMPO

n) Art. 50-A

Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou


nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente:

Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.

§ 1o Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal


do agente ou de sua família.

§ 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada
de 1 (um) ano por milhar de hectare.

o) Art. 51

Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de


vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. IMPO

p) Ingresso irregular em unidade de conservação portando substância ou instrumento


para caça ou exploração florestal

Tipifica condutas preparatórias como delitos autônomos.

Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou


instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais,
sem licença da autoridade competente.

Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa. IMPO

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Consumação: com o ingresso na unidade de conservação com esses instrumentos.


Crime de perigo abstrato.

Caso ocorra efetivamente a caça, ficará absorvido pelo crime mais grave.

q) Causas de aumento Art. 53.

212
Nos crimes contra a flora, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se:

I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação


do regime climático;

II - o crime é cometido:

a) no período de queda das sementes;

b) no período de formação de vegetações;

c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente
no local da infração;

d) em época de seca ou inundação;

e) durante a noite, em domingo ou feriado.

XI. Poluição e outros crimes

a) Poluição

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou danos que provoquem a mortandade de animais ou
a destruição significativa da flora.

Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

§ 1º Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).

Poluição (art. 3º, III, Lei 6.938):

É a degradação ambiental causada pelo homem.

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta


ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

213
c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

-Consumação: com a prática da poluição. Crime de perigo abstrato

- Poluição Qualificada

§ 2º Se o crime:

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;

II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos
habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público
de água de uma comunidade;

IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos


ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

Discussão: a poluição culposa pode ser punida na modalidade qualificada?

A previsão culposa está no §1º e a qualificadora está no §2º.

Há posições nos dois sentidos.

§3º. Incorre nas mesmas penas de reclusão de 1 a 5 anos quem deixar de adotar,
quando houver exigência da autoridade competente, medidas de precaução em caso de
risco de dano ambiental grave ou irreversível.

Princípios da precaução e da prevenção.

Crime omissivo próprio.

Crime de mera conduta.

214
b) Art. 55

Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente
autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. IMPO

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada
ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do
órgão competente.

c) Art. 56

Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer,


transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo


com as normas ambientais ou de segurança;

II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá


destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento.

§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de


um sexto a um terço.

§ 3º Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa

d) Crimes preterdolosos

Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção (arts. 54 a 56), as penas serão
aumentadas:

• De 1/6 a 1/3: se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral;

215
• De 1/3 até 1/2: se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem;

• Até o dobro: se resultar a morte de outrem.

§ único. As penalidades previstas neste artigo somente serão aplicadas se do fato não
resultar crime mais grave.

e) Obras ou serviço potencialmente poluidor sem licença

Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do
território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem
licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais
e regulamentares pertinentes.

Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

 Não basta abrir um estabelecimento sem licença, devendo também ser


potencialmente poluidor, capaz de causar dano ambiental.

 Jurisprudência: crime de perigo concreto (demonstrar que o estabelecimento seria


capaz de causar dano ambiental).

Delito de ação múltipla ou conteúdo variado.

f) Art. 61

Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura,
à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

XII. Crimes contra o ordenamento

urbano e o patrimônio cultural

a) Destruição, inutilização ou deterioração de bem protegido

Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:

• Bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;

216
• Arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar
protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.

§ único. Se o crime for culposo, a pena é de 6 meses a 1 ano de detenção, sem prejuízo
da multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Norma penal em branco

b) Art. 63

Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido


por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico,
turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental,
sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

c) Art. 64

Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim
considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico,
cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade
competente ou em desacordo com a concedida:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

d) Pichação e grafite

Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano.

Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.

§1º. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor
artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 meses a 1 ano de detenção e multa.

§2º. Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o
patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo

217
proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de
bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas
municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela
preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.

Obs.: Pichação é crime. Grafite não é crime.

No entanto, mesmo sendo manifestação artística, já que irá pintar a casa de outrem, é
necessário que este autorize o grafite.

Caso seja bem público, quem deve autorizar o grafite é a prefeitura, caso o bem seja
municipal, sempre observando as normas de postura e normas regulamentares
governamentais.

 Sujeito ativo: qualquer pessoa.

XIII. Crimes contra a Administração Ambiental

a) Afirmação falsa ou enganosa em licenciamento ambiental

Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade,
sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de
licenciamento ambiental:

Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.

b) Concessão irregular de licença,

autorização ou permissão

Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em


desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização
depende de ato autorizativo do Poder Público.

Pena - detenção, de 1 a 3 anos, e multa.

§ único. Se o crime é culposo, a pena é de 3 meses a 1 ano de detenção, sem prejuízo


da multa.

Crime próprio. Norma penal em branco.

218
c) Art. 68

Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir
obrigação de relevante interesse ambiental:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano, sem prejuízo
da multa.

d) Art. 69

Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões
ambientais:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

e) Estudo, laudo ou relatório falso ou enganoso

Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer


outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou
parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão.

Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.

§1º - Se o crime é culposo, a pena é de detenção de 1 a 3 anos.

§2º. A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se há dano significativo ao meio ambiente, em


decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa.

O mero exaurimento torna-se uma causa de aumento de pena.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Crime formal, consumando-se com a mera elaboração do laudo ou relatório enganoso.

Aula 11. Lavagem de dinheiro. Organização criminosa.

17. Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98)

219
Lavagem de dinheiro: “dar aparência de dinheiro limpo ao dinheiro sujo”. Desvinculação
da origem ilícita do valor para que este possa ser aproveitado.

I. Fases da lavagem de dinheiro

Essas fases somente têm finalidade didática.

São fases do crime de lavagem de dinheiro:

1ª Fase – Colocação ou Placement: o ativo sujo é posto em circulação.

O dinheiro é “colocado” no mercado econômico para movimentação, geralmente em


países com sistemas financeiros mais liberais.

Em geral: compra de títulos que podem ser negociados no mercado financeiro, compra
de bens e depósitos.

Os ativos sujos geralmente são colocados em circulação de maneira gradual e em


pequenas quantidades, para que não se levantem suspeitas acerca da origem do dinheiro:
técnica denominada “smurfing”.

2ª Fase – Dissimulação ou Ocultação ou Layering: é uma forma que, se seguida, dá


continuidade à 1ª fase.

Na ocultação, o objetivo é dificultar o rastreamento econômico dos ativos ilícitos já


postos no mercado e que estão em circulação.

O branqueamento dos ativos dá-se realmente nesta etapa. Adota-se uma gama de
recursos transacionais financeiros (emaranhado de ações), visando à ocultação e dificultar a
realização de investigações sobre a origem dos recursos.

Nesta fase, os criminosos se utilizam em grande parte de transações eletrônicas,


principalmente em países que guardam alto sigilo das movimentações bancárias (ex: Suíça).

Também são utilizados os serviços de:

- doleiros,

- depósitos em paraísos fiscais,

220
- empresas offshores conhecidas como “trusts” com diversos beneficiários, geralmente
estabelecidas em nome de um terceiro desconhecido.

3ª Fase – Integração ou Integration: refere-se a integrar o ativo já branqueado de


maneira formal, à economia regular, dando a impressão de ser ativo “limpo”, capitalizado de
maneira lícita.

Ex.: compra de uma empresa já existente, aquisição de empreendimento imobiliário,


pagamento de serviços de difícil mensuração.

Atenção!

STF: A lavagem de dinheiro nem sempre passa pelas três fases. Não é necessária a
ocorrência dessas três fases para que o delito esteja consumado. Basta a fase da colocação.

As fases são independentes entre si. Basta que a 1ª fase seja exercida para que se
configure a lavagem de dinheiro.

II. Bem jurídico tutelado

Algumas posições:

1ªC: é o mesmo bem jurídico violado na infração penal anterior.

2ªC: é a administração da justiça.

3ªC: é a ordem econômica.

José Baltazar Jr.: trata-se de crime pluriofensivo. O crime viola o bem jurídico tutelado
pela infração penal antecedente, a ordem econômica e a administração da justiça.

III. Sujeitos do crime

Crime comum.

Pode ser praticado pelo sujeito da infração penal antecedente.

Sujeito passivo: a coletividade, o Estado, e, secundariamente, a pessoa que sofreu o


prejuízo econômico.

IV. Tipo objetivo

221
Art. 1º da Lei 9.613/98. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta
ou indiretamente, de infração penal.

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

Trata-se de crime derivado (ou parasitário): pressupõe a existência de infração penal


anterior.

Para receber a denúncia no crime de lavagem de dinheiro, o juiz não precisa aguardar a
sentença penal condenatória transitada em julgado na infração penal antecedente.

Bastam indícios suficientes da prática de infração penal antecedente. Isto é


denominado pela doutrina de justa causa duplicada.

Infração penal antecedente: crimes e contravenções penais. Ex.: quem pratica jogo do
bicho pode cometer lavagem de dinheiro quando oculta os recursos.

É possível ainda que haja crime de lavagem de dinheiro quando o crime antecedente
tenha sido o próprio crime de lavagem de dinheiro  lavagem da lavagem ou lavagem
derivada.

Atenção! Não integram o objeto material da lavagem de dinheiro os:

• Instrumentos do crime, pois não são provenientes da infração penal

• Bens cuja posse ou detenção constitua fato ilícito (ex.: drogas, armas etc.)

Se não há ocultação e se não há dissimulação não se pode falar em lavagem de


dinheiro.

Ex.: indivíduo praticou estelionato e com o dinheiro comprou um apartamento em seu


nome ou depositou o valor em sua própria conta corrente.

V. Tipos derivados

a) Conversão em ativos lícitos

Forma derivada de se praticar a lavagem de dinheiro.

222
§1º do art. 1º. Incorre na mesma pena de reclusão, de 3 a 10 anos, e multa, quem, para
ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal
os converte em ativos lícitos.

Especial fim de agir: finalidade de ocultar ou dissimular.

Ex.: no investimento direto, o sujeito pratica lavagem de dinheiro ao injetar recursos


decorrentes de atividade ilícita em empresa lícita.

b) Condutas assemelhadas à receptação

Outras formas derivadas de se praticar a lavagem de dinheiro.

§1º, II, do art. 1º. Incorre na mesma pena de reclusão, de 3 a 10 anos, e multa, quem,
para ocultar ou para dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de
infração penal os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em
depósito, movimenta ou transfere.

Assemelha-se à receptação.

Diferença: o especial fim de agir (o sujeito pratica essa conduta para ocultar ou
dissimular a origem criminosa da infração penal).

Consumação: a partir do momento em que o sujeito tem em depósito, ainda que não
consiga dissimular ou ocultar a proveniência do crime. Crime formal.

c) Superfaturamento ou subfaturamento em importação ou exportação

§1º, III, do art. 1º. Incorre na mesma pena de reclusão, de 3 a 10 anos, e multa, quem,
para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração
penal importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.

Ex.: para lavar o dinheiro, o sujeito importa uma mercadoria que custa 1.000 dólares,
mas alega que custou 10.000 dólares, incidindo no superfaturamento, ou promove o
subfaturamento, que é a conduta de dizer que a mercadoria custou 1.000 dólares, quando,
em verdade, custou 10.000 dólares.

A relação do inciso com o caput é uma relação de especialidade, pois aqui também há a
dissimulação do valor ilícito.

223
d) Integração ou utilização de valores suspeitos em atividade econômica ou financeira

Art. 1º, § 2º, I. Incorre, ainda, na mesma pena quem utiliza, na atividade econômica ou
na atividade financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal.

É a 3ª fase (integração).

e) Associação para lavagem de capitais

Art. 1º, § 2º, II. Incorre, ainda, na mesma pena quem participa de grupo, associação ou
escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou que sua atividade secundária
é dirigida à prática de crimes de lavagem de dinheiro

Forma específica de ass. criminosa. Crime de concurso necessário

Crime autônomo em relação à lavagem, podendo o sujeito responder pelos dois crimes
em concurso material.

Comum em escritórios de contabilidade ou de advogados.

V. Concurso de crimes

Crime de lavagem de dinheiro: tipo penal misto alternativo. A pluralidade de condutas


será valorada na dosimetria da pena.

Haverá crime único quando há vários atos de lavagem de valores auferidos em apenas
uma infração penal antecedente. Ainda que haja várias lavagens de vários bens, haverá um
único crime.

Vale ressaltar! Haverá concurso material do crime de lavagem com a infração penal
anterior.

VI. Pena

Pena: de 3 a 10 anos de reclusão e multa.

José Baltazar e Victor Gonçalves: não se aplica ao crime de lavagem de dinheiro a


agravante da conexão teleológica do Código Penal (CP, art. 61, II, “b”).

Fundamento: é elementar do crime de lavagem de dinheiro que seja cometido para


assegurar a ocultação ou vantagem de infração penal anterior.

224
§ 4º do art. 1º. Aumenta-se a pena de 1/3 a 2/3 para qualquer dos crimes da Lei de
Lavagem de Capitais:

• Se o crime for cometido de forma reiterada ou

• Se o crime for cometido por intermédio de organização criminosa.

Causa de aumento da reiteração: visa a atribuir tratamento mais rigoroso ao criminoso


profissional, afastando a continuidade delitiva. Todavia, STF: aplica-se a continuidade delitiva
ao crime de lavagem de dinheiro - AP 470 (Mensalão).

José Baltazar:

• A causa de aumento da reiteração afasta a continuidade delitiva, por aplicação


do princípio da especialidade;

• A causa de aumento da organização criminosa e o crime continuado são


compatíveis entre si.

VII. Colaboração premiada

§5º do art. 1º. Se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as


autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime:

• Poderá a pena ser reduzida de 1/3 a 2/3

• Poderá a pena ser cumprida em regime aberto ou semiaberto

• O juiz poderá deixar de aplicar a pena (perdão judicial)

• O juiz poderá substituir a pena, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos

Veja!

A colaboração poderá ocorrer mesmo na execução da pena, já que a lei permite a


substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos a qualquer tempo.

VIII. Efeitos da condenação

Art. 7º. São efeitos da condenação, além dos previstos no CP:

225
• Perda, em favor da União, e dos Estados, nos casos de competência da Justiça
Estadual, de todos os bens, direitos e valores relacionados ao crime de lavagem de dinheiro,
direta ou indiretamente, inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança, ressalvado o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;

Poderá haver a perda de um produto do crime, mas também de um instrumento do


crime, ainda que seja coisa lícita. Não necessariamente deve ser ilícita, diferentemente do
CP.

Além disso, a perda de bens não será somente em benefício da União. Pode haver o
perdimento do bem em benefício do Estado, quando se tratar de crime da competência da
Justiça Estadual.

• Interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e do


cargo de diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas
jurídicas referidas no art. 9º (ex.: instituição financeira, casa de câmbio), pelo dobro do tempo
da pena privativa de liberdade aplicada.

A interdição da Lei da Lavagem é mais ampla, atingindo cargos e funções na iniciativa


privada.

Efeito genérico da condenação. Basta a menção do dispositivo legal na sentença.

 Enquanto no CP a perda do cargo ou da função se dá à época do crime, na lei de


lavagem, o sujeito fica proibido de ocupar novamente o cargo pelo dobro do tempo da pena
privativa de liberdade aplicada.

Atenção! Afastamento cautelar de servidor público

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo
de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em
decisão fundamentada, o seu retorno.

7º, §1º. A União e os Estados, no âmbito de suas competências, regulamentarão a


forma de destinação dos bens, direitos e valores cuja perda houver sido declarada,
assegurada, quanto aos processos de competência da Justiça Federal, a sua utilização pelos
órgãos federais encarregados da prevenção, do combate, da ação penal e do julgamento dos

226
crimes de lavagem de dinheiro, e, quanto aos processos de competência da Justiça Estadual,
a preferência dos órgãos locais com idêntica função.

§ 2o Os instrumentos do crime sem valor econômico cuja perda em favor da União ou


do Estado for decretada serão inutilizados ou doados a museu criminal ou a entidade pública,
se houver interesse na sua conservação.

IX. Ação penal

Pública incondicionada.

X. Competência

Justiça Estadual ou Federal.

Art. 2º, III. O processo e julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro são da
competência da Justiça Federal:

• Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-


financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas;

• Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal;

Acrescente-se a essas hipóteses a lavagem de dinheiro com caráter transnacional.

XI. Autonomia

Inciso II do art. 2º.

O processo e julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro independe do processo e


julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo
ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo
e julgamento.

 não se exige que haja a condenação pela infração anterior para que o sujeito seja
processado pelo crime de lavagem de dinheiro.

§1º do art. 2º. A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da
infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos da lavagem de dinheiro, ainda que

227
desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal
antecedente. (Teoria da acessoriedade limitada)

XII. Citação por edital

§2º do art. 2º.

No processo por crime de lavagem de dinheiro, não se aplica o disposto no art. 366 do
CPP, devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital,
prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.

XIII. Ação controlada

Art. 4º-B. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens, direitos


ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o MP, quando a sua execução imediata
puder comprometer as investigações.

Esta ação controlada exige autorização judicial

XIV. Medidas assecuratórias

Art. 4º. O juiz, de ofício, a requerimento do MP ou mediante representação do DEPOL,


ouvido o MP em 24 horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar
medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes
em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes de
lavagem de dinheiro ou das infrações penais antecedentes.

§2º. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e valores quando
comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias,
multas e custas decorrentes da infração penal.

É admitida a constrição de bens e valores do investigado que não guardam relação


com o crime.

XV. Alienação antecipada

228
§1º do art. 4º. Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens
sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando
houver dificuldade para sua manutenção.

XVI. Pedido de restituição

§ 3o Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do


acusado ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz
determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem
prejuízo da possibilidade de alienação antecipada.

O comparecimento pessoal é uma condição de procedibilidade.

XVII. Cooperação jurídica internacional

Art. 8º. O juiz determinará, nos casos de tratado ou convenção internacional e por
solicitação de autoridade estrangeira competente, medidas assecuratórias sobre bens,
direitos ou valores oriundos de crimes de lavagem de dinheiro praticados no estrangeiro.

§1º Não havendo tratado ou convenção internacional, o juiz poderá deferir a medida
assecuratória, desde que o governo do país da autoridade solicitante prometa reciprocidade
ao Brasil.

§ 2o Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos ou valores privados sujeitos a


medidas assecuratórias por solicitação de autoridade estrangeira competente ou os recursos
provenientes da sua alienação serão repartidos entre o Estado requerente e o Brasil, na
proporção de metade, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé.

XVIII. Controle administrativo

A Lei de Lavagem instituiu um sistema de controle administrativo em matéria de


lavagem de dinheiro.

A lei atribui a entidades fiscalizadoras e regulamentadoras do sistema financeiro


nacional a atribuição de regulamentar as obrigações de pessoas físicas e jurídicas sujeitas à
Lei de Lavagem de Dinheiro.

229
Ex.: Banco tem a obrigação de identificar os clientes, manter o registro das transações e
comunicar operações suspeitas.

A fiscalização é distribuída da seguinte forma:

BACEN: faz a fiscalização e controle das instituições financeiras, das instituições de


compra e venda de moeda estrangeira e das administradoras de consórcios.

Comissão de Valores Mobiliários (CVM): fiscaliza corretoras e distribuidoras de títulos


e valores mobiliários, além de fiscalizar a Bolsa de Valores e Bolsa de Mercadorias e Futuros.

PREVIC (Superintendência Nacional de Previdência Complementar): fiscaliza as


entidades fechadas de previdência privada, também chamadas de Fundos de Pensão.

SUSEP (Superintendência de Seguros Privados): fiscaliza as entidades de seguro e de


capitalização.

Diante de outra empresa que não se enquadre nessas situações, a fiscalização será
realizada pelo COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeira (competência residual),
fiscalizando empresas de cartões de crédito, factorings, empresas que realizam sorteio
imobiliário ou compra e venda de imóveis.

A lei impõe às pessoas fiscalizadas por essas entidades a obrigação de evitar, ou, ao
menos, coibir, a prática do crime de lavagem de dinheiro  compliance: ação de realizar o
procedimento de acordo com o pedido ou com o comando. É o seguimento das normas para
que as companhias não sirvam para a prática de crimes de lavagem de dinheiro.

XIX. Sanções administrativas

Se o controle administrativo não é realizado pela companhia, ela estará sujeita às


seguintes sanções administrativas:

• Advertência;

• Multa pecuniária variável não superior:

A) ao dobro do valor da operação,

B) ao dobro do lucro real obtido ou que presumivelmente seria obtido pela realização
da operação; OU

230
C) ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais);

• Inabilitação temporária, pelo prazo de até 10 anos, para o exercício do cargo de


administrador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;

• Cassação ou suspensão da autorização para o exercício de atividade, operação


ou funcionamento.

§1º. A pena de advertência será aplicada por:

• Descumprimento de identificação de seus clientes e manutenção do cadastro


atualizado;

• Descumprimento de manutenção do registro de toda transação em moeda


nacional ou estrangeira, títulos e valores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou qualquer
ativo passível de ser convertido em dinheiro, que ultrapassar limite fixado pela autoridade
competente.

§2º. A multa será aplicada sempre que as pessoas referidas no art. 9o, por culpa ou dolo:

• Deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertência, no prazo


assinalado pela autoridade competente;

• Não cumprirem:

o A identificação de seus clientes e manutenção do cadastro atualizado,


nos termos de instruções emanadas das autoridades competentes;

o A manutenção registro de toda transação em moeda nacional ou


estrangeira, títulos e valores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou qualquer ativo passível
de ser convertido em dinheiro, que ultrapassar limite fixado pela autoridade competente e
nos termos de instruções por esta expedidas;

o A adoção de políticas, procedimentos e controles internos, compatíveis


com seu porte e volume de operações, que lhes permitam atender ao disposto neste artigo e
no art. 11 (comunicação das operações financeiras), na forma disciplinada pelos órgãos
competentes;

o O cadastramento e manutenção do cadastro

231
atualizado no órgão regulador ou fiscalizador e, na falta deste, no Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na forma e condições por eles estabelecidas;

o Às requisições formuladas pelo Coaf na periodicidade, forma e condições por


ele estabelecidas, cabendo-lhe preservar, nos termos da lei, o sigilo das informações
prestadas.

• Deixarem de atender, no prazo estabelecido, a requisição formulada pelo Coaf;

• Descumprirem a vedação ou deixarem de fazer a comunicação sobre operações


financeiras.

§ 3º A inabilitação temporária será aplicada quando forem verificadas infrações graves


quanto ao cumprimento das obrigações constantes desta Lei ou quando ocorrer reincidência
específica, devidamente caracterizada em transgressões anteriormente punidas com multa.

§ 4º A cassação da autorização será aplicada nos casos de reincidência específica de


infrações anteriormente punidas com a pena de inabilitação temporária

XX. Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)

Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de


Atividades Financeiras – COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas,
receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na Lei
de Lavagem de Dinheiro, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades.

O COAF poderá requerer aos órgãos da Administração Pública as informações


cadastrais bancárias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades suspeitas.

Aqui somente haverá transferência do sigilo, sem falar em quebra de sigilo.

Art. 17-B. A autoridade policial e o MP terão acesso, exclusivamente, aos dados


cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e endereço,
independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas
telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas
administradoras de cartão de crédito.

232
O COAF é chamado de unidade financeira de inteligência. Tem atribuições para
coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca de informações financeiras que
viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos
e valores.

O COAF comunicará às autoridades competentes para a instauração dos


procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de crimes de lavagem de dinheiro,
de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito.

Art. 16. O Coaf será composto por:

Servidores públicos de reputação ilibada e reconhecida competência, designados em


ato do Ministro de Estado da Fazenda, dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do
BACEN, da CVM, da SUSEP, da PGFN, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, da ABIN, do
Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Justiça, do Departamento de Polícia
Federal, do Ministério da Previdência Social e da CGU, atendendo à indicação dos respectivos
Ministros de Estado.

§ 1º O Presidente do Conselho será nomeado pelo Presidente da República, por


indicação do Ministro de Estado da Fazenda.

§ 2o Caberá recurso das decisões do Coaf relativas às aplicações de penas


administrativas ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. (Redação dada
pela Lei nº 13.506, de 2017) *Antes era ao Ministério da Fazenda.

Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservará os dados fiscais dos
contribuintes pelo prazo mínimo de 5 anos, contado a partir do início do exercício seguinte
ao da declaração de renda respectiva ou ao do pagamento do tributo.

18. Lei de Organização Criminosa (Lei 12.850/13)

I. Conceito legal

art. 1º, §1º.

Considera-se organização criminosa a associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente


ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de

233
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou de infrações
penais que sejam de caráter transnacional.

Requisitos para organização criminosa:

• 4 ou mais pessoas

• Estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas

• Objetivo de vantagem de qualquer natureza

• Prática de infrações penais com penas máximas superiores a 4 anos ou de caráter


transnacional

Vale ressaltar! É preciso que haja estabilidade e permanência, visto se tratar de uma
organização. Não se trata apenas de um concurso de agentes, pois as pessoas se reúnem com
a finalidade criminosa.

Crime de concurso necessário.

II. Extensão da aplicabilidade da lei

§2º. Esta Lei de Organização Criminosa se aplica também:

• Às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando,


iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

• Às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática


dos atos de terrorismo legalmente definidos.

Aula 12. Organização criminosa (continuação).

III. Tipos penais

a) Tipo básico da organização criminosa

Art. 2º. Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta


pessoa, organização criminosa.

234
Pena: reclusão, de 3 a 8 anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às
demais infrações penais praticadas.

Bem jurídico tutelado: a paz pública. Secundariamente, os bens jurídicos relacionados


às práticas criminosas que a organização empreenderá.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: a coletividade (bem jurídico: a paz pública)

Crime formal. Consuma-se com a prática de qualquer das condutas enunciadas no art.
2º, sem necessidade de resultado naturalístico.

b) Agravante

§ 3o A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da


organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. Aplicação da
teoria do domínio do fato.

c) Causas de aumento de pena

§ 2o As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa


houver emprego de arma de fogo.

Parcela da doutrina: se o sujeito participa de organização criminosa e detém arma de


fogo, receberá o aumento de pena de metade e não responderá pelo crime autônomo de
porte ilegal de arma de fogo.

§4º. A pena será aumentada de 1/6 a 2/3:

• Se há participação de criança ou adolescente: o sujeito, neste caso, não


responderá pelo crime de corrupção de menores (art. 244 do ECA);

• Se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa


dessa condição para a prática de infração penal;

• Se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte,


ao exterior;

235
• Se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações
criminosas independentes;

• Se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.

d) Afastamento cautelar do funcionário público do cargo, emprego ou função

Art. 2º. § 5o.

Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização


criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função,
sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou
instrução processual.

Essa medida também está prevista no art. 319, VI, do CPP, pressupondo o binômio:

• Periculum in mora; e

• Fumus boni iuris.

O afastamento pode ser decretado em qualquer fase da persecução penal (IP ou


processo).

e) Perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo

§6º. A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público:

• Perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo; e

• Interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 anos


subsequentes ao cumprimento da pena.

Efeito extrapenal da sentença condenatória definitiva.

Diferentemente do art. 92 do CP, a Lei de ORCRIM repetiu o espírito da Lei de Tortura,


em que a perda do cago, emprego ou função é automática.

No que tange ao mandato eletivo, a doutrina e a jurisprudência discutem se a questão


é matéria interna corporis do Congresso Nacional ou não.

f) Participação de policial em organização criminosa

236
§7º. Se houver indícios de participação de policial nos crimes de organização criminosa,
a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público,
que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.

-Objetivo: garantir a eficiência da investigação policial, impedindo omissões


decorrentes de corporativismo.

-Desdobramento lógico do controle externo da Polícia exercido pelo MP(art. 129, VII,
da CF).

A atuação da Corregedoria da Polícia, acompanhada pelo Ministério Público, não


impede o Promotor ou Procurador de conduzir a investigação.

g) Embaraço de investigação

§1º do art. 2º. Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma,
embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

e) Revelação da identidade ou imagem do agente colaborador

Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia
autorização por escrito:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

-Objetivo: manter o sigilo sobre a identidade do colaborador

-Sujeito ativo: qualquer pessoa.

-Consumação: com a revelação da identidade do colaborador. Crime de mera conduta.

h) Falsa colaboração

O colaborador tem o dever de falar a verdade, abrindo mão do seu direito ao silêncio.

Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de
infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de
organização criminosa que sabe inverídicas:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

237
O crime somente admite o dolo direto.

Sujeito ativo: crime próprio. Somente quem está fazendo a colaboração premiada
pode praticar o crime.

Consumação: com a imputação da falsidade criminosa a outra pessoa ou da prestação


de informação falsa sobre a estrutura da organização criminosa.

Não exige resultado naturalístico. Crime formal.

Mesmo que o agente realize a imputação falsa de infração penal a outra pessoa e o MP
ou Delegado não instaure o procedimento para verificar a procedência das informações, o
crime estará consumado.

i) Violação de sigilo de ação controlada ou infiltração

Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação
controlada e a infiltração de agentes:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

A ação controlada e a infiltração de agentes exigem sigilo.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Consumação: quando há violação do dever de sigilo, independentemente de qualquer


outro resultado. Crime de mera conduta.

j) Recursa ou omissão de dados cadastrais, registros, documentos ou informações

Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações


requisitadas pelo juiz, MP ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Forma especial de desobediência.

Crime comum.

Consumação: quando há a recusa da prestação da informação ou da omissão na


prestação de informação, ainda que a autoridade consiga as informações por outras vias.

238
k) Uso indevido de dados cadastrais

Parágrafo único. Na mesma pena (reclusão, de 6 meses a 2 anos, e multa) incorre


quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de
que trata esta Lei.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Consumação: com a prática de qualquer das condutas previstas neste dispositivo, desde
que se dê de modo indevido.

IV. Investigação e meios de obtenção de prova

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de


outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

I - colaboração premiada;

II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;

III - ação controlada;

IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais


constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação


específica;

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação


específica;

VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;

VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais


na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.

§ 1o Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a capacidade


investigatória, poderá ser dispensada licitação para contratação de serviços técnicos
especializados, aquisição ou locação de equipamentos destinados à polícia judiciária para o

239
rastreamento e obtenção de provas por meio de captação ambiental e interceptação
telefônica e telemática.

§2º. No caso do §1º, também ficará dispensada a publicação resumida do instrumento


de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, devendo ser comunicado o órgão
de controle interno da realização da contratação.

a) Colaboração premiada

Caráter de justiça negociada (ajuste que vincula as partes). É a chamada conformidade


no processo penal.

Art. 4º, §14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador:

1. renunciará ao direito ao silêncio

2. estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

A “renúncia” se dará na presença de seu defensor.

i. Requisitos para celebração da colaboração premiada

Art. 4º. O juiz poderá, a requerimento das partes:

• Conceder o perdão judicial

• Reduzir em até 2/3 a pena privativa de liberdade ou

• Substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos

Para tanto, será necessário que o agente tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e com o processo criminal.

É imprescindível que desta colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

• Identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das


infrações penais por eles praticadas;

• Revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização


criminosa;

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• Prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização
criminosa;

• Recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais


praticadas pela organização criminosa;

• Localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Naturalmente: exige-se a confissão do agente, a fim de que seja beneficiado.

É necessário que o agente colabore efetivamente com a investigação e o processo. Não


basta que o sujeito traga informações que as instituições já tenham. É preciso que traga
informações desconhecidas.

§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do


colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato
criminoso e a eficácia da colaboração.

Ademais, é preciso que haja elementos de confirmação das declarações prestadas pelo
colaborador.

ii. Momento para celebração do acordo de colaboração premiada

A Lei não limita a colaboração premiada à fase investigativa.

§5º do art. 4º. Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá

• Ser reduzida até a metade ou

• Ser admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos


objetivos.

Logo, é possível a colaboração premiada após a sentença.

iii. Extensão da colaboração premiada

Os benefícios da colaboração premiada poderão ser:

• Perdão judicial

• Redução em até 2/3 a pena privativa de liberdade

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• Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos

• Redução da pena em até a 1/2, quando posterior à sentença

• Progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos, quando se


der após a sentença

Critério decisivo para determinar qual será o benefício e a quantificação: a eficácia da


colaboração do agente.

Secundariamente, será considerada personalidade do colaborador, a natureza, as


circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da
colaboração.

iv. Vinculação da colaboração premiada

O acordo de colaboração vincula as partes.

O acordo ocorrerá entre o DEPOL, o investigado e o defensor, com a manifestação do


MP, ou, conforme o caso, entre o MP e o investigado ou acusado e seu defensor.

§ 6o O juiz não participará das negociações

O juiz se vinculará ao acordo de colaboração premiada quando homologá-lo.

Quando o juiz prolatar a sentença, estará vinculado ao acordo homologado


anteriormente por ele.

v. Direitos do colaborador

Art. 5º, são direitos do colaborador:

• Usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica;

• Ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;

• Ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;

• Participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;

• Não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser
fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito;

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• Cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou
condenados.

A Lei 12.850/13 prevê como crime violar os direitos do colaborador.

 É ainda possível que haja a retificação do registro civil para alteração do nome do
colaborador, conforme o art. 9º da Lei 9.807/99 (Lei de Proteção às Vítimas e Testemunhas).

vi. Deveres do colaborador

Embora o colaborador possa retratar-se da colaboração premiada, terá o colaborador


o:

• Dever de dizer a verdade: a modificação ou retratação da sua declaração


implicará perda do benefício ou da condição de colaborador.

• Dever de adotar comportamento adequado às medidas de proteção: dever de


evitar riscos desnecessários. Do contrário, poderá perder os benefícios recebidos.

v. Procedimento da colaboração premiada

A colaboração tem caráter negocial (§6º do art. 4º).

O juiz não participará das negociações.

As negociações da colaboração premiada ocorrerão entre:

• DEPOL, o investigado e o defensor, com a manifestação do MP; ou

• MP e o investigado ou acusado e seu defensor.

§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o MP, a qualquer tempo, e o


DEPOL, nos autos do IP, com a manifestação do MP, poderão requerer ou representar ao juiz
pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido
previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do CPP.

§3º. Prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador:


poderá ser suspenso por até 6 meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam
cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

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§7º. Após a realização do acordo, o respectivo termo será remetido ao juiz para
homologação, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação.
Neste momento, o juiz deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade,
podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.

As partes podem se retratar da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias


produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.

Se o juiz se valer das informações prestadas pelo colaborador, não poderá condená-lo
por meio delas, devendo valer-se de outras provas.

§12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador
poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade
judicial.

§8º. O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos
legais, ou adequá-la ao caso concreto.

Ex.: caso o juiz entenda que o benefício proposto é exagerado, ou que o benefício é
insuficiente, poderá promover a adequação.

 Victor Gonçalves e José Baltazar: o juiz deverá remeter os autos às partes para que
haja uma adequação da proposta. Caso o MP, o defensor e o acusado insistam nos termos do
acordo, o juiz poderá aplicar por analogia o art. 28 do CPP.

§ 9o. Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado


pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do MP ou pelo DEPOL responsável pelas
investigações.

§4º do art. 4º  Possibilidade do acordo de colaboração premiada resultar no não


oferecimento da denúncia.

§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o MP poderá deixar de oferecer denúncia se o


colaborador:

I - não for o líder da organização criminosa;

II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.

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Vale ressaltar! §16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento
apenas nas declarações de agente colaborador.

vi. Assistência de advogado

art. 4º, §15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração,


o colaborador deverá estar assistido por defensor. Paridade de armas.

vii. Registro dos atos

§13. Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou
recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,
destinados a obter maior fidelidade das informações.

O acordo de colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter:

• Relato da colaboração e seus possíveis resultados;

• Condições da proposta do MP ou do DEPOL;

• Declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;

• Assinaturas do representante do MP ou do DEPOL, do colaborador e de seu


defensor;

• Especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando


necessário.

viii. Sigilo do procedimento

Art. 7º.

O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas


informações que não possam identificar o colaborador e o objeto da colaboração.

§1ºAs informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao juiz


a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 horas.

§2º O acesso aos autos durante o momento do acordo de colaboração premiada será
restrito ao juiz, ao MP e ao DEPOL, como forma de garantir o êxito das investigações.

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Assegura-se ao Defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de
autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.

 Não há violação ao contraditório, pois, uma vez encerradas as diligências


investigatórios, o defensor terá acesso pleno a elas. Contraditório diferido.

§3º. O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a
denúncia.

b) Gravação ambiental

É uma forma de obtenção de prova.

A Lei prevê a possibilidade de captação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos e


acústicos, podendo captar tanto aspectos visuais, de sons ou eletromagnéticos, a fim de obter
provas acerca de uma organização criminosa.

Perceba: a Lei de Organização Criminosa não exige autorização judicial para fins de
gravação ambiental.

A captação ambiental exigirá autorização judicial quando para captar ou fazer a


gravação ambiental estiverem em jogo os direitos fundamentais do indivíduo ligados à
privacidade, intimidade ou à inviolabilidade do domicílio. Nesse caso, há necessidade de
autorização judicial para fazer a gravação ambiental.

Será dispensada a autorização ambiental quando:

• A gravação estiver sendo feita por um dos interlocutores que grava a conversa;

• A filmagem é realizada na via pública, visto que não há domicílio, intimidade ou


privacidade colocada em risco;

• A filmagem é realizada no imóvel por uma pessoa que habita o imóvel, pois não
há falar em violação de domicílio.

c) Ação controlada

Art. 8º. A ação controlada consiste em retardar a intervenção policial ou intervenção


administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde

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que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no
momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.

§1º. O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente


comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará
ao MP.

Maioria da doutrina: basta a mera comunicação ao juiz, não sendo necessária


autorização.

§2º. A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações


que possam indicar a operação a ser efetuada.

§ 3o Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao MP


e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.

§ 4o Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação


controlada.

A ação controla implica relativização do dever de atuação imediata do agente policial


em caso de flagrante delito.

Art. 9º.

Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da


intervenção policial ou intervenção administrativa somente poderá ocorrer com a
cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do
investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento
ou proveito do crime.

Art. 15. O DEPOL e o MP terão acesso, independentemente de autorização judicial,


apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação
pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas,
instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito.

Art. 16. As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5 anos, acesso direto e
permanente do juiz, do MP ou do DEPOL aos bancos de dados de reservas e registro de
viagens.

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e) Relações de chamadas

Art. 17.

As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 anos, à


disposição do juiz, do MP ou do DEPOL, registros de identificação dos números dos terminais
de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais.

e) Infiltração de agentes

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação poderá se dar por
meio de representação do DEPOL ou por meio de requerimento do MP, após manifestação
técnica do DEPOL quando solicitada no curso de IP, será precedida de circunstanciada,
motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.

§1º. Havendo representação do Delegado de Polícia, o juiz, antes de decidir, deverá


ouvir o Ministério Público.

i. Requisitos da infiltração de agentes

A infiltração de agentes será admitida quando:

• Houver indícios de infração penal de ORCRIM

• A prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis

ii. Prazo da infiltração

§3º. A infiltração de agentes será autorizada pelo prazo de até 6 meses, sem prejuízo
de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.

iii. Controle

Art. 10, §4º. Findo o prazo da infiltração de agentes, será apresentado o relatório
circunstanciado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o MP.

§ 5o No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus


agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de
infiltração.

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§2º do art. 12. Os autos contendo as informações da operação de infiltração
acompanharão a denúncia do MP, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a
preservação da identidade do agente.

Ou seja: a defesa saberá que havia um agente infiltrado, saberá quais foram os
resultados da investigação, exercerá a ampla defesa, mas não saberá qual é a sua identidade.

12, §3º. Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a
operação será suspensa por ordem do MP, por meio de requisição, ou por ordem do
Delegado de Polícia, caso em que cientificará imediatamente o Ministério Público e a
autoridade judicial.

iv. Sigilo

Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter
informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será
infiltrado.

O requerimento do MP ou a representação do DEPOL para a infiltração de agentes


conterá a demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e,
quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração.

§1º. As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas


diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 horas, após manifestação do
MP na hipótese de representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas
necessárias para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado.

v. Imunidade do agente infiltrado

Art. 13, parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo
agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa. Excludente de
culpabilidade

No entanto:

Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a
finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados.

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vi. Direitos do agente infiltrado

Art. 14. São direitos do agente:

• Recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;

• Ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9º


da Lei no 9.807/99, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;

• Ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações
pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão
judicial em contrário;

Não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.

A atuação de infiltrado pressupõe sua voluntariedade.

Quando se diz que o agente poderá ter sua identidade alterada, a lei assume uma
dupla finalidade:

- Primeiro: a lei autoriza que o agente faça uso de documento e de nome falsos, a fim
de infiltrar-se.

- Segundo: a lei autoriza que, se houver a revelação de seus dados, ele possa realmente
modificar o seu nome.

O agente infiltrado não está sujeito ao dever de depor como testemunha, salvo
determinação judicial em contrário.

V. Regras processuais

a) Procedimento e prazo para encerramento da instrução criminal

Art. 22. Os crimes previstos na Lei de Organização Criminosa e as infrações penais


conexas serão apurados mediante procedimento ordinário do Código de Processo Penal.

§ único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não
poderá exceder a 120 dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual período
(por mais até 120 dias), por decisão fundamentada, devidamente motivada, caso a causa seja

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complexa, ou se a defesa estiver abusando do seu direito, gerando fato procrastinatório
atribuível ao réu.

b) Segredo de justiça

Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências investigatórias,
assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de
autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.

c) Prazo de vista de interrogatório

Art. 23, parágrafo único.

Determinado o depoimento do investigado, seu defensor terá assegurada a prévia


vista dos autos, ainda que classificados como sigilosos, no prazo mínimo de 3 dias que
antecedem ao ato do interrogatório, podendo ser ampliado, a critério da autoridade
responsável pela investigação.

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