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O DESERTO NAS EPÍSTOLAS DE SÃO JERÔNIMO

Eduardo Silva Leite1

O século IV, mais precisamente a segunda metade fez parte de um contexto


maior, um período de grandes transformações, pois é assim que entendemos ter sido
toda a antiguidade tardia. A antiguidade tardia, cuja abrangência compreende o século
IV configura-se como um período de profundas transformações estruturais na sociedade
romana (CRUZ, 1997, fl 110). Essas transformações podem ser vistas, sobretudo na
mudança e adaptação que a aristocracia romana soubera realizar a fim de dar
continuidade a seu valor cultural. Durante as transformações do império romano, a
sociedade clássica teve suas bases que, em grande medida foram estabelecidas sobre a
tradição, o privilégio, e a insuficiência das instituições antigas, abaladas e estavam
sendo revistas pelo cristianismo.

Munidos de doutrinas de impacto social como a do pecado, da disciplina, do


inferno, entre outras, nos finais do IV século, o poder do discurso cristão ascético sobre
a sociedade foi além de algumas pretensões e tensões que trazia estoicismo há tempos.
O poder do discurso cristão, sobretudo dos anacoretas não teve êxitos somente pela
extraordinária elaboração. Estando em posição privilegiada em relação aos demais
intelectuais cristãos, em virtude do processo histórico cultural que o império sofreu
desde o III século, os bispos cristãos com seus discursos cobriram os espaços de sociais
e puderam dar novos significados a eles.

Assim, o deserto, um lugar que não há civilização passou também a significar um


lugar não somente de protesto, mas uma espécie de estágio para santificação, um lugar
para purificação do homem e da mulher de Deus. Tornou-se com o tempo um lugar de
desprendimento do mundo e uma escola para o autoconhecimento onde homens e
mulheres ao entrarem ali nunca mais seriam os mesmos. O deserto passou a ser o
espelho da alma, o local de encontrar com a verdadeira natureza humana e com o tempo
transformou-se, sobretudo onde eremitas mantinham suas vidas, em rotas de

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Doutorando em Historia pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT,
profeduardoleite@gmail.com.
peregrinações, lugar de culto e veneração. O deserto foi atravessado por centenas de
pessoas em busca da verdade, da espiritualidade, e de outros problemas a resolver. Essa
construção do deserto foi possível graças às investidas dos Pais da Igreja gregos e
latinos.
Nos finais do IV século as vozes que concorriam para aliciarem pessoas ao
cristianismo foram ouvidas com maior evidência desde o deserto. É dentro desse
contexto que Jerônimo está inserido. Para nós, ele é um grande propagador do
cristianismo ascético nos finais do IV século. O propulsor de seu empreendimento e ao
mesmo tempo aquele que lhe identifica como autoridade é o Deserto. Assim, não
medirá esforços para flertar com tal espaço representativo.

Aspecto social da aristocracia de Roma no IV século

O Senado, lugar da revelação de poder da aristocracia romana ou apenas um dos


espaços de ação de uma camada social aristocrática, esteve durante os últimos anos do
III século, em considerável declínio frente aos militares que ascendiam ao poder sem ao
menos necessitarem de apoio senatorial. Como reação, este grupo aristocrático
conservará sua riqueza e alguns a farão crescer (em virtude de instabilidade política e
econômica que favorecia a concentração fundiária). É assim que nos últimos anos do
século III, o senado (e a aristocracia) revela-se como o mantenedor da tradição, um
guardião conservador pálido que percorre as carreiras nas magistraturas tradicionais do
Império (CRUZ, 1997, fl.118).

Contudo, a ascensão do imperador Constantino, no início do IV século provocou


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outras mudanças que possibilitaram que os eqüestres e senadores dividissem os
mesmos espaços. O senado passa a ter um aumento significativo no efetivo. Os novos

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“Os eqüestres, ou cavaleiros, eram aqueles que, originalmente, tinham posses suficientes para serem
cavaleiros do exército e, mais tarde, eram os que tinham certa renda mínima, muitas vezes comerciantes
e, em geral, eles não se ocupavam diretamente da política, mas mantinham relações estreitas com os
nobres”. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002. p.59. “De acordo com
estesistema, os cavaleiros eram recrutados entre aqueles quepossuíam o censo mais elevado,
constituindoassim a primeira classe censitária. Este eraum recrutamento plutocrático e aristocrático, pois
eramescolhidos não somente osmais ricos, mas também os melhores, o que explica as características da
ordemequestre (NICOLET, 1974, p. 15-16). Ela era plutocrática, porque a escolha dos seus membros
erafeitacom base no censo; e era aristocrática porque, inicialmente, a cavalaria erarecrutada nas
famíliasaristocráticas ligadas à monarquia, [...]”. SOUZA, Alice Maria de. O processo de diferenciação
das ordens senatorial e equestre no fim da República romana. Romanitas – Revista de Estudos
Grecolatinos. n. 4, p. 156-170, 2014. ISSN: 2318-9304
senadores são oriundos principalmente da ordem dos do grupo equestre. Os membros da
ordem senatorial voltam a ocupar os altos cargos da administração vinculados à
monarquia constantiniana. Nesse sentido, uma reviravolta ocorre a favor da aristocracia
tradicional romana. Essas mudanças permitem um retorno do mais alto prestígio que
tradicionalmente caracterizava esse grupo social, isso porque os equestres também
foram adicionados ao senado garantindo que todos para chegarem a níveis de alto poder
político e social venha do senado.
Em Roma, cidade em que residia uma parcela importante dessa elite, as famílias
que se destacavam pelo prestígio e riqueza e que influenciavam a Assembleia senatorial
em suas decisões, hegemonicamente são os Anicii, os Ceionii, os Valerii, a dos Petronii,
dos Simachii e dos Nicomachii (IBID, fl.129). Essas famílias de seus mosmaiorum ou a
cultura (cultura em nossos termos) de seus ancestrais, um exemplo é o caso de Paula,
que São Jerônimo diz descender dos Gracos e Cipiões (JONES, A. H. M;
MARTINDALE, J., 1963, p.675). Isso também significa que essas elites lutaram para
manterem o que entendiam ser a tradição e a cultura da aristocracia senatorial romana
na medida em que isso lhes dizia serem herdeiros das virtudes romanas antigas (CRUZ,
1997, fl.129).
É interessante notarmos como o cristianismo pode introduzir-se nesse grupo
social de Roma. A historiografia percebe que o cristianismo desde os tempos de Paulo e
Pedro havia encontrado guarida nos corações de alguns poucos aristocratas de Roma
(IBID, fl.152). Mas é no século IV que podemos, por assim dizer que em todas as
camadas sociais existiam cristãos, mas na aristocracia e em sua face senatorial o
cristianismo teve grandes dificuldades. Mesmo com a vinda de alguns aristocratas para
o cristianismo, processo que se iniciou seguramente no século II, em Roma no século
IV as elites cederão ao cristianismo na medida em que este fosse capaz de unir os
valores cristãos aos romanos.

A cristianização da aristocracia de Roma

Essa mensagem evangélica do tipo que dialogue com esses grupos aristocráticos
vinha sendo difundida desde o século II (LEITE, 2014, p.49). Contudo, o século III
marca “uma época em que muitos personagens surpreendentes aderiram ao
Cristianismo” (BROWN, 1999, p.43). Os intelectuais cristãos estavam muito mais
adaptados às novas conjunturas sociais.
Esses novos intelectuais cristãos com seus discursos voltados para o ideal
aristocrático de vida permitiram que o cristianismo acessasse às novas figuras do poder.
É assim que podemos, de forma significativa, perceber a conversão de famílias nobres
de Roma, ao cristianismo. Famílias como a do futuro imperador Teodósio, tornaram-se
cristã no IV século. Como o pai prefeito do pretório em Tréveris, a família do futuro
santo Ambrósio de Milão, se converte ao cristianismo também no mesmo século. Em
Roma, Furius Maecius Gracchus ao assumir a prefeitura em 376 é batizado e toma
medidas anti pagãs (CRUZ, 1997, fl. 165). Nos anos finais do IV século, um casal de
nobres, moradores do palácio familiar dos Valerii - uma família que possuía uma das
maiores fortunas em Roma - abraçou a vida ascética e distribuíram seus bens aos
pobres. Esse processo foi possível pelo fato de haver já no século III cristãos de alto
nível intelectual dialogando com uma mensagem ao nível desse grupo. Um exemplo
desse alcance está na carta de Jerônimo, no IV século, dirigida a filha menor de Paula, a
nobre Eustoquia, senador Pammaquio, o bispo de Roma Dámaso (JERÔNIMO,
epistolário I).
Uma grande evidência de que em Roma nos finais do século IV o cristianismo
havia alcançado a aristocracia é a existência do “Círculo do Aventino”. Localizado
sobre o monte Aventino, uma das sete colinas da cidade Eterna, o palácio de uma
patrícia cristã chamada Albina irmã do pontífice romano Albino fora aproveitado para
ser um lugar dedicado a vida casta (VIZMANO, 1949, p.531). O Aventino destacava-se
por dois fatores: era constituído por nobres mulheres romanas e a experiência cristã ali
vivida era de natureza ascética erudita (CRUZ,1997, fl.167). Esse grupo era liderado
pela nobre filha de Albina, Marcela, mulher que “fue la primera dama romana que e
non golpe de audacia revisto los costumbres y la túnica despreciada del estado
monástico. Su decisión produjo un verdadero escándalo” (VIZMANO, 1949, p.534).

São Jerônimo e as mulheres do Aventino

Esse grupo ascético feminino romano se caracterizou pelos rigores ali


empreendidos para atingirem um ideal cristão, jeronimiano sobre tudo. Segundo Serrato
(1993, p.77) essas mulheres foram orientadas em boa medida por monges orientais e
exortações patrísticas. São Jerônimo, por sua estadia em Roma foi um dos guias e
promovedores do ascetismo feminino, especialmente do Aventino. Ele fora o guia
espiritual e mestre escriturário de um grupo de matronas da mais alta nobreza da cidade
de Roma, as quais devido ao grande nível de espiritualidade praticavam o retiro e
austeridade no interior do palácio do Aventino.

As reuniões cristãs entre monges e mulheres ascéticas em lares de nobres


romanas parecem-nos algo praticado com certa frequência, inclusive foi alvo de crítica
de Jerônimo na epístola 22.6,28 a Eustóquia. Para o monge isso não era seguro e o nível
intelectual e moral desses monges que se reuniam com aquelas mulheres, não era
confiável. Significa também que além do “Círculo do Aventino” havia outros lugares
que concorriam na mesma direção. É também sabido que não fora apenas Jerônimo que
mantivera contato com o Aventino. Contudo, é ele que em sua breve estadia em Roma e
até à hora de sua morte lutará para dar manutenção ao cristianismo ascético feminino
em Roma com maior direcionamento para o Aventino e na casa de Paula.

O Deserto e as mulheres de São Jerônimo

Um fator chave para compreendermos a relação que se estabelece e que


Jerônimo mantinha com seus e suas correspondentes é a imagem do Deserto. Sabemos
que São Jerônimo foi um dos grandes promovedores da fé cristã, sobretudo entre a
aristocracia romana de seu tempo. Também sabemos que ele foi mais um guia espiritual
do que apenas um professor dessas mulheres. Das cento e vinte e cinco cartas que
escreveu, cinquenta são endereçadas à elite romana. Além disso, das cinquenta cartas
endereçadas à elite romana, trinta e três são encaminhadas às mulheres, especialmente
as do Aventino.

O Deserto, a escola da alma, o lugar do maravilho, do angélico, do sobrenatural,


nas epístolas de São Jerônimo não guarda apenas a solidão uma hora outra perturbada
pelo diabo e criaturas ferozes que se misturam a figura do bárbaro. Este lugar ocupa,
também no imaginário social do IV século, sobretudo entre os cristãos, um espaço
privilegiado: a escola de formação do homem de Deus (SOTOMAYOR, 2003, p.645).
Um lugar não somente de barbárie, mas uma espécie de estágio para santificação, um
lugar para purificação do homem e da mulher.

Se era um lugar de despojamento, um espaço de desapego e de


substituição de valores, também aparecia como um espaço de
aprendizagem e de autoconhecimento para as mulheres e
homens que se atreviam a atravessá-lo. O deserto como mestre
daquilo que era essencialmente humano, tornava-se aos poucos
um propício endereçamento para a contemplação, uma
referência para centros de peregrinações, lugar de culto e aonde
se podia descobrir e exercitar uma espiritualidade individual. A
construção da imagem-símbolo do desdobramento do deserto,
instituídos e chamados eremitérios, monastérios, lavras, foram
ganhando força e legitimação graças às investidas, organização,
regramento e discursos dos Pais da Igreja (também conhecidos
como “Padres da Igreja” ou “Santos Padres”, em sua grande
maioria Bispos), primeiramente gregos, depois latinos
(TAMANINI, 2016, 181).

Na rota traçada desde Antão, ninguém alçará aos altos níveis espirituais sem
viver o deserto. Mas não era simples, “todo aspirante a solitário não o obterá sem antes
passar por preparações prévias e se acostumar com seu ambiente, aprendendo, por
exemplo, discernir o ‘bem’ e o ‘mal’ que nesse se estabelece” (AMARAL, 2009, p.208).
Foi assim com Antão, segundo Atanásio (Vida de Antão) o santo monge não foi direto
para o deserto, antes se instalou em volta da cidade de seu povo, depois de passar por
algumas tentações se retiraria para um sepulcro. Ali foi açoitado por demônios que o
deixara quase morto. Contudo, “de novo o Senhor não se esqueceu de Antão em sua
luta, mas veio ajudá-lo. Pois quando olhou para cima, viu como se o teto se abrisse e um
raio de luz baixasse até ele. Foram-se os demônios de repente, cessou-lhe a dor do
corpo, e o edifício estava restaurado como antes” (Vida de Antão). Aliviado pelo
socorro, pergunta:

"onde estavas tu? Por que não aparecestes no começo para deter
minhas dores?" E uma voz lhe falou: "Antão, eu estava aqui, mas
esperava ver-te enquanto agias. E agora, porque agüentaste sem te
renderes, serei sempre teu auxílio e te tornarei famoso em toda parte".
Ouvindo isto, levantou-se e orou: e ficou tão fortalecido que sentiu seu
corpo mais vigoroso que antes (Ibidem).
Até chegar a montanha, lugar aonde chegaria ao ápice da vida espiritual, Antão
foi aos poucos entrando no deserto. Depois de vinte anos de vida ascética na montanha
ele resolve voltar ao público.

Antão saiu como de um santuário, como um iniciado nos sagrados


mistérios e cheio do Espírito de Deus [...]. O estado de sua alma era
puro, pois não estava nem retraído pela aflição, nem dissipado pela
alegria, nem dominado pela distração ou pelo desalento. Não se
desconcertou ao ver a multidão nem se orgulhou quando viu tantos
que o recebiam. Mantinha-se completamente controlado, como
homem guiado pela razão e com grande equilíbrio de caráter (ibidem).

A caminhada para a perfeição, para o retorno ao estado perdido no Éden seguia


os passos daqueles, cujas narrações faziam ecoar suas histórias nas celas ou quartos dos
e das pessoas voltadas para tamanha glória. A caminhada ascética projetava os
indivíduos para o conflito já antecipado pelas hagiografias, pelas vidas dos homens e
mulheres que lá chegaram. Era certo, no deserto habita Deus e o Diabo, a santidade e a
tentação, anjos e demônios.

Em seu epistolário Jerônimo não deixa dúvida, “Oh deserto em que nascem as
flores de Cristo!” (JERÔNIMO, ep. 14). Ele havia sentido o deserto e expõe sua
credencial a todos que precisam saber quem é ele. Jerônimo esteve no deserto de Cálcis,
muito provavelmente no ano 375 d.C. “Este periodo de su vida, de apenas tres años de
duración, se convertirá en la imagen más representada de san Jerónimo después del
concilio de Trento en los países europeos del sur, dando lugar a un anacronismo, y a
múltiples variantes del san Jerónimo semidesnudo ante Dios disciplinándose, leyendo,
orando o escribiendo” (PENNA, 1952, p.32).

Do deserto, Jerônimo correspondeu com seus amigos e, principalmente, com o


líder da igreja romana, o bipo Dâmaso. Em seu epistolário (1962) temos as primeiras
dezoito cartas como que sendo escritas desde o deserto de Cálcis, conhecidas como
cartas de amizade. Essas correspondências, possivelmente proporcionaram a publicação
de seus dias no deserto, autenticando e, ao mesmo tempo construindo sua nova
identidade.
Nos interessa entender a representação que faz do deserto, a princípio nessas
epístolas. Na epístola 6 a Juliano, diácono de Aquleya escrita por volta do ano 375 d.C.,
o deserto é apresentado como lugar onde não se sabe nada sobre Roma e nem mesmo se
ela ainda existe. (JERÔNIMO, ep. 6.2). A Cromacio, Jovino e Eusébio, por volta do ano
376 d.C. ele reclama a falta de comunicação com estes amigos, pois alí no deserto
“yasgo en el sepulcro de mis culpas y estoy atado por los lazos de mis pecados, aguardo
el grito del Señor em el Evangelio: ‘Jerónimo, sal fuera’” (Ibidem, ep. 7.3).

Nesta “escola” da alma, ou aprende-se “una lengua bárbara a medio formar, o


hay que callarse” (Ibidem, ep. 7.2). Alí é o lugar entre a Síria e a barbárie; onde só se
produz erva daninha (Id, ep. 15.2). Sem Deus os demônios te matam. Com Deus o
sofrimento é necessário para o crescimento, como que ressoando a Paulo “Não veio
sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do
que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (I
Co. 10.13). Este deserto é apresentado como perigoso, sombrio, onde o barbarus habita.
Contudo, a santidade, a espiritualidade só se alcança se por alí passarmos. É nesse tom
que a epístola 14 a Heliodoro, o monge, escrita entre os 376-377 d.C. foi escrita.

Está carta circulou e foi conhecida por Fabiola (ep.77) e Neponoceno (ep.52)
Jerônimo diz que o deserto é local de despojamento, local onde o pobre é rico em
Cristo. “[…] Aquí hay una costa de bárbaros; allí el diablo corsario, con su cuadrilla,
lleva ya las cadenas que ha de echar a los cautivos. […] dentro está encerrado el peligro,
dentro está el enemigo […]” (Jerônimo, ep. 14.6). Se o deserto é demoníaco, ao mesmo
tempo é maravilhoso:

¡Oh desierto en que brotan las flores de Cristo! ¡Oh soledad en que se
crían aquellas piedras de que, en Apocalipsis, se construye la ciudad
del grand rey! (Apoc 21.18-21). ¡Oh yermo que goza de la
familiaridad de Dios! ¿Qué haces, hermano, em el siglo, tú que eres
mayor que el mundo? ¿Hasta cuándo te oprimirán las sombras de un
techo? ¿ Hasta cuándo te encerrará la cárcel ahumada de esas
ciudades? Créeme, veo aquí no sé qué de más luminoso. […]. ¿Temes
la pobreza? Pues Cristo llama bienaventurados a los pobres. ¿Te
espanta o trabajo? Pues ningún atleta es coronado sin sudores. ¿Te
preocupa la comida? ¡La fe no siente el hambre! ¿Tienes miedo de
estrellar sobre la dura tierra tus miembros extenuados por el ayunos?
Pues a tu lado se acuesta el Señor. ¿Te horroriza la descuidada
cabellera de una cabeza escuálida? Pues tu cabeza es Cristo. ¿ Te
aterra la extensión sin límites del yermo? Pues paseáte en espíritu por
el paraís. (JERÔNIMO, EP. 14.10)

Jerônimo se encaixa no típico cristão intelectual capaz de ensinar a vida perfeita.


Nesse sentido, ajuda as mulheres a construirem a possibilidade de haver grupo feminino
ascético fora dos quadros cenobíticos e monásticos tradicioanais. Orientadas pelo
monge belemita, essas mulheres vivíam sem regras gerais e claras como em monastérios
e aos seus modos procuravam reproduzir uma vida do deserto na cidade.

Talvez a epístola 24 a Marcela sobre a vida de Asela represente melhor como o


deserto ajudou no recrutamento e na consolidação das identidades das mulheres do
Aventino. Asela, por seu esforço havia condenado o mundo (24.3). Asela é apresentada
como alguém que preferia a solidão que a companhia, habitava no secreto da solidão e
jamais se apresentou em público. Nem mesmo a sua irmã virgem não a via, somente a
amava. Asela “sana siempre de cuerpo y más de alma, tuvo la soledad por sus delicias y,
en la urbe turbulenta, supo hallar el yermo de los monjes” (Ibidem, ep. 24.4)

Conclusão

Embora a aristocracia romana estivesse lutando por dar manutenção à cultura


que por muito tempo lhes garantiam poderes, o cristianismo mostrou-se capaz de,
adaptando-se transformar as estruturas e os significados das relações de poder. Com a
chegada de Constantino ao poder, era irreversível a divisão dos espaços de poder. Nessa
conjuntura social do IV século a nova moralidade trazida pelo cristianismo pinta essas
disputas e conflitos com novas cores.

A cristianização do Império Romano permitiu a mudança metal e social das


pessoas. Munidos de doutrinas de impacto social como a do pecado, da
disciplina, do inferno, entre outras, nos finais do IV século, o poder do discurso cristão
ascético sobre a família foi além de algumas pretensões e tensões de filosofias
contemporâneas. A vida no deserto foi uma arma contra o pecado que estava muito mais
nas cidades do que no campo. O deserto se apresentou como a solução para vida na
Terra.
Nesse sentido, seguindo a tradição, Jerônimo usa tal doutrina para cooptar
seguidores, discípulos e discípulas. Contentamo-nos a posicioná-lo ao lado das
mulheres sem, contudo ignorar que procurou convidar homens também. Inserido nessa
cultura, o belemita será um atleta de alta performance na corrida pelas disputas de
narrativas cristãs. A imagem que mostrou de si mesmo quanto alguém vindo do deserto,
não foi mero recurso literário, mas uma estratégia de guerra. Se o hábito não fazia o
monge, o deserto fez!

BIBLIOGRAFIA

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