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Doutorando em Historia pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT,
profeduardoleite@gmail.com.
peregrinações, lugar de culto e veneração. O deserto foi atravessado por centenas de
pessoas em busca da verdade, da espiritualidade, e de outros problemas a resolver. Essa
construção do deserto foi possível graças às investidas dos Pais da Igreja gregos e
latinos.
Nos finais do IV século as vozes que concorriam para aliciarem pessoas ao
cristianismo foram ouvidas com maior evidência desde o deserto. É dentro desse
contexto que Jerônimo está inserido. Para nós, ele é um grande propagador do
cristianismo ascético nos finais do IV século. O propulsor de seu empreendimento e ao
mesmo tempo aquele que lhe identifica como autoridade é o Deserto. Assim, não
medirá esforços para flertar com tal espaço representativo.
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“Os eqüestres, ou cavaleiros, eram aqueles que, originalmente, tinham posses suficientes para serem
cavaleiros do exército e, mais tarde, eram os que tinham certa renda mínima, muitas vezes comerciantes
e, em geral, eles não se ocupavam diretamente da política, mas mantinham relações estreitas com os
nobres”. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002. p.59. “De acordo com
estesistema, os cavaleiros eram recrutados entre aqueles quepossuíam o censo mais elevado,
constituindoassim a primeira classe censitária. Este eraum recrutamento plutocrático e aristocrático, pois
eramescolhidos não somente osmais ricos, mas também os melhores, o que explica as características da
ordemequestre (NICOLET, 1974, p. 15-16). Ela era plutocrática, porque a escolha dos seus membros
erafeitacom base no censo; e era aristocrática porque, inicialmente, a cavalaria erarecrutada nas
famíliasaristocráticas ligadas à monarquia, [...]”. SOUZA, Alice Maria de. O processo de diferenciação
das ordens senatorial e equestre no fim da República romana. Romanitas – Revista de Estudos
Grecolatinos. n. 4, p. 156-170, 2014. ISSN: 2318-9304
senadores são oriundos principalmente da ordem dos do grupo equestre. Os membros da
ordem senatorial voltam a ocupar os altos cargos da administração vinculados à
monarquia constantiniana. Nesse sentido, uma reviravolta ocorre a favor da aristocracia
tradicional romana. Essas mudanças permitem um retorno do mais alto prestígio que
tradicionalmente caracterizava esse grupo social, isso porque os equestres também
foram adicionados ao senado garantindo que todos para chegarem a níveis de alto poder
político e social venha do senado.
Em Roma, cidade em que residia uma parcela importante dessa elite, as famílias
que se destacavam pelo prestígio e riqueza e que influenciavam a Assembleia senatorial
em suas decisões, hegemonicamente são os Anicii, os Ceionii, os Valerii, a dos Petronii,
dos Simachii e dos Nicomachii (IBID, fl.129). Essas famílias de seus mosmaiorum ou a
cultura (cultura em nossos termos) de seus ancestrais, um exemplo é o caso de Paula,
que São Jerônimo diz descender dos Gracos e Cipiões (JONES, A. H. M;
MARTINDALE, J., 1963, p.675). Isso também significa que essas elites lutaram para
manterem o que entendiam ser a tradição e a cultura da aristocracia senatorial romana
na medida em que isso lhes dizia serem herdeiros das virtudes romanas antigas (CRUZ,
1997, fl.129).
É interessante notarmos como o cristianismo pode introduzir-se nesse grupo
social de Roma. A historiografia percebe que o cristianismo desde os tempos de Paulo e
Pedro havia encontrado guarida nos corações de alguns poucos aristocratas de Roma
(IBID, fl.152). Mas é no século IV que podemos, por assim dizer que em todas as
camadas sociais existiam cristãos, mas na aristocracia e em sua face senatorial o
cristianismo teve grandes dificuldades. Mesmo com a vinda de alguns aristocratas para
o cristianismo, processo que se iniciou seguramente no século II, em Roma no século
IV as elites cederão ao cristianismo na medida em que este fosse capaz de unir os
valores cristãos aos romanos.
Essa mensagem evangélica do tipo que dialogue com esses grupos aristocráticos
vinha sendo difundida desde o século II (LEITE, 2014, p.49). Contudo, o século III
marca “uma época em que muitos personagens surpreendentes aderiram ao
Cristianismo” (BROWN, 1999, p.43). Os intelectuais cristãos estavam muito mais
adaptados às novas conjunturas sociais.
Esses novos intelectuais cristãos com seus discursos voltados para o ideal
aristocrático de vida permitiram que o cristianismo acessasse às novas figuras do poder.
É assim que podemos, de forma significativa, perceber a conversão de famílias nobres
de Roma, ao cristianismo. Famílias como a do futuro imperador Teodósio, tornaram-se
cristã no IV século. Como o pai prefeito do pretório em Tréveris, a família do futuro
santo Ambrósio de Milão, se converte ao cristianismo também no mesmo século. Em
Roma, Furius Maecius Gracchus ao assumir a prefeitura em 376 é batizado e toma
medidas anti pagãs (CRUZ, 1997, fl. 165). Nos anos finais do IV século, um casal de
nobres, moradores do palácio familiar dos Valerii - uma família que possuía uma das
maiores fortunas em Roma - abraçou a vida ascética e distribuíram seus bens aos
pobres. Esse processo foi possível pelo fato de haver já no século III cristãos de alto
nível intelectual dialogando com uma mensagem ao nível desse grupo. Um exemplo
desse alcance está na carta de Jerônimo, no IV século, dirigida a filha menor de Paula, a
nobre Eustoquia, senador Pammaquio, o bispo de Roma Dámaso (JERÔNIMO,
epistolário I).
Uma grande evidência de que em Roma nos finais do século IV o cristianismo
havia alcançado a aristocracia é a existência do “Círculo do Aventino”. Localizado
sobre o monte Aventino, uma das sete colinas da cidade Eterna, o palácio de uma
patrícia cristã chamada Albina irmã do pontífice romano Albino fora aproveitado para
ser um lugar dedicado a vida casta (VIZMANO, 1949, p.531). O Aventino destacava-se
por dois fatores: era constituído por nobres mulheres romanas e a experiência cristã ali
vivida era de natureza ascética erudita (CRUZ,1997, fl.167). Esse grupo era liderado
pela nobre filha de Albina, Marcela, mulher que “fue la primera dama romana que e
non golpe de audacia revisto los costumbres y la túnica despreciada del estado
monástico. Su decisión produjo un verdadero escándalo” (VIZMANO, 1949, p.534).
Na rota traçada desde Antão, ninguém alçará aos altos níveis espirituais sem
viver o deserto. Mas não era simples, “todo aspirante a solitário não o obterá sem antes
passar por preparações prévias e se acostumar com seu ambiente, aprendendo, por
exemplo, discernir o ‘bem’ e o ‘mal’ que nesse se estabelece” (AMARAL, 2009, p.208).
Foi assim com Antão, segundo Atanásio (Vida de Antão) o santo monge não foi direto
para o deserto, antes se instalou em volta da cidade de seu povo, depois de passar por
algumas tentações se retiraria para um sepulcro. Ali foi açoitado por demônios que o
deixara quase morto. Contudo, “de novo o Senhor não se esqueceu de Antão em sua
luta, mas veio ajudá-lo. Pois quando olhou para cima, viu como se o teto se abrisse e um
raio de luz baixasse até ele. Foram-se os demônios de repente, cessou-lhe a dor do
corpo, e o edifício estava restaurado como antes” (Vida de Antão). Aliviado pelo
socorro, pergunta:
"onde estavas tu? Por que não aparecestes no começo para deter
minhas dores?" E uma voz lhe falou: "Antão, eu estava aqui, mas
esperava ver-te enquanto agias. E agora, porque agüentaste sem te
renderes, serei sempre teu auxílio e te tornarei famoso em toda parte".
Ouvindo isto, levantou-se e orou: e ficou tão fortalecido que sentiu seu
corpo mais vigoroso que antes (Ibidem).
Até chegar a montanha, lugar aonde chegaria ao ápice da vida espiritual, Antão
foi aos poucos entrando no deserto. Depois de vinte anos de vida ascética na montanha
ele resolve voltar ao público.
Em seu epistolário Jerônimo não deixa dúvida, “Oh deserto em que nascem as
flores de Cristo!” (JERÔNIMO, ep. 14). Ele havia sentido o deserto e expõe sua
credencial a todos que precisam saber quem é ele. Jerônimo esteve no deserto de Cálcis,
muito provavelmente no ano 375 d.C. “Este periodo de su vida, de apenas tres años de
duración, se convertirá en la imagen más representada de san Jerónimo después del
concilio de Trento en los países europeos del sur, dando lugar a un anacronismo, y a
múltiples variantes del san Jerónimo semidesnudo ante Dios disciplinándose, leyendo,
orando o escribiendo” (PENNA, 1952, p.32).
Está carta circulou e foi conhecida por Fabiola (ep.77) e Neponoceno (ep.52)
Jerônimo diz que o deserto é local de despojamento, local onde o pobre é rico em
Cristo. “[…] Aquí hay una costa de bárbaros; allí el diablo corsario, con su cuadrilla,
lleva ya las cadenas que ha de echar a los cautivos. […] dentro está encerrado el peligro,
dentro está el enemigo […]” (Jerônimo, ep. 14.6). Se o deserto é demoníaco, ao mesmo
tempo é maravilhoso:
¡Oh desierto en que brotan las flores de Cristo! ¡Oh soledad en que se
crían aquellas piedras de que, en Apocalipsis, se construye la ciudad
del grand rey! (Apoc 21.18-21). ¡Oh yermo que goza de la
familiaridad de Dios! ¿Qué haces, hermano, em el siglo, tú que eres
mayor que el mundo? ¿Hasta cuándo te oprimirán las sombras de un
techo? ¿ Hasta cuándo te encerrará la cárcel ahumada de esas
ciudades? Créeme, veo aquí no sé qué de más luminoso. […]. ¿Temes
la pobreza? Pues Cristo llama bienaventurados a los pobres. ¿Te
espanta o trabajo? Pues ningún atleta es coronado sin sudores. ¿Te
preocupa la comida? ¡La fe no siente el hambre! ¿Tienes miedo de
estrellar sobre la dura tierra tus miembros extenuados por el ayunos?
Pues a tu lado se acuesta el Señor. ¿Te horroriza la descuidada
cabellera de una cabeza escuálida? Pues tu cabeza es Cristo. ¿ Te
aterra la extensión sin límites del yermo? Pues paseáte en espíritu por
el paraís. (JERÔNIMO, EP. 14.10)
Conclusão
BIBLIOGRAFIA