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Um passeio pela modernidade: consciência e alienação (1)

A modernidade é um verdadeiro mosaico. Reúne peças de variados tons para


formar uma única grande figura. Há uma dessas partes do mosaico que
merece atenção neste tempo que nos toca viver. E que o Rafael Ruiz, em seu
livro "Alienação e Intolerância: um diagnóstico sobre os tempos
modernos"(Cultor de livros, 2018), bem soube tratar com clareza e objetividade.
É uma luz que não nos tira propriamente do túnel escuro e sombrio. Mas nos
permite, livremente, dirigir-se à saída.

Fazer um diagnóstico de algo nem sempre é fácil. Quanto mais fazê-lo da


Modernidade, rica em facetas diversas e em cores tão variadas. O diagnóstico
pode ser acertado ou não, desde o ponto subjetivo do interlocutor. Mas nos
parece que o Ruiz fez um golaço com sua análise, há tanto tempo pensada e
diuturnamente refletida.

Aliás, por falar em pensar, pode-se dizer que, talvez, seja esse o tema central
da sua reflexão. Não se trata simplesmente de alimentar um Big Data de
informações. A informação, por si só, não denota conhecimento. É preciso que
essa informação passe pelo crivo da razão. Tire-se consequências. Refletir
reclama tempo. Não é uma atitude em alta em nossos dias, tão marcado pela
velocidade imprimida pela internet, as mensagens instantâneas do WhatsApp e
o cabedal de informações da Mass Media.

O problema da consciência costura todas as linhas de seu livro. Aponta como


chave de leitura do início da modernidade a distinção, ficticiamente criada pelo
Estado Moderno, entre o foro interno (valores, princípios, convicções pessoais)
e o foro externo (leis, normas, regulamentos). Segundo teóricos como Hobbes
e Locke, para viver em sociedade, o homem deveria abdicar de seus princípios
e sacrificá-los no altar do Deus Estado. Poderia (deveria) negar a sua
consciência e, muitas vezes, agir contra ela. O bem e o mal, o justo e o injusto,
seriam definidos por uma mítica convenção social. Essa cisão no homem trará
consequências nefastas mais na frente. A alienação de consciência faz com
que o homem renuncie a si mesmo.

No âmbito jurídico, os tentáculos do Leviatã também exerceram sua influência


sob o mito da "segurança jurídica". A sociedade precisaria de leis rígidas e
claras e o juiz, outrora visto como o homem da prudência (daí o termo
'jurisprudência') que aplicaria o direito ao caso concreto e decidiria conforme a
sua consciência, agora seria visto unicamente como "la bouche de la loi". O
direito seria, portanto, resumido ao cumprimento estrito da lei, por mais que,
muitas vezes, as leis fossem injustas e arbitrárias.

A modernidade também seria a grande vanguardista das ideologias, aqui


entendidas como um sistema de interpretação parcial da realidade com
pretensão de universalidade. O homem não tinha mais necessidade de pensar,
bastava replicar o modelo pré-fabricado e defendê-lo com unhas e dentes,
mesmo se se percebe que a teoria não se encaixa na realidade. Como o
cientista que passa anos desenvolvendo um aparelho para medir o grau de
salubridade do mar e, ao testar o aparelho, não conseguindo o que esperava,
diz: “-esse mar não serve! ”. Vale citar as principais ideologias da modernidade:
Iluminismo, Romantismo, Liberalismos, Marxismos e niilismos. Uma
característica em comum de todas elas, além de uma abordagem
omnicompreensiva, seria, como diria Voegelin, uma imanentização do
Escathon. Ou seja, uma espécie de escatologia secularizada que prometia o
céu na terra.

Já a escola das ideias estava fervilhando. O Iluminismo, com sua pretensão de


razão universal, queria explicar todas as coisas. Propôs a emancipação do
homem no âmbito religioso e tentou ressignificar a moral e a política à margem
de Deus. O "sapere aude" seria a tábua de salvação do homem inculto e
supersticioso que estava prestes a afundar nas trevas da ignorância. A ciência
e a técnica chegariam a tal nível que teriam respostas a todos os problemas do
homem. Todavia, com as guerras mundiais parece que a pretensão iluminista
entrou em colapso. A desconfiança da razão recrudesceu e as questões-
chaves (o problema do mal, o sofrimento, o amor) continuam, aparentemente,
sem resposta. Aqui também vai ser introduzido o conceito de uma laicidade
feroz, causada pela ruptura drástica do âmbito religioso e do âmbito terreno,
que tentaria engaiolar o homem religioso ao santuário de sua consciência, mas
excluí-lo de toda vida pública. Como se o fato de professar algum credo não lhe
permitisse opinar em temas de relevância social. O Iluminismo estaria pronto
para, definitivamente, superar a religião.

Enquanto que o Iluminismo focou na Inteligência, o Romantismo mirou na


Vontade, buscando uma libertação das amarras da Natureza, despótica e
carcereira da liberdade. O importante seria dar vazão aos sentimentos, que
determinariam o "ser" das coisas. Contundo, o problema é que o homem não
impera sobre os seus sentimentos, mas, ao contrário, impera sobre sua
vontade. Uma Vontade, por sua vez, que não respeitasse as leis da natureza,
parece-nos, seria uma vontade tirânica. Não é o homem quem cria tais leis.
Cabe apenas reconhecê-las. Essa discussão está na gênese de todo ulterior
debate sobre a Ideologia de Gênero.

Uma das maiores tensões no debate de ideias moderno se deu entre os


liberalismos (sobretudo o liberalismo econômico) e os marxismos (em especial
o marxismo científico). No que tange a consciência, temos no liberalismo moral
as maiores implicações. A verdade - defendem esses liberais - é escolhida pela
votação de uma maioria. Portanto, não importa tanto "o quê" é decidido, mas o
quórum de aprovação alcançado. Visando o respeito as liberdades individuais,
a consciência deveria se moldar ao modelo pacífico de convivência social que
não toleraria opiniões intolerantes. A contradição é que o juízo de "intolerante"
sempre tende a se identificar com o espantalho criado para quem pensa
diferente. Os que mais almejam a liberdade de expressão, geralmente, vêm a
ser os seus algozes. Já o Marxismo científico tinha como principal ideal a
derrocada da religião, ópio do homem, para assim realizar a luta de classes
(proletariado vs patronato), por meio da tensão dialética hegeliana, e a
consequente implantação do comunismo na sociedade. A dicotomia de
ideologias vai dar azo a criação, tão usada em nossos dias, de um pensamento
único: esquerda ou direita, progressista ou conservador, burguês ou operário. A
realidade, tão rica e complexa, seria reduzida a um samba monocórdico. Aos
homens, caberia comprar o pacote pronto (sem alterações) e seguir o script
ideológico. A consciência mais uma vez fora relegada.

Uma das variantes do Marxismo, por meio de Gramsci, teve forte penetração
na América latina. Para Gramsci, o marxismo não está superior à história, mas
dentro dela. Neste sentido, desenvolve a teoria da hegemonia. Conjuga
elementos da “sociedade política” e “sociedade civil”. A primeira seriam as
engrenagens estatais, legais e judiciais. A segunda seria a relação dos homens
entre si: partidos políticos, sindicatos, escolas, igrejas, imprensa. A hegemonia,
portanto, o domínio, deveria se inserir no seio da sociedade civil, difundindo
nas relações quotidianas por meio de valores, crenças e ideias, o consenso em
torno de uma cultura. Criando o consenso, o grupo social hegemônico criaria o
domínio. Como se faria isso? Adentrando, por meio das ideias, na sociedade
civil, principalmente nas escolas, nas universidades e nos meios de
comunicação. Ao invés de autênticos intelectuais, proliferou-se nos últimos
anos a figura do “intelectual orgânico”. São os porta-vozes do Partidão. As
"cabeças pensantes" da utopia, muitos até badalados. Apregoam o livre
pensamento, mas estão absolutamente dependentes e à serviço da ideologia
do Partido (instância divina infalível). Recuam se fugirem do eixo de defesa
doutrinal-partidária. Vemos isso nos malabarismos conceituais que fazem
alguns “intelectuais” figurões na defesa de bandeiras que são insustentáveis à
razão. Faz parte da “guerra de posições” identificada por Gramsci. Muitos nem
acreditam nisso. O pior estágio é quando - sem saber - a estrutura de
pensamento do sujeito já está completamente condicionada e engaiolada neste
círculo. Delega-se, com isso, mais uma vez, a consciência.

O marxismo tem, digamos assim, várias versões. A Escola de Frankfurt serviu


de laboratório para a confecção de uma versão atualizada. Há vários sistemas
operacionais: o nihilismo, o desconstrucionismo, o pós-estruturalismo etc. O
ponto em comum de todos esses “sistemas” é o reconhecimento de que não
existe um fundamento de verdade estável. O relativismo seria o próprio
fundamento. Um comentário prosaico que valeria a pena reiterar seria a
entronização, com incenso e três ductos do turíbulo, do Estado Laico.
Confunde-se não pouco frequentemente com um laicismo feroz e assiste-se a
um ostracismo de pessoas que são impedidas de manifestar publicamente a
sua fé. Como se a opinião de um religioso fosse sempre estritamente religiosa,
ou como se fosse um sujeito de menor categoria. A luta contra a objeção de
consciência, situação limite encontrada por quem professa algum credo para
ser manter leal aos seus princípios, faz um raio-x de uma sociedade bastante
influenciada pelo “modo inglês” de ver as coisas.

O cenário pintado até então com cores fortes e escuras pode ter soado um
tanto quanto apocalíptico. O passeio que fizemos até aqui se assemelha a uma
ida ao trem fantasma num parque de diversões. Caber-nos-ia tentar pontuar
alguns pontos positivos e apresentar algumas perspectivas esperançosas. O
pessimismo mata e a constatação dos males de nossos tempos não se presta
a ficar nos lamentando, deve-nos, pelo contrário, mover-nos a uma busca
otimista e vibrante de mudança social. Mas já abusamos da benevolência e da
boa vontade do leitor, bem como ultrapassamos as linhas que, inicialmente,
nós tínhamos proposto. Ficará para uma próxima. Mais ou menos breve, a
depender dos nossos compromissos absorventes. Convidamos o leitor a refletir
no que foi escrito. Quem sabe na próxima não possa nos ajudar a encontrar
uma saída a esse beco?

Davi Melo, advogado, graduado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife


– UFPE, mestrando em filosofia pela PUC-SP.

Contato: (11) 94853-9622

daviaraujodemelo@hotmail.com

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