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Curso de Formação Profissional Para Ingresso no Cargo de Médico Perito Legista 1ª Classe da
Perícia Forense do Estado do Ceará - PEFOCE
TRAUMATOLOGIA FORENSE
1
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
Curso de Formação Profissional Para Ingresso no Cargo de Médico Perito Legista 1ª Classe da
Perícia Forense do Estado do Ceará - PEFOCE
TRAUMATOLOGIA FORENSE
DISCIPLINA
TRAUMATOLOGIA FORENSE
CONTEUDISTA
Victor Hugo Medeiros Alencar
FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – Sd PM
• 2015 •
2
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
Curso de Formação Profissional Para Ingresso no Cargo de Médico Perito Legista 1ª Classe da
Perícia Forense do Estado do Ceará - PEFOCE
TRAUMATOLOGIA FORENSE
SUMÁRIO
1. TRAUMATOLOGIA FORENSE................................................................................................................................ 4
2. ENERGIA MECÂNICA........................................................................................................................................... 4
2.1 Instrumentos perfurantes............................................................................................................................. 4
2.2 Instrumentos contundentes ......................................................................................................................... 5
2.3 Instrumentos Perfuro cortantes.................................................................................................................... 6
2.4 Instrumentos Perfuro contundentes............................................................................................................. 6
2.5 Instrumentos Corto contundentes................................................................................................................ 7
3. ENERGIA FÍSICA.................................................................................................................................................. 7
3.1 Temperatura ................................................................................................................................................ 7
3.2 Pressão Atmosférica..................................................................................................................................... 8
3.3 Eletricidade.................................................................................................................................................. 8
3.4 Radioatividade ............................................................................................................................................. 9
3.5 Som ............................................................................................................................................................. 9
3.6 Luz............................................................................................................................................................... 9
4. ENERGIA QUÍMICA ............................................................................................................................................. 9
4.1 Cáusticos...................................................................................................................................................... 9
4.2 Venenos....................................................................................................................................................... 9
5. ENERGIA FÍSICO-QUÍMICA................................................................................................................................ 10
5.1 Enforcamento ............................................................................................................................................ 10
5.2 Estrangulamento........................................................................................................................................ 10
5.3 Esganadura ................................................................................................................................................ 10
5.4 Sufocação................................................................................................................................................... 11
5.5 Afogamento ............................................................................................................................................... 11
5.6 Soterramento............................................................................................................................................. 11
5.7 Asfixias por Gases Irrespiráveis................................................................................................................... 11
6. ENERGIA BIOQUÍMICA...................................................................................................................................... 11
6.1 Auto-intoxicações....................................................................................................................................... 11
6.2 Infecções.................................................................................................................................................... 12
7. ENERGIA BIODINÂMICA.................................................................................................................................... 12
7.1 Choque ...................................................................................................................................................... 12
7.2 Coma ......................................................................................................................................................... 12
8. ENERGIAMISTA................................................................................................................................................. 12
8.1 Fadiga ........................................................................................................................................................ 12
8.2 Doenças parasitárias .................................................................................................................................. 12
8.3 Sevícias ...................................................................................................................................................... 12
9. PERÍCIA MÉDICA............................................................................................................................................... 12
10. LEGISLAÇÃO DAS LESÕES CORPORAIS ............................................................................................................. 13
11. O CRIME DE TORTURA E A PERÍCIA FORENSE NO BRASIL................................................................................. 15
12. PRINCÍPIOS E RECOMENDAÇÕS QUE DEVEM NORTEAR EXAME MÉDICOFORENSE (E OUTROS
CORRELATOS) NOS CASOS DE TORTURA ............................................................................................................... 17
13. RECOMENDAÇÕES ESPECÍFICAS PARA O PERITO MÉDICO-LEGISTA SOBRE COMO REALIZAR EXAMES DE
LESÕES CORPORAIS NOS CASOS DE TORTURA ...................................................................................................... 18
14. RECOMENDAÇÕES ESPECÍFICAS EM CASO DE NECROPSIA DE ICIANDO MORTO POR TORTURA (OU
TRATAMENTO CRUEL, DESUMANO OU DEGRADANTE).......................................................................................... 18
15. RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A PERÍCIA OFICIAL NOS CASOS DE TORTURA ................................................ 19
15.1 Recomendações em perícias de casos de tortura...................................................................................... 19
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1. TRAUMATOLOGIA FORENSE
2. ENERGIA MECÂNICA
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A rubefação caracteriza-se por uma mancha eritematosa, efêmera e fugaz em determinada região do
corpo (bofetada). Involui totalmente sem deixar vestígios e constitui a mais leve e transitória de todas as lesões
decorrentes de ação contundente.
A sede e o número das lesões têm importância para a conclusão da natureza jurídica da ofensa.
Equimose é uma lesão decorrente da infiltração sanguínea nas malhas dos tecidos. Sua forma pode
revelar o objeto causador (fivelas de cinturão, saltos de sapato, cordas, lábios, bastões, bengalas, etc.). Podem ser
superficiais ou mais profundas (nas massas musculares, nas vísceras e no periósteo). A equimose, quanto à forma,
pode ser classificada em sugilação, víbices, equimonas e petéquias.
Sugilação é aquela que se apresenta em forma de pequenos grãos de areia. Víbices são as que se
apresentam em forma de estrias. Equimona é uma equimose de grandes proporções.
A equimose sofre com o tempo mudanças sucessivas de coloração, constituindo o "espectro equimótico
de Legran de Saulle": vermelha (1º dia) , violácea (2º e 3º dias), azul (4º e 5º dias), esverdeada (6º ao 8º dia),
amarelada (em volta do 10º dia), desaparecendo entre o décimo segundo e o d into dia.
Este processo decorre da transformação da hemoglobina ada das hemácias em hematina e
globina; posteriormente, a hematina se reduz aos produtos finais de decomposição (hematoidina e
hemossiderina), absorvidos por fagocitose. Essa gradação de cores ocorre da periferia para o centro, até seu
desaparecimento total.
O estudo das equimoses é baseado na sua cor, na forma sede. A cor permite concluir sobre a idade, a
forma revela o instrumento produtor e a sede esclarece a natureza jurídica do crime (homicídio, crime sexual,
etc.).
Bossa sanguínea é uma coleção de sangue sobre uma superfície óssea. É comum nos traumatismos
cranianos.
O edema traumático se manifesta por distensão e elevação cutânea decorrente da alteração circulatória
provocada por um traumatismo.
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As fraturas são soluções de continuidade dos ossos provocadas, na maioria das vezes, por um trauma.
Podem ser diretas (no próprio local do traumatismo) ou indiretas (produzidas à distância do local do
traumatismo). Podem se apresentar por um traço, vários traços ou por inúmeros fragmentos (fratura cominutiva).
Podem ser fechadas (subcutâneas) ou abertas (expostas). E, ainda, classificam-se quanto à extensão (completas e
incompletas) e orientação (transversais, longitudinais, oblíquas, espiraladas, em hélice, em passo de parafuso, em
vara verde, em T e em Y).
A luxação é a perda do contato entre as superfícies articulares, causada pelo deslocamento de dois
ossos. Pode ser completa (perda de contato total) ou incompleta (perda de contato parcial).
As roturas de vísceras internas são lesões profundas de caráter grave. Todas as vísceras estão sujeitas a
essa modalidade de lesão, sendo mais comumente atingidos: fígado, baço, rins, pulmões, intestino, pâncreas e
suprarrenais.
As lesões produzidas são denominadas feridas perfuro cortantes. Os instrumentos possuem ponta e
gume e atuam por um mecanismo misto perfurando com a ponta e cortando com seu gume os planos superficiais
e profundos do corpo.
Os instrumentos podem conter um só gume (faca, peixeira, canivete, espada), dois gumes (punhal e três
gumes (lima). A ferida produzida por instrumentos de u só gume apresenta: forma em botoeira, com fenda
regular e linear, um ângulo agudo e outro arredondado; largura maior que a espessura da arma; comprimento
menor que a largura se o trajeto da arma for perpendicular ao plano corporal e maior comprimento se atuar
obliquamente.
As feridas produzidas por instrumentos de dois gumes produzem fenda de bordos iguais e ângulos
agudos. As feridas produzidas por instrumento de três gumes apresentam forma triangular ou estrelada. O trajeto
na profundidade do corpo tem as mesmas características daquele resultante da ação dos instrumentos
perfurantes.
Determinam as feridas pérfuro-contusas. São aquelas provocadas por projéteis de arma de fogo. No
estudo dessas feridas, são considerados o orifício de e o trajeto.
O orifício de entrada pode ser resultante de tiro encostado, à queima roupa ou a distância. Nos tiros
encostados, o orifício de entrada tem forma irregular, ido à ação dos gases que dilaceram os tecidos
(câmara de mina de Hoffmann). (Fig. 4 e Fig. 5)
Nas adjacências da lesão, é verificada crepitação gasosa do tecido celular subcutâneo, por infiltração dos
gases. Pode ficar impresso o desenho da boca e da alça de mira na pele, através de um halo de tatuagem e
esfumaçamento (sinal de Wergaetner).
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Nos tiros à queima-roupa, o orifício de entrada apresenta ferida circular, ovalar ou labiada, dependendo
da incidência do tiro (perpendicular, oblíqua ou tangencial). Contêm os seguintes elementos: bordas invertidas,
contusão e enxugo, zona equimótica, zona de esfumaçamento, halo de tatuagem e zona de queimadura.
Contusão e enxugo são caracterizados por uma aréola apergaminhada na borda do orifício, resultante da
pressão exercida pelo projétil que vence a resistência da pele, rompendo-a. A zona equimótica é representada por
micro-equimose produzida pela contusão e rotura dos vasos situados na vizinhança do orifício.
A zona de esfumaçamento (zona de falsa tatuagem) resulta do depósito de fuligem ao redor da ferida; a
presença de vestes evita sua formação na pele e a lavagem com água remove-a completamente.
O halo de tatuagem é o elemento balístico utilizado para determinar a distância do tiro e resulta da
penetração de resíduos de pólvora na pele. A zona de queimadura ou chamuscamento é decorrente da ação do
calor dos gases da detonação sobre o pelo e a pele (Fig. 6).
Nos tiros à distância, o orifício de entrada apresenta as bordas invertidas, aréola equimótica e orla de
enxugo estando ausentes as zonas de tatuagem, de esfumaçamento e de queimadura. O orifício de saída tem
forma irregular, bordas evertidas, sangramentos e não apresenta orla de escoriação, nem de enxugo.
O trajeto do projétil é o caminho percorrido, no interior do corpo, desde sua entrada até sua saída. No
entanto, pode inexistir o orifício de saída e o trajeto termina em fundo de saco.
Vários poderão ser os trajetos seguidos (único ou múltiplo para cada entrada, penetração numa
cavidade, transfixante), formando linhas retas ou curvas, criando ângulos imprevisíveis e desvios geralmente
provocados pelas barreiras ósseas.
As lesões produzidas são denominadas feridas corto contusas. Exemplos destes instrumentos são: foice,
facão, machado, enxada, guilhotina, serra elétrica, os dentes e as unhas.
Têm a forma variável, dependendo da região atingida, da inclinação, do peso, do gume, e da força viva
que atua, podendo predominar as características das feridas cortantes ou das contusas. São lesões graves e
profundas, determinando variadas modalidades de ferimento, inclusive fraturas e luxações.
3. ENERGIA FÍSICA
As energias físicas mais comuns são: temperatura, pressão atmosférica, eletricidade, radioatividade, som
e luz.
3.1 Temperatura
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A pressão atmosférica pode atuar pelo aumento ou diminuição. O aumento da pressão atmosférica,
existente nas submersões, provoca o "mal dos caixões" se manifesta por sintomas de intoxicação pelo
oxigênio (depressão do centro respiratório, tetania, espasmos, coma), pelo nitrogênio (embriaguez) e pelo gás
carbônico (dores nos seios paranasais e ouvidos), ocorrendo ainda nas descompressões súbitas, produzindo
fenômenos embólicos que acarretam dores articulares, equimoses generalizadas, surdez, paraplegia, afasia,
paralisia dos nervos cranianos e até a morte.
A diminuição da pressão atmosférica ocorre nas grandes altitudes e produz o "mal das montanhas",
decorrente do baixo teor de oxigênio e de gás carbônico que leva a alterações da hematose, provocando
taquicardia, epistaxes, hemorragias cerebrais e distúrbios gastrintestinais (vômitos e diarréia).
3.3 Eletricidade
A eletricidade pode ser natural ou artificial. A eletricidade natural ou cósmica pode agir de forma
sistêmica e letal, sendo denominada fulminação, ou de local, constituindo a fulguração. A eletricidade
artificial produz a eletroplessão (marcas elétricas localizadas) e a eletrocussão (ação sistêmica e letal). A lesão mais
leve é a marca elétrica de Jellinek, que apresenta forma circular, elíptica ou estrelada, de consistência endurecida,
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mumificadas, bordas altas, leito deprimido, tonalidade esbranquiçada, fixa, indolor, podendo adotar a forma do
condutor (fio, placa, etc.). Outros tipos de lesões provocadas pela eletroplessão são metalização elétrica
(destacamento da pele com o fundo da lesão impregnado de partículas da fusão do condutor), salpicos metálicos,
lesões de saída (nos pés).
A ação mortal da eletricidade é explicada por três teorias, conforme a intensidade da corrente elétrica:
morte pulmonar (tensões entre 120 e 1.200 volts), morte cerebral (acima de 1.200 volts) e morte cardíaca (abaixo
de 120 volts). A morte pulmonar se baseia nos achados compatíveis com asfixia (edema pulmonar,
enfisema sub-pleural, congestão visceral) e pela apneia anterior à assistolia, resultados decorrentes da tetanização
dos músculos respiratórios e de fenômenos vasomotores. A morte cardíaca é explicada pela alteração da
condução elétrica normal do coração, provocando fibrilação ventricular e parada cardíaca. A morte cerebral é
decorrente da hemorragia das meninges, hiperemia dos centros nervosos, hemorragia das paredes ventriculares
do cérebro, do bulbo, dos cornos anteriores, da medula e do edema da substância branca e cinzenta do cérebro.
3.4 Radioatividade
Produz lesões através dos raios X, do rádio e da desintegração atômica. As lesões locais são denominadas
radiodermites e as de ação geral incidem sobre órgãos profundos.
A energia atômica tem efeitos de ordem mecânica (produzidos pelas explosões), térmica (produzindo
queimaduras) e radioativa (produzindo efeitos tardios como câncer e alterações genéticas).
As radiodermites podem ser agudas (úlcera dolorosa coberta por crosta, de difícil cicatrização) ou
crônicas (alterações digestivas, circulatórias, cancerígenas, esterilizantes, etc.)
3.5 Som
Com mais de 20.000 ciclos/seg. e 90 decibéis produz alterações psíquicas e lesões auditivas. É de
interesse para a Infortunística em virtude dos acidentes de trabalho em quem se expõe por muito tempo a áreas
de poluição sonora sem a devida proteção.
3.6 Luz
Causa danos principalmente aos órgãos da visão, podendo variar de lesões simples até a cegueira.
4. ENERGIA QUÍMICA
A energia química pode agir pelos efeitos dos cáusticos e dos venenos.
4.1 Cáusticos
São substâncias químicas que produzem lesões denominadas vitriolagem, termo derivado do uso antigo
do óleo de vitríolo (ácido sulfúrico) em ações criminais. A lesão se caracteriza por úlcera coberta de crosta, de
coloração variável (negra, cinzenta, amarela ou esbranquiçada), endurecida. Os cáusticos podem ter propriedades
variáveis: desidratante (cal, soda, potassa, ácido sulfúrico), oxidante (ácido nítrico, ácido crômico, nitrato de
prata), liquefacente (ácido acético, amoníaco, soda cáustica, potassa) e coagulante (mercúrio, chumbo, zinco e
cobre).
4.2 Venenos
São substâncias que causam danos à saúde, mesmo em doses homeopáticas, quando introduzidas pelas
diversas vias do organismo (oral, gástrica, inalatória, cutânea, subcutânea, intramuscular, intraperitoneal,
intravenosa, intra-arterial e intratecal).
Classificam-se quanto ao estado físico (líquidos, sólidos e gasosos), à origem (animal, vegetal, mineral e
sintéticos), às funções químicas (óxidos, ácidos, bases, sais) e ao uso (doméstico, agrícola, industrial, medicinal e
venenos propriamente ditos).
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Envenenamento é a morte ou dano grave à saúde ocasionados por determinadas substâncias de forma
acidental, criminosa ou violenta sendo estudados pela Toxicologia
5. ENERGIA FÍSICO-QUÍMICA
A energia físico-química produz asfixia (termo de origem grega que significa "s pulso, ausência de
pulso"), síndrome produzida pelos efeitos da hipoxemia e hipercapnia consequentes a dificuldades ou supressão
da função respiratória. Para a Medicina Legal, interessam as asfixias mecânicas, resultantes do impedimento
mecânico, fortuito ou intencional, dos movimentos respiratórios indispensáveis para a troca gasosa.
O confinamento resulta da permanência em ambientes fechados, sem renovação do ar, sendo o oxigênio
consumido gradativamente e o gás carbônico acumulado. ser de origem criminosa ou acidental, sendo esta
última mais frequente.
5.1 Enforcamento
É a morte produzida pela constrição do pescoço por um laço fixo sobre o qual age o próprio corpo como
força ativa. A morte pode ter as seguintes causas: asfixia propriamente dita (oclusão da luz traqueal impedindo a
passagem de ar), ligadura dos vasos cervicais; e mecanismo nervoso (estimulação do pneumogástrico, inibição
reflexa e herniamento bulbar).
Os sinais cadavéricos encontrados, em caso de enforcamento são: sulco no pescoço (único ou múltiplo),
cabeça caída lateralmente, face cianótica, protrusão da língua, cianose dos leitos ungueais, livores mais
acentuados nos membros inferiores, linha brilhante no do sulco (linha argentina), equimose retro-faringea
(de Brouardel), rotura dos esternocleidomastóideos, luxações e fraturas dos ossos cervicais (vértebras cervicais,
osso hioide) e das cartilagens (laríngeas e tiroide), lesões da coluna cervical (luxações e fraturas), congestão
visceral generalizada.
5.2 Estrangulamento
É a morte causada por um instrumento em volta da região cervical, acionado por força estranha,
provocando constrição do pescoço. Os meios utilizados são os mesmos usados no enforcamento. É excepcional o
suicídio por estrangulamento, sendo mais comum o homicídio e o acidente.
O sulco é o elemento mais importante no diagnóstico diferencial com enforcamento. Possui direção
horizontal, único, contínuo ao redor do pescoço e de profundidade uniforme.
5.3 Esganadura
É a constrição cervical com emprego das mãos. Podem estar presentes no pescoço equimoses
arredondadas, de número variável, produzidas pela ação contundente dos dedos do agressor - equimoses digitais -
que podem permitir determinar a mão empregada e a posição do esganador.
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5.4 Sufocação
É a asfixia produzida pelo impedimento da passagem do nas vias respiratórias por meio direto ou
indireto. A sufocação direta ocorre por oclusão da boca e das fossas nasais ou por obstrução das vias aéreas
principalmente por corpos estranhos. A sufocação indireta é decorrente da compressão do tórax ou do abdome
por agente mecânico externo, resultando em impedimento da expansão torácica.
5.5 Afogamento
É a morte produzida pela penetração de líquido nas vias respiratórias. Existem duas fases distintas no
afogamento: fase de defesa e fase de não defesa. Na fase de defesa há o período de parada respiratória e o
período de dispneia. Na fase de não defesa ou de impotência surgem a parada respiratória, perda da consciência,
insensibilidade e morte. Os sinais cadavéricos do afogado são: temperatura cutânea baixa, pele anserina, retração
do mamilo, do escroto e do pênis; descolamento da epiderme palmar e plantar, cogumelo de espuma sobre a
boca e os orifícios nasais; livores cadavéricos de tonalidade rósea, equimoses faciais e conjuntivais; líquidos e
corpos estranhos nas vias respiratórias; enfisema aquoso subpleural (hiperaeria de Casper); equimoses
subpleurais (manchas de Paltauf); sangue diluído pela de líquido na circulação ao nível do tecido
pulmonar; presença de líquido no aparelho digestivo e congestão de vísceras torácicas e abdominais.
5.6 Soterramento
É a asfixia por obstrução das vias aéreas por terra ou substância pulverulenta. O diagnóstico é feito pela
presença de substâncias estranhas, sólidas ou semissól pulverulentas, no interior das vias respiratórias, na
boca, no esôfago e no estômago, além dos sinais gerais de asfixia.
Podem ser classificadas, de acordo com a natureza do gás, em asfixias por gases de combate, por gases
industriais, por gases anestésicos, por gases das habitações. A vítima pode apresentar alterações psíquicas (torpor,
insônia), motora (astenia), sensitiva (dores articulares, nevralgias), sintomas inespecíficos (náusea, vômito,
diarréia, anemia) ou até mesmo morte. Na necropsia a colheita de sangue e exame das vísceras é de fundamental
importância. Já no vivo o diagnóstico é feito pelos sintomas apresentados e exame do sangue. Os sinais
anatomopatológicos encontrados nas diversas formas de são os seguintes: cianose (labial e dos pavilhões
auriculares); equimoses subconjuntivais; petéquias facial, dorsal e cervical (manchas de Tardieu); otorragias;
escoriações ungueais e em volta do pescoço (nos casos esganadura e como defesa nos casos de enforcamento
ou estrangulamento); protrusão da língua; cogumelo de ma nos orifícios oral e nasal; livores arroxeados ou
azulados; sangue muito escuro; pulmões congestos com petéquias sub-pleurais e estase venosa.
6. ENERGIA BIOQUÍMICA
A energia bioquímica causa danos pelas perturbações alimentares, pelas autointoxicações e pelas
infecções. As perturbações alimentares mais importantes são a inanição, as doenças carenciais e as intoxicações
alimentares. Inanição é o depauperamento orgânico produzido pela redução ou pela privação de elementos
imprescindíveis ao metabolismo do homem. As doenças carenciais são alterações decorrentes da insuficiência
alimentar ou pela carência de vitaminas (avitaminoses), podendo ter causas acidentais, culposas ou dolosas. As
intoxicações alimentares são provocadas pela ingestão contendo substâncias ou micro-organismos
nocivos à saúde; distingue-se do envenenamento, porque este é provocado por substância química de composição
definida.
6.1 Auto-intoxicações
São perturbações orgânicas causadas pela elaboração de substâncias tóxicas pelo próprio organismo a
partir da ingestão de certos elementos. Por exemplo, a uremia como consequência da ingestão de certos
medicamentos por pessoas com a função renal deficitária.
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6.2 Infecções
São patologias causadas por micro-organismos patogênicos que penetram no organismo através das
portas de entrada acessíveis (feridas, resistência imunológica diminuída). Aspecto relevante é a relação de
infecção grave com um traumatismo de ação criminosa, constituindo uma concausa.
7. ENERGIA BIODINÂMICA
7.1 Choque
É a perfusão tissular inadequada, devido à diminuição volume sanguíneo circulante, causada por
hemorragia ou lesão traumática, neurogênica ou tóxica micro e da macrocirculação. Classificam-se em choque
cardiogênico (deficiência do bombeamento do coração); obstrutivo (por bloqueio ao retorno venoso ao coração);
hipovolêmico (por redução aguda do volume sanguíneo circulante); periférico (resultante da alteração na
distribuição do fluxo sanguíneo).
7.2 Coma
É uma síndrome em que o paciente não responde a qualquer estímulo, retendo apenas os reflexos
primitivos. Os comas de interesse médico-legal são aqueles produzidos por traumatismos cerebrais (hematomas,
edemas e contusões), hepáticos (alcoolismo) e renais (insuficiência renal aguda pelo uso de drogas).
8. ENERGIAMISTA
A energia mista compreende as ações produtoras de lesões corporais ou morte que envolvem diversas
modalidades de energia, incluindo a fadiga, as doenças parasitárias e sevícias.
8.1 Fadiga
É o excesso de atividade corporal que produz alterações físicas ou mentais, podendo ser aguda ou
crônica. A perícia deve procurar esclarecer a causa jurídica, principalmente quando consequente ao trabalho.
São patologias provocadas por helmintos, protozoários e bactérias, podendo ser muitas ve es
verdadeiras doenças profissionais.
8.3 Sevícias
Caracterizam-se por lesões corporais de naturezas diversas (mecânica, física, bioquímica, biodinâmica,
etc.) encontradas concomitantemente em um indivíduo traduzindo maus tratos
9. PERÍCIA MÉDICA
A perícia médica tem a finalidade de diagnosticar as lesões corporais, concluir a forma de energia
causadora, o instrumento utilizado e a causa jurídica da lesão (acidente, suicídio, homicídio, etc).
O diagnóstico da lesão é feito a partir das verificações periciais como as características particulares de
cada lesão, forma, repercussões orgânicas e os sinais encontrados numa necropsia, em caso
de morte, esclarecendo concomitantemente a modalidade de energia que produziu a lesão.
O instrumento utilizado pode ser revelado pela própria forma da lesão, como nos casos das feridas
cortantes, perfuro cortante, das escoriações, equimoses, dos sinais cervicais de estrangulamento, enforcamento e
esganadura.
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A causa jurídica das lesões corporais é concluída pelos caracteres observados, como número (são em
geral numerosas em caso de sevícia), sede (as lesões de defesa se localizam na borda cubital do braço, na face
palmar da mão ou dos dedos e no dorso do pé) e a energia que produziu a lesão (muito comum o suicídio por
envenenamento e enforcamento). A sevícia geralmente tem aspecto doloso, as avitaminoses podem decorrer de
um ato culposo.
Realizado o exame pericial da lesão, o perito deverá responder aos quesitos oficialmente elaborados
para poder classificar a lesão em leve, grave ou gravíssima, conforme a legislação penal.
Lesão corporal, sob o ponto de vista médico-legal, é a consequência de um ato violento capaz de
produzir, direta ou indiretamente, qualquer dano à integridade corporal ou à saúde de alguém, ou ainda,
responsável pelo agravamento de uma perturbação já existente.
Ato violento é qualquer injúria produzida pelos diversos meios causadores do dano quais sejam:
mecânico, físico, químico, físico-químico, bioquímico, biodinâmico, psíquico ou misto.
As lesões corporais constituem elementos objetivos de m crime. São portanto consideradas corpo de
delito, que por sua vez, é o conjunto dos vestígios deixados pelo ato criminoso, constituindo-se no elemento
material resultante do delito, a partir do qual os per podem dizer sua natureza, estabelecer o nexo de
causalidade e deduzir a infração penal prevista pela legislação. Faltando estes vestígios, como nos casos das
injúrias verbais, existe o delito, mas não há o corpo delito, sendo o elemento de estudo subjetivo, como a
prova testemunhal.
O elemento subjetivo de um crime é a voluntariedade, classificada em dolo e culpa.
O crime doloso é aquele realizado com intenção e seu resultado é desejado de modo direto,
premeditado e repentino.
O dolo direto se divide em determinado e indeterminado. É determinado quando o criminoso visa ao
objetivo a ser atingido. O indeterminado ocorre quando o criminoso não visa a um alvo específico, sendo este um
fim alternativo (indivíduo que aciona uma arma de fogo em direção a um grupo, podendo atingir qualquer um dos
participantes).
O dolo indireto ou eventual é o que resulta em consequências previsíveis e premeditadas, mas nem
todas desejadas intencionalmente. É o caso de um indiv que quer matar uma mulher que traz em seu braço
uma criança, e esta é atingida pela arma utilizada na do agressor atingir a mãe, ocorrendo a morte das
duas.
O dolo premeditado é o que leva certo espaço de tempo entre o propósito e a efetivação.
O dolo repentino é a ação criminosa prontamente executada.
O crime culposo é aquele em que as consequências, embora prováveis, não são previstas pelo agente,
nem desejadas. A culpa decorre de imprudência, negligência ou imperícia.
As consequências nocivas decorrentes de uma ação praticada sem intenção, durante o exercício de uma
prática lícita, realizada com devida atenção, caracterizam um acidente. Este é isento de qualquer penalidade.
O Código Penal (Art. 23) enumera as situações em que o ato é praticado com intenção, mas não
caracterizam o crime por ter sido o autor forçado a fazê-lo (exclusão de ilicitude). São os casos de estado de
necessidade, legítima defesa, e estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. A Lei 7.209,
de 11 de julho de 1984 criou a figura do excesso punív no seu parágrafo único. O agente, em qualquer das
hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
As causas e consequências constituem aspectos importantes relacionados às lesões corporais.
Causa é o meio que provoca resultados imediatos e responsáveis por determinadas lesões, levando a
uma relação de causa e efeito.
Concausa é o conjunto de fatores capaz de modificar o curso natural do resultado, independente do fato
inicial e da sua evolução, decorrente de condições patológicas que já existiam ou que podem vir a existir,
agravando o processo, podendo ser preexistentes e supervenientes. As preexistentes são classificadas em
anatômicas (resistência craniana diminuída, heterotaxia visceral, má-formação congênita de um órgão);
fisiológicas (fadiga, convalescença, estado gravídico puerperal, repleção do estômago ou da bexiga); e
patológicas (diabetes, aneurisma da aorta, tuberculose, hemofilia, etc). As supervenientes são as causas
posteriores que, adicionadas à causa traumática, contribuem para o agravamento do resultado, como uma
septicemia ou um tétano.
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As consequências decorrentes das lesões corporais, enu pelo Código Penal (Art. 129, § 1º, 2º e
3º), são as seguintes: incapacidade para as ocupações por mais de trinta dias; perigo de vida; debilidade
permanente de membro, sentido ou função; aceleração de parto incapacidade permanente para o trabalho;
enfermidade incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou função; deformidade permanente; aborto e
morte.
Incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias e a inabilidade parcial ou total de
executar as atividades genéricas, profissionais ou não.
O período de trinta dias, estabelecido para a recuperação da capacidade, deve ser considerado quando a
vítima puder retomar suas ocupações em condições razoáveis, sem causar maior dano ou agravamento local ou
geral de sua lesão.
O perigo de vida é a iminência de êxito letal, demonstrado por sintomas e sinais, no decorrer de um
processo patológico gerado pela lesão. Uma vez existen será sempre considerado, independente do tempo de
duração. Existe perigo de vida nas seguintes circunstâncias: feridas penetrantes das cavidades abdominal e
torácica, hemorragias agudas, coma, asfixias, choques, queimaduras em mais da metade da superfície corporal,
infecções, etc. O perigo de vida não deve ser confundido com o risco de vida, o primeiro é uma situação real,
enquanto o segundo é uma situação provável. Um indivíduo que salta do décimo andar de um prédio e escapa
ileso sofreu risco de vida e não perigo de vida.
Debilidade permanente de membro, sentido ou função é a redução definitiva da capacidade funcional
que incide sobre membro (superior ou inferior), sentido sensoriais que captam informações do meio
ambiente: tato, visão, audição, olfação e gustação) ou função (mecanismo de atuação dos órgãos, sistemas e
aparelhos). Em caso de órgãos duplos (rins, testículos, ovários, etc.) a perda de um deles caracteriza uma
debilidade permanente, bem como nos casos de eliminação de órgãos ímpares (baço), em que suas funções
podem ser compensadas por outros órgãos. No entanto, a perda de um órgão duplo, com o remanescente
portador de alterações funcionais, caracteriza uma perda ou inutilização, desconfigurando a debilidade
permanente.
Incapacidade permanente para o trabalho é a invalidez para qualquer atividade profissional. A
readaptação decorrente de intervenções custosas e perigosas não modificará o conceito médico-legal, não
beneficiando o agressor. São exemplos: amputação ou perda funcional dos dois braços ou de uma perna e um
braço, a cegueira e a alienação mental.
Enfermidade incurável é todo estado mórbido, doença e perturbação, em evolução ou defin que
sem tratamento acessível incomoda o portador (epilepsia pós-traumatismo craniano, paraplegia pós-traumatismo
medular, etc.). Se a cura é possível, porém demandando anos de tratamento ou de custo bastante elevado, a
enfermidade deve ser considerada como sendo incurável.
A perda ou inutilização de membro, sentido ou função é o do dano de uma funcionalidade.
Ocorre por exemplo na mutilação ou amputação de perna braço, na perda da visão pelo comprometimento de
ambos os olhos, na perda dos dentes pela impossibilidade de mastigação. O membro ou órgão pode subsistir
anatomicamente e permanecer inútil. A reparação não modifica o previsto pela lei.
Deformidade permanente é aquela provocada por um traumatismo de origem criminosa, acarretando
em dano estético visível, aparente e definitivo, após sua evolução, que modifica o aspecto habitual.
Este conceito pode variar segundo o examinador, conforme a sede, a extensão, a idade (cicatriz no fundo de uma
ruga), sexo (regiões habitualmente cobertas no homem e expostas na mulher, por imposições da moda), raça
(certas cicatrizes se transformam em quelóides em pessoas da raça negra), condição social (bailarina, religiosa,
trabalhador rural).
Aceleração de parto é a expulsão do feto antes do período fisiológico, em consequência de trauma físico
ou psíquico que atinja a gestante. Se o feto nascer morto caracteriza a figura do aborto, independente da idade da
gestação.
Aborto é a expulsão do feto morto ou sua expulsão seguida de morte, ou ainda, retenção uterina de feto
morto, em decorrência de uma agressão à gestante, não a idade da gestação, a gravidade do dano
corpóreo da mulher ou se o agressor desconhecia o estado gravídico de sua vítima. Não há a qualificadora se o
agente desconhecia a gravidez da vítima ou se sua ignorância era escusável.
A partir destas consequências, as lesões podem ser doutrinariamente classificadas em leve, grave e
gravíssima.
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“Para fins da presente Convenção, o termo ‘tortura’ des qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido ou seja
suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são
infligidos por funcionário público ou por outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua
instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência.
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência unicamente de
sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram”.
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Toda avaliação pericial nos casos de suspeita d crime de tortura deve ser realizada de forma
mais objetiva, impessoal e imparcial possível, com base nos fundamentos médico-legais e criminalísticos (e
nos correntes avanços da Odontologia e Psicologia Forense), e complementada pela experiência profissional-
funcional do perito oficial. O ideal seria que essas perícias fossem feitas apenas por peritos especializados, com
casuística e treinamento no Protocolo de Istambul, para precisar indubitavelmente a existência de tortura.
O exame deve ser realizado num clima de confiança, com paciência e cortesia. É preciso entender que as
vítimas de tortura, na maioria das vezes, mostram-se arredias, desconfiadas e abaladas, em face das situações
vergonhosas e humilhantes a que foram submetidas (freqüentemente por agentes públicos).
O perito (ou, em sua insuperável ausência, profissional correlato, conforme a legislação vigente)
deve sempre manter sigilo das confidências relatadas e somente divulgá-las com o expresso e esclarecido
consentimento da vítima. Examiná-la em ambiente de privacidade e amparo (jamais na presença de outras
pessoas, principalmente de indivíduos que possam ser responsáveis ou coniventes com os maustratos ocorridos).
A vítima, quando as condições objetivas favorecerem, tem o direito de escolher se deseja ser examinada
por um profissional forense do sexo masculino ou feminino. Se a vítima for estrangeira, também tem o direito
de escolher livremente um intérprete para acompanhá-la e orientá-la durante o exame pericial.
As alterações ou perturbações psicossomáticas podem ser evidência de provas determinantes
significativas de que uma pessoa foi torturada. Porém, o contrário (a ausência de tais manifestações na
vítima) não deve ser uma confirmação de que não tenha existido a tortura. Há muitas formas sutis de
violência, principalmente a psíquica, que não deixam seqüelas aparentes.
Na avaliação realizada pelo perito médico-legista ou correlato, a parte correspondente ao
“Histórico” deve ser completa e detalhada, incluindo informações de doenças pregressas e traumas
anteriores à detenção ou maus-tratos. Todas as informações sobre traumas atuais e antigos são
importantes e precisam constar no histórico.
Em relação ao exame físico, esse perito médico-legista (às vezes, em parceria com o perito criminal)
deve procurar analisar minuciosamente as vestes acessórios correspondentes da vítima, utilizando, como
meio de ilustração e documentação, fotografias e esquemas em diagramas do corpo humano (ou das peças de
vestuário).
Para tais situações de suspeita da prática de tortura, a presente proposta de estrutura de quesitos
é:
1º - Há achados médico-legais que caracterizem a prática de tortura física?
2º - Há indícios clínicos que caracterizem a prática de tortura psíquica?
3º - Há achados médico-legais que caracterizem execução sumária?
4º - Há evidências médico-legais que sejam característicos, indicadores ou de
ocorrência de tortura contra o(a) examinando(a), que, no entanto, poderiam excepcionalmente ser produzidos
por outra causa?
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13. RECOMENDAÇÕES ESPECÍFICAS PARA O PERITO MÉDICO-LEGISTA SOBRE COMO REALIZAR EXAMES DE
LESÕES CORPORAIS NOS CASOS DE TORTURA
14. RECOMENDAÇÕES ESPECÍFICAS EM CASO DE NECROPSIA DE PERICIANDO MORTO POR TORTURA (OU
TRATAMENTO CRUEL, DESUMANO OU DEGRADANTE).
Todas as mortes ocorridas em presídios ou centros de detenção onde a vítima tenha falecido sem
assistência médica devem ser examinadas conforme esse protocolo.
A primeira recomendação aos peritos médico-legistas é excluir a possibilidade da morte ser “súbita”, ou
seja, a morte causada por lesões orgânicas significativas que levaram à incompatibilidade com a continuidade da
vida e que tenham ausência de lesões ou alterações produzidas por ação externa. Nesses casos, não há o que
duvidar de morte natural, melhor chamada de “morte com antecedentes patológicos” ou de “morte orgânica
natural”. Daí o óbito dever ser diagnosticado e explicado de forma segura pela presença de antecedentes
patológicos. Segundo o Professor Genival Veloso França, as causas de morte mais comuns ou naturais: cárdio-
circulatórias (cardiopatias isquêmicas, alterações valvulares, cardiomiopatias, miocardites, endocardites,
alterações congênitas, anomalias no sistema de condução, ruturas de aneurismas etc.), respiratórias
(broncopneumonias, tuberculose, pneumoconioses etc.), (processos hemorrágicos, enfarte intestinal,
pancreatite, cirrose etc.), urogenitais (afecções renais, lesões decorrentes da gravidez e do parto);
encefalomeníngeas (processos hemorrágicos, tromboembólicos e infecciosos), endócrinas (diabetes), obstétricas
(aborto, gravidez ectópica, infecção puerperal etc.), outras. No entanto, se forem diagnosticadas lesões
orgânicas e, contudo, essas alterações morfopatológicas não se mostraram suficientes para explicar a morte,
então, muito provavelmente, trata-se de uma situação complexa onde a perícia médico-legal terá que ser
completada a fim de investigar a verdadeira causa do óbito.
A grande tarefa passa a ser, nesse caso, buscar afastar a condição de morte natural, por meio de exames
toxicológicos e anátomo-patológicos. Passa-se a investigar lesões e alterações típicas que justifiquem a morte
violenta (causada por meios externos).
Ainda pode ocorrer uma morte súbita sem registro de antecedentes patológicos, com alterações
orgânicas de menor importância e ausência de manifestações violentas. Nesse caso, a situação é ainda mais
complexa e pode ser explicada como “morte súbita funcional com base patológica” Exemplo: arritmia cardíaca.
Quando isso ocorrer, é importante que se examine cuidadosamente o local dos fatos, analisando-se as
informações do serviço médico, do estabelecimento policial ou penal, ou do médico assistente, e empregando-se
os meios subsidiários mais adequados a cada caso, com destaque para os exames histopatológicos e toxicológicos.
Vale mencionar ainda que deve ser despendida atenção para as recomendações específicas contidas nos
procedimentos anteriormente mencionados para o exame de lesões corporais, com ênfase para o artigo 7º.
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1) Os órgãos periciais devem possuir autonomia administrativa e gerencial, e ter dotação orçamentária
que garanta a satisfatória realização dos exames forenses. 2) Todos os ambientes periciais devem criar uma
unidade especializada de direitos humanos, que garanta a agilidade na realização de perícias nos casos de tortura
e outros crimes conexos. 3) O histórico e exames materiais dos locais e houve vítimas (fatais ou não) com
suspeita de ocorrência de tortura (e dos objetos relacionados a esses casos) devem ser realizados de forma a
seguir os protocolos internacionais e nacionais nesse desiderato. 4) A vítima (ou testemunha, por exemplo) deve
ser entrevistada pelo perito criminal logo após a ocorrência de tortura ou maus-tratos, ainda quando as evidências
(manchas, marcas etc) não tiverem desaparecido ou degradado. 5) A interlocução com as vítimas (ou
testemunhas) deve sempre ser feita em local reservado, sem acompanhamento policial ou de familiares. 6)
Quando o histórico relatar caso de tortura, solicitar Institutos próprios: a) Exame de local por equipe
aparelhada na busca, identificação, colheita, acondicionamento e preservação de fluidos, tecidos e anexos
corporais, entre outros; b) Exame de objetos, visando , por exemplo: natureza, eficiência/eficácia e
compatibilidade com as lesões verificadas; c) Exame de vestes e acessórios correlatos; e d) Exames diversos
visando comprovar a relação entre a(s) pessoa(s) envolvidas e o local/objeto examinado (DNA, sangue, pêlos,
marcas e impressões etc.). (...)
Os que trabalham com perícia em casos de tortura, sevícia ou maus tratos, principalmente
quando as vítimas estão sob a tutela judicial, sabem que as evidências desse crime são difíceis pela
sofisticação dos meios utilizados e pela convivência dos agentes do poder em omitir tais ocorrências não
enviando as vítimas aos órgãos especializados da perícia oficial. Some-se a isso o temor que as vítimas têm de
denunciar seus agressores. (...)
Seguem as recomendações:
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