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Fernando R. Silva2
Guilherme B. de Souza
Edivandro de Paula Castro
Euderson Marinho
Pedro Silva de Araújo
Carlos Teixeira Timm
Wilkler de O. Fonseca
Adenilton Tavares de Aguiar3
RESUMO
Este artigo tem como objetivo oferecer uma breve apresentação do debate sobre a autoria
de Hebreus. Tal debate foi instaurado muito cedo na igreja cristã, sofreu uma pausa entre
os séculos V e XV, porém renasceu de maneira acalorada durante a Reforma, provocando
uma efervescência de ideias que perdura na contemporaneidade. Desde os primeiros pais
da igreja até os eruditos modernos, muitos nomes foram sugeridos: Paulo, Lucas, Clemente
de Roma, Barnabé, Priscila, Apolo, Silvano, entre outros. A disputa parece distante ainda
de uma solução; enquanto esta não chega, a polêmica continua desafiando o pensamento
de eruditos e estudiosos do Novo Testamento.
PALAVRAS-CHAVE: Autoria de Hebreus. Debate. História da interpretação.
Autenticidade.
ABSTRACT
This article aims to offer a brief presentation of the debate about the authorship of
Hebrews. The debate was initiated early in the Christian church. It paused between V
and XV centuries, but was reborn in a heated way during the Reform, causing a ferment
of ideas that continues in contemporary times. Since the early church fathers to modern
scholars, many names were suggested: Paul, Luke, Clement of Rome, Barnabas, Priscilla,
Apollos, Silvanus, among others. The dispute still seems far from a solution. While a
solution does not come, the controversy continues to challenge the thinking of scholars
and students of the New Testament.
KEYWORDS: Hebrews authorship. Debate. Story of interpretation. Authenticity.
1
Este artigo é fruto dos trabalhos de pesquisa do Grupo de Estudo Exegese e Hermenêutica do
Novo Testamento, no período letivo 2011.1, sob a orientação do professor Adenilton T. de Aguiar.
2
Discentes do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) – Cachoeira/BA.
3
Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Católica do Pernambuco; professor de
Línguas Bíblicas no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia – Cachoeira/BA.
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INTRODUÇÃO
Tão grande era a dúvida sobre a autoria de Hebreus nos primeiros séculos
da era cristã, que Orígenes (c. 185-254) chegou a dizer: “Mas quem escreveu a
epístola, na verdade só Deus sabe.”4 O fato é que o autor não nos informa seu nome
nem o destinatário. O título “Aos Hebreus”, para usar as palavras de Girdwood e
Verkruyse (1997, disponível em Logos Bible Software), “pode ter sido adicionado
posteriormente e reflete as opiniões posteriores sobre seu conteúdo, mas ele
acompanha a carta em todos os manuscritos gregos antigos e não há evidência de
que a carta tenha ostentado qualquer outro título.”
O objetivo deste artigo, no entanto, não diz respeito a uma análise das
evidências (internas ou externas) que possam apontar para um autor em detrimento
de outro. Antes, o propósito é apresentar como a autoria foi interpretada ao longo
dos séculos e como o debate percorreu a linha do tempo até alcançar os estudiosos
contemporâneos, os quais continuam buscando respostas para a pergunta: “Quem
escreveu Hebreus?”. As mais variadas opiniões sobre a autoria deste livro que,
diferentemente da maioria das demais obras do Novo Testamento, traz um grego
elegante e uma linguagem elaborada, demonstram apenas que o dilema está distante
de encontrar uma solução.
Os autores deste artigo aceitam a ideia de que “diferentemente de uma carta,
a qual pode emergir de uma profunda emoção e ser escrita num ritmo febril, um
sermão resulta de um planejamento cuidadoso” (JOHNSSON, 1989, p. 27-28).
Isto parece coadunar com a estrutura e propósito do livro de Hebreus, razão pela
qual nos reportaremos a ele através do termo homilia5 em detrimento do termo
epístola. Outrossim, ressaltamos que, tendo em vista o fato de Hebreus compor um
corpus paulino tradicionalmente reconhecido (ATTRIDGE & KOESTER, 1989), os
comentários serão tecidos a partir de uma autoria paulina.
O artigo está divido em quatro partes. Na primeira, introduzimos o início do
debate com a opinião dos pais da igreja, nos quatro primeiros séculos da era cristã;
na segunda, apresentamos um breve relato da condição do debate entre os séculos
V e XV; na terceira, apontamos a Reforma como lugar de um recrudescimento da
polêmica e, na última parte, a condição atual do debate.
4
Fragmento de Eusébio, Hist. eccl. 6.25.14: τί̋ δὲ ὁ γράψα̋ τὴν ἐπιστολήν, τὸ μὲν ἀληθὲ̋
θεὸ̋ οἶδεν
5
A ideia de que Hebreus trata-se de uma homilia e não de uma epístola parece ser um consenso
entre os eruditos contemporâneos (cf. SACKS, 1995; LANE, 2002; ATTRIDGE & KOESTER,
1989)
ADENILTON AGUIAR, GRUPO DE PESQUISA - A AUTORIA DE HEBREUS ... | 115
6
I Clemente 36: 1-5
7
O Pastor de Hermas, Visão II. 3: 2
8
Sobre a Modéstia, p. 20
116 | HERMENÊUTICA, VOLUME 11, N.2, 113-130
Todavia, a teoria de Tertuliano, segundo a qual Barnabé seria o autor da
homilia, precisou enfrentar algumas objeções: 1) somente Tertuliano cita Barnabé
como o autor da homilia; 2) a teoria jamais foi aceita por qualquer escritor patrístico
ou em Chipre, pátria de Barnabé.
Ao que parece, a Igreja Ocidental não estava em condições de discutir a
autoria de Hebreus, visto que ela não estava certa nem mesmo de sua canonicidade.
Somente no quarto século, a homilia seria atribuída a Paulo e tida como canônica em
toda a Igreja ocidental.
ele seja o autor tem sido bastante rejeitada. Hale (2001, p. 344-5) afirma que o que
mais depõe contra a autoria de Clemente é “sua falta de criatividade teológica”.Este
autor acredita que uma análise do texto de Clemente demonstrará apenas que ele é
imitativo e assegura que as semelhanças entre Clemente e Hebreus não vão além das
semelhanças entre Clemente e as cartas de Paulo.
Na Igreja Alexandrina, as referências a Paulo como o escritor da homilia
aparecem apenas através de breves citações: por Dionísio, o bispo que sucedeu
Orígenes; por Teognosto, “Cabeça” da Escola Catequética e provavelmente discípulo
de Orígenes; por Pedro de Alexandria e pelo Sínodo de Antioquia (264 d. C). Além
disso, alusões à autoria paulina podem ser encontradas em São Pinito, bispo de
Cnossos em Creta (EUSÉBIO, 2002, p. 88) e Teófilo de Antioquia. Não obstante,
para Westcott (1920), a compreensão de uma autoria paulina a partir de tais alusões
é alcançada não mais do que por inferências.
Por sua vez, Epifânio (315-403 d.C) afirma que só Marcião de Sínope (85-160
d.C) e os arianos não aceitavam a autoria paulina do livro de Hebreus. Ele reafirma
constantemente o cânon paulino com 14 epístolas. Teodoro de Mopsuéstia (350-428
d.C) segue a mesma linha de raciocínio de Epifânio. Ele chega a afirmar que se a
epístola não fosse de Paulo como as outras, ela não seria proveitosa para os irmãos.
Assim, observa-se que se por um lado a autoria paulina de Hebreus foi
questionada pela igreja do ocidente, a igreja do oriente permaneceu firme quanto à
autenticidade da mesma. Tal convicção também se acha expressa em uma afirmação
feita pelo bispo Apolinário de Laodiceia (cf. MOFAT,1924, p. xix).
A autenticidade de Hebreus foi aceita também pelas igrejas siríaca, asiática e
egípcia. O livro aparece ao lado de Romanos como parte das epístolas paulinas no
cânon siríaco de 400 d.C. Ambrósio não somente diz que Paulo escreveu Hebreus,
como fez citações a este livro, introduzindo-as com a fórmula “está escrito”
(KOESTER, p.23, 2008), o que demonstra que ele reconhecia a sua canonicidade.
A seguinte afirmação de Jerônimo (c.340-420 d.C) está de acordo com o
pensamento de Ambrósio: “Devemos admitir que a epístola escrita aos Hebreus
é considerada como sendo de Paulo, não apenas pelas igrejas do Oriente, mas
por todos os escritores da igreja que escreveram desde o princípio, em grego”9
(KOESTER, p.26, 2008). Schaff (1997) acrescenta que Jerônimo, em seu tratado
contra Joviniano, escrito em 393 d.C, cita Hebreus 6:4-6 e utiliza a expressão: “Paulo
diz em Hebreus”. Além de Jerônimo, podem ser mencionados ainda Alexandre de
Alexandria, Dídimos, Isidoro de Pelusium, Ciro de Alexandria, Ciro de Jerusalém10,
Jacó de Nisibis, Efrem Siro, Gregório de Nissa, Gregório de Naziânzio, Epifânio e
Crisóstomo, como autores que aceitavam a autoria paulina.
9
Tradução Nossa
10
Em Cat. 4:36 to,j Pau,lou dekate,ssara,j Epistola,j (as catorze cartas de Paulo).
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No terceiro Concílio de Cartago (397 d.C), foi divulgada uma lista canônica
contendo treze cartas de Paulo. O mesmo texto dizia que do “mesmo autor” uma
epístola se destinava aos Hebreus (KOESTER, p.26, 2008).
Percebe-se, portanto, que embora um autor ou outro, à semelhança de Cipriano
(c. 258 d.C), o qual não faz menção a Hebreus nos seus principais manuscritos,
demonstrem não aceitar a autenticidade e/ou a canonicidade da homilia aos hebreus,
em geral, tanto a autenticidade quanto a canonicidade são atestadas pela igreja do
oriente.
a ela.
Tem-se, deste modo, o que virtualmente causou o silêncio quanto à autoria de
Hebreus: o sínodo de Cartago, no ano 419 d. C., que declarou Paulo como o autor da
homilia, conteve o debate por séculos. Attridge e Koester (1989, p. 2) acrescentam
que “a suposição da autoria paulina permaneceu intacta até o período da Renascença
e Reforma, quando ela se tornou amplamente questionada”.
Cremos que seja possível alcançar uma resposta à pergunta “por que a questão
da autoria de Hebreus ressurgiria novamente dez séculos depois do Concílio de
Cartago?”, fazendo inferências a partir das proposições da própria Reforma e de seu
contexto teológico. Sabendo-se que (1) a Reforma Protestante foi um movimento
que, entre outras coisas, apelava à autoridade das Escrituras em detrimento das
tradições católicas romanas, (2) consequentemente, a Reforma buscou resgatar tal
autoridade para colocá-la acima da autoridade dos concílios e decretos papais, (3) um
ponto conflitante para a Reforma diz respeito à dicotomia entre livros canônicos e
livros apócrifos. Assim, a questão da autoria de Hebreus surgiria novamente para ser
analisada (CAIRNS, 2008; DANIEL-ROPS & GAMA, 1996). No entanto, a autoria
de Hebreus durante o período da Reforma será tratada mais detidamente no tópico
a seguir.
A REFORMA
Conforme foi visto até o momento, embora a aceitação de Paulo como o
autor de Hebreus não fosse muito difundida na Igreja Ocidental até o século V, a
autenticidade da homilia era amplamente reconhecida na parte oriental do império
romano, de modo que a tradição de que Paulo escreveu Hebreus, sobretudo após o
sínodo de Cartago (419 d.C), permaneceu praticamente incontestada até a Reforma
do século XVI.
Com a Reforma, vários questionamentos se levantaram em relação à
autenticidade da homilia. Erasmo de Roterdã expressou as suas dúvidas a respeito
de sua autoria e canonicidade. Lutero a distingue dos livros cuja autoria, a seu ver,
seguramente pertencia a um apóstolo. Para Lutero, Hebreus também destoava das
principais obras do Novo Testamento. Calvino, por sua vez, embora não aceitasse a
autoria paulina, não questionava a canonicidade do livro (CHAMPLIN, 2002).
Uma vez questionada a autoria paulina, a pergunta inevitável é: “Se Paulo
não escreveu o livro de Hebreus, quem então o escreveu?”. Alguns nomes têm sido
propostos ao longo dos anos, mas durante esse período um nome em especial que
ganhou força foi o de Apolo.
Martinho Lutero foi o primeiro a propor Apolo como o autor de Hebreus, teoria
essa que atraiu alguns apoiadores, conforme se pode apreender na fala de Peterson
(2009, p. 1983): “Como judeu alexandrino de ótima formação acadêmica, Apolo era
eloquente e poderoso nas Escrituras e atuava na mesma esfera missionária de Paulo
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(At 18. 24-28). Ele Poderia muito bem ter escrito uma obra como Hebreus.”
As objeções mais comuns à autoria de Apolo podem ser resumidas da seguinte
forma: o fato de ele ter sido judeu alexandrino, eloquente e poderoso nas palavras
não configura um argumento suficiente para lhe conferir a autoria:
o nome de Apolo está visivelmente ausente no passado, ou seja, nenhum pai da
igreja em algum momento citou Apolo como possível escritor de Hebreus; [..] não
há nenhuma evidência de que Apolo fosse escritor; não há nenhum registro de
que Apolo tivesse qualquer conexão com Roma, o provável destino de Hebreus
(ADAMS, 2009, p. 732).
seguinte.
AUTORES DO PÓS-REFORMA
A fala de alguns teólogos contemporâneos deixa claro que o dilema
relacionado à autoria de Hebreus é um problema que nos alcança. Desde os pais da
igreja até os nossos dias, parece que o esforço para identificar o autor da homilia não
consegue transcender o limite das inferências, conforme se pode apreender a partir
do comentário de Dattler:
Apesar de se manter estritamente anônimo, o autor está presente em cada página de
sua missiva. Logo no primeiro versículo ele se revela como judeu ao se identificar
como descendente dos “nossos pais”. A maneira de falar é tipicamente judaica e
semítica. Igualmente, a menção respeitosa dos profetas faz sentido somente para
um judeu. (DATTLER, 1980, p. 58-59)
Henry (2008, p. 757) é outro teólogo que defende a autoria paulina. Ele tenta
justificar por que Paulo teria omitido seu nome na homilia ao dizer que “sendo o
apóstolo aos gentios, que eram odiosos aos judeus, [Paulo] poderia ter imaginado
adequado omitir o seu nome, para que o preconceito deles contra ele não os
impedisse de ler e avaliar a epístola como o deveriam fazer”.
Wiersbe (1997, p. 674) estabelece uma relação entre algumas passagens
bíblicas a fim de argumentar a favor de uma autoria paulina. Para ele, a amizade
entre Timóteo e o apóstolo Paulo é uma evidência que confirma a autenticidade
da homilia. Em Hebreus 13:23, percebe-se a afinidade entre o autor e Timóteo:
“Notifico-vos que o irmão Timóteo foi posto em liberdade; com ele, caso venha
logo, vos verei.” Em Coríntios 4:17, Paulo declara abertamente que Timóteo é seu
filho amado: “Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no
Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda
parte, ensino em cada igreja.” Outro exemplo utilizado por Wiersbe diz respeito a
uma possível correspondência entre Gl 3:11: “E é evidente que, pela lei, ninguém
é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” e Hb 10:38: “todavia,
o meu justo viverá pela fé; e se retroceder, nele não se compraz a minha alma.”
(TENNEY & WHITE, p. 368).
Outro argumento foi utilizado por Walvoord e Zuck (1985), ao afirmarem
que Paulo teria escrito aos Hebreus em hebraico, mas Lucas teria feito a tradução do
hebraico para o grego. Pfeiffer e Harrison (1962), por sua vez, utilizam a informação
encontrada em Hb 13:24: “Saudai todos os vossos guias, bem como todos os santos.
Os da Itália vos saúdam” em conexão com At 28:16: “Uma vez em Roma, foi permitido
a Paulo morar por sua conta, tendo em sua companhia o soldado que o guardava”, a
fim de associar Paulo a Hebreus. Estes autores então argumentam que o escritor de
Hebreus estava em Roma quando escreveu a homilia. Eles acrescentam que, sendo
esse o lugar onde Paulo estava no final de sua vida, as passagens bíblicas acima
mencionadas, portanto, ligam o autor de Hebreus a Paulo.
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OUTROS AUTORES
Nesta parte do artigo, pretende-se fazer uma breve exposição dos principais
nomes apontados para preencher o lugar do autor de Hebreus.
APOLO
Após a Reforma, sobretudo a partir das deduções de Lutero, o nome de
Apolo ganhou força na opinião de diversos eruditos, os quais o reconheceram
como alguém que muito bem atende as condições para ser o autor da homilia. A
eloquência de Apolo, conforme se pode apreender de Atos 18:24: “Nesse meio
tempo, chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem
eloquente e poderoso nas Escrituras”, geralmente é mencionada como argumento.
Keener (1993) ressalta sua escolaridade e formação filosófica, e Robertson (1997)
simplesmente se posiciona em favor da autoria de Apolo sem se preocupar em
detalhar as razões por que segue tal pensamento. A única fundamentação apresentada
é a suposição de Lutero: “para mim, eu devo, como Lutero, propor Apolo como o
mais provável autor deste livro” (1997, disponível em Logos Bible Software). A
esta altura, é pertinente o comentário de Girdwood e Verkruyse (1997, disponível
em Logos Bible Software), quando afirmam que “concluir que ele [Apolo] foi [...] o
autor de Hebreus é, na melhor das hipóteses, conjectura”.
BARNABÉ
O primeiro a propor a ideia de que Barnabé é o autor de Hebreus foi Tertuliano.
Alguns teólogos contemporâneos simpatizam com esta suposição. Grangeão
e Libório (2009) sustentam que como Barnabé era levita e, consequentemente,
conhecia bem o sistema dos rituais do santuário do Antigo Testamento, ele pode ser
identificado como o autor da homilia. Adams (2009, p. 730), por sua vez, apresenta
três argumentos. Ele diz que Barnabé
(1) foi nomeado muito cedo na história da igreja como o provável autor; (2) era
nativo de Chipre, e os cipriotas eram conhecidos por sua excelência no grego; (3)
é chamado em Atos 4:36 de “filho da consolação” ou “filho da exortação”(Hb
13:22).
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PRISCILA
Outro nome que tem sido relacionado como um dos supostos autores da
homilia em estudo é o de Priscila, que, juntamente com seu marido, Áquila, eram
ligados a Paulo como seus cooperadores (Rm 16:3). Adams (2009, v. 02, p. 731)
resume os argumentos em favor de uma coautoria entre Priscila e Áquila da seguinte
forma:
1. Estavam qualificados como professores cultos;
2. Pertenciam ao círculo paulino;
3. Pertenciam a uma das igrejas que se reuniam nas casas, em Roma (provável
destinatário da homilia);
4. “O enigma do anonimato”. O fato de não aparecer o nome do autor pode
ser explicado pelo fato de que em um mundo dominado pelos homes, era
salutar manter a autoria da homilia em anonimato, sobretudo se ela pertencesse
a uma mulher.
Adams acrescenta que
Priscila e seu marido eram judeus helenísticos cultos. Uma mulher que foi capaz
de instruir Apolo na fé (Atos 18:26) pode ser, sem dúvida, considerada uma
ensinadora talentosa.
Como se vê, a disputa pela autoria de Hebreus parece ser uma constante
em relação a todos os nomes propostos. Não seria diferente em relação a Lucas,
cujo nome foi sugerido como autor da homilia, inicialmente, por Clemente de
Alexandria.
LUCAS
Ellingworth (1993) comenta que a sugestão de que Lucas teria escrito a
homilia tem sido vista por alguns como uma maneira de explicar o excelente estilo
grego que se pode perceber no texto de Hebreus.
Adams (2009) lista alguns argumentos em favor da autoria de Lucas:
1. Ele recebeu o evangelho de testemunhas oculares, o que parece corresponder
com a declaração encontrada em Hb 2:3;
2. O grego de seu evangelho demonstra que ele era capaz de escrever uma
obra com a qualidade literária de Hebreus;
3. Apesar de gentio, tinha afinidades com o estilo hebraico;
Este mesmo autor indica algumas razões por que Lucas não poderia ser o
autor de Hebreus:
1. Ele era gentio;
2. O estilo de Lucas de escrever, conforme se pode perceber no Evangelho
e nos Atos, não é oratório, mas narrativo. A semelhança que existe entre o
vocabulário de Lucas e Hebreus não é maior, por exemplo, que as similaridades
que há entre 1 Pedro e as cartas de Paulo;
3. Parece não haver indícios de que Lucas tenha sido influenciado pela retórica
alexandrina.
Enfim, conforme observou Ellingworth (1993, p. 14), embora haja uma
correspondência lexical entre Lucas e a homilia, “a ausência em Lucas-Atos de
temas como o descanso sabático e o sumo sacerdócio de Cristo, que são centrais
em Hebreus, não podem ser explicados em razão da diferença de propósito ou de
gênero apenas”, de modo que, mais uma vez, a proposta de um novo nome, não
resolve o dilema da autoria de Hebreus.
CONCLUSÃO
Ao longo dos séculos a disputa pela autoria de Hebreus tem oferecido um
dilema que intriga a mente de eruditos do Novo Testamento. Uma lista, em alguns
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