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MARCOS GRANCONATO

PEQUENO MANUAL DE
DOUTRINAS BÁSICAS

Ilustrações de Leandro Boer

São Paulo
2014

2
Copyright © 2014 por Marcos Granconato
Publicado pela Hermeneia Editora

Todos os direitos reseevados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998

É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por


quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros)
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Autorizado o uso de citações breves com indicação da fonte

Contato:
editora@hermeneia.com.br

_________________________________________________________

Granconato, Marcos

Pequeno manual de doutrinas básicas / Marcos Granconato – São Paulo:


Hermeneia, 2014.

5ª Edição Revista e Ampliada

ISBN-13
978-1502738844
ISBN-10
1502738848
_________________________________________________________

Ilustrações: Leandro Boer


Revisão: Simone Matias
Diagramação: Presto Produção e Comunicação

Publicado no Brasil com todos os direitos reservados pela:


Hermeneia Editora Ltda

3
www.hermeneia.com.br

4
A Carlos Osvaldo Cardoso Pinto (in memoriam),
o grande professor que se tornou amigo;
e a Thomas Tronco dos Santos,
o grande amigo que se tornou professor.

5
Índice
Apresentação 7

Capítulo 1
A Doutrina Acerca das Escrituras 9

Capítulo 2
A Doutrina Acerca de Deus 19

Capítulo 3
A Doutrina Acerca de Cristo 31

Capítulo 4
A Doutrina Acerca do Espírito Santo 41

Capítulo 5
A Doutrina Acerca do Homem 55

Capítulo 6
A Doutrina Acerca do Pecado 63
Capítulo 7
A Doutrina Acerca da Salvação 73

Capítulo 8
A Doutrina Acerca da Igreja 87

Capítulo 9
A Doutrina Acerca dos Anjos 101

6
Capítulo 10
A Doutrina Acerca das Últimas Coisas 111

Referências

7
APRESENTAÇÃO
Embora contenha a Santa Escritura uma
doutrina perfeita, a que nada se pode
acrescentar, pois quetesouros
revelar os infinitos aprouvedea sua
Nosso Senhor
sabedoria,
entretanto, a pessoa que não seja bastante
experimentada no seu manuseio e
entendimento necessita de certa orientação e
ajuda, para saber que deva nela buscar a fim de
não vaguear incerta, ao contrário, alcance rota
segura que lhe faculte atingir sempre o fim a
que a convoca o Santo Espírito.

João Calvino, Institutas da Religião Cristã.


Prefácio à Edição Francesa de 1541

O famoso pai da igreja João Crisóstomo disse certa vez com


a propriedade que lhe era peculiar: “Quando a vida é
corrompida, ela concebe uma doutrina que combina com ela.”
Certamente Crisóstomo não ficaria indignado se eu de certo
modo invertesse a sua máxima para afirmar outra verdade do
mesmo
uma vidaporte: “Quandocom
que combina a doutrina
ela.” é corrompida, ela concebe
Foi movido pela preocupação com esta última verdade que
preparei, em 1987, este pequeno manual de doutrinas. Procurei
produzir algo de fácil compreensão, com várias ilustrações, a
fim de que o conhecimento das principais doutrinas da fé cristã
não se tornasse propriedade de qualquer número de pessoas que
não representasse a totalidade dos membros da igreja. Não ouso
afirmar que atingi este propósito na íntegra, pois a sã doutrina,
por ser extremamente rica, nem sempre pode ser apresentada
satisfatoriamente com palavra superficiais.

8
De qualquer modo, eis aqui nosso manual. Sua ampla
aceitação em minha própria igreja me encorajou a levá-lo ao
povo evangélico em geral, chegando a ser produzido em quatro
edições distintas e adotado como material didático em várias
igrejas, grupos de discipulado e seminários teológicos
espalhados pelo Brasil. Minha sincera expectativa é que esta
nova edição revista e ampliada seja ainda mais útil na
trasmisssão da doutrina cristã à igreja tão carente do nosso país.
De maneira nenhuma é meu intento apresentar este livro
como algo srcinal. A própria ideia de preparar um livreto para o
ensino dos crentes é antiga na história da igreja cristã. Na
verdade, já no século II, manuais de ensino prático eram usados
pelos cristãos sendo o Didaquê o exemplo clássico disso.
A falta de srcinalidade em nosso livreto não se limita,
contudo, à ideia de
modo necessário, ao prepará-lo, mas Oseque
seu conteúdo. estende também,aqui
se encontra e deé
baseado nos diversos livros alistados na bibliografia ao final, os
quais devem ser consultados caso o estudante tenha o desejo de
se aprofundar mais no estudo da doutrina bíblica.
O que temos à mão é algo modesto. Apesar disso, é um
trabalho que requereu o auxílio de pessoas a quem eu sou grato.
Dentre elas quero destacar o nome do Pr. Thomas Tronco dos
Santos que deu ao manual um formato mais estético e didático.
Também detaco o esforço do meu querido irmão na fé Leandro
Boer que preparou cuidadosamente cada uma das ilustrações,
sempre preocupado em fazer delas ferramentas eficazes para a
apreensão e memorização das verdades ensinadas. Eu sei que o
Senhor recompensará o trabalho dedicado desses homens.
É com bastante alegria que entrego o PEQUENO MANUAL
DE DOUTRINAS BÁSICAS aos evangélicos do nosso país, na
esperança de que ele possa ser usado, conforme disse um
teólogo amigo, “em defesa da fé histórica, atual e relevante”.

9
Marcos Granconato
Soli Deo gloria

10
CAPÍTULO 1
A DOUTRINA ACERCA DAS
ESCRITURAS
(Bibliologia)

Quando a Palavra de Deus é negligenciada, a


religião pura e verdadeira desaba. Quando ela
desaba ninguém pode, nem será salvo.

Erasmus Sarcerius (1501 - 1559)

Introdução
A Bíblia é a única base da doutrina cristã. Por isso, se o
conceito formulado sobre as Escrituras for errado, todas as
outras doutrinas serão afetadas de modo negativo.
Daí percebe-se a importância da concepção sadia da Bíblia.
Quando ela não é considerada do modo como exige, não pode
servir de base para a conservação da “sã doutrina” (Tt 2.1).

11
Intimamente ligada à doutrina está a vida diária do cristão. O
comportamento do crente deve ser um exemplo de doutrina
posta em prática. Portanto, se uma pessoa não tiver uma ideia
correta acerca da Bíblia, isso também influenciará o seu modo
de andar.

Com efeito, a Bíblia deve ser para o cristão um manual de


padrões para a vida. Se não for assim, o homem estará à mercê
dos seus próprios modos errados e pecaminosos de pensar, os
quais fatalmente o conduzirão à ruína.
Deve ser lembrado que há pessoas que, apesar de
professarem um conceito sadio da Bíblia, vivem em desacordo
com isso. É claro que essas pessoas envergonham o Evangelho.
Suas vidas espirituais são um verdadeiro fracasso.

12
A revelação
Revelação é, basicamente, o desvendamento de algo que era
desconhecido ou a manifestação de alguma coisa que estava
escondida. No contexto judaico-cristão essa palavra é usada para
se referir à comunicação que Deus faz de si mesmo e da sua
vontade. Assim, em termos teológicos, a revelação é um
processo por meio do qual Deus desvenda ao homem seu caráter
e seus desígnios. O resultado desse processo também é chamado
de revelação.

Para fins de estudo, a revelação de Deus se divide em dois


aspectos:

A revelação geral: Refere-se ao testemunho que Deus dá si


mesmo a todos os homens por meio da criação (Rm 1.19-20), da
sua providência na história (At 14.15-17) e da consciência
humana (Rm 2.14-15). A revelação geral alcança todos os
homens em todos os lugares (Sl 19.1-6), mas não tem conteúdo
redentor. O máximo que ela faz é expor alguns atributos de
Deus, tornando os homens indesculpáveis por rejeitá-lo (Rm
1.20-23).

13
A revelação especial ou específica: Refere-se ao
desvendamento do caráter e do plano de Deus na história da
redenção (Sl 78;
da revelação 107),
– Jo na pessoa
1.18; de 1.15;
14.9; Cl Cristo2.9;
(a expressão
Hb 1.1-3)máxima
e nas
Escrituras Sagradas (2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21). A revelação
especial tem conteúdo salvífico, ou seja, é possível alguém
compreender o plano redentor de Deus por meio dela (2Tm
3.15). Contudo, ainda que destinada a todos, a revelação
especial alcança efetivamente um número limitado de pessoas.

14
A inspiração
Conforme visto, a Bíblia compõe a revelação especial de
Deus, tendopor
inspirada sidoDeus,
inspirada
istoporsignifica
ele. Quando
que seodizEspírito
que a Bíblia
Santoé
supervisionou aquilo que os autores bíblicos escreveram nos
autógrafos, isto é, nos escritos srcinais (as cópias não foram
inspiradas) de tal modo que eles o fizeram sem cometer qualquer
erro.
Deus não ditou as palavras da Bíblia (apenas poucas partes
foram provavelmente ditadas – e.g., a Lei), nem tampouco os
autores bíblicos entraram em estado de êxtase para escrever os
livros.

O que Deus fez na realidade foi mover (2Pe 1.21) ou dirigir


os escritores paraculturas
personalidades, que compusessem suamentais.
e faculdades revelaçãoDesse
usandomodo,
suas

15
pode-se dizer que Deus falou através do homem (Mt 1.22;
2.15;1Co 14.37).

É importante destacar que não é correto dizer que os autores


bíblicos foram inspirados por Deus. O termo “inspirados” se
aplica apenas aos livros bíblicos. Seus autores foram movidos ou
impelidos (Gr. ferómenoi) pelo Espírito Santo. Alguns textos
bíblicos que servem de base para esse ensino são Mateus 5.18;
22.43; 2Timóteo 3.16; 2Pedro 1.20-21 e Hebreus 1.1.

Hoje não existe nenhum fragmento sequer dos escritos


srcinais. Todos se perderam ao longo dos séculos. O que se tem
agora são cópias, a maioria delas preparada por homens zelosos
e habilidosos. Para se chegar ao texto srcinal um trabalho
científico
cópias e denominado
crítica textual tem sido realizado nessas
em fragmentos delas. Graças à ação de Deus em
preservar sua Palavra (1Pe 1.24-25) e aos esforços da crítica
textual, o conteúdo dos autógrafos foi mantido acessível com
precisão praticamente total.

16
O crente deve ter sempre em mente que a Bíblia, por ser
divinamente inspirada, é:

Inerrante: Não há erros na Bíblia, seja no campo da


ciência, da geografia, da história ou da filosofia (Jo 10.35;
17.17).
Infalível: O que a Bíblia ensina não conduz as pessoas ao
erro. Nos caminhos e soluções que prescreve, ela nunca falha, de
modo que a pessoa que a obedece pode caminhar segura,
sabendo que está seguindo um mapa que a leva na direção certa.
Ademais, suas promessas e profecias nunca falham. O que ela
diz acerca do amanhã, certamente se cumprirá (Nm 23.19; Sl
119.9,11; Mt 5.18; Tt 1.2).

Além disso, uma vez que Deus a destinou a criaturas


inteligentes com o objetivo de lhes transmitir verdades
essenciais, a Bíblia também é interpretável. Isso significa que
há um sentido específico (e não vários!) em cada porção do
texto sagrado. Esse sentido pode ser descoberto por meio do
emprego das regras normais de hermenêutica, usadas, inclusive,
pelo próprio Cristo (Mt 22.41-46).

17
É verdade que há trechos difíceis de entender, mas isso não
autoriza ninguém a dar ao que foi escrito o sentido que achar
mais conveniente, distorcendo as Escrituras (2Pe 3.15-16).
Antes, o leitor deve buscar o significado pretendido pelo autor
sagrado, sabendo que esse significado é claro na maioria das
vezes e compõe a mensagem do próprio Deus ao homem.
Por ser inspirada, inerrante, infalível e interpretável,
somente a Bíblia pode ensinar o que é correto acerca do Deus
único e verdadeiro. Assim, qualquer crença que a rejeite jamais
poderá levar o homem ao real conhecimento da divindade.

A canonicidade
Sendo inspirados
de canonicidade. por Deus,
O termo os livros
“cânon” vem doda hebraico
Bíblia são(qaneh
dotados
)e
do grego (kánon) e significa, basicamente, vara de medir ou
régua. Com o tempo, essa palavra passou a ter um significado
mais amplo, indicando também uma norma ou padrão de
qualquer natureza (Gl 6.16).
Assim, quando se afirma que um livro é canônico, isso
significa que deve ser usado como uma régua para “medir” a
validade do que o homem crê e faz.
Deve ficar bem claro que a canonicidade dos livros bíblicos
não lhes foi imposta por homens. O fato de Deus tê-los
produzido usando o processo da inspiração visto acima é que
lhes confere canonicidade. Os homens simplesmente
reconheceram essa qualidade presente nos livros bíblicos desde
a sua produção. Aliás, mesmo os escritores bíblicos tinham
consciência da autoridade de seus escritos por serem revelação
de Deus. Isso se pode ver, por exemplo, em 2Samuel 23.2;
1Coríntios 2.13 e 14.37.
Para reconhecer um livro como canônico foram usados os

18
seguintes critérios:

Autoria profética ou apostólica: Para ser reconhecido, o livro


deveria ser escrito por um profeta, por um apóstolo ou por
alguém sob a autoridade de um apóstolo (por exemplo, Marcos
escreveu seu evangelho sob a autoridade do apóstolo Pedro).

Aceitação: Para ser reconhecido, o livro tinha que ter ampla


aceitação
geral foi entre o povo fator
considerado de Deus. O reconhecimento
muito importante, umadavez
igreja
queemo
Senhor manifesta sua direção por meio do povo santo.

Conteúdo: Para ser reconhecido, o livro tinha que mostrar


harmonia doutrinária com a ortodoxia já fixada. Livros que
apresentassem desvios ou negação de doutrinas consagradas
foram rejeitados.

Inspiração: Para ser reconhecido, o livro tinha que dar

19
evidências de srcem divina, falando com autoridade e
apresentando valores morais e espirituais elevados, próprios de
uma obra inspirada pelo Espírito Santo.

O cânon
Enquanto o termo canonicidade se aplica a uma qualidade
sobrenatural dos livros bíblicos, a palavra “cânon” é usada para
se referir ao conjunto de livros que compõem tanto o Antigo
como o Novo Testamento.

A Bíblia é composta por 66 livros. Dessas obras, 39 fazem


parte do Antigo Testamento e 27 do Novo. Os livros do Antigo

Testamento são classificados da seguinte maneira:


CLASSIFICAÇÃO LIVROS OBSERVAÇÕES
Gênesis, Êxodo,
São os cinco
Pentatêuco Levítico, Números e
livros de Moisés
Deuteronômio.
Josué, Juízes, Rute, 1 e
2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1
Históricos ‒
e 2Neemias
Crônicas, Esdras,
e Ester.
Os livros de
Jó, Salmos, Provérbios e de
Poéticos Provérbios, Eclesiastes Eclesiastes são
e Cantares também chamados
de sapienciais.
Isaías, Jeremias,

Lamentações
Jeremias, de
Ezequiel,

20
Daniel, Oseias, Joel, Jeremias foi
Proféticos Amós, Obadias, Jonas, escrito na forma
Miqueias, Naum, de poesia.
Habacuque, Sofonias,
Ageu, Zacarias e
Malaquias.

Quanto aos livros que fazem parte do Novo Testamento, sua


classificação é a seguinte:

CLASSIFICAÇÃO LIVROS
Evangelhos Mateus, Marcos, Lucas e João.
Atos ‒
Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Epístolas Paulinas
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e
Filemom.
Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3
Epístolas Gerais
João e Judas.
Apocalipse ‒

O judaísmo ortodoxo não aceita os livros do Novo


Testamento. Já o catolicismo romano, desde o Concílio de
Trento (1545-1563), recepciona os livros apócrifos que são 13
obras (incluindo fragmentos de livros) escritas durante a época
do Império Grego (também chamado de período interbíblico) e
que não são reconhecidas nem pelo judaísmo, nem pelo
protestantismo.
O termo “apócrifo” significa “oculto” e os livros sob essa
designação são os seguintes: 1 e 2 Esdras, Tobias, Judite,
adições a Daniel (Salmo de Azarias, Cântico dos Três Jovens,

21
História de Susana, Bel e o Dragão), adições a Ester, Oração de
Manassés, Epístola de Jeremias, Baruque, Eclesiástico (Siraque),
Sabedoria de Salomão e 1 e 2 Macabeus. Alguns manuscritos da
Septuaginta incluem 3 e 4 Macabeus e os Salmos de Salomão.

A concepção de Jesus acerca das


Escrituras
Jesus expressou uma concepção extremamente elevada das
Escrituras. No tocante a isso, os Evangelhos mostram o
seguinte:

1. Jesus usou a Escritura para repudiar as tentações de Satanás


(Mt 4.1-11).
2. Jesus realçou a perenidade da Lei Mosaica e dos Profetas
(Mt 5.17-18), tornando esses escritos comparáveis às suas

próprias
3. Jesuspalavras
destacou(Mtque
24.35).
o testemunho de todo o Antigo

22
3. Jesus destacou que o testemunho de todo o Antigo
Testamento acerca dele se cumpriria (Lc 24.44).
4. Jesus aprovou a visão de que nas Escrituras se encontra a
vida eterna (Jo 5.39).
5. Jesus afirmou que o Espírito Santo falou através dos autores
bíblicos (Mc 12.36).
6. Jesus aceitou a historicidade de eventos bíblicos
considerados questionáveis na atualidade (Mt 12.39-41; Mc
10.6; Lc 17.26-27; Jo 6.49).
7. Jesus defendeu a inerrância (ou, talvez, a integridade. Cp.
Tg 2.10) da Escritura dizendo que ela não pode ser
desmembrada (Jo 10.35).
8. Jesus destacou a importância de se conhecer
profundamente a Escritura (Mt 22.29).
9.
do Jesus valorizou
texto bíblico (Mtdetalhes gramaticais
5.18; 22.31-32, e palavras específicas
43-45).
10. Jesus garantiu a composição inerrante do Novo
Testamento, dizendo que enviaria o Consolador que guiaria
os apóstolos nessa tarefa (Jo 14.26; 16.12-15).

23
A iluminação
Iluminação é o ministério do Espírito Santo de capacitar o
homem que é alcançado por sua graça a compreender a
revelação escrita de Deus.
Essa obra é necessária porque as verdades da Palavra
pertencem a uma dimensão que está muito acima do alcance da
mente humana (Is 55.8-9), sendo conhecida somente pelo
Espírito (1Co 2.11). Por isso, sem o auxílio do Senhor não há
como o homem acolher o que foi revelado (Lc 24.44-45; 1Co
2.12).
Pra piorar a situação, Satanás cega o entendimento das
pessoas, impedindo--as de compreender o evangelho (2Co 4.3-

4). É por causa


iluminadora disso que
do Espírito, não os incrédulos,
conseguem não tendo
entender a ação
nem mesmo
as verdades espirituais mais elementares (1Co 2.14).

A iluminação do Espírito Santo na mente do homem por ele


favorecido é iniciada,
conhecimento assim,
da pessoa ao tempo
é aclarado, da conversão,
passando quandoaso
ela a enxergar

24
realidades espirituais do evangelho (At 16.14; 2Co 3.15-16; 4.6;
Hb 10.32). A partir daí, a ação do Espírito Santo de trazer luz à
mente do crente prossegue (Ef 1.17-19), fazendo-o entender
mais e mais a verdade revelada e também levando-o à aceitação
dela, fatores essenciais para o crescimento na vida cristã (2Co
3.18; Cl 1.9-10).

25
CUIDADO! VENENO!
Liberalismo teológico: Ensina que a revelação de Deus
acontece por meio de fatos que se situam dentro da ordem
natural das coisas. Segundo os liberais, os escritores antigos
testemunharam esses fatos e os interpretaram como milagres,
adicionando-lhes uma dimensão sobrenatural inexistente. Por
isso, as descobertas da ciência, da filosofia e da psicologia da
religião
autores devem ser removendo
bíblicos, usadas para corrigir
do texto as ideias
bíblicodistorcidas
tudo quedosé
mitológico (demitização ou desmitologização).

Neo-ortodoxia: Ensina que Deus só pode ser conhecido


quando sua Palavra viva, o Cristo eterno, se encontra
pessoalmente com o indivíduo. A Bíblia descreve essa
experiência na vida de vários de seus personagens e assinala o
caminho para esses encontros existenciais. Dessa forma, as
Escrituras contêm testemunhos da revelação divina feita a
homens do passado e, na medida em que servem para levar o
indivíduo a um encontro com Deus, são revelação também hoje.
Há, assim, dois momentos de revelação: um passado (as
experiências registradas na Bíblia) e um presente (desde que,
lendo a Bíblia, o homem tenha um encontro com Deus).

26
Movimentos sectários e heréticos: A seitas e os
movimentos heréticos que se dizem cristãos geralmente adotam
um livro além da Bíblia, atribuindo-lhe o mesmo grau de
autoridade que dizem reconhecer nas Escrituras. É assim com os
mórmons que creem na natureza sacrossanta do Livro de
Mórmon. É assim também com os Adventistas do Sétimo Dia
que consideram como proféticos os escritos de Hellen G. White.
Outros movimentos heréticos põem certas pessoas, entidades ou
tradições no mesmo pé de igualdade das Escrituras. Esse é o
caso do romanismo que confere autoridade divina à sua tradição
e também ensina a doutrina da infalibilidade papal. Também é o
caso das Testemunhas de Jeová que consideram o conselho que
as preside, o chamado Corpo Governante, como detentor de
autoridade sobrenatural. Na prática, ainda que digam estar
sujeitos à Bíblia, esses movimentos tendem a situar seus livros e
líderes muito acima das Escrituras.

27
Traduções espúrias: O fato de existirem milhares de
manuscritos bíblicos antigos faz com que pequenas diferenças
surjam entre um e outro. São as chamadas variantes textuais. Ao
lidar com essas variações, nem sempre o trabalho da crítica
textual é conclusivo, o que faz com que os tradutores da Bíblia
tenham eventualmente que escolher qual texto deverão adotar
em seu trabalho. Ocorre, porém, que não raro os tradutores
divergem em suas opções, o que faz com que traduções
diferentes apareçam. Outras vezes, o leque de significado de um
termo ou de uma expressão hebraica ou grega é muito amplo e o
tradutor tem que escolher a alternativa que acredita ser a melhor.
Naturalmente, nem sempre os tradutores fazem a mesma opção
e, mais uma vez, traduções bíblicas distintas aparecem (ARA,
ARC, ACF, dificuldades
Na verdade, NVI, NTV...). Nada
assim sãodisso é condenável
comuns ou esforço
em qualquer errado.
de transmitir a mensagem dada em uma língua por meio de outra
totalmente diferente. Ademais, é preciso lembrar que, mesmo
havendo um campo textual que admita diferentes traduções, esse
campo é limitado e jamais afeta a mensagem central das
Escrituras. O que se deve evitar, porém, são as traduções
espúrias, ou seja, traduções que, sem a menor base textual,
gramatical ou semântica, fazem acréscimos e alterações na
Bíblia com o fim (às vezes declarado!) de transmitir conceitos
errados e até blasfemos. É o caso da versão Novo Mundo das
Escrituras Sagradas (NM), tradução feita pelas Testemunhas de
Jeová. Essa tradução remove ou altera descaradamente qualquer
expressão que aponte para a divindade de Cristo ou do Espírito
Santo. Há também traduções feministas que evitam a referência
a Deus como Pai e chamam Cristo de “a criança de Deus”, em
vez de Filho. São as chamadas versões com “linguagem
inclusiva”. Em tempos recentes, até mesmo paráfrases repletas
de gírias e palavrões (e.g., Bíblia Free Style) têm sido

28
preparadas sob o pretexto de alcançar pessoas que usam esse
tipo de linguagem. Esses esforços, porém, sequer podem ser
chamados de traduções, posto que em nada reproduzem a real
mensagem do texto sagrado para a língua a que se propõem
traduzi-la.

29
CAPÍTULO 2

A DOUTRINA
(Teontologia) ACERCA DE DEUS
(...) o mais portentoso fato a respeito de qualquer
homem não é o que poderá dizer ou fazer em um
dado momento, mas sim a imagem que ele leva
de Deus, no fundo do seu coração.

A. W. Tozer, Mais Perto de Deus, p.7.

Introdução
Obviamente os crentes aceitam sem reservas o fato da
existência de Deus. Crendo na veracidade da Bíblia, não podem
negar o Deus que ela apresenta.
Assim,
prático fingenuma sociedade em
ser incontestável, que o ateísmo
os discípulos de Jesusfilosófico
caminhame
na contramão das tendências seculares, proclamando a realidade
de um Deus criador, amoroso e santo com quem é possível o
homem se relacionar e, por meio disso, desfrutar de notável
satisfação .

30
Os cristãos também acreditam que o fato de alguém aceitar
ou não o Deus das Escrituras Sagradas influencia diretamente
não somente a sua religiosidade, mas também o estilo de vida
que adota, o qual abrange seu modo de pensar, falar e agir. O
ateísmo, segundo entendem, é, portanto, perigoso, uma vez que
lança o homem num vácuo moral, longe de qualquer
fundamento ético sólido sobre o qual possa construir sua vida e
conduta.

Fica claro, portanto, que a crença em Deus e a concepção


sadia acerca dele não são meras questões filosófico-religiosas,
mas constituem fatores determinantes da felicidade e do bom
viver do ser humano.

A existência de Deus
31
A Bíblia não discute a existência de Deus. Antes,
simplesmente a afirma logo em seu primeiro versículo (Gn 1.1),
dizendo posteriormente que é possível perceber que Deus existe
por meio da criação e da providência (At 14.17; Rm 1.20), sendo
isso tão óbvio que somente os insensatos são capazes de dizer
que não há Deus (Sl 14.1).

Por causa disso, os argumentos a seguir não foram


desenvolvidos na Bíblia. Em vez disso, foram elaborados por
teólogos do passado que perceberam que a existência de Deus
podeHá,
serbasicamente,
comprovada quatro
pelo simples uso dalógicos
argumentos razão. que são usados
para defender a existência de Deus. Veja-os a seguir:

O argumento cosmológico: Esse argumento afirma que existe


um mundo (Gr. kosmos). Logo, algo ou alguém deve tê-lo
causado, pois não existe efeito sem causa. Ademais, numa
cadeia ininterrupta de causas e efeitos, chega-se fatalmente a
uma causa srcinal não causada. Essa causa primária só pode ser
Deus. Os principais expoentes desse argumento foram

32
Aristóteles e Tomás de Aquino.

O argumento teleológico: Aponta para o fato de que as coisas


que existem no universo têm um propósito ou finalidade (Gr.
telos). Além disso, tudo revela um arranjo ordenado num grau
de harmonia e organização surpreendentes. Obviamente, um
sistema harmonioso, funcional e que atende a inúmeras
finalidades não pode ter como causa uma força impessoal (como
uma explosão, por exemplo) ou o acaso. De fato, somente uma
mente inteligente pode srcinar sistemas tão complexos como os
encontrados no universo. Essa “mente” só pode ser Deus.

O argumento antropológico e moral: Esse argumento realça


que o homem não é apenas um ser físico, mas também um ente
dotado de consciência, senso moral, intelecto, emoções e
vontade. Esses fatores psíquicos e morais não podem ter como

33
causa uma força cega ou meros componentes físico-químicos.
Além disso, a crença da divindade é inerente ao homem. Tudo
isso só encontra explicação no fato de o ser humano ter sido
criado à imagem e semelhança de um Deus santo e pessoal que
imprimiu nele algumas de suas marcas.

O argumento ontológico: Foi proposto inicialmente por


Anselmo de Canterbury (c. 1033-1109). Parte da afirmação de
que a crença em Deus é universal, sendo certo que todo homem
tem em si a ideia de um Ser Perfeito. Segundo Anselmo, se o
homem concebesse a ideia de um Ser Perfeito que não existe,
esse ser não seria perfeito, dada a sua inexistência. Logo, o Ser
Perfeito deve existir. Esse argumento, além de confuso, tem sido
muito questionado no tocante à sua validade.

Os atributos de Deus
Um atributo é uma qualidade própria de um ser. Por
atributos de Deus entendem-se as propriedades que pertencem
ao seu ser e que consequentemente o caracterizam. Seus
atributos são perfeições que lhe são atribuídas nas Escrituras e
que podem ser verificadas nas obras da criação, providência e
redenção.
Como os atributos de Deus são vários, alguns estudiosos os
dividem em dois grupos: os atributos naturais e os atributos

34
morais.

Os atributos naturais
São atributos ligados à existência de Deus, ou seja, àquilo
que ele é em si mesmo. Os atributos naturais são os seguintes:

Vida. Deus é um ser vivo. Ele pensa, sente e age. Sua vida é
infinita. Ele jamais morrerá (Jr 10.10; Mt 16.16; Jo 5.26; 1Ts
1.9).

Espiritualidade. Deus é Espírito. Ele não tem corpo, sendo,


portanto, invisível (Dt 4.15; Jo 4.24; 1Tm 1.17).

Personalidade
em . Deusas
um corpo como é pessoal.
pessoas Isto não significa
comuns, mas simque
queeleeleexiste
tem
uma personalidade, sendo dotado de intelecto (ou inteligência),
emoções e vontade (Êx 4.14; Rm 8.28; 11.33-36; Ef 1.8-9).

35
Autoexistência. Deus existe por si mesmo. Ele não foi causado.
Sua vida não provém de nada que não seja ele mesmo. É
necessário frisar também que ele não se autocriou (Êx 3.14; Jo
5.26).

Eternidade. Deus não tem começo e nem fim. Ele existe e


sempre existiu eternamente. Ele está acima do tempo (Sl 90.2;
Hb 1.10-12; Ap 1.8).

Onisciência. Deus conhece todas as coisas. Não há nada que ele


possa ou tenha que aprender. Seu conhecimento é infinito e
completo (Is 40.28; Rm 11.33; Hb 4.13). Ele sabe o que
aconteceu, o que acontece, o que acontecerá e o que aconteceria
(Sl 139.3-4; Mt 11.21-23).

Onipotência. Deus tem poder ilimitado. Ele pode fazer tudo que
deseja e que planejou executar sem que nada o impeça ou
dificulte suas ações (Jó 42.2; Jr 32.17; Sl 115.3; Mt 19.26).
Entretanto, todo o seu poder é coerente com seu caráter santo e
sua natureza infinita. Desse modo, há coisas que Deus não pode
fazer como mentir, morrer ou criar um ser melhor que ele
próprio (Tt 1.2; Hb 6.18).

36
Onipresença. Deus está presente em todos os lugares. Não se
pode fugir de sua presença. Isso não significa que Deus está
contido em sua criação, mas, sim, que não existe lugar algum em
todo o universo onde ele não esteja (Sl 139.7-10; Jr 23.23-24).

Imutabilidade. Deus não muda. Ele permanece sempre o


mesmo. Seu relacionamento com as pessoas as transforma, mas
ele mesmo nunca é transformado. De fato, nada lhe pode ser
acrescentado ou tirado. Sua imutabilidade é real porque ele é
perfeito, não havendo nada em seu ser que precise mudar (Sl
102.27; Ml 3.6; Tg 1.17).

Os atributos morais
São os atributos ligados ao caráter infinitamente imaculado
de Deus. Podem ser resumidos em dois:

Santidade. Deus é absolutamente santo. Ele está separado de


tudo o que é mau e impuro. Ele é perfeito, puro e íntegro em seu
caráter (Is 6.3; 1Pe 1.15-16; 1Jo 1.5; Hb 6.18). A santidade de
Deus
exige se manifesta
o que por 25.8).
é reto (Sl meio Também
de sua retidão, ou de
por meio seja,suaelejustiça,
faz e

37
que é a execução das penalidades contra o pecado (Sl 11.4-7), a
santidade de Deus se evidencia.

Amor. Deus ama suas criaturas. Ele se preocupa com o bem-


estar delas. Movido pelo amor, Deus sai em busca do homem e
procura se(Isrelacionar
sacrifício 63.9; Jo com
3.16;ele,
1Jomesmo
4.16). quando
O amor isso envolve
de Deus se
manifesta também por meio de sua misericórdia, que é a
disposição que tem de não aplicar a pena que o pecado merece, e
por meio da sua graça, que é a disposição que tem de dar aquilo
que o pecador não merece (Ef 2.8).

Outros importantes atributos de Deus são:

Soberania: Deus reina absoluto sobre todo o universo,


governando-o com sua infinita sabedoria e sem ter que oferecer
explicações a ninguém acerca de seus atos (Jó 40.1-9; Rm 9.20).

38
Liberdade: Sendo soberano e dono de tudo, Deus é livre para
fazer o que quiser, sendo impossível que ultrapasse seus
“direitos”, uma vez que não há limites para sua autoridade (Is
46.9-10; Rm 9.21).

Autossuficiência: Deus não precisa de nada nem de ninguém.


Quando ele realiza ou ordena algo, não o faz para suprir alguma
necessidade sua, mas para manifestar livremente seu amor,
sabedoria, poder e graça aos homens (At 17.24-25).

A Trindade
Deus é um ser em três pessoas. Pai, Filho e Espírito Santo
são pessoas
essência. Essadistintas,
doutrina que
não sepode
inter-relacionam
ser entendida numa única
pela lógica
humana, mas é claramente ensinada na Bíblia que afirma a
divindade do Pai (Ef 1.3), do Filho (1Jo 5.20) e do Espírito (At
5.3-4).
A doutrina da Trindade não deve ser entendida como
triteísmo (a crença em três deuses distintos), pois ainda que
Deus seja tripessoal, a Bíblia afirma claramente que ele é um só
em essência ou substância (Dt 6.4; Tg 2.19).

39
Também não se deve pensar que as pessoas da Trindade
sejam manifestações diferentes de uma só pessoa divina
(sabelianismo ou modalismo). Isso porque as três pessoas, ainda
que unidas em essência (Jo 10.30), são distintas entre si (Mt
3.16-17), sendo certo que o Filho é eternamente gerado
(unigênito) pelo Pai (Jo 1.14,18; 3.16,18) e a ele se sujeita (Jo
5.19;
do Pai,8.28;
mas12.49), enquanto
é enviado o Espírito
tanto pelo Pai (JoSanto procede
14.16,26) somente
como pelo
Filho (Jo 15.26).
Sendo as três pessoas da Trindade iguais em divindade,
tanto o Pai como o Filho e o Espírito Santo devem ser
igualmente adorados, cultuados, honrados invocados e
obedecidos (Mt 28.19; 1Co 8.6; 2Co 13.14; 2Tm 1.2; 1Jo 1.3).

Os nomes de Deus
A Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, apresenta
diversos nomes pelos quais Deus é chamado. Cada um deles
revela algo acerca do caráter ou das obras do Senhor.

NOME SIGNIFICADO EXEMPLO DE


OCORRÊNCIA
Elohim Deus(alguémforte) Gn1.1
Adonai Senhor(detudo) Js3.11

40
Yahweh EUSOUQUEMSOU Êx3.14-15
ElShaddai DeusTodo-Poderoso Gn17.1
ElElyon DeusAltíssimo Gn14.18-22
ElOlam DeusEterno Is40.28
YahwehJireh OSenhorproverá Gn22.14
Yahweh Nissi O Senhor é minha Êx 17.15
bandeira
YahwehShalom OSenhorépaz Jz6.24
Yahweh Sabbaoth O Senhor dos exércitos 1Sm 1.3
Yahweh O Senhor que vos Êx 31.13
Meqaddishkem santifica
Yahweh Tsidkenu O Senhor justiça nossa Jr 23.6

Os decretos de Deus
Decretos de Deus são seus planos e desígnios perfeitos,
estabelecidos na eternidade. Por meio deles o Senhor dirige
soberanamente a história e realiza sua vontade em todo o
universo, atingindo, assim, seus propósitos santos (Ef 1.11).
Os decretos de Deus são impossíveis de ser frustrados (Jó
23.13-14; 42.2; Is 43.13; 46.10), sobrepõem-se aos propósitos
humanos (Sl sofrem
perfeitos, não 33.10; alterações
Pv 19.21;(1Sm
Dn 15.29;
4.35; Fp 2.13)
Is 46. e, sendo
10; Hb 6.17),
subsistindo para sempre (Sl 33.11).

41
A Bíblia ensina que os decretos de Deus envolvem “todas as
coisas” (Ef 1.11), mas é possível classificar as esferas de sua
abrangência da seguinte maneira:

A criação: Tudo o que Deus criou está sujeito aos seus planos e
cumpre o que ele determina (Sl 148.1-10). Foi, inclusive, por
seu decreto soberano que a natureza foi submetida à vaidade (ou
seja, foi condenada à uma existência fútil, fadada à deterioração)

até o dia em
acontece da libertação dos crentes
toda a criação (Rm 8.20-21).
sem a autorização De fato,
suprema nada
de Deus
(Mt 10.29).

A história: O Senhor determinou os tempos de ascensão e


queda de todos os povos e também as regiões específicas que
deveriam ocupar (Dt 32.8; At 17.26). Ele decretou os atos cruéis
da Assíria (Is 10.5-6) e a queda desse império por não
reconhecer que era só um instrumento nas mãos de Deus (Is
10.12-15). Ele decretou também a destruição das nações pelos
babilônios (Sf 3.8), predeterminou o castigo dos próprios

42
babilônios (Jr 25.11-14) e planejou a restauração de Jerusalém
por meio de Ciro (Is 44.24-28; 46.11). As ações de Herodes, de
Pôncio Pilatos, dos gentios e do povo de Israel no trato com
Jesus foram predeterminadas por Deus (At 4.27-28). Ele
também traçou a trajetória de expansão do cristianismo (At 16.6-
10). O Senhor ainda decretou que a história termine com a
sujeição completa de todo o universo a Cristo (Ef 1.9-10). Na
verdade, as profecias do AT e os ensinos do NT acerca do futuro
nada mais são do que revelações dos decretos de Deus referentes
à história universal.

O governo humano: Ainda que os diversos países sejam


governados por homens e sistemas legais injustos, é preciso
reconhecer que os decretos de Deus também estão por trás dos
governos das nações,
que não tenha não havendo pelo
sido estabelecida nenhuma autoridade
Senhor política
(Dn 2.21; Rm
13.1). Foi Deus quem deu autoridade e poder a Faraó (Rm 9.17),
a Nabucodonozor (Jr 27.4-8), a Ciro (Is 41.2-4; 45.1-7) e a
Pilatos (Jo 19.10-11), tudo com o objetivo de, por meio deles,
cumprir os seus decretos. Desse modo, ele, o Senhor, tem pleno
domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem ele quer (Dn
4.17,25,32; 5.21), movendo o coração dos governantes de
acordo com seus propósitos às vezes misteriosos, mas sempre
ustos (Êx 9.12; 10.20,27; 11.10; 14.8; Ed 7.21-28; Pv 21.1).

43
A vida dos indivíduos: Os planos de Deus se realizam também
na vida de cada indivíduo, sendo ele quem decide formar
pessoas fisicamente perfeitas (Sl 139.13-14) e pessoas mudas,
surdas e cegas (Êx 4.11; Jo 9.1-3). O Senhor também decretou
os limites da vida de cada um, fixando o número certo de seus
dias (Jó 14.5; Mt 6.27) e todos os detalhes da história de todos
os seres humanos (Jó 23.13-15; Sl 138.8; 139.16), incluindo
suas funções (Jr 1.5; Gl 1.15-16), suas capacitações (Dn 2.21),
suas experiências (At 22.14-15) e a forma como hão de morrer
(Jo 21.18-19; At 1.15-20). Deus age livremente e como bem
entende na vida de todo e qualquer indivíduo, sempre com o
objetivo de realizar seus objetivos (Dn 4.35). Ele fez com que
Sansão se interessasse por uma moça filisteia a fim de cumprir
seus planos
que os filhoscontra
de Eliosouvissem
inimigosos
deconselhos
Israel (Jz do
14.1-4). Ele impediu
pai porque queria
matá-los (1Sm 2.25). Ele também decretou a traição de Judas
revelando-a de antemão na Escritura e usando o falso discípulo
para cumprir as profecias sobre a rejeição e morte do Messias
(Mt 26.24; Jo 17.12; At 1.15-20).

A salvação: Os decretos de Deus abrangem a história, o meio e


os alvos da salvação. Na eternidade, ele planejou que seu Filho
fosse morto como sacrifício pelo pecado (At 2.23; 1Pe 1.18-20)
e que a oferta de salvação em Cristo fosse feita a todas as nações

44
(Lc 24.44-48). Ele também decretou quem seria salvo e quem
seria destinado para a ira (Pv 16.4; Rm 9.15-18,21-24; 1Pe 2.8).
Essa decisão foi tomada antes dos tempos eternos (Ef 1.4-5)
com base em sua própria determinação e graça e não com base
em méritos pessoais (Ef 1.11; 2Tm 1.9). Ao homem não cabe
questionar o decreto salvífico de Deus, uma vez que ele tem o
direito de ser gracioso com quem quiser e de endurecer o
coração de quem quiser (Is 63.17; Rm 9.18-21), sendo sempre
usto em todas as suas decisões (Rm 9.14). No cumprimento de
seus santos desígnios, o Senhor também decretou que uniria
udeus e gentios num só corpo, a igreja (Ef 3.3-11) e que só um
remanescente de Israel seria salvo antes da vinda do Senhor (Rm
9.27; 11.5,25-26).

Ressalvas importantes
Os decretos de Deus não tornam os homens inocentes
pelos males que praticam. Os caldeus foram considerados
culpados por sua maldade contra Judá (Hc 1.11), mesmo sendo o
próprio Deus quem os levantou para realizar esses atos (Hc 1.6).
Da mesma forma, Herodes e Pôncio Pilatos pecaram quando
conspiraram contra Jesus, apesar de ter sido Deus quem decretou
que agissem
o decreto de assim (At 4.27-28).
Deus não O que dos
anula o pecado se depreende
perversos,disso
nem étorna
que
Deus culpado por suas más ações. Note-se que Jesus reprovou
Judas mesmo sabendo que ele, com sua traição, cumpriu o
decreto divino (Mt 26.24). Pedro, por sua vez, criticou os judeus
de Jerusalém por matarem Jesus, mesmo sabendo que isso tinha
sido preestabelecido por Deus (At 2.23). A maneira como Deus
decreta o mal sem se tornar culpado e sem remover a culpa dos
perversos não é revelada na Escritura, estando além da
compreensão humana. Trata-se de um dos muitos mistérios que
permanecem escondidos na mente insondável do Senhor (Dt

45
29.29) e que deve estimular a humildade, a fé e a adoração, e
nunca a rebelião ou o inconformismo (Rm 11.33-36).

Os decretos de Deus não podem ser alterados pelas


orações dos homens. Textos que dão a impressão de que Deus
mudou de plano por causa da intercessão de alguém (e.g., Êx
32.9-14) devem ser entendidos no sentido de que a aparente
mudança no desejo do Senhor já estava fixada em seus planos
pré-estabelecidos, sendo a própria oração parte integrante desses
planos. É por isso que, mesmo sabendo que Deus já tem tudo
planejado, o crente deve orar. Passagens bíblicas como 2Samuel
7.27-29, Daniel 9.2-3 e Apocalipse 22.20 mostram pessoas
orando mesmo depois de Deus ter revelado o que já tinha
planejado fazer.

Os decretos de Deus relativos à salvação não devem


desencorajar o evangelismo. Deus não somente decretou quem
seria salvo, mas também determinou que os seus eleitos fossem
alcançados por meio da pregação (1Co 1.21). Assim, uma vez
que o crente não sabe quem é eleito, é seu dever pregar a todos.
Ademais, é preciso destacar que o decreto eletivo de Deus é, na
verdade, um estímulo ao evangelismo, uma vez que fornece a
garantia do seu sucesso. De fato, uma vez que é certo que os
escolhidos atenderão ao convite do evangelho (Jo 10.16; At
13.48), os crentes devem se sentir encorajados a proclamar com
empenho as boas-novas. Note-se que em Atos 18.9-10 foi a
certeza de que havia eleitos de Deus em Corinto que motivou
Paulo a perseverar no trabalho de evangelização daquela terrível
cidade.

46
47
CUIDADO! VENENO!
Ateísmo materialista: Nega a existência de Deus e de
qualquer realidade espiritual. Para os ateus, o universo, as leis
que o regem, a matéria e a vida vieram à existência pelo acaso.
Na concepção ateísta mais inflexível, a crença em Deus é
perigosa, pois gera intolerância, sendo a base de todas as guerras
religiosas
homens aoelongo
de inúmeros abusos
da história. e crueldades
Muitos praticados
ateus também afirmampelos
que
a crença em Deus é apenas um instrumento de dominação
utilizado por uma minoria a fim de incutir temor nas massas e,
assim, obter obediência servil.

Panteísmo: De acordo com essa concepção, Deus tem um


pólo espiritual e um pólo material. O universo físico é o pólo
material de Deus. Assim, Deus é tudo e tudo é Deus. O
panteísmo nega a realidade de um Deus pessoal e criador. É
acolhido pelas religiões orientais como o hinduísmo e o
budismo. No ocidente, sua maior expressão se encontra nas
seitas de Nova Era.

Teologia do Processo: Concebe toda a realidade como um


processo em desenvolvimento do qual Deus faz parte. Nesse
processo Deus se aperfeiçoa e aprende, sofrendo constantes
mudanças enquanto tenta influenciar o mundo e é influenciado
por ele. Os homens, uma vez que têm livre-arbítrio, podem

48
resistir a Deus e frustrá-lo na realização de seus ideais, fazendo-
o sofrer. Essa vertente doutrinária ensina ainda que Deus não
realiza intervenções sobrenaturais na história e nem conhece o
futuro, pois este depende das decisões livres dos indivíduos. No
tocante ao problema do mal, a Teologia do Processo afirma que
Deus não pode impedir a maldade e o sofrimento já que não
direciona as ações das pessoas. Tudo o que ele pode fazer é agir
como um companheiro que entende a angústia e a dor.

Teísmo Aberto: Deus abriu mão de sua soberania e não


interfere na história de modo decisivo, nem tem o controle
meticuloso do universo, pois isso anularia a liberdade do ser
humano. Assim, para o teísmo aberto não existe predestinação
nem qualquer decreto divino que seja imposto ao homem. Na
verdade,
em aberto.Deus sequer conhece o futuro plenamente, estando este

Unitarismo e unicismo: O unitarismo nega a Trindade,


rejeitando a divindade do Filho e do Espírito. Já o unicismo,
também conhecido como modalismo ou sabelianismo, afirma
que na Trindade só existe um núcleo pessoal que é o Pai
(monarquianismo), sendo o Filho e o Espírito Santo apenas
modos distintos como o Pai se manifesta. As Testemunhas de
Jeová são um exemplo de seita unitarista. Movimentos unicistas
atuais são a Igreja Pentecostal Unida do Brasil; o Ministério Voz
da Verdade, o Tabernáculo da Fé e a Igreja Local, ligada ao
ministério Árvore da Vida.

Concepções populares: Deus é concebido como um ser


supremo, porém distante, não se importando com os detalhes da
vida humana ou com o modo como as pessoas vivem. Esse
“deus” não reprova praticamente nada, exceto os desvios que o
senso comum também reprova (crimes, abusos, etc.) ou as

49
injustiças que a pessoa acredita que foram feitas contra ela.
Eventualmente pode ser invocado, especialmente quando o
suplicante passa por algum problema mais sério. Esse deus
imaginário não requer adoração, honra ou santidade das pessoas.
É mais uma projeção mental a que os homens recorrem para
experimentar algum alívio em dias de desespero.

50
CAPÍTULO 3
A DOUTRINA ACERCA DE
CRISTO
(Cristologia)

Fiéis aos santos padres, todos nós, perfeitamente


unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e
mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à
divindade, e perfeito quanto à humanidade,
verdadeiramente Deus e verdadeiramente
todas as coisas semelhante homem
a nós, excetuando (...); em
o pecado.

Definição de Calcedônia (451)

Introdução
A figura
de toda de JesusSua
a história. de grandeza,
Nazaré é, sem dúvida,
porém, a maisanotável
estimulou mente
humana a criar diferentes conceitos e teorias acerca do filho do
carpinteiro que, com sua mensagem e obra, mudou o mundo
inteiro.
Foi assim que filosofias e seitas estranhas surgiram ao longo
dos séculos fazendo ousadas asseverações sobre Jesus, muitas
vezes desprezando o que ele próprio disse de si mesmo ou o que
os seus discípulos afirmaram acerca dele. A proliferação dessas
seitas e teorias afastou muitas pessoas da verdade acerca de
Cristo proclamada pela igreja com base no testemunho da

51
Bíblia.
Essa verdade consiste, basicamente, da afirmação de que
Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus-homem, impecável, que
morreu em lugar do ser humano a fim de que, pelo seu
sacrifício, o homem recebesse remissão dos pecados (Ef 1.7).
Os cristãos creem ainda que Jesus Cristo ressuscitou dentre
os mortos ao terceiro dia e hoje está vivo, sustentando o
universo (Cl 1.17; Hb 1.3), intercedendo a favor dos crentes (Hb
7.25) e aguardando a chegada do dia fixado para sua volta (At
1.11).
Os crentes ensinam que as pessoas devem abandonar os
conceitos errados que as seitas e filosofias criaram sobre o filho
de Deus e, então, acolher a cristologia ortodoxa fundamentada
nas Escrituras. Isso porque aquilo que o homem pensa acerca de
Jesus é deNa
a futura. máxima importância
verdade, a Bíblia tanto
deixa para
claroa que
vida opresente
fato decomo
uma
pessoa crer ou não em Cristo conforme pregado pelos apóstolos
da Bíblia é fator determinante do lugar onde ela passará a
eternidade (Jo 3.36).

A pessoa de Cristo
Jesus Cristo é Deus-homem. Isto significa que ele tem duas
naturezas: a humana e a divina. No decorrer dos séculos muitos
teólogos se reuniram para discutir esse assunto. Os principais
concílios que trataram desse tema ao tempo da igreja antiga
foram:

Niceia (325): Defendeu a divindade de Cristo contra o


herege Ário de Alexandria que negava a eternidade de Jesus.
Constantinopla (381): Defendeu
Jesus contra Apolinário que dizia aque
plena humanidade
em Cristo de
o Verbo

52
havia tomado o lugar da alma humana.
Éfeso (431): Defendeu a cristologia ortodoxa contra Nestor
que defendia a existência de duas pessoas em Cristo em vez
de duas naturezas.
Calcedônia (451): Negou a doutrina de Êutiques que
afirmava que em Cristo as duas naturezas se fundiram numa
só (monofisismo).

Sob a luz da Bíblia, os teólogos reunidos nesses concílios


concluíram que Jesus Cristo é perfeitamente humano e
plenamente divino, sendo que essas duas naturezas estão
presentes numa só pessoa. A isso se dá o nome de União
Hipostática. Este é um dos grandes mistérios da fé cristã e, de
conformidade com Mateus 16.13-17, é necessária a intervenção
de Deus para que alguém admita o conceito correto sobre Jesus.
Veja-se a seguir os fatores e os textos bíblicos que mostram
que Jesus é tanto humano como divino.

Provas da real humanidade de Jesus


1. Ele teve um nascimento humano (Mt 1.18; Rm 9.5; Gl
4.4).
2. Ele veio da descendência de Davi (Lc 1.31-33; Rm 1.3).
3.
4. Ele
Elecresceu
tem ume corpo
se desenvolveu
físico bemnaturalmente (Lc 2.40,52).
como uma alma humana

53
(Mt 26.12; Lc 23.46; Jo 12.27; 1Jo 1.1).
5. Ele era sujeito a limitações físicas (Mt 21.18; Lc 22.44;
Jo 4.6).

Provas da plena divindade de Jesus


1. Há nomes divinos que lhe são atribuídos (At 9.17; Rm
9.5; Hb 1.8; Ap 1.17 cp. 1.7-8).
2. Ele pode ser invocado e adorado como Deus (Mt 14.33;
1Co 1.2; Hb 1.6).
3. A ele são atribuídas obras divinas (Jo 1.3; Cl 1.16-17).
4. Ele pode perdoar pecados (Mc 2.5-11).
5. Ele pode dar a vida eterna (Jo 10.28; 17.1-2).
6. Ele é onipresente (Mt 18.20; 28.20; Jo 1.48).
7. Afirmações do Antigo Testamento a respeito de Deus
são reconhecidas como referentes a Jesus no Novo
Testamento (Sl 102.24-27 cp. Hb 1.10-12; Is 6.1,10 cp. Jo
12.40-41; Is 60.19 cp. Lc 2.32; Jr 17.10 cp. Ap 2.18,23).
8. O nome de Jesus é associado de maneira especial ao
nome de Deus Pai e ao Espírito Santo (2Co 13.13 [ou v. 14 -
NVI]; Tg 1.1).

54
Fica claro, portanto, que Jesus Cristo é totalmente homem (1Tm
2.5) e totalmente Deus (1Jo 5.20) em uma só pessoa (Rm 9.5).

A preexistência de Cristo
Fortemente relacionado à divindade de Cristo está o ensino
acerca da sua preexistência e eternidade. Os textos que servem
de base para essa doutrina são: Miqueias 5.2; Isaías 9.6; João
1.1-3; 8.56-58; Colossenses 1.17 e Hebreus 1.8.

O caráter de Jesus
A seguir são listados alguns aspectos do caráter de Jesus:

Santidade. Ele é sem pecado (Jo 8.46; Hb 4.15; 1Jo 3.5) e


absolutamente puro (Jo 8.12 cf. 1Jo 1.5; 1Jo 3.3).

Amor. Inúmeras passagens bíblicas falam a respeito do amor de


Jesus, bem como de seus objetos: o Pai (Jo 14.31); a igreja (Ef
5.25); os (Lc
inimigos crentes em particular (Jo 14.21; Gl 2.20); e os seus
23.34).

55
Mansidão. Jesus era manso, isto é, mantinha uma atitude
contrária à aspereza. Ele tratava as pessoas com brandura e
docilidade (Mt 11.29; Lc 23.34; 2Co 10.1; 1Pe 2.23). Isso não
significa, porém, que eventualmente não lidasse com o pecado
de forma severa e rigorosa (Mt 23.33; Lc 13.32; Jo 2.14-16; Ap
19.11-16).

Humildade. Jesus não era arrogante ou orgulhoso. Sua


humildade é expressa, inclusive, no modo como ele se submeteu
ao Pai e dependeu dele (Mt 11.29; Jo 13.4-5; Fp 2.5-8).

A obra de Cristo
O autoesvaziamento de Cristo
O autoesvaziamento ou kenosis de Cristo é uma expressão
que aponta para a disposição humilde presente no Senhor de
abrir mão voluntariamente da sua glória celestial enquanto

56
esteve neste mundo, assumindo assim a forma de servo e sendo
obediente até à morte, tudo por amor aos perdidos (Hb 12.2).
O texto principal acerca da kenosis é Filipenses 2.5-8. Note-
se que esse ensino é uma das principais bases doutrinárias para a
unidade cristã e para a convivência humilde, pacífica e não
egoísta entre os membros da igreja de Deus (Fp 2.2-5).

A obra redentora de Jesus Cristo


A obra redentora de Cristo envolve especialmente sua morte
e ressurreição (1Co 15.3-4). A Bíblia ensina que a morte de
Cristo abrangeu diversos aspectos, conforme mostra o quadro a
seguir:

QUALIDADE SIGNIFICADO BASE BÍBLICA


Predeterminada Planejada com antecedência Lc 22.22; At 2.23;
4.27-28
Voluntária Porlivreescolha Jo10.17-18
Vicária Emfavordosoutros 1Pe3.18

57
Sacrificial Como sacrifício pelo pecado 1Co 5.7
Expiatória Como consequência da culpa Gl 3.13
Propiciatória Satisfez as exigências de 1Jo 2.2; 4.10
Deus
Redentora Resgatou por meio de Mt 20.28
pagamento

Substitutiva Emlugardeoutros 1Pe2.24

ApósAmorrer
mortos. e ser sepultado,
ressurreição do Senhor Jesus
é um ressuscitou dentre
ensino central da os

cristã. Sua negação implica a destruição completa do
cristianismo (1Co 15.14-19).

A seguir, são alistados alguns resultados que a ressurreição


de Cristo produziu:

● Confirmou a divindade de Jesus (Rm 1.4).


● Serviu como garantia da justificação dos crentes (Rm 4.25).
● Forneceu uma base para a certeza da ressurreição futura dos
58
cristãos (1Co 15.20; 2Co 4.14).

O texto bíblico clássico acerca da ressurreição, tanto de


Cristo como dos crentes, é 1Coríntios 15.

A ascensão de Cristo e seu ministério presente


Após ressuscitar, Cristo foi assunto aos céus física e
visivelmente, fatores que mostram o padrão que marcará
também a sua segunda vinda (At 1.9-11).
Nas alturas, o Senhor se assentou à direita de Deus (Hb 1.3-
4; Cl 3.1), aguardando o dia designado para seu retorno a este
mundo (At 2.34-35)e realizando as seguintes obras:

 Ministração sacerdotal em prol da igreja, compadecendo-


se dela (Hb 4.14-16) e intercedendo por ela (Rm 8.34; Hb
7.25; 1Jo 2.1).
 Concessão de dons ao seu povo (Ef 4.8-11).
 Exercício da soberania sobre a igreja e sobre todo o
universo físico e espiritual (Ef 1.20-23; Fp 2.9-11; 1Pe 3.22).
 Sustentação da criação (Cl 1.17).

59
QUADRO DAS PRINCIPAIS
PROFECIAS JÁ CUMPRIDAS
SOBRE JESUS
TEXTOS CUMPRIMENTO
PROFECIAS
DO AT NO NT
Ele teria um predecessor Is 40.3 Mt 3.3
Ele viria como um
menino Is 9.6 Lc 2.6-7; Gl 4.4
Ele nasceria de uma
Is7.14 Mt1.22-23
virgem
Ele seria da linhagem 2Sm 7.12-
Mt 1.1
davídica 16
Ele nasceriaem Belém Mq5.2 Mt 2.5-6
Ele iria para o Egito Os 11.1 Mt 2.14-15
Ele moraria em Is9.1-2 Mt4.13-16
Cafarnaum

60
Ele teria um ministério de
Is 61.1-2 Lc 4.17-21
consolo e libertação
Ele teria um ministério de
Is53.4 Mt8.16-17
curas
Ele evitaria alardear seu
Is 42.1-4 Mt 12.16-20
ministério
Ele ensinaria por
Sl 78.2 Mt 13.34-35
parábolas
Ele entraria em Jerusalém
Zc9.9 Mt21.1-9
montado num jumento
Ele seria traído por Jo 13.18; 17.12; At
Sl 41.9
alguém bem próximo dele 1.16
Ele seria entregue por 30 Zc 11.12-
moedas de prata 13 Mt 26.15; 27.9-10
Ele seria rejeitado e
Is53.3 Mt27.15-31
humilhado
Ele teria as mãos e os pés
Sl22.16 Jo20.25
perfurados
Ele seria traspassado Zc 12.10 Jo 19.33-37
Seus ossos não seriam
Sl 34.20 Jo 19.33-37
quebrados
Repartiriam suas vestes e
Mt 27.35; Jo
lançariam sortes sobre Sl 22.18
19.23-24
elas
Ele seria ferido em sua
Gn3.15 Cl2.15
obra de derrotar Satanás
Ele clamaria ao Pai na
Sl22.1 Mt27.46
hora da morte

Ele malfeitores
morreria entre Is 53.12 Mc 15.27-28

61
Seu sepultamento seria Is53.9 Mt27.57-60
provido por um rico
Ele ressuscitaria e veria o
Is 53.10-11 Lc 24.34-48
resultado de sua obra
Famílias de toda a terra
seriam
meioabençoadas
dele como opor Gn 12.3 Gl 3.8,14,29
descendente de Abraão

As inúmeras profecias relacionadas ao reinado terreno de


Cristo (milênio) só terão cumprimento em sua segunda vinda.
Entre essas profecias, pode-se alistar as seguintes:

1. Ele matará o Anticristo e seus seguidores antes de


estabelecer seu reino milenar (Zc 14.12-15; 2Ts 2.8; Ap
19.11-21).
2. Ele se colocará sobre o Monte das Oliveiras provendo
livramento para Jerusalém invadida (Zc 14.1-5).
3. Ele será chorado pela nação de Israel que se converterá a
ele (Zc 12.9-10; Mt 23.37-39; Rm 11.25-26).
4. Ele julgará as nações separando os bodes das ovelhas e
definindo, assim, quem entrará no reino (Mt 25.31-46).
5.
33). Ele se assentará sobre o trono de Davi (Is 9.6-7; Lc 1.32-
6. Ele reinará em Jerusalém que desfrutará de paz perfeita
(Zc 14.11).
7. Ele inaugurará um reino mundial de paz, de justiça e de
conhecimento do Senhor (Is 2.2-4; 11.4-10; Zc 14.9,16).
8. Ele governará em meio a fartura e prosperidade (Gn
49.10-12).
9. Ele reinará por mil anos (Ap 20.1-6).
10. Ele entregará o reino ao Pai (1Co 15.24,28).

62
11. Ele fará novos céus e nova terra (Ap 21.1,5-6).
12. Ele se assentará para sempre ao lado do Pai na Nova
Jerusalém (Ap 22.3).

CUIDADO! VENENO!
Liberalismo teológico: Ensina que Jesus se aproximou ao
máximo do ideal divino para a humanidade, mas que não pode
ser considerado Deus manifesto em forma humana. Sua
personalidade sublime e singular incutiu em seus seguidores a
crença no “Cristo da fé” capaz de grandes milagres e, nesse
aspecto, muito diferente do Jesus histórico. Sua ressurreição foi
apenas um mito e não um evento ocorrido no tempo e no espaço.

Espiritismo: Defende que Cristo não é o Filho de Deus

63
encarnado que veio ao mundo para salvar o homem do pecado e
da perdição (o espiritismo não acredita em céu e inferno).
Segundo os espíritas, Jesus é somente um espírito mais evoluído
que serve de guia para as pessoas, sendo que todos podem
chegar ao mesmo nível dele, evoluindo por meio de sucessivas
reencarnações. Surpreendentemente, os espíritas afirmam que
suas doutrinas são baseadas nos ensinos de Jesus!
Testemunhas de Jeová: Afirmam que Jesus não é divino,
mas sim uma criatura especial de Deus. De acordo com essa
seita, a criação de Jesus ocorreu antes de todas as coisas e ele
viveu como uma criatura espiritual no céu até o dia em que
nasceu em Belém. Os mestres dessa religião ensinam que Jesus
morreu e ressuscitou para resgatar o homem, mas seu sacrifício
foi somente humano.
Testemunhas Poro não
de Jeová não crerem que Jesus é Deus, as
adoram.

Religiões orientais e Nova Era: Creem na divindade de


todos os homens (e de tudo o mais que existe no universo).
Logo, para essas seitas não existe diferença essencial entre Jesus
e os outros seres humanos. Dizem ainda que Cristo foi mais um
mestre iluminado, assim como muitos outros, e que ele tinha
consciência de sua divindade, algo que todas as pessoas
deveriam ter. Muitos adeptos das religiões de Nova Era dizem
que Jesus passou seus anos de obscuridade na Índia ou no Tibet,
adquirindo “iluminação” junto aos monges budistas.

64
CAPÍTULO 4

A DOUTRINA
ESPÍRITO ACERCA DO
SANTO
(Pneumatologia)
Cremos (...) no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que
procede do Pai, que com o Pai e o Filho conjuntamente é
adorado e glorificado, que falou através dos profetas.
Credo Niceno-Constantinopolitano

Introdução
A doutrina acerca do Espírito Santo talvez seja uma das
áreas mais debatidas da teologia cristã, sendo também o campo
em que, na prática, a igreja tem cometido seus maiores erros e
excessos. Definições confusas e obscuras, interpretações bíblicas
intuitivas, valorização da experiência mais do que do
testemunho bíblico, apego a costumes e tradições, tudo isso tem
contribuído para a construção de uma pneumatologia defeituosa,
bem distante do ensino apostólico.
Obviamente, os desvios nessa área têm gerado
consequências desastrosas, tanto para a vida pessoal dos crentes,
como para as igrejas locais na realização de seus atos de
adoração, serviço e proclamação, o que impõe a necessidade de
estudo mais sério e de francas correções.

O material
necessidade, que segue
protegendo visa atender
o estudante um dos
da Bíblia pouco a essa
desvios tão

65
comuns com que o povo de Deus se depara quando ouve falar
sobre a pessoa e obra do Espírito Santo. Neste capítulo, o cristão
encontrará também ferramentas para desenvolver uma
pneumatologia sadia e propagá-la a seus irmãos de fé.

A personalidade do Espírito Santo


O Espírito Santo não é uma força impessoal, conforme
dizem algumas seitas. Ele tem personalidade, ou seja, tem
inteligência (Rm 8.27; 1Co 2.10-11), emoções (Is 63.10; Ef
4.30) e vontade (1Co 12.11).
Há outros fatores que demonstram a personalidade do
Espírito:

1. É possível blasfemar contra ele (Mt 12.31-32).


2. Ele ensina os crentes (Jo 14.26).
3. É possível mentir para ele (At 5.3).
4. Ele guia os crentes (Rm 8.14).
5. Ele testifica aos crentes (Rm 8.16)
6. Ele intercede pelos crentes (Rm 8.26).
7. Ele fala aos crentes (Ap 2.7)

66
Os itens dessa lista mostram os diferentes aspectos próprios da
personalidade do Espírito Santo. Suas emoções e intelecto se
expressam, por exemplo, quando ele se entristece. Sua
intercessão em favor dos crentes é evidência de sensibilidade
(emoções) e vontade. Sua atividade de ensinar, guiar, falar e
distribuir dons aos crentes demonstra que ele tem vontade e
inteligência. Note-se ainda que a possibilidade de uma pessoa
mentir e blasfemar contra ele mostra que o Espírito não é algo,
mas alguém!
A doutrina da personalidade do Espírito Santo é de
importância vital. Sua negação implica, entre outras coisas, a
rejeição da divindade do Espírito e, consequentemente, a
negação da doutrina da Trindade.

67
A divindade do Espírito Santo
A Bíblia ensina que o Espírito Santo é divino, sendo uma
das pessoas da Trindade. As provas bíblicas da divindade do
Espírito são as seguintes:

1. Ele é chamado como Deus (At 5.3-4; 2Co 3.17).

2. Ele tem atributos divinos:

 Eternidade (Hb 9.14).


 Onipresença (Sl 139.7-10).
 Onipotência (Lc 1.35).
 Onisciência (1Co 2.10-11).

3. Ele realiza obras divinas:

 Criação (Gn 1.2; Jó 33.4).


 Transmissão de vida (Rm 8.11).

68
 Autoria da profecia divina (2Pe 1.20-21).

4. Ele é identificado como Deus (Is 6.8-10 cp. At 28.25-


27).

5. Ele tem2Co
(Mt 28.19; o seu nome
13.13 [ouassociado ao nome do Pai e do Filho
v. 14 – NVI]).

69
O modo como o Espírito Santo é chamado nas Escrituras
também demonstra sua personalidade e divindade. Veja-se o
quadro a seguir:

Espírito de vosso Pai Mateus 10.20

Espírito
Espírito dode Deus
Deus vivo Mateus 12.28
2Coríntios 3.3
Espírito do Senhor Lucas 4.18; Atos 5.9
Espírito da verdade João 14.17; 15.26;
16.13
Espírito de Cristo Romanos 8.9;
1Pedro 1.11
EspíritodeJesus Atos16.7
Espírito de Jesus Cristo Filipenses 1.19
Espírito de seu Filho Gálatas 4.6
Espírito Santo da Efésios 1.13
promessa
Espírito que provém de 1Coríntios 2.12
Deus
Espírito eterno Hebreus 9.14
Espírito da graça Hebreus 10.29
Espírito que em nós habita Tiago 4.5
Espírito da glória e de 1Pedro 4.14
Deus
Espírito de sabedoria,
entendimento, conselho,
Isaías 11.2
poder, conhecimento e
temor do Senhor
Senhor 2Coríntios3.18
Consolador João 14.26; 15.26

70
A obra do Espírito Santo nos crentes
A Bíblia apresenta a obra do Espírito Santo nos crentes sob
diferentes aspectos, a saber:

Regeneração. Regenerar significa gerar novamente. Para que


alguém se torne filho de Deus (Jo 1.12) é necessário que nasça de
novo, sendo gerado pelo Espírito Santo (Jo 3.3-6). A regeneração
é necessária porque o homem, desde a Queda, é totalmente
depravado e, por isso, não lhe basta uma reforma. Ele precisa ser
feito uma nova criatura (2Co 5.17).

Batismo.doConforme
batismo se depreende
Espírito Santo de 1Coríntios
é, basicamente, a inserção12.12-13,
da pessoao
no corpo místico de Cristo que é a igreja. A Bíblia diz que é o
próprio Cristo quem realiza esse batismo (Jo 1.33). Isso ocorre
no momento da conversão da pessoa. Assim, o crente não
precisa buscar o batismo do Espírito Santo, pois já o recebeu
quando creu em Cristo como seu salvador (Rm 8.9). É preciso
dizer ainda que a ideia de que o batismo do Espírito Santo deve
ser acompanhado do falar em línguas é fantasiosa. Em Corinto,
todos eram batizados no Espírito (1Co 12.13), mas nem todos
falavam em outras línguas (1Co 12.30).

71
Habitação. Também a partir do momento da conversão, o
Espírito Santo passa a habitar permanentemente no crente, seja
qual for o nível de seu crescimento ou maturidade (At 19.1-2;
1Co 6.19). Essa realidade confere ao crente segurança e paz (Rm
8.14-16). Ademais, de acordo com Paulo, a habitação do
Espírito
devendo otransforma
cristão, poroisso,
corpo
evitardofazer
crente num templodossanto,
uso pecaminoso seus
membros (1Co 6.15-20). Ao que tudo indica, a habitação
permanente do Espírito não era privilégio dado aos santos do AT
(1Sm 16.13-14; Sl 51.11). Por outro lado, Pedro parece dizer
que o Espírito estava nos profetas de forma constante (1Pe 1.11).
Seja como for, João ensina que uma mudança ocorreu em algum
aspecto na forma como o Espírito passou a ser dado aos crentes
depois que o Senhor foi glorificado (Jo 7.38-39. Vd. Tb. Cl
1.26-27).

72
Selo. Relacionado à doutrina da habitação permanente do
Espírito Santo no crente, há o ensino bíblico do selo do Espírito
(Ef 1.13-14). De acordo com esse ensino, o Espírito Santo atua
como um selo de propriedade de Deus no crente, a partir da sua
conversão. Esse selo permanecerá em cada cristão até o dia em
que o Senhor vier resgatar sua propriedade. Trata-se, portanto,
de um penhor ou garantia de que Deus completará a obra de
salvação que começou em cada cristão. A doutrina do selo do
Espírito
não podeé,perder
assim,sua
uma das mais claras evidências de que o crente
salvação.

73
Plenitude. A plenitude do Espírito Santo diz respeito ao
controle que o Espírito deve exercer sobre a vida do crente. Na
Bíblia é possível observar dois tipos distintos de plenitude
espiritual. Há a plenitude ocasional, experimentada somente por
alguns instantes, em ocasiões específicas ou para fins
determinados (At 4.8,31), e a plenitude vivencial que aponta
para um estilo de vida em que a pessoa se deixa dominar pela
influência do Espírito no seu dia a dia (Ef 5.18-20). Nesse
segundo sentido em particular, estar cheio do Espírito deve ser o
estado comum de cada cristão (At 6.3).

74
Fruto. O fruto do Espírito é o conjunto de virtudes que ele
produz no crente (Gl 5.22-23). Os vários aspectos desse “fruto”
são qualidades do caráter de Jesus desenvolvidas no cristão na
medida em que ele se deixa controlar pelo Espírito Santo (Gl
5.16). Vê-se, assim, que o fruto do Espírito na vida de alguém é
evidência clara e resultado óbvio de sua plenitude.

Os dons do Espírito Santo


Os dons do Espírito Santo, seu significado e continuidade,
estão entre os temas mais debatidos dentro do contexto
evangélico. É nesse campo que ocorrem os maiores excessos na
forma de agir de muitos crentes e é também por causa dessa
discussão que terríveis divisões acontecem nas igrejas.
De tudo isso decorre a necessidade de entender bem o que
são os dons do Espírito Santo, bem como seu propósito, duração
e forma de funcionamento. De fato, a história já demonstrou
satisfatoriamente que a má compreensão desses assuntos traz
prejuízos desastrosos para o povo de Deus, precisamente num
campo que deveria promover unidade e edificação (1Pe 4.10-
11).
Os dons alistados na Carta aos Romanos
Essa lista se encontra em Romanos 12.6-8 e é composta por
sete itens.

Profecia: O profeta era alguém que recebia revelações diretas de


Deus e as as
No NT, transmitia aos homens
revelações de forma
proféticas eram inerrante e infalível.
predominantemente

75
doutrinárias, ou seja, os profetas revelavam verdades divinas
ocultas de outras gerações. Essas verdades eram também
chamadas de mistérios (Ef 3.4-5). Só mui raramente os profetas
traziam revelações sobre o futuro ou sobre a vida particular de
alguém e, ao que parece, só o faziam quando o que era revelado
tinha forte impacto sobre a igreja como um todo (At 11.28;
21.10-11). Os profetas tinham como função primária lançar as
bases doutrinárias, éticas e funcionais da igreja (Ef 2.20). Como
essas bases foram todas lançadas nos tempos dos apóstolos, os
profetas deixaram de existir já no fim do século I. O dom de
profecia, portanto, não existe mais.

Serviço: É possível que esse dom abranja a habilidade dada por


Deus de realizar bem aqueles trabalhos que são considerados
inferiores pelas pessoas em geral. Nem todos são capazes de
fazer esses serviços com qualidade. Por isso, Deus dotou alguns
homens e mulheres da igreja com uma capacidade especial para
realizar tarefas dessa natureza em favor dos santos.

Ensino: Trata-se da capacidade de transmitir a verdade de Deus


à igreja com clareza e autoridade, promovendo sua edificação e
amadurecimento.
falsas doutrinas e Por meiobase
adquire dos teológica
mestres, apara
igreja é protegida
viver das
com retidão

76
e santidade.

Exortação: Esse dom abrange o trabalho de consolar, animar e


encorajar. Os cristãos geralmente são abalados não somente
pelos problemas comuns da vida, mas também por ataques e
dificuldades que lhes sobrevêm por causa da fé. Por isso, para
que seu povo não fique à mercê do conselho de incrédulos, o
Senhor concede esse dom a alguns crentes, a fim de que os
santos encontrem neles amparo, alívio e amizade.

Contribuição: A referência aqui é à tarefa de distribuir. Sendo a


igreja de Cristo formada por muitas pessoas pobres, há entre os
santos aqueles cujo coração Deus dotou com a disposição
constante de assistir os necessitados. Paulo diz que essas pessoas
devem fazer
esse dom isso se
devem generosamente. Outrossim,
vigiar para que, os crentesnão
no seu exercício, quesejam
têm
levados pelo desejo de ser admirados pelos homens (Mt 6.1).

Liderança: A prática desse dom envolve a administração de


recursos da igreja e a direção geral da comunidade cristã local.
A igreja não foi deixada por Deus à mercê das preferências de
cada membro, pois isso a lançaria na desordem total (Jz 17.5-6).
Antes, o Senhor lhe concedeu pessoas capazes de liderá-la,

77
apontando seus alvos e o modo como devem ser atingidos. De
acordo com Paulo, os líderes devem realizar seu trabalho com
toda diligência, zelando para que seu dom não seja
negligenciado.

Misericórdia: A pessoa que tem esse dom se vê disposta a


mostrar favor a seus irmãos que sofrem por causa de doenças,
perdas, decepções e tragédias. Por se tratar de uma tarefa pesada
e, às vezes, bastante desagradável, pode acontecer de algum
crente ter esse dom e passar a exercê-lo com pesar. Por isso,
Paulo diz com
exercê-lo que os irmãos que têm o dom de misericórdia devem
alegria.

Entre os dons alistados aqui somente o de profecia não


existe mais. Com efeito, não há nenhum indício ou razão na
Escritura para afirmar que os demais também deixaram de
existir. Na verdade, o próprio viver diário da igreja mostra sua
permanência viva até os dias de hoje.

Os dons alistados na Primeira Carta aos

78
Coríntios
A Primeira Carta de Paulo aos Coríntios traz a maior lista de
dons espirituais do Novo Testamento. São nove no total e se
encontram em 1Coríntios 12.8-10. Em 1Coríntios 12.28 há outra

pequena lista que repete


além de mencionar algunsemdons
parte o quenas
citados é alistado
listas denos vv.8-10,e
Romanos
de Efésios.

Palavra de sabedoria: A pessoa que tem esse dom diz palavras


de sabedoria divina em contraste com os indivíduos que
promulgam filosofias vãs ou palavras de sabedoria humana (1Co
2.6-7,13; 3.19). Os temas centrais abordados por quem tem o
dom da palavra de sabedoria são a graça de Deus (2Co 1.12) e,
especialmente, a cruz de Cristo (1Co 1.17,23-24). Esse dom,
portanto, é fundamental para quem exerce o trabalho de
evangelismo (1Co 1.17; 2.1). Num sentido mais estrito, a
palavra de sabedoria também abrange a revelação de mistérios
doutrinários trazidos à luz no tempo do Novo Testamento pelos
apóstolos (1Co 2.7-13). Nesse sentido estrito, a palavra de
sabedoria não existe mais, permanecendo apenas a sua
expressão geral, ou seja, a capacidade de interpretar a realidade
àaosluzoutros
da graça e da cruz doe no
no evangelismo Senhor,
ensinoexpondo
da igreja.isso verbalmente

Palavra de conhecimento: É difícil saber o que Paulo tinha em


mente quando fez distinção entre a palavra de sabedoria e a
palavra de conhecimento. Porém, parece correto que a palavra
de conhecimento se relaciona ao modo como se deve agir na
prática da vida cristã. Se for esse o caso, esse dom é útil para
conduzir a igreja ao crescimento na compreensão da sã doutrina,
a fim de fazê-la abandonar comportamentos imaturos ou errados
(1Co 8.7; 15.33-34).

79
Fé: Não se trata da fé salvadora, pois essa fé é um dom dado a
todos os crentesuma
provavelmente (Efconvicção
2.8). O dom da fésobrenatural
de srcem aqui mencionado
de queé
Deus vai agir de forma especial numa determinada situação,
quer por veículos naturais, quer por meios milagrosos (1Co
13.2). Essa confiança firme faz o crente agir como se o que
espera estivesse prestes a se realizar (Hb 11.7-12). Não se deve
confundir esse dom com mero otimismo ou com alguma forma
de se autoiludir. O dom da fé é dado por Deus e gera uma
surpreendente onda de confiança real no coração da pessoa.

Curas e operação de milagres: Os dons de curas eram


capacidades dadas por Deus a alguns crentes de erradicar
doenças, com o fim de servi-lo. O uso do plural (“dons de
curar”) dá margem para formas diferentes de cura, o que pode
abranger, além do milagre, o uso de meios naturais como
remédios e cuidado médico. Já o dom de operação de milagres,
conforme geralmente é entendido, consistia de realizar
maravilhas
que o dom fora da ordem
de curas, natural
em sua das coisas.
expressão Parece certo
sobrenatural, era dizer
uma

80
categoria mais específica do dom de operação de milagres que
abrangia prodígios num sentido mais geral. Feitos sobrenaturais
foram muito comuns na fase inaugural da igreja primitiva (At
5.15-16; 6.8; 8.13). Porém, em poucos anos essa fase começou a
apresentar indícios de esfriamento (Fp 2.26-27; 1Tm 5.23; 2Tm
4.20). A razão disso é que as curas sobrenaturais e os milagres
tinham por objetivo autenticar a mensagem nova que estava
sendo pregada (Mc 16.20; At 14.3; 2Co 12.12; Hb 2.4), não
havendo necessidade dessa autenticação se perpetuar. Por isso,
não se vê hoje pessoas com dons de realizar curas ou feitos
milagrosos. Isso, contudo, não significa que o Senhor,
eventualmente, não faça obras grandiosas, além da compreensão
humana. Antes, significa que quando Deus realiza feitos assim,
ele o faz em resposta à oração dos crentes em geral e não por
meio de indivíduos
sobrenaturais dotados por ele com capacitações
(Tg 5.14-18).

Profecias: Veja-se o que foi exposto no item anterior. Deve-se


apenas acrescentar aqui que uma das responsabilidades da igreja
no tocante aos profetas era avaliar o que eles diziam,
comparando suas revelações com as verdades que o Senhor já

havia transmitido
profetizar (1Co
de acordo 14.29).
com De fato, da
a “proporção os fé”
profetas deveriam
(Rm 12.6), ou

81
seja, suas profecias deveriam se harmonizar com a doutrina
cristã já fixada.

Discernimento de espíritos: Esse dom não consiste de


descobrir os nomes ou as supostas áreas de atuação de
demônios, como alguns tendem a crer. Antes, é a capacidade de
discernir a srcem de uma mensagem ou ensino, isto é, trata-se
do dom de discernir o que realmente procede do Espírito Santo.
Assim, o crente dotado desse dom detecta se o que está sendo
dito (com todos os seus desdobramentos práticos) é de srcem
divina ou se é uma doutrina demoníaca (ou meramente humana)
propagada por falsos mestres (1Tm 4.1-2; 1Jo 4.1-6). Não existe
qualquer indício na Escritura ou na história do cristianismo que
aponte para o desaparecimento desse dom, sendo vital a sua
permanência na igreja cristã de todas as épocas.

Variedade de línguas e interpretação: O dom de línguas era a


capacidade dada pelo Espírito Santo a alguns crentes de falar
sobre as grandezas de Deus em um idioma humano jamais
aprendido por quem falava (At 2.7-11). Ao definir esse dom,
Paulo citou Isaías 28.11-12, identificando-o, assim, como um
sinal de juízo contra judeus incrédulos que rejeitavam a
mensagem de Deus (1Co 14.21-22). De fato, Deuteronômio

82
28.46,49 diz que ouvir uma língua desconhecida seria um sinal
do juízo de Deus contra Israel sempre que esse povo rejeitasse
sua mensagem (Jr 5.11-15). Ora, Israel rejeitou o Filho (At 7.51-
53). Por isso, Deus usou a igreja para fazer com que os judeus
daquela geração ouvissem línguas que não entendiam como
sinal do juízo que estava por vir. Esse juízo foi predito por Jesus
(Mt 23.37-39) e chegou no ano 70 AD por mãos do general
romano Tito. Uma vez que o castigo contra Israel sinalizado
pelas línguas ocorreu, esse dom deixou de ser necessário e
desapareceu. Obviamente, o fim do dom de línguas trouxe
também o fim do dom de interpretação.

Os dons alistados na Carta aos Efésios


Esses dons designam, na verdade, funções dadas a algumas
pessoas com vistas ao preparo dos crentes para o serviço de
Deus, a fim de que a igreja seja edificada. A lista é pequena e se
encontra em Efésios 4.11:

Apóstolo: Num sentido geral, o apóstolo era simplesmente um


missionário pioneiro ou um mensageiro. Nesse sentido, Barnabé
e Tiago, por exemplo, foram chamados de apóstolos (At 14.14;
Gl 1.19). Num sentido técnico, porém, esse termo tinha

83
abrangência bastante limitada, designando apenas aqueles que
viram o Senhor ressurreto e foram investidos diretamente por ele
na função apostólica (At 1.21-22; 1Co 9.1; Gl 1.1), recebendo
também, da parte de Deus, revelações doutrinárias especiais que
servem como fundamento doutrinário para a igreja de todas as
épocas (Ef 2.20; 3.4-5). Nesse sentido estrito, os apóstolos só
existiram no século I e foram apenas doze (Ap 21.14). No
Capítulo 8 (A Doutrina Acerca da Igreja) há um quadro que
mostra como o apóstolo no sentido técnico poderia ser
identificado.

Profeta: Veja-se nos itens acima as considerações relativas ao


dom de profecia.

Evangelista:
tempos do NT Édesignava
alguém especialmente
que proclamamissionários
as boas-novas. Nos
itinerantes
que iam de cidade em cidade anunciando a mensagem de Cristo
(At 8.5,26,40; 3Jo 1.7), embora o termo também seja aplicado a
indivíduos que tinham um ministério fixo num determinado
lugar (2Tm 4.5).

Pastor mestre: Essa expressão pode designar duas funções


distintas (pastores e mestres) ou somente a função do ministro
que se ocupa de pastorear e ensinar a igreja. O artigo definido
que consta do texto grego aponta para a segunda opção,
realçando a dupla responsabilidade que recai sobre os pastores, a
saber: o cuidado e a instrução do povo de Deus (At 20.28; 1Pe
5.2-3).

84
LISTAS DE DONS NO NOVO TESTAMENTO
Profecia, serviço, ensino,
Romanos 12.6-8 exortação,e contribuição,
liderança misericórdia.
Palavra de sabedoria, palavra do
conhecimento, fé, curas,
1Coríntios 12.8- operações de milagres, profecia,
10 discernimento de espíritos,
variedade de línguas e
interpretação.
Apóstolos,deprofetas,
operadores milagres,mestres,
dons de
1Coríntios 12.28
curar, socorros, governos,
variedades de línguas.
Apóstolos, profetas, evangelistas
Efésios 4.11
e pastores mestres.
Falar (de acordo com a palavra
1Pedro 4.10-11
de Deus) e servir

85
Figuras associadas ao Espírito Santo
A Bíblia associa o Espírito Santo a algumas figuras,
realçando diferentes aspectos da sua obra por meio dessas
imagens.

F I G U RA RE F E RÊ NCI A SIGNIFICADO
Mt 3.16; Jo Procedência
Pomba
1.32-34 celeste
Jo 3.5; 7.37-39; Lavagem,
Água 1Co 12.13; Tt satisfação
3.5 espiritual, batismo
Espiritualidade,
impossibilidade de
Vento Jo3.8 ser controlado em
seus caminhos e
ações
Presença de Deus,
Fogo At2.3
juízo, purificação
Unção, capacitação
Lc 4.18; At para realizar uma
Óleo 10.38 tarefa ou assumir
uma função
Segurança, sinal de
Selo Ef 1.13-14; 4.30
propriedade.

86
CUIDADO! VENENO!
Doutrina da segunda bênção: Ainda que dentro do
pentecostalismo existam crentes verdadeiros, esse movimento
erra gravemente ao ensinar que o batismo do Espírito Santo só
ocorre algum tempo depois da conversão desde que o crente o
busque intensamente, devendo ainda ser acompanhado pelo dom
de línguas. A crença de que essa chamada “segunda bênção” só

é obtidae depois
vigílias detem
orações, muito esforçoum
colocado próprio, por meio desobre
peso insuportável jejuns,
os
ombros de diversas ovelhas sinceras de Jesus, além de estimular
a hipocrisia por parte de quem finge ter obtido esse “batismo”.
Ora, em Gálatas 3.2, Paulo censura seus leitores dizendo que o
Espírito Santo não pode ser recebido por meio da prática de
obras de devoção.

Continuísmo: Os continuístas defendem a continuidade do


apostolado e/ou dos chamados dons espetaculares, tais como
profecias, línguas, curas e milagres (os que defendem a visão
oposta são chamados cessacionistas). São na maioria
pentecostais, mas é possível encontrar continuístas em todas as
denominações evangélicas. Seus argumentos se ancoram,
obviamente, nas passagens bíblicas que tratam desses dons e, em
especial, no relato de experiências que afirmam ter tido ou
testemunhado. É, contudo, precisamente no campo da
experiência
evidente. Issoque a fragilidade
porque uma buscadohonesta
continuísmo se mostra
demonstrará maisé
que não

87
possível encontrar hoje nenhuma igreja onde os dons
espetaculares estejam em vigor nos termos descritos no Novo
Testamento. Ao defender a continuidade desses dons, os
continuístas ficam com o ônus da prova, tendo o dever não
somente de apontar textos bíblicos que provem suas concepções,
mas também igrejas locais em que os referidos dons estejam em
completo, constante, nítido e real funcionamento. É, pois, sua
tarefa fornecer, além de referências bíblicas, endereços postais
que provem que os dons espetaculares estão e vigor. Com efeito,
se esses dons perduram ainda hoje, onde é possível encontrá-
los? Essa “prova postal”, porém, que seria muito fácil de
produzir caso os tais dons ainda existissem, nunca pôde ser
apresentada pelos continuístas. Tudo o que se encontra depois de
uma acirrada busca são simulacros dos dons espetaculares,
práticas bem diferentes daquelas vividas pela igreja dos tempos
apostólicos.

Testemunhas de Jeová: Dizem que o Espírito Santo é uma


força impessoal, rejeitando sua personalidade e divindade. Na
verdade, essa seita designa o Espírito como a “força ativa de
Deus” e chega a usar essa expressão para traduzir Gênesis 1.2.
As Testemunhas de Jeová, ao negarem a divindade do Espírito,
se assemelham aos pneumatomaquianos (oponentes do Espírito)
ou macedonianos (nome srcinado no Bispo Macedônio de
Constantinopla) do século IV que diziam que o Espírito Santo
não tinha substância divina, sendo apenas uma criatura do Filho.

88
CAPÍTULO 5

A DOUTRINA ACERCA DO
HOMEM
(Antropologia)

– Compreendo, senhor. Estava pensando que bem poderia


ter uma ascendência
– Descende de Adãomais honrosa.
e Eva – tornou Aslam – É honra
suficientemente grande para que o mendigo mais
miserável possa andar de cabeça erguida, e também
vergonha suficientemente grande para fazer vergar os
ombros do maior imperador da Terra. Dê-se assim por
satisfeito.

C. S. Lewis, O Príncipe e a Ilha Mágica

Introdução
O que é o homem? Como ele surgiu? Qual a razão de sua
existência? O ser humano tem algum grau de dignidade? Se tem,
qual é a base dessa dignidade? O homem é somente um animal
constituído de simples matéria perecível ou sua estrutura
abrange algo mais? Tem ele deveres morais? Qual é a fonte e a
base desses deveres?
Essas perguntas e muitas outras são feitas frequentemente

89
por pessoas que veem com razão a importância que as respostas
a elas têm para o sentido da vida e o procedimento ético. Diante
dessas questões, filósofos seculares das mais variadas tendências
elaboraram diferentes respostas, sem que nenhuma delas
fornecesse bases sólidas para o respeito devido ao ser humano
ou para um sistema de conduta que pudesse ser esperado ou
exigido das pessoas.
Os cristãos, por sua vez, creem que a Bíblia responde todas
essas perguntas de modo claro e preciso, formando uma
antropologia sadia que eleva a importância de cada indivíduo e
que lança as bases para uma conduta honrosa.

A criação
Fora da Bíblia não há nada que possa ser dito com certeza
sobre a srcem do homem. Os povos antigos legaram vários
contos e lendas sobre o aparecimento da raça humana na Terra,
mas todos esses relatos são desprovidos de credibilidade.
Nos tempos modernos a ciência tem formulado teorias
relacionadas à srcem do homem. Essas teorias, porém,
baseiam-se mais em hipóteses do que em fatos demonstráveis.
A verdade é que, à luz do ensino bíblico, o homem não é
produto de uma evolução natural como muitas pessoas
acreditam. O homem é, isto sim, um ser criado por Deus (Gn
1.26-27).

De fato, a Bíblia afirma que o homem recebeu de Deus um


organismo físico formado do pó da terra (Gn 2.7). Além de
receber um organismo físico, ao homem também foi dada uma
alma (Gn 2.7).
Veja-se também os textos de Eclesiastes 12.7, Isaías 43.7 e
Zacarias 12.1.

90
VERDADES SOBRE O CORPO E A ALMA
OCORPO AALMA
Foi concedida por Deus
Foi formado do pó da
ao homem (Gn 2.7; Zc
terra (Gn 2.7). 12.1).
É reconhecido como
um organismo Tem valor incomparável
maravilhoso (Sl (Mt 16.26).
139.14).
É templo do Espírito Tem personalidade (Sl
Santo no homem que 139.14; Pv 21.10; Mt
se converte (1Co 6.19). 26.38).
Será restaurado na É imortal,
ressurreição (1Co permanecendo

91
ressurreição (1Co consciente após a morte
15.51-53; Ap 20.4-6). (Fp 1.22-23; Ap 6.9-11).

Concepções divergentes sobre a


srcem da alma
Traducianismo: A alma dos filhos deriva da dos pais, como
acontece com o corpo. É a concepção de Tertuliano e Agostinho
(Gn 5.3; Hb 7.9-10). A ortodoxia cristã tende para essa posição.

Emanação do Ser Supremo: Um ser supremo srcina a alma ao


difundir e propagar sua própria essência. Esse ser supremo pode
ser o Logos (estoicos), o Uno (neoplatônicos) ou a Substância
(Spinoza).

Criação simultânea ou pré-existencialismo: Todas as almas


foram criadas por Deus de uma só vez quando o mundo se
srcinou ou pouco antes disso. Foi a concepção de Platão, Fílon
e Orígenes. Essa teoria dá suporte para ideias reencarnacionistas
(Ec 12.7).

Criação individual e direta: Deus cria cada alma no exato


momento da fecundação e a une ao corpo (Nm 16.22; Sl 104.30,
Hb 12.9). O problema é que, nesse caso, Deus criaria uma alma
pura e perfeita e a daria ao homem imperfeito. Outro problema é
que Deus cessou sua obra criadora (Gn 2.3).

Evolução da matéria: A alma (entendida apenas como

92
existência independente. Trata-se de um fenômeno da
corporeidade, o resultado casual da evolução. É a posição de
Marx e dos materialistas.

A estrutura do ser humano


Há, basicamente, duas concepções distintas acerca da
estrutura do ser humano:

TRICOOhomem
TOMISé MO DICO
O homem TOMISMpor
é composto O uma
composto de corpo, parte material (corpo) e uma
alma e espírito. espiritual (alma ou espírito).
Base Bíblica
Mt 10.28; Lc 1.46-47 (aqui há
Base Bíblica
um paralelismo em que alma e
1Ts 5.23; Hb 4.12
espírito são sinônimos); Rm
8.10; 1Co 5.5; 2Co 7.1

93
Existe, contudo, na Bíblia, bases para a formação de
concepções mistas. Em Gênesis 2.7, por exemplo, a alma é
definida como o corpo animado pelo espírito.

A condição srcinal
Originalmente o homem foi criado:

À imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7).


Isto não significa que o homem é fisicamente semelhante a
Deus, pois Deus é espírito (Jo 4.24) e não tem um corpo.
Certamente na expressão “imagem e semelhança” estão
envolvidos a personalidade, o senso moral, a capacidade de se
relacionar num nível pessoal, o poder de dominar a criação e a
espiritualidade, fatores que caracterizam o ser humano e que
tanto o diferem dos animais.
É preciso esclarecer que imagem e semelhança são termos
distintos
expressão usados pararecurso
encerra um descrever uma mesma
de linguagem realidade.
chamado A
hendíadis,

94
expressão encerra um recurso de linguagem chamado hendíadis,
palavra que significa, literalmente, “um por meio de dois”. Na
hendíadis, portanto, duas palavras de conceito básico levemente
distinto são usadas para se referir a um único conceito. Esse é,
pois, o caso de “imagem e semelhança”.
O fato de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus
torna o homem um ser digno de respeito.

Com faculdades intelectuais (Gn 2.19-20). Ao ser criado, o


homem podia pensar, falar e tomar decisões. Ele já possuía,
então, uma natureza racional.

Com uma natureza moral santa (Ec 7.29). Quando Deus criou
o homem, este não tinha qualquer pecado ou impureza.
Certamente esta foi a maior glória que recebeu. O homem, no
princípio, era um ser moralmente perfeito.

95
96
O propósito da criação do homem
O Catecismo Maior de Westminster, formulado pela
Assembleia de Westminster
propósito principal da criação(1643-1649),
do homem: ensina com precisão o

Pergunta 1: Qual é o fim supremo e principal do homem?

Resposta: O fim supremo e principal do homem é glorificar a


Deus e deleitar-se nele para sempre.

A base bíblica para esse ensino se encontra em Romanos 11.36;


1Coríntios 10.31; Salmo 73.24-26; João 17.22-24. (Vd. tb. Is
43.7).

97
CUIDADO! VENENO!
Evolucionismo/materialismo: Afirma que a realidade veio
à luz pelo acaso e que o homem é só mais um item que compõe
essa realidade, tendo surgido por meio de forças impessoais que
deram andamento a um longo processo evolutivo. Foi, assim,
por meio da evolução que o ser humano chegou ao atual estágio
em que se encontra biológica e mentalmente. Uma vez que o
homem é somente matéria, não existe vida além-túmulo.

Existencialismo: O termo “existencialismo” abrange uma


vasta gama de ideias e concepções. Em seu formato mais
secularizado, porém, parte da noção de que o homem
simplesmente foi jogado e abandonado neste mundo, de maneira
que, se quiser ser feliz, deve viver aqui por conta própria,
elaborando seus valores e tomando suas próprias decisões.
Portanto, de acordo com essa visão, não há nenhum sentido na

98
vida. Contudo, o ser humano pode vencer esse vazio existindo
intensamente, isto é, vivendo de maneira apaixonada (agindo,
sentindo, provando, fazendo...), apesar de estar num mundo
absurdo e muitas vezes cruel. O tempo que o homem tem para
tomar as decisões que vão dinamizar sua vida é muito curto. De
qualquer forma, no fim a morte transformará a existência
humana em nada. Existencialistas famosos são Karl Jaspers,
Jean-Paul Sartre, Martin Heiddeger e Søren Kierkegaard.

Religiões orientais e Nova Era: Toda a realidade é divina,


o que inclui o homem. Sendo divino, o ser humano tem poderes
sobrenaturais que deve desenvolver e também detém a
prerrogativa de criar suas próprias verdades. Por meio da
reencarnação, as pessoas vivem várias vidas até alcançar uma
consciência plenamente iluminada e, enfim, dissolver-se na
força do cosmos.

99
CAPÍTULO 6

A DOUTRINA ACERCA DO
PECADO
(Hamartiologia)

Frequentemente
da minha própriaeupecaminosidade
tenho tido percepções
e vileza;muito profundas
e muitas vezes
isto me faz chorar amargamente (...). Quando olho para o
meu coração e vejo a minha iniquidade, ela se parece com
um abismo infinitamente mais profundo que o inferno.
Jonathan Edwards (1703 -
1758)

Introdução
O conceito bíblico de pecado e todas as verdades cristãs
acerca desse tema não têm recebido a merecida atenção nos
tempos atuais, nem por parte do mundo (obviamente), nem
tampouco da igreja em geral (lamentavelmente).
Pouco se fala sobre o maior problema da humanidade, o que

é lastimável,
desgraças que posto que osobre
se abatem pecado está na raiz
os indivíduos, de todase asa
as famílias

100
sociedade como um todo.
As razões dessa negligência são, basicamente, duas: o
secularismo que domina a sociedade e o utilitarismo que invade
as igrejas. Movidos pelo secularismo, os homens tendem a
explicar toda má conduta com base em noções científicas, como
doenças ou distúrbios psíquicos ou sociais, rejeitando qualquer
ideia de pecado. Impulsionadas pelo utilitarismo, as igrejas, por
sua vez, tendem a evitar qualquer assunto que retarde ou impeça
o seu crescimento, afastando as pessoas que as visitam. Daí o
silêncio acerca de temas como o pecado e todas as suas
conseqüências tanto aqui como na vida futura.
A Bíblia, contrariando isso tudo, fala bastante sobre o
pecado, tratando do assunto com notável clareza. O traço que
tanto caracteriza a raça humana não deixa de receber ampla
atenção na compreensivelmente
cristã, tão Palavra de Deus. É, pois, esse aspecto
mencionado da doutrina
nas páginas das
Escrituras, que é exposto a seguir.

O significado de “pecado”
A Bíblia diz que “as vossas iniquidades fazem separação
entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós para que vos não ouça” (Is 59.2). Isso mostra que,
basicamente, o pecado é algo que provoca o rompimento das
relações do homem com Deus.
Falando, porém, de modo mais específico, o pecado pode ser
definido como:

1. Omissão do dever (Tg 4.17).


2. Atitude errada para com Deus (Nm 21.7; Mc 3.29; 1Co
10.31).
3. Transgressão de lei (1Jo 3.4).

101
4. Ação errada em relação aos homens (Pv 14.21; Tg 2.9).
5. Não crer em Jesus (Jo 16.8-9).
6. A tendência natural para o erro (Rm 7.15-17).

Os três aspectos do pecado


AÇÃO PECAMINOSA: Refere-se às práticas que
desagradam a Deus. Todo homem as comete, tanto o salvo como
o não salvo (Sl 51.4; 1Jo 1.8-10; 3.4). Dentro desse aspecto
estão também as omissões que o Senhor reprova (Tg 4.17).

NATUREZA PECAMINOSA: É a tendência natural que o


homem tem para o mal desde o seu nascimento (Sl 51.5; Rm

102
7.15-25). Essa natureza caída, ao que tudo indica, é transmitida
de pai para filho (Gn 5.3; Sl 51.5). Por ser uma realidade ligada
à depravação total do ser humano (Rm 3.10-12), a natureza
pecaminosa compõe o conceito de “pecado srcinal”.

CULPA: Não é propriamente uma expressão do pecado,


mas sim o impacto jurídico que a transgressão de Adão teve
sobre toda a humanidade, tornando-a condenável (Rm 5.15-19;
1Co 15.22). Esse impacto sobrevém ao homem por imputação,
uma vez que Adão era o representante de cada ser humano
(concepção federalista).
Alguns teólogos entendem que a humanidade não teve em
Adão um representante, mas sim que ela estava contida
seminalmente nele (como Levi estava em Abraão, cf. Hb 7.9-
10), sendo participante do pecado cometido no Éden (Rm 5.12).
Segundo essa concepção, o homem não é condenado por ser-lhe
imputada a culpa de Adão, mas sim por sua própria culpa.
Seja nascem
homens qual for sob
a posição adotada, decorrente
a condenação o fato é que
do todos os
primeiro

103
pecado (Rm 3.9-10). Quando, porém, alguém crê em Cristo, essa
condenação é anulada. A isso é dado o nome de justificação
(Rm 3.23-24; 5.1; 8.1).
Deve ficar claro que ao morrer na cruz, Cristo não anulou a
possibilidade de o crente cometer transgressões. Tampouco ele
remove a natureza pecaminosa da pessoa que se converte, ainda
que a enfraqueça pela ação do Espírito Santo (Rm 8.1-4; Gl
5.16,24). A verdade é que, infelizmente, o cristão ainda não
está livre dos dois aspectos do pecado aqui denominados como
“ação pecaminosa” e “natureza pecaminosa”. Por isso, o crente
aguarda ansiosamente o dia em que seu livramento será total
(Rm 7.24-25; 8.23; 2Pe 3.13; 1Jo 3.2-3).
O único aspecto do pecado que Cristo anulou totalmente na
cruz foi a culpa. Sua morte teve um efeito jurídico. Ele sofreu
em lugar 1Pe
(Is 53.5; do pecador o castigo
2.24; 3.18). da condenação
Por isso, que lhe da
o crente desfruta eraposição
devido
de justo diante de Deus sem ter que temer qualquer julgamento
ou sentença (Rm 5.1; 8.1). Ao contrário do que muitos dizem,
essa doutrina jamais deve encorajar o pecado (Rm 6.1-2).

O alcance do pecado
Nada no universo que Deus criou está fora do alcance do
pecado. Tanto a realidade material como a espiritual foram
afetadas pela rebelião de criaturas racionais contra o seu
Criador. Assim, o pecado atingiu:

104
Os céus:O pecado entrou no universo por causa da rebelião de
Satanás que, segundo a tradição hermenêutica (questionada por
alguns exegetas), é descrita em Isaías 14.12-15 e Ezequiel
28.12-15. Isso afetou os céus de modo a infestar as regiões
celestiais de anjos caídos (Jó 1.6; Ap 12.7) que também fazem
guerra contra o crente (Ef 6.11-12).
A terra: Com a queda do homem, o pecado afetou a terra,
sujeitando a natureza ao sofrimento e à inutilidade (Rm 8.18-
23). Tanto o reino vegetal (Gn 3.17-18) como o animal (Gn 9.1-
3) foram prejudicados, além de toda a humanidade (Ec 7.20; Rm
3.10-12,19,23; 5.12).

A srcem do pecado do homem


O pecado, ao se perfazer na história humana, passou pelas
seguintes etapas:

105
Prova: Refere-se ao período durante o qual o homem foi sujeito
ao teste que consistia na obediência a uma ordem específica de
Deus (Gn 2.15-17). Não se sabe quanto tempo esse período
durou.

Tentação: Refere-se à atividade maliciosa e persuasiva que


Satanás, sob a forma de serpente, exerceu sobre Eva, bem como
à ação da mulher em oferecer o fruto ao seu marido (Gn 3.1-6;
1Tm 2.13-14).

Queda: Refere-se ao fato de o homem ter cedido à tentação,


quebrando a ordem de Deus. A desobediência do homem foi
voluntária. Como ser pessoal, dotado de real livre-arbítrio, Adão
pôde exercer plenamente sua capacidade de escolha quando
decidiu
2.14). desobedecer ao Criador (Gn 3.6; Rm 5.12-19; 1Tm

Os resultados da queda para a


humanidade
Todaelea raça
quando humana
pecou. estava,
Por isso, de algum de
os resultados modo,
sua ligada a Adão
desobediência
sobrevieram a todos os homens (Rm 5.12-19).
As consequências do pecado de Adão para a raça humana
foram as seguintes:

A terra foi amaldiçoada, exigindo trabalho árduo para


produzir alimento (Gn 3.17-19).
A mulher passou a ter dores no parto e conflitos no campo

106
da sujeição ao marido (Gn 3.16).
Todos os homens são pecadores e estão sob condenação
(Rm 5.16,18).
A morte, física e espiritual, entrou no mundo (Gn 2.17;
3.19; Rm 5.12,15,17; Ef 2.1).
A
Jd penalidade da morte eterna passou a existir (Rm 6.23;
13; Ap 20.14-15).

Os efeitos da queda de Adão podem também ser observados


a partir dos rompimentos que causou, conforme ilustrado a
seguir:

1. O rompimento da harmonia do homem com Deus (Gn


3.8).
2. O rompimento da harmonia do homem consigo mesmo
(Gn
3. 3.10,16a,19c).
O rompimento da harmonia do homem com seu

107
semelhante (Gn 3.12,16b).
4. O rompimento da harmonia do homem com a natureza (Gn
3.17-19; 9.2).
5. O rompimento da harmonia na natureza (Rm 8.19-22).
6.

A depravação total
O pecado afetou o ser humano em sua totalidade. A esse
efeito devastador do pecado, dá-se o nome de “depravação
total”.
Cabem aqui algumas ressalvas. Quando se diz que o homem
é totalmente depravado, isso não significa que cada pessoa do
mundo pratica todas as formas de abominação imagináveis.
Também não significa que os seres humanos são incapazes de
realizar qualquer ato de bondade ou virtude.

108
A doutrina da depravação total afirma, isto sim, que as
faculdades do ser humano foram todas afetadas pelo pecado, não
que sua conduta é sempre marcada por todo tipo de ações más.
O quadro a seguir mostra o alcance da destruição do pecado
no ser humano, fornecendo algumas bases para a doutrina da
depravação total.

ÁREA EFEITO BASEBÍBLICA


AFETADA
O interior do homem é Gn 6.5; Sl 58.3; Mt
Mente uma fonte inesgotável 15.18-19
de palavras e ações más.
O homem não consegue Rm 3.11; 1Co 1.18;

109
entender as realidades 2.14; 2Co 3.14-15;
espirituais. 4.3-4
O homem tem sua Is 5.20; Rm 1.32; Ef
Intelecto capacidade de julgar 4.17-19; 1Pe 4.4
entre o bem e o mal
limitada.
O homem tende a Sl 14.1; Mt 24.5,11;
acolher as mentiras e 2Ts 2.9-11; 2Tm 4.3-
fábulas mais grosseiras. 4
O ser humano se alegra Jó 15.16; Is 66.3; 2Ts
em práticas detestáveis. 2.12; 2Pe 2.13
O ser humano não nutre
Emoções afeto algum pela Jr 6.10
Palavra de Deus.
O ser humano ama as
Jo 3.19; 15.18-19;
trevas, mas odeia Cristo 1Jo 3.13
e seus discípulos.
O homem não consegue
realizar suas boas Jr 13.23; Rm 7.15-23
decisões.
Vontade O homem não Jo 1.13; 6.44,65; Rm
consegue, por si só, 3.11
optar por ir a Cristo.
O homem deseja fazer a Rm 8.8; Ef 2.1-3
vontade da carne.

O pecado e o livre-arbítrio
Livre arbítrio não é, como muitos pensam, a capacidade
natural que as pessoas têm de fazer as escolhas gerais do dia-a-
dia. Isso, na verdade, é mera expressão do exercício comum da
vontade e, ainda que sofra as influências do pecado, não foi
erradicada com a queda do homem no Éden.
Observe-se a seguir uma possível definição de livre-arbítrio:

110
O homem desfrutou dessa faculdade antes da queda. Ao ser
totalmente corrompido pelo pecado, porém, isso se perdeu.
Mesmo no homem convertido o livre-arbítrio não foi
plenamente restaurado. De fato, todo crente descobre, com
tristeza, que o querer o bem está nele, não, porém, o efetuá-lo
(Rm 7.18-19) e que existe em sua carne uma lei que limita seu
poder de realizar o que quer (Rm 7.21).
A prova cabal do fim do livre-arbítrio não está, contudo, na
área das ações, posto que, eventualmente, os homens fazem “o
bem que querem”. A prova cabal do fim do livre-arbítrio está no
campo das inclinações. Com efeito, todo indivíduo que decide
não desejar algo ou não inclinar-se para determinada paixão
percebe de pronto que essa decisão não surte efeito algum,
sendo necessária uma longa batalha para que o mau desejo ou a
inclinação perversa sejam (talvez!) neutralizados.
Por ter perdido o livre-arbítrio, o homem corrompido só
pode decidir acolher o evangelho e crer efetivamente em Cristo
se Deus agir poderosamente em seu coração (At 16.14). A partir

de si mesmo, essa decisão é impossível (Jó 14.4).

111
O crente e o pecado
Cristo proveu o sacrifício necessário para a satisfação da
ustiça de Deus (1Jo 2.2), de forma que, graças à sua obra na
cruz, toda transgressão pode ser perdoada. Assim, o crente deve
confessar seus pecados a Deus sabendo que ele é fiel e justo para
purificá-lo de toda injustiça (1Jo 1.9). Essa confissão deve ser
expressão de verdadeiro arrependimento (Tg 4.8-9).

No tocante à natureza pecaminosa, o crente deve, pelo poder


do Espírito que nele habita, enfraquecê-la, a fim de não andar
sob os ditames de suas paixões carnais (Rm 6.12-13; 8.13; Gl
5.16-26; Ef 4.17-24; Cl 3.5). Ele deve fazer isso sabendo que foi
revestido de uma nova natureza (Rm 8.1-5, 9; 2Co 5.17; Cl 3.9-
10) que o capacita a não viver como escravo de suas más
inclinações.

112
CUIDADO! VENENO!
Humanismo otimista: Rejeita qualquer noção de pecado ou
de depravação do ser humano. Parte do pressuposto de que os
desvios de comportamento das pessoas são devidos a influências
externas tais como a educação recebida no lar, o ambiente
social, ase/ou
culturais experiências
religiosas.deOs
frustração ou são
indivíduos sofrimento
dotados,eportanto,
as pressões
de
bondade intrínseca, a qual pode aflorar caso os fatores restritivos
externos sejam afastados. Esses pressupostos são acolhidos por
algumas vertentes da psicologia e da sociologia seculares.

Evolucionismo
ensina que o homemateísta : Em suasnão
está evoluindo expressões maisbiológica,
só na esfera radicais,

113
mas também moral. Isso, porém, não significa que o ser humano
está crescendo no cultivo de boas virtudes, mas sim que, em seu
amadurecimento cultural, caminha no rumo da total liberdade
em relação a qualquer padrão ético que lhe seja imposto. Uma
vez que não existe Deus, o pecado e os conceitos de bem e mal
são somente fábulas. Por isso, no auge de sua evolução
“espiritual”, o homem se verá livre de qualquer consciência que
lhe imponha uma conduta considerada louvável à luz dos velhos
ensinos cristãos.

114
CAPÍTULO 7

A DOUTRINA ACERCA DA
SALVAÇÃO
(Soteriologia)

Tu me chamaste e teu grito rompeu a minha surdez.


Fulguraste e brilhaste tua
cegueira. Espargiste e tua luz afugentou
fragrância a minha
e, respirando-a,
suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede
de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo da
tua paz.

Agostinho de Hipona, Confissões, X:27

Introdução
No anseio de cumprir a ordem de Jesus de evangelizar o
mundo inteiro, os cristãos frequentemente falam sobre a
salvação em suas conversas com os não crentes. Isso, às vezes,
gera certa confusão, pois os incrédulos não entendem o que
significa a afirmação de que o pecador precisa ser salvo. Por
isso, é preciso que o discípulo de Jesus tenha em mente noções
bem claras acerca da soteriologia bíblica, caso queria falar de

115
forma mais eficaz acerca das boas-novas que deve proclamar.
Basicamente, salvação é o livramento da punição eterna do
pecado (no momento em que se crê em Cristo), do poder
escravizante do pecado (na medida em que o cristão cresce em
santidade) e da presença maligna do pecado (quando o homem
redimido estiver enfim com o Senhor). Esse livramento só é
obtido pela fé em Cristo como o Filho de Deus que morreu pelos
pecados da humanidade, mas ressuscitou dentre os mortos para
ustificação de todo o que crê (Jo 3.16; Rm 4.25).
A salvação, em sua plena consumação, abrange a alma do
crente que é levada ao céu quando chega a morte (At 7.59; Fp
1.23) e o seu corpo que será revestido de incorruptibilidade ao
tempo da ressurreição ou do arrebatamento da igreja (1Co
15.51-55; 2Co 5.1-8; 1Ts 4.16-17).
Neste que
aspectos capítulo serão abrevemente
compõem expostos
doutrina da os diferentes
salvação, conforme
apresentada na Bíblia.

A predestinação
Os verbos “predestinar” e “predeterminar” traduzem a
palavra grega proorízo. Predestinar é destinar de antemão e se
trata de uma ação de Deus que abrange todos os eventos (At
4.27-28). No campo da soteriologia, a Bíblia afirma que Deus
predestinou os crentes para serem conforme a imagem de seu
Filho e que o resultado final disso será a glorificação deles (Rm
8.29-30).
Deus também predestinou os crentes para a adoção de filhos.
Isso teve como única causa a livre escolha do Senhor, realizada
segundo o conselho da sua vontade (Ef 1.5,11).
O propósito último da predestinação dos crentes é o louvor
da gloriosa graça de Deus (Ef 1.6).

116
A eleição
A eleição (Gr. eklogé / eleitos, Gr. eklektoí) diz respeito ao
ato livre e soberano de Deus de escolher aqueles que, sem
mérito algum, serão alvos efetivos da sua graça salvadora (Rm
9.14-24; 11.3-8).
O ato divino de eleger os que seriam salvos ocorreu na
eternidade, antes da fundação do mundo (Ef 1.4), e foi realizado
conforme a graça e a livre determinação do Senhor (2Tm 1.9;
1Pe 1.1-2), e não de acordo com qualquer fator positivo que ele,
porventura, tenha visto previamente no homem (Rm 9.11,16;
11.5-6). De fato, a eleição não busca homens dignos, mas sim
roduz homens dignos (Cl 1.12), fazendo deles veículos de
bênçãos (Mc 13.20) e protegendo-os do engano (Mt 24.24).
O Novo Testamento enfatiza que não há nenhuma injustiça
da parte de Deus em seu ato de eleger quem ele quer para a
salvação (Rm 9.13-20).

117
Ao contrário do que dizem, a eleição não desestimula o
evangelismo. Em vez disso, essa doutrina encoraja a pregação
da fé (At 18.9-10), uma vez que afirma que os eleitos, cedo ou
tarde, atenderão à mensagem das boas-novas (Jo 10.16; At
13.48; 1Ts 1.4-5; 2Ts 2.13-14) e que os escolhidos que estão
dispersos serão, com certeza, reunidos num só corpo, cumprindo
enfim o plano infalível de Deus (Mt 24.31; Jo 11.51-52).

A aquisição
Deus comprou (Gr. agorázo) ou adquiriu (Gr. peripoiéo) o
crente para si e o preço que pagou foi o sangue de seu próprio
Filho. Como um escravo que foi adquirido por precioso valor, o
cristão agora pertence a Cristo, sendo servo dele para sempre
(At 20.28; 1Co 6.20; 7.23; Ap 5.9).

A libertação
De acordo com Gálatas 3.10-11, todas as pessoas estão
debaixo da maldição da lei, sendo consideradas condenáveis
diante de Deus em virtude de sua transgressão. O crente, porém,

foi libertona(Gr.
substituiu vb.fazendo-se,
cruz, ) dessa
exagorázoele maldição,
próprio, maldiçãopois
em Cristo
lugar doo

118
pecador (Gl 3.13).
Cristo também libertou o crente do fardo da Lei a fim de que
o homem salvo não viva como um escravo oprimido, mas
desfrute do status de filho de Deus por adoção (Gl 4.5-6).

A redenção
No conceito de redenção (Gr. lytrosis – Hb 9.12 /
apolytrosis – Rm 3.24; Ef 1.7) está embutida a ideia de livrar
por meio do pagamento de um resgate (Gr. lytron – Mt 20.28).
Por meio do pagamento realizado por Cristo na cruz, os crentes
foram resgatados (Gr. vb. lytróo) da iniquidade (Tt 2.14) e da
maneira vazia de viver (1Pe 1.18).
A redenção do crente tem também um aspecto futuro,
adquirindo o sentido de livramento da presente realidade
marcada pelo pecado e seus efeitos (Rm 8.23; Ef 1.14; 4.30).

119
A vocação
A vocação (Gr. klesis / aquele que é chamado, Gr. kletós, vb.

dirige) unicamente
kaléo de que se trata aqui é (Rm
aos eleitos o chamado especial
1.6; 8.28,30; 1Coque o Senhor
7.17-24; Ef
4.1,4; Cl 3.15; Hb 3.1). Trata-se de um convite diferente do
chamado geral, dirigido a todas as pessoas (Mt 11.28; 22.14),
uma vez que a vocação salvífica é eficaz e sempre conduz o
eleito a Cristo (1Tm 6.12; Jd 1). Essa vocação especial é
baseada unicamente na graça de Deus, sem que o homem
chamado tenha mérito algum (2Tm 1.9).
A resposta positiva à vocação salvífica é garantida porque
esse chamado, uma vez que é dirigido somente aos eleitos, é
acompanhado pela obra de convencimento do Espírito Santo
que, com paciência e docilidade, atua no coração do indivíduo
até que ele entenda e aceite a mensagem cristã (At 16.14).
Frise-se que essa obra eficaz de vocação e convencimento
não é realizada em cada ser humano (Rm 11.4; 1Co 1.23-26), do
contrário todos os homens seriam salvos, hipótese que, como é
sabido, jamais se cumprirá (Mt 25.46; 2Ts 1.9).
Assim,gracioso
chamado conforme
(Rmdito, somente
8.28-30; os eleitosEstes,
2Ts 2.13-14). são objeto do
ainda que
possam resistir à ação de Deus em sua vida durante algum
tempo, no fim fatalmente se rendem à voz de Cristo e, ansiando
por ele, curvam-se aos seus pés cheios de fé, arrependimento e
gratidão (Jo 10.16). Os demais, porém, são deixados na
incredulidade ou punidos com endurecimento ainda maior (Is
63.17; Jo 12.37-40; Rm 1.24-28; 9.17-18; 11.7-10; 2Ts 2.11).

120
O chamado eficaz é necessário porque, segundo a Bíblia,
nenhuma pessoa pode se voltar para Deus ou para Cristo sem
que primeiro o Senhor realize nela uma obra sobrenatural,
inclinando-a para a verdade, para a obediência e para a fé (Lm
5.21;Deve-se
Ez 36.25-27;
ainda Jo 6.44,65;
notar que aFp 2.13). salvífica se constitui na
vocação
prova de que a salvação de um indivíduo depende
primariamente da vontade e da ação de Deus (Mt 11.27; Jo 1.13;
5.21; Tg 1.18). A salvação pertence a ele (Jn 2.9) e sem a sua
iniciativa ninguém poderá ser liberto da incredulidade (Jo 6.37;
Ef 2.8).

O perdão
Na esfera da soteriologia, perdoar (Gr. charízomai / perdão,
Gr. áfesis, vb. afíemi) é o ato de Deus que consiste em cancelar
toda a dívida que o pecador tem com ele (Cl 2.13), deixando-o
livre para prosseguir, sem qualquer cobrança (Veja-se uma
ilustração disso em Mateus 18.23-27).
Esse perdão salvífico é único e ocorre ao tempo da
conversão (At 10.43). Nesse aspecto, é diferente do perdão que,
diversas vezes ao longo da jornada cristã, Deus concede ao

121
crente que confessa seus pecados (1Jo 1.9).
O perdão salvador de Deus só é possível porque Cristo
sofreu as consequências do pecado (Ef 1.7; 4.32).

A justificação
Justificar (Gr. dikaióo) é declarar justo ou livre de culpa e de
castigo.
Assim, a justificação (Gr. dikaíosis) é o ato judicial de Deus,
baseado na obra de Cristo, mediante o qual ele atribui justiça ao
homem que deposita sua confiança em Jesus, livrando-o da
condenação decorrente da culpa do pecado (At 13.38-39; Rm
3.21-24; 5.1; 8.1,30,33-34; Fp 3.9; Tt 3.5-7).
Obviamente, a justificação abrange o perdão (Rm 4.6-8),
mas vai do
pecados além dessequeconceito,
homem crê, maspois não atribui
também somente cancela
a ele os
a justiça
de Cristo realizada na cruz (Rm 5.18; 2Co 5.21).
A justificação é imediata, ou seja, ocorre no exato momento
em que o homem passa a ter fé em Cristo (Rm 4.5).

122
A reconciliação
Reconciliação (Gr. katallagé, vb. katallásso) é o
restabelecimento da paz entre Deus e o homem. Por causa do
pecado, o relacionamento entre ambos foi rompido (Is 59.2; Tg
4.4). Cristo, porém, sofreu em seu corpo, pela morte, as
consequências dessa inimizade (Cl 1.21-22 – aqui consta o
verbo apokathístemi, restaurar). Agora, quem crê nele é
reconciliado com Deus, sendo salvo da sua ira (Jo 3.36; Rm 5.9-
11). Assim, a reconciliação ocorre por meio de Cristo e abrange
o perdão dos pecados (2Co 5.18-19).
A mensagem que anuncia a disposição de Deus em
reconciliar o homem consigo, mediante Jesus, é o cerne das
boas-novas pregadas pelos
que faz do evangelista apóstolos, de
um embaixador sendo
Deusessa
(2Coa 5.20).
mensagem

123
A reconciliação que ocorre no momento da conversão é
única e definitiva. Porém, há um aspecto da reconciliação que é
mais dinâmico e que envolve repetição. Trata-se das situações
em que o crente vê seu relacionamento com Deus ser abalado
por causa do pecado pessoal. Nesses momentos a orientação
bíblica é que o cristão busque, pelo arrependimento e
obediência, a restauração da comunhão que foi rompida (2Co
5.20).

A adoção
O termo “adoção” (Gr. huiothesía) é usado para descrever a
posição que o crente ocupa diante de Deus, desfrutando dos
direitos e privilégios de filho.
Por causa da adoção, o cristão deixa de ser como um escravo
que vive debaixo do medo e começa a participar de um
relacionamento com o Senhor marcado por intimidade e
segurança (Rm 8.15; Gl 4.5-6). Também pela adoção, o homem
se vê livre do jugo escravizante da lei e entra para a condição de
herdeiro de Deus (Rm 8.17; Gl 4.7).
A adoção é garantida na predestinação feita pelo Pai (Ef
1.5), é efetivada na conversão ao Filho (Jo 1.12) e é testificada

124
no coração pelo Espírito (Rm 8.16).

A regeneração
Basicamente, regenerar (Gr. anagennáo / regeneração, Gr.
alingenesia,) significa gerar de novo. Não se trata, portanto, de
uma mera reforma na vida de alguém, mas sim de um novo
nascimento que ocorre na esfera espiritual (Jo 3.3-6; 1Pe 1.3,23;
1Jo 3.9) e cuja srcem está em Deus.
Conforme o ensino de Jesus, ser regenerado é nascer “da
água e do Espírito” (Jo 3.5). Essa expressão evoca a Nova
Aliança mencionada em Ezequiel 36.25-27. Dessa passagem se
depreende que nascer “da água e do Espírito” é ser purificado

dos pecados e habitado pelo Espírito Santo (Tt 3.5-6).

Note-se que a regeneração é um ato soberano de Deus. É


somente por sua vontade e poder que alguém nasce de novo (Jo
1.13; Tg 1.18). Aliás, a palavra traduzida como “de novo” em
João 3.3 (Gr. ánothen), também significa “do alto”, indicando
que a causa primária da regeneração é celeste e não terrena.

A vivificação
A Bíblia ensina que o homem incrédulo está morto em meio
a delitos e pecados. Ocorrendo, porém, a fé em Cristo, o pecador
é ressuscitado, recebendo vida espiritual (Ef 2.1,5) e perdão (Cl
2.13).

125
Ao ser vivificado (Gr. vb. syzoopoiéo, ser vivificado com), o
crente é, de certa maneira, elevado à esfera celeste, onde
desfruta de privilégios e bênçãos em sua nova associação com o
Cristo ressurreto (Ef 1.3; 2.6).

A recriação
O cristão é o prenúncio presente da nova criação futura (Ap
21.5). De fato, a Bíblia diz que quem está em Cristo é parte da
nova criação (Gr. kainé ktísis) de Deus. O efeito disso é que o
homem assim recriado abandona concepções e cosmovisões
mundanas (1Co 2.16; 2Co 5.16-17) e, na prática, se vê
comprometido com as boas obras, assim definidas segundo os

padrões de Deus (Ef 2.10; 4.23-24).

Nessa recriação, a imagem de Deus no homem, que foi


pervertida pelo pecado desde o Éden, entra num processo
dinâmico e glorioso de restauração (2Co 3.18; Cl 3.10).

A preservação
A doutrina
doutrina da preservação
da perseverança é Grosso
dos santos. tambémmodo
conhecida como
, essa doutrina

126
ensina que aqueles que Deus escolheu por sua graça jamais
poderão perder a salvação, ainda que estejam sujeitos a quedas e
até a desvios temporários.
Uma das bases para essa doutrina está na afirmação de que a
salvação abrange uma sequência de ações de Deus que começa
na eternidade passada e se conclui com a glorificação perene no
futuro (Rm 8.29-30). Considerando a soberania e o poder de
Deus, essa sequência não pode ser frustrada ou interrompida.

De fato, no texto de Romanos 8.29-30, vê-se que a corrente


da salvação mostra seu elo inicial quando Deus conhece de
antemão e predestina aqueles a quem decide alcançar. Em
seguida, ele chama e justifica essas pessoas, glorificando-as
finalmente.
Evidentemente, não há como quebrar esse processo, estando
a salvação garantida, inclusive, pelo selo do Espírito que é o
penhor da herança eterna (Ef 1.13-14).
Ademais, é absurdo conceber o Deus da Bíblia como um ser
incapaz, que predestina alguém para salvar, chama-o e o
ustifica, mas no fim não consegue glorificá-lo. Aliás, indo
precisamente contra
de Deus que os essasãoideia,
crentes a Bíbliapara
guardados afirma que é pelo
a salvação poder
(Jo 10.28-

127
29; 1Ts 5.23-24; 1Pe 1.5; 5.10; Jd 24-25).
Outra base para a doutrina da preservação está no conceito
de novo nascimento. Jesus ensinou que o homem salvo é aquele
que nasceu de novo pela fé nele, podendo agora ver o reino
celeste (Jo 3.3). Sabe-se também que quem nasce de novo se
torna filho de Deus (Jo 1.12-13; 1Jo 5.1). Evidentemente, para
perder essas bênçãos, o crente teria que “desnascer”. E mais: se
quisesse recuperá-las teria de nascer de novo de novo! Ora,
essas possibilidades não existem nas Escrituras. Nascer de novo
ou ser regenerado, tornando-se filho de Deus, é experiência
única e, infalivelmente, resulta na salvação do crente (Gl 3.26-
29).
A doutrina da preservação dos santos também se sustenta na
afirmação de que a salvação não pode ser anulada pelo pecado
individual
crente que do crente.
tinha Em 1Coríntios
envolvimento 5.1-5,a mulher
sexual com Paulo fala de um
do próprio
pai. Era um pecado tão grave que ele diz não ser comum nem
mesmo entre os pagãos (v.1), devendo esse homem ser
“entregue a Satanás” (v.5), o que significa ser expulso da igreja
(v.13). Isso, porém, não fez com que aquele homem perdesse a
salvação. Na verdade, Paulo diz que a disciplina poderia trazer a
destruição do corpo, mas que o espírito daquele homem seria
salvo (v.5). Ademais, em 1João 2.1, é ensinado que se algum
crente pecar, isso não gera sua condenação eterna, mas sim sua
defesa, feita por um “Advogado junto ao Pai: Jesus Cristo, o
usto”.
Finalmente, é importante observar que a segurança do
homem salvo é testificada pelo próprio Espírito Santo em seu
interior (Rm 8.15-16).
Outros textos que falam da segurança do crente são os
seguintes: João 6.37-40; Romanos 5.8-10; 8.33-39; 1Coríntios
1.7-8; 3.15; Efésios 4.30; Filipenses 1.6 e Hebreus 7.25.

128
A santificação
Basicamente, santificação (Gr. hagiasmós) é a separação de
algo por Deus para o seu uso. Quando relacionada à salvação do
homem, a santificação pode ser posicional e experimental.

Santificação posicional: É a fase instantânea da santificação


que tem lugar no momento em que a pessoa aceita Cristo como
Salvador (1Co 6.11). Nesse instante, o homem passa a ocupar o
status de santo diante de Deus, ou seja, é considerado separado
para pertencer a ele e para servi-lo.

Santificação experimental: É a fase progressiva da santificação


(Rm 6.19,22; 2Co 7.1; 1Ts 4.3-7; Hb 12.14). Começa no
momento da conversão e segue se desenvolvendo até o dia da
glorificação (Fp 1.6). O texto de 2Coríntios 3.18 diz que o
cristão é transformado de um grau de glória em outro, sendo
aperfeiçoado em santidade.

129
A glorificação
A glorificação (Gr. vb. doxázo) diz respeito à consumação
da salvação do crente (Rm 8.17-18,21,30; 1Pe 5.4). Na
glorificação o salvo entra para um estado de total livramento do
pecado e dos seus efeitos, passando a habitar com o Senhor para
sempre (Cl 3.4; 1Jo 3.2).
Essa fase abrange não somente a entrada da alma no céu (Lc
23.43; At 7.59; Fp 1.22-23), mas também, em sua realização
completa, na ressurreição, o recebimento de um corpo
transformado, totalmente livre de corrupção e sobre o qual a
morte não tem poder (Rm 8.23; 1Co 15.42-43,51-54; 2Co 5.1-
4). O ambiente definitivo em que a glorificação será desfrutada
é a nova terra que o Senhor há de criar (Ap 21.1-4).

Como ser salvo


A salvação ocorre pela fé em Cristo (Jo 3.16-18; Rm 1.16-
17; Ef 2.8-9). Essa fé é precedida pela pregação, é acompanhada
pelo arrependimento e é seguida de perseverança e frutos. Se

130
não for assim, será uma fé falsa e logo deixará de existir.

Base bíblica para a pregação como fator que precede a


fé: Lucas 16.31; João 17.20; Romanos 10.13-17; 1Coríntios
1.21; Efésios 1.13; 2Timóteo 3.14-15; Tiago 1.18,21; 1Pedro
1.23.

Base bíblica para o arrependimento como fator que


acompanha a fé: Mateus 21.28-32; Marcos 1.15; Atos 2.37-41;
3.19; 11.18.

Base bíblica para a perseverança e os frutos como fatores


que decorrem da fé: 1Tessalonicenses 1.3-10; Hebreus 10.39;
1Pedro 1.5; 1João 5.4-5.

A fé salvadora é a aceitação de Cristo conforme ele é


apresentado nas Escrituras (Jo 1.12; At 8.37; 1Jo 5.10-12), isto
é, como o Filho de Deus que veio ao mundo para morrer pelos
pecados, tendo depois ressuscitado dentre os mortos (Rm 10.9;
1Co 15.3-4). Essa fé implica o abandono de qualquer outro
caminho para ser salvo e a dependência plena e exclusiva da
obra completa de Cristo (At 4.12; Gl 2.16; Fp 3.7-9).

A fé mediante
sobrenatural a qual
(Ef 2.8; Fp alguém
1.29; Hb 12.2) ée, salvo temperdura
por isso, srceme

131
frutifica. Essa é a fé dos eleitos (Tt 1.1).
Quando a fé é apenas uma anuência intelectual ou uma
reação emocional, ela se mostra improdutiva e logo desaparece
(Mt 13.20-22). Essa é a fé morta que nada produz, pouco
perdura e a ninguém salva (Jo 2.23-25; 12.42-43; Tg
2.14,17,26).

CUIDADO! VENENO!
Arminianismo: O ensino bíblico que afirma que o crente
não perde a salvação é chamado tecnicamente de doutrina da
erseverança dos santos. Trata-se de um dos temas principais
defendidos pela teologia reformada. Dentro do protestantismo, a
vertente que se opõe à doutrina da perseverança dos santos é o
arminianismo, sistema idealizado pelo teólogo holandês Jacó
Armínio (1560-1609). Entre outras coisas, o arminianismo nega
a fórmula “uma vez salvo, salvo para sempre”. Ainda que esse
modelo tenha sido condenado pelo Sínodo de Dort (1618-1619),
muitas igrejas evangélicas modernas o adotam, sendo possível
encontrar seus expoentes entre batistas (eventualmente),
assembleianos (principalmente) e presbiterianos
(surpreendentemente). O perigo do arminianismo, considerado
sob esse aspecto, é que faz a segurança do crente depender de
seu esforço próprio. No final das contas, a salvação acaba sendo
devida à dedicação e empenho do homem em vez de ser pela fé
somente. Na prática, as igrejas que ensinam a perda da salvação

132
exigem que o crente desviado conserte sua vida e volte para a
igreja se quiser ser “salvo de novo”. A implicação lógica é que,
de acordo com essa concepção, a “segunda” (ou terceira, ou
quarta!) salvação ocorre pelas obras, ainda que os arminianos
nem sempre estejam dispostos a assumir essa conclusão.

Catolicismo Romano: Enquanto o Novo Testamento ensina


que a justiça de Deus é imputada ao homem no momento em
que ele crê em Cristo (justiça imputada ou atribuída – Rm 5.1), o
romanismo ensina que a justiça de Deus é infundida na pessoa
aos poucos, na medida em que ela obedece aos ensinos da igreja

católica
só (justiça
descobre se foiinfusa). Assim,
justificado na doutrina
quando papista,
comparecer o indivíduo
diante de Deus
e o Senhor avaliar se, ao longo da vida, aquela pessoa acumulou
a justiça necessária para desfrutar da visão beatífica. Os
católicos creem que a fé em Cristo abrange a adesão completa
aos ensinos e regras da igreja. É precisamente a adesão a isso
tudo que tornará um homem justificado ou não. Se ocorrer da
obediência de alguém não ser suficiente para a sua entrada no
reino do céu, ele será enviado ao purgatório, a fim de passar por
um castigo temporário e, uma vez purificado, obter a justiça que
falta para a sua salvação. De acordo com a doutrina romanista,

133
rezas, missas e obras de penitência em favor dos mortos
auxiliam a reduzir o tempo no purgatório. Não há nada na
Escritura que ensine essas coisas, mas os romanistas não se
incomodam com isso, posto que consideram sua tradição no
mesmo pé de igualdade que a Bíblia em termos de autoridade.

Sinergismo: O termo sinergismo vem do grego e denota a


ideia de trabalho conjunto. Os sinergistas creem, assim, que a
salvação do pecador é obra de Deus, mas que o homem coopera
com ele, fazendo sua parte. Os arminianos são considerados
sinergistas, pois acreditam que o ser humano trabalha em
conjunto com Deus para ser salvo na medida em que decide, de
si mesmo, depositar sua fé em Cristo e perseverar nos caminhos
dele. Porém, de um modo geral, qualquer crença que afirma que
oconsiderada
indivíduo uma
precisa “fazer
crença sua parte”
sinergista. para ser
O oposto do salvo pode ésero
sinergismo
monergismo, proposto pela teologia reformada ou calvinista.
Essa concepção ensina que somente o Senhor opera na salvação
do homem. Para os monergistas, mesmo a fé e a perseverança do
crente são obras de Deus na vida de seus eleitos.

Universalismo: O universalismo entende que, ao final,


todos serão salvos. Alguns universalistas ensinam que isso será
precedido por um período de juízo aplicado aos maus, mas que
de forma nenhuma esse juízo será eterno. O primeiro teólogo de
destaque a divulgar ideias universalistas foi Orígenes de
Alexandria (c. 185-253). Segundo ele, toda a realidade criada,
inclusive a angélica, caminha no rumo da apocatástase, ou seja,
da plena reconciliação com Deus por meio de Cristo. Karl
Rahner, John A. T. Robinson e John Hick são os proponentes
mais destacados do universalismo atual. O “inclusivismo
soteriológico”, como o universalismo é também chamado,
encontra apoio na teologia do processo, no teísmo aberto e em

134
outras vertentes do cristianismo tanto protestante quanto católico
romano.

Aniquilacionismo: De acordo com essa visão, não existe


nenhuma dimensão além e, depois da morte, o homem
simplesmente apodrece. Ligada a essa concepção, mas com
contornos menos radicais, está o condicionalismo ou a doutrina
da imortalidade condicional, segundo a qual a imortalidade é
uma dádiva de Deus concedida a todos os homens, mas só
poderão retê-la aqueles que preencherem a condição de crer em
Cristo. Assim, para os condicionalistas, os que rejeitam o
Salvador serão aniquilados, caindo na inexistência completa. Os
condicionalistas geralmente aceitam a possibilidade de um
período indefinido de sofrimento no inferno, antes da total
aniquilação do ímpio.
porém, de acordo com A noção
essa de um deve
concepção, inferno
sereterno e literal,
recusada, pois,
segundo entendem, essa ideia não se harmoniza com o conceito
de um Deus justo que vencerá definitivamente o mal.

Espiritismo: Para os espíritas a salvação é o livramento do


espírito humano da realidade material em que está preso. Esse
livramento ocorre por meio do processo de reencarnação, pelo
qual o espírito evolui passando por vários ciclos de existência no
plano material. A aceleração desse processo de livramento
ocorre por meio de boas obras. O ensino acerca do pecado e da
morte expiatória de Cristo, bem como as doutrinas da salvação
pela fé, da ressurreição dos mortos, do reino celeste e do inferno,
não fazem nenhum sentido dentro da concepção espírita, não
havendo qualquer ponto de semelhança entre esse modelo
religioso e o cristianismo bíblico.

135
136
CAPÍTULO 8

A DOUTRINA ACERCA DA
IGREJA
(Eclesiologia)

Porque a igreja não tem outro Rei senão Jesus Cristo.


Porque a igreja não deve ingerir-se na política do mundo,
tirar destasuas
espadas, a suaprisões,
própria seus
inspiração nem Porque
tesouros. apelar para suas
a igreja
vencerá pelas forças espirituais que Deus depositou em seu
seio, e, acima de tudo, pelo reinado de seu Chefe adorável.
Porque a igreja não deve contar com tronos terrenos nem
triunfos efêmeros, mas que a sua marcha se assemelhe à do
Rei: da manjedoura para a cruz; da cruz para a coroa!

J. H. Merle D’Aubigné, História da Reforma do


décimo-sexto século, Vol. VI, p. 247

Introdução
Uma das doutrinas mais negligenciadas dentro do
cristianismo é a eclesiologia, ou seja, o ensino bíblico acerca da
comunidade da fé, sua natureza, relevância, deveres e propósito.

137
Essa falta de conhecimento tem gerado prejuízos enormes para a
causa do Mestre. Desprovidos de conceitos claros, os crentes
têm dado o título de igreja a grupos que nem de longe se ajustam
ao que realmente o Corpo de Cristo é e, então, têm se associado
com esses grupos. Além disso, sem diretrizes acerca do modo
como a igreja deve funcionar, comunidades cristãs inventam
formas estranhas de louvor, de disciplina e de culto, fazendo
com que o nome “igreja” seja associado com práticas
baderneiras, com crendices toscas e com excessos inaceitáveis.
Como se não bastasse, a falta de conhecimento da
eclesiologia bíblica tem sido acompanhada por uma crítica

severa contraEssa
organizada. qualquer tipoafirma
crítica de comunidade cristã formalmente
que as igrejas locais são
absolutamente dispensáveis para quem quer adorar a Deus e que,
na verdade, essas instituições são somente instrumentos nas
mãos de uma minoria que se deleita em oprimir e explorar
pessoas de boa-fé.
Todos esses desvios podem ser facilmente evitados pelos
crentes que conhecem o ensino cristão sobre a igreja. Além
disso, o crente que entende a eclesiologia bíblica saberá não
somente fugir dos erros que tentam desfigurar a igreja de Deus,
mas também se sentirá motivado a se comportar de modo santo

138
dentro dela.

O significado de “igreja”
A palavra “igreja” vem do termo grego ekklesía, que
significa “assembleia”. Juntando esse sentido básico com outras
informações dadas pelo Novo Testamento, é possível definir a
igreja da seguinte forma:

A igreja, para efeito de estudo, pode ser definida em termos


de organismo e organização. Como organismo, a igreja é o
corpo místico de Cristo, do qual ele é a cabeça e os crentes são
os membros (1Co 12.12-13). Na qualidade de organização, a
então “igreja local” é um grupo de crentes reunidos com os
propósitos mencionados na definição acima.

QUATRO RESSALVAS

A igreja bíblica não tem um templo considerado como lugar


sagrado (At 20.20; Rm 16.5; 1Co 3.16-17; 6.19; 2Co 6.16; Ef
2.22; Cl 4.15; 1Pe 2.5).
Nem todas as comunidades evangélicas são igrejas no
sentido bíblico (Mt 7.21-23).

Nenhuma
(Jo 14.6). igreja pode se apresentar como a única verdadeira

139
Nenhuma igreja pode se apresentar como a melhor entre
todas as demais (Ap 3.17).

Distinções comuns
Igreja local e igreja universal: A primeira designação diz
respeito a uma comunidade de crentes que se reúne numa
localidade específica. A segunda designação se refere
geralmente aos crentes em Cristo espalhados por todo o mundo.
Igreja visível e igreja invisível: A primeira designação
refere-se à igreja local. A segunda designação aponta para a
igreja universal.

que Igreja
ainda militante e igreja
batalha neste triunfante
mundo. : A primeira
A segunda, é a igreja
o conjunto de
crentes que já está com Cristo na glória celeste.

Os símbolos da igreja
O corpo: É símbolo que denota a unidade dos membros da
igreja e a diversidade das suas funções no corpo de Cristo (Rm
12.4-5).
O templo: É figura que destaca a igreja como habitação de Deus
(Ef 2.19-22).

O casal: Simboliza a união singular e indissolúvel da igreja com


Cristo (Ef 5.31-32).

140
Os propósitos da igreja
O propósito da igreja se divide em dois aspectos: o imediato
e o final.
O propósito imediato:Esse aspecto do propósito da igreja
envolve o testemunho que ela deve dar a este mundo acerca da
verdade, seja por meio da evangelização direta ou da vida de
cada membro (1Pe 2.9).
O propósito final: Nesse aspecto a igreja cumpre o propósito
eterno de Deus para a história, ou seja, a sua glória. Por meio da
igreja, Deus será eternamente glorificado (Ef 1.6,12,14; 2.6-7).

141
A sublimidade da igreja
O NT destaca a sublimidade da igreja por meio do ensino de
diversas verdades relativas a ela. A lista abaixo mostra algumas
dessas verdades:

1. Ela é edificada e protegida por Cristo (Mt 16.18).


2. Ela foi comprada por Deus com o sangue de Cristo (At
20.28).
3. Ela é herdeira com Cristo (Rm 8.17).
4. Ela é defendida por Deus, sendo livre de qualquer
acusação (Rm 8.31-34).
5. Ela é digna de ser protegida e de que se padeça por ela
(2Co 11.28; Cl 1.24; 1Tm 5.16).
6. Ela é formada por pessoas santificadas por Cristo (1Co
1.2).
7. Ela é o corpo de Cristo (Ef 1.22; Cl 1.18).
8. Ela é, num sentido figurado e misterioso, o
“complemento” de Cristo (Ef 1.22-23).
9. Ela é o veículo especial por meio do qual Deus torna sua
sabedoria
3.10). conhecida pelos principados e pelas potestades (Ef
10. Ela é objeto do amor e do cuidado especial de Cristo (Ef
5.25-27).
11. Ela é a casa do Deus vivo e o sustentáculo da verdade
(1Tm 3.15).
12. Ela é descrita com termos altamente honrosos e sublimes
(1Pe 2.9).
13. Ela é supervisionada e disciplinada por Cristo (Ap 1.12-
13,20; 2.1,5).

142
A liderança da igreja
A Bíblia menciona cinco grupos distintos de líderes
eclesiásticos: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores-mestres
(Ef 4.11) e diáconos (Fp 1.1).

Apóstolos
O NT usa o termo “apóstolo” em dois sentidos. Num sentido
não técnico a palavra se refere a um missionário, mensageiro ou
pregador (At 14.14; Rm 16.7?; Gl 1.19), já que o vocábulo
significa, literalmente, “alguém mandado”. No sentido técnico,
porém, o termo é restrito a um grupo que existiu somente no
século I, quando a igreja lançava seus alicerces (Ef 2.20). Esse
grupo foi formado por doze homens apenas (Ap 21.14). O
quadro ao lado mostra os requisitos que eram necessários para
ser apóstolo nesse sentido especial.

143
Profetas
Também pertenceram ao período em que a igreja lançava
suas bases doutrinárias, éticas e funcionais (Ef 2.20). Sua função
principal era ser um canal de revelação doutrinária inédita (Ef
3.5), mas, às vezes, os profetas também faziam previsões,
especialmente quando o evento predito tinha grande impacto
sobre a igreja como um todo (At 11.28; 21.10-11).

144
Evangelistas
São oficiais da igreja designados para proclamar a
mensagem de salvação em Cristo (Ef 4.11). Veja mais
informações sobre esse cargo no Capítulo 4, subtítulo “Os Dons

Alistados na Carta aos Efésios”.


Bispos, pastores, presbíteros ou anciãos
Todos esses termos se referem ao mesmo cargo (At
20.17,28; Ef 4.11; Tt 1.5,7). As designações distintas servem
para realçar diferentes aspectos do trabalho pastoral, conforme
se vê a seguir.

 Bispo: Supervisor, guardião ou superintendente (Gr.


Epískopos).
 Pastor: Aquele que cuida de um rebanho, apascenta,
vigia e guia (Gr. Poimén). Em Efésios 4.11 o termo está
conectado à palavra “mestre”. Veja a explicação para isso no
Capítulo 4, subtítulo “Os Dons Alistados na Carta aos
Efésios”.
 Presbítero: Ancião (Gr. Presbyteros). Evoca a função de
juiz e a ideia de honorabilidade.
 Ancião: É mera tradução de presbyteros.

145
REQUISITOS PARA SER PASTOR

REQUISITO SIGNIFICADO BASE BÍBLICA


Vida A vida e a família do 1Tm 3.1-7; Tt
pastor devem servir de
exemplar 1.5-9
modelo para a igreja
Chamado interior
1Tm 3.1
O desejo de ser pastor
Vocação Chamado exterior
O reconhecimento da At 14.23
igreja
Gênero É vedada a liderança 1Co 14.34; 1Tm
masculino feminina na igreja 2.11-14

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

As bases para a proibição de a mulher liderar a igreja não são


culturais,
doutrina damas teológicas,
queda a saber, a ordem da criação e a
(1Tm 2.11-14).

146
Na igreja primitiva havia profetisas e, quando tinham
revelação, era-lhes permitido falar (1Co 11.5). O dom de
profetizar, contudo, conforme visto, desapareceu ao fim do
século I.
Na Bíblia é permitido que as mulheres ensinem os homens
fora do contexto eclesiástico (At 18.26), pois isso não
compromete o funcionamento ideal da igreja (1Tm 3.15).
As mulheres podem realizar alguma forma de diaconia
(serviço – Rm 16.1), mas sem assumir o diaconato, pois este
é um cargo próprio de líderes eclesiásticos.

Diáconos
O termo “diácono” (Gr. diákonos) designa alguém que
serve, apoia ou auxilia. Está ligado ao verbo diakonéo, cujo
sentido é servir a mesa (Lc 12.37), cuidar ou ajudar.
A princípio, os diáconos eram apenas um grupo de amparo
social (At 6.1-6). Porém, ainda no tempo do NT, sua
importância cresceu, vindo o cargo a compor a liderança da
igreja (Fp 1.1), tanto que os requisitos bíblicos para o diaconato
são quase os mesmos impostos aos pastores (1Tm 3.8-13).

As ordenanças dadas à igreja


Por “ordenanças” se entende as duas instituições que Cristo
deixou para seus seguidores observar, a saber: o batismo e a
ceia. As ordenanças simbolizam verdades cristãs ligadas à
salvação. Portanto, se o praticante desses atos não tiver provado
as verdades que eles simbolizam, sua observância não terá
nenhum valor.

O Batismo
147
O batismo é obrigatório a todo aquele que aceitou Jesus
Cristo como seu salvador, pois o próprio Senhor o ordenou (Mt
28.19-20). Essa ordenança tem quatro objetivos:

A profissão pública de fé (1Pe 3.21).


A identificação do batizando com os demais discípulos de
Jesus (Mt 28.19).
A representação da lavagem espiritual (At 22.16 cp. 1Co
6.11).
A representação da morte do crente para o pecado, seu
sepultamento com Cristo e sua ressurreição para uma nova
vida (Rm 6.1-4; Cl 2.12).

era aA total
formaimersão
de batismo praticada
do crente nos dias
na água (Mcdo1.9-11;
Novo Jo
Testamento
3.23; At
8.36-39). Porém, no meio cristão há igrejas que praticam a
aspersão e a efusão, tendo por base textos como Atos 9.18;
10.47-48; 16.33; 22.16 e 1Coríntios 10.2.
O batismo infantil não é ensinado na Bíblia, uma vez que,
antes de ser batizado, o indivíduo deve crer (At 2.41; 8.36-38). É
preciso reconhecer, porém, que igrejas sérias têm um
entendimento diferente desse assunto e batizam crianças, tendo
por base a Teologia do Pacto e textos como Atos 16.33 (é dito
que provavelmente havia crianças na casa do carcereiro),
Romanos 4.11 (a circuncisão é definida aqui como um selo de fé
e, mesmo assim, era ministrada a bebês que ainda não podiam
ter fé) e 1Coríntios 10.2 (havia bebês participando dos eventos
do Êxodo mencionados aqui).
É preciso destacar finalmente que, diferente do que algumas
seitas ensinam, o batismo não é necessário à salvação (Lc 23.39-
43; 1Co 1.14-17).

148
A Ceia do Senhor
A ceia do Senhor é um memorial que recorda o sacrifício de
Cristo (1Co 11.24-25), memorial este celebrado em meio a uma
realidade espiritual que transcende a experiência regular da
igreja, na medida em que proporciona aos crentes uma
cumplicidade mais plena com o próprio Senhor presente de
forma intensa no momento da celebração (1Co 10.16-17).
Jesus instituiu a ceia pouco antes de sua paixão (1Co 11.23-
26). Cada elemento tem um significado: o pão partido simboliza
osangue
corpovertido
de Cristo que em
na morte foi favor
ferido;
doso pecadores.
vinho é símbolo do seu

A ceia do Senhor tem um propósito tríplice:

Comemoração (1Co 11.24-25).


Comunhão (1Co 10.16-17).
Comunicação (1Co 11.26).

149
Todo o crente tem o dever de participar da ceia, sendo
exigido dele que não o faça indignamente a fim de não se tornar
réu do corpo e do sangue de Jesus (1Co 11.27-30). O contexto
de 1Coríntios 11 mostra que participar da ceia indignamente é,
basicamente,
desconsideraçãocomer e (1Co
pelos irmãos beber11.18,20-22,33-34).
nutrindo desprezo e

Quatro visões distintas

Transubstanciação – Catolicismo romano: Os


elementos da Ceia se transformam na carne e no
sangue do Senhor (Mt 26.26; Jo 6.53-57).
Consubstanciação – Luteranismo: A carne e o
sangue de Cristo literais estão presentes na Ceia
unto com os elementos (Mt 26.26; Jo 6.53-57).
Presença Espiritual – Calvinismo: Cristo está
presente de forma espiritual nos elementos da Ceia
(1Co 10.16).
Memorial – Zuinglianismo: Os elementos da

150
Ceia recordam o sacrifício de Cristo (Jo 6.52 cf.
63; 1Co 11.24-25).

A disciplina na igreja
A igreja tem como um dos seus deveres aplicar a disciplina
conforme ensinada no Novo Testamento. Essa prática consiste
na expulsão da pessoa disciplinada seguida do rompimento da
comunhão dos crentes com ela. Dada sua severidade, a
disciplina só pode ser aplicada quando a pessoa se mostra
incorrigível, recusando se arrepender e abandonar o pecado. Se
em casos assim não houver a expulsão, toda a igreja ficará
maculada pelo pecado do membro rebelde (1Co 5.6).
O Novo Testamento contempla dois modelos de processo

disciplinar eclesiástico:

151
Trifásico: É o processo descrito em Mateus 18.15-17 no
qual três etapas precisam ser superadas antes da efetiva
excomunhão do pecador. Esse processo deve ser aplicado a
casos de pecados que, ao tempo do início do processo, são
conhecidos somente por um indivíduo da igreja ou por uma
pequena minoria. Havendo arrependimento em qualquer das
etapas, o processo termina sem que haja expulsão e o pecador
arrependido recebe, então, o perdão dos que o exortaram.

Monofásico: É o processo descrito em 1Coríntios 5.1-5,9-


11. Aplica-se a casos de pecados de grande impacto e assumidos
publicamente pelo membro da igreja. Nesses casos, a obstinação
se configura de pronto e a expulsão ocorre imediatamente, tão
logo a igreja possa se reunir para operá-la.

No trato com o pecado, os cristãos também têm na Bíblia


mostras de como lidar com o comportamento reprovável de
grupos inteiros, deixando claro que em casos assim o problema
deve ser levado a alguém que tenha algum grau de autoridade na

igreja
para o(1Co
caso1.11-12). Também
de pecados há uma(1Tm
de líderes orientação específica
5.19-20). Nessa

152
hipótese, pode haver repreensão na presença de todos, mas o
texto não deixa claro se esses “todos” são os irmãos em geral ou
se são os demais líderes. Seja como for, o resultado da
obstinação será sempre a excomunhão, ou seja, a expulsão do
pecador rebelde e contumaz.

Os objetivos da disciplina eclesiástica são os seguintes:

Cumprir as ordens de Deus acerca do modo como sua igreja


deve lidar com a rebeldia.
Colocar o ofensor sob a mão punitiva de Deus (1Co 5.4-5) e
longe do amparo dos irmãos (Mt 18.17; 1Co 5.9-11) a fim de
que, sendo fustigado por tudo isso, enfim se arrependa (2Co
2.6-11).
Manter a pureza da igreja (1Co 5.6-8).
Gerar temor nos demais irmãos (At 5.11; 1Tm 5.20).
Evitar o juízo que Deus traz sobre a igreja que tolera o mal
em seu meio (Ap 2.14-16,20-23).

UMA PERGUNTA, VÁRIAS RESPOSTAS

Porque é fundamental que o crente faça parte de uma igreja


local e se reúna regularmente com seus irmãos?

153
. Porque cerca de metade do Novo Testamento foi escrita
tendo em vista especificamente o ensino, a correção e o
encorajamento de igrejas locais, mostrando a extrema
importância que o Espírito Santo confere à comunidade dos
crentes.
. Porque só assim o crente poderá zelar pela pureza da igreja
em processos disciplinares (Mt 18.17; 1Co 5.3-5).
. Porque a espiritualidade cristã é baseada na Trindade que é
marcada por perfeita comunhão, amor e amizade (Jo
17.11,20-22).
. Porque a união dos crentes expressa na adoração conjunta e
na alegre e amorosa comunhão fornece o contexto em que
Deus age trazendo mais pessoas à salvação (At 2.42-47).
. Porque o Espírito
atua sobre Santo invariavelmente
ela nos momentos fala à sua
em que está reunida emigreja
oraçãoe
e culto (At 4.31; 13.1-3).
. Porque a igreja, tendo sido comprada por preço altíssimo,
precisa ser amparada, nutrida e protegida, sendo certo que a
participação de crentes comprometidos ajudará na realização
dessa tarefa (At 20.28).
. Porque longe do convívio eclesiástico, os dons espirituais
que o crente recebeu com vistas à edificação dos santos não
poderão ser exercitados e ele será como um membro
paralisado no corpo de Cristo que se enfraquecerá por causa
dessa inércia (Rm 12.4-8; 1Co 12.4-27).
. Porque sem estar na igreja o cristão não poderá obedecer as
ordens de admoestar, amar, socorrer e suportar seus irmãos
(Rm 12.10; 15.14; Gl 5.13; Ef 4.2,32; 5.21; Cl 3.13, 16, 1Ts
4.18; 5.11; Hb 3.13; Tg 5.16; 1Jo 3.23).
. Porque a Ceia do Senhor não pode ser celebrada fora do
convívio dos irmãos (1Co 10.17; 11.33).
0. Porque o desprezo pela igreja é censurado na Bíblia (1Co

154
11.22).
1. Porque Deus não habita somente no corpo do crente, mas
também na congregação dos santos, realizando ali uma obra
especial de edificação (Ef 2.20-22).
2. Porque é dentro do contexto coletivo cristão que o crente é
fortalecido em seu interior e recebe capacitação para
compreender melhor o amor de Cristo sendo, então,
dominado por Deus (Ef 3.14-19).
3. Porque é na igreja local que o crente é equipado para o
serviço santo por meio do ministério de homens que Deus
estabeleceu (Ef 4.11-16).
4. Porque Deus ordena o louvor coletivo como parte da sua
adoração e não apenas o louvor individual (Cl 3.16).
5. Porque a igreja é a única instituição que protege e sustenta a
verdade
zelar peloneste mundo, o que
fortalecimento aumenta
e bom o dever dodela
funcionamento crente de
(1Tm
3.15).
6. Porque a Bíblia ordena que o crente não deixe de se
congregar e a desobediência a essa ordem é considerada
apostasia (Hb 10.25; 1Jo 2.19).
7. Porque a comunhão com os irmãos é um dos resultados de
andar na luz (1Jo 1.7).

155
CUIDADO! VENENO!
Romanismo: Entende que a Igreja Católica Romana é a
única instituição verdadeiramente fundada por Cristo e herdeira
dos apóstolos, cujos sucessores são todos os seus bispos, em
especial o papa. Este é o chefe da igreja e sucessor de Pedro.
Segundo
totalidadea dos
visãomeios
romanista, somente
necessários a Igreja Católica
à salvação, detémosa
o que inclui
sacramentos (principalmente a eucaristia) que santificam,
purificam e transformam os fiéis. Na visão católica menos
radical, alguns elementos da verdade podem estar eventualmente
presentes em outras comunidades cristãs, mas somente a igreja
romana detém o depósito integral da fé e o poder exclusivo de
interpretar corretamente a Bíblia. Segundo os romanistas, Maria,
sendo mãe de Jesus, é também a mãe da igreja que deve, assim,
venerá-la como concebida sem pecado, eternamente virgem e
assunta ao céu em corpo e alma. A eclesiologia romanista
abrange também uma estrutura altamente hierarquizada que, em
ordem decrescente, é composta por papa (a quem, desde o
Concílio Vaticano I, em 1870, se atribui infalibilidade em
questões de fé e moral), cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos,
padres e diáconos. Todo o clero católico (excetuando os
diáconos) é celibatário.

Igreja emergente: Trata-se de um movimento evangélico

156
surgido no final do século XX que se propõe a apresentar ao
mundo uma igreja aberta aos conceitos da pós-modernidade e
livre dos “rígidos” padrões éticos, doutrinários e funcionais
propostos pelas igrejas históricas formalmente organizadas. Os
expoentes do modelo eclesiástico emergente defendem,
portanto, uma tolerância maior no diálogo entre a igreja e a
sociedade pluralista presente, propondo um discurso cristão
menos “radical”, uma pregação evangelística menos
exclusivista, uma visão ética mais flexível e tolerante, uma
liberdade mais ampla de expressões cultuais e um diálogo
conciliador com outras religiões.

Os sem igreja: Uma tendência comum na atualidade é a


defesa de uma espécie de cristianismo em que o crente não
pertence a nenhuma igreja, vivendo isoladamente sua fé. Os
“sem igreja”, como são chamados, geralmente justificam suas
opiniões partindo de experiências desagradáveis que viveram em
alguma comunidade cristã. Segundo seu parecer, essas
experiências fornecem base sólida para o que acreditam ser uma
espiritualidade meramente individual. A crítica a essa visão
tende a ser bastante severa, pois, além de mostrar a farta
evidência bíblica para a importância da igreja local, destaca
também que os defensores do cristianismo “sem igreja” são
geralmente pessoas que se fazem de vítimas com um discurso

157
piedoso, mas que, na verdade, são gente de difícil convivência,
pessoas que não aceitam nenhum tipo de autoridade, crentes
inclinados a criticar tudo e todos e também incapazes de
cooperar com um grupo, querendo apenas fazer valer suas
preferências e opiniões. A experiência mostra ainda que os “sem
igreja” geralmente são pessoas que não dão certo em lugar
nenhum e que, na verdade, seu anseio maior não é por uma
espiritualidade individual, mas sim por uma vida cristã sem
compromissos.

158
CAPÍTULO 9

A DOUTRINA ACERCA DOS


ANJOS
(Angelologia)

Assim, pois, de maneira alguma e em tempo algum, os


espíritos que chamamos anjos começaram por ser trevas.
No mesmo instante em que Deus os criou foram luz;
criados, não para serem ou viverem simplesmente, mas
ainda iluminados para viverem vida feliz e sábia.
Agostinho de Hipona, Cidade de Deus, XI:XI

Introdução
Contrariando as previsões dos racionalistas dos séculos
XVIII e XIX, o homem pós-moderno tem um profundo interesse
pelo universo espiritual. Infelizmente, porém, por causa da
ignorância bíblica, esse interesse, via de regra, produz
construções equivocadas, baseadas em mitos e superstições
vazias.
É o caso das ideias gerais que as pessoas de hoje nutrem
acerca dos anjos. Livros e revistas aparecem vez por outra
tratando desse assunto e discursos são pronunciados acerca do
tema atéenorme.
público com certa vivacidade,
Contudo, despertando
as conclusões queomuitas
interesse de são
vezes um

159
apresentadas pelos “mestres” deste mundo raramente se
harmonizam com a doutrina cristã sobre o assunto, uma vez que
não se baseiam na Bíblia e, quando a Palavra de Deus é
eventualmente citada para corroborar alguma proposição, seu
texto é geralmente distorcido para atender aos interesses do
expoente.
Diante desse cenário, este capítulo pretende oferecer
elementos com os quais o crente possa construir uma
angelologia verdadeiramente bíblica com que possa evitar e
corrigir os desvios modernos. Ademais, uma vez que esse tema,
conforme será visto, aparece na Bíblia inúmeras vezes, fica fora
de dúvida que sua análise merece consideração especial.

Terminologia
Anjos aparecem na Bíblia do princípio ao fim (Gn 3.24; Ap
22.16). São mencionados 325 vezes em 33 dos 66 livros. Só o
Apocalipse os menciona 76 vezes. Os termos que a Bíblia usa
para se referir aos anjos são os seguintes:

Malak: Mensageiro, anjo (109 vezes no AT). Pode se referir


a um profeta (Ml 1.1), mas geralmente se aplica a anjos.
Querubim: Singular Chetub. Significado incerto. Talvez
sugira alguém que está perto de Deus, ministrando a ele, ou
alguém admitido em sua presença (Gn 3.24; Êx 25.18s; Ez
1.5s; 10.15s; 28.12s).
Serafim: Possivelmente vem de uma raiz hebraica que
significa “consumir com fogo” (Is 6.2,6).
Angelos: Mensageiro, anjo (186 vezes no NT).
Outros nomes: “Filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1); “seres
celestiais”
7; Dn 4.13;(SlZc
89.6); “santos/assembleia
14.5); dos(Lc
“milícia celestial” santos”
2.13);(Sl“santas
89.5-

160
miríades” (Jd 14).

Informações gerais sobre os anjos


INFORMAÇÃO BASE BÍBLICA
São espirituais
(invisíveis, mas podem Gn 18.2; Ez 9.2; Hb 1.14
tomar forma).
Jó 38.7; Sl 148.2-5; Cl
Foram criados perfeitos.
1.16.
2Sm 14.20; Ez 28.16-17;
São seres pessoais.
Lc 15.10; Ap 22.7-8.
Têm poderes 2Sm 24.17; Sl 103.20; Mt
extraordinários. 26.53; Ap 20.1-3
Pertencem a diferentes Dn 10.13s; 12.1; Lc 1.19;
classificações. 1Ts 4.16; Cl 1.16; Jd 9
São seres que não se
Mt 22.30
casam.
Sãoimortais. Lc20.36
São inumeráveis. Hb 12.22; Ap 5.11
A Bíblia se refere aos anjos usando o pronome
masculino. Contudo, segundo o entendimento de
alguns, há uma única exceção em Zacarias 5.9. É
questionável, porém, se o que é descrito nesse texto é
uma visão angélica.

A natureza moral dos anjos


Todos os anjos foram criados santos por Deus (Jó 38.4-7).

161
Contudo, a Bíblia diz que muitos se rebelaram contra o Criador,
tornando-se definitivamente maus (2Pe 2.4; Jd 6).
Desde os tempos antigos foi aceito pelos grandes teólogos
da igreja que os anjos que guardaram seu estado srcinal foram
confirmados em bondade, uma vez que as Escrituras os
apresentam associados ao serviço permanente de louvor e a
eventos do porvir (Sl 103.20; Mt 25.31; Mc 8.38). Além disso,
os anjos bons não podem cair porque foram eleitos (1Tm 5.21).

Acerca dos anjos maus, também chamados de demônios, a


Bíblia diz que muitos deles estão em prisão, reservados para
uízo (2Pe 2.4; Jd 6). Isso, porém, talvez não signifique que eles
estejam confinados num lugar. A menção da prisão (tártaro,
abismo, trevas, correntes) pode ser apenas uma referência à

situação
como for,emé que
certoseque
encontram, aguardando
há muitos anjos mauso juízo de Deus.
em plena Seja
atividade
neste mundo (Ef 6.12).

162
No futuro, anjos maus serão derrotados por Miguel e seus
anjos (Ap 12.7-8) e junto com o diabo, serão lançados à terra,
onde provavelmente vão atuar de modo intenso durante a
Grande Tribulação (Ap 12.9,12). As Escrituras também ensinam
que os anjos maus serão julgados pelos crentes (1Co 6.3), não
havendo esperança de salvação para eles (Hb 2.16). Com efeito,
no fim todos serão lançados no fogo eterno (Mt 25.41).

O ministério dos anjos


Os anjos realizam o ministério de adorar e servir ao Senhor
(Sl 103.20; Is 6.2s; Dn 7.10; Ap 5.11-13; 19.1s), jamais
aceitando adoração para si mesmos (Ap 22.8-9). Em seu serviço
a Deus, eles atuam na história da salvação trazendo mensagens,
instruindo e guiando os homens (Mt 1.20; 2.13; Lc 1.11-38; 2.8-
15; At 10.3-5). Os anjos também atuam como instrumentos na
aplicação do juízo divino contra os maus (Gn 19.13; 2Sm 24.16;
2Rs 19.35; Mt 13.39; At 12.23; Ap 20.1-3).
Talvez a tarefa principal dos anjos neste mundo seja
ministrar aos crentes (Hb 1.14). O modo exato como isso é feito
não é esclarecido nas Escrituras.
O Novo Testamento ainda dá indícios de que as crianças
são, de alguma forma, beneficiadas pelo ministério dos anjos
(Mt 18.10), que os salvos recebem amparo angélico em face da
morte (Lc 16.22) e que os anjos têm um interesse intenso pelo

163
maravilhoso tema da salvação do homem (1Pe 1.12).

Satanás
O termo “Satanás” aparece em 7 livros do AT e é citado por
todos os autores do NT. Vem do hebraico (satan) e significa
“adversário”. O verbo relacionado a esse substantivo tem o
sentido de “ficar em emboscada” ou “opor-se”. No NT essa

palavra (Gr.
“diabo” aparece 36 vezes.
diábolos. OcorreSatanás é no
33 vezes também chamado que
NT), vocábulo de

164
significa “caluniador” e/ou “difamador”.
Com base na Vulgata Latina (tradução de Jerônimo) que
traduz “estrela da manhã”, em Isaías 14.12, como lucifer
(portador da luz – Veja-se 2Co 11.14), Satanás passou a ser
chamado pelos teólogos antigos de Lúcifer. No NT ele recebe as
designações de Belzebu, o maioral dos demônios (Mt 12.24 –
Em alguns manuscritos “senhor das moscas”), maligno (Mt
13.38), Belial (2Co 6.15), tentador (Mt 4.3; 1Ts 3.5), inimigo
(Mt 13.28-29), homicida e pai da mentira (Jo 8.44), deus deste
século (2Co 4.4), príncipe da potestade do ar (Ef 2.2), príncipe
deste mundo (Jo 12.31; 14.30; 16.11) e Abadom (no hebraico)
ou Apoliom (no grego). Esses dois últimos termos significam
“destruidor” ou “exterminador” e servem para identificar o “anjo
do abismo” ou o rei dos demônios (Ap 9.11).

paraOSatanás
texto de Apocalipse
(grande dragão,12.7-10 fornece outras
antiga serpente, designações
sedutor de todo o
mundo, acusador de nossos irmãos, etc.). Essas designações
revelam muito do seu caráter e se relacionam a diferentes
aspectos da sua obra.

A srcem e a queda de Satanás

Satanás é um anjo criado por Deus que posteriormente caiu


de sua posição e estado srcinal. Geralmente é aceito que as
palavras de Isaías 14.12-15 e de Ezequiel 28.11-19 foram
dirigidas aos reis de Babilônia e de Tiro, respectivamente, mas
que, de forma indireta, dizem respeito a Satanás. Assim, pode-se
afirmar o seguinte:

Satanás foi criado perfeito (Ez 28.12,15).

Satanás tinha uma posição (Is


se ensoberbeceu elevada (Is 14.12;
14.13-14; Ez Ez 28.14). 1Tm
28.15-17;

165
3.6).
Satanás foi deposto de sua elevada posição (Is 14.15; Ez
28.16-19).

Satanás é... Satanás não é...


Um anjo mau (Ez Um deus mau (Tg
28.15) 2.19)
Astuto (2Co 2.11; Onisciente (Jó 1.9-
Ef 6.11-12) 11)
Poderoso (2Co Onipotente (Lc
11.14; 2Ts 2.9) 10.18; 2Co 2.11)
Atuante em todo o
Onipresente (Jó 1.7)
mundo (Ap 20.3)

A obra de Satanás e dos demônios


Satanás é o tentador por excelência (Mt 4.1-11; 1Tm 3.6-7).
Ele também confunde, engana (2Co 11.3,13-15; Ap 20.3) e vive
em busca de alguém para destruir (1Pe 5.8; Ap 12.17). No uso
de sua sagacidade (2Co 2.10-11), ele induz à imoralidade (1Co

166
7.5), semeia o joio (Mt 13.39) e incita a perseguição contra o
povo de Deus (Ap 2.10). Por causa de sua terrível crueldade,
Satanás muitas vezes é usado por Deus como um instrumento de
disciplina para seus servos (2Co 12.7), bem como para os
crentes rebeldes e os apóstatas (1Co 5.5; 1Tm 1.20).

O quadro que segue mostra outros aspectos da obra de


Satanás:

OCASIÃO DIREÇÃO OBRAS Ref.Bíblicas


Deu srcem ao Ez 28.15; Gn 3.1-
PASSADO èèè
pecado 13
Oprime Jó 2.7; At 10.38
Causaamorte Hb2.14
CRENTES E Tenta 1Ts3.5
INCRÉDULOS Ilude 2Tm2.26
Inspira ideais
At 5.3
iníquos
Tomaposse Jo13.27
Cega o
PRESENTE 2Co 4.4
entendimento
INCRÉDULOS Dissipa o
Mc 4.15
Evangelho
Produz ministros
Mt 13.25,38-39
do mal
1Ts 2.18
CRENTES Faz oposição

Acusa Ap12.9-10
Dará poder ao
FUTURO èèè 2Ts 2.9-10
Anticristo

Satanás tem acesso ao trono de Deus (Jó 1.6; 2.1; Zc 3.1-6;


Lc 22.31; Ap 12.7-10), reina sobre a hierarquia dos demônios
(Mt 25.41; Ef 6.12; Ap 12.7) e também sobre este mundo (Lc
4.5-6; 2Co 4.3; Ef 2.1-3; 1Jo 5.19-20).

Quanto aos demônios, a Bíblia ensina que eles:

167
1. Creem em Deus e têm temor dele (Tg 2.19).
2. Conhecem Jesus (Mc 1.24).
3. Sabem de sua condenação (Mt 8.29).
4. Opõem-se aos propósitos de Deus (Dn 10.10-14).
5. Promovem o culto de si mesmos (1Co 10.20-21).
6. Têm suas próprias doutrinas e as divulgam (1Tm 4.1-3).
7. Realizam grande feitos miraculosos (Ap 16.13-14).
8. Alguns, muito poderosos, enganam as nações (Dn 10.13;
Is 24.21; Ap 16.13-14).
9. Afligem e atacam os crentes (2Co 12.7; Ef 6.11-12).
10. Podem causar doenças (Mt 9.33).
11. Podem possuir pessoas (Mc 5.2).
12. Podem possuir animais (Mc 5.13).

É preciso destacar que, mesmo sendo contrários a Deus e


inimigos do seu povo, Satanás e seus anjos muitas vezes são
instrumentos que cumprem os decretos do Senhor (Gn 3.15;
1Sm 16.14; 1Rs 22.23; 2Cr 18.18-21; 2Co 12.7-10).

O destino de Satanás

168
No futuro, Satanás será expulso dos lugares celestiais (Ap
12.9). Ele será aprisionado no abismo e solto somente ao final
de mil anos (Ap 20.1-9). Por fim, Satanás será lançado no lago
de fogo (Ap 20.10).

O crente em relação a Satanás


• Deve revestir-se da armadura de Deus (Ef 6.11-18).
• Deve ser prudente e se autodominar, a fim de evitar a
criação de circunstâncias propícias à atuação do adversário
(2Co 2.10-11; Ef 4.27).
• Deve trabalhar para livrar os que caíram na armadilha
do diabo (2Tm 2.25-26).
• Deve resistir ao diabo (Mt 4.10; At 5.3; 1Tm 5.15; Tg
4.7; 1Pe 5.8-9).

Resistir a Satanás significa fazer uso das grandes verdades


da Palavra de Deus na luta contra ele. Portanto, para resisti-lo é
necessário conhecer a Bíblia e as doutrinas nela ensinadas. Foi
dessa maneira que Jesus enfrentou Satanás durante a tentação no
deserto (Mt 4.1-11). É bom lembrar também que naquela
ocasião Jesuscondição
também uma estava cheio do Espírito
necessária (Lco 4.1),
para vencer sendo esta
inimigo.

169
Em Apocalipse 12.11 encontram-se as três causas principais
da vitória total do crente sobre Satanás, a saber: o sangue do
Cristo (cf. Hb 2.14-15), o testemunho firme e corajoso e a
perseverança mesmo em face da morte.

170
CUIDADO! VENENO!
Testemunhas de Jeová e Adventismo: As Testemunhas de
Jeová acreditam que o arcanjo Miguel era Jesus antes de se
encarnar e que ele retomou essa designação após a ressurreição.
Os Adventistas do Sétimo Dia pensam da mesma forma, mas
não negam
Jeová. O alivro
divindade de Jesus como
de Hebreus fazem
reprova as Testemunhas
qualquer de
forma de
identificação de Jesus com um anjo (Hb 1.4-14).

Mormonismo: Ensina que o arcanjo Miguel é Adão e que


ele ajudou Javé a criar o mundo. Dentro do mormonismo existe
também a figura do anjo Moroni, central para a sua doutrina. De
acordo com o Livro de Mórmon, Moroni foi um profeta que,
após a morte, virou anjo e mostrou a Joseph Smith o local onde
estavam certas placas de ouro cobertas com inscrições. Essas
placas, uma vez traduzidas, formaram o Livro de Mórmon.
Moroni, quando homem, foi filho de Mórmon, o profeta que
organizou as placas. O mormonismo ensina a possibilidade de o
homem se tornar divino passando antes pelo estado angélico,
como ocorreu com Moroni.

Catolicismo Romano: Ensina que, desde o nascimento,


Deus envia um anjo para proteger cada pessoa ao longo da vida.
A partir de 1670, o dia 2 de outubro passou a celebrar a Festa do

171
Anjo da Guarda de cada indivíduo. Os católicos também
veneram os anjos realizando festas em sua homenagem e
dirigindo orações a Miguel, Gabriel e Rafael. Cidades e países
sob a influência católica adotam esses seres como seus santos
padroeiros. Ao que tudo indica, a angelolatria se infiltrou na
igreja cristã a partir das seitas gnósticas, cujos adeptos, desde o
período formativo desses movimentos heréticos, praticavam o
culto dos anjos (Cl 2.18), tentando inseri-lo na prática da
espiritualidade cristã.

Evangelicalismo popular: Tende a atribuir quaisquer males


e até os mais simples desconfortos à ação de demônios e criam
estratégias (inclusive o uso de amuletos), orações e palavras de
ordem para refreá-los e combatê-los. A partir de Daniel 10.10-
13 algunspois
perigoso, evangélicos concluem
os demônios, que conhecimento
tomando orar em voz alta pode ser
do conteúdo
das súplicas, poderiam frustrá-las. Seguindo na esteira do antigo
paganismo, também adotam a ideia de que os demônios atuam
em territórios específicos, sendo, assim, “espíritos territoriais”.
A base que usam para essa crença são textos como Daniel 10.13
e Marcos 5.9-10 (cp. Lc 8.31). Daí a prática de fazer passeatas e
rodear cidades e regiões reivindicando esses espaços para Jesus.

172
Esoterismo e Nova Era: Define os anjos como mensageiros
e intermediários da “Grande Mente Cósmica” que é composta
por tudo e é um com tudo (panteísmo). Os anjos são capazes de
proteger pessoas, raças e até nações e também têm poder para
criar novas realidades. Os mestres esotéricos e de Nova Era
ensinam que as pessoas têm anjos particulares cujos nomes
podem ser descobertos (geralmente por meio da data de
nascimento do indivíduo) e com quem podem se relacionar até o
ponto de se fundirem com essas entidades. Nessas buscas, é
fomentado
contato maiso desejável
uso de velas, orações
com esses e pedidos
seres, porém, sepordáescrito.
por meioO
da “expansão da consciência” que viabiliza visões angélicas e
até o acesso ao mundo dos anjos, tudo com o objetivo de
conhecer mistérios espirituais e obter auxílio ou livramento.

173
174
CAPÍTULO 10

A DOUTRINA
ÚLTIMAS ACERCA DAS
COISAS
(Escatologia)

A Deus, o arquiteto das eras, lhe pareceu bem fazer-nos


participantes de confiança do seu plano para o futuro, e
revelou seu propósito e seu programa com detalhes na
Palavra.
J. Dwight Pentecost, Prefácio de Things to come.

Introdução
Muitos crentes ficam confusos acerca dos eventos que Deus
determinou
motivo. Comque tomassem
efeito, lugar
a Bíblia no futuro.
apresenta certa Isso não é sem
obscuridade no
tocante a essas questões, o que fez com que surgissem posições
escatológicas distintas mesmo entre os teólogos mais sérios e
zelosos.

175
Ainda assim, é inegável que existem certos elementos que
claramente compõem o quadro bíblico escatológico, sendo
aceitos pela maior parte dos estudiosos da Palavra como eventos
preditos na Bíblia. É verdade que os estudiosos nem sempre
estão de acordo quanto à ordem cronológica que esses eventos
irão seguir. Porém, mesmo em meio a essa divergência, é
perfeitamente possível delinear os contornos de uma escatologia
bíblica saudável,no
para a história, nutrindo a firme
qual Deus esperança
reinará de um
absoluto final“tudo
e será glorioso
em
todos” (1Co 15.28).
Neste capítulo serão expostos os eventos principais que a
Bíblia aponta como componentes do plano de Deus para o
futuro. Esses eventos estão dispostos aqui na ordem em que
ocorrerão, segundo a posição teológica adotada neste livro
(premilenismo pretribulacionista).

O arrebatamento da igreja
O arrebatamento é o primeiro de uma série de eventos que
tomarão lugar na história como cumprimento de predições
bíblicas. O texto clássico que trata desse assunto é
1Tessalonicenses 4.13-18. Segundo esse texto, o arrebatamento
da igreja acontecerá da seguinte forma:

Os mortos em Cristo:Os crentes em Jesus que já morreram

176
ressuscitarão e subirão ao céu com corpos glorificados (1Co
15.20-23; 1Ts 4.16). É bom destacar que as almas dos crentes
que morrem vão imediatamente para o céu (Lc 16.22-23; 23.41-
43; 2 Co 5.6-8; Fp 1.23). Seus corpos, contudo, jazem sem vida
na sepultura e, afinal, se desfazem. Por ocasião do
arrebatamento, porém, os corpos dos crentes mortos serão
vivificados outra vez (Jó 19.25-27) e eles serão arrebatados para
estar para sempre com Cristo.

Os crentes vivos: Logo após a ressurreição dos crentes em Jesus


que já morreram, os crentes que estiverem vivos subirão
untamente com eles para o encontro com o Senhor nos ares
(1Ts 4.17). Eles também terão seus corpos glorificados (1Co
15.50-54; 2Co 5.1-5).

Após isso tudo, a igreja comparecerá diante do Tribunal de


Cristo (Rm 14.10; 1Co 3.10-15; 2Co 5.10) para, finalmente,
receber os galardões (Lc 14.14; 1Co 4.5; 2Tm 4.8; Ap 22.12).

177
A grande tribulação
Logo após o arrebatamento da igreja, começará a “grande
tribulação” ou a “septuagésima semana de Daniel”, o período de
“angústia para Jacó” (Jr 30.7). Jesus falou sobre a grande
tribulação em Mateus 24.4-30, dizendo que será um período de
muita aflição, engano e apostasia que precederá imediatamente a
sua vinda.

A Bíblia também ensina que a grande tribulação vai durar


sete anos (Dn 9.27), sendo três anos e meio de falsa paz (1Ts
5.2-3) e três anos e meio de dores (Dn 7.25; 12.1,7,11; Ap 11.2-
3; 12.6,14; 13.5). É por esse tempo que o anticristo estará
atuando de maneira poderosa sobre toda a terra (Dn 7.7-8,11,19-
27; Mt 24.15; 2Ts 2.3-12; Ap 13.1-8).

178
Mesmo sendo um tempo de engano, opressão e sofrimento,
a graça salvadora de Deus será atuante durante a grande
tribulação. De fato, a oposição severa do anticristo não impedirá
que multidões se convertam e recebam a redenção que Cristo
oferece (Ap 7.9-14).
A maior parte dos eventos que tomarão lugar no período da
grande tribulação está registrada em Apocalipse 6-19.

A segunda vinda de Cristo


Ao fim do período da tribulação, o Senhor Jesus voltará para
estabelecer o seu reino milenar neste mundo (Mt 24.30; Lc
21.25-28). A segunda vinda de Cristo será um evento histórico
que todos poderão testemunhar (At 1.11; Ap 1.7).
Abaixo são enumerados fatos importantes que tomarão lugar
quando o Senhor Jesus voltar:

1. Os crentes virão junto com Cristo. Uma possível base


para essa afirmação é Apocalipse 19.11-14.
2. O anticristo que estará atacando Jerusalém com seus
exércitos será derrotado (Zc 12.1-8; 14.1-15; Lc 21.20; 2Ts
2.8), sendo então lançado no lago de fogo, junto com o falso
profeta (Ap 19.15-21).
3. Satanás será preso por mil anos (Ap 20.1-3).
4. Os judeus se arrependerão e crerão em Cristo (Zc 12.9-
13 cp. Jo 19.36-37; Mt 23.39; Rm 11.25-27), entrando então
no reino para desfrutar finalmente da terra que lhes foi dada
(Ez 28.25-26).
5. Os santos do Antigo Testamento e os crentes mortos na
tribulação ressuscitarão para reinar com Cristo durante os mil
anos (Jó 19.25-27; Is 26.19; Dn 12.2-3,13; Ap 20.4-6).
6. As nações serão reunidas para julgamento e os gentios

179
salvos que estiverem vivos serão separados para entrar no
reino milenar (Mt 24.30-31,36-41; 25.31-34,41).

O milênio
A segunda vinda de Cristo inaugurará o período de mil anos
durante os quais ele reinará na terra em cumprimento às
promessas feitas a Davi (2Sm 7.10-16; Lc 1.32-33; Ap 20.4).
Durante esse período Satanás estará preso (Ap 20.1-3) e a terra
desfrutará de paz e justiça (Is 2.1-5; 11.6-9; Zc 14.9).
A partir da análise bíblica, tudo indica que no reino milenar
pessoas ressurretas conviverão com indivíduos ainda não
ressurretos. Isso não deve causar espanto, pois os episódios que
seguiram a ressurreição de Cristo mostram que essa convivência
é perfeitamente possível (Mt 28.9-10; Lc 24.28-31,39-43; Jo
21.1-14).

180
Assim, no milênio estarão os crentes que serão arrebatados
antes da tribulação e que voltarão com Cristo (Ap 19.11-14), os
santos do Antigo Testamento que ressuscitarão (Dn 12.13), os
salvos da tribulação que também ressuscitarão (Ap 20.4-6) e os
salvos de Israel e das nações que não terão passado ainda pela
morte (Mt 25.31-34). Esses últimos, sendo pessoas comuns,
ainda não ressurretas, viverão vidas normais, trabalhando,
constituindo família e estando sujeitos à morte, ainda que em
idade bastante avançada (Is 65.18-25).
Sendo assim, novos indivíduos nascerão durante o milênio e,
ainda que o temor do Senhor predomine nas novas gerações
(especialmente, talvez, de judeus. Cf. Is 65.23), é certo que entre
as nações surgirão
disposições pessoas
contrárias comRei.
ao grande inclinações naturais,
Isso abrirá nutrindo
as portas para o
evento que é descrito a seguir.

A revolta final
Conforme Apocalipse 20.7-10, ao fim do milênio Satanás
será solto e sairá seduzindo as nações para que se rebelem contra
o Rei. Ele encontrará corações propensos à revolta e formará um
exército que atacará a cidade santa.

181
Um fogo do céu, contudo, destruirá a todos e Satanás será
finalmente lançado no lago de fogo e enxofre onde já terão sido
lançados o anticristo e o falso profeta.

O grande trono branco


Esta expressão se refere ao conhecido “Juízo Final”. Depois
da última revolta, um trono será firmado para julgar os
incrédulos mortos de todas as eras (Ap 20.11-15). Será, assim, a

ocasião emressurreição
primeira que serão julgados os que
(Ap 20.5). Estesnãoserão
tiveram parte nae
julgados
condenados a passar a eternidade no lago de fogo.
É bem provável que as pessoas que morreram durante o
milênio, salvas ou não, também ressuscitem para o juízo do
grande trono branco, já que a Bíblia não aponta nenhuma outra
ocasião em que a ressurreição dessas pessoas possa ocorrer.

182
O novo céu e a nova terra
O juízo final marcará o fim de uma era, pondo termo à
presente criação (2Pe 3.10-13). Após sua realização, haverá
novos céus e nova terra, com bênçãos infindas para os salvos e
tormento constante para os perdidos (Ap 21.1-8).

GRÁFICO PANORÂMICO
ESCATOLÓGICO

183
Posições escatológicas distintas
No meio evangélico existem pastores sérios e zelosos que
acolhem posições escatológicas diferentes da exposta neste livro
(premilenismo pretribulacionista ou dispensacionalista). As
principais entre elas são as seguintes:
POSIÇÃO
DEFINIÇÃO
ESCATOLÓGICA
Não aceita o futuro
estabelecimento de um reino de
mil anos literais. Para os
Amilenismo
amilenistas, o milênio é o
Origens a partir do
séc. IV período
Cristo e entre a ascensão
sua segunda de
vinda,
tempo em que o Senhor reina no
céu.
Ensina que o avanço da ciência
e do evangelho inaugurará uma
era de paz e prosperidade no
Pós-milenismo futuro (o milênio). Quando esse
Origens
séc.a XII
partir do cenário novo e desejável
pronto, ocorrerá a segundaestiver
vinda
de Cristo, coroando esse tempo
de glória e iniciando o estado
eterno.
Defende que o arrebatamento e
Premilenismo a volta de Cristo formam um
histórico único evento, depois do qual
Origens a partir do será imediatamente estabelecido
séc. II um reino de mil anos literais de
paz e justiça.

184
Afirma que a igreja permanecerá
na terra até a segunda vinda de
Pós-tribulacionismo Cristo, ficando sujeita às
Origens a partir do aflições do tempo do anticristo e
séc. II sendo arrebatada somente
quando o Senhor voltar, a fim de
encontrá-lo nos ares.
Mid-tribulacionismo Diz que a igreja será arrebatada
ou no meio da tribulação, antes que
Mesotribulacionismo comece o período de 42 meses
Origens em meados de efetivo juízo e sofrimento.
do séc. XX
Ensina que nem todos os crentes
Arrebatamento serão arrebatados, mas somente
Parcial os que têm certa maturidade
Origens em meados espiritual e que estão
do séc. XIX preparados, esperando o dia do
encontro com o Senhor.

O gráfico abaixo ilustra a concepção do premilenismo


histórico. Note-se que, segundo essa posição, o arrebatamento
da igreja ocorre depois da tribulação e coincide com a segunda
vinda de Cristo.
Nos tempos do Império Romano, quando o imperador
visitava uma cidade, seus habitantes saíam ao seu encontro para
recepcioná-lo a certa distância dos muros. Depois todos
entravam juntos novamente na cidade.
Alguns teólogos entendem que essa figura se aplica ao
arrebatamento, sendo a igreja uma comitiva que sai ao encontro
do Senhor para recebê-lo honrosamente em sua vinda, voltando
logo em seguida à terra para o estabelecimento do Reino.

185
CUIDADO! VENENO!
Teologia do Processo e Teísmo Aberto: A teologia do
processo entende a realidade como um processo do qual Deus
faz parte, influenciando e também sofrendo influências. Nesse
processo, Deus respeita o livre-arbítrio das pessoas e tenta
convencê-las a fazer o que ele almeja. Porém, não pode coagir
ninguém, de modo que tudo o que lhe resta é desejar que as
coisas ocorram como ele gostaria que ocorressem. Quando os
bons desejos de Deus não se cumprem e suas tentativas de
persuasão se revelam infrutíferas, ele sofre e se coloca ao lado

186
daqueles que também padecem por causa das decisões más.
Sendo alguém que apenas tenta influenciar o curso do universo,
Deus não conhece o futuro, pois este depende das decisões ainda
indefinidas de outros agentes que ele não pode obrigar em
nenhum sentido. O teísmo aberto segue nessa mesma direção,
ensinando igualmente que Deus jamais desrespeita o livre-
arbítrio do homem. A partir daí, seus proponentes negam que
Deus predeterminou o futuro, pois, segundo entendem, se ele o
fizesse, então o homem não teria liberdade de fato. Assim,
também no teísmo aberto Deus sequer conhece o futuro, posto
que este nunca foi fixado por ele de antemão. É dessa forma que
Deus se “abriu”, limitando sua soberania, a fim de que o homem
seja o real construtor da história.

Doutrina
proposta pelosdoadventistas
sono da alma
e por(psicopaniquia):
uma minoria deEssa doutrina,
evangélicos,
entende que entre a morte e a ressurreição, a alma da pessoa
dorme, ou seja, entra num estado de inconsciência, despertando
no dia final juntamente com a ressurreição do corpo para receber
a herança divina ou a punição eterna. Esse ensino geralmente se
baseia nas afirmações bíblicas que se referem aos mortos como
“os que dormem” (1Co 15.6,20; 1Ts 4.13-15). Porém, deve-se
observar que essa expressão é apenas um eufemismo, isto é, o
emprego de uma linguagem branda para suavizar a referência à
dura realidade da morte. O próprio Jesus usou essa linguagem
eufemística em João 11.11, explicando-a em seguida aos
discípulos (Jo 11.12-14). Também se deve observar que a
referência aos que dormem aponta para o estado dos corpos dos
falecidos, estes sim inconscientes até o dia da ressurreição,
quando, enfim, “despertarão”. Textos como Mateus 17.2-3,
Lucas 16.22-26; 23.43; Atos 7.59; 2Coríntios 5.8, Filipenses
1.23, Hebreus 12.23 e Apocalipse 6.9-11 mostram a falácia do
ensino que propõe o sono da alma.

187
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Sobre o autor

MARCOS GRANCONATO é pastor titular da Igreja


Batista Redenção em São Paulo. Formou-se em
teologia no Seminário Bíblico Palavra da Vida. É
graduado em direito pela Universidade São
Francisco de Bragança Paulista e mestre em
teologia histórica pelo Centro Presbiteriano de
Pós-Graduação Andrew Jumper.

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