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ANAIS

ISBN: 978.85.7315.949-3
Apresentação

O Simpósio Internacional de Design Sustentável (ISSD), organizado em


conjunto com o Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (SBDS), é um dos
mais importantes eventos científicos da América do Sul sobre a relação do
Design com a Sustentabilidade. Realizado a cada 2 anos, teve sua primeira
edição em 2007 na cidade de Curitiba-PR, com a organização da Universidade
Federal do Paraná (UFPR). A segunda edição aconteceu em 2009 na cidade
de São Paulo, com a organização da Universidade Anhembi Morumbi. Este ano
(2011), o evento irá ocorrer entre os dias 29 e 30 setembro e será acolhido pelo
pela Universidade Federal de Pernambuco (Recife). O evento será organizado
conjuntamente pelo departamento de Design (CAC) e pelo Núcleo de Design
(CAA) da UFPE e reunirá designers, profissionais, acadêmicos, governo e
indústria para discutir conceitos, cenários, projetos, ferramentas e metodologias
sobre a concepção e contribuição para uma sociedade mais sustentável.
Comitês
Comitê organizador:

Profº Dr. Leonardo Castillo (UFPE)| Presidente


Profº Msc. Manoel Guedes (UFPE)
Profº Dr. Walter Franklin (UFPE)

Comitê científico:

Profº Dr. Aguinaldo Santos (UFPR)


Profº Dr. Leonardo Castillo (UFPE)

Comitê avaliador:

Alfredo Jefferson | PUC Rio | Rio de Janeiro-Brasil


Adriano Hermann | UFPR | Curitiba-Brasil
Andrea Franco Pereira | UFMG | Belo Horizonte-Brasil
Benny Leong | School of Design | Hong Kong-China
Carlo Vezzoli | Politecnico di Milano | Milano-Italy
Denise Dantas | SENAC/SP | Sao Paulo-Brasil
Hans Dieleman | Univ. Autonoma de Mexico | San Lorenzo-Mexico
Haenz Gutierrez Quintana | UFSC | Florianopolis-Brasil
Jairo Drummond | UEMG | Belo Horizonte-Brasil
Jan Carel Diehl | Delft Univ. of Techn. | Delft-Netherlands
Lara Penin | The New School for Design | New York-EUA
Lia Krucken | UEMG | Belo Horizonte-Brasil
Manoel Guedes Alcoforado | UFPE | Caruaru-Brasil
Mariuze Mendes| Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR |
Curitiba-Brasil
Mugendi K. M'Rithaa | Cape Peninsula Univ. of Techn. | Cape Town-South
Africa
Nara Silvia M. Martins | MACKENZIE | Sao Paulo-Brasil
Nayara Moreno de Siqueira | UNB | Brasilia-Brasil
Nubia Suely Silva Santos | UEPA | Belem-Brasil
Rossana Viana Gaia | CEFET/AL | Maceio-Brasil
Simon Jackson | Swinburne Univ. of Techn. | Melbourne-Australia
Ursula Tischner | Savannah College of Art and Design | Savannah-EUA
Virginia Pereira Cavalcanti | UFPE | Recife-Brasil
Walter Franklin | UFPE | Recife-Brasil

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Sumario

Apresentação ................................................................................................................ 1
Comitês ........................................................................................................................ 3

1. Comitê organizador: ..................................................................................... 3


2. Comitê científico: ......................................................................................... 3
3. Comitê avaliador: ......................................................................................... 3

Sumario ........................................................................................................................ 4
Papers do ISSD ........................................................................................................... 14

4. the economist, the food scientist & the market analyst teach sustainable
design. ........................................................................................................ 15
5. A Traditional Craftmanship Organisation Model For Sustainable
Development Of Modern Clusters: Akhism ................................................ 26
6. Engaging Strategic Design to Undergraduate Design Education; a case study
in Sishane, Istanbul: sustainability of networks for local developments ...... 35
7. A Transitional Shelter Concept for Disaster Situations ................................ 45
8. Workshop Coopamare Lights: uma experiência didática em design social e
sustentabilidade (Workshop Coopamare Lights: a teaching experience in
social design and sustainability) .................................................................. 53
9. Sustainable small-town suburbia: vision and viability ................................. 59
10. Indigenous Knowledge Systems for enhancing the sustainability of culture
and design in South Africa .......................................................................... 72
11. Your Extraordinary Life part 2. ................................................................... 83
12. Projeto Move Mentes as a Creative Community: a design oriented experience
................................................................................................................... 96
13. Qualitative/quantitative cross analysis to design eco-pack ......................... 105
14. Method of Life Cycle Assessment (LCA) of materials and processes involved
in a wooden furniture manufactured in the North Plateau of Santa Catarina,
southern of Brazil ..................................................................................... 115
15. Interactive media for children’s Environmental Education ........................ 129

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
16. Proposition of criteria for the economical dimension of Design for
Sustainability: a business perspective ........................................................ 146
17. Design for social innovation and sustainability - DESIS: integrating
experience among research, teaching and extension education through design
................................................................................................................. 163
18. Design applied to improve the quality of life at work of the scavengers .... 172
19. A aplicação de bipolímeros no design de produtos sustentáveis: Uma revisão
(The application of biopolymers in sustainable product design: A review ) 186

Artigos do SBDS ...................................................................................................... 198

20. O projeto de produtos industriais sustentáveis sob a ótica do Design Social:


uma metodologia de trabalho em cursos de design e de desenho industrial
(The sustainable design of industrial products from the perspective of Social
Design: a working methodology courses in design and industrial design) .. 199
21. Cenarte: solução de escoamento de produção territorial (Cenarte: solution for
disposing of territorial production) ............................................................ 212
22. As propriedades do barro como regulador térmico e seu uso para o
armazenamento de alimentos e água (The clay´s thermal regulation
proprieties and it´s use for the storage of food and water).......................... 219
23. Design e reutilização de materiais no agreste pernambucano: o caso da
comunidade Vila Santa Teresa (Design and reuse of materials in agreste
Pernambucano: the case of Vila Santa Teresa Community) ....................... 226
24. Inserção dos fatores ambientais, sociais e econômicos em metodologia para
design de embalagens: uma análise no contexto educacional (Inclusion of
environmental, social and economic factors in methodology for packaging
design: an analysis in educational context) ................................................ 239
25. Sustentabilidade no design de móveis estofados personalizados: uma síntese
da experiência moveleira de pequeno porte em Alagoas, Brasil (Sustainability
in upholstered furniture design: a synthesis of experience of furniture
production of the State of Alagoas, Brazil)................................................ 251
26. Design para inovação social e resgate cultural através de uma experiência
extensionista (Design for social innovation and cultural revival through an
extensionist experience) ............................................................................ 264
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
27. Design e Território: integrando competências em prol da sustentabilidade
(Design and Territory: integrated skills for sustainability) ......................... 274
28. O desenvolvimento de uma composteira doméstica (The development of a
domestic composter) ................................................................................. 280
29. O green branding como abordagem de diferenciação da marca – o estudo de
caso do Instituto GIA e do projeto Cultimar .............................................. 286
30. Intervenções de Design Participativo em Grupos Artesanais no Nordeste do
Brasil (Participatory design interventions in crafts’ groups of Northeast
Brazil) ...................................................................................................... 293
31. Gabinetes de eletrodomésticos “linha branca” em compósito madeira/
plástico? Isto é possível? (White goods appliance cabinets in wood/plastic
composite? is it a good idea?) ................................................................... 306
32. Capacitação tecnológica, inovação e lapidação de materiais descartados dos
corpos pegmatíticos aplicados a acessórios de artesanato mineral
(Technological capability, innovation and lapidary of disposed materials from
pegmatite bodies applied to handcrafted products) .................................... 326
33. Design e sustentabilidade: a moda como outra possibilidade de
conscientização (Design and sustainability:
fashion as another opportunity to raise awareness) .................................... 335
34. A Energia Solar no Agreste Pernambucano: é possível de se implementar em
um campus universitário federal (The Solar Energy in Pernambuco
countryside: is possible to implement it in a federal university campus?) .. 348
35. A inserção de materiais alternativos, de origem natural e sintética, no design
de joias.(The inclusion of alternative materials, natural and synthetic, jewelry
design.) ..................................................................................................... 360
36. Metodologia de design de serviços aplicado ao desenvolvimento de redes
comunitárias (Service design methodology applied to the development of
community networks) ................................................................................ 368
37. Análise sobre o posicionamento do uso da fibra natural amazônica tucumã-i
(Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos semi-industriais
(Analysis positioning about the use of the natural fiber Amazon tucumã-i
(Astrocaryum acaule) for the development of semi-industrial products.) ... 374

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
38. Desenvolvimento de compósito produzido com resina natural e fibra da
semente de açaí (Euterpe precatória). Development of composite made with
natural resin and fiber from the seed of açaí (Euterpe precatória). ............. 390
39. Uso de madeira oriunda de árvores caídas para a composição de espaços
interiores (Use of wood from fallen trees to the composition of interior
spaces) ...................................................................................................... 402
40. Gestão de resíduos semissólidos provenientes de lavanderias têxteis: um
estudo de caso (Semi solid waste management from textile laundry: a case
study) ....................................................................................................... 412
41. Competitividade territorial e inovação sustentável (Local competitiveness and
sustainable innovation............................................................................... 419
42. Design de Superfície Sustentável (Sustainable Surface Design) ................ 434
43. Perspectivas para sustentabilidade: patentes e inovação em produtos
orientados à redução do consumo de água (Prospects for sustainability:
patents and innovation in products oriented to reduction of water
consumption) ............................................................................................ 442
44. Podem o Design Emocional e a Neurociência se tornarem ferramentas para o
desenvolvimento de produtos sustentáveis? (Can the Emotional Design and
the Neuroscience if become tools for the development of sustainable
products?) ................................................................................................. 452
45. Recursos Metodológicos de Ecodesign – antecedentes históricos e a
contribuição das abordagens do século XX. (Ecodesign methodological
resources – historical issues and the contribution of 20th century approaches.)
................................................................................................................. 462
46. Ecodesign e Consumo – um estudo de caso sobre contribuição do design para
comunicação da cadeia de valor de produtos. (Ecodesign and consumption –
a study about the design enhancements to the value chain of products
communication.) ....................................................................................... 468
47. Design para a inovação Social | contribuição teórica sobre casos promissores
e o design para a sustentabilidade (Design for social innovation | promise
cases and design for sustainability) ........................................................... 476
48. Comunidades Criativas pela ótica do design: um estudo comparativo
(Creative Communities by design: a comparative study) ........................... 483
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
49. A função social do Design e seu papel para a sustentabilidade (The Design
social role and its acts for sustainability) ................................................... 491
50. Ideias sustentáveis em uma pequena marcenaria: um estudo de caso sobre
aproveitamento de resíduos (Sustainable ideas in small carpentry: a case
study on waste recovery)........................................................................... 517
51. Estratégias de Design aplicadas ao território para o desenvolvimento local e a
construção de identidade em um assentamento rural (Design strategies
applied to the territory for local development and identity contructs of
settlement countryside) ............................................................................. 525
52. A importância social do Design (The social importance of Design) ........... 533
53. Identidade Coletiva na produção artesanal local (Local handcraft with
Collective Identity) ................................................................................... 547
54. Mídia interativa de apoio à Educação Ambiental infantil (Interactive media
for children’s Environmental Education)................................................... 558
55. O reuso do PET, no contexto social urbano. (Reuse of PET in the urban social
context.).................................................................................................... 575
56. Design de Superfícies a partir de resíduos industriais têxteis (Surfaces design
from textile industrial ) ............................................................................. 585
57. A indústria gráfica e o meio ambiente: aspectos e impactos ambientais
relacionados ao desenvolvimento de produtos gráficos (The graphic industry
and the environment: environmental aspects and impacts associated to
developing products in graphic design) ..................................................... 592
58. Análise do ciclo de vida do produto no projeto de mobiliário multifuncional
de papelão (Analysis of the Product Life Cycle to design of multifunctional
furniture cardboard) .................................................................................. 602
59. Sistema de conforto para praia (Comfort system to on the beach).............. 609
60. Design towards social sustainability: a process of pedagogic design of artistic
creation, and construction of the social tissue (Design para a sustentabilidade
social: um processo de design pedagógico de criação artística e construção
tecido social.)............................................................................................ 618
61. Design Participativo e Sustentabilidade: ferramentas de gestão participativa
do design (Participatory Design and Sustainability: Tools for participatory
design management) ................................................................................. 624
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
62. Design para a Sustentabilidade e Metodologias de Projeto: um estudo sobre a
integração de princípios e ferramentas aos métodos de projeto (Design for
Sustainability and Design Methodologies: a study on the integration of
principles and methods of design tools)..................................................... 639
63. Biomimética e tecnologia: soluções da natureza aplicadas no
desenvolvimento de novos produtos - Estudo de caso (Biomimetics and
technology: nature's solutions applied in the development of new products -
Case Study) .............................................................................................. 650
64. Confecção de uma luminária de mesa a partir da reutilização de resíduos
industriais da cidade de Caruaru (Making a desk lamp from the reuse of
industrial waste from the city of Caruaru) ................................................. 661
65. Identidade visual sustentável - Iconografia e valor cultural na comunidade de
Jatobá ....................................................................................................... 671
66. Consumo consciente: análise das embalagens Ecobril (Conscious
consumption: analysis of Ecobril packings) .............................................. 678
67. Educação e Sustentabilidade: Um redesenho do modelo molecular numa
perspectiva de inclusão social (Education and Sustainability: A redesign of
the molecular model under a perspective of social inclusion) .................... 688
68. A mediação do design na socialização de redes de valores de móveis
artesanais trançados em fibras (Design’s mediation in values’ networks of
handcrafted twisted fiber’s furniture ) ...................................................... 696
69. A indústria moveleira e o aproveitamento do resíduo de MDF - o caso da
Cimol (The furniture industry and recovery of waste MDF – the
case of Cimol) .......................................................................................... 704
70. A sustentabilidade que vem do rio (The sustainability that comes from the
river)......................................................................................................... 725
71. A Colaboração na Manutenção do Design de Serviço: uma contribuição para
o Slow Shopping (Collaboration in the Maintenance of the Service Design: a
contribution to the Slow Shopping) ........................................................... 735
72. A colaboração no design de sistemas produto-serviço (Collaboration in the
design of product-service systems)............................................................ 742
73. EMBALAGEM PARA PRODUTOS ARTESANAIS - UMA PESQUISA
COM FOCO NA SUSTENTABILIDADE SOBRE A PERCEPÇÃO DO
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
CONSUMIDOR NO PONTO DE VENDA (Packing for handricraft products
– a research focused on sustainability and the perception of the consumer at
the retailer) ............................................................................................... 748
74. Mulheres de fibra: artesanato e design como forma de inclusão social
(Women of fiber: crafts and design as a form of social inclusion) ............. 759
75. Gestão do ciclo de vida de móveis em instituições de ensino superior
públicas: um estudo de caso na Universidade Estadual de Maringá (Furniture
life cycle management on public higher education institutions: a case study at
the State University of Maringa) ............................................................... 770
76. Design, Arte e Identidade (Design, art and identity) .................................. 789
77. Perspectiva para o design sustentável no Brasil a partir da nova Política
Nacional de Resíduos Sólidos: o design de ciclo de vida do produto. ........ 795
78. Reflexões sobre a inserção do ensino de práticas de sustentabilidade nas
escolas de Design de Moda (Reflections on the insertion of teaching
sustainability in Fashion Design schools) .................................................. 807
79. Comunidades criativas: Inovações sociais e produtivas do agreste
Pernambucano (Creative communities: Social and Productive Innovations of
countrified Pernambucano) ....................................................................... 814
80. Design para sustentabilidade: transformações dos territórios e das paisagens
locais (Design for sustainability: transformations of the local territories and
landscapes) ............................................................................................... 823
81. Sacolas plásticas como matéria prima alternativa na tecelagem manual:
Design sustentável de uma bolsa de praia (Plastic bags as alternative raw
material in the manual weaving: Sustainable design of a beach handbag) .. 831
82. Identificação de aspectos e impactos ambientais relacionados à produção de
embalagens de perfumaria – proposta metodológica (Identification of
environmental aspects and impacts associated to the production of fragrances
packaging – proposed methodology) ......................................................... 840
83. Desenvolvimento de suporte para garrafões de água em transporte de duas
rodas motorizado(Development support for bottles of water in two-
wheeled motorized transportation) ............................................................ 855
84. Aplicação do MEPSS (Methodology for Product Service System) no processo
de desenvolvimento de Sistemas Produto-Serviço: estudo de caso
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
(MEPSS (Methodology for Product Service System) application in Product-
Service Systems development: case study) ................................................ 864
85. Projeto Reuse (Reuse Project) ................................................................... 878
86. Biônica e Biomimética: diferenças e aproximações à luz da sustentabilidade
(Bionics and Biomimicry: differences and approaches in the light of
sustainability) ........................................................................................... 885
87. Contextualização do consumo e o surgimento de novas embalagens
(Consumption contextualization and the appearance of new packings) ...... 896
88. A contribuição do pensamento sistêmico no design sustentável. (The
Contribution of the systemic thought in the Sustainable Design.) .............. 902
89. Desenvolvimento sustentável: um estudo de caso na Indústria Central
Máquinas de Uberlândia/MG (Sustentainable development: a case study in
Central Máquinas industry) ....................................................................... 915
90. O Design como forma de valorizar a sustentabilidade dos produtos Locais.
................................................................................................................. 923
91. Sustentabilidade, Territorialidade e Emoção: conceitos para a diferenciação
de um produto. (Sustainability, Territoriality and Emotion: concepts to
differentiation of a product.) ..................................................................... 931
92. Sustentabilidade com rendas em produtos slow fashion a partir das dimensões
social, ambiental e cultural (Sustainability with bobbin lace in slow-fashion
products from the social, environmental and cultural dimension) .............. 943
93. Cidadania, ética e consumo consciente baseados no Design Emocional
interferindo no comportamento dos usuários ............................................. 951
94. Um design para uma nova habitabilidade (A design for a new urban housing)
................................................................................................................. 960
95. A sustentabilidade dos pólos moveleiros pernambucanos na formação de
arranjos produtivos locais, baseados na valorização da identidade territorial,
como estratégias de competitividade ......................................................... 974
96. Design e identidade: a dinâmica do cotidiano na produção e representação da
Identidade regional e a responsabilidade social como ferramentas para
agregar valor ao conceito de design (Design and identity: the dynamics of
everyday life in the production and representation of regional identity and
social responsibility as tools to add value to the design concept) ............... 983
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
97. Perspectivas de ações sustentáveis de Design no contexto de políticas
públicas estratégicas (Prospects for sustainable actions of design in the
context of strategic public policies) ........................................................... 994
98. Efficient Bag: experiência e sustentabilidade na concepção de sacola
retornável (Efficient Bag: experience and sustainability in design of eco bag)
............................................................................................................... 1003
99. De lixo para lixo: projeto de uma lixeira ecológica a partir da reutilização de
garrafas e implementos plásticos em comunidades indígenas da Paraíba
(From junk to junk: designing a ecological trash by recycling bottles and
plastic implements in indigenous communities of Paraíba, Brazil.) ......... 1012
100........................................................................................................................ A
valorização do artesanato através da intervenção do design (The appreciation
of the craft through the intervention of design) ........................................ 1024
101........................................................................................................................ Q
uebrando paradigmas tecnológicos e culturais - O Design Sustentável no
transporte aéreo- O DIRIGÍVEL HÍBRIDO MULTIMISSÃO (Breaking
technological and cultural paradigms - Sustainable Design in air transport
multi-HYBRID The Airship) .................................................................. 1038
102........................................................................................................................ T
ecnologia Assistiva e Sustentabilidade: proposta de órtese para reabilitação
motora (Assistive Technology and Sustainability: design proposal of orthosis
for motor rehabilitation) .......................................................................... 1048
103........................................................................................................................ C
oleta seletiva: estratégia para conscientização socioambiental (Selective
collection: a strategy for socio environmental awareness) ....................... 1058
104........................................................................................................................ T
ransformando a dor da loucura em ‘loucuras’ sustentáveis (Transforming the
pain of madness in 'crazy' sustainable) .................................................... 1066
105........................................................................................................................ I
ntermobilidade Sustentável: um sistema aplicável à realidade de Porto Alegre
(Sustainable Intermobility: a system applicable to the reality of Porto Alegre)
............................................................................................................... 1072

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
106........................................................................................................................ D
esafios da sustentabilidade: estudo de caso de folder em papel reciclado
(Challenges of sustainability: case study brochure on recycled paper) ..... 1087
107........................................................................................................................ A
inda há lugar para descartáveis em uma sociedade que busca ser sustentável?
(Is there still a place for disposables in a society that seeks to be sustainable?)
............................................................................................................... 1092

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Papers do ISSD

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
the economist, the food scientist & the market analyst
teach sustainable design.

PALMER, Jasmine; B.A.(Arch), B.Arch(Hons), M.Design Science (Sustainable Design);


Program Director Sustainable Design, School of Art, Architecture and Design, University of
South Australia.
jasmine.palmer@unisa.edu.au

Keywords: sustainable design, education, trans-disciplinary, studio teaching

In the not too distant past sustainable design education focused primarily on the field of conservation: the
conservation of materials, energy and resources to lessen the environmental impact of human activity.
Designing a house, a car, an appliance or an item of clothing with a measurable and demonstrable saving
of resources was promoted as ‘green’ or ‘sustainable’ regardless of the inherently unsustainable human
environments within which they exist and unsustainable patterns of consumption which they may promote.

For decades now design practitioners, scholars and educators from various fields have increasingly
recognised the complex systems which have contributed to the creation of the unsustainable and hence
the need to develop multidisciplinary design teams in response to the wicked problems with which we must
now contend, both new and existing. Substantial change to the status quo requires engagement with a
greater field of stake holders and provides significant challenges to sustainable design education.

It is in light of this challenge that the trans-disciplinary Master of Sustainable Design program has been
developed at the University of South Australia School of Art, Architecture and Design. Important to the
masters program is not only the potential for innovation which occurs in the gaps and overlaps between
design disciplines, but also the collaboration between the design disciplines and other fields of
sustainability research and practice. For example, students were surprised in a recent studio project to
discover the majority of staff involved in the course were not designers, but an economist, a food scientist
and a market analyst.

This paper outlines the general structure of the design studios in the Master of Sustainable Design studio
courses at the University of South Australia and the trans-disciplinary pedagogy which underpins these.
Recent design studio projects are described in some detail to demonstrate how the studios are effected by
the pedagogy and students projects used to demonstrate outcomes.

Design & the unsustainable

Contemporary relationships between humans, products, services and environments are multi-
dimensional and ever changing. Daily practices in the home and workplace are incrementally
altered in response to new opportunities and conveniences offered by technology and design
innovation. Seemingly positive advances in domestic and business practices can inadvertently
lead to complex resource-use issues and associated environmental problems as a singular
change to human practices instigates an evolution of adjacent materials and practices. Over
time the impact of a single intervention may extend beyond that imagined by the initiator to
generate complex systemic change.
Such systemic evolution can seldom be accurately preempted and, in a world increasingly
concerned with long-term resource use, environmental impact and social equity, unpredictable
progress frequently embeds unsustainable practices through a series of reinforcing feedback
loops. Over time, the outputs of a singular disciplinary design practice may require the
expertise present in several disciplines to counteract as social and material practices are
normalized.
Shove and Guy (2001) employ the example of building air-conditioning to demonstrate this
phenomenon. The energy hungry buildings of today’s western world were not created solely by
the architect or the mechanical engineer, but result from a complex interaction of historic
technological and social events occurring in a specific context. The uptake of new technologies
in this case allowed new building forms and functions to evolve as the climatic constraints of

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
location and orientation were removed. The skills of passive environmental control developed
by previous generations of architects and builders were put aside and, one may argue, lost. In
parallel building users expectations were irreversibly altered as air-conditioning became
standard and alternative (traditional) solutions are viewed as sub-standard or suspicious. This
behavioral normalization of the unsustainable is a story that reoccurs in many fields (Shove and
Southerton 2000).

Interdependence is a key term here: the ‘problem’ created in this example is not one that falls neatly
into the disciplines of architecture and building alone, but spans business, engineering, industrial
design, interior design and facilities management, to name the most obvious related disciplines. To
understand the problem in detail also includes a requirement to do some research into the relevant
history and sociology of technological innovation and consumer culture, the basic mechanics of air-
conditioning, the theory and math behind a building’s thermal comfort and the relevant materials
available to the builder. (Palmer & Crocker 2010:1)

This example is explicit and easily described, but is by no means unique. Interrogating the
systemic consequences of technological and design innovation at various scales reveals the
evolution and wide scale uptake of other unsustainable practices. We need to think no further
than the automobile, domestic appliances and product packaging for additional examples of
innovations which bear influence upon associated fields of activity, generate unsustainable
consumption patterns, and hence require co-operation from multiple disciplines to counteract
the unintended resultant problems.

The challenge of un-sustainability requires more than a simple cooperative framework to find a
more efficient solution. To counteract contemporary unsustainable practices innovation in
design practice itself is required to break the cycle of discipline based, linear, problem solving
design methods leading to the normalization of the unsustainable. Only then may we begin to
un-design the problem.

Sustainability, the wicked & design

Some four decades ago urban planners Rittel & Webber introduced the notion of wicked
problems which, in contrast to tame problems, are not adequately addressed with traditional
linear, analytical approaches. Wicked problems are by nature difficult to define and are
concerned with relationships linking the physical sciences, technologies, complex systems,
values and ethics.

Figure 1: 10 Attributes of Wicked Problems. Rittel, H. & Webber, M. (1973:161-166)

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
The environmental and sustainability challenges facing today’s human society can be placed
within the category of wicked problems and, like all wicked problems, solutions require input
from a broad field of interested professions, disciplines, parties and stakeholders. The
sustainability challenge therefore becomes one of how to make effective use of diverse
stakeholder input and how to intervene in the complex systems of unsustainability.
‘The classical systems-approach …….. is based on the assumption that a … project can be organized
into distinct phases. Every textbook of systems engineering starts with an enumeration of these
phases: "understand the problems or the mission," "gather information," "analyze information,"
"synthesize information and wait for the creative leap," "work out solution," or the like. For wicked
problems, however, this type of scheme does not work. One cannot understand the problem without
knowing about its context; one cannot meaningfully search for information without the orientation of a
solution concept; one cannot first understand, then solve.’ (Rittel & Webber 1974:161)
Solutions to wicked problems depend on how the problem is framed [tamed] by stakeholders.
This is inevitably informed by the professional or disciplinary knowledge of individuals and
hence any one problem will generate numerous different frames for understanding. In this light
Rittel and Webber question the ability of any singular profession [discipline] to effectively
address a wicked problem independently of other stakeholders.
As a practice which occurs within and between the scientific and non-scientific, integrating and
interpreting both hard and soft data, design has a critical role to play in developing a future in
which the problem of sustainability is confronted. In this context sustainable design’s role
becomes one of extra-disciplinarily; breadth rather than depth, synthesis rather than analysis,
and resolution seeking rather than problem solving. (Cutler 2009:111-2).

Sustainable design education & extra-disciplinarity

Contrary to the extra-disciplinary challenges of unsustainability and wicked problems,


sustainable design education has traditionally existed within the recognized parameters of
identifiable design disciplines or across professionally interconnected disciplines. The architect
was trained to make building related decisions and integrate material or engineering
technologies for reduced environmental impact. The car designer was trained to reduce the
environmental impact of their product and the planner was trained to reduce the environmental
impact of future urban development. Little, if any, consideration was given of the intrinsic links
between these and the constraints one discipline’s decisions may place upon the other. Within
this model, the focus is placed primarily upon the measurable and demonstrable, ensuring
environmental and economic considerations are privileged over the ethical and social
responsibilities of design.
Given the disciplinary complexity of challenges facing contemporary designers this traditional
model of sustainable design education requires expansion to promote the development of extra-
disciplinary skills. In 1972 Jantsch provided a description of extra-disciplinary models and forms
of disciplinary collaboration which remains useful today. He identifies multi-, cross- and
interdisciplinary, all models visible in current professional design practice, as being limited in
their ability to encompass multiple modes/levels of enquiry. Figure 2 provides a summary of
Jantsch’s discussions and demonstrates transdisciplinarity to be the one model of disciplinary
interaction capable of encompassing two or more modes of enquiry and, as such, of addressing
the multiple facets of sustainable design. Organised through Purpose level enquiry
transdisciplinarity offers a unique opportunity for values and ethics to be provided equal
emphasis with the systemic, technological and physical, a balance unobtainable through
alternative disciplinary models.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Figure 2: Jantsch’s Modes of extra- disciplinarity relative to modes and levels of enquiry. Based on Cutler (2009:107)

Whilst the need to progress toward transdisciplinarity in sustainable design is demonstrated, this
is not to suggest a move away from discipline specific knowledge and research.
Transdisciplinarity ‘is nourished by disciplinary research; in turn, disciplinary research is clarified
by transdisciplinary knowledge in a new and fertile way. In this sense, disciplinarity and
transdisciplinary research are not antagonistic but complimentary’. (Nicolescu 2002: 45)

Transdisciplinary sustainable design at UniSA

Reflecting upon these issues, the University of South Australia (UniSA) has developed a
transdisciplinary sustainable design postgraduate coursework program, which commenced in
2008. Taylor (2009) suggested the typical ‘…university model has led to separation where
there ought to be collaboration and to ever-increasing specialization’, in which ‘[e]ach academic
becomes the trustee not of a branch of the sciences, but of limited knowledge that all too often
is irrelevant for genuinely important questions.’ The sustainable design program aims to reduce
this identified separation of disciplines, mobilizing design as a highly relevant agent for change
pertinent to the important question of sustainable futures.
The program brings together designers from a diverse range of disciplines to analyse, discuss
and debate the current contexts of design, share disciplinary knowledge and develop
transdisciplinary design methods. Generally, students have completed undergraduate
qualifications which incorporated elements of discipline-specific ‘environmental’ education. The
program builds upon this existing discipline-based knowledge, developing graduates with skills
to contribute to the design of a more sustainable future (environmental, economical and social).
The seminar and research courses in the program offer the opportunity for knowledge
development and the design studios act as the primary site of transdisciplinary action.

Sustainable design studios

Design studio courses form the core of any discipline based design education. The studio is
typically a place of relatively linear design processes where a specified brief or design problem
is described and the academic learning task is focused upon the demonstration of acquired
skills through the proposition of a designed solution to the identified problem (a classic systems-
approach as described previously). Given the professional nature of contemporary design
practice the studio is primarily a site of object production; where students have an opportunity to
demonstrate skills in professional service provision.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
At the same time, the university context provides designers a unique opportunity to pursue
innovative design propositions which extend beyond the economic realities of commercial
practice. Design innovation in the studio context may pursue unique design propositions in the
interface between design theory and practice or in the uptake and implementation of cutting
edge technological alternatives, but typically remains bound to the particular knowledge of the
discipline of study.
In the sustainable design program at UniSA the design studio environment intends to offer
alternatives to the generic studio activity described above. At the outset the students find
themselves in a design environment distinctly different to that of their previous undergraduate
experiences. All students, typically experienced design practitioners, enter a shared design
space hosting interior architects, architects and product designers, planners, graphic designers,
engineers of various descriptions, visual artists, environmental scientists and even
environmental lawyers; all of whom arrive with radically different frames for understanding
problems and different disciplinary approaches to taming wicked problems. The disciplinary mix
extends beyond that typically experienced in the multi- or cross-disciplinary teams of
professional practice and the potential for sharing disciplinary knowledge is tremendous. The
intent is not to generate generalist designers by broadening the knowledge base, nor is the
exercise one of rehearsing professional practice. The transdisciplinary studio aims to seek out
the unique opportunities which exist both in the synergies between disciplines and in the
hitherto underexplored spaces between disciplines to:
 promote critical thinking and strategic approaches to problem definition
 develop awareness of the relationships between design actions and complex systems of
consumption and sustainability
 redefine the relationship between problem definition and design process, promoting an
understanding of the non-linear nature of causal relationships in design
 encourage reflection on ethical, environmental, social and economic implications of
design propositions.
These aims correlate with Doucet & Janssens view of transdisciplinary design as a ‘way of
discovering what a ‘concerned practice’ consists of- in which theory is not renounced, and
where reflective, ethical and practical concerns interlace in one and the same endeavour.’
(2011:10) and, similarly to Michael Speaks notion of Design Intelligence, promote ‘practices
[that] allow for a greater degree of innovation because they encourage opportunism and risk-
taking rather than problem solving’ (Speaks 2002)
The design problems set in the sustainable design studios vary from the traditional project or
problem based learning such as ‘design a new building’ or ‘design a new toaster’ by
commencing with in depth analysis of existing unsustainable patterns of action and/or
consumption to identify the most effective point of intervention into the complex systems of the
human environment. Through this approach the globally ubiquitous techno-remedial approach
to sustainable design and consumption is avoided as students address ‘cross-disciplinary
problems by designing the social, political, economic and educational ‘systems’ [giving] them
greater reach, responsibility, influence and relevance.’ (Jones 2009)

The sheer scale and complexity of systemically entrenched unsustainability together with the
notion that dealing with a wicked problem is a ‘one-shot operation’ in which ‘the [designer] has
no right to be wrong’ can make them challenges appear insurmountable. To avoid the often
disabling effects of such intimidation Rosenhead’s 1996 criteria for dealing with wicked
problems are engaged:
 accommodate multiple alternative perspectives rather than prescribe single solutions
 function through group interaction and iteration
 generate ownership of the problem formulation
 facilitate a graphical (visual) representation for the systematic, group exploration of a
solution space
 focus on relationships between discrete alternatives rather than continuous variables
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
 concentrate on possibility rather than probability (abridged from Ritchy 2011:4)
This pedagogical approach supports the paradigm shift proposed by Burnham in his 1968
article Systems Esthetics which encouraged the ‘transition from an object-oriented to a systems-
oriented culture. Here change emanates, not from things, but from the way things are done.’
(Burnham 1968:31) As a result the outcomes of the design studios are various in forms,
ranging from physical proposition of products to virtual tools for knowledge dissemination and
acts of social innovation.

the economist, the food scientist & the market analyst

Trans-disciplinary studio practice provides two significant challenges. Firstly, the identification
and definition of common objectives; and secondly the development of mutually inclusive
forums in which discipline-specific concepts, theories and methods are effectively unpacked by
participants and shared. If these challenges are not met the desired synthesis of methodologies
and models from distinct disciplines is unlikely to occur.
In response to these challenges participants are set the task of submersing themselves in a field
of knowledge which is not explicitly associated with their usual area of design practice but with
which they are able to reflect upon their personal behaviors and practices. This is particularly
true of the first design studio undertaken in the initial study period and often results in students
experiencing a degree of discomfort as they are asked to reach beyond their personal practice
comfort zone.
In the initial study period of 2011 commencing students investigated the trans-disciplinary
nature of food systems. The following is an extract from the information provided to students at
the commencement of the studio:
‘The familiar turn of phrase ‘you are what you eat’ highlights the critical link between food, nutrition and
the well being of the individual (human) consumer. The food choices and food consumption patterns of
individuals also influence a considerably larger sphere than that of personal health, shaping social,
environmental and economic food contexts.
Access to food stuffs had altered dramatically over recent history with increasing globalisation of both
culinary preferences and supply chains. New foods are often met with a degree of scepticism but can
overtime (re)shape consumption landscapes.
The relatively recent history of the humble potato in the western world, as an example, has informed
the development of agricultural techniques, changed the eating habits and cooking knowledge of
nations, guided the design of packaging, led to the invention of new kitchen utensils, enabled large
scale distribution systems, reshaped landscapes, been the focus of ethical debate regarding scientific
intervention, and even provided inspiration for children’s toys.
As a facilitator of human practices and processes the design industries are directly influenced by
consumer habits and preferences. Design has played a significant role in the development of existing,
modern, global and local food supply, consumption and waste systems – the state of which may be
argued to be increasingly un-sustainable from a triple bottom line perspective.
This course aims to facilitate a discussion of the current state-of-play in relation to food; to provide an
opportunity to question current practice and examine opportunities for the design of alternatives –
possible interventions in existing systems aimed at improving the sustainability of food consumption –
because ‘you are what you eat’ and ‘your world is what you eat’
Architects, planners, product designers, interior designers and visual artists would each be
capable of establishing a relationship between their individual design disciplines and food, and if
asked to do so each may propose a design solution within their own area of practice. However,
this would not be a trans-disciplinary outcome and, beyond the inclusion of gardens in schools
or green walls on buildings, would offer little potential for systemic change.
To amplify the trans-disciplinary nature of sustainable design active participants were engaged
from outside of the design school. Students were surprised to find their first lecture delivered by
a market analyst discussing the social and economic viability of locavorism. This was closely
followed by a presentation from a food scientist with a focus on child health and food
knowledge. These early presentations provided alternative frames for understanding the
problem and challenged the students to seek a personal viewpoint within the unfamiliar
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
literature as the first of three key stages of the project was completed: an individual written
report titled ‘Questions of Food’ which responded to one of a set series of questions related to
food and design to create a collective resource for later design stages.
Over time students discovered previously unidentified associations to their individual disciplines
and the disciplines of others – providing an insight into the complex systems within which they
were to propose interventions intended to un-design the unsustainable.
Stage two: Enter the market analyst. Presenting research data in progress from a federally
funded research project related to food waste, the challenge of the second stage was framed.
The task at hand, titled ‘Waste Not’, was for groups of students to
 critically examine one source/category of food waste.
 undertake a thorough examination of the existing systems, technologies, social and
economic circumstances which deliver this waste and
 make a design proposal that address the indentified problem
Through interaction with non-design researchers students discovered their preconceived
notions of food waste problems were entirely misguided and required the reassessment of their
own methods of information gathering and problem framing. This led to a shift away from an
initial trend of object production and packaging propositions to proposals which addressed
shopping and storage behavior, food preparation skills and the needs of specific locations and
demographics of consumers statistically associated with high waste outcomes.
Throughout this stage the design process began to address the wicked problem, by
encouraging ‘an argumentative process in the course of which an image of the problem and of
the solution emerges gradually among the participants, as a product of incessant judgment,
subjected to critical argument.’ (Rittel & Webber 1974:161)

These initial stages provided the foundation for the final project ‘Seeking food sustainability’ in
which students were required to reflect upon preceding analyses to identify unsustainable
practices or products within existing food systems and subsequently propose a design
intervention with the aim of improving sustainability against one or more measurable criteria. At
this stage it was essential for students to address design questions across multiple modes and
levels of enquiry (Janstch 1972), asking what exists?, what are we capable of?, how do we do
what we want?, and why do this?.

This individual project allowed the flexibility for students to select a project which related
specifically to their own interests. Surveys conducted at the conclusion of the project revealed
that the majority of participants self selected projects for this final stage which they would not
have conceived of if not exposed to the trans-disciplinary environment provided.

In addition to promoting a slowing of the early stages of projects to allow for alternate framings
to evolve, the staged format of projects created a common platform for group discussion
through the necessity for all studio participants to provide individual disciplinary input. Through
each stage of the projects student move progressively toward common sites of disciplinary
intersection, developing unique syntheses of methodologies and models reflecting on the
disciplinary combinations and interests of studio participants. Following Bhabha’s identification
of ‘a ‘hybrid’ site that witnesses the production, rather than just the reflection, of cultural
meaning’ (1994: 1), such trans-disciplinary projects can also become ‘a navigational space, a
platform that allow(s) for travel in between and into different discourse communities and
associated professional knowledges; and as a conversational space, where cultural, social, and
epistemological change takes place as competing knowledges and discourses are translated,
contested and drawn closer together.’(Hulme et al 2009:541)

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Stage 2: ‘be wise with your rice: changing
behaviour in rice consumption’ by Aida Leon
Salmon and Ana Medoza Guzman.
Based on current research into waste associated
with rice consumption this project proposed an
integrated solution to retail distribution,
packaging, storage, and cooking solutions
supported by an information/ education program.

Stage 2: ‘social network: good food’ by Tomas


Escriva Izquierdo and Ana Patricia Mena Jones
Founded on current research into the
demographics of food waste this project
demonstrated the potential of social networking
systems to facilitate collaborative food purchase
and preparation. Benefits in waste reduction are
demonstrated in addition to economic, social and
knowledge sharing opportunities.

Stage 2: ‘yoglet’ by Genevieve Cother and Jacob


Potter
Informed by current research into consumer
behaviors and knowledge around dairy products
together with studies into food waste behavior of
young children this project aims to foster
behavior change by educating consumer s about
yoghurt production and what real yoghurt looks
like in order to challenge current thinking about
food shelf-life and sensory features.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Stage 3: ‘slow down fast food’ by Amy Wuttke
This project replaces the advertising panel of
bus stops within the City of Adelaide, frequently
the site of advertisements for fast food, with a
slow food alternative. Staffed during peak travel
hours the installation is unfolded to create a
point of sale for fresh fruit in the mornings and
vegetables in the evenings, all sourced from the
local environs. Co-located with transport points
the fresh food alternative is reinserted into daily
routine and alternatives to fast food are
promoted.

Stage 3: ‘entrepreneurial biogas’ by Ana Patricia


Mena Jones
Responding to the unsafe practices of ‘rubbish
picking’ in many regions of the world this project
proposes a business model based on the
construction of a methane digester from
discarded materials as a means of converting
organic market waste into saleable cooking gas.
Facilitated by a microloan type structure the
project includes the development of graphical
information packages to facilitate construction,
operation and maintenance.

Stage 3: ‘workplace nutrition’ by Ana Mendoza


Guzman
This project examines the current situation in
relation to workplace food consumption and
nutrition to develop a business proposal for a
‘corporate community consortia.’ The economic,
social and health benefits to society, employer,
employee and food provider are demonstrated
and examples of implementation are provided in
various workplace situations across three
continents.

Stage 3: ‘reconsidering suburban fences’ by


Nhan Tran
The potential social and environmental benefits
of collaborative consumption are well
demonstrated in contemporary literature. This
project proposes a literal move toward
diminishing the boundaries of privatisation which
act as a barrier to increased collaboration. The
fences of suburban communities enter into a
gradual process of evolution facilitating food
production whist enhancing the environmental
qualities of shared public spaces and promoting
heightened community resource sharing.

Students enter the design studio seeking new skills. Through the duration of the study period
they
 are exposed to different design processes and
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
 different approaches to problem definition,
 recognize the complex, non-linear nature of sustainability challenges,
 take ownership of the challenge and
 explore alternate ethical, environmental and social possibilities.
Most importantly, they begin to understand the frameworks of other disciplines and commence
trans-disciplinary conversations. These experiences are then reinforced through subsequent
design studios over the duration of their program of study.

Conclusion

Pohl & Hirsch Hadorn suggest that ‘transdisciplinary research is needed when knowledge about
a societally relevant problem field is uncertain, when the concrete nature of problems is
disputed, and when there is a great deal at stake for those concerned by problems and involved
with dealing with them.’ (2008:431). The future sustainability of human environments is one
such problem which requires transdisciplinary investment. In promoting transdisciplinarity we
must also keep in mind that it is ‘not an end in itself but a tactic for setting in motion a different
way of thinking and doing to allow an element of digression, of open endedness, of chance into
a process that is habitually dictated and controlled by skill.’ (Schneider 2011:99)

What is apparent is that getting people together to work on a project in a loosely cooperative
manner is not enough. As Hughes (2009) suggests, in a trans-disciplinary situation, intersection,
as opposed to cooperation, becomes the site of design innovation, since it is often at the
intersection of the various relevant disciplinary boundaries that innovation can take hold. ‘For
designers, establishing the limits of professional practice must remain an open question. The
designer who sets prescribed limits to his or her field of operations runs the risk of irrelevance in
a rapidly changing economic climate.’ (Hughes 2009: 58) This is true also of a range of other
climates to which a designer must respond, including the environmental and social.

In the multi-disciplinary Sustainable Design programs at the University of South Australia we


have designed courses with the intention of equipping design practitioners with the additional
knowledge, skills and attitudes to engage in future focused trans-disciplinary design practice.
After two years of delivery positive feedback from students suggests the structure and content
of the program is achieving these goals, as one student commented, ‘I strongly believe for
everything to work sustainably we need to find a way to work together in all processes to
produce a better way of life. This goes well beyond design disciplines.’

Through the development of process based knowledge, rather than education in current
sustainable design technologies, the studio structure allows for unexpected outcomes,
encouraging the advent of alternate possibilities and surprises. Today’s designs graduates will
inevitably find themselves working in an environment distinctly different from that known to
current practitioners. Transdisciplinary education ensures designers are capable of
transcending existing disciplinary boundaries and remaining relevant agents of change in an
unknown future; designing for sustainability, un-designing the unsustainable and promoting
hope for change when the problem appears insurmountably wicked.

“Society has been served well by the pursuit of deep knowledge…….but more and more the
nature of today’s big picture problems resides at the intersection of what we know…’ (Steinberg
2008)

References

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A Traditional Craftmanship Organisation Model For
Sustainable Development Of Modern Clusters: Akhism

BAYRAKTAROGLU, Serkan; PhD Student; Istanbul Technical University, Turkey


serkan.bayraktaroglu@khas.edu.tr

Keywords: creative clusters, sustainability, guilds, akhism

This paper aims to discuss a traditional craftsmanship organization model for reaching sustainable
development in small scale production zones. Concepts such as ‘islands of sustainability’ introduces
bottom up approaches for sustainable development. Even though its potential success in small scale
clusters, especially in creative clusters, management of such an organization plays an important role to
reach economical and social sustainability in long term while competing against cheap mass production
companies from all around the world. Akhis were artisan organizations in 13’s Century in Anatolia. They
were social, cultural and economic institutions in the time of Turkish Seljuks. The paper presents a review
about Akhi history, their organizational principles and their impact on sustainability with a comparison to
guilds in Europe and Anatolia. A brief comparison is presented with traditional Akhi principles and a
modern case study from Istanbul; creative cluster of lighting producers in Sishane. It is argued that
reexamining and reforming Akhi tradition, root of Turkish artisan culture, can give clues for sustainable
management practices for today’s small industrial clusters to support socially and economically sustainable
development.

Introduction

It is almost 50 years since the Rachel Carson’s ‘Silent Spring’ and 24 years since the
publication of a United Nations report that defined sustainable development. Obviously there
has been investment in the support of sustainability goals however; the conflict between
humankind’s instinct of expansion and the capacity of eco-system to sustain such expansion is
still there. Various approaches for reaching sustainable development track offers changes on
our lives. Another conflict is between the given importance of different pillars of sustainability;
environment, economy and society. There is a clear emphasis on environment and economy,
since the consequences are easier to recognize. However, to reach sustainable development
track, there is a need for change in the way manage our business. In this paper, I focus on
‘islands of sustainability’ concept as possible way to grow sustainable development and point
out a traditional organization model for overcoming the possible pitfalls while building the
‘islands’.
Literature review and my observations from previous works about the Sishane district builds the
main sentence of the research. The paper is organized, as follows. In the first part, I provide
definitions of sustainable development and ‘island of sustainability’ concept as an approach. In
the second part; I have discussed history and traditions of Akhism, a historical Turkish
association and organizational model for craft clusters, and comparison with guilds. The lighting
cluster of Sishane, a neighborhood in Istanbul, and its essential assets are the main discussion
point of the third part. In this part of the paper, I try to use islands of sustainability concept and
applications of Akhism to reach a set of suggestions for the lighting cluster of Sishane.

Sustainable development and eco-clusters

Various scholars have argued that sustainability is a disputed concept and the relative
importance of miscellaneous elements of sustainability is always in the center of the discussion.
Generally, the well known claim ‘development that meets the needs of the present without
compromising the ability of future generations to meet their own needs’ (WCED, 1987) stands in
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
the core of different sustainability notions. However, this explanation is broad enough to cover
almost all human activities directly or indirectly. Thus, sustainable development, in fact
development of humankind, is a holistic scenario and all stakeholders of the system are
interdependent. Therefore, although they are promising, usually separate and minor solutions
are not enough to create a big impact on the whole system. Indeed, sometimes they end up with
unpredictable results, such as rebound effects of energy saving eco products (Jalas, 2002;
Manzini, 2002).

Different definitions of sustainable development somehow stand on the common ‘triple bottom
line’ concept; social, ecological and economical dimensions. This concept was developed by
environmentalist and economist John Elkington in 1997. However, ecological issues have been
much more mentioned and discussed the continuation of which is discussions of economical
sustainability. Obviously definitions of terms and measurement tools are much more tangible
and well understood for ecological and economical sustainability, thus, the social dimension is a
bit neglected (McKenzie, 2004).

Besides the unequal emphasis on various elements, we know that to reach the sustainable
development track, current global and local crises of society and economy need a shift which
can be referred to / thought of as a transition. Such a transition will cause changes to our lives,
our products, our consumption habits and likewise the way we produce them. Transition in a
whole system never happens instantaneously, contrary most of the time the process starts
locally. A change happens at the core and proved success of that change spreads through the
system (H P Wallner, Narodoslawsky, & Moser, 1996). This is the fundamental premise of the
‘islands of sustainability’ concept. Authors define transition to the sustainable development
process as an evaluation. Thus, this bottom-up transition approach reaches a status where an
increased complexity exists, rather than simpler organisms.

In his concept, Wallner (1999) suggests approaching sustainability on a regional level by small
clusters of industrial operations. The Author calls these small nuclei islands of sustainability in a
landscape of unsustainability. The entire region is proposed to be sustainable eventually by the
impact of these units. This process of transition needs huge efforts initially however, after the
success of the first units; the last steps to reaching a sustainable system would be a lot easier
(H P Wallner, Narodoslawsky, & Moser, 1996) These units are defined as eco-clusters by the
authors.

Porter (1990) defines clusters as geographic concentrations of interconnected companies and


institutions in a particular field. A cluster linkage between companies might happen because of
pure geographical reasons, such as harbor and logistic companies. However it is not
necessarily always like that. The principle of a cluster is existence of economically linked
activities, sharing and nurturing a common stock of product, technology and organizational
knowledge in order to generate products and services in the marketplace (Morosini, 2004). This
relationship extends to channels and customers and laterally to manufacturers of
complementary products (Porter, 1998). In a well-developed and competitive industrial cluster;
customers, suppliers, service providers, infrastructure, university and research abilities are
shared by the members (Morosini, 2004; Porter, 1990). Clusters provide competitive
advantages to members by this network structure. Especially small and medium sized
enterprises gain the chance to survive and stay competitive on a regional, international and
even global scale.

Michael Porter (1990) argues that there are three ways in which clusters can potentially effect
competition:

• increasing the productivity

• driving innovation

• stimulating new businesses

The cluster approach has valuable opportunities for sustainability, as well. As Porter’s definition
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states, clusters can drive innovation for more sustainable products and production systems
while stimulating new, preferably dematerialized business models. As a subsystem, linked
industries, have more possibilities of acting like a symbiotic life form. This approach is the center
of industrial ecology where moving from linear throughput to closing the material and energy
loop is the main concern (Ehrenfeld & Gertler, 1997). For driving sustainability in such a
subsystem much more complexity is necessary. Simple clusters, where companies with similar
profiles collaborate horizontally, need to create vertical linkages and much complex
relationships for creating an industrial symbiosis (Deschenes & Chertow, 2004).

Wallner’s (1999) suggestion of creating sustainable islands or eco-clusters to disturb


unsustainable systems fits very well in the concept of industrial symbiosis. Using advantages of
clusters to trigger the system and create economically successful and sustainable cells which
close the material and energy gap would be a competitive advantage beside environmental
benefits. Ehrenfeld and Gertler (1997) point out a few successful examples of industrial
symbiosis and discuss the importance of ‘doing the right thing for both business and
environment’ as vital decisions of leaders to create the symbiosis over decades. The authors
explain different forms of symbiotic arrangements such as Japanese keiretsu with its cross
ownership structure and very dense form of integration. The Japanese example of symbiotic
relationship shows that characteristics of sharing transaction, costs and risks could be spread
among potential participants (Ehrenfeld & Gertler, 1997).

Discussions about sustainable development and industrial ecology always come to a point that
compromise between unlimited growth and the necessity for sustainability. Authors often
mention trust as a necessary element for the success of industrial symbiosis and clusters
(Ehrenfeld & Gertler, 1997; H.P. Wallner, 1999). Beside economical agreements, trust is very
essential for success of such network relationships for making and applying decisions in favour
of sustainability. Motivation of the workforce, taking ethical decisions and building trust in an
organization could be discussed in territories of social sustainability. Despite its importance in
triggering ecological and economical sustainability; social sustainability is a much less defined
and measurable concept in the triple bottom line (Spangenberg & Omann, 2006).

To define social sustainability authors mention the importance of employment, equity, diversity,
interconnectedness, quality of life, democracy and governance, freedom of choice, citizen
integration, social cohesion and self determined lifestyle (Littig & Griessler, 2005; McKenzie,
2004; Spangenberg & Omann, 2006). Littig and Griessler’s definition ‘working society as a
product of the modern era’ is interesting for defining work as an interface between social needs
and nature. The authors bring the perspective that re-regulation of socio-ecological relationships
takes account of both the dynamics of social change as well as the dynamics of ecological
systems. Re-defining work in our society could change other aspects, too. Such a goal might
contradict neo-liberal trends and the tendency to commodify the labour force. However, to build
trust and to assure ethical decision making in favour of social and environmental sustainability,
concessions need to be made.

Teekampagne is an inspiring example from Günter Faltin – a Berlin based Economics professor
- in which social, economical and environmental aspects are considered thoughtfully in the
business model. In this model the cooperation with an NGO for ensuring environmental
sustainability and education of workers play an essential role. On the other hand transparency
in the business, what they call ‘trade not aid’, brings much more welfare and empowerment to
workers (Asmuth, 2009; ‘Fair Trade,’ 2011). Teekampgne claims that they are not certificated
with Fair Trade labels because of the costs, however, they have built a similar system with
transparency in transactions, support to farmers and ensured the best quality in organic
products. Fair Trade is an optimistic concept for pushing companies to take ethical decisions in
trade, however it is not robust. Recently we have witnessed the imperfection of this promising
concept for social and environmental sustainability; FLO (Fair Trade International). In her article
Haight (2011) discusses how FLO failed to provide good quality coffee for the end customer.
Despite the success of labeling and strict controls; possibilities of more income with new
customers create opportunities for coffee growers to sell better quality crops to markets without
a fair trade label.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Gaining positive impact on ecological sustainability is not enough to reach the sustainable
development track. Thus, departing from the cases, we need more discussion on motivations of
sustainability or ethical decision making in organizations for economical and especially social
sustainability. Wallner (1999) describes the need for the motivation to become a more
sustainable cluster. In this paper I will discuss a traditional organizations model for adopting
sustainable development scenarios, particularly for the islands of sustainability concept, using a
case from Istanbul, Turkey.

Guilds and Akhism

The term ‘Guild’ represents an organization or an association of people with related interests or
goals, such as working in a particular trade; which is formed for mutual aid or protection
(Epstein, 2009; Ogilvie, 2004). Guilds were a part of the economy in different forms such as
unions, cartels even secret societies. Although the discussion about the goals of the medieval
craft guilds of Europe still continues, there is a consensus about the structure of their
organization and their impact on industrial development (Epstein, 2009; Ogilvie, 2004).
Apprenticeship, training and high standards of workmanship were the main functions of guilds.
However, by the nineteenth century, the effects of the industrial revolution had dislocated the
apprenticeship system (Wheatley, 1959). Guilds like organizations were not only exist in
Europe. They had a very vital role in Muslim life, as well. Economic and social life in Muslim
cities was affected by the guild movement (Lewis, 1937). However, European like guilds
appeared much later in the Islamic geography. Futuwwa (Fütüvvet in Turkish) and Akhism are
examples of pre-guilds in Muslim realms (Tatar & Dönmez, 2008).
Akhis were artisan organizations in 13th century Anatolia. They were social, cultural and
economic institutions in the time of Turkish Seljuks. Baer (1970a; 1970b) describes Akhis as
non professional guilds with much fewer members. Even though there is not a consensus on the
meaning of the the term ‘Akhi’ (written as ‘Ahi’ in Turkish) it is believed that, it comes either from
the Turkish word ‘akı’ which means ‘generous’ or the Arabic word ‘ahi’ which means ‘brother’
(Tatar & Dönmez, 2008). The Akhi shows significant similarities with the Futuwwa which was
seen in 10th century Islamic realms. Akhism changed by time and took on similar characteristics
of European guilds and in 1908 Akhis were banned completely (Bayram, n d). It is possible to
claim that Akhism reflects Turkish economic mentality as well as ethics, religion, and education.
Akhis first transformed into Gediks (a phase between Akhi and Lonca) and then into guilds
(Lonca). While in the beginning Akhis were much more independent, later many limitations were
introduced in the system by the involvement of the state. This transformation from independent
Akhis to guilds happened with the influence of the economic crisis during the Ottoman Empire
period. However, it is possible to see the influence of many Akhi traditions in late Turkish guilds,
and even in modern small manufacturer clusters.
Lewis (1937) differentiates Islamic guilds from European guilds, and points out that while
European guilds were like a public service, privileged and administrated by public authorities,
the Islamic guilds were spontaneous. According to the author the Akhi movement was not a
response to a state need, but social requirements of the laboring masses themselves. There
were many factors that shaped the birth of Akhism. In the times of Turkish Seljuks, the
government was supporting people to work in art and science. However, the main issue was
transforming scientific information into a benefit for people in terms of art and daily applications
(Bayram, n.d). Akhi associations were found with the will of the people not the state. Akhis were
a different power from the state, and in many places such as Persia and Indonesia, they were
the reason for revolution (Lewis, 1937). Even though there were underlined religious signs in
the norms of Akhism, according to Tatar and Dönmez (2008) those were kind of mediators for
preventing conflicts because of the individualistic behavior that brings the destructive effect of
materialistic consumption culture in society (Tatar & Dönmez, 2008). Today there are still some
kind of Akhi associations, however they are much more concerned with cultural activities and do
not have any power over business.

Social and Economical Sustainability in Akhism


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Unfortunately there are not many academic works about Akhism and sustainability. However,
we know that Akhi tradition interprets life as integral and locates economy in it (Tatar & Dönmez,
2008) which corresponds to the systems view of sustainability. Many Akhi rules and applications
refer to social and economical sustainability.

Akhis were integrated in small economies with limited customers, thus; production was a
function of need. They were able to control the consumption by limiting the production. However
beside such monopolistic behaviors, Akhism had cooperative like rules to gain economical
survival of the union. Yörük (2008) underlines the importance of a culture of sharing in Akhism.
According to him Akhis were not seeking greater individual profit but an integral development of
members and people. Some rules of the organization support this idea. For example; donating
surplus profit to unemployed people who needed money (Baer, 1970) was a common
application in Akhism and such a culture of sharing kept Akhis in the middle social class (Tatar
& Dönmez, 2008; Yörük, 2008). There were ‘sharing boxes’, where some part of the profit was
collected. The collected money was used to invest in new tools and equipment for all members,
credits for timid entrepreneurs and financial help for unemployed and poor people (Gürsoy,
2003). These kinds of financial regulations to guarantee survival of other Akhis show early
approaches of cooperative organization. For instance; one of the Akhi rules actually banned
individuals saving more money than 18 Dirhem (around 2,9 g) silver, instead it was suggested
that one invested or helped other Akhis in this case (Tatar & Dönmez 2008). Unfortunately, we
do not have much more information about the application methods of these rules because of
lack of researches.

In Akhi organizations, coordination was the main focus, every member did only one type of job
in which they were the most proficient. Most of the time a product would be completed with the
work of many members in the chain. Working has much more meaning in Akhi tradition than just
a means to earn money, it had to be done with pleasure. Since the work was done with pleasure
and job proficiency was required; Akhism, similar to other guilds, focused much more on quality.
Mastering their work was a pride for guild artisans, thus, the quality of details was increased
(Wolek, 1999). Similar to medieval guilds, Akhi organizations also showed the characteristics of
total quality approaches. Producers communicated with the users in their daily life. A store
located in a workshop was a common application for guild shops (Wolek 1999; Taskin, 2000).
There was no need for another market mediator between buyer and seller. Close relationship
with the customer over the product as mediator, could bring much more customer centered
design and development opportunities for the producer. Besides customers, a higher institution
was in control of work quality.. The Akhi management court was able to monitor the products of
members and ensure they were kept in line with standards. This court even took such decisions
as the founding of new shops or investments in the cluster.

Humans were understood as complete organisms not only as a workforce. Many authors
essentially underline the importance of education and knowledge transfer in Akhism. The goal of
the Akhi tradition of educating people was to make them producers / productive and useful for
the society; to increase morality, happiness, productivity of the middle class (Aktay &
Topçuoğlu, 2007). It is necessary to mention that Akhi education was not only for workers or
shop owners. It was available to those who accepted the rules of Akhi. Education was bonding
different clases in Akhism. The difference between masters and journeymen were great in
European guilds during the fifteenth and sixteenth centuries according to Lewis (1937),
however, in Islamic guilds master, journeyman and apprentice remained part of the same class
with close personal contact. These close relationships between workers of the network lead to
increased trust. Building trust and the culture of sharing comes from the fundamental rules of
Akhi organizations.

Akhis were not only artisan men there were women, as well. Less is known about the female
Akhi. However, the research undertaken since the early 1990s reveals the existence of an
organization known as the Bajiyan-i Rum (the Anatolian Sisters) dating back to the thirteenth
century (Aktay & Topçuoğlu, 2007). It was composed mainly of the wives, daughters, and
sisters of the Akhis, and these women worked with parallel social activities to achieve a good
society. The founder of the Bajiyan movement was Fatma Baji, the wife of Akhi Evran, the
founder of Akhism in Anatolia (Aktay & Topçuoğlu, 2007).
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Sishane as a Lighting Cluster

Sishane, a district located in a very central neighborhood on the European side of Istanbul, is
one of the most attractive tourist spots because of the Galata Tower and the historical heritage.
The region is famous for lighting shops and manufacturers however; the effect of tourism
changes the face of the district towards a passive marketplace. The lighting district is now just
next to these tourist spots, hostels, souvenir shops, restaurants and cafés. There are still
workshops, raw material shops and semi-finished product shops which are driving the lighting
production. Beside the lighting business there are small restaurants which almost only serve
craftsmen and business based shops such as bookkeepers, computer maintenance shops and
tea shops. All of this supportive business would be removed from the area in case it was to be
transformed into a passive tourism district.
Rosenfeld (2004) argues that the creative enterprise cluster consists of companies that take
their principal competitive advantage from a distinctive appearance, form, content, or sound that
they embed or embody in their products or services. The author claims that such clusters
include large numbers of micro-enterprises, freelancers, and design manufacturers. Sishane
has such assets and more supportive facilities which compromise a micro-cosmos for the
lighting business. In this paper, the Sishane lighting district is examined as a creative cluster
and the possibility of learning from the Akhi tradition, in regards to sustainability, is identified.

Learning From Akhism for a Sustainable Cluster in Sishane


Sishane still has the influence of Akhi culture in its roots. Relationships between shop owners,
masters and apprentices are similar. It is still possible to see a shop owner advising a customer
to buy from another shop if it is the beneficial for the customer. The relationship between
designers and craftsmen is another vital asset of the district. As different actors of
manufacturing and service producers share the same neighborhood, this micro-cosmos creates
a convenient environment for collaborations between craft workshops and for designers to be
innovative (Kaya & Yagiz, 2011).
Examining the region as a virtual company could be helpful to manage the relations between
producers, suppliers and end customers. However, because of the non-uniform structure of the
district where many shops do identical business and work as competitors, there is not a real
collaboration everywhere as described in the Akhi tradition. Thus, such a sustainable virtual
company should start with a lower number of members. The Made in Sishane project was about
discovering the chain of steps as a route in the district for building a finished product from raw
material. Such a chain could be the initial cell to spread sustainability by disturbing the whole
system.
An association of producers, similar to Akhi which is not connected to the state or other larger
organizations, could give the power of decision to the members of the cluster. This association
could use the financial practices of Akhism such as shared boxes and support for
entrepreneurs. A cooperative like structure could be a modern way to compromise the financial
abilities of Akhis.
Knowledge of the masters is invaluable in this business. Training of new masters is not
practiced as it was anymore. Thus, knowledge of craft manufacturing is in danger of
disappearing by death of the masters. Similar to Akhism, education, training and knowledge
transfer could be the main focus of the association. Contribution of universities, not only with
regards to design but also marketing, material, metallurgy, glass production etc. could be an
essential part of the innovation.
Akhism shows some characteristics of transparency and fair trade. Undecided customers were
introduced by Akhis to other shops in the group where more options were offered. An Akhi
explains the product without hiding its defects (Erginer, 2009). Such moral rules are still alive in
the Sishane district. Promoting these moral rules of business as ‘fair trade’ or products as
sustainable could increase the interest of customers who are more concerned with these issues.
Of course gaining sustainability needs much more concentration on the product lifecycle and its
effect on the environment. Such an association could learn the way of producing sustainable
products with cooperation of universities, NGO’s and other actors of the system.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Conclusion

Sustainability is not a simple process that can grow by linearity. Fundamental changes in our
production and consumption patterns might be necessary. Wallner’s island concept is a
promising approach to disturb the system by bottom up expansion. Wait (2000) claims that the
next economic continuum might sharpen traditional approaches. Humphery & Schmitz (2000)
underline the requirement of the incremental process and product upgrading for insertion of
local clusters in a global value chain.
Hence innovation and flexible manufacturing is the main weapon of local clusters to compete
against cheap mass manufacturers (Humphrey & Schmitz, 2000; Porter, 1998) focusing on the
factors that stimulate innovation would be useful to understand the possible lessons to be
learned for the Sishane district in terms of economical sustainability. Environmental
sustainability needs to be much more concentrated on products and manufacturing methods in
this case. Using the advantage of being a cluster, in Sishane micro-cosmos material and the
energy loop could be closed by the support of other actors. These could be generic proposals
which might be helpful for any other creative cluster. However, triggering the change and
supporting social sustainability is rather difficult.
In this paper Akhism has been discussed as a traditional organization model for clusters via its
possible effects. It is clear that this model was successful in the 13th century and cannot be
applied to modern economic life as it was. However, some key characteristics of Akhism still
survive in such crafts clusters as the one described . Using these survival elements and creating
a new, cooperative like organization model by an essential focus on sustainability could be a
trigger for bottom up transformation. Ehrenfeld and Gertler (1997) give a few examples for
industrial symbiosis from north Europe. It is possible to question the power of existing examples
to create a transition in the system. The whole system includes much more than crafts clusters.
It is not easy to predict the effects of such a movement on other sectors, such as raw material
shops. Another weakness of the proposition is the fact that Akhism was successful hundreds of
years ago, when economy was not global and much smaller. Economic limitations introduced
by Akhi regulations are also difficult to implement. But the recent failure of the Fair Trade
experience and other examples show that we need such kind of limitations. On the other hand,
customers are much more concerned with sustainability which is an advantage to introduce and
promote products of such a system. A Small and local production chain with global impact is the
key concept for change towards sustainability. Akhism, such as other traditional organization
models from different parts of the world, should be re-examined to understand their possible
positive effect on social sustainability.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Engaging Strategic Design to Undergraduate Design
Education; a case study in Sishane, Istanbul: sustainability
of networks for local developments
BAYRAKTAROGLU, Serkan; Ph.D Student; Lecturer; Kadir Has University Istanbul, Turkey

serkan.bayraktaroglu@khas.edu.tr

OZKAYNAK, Mine; Ph.D Student; Instructor; Kadir Has University Istanbul, Turkey

mine.ozkaynak@khas.edu.tr

Keywords: strategic design, sustainability, product-service system

This paper focuses on how “design” especially “strategic design” can generate awareness and extend
students’ way of thinking by delivering meaningful, permanent and innovative solutions in contrast to
traditional design education. It supports that strategic design provides not only the solution but also the
service-system, which enables to combine the capabilities and knowledge of the different groups like
students, designers, local and global players, non-profit partners and NGOs to reach the a better solution
for all stakeholders. The chosen case study is a project run by undergraduate design students during
strategic design course held by Lect. Serkan Bayraktaroglu and Inst. Mine Ozkaynak in Kadir Has
University, Istanbul. The project aims to introduce Turkish master craftspeople to contemporary designers
and consumers in the Istanbul district called Sishane, which is specialized in light and electricity from the
beginning of 20th century. Small scale manufacturing regions like Sishane within Istanbul are currently
threatened by a rapid clearance due to the consumption oriented tourism development. These regions,
with their rich and flexible manufacturing infrastructure, have the potential to realize unique design ideas
and to respond to the local design needs. If this potential is valued and developed, these regions can go
through an urban development process which evolves from their inner dynamics. The paper explains
strategic design, its interdisciplinary nature and possibilities for design education via this case study and
presents sample works of students who are from different design disciplines.

Introduction
Sustainability; as its nature requires, is always engaged with the systems approaching to
analyze problems. This wide concession of need for a more holistic perspective makes it
necessary to change the way we design things. Collaboration of different stakeholder groups is
a necessary step for a solution, which does not contradict with the notion of sustainable
development. On the other hand, we know that the solution is not a pure tangible product
anymore. Rather, it includes services and interfaces that satisfy the needs of all stakeholders;
as strategic design refers. In this paper we discussed our experience of adopting strategic
design perspective to undergraduate design students at Kadir Has University Istanbul, Turkey.
The paper starts with fundamental terms and concepts of sustainable design and strategic
design. Second part of the paper argues necessity of the shift from product design to systems
design and the third part briefly explains our experience of the “strategic design” lecture. Finally,
it concludes with the outcomes of the lecture and discusses the impact of this approach on the
perspective of the students.

Definitions of Sustainability
The term sustainability has an extending meaning. Today it is used in different areas having a
common sense, according to World Business Council for Sustainable Development the proper
definition for sustainability is: “Sustainability implies a system of production able to assure a
greater equity, quality of life and environmental well-being today and for the future generations.”
(WBCSD, 1999).
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
As we specify sustainability like sustainable design, sustainable architecture or sustainable
development the core of the meaning stays the same but the meaning in general acquire a
different character:
Sustainable design stands for a holistic creative process, which “seeks to translate and
embody global and regional socio-environmental concerns into products and services at a local
level. This necessarily demands a system view of design …” (Gertsakis, Lewis , 2001).
Sustainable development, which is considered the path to sustainability, is the simultaneous
pursuit of economic prosperity, environmental quality and social equity.
The meaning of “sustainability” or “sustainable development” has changed over the years. In the
past, the definition of “sustainable” has seen as virtually interchangeable with “green”,
“ecological” or “environmentally friendly”. Today, the term has assumed more socio-economic
connotations. It encompasses not only environmental issues, but also questions of social equity
and economic viability.

Economic development and sustainability


In the coming decades, companies will have to learn how to compete while decreasing the total
production and consumption of physical goods, and advanced societies will have to learn how
to compete while decreasing the total production and consumption of physical goods, and
advanced societies will have to learn how to live while relying on only 10% of the environmental
resources that are being used (per capita) today.
While primarily an environmental challenge, this is also a socio-cultural, economic and political
challenge. Indeed, to be eco-efficient merely by optimizing the level of industrial production
processes is, although a required change, insufficient to satisfy in a sustainable manner- the
‘needs’ and the ‘wants’ of 8 to 10 billion people in the years to come. Production and
consumption systems should give more attention to values, elementary human needs, product
and service functions and local conditions. Indeed, sustainability does not imply only an
environmental status. Sustainability is now broadly recognized as a comprehensive concept that
implies ‘a desire for greater equity, quality of life and environmental well being today and for
future generations’ (United Nations, 2002). It is, ultimately, a scheme to improve our habitat.
In this scheme, companies will be seen increasingly to play a crucial role: they can become
powerful engines of innovation able to provide solutions that enable people to live better while
consuming less environmental resources. In other words, they can offer alternative solutions
that are environmentally valuable as well as socially and economically attractive; solutions that
will be successful if new and more sustainable combinations of products and services are
recognized by users as offering a better approach to personal, social and environmental
problems than the existing ones (Rocchi, 2005).

Sustainability in the business market


‘Hard’ environmental and socio-economic factors (for example, material consumption, pollution,
population growth, diffusion of information and communication technologies (ICT), globalization
and inequity) are changing the competitive landscape for corporations. Sustainability is
becoming a new point of entry into the market for companies and brands that wish to be
competitive in the coming years. Many signs of this are emerging, and many forces are already
pushing corporations to behave in an ethical and responsible manner.
A few enterprises have already started to embrace sustainability as a framework for driving
growth, increasing shareholder value, heightening stakeholder satisfaction and protecting and
enhancing corporate brand reputation. Accordingly, they have started to look for new
approaches to innovation that go beyond ‘technology push’ or ‘market pull’ to address both.
Considering sustainability as a creative process of change, ‘sustainable enterprises’ are
increasingly shifting from the application of traditional eco-efficient practices, mainly focused on
reducing the risks of operating in the market, to the exploration of new patterns of production
and consumption that can open up new market opportunities. They are shifting from an
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approach based on ‘linear thinking’, focused on the generation of continuous incremental
improvements on an environmental and socio-economic level, to an approach based on ‘system
thinking’, aimed at the generation of radical new solutions.
In doing so, they are often breaking down traditional value chains- in which, usually, a single
company provides stand-alone products- and beginning to operate in partnerships for the co-
creation of sustainable product-services mixes that offer benefits and functionalities rather than
hardware.
“A form of new capitalism is emerging where environmental and social performance is
embedded in the competitive strategy of the firm. Unlike their predecessors, ‘sustainable
enterprises’ use business as an instrument of social development and. environmental
improvement- generating growth and profits in the process” (Hart, 2005).
In this perspective, sustainability has matured into a new idea of progress, one that integrates
economic prosperity, social equity and environmental protection as both inter-dependent and
mutually supportive elements of long-term development.

Eco-design and Sustainable Development


Traditional eco-design methods, which generate environmental incremental product’s
improvements by technical changes, are necessary but not sufficient instruments to stimulate
the creation of sustainable solutions. Companies exploring the path to develop sustainability-
based business propositions require different instruments. They require design methods able to
go beyond “eco-efficient” results towards environmental, and social-economic “effective” results.
The matter is not just to improve what already exist in the company’s product portfolio, but to re-
think the business offer by considering:

• a deep understanding of people’s values and needs in their local living conditions

• the possibility of creating the most appropriate market propositions together with
partners having complementary capabilities and expertise.

The overall goal is to develop a flexible and practical methodological design approach to
envisioning innovative product-service systems that are able to figure out economic value for
business, as well as environmental and social benefits for society (Rocchi, 2005).
The nature and the process of an environmentally conscious design culture are therefore
changing. From eco-design, as a product-oriented design process aimed to minimize the
environmental impact of the product along its material life-cycle, to design-for-sustainability: a
solution-oriented design process aimed stimulating technological change and social innovation
in the current system of production and consumption, in order to decrease the use of
environmental resources and enhance quality of life.

Sustainable innovation
The successful economic exploitation of new ideas regarding ways of production, marketing,
distribution, and above all use able to create personal meaning, social value, and environmental
quality (Rocchi, 2005).
Sustainable Innovation is a pattern of social learning and problem solving that is, itself,
sustainable, independent of the sustainability of its outcomes. The sustainability of outcomes,
however, is dependent upon the sustainability of innovation.
Sustainable innovation, then, is a necessary condition for sustainability in social patterns of
behavior and outcomes, such as how societies and organizations function, the ways they
organize, the energy and resources they use, the wastes they produce, and the products and
services they make.

To be sustainable, learning and innovation processes in societies and organizations must:


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1. enhance their ability to adapt and to conduct their affairs in sustainable ways.
2. be internally authentic, meaning that they must be consistent with the predisposition manner
in which people in societies and organizations self-organize around problem detection and
resolution when left to their own devices.
According to the criteria above, contemporary forms of innovation (not to mention Innovation
Management) in most societies and organizations are not sustainable. This prevents people
from learning effectively, from recognizing and solving their problems, and from operating in
sustainable ways. It is arguably why societies, businesses, and industries around the world are
so unsustainable, and why effecting change or reform within them is so difficult.

The contribution of design in the sustainable development


Design can play a key role in the creation of a sustainable future. Design can integrate
ecological requirements in the business creation process and go far beyond it. Acting as a
bridge between people, technology and business, design can facilitate the systematic
integration of economical, social and environmental parameters in the framework of new and
more sustainable patterns of production, marketing, distribution and use.
Design can become a powerful engine for suitable innovation. It can help business in generating
solutions able to stimulate new social behaviors (e.g. accessibility versus ownership, sharing
versus individual use, up-grad ability versus substitution) whilst still supporting economic
societal needs. In this way, it complies with the change that in the complex world is required
from design culture; from eco-design to sustainable design.
Sustainable design goes beyond the proposition of stand-alone products, towards the promotion
of a richer combination of products and services of a different nature (e.g. digital services,
infrastructural services etc.), which can stimulate different patterns of consumption (Philips
Design, 2005).

The mediation of design in creating solutions


Design, as an intrinsic part of the business value creation process, has to face the complexity of
today’s markets directly. It has to question ‘what’ to shape, in terms of tangible and intangible
aspects of a solution, and ‘how’ to do that, in terms of approaches, tools and kind of
competencies involved.
Originally introduced to compensate for the absence of art in the forms of industrially produced
products, design has long been “the mediator between the natural, artificial and commercial
worlds, concerning itself with the interdependencies of people, habitats, technologies and
commerce, while simultaneously exploring its own meaning, purpose and future.”(Kyffin, 2003)
Nevertheless, in people’s minds, this discipline has been often related to two simplified common
assumptions: it is a technical and engineering process that focuses on a product’s function; it is
a styling exercise needed only to choose colors and materials that make a product more
appealing to the eyes of customers. Time has changed, however. In the last decade, companies
have realized that design can help them create competitive propositions, and people have come
to appreciate that a well-designed solution can simplify their everyday activities.
It is particularly with regard to this last consideration that the design paradigm must today
respond to an economic model that supports the provision of converged and connected
solutions, combining products, services and content to suit individual and collective needs in
their specific socio-cultural contexts. Here the challenge is to find the right balance between
material and immaterial aspects, global standard technologies and local specific resources-
mobilized inside and outside a company- in order to create the facilitator of a value creation
process able to integrate the different competencies that cross a company’s boundaries.
Indeed, as stated more than once, competitive product-service systems can hardly be created
by a single business department / unit or one company in isolation: they require knowledge
sharing among different actors, as well as creativity and multidisciplinary skills from the
beginning of the research. Within this framework, the design activity is no longer an isolated and
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independent process- steered by a visionary design director- for the generation of ideas, but
rather a team effort nourished by researches, designers, engineers, marketers and strategists,
all of whom collaborate within the creative sessions. The stakeholders are not only all involved
but they are all also essential contributors to the creation process of the new solution.

Shifting from product design thinking to system design thinking


Aiming to create sustainable product-service systems requires moving from ‘product design
thinking’ to ‘system design thinking’, from downstream ‘as usual’ eco-design practices to up
stream activities able to integrate and translate a variety of inputs and information into a
competitive and sustainable value propositions. Viewed from this perspective, the design
paradigm changes; design cannot any longer be considered an activity reducible, for instance,
to a ‘make-up’ exercise related to the choice of materials and colors, or to the ‘engineering’
phase of a solution. Nor can it be considered an activity taking place in isolation from the
business value creation process. Design becomes instead an integral part of the business
innovation process, with a key role to play in envisioning effective answers for actual or future
demands by using information about society, technology and specific customers’ requirements
and expectations. Designers also become facilitators in a concept creation process involving
different stakeholders. Seen from this viewpoint, design activities are increasingly characterized
by the use of (Johnson, 2003):
-a holistic approach that combines different expertise and know-how at a very early stage of the
creative process
-a multidisciplinary team, including product and interaction designers, researchers, sociocultural
trends analysts, technology experts, marketing and business strategists
-a frame work able to steer the creative process towards triple bottom line results through the
use of design-related sustainability principles, criteria and tools
-an attitude to use and/ or re-use currently available products and infrastructures
‘enhancing sustainable innovation by design’
Aware that the path towards a more sustainable society requires a ‘de-materialization’ of our
production and consumption systems, new solutions can be researched within an emerging
knowledge and service economy (Andersen, 2000). Indeed, in many cases, what customers
really need today is not a physical ‘product’ but rather the ‘result’ that a tangible asset provides:
an answer to a specific demand. In other words, what we are seeing is a growing realization that
people do not value physical goods- or ownership of them- for their own sake. On the contrary,
the goods seem merely a means to an end, to satisfying a customer’s needs (Leadbeater,
2001).
From this perspective, corporations that were traditionally product-oriented have started to look
for new offer-systems ‘…revolutionizing product design to reflect the new emphasis on services
instead of thinking of products as fixed items with set features and a one-time sales value.’
(Rifkin, 2000)

Strategic and interdisciplinary design


As mentioned above international competition has increased the demands on product design
functions. Development teams are expected to create superior products faster and more
comprehensive than ever. Educational programs must respond to this need by training design
students who can develop initiative products as professionals. This article presents an approach
to experiential education in motivating design students to work effectively with team members,
to generate novel ideas, to improve their basic skills in marketing, analysis, process technology,
manufacturing management, organizational behavior and design.

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An Example: Kadir Has University and Undergraduate Design Programme–
Strategic Design Lecture
In the second half of the 2011 academic year, we have offered a course on strategic design in
the context of product design as system development. We were interested in combining the
different educational and research perspectives as manufacturing, technology and quality
improvement, manufacturing strategy, computer-aided design, and design theory to meet an
educational need.

Our challenges involved in this interdisciplinary course are to attract, excite, and motivate the
students to pursue their careers in design; to educate design professionals that understand both
the human and technical dimensions of product development; and to teach fundamental
material from several relevant, but diverse disciplines.

Interdisciplinary design students benefit from exposure to explicit instruction on teamwork,


group dynamics, and group problem solving. They also benefit from a diversity of backgrounds
and early opportunities for structured sharing of areas of expertise by members of the group.

The central message of this course is that strategic design requires: considering the
manufacturing issues early in the design process; collecting opinions and views from team
members representing various disciplines; evaluating the competition through benchmarking;
and continuous improvement through product and process changes.

Kadir Has University and Undergraduate Design Programme


Kadir Has University is private university founded, located very central in Istanbul the university
was found in 1997 while the Faculty of Fine Arts started courses in 2004. Faculty offers three
undergraduate design programs; Industrial Product Design, Interior Architecture and
Environmental Design, and Graphic Design. Beside design programs, also Theatre program
offers undergraduate lectures.

As instructors in Industrial Product Design Department and Environment and Interior


Architecture and Environmental Design we have started a new elective course, called Strategic
Design, during the spring semester of 2011. The goal was to attract students from three design
courses of the faculty for an initial step.

The purpose of the lecture was to enhance the student’s ability to draw up multilateral
suggested solutions and to take a strategic perspective of a business context. Exploring design
opportunities, working with problems and developing innovative design requires an
interdisciplinary approach with and methodology that holds the capability to bring different
competences together. The project has a workshop format with project relevant lectures through
out the workshop. The workshop combines a theoretical perspective on fieldwork with on
location exercises and student presentation.

Galata and “Made in Sishane”


Sishane is the name of a neighborhood close to Galata-Istanbul, where the Golden Horn meets
the Bosporus. History of Galata reaches 14th century as a Genoese neighborhood. History of
lighting business reaches 19th century where the region was the municipality of the Ottoman
Empire. 1859 was the date when first street lights appeared here. Beside this political and
geographical importance this very central heritage includes Galata tower which is a cultural and
hub and attraction point for tourism in Istanbul. It is possible to divide the neighborhood virtually
as eastern side includes much more artistic initiatives and western side is dominated with crafts
workshops (Kaya 2011). Sishane today is a small but extremely dense district specialized in
light and electricity In the region most master-craftspeople use simple machines for
manufacturing. Different workshops divide the work in case of a huge order. This production
network includes more than lighting manufacturers in this small area but also supportive
activities such as logistics, insurance, raw material shops and restaurants.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
The most vital feature of the zone is the vivid network between different stakeholders that
creates an industrial cosmos. This vivid network keeps old craftsmen survive. Especially the
empathic communication between craftsmen and designers are very important which is a dying
ability for most of the modern industrialized world (Kaya 2011). This ability brings a rich and
flexible production infrastructure, which have the potential to realize unique design ideas and to
respond to the local design needs.

However, recent years the neighborhood has witnessed a rapid change on its profile. Many
lighting manufacturer and craftsmen had to move out from the region, often far from center,
industrial zones. Local government proposes this change as a transformation to an art and
tourism heritage. Huge increase in the land prices and strict regulations of local government
about effects of manufacturing such as noise are forcing small manufacturers to move out.

Another serious problem is clearance of the craftsmanship knowledge, hand skills, where
newcomers are not interested in continuing the business. Ali Kirman, founder of the chambers
of chandelier manufacturers, claims in an interview that; “Manufacturing chandelier is an artistic
business, Armenians started it in 1930’s, but their children were not interested in continuing the
business. However, people immigrated from Anatolia appreciated the business and continued to
practice. Even though, we have the same situation now: insouciance about the proficiency”.
(http://www.ajanstabloid.com/haber.aspx?pid=29)

Made in Şişhane is a nonprofit long-term project that aims to meet Turkish master craftspeople
to contemporary designers and creating a better understanding of the networks. It was started
by Asli Kiyak Ingin in 2006 during the ‘Istanbul Design Week’ which took place between 12-17
September 2006, at the old Galata Bridge- An exhibition and a series of panel discussions were
done for the project. Since 2006, the project has attracted many national and international
designers, artists, academicians and media.

Idea of choosing Sishane as a case for strategic design lecture was a bit dubious since students
were accustomed studio based learning much more than problem based learning. On the other
hand sustainability and system design issues were also relatively new to them even though
some of them took the sustainability lecture before. Our background knowledge about the Made
in Sishane project, previous projects and personal connections with the masters and shops from
the region were main reason for choosing Sishane a case study.

During the first part of the lecture theoretical background of strategy, business strategy,
innovation, systems and sustainability, design and social change issues were discussed.
System maps, storyboards and SWOT analysis were explained. Discussions were shaped
around the successful and failed strategic design projects from all over the world.

Second part of the lecture was started with the explanation of the problem and analysis. History
and importance of the region, legal situation and ongoing social change on the surface
explained. Critical knowledge was the importance of the relationship between designers and
masters in the region which none of them aware of that before. After problem explanation they
were asked to analyze the situation to create a concept project that brings a positive impulse to
the actual situation as beneficial to craftsmen-designer relationship. Four project groups with
four members were formed that each group had at least two students from different department.

For the project, students were supported with a guideline and the map of the region to make
field research easier for them since they were not familiar to. Steps of the analyzing phase
include observing human behaviors, defining stakeholders, mapping locations, interviews etc.
During the second part, students had chance to meet Asli Ingin Kiyak and took a brief about
ongoing projects of Made in Sishane, visit several craft workshops, meet with people from
GalataPerform which is a association and stage for contemporary performance artists and
located in Galata.

Third phase was the concept development. Students were asked to design a concept to bring a
positive impact to the problem with all the stakeholders and to use tools such as system maps
and SWOT analysis for building this concept.
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Outcomes of the lecture
Four teams presented their works in a meeting to the audience that includes students,
academicians from different universities and people from made in Sishane project. Three of the
four project team focused on the visibility of the region as a possible way to take attention from
different stakeholders. Events, such as workshops, exhibitions, design competitions were tools
to reinforce the network of manufacturers and designers, and increase the opportunities for
creating more value for the region. Only one of the project was a product-service system which
aims to increase the density of the network with new stakeholders.

Galata Lantern - House lightings for streets


Project was done by Emirhan Dereli, Orhun Çağrı Tekeli and Arda Dalay. The idea was meeting
craft masters and product designers in a project to produce house lightings for one street of
Galata. The project uses touristic potential of the region to take attention on the products.
Goal was increasing visibility of workshops. The chosen street provides information about the
crafts master and designer with special signs and info boards. A website and mobile phone
application also proposed to take more attention.
This special street is the display of those lightings which people would be able to visit shops
and buy them in a size they want. Designing products-services to take attention of people
walking there or curiosity of people visiting close neighborhoods to visit this special street was
the main challenge of the project for success. However, the team was not really successful to
bring solutions for that.

On the other hand, this idea was well appreciated by GalataPerform, the performance platform
located in the neighborhood, since it fits very well to their next Galata Visibility Days theme:
theatre on streets. Designing a street with indoor lights and object was an interesting idea with a
combination of performance show that the theme of craftsmanship culture of the heritage.

Figure 1: Galata Lantern - House lightings for streets (Image from the presentation of project team: Galata Lantern)

Light the Galata Night : Design Competition for feeding the network
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Organizing a lighting design contest with a theme every year was the idea of the team which
members were from both design departments. Cansu Akbaylar, Mert Güler and Ece Sultan
Altun came with the concept of an international design contest and an exhibition which will be
held in a square in the neighborhood. Obligatory rules of the competition include working only
with the craftsmen living in the region and producing a prototype of the product to apply the
contest. The jury will choose the best products during the first day of the event where the
exhibition is located. This concept was criticized as a very robust idea as a system besides the
possible sponsors to run the project.

The magic of light : Confused minds


Mustafa Yalman, Buğra Kaçmaz and Ayşegül Ak have built the team most confused. The team;
mixed of industrial product designers and interior architects, had serious problems on focusing
on an idea and progress on it. Even though, they were very good at research and analysis
phase, bringing new concepts was their escape route when it comes to design details of an idea
and make it work. Their final concept was organizing an event which includes workshops that
lets visitors witness the collaborative work of designers and masters to finish a product. That is
a promising idea which values the process of manufacturing and brings more attention to the
collaboration however, it was lack of details.

Prototube : Bridging networks

The only product-service system proposal was presented by the team of Açelya Altıntaş, Veysel
Sever and Aydın Yenigün. They have created a do it yourself model which customer buys an
origami paper that guides him/her thorough a path in Sishane to build the product. Customer
visits workshops as it is defined on the guide and let the crafts master produce the necessary
part. Customer reaches the product by the end of the route, which is called “tube” by the project,
with a lot of experience about the region, workshops and more. Interesting part of the project is
the possibility of customer’s input in the product during the work of crafts master. By the end
customer would reach something probably similar to the picture presented in the origami paper
but completely unique because of his/her input in the process. Beside the guidance function,
origami paper itself is a designed object which could be kept as a souvenir.

Figure 2: Prototube : Bridging networks (Image from the presentation of project team: Prototube)

Conclusion
It was difficult to explain system design and the importance of strategy. Designing service
systems was always a neglected part of the product or interior design projects. Sustainability

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was also not that well understood beside the environmental effects. Design for social change is
completely a new idea.

Questionnaires and interviews also supports that their perspective about service design is
changed. Also as a more measurable improvement, tools such as system maps, SWOT
analysis or storyboards were an asset on their project based studio lectures.

The lecture was not that successful to attract students from other disciplines except interior
architecture and product designers. This should be improved for next semester. Different
perspectives are obviously important to change the concepts. Usage of space and product
together with service to shape an experience will open up new horizons.

A noteworthy thing among the teams -beside Orkun and Acelya‘s- was, they gave certain
importance to the space and used the advantages of the land and buildings. This was very
foreign for industrial product design students.

Meetings with Aslı Kıyak; as a product designer trying to make a social impact with her “Made in
Sishane” project is, that people from GalataPerform - a performance platform located in the
Sishane neighborhood - and especially crafts masters were essential to change their mind
during the project. Those meetings gave the possibility of linking new concepts to existing and
successful ones, which made them more applicable. Besides, they caught new ideas such as
how to combine performance and design together to create an experience.

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A Transitional Shelter Concept for Disaster Situations

DE FLAMINGH, François; Master Candidate; Cape Peninsula University of Technology

waspdesign@gmail.com

SANTOS, Aguinaldo dos; Ph.D; Federal University of Paraná.

asantos@ufpr.br

M'RITHAA, Mugendi, DR, Cape Peninsula University of Technology,


MugendiM@cput.ac.za

DAROS, Carolina, Master Candidate, Federal University of Parana,


carolinadaros@gmail.com

ROSA, Ivana Marques da, Master Candidate, Federal University of Parana


ivanamarquess@gmail.com

Keywords: design for sustainability; disaster situations; emergency shelter; emerging contexts.

Disaster management organizations in poor and emerging countries often lack shelter solutions to deal
with large amounts of displaced families. In the planning of such shelters, designers need to consider the
possibility that, although usually intended as a temporary solution, these structures may be used for long
periods, up to several years. In addition, the possibility of incorporating certain elements to enable the
initial temporary shelter to be converted into a proper permanent house needs to be explored.
This paper reports on a case study developed by the Design & Sustainability Research Center (NDS) at
the Federal University of Paraná (UFPR) and the Cape Peninsula University of Technology (CPUT) for
SerSustentável, a Brazilian architecture firm. In this case study the research team applied concepts and
principles of design for sustainability on the development of a revised concept for the existing Bossa Nova
shelter. The shelter is a pentagon-shaped “hut” mainly inspired by such structures as Buckminster Fuller’s
geodesic domes and consisting of a bamboo frame with lightweight textile cladding. The product design is
simple enough to be produced by local communities using low-tech manufacturing processes; it enables
agile transport due to its lightness and flat-pack characteristics; it can be assembled with minimum

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assistance by the occupants themselves and, finally, it can have its life span extended by enabling its
conversion into a proper house. This is an ongoing research project at NDS for SerSustentável and the
present paper reports on the results of the concept revision and the first mock-ups and prototypes.

1 Introduction

This study reports the use of the principles of design for sustainability on the development of
shelter for disaster situations. The UN Habitat (2010) report on shelter responses shows that in
2009 alone 335 major natural disasters occurred, killing over 10 000 people and affecting more
than 119 million people around the world. In addition the report shows that in the same year an
estimated 43.3 million people were displaced worldwide due to conflicts and persecutions.

In Brazil, a recent major natural disaster made it apparent that the country does not have the
infrastructure or proper risk management practices in place to deal with such situations.
In January 2011 an unusual cold front in the Rio de Janeiro region combined with a weather
system bringing humidity from the Amazon rainforest led to persistent heavy rain. The result
was one of the most deadly natural disasters ever experienced by the country as mudslides
caused by heavy rain in the region left more than 800 people dead and an estimated 6050
homeless. The lack of immediate solutions to deal with this catastrophe showed an urgent
demand for the provision of emergency shelters able to address such conditions.

The main phases of the response process to disaster situations are:


a) Pre-disaster preparedness
b) Emergency response
c) Recovery phase
d) Provision of durable solutions.

Ideally emergency shelters should be produced and made available in the first phase of the
response process, namely pre-disaster preparedness (ibid). The Stern Review on economic
implications of climate change emphasizes the need for disaster preparedness and emergency
planning to minimize the loss of lives in the event of a natural disaster as well as in the
aftermath (Stern, 2006). The availability of emergency shelters is just one component of such
preparedness for disaster situations. In fact, other strategies should also be considered in
addition to this approach. The UN Habitat (2010) report shows several strategies to deal with
the issue of shelter provision during disasters including the distribution of cash grants or building
material vouchers as well as other unconventional approaches. The report states that the
proven efficacy of such strategies has encouraged agencies to reconsider the general approach
of merely providing standard tents and tarpaulins as emergency relief solutions. Nevertheless,
the provision, distribution and implementation of ready-made emergency shelters by aid
organizations remain the most common approach adopted worldwide in humanitarian crisis
situations dealing with displaced populations.

2 Temporary and Transitional Disaster Relief Structures

In areas where natural disasters have struck or people have been displaced due to conflicts or
persecution, a very urgent need usually exists for immediate temporary housing to
accommodate the victim population while a more permanent solution is being conceived. There
are various types of “emergency shelter” solutions, ranging from the use of damaged houses, to
tents, temporary constructions, co-habitation with nearby relatives, requisitioned buildings
(public or private), camp sites near or away from the disaster-struck area and public buildings
like gymnasiums among others (Potangaroa, 2006). When referring to temporary emergency
shelters in this paper, it is based on the assumption that emergency shelters in general take the
form of tents, which is the most frequent case in wide spread flooding situations, earthquakes,
cyclones, tsunamis. In such situations victims often set up temporary shelters close to their
original homes (ibid).

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Designs incorporating textiles are naturally well suited for these types of structures because of
their excellent weight-to-coverage ratio, prefabrication and flat-pack shipping possibilities and
overall simple construction methods. A good example of temporary housing solutions
incorporating textiles around the world are the UN tent villages set up where natural disasters
have rendered substantial portions of local populations homeless. Large settlements consisting
of white UN tents have also become synonymous with refugee camps around the world and
demonstrate the tried and tested use of fabrics in temporary architecture (De Flamingh, 2011).

Although this solution can not by any stretch of the imagination be considered sustainable, it
does demonstrate the easy, rapid construction of textile-based structures to meet an immediate
need for shelter of those displaced in crisis situations. Having a quick, temporary solution to
such situations means that sufficient time can be spent on assessing the longer term needs of
the affected communities and incorporating appropriate strategies to transition from meeting
immediate needs to creating sustainable communities.

One of the biggest challenges with the implementation of temporary shelter structures, however,
is that communities need to be displaced a second time when a more permanent housing
solution has been established, usually through relief campaigns by NGOs or other aid
organizations. On a social level, because entire communities have been displaced and have
lost most of or all of their earthly possessions, the usual associations of temporary tent
structures can add additional trauma and social imbalance in an already potentially volatile
situation.

Another challenge is that temporary shelters designed to last for short periods often end up
housing families for a number of years. This results in makeshift communities where poor
sanitation and health, civil unrest and overall low social morale are common.

Since 1863 Red Cross have provided emergency shelters as part of their humanitarian aid
efforts (Berman, 2009). The cumulative learning from this process has enabled a better
understanding on the key aspects that should be considered when designing an emergency
shelter. These key aspects include:
● Geographical implementation: urban or rural (UN Habitat, 2010);
● Non-food item needs: household items or shelter materials (ibid);
● Product life in construction: transitional or permanent/core housing (ibid);
● Labor characteristics: community, contracted or do-it-yourself (ibid);
● Economic affordability (Ono & Schmidlin, 2011); and
● Life cycle implications of the selected processes and materials (UN Habitat, 2010).

Many of the case studies of the UN Habitat (2010) report include emergency shelter responses
aimed at bridging the gap between temporary shelter and durable/permanent housing, whilst
simultaneously reducing the occupants’ vulnerability to future disasters. Permanent housing
projects often take several years to complete, especially when implemented on a large scale.
This aspect of the general approach to provide long-lasting durable shelter often results in a
gap, with families ending up staying in the initial temporary emergency shelter for many years
while waiting on the completion of their permanent houses. Transitional responses aim to bridge
this gap.

3 Case Study on a Transitional Shelter: The Bossa Nova Instant House Project

In a response to the devastation caused by the massive earthquake that hit Haiti in January
2010, SerSustentavel, an architecture firm based in Curitiba, Brazil developed a bamboo-
framed shelter with textile wall cladding and a roof made from recycled plastic roof sheets as
part of their Bossa Nova Instant Housing Project. The main aim of this initiative, lead by
Brazilian architect Rebeca Paciornik Kuperstein, is to develop a versatile shelter which can be
erected on site in less than 4 hours, providing a comfortable, water and wind resistant habitat
that, if need be, can last for more than 15 years in its assembled state.

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The idea, however, is for the translucent textile walls to provide initial shelter against the
elements, and that the shelter occupants themselves will be able to gradually replace the
triangular textile cladding sections with bamboo-and-mortar or wattle-and-daub panels within the
existing bamboo frame structure, thereby steadily converting a temporary shelter into a
permanent low-cost home without having to dismantle and/or rebuild the entire structure.

The initial design and prototype has been well received by authorities and aid organizations
alike, both because of its ease of assembly and because it is a relatively inexpensive solution to
humanitarian crises of this kind. Besides these features, it is also developed with optimal
sustainability in mind. Materials are selected for their low environmental impact and low energy
consumption during manufacture and the physical housing structure forms part of a more
encompassing plan for social sustainability in the form of community rebuilding/revitalization
initiatives. Research is continuing on material alternatives that are even more eco-friendly
and/or that can be more economically produced in or shipped to the disaster-affected areas.

Although the shelter structure was primarily developed to address the housing crisis in Haiti, the
various design elements are continuously scrutinized, developed and refined for the structure to
become universally adaptable to serve as solution to other disaster-hit areas throughout the
world. Furthermore, the ability to transform from temporary shelter to permanent housing
structure makes it an ideal solution to address the critical need for low-income housing that
exists in developing countries like Brazil and South Africa. The developers of this product are
currently negotiating the construction of full-scale working prototype structures in Brazil as well
as South Africa in an attempt to test its feasibility in those areas as well as to propose an
alternative to current government housing schemes. Unlike the brick and mortar structures
currently built by large construction firms as part of massive federal contracts, with the Bossa
Nova Instant Housing Project, communities in need can actually do most of the assembly and
construction themselves, regardless of age, gender or conventional construction skills.

The main objective of the research conducted in April 2011 was to refine the existing Bossa
Nova Instant Housing Project based on the concepts and principles of Design for Sustainability.
Because of time and other resource limitations, the research was conducted for a one month
period only, meaning that the entire Bossa Nova system could not be fully analyzed. It was
therefore decided to focus exclusively on working towards delivering recommendations on
improvements of the technical specifications of the instant shelter phase of the initiative. Mainly
structural aspects were analyzed and solutions were searched for improving the current shelter
design.

4 Applying Principles of Design for Sustainability to Transitional Emergency Shelters

The guiding research problem informing this project was to respond to the needs relating to the
design of a sustainable temporary/transitional shelter structure. The catalyst for the project was
to assist people in emergency situations. A further proposition was to develop shelters that
adequately addressed specific design criteria whilst being cognizant of the need to ensure
environmental sustainability. The following key criteria on environmental sustainability were
employed:
• minimization of resources;
• optimization of the life cycle of materials; and
• selection of materials and processes with low environmental impact.

With regard to minimizing resource materials, the shelter design incorporates geodesic
principles to achieve maximum coverage with minimal material usage. In an effort to avoid
excessive dimensioning, the pentagon-shaped hut design made up of a series of triangular
planes, was developed. Also, the principle materials that make up the shelter (bamboo struts in
the frame and textiles for cladding) are light and thin, allowing the kit to be compact and easy to
transport. Finally, the packaging is incorporated into the product by converting the geotextile

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sheet that serves as a kit carrier bag into the pentagon-shaped groundsheet , providing both a
waterproof floor covering as well as a template for the placement of wall anchoring points.

As for optimizing the life cycle of materials, the textile panels used to cover the floor, walls and
roof in the emergency shelter are designed to be re-used in shelters for other disaster areas
when the initial shelter is converted into a low-cost house by replacing the textile panels with
wattle-and-daub earth walls, rigid recycled plastic roof sheets and a compacted earthen floor.
This conversion process is described in the section below on the Bossa Nova system.

In Brazil there are approximately 400 species of bamboo all sharing similar characteristics such
as durability (if treated, they can last for more than 25 years); and rapid growth (which means
that they can be replenished and is renewable). The fabrics complimenting this strategy are
mainly composed of natural fibers in regular woven textile or biopolymer configurations (such as
soy, cane sugar, cellulose, jute, and hemp). The re-use of readily available recyclable materials
such as Polyethylene terephthalate (PET) is also accommodated in the design.

5 The Bossa Nova System

The following section analyses how the Bossa Nova Instant House concept (shown in Figure 1)
serves as a prime example of a transitional shelter by the way in which the system of
manufacture, distribution and different phases of assembly and conversion from shelter to
house is constructed. It also shows where the principles of design for sustainability formed an
integral part in structuring the proposed system to allow for optimization of resources,
minimization of environmental impact and longevity in the implementation of the system.

Figure 1: The three phases of the Bossa Nova System

When looking at the Bossa Nova system, the shelter structure as product forms only a small, yet
undoubtedly significant component of it. The proposed system is divided into 3 different phases,

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namely manufacturing of kits, assembly of the emergency shelter, and conversion of the
emergency shelter into a permanent house.

6 Manufacturing of Kits in Brazil

Community projects in Brazil fabricating and assembling the Bossa Nova housing kits will be
putting together two different varieties; one to meet the need for immediate deployment of
emergency shelters in post-disaster areas (Kit 1) and another for meeting the longer term need
for low-income housing structures (Kit 2) in the reconstruction of the cities destroyed by the
natural disaster. Manufacturing of both kits will happen in Brazil, using locally sourced materials,
which includes the cultivation and harvesting of locally produced bamboo for the structural
frame. Initially, manufacturing of components for both kits will be undertaken by Guarda Viva, a
social upliftment project located in a low-income community in Sao Jose dos Pinhais, Parana.
Members will be receiving training on how to manufacture the various parts of the shelter and
assemble the kits to be ready for shipping to the disaster areas. Low-tech manufacturing
processes are specified in the design of the instant house in order to minimize energy
consumption and the need for specialized equipment acquisition and maintenance costs at the
manufacturing plant as well as to stimulate the need for semi-skilled paid employment by opting
for larger workforces and manual labor.

This phase addresses the principles of design for sustainability within Brazil, firstly by using
environmentally friendly materials (bamboo, eco-textiles, recycled/bio plastic composites),
secondly by obtaining all materials from local producers, and thirdly by structuring its
manufacturing process to address poverty alleviation, stimulate job creation and incorporate
skills development initiatives within communities where the unemployment rate is high.

7 Assembly of Emergency Shelters in Disaster-struck Area

Kit 1, consisting of a bamboo frame, universal strut connectors and pre-fabricated textile panels
for cladding the roof, walls and floor, will be shipped as a do-it-yourself solution for victims of
natural disasters in need of immediate shelter. The kits will be shipped from Brazil to the
disaster area using standard shipping containers. After arriving at the post-disaster area, aid
workers will collect the shipment of kits and transport it (via available local transport) to the
various distribution areas. Aid workers familiar with the product will demonstrate the assembly
process by convening victims in a specific area and constructing one temporary shelter.
Thereafter they will be distributing the kits to the heads of affected families for them to assemble
their own shelters in an area designated by the local authority. The assembly process is
extremely simple and have been specifically developed to be constructed using intuitive
construction practices as well as to eliminate the need for instructions manuals or any hand- or
power tools. Users will be able to construct the shelter even if they are not literate, skilled in
construction or familiar with the shelter design. The assembled shelter is designed to last for a
period of up to three years, although ideally, communities will start converting their temporary
shelters into permanent houses within less than a year. For the temporary emergency shelter to
be converted into a permanent, low-cost house, residents would use a combination of Kit 2,
which would be shipped from the manufacturing facility in Brazil in combination with locally
sourced materials such as soil and tree branches. Once the textile cladding panels on the roof,
walls and floor have been replaced, all of these panels can be reintroduced into kits destined for
relief efforts in other disaster areas.

Design for sustainability is in this phase put into practice by the minimizing of transportation cost
and energy in keeping kits as compact and light as possible, by using materials that would have
little if any negative impact on the site, by reusing all textile panels continuously until the end of
the material life, and by preserving the bamboo structure in the conversion from temporary
shelter to permanent house, thereby optimizing material use and extending their useful life. This

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final attribute not only means structural materials are being used optimally, it also means
families will not be displaced a second time as they would not need to move from the initial
shelter structure. The transition is gradual and does not necessitate the demolition of one
structure or the construction of another. In the case of Bossa Nova, the conversion process
simply entails replacing temporary cladding panels with permanent filling materials in a standard
bamboo frame.

8 Conversion into Low-income House (Post-disaster Reconstruction Área)

The temporary shelter structure (Kit 1) is designed to be converted into a permanent low-cost
house structure by combining components in Kit 2 and local materials that become more easily
available as the disaster area starts recuperating. The bamboo frame from Kit 1 remains the
structural framework of the house, although additional triangular panels can be added at this
stage to increase the size of the structure and/or divide the structure into separate rooms.
Multiple complete pentagon-shaped frames can also be joined together in order to create larger
dwellings. Kit 2 will be put together in Brazil according to the specific demands of the post-
disaster area, but the minimum it will contain will be enough tiles or sheets to replace the textile
roof with a permanent roof as well as elements for converting the floor into a waterproof,
permanent floor and elements like door and window systems.

The textile wall panels can be gradually replaced by reinforced earthen walls made by the
vernacular wattle-and-daub technique or even textile-reinforced concrete panels. Other
additions that can be included in Kit 2 are safety stoves, solar lighting units, solar water heaters,
kitchen and bathroom kits/wet-walls, solar ovens, wardrobe units, room dividers, do-it-yourself
(DIY) furniture kits and modular unit expansion kits. Before the conversion can begin, it must be
ensured that the unit is situated on a site suitable for its integration into the larger housing
scheme being implemented the area. Infrastructure, the provision of services to the house and
the planned reconstruction and rehabilitation of the community influence the positioning of
individual housing units and limit them to allocated sites, which is likely different to sites
previously allocated for the erection of temporary emergency shelters. The light weight of the
Bossa Nova shelter structure makes it relatively easy to partially disassemble and reassemble
in a matter of hours on a nearby site before the conversion commences.

As with the previous phases, ecological sustainability is being implemented in this phase in the
form of energy efficient manufacturing of materials, optimally efficient use of materials, and
using materials with little to no negative environmental impact on the site, either during use or at
the end of the product life. Economic sustainability can only be optimized if as many locally
produced materials and products are used as is possible under the circumstances.

9 Conclusion

Public companies need to plan their management and action strategies for emergency
situations. This is a complex system that should arguably begin with the design of the
emergency shelter as an important step. In so doing, the design intervention would serve the
needs of end-users quickly and easily. The design guidelines and related criteria discussed in
this paper present a possible solution for diverse contexts. Notwithstanding, it would be
necessary to perform rigorous tests to assess factors such as safety; durability of the structure;
resistance to weather (such as rain, sun, wind, and humidity); impact resistance; compression;
weight and other considerations that could potentially compromise the proposed shelter.

The team involved in the conceptualization of the shelter also incorporated pertinent criteria for
environmental sustainability to the design in order to meet the needs of minimizing negative
impact on available resources. Additionally, factors such as the extension of the life cycle of
materials, optimizing the life-cycle of shelters emergence, and selection of appropriate low-
impact resources were also taken into account. The resulting solution is applicable to other
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countries and contexts and the design can be readily adapted to utilize materials and
characteristic of their specific region(s).

Bibliography
BERMAN, D. Do good: how designers can change the world. Berkeley CA: New Rider,
2009.
DE FLAMINGH, F. The role of textiles in sustainable South African residential
architecture. Unpublished Masters Thesis. Cape Town: Cape Peninsula University of
Technology, Cape Town, 2011.
ONO, Y. & Schmidlin, T. Design and adoption of household tornado shelters for
Bangladesh. Natural Hazards, 56:321-330, 2011.
POTANGARO, R. Climate responsive design tools for emergency shelter. Geneva:
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http://www.humanitarianreform.org/humanitarianreform/Portals/1/cluster%20approach
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elter%20Designing%20for%20Various%20Climate%20(Draft).pdf
STERN, N. Stern Review on the Economics of Climate Change (pre-publication
edition). Executive Summary. London: HM Treasury, 2006.
UN Habitat. 2010. Shelter Projects 2009. Nairobi: UN Habitat.
www.disasterassessment.org (3 May 2011).

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Workshop Coopamare Lights: uma experiência didática em
design social e sustentabilidade (Workshop Coopamare
Lights: a teaching experience in social design and
sustainability)

SAKURAI, Tatiana; Mestre e Doutoranda; Universidade de São Paulo

tsakurai@usp.br

SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos Santos; Ph.D; Universidade de São Paulo

closchia@usp.br

palavras chave: sustentabilidade; projeto; ensino.

Este artigo relata o processo didático utilizado no workshop denominado Coopamare Lights, ocorrido em
2010 em São Paulo. Resultado de uma conjunção entre um designer finlandês sensível à intrincada
problemática dos catadores de material reciclável brasileiros, uma professora local com extenso
background no assunto, a sua equipe de pesquisadores, e alguns convidados, entre eles, alunos e
profissionais da área. Além de utilizar o design como uma plataforma de desenvolvimento de práticas e
experiências educacionais, o entendemos como uma poderosa ferramenta de comunicação e de inovação
social. Capaz de evidenciar a importância do trabalho dessa população, marcada pela invisibilidade
social, mas ciente do seu papel fundamental em um serviço público de proteção ambiental além da
geração de renda local. Consideramos os protótipos resultantes, a representação física da conquista de
um diálogo e aprendizado possível entre as partes envolvidas. Em última instância, são sementes
propagadoras de uma necessária e urgente consciência, cuja responsabilidade é coletiva.

Keywords: sustainability; design; education.

This article describes the education process of the workshop Coopamare Lights held in 2010 in São Paulo.
This was the result of a joint effort between a Finnish designer sensitive to the intricate problem of
scavengers of recyclable materials in Brazil, a local teacher with extensive background in the subject, her
research team, and a select group of students and professionals who work in this field. In addition to using
design as a platform for developing practical solutions and educational experiences, we see this as a
powerful tool of communication and social innovation. This article demonstrates the importance of the work
of this population, which is marked by social invisibility, by acknowledging its fundamental role as a public
service in protecting the environment as well as generating local income. We consider the resulting
prototypes to be physical representations of the achievement of a dialogue among participants and an
opportunity to learn from one another. As a final result, these steps become seeds that spread a necessary
and urgent consciousness with a collective responsibility.

1 Sowing the Seeds

How can the concept of sustainability be transmitted to young students of architecture and
design from the perspective of social responsibility? And more specifically, "How can design
education help illuminate issues of homelessness and the status of recyclable material
collectors?"
These apparently separate and distinct questions have been proposed by professor Maria
Cecília Loschiavo dos Santos and discussed in scientific events throughout the world. They

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have also preoccupied the Finnish designer Ilkka Suppanen, who is recognized for his
excellence in design and architecture, and brought him to Brazil.
The link between these issues can be found in involvement with COOPAMARE - Recyclable
Material Collectors Cooperative (http://www.coopamare.org.br), founded in 1989 in São Paulo,
and managed by the waste collectors themselves, independent professionals and associates.
Considered one of the most organized cooperatives in the country, and with important
institutional partners, COOPAMARE provides training and is responsible for important advances
in the social and economic esteem of the recycling collectors. For example, o Projeto Moradia
(the Housing Project), provides the right to a paid retirement and the Recycling Collectors
National Meeting. COOPAMARE also has close ties to the homeless, either directly or through
supporting programs like the Workshop School and the Community Library of Carolina Maria de
Jesus.
Despite these achievements, there have been many times in which the Cooperative came close
to closing. The organization is extremely vulnerable, burdened by prejudice, by ignorance of its
function and by changes in government administration, and therefore it has recurrent
confrontations with public authorities, in addition to the problems of the high cost of maintaining
machinery and dealing with the seasonal fluctuations in the raw materials market. As is said of
local communities, empowerment is key to a financially and emotionally healthy community’
(McQuaid, M. 2010).
The undergraduate course AUP0479 Design for Sustainability (aup479.jimdo.com), presented
by professor Santos, has been one of the Cooperative’s partners in education since 2003. The
instrument of intervention is design. Many of the projects seek to promote social visibility, and to
achieve a dialogue between the recycling collectors and the surrounding inhabitants which have
been historically opposed the installation of the Cooperative in the region. Others reconsider the
management of solid waste by using it in new products.

With the experience gained in this course and the unity of interests between the designer, the
teacher, the Cooperative and the students, a workshop entitled Coopamare Lights has been
created. The first question that emerged in this was: how can design bridge barriers of culture,
language, social position and knowledge to allow for an inclusive and non-invasive intervention?

2 Cultivating

The workshop was conducted in an intensive program on March 17, 2010, and organized in
various phases described below. The group consisted of 24 participants, including design and
architecture students, undergraduate and graduate students, and also former students of the
AUP0479 course and young professionals.

Introduction
In conversation, the designer Ilkka Suppanen spoke about his understanding of the issue of
sustainability, which he illustrated with the process of developing some of his products. We
chose not to make a formal presentation of his career in order to maintain the focus of
discussion, and to avoid influencing the final results of the exercise. The conversation was
translated from English to Portuguese by some of the participants in order to include the
Cooperative participant.
A discussion of social issues, the importance of recycling collectors in urban areas and the
problems that are facing the Cooperative was presented by professor Santos. Students raised
issues such as: the differences between the Brazilian and European contexts; how the
collection, separation and sale of materials works; seasonality and aggregate value; and
difficulties and needs identified by the Cooperative.
An important point to mention is that the recycling collectors have a positive outlook on recycled
materials, while the majority of the population does not. What for the collectors is solid waste
with commercial value, society in general calls junk and worthless debris to be discarded. Thus,
there was an understanding that these designs could be important communication tools, making

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visible in a positive way a process that is marked by rejection, of both the material and of the
population that is responsible for its collection and disposal.
‘The issue of respect is at the heart of ecoeffective design, and although it is a difficult quality to
quantify, it is manifested on a number of different levels, some of which may be readily apparent to the
designer in search of material: respect for those who make the product, for the communities near
where it is made, for those who handle and transport it, and ultimately for the costumer’. (Mcdonough,
W.; Braungart, M., 2009)

Launching the exercise


The workshop was set up to include students from different stages in their studies, and in a way
that the design process could be executed in its entirety, even if briefly. The description of the
ultimate goal was, "make a 1:1 prototype of a standing lamp with the intended materials which is
intelligent, clever, beautiful, authentic and communicative.”
The pre-established criteria were: materials can only be obtained from the Cooperative (except
electrical equipment; the use of LED technology or fiber optics as the light source was
suggested); materials that the Cooperative normally deals with (paper, cardboard , plastic,
metals, etc.) would be preferred; execution of the designs would not use or require specific
tools; designs would use the "plug-in" concept of joining materials; technical and electrical
components would be presented in sketches; the typology should be self-supporting, scalable,
easily transportable and durable.

Figures 1, 2 and 3: Research, selection and transport of materials

Development of the initial ideas


To begin, participants were encouraged to explore the collected material and record ideas in
sketches, from concept to technical solutions. Questions and feedback could be asked directly
of the visiting designer in a non-hierarchical setting.
Figures 4, 5 and 6: Collective work environment and progress evaluation

Initial Evaluation and Development


This was an important moment for the orientation of concepts and project progress. Each
participant displayed his or her idea in one or more presentation sketches, in addition to the
material selected in the previous phase. In the case that more than one idea was submitted by a
group, the design with the greater potential would be selected for further development.
Suppanen’s feedback was always given with a sense of simplifying the solutions, and making
the projects more cohesive and communicative. In many cases, the technical solution required

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to realize the final prototype was improved in a collaborative way. The next step was to adjust
the design as necessary and begin construction of the physical prototype.

Figures 7, 8 and 9: Presentations and collective discussion


Figure 14: Construction of the prototypes

Presentation
Presentations were given by each of the groups, and emphasis was given to aspects of the
process: difficulties encountered, solutions, technical proposals and future potential. The
participation of two representatives of the Cooperative was fundamental to the expression of
their vision regarding the contribution of the projects to social visibility, the use of materials that
they deal with daily, and the benefits that initiatives such as these bring to the community. This
featured the contribution of Dulcinea, a recycling collector who participates each year and
actively promotes the course.
Figures 10 and 11: Presentation of a series of lamps made with X-ray film
Figure 12: Participation of the two Cooperative memebers in the prototype discussion

3 Propagating

The students and visiting designer were deeply involved in this process, united not only by
environmental responsibility, but also by awareness of the social problems associated with the
collection and disposal of solid waste. In this regard design can be a powerful tool, for both
communication in the educational sphere, and as an instrument of social innovation and
inclusion for an excluded population. This design can only be authentic and truly responsible
when this excluded population is included in the process. Through their exchange of
experiences and evaluation of the final product they can have the sense of belonging, and not
exploitation. As pointed out by Papanek, V. (2006), in his book Design for the Real World, "the
more durable kind of design thinking entails seeing the product (or tool, or transportation device,
or building, or city) as a meaningful link between man and the environment, and as a way of
thinking and planning in a nonlinear, simultaneous, integrated and comprehensible whole."
In addition to the prototypes, bilingual reports were produced by the participants themselves,
including photographic and video documentation, and website posts:

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(http://www.flickr.com/photos / 19832735 @ N00/sets/72157623652033616/with/4445239137)
Students gave the copyrights to the Workshop School.
At the conclusion of the event, challenges to the future development of other projects were
identified: how to approach this fragile population in an ethical manner and without exploitation;
the lack of available technology; and the seasonal flux of materials. These points are rarely
touched on by schools of design and architecture in the country. As it was put by Bonsiepe, G.
(2011): ‘design requires that fundamentals only will be discovered by systematic research and
experimentation’. Thus, we believe that this is possible even by means of small seeds of
inspiration such as this workshop.
Figures 13 to 15: This pair of students chose X-ray film to explore different types of light fixtures. This material has
residues that hinder waste recycling, which justifies its use without re-processing. The adaptations were made with the
material itself by means of simple cuts. The shadows it casts are interesting and unique as each film has its own image.

Figures 16 to 18: The challenge in this project was to identify objects that have different compositions and dimensions
that can be "plugged" into one another. The designer chose an aluminum milk can and a plastic liquid cleanser
container. Intensity can be controlled through sliding the plastic tube inside the aluminum can. The movable tube also
works as a diffuser.

Acknowledgements
We would like to thank the Finnish designer Ilkka Suppanen for organizing the workshop with us
and for his indispensable participation in this event; the University of São Paulo for support;
COOPAMARE; and the students who embraced this initiative and made it possible.

References
Academic journal articles/book excerpts
Bonsiepe, G. (2011). Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, pp. 228.
Mcdonough, W., Braungart, M. (2009). Cradle to Cradle: remaking the way we make things.
London: Vintage Books, 2009, pp. 172.
McQuaid, M. (2010). Community. In: Lupton, E., McCarty, C., McQuaida, M., Smith, C. Why
Design Now? National Design Triennal. New York: Cooper-Hewitt, National Design Museum
and Smithsonian Institution, pp. 51.
Papanek, V. (2006). Design for the real world: human ecology and social change. London:
Thames & Hudson, pp. 293.
Santos, M. C. L.; Ono, M. M. (2001). Eco-design or Ego-design? The responsibility of design
education in shaping the next generation of products for societies. In: International
Conference on Engineering Design ICED 01 Procedures. Glasgow, Escócia : ICED, pp. 269-

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
275.
Santos, M. C. L.; (2008). Consumo, descarte, catação e reciclagem: notas sobre design e
multiculturalismo. In: Estudo Avançado em Design, v.1, pp. 60-67.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Sustainable small-town suburbia: vision and viability

SMITH, Carl; Ph.D; University of Arkansas, USA;

cas002@uark.edu

Keywords: sustainable housing; multi-disciplinary design; compact development.

During the summer of 2010, the author led a multi-disciplinary studio where students of landscape
architecture, architecture, interior design and environmental sciences collaborated on an eight-acre infill
housing project for suburban Fayetteville, in Northwest Arkansas. The students created a plan that
emphasized clustering homes around communal green spaces and the conservation of natural features
such as existing trees and a stream-corridor. This paper contextualizes the students’ vision within a
literature suggesting their approach can have significant sustainability benefits. However, one of the key
characteristics of the proposals was its relatively high net unit-density; six units per net-acre compared with
the locally predominant density of just 2.4 units per acre. Although Northwest Arkansas is one of the
fastest growing regions in the US, and the established pattern of suburban sprawl is being increasingly
questioned by policy makers, the author’s own research and the evidence of local contentious and
unsuccessful development applications, suggests that Fayetteville’s citizenry can be wary of increased
unit-density. However, the literature would suggest that the students’ vision could offer a viable way
forwards, with high building articulation, recognizably house-like buildings and views of natural features all
serving to mitigate perceived density. Crucially, such a vision requires multi-disciplinary effort.

Housing as if the future mattered

In summer 2010, the author led an interdisciplinary course on sustainable housing design
Housing as if the Future Mattered at the University of Arkansas in Fayetteville, in Northwest
Arkansas, USA. The course had an open enrollment, and attracted five students from the
disciplines of architecture, landscape architecture, interior design and crop, soil and
environmental sciences. The class spent six weeks considering housing design options for an
8-acre in-fill parcel of land in the suburbs of south Fayetteville. The brief for the design was
partly mandated by the Executive Director of a local not-for-profit organization, Partners for
Better Housing, who own the land and are attempting to construct 40 to 50 much needed
affordable homes on the site. The students were conscious of providing a viable design that
was capable of realization, or at the very least one that could provide key ideas to be woven into
the site designers’ proposals. The design process began with a thorough analysis that
synergized the physical and cultural aspects of the site into a design program. Amongst other
things the students determined the flood zone, examined the soil to determine the load capacity
for buildings, and assessed the habitat value of existing vegetation on the site. The student
team then progressed through concept testing until a final layout was selected for refinement
and development. In summary the final design (shown as Figure 1) had a strong ecological
theme where vegetation and a stream corridor were sensitively integrated into the design, and
housing was clustered in small groups around semi-private communal spaces. In addition, the
houses each had access to their own private space and public amenities such as an orchard, a
community building and home-harvesting areas.
The class was purposely developed as a multi-disciplinary collaboration that would help
develop the students’ inter-personal skills, and emphasize the need for cross-pollination in
sustainable design. The student from crop, soil and environmental sciences brought green-roof
design and environmental engineering ideas to the project. The landscape architecture student
largely determined how the site was laid out and the housing arranged. The two architecture
students and the interior design student considered the program and design of the site’s
buildings; the community center and the 48 houses themselves. Most of the homes were
designed in clusters of three in an attempt to make heating and cooling more efficient and
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improve efficiencies in the use of construction materials. The architectural program was also
intended to allow flexibility; the open layout of the living areas created flexible rooms that could
be further divided with walls if needed. As explained by one of the architecture students ‘Ideally,
you’d be able to change your house as your family grew or shrank.’ Rather than deal with the
site as a table rasa, the students chose to work with the existing conditions of the site, including
keeping many of the oak, hickory and cedar trees, while adding evergreens to block the
northern wind, and preserving the creak that runs through the site instead of rerouting it, giving
the clustered homes views of the stream corridor. This was the first time the students had
worked collaboratively between disciplines, discovering that each had similar design sensibilities
and priorities.

Figure 1: The site masterplan largely characterized by clustered houses arranged around communal gardens

The response to the proposal was positive; the Executive Director of Partners for Better
Housing stating:
This was an initial design effort by a highly qualified group… there are some ideas in there that will be
used as we finalize our design for the site through our engineer. A tremendous aspect was the use of
community gardens of sufficient size and number to accommodate everyone who would be in a house.

Vision: system and habitat

A sustainable residential development is a system where resources are conserved and waste
and pollution minimized. Resources include physical materials (for example, minerals and
water), cultural and ecological assets (habitat and landscape quality) and less tangible
resources such as energy and chemical nutrients. Secondly, a sustainable residential
development is, at the same time, a habitat that nurtures a site’s ecological function and the
well-being of the residents. Inevitably there are areas of overlap between them; as pointed out
by Barton et al. (1995: 14) ‘Social and environmental goals are often mutually reinforcing.’ This
section contextualizes some of the students’ principal design concepts through a précis of the
relevant literature. The review suggests that the students’ vision would have a number of
important attributes as both an efficient system and a healthy habitat. This section also
provides an introduction to non-specialists on the importance of landscape architecture in
achieving sustainable residential development.

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Communal gardens
It is accepted that communal spaces are unlikely to provide the sense of personal control and
self-expression available in private gardens (Dunnett & Qasim 2002). Live to this, each unit in
the students’ design was provided with a private outdoor space. On the other hand, shared
spaces can accommodate activities that help housing developments achieve greater
environmental and social sustainability, for example recycling and safe children’s play (Dunnett
& Qasim 2002; Hopkins 2000; Barton et al. 1995) and facilitating social interaction between
residents (Williams 2005; Frith & Harrison 2004; Gilchrist 2000). Joongsub & Kaplan (2004)
compared two contrasting neighborhoods in Maryland, USA and found that the residents with
doorstep communal spaces felt a greater sense of community. In another study of contrasting
neighbourhoods in California, Williams (2005) found that communal spaces which
accommodate diverse uses and enjoy good surveillance, experience more social interaction and
children’s play than large homogenous spaces with poor surveillance. Further, the study found
that residents’ ability to simply see and hear neighbors in shared spaces near their home can
strengthen their sense of community (ibid). These findings echo the guidance provided by
Quayle & Driessen van der Lieck (1997): residential communal spaces that are overlooked; are
small and clearly associated with adjacent housing; and are richly designed to provide for a
range of activities, are preferred by residents and are more likely to foster community sentiment.

Figure 2: One of the design’s communal spaces; enclosed, overlooked and furnished with substantial tree planting

The students’ design carefully arranged the housing units so that each cluster was readily
associated with a communal garden facilitating a sense of territoriality, informal supervision and
enclosure within the space. The spaces were designed to showcase the existing stream and
riparian vegetation, and/or significant new tree planting. Tree cover in residential spaces is
important, as it conveys a great number of social and community benefits. Taylor et al. (1998)
in their study of an American residential area, showed increased tree cover within shared
spaces to be associated with increases in the creativity of children’s play and increased access
to an adult (defined as an adult being within view). In summarizing the benefits of residential
tree cover Smardon (1988) noted, not only increased opportunities for play, but also pleasant
noises such as creaking branches and birdsong; helping the formation of cognitive mental
maps; and the symbolic presence of nature. In short, trees are strongly valued in American
residential developments for their social and psychological, as well as their functional and
ecological attributes (Hitchmough & Bonugli 1997). These additional benefits are returned to
later in this section.

Home-harvesting
The environmental impact of the food industry is highly significant; modern agriculture has had a
devastating effect on global ecologies, and each phase of food production and transportation
consumes considerable amounts of fossil fuel (Hopkins 2000). Further, as agriculture has
become progressively industrialized, food production has increased while agricultural
employment has fallen (Rassmussen & Stanton 1993). As American farms have grown and

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become more specialized in crop output for efficiency’s sake, they have become increasing
vulnerable to pests and a reliance on pesticides. Ironically, the insect species classified as
pests doubled from 1962 to 1978, setting in motion a vicious trend of increasing pesticide use
and environmental deterioration (Thompson 1995). Though innovations in agriculture have
made food more affordable, the USA has suffered from diminished food quality, elimination of
family-owned farms, and damaged local ecologies (both social and environmental). Home-
harvesting provides an alternative route for people to access to fresh produce, and local food
production is an essential part of a sustainable living environment (Hopkins 2000; Barton et al.
1995). On the Fayetteville site, the students incorporated two plots for home-harvesting – large
enough to provide each home on the site with significant space to grow their own fresh produce.
Further benefits of home-harvesting include opportunities for composting organic waste, an
activity that vastly reduces the amount of rubbish produced by households (Hopkins 2000), and
the generation of well-being associated with direct contact with the landscape (Boyes-
McLauchlan 1990).

Figure 3: In addition to gardens and semi-private shared spaces, the students incorporated two home-harvesting
‘allotment’ areas for the residents to raise their own crops.

Biodiversity
The variety of living species on Earth is a key global resource (Williams & Cary 2002; Jensen
et al. 2000). Conservation of this biological diversity or ‘biodiversity’ is essential to the
achievement of sustainability, and the Convention of Biological Diversity was a key part of the
1992 Rio Earth Summit (Qasim 1997). It has been suggested that the preservation of
‘everyday’ types of habitat is the key to true nature conservation (Barton et al. 1995) and the
basis for national, and in turn, global biodiversity (Grant 2000). An example of ‘everyday
biodiversity’ is the planting provided by residents, which supports a great-deal of invertebrate
biodiversity (Thompson 2004; Thornton-Wood 2002; Owen 1991). Furthermore, Dunnett
(2004a), Dunnett & Hitchmough (2004) and Hitchmough et al. (2004) have suggested that
urban biodiversity generally is driven by variety in planting, in terms of the species, ages and
layers that are present. Thompson (2004) has identified that tree canopy layers are especially
important in this regard. This reinforces the students’ decision to retain as much ‘old’ existing
vegetation as possible on their design-site, while adding new species – particularly through tree
planting – as well as their inclusion of the home-harvesting and private garden areas where
residents could add their own planting to the mosaic of habitats. This combination of
conservation and enhancement reflects the three-stage protocol for maximizing site habitat as
proposed by Dunnett & Clayden (2000):
 Identify and plan for what already exists; a fundamental objective should be the enrichment
of existing ecological capital.
 Restore existing habitats which may be degraded.

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 Identify future potential. Create new habitats where land offers potential opportunities.
Restore (and create) appropriate connections between habitats.
As well as the retention of ecological capital, the prioritization of preserving existing
vegetation makes good sense in terms of resource conservation; it reduces the need to bring
new plant material with its attendant embodied energy and resources onto a development site.
By considering the ongoing health of different, adjacent habitats on their design-site – the
stream corridor, grasslands and mature wooded areas – the students sought to preserve
transitional ‘ecotones’ that are especially diverse and of high value for wildlife (Gilbert &
Anderson 1998; Dunnett 1995; Ruff 1982).
In towns and cities, the isolation of natural habitats and their resulting vulnerability to
degradation can be addressed through providing habitat connectivity in the form of ‘wildlife
corridors’ (Dramstad et al. 1996; Spellerberg & Gaywood 1993). Connectivity between
vegetation patches within and around a site is a key principle of landscape ecology and
ecological design (Dunnett & Clayden 2000). Though much of the research on habitat
connectivity has focused on biodiversity on a regional scale (for example see Pirnat 2004)
several authors have reported on the importance of connectivity at the smaller scale, and the
use of fine-scale connecting features such as lines of trees, fences and hedgerows (Dramstad
et al. 1996; Barton et al. 1995; Johnston & Newton 1993; Goldstein et al. 1983). Fine linear
features may also provide an additional habitat resource in their own right (Spellerberg &
Gaywood 1993). Connected, linear wildlife features were preserved and created in the
students’ plan through protection of the stream corridor, tree conservation and planting and
hedgerow boundary treatments.

Operational energy

As well as fueling biodiversity, retained and proposed vegetation on a site will provide a number
of other benefits such as intercepting rainfall and reducing site runoff (Whitford et al. 2001) and
reducing the operational energy required by homes for heating and cooling. Landscape design
around buildings can reduce their operational energy and CO2 by modifying incident wind and
solar radiation (Brown & Gillespie 1995) and there is greatest potential for savings in relatively
small buildings with a large surface area to volume ratio (BRE 1990) such as the homes
included in the students’ proposals.
In the winter the interior temperature of a house is likely to be higher than outside. This can
lead to heat being conducted to the external skin of the home, where it is then removed by
external air convection. The colder and/or faster the wind against the house, the more effective
this process (Brown & Gillespie 1995). Landscape design which slows northerly, winter winds
around the home can therefore reduce heat loss. Although wind speeds tend to be slower in
built up areas, due to the ‘surface roughness’ of the ground (Dodd 1989) such wind will also
tend to be more turbulent and will still have a high capacity to carry heat away from a building
(Brown & Gillespie 1995). Landscape boundaries and individual trees and shrubs contribute to
the surface roughness of housing areas and help reduce wind speeds (Beazley 1991), while
British studies also suggest that vegetation decrease the turbulence of the wind between
buildings (Cambridge University 2001).
Microclimatic landscape design may also introduce strategic elements into housing which do
more than contribute to surface roughness; major windbreaks significantly deflect the flow of air,
and can be used to protect the edges of a development or can be located at regular intervals
throughout a scheme. On reaching a windbreak, the air is forced over and around, creating a
lee where there is less air passing at any given moment, perceived as reduced wind speed. If
the windbreak is permeable then some air will pass through and the reduction in wind speed in
the lee is less dramatic, but will be more extensive (Brown & Gillespie 1995). It has been
suggested that the optimum permeability for windbreaks is 40 – 50% void space (Barton et al.
1995; Beazley 1991; Dodd 1989). Although it has been reported that the effect of a windbreak
can be experienced at a distance up to 20 times the feature’s height (Beazley 1991) the most
effective zone in terms of sheltering a home has been suggested as around 7 times the height
of a shelter belt (Barton et al. 1995.; Brown & Gillespie 1995; Starbuck 2000; Welch 2003).
In summer the desired interior temperature and that outside are closer than they are in

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winter. As a result convection of heat away from the home does not occur to any degree
(Brown & Gillespie 1995). However, high levels of incident solar radiation can be transmitted
directly through windows, and cause a temperature gradient through the walls and roof into the
house (ibid). Appropriately selected and located deciduous trees can provide welcome shade
whilst providing for solar access in the winter. Openly spaced plantings, or single specimens
with high bare branch transparency and/or long defoliation times (i.e. species which drop their
leaves early and do not re-foliate to relatively late the following year) will be most suitable (ibid).
In their proposals, the students carefully juxtaposed the houses and new plantings within a
framework of existing vegetation to maximize shelter from cold northerly winds and balance
appropriate southern solar access and shade. They also used an attached, energy-efficient,
housing typology and greenroofs that provide additional insulation from the wind and sun
(Armstrong et al. 2000; Thompson & Sorvig 2000; Johnston & Newton 1993). According to
Brown & Gillespie (1995) the energy consumed in heating a typical temperate house (such as in
Northwest Arkansas) can be reduced by 15% through the use of windbreaks alone. The U.S
Federal Government advises that, on average, annual domestic energy savings of 25% can be
made through wind and solar shelter provided by landscape features (U.S. Dept. of Energy
1995) and the importance of this to providing affordable housing – the focus of the development
being discussed here – should not be overlooked.

Figure 4: Through the use of attached buildings, greenroofs, and evergreen and deciduous vegetation (both proposed
and conserved), the students’ proposal looked to minimize operational energy costs

Viability: density NIMBY-ism in a progressive community

The students’ proposal for the site had a number of sustainable innovations – both in terms of
creating an efficient system and a healthy habitat. One of their principal design themes, the
clustering of houses, is a recognized device to preserve local greenspace (Kearney 2006).
Further site benefits accrue through this clustering approach; the aforementioned efficiency in
building materials and increased energy efficiency through shared walls and a concomitant
reduction in exposed external walls. By clustering the homes, the net unit-density was higher
than that ordinarily experienced in American suburbs; certainly in Northwest Arkansas. This
section puts the case for the students’ proposal in terms of densification, before moving on to
explain some of the challenges to compaction in Fayetteville’s suburbs. It closes with a brief
overview of literature that suggests the students’ approach may help mitigate concerns with
residential density.

The case for compaction

Fayetteville’s newer suburbs tend to be built to less than 2.5 units per acre, while the historic
residential areas are around 5 units in the acre (Dover Kohl & Partners & City of Fayetteville,
2006). The students’ proposal has a density of just over 6 units per acre – around twice that
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currently built in the neighborhood (see Figure 5). This proposed jump in density is both
permitted by Fayetteville’s current zoning (the area allows unit densities of up to 18 units per
acre) and encouraged in the City’s comprehensive plan, City Plan 2025, which envisions this
part of Fayetteville as a City Neighborhood Area with a medium-dense residential fabric (ibid).
The students’ proposals are therefore on-message in terms of increasing residential density in
the City.

Figure 5: The housing fabric around the design-site has been built to a density of just 3 units per acre, which is typical
for much of Fayetteville’s suburbs

Fayetteville’s need to tend towards compaction is being driven by significant growth through
largely recession-proof factors in the region: the location of large corporate headquarters such
as Wal-Mart (Rosenthal & Tao 2007; Basker 2007); thriving poultry and food processing
industries (Kemper et al. 2006; Rosenthal & Tao 2007); increases in enrolment at the University
of Arkansas (U of A Sam Walton College of Business 2010); and the establishment of high-
income retirement communities (Rosenthal & Tao 2007).
The challenge we face as a community is maintaining our community character and liveability while
accommodating and benefiting from the tremendous growth in this region… we are accommodating
increasing development both in our downtown and in other key commercial areas in Fayetteville. At the
same time, many citizens have expressed concern about the effect of growth on our natural resources,
City services and infrastructure (Dover Kohl & Partners & City of Fayetteville 2006: 3).

Greater density in the suburbs will help protect exurban greenspaces from sprawl and reduce
infrastructure costs. As such, the students’ vision for the design-site serves city-wide
sustainability goals as well as the local benefits reviewed earlier.

Density NIMBY-ism

It cannot be assumed that all facets of sustainable design naturally find favor with the public.
The students included elements in their design – such as greenroofs and functioning riparian
habitat – that are not always understood or welcomed by the public. For example Wohl (2005)
reports that perfectly healthy water corridors may be considered unattractive and in need of
‘restoration’ by the public, and greenroofs may be too much of a radical departure in a domestic

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setting (Dunnett 2004b). Fayetteville has, over the past few years, embraced an admiral land-
ethic of stream-side protection and hill-side ordinances (Menninger, 2010) and the public’s
involvement in their creation, together with their support for an extensive cycle/pedestrian trail
network and regular organic farmer’s markets suggest that walkable, habitat-sensitive, home-
harvesting housing areas may be acceptable to many – at least in theory. However, there is no
guarantee that implementation of sustainable ideas will be supported in the City; for instance
while the public strongly supported the aforementioned City Plan 2025, the vision of compact
suburbs contained therein has largely failed to translate into implemented fabric, and public
push-back has been a significant reason for this.
Increases to residential density can be an emotive issue to Americans. They can find the
idea of sprawl unpalatable yet baulk at the idea of increased densities within their own
neighborhood (Lewis & Baldassare 2010; Jensen 2004). This contradictory attitude is neatly
summarized by Farr (2008:103) ‘There are two things Americans dislike: density and sprawl’.
The connection between increased residential density and regional preservation is not always
clear in the minds of the American public (Lewis & Baldassare 2010) and suburban compaction
can trigger vocal NIMBY-ism from existing residents (Dunham-Jones 2005). Although many
design and planning professionals would like to see an end to low-density sprawl (Talen 2001;
Newman & Hogan 1981) support for alternatives has been limited amongst the general public
(Downs 2005). Although a small but significant minority of around 25% consistently support
denser housing (Steuteville & Langdon 2003; Myers & Gearin 2001) a strong preference for low-
density suburbia persists in the United States; a single-family detached house on a large lot is
consistently the preferred choice of the American consumer (Myers & Gearin 2001; Talen 2001;
Day 2000; Newman & Hogan 1981). Meanwhile, higher-density (5 – 12.5 units per acre)
suburbs can be disliked for their reductions in lot-size, yard space and privacy (Day, 2000). The
students’ design lies within this contentious density range and provides only relatively small lots
and limited private-yard space.
The author’s ongoing research suggests that Fayetteville’s citizens display progressive
attitudes towards regional sustainability objectives, strongly supporting the ideas of preserving
exurban greenspace, reducing service costs and facilitating public transit. However, all these
objectives are underpinned by greater suburban density and, as with other surveyed Americans,
the Fayetteville public surveyed by the author do not generally support the implementation of
denser suburbs. Chiming with previous studies, just around one quarter of the author’s sample
supported the implementation of denser housing, and only between one quarter and one third
found the smaller lots, yards and reduced provision of privacy appropriate. Two things to note is
that the research sample were responding to a density scenario higher than that proffered in the
students’ design (10 and 6 units per acre respectively), and that the survey responses were
largely based on perceptions of higher densities rather than lived experiences.
Although based on speculation, rather than actual experience, the apparent lack of support
for compact development and disconnect between regional sustainability and increased
suburban density has had tangible impacts in Fayetteville. Even in this ostensibly progressive
community, developers attempting to achieve greater compaction have foundered against the
opposition of the public (see Figure 6).

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Figure 6. An undeveloped site on the southern fringe of downtown Fayetteville, previously the subject of a compact,
mixed-use development proposal that caused significant public opposition and was refused by the City Council

Recorded semi-structured interviews with Fayetteville City planning staff, undertaken by the
author in fall 2010 revealed that several denser projects – particularly in suburban settings –
have been refused or required modification into a more conventional form because of public
outcry.
The residents in the surrounding areas don’t always agree with staff and they don’t always agree with
the developer’s project. Sometimes change can be scary for people. Typically when there is a lot of
objection… we expect a development to not be approved, and that has happened several times.
Public opposition – often times it’s just a lack of understanding for what would actually be occurring on
the property. A lot of it is just belief in stereotypes associated with certain kinds of development.
The students created a proposal that supports site, local and regional sustainability objectives.
However, putting aside the question of whether greenroofs and habitat rehabilitation in a
residential setting would be acceptable, would the simple density of the design alone undermine
the viability of their vision?

Improving satisfaction with density


There is no way to avoid reduced lots and yards as density increases. However, a recent study
shows that residents’ satisfaction with their dense, clustered neighborhood (with a density of just
over 5 units per acre) was linked to the presence of nature views and the reduction of views of
neighbor’s houses (Kearney 2006). The study showed that residents who had a view of natural
elements and less of other units were less likely to feel their lot was too small, that they had
compromised privacy, or that the homes were too close together. This suggests that the
students’ approach of clustering homes and privileging views into verdant green spaces with
conserved natural features and significant tree planting, could be a more successful tactic in
accommodating residents satisfactorily at relatively high density, than using a more formalized,
architectonic approach.
However, providing lived quality is only part of the challenge in making higher density
housing viable. It is also important to assuage the negative perceptions of the surrounding
community. Bergdoll & Williams (1990) showed that non-residents’ perceptions of density in a
Californian residential development were strongly associated with the physical attributes of the
buildings. This study found that densities were perceived to be lower (and less antagonistic)
where there was greater building articulation; less façade area or smaller buildings; and a
greater number of house-like dwellings. According to the Californian study, the students’
architectural proposals of low-rise buildings with stepped building lines, gables, balconies,
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elevation projections, and high articulation of façades onto the public realm, may lower
perceived density.

Vision and viability through multi-disciplinary working

In conclusion the students working on the Housing as if the Future Mattered sustainable
housing project produced a highly commendable vision. The five-strong team from across the
design disciplines incorporated many innovative suggestions for the site that were well received
by the land-owner, and may be incorporated into the actual development design moving
forwards. The students’ proposal went a good-way to achieving both efficiency as a system,
and health and vitality as a human and wildlife habitat. While it is beyond the scope of this
paper to conjecture the acceptability of the design’s more innovative and unusual elements,
such as greenroofs, it is a convincing speculation of what could be. The students’ decision to
cluster the homes facilitated their sustainable program – including efficiency of land-use through
greater density. Although Fayetteville’s public seems hesitant to embrace higher density
suburbs, the students’ site layout and building-design decisions seem well-placed to offer a
viable route to acceptable compaction.
The students’ design work was largely self-directed, and as such they relied heavily on each
other’s expertise, experience and judgment. A uni-disciplinary class is unlikely to have achieved
as convincing a proposal where each element was fully considered, explored, realized and
integrated. The author’s other classes, where only a single discipline is present, do not attain
the level of design-sophistication, nor so closely mimic the dynamic of the professional world. In
the author’s view, designers work better collaboratively simply because it’s impossible for
individual disciplines to master all that is required – there is too much to know, unless things are
dealt with in the very shallow, facile way that is the antithesis of sustainable thinking.

Acknowledgement

The author would like to thank Hugh Earnest, Executive Director of Partners for Better Housing,
and the City of Fayetteville planning staff for their time in discussing the student’s proposals.
Most of all, thanks to the five students for tremendous efforts: Annie Fulton, Bethany Miller,
Chris Phillips, John Fohner and Sara Denney.

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Indigenous Knowledge Systems for enhancing the
sustainability of culture and design in South Africa

Keneilwe Munyai
Postgraduate Researcher, Cape Peninsula University of Technology, Cape Town
SOUTH AFRICA. munyaik205@yahoo.com

Mugendi K. M’Rithaa
Senior Lecturer: Industrial Design, Cape Peninsula University of Technology, Cape Town
SOUTH AFRICA. MugendiM@cput.ac.za

Key words:

Contemporary Design culture, Indigenous Knowledge Systems, Ubuntu.

Abstract

Indigenous Knowledge Systems (IKS) have been put in place as a knowledge base for society’s decision
making. Indigenous Knowledge is important in the sustainable management of resources as it encompasses
skills, experiences, and insights of an indigenous people to sustain their lives. IKS have made a significant
contribution to the world of knowledge through intimate understanding of the environment. The knowledge has
been adapted and passed down through generations and is interwoven into cultural values. This has resulted in
designs and products that have rich cultural significance. The study aims to advocate for the promotion of
indigenous methods of production in contemporary design as they are sustainable and have been used for
generations.

Under the theme culture and cultural identity for sustainability this paper looks at the role of designers in
sustaining culture and design in a contemporary world where the impact of globalization is pervasive. The paper
puts emphasis on the indigenous methods of production in South Africa that can be replicated by designers to
create products for a globalised society. Designers can contribute to the sustainability of indigenous methods
and the environment. The study employs qualitative tools of gathering evidence such as semi-structured
interviews and participation observations to collect data.

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Introduction

This paper looks at culture and cultural identity for sustainability. Cultural identity serves as an
anchor in a multicultural world; each individual is empowered to partake in social activities with
indigenous knowledge as the force that has shaped personal Identity. The force is based on one’s
own cultural roots which have been inculcated over time. However In the time of globalization there
is an increased contact across cultures. Indigenous knowledge is part of the force that is contextual
to the space in which it is originated, it relates to the way indigenous people create meaning with
their environment (Moreno et al., 2004). The knowledge is unique to a place; it is usually based on
culture and is used in day to day survival. Indigenous methods of production employ time-tested
practices of environmentally sustainable methods that offer useful models that can be applied
generally elsewhere today to attain the goals of sustainable development. The knowledge serves as
a guide for decision making for resource management strategies (UN, 1992). Due to globalization
and industrialization the Indigenous knowledge systems have been underappreciated
contemporaries. However, Indigenous people have relied on the underappreciated strategies by
their contemporaries for centuries. The strategies have cultural richness that could inform future
efforts for interrogating issues of sustainable consumption (M’Rithaa, 2009).

Within a design context the indigenous knowledge has resulted in products and designs that have
rich cultural significance and meaning (Munyai & M’Rithaa, 2010). Carlson and Richards (2011)
suggests that knowledge culture like biological culture is reach in nutrient and diversity in is
concentration medium. We live in a culturally diverse country and the designer’s responsibility is to
come up with solutions to societal problems the solutions need to be cross-cultural. This is a
challenge that contemporary designers have to deal with due to globalization countries have
become multicultural. A designer should become a universal person, universal people do not
eliminate cultural deference, rather they seek to preserve the most valid, significant and valuable in
each culture to help them construct new ones. The designer embodies the universality and as the
multicultural the designer is a descendant of the great philosophers of both the East and the West
(Hill et al., 2002).

This paper advocates for the promotion of indigenous methods of production in contemporary
design as they are sustainable and have been used for generations. Communities in many parts of
the African continent have often experienced significant social discontinuity due to globalization and
industrialization, as a result indigenous methods of production which are culturally biased were
often not seen as viable solution to sustainability (Hamel, 2005; Quigley, 2009).

The quest for identifying and using sustainable strategies has gained impetus in the modern days,
and Indigenous Knowledge Systems (IKS) today is important in the quest for sustainable
management of resources as well as sustainable methods of production (Munyai & M’Rithaa, 2010).
Culture through IKS encompasses skills, experiences, and insights of how indigenous people
sustain their lives through culture. IKS have made a significant contribution to the world of
knowledge through intimate understanding of the environment and how people create meaning and
identity for themselves. The indigenous knowledge has been adapted in various aspects of life and
passed down through generations. Indigenous knowledge is interwoven into cultural values as a
defining element of indigenous people (ibid).

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Role of culture in the quest for sustainability

Culture is a way of life and an identity is interpreted and manifested in a specific landscape that
gives its own character and a sense of place. Culture plays a role in the development of indigenous
knowledge that is based on skills and local expertise that are transferred from generation to
generation (Samadhi, 2005). Culture is describes as an ordered system of meaning and symbols on
which social interactions takes place, it helps people construct identities (Bell, 1992). Culture is also
used by indigenous people to promote the viewing of land as a substance that is endowed with
sacred meaning and highly personal beings that form part of their spiritual universe. The spiritual
universe defines existence and identity of living and non living organisms by indigenous people
(Moreno et al., 2004). Every culture is unique and has distinguished characteristics based on aspect
of human life, ethics, traditions and the everyday way of life.

Cultural practices are not easily explained; the knowledge is derived from experience and
accumulated through values of the community. Learning is carried out through practice of oral
tradition. The knowledge gained through practice and oral tradition as “tacit knowledge” the
knowledge arises from deeper mental awareness and valuing of the natural world which
encompasses ecological habitats giving rise to a world view that individuals are embedded with a
broad living system with other species (Holmqvist et al., 2011). Knowledge is the product of
biological, anthropological, and socio-cultural interactions and produces realities as well as
conceived realities (Hamel, 2005). The knowledge is extraordinarily rich and when properly
understood can be very effective for modern development. Modern development requires that the
knowledge be accurate, unambiguous, practical, tradable and codifiable.

The knowledge has been used for the betterment of human lives. Indigenous knowledge have made
a significant contribution to the world of knowledge about preservation of resources, material
understanding through indigenous people’s intimate understanding of the environment and local
materials. The knowledge has been adapted in various aspects of life and passed down generations
and is interwoven into cultural values. One of the most important values that has been prominent
across all African cultures is ‘Ubuntu’. It is a concept that is inclusive, it implies the belief that every
person is part of a societal fabric and each individual should find place within the societal structure
(Koopman, 1991). The concept of ubuntu applies in the production process as well focus on how the
product will impact or affect others. Products are often produced with the help of family and friends
or within a specific community.

Figure 1: African indigenous methods of production (source: Google images)

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The images in Figure 1 shows how the concept of ubuntu is applied within a working
environment by indigenous people to create products which using the found materials. These
methods have inspired some of the contemporary innovations which still have strong cultural
reference. Some products have been designed to create cultural identity based on the belief
system, traditions, language and what people wear and eat. Promotion of the indigenous
knowledge today which has played part in shaping culture and identities will help in achieving
sustainability.

Promoting sustainability through indigenous knowledge systems

Sustainability is an attempt to provide best solutions for human and the natural environments both
now and in the future (UNEP, 1992). Sustainability is about balancing the impact of economic
activities to protect the environment, and responsibilities on social equity to lead an improved quality
of life for generations. While design for sustainability refers to design activities that encourage
innovation orientated towards socio technical systems and low materials and energy use (M’Rithaa,
2009). Societies in South Africa can advance sustainability by increasing their cultural promotion. It
is important to keep the bridges between the past and the future strong through continuation of
historical values which are linked to indigenous knowledge systems (Beyhan, 2004).

The indigenous methods are not only relevant to the rural areas but are also applicable within a
modern design context. Indigenous designs and methods of production make contribution towards
localised production and designs that are inspired by culture and are based on social needs and
have inspired many contemporary innovations. The innovations place greater emphasis on locally
significant designs helps meet the local consumers’ needs. The methods are based on local
expertise and depend on locally available raw materials supply. Additionally, these indigenous
methods use found materials resulting in designs that are naturally durable. The said products are
made from natural materials and are therefore sustainable.

Cultural identity in South Africa

In an ethnographic sense culture embraces ways of living, values, tradition, belief and habits that
includes knowledge, morals, laws and customs that are acquired through time in a society. All the
above mentioned provide a set of cultural objects which symbolise a shared experience which has
cultural value (Carlson & Richards, 2011). South Africa is a culturally diverse country and because of
the diversity is often referred to as a rainbow nation. The country has eleven official languages and
has influences from other countries and parts of the world. Every tribe has their own distinctive
elements and cultural aspects that define who they are. The culture of ubuntu becomes even more
relevant as it is inclusive (Koopman, 1991). The identity of the people is like language – it does not
only describe cultural belonging, it is a collective treasure of local communities. It increases
recognition and attractiveness of the ordered and distinctiveness of people and place. Culture is a
social process in which individuals participate in the changing world conditions. Culture is an
important factor in shaping identity as it is the driving force of many societies. The diverse
paradoxical nature of globalization has given rise to new identities such as global identities, and
renewed importance of ethnic and religious, regional, national and local spaces.

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Globalization is responsible for the displacement of many people, resulting in cultural integration and
bringing market-driven products instead of products that have meaning and offer cultural experience.
As a result identities need protection and preservation as people move around and mix with other
cultures and construct new ones. Cultural Identity is at risk due to depredations of globalisation;
particularly underdeveloped countries as they have an innate cultural advantage that needs to be
protected (Hamel, 2005; Quigley, 2009). Identity is a considerable dimension of institutionalized
social life, and is particularly dominant in national identification through conscious cultural
constructions and continuance via regulatory and social institutions of the state (Tomlison, 2003).
Social identity helps in understanding and explaining the way in which a certain intergroup behaves.
However, challenges of culture and sustainability posed by globalization require creative response
by local designers.

The rapid growth of globalism led to independent cultures identities being undermined, due to the
fact that designing of products and production takes place in different spaces and that leads to lack
of knowledge concerning the true origin of products (Carlson & Richardson, 2011). Globalization is
responsible for displacing people and bringing market driven products instead of products that have
meaning and offer cultural experience. The cultural diversity in South Africa offers an interesting
opportunity for designers as they have a variety of cultural groupings to tap into their indigenous
knowledge for inspiration.

A place for design Identity in South Africa

Design has become omnipresent with culture, it is adopted to add value to market commodity and to
signify identity (Carlson & Richardson, 2011). South African designers have an advantage to due to
the cultural diversity to tap into the tacit knowledge which the various cultures hold. The knowledge
is privately held by members of the community, and is difficult to articulate and is not necessarily
shared. However, because the designers are part of the diverse culture and live within the
communities they understand the cultural and societal dynamics. Indigenous knowledge in the
design process includes application of approaches that designers have learned through experience
or particular skills they have developed that aren't part of the public professional discourse. Some
designer’s in South Africa use design a self reflection process, it helps reflect on their values, belief
systems, understanding and prior experiences to create new knowledge through social interactions.

Design is a social construct that is expressed through practice and in which designers should act as
agents of social change – design has become a symbolic totem for showcasing culture (ibid). Since
the liberation of South Africa in 1994 some designers became aware of the importance of tapping
into their various cultural backgrounds for contemporary design inspirations. Identity is therefore
important for designers to promote culture through design. By tapping into the indigenous knowledge
today helps with knowledge management, resource management and creating identity. That means
that the modern cosmopolitan design ethos which is seen as a new way of engaging tradition
without abandoning the salient features of the latter. It helps bridge the urban rural gap, by utilising
cultural elements that evoke identity and are informed by both cosmopolitan and rural cultural
constructs.

Contemporary designers should be encouraged to catalyze traditional methods of production into


the modern designs setting. The cultural belief systems that designers have been brought up with
provide logical thinking tools which result in a sustainable culture. These all contribute to the
continuous production of cultural items by communities. Further, such practices promote localised

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production and the preservation of scarce resources while using what is locally available to sustain
livelihood. Culture and tradition places emphasis on actions, people are encouraged to be aware of
their actions towards the environment and others. However, it must also be acknowledged that the
indigenous methods of production are usually labour-intensive and time consuming. These are
challenges that are seen as manageable.

The role of culture within the contemporary designs

It has become more critical for us to highlight the role of designers in sustaining culture and design
in a contemporary world where the impact of globalization is pervasive. It is important to engage
local innovation talent for solutions to local design problems, rather than importing designs that lack
local understanding (M’Rithaa & du Toit, 2010). Sustainability of design in South Africa relies on our
sincerity in design our dealing with culture in the design process ensures that we remain true to
ourselves and advance our expertise and processes that have been part of our upbringing.

There is a move by some contemporary designers in South Africa towards asserting new identity
within their cosmopolitan space which is rooted in their rural cultures and traditions.
Cosmopolitanism refers to the possibility of belonging to more than one ethnic and cultural localism
simultaneously (Webner, 1999:34). So that means elements of the place of origin remain with them
even though they have become cosmopolitan. Their spirits have been transposed from their natural
setting to an urban environment and have to fit in within the city environment and yet retaining a
rural background. Culture therefore in these instances serves as a point of reference for new and
emerging traditions. This transformation is called socio-cultural cosmopolitanism, which is mixing of
cultural practices, tastes, images, ideas in an interconnected world.

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Figure 2: Traditional Xhosa layered garments and contemporary adaptation of the traditional
elements (source: West 1972; Sun Goddess, 2011)

Cultural items do not remain specific to a particular culture, as people integrate with other cultures,
certain elements of culture and traditions are integrated into their new lives. This allows for designs
to incorporate certain cultural aspects for people who are on the move, and allows them to keep
certain aspects of their culture and tradition that they can be proud of. Designers learn a great deal
of craft knowledge from the tacit knowledge that is never shared with the large communities because
the knowledge is deeply held and dynamic (Schwier et al., 2004) there are usually few channels
where this kind of knowledge is shared. The channels include rituals and ceremonies that are part of
the belief systems and are observed by the communities in which the designers belong (Hill et al.,
2002).

Rams (1995) ten design principles of good products can be seen in the modern design innovations
in South Africa that are inspired by indigenous materials, methods and techniques of production.
The images in Figure 3 show the traditional use of natural calabash plant usually dried up and is
widely used in Africa as a drinking, eating utensil and a musical instrument.

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Figure 3: Calabash plant, bowls and rattles created by indigenous peoeple
(Source: Google images, 2011)

The image in Figure 4 show a move by by contemporary designers towards tapping into the rich
material and cultural knowledge that is held by indigenous people to apply in modern design
innovations. The calabash is used to create lampshades and the design is in the original form of the
calabash while patterns are added for aesthetics.

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Figure 4: Contemporary calabash designs (source: modeabode.com, 2011)

Indigenous methods of production as well as the material selection have a rich in information that is
relevant and contributes towards sustainability today. Designers are realising the role of IKS,
however, there is still more that can be done.

Concluding Remarks

Indigenous knowledge is important in the sustainable management of resources as it encompasses


skills, experiences, and insights of an indigenous people to sustain their lives. IKS have also made
an immense contribution to the world of knowledge through intimate understanding of the
environment. The knowledge has also been adapted into contemporary designs and products and
resulted in world products that have rich cultural significance.

While cultural identity serves as an anchor in a multicultural world – each individual is empowered
to partake in social activities with indigenous knowledge as the force that has shaped personal
Identity. This force is based on one’s own cultural roots which have been inculcated over time. In
our current times of globalization, cultural identity can help to promote sustainability. The role of
designers in sustaining culture and design in a contemporary world is vital where the impact of
globalization is pervasive.

This paper puts emphasis on the indigenous methods of production in South Africa that can be
replicated by designers to create products for a globalised society. South African designers have
been involved in the promotion of culture through various forms of design and this still needs to be
encouraged. Designers can contribute to the sustainability of indigenous methods as well as to
good stewardship of the environment.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Your Extraordinary Life part 2.
New perspectives on sustainability

MENDOZA, Andrea; Ph.D. DESIS Network.


andrea.mendoza@polimi.it

Abstract

This paper is the continuation of an endeavor called Your-Extraordinary-Life series, an attempt to read
design for sustainability under a key that articulates communication design and art.
The Your-Extraordinary-Life series, is a collection of 7 videos (with a maximum length of 1 minute each)
aiming at showing the extraordinariness of our ordinary lives, this to raise awareness on our environment
hoping to seed in viewers a reminder that make them more aware of their surroundings and thus, or
their/our role in the planet/society.
The sparking point of an initial academic paper on this, was a video called “From Ushuaia to la Quiaca” in
which images from the Aurora Borealis is taken with the background of an Aurora-Austral singer: Gustavo
Santaolalla. That video allowed us to work on visual connections and global responsibility.
The Your-Extraordinary-Life series was tested by means of a survey, and outcomes shown that if invited,
(by means of art/design) people were willing to be more aware of their surroundings and reflect upon it.
In this new stage Your XL-2 we aim at measuring until which point an audiovisual labour can last in
people’s mind and invite them to act, accordingly.

Keywords:
_video-art _quotidian _

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Premise
In order to contextualize the reader with the roots of this paper, a review of the previous labour:
Your-Extraordinary-Life series will give account of the theoretic background, procedure (survey)
and outcomes of that initial work.
Later on, the follow up of one of the participants in the survey will be exposed and assessed to
finally reach conclusions and project possible next steps by taking other 1 more participant
involved on a second survey.
It is suggested that the reader looks at the video: “From Ushuaia to la Quiaca” in Youtube (from
which the former reflection was made), and from the Your-Extraordinary-Life series in Vimeo:
http://www.youtube.com/watch?v=8EfkFP9ZkKo
http://vimeo.com/user7348888/videos

Introduction
The Origins

“Is it Ushuaia?
-No, it is Norway…”.
The Your-Extraordinary-Life series was already born when the “aurora borealis” video was seen
but the reflection upon the role of communication design and specially the use of new platforms
and social networks on the internet was sparked while watching that video in Youtube.
In the blog below the video, someone was asking:
“Please is this place USHUAIA (TIERRA DEL FUEGO ) ??? OR this place is Norway??? Why
Ushuaia is in the title ??? :S”.
That very comment, and the video, posted on a platform such as Youtube allowed us to open
two different discussions: a. the well-known conversation about climate change, its global
implications and impact of the whole universe on our planetary life; or b., a dialogue about the
possibility of understanding and communicating “sustainability” using music and video under the
non usual “green” style.
The initial endeavor focused in the second possible discussion (b.), trying to explore examples
that with rather artistic slants attempted to suggest viewers the importance of being aware of the
elements around us.Inspirational in this work was the labour developed by artist Olafur Eliasson.
Why Eliasson? Why art? Is there another way to talk about sustainability differently to stressing
and communicating concepts and resulting artifacts linked to ecological foot-print, CO2
emissions, solar panels, recycling, etc.? A “phenomenological reduction” in words of
1
philosopher Edmund Husserl , a need for a phenomenological reduction… a going back to the
beginning to ask the critical question: “How might it be otherwise?”.

1
Olafur Eliasson: Your Engagement has Consequences; On the Relativity of Your Reality.
Edited by Olafur Eliasson and Caroline Eggel / Studio Olafur Eliasson.
Baden: Lars Müller Publishers, 2006. Page 61.

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After years working around issues concerning sustainability, design for sustainability,
communication for sustainability, photography and sustainability etc., a rather bare conclusion
was reached: sustainability concerns people’s enjoyment and creativity (Mendoza 2008).
Now, the work of the author moves towards the use of video to raise awe in front of natural
phenomena, with the aim of awakening reflection on people's relation to the environment. The
undertaken assignment is to underline, materialize, condense or make visible the invisible
elements of life, particularly, the meteorological ones.
Eliasson’s work focuses on the issues of responsibility and engagement, by working with
atmospheric/meteorological factors.

“I think that in my work the idea of the way in which you engage in the work is very constitutional for
what you then see, or perceive or experience […] There is a piece called Beauty, is a rainbow piece
and as we know a rainbow is made out of light breaking in a spectrum in a drop of water and if you
have a lot of drops you have a lot of colours and depending on the different angle of the light and the
different drop and the eye you will have a different colour. What it means of course is that everyone
sees a different rainbow because the rainbow is really made out of the light, the drop of water and the
eye, this means that there is not ever a rainbow that is the same by definition because our eyes are not
located in the same place but if you think about it this goes for everything, this goes for the way you
look at the street and the sense of perspective as we know from the renaissance really worked the
other way around to make everything look the same for us but even within the sense of perspective
things look different depending on you, if you are on left of the right side of the street“.
2
Eliasson .

Design is not art.


Why art? Italian designer Andrea Branzi can give us hints with his work regarding immateriality
and beauty when he states: “I work with what is useless (inutile – futil - and also: weak and
widespread), that is my interest…”. So when he designs a flower’s vase what he is into is the
conversation with the one flower that will be set in that Alessi vase and its user, something that
in time is totally transitory.
Branzi’s work crosses roads with Eliasson’s in his interest for beauty. According to Branzi,
“Beauty can save the world, since what is ugly, -and children say it-: is bad”. That is, according
to him, why the communist Russia felt down, “with that weather and those massive and cold
sculptures, there was no space for beauty”.
Design then, can be nurtured by art or share efforts with it but ultimately, is not art. So if we are
to talk about an art+design (a+d) collaboration, the role of design cannot be the mere creation of
displays or structures for a given screening or exhibition. If design is to establish a conversation
and action with art it should bring to the table its expertise in dealing with concepts in its
particular view to see things.
Our first question, in the Your-Extraodinary-Life series was: If design is or should be, a solution
enabler, then: is communication design enabling awareness so that the beauty of the entourage
can be cultivated/preserved/shared?
Hereunder a briefing of the questions and outcomes of that first stage:
The 7 videos exposed as part of the Your Extraordinary Life series, were recorded in 3 different
locations (Japan, Turkey and Italy –there are others not yet included made in China, India and
Hong Kong). The location was by any means selected. We were focusing in meteorological
conditions that happen all over the globe, so those could have been recorded elsewhere.

2
http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2008/olafureliasson/#/video0/

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Technically, the idea of starting the videos by zooming a detail came from the need of the
author to understand the hallucinations that from time to time along the days, used to see.
Having worked in photography the eye of the author was pretty much used to scan the
environment at all times noticing or better being surprised by hallucinating views that after 2 or 3
blinks turned to be just a simple optical dodge from “reality”. From there, the need to find out the
“truth” behind what was seen (having always that tension called sustainability) became the need
to make people ask themselves.
Ask what? That was not the concern, the point was just to make viewers/users/citizens get into
the very exercise of asking themselves anything since on a very psychoanalytic way, this is: by
wondering on something human mind sooner or later will be asking about him/her very self, and
when you start asking/questioning your self, all your life, conditions, preconditions, habits and
way of living is questioned. And that questioning is, or we hope, could be the beginning of
change.
Then there was the issue of the speed of the narratives. Given that those started as a sort of
“visual haikus”, very short expressions, the surprise or better the reality that is shown when the
lens reaches its full zoom out was going to be very quick and then the inner questioning
exercise could not take place, that is why on post-production the image was set into slower
motion.
As for colours or other effects we tried not to add anything; that was the main interest: showing
that “special effects” are here and now if we manage to see them and get immersed in such
“extraordinary” reality that weather conditions allows us to.
For our purpose very simple equipment was used. A Nikon Coolpix p100 camera to take the
footage and iMovie software on a MacBook for the editing.
Music was “borrowed” from various artists but, for the sake of copyrights in various cases it had
to be modified and add, only for music, special effects. There is to say that the meteorological
conditions played an utmost important role, where the author stands as a mere witness who
happened to be there, aware enough, to catch the moment.
The series was born more as an attempt to give order to footage that had been taken on
intuitive basis for almost a year, and that after the skimming selection end up with 7 pieces. (Fig.
1):

(Fig. 1.)

Now, even if Youtube is a great platform, the videos which compose the Your-Extraordinary-Life
series, were uploaded in Vimeo since somehow, the second one has a more filtered audience.
Youtube is massive, it has more than 100 times the traffic of Vimeo, outstanding diffusion
capacity and a good inter-phase, but technical requirements (functionality, design, quality,
creativity of user’s content, limits, etc.), were not the central pivot of our work. Of course if we
are to use the tools of communication technologies at a given point there is to acknowledge that
in terms of quality and HD better results are usually obtained in Vimeo and also that because is
not as massive as Youtube a certain degree of artistry and quality can be kept.
The series uploaded in Vimeo, is part of a testing proving that on-line information and
audiovisual material work for our purposes.
Survey

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Once edited and uploaded, the videos were put to consideration of participants from countries in
Europe, Asia, North and South America by means of a survey asking to watch the videos and
respond 7 questions.
From the 15 participants 5 were designers, 3 work on the art field, 7 belong to other disciplines
(including mathematics, engineering, biology and law).
Quantitative data was not our goal, but in terms of time it could be interesting to identify: how
long could a given video influence people’s behaviour.

As for the questions (surveys can be provided upon request):


1. What did you see?
The majority of respondents had an inner experience, like a Rorschach test. And answered
accordingly.
2. What did you think about while watching?
They were trying to understand the nature of what they were seeing (hopefully, as Eliasson
says, trying to understand their nature as well).
3. How did you feel about them?
The majority related the images with freshness and peace.
4. Did you laugh?
Curiously only one declared having laughed but the majority stated having smiled, which in
terms of well-being is, as they said, even better.
5. For how long do you think that you will recall the videos? One in particular?
Different answers but a later follow up with some of the respondents allowed us to see that the
videos could make people more aware of their environs only if we explain them the purpose
behind the videos.
6. Do the videos relate to the statement written below them on the Vimeo channel?
A big Yes. Although, there were 2 people who did not read, this fact was quite satisfactory.
7. If you look around, right now, are you seeing any extraordinary thing?
There, certain awareness could already been traced.

Now, even if this was not an extensive survey in terms of number of participants, it can be said
that participants did appreciated the fact that the videos were uploaded on a platform such as
Vimeo because it makes the flux of information not only lighter but start becoming part of a
shared album, are not images that they will have to keep but are there, for their “enjoyment”,
and can share those with others when they want to.
In this first part of the assessment we did not want to influence the responses or give hints of a
work that looks towards prompting more sustainable lifestyles, however, for further analysis two
questions were fundamental:
-What can you do with the emotion/thoughts that the videos left in you?
-Do these videos move you to change, at some extent, any given behaviour/attitude in your
daily personal life, at a practical level?

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Next step
How does design look at “sustainability”? At which degree of responsibility? Are we trading
beauty for responsibility? Are we trading sustainability for beauty?
Eliasson, regarding beauty states:
“… here we are back to the question who will have to responsibility for seeing what we are seeing? Is it
about sameness? Or is it about differences? Is it about suggesting that every time you take a step you
see something different?” (Eliasson 2008).
Again, how does design look at “sustainability? As a field? Or as a transversal tension? As
something that can be taught or rather as something that embedded the rest of the teachings?
As something related just to technical issues or as a more intern/sensual part of the human
being?
On this following stage of what has become now a project: Your Extraordinary Life part 2 - Your
XL - 2, we would like to find out if:
Given that viewers are keen to become more aware of their environs and “engage” (in
Eliasson’s way) with it, can video art or any communicative artifact be designed to prompt in
them the will to act consequently with what they feel? Understanding the word “consequently”
as: sustainable but not under the usual definitions of “green”, “organic”, “recycled”, etc., this
because indeed, one of the respondents said: “the annoying thing about sustainability is when it
becomes too… sustainable!”.
To work on these second round of questions, we went again surveying the previous
participants/respondents. From them we choose one that appears to be talking about good life,
and good harvest.
The questions they were asked to answer this time were:
1. What can you do with the emotion/thoughts that the videos left in you?

2. Do these videos move you to change, at some extent, any given behaviour/attitude in your
daily personal life, at a practical level?

3. If sustainability is defined as: "whatever makes people happy without damaging the
3
surroundings or the person" . what is it (thing/situation) that makes you "happy" without being it
"green-organic-recycled" etc.?

4. Would you send a picture/image/video link/song that "describes" what sustainability means to
you?... a sustainable moment maybe?

Our respondent, as requested in question number 4, sent a picture.


It is the picture of a pregnant woman. His answers regard, obviously: life. The present and
future of it.
His responses for questions number 1, 2 and 3 were:

1. What can you do with the emotion/thoughts that the videos left in you?
Let them seep into you. Drop by drop until they became part of you and foster others to
grow and blossom. Open another eye or blink again to awake your sight of surrounding
wonderfulness.

3
Definition at http://attainable-utopias.org/tiki/tiki-index.php quoted by Mendoza Andrea (2008) in SOLOS Self Organized
Livelihood Subjects, primal creativity in the livable cities discourse Ph.D. Thesis. Milan Polytechnic.
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2. Do these videos move you to change, at some extent, any given behaviour/attitude in your
daily personal life, at a practical level?
They moved me to share more often with others my perception of wonder.
3. If sustainability is defined as: "whatever makes people happy without damaging the
surroundings or the person". what is it (thing/situation) that makes you "happy" without being it
"green-organic-recycled" etc.?
A smile provoked by you. A tear of happiness after a hard laugh, or a supporting hug of
friendship. Any expression of love to others no matter how distant they seem to appear.

By taken this participant’s answers, we are not saying that going sustainable is saving human
race by reproducing. What we can start assessing is the sensibility of the viewer and its sense
of responsibility and engagement with his entourage.

Your Engagement Sequence


In a conversation between Robert Irwin and Olafur Eliasson, there are some moments that can
be quoted in order to follow the underlined issues of engagement and responsibility:
“OE: I believe that devoting attention to time as far-reaching consequences for the idea of
objecthood and the dematerialization of the object. Artworks are not closed or static, and
they do not embody some kind of truth that may be related to the spectator rather, artworks
ha an affinity with time –they are embedded in time, they are of time
[…] taking one’s time means to engage actively in a spatial and temporal situation, either
within the museum or in the outside world. It requires attention to the changeability of our
surroundings.
[…]
R.I: The museum is an old, old model that was set up essentially to deal with objects. You
and I are not object makers; we are dealing with experiential processes. The museum
structure is geared toward a particular kind of art making, which represents a particular set of
values. What we’re proposing is another set of values.
But how to measure this engagement? Do we need to?
[…] Right now there is no methodology to deal with the phenomenal in art.
O.E: I first became interested in phenomenology when I was an art student, as it seemed to
offer a means for understanding subjectivity and the ways on which one could engage with
one’s surroundings. But I have sensed a danger in phenomenology’s being presented as a
kind of truth
[…] I like to think that my work can return criticality to the viewer as a tool for negotiating and
reevaluating the environment –and this can pave the way for a more causal relationship with
the surroundings, I think the 1990s showed that it can instead be a tool for negotiating these
surroundings.
[…]
R.I: Basically, we’re making things that may have implications for change.”
Design for sustainability is also concerned with change. But, which are the values proposed by
design for sustainability? What is it that can be added to eco-artifacts, green practices and
services? And on the other hand, is not it that art is related to poetry? But… does design dare to
step into poetic fields when working with sustainability? Lack of water? Energy saving?
Pollution? GMOs? Wellbeing?

“O.E: … the idea that you as perceiver become a producer is the key issue here.
R.I: That ‘s because values are essentially invested by our feelings. […] The real change that
comes from feelings and values has to be seeded, in a sense, and then it begins to act on
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things –on you, and then on how you make decisions and judgments, and therefore on how
you construct the world.”
Are the Your Extraordinary Life series, seeding the world?

The picture of the pregnant woman deserves a deeper analysis. Many times sustainability has
been related to the responsibility with future generations, but what about the mother? What
about the here and now? What about that blurry line in which concepts such as time and space
dwell as one?.
The picture sent by the participant (deliverable upon request) is not a picture of a pregnant
woman in a poor context, deprived from food or water. She looks happy, enjoying the sea. And
the respondent sent it because the picture is directly related to: smiles, tears of joy, hugs,
friendship, love and all those intangible issues with which design deals only when “emotional
design” is to put into practice, or when an experience is to be designed, but frankly speaking,
there are not many efforts within the serious, measurable and scientific world of design moving
in this intangible direction (an exception being the Italian troupe of Esterni.org). And as a
discipline Design or better, serious designers always ask for quantitative measurment.
The woman in the picture does not exhibit an explosive laugher, on the contrary her face shows
a bit of “pain” given the big baby in her belly!, but she is managing. She wears sunglasses; she
takes care of herself, at an inner level, we guess, but also at an external one wearing a trendy
mom’s bikini. Now the baby in her belly: that is a whole world, there, inside, the mixture of all
the “adjectives” with which “sustainability” was related above dwells, and is getting ready to
emerge.
More insights would mean a semiotic analysis of the picture, but what interests us here is the
picture itself, is its capacity to talk, to wrap up sustainability, to raise the voice of a non-designer
(the participant) who sent it and say: “this is my way to design the world”.
There are other ways; those are not the only seeds to be harvest in the world.
Which are yours?.
Which could be the harvest of your engagement to the world?.

Preliminary suggestions
Design shall start blurring its territory and not be afraid of becoming too subjective if it aims at
walking effectively towards sustainability. Neither should be afraid of loosing its uniqueness (it is
design not art, it is design not engineering, it is design not architecture). This openness costs a
good deal of thought and energy but once it opens, a whole constellation of possibilities and
paths start glowing, to keep seeding, blossoming and hopefully harvesting.
That is the first lesson that we can learn from an approach to art, visual-arts in terms of
communication design by getting out of the square mind settings, straight rules and
mathematically proven exercises.

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‘Physics has found no straight lines – has found only waves – physics has found no solids -only
high- frequency event fields. The universe is not conforming to a three-dimensional
perpendicular-parallel frame of reference. The universe of physical energy is always divergently
expanding (radiantly) or convergently-contracting (gravitationally).’

Richard Buckminster Fuller


Quoted by Olafur Eliasson in:
4
“Your Engagement has Consequences.”

Has design only found straight lines? Has design for sustainability research walked only on
proved/safe paths? Has it given a chance to sustainability to be defined otherwise?
In his text, Your Engagement has Consequences, Eliasson hopes to “reintroduce awareness of
time as a constituent element of objects and our surroundings”, we, hope to introduce
awareness as a constituent element of meteorological elements (air, wind, water) considering
them as objects to raise awareness on our surroundings.
Eliasson’s view of time and responsibility, allows us to talk about time and design, about the
relevance of the slow (not only Slow Food).

Wrapping up at a slow pace:


Preliminary Contributions

“The very basic believe that is behind my work is that object-hood


[…] is the money in the bank regardless what people look at it or
have it or look it around them or not, if the object has become
prescriptive for the individual of the subject, then we don’t integrate
time as time passes along […] here the museum goes time back to
the spectator, to the people, to the user of things here so I think the
principal question about Taking Your Time is really also about
generosity”.
Eliasson

Are wind, water, light objects? Are Vimeo and Youtube the new museums and galleries? For the
purpose of all the stages of this work, they are, and they do not exist if people are not aware of
them. Nowadays citizens/viewers/users do commute within those in their daily activities but
given that no attention is paid to them, they do not exist, so in order to start caring about them,
and thus taking care of them, you have to basically start paying attention. That may seem banal
but in actual fact, what the analysis of the feedback given to the videos of Your Extraordinary
Life series shows is that in fact people are not paying attention to them, and there is an
opportunity for design.

4
In Experiment Marathon: Serpentine Gallery. Edited by Emma Ridgway.
Reykjavik: Reykjavik Art Museum, 2009: 18-21. A previous version of this text titled “Vibrations” was published in:
Olafur Eliasson: Your Engagement has Consequences; On the Relativity of Your Reality.
Edited by Olafur Eliasson and Caroline Eggel / Studio Olafur Eliasson.
Baden: Lars Müller Publishers, 2006.

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One of the conclusions is the fact that sustainability, besides creativity, asks for other rhythms,
other priorities and thus, other ways to treat/exhibit/establish a dialogue with time.
Most of the participants in the survey -in later conversations- stated that they preferred the
slower videos rather than the normal-speed ones since the slow motion allowed them to be
more aware of the conditions, this is, to get a closer to themselves.
Videos want if not to give time back to the spectators, at least make them think about their time,
their rhythms, their rush and how do they make use of the elements within that dimension of
time.

At this point let us review a second’s participant answers:


1. What can you do with the emotion/thoughts that the videos left in you?
I think, I can try to invent something similar. But I don't know, if I would be able to do it!

2. Do these videos move you to change, at some extent, any given behaviour/attitude in your
daily personal life, at a practical level?
Not so much, maybe because my key to the reading, has been different than your
purpose

3. If sustainability is defined as: “Whatever makes people happy, without damaging the
surroundings or the person? What is it (thing/situation) that makes you “happy” without being it
“green-organic-recycled2 etc.?
Generally, be in harmony with surrounding environment. Pleasant cities, green areas,
public transportation, easy services, eco-logical way of production, when is possible, not
only eco-nomic thinking

4. Would you send a picture/image/video link/song that describes what sustainability means to
you?... a sustainable moment maybe?
I think all this project http://www.youtube.com/user/PlayingForChange#p/a/u/2/55s3T7VRQSc can be a
great example of harmony. Not (only) so "green recycle and similar" but a good starting
point.

We take these answers, acknowledging that this is not a quantitative analysis, because with his
answers, Youtube raises again, and also because the content of this contribution in particular, is
putting into practice the tools to go global being local and “discussing” a global issue to bring
about joy, peace… sustainability through another art: music.
The video is part of a project called: “Playing for Change, connecting the world through
music”, in which:
“Musicians from different cultures uniting together for the common purpose of peace through music is a
powerful statement. For the past four years Playing For Change has traveled the world with a mobile
recording studio and cameras in search of such inspiration. Throughout the journey we created a family
of over 100 musicians from all walks of life. We connect these musicians together with "Songs Around
The World." The Playing For Change Band is the next chapter in our story. Now people everywhere
can witness first hand the transformational power of music and love that comes from the Playing For
Change Band.
Playing for Change is a multimedia movement created to inspire, connect, and bring peace to the world
through music. The idea for this project arose from a common belief that music has the power to break
down boundaries and overcome distances between people. No matter whether people come from
different geographic, political, economic, spiritual or ideological backgrounds, music has the universal
power to transcend and unite us as one human race. And with this truth firmly fixed in our minds, we
set out to share it with the world.
The Production

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We built a mobile recording studio, equipped with all the same equipment used in the best studios, and
travelled to wherever the music took us. As technology changed, our power demands were downsized
from golf cart batteries to car batteries, and finally to laptops. Similarly, the quality with which we were
able to film and document the project was gradually upgraded from a variety of formats-- each the best
we could attain at the time—finally to full HD.

One thing that never changed throughout the process was our commitment to create an environment
for the musicians in which they could create freely and that placed no barriers between them and those
who would eventually experience their music. By leading with that energy and intent everywhere we
travelled, we were freely given access to musicians and locations that are usually inaccessible. In this
respect, the inspiration that originally set us on this path became a co-creator of the project along with
us!
The Effect
Over the course of this project, we decided it was not enough for our crew just to record and share this
music with the world; we wanted to create a way to give back to the musicians and their communities
that had shared so much with us. And so in 2007 we created the Playing for Change Foundation, a
separate 501(c)3 non-profit corporation whose mission is to do just that. In early 2008, we established
Timeless Media, a for-profit entity that funds and extends the work of Playing for Change. Later that
year, Timeless Media entered into a joint venture with the Concord Music Group through the support of
label co-owner and entertainment legend Norman Lear and Concord Music Group executive vice
president of A&R John Burk. Our goal is to bring PFC’s music, videos and message to the widest
possible audience.

Now, musicians from all over the world are brought together to perform benefit concerts that build
music and art schools in communities that are in need of inspiration and hope. In addition to benefit
concerts, the Playing for Change band also performs shows around the world. When audiences see
and hear musicians who have travelled thousands of miles from their homes, united in purpose and
chorus on one stage, everyone is touched by music's unifying power.

And now, everyone can participate in this transformative experience by joining the Playing for Change
Movement. People are hosting screenings, musicians are holding benefit concerts of every size, fans
are spreading the message of Playing for Change through our media, and this is only the beginning.
5
Together, we will connect the world through music!”

Could this case be understood as a co-design process in the area of communication design and
in the framework or better, transversal tension of sustainability? We believe that YES
(paraphrasing Eliason’s Your Engagement Sequence YES).
In design, we use to talk about services as a co-design process. So when Eliasson states that
“if people are given tools and made to understand the importance of a fundamentally flexible space, we
can create a more democratic way of orienting ourselves in our everyday lives. We could call our
relationship with space one of co-production: when someone walks down a street she co-produces the
spatiality of the street and is simultaneously co-produced by it “,
he is talking, in his, or better in our terms, about co-designing our everyday lives, along the
common thread of sustainability.

Finally, we would just like to put forward the pass from the Your Extraordinary Life series as a
test and way of observing to Your XL-2 work, a tool to set concrete milestones for a research
that could be initially called Your-SMXL project a quest to build at whatever size
small/medium/large/extra-large engagement with our contemporary cities using art in
partnership with design.

5
http://www.playingforchange.com/band
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Acknowledgements

To the participants of the survey and to Dr. Ana Vasconcelos.


And to Facundo Cabral (R.I.P.).

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Projeto Move Mentes as a Creative Community: a design
oriented experience

BERGER, Ana; Master’s student; Universidade do Vale do Rio dos Sinos

anavfberger@gmail.com

REYES, Paulo; Dr.; Universidade do Vale do Rio dos Sinos

reyes@unisinos.br

EICHENBERG, Carolina; Master’s student; Universidade do Vale do Rio dos Sinos

carolina.eichenberg@gmail.com

keywords: sustainability; creative communities; design.

This article is the result of a research that focuses on the concept of social innovation proposed by
Manzini, whose ideas concentrate in emergent practices of sustainability. It is a reflection about a creative
community building its autonomy with the aid of a designer. The object of observation is the Projeto Move
Mentes at Porto Alegre. This project aims to build social autonomy through design techniques. The
approach was based on the relationship established between the social actors and the designer. The
analysis focused on three dimensions: the social dimension – envolving the actors and the social context;
the opperational dimension; and the technical dimension – the role of the design team. The metodology
used in the research was the construction of design oriented scenarios and the project was studied as a
product-service system. The results demonstrate that the designer’s role is relevant and significant for the
construction of social autonomy. Once social autonomy is achieved, the designer’s guidance is not
anymore essencial, and its role turns into a consulting activity.

1 Introduction

The concept of social innovation proposed by Manzini concentrates on emergent practices of


sustainability. To him, transformations leading to sustainability should be understood as a
process of learning by the society. In this context, Design acts as a facilitator of the process,
suggesting solutions and presenting scenarios for it.
A reflection about the role of the designer on building a creative community and its autonomy
is possible through Manzini`s ideas. The comprehension of Design-oriented spontaneous
phenomena is a way to understand the actions of the strategic designer on the promotion of
local sustained development.
Creative communities represent a discontinuity, a rupture with the conventional ways of
thinking and acting. Therefore, they are a receptive environment to social innovation and an
intelligent alternative for sustainability.
The “Move Mentes” Project, the object of study of this article, is an example of the
application of concepts of social autonomy and sustainability in a creative community. The
project searches the promotion of social autonomy using the techniques of Design. It is a
partnership between a non-governmental organization (NGO) and a group of graduate students
of Design. The project has assumed several configurations since its beginning and led to a
transformation of the mentality of the social actors involved in it, the community on focus, the
NGO, and the Design team itself.
The method used on “Move Mentes” Project was the construction of Design-oriented
scenarios, focused on a product-service system, according to the metaproject method,
conceived by Reyes (2010).
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
The analysis was based on the relationship established between the social actors and the
designer. It evaluated three dimensions: 1- the social dimension (social actors and social
context); 2- the operational dimension; and 3- the technical dimension (role of the project team).
The results demonstrate that the designer plays a significant and relevant role for the
construction of social autonomy. A different and novel function for the designer emerges from
the issues presented in the article.

2 Design for sustainability

Sustainable development demands a long period of transition and learning. The designer plays
an important role in this process. For a long time, Design has been associated with the
spreading of the ideals of consumerism, nowadays considered incompatible with development
and sustainability. With this change of paradigm, new concepts were assimilated and new ideals
of economic growth with sustainability have been propagated. So, the emphasis on social
causes stands now as a contribution for the development of local communities involving
different sectors of the society.
According to Manzini (apud Meroni, 2007), the transformations leading to sustainability
should be understood as a process of learning by the society, enabling the Design to improve
its capabilities and promote diffuse abilities. “This field of action moves farther and farther from
the traditional figure of Design”.
In this setting, Design acts as a facilitator of the process, suggesting solutions and
presenting scenarios for it. Through its ability of projecting and envisioning new possibilities, the
designer is able to manage the project, to coordinate the efforts, and to guide its execution and
communication.
Sustainable development implies that the people involved, besides being beneficiaries of the
process, also be its instruments. In order to accomplish that, it is necessary to enable the social
actors to envision new forms of possible worlds. “Each individual, deciding how and what to
acquire or use, legitimates the existence of that product (or service), and situates himself at the
origin of the environmental effects linked to its production, use, and final distribution” (Manzini e
Vezzoli, 2005).
Notwithstanding the globalized economy, decisions and actions for sustainable growth must
be taken considering local conditions and focusing on local development. This would facilitate
project execution and mobilize the people of the communities. The process of development
must respect the peoples` ethnical and cultural characteristics, and be a means to improve the
communities` quality of life.
The perception of well-being is associated with conviviality and the aggregate value
attributed to it (Manzini e Vezzoli, 2005). Being part of a social community is worthy and
important. It leads to the notion of a society where bonding with other people is a desired social
quality.
In order to provide and achieve sustainable development in local communities, interaction
and articulation between productive and intellectual sectors of the society is needed. Because
of its very nature, globalization poses a significant problem for locally focused actions and
threatens sustainable development. According to Assis (2003), from a socialist standpoint,
globalization increases inequality and prevents social development by exalting individualism
and efficiency as opposed to solidarity. To Manzini (2008), the globalization phenomenon, in a
particular way, called the attention back to the local dimension. The term “local” does not refer
to an economically and culturally isolated territory. Otherwise, it means the combination of
specific characteristics of local communities with the globalization phenomenon.
In “Design for Social Innovation and Sustainability”, Manzini (2008) says that the way to
sustainability is the opposite of conservatism; it means breaking up with dominant tendencies in
terms of lifestyle, production, and consumption, giving rise to new possibilities.
Such changes demand social learning and a long transition time. The designer plays a
relevant role in this process of transformation. Since the original designer’s function is to
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articulate the steps of conception, production, communication, and distribution of products, as
well as take into consideration its intangible aspects (Reyes e Borba, 2007), the designer
assumes the responsibility of improving the society’s quality of life.
In this setting, according to Manzini, one can imagine a new generation of artifacts and
services (tangible and intangible) to fulfill new and sustainable social demands. Manzini (2008)
poses the concept of “complex organizational models”. In this model, the collaborative action
changes the modus operandi of present practices based on dichotomous models: private-public,
consumer-product, local-global, necessity-desire. Through these collaborative organizations, a
set of needs and aspirations is identified, that leads to the solution of shared interests.
Based on the unstable balance of localism, that oscillates between “being rooted” (in a place
or in a community of a place) and “being open” (open to ideas, information, people, stuff, and
money), the cosmopolitan localization proposed by Manzini induces a new sense of local and
culture. The place and the community are not isolated entities, but otherwise parts of a net of
connection points that links that particular place or community to the rest of the world. The
interconnection of the points, along with social innovation, enables the small and local to be big
and non-local.
The nets generate a new profile of consumers and producers, derived from established links
and intercommunication. The more links are formed, the greater the exchange of information,
and more self-sustaining the local context. Local conscience is formed, since the differences
between places and communities, perceived thanks to the exchange of information through the
net, valorize regional characteristics that become competitive differentials. Collective strategies
augment the range of competitive differentials by increasing knowledge and gathering
complementary abilities, so enhancing the process of innovation (Balestrin; Verschoore, 2008).

3 Sustainability through Creative Communities

Active and context-based well-being involves the collaboration of all the actors involved in the
process of innovation. The user and the producer are in charge of creating the conditions for
application. The participation in the process derives from a personal choice, and not as a
necessity (Manzini, 2008).
A new perception of individual well-being is related to small changes in behavior in the
community, which give rise to positive local changes and mutations in the grand system. To
Manzini (2008), the challenge of Design is to envision “ïf” and “how” a new kind of active well-
being could be constructed, where peoples` capacity, in terms of sensitivity, competence, and
initiative, would have an important role.
Based on the capacity of the actors and the conditions of the local context, the process of
social innovation for sustainability depends on changes of action of small groups. The resources
used are highly creative and collaborative, different from conventional alternatives. The
organizational process is from down upwards (bottom-up), based upon local sustainable
systems that break up standards and lead to new behaviors – the creative communities
(Manzini, 2008). These isolated systems could impact and ultimately change the grand system.
Creative communities constitute novel and complex forms of organization that mix traditional
aspects of life with contemporary solutions. They are distinguished by reciprocity in its actions,
in a collaborative and creative way, and self-sustaining its purposes without depending on only
one source. People help themselves by themselves, differently from someone that offers or sells
a service to others (Manzini, 2008). They look for propositions for everyday problems, not
related to dramatic events, such as catastrophes. They adhere to the actions by personal
choice, searching concrete solutions, what strengthens the social tissue, while generating new
ideas, practices, and sustainable well-being.
Creative communities are always the expression of changes occurring in a local level
(Manzini, 2008). They represent discontinuities in their contexts, since they challenge traditional
ways of doing and introduce different and intrinsically sustainable actions. They provide a fertile
environment for social innovation and are an intelligent alternative leading to sustainability. The
local initiatives are a significant expression of contemporary society, since the needs and will for
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change are manifested by creative communities. They represent a positive step in the process
of learning for social and environmental sustainability.
The Design can intervene in these communities by observing and reorienting. Other than the
conventional Design activities of projecting, behaviors and bonds are not projectable, but can be
improved (Manzini, 2008). By observing communities self-organizing in a creative and
sustainable way, the designer becomes an actor in the context, and is able to qualify the local
experiences and adapt these experiences to other contexts. In this setting, the designer takes
into account the culture, environment, social relations and stimulates autonomy in creative
communities.

4 Strategic Design and Creative Communities

Design have been seen as an activity of specific areas, like graphic design or product design,
especially in what relates to esthetical aspects. Nevertheless, according to Moritz (2005), the
Design is not any more limited to the “surface” of the product, and should not be used only in
the end of the process of production..
Strategic Design has the differential ability to identify and solve problems. Its conception is
amplified in two dimensions: the process, through the concept of metaproject; and the product,
through the concept of product as a system, the product-service-system.
The metaproject is a step before the project itself where a structured reflexion about the
project is realized. The metaproject relates to the definition of the problem (problem setting) as
well as its resolution (problem solving). The idea of a product-service-system is that the product
is seen in all its chain of value, since its conception until its use. It’s like following the cycle of life
of a product” (Reyes, 2007).
According to Meroni (2008), a project in Strategic Design relates to the integrated set of
products, services, and communication strategies developed for specific purposes, including
social and environmental responsibilities, and inherent to determined identities and cultural
values.
With this perspective, the focus of Design turns to the comprehension of the product cycle.
It’s an important tool for changing paradigms and obtaining sustainability. Therefore, the role of
the designer nowadays involves not only projecting the experiences that clients have with
products and services, but also the processes, platforms, and systems behind those
experiences. Again, through Design it is possible to envision a new generation of artifacts and
services (tangible and intangible) to fulfill new and sustainable social demands (Manzini, 2006).
Meroni (2007) says that the Design is centered on the communities and must recognize and
understand the behavior of the masses and social needs. Strategic Design, with its unique
methods and language, could integrate diverse disciplines for the development of innovation.
The comprehension of spontaneous local phenomena with the aid of the designer is a way to
understand sustainable development. With this ample perspective, social organisms,
government institutions, territories and other associations could benefit from Strategic Design
actions.
In all big cities of Brazil, there’s a huge inequality between classes and an aggravating social
immobility, result of equivocal social and economic policies employed in the last several years.
Being an in-development country, Brazil’s path towards full development should be better
oriented.
The “Move Mentes” Project, object of study of this paper, is an example of the application of
concepts of social autonomy and sustainability in a creative community, with the aid of Strategic
Design.

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5 The “Move Mentes” Project

The “Move Mentes” Project is the result of a partnership between the non-governmental
organization (NGO) Associação Saúde Criança de Porto Alegre and a group of graduate
students of the Escola de Design Unisinos. The NGO is a non-profit organization that supports
families of children with chronic diseases interned in the Hospital Conceição de Porto Alegre.
The NGO presents a program to the community families with benefices in the areas of health,
education, citizenship, dwelling, and professionalization. The “Move Mentes” Project
encompasses the professionalization activity.
Starting in october, 2009, the project has been improved progressively, having had several
configurations since its beginning. Due to the great amount of waste material from textile
industries received by the NGO and donated to the community, the NGO envisioned an
opportunity to transform the textile donations into marketable products, made by the community
itself. The NGO proposed the task to the Escola de Design Unisinos.
A working team was formed composed by graduate students of the school and members of
the community. In the first moment, weekly encounters were planned for learning craftsman
techniques and production of accessories. In the first phase, the Design team was responsible
for all aspects of the project: administration of human, material, and financial resources,
planning and creation of products, communication and search for collaborators.
During the course of time, observation and reflection led to a modification of the function of
the Design team. Besides constant stimulus to creativity and creation of products already
without the participation of the Design team, some leaders were identified among the members
of the community. It was no longer necessary the constant presence of the designers for the
activities to happen. The NGO took charge of the administration of financial resources and the
search for collaborators. These changes resulted in a second configuration of the project. The
Design team, at first the necessary incentive for the activities, became a consultant of the
community group. The group had demonstrated some degree of autonomy and became able to
undertake some actions independently. Therefore, after the initial period of acquisition of
capabilities, the weekly encounters, and the creation and orientation for product development
were made by the community group. The active and intense participation of the community
members resulted in more responsibility, proactive behavior, and autonomy. Despite that,
certain limitations were still evident, especially in what refers to creation and development of
products, due to inexperience and lack of knowledge of market opportunities. After identifying
the problem, the Design team aided the improvement and diversification of products.
The contact with potential suppliers and exhibitors were done by the NGO in the second
phase, what rendered the project more visible. The enlargement of the network of contacts
made it possible to install an exhibit and temporary sales point in a big shopping center of Porto
Alegre. With the orientation of the Design team, the sales point produced a very good
commercial result.
In the third phase of the project, with the experience acquired and the support of the NGO,
the community itself got organized to create, produce, and market the products. The good
results attracted new members of the community. And the goal for the future of the project ir to
have some of the initial members of the project getting out of it and starting their own
businesses autonomously.
The evolution of the project can be understood by a graphic representation (Fig. 1).

Fig. 1: graphic representation of the project

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6 Methodology: design-oriented scenarios

When thinking about a method to approach complex objects, such as the “Move Mentes”
Project, we must see it as an open system, in such a way that it permits some dynamics in its
application. In this way, an action has been undertaken and a reflection was done during the
action itself, that is, a process of thinking-doing, a permanent reflection about the project.
Under the perspective of Strategic Design, the process of metaproject is the “idealization and
programming of the process of research and of projecting that you want to use” (Celaschi e
Deserti, 2007). The methodology that oriented the changes in the project was the metaproject
step developed by Reves (2010), based on the systemic scheme of the metaproject process of
Celaschi e Deserti (2007), as seen in Fig. 2.

Fig. 2: The metaproject step

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Schematically, as shown in Fig. 2, the collected data about the project led to a brainstorming
process. The resultant key-concepts were weighed in a SWOT matrix, which aims to identify
internal strengths and weaknesses of the project, and threats and opportunities, external to the
project. In parallel, a graphic of polarities was constructed, whose interpretation was organized
and synthesized in comprehensive concepts, named ‘synthesis-concepts’. Based on the
resultant synthesis-concepts from the graphic of polarities, scenarios were constructed.
To Reves (2010), the scenarios are projections and deal with the uncertainties of the future,
and not with evident predictability. The construction of a scenario is the result of crossing the
concepts of the graphic of polarities with a history, which intends to simulate a context (2010).
The resultant scenarios are represented in Fig. 3.

Fig. 3: Development of scenarios

Crossing non-quotidian and ephemeron, the scenario WORKSHOP (scenario 1) was


obtained: “Design students set up a workshop in a community to stimulate individual talents.
With the intent to the participant women from their quotidian reality, encounters are promoted to
stimulate to creativity. Afterwards, the community returns to its reality and may use what was
learned in the workshop”.
Crossing ephemeron and quotidian, the scenario ASSISTING PROJECT resulted (scenario
2). “Design students assist and aid a group of mothers of the community. The Assisting Project
is an initiative of the NGO responsible for the community. The NGO provides a space where
learning productive techniques takes place. Actions are oriented by voluntary Design students.
Development of products and its production occur at home, what makes the community
dependent on external intervention in order to create, communicate, and sell”.
Crossing non-quotidian and permanent, the scenario “MOVE MENTES” SELF-MANAGED
PROJECT was obtained (scenario 3). “Women of the community organize around “Move
Mentes” Project and, with the knowledge they have, take charge of the creation of products they
make. Their goal is to keep making an economical activity, even after the Design team retires”.
Crossing quotidian and permanent, the scenario “MOVE MENTES” ASSOCIATION resulted
(scenario 4). “Women of the community form a working association as a group to manage the
chain of value of the products they make and perpetuate their job. Knowledge of each member
is improved as long as they assume more important functions in the project. There’s no need for
external intervention, and the association is an example of social integration”.
The successive transformations of “Move Mentes” Project suggest a comprehension of the
scenarios as a natural development of the project. Initially configured as scenario 2
(ASSISTING PROJECT), in which intervention of the Design team and of the NGO was
indispensable for activities to take place, the project turned into scenarios 3 and 4 (“MOVE
MENTES” SELF-MANAGED PROJECT AND “MOVE MENTES” ASSOCIATION), where the
presence of the Design team was no more needed and some degree of autonomy was
achieved.
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7 Final Considerations

The analysis of “Move Mentes” Project was based on the relationship established between the
social actors and the designer. The analysis comprehended three dimensions: 1- social
dimension- involving actors and social context; 2- operational dimension; and 3- technical
dimension- the role of the team of project.
Regarding the social dimension, changes in the attitude of members of the community, of the
Design team, and of the NGO were observed. Those changes were made possible through
interference of the Design team. Despite the initial difficulties related to adhesion of community
members to the group and resistance to learning, a creative community seems to have arisen.
The attitude and behavior of community members changed; several members demonstrated
initiative, stimulated by the experience. Regarding the Design team, orientation by the
methodology of scenarios was adequate. The team retired progressively as autonomous
behavior was improved. Acquisition of autonomy was positive; the community became less
dependent; new products were produced and exhibition and marketing improved.
Regarding the operational dimension, low level of education and low social condition of the
community members posed a serious difficulty to the development of a creative community.
This is expressed in the excessively dependent relationship between the community mothers
and the NGO. This situation got better after the project was recognized by the society, and
recognition and good financial return were obtained. Another relevant factor was the difficulties
in maintaining the space for the project.
Regarding the technical dimension (role of the Design team), the gradual reduction of
intervention by the team was positive, leading progressively to self-management of the
community. Autonomy of the community was stimulated through the development of skills and
identification of leaders in the group, what will possibly guarantee the continuity of the system of
self-management induced by the project.
Lastly, a new and different role of the designer emerges. This role does not replace the
conventional designer activities, but amplifies and enhances the scope of action of the designer.
As seen in this article, the designer leaded the development and structure of the project and
had a significant role in inducing leadership among and in transmitting capabilities to the
community members. Change in mentality was also seen in the NGO, what also permitted the
continuity of the project independently of the Design team.
The results of “Move Mentes” Project demonstrate that the intervention of the strategic
designer in formatting a creative community is relevant and significant for construction of social
autonomy. Once it is achieved, designer orientation is not any more essential, and a consulting
activity is enough.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Qualitative/quantitative cross analysis to design eco-pack

BARBERO, Silvia; Ph.D; Politecnico di Torino;

silvia.barbero@polito.it

PERENO, Amina; grant recipient; Politecnico di Torino;

amina.pereno@studenti.polito.it

TAMBORRINI, Paolo; researcher; Politecnico di Torino;

paolo.tamborrini@polito.it

Keywords: Packaging, Experimental analysis, eco-guidelines.

Packaging, as a symbolic expression of a brand and of the consumer who recognizes him/herself in the
purchased product, is now full of features that go beyond containment and protection, becoming a means
of communication and education in the field of environmental sustainability.
Although the principle of eco-compatibility should be long-acquired by now, the market still has many
shortcomings from this point of view. The field of packaging design has not been able to renew itself for
reduced environmental impacts.
This research starts from the analysis of the criticalities of present industrial packaging to propose a new
approach to sustainable design. The basis of this work is at experimental level and its aim is to provide a
complete screening of the packaging sector according to specific methodological choices that consider
various aspects: from volumes to weights, from materials to components disassembly, ranging from
functionality to quantitative relationship between communication and information.
A comprehensive analysis that provides an overview on the state of packaging in terms of eco-
sustainability and which can be a real starting point for packaging design in a global sustainability
perspective. This innovative perspective generates a totally new approach to the packaging design, from
products to distribution systems.

Introduction

Historical problems and actual trends


Packaging, intended as a tool to protect and transport the product of human labor, has gone
hand in hand with the history of man since its origin. One can therefore say that the packaging,
at a functional level, is the answer to an archaic need of human being. In the last century, this
basic nature of the packaging has been associated with a secondary: packaging becomes the
symbolic expression of a brand and of the consumer who recognizes him/herself in the
purchased product.
The radical change in recent decades has led on the one hand, to widen the functional
requirements as a result of the internationalization of markets and the advent of free service, on
the other to a greater need for communication.
As a matter of fact, in recent years packaging has been enhanced using new techniques and
technologies that have led to a complex version of the product, and thus generated higher
impacts on production and greater difficulties in the disposal stage.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Deal with packaging in the interests of environmental sustainability is therefore certainly
necessary: now packaging can’t ignore the marketing needs, which are undeniable in the
current market, but must follow a new optical design that takes into account all stages of
packaging life-cycle, optimizing space, processes and materials to avoid waste and reduce the
surplus.
Although the principle of eco-compatibility (even for the packaging product) should be long-
acquired by now, the market still has many shortcomings from this point of view.
The field of packaging design, in particular, has not been able to renew itself on the wave of
the growing demand for reduced environmental impact from the markets and society.
There are many prototypes and lots of research, however very few productions take a
reduction in size and materials into consideration, let alone a change to the product to be
packaged with to optimise the packaging itself. However it is not only the material aspect that
can determine the non-sustainability of a project. Indeed, most of the objects today are or
could easily be made of recycled materials and be recyclable, use less energy, use low
emission technologies, etc.; instead, what is through-through missing is the input for ethically
and environmentally correct behaviour and a good design that rethink object and packaging
together to have the best environment requirements.

Data and criticalities


From the quantitative point of view, it is interesting to observe the data provided by the National
Packaging Consortium (CONAI) for the Italian context. The data show not only an Italian
situation but common to almost all industrialized countries, where predominate the same types
of waste, manly packaging, and its waste disposal problems.
Therefore, only pausing on the Italian context, household waste are around 30 million tons per
year, 11,200,000 tons of these ones are packaging waste (source: CONAI 2010),so about 37%
of what Italian people throw away is made up of packaging.
If you look at the data on the material composition of packaging waste, the phenomenon is even
more alarming: 37.8% consists of celluloid, 19.9% wood, 18.5% plastic, 18, 7% glass, 4.5%
steel and 0.6% aluminum (source: CONAI 2010). Lightweight materials such as celluloid and
plastic up some 56.3% of waste in terms of weight. That is the volume and the amount of plastic
and cellulose packaging in terms of numbers are very much higher.

Figure 1: Material composition of packaging wastes in Italy (source: CONAI 2010)

Then, looking at the data for the recycling of materials, about 70% of plastic packaging is
collected and the 35.9% have an energy treatment (source: COREPLA 2010), a procedure that
still generates a lot of doubts and conflicting opinions on the production of harmful powders.

In Europe, the energy recovery of packaging, however, is the most widely system used to
enhance the plastic at the end of its life, but there is a greater awareness about the
environmental and economic benefits of recycling plastic. The Duales System Deutschland

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
(DSD) in Germany is promoting a proper collection of plastic waste in the "yellow bin"
containers, to increase the recycling rate of plastics that now is about 33%, compared to over
60% of energy recovery. Switzerland however, that recovers almost 100% of plastics, has
chosen to differentiate the plastics collection by creating a separate recycling system for more
recyclable plastics, such as PET, which is now almost completely recycled; while incineration is
preferred for other plastic wastes (source: PlasticsEurope 2010).

Other materials have higher rates of packaging sent for recycling, but it’s clear that recycling by
itself can’t provide the solution to the problem of wastes.

Analysis goals
The analysis on material is important but cannot solve the problems connected to this complex
issue. Thinking about packaging as an intermediary between producer and consumer can be a
leverage point to reach important goals. Thus, packaging becomes a real communication
instrument of and for sustainability.
Communicating sustainability for the product contained and the packaging itself is currently just
one of the innovative factors in this field.
This has nothing to do with seeking stylistic languages that evoke the so-called green, but
rather, designing formal and functional solutions that meet the eco-design guidelines, whilst
spreading basic principles at the same time (Tamborrini, 2009).
These include, for example: resource values, no waste (which in a time of economic crisis
becomes more understandable) and the consistency of qualitative and quantitative values
between the contents and the container. These aspects must certainly relate to graphic design
in order to disseminate information on product sustainability. In this context, the labelling issue
becomes crucial, although not sufficient, because in a complex system it becomes difficult for
the end-users to disentangle themselves from the vast amounts of information they need to be
conscious consumers. Words and pictures (of course sincere) must be associated with legal
brands in order to communicate how and why a product is sustainable. It is not sufficient to use
the “magic word", it is essential to explain the reasons that make eco-friendly a product.
How can packaging also lead to ethical behaviour through new features?
Often contemporary and eco-friendly packaging carry out new functions that enhance the dignity
of the packaging product, extending its useful life with a positive impact on reducing
consumption. In doing so, it is possible to teach the value of objects over time, as opposed to
the disposable concept that has long characterised our consumption and behavioural habits.
The simplicity and clarity in the choice of materials and messages certainly encourage some
sustainable practices, like the much-loved and hated waste separation. Loved because we are
now aware of the ethical and economic action, hated because what should be a simple gesture
is complicated by bad design choices that trigger doubts on the materials and fear of making
mistakes.
For example, if paper and cardboard packaging are easily recognizable and can be placed in
the right bin, the case of composites or laminates materials is totally different, they are often
used for aesthetic rather than functional purposes, without considering the end-of-life.

Methodology
According to the Systemic Design method of design that handles the input and output of
processes and the relationships between different industrial stages (Bistagnino, 2011), it is
essential to make choices regarding packaging materials and functions, in order to define in
advance the behaviours that could be triggered and what the collection and disposal channels
could be used. This is especially true in a particular historical period characterised by the
valuation of local economies, the local production and consumption (Km 0).
So it is clear how complex is the design and how many variables come into play in the
production of a sustainable packaging.
To facilitate the design-oriented approach, the Department of Architectural and Industrial Design
(DIPRADI), in collaboration with the course on Environmental Requirements of Industrial
Products (Faculty of Architecture 1, Politecnico di Torino) founded the Observatory of Eco-Pack

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
(OEP) in 2005. The OEP conducts a complete screening of the packaging production sector
according to specific methodological choices that examine many aspects: from volumes to
weights, from materials to the components disassembly, from functionality to the relationship
between communication and information. The research team is coordinated by Paolo
Tamborrini and is made up of Silvia Barbero, Clara Ceppa, Gian Paolo Marino, Amina Pereno,
and Dario Toso.

Categorization of packaging
In order to make an organic and complete analysis, it was necessary to divide the packaging
sector in twelve major categories that fit into three different contexts within industrial products
are configured, based on different dynamics and fruitive relationship with the consumer.
The first area is formed from the individual context in the strict meaning: it includes goods used
in direct contact with the human body. Their use and ownership is strictly personal.
The second area is the environmental one, i.e. all products that are part of the environment in
which man lives and with which it interacts in a personal but not exclusive way.
The third area concerns the social; it includes all products that somehow are enjoyed in a
context of social interaction.
So the three contexts group the twelve major categories of packaging, according to different
dynamics of relation and use. Each category is considered in all its forms and types of
packaging, so that a comparative analysis of the various packages belonging to a given type of
product provides the first results on the most common types and environmental problems.

Figure 2: Categorization of packaging industry

It is an analysis that provides an overview of the packaging situation with regards to


environmental sustainability, as well as a starting point for the design of packages aiming at
environmental compatibility.

Analysis tools
The methodological approach consists of a qualitative part and a quantitative one. The first one
consider some design parameters that are impossible to quantify, like the coherence in forms or
the disassemblity of different materials, and give the first interesting results on a wide range
range of packaging, because for each category are considered all typologies of packaging.
The comparative analysis of individual packages belonging to the same type of product,
provides the first results on the most common types and on the environmental issues.

Each packaging is analysed through the same parameters:


 disassembly and an exploded view of the package that allows to display the number of
components, the kinds of connections and the problems of disassembly;

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 analysis of label, that makes possible to identify the areas dedicated to information and
communication;
 study of the weight of each single component and of the overall packaging, compared
to the the burden;
 identification of materials, display in relation to components weights;
 proper exploitation of volumes, displayed by the cross sectional;
 a brief evaluation on the functionality of the packaging (according to space optimization,
protective and conservative functions, packaging usability).
 a brief evaluation on the sustainability of the packaging (according to presence of
overpacks, composition and materials, weight and volume ratio between pack and
product).

Simplified LCA
The cross analysis of all data provides a map of the general characteristics and of problems of
packaging on the market. It is thus possible to identify the major packaging categories for each
type of product, in particular the 3 or 4 more representative packaging are identified (according
to different materials, connection types, origin and use in the category) to make a simplified
LCA, that can be valid for the whole category.
So a simplified LCA analysis, based on Embodied Energy (EE) and Global Warming Potential
(GWP), detects the phases that impact the most on the entire life cycle.
A comparison of the results of the complete analysis give the chance to understand the aspects
to act upon in order to improve existing packaging and begin the definition of new guidelines to
design packaging ex-novo. At last, from an actual scenario of needs, it is possible to obtain
specific proposals for each sector, in order to design a new sustainable pack (Barbero,
Tamborrini, 2011).

Practical case studies


Some practical cases can better explain how different analysis tools can be used in order to
study packaging sustainability.

Disassembly and exploded view of the packaging

Figure 3: Example of an exploded view of a milk packaging

Packaging is disassembled and photographed in perspective to show the types of connections


with immediacy and any procedures and problems during disassembly.
Each component is given a name, next to which is shown the material (if this is not indicated on
the product, it is detected with the consultation of experts in materials and underlined the fact
that is not easy to understand it).
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Any labels are indicated with arrows to show which symbols are used and where they are
located to understand if they can be easily seen and understandable. An appropriate legend
indicates their meaning.

Analysis of label
On the label are identified the areas dedicated to information (useful data to allow consumers’
aware choice) and communication (spaces dedicated to the brand and visual suggestions
aimed to communicate the product value).

Next to each label are listed the percentage of information, communication and space
considered neutral.

Figure 4: Example of a label analysis

In addition, are highlighted thermal welding and points of glue, which are irreversible
connections and contaminate materials, making more difficult to disassembly the packaging and
separate different materials (e.g. paper with plastic or different plastics).

Study of the weight of each single component and of the overall packaging, compared to
burden

Figure 5: Example of a table with weight of each component

Each component is weighed and added to a table in order to compare the weights of single
parts and materials. This will show the materials and parts that most affect in determining the
weight of the packaging.
Proper exploitation of volumes

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Figure 6: Example of geometrical views with indication of volume percentage

The packaging is represented with orthogonal views and geometric sections.


The section highlighted the product and the percentage of fullness in order to determine if
shapes optimize spaces in the pack.
The same metric scale is used for all views and geometric exploded in order to make an
immediate and realistic comparison between different packaging and different disassembly.

Brief evaluation on the functionality and sustainability of the packaging


Specifying the main features of the packaging sustainability, we have also to consider the
package needs of product and use of it. The pack will primarily have a practical function that
must be taken into account in the assessment of sustainability.

Figure 7: Example of evaluation icons and their meanings

In the evaluation of the package must therefore answer a few important items of sustainability
and functionality that go to sum up and complete the above analysis:
 Optimization of spaces (shapes exploit spaces in storage phases and in shelf
disposition).
 Protection and preservation of the product (pack effectively protects and conserves the
product in relation to the needs of the same one)
 Ease of use of packaging (the pack is handy, easy to open, re-closable or reusable,
etc.)
 Use of overpacks (presence of overpacks having a practical function or only an
aesthetic and communicative function)
 Composition and materials (pack is made by a single material or by several ones; if
made by several materials, single parts can be divided which kind of connections are
used)
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 Weight and volume ratio between pack and product (pack is designed proportionally to
the product, it’s heavy or oversized relative to contents).

Overall analysis
All the analysis tools are applied to 6-12 packaging for each category, selected from those on
the market, according to different materials and technologies being used. So as to have an
overall view on the category.
The comparison between the packaging let determine the main problems of the category; so
designers has a complete view of critical issues to be resolved and if types of packaging to
avoid or favor.
Even in the choice of graphics, are highlighted possible problems related to insufficient
information which leads to an emotional purchasing decision, without awareness.

Comparing different categories in turn, let identify the most critical ones which a designer has to
design carefully: a special framework allows the comparison between the analyzed packaging
to evaluate the different types of pack and highlight the most critical ones from the point of view
of environmental sustainability, as well as giving an overall assessment of the whole category.

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Figure 8: Example of a complete analysis of juice packaging’s

Figure 9: Example of a comparison framework

Simplified LCA
The simplified LCA analysis is performed on the 3 or 4 most significant packaging, to detect
what are the stages of the packaging life cycle more impacting on the environment.
The analysis of simplified LCA is usually based on two parameters: Embodied Energy (EE) and
the Global Warming Potential (GWP). EE indicates the amount of energy (MJ) that is used for
processes that lead to the transformation of raw materials into finished products.

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Figure 10: Example of LCA flowcharts

The GWP indicates the impact made by the emissions of carbon dioxide and other gases
responsible for the greenhouse effect.
The sources from which we obtain data for analysis are different, but the principal is generally
the Cambridge Engineering Selector (CES), that includes also an analysis tool (EcoAudit),
which calculate the values of EE and GWP.
The flowchart illustrates the different stages of the product life cycle: pre-production, production,
transportation, use and disposal.

Figure 11: Example of comparison charts

Comparing data analysis results we can understand the most impacting elements of pack life
cycle therefore on which aspects we may act to reduce the overall impact of the packaging.
Finally the composition of the needs of packaging to propose a set of eco-guidelines for
the design of a sustainable pack. The guidelines are a good starting point for those who would
design a new packaging, assigning priorities to different design addresses, still maintaining the
integrity of the product.

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Conclusion
The packaging design is a highly problematic planning field, from the point of view of
environmental sustainability: the quantitative data show huge criticalities regarding packaging
waste in our landfills and waste collection centers. As we have seen, only to recycle the wastes
isn’t suffice but must get to the root of the problem to solve it. A sustainable packaging design
can undoubtedly make easier recycling and at the same time avoid or minimize the creation of
packaging waste. Because of wide range and complexity of the sector, quantitative reports are
not a sufficient tool for the designer who must deal with environmental problems and several
packaging needs of products.
The method we developed and presented here provides an important assessment tool for a
designer, combining quantitative and qualitative aspects, in terms of sustainability and
functionality of the package.

With appropriate operating and improving margins, the analysis tools we used allow to create a
full screening of the industrial packaging sector, in order to provide useful information on each
type of product category and then create the design ecoguidelines. Indeed, not only numerical
data are provided but also practical and qualitative observations on impacts and the needs of all
the products in order to effectively illustrate critical issues and provide a valuable starting point
for design.

References
Badalucco, L. (2011). Il buon packaging. Imballaggi responsabili in carta, cartoncino e cartone.
Edizioni Dativo, Milano.
Barbero, S., Cozzo, B. (2009). Ecodesign. Ulmann, Germany.
Barbero, S., Tamborrini, P. (2011). Packaging as a comunicative instrument of and for
sustainability. In Bozzola, M.: Sustainability paper packaging for traditional produce. Edizioni
Dativo, Milano.
Bistagnino, L. (2011). Systemic Design, designing environmental and productive sustainability.
Slow Food Editore, Bra (CN).
Bucchetti, V. (2005). Pack Design. Storia, Linguaggi, Progetto. Franco Angeli, Milano.
CONAI (2010). Relazione sulla gestione e bilancio 2010.
COREPLA (2010). Relazione sulla gestione 2010
EuPC, EPRO, EuPR, PlasticsEurope (2010). Plastics – the Facts 2010, An analysis of
European plastics production, demand and recovery for 2009.
Tamborrini, P. (2009). Design Sostenibile, Oggetti sistemi e comportamenti. Electa Milano.
Tamborrini, P., Vezzoli, C. (2007). Design per la sostenibilibità. Strategie e strumenti per la
decade. Libreria Clup, Milano.
Vezzoli, C., Veneziano, R. (2009). Pratiche sostenibili. Itinerari del design nella ricerca italiana.
Alinea Editrice, Firenze.

Method of Life Cycle Assessment (LCA) of materials and


processes involved in a wooden furniture manufactured in
the North Plateau of Santa Catarina, southern of Brazil

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KEIL, Malis Maria Liebl; master candidate, Universidade Federal do Paraná; Universidade
do Contestado

maliskeil@brturbo.com.br

RAZERA, Dalton Luiz; Doctor; Universidade Federal do Paraná

daltonrazera@ufpr.br

CHAVES, Liliane Iten; PhD; Universidade Federal Fluminense; Universidade Federal do


Paraná

lilianeitenchaves@id.uff.br

Keywords: Life Cycle Assessment. LCA. Furniture industry. Wooden furniture

The analysis of the life cycle of products can determine the impact to the environment and human health.
The process of environmental deterioration is inevitable, but it can slow down and look for alternatives that
improve the performance of existing products. The furniture is an object that has a high interaction with the
human being throughout his life. Sometimes a furniture piece is used by several generations, not only
setting an object, but an affectionate relationship with the user. The aim of this study was to identify the
environmental impact caused by the phases, materials and processes of the life cycle of furniture, carrying
out analysis using a type of product manufactured in the North Plateau of Santa Catarina, which is national
and international reference in the production of reforested wood furniture. To proceed with the analysis of
life cycle assessment (LCA) was followed by the method proposed by ISO 14040 Environmental
Management series. For environmental impact assessment was used simplified tool, developed for the
furniture industry at the Politecnico di Milano, called Simplified LCA Ecoindicator Tool for Furniture Sector.
This tool was applied in a pilot test with two furniture pieces made of reforested material.

1 Introduction

The study of the life cycle provides data relevant to the identification of critical points of
production. Compliance with this peculiarity has led to numerous studies on the impacts of
human activities. Numerous studies, scientific papers, dissertations, theses, books, meetings,
conferences, symposia on sustainability and life cycle analysis of various economic activities
and services. In the design of products and services knowledge about the negative impacts of
the project involves increasing the responsibility of the designer. Project with less environmental
impact is essential and easy access and handling of simple tools to assess the life cycle is
essential to a designer. Many of the designers work in companies in the region, doesn’t know
the principles of design for sustainability.
Upon them graduation, they did not obtain this information, so they aren’t "able to provide
environmentally friendly solutions" (SILVA, 2009, p:22) and neither, have the time or motivation
to undertake refresher courses in the subject. Thus, they form a vicious circle.

On the other hand, the tools that make it possible to change this scenario, are in academic or
protected by copyrights and expensive licenses. Designers on the furniture companies do not
have time to fill out extensive form, this way, this research initially sought simplified tools and
suitable for the industry and in products applied to evaluate and verify the possibility of use by
designers in everyday life.
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
The research of this thesis is developed as a case study in the sector of furniture. The profound
study of a few cases but was chosen in order to trace the characteristics of wooden furniture
made in the Plateau Region Northern Santa Catarina, more precisely in São Bento do Sul, Rio
Negrinho and Campo Alegre. The project was in its first part the application of Life Cycle
Assessment (LCA) the pilot study in two pieces of furniture presented in this article.

The methodology that guides the Life Cycle Assessment followed the ISO 14040 series of
Environmental management, guide and are shown in Figure 1, below.

FIGURA 1 – LCA phases

Source: adapted from Manzini e Vezzoli (2002, p. 292) and Guidice et al. (2006, p. 92-96)

Principles and Inventory Life Cycle Impact


framework Assessment
• modeling
•goal and scope product system •selection
•system boudaries •data collection •classification
•functional unit •allocation •characterization
•data quality procedure •normalization
•evaluation

2 Environmental assessment tools for prioritization selecting the method

In analyzing the life cycle of the research process occurs in four stages, according to ISO
14040, cited by Manzini and Vezzoli (2002, p. 292):

2.1 Principles and framework - ISO 14014:1997


The objective of this study point at which stages, materials and manufacturing
processes, product designers and manufacturers of furniture can make interventions
that promote the reduction of environmental impact and communicate the environmental quality
of products. To achieve this result we evaluated the environmental impact of each selected
product and then compared with similar products produced with materials of the same forest
origin.

Purpose / Objective
The purpose of this study is to identify the environmental impact of wooden furnituremade in the
Northern Plateau region of Santa Catarina, analyzing the stages, materialsand manufacturing

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processes. The result of the analysis may be used by designers of furniture companies as a
way to communicate the environmental quality of their products, to guide the redesign
of existing products in order to reduce the environmental impact or drive the design of
new products that are less damaging to the environment. In practice an LCA may be coming for
three purposes: to compare the impact of two or more similar products, identify
improvements and opportunities for the product, make a preliminary assessment of
the environmental performance of the product. (Vezzoli et al., 2009, p: 47)

System boundaries

The furniture that was the subject of this research is composed by at least 75% of the raw
material in timber from plantations (pine or eucalypt spp spp) or reconstructed wooden plates
(MDF, MDP, chipboard, HDF). The geographic limitation was the Northern Plateau of Santa
Catarina and the survey are manufacturers of wooden furniture and wood-based, affiliated
unions Sindusmobil (São Bento do Sul and Campo Alegre) and Sindicom (Rio Vermelho). The
furniture comes from furniture, manufacturing companies affiliated to unions Sindusmobil and
Sindicom. Companies that took part in this survey are small and medium-sized according to the
classification companies used by the Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas - SEBRAE.

In this study were considered raw materials, production processes and energy spent (pre-
production, production and transport) and waste generated. Final disposal of the furniture has
been considered in landfills, because no data were found the destination of these products.

The LCA system boundary was defined as Gate to Gate (Guidice et al., 2006, p. 89) that
examines an intermediate portion of the life cyclewhere data extraction of raw materials and are
not counted and also does not consider the use or the final disposal. These phases were
dismissed for lack of information from literature or the companies surveyed. The beginning of
the research took place in the acquisition of raw materials and the company in study and the
end was considered at the shopkeeper shipping of the product, considering transportation.

Functional unit
The industries of the Northern Plateau furniture Santa Catarina State produce various products
primarily for residential use. The dresser was chosen as a functional unit, being a product
manufactured in more than 90% of companies in the research site and the complexity of the
product share as drawers and the hardware and mounting accessories. The dresser is a
furniture with drawers and doors sometimes. It is usually used in bedrooms for the purpose of
storing clothes and other objects. The products analyzed has dimensions of approximately
1,000 mm long, 900 mm high and 500 mm deep, allowing for variations of up to 100 mm more
or less to given dimensions. The wood of pine or eucalyptus spp spp or wood-based panels
(MDF, MDP, chipboard, plywood, HDF) will be the raw material of at least 75% of the product.
In the functional unit is also necessary to consider the lifetime of the product as its
environmental impact is divided by the time of use.

Data Quality
The company analyzed the test pilot has medium as classified by SEBRAE, data were collected
on sheets of product engineering, design and generation of product costs, because companies
had recorded the whole process. In companies that are part of the research, if they have not
documented the production process will be made an available data or data that can be collected
by the researcher.

2.2 Life Cycle Inventory – LCI – ISO 14041: 1998

To inventory are needed modeling the system / product, data collection and calculation
procedures.

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Modeling product system
The procedures to getting the data followed a sequence of actions described in Figure 2, which
initially is made contact with the company management in order to obtain authorization for the
collection of data. This data collection is done by sending a form to be filled by the company,
after his return data are measured. Case some data is incomplete, returns to the company for
verification. The data need to be received in two standard measurements: kilogram (material)
and megajoules (energy). With these data it is possible to carry out environmental impact
assessment through specific tool. In sequence are issued results of whom are designed charts
for the interpretation and environmental impact assessment. At the end, the conclusion and
recommendations for reducing the environmental impact of furniture manufacturing.

Figure 2: research procedures

The system was modeled to cover the inputs (inputs) and outputs (outputs) that could be traced
through the information collected from companies participating in the survey (Figure 3).
The inputs of raw materials, materials and energy are recorded in gray. The stage of use of the
furniture has considered only the time of use given as guarantee by the manufacture. The
outputs of waste from the manufacturing process and disposal are in black. For this LCA
disposal (except recyclable material known as paper and cardboard) was determined as if all
were discarded in municipal trash.

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FIGURE 3 - MODELING SYSTEM CONSIDERED IN LCA

Data collection and calculation procedures


On stage are collected environmental data relating to raw materials the production phase of
furniture, use and final destination.
Data for raw materials - The data contained in the table were defined from the data needed to fill
chart from environmental impact assessment tool, LCA Ecoindicator Simplified Tool for
Furniture Sector. The chart was made in Word 2003 version, because it is believed that all
companies participating in the survey have access to this software, facilitating the participation
of simply and fast way. (Figure 4)

FIGURE 4 - DATA COLLECTION TABLE OF RAW MATERIALS AND SUPPLIES

Raw materials wood pannel paint varnish glue hardware assembling


/ hardware
materials
type
origin
Quantity
(weight)
waste generated
(Kg)
Destination of
the waste

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Blank rows and columns could be used if necessary to supply more details.
In this context included the materials for the finishing of furniture consisting of: applying paint or
varnish and sanding. It is intended to form a solid film on the surface and elastic wood or panel.
This finish has mechanical and chemical properties that aims to protect and provide aesthetic.
This stage are often applied over a product: insulators, background, paint and varnish. This
layer conveys several aspects to the surface. Which can also be obtained or improved by
sanding between coats. The application technology is the most diverse, such as brush, spray,
roller, curtain, spatula, dipping, electrostatic gun among others. The finishes can be used in
solid or liquid, which needs to be diluted to get the viscosity for good outcome. Part of the liquid
materials are evaporated in the drying process by heat and air velocity, however, these data
were not reported.

Data of manufacture furniture - The surveyed data correspond to the time of production, type
and energy use, waste generated and destination of the waste. (Figure 5) Transformation of
woody material:
 Solid wood - sawdust, unfold, destop, planing, cutting, drilling, profiling, sanding.
 Solid wood panels - sawdust, unfold, destop, planing, cutting, mounting panels, gluing,
sanding, cutting, drilling, profiling, sanding
 wood-based panels - (phases which occurred in the early entry into the furniture
industry) cutting, coating, gluing of edges and drilling.

FIGURE 5 - DATA COLLECTION FRAMEWORK OF PRODUCTION PROCEDURES

Production quantity
processes
time man /
machine
expenditure
of energy
(electric, gas,
generator
(specify
type),
thermal or
other)
waste
generated
(kg)
Destination
of the waste
generated

Data Package - The packaging is even considered an accessory phase, uses various materials,
generates waste and is present in all products of the sample, since all are transported
disassembled and packed in this way is also an important stage in the life cycle. The third table
(Figure 6) data collection was on the packaging. The transportation to the final consumer is
usually done in corrugated cardboard boxes, recycled source or not. For the product does not
come to be damaged in transportation, shims and covers of cardboard and polystyrene or
polyethylene foam. tissue paper and insulated polyethylene foam blankets are used in
protection among parts.

FIGURE 6 - PACKAGE DATA COLLECTION CHART

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Product packaging

Type of material
Origin (Local or distance in Km)
quantity (Kg)
waste generated (Kg)
Destination of the waste
generated (local or Kg)

Data transport - Finally information was requested on the transport of the product to the end
consumer. In this study (Figure 7) was defined as the retailer or distributor to the final consumer,
otherwise it would invalidate the study because of the wide range of delivery product places
especially when it comes to big chain stores and distributors.

FIGURE 7 - CHART OF DATA COLLECTION TRANSPORT CONSUMER PRODUCT

Transport Truck Van Train Plane Ship


Customer
Type

Distance
(km)

In the transportation of materials, Ecodesign Manual (p. 50) defines as "transportation means
the movement of materials and energy between operations carried out in different places and
can be done at any stage of life cycle." For the environmental assessment this stage consider
the distances in kilometers of paths, the load capacity, fuel consumption and emissions of
transport used.
Once collected this information you can start the phase of the environmental impact
assessment, which will be seen below.

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3. Impact Assessment

To assess the environmental impact generated in this study used the software Ecoindicator
Simplified LCA Tool for Furniture Sector.
In the tool the data is inserted in tables and charts where they pass through quantification of
environmental impact and at the end is possible to compare data through "points" the impact
generated at each stage of the product lifecycle.

FIGURE 8 - ECOINDICADORES CHART TO THE FURNITURE INDUSTRY

Source – CHAVES, 2007, p. 215-216

Initially, we transformed all the information collected from companies in units of standard
measurement tool: mega joule (MJ) for electric energy and kilograms (kg) for raw materials,
materials and waste. Having made these changes occurred in table ecoindicators which
categories in which each item would be compatible:
a) Materials
b) Components
c) Process
d) Transport and energy
e) Processing of waste and recycling

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On insertion of data in the calculation of maintenance releases and software Ecoindicator
Simplified LCA Tool for Furniture Sector, there was the need to adapt some materials. These
adjustments were necessary because the database did not include all materials used in
functional units (dressers). To reduce the margin of error in the adaptation, we referred Liliane
Iten Chaves, the author of the tool, seeking guidance on the procedure to adopt.

The data input of raw materials and materials is in preproduction. For this study all materials
including fittings and the packages are at the stage of pre-production.
At the production stage only considered the cost of electricity supplied by enterprises
participating in the survey (Figure 9).

FIGURE 9 - PRE-PRODUCTION AND PRODUCTION CALCULATION TOOL. DATA OF THE COMPANY A

Source – CHAVES, 2007. Ecoindicator pdf.pdf

The phase of use was not included of the research in this way did not generate data.
Table for calculating the transport estimated the average transport of various materials from
various distances. The tool was applied to calculate the mean result of mileage and the means
of transport used for each distance given by company studied.
Data from the disposal of the product are allocated on the last table of the tool. The outputs are
all raw materials and raw input table of the pre-production. In simplified LCA tool used
Ecoindicator Simplified LCA Tool for Furniture Sector, do not get information about the disposal
of finishing materials (paints and varnishes), this item did not get index of environmental impact.
Disposal of chipboard, MDF and solid wood, has been divided into 'waste' of material and
dispose of the product. It was decided to make this separation because as it was greatest
volume material product and the data of 'waste' are from the manufacturers, was considered
relevant information.

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FIGURE 10 - CALCULATION OF TOOL USE, TRANSPORTATION, DISPOSAL AND ENVIRONMENTAL IMPACT
ASSESSMENT OF LCA WITH DATA COMPANY A

Source – CHAVES, 2007 . Ecoindicator pdf.pdf

The final entry on the calculation chart (Figure 10) provides the environmental impact
assessment of each stage and the overall impact.

4. Interpretation of results

To provide a graphical view of the general indices of impact, the resulting values submitted to
the Excel program, provided the following charts.
In the first graph (Figure 11) were added to the data of the overall impacts of each functional
unit to compare the two products.

FIGURE 11-SCORE THE ENVIRONMENTAL IMPACT OF PRODUCTS A AND B

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Product A was more impactful than the product B, even though roughly the same dimensions.
One should consider the product B uses fewer raw materials resulting in less impact, confirming
the strategy for the design of sustainability: reducing material.
In the second graph (Figure 12) compared the data of the raw materials that has the greatest
volume product to verify the contents of the environmental impact of each material.

FIGURE 12 - COMPARISON BETWEEN THE NUMBER OF PRODUCT AND ENVIRONMENTAL IMPACT


GENERATED BY PRODUCTS

weight

The impact of product A is higher due to the material in greater volume and type of material has
more impact than the product B.
The plywood was more impactful to the environment and solid wood the least impactful. It is
noteworthy that the disposal in production all this material is recycled and transformed into heat
energy in boilers. However as there are no data on the issue it was disregarded. The solid
wood discarded in pre-production, can also be reused in finger joint panels characterizing the
reuse of material.
In the third graph (Figure 13) were confronted impacts in different phases of the LCA to outline
the environmental priorities in the design of products and so direct the efforts and prioritization
criteria to be adopted.

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FIGURE 13 - COMPARISON BETWEEN ENVIRONMENTAL PRODUCTS AEB

pré-
The biggest environmental impact of the production of furniture is in the Pre-production,
confirming that this product is the raw material that causes the greatest impact. However the
time of use dissolve a part of this environmental impact. One must consider that the total raw
material input was in pre-production took place in total output and final disposal, adding the
impact of these two phases.

4.1 PARTIAL CONSIDERATIONS


The best strategy for the design of wooden furniture is the reduction of raw materials and
materials, as these causes the greatest environmental impact. The strategy of extending the life
of the product is important, as the furniture that was part of the sample is guaranteed up to 5
years, but has a shelf life much longer. If compliance with the recommendations for use may
take decades, significantly reducing its environmental impact.

The evaluation of partial results and to reverse the situation would be necessary to develop a
national database, or at least regional, considering the large variations in the country.

Many processes are not recorded on manufacturers as the main waste generated by the
production process are waste, sawdust from wood and panels dust, waste and emissions of
finish (varnish, paint, solvents, dust filters) and glues (adhesives and packaging dry dirty).

The consumption of electricity is easily quantifiable, unlike thermal energy. The thermal energy
in the furniture enterprises is often generated from wood residues and panels during the
manufacturing process and is apparently free of charge. Thus, companies that spent hardly
relate to the cost of the product and is not quantified. Breakdown of wood in pre-production is
reused as fuel for generating thermal energy that is used for various manufacturing processes.
Since companies do not count this type of energy as an expense, this does not appear in the
results.

No data were obtained in using phase of the furniture - is included in the literature that
formaldehyde emissions are accounted for at this stage as it was not possible to quantify, was
disregarded in the LCA phase.

The final destination of the furniture was considered the municipal landfill since no data were
found on the subject.

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References

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POLITECNICO DI MILANO. PhD: 262.
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CATARINENSE: Projeto do Arranjo Produtivo Local de Móveis: Plano Plurianual 2007 a
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VEZZOLI, C., F. CESCHIN, et al. (2009). Metodi e strumenti per il Life Cycle Design: come
projettare prodotti a basso impatto ambientale. Milano, Italia, Maggioli.

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Interactive media for children’s Environmental Education

ONO, Maristela Mitsuko; Professor Dr.; Federal University of Technology – Paraná

maristelaono@gmail.com

LEME, Samira El Ghoz; Biologist, MSc.; Curitiba City’s Environmental Secretariat

samiraleme@yahoo.com.br

SANTOS, Fernanda Bornancin; Student of Technology in Graphic Design, PIBITI/CNPq’s


scholarship; Federal University of Technology – Paraná

fbornan@hotmail.com

SILVEIRA, Emanuela Lima; Design Student, PIBIC/CNPq’s scholarship; Federal University


of Technology – Paraná

manu_silveira@yahoo.com.br

ALBUQUERQUE, Camilla Hanako Nishihara de; Student of Technology in Graphic Design;


PIBIC/UTFPR’s scholarship; Federal University of Technology – Paraná

cami.nishi@gmail.com

Keywords: environmental education; hydrographical basin; interactive media.

This paper is related to the research and development of interactive media about the Hydrographical Basin
of the Belém River, which is located in the city of Curitiba, Brazil. Addressed to children from 8 to 12 years
of age, and to be delivered to educational institutions, this work aims at giving a contribution to
Environmental Education, understanding it as a very important way for promoting knowledge and
awareness about the value and co-responsibility of taking care of the environment. Furthermore, that it is
important for promoting cooperative actions in order to improve the present and future environmental
conditions, based on systemic and trans-disciplinary approaches, considering the inter-relationship and
interdependence of knowledge and all dimensions of environment and life. Taking into account the
requirement of integrating a systemic approach in designing the educational media, both incorporating
relevant information and appropriate languages for the beneficiary group, making it efficient in
communication, friendly, and pleasant to interact with, the reported media follows interaction design
principles, and includes multimedia resources, such as video, photography, illustration, animation, etc.
Moreover, it registers social and cultural experiences locally contextualized, stimulating awareness and
involvement of people in actions to conserve, recover and improve the environment.

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1 Introduction

Concerns about the environment have been reinforced in the last few decades, mainly from the
1960s, as a result of an ampler perception about the risks of exhausting some important natural
resources of the Earth, as well as of the aggravation of its environmental degradation.
The United Nations Conference on Environment and Development (so-called Eco92, Rio
Summit, Rio Conference, Earth Summit) marked the formalization of a deeper involvement of
the governments, when 173 heads of state and government signed the Agenda 21, a document
that established a commitment to a ‘sustainable development’, which was reinforced by other
two complementary documents of the World Summit, addressed to a ‘sustainable society’: the
Land Letter and the Treaty on Environmental Education for Sustainable Societies and Global
Responsibility. In 2002, the United Nations launched the Decade of Education for Sustainable
Development – 2005 - 2014, emphasizing the role of education for a sustainable life.

According to Morin et al (2003, p. 98), ‘the task of education for the planetary period is to
reinforce the conditions for the emergence of a world-society composed by protagonist citizens,
conscientiously and critically committed with the construction of a planetary civilization’.
This perspective is related to the promotion, by means of education, of solidarity, identity and
belonging feelings to the Earth as a native land and home for of all human beings and other
living beings. Moreover, it is based on the respect of cultural diversity, singularity and freedom in
decision making of people, always in inter-relation with society and the environment as a whole.
In this sense and aiming at promoting education for sustainability, this paper is related to the
design of digital interactive media for environmental education addressed to children from 8 to
12 years of age, and to be delivered to educational institutions, focused on the hydrographical
6
basin of the Belém River, which is located in Curitiba city, Paraná State, Brazil.
We intend to give a contribution to solve the problem of: How can the Environmental
Education promote among the population, since childhood: ‘awareness of the environment and
its problems’, ‘basic knowledge and understanding of the environment and its interrelationship
with man [human being]’, ‘skills to solve environmental problems’, ‘a sense of responsibility and
urgency towards the environment so as to ensure appropriate actions to solve environmental
problems’, as established by Tbilisi Conference (UNESCO & UNEP & IEEP, b1986, p. 10-11),
amongst other relevant issues related to environmental care?

2 Environmental education, culture and sustainability

The interference of humanity in the environment, by means of the composition of the material
polisystem that has been continuously changed since the construction of the first artifact, has
demanded the adoption of a set of reactive, active and proactive strategies and practices in
environmental education, aiming at promoting awareness, taking care, solving and preventing
environmental problems, such as, for instance: degradation of water and air, risk of exhausting
natural resources, amongst others.
The word ‘sustainable’ is originated from sustentabile, a Latin word, and refers to what we
can ‘conserve, maintain; […] protect, favor […]’. (Ferreira, 2004, p. 1902).
The concept of sustainability was initially sketched by the Conference of the United Nations
on Human Environment, in Stockholm, in 1972, although such a theme has not yet been
incorporated in environmental issues. This conference called the attention to the problems
related to environmental degradation and pollution, as well as to the need of improving the

6
This is part of an ampler project, so-called: ‘Design and culture: digital media for supporting research and education’,
which has been developed from 2005 at the Interactive Media Design Center (DMI), Post-Graduation Program in
Technology (PPGTE), Federal University of Technology – Paraná (UTFPR), coordinated by Prof. Dr. Maristela Mitsuko
Ono.
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human environment for the present and future generations.
The ideology on sustainable development has expanded from the middle of the 1980s, and
has gradually been inserted in the movement of environmental education, becoming stronger to
the point of achieving a dominant position. (Sauvé, 2005).
According to the Report of the World Commission on Environment and Development
(WCED), Our Common Future, elaborated in 1987, ‘Sustainable development is development
that meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to
meet their own needs’. (Comissão Mundial…, 1991, p. 46). Furthermore, the concept of
sustainability has limitations imposed by the state of technology and social organization,
regarding to environmental resources, as well as by the capacity of the biosphere to absorb the
effects of human activities.
Moacir Gadotti (2008, p. 14) affirms that sustainability is the ‘harmony between the different
ones’, and it has become, paraphrasing Paulo Freire, ‘a historical and existential imperative’.
On the other hand, the concept of Environmental Education (EE) also has several
approaches, and its evolution is closely related to the concept of environment, which was
reductively focused on the natural sciences in the beginning. Nevertheless, it has gradually
incorporated the social and human sciences, expressing the complex interdependence and
inter-relation between knowledge, values, behaviors and actions that are demanded for a
sustainable life.
According to Dias (2004, p.100), Environmental Education is ‘a process that helps people to
apprehend how the environment functions, how we depend on it, how we affect it, and how we
promote its sustainability’. Moreover, Environmental Education intends to improve knowledge,
understanding, skills and motivation to acquire values, mentalities and attitudes, which are
needed to deal with the environmental issues and problems, as well as to find sustainable
solutions.
Environmental Education was recommended by United Nations Conference on the Human
Environment (Stockholm, 1972); structured at the Belgrade Conference, in 1975; and configured
st
as an international program at the 1 Intergovernmental Conference on Environmental
Education of Tbilisi, in the URSS, in 1977. This later conference extended some principles,
objectives and practical orientations, aiming at promoting the improvement of people’s
knowledge about the environmental problems. Moreover, it re-guided and articulated biological,
cultural, economic, physical, political and social factors, in order to stimulate the local and global
environmental control and handling. It is worth mentioning the following recommended criteria to
be adopted in Environmental Education, according to the report of this conference (UNESCO &
UNEP, 1978, p. 25-26):
Whereas it is a fact that biological and physical features constitute the natural basis of the human
environment, its ethical, social, cultural and economic dimensions also play their part in determining the
lines of approach and the instruments whereby people may understand and make better use of natural
resources in satisfying their needs.
A basic aim of environmental education is to succeed in making individuals and communities
understand the complex nature of the natural and the built environments resulting from the interaction
of their biological, physical, social, economic and cultural aspects, and acquire the knowledge, values,
attitudes, and practical skills to participate in a responsible and effective way in anticipating and solving
environmental problems, and the management of the environmental quality.
[…] environmental education should bring about a closer link between educational processes and real
life, building its activities around the environmental problems that are faced by particular communities
and focusing analysis on these by means of an interdisciplinary, comprehensive approach which will
permit a proper understanding of environmental problems.
Environmental education should cater to all ages and socio-professional groups in the population. […]
To achieve the effective development of environmental education, full advantage must be taken of all
public and private facilities available to society for the education of the population: the formal education
system, different forms of non-formal education, and the mass media.
The Environment and Society Conference on Education and Public Consciousness for
Sustainability, promoted by United Nations for Education, Science and Culture (UNESCO), held

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in Greece, in 1977, emphasized the fundamental role of Education in order to promote
conscientious actions of people.
In reply to recommendations of chapter 36 of Agenda 21, `UNESCO substituted its
International Program in Environmental Education by a Program in Education for a Viable
Future' (UNESCO, 1997), in order to contribute for sustainable development. In this approach,
according to Sauvé: `The environmental education becomes a tool, amongst others, at the
mercy of sustainable development’ (2005, p. 37), aiming at promoting economic development,
respecting social aspects and the environment, and contributing for such development with a
‘pragmatic’ and ‘cognitive’ approach (p. 42).
In 2002, the United Nations General Assembly declared a Decade of Education for
Sustainable Development (DESD): 2005 – 2014, designating UNESCO as the lead agency for
the promotion of this decade. DESD’s global objective is ‘to integrate the inherent values of
sustainable development in all aspects of learning, aiming at promoting behavior changes that
allow the creation of a sustainable and more fair society for everyone’ (UNESCO, 2005, p. 16).
Thus, the central role of education for sustainable development is emphasized, as well as
the need for practical commitment and a sense of co-responsibility of a set of partners, including
governments, public and private organizations, civil society and local communities, amongst

others, seeking for a sustainable life. In this sense, DEDS congregates two fundamental and
7
transversal axes: environmental and scientific education.
The objective of Brazilian Environment National Politics is ‘the preservation, improvement
and recuperation of the environmental quality that is adequate to life, in order to assure
conditions for social and economic development, as well as for the interests of national security,
and for the protection of human life dignity within the country’. One of its principles is the
promotion of ‘environmental education in all learning levels, inclusively for the community,
o
aiming at enabling it to actively participate in defense of the environment (Brasil… Law N
st
6.938, August 31 1981).
Furthermore, Brazilian National Curriculum Parameters, which guides education in Brazil,
incorporates contents about environment in the Curriculum as a transversal theme in all
educational practices. Moreover, Brazilian National Program in Environmental Education
establishes guidelines for the development of environmental education as a dialogical practice
that intends to develop critical and sensible consciousness to environmental issues in Brazilian
society, based on an approach that inter-relates social, ecological, economic, political, cultural,
scientific, technological and ethic factors, in order to contribute for autonomy, freedom and
individual and collective responsibility in choice, decision and participation processes in daily life
actions.
A very important issue to be considered in environmental education and sustainability is the
contexts and cultural diversity that makes it difficult or even impossible the adoption of
generalist strategies and tools, taking into account that culture influences the way people
perceive the real world and their relationship with it.
Culture is here understood, from an interpretive perspective (Geertz, 1989), as a set of
meanings woven by people along their lives, based on which they develop their analysis,
values, thoughts and behavior, as well as understanding about their own existence.
The material and immaterial culture, as well as the manifestations of their diversity, must be
considered as inter-related parts of the environment within a perspective of their complexity,
trans-dimensionality and trans-disciplinarity, inclusively in the Environmental Education.
Thus, some premises of the Environmental Education Series 18 (UNESCO, UNEP & IEEP,
a1986) must be taken into account, such as, for instance:

7
UNESCO’s representation in Brazil. Available at: <http://www.unesco.org>. Accessed in: June 22nd 2011.
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Human systems are governed by both biological evolution and cultural evolution. (p. 19).
To some extent, each type of evolution, biological or cultural, also affects the other. For instance,
different cultures place different meanings on natural events. While one culture may explain a drought
in scientific terms, another may attribute it to the anger of a god. Such differences in interpretation
make a further difference in how each culture attempts to deal with drought. (p. 20).
Furthermore, the Environmental Education Series 23 (UNESCO, UNESCO & IEEP, c1986)
points out that:
Many environmental problems are localised, or have a local manifestation, and need to be discussed
and, hopefully, solved by local people and local officials. It is often not appropriate to confront people
with problems that are at a worldwide or even national level; they need to examine the problems of
their village or their town such as their water supply, […], etc. (p.64-65).
Moreover, it is worth emphasizing, as argued by Dias (2004, p. 215-216), that:
The environmental problems must be firstly observed within their local context, in a way that the
individual can perceive their importance, and, after that, within the global context. […]
A harmonic and ethic relationship between man [human being] and his [/her] environment, taking the
conservation and improvement of the environmental conditions as theme, can be developed since
childhood until the adult phase by means of the formal and non-formal education.
Based on these understandings, the interactive digital media for environmental education
was developed.

3 Interactive digital media for environmental education

The research and development of the interactive digital media for environmental education is
based on the understanding of environmental education as a very important way for promoting
knowledge and consciousness among the people about the value of environment, as well as a
notion of belonging to it and of co-responsibility of each person in taking care of it.
The proposed media contributes to cater for recommendations for environmental education,
based on a systemic and trans-disciplinary approach, related to the identification and
interpretation of local environmental problems, and the promotion of learning among children
and adults, as well as the ‘production of specific, local teaching programs, including audio-visual
aids’ (UNESCO, UNEP & IEEP, c1986, p. 58).

Objectives
The general objective of the interactive digital media for environmental education is to promote
the improvement of knowledge and consciousness about the importance of the environment, as
well as to promote among people a sense of belonging and being co-responsible to it, and
values that can guide them to adopt lifestyles, practices and behaviors that may contribute to
environmental conservation, recovering and improvement, by means of an efficient
communication with an interactive, easy and pleasurable access to related contents, based on
the example of the hydrographical basin of the Belém River, which is focused on the research
and development.
The specific objectives are:
 To promote the improvement of knowledge and consciousness among the beneficiary
group about the historical contextualization and importance of the rivers for life in the
past, present and future;
 To promote the improvement of knowledge and consciousness among the beneficiary
group about the importance of conserving the quality of the water of the rivers in an
optimum condition, or its improvement / recovering, if it is degraded;
 To promote the improvement of knowledge and consciousness among the beneficiary
group about the necessary care for conserving, recovering and improving the quality of
the water of the rivers;

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 To promote the approach and contextualization of the local reality, a sense of belonging
and co-responsibility of people to the environment, in a way to guide them to adopt
appropriate lifestyles, practices and behaviors for a sustainable life;
 To afford an easy and pleasurable access to contents related to environmental
education, applying digital and multimedia resources that promote interactivity and an
efficient communication.

Delimitation
The rivers are sources of one of the indispensable natural resources for human beings: water.
Nevertheless, many of them have suffered a process of degradation, due to the pollution of their
water, mainly as a result of the inadequate destination of domestic garbage and effluents. This
problem has been aggravated by the environmental impacts caused by the urbanization
process. This environmental issue has been discussed along many years, emphasizing the
need of systemic and trans-disciplinary approaches in environmental actions, taking into
account the interdependence, complexity and diversity of contexts, for conserving, recovering
and improving the quality of water.
It is worth emphasizing the principles of the National Politics for the Environment, which is
related to the care of the water that belongs to the environment, and is a public patrimony to be
o
assured and protected. (Brasil… Lei N 6.938).
According to Dias (2004, p.217): ‘Learning is more meaningful when the activity is concretely
adapted to situations of the real life of the city or environment, of the student and teacher’.

The interactive digital media for environmental education is focused on a specific context:
the hydrographical basin of the Belém River, taking into account the great relevance of the
rivers for a sustainable life, and aiming at contextualizing the local reality, as well as promoting
among people identity, solidarity and a sense of belonging and co-responsibility of taking care of
the environment.
The hydrographical basin of the Belém River encloses 35 of the 75 neighborhoods of the city
of Curitiba. And both the spring and the estuary of the Belém River are located in this city,
running around 17.3 Km, over 14 neighborhoods with distinct urban, socio-economic and
cultural characteristics.
Despite the great importance of the Belém River for the environmental composition and for
Curitiba city, the quality of its water has been seriously degraded in the urbanization process.
Nowadays, this river presents the highest level of water pollution in Curitiba city. This problem
has been mainly caused by the precariousness of the sanitary sewer infrastructure; deposition
of garbage into the rivers; irregular occupations along the rivers’ margins; and mainly by
pollution and contamination of rivers by solid residues and domestic effluents, which have been
responsible for approximately 90% of the pollution of waters (Bollman & Edwiges, 2008).
Thus, the hydrographical basin of the Belém River congregates several relevant factors for
environmental education, such as, for instance: elements of the hydrographical basin, historical
contextualization, importance of the rivers, quality of waters, necessary care with the waters of
the rivers, amongst others.

Beneficiary group
The beneficiary group encloses children from 8 to 12 years of age, who attend educational
institutions, in spite of not being restricted to it, but open to all people who are interested in the
related subject.

Methodology
The interactive digital media for environmental education follows a trans-disciplinary
(D’Ambrósio, 1997; Nicolescu, 1999; Antônio, 2002; Soethe, 2003; Sommerman, 2006) and a
qualitative methodological approach, of an interpretive nature (Moreira, & Caleffe, 2006), based
on the complex (Morin & Le Moigne, 2000), systemic (Sauvé, 2005) and trans-dimensional
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inter-relationships and interdependence of all environmental factors.
The systemic approach in environmental education propitiates, according to Sauvé:
[…] an adequate knowledge and understanding about realities and environmental problems. The
systemic analysis makes possible the identification of the different components of an environmental
system, and to emphasize the relationships between its components, such as those between the
biophysics and social elements of an environmental situation. This analysis is an essential stage that
authorizes us to obtain, after that, a vision of the whole that corresponds to a synthesis of the
apprehended reality. Thus, we may enhance the whole of the environmental system, which dynamics
can be better perceived and understood, as well as its rupture points (if they exist) and the evolutionary
ways. […] The systemic chain in environmental education is based on the contributions from the
ecology, trans-disciplinary biological sciences, amongst others […]. (Sauvé, 2005, p. 22).
On the other hand, the concept of ‘trans-disciplinarity’ goes beyond the disciplines and
interrelationships between specific disciplines. It is placed in a dimension in which the frontiers
are fluid and permeable. (Nicolescu, 2002).
It is worth emphasizing that we do not intend to establish absolute truths, generalizations
and homogenization in the categories of analysis and conclusions, taking into account that the
conditions and contexts are complex and dynamic (Oliveira, 2002). Moreover, it is here
understood, as argued by Morin, that ‘there are instances that allow to control [- in a certain way
-] knowledge; each one is necessary, and each one is insufficient’ (Morin & Le Moigne, 2000, p.
62), and ‘[…] what allows knowledge is simultaneously what limits it’ (p. 64). Therefore, it is
necessary to adopt a non-determinist and non-reductionist approach in environmental
education, as there is always some uncertainty.

The methodological procedures include:


 Field research with semi-structured interviews with an intentional sample of
professionals and researchers who have been focused on environmental education and
sustainability, citizens who live, lived, and/or work nearby the Belém River, in order to
register (in audiovisual media) their memories, and present and future perspectives
about this river;
 Documentary research;
 Iconographic research;
 Research on websites related to the environment and addressed to children, with a
comparative analysis about their graphic composition, usability, etc.;
 Elaboration of mental maps;
 Design of interactive digital media: concept, development and selection of alternatives,
detailing and final work of the proposal (command buttons, foregrounds and
backgrounds, icons, illustrations, menus, frames, windows, mapping, navigation and
accessibility resources, amongst other items);
 Implementation of the media in digital supports (Internet, DVD-Rom, etc.).
Principles of interaction design
The design of the interactive digital media follows principles of interaction design (Badre, 2002;
Bannon, 2005; Löwgren, & Stolterman, 2004; Nielsen, 2000; Norman, 2006; Preece, Rogers, &
Sharp, 2005; among other authors), such as, for instance:
 Adequacy to the experience, context and language of the beneficiary group;
 Adequacy to the socio-cultural and usage contextualization;
 Aesthetics adequacy of the graphic interface to the beneficiary group’s profile;
 Affordance (attribute of an artifact that allows people to perceive possibilities of
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interacting with it);
 Consistency (similarity of actions and elements of the graphic interface, related to the
execution of similar tasks);
 Facility to understand and to use;
 Feedback of actions (related to the visibility of command buttons in over and down
positions, for instance);
 Flexibility and efficiency (in a way to allow more experienced people to go faster
through some actions, ‘skipping” some stages);
 Help and documentation (information about the use and content of the media);
 Mapping (relationship between elements and their positions);
 Prevention of mistakes;
 Promotion of recognition, with priority to memorization;
 Restriction (delimitations to certain types of interaction);
 Visibility (of the graphic interface’s elements, and of the system state); amongst others.
Furthermore, it is worth emphasizing that the interaction with every artifact is diverse for
each person, so that all those mentioned principles are non-absolute, but relative.

Mental map of the media


The elaboration of a mental map (Figure 1) of the interactive digital media was very important
for a more efficient organization of its communicational system and architecture, as well as for a
more adequate and harmonic interrelationship between the elements in the composition of its
graphic interface, multimedia resources and navigation system.

Figure 1: Mental map of the interactive digital media for environmental education

Menus of the media


The media has a main menu (vertically placed, and on the left side of the screen) and a
secondary menu (horizontally placed, and below on the screen) (Figure 2).

Figure 2: Page of ‘ Home‘, showing the main and secondary menus, as well as the map of the hydrographical

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basin of the Belém River with the localization of its spring (in the neighborhood Cachoeira) and estuary (in the
neighborhood Boqueirão)

The main menu allows the access to contents about: placement of the Belém River’s
hydrographical basin and neighborhoods that belong to it; Belém River’s historical
contextualization; necessary cares; and quality of waters.
The secondary menu allows the access to contents about: what is the media (presentation,
research and development team, collaborators); index (‘tree view’); options/accessibility;
dictionary (glossary); and help.

Pages of the media


The media integrates resources such as, for instance: video, audio, pictures, illustration,
animation, etc., including registrations of social and cultural experiences, locally contextualized,
aiming at calling the attention and promoting the improvement of knowledge about the
environment, the notion of belonging and social co-responsibility to it, as well as stimulating
people to get involved in actions in favor of taking care of the environment.
The pages of the media are related to the following subjects:
 Belém River’s basin – with content related to its geographic localization – from a macro
and micron perspective, by means of illustrations of its localization on Earth, in the
Americas, in Brazil, in Paraná State and in the city of Curitiba (Figure 3);
 Neighborhoods that belong to Belém River’s basin, focusing on those which are
traversed by the main stern of the Belém River (Figures 4 and 5);
 Belém River along history – with information, illustrations and pictures about
occurrences related to Belém River and its neighborhoods along history (Figure 6);
 Cares – with some recommendations for taking care of the rivers, in order to conserve,
recover and improve its natural resources and quality of waters, such as: installation of
appropriate sewer system; appropriate destination of garbage; conservation and
improvement of vegetation in the margins of the rivers; adequate occupation of
buildings within the hydrographical basin; amongst others;
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 Quality of waters - with content about the quality of waters of the Belém River, along its
trajectory from spring to estuary, in different neighborhoods (Figure 7).

Figure 3: Page of ‘Belém River’s basin’, showing its localization

Figure 4: Page with illustration of the Belém River and Parque da Nascente (‘Spring Park’), both located in the
neighborhood Cachoeira

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Figure 5: Page with illustration of the Belém River, located in the neighborhood Cachoeira

Figure 6: Initial page of ‘Belém River along history

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Figure 7: Page of ‘Quality of waters’

Accessibility resources
Aiming at extending the access to the media, and reducing the restriction to certain groups, the
media offers some accessibility resources, such as, for instance: subtitles in videos;
interpretation / translation in Brazilian Sign Language (LIBRAS), and options of other

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8
languages , besides Portuguese (basic language of the project); audio, color and font size
options.
Video with interpreter and translator of LIBRAS are shown in full screen, whereas the original
video is shown in reduced screen, placed below, on the left side (Figure 8). This allows people
to adequately visualize the expressions and gestures of the interpreter / translator of LIBRAS,
which is a fundamental requirement for this language, but has not been observed by other
available audiovisual medias that adopt the contrary (video in LIBRAS shown in reduced
screen), thus, making more difficult the communication with deaf people.

Figure 8: Example of a video scene of an interviewee (smaller image), and its interpretation / translation to Brazilian
Sign Language (LIBRAS) for deaf people (bigger image)

Evaluation of the media


An intentional sample of the beneficiary group (children from 8 to 12 years of age) evaluated the
interactive digital media for environmental education, in order to identify problems and
possibilities of improvements. The first evaluation of a preliminary version of the media was
9
developed among a group of deaf children from the Instituto de Educação do Paraná Professor
Erasmo Pilotto (IEPPEP), and children from two public schools: Escola Municipal Aroldo de
10 11
Freitas and Escola Municipal Felipe Zeni , both from Pinhais city, which belongs to the
Metropolitan Region of Curitiba, during an exhibition of the media at the Bienal Brasileira de
Design 2011 / Ações Paralelas (Brazilian Biannual of Design 2011 / Parallel Actions). Moreover,
aiming at a complementary evaluation, some opinions and suggestions given by adults that
visited the exhibition and interacted with the media were also taken into account.
Furthermore, children from a private school - Escola do Bosque / Mananciais de Curitiba –
participated in the second evaluation of the media. This school was selected mainly because it
is located nearby the Belém River, which crosses the front part of its territory, thus allowing a
better contextualization and familiarity of the children with the theme of the media.
The context of use – in the classroom where the children are used to having IT classes –
was also important for the evaluation of the media, taking into account that the classroom was
adequate, in terms of infrastructure and ambience, and familiar to the children.

8
We intend to include other options of languages by means of sponsorships and future collaborations.
9
6 deaf children.
10
Total of visitors: 74 students, from 8 to 12 years old.
11
Total of visitors: 80 students, from 9 to 14 years old.
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The evaluations were related to some items of the graphic interface (for example: command
buttons, icons, personages, illustrations, colors, amongst other elements), and to principles of
interaction design.
We tried to simplify the evaluation tool as much as possible, considering the profile of the
sample of children and objectives, by using some icons of expressions of satisfaction and
dissatisfaction in relation to the evaluated items, as well as a space for writing down some
comments and suggestions.
Direct observations and by means of audiovisual registration of the computer screen and of
the children’s behavior, during their interaction with the media, were also carried out. Both
procedures gave an important contribution for evaluating the interest and satisfaction level of
the children when interacting with the media.
The children, in general, positively evaluated the graphic interface of the media, and
expressed special interest in the videos, which mix interviews with citizens, pictures and
illustrations. The children continued to interact with the media after finishing the evaluation -
developed with two children at each time - while waiting for the next two children. This
emphasized their interest in the media, demonstrating that the experience was pleasant for
them. Moreover, the interaction with the media was intuitive and easy to learn for the majority of
the children.
The evaluations indicated the need of some adjustments and possibilities of improvements in
the media design, such as, for example:
 The need to more clearly present the link for video (affordance), e.g., with the insertion
of a screen in miniature;
 To improve the consistency of closing windows;
 To improve the communication of the names of neighborhoods in pages related to
them;
 To improve the communication of the ‘site map path’ (so-called: ‘breadcrumb’,
‘eyebrow’), i.e., the localization of the present page and links as a way to return to the
media’s initial page (‘home’);
 To present textual contents more dynamically (as text boxes tend to be less attractive
for children), e.g., by means of audio resources and presentation of contents by
illustrated personages;
 To include an introduction with a presentation about the media for a general overview;
amongst others.

4 Final considerations

The research and development of the interactive digital media for environmental education,
referred in this paper, was based on a systemic and trans-disciplinary approach, and the
composition of the team, including all collaborators, expressively contributed to reach the
proposed objectives, congregating reflections, different visions and actions in favor of
environmental education.
Furthermore, we considered the complexity and cultural diversity that characterizes the
interrelationships and interdependence between the polissystems that compose the
environment.
The proposed media enables the beneficiary group to associate it with real life and local
context, as well as to improve knowledge and consciousness about everyone’s belonging and
co-responsibility in taking care of the environment, both in its micron and macro dimension.
Moreover, it permits an association of contents with the real context by means of a playful
language, which is close to children, as well as offers some accessibility resources that extend
the inclusion and diversity of the beneficiary group.

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The media will be available in digital media, such as Internet, DVD-Rom and/or CD-Rom,
aiming at promoting an easy access to it, and contributing as a reference for producing other
media for environmental education.

We intend to extend the contents of the media, including other hydrographical basins of
Curitiba’s metropolitan region and other places, as well as contents related to other themes for
environmental education in the near future.
It is worth emphasizing the importance of the collaboration of professionals from the Curitiba
12
city’s Municipal Secretariat of the Environment in the research and development process; an
Interpreter and Translator of Brazilian Sign Language (LIBRAS), who helped in accessibility
resources for deaf people; the interviewees, who reported their memories and perspectives;
and, finally, the children who participated in the evaluation process, thus giving a relevant
contribution for the improvement of the media.

Acknowledgement
To the National Counsel of Technological and Scientific Development (CNPq) for supporting the
Institutional Program of Scholarships for Scientific Initiation (PIBIC) and Institutional Program of
Scholarships for Initiation in Technological Development and Innovation (PIBITI), which were
respectively conceded to: Emanuela Lima Silveira (2009-2011) and Fernanda Bornancin Santos
(2010-2011);
To the Federal University of Technology – Paraná (UTFPR) for supporting the Institutional
Program of Scholarships for Scientific Initiation (PIBIC) and Institutional Program of
Scholarships for Initiation in Technological Development and Innovation (PIBITI), which were
respectively conceded to: Fernanda Bornancin Santos (2009-2010) and Camilla Hanako
Nishihara de Albuquerque (2010-2011), as well as for sheltering the Interactive Media Design
Center (DMI), where the referred project was developed;
To Samira El Ghoz Leme, Biologist, Master in Technology - Municipal Secretariat of the
Environment of the city of Curitiba, for collaborating in the field research;
To Felipe Leoni Gomes, a volunteer of the PIBITI, who collaborated in the research and
development;
To Leny Mary de Góes Toniolo, Bachelor in Languages/Portuguese, Specialist in Environmental
Education (INIECO, Spain), Manager of Environmental Education - Municipal Secretariat of the
Environment of the city of Curitiba, for collaborating in the field research;
To Tamara Simone van Kaick, Biologist e Artist, Professor Dr., Department of Chemistry and
Biology, Federal University of Technology – Paraná, for collaborating in the field research;
To Ana Paula Ferreira de Almeida, Interpreter and Translator of LIBRAS;
To Escola do Bosque / Mananciais (Curitiba city / Paraná state, Brazil) for collaborating in the
evaluation process of the media by students;
To all interviewees, who collaborated in the field research;
To all people, who collaborated in the evaluation process of the media.

References
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Badre, A. N. (2002). Shaping web usability: interaction design in context. Boston: Addison

12
Samira El Ghoz Leme (Biologist, MSc. in Technology), Leny Mary de Góes Toniolo (Bachelor in
Languages/Portuguese, Specialist in Environmental Education, Manager of Environmental Education - Curitiba City’s
Municipal Secretariat of the Environment), Cláudia Regina Boscardin (Biologist, MSc., Department for Water Resources
- Curitiba City’s Municipal Secretariat of the Environment).
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Proposition of criteria for the economical dimension of
Design for Sustainability: a business perspective

SANTOS, Aguinaldo; PhD; Universidade Federal do Paraná


asantos@ufpr.br

MERINO, Eugenio Diaz; Ph.D; Universidade Federal de Santa Catarina


merino@cce.ufsc.br

ROSA, Ivana Marques da, mestranda do PPGDesign, Universidade Federal do Paraná


ivanamarquess@gmail.com

ANDRADE, Erica Ribeiro de, mestranda do PPGDesign, Universidade Federal de


Santa Catarina
ericadesign@gmail.com

ENRICONI, Alessandra Martins, pesquisadora do NDS/PR, Universidade Federal do


Paraná
amenriconi@gmail.com

Key words: economic dimension, sustainable development, design for sustainability, business
management

The model of consumption and current production needs urgent review of its foundations to effectively take
up the reversal of the socio-environmental that surrounds us. Likewise, the designer who has long been
part of the problem now has the opportunity to direct their creative ability to support this process of change.
This article aims, through literature review and case studies of projects developed by the Design and
Sustainability Research Center from the Federal University of Paraná (NDS / UFPR) and by Center of
Design Management from the Federal University of Santa Catarina, to present a set of criteria for
consideration of the economic dimension in the development process of products or services. As a result,
we presented the contributions that can be achieved by companies and, the design professional can
propose to design creative solutions, in view of the socio-corporate responsibility. In short, this article
suggests criteria to optimize the economic dimension of sustainability in product development and
services.

1 Introduction
The current consumption and production model needs an urgent review of its foundations in
order to effectively begin to revert the environmental and social framework that surrounds us.
Likewise, the designers, who has long been part of the problem, has now the opportunity to
direct their creative ability to support this process of change.

Fortunately, many of the concepts and principles for a new model of consumption and
production that were once seen as characteristic of hippies or eccentric people are now
beginning to permeate the entire society, from governments to businesses and communities.
One of the main questions of this new paradigm is about the means to achieve happiness and
satisfaction.

In the conventional model that happiness is associated with the acquisition and constant
replacement of material goods. This pattern of consumption has dictated much of the spheres of
society today, from government policies to corporate strategies, the content of teaching a
primary school to the roadmap of most movies we see. From several points of view the way we

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consume in our society dictates what we are. Brands promote the "sale" of new lifestyles and,
with the additional pressures of the society, people seek the acquisition of a widening range of
products designed to integrate into customer groups that share the same vision this new
lifestyle bought.

It is proven that this consumerism has increased people's happiness. On the contrary, has
resulted in increased stress and, paradoxically, has resulted in what psychologists call
"compensatory consumption." This is the phenomenon where they consume more to feel better,
similar to an alcoholic beverage you drink to relieve stress. The increase in consumption
increases the economic pressure on the individual and their family. To meet the demand for
more resources to maintain the pattern of consumption people end up reducing the quality of
time detached from friends and family or doing activities of individual interest. The stress
resulting from this situation creates even more "compensatory consumption" which
consequently further increases the economic pressure on the individual. A vicious cycle is very
common in virtually all layers of society today.

Another phenomenon associated with the consumption model is currently effective "cognitive
myopia", ie the consumer's difficulty in seeing or realizing the impact of their decisions is
upstream or downstream of the consumption chain. This shortsightedness is further
exacerbated if the impact of our decisions will only be seen here several years ago. Even when
the impacts are immediate, the dissipation of these impacts in geographical regions where the
live show little attention to our choices at the time of purchase. The use of purely economic
buying criterion does not make us realize about the reasons for that particular product to get our
hands with values so low. Very often the lower cost was obtained with total disregard for the
environment and human rights.

Design has been feeding this consumption model, the very model of consumption metrics of
success for many professionals in the area. The possible sale of millions of pieces of a
particular product is still seen by many as a sign of quality design, with no questions about the
real contribution of this new product for the welfare of society. New models of the same
products are launched regularly, often with the mere purpose of inducing the replacement of the
product in use through the aesthetic induced obsolescence.

Until recently this behavior was perfectly normal and acceptable. However, the quality of life of
future generations is being compromised and that our present way of life has been thoroughly
questioned by the symptoms social, economic and environmental challenges that arise around
us.

This paper presents a set of criteria aiming to contribute to the operationalization of the
economic dimension of sustainability, enabling companies to achieve their economic goals while
considering the socio-environmental. Furthermore, these subsidies contribute to widening the
work scope of design professionals in the development of products and services.

For that purpouse, a literature review has been made and also an analysis of the cases
developed by the Center for Design and Sustainability - UFPR and by Center of Design
Management - UFSC with emphasis on the economic dimension of sustainability.

2 Different Views on the Concept of Economical and Social Equity


A definition of equity has been already provided by Aristotle in the Fourteenth chapter of the fifth
book of his Nichom Achaean Ethics: ‘‘and this is the nature of the equitable: a correction of law,
where law is defective by reason of its universality’’ (ARISTOTLE, 1925 apud IKEME, 2003).

According to the Merriam-Webster dictionary equity is “justice according to natural law or right”
and, specifically, “freedom from bias or favoritism”. Presented on this way this principle might
sound vague and ambiguous in practice since the meaning of justice itself can be affected by
different philosophical views of the world, including different views on the process of getting
justice.

“Differences of opinion about what is moral or ethical, measurement difficulties and data
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limitations, and the politics of self interest, will all mitigate against the elevation of one notion of
justice over all others” (RIDGLEY, 1996 apud IKEME, 2003). An “individualist” might perceive
that social justice is obtained by channeling individual incentives along the right direction and
leaving a significant degree of freedom to people develop their own solutions. Meanwhile an
“egalitarian” might view social justice as achieved through a distributed and sustainable
economy via creative communities (TUKKER et al., 2008).

Important to point out that different philosophical backgrounds also lead to different perspective
on what is fairness and justice. Ikeme (2003) summarizes different philosophical views of equity
gathered on her literature review, each of them with profound different implications on practice:
• The ‘no envy’ principle: it conveys the ideal of equal opportunity of consumption and
defines a situation where every active agent should bear the same cost or enjoy the
same gain. Thus, according to this principle, it is acceptable that the poor attempt to
emulate the richer consumer life style. Changing consumption aspirations of the
poor would imply to change the life style of the most affluent consumers;
• The ‘just deserts’ concept: it seeks remedies that are proportionate to the weight of
the injustice. So remedies for injustice should not engender a secondary inequity;
• The total equality approach: it argues that everyone should have the same income,
i.e. the bottom 10% of the population should receive 10% of the income;
• Meritocracy: inequality is accepted if everyone has had equal opportunity at initial
allocation and differentials are only accounted for by difference in effort and hard
work. Ikeme (2003) calls attention to the fact that the International Court of Justice
(ICJ) understand that ‘‘equity does not seek to make equal what nature has made
unequal”. The same author argues that the ICJ view appears to suggest that it is
only situations or circumstances artificially made unequal that falls within the
mandate of equitable remediation. The key word here is ‘entitled’ suggesting a
meritocratic basis for equity which would imply that equitable distribution is based
on what each agent owns, deserves, or rightfully earned;
• Minimum standard or basic need approach: this is concerned only with the poor in
the society and argues that nobody’s income should fall below a certain minimum
level. It is based on the belief that all humans have the rights to some core basic
needs. The Marxist imperative of ‘‘to each according to his needs’’ is the most
famous slogan of this position. Protection of the weak, the powerless and the poor
provides the moral ground for this approach on equity (IKEME, 2003).

A complementary view of equity sees that as defined between present and future generations
(inter-generational equity) or just between present generations (intra-generational equity). Alcott
(2008) argues that justice through equity is true only if “justice” is meant inter-generationally. An
equitable distribution on the present might result on crassly unsustainable consumption of
resources as well as crass disregard for future people. In this sense, leaving to future
generations a quantity and quality of resources necessary for life is more or less the same as
respecting biophysical constraints in the present (ALCOTT, 2008).

The philosophical position of the present paper takes an hybrid approach from those revised by
Ikeme (2003). He understands that people below poverty levels cannot leave below certain
minimum level of living and that view is grounded on moral values of humanity. At the same
time, understands that solutions for the poor cannot be interpreted as “poor solutions”. On the
contrary, solutions for the poor should be appealing both to the rich as well as to the poor, thus
contemplating the “no envy principle”. The “no envy principle” also requires action from Design
directed to the reduction of environmental impact of consumption on the Middle and Top of the
Pyramid in order to fairly change the life style aspirations of the poor.

3 The State of Equity around the World


General efforts towards equity worldwide have been boosted by the UN Millennium Goals.
Recent report on the results of this global action (UN, 2007) has showed that poverty reduction
was slowly being achieved around the world. However, the same report calls attention to the
fact that such reduction has been accompanied by rising inequality. That means that the
benefits of economic growth in the developing world have been unequally shared, both within
and among countries. The UN (2007) report also shows that between 1990 and 2004 the share
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of national consumption by the poorest fifth of the population in developing regions decreased
from 4.6 to 3.9 per cent. Widening income inequality is of particular concern in Eastern Asia,
where the share of consumption among the poorest people declined dramatically during this
period. Meanwhile, Latin America and the Caribbean and sub-Saharan Africa remain with the
highest level of inequality. In these regions the poorest fifth of the people account for only about
3 per cent of national consumption (or income) (UN, 2007).

The “promotion of gender equality and empowerment” has shown a progress, according to the
UN (2007) report. Indeed, women’s participation in paid, non-agricultural employment has
continued to increase slowly. The study shows that the greatest gains occur in some of the
regions where women have shown in previous studies the least presence in the labour market –
in Southern Asia, Western Asia and Oceania. The data shows that in Northern Africa, where
women’s participation is also low, progress has been insignificant but still only one in five paid
employees in that region is a woman. In other regions, women are slowly gaining access to jobs
on equal terms to man or, in the case of the CIS, exceeding it (UN, 2007).

A contribution to change the current status of social equity around the world demands active
contributions from all professions and from all spheres of our society. On this report we present
the contributions that can be achieved through companies and how the design professional can
contribute to conceive creative solutions for companies striving to achieve a social responsible
business.

Social equity and cohesion, in all its dimensions, is a prerequisite for companies looking to
contribute to sustainable development and, at the same time, it offers strategic benefits for the
companies willing to make such contribution. In the case of design, there is already a framework
of principles and general strategies that can support actions in practice. This set of knowledge
can be found under the heading “Corporate Social Responsibility” and it is defined in the next
section.
Ambiental
• Impact of climate change, resulting in changing weather patterns, increasing sea
level and flooding will mainly affect the agricultural industry, but will also cause
more disease and ill health in the poorer countries. Production of steel, aluminium,
glass and paper require high electricity usage, generating CO2 and increasing
global warming (HOWARTH & HARDFIELD, 2006).
• Use of resources was one of the key concerns at the recent Johannesburg Summit
and the need to reduce both consumption and production of products. One way is
to prevent and minimise waste arising in the whole of the supply chain.
• Decline of biodiversity has been a result of both human population increase and the
growth and efficiency of the agricultural industry. The impact has been global and
local – for example, the elephant population has decreased 10-fold in the last 50
years and it has been estimated some 21 species are lost each day – for ever;
Social
• Population growth has been predicted to double in the next 50 years, but now
experts are suggesting a 50% increase to 9 billion.
• Provision of fresh water and sanitation to over a third of the worlds population has
been identified as a key programme following the Johannesburg Summit.
• Human rights were first defined in the UN Declaration in 1948. The most recent
concern has been the use of child labour to provide cheap products for the
developed countries. Exclusion from earning a living or being part of society affects
many people locally and globally, for example the homeless, religious persecution,
ethical cleansing etc.
Economic
• Poverty applies to over a third of the world population with these people living on
less than $1 a day.
• North south divide is dramatic – USA has $34,320 GDP per capita compared with
Sierra Leone of $470 GDP per capita. In the poorer countries, life expectancy can
be 35 years compared with 78 years in UK.
• Behaviour of International organizations is important as many have a greater
turnover than the GDP in a number of developing countries.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
• Financial influences are wide ranging from individual/ company tax to levies on
products and imposition of tariffs like sugar in Europe and cotton in USA.

In Brazil, the recognition of the problems mentioned above has implied a gradual change in
attitudes in all spheres of society. In 2007, the Ministry of the Environment Management
Committee Sustainable Production and Consumption(CGPCS) has launched a set of actions to
promote sustainable production and consumption, which aims to promote consciousness
among the consumers, through education, of their responsibility to sustainability as an extension
and change patterns of consumption and production (MMA 2008).

Therefore, simultaneously, a systemic definition of sustainable development is presented,


through which both the global and regional, social and productive development must take place
within the limits of resilience of the environment without compromising future generations
(conservation) and in a framework of equal distribution of resources among the various actors in
a given system.

4 The Economical Dimension of Design for Sustainability


4.1 Context within Sustainable Development
Getting the balance mentioned in the previous section is complex and, therefore, demands inter
/ multi / trans disciplinary actions, remedial measures go beyond the traditional end-of-pipe
approach. It requires radical changes in the society actors and with regard to their relationships.
Moreover, it is of paramount importance to consider the role of design in society, both in
research and in professional practice(Vezzoli, 2007).

The word sustainability is defined in the dictionary Aurélio (FERREIRA, 2006) as the "quality of
what is sustainable" or as "a state they want to reach." This abstract definition acquires
apractical meaning when related to three dimensions of human existence: environmental,social
and economic.

The environmental dimension refers to, according to Manzini and Vezzoli (2008), "the conditions
under which (...) systemic human activities should not intervene in natural cycles on which all
that the resilience of the planet allows (. ..), should not deplete its natural capital, that should be
transmitted to future generations. "

The social dimension, according to UNEP (2006), is associated with issues such as: respect for
cultural identity and diversity, inclusion of minorities, marginalized and disabled, social welfare,
work under appropriate conditions and without the need for large displacements, generation and
balance in the distribution of income, access to food, clean water and health services, schooling
and abolition of child labor, among other topics.

The economic dimension has a very strong link with social work and the generation of income,
but also considers the dimensions of companies from all sizes. According D4S (Crul, and
DIEHL, 2006), besides the profitability, it is essential for companies to generate value, both for
itself and for the stakeholders and consumers. It is this value that enables companies to position
themselves competitively in the market.

All these considerations make the concept of sustainable development, which is "development
that meets present needs without compromising the ability of future generations to meet their
own needs" (Brundtland et al, 1987).

The Prism of Sustainability (Figure 1) allows to observe how complex is sustainability, in which
environmental, social and economic dimensions are interconnected, suggesting that sustainable
approaches are interdisciplinary and systemic (SPANGENBERG et al, 2010, p. 1492).

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Therefore, design for sustainability has as challenges the satisfactions and the supply of needs,
social equity and efficient use of resources. Its requires the review of established practices,
including take risks, for example radical innovation for sustainability. That changes make design
process more complex and its development and acceptance of society depends on habit
changes: in design process, in commercialization by entrepreneurs, in public policy by
government and use and consumption of products and services by consumers (PAPANEK,
1995; VEZZOLI, 2007; MANZINI, 2008; MANZINI, VEZZOLI, 2008; SPANGENBERG et al,
2010).

4.2 Key Criteria for the Economical Dimension


There is some initiatives that can be connected with the principles of sustainability. In this article
context, were selected some significant to this discussion, they are: social economy, third sector
and fair trade.

Starting with social economy, “its definition varies across different countries” (LUKKARIEN,
2005, p. 419). For example, in English, social economy, in French, économie solidaire; in Latin
America, economia social, and in Brazil receives the name of economia solidária (MOULAERT;
AILENEI, 2005). It includes the set of economic activities based on self-management by their
members, who are both employees and associates of the enterprise seeking income generation
and earnings are distributed among its members. Social Economy has diverse forms of work,
being present in the field and in the city, economic and social practices are organized as
cooperatives, associations, exchange clubs, self-managed enterprises, cooperative networks,
failed companies that have passed into the hands of workers, settlements family farming among
others. It is characterized by the pursuit of fairness and valuing human life, from the collective
work and solidarity among workers, mutualism, cooperation and community self-management.
(LUKKARIEN, 2005; GAIGER, 2006; MAZZEI, 2006; BARBOSA, 2007; CASTANHEIRA,
PEREIRA, 2008; CARNIATTO; CHIARA, 2009). The social economy offers other satisfactions
in addition to financial performance, such as: "the experience of being partner-worker," "joint
owner", "business manager" to have a voice and vote, appreciation of the work as something
uplifting, enriching personnel, ability to put into practice the principles of equity, justice and
democracy, contributing to society "through goods and services honest and reputable"[1]
(GAIGER, 2006, p. 522. Our translation).

While in Europe, social economy is characterized as a civil society response to consumerism


and an ideal of life more sustainable, the Americas, a social practice has alleviated
unemployment (BARBOSA, 2007; CARNIATTO e CHIARA, 2009). This paper will present
Coofasul and Cooperlagos case as an example of cooperatives whose communication was
improved through a partnership with an Center of Design Management.

Continuing with the initiatives, the third sector definition, both in Brazil and internationally, is
broad and sometimes controversial. However, the authors consulted list the basic elements for
its characterization, as follows: comprehend nonprofit organizations, ie, their income can not be
distributed among its members; aim at promoting civil society, focused primarily the poor, and
have character participatory in their decision-making (VARGAS, 2008; GIDRON, 2010;
RÖLVER, 2010; WEERAWARDENA et al, 2010).

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Third Sector includes initiatives such as associations, foundations, charities, clubs, institutes,
non-governmental organization (NGO), welfare organization, entity of public utility (VARGAS,
2008, p. 29). These initiatives have as their main areas: public health and safety, education,
charity, providing food, clothing and shelter, for religious, legal, philanthropy, brotherhood,
business support and civil rights (WEERAWARDENA et al, 2010). It can be seen, therefore, that
the playing field is wide of the Third Sector and its objectives are located in between the state
and market, and is integrated with civil society (VARGAS, 2008; RÖLVER, 2010;
WEERAWARDENA et al, 2010).

Finally, fair trade is an international initiative to promote the inclusion of poor and emerging
countries in the international market. According to Fairtrade International (FLO):
Fair Trade mean the generic term for the activities of organizations sharing
the mission and values of a trading partnership, based on dialogue,
transparency and respect that seeks greater equity in international trade.
Fair Trade contributes to sustainable development by offering better trading
conditions to, and securing the rights of, marginalized producers and
workers – especially in the South (FLO).
The Fair Trade movement has as main objectives to maintain dialogue, transparency and
respect in business transactions giving priority to workers and producers with a low access to
formal markets, empower producers and workers in these organizations and their fight for a
trade more egalitarian (GRANKVIST et al, 2007; MASCARENHAS, 2007; FISHER, 2009). The
fair trade activities occur in various areas, where agribusiness is the most far-reaching.

In Brazil, Fair Trade has an emphasis on the domestic market, and the principles included the
Social Economy and the search for more participatory certification systems. As a unique feature
is the participation of other social movements and government (the public-private), and civil
society (MASCARENHAS, 2007). Fair trade initiatives are linked "to the alternative production
systems (organic agriculture, agro-ecology) and solidarity marketing (alternative shops, retail
outlets of the Social Economy and trade unions, producer cooperatives)" (MASCARENHAS,
2007, p. 12). It can be noted among these initiatives Ecovida Network, which encourages fair
trade practices and consumer solidarity, the movement of the Solidarity Economy, and the Joint
Forum of Fair Trade in Brazil (Faces of Brazil), which is a "platform-oriented to implement the
Fair Trade movement on a national basis" (MASCARENHAS, 2007, p. 12).

The importance of fair trade for this paper is the relationship between producers and buyers in
the network under the principles of sustainability, equality, dialogue, respect for the
environment, worker's valuation and transparency. The next section shows case studies that
exemplify the content presented.

[1] “a experiência de ser sócio-trabalhador”, “sócio-proprietário”, “gestor do negócio”, ter direito


a voz e voto, valorização do trabalho como algo edificante, enriquecimento pessoal,
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possibilidade de colocar em prática princípios de equidade, justiça e democracia, contribuindo
para a sociedade “por meio de bens e serviços honestos e idôneos” (GAIGER, 2006, p. 522)

In this context, we will discuss specifically the five principles of economic dimension of
sustainability which are, according to Santos (2009), to be developed through promoting local
business; strengthening and enhancing local resources; promoting network organization
(cooperatives); and through respect and appreciation of local culture and appreciation of the
reintegration of waste.
Corroborating with the author, Sachs (2002) defines as economically viable the consistency with
the local economy, the encouragement of local economic development, income generation and
improvement of local economic conditions.
It is clear, therefore, that the consequences of each principle suggest strategies and complex
actions in the pursuit of sustainability, and these principles closely connected (ANDRADE,
2011).
The principles of sustainable design mentioned by Santos (2009) and Sachs (2002), suggest
solutions in the search for a sustainable society and, from this perspective, the Ethos Institute
brings an article of author Árbacz (2011) that clarifies the application of such concepts, where
the ecovillage are exploring solutions for a sustainable future.
Designated as an alternative community, ecovillage or sustainable community, there are more
than 15,000 worldwide and, according to the author, they serve as living laboratories of a
wanted future. The example of these ecovillages illustrates a real situation where you can view
the application of the principles cited by the authors.
To strengthen and enhance local resources, the Ecovillage cultivate gardens, organic gardens
and restoring forests that surround them. The cultivation for personal use is a way for the
community to generate their own food and they can use the crop’s waste as fertilizer for other
activities (ÁRBOCZ, 2011).
To promote the local economy, many ecovillages have their own currencies, strengthening the
local trade, and streamlining the business made in the trade fairs that are promoted.These
coins, according to Arbocz (2011) bear a fair business philosophy, and are used only after a
dynamic in which the participants understand what is an economy of solidarity, as opposed to
predatory economy, where the advantage and profit generation are priorities at any price.

To promote networking organization, the author gives the example of ecovillages that can
become diffusing poles of sustainable technologies in both the ecological, the social and
economic development. In addition, Árbocz (2011) states that, from the difficulties experienced
by many ecovillages in the world, several instruments were developed to build intentional
communities: biobuilding, renewable energy, social economy, circular governance, among
others. These strategies contribute to the improvement of living and working together.

Most of the ecovillage communities have also the habit of using alternative energy and treating
the water, therefore valuing and reintegrating the waste generated by them.

However, it is clear that the social, economic and environmental dimensions exceed their limits,
making them dependent on one another in pursuit of sustainable development.

In this way, Veiga (2005) defines the difference between economic growth and economic
development, saying that economic growth, as we know, has been based on preserving the
privileges of the elites who satisfy their desire for modernization, while the development is
characterized by its underlying social project . Afford to invest is far from being a sufficient
condition to prepare a better future for the mass of the population. But when the social project
prioritizes the effective improvement of the population’s living conditions, the growth is
metamorphosed into development.

The ecovillages exemplify a situation where all the economic principles of sustainability are
applied simultaneously. It is noticed that, mainly for their local character, the economic
principles of sustainability are easily adapted to this society. The following cases, developed by
the Design and Sustainability Research Center from UFPR, and by the Center of Design
Managmente from UFSC show specific actions, where each product has uses one of the
principles.
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
This way it is possible to observe the operational performance of the economic dimension of the
design either in a magnified way, eg the ecovillage, or specifically, as the examples of the
following products.

5 Case Studies at the Research Centers


5.1 Context
The Design & Sustainability Research Center of Universidade Federal do Paraná and the
Center of Design Management of Universidade Federal de Santa Catarina are initiating this
year a partnership in research at Masters level with the theme of the economic dimension of
sustainability. Respecting the form of approach of each research center, this partnership adds
the knowledge produced in their respective areas: sustainability & design and design
management. Next, will be presented some case studies related to the theme of this article.

The Design&Sustainability Research Center from the Federal University of Parana was founded
in 2003. The center’s mission the development and dissemination of design for sustainability.
The research group is linked to the Graduate Program in Design at UFPR (MA), and their
projects are mostly developed with companies, financed by the companies themselves and also
with public funds. The team is multidisciplinary, involving designers, artists, engineers and
architects. Foreign researchers are a regular presence in the research group, usually through
partnerships established through graduate school.

The Center of Design Management of Universidade Federal de Santa Catarina is registered as


a research group by CNPq since the year 2002. It has as its mission to investigate, apply and
disseminate the design and ergonomics as strategic tools for organizations, with the pillars of
competitiveness, sustainability and differentiation. Its team consists of professionals from
different areas, having students in graduate degree levels, as well as specialization, master's
and doctoral programs in Design, Manufacturing Engineering and Engineering and Knowledge
Management from UFSC. It has research and projects supported by the National Council for
Scientific and Technological Development (CNPq) and Foundation for Support to Scientific and
Technological Research of Santa Catarina (FAPESC).

Here is a sample of projects developed by the research groups, with emphasis on the economic
dimension of design for sustainability. The presentation structure follows the statement of the
principle to which the project is associated.

5.2 Promoting the Local Economy

It means as much as possible to involve local actors in the business process, contributing to the
expansion of income opportunities and strengthening local entrepreneurship.

Project: Sustainable Packaging(2007-2008) - Design & Sustainability Research Center- UFPR

Figure 2: Packaging for Nani Carvalho Company (NDS/UFPR)

Partnership: Nani Carvalho Company / Funding: CNPq


Developed Solutions: This project sought to strengthen the competitive advantage of the local
partner company (producer of decorative candles), through the provision of packaging solutions
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with less environmental impact (eg the use of glue or staples),enabling the company to
integratie sustainability as a competitive factor of advantage in relation to national and
international competitors.

Project: Cooperlagos (2009-2011), Center of Design Management/UFSC.

Figure 3: Promoted identification of products: labels, and visual identity (Montage, NGD
collection, 2011)

Partnership: Cooperlagos (Laguna e região /SC) and EPAGRI / Funding: CNPq and FAPESC
Developed Solutions: This project aimed the valuation of Cooperlagos (Cooperativa dos
Produtores Familiares e Pescadores Artesanais da região dos Lagos) products by design. It
was developed visual identity, including labels and packaging. Nowadays, Cooperlagos is
implementing the packaging of some products. As results, the project achieved the introduction
of products in the formal market.

5.3 Strengthen and Enhance Local Resources

This means using whenever possible local materials and energy resources and help them reach
these growing competitive advantage in relation to resources which are external to the region.

Project: Using Pupunha fiber in furniture design (2007-2008) - Design and Sustainability
Research Center- UFPR

Figure 4: Pupunha fiber furniture (NDS/UFPR)

Partnership: Flexiv/ Funding: CAPES, CNPq


Developed Solutions: in this project the students from the Post Graduation Program in Design
have conducted studies on the environmental impact of the substitution of materials on the
furniture market, including the evaluation of the use of laminates using Pupunha fiber, grown by
small producers in Parana.

Project: Recycling Waste Vegetable Oil (2009), Center of Design Management/UFSC.


Figura 5: recycling waste vegetable oil: gathering oil and handmade soap packed

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Partnership: AMPROSUL (Associação de Maricultores e Pescadores Profissionais do Sul da
Ilha) /Funding: CPNq
Developed Solutions: The project has two activities: a workshop of recycled vegetable oil for
soap production and for fuel, and the development of visual identity and packaging in order to
enhance the project and the product to the public.

5.4 Promoting Network Organizations

Reduction of material and capital demands for the development of a product or service, as well
as better dissemination of economic benefit to an increased number of people and
organizations through networking.
Project: Learning Network on Sustainability – South America (2008-present)

Figura 6: Logotipo LeNS (NDS/UFPR)

Partnership: Politecnico di Milano, Itália (coordenation)/ Funding: economic european union.


Developed Solutions: the Learning Network on Sustainability (www.lens.net.br) is a network of
Design teachers from universities in Latin America who share the goal of developing
collaborative educational materials for teaching and disseminating sustainable design.

5.5 Waste recovery / reintegration

It means to implement strategies that transform waste into sources of income for the production
of goods and services, reducing the amount of capital required for the exploitation of virgin raw
material.
Project: Automotive Glass Recycling (2003-2004) - Design and Sustainability Research Center-
UFPR

Figure 6: Products from automotive glass recycling (NDS/UFPR)

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Partnership:Centro de Design do Paraná, Sebrae and FIEP/ Funding: FINEP (Fundo Verde
Amarelo).
Developed Solutions: in this project, developed at the Ceramic Laboratory from the Design
Course-UFPR, there have been developed solutions in products and processes for recycling
automotive glass, originated from the replacement of this component after accidents and also
coming from the"crash tests" conducted by automakers located in the Metropolitan Region of
Curitiba.

Project: Recycling Waste Vegetable Oil (2009), Center of Design Management/UFSC.

Figura 8: Proposed layout of the facilities where the action takes place oil recycling (MERINO et
al, 2009, p. 5)

Partnership: AMPROSUL /Funding: CPNq


Developed Solutions: design optimization of the productive flow of recycling used vegetable oil,
through the design of the layout of the site carried out among fishermen of Ribeirão da Ilha,
Florianópolis, Santa Catarina. Design for sustainability, ergonomics and logistics were the
theoretical foundations of this project. Its specific objectives were: (1) reducing costs of

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production of the mussel pernaperna, (2) the preservation of the environment and (3) social
mobilization in the town (on the accession of other stakeholders) (MERINO, 2009).

5.6 Respect and appreciation of local culture

This means to transform local culture into an economic good that contributes to improving the
economic performance of local actors, integrating the community in the process of developing
products and services.

Figure 9: Idea Competition Logo (NDS/UFPR)

Project: Development of a Service+Product System for rainwater harvesting (2009-2011) -


Design and Sustainability Research Center- UFPR

Partnership:Tigre company, Emergia Institute (Alemanha), COHAPAR, TU München


(Alemanha)/ Funding: CNPq, CAPES
Developed Solutions: this project used a method called Idea Competition, which involved an
entire community in Campo Magro for the development of propositions for a rainwater collecting
system (http://concurso-de-ideias. blogspot.com) The project was awarded by CAPES-Emerald
(England) in 2009.

Project: Chapel of Nossa Senhora do Rosário (2009), Center of Design Management/UFSC.

Figura 9: Website of Chapel of Nossa Senhora do Rosário.

Partnership: fishermen of Ribeirão da Ilha /Funding: ???


Developed Solutions: development of visual identity for the Chapel of Nossa Senhora do
Rosário in the community of Brejarú, Palhoça, Santa Catarina. The chapel is an important
meeting point of the community but needed to reinforce its image to reach a wider audience and
promote the unity of the community Brejarú. The visual identity of the chapel has improved its
communication with the public and was raising funds for their projects easier. The identification
of the local community with the Catholic culture is very strong and this project has achieved high
self-esteem of its participants.

6 Final considerations

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
All projects have as a characteristic to be based on partnerships with external organizations to
universities, such as companies, government agencies, NGOs and social economy initiatives.
The main challenge is to ensure the sustainability of projects, relating theoretical knowledge
generated in academia with the practical reality of the partner organizations. However, the point
of view of sustainability, this type of partnership is good because it allows the exchange of
knowledge between the parties, technology transfer and growth of all involved.

It is perceived with the foregoing that the design can contribute significantly to the
operationalization of the economic dimension of sustainability. This paper has demonstrated
through the literature review of cases and exposure to projects, that the product and services
development can consider more than the socio-environmental aspects commonly addressed in
these cases, but also the economic aspects of sustainability.

It is understood that sustainability has three dimensions (economic, social and environmental)
and these are intrinsically linked in an interdependent relationship. Thus, for sustainbilty to exist,
there must be a balance between these dimensions.

Therefore, one of the criteria resulting from this research was the search for the maximum
involvement of local actors in the business processes, which subsidizes the expansion of
revenue opportunities and strengthen local entrepreneurship.

Another criteria is fostering the use of local materials and energy whenever possible. It is worth
mentioning here,that it is of paramount importance that there is a contribution for these
resources to reach ever greater competitive advantage in relation to resources from other
locations.

A third criterion is the reduction of materials and capital demands for the development of a
product or service, as well as better dissemination of economic benefit to an increased number
of people and organizations through networking. This criteria can bewidely adopted to improve
the communication between regions, states and various countries. The technology, as other
criteria discussed here, allows a dematerialization of the material demands.
Using strategies that turn waste into revenue streams features another of the requirements
listed here. In this case, the waste sent to the production of goods and services reduces the
need for raw material exploitation.
Finally, the local culture becomes an economic asset that contributes to improving the economic
performance of local actors, integrating the community in the process of developing products
and services, this benefits not only the creation of jobs and income, but as a result, there is a
valuation of the individual and an increase on their self-esteem.
The promotion of local economy, strengthening and developing local resources, respect and
appreciation of local culture, the promotion of organization networking and the recovery and
reintegration of waste were addressed in this article in order to contribute to the
operationalization of the economic dimension of sustainability and to enable design
professionals a more comprehensive approach in developing products and services. It was
sought, therefore, in this article to demonstrate that it is possible that the companies reach their
economic goals, considering also the social and environmental responsibility that are being
increasingly demanded by society, state and inter-relationships in their own business.
It was identified in this study, also that the application of these requirements may be found in
specific cases, such as analysis of case studies at the Center for Design and Sustainability of
the Federal University of Parana, and the Center of Design Managmente of the Federal
University of Santa Catarina as well as in broader systems as the case of ecovillage presented
in the literature review.
In conclusion, it is not intended to exhaust the topic, but to bring new studies and new
perspectives on the economic dimension of sustainability in order to spread
this issue that has been so little explored in the design field.

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design for social innovation and sustainability - DESIS:
integrating experience among research, teaching and
extension education through design

STRAIOTO, Ricardo; Master in Design; Federal University of Santa Catarina


ricardo.straioto@gmail.com

PRESTES, Maíra Gomes; Bachelor in Design, Federal University of Santa Catarina


magprestes@gmail.com

FIGUEIREDO, Luiz; PhD in Production Engineering; Federal University of Santa Catarina


lffigueiredo2009@gmail.com

Keywords: Design Education, Social Innovation, Sustainability

DESIS (http://www.ltds.ufrj.br/desis/) is a network of schools of design and other schools, institutions,


companies and non-profit organizations interested in promoting and supporting design for social innovation
and sustainability. The Center for Systemic Approach to Design (NASDESIGN), inside the Federal
University of Santa Catarina (UFSC), Florianopolis, Brazil, is a research lab connected to this network, that
applies DESIS tools inside its projects. Besides, the laboratory has developed its own dynamic to apply
these tools, in order to integrate social innovation and sustainability research with extension education.
Problems within communities are searched and become object to be studied by Bachelor and Master
students of the Program in Design and Graphic Expression within the University. The idea is to involve
students with sustainable issues since their under graduation, integrating, thus, DESIS tools within design
education. This article reports the case of projects developed by NASDESIGN in 2010 when, in
consequence, it was launched the I Seminar in Design, Social Innovation and Sustainability. Finally, it is
explained how the course of Sustainability, inside the Design Program of the University, had the role of
integrating design specialties (graphic, product and animation) and developing promising cases, which
results in strengthening and social motivation through design.

1 Introduction

Environmental deterioration progresses even when it is not discussed and, within this context,
designers are still ‘part of the problem’. However, these professionals can and should become
‘part of the solution’, since they have conditions to give alternatives solutions to the current
environmental, social and economic problems. According to Manzini (2008), designers are able
to contribute to future scenarios of sustainability.

Design is a strategic element to promote social innovation and technologic processes, in order
to have a transition towards a sustainable reality. This article describes the social innovation
contribution to the area of design for sustainability. It is focused on the social aspect of the
innovation, in order to highlight the social relations among people that, when are considered as
the first priority, it is confirmed how design and its artifacts are in their service. Nowadays,
design to social innovation is one of the boosts for the sustainable design research. Innovations
based on everyday life are social innovations cases; they are capable to create creative and
collaborative life styles at the same time, which are considered the first steps towards a
sustainable reality (MANZINI, 2008).

Faced with this necessity, the scenario that emerges is contradictory:


on one side there is the seriousness of environmental problems that,
at this point, are universally recognized and, because of that,
appropriate measures are beginning to be adopted. On the other side,
considering the number of changes that must happen, all these
measures are still insufficient and, actually, the consumption of the

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
environment and the level of deterioration of the planet still are (in
general) increasing. (MANZINI, 2008:26)

This article describes the realization of the I Seminar in Design, Social Innovation and
Sustainability, promoted in the year of 2010, by the Center for Systemic Approach to Design, of
the Federal University of Santa Catarina, Florianopolis, Brazil. The intention was to debate the
context presented above with the Bachelor and Master academics of the Program in Design and
Graphic Expression, integrating design specialties (graphic, product and animation), through the
course of Sustainability, common to all these students. Using as methodological support the
tools provided by the DESIS network, promising initiatives of social innovations were
researched and a documentation of these cases was made, in order to develop design projects
to improve the initiatives and to promote their results.

1.1 Research Methodology


This article has qualitative and descriptive principles, characterized as a case study that,
according to Martins (2000), is dedicated to intensive study of the past, present and of social
interactions inside a group of people: individual, group, institution, community. In accordance
with Rauen (2002,) it is identified a case study when something, that has value in itself, is
analyzed. The singular or particular objects are features that the case has in common; even if
there are similar cases, each case is distinct and, because of that, causes unique interest.

1.1.1 Instruments to collect data


In producing this article, it was used the technique of observing the real life; an instrument of
data collection that, according to Silva e Menezes (2001), is the technique that records data as
they occur.

2 DESIS and Design Education

DESIS is a network of schools of design and other schools, institutions, companies and non-
profit organizations interested in promoting and supporting design for social innovation and
sustainability. It is a non-profit entity, conceived as a network of partners collaborating in the
spirit of peer-to-peer network. This network is connected with several local DESIS (which are
sub-networks within local areas). DESIS-Internacional is, therefore, the frame by which different
local DESIS are guided and where some global initiatives are developed.
The Center for Systemic Approach to Design (NASDESIGN), of the Federal University of Santa
Catarina (UFSC), is connected to this network and uses DESIS tools in its projects. Besides,
the laboratory has developed its own dynamic to apply these tools, in order to integrate social
innovation and sustainability research with extension education. Problems within communities
are searched and become object to be studied by Bachelor and Master students of the Program
in Design and Graphic Expression of the University. The idea is to involve students with
sustainable issues since their under graduation, integrating, thus, DESIS tools within design
education.
This approach that integrates research, teaching and extension education through design, is
already applied by the Center for Systemic Approach to Design - NASDESIGN. The research
group works with the perspective that design has been integrated to the growing concern about
sustainability and must participates as an effective agent for social, economic and technological
development. In agreement with Bonsiepe (1997, p. 15), “the term 'design' refers to a potential
that everyone has access and which is manifested in the invention of new practices of everyday
life”. The perception change of society on sustainability issues is also reflected on the design
practice that, according to Manzini (2008), must also enter in a stage of change. The concept of
sustainable design, then, emerged with the pro-sustainability movement, which includes not
only environmental aspects, but also the idea that
the consumers condition of life, from the perspective of
social justice of well-being, should have access to
products economically affordable and safe to their
health, fulfilling a function of planetary and humanist
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
motions: bring well-being and satisfaction to those who
use them” (MAU, 2010:118).
Thus, design is a powerful tool for sustainability, and its education directed to that end is
strategic for students getting graduated as conscious citizens, induced to develop new
alternatives to the environmental, economic and social reality to which they belong.
Therefore, the planning and execution of a seminar that supports these proposals is
appropriate. In the case analyzed next, the I Seminar in Design, Social Innovation and
nd
Sustainability, occurred on December 2 , 2010 at the Henrique Fontes Auditorium, Block B/
CCE/UFSC. It will be presented briefly some elements of the approach used by NASDESIGN
that considers the activity of teaching as a consequence of the links between research and
extension education.

2.1 The approach of design teaching as research and extension education

Thackara (2008) considers learning as a social activity and sustainability as referring to social
collaboration, not to the accumulation of facts. However, formal education provides too much
content and not enough time for reflection. Considering what this author believes, it is possible
to affirm that active learning occurs when students participate in projects that have meaning for
them and when they are related to their reality. After all, students need to believe that the
performed activity will be important and meaningful.

The affirmations above connect learning to project development, what relates the reality to
which individuals belong to the essence of extension education in Brazilian Universities. This is
because the National Extension Education Plan (Plano Nacional de Extensão) recommends
extension education as a integrating practice for Universities, in their teaching and research,
with social demands, allowing the graduation of professional citizens that have a privileged
space in the society, contributing with their significant production of knowledge (FRANZ, 2005).

Teaching, research and extension education are closely interrelated, according to Gil (1997),
since research is an investigation process guided by a method, aiming to raise, explore and
analyze data, in order to create, formalize and/or renovate knowledge areas. With the scientific
research, not only do we provoke changes over our ways of thinking and acting, but also we
provide for the society, theoretical concepts and products, aiming to improve it.

In the approach employed by NASDESIGN, design also compose the tripod of teaching,
research and extension education, focusing on the education through design. This is because,
in accordance with Fontoura (2002), the development of projects and design activities also can
be characterized as knowledge-generating processes, since they often make use of research as
an instrument of action. Besides, when it is guided by the search of solutions to real societal
problems, education through design keeps close proximity to the extension education activity.

Then, from an approach based on education through design, we can look at design as an
educational philosophy guided by the teaching of how to project in order to solve problems,
where people use design not only to learn about the problems, but also to develop solutions for
them (FONTOURA, 2002). This results in a proactive education that emancipates knowledge to
different areas, and considers teaching as research and extension. This is justified, first, due to
the promotion of the investigative features of design, which focus on providing conditions for
autonomy, in other words, on providing research methodologies scientifically accepted, instead
of the teaching guided by the accumulation of information.

It is worth noting that the character of extension, that inserts the community into the
investigation process, is the focus of the Sustainability course, within the Federal University of
Santa Catarina. Thereby, the academics worked to solve real problems within existing
communities around the University, using design experiments as tools. The idea was to
contribute for the dissemination of design, considering its benefits to society, and to the local
economy of the communities.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
3 The I Seminar in Design, Social Innovation and Sustainability

The I Seminar in Design, Social Innovation and Sustainability emerged with the idea of
NASDESIGN executing integration activities among Bachelor and Master students of the
Program in Design and Graphic Expression, within the Federal University of Santa Catarina.
Thus, the main objective of the Seminar was to integrate academics of different design areas
(graphic, product and animation), from teaching the same course of Sustainability, which is
taught by the same tutor, Professor Luiz Fernando Figueiredo, of the Center for Systemic
Approach to Design. This course had as purposes the discussion and research in social
innovation within local communities, as well as to develop design potentialities found in these
initiatives. Furthermore, in accordance with the course contents, which propose the integration
of design areas and a systemic view of design, the activities developed considered the
University tripod: teaching, research and extension education.

The methodology for the activity development that led to the Seminar was defined in four steps:
diagnosis, planning, implementation and evaluation. Next, it will be described each step and its
results.

2.2.1 Diagnosis

First of all, a survey about the Sustainability course was done, considering its syllabus. Then, it
was collected information and opinions from Professors, trainees and monitors that gave
support to the course, in order to have ideas about new ways to transform it in an
interdisciplinary course. At the end, the possibilities were evaluated and the best of them were
selected. After this analysis, it was decided that the DESIS tools would be the best integrating
element to involve all design specialties. The DESIS tool is part of the Sustainability course
syllabus as a research instrument for identifying social innovations and for allowing the
development of design potentialities within communities.

The DESIS methodology is divided in four steps:


 Step 1 – Research of promising initiatives: mapping the promising initiatives in groups
of two to four students, and each group brings four hypothesis (to each case, a form
must be filled).
 Step 2 – Registration of the selected initiatives: collection and analysis of the promising
initiatives information. Conduction of a photographic-interview with the
institution/initiative leader (using the interview guide and the photographic-list).
Registration of each case (summary of the interview, filing a detailed form about the
case). Scanning the photos (they were saved in a CD or in other media).
 Step 3 – Workshop – exercises of design: generate design proposals of products and
communication material for the promising initiatives. Giving a visual description of the
case; conduction of the design improvements for the demands; refine three to five
improvements; verify the efficiency of the design suggestions.
 Step 4 – Results dissemination (Seminar): Seminar presentation, when participants are
invited: initiatives leaders, important social actors, Professors and students;
presentation of the DESIS tools and the cases with their use; debate about
sustainability and possibilities to improve the cases.

The Seminar was done intercalating the presentations and disseminating the cases results.

2.2.2 Planning

The event project was written in order to formalize the initiative, what frames the Seminar as an
extension education activity. For the next editions, it is search to facilitate the obtainment of
resources to have the event, as well to provide official certificates for the academics involved.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
According to Zitta (2009), the objective of a seminar is to investigate or to study an issue in
planned gatherings and works:

- A workshop can be organized with a group of people or divided into subgroups. They are
dedicated to the study of particular aspects of the same topic or different topics of the same
subject;

- Members must have common interest in the subject and similar level of information;

- The theme or subject requires research, analysis and reading. The subject should lead to this
kind of work.

Zitta (2009) believes that a seminar has as components:

- The director (in this case, the Professor Luiz Fernando Figueiredo), who is a specialist in the
subject and his role is to indicate and establish the issues to be studied, guiding the research
and the seminar sessions, in order to collect the final results.

- Presenters (in this case, the undergraduate students of the discipline of Sustainability and
lectures about this theme).

- Space for comments. The director is responsible to consider in advance the work that is being
presented and to criticize it, before discussing it with the other components.

In order to implement the Seminar, four steps were planned:

1 – Theme definition (in this case, local sustainability and social innovation) and its distribution
among the student groups.
2 – Each group discusses the proposed theme, researches and prepares a paper about it,
showing consideration and respect to the agreed deadline.
3 – Article presentation, opening a debate and a confrontation of views about the theme.
4 – Formulation of general conclusions.

All things considered, the event consisted in the presentation of the cases by the academics
and in lectures about these themes. Moreover, according to Zitta, it is possible to explain lecture
as “an event characterized by the presentation of a theme by one or more experts, to a group of
people with common interests. It has as objective to inform and update the public about a
specific topic” (ZITTA, 2009:55).

Then, necessary tasks were listed, in order to achieve the Seminar, considering its date, local,
communication with lecturers and dissemination to the academics. Finally, it was defined the
Seminar schedule (according to the picture 1):

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Picture 1: Seminar schedule

2.2.3 Implementation

The Seminar followed the schedule developed in the previous step. Resources were mobilized
to execute tasks, such as: contact with lecturers, organization of the presentations order,
registration of the participants, development of the communication materials, Seminar poster
(picture 2), advertises publication on the NASDESIGN website (www.nasdesign.ufsc.br) and
sending e-mails for the academics, with the event programme (picture 3).

Picture 2: Seminar poster


Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Picture 3: Event programme

All groups were encouraged to invite the initiatives leaders of the selected cases for their
nd
presentations. The Seminar occurred on December 02 , in the Henrique Fontes Auditorium,
Block B, CCE/UFSC, according to the picture 4.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


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Picture 4: Students presenting their cases during the Seminar

Each group had between twenty to thirty minutes to present its case and to answer the
participants’ questions. The presentations were visually structured according to the DESIS tool
orientation.

2.2.4 Evaluation

The evaluation occurred throughout the process. At the end of each step, it was reflected about
the taken decisions and their implications, in order to have criterions, such as cost, human
resources and integration level of the teams. During the Seminar, points were observed about
the process that, after relating the objectives with the results, compose this article.

About its goals, it was evaluated that the I Seminar in Design, Social Innovation and
Sustainability succeeded. Sustainability, as an integration theme, was considered a contribution
for the systemic and sustainable view of design. Through the concept of social innovation,
complementing the prevailing view of technological innovation, it is possible to establish a
broader understanding about human beings living in communities.

Brazilian Curricular Guidelines for Undergraduate Design Course establishes that professional
training should reveal skills and abilities to:

Systemic view of the project, demonstrating the ability to


conceptualize it from the proper combination of various
material and immaterial components, manufacturing
processes, economic, psychological and sociological aspects
of the product.

An important result that must be highlighted was the involvement of the students with the found
initiatives, since in some cases they had transcended their role as academics, acting as
volunteers within the initiatives and improving their citizenship spirit.

It is also highlighted the difficulty in reconciling time to gather all those involved in the
organization of the event, such as professors, monitors and trainees. Due to the Sustainability
disciplines occur in the morning period and in the part of the afternoon, the presentation
schedule followed this distribution. The difficulty was overcome by communication through e-
mails and meetings at both periods, but at no time it was able to gather all those involved in the
organization of the event, which made the process of decision slower.

4 Conclusions
In conclusion, the design specialties integration provides to the academics a broader learning.
This means that, even with a specialized formation within a design area – graphic, product

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


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animation-, this case study allowed students to get in contact with other specializations and
active areas of design. The DESIS tool methodological support provided a common language
among students from different specialties, as also an understandable presentation structure for
all people involved. Moreover, the Seminar contributed for the development of different abilities
of the students, including their formation as conscious citizens.
Besides, the character of extension education inserts the community within the process, which
provides a problem to be investigated. Thereby, the problem is defined and understood, and
then its solution is searched, what characterizes a design process.
Finally, the main result achieved was the approximation of three elements: University, design
and society, positioning the first two as development instruments of the third.

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SAMPAIO,Felipe; Graduando; Universidade do Estado de Minas Gerais

felipels06@hotmail.com

keywords: design for sustainability, catadores, coleta seletiva

In Brazil, the selective collection - the first step of recycling - is still done informally, by
scavengers. This informality is reflected from in which they they work - with no safety
equipment, inefficient resources to transport the material and inappropriate location for
storage and work. The purpose of our paper is to report part of our experience along to members
of ASCAP (Association of Collectors of Paper) in Nova Lima - Brazil. Our goal is to assist the
population that lives from collection of recyclable items from residential garbage in the city, and its
citizens by making these collections less tedious for them. Several people derive their livelihood from
this activity. We aim to bring improved quality of work of scavengers through Design, by developing
new products, building layouts and collecting systems. This academic research is funded by CNPq.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
1 Introduction

We are living in a transition period where design is not only focused on the development of
products caring about their environmental impact during production. When evaluating the
13
average global ecological footprint today, we found that would need 25% more than our
14
planet in order to meet our needs. We know that some countries even have an ecological
15
footprint more than three times higher than the world average, which leads us to see that we
16
need to change our position and we must find solutions for better use of existing products .

The relationship between the man and object, study center of design, evolved and reconfigured
according to changes in social behavior. With the transformation in the way of acting, thinking
and feeling of different cultures, values assigned to objects and the people are changing and
the design professional must conform to these changes, which now go far beyond being
functional and aesthetic relationships. The way of thinking about the interface of an object at the
time of its development has changed a lot, and issues such as new consumer relations have led
to new and complex connections. According to Kazazian (2005), the consumer is taken to
design a future based on new desires, temporarily suspending the present. This process is
insatiable and somewhat inconsistent.

Parallel to this context, new technologies developed to facilitate this process aims to facilitate
these connections and create new product platforms, which engenders the desire as a result of
new bonds by the user, increasing the intake of resources and markets heating. Consumption is
associated with a state of welfare, distancing the society from their responsibilities with the
environment where they live, through these dynamic platforms of deeper interface with the user.
According to Manzini (2007) we live in a model of society and economy derived from the
industrial era, in which the welfare is tied to consumption and the less the user engages to
perform a task, better the product is.

Today is clear the need for behavior change to minimize environmental impact and reduce the
shortage of resources. It is believed that the great challenge of this century is to find alternatives
for sustainable development to offset the reduction in consumption.

Given this reality, the design takes on a much larger role than commonly associated with it, of
object creation, and it is now used as a tool to facilitate the process of interpretation of new
products. Manzini (2007) believes that the changes towards sustainability should be understood
as a learning process of society, enabling the design to develop their capabilities and promote
diffuse skills. The focus of the design becomes possible to suggest solutions that enhance the
understanding of what is proposed and therefore fosters participation. So what is required is that
we buy and use the objects in an intelligent and responsible way.

On one hand, this interface by creating deeper relationships with the user can be viewed
negatively, because it encourages consumption, but otherwise can be perceived as an
opportunity to care more, have more awareness and responsibility. The user is seen as co-
author of project development, setting out ever more clearly the role of responsibility for what
they consume. The subjectivity present in the inter-relationships and the relevance of them

13
The Ecological Footprint is not an exact measure but an estimate. It shows us the extent to which our way of life is consistent with the
planet's capacity to offer to renew its natural resources and absorb the waste we generate for many years. Source: WWF
http://wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica/o_que_e_pegada_ecologica/
14
"Theoretically, the average is 1.8 hectares of land available per person * on the planet, to ensure the sustainability of life on earth. This
equates to an area slightly smaller than two soccer fields. However, since 1999, the average consumption per person in the world is 2.2
hectares, approximately 25% more than the planet can support". Source: WWF in:
http://wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica/pegada_ecologica_global/
15
In the United States the average footprint is 9.6, meaning that at this ratio, if the entire population of the world had the same lifestyle,
you would need 5.33 planets to meet the pace of consumption. Source: WWF
in: http://wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica/pegada_ecologica_global/
16
According to Manzini (2002, 2008) we should avoid unnecessary consumption and currently, it is essential to have an ecological
conscience, and the design of a sustainable solution for new products is no longer a simple choice, but a real necessity.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
strategically innovate, without losing their particularities, are perceived as fundamental, as well
as user behavior and the context in which it operates.

This whole context shows us a picture of the reality of user-product relationship established
today, where the importance of social actors involved in the design process is fundamental. The
product development project tends to set more participatory and multidisciplinary, which makes
it more complete. It is from these links that the design assumes much more strategic features,
applying methods from start to finish the process in order to set targets proposed at all stages,
producing a change in the way of designing products.

2 Design and its Sustainable strand

Sustainable Development

According to SACHS (2002) environmental awareness of society is something new, (although


some consider that it have started with the incident in Hiroshima), but the population is already
aware of the value of nature and the danger arising from damage to the environment.

In the face of an unstable world in constant change due to the misuse of our environment, we
have a series of consequences for which we seek solutions - sustainable.

Sustainability focuses primarily on optimizing human and economic systems and, at the same
time, cause the least possible impact on ecological systems. It is also used for the analysis and
management of human activities that relate to the nature, resources and development, to
protect the environment.

For sustainable development, the challenge is to inspire and motivate public and private
organizations to grow aware of their rights, duties and responsibilities, and with the help of
available technology, to improve the quality of life.

The promotion of sustainable development can create an environment in which people can
develop their full potential and creative products and live according to their needs and interests.
People are the real wealth of nations.

Design
Since the beginning man has the ability to create objects that fit a certain form or function to
meet any need. Over the centuries the term need was distorted by the capitalist way of life in
which we live today thanks to Marx (Sudjic, D. 2008).

In this context, where the mere fact of having something or not, began to dictate who you were,
and the act of creating also began to have a new goal: to plan and produce a lot. And so, in the
17
middle of the industrial revolution was born the Design that was structured in a more concrete
and official way around the 1920s and brought new types of work and improved methods and
mechanisms.

In principle, the designer was strictly related to the product, but from the 90's the designer
begins to have more interfaces with new disciplines and areas (Slack 2006) to cross.

The history of design is also the story of society: any implementation of the change must be

17
"Design is the human capacity to shape and make our environment in a way that meets our needs and give meaning to our lives,"
Design offers environmental, social and economic sustainable tools to make the world safer and better for people. The Design process
works in such a way that identifies the knowledge-based solutions, answers and methodology of the designers. Heskett, J. in: Design
Index. http://www.designtoimprovelife.dk/index.php?option=com_content&view=article&id=30&Itemid = 8

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
based on an understanding of how design affects the processes of modern economies and is
affected by them. (Forty, 2007)

From the moment they began to take the focus off of the object they begin to value more the
people, the environment and sustainability of the planet. This led to a change of perspective that
makes today an essential terms consciousness and sustainable living.

We are going through a complex transition of extreme consumption in contrast to conscious


consumption; from having a good production system to living in harmony on our planet.

Currently the Sustainable Design or Design for sustainability is still seen in some institutions as
one of the areas of ecodesign. But to be sustainable should not be taken only as a requirement
to add value, but as an essence of design, but in everything and in all areas.

According to Manzini (2006) transition to sustainability is a process of social learning in which


human beings have to learn to consume fewer environment resources and live better,
enhancing or even having to regenerate their contexts of social and physical life. The design
approach to sustainability targets mainly a reduction in society, within a context that leads to
increased welfare through the use of consumption and not necessarily with an emphasis on
quality versus quantity. We need to see designers as agents capable of contributing
to the sustainability-oriented social learning process.

3 Recycling

With the industrial revolution began a process of intensification of the exploitation of natural
resources to meet the growing demand for manufactured goods, also due to the exponential
growth of world population. From this process, a capitalist society characterized by consumption
has established, and industries took root as an important part of the world economy.
Consequently there has been significant growth in the amount of waste produced, particularly in
large urban centers.

One of the problems we face today is the contamination caused by improper disposal of waste
inorganic solids. When dropped directly into the environment, whether urban or natural, these
residues are likely to contaminate rivers, forests and seas. Even when sent to landfill such
waste accumulates in a very slow process of decomposition, generating environmental and
socioeconomic impacts.

Currently, one of the most viable alternatives to minimize the environmental impacts caused by
urban waste is to reuse already industrially processed materials such as glass, plastic, metal
and paper as raw material for the manufacture of new products, a process known as recycling.
Besides reducing the accumulation of garbage, prolonging the life of landfills, this process aims
to reduce the need for exploitation of natural raw materials, minimizing the impacts from this
process.

A process of global awareness has been also accompanied in recent years by governments of
different countries and society in general. Each country has a reality and needs to take
measures according to their geographical, cultural and economic features. Currently the most
developed countries are ahead in the process of reuse of inorganic waste, because normally
these processes are expensive to deploy and maintain.

In Brazil

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
We know that every Brazilian generates about 500 grams of waste per day, reaching more than
1 kg, depending on where you live and the purchasing power, thus, on average, Brazil produces
90 million tons of waste per year. In this context, only 2% of the total waste generated is
18
recycled, what means a waste of R$ 4.6 billion.

Recycling contributes to the preservation of the environment, reducing the exploitation of natural
resources in case the recycled materials back into the productive avoiding exploitation of new
natural resources.

This process consists in the reuse of materials used for the purpose of being used as feedstock
in the manufacture of new products. The first stage of recycling is the waste sorting, where the
materials used are separated and sent to the recycling process. The trash after discarded is
collected by institutions responsible for separating the different materials and sell them to
companies that treat this material to be reused. These institutions are mostly professional
associations that collect and separate the waste, and survive on the money generated by the
sale of the separated material (Tavares, IAF 2009).

The first step of this collection is held by scavengers who walk in the streets collecting paper,
glass, plastic and metals in the trash discarded by city dwellers. They use work tools often
inadequate to the environment where they circulate and material transport vehicles such as
human-powered and rubber sandals, and do not use safety equipment (Figures 1 and 2).

19
Figure 1: Scavenger in Belo Horizonte. Source: Let them come

20
Figure 2: Scavenger on a main avenue of Belo Horizonte. Source: Let them come

18
Source: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/residuos/estatisticas_de_reciclagem/estatisticas_de_reciclagem_-_lixo.html
19
http://letthemcomeimages-port.blogspot.com/2011/05/marcos-vinicius-catador-de-papel.html
20
http://letthemcomeimages-port.blogspot.com/2011/05/marcos-vinicius-catador-de-papel.html
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The work of these collectors associations is interesting for municipalities of Brazilian cities, since
this material reused would have to be transported and disposed of by the local governments.
They collect the garbage and forward it directly to landfills, which are spaces intended to receive
waste to be buried without any separation or treatment. Thus, the activity of associations of
collectors is supported by municipalities, who donate space and a feature that facilitates the
work.

Minas Gerais

In Minas Gerais the Waste Treatment Centre in Macaúbas place for getting all the garbage of
the capital, receives an additional 98,800 tons of garbage per month. Of this amount, only 0.5%
is destined for recycling. These data do not show anything interesting for one of the major
capitals of the country, where the recycling should be effective and cover the entire population,
which would contribute to improving the quality of life of residents and preserving the planet.

In recent research, we found that 53% of the population have access to proper disposal of solid
waste. The number of dumps has increased from 823 in 2001 to about 300 in 2010 and landfills
21
went from 193 in 2005 to 288 in the last year . There is no separate collection in at least 76%
of the 853 municipalities in the state and more than 56% of the population has never made the
separation of garbage. Although these data are somewhat frightening, more than 90% of Minas
Gerais population believes that the preservation of the environment is everyone's responsibility
22
and is conducive to implementation of selective gathering .

Nova Lima
23
Part of the metropolitan region of Belo Horizonte, Nova Lima is a city that has approximately
80,000 inhabitants and is located in the Serra da Calçada, which makes its mountainous relief,
with a variation of up to 800 meters between the lowest point and highest. This feature makes
life difficult for its residents who must contend with steep slopes and move whenever they go by

21
Source: State Plan for Selective Gathering was released at the 2nd State Meeting of scavengers. In: CMRR site: June 2011
http://cmrrmg.webnode.com.br/news/plano%20estadual%20de%20coleta%20seletiva%20foi%20divulgado%20durante%20o%20
2%C2%BA%20encontro%20estadual%20de%20catadores/
22
Source: Research about situation of scavengers in Minas Gerais was presented at the end of the 2nd State Meeting of scavengers. In:
CMRR site: June 2011
http://cmrrmg.webnode.com.br/news/pesquisa%20sobre%20a%20situa%C3%A7%C3%A3o%20dos%20catadores%20em%20min
as%20foi%20apresentada%20no%20encerramento%20do%20ii%20encontro%20estadual%20de%20catadores/
23
Source: Municipality of Nova Lima. In: site: http://www.novalima.mg.gov.br/
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the municipality. On the other hand, this feature provides a beautiful landscape and pleasant
climate.

The selective collection system was installed for a decade and only meets 20% of the
population. Currently there is a forum in the city, meeting fortnightly, composed of researchers,
secretaries, representatives of condominiums, schools and businesses - to assess the situation
and raise proposals for improving this service.

4 ASCAP

Founded about a decade ago, the Association now has about twenty members who take turns
in the services of collection and separation of the recycled material.

Currently the headquarters of ASCAP, a shed with about 200m ², is located in a lower part of
the city, and has a field used as a depot where the materials wait to be collected by companies.
This office is separate from the city center by a hill (Figure 3), which complicates the work of the
scavengers.

Figure 3: Entrance of
trucks in the ASCAP
headquarters. Source:
Rachel Montenegro

To overcome such difficulties, the association has a truck donated by the municipality that is
24
responsible for bringing the scavengers, the bags and their vehicles to the highest point and
from there they head towards the city center collecting the material. The collected material is
stored in large bags - big bags - usually made of polypropylene material, which is left in the
street and later may be collected by the truck, which carries waste to the headquarters of
ASCAP, where they will be separated and stored until they are sold, as shown in Figure 4.

Figure 4: Value Chain ASCAP. Source: Rachel Montenegro

24
The vehicle shown in Figures 1 and 2

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The association makes the collection work in the streets in two shifts, one in the morning and
another late in the afternoon, but the screening material that goes on inside the shed works all
day without splitting shifts. All material collected after being separated is properly marketed to
companies that do recycling and price of each residue is defined by its weight. After the material
is sold the money earned is used to pay expenses such as fuel, bus fare and maintenance of
machinery.

The rest is divided equally among the members, who usually receive a salary of R$ 800,00 per
month. This reality means that members are mostly humble people and uneducated. They have
families and maintain them with the work of the association. By working with discarded materials
in a dirty environment, the scavengers were not well regarded by the population, but some
years there, it was clear the importance of their work, and respect has increased.

Figure 5: Photo of the entrance to the shed ASCAP. Source: Paula Soeiro

Figure 6: Inside the shed ASCAP. Source: Rachel Montenegro

Figure 7: Deposit on outside shed of ASCAP. Source: Paula Soeiro

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5 Reality today

Scavengers view

From an analysis of working conditions of ASCAP scavengers some aspects that require an
intervention to improve were identified:

 In the shed area there is lack of organization in the system of separation and storage of
materials, which interferes in the efficiency of the work of associates.
 There are obvious some variables ergonomically unfavorable to scavengers, such as
the interior lighting inadequate for the type of work performed there and reduced space
for the amount of material collected and stored (Figure 6).
 The bags with materials already separated are stored in the external area of the shed -
Figure 7 - where they are exposed to weathering and vandalism by the population
nearby.
 The ASCAP scavengers do not wear masks and gloves, essential items for safety and
preservation of health workers. As the president of the Association said, these products
are not used since there are no models able to adapt to the specific needs of the
workers. In the case of gloves, they need to protect and not overheat their hands
without compromising the agility of associates during mainly the separation of materials.
 To gather the materials throughout the city are used bags - big bags donated by
companies - which are filled with the material collected and dragged through the streets
of Nova Lima. It is understood that the role given to these bags requires that they have
to be modified to have a system for better handling without compromising strength and
main function of the bag.
 The effort demand of the scavengers is greater than the recommended when controlling
their working tools, especially the human-powered vehicles. The fact that these vehicles
do not yet have brake has already caused some accidents with cars on city streets,
wich diminishes even more the security of workers and the general population.

Figure 8: Current Situation. Scavengers dragging bags through the streets of Nova Lima. Source: Paula Soeiro

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The People voice

Given these data, to better understand and see how the population of Nova Lima analyzes the
waste sorting, we applied a questionnaire with 100 city residents. Below are the results in graph
forms:

Figure 9: Profile of interviewees: gender. Source: Authors

Figure 10: Profile of interviewees: age. Source: Authors

Figure 11: Profile of interviewees: marital status. Source: Authors

Figure 12: Profile of interviewees: average minimum wages of the family. Source: Authors

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Figure 13: Percentage who knows ASCAP. Source: Authors

Figure 14: Percentage of residents who have the habit of recycling. Source: Authors

Figure 15: Positive words. Source: Rachel Montenegro

Figure 16: Negative words. Source: Rachel Montenegro

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6 The Role of Design

The design will have a crucial role in this process. Using methodologies of product design, as
published by Mike Baxter (2005), researchers will be able to propose innovative solutions from
the problems identified in the working tools of the scavengers in question. This will use analysis
tools for existing products on the market for comparison purposes, as well as questionnaires
and follow-up in a real work of scavengers of ASCAP as a strategy for data collection.

Similar work already developed with associations / cooperatives of recyclable materials


collection will also serve as a basis for comparative analysis and enrichment of sources that
relate to the universe of workers, always considering the peculiarities of each region and cluster
of scavengers.

During the research we have identified several opportunities for the work of the designer to help
these professionals who play an important role in recycling of materials:

 Analyze the work of members of ASCAP and develop working tools to suit their
needs;
 Improve working conditions in relation to transport and safety of members;
 Improve the planning and process of collection and separation;
 Increase the integration between scavengers and the community;
 Collect data that serve as input to later projects;
 Creation of brochures to be distributed in homes and schools, in order to inform the
public about sorting waste;
 Planning waste sorting system of the city.

Besides the features of the city, the conditions of ASCAP and its structure with the points
25
identified as faulty through research, allow a range of interventions raised the mental map
(Figure 16), meets the proposed project, as a direct influence on work efficiency of the
scavengers.

Figure 17: Mental map. Source: Rachel Montenegro

25
Mental map is the name given to a type of diagram, systematized by the english Tony Buzan, focusing on the management of
information, knowledge and intellectual capital, to understand and solve problems; on memorization and learning, the creation of
manuals, books and lectures, as a brainstorming tool, and aid in the strategic management of a company or business. Source:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mapa_mental

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The municipality of Nova Lima, through the Secretary of Environment, has offered to contribute
information and services needed for the development of work that are within their reach. This
attitude demonstrates the interest in optimizing the process of waste sorting of town,
envisioning a better future for the city and its population.

Thus, the objective is to work in partnership with the city in order to, in the next few months,
propose and test products that make these people work less stressful and healthier. The project
will thus contribute to the first stage of this process that aims to solve an environmental problem,
waste disposal in urban centers.

7 Expected Results

Through research we found that the working conditions of scavengers are unacceptable to the
era in which we live. We know that to be an effective change a government support is needed
as well as critical awareness of the population and its consumption and its role in the context of
a sustainable society.

We have seen that the municipal government know about the need of a good selective
gathering, and has supported the restructuring of the system as a whole, which is very
promising. The creation of the committee of the Forum of garbage of Nova Lima is proof of that,
and the fact that we have been invited to join with other representatives from various areas
believe that the solution of this problem is around.

It is up to the designers today - with an increasingly important role in society - reassess their
concepts, find solutions through strategic design and learn to live and to propose in order to
consume fewer natural resources. It is essential to lead by example and encourage all people to
change habits in relation to consumption and disposal conscious.

We intend to continue the studies analyzing the full dimensions of the interdependence of
society - and not as an individualistic system - and the proximity of the same with the
environment. This so together we can build a better future, not only for scavengers but for the
city and the world.

Acknowledgement

We would like to thank CNPq for financial support to this project, the Universidade do Estado de
Minas Gerais for their support and encouragement of research, the City Council and the
Secretariat of the Environment of Nova Lima and ASCAP for hosting us and give credit to our
work.

References
Baxter, M. (2005). Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos.
São Paulo: Edgard Blucher, 2005.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Ergonomia/ABERGO 2004, 2004, Fortaleza-
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Milano, 2006.
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Altos Estudos | Volume 1. PEP da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.
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Edizioni POLI.design, 2007.
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Tavares, I.A.F (2009). Do Lixo à Reciclagem: Uma visão sobre o trabalho dos catadores no
município de Divinópolis. 2009. 85f. Dissertação (Mestrado em Educação, Cultura e
Organizações Sociais) - Fundação Educacional de Divinópolis – UEMG.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A aplicação de bipolímeros no design de produtos
sustentáveis: Uma revisão (The application of biopolymers
in sustainable product design: A review )

MOTTIN, Artur Caron; Mestrando; Escola de Design – Universidade do Estado de Minas


Gerais

mottindesign@gmail.com

CÂMARA, Jairo José Drummond; Ph.D; Escola de Design – Universidade do Estado de


Minas Gerais

camara.jairo@gmail.com

DE MIRANDA, Carlos Alberto Silva; Dr.; Escola de Design – Universidade do Estado de


Minas Gerais

carloasmiranda@gmail.com

PAGNAN, Caroline Salvan; Graduanda; Escola de Design – Universidade do Estado de


Minas Gerais

carolinespagnan@gmail.com

ARAÚJO, Mayra Bernardes, Graduanda; Escola de Design – Universidade do Estado de


Minas Gerais

maybernaraujo@gmail.com

SANTOS, Ivan Mota; Mestrando; Escola de Design – Universidade do Estado de Minas


Gerais

santos.ivan@gmail.com

Palavras chave: design de produto; biopolímeros; sustentabilidade.


As crescentes demandas ambientais e os desenvolvimentos tecnológicos têm propiciado ao mercado de
bens de consumo a utilização de polímeros biodegradáveis e de biopolímeros obtidos através de fontes
renováveis como soja, etanol, cana-de-açúcar, entre outros. O setor de embalagens tem tido destaque no
desenvolvimento e utilização destes polímeros, propiciando estudos e pesquisas a fim de aprimorar cada
vez mais estes materiais. Tais resultados são fonte de estudos, da aplicação do design e de ferramentas
como a análise de ciclo de vidas de produtos, a fim de obter melhores resultados do produto frente a seu
ciclo de vida, reciclagem, descarte e consciência ambiental. Este artigo tem como objetivo apresentar o
estado da arte sobre as novas aplicações dos polímeros, e demonstrar através de exemplos como as
iniciativas do governo têm ajudado no desenvolvimento de produtos com baixo impacto ambiental e de
alto valor.

Keywords: product design; biopolymers; sustainability.


Growing environmental demands and technological developments have been bringing to the market of
consumer goods the use of biodegradable polymers and biopolymers obtained from renewable sources
like soybeans, ethanol, sugar cane, among others. The packaging industry has been highlighted in the
development and use of these polymers, providing studies and research in order to constantly improve
these materials. These results are a source of study and application of design tools like life cycle analysis

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
of products in order to obtain better results in the face of the product life cycle, recycling, disposal and
environmental awareness. This article aims to present a state of the art on the new applications of
polymers, and demonstrate through examples how government initiatives have been assisting in the
development of products with low environment impact and high value.

1 Introduction
Biopolymers arise in a context where the concept of sustainability is widely used and valued by
a growing number of people. The phrase "environmental sustainability" refers to conditions in
which systemic, regional and international level, the balance of the planet and its natural cycles
of renewal does not suffer significant interference from human activities. And that these
systemic conditions further determine that human interference should consider the conscious
consumption of nonrenewable resources, which will be transmitted to future generations.
(Friends..., 1995)
For proposals to be considered sustainable, they must meet four basic requirements:
 Relying primarily on renewable resources (while ensuring the renewal);
 Optimize the use of nonrenewable resources (understood as air, water and land);
 Do not accumulate rubbish that the ecosystem is not able to "re-naturalize" (that is, to
return to the original minerals and, not least, to their original concentrations);
 Act in a way that every individual and every community of the “rich companies”, remain
within the limits of your environmental space, and that every individual and corporate of
the "poor community" can effectively enjoy the environmental space which potentially
have the right (Holmberg apud Mottin, 2008).
In addition, Manzini (2005) highlights sustainable solutions can be considered only when the
consumption of environmental resources is 90% lower than in non-sustainable solutions. They
are facing two dimensions of innovation: technology (T) and culture (C) obtaining the limit of
sustainability (R), where T = R x C. It is noticeable in the graph (Figure 1) that when the solution
is more close to one dimension, that is, only to technological change or only for cultural,
sustainable solutions are more difficult to practice.

Figure 1 - pathways to sustainability

There are three basic principles that define sustainable actions: environmental sustainability,
social sustainability and economic sustainability, which must be all achieved and are detailed
below (Figure 2):

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
 Environmental: Choice of materials, analysis of product life cycle, environmental impact
analysis, etc.
 Social: Aggregation of local value, benefits assessment, development of identity and
local culture, working conditions, etc.
 Economy: Competitiveness, identification of partnerships, etc.

Figure 2 - Pillars of Sustainability (Oliveira, 2008)

In this context, it is necessary to discuss about plastics, widely used in many applications
such as packaging, building materials and commodities, as well as hygiene products. However,
the problem of environmental pollution caused by the indiscriminate use and disposal of plastic
waste has assumed global proportions. These conventional plastics, which are synthetically
derived from petroleum are not easily biodegradable and are considered harmful to the
environment. Most polymers are extremely durable and present a serious environmental
problem, especially in urban centers. One option for managing plastic waste is the use of
biodegradable products. (Bucci, Tavares & Sell, 2005)
The demand for biodegradable polymers has been conducted by a variety of social and
economic factors. The record price of oil and natural gas, raw materials base for many products,
are increasing efforts to produce plastics from renewable resources. A major obstacle in the
past for the application of biodegradable plastics was the cost factor, because they are far less
efficient in terms of scale of production than plastics derived from petroleum. But high oil prices
are stimulating the interest in research to improve production technologies and processing of
these alternative materials. (Rosato, 2007)
One way to produce biodegradable polymers is the use of crop to obtain biomass, through
the major crops like corn, soybeans and sugar cane. Countries like China, the United States
and Brazil, are characterized by the cultivation of such crops, with potential in the development
of biopolymers.
In the 1980s, soft drink companies like Pepsi Company and The Coca-Cola Company began
bottling the products in plastic containers, giving birth to a spread of plastic packaging.
However, before this became a worldwide phenomenon, few people gave importance to the
destination of these packages. The first biodegradation studies were performed in order to slow
down and prevent the attack by fungi, bacteria and other living organisms to these materials.
(Rose Et Al, 2002)
With the diffusion of polymers, mainly through food packaging and consumer products, was
created a problem that has acquired phenomenal proportions since the mid-1970s. The amount

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of garbage generated by these materials has been consistently demonstrated, in view of its low
life cycle – because of its wide applicability in packaging - and the long time required for its
degradation, which can reach 500 years (Esmeraldo 2011). Commodity polymers, despite their
importance in compounding urban waste, are not its main constituent, which are occupied by
organic waste. However, the last one breaks down relatively easily, therefore not visible to our
eyes. Ordinarily, documentaries evidence marine animals ingesting plastic products by
confusing them with food, in addition to garbage dumps and landfills with capacity approaching
the maximum level of containment of the waste.
However, the polymers have some advantages that enabled this emphasis and proportion of
application that reached today. Features that stand out among these advantages are, for
example, the ability to manufacture products in various categories, their durability and can be
used for decades, and his ability to reuse and recycling.
The recycling of polymers can occur in three ways (Plastivida, 2011):
1. Chemical recycling: a process in which the polymer is reprocessed turning into basic
petrochemicals such as monomers or mixtures of hydrocarbons, which serve as raw
material in refineries or petrochemical plants, to obtain products of high quality noble.
2. Mechanical recycling: is the conversion of plastic discards post-industrial or post-
consumer granules that can be reused in the production of other products such as
garbage bags, shoe soles, floors, conduit, hoses, automobile components, fibers, not
food packaging -and many others. It is estimated that in Brazil 15% post-consumer
plastic waste are mechanically recycled
3. Energetic Recycling: it is a technology that turns municipal waste into electricity and
heat, a process widely used abroad, and leverages the high calorific value contained in
plastics for use as fuel. In Brazil, this type of recycling is not applied, preventing the
country from reaping the benefits of an important and efficient way to recycle waste.
In summary, the numbers of discarded material appear in this category by region as follows:
each American inhabitant discards 70 kg of plastic waste per year, in Europe is 38 kg per year,
and in Brazil is in the order of 10 kg Annual per capita. In Sao Paulo, are produced 12,000 tons
/ day of waste, of which about 10% are plastic. (Canto, 2002; Gomes Bueno Netto, 2002)
In Brazil, due to a poor system of selective collection, packaging comes with conditions
unsuitable for mechanical recycling, representing a complicating factor for the management of
landfills. These polymers, being dirty or contaminated with organic materials, could be used as
fuel by transforming waste into energy. For example, a kilogram of plastic is equivalent to a
gallon of diesel or fuel oil in power generation. (Esmeraldo, 2011)
A way that has generated much discussion is the development of oxy-degradable or
fragmentable polymers. This denomination has confused consumers, and the people believe
that these materials be environmentally harmless polymers are disposed of properly, in fact,
polymers with high loads of components that help to subdivide into smaller fragments, which
may reach a turning dust. But these structures, even at very small scales, are not biodegradable
according to national and international technical standards, which determine a period of up to
six months so that there is a total degradation of the polymer. (Esmeraldo, 2011)
From this finding, an option that every day becomes more viable and impactful in solving the
problem of selective collection and the unavailability of energy recycling plants is the reduction
of life cycle of post-use, with the application of polymers, from renewable sources. Brazil has a
great potential for production of such polymers, especially those obtained from the processing of
ethanol and sugar cane.

2 Biopolymers (or bioplastics) and biodegradable plastics


There are differences between the biopolymers (or bioplastics) and biodegradable plastics. The
so-called biopolymers are those made from renewable alternatives to petroleum. Examples
include films and other products made from cellulose. However, not always the biopolymers are
biodegradable, and not all biopolymers are biodegradable plastics. In fact, the biodegradable

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resins are those that can be fully absorbed by the environment, requiring a chemical structure
compatible with processes of decomposition, which can result from the action of microbes,
fungi, bacteria, or principles-based assets such as oxy- degradation, in which the process is a
result of catalytic action with oxygen, or photochemical degradation, by the effect of sunlight.
(Embaixada. .., 2009; ... Agência, 2009)
The first appearance in biopolymers had their story through Poly (hydroxybutyrate) [PHB]
belonging to the family of poly (hidroxialcanoates) [PHAs] that was discovered and studied by
the French researcher Maurice Lemoigne, of the Institut Pasteur in 1926. The idea of
developing a thermoplastic resin derived from bacterial cultures fed with sucrose, which favor
the formation of thermoplastic granules formed within certain strains of bacterial cells, it is still
reason and focus of several studies. (Oliveira, 2005)
As an example of this process of obtaining a thermoplastic resin derived from bacterial
culture, we can mention the process of obtaining PHB, which consists basically of two steps:
one step fermentation, where the microorganism metabolizes sugar available and the PHB
accumulates inside the cell (Figure 3) as a source of reserves, and a later stage, where the
polymer accumulated inside the microorganism is extracted and purified to obtain the final
product solid and dry, ready for use in processing of thermoplastics. (Nascimento, 2001)

Figure 3- Granules of the biodegradable polymer (PHB) within the bacteria. (Nascimento, 2001)

With the development of biopolymers, for example, amide polymers (PA), poly (lactic acid)
(PLA), polyesters, aliphatic - aromatic (PAA), poly (butylene terephthalate) (PBT), poly (butylene
succinate ) (PBS), polyurethane (PUR), nylon, among others. Such polymers have shown great
replacement potential compared to conventional polymers as shown in Table 1:

Table 1 - Potential replacement for conventional polymers for bioplastics. (Embaixada..., 2009)

+ + Complete replacement | partial replacement + | - no replacement


PVC: polyvinyl chloride | HD-PE: HDPE | PE-LD: Low density polyethylene | PP: Polypropylene | PS: Polystyrene | PMMA: polymethyl methacrylate | PA:
polyamide | PET: polyethylene terephthalate | PC: Polycarbonate | PTT: polytrimethylene terephthalate | PHB / HHX: polyhydroxybutyrate hidroxihexavalerato

Most of these polymers are derived from sugar beets or sugar cane, or potato starch or corn
starch, among others. Brazil has a great potential for exploration, because it has a factory that
obtains poly (hydroxybutyrate) [PHB]. Besides having a sugar industry that produces
approximately 31 million tonnes, which has an important position among the producers of
biopolymers. Besides being the largest producer of ethanol. (Nascimento, 2001)

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We can excel in this market the PHB Industrial, manufacturer responsible for producing PHB
- Biocycle in Brazil. The company has production capacity of 60 tons / year, however, says that
in 2011 will manufacture 36 thousand tons / year. All current production of manufactures is
exported to countries like USA, European countries plus Japan. (Molinari, 2008)
The large production of sugar cane is one of the disadvantages of its application, but your
income has values much higher than other crops used for obtaining biopolymers. With a
production capacity reaching values above 60 t / ha, sugar cane results in a yield of 7.2 t sugar /
ha, while the yield of sugar beet is about 32 t / beet / ha, resulting in 3.5 t sugar / ha. The yield
of soybean oil, on the other hand, can reach values of 0.6 t oil / ha, cassava and maize, two
starchy materials also have good agricultural profitability of cassava order of 20 t / ha and 6 t
corn / ha. (Zanata, 2008)
Besides the production of biopolymers, the industry has invested in polymers produced from
renewable sources. BASF has recently developed a plastic cornstarch which decompose
completely within 180 days, as opposed to the time of decay of traditional polymers, which is 40
to 50 years, reaching 200 years in some cases.
Braskem, in turn, developed a polyethylene from ethanol, which is produced from sugar
cane, nicknamed the "green plastic". Industry sources argue that as the properties of this new
resin is very similar to those obtained from non-renewable sources, its use will not require
investments in technological adaptation or changes in the sector of plastics processing, which
facilitates the insertion of this material on existing products. (Agência .., 2009)
In addition, sectors such as pharmaceuticals and medical have done some studies on
biodegradable polymers, as some groups in this category have a biocompatible property,
serving as support for drugs and replacement prostheses and surgical implants. (Queiroz, 2002)

3 Market context – conscious consumption


One feature that can be seen on the market today is the increasing number of consumers aware
that, according to ECoD, is cautious about their purchases and be attentive to the actions of
companies and manufacturers, being able to give up a product or service if you know of
activities that conflict with principles such as ethics, environmental sustainability, human rights,
fair trade and personal development. Environmental awareness, which is strengthened more
and more, is considered one of the reasons for increasing the amount of this type of consumer.
(ECoD, 2011)
Other reasons for the commitment of the companies in sustainable actions are appointed by
Terra (2011), as the information that children receive in schools, since little getting used to
preserve natural resources and negative attitudes towards sustainable course. The media is
also implicated as being of great importance in raising awareness, bringing the attention of
consumers of various classes practiced sustainable actions by companies, teaching them to
value companies that are engaged in sustainable causes. (Terra, 2011)
The Institute Akatu works by raising awareness and mobilizing society for Conscious
Consumption and understand consumption as a process that begins before the purchase and
ends after use. Helio Mattar, president director, said the Americans did not differ in social,
environmental and economic, and environmental issues valued by classes A, B, C and D. About
30% of the population has the habit of consuming products made with organic and sustainable
materials. (Terra, 2011; Akatu Institute, 2011)
3.1 Application of biopolymers in the governmental
This market context justifies the wide application of biopolymers that can be observed in several
companies in different sectors. In addition, there are government demands to this effect which
can be highlighted by the Japanese emphasis on the use of biodegradable polymers. Some
Japanese companies are already making use of biopolymers, being an example Toyota, the
company that in 2003 has used materials from beet and cane sugar in the production of auto
parts (spare tire cover model Raum). Another company active in the sector is Fujitsu, which
uses the hybrid PLA (50% PLA and plastic oil-based amorphous) in the carcass line of
notebooks FMV-BIBLE. NEC, a company in the electronics business, is using Kenaf fiber

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reinforced PLA in the production of mobile phones housing to most Japanese mobile
communications company - NTT DoCoMo. (Embaixada..., 2007)
Sony is another company active in the use of biodegradable polymers. In 2000 she
introduced the biopolymers to the plastic bag of mini-disks and to the bubble packaging for
portable radios. In 2002, the company replaced 95% of plastic used in Walkman housing for
their biodegradable equivalent. The Unikita, the largest Japanese manufacturer of plastics,
develops products from PLA bioplastics. 12 years ago it launched its first products of
biopolymers: garbage bags and packaging of tea. Today the company has over 1000 products
including plates, trays, glasses, films, cosmetics containers and even clothing.
3.2 Application and obtaining of polymers by large companies
There are examples of companies that make the attainment of biopolymers such as BASF,
which has the Ecoflex ®, a polymer highly suitable for production of films for food packaging. It
includes characteristics and properties very similar to the low density polyethylene (PE-LD) with
good water resistance and tear, flexible and can be printed and soldier. BASF also provides the
models for the Fit and Civic New Honda Ecoflex ® and packaging of car seats.

Other companies like Dupont and Braskem have polymers using renewable resources as
raw material for obtaining it. Braskem in Brazil in 2010 opened the largest factory of green
plastic in the world on an industrial scale. The plant is used in the production of polyethylene
obtained from ethanol produced by the sugarcane plants, about 570 million liters / year. This
polyethylene allows great versatility of applications, used mainly in the sectors of hygiene and
cleaning products, cosmetics, food and automotive. (Braskem, 2011)

The application of polyethylene obtained from renewable sources, has made the products of
Braskem spread among large companies. Examples of companies that make use of this
Braskem polymer are: Embalixo, Brazilian leader in the production of garbage bags, serves
major supermarket chains like Carrefour, Wal-Mart, Grupo Pão de Açucar, Johnson & Johnson,
which will launch the packaging line Sundown ® protectors that will reach the market in summer
2011/2012; the company Natura, which held partnership with Braskem for all packaging refill
line fennel using the resin from renewable resources; global companies like Procter & Gamble
use Braskem's polyethylene in Pantene, Max Factor and Cover Girl lines; Shiseido and the
Japanese company did not lag behind and must also use the resin in plastic packaging.

4 Case Study - Packaging Industry


In the packaging sector, there is an interesting case to be analyzed: the use of polymers
obtained from natural alternative sources to oil in packaging of Coca-Cola Company. It is
interesting that Coca-Cola has been one of the first companies to spread the use of polymers in
packaging, and thus the one responsible for its wide application and disposal, being, on the
other side now, looking for ways to make less harmful use and disposal of packaging produced
in PET. This polymer used in the packaging of soft drinks, according to the company's
disclosure is made in 30% of polymer obtained from natural alternative sources to oil. This is the
case PlantBottleTM, PET packaging produced in part from a plant. The package, still according
to the company, has no apparent functional difference compared to traditional packaging made
of PET. In addition, recycling of this new material is made in the same way that occurs with
traditional PET, which requires no infrastructure for processing different, occurring at sites that
already receive PET. The differentiation of this material to the material already used recently,
PET, is it’s obtaining, which occurs less harmful to the environment.
The PlantBottleTM (Figure 4) developed by Coca-Cola Company was honored at the 22nd
DuPont annual global awards for innovative packaging, showing that the world population
begins to be aware and appreciate that kind of action. The application of this packaging is
increasing, being offered in various sizes and in various countries, and, according to Dr. Huang
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Shell, director of research in packaging, the company intends to launch the new generation of
material produced in PlantBottleTM fully obtained from renewable sources and less
environmental impact. (The Coca-Cola Company, 2011)

Figure 4 - Bottle of coca-cola – Plantbottle. (The Coca-Cola Company, 2011)

But there are some limitations imposed by the use of renewable polymers and biopolymers,
such as production scale, which is still very low, representing 0.78% of world production of
polymers, their use being limited by it. In addition, there is the limiting price of biopolymers,
which is about 50% above the price of traditional polymers such as PET. (Agência.., 2009)
Another factor is the issue of difference in the properties of some polymers in relation to
traditional polymers, getting biopolymers, sometimes, compromising performance, like the
disposable cups made of biodegradable material in the Group kangaroo/Zanatta in southern
Brazil, which is not recommended for disposal of liquids with temperature above 55 º C, which
shows low resistance to high temperatures. (Portal plástico, 2011)

5 Conceptual applications of biopolymers


Aside from the numerous possibilities offered, biodegradable polymers are already beginning to
be explored by designers in search of new possibilities and applications in conceptual design.
An example of this are two finalists in the 2nd Sebrae Minas Design Award contest in the
category waste, where waste wood were used to design a composite material with polymer
matrix, which is processed by rotational molding technology.
Products developed from this technique were a chair with the composite that uses reclaimed
wood in the manufacture of their foot. And a vessel that is buried next to the plant that it
behaves in order to assist in the planting of it and to degrade over a short period of time.

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Figure 5 – Ekol Chair e Vases Funnyturbe. (Sebrae, 2010)

Such projects (Figure 5) were developed for the reuse of waste in the furniture region of Ubá
in Minas Gerais, in order to allocate the dust and waste sector in unusable products. This
proposal is based on an extension of the life cycle of wood and waste materials, through
analysis and application of tools to determine the whole production process, its waste and
disposal or reuse.

6 Tool design and evaluation - Analysis of Product Life Cycle


A tool widely used and with great contribution to changing the perception of society as a whole
in relation to materials used in the product, the impacts of production, their disposal and other
factors that influence the environment, was the Life Cycle Analysis (LCA) both the product as a
whole and of the materials used there. The emergence of this tool is given by a survey funded
by the Coca-Cola Company in search of a profile of their packaging by quantifying the use of
natural resources and emission rates finally to assess what would be the best package.
However, there are authors who point SETAC (Society for Environmental Toxicology and
Chemistry) as the institution that developed the methodology of Life Cycle Analysis. (Kiperstok
& Meira, 2003)
The tool consists, according to SETAC in
'[...] An objective process to evaluate the environmental burdens associated with a product,
process or activity based on the identification and quantification of energy and materials
used and wastes emitted to the environment, to assess the impact of using of energy and
materials and emissions to the environment, as well as evaluate and implement
opportunities that result in environmental improvements. The evaluation includes the
complete life cycle of the product, process or activity, encompassing extracting and
processing raw materials, manufacturing, transportation and distribution, use and reuse,
maintenance, recycling and final disposal. '(SETAC apud Kiperstok & Meira, 2003)
The goal of Life Cycle Analysis is to identify where in the process is the greater impact, more
waste and therefore greater environmental risk, specifically to attack the point that needs further
attention. So this is a tool, not just for assessment, but of change.
LCA goes beyond the solutions that seem most obvious modification to an unfavorable context,
establishing a comparison between various options available and all the factors that each of
these options involves. In the end, the balance is assessed for each one to choose, and not
always the best choice is the one that initially seemed most logical. One example: an owner of a
network of shopping malls that decides to evaluate what contributions your company can make
to preserving the environment. After visiting several of its malls, he realizes that the total
consumption of paper towels in all bathrooms generates a considerable amount of waste and
then decides to reduce this environmental impact. The solution it seems obvious: return to the
conventional method and replace the paper towels for cloth towels. Looking, however, a little
over the matter, he realizes that by taking such a decision will in fact simply carrying out a
transfer problem. Reduce, without doubt, the waste paper in the bathrooms, but will at the same
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time, grow, through repeated washing of cloth towels, another type of contamination: increase
the consumption of detergents, water (twice), energy (30%), water pollution (86%), air
emissions (40%) and other types of pollution. In other words, he will be transferring
contamination from one process to another. (Kipoerstok & Meira, 2003)
It is precisely this awareness created by consumers, businesses and all parcels involved in the
development to disposal of a product that justifies the creation of new products, new processing
technologies and new materials. In this context of changing perception and greater concern
about the impact that development has caused the world that arise biopolymers and
biodegradable polymers as alternatives more viable and more potential for reduction of a
number of risks identified by the process using tools such as LCA, for example.

7 Conclusion
It is remarkable the importance of the development of biopolymers made from renewable and
biodegradable polymers and there are many companies of various sectors searching for these
materials to minimize your image as business contributors to environmental problems. The
design and other tools such as life cycle analysis of products are of great importance in the
process of research and development of products and demands, whether in conceptual or
commercial.
However, despite the growth of environmental awareness of consumers, there is still much
to evolve, beside the costs of these materials which still must improve. The increased number of
large companies using biodegradable polymers and polymers from renewable sources helps
dissemination of knowledge about these materials, and on a global scale, the largest amount of
products using these materials causes a reduction in costs of raw materials used.

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Química e Engenharia de Alimentos. Florianópolis, 2008.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Artigos do SBDS

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
O projeto de produtos industriais sustentáveis sob a ótica
do Design Social: uma metodologia de trabalho em cursos
de design e de desenho industrial (The sustainable design
of industrial products from the perspective of Social
Design: a working methodology courses in design and
industrial design)

NASCIMENTO SILVA, Danilo Émmerson; Doutorando; Universidade Federal de


Pernambuco – Centro Acadêmico do Agreste; UFPE/CAA, Brasil

danilo-emerson@hotmail.com

ALENCAR, Francisco de; Doutor; Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação;


UNESP; Brasil

chicodealencar@uol.com.br

Palavras chave: Sustentabilidade e Meio Ambiente; Projeto de Produtos; Desenho Social.

A questão da sustentabilidade tem se tornado um aspecto crucial para as diversas áreas do conhecimento
humano. No âmbito do design e do desenho industrial, especificamente, do projeto de produtos industriais
fatores como conhecimento e aplicação de materiais e de processos sustentáveis, ciclo de vida,
reciclagem, reaproveitamento, entre outros, fazem parte do escopo do planejamento e do
desenvolvimento de produtos compatíveis com o meio ambiente. Todavia, apenas a aplicação pragmática
desses princípios e conceitos não costuma se aprofundar em reflexões e problemáticas sociais maiores. A
partir desta hipótese é que se inseriu o meio ambiente e a sustentabilidade como uma problemática de
Design Social. Desde o início do século XXI, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, na Universidade do Oeste de Santa Catarina e, mais recentemente, na Universidade
Federal de Pernambuco – CAA, o autor tem ofertado uma disciplina projetual com foco no Desenho Social
onde a tais preocupações sustentáveis e ambientais fazem parte de um leque de outras questões sociais.
Em, 2009, esta metodologia de trabalho culminou na publicação do livro Projetando Produtos Sociais,
pela Editora Universitária da UFPE.

Keywords: Sustainability and Environment, Product Design, Social Design.

The issue of sustainability has become a crucial aspect for the various areas of human knowledge. Under
the design and industrial design, specifically the design of industrial products such factors as knowledge
and application of sustainable materials and processes, life cycle, recycling, reuse, among others, are part
of the scope of planning and product development compatible with the environment. However, only the
pragmatic application of these principles and concepts not usually delve into social issues and reflections.
From this hypothesis is that put the environment and sustainability as an issue of Social Design. Since the
beginning of the century, at the Northwest Regional University of Rio Grande do Sul, University of Oeste
de Santa Catarina, and more recently at the Federal University of Pernambuco - CAA, the author has
offered a course focusing on projetual Social design where such environmental concerns and sustainable
part of a range of other social issues. In, 2009, this methodology of work culminated in the publication of
the book Designing Social Products by Editora Universitaria UFPE.

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1 Introdução
A construção e a oferta de um componente curricular que oportunizasse aos acadêmicos da
área projetual – design e desenho industrial – uma reflexão crítica e ética a respeito do papel e
da função social dos futuros profissionais se deu na Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), no curso de Design de Produto, entre 2000 e 2005; Em
2006, esta preocupação foi transferida para o Curso Superior de Tecnologia em Design de
Produto, da Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina (UNOESC), no período entre
2006 e 2007; A partir de 2008, esta temática foi inserida no curso de Design da Universidade
Federal de Pernambuco, situado no Centro Acadêmico do Agreste (UFPE/CAA), instante que
se denominou Projeto de Produto com Ênfase em Design Social. Durante este período houve
orientação, acompanhamento e assessoramento de inúmeros projetos acadêmicos internos ao
componente curricular bem como de Trabalho de Conclusão de Curso e/ou Projeto de
Graduação.
A disciplina é projetual, ou seja, os acadêmicos têm que identificar um problema e uma necessidade
material dentro dessas áreas e apresentar uma solução projetual ao final do semestre. Além disso,
precisam inserir a sociedade como público-alvo (portadores de necessidades especiais, terceira
idade, menor carente e demais grupos sociais excluídos das políticas públicas e do sistema
capitalista). Obviamente, o foco não é consumo, moda, tendências de mercado, lucro, aumento de
vendas, obsolescência planejada nem estilística, objetos supérfluos ou, em muitos casos objetos
inúteis e, sim, os problemas reais que atingem a grande maioria da população brasileira.
(Nascimento Silva apud Ullmann, 2010).
A justificativa deste espaço projetual se dá com o crescente número de graduados em
design e desenho industrial dos cursos superiores – bacharelados e tecnológicos – preparados
apenas para atuar no mercado onde as leis, os princípios, as diretrizes que vigoram estão
embasados na competitividade, inovação, geração de lucros, aumento das vendas,
atendimento aos modismos e às tendências, status, luxo, supérfluo, consumismo, materialismo
além da obsolescência estilística e planejada. Dizendo de outro modo, tudo aquilo que o
sistema capitalista privilegia como prioritário e que desencadeia uma série de problemas sócio-
ambientais.
A área do Desenho Industrial, em particular, tem sofrido durante as últimas décadas pressões
impostas pelo sistema capitalista que a fizeram se distanciar das políticas públicas e sociais. Os
principais fatores causadores desse distanciamento foram a busca pela inovação e competitividade,
globalização, lucros, ampliação dos mercados pelas empresas e a forma de atuação do Estado.
Nesse sentido, houve um estímulo ao consumo irresponsável, conseqüentemente, à projetação de
produtos campeões de vendas e descomprometidos com as questões reais da sociedade. Ampliou-
se o descartável e reduziu-se o ciclo de vida, adotaram-se materiais e processos causadores de
impactos ambientais e incentivou-se a estilização com apelo atrativo. Basta olharmos para as
matrizes curriculares dos cursos de bacharelado do país que constataremos a forte ênfase na
preparação de um profissional sintonizado com as diretrizes e princípios do mercado, mas alheio
aos maiores problemas materiais da sociedade. aqueles que permeiam, principalmente. a
educação, a saúde, a agricultura, a pecuária, o saneamento, o esporte, a cultura, a defesa civil, a
habitação, o transporte, o meio ambiente, o trabalho e a segurança pública. (Nascimento Silva apud
Ullmann, 2010).
Por exemplo, o professor Vahan Agopyan, em entrevista concedida à revista Sustentação:
arquitetura, construção civil, urbanismo e design, em junho de 2005, quando foi questionado se
o Estado poderia estimular a eficiência ambiental produziu a seguinte resposta:
O Estado, no Brasil, tem um poder de compra invejável. O exemplo do programa Qualihab, que
certifica a qualidade dos produtos das moradias populares da Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano de São Paulo, demonstra que, quando o Estado deseja, o seu poder de
compra é vital para a implantação de programas de melhoria da indústria. (Agopyan, 2005, p:18).
Normalmente quando os acadêmicos ingressam no componente curricular, vêem de outros
componentes curriculares já cursados anteriormente, com a mentalidade do consumismo
implantada e se deparam com outra realidade ainda, para muitos, inédita e desconhecida:
assumir posturas de responsabilidade social em seus projetos de produtos. Assim como fazem
as outras profissões: os médicos, os enfermeiros, os fisioterapeutas e demais profissões da
saúde; os engenheiros e arquitetos na área projetual; os advogados na área do direito; enfim, a

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responsabilização social está presente na diversidade das profissões.
O que temos presenciado é o fato dos acadêmicos, ao cursarem a disciplina, transformarem sua
visão e percepção sobre a sua futura profissão e áreas de atuação. Ao concluírem, por exemplo,
percebem que a linha social tem muito mais valor e respaldo ético que a linha de consumo. E que a
associação com Design Social não se limita apenas a comunidades artesanais e sustentabilidade
visando à ocupação e renda como muito se tem pregado. A indústria, um dos ícones do sistema
capitalista, precisa estar inserida nesse processo, uma vez que os maiores problemas e erros da
projetação de uma cultura material, decididamente, passam pelos setores produtivos e industriais.
Cabe também ao Estado inserir-se nesta "revolução" e desencadear uma série de estratégias para
tais setores. (Nascimento Silva apud Ullmann, 2010).
Sem menor importância, a responsabilidade ambiental dialoga com os problemas de ordem
social. Desse modo, questões como sustentabilidade, ecologia, meio ambiente, bioma,
ecossistema, entre outras, devem ser tratadas no nível social, pois se encontra intrinsecamente
atrelado à sociedade. Tratar destas questões dissociadas do âmbito da sociedade, no que
tange, diga-se de passagem, a uma sociedade de consumo, se torna uma estratégia
meramente tecnicista, mercadológica, pontual e sem a profundidade social merecida.
A partir da Revolução Industrial, as fábricas começaram a produzir objetos de consumo em larga
escala e a introduzir novas embalagens no mercado, aumentando consideravelmente o volume e a
diversidade de resíduos gerados nas áreas urbanas. O homem passou então a viver a era dos
descartáveis, em que a maior parte dos produtos – desde guardanapos de papel e latas de
refrigerante até computadores – são inutilizados e jogados fora com enorme rapidez. (Rodrigues,
1997, p:8)
A indústria do consumo é algo tão complexo de entender e de difícil solução uma vez que
encontra no cenário capitalista um terreno fértil para sua propagação. Remexer na indústria do
consumo implica em atingir as engrenagens do sistema que necessita que as pessoas
consumam mais e, aquelas, por sua vez, produzam mais e mais para atender as populações.
Enquanto isto, os detentores do capital enriquecem e tentam dissolver as ameaças à sua fonte
de riqueza. Trata de um ciclo vicioso que parece não ter fim.
Necessariamente, em coerência com a ética, a questão ambiental invade o terreno da questão social,
compreendidas ambas no Contrato Social. As desigualdades sociais levam a desigualdades de
consumo, de tal sorte que as grandes pressões sobre o meio ambiente são exercidas, em grande
parte, para atender aos desejos consumistas de elites privilegiadas. Isso coloca um novo dilema, na
questão ambiental, qual seja o de que ou os mesmos benefícios deverão ser estendidos a todas as
populações – o que dificilmente seria suportado pela natureza como um todo – ou as populações
mais ricas deverão aceitar uma redução significativa no seu conforto. Provavelmente, uma situação
intermediária, elevando o nível de bem-estar das populações miseráveis, mediante redução
proporcional da situação de conforto dos ricos... Está para ser feito um balanço entre consumo x
disponibilidade de recursos naturais, para verificar qual seria a condição social média resultante
dessa distribuição equitativa. (Branco, 1999, p:193).
Portanto, projetar produtos com ênfase sócio-ambiental implica em contextualizações
sociais, culturais, tecnológicas, econômicas, antropológicas, políticas dentre outras. Significa
também estar sujeito à legislação e deveria fazer parte de políticas públicas ambientais do
Estado ou das nações como mostra o resultado dos trabalhos da Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável (CPDS), durante a década de 1990, um preparativo para a
Agenda 21 brasileira, a saber: a) gestão de recursos naturais; b) agricultura sustentável; c)
cidades sustentáveis; d) redução das desigualdades sociais; e) infra-estrutura e integração
regional; e, f) ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável. (Novaes, 2003, p:325-
6).
A cada ano, temos ofertado essa oportunidade a cerca de 30 acadêmicos. Desde 2005, começara
ministrando esta disciplina em outras IES. Fazendo as contas, grosseiramente, são 180 acadêmicos,
ou profissionais, que receberam uma ‘pequena semente’ para cultivá-la posteriormente. Este número
está começando a aumentar, uma vez que outras oportunidades estão surgindo como participação
em eventos, palestras, minicursos e oficinas etc. Isto é um bom sinal: mostra que estamos no
caminho certo e que podemos fazer alguma diferença em qualquer área ou assunto basta termos
determinação e acreditarmos em algo! (Nascimento Silva apud Ullmann, 2010).
Redig (1977) ao definir a atividade de desenho industrial, mesmo tendo se passado mais
de três décadas, já se preocupava em incorporar os aspectos de ordem ecológica e, portanto,
da sustentabilidade e ambiental durante a projetação de produtos industriais afirmando:

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É o equacionamento simultâneo de fatores ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos,
econômicos, e ecológicos no projeto de elementos e estruturas físicas necessárias à vida e ao bem-
estar do ser humano, (REDIG, 1977, p:31).
O mesmo Redig (s.d.:62-7), em outra obra, ao mencionar as características brasileiras e os
fatos determinantes para a atuação do projetista no Brasil salienta que:
 Somos um país tecnologicamente dependente;
 Somos um país territorial e populacionalmente extenso;
 Somos um país ecologicamente tropical;
 Somos um país culturalmente ocidental/indígena/africano;
 Somos um país historicamente novo;
 Somos um país socialmente pobre.
Nesse sentido, o meio ambiente, a ciência e tecnologia, a sociedade e a cultura podem
definir estágios de qualidade de vida como podemos verificar na figura 1. Parafraseando
Nascimento Silva (2009, p:44): Neste progresso material contínuo e permanente há um fator
imprescindível dos quais aqueles que estão envolvidos, direta ou indiretamente, nesse
processo não devem negligenciar: a qualidade de vida social quotidiana. Quando tratamos
de qualidade de vida social surgem quatro aspectos influenciadores que interagem entre si.
Parece-nos que esses quatro elementos tornam-se peças essenciais de um quebra-cabeça
que combinadas harmoniosamente – apesar de aparentarem pura utopia – poderiam
proporcionar o que chamamos de qualidade de vida social ideal, isto é: quando os resultados
de um problema de ordem material não interferem, prejudicialmente no meio ambiente, uma
vez que determinada sociedade se utiliza de técnicas e tecnologias de seu domínio, sem
desestabilizar sua estrutura sócio-cultural e, atingindo, ainda, a satisfação social individual ou
coletiva ao mesmo tempo. Ainda aparentando uma utopia, esses quatro elementos deveriam
ser trabalhados com vistas ao ideal, à perfeição e equilíbrio, sempre se retroalimentando.
Figura 1: Esquema representativo para se atingir um nível de qualidade de vida social ideal.
Fonte: NASCIMENTO SILVA (1998;2009)

Meio Ambiente: Ecologia e


Ecossistema

Sociedade (coletivo e Meio Técnico-Científico:


Qualidade de
individual) tecnologia, técnicas, processos de
Vida Social Ideal
produção e de produtos

Meio Sócio-Cultural:
comunidades

A sociedade moderna construiu suas estruturas confundindo qualidade e conforto


desconectados dos demais elementos criando, assim, estruturas artificiais com base no campo
técnico-científico, as quais, em médio e longo prazo, desencadearam distúrbios na sociedade e
no ambiente.
Todo esse instrumental do conforto, além de excessivamente dispendioso, representa um
pesadíssimo ônus ao meio ambiente, quer pelas matérias-primas exigidas em sua fabricação – em
geral não recicladas – quer pela necessidade de ampliação de vias de tráfego, quer, finalmente, pela
enorme quantidade de energia que consomem, não só no processo de fabricação, como,
principalmente, no seu uso diário, energia essa que deve ser obtida à custa de grandes
represamentos ou pelo uso de combustíveis ou, finalmente, pelo emprego de energia nuclear. Por

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outro lado, muitas outras utilidades domésticas realmente essenciais ao conforto (no sentido de
proporcionar melhor adaptação ao meio ambiente) poderiam sofrer um processo de reprojeto, de
modo a produzirem o menor gasto de energia. (Branco, 1999, p:193).
Braga et al (2005, p:48) aponta para que um modelo de desenvolvimento sustentável
ocorra é preciso romper paradigmas e conceitos do modelo atual e que já não atende mais a
situação sócio-ambiental que se apresenta:
Devemos, ainda, rever o modelo anterior para que, com lucidez e conhecimento científico, seja
possível aumentar a probabilidade de sucesso de perpetuação da espécie humana. Os ensinamentos
das leis físicas e do funcionamento dos ecossistemas fornecem os ingredientes básicos para a
concepção do modelo que pode ser chamado de modelo de desenvolvimento sustentável. Ele deverá
funcionar como um sistema fechado, que tem como base as seguintes premissas:

 Dependência do suprimento externo contínuo de energia (Sol);

 Uso racional da energia e da matéria com ênfase à conservação, em contraposição ao


desperdício;

 Promoção da reciclagem e do reuso dos materiais;

 Controle da poluição, gerando menos resíduos para serem absorvidos pelo ambiente; e,

 Controle do crescimento populacional em níveis aceitáveis, com perspectivas de estabilização da


população. Braga et al (2005, p:48).
Fuad-Luke (2002, p:15) apresenta um rol de itens para projetos ecológicos e que contempla
projetistas plurais Para Fuad-Luke um projetista ecológico e pluralístico deve projetar para:
 Satisfazer as necessidades reais em vez das necessidades transitórias, modistas ou dirigidas ao
mercado;

 Minimizar a pegada ecológica dos produtos, dos materiais, dos serviços, ou seja, reduzir as
fontes de consumo, incluindo energia e água;

 Armar entrada de energia solar (sol, vento, água ou onda do mar) em vez de adotar capital
natural não-renovável como o combustível fóssil;

 Separação eficiente dos componentes dos produtos, materiais e serviços e, ao fim da vida útil,
por sua vez, incentivar a reciclagem ou a reutilização de materiais e/ou de componentes;

 Exclusão do uso de substâncias tóxicas ou prejudiciais ao homem e às outras formas de vida em


todos os estágios do ciclo de vida do produto, do material ou do serviço;

 Gerar o máximo de benefícios aos espectadores pretendidos e para educar os clientes e


usuários a criarem um futuro equilibrado;

 Usar materiais e fontes disponíveis localmente sempre que possível (pensar globalmente, mas
agir localmente);

 Exclusão de inovações letárgicas ao reexaminar apropriações através da existência de conceitos


e de produtos, materiais e serviços originais;

 Desmaterialização de produtos a partir de serviços sempre que praticável;

 Maximização de um produto, de materiais e de serviços em benefício das comunidades;

 Incentivar a modularidade no projeto para permitir a aquisição seqüencial, quando a necessidade


exigir e permitir, para facilitar reparos e reusos além de aperfeiçoar a funcionalidade;

 Fomentar o debate e criticar o status quo em volta dos produtos, materiais e serviços;

 Divulgar os projetos eco-pluralísticos ao domínio público para benefício de todos, especialmente


aqueles desenhos que comercializam sem a fabricação;

 Criar maior sustentabilidade dos produtos, materiais e serviços visando uma maior
sustentabilidade futura.

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2. Alguns problemas de ordem sócio-ambiental
Os problemas de ordem sócio-ambiental podem ser de diversas naturezas. Os de maior
relevância se encontram no campo da educação, da saúde, da agricultura, da pecuária, do
saneamento, do esporte, da cultura, da defesa civil, da habitação, do transporte, do meio
ambiente, do trabalho e da segurança pública. A seguir, alguns dados ilustrativos:
a) Transportes - a realidade dos transportes coletivos representado pelos ônibus é deveras
preocupante. Mesmo conduzindo cerca de cinqüenta a sessenta passageiros – na lotação
máxima –, algo que ameniza o número de veículos particulares transitando, possui problemas
como frota antiga: excesso de ruídos, temperatura interna desconfortável, mal projetados e
bem mais poluentes.
No ônibus, o cidadão viaja quarenta minutos, 1 hora e meia, 2 horas. Alguns chegam a viajar durante
3 horas. 70 pessoas são obrigadas a ficar de pé. 30 felizardos conseguem sentar-se, em bancos que
não poderiam ser mais desconfortáveis. Projetados por especialistas em ergonomia de faquires.
(Cauduro, 1992, p:9).
Aqueles mais modernos e melhores projetados têm elevadores para cadeirantes,
entretanto outros problemas são verificados como manutenção, segurança, número
incompatível de ofertas etc.
Enquanto nosso amigo continua sua viagem de ônibus, vai invejando o outro cidadão que pode
desfrutar de seu automóvel. Este é um monumento ao desperdício, ao congestionamento, ao
consumo inútil de energia, à baixa qualidade de vida. Poderia transportar 5 ou 6 pessoas, mas a
maioria circula com apenas 1 pessoa. Pode andar a 80 km/h, mas sua velocidade média, na cidade,
dificilmente chega a 20 km/h. Custa uma fortuna. É responsável por mais de 50% da poluição do ar.
Apresenta índices baixíssimos de segurança. (Cauduro, 1992, p:18).
b) Trabalho – Após horas de deslocamento da sua moradia até o local de trabalho,
acompanhado de poluição e estresse, o trabalhador entra no ambiente de trabalho. No
trabalho, independentemente, da atividade que desenvolve um dado persegue o Brasil como
país que cuida mal do seu trabalhador: ruídos, desconforto, riscos à segurança e integridade
física e psicológica, tecnologias, máquinas e produtos defasados, jornada de trabalho etc.
[...] E entra no seu ambiente de trabalho, para assumir aquilo que os técnicos chama de posto de
trabalho. A baixa qualidade do ambiente de trabalho brasileiro é responsável por uma imensa perda
de nossa capacidade de produção. Em parte devido à falta de equipamentos de proteção adequados,
em acidentes de trabalho, o Brasil perde mais de 20 milhões de dias de trabalho por ano – o que
significa uma importante parcela de nosso Produto Nacional Bruto. (Cauduro, 1992, p:21).
Isto sem mencionarmos o trabalho de inúmeros cidadãos que realizam suas atividades
diárias nas ruas, nas calçadas, nas fachadas de edifícios, nas obras de engenharia e de
construção civil, nos transportes coletivos, nos hospitais e postos de saúde. Ambientes
inóspitos e adversos, com pouca iluminação, ventilação, sujeitos à radiação, à contaminação,
em situações das mais imagináveis possíveis.
c) Habitação – A casa própria para milhões de brasileiros continua sendo um sonho. Há
uma parcela da população que consegue pagar aluguéis de imóveis de outros proprietários.
Neste caso, normalmente, há condições mínimas de moradia garantida uma vez que se pode
contar com teto, paredes, encanamentos, banheiros entre outros ambientes e privilégios. Mas,
e no caso de milhões de desabrigados; que vivem embaixo de pontes, nas calçadas, becos e
ruas; sob palafitas ou em terrenos baldios, morros; sujeitos às intempéries – sol, chuva, frio etc.
– estes não têm as condições mínimas para sobrevivência.
A casa, em outra escala, reproduz muitos dos problemas do meio ambiente urbano. Foi construída
por processos de fabricação irracionais, seus componentes não obedecem à nenhuma coordenação
ou normalização, é um mundo de objetos inúteis, uma fonte de desperdício. Precária, não oferece
índices mínimos de isolamento acústico ou térmico. Antes de ser um abrigo, um lugar para se viver, é
um símbolo da baixa qualidade de vida, da desordem e da irracionalidade do ambiente urbano.
(Cauduro, 1992, p:23).
Mesmo no caso de projetos de habitação popular do governo, historicamente, ficou
comprovada ocupações irregulares, em faixas ribeirinhas e de várzeas, de florestas nativas,
costeiras e litorâneas. Muitos dos problemas ambientais a que assistimos na atualidade se
deve à ocupação desorganizada de áreas para a habitação.

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O crescimento da cidade torna-se exponencial, descontrola-se. É o começo da crise urbana que hoje
estamos vivendo: uma crise ecológica que se exprime pela desagregação do meio ambiente e pela
redução da qualidade ambiental. Os serviços públicos tornam-se cada vez mais subdimensionados –
principalmente aqueles fundamentais: saneamento, energia e transporte. Enquanto isto, os
equipamentos produtivos continuam a crescer hiperdimensionados, aumentando a demanda de mão
de obra exigindo um crescimento exponencial da população. (Cauduro, 1992, p:26).
d) Saneamento – Inúmeras cidades brasileiras ainda possuem sérios problemas com
saneamento e higienização públicas. Questões de redes de esgotos e do tratamento dos
resíduos contidos neles além do tratamento com a água para consumo da população – ingerir,
banhar-se, lavar as mãos – ainda se assemelham em algumas localidades ao século XIX ou
início do século XX.
De certa forma, esta visão ecológica mais abrangente nos coloca diante da perspectiva de uma nova
revolução nos hábitos, atitudes e aspirações da vida cotidiana que guarda similaridade com a
revolução que se operou na higiene pública no final do século XIX e início do século XX, quando se
consagraram as necessidades de redes de esgoto nas casas e nas cidades, de tratamento da água
destinada ao consumo humano, bem como do banho corporal, do lavar as mãos, etc. (Camargo et al,
1999, p. 10)
Enfim, partindo desse pressuposto, das inúmeras realidades sócio-ambientais, no país de
tamanho continental, é que se construiu a referida metodologia de trabalho. Um espaço onde
os acadêmicos da área projetual, aquela responsável pela idealização da cultura material e
pela modificação e intervenção do ambiente – macro e micro – passassem a potencializar seus
esforços e o intelecto criativo em prol da reflexão e da solução de problemas sócio-ambientais.

3. A metodologia de trabalho projetual sócio-ambiental


Uma vez se deparado com os primeiros contatos durante o componente curricular, os
acadêmicos acabam fazendo suas escolhas, ou por afinidades ou por outros motivos
quaisquer. Elegem a grande área a que estarão envolvidos e constroem a proposta projetual a
ser executada durante o restante do semestre letivo. Para aqueles que optaram pela área Meio
Ambiente, como mostram as figuras 02 e 03, estarão pesquisando, estudando e se
aprofundando em definições, conceituações, histórico, desdobramentos, vertentes, estratégias,
legislação, p&d, metodologias como DFE, matérias e processos sustentáveis, produtos verdes,
ciclo de vida, reciclagem, reaproveitamento, tipos de resíduos, tipos de lixos, descartabilidade,
biodegradabilidade, engenharia e logística reversa, gestão, estudo de casos, entre outros
assuntos pertinentes à área ambiental.

Figura 2: Projetação social com foco no meio ambiente


Fonte: NASCIMENTO SILVA (2009).

a) Meio Ambiente:
Projeto de produtos, máquinas, equipamentos e acessórios com ênfase e respeito às questões
ecológicas, rurais, urbanas, ambientais e de sustentabilidade: materiais, processos, tecnologias e
fontes energéticas.

Figura 3: Esquema representativo das inserções projetuais no âmbito social.


Fonte: NASCIMENTO SILVA (2009).
Esporte
Educação
Agricultura
Saúde

Pecuária

Defesa Civil
Cultura
DESENHO SOCIAL
Segurança
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD) Habitação
Trabalho

Saneamento
Transporte
Meio Ambiente
Se observarmos com maior propriedade as opções de áreas a serem escolhidas por parte dos
acadêmicos diz respeito às pastas e à atuação dos ministérios do país, pois estão associadas
às políticas públicas para a sociedade. Dependendo do tema formulado pelos acadêmicos
pode haver a possibilidade de aglutinação de áreas. Por exemplo, um determinado tema pode
ter desdobramento ambiental e de transporte simultaneamente.

3.1 O ecodesign
A origem do termo e da ferramenta ecodesign surge da união de duas palavras bastante
utilizadas nas últimas décadas: ecologia e design. A primeira está associada com a tônica
ambiental e todas as suas implicações e desmembramentos; a segunda, por sua vez, remete
ao planejamento, ao projeto, e à concepção de objetos, sistemas de comunicação e espaços
físicos. Em verdade, o termo ecodesign e suas acepções fazem parte de uma preocupação
maior presente, por exemplo, na metodologia design for environment (DFE), ou “projeto
orientado ao meio ambiente”. Há quem questione a adoção do termo ecodesign repleto de
anglicismos, pois carrega uma forte conotação de mercado, modas e tendências voláteis sem
conexões sociais e culturais mais duradouras e estabelecidas. A abordagem projetual com foco
em ecodesign reflete, portanto, uma preocupação das áreas e profissões envolvidas com
gestão ambiental e tecnológica visando à redução ou eliminação de impactos ambientais
promovidos, por exemplo, pelas inovações científicas e tecnológicas apoiadas em realidades
sócio-culturais. Nesse sentido, costuma-se empregar em substituição ao termo ecodesign a
expressão Projeto (desenvolvimento) de Produtos Sustentáveis ou Projetação Verde como
forma de atender às outras exigências além daquelas da ordem de estratégias de mercado.
O ponto convergente é que ambas as expressões, e conseqüentemente, as profissões e
atividades desenvolvidas por elas colocam no centro das decisões e elevam os requisitos e
parâmetros ambientais ao seu status merecido.
Desde o início do século XX a área projetual, especificamente, do desenho industrial tem recebido
contribuições a partir de tendências relativas ao Desenho Ambiental (Green Design), Essencialismo,
Miniaturização, Tecnologia Apropriada, Tecnologia Endógena, Tecnologia Assistiva, Desenho
Universal e mais, recentemente, do Desenho Social. Entretanto, essas manifestações ocorrem de
maneira isolada, restrita e sem uma política nacional e mundial consolidada. Muitas das vezes partem
de empreendedores ou iniciativas de mercado do consumo, e, portanto, distantes dos interesses
sociais da coletividade. (Nascimento Silva, 2009, p:9-21).
Historicamente, a questão dos problemas e impactos ambientais associados aos setores
produtivos surge na década de 1960 e tomou grande dimensão no transcorrer da segunda
metade do século passado atingindo seu ápice nas décadas de 1980 e 1990 quando a
discussão e conhecimento dos problemas dessa ordem mobilizaram nações e milhões de
pessoas em todo o planeta. Movimentos populares e sociais ambientalistas intitulados por
Movimento Ecológico e Ecologia Social dão início ao processo de reflexão e de crítica das
ações humanas perante o ambiente e as sociedades. O Green Design (Design Verde) ou
Desenho Ambiental, por exemplo, a partir da década de 1970, já denuncia problemas e
desastres ambientais devido ao uso do petróleo, do desperdício, do consumo energético, de
materiais e de produtos ambientalmente inaceitáveis. Podemos citar nesta década os vários
relatórios gerados pelo Clube de Roma que questionava o modelo de crescimento industrial
existente. Nesta década também Victor Papanek publica uma obra intitulada Design for the real
world e que influenciou as gerações de projetistas das décadas seguintes. Surgiram novas
abordagens como forma de tecnologias alternativas representadas nas vertentes Tecnologia
Endógena, Tecnologia Autóctone e Tecnologia Apropriada. O termo desenvolvimento
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sustentável surge na década de 1980, mais precisamente, em 1987, a partir do Relatório de
Brundtland, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento intitulado de O
Nosso Futuro Comum onde também trata de uma série de atribuições, políticas e estratégias
de desenvolvimento sócio-econômico e preservação ambiental. Nas décadas seguintes, novos
fóruns de debates a respeito dos problemas ambientais desencadearam processos de revisão
e de reflexão sobre a legislação, os comportamentos e as posturas adotadas nas décadas
anteriores e, também atuais, sobre a responsabilidade sócio-ambiental de tudo aquilo que
produzimos, concebemos e/ou consumimos. As certificações ISO 14.000 e as conferências
como as do Rio-92 gerando a Agenda 21 e a de Quioto, no Japão, em 1997, são alguns dos
exemplos do palco dessas discussões e implementações em nível mundial.
Com o intuito de uniformizar as ações que deveriam ser tomadas sob essa nova ótica para proteger o
meio ambiente, a ISO – Organização Internacional para Normalização – decidiu criar um sistema de
normas que convencionou designar pelo código ISO 14000. A nova série de normas trata
basicamente da gestão ambiental e não deve ser confundida com um conjunto de normas técnicas. A
série ISO 14000 constitui provavelmente o conjunto de normas mais amplo que já se tentou criar de
forma simultânea. Contém, em seu corpo, normas que regulam sua própria utilização e que definem
as qualificações daqueles que deverão auditar sua aplicação. [...] Propõe-se a normalizar as
referências ambientais de outras normas. (Valle, 2000, p:95).
Na década de 1990 surge a expressão eco-eficiência, um novo conceito difundido entre os
setores produtivos para representar ações sustentáveis aos bens tangíveis e intangíveis. Na
mesma direção, aparece a expressão Capitalismo Natural como forma de propor um sistema
capitalista mais responsável e baseado nos princípios da eco-eficiência e da sustentabilidade.
Os biocombustíveis, por exemplo, fazem parte de inúmeros mercados que se desenvolvem a
partir da bioeconomia e da biotecnologia: duas novas áreas em ascensão que incentivam
bastante o associativismo, as cooperativas e a economia solidária. No Brasil, além dos
Ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia também se tem difundido bastante a
ferramenta ecodesign por intermédio de ONG’s, de publicações, dos anais de congressos e de
eventos similares organizados por universidades, centros e institutos educacionais bem como
da realização de feiras e de concursos visando à premiação de produtos e processos eco-
compatíveis.
Desse modo, o projeto de produtos sustentáveis insere-se nas profissões e nos campos de
atuação projetual, a saber, arquitetura, engenharias e desenho industrial; esta última
atualmente, denominada de design.
Partindo-se dessa premissa torna-se inconcebível a adoção de estratégias que não
estejam sintonizadas com a legislação e a política ambiental atuais, ou seja, os projetos de
engenharia, arquitetura e desenho industrial devem prever a aplicação de soluções limpas,
verdes e ecologicamente compatíveis com a sustentabilidade ambiental, algo que já se
encontra introduzido nas sociedades e economias de consumo dos países ditos desenvolvidos
e em vias de desenvolvimento. Consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e
conscientes do seu papel durante a aquisição, a escolha, o uso e o descarte tanto quanto do
papel e da responsabilidade ambiental das empresas.
A abordagem em ciclo de vida do produto é fundamental para a economia leve. Cada uma das
etapas da vida do produto gera inputs e outputs que terão impactos sobre o meio ambiente. Essas
etapas devem ser analisadas desde a concepção do produto, porque cada uma contém um potencial
de otimização ambiental: na escolha das matérias-primas, das tecnologias e dos processos de
fabricação, na organização da logística; em seguida, no contexto de um uso aprimorado e da
valorização final do produto. Essa abordagem permite uma visão muito mais ampla da vida do
produto, de seu futuro, seu fim de vida e o valor que poderá lhe ser atribuído na hora de uma possível
reintegração no ciclo de outro produto. (Kazazian, 2005, p:54-5).
Projetar sob a ótica da ferramenta de ecodesign pode envolver uma série de estratégias
tais como: i) da análise do ciclo de vida dos materiais, dos sistemas e dos produtos; ii) da
minimização e otimização dos recursos energéticos e tecnológicos (produção, distribuição e de
consumo); iii) da aplicação do conjunto de técnicas e instrumentos de desenvolvimento de
produtos sustentáveis visando a redução, reutilização e reciclagem (3R’s); iv) da projetação
direcionada à desmontagem entre outras. Manzini & Vezzoli (2002, p:20) apontam estas
estratégias como atendimento “ao redesenho ambiental do existente, ao projeto de novos

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produtos ou serviços que substituam os atuais e intrinsecamente sustentáveis e à proposta de
novos cenários que correspondam ao estilo de vida sustentável”.
Basicamente, podemos separar as inúmeras estratégias de impactos ambientais em duas
categorias: a primeira, aquela que abrange todo tipo de redução (consumo, recursos naturais,
matérias-primas, energia, emissões etc.); a segunda, aquela que contempla a extensão da vida
útil (dos produtos, dos materiais, das funções, do reuso, da reciclagem, do reaproveitamento,
da durabilidade, da remanufatura etc.).
A questão dos resíduos, ou seja, o que sobra da prestação dos serviços, do hábito do
consumo, dos processos produtivos e dos produtos gerados pode ser sistematicamente
planejado, minimizando os problemas e impactos ambientais, revertendo-se o lixo em algo
eficiente e com nova função e valor agregado.
Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das metrópoles fez com que as áreas disponíveis para
colocar o lixo se tornassem escassas. A sujeira acumulada no ambiente aumentou a poluição do
solo, das águas, e piorou as condições de saúde das populações em todo o mundo, especialmente
nas regiões menos desenvolvidas. Até hoje, no Brasil, a maior parte dos resíduos recolhidos nos
centros urbanos é simplesmente jogada sem qualquer cuidado em depósitos existentes nas periferias
das cidades. (Rodrigues, 1997, p:8)
Amparados em metodologias projetuais de renomados teóricos, os acadêmicos conduzem seu
processo de desenvolvimento de produtos durante o semestre letivo recebendo orientações e
direcionamentos que os auxiliem na difícil arte de projetar produtos sócio-ambientais.
Além das áreas eleitas por parte dos acadêmicos há uma classificação bastante pertinente de
produtos industriais realizada por Barroso Neto (1982, p:10) de acordo com o grau de
complexidade tecnológica (baixa, média e alta) e que, portanto, faz parte do escopo de
abrangência do desenhista industrial, a saber:
 Artefatos de couro e calçados;
 Vestuário e acessórios;
 Cutelaria e talheres;
 Louças e ferragens;
 Mobiliário doméstico;
 Brinquedos;
 Embalagens;
 Componentes para construção;
 Estandes e divisórias;
 Utilidades domésticas;
 Equipamentos de mobiliário urbano;
 Mobiliário técnico e profissional;
 Equipamentos de uso público;
 Instrumentos musicais;
 Embalagens de segurança;
 Sistemas e equipamentos de sinalização;
 Eletrodomésticos;
 Instrumentos óticos;
 Equipamentos médico-hospitalares;
 Equipamentos de laboratório;
 Veículos e acessórios de transporte;
 Veículos e acessórios de carga;
 Máquinas e implementos agrícolas;
 Máquinas e ferramentas;
 Máquinas seriadas.

Cauduro (1992) fornece, ainda, possibilidades de intervenções projetuais no âmbito sócio-


ambiental demonstrando as potencialidades dos projetistas conforme a figura 4.

Figura 4: Esquema representativo das intervenções projetuais no âmbito sócio-ambiental.

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Fonte: NASCIMENTO SILVA adaptado de CAUDURO (1992).

INTERVENÇÃO DOS PROJETISTAS

Mudança no Maior Sensibilização Necessidade Preocupação


hábito de conhecimento das de quantitativa
projetar dos valores autoridades investigação e e qualitativa
(interdisciplina- humanos para as utilização de com as
ridade) questões novas tecnologias
sócio- tecnologias e
ambientais metodologias

Desse modo, há subsídios para os acadêmicos identificarem suas intervenções a partir de


pistas fornecidas inicialmente.
O debate dos designers sobre a adequação das soluções individualistas contra as universais talvez
se possa explicar através da relativa ausência de hipóteses sobre uma teoria unificada ou uma nova
base filosófica de design. Enquanto muitos discutem o atrativo que poderia haver em satisfazer as
necessidades de um maior individualismo no design, por exemplo, poucos comentam a futura
viabilidade de tal abordagem, com as implicações em relação à crescente produção de resíduos. No
entanto, alguns designers adotam uma visão global das preocupações correntes e a longo prazo, e
estão de acordo com Stephen Peart quando diz: “ao criarmos algo, aprovamos a sua existência e
influenciamos o destino de muitos recursos”. Na verdade, há uma necessidade crescente para que os
designers se vejam a si próprios como responsáveis pelas suas soluções de produto e que as
desenvolvam dentro de uma compreensão do impacto ambiental de cada aspecto da sua produção,
uso e eventual eliminação – do berço à cova. (Fiell & Fiell, 2003, p:23-4).
Ao final do período letivo, finalizam a projetação com um seminário, onde socializam suas
soluções projetuais com o restante do grupo, ao mesmo tempo em que entregam um conjunto
de pranchas e um relatório projetual demonstrando uma síntese gráfico-visual e de relatos da
processualidade do projeto. Neste momento, recebem a avaliação final do desenvolvimento do
projeto e do semestre referente às suas atividades desempenhadas durante o componente
curricular.
Esta metodologia de trabalho projetual tem sido difundida em fóruns e eventos de Design e
Desenho Industrial. Em 2009, o autor reuniu tais experiências na publicação do livro projetando
produtos sociais, lançado pela Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco.
A partir do início do ano de 2011, os estudos relativos à engenharia reversa e, sob esse
aspecto, dos itens norteadores da sustentabilidade e da análise dos materiais, dos processos e
dos produtos integraram parte da temática de pesquisa de doutoramento do autor em Design,
pelo Programa de Pós-Graduação em Design, da Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação (UNESP), modalidade DINTER, com a Universidade Federal de Pernambuco,
Centro Acadêmico do Agreste (UFPE/CAA).

Conclusão
Os projetos de produtos eco-sustentáveis quando desenvolvidos sem a interrelação devida
com os problemas sociais, aqueles comuns a grande maioria da população, principalmente dos
grupos e massas sociais marginalizadas e excluídas do sistema, normalmente, estão sujeitos a
oportunidades e estratégias mercadológicas. Muitos são os interesses que apoiados em
tendências e modismos amparados no pseudo-discurso sustentável e ecológico se aproveitam
da “nova onda” para lançar mais lixo e produzir uma cultura material alicerçada no consumo.
Os verdadeiros produtos, processos e serviços sustentáveis são aqueles que atendem as
necessidades da população, não uma minoria da população, mas a sua totalidade sem causar
seqüelas e conseqüências ao meio. Um planejamento de produtos eco-sustentáveis deveria
compatibilizar tais aspectos sem agravantes sócio-ambientais desde o início da projetação,
passando pela execução e produção, consumo e utilização, até o fim da vida útil do produto.
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Poderíamos até proporcionar uma “sobrevida dos produtos” como o estágio sucessor da vida
útil. Mas, o mais importante, não podemos esquecer, diz respeito ao conhecimento do equilíbrio
natural do meio ambiente e a perpetuação dessa harmonização: qualquer interferência externa
humana advindas, por exemplo, da ciência ou da tecnologia, não deveria comprometer a
relação simbiótica do meio com a sociedade e com as demais formas de vida.

Referências
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Cenarte: solução de escoamento de produção territorial
(Cenarte: solution for disposing of territorial production)

BESTETTI COSTA, Mario; Designer, Pós-graduado em Comunicação com Mercado;


Instituto de Design Social - IDS

mario_bestetti@yahoo.com.br

REBOUÇAS LYRA, Rodrigo; Designer Especialista; Instituto de Design Social - IDS

rodrigorlyra@hotmail.com

Palavras chave: design social; gestão; desenvolvimento territorial

O Design Social é uma vertente do design, na qual o processo é tão importante quanto o produto final,
embora este seja o item mais visível, e sobre o qual se concentrem a avaliação e desempenho, mais
fáceis de mensurar e de auferir qualidade ou deficiência. Nesta análise de caso, o design atua como um
amalgama do processo de estruturação de uma entidade cujo papel é solucionar um dos principais
gargalos das intervenções de desenvolvimento produtivo em grupos artesanais: o processo de
escoamento e comercialização. Através desta análise, poderemos observar a importância do
planejamento antecipado das ações, sempre focando uma meta final, e neste caso, uma das metas seria
o acesso a mercado, como sustentáculo financeiro do processo de organização territorial.

Keywords: social design, management, territorial development.

Social Design is an aspect of design, in which the process is more important than the final product, although this
is the most visible item, and therefore easier to measure the quality and effectiveness of the final result. In this
case analysis, Social Design enters as an amalgam of the process of structuring an organization whose role is to
fill one of the main bottlenecks of development interventions in productive craft groups: the process of disposal
and sale. Through this analysis, we see the importance of advance planning of actions, always focusing on a
final goal, and in this case, one of the goals would be access to the market as a financial mainstay of the process
of territorial organization.

1 Introdução

Um dos principais gargalos das intervenções de desenvolvimento produtivo em grupos artesanais


é o processo de escoamento e comercialização. O consenso geral é que isto se deve aos inúmeros
intermediários existentes entre o produtor e o consumidor. Embora uma analise mais precisa
aponte para uma conjunção de fatores que tornam pouco eficiente o escoamento e
comercialização da produção artesanal. Tendo em vista este cenário, na região central do estado
da Bahia foi implantada uma estrutura objetivando a abertura e fortalecimento do acesso a
mercado aos produtos artesanais do território sisaleiro, o Centro de Artesanato e Arte Popular do
Território do Sisal - CenarteSisal.
Este documento visa descrever o processo de planejamento, desenvolvimento e implantação
desta estrutura, desde a requalificação de sua função original até a construção participativa do
modelo de sua gestão, passando pela identificação, formação e integração dos grupos produtivos,
capacitação técnica e desenvolvimento de uma coleção de produtos, reunindo identidade local e
apelo de mercado finalizando com a constituição do grupo gestor para manutenção da
instituição. Todo este processo foi realizado tendo como base ferramental o design social, que se
pôs atento às problemáticas políticas naturais em processos de capacitação de grupos produtivos
de base comunitária, porém procurou isenção para a sua atuação.

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Objetivo
Este documento visa a descrever o processo de planejamento, desenvolvimento e implantação
desta estrutura, desde sua requalificação até a construção participativa do modelo de gestão,
passando pela identificação dos novos grupos produtivos, sua capacitação técnica, o
desenvolvimento de uma coleção de novos produtos, finalizando com a constituição do grupo
gestor da instituição. Todo este processo foi realizado tendo como base ferramental do design
social, que se posicionou isento quanto a problemática político partidária por vezes presentes em
processos de capacitação de grupos produtivos de base comunitária. A sistematização deste
processo possibilitará o desenvolvimento de metodologias similares em outras regiões que
possuam um mesmo perfil sócio-produtivo, facilitando seu caminhar e gerando resultados de
forma mais célere.

Contexto Territorial
O CENARTESisal foi criada pelo IDRSisal – Instituto de Desenvolvimento da Região Sisaleira,
e está situado na cidade de Valente (BA), a 400km de Salvador, e região referência na produção
de sisal no Brasil (FIGURA 1). Inicialmente foi idealizado e proposto pelo IDRSisal para ser um
organismo inteiramente dedicado à consolidação da produção artesanal, como uma alternativa de
desenvolvimento sócio-econômico na região, em função da vocação da população local e a
importância da sua grande produção de peças artesanais. Cabe aqui uma ressalva onde o termo
regional se aplica não só a questões territoriais, onde delimitamos este espaço geográfico através
do critério produtivo (p.32, BAPTISTA, 1979)

Figura 1: Mapa de abrangência do Território do Sisal


(http://saber.sapo.ao/w/images/c/c5/Mapa_Terra_do_Sisal.jpg)

Tem também como objetivo maior dar apoio a estruturação do Arranjo Produtivo Local do Sisal
e consolidar o artesanato como uma alternativa de desenvolvimento sócio-econômico nos
municípios de Valente, Retirolândia, São Domingos, Santa Luz e outros municípios do território
do Sisal. Para isto, o CENARTESisal vem a inserir tecnologias para agregar valor ao produto
artesanal, contemplando de forma objetiva a capacitação profissional, a intensificação da
atividade artesanal, o resgate cultural e artístico, o desenvolvimento produtivo, o aumento do
grau de comercialização e a promoção da elevação e inclusão social dos agentes envolvidos.
Além de estimular e promover a cooperação regional e transnacional na área do artesanato,
através do apoio a grupos, cooperativas e associações de artesanato nas áreas de: organização e
aumento da capacidade produtiva; concepção de produtos inovadores, com integração de design;
identificação de formas alternativas de escoamento dos seus produtos; e promoção e
comercialização do artesanato a nível nacional e transnacional.
Uma constante no perfil dos grupos artesanais é a descrença em projetos e processo de
planejamento, aliado a falta de apelo da renda inicial resultante destes processos em tempos de
bolsas de auxilio. Novas formas de mobilização se mostraram necessárias levando-nos a buscar
referencias nos antigos arranjos de produção locais, modelos de produção que nos remetem a
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organização pré fordista, tornando o cenário de produção artesanal um laboratório dinâmico e
atual de formas organizativas de produção.
No ano de 2009 o IDRSisal, através de editais do Governo Federal, iniciou um projeto de
organização e melhoria produtiva com a inserção de design em comunidades produtivas
artesanais gerando benefícios sociais e econômicos. Através disto, criou-se um organismo que
fortaleça as relações intra-cooperativas e as relações comerciais com os agentes de mercado
externos (regionais, nacionais e estrangeiros), preenchendo a lacuna existente na região de
potencializar o acesso a mercado dos produtos existentes na região sisaleira através da
implantação de uma estrutura de cooperação entre os atores, onde cada qual tem seu papel no
eixo propulsor de desenvolvimento econômico local (GRÁFICO 1). Esta intervenção atuou na
reunião de artesãos individuais e grupos produtivos de diversas tipologias, introduzindo o
processo de contextualização cultural aliada a análise de demanda com a elaboração de coleção e
desenvolvimento de novos produtos.

Etapas / Atores
Beneficiamento

Intermediário
Designer
Produto

Refugo

I---------
Consumidor
Sisal CENARTESisal-------
I (R$)
Artesão
Colheita

Fábrica

Cooperativa

Loja
(mão-de-obra)

Cadeia do Sisal Cadeia do Artesanato de


(como produto) Sisal
(como produto)

Gráfico 1: Cadeia do produto artesanal de sisal e área de influência do CENARTESisal.

Foi também remodelado a estrutura de showroom do CENARTESisal, situado na entrada da


cidade de Valente, possibilitando promoção e comercialização externa para os grupos da região,
além de criar um equipamento que potencializa o eixo turístico regional, ainda incipiente.
Ferramentas e conceitos de marketing foram empregados na elaboração do layout para que a
gestão do espaço se configurasse em um espaço de comunicação e de gestão que refletisse as
necessidades de e mercadológica dos produtos expostos. São conteúdos novos no meio e como
todo processo de mudança, referenciais iniciais e simbólicos são necessários para marcar e
alavancar esta alteração de status quo, e a renovação do CENARTESisal tem também este papel,
demonstrando sue interesse em renovar sua atuação para um ator do desenvolvimento regional.

Problemática Inicial
Como todo processo de intervenção em comunidade, parte-se da análise do seu contexto para a
realização de um planejamento geral, e nesta análise de contexto, devemos perceber as possíveis
problemáticas encontradas, e delas a definição das melhores estratégias de resolução. (FIGURA
2)
No caso do contexto apresentado anteriormente, onde temos uma região cujo contexto histórico-
produtivo remonta décadas, também o contexto político se encontra de forma bem presente.
Embora em qualquer intervenção de desenvolvimento social, aqui desenvolvimento definido
como um processo macro-sociológico, caracterizado por mudanças qualitativas das condições
vigentes em uma sociedade (p.15, BAPTISTA, 1979), deva permear as discussões políticas, no
seu sentido mais puro da palavra, esta seara tem aqui um peso maior. Principalmente no que

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concernem as discussões intergrupais, essenciais para a ampliação dos resultados em um nível
territorial.

Figura 2: Sistematização do cenário produtivos existentes na região.

A ação de consultoria junto ao CENARTESisal procurou permear por este tema de forma
indireta, acreditando que as ações devem acontecer no âmago da questão sócio-produtiva, para
assim não se perder nas mudanças políticas e partidárias. Com isso evita-se um maior
envolvimento, ou como o psicanalista Heinz Kohut conceituou, buscou-se a “experiência-
distante”, onde não se aprofunda nas ´miudezas´ deste emaranhado de relações. (p.88, GEERTZ,
2009)
Com o não envolvimento nas discussões das questões políticas regionais, procurou-se reforçar a
existência de uma falta de interlocução entre as entidades representativas no território, e com
isso um enfraquecimento dos resultados esperados nas diversas ações realizadas, outro problema
encontrado e descrito mais abaixo. A falta de interlocução pôde ser amenizada através da
inserção de um agente externo, não-nativo, e cujo papel principal é de desenvolvedor de um
quadro produtivo eficiente.
O designer entra neste processo com um papel que vai além do de desenvolver produtos, e passa
agora a fortalecer relações, relações estas essenciais para o fortalecimento produtivo deste
território, e aqui considerando a definição de Weber, que se apóia sobre um ajuste de interesse
motivado racionalmente (p.47, BAPTISTA, 1979) embora levando-se em conta a importância da
questão subjetiva e o contexto cultural inerente àquela determinada comunidade.
No decorrer das intervenções, pode-se observar que diversas outras iniciativas se apresentavam
de forma a haver uma superposição de atividades, estas, na maioria das vezes, similares o que
ocasionava um desgaste junto às comunidades produtivas por só receberem benefícios de
capacitação, concentrando apenas no saber e não no produzir. Percebe-se ai também uma falta de
interlocução institucional em um nível estadual e nacional, pois são ações provenientes de
órgãos do governo estadual, através das secretarias de desenvolvimento social, e do governo
nacional, através dos editais de fomento social e produtivo, aos quais as cooperativas
individualmente podem ter acesso. Algumas destas ações focam especificamente no
melhoramento produtivo objetivando a inserção mais eficiente deste tipo de produto no mercado
(SEBRAE, 2006; MAUÁ, 0000; CIAGS, 2011). A questão que nos deparamos é se estas ações
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são eficientes ou apenas ilusórias, ao crer que o mercado por si criará uma consciência da
qualidade e do valor destes produtos, ainda mais quando elas concentram-se apenas no implantar
conhecimento produtivo nas comunidades.

Papel do Design Social


O designer é por vezes visto e aplicado na conversão de idéias e requerimentos de mercado em
forma física (PUERTO, 1999), onde o processo de inovação de produto fica evidente. Em um
contexto mais contemporâneo o design tem sido aplicado na geração de idéias e ações que
auxiliem no desenvolvimento social, seja através do uso mais consciente dos recursos de meio
ambiente, seja pela conscientização pelo produtor do processo de desenvolvimento produtivo. O
designer nestes processos deve atuar também como catalisador processual e agregador.
Com seu papel na maioria das vezes linear, o design deve flexibilizar-se para atender as
inconstâncias da subjetividade de uma comunidade, conscientizando-se de que o resultado final
será uma variante de sua intenção, e de que a comunidade deve absorver as propostas no ´seu
tempo´ (FIGURA 3).

Figura 3: Processo de absorção das intervenções de design perante o grupo artesanal.

O resultado do processo de intervenção em comunidades produtivas gera, além do beneficio de


integração sócio-econômica, a geração de novos produtos. Estes, que aqui denominamos de
produtos sociais, sendo produtos desenvolvidos em regime associativo ou cooperativo, com
raízes na cultura local e seguindo conceitos de respeito a natureza e responsabilidade social,
inerentes aos conceitos de Comércio Justo e Economia Solidária.
O design social surge com este olhar maior na relação processo-indivíduo, apoiando também no
planejamento estratégico inicial e na sistematização do processo. No CENARTESisal, na etapa
de definição estratégica inicial, foram levados em consideração os seguintes pontos:
Entendimento do contexto; Comprometimento mútuo; Foco territorial; Diminuição da distância
com o mercado; Processo de renovação produtiva constante. E durante todo processo de
desenvolvimento das atividades de campo, foi, o designer, mediador de conflitos e delineador
dos desvios do caminho traçado inicialmente. Não tão somente pelo fato de ser o detentor da
expertise técnica, mas também por ser um agente externo e capaz de ter um olhar “distante”.

Desenvolvimento das Ações de Reestruturação / Estratégia adotada


Houve no processo de implantação do CENARTESisal quatro fases definidas inicialmente pela
equipe de trabalho, sendo a primeira de estudo preliminar e análise diagnóstica, seguido da fase
de planejamento participativo, da fase de implantação e capacitação, e da fase de
acompanhamento e monitoramento. Nestas fases, ações foram executadas de forma tanto linear
como sobreposta, a depender da necessidade de reforço de algum dos objetivos de cada etapa,
sempre de forma a democratizar a circulação de informação, onde todos possam ter acesso aos
objetivos desejados, bem como criando momentos de alinhamento para etapas posteriores. No
FIGURA 4 podemos ver as etapas desenvolvidas desde o processo de melhoramento da técnica
artesanal até o de inserção no mercado.

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Figura 4: Etapas das atividades desenvolvidas no projeto CENARTESisal.

A inserção dos elementos de identidade regional foi trabalhada logo de início, fortalecendo o
vinculo existente entre produto e identidade cultural, hoje não só um agregador de valor de
mercado, demonstrado pelo ´formidável desenvolvimento da dimensão econômica da cultura´
(LIPOVETSKY, 2011) através do fortalecimento do conceito de industria cultural.
Na fase de planejamento, iniciou-se a discussão sobre qual o melhor modelo de gestão para o
CENARTESisal, através de reuniões temáticas e com a participação (ou pelo menos o convite
para) de representante das associações produtivas da região, e que fariam parte deste processo de
reestruturação. No modelo discutido e evoluído (FIGURA 5), definiu-se pela criação de um
Comitê Gestor do equipamento, composto por representantes dos grupos e do IDRSisal. Este
comitê faria a gestão do negócio e definiria sua operacionalidade, seguindo um estatuto discutido
também de forma participativa e apoiado por um Conselho Consultivo formado por
representantes de instituições apoiadoras e financiadoras com ação regional.

Gráfico 4: Novo modelo de Gestão do CENARTESisal.

Conclusão
A necessidade de equipamentos que facilitem e potencializem o processo de escoamento de
produtos sociais é um dos principais gargalos do desenvolvimento de associações e cooperativas
artesanais e agro artesanais, pois estes dependem de agentes externos e infraestrutura apropriada
para fazer seus produtos chegarem até o consumidor final. Não é a toa que o poder do mercado
mudou de mãos, passando do produtor ao distribuidor, capaz de induzir a indústria a produzir o
que elas querem.
Aos felizardos que conseguem se estruturar para preencher esta lacuna, surge o problema da
sustentabilidade do negócio, da gestão estruturada para enfrentar as diversidades do varejo de
produtos sociais que sentem de forma direta a competição dos produtos importados que inundam
o mercado, sem que os representantes do comércio justo consigam construir um patamar de
consumidores conscientes e solidários.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
No CENARTESisal não foi (é) diferente. Surge a mesma dificuldade de se implantar um
equipamento com este foco em um contexto territorial como já apresentado, acrescentando-se ai
a necessidade de corpo executivo capacitado que sustente a evolução e manutenção da estrutura
e sua estratégia inicial de atuação. A aproximação de um agente externo, integrante do corpo
consultivo constante ou esporádico, é uma das soluções encontradas na tentativa de manter-se
uma curva de evolução.
A também aproximação do design como uma ´atividade de especialista´ com as áreas de gestão e
mercado são fundamentais para o sucesso de produtos artesanais (FORTY, 2007). Pode-se
parecer contra censo a relação entre produtos que permeiam uma economia que prega o justo e
respeito ao social, com o mercado de massa, mas tendência é real da cultura se aproximando do
mercado através do fortalecimento da economia criativa. Para poder competir com igual força
com os produtos industrializados e os importados, faz-se necessário uma maior
profissionalização do processo como um todo.
Este documento tem por objetivo apoiar este processo, ao passo que sistematiza o histórico de
um equipamento de tal importância situado em uma região de grande potencial produtivo, cujo
desenvolvimento depende de um alinhamento institucional, que se não articulados, acabam
desacreditando ações com a descrita neste documento, com foco estratégico multidisciplinar.
Podemos apresentar o CENARTESisal como um exemplo de inovação social, criando esta ponte
direta entre produtores rurais e o mercado consumidor. Ainda há muito a se fazer, mas o
primeiro passo foi dado, com segurança de que o caminho escolhido está correto, almejando aqui
que esta trilha seja longa e repercuta positivamente na comunidade sisaleira no semi-árido
baiano.

Agradecimento
Aos integrantes do IDRSisal e do CENARTESisal, Dagoberto Rios, Josenilda Gordiano, Silvio
Habib, e toda a equipe. A equipe de designers responsáveis pelas intervenções nas comunidades:
Ana Claudia Nepomuceno, Kica Wicks, Nilson Oliveira e Tadeu Mucarzel. Aos representantes
das instituições parceiras Cooperafis, Fundação APAEB e Sebrae Bahia. E principalmente aos
artesãos das comunidades de Araci, Conceição do Coité, Nova Fátima, Santa Luz, São
Domingos e Valente.

Referências
BAPTISTA, M.C. (1979). Desenvolvimento de Comunidade. Estudo de integração do
planejamento do desenvolvimento de comunidade no planejamento do desenvolvimento
global. Ed.Cortez&Moraes, SP.
FORTY, A. (2007). Objeto de desejo – design e sociedade desde 1750. Ed. Cisac Naify, SP.
GEERTZ, C. (2009). O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Ed.Vozes, RJ.
LIPOVETSKY, G & SERROY, J (2011). A cultura-mundo: resposta a uma sociedade
desorientada. Ed. Cia das Letras, SP.
Download
http://en.wikisource.org/wiki/File:Our-common-future.pdf
http://saber.sapo.ao/w/images/c/c5/Mapa_Terra_do_Sisal.jpg

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As propriedades do barro como regulador térmico e seu
uso para o armazenamento de alimentos e água (The clay´s
thermal regulation proprieties and it´s use for the storage
of food and water)

SILVA, Julia Teles; Aluna de doutorado em design, PUC-Rio


julia.teles@yahoo.com.br

palavras-chave: barro; regulação térmica; armazenamento.

O presente artigo tem como tema meu projeto de pesquisa de doutorado - o barro e suas propriedades de
regulação térmica e de umidade.
A proposta da pesquisa é pensar como as propriedades de regulação térmica do barro podem ser
aproveitadas para auxiliar o homem no desenvolvimento de técnicas que lhe tragam maior autonomia em
seu ambiente. Sabemos que o barro é um material gratuito que pode ser encontrado em quase todos os
lugares habitados do mundo. Suas propriedades de regulação térmica vêm sendo aproveitadas há
milênios na construção de habitações ou em objetos para o armazenamento de água ou alimentos.
Nossa proposta é investigar um pouco mais sobre as propriedades do barro, estudando suas variações
com diferentes tratamentos – o barro cru com diferentes revestimentos, o barro com queima a baixa
temperatura. Acreditamos que, a partir do barro, poderemos gerar diferentes dispositivos para a
conservação de alimentos ou água, de baixo consumo energético e fácil fabricação. As técnicas geradas
poderão ser passadas adiante e aprimoradas junto a comunidades interessadas. Nossa hipótese é a de
que um dispositivo de terra crua serve para a conservação de água e alimentos para uma comunidade,
dispensando o uso de aparelhos elétricos – contribuindo para a autonomia e para a sustentabilidade da
comunidade.
A pesquisa ainda está em fase inicial, e este artigo discorrerá sobre as informações que já obtivemos e as
diretrizes para dar continuidade à investigação.

Keywords: clay; thermal regulation; storage.

This article focuses on my doctoral research project - the clay and its properties of thermal and humidity
regulation.
This research proposes to consider how the clay´s properties of thermal regulation can be used
to help humans in developing techniques that give them greater autonomy in their environment. We
know that the clay is a material that can be found in almost all the inhabited places of the world for
free. It´s thermal regulation properties have been used for millennia in residential construction or on
objects for storing water or food.
Our proposal is to investigate a little more about the properties of clay, studying it´s variations with
different treatments - the raw clay with different coatings, the clay burnt at low temperature. We believe
that from clay we can generate energy efficient and easy to manufacture devices for
storing food or water . The generated techniques could be passed on and enhanced with interested
communities. Our hypothesis is that a device of raw clay for conservation of water and food could be used
by a community, that could do without the use of electrical appliances – it would therefore contribute to
the autonomy and the sustainability of the community.
The research is still in its early stages, and this article will discuss the information already obtained and the
guidelines for the continuity of the research.

O barro vem sendo usado pela humanidade há milênios para o armazenamento de


alimentos e água. A presente pesquisa propõe resgatar esta tradição e aprender mais sobre as
propriedades do barro e seu uso. A partir daí, pensaremos os desdobramentos que objetos
deste tipo podem ter na atualidade. Assim, começamos com uma investigação das
características do barro e das técnicas tradicionais de uso deste material para a conservação
da água e dos alimentos, para, a partir daí, desenvolvermos nossa pesquisa experimental.
O resgate de técnicas tradicionais e a prática experimental fazem parte da metodologia do
laboratório onde esta pesquisa está sendo realizada – o LILD (Laboratório de Investigação em
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Living Design) da PUC-Rio. Este laboratório prioriza o uso de materiais com o mínimo de
beneficiamento e com baixo consumo energético. Seguindo esta linha, neste trabalho,
pesquisamos uma alternativa para a conservação de alimentos baseada em técnicas não-
industriais, em que o homem esteja mais próximo dos materiais, da produção e dos fluxos da
natureza. Esta interação direta com os materiais nos proporciona maior consciência das
consequências que nossas técnicas têm na natureza e nos possibilita aprender mais sobre
toda a potencialidade dos materiais com que trabalhamos. No caso, trabalharemos
predominantemente com o barro, buscando aprender mais sobre as características deste
material e aproveitar ao máximo as suas propriedades.
O barro tem a vantagem de ser um material de fácil aquisição, estando disponível
gratuitamente em muitos lugares. Para se trabalhar com ele, não são necessárias ferramentas
complexas, sendo a ferramenta mais importante as mãos. Assim, a produção de objetos com
barro é, tradicionalmente, uma produção independente, que traz autonomia para as
comunidades.

Antecedentes

A conservação de alimentos é uma questão que acompanha a humanidade desde que ela
começou a se tornar sedentária. Quando nômades, as pessoas comiam apenas alimentos
frescos, caçados ou coletados na hora, e não os guardavam para depois. A partir do momento
em que o homem tornou-se sedentário e passou a produzir um excedente de comida, surgiu a
preocupação com a conservação. São conhecidas as formas de conservação por salgamento,
uso de especiarias e gordura.

Mas, desde a pré-história, o homem percebeu que um bom meio de conservação era pela
refrigeração. Seja guardando os alimentos na parte mais fresca da caverna, colocando-os no
córrego, debaixo da terra ou em potes de barro.

Temos o exemplo de diversos objetos que aproveitam a propriedade de transpiração do


barro para proporcionar resfriamento interno. O mais clássico é a moringa, uma espécie de
jarro de barro cozido, que mantém a água sempre fresca. O filtro de barro também é bem
conhecido no Brasil, sendo popular até os dias de hoje. Existem ainda diversos recipientes
deste material que são usados para se conservar alimentos.

Atualmente, temos alguns exemplos de objetos deste tipo.

Feito de terra crua, há o exemplo do ZEFRA (Zero Emission Fridge for Rural África), criado
pelo camponês de Moçambique Gilberto Tethere. Ele participou de um workshop que
apresentava um silo de metal para a conservação de grãos, mas não tinha dinheiro para
comprá-lo. A partir daí, teve a ideia de produzir um silo com materiais disponíveis localmente -
estrutura de bambu coberto por barro – o barro proporciona uma boa temperatura e umidade
internas. O silo fica sobre um balcão de barro e é bem vedado, tendo apenas duas aberturas,
cobertas com tampas do mesmo material e é usado para preservar grãos, que duram durante a
estação de seca – de outubro a janeiro. O objeto, de baixo custo e que usa técnicas de
construção tradicionais da região, já foi reproduzido em várias aldeias da região.

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Figura 1: Imagem com estrutura do Zefra à esquerda e o objeto barreado à direita. A base é de barro e os objetos
ficam sob cobertura.

De barro cozido, há o Mitticool village fridge (Mitti = argila) foi criado pelo indiano Mansukh
Prajapati. Em 2001, quando um terremoto arrasou a com a cidade de Gujarat, destruindo as
casas e os pertences da população, Mansuhk teve a ideia de construir um filtro acessível à
população, que estava sem posses. Ele trabalhou no desenvolvimento do refrigerador até
2004, quando o modelo ficou pronto. O mitticool tem formato retangular e possui dois ou mais
compartimentos. Na parte superior, há um compartimento que filtra e armazena a água, e,
abaixo, um compartimento para armazenar alimentos. Em cima, há um orifício para se colocar
a água e o compartimento de baixo tem uma porta de vidro. O refrigerador é feito de uma
mistura de vários barros diferentes, que passam pelo processo de queima. A temperatura da
‘geladeira’ fica de 8° a 15ºC abaixo da temperatura ambiente.

Este refrigerador também conserva o sabor e a umidade natural dos alimentos, devido à
regulação de umidade proporcionada pelo barro.

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Figura 2: O refrigerador de barro mitticool, criado pelo indiano Mansukh Prajapati

Figura 3: Reprodução, feita no laboratório, do refrigerador de barro zeer, criado pelo nigeriano Mohammed Bah
Abba

Um outro modelo, o zeer, feito com dois potes de barro e areia com água entre eles, foi
criado pelo engenheiro nigeriano Mohammed Bah Abba. Ele pode baixar a temperatura em até
14°C, conservando os alimentos frescos por vários dias.

Mohammed Bah Abba fez experimentos com vários materiais para colocar entre os potes,
mas concluiu que a areia de rio molhada era o que proporcionava o maior resfriamento. Este
refrigerador funciona melhor em ambientes secos e ventilados, pois possibilitam maior
evaporação. Em ambientes úmidos, o resfriamento não é tão grande. Mas no Sudão, onde a
técnica foi passada, funciona muito bem, e é de fácil fabricação.

Estes dois últimos modelos, de barro queimado em contato com a água proporcionam maior
resfriamento interno do que o primeiro, de terra crua e sem água.

Os fluxos naturais e as características dos materiais


O resfriamento nestes dispositivos ocorre devido à evaporação da água através do barro.
Sabe-se que, para a água ferver, passando do estado líquido para o gasoso, ela deve
chegar a 100ºC. Na evaporação, em que a água passa para o estado gasoso sem ferver, as
moléculas da superfície ganham energia cinética, “roubando” calor das moléculas ao redor.
Desta forma, a água que permanece líquida resfria-se – é o fenômeno chamado resfriamento
evaporativo.
Este fenômeno é aproveitado pela humanidade há milênios, para a refrigeração de
habitações ou de objetos menores. No Egito e na Pérsia antigos, havia vários mecanismos
para o resfriamento de ambientes:

“Esses mecanismos incluíam o uso de potes porosos com água, lagoas, piscinas e rampas com filmes
de água integradas em locais de paredes densas e protegidas, para que os ambientes ficassem com
temperatura mais agradável. Na antiga Pérsia (atual Irã) era utilizado um tipo tradicional de arquitetura
para criar ventilação natural em edifícios, denominado “windcatcher”, que utilizava o efeito Coanda.
Reservatórios com água eram construídos juntos aos canais de passagem de ar para resfriá-lo,
reduzindo a temperatura no interior da edificação.” (CAMARGO, 2009)

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O resfriamento evaporativo funciona melhor em climas secos, onde a evaporação é
favorecida. No Egito e na Índia antigos, havia técnicas para fazer gelo a partir do resfriamento
evaporativo. Aproveitando o fato de o ar ser seco nestes lugares, de dia, deixava-se a água em
um pote bem protegido, envolto por palha, com escudos refletores em volta, para impedir a
incidência de sol. E, à noite, deixava-se o pote exposto ao ar seco e frio do deserto. Por volta
da três ou quatro horas da manhã, formava-se gelo (embora em pequenas quantidades), que
era levado para um ambiente isolado termicamente (BERGER, 1999).
Vemos que o resfriamento evaporativo é um fenômeno natural conhecido pela humanidade
há milênios. E aproveitá-lo significa usar um ciclo da natureza a nosso favor. Isso é algo
proposto pela permacultura, que dá uma grande ênfase em se aproveitar os serviços que a
natureza pode nos oferecer gratuitamente – como a purificação de água por certas plantas, a
decomposição de detritos por micróbios ou os benefícios para o solo trazidos por determinadas
plantas ou animais. É importante aproveitar ao máximo os fenômenos que ocorrem
naturalmente, em vez de empreender operações que vão totalmente contra o que ocorreria por
natureza, ou que requerem intervenções complexas.
A proposta da permacultura é criar sistemas que não tenham grande uso de fontes de
energia externas nem uso excessivo de mão-de-obra humana. Com uso intensivo do design e
da informação, pode-se criar sistemas autossustentáveis com o mínimo de consumo energético
– traz-se foco projetual e esforço intelectual para atividades antes consideradas humildes e de
mera sobrevivência para sociedades tradicionais. A permacultura é um sistema de design que
busca mimetizar os padrões da natureza e utilizar seus fluxos para a produção de fibras,
comida e energia necessárias para as provisões humanas (HOLMGREN, 2009b, p. xix). E, por
esse forte caráter projetual, ela auxilia também na criação de produtos que estejam mais
integrados aos fluxos da natureza.

Assim, o foco da permacultura é nos fluxos da natureza e nas riquezas naturais existentes,
especialmente as árvores e as florestas, para sustentar a humanidade. A ideia de que
tecnologias limpas pudessem sustentar nosso atual sistema de produção derivaria da
desconexão dos cidadãos do mundo urbano com suas bases naturais. Na verdade, somos
muito mais dependentes da natureza do que acreditamos (Ibid).
A ideia de se projetar percebendo os fluxos da natureza aproxima-se do conceito de técnica
de Heidegger (1953). Para o filósofo, a técnica não é um meio para um fim ou uma elaboração.
A técnica é uma forma de desvelamento da natureza, é um saber sobre os processos, sobre
como as coisas acontecem. Isso era mais forte na Grécia antiga, quando técnica provinha
diretamente da natureza, que abrangia e englobava tudo – as coisas surgiam e eram
produzidas a partir dela, dispensando processos de fabricação planejados. A técnica era um
saber dos processos naturais, era apenas auxiliar aos processos da natureza (RÜDIGER,
2006).
Aqui, a proposta é seguir a ideia de entender os processos naturais e aproveitá-los. No
caso, o fluxo natural da evaporação da água e o fenômeno do resfriamento evaporativo. Ao
mesmo tempo, também queremos aproveitar as propriedades naturais do barro. O barro é um
material permeável à água e aos gases. Quando queimado, esta permeabilidade diminui um
pouco, mas ainda há poros abertos entre os grãos de terra. Quanto mais alta a temperatura de
queima, maior a impermeabilização do barro. Mas o fato de o barro ser permeável é algo que
pode ser aproveitado.
O barro cru tem sido usado tradicionalmente como material para edificações e há uma
grande riqueza de técnicas de construção com terra crua – adobe, pau-a-pique, taipa. Técnicas
que têm história milenar e que são encontradas em todo o mundo, com variações. Como
coloca Fernando Betim Paes LEME (2008), a terra crua possibilita uma boa interação com o
ambiente externo, servindo de vedação, mas permitindo também uma troca saudável de
substâncias. Mas, na modernidade, as técnicas de construção em terra crua vêm sendo
consideradas anti-higiênicas e são substituídas por tijolos de cerâmica ou concreto, materiais
muito mais impermeáveis. No entanto, Betim afirma que a terra crua possibilita um conforto
ambiental muito maior, por produzir ambientes que “respiram” – havendo constante troca de
gases e vapores, propiciando sempre uma temperatura agradável.

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A capacidade do barro de “respirar” é uma característica natural do material que vem sendo
aproveitada pela humanidade para diversos fins. Nesta pesquisa, a proposta é usar o
pensamento projetual para otimizar o conjunto destes dois fenômenos naturais – o resfriamento
evaporativo e a permeabilidade do barro.

Metodologia e desafios
Nosso objetivo é gerar um dispositivo de barro que proporcione o máximo de resfriamento
interno. Há diversas variáveis envolvidas para que isso seja possível, dentre elas o clima, pois,
como sabemos, quanto mais seco o ambiente, maior o resfriamento evaporativo. Esta é uma
variável com a qual não trabalharemos por hora. Inicialmente, vamos investigar mais sobre a
moldagem do barro e como este material reage a diferentes tratamentos.
O principal desafio colocado é o seguinte: a proposta é aproveitar a propriedade de
permeabilidade do barro, pois esta proporcionará maior evaporação e resfriamento interno. No
entanto, o barro totalmente permeável dissolve-se em contato com a água. Assim, a pesquisa
deve buscar formas de aproveitar a permeabilidade do barro sem que ele se dissolva em
contato com a água. Tomamos como base o modelo feito pelo nigeriano Mohammed Bah Abba
, de dois potes de barro com areia e água no meio. Assim, a primeira parte das
experimentações é a de aprender mais sobre a moldagem do barro e observar como o barro
com diferentes tratamentos se comporta em contato com a água.
Assim, estamos pesquisando revestimentos que possibilitem a permeabilização seletiva,
como a pasta de cal. Também estamos testando a queima do barro a baixa temperatura,
procurando entender melhor as suas propriedades de permeabilidade. Sabemos que o barro
em baixa queima também possibilita a evaporação da água, como pode ser percebido no filtro
de barro e na moringa, que mantêm a água fresca – ao mesmo tempo, não se desfaz quando
em contato com a água. Assim, esta pesquisa está fazendo uma comparação das propriedades
do barro cru misturado com fibras, do fibrobarro com revestimento e do barro queimado em
baixa temperatura, procurando entender as características dos materiais e como eles se
comportam em contato com a água. A partir destes resultados, poderemos observar como
ocorre o armazenamento de alimentos em objetos de barro.
Sabemos que, a partir do barro, podem ser gerados diferentes objetos para o
armazenamento de alimentos ou água, de baixo consumo energético e fácil fabricação. A
produção e manutenção desses objetos ocorre de maneira não-industrial, proporcionando
autonomia para os usuários. Técnicas deste tipo, que são alternativas não-industriais, vêm
sendo propostas nas últimas décadas, como a tecnologia apropriada e a ferramenta
26
convivencial (proposta por Ivan Illich). Trata-se, em geral, de soluções de reprodução
relativamente simples, com o uso prioritário de materiais locais e técnicas já conhecidas pela
humanidade, como é o caso nesta pesquisa. O maior desafio, no caso, não é de ordem
técnica, mas social.
A técnica proposta dista muito das técnicas industriais, cujos produtos são amplamente
difundidos em nossa sociedade. No atual contexto, uma técnica simples pode gerar

26
“A ferramenta justa corresponde a três exigências: é criadora de eficiência sem degradar a autonomia
pessoal; não provoca nem escravos nem senhores; amplia o raio de ação pessoal. O homem precisa de uma
ferramenta com a qual trabalhe e não de instrumentos que trabalhem em seu lugar. Precisa de uma
tecnologia que tire o melhor partido da energia e da imaginação pessoais, e não de uma tecnologia que o
avassale e programe.” (ILLICH, 1973, p. 24)

Assim, a ferramenta convivencial ampliaria a autonomia e liberdade de produção. Qualquer pessoa poderia aprender a
usar as ferramentas convivenciais, que não exigiriam o atual grau de especialização. E a ferramenta de Illich é um
termo amplo, podendo significar qualquer coisa que seja usada como um meio para um fim – seja um instrumento, uma
instituição. Ela traz autonomia para as pessoas atuarem no mundo à sua volta, podendo ser usada por qualquer um
que deseje.

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desconfiança ou desdém nas pessoas. E a interação do usuário com o objeto é outra – ele
deve ser mais participativo em sua produção e uso – o que não é estimulado na produção
industrial.
Após adquirirmos maior domínio sobre o uso do barro e ampliarmos o conhecimento das
propriedades do material, a proposta desta pesquisa é trabalhar com um objeto de barro para a
conservação de alimentos em uma comunidade, produzindo o objeto junto com as pessoas.
Trabalharemos com a hipótese de que um objeto de barro é eficiente para o armazenamento
de água e alimentos de uma comunidade, constituindo-se uma ferramenta convivencial e
gerando independência de técnica industrial correspondente.

Referências
BERGER, Dan (1999). How can you make ice without electricity or without a fridge? Faculty
Chemistry/Science, Bluffton College. Disponível em:
<http://www.madsci.org/posts/archives/nov99/941723540.Sh.r.html> Acesso em:
09/06/2011.
CAMARGO, José Rui (2009). Resfriamento evaporativo: climatização ecológica. Rio de
Janeiro: Editora Ciência Moderna.
HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica (1953) in: Ensaios e conferências. (Tradução de
Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Márcia Sá Cavalcanti Schuback) Petrópolis: Vozes,
Bragança Paulista, Ed. Universitária São Francisco, 2007.
HOLMGREN, David (2009). Permaculture: Principles and Pathways beyond Sustainability.
Australia: Holmgren Design Services.
ILLICH, Ivan (1973). A convivencialidade. Lisboa: Publicações Europa-América.
India – Future of Change. Clay Refrigerator – Feat of Clay. Disponível em:
<http://www.indiafutureofchange.com/indiastory_ClayRefrigerators.htm>. Acesso em:
16/06/2011.
Indian Cleantech Innovations. Mitticool Village Fridge. Disponível em:
<http://www.cleantick.com/users/visalakshi/pages/indian-cleantech-innovations>. Acesso
em: 16/06/2011.
JOLLY, Anupam. Farmer develops zero-energy fridge using locally available materials.
Disponível em: <www.ecofriend.com>. Acesso em: 07/07/2011.

LEME, Fernando Betim Paes (2008). O fibrosolo como pele para construção: Da tradição
construtiva do homem do campo aos espaços habitados do homem da cidade. Um conceito
de aeração das moradias a partir da aplicação construtiva de cascas, placas e folhas de
fibrosolo. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: PUC-Rio.
Practical Action. How a zeer pot fridge makes food last longer. Disponível em:
<http://practicalaction.org/zeerpots>. Acesso em 16/06/2011.
RÜDIGER, Francisco. Martin Heidegger e a questão da técnica: Prospectos acerca do futuro do
homem. Porto Alegre: Sulina, 2006.

<www.mitticool.com> - Acesso em: 05/07/2011

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Design e reutilização de materiais no agreste
pernambucano: o caso da comunidade Vila Santa Teresa
(Design and reuse of materials in agreste Pernambucano:
the case of Vila Santa Teresa Community)

OLIVEIRA, Emilio; Doutorando; UNESP/UFPE | CAA

emiliodesign@gmail.com

MOURA, Audicleide; Graduanda; UFPE | CAA

cleidinhamoura@hotmail.com

MORAES, Aniery; Graduanda; UFPE | CAA

aniery.moraes@hotmail.com

SILVA, Pauliana; Graduanda; UFPE | CAA

silva.pauliana@hotmail.com

ALENCAR, Sheyla; Graduanda; UFPE | CAA

sheyla_ruana@hotmail.com

palavras chave: design; reutilização; agreste pernambucano.

Em meio ao fenômeno da globalização, do crescimento econômico desenfreado e da necessidade


eminente de uma nova formatação em relação aos processos produtivos, sobretudo aqueles geradores
de resíduos em ciclo de vida linear, o designer age como um ator estratégico em relação ao
desenvolvimento de produtos cada vez mais ecologicamente corretos e eficientes, com vistas à
sustentabilidade nos âmbitos social, econômico e ambiental. Portanto, o trabalho realizado por esta
pesquisa tem como foco demonstrar como a elaboração de produtos produzidos com materiais
reutilizáveis pode contribuir para a valorização de resíduos de artefatos regionais, sem agredir o meio
ambiente. Neste caso, o objeto de estudo é a produção de chocalhos em metal, produzidos na
comunidade criativa da Vila de santa Teresa, em Agrestina, região do agreste pernambucano.

Keywords: design; reuse; agreste pernambucano.

Amid the phenomenon of globalization, rampant economic growth and the perceived need of a new format
in relation to production processes, especially those that generate waste in a linear life cycle, the designer
acts as a strategical actor in relation to the development of products each time more ecologically correct
and efficient, with sights to the support in the scopes social, economic and ambient.Therefore, the work
done by this research focuses on demonstrating how the development of products made with reusable

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materials can contribute to the promotion of regional artifacts waste without harming the environment. In
this case, the object of study is the production of metal rattles, produced in the creative community of the
Vila de Santa Teresa in Agrestina, agreste region of Pernambuco.

1 Introdução

O resgate da cultura popular e das potencialidades locais para o desenvolvimento de produtos


industriais ou semi-artesanais abre novos caminhos para o design vernacular e para a sua
interação com práticas tradicionais próprias a esse meio, com vistas à sustentabilidade social,
econômica e ambiental.

Partindo-se desta premissa, o presente trabalho tem por objetivo principal implementar, através
da concepção, desenvolvimento e produção de artefatos, a partir da reutilização de resíduos,
em cenários locais. Como resultado pretende-se desenvolver o potencial criativo, a geração de
trabalho e renda e a agregação de valores aos produtos desenvolvidos em comunidades
criativas, além da contribuição em minimizar o impacto ambiental da geração de resíduos no
meio ambiente. Essas comunidades, conforme Manzini (2008), mobilizam seus integrantes em
torno de atividades produtivas, que despontam em inovação social, por serem capazes de
trazer melhorias em diferentes níveis.

Dentro desse contexto, o design encontra-se como “uma potente ferramenta estratégica que
companhias podem usar para ganhar uma sustentável vantagem competitiva” (STAMM,
2008). Desta forma, o designer torna-se peça chave, já que seus conhecimentos projetuais
permitem observar e analisar a organização da comunidade e criar, a partir disso, novas
tecnologias e técnicas de produção, em caráter participativo e colaborativo.

Neste caso, a inovação torna-se possível, de acordo com Manzini (2008), pela ação humana
dentro de comunidades e o design é capaz de potencializar seu desenvolvimento, através do
entendimento de suas formas criativas de organização/produção, o que possibilita a criação de
conhecimentos, técnicas e ferramentas a serem aplicadas a demais organizações.

Para tanto, o presente artigo relata, então, a aplicação destas estratégias, na forma de uma
proposta de reutilização de resíduos, a partir do desenvolvimento de vários artefatos com valor
agregado. Estes são resultantes do processo de produção de chocalhos de metal, fabricados
por artesãos da Vila de Santa Teresa, localizada em Agrestina-PE. Esta região é reconhecida
como a maior produtora nordestina deste importante artefato da cultura regional, sobretudo na
zona rural. Vale ressaltar também que esta intervenção é fruto de um trabalho acadêmico do
grupo de estudo em Design e reutilização de materiais, do curso de Design do Campus do
Agreste, da Universidade Federal de Pernambuco.

2 O design social e vernacular

Conforme Manzini e Vezzoli (2005), atualmente, vivencia-se um modelo de sociedade


multipolar, na qual coexiste uma variedade de tecnologias, desde as manuais às
tecnologicamente mais avançadas, do trabalho tradicional às formas contemporâneas de gerar
renda, na formalidade ou não, em velocidades e espaços diferentes.
Neste cenário, Bonsiepe (1983) explica que há diferenças entre o design industrial “formal” e as
possibilidades de produção popular de artefatos (o desenho artesanal). No design industrial, o
ato de projeto e o ato de produção estão funcionalmente diferenciados, com divisão
institucionalizada de tarefas.
No caso do desenho artesanal o ato de design (projeto) e o ato de produção são quase
idênticos, não estando divididos entre duas ou mais pessoas. Desta forma, na visão de
Papanek (1973), neste modelo, todas as pessoas seriam designers, pois o planejamento,
padronização e a execução dos projetos constituiria o processo de design em si.

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Assim, segundo Valese (2007), o termo design não se aplicaria somente a projetos que são
desenvolvidos através do conhecimento erudito, mas também poderia ser utilizado para
designar uma produção artesanal ou semi-industrial de artefatos que foram configurados,
arranjados e estruturados, de forma a atender às necessidades específicas de um indivíduo,
grupo ou comunidade.
Cardoso (2008) complementa que o design industrial representa um campo estruturado, no
qual se produz o design “oficial”, reproduzido nos meios universitários, nas indústrias e
escritórios de design. Relaciona-se às culturas hegemônicas, associadas às camadas sociais
de maior poder econômico.
Ainda segundo a autora, em oposição a este campo, encontra-se o design vernacular, um
campo de produção informal que representa a produção de indivíduos pertencentes às classes
populares, muitas vezes desfavorecidas economicamente.
Outra peculiaridade do design industrial na “periferia” consiste, apesar de menos surpreendente
como sempre anunciado, em ter mantido uma associação com o conceito de responsabilidade
social. Desde a sua introdução no contexto periférico, como aconteceu nos países da América
Latina e Índia, o design tem sido percebido por tantos como um mecanismo de resolução de
problemas que pode vir a ser empregado em diferentes escalas no âmbito social e econômico
(ALPAY, 2001 apud MORAES, 2006).
No entanto, os dois modelos co-existem em uma mesma sociedade, principalmente de forma
que sejam equacionados a soluções sustentáveis para as distintas necessidades materiais
humanas.
Para este trabalho considera-se design vernacular como sinônimo de design popular, cuja
manifestação não deve ser vista como algo “menor”, marginal, mas como uma produção
informal cujo conhecimento foi adquirido através da observação e da prática, fruto de uma
manifestação sócio-cultural de determinada região (VALESE, 2007).

Figura 1: Exemplo de design vernacular – cestos a partir dom reuso de pneus (Fonte: http://reciclagem-
brasil.blogspot.com/2010/02/quem-conhece-gooc-brasil-sabe-que-e-uma.html)

Com base no exposto, o design vernacular pode estar inserido no contexto do design social.
Esta ideologia do design implica em atuar em áreas onde não há atuação do designer “formal”,
e nem interesse da indústria com soluções que resultem em melhoria da qualidade de vida,
renda e inclusão social. Conduzir para uma produção solidária é uma responsabilidade moral
do design (MARGOLIN e MARGOLIN, 2004).
Para Pazmino (2007), o design social deve ser socialmente benéfico e economicamente viável,
como mostra a figura 2. Na visão da autora, nesta abordagem, é necessário priorizar requisitos
sociais, os quais devem ser considerados em todos os níveis do processo de desenvolvimento
e produção, visando obter produtos que causem uma melhoria na qualidade de vida dos
excluídos.

Figura 2: A interface do design social (Fonte: Pazmino, 2007)

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Ainda para a autora, nesta orientação de design, os fatores sociais e econômicos devem ser
maximizados e tratados como objetivos de projeto. Isto exige do designer uma ação
interdisciplinar do projeto, aplicação de metodologia de desenvolvimento de produto que
permita minimizar os problemas sociais, aplicação de ferramentas e técnicas de projeto
adequadas, além de um maior conhecimento de sociologia, psicologia, política pública e
antropologia (PAZMINO, 2007).
Neste sentido, o design vernacular pode representar uma estratégia em favor da
sustentabilidade, na medida em que segue a heurística do favorecimento e integração dos
menos favorecidos e a da promoção da equidade e coesão social. Para Pazmino (2007), o
design “formal” tem os conceitos de inovação e estética como seus valores principais, enquanto
que um design social exige do designer novas qualidades e maiores cuidados.

A seguir, na tabela 1, são apontadas as diferenças existentes entre estas duas orientações de
design:

Tabela 1: Design social e design “formal” (Fonte: Pazmino, 2007)

Design social Design formal


Pequena escala de produção Grande escala de produção
Mercado local Mercado local e global
Tecnologia adequada Alta tecnologia
Orientado a população de baixa Orientado ao mercado
renda, excluídos, idosos,
deficientes Maximiza a função simbólica

Maximiza a função prática Custo médio e alto

Baixo custo Satisfação de necessidades emocionais

Inclusão social

Uma das premissas deste modelo é que o trabalho do designer social deve respeitar e valorizar
os aspectos sociais, culturais e ambientais da população e desenvolver produtos que
satisfaçam as necessidades reais.

Colombres (1997) cita as principais características do processo de desenvolvimento de


artefatos populares, a saber: utilidade; funcionalidade e seriação em pequena escala. Para a
autora, neste processo produtivo, as dimensões e os padrões de organização são inerentes,
pois além de representar “estratégias de sobrevivência de grupos sociais, marginalizados pelo
sistema econômico [...] são [também] esquemas produtivos diferenciados que sobreviveram,
paralelamente, ao processo de industrialização’ (COLOMBRES, 1997).

Nos exemplos abaixo, pode-se visualizar artefatos que, embora tenham o mesmo componente
principal (um tambor de máquina de lavar reutilizado), apresentam uma abordagem de
configuração estética diferente, baseada no design vernacular informal, no caso da

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churrasqueira, e uma preocupação em produção seriada “formal”, na proposta do pufe,
respectivamente.

Figura 3: Churrasqueira e pufe a partir do reuso de tambor de máquina de lavar (Fonte: Valese, 2007;
http://designinnova.blogspot.com/2010/07/design-ingles-eco-chic.html)

Para Bonsiepe (1983), o Nordeste brasileiro constitui uma rica fonte de produtos, muitas vezes
fabricados por artesãos a partir de reuso de materiais e de desenhos anônimos populares,
satisfazendo as necessidades da vida diária da própria região. Assim, apesar de ser
considerada uma produção menor, é comum verificar que a fabricação de artefatos populares
vem se mantendo ao longo do tempo, apesar das dificuldades de apoio, incentivo e divulgação.

3 A Comunidade da Vila de Santa Tereza

A cidade de Agrestina está situada na mesorregião central do agreste do Estado de


Pernambuco, a 155 km da capital, Recife. Apresenta uma população de 22.680 mil habitantes
(IBGE, 2010). Tem como fonte principal de renda o comércio informal, a agropecuária e as
microempresas de facção em costura. A cidade ainda possui comunidades quilombolas
(formadas por descendentes de ex-escravos foragidos) como as de Pé de Serra dos Mendes e
a de Brejinho de Cajarana. Esta última é o berço da Mazurca, uma dança cultural mista de
escravos e índios, quase desaparecida no Brasil.
Historicamente, o município foi emancipado através da lei estadual nº 1.931, de 11 de
setembro de 1928 (data em que se comemora seu aniversário) com o nome de Agrestina,
desmembrando-se do município de Altinho. O topônimo foi escolhido por localizar-se no
coração do agreste pernambucano. Administrativamente, é composto pelos distritos sede,
Barra do Chata e Barra do Jardim, além dos povoados de Pé de Serra dos Mendes, Santa
Tereza, Água Branca,Cruz e Cachoeira.
Neste cenário, a confecção do chocalho se destaca em virtude da sua potencial fonte de
sustentabilidade econômica e social, materializada na Vila de Santa Teresa, localizada a 5 km
de Agrestina, às margens da BR 104. Para tanto, a produção dos chocalhos sustenta mais de
100 famílias e cerca de 500 pessoas que residem na comunidade. A vila sobrevive
exclusivamente da produção e venda destes artefatos para todo o país, através da técnica
passada de geração a geração.
Desta forma, a Vila Santa Tereza de Agrestina é considerada a principal produtora de
chocalhos do país, na qual estão reunidos os produtores desse artefato. No entanto, a
comunidade atualmente não recebe incentivos dos órgãos governamentais, embora já
houvesse a existência uma cooperativa na comunidade.

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4 O chocalho

Segundo Moniz (2000), a palavra chocalho designa uma espécie de campainha em folha de
ferro, de forma cilíndrica e com badalo. É utilizado na localização dos animais durante o
pastoreio de vacas, ovelhas ou cabras, sendo colocado no pescoço das reses com o auxílio de
uma coleira com fivela ou qualquer material para fixar. Normalmente um chocalho para este fim
é composto pelas seguintes peças: corpo, azéia, badalo e pega (Fig.4).

Figura 4: Componentes do chocalho (Fonte: dados da pesquisa)

Pode-se afirmar que o som do chocalho é bem característico em todo o nordeste brasileiro,
principalmente nas zonas rurais interioranas, agrícolas por natureza. Neste cenário, a tradição
de usar utensílios metálicos como ferramentas na agricultura, na pecuária ou até nas situações
domésticas conduziu à criação de uma rede de pequenas oficinas e indústrias em pequenas
localidades, como foi o caso da comunidade em Agrestina.
No acompanhamento a estes grupos de fabricantes, foram verificadas dificuldades em
conseguir os insumos (metal e carvão) necessários para a própria produção. Para tanto, estas
pessoas obtém o metal (zinco, flandres ou latão) a partir do processo de reutilização de
materiais adquiridos em borracharias, ferros-velho e sucatas de Agrestina ou das cidades
vizinhas.
Este processo de reuso é importante, nos dias de hoje, porque transforma aquilo que iria ou já
se encontra no lixo em novos produtos, reduzindo resíduos que seriam lançados na natureza,
ao mesmo tempo em que poupa matérias-primas, muitas vezes oriundas de recursos não
renováveis e energia, como é o caso do metal. Para produzir alumínio reciclado, por exemplo,
utiliza-se apenas 5% da energia necessária para fabricar o produto primário. Assim, muitas
vezes, nos artefatos da produção material popular podem ser enxergadas soluções com caráter
ambientalmente sustentável (RIUL et al, 2006).
Dados da pesquisa apontam que os chocalheiros compram tampas de tonéis, lataria de carro e
outros resíduos de metal para a confecção das peças. Abaixo, uma tabela com valores médios
das matérias-primas principais adquiridas pelos fabricantes:

Tabela 2: Preços dos produtos usados para a produção do chocalho (Fonte: Dados da pesquisa)

Produto Preços Quantidade


Metal R$1.80 1 quilo
Carvão R$2.50 1 quilo
Zinco R$9.00 1 quilo

Em relação ao local da fabricação, quase todos os produtores da comunidade trabalham em


seus quintais, nas próprias residências. Nestes locais, os chocalhos produzidos se apresentam
em vários tamanhos, indo de três a vinte centímetros de comprimento. O processo de
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fabricação é todo artesanal, com a utilização de algumas ferramentas, tais como talhadeiras,
tesouras e martelos.

Figura 5: Talhadeira (Fonte: dados da pesquisa)

Após o corte da chapa, são traçadas as dimensões do chocalho a construir. Depois disto, a
chapa é cortada manualmente. Este processo faz com que a confecção das peças seja
bastante demorada, embora este fato acabe agregando um valor maior para peça.

Figura 6: Modelagem do chocalho (Fonte: dados da pesquisa)

O sistema é tão rudimentar que os chocalheiros ainda usam uma fornalha soprada a fole
manual, para a queima das peças de ferro galvanizado e latão, envoltas em barro. Neste caso,
a mistura com o barro impede que o carvão da forja adira ao objeto, permitindo a sua
metalização. Depois de embarrado, é feito um pequeno furo na boca do chocalho para que
este possa oxigenar. Este furo também ajudará a perceber se a metalização já foi concluída
Depois que eles estão moldados, vão para o forno e em virtude de uma alta temperatura,
ganham a cor característica e o som peculiar.

Figura 7: Etapa da queima (Fonte: dados da pesquisa)

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Após a queima, os fabricantes retiram os chocalhos do forno e os levam para esfriar com um
tempo de secagem que varia entre 24 a 48 horas. Em seguida, quebram a argila e lavam os
chocalhos em um pequeno tanque com água corrente. Nesta etapa, é bastante comum o
surgimento de chocalhos que apresentam falhas no acabamento, tais como furos, depressões,
rachaduras, que tanto influenciam na estrutura, quanto no som do artefato. Assim, ocorre um
descarte destes materiais.

Figura 8: Etapa da lavagem (Fonte: dados da pesquisa)

Posteriormente, nos chocalhos que estão sem falhas, os chocalheiros inserem os badalos e os
levam para a venda. Finalmente os chocalhos são comercializados em média a R$ 2,00, os
maiores e 1,00, os menores, respectivamente.

Figura 9: Chocalhos de tamanhos variados (Fonte: dados da pesquisa)

A presente pesquisa também aponta que são vendidos de 30 a 50.000 mil chocalhos por mês,
produzidos pelas famílias locais. Neste caso, os produtos fabricados na comunidade da Vila de
Santa Tereza apresentam boa qualidade e por isso se tornaram conhecidos em todo Nordeste
brasileiro. Ainda que se constitua uma utilidade secundária, algumas pessoas adquirem
chocalhos para fins decorativos, como acessórios, por exemplo, (fig.10):

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Figura 10: Acessórios com chocalhos (Fonte: Moniz, 2000)

Com o propósito de melhorar a situação econômica e proporcionar uma maior visibilidade dos
produtos da localidade, este artigo apresenta algumas alternativas que podem auxiliam a
produção local, especificamente na proposta de diversificação da produção. Para tanto, essa
intervenção tem por objetivo possibilitar uma inserção destas peças no mercado nacional do
segmento de artefatos decorativos, com peças elaboradas que preservam o estilo e a
identidade individual do artesanato já produzido, porém com alterações para agregar
características mais comerciais aos objetos.

4 A intervenção

A comunidade foi contactada pelos acadêmicos da UFPE, através de visitas, registros in loco e
entrevistas com os trabalhadores e moradores do local para então conhecer as suas atividades
e desenvolver um projeto de intervenção.
O método proposto para o levantamento de informações é o da pesquisa ação. Segundo
Marconi e Lakatos (1999), este se caracteriza, sob o ponto de vista da tipologia, como pesquisa
prática; e sob o aspecto metodológico, como pesquisa onde a ação está voltada para a
intervenção e transformação das questões relativas ao design de produtos e aos materiais.
Conforme Thiollent (2003) é o trabalho científico em que o levantamento de dados teóricos
deve se desenvolver em concomitância com as abordagens participativas de campo,
principalmente pela interlocução direta com pessoas desprivilegiadas economicamente e
inseridas nas organizações objeto de estudo.
Para esta pesquisa, o processo de intervenção de design se baseia nas categorias propostas
por Boufleur (2006), a saber:
 Categoria 1: Uso incomum sem mudança de função ou forma, porém com alteração do
uso. Neste caso altera-se somente a função secundária;

 Categoria 2: Simples mudança de função sem alterar forma;

 Categoria 3: Inclusão/exclusão de peças ou componentes, mantendo a mesma função,


com o intuito de proporcionar uma sobrevida a um artefato;

 Categoria 4: Mudança da forma para mudar a função para atender a uma necessidade
específica, aproveitando as características de um determinado artefato.

 Categoria 5: Inclusão/exclusão de partes, peças ou componentes para mudar a função.


Estes objetos podem causar estranhamento ao usuário, desafiando o senso comum
sobre os conceitos estabelecidos;

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 Categoria 6: Composição de um novo artefato a partir do aproveitamento de outros,
através de misturas, junções, combinações que não têm necessariamente uma relação
semântica com o novo artefato. Muito comum em situação de inventos.
Como esta intervenção está centralizada na metodologia de design, faz-se necessário
estabelecer também os procedimentos metodológicos do projeto de produto. De acordo com
Löbach (2001), o processo do design é tanto um processo criativo como um processo de
solução de problemas. Para esse autor, o processo do design pode ser dividido em quatro
etapas distintas. São elas:

 Análise do problema de design em relação a vários fatores, dentre os quais: as


configurações estético-funcionais, de fabricação, das relações sociais, ambientais, de
mercado, dentre outros;

 Alternativas de design: abrange os conceitos de design, as gerações de alternativas de


solução, os esboços de idéias e os modelos;

 Avaliação das alternativas de design: consiste na escolha da melhor solução e na


incorporação das características ao novo produto; e

 Solução de design: projeto mecânico, projeto estrutural, configuração dos detalhes,


desenvolvimento de modelos, desenhos técnicos e de representação, documentação
do projeto e relatórios.

Finalmente, esta pesquisa propõe um design participativo a partir do conceito de Design for
designning networks, apresentado por Manzini (2008). Neste caso, o papel do designer é criar
condições para estimular, desenvolver e regenerar a habilidade e a competência dos que vão
utilizar um “sistema habilitador”, no qual todos os participantes do processo de concepção,
desenvolvimento e uso desses sistemas são designers.

A partir dos dados da pesquisa, infere-se que os clientes atuais são, na maior parte,
pecuaristas. Portanto, em um quadro hipotético, com esta proposta de desenvolvimento de
novos artefatos, pode-se alcançar também um público secundário, tais como as esposas, filhos
e turistas. Ressalta-se também a possibilidade de uma produção voltada para o segmento do
design e decoração de interiores, um mercado extremamente promissor.

5 Os artefatos

Neste trabalho as alternativas desenvolvidas se referem à reutilização dos materiais usados na


produção do chocalho, com vistas à diversificação dos produtos visando abranger seu cliente
alvo. Para tanto, foram utilizadas as categorias de intervenção 1 e 2, apresentadas por Boufleur
(2006). A seguir, as alternativas propostas, na forma de luminárias e acessórios de decoração,
que se utilizam de chocalhos com algum defeito de fabricação, seja na estrutura ou na função
sonora. No entanto, estes artefatos podem ser confeccionados com parte da produção de
chocalhos intactos.

Figura 11: Alternativa 1 – luminárias modelo arandela, de mesa e lustre (Fonte: Dados da pesquisa)

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Figura 12: Alternativa 2 – Acessórios decorativos - esboço e protótipo do Apanhador de sonhos (Fonte: Dados da
pesquisa)

Todas as alternativas propostas são viáveis para a comunidade, e no sentido de ilustrar o


processo, este artigo apresenta, na tabela 3, os componentes e um possível valor de venda
para o artefato decorativo Apanhador de sonhos. Trata-se de um objeto que comumente é
colocado em áreas externas, ao sabor do vento, produzindo um tilintar que, para muitos,
produzem “bons fluidos”.

Tabela 3: Configuração dos componentes do Apanhador de sonhos (Fonte: Dados da pesquisa)

Componente Quantidade
Círculo de metal de 10 x 10 cm 1 peça
Círculo de metal vazado 5 cm 1 peça
Chocalhos 10 peças
Canos de metal variados 11 peças
Nylon para pesca 2 metros
Tinta 1 lata
Lixa para acabamento 1 folha
Massa rápida para acabamento ½ lata

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Para a etapa de venda é necessário calcular os custos unitários para os componentes do
Apanhador de sonhos, bem como estipular um valor necessário que também cubra as
despesas com outros insumos, ferramentas e mão-de obra.

Tabela 4: Custo dos componentes utilizados na confecção do Apanhador de sonhos (Fonte: Dados da pesquisa)

Componente Preço Quantidade


Metal R$ 1,80 1 Kg
Nylon R$ 2,50 1 peça
Chocalhos R$ 10,00 10 peças
Tinta R$ 2,00 1 lata
Lixa R$ 0,20 1 folha
Massa rápida R$ 2,00 ½ lata
Total R$ 18,50

Através deste custo de 18,50, para 1 peça, pode-se propor um valor de venda de R$ 35,00, o
que configuraria um aspecto econômico sustentável para a produção deste artefato. Com isto,
o resgate da cultura popular, através destas novas potencialidades abre novos caminhos para
outras intervenções de design e interação com práticas tradicionais próprias a essa cultura.

5 Considerações finais

O objetivo principal deste trabalho acadêmico foi resgatar e implementar, através da


concepção, desenvolvimento e produção de artefatos na Vila Santa Tereza, a criatividade, a
geração de trabalho e renda e a agregação de valores aos produtos desenvolvidos.
Nessa perspectiva a inserção do design em comunidades de baixa renda deve ser
desenvolvida não em confronto com a formação cultural de cada um, mas no âmbito de um
processo que respeite os valores vernaculares.
Portanto, esta intervenção visa alavancar a economia local, ao ampliar o público alvo
consumidor dos chocalhos para outras propostas de configuração estético-funcionais
diferenciadas a partir de um baixo custo e alto valor simbólico.
Na região, percebe-se que os artesãos ainda não têm noção da importância que tem para uma
comunidade crítica, criativa e bem estruturada. Nesse contexto, o design pode ser utilizado
como uma ferramenta de transformação da mentalidade industrial e consumidora,
possibilitando um ambiente adequado para o desenvolvimento sustentável em nível social,
ambiental e econômico.

6 Referências

Bonsiepe, G. (1983). A “tecnologia” da tecnologia. São Paulo: Edgard Blücher.


Boufleur, R. (2006). A Questão da Gambiarra: formas alternativas de desenvolver artefatos e
sua relação com o design, 2006 153 p, São Paulo, Dissertação (Programa de Pós-graduação
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de São Paulo
Cardoso, F. A. (2008). Possibilidades de legitimização do design vernacular. In: Congresso
Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Anais do 8º. São Paulo: AEND/Brasil.
8 a 11 de outubro de 2008.
Colombres, A. (1997). Sobre la Cultura y el Arte Popular. Buenos Aires: Ediciones Del Sol.

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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em
<http://www.ibge.gov.br/catalogos/indicadores> Acesso em 17 jun 2011.
Löbach, B. (2001). Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São
Paulo: Edgard Blucher.
Manzini, E. (2008). Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas,
organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers.
Manzini, E.; Vezzoli, C. (2005). O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo:
EDUSP.
Marconi, M. A.; Lakatos, E. M. (1999). Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas.
Margolin, V.; Margolin, S. (2004). Um “modelo Social” de Design: questões de prática e
pesquisa. In: Revista Design em foco, Salvador, BA, v.1, n. 001, p. 43-48, jul./dez. Disponível
em: < http://148.215.1.166:89/redalyc/pdf/661/66120202.pdf >. Acesso em: 20 jun. 2011.
Moniz, M. C. (2000). O Chocalho. In: Artesanato da Região Alentejo. Évora. Instituto do
Emprego e Formação Profissional.
Moraes, D. De. (2006). Análise do design brasileiro: entre mimese e mestiçagem. São Paulo:
Edgard Blücher.
Papanek, V. (1973). Diseñar para el mundo real: Ecologia humana y cambio social. Madrid, H.
Blume.
Pazmino, A. V. (2007). Uma reflexão sobre Design Social, Eco-Design e Design Sustentável.
In: I Simpósio Brasileiro de Design Sustentável. Anais... Curitiba.
Pazmino, A.V. (2007). Uma reflexão sobre design social, ecodesign e design sustentável.
Riul, M.; Martins, D.A.; Medeiros, C.H.M.F. (2006). O papel social do design nas regiões de
baixa renda: descobrindo soluções criativas para o dia-a-dia, valorizando a cultura regional.
João Pessoa: CEFET-PB.
Stamm, B. V. (2008). Managing, innovation, design and creativity. New York: John Wiley &
Sons.
Thiollent, M. (2003). Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez.
Valese, A. (2007). Design vernacular urbano: a produção de artefatos populares em São Paulo
como estratégia de comunicação e inserção social. São Paulo. Dissertação (Mestrado em
Comunicação e Semiótica), Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e
Semiótica, PUC-SP.

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Inserção dos fatores ambientais, sociais e econômicos em
metodologia para design de embalagens: uma análise no
contexto educacional (Inclusion of environmental, social
and economic factors in methodology for packaging
design: an analysis in educational context)

PEREIRA, Priscila Zavadil; Mestranda em Design; Universidade Federal do Rio Grande do


Sul

prizav@yahoo.com.br

SILVA, Régio Pierre; Doutor em Engenharia de Produção; Universidade Federal do Rio


Grande do Sul

regio@ufrgs.br

palavras chave: design de embalagem; metodologia; sustentabilidade.

A ecoeficiência das embalagens é cada vez mais buscada no desenvolvimento de projetos. Contudo,
ainda são poucos os métodos neste campo que incluem a sustentabilidade em seus processos e orientam
o desenvolvimento de soluções inovadoras. Assim, o objetivo do artigo é apresentar a sistematização de
um método para design de embalagens para produtos locais com foco na sustentabilidade, por meio da
contemplação dos fatores ambientais, sociais e econômicos e da inserção de diretrizes projetuais. Os
produtos locais estão relacionados com o território e a comunidade que os gerou, envolvendo recursos
naturais, modos tradicionais de produção, hábitos e costumes. Uma das grandes dificuldades dos
produtos locais é a comunicação de suas qualidades para pessoas que não conhecem a sua origem,
sendo necessário, portanto, comunicá-las através de marcas e embalagens. Nesse sentido, as
embalagens desempenham um papel fundamental na tradução de valores comuns para a comunidade
produtora e para os consumidores. O método e as diretrizes foram aplicados no ensino de Design,
visando verificar a eficiência e eficácia da metodologia de fases e realimentação na condução de projetos
orientados pela sustentabilidade.

Keywords: packaging design; methodology; sustainability.

Eco-efficiency of packaging is increasingly sought to develop projects. However, there are few methods in
this field that include sustainability in their processes and guide the development of innovative solutions.
Thus, the aim of this paper is to present a systematic method to packaging design for local products
focused on sustainability, through of the environmental, social and economic factors integration and
inclusion of design guidelines. Local products are related to the territory and the community that spawned
them, involving natural resources, traditional modes of production, habits and customs. One of the great
difficulties of local products is the communication of its qualities for people who do not know its origin, and
therefore need to communicate them through branding and packaging. Accordingly, the packaging has a
key role in translating shared values into the community producer and the consumer. The method and the
guidelines were applied in the teaching of Design, to verify the efficiency and effectiveness of the
methodology of stages and feedback in the conduct of projects guided by sustainability.

1 Introdução

O impacto ambiental decorrente do consumo e descarte excessivo de produtos trouxe grandes


desafios ao design, exigindo novas estratégias, metodologias e ferramentas projetuais. O papel
das embalagens neste contexto tornou-se ainda mais relevante, devido ao grande volume de
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materiais produzidos e descartados rapidamente, principalmente tratando-se de embalagens de
consumo. Contudo, além dos aspectos ambientais, as questões econômicas e sociais são
também fatores determinantes com relação ao projeto de embalagens, considerando suas
funções mercadológicas e comunicacionais. Desse modo, o design de embalagem tornou-se
uma atividade complexa, que necessita equacionar as funções básicas de proteção,
acondicionamento, transporte, comunicação do produto, entre outras, com os fatores
relacionados à sustentabilidade.
Nesse sentido, destaca-se a necessidade de pesquisas sobre estratégias pedagógicas no
ensino projetual que promovam o conhecimento e a reflexão crítica de futuros profissionais, sob
a perspectiva da sustentabilidade, atendendo a critérios de relevância social, prudência
ecológica e viabilidade econômica em sua prática de projeto e no desenvolvimento de novas
soluções (Sachs, 2009).
O presente artigo é resultado de parte de uma pesquisa de mestrado a respeito de
metodologia para design de embalagem orientada pela sustentabilidade econômica, social e
ambiental, com foco em produtos locais. A valorização de economias e produções locais é um
aspecto relativo ao conceito de sustentabilidade. O termo “produto local” é uma aproximação
do conceito francês de terroir, que abrange produto, território e a sociedade que o produziu,
significando, portanto, “um terrirório caracterizado pela interação com o homem ao longo dos
anos, cujos recursos e produtos são fortemente determinados pelas condições edafo-climáticas
e culturais” (Krucken, 2009, p.32).
Uma das grandes dificuldades dos produtos locais é a comunicação de suas qualidades
para pessoas que não conhecem a sua origem, sendo necessário, portanto, comunicá-las
através de marcas e embalagens. Nesse sentido, as embalagens desempenham um papel
fundamental na tradução de valores comuns para a comunidade produtora e para os
consumidores. A comunicação da “qualidade e o conteúdo socioambiental dos produtos e
serviços é outro ponto extremamente importante para promover soluções sustentáveis”, pois
auxilia os consumidores a fazerem as suas escolhas. Assim, as embalagens também devem
“apresentar informações que permitam avaliar a sustentabilidade de um produto [...] para
estimular o desenvolvimento de relações entre produtores e consumidores e a valorização do
território” (Krucken, 2009, p.48).
Porém, embora as embalagens desempenhem um papel essencial na distribuição,
comunicação e valorização de produtos locais, o design de embalagem e suas metodologias
projetuais apresentam pouca atenção neste segmento, tendo seu enfoque, em sua maioria,
voltado para as produções industriais em grande escala. Assim, a partir de uma pesquisa sobre
métodos projetuais de design e específicos de design de embalagem, sistematizou-se um
método de fases e realimentação, inserindo os fatores ambientais, sociais e econômicos por
meio de diretrizes e requisitos, a fim de verificar a eficiência e eficácia deste tipo de
metodologia na condução de projetos orientados pela sustentabilidade no ensino de design.

2 Métodos para design de embalagem

O pensamento projetual apoiado em diretrizes sustentáveis vem sendo abordado em diversos


campos do design, como o de produtos. Papanek (1995), nos anos sessenta, já trazia o mote
da ecologia e ética para o design, levantando também questões sociais. Outros teóricos
relevantes neste assunto, como Manzini e Vezzoli (2008), indicam o desenvolvimento de
produtos a partir de requisitos ecológicos, tornando-os ambientalmente sustentáveis. Manzini
(2009) também aponta questões sociais relacionadas ao design e à sustentabilidade,
relacionando aspectos como inovação social e comunidades colaborativas. No âmbito da
relação local e global, no desenvolvimento regional e na valorização de culturas, identidades e
produtos locais, Krucken (2009) e Flores (2006) são algumas referências que discutem tais
assuntos.
Entretanto, ainda são poucos os métodos que relacionam a sustentabilidade ambiental,
social e econômica diretamente ao design de embalagem, sobretudo quando se tratam de
produtos locais. A partir de uma pesquisa a cerca de treze métodos de design de embalagem,
incluindo as principais referências utilizadas no ensino desta área no Brasil, a abordagem da

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sustentabilidade foi contemplada em cinco metodologias, com ênfase para as relações
ecológicas da embalagem: Brod Jr. (2004), Bucci e Forcellini (2007), Sampaio (2008), Boylston
(2008) e Merino (2009). Os demais métodos pesquisados, Bergmiller et al. (1976), Seragini
(1978), Giovanneti (1995), Moura e Banzato (1997), Mestriner (2001), Santos Neto (2001),
Gurgel (2007) e Dupuis e Silva (2008), ainda que possam abordar o tema da sustentabilidade,
não apresentam orientações, diretrizes ou ferramentas específicas para tal em suas estruturas
metodológicas.
Assim, a partir do estudo dos métodos citados, buscou-se verificar as etapas e fases
contempladas em cada uma das propostas para, então, determinar uma estrutura geral que
permita visualizar o conteúdo abordado pelos autores dos métodos especialistas de
embalagem. O objetivo inicial foi permitir um comparativo entre as estruturas metodológicas,
verificando suas similaridades e concluiu-se a análise com o estabelecimento de dezesseis
procedimentos comuns aos métodos pesquisados: (i) necessidade inicial; (ii) planejamento
interno; (iii) problematização; (iv) coleta de dados; (v) análises; (vi) formulação da estratégia;
(vii) conceito; (viii) geração de alternativas; (ix) desenvolvimento estrutural; (x) desenvolvimento
gráfico-visual; (xi) modelos; (xii) apresentação da solução; (xiii) protótipos; (xiv) especificações
para produção; (xv) implementação; e (xvi) acompanhamento. Essa estrutura foi utilizada como
referência para a sistematização do método a ser aplicado para o desenvolvimento de
embalagens para produtos locais.

3 Sistematização de método para design de embalagens para produtos locais:


inserção de fatores ambientais, sociais e econômicos

Seguindo como referenciais os métodos de design de embalagem analisados, realizou-se a


sistematização de um método para o design de embalagens para produtos locais, com o
objetivo de organizar um método linear com características de realimentação, seguindo as
principais abordagens de design de embalagem. O objetivo consiste em verificar e eficiência e
a eficácia destes modelos na condução de projetos orientados pela sustentabilidade, por meio
da inserção dos fatores ambientais, sociais e econômicos no projeto. Dessa forma, a
macroestrutura do método foi organizada a partir dos dezesseis procedimentos apresentados
anteriormente, estabelecidos em 10 fases projetuais.
As fases estão organizadas de acordo com 3 etapas: a primeira etapa é anterior ao início do
projeto, correspondendo à necessidade inicial, com a entrada das primeiras informações; a
segunda etapa corresponde ao desenvolvimento do projeto propriamente dito; e a terceira
etapa ocorre a partir da execução do projeto, na qual a interferência do designer se dá por
meio da prevenção de falhas, no momento projetual, no acompanhamento e na verificação do
atendimento aos requisitos estabelecidos.
A primeira fase – Briefing – corresponde ao contato inicial da equipe de design com o
responsável pela demanda e o recebimento das informações para o início do projeto. O briefing
inicial pode surgir por uma demanda do cliente ou por uma identificação de oportunidade para
o desenho ou redesenho de uma embalagem. Nessa primeira fase, também deve ser realizado
o planejamento interno da equipe, com a organização do cronograma e das tarefas a serem
realizadas. Com base na entrada das primeiras informações, devem ser identificados os fatores
envolvidos no projeto e os requisitos iniciais a serem considerados, a partir dos objetivos
projetuais. Assim, já nessa fase, foram instituídos os primeiros requisitos e diretrizes
ambientais, sociais e econômicas que, posteriormente, serão complementados e
hierarquizados a partir das pesquisas da equipe de projeto. Os requisitos indicados foram
estabelecidos com base em pesquisa bibliográfica, segundo os autores Boylston (2009),
Jedlicka (2009) e Krucken (2008), e estão apresentados no quadro 01.
A segunda fase do método corresponde à coleta de dados por parte do designer e da
equipe de projeto, complementando as informações adquiridas na fase inicial. A coleta de
dados compreende: (i) pesquisa de informações sobre o fabricante, o produto e a embalagem;
(ii) pesquisa sobre o mercado e o consumidor real e/ou potencial; (iii) verificação da legislação
para a categoria do produto e embalagem; (iv) pesquisa de produtos/casos similares; e (v)
estudo de campo.
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Para a pesquisa de informações sobre o fabricante, o produto e a embalagem, sugere-se a
busca de informações sobre a história, a origem do produto, seu ciclo de vida, modos de
produção e embalo, além de dados e requisitos técnicos a respeito do produto e da embalagem
atual, se houver. Para tanto, podem ser realizadas entrevistas semi-estruturadas com os
produtores, questionário e visitas orientadas ao local de produção.

Quadro1: requisitos iniciais de projeto

1. Ambiental

1.1 Favorecer a reciclagem e a Utilizar materiais provenientes de recursos


compostagem renováveis, biodegradáveis e compostáveis sempre
que possível.
Utilizar materiais com conteúdo reciclado, sem
comprometer as funções da embalagem, ou
recicláveis.
Evitar o uso de aditivos, cola, tintas e acabamentos
especiais que inviabilizem ou dificultem a reciclagem
dos materiais.
Evitar o uso de materiais distintos que possam
dificultar a separação para a reciclagem
Identificar os materiais utilizados, atendendo a norma
ISO de Rotulagem Ambiental

1.2 Reduzir a utilização de materiais Reduzir dimensões da embalagem


Remover partes e componentes desnecessários nas
embalagens
Evitar o uso de embalagens secundárias, acessórias
ou de conjunto desnecessárias

1.3 Promover a reutilização Desenvolver embalagens retornáveis ou reutilizáveis,


pela indústria ou pelo consumidor, incluindo
embalagens de distribuição e transporte, promovendo
uma nova utilidade ou o retorno ao ciclo produtivo da
embalagem ou de suas partes, sempre que possível

2. Social

2.1 Comunicar o produto e o território Identificar e referenciar os atributos do produto.


Referenciar a origem do produto na embalagem.

2.2 Promover o consumo consciente Informar o consumidor a respeito da sustentabilidade


e do ciclo de vida do produto.

2.3 Reconhecer e comunicar a identidade Valorizar a identidade local na linguagem gráfica das
local peças

3. Econômico

3.1 Buscar a viabilidade econômica na Utilizar materiais e processos acessíveis em termos


produção das embalagens de custo produtivo
Adotar recursos facilmente disponíveis
3.2 Visar a competitividade dos produtos,
criando valor para os mesmos por meio
das embalagens

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Na pesquisa sobre o mercado e os consumidores, dado que, em geral, pequenos
produtores não dispõem de pesquisas realizadas, indica-se a busca de informações em fontes
secundárias, a respeito de dados de mercado – vendas, marca líder, tendências – e do perfil do
consumidor para a categoria de produtos. Após a identificação do mercado e público-alvo,
também podem ser realizados questionários ou grupos de foco para verificar os fatores
relevantes do produto e embalagem para os consumidores, os benefícios que percebem e
desejam, procurando compreender por que compram ou comprariam tais produtos.
Para a coleta de dados sobre legislação, recomenda-se buscar informações junto aos
órgãos fiscalizadores e normas a respeito da categoria de produtos e suas indicações e
limitações sobre contato com materiais, informações obrigatórias a constar na rotulagem,
dados do conteúdo, tamanho, ordem e demais especificações, simbologia, requisitos para
produtos perigosos ou ainda sobre o público direcionado, no caso, por exemplo, de produtos
para crianças.
Ainda nessa fase, recomenda-se a pesquisa de casos similares de produtos locais,
verificando as abordagens utilizadas, o modo de venda de determinado produto, os tipos de
embalagens, entre outros. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica a fim de encontrar
referências para o projeto.
Por fim, indica-se o estudo de campo, verificando atuais e/ou possíveis pontos-de-venda
(PDV) para o produto e os principais concorrentes no mercado local. O estudo de campo é
fundamental para conhecer o ambiente onde o produto se insere e o contexto no qual a
embalagem estará colocada. Para obter uma amostragem segura das principais variações que
costumam ocorrer, um estudo de campo deve ser realizado em ao menos três locais diferentes,
em bairros com poderes aquisitivos diferentes (Mestriner, 2001). Recomenda-se também que
as estruturas de varejo sejam diversificadas, por exemplo, hipermercado, supermercado,
armazém, loja especializada, feiras, entre outros.
Na fase de coleta de dados, os fatores ambientais e econômicos são contemplados por
meio da pesquisa de informações a respeito do ciclo de vida do produto, de materiais e
processos com baixo impacto ambiental e viáveis economicamente, realizando uma análise
inicial de custos. O fator social implica a verificação de informações ligadas à identidade local,
buscando reconhecer as características do produto e do território.
A terceira fase do método diz respeito às análises, à interpretação e à síntese dos dados
coletados anteriormente. Complementando as informações adquiridas na etapa anterior, indica-
se nesse momento a análise de uso, estrutural e gráfica, adaptando-as a partir das análises
propostas por Bonsiepe et al (1984) e posteriormente adotadas nas metodologias de design de
embalagem de Santos Neto (2001) e Brod Jr. (2004), visando compreender as características
da (s) embalagem (s) atual, no caso de redesenhos, e de embalagens de produtos similares no
mercado.
A saída desta fase consiste na análise e interpretação dos dados obtidos por meio das
fases anteriores e das análises de uso, estrutural e gráfica, sintetizando as principais
informações em uma lista de requisitos, conforme proposto por Bonsiepe et al. (1984) e
adotado no método para design de embalagem de Brod Jr. (2004), com base em parâmetros
ambientais, econômicos e sociais. A lista de requisitos serve para orientar o processo projetual
em relação às metas a serem atingidas.
A quarta fase do método sistematizado diz respeito à formulação da estratégia e
conceituação para o desenvolvimento do projeto, antecedendo a geração de alternativas.
Segundo Mestriner (2005), a estratégia de design permite maior concentração sobre o que
deve ser contemplado no desenho e faz com que, uma vez concluído, esse desenho possa ser
avaliado e questionado tendo como referência os objetivos estratégicos estabelecidos. A
estratégia contempla a definição do problema a ser solucionado e os objetivos a serem
alcançados, as conclusões da coleta de dados e, por fim, transforma as oportunidades
identificadas em premissas para o desenho da embalagem.
Nesta fase, indica-se também a definição de atributos e conceitos – palavras-chave;
adjetivos para a embalagem, que podem ser transformados em substantivos, como por
exemplo, sustentável ou sustentabilidade – a partir dos requisitos de projeto e da estratégia de
design, seguindo como referência a técnica de Arrolamento de Atributos (Crawford, 1954),
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estabelecendo características desejáveis à embalagem, em termos formais, perceptivos,
funcionais e informacionais (Brod Jr. et al, 2010). Com base nesses conceitos, devem ser
formulados painéis semânticos, buscando imagens relacionadas ao estilo de vida do usuário, à
expressão do produto e outras referências visuais que representem os atributos estabelecidos
(Baxter, 2000). O objetivo dessa fase é orientar o processo de geração de alternativas e
sustentar a solução a ser proposta.
A fase seguinte corresponde à geração de alternativas de soluções para a embalagem, ou
para o conjunto de embalagens, buscando tanto soluções estruturais e funcionais – como
formatos, tipos de abertura e fechamento, materiais, etc. – quanto gráficas e informacionais –
nome, logotipo do produto, tipografia, cores, imagens, etc. Conforme Bergmiller et al (1976), o
desenvolvimento das primeiras soluções e a formulação de hipóteses, geralmente, é realizado
por meio do uso de croquis como forma de comunicação. Assim, essa etapa consiste em gerar
esboços e representações gráficas para soluções hipotéticas para a embalagem, a partir dos
requisitos estabelecidos, da estratégia e dos conceitos de design.
Para a seleção da melhor alternativa, recomenda-se uma matriz de avaliação (Baxter, 2000;
Merino, 2009), retomando os requisitos do projeto com os pesos estabelecidos, dispondo-os
em linhas, e as alternativas geradas em colunas, visando julgar as qualidades das soluções
hipotéticas de acordo com os critérios estabelecidos para a embalagem. Os requisitos
relacionados à sustentabilidade ambiental, social e econômica devem ser os principais
balizadores para a seleção.
A sexta fase do método compreende o desenvolvimento estrutural e gráfico da solução
selecionada. Assim, corresponde à modelagem virtual da embalagem, à execução de modelos
físicos de teste, definição das partes e componentes da embalagem, ajustes dimensionais e
estruturais necessários. No desenvolvimento gráfico, parte-se para a diagramação final do
projeto visual, por meio da construção de malhas (grids), definição das famílias tipográficas,
padrão cromático, aplicação das informações obrigatórias, simbologias e versões dos produtos
– extensão de linha. Deve-se observar a valorização da cultura e identidade local, por meio da
linguagem visual da embalagem, e a promoção do consumo consciente, através das
informações. Também devem ser executados os orçamentos finais da embalagem, visando à
viabilidade econômica de sua produção. O fechamento dessa fase consiste na apresentação
do projeto para aprovação final.
A última fase da etapa projetual corresponde ao detalhamento e finalização do projeto.
Consiste na finalização da solução aprovada mediante o fechamento dos arquivos para
produção e as especificações técnicas necessárias para os processos e materiais finais –
planos, vistas, perspectivas, plantas/desenhos técnicos. (Mestriner, 2001; Merino, 2009).
Compreende também a construção de protótipos e a aprovação de provas de impressão, para
a avaliação da reprodução correta de cores, bem como a simulação virtual da embalagem no
ponto-de-venda, desenvolvendo os planogramas para a exposição do produto.
A terceira etapa do método – acompanhamento e verificação – compreende fases de
interferência indireta do designer, baseadas no ciclo de vida do produto e avaliação dos
resultados do projeto. Na fase de produção, recomenda-se o acompanhamento da fabricação
do primeiro lote da embalagem e a determinação dos padrões de tolerância máxima e mínima
para os próximos lotes. A equipe de design deverá avaliar a adequação dos padrões
estabelecidos com o que foi projetado (Mestriner, 2001; Merino, 2009). Após a implementação
da embalagem e sua colocação no mercado, deve-se realizar uma avaliação da eficácia da
solução desenvolvida quanto ao alcance dos objetivos estabelecidos, para eventuais correções
a serem incorporadas no projeto. Nesta etapa, recomenda-se a realização da verificação ao
atendimento dos requisitos relacionados aos fatores ambientais, sociais e econômicos antes da
produção do lote piloto e, novamente, após a colocação da embalagem no mercado, já em uso
pelos consumidores.

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As fases do método estão representadas na Figura 1.

Figura1: comparativo dos dezesseis procedimentos identificados anteriormente com as etapas e fases do método
sistematizado

4 Aplicação do método

Para a aplicação do método sistematizado foi selecionado como unidade de aplicação o Grupo
Mulheres da Terra, correspondente a um projeto de extensão vinculado ao Departamento de
Engenharia de Produção e o Departamento de Design e Expressão Gráfica da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. O caso Mulheres da Terra trata-se de um grupo de mulheres
pertencentes ao assentamento do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) Filhos de Sepé, localizado no município de Viamão, Rio Grande do Sul. O
Assentamento Filhos de Sepé, formado em 1998, é o maior do Estado, localizado na Área de
Proteção Ambiental do Banhado Grande. Instala cerca de 376 famílias, distribuídas em quatro
setores (A, B, C e D), que variam no tamanho e número de habitantes.

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No contexto social, a mulher possui baixa participação no desenvolvimento econômico da
comunidade, já que os homens são os responsáveis pelo lote. Contudo, esse quadro vem
sendo alterado devido à organização do grupo Mulheres da Terra, que produz, dentre outros
produtos, hortaliças orgânicas, no setor A, e produtos alimentícios de uma pequena
panificadora, no setor C, para o consumo e comercialização internos e para a venda externa
dos produtos.
Com isso, buscou-se o desenvolvimento de embalagens para as mudas, hortaliças e
produtos da panificadora, por meio da aplicação do método sistematizado na disciplina Design
de Embalagem I, ofertada nos cursos de Design Visual e Design de Produto da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, integrando, desse modo, pesquisa, ensino e extensão. A
disciplina possui como foco o projeto estrutural e gráfico de embalagens em papel, papel
cartão, papelão ondulado e outros materiais provenientes da celulose, como, por exemplo, a
polpa moldada. Contudo, dentro do conjunto de embalagens desenvolvido é possível que haja
a necessidade de acessórios ou embalagens primárias em outros materiais, à medida que, em
muitos casos, as embalagens de papel são secundárias ou de distribuição e transporte.
O método foi aplicado durante o semestre 2010/2, de agosto a dezembro de 2010. O perfil
desta turma era formado por um total de 12 alunos, dos quais 7 (sete) pertenciam ao curso de
Design Visual e 5 (cinco) ao curso de Design de Produto. Para a prática projetual, os alunos
foram organizados em grupos de 03 componentes, totalizando 04 equipes: equipe A – 02
integrantes de Design Visual e 01 integrante de Design de produto; equipe B – 03 integrantes
de Design de Produto; equipe C – 03 integrantes de Design Visual; e equipe D – 02 integrantes
de Design Visual e 01 integrante de Design de Produto.
A organização das equipes ocorreu simultaneamente ao lançamento dos projetos, por meio
da aula a respeito do método projetual e da apresentação dos briefings, que foram formulados
de acordo com os dois casos a serem trabalhados: (i) embalagens para mudas, para
distribuição de hortaliças ao varejo e para venda de kits de hortaliças orgânicas diretamente ao
consumidor final, produzidas pelo setor A, e (ii) embalagens de consumo e de distribuição para
a linha de biscoitos, produzidos pelo setor C. Desse modo, houve duas equipes para cada
projeto: equipes A e B para o primeiro caso (mudas e hortaliças) e equipes C e D para o
segundo caso (panificadora).
Assim, iniciando o desenvolvimento dos projetos, foi apresentado o briefing inicial aos
alunos, que consistiu em informações sobre o Projeto de Extensão, sobre o Assentamento
Filhos de Sepé e o Grupo Mulheres da Terra e os dois casos específicos para as embalagens.
As equipes seguiram as fases e os procedimentos do método sistematizado ao longo de 14
semanas, sendo que a última etapa – acompanhamento e verificação – foi adaptada para a
aplicação acadêmica, devendo ser contemplada por meio da verificação do projeto quanto aos
objetivos e requisitos inicialmente propostos.

5 Discussão e Resultados

A partir da observação participante e da finalização dos projetos, realizou-se uma análise


qualitativa do método aplicado. Para tanto, tornou-se necessário estabelecer alguns
parâmetros para a avaliação do mesmo quanto a sua eficiência e eficácia na condução de
projetos de embalagens para pequenas comunidades, orientados pela sustentabilidade.
Assim, para avaliar a eficiência do método na condução dos projetos, avaliou-se o
cumprimento das fases e procedimentos por parte das equipes, por meio da formulação de
uma escala qualitativa, representada pelos indicadores: 1 – Insatisfatório (realização parcial do
procedimento, ou não realização do mesmo); 2 – Satisfatório (realização adequada do
procedimento, mas com possibilidade de melhoria); e 3 – Muito Satisfatório (realização total do
procedimento e acréscimo de informações ou ações por parte da equipe, que não haviam sido
indicadas no método). Assim, foi avaliado o cumprimento de 25 procedimentos, organizados
nas etapas e fases metodológicas para cada equipe de projeto. No total, 32 procedimentos
obtiveram avaliação 1 (insatisfatório), 45 procedimentos apresentaram o índice 2 (satisfatório),
representando a maioria, e 23 procedimentos foram avaliados como 3 (muito satisfatórios).

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Desse modo, percebe-se que a maioria dos procedimentos indicados no método obteve um
desempenho satisfatório em relação à sua realização pelas equipes projetuais. Os
procedimentos mais críticos, que apresentaram o menor índice pelas equipes foram: (i) a
obtenção de informações sobre a comunidade, na fase 2; (ii) a análise de uso e,
principalmente, a análise dos dados coletados e definição dos requisitos de projeto, na fase 3;
(iii) a formulação textual da estratégia, na fase 4; (iv) a geração de alternativas diversificadas e,
essencialmente, o processo de seleção das alternativas geradas, na fase 5; e (vi) a verificação
final do projeto, com relação à ultima etapa do método.
Essa avaliação permitiu obter alguns parâmetros a respeito da eficiência do método
sistematizado na condução dos projetos por parte das equipes. Contudo, para avaliar a eficácia
do método, ou seja, para obter uma avaliação com ênfase nos resultados, e não apenas na
forma de condução das atividades, foram estabelecidos dois critérios de avaliação: (1) quanto
ao atendimento dos requisitos iniciais de projeto; e (2) por meio da classificação das soluções
quanto aos níveis de intervenção propostos por Manzini e Vezzoli (2008) – (i) redesign
ambiental do existente; (ii) projeto de novos produtos ou serviços; (iii) projeto de novos
produtos-serviços sustentáveis; e (iv) projeto de novos cenários, ou o design para equidade e
coesão social.
Em uma análise geral, percebeu-se que os requisitos ambientais foram atendidos com
excelência, na maioria dos casos, principalmente quanto ao favorecimento da reciclagem e
compostagem e à minimização do uso de materiais. Os requisitos sociais, apesar de terem sido
contemplados, foram atendidos de modo satisfatório, apresentando algumas limitações na
promoção do consumo consciente, justamente por ser um requisito cuja intervenção do
designer se dá por meio de uma proposição, pois, na verdade, depende da relação do produto
com o consumidor. Por fim, a viabilidade econômica foi um requisito também atendido com
excelência, ou atendido satisfatoriamente, quando se privilegiou a durabilidade da embalagem.
Assim, diante dos requisitos privilegiados em cada projeto, nas soluções propostas pela
equipe A houve ênfase na redução de embalagens, utilizando a mesma estrutura para
diferentes finalidades, e na facilitação do descarte e compostagem. O projeto da equipe B
enfatizou a reutilização das embalagens propostas, e, para tanto, a resistência e durabilidade
foram fatores determinantes para a escolha do material para a embalagem das mudas
orgânicas. O projeto da equipe C valorizou a produção artesanal, propondo soluções que
pudessem ser produzidas pela própria comunidade. O uso postergado pelo consumidor e a
valorização dos aspectos sociais e informativos da embalagem foram enfatizados pelo projeto
da equipe D.
Com relação aos níveis de intervenção, avaliaram-se as soluções propostas de acordo com
as abordagens de Manzini e Vezzoli (2008):
1. Redesign ambiental do existente: melhorias no uso de materiais e energia,
selecionando recursos de baixo impacto ambiental a partir do redesenho de
embalagens existentes, facilitando a reciclagem, a compostagem e o uso de recursos
renováveis.
2. Projeto de novas embalagens que substituam as atuais: projeto considerando o
impacto ambiental no ciclo de vida e a aceitação cultural das novas propostas.
3. Projeto de novos produtos-serviços: mudança do foco das propostas baseadas em
produtos físicos (novas embalagens) para a comercialização de sistemas de produtos
e serviços que, em conjunto, atendam a necessidades, ou à satisfação, dos clientes.
Busca a desmaterialização das embalagens, por exemplo, por meio de serviços de uso
compartilhado, de serviços de recarga e reutilização, etc. A empresa é responsável
pelo fim de vida da embalagem, retirando do cliente a responsabilidade pelo destino
dos resíduos. Além disso, o cliente pode pagar apenas pelo uso do serviço, sem obter
a posse do produto/embalagem.
4. Projeto de novos cenários para a sustentabilidade: desenvolvimento de atividades que
promovam novos critérios de qualidade, sendo sustentáveis e aceitáveis socialmente.
Com base nesses parâmetros, observou-se que de um total de 10 soluções apresentadas
pelas equipes de projeto, para as diiferentes necessidades dos casos das hortaliças e da

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panificadora, 04 foram classificadas como redesenho ambiental e 04 como novas embalagens
(níveis de intervenção 1 e 2), representando a maioria. As outras 02 soluções foram
classificadas como produto-serviço, por contemplarem as características acima especificadas.
Cabe considerar que durante a disciplina não houve um direcionamento exclusivo a uma ou
outra possibilidade, oferecendo liberdade aos alunos na proposição de suas soluções, tendo
como orientação o cumprimento dos requisitos estabelecidos no início do projeto, a fim de
verificar, justamente, o tipo de soluções que o método analisado conduziria com mais eficácia.

6 Considerações Finais

O método apresentado foi sistematizado seguindo as principais abordagens metodológicas de


design de embalagem, a fim de verificar a eficiência e a eficácia desses modelos lineares com
características de realimentação na condução de projetos orientados pela sustentabilidade, por
meio da inserção dos fatores ambientais, sociais e econômicos através de diretrizes e
procedimentos. Assim, trata-se de uma adequação dos métodos existentes para sua
verificação, que, então poderá indicar melhorias para uma nova estrutura metodológica.
Desse modo, a partir dos critérios estabelecidos para a análise do método aplicado, por
meio da observação participante no desenvolvimento dos projetos e da verificação das
soluções propostas, foi possível chegar a algumas conclusões sobre as principais limitações
encontradas.
Quanto ao cumprimento dos procedimentos indicados pelas equipes de projeto, verificou-se
que uma das principais dificuldades refere-se à inserção dos projetistas na comunidade, visto
que, normalmente, os produtos locais originam-se de lugares com difícil acesso. Além disso,
esses produtos, em geral, ainda não possuem um sistema logístico bem organizado, o que
dificulta encontrá-los, ou mesmo encontrar similares, em pontos-de-venda tradicionais, como
supermercados e redes de varejo. Esses fatores exigem mais disponibilidade da equipe de
projeto e um tempo previsto maior no cronograma geral para as fases iniciais de coleta de
dados e análises.
Com relação às diretrizes e aos requisitos iniciais de projeto, os procedimentos indicados
nas fases do método conduziram o desenvolvimento de soluções que atendessem a esses
critérios, demonstrando eficiência neste aspecto. A principal dificuldade encontrada foi no
estabelecimento de novos requisitos, a partir das pesquisas, coleta de dados e análises,
sobretudo àqueles que se referem aos fatores sociais, por apresentarem-se pouco objetivos.
Como exatamente é possível valorizar a identidade local? Qual é a identidade de uma
comunidade, que, apesar de dar origem a artigos que se caracterizam como produtos locais,
possui uma cultura híbrida, considerando o contexto da globalização? Essas são questões
bastante complexas, que para serem solucionadas necessitam de um processo de atuação do
design de modo colaborativo.
Por fim, a partir da análise quanto aos níveis de intervenção do design propostos por
Manzini e Vezzoli (2008), verificou-se que o método é mais eficaz na condução de redesenhos,
promovendo melhorias ambientais, e de novas embalagens que substituam as atuais,
ecoeficientes e aceitáveis culturalmente. Embora relevantes, essas abordagens são
consideradas reparativas, sendo que soluções que se enquadrem como novos produtos-
serviços sustentáveis, ou ainda novos cenários para a sustentabilidade, são mais condizentes
com a perspectiva da sustentabilidade, promovendo, de fato, inovações radicais nos modos de
produção e consumo.
Desse modo, constatou-se que para orientar a condução de projetos dessa natureza é
necessária uma nova abordagem metodológica, sistêmica, que considere essencialmente a
relação entre os atores envolvidos em cada caso específico. Os métodos com foco em
produtos conduzem a melhorias ambientais, mas que não implicam em mudanças de
comportamento nos padrões de consumo. A vantagem dessas metodologias é a facilidade de
implementação, com relação ao design de sistemas sustentáveis. Já os métodos com
abordagem sistêmica exigem uma articulação entre todos os atores envolvidos no processo
para reduzir os impactos ambientais e promover melhorias sociais. Embora existam

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metodologias sistêmicas (para produtos-serviço), essencialmente de origem européia, poucas
são as pesquisas e aplicações dessa abordagem no campo do design de embalagem.
Assim, em um método sistêmico para o design de embalagens, é essencial que se incluam
procedimentos e ferramentas que promovam um processo colaborativo, ou de co-design,
principalmente tratando-se de produtos locais, com o objetivo de fortalecer a identidade local,
prever a relação entre os atores e orientar a serviços, ao uso compartilhado e outras
estratégias intrinsecamente sustentáveis.
É importante relatar ainda que a qualidade dos resultados de um projeto não depende
apenas da adoção de um método, pois é consequência também de fatores como o
conhecimento prévio dos projetistas, o tempo e a dedicação envolvidos, entre outros. O método
é um caminho que pode conduzir com mais eficiência a obtenção de um resultado e orientar o
desenvolvimento de um projeto por meio de fases, técnicas, ferramentas e diretrizes. Dessa
forma, a pesquisa acerca de metodologias sistêmicas para o design de embalagens pode
contribuir para o desenvolvimento de soluções que sejam condizentes com o conceito da
sustentabilidade ambiental, econômica e social.

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Sustentabilidade no design de móveis estofados
personalizados: uma síntese da experiência moveleira de
pequeno porte em Alagoas, Brasil (Sustainability in
upholstered furniture design: a synthesis of experience of
furniture production of the State of Alagoas, Brazil)

Áurea Rapôso 27

Asher Kiperstok 28

Sandro Fábio César 29

Palavras chave: design para sustentabilidade; produção moveleira, estofados

Neste artigo, discutimos algumas interrelações entre sustentabilidade ambiental e design do ciclo de vida
para o segmento produtivo moveleiro de pequeno porte; mais especificamente, para a produção de
móveis estofados personalizados. A discussão encontra-se guiada pelas principais diretrizes da Ecologia
Industrial quanto à ecoeficiência do produto-serviço, aplicáveis ao Sistema de Produto-Serviço para Móvel
Estofado. Trata-se de um estudo reflexivo de abordagem qualitativa e sistêmica, cuja contextualização e
exemplificação prática utilizam o segmento produtivo de estofados do Arranjo Produtivo Local de Móveis
do Agreste do Estado de Alagoas. Como procedimentos metodológicos foram utilizados observação direta
no local, entrevistas e levantamento cadastral em documentos impressos e eletrônicos. O propósito desse
estudo é apresentar uma síntese da experiência alagoana na produção de estofados personalizados de
pequeno porte quanto à prática da sustentabilidade e do design do ciclo de vida. Como resultados,
esperamos contribuir para o debate sobre os desafios e as perspectivas futuras para a prática da
sustentabilidade, bem como para a ampliação do escopo acadêmico sobre o tema.

Keywords: design for sustainability, production furniture, upholstered

This article discusses some relations between environmental sustainability and life cycle design to the
productive segment of small furniture enterprises and more specifically for the production of custom
upholstered furniture. The discussion is guided by the main guidelines of Industrial Ecology for eco-
efficiency of product-service applicable to the Product-Service System for Upholstered Furniture. It is a
reflective study of qualitative and systemic approach, which uses the productive segment of the
upholstered furniture in the State of Alagoas as practical exemplification. The methodological procedures
were used to a direct observation, interviews and cadastral survey in print and electronic documents. The
purpose of this study is to present a synthesis about experience of custom upholstery production in the
State of Alagoas from the practice of the sustainability and the life cycle design. As a result, we hope to
contribute to the discussion on the challenges and future perspectives to sustainability practice, as well as
to expand the academic scope about the subject.

1 Introdução

Há quanto tempo você usa o sofá da sala de estar ou a poltrona de leitura do escritório?

27
Universidade Federal da Bahia e Instituto Federal de Alagoas, Brasil, aurearaposo@ig.com.br
28
Universidade Federal da Bahia, Brasil, asher@ufba.br
29
Universidade Federal da Bahia, Brasil, sfcesarpaz@uol.com.br
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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Quando os produtos moveleiros são adquiridos, sobretudo móveis estofados, um dos
principais critérios de seleção, ou melhor, de escolha desses produtos pelo usuário é a
durabilidade. Aqui correspondente a vida útil do produto. Ou mais especificamente, a medida
do tempo em que este pode durar, conservando suas capacidades e comportamento em um
nível padrão aceitável (Manzini & Vezzoli, 2005).
Na hora da compra são aspectos como materiais utilizados na estrutura, no estofamento e
recobrimento; garantia do produto e/ou de suas partes; e ainda, procedimentos para
manutenção do produto durante o uso, que atestam esse critério para o usuário. Outro aspecto
não menos importante é a satisfação de uma demanda específica de bem estar social, balizada
em uma ou mais funções que o produto estofado pode assumir durante o uso.

Bens duráveis e multiuso


Essa é a classificação de Manzini & Vezzoli (2005) para a tipologia dos produtos moveleiros.
Os autores situam os móveis na subcategoria de bens duráveis que requerem poucos recursos
(energia e materiais), ou basicamente nenhum, durante o uso e a manutenção. Quanto ao
impacto, os autores consideram que nessa subcategoria se concentra nas fases de pré-
produção, produção, distribuição e descarte-eliminação. Sugerem ainda que seja prioritária a
minimização do consumo e do impacto dos recursos nas atividades produtivas e de
distribuição. Salientam também que o impacto do descarte nessa subcategoria pode ser
minimizado com a otimização e/ou extensão da vida dos materiais.
Minimizar o uso dos recursos [1]; selecionar recursos e processos de baixo impacto
ambiental [2]; otimizar a vida dos produtos [3]; estender a vida dos materiais [4] e facilitar a
desmontagem [5]. Esses são os cinco principais requisitos ambientais de projeto utilizados pelo
design do ciclo de vida do produto, visando minimizar a influência dos produtos nos impactos
ambientais globais, como por exemplo, o acúmulo e a destinação inadequada de perdas
produtivas (Manzini & Vezzoli, 2005; Vezzoli, 2010).
Contudo, Manzini & Vezzoli (2005, p: 104) afirmam que o design do ciclo de vida ‘é muito
mais avançado em termos de definição dos conceitos a serem seguidos do que em termos de
aplicações práticas’. Principalmente, se considerarmos as produções em negócios de pequeno
porte, como por exemplo, marcenarias e empresas de móveis estofados. Estas últimas, objeto
de reflexão desse estudo.
No âmbito das práticas para sustentabilidade, o design do ciclo de vida assume uma
abordagem sistêmica que ultrapassa o conceito de produto e assume o conceito de Sistema de
Produto-Serviço (a seguir denominado PSS, acrônimo de Product-Service System). Por
Sistema de Produto entende-se nesse estudo como o ‘conjunto de processos elementares,
com fluxos elementares e de produto, desempenhando uma ou mais funções definidas e que
modela o ciclo de vida de um produto’ (ABNT NBR ISO 14040, 2009, p: 4). Já quanto ao PSS,
adota-se a definição do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, 2002), citada por
Vezzoli (2010, p: 37). Trata-se do
resultado de uma estratégia inovadora que desloca o centro dos negócios do projeto e da venda de
produtos físicos para a oferta de produtos e de sistemas de serviços que, conjuntamente, podem
satisfazer demandas específicas.
Para Heskett (2008, p: 105), ‘A crescente ênfase no design de sistemas de vários tipos, [...],
se deve, em parte, à conscientização sobre o aumento da complexidade da vida moderna, com
múltiplas interconexões e sobreposições de elementos influenciando o desempenho geral’. O
autor conceitua sistema como ‘um grupo de elementos que interagem entre si, se inter-
relacionam ou são interdependentes e que formam, ou podem formar, uma entidade coletiva’.
Acrescenta que a eficácia do sistema dependerá de sua coerência geral e da clareza de seus
padrões, de forma que viabilizem a compreensão dos seus usuários.

Objetos de uso, produzidos de forma artesanal ou industrial


De acordo com Löbach (2001) as necessidades humanas são satisfeitas pelo uso de objetos,
através das funções que desempenham durante sua utilização e que se configuram como
valores de uso. Produtos artesanais de uso (1ª categoria) ou produtos industriais de uso (2ª
categoria); estes últimos, voltados para uso de pequeno grupo de pessoas que se conhecem
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umas às outras, como por exemplo, o tamanho médio da família brasileira (IBGE, 2006): grupo
de três pessoas. Essa é a classificação de Löbach (2001) para a tipologia dos produtos
moveleiros.
Na segunda categoria, os produtos ‘têm seu uso à disposição de várias pessoas já que isto
é mais econômico e favorece as relações entre elas’ (Löbach, 2001, p: 50). Já naquela primeira
categoria, estabelece-se uma relação personalista em relação ao objeto de uso; e, o usuário
desenvolve um vínculo pessoal com este objeto. As duas situações descritas podem ser
observadas em um móvel estofado personalizado.
Aqui, cabe então uma segunda classificação baseada em Löbach (2001) referente aos
produtos de uso quanto à forma de produção: sob medida (artesanal ou semi-industrial) ou em
série (semi-industrial e/ou industrial). Segundo este autor, até a primeira metade do século XIX,
os objetos eram feitos à mão. Tratavam-se de produtos potencialmente determinados pela
função prática que exerciam, sendo usualmente denominados de produtos funcionais, por não
terem nenhum outro significado especial.
Por outro lado, os produtos artesanais apresentaram significativa influência simbólica. Em
certa medida, representavam a condição social do usuário. Isto ocorria porque os objetos eram
fabricados para número reduzido de consumidores-clientes. O que permitia atender
expectativas diretas e desejos individuais destes. Produtos customizados. E, como tais,
resultavam em relação personalista, atendendo objetivos e valores pessoais tanto do
consumidor-cliente quanto do próprio artesão que o fabricava.
Eis onde reside o principal componente de diferenciação do produto artesanal de uso para o
produto industrial de uso: a possibilidade e liberdade de introduzir variações e formas novas,
que viabilize um ‘campo livre para a configuração emocional’ do objeto de uso (Löbach, 2001,
p: 37). Isso não ocorre no produto industrial em série, porque todas as unidades produzidas
precisam estar igualadas, sem nenhuma variação em relação ao modelo, exceto por pequenas
oscilações inerentes ao próprio processo de produção. Como por exemplo, variações de
tecidos, no caso dos móveis estofados (Figura 1a).

Figura 1: Exemplo de móvel estofado seriado (1a) x personalizado (1b) do APL moveleiro do agreste alagoano

(1a) (1b)

Ambas as classificações – Manzini & Vezzoli (2005) e de Löbach (2001) – viabilizam os


suportes teóricos iniciais para a reflexão proposta neste trabalho: discutir algumas interrelações
entre sustentabilidade ambiental e design do ciclo de vida para o segmento produtivo moveleiro
de pequeno porte, especificamente, para a inovação de sistema na produção de móveis
estofados personalizados ou sob medida, conforme ilustra Figura 1b.
A discussão fundamenta-se nas principais diretrizes da Ecologia Industrial (a seguir denominada EI)
quanto à ecoeficiência do produto-serviço, aplicáveis ao PSS para Móvel Estofado. Para tanto,
utiliza-se o segmento produtivo de estofados do Arranjo Produtivo Local (a seguir denominado
APL) de Móveis do Agreste do Estado de Alagoas para contextualização e exemplificação
prática.

2 Ecologia industrial e sustentabilidade no design de móveis personalizados


A EI tem sido vista, pela maioria dos estudiosos da área, como uma abordagem prática e sistêmica para a sustentabilidade, representando um dos
caminhos que pode fornecer soluções concretas em médio e longo prazo. Erkman (2001) esclarece-nos que a EI explora a dualidade positiva
entre sistema industrial e natural, conforme as semânticas das palavras sugerem. Salienta que o sistema industrial é considerado como certo tipo

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de ecossistema – ecossistema industrial – sendo descrito como uma distribuição específica de fluxos de materiais e energia. Acrescenta que todo
sistema industrial depende de recursos e serviços prestados pelo sistema natural, do qual não podem ser dissociados.

Embora o conceito de EI pareça recente, emergindo no final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado, após as publicações dos
estudos de Frosch & Gallopoulos (1989, apud Chertow, 2000) e Ayres (1989, apud Almeida & Giannetti, 2006) e dos subseqüentes
estudos de Lowes & Evans (1995), Graedel & Allenby (1998), Manahan (1999), Chertow (2000), entre outros; suas origens datam de pelo menos
quarenta anos atrás, em meados dos anos 60 do mesmo século (Erkman, 2001) a partir das primeiras discussões sobre o modelo econômico de
desenvolvimento e do reconhecimento da capacidade de carga dos recursos naturais do planeta e da sua finitude. Ou seja, desde o limiar das
discussões para o desenvolvimento sustentável, em que emerge o conceito de sustentabilidade.

Para atingir a sustentabilidade (vide Figura 2 abaixo), a EI atua em três níveis: intra-empresa, inter-
empresas e regional-global. Corroboramos com Manzini & Vezzoli (2005) e Chertow (2000) de que, no
âmbito da sustentabilidade, a transição de insustentável para sustentável é um processo evolutivo gradual
e mais provável de ser introduzido ao nível local. Isto é, intra-empresa, migrando posteriormente e de
forma programada para os demais níveis. Principalmente, se considerarmos empresas de micro e pequeno
porte, agrupadas em APL.

Figura 2: EI e Sustentabilidade: níveis de atuação (adaptado de Chertow, 2000)

Sustentabilidade

Ecologia Industrial

INTRA-EMPRESA INTER-EMPRESAS REGIONAL/GLOBAL


Projeto para o meio ambiente Simbiose industrial Análise de fluxos
Prevenção da Poluição Avaliação do ciclo de vida de materiais e energia
Rotulagem ambiental Iniciativas setoriais Planejamento estratégico
ambiental

Nesse sentido, destacamos a possível contribuição dos APLs como células indutoras de transformação
sócio-organizacional para melhoria do desempenho ambiental das empresas nos níveis: [a] intra-empresa,
através do Projeto para o meio Ambiente + Avaliação do ciclo de vida (ACV); e [b] inter-empresas, por
intermédio de Simbiose industrial + ACV; e, por consequência gradual, no nível local-regional-global, via
Planejamento estratégico ambiental.
Ainda no âmbito da EI, para que se possa produzir sem perda da qualidade ambiental e
com vistas a impacto tendencialmente nulo, Manzini & Vezzoli (2005) indicam ser necessário
que haja integração da biosfera (conjunto dos processos naturais) à tecnosfera (conjunto dos
processos tecnológicos). Essa integração deve estar balizada em duas orientações:
 Biocompatibilidade: corresponde à naturalização dos sistemas produtivos e de consumo,
organizada como uma cadeia de transformação (biociclos), que utiliza o máximo de
recursos renováveis e biodegradáveis;
 Não-interferência: equivale ao sistema de produção e consumo fechado em si mesmo,
que reutiliza e recicla internamente todos os materiais, constituindo ciclos tecnológicos
(tecnociclos), cuja tendência é reduzir a zero entradas e saídas entre sistema
tecnológico e natural, sem provocar influência no ambiente, exceto a promovida pelo
equilíbrio termodinâmico.
Tomando-se a segunda orientação como referência, podemos considerar que a EI vem
contribuir para desmaterialização dos produtos que atendem a demandas específicas de bem
estar social. Essa desmaterialização implica a produção de resultados e não necessariamente
de produtos físicos. Isto solicita uma mudança no papel do produtor e na própria noção de
produto. ‘Um produtor que ofereça resultados (isto é, que ofereça um mix de produtos e de
serviços para chegar a eles) pode desenvolver suas atividades mesmo reduzindo o consumo
de materiais’. E, nesse caso, ‘a desmaterialização se verifica como um aumento da eco-
eficiência do sistema produtor dos resultados’ (Manzini & Vezzoli, 2005, p: 52 e 53,
respectivamente; itálico dos autores).
Retornarmos então ao conceito de PSS introduzido nesse texto. De acordo com Roos,
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Beuren & Barbosa (2010, p: 4-5), o PSS ‘busca otimizar ao máximo os recursos disponíveis em
seu sistema, para minimizar, principalmente, o impacto na dimensão ambiental da
sustentabilidade’. Acrescentam que sua relevância concentra-se em seu modelo de negócio
que visa desmaterializar o consumo de produtos, diferenciando-o dos modelos tradicionais.
Os modelos de negócio tradicionais oferecem o produto tangível que se torna propriedade e
responsabilidade do consumidor, que deve cuidar também da manutenção e descarte do produto [...].
Os modelos de negócio nos Sistemas Produto-Serviço reduzem as responsabilidades do consumidor
com o produto e para facilitar, [...] o consumidor paga pelo tempo de utilização do produto e do
serviço. [...]. Com este modelo de negócio alternativo, o Sistema Produto-Serviço apresenta novas
formas de atender os clientes e satisfazê-los, cumprindo suas necessidades sem precisar oferecer
produtos tangíveis e sim um conjunto de soluções (Roos, Beuren & Barbosa, 2010, p: 5).
A produção de móveis estofados atende a demanda específica de bem estar social
referente à mobília para uso pessoal e/ou coletivo em ambiente residencial, corporativo e de
serviços. Essa produção pode ocorrer de forma seriada ou sob medida. Quando esses móveis
estofados são fabricados sob medida, eles atendem a demanda específica de mobília de forma
direta e personalizada ao usuário ou grupo de usuários que os solicitam.
A princípio, observamos primeiro movimento de desmaterialização dos produtos, que se
expressa na própria oferta do produto personalizado. Embora o modelo de negócio da
produção moveleira seja essencialmente tradicional, no segmento de estofados sob medida é
possível estabelecer um modelo de negócio PSS. As empresas de móveis estofados de
pequeno porte em geral trabalham com fabricação de estofado novo (produto) sob encomenda
e/ou reparação-reforma de estofados usados (serviços) por elas fabricadas ou não.
Constatamos que produtos e serviços oferecidos por esse segmento compõem um sistema
(Heskett, 2008). E verificamos assim que existe potencial para desenvolvimento de PSS no
segmento de móveis estofados personalizados, que ainda se encontra hoje pouco explorado.
Por conseguinte, apontamos para segundo movimento de desmaterialização, visto que a
intensidade material é direcionada à unidade demandada (feita por encomenda), seja ela móvel
estofado novo ou reformado, como apontam Manzini & Vezzoli (2005, p: 54):
a inovação técnica, a criatividade e a ação empresarial não seriam orientadas para o aumento de
consumo de materiais mas [...] para a proposta de melhores resultados num quadro econômico-
ecológico que assistiria à progressiva redução da intensidade material por unidade de serviço
prestado.
A seguir, abordamos um pouco mais sobre o PSS para Móvel Estofado Personalizado como
modelo potencial de negócio para a produção moveleira de pequeno porte.

O PSS para Móvel Estofado Personalizado: reflexão preliminar


A busca por maior durabilidade para móveis estofados personalizados associa-se ao
pensamento de otimização e extensão da vida útil do produto. Em contrapartida, à adoção de
estratégias de fabricação, reparação, manutenção, reuso e reciclagem. Alia-se à valorização do
bem físico e sua utilização como propõem as abordagens de negócios para PSS (UNEP,
2002).
De acordo com Medeiros & Landim (2009), a maioria dos autores estabelecem três
principais abordagens para PSS. Com base em Tukker (2004), Roos, Beuren & Barbosa (2010)
informam que o PSS converge do produto puro e tangível (forma tradicional de oferecer um
produto, sem serviços diretamente relacionados) ao serviço puro e intangível (não envolve
nenhum produto diretamente relacionado e oferece somente serviços). No deslocamento para
essa convergência encontram-se as principais abordagens para PSS, cujas divisões não são
rigidamente definidas e podem abranger mais serviços ou mais produtos. São elas: o PSS
orientado ao produto, o PSS orientado ao uso e o PSS orientado ao resultado.

De acordo com Vezzoli (2010) e Medeiros & Landim (2009), a maioria dos autores
estabelecem essas três abordagens para PSS, balizadas por estudo da UNEP (2002). As
características gerais dessas categorias encontram-se sintetizadas no Quadro 1, a seguir.
Cabe-nos ressaltar, segundo Vezzoli (2010), que essas abordagens de negócios para inovação
de sistemas são vistas como favoráveis à eco-eficiência.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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Quadro 1: Abordagens de negócios para PSS

Categorias do PSS Características gerais Foco


PSS orientado ao O produto pertence ao consumidor-cliente e o produtor- Produto-serviço
Produto ou Produto fornecedor oferece alguns serviços adicionais a fim de
orientado ao serviço garantir funcionalidade e durabilidade (maior vida útil). Esses
serviços podem estar inclusos à compra ou não, tais como:
(agrega valor ao ciclo manutenção, reparo, atualização e substituição durante um
de vida do produto) período pré-determinado (tempo de garantia, por exemplo).
PSS orientado ao O produto pertence ao produtor-fornecedor, que oferece um Uso do Serviço-
Uso ou Uso conjunto de serviços customizados, como substituto da produto
orientado ao serviço aquisição de produtos físicos, com vistas a atender às
necessidades e aspirações dos consumidores-clientes. A
estes, são ofertados serviços de utilização do produto, para
os quais pode ser cobrada taxa pelo tempo de uso. Libera-
se o consumidor-cliente de problemas e custos de aquisição,
uso e manutenção do produto.
PSS orientado ao O produtor-fornecedor oferece acesso a produtos, Soluções das
Resultado ou ferramentas e oportunidades que possibilitam ao Plataformas de
Serviço orientado consumidor-cliente alcançar os resultados pretendidos. O produtos-
para os resultados consumidor-cliente paga somente pelo tempo que realmente serviços
utilizou a plataforma de serviços.

Fonte: Adaptado de Vezzoli (2010); Roos, Beuren & Barbosa (2010); Santos & Silva (2009); Medeiros & Landim (2009);
Santos, Shirakawa, Tanure & Bosse (2006), UNEP (2002).

Santos & Silva (2009, p: 449) acrescentam que ‘entre as definições encontradas na
literatura o PSS pode ser definido como um sistema de inovação que faz parte das ferramentas
do design para a sustentabilidade’, porque transfere o foco dos produtos para a utilização
através de sistema integrado de produtos-serviços. Com isso, fornece funcionalidades e gera
satisfações requeridas pelo consumidor-cliente; e reduz o impacto sobre o meio ambiente. Para
Tukker (2004), citado por Santos, Costa Júnior, Pereira, Zacar, Enriconi & Gomes (2010), o
PSS, além de agregar valor as ofertas e aumentar a competitividade dos negócios, viabiliza
que as empresas:
 Atendam às necessidades dos clientes de forma integrada e personalizada;
 Construam relacionamentos exclusivos com os clientes, aumentando a fidelização;
 Promovam maior agilidade no processo de inovação, já que conseguem acompanhar de
forma mais próxima as necessidades dos clientes.
Medeiros & Landim (2009, p: 2) ressaltam que, embora o cerne do PSS seja que
consumidores-clientes não adquiram o produto em si, mas a utilidade que eles e os serviços a
eles associados oferecem, ‘há outras aplicações inovadoras de PSS com foco de tornar mais
sustentáveis os negócios’. Nesse aspecto, as empresas apresentam importante papel na
promoção de mudança cultural no comportamento de consumo e nos padrões de utilização de
bens e serviços pelo consumidor. À medida que passem a desenvolver produtos mais duráveis
e ofereçam ao cliente mecanismos (serviços adicionais) que amplie seu tempo de uso, evitando
o descarte. De acordo com Santos, Shirakawa, Tanure & Bosse (2006, p: 3):
A mudança de produtos para PSS possibilita a companhia mover progressivamente em direção a uma
nova maneira de relacionar-se com os clientes. A empresa que vende o serviço [...] estende sua
relação com o consumidor além da venda do produto, com uma contínua interação na fase de uso,
através da aquisição e entrega de suprimentos, manutenção e qualidade de serviço. Soma-se a isso,
o potencial da companhia a desempenhar o papel no fim da vida do produto a fim de reutilizar seus
materiais ou reciclá-los, possibilitando utilizar menos recursos.
Observamos que a produção de móveis estofados personalizados permite ao produtor uma
valorização diferenciada do bem físico e sua utilização, ao atender a demanda direta e
específica do cliente. Este desenvolve relação de maior vínculo com o produto durante o uso –
seja pela função prático-funcional, seja pela função estético-simbólica, ou ainda ambas – que
possibilita ampliação da permanência do bem físico em sua propriedade e de seus
descendentes (herança familiar). Estabelece-se uma cadeia de valor de uso e propriedade.
Consideramos que a propriedade do bem físico passa então a ser de responsabilidade de
ambos: produtor-fornecedor e consumidor-cliente. Do primeiro, durante a sua fabricação,
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
quando procura valorizar a qualidade dos materiais utilizados e, na sequência de uso, dos
materiais eliminados, reduzindo a aquisição de novos materiais ou de novos produtos
substitutos. Mesmo que não ocorra de forma consciente, ao agir assim, o produtor-fornecedor
atua na desmaterialização dos padrões de consumo e intensificação do tempo de uso, quando
oferta não só produto, mas principalmente produto-serviço – fabricação e reparação de móvel
estofado personalizado. Conforme ressaltam Santos, Shirakawa, Tanure & Bosse (2006, p.: 3):
Um Sistema Produto-Serviço pode ser definido como o resultado de uma inovação estratégia,
deslocando o foco do ato de projetar e de vender produtos físicos somente, a fim de vender um
sistema de produtos e os serviços que conjuntamente são capazes de cumprir demandas específicas
ao cliente, ainda, tem-se a “satisfação” como valor, ao invés da propriedade física individual dos
produtos.
E do segundo, quando procura o bem durável para atender a sua demanda específica direta
e o adquire, gerando uma ‘satisfação de valor de uso’ (Vezzoli, 2010; Löbach, 2001).

3 A experiência moveleira de pequeno porte do APL de Móveis do Agreste (AL)

A região do Agreste do Estado de Alagoas localiza-se geograficamente na parte central do


território alagoano. Em dois dos seus principais municípios, foi criado o APL de Móveis em
2004: Arapiraca e Palmeira dos Índios. Mas, é na cidade de Arapiraca, sede do município
homônimo, que se concentram o maior número de empresas. Convém destacar que a origem
da produção de móveis nessa região não é recente. Ela advém de uma tradição de meio
século, com a comercialização de móveis populares na feira livre de Arapiraca (Figuras 3a e 3b
abaixo), passando pelas fabriquetas familiares e de fundo de quintal, até as atuais oficinas e
fábricas de micro e pequeno porte. São empresas dos segmentos produtivos de móveis
planejados feitos em madeira e derivados (sobretudo madeira certificada, como pinus e
eucalipto), estofados, móveis em pedra natural e em metal (Rapôso, Kiperstok & César, 2010b
e 2010a).

Figura 3: Móvel estofado da Feira Livre de Arapiraca (usado com a permissão do NPDesign/IFAL)

(3a) (3b)

Em sua primeira fase de implantação (2004-2009), o Programa de Arranjos Produtivos


Locais (a seguir denominado PAPL), mantido pelo Governo do Estado de Alagoas, por meio da
Secretaria do Planejamento e do Desenvolvimento (SEPLANDE), em parceria com o Serviço
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Alagoas (SEBRAE Alagoas) investiu na inserção
dos micro e pequenos negócios moveleiros em novos mercados e na formalização das
empresas (Alagoas24horas, 2011).
Além de mecanismos de capacitação e apoio logístico, que contaram também com apoio da
Prefeitura de Arapiraca. A Prefeitura tem sido importante colaborador do APL no que se refere
à viabilização físico-territorial (concessões de áreas) para o Condomínio Moveleiro e,
recentemente, para a implantação do Polo Moveleiro Nascimento Leão no povoado de Sítio
Capim às margens da rodovia AL-202, construção em andamento (Alagoas24horas, 2011;
Ojornalweb, 2001).
No início do PAPL foram cadastradas em torno de 350 empresas, entre fabriquetas de
fundo de quintal e empresas de micro e pequeno portes. Hoje, o APL de Móveis do Agreste
(AL) oscila em média entre 100 empresas cadastradas. Em 2010, foram 98 empresas
atendidas (Rapôso, Kiperstok & César, 2010b e 2010a). Em 2011, 77 empresas encontram-se
atuantes junto ao Programa, com aproximadamente 80% das empresas formalizadas
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
(Alagoas24horas, 2011; Melo, 2011).

O setor de estofados de pequeno porte do APL moveleiro alagoano


Atualmente, o setor de estofados do APL de Móveis do agreste alagoano compõe-se por um
grupo de 15 empresas, sendo que 3 situam-se no município de Palmeira dos Índios e 12
localizam-se no município de Arapiraca. Dessas 12 empresas arapiraquenses, 8 encontram-se
formalizadas e 4 ainda atuam na informalidade (1/3 das empresas ativas). Três são Empresas
de Pequeno Porte (a seguir denominadas EPPs) e nove são de micro porte. Dessas EPPs,
duas atuam no setor de estofados com produção em série e uma no setor de estofados sob
medida, produzindo móveis personalizados que atendem a demandas específicas
(necessidades e aspirações conforme Löbach, 2001) de seus consumidores-clientes.
Uma amostra de nove empresas desse setor em Arapiraca – as 3 EPPs e 6 microempresas
– está sendo analisada em pesquisas de iniciação científica desenvolvidas pelo Programa
“APLmob+ 2011” do Núcleo de Pesquisa em Design (NPDesign) do Instituto Federal de
Alagoas (IFAL), de forma integrada a estudos investigativos como o deste artigo, que integram
o conjunto de ações de pesquisa de tese, desenvolvida no âmbito do Curso de Doutorado em
Engenharia Industrial do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial (PEI) da
Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Dados investigativos preliminares nos permitem indicar que o setor de estofados de
pequeno porte tem como produto carro-chefe o conjunto de sofá de 2 e 3 assentos na
produção em série e sofá de 3 assentos na produção sob medida. O móvel estofado do tipo
sofá apresenta em sua composição três materiais predominantes – madeira, espuma e tecido –
além dos materiais componentes internos, como cintas de nylon ou de borracha e mantas de
ráfia; e, materiais componentes externos como pés e braços de madeira e/ou metálicos.
A qualidade desses materiais é fator direto para a durabilidade e, por conseguinte, para
maior vida útil desse produto. A origem ou procedência desses materiais em igual peso é fator
para não-interferência ou menor efeito possível ao meio ambiente.
Dada a representatividade cotidiana que o sofá exerce junto ao seu potencial consumidor-usuário no
atendimento das necessidades humanas particulares de sentar [...], sentar-deitar e/ou deitar [...], nos
diversos ambientes residenciais, comerciais e/ou corporativos, esse produto revela-se em significativo
modelo de referência para análise dos aspectos ambientais e organizacionais da produção moveleira,
[...] (Rapôso, Kiperstok & César, 2011, p: 5).
Vejamos alguns desses aspectos em três exemplos de prática da sustentabilidade na
produção de móveis estofados personalizados de pequeno porte do APL moveleiro alagoano.

Exemplos de prática da sustentabilidade no design de móveis estofados personalizados


em empresa de pequeno porte
Das três EPPs produtoras de estofados do APL moveleiro alagoano, apenas uma atua na
produção de móveis personalizados feitos sob medida e sob encomenda. Elege-se aqui essa
EPP como empresa caso para exemplificação. Cabe-nos salientar que, na maioria das
situações, as práticas apresentadas a seguir são aplicadas na produção moveleira sem
conhecimento formal dos elementos da Ecologia Industrial por parte do pequeno produtor.
Porém, ocorrem de forma balizada a uma preocupação ambiental particular do empreendedor,
estendida a seus colaboradores internos.

Sobre a EPP: empresa caso


A EPP em análise atua no mercado local de móveis estofados há 14 anos. Evoluiu de
2
fabriqueta de fundo de quintal implantada em oficina de 15m à sociedade limitada instalada
2
em galpão de 1.250m . A empresa contempla hoje, além da fábrica situada em Arapiraca, duas
lojas filiadas em Maceió e Arapiraca. Seus móveis estofados encontram-se direcionados ao
mercado local e às classes B e C, segundo classificação do IBGE (cf. Tabela 1 a seguir).

Tabela 1: Classes Sociais no Brasil segundo renda total familiar


Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Especificação Faixa de Renda
da classe
Classe A Acima de R$ 15.300,00
Classe B De R$ 7.650 até R$ 15.300,00
Classe C De R$ 3.060,00 até R$ 7.650,00
Classe D De R$ 1.020,00 até R$ 3.060,00
Classe E Até R$ 1.020,00
Fonte: IBGE (citado por Coelho, 2010)

Figura 4: Exemplos de móvel estofado personalizado de EPP do APL moveleiro alagoano

(4a) (4b) (4c)

As Figuras 4a, 4b e 4c ilustram alguns dos modelos de estofados produzidos pela empresa
caso, dispostos nos showrooms das filiais. A empresa oferece serviço de atendimento em
domicílio e personalizado. As visitas ao consumidor-cliente não são voltadas apenas às
vendas, mas também para avaliação da qualidade e durabilidade do móvel pós-vendas.

Exemplo 1: Sistema Pós-Vendas


O primeiro exemplo de inovação do PSS da EPP em análise, tomando a sua filosofia
empresarial como norte – ‘Nada é tão bom que não possa ser melhorado’, foi a criação de
Sistema Pós-Venda. Trata-se de acompanhamento do ciclo de vida do produto pela EPP
durante o uso pelo consumidor-cliente que o adquiriu, em consonância com o tempo de
garantia dado aos materiais de composição da peça.
Convém lembrar que o tempo de vida útil do produto encontra-se vinculado ao tempo em
que ele mantém suas capacidades e conserva comportamento em um nível padrão aceitável
de usabilidade. No caso dos bens duráveis como os estofados, ele muitas vezes excede o
tempo de garantia, a depender da qualidade do material utilizado. A empresa caso garante 7
(sete) anos para a madeira de reflorestamento seca em estufa (estrutura ou grade) e 2 (dois)
anos na espuma selada (estofamento de assento-encosto) de seu móvel estofado, sem custo
adicional ao consumidor-cliente em caso de reparação.
O Sistema Pós-Vendas da EPP é simples e prático. Ocorre por meio do contato direto com
o cliente pós-entrega (quando avalia a satisfação do cliente quanto ao atendimento e qualidade
do produto entregue), após 6 meses (quando avalia a satisfação do cliente quanto ao produto e
ao comportamento do tecido e da espuma), ano a ano (quando se avalia o comportamento da
espuma e da madeira). As informações coletadas sobre esse ciclo de uso são registradas no
histórico do cliente.
O tempo de garantia dado por essa EPP é atribuído tanto ao seu estofado novo quanto ao
estofado reformado por ela, mesmo feito inicialmente por empresa concorrente. O que amplia
suas relações com o consumidor-cliente. O Sistema Pós-venda da empresa cria uma cadeia de
valor de uso entre o produto e o cliente, estabelece novas interações entre os atores e foca o
seu PSS em uma abordagem pautada na ‘satisfação’, ou melhor, no design sustentável para a
satisfação da demanda específica. Ou seja, foca nas pessoas.

Exemplo 2: Foco nas pessoas


O Sistema Pós-Venda contribuiu ainda para melhorias diretas no PSS quanto às interações
entre os colaboradores internos. Algumas situações de melhoria interna nas relações
interpessoais foram: mudanças contínuas no leiaute do ambiente de produção, aproximando às
equipes de trabalho; aperfeiçoamento das operações das equipes de produção a partir da
opinião dos clientes quanto aos produtos; capacitação das consultoras de vendas para
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
avaliação mais crítica dos itens compositivos do móvel estofado em sua função prática e
estética, visando à retroalimentação de falhas e defeitos detectados junto às equipes de
produção.
Mas a principal situação de melhoria direta foi o estabelecimento de uma ‘unidade de
satisfação’ que comanda todo PSS da EPP: o cliente. Ou melhor, o atendimento de sua
necessidade e aspiração por móvel estofado de forma personalizada e atemporal, reduzindo as
demandas sobre os recursos e materiais.

Exemplo 3: Minimização do uso de materiais


Em 2009, a empresa foi exemplo de inovação no setor de estofados em treinamento para
ideias inovadoras, realizado pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das
Empresas Inovadoras (a seguir denominada ANPEI) e SEBRAE Alagoas, com uma mudança
de hábito quanto à diminuição do volume de lixo (Itblog, 2009; Incorporativa, 2009). A estratégia
dessa inovação está voltada à minimização dos impactos ambientais. A EPP passou a produzir
com madeira de reflorestamento e fazer o aproveitamento das perdas produtivas.
Evitar o desperdício, obter ganhos socioeconômicos e ambientais (não necessariamente
revertidos em lucros), sem perder qualidade no produto e/ou serviços foram focos dessa ação.
Alternativas para melhoria contínua da produção a partir da recuperação e reutilização das
perdas produtivas em processos internos ou externos da empresa passaram a fazer parte de
sua rotina, reforçadas por sua filosofia empresarial ‘Nada é tão bom que não possa ser
melhorado’.

Figura 5: Redução no volume de perdas

(5a) (5b)
(5c)

Algumas situações implantadas no ambiente de produção da empresa: a) utilização das


sobras de material para fabricação de co-produtos, como por exemplo, as aparas de espumas
em flocos, conforme Figura 5a; b) doação ou venda de pó de serra para forração de camas de
galinha da produção avícola (Figura 5b) e de aparas de madeira para queima em fornos de
padarias (Figura 5c); c) doação das sobras de tecidos pós-produção para artesãos e dos
tecidos pós-consumo, advindos de reformas nos produtos, para catadores locais para atender a
necessidade de melhorias em suas habitações provisórias próximas ao lixão da cidade de
Arapiraca (Rapôso, Kiperstok & César, 2011, 2010b e 2010a).
Esse exemplo de mudança na cultural organizacional da EPP envolve todos os
colaboradores internos – consultoras de venda, equipes de produção (composta por
marceneiros, estofadores, costureiros, revisor de acabamentos), embaladores e entregadores e
converge em uma inovação sistêmica do PSS para Móvel Estofado Personalizado.
Os três exemplos apresentados demonstram que as inovações de sistema da EPP caso
encontram-se direcionadas à redução do consumo de materiais, redução de produtos
substitutos com a fabricação de bens duráveis, otimização do produto durante o uso através do
Sistema Pós-Venda, extensão da vida útil do produto com a garantia e assistência contínua
para reparação. Esses elementos permitem-nos inferir que a abordagem de PSS adotada pela
empresa caso situa-se no primeiro nível de inovação: ‘serviços promovendo valor agregado ao
ciclo de vida do produto’ (Vezzoli, 2010; Medeiros & Landim, 2009). E favorece deslocamentos
futuros para níveis mais amplos de inovação para sistema ecoeficientes.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
4 Considerações Finais

A inovação de sistemas para eco-eficiência e sustentabilidade deve ser potencialmente vista


como uma solução ‘ganha-ganha’, em que ganham produtores-fornecedores, consumidores-
clientes e meio ambiente (Vezzoli, 2010). Com base nos exemplos de prática da
sustentabilidade para o design de móveis estofados personalizados em EPP do APL moveleiro
alagoano, podemos inferir que a empresa vem direcionando seu modelo de negócio para um
modelo PSS a médio e longo prazo que favorece esses ganhos.
Observamos esse direcionamento em algumas contribuições efetivas exemplificadas, tais
como: reforma do produto adquirido em outro fabricante com inserção de mesma garantia dada
ao produto novo fabricado pela empresa; avaliação periódica durante o uso dos itens em
garantia de produto novo ou reformado; atualização do modelo para atendimento sistemático
das demandas específicas do cliente-consumidor; reparação de vícios da produção e
retroalimentação das soluções para melhoria contínua.
O que nos permite implementar a afirmativa de Manzini & Vezzoli (2005) de que o design do
ciclo de vida se mostra de fato mais avançado em seus conceitos, mas que já é possível
detectar algumas aplicações práticas, sobretudo em nível local, com potencial multiplicativo a
ser avaliado. Cabe aos pesquisadores disseminá-las em debates como o apresentado nesse
estudo, com vistas a ampliar o escopo acadêmico sobre desafios e perspectivas da prática da
sustentabilidade.

Agradecimentos

Agradecemos ao PIQDTEC-CAPES-IFAL pelo fomento aos estudos integrados à pesquisa


doutoral, com a concessão de bolsa.

Referências

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design para inovação social e resgate cultural através de
uma experiência extensionista (Design for social
innovation and cultural revival through an extensionist
experience)

PICHLER, Rosimeri; Graduanda; Universidade Federal de Santa Maria


rosi.pichler@gmail.com

MULLER, Caroline; Graduanda; Universidade Federal de Santa Maria


carolmsk8@yahoo.com.br

MELLO, Carolina Iuva de; Mestre; Universidade Federal de Santa Maria


carolinaiuva@gmail.com

Palavras-chave: inovação social; resgate cultural; geração de renda.

Com o intuito de aproximar os acadêmicos de design às necessidades reais da sociedade, criou-se o


projeto de extensão “Design Social: geração de renda e resgate cultural através do design associado ao
artesanato” cujo objetivo é promover melhorias reais à comunidade atendida, tanto econômica quanto
socialmente, além de resgatar a cultura e os costumes gaúchos da região através do artesanato. A
metodologia do projeto do ponto de vista de sua natureza é uma pesquisa aplicada, e na forma de
abordagem do problema é uma pesquisa qualitativa. Para o desenvolvimento da ação de extensão
adotou-se uma metodologia própria baseada em outras ações de mesmo cunho. Este artigo apresenta
uma discussão sobre o papel do design como promotor da inovação social, a importância da identidade
local como fator competitivo e do design participativo como ferramenta para o desenvolvimento de novos
produtos, procurando também compreender as dificuldades enfrentadas pelo designer na mediação e
interferência em culturas locais. O artigo apresenta os obstáculos encontrados na motivação e na troca de
experiências com a comunidade atendida, bem como os resultados alcançados pelo projeto, relatando os
passos para a construção desta ação de extensão, que desafiou acadêmicos e comunidade na
construção e na busca por uma melhor qualidade de vida.

Keywords: social innovation; cultural revival; income generation.

Aiming to bring together scholars from design to actual needs of society, created the extension project
"Social Design: income generation and cultural recovery through design associated with the handicraft”
which purpose is to promote real improvements to the community served , both economically and socially,
in addition to rescue the culture and customs of the region through the Gauchos crafts. The
methodology of the project's point of view of their nature is an applied research, and in the way of
approach is a qualitative research. For the development of action was adopted to extend its own
methodology based on other actions of the same nature. This article presents a discussion about design's
role as promoter of social innovation, the importance of local identity as a competitive
factor and participatory design as a tool for the development of new products, trying also to understand the
difficulties faced by the designer in the facilitation and interference in local cultures. The
article presents the obstacles encountered in motivation and exchange experiences with the community
served, and the results achieved by the project, describing the steps to build this extension action,
which challenged students and the community in building and search for better quality of life.

1 Introdução

A extensão universitária é um meio de agregar à formação acadêmica do aluno a experiência


profissional e comunitária necessária à sua melhor qualificação e o atendimento das demandas
sociais, contribuindo desta forma para o desenvolvimento regional. Um projeto que envolva
acadêmicos e comunidade é um meio de promover a inclusão social e a aproximação de
culturas, como também uma forma de aprimorar os conhecimentos obtidos em aula com as
atividades práticas desenvolvidas em conjunto com a comunidade. Essa prática é de suma
importância para o estudante de design, que tem como uma de suas principais preocupações
compreender as relações do homem com o meio em que vive e promover a melhoria da
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
qualidade de vida das pessoas.
O termo inovação social, segundo Manzini (2008), refere-se a mudanças no modo como
indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas ou criar novas oportunidades e
são guiadas mais por mudanças de comportamento do que por mudanças tecnológicas ou de
mercado, geralmente emergindo através de processos organizacionais ‘de baixo para cima’ em
vez daqueles ‘de cima para baixo’.
Esse processo de inovação social pode ter como um dos agentes desta mobilização o
designer, profissional capaz de solucionar problemas através do desenvolvimento de produtos
que modifiquem o cotidiano das pessoas, alterando também a forma como estas se relacionam
e veem o mundo. De acordo com Fiell (apud SILVA, 2009), cada vez mais os produtos do
design dão forma a uma cultura material mundial e influenciam na qualidade do nosso
ambiente, por isso a importância do design não pode ser subestimada.
O Brasil possui uma diversidade cultural bem acentuada devido ao processo de colonização e
às migrações que ocorreram ao longo de sua história. Cada região possui e cultiva
características e costumes próprios. Porém, o Brasil, assim como os outros países, vive uma
era de grandes mudanças, onde a fronteira tempo-espaço está diminuindo cada vez mais, e a
aproximação e as trocas culturais são efetuadas de forma mais intensa, relacionando-se umas
com as outras. Esse fenômeno denominado globalização, fez do indivíduo um ser multicultural.
Segundo Sarita Albagli (2004 apud LAGES; BRAGA; MORELLI, 2004) a globalização se define
pela intensificação das relações sociais em escala global, onde eventos que ocorrem a milhas
de distância interferem nos acontecimentos locais, não havendo mais espaços isolados,
preservados dessas interferências. Com isso, a homogeneização das culturas tornou-se uma
preocupação e a globalização a promotora do declínio das identidades e da desconstrução do
local. Por outro lado, o sociólogo Otávio Lanni (2004 apud LAGES; BRAGA; MORELLI, 2004)
afirma que o irreversível processo de globalização está produzindo um fenômeno
aparentemente paradoxal, que é a valorização da cultura local.
Desta forma, a realização de projetos de extensão no ambiente universitário, integrando os
acadêmicos à realidade social de sua região e às comunidades em contato com o
conhecimento e a inovação possibilitada pela academia. Tal aproximação resulta no
crescimento mútuo e na busca por uma sociedade mais igualitária e de novas perspectivas
econômicas através do design para a inovação social e a valorização da cultura local.
O projeto de extensão intitulado “Design Social: geração de renda e resgate cultural através do
design associado ao artesanato” é realizado em parceria com os cursos de Desenho Industrial,
Administração e Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS) com
a comunidade Vila Jardim, situada no bairro Camobi – Santa Maria/RS. O projeto teve início em
abril de 2010, e tem como objetivo aproximar o design e o artesanato com o intuito de colaborar
no desenvolvimento econômico e social das comunidades locais além de, promover a
autonomia, o empreendedorismo e o resgate da cultura local.
Este artigo apresenta uma discussão sobre o papel do design para a inovação social, a
importância da identidade local como fator competitivo e do design participativo como
ferramenta para o desenvolvimento de novos produtos, procurando também compreender as
dificuldades enfrentadas pelo designer na mediação e interferência em culturas locais. O artigo
apresenta os obstáculos encontrados na motivação e na troca de experiências com a
comunidade atendida, bem como os resultados alcançados pelo projeto, relatando os passos
para a construção desta ação de extensão que desafiou acadêmicos e comunidade na busca
por uma melhor qualidade de vida.

2 Design para inovação social

De acordo com o Fórum Internacional de Design Social, ocorrido em 2007, o design é uma
ferramenta de inovação e comunicação que transforma os desejos e as necessidades humanas
em produtos e sistemas de modo criativo e eficaz nos pontos de vista econômicos, sociais,
culturais e ecologicamente responsáveis.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Segundo o Stanford Social Innovation Review (2008), a inovação social se dá quando uma
nova solução é encontrada para os problemas sociais, que é mais eficaz, eficiente e
sustentável, ou apenas melhor do que as já existentes, e cujo valor seja revertido para o bem
de toda a sociedade. Ela pode se dar através de novos produtos ou de novas tecnologias,
como também alterações em uma lei, uma nova ideia, uma intervenção ou combinação destes
que visem à melhoria da qualidade de vida dos beneficiados.
Segundo Manzini (2008), a inovação social deve encontrar energia dentro das iniciativas locais
e o papel do designer é o de construir uma ponte entre as condições internas e externas da
mudança para criar experiências locais que mostrem conhecimentos e possibilidades
inovadoras, é um papel estratégico na busca deste novo cenário social.
A experiência nos indica que períodos particularmente intensos de inovação social tendem a ocorrer
quando novas tecnologias penetram nas sociedades ou quando problemas particularmente urgentes
ou difusos devem ser enfrentados. Ao longo das últimas décadas, várias novas tecnologias foram
introduzidas em nossas sociedades, gerando possibilidades ainda amplamente inexploradas. Por
outro lado, a gravidade dos problemas sociais e ambientais a serem enfrentados na nossa vida
cotidiana se tornou evidente. Portanto, considerando a combinação desses dois fenômenos, é fácil
prever a manifestação de uma nova e imensa onda de inovação social (YOUNG FOUNDATION, 2006
apud MANZINI, 2008, p:62).
Esse intercâmbio entre o design e as iniciativas locais pode ser realizado através do design
participativo, que neste contexto se configura como estratégia para alcançar a solução de um
problema comum à determinada sociedade. Através do design participativo todos os envolvidos
agem de forma horizontal, onde o conhecimento técnico do designer – como interpretação das
tendências de mercado, reconhecimento de elementos comuns à comunidade e sua
representação através de produtos – une-se ao conhecimento popular, da cultura, costumes,
matéria-prima e mão-de-obra. Com essa convergência de conhecimentos é possível encontrar
as melhores soluções aos problemas estabelecidos. De acordo com Dantas, Guimarães e
Almeida (2009) design participativo compreende a democratização da atividade de projeto a
partir da inovação social, facilitando e cooperando com os pequenos produtores no
desenvolvimento de suas próprias capacidades e ideias, introduzindo novas técnicas, trocando
experiências e promovendo o aprendizado na comunidade local.
Comparado ao modelo tradicional de desenvolvimento de produtos, o design participativo
deixa de ter o controle unilateral do designer (designer autor) para se tornar um processo de
aprendizado compartilhado (design facilitador) (ULLMANN, 2010, p:41).
Estas mudanças de formas diferentes de pensar e agir, principalmente no sentido de agir
globalmente e não apenas para grupos isolados ou individualmente, devem partir, segundo
Manzini (2008), de experiências locais que mostrem conhecimentos e possibilidades
inovadoras. Para o autor não há mudança sistêmica se ela não esta preparada em uma escala
local.
O Local não deve ser compreendido apenas como o espaço em que se realizam as práticas diárias,
mas também como aquele no qual se situam as transformações e as reproduções das relações
sociais de longo prazo, bem como a construção física e material da vida em sociedade. Nele, realiza-
se o cotidiano, o momento, o fugidio, mas também a historia, o permanente, o fixo, correspondendo ao
identitário, ao relacional e ao histórico, no âmbito da tríade habitante-identidade-lugar (ALBAGLI apud
LAGES, BRAGA e MORELLI, 2004, p:51).
Dessa forma, na busca pela inovação social o designer pode ser o intercessor na sociedade
para a criação de novas possibilidades, compartilhando ideias e conhecimento no
desenvolvimento de produtos. Assim, o design participativo é um método que pode auxiliar
neste intercâmbio, a fim de que todos sejam beneficiados e contribuam para o alcance de
novas soluções, e que estas venham ao encontro das necessidades locais.

3 A valorização da cultura local como fator competitivo

Segundo Nestor Garcia Canclini (1983), cultura é um fenômeno que, mediante símbolos e
representações, auxiliam na reprodução ou transformação do sistema social, ou seja, ela é um
processo de produção de significados que são capazes de manter ou modificar nossa maneira
de viver, nossas ideias e nossos valores. Porém, os fenômenos culturais não se restringem
somente ao campo das ideias, estão também relacionados às condições materiais (econômicas
e tecnológicas) disponíveis (CANCLINI, 1983). Além disso, a cultura também esta diretamente
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ligada à noção de identidade, já que, através de símbolos e representações, ela identifica,
singulariza e congrega o que é interno e único, do que é externo. ‘A identidade nasce da cultura
e vice-versa’ (VILLAS-BOAS, 2002, p:55).
A identidade é algo que se forma ao longo dos anos, que acompanha e se transforma junto
com o sujeito. Todas as interferências culturais e aprendizados são agregados nesta
identidade, modificando-a. ‘Existe sempre algo ‘imaginário’ ou fantasiado sobre sua unidade.
Ela permanece sempre incompleta, está sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’
(HALL, 2006, p:38). Uma identidade, porém, não representa apenas um indivíduo. Um grupo
de pessoas que vivem em um mesmo local e dividem experiências e conhecimentos passam a
produzir símbolos e representações que os unificam, os tornam uma comunidade ou nação.
Comunidade, segundo Lages; Braga; Morelli (2004), é definida pela união de pessoas em um
mesmo território ou local, que convivem socialmente com base em princípios e costumes
semelhantes, estes determinados por dimensões físicas (características geológicas e recursos
naturais), econômicas (organização espacial e social), simbólicas (relações culturais e afetivas
entre grupos) e sócio políticas (relações de dominação e poder). Estes territórios se
diferenciam, ou se caracterizam, por possuírem identidades ou traços culturais distintos na
medida em que vivem dimensões opostas em um ou mais aspectos. A identidade cultural,
portanto, é o que mantém o indivíduo pertencente a um determinado local ou lugar.
A cultura é, desta forma, um fator extremamente relevante para o design, tanto pelo fato de o
resultado de seu trabalho compor os artefatos culturais de um determinado local, como na
utilização de características culturais locais na criação de novos artefatos, que sejam logo
absorvidos e integrados ao cotidiano local.
A exploração de fatores culturais locais já foram fontes de inspiração no desenvolvimento de
produtos. Como exemplo, pode-se destacar a designer Virgínia Barros que lançou uma linha de
calçados (Figura 1) inspirados no cangaço e no sertão nordestino para o verão 2012. A coleção
foi exposta no Minas Trend Preview e chamou a atenção pelo resgate dos símbolos locais
aliado ao trabalho artesanal. Como principais técnicas têm-se o tricô, as xilogravuras
desenvolvidas pelo artista plástico Paulo André Ferreira e o desenho dos pés rachados na sola
dos calçados que lembram a seca e o trabalhador nordestino. Outro exemplo, são os saleiros
João de barro (Figura 2) da designer gaúcha Suzanne Reboh, vencedora do iF Product Design
Award 2011. Os saleiros, inspirados nas habitações do joão de barro, pássaro típico do Rio
Grande do Sul, além de possuir uma estética baseada na cultura local apresenta aspectos
funcionais e ergonômicos.

Figura 1: Coleção de Virgínia Barros para o verão 2012 (usado com a permissão de Virgínia Barros).

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Figura 2: Saleiros João de barro, de Suzanne Reboh (usado com a permissão de Suzanne Reboh).

Através dos exemplos apresentados, é possível constatar que o design é fator crucial no
intercambio econômico e cultural e deve utilizar essa tendência da valorização do local para
criar diferenciais competitivos e atributos de valor simbólico aos produtos, mantendo as culturas
tradicionais vivas, porém, integradas ao mundo contemporâneo. ‘A cultura tem efeito enorme
na compra, pois afeta os objetos assim como a estrutura de consumo, a tomada de decisão de
cada indivíduo e a comunicação numa sociedade’ (FAGIANNI, 2006, p.:23).
‘A partir do momento que cultura e consumo são tratados conjuntamente, o consumo deixa de
ser um simples produzir, comprar e usar objetos para se tornar um sistema simbólico, através
do qual a cultura manifesta seus princípios, categorias, ideais, valores, identidades e projetos’
(ROCHA, 2000 apud FAGIANNI, 2006, p:24). Desta forma, um dos principais desafios do
design no trabalho de traduzir e mediar, envolve, segundo Krucken (2010) sensibilidade e
responsabilidade do designer, pois é fundamental reconhecer e tornar reconhecíveis os valores
e as qualidades locais.
Com base nos conceitos relacionados a design para inovação social, participativo e de cunho
valorativo das culturas locais, o projeto Artesanato Vila Jardim tem como princípio aplicar estes
estudos através de uma experiência extensionista. A ação tem o caráter de envolver os
conhecimentos teóricos, por parte dos acadêmicos, aos populares, provindos da comunidade,
para que de forma integrada sejam propostas soluções inovadoras e viáveis à realidade local.

5 Artesanato Vila Jardim, uma experiência extensionista

A comunidade contatada para o desenvolvimento do projeto denomina-se Vila Jardim, unidade


residencial do bairro Camobi, na região leste da cidade de Santa Maria - RS. Entre os motivos
de sua escolha, além da sua proximidade da Universidade Federal de Santa Maria, destacam-
se os problemas sociais enfrentados na localidade e a parceria com o Centro Comunitário
Nossa Senhora do Calvário que disponibilizou o espaço, materiais e equipamentos.
A fim de caracterizar a comunidade, reuniram-se alguns dados levantados junto às 14
moradoras que compareceram à primeira reunião, realizada em abril de 2010. Constatou-se
que, em média, as famílias são compostas por 4 pessoas (número mínimo de 2 e máximo de 9
dividindo a mesma residência) e vivem com um salário mínimo. Na maioria dos casos somente
o marido possui uma fonte de renda, em apenas um caso a mulher trabalha para complementar
a renda familiar, as demais recebem o benefício sócio-econômico do governo, o Bolsa Família.
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Das moradoras presentes na reunião, apenas 3 possuem ensino médio completo, uma está
cursando o ensino médio, as demais apresentam ensino fundamental incompleto. Quando
perguntadas sobre conhecimentos prévios com costura ou outro trabalho manual a maioria
afirmou nunca ter realizado nenhum trabalho deste tipo.
Com base nessas informações e na dificuldade manifestada pelas moradoras em realizar um
trabalho manual de grande complexidade, optou-se por estudar produtos de baixo custo e com
técnicas de fácil aprendizagem. Partiu-se, então, para a definição do produto. Os requisitos
citados acima colaboraram para a produção de sachês (Figura 3). Após o início da produção,
que possibilitou um contato motivador entre estudantes e moradoras, passou-se a trabalhar os
símbolos da cidade e região no desenvolvimento dos sachês, atendendo assim ao objetivo de
resgatar a cultura local proposta no projeto. Como Santa Maria é a região central do Rio
Grande do Sul e possui como slogan “Santa Maria, o coração do Rio Grande”, passou-se a
produzir os sachês em forma de coração e, posteriormente, foi adicionado um laço com o
objetivo de resgatar o “nó maragato” (Figura 4), tornando o produto mais atrativo e versátil,
podendo ser usado como chaveiro e móbile.

Figura 3: Sachês de coração.

Figura 4: Nó maragato aplicado em sachês de coração.

A partir dos encontros semanais realizados e através de conversas entre os universitários e as


moradoras, surgiu a possibilidade e o interesse em aumentar o grau de complexidade do
produto com o uso de máquinas para melhorar a produção e a qualidade dos mesmos.
Contudo, as máquinas disponibilizadas pelo Centro Comunitário apresentaram más condições
de uso e riscos às moradoras devido à falta de manutenção. Aliado a isso, houve uma
considerável desistência por parte das moradoras, o que acarretou numa desmotivação dos
demais envolvidos e numa dificuldade de se projetar e produzir novos produtos.
Concluído os encontros do ano de 2010, os acadêmicos reuniram-se para avaliar as atividades
e tentativas efetuadas, a fim de propor melhorias e novas abordagens com relação ao
desenvolvimento de produtos e na comunicação com o público-alvo. Assim, optou-se por
inicialmente desenvolver uma linha de produtos com a pretensão de captar mais participantes
e, no decorrer dos encontros, passar a aperfeiçoar os mesmos de forma colaborativa.
Adotou-se esta medida devido à dificuldade observada pelos acadêmicos nos momentos em
que se solicitava que as moradoras se envolvessem com a criação e ao mesmo tempo com a
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aprendizagem da técnica. Dado o fato de não possuírem conhecimentos prévios, elas se
sentiram incapazes e constrangidas de compartilhar com o grupo, o que pode ter sido um dos
fatores da desistência ocorrida no ano anterior.
A linha de produtos criada pelos estudantes surgiu a partir do estudo referente ao patrimônio
histórico edificado da cidade de Santa Maria, mais especificamente a Vila Belga. A Vila Belga é
considerada o primeiro conjunto habitacional do Rio Grande do Sul e sua construção iniciou-se
em 1898. Com 84 casas construídas nos moldes das cidades operárias da Bélgica e da
França, ela servia de moradia aos trabalhadores e técnicos da Estação Férrea (GARE) que
precisavam permanecer próximos à estação para eventuais trabalhos noturnos.
A Vila possui como características principais os diversos desenhos nas molduras das janelas,
amplamente exploradas em cada casa construída e que lembram o movimento Art Nouveau.
Em 1984, a Vila Belga foi integrada ao Projeto Pró-memória Gaúcha, tombada em 1997 e é
Patrimônio Histórico Municipal e Estadual, juntamente com o Colégio Manuel Ribas (Maneco) e
a GARE. Juntos formam o conjunto denominado a “Mancha Ferroviária”, tombada pelo Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE).
Para projetar a linha, foi feito um estudo com referenciais imagéticos das habitações, em que
detalhes foram trabalhados e sintetizados para posterior aplicação (Figura 5). Quanto às
técnicas manuais definidas para este novo produto, considerando a dificuldade das moradoras
em atividades minuciosas, a estampa com carimbos feitos artesanalmente foi a melhor
alternativa, pois além de serem facilmente confeccionados e de baixo custo, apresentam uma
versatilidade interessante para posteriores modificações. Por enquanto, a linha é composta por
bolsas e almofadas (Figura 6). As estampas são trabalhadas diretamente sobre o tecido da
bolsa ou sobre tecidos coloridos, para evidenciar as características da Vila Belga.

Figura 5: Estudo com referenciais imagéticos da Vila Belga.

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Figura 6: Linha de produtos Vila Belga.

Com a linha definida, a comunidade foi novamente contatada para o reinicio das atividades.
Diferente do ano anterior, um cronograma foi apresentado com todas as atividades, oficinas de
capacitação e empreendedorismo que serão ofertadas durante o período de realização do
projeto (Figura 7). O intuito desta nova abordagem, com uma comunicação direta, é o de
despertar o interesse e o comprometimento das moradoras com todo o processo da ação,
possibilitando assim a continuidade e o alcance dos objetivos.

Figura 7: Cronograma das atividades para 2011.

O projeto encontra-se em andamento e a expectativa é de que ao longo do processo aumente


o envolvimento das participantes e que as mesmas compartilhem o desejo de aprender e
passem a aplicar estes conhecimentos na melhoria de sua qualidade de vida. Além disso,
estima-se que a troca de experiências seja enriquecedora para todos os envolvidos e que o
estudo do resgate cultural possa contribuir para uma valorização, sentimento de orgulho e
pertencimento a uma identidade local.

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6 Considerações finais

O contato com a sociedade, possibilitado pela ação de extensão, trouxe inúmeros benefícios
aos envolvidos. A experiência no contato direto com a sociedade, superou questões abordadas
em sala de aula, pois, assuntos como, mercado consumidor, processos de produção e trabalho
em equipe puderam ser avaliados em condições reais. Através de uma ação de extensão,
unindo-se princípios do design para inovação social, do design participativo como método para
a convergência de ideias e da valorização da cultura local, é possível melhorar a qualidade de
vida e o fortalecimento da identidade dos envolvidos. Apesar da dificuldade na motivação e
permanências das moradoras, foi possível perceber que ao tratar de elementos da cultura local
no desenvolvimento dos produtos, houve uma maior participação e troca de idéias com as
moradoras. Devido a isso, é possível constatar a importância da inserção de elementos e
temáticas de culturas locais em ações de cunho semelhante ao projeto citado.
A valorização das culturas locais foi identificada como um diferencial competitivo nas iniciativas
sociais, e encontra-se inserida no contexto do design. A utilização de elementos e símbolos das
culturas locais estão servindo de inspiração para o desenvolvimento de novos produtos, e é de
suma importância que estas culturas, ou comunidades inseridas nas mesmas, façam parte
deste processo a fim de que todos sejam beneficiados e contribuam para um resultado mais
efetivo. Assim, o design participativo deve ser utilizado como ferramenta na gestão de
desenvolvimentos de novos produtos que tenham como objetivo retratar e valorizar a cultura de
uma comunidade.
Havendo o envolvimento dos agentes locais, o crescimento e o desenvolvimento acontecem de
forma mais clara, motivada e duradoura. O design pode e deve se beneficiar dessa
aproximação, agregando conhecimentos e incorporando-os no desenvolvimento de produtos
que estejam cada vez mais integrados ao meio. Desta forma, o profissional de design passa a
ser um agente de transformação social, pois é capaz de modificar e melhorar o meio em que
vive e a vida dos envolvidos.

7 Agradecimento

À Universidade Federal de Santa Maria e Ministério da Educação do Governo Federal, através


do Programa de Extensão Universitária (ProExt), e ao Centro Comunitário Nossa Senhora do
Calvário que viabilizaram o desenvolvimento deste projeto.

8 Referências

Canclini, Nestor G. (2008). Culturas híbridas. 4ª ed. São Paulo: Ed. da Universidade de São
Paulo, 2008.
Dantas, L. C., Guimarães, L. E. C. & Almeida, J. D. de. (2009). Produção artesanal, design
participativo e economia solidária: a experiência do grupo Mulheres da Terra. XXIX
ENEGEP. Disponível em:
<http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_095_646_12697.pdf >. Acesso
em: 08 jun. 2011.
Fagianni, Kátia. (2006). O poder do design. Brasília: Thesaurus.
Fórum Internacional de Design Social. (2007). Fórum Internacional de Design Social.
Disponível em: <http://www.institutodamanha.com.br/forum/forum.htm>. Acesso em: 08 out.
2009.
Hall, Stuart. (2006). A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Ed. Rio de Janeiro: DP&A.
Krucken, Lia. (2010). [Entrevista disponibilizada em 15 de fevereiro de 2010, a Planeta
Sustentável]. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/cultura/lia-
kruchen-territorio-designlia-kruchen-design-territorio-produto-local-
533690.shtml?func=1&pag=0&fnt=9pt >. Acesso em: 27 mar. 2010.

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Lages, V., Braga, C. & Morelli, G. (Org). (2004). Territórios em movimento: cultura e identidade
como estratégias de inserção competitiva. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará / Brasília,
DF: SEBRAE.
Manzini, E.; Tradução: Carla Cipolla. (2008). Design para a inovação social e sustentabilidade:
comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro:
E-papers.
Silva, D. É. N. (2009). Projetando produtos sociais. Recife: Ed. Universitária da UFPE.
Stanford Social Innovation Review. (2008). Redescobrindo a inovação social. Disponível em
<http://www.itsbrasil.org.br/sites/default/files/infoteca/uploads/Redescobrindo_a_Inovacao_S
ocial_original.pdf >. Acesso em 5 nov. 2010.
Ullmann, Cristian. (2010). Design Possível. Curitiba: Revista ABC Design, Ed. 22.
Villas-Boas, André. (2002). Identidade e cultura. Rio de Janeiro:2AB.

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Design e Território: integrando competências em prol da
sustentabilidade (Design and Territory: integrated skills for
sustainability)

VENÂNCIO, Geisy Anny; Mestranda; Universidade Federal do Paraná


venancio.anny@gmail.com

HEEMANN, Adriano; Dr.; Universidade Federal do Paraná


adriano.heemann@gmail.com

CHAVES, Liliane Iten; Ph.D; Universidade Federal Fluminense


chaves.liliane@gmail.com

palavras chave: design; território; sustentabilidade.

O artigo apresenta reflexões sobre o tema território na área do design e traça um paralelo com a questão
da valorização da identidade cultural de um determinado local enquanto pressuposto para o alcance de
uma sociedade mais sustentável. A valorização do território e a promoção de uma identidade cultural são
apresentadas como um meio para se alcançar resultados satisfatórios, dentro da área do design, voltados
à questão da sustentabilidade, onde o designer aparece como um ativador de inovações colaborativas e
interações na sociedade. O território, neste contexto, é entendido como um conjunto peculiar de
características ambientais, históricas, culturais e sociais de um determinado lugar. Considerando-se que o
presente estudo tem como objetivo reunir reflexões que esclareçam a relação existente entre o design, o
território e a sustentabilidade, utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica, como procedimento
formal, envolvendo o pensamento reflexivo e tratamento científico do assunto. Assim, o artigo também
constitui um levantamento reflexivo a respeito do papel do designer enquanto profissional que pertence a
um determinado território e necessita agir em diferentes contextos, integrando conhecimentos de diversas
áreas e promovendo relações transversais em prol de um desenvolvimento mais sustentável. Finalmente,
o artigo traça perspectivas concernentes aos temas expostos.

Keywords: design; territory; sustainability.

This paper presents reflections about the territory within the area of design and draws a parallel with the
issue of recovery of cultural identity in a particular location as a condition for reaching a more sustainable
society. The value of the territory and promotion of cultural identity are presented as a way of achieving
satisfactory results in terms of solutions, within the area of design, focused on the issue of sustainability,
where the designer appears as an enabler of innovation and collaborative interactions in society. The
territory in this context is understood as a peculiar set of environmental characteristics, historical, cultural
and social needs of a particular place. Considering that this study aims to join the discussions to clarify the
relationship between design, sustainability and the territory was used, as a method, a bibliographic
research, as a formal procedure involving reflective thinking and scientific treatment of the subject. Thus,
the paper also is a reflective survey on the role of the designer as a professional who belongs to a certain
territory and needs to act in different contexts, integrating knowledge from various areas and promote
transversal links in favor of a more sustainable development. Finally, the paper outlines perspectives
concerning the issues outlined.

1 Introdução

O desenvolvimento sustentável está relacionado ao suprimento das necessidades das


gerações atuais sem que as gerações futuras tenham as suas necessidades comprometidas,
em detrimento da busca pelo bem-estar no mundo contemporâneo (CMMAD, 1987). Também é
amplamente aceito que a idéia da sustentabilidade está relacionada à manutenção do
ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.

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Nessa perspectiva, a área do design assume papel fundamental, visto que, como apontando
por Berman (2009), os designers criam muito do mundo em que se vive, do que é consumido e
das expectativas que são geradas. Ou seja, designers moldam o que é visto, usado e
desperdiçado e, com isso, têm uma grande influência no modo como o homem se envolve com
o mundo a sua volta e como encara seu futuro.
Corroborando Berman (2009), Manzini (2008) já apontara que os designers têm sido parte
do problema relacionado às condições atuais do planeta. No entanto, o autor acredita que os
designers ainda podem e devem assumir uma posição como parte da solução, por acreditar
que a questão da melhoria da qualidade do mundo é parte intrínseca do conceito de design.
Tal desafio para os designers já foi diagnosticado por Krucken (2009) de um modo
abrangente, no contexto do assim chamado território, um termo que se refere à origem
geográfica de produtos caracterizados por um conjunto de elementos históricos, culturais,
sociais e ambientais e que será usado no presente artigo com o mesmo significado.
Ou seja, o design é posicionado por autores como Krucken (2009) e Garcia & Maciel (2010)
como um grande aliado na valorização de identidades, produtos e território, sendo considerada
uma área indissociável da cultura e da sociedade.
A área do design é considerada bastante ampla, apresentando diversas subdivisões, por
isso, é possível caracterizar o designer, de um modo geral, como um profissional que necessita
ter uma visão sistêmica a respeito do universo que o cerca, no que diz respeito à capacidade
de compreender o todo por meio de uma análise das partes complementares e da interação
entre elas.
Assim, Krucken (2009) destaca que características como habilidade visionária, riqueza
interpretativa, visão sistêmica e estabelecimento de relações com outras disciplinas e atores
sociais, inerentes ao designer, podem contribuir para o desenvolvimento de uma pluralidade de
soluções e cenário de futuro, ampliando-se, dessa forma, o campo de ação do design por meio
do fortalecimento do profissional desta área enquanto agente capaz de impulsionar inovações
sustentáveis e projetos relacionados à valorização de recursos locais.
No entanto, embora seja compreensível a relação entre a busca por um mundo mais
sustentável e o que compete ao design, evidencia-se aqui uma questão ainda não
suficientemente contemplada em estudos da área: qual a relação da valorização do território
(desenvolvimento territorial) com o alcance de uma sociedade mais sustentável? E onde o
design, efetivamente, se encaixa nesse contexto?
Considerando-se, então, a amplitude do campo do design, o presente artigo objetiva
apresentar esclarecimentos conceituais específicos sobre território e sustentabilidade, no
contexto do que se entende sobre o termo desenvolvimento, relacionando-o com o campo do
design.
Os tópicos seguintes apresentam o método utilizado para a realização desta pesquisa, os
resultados obtidos e uma discussão a partir do cruzamento dos dados levantados.

2 Método

Considerando-se que o presente estudo tem como objetivo reunir reflexões que esclareçam a
relação existente entre desenvolvimento territorial e desenvolvimento sustentável, no âmbito do
design, utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica, como procedimento formal,
envolvendo o pensamento reflexivo e tratamento científico desse assunto.
Dessa forma, foi utilizado o processo de documentação indireta que, de acordo com
Marconi e Lakatos (2009), refere-se à utilização de fontes de dados coletados por outras
pessoas e em fontes secundárias.
O levantamento bibliográfico realizado trata do território e da sustentabilidade, em termos de
desenvolvimento, para posterior inserção do tema design, com o intuito de evidenciar a
integração de competências de áreas distintas, mas correlatas. Como procedimento
metodológico para a análise da bibliografia levantada, utiliza-se a estratégia de triangulação
das informações visando à verificação de diferentes perspectivas a respeito de temas
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correlatos para posterior comparação e discussão. Minayo (1994) acredita que esse tipo de
comparação é um recurso utilizado para tornar mais universal o saber sobre determinado
assunto e a triangulação acaba por se constituir em uma prova eficiente de validação, em que
há combinação e cruzamento de múltiplos pontos de vista.
Portanto, a triangulação é aqui considerada uma forma de se aumentar a validade ou
reforçar a credibilidade dos resultados de uma investigação, cruzando resultados de diferentes
abordagens. Yin (1994) defende que a triangulação, como estratégia, permite identificar,
explorar e compreender as diferentes dimensões de um estudo, reforçando assim as suas
descobertas e enriquecendo as suas interpretações. É nesse sentido que a sustentabilidade é
abordada no presente artigo sob a perspectiva do território, especificamente no âmbito do
design.

3 A evolução do termo desenvolvimento

A concepção de desenvolvimento, neste artigo, baseia-se na definição formulada por


Dallabrida, o qual, como tantos outros pesquisadores, associa o termo ao adjetivo territorial,
culminando na seguinte definição:
Processo de mudança estrutural, empreendido por uma sociedade organizada territorialmente,
sustentado na potencialização dos capitais e recursos (materiais e imateriais) existentes no local, com
vistas à dinamização econômica e à melhoria da qualidade de vida de sua população. (Dallabrida,
2010, p: 153).
Nesse sentido, considera-se necessário o esclarecimento acerca da evolução do termo
desenvolvimento e da inserção de diferentes adjetivos ao longo do tempo, com destaque para
a sua vinculação ao “sustentável” e “territorial”, culminando em uma reflexão sob a ótica do
design.
Como esclarecido por Aguiar et al (2008), inicialmente, por volta no ano 1950, o termo
desenvolvimento ganhava destaque por meio da sua associação direta com o termo
crescimento econômico. No entanto, ao final do século XIX, foi iniciada uma crise em virtude do
distanciamento entre o pretendido pela chamada economia de mercado e o intitulado como
sociedade de mercado, ou seja, “vários projetos de desenvolvimento enfrentavam realidades
socioeconômicas que não os legitimavam enquanto alternativas válidas para o conjunto da
sociedade”. (Aguiar et al, 2008, p: 27).
A partir de então, em meio à crescente desvinculação direta do fator econômico ao termo
desenvolvimento, inicia-se um debate sobre a crise ambiental enquanto resultante dos modelos
de desenvolvimento (crescimento) e dos padrões de produção e consumo associados.
O atrelamento destes dois processos (crise do desenvolvimento e fortalecimento do ambientalismo)
foi, em grande parte, responsável pela retomada do estudo e da importância teórica do
desenvolvimento, desta vez recheado de adjetivos (desenvolvimento social, humano, regional, rural,
local, territorial, sustentável, etc.). Este uso de adjetivos tinha a intenção, por um lado, de rechaçar o
suposto mimetismo dos modelos de desenvolvimento com sua crença na possibilidade de
“reprodução” dos mesmos em países e regiões com realidades díspares e, por outro, ressaltar a
complexidade do tema e a necessidade da sua abordagem multidisciplinar. (Aguiar et al, 2008, p: 27-
28).
Assim, em meio à crescente desvinculação direta do fator econômico ao termo
desenvolvimento, inicia-se um debate sobre a crise ambiental enquanto resultante dos modelos
de desenvolvimento (crescimento) e dos padrões de produção e consumo associados.
Nessa perspectiva, são fortalecidas as ideias vinculando o crescimento econômico ao
adjetivo sustentável, tendo surgido o termo “desenvolvimento sustentável”, oficialmente, na
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1987).
O Relatório Final da CMMAD compreendeu um texto intitulado “Nosso Futuro Comum” que,
conforme pontuado na introdução deste artigo, defendia desenvolvimento sustentável como a
capacidade das gerações atuais satisfazerem suas necessidades sem que as gerações futuras
tenham as suas necessidades comprometidas; em meio a uma noção de crescimento para
todos, considerando-se um equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental.

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Mais adiante, são vinculadas à noção de desenvolvimento sustentável, para unirem-se à
questão da preservação ambiental, a luta pelo combate à miséria e o alcance do bem-estar
social, evidenciando-se assim, os focos ambiental, econômico, social e cultural da luta pela
sustentabilidade.
Considerando-se a evolução do termo desenvolvimento que, conforme pontuado nos
parágrafos anteriores, teve seu ápice com a adição do adjetivo sustentável, verifica-se que nos
debates mais recentes acerca do tema, surge uma nova perspectiva evidenciada por uma
abordagem territorial.
Para Aguiar et al (2008), essa nova abordagem (a qual vem sendo chamada de
desenvolvimento territorial sustentável), trata de “observar os fatores sócio-políticos que
repercutem nas esferas de produção e de tecnologia, bem como a capacidade da sociedade se
organizar e intervir na gestão de seu território”. (Aguiar et al, 2008, p: 35).
Os autores esclarecem que, em um primeiro momento, a Geografia e a Geopolítica foram
as primeiras ciências a trabalharem a questão territorial e o próprio conceito de território. No
entanto, mais recentemente, outras ciências humanas e sociais passaram a usar esta
abordagem, com destaque para a Economia, a Sociologia e a Antropologia, todas com o intuito
de compreender seus objetos de análise e investigação num determinado espaço social.
Tal constatação evidencia o aspecto de integração de competências de diversas áreas em
prol da sustentabilidade, como sugerido por este artigo.
Como salientado por Aguiar et al (2008), as características dessa recente abordagem,
posicionam o desenvolvimento territorial como nova forma de promover o desenvolvimento
sustentável, uma vez que a nova abordagem intenta contemplar as múltiplas dimensões do
desenvolvimento e a diversidade de atores com os quais é preciso lidar quando da análise do
tema.
Nesse contexto, Dallabrida (2010) ressalta a multidimensionalidade do desenvolvimento,
enquanto um “fenômeno complexo que se realiza sempre em territórios específicos”.
(Dallabrida, 2010, p: 155).

4 Design e desenvolvimento territorial sustentável

No item anterior, contextualizou-se a relação existente entre território e sustentabilidade,


caracterizada pela evolução do termo desenvolvimento sustentável para desenvolvimento
territorial sustentável, uma vez que se evidencia a necessidade de análise do complexo
fenômeno do desenvolvimento sustentável, no contexto de um território específico.
A partir daqui, será feita uma triangulação dos assuntos abordados, preenchendo-se a
terceira ponta com o tema design, ou seja, o território e o desenvolvimento sustentável passam
a ser analisados sob a ótica do design.
Para Reyes e Franzato (2008) a disciplina do design, por apresentar competências
específicas, deve abordar o assunto território de maneira original, ou seja, o design, nesse
contexto, deve se apresentar de forma estratégica, ocupando-se do reconhecimento de valores
internos, na transformação do território em produto e possibilitando sua comunicação de
maneira externa por meio do aumento do potencial de atratividade que o território passa a ter.
Portanto, conforme pontuado também por Krucken (2009), umas das principais
contribuições do design em prol da dinamização dos recursos de um território e valorização do
seu patrimônio cultural imaterial é reconhecer e tornar reconhecíveis valores e qualidades
locais.
Assim, a necessidade de “tornar reconhecível”, ou seja, promover “visibilidade”, bem como a
de desenvolver condições que permitam a conversão do potencial dos recursos locais em
benefício real e durável para as comunidades, constitui um novo desafio para economias
emergentes, que se acentua com o fenômeno da globalização. (Krucken, 2009).
Krucken (2009) defende, ainda, que a “qualidade percebida” de um produto ou serviço,
relacionada aos fatores emotivos, estéticos e psicológicos que resultam em um “valor de
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estima”, bem como o reconhecimento da comunidade e do território onde se produz
(certificação de origem), são atributos primários na relação competitiva local versus global, que
acabam por se tornar diferenciais competitivos determinantes.
Dessa forma, o cenário do designer assumindo uma postura de mediador de todo o
contexto histórico de um produto, desde a sua origem, valorizando-o além de seus atributos
materiais, faz com que o público consumidor construa imagens mentais acerca do produto ou
serviço adquirido, reduzindo a opacidade comum aos produtos que normalmente adquire sem
afetividade, sem vínculo e sem valores adicionais. (Garcia e Maciel, 2010)
Complementando a questão do “valor de estima” que determinado produto ou serviço
assume perante o consumidor, pontua-se que, segundo Ono (2004), no processo de
construção do mundo, os objetos e a sociedade são moldados e influenciados em uma relação
dinâmica. Cabe ao designer atuar nessa relação de forma criativa dentro da complexidade de
funções e significados em que as percepções, ações e relações se estabelecem, buscando
assim, adequar objetos às necessidades e anseios das pessoas, e a melhoria da qualidade de
vida da sociedade.
Considerando-se as intervenções do design na valorização de produtos e territórios, o
desafio principal do designer, de acordo com Krucken (2009), está em conseguir comunicar
qualidades locais a consumidores globais e auxiliar a mediação entre produção e consumo,
tradição e inovação.
A referida autora aponta que o design é um importante aliado no desenvolvimento e na
comunicação de soluções inovadoras e sustentáveis, pois tem a oportunidade de aproximar
produtores e consumidores, dando transparência e fortalecendo os valores que perpassam a
produção e o consumo. Isso se torna possível por meio do planejamento de estratégias para a
valorização de produtos e serviços relacionados a uma determinada origem geográfica, ou
seja, o designer pode utilizar abordagens sistêmicas e promover a valorização do próprio
território, da cultura, da identidade e dos recursos ambientais associados.

5 Considerações Finais

Com base na fundamentação apresentada, é possível refletir sobre o questionamento


inicialmente proposto nesse artigo: qual a relação da valorização do território com o alcance de
uma sociedade mais sustentável? E onde o design, efetivamente, se encaixa nesse contexto?
Embora a busca por um mundo desenvolvido sustentavelmente seja necessidade global,
evidencia-se que particularidades territoriais devem ser consideradas, nessa busca, para que o
almejado equilíbrio entre o suprimento das necessidades das gerações atuais e das futuras
seja alcançado. Tal equilíbrio é caracterizado pelo ambientalmente correto, economicamente
viável, socialmente justo e culturalmente aceito alcançados concomitantemente.
Uma vez que a diversidade global (em termos ambientais, econômicos e sociais) apresenta-
se como algo de grande dimensão, há que se considerar, prioritariamente, esses aspectos num
âmbito de um território específico, afim de que, equilibrado esse contexto local, o global seja,
então, beneficiado.
Nessa perspectiva, a área do design, evidenciada por uma constante busca pelo bem-estar
e indissociável da relação existente entre produção e consumo, apresenta-se como detentora
de um fundamental papel no que diz respeito à valorização de territórios e identidades locais,
como uma forma de inovação sustentável.
Assim, reconhecendo-se que tal responsabilidade quanto ao alcance de uma sociedade
mais sustentável, embora evidente à área do design, não cabe somente a esta, configura-se a
crescente necessidade de integração de competências entre áreas e profissionais diversos
para a efetivação de territórios desenvolvidos sustentavelmente.

Agradecimento

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Os autores agradecem o apoio à pesquisa e o subsídio financeiro concedidos pela Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM.

Referências
Aguiar, M. D. S. Et al. (2008). Do Desenvolvimento ao Desenvolvimento Territorial Sustentável:
os rumos da região do Vale do Taquari no início do século XXI. In: Anais do 4º Encontro
Nacional de Grupos de Pesquisa – ENGRUP, São Paulo, pp. 26-60.
Berman, David. B. (2009). Do good design - How designers can change the world. California:
Aiga - New Riders.
CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas
(1987). Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas, 1991,
2a. ed.
Dallabrida, V. R. (2010). Desenvolvimento Regional: por que algumas regiões se desenvolvem
e outras não? 1. ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC.
Garcia, L. H. A.; Maciel, R. C. (2010). Design, território e paisagem: das marcas gráficas à
construção de uma imagem identitária urbana. In: Anais do 9° Congresso Brasileiro de
Pesquisa e Desenvolvimento em Design - 9° P&D Design. São Paulo.
Krucken, Lia. (2009). Design e Território: valorização de indentidades e produtos locais. São
Paulo: Studio Nobel.
Manzini, Ezio. (2008). Design para a inovação social e sutentabilidade: comunidades criativas,
organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-paper.
Marconi, Marina de Andrade; Lakatos, Eva Maria. (2009). Técnicas de Pesquisa. 7. ed. São
Paulo: Atlas.
Minayo, M. C. S. et al. (1994). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes.

Reys, P.; Franzato, C. (2008). O Design para o território: uma reflexão teórica. In: Anais do 8°
Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design - 8° P&D Design. São
Paulo.
Yin, R. (1994). Case Study Research: Design and Methods. Applied Social Research Methods
Series, Vol. 5, Sage, USA.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
O desenvolvimento de uma composteira doméstica (The
development of a domestic composter)

30
BENTO G. S. PIMENTEL

MANOEL A. S. RODRIGUES 31

NÚBIA SANTOS 32

Palavras-chaves: sustentabilidade; eco-concepção; inovação.

O projeto em questão constitui-se como uma proposta de incidir na qualidade de vida no meio urbano.
Considerando a problemática do lixo doméstico, propôe-se criar um modo criativo de lidar com esta
situação. A partir desta percepção, elege como principais conceitos fundamentais a sustentabilidade, a
eco-concepção e a inovação. Será desenvolvido por meio do método da pesquisa aplicada e tem como
seu principal objetivo solucionar através da metodologia projetual do Design de Produtos o projeto final de
uma composteira doméstica, baseada no surgimento e progressivo amadurecimento de mercados
consumidores deste setor, fundamentados com base na concepção do ecodesenvolvimento.

Keywords: sustainability; eco-design; innovation.

The project in question is constituted as a proposal to focus on quality of life in urban areas. Considering
the problem of household waste, it is proposed to create a creative way to handle this situation. From this
perception, elects the main fundamental concepts of sustainability, eco-design and innovation. Will be
developed by the method of applied research and has as its main purpose to solve using the methodology
of projecting as a Product Design the final design of a home composter, based on the emergence and
progressive maturation of the consumer markets in this sector, based on the basis of design eco-
development.

1.Introdução:

O objetivo da atividade exposta aqui é de contribuir para novas necessidades geradas por este
presente momento de fomento aos paradigmas de Sustentabilidade, visualizadas de forma
reiterada em economias de serviço em crescimento.

Os consumidores de nosso tempo têm voltado sua atenção a hábitos diferenciados, que de
tendências tornaram-se comportamentos perenes, dado um momento disforme da conjuntura
econômica de países em expansão como o Brasil, tendendo a criar uma situação propensa à
atividade nativa do empreendimento inovador. Mesmo os habitantes mais distantes das zonas
rurais e preservadas desejam ter um pedacinho desta mudança de paradigma em suas casas.

30
UEPA, Brasil, bgugapimentel.designer@yahoo.com.br

31
UEPA, Brasil, alacyrodrigues@oi.com.br

32
UEPA, Brasil, nubiatrib@yahoo.com.br
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A humificação é um processo naturalmente encontrado na natureza em seus ciclos naturais
que envolvem degradação e efervescência microbacteriana que propicia boa fertilização de
solos, por muitas vezes prejudicados pelo mau uso, uso intensivo e até variação climática.
Também é comumente empregado nas casas do consumidor médio, que exercita de forma
salutar em algum aposento, o cultivo vegetal viabilizado pela jardinagem, ornamentação e até
mesmo destinado a própria alimentação.

O lixo doméstico é um grande problema para a vida saudável das cidades, por seus
intrínsecos impactos ambientais cumulativos e problemas sanitários que demandam a
dimensão educacional e seus atributos. Sendo assim, propõe-se aqui a lançar uma alternativa
que opere sobre o lixo orgânico, gerando de forma natural em receptáculo, uma solução que
induza ao costume sustentável. Para tal, a seguir tentar-se-á sintetizar alguns conceitos e
relações complexas que propiciam a necessidade de basear-se na Eco-concepção como
plataforma da atividade criativa para a solução inovadora em novos serviços e produtos
sustentáveis. Após tal síntese, o problema prático da probabilidade desta solução será
apresentado, como objeto de pesquisa em design, uma pesquisa que se encontra em
andamento no ano de 2011.

2.Desenvolvimento:

Em MANIZINI (2008), verifica-se na teoria de um Eco-Design uma proposta que apresenta o


papel do projetista destinado ao desenvolvimento de oportunidades que tornem praticáveis os
estilos sustentáveis de vida bem como o desenho do ciclo de vida dos produtos, que de forma
normativa exigem a integração dos requisitos ambientais nas fases de seu desenvolvimento.
Necessita-se também nas aptidões do designer, lidar com impactos ambientais somando a isto
as atividades resididas em sua metodologia mais comum. Em um Design para
Sustentabilidade, percebe-se o objetivo de responder à procura pelo bem-estar, reduzindo o
emprego de recursos ambientais de forma drástica a 90% a menos do que atualmente pode ser
empregado.

O produto é concebido como sistema embasado pela necessidade de um planejamento


simultâneo e transversal para itens de produto, serviço e comunicação, sendo destinado aqui a
uma concepção para um novo produto-serviço intrinsecamente sustentável. Tal afunilamento
infere uma elaboração que reside em um momento posterior à compreensão acerca do
fomento e compreensão do objetivo, portanto, resultado da boa assimilação do valor nativo da
proposta e resultado de legitimação, efetivados no ato da compra. Tal fenótipo denomina-se
Eficácia, e não exige como requisito uma divergência de normatização entre possíveis formatos
mercadológicos concorrentes neste mesmo raciocínio naturalista, mas juntamente efetuados
em uma pluralidade eco-concebida, tornam-se um passaporte coletivo para uma obrigatória e
processual intensificação. Esta intensificação culmina na Sustentabilidade, que é o objetivo ao
qual se quer atingir, e não o processo em si. Esta passagem de uma sociedade com problemas
cataclísmicos sistêmicos para uma sociedade sustentável dá-se como uma transição, por um
aparato econômico diferenciado, que através de uma desmaterialização/ descontinuidade
econômica de vários itens acumulativos, propiciará um momento de certo 'renascimento', um
cenário propício à Inovações, no seu entendimento igualmente sistêmico e contemporâneo.
Esta desmaterialização como objeto de necessidade, é dada por uma concepção da
coletividade que aceita os entes de seu meio em disposição horizontal cíclica, equivalendo-os
na importância de seus direitos e deveres, um atributo da processualidade objetivada à
Sustentabilidade Ambiental, que seria levada a cabo por esta Eficácia de um sincronismo entre
ciclos, como resultado interacional diacrônico em um período de transição, e não fruto de um
determinismo apocalíptico ou cataclísmico.

Os ciclos dão suporte a dois quocientes: suficiência, um retrato reformulado de bem-estar e


necessidades do usuário, e eficiência tecnológica, um ponto de equilíbrio entre biociclos e
tecnociclos, mediados pelo Princípio da Interferência, sendo o resultado desta máquina (dado
por sua virtuosa Eficácia), capaz de reformular um equipamento econômico exaurido de
alternativas e marcado por consecutivas crises.

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Tal quadro propiciaria um cenário fértil para ações sinérgicas em prol de Inovações
sistêmicas, cuja atividade empresarial é extremamente importante. Sinergia aqui se trata de um
cenário 'catalisador de recursos sociais e energias projectuais e criativas' (MANZINI et al, 2008
p: 43) nas quais a inovação se orientaria a atividade empresarial para melhores soluções em
âmbito econômico-ecológico.

A atividade empresarial para esta bíade do racionalismo econômico-ecológico, é a


competitividade como catalisadora da qualidade neste tipo de oferta. Porém, para que haja
convergência entre esse racionalismo industrial para fins de Eficácia, é preciso um rompimento
com o antigo paradigma. A Inovação seria a matriz destes novos signos, podendo ser
concebida por um cenário minuciosamente planejado, um posicionamento estratégico e
ecologicamente orientado contendo a escolha das Best Pratices e Best Technologies para uma
nova businesses idea, direcionadas a um green consumerism, que em MANZINI (2008) é
mostrado como fenômeno consolidado. Tal fenômeno pode ser visualizado em países de
economia de serviços inovadores, aonde socialmente percebe-se um deslocamento da
atividade que envolve o âmbito denunciatório do fomento civil para o foco da economia de
mercado, uma vez passando por um afunilamento de consumo disseminante destes
paradigmas.

Tais produtos apresentariam a qualidade de, em seu desenvolvimento, ter zero resíduo
entre input/ output dos impactos poluentes resididos em seus componentes. Este caráter
projectual industrial ecológico somado a atividade produtiva mais convencional, denomina-se
Simbiose Industrial, que alinha-se ao conceito de friendlyness no intuito de focalizar-se na
atividade de criar interfaces 'mais amigáveis', reduzidas ao mínimo com a finalidade de não
acarretar posteriores fatores cumulativos a serem geridos e reduzidos pela gestão de resíduos,
por exemplo, ou mesmo para a redução dos fatores industriais normativos a serem geridos e
um maior foco nos itens de concepção integrada da produção amigável. Tais valores são
incentivados como contrapartida à percepção de que o crescimento econômico, levado a cabo
pela produtividade massiva têm sido o algoz de nosso bem-estar.

Ainda sobre a desmaterialização da economia, é possível considerá-la como um anteparo


capaz de ligar, dentro desta máquina eco-concebida, ciclos integrados de produção, e,
expansão das necessidades naturalistas ligadas ao bem-estar do usuário. O retorno desta
importância naturalista não significa o diagnóstico de uma afeição coletiva alinhada com um
comportamento hegemônico fundamentalista, anti-consumista, unilateral e apartado de uma
interação socioeconômica e sim, a força expressa de um raciocínio eco-integrado em pujança
exponencial.

Percebe-se também neste aparato que leva consigo a descontinuidade e a


desmaterialização, a mudança no estereótipo do trabalho e a modalidade da vigilância
desenvolvidos em locais, funções e tempos antes bem-definidos, sólidos, que dão lugar agora
a outras formas de compreensão da atividade produtiva mediada por relações contratuais, e
portanto, exercício do poder (SARAIVA et al. 2009). Em contrapartida, fortalecem-se a
Microeconomia e Economia Solidária galgadas em bens de serviços e filantropia institucional.
Portanto, 'o caráter projectual da transição para a Sustentabilidade não deve ser visto como a
atualização do delírio de potência projectual (…) mas um (...) conjunto de contributos parciais a
um grande, complexo e, provavelmente, contraditório fenômeno de inovação social (…)' (p. 64).

3.Sobre a atividade de compostagem:

Sendo assim, no intento de suprir a necessidade dada para o desenvolvimento de um produto-


serviço intrinsecamente sustentável, objetivou-se o estudo da compostagem aliada à gestão da

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33
reciclagem , tendo nesta relação uma atividade pensada para a gestão dos resíduos
orgânicos através da compostagem. Já no estudo realizado para este fim, o objetivo da
atividade da compostagem é conduzir matérias-primas orgânicas residuais de seu estado
sólido ao estado parcial ou total de humificação (estado de húmus) (KIEHL, 1986).

Portanto, no contexto deste artigo esta atividade será concebida de maneira objetiva quanto
ao seguinte quesito: contribuir para a necessidade de geração do humus na residência que
apresente áreas destinadas ao pequeno cultivo (no que concerne a atividade de jardinagem
independente do destino dado ao desenvolvimento das mudas) com grandes níveis de
dependência de humus. A partir desta iniciativa reconhece-se o benefício microbiológico na
geração de microagregados ao solo, que aprimora a performance qualitativa do
desenvolvimento do cultivo devido á melhora de seu fator estrutural agregante na forma dos
aglutinantes coloidais, que por meio de estabilidade atômica possibilitam a melhor nutrição da
muda. Empregado no solo, o humus se combinará com a argila retendo nutrientes tais quais K,
4-
Ca, Mg e H .

No intuito de visualizar de forma exploratória estes eventos, visitou-se um grupo de


extensionistas no Núcleo de Responsabilidade Empresarial Social – NURES na Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA da Amazônia Oriental, sob orientação da
professora assistente Ana Julia Soares Barbosa da Universidade do Estado do Pará.

Ali fora pesquisado o comportamento de grandes amostras da atividade de compostagem,


comumente realizada em áreas produtivas rurais de médio e pequeno porte (SENAR, 2003).
2
Tais amostras são denominadas leiras e são tetraédricas piramidais de aproximadamente 4m ,
que dependendo do local da aplicação para medição térmica, a análise resultará em três
temperaturas heterogêneas, dada a profundidade do local. Aparentemente, o envoltório que se
forma em torno da região que apresenta temperatura mais alta, é o responsável pela qualidade
do composto a ser gerado, dada por uma relação inversa de espaço/tempo. O desenvolvimento
térmico da atividade da compostagem se dá mediante alguma indução espacial do pesquisador
com a amostra, e sintetiza-se em duas fases: termófila, que têm seu desenvolvimento térmico
de 40 a 55°C, e fase mesófila, que evolui de de 55 a 70º C, tendo portanto, entre sua
temperatura inicial e final, 30 graus de diferença entre fase de aquecimento e processo de
humificação diagnosticado na amostra final.

As leiras são montadas segundo uma recomendação na ordem do material para o


empilhamento do composto orgânico, sendo a primeira formante, de capim seco, a segunda de
Horti-Frutti, a terceira de folha e capim, e a quarta novamente, de folha e capim. A estimativa
da média na composição estrutural formante las leiras é que seja de 40% de horti-frutti e 60%
de material estruturante, em terreno ideal sem diferenças em planagem. Tal material que é
basicamente composto de restos vegetais, meios em fermentação e em alguns menores casos,
de proteínas na sua forma animal, precisam de uma pré-trituração antes do arranjo espacial
nas leiras.

A degradação das leiras exige ambiente aeróbio, aberto, que também proporcionará
minimização do odor possivelmente gerado no processo. Sua mistura inicialmente ácida (PH de
8 ou 9) consiste em 204 partes de restos vegetais para 1 parte de meios de fermentação,
resultado em um composto pós-degradação de C1/35 = 1N de teor alcalino (PH de 5 ou 5,5).

O custo-valor do benefício do composto gerado pela atividade da compostagem é de 333%


de benefício (KIEHL, 1986). Atualizando-se esses dados, têm-se diante da percepção de uma
intensificação da inovação em marketing demandada pelo fomento à produção e consumo
sustentável, que este benefício calculado a partir desta valorização e mediante destinação ao

33
Composteira Coloidal (BRASIL, É. C. et al. 2009), Menção Honrosa Prêmio Alcoa de Inovação em Alumínio –
América Latina e Caribe.
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ambiente urbano, estes custos legitimados na aquisição do produto-serviço em receptáculo
poderiam ser modestamente mais altos para a pequena informal e doméstica iniciativa de
venda de insumos orgânicos. Tal comportamento já pode ser averiguado mediante SEBRAE
(2011), que aponta uma crescente e consolidante tendência japonesa, as Urban Farms
34
(OURWORLD 2.0, 2010) , percebendo aí neste recorte social japonês, um retrato de uma
sociedade industrial em muitos âmbitos restringida por escassos espaços férteis para o cultivo,
e que como toda a comunidade global culturalmente híbrida (CANCLINI, 2004), fomentadora
também do consumo consciente (ALMANAQUE SOCIOAMBIENTAL, 2008) de forma
progressiva em vários espaços das trocas intangíveis.

Figura 1: Composteira Coloidal (2009). Fonte: acervo do autor

Figura 2: Processadora de lixo (2010). Fonte: acervo do autor

4.Conclusão

O projeto deste serviço de compostagem, formatado no receptáculo para processamento de


lixo, se destina ao objetivo de minimizar o acúmulo do residual orgânico domiciliar em suas

34
Entendida aqui como expoente de uma tendência a comercializar mudas para os usuários moradores de
apartamentos. Acesso em 31 de Maio de 2011. Link: http:/ourworld.unu.edu/en/farming-in-the-concrete-jungle
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propriedades minerais e concentrações, ao mínimo. Este composto será então renaturalizado
em sistemas regidos por bio-ciclos, na forma das atividades resididas no cultivo em áreas
urbanas, tal como as Urban Farms, incentivando assim a adesão a uma ecologia industrial
fortemente desmaterializada, uma economia baseada em ofertas de serviço, e favorecendo o
interesse pela cultura empreendedora, orientada pela inovação sustentavelmente viável.

O acondicionamento de sintéticos para catalização das amostras estudadas, apresentarão


baixo quociente de custo/ benefício na fertilidade do material, ou má herança congênita.
Portanto tais catalisadores não são em qualquer ocasião indicados. Porém não foram
percebidos em casos estudados, o uso de condicionamento térmico.

A segregação dos processos na forma do biociclo e tecnociclo, demonstra a segregação e


talvez a simplificação do raciocínio estruturalista e também acumulativo na concepção dos
ciclos. As lacunas de compreensão acerca da sustentabilidade só poderão ser superadas
mediante um fluxo mais elevado de informações, para uma melhor gestão da inteligência
organizacional e portanto, produtiva. Pode-se dizer sobre os raciocínios apresentados aqui,
que são um tipo de racionalismo econômico e ecológico, em prol de um novo paradigma
econômico. Um importante atributo a ser seguido a risca durante este longo processo é a
democratização da interlocução, a discussão constante dos feedbacks acerca dos processos
referentes a sustentabilidade.

5. Referências

Almanaque Brasil Socioambiental. (2008). Instituto Socioambiental.

Canclini, N. G. (2004). Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade.


São Paulo: Editora Edusp.

Kiehl, E. J. (1986). IN: XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA. Curso de


nutrição e adubação de hortaliças. Salvador.

Kawasaki, J. OURWORLD 2.0: Farming in the concrete jungle. Acesso em 31 de Maio de


2011. Link: http://ourworld.unu.edu/en/farming-in-the-concrete-jungle/

Manzini, E. & Vezzoli. (C. 2008). O desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo.

Saraiva, K. & Neto, A. V. (2009). Modernidade Líquida, Capitalismo Cognitivo e Educação


Contemporânea. Educação e Realidade.

SEBRAE. Fórum de tendências de moda Inverno 2012. 31 de Maio de 2011. Belém (PA).

SENAR. (2003). Trabalhador na olericultura básica: Compostagem. Brasília.

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O green branding como abordagem de diferenciação da
marca – o estudo de caso do Instituto GIA e do projeto
Cultimar

Leandro Américo, Bacharel em Design de Produto; Universidade Federal do Paraná


leleamerico@hotmail.com

Leonardo Aguiar, Bacharel em Design de Produto; Universidade Federal do Paraná


aguiar_leonardo@hotmail.com

green branding, design, GIA, Cultimar

O presente estudo tem como objetivo analisar o green branding e o relacionar com o desenvolvimento
sustentável, e o papel do designer para que o conceito seja aplicado efetivamente, alcançando a
melhoria socioambiental. O artigo conta também com um estudo de caso, onde será apresentado o
Projeto Cultimar, desenvolvido pelo Instituto GIA, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público. O estudo de caso analisará o posicionamento estratégico voltado para green branding adotado
pelo Projeto, discorrendo sobre a utilização do design como ferramenta para construção e gestão da
marca Cultimar com foco no desenvolvimento sustentável.

green branding, design, GIA, Cultimar

The present paper has the objective of analizing the green branding and to relate it to the sustainable
development, and the designer´s role for the concept to be aplied in an effective way, achieving the social
enviromental improvement. The paper has also a study of case, where the “Projeto Cultimar” will be
presented, which is developed by the GIA Institute, a Civil Society Organization of Public Insterest. The
paper will analize the strategic positioning into green branding adopted by the project, showing the use od
the design as a tool for the construction and management of the brand “Cultimar” aiming the sustainable
development.

1 Introdução

Para Martins (2006), o branding é o conjunto de ações ligadas à administração das marcas.
Ainda para Martins, marca é a soma dos atributos tangíveis e e intangíveis que são sintetizados
na forma de um logotipo que quando gerenciados adequadamente, influenciam os
consumidores e agregam valor aos produtos, A marca é a essência do marketing e o principal
ativo de uma empresa, o que lhe garante diferencial competitivo e possibilita a definição de
preços de produtos mais atrativos para a empresa, aumentando o seu valor no mercado.
Os padrões mundiais atuais de produção e consumo, claramente insustentáveis, e os
acelerados processos de globalização e avanços da tecnologia da informação têm mudado o
panorama do consumo na economia mundial, e isso também se reflete localmente. Essa
situação fornece oportunidades em diversos âmbitos de ação dos designers e novos desafios
para a sustentabilidade, que ganha destaque devido à necessidade de se repensar e
reorganizar o sistema de vida e de consumo da sociedade.
Este destaque se dá, ainda, em função da conscientização dos valores da natureza, vitais
para o bem estar das gerações futuras, que culminou na corrente para a sustentabilidade tão
evidenciada nos discursos atuais. Por tal, produtos “verdes” e empresas, que se posicionam
como “ecologicamente corretas”, ganham aceitação crescente por oferecerem um ponto
diferencial positivo e uma resposta à necessidade de se consumir conscientemente.
O artigo objetiva analisar o green branding e pontos que se relacionam com o
comportamento do público em relação a esse posicionamento. Por tal, o conceito de

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branding,e, mais especificamente, o conceito de green branding serão melhor explicados no
decorrer do artigo. Será apresentado também um estudo de caso para exemplificar a aplicação
do conceito, e demonstrar com “resultados práticos” o que foi alcançado pela instituição através
do posicionamento tomado.

2 Branding, green branding e design

O conceito de branding significa concisamente, gestão de marcas. Segundo Flávio Henning, do


site Portal de Branding, no contexto do branding, marca não significa apenas um nome,
símbolo, logotipo, ou outro algo que represente uma empresa, e não se limita a uma forma
gráfica. Do ponto de vista da empresa, a marca representa sua identidade e seus valores, e, do
ponto de vista dos consumidores, é uma percepção, resultante de experiências, impressões e
sentimentos experimentados.
Segundo Jucá (2009 apud KAPFERER, 2004), existe muito poucos recursos estratégicos
para uma companhia manter uma vantagem competitiva de longo-prazo e a marca é um deles.
Ainda segundo Jucá, a força de uma marca está diretamente relacionada a sua capacidade de
contribuir para que a empresa gere valor por meio de vendas, margem, e participação no
mercado.
Para Henning, o Branding, ou “gestão de marcas”, é um processo de gerencia com foco na
soma de esforços de diferentes áreas ligadas a marca pretendendo-se dessa forma, agregar
valor ao produto ou serviço daquela marca, fazendo assim com que ele se diferencie no
mercado.
No que se refere ao green branding e seu breve histórico, o primeiro momento do consumo
verde se deu nos anos 80, com grandes ONGs fazendo campanhas contra desmatamento e
sobre o buraco na camada de ozônio, e apesar de os anos 90 serem de estagnação para esse
mercado (ROSE, 2002), um discurso sobre responsabilidade corporativa e social, e a
necessidade de medidas ambientais por parte dos governos e empresas ressurgiu no final
dessa década.
Nos dias atuais, ainda segundo Rose (2002), empresas com maiores chances de obterem
resultados positivos são aquelas que aplicam o conceito do branding incorporando valores
sociais e ambientais em suas marcas. Isso se dá pelo fato do consumo “verde” ter aceitação
crescente por parte dos consumidores e das empresas, e uma linha grande de produtos
rotulados “verdes” surgem diariamente para comprovar isso.
O consumo “verde” cresce também pelo fato dos consumidores começarem a esperar mais
das marcas. Segundo Gordon (2002), os consumidores não buscam mais somente comprar os
benefícios de um produto de determinada empresa. Eles também querem acesso aos
benefícios gerados pela própria empresa e sua marca, como sua habilidade e seu “know-how”,
informação, infraestrutura e recursos, sua influência.
Hartmann (2005) discorre sobre o green branding, mencionando o consumo “verde” como
oportunidade estratégica para as instituições e destacando que um posicionamento focado na
responsabilidade sócio-ambiental da suporte para a gestão da marca de “verde”, favorece a
construção de uma imagem corporativa positiva e a contribui no fortalecimento da fidelidade do
público-alvo.

2.1 O green branding e o design


O design enquanto processo de incorporação de significados aos produtos e serviços (DENIS,
1998) deve funcionar como ferramenta para se incorporar valores a uma determinada marca, o
que implica em uma participação ativa na mudança de hábitos da sociedade de consumo.
Devido a essa relevância do design com relação aos tipos de consumo na sociedade, o
designer assume um papel fundamental na criação e manutenção de uma marca que se
posicione de maneira sustentável.
Segundo Hartmann (2005), posicionar uma marca como uma “marca verde” implica em
construir uma filosofia de atuação da empresa a partir de uma postura de redução de impactos
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ambientais, além de fatores como qualidade de produto e serviços e responsabilidade social.
Ainda segundo Hartmann, os produtos e serviços sustentáveis não serão comercialmente bem
sucedidos se os benefícios e atributos dessa “marca verde” não forem comunicados de forma
concisa.
Considerando-se a construção da filosofia da marca e a divulgação desta, o designer pode
trabalhar o green branding essencialmente a partir de três grandes diretrizes: o design
sustentável, pensando-se em termos de processos de produção menos impactantes ao meio; a
comunicação interna, focando o nivelamento do posicionamento estratégico entre agentes
envolvidos com a marca; e a comunicação externa, pretendendo-se divulgar o posicionamento
da empresa, informando os benefícios que serão adquiridos pelos clientes.

3 Estudo de caso – o Instituto GIA e o Projeto Cultimar

O Instituto GIA é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OCIP) que atua no
desenvolvimento do setor aquícola, abordando áreas como a aquicultura, a pesca, os estudos
e a educação ambiental, e o desenvolvimento sócio-econômico.
O Instituto GIA, originalmente como um grupo de pesquisa intitulado “Grupo Integrado de
Aquicultura” (GIA), teve início em 1998, passando a se especializar a partir do ano 2000 no
desenvolvimento de projetos ambientais direcionados aos principais eventos envolvendo a
indústria do petróleo no país. Entre os trabalhos realizados, tem-se a recuperação de áreas
afetadas por vazamentos e avaliação dos efeitos da atividade exploratória do petróleo sobre o
ecossistema em que está inserida.
O grupo realizou também trabalhos ambientais para o setor elétrico nacional, assessoria a
empresas da área de aquicultura, análises genéticas e projetos de gerenciamento e de
repovoamento de espécies.
Além dos trabalhos com foco técnico-científico, e, consciente da integração entre
desenvolvimento do setor e questões sociais, em 2005, o Instituto GIA estendeu suas ações
contemplando também as demandas sócio-culturais, contribuindo para o sucesso efetivo das
ações da instituição. Nesse momento, surge em parceria com a Petrobrás, o Projeto Cultimar
no intuito de fomentar a geração de renda em comunidades litorâneas, valorizando suas
culturas e as agregando como diferencial competitivo.
O Projeto Cultimar tem como posicionamento estratégico: a obtenção de produtos marinhos
de qualidade certificada; a minimização do impacto ambiental nas atividades aquícolas; e a
formação das comunidades litorâneas tradicionais para que estas possam conquistar sua
autonomia e manutenção do desenvolvimento sócio-econômico.
Através desse posicionamento, claramente alinhado com os princípios de green branding, o
Projeto surge como alternativa estratégica de diferenciação a partir da qualidade e do consumo
consciente para se agregar valor aos produtos marinhos, pretendendo-se dessa forma,
construir uma marca forte associada à imagem de “Produtos com Qualidade Certificada,
Socialmente Justo e Ambientalmente Correto”.
Tendo como ponto de partida esse posicionamento estratégico, O Projeto Cultimar atua com
foco no desenvolvimento da cadeia produtiva marinha de comunidades litorâneas do Paraná.
A execução do projeto no litoral paranaense foi idealizada como um modelo de
desenvolvimento do setor aquícola para replicação em outras regiões do país.
Considerando-se que o projeto Cultimar já surge com foco na produção e não na extração
dos organismos marinhos, sendo assim já um procedimento de menor impacto ambiental, o
design contribui com o projeto essencialmente através da comunicação interna e externa.
Na comunicação interna junto aos parceiros desenvolvendo projetos gráficos, editoriais, de
identidade visual e de produtos promocionais, no intuito de construir a marca, através do
repasse de know-how técnico – científico e ambiental para um alinhamento das ações dos
parceiros ao posicionamento da marca; e externa junto aos consumidores finais dos produtos
marinhos, na divulgação da marca, através da comunicação do posicionamento de green

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branding para fortalecimento da identidade sócio-ambiental, com o intuito de se agregar valor a
esta.
Para a construção da marca, pode-se citar primordialmente o envolvimento do design no
projeto de identidade visual da marca Cultimar propriamente dita (Figura 1), o que incluiu o
desenvolvimento do logotipo, do site do projeto e do desenvolvimento de produtos
promocionais como camisetas, aventais, “ecobag” e calendários de mesas.

Figura 1: A - logotipo do projeto Cultimar; B - site; C- calendário; D- camisetas; E - “ecobag”; F- avental.

Em um segundo estágio, ainda no que se refere à construção da marca, está a participação


do design no apoio ao alinhamento entre o posicionamento estratégico do projeto e a os
parceiros envolvidos com a cadeia produtiva marinha local. Nesse contexto, alguns dos
exemplos a seguir representam as participações do design: os projetos gráficos e
diagramações de apostilas didáticas, manuais técnicos e outros materiais gráficos utilizados em
oficinas e outras atividades com foco no treinamento dos parceiros (Figura 2); e os projetos
gráficos, ilustração e diagramação de livros (Figura 3) e jogo paradidáticos utilizados para
educação biorregionalista (Figura 4);

Figura 2: Materiais gráficos utilizados em treinamentos dos parceiros

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Figura 3: Livros paradidático de educação ambiental

Figura 4: Jogo paradidático de educação ambiental

O design também contribui para a construção da marca Cultimar através do apoio às


atividades que estejam inseridas na exploração dos recursos naturais marinhos regionais,
ainda que de forma paralela ao foco central do projeto (de produção de organismos marinhos –
maricultura). Esse é o caso da parceria (ainda em construção) com o Mercado Municipal de
Matinhos, tendo sido desenvolvido o projeto de identidade visual da Colônia de Pescadores
que atua no local e sendo realizada a vinculação da imagem desta à do Projeto Cultimar
(Figura 5-A); e no caso do projeto de identidade visual e divulgação da marca dos Condutores
de Turismo da Ilha das Peças, no município Guaraqueçaba (Figura 5-B).

Figura 5: A- Identidade e materiais de divulgação para Colônia de Pescadores de Matinhos; B- materiais gráficos e
uniforme para Associação de condutores de turismo da Ilha das Peças

No que se refere à divulgação da marca, o projeto Cultimar vem desenvolvendo com o


apoio do design, materiais gráficos focados no final da cadeia produtiva, destinados ao
consumidor final dos produtos de origem da maricultura, destacando os benefícios associados
à responsabilidade ambiental e sócio-econômica. O design vem apoiando, nesse sentido, em
casos como: no projeto gráfico e diagramação do Guia Cultimar de Turismo de Guaratuba e
Matinhos (Figura 5-A); na criação de folders e cartazes com orientações para consumo de
produtos de origem marinha (Figura 5-B); no projeto de identidade visual, sendo desenvolvida a
marca e material de divulgação para o Festival Paranaense da Ostra realizado na região da
Praia de Caieiras, município de Guaratuba-PR (Figura 5-C); e no desenvolvimento da
Identidade Visual e Projeto Gráfico de Rótulo, Cardápio, uniforme e materiais de divulgação
dos produtos congelados da Cozinha Comunitária de Caieiras (Figura 5-D).

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Figura 6: Materiais gráficos produzidos pelo projeto com foco na comunicação da marca e comercialização dos
produtos de origem da maricultura

O projeto está em desenvolvimento e, apesar de não ter sido formalizada nenhuma


metodologia para se mensurar o valor da marca Cultimar, alguns resultados significativos
podem ser citados como forma de avaliar o fortalecimento da marca:
 Houve um aumento das vendas de ostras dos produtores de ostras associados (até
40%) gerando uma grande demanda por parte de novos interessados em participar do
projeto, entre eles comunidades, produtores e donos de restaurantes.
 Além da manutenção e fortalecimento do envolvimento da Petrobras, principal
patrocinadora desde o início do projeto, houve também aprovações em editais de
novos patrocinadores para o projeto – dentre estes, o Instituto HSBC e a Fundação
Boticário.
 Em 2007, o Cultimar foi vencedor de dois prêmios na área de marketing social com
abrangência nacional (Best Marketing Social e Destaque no Marketing) e de um prêmio
de âmbito internacional em 2009 que contempla projetos de cunho educacional e
sócio-ambiental, o HSBC Global Market Donation.

4 Conclusão

O green branding pode ser um diferencial positivo e uma vantagem competitiva, desde que
aplicado de forma sistêmica tanto na construção como na divulgação da marca em questão.
Nesse contexto, o designer exerce um papel fundamental, atuando na disseminação da
essência da marca entre os envolvidos apoiando assim o alinhamento das atividades da
instituição e parceiros com a filosofia da marca. Além disso, o green granding deve atuar na
comunicação dessa imagem construída baseada essencialmente na responsabilidade
ambiental, mas também na maior parte das vezes ligada ao desenvolvimento sócio-econômico
já que são pilares indissociáveis para a sustentabilidade da atividade e concomitantemente, da
marca.
Como exemplo de posicionamento “ambiental” tomado por uma instituição, foi demonstrado
como o Instituto GIA vem aplicando o green branding, através do Projeto Cultimar. O estudo
mostra que existe a possibilidade de se explorar o branding com foco ambiental na atividade
em questão, como fomento do desenvolvimento do setor aquícola. No entanto, existem
algumas lacunas que poderiam ser melhor abordadas e de grande proveito para construção da
marca.
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Dentre estas lacunas, está um aumento da participação do projeto na construção e
fortalecimento da identidade dos parceiros e subprojetos, de forma que mesmo mantendo-se a
associação com a marca Cultimar, se desenvolva uma autonomia não somente no que diz
respeito às questões técnicas e de conscientização ambiental, mas também para formação de
suas marcas próprias, o que fortaleceria o setor aquícola como um todo.
Outra lacuna importante, talvez a de maior relevância e prioridade – tendo em vista que a
avaliação dos resultados atingidos foi feita de forma parcialmente subjetiva e empírica, –
excetuando os prêmios obtidos nas áreas de marketing – é a necessidade de se encontrar
formas mais sistêmicas para se mensurar o impacto do green branding na atividade. Para
tanto, percebe-se a necessidade de se mensurar o brand equity do Projeto, avaliando-se dessa
forma a força e o valor percebido da marca por parte dos agentes com que ela se relacionava e
que a viabilizavam: patrocinadores, parceiros, gestores, fornecedores, distribuidores,
funcionários e, principalmente, os consumidores finais dos produtos marinhos (Aaker, 1998).
O presente artigo, portanto, se propõe justamente a fomentar a continuidade de pesquisa
para produção de material que de suporte ao desenvolvimento do green brandign através de
pesquisadores e profissionais, enfatizando a sustentabilidade como alternativa viável no
mercado de consumo atual.

Referências
Aaker, David A (1998). Marcas – Brand Equity: Gerenciando o Valor da Marca. São Paulo:
Negócio Editora.
Denis, RC (1998). Design, Cultural Material e Fetichismo dos Objetos. In: Leite JS et al
(editors). Arcos: design, cultura material e visualidade. Rio de Janeiro: Contra Capa.
Jucá, Fernando; Jucá, Ricardo (2009). Branding101: O Guia Básico para a Gestão de Marcas
de Produtos. São Paulo.
Hartmann, P. Ibáñez, V.A & Sainz, F.JF (2005). Green Branding effects on attitude: functional
versus emotional positioning strategies. Marketing intelligence and planning, v.23 no1.
Martins, José Roberto (2006). Branding – Um manual para você criar, gerenciar e avaliar
marcas. 2006 São Paulo. Global Brands. 3a ed.
Hannig, Flavio. Portal de Branding, acessado em: Abril 2011.
http://www.portaldebranding.com/v1/?cat=9
Rose, Beatrice. Brand Green: Mainstream or Forever Niche?. 2002 Londres. Green Alliance.

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Intervenções de Design Participativo em Grupos Artesanais
no Nordeste do Brasil (Participatory design interventions in
crafts’ groups of Northeast Brazil)

GUIMARÃES, Luiz Eduardo Cid; PhD; Universidade Federal de Campina Grande


adocid05@uol.com.br

PEREIRA, Tamyris Luana Pedroza; Graduada; Universidade Federal de Campina Grande


tamyrislpp@gmail.com

FERNANDES, Yasmin Mariani de Moura e Campos; Graduada; Universidade Federal de


Campina Grande
fernandes.yah@gmail.com

Palavras chave: projeto de produto; artesanato; participação.

O artigo descreve capacitações em projeto de produto envolvendo grupos artesanais no estado da


Paraíba. O design, considerado como um processo, facilita a resolução dos problemas desses grupos,
através de soluções compatíveis com o contexto socioeconômico local. Privilegiou-se uma abordagem
participativa, pois essa metodologia pode gerar soluções inovadoras e de mudança social. As
intervenções realizadas até o momento revelaram que o público alvo absorveu muito bem as informações
e colaborou para o aprimoramento do método participativo. Entendemos a importância do design como
um processo inovador que neste contexto pode acelerar o processo criativo do artesanato, minimizando
riscos e reduzindo o tempo para introduzir novos produtos no mercado. Apesar das avaliações
preliminares das capacitações tenham sido positivas, ainda é necessário conduzir mais intervenções para
substanciar futuras políticas públicas voltadas para a inovação em comunidades de baixa renda. A
experiência adquirida até o presente momento revela que a eficácia do processo inovador requer
reconhecimento dos saberes populares e a troca de informação entre o conhecimento tácito e o
conhecimento explícito. Compartilhar esses processos entre todos os atores estimula o trabalho coletivo e
o crescimento dos participantes, uma vez que os mesmos se sentem como partes integrantes do
processo inovador.

Keywords: product design; crafts; participation.

The article describes training in product design, with crafts groups, in the state of Paraíba. We understand
that design, considered as a process, can help to solve problems and search for solutions. This process
can benefit communities in specific contexts, as a participatory approach can lead to innovative solutions
and social change. The interventions revealed that the target group has absorbed the information
consistently and collaborated to improve the method in use. We understand the importance of design as
an innovative process which, in this milieu, can accelerate the creative process in crafts, thus reducing the
time to introduce new products in the market. Although preliminary conclusions of these methods have
been positive, there is still need for more interventions to be conducted, as these will substantiate future
public innovation policies focused on low-income groups. The experience acquired up to this moment
reveals that great efficacy in the innovation process requires the recognition of popular knowledge and the
exchange between tacit and explicit knowledge. Sharing this process amongst all actors enhances the
sense of collectiveness and stimulates all participants to grow, as they feel as an integrated part of the
process in which they are involved.

1 Introdução

Nos países em desenvolvimento, grandes contingentes da população sobrevivem abaixo da


linha de pobreza. O alto nível de desemprego marginaliza milhões de pessoas do processo de
desenvolvimento econômico e ao acesso a direitos humanos básicos. Devido à pouca
escolaridade, grande parte da população brasileira, quando consegue trabalho, tem acesso
apenas à empregos com baixa remuneração. Diante desse quadro, muitas pessoas enxergam
no artesanato e nos trabalhos manuais uma possibilidade de emprego e renda.
Porém, essa atividade é geralmente exercida de maneira informal e não é bem remunerada.
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Apesar de existirem intervenções nesse nível, realizadas por agências de fomento, elas
beneficiam relativamente poucos grupos. O artesanato é percebido por essas instituições como
um microempreendimento que deve ser gerenciado de acordo com as leis de mercado, apesar
do discurso superficial e do modismo do empreendimento solidário (SEBRAE 2008). Nesse
contexto o discurso é contraditório, pois estimula a solidariedade com e entre esses grupos ou
artesãos individuais, ao mesmo tempo em que apoia a competição entre os mesmos.
Acreditamos que no sistema capitalista existem poucas condições de se operar de forma
solidária. O discurso da solidariedade cai por terra quando verificamos na prática como
funciona esse mercado. Os próprios membros dos grupos que trabalhamos já expressaram a
sua preocupação em manter sigilo sobre suas atividades, para que outros artesãos não copiem
seus produtos ou não tenham acesso as mesmas informações que eles dispõem. Sem
hipocrisia, esses grupos devem sim operar como um empreendimento similar a uma micro ou
pequena empresa. A principal diferença é que esses grupos podem dividir, de forma mais
equânime, os lucros entre seus membros.
Além dessa concorrência entre os grupos e entre os próprios artesãos, também existe nesse
contexto a exploração de trabalhadores por empresas que se dizem solidárias com os artesãos
e compram o trabalho artesanal por preços irrisórios. Convenientemente, esquece-se de
informar aos produtores que esse trabalho será vendido por um valor muito superior ao que foi
pago aos artesãos, em mercados de alto poder aquisitivo no Brasil e no exterior. Portanto, a
ignorância e desorganização dos artesãos são até desejáveis, pois possibilitam a manutenção
desse status quo.
Algumas agências de fomento usam o “apoio” ao artesanato para justificar sua própria
existência e para acessar recursos que podem ser captados nas diversas instâncias
governamentais. Porém, é nítida a falta de planejamento, de conhecimento sobre o assunto e a
falta de visão dessas instituições em relação ao futuro dessa atividade. Não é suficiente
fornecer um espaço físico ou capacitações esporádicas, visando apenas à melhoria da
qualidade física do produto. Políticas públicas direcionadas ao setor de artesanato devem
abordar o problema de forma sistêmica, levando em consideração variáveis econômicas,
sociais e tecnológicas, pertinentes a um determinado contexto socioeconômico.
O caso de Campina Grande é representativo na medida em que a cidade tem um grande
número de pessoas envolvidas com a atividade artesanal e de trabalhos manuais. De acordo
com a Agência Municipal de Desenvolvimento - AMDE (2011), essas pessoas labutam em
várias tipologias, com produtos que variam em relação à qualidade, sofisticação e originalidade
do projeto e eficácia dos processos produtivos. O artesanato é um empreendimento que
envolve cultura e criatividade. Porém, verificamos que existem diversas lacunas que impedem
uma operação sustentável dessas microunidades produtivas. A falta de capacidade gerencial e
organizacional é a mais evidente. Além disso existem gargalos relacionados à criação, difusão
e comercialização dos produtos. Um levantamento realizado em Campina Grande com 52
artesãos (GUIMARÃES et al, 2009) revelou que estes aspectos são de fundamental
importância para a sobrevivência dos microempreendimentos locais.
Um aspecto raramente abordado pelas instituições de fomento é a capacidade de inovação dos
artesãos. Em geral, o apoio nessa área é realizado através da contratação de um
consultor/designer, que irá idealizar os produtos que serão executados pela mão de obra
artesanal. São poucas as intervenções que estimulam a participação efetiva do artesão no
processo de geração de novos produtos. Isso ocorre, em geral, pelo fato de uma metodologia
participativa necessitar de mais tempo para ser aplicada. Essa metodologia tem como pilar
fundamental o envolvimento constante das pessoas que estão sendo capacitadas em todo o
processo de treinamento.Como instituições de fomento trabalham com metas e o estrito
cumprimento destas é que vai viabilizar o futuro acesso a novos recursos, é comum “queimar”
etapas do processo.
Acreditamos que a única forma de se minimizar riscos, em relação ao desenvolvimento de
novos produtos nesses pequenos empreendimentos, é treinar e estimular os artesãos para se
tornarem os designers dos seus próprios produtos. Tal afirmação pode parecer estranha vinda
de pessoas envolvidas com o ensino e o aprendizado universitário, que supostamente
deveriam estar estimulando a contratação de profissionais formados para executarem projetos
de produtos. Entendemos que o trabalho criativo não é monopólio do design, uma profissão

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relativamente recente na história mundial. O conhecimento tácito do artesão esteve presente
durante séculos na produção de objetos. Milhares de produtos foram criados e desenvolvidos
através de melhorias incrementais, baseadas no uso cotidiano dos mesmos. Como é de
conhecimento comum, a divisão do trabalho, que possibilita o aparecimento do designer
profissional, emerge com o advento da revolução industrial. Portanto, antes desse fenômeno
histórico, os produtos eram em sua maioria resultado do processo criativo e construtivo dos
artesãos.
O trabalho descrito nesse artigo baseia-se no que foi exposto acima e procura valorizar o
conhecimento humano, independentemente do nível educacional. É importante reconhecer que
também temos muito a aprender com os artesãos. É um processo de troca e de
reconhecimento de limitações. Como dizia Paulo Freire, no contexto da educação de adultos,
não é admissível descartar o conhecimento acumulado durante décadas, apenas pelo fato de
que o interlocutor não tem um diploma oficial (FREIRE, 1980).

2 Metodologia

Os processos de intervenção do design que se pretendem mais democráticos adotam


metodologias participativas. Os casos estudados seguiram este caminho, uma vez que os
atores beneficiários do processo interventivo guardavam um certo receio acerca deste
procedimento, acreditando que o mesmo pudesse ser invasivo e “de cima para baixo”,
conforme os dados de pesquisa realizada recentemente (GUIMARÃES et al, 2009).
A pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada
em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual
os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo (Thiollent, 2008).
A participação aqui tratada segue na perspectiva apontada por Morin (2004), para o qual a
participação implica em engajamento pessoal, porém sem relação de dependência, em que o
diálogo é constante no contexto de um processo de colaboração e cooperação. Para o mesmo,
uma participação mais perfeita ou mais humana exige que os atores se engajem, se
responsabilizem e se conscientizem do seu papel no processo participativo como um todo,
sobretudo no que tange à co-gestão das ações.
Tomamos como premissa básica que os artesãos são parte integrante do processo construtivo
dos módulos de capacitação. Portanto, deveriam participar em todas as etapas desse processo
através de críticas e sugestões. Entendemos que essa seria a forma mais democrática, pois na
nossa percepção todo ser humano tem potencial criativo. O que ocorre em geral é que essa
criatividade vai sendo tolhida e abafada por um sistema educacional que estabelece outras
prioridades. Reiteramos que o designer não detém o monopólio da criação de produtos e que,
nesse contexto, nosso papel é de um facilitador, que deve apoiar as pessoas a desenvolver
seu potencial. Nossa intervenção deve ser mínima, pois ao terminarmos as capacitações esses
grupos artesanais dificilmente terão condições de contratar o trabalho de designers
profissionais. As pessoas serão obrigadas a desenvolver seus próprios produtos. Se
conseguirmos que os mesmos entendam a utilidade de uma metodologia que irá facilitar esse
processo e reduzir custos de desenvolvimento, isso minimizará o risco inerente a todo processo
de inovação técnica.
Portanto, a metodologia utilizada, partindo de uma premissa participativa, foi planejada de
acordo com a metodologia projetual de desenvolvimento de produto de maneira simplificada, e
abordando as principais dificuldades dos artesãos como veremos a seguir.

3 A gênesis do projeto

O método de capacitação em Projeto de Produto para artesãos em Campina Grande foi


elaborado depois que, por meio de um estágio supervisionado de estudantes do curso de
Desenho Industrial da UFCG, através da AMDE (Agência Municipal de Desenvolvimento),
percebeu-se que os grupos de artesanato locais eram carentes de um método projetual e de
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assistência em vários outros aspectos. Havia também uma grande carência no processo
inovador de projeto de produtos. Nesse curto período, resolveram-se apenas problemas que os
grupos consideravam mais urgentes. Estes eram na sua maioria relacionados à melhoria e
complementação da identidade visual dos grupos. Além da identidade e do material para sua
divulgação, o grupo tinha interesse por catálogos de amostras e sofria de uma deficiência na
formação de preço e na pesquisa de tendências. Apesar da disciplina de estágio durar pouco
tempo, entendeu-se que era essencial utilizar uma metodologia participativa. Essa metodologia
demanda mais tempo, pois procura alcançar a interação e o envolvimento dos participantes.
Porém, essa interação entre os participantes faz-se essencial para o cumprimento do objetivo
maior do projeto: fazer com que o grupo aplique o método no desenvolvimento dos seus
produtos e se torne sustentável.
Diante das deficiências encontradas foram elaborados quatro módulos, visando minimizar os
problemas identificados. Os módulos preliminares englobavam diversos aspectos e foram
intitulados: Artesanato e Identidade Local; Design; Mercado e Metodologia; e Venda. Esse
último módulo foi desenvolvido com a cooperação de integrantes do Curso de Economia da
Universidade Federal de Campina Grande. Com a parceria da AMDE e uso das suas
dependências, foram ministradas duas capacitações com artesãos de vários grupos e
tipologias. Posteriormente, as capacitações passaram a ser realizadas na sede do SEBRAE em
Campina Grande, onde ocorreram mais duas capacitações, e nesse bloco foi acrescentado
mais um módulo, o de fotografia e ferramentas da internet, além do tópico segurança no
trabalho. Todas as melhorias e acréscimos foram idealizados de acordo com as solicitações
das artesãs e incorporados ao método até chegarmos no programa abaixo.

Tabela 01: Programa de capacitação

Módulo 01 Módulo 02
Tema: Artesanato e Identidade local Tema: Design
- Cooperativas de sucesso; - Produtos de design que possuem soluções
- Produtos industrializados com referências criativas e originais;
regionais/ turísticas que deram certo; - Percepção da forma, conceitos de biônica, de
- Design Vernacular: identidade local, história da simbologia e do lúdico;
cidade, história da arquitetura local, tradições e - Conceitos de estética, cor e equilíbrio formal;
costumes locais, levantamento de signos, - Método de criatividade: brainstorming;
significados, heróis e ícones locais; - Painéis semânticos utilizados por grandes
- Exercício: Utilizando a tipologia do artesanato do empresas;
grupo, gerar produtos inspirados em determinado - Exercício: Utilizando a técnica de colagem,
aspecto da cultura regional; criar painéis semânticos para inspirar criação
- Material: Ferramentas pessoais e matéria-prima usando as palavras-chave do brainstorming;
que os artesãos usam em seu trabalho. - Material: Revistas antigas, cartolina, tesoura,
cola branca, retalhos de tecidos, botões, papéis
coloridos e aviamentos.
Módulo 03 Módulo 04
Tema: Mercado e Metodologia Tema: Formação do preço de venda
- Conceitos de mercado, concorrência, qualidade, - Custos Fixos
acabamento e inovação; - Custos Variáveis
- Marketing: o que fazer para atingir o diferencial no - Horas Trabalhadas
mercado? - Calculo do preço de venda de um produto
- Metodologia para projeto: estágios de - Exercício: Calcular o preço de venda do
desenvolvimento e concepção de um produto; produto produzido no módulo anterior
- Exercício: Criar um produto a partir do briefing
que será entregue utilizando os painéis construídos
no módulo anterior;
- Materiais: garrafa pet, tecido, arame, sisal,
lâmpada, bocal, fio, tomada, isopor, cartão de
sapateiro, fio de náilon, aviamentos, massa epox,
palitos de churrasco, cola e fitas adesivas.

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Módulo 05 Módulo 06
Tema: Marca e Embalagem Tema: Fotografia e Apresentação do Produto
- Embalagens; - Pontos de venda;
- Identidade visual; - Divulgação de um produto;
- Exercício: Desenvolver uma marca para o grupo. - Uso da fotografia: fundo infinito,
- Exercício: Confeccionar embalagens e nelas enquadramento, iluminação e macro.
aplicar as marcas geradas, utilizando técnicas de - Exercício: Fotografar os produtos criados em
estêncil de carimbo. módulos anteriores e imprimir as melhores.
- Materiais: Acetato, estilete, fitas adesivas, - Materiais: fundo infinito (tamanho de acordo
esponja, tinta de tecido, tesoura, cartão Paraná, com os produtos criados), câmera fotográfica,
borracha, almofada de carimbo, papel craft e impressora, cartuchos, papel fotográfico.
duplex, aviamentos, tecidos de cores neutras, linha
e agulha, régua, papel manteiga e cola de contato.
Módulo 07
Tema: Economia Solidária
- Economia Capitalista
- Economia Solidária
- Exibição de vídeos e documentários
Exercício: Dinâmicas a serem realizadas com o
grupo sobre os princípios da Economia Solidária

Percebeu-se que, trabalhando com uma turma constituída de integrantes de grupos artesanais
diferentes, a interação nos exercícios propostos não estava funcionando. A falta de afinidade
entre os artesãos prejudicava o andamento do trabalho e intimidava alguns membros a
explicitar suas opiniões, já que consideravam alguns outros grupos como possíveis
concorrentes. Depois de terminadas as capacitações, o contato entre o artesão e a equipe
capacitadora era perdido, o que dificultava o acompanhamento para verificar a aplicação, em
sua produção, do conhecimento adquirido e da eficácia do método proposto. Portanto, viu-se
que seria mais eficiente capacitar um grupo específico dentro do seu local de produção, o que
facilitaria a interação entre os participantes e, após a aplicação dos módulos, atuar diretamente
em sua produção através de um acompanhamento pós-capacitação.

3 Capacitação de grupos e acompanhamento

3.1 Tecendo com Amor


O grupo Tecendo com Amor, formado por professoras artesãs da Associação Promoção
Humana, possui repertório bastante amplo e experiência em suas especialidades. Muitas das
artesãs foram alunas dos cursos de artesanato e hoje atuam como professoras voluntárias.
Essa associação desenvolve projetos com a comunidade de baixa renda no bairro da Palmeira,
sendo a maioria do seu público composto de jovens gestantes. Diferente das capacitações
realizadas anteriormente, nesta, a equipe de capacitação foi até o local de trabalho das artesãs
para capacitá-las e acompanhá-las no processo de criação de novos produtos.
O grupo de professoras Tecendo com Amor desejava formar um micro empreendimento para
produção e venda de produtos para bebê, em especial enxovais. Com esse objetivo, focamos
nesse tipo de produto na maioria dos módulos apresentados.
As modificações no método preliminar começaram a ser realizadas a partir da participação das
artesãs em diálogos sobre a dificuldade de inovação e criação dos produtos. Partindo dessas
dificuldades, foram aprofundados temas como Teoria das Cores, Metodologia de Projeto de
Produto, Formação do preço de venda, Economia Solidária e Cooperativismo e Fotografia,
acrescentado ainda uma introdução à Percepção da Forma.
Esses temas, aprofundados e acrescidos ao método, foram bem aceitos pelo grupo de artesãs,
que participava e respondia de maneira satisfatória, sempre que estimulado à discussão
coletiva. Outro aspecto bastante interessante do grupo foi o desenvolvimento do hábito de
desenhar e fazer anotações no material distribuído. Consideramos que seria fundamental
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estimular a prática do desenho como uma ferramenta para acelerar o processo de geração de
ideias, minimizando risco na operação. Apesar da reação preliminar, que revelou um pouco de
receio de algumas participantes, gradativamente as artesãs foram perdendo o medo de utilizar
essa linguagem, se surpreendendo com a sua própria capacidade.

Figuras 01 e 02: Desenhos e anotações das artesãs

Em reunião após a capacitação foram discutidos assuntos relacionados à formação do grupo


com ênfase numa linha de produtos de enxoval para bebês. Um cronograma de atividades
inicial foi proposto junto às artesãs, seguindo o método da capacitação, para produção do
enxoval em oito semanas, com um encontro por semana. Diferente da capacitação, o
acompanhamento funcionou sob a forma de orientação e discussão, mostrando a viabilidade
do método e a inserção do mesmo no conhecimento tácito rotineiro; numa troca constante de
conhecimentos.
As estudantes de Design e de Economia participaram de todas as etapas das atividades
projetuais das artesãs. A utilização de uma metodologia participativa foi de grande importância
para o desenvolvimento desse acompanhamento. À medida que os produtos do enxoval foram
definidos, cada artesã ficou responsável por uma atividade equivalente à sua especialidade no
artesanato. Assim, todas participaram da construção de maneira democrática.

Figura 03: Reunião entre as artesãs para definição do enxoval

Enquanto as artesãs produziam as peças para o enxoval, as estudantes de Desenho Industrial


envolvidas no projeto desenvolveram a identidade visual do grupo a partir dos desenhos e
painéis semânticos desenvolvidos pelas artesãs. Quando questionadas sobre a idéia que
queriam transmitir com a identidade visual, nos disseram que pensavam em passar a idéia de
cuidado com a comunidade e com as crianças, o artesanato como ferramenta de conforto e

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suporte, já que por meio de um projeto da associação da qual fazem parte, as mulheres da
comunidade ganham, além de assistência médica, um enxoval completo para seu bebê. E tal
atividade guiou a definição da produção das artesãs do Tecendo com Amor.
Notou-se que nos desenhos predominavam os elementos: coração, o ato de tecer e crianças.
De posse da idéia e dos principais elementos, chegamos ao esboço da marca, as mãos de um
adulto e uma criança como se tecessem o amor, representado pelo coração. Esta e outras
representações foram apresentadas ao grupo, o qual escolheu o logotipo a seguir por meio de
votação.

Figura 04: Marca do grupo

O acompanhamento da produção do enxoval foi direcionado para uma mostra e feira de


produtos que acontece anualmente na Associação Promoção Humana. O lançamento dos
produtos Tecendo com Amor nessa feira serviu de grande estímulo às artesãs. O evento foi
montado para toda a associação e uma sala foi disponibilizada para a mostra e lançamento dos
produtos das artesãs do grupo Tecendo com Amor.

Figuras 05 e 06: Mostra do enxoval para bebê

Percebeu-se que o acompanhamento foi de grande valia para avaliação do método proposto e
para troca de conhecimentos de maneira participativa entre designers e artesãos. O método se
mostrou bastante eficaz no que diz respeito ao conteúdo, e a metodologia participativa
proporcionou grande aproximação entre todos. É importante destacar a evolução deste grupo
em um espaço de tempo relativamente curto. O grupo foi bastante estimulado e proporcionou
respostas rápidas e eficientes para a formação do Tecendo com Amor de maneira satisfatória.
A feira, realizada ao final do acompanhamento, revelou a eficácia da capacitação. Os produtos
foram aceitos pelo mercado local, as artesãs receberam encomendas e se mostraram
preparadas para produção de maneira independente.
Depois de terminada a fase estipulada para o acompanhamento, onde nossas visitas eram
regulares, notamos que o grupo perdeu o ritmo. Alguns fatores, como a falta de liderança por
parte das artesãs, contribuíram para isso. Todas as decisões ficam a cargo da diretora da
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Associação, que acumula outros cargos como diretora da escola sede e ainda em outra
empresa. Além disso, por estar em formação, o grupo não possuía comprometimento suficiente
para que o que trabalhamos durante a assessoria fosse posto em prática. Como a reunião para
decisões e planejamento do referido grupo é mensal, ficamos no aguardo para mantermos
contato e monitorar sua evolução.
No começo do período letivo começamos o levantamento de novos grupos, e depois da
experiência com uma equipe ainda em formação, procuramos um grupo mais coeso e já na
ativa. O objetivo era que pudéssemos estender nossas experiências no campo da metodologia
participativa, já que a cada processo de capacitação agregamos mais conteúdo. Entendemos
que com novos patamares de organização podemos alcançar melhores resultados, que trarão
embasamento para novas abordagens aos futuros grupos que passarão pelo projeto.

3.2 AMA-CG, Associação de Mulheres Artesãs de Campina Grande


O grupo, formado por seis artesãs, foi estudado previamente no estágio integrado mencionado
anteriormente que deu origem ao projeto de capacitações. Na ocasião, foram feitas de maneira
conjunta a identidade visual e os impressos institucionais. Sua produção tinha como carro
chefe a técnica do patchwork, utilizando em suas peças o algodão natural e orgânico, matéria
prima cultivada na Paraíba e popular na cidade de Campina Grande.
Passados quase três anos desde o primeiro contato encontramos o grupo com a produção
totalmente renovada. Atualmente as artesãs concentram seu trabalho nos acessórios
femininos, utilizando o patchwork de maneira mais sutil. São produzidas carteiras, bolsas,
nécessaires e outros produtos similares (Figura 07). Porém, continuaram a produzir alguns
produtos como bonecas de pano e o famoso peso para porta em forma de espantalho (figura
08), muito vendido nas feiras na época das festas juninas. Aos poucos sua produção está
estabelecendo uma identidade, e esse é um aspecto que pretendemos incentivar aos poucos.
Seus tecidos, agora estampados e multicoloridos, ampliaram o público consumidor de suas
peças. Dão margem para que desenvolvam produtos novos, acompanhando as tendências
com maior facilidade.

Figuras 07 e 08: Porta tesouras e peso para porta.

Em uma visita preliminar, detectamos um grupo organizado e comprometido, que percebe o


artesanato não apenas como uma ocupação ou hobby, mas como complemento de sua renda
familiar. Ter essa renda é fundamental, considerando que as artesãs são pessoas de baixo
poder aquisitivo. Todas as mulheres cumprem jornada dupla, cuidam de seus filhos e
comandam a rotina da casa.
Fomos informados que a AMA conseguiu um ponto de venda na Vila do Artesão, denominado
pela AMDE, que gerencia o local, como espaço cultural e comercial da cidade. Tal
empreendimento estava sendo prometido aos artesãos locais como, uma solução milagrosa
para a classe, que só recebia apoio das instituições locais em poucas datas festivas através de
suporte para participação em feiras. A estrutura foi inaugurada em dezembro de 2010 e mesmo
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estudando grupos e pesquisando artesanato na cidade, só tomamos conhecimento da
inauguração e de seu funcionamento meses depois. O fato só comprova a falta de
profissionalismo, por parte das agências de fomento, que envolvem no relacionamento com os
artesãos pessoas sem experiência ou conhecimento acerca da atividade artesanal. A falta de
publicidade do local e a dificuldade de acesso são problemas graves e que pudemos constatar
por meio de entrevistas em andamento com os artesãos que lá expõem seus produtos.
No primeiro módulo, intitulado Artesanato e Identidade local, discutimos o conceito de
artesanato, falamos sobre ícones e já no exercício proposto percebemos o diferencial deste
grupo. Sugerimos que, baseadas em algum ícone regional, as artesãs produzissem, usando
sua tipologia artesanal, um produto de sua escolha. O elemento escolhido foi o candeeiro, que
prontamente foi transformado em uma bolsa para transporte de aparelho celular (Figura 10).
Enquanto executavam a atividade, as artesãs já demonstraram interesse em desenvolver uma
linha de produtos regionais e listaram as possíveis mudanças e aplicações, que ficaram de ser
desenvolvidas durante o acompanhamento posterior aos módulos.

Figuras 09 e 10: Projeto e confecção do porta celular

Aproveitando essa característica das integrantes da AMA-CG redefinindo as atividades dos


módulos, uma vez que tentávamos dissociar o produto exigido nos exercícios do produto
comercializado pelos artesãos participantes. O objetivo era estimular o raciocínio e a
criatividade dos mesmos, que livres de vícios, pudessem executar a peça utilizando as técnicas
e informações que passássemos. Mas este grupo em especial já assimilava as informações e
tentava naturalmente aplicá-las à sua realidade, gerando novos produtos ou modificando os já
existentes com argumentos bem fundamentados. Do segundo módulo em diante passamos a
trabalhar com o universo de seu público alvo e com produtos que elas pudessem produzir e
vender.
Como as artesãs baseiam-se das datas comemorativas para direcionar a produção, durante o
mês de abril planejamos aproveitar a data comercial do dia das mães para montar, nas
dependências da UFCG, uma barraca com os produtos feitos pelo grupo em estudo. Tal
atividade seria uma oportunidade de disponibilizar um ponto extra de vendas em um local de
grande fluxo. Por ser produto de um projeto da instituição esse ponto de venda teria o potencial
de despertar interesse de alunos, professores e funcionários da mesma.

Figuras 11 e 12: Feira de produtos para o dia das mães

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Apesar do curto espaço de tempo que dispusemos, tanto o grupo para produzir peças, quanto
nós como provedores da estrutura, a venda nas dependências da UFCG superou as
expectativas e o apurado nos três dias de exposição foi superior ao que arrecadam em um mês
inteiro de vendas. Mesmo com a chuva torrencial que acabou por atrapalhar o fluxo, o
desempenho foi positivo para as artesãs. O grupo ganhou mais confiança no projeto e pode
comprovar a aceitação de alguns produtos criados pelas artesãs.
Em paralelo ao andamento dos módulos, uma vez percebida a carência na estrutura do ponto
de venda das artesãs no espaço da Vila do Artesão, decidiu-se por uma intervenção no leiaute
do quiosque que dividem com outro grupo. De acordo com os limites impostos pela AMDE e
devido ao espaço reduzido, foi aplicada a ideia de expor os objetos de maneira limpa e
convidativa, fazendo um contraponto com a profusão de peças das outras lojas no ambiente.

Figuras 13 e 14: Espaço da AMA-CG na Vila do Artesão em Campina Grande antes e depois da mudança.

A Vila do Artesão sedia parte dos festejos juninos de Campina Grande, comemoração esta que
é conhecida nacionalmente e que atrai turistas de todo o Brasil e do exterior para a cidade.
Tendo em vista a urgência da melhoria do espaço físico da loja, a mudança no leiaute teve de
ser idealizada pela equipe do GDDS com aprovação das artesãs. Por mais que este processo
não tenha sido executado de maneira participativa, aos poucos as informações aplicadas na
modificação estão sendo passadas ao grupo, como por exemplo, a técnica de decoupáge com
tecido, utilizada nos painéis dispostos na parede, que ganhou uma oficina ministrada às
integrantes.
A introdução dessa técnica por meio da oficina rendeu diversos produtos para produção das
artesãs como porta lápis e aplicação do tecido em produtos de MDF.

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Conclusões e recomendações

Consideramos fundamental a atividade inovadora para as micro e pequenas unidades de


produção. Porém, essa é uma atividade complexa que envolve uma soma considerável de
recursos e relativamente um alto grau de risco. No caso das micro unidades artesanais a
situação se complica, entre outros aspectos, pela falta de especialistas, falta de acesso à
informação e ao crédito, limitação no desenvolvimento de novos produtos e comercialização
dos mesmos. Adicionada a isso existe uma falta de comunicação entre os atores que trabalham
com o apoio ao artesanato, com agências de fomento, universidades e organizações não
governamentais. Esses fatores limitam o potencial para o crescimento e mantém os artesãos
apenas como administradores do dia-a-dia da unidade de produção. Porém, alguns artesãos
vão além e conseguem inovar, ainda que de forma limitada. Mecanismos existentes têm se
concentrado numa abordagem de “cima para baixo”, desconsiderando o conhecimento tácito
existente nessas unidades produtivas. As intervenções têm sido pontuais e essa forma de
intervir é pouco eficaz para criar ou desenvolver capacidade inovadora.
O que se constatou nas entrevistas e nas capacitações foi tanto a importância do
conhecimento tácito e localizado, quanto sua interação com o conhecimento formalizado. Em
outras palavras, as experiências expostas acima revelaram que a interação dos pequenos
produtores inovadores com os especialistas da área de desenho industrial pode gerar frutos,
que de outra maneira seriam difíceis de conseguir se a atuação de ambos se der de forma
unilateral. Ressalta-se assim a prática do desenho industrial participativo ou do uso de uma
metodologia participativa no processo inovativo das unidades artesanais em relação a essa
área específica do o conhecimento.
Os resultados das capacitações revelaram que a participação do público alvo é essencial em
capacitações direcionadas a grupos de baixa renda. Durante o processo de capacitação ficou
claro que quando se trata de atividades criativas existem barreiras artificiais que são impostas
pelo processo educacional, por monopólios profissionais e por preconceitos às vezes das
próprias artesãs que colocavam que não sabiam “riscar” (desenhar) ou que não eram criativas.
A sociedade tem sua parcela de culpa nesse processo na medida em que cria mitos sobre o
processo criativo, estipulando que só certas pessoas têm a capacidade ou o “direito” de criar. A
área de desenho industrial, onde ardem as fogueiras das vaidades, é em geral elitista e não
admite que “forasteiros” se aventurem na criação de produtos. Portanto, é comum ocorrerem
intervenções em grupos artesanais onde os artesãos são considerados apenas mão de obra
que irá executar a criação do designer. Consideramos essa postura inaceitável. Acreditamos
que a eficácia de intervenções como a descrita nesse artigo passam por um processo de
reconhecimento do saber popular e que nós designers podemos dar nossa contribuição através
da troca de saberes adquiridos através de experiências educacionais diferentes. Esse respeito
pelo próximo é condição sine qua non para que se estabeleça uma relação de iguais. A partir
daí, o fluxo de comunicação será muito mais fácil aumentando a eficácia da intervenção.
A evidência coletada durante as capacitações mostra que é a partir desse processo que há a
conscientização dos artesãos sobre a importância da atividade inovadora sistemática como
meio de sobrevivência do empreendimento artesanal. O trabalho mostrou que o método dos
sete módulos propostos na última intervenção funcionou de maneira eficiente, e que o
acompanhamento pós-capacitação dos artesãos nos seus referidos grupos artesanais foi de
extrema importância para o desenvolvimento do grupo. Reconhecemos que ainda existe a
necessidade de se realizarem mais capacitações para que possamos ter elementos
conclusivos sobre a metodologia empregada.
Intervenções relacionadas ao apoio para criação e desenvolvimento da capacidade inovadora
devem partir da premissa de que os clientes dessas intervenções já detêm um conhecimento
técnico, na maioria dos casos, tácito. Devem levar em conta que a atividade inovadora envolve
diversos fatores e que os mesmos devem ser considerados a partir de uma perspectiva
sistêmica. Isso traz transtornos para os agentes externos que muitas das vezes têm uma
limitação metodológica, o que faz com que pressões para mostrar resultados atropelem o
processo de intervenção.
Portanto, recomenda-se que agências de desenvolvimento e instituições de apoio aos
pequenos negócios realizem mais pesquisas com foco na capacidade instalada de inovação

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em projeto de produtos para entender de forma mais aprofundada o que ocorre na realidade
local, em particular nas unidades de produção mais fragilizadas. Que as instituições de fomento
apresentem um plano estadual de apoio ao artesanato, elaborado a partir do diálogo entre
todos os atores envolvidos na cadeia do artesanato. Esse conhecimento irá permitir uma
melhor aplicação de recursos humanos e financeiros nas intervenções. As pesquisas acima
podem se tornar mais eficazes se realizadas com base em metodologias participativas, em que
o profissional de desenho industrial seja um dos atores relevantes do processo inovativo,
juntamente com os produtores das micro e pequenas empresas. É necessário que ocorra uma
melhor comunicação entre as agências de fomento no estado e entre outras instituições
envolvidas com o artesanato, como as universidades e outros atores envolvidos.
Recomendamos também que se dê prioridade ao leiaute da produção e a melhoria dos postos
de trabalho através de uma análise ergonômica dos mesmos. A melhoria nessa área pode
incrementar a velocidade de produção, preservar a integridade física dos trabalhadores e
melhorar a qualidade dos produtos fabricados. Sugerimos também que se aprofunde o apoio à
comercialização dos produtos, particularmente no desenvolvimento de projetos para os Pontos
de Venda. Negligenciar esses aspectos pode criar sérios problemas relacionados à
apresentação dos produtos e como consequência obstáculos para as vendas. Reafirmamos
que a única forma de se minimizar risco nessas unidades produtivas é se abordar o problema
de uma forma sistêmica, levando em consideração todos os fatores que podem impactar sobre
esses pequenos empreendimentos. Ignorar esse fato pode inviabilizar a atividade artesanal
nesse contexto socioeconômico.

Agradecimento

Agradecemos ao CNPq, pelo incentivo ao projeto; à AMDE, pelas informações fornecidas; aos
grupos capacitados, pela disponibilidade e participação; e aos artesãos entrevistados.

Referências

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Gabinetes de eletrodomésticos “linha branca” em
compósito madeira/ plástico? Isto é possível? (White goods
appliance cabinets in wood/plastic composite? is it a good
idea?)

VERONEZE, Sônia; Mestre; Universidade Federal do Paraná.


soniaveroneze@yahoo.com.br

Palavras-Chave: Design, Compósitos madeira/plástico, Eletrodomésticos “linha branca”

Esta pesquisa refere-se à aplicação de compósito madeira/plástico – partículas homogêneas de pinus


spp. e resina melamina-uréia-formaldeído (MUF), com média emissão de formol – na indústria de
eletrodomésticos “linha branca”, como opção de novo material, além da tradicional chapa de aço pré-
pintada, da chapa de aço inox e do plástico. Para avaliação das propriedades deste material foram
realizados ensaios, com duas densidades diferentes do compósito, visando à avaliação da densidade
obtida; da absorção de água e do inchamento; da resistência térmica e da rigidez dielétrica (resistência
elétrica). Os resultados dos ensaios foram satisfatórios e demonstraram que o compósito apresenta
baixos índices de absorção de água e inchamento, alto poder de rigidez dielétrica (resistência elétrica), na
ausência de umidade, resistência térmica três vezes inferior à do poliuretano (PUR) e diferença no design
do produto ao se utilizar o compósito, pois este permite formas diferenciadas, como ranhuras e encaixes.
Também foram realizados estudos complementares, além de uma proposta conceitual de adega fabricada
com compósito.

Keywords: Design, Composite wood/plastic, White goods appliances

This research concerns the application of composite wood/plastic – homogeneous particles of pinus spp.
resin and melamine-urea-formaldehyde (MUF), with an average emission of formaldehyde – in the white
goods appliance industry as an option of new material, as another option for the use of traditional pre-
painted steel sheet, stainless steel sheet and plastic. To evaluate properties of this material, tests were
performed with two different densities of composite, in order to evaluate the bulk density, water absorption
and swelling, heat resistance and dielectric strength (electrical resistance. The tests results has been
satisfactory and showed the composite has a low rate of water absorption and swelling, high dielectric
strength power (electrical resistance) in the absence of moisture and thermal resistance three times lower
than the polyurethane (PUR); besides, they have presented the possibility of improvements in product
design when compared to the use of steel sheet, because composite allows different shapes, such as
grooves and notches. It was also carried out additional studies, as well as a conceptual proposal for cellar
made of composite.

1 Introdução

Este artigo é parte de uma dissertação de mestrado que teve como objetivo o estudo da
aplicação de compósito madeira/plástico em gabinetes de eletrodomésticos do tipo “linha
branca”, e o que isto poderia contribuir no design destes produtos. A pesquisa teve como base
o estudo realizado em uma empresa de móveis para escritórios, a qual analisou, através do
estudo do ciclo de vida, o impacto ambiental de alguns dos seus produtos (Veroneze et. al.,
2008).
Após a análise do ciclo de vida de uma estação de trabalho – fabricada em MDF pintado,
peças metálicas, e acessórios plásticos –, foi avaliado o impacto ambiental desta, através do
programa SimaPro. Tornou-se possível, desta forma, identificar as peças mais nocivas para o
meio ambiente, comprovando-se que o maior impacto encontrava-se nas que continham
excesso de pintura – principalmente pela presença de solventes – e nas fabricadas em aço
SAE (Ibidem).
Esse impacto, apresentado nas chapas de aço, está relacionado, em grande parte, à
extração do aço, que gera efeitos nocivos ao meio, ao degradar grandes áreas para a
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exploração dos minerais. Os processos de mineração e metalurgia também originam grandes
quantidades de resíduos, os quais não são totalmente reaproveitados, podendo ser nocivos, ou
não, para o meio ambiente (Ecoindicator, 1999).
Com base nesta pesquisa anterior, foram escolhidos, para este estudo, produtos que
utilizam em sua estrutura chapas de aço, dos quais são exemplos os eletrodomésticos “linha
branca”, sendo seus gabinetes (carcaças) constituídos, em sua maioria, por este material.
É importante salientar, que foi realizado, nesta pesquisa, o estudo de um novo material a
ser aplicado nos gabinetes dos eletrodomésticos “linha branca”, que apresentasse menor
impacto ambiental, em comparação à chapa de aço, e que paralelamente permitisse um novo
design para os produtos. Desta forma, não se objetivou resolver os impactos gerados pelo
produto durante o uso destes, sendo o momento em que ocorrem os maiores impactos
ambientais de um produto, devido ao consumo de energia, ou, de material (Ecoindicator, 1999).
A utilização deste compósito em gabinetes de eletrodomésticos, que até o momento são
fabricados quase na totalidade em metal, tornou-se atraente também pelo fato de o compósito
ser fabricado com uma média de 80% de farinha de madeira, a qual é obtida através de
resíduos provenientes (gerados na produção) da madeira serrada e na manufatura de seus
produtos (Razera, 2006). Além de ser vista como uma das alternativas de uso destes resíduos,
ao ser uma forma de introduzi-los novamente na cadeia produtiva (Yamaji, 2004).
A madeira de espécie pinus foi escolhida por ser uma das espécies mais utilizadas no
manejo florestal, e de uso em diversos setores do mercado: construção civil, mobiliário,
laminados, compensados, embalagens, paletes, artigo esportivos, brinquedos, bobinas,
carretéis, além, da sua utilização visando à obtenção de fibras e partículas de madeira para
fabricação de papel e painéis (Revista da madeira - REMADE, 2008).

2 Compósito Madeira/ Plástico

Compósitos são materiais de moldagem estrutural, formados por uma fase contínua polimérica
(matriz) reforçada por uma fase descontínua (fibras) que se agregam físico-quimicamente após
um processo de crosslinking polimérico (cura), sendo os aspectos leveza, flexibilidade,
durabilidade, resistência e adaptabilidade algumas das propriedades que garantem aos
compósitos o título de produto do futuro (ABMACO, 2008). Em outras palavras compósito
madeira/plástico refere-se a qualquer compósito que contenha madeira (em qualquer forma), e
uma resina termofixa (termorrígida), ou termoplástica (Yamaji, 2004).
Nos compósitos madeira/plástico, o plástico é responsável pela melhora das características
de resistência à umidade e ao ataque de insetos e fungos. Entretanto, em uma temperatura
onde muitos plásticos são processados a madeira irá entrar em combustão (Schut, 1999).
Em um compósito, além do plástico e da madeira, são vários os aditivos que podem ser
utilizados, como: agentes compatibilizantes, dispersantes, lubrificantes, estabilizadores (luz e
calor), pigmentos e produtos químicos – como inseticidas e fungicidas –, que são produtos
incorporados às partículas de madeira durante o processo de aplicação do adesivo, com a
finalidade de melhorar algumas propriedades específicas dos painéis (Iwakiri, 2005).
Com a aplicação destes aditivos os compósitos madeira/plástico já estão sendo utilizados
na fabricação de uma série de produtos, e uma das razões é a sua baixa absorção de água, o
que torna o produto ideal para aplicações exteriores e para produtos que ficarão expostos à
umidade. O material não apresenta os problemas comuns à madeira, quando submetidas a
condições de muita umidade, como rachaduras, empenamentos e apodrecimento (Koenig;
Sypkens, 2002).
As principais aplicações dos compósitos madeira/plástico são em produtos para construção
civil como decks, cercas, acabamento para paredes e peças decorativas (portas e janelas).
Outras aplicações incluem pisos para uso externo, construções marinhas, interior de
automóveis e caminhões, paletes, equipamentos para playground, peças para móveis, entre
outros (Koenig e Sypkens, 2002; Specialchem, 2003).

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3 Linha Branca

Em termos mundiais, a indústria de eletrodomésticos “linha branca” agrega os bens de


consumo duráveis não portáteis, como fogões, fornos de microondas, refrigeradores, máquinas
de lavar, freezers e condicionadores de ar (Eletros, 2009).
A partir dos anos 90 uma maior atenção é dada, a este nicho de mercado, ao que se refere
ao desenvolvimento de produtos, à definição do perfil dos usuários e às preferências e
necessidades deles. As empresas passaram a se preocupar mais com as tendências mundiais
de design e com a qualidade e racionalização dos custos de seus produtos, que passaram a
demandar um melhor cuidado e especificação de materiais, sendo “testados” e ajustados de
acordo com seus limites de resistência (Ono, 1999).
A “linha branca” apresenta um histórico interessante de materiais já aplicados em sua
fabricação, sendo que no ano de 1920 as primeiras geladeiras eram fabricadas com madeira
em sua estrutura externa e em chapas de aço em sua estrutura interna. Materiais estes que
sofreram modificação nas décadas seguintes, e a mesma geladeira chegou aos anos 50
fabricadas com painéis de aço prensados (Ono, 1999).
A forma era condicionada pelo processo produtivo, ou seja, prensagem de painéis e forja de
metais que possibilitavam somente a conformação de curvas amplas e raios suaves (Ibidem).
É exemplo desta época o refrigerador Cônsul Júnior, que foi o primeiro minirrefrigerador
fabricado no Brasil (figura 01) (Cônsul, 2010).

Figura 1: Refrigerador Consul júnior (usado com a permissão da Cônsul )

Porém, nem todos os eletrodomésticos utilizavam chapa de aço. Por exemplo, a máquina
de lavar roupas ainda possuía madeira maciça em seu gabinete, como o produto da empresa
brasileira Wanke, lançado no ano de 1964 e que teve a sua produção estendida até 1990. Esse
produto possuía cintas de aço para sustentar a carcaça em madeira e pés com rodízios
metálicos (Wanke, 2010).
A partir dos anos 70, embora predominassem ainda as linhas retas, já se observa uma
redução no dimensionamento da estrutura e uso dos materiais, além de diversidade de cores e
acabamento externo com pintura eletrostática antioxidação (Cônsul, 2010).
Na década de 1990, os produtos assumiram padrão mais moderno, viabilizados pela
introdução de novos materiais e processos tecnológicos. Os perfis em plástico predominam, e
as cores branca, marrom ou cinza eram as ofertadas. Cresce a busca pela diversidade de
produtos fabricados, assim como a preocupação com questões ecológicas, ao buscar a
redução do impacto ambiental dos mesmos (Ono, 1999).
Após o ano 2000, começaram a ocorrer modificações mais significativas no formato dos
eletrodomésticos, principalmente, em virtude do aumento da concorrência. Inicia-se a
transformação dos produtos em verdadeiros objetos personalizados, que buscavam uma
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identificação da parte do cliente (Cunha, 2003). Design retro, utilização de madeira pinus no
gabinete – como pode ser verificado na máquina de lavar roupa, estilo anos 1960, da empresa
Wanke, que é réplica da lavadora de roupas fabricada pela empresa entre as décadas de 1960
e 1990 –, uso de chapa de aço inox, em especial escovada, adesivos nas portas de
microondas e geladeiras, formas curvas, e uso em massa do plástico, são exemplos da
diversificação.
Um exemplo de inovação de produtos com formas sinuosas e design arrojado é o forno
micro-ondas da Brastemp, que é fabricado em plástico, com acabamento na cor prata,
conforme figura 2 (Brastemp, 2009).

Figura 2: Micro-ondas Brastemp (usado com a permissão da Brastemp)

Desta forma, analisando a história dos eletrodomésticos “linha branca”é possível concluir
que muitas mudanças já ocorreram nesses produtos, conforme as mudanças de gosto, hábito
e/ou necessidade dos consumidores. Tais mudanças têm buscado a simplificação do uso, um
melhor dimensionamento dos produtos e do uso de materiais, redução na média de peso dos
eletrodomésticos, sofisticação dos produtos e a elevação da relação espaço útil x espaço
ocupado pelos produtos. Também, destacam-se as reduções no consumo de água, na
quantidade de energia utilizada e do nível de ruído (Cunha, 2003).
Todo este estudo permite avaliar que o mercado está mudando e novas opções de
acabamento e de materiais podem ser estudados, e utilizados, em substituição aos tradicionais,
com potencial de serem bem aceitos pelos clientes (Cunha, 2003).
Dentro deste contexto, o compósito também pode ser um material possível de aplicação em
gabinetes destes produtos. Pois, reúne características procuradas pelas indústrias, tais como
ser agradável ao toque, sem transmitir sensação de frio e, por ser fabricado em madeira e
plástico possui menor condutividade térmica e maior resistência à corrosão, se comparado à
chapa de aço. Também podem contribuir para a fabricação de sofisticados produtos, com
aparência diferenciada de tudo que existe no mercado, podendo ser em tom de madeira ou
mesmo em cores tradicionais.

4 Método de Pesquisa

A metodologia adotada nesta pesquisa foi composta por quatro fases: 1. experimento
(compressão de chapas); 2. principal (ensaios exploratórios – empíricos e laboratoriais); 3.
estudos complementares; e 4. conclusões e resultados.
Para a fabricação das amostras do compósito foram utilizados os seguintes materiais:
 Partículas homogêneas: “farinha de madeira”, espécie pinus spp., com granulometria
controlada, tendo como referência o código 2042, na empresa Inbrasfama;

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 Resina (adesivo): Melamina-uréia-formaldeído (MUF);
 Catalisador.
Com as seguintes características:
 Densidade nominal : 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³;
 Processo de produção: compressão a quente;
 Tempo de prensagem: dez minutos;
 Temperatura de prensagem: 130ºC (MUF);
 Dimensões das chapas fabricadas: 500 x 500 x 5 mm.
A resina utilizada foi a resina termorrígida melamina-uréia-formaldeído (MUF), contendo 65-
67% de sólidos resinosos, com média emissão de formol. As resinas foram doadas pela
empresa GPC Química, produzida na planta da cidade de Gravataí-RS.
Foi utilizado catalisador para acelerar a reação de secagem da resina.
O impermeabilizante utilizado, marca Farbem, foi aplicado em amostras de compósito que
foram submetidas ao ensaio de absorção de água e inchamento.

Ensaios
Na fabricação do compósito madeira/plástico foram utilizados índices de 80% de madeira e
20% de resina – porcentagem de 12% de melamina –; tempo de prensagem de dez minutos, e
temperaturas de 130°. As densidades pretendidas foram de 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³. Foram
realizados os seguintes ensaios:
1. Ensaios de densidade, absorção de água e inchamento, norma ABNT 14810-3 –
Chapas de madeira aglomerada –, realizados no Laboratório de Painéis de Madeira,
do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal - DETF do Curso de
Engenharia Industrial Madeireira da UFPR;
2. Ensaios térmicos, norma ABNT 11506, referente a isolamento térmico, desenvolvidos
pela empresa Whirlpool, localizada na cidade de Joinville;
3. Ensaios de rigidez dielétrica – resistência elétrica ––, ASTM D 257, desenvolvidos no
Laboratório de ensaios elétricos e de análises de equipamentos da Companhia
Paranaense de Energia (COPEL).

Formação do Colchão
Partículas encoladas de madeira foram colocadas entre duas chapas metálicas com
espaçadores de 5 mm (para obtenção de placas com 5 mm de espessura (figura 3).

Figura 3: Formação do colchão

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Prensagem
A prensagem das chapas encoladas, com adesivos para cura a quente, foi realizada em uma
prensa piloto Siempelkamp, de pratos planos horizontais com aquecimento elétrico (figura 4).

Figura 4: Prensa piloto siempelkamp/ prensagem das chapas

O colchão de partículas foi prensado, atingindo a espessura desejada após o tempo


previsto.

Ensaio de Densidade
O ensaio de densidade verificou a densidade de todos os corpos-de-prova fabricados, sendo
efetuadas as medições dos comprimentos, larguras e espessura de cada amostra, assim como
os seus pesos.
Foram utilizados os equipamentos: balança semianalítica – com precisão 0,01 g –,
micrômetro e paquímetro digital – ambos com precisão de 0,1.
A determinação da espessura, de acordo com a norma ABNT 14810-3, painéis
aglomerados, deve ser obtida em quatro pontos das bordas dos corpos-de-prova, com
distância de dez mm de cada lado, e um ponto no centro. Realizadas estas medições obteve-
se a média dos cinco pontos, considerada como espessura final do corpo-de-prova.

Ensaios de Absorção de Água e de Inchamento


Para determinação da absorção de água e inchamento do compósito utilizou-se a norma NBR
14810-3 – painéis aglomerados. De acordo a norma, é necessária a utilização de dez corpos-
de-prova, com as dimensões de 25 x 25 mm, para cada ensaio.
A aparelhagem necessária para execução deste ensaio foi: micrômetro com resolução de
0,01 mm; balança semianalítica com resolução de 0,1 g; e recipiente com água destilada, com
temperatura controlada termostaticamente.
Após serem devidamente identificados, foi procedida a medição da espessura, com uma
resolução de 0,01 mm, no centro de cada corpo-de-prova – a norma ABNT 14810-3 exige
apenas a medição no centro de cada peça –, e da massa, determinada em balança
semianalítica com resolução de 0,1 g.
Foram desenvolvidos trinta corpos-de-prova para este ensaio, sendo dez com densidade
0,7 g/cm³, dez com densidade 0,9 g/cm³ e dez com densidade 0,9 g/cm³ revestidos com
impermeabilizante.
Os corpos-de-prova foram acondicionados em copos becker, com água destilada e
temperatura de aproximadamente 20°; e separados de acordo com suas propriedades
(densidade e impermeabilização).

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Após duas horas de imersão foi procedida uma nova medição da espessura e do peso,
retornando os corpos-deprova para os copos de becker, onde permaneceram por um período
de mais 24 horas, sob as mesmas condições das primeiras duas horas. Após este período foi
realizada uma terceira medição do peso e da espessura.

Ensaios de Resistência Térmica


Realizou-se o experimento de resistência térmica, utilizando o sistema de placa quente, que se
baseia na medição de fluxos de calor em regime permanente de temperatura, através de
corpos-de-prova com formato de placas planas e paralelas, de acordo com a norma ABNT
11506. Utilizou-se o aparelho de condutividade térmica – Laser Comp Modelo FOX 200.
Os corpos-de-prova utilizados tinham dimensões de 200 x 200 x 5 mm. Os ensaios de
resistência térmica foram realizados na empresa Whirlpool – localizada na cidade de Joinville –;
sendo dez corpos-de-prova com a densidade de 0,7 g/cm³ e dez com a densidade de 0,9
g/cm³, todas na ausência de umidade. O objetivo foi, além dos valores de resistência térmica
do compósito, a avaliação da relação entre densidade e resistência térmica. A empresa não
possui os resultados de ensaios térmicos da chapa de aço, por considerar insignificante o seu
isolamento térmico.
Esse aparelho é composto por duas placas, sendo uma fria e outra quente. A tensão
fornecida para aquecer a placa quente é ajustada até serem obtidas condições de regime
estacionário, obtendo o valor da condutividade térmica, que é conduzido através do material
em análise (figura 5).

Figura 5: Exemplo de processo

A temperatura para realização dos ensaios foi programada como sendo de 10°C para a
placa fria (inferior) e de 38°C para a placa quente (superior).
O corpo-de-prova foi colocado no compartimento do equipamento; fechou-se a porta frontal
e iniciou-se a troca de calor, até atingir o equilíbrio térmico. Anotaram-se os seguintes valores:
∆x = espessura da amostra em cm;
Q = fluxo térmico em mV;
th = temperatura da placa quente em mV;
tc = temperatura da placa fria em mV.

Finalmente, o fator K da amostra foi calculado (através de software do equipamento) com a


seguinte expressão:

K= N . Q . ∆x
∆T
Onde:
K = condutividade térmica em W/ mk;
N = fator de calibração do equipamento em W/ (m.K.cm);
∆T = diferença entre a temperatura das placas quente e fria em mV.

Ensaios de Rigidez Dielétrica (Resistência elétrica)


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Foi de grande interesse o desenvolvimento de ensaios elétricos, pois a proposta é de aplicação
do compósito em gabinetes de eletrodomésticos “linha branca”, e esses produtos, geralmente,
permanecem em locais de contato direto com a água da torneira – água não destilada.
Foram realizados ensaios de rigidez dielétrica, no Laboratório Elétrico e de Análises de
Equipamentos, da Companhia Paranaense de Energia – COPEL.
Este ensaio é também conhecido como: Testadores de Segurança Elétrica; Teste de
Tensão Aplicada; ou Teste de HIPOT. Tem por objetivo verificar o valor limite de tensão que o
material resiste. Essa tensão é aplicada sobre a espessura do material (kV/ mm), e quando o
produto ensaiado não resistir à tensão aplicada, os átomos que compõem o material se ionizam
e o material dielétrico deixa de funcionar como um isolante.
O equipamento utilizado para realização do ensaio foi o HIPOT, com tensão máxima de 5
kV (figura 6). Possui duas camadas de medidas: uma inferior de 0 kV a 2,5 kV e uma superior
de 2,5 kV a 5 kV. O ensaio é iniciado com aplicação de baixa tensão (1 kV), a qual é acrescida
progressivamente até o momento em que houver a ruptura e consequente fuga de energia.

Figura 6: Máquiina hipot/ materiais para ensaio

Estudos complementares

Comparação do impacto ambiental – programa Simapro


A pesquisa sobre análise do ciclo de vida tem o objetivo de comparar o impacto ambiental
causado pelo compósito e pela chapa de aço, utilizando a análise dos materiais e processos
utilizados para fabricá-los. Para a comparação do impacto do produto no meio ambiente foi
utilizado o software Simapro.
Na análise do produto foram consideradas e comparadas iguais quantidades (m²) dos dois
materiais: o compósito pesquisado e a chapa de aço pré-pintada. Os seguintes aspectos foram
levantados sobre cada produto: dimensões, materiais utilizados para fabricação – resíduos de
madeira, adesivo MUF e catalisador, no caso da madeira, e aço, no caso da chapa metálica –;
acabamentos; processos de produção; e consumo de energia. Não foi considerado o transporte
nesta avaliação.
A realização da comparação dos produtos, que utilizou as informações geradas pelo
software Simapro, tendo como base de dados o Ecoindicator 99, permitiu observar qual produto
(compósito ou aço) possui menor impacto ambiental.

Comparação de Peso Entre o Aço e o Compósito


Para comparação de peso entre o compósito e a chapa de aço pré-pintada, utilizou-se como
base o m² de cada produto, considerando suas características e espessuras. Para inicio da
avaliação, fez-se necessário o levantamento de características físicas como: volumes,
densidades e pesos das peças.

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Para cálculo das massas foi considerado um peso de aproximadamente 4 kg para cada m²
de chapa de aço pré-pintada, com espessura de 0,5 mm, considerando que todos os gabinetes
das peças “linha branca”, que utilizam a chapa pré-pintada em sua fabricação, são fabricados
com esta espessura de aço, que é a menor possível de ser utilizada. O compósito estudado
possui espessura de 5 mm.

Proposta de Acabamento Para Gabinetes Fabricados com Compósito


Como proposta de acabamento (pintura) possível de se aplicar no compósito madeira/plástico,
foram utilizados os seguintes tipos de tintas e vernizes:
 Tinta esmalte sintético marca Farbem: aplicação de três demãos de tinta com a ajuda
de pincel, sendo antes aplicada uma camada de impermeabilizante – selador – como
base;
 Tinta esmalte sintético à base de água marca Suvinil: aplicação de três demãos de
tinta, com a utilização de pincel, sendo dispensada a utilização de base;
 Verniz Poliuretano (PUR) brilhante marca Farbem: aplicação (com pistola) de fundo
primer e de duas demãos de verniz;
 Verniz exterior acetinado à base de água marca Sayerlack (Aquaris): aplicação (com
pincel) de duas demãos de verniz diluído em 5% de água, sem utilização de fundo.

5 Resultados

Ensaio de densidade
As amostras de compósitos utilizadas nos ensaios de absorção de água e de inchamento, de
resistência térmica e de rigidez dielétrica (resistência elétrica) apresentaram médias distintas
de densidades.
Considerando as amostras de compósito de densidade pretendida 0,9 g/cm³, os corpos-de-
prova para o ensaio de resistência térmica (R.T.) apresentaram média de 0,82 g/cm³, os de
resistência elétrica (R.E.) apresentaram média de 0,83 g/cm³, e os corpos-de-prova para o
ensaio de absorção e inchamento (A&I), sem selador, apresentaram média de densidade de
0,78 g/cm³, tendo média de 0,77 g/cm³ as peças que receberiam o impermeabilizante e de 0,81
g/cm³, após a aplicação do impermeabilizante (tabela 1).

Tabela 1: Densidade média corpos-de-prova 0,9 g/cm³

Corpo- Densidade Comprimento Largura Peso Espessura Densidade


de-prova pretendida (g/cm³) (mm) (mm) médio (g) média média (g/cm³)

R. T. 0,9 200 200 170,54 5,23 0,82


R. E 0,9 100,16 100,16 44,33 5,33 0,83
A&I 0,9 25,25 25,28 2,58 5,18 0,78
A&I 0,9 25,33 25,20 2,58 5,26 0,77
A&I * 0,9 25,33 25,20 2,73 5,27 0,81
* Corpo-de-prova para ensaio de absorção e inchamento com selador

Os ensaios com densidade pretendida de 0,7 g/cm³ apresentaram média de densidade de


0,61 g/cm³ para os corpos-de-prova utilizados no ensaio de Resistência térmica; 0,61 g/cm³
para os de Resistência elétrica e 0,55 g/cm³ para os de Absorção de água e Inchamento
(tabela 2).

Tabela 2: Densidade média corpos-de-prova 0,7 g/cm³

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Peso Densidade
Corpo-de- Comprimento Largura Espessura
Densidade médio média
prova (mm) (mm) média
desejada (g/cm³) (g) (g/cm³)

R.T. 11-20 0,7 200 200 123,97 5,10 0,61


R.E. 11-20 0,7 100,13 100,12 31,35 5,15 0,61
A&I - 11-20 0,7 25,21 25,10 1,78 5,12 0,55

Ensaio de absorção de água


No ensaio de absorção de água foram analisados corpos-de-prova com densidades estimadas
de: 0,9 g/cm³, 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³ isolados com impermeabilizante. Porém, a norma NBR
14810-2 – Chapas de madeira aglomerada, Requisitos – não estabelece valores para a
absorção máxima de água, por não possuir propriedades especificadas.
O valor médio de absorção de água para os corpos-de-prova de densidade 0,9 g/cm³, nas
primeiras duas horas de ensaio, foi de 21,5%, e a média de absorção após 24 horas de
imersão foi de 40,6%, (tabela 3). O desvio padrão apresentou índice de 0,37 para duas horas
de ensaio e coeficiente de variação de 13,57. Os mesmos valores para o período de 24 horas
foram de 0,71 e 23,75, respectivamente.

Tabela 3 : Síntese absorção de água dos corpos-de-prova

Absorção Absorção Desvio Coefic. Desvio Coefic.


2h (%) 24h (%) Padrão (2h) variação Padrão (24h) variação

0,9 g/cm³ 21,5 40,6 0,3748 13,57 0,71 23,75

0,7 g/cm³ 49,9 74,9 0,5940 28,02 0,64 27,76

0,9 g/cm³ (selador) /


8,4 23,6 0,1485 5,66 0,29 10,56
sem considerar selador
0,9 g/cm³ (selador) /
1,1 15,2 0,0205 0,7541 0,23 7,67
Considerando selador

Os ensaios com densidade 0,7 g/cm³ apresentaram inchamento de 49,9 % nas primeiras
duas horas, com desvio padrão de 0,59 e coeficiente de variação de 28,02. Após 24 horas de
ensaio o índice de absorção subiu para 74,9% com desvio padrão de 0,64 e coeficiente de
variação de 27,76 (tabela 3).
Se não for considerado o impermeabilizante absorvido, sendo utilizados como referência o
peso antes da impermeabilização e após o período de imersão, a absorção de água foi de 8,4
% nas primeiras duas horas de ensaio e de 23,6% nas próximas 24 horas. O desvio padrão foi
de 0,14 e o coeficiente de variação de 5,66 para a primeira parte do ensaio, apresentando a
segunda etapa valores de desvio padrão de 0,29 e coeficiente de variação de 10,56,
respectivamente.
Porém, considerando-se que o compósito absorveu impermeabilizante quando este foi
aplicado, a real absorção de água pelos corpos-de-prova atingiu uma média de 1,1 % em duas
horas de ensaio, com desvio padrão de 0,02 e coeficiente de variação de 0,75. Nas próximas
24 horas de ensaio a absorção de água atingiu 15,2 % com desvio padrão de 0,22 e coeficiente
de variação de 7,67. A absorção apresentada pelas amostras foi maior durante a aplicação de
selador (5,88%) do que quando foram imersas em água por duas horas (1,1 %).

Ensaio de Inchamento
A norma NBR 14810-2 – Chapas de madeira aglomerada, Requisitos – estabelece valores
apenas para inchamento em duas horas de ensaio, que deve ser máximo de 8%. Os valores
encontrados para as chapas de densidade 0,9 g/cm³ e 0,7 g/cm³ foram inferiores aos
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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estabelecidos pela norma, consequência da maior quantidade de resina utilizada nesta
pesquisa, em comparação com painéis de aglomerado comercializados, e também da
utilização de resina melamina, que tem propriedade de reduzir a absorção de água e,
consequentemente, o inchamento do material.
Além dos índices de inchamento, também é apresentado o desvio padrão do inchamento do
ensaio de duas horas (E0 e E1) e de 24 horas (E1 e E2) e de seus respectivos coeficientes de
variação. Este expressa a relação percentual entre o desvio padrão e a média. Um coeficiente
de variação superior a 50% indica elevada dispersão dos valores relativos à média e,
consequentemente, será reduzida a sua representatividade como medida estatística. A síntese
dos resultados do ensaio de inchamento está apresentada na tabela 4.

Tabela 4: Síntese inchamento corpos-de-prova

Desvio Desvio
Inchamento Inchamento Coefic. Coefic.
Padrão Padrão
2h (%) 24h (%) variação variação
(2h) (24h)

0,9 g/cm³ 0,82 3,06 0,03 0,58 0,11 2,12

0,7 g/cm³ 1,21 3,44 0,044 0,85 0,12 2,38

0,9 g/cm³ (selador) /


0,25 2,04 0,0092 0,18 0,07 1,42
sem considerar selador
0,9 g/cm³ (selador) /
0,09 1,87 0,0032 0,06 0,07 1,30
Considerando selador

O ensaio de inchamento das amostras com densidade pretendida de 0,9 g/cm³, apresentou
média de inchamento inferior a 1% no tempo de duas horas e igual a 3,06% em um período de
24 horas de imersão. O desvio padrão, para as medidas alcançadas nas primeiras duas horas
de imersão, foi de 0,03, com coeficiente de variação de 0,58% e para 24 horas de imersão foi
de 0,11 com coeficiente de variação de 2,12%.
As amostras com densidade pretendida de 0,7 g/cm³, também apresentaram índices de
inchamento satisfatórios, pois, o inchamento médio foi de 1,21% no tempo de duas horas e
igual a 3,44% em um período de 24 horas de imersão.
No caso deste ensaio o desvio padrão, para as medidas alcançadas nas primeiras 2 horas
de imersão, foi de 0,043, e para 24 horas de imersão foi de 0,12, sendo de 0,85% e 2,38% os
respectivos coeficientes de variação.
Também, foram analisados valores de inchamento das amostras, com densidade pretendida
de 0,9 g/cm³, com duas camadas de impermeabilizante, para ensaiar a redução no índice de
inchamento da peça ao ter seus poros fechados. Os ensaios apresentaram inchamento inferior
aos que não possuíam o impermeabilizante, com uma média de inchamento de 0,25% no
tempo de duas horas e igual a 2,04%, em um período de 24 horas de imersão.
No caso deste ensaio, com utilização de impermeabilizante, o desvio padrão, para as
medidas alcançadas nas primeiras duas horas de imersão, foi de 0,0092, e para 24 horas de
imersão foi de 0,07, sendo os respectivos coeficiente de variação de 0,18% e 1,42%.
Porém, estes resultados que apresentaram o inchamento do compósito isolado com
impermeabilizante, não consideraram o inchamento que ocorreu com a aplicação do isolante,
considerando apenas o corpo-de-prova antes da impermeabilização e após a imersão. As
amostras, que tinham uma média de peso de 2,58 g atingiram peso de 2,73 g após a aplicação
de selador. A espessura também se alterou de 5,26 mm para 5,27 mm. Estas alterações
ocasionaram inchamento de 0,17% e absorção de 5,88% de impermeabilizante.
Essas amostras, que apresentavam média de espessura de 5,27 mm após aplicação de
selador, obtiveram espessura de 5,28 mm após duas horas de ensaio com índice de
inchamento de 0,09%, sendo um índice próximo de zero. O inchamento em 24 horas
apresentou índice de 1,87%. Os valores de desvio padrão considerados para esta nova análise
foram de 0,0032 com coeficiente de variação de 0,06 para as primeiras duas horas de ensaio,
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e de 0,07 com coeficiente de 1,30 para as 24 horas.

Resistência térmica
Os resultados do ensaio de resistência térmica indicaram que o compósito com densidade
pretendida de 0,7 g/cm³ apresenta maior capacidade de isolamento térmico, através da média
dos resultados de coeficiente de condutividade, do que o compósito com densidade pretendida
de 0,9 g/cm³, pois, com média de 0,0763 W/mK é 3,7% menos condutível que os de densidade
pretendida de 0,9 g/cm³ que apresentaram média de resistência térmica de 0,0791 (tabela 5).

Tabela 5: Média da resistência térmica densidade 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³

Temperaturas Resistência térmica Coeficient


Desvio
Densidade Pretendida Placa e de
Placa Fria Maior Menor Média Padrão
(g/cm³) Quente variação
0,7 10.00 °C 38.00 °C 0,0798 0,0728 0,0763 0,0049 6,4792
0,9 10.00 °C 38.00 °C 0,0827 0,0755 0,0791 0,0051 6,4725

Os ensaios com densidade 0,7 g/cm³ apresentaram média de condutividade térmica


aproximadamente 3,5 vezes superior que a condutividade térmica do PUR, e o compósito com
densidade 0,9 g/cm³ apresentou condutividade térmica aproximadamente 3,6 vezes maior que
a condutividade térmica do PUR.
O gráfico 1 oferece uma visualização clara da relação entre o compósito e a sua
condutividade térmica, sendo possível verificar que a linha da média de condutividade térmica
das amostras com densidade pretendida de 0,9 g/cm³ fica acima da linha média das amostras
com densidade pretendida de 0,7 g/cm³.

Gráfico 1: Resistências térmicas densidades 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³

0,0900

0,0850
Condutividade Térmica

0,0800
Média RT 0,9 g/cm³
Média RT 0,7 g/cm³
0,0750

0,0700

0,0650
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Corpos-de-prova

O desvio padrão teve média de 0,0051 nas amostras com densidade 0,9 g/cm³ e de 0,049
nas amostras com densidade 0,7 g/cm³. O coeficiente de variação apresentou valores similares
nos dois ensaios, sendo de 6,47.

Ensaio de rigidez dielétrica (resistência elétrica)


O ensaio iniciou-se com a aplicação de tensão de 1 kV e o compósito indicou resistência.
Gradativamente a escala de energia do equipamento foi aumentando até a energia máxima na
escala superior de 4 kV e o compósito não perdeu suas propriedades, sendo isolante elétrico à
alta tensão. Todas os dez corpos-de-prova de densidade pretendida 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³,
sem umidade, indicaram resistência à tensão de até 4 kV.
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O compósito de densidade pretendida 0,9 g/cm³ foi submetido a uma tensão de 4 kV, sem
ocorrer fuga de energia. Da mesma forma, o compósito com densidade pretendida 0,7 g/cm³,
foi exposto à mesma tensão apresentando as mesmas características do compósito de 0,9
g/cm³.
Os corpos-de-prova que estavam úmidos apresentaram resistência muito inferior, sendo
isolantes elétricos em uma potência média de 175,5 V para os de densidade 0,9 g/cm³ e de
280 V para os de densidade 0,7 g/cm³ (tabela 6).

Tabela 6: Resultado ensaio de rigidez dielétrica

Rigidez
Densidade Pretendida Densidade
Corpo-de-prova Rigidez elétrica elétrica / com
g/cm³ média g/cm³
/ sem umidade umidade
RE1-10 0,9 0,83 4 kV 175,5
RE1-10 0,7 0,61 4 kV 280

O compósito úmido apresentou resistência média entre 175,5 e 280 V quando estavam
encharcados de água. Nestas tensões, realmente não ocorreu transmissão de energia. Porém,
submetidas a tensão maiores, como 500 V, não apresentaram ruptura das propriedades,
entretanto ocorreu um mínimo de condução de energia.

Comparação impacto ambiental - análise do simapro


De acordo com o gráfico de caracterização (gráfico 2) a chapa de aço é mais impactante do
que o compósito pesquisado. O compósito com maior densidade – 0,9 g/cm³ - apresentou-se,
de forma moderada, mais impactante do que o compósito com densidade 0,7 g/cm³.

Gráfico 2: Gráfico caracterização

Os resultados apresentados pelo gráfico podem ser sintetizados na tabela 7, que


demonstra, em cor azul, os resultados mais impactantes. A chapa de aço atingiu índice de
100% de impacto em todos os itens, em comparação com o compósito.
O compósito apresentou maior impacto nos aspectos radiação e camada de ozônio, com
média de 96% de impacto – quase se equiparando ao impacto gerado pela chapa de aço.

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Tabela 7: Comparação dos resultados do gráfico de caracterização

Outros aspectos nos quais o compósito também apresentou índice elevado de impacto, em
comparação com a chapa de aço, foram os itens combustíveis fósseis, com média de 66,5% e
cancerígeno, com média de 53,5%. Estas alterações ocorreram por consequência da resina
formaldeído utilizada para formação do material. Os outros aspectos, em média,
permaneceram abaixo de 50% de impacto, ao se comparar com o aço. Nenhum aspecto
apresentou o compósito como o produto de maior impacto.
Considerando uma média de todos os aspectos impactantes para o compósito 0,7 g/cm³,
para o compósito 0,9 g/cm³ e para a chapa de aço o impacto poderia ser considerado como
50,5%, 51,45% e 100%, respectivamente.

Comparação do peso do compósito e da chapa de aço


A tabela 8 apresenta o peso do m² de compósito densidade 0,7 g/cm³, do compósito 0,9 g/cm³
e da chapa de aço pré-pintada.

Tabela 8: Comparação pesos compósitos e chapa de aço

Peso (Kg/m³)
Material 35
Área (m²) Espessura (mm) Volume (m³) Densidade g/cm³

Compósito 1 0,005 0,005 0,7 3,5


Compósito 1 0,005 0,005 0,9 4,5
Chapa de aço 1 0,0005 0,0005 7,85 3,9

De acordo com a espessura e densidade de cada material, o material mais leve é a peça de
compósito com densidade pretendida 0,7 g/cm³, e o material mais pesado é o compósito com
densidade pretendida 0,9 g/cm³.
A chapa de aço apresenta peso intermediário entre o peso das duas densidades de
compósito.

Proposta de acabamento de amostras de compósito


A aplicação de verniz e de tinta no compósito (densidade pretendida 0,7 g/cm³ e 0,9 g/cm³)
permitiu verificar que o material apresenta bom aspecto visual com diferentes acabamentos. A
36
figura 7 apresenta quatro tipos de acabamento aplicados no compósito .

35
Número multiplicado por 1.000
36 Parte inferior do compósito sem qualquer acabamento
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Figura 7: Propostas de acabamento para o compósito

Compósito densidade 0,7 g /cm³ Compósito densidade 0,9 g /cm³


Verniz puro brilhante
Verniz acetinado à base
de água
Esmalte sintético acetinado
brilhante à base de água
Esmalte sintético

As peças de compósito que compõem a figura 7 estão representadas apenas com pintura
em parte delas, para ser possível comparar a diferença do material em sua forma natural com o
material com acabamento.
As peças de compósito pintadas com verniz tipo poliuretano apresentaram ótimo
acabamento e aspecto visual, conferindo ao compósito revestimento brilhante transparente e
preservando seu tom natural. A aplicação de verniz à base de água também apresentou boa
aplicação no compósito. Porém, talvez pela sua propriedade acetinada, ficou visualmente
semelhante à aplicação de cera natural, com tom mais amarelado do que o verniz poliuretano
(PUR).
O esmalte sintético também apresentou bom aspecto visual, com acabamento liso. Porém,
na peça com densidade 0,9 g/cm³ o resultado foi mais satisfatório, com superfície mais
uniforme, comparado com a peça de compósito de densidade 0,7 g/cm³. O esmalte sintético à
base de água apresentou resultado semelhante ao esmalte à base de solvente, sendo,
também, visualmente melhor na peça com densidade superior.
As peças que receberam a pintura com pistola (verniz PUR) apresentaram acabamento
superior em relação as que foram pintadas com pincel (esmalte sintético à base de água).
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As amostras de compósito que apresentaram maior absorção de tinta, e variação na sua
espessura, foram as de densidade 0,7 g/cm³.

Proposta conceitual de aplicação do compósito em adega


Como proposta de aplicação do compósito em um gabinete de eletrodoméstico tipo “linha
branca”, com a demonstração da possibilidade de formas sinuosas, de modularização e de
eletrodomésticos com semelhança visual de mobiliário, foi desenvolvida uma proposta
conceitual de uma adega para vinhos.
A proposta de adega possui dimensão 600 x 600 x 600 mm (L x A x P), e, em corte
horizontal tem suas formas representadas pela figura 8. As laterais podem ser compostas por
oito peças iguais, com o mesmo ângulo, o que possibilita uma otimização de moldes, pois com
apenas um molde, que equivale à metade de uma lateral, será possível construir todas as
quatro laterais, que são iguais. Também é possível fabricar o tampo e a base da adega
utilizando apenas uma matriz.

Figura 8: Projeto das laterais de adega fabricada em compósito

A proposta de adega com formas curvas tem também como objetivo um maior reforço
mecânico das laterais. Cada peça lateral possui uma “aba” em suas extremidades laterais,
necessárias em virtude do isolamento térmico do material – para evitar ponte de perda de
refrigeração –, e para fixação mecânica das peças. As “abas”, por estarem inseridas no lado
interno da peça, serão impregnadas com poliuretano, o que, além de evitar fuga de ar frio,
reforçará mais a estrutura.
Nesta proposta já foi considerada uma menor espessura da parede de poliuretano, com 22
mm, em comparação com a espessura tradicionalmente aplicada nas laterais de uma adega,
25 mm. Isto, porque o ensaio de resistência térmica indicou uma pequena, mas existente,
diminuição de poliuretano, quando for utilizado o compósito madeira/plástico.
Este uso da adega será totalmente possível, pois o compósito revestido com
impermeabilizante e verniz à base de água – acabamento escolhido para esta proposta – não
permitirá que o gabinete absorva água, quando exposto a ela, o que também evitará riscos
com choques elétricos.
A porta de vidro é inteira, evitando-se adicionar mais uma peça de compósito ao conjunto, o
que não prejudicará a eficiência térmica do produto. O visual do produto, com gabinete em
compósito, pode ser visualizado na figura 9.

Figura 9: Modelo de adega fabricada

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O produto proposto também apresenta ranhuras em suas paredes laterais, sendo
projetadas de forma inversa – compensação – na parte interna das laterais da adega. Este
detalhe de ranhuras (figura 10), além de permitir diferenciação da forma, permitirá maior
fixação de poliuretano nas partes internas das laterais, contribuindo, desta forma, para um
maior reforço mecânico. Estas ranhuras, porém, não podem ser muito profundas, devendo ser
no máximo de 20% da espessura da parede lateral. Isto também irá diminuir acúmulos de
sujeiras e facilitar a limpeza do produto.

Figura 10: Exemplo de ranhura para a lateral

O projeto, além de utilizar o compósito e de identificar suas possibilidades de fabricação,


objetiva a redução de materiais e moldes durante a fabricação do produto, assim como a
possibilidade de modularização na “linha branca” (figura 11). A utilização de rodízios facilita a
movimentação e transporte da adega.

Figura 11: Exemplo de modularização

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Esta proposta conceitual, que não tem objetivo de apresentar a metodologia de execução
de forma detalhada, e também não foi desenvolvida praticamente, permitiu a aplicação dos
resultados alcançados na fase de ensaios, apresentando um produto com formas diferenciadas
de tudo que existe no mercado de “linha branca”.

6 CONCLUSÃO

A pesquisa de novas aplicações em produtos, e a utilização de novos materiais, ocasiona uma


maior valorização da área de design, ao se fazer um viés com a área de engenharia, física e
mesmo humana, contribuindo para que o design se explane e se consolide.
Em um primeiro momento, não é aceita a utilização de madeira em partes externas de
produtos que vão estar em contato com ambientes úmidos. Porém, com os ensaios realizados
e com a demonstração que o material já é empregado em produtos que possuem contato com
a umidade, cria-se um senso de aceitação nas pessoas. Também tem o lado cultural, que aqui
nesta pesquisa, por possuir um foco no desenvolvimento do compósito e suas propriedades
para aplicação na “linha branca”, não foi analisado, pois o produto, na pesquisa, foi
apresentado apenas em forma conceitual, não sendo possível desenvolve-lo praticamente.
De todo este processo percorrido é possível extrair, através dos resultados alcançados, que
nenhuma pesquisa é concluída em um primeiro estudo, mas é uma forte base para outras que
a concluirão.
Com relação aos resultados alcançados nesta pesquisa é possível listar as seguintes
conclusões:
As densidades analisadas e pretendidas sofreram variação entre corpos-de-prova,
apresentando média inferior às densidades estipuladas.
Os ensaios de inchamento e absorção de água demonstraram que o compósito tem boa
resistência à água, em especial se for isolado com impermeabilizante ou tinta.
A utilização de maior percentual de resina, e também da utilização da resina melamina,
contribuíram para uma considerável resistência do material compósito à água.
O ensaio de resistência térmica confirmou a baixa condutividade térmica do compósito e a

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possibilidade de redução da espessura de PUR, ao se utilizar compósito nos gabinetes de
refrigeradores.
O ensaio de rigidez dielétrica (resistência elétrica) comprovou a eficiência do compósito em
isolamento elétrico, mesmo na presença de umidade.
A análise realizada pelo programa SimaPro para comparação do impacto ambiental dos
produtos compósito e chapa de aço, no estudo de análise de ciclo de vida, confirmou que o
compósito, mesmo com a utilização de resina formaldeído de média emissão de formol, é em
média 50% menos impactante para o meio ambiente, se comparado com a chapa de aço pré-
pintada.
Na comparação de peso entre o compósito e a chapa de aço, ficou confirmado que o
compósito, na espessura de 5 mm – dez vezes mais espesso que a chapa de aço –, apresenta
peso inferior se a densidade utilizada for de 0,7 g/cm³ ou inferior a isto. Caso tenha densidade
superior a 0,7 g/cm³, o peso tende a se equiparar, e acima de 0,9 g/cm³ o compósito passa a
ficar mais pesado do que a chapa de aço.
O fator peso é de grande interesse no desenvolvimento de um produto e na escolha do
material a ser utilizado, pois um menor peso se reflete em menor impacto ambiental, menor
custo e maior facilidade de transporte.
O compósito permite acabamentos diferenciados, como: verniz, tinta esmalte sintético e
tinta a base de água, sendo que o melhor acabamento é o proporcionado pelo verniz, e a
densidade que fica mais uniforme é a densidade de 0,9 g/cm³, na qual o compósito apresenta
menor quantidade de poros abertos.
A aplicação de compósito, por compressão, em gabinetes de eletrodomésticos permite a
utilização de espessuras e densidades diferentes, formas curvas, aplicação de ranhuras e
rebaixos, modularização e minimização de moldes na fabricação.
A proposta conceitual apresentou os principais requisitos para o desenvolvimento de
produtos com baixo impacto ambiental, pois, além de utilizar material reciclado em sua
estrutura, possui design que contribui para diminuição de ferramentas, ao permitir a fabricação
de todas as laterais com apenas um molde. Também permite a diminuição de poliuretano -
PUR, embora pouco, mas por ser este um produto muito impactante, já é relevante.
A fabricação de compósito é através de processo que consome quantidade
significativamente menor de energia do que a fabricação de chapa de aço, isto refletindo no
impacto de fabricação do produto e no seu custo final.
Em termos de energia, não se estudou a redução do consumo desta no uso dos produtos
eletrodomésticos, sendo apenas sugerido a aplicação de novo material, e novo design, em
seus gabinetes.
A resina MUF, utilizada nesta pesquisa, foi de baixa quantidade, em virtude da emissão de
formaldeído e, também, por ser um produto termorrígido, ou seja, não permitir novo
processamento. Desta forma, com menor utilização de resina, além da redução de material de
fonte petrolífera, também impactará menos o meio ambiente, mediante sua impossibilidade de
reciclagem.
A chapa de aço avaliada nesta pesquisa foi a chapa pré-pintada, com espessura média de
0,5 mm. Não foi considerado revestimento com chapa de aço inox, pois a espessura seria
maior, sendo aproximadamente de 8 a 10 mm, o que resultaria em maior peso e também em
um maior impacto ambiental, se comparado com a chapa de aço pré-pintada.

Referências
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<http://www.brastemp.com.br/ch/vitrines/index.aspx?vc=26684&desc=adesivos-de-micro-
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ondas>. Acesso em 10.12.2009.
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<http://ww2.consul.com.br/consul/control/cs/br/s3/catalogo?DECADA=50&siglaMenu=PROD
UTO&action=exibirCatalogoProdutos>. Acesso em 17/03/2010.
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<http://www.pre.nl/download/EI99_Manual.pdf> Acesso em 10/08/2010.
Iwakiri, S. Painéis de madeira reconstituída. Curitiba: FUPEF, 2005.
Ono, M. M. Design industrial e diversidade cultural: um estudo de caso na electrolux do brasil
s.a. e multibrás s.a. 1999. Dissertação (Mestrado em Tecnologia). Centro Federal de
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Razera, D. L. Estudo sobre as interações entre as variáveis do processo de produção de
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Design Sustentável: estudo de caso na empresa FLEXIV. In. Congresso Brasileiro em
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<http://beta.wanke.com.br/hp_br/empresa/index.php?emp_id=historia> Acesso em
10/03/2010.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Capacitação tecnológica, inovação e lapidação de
materiais descartados dos corpos pegmatíticos aplicados
a acessórios de artesanato mineral (Technological
capability, innovation and lapidary of disposed materials
from pegmatite bodies applied to handcrafted products)

Adriano A. Mol; Msc.

Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil. mol.adriano@gmail.com

Bernadete S. Teixeira; Msc.

Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil. designjoias@uemg.br

Raquel P Canaan – Bolsista FAPEMIG

Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil. raquel.pcanaan@gmail.com

Mara Lucia P Guerra – Bolsista FAPEMIG

Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil. maraguerrak@gmail.com

palavras chave: território; sustentabilidade; capacitação.

A região do Vale do Jequitinhonha viveu seu apogeu durante o ciclo minerador e hoje se destaca no
contexto estadual pela carência de recursos e pobreza de sua população. Apesar da situação favorável
quanto às reservas minerais, essas riquezas não proporcionam retorno econômico e social condizente à
população. É um dos principais eixos de produção de gemas do Estado, recursos substancialmente
reduzidos pela má exploração e desperdício, tanto nos processos industriais e artesanais como
extrativistas.
Experiências no mundo demonstram que a capacidade tecnológica tem sido o eixo dos programas de
modernização produtiva de países que superaram o subdesenvolvimento demonstrando que cada região
deve contar com capacidade própria, desenvolvida a partir das necessidades e particularidades dos
setores de sua economia.
Essa capacidade pode se desenvolver mesmo em pequenas unidades produtivas, desde que estas se
vinculem a unidades de interface como Universidades e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento, com o
apoio e fomento de órgãos do governo e da iniciativa privada, bem como participação das representações
locais.
O Laboratório de Lapidação e Artefatos Minerais ITAPORARTE é uma mini plataforma produtiva situada
em Coronel Murta no Vale do Jequitinhonha que integra os laboratórios do Centro de Estudos em Design
de Gemas e Jóias da Escola de Design da UEMG. Em parceria com a Prefeitura Municipal e com o
Sindicato dos Garimpeiros de Coronel Murta e do Médio Jequitinhonha atua na capacitação técnica de
jovens da região e no desenvolvimento de produtos artesanais utilizando recursos materiais locais,
acessíveis à comunidade, como descartes resultantes da extração de gemas. Este artigo apresenta o
desenvolvimento deste projeto, voltado ao beneficiamento e agregação de valor aos materiais
descartados dos corpos pegmatíticos, com vistas ao desenvolvimento técnico e tecnológico da região.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Keywords: territory, sustainability, empowerment.

The Jequitinhonha Valley region, had its heyday during the mining cycle and today stands out in the State
context by the lack of resources and poverty of its population. Despite the favorable situation regarding
mineral reserves, this activity actually does not contribute to the municipalty’s economic and social
improvement. It’s production is greatly reduced by poor resources exploitation and large waste, both in
industrial and artisanal extractive processes.
Experiences worldwide have shown that technological capability has been the centerpiece of the
modernization programs of countries that outperformed productive underdevelopment, and also reveal that
each country or region should have its own technological capabilities, developed from the needs and
specific sectors of its economy.
This ability can be developed even in small production units, as long as they search interface with units as
Universities and Research and Development, with support and encouragement of government agencies
and private enterprise as well as the participation of local representatives and class. The policy of
incentives and subsidies in these experiments has been a powerful mechanism for integration of sectors
and social agents.
The Laboratório de Lapidação e Artefatos Minerais ITAPORARTE is a mini production platform located in
Coronel Murta Vale do Jequitinhonha that integrates the laboratories of the Centro de Estudos em Design
de Gemas e Jóias of UEMG. In partnership with the Union of Prospectors of Coronel Murta and Middle
Jequitinhonha and the Municipality of Coronel Murta works in the technical training of youth in the region
and the development of handicraft products, using local materials and resources available to the
community, such as discharges from the extraction of gems. The aim of this paper is to demonstrate how
this model was developped and focused on improvement by surface treatment, by adding value to
discarded materials of pegmatite bodies, aiming at the technical and technological development of the
region.

Introdução
A região de Coronel Murta está localizada no Vale do Jequitinhonha, a noroeste de Minas
Gerais, assentada em uma das maiores províncias gemológicas do mundo, com grande
ocorrência de gemas preciosas, como turmalinas, águas marinhas e uma grande variedade de
quartzos.

Figura 01: Vista da cidade de Coronel Murta.

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O município tem na mineração sua principal atividade econômica, mas devido a
diversos fatores, principalmente os relacionados à extração e comercialização, sua contribuição
no desenvolvimento econômico local em relação ao seu potencial é muito pequeno, não Formatado: Português (Brasil)
refletindo em benefícios econômicos e sociais para a região.
Alí a realidade da extração de gemas caracteriza-se pela informalidade nos garimpos e
utilização de práticas inadequadas de lavras, resultando em geração de resíduos com grande
impacto ao meio ambiente, conforme o Diagnóstico Setorial de Gemas e Jóias no Nordeste de
Minas Gerais que afirma que as “lavras são conduzidas de forma rudimentar e predatória, com
baixa inserção tecnológica, focada basicamente na extração de pedras preciosas”.
Segundo Lameiras (2008), a quase totalidade dos pegmatitos em Minas Gerais é
explorada visando a produção de minerais gemas, sem considerar outros minerais de valor
econômico, geralmente a eles associados.
Apesar de todo esse potencial, são raros os casos em que a exploração dos
pegmatitos gera outros produtos. Contudo, os materiais descartados na extração dos garimpos
podem significar novas e excelentes oportunidades de desenvolvimento regional, mas, para
tanto, há necessidade de transferir conhecimento às pequenas unidades produtivas gerando
valorização dos recursos disponíveis.
Este projeto dá continuidade aos estudos sobre a inserção de ferramentas do design nas
cadeias produtivas de gemas na região de Coronel Murta, considerando as pesquisas e
trabalhos já realizados com a implementação do Laboratório Itaporarte – FAPEMIG/UEMG e o
projeto Da Gema – Centro Minas Design/UEMG, no âmbito do Projeto Estruturador Rede
Tecnológica da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas
Gerais. A finalidade a construção de um modelo produtivo em pequenas unidades produtivas
que considere desenvolvimento de condições favoráveis à utilização dos recursos materiais e
humanos locais.

Contexto
Mesmo sendo um dos maiores produtores de ouro do Brasil e de gemas do mundo, Minas
Gerais tem perdido muito de sua vantagem competitiva no setor de gemas e jóias. As
exportações de jóias do Estado não chegam a ocupar 15% do mercado brasileiro, e a produção
37,38
do país é irrisória em nível mundial, com participação menor do que 1% do mercado global .
A extração, processamento e venda de pedras preciosas caracteriza-se como uma
atividade econômica importante particularmente em algumas regiões de Minas Gerais, mas
seus índices de produção e qualidade são comprometidos pela baixa capacitação técnica e
tecnológica.
A região do Vale do Jequitinhonha, apesar da riqueza em reservas minerais, não se
destaca por singularidade e versatilidade de produtos derivados dessa riqueza, visto que, esse
material, quando não é exportado em bruto, destina-se a uma produção de artefatos que
tendem para uma natural aceitação dos estereótipos e cópias de produtos estrangeiros. A alta
informalidade do setor e a atividade centrada nos minerais – gemas e peças de coleção não
garantem uma regularidade extrativa e retorno econômico para sua população.
A inovação nesse setor deve associar-se à introdução de novos processos de extração e
beneficiamento das gemas, de fornecimento e distribuição de produtos e estar voltada para a
competitividade. Portanto, as mudanças no patamar tecnológico do setor devem ocorrer por
meio de melhorias nas formas de gestão/organização do trabalho, qualificação dos

37
Participação brasileira na exportação mundial de artefatos de joalheria de ouro em 2002: 0,12% e 2003: 0,13%. Fonte: Instituto
Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBMG. Disponível em http://www.ibgm.com.br.
38
Políticas e Ações para a Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias. IBGM; Brasília: Brisa, 2005. 116p.
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trabalhadores, renovação e ampliação da variedade de produtos com aplicação de design e
assistência tecnológica na produção. Para responder aos desafios de P&D e inovação, além da
inserção de novas tecnologias de produtos e processos, buscou-se a adequação do nível
técnico da unidade produtiva aos padrões de qualidade exigidos hoje pelos mercados.
O projeto instalou-se na região por esta apresentar um conjunto de situações favoráveis,
como o ambiente instalado no Laboratório Itaporarte contando com a presença de equipes
multidisciplinares atuando em ourtos projetos e programas para o setor. Em sincronia com o
estágio de mobilização da comunidade local, essa é uma estratégia que se apoia na combinação
da inovação com a tradição, do domínio técnico com a tecnologia e dos saberes tácito e científico,
resultando na integração do conhecimento com o setor produtivo.

O design aplicado à valorização dos recursos locais


A integração da dimensão cultural da produção ao consumo e ao descarte tem
caracterizado a construção de uma nova sociedade, que tende à constituição de produtos
como suporte de comunicação de valores culturais, o que significa relacionamento direto entre
as atividades industriais de produção e estratégias de comunicação. Com a crescente
escassez de recursos naturais, a sociedade tem se voltado para o meio ambiente de forma
mais atenta e responsável com impacto no processo do design, que deve acompanhar essas
mudanças em sintonia com as novas aspirações.
A discussão sobre a sustentabilidade ganhou maior abrangência junto com os novos
valores e movimentos que entraram em questão na sociedade atual. A transição rumo à
sustentabilidade, segundo Manzini e Vezzoli (2002), “é um processo de aprendizagem social a
que seremos, gradualmente, submetidos, e que consiste em viver melhor consumindo muito
menos, regenerando a qualidade do ecossistema global e dos contextos locais em que
estamos inseridos.”
Segundo os autores, um dos principais desafios do design atualmente é desenvolver e
suportar o desenvolvimento de soluções para questões mais complexas, que exigem visão
mais abrangente, que envolva produtos, serviços e comunicação de forma conjunta e
sustentável.
Krucken (2008) fala da transversalidade dos diferentes aspectos em vários níveis do
processo. Ela consiste em buscar soluções projetuais que se darão através da percepção das
necessidades de um individuo ou do grupo social em que ele vive. Essas soluções se
consolidarão em artefatos referentes à cultura material global e local. O cenário contemporâneo
questiona a produção de artefatos, orientando a busca por produtos que se adaptem melhor à
atual necessidade de redução do impacto ambiental. No âmbito do design sustentável, seu
papel é ligar o que é tecnicamente possível com o que é ecologicamente viável, a fim de propor
soluções social e culturalmente harmonizadas.
Trabalhar com produtos inovadores significa posicionar-se no nicho da diferenciação e
a projetação para a sustentabilidade tem dado sinais de que reserva um futuro promissor, por
ser uma forma de inovação que pode atender às necessidades e anseios do consumidor final,
colaborando também para a construção de um cenário que contribua para a preservação do
meio ambiente.
Assiste-se atualmente à transformação da cultura em mercadoria, representada de
forma a ser consumida pelos adeptos ou não da mesma. Como exemplos, encontram-se os
produtos que exprimem a idéia de um país no mundo, através da exploração da cultura e
produção local e do apoio aos produtores da região. O design contribui para a conversão
desses traços culturais em modos de agregar valor aos produtos, atuando como uma
ferramenta de promoção do território.
O design pode contribuir significativamente buscando formas para tornar visível à sociedade
a história por trás dos produtos. Contar a “história do produto” significa comunicar elementos
históricos, culturais e sociais associados, possibilitando ao consumidor avaliar e apreciar o produto de
forma mais ampla, considerando, por exemplo, os serviços ambientais embutidos no próprio produto.
Dessa forma, a comunicação pode contribuir para a adoção e valorização de práticas sustentáveis na
produção, comercialização e consumo (KRUCKEN e TRUSEN, 2009).

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Segundo Krucken (2009), para projetar em prol da valorização dos recursos e produtos,
deve-se perceber as qualidades do contexto local – o território e a maneira como cada produto
é fabricado e percebido - para compreender as relações que se estabelecem ao longo de sua
cadeia de valor.
Os produtos locais são formas de manifestação cultural da comunidade ou território
que os gerou, carregando em si características (das propriedades físicas aos hábitos de
consumo) que em muito influenciam essa sociedade. Comunicar essas características de forma
correta faz com que se desenvolva uma imagem favorável do território em que o mesmo se
origina e o elemento chave dessa valorização é a relação entre produtores e consumidores.
A importância da ligação entre qualidade do produto e do território e seu modo de
fabricação se torna mais reconhecida a cada dia pelos consumidores, acarretando a busca por
informações que os possibilitem identificar a história por trás do produto. Isso conecta-se
diretamente ao conceito de Terroir, expressão que abrange produto, território e sociedade que
o origina. “É o espaço geográfico no qual os valores patrimoniais são frutos de relações
complexas das características culturais, sociais, ecológicas e econômicas tecidas ao longo do
tempo” (Brodhag, 2000 apud Krucken, 2009).
O design, nesse contexto de valorização dos produtos locais, passa a ser visto como
uma ferramenta para competitividade e uma oportunidade para a inserção dos pequenos
produtores no mercado atual. A conscientização das pessoas em relação a essa função e da
importância de investir na área deve e está sendo divulgada, pelas experiências de sucesso de
países que o adotam como atividade estratégica.
Krucken (2009) defende que para o consumidor, o valor do produto é correspondente à
qualidade percebida por ele e tem a ver com sua adequação ao uso a que se propõe, às
percepções sensoriais e o sentimento em relação à compra e/ou consumo do produto, à
dimensão memorial relativa a lembranças positivas e negativas, à prestação de serviços
ambientais por meio do uso sustentável dos recursos naturais, à sua importância nos sistemas
de produção e consumo, ligado às tradições e rituais relacionados, ao desejo de manifestar
uma identidade social, aos aspectos sociais que permeiam os processos de produção,
comercialização e consumo dos produtos e à relação custo/benefício. Isso tudo faz parte da
experiência do consumidor para com o produto, e, diante de um mau resultado, seu
comportamento em relação a ele irá mudar dificultando sua fidelização com a marca.
De acordo com Fortis (2007), os consumidores, ao adquirir um produto local, buscam
compartilhar um estilo de vida que lhe despertem emoção e o insiram em seu contexto,
fazendo com que se sintam parte do território e/ou da comunidade que o gerou. Ele pode
comunicar sua relação com a origem e a matéria prima por meio de vários elementos tangíveis
e intangíveis e para a construção da identidade de um produto, alguns requisitos são indicados
para identificar oportunidades. Em princípio, deve-se reconhecer as qualidades do território,
que se constituem como “marcadores” de identidade do local. São eles seu patrimônio material
(paisagem, arquitetura, economia, estilo de vida, história, musica, pintura, artesanato,arte) e
também o imaterial (folclore, rituais, línguas, música).
Nesse contexto é essencial o apoio à produção local, através do estabelecimento e
consolidação de redes de cooperação, que ajudam na difusão de informações aos produtores,
estimulando um posicionamento mais ativo em direção ao consumidor final. Além de motivar o
trabalho integrado das atividades, essa atitude fortalece a posição do produto e sua inserção
no mercado competitivo, pois ele passa a vender também seu valor e sua qualidade, ao invés
de somente um bem físico.

Resultados

A partir desses pressupostos, o CEDGEM - Centro de Estudos em Design de Gemas e


Jóias – UEMG com o apoio da FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
tem desenvolvido projetos no Laboratório Itaporarte voltados ao desenvolvimento de
Capacidade Tecnológica própria na região. Os projetos Da Gema I e II, em parceria com o
Centro Minas Design, incluem a capacitação de pessoas da comunidade para produção de
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artefatos em artesanato mineral, envolvendo atividades de lapidação, inlay e pintura com
pigmentos minerais coletados da Região, aplicados em objetos de feldspato, mineral
descartado da extração as gemas nos garimpos locais.

Figura 02: Logomarca criada para o laboratório Itaporarte, instalado em Coronel Murta, na Região do Vale do
Jequitinhonha.

As atividades dos projetos são acompanhadas pelos professores e bolsistas do Centro de


Estudos em Design de Gemas e Jóias da UEMG, com o apoio de consultores e profissionais
extensionistas da região. Com a finalização do projeto, a unidade produtiva apresenta como
resultados modelos padronizados de produtos e prontos para a etapa de produção
comercialização.

Figura 03: Equipe no Laboratório Itaporarte em Coronel Murta no Vale do Jequitinhonha.

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Figura 04: Modelos dos anéis em feldspato.

Figura 05: Separação e seleção dos cascalhos de turmalinas para inlay das peças e Figura 06: Aplicação dos
cascalhos para polimento final da peça.

Figura 07: Preparação dos pigmentos e Figura 08: Atividades de pintura com a comunidade local.

Figura 09: Desenhos para pintura das peças, desenvolvidos a partir da iconografia da cerâmica da região.

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Figura 10: Desenhos dos modelos das peças.

Figura 11: Peças finalizadas e pintadas. Foto Antônio Mattos.

Conclusão
Este é um trabalho em construção que apresenta potencial de desdobramentos em
diversos outros projetos que possibilitem a transferência de conhecimento e tecnologia
construídos no CEDGEM em benefício de pequenas unidades produtivas.

Referências
De Moraes, Dijon (Org.) ; Krucken, Lia. (Org.) . Cadernos de Estudos Avançados em Design
– Multiculturalismo, Sustentabilidade I e II e Transversalidade. Contagem: Editora Santa
Clara, 2008.
Krucken, Lia. Design e Território: Valorização de Identidades e Produtos Locais. Belo
Horizonte: Studio Nobel, 2009.
Lameiras, F. S., et al. Utilização dos Resíduos da Extração de Gemas no APL de Gemas,
Jóias e Artefatos em Pedra de Teófilo Otoni, 2008.
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Manual de Lapidação Diferenciada de Gemas. Org. Adriano Mol. Ministério de Minas e
Energia/SEBRAE-NA/ IBGM. Brasília: Athalaia Ed. 2009. 48p.
Políticas e Ações para a Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias. IBGM; Brasília: Brisa, 2005.
116p.
Trigueiro, André. Mundo Sustentável. Abrindo espaço na mídia para um planeta em Formatado: Português (Brasil)
transformação. São Paulo: Globo, 2005, 302p.

Lampel, Joseph; Mintzberg, Henry. Reflexão sobre o processo estratégico.


Manzini. Ezio; Vezolli, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos
ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2002.

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Design e sustentabilidade: a moda como outra
possibilidade de conscientização (Design and
sustainability: fashion as another opportunity to raise
awareness)

MARCHI, Salette Mafalda; Mestre; Centro Universitário Franciscano


salette@unifra.br

BECKER, Monique Rorato; Acadêmica; Centro Universitário Franciscano


monique_rto@hotmail.com

ARONIS, Jéssica Nakaema; Acadêmica; Centro Universitário Franciscano


jessica.nakaema@hotmail.com
Palavras-chave: design; sustentabilidade; moda.

O presente artigo é resultado do projeto Luxo do Lixo, que fez parte de uma campanha de sensibilização
em relação à importância de produtos sustentáveis e de consumo consciente. Objetivou-se aliar a moda à
preservação do meio ambiente por meio da criatividade e irreverência. Nesse sentido, foram criadas
peças a partir da utilização de materiais reaproveitados, como embalagens, sucatas de eletrodomésticos,
sacos de plástico, e outros produtos feitos de polietileno. Os materiais utilizados serviram como meio para
experimentações, nas quais se cruzaram tramas, trançados, texturas e cores. Verificou-se que o lixo
oferece possibilidades de investigação e, a partir disso, foi mesclado o fazer da artesania e os conceitos
típicos do design: trabalho que uniu moda e sustentabilidade. Contou-se com a participação de alunos
dos cursos de Design e de Publicidade do Centro Universitário Franciscano-UNIFRA. Desta ação,
resultaram roupas de diferentes tipos de materiais, que agregaram ao produto valor simbólico e estético
identificados com a questão de sustentabilidade. As roupas foram exibidas em desfile e ganharam espaço
na mídia. Acredita-se, assim, que o objetivo foi alcançado de maneira plena no que se refere à
importância do design como meio de comunicação e ferramenta indispensável capaz de mudar o
comportamento dos usuários.

Keywords: design; sustainability; fashion.

This article is the result of the project's Luxo do Lixo, who was part of a campaign to raise
awareness about the importance of sustainable products and consumer awareness. The objective
is combine fashion to preserve the environment through creativity and irreverence. In this
sense, the pieces were created from the use of recycled materials, such
as packaging, scrap appliances, plastic bags, and other products made
from polyethylene. The materials served as a means for trials in which crossed wefts, braids, textures and
colours. It was found that the trash offers research opportunities, and from that, it was merged
into the making of crafts and the typical design concepts: work that
unified fashion and sustainability. Counted on the participation of students from the Design and
Publicidade e Propaganda of Centro Universitário Franciscano-
UNIFRA. This action resulted from different types of clothing materials, that added value to the symbolic
and aesthetic product identified with the issue of sustainability. The clothes were displayed on
parades and appear in media. It is believed therefore that the objective was achieved as
fully as regards the importance of design as a means of communication and indispensable tool capable
of changing the behavior of users.

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1 Introdução
Atualmente, discute-se muito sobre questões referentes ao design de produtos sustentáveis e o
papel do designer como agente transformador do ambiente, levando-se em conta que a
sustentabilidade implica, além da diversidade, as particularidades de lugar, sociedade e cultura.
Embora o assunto esteja em pauta no meio acadêmico e no currículo de muitos cursos,
percebe-se pouca importância às possibilidades de reutilização de produtos na criação de
novos, o que permite reinventar os valores simbólicos e estéticos desses objetos.
A preocupação com a sustentabilidade foi evidenciada no campo da moda no decorrer do
século XX, ultrapassando as passarelas de eventos, pois se estendeu a ONGs ligadas ao setor
têxtil e a projetos de marcas, como o da Osklen. Em parceria com biólogos e ambientalistas,
essa marca criou a e-fabris, que identifica para o mercado quais matérias-primas são utilizadas
pela indústria têxtil, com a preocupação de garantir um comércio justo e o desenvolvimento
sustentável.
A partir dessas ações, desenvolveu-se o projeto Luxo do Lixo, com o objetivo de aliar a
moda à preservação do meio ambiente por meio da criatividade e irreverência. Nesse sentido,
foram criadas peças a partir da utilização de materiais reaproveitados, como embalagens
recicladas e recicláveis; sucatas de eletrodomésticos, sacos de plástico, e outros produtos
feitos de polietileno, produto derivado do petróleo. Sabe-se que só o Brasil produz atualmente
cerca de 210 mil toneladas por ano desse material, que é responsável pela produção de 9,7%
de todo o lixo do país, e estudos comprovam que leva até 500 anos para se decompor;
enquanto isso não acontece, acabam sendo os grandes poluidores.
Os materiais utilizados na criação das roupas serviram como meio para experimentações,
nas quais se cruzaram tramas, trançados, texturas e cores. Verificou-se que o lixo oferece
possibilidades de investigação e, a partir dessa possibilidade, foram mesclados o fazer da
artesania e os conceitos típicos do design, resultando em um projeto que uniu moda e
sustentabilidade.
39
Os objetos apresentados no Espaço Moda FEISMA fizeram parte de uma proposta voltada
à ação de consciência dos designers, porque o objeto é sempre resultado de quem o criou e
lhe atribuiu determinada função. As peças desenvolvidas mexeram com a lógica funcional e
acadêmica e abriram caminho para novas ideias. Também foram desenvolvidas luminárias,
utilizadas na cenografia do pavilhão, feitas de material reaproveitado, como sobras de retalhos
das confecções da cidade.
Assim, os alunos envolvidos no projeto e conscientes de seu papel social tiveram a intenção
de mobilizar as pessoas sobre o uso sustentável dos meios naturais e o consumo consciente
por meio da mudança de hábitos. Entende-se, portanto, que o design, enquanto atividade,
desempenha importante papel transformador ao empregar a estética para refletir sobre
assuntos da contemporaneidade, entre eles o meio ambiente.

2 Design e sustentabilidade
Durante décadas, a sociedade tornou-se seguidora de uma visão focada em um modo de
subsistência predadora, associado ao consumo, e esse ao bem-estar. O sujeito contemporâneo
trabalha para isso, considera viver bem, somente o indivíduo que mantiver as condições
necessárias para ter acesso aos bens de consumo. E o bem-estar alicerçado no consumo
compreende não somente o uso pessoal como o uso indevido dos recursos naturais, que
devido à produção desenfreada causa a escassez dos mesmos, sem mensurar os inúmeros
efeitos nocivos e, consequentemente, a gradual extinção da biodiversidade e ecossistema.
Conforme Heskett (2008), desde a cultura primitiva já existia o imperativo de adaptação dos
objetos para a solução de problemas a fim de proverem as necessidades humanas e a

39
Multifeira de Santa Maria-RS.
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natureza fornecia os recursos para isso, com uma série de materiais e modelos acessíveis e
preexistentes.
Porém, a partir da Revolução Industrial, século XVIII, com o surgimento de máquinas que
substituíam a mão de obra humana facilitando o trabalho, convém, ainda, salientar que se
abriam as portas para o consumo. Constata-se, que mesmo com a produção procedente das
fábricas, nem todos tinham acesso aos produtos, ou seja, isso por si só não era sinônimo de
progresso social. Pode-se fazer um comparativo com o que acontece atualmente, conforme
apresentam Manzini e Vezzoli (2008), hoje, somente 20% da população mundial têm acesso ao
bem-estar, se associado ao consumo, considera-se que esta mesma população é a
responsável por 80% do gasto dos recursos naturais. Visto que se toda a população global
vivesse de acordo com esse bem-estar, não existiriam recursos suficientes para tanto.
Atualmente é comprovado que o mundo está presenciando a escassez dos recursos naturais,
os gastos nas produções atuais refletirão na falta dos mesmos a geração futura.
Nessa perspectiva, avalia-se o conceito de justiça em relação e estas questões, pois,
conforme Manzini (2008, p: 23),
[...] o princípio de justiça declara que cada pessoa tem direito ao mesmo espaço ambiental. O princípio
de responsabilidade em relação ao futuro declara que devemos garantir às gerações futuras pelo
menos o mesmo espaço ambiental – ou seja, a mesma quantidade de recursos ambientais – que
temos atualmente à nossa disposição.
Segundo, ainda, o referido autor, em 1992, no Rio de Janeiro, foi a primeira vez que se
empregou o termo sustentabilidade como um dos temas da Conferencia das Nações Unidas
sobre Ambiente e Desenvolvimento. Antes era usada somente a expressão ‘desenvolvimento
sustentável’ citada em documento da Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento
chamado ‘Nosso futuro comum’, coordenado por Gro Harlem Brundland, diplomata e médica
norueguesa, líder internacional em desenvolvimento sustentável. Lamenta-se que o termo
tenha sido inserido em discursos governamentais há tão pouco tempo, poder-se-ia hoje estar
caminhando a questão rumo a uma solução. Porém, mesmo assim, não se deve parar de se
buscar resultados. Embora a sustentabilidade seja citada constantemente na mídia, ela é ainda
considerada conflitante, por que contraria o ritmo de vida contemporâneo, tornando-se cada
vez mais complexo chegar-se a um resultado benéfico e promissor.
De um lado, a economia e a mídia estimulam a sociedade a consumir, de outro, a mesma
mídia juntamente a programas governamentais tenta trazer uma consciência ambiental a esta
mesma sociedade. A pergunta que se faz é: como se pode impulsionar uma mudança quando
esse incentivo se torna ambíguo e confuso? Qual o novo papel do designer com relação a essa
mudança? O que nós designers podemos fazer para incentivarmos uma aprendizagem rumo a
um pensamento sustentável e a novos meios de vida favoráveis ao meio ambiente? Em meio a
tantas perguntas, outras novas perguntas surgem e as respostas tornam-se um intricado de
interrogações.
40
Parte das respostas pode ser encontrada nos escritos de Ezio Manzini 2008 , nos quais o
autor postula que é necessário ‘mudar a mudança’, change the change, pois, para ele, ainda
hoje a sociedade se dirige rumo a insustentabilidade, e que, portanto, é preciso desativar esses
mecanismos que sustentam o ‘avião em pleno voo’, no qual nos encontramos.
Verifica-se que a produção de artefatos vem crescendo substancialmente a cada ano, ou
até mesmo em meses são lançados novos produtos de uma mesma linha no mercado, os
produtos ainda novos e exercendo a sua funcionalidade nem chegam a fase de desgaste, e já
são substituídos por novos modelos, que diferem na estética, ou acrescem algumas funções
muitas vezes nem tão relevantes. Considerando-se as ideias de Manzini (2008), todo o ciclo de
vida de um produto, desde a sua pré-produção, produção, transporte, distribuição, consumo e
descarte, envolve um consumo demasiado de recursos naturais, matérias-primas e energias, e
uma grande emissão de poluentes em todas as suas fases.

40
Professor de Design no Politécnico de Milão e Diretor da Unidade de Pesquisa Design e Inovação para
a Sustentabilidade.
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Enquanto a procura por estes produtos ainda for crescente, consequentemente a sua
demanda e a produção só tende a crescer. Esse consumo exagerado, consequente dos modos
de vida contemporâneo, faz girar cada fez mais uma economia desenfreada, o grande passo
rumo à sustentabilidade é transformar totalmente essa lógica, focando no processo de
reeducação social.
Educação que passa por novos padrões e que leva a um menor consumo possível dos
recursos, uma cultura diferenciada da que se tem e vivencia-se hoje. Nas palavras de Manzini
(2008), existe a necessidade de nova aprendizagem social, inovação social, descontinuidade
sistêmica e de novas redes projetuais.
A busca por novos procedimentos, conhecimentos, tecnologias, possibilidades e
oportunidades é trabalhar em conjunto para a resolução de um problema que é comum a
todos. Nesse sentido, é necessário impor certas iniciativas e exigir resultados.
Fica evidente que, quando aludida à palavra inovação social, esta abrange a sociedade
como um todo, desde as grandes corporações, organizações e ações do governo de políticas
de longo prazo a favor do desenvolvimento sustentável. Somente assim, com a colaboração e
a iniciativa de todos, haverá esta tomada de direção, e isso possibilitará a íntegra cidadania,
comprometendo as pessoas com os valores éticos, com a sociedade, o próximo, o meio
ambiente e com as futuras gerações. Segundo Manzini e Vezzoli,
a transição por escolha só poderá ter lugar se um grande número de pessoas reconhecerem, na
própria transição, uma oportunidade para melhorar o seu grau de bem-estar. Mas, para que tudo isto
possa surtir efeito no quadro da redução dos consumos materiais que, todavia vai ser necessária, é
preciso que sejam transformados os juízos de valores e os critérios de qualidade que interpretam a
idéia de bem-estar. Para delinear o nosso cenário neste terreno é, pois, necessário imaginar que haja
uma profunda mudança na cultura até aqui dominante (2008, p: 55).
Por isso a importância do design e de todos os envolvidos na configuração do ambiente
humano estarem voltados para ações que correspondam não somente ao bem-estar social e
sua valorização, mas também o bem-estar do ecossistema, isso se constitui em tarefa
fundamental a ser cumprida. Manzini (2008) cita que a sociedade como um todo deve zelar
pelo uso intensificado dos produtos e pelo bem-estar, bem como o serviço prestado pelas
indústrias. A valorização dos bens que a sociedade possui ou os que virão a ser adquiridos é
fundamental para um consumo em que a busca pelo serviço fuja da obsessão do ter para ser,
isto é, das necessidades passageiras ou modismo, a busca pela não obsolescência dos
produtos é dever de um novo modelo de industrialização.
Manzini (2008) considera que o designer perante a sociedade atual deve estar
sensibilizado, deve repensar seu papel e adaptar o seu fazer às novas formas de bem-estar e
consumo, caminhar junto e a favor da inovação social. Deve projetar sempre pensando em um
consumo consciente dos recursos naturais, até evitá-lo se possível, reduzir o uso de materiais,
optar pelo reaproveitamento e pela sua reciclagem, procurar intensificar a vida do produto, o
seu ciclo de vida útil, facilitar sua reparação e manutenção, facilitar seu descarte, além de
manter informado o consumidor quanto às necessidades e responsabilidades referentes ao seu
uso e descarte final. Nesse sentido, deve-se buscar um design estratégico, de serviços, que
tenha em vista a sociedade como um todo, inserido num programa de conscientização e
mobilização da comunidade. Acrescenta-se a isso o poder de comunicação dos objetos que
pode, por meio do simbólico, atingir um grande número de pessoas, conforme opinião de Mikko
Koria, arquiteto finlandês e professor de design, em entrevista a revista Planeta (2010), visto
dessa forma, o design está incorporado a todas as atividades da sociedade faz parte da
construção dos bens simbólicos, por meio do design é possível desenvolver produtos
inovadores que prestam serviços, criam bem-estar social, suprem as necessidades psíquicas
de seus usuários e ajudam a preservar o meio ambiente em busca de um futuro melhor.
Com base na leitura de Manzini (2008), é possível definir que projetar sustentabilidade
é pensar no ecossistema como um todo, saber que, como os seres humanos, os recursos
naturais também tem seus limites, é pensar em qualidade de vida voltada para a convivência
social harmônica, na interação e no respeito com o todo. O papel do designer é informar, por
meio de sua atividade, que há inúmeras maneiras de bem-estar, mas que a melhor forma delas
é a de poder fortalecer pessoas, é trazer para o mundo objetualizado a paz e momentos de
lazer. Relacionados às áreas verdes e a conservação de bens comuns, é mostrar que em toda
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essa maratona de atividades estressantes do dia a dia possa haver tempo para atividades
contemplativas, em que admirar as coisas simples também tem seu valor. É expor a cada
indivíduo e a humanidade como um todo, que a luta por esse novo e benéfico modo de
adaptação vale a pena.
Atualmente, já existem inúmeras iniciativas rumo ao desenvolvimento sustentável no
mundo, por enquanto poucas, mas com certeza farão a diferença. Na Europa, a maioria dos
países aderiram a serviços de responsabilidade ambiental, optaram pelo uso do design
estratégico e o design de serviços, já há modelos de futuras cidades sustentáveis onde novas
normas devem ser implementadas. Há inúmeras maneiras de a comunidade colaborar com o
meio ambiente, desde medidas de colaboração à coleta seletiva e descarte correto de
produtos, do reaproveitamento à reciclagem dos mesmos. Apesar de não influenciar ainda de
maneira demasiada ao meio ambiente, ainda é bastante benéfico.

2.2 Moda e comunicação


O habito do ser humano cobrir o corpo remete a pré-história, Braga (2004) apresenta três
possíveis motivos pelo qual ele começou a vestir-se: pelo pudor, com a finalidade de adornar-
se e como proteção contra intempéries. Em qualquer das razões, a atitude de se cobrir tornou-
se uma necessidade, a mais aceitável para aquela época era a de proteção, como o homem
era caçador e nômade, enfrentava variações de temperaturas e, por esse motivo, começaram a
fazer suas primeiras vestes de peles de animais.
Conforme o referido autor, o relato, ainda, passa por várias épocas e civilizações, ele
apresenta as características e evoluções da roupa em termo de moda, nesse sentido, pode-se
entender sobre técnicas, cultura e transformação no campo que se refere às visualizações e
representações, e a moda como mediadora das relações humanas com a sociedade.
Observa-se que a moda, por meio do vestuário, representou épocas e marcou fatos, como,
por exemplo, o status que determinada corte revelava ou, até mesmo, na história das calças
com os primeiros jeans usados por trabalhadores, na indústria de mineração, a revolução
trazida pelas calças compridas para as mulheres e tantos outros, e, nos dias atuais, mais do
que qualquer outro motivo, ela representa identidade. Por meio da vestimenta e dos
acessórios, são repassadas mensagens e sinais a todo o momento, as pessoas definem quem
são ou o que querem ser.
A moda é elemento de comunicação, demonstra-se isso por meio do corpo transformado
em linguagem, repositório de significações, o ser humano não veste uma roupa ou acessório só
pela funcionalidade de cobrir ou de proteção do frio ou sol, a roupa é usada de forma simbólica.
As relações que se originam entre corpo e moda trazem para o ser humano múltiplas
possibilidades de vínculos e de afirmações sociais. Nesse sentido, sobre a relação da
comunicação com a moda observam-se as considerações de Castilho,
Pensar a comunicação em suas relações sociais e na sua relação com a moda, difusão,
comercialização e adequação de produtos, quando inseridos como valor de mercado e bens de
consumo, nos faz refletir sobre questões históricas e estéticas do desenvolvimento criativo, do desejo
de informação e de significação dos objetos produzidos pela moda, de seu valor cultural e de mercado
com diferentes abrangências que dizem respeito ao âmbito pessoal, social e, ultimamente também
globalizado e a rapidez na difusão, mutação e propagação desses valores (2005 p: 27).
Toda a comunicação que envolve a moda está fortemente relacionada com a mídia e seus
meios de difusão, atualmente a internet é um dos principais propagadores, com o acesso cada
vez mais intenso e rápido. Por meio dela, entra-se em contato imediato com passarelas
internacionais e com informações instantâneas, na busca por tendências, ‘o que vai estar na
moda’ e tantas outras procuras, excessivas informações, que são consumidas a todo o
momento, é um poder intenso que a moda exerce sobre a sociedade de consumo. Dorfles
(1990) considera que a moda e o vestuário se constituem enquanto elemento semiótico de
primeira ordem, pois têm o encargo de classificação do status de uma pessoa em pontos na
sociedade.
A moda passa a ser um fenômeno social expressivo, em consequência, importante
economicamente, e com o design formam as bases de uma época ou um estilo. O autor ainda
reflete que ela influencia o vestuário, as decorações, os tecidos, o mobiliário, sendo assim, um

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indicador de valores estéticos de determinado período. Atualmente, estilistas e marcas famosas
investem em outras linhas de produtos, Channel, Lacoste e Dior são grandes exemplos de
marcas de prestígio, seja em suas roupas ou em seus perfumes.
Assim, a moda engloba outros setores de estética, lançando novos produtos, agregados a
valores subjetivos satisfaz o indivíduo que consome em função da construção de sua
representação em meio a sociedade. Aliados às estratégicas de marketing atingem o
consumidor, que muitas vezes não tem a real necessidade do produto, mas acaba consumindo
por imposição de valores que agregará a sua imagem, em conjunto com a roupa e seus
acessórios. Barthes (2005, p: 267) defende que ‘estamos sempre diante de equilíbrios em
movimentos’ devido à transformação, ou deslocamento de algum elemento, modificando o
conjunto da imagem, produzindo novas estruturas e oferecendo inúmeras possibilidades.
Isso leva ao consumo por vezes exagerado que causa maior demanda de produção, a qual
dessa maneira, gera mais consumo, e, assim, sucessivamente. Produtos que são consumidos
são ao mesmo tempo descartados, o que traz certa reflexão em termos ecológicos e
preocupação com o meio ambiente. Braga (2004) afirma que nos anos noventa já existia essa
questão:
A preocupação ecológica também esteve presente na moda dos anos de 1990, e essa
conscientização se refletiu em muitas coleções de estilistas renomados, que denunciavam as
agressões ao planeta Terra nas criações de suas roupas. Foi a moda fazendo-se presente, atualizada
e notada no contexto mundial (Braga, 2004 p: 102).
Preocupação essa que já foi apresentada a mais de duas décadas atrás, e cada vez se
torna mais relevante a necessidade de uma consciência ecológica. A moda age com todo
poder nos meios de difusão, consumo e representação, assim, possui intensa influência sobre
a sociedade e seus modos de costume.
Com isso, ela tem a força marcante de exercer poder de ação nos indivíduos, portanto pode
refletir na sociedade sua influência, e ser capaz de conscientizar as pessoas da necessidade
de uma preocupação com a natureza.
Autoridade que ela pode exercer nas pessoas, por exemplo, na hora do consumo de uma
peça de roupa, do seu descarte e na reflexão de como isso poderá afetar o meio ambiente.
Fatores que devem ser adequadamente apresentados por ela. A sociedade deverá absorver
sua real importância para aplicá-la no momento de consumo apropriado. Segundo o site
Reciclagem lixo.com, um pedaço de tecido de náilon ou derivado deste demora cerca de trinta
anos para se decompor, tempo que a natureza não pode esperar já sobrecarregada de tantos
outros materiais que estão lançados no meio ambiente para se deteriorarem, devido ao
acumulo e produção de lixo exacerbado.
Preocupados com a proteção do planeta, marcas, estilistas e interessados no assunto estão
levando a conscientização a diante, apresentam inovações e investem em processos
sustentáveis. Outro exemplo de ação dessa natureza é o Swap-O-Rama-Rama, que teve inicio
em Nova Iorque, em 2005, seus promotores promovem e adotam uma política que consiste na
ideia de fazer circular peças de roupas e acessórios que normalmente estão em desuso, pelo
fato de se tornarem obsoletas.
O evento é organizado a partir de um calendário que privilegia determinadas datas para a
troca e o descarte das peças entre os participantes, com duração de 48 horas. As roupas são
disponibilizadas em determinados locais para a troca e a customização, realizada pelas mãos
de estilistas e costureiras, que têm o desafio de transformar e revitalizar as peças que ganham
nova vida útil, renovada ao recontextualizá-las.
Um dos procedimentos que cresce no Brasil, devido a sua capacidade de reciclagem, é o fio
de poliéster produzido por meio de material totalmente reciclado de garrafas PET. A marca
Malwee lança sua temporada de inverno 2011com peças produzidas a partir deste conceito.
Com a finalidade de preservar o meio ambiente, resgata garrafas que seriam descartadas na
natureza e, desse modo, ‘diminui o volume de lixo, auxiliando na redução do consumo de
material virgem a partir do petróleo, tendo reflexo direto em economia de energia e redução do
aquecimento global’.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


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A Abipet, Associação Brasileira da indústria do PET, apresenta dados sobre a reciclagem e
como ela é utilizada na fabricação de roupas. Cerca de 174.000 toneladas de PET foram
recicladas no Brasil no ano 2005, isso representa 47% da produção total de PET no país e 43%
é o número de resina que, após ser reciclada, será utilizada na fabricação de tecidos.
Aproximadamente mil e duzentos reais representa o valor aproximado de uma tonelada de
resina para a reciclagem, sendo que, para fazer uma camiseta, utilizam-se duas garrafas PET,
ou seja, é viável economicamente e resulta em benefícios para a sociedade em conjunto com a
preocupação ambiental.
Pessoas que possuem representação na sociedade e exercem influências para outras
pessoas fazem parte desse processo de conscientização. Como exemplo tem-se o surfista
norte-americano Kelly Slater que apresentará para a marca Quiksilver uma linha de roupas eco,
com tecidos orgânicos e ecológicos. A grife como a People Tree utilizou na sua campanha de
moda ecológica, uma atriz conhecida do cinema americano, no caso, Emma Watson, para ser
garota propaganda e ajudar no processo de desenvolvimento das peças, visando torná-la
popular em meio ao público. Por meio da publicidade, a marca apresentou peças que não
deixam a desejar em relação à moda e à qualidade, por manter esse estilo de vida eco.
O Brasil é um país com um nível razoável de reciclagem e reutilização, mas, mesmo assim,
necessita de um envolvimento maior das indústrias e do governo na busca por inovações e
tecnologias mais condizentes com a sustentabilidade. Segundo informações da revista virtual
da Editora Abril, em julho de 2010, foi apresentado o jeans brasileiro ecologicamente correto na
Première Brasil em São Paulo, tecido que não necessita da lavagem industrial e nem a
utilização de produtos tóxicos, aproveita ainda resíduos de confecções e de garrafas PET com
possibilidades de grande número de tonalidades na cor.
Tecnologia, inovação e incentivos para o setor da moda aliados às ideias ambientalistas já
deveriam ser constantes e necessários na construção de uma política de conscientização, a
preocupação com a sustentabilidade na sociedade faz com que esta reflita e interfira por meio
de atos e de redes de comunicação, como ajudar a manter uma ideia sustentável para ser
aplicada, a fim de garantir benefícios à natureza e aos indivíduos.

Case
Para a elaboração das roupas, partiu-se, num primeiro momento, da escolha do material,
reutilizar o que poderia ser útil. A sacola plástica foi o material mais abundante encontrado, isso
se deve pelo grande número de supermercados que Santa Maria abriga. Em seguida, buscou-
se, na construção civil, a matéria prima, outro setor significativo na economia da cidade, sacos
de cimento, sacos de estopa foram utilizados para o desenvolvimento das peças. Partiu-se da
execução de croquis para a criação e foram executados vários desenhos que auxiliaram no
momento da confecção.
Algumas peças tiveram que ser executadas com ajuda de mulheres da comunidade,
costureiras que auxiliaram na confecção das roupas. Essa inter-relação consiste em outro
motivo de sucesso do trabalho, a integração da comunidade com os alunos envolvidos
demonstrou a importância do saber popular em consonância com o saber acadêmico.

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Figura 1: Vestido de plástico verde. Material: sacolas plásticas verdes. Produção: Monique Rorato.
(Fotografia autorizada por Léo Dias)

O vestido (Figura 1) foi produzido com sacolas plásticas de coloração verde. A indicação de
se utilizar essa cor foi por ela remeter à natureza e ao conceito ecológico. Além disso, a
abordagem para o material compreende um paradoxo em fornecer outra utilização às sacolas
de lixo. A proposta ganhou força por meio de drapeados e texturas que proporcionaram leveza
e um expressivo efeito visual do material utilizado.

Figura 2: Vestido de plástico amarelo. Materiais: sacolas plásticas, flores de rótulo de Coca-cola.
Produção: Samanta Pâmela, Jessica Nakaema e Monique Rorato. (Fotografia autorizada por Léo Dias)

O entrelaçado de sacolas plásticas visou ao conceito da trama artesanal, as quais podem


ser encontradas em alguns produtos de artesanato regional, como cestarias. Para a realização
da peça, foram coletadas sacolas de determinada rede de supermercado em que a coloração
predominante é o amarelo com detalhes em vermelho. Essas cores proporcionaram
singularidade à trama. Para a valorização do vestido, foram aplicadas flores confeccionadas a
partir de rótulos de determinado refrigerante.

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Figura 3: Manto. Material: sucata de construção civil (contenção de construção). Produção: Regina Souza.
(Fotografia autorizada por Léo Dias)

Para a sobrecapa (Figura 3), utilizou-se material de construção civil, mais especificamente
rede de proteção. A forma e os espaços vazados da tela criam um contraste em sobreposição
com outras roupas usadas na composição, conferindo um significado de proteção, sem ser,
que remete à armadura por sua constituição estrutural por meio do material, da cor e da
textura.

Figura 4: Capa de chuva. Material: sacos de cimento. Produção: Paola Dagios, Ana Cláudia Dorneles.
(Fotografia autorizada por Léo Dias)

A capa de chuva foi feita a partir de sacos de cimento, os quais são materiais impermeáveis.
Além disso, eles remetem o objeto a uma esfera urbana. As inscrições deixadas
aparentemente na vestimenta compõem a estética que associa aos grafismos dos anos 40 e
deslocam a peça a um cenário de personagem de histórias em quadrinhos.
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Figura 5: Vestido Inovação. Materiais: saco de arroz, TNT, sacola plástica branca. Produção: Regina
Souza. (Fotografia autorizada por Léo Dias)

O vestido (Figura 5) explora a trama existente nos sacos de arroz que, somada a outros
elementos feitos em diversos plásticos, propõe uma reflexão sobre o consumo. Essa seleção
de materiais traduz, de certa maneira, a sociedade contemporânea do desperdício e, ao
mesmo tempo, confere-lhe característica futurista.
Figura 6: Vestido de noiva. Material: sacos plásticos brancos. Produção: Samanta Pâmela, Jessica
Nakaema e Monique Rorato. (Fotografia autorizada por Léo Dias)

O vestido de noiva (Figura 6) foi produzido com sacolas plásticas brancas, costuradas umas
as outras e transformadas em rolos semelhantes aos de confecções de peças em tecido,
permitindo, assim, a costura e a aplicação da técnica usada pelas costureiras. O buque
composto de flores brancas fez uso de garrafas pet e sacolas plásticas. Esses materiais
compõem a estética do buque, assemelhando-o a flores naturais. A estrutura interna do buque
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e o seu caule foram produzidos a partir de mangueiras brancas de chuveiro. Todos os materiais
utilizados foram descartados por desuso e reutilizados.

Figura 7: Corpete. Material: caixas de leite. Produção: Carine Mello e Caroline Staggemeier. (Fotografia
autorizada por Léo Dias)

Corpete produzido com caixas Tetra Pack já utilizadas, passaram por um processo de
limpeza, corte e costura para a confecção da peça. Apresenta a cor prata do interior da
embalagem, dessa maneira, a estrutura do corpete proporciona visual futurista, assim como o
material de textura lisa e brilhante que remete à máquina. Ainda foi utilizado o pesponto,
salientando sua estrutura.
Figura 8: Macacão. Material: saco de estopa. Produção: Juliana Gallo, Júnior Vencato e Pâmela Batú.
(Fotografia autorizada por Léo Dias)

O macacão foi produzido com sacos de estopa, assim como sacos de arroz, pois esse
material apresenta tramas e possui aspecto rústico. A peça foi produzida com o auxílio de

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costureiras, por ser de difícil manuseio. O resultado foi um macacão que remete ao fazer
artesanal brasileiro.

Considerações finais
A conduta do designer, como o redesenhador do meio ambiente e do modo como ele
poderá interferir de maneira correta na configuração dos objetos, de modo a não violar o meio
ambiente, bem como o desenvolvimento humano, faz com que os objetos afetem os seres
humanos e interfiram nos seus contextos sociais. Desse modo, faz-se necessário que o
designer, de maneira crítica, verifique seu papel no desenvolvimento de produtos, visto que ele
é um agente de transformação do contexto em que está inserido.
Nesse sentido, nesta pesquisa, levantaram-se informações sobre materiais e produtos que
são descartados na sociedade, tendo como finalidade aplicá-los a novos produtos de design,
mais especificamente no design de moda.
Por meio do conceito de sustentabilidade, foram indicadas algumas soluções aplicáveis ao
design de moda, como meio propagador de sustentabilidade. Dessa forma, buscaram-se
autores comprometidos com o design sustentável. Assim, tornou-se imprescindível o
aprofundamento de estudos a respeito da temática e a inserção do desenvolvimento de
produtos sustentáveis na sociedade.
No projeto, elaborou-se uma metodologia voltada a análises e reflexões sobre as questões
que envolvem sustentabilidade, tendo em vista soluções para sua aplicação em produtos. Para
a realização das atividades, foram feitas pesquisas com referênciais de teóricos do campo do
design que se ocuparam da tarefa de tratar as relações entre sustentabilidade, objeto e seus
usuários. São exemplos Manzini (2008), entre outros, que se identificam clara e precisamente
com as funções de sustentabilidade dos produtos.
Considera-se que o projeto trouxe uma reflexão importante para que se entendesse o
modelo de novas relações no âmbito da cultura material, entre os artefatos e o consumidor, e
como que ambos se afetam mutuamente. Entende-se, assim, nessa perspectiva, que os
objetos são frutos de contextos sociais e da vontade humana. Como se observa, ações e
atitudes conscientes, relativas à preservação ambiental e humana, ocorrem em várias partes
do planeta. Estes exemplos ilustram as implicações que envolvem o design de moda e os
muitos aspectos do desenvolvimento humano.
Ao passo que se eleva o crescimento das reciclagens, bem como o uso e a reutilização
do que já existe, barra-se, nesse sentido, o consumo irresponsável, estendendo o ciclo de vida
dos produtos. Entende, assim, que é esse um modo eficaz de se produzir bens que estejam em
harmonia com as pessoas e a natureza.
Nesse contexto, como a vida esta em permanente transformação, acredita-se que
oportunizar uma mudança na perspectiva da natureza efêmera dos produtos é uma tarefa que
compete ao designer, que tem em vista uma abordagem responsável para o design.

Referências
Barthes, Roland. Imagem e moda. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo, SP.
Martins Fontes, 2005.
Braga, João. História da moda. São Paulo, SP. Editora Anhembi Morumbi, 2004.
Castilho, Katia; MARTINS, Marcelo M. Discursos da moda: semiótica, design e corpo. São
Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2005.
Dorfles, Gillo. Modas e modos. Tradução de António J. Pinto Ribeiro. Lisboa. Edições 70, 1990.
Heskett, John. Design. Revisão técnica Pedro Fiori Fernandes; Tradutora Márcia Leme. São
Paulo, SP. Editora Ática, 2008.
http://modaspot.abril.com.br/tecidos/tecidos-feiras/jeans-brasileiro-ecologicamente-correto-e-
destaque-na-premiere-brasil
http://www.reciclagemlixo.com/natureza/tempo-que-leva-para-se-decompor-na-natureza.html

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Koria, Mikko. “O grande valor do design é poder criar um futuro melhor”. Revista Planeta, São
Paulo, SP. Dezembro, 2010. Entrevista, p. 7.
Manzini, Ezio. Design para a inovação social e sustentabilidade: Comunidades criativas,
organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro, RJ : E-papers, 2008.
Manzini, Ezio; VEZZOLI, Carlos. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. Rio de Janeiro,
RJ : E-papers, 2008.

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A Energia Solar no Agreste Pernambucano: é possível de se
implementar em um campus universitário federal (The
Solar Energy in Pernambuco countryside: is possible to
implement it in a federal university campus?)

VIEIRA, Djuri Tafnes; Graduanda em Administração; Universidade Federal de Pernambuco


djuri_vieira@hotmail.com

ROCHA, Mariana Thamiris Silva; Graduanda em Administração; Universidade Federal de


Pernambuco
mariana_thamiris@hotmail.com

MENDONÇA, Renata de Sá; Graduanda em Administração; Universidade Federal de


Pernambuco
amazona100001@hotmail.com

MACHADO, Francisco Oliveira; Doutorando em Administração; Universidade Federal de


Pernambuco
fmachado@ufpe.br

Palavras-chave: sustentabilidade; energia solar; desenvolvimento.

O artigo aborda a questão da sustentabilidade na exploração e transformação da energia solar em


energia elétrica através de um projeto de pesquisa desenvolvido para a Universidade Federal de
Pernambuco, no Centro Acadêmico do Agreste. O estudo abordou a possibilidade de suprir o consumo de
energia pelas lâmpadas de todo o campus com a instalação de placas fotovoltaicas e de transformadores
apropriados devido às condições climáticas locais serem adequadas. Contudo, devido a fatores ligados a
custos dessa tecnologia, a mesma mostrou-se inviável de ser aplicada no caso em questão. No entanto,
após a revisão de alguns casos presentes no mundo de empresas, percebeu-se a possibilidade de
aplicação de atitudes voltadas à sustentabilidade em âmbito universitário e a possibilidade de aplicação
da proposta energética desenvolvida em diversas instituições de ensinos locais. O trabalho obteve como
resultado o despertar para atitudes no cerne universitário ao desenvolvimento de soluções prol ao
desenvolvimento de produtos, processos e atitudes internas sutentáveis.

Keywords: sustainability; solar energy; development.

The paper addresses to the issue of exploitation and processing sustainable about solar energy
transformed in electrical energy. Our proposal was found out through a research project developed to the
Federal University of Pernambuco, in its Academic Center of Agreste. The study embraced the possibility
of the energy consumption by the lamps around the campus to be supported with the installation of
photovoltaic panels and transformers suitable. We believe in that possibility due to local climatic condition
is appropriate. Despite factors like costs of the technology, our intention proved impossible to apply in this
case. However, after reviewing some cases present in the business world, we believe that is possible
applying attitudes focused on sustainability in our university with some adaptations. Also, we judge the
likelihood of implementing the proposed energy developed in several local educational institutions
probable. The work had resulted in the awakening to the core academic attitudes to developing solutions
to support product development, internal processes and sustainable attitudes.

1 Introdução

Ao longo da história, o conceito de energia sempre esteve presente e desde a antiguidade


buscou-se entender o que seria essa força de expressão ou manifestação. A idéia era de que
energia é a capacidade de algo se manifestar e ser transformado em força dinâmica para
manter um determinado sistema em funcionamento.
Energia é uma palavra de múltiplos usos, podendo ser vista e estudada na Biologia, História,
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Tecnologia, Geopolítica, Ecologia. Assim sendo, cada disciplina aborda uma faceta deste
conceito, dentro de cada especificidade e contexto (BURATTINI, 2008).
Dentre as diversas fontes de energia, existem aquelas que maximizam os impactos negativos
na natureza desde sua exploração. Entre elas podemos citar as que se tornam cada vez mais
escassas e possuem um alto grau prejudicial à qualidade de vida humana como é o caso dos
combustíveis fósseis, na qual a produção de energia elétrica ainda depende muito destes que
são finitos.
Diante deste cenário onde os impactos ambientais gerados pelas formas tradicionais de
exploração de energia se tornaram, em sua maioria irreversível, a sociedade vem assumindo
uma nova atitude, buscando uma solução alternativa que atente ao mesmo tempo para o
desenvolvimento econômico e ao desenvolvimento de uma consciência ecológica.
A despeito dos debates e desdobramentos das questões ambientais, os participantes da
"Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS)", em 2002, realizada em
Johannesburgo, na África do Sul, reafirmaram que os três pilares inseparáveis de um
desenvolvimento sustentável estabelecidos continuavam sendo a “proteção do meio ambiente”,
o “desenvolvimento social” e o “desenvolvimento econômico” (DIAS, 2003, p. 38). Portanto,
com o intuito de desenvolver práticas sustentáveis, percebemos a oportunidade de desenvolver
um projeto de produção de energia sustentável em nosso campus universitário, o que
contribuiria para o desenvolvimento de energias sustentáveis no agreste pernambucano e
incentivaria o investimento nesta vertente da sustentabilidade.
Dentre as fontes de energia não finitas e que não impactam negativamente o meio ambiente,
podemos citar fontes como o vento, as ondas do mar, a energia proveniente da irradiação solar.
Considerando as variáveis geográficas, as condições atmosféricas, a latitude e sua posição no
tempo, encontramos a oportunidade de desenvolver o projeto de captação de energia solar
através de placas fotovoltaicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus do
Agreste, em Caruaru, Pernambuco. Trata-se de um campus universitário que está em fase de
implementação com obras de expansão das suas instalações sendo executadas. A Região
Agreste de Pernambuco é um local onde a incidência da irradiação solar ocorre com grande
potencial, o que permitiria um bom desenvolvimento dessa tecnologia.
Nosso trabalho tem como foco a explanação das implicações que o uso de placas fotovoltaicas
tem no desenvolvimento de fontes alternativas de energia, que segue os preceitos de uma
agenda de desenvolvimento sustentável tratado na seção seguinte.

2 Produção e Consumo de Energia

Existem diversas formas para se gerar energia: fontes de irradiação solar; eólica - que se utiliza
da força dos ventos; através de ciclos hidrológicos e seu potencial gravitacional; pela força das
marés; fontes geotérmicas; biomassa; termelétricas; hidrelétricas; e usinas nucleares.
(BURANTTINI,2008). As mais utilizadas são: as termelétricas, hidrelétricas e recentemente
nucleares, que causam um forte impacto ambiental desde sua construção ao seu
funcionamento. As usinas termelétricas são as mais usadas, porém sua fonte de recursos é
finita e escassa – o carvão. Já as usinas nucleares causam danos irreversíveis ao planeta por
se utilizarem de fontes de energia não renováveis que geraram um grande volume de lixo
tóxico por elementos químicos.
Os investimentos em tecnologias para produzir energia com fontes alternativas cresceram nos
últimos anos. Toda a sociedade vem sofrendo uma seqüência de problemas gerados pela
poluição gerada em grande parte pela produção de energia: efeito estufa, aquecimento global,
chuva ácida, poluição do ar, acidentes nucleares, poluição das águas e resíduos radioativos.
Por que não, então, aumentar os investimentos em recursos e pesquisas sobre fontes
alternativas de energia que tenham impacto menor sobre o ambiente?

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Figura 1 – Fonte: Adaptado de Buranttini (2008)

3 O Problema

Segundo Braga et al (2005), ao longo do tempo o padrão de vida do homem foi se modificando,
e com a ajuda da tecnologia o homem pôde viver mais e melhor. Contudo, isso significa um
consumo crescente de energia. Assim, o desenvolvimento do homem foi acompanhado pelo
consumo de energia. O problema enfrentado hoje é: como manter o padrão de vida atingido
com esse consumo de energia sem prejudicar o ambiente? Se as principais fontes de energia
atuais não-renováveis provocam impactos negativos e duradouros no meio ambiente, o que
fazer para diminuir esse impacto? Apenas com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das
tecnologias que usam energia sustentável podemos melhorar o quadro negativo existente
(BRAGA et al., 2005).
Nosso exemplo surge de uma observação direta em nosso campus, onde existe um consumo
elevado de energia. No estágio atual de construção do campus universitário, ao término do ano
de 2010, contamos com aproximadamente 1592 lâmpadas fluorescentes. Essas lâmpadas,
com potência de 32watts cada, se ligadas 10 horas por dia, gastariam cerca de 512 kWh/dia, e
11.264 kWh ao mês.
Apenas com a utilização de lâmpadas fluorescentes vemos um consumo alto de energia
elétrica. Com o desenvolvimento de pesquisas em matérias de geração de energia,
poderíamos alcançar um patamar onde o campus se tornasse auto-sustentável, produzindo sua
própria energia. Contudo, o intuito proposto existe na utilização de tecnologia existente para
geração de alternativas sustentáveis, que fizessem uso de potencialidades energéticas
alternativas como a luz solar, que no Brasil, apresenta grande capacidade:
O caso sul-americano, com mais ênfase para o Brasil, quer pela sua capacidade teórica na utilização
desta fonte energética, quer pelo seu potencial econômico, possui as principais condições para se
tornar um país proeminente nesta área. No mapa-mundi de radiação solar, o Brasil (além de alguns
países africanos) ocupa o primeiro lugar, especialmente as regiões nordeste e central, que dispõem de
energia por área de 5,5 – 6 kWh/m2/dia, o que representa o dobro da capacidade da energia solar na
Europa, ou seja, uma capacidade para ter custos energéticos por kW no Brasil 50% mais barato que
na Europa. Enquanto que a tecnologia fotovoltaica já se tornou viável economicamente com taxas de
crescimento de 30-40% por ano nos Estados Unidos e na Europa, no Brasil até hoje, só existem
instalações de 2 Megawatts, apesar do país ter um potencial para 10.000 MW (CARVALHO;
CALVETE, 2010, p.195)
Dessa forma, fica evidenciado a potencialidade real de se ter a energia elétrica sendo
produzida a partir da capacidade de luz solar presente no pais, particularmente, no nordeste
brasileiro. Assim, partimos para relatar o projeto que temos por proposta.

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4 O Projeto Proposto

A proposta é desenvolver uma pesquisa de fontes sustentáveis na produção de energia no


campus universitário da UFPE, localizado no Agreste de Pernambuco, em especial a produção
de energia através da captação da irradiação solar por placas fotovoltaicas. Nossos principais
objetivos envolvem desde a acessibilidade às placas fotovoltaicas, até sua capacidade em
converter o potencial energético solar em eletricidade para uso comum.
A proposta presente no projeto reside na utilização da energia gerada por meio da irradiação
solar capitada por placas fotovoltaicas. Seu uso não causa nenhuma espécie de poluição, sua
manutenção é ínfima e pouco onerosa, sua instalação não é complexa podendo ser realizada
por não técnicos e a durabilidade e garantias dos componentes fotovoltaicos caracterizam-se
como duas de suas maiores conveniências para alternativa de geração de energia limpa para o
campus Universitário em longo prazo.
O tempo de vida de um painel solar pode se estender por várias décadas. A maioria dos fabricantes
oferece garantias de pelo menos 25 anos. Já os outros componentes de instalação, podem durar entre
3-15 anos, entretanto apresentam um custo muito inferior em comparação aos painéis. (CAMARGO,
PINTO E ROCHA, 2010, p. 6)
Entretanto, seu uso em larga escala não é viável no estágio atual de construção do campus,
devido aos altos custos de implantação do sistema de captação de energia solar. Tornando-se
necessário o apoio e patrocínio de entidades e organizações para alavancar o processo de
educação e ação para sustentabilidade.
Podemos dizer que desde os remotos tempos em que se utilizava a energia solar de forma passiva,
na antiguidade greco-romana, até à produção de células fotovoltaicas a valores relativamente
acessíveis a uma maioria, há um longo hiato. A certeza existente neste momento é que outro longo
caminho terá que ser percorrido até que a energia solar seja encarada como absolutamente
necessária, bem como que todos os fatos por detrás da compreensão desta forma de energia sejam
completamente assimilados. A tecnologia utilizada até agora porém, deixa-nos uma garantia de futuro:
é uma tecnologia de ponta, em que a ciência está mesmo ao serviço da humanidade (CARVALHO;
CALVETE, 2010, p. 201)
Ou seja, para se ter o desenvolvimento de placas fotovoltaicas instaladas em uma instituição
de ensino superior que tenha êxito na produção de energia, devem, as pessoas envolvidas
terem consciência ambiental. A partir dessa consciência, a assimilação da realidade
ambientalmente correta é que o consumo desse tipo de produto se torna mais viável
economicamente por ser de mais fácil disseminação.

4.1 Considerações acerca de placas fotovoltaicas

Segundo Carvalho e Calvete (2010, p.196), “uma célula solar é basicamente um aparelho que
converte luz solar em corrente elétrica usando o efeito fotoelétrico”. O painel de captação de
energia solar é composto por um conjunto de células de cilício com capacidade de
transformação da luz (fotovoltaicas) em potencial elétrico. Esta conversão da luz em energia
ocorre sem desgastes ou conseqüências ambientais. Pelo contrário até, pois devido aos
componentes que formam a estrutura da placa fotovoltaica a sua durabilidade se torna extensa,
quanto mais se utilizar das células de silício maior a durabilidade do painel solar.
A energia fotovoltaica é a conversão direta da luz em eletricidade, a nível atômico. Alguns materiais
apresentam uma propriedade conhecida como efeito fotoelétrico, que faz com que eles absorvam
fótons de luz e liberem elétrons. Quando esses elétrons livres são capturados, resulta em uma
corrente elétrica que pode ser utilizada como eletricidade (NASA Science, 2002, tradução nossa).
As células fotovoltaicas funcionam como dispositivos semicondutores de energia, sendo
agrupados em módulos tensionados para ampliar o seu potencial elétrico. A composição
desses sistemas incorpora, um painel de captação solar interligado a um banco de baterias,
que armazenam o excesso de energia para uso noturno, por exemplo, tendo em sua base um
controlador de cargas e um inversor elétrico para distribuir eletricidade.
Ao conjunto de células fotoelétricas chama-se Placa Fotovoltaica cujo uso hoje é bastante comum em
lugares afastados da rede elétrica convencional. Existem placas de várias potências e tensões

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diferentes para os mais diversos usos (ENERGIA..., 2010).
Os módulos fotovoltaicos não consomem qualquer tipo de combustível, não geram nenhum tipo
de emissão poluente, não têm partes móveis e não produzem qualquer ruído. Na sua
composição não existem substâncias tóxicas ou nocivas ao meio ambiente, porém o seu custo
no mercado ainda é demasiadamente alto dificultando o acesso de muitos a essa tecnologia.
Os principais impactos causados pelos painéis solares ocorrem nas fases de produção, construção e
desmantelamento dos sistemas. Na construção de células fotovoltaicas utilizam-se diversos materiais
perigosos para o ambiente e saúde e é consumida uma quantidade apreciável de energia, a que está
ligada a emissão de poluentes atmosféricos, nomeadamente de gases de estufa (Teoria de
funcionamento Energia Solar Fotovoltaica, acesso em 2010).
Assim sendo, fica constatado o fato de que a produção de energia por essa modalidade
produtiva é menos impactante ao meio ambiente do outras modalidades, portanto, temos uma
oportunidade a ser desenvolvida.

4.2 Dados demonstrativos de consumo de energia elétrica na UFPE, Campus Agreste

Para exemplificar o consumo de energia elétrica em nosso campus, calculamos a quantidade


média de lâmpadas fluorescentes existentes no estágio atual de construção. Devido a
limitações de acesso a dados prioritários do consumo de energia da instituição, limitamos
nossos cálculos ao consumo restrito das lâmpadas fluorescentes.
Com os números obtidos, fizemos os cálculos de quanto essas lâmpadas gastariam, tendo por
base a potência média identificada. Por meio de observação direta, identificamos uma média
de utilização diária dessas lâmpadas. O campus fica à disposição dos funcionários, discentes e
docentes cerca de quinze horas por dia, das quais identificamos um uso aproximado das
lâmpadas fluorescentes de dez horas por dia.
As informações coletadas sobre as lâmpadas fluorescentes foram:
 Quantidade de lâmpadas: 1592;
 Potência: 32 W cada, correspondente a 0,032 kW/h;
 Tempo de funcionamento: 10 h/dia.
Multiplicando a quantidade de lâmpadas por seu gasto:
 1592 lâmpadas x 0,032 kW/h = 50,944 kW/h.
Sabendo o gasto por hora das lâmpadas, temos seu gasto diário:
 50,944 kW/h x 10h/dia = 509,44 kW/dia.
Com base no gasto diário, identificamos, por fim, o gasto de energia mensal:
 509,44 kW/dia x 30 dias = 15283,2 kW/h ao final do mês.
Após calcular a quantidade de energia gasta pelas lâmpadas, consultamos a tabela de preços
e taxas fornecida pela Companhia de Energia Elétrica de Pernambuco, Celpe, por
abastecimento e serviços elétricos em seu site. Com o objetivo de mensurar o custo da
utilização dessas lâmpadas, fizemos uso da tabela 1:

Tabela 1: Tarifa de Baixa Energia – Poderes Públicos, Tração Elétrica, Indústria, Comércio, Serviços Outros

Preço com ICMS e


Faixa de Consumo Consumo (R$/kWh) ICMS PIS/ COFINS
(R$/kWh)
Tarifa Plena 0,30974 25% 0,43910
Os Clientes de Poder Público Estadual da Administração Direta e suas Fundações
são isentos do ICMS conforme Art. 9, Inciso XLVIII, Alínea "c", do Decreto n0
14.876/91, alterado pelo art. 1, do Decreto n0 19.122/96.

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Fonte: Adaptado de Celpe (2010).

Com um consumo mensal de 15283,2 kW/h e com uma tarifa de R$ 0,30974/kWh, calculamos
o custo médio provável que compõe parte do custo total do consumo de energia elétrica pela
instituição:
 15283,2 kW/h x R$ 0,309 por kW/h = R$4.722,508 (quatro mil, setecentos e vinte e
dois reais e cinqüenta centavos)
Após calculados o consumo e o valor cobrado, abordamos a capacidade de transformação
elétrica das placas fotovoltaicas:
 Cada placa produz até 180 W/h correspondente a 0,18 kW/h.
 Se o gasto de energia das lâmpadas é de 509,44 kW/dia, e a produção de cada placa
corresponde a 0,18 kW/h, logo: 509,44 kW/dia ÷ 0,18 kW/h = 2830,22 placas
necessárias.
 Desta forma, 2831 placas cobririam o gasto das lâmpadas fluorescentes.
Com o conhecimento da quantidade de painéis solares necessária para cobrir o mínimo de
consumo elétrico pelas lâmpadas, calculamos a viabilidade de aquisição das placas
fotovoltaicas e os materiais necessários para armazenar essa energia que, segundo Souza et
al. (2010), são: a abateria, os controladores e os inversores. Souza et al. (2010) descreve:
A bateria é um componente eletrônico que converte energia elétrica em química para
armazenamento e, posteriormente, quando necessário, realiza o processo inverso. “No sistema
fotovoltaico, a bateria transforma a energia elétrica gerada durante o dia pela placa fotovoltaica
em energia química. Então, à noite, a energia química é convertida em energia elétrica”
(SOUZA et al., 2010 p. 71).
O controlador é um equipamento que é acoplado a bateria para evitar que a mesma se
descarregue por completo, particularmente quando há período longo de insolação. “Este
acessório monitora a carga da bateria e impede que a mesma se descarregue completamente,
e, desta forma, aumentando a sua vida útil” (SOUZA et al., 2010 p. 71). Já o inversor de tensão
serve para alterar a tensão e a freqüência de uma determinada corrente (SOUZA et al., 2010).
Tendo a informação sobre os componentes necessários à instalação do sistema de captação
de energia solar, realizamos uma pesquisa de mercado na qual calculamos os valores desses
equipamentos:
 O preço médio de mercado para placas e baterias no Brasil é de R$ 1.900,00 (um mil e
novecentos reais) cada.
 O preço dos controladores é em média R$ 120,00 (cento e vinte reais) cada.
 O preço dos inversores elétricos é em média R$ 256,00 (duzentos e cinquenta e seis
reais) cada.
Com base nos valores acima mencionados, temos:
 2831 placas x R$ 1.900,00 = R$ 5.378.900,00.
 R$ 120,00 (controladores) x 2831 placas = R$ 339.720,00 (trezentos e trinta e nove
mil, setecentos e vinte reais).
 1279 inversores x R$ 256,00/unidade = R$ 327.424,00 (trezentos e vinte e sete mil
quatrocentos e vinte e quatro reis).
Ao realizar a somatória dos valores, temos:
 Total do investimento: R$ 6.046.044,00 (seis milhões quarenta e seis mil e quarenta e
quatro reais).

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Tabela 2: Total de Investimentos Necessários à Política Proposta

Equipamento Preço Unit. (R$) Quantidade Total (R$)

Placas c/ baterias 1.900,00 2831 5.378.900,00

Controladores 120,00 2831 339.720,00

Inversores 256,00 1279 327.424,00


Total do
6.046.044,00
investimento

Dessa forma, para iniciar a implantação do sistema de painéis solares, seriam necessários
investimentos em torno de seis milhões de reais. O que representa a inviabilidade de um
projeto mais amplo para o suprimento da energia consumida no campus, que como afirma
Oliveira (2002, p. 19):
As principais barreiras encontradas à inserção da tecnologia solar em um contexto mais amplo são os
custos envolvidos em sua utilização, a falta de informação sobre o seu perfil de funcionamento e
confiabilidade, a falta de políticas específicas de fomento e a existência de uma estrutura consolidada
de planejamento no setor.

5 Produtos Ecologicamente Corretos: uma exigência da humanidade

O nível de conscientização das pessoas sobre questões ambientais vem crescendo pouco a
pouco e, por conseqüência, vêm também aumentando suas solicitações para que sejam
desenvolvidos processos e produtos com base em tecnologias limpas (MACHADO et al., 2004).
As organizações contemporâneas sentem-se pressionadas por clientes ávidos por soluções
que, além de éticas e responsáveis socialmente, sejam ecológicas. Sobretudo as que ouvem a
voz do mercado e atendem essas necessidades primeiro que os concorrentes, adquirem
vantagem competitivas por “descobrir” estas oportunidades (SINGH, 2001). O equilíbrio entre
respeito ao meio ambiente, ética e responsabilidade social, e viabilidade econômica, é o
suporte do desenvolvimento sustentável, desde a Conferência de Estocolmo, na Suécia, em
1972 (SACHS, 1993). Há duas décadas, o ato de comprar já começa a ser encarado como um
voto a favor ou contra o meio ambiente saudável (ELKINGTON et al., 1990).
Processos produtivos ambientalmente eficientes, ora denominados "ecoeficientes", são um
assunto estratégico para toda a humanidade, segundo muitos experts. Várias organizações
vêem nisso não uma ameaça, mas sim uma oportunidade de negócio e, logo, investem no
aperfeiçoamento ou na adaptação de suas operações para oferecer produtos classificados
como "ecologicamente corretos", realçados por "selos verdes" e garantidos por certificações
ambientais (PRODUTOS..., 2004). Além do mais, conforme apontado por Tubino (2000), a não-
agressão ao meio ambiente é, atualmente, considerado como critério de desempenho
desejável nos sistemas de produção.

6 Organizações que Desenvolvem Projetos Ambientais: um breve relato

As organizações há muito perceberam os benefícios de se alinharem com o conceito de


desenvolvimento sustentável. Hoje, ética, responsabilidade social, ecologia e viabilidade
econômica, por exemplo, parecem não ser conceitos incompatíveis para elas. Vale ressaltar
que, em meados do século XX, economistas de vanguarda já propunham posicionamentos
mais ativos das organizações nesse sentido (FRIEDMAN; FRIEDMAN, 1980; DAVIS, 1974;
FRIEDMAN, 1963). Ter a imagem, os processos e/ou os produtos atrelados a atividades
ambientalmente corretas agora leva à vantagem competitiva (KOTLER, 2000; TUBINO, 2000).
Várias organizações em todo o mundo, atuantes nos mais diversos setores econômicos,
seguem essa filosofia, que, no passado, foi uma tendência, e, hoje, é uma condição sine qua
non à competição.

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A Fundação O Boticário, por exemplo, apóia o "ecodesenvolvimento" atuando com três
programas: proteção de áreas naturais; promoção de educação ambiental e mobilização à
conservação da natureza; e suporte financeiro a projetos desenvolvidos por outras
organizações relacionadas a áreas verdes, unidades de conservação e proteção à vida
silvestre. Em parceria com a Fundação Interamericana, dos E.U.A., a Fundação O Boticário
gerencia um fundo que objetiva o suporte a projetos que: visem à diminuição da pressão sobre
recursos naturais e fomentem atividades que garantam a proteção dos ambientes onde serão
realizados; aliem esforços ambientais e sociais, que gerem alternativas sustentáveis de renda
e, principalmente, que sirvam de modelo para outras iniciativas; e fortaleçam valores que levem
à prosperidade e qualidade de vida, pela educação e mobilização, através do cuidado com a
natureza e investimento social (FUNDO..., 2004).
A Petrobrás, por sua vez, desenvolve projetos de preservação da mata atlântica, das tartarugas
marinhas (Tamar), das baleias jubarte, dentre outros, inclusive em Fernando de Noronha. Com
o seu "Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional", mais do que
nunca fez convergirem as questões sociais e do meio ambiente (RESPONSABILIDADE...,
2004). A Ambev tem uma política de gestão ambiental bastante dinâmica. Ela é, por exemplo,
uma das fundadoras do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), instituição sem
fins lucrativos constituída por um grupo de organizações privadas para promover e modernizar
a reciclagem brasileira. Dentre os projetos da Ambev, destaca-se o "Recicloteca", o principal
centro de pesquisas sobre reciclagem e meio ambiente no País (MEIO..., 2004).
O Grupo Gerdau aplica os princípios da ecoeficiência e do desenvolvimento sustentável.
Rotineiramente, as fábricas do Grupo Gerdau transformam objetos obsoletos à sociedade
(fogões, refrigeradores e móveis velhos, partes de veículos, etc.) em suas matérias-primas
(ECOEFICÊNCIA..., 2004). A Fundação Banco do Brasil, calcada na responsabilidade sócio-
ambiental, criou o "Programa Bioconsciência" com o objetivo de disseminar práticas ambientais
de racionalização do uso e reutilização de recursos naturais. Com o foco inicial em resíduos
sólidos, compartilha informações e práticas visando estimular os gestores públicos a
implantarem a coleta seletiva nos municípios brasileiros (FUNDAÇÃO..., 2004).
Além dessas, existem inúmeras outras organizações que facilmente poderiam ser citadas como
mantenedoras de projetos ambientais. Mas, o que se pretendeu com a rápida exposição foi,
primeiro, apenas mostrar o interesse geral delas por tais atividades. Ou seja, a preocupação na
tríade do desenvolvimento sustentável é presente em diversas organizações atuantes no Brasil
e já é de algum tempo. A menção de alguns casos, ocorre no sentido de instigar nestas e/ou
em outras iniciativas acerca de seus interesses em financiarem, desenvolverem, testarem ou
apresentarem soluções (processos e/ou produtos) ecologicamente corretas para problemas
ambientais nos mais diversos campi universitários brasileiros, sejam estes campi públicos ou
privados.
Uma forma seria o despertar ao desenvolvimento de placas fotovoltaicas mais eficientes
economicamente ou que a sua produção alcance uma escala maior para se obter eficiência
produtiva no sistema produtivo (TUBINO, 2000). O demonstrar de exemplos também ocorreu
para que atentamos ao fato de que organizações já despertaram à sustentabilidade de
produtos e processos, porém, universidades, em particular públicas, não. Nesse sentido, essas
instituições de ensino poderiam obter uma maior integração de seus cursos e grupos de
pesquisas para o desenvolvimento de processos e produtos sustentáveis também. Um
processo “ecoeficiente” residiria na adoção de consumo de energia elétrica limpa, utilizando-se
da potencialidade energética local, que no caso é ampla disponibilização de raios solares.

7 Modelo Internacional de Qualidade

Para se ter uma matriz energética ambientalmente correta, é necessário que legislações e
atitudes governamentais sejam ativas para permitir o desenvolvimento sustentável. Mas o
contexto para a implantação de regulamentos já vem se concretizando através de Agendas
com listas de compromissos ambientais que foram e ainda estão sendo criadas e seguidas pela
maioria dos países componentes das Organização das Nações Unidas (ONU), a exemplo da
"Agenda 21 Global" (AGENDA 21..., 1997). Muitos países criaram variantes peculiares dessas
Agendas de acordo com a realidade de cada país. Temos no Brasil a "Agenda 21 brasileira"
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(NOVAES, 2000), e ainda em âmbito federativo, a "Agenda 21 do Estado de Pernambuco"
(AGENDA 21..., 2003). O conteúdo dessas agendas trata de assuntos considerados
estratégicos à conservação dos ambientes biótico e abiótico, e a continuidade da espécie
humana. Assim, como Oliveira (2002, p. 17) afirma “uma discussão sobre determinada fonte
energética deve, no entanto, transcender aos aspectos essencialmente técnicos e incluir
aspectos econômico-financeiros e político-ambientais”.
Países como Portugal, Japão e EUA são muito mais desenvolvidos no tocante ao uso e
desenvolvimento da tecnologia fotovoltaica. No Brasil, pouco se fala a respeito, sendo uma
tecnologia não muito explorada, com raros incentivos fiscais oferecidos pelo governo. Segundo
Varella et al. (2008, p. 20), “é necessária a elaboração de um programa nacional especifico de
fomento ao uso da tecnologia solar fotovoltaica que inclua, em sua regulamentação, a
obrigatoriedade de tender um índice mínimo de nacionalidade de equipamentos”.
O site Science Daily informa sobre o desenvolvimento de tecnologia para placas solares na
Europa:
Pesquisadores da Universidade Eindhoven de Tecnologia (TU) querem desenvolver células solares
com uma eficiência superior a 65 por cento por meio da nanotecnologia. No Sul da Europa e Norte da
África essas novas células solares podem gerar uma porção substancial da procura européia de
eletricidade. O governo holandês reserva 1,2 milhões de euros para a pesquisa. (Science Daily, 2010,
Tradução nossa)
A implantação de sistemas de captação de energia solar envolve elevado investimento inicial,
entretanto, uma das grandes causas à não escolha desse sistema decorre da insuficiência e
falta de adequabilidade, da carência de regulamentos específicos e de normas de qualidade
aplicadas aos instaladores e aos equipamentos, o que têm dificultado o desenvolvimento e uso
das aplicações fotovoltaicas (TEORIA..., 2009).
O Brasil ainda está se adaptando à utilização dessa nova tecnologia, seguindo ainda
tardiamente os modelos de países com altos índices de desenvolvimento, o que torna
necessário a criação de normas específicas para atender a esse novo segmento. Normas que
estabeleçam critérios para a adequação da produção de placas solares é um passo necessário
para o desenvolvimento e propagação da tecnologia. A ISO 9000 é um passo importante para
que os processos de inspeção e produção das placas sejam adequados em todos os lugares.
As normas ISO 9000 estabelecem exigências para um sistema de garantia da qualidade em
projeto/desenvolvimento, produção, instalação e assistência técnica; normatizam a gestão da
qualidade em indústria de processos; a qualidade na medição e diretrizes para elaboração de
manuais da qualidade, respectivamente (ISO 9000 – QUALITY MANAGEMENT, 2011). Há
também as normas IS0 14000 que estabelecem condições para redução dos impactos
causados ao ambiente pelas indústrias, implementadas em mais de 155 países, em mais de
200.000 organizações (ISO 14000 ENVIRONMENTAL MANAGEMENT, 2011).
8 Considerações Finais
Das fontes de energia disponíveis na Terra, grande parte são renováveis, como a irradiação
solar, eólicas e hidráulicas. Porém, os procedimentos para a transformação dessa potência
energética sustentável em eletricidade são considerados pouco desenvolvidos. Porém, as
fontes de energia mais utilizadas pelo homem não são renováveis e causam diversas
conseqüências negativas para a biodiversidade (BURANTTINI, 2008). Vivemos uma renovação
da consciência social voltada à sustentabilidade e buscamos alternativas viáveis para a
produção de energia “limpa”.
A energia elétrica proveniente de fontes renováveis de pequena escala é vista como opção, em
diferentes níveis, por diversos países. Dentre eles a Alemanha, Espanha, Japão e Estados Unidos,
isso para citar alguns exemplos. No entanto, no Brasil a discussão da inserção dessas alternativas
energéticas ainda é incipiente e carece e necessita de uma abordagem mais aprofundada (OLIVEIRA,
2002, p. 9).
Nosso projeto de instalação de painéis solares foi desenvolvido para a UFPE, no campus do
Agreste. O projeto, além de viabilizar e mensurar a utilização de painéis solares na instituição
incentiva a pesquisa que deveria ser desenvolvida não somente na UFPE, mas em outras
universidades e em diversas organizações, como forma de interligar e informar os aspectos da
sustentabilidade, como Dias (2003) menciona: social, ambiental e econômico.
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Como a região do Agreste é privilegiada pela quantidade de irradiação solar que recebe, há
mais facilidade para o desenvolvimento e progresso de estudos na área de energia solar.
Levando em consideração a importância de integrar a universidade com as indústrias,
organizações e sociedade local.
O objetivo é desenvolver a sociedade para um consumo consciente, por meio de práticas de:
ensino, pesquisa e extensão; capacitação de técnicos; incentivo para a sociedade, indústria e
comércio; incentivos financeiros por parte de bancos para fabricação e compras; incentivos de
entidades fomentadoras de pesquisa e outras. Essa sugestão ocorre devido ao fato de que,
como o próprio desenvolvimento do trabalho apontou, a adoção de placas fotovoltaicas no
campus do agreste da UFPE se mostra inviável economicamente, embora o seja
ecologicamente. Através dos dados apresentados, observamos limitações para aplicação do
sistema em substituição da matriz energética atual. As placas solares disponíveis no mercado
não possuem capacidade suficiente para suprir grandes índices de consumo de energia
elétrica, além de seu alto custo em relação aos outros meios de energia disponíveis.
Dentre muitos aspectos, o preço das placas ainda é alto no mercado, o que leva a ser usado
principalmente em residências, sistemas independentes, e em localidades rurais remotas. Apesar de
seu alto custo, os preços vêm caindo consideravelmente, graças ao desenvolvimento da tecnologia
empregada em seu processo de construção. Além de que sua produção depende da incidência solar,
desestimulando o uso em locais com variações bruscas na temperatura (ENERGIA..., 2010).
Como também, essa modalidade de geração de energia se encontra no período inicial de
desenvolvimento, o que a torna possível de ser aperfeiçoada e os custos barateados um dia.
Ou seja, “as respectivas tecnologias de produção não estão no seu período de maturidade e
têm pouca difusão no mercado” (BRONZATTI; NETO, 2008, p. 12). A sua difusão no mercado
deve ser, portanto, trabalhada juntamente com o aperfeiçoamento da consciência das pessoas
para sua adoção gradativa. Nada melhor do que esse despertar do que dentro de uma
universidade.
A grande dificuldade em aumentar a utilização de energias renováveis na matriz energética brasileira
se deve ao alto custo de investimento e de produção energética, sendo que, a energia solar ainda
necessita de uma redução de custo na ordem de 5 vezes (BRONZATTI; NETO, 2008, p. 13).
Apenas através do desenvolvimento de pesquisas futuras no ramo de engenharia química e
elétrica, e nas grandes indústrias fabricantes de aparelhos de reprodutores de energia limpa.
Sobretudo, tendo por objetivo o incremento e a difusão desta tecnologia no mercado, é
possível modificar o presente quadro de preços altos de tecnologias alternativas, destacando-
se a solar.
Alguns economistas estimam que, de qualquer forma, o uso generalizado de células fotovoltaicas
acontecerá assim que os físicos e químicos consigam aperfeiçoar uma nova geração de materiais e
aparelhos, construídos usando nanotecnologia. Isto inclui células baseadas em sistemas
nanocristalinos que poderão ser duplamente mais eficientes e economicamente viáveis que as células
existentes (CARVALHO; CALVETE, 2010, p. 3).
Também, apontamos a falta de incentivos, tanto no que tange ao desenvolvimento de
pesquisas, quanto em relação aos incentivos governamentais e fiscais, para que sejam
adotados com mais facilidades tecnológicas limpas de consumo energético. Também, em
termos de Brasil, foi detectado uma urgente necessidade de desenvolver padrões equitativos
de qualidade para esse tipo de tecnologia, pois esse mercado tenderá a crescer e padrões
devem ser desenvolvidos para suportar esse desenvolvimento.
Contudo, o objetivo do trabalho foi cumprido no sentido de que o mesmo foi parte de uma série
de iniciativas desenvolvidas por estudantes do curso de administração do campus do Agreste
da UFPE para desenvolvimento de práticas/ações sustentáveis que pudessem ser
desenvolvidas e implementadas neste. Seria o pilar do “desenvolvimento social” interno,
composto pela comunidade universitária, sendo despertado à sustentabilidade. Espera-se que
o trabalho, em conjunto com ações que já estão sendo tomadas internamente na UFPE, sirva
de despertar para que pesquisas e ações sejam aprimoradas por esta instituição de ensino e
em outras que atentem à realidade ecológica. Porque, como apresentamos, o consumo
somente de lâmpadas fluorescentes é significativo em um campus e a economia gerada com
uma prática energética alternativa é considerável. Portanto, o alcance dos três pilares do
desenvolvimento pode ser alcançado internamente.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A inserção de materiais alternativos, de origem natural e
sintética, no design de joias.(The inclusion of alternative
materials, natural and synthetic, jewelry design.)

CAVA, Thiago; graduado; Unopar - Universidade Norte do Paraná


thikitak@gmail.com

AIEX, Viviane; Mestre; Unopar - Universidade Norte do Paraná


vivianeaiex@hotmail.com

Palavras-chave: joias; reaproveitamento; sustentabilidade.

O presente projeto apresenta uma coleção de joias totalmente originais, com apelo estético e alto valor
agregado, através do uso de materiais não convencionais na joalheria e exploração de diferentes técnicas
de transformação, reutilizando produto que foi descartado no meio-ambiente. Foi atribuída ao principal
material usado, a bucha vegetal, uma nova possibilidade mercadológica, confirmando a possibilidade de
agregar valor estético e comercial através do design a materiais pouco valorizados. Para tanto, aspectos
conceituais e simbólicos tomam frente à materialidade que permitem uma exploração livre de amarras
nesse setor. Além da exploração de um material não convencional, foi possível empregar pedras
brasileiras na coleção, reafirmando a identidade nacional e fortalecendo o mercado de gemas nacionais.

Keywords: jewelry; reuse; sustainability.

This project presents a totally unique collection of jewels, with aesthetic appeal and high value added,
through the use of unconventional materials in jewelry and operation of different processing techniques,
reusing product that was discarded in the environment. Was assigned to the main material used, the bush
plant, a new marketing opportunity, confirming the possibility of adding aesthetic value and commercial
from design to materials recovered somewhat. To do so, conceptual and symbolic take forward the
materiality that allow a free exploration of tethers in this sector. Apart from operating a conventional
material, it was possible to hire Brazilian stones in the collection, reaffirming the national identity and
strengthening the national market for gems.

1 Introdução

A joalheria existe há milhares de anos em diferentes civilizações. Com valores simbólicos,


míticos e de diferenciação social. Na Idade Media, ela assume um caráter basicamente
distintivo, marcado pelo luxo ostensivo.

Com a evolução do mercado e surgimento de outras classes sociais, aumenta a procura por
objetos de luxo. Abre espaço para a cópia e simulação, o que força mudanças e avanços no
setor. O mercado busca inovação e originalidade em primeiro lugar. Passagem do luxo
ostensivo para a sofisticação do luxo. Peças de design com referencial cultural.

O valor da joia volta para o simbólico, cabendo ao design atribuir esse valor. O uso dos
materiais alternativos é um caminho palpável para isso. Explorando materiais diferenciados de
origem natural e sintética através do design, em suas formas e texturas, conferindo
originalidade e inovação às peças, agregando valor estético e comercial.

Ao usar diferentes tipos de materiais aliados a técnicas não convencionais, as joias atingem
uma linguagem diferenciada e aumentam o valor simbólico, ligado ao campo dos desejos.
Inserir novos materiais e novas tecnologias é um caminho que encontra grande aceitação.

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Os principais objetivos deste trabalho são o de explorar novos campos na área joalheira,
utilizando materiais alternativos e formas exclusivas, inusitadas, usando buchas de origem
vegetal como premissa.

2 Fundamentação Teórica

Mesmo não sendo essencial a vida, as joias existiram desde tempos mais remotos e foram
encontradas de uma forma ou de outra em todas as civilizações do mundo, como penas, ossos,
sementes, madeiras, flores, entre outros. Pode-se classificá-las como pequenos objetos de
associações pessoais que denotam certos aspectos de nossa personalidade, origem cultural,
racial e que evidenciam, em quase todas as culturas, conceitos representativos como amor, a
magia, a saúde e o poder.

Antunes, Asnis e Sniesko, 2005, relatam que os homens neolíticos recolhiam e furavam pedras
que encontravam pelos rios para criar suas joias, pois acreditavam que as pedras possuíam o
poder de lhes trazer proteção contra doenças e forças físicas do mal e que, usando tais
materiais naturais, estariam livres de todos os malefícios.

Segundo Gola, 2008, no decorrer da história as joias estiveram ligadas ao poder, riqueza e ao
luxo, representado pela ostentação, principalmente quanto aos materiais. O luxo passa por
uma sofisticação e torna-se uma fruição de estilo e referencial cultural, tendo no design seu
operador fundamental. Hoje criar joias para o público em geral permite praticamente tudo: do
clássico ao mais arrojado.

Bourdieu, 2007, defende que essa mudança de valores pode ser entendida a partir do “capital
cultural objetivado”, agregado à materialidade dos produtos de luxo. De modo que o luxo
contemporâneo é destinado àqueles que dispõem desse capital cultural.

Já Freitas e Acioly, 2008, acreditam na “recente” ligação das joias com a moda, criando a
necessidade de acelerar o ritmo das tendências e consequentemente a busca pela inovação.

Para muitos, o mundo da joalheria é sinônimo de luxúria, glamour e objetos precisos. Mas, nem
sempre foi assim e nem sempre a joalheria usou somente metais e pedras preciosas; pois no
passado materiais comuns, baratos e exóticos como o vidro, bronze, cerâmica, madeira, osso,
cobre e o ferro era usado quase sempre em associação a prata, ouro e materiais provenientes
de recursos marinhos, como o coral, o âmbar e pérolas.

O uso de diferentes tipos e estilos de adornos foram e ainda são usados para fazer distinções
entre várias condições da classe social, dando status e diferenciando aqueles que fazem uso
desses mecanismos como metáfora para os vários elementos com o qual o mundo social é
construído.

Então, como um reflexo dos vários estágios mentais que o ser humano atravessa, a
ornamentação do corpo muito frequentemente expressa regras pessoais da nossa condição
social e não simplesmente uma mera distinção em nossa aparência física.

Costumes, tradições e estruturas sociais são sempre expressados em termos de joalheria e as


joias podem sempre fornecer alguma informação sobre as pessoas e suas vidas. Os estilos e
os costumes mudam, mas os métodos básicos que são usados para os adornos continuam os
mesmos.

Os corpos, as roupas e joalherias podem carregar mensagens que variam de acordo com as
ocasiões. É notório na sociedade que para cada etapa da vida de um indivíduo, tem-se um tipo
de joalheria que corresponde aos seus desejos. Marcos pessoais como noivados, casamentos,
aniversários e ocasiões especiais como coroações, cerimônias religiosas e condecorações
foram e sempre serão marcados por presentes de joias.

Cabe então, ao designer perceber as pequenas sutilezas de cada tempo, cada idade, e assim,
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como um escultor que cria sobre a matéria-bruta ou mesmo usando materiais alternativos,
tentar representar da melhor forma e com criatividade as necessidades estéticas de seu público
em questão.

Peça de arte, arrojo ou devaneio. Os novos designers de joias inovam ao cravar como
verdadeiros e antigos artesãos, uma linguagem própria em cada pingente, brinco, anel ou colar
produzido. O ideal é deixar a ostentação de lado, banir os conceitos meramente acadêmicos e
criar na melhor concepção da palavra uma nova “joalheria”. Usando elementos que foram
descartados no meio ambiente, revitalizando-os.

A Arc Design, 2006, relata que hoje o mundo está descartável demais. Os produtos são
descartados com uma velocidade enorme, e a sociedade gera um lixo que não tem
possibilidade de ser reinserido. Portanto, é necessário refletir a realidade, e alerta a importância
de os designers desenvolverem a consciência ambiental. E, ressalta sobre a importância de
explorar as possibilidades dos materiais alternativos e dar maior valor aos materiais de
descarte por meio de produtos criativos.

Todas as civilizações buscam encontrar uma nova utilização para um objeto usado. Desde a
idade do bronze observa-se o surgimento da reciclagem dos materiais, fundiam-se objetos de
metal já utilizados, para dar origem a novos produtos. Os benefícios econômicos e ambientais
da concepção sustentável são consideráveis ao limitar o empobrecimento dos recursos
naturais e reduzir os resíduos pós-consumo. Infelizmente algumas jazidas de matérias-primas
já estão chegando ao seu limite e começam a nos dar mostras de seu esgotamento, logo,
novos materiais deverão rapidamente substituí-los (Peltier e Saporta, 2009).

Devido ao crescimento dos problemas ambientais, diversos tipos de materiais, principalmente


os naturais como a madeira e seus subprodutos, vem merecendo destaques, pois existe a
possibilidade de renovação natural de suas reservas, ou pela bio-compatibilidade de absorção
pela natureza ao serem descartados. A adoção de diferentes tipos de materiais no design de
joias está ligada às mudanças de comportamento, como um novo perfil de consumidor e a
intensa preocupação com o meio ambiente.

Segundo Acioly e Freitas, 2008, o material alternativo vem para agregar valor ao produto,
atribuindo significados, como identidade, devoção, consciência, entre outras. A consciência por
um consumo sustentável faz com que alguns materiais sejam ideais para a contribuição com o
meio ambiente, por causarem menor impacto ambiental.

Cresce o uso de material alternativo na área da joalheria, como o couro, a madeira, borracha,
resinas e fibras vegetais. (Fortes, 2008)

Durante o processo de transformação da natureza em objetos de uso ou no uso direto de


produtos naturais, é comum surgirem objetos, cuja importância não havia sido observada pela
sociedade. Estes objetos naturais modificados são consequência de processos criativos do
homem. Segundo Löbach, 2000, a configuração de um produto não resulta apenas das
propostas estéticas do designer industrial, mas também fortemente, do uso de materiais e de
processos de fabricação econômicos.

3 Materiais e Métodos

Para o presente projeto realizou-se:


 Pesquisa Bibliográfica (revistas, catálogos e internet);
 Visitas Exploratórias (herbário da UEL);
 Análise de Similares;
 Para a Pesquisa Qualitativa: Foram entrevistados 8 profissionais do ramo; Através de 8
questões abertas, sobre materiais alternativos e valor da joia; e

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 Para a Pesquisa Quantitativa: Foram entrevistados 25 consumidores; através de 2
questões dicotômicas, sobre a aceitação dos materiais alternativos.

O propósito deste trabalho foi usar uma linguagem diferenciada nas peças, remetendo a
valores naturais e ecológicos, proporcionados pelas formas da bucha vegetal. Na fase de
estudo dos materiais, foi notado que as fibras da bucha vegetal formam 4 padrões diferentes
de textura, conforme pode ser visto na Figura 1.

Figura 1: Bucha vegetal

A Luffa Cylíndrica (bucha vegetal), é constituída por um emaranhado de fibras finas, resistentes
e suaves. Utilizada principalmente como esponja de banho. Com o recorte e intervenção na
bucha é possível obter diferentes padrões e formas, como mostra a Figura 2.

Figura 2: Secções da bucha vegetal

Para iniciar a geração de alternativas achou-se necessário realizar testes com a bucha vegetal
(Figura 3), para verificar se realmente seria possível desenvolver uma joia com tal elemento.

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Figura 3: Testes com a bucha vegetal

Para tanto, outros materiais compuseram a construção das peças como resina e aditivos
(pigmentos coloridos) para modificar a cor natural da esponja.

3.1 Geração de alternativas

Explorou-se uma linguagem diferenciada nas peças, remetendo a valores naturais e


ecológicos, proporcionados pelas formas da bucha vegetal. As peças fizeram uso de materiais
não convencionais de origem natural (Bucha vegetal) e sintética (Resina Epoxi), como mostram
as Figuras 5, 6, 7, 8, e 9. Na Figura 4 fez-se uso de pedras brasileiras. Para valorizarem mais
as peças, todas as opções foram feitas utilizando o metal prata.

Figura 4: Anel com pedras brasileiras e bucha vegetal e Figura 5: brinco com resina e bucha vegetal

Figuras 6 e 7: brincos com bucha vegetal e metal prata

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Figuras 8 e 9: conjunto de brincos e pingentes com resina e bucha vegetal

4 Validação

As peças prontas possibilitaram desenvolver um conceito que remetessem aos valores


ambientais, atribuindo uma simbologia às joias. As formas e texturas proporcionadas pela
bucha vegetal foram exploradas ao máximo, conferindo originalidade às peças.

Apesar de cada segmento possuir uma peça básica, intermediária e uma extravagante, elas
mantiveram a mesma linguagem, possuindo um elemento de união entre a coleção. São peças
de alto valor agregado, com potencial de alcançar diferentes públicos, como mostram as

Figuras 10, 11, 12, 13, 14 e 15 a seguir.Figura


10, 11 e 12: anéis em prata, resina,
com bucha vegetal e pedras brasileiras, respectivamente

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Figura 13, 14 e 15: brincos em prata, com bucha vegetal e resina, respectivamente.

Figuras 16 e 17: pingentes em prata, com resina e bucha vegetal.

O objetivo do projeto foi alcançado, foi criada uma coleção de joias totalmente originais, com
apelo estético e alto valor agregado, através do uso de materiais não convencionais na
joalheria e exploração de diferentes técnicas de transformação.

As peças demonstraram grande aceitação, tanto de profissionais da área como consumidores.


Foi atribuída ao principal material usado, a bucha vegetal, uma nova possibilidade
mercadológica, agregando a ele valor estético e comercial.

Aspectos conceituais e simbólicos tomam frente à materialidade que permite uma exploração

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livre de “amarras” nesse setor.

Além da exploração de um material não convencional, foi possível empregar pedras brasileiras
na coleção, reafirmando a identidade nacional e, fortalecendo o mercado de gemas nacionais.

4 Resultados e discussão

A pesquisa qualitativa revelou que há uma crescente aceitação pelos profissionais do uso de
materiais alternativos na composição das joias. Confirmou-se a possibilidade de criar joias de
alto valor agregado através do design diferenciado.

Com a pesquisa quantitativa constatou-se que apesar da grande aceitação dos consumidores
por joias com uso de materiais não convencionais, há uma parcela de consumidores que ainda
optam por peças mais tradicionais, dessa maneira dando preferência pelos materiais
convencionais, metais e pedras preciosas. Por isso, se faz necessário o uso de destes
materiais para enobrecer a peça e torná-la rentável, comercial.

5 Conclusão

Nesta pesquisa de trabalho, confirmou-se a possibilidade de trabalhar com materiais


alternativos na joalheria. Há um risco ao desvincular-se totalmente dos materiais
tradicionalmente usados, principalmente referentes aos metais, por isso, convém usar materiais
como ouro ou prata para enobrecer a peça e garantir maiores chances de sucesso perante os
consumidores.
O foco da joalheria está se voltando para o valor simbólico das peças, a fim de suprir desejos e
atingir a satisfação pessoal, sonhos e fantasias.
O valor de uma joia pode ser atingido principalmente pelo design e originalidade. O conceito de
luxo está se desvinculando da ostentação, principalmente quanto a materiais. É um mercado
em crescimento que merece contínuos investimentos.

Agradecimento
Agradecimentos às instituições e às pessoas que contribuíram para o desenvolvimento desta
pesquisa.

Referências
Acioly, Angélica de Souza Galdino; Freitas, Victor Hugo Falcão de. A utilização de materiais
“não convencionais”- uma tendência no Design de Joias. Anais do 8° Congresso Brasileiro
de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo, 2008.
Antunes, Mônica; Asnis, Márcia; Sniesko, Ana Claudia. Jóias & design. Nº1. São Paulo: Editora
On Line., 2005.
Arc Design nº48, Quadrifoglio. Editora, 2006.
Bourdieu, P. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007.
Gola, Eliana. A joia: história e design. São Paulo: Editora Senac, 2008.
Löbach, Bernd; Van Camp, Freddy. Design industrial: bases para a configuração dos produtos
industriais. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.
Peltier, Fabrice; Saporta, Henri. Design sustentável. São Paulo: Editora Senac, 2009.

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Metodologia de design de serviços aplicado ao
desenvolvimento de redes comunitárias (Service design
methodology applied to the development of community
networks)

Rodrigo T. de Quadros 41

palavras chave: design de serviço; comunidades criativas; desenvolvimento comunitário.

O presente artigo tem por objetivo apresentar a metodologia utilizada no desenvolvimento do Projeto
Experimental em design no âmbito da conclusão do curso de Design, ainda em andamento. O projeto
trata da criação de um sistema para suporte de redes comunitárias, objetivando a articulação de
discussões e ações como forma de incentivar uma cultura participativa e de cidadania ativa. A solução
proposta toma o formato de serviço por entender-se que para alcançar os resultados previstos o sistema
deveria ser: centrada no usuário; permitindo a co-criação; funcionando de forma didática e sequencial;
proporcionando assim, uma experiência completa e uniforme. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica
referente à Design de Serviços, Desenvolvimento Comunitário, incluindo leituras sobre Trabalho Popular e
Comunidades Criativas. Além disso, usou-se da aplicação de questionários e de entrevistas não-
estruturadas com líderes de associações e ONG´s. O recorte aqui estabelecido foi baseado nos estágios
da metodologia em uso, que envolve (1) exploração, (2) criação, (3) reflexão e (4) implementação, além
do uso de ferramentas de desenvolvimento e organização de ideias específicas para cada estágio.

Keywords: service design; criative communities; community development.

This article aims to present the methodology used to development of the Experimental Project in Design
under completion of design course, still in progress. The project involved the creation of a support system
for community networks, aiming at joint discussions and actions as a means of encouraging a culture of
participation and active citizenship. The proposed solution takes the form of service because we believe
that to achieve the expected results the system should be: user-centered, allowing co-creation, working in
a didactic and sequential way, thus providing a complete and uniform experience. We used literature
search on the Design Services, Community Development, including readings on Working People and
Creative Communities. In addition, we used questionnaires and unstructured interviews with leaders of
associations and OGN´s. The clip here was established based on the stages of the methodology used,
which involves (1) exploration, ( 2) creation, (3) reflection and (4) implementation, plus the use of
development and organization tools of specific for each stage.

Introdução
As questões ambientais não levantam apenas preocupações sobre as mudanças climáticas,
levantam também discussões sobre a filosofia do mercado de consumo e como, mesmo com
tanta tecnologia, ainda existe tanta desigualdade social. A necessidade em diminuir nosso
impacto no ambiente passa pela reflexão sobre “o que”, “porquê” e “como” consumimos e as
maneiras de tornar este processo mais justo e sustentável a medida que a igualdade e
qualidade de vida são promovidas. É com estas perspectivas que valores como o trabalho
coletivo, ajuda mútua e resolução criativa de problemas são empregados em comunidades
rurais e metropolitanas em muitos países, por agentes públicos, de ONG´s ou da própria

41
Graduando em Design do Objeto; Universidade Federal da Bahia; Brasil;
rtquadros@gmail.com
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comunidade a fim de fortalecer as redes sociais locais, promover a cidadania e o
desenvolvimento. As comunidades que são capazes de reorganizar elementos em novos,
criando, melhorando e gerenciando novas e mais sustentáveis maneiras de viver podem ser
definidas como “comunidades criativas” (MARONI, 2007).
O termo “desenvolvimento comunitário” é frequentemente relacionado a intervenções
participativas que promovem autoajuda e prestação de serviços (GILCHRIST, 2009, p. 23), é
ainda, a interação com pessoas no intuito de ajuda-las a construir entendimento e cooperação
entre indivíduos e grupos capacitando-as a fazer mudanças nas próprias vidas e para o bem
maior (Bartley apud GILCHRIST, 2009, p. 23). Assim, seja para superar uma fase de crise ou
problemas recorrentes, as comunidades criativas promovem ações que almejam a superação
de obstáculos para o crescimento social e humano. Estas comunidades são formadas por
pessoas sem talentos especiais ou específicos que tiveram a motivação e habilidade de
organizar de maneira democrática outras pessoas em pró do benefício comum.
Entende-se que a melhor forma de ajudar grupos como estes é dar suporte à suas ações.
Segundo Papanek (1995, p.64):
A função do designer é apresentar opções às pessoas. Estas opções deveriam ser reais e
significativas, permitindo que as pessoas participassem mais plenamente nas decisões que lhes dizem
respeito, e deixando-as comunicar com os designers e arquitetos na procura de soluções para os seus
próprios problemas, mesmo – quer queiram quer não – tornando-se os seus próprios designers.
Neste sentido, é pertinente o desenvolvimento de ferramentas e sistemas que facilitem e
possibilitem a interação entre indivíduos permitindo a troca de experiências, a discussão e a
organização, cultivando assim, uma cultura de participação e estimulando as soluções criativas
para os problemas sociais.
Este artigo abordará o método utilizado na criação de uma proposta de serviço para
comunicação de redes locais que visa a articulação de discussões sobre problemáticas comuns
e a organização de ações comunitárias como forma de alcançar um estado de cidadania ativa.
O design de serviços é uma disciplina do design que objetiva assegurar que as interfaces de
serviços sejam úteis, usáveis e desejáveis do ponto de vista do cliente, tendo em particular,
laços estreitos com as dimensões de interação e experiência originadas do design de interfaces
humano-computador (MAGGER, 2008, p.355). O serviço proposto, batizado de Egbé, não
pretende substituir ações sociais (pastoral, associações e movimentos populares) ou concorrer
com outras ferramentas sociais da internet, mas ao contrário, funcionar como suporte as
primeiras, complementando as segundas ao redirecionar a temática da relação entre os
usuários para as causas comunitárias e permitindo a transmissão de dados entre os serviços.

A importância de redes sociais


O conceito de comunidade sempre esteve ligado a delimitação geográfica de um grupo de
indivíduos, mas na era da telecomunicação as pessoas estão menos restritas as distâncias
geográficas formando redes de contatos por afinidades, sejam estas, culturais, de ordem
prática, circunstanciais, etc. Este nível de relações impessoais torna mais fácil a comunicação e
cooperação entre os indivíduos. Quando se trata de comunidades localizadas, os laços sociais
podem ser ainda mais fortes. A formação de redes de contato permite a mobilização das
pessoas para campanhas e eventos ou o direcionamento de recursos e de trabalho para o bem
coletivo (Dale e Sparkes apud GILCHRIST, 2009, p.17). Neste contexto, desenvolvimento
comunitário significa viabilizar que estas redes sejam formadas e que ações sejam tomadas,
operando mudanças baseadas em princípios de justiça social, igualdade e inclusão.
Enquanto organizações agem através de protocolos e relações formais, as redes sociais
operam através de conexões entre indivíduos específicos, dos quais, as ações e atitudes
formam interações interpessoais e incorporam convenções locais (GILCHRIST, 2009, p.53).
Gilchrist (2009, p.61 e p.62) afirma ainda que as redes são como repositório de conhecimento
local, funcionando como uma fonte de sabedoria, informação e boatos, permitindo às pessoas
acesso a avisos, serviços e recursos que de outra forma não teriam. São os comentários e
conselhos providos por redes pessoais que permitem ao indivíduo formar um conceito crítico
sobre si mesmo. O senso da sua própria identidade é socialmente construído através da
interação com grupos e redes informais (Tajfel; Abrams e Hogg apud GILCHRIST, 2009, p.64).
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Segundo Boff (1986, p.5), o povo possui consciência e existência próprias, porém, dominados
e reprimidos por classes dominantes. Por isso, qualquer processo de intervenção em
comunidade deve estabelecer uma relação pedagógica correta, respeitando os valores pré-
existentes e consciente da necessidade de adaptação do pensamento “pequeno-burguês” às
classes populares. O processo de trabalho popular é um processo educativo e tem por objetivo
essencial a autonomia do “educando” e, portanto, todo esforço externo deve ser direcionado a
reforça o poder e capacidades de autogestão do povo (BOFF, 1986, p.8). As redes, em
especial as que permitem o fluxo de poder e informação de ordem contestatória, são assim,
essenciais para a mudança social e criação de novos paradigmas.
Existem diversos exemplos pelo mundo de comunidades que foram capazes de se
organizar e agir para resolver os problemas comuns. As comunidades criativas são formadas
por pessoas comuns que conseguiram compartilhar suas ideias e aproveitar a oportunidade
que tiveram para realizar mudanças incríveis nas suas comunidades. Para Meroni (2007, p.11),
dar suporte às ações destas comunidades com atividades e plataformas instrumentais, significa
ajuda-las a agir de forma mais fluente e eficiente, eliminando fatores de distúrbio e
maximizando os satisfatórios. Entre os casos de comunidades criativas apontados na sua
pesquisa, Meroni (2007) aponta ainda para dois importantes fatores em comum; estas
comunidades estão profundamente enraizadas em um local ao mesmo tempo em que estão
conectadas a redes de iniciativas similares. É com base no senso de identidade e coesão
comunitária e através da comunicação, da partilha de ideias e experiências, que as pessoas
tendem a entender e confiar uma nas outras, sendo esta a fundação para a ação coletiva.

Design de serviço e o método projetual


O design de serviços é uma abordagem interdisciplinar que envolve métodos e ferramentas de
várias disciplinas, mostrando-se mais como uma nova maneira de pensar o design, do que,
uma nova disciplina (SCHNEIDER et al, 2010, p.29). Esse novo direcionamento permite que
profissionais do design utilizem seus conhecimentos do método projetual no desenvolvimento
de serviços mais úteis, usáveis e desejáveis. Para tanto, Scheneider et al (2010, p.34) sugere
que o serviço siga cinco princípios:
1. Centrado no usuário. O serviço deve ser entendido e projetado pela perspectiva do
usuário;
2. Co-criativo. Todos os indivíduos decisivos para o serviço devem ser incluídos no
processo de design;
3. Sequencial. O serviço deve ser percebido como uma sequencia de ações inter-
relacionadas;
4. Evidenciado. Serviços intangíveis devem ser visualizados em forma de objetos físicos;
5. Holístico. Todos os aspectos do serviço devem ser considerados, formando um todo
coeso.
O acesso ao serviço se dá através de pontos de contato. Cada ponto de contato fornece
uma experiência ao usuário, funcionando como peças de um quebra-cabeça que o conectam a
um dos elementos oferecidos pelo serviço, podendo estas peças ser construídas por produtos
ou outros serviços. A experiência completa do usuário é dirigida pela interface do serviço.
Projetar essa interface significa alinhar todos os pontos de contato ao conceito proposto
(MORITZ, 2005, p.44).
Com estes princípios em mente, parte-se para a formação da metodologia, determinando
fases no processo de design. Como Moritz (2005, p.115) aponta, existem diversos métodos e
modelos usados por empresas e desenvolvidos por designers no sentido de alcançar melhores
resultados. Estes métodos, em sua maior parte, apoiam-se nas necessidades dos clientes e no
perfil dos usuários para delimitar o cenário real em que a problemática se desenrola, os
objetivos, requisitos e restrições do projeto, usando-se desses dados como guia para o
desenvolvimento do serviço. Entende-se assim, que o primeiro passo no processo é a pesquisa
e exploração de dados.

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Ter um entendimento claro da situação pela perspectiva dos potenciais usuários é
importantíssimo para o design de serviço (SCHNEIDER et al, 2010, p.128) no sentido de
garantir que os resultados sejam coerentes com a realidade, relevantes e apropriados
(MORITZ, 2005, p.125). Para obtenção e análise dos dados, o design de serviço utiliza-se de
diversas técnicas e ferramentas de disciplinas correlatas, sendo uma das abordagens mais
utilizadas a pesquisa etnográfica. Este método de pesquisa derivado das ciências sociais esta
intimamente relacionado ao processo de design, oferecendo material de referência sobre o
cotidiano das pessoas, suas preocupações, motivações, etc (SCHNEIDER et al, 2010, p.109).
No caso deste projeto, a coleta de dados se deu através de entrevistas não-estruturadas e da
aplicação de questionários, obtendo como resultado dessa análise o perfil dos potências
usuários do sistema. Além da pesquisa etnográfica, a pesquisa de mercado é extremamente
útil para estabelecer o contexto onde o sistema deve ser inserido através do conhecimento dos
concorrentes e de serviços similares, de demandas e restrições do mercado, tecnologias
utilizadas, etc. Quanto mais completa é a fase inicial de pesquisa, mais referências o designer
possuirá para esboçar um conceito e passar para a fase de geração de ideias.
Segundo Schneider (2010, p.130) a fase de geração de ideias não é sobre evitar erros, mas
ao contrário, deve-se explorar as ideias e aprender o máximo com os erros, evitando que
problemas conceituais apareçam na fase de implementação. A geração de ideias deve sempre
ser baseada na compreensão da problemática e em estratégias definidas, e ainda assim, ser
livre, inovadora e visionária (MORITZ, 2005, p.133). Este projeto iniciou-se já com um
delineamento conceitual, porém, com os dados coletados, foi possível uma análise crítica e o
ajustamento dos primeiros pensamentos. Assim, partiu-se para a geração de ideias de solução,
onde foi utilizado de forma simplificada o modelo DGSE; discovery, generetion, synthesis,
enterprise (Spirits of Creation apud MORITZ, 2005, p.119). A primeira fase deste modelo
consiste no levantamento de pontos importantes a serem considerados na geração de
soluções, como problemas e oportunidades específicos, a segunda fase é a geração livre de
ideias, a terceira funciona como filtro para as ideias mais relevantes e plausíveis, e na última
fase faz-se uma análise crítica das ideias do ponto de vista mercadológico, no sentido de
apontar quais realmente poderiam funcionar como serviço de uma empresa.
O desenvolvimento refere-se à reflexão do que foi obtido até o momento e a transformação
desses dados em esquemas e protótipos. Para Moritz (2005, p.141), nesta fase é importante
ter entendimento das informações levantadas na pesquisa e estar claro qual o propósito,
grupo-alvo e o contexto dos resultados. Ao longo do processo, ferramentas metodológicas
demonstram-se extremamente úteis para visualização e esquematização das ideias, sendo
utilizados neste projeto os seguintes: mapa de jornada do cliente, cenários de projeto e o
blueprint (SCHNEIDER et al, 2010, p.158, p.184 e p.204). Em geral, estas ferramentas servem
para demonstrar em um esquema gráfico como o serviço funciona e como se dá a interação
dos elementos envolvidos, em especial o usuário, permitindo a avaliação e atualização
imediata das soluções. Cada ferramenta foca em um aspecto do serviço, variando de uma
perspectiva mais ampla a uma especificação mais detalhada de cada interação e ponto de
contato.
Os resultados obtidos durante todo o processo de design são constantemente testados e
avaliados. Mas, especialmente ao final do desenvolvimento, é essencial que a solução
proposta seja testada diretamente com o usuário em um contexto mais próximo possível da
realidade. Por conta do caráter intangível dos serviços, designers de serviços se valem de
diferentes abordagens de interpretação para simular situações do serviço e ajudar o usuário a
incorporar aspectos emocionais importantes na interação pessoal com as propostas do serviço
(SCHNEIDER et al, 2010, p.133). Os problemas encontrados devem ser resolvidos dentro do
possível e de forma criativa, mesmo que seja necessário voltar alguns passos atrás. O método
de design não é linear e, portanto, voltar muitas vezes às fases de pesquisa, geração de ideias
e prototipagem durante o processo é normal e faz parte do amadurecimento do projeto. Mesmo
durante a implementação é possível que desafios inesperados surjam exigindo modificações no
que foi projetado, o que demanda criatividade e flexibilidade por parte da equipe de design.
Para Schneider et al (2010, p.134), a implementação de um serviço requer, por definição,
mudança. Esta mudança deve ser baseada no conceito de serviço formulado e testado até o
momento e uma clara comunicação deste conceito é essencial, inclusive dos aspectos
emocionais do serviço, que formam a experiência desejada para o usuário. Afirma ainda, que
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os empregados da empresa que propõem um serviço são atores importantes no processo de
implementação e, dessa maneira, devem ser envolvidos no processo de design desde o
princípio. Neste projeto não foi considerado a fase de implementação por se tratar de um
projeto acadêmico onde foco foi dado ao conceito e ao processo de design.

Considerações
O setor de serviços já é o que mais emprega pessoas em muitos países do mundo e o design
tem evoluído com estas mudanças no mercado, adaptando seus conceitos sobre artefatos para
este setor. A discussão sobre o design de serviço não é recente, mas sua ampliação e
divulgação tem aberto espaço para que profissionais de design apliquem seus conhecimentos
na criação de novos e melhores serviços. Fica claro que o método e pensamento do design
podem colaborar muito, também, no desenvolvimento de serviços, mas não se pode ter a
ilusão de que o design ou o designer é autossuficiente e capaz por si só de abordar todos os
aspectos na criação, desenvolvimento e implantação de um produto ou serviço. O design é
uma atividade interdisciplinar e, portanto, durante o seu processo é imprescindível o
envolvimento das demais áreas envolvidas no setor, em especial o marketing e administração
quando trata-se de serviços, que enriquecem o processo com conceitos de gestão e estratégia.
Sem uma análise das propostas sob estas perspectivas dificilmente é possível atestar a
viabilidade e sustentabilidade do serviço.
O projeto Egbé é um projeto essencialmente acadêmico não tendo em curto prazo a
pretensão de ser implementado. Busca assim, servir como base conceitual, levantando a
discussão sobre desenvolvimento comunitário e o design de serviços, que ainda é recente no
Brasil. Ao final da fase de pesquisa e geração de ideias, conceituou-se o Egbé como uma
plataforma de comunicação em redes comunitárias, mas não restrita a elas, e que tenta
fornecer ferramentas didáticas para a articulação de ações. Para tanto, entende-se que a
interface do serviço deve ser acessível aos mais diferentes setores da sociedade e, por isso,
seus pontos de contato devem assumir diferentes aspectos, físicos e digitais. Considerou-se a
internet como canal indispensável a essa tarefa pela disponibilidade, possibilidades interativas
e baixo custo, bem como o SMS (Short Message Service) pela abrangência e facilidade de uso.
Como mídia física, o projeto prevê, em uma fase inicial da implementação, a criação de murais
comunitários (apelidados de Zunzunzum) produzidos e mantidos pelos usuários do serviço.
Pela própria natureza do trabalho social, o projeto propõe a participação ativa dos usuários,
não apenas como consumidores do serviço, mas como agentes propagadores e produtivos e
sem os quais o serviço não se mantém nem se justifica.
Fica claro, ao conhecer experiências de comunidades criativas, como é possível realizar
grandes mudanças na sociedade partindo de pequenas ações e poucos recursos. Em todos os
lugares existem pessoas interessadas ou já mobilizadas neste sentido. Criar mecanismos de
comunicação e interação entre estes possíveis atores é um caminho viável, sustentável e justo
de promover o desenvolvimento e a qualidade de vida. Neste sentido, o design de serviços
colabora para transformação da perspectiva atual do mercado, de soluções baseadas em
objetos para soluções baseadas em experiências e interações interpessoais.

Referências
Boff, C. (1986). Como Trabalhar Com o Povo. 7º ed. Petrópolis: Vozes.
Gilchrist, A. (2009). The well connected community. 2º ed. Bristol: Policy Press.
Mager, B. (2007). Service design. In M. Erlhoff; T. Marshalle (Eds.). Design Dictionary:
Perspectives on Design Terminology. Basel: Birkhauser, p.354-357.
Meroni, A. (2007). Creative communities: People inventing sustainable ways of living. Milan:
Poli.Design.
Moritz, S. (2005). Service design: pratical access to an evolving field. Cologne Germany
Köln International School of Design. 32.
Papanek, V. (1995). Arquitectura e design. Ecologia e ética. Lisboa: Edições 70.
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Schneider, J. et al. (2010). This is service design thinking. Amsterdan: BIS Publishers.

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Análise sobre o posicionamento do uso da fibra natural
amazônica tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o
desenvolvimento de produtos semi-industriais (Analysis
positioning about the use of the natural fiber Amazon
tucumã-i (Astrocaryum acaule) for the development of
semi-industrial products.)

Karla Mazarelo Pacheco 42

Bernabé Hernandis Ortuño 43

Almir de Souza Pacheco 44

palavras chave: Design; Produto; Fibra Natural da Amazônia.

Este artigo apresenta uma análise relativa às tomadas de decisões que o designer deve considerar com
relação ao estudo da prospecção do uso da fibra natural amazônica tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o
desenvolvimento de produtos semi-industriais. O documento descreve as opiniões e idéias fornecidas por
11 especialistas de áreas correlacionadas ao referente estudo: Design de Produto; Engenharia de
Produção; Engenharia Têxtil; Engenharia Florestal e Ambiental; Engenharia Química; e Economia de
Mercado e Produtos, todas coletadas através de uma entrevista em profundidade. Os dados foram
analisados por meio de freqüências e calculo de medias. Como resultado, os profissionais entrevistados
identificaram e relacionaram algumas oportunidades e limitações para o procedimento da investigação.
Dos fatores primordiais destacados estão: o processo e o registro de evolução da fibra em questão - do
estágio artesanal ao semi-industrial; o valor atribuído aos materiais naturais e com denominação
de origem; as tecnologias modernas ao processo de transformação de matérias-primas; os
benefícios sócio-ambientais e econômicos; a variedade das categorias de uso e de produtos no
mercado de fibras naturais. Neste contexto o design poderá atuar como ferramenta estratégica
para a transformação da fibra, qualidade dos processos e alcance de novos mercados.

Keywords: Design; Product; Amazon Natural Fiber

This article presents an analysis about decisions making that designer should consider in relation to the
study of the use of natural Amazon fiber of tucumã-i (Astrocaryum acaule) for the development of semi-
industrial products. The document describes opinions and ideas provided by 11 experts referring to the
related areas of study: Product Design, Production Engineering, Textile Engineering, Forestry and
Environmental Engineering, Chemical Engineering, and Economics Market and Products, all collected
through an in-depth interview. Data were analyzed using frequencies and calculating averages. As a result,
the professionals identified some opportunities and limitations for investigation. The principal factors
highlighted are: the process of evolution and the record of such fiber - stage craft to the semi-industrial; the
value attributed to natural materials and designation of origin, the modern technology to the process of
transformation of raw materials and the benefits social- environmental and economic; the variety of use
categories and products in the natural fibers market . In this context, the design will be as a strategic tool
for the transformation of the fiber, in the quality of processes and for the reach new markets.

42
Universidade Federal do Amazonas – UFAM/Brasil karlamazarelo@hotmail.com
43
Universidad Politécnica de Valencia – UPV/Espanha bhernand@degi.upv.es
44
Universidad Politécnica de Valencia – UPV/Espanha aldesou@etsid.upv.es
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1 Introdução

As fibras naturais tem sido o foco principal de muitos pesquisadores nos últimos anos. A busca
por novos materiais se apresenta como uma oportunidade única de encontrar soluções
alternativas e inovadoras às áreas ainda não exploradas. O que significa avançar em direção
ao sucesso, conquistando posições dominantes e promissoras (Reis Neto,2003).
O interesse por esses tipos de matérias-primas se dá em função de apresentarem baixa
densidade, alto módulo específico, serem menos abrasivas aos equipamentos de
processamento, quando comparadas com outros recursos - pois são renováveis,
biodegradáveis e recicláveis, o que lhes permite competir com outros materiais fósseis e
industrializados (Leão, 2005).
Esses aspectos são considerados vantajosos ao mercado de produtos e ainda podem ser
mais valorizados, uma vez que o avanço tecnológico tem mostrado que o uso de fibras naturais
já não pode ficar limitado apenas às aplicações tradicionais (Oashi,1999).
Neste contexto, busca-se atribuir uma atenção especial às fibras vegetais da Amazônia
brasileira, região dotada de uma biodiversidade considerada como o maior potencial natural do
mundo contemporâneo e que vem servindo de material para estudos científicos e insumos às
bioindústrias (Pletsch, 1998).
Os produtos extrativistas amazônicos além de apresentarem características naturais
qualitativas, também constituem fontes importantes de renda às populações florestais, que se
torna mais um motivo à reforçar as iniciativas de fortalecer e ampliar os mercados para novos
produtos (Schwartzman, 2004).
Desta forma, pretende-se orientar à obtenção de informações e direciona o uso da fibra
natural Amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos
semi-industrial, de acordo com o posicionamento de especialistas atuantes em áreas
correlacionadas ao tema.
A fibra é identificada como um recurso vegetal, pouco explorado e conhecido, contudo se
destaca pela produção sustentável e adaptação a diversos tipos de produtos de segmento
decorativo e utilitário. Informações pertinentes ao seu uso no mercado industrial não são
identificadas pelo universo científico. Os poucos registros observados descrevem práticas
empíricas e artesanais (Maciel, 2007).
No entanto, estudos recentes, relatam que se trata de uma matéria-prima com
características tecnológicas em potenciais, com compatibilidade de uso para o segmento têxtil,
principalmente por apresentar boa resistência à tração e flexibilidade no desdobramento; índice
nulo à reação tóxica; umidade e densidade satisfatórias, entre outras (Maciel, 2008).
Portanto, a proposta de analisar o universo do objeto de estudo para o uso semi-industruial,
parte de princípios e informações relacionadas aos seus aspectos de produção e
transformação - unicamente artesanal, que consideram ser algo muito brusco tentar adaptá-lo,
nesse primeiro momento, diretamente ao processo industrial, sem que haja o apoio de
experimentos técnicos, teóricos e práticos - registrados cientificamente para o devido
procedimento, uma vez que são indispensáveis às etapas de planejamento, gestão e
desenvolvimento de produtos em alta escala.
Como trabalho científico que visa contemplar o uso semi-industrial da fibra de tucumã-i
(Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos, construir e sistematizar informações
pertinentes com base no conhecimento de profissionais experientes, relatando as idéias e as
sugestões para a melhor utilização dessa matéria-prima, valida as possíveis formas de
transformação, inovação e aplicação diferenciada a serem oferecidas por ela.
Dessa forma, uma análise relativa às tomadas de decisões que o designer deve considerar
com relação ao tema proposto, torna-se o ponto-chave desse artigo, que também contempla os
seguintes objetivos:
 Apresentar uma abordagem teórica sobre o uso das fibras vegetais em produtos, a
fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) e os aspectos semi-industriais para fabricação
de produtos;
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 Aplicar uma entrevista em profundidade com especialistas de áreas correlacionadas ao
tema em estudo;
 Verificar o grau de aceitação do objeto de estudo para o uso semi-industrial em
produtos;
 Identificar os aspectos a serem considerados para o uso da fibra de tucumã-i
(Astrocaryum acaule) ao desenvolvimento de produtos semi-industriais.

2 O uso das fibras vegetais para o desenvolvimento de produtos

Desde que estudiosos passaram a explorar, investigar e divulgar as fibras naturais como opção
para atender às necessidades básicas do homem, observar-se que tal propósito ultrapassa
essas funções iniciais e chega à atualidade com uma gama variada para utilização no mercado
de produtos (Figueiras, 2008).
O campo de emprego das fibras naturais é bastante amplo, abrangendo desde as
aplicações clássicas na indústria têxtil até o reforço de matrizes poliméricas termoplásticas e
termofixas (Nunes, Franca, & Oliveira, 2009).
O renovado interesse pelo uso industrial das fibras naturais, levou-as a um processo de
investigação mais elevado, a nível mundial, para a fabricação de uma série de produtos a partir
das fibras vegetais (Olesen, 1997), por apresentarem vantagens com relação a outros tipos de
materiais, como por exemplo: baixo custo, alta tenacidade, boas propriedades tecnológicas,
redução de energia e tempo, biodegradabilidade, entre outros (Holbery and Houston, 2006).
As novas utilizações finais, das fibras celulósicas, demonstram ser tecnicamente viável e a
consciência crescente dos aspectos ecológicos de suas produções e consumo tem sido uma
líder para a tendência do uso sustentável dos recursos naturais (Van Dam, Van Vilsteren,
Zomers, Shannon, & Hamilton, 1994). Muitas delas têm sido aplicadas como matérias-primas
para compor materiais novos como é o caso da juta, do sisal, do coco, do rami, do cânhamo, e
outras, que além de estarem enquadradas nos ciclos ecológicos, apresentam um grande
potencial comercial (Bledzki & Gassan, 1999).
O maior emprego das fibras vegetais para a fabricação de produtos industriais, semi-
industriais, e/ou produtos de nicho, com o mínimo impacto ambiental tem necessitado do
conhecimento de suas propriedades básicas, implicando aos envolvidos na produção e
crescimento das plantas, uma noção básica sobre o desempenho exercido por essas, cujo o
aproveitamento em escalas maiores exige desafios comerciais com força elevada ao
incremento da cadeia produtiva que, para as culturas de fibras vegetais, divide-se em três elos
principais: a produção agrícola, o processamento de fibras e utilização final (Van Dam,1999).
A sequência atribuída ao cultivo dessas matérias-primas, para a aplicação em produtos,
requer um cuidado especial que não leve tal propósito à exaustão e, com isso, causar
desequilíbrio e degradação ambiental, refletindo na carência dos recursos naturais, meios
financeiros e talentos humanos que acarretem obstáculos ao crescimento econômico (Reis
Neto, 2003).
O emprego das fibras vegetais deve ocorrer dentro dos limites físicos dos ecossistemas,
considerando os aspectos intrínsecos do material, além de concentrar esforços no uso mais
eficiente de energia e recursos, em processos de produção não-poluentes, na redução de
resíduos e emissões e no gerenciamento de riscos tecnológicos (Bortolanza, 1999).

3 Fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) da Amazônia brasileira

Dados referentes ao gênero Astrocaryum, sobretudo a espécie acaule, estão a apontá-lo como
um grande fornecedor de fibras naturais para a produção artesanal em abundância na
Amazônia brasileira, mas especificamente na região norte do Brasil (Miranda, 2001).
É um produto natural proveniente de palmeira nativa, com caule subterrâneo predominante

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de terra firme ou de várzea, medindo entre 6 a 15 metros de altura. É notável por apresentar
uma composição paisagística. Fornece frutos suculentos e aromáticos que, em tom alaranjado,
se destacam no meio da coroa foliar (Miranda, Rabelo, 2008).
A espécie possui um impacto visual muito forte, devido ao tamanho das folhagens e da
coloração em tom verde escurecido. Suas potencialidades econômicas estão centradas nas
folhas, com a extração de fibras de alta resistência (Miranda, 2001)
O tucum, também conhecido por tucumã-i (Astrocaryum acaule), está localizado em grande
parte na região do Alto Rio Negro, estado do Amazonas (Figura 1), onde é produzido, cultivado
e manuseado, de forma sustentável, por comunidades indígenas e caboclas, que por tradição
são consideradas como as maiores conhecedoras e consumidoras dessa matéria-prima
(Maciel, 2007).

Figura 1. Palmeira, folhas, fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) e a sua área de localização na Amazônia brasileira

A atividade extrativista feita na área mencionada demonstra ser a mais organizada e com
maior grau de sofisticação técnica de produção florestal não-madeireira da Amazônia. O uso
sustentável das suas bases de recursos é feito pelas próprias comunidades indígenas e
caboclas (Menezes, 2005).
A produção sustentável de tucumã-i (Astrocaryum acaule) valoriza a fibra desde o momento
do seu cultivo, já determinando a função para a qual a matéria-prima será destinada e definida.
O processo é totalmente manual (artesanal), dispondo apenas de instrumentos domésticos
produzidos pelas próprias comunidades, contemplando: a escolha da planta, a técnica de corte,
lavagem e secagem, aplicação de tingimento natural, fixação da cor, amarração das ramas,
técnica de fiação e, por fim, a tecelagem dos fios (Santos, 2002).
O método produtivo da fibra busca estar de acordo com as normas da Comissão Mundial
sobre o meio ambiente, criada pela ONU, tentando fazer dela um recurso natural capaz de
suprir as necessidades atuais sem comprometer as gerações futuras e, ainda, gerar emprego e
melhores condições de vida para as suas comunidades produtoras (Maciel, 2008).
Dos produtos artesanais fabricados com a fibra de tucumã-i (Figura 2) destacam-se: tecidos,
toalhas de mesa, mantas, cestos, bolsas, chapéus, pulseiras, colares, cintos, calçados e entre
outros. A comercialização é feita através da compra ou venda da fibra no seu estado in natura
ou, então, já transformada em produto artesanal. A atividade é exercida em centros comerciais,
feiras e eventos culturais. Os principais mercados alcançados com a venda desse produto são
a capital do estado do Amazonas - Manaus, alguns estados brasileiros e alguns países da
América do Norte, América do Sul e Europa (Menezes, 2005).

Figura 2. Alguns dos produtos artesanais desenvolvidos com a fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule)

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A questão sustentável, a qualidade da matéria-prima, os aspectos sócio-culturais, a
demanda de mercado e o resultado da sua aplicação em produtos artesanais estão chamando
a atenção de muitos turistas, ONGs (Organizações Não-Governamentais) e empresas do
segmento industrial.
No entanto, a produção e o consumo são bastante diferenciados no tempo e no espaço,
devido existir uma difícil compreensão, por parte das comunidades, em atender certa ou até
necessária adequação entre as exigências do mercado regional e as características
tradicionais valorizadas pelas unidades produtoras (Cano, 1998).
Tal realidade corresponde a desafios e superação, em busca de inovações e qualidade dos
produtos para a concorrência, sem temer dificuldades ou fracassos, relacionando sua produção
nas operações econômicas, na organização, na comercialização e na gestão necessária ao
funcionamento de seu empreendimento (Barreto, 2007).
O desenvolvimento de novos produtos competitivos não é uma tarefa fácil, em função da
exigência do mercado e do esforço contínuo de renovação para aqueles que se acostumaram
a produzir, os mesmos produto durante anos e que precisam oferecê-los como novos e
criativos (Tassinari, 1995).
Portanto, sintetizar informações à tomada de decisões, solucionar problemas e querer cada
vez mais dados relevantes para determinados fins, beneficiando o uso de novos materiais à
fabricação dos produtos, à melhoria dos serviços e à mudança de um sistema mais eficaz na
produção desses materiais possibilita criar produtos de sucesso, uma vez, que podem ser tão
importantes (se não mais) para investir no projeto do processo de concepção, assim como na
concepção do próprio produto (Buxton, 2007).

4 Aspectos semi-industriais para a fabricação de produtos

A procedência do processo semi-industrial, aplicado ao desenvolvimento de produtos, pode ser


compreendida a partir de referencias feitas sobre as transformações nos meios de fabricação
(Revolução Industrial) ocorridas na Europa, entre os séculos 18 e 19 (Cardoso, 2004)
corroborado pelo surgimento do movimento Arts and Crafts, os quais contextualizavam o
posicionamento de idéias sobre as produções industriais e artesanais(Pevsner, 2002), que:
 Em um primeiro momento → o projeto e a execução de objetos de forma artesanal ou
semi-industrial retratava a recuperação dos valores produtivos tradicionais, buscando
uma relação mais democrática entre os trabalhadores e um elevado padrão de
qualidade de materiais e de acabamento (Cardoso, 2004); e
 Em um segundo momento → a viabilização da comercialização de produtos de bom
design, em grande quantidade, necessitavam de um ponto de equilíbrio que pudesse
envolver o processo de mecanização (Fiell ; Fiell, 2001).
Em meio essas informações compreende-se que o progresso tecnológico tornava-se
irreversível à criação de formas capazes de manter as tradicionais habilidades técnicas

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humanas em parceria às novas tecnologias de produção industrial, sugerindo novos conceitos
educacionais para um novo tipo de desenhador que pudesse entender e explorar as
particularidades das máquinas com arte e sensibilidade estética (Pevsner, 2002).
Para tanto, a participação do design surge atrelada à diferenciação dos produtos e
otimização da produção, sendo vista como o cruzamento, a relação entre arte e ciência - a
partir da integração das artes e ofícios, e também como arte popular no sentido da arte prática
presente no cotidiano destinada ao homem na sociedade da cultura material e imaterial
(Wollner, 2002).
Apesar do design pertencer à esfera produtiva, ainda guarda relações de proximidade,
referência e diálogo com a arte (Villas-Boas, 1998),uma vez que design é produção de cultura e
de linguagem, porém um projeto não existe, isto é, não pode ser materializado sem a
tecnologia. E antes da tecnologia ser aplicada, deve existir um projeto com conceito e
propostas indicando a aplicação, a sistematização e a utilização das técnicas (Moura,2003).
Relacionar o design ao processo de transição do estado artesanal ao industrial é envolver a
consideração do grau de reprodutibilidade de um objeto e da qualidade seja do projeto, seja de
sua execução (Cunha de Castro, 2009). E para o desenvolvimento semi-indutrial de produtos
(com características artesanais) em série, essa relação e produção podem dispor da utilização
de moldes e fôrmas, máquinas e equipamentos de reprodução, assim como, da colaboração de
pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo (Mascêne, 2010).
A possibilidade de projetar pequenas séries diferenciadas para produção em ambientes
tradicionais viabilizava, portanto, uma forma de design que interpretava a cultura
contemporânea e local, partindo do contexto produtivo artesanal para dotá-lo de estratégia e
método, tornando-se competitivo no âmbito do mercado e contribuindo na busca do
desenvolvimento sustentável (Cunha de Castro, 2009).

5 Materiais e Métodos

A pesquisa é de caráter descritivo-exploratória, utilizando técnicas quantitativas e qualitativas,


ambas baseadas em marco teórico que possibilita uma aproximação conceitual sobre o tema
abordado (Gil, 2002). O procedimento qualitativo foi a dequado à obtenção das percepções
dos participantes consultados sobre questões e fatos sociais relativos ao status atual do
fenomeno estudado e para descrever a natureza das condições existentes sobre a situação
(Trochim, Donnelly, 2007).
A coleta de dados foi feita por pesquisa bibliográfica e documental, além disso, foi aplicada
uma entrevista em profundidade com 11 especialistas, pertencentes às áreas de Design de
Produto, Engenharia Florestal e Ambiental, Engenharia Têxtil, Engenharia de Produção,
Engenharia Química, Economia de Mercado e Gestão Produtos. A intenção da aplicação dessa
técnica foi de explorar o posicionamento e as perspectivas desses profissionais sobre a
proposta do estudo. Tal método é considerado não-estruturado e direto de obter informações,
sendo realizado com cada pessoa de forma individual (Malhotra, 2006).
Por ser um estudo a envolve uma fibra natural amazônica para o desenvolvimento de
produtos semi-industriais, e estar em processo de investigação sobre a coordenação da Escola
Técnica Superior de Engenharia do Design – ETSID da Universidade Politécnica de Valência -
UPV/ Espanha, optou-se por aplicar a entrevista com profissionais atuantes em Instituições de
Ensino e Pesquisas Tecnológicas, Empresas e Universidades localizadas no Brasil (sobretudo
região Norte), Portugal e Espanha.
O procedimento foi realizado num prazo de três meses, considerando o tempo para
aplicação das entrevistas e para as análises dos resultados, sendo iniciado no mês de agosto
de 2010, através de um formulário preparado e enviado aos informantes, por correio eletrônico
juntamente com uma nota, em anexo, explicando a natureza da pesquisa. O documento
apresentou 24 questões, elaborado a partir de temas relevantes apontados na literatura.
Para a presente publicação, que é parte de um estudo maior, foram explorados os
resultados de 10 questões do roteiro, em consonância com os objetivos do artigo, focalizando
os seguintes aspectos: 1. Apreciação das fibras naturais vegetais para fabricação de produtos;
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2. Valores atribuídos aos produtos feitos com fibras vegetais; 3. Aprovação da inserção de
novas fibras vegetais ao mercado de produtos; 4. Aceitação da fibra de tucumã-i (Astrocaryum
acaule) para o uso semi-industrial em produtos; 5. Credibilidade para o processo de
transformação semi-industrial da fibra; 6. Variáveis consideradas importantes ao processo de
transformação da fibra; 7. Vantagens a serem oferecidas pela fibra com o processo de
transformação semi-industrial; 8. Características tecnológicas a serem consideradas ao uso da
fibra; 9. Critérios para certificação dos produtos semi-industriais feitos com a fibra; e, 10.
Categorias de uso para a aplicação semi-industrial da fibra.
Os dados quantitativos foram organizados e analisados a partir da distribuição de freqüência
e o cálculo de médias.

6 Resultados

A amostra analisada apresentou um número maior de profissionais residentes e trabalhando no


Brasil (Tabela 1), enquanto os demais são especialistas de Portugal e Espanha.

Tabela 1: Caracterização da amostra – Nacionalidade dos profissionais entrevistados

Nacionalidade Freqüência Porcentagem


Brasil 7 63,6%
Portugal 3 27,3%
Espanha 1 9,1%
TOTAL 11 100%

Dos campos de atuação profissional (Tabela 2), a área de maior destaque, identificada na
amostra, pertence ao ‘design de produto’. Em seguida temos a ‘engenharia têxtil’ e a
‘engenharia de produção’. As engenharias florestais e ambientais, química e economia de
mercado e gestão produtos, contemplaram um número menor de profissionais colaboradores.

Tabela 2: Caracterização da amostra – Áreas de atuação profissional

Atuação Profissional Freqüência Porcentagem


Design 4 36,4%
Eng. Têxtil 2 18,2%
Eng.Produção 2 18,2%
Eng. Florestal e Ambiental 1 9,1%
Eng.Química 1 9,1%
Economia 1 9,1%
TOTAL 11 100%

A maior parte dos entrevistados destaca os profissionais vinculados aos ‘centros de


investigação e desenvolvimento têxtil’ (Tabela 3). Na seqüência estão os ‘institutos de pesquisa’
e as ‘empresas de atuação em design’. As universidades, centros de ensino e demais locais de
atuação, formaram a menor parte constituíta pelos participantes entrevistados.

Tabela 3: Caracterização da amostra – Locais de atuação dos entrevistados

Locais de atuação dos entrevistados Freqüência Porcentagem


Centros de Invest. e Desenv. Têxtil 4 36,4%
Institutos de pesquisa 2 18,2%
Empresas de design 2 18,2%
Universidades Federais 1 9,1%
Centros de Ensino 1 9,1%
Outros 1 9,1%

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TOTAL 11 100%

Dos perfis de trabalho apresentados pelos locais de atuação, os que ‘estudos em design’
demonstraram maior evidência (Tabela 4), seguidos pelos que trabalham com ‘estudos de
fibras têxteis’ e ‘gestão e fabricação de produtos’. Os demais recintos, por ter poucos
representantes, não apresentaram uma ênfase muito elevada.

Tabela 4: Caracterização da amostra – Locais de atuação dos entrevistados

Perfis dos locais de atuação Freqüência Porcentagem


Estudo em design 4 36,4%
Estudo de fibras têxteis 2 18,2%
Gestão e fabricação de produtos 2 18,2%
Estudo e Uso dos Recursos Naturais 1 9,1%
Estudo de Mercado & Produtos 1 9,1%
Outros 1 9,1%
TOTAL 11 100%

De acordo com os aspectos observados, com base nas 11 perguntas formuladas partir de
temas relevantes apontados na literatura, os especialistas apresentaram os seguintes
posicionamentos quanto a (o):
1. Apreciação das fibras vegetais para a fabricação de produtos
Todos os profissionais apresentaram um nível de apreciação bastante elevado (100%), sendo
favorável ao uso das fibras vegetais para o desenvolvimento de produtos (Tabela 5). O alto
índice foi justificado em função dos valores atribuído aos materiais naturais: recursos
renováveis com propriedades desejáveis para aplicação em produtos; menos abrasivos que as
fibras artificiais; serem biodegradáveis; fonte de renda para promover a segurança alimentar de
muitas comunidades produtoras, e entre outros aspectos.

Tabela 5: Nível de apreciação do uso das fibras vegetais para a fabricação de produtos

Uso das fibras Freqüência Porcentagem


naturais em produtos
Sim 11 100%
Não 0 0%
TOTAL 11 100%

2. Valores atribuídos aos produtos feitos com fibras vegetais


A maioria dos entrevistados valorizou como muito importante (Tabela 6) os produtos feitos com
fibras vegetais, devido apresentarem baixo custo tecnológico, serem eco-eficientes,
diferenciados, variados, inovadores, resistentes e apresentarem conforto e qualidade aos seus
consumidores.

Tabela 6: Valores atribuídos aos produtos feitos com fibras vegetais

Valores Freqüência Porcentagem


Pouco importante 4 36,4%
Importante 2 18,2%
Muito importante 5 45,5%
Bastante importante 0 0%
TOTAL 11 100%

Sendo assim, dos atributos associados aos produtos, de qualidade, fabricados com as fibras
vegetais, os entrevistados consideraram positivos ( com media > 2) - numa escala de 1 a 4 –
onde 1 significa ‘pouco importante’ e 4 ‘bastante importante’(Tabela 7).
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Tabela 7: Valores associados aos produtos, de qualidade, feitos com fibras vegetais

Atributos Total (Médias)


Elegância 2,73
Origem da fibra 3,45
Tradição 3,18
Modernidade 2,55
Inovação 3,55
Variedade 3,27

Os especialistas avaliaram como atributos ‘muito importantes’ (media > 3): em primeiro lugar
a ‘inovação’, seguida pela ‘origem da fibra’, a ‘variedade’, e a ‘tradição’. Como atributos
importantes (media entre 2 e 3): a ‘elegância’ e a ‘modernidade’. Sendo esse último um
predicado que menos influenciaria aos produtos feitos com fibras vegetais.
A figura 3 ilustra as medias de valores apresentadas para os aspectos, mais e menos,
evidenciados pelos entrevistados nesse quesito.

Figura 3. Médias apresentadas aos aspectos de Inovação (mais evidenciado) e Modernidade (menos evidenciado)

3. Aprovação da inserção de novas fibras vegetais no mercado de produtos


Todos os especialistas mostraram-se favoráveis (100%) a inserção de novas fibras vegetais no
mercado de produtos (Tabela 8), devido ser matérias-primas competitivas para a fabricação de
produtos inovadores e ao alcance de novos mercados.

Tabela 8: Nível de aprovação da inserção de novas fibras vegetais no mercado de produtos

Inserção de novas Freqüência Porcentagem


fibras no mercado
Sim 11 100%
Não 0 0%
TOTAL 11 100%

4. Aceitação da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o uso semi-industrial em


produtos
Os entrevistados foram unanimes (100%) quanto à aceitação da fibra de tucumã-i (Astrocaryum
acaule) para o uso semi-industrial em produtos (Tabela 9). Eles acreditam que a fibra apresenta

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boas vantagens com relação: ao seu processo produtivo; aos benefícios socio-econômicos que
poderão gerar; as características tecnológicas já identificadas; a viabilidade para aplicação em
produtos artesanais e; o forte valor da sua denominação de origem - matéria-prima amazônica.
O uso da fibra para desenvolver produtos, nessa categoria de processo, ainda, poderá propor
novas categorias de produtos e, ainda, conquistar um bom posicionamento no mercado.

Tabela 9: Grau de aceitação da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos

Aceitação da fibra de Freqüência Porcentagem


tucumã-i
(Astrocaryum acaule)
Sim 11 100%
Não 0 0%
TOTAL 11 100%

5. Credibilidade para processo de transformação semi-industrial da fibra


A maioria dos especialistas entrevistados, acreditam ser positivo (Tabela 10) o processo de
transformação semi-industrial da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule). Eles consideram que
adaptar a fibra de modo a contribuir para a sua evolução - do estágio artesanal ao semi-
industrial - poderá ser um grande marco para o ramo científico, uma vez que a espécie
analisada não dispõe de muitos registros técnicos e experimentais nesse sentido e, ainda,
apresentar novas formas para aplicação em produtos. No entanto, ressaltam que o processo de
transformação deve ser auxiliado a partir de um registro sistematizado das informações
coletadas sobre os aspectos intrínsecos do objeto de estudo.

Tabela 10: Nível de credibilidade - processo de transformação semi-industrial da fibra

Credibilidade - Processo Freqüência Porcentagem


de transformação semi-
industrial da fibra
Sim 9 81,8%
Não 2 18,2%
TOTAL 11 100%

6. Variáveis consideradas importantes ao processo de transformação semi-industrial da


fibra
Das variáveis consideradas importantes ao processo de transformação semi-industrial da fibra ,
as de maior representatividade foram as ‘características Intrínsecas’ (Tabela 11) da matéria-
prima estudada. Os ‘aspectos socio-ambientais’ também receberam uma atenção especial,
seguidos pela ‘origem da fibra’, ‘tipo de processos/transformação dos materiais’, ‘normas para
certificação’ e por último, com importância não muito elevada, o ‘tipo de produção/tecnologia ’.

Tabela 11: Variáveis importantes - processo de transformação semi-industrial da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule)

Variáveis Total (Médias)


Origem da fibra 2,36
Tipo de produção/tecnologia 1,82
Características intrínsecas da fibra 3,36
Normas para certificação 2,27
Tipo de processo/transformação dos materiais 2,27
Aspectos socio-ambientais 2,55

Mesmo sendo todas consideradas importantes (média > 1) pelos entrevistados, as variáveis,
ainda assim, apresentaram valores diferenciados quanto ao grau de importância. Na escala de
valoração: 1 significa ‘pouco importante’ e 4 ‘bastante importante’. A figura 4 ilustra as médias
atribuídas às ‘características intrínsecas da fibra’ e ao ‘tipo de produção e tecnologia’ como as
mais e menos evidenciadas para esse quesito

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Figura 4. Médias de valores apresentadas às variáveis, mais e menos, evidenciadas pelos entrevistados.

7. Vantagens a serem oferecidas pela fibra com o processo de transformação semi-


industrial
A maior parte dos entrevistados avaliou que a transformação semi-industrial da fibra de
tucumã-i (Astrocaryum acaule), poderá oferecer como vantagem principal o ‘alcance de novos
produtos’, por a fibra apresentar um perfil característico ao mercado das fibras naturais -
oferecendo aspectos sustentáveis e socio-culturais, demanda variada para a sua aplicação em
produtos, até o momento por processo artesanal, e que tem despertado a atenção de
consumidores. Outros aspectos favoráveis foram: a ‘maior eficiência e competitividade’, uma
vez que apresenta um esquema de produção simples e empírico, mas que gera bons
resultados; e ‘mais qualidade aos produtos’ - atribuindo melhor acabamento e novas formas de
aplicação para o uso destes.
Assim sendo, a maioria dos aspectos foram considerados positivos (com media > 2), numa
escala de 1 a 4 – onde 1 significa ‘pouco importante’ e 4 ‘bastante importante’ (Tabela 12).

Tabela 12: Vantagens fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) com o processo de transformação semi-industrial

Variáveis Total (Médias)


Alcance de novos mercados 3,36
Maior eficiência e competitividade 2,73
Mais qualidade aos produtos 2,45
Redução de custos 2,09
Novas tecnologias 2,09
Aumento de produção 2,00
Maior controle do processo 2,09
Outras 1,82

Conforme os valores das medias apresentadas, o item ‘alcance de novos mercados’


continuou com o grau mais elevado, posicionado como ‘muito importante’. O aspecto
relacionado a ‘outras’ foi o elemento que menor demonstrou evidência (Figura 5).

Figura 5. Médias de valores apresentadas às vantagens, mais e menos, evidenciadas pelos entrevistados.

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8. Características tecnológicas a serem consideradas ao uso da fibra
Os especialistas consideraram como ‘importantes’ todas as características tecnológicas
apresentadas (com médias entre 2 e 3) . No entanto, o fator com maior relevância, identificado,
corresponde a ‘resistência’ (com media > 3) - numa escala de 1 a 4 – onde 1 significa ‘pouco
importante’ e 4 ‘bastante importante’ (Tabela 13).
A preferência pela ‘resistência’ se dá em função das normas e certificações - de parâmetro
nacional e internacional, especificadas, exigidas e aplicadas às empresas que trabalham com
fibras: naturais e não-naturais aplicadas em produtos, sobretudo, na área têxtil.

Tabela 13: Características tecnológicas a serem consideradas ao uso da fibra

Características Total (Médias)


Suavidade 2,64
Resistência 3,36
Elasticidade 2,27
Toxidade 2,91
Ruptura 2,73
Cor 2,55
Textura/brilho 2,36
Lavagem 2,18
Aparência 2,27
Espessura 2,55
Estabilidade da forma 2,36
Outras 2,55

Assim como a ‘resistência’, outras propriedades também receberam médias com valores
altos, como por exemplo: a ‘toxidade’, a ‘ruptura’ que contempla os requisitos de resistência, a
‘suavidade’, a ‘cor’ e a ‘espessura’. A ‘lavagem’ foi o item menos valorado (Figura 6).

Figura 6. Médias de valores apresentadas às características tecnológicas, mais e menos, evidenciadas

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9. Critérios para certificação dos produtos semi-industriais feitos com a fibra
Dos critérios para certificação dos produtos semi-industriais feitos com a fibra de tucumã-i
(Astrocaryum acaule), a ‘qualidade do material’ foi o principal aspecto evidenciado pelos
entrevistados (Tabela 14). A justificativa reforça que os benefícios oferecidos por um produto
natural devem evidenciar desde a sua essência, passando pelo cultivo da matéria-prima, até a
sua customização e acabamento final, proporcionando a melhoria contínua da qualidade de
seus artigos e serviços e, conseqüentemente, a maior satisfação aos clientes.

Tabela 14: Critérios para certificação dos produtos semi-industriais feitos com a fibra

Critérios Total (Médias)


Conforto 3,09
Segurança 2,55
Durabilidade 2,36
Qualidade do material 3,36
Aspecto biodegradável 2,64
Aspecto ecológico 2,73
Resistência 2,64
Outros 2,27

Os critérios foram conceituados como ‘importantes’ (médias entre 2 e 3) e ‘muito


importantes’ (médias > 3). Com valores altos’ também foram enfatizados: o ‘conforto’, o
‘aspecto ecológico’ e o ‘aspecto biodegradável’. O critério ‘outros’, recebeu menos pontuação
(Figura 7).

Figura 7. Médias de valores apresentadas aos critérios para certificação, mais e menos, evidenciados

10. Categorias de uso para a aplicação semi-industrial da fibra.


De acordo com as categorias de uso apresentadas, os especialistas acreditam a linha de
‘acessórios’ é a mais propicia para o emprego semi-industrial da fibra de tucumã-i (Astrocaryum
acaule), por ser uma tendência de produtos fáceis para fabricar, por dispor de tecnologias
simples e eficientes para execução e, principalmente, por ser um possível instrumento de
avaliação (como teste inicial) para os primeiros experimentos, em produtos, com o objeto de
estudo. Após verificar o comportamento da fibra para esse segmento, outros aspectos poderão
ser vistos e/ou revistos para uma melhor aplicação futura ou talvez mais avançada como a
categoria ‘têxtil/vestuário’, que também foi citada e apresentou um bom nível de pontuação
(Tabela 15).

Tabela 15: Categorias de uso a aplicação semi-industrial da fibra

Categorias de uso Total (Médias)


Acessórios 3,20
Decoração 2,36
Têxtil/Vestuário 3,10
Outras 2,11

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Conforme os valores das médias apresentadas, a preferência dos entrevistados contemplou
mais a categoria ‘acessórios’. O item relacionado à ‘outras’ apresentou uma valoração menor
(Figura 8).

Figura 8. Médias de valores apresentadas às categorias de uso, mais e menos, evidenciadas

6 Conclusão

Este artigo apresentou um levantamento de informações referentes a primeira etapa do estudo


da prospecção do uso da fibra natural da Amazônia tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o
desenvolvimento de produtos semi-industriais. A partir de dados bibliográficos e outras
investigações iniciais, feitas a respeito da fibra, foram observados alguns aspectos favoráveis a
um planejamento de ações que facilitem o processo de transformação e adaptação a sua
utilização semi-industrial. Além disso, a prática da entrevista em profundidade com
especialistas de áreas correlatas ao tema de estudo, sinalizou boas oportunidades para esse
prodecimento e, ainda, contribuiu com a obtenção de informações que auxiliarão para o
alcance dos objetivos propostos por essa investigação.
Os entrevistados interpretaram as informações fornecidas e responderam a cada uma das
perguntas elaboradas considerando a realidade apresentada pela fibra de tucumã-i
(Astrocaryum acaule) e todos os contextos atribuídos aos aspectos: social, tecnológico,
econômico, ambiental e científico.
O posicionamento dos profissionais entrevistados apresentou, de forma, unanime à
aceitação da fibra como um novo recurso vegetal a ser inserido no mercado das fibras naturais.
Também se puseram a favor do seu processo de transformação e adaptação semi-industrial,
com o propósito de qualificar, tornar mais eficientes e competitivos os produtos, tanto já
desenvolvidos a partir dela por processo artesanal, quanto para novas categorias de uso, além
de poder alcançar novos mercados.
Eles enfatizam que as características tecnológicas e os critérios para certificação dos
produtos são aspectos primordiais para a aplicação da fibra em qualquer categoria de
produtos. É através deles que se validam os valores atribuídos aos materiais naturais e com
denominação de origem, conferem o processo de transformação da matéria-prima em função
da sua essência e tecnologias empregadas e observam o posicionamento desse processo de
adaptação por meio dos fatores socio-ambientais e econômicos.
Sendo assim, os entrevistados observaram que a proposta do estudo tem como ponto de
partida o processo de transformação da matéria-prima. Para tanto, um registro de informações
que contemplem os seus aspectos intrínsecos, de modo a contribuir para a sua evolução - do
estágio artesanal ao semi-industrial - torna-se importante para o campo científico, uma vez que
a espécie analisada não dispõe de muitos registros técnicos e experimentais.
Outra sugestão é o apoio de uma ferramenta sistêmica que auxilie na estruturação dessas
informações para um planejamento das ações mais eficazes à gestão e uso da fibra, uma vez
que é um recurso natural novo, além de possibilitar a sua inserção no mercado de produtos.
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Nesse contexto, os profissionais entrevistados acreditam que o design poderá participar
como elemento de sistematização das informações, sendo uma ferramenta-chave para a
elaboração estratégica, tomadas de decisões, ações e atribuição de todos esses valores para
um melhor conhecimento, adaptação e utilização da fibra amazônica de tucumã-i (Astrocaryum
acaule) em produtos semi-industriais.

Agradecimento

Os autores agradecem aos especialistas das áreas de Design de Produto, Engenharia Florestal
e Ambiental, Engenharia Têxtil, Engenharia de Produção, Engenharia Química, Economia de
Mercado e Gestão Produtos por suas contribuições para o desenvolvimento desta pesquisa.

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Desenvolvimento de compósito produzido com resina
natural e fibra da semente de açaí (Euterpe precatória).
Development of composite made with natural resin and
fiber from the seed of açaí (Euterpe precatória).

QUIRINO, Magnólia; M.Sc; Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Brasil.


quirino.designer@gmail.com

VASCONCELOS, Raimundo; D.Sc Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Brasil.


vasconcelos@pq.cnpq.br, vasconcelos@ufam.edu.br

Palavras-chave: painel, fibra do açaí, compósito.

Hoje o desafio do design e da engenharia é maior, a pesquisa na área de materiais compósitos


que abrange uma complexidade de elementos e processos, deve estar atrelada ao
desenvolvimento sustentável. Preferencialmente que estes compósitos sejam oriundos da
natureza sem causar impacto ambiental, ou ainda, que sejam resultante de resíduos sólidos ou
rejeito industrial. Desse modo o emprego do compósito na indústria torna-se justificável do ponto
de vista ambiental. O uso de materiais de origem de fontes renováveis demonstra um processo
seletivo consciente para o emprego na indústria. Este modelo econômico responde aos
princípios de sustentabilidade e conseqüentemente identificando a responsabilidade do papel
sócio-econômico. Neste contexto surgem as fibras naturais que são extraídas dos vegetais e
muitas delas não são aproveitadas na sua totalidade. Um exemplo é o açaí (Euterpe precatória),
cuja polpa é consumida em suco, sendo a fibra de sua semente um resíduo acumulado sem
destino certo. Conjugar a fibra do açaí com a resina para a produção de painel representa uma
possibilidade para o desenvolvimento sustentável, atendendo a demanda regional, com um
material que pode ser utilizado tanto na indústria da construção civil como na moveleira, fazendo
melhor o uso da fibra da semente do açaí.

Keywords: panel, fiber açaí, composite.

Today the challenge of design and engineering is greater, the research on composite materials
comprising a complex of elements and processes must be linked to sustainable development.
Preferably these composites are derived from nature without causing environmental impact, or
that resulting from solid waste or industrial waste. Thus the use of composites in the industry
becomes justifiable from an environmental standpoint. The use of source materials from
renewable sources is demonstrating a conscious selection process for employment in industry.
This economic model responds to the principles of sustainability and therefore the responsibility
of identifying socio-economic role. In this context appear the natural fibers that are extracted from
plants and many of them are not exploited in full. An example is açaí (Euterpe precatória), whose
flesh is consumed in juice, and fiber from its seed an accumulated waste without a destination.
Combining fiber with the resin for açaí production panel represents a chance for sustainable
development, meeting the regional demand, with a material that can be used both in the
construction industry and in furniture, making better use of fiber seed of the açaí.

1 Introdução
A pesquisa por materiais que minimizam os impactos ambientais vem aumentando cada vez
mais. Materiais ecologicamente corretos ou ditos “materiais verdes”, que são destinados para a
indústria da construção civil e para a indústria moveleira vêm sendo amplamente pesquisados
por várias vertentes. O problema ambiental é uma responsabilidade de todos, no qual,
prudência ecológica aliada à equidade social ainda é o melhor caminho para o
desenvolvimento sustentável.
Existe uma grande quantidade de recursos naturais sendo extraídos da natureza e
parcialmente utilizados, ou seja, uma extração exagerada e um desperdício no aproveitamento
total destes recursos. A civilização industrial retira da natureza matérias-primas para o
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desenvolvimento de produtos, acarretando uma quantidade excessiva de resíduos e estes, são
devolvidos para a natureza poluindo a biosfera. Este processo provoca um duplo desequilíbrio:
de um lado o esgotamento dos recursos naturais, do outro o aumento dos resíduos
provenientes do consumo crescente.
O design e a engenharia na sua trajetória, sempre procuraram materiais que sejam
apropriados ao projeto em execução, com respostas na durabilidade e nas propriedades
mecânicas. Estes materiais são difíceis de ser encontrados na natureza, então o princípio é
reunir características distintas e desenvolver um compósito, que possibilite conjugar a
resistência mecânica com baixa densidade, por exemplo. Segundo Callister (2000), as fases
constituintes devem ser quimicamente diferentes e separadas por uma interface distinta.
O açaizeiro, Euterpe Precatória é uma palmeira natural da Amazônia brasileira, encontrada
próximo dos igarapés. O estado do Pará segundo ROGEZ (2000) vem sendo o maior produtor
e consumidor do fruto do açaizeiro. São acumulados diariamente em Belém em torno de 300
toneladas de resíduo orgânico decorrentes do açaí, que oscila entre 100.000 a 120.000
toneladas por ano.
Desde a era pré-colombiana o açaizeiro vem sendo explorado, onde a maior exploração
está no fruto, ao passo que, o consumo do palmito é mais recente, a partir da década de 60. O
açaí possui um grande valor nutricional, antioxidante e energético atraindo consumidores de
outras regiões e até do exterior. Na região Norte, todas as partes da palmeira do açaí têm um
uso específico: as folhas são usadas no artesanato e ração animal, os cachos secos servirão
de vassouras, o caule na construção de casas, a raiz é eficaz no combate da malária.
Pesquisar sobre a fibra do açaí e sua aplicabilidade, consiste em entender os seus processos
de consumo e seu emprego. O consumo e a abundância de açaí na região Amazônica,
verificado principalmente na cidade de Manaus, comprova o não aproveitamento da semente e
sua potencialidade.
Existe um interesse em pesquisas para melhor aplicabilidade das fibras naturais na
indústria. Atualmente encontramos fibras que não foram exploradas na sua totalidade, como é
o caso da fibra da semente do açaí. As fibras naturais têm se tornado um forte aliado
econômico e ecológico para as indústrias. Muitas pesquisas estão sendo feitas sobre as fibras
dos vegetais e sendo desenvolvidos vários produtos para diversos fins.
A pesquisa apresentada neste trabalho estudou a viabilidade da fibra da semente do açaí
(Euterpe precatória), na produção de painel com resina, fundamentando-se em estudos a
respeito do comportamento térmico e a caracterização morfológica das fibras, que recobrem o
caroço denominado de mesocarpo do açaí, bem como as análises química e física, e os
ensaios mecânicos. Detalhando as etapas condizentes com os processos que revelem a
viabilidade técnica para a produção de um compósito.

Materiais e métodos

A pesquisa foi executada dividida em três etapas: a primeira trata do referencial teórico a
respeito de temas que são relevantes para o referido estudo, tais como: materiais compósitos,
painéis, açaí e design de superfície. A segunda parte consiste no desenvolvimento da pesquisa
que aborda caracterização morfológica da fibra da semente do açaí, a produção dos painéis e
os ensaios físicos e mecânicos dos painéis, a terceira fase incide nas conclusões,
agradecimentos e referencias. Neste artigo são apresentados os aspectos mais importantes
para o design dos resultados desta pesquisa.

2 Referencial teórico

Materiais compósitos

Segundo Callister (2000), o compósito é uma combinação de materiais, conjugado para


associar as melhores características dos componentes. Entendendo ser importante mencionar,
que estas características são as propriedades e estrutura dos materiais, no qual, define o
conceito dos materiais.

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Lima Júnior (2007) reuniu opinião de diferentes autores com a finalidade de esclarecer o
que vem a ser compósito. Foram várias definições, entretanto é conclusivo que não houve
seguinte ordem: primeiro nome, segundo nome ou inicial (se for o caso) e sobrenome. Após o
discrepância conceitual. Resumidamente definiram os compósitos como uma resultante da
união de dois ou mais materiais distintos em escala macroscópica, buscando superar algumas
características inexistentes e assumir uma combinação de propriedades.

Fibras Lignocelulósicas
As fibras lignocelulósicas segundo Morassi apud Silva (1999) são extraídas de várias partes
como: do caule, da folha, da semente, do fruto e da raiz. Como exemplo é citado as principais
categorias de fibras lignocelulósicas de boa disponibilidade.
 Fibras do caule: linho, juta, cânhamo, quenafe e rami.
 Fibras da folha: sisal, bananeira, curauá, abacá e henequém.
 Fibras da semente: algodão e açaí.
 Fibras da madeira: madeira picada e serragem.
As fibras lignocelulósicas, usadas em materiais compósitos como matérias-primas para
reforço podem ser agrupadas em dois grandes grupos. No primeiro, encontram-se resíduos
agrícolas, por exemplo, cascas de arroz, palhas de cereais, cascas de coco. O segundo grupo
é formado por fibras cultivadas para extração como o linho (Linum usitatissimum), sisal (Agave
sisalana), cânhamo (Cannabis indica), juta (Corchorus capsularis), rami (Boehmeria nivea) e
outros.
A importância dos compósitos reforçados com fibras lignocelulósicas vem crescendo em
vários produtos de engenharia e em especial na construção civil. Ressaltando a
biodegradabilidade das fibras naturais em relação às fibras sintéticas.
A fibra do açaí é uma fibra natural de origem vegetal. Segundo Lima (2007), o termo fibras
lignocelulósicas é empregado para estas fibras, por diferentes autores. As fibras lignocelulósicas
apresentam baixa densidade, resistência e módulo de elasticidade, menor abrasividade, não-
tóxicas e biodegradáveis, além de vantagens ecológicas como fonte natural abundante e
renovável.
Segundo Martins et all (2009), nas últimas décadas, vem crescendo a implementação das
fibras naturais como aditivos ou reforços para compósitos poliméricos, devido o alto preço das
fibras sintéticas e a investigação crescente por materiais de fontes renováveis e de baixo custo.
Preferencialmente estes materiais devem possuir boas propriedades mecânicas e térmicas,
baixa densidade e não causem impactos ambientais. Como resposta positiva para estes estudos
as fibras estão sendo utilizadas nas indústrias da construção civil, da automobilística e da
aeronáutica.

Painéis

Iwakiri (2005) classifica os painéis conforme a densidade, tipos de partículas e distribuição das
partículas na chapa. Painéis com 0,59 g/cm³ é considerado de baixa densidade, a partir deste
valor até 0,80 g/cm³ é estimado de média densidade e o painel de alta densidade corresponde
valores acima de 0,80 g/cm³, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1 – Densidade dos painéis.

Densidade

Baixa > 0,059 g/cm³

Média 0,059 g/cm³ a 0,08 g/cm³

Alta < 0,080 g/cm³

FONTE – Iwakiri (2005).

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A qualidade do compósito está relacionada com o tipo de adesivo, processo de colagem,
condição das laminas (fibras), por fim com o procedimento de prensagem que depende de
varáveis como a temperatura, pressão e tempo.
A norma NBR 14810 qualifica as chapas de madeira aglomerada de acordo com sua
densidade, tipo de adesivo, e geometria das partículas. A densidade média das chapas deve
ser entre 0,59 a 0,80 g/cm³, com geometria das partículas de forma quadrada e retangular.
De acordo com Iwakiri (2003), a distribuição das partículas está determinada em três
grupos: homogêneas, graduada e múltiplas camadas. Esta última pode apresentar três
camadas ou cinco camadas.
As colagens feitas com os painéis de madeira é recorrente um processo físico-químico
denominade de adesão, no qual ocorre uma interação entre as superfícies sólidas e o adesivo.
O adesivo muitas vezes se encontra em forma de gotas ou pó.

AÇAÍ
O açaizeiro (Figura 01), é uma palmeira típica da Amazônia de clima tropical com duas
espécies: Euterpe Oleracea e Euterpe Precatória. Abundante nos estados do Pará, Mato
Grosso, Tocantins, Amazonas, Maranhão e Amapá e em países da América do Sul (Venezuela,
Colômbia, Equador, Suriname e Guiana) e da América Central (Panamá).
Figura 01 – Açaizeiro.

Logo, é na região do estuário do Rio Amazonas que se concentra o maior número dessa
palmeira. Seu cultivo se dá em clima quente e úmido e não suporta longos períodos de
estiagem, porém suporta elevadas temperatura, precipitação pluviométrica e umidade relativa
do ar. São encontradas em solos de várzeas, igapós e terra firme, formando ecossistemas de
floresta natural, conhecidos como açaizais.
De acordo com a I Conferência Estadual das Populações Tradicionais do Amazonas
(2005) realizada cidade Manaus (AM), no período de 8 a 11 de novembro de 2004, fez um
levantamento produção do açaí no estado. A Secretária de Estado do Meio Ambiente de
Desenvolvimento Sustentável – SDS e Secretária Adjunta de Extrativismo – SEAE, em parceria
com o Ministério do Meio Ambiente e WWF-Brasil, foram responsáveis por esta conferência.
Estimando para a produção do açaí no Amazonas no ano de 2004 foi de 7.000 toneladas e
para o consumo de Manaus é cerca de 5.000 t/ano.
Do fruto do açaizeiro é extraído o vinho, polpa ou simplesmente o açaí, como é conhecido
na região. A polpa corresponde 15% e é empregada para fazer sorvetes, licores, doces,
néctares e geléias. O caroço representa a 85% do peso total, cuja essência é matéria-prima
para a

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Figura 02 - Exemplo de módulo
Fonte: Rüthscilling (2008).

Figura 03 - Exemplo de repetição do módulo.


Fonte: Adaptado de Rüthscilling (2008).

Os módulos podem ser replicados de diferentes modos, a saber: translação, rotação e


reflexão (Figura 04). Estes modos se apropriam do mesmo módulo (forma) criando formas
diferentes entre si, o que torna a composição mais atraente visualmente.
1. Translação: o módulo desloca-se sobre um eixo, como mostra a Figura 04 (a).
2. Rotação: o módulo desloca-se radialmente (Figura 04 (b)).
3. Reflexão: o módulo é refletido a partir de um eixo (Figura 04 (C)).

Figura 04 – (a) Exemplo de módulo translação. (b) Exemplo de módulo rotação. (c) Exemplo de módulo reflexão.
Fonte: Rüthscilling (2008).

(a) (b) (c)

Textura
A textura de acordo com Phillips e Lupton (2008) é correspondente com o grão das superfícies,
no qual é percebido pelo tato. Muitas texturas só existem visualmente como efeito ótico (Figura
05), outras existem fisicamente quando referidas a design de produtos.

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Figura 05 - Exemplo de textura ótica.
Fonte: Phillips e Lupton (2008).

3 Desenvolvimento

Caracterização morfológica da fibra do açaí.

A polpa corresponde 15% e é empregada para fazer sorvetes, licores, doces, néctares e
geléias.
Aproximadamente a semente do açaí possui o diâmetro de 8,5 mm e as fibras medem 12 mm
(Figura 06)

Figura 06 – (a) Medidas do diâmetro da semente. (b) Comprimento da fibra do açaí.

(a) (b)

Para melhor visualização da anatomia interna da semente do açaí, Aguiar e Mendonça


(2003) fizeram um corte longitudinal e um corte transversal, como mostra a Figura 07, obtida
por microscopia ótica. A semente internamente é composta basicamente das seguintes partes:
embrião, endosperma, pericarpo, endocarpo e polpa, em conformidade com o desenho
esquemático mostrado na Figura 08.

Figura 07 – (a) Corte longitudinal na semente do açaí. (b) corte transversal na semente.

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Fonte: Adaptado de Aguiar e Mendonça (2003).

(a) (b)

Figura 08 – Anatomia interna da semente do açaí.


Fonte: Adaptado de Lima (2007).

Embrião

Endosperma

Pericarpo

Endocarpo

Polpa

Produção de painéis de fibra de açaí

A produção dos painéis com fibra de açaí e os respectivos ensaios para sua
caracterização foram realizados na Universidade de São Paulo - USP de São Carlos, no
Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira – LaMEM. Para a produção dos painéis de
fibra de açaí foi adaptada a norma para painéis de madeira aglomerada, a NBR 14810-1. Esta
norma trata dos procedimentos de obtenção, preparação e acondicionamento de corpos-de-
prova para ensaios.
Foram realizados oito painéis com a fibra da semente do açaí com 1.300 g adicionado o
adesivo à base de óleo de mamona (poliol) e pré-polímero (derivado de petróleo). A fibra do
açaí foi misturada gradativamente ao pré-polímero e em seguida ao óleo de mamona. Após a
manufatura, os oito painéis passaram 72 horas curando, para dar seguimento a etapa dos
ensaios. Encerrado o período de cura, foram retiradas as aparas dos painéis, foram
esquadrinhados e cortados para o ensaio físico e o ensaio mecânico.
A produção dos painéis consiste basicamente de três etapas: preparo das misturas, pré-
prensagem e prensagem térmica, que são seguidos do período de cura e depois preparados os
corpos-de-prova para os ensaios. os quais serão descritos separadamente.
Após a produção os painéis foram devidamente classificados por um código alfa-numérico.
Após a produção e antes de iniciar os ensaios, os corpos-de-prova passam por um período de
estabilização que dura 72 h.

Primeira etapa: preparo das misturas.

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Esta etapa consiste em homogeneizar gradativamente a fibra com os dois adesivos. Uma
homogeneização é feita manualmente (Figura 09 (a)) a outra é mecanicamente (Figura 09 (b)).

Figura 09 – Mistura da fibra do açaí com os adesivos: (a) Homogeneização manual; (b) Homogeneização mecânica.

(a) (b)

Segunda etapa: pré-prensagem


Após o material ser homogeneizado totalmente este é colocado dentro de um molde feito
de madeira de 40 x 40 cm, que por sua vez encontra-se sobre uma bandeja metálica revestida
de material antiaderente, as quais são posicionados numa prensa mecânica, submetidos a uma
força de 150 Kg (Figura 10). Nesta etapa é formada uma placa pré-prensada denominada
colchão, pronta para a próxima etapa (Figura 11).

Figura 10 – Pré-prensa com molde e a mistura.

Figura 11 – Pré-prensa: retirada do molde, feito o colchão.

Terceira etapa: prensagem térmica

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Retira-se o molde sobre o colchão e leva-o com a bandeja metálica para colocar na prensa
hidráulica térmica, equipamento da marca Marconi (Figura 12).
O painel preliminar foi submetido a uma pressão de 4,1 MPa, durante um período de 15
minutos. Após 15 minutos o painel está concluído (Figura 13), sendo este colocado na bancada
para o período de estabilização de 72 horas.

Figura 12 – Prensa hidráulica da marca Marconi.

Figura 13 – Painel finalizado pronto para o período de cura.

Resultados dos ensaios no painel


Tanto para o ensaio de inchamento quanto de absorção de água, a norma NBR 14810-2
recomenda um teor de 8 % no máximo para 2 h em painéis de 14 mm. No ensaio de absorção
o resultado médio foi de 8,48% (Tabela 02), ultrapassando o índice da norma. Enquanto para o
ensaio de inchamento o valor médio foi de 3,76% (Tabela 02) abaixo do valor recomendado
pela norma. Deve-se salientar que o painel produzido possuía espessura de 10 mm, portanto,
espera-se para painéis de espessura de 14 mm, feitos com a fibra de açaí, resultados para o
ensaio de absorção compativéis com o valor recomendado pela Norma. Deste modo, verifica-
se que tanto para o ensaio de absorção quanto o ensaio de inchamento, existe uma viabilidade
técnica para os painéis de 10 mm e produzidos com a fibra do açaí.

Tabela 02 – Valores em percentagem para o ensaio de absorção de água e inchamento.

Absorção de
Painéis Inchamento (%)
água (%)

Média 8,48 3,76

Desvio
2,43 1,12
padrão

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A recomendação da norma NBR 14810-2 para placas de aglomerado entre 14 mm até 20
mm de espessura é de um valor mínimo de 16 MPa para o Momento de Ruptura – MOR. Neste
ensaio as placas de fibra de açaí de espessura de 10 mm apresentaram um valor médio de
15,23 MPa. Tendo em vista que apesar de estar um pouco abaixo do que recomenda a norma,
deve-se considerar que a espessura do painel ensaiado foi inferior a faixa de espessura
recomendada pela norma brasileira, portanto, é de se esperar que um painel de 14 mm de
espessura feito com a fibra do açaí atenda a especificação da norma com relação ao momento
de ruptura – MOR.
A norma NBR 14810-2 para placas de aglomerado entre 14 mm até 20 mm de espessura
recomenda um valor mínimo de 1.020 N para o ensaio de arrancamento. Neste ensaio as
placas de fibra de açaí de espessura de 10 mm apresentaram um valor médio de 1.080 N,
significando que este resultado encontra-se acima da recomendação da norma brasileira,
mesmo para um painel de espessura inferior a faixa apresentada.
Para placas de aglomerado a norma NBR 14810-2 recomenda, para o ensaio de tração
perpendicular, o valor mínimo 0,35 MPa. Como para este ensaio o valor médio foi de 6,59
Kgf/cm² (0,66 MPa), observa-se que o painel com fibra de açaí atende a NBR 14 810-2 também
para este requisito.
O processo de produção dos painéis feito com a fibra da semente do açaí é simples, pode
ser aplicado na construção civil e na indústria moveleira (Figura 14). O painel possui as
dimensões de 40 cm X 40 cm e espessura de 1 cm (Figura 15).

Figura 14 – Painel aplicado para a construção civil e a indústria moveleira.

Figura 17 – Painel de fibra da semente do açaí com as dimensões de 40 cm X 40 cm e espessura de 1 cm.

Conclusões
Morfologicamente a fibra do açaí é um material lignocelulósico fibroso que recobre a semente,
no qual, possui um diâmetro nominal de 8,5 mm e comprimento de aproximadamente de 12
mm.
Nesta pesquisa também foi verificado a viabilidade técnica da produção de painéis com a
fibra. Tais painéis apresentaram superfície uniforme com morfologia externa visualmente
agradável.

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O processo de produção dos painéis é simples, podendo ser facilmente aplicável no setor
industrial, podendo o painel servir de matéria-prima para a fabricação de móveis, ou ainda,
revestimento de parede e tetos, além de forros, para acabamento de edifícios.
O painel desenvolvido neste trabalho apresentou resultados físicos e mecânicos muito
próximos e em alguns casos superiores aos recomendados pela norma NBR 14810-2, para
painéis produzidos com madeira. Isto vem ratificar a qualidade do painel produzido com a fibra
da semente do açaí.
Finalmente, deve-se destacar o ganho ambiental, pois fibra da semente do açaí consiste
em um resíduo que não possui destino certo onde a partir do presente estudo pode ser feito um
desenho para um destino adequado e um manejo sustentável, viabilizando a possibilidade de
produção industrial de painéis de resina feitos com a fibra do açaí.

Agradecimento

Ao prof. D. Sc. Nilton Campelo, pela realização dos ensaios realizados no Laboratório de
Pavimentação (LabPav- UFAM).
A Profª. Drª. Virgínia Giacon (UFAM).
Ao Instituto Nacional de Pesquisa - INPA.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – COPPE.
Prof.Dr. Romildo Dias Tôledo Filho, pela disponibilidade no Laboratório de Estruturas Labest.
A Universidade Estadual de São Paulo – USP – São Carlos, LaMEM.
Ao Prof. Dr. Francisco Fahr Rocco.
A Universidade Estadual de São Paulo – USP – Pirassununga, FZEA.
Ao Prof. Dr. Holmer Savastano (FZEA).
Ao Prof. Dr. Juliano Fiorelli (FZEA).
À Maria de Fátima do Nascimento (USP).

Referências

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14810-1 – Chapas de madeira aglomerada,


Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, Março, 2002.

_________. NBR 14810-2 – Chapas de madeira aglomerada, Requisitos. Rio de Janeiro:


ABNT, Março, 2002.

_________. NBR 14810-3 – Chapas de madeira aglomerada, Métodos de ensaio. Rio de


Janeiro: ABNT, Março, 2002.

AGUIAR, Madalena Otaviano; MENDONÇA, Maria Sílvia de. Morfo-anatomia da semente de


Euterpe Precatoria Mart. (Palmae). Revista Brasileira de Sementes, vol. 25, nº 1, p.37-42,
2003.

American society for testing materials. Astm 1106-56 - determinar o teor de lignina.

_________. D 1107-56 – Determinar a solubilidade em Etanol e Tolueno.

_________. D 1105 – Determinar a solubilidade em Etanol.

ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. Editora Pioneira
Thomson Learning. São Paulo, SP. 2007.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
CALLISTER Jr., William D. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. New York,
EUA, 2000. LTC Editora S.A.

IWAKIRI, Setsuo. Painéis de madeira reconstituída. Curitiba – PR, 2005.

LIMA, Marco Antonio Magalhães. Introdução para os Materiais e Processos para Designers.
Rio de Janeiro. Editora Ciência Moderna Ltda., 2006.

MARTINS, Maria Alice. MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli. PESSOA, José Dalton Cruz.
Comportamento térmico da fibra do açaí. Embrapa Instrumentação Agropecuária. Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Comunicado Técnico, 68. São Carlos-SP, 2005.

RUTHSCILLING, Evelise Anecet. Design de superfície. Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2008.

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Uso de madeira oriunda de árvores caídas para a
composição de espaços interiores (Use of wood from fallen
trees to the composition of interior spaces)

PEREIRA, Helder Alexandre Amorim; M.Sc; Universidade Federal do Amazonas – UFAM.


arqhelder_amorim@yahoo.com.br

SILVA, Claudete Barbosa; M.Sc; Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Fundação


de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM. claudete@ufam.edu.br

QUIRINO, Magnólia; M.Sc; Universidade Federal do Amazonas – UFAM.


quirino.designer@gmail.com

FORCELLINI, Fernando Antônio; P.hD; Universidade Federal de Santa Catarina


forcellini@gmail.com

MOTA, Sheila Cordeiro; MSc; Universidade Federal do Amazonas – UFAM.


sheimota@yahoo.com.br

palavras chave: sustentabilidade, Ecodesign, Design de Interiores, árvores caídas, Design de Superfície.

Este artigo apresenta a aplicação de técnicas de modulação por malhas regulares para superfícies de
espaços interiores utilizando árvores caídas. O objetivo é gerar soluções ecológicas, racionais e criativas
para criar padrões modulares que proporcione o aproveitamento ideal da madeira para um maior número
de suportes possíveis. Apesar da existência no país de uma regulamentação sobre o manejo florestal
madeireiro que inclui o aproveitamento de árvores caídas, ainda são poucas as iniciativas neste sentido,
que ofereça novos parâmetros de aplicação em soluções de produtos e subprodutos madeireiros, ou
ainda, na utilização de outros bens e serviços naturais da floresta. Inicialmente procurou-se identificar os
limites projetuais para o correto aproveitamento do material, posteriormente, técnicas foram investigadas
para a elaboração de módulos e padrões envolvendo o estudo da planificação e de malhas geométricas
em sistemas de repetição para aplicá-las no projeto de superfície. A criação de padrões modulares
tridimensionais para gerar unidades de revestimento em paredes com materiais naturais descartados é
um caminho viável para o aproveitamento desses recursos, que valoriza a habitação criando um apelo
estético e simbólico para a composição do espaço interior.

Keywords: interior design, ecodesign, fallen trees, surface design.

This article presents the application of modulation techniques for regular grids of indoor surfaces using
fallen trees. The goal is to generate green solutions, rational and creative to create modular patterns that
provide the optimum utilization of wood for a greater number of media possible. Despite the existence of
national legislation on the use of fallen trees by natural phenomena, there are few initiatives in this
direction, providing new parameters for implementing solutions to timber products and byproducts, or using
other goods and services of natural forest. Initially we attempted to identify the projective limits for the
correct use of the material, later techniques were investigated for the preparation of modules and
standards involving the study of planning and geometric meshes replay systems to apply them in the
project area. The composition of standard modular units to generate coating walls with natural materials is
a viable path for the exploitation of these resources, which are three-dimensional work can contribute not
only to the aesthetic appeal of interior space and symbolic, but also for the physical quality of construction.

1 Introdução
O avanço do desenvolvimento sustentável e o crescimento de pesquisas na área dos materiais
verdes passam a contribuir substancialmente para mudanças de pensamento e de
comportamento industrial. Atualmente as empresas são condicionadas a reverem seus
processos produtivos, principalmente aqueles que são fundamentados em padrões tradicionais.

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Outro vetor transformador consiste no progresso de conceitos e legislações ambientais.
O desenvolvimento tecnológico que presenciamos traz consigo inúmeras vantagens para a
humanidade em contrapartida explora os materiais em larga escala. Isto nos obriga a mudar de
procedimento fabril e ter como princípio industrial a prudência ecológica e a racionalizar o
emprego destes materiais. O aproveitamento de resíduo consiste em uma aplicabilidade viável
e comum no campo industrial. Outra atitude favorável é a consciência no momento da obtenção
da matéria-prima, que está atrelada a processos sustentáveis.
Esta pesquisa tem como cerne a aplicação da matéria-prima para a realização de um
projeto de Design de Interiores, em que foi determinante a opção do uso de árvores caídas por
fenômeno natural. O projeto centralizou a concepção da criação de acordo com a madeira
adquirida, e o seu desenvolvimento moldou-se a partir da obtenção e aproveitamento total da
matéria-prima. Nesse contexto entra em cena o Design de Interiores, fundamentado no
Ecodesign para contribuir com um projeto de uso adequado do material natural descartado.
Recorreu-se ao Design de Superfície para a concepção do produto, resultando na composição
de painéis modulares.
O design, de forma generalizada, emprega uma metodologia na qual existe um problema e
procura encontrar uma solução, empregando os mesmos procedimentos até para o
desenvolvimento sustentável. Neste artigo se buscou um método sustentável com base no
Ecodesign, cujo desafio maior foi aliar os critérios projetuais intrínsecos com o item ecológico,
em específico realizar, de forma adequada, o aproveitamento da madeira das árvores caídas.
As arvores caídas são conseqüência de fenômenos naturais como: ventos e chuvas fortes
ou pragas de insetos, ou ainda correspondem ao ciclo de vida da árvore (Dalmau, 2011). Para
o emprego da madeira no projeto, esta foi beneficiada, cortada e selecionada a partir de um
estudo de tonalidades. Feito isso, foi elaborada uma composição em painéis e, finalmente,
executado o projeto.

O resultado do projeto implica na contribuição e interlocução das subáreas do design: o


Design de Interiores com o Ecodesign e este com o Design de Superfície, estabelecendo
estratégias sustentáveis para o desenvolvimento da composição dos painéis. Desse modo, se
conduz para o apelo visual atrativo, compreendendo aspectos formais contemporâneos e com
um produto final de qualidade e materiais verdes, colaborando para a redução de impactos
ambientais. A contribuição maior deste projeto revela-se no pensamento metodológico e
comportamento projetual, oferecendo novos parâmetros de aplicação em soluções de produtos
e subprodutos madeireiros para o desenvolvimento sustentável.

Materiais e Métodos
Este estudo busca por um melhor aproveitamento da madeira oriunda de árvores caídas para
aplicar em composição de espaços interiores. Para isso buscou-se detectar as possíveis
utilizações desse material, como sugerem Lima & Silva (2005), tais como: o emprego da
madeira para produzir energia, explorando sua propriedade calorífica; partículado de madeira e
resíduo madeireiro para a produção de painéis; polpa para produção de papel; cargas para
compósitos poliméricos e o uso dos resíduos de madeira como aditivo de polímeros
termoplásticos. Contudo, esta utilização produz material compósito, o que pode comprometer e
inviabilizar a degradação natural característica da madeira. Dentre destas citações, este projeto
consiste no emprego da madeira cortada em painéis parquet.
O método utilizado para a execução do projeto consiste em três etapas: a primeira trata do
beneficiamento da madeira, a segunda da composição dos painéis (modularidade) e por último
a colocação dos painéis.
Inicialmente foram identificados diversos tipos de madeiras, estes foram beneficiados em
pranchões e em seguida cortados em painéis parquet. Após o corte as peças foram
encaminhadas para a fase de acabamento: lixadas e aplicadas o selador.
A segunda etapa incide na composição dos painéis que abrange a seleção e a criação da
modularidade dos painéis. A princípio todos os tipos de madeiras foram aproveitados, foi feita
uma prévia conjugação cromática, recorrendo ao emprego da aplicação do contraste tonal da
madeira, assim como, foi feito uma triagem das peças com a combinação de três diferentes
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espessuras, valorizando a harmonia visual e proporcionando um efeito de textura na
composição final do módulo a ser aplicado.
Por fim, a última etapa consiste na colocação dos painéis. Basicamente estes foram
rejuntados e selados com massa cimentícea. A composição da modularidade foi replicada em
torno da edificação e outras colunas, na qual, foi enfática no emprego da técnica de design de
superfície: propagação e rotação (rapport). Desse modo modificando a paginação da
modularidade no espaço físico.

2 Referencial Teórico
Neste item são abordados os principais assuntos relacionados ao tema deste artigo, a saber:
Ecodesign, Sustentabilidade, árvores caídas, Design de Interiores e Design de Superfície.
Assim como a interlocução entre tais temas para nortear a concepção do projeto.

Design e Sustentabilidade
Na época atual da consciência ecológica considerar aspectos tais como melhor aproveitamento
dos recursos naturais e a redução de emissões para o meio ambiente, constitui algumas das
razões mais importantes para a realização do design de produtos ambientalmente corretos.
No entanto, aliar o desenvolvimento econômico e o uso sustentável dos recursos naturais
para a produção de produtos ecologicamente correto, ou de baixo impacto ambiental, torna-se
um desafio para qualquer sistema produtivo. A fim de esclarecer tal questão, o conceito de
Desenvolvimento Sustentável pode ajudar nessa abordagem.
Segundo o relatório da comissão Brundtland Nosso Futuro Comum (WCED, 1987),
Desenvolvimento Sustentável é aquele que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer
a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades. Isto significa
que o grande desafio está em aliar o uso sustentável dos recursos naturais com o
desenvolvimento econômico, o que pode ser conseguido mediante a avaliação dos processos
e serviços e, a partir disso, propor estratégias para diminuir os impactos ambientais.
Para atender essas novas tendências e expectativas discute-se Ecodesign, temática que
abrange uma ampla gama de atividades ligadas ao desenvolvimento de produtos, incluindo a
escolha de materiais e processos de fabricação adequados para minimizar a quantidade de
resíduos e emissões para o meio ambiente.
O Ecodesign pode ser descrito como um conjunto de decisões tomadas para tentar conciliar
um conjunto específico de requisitos do produto ecologicamente mais responsável ao
economicamente viável, visto que é na fase inicial de desenvolvimento do produto que se
define de 60% a 80% do custo final do produto (Duffy et al, 1993), e que se pode obter,
também, cerca de 10% a 20% de benefícios somente com a melhora no processo de
desmontagem para o reaproveitamento (Desai & Mital, 2003).
Assim, os conhecimentos em Ecodesign ou Design para o Meio Ambiente (Design for
Enviroment – DFE), que engloba Design para Reciclabilidade (Design for Recyclabilaty – DFR),
Design para o Ciclo de Vida (Design for Life Cicle – DFLC) e Design para Desmontagem
(Design for Dissassembly – DFD), entre outros, aparecem com a proposta de reduzir o impacto
ambiental por meio do design de produtos (O’shea, 2002). Concentram esforços na fase de
definição do produto, momento em que existe maior retorno para se conseguir produtos
ecologicamente mais responsáveis. Cada um desses instrumentos é exclusivo, mas todos
procuram melhorar o desempenho do produto nas fases iniciais do projeto durante o estudo do
ciclo de vida (Rose, Stevels & Ishii, 2000).
No entanto, para realizar o Ecodesign não necessariamente sua aplicação deva acontecer
no âmbito industrial, encontra-se forte atuação dessa estratégia no artesanato, que teve grande
impulso a partir das leis ambientais que obrigam as empresas não só a reduzir o consumo e a
extração de matérias-primas, como também a dar um destino ambientalmente adequado aos
resíduos de produção e a coleta e tratamento dos produtos e embalagens do pós-consumo.
Ecodesign para o reaproveitamento faz uso de produtos descartados para inovar na função,
acrescentando valor ao que antes era considerado lixo ou resíduo. É na fase de
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desenvolvimento do projeto que se dá a integração formal das questões ambientais no produto,
seja ele industrial ou artesanal, que neste artigo utiliza-se da madeira procedente de árvores
caídas para gerar soluções ecológicas, racionais e criativas para o aproveitamento ideal do
material descartado.

A madeira de árvores caídas


A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu Artigo 255, garante a defesa e
preservação do meio ambiente. Para a exploração e manejo sustentável dos recursos naturais
é exigido um licenciamento ambiental, concedido por meio de leis e decretos que podem ser de
âmbito federal, estadual ou municipal.
A Instrução Normativa IN 001/09 para o licenciamento do Plano de Manejo Florestal
Madeireiro em Unidades de Conservação de Uso Sustentável do Amazonas (IDESAM, 2010), e
a Instrução Normativa IN 02/2002 do Rio Grande do Sul (FEPAM, 2010), são exemplos de
regularização da atividade extrativista que garante o uso sustentável de produtos madeireiros,
especialmente o de árvores caídas. A primeira inclui o uso de árvores caídas para a
subsistência de comunidades agrícolas da Amazônia, a segunda, padroniza os procedimentos
de licenciamento para o aproveitamento de árvores caídas por fenômenos naturais.
Os fenômenos naturais são responsáveis pela derrubada de várias espécies de árvores de
diferentes diâmetros, e ocorrem tanto em florestas como nas cidades. A queda natural de
árvores é provocada pela força do vento e da chuva, ou por insetos e outros agente naturais
que contribuem para ciclo natural de vida e morte, ou ainda, pela forte ligação dos cipós que se
entrelaçam entre os troncos e galhos da árvore derrubada com as da árvore vizinha (Dalmau,
2011). Nas florestas a queda de árvores dá origem a inúmeras árvores destruídas,
apresentando grande amplitude, formas e tamanhos (Figura 01) com abertura de clareiras
(Figura 02).

Figura 01 – Árvores caídas na floresta Figura 02 – Árvores caídas na floresta abrindo uma
apresentando grande amplitude, clareira.
formas e tamanhos.

Em todos os casos citados, a madeira das árvores caídas pode ser aproveitada para
diversos fins úteis, como no projeto Mobiliários Públicos/Árvores Urbanas do designer Hugo
França; o projeto Poço de Carbono Juruena, executado pela Associação de Desenvolvimento
Rural de Juruena (Aderjur) e patrocinado pelo Programa Petrobras Ambienta, que faz uso de
uma serraria portátil para o aproveitamento da madeira em pranchas; e o projeto Curso de
Artefato de Madeira para Comunidades em Unidades de Conservação do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), que propõe o aproveitamento de árvores caídas para a
produção de produtos com qualidade e melhor aproveitamento da matéria-prima.
Nessa perspectiva, abrem-se amplas possibilidades para transformar o volume de madeira
oriunda dessas árvores em produtos, inserindo a variável ambiental como elemento
diferenciador na configuração de objetos. Ademais, a aplicação dos conceitos de Ecodesign
para as questões da sustentabilidade ambiental, e do design de superfície para valorização e

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estímulo da percepção sensorial, constrói um contexto de interação que amplia o potencial da
relação do sujeito com o objeto.

Design de Superfície
O homem vive cercado por elementos visuais que revestem as superfícies dos objetos, seja em
ambientes internos ou espaços urbanos, e cria a partir dessas imagens relações sensoriais e
perceptivas que o fazem se identificar com o meio e seu entorno. Essa relação, por vezes
afetiva, é influenciada pela maneira como as superfícies dos objetos são concebidas e
planejadas para gerar soluções visuais com diferenciado apelo estético, simbólico e funcional.
A configuração das características externas dos objetos é determinada pelo estudo e projeto
da superfície, criados a partir do campo e da análise do design (Schwartz & Neves, 2009).
Nesse contexto, o Design de Superfície, de acordo com Rüthschilling (2006), aborda a criação
de texturas visuais e táteis que são projetadas especificamente para a constituição e
diferenciação dos objetos.
Para Menezes & Paschoarelli, (2010) design de superfície é um conceito amplo que envolve
critérios de expressividade e percepção:
Design de superfície é uma atividade projetual que atribui características perceptivas expressivas à
superfície dos objetos, concretas ou virtuais, pela configuração de sua aparência, principalmente por
meio de texturas visuais, táteis e relevos, com o objetivo de reforçar ou minimizar as interações
sensório-cognitivas entre o objeto e o sujeito (Menezes & Paschoarelli, 2010, p.124)
O elemento basilar de composição para o design de superfície é o módulo ou unidade da
padronagem, que contém todos os motivos formais do desenho, organizados e inseridos em
uma estrutura previamente estabelecida (Rüthschilling, 2002).
Para Dias (2009) o design de superfície propõe a concepção de padrões visuais modulares
e uniformes que são reproduzidos a partir de sistemas de repetições e encaixe. Esses sistemas
podem ser: alinhado, quando possui linhas horizontais e verticais alinhadas e; não alinhado,
quando mantido uma dos alinhamentos o outro é deslocado alterando o espaçamento entre
eles.
Repetição ou rapport, no design de superfície, é a maneira pela qual os elementos visuais
são reproduzidos, utilizando a rotação e propagação para compor o padrão visual. No encaixe,
pontos de encontro entre os padrões visuais são determinados de modo a constituir uma
composição continua (Dias, 2009). Assim, a maneira como um módulo se repete dá origem a
diferentes efeitos visuais (Figura 03).

Figura 03. Exemplos de efeitos visuais obtidos a partir da combinação de diferentes repetições do mesmo módulo.

Para pavimentar um plano ou superfície, e dar consistência ao projeto, empregam-se


malhas que podem ser de diversos tipos: malha regular quadrada, triangular ou hexagonal,
malha semi-refular simples, duplas ou triplas, malhas duais, malhas deformadas e malhas
dinérgicas (Rinaldi & Menezes, 2010). Todas apresentam possibilidades de aplicação em
superfícies diversas, entretanto, para esta pesquisa a malha regular de formas geométricas
simples (que podem ser módulos quadrados, hexagonais e triangulares) tem sua aplicação
facilitada, dada as características do material utilizado, a madeira e, ainda, o efeito de mosaico
procurado.

Neste estudo, os conceitos de Design de Superfície apresentados são utilizados para


fundamentar a criação de padrões modulares tridimensionais e compor superfícies com a
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madeira descartada, o fim é valorizar o material e o ambiente, criando um apelo estético e
simbólico na composição de espaços interiores.

Design de Interiores
O ser humano e sua íntima relação com o seu habitat, sendo o habitat em um primeiro
momento, reflexo de si próprio e por conseguinte da sua forma singular de percepção do
mundo, e em um segundo momento, se constituindo em um veículo de um pseudo apogeu
social, tem em si vários símbolos que de uma forma ou de outra estimula o excesso de
vaidade, evidenciando sobre medida, o ter, o conquistar e o ser capaz.
O design é uma das formas mais explícitas da expressão humana, pois, segundo Flusser
(2007 apud Cavalcante et al 2007), a habitação de um espaço expressa a forma de ser,
refletindo uma época ou a personalidade de alguém para se construir significados.
Considerando que o espaço interior é o contato mais íntimo e direto do ser com seu habitáculo,
reforça-se o significado do ambiente, enquanto tradutor do perfil do seu usuário. Este perfil é
rastreado e construído por meio das informações simbólicas inerentes ao seu ambiente, muitas
vezes expressadas de forma inconsciente.
Ainda Cavalcante et al (2007) argumentam que:
O designer de interiores está apto a planejar interferências de qualquer natureza, uso e significação,
para adequar as necessidades do usuário e melhorar a relação do homem com o espaço,
considerando o circuito produção-consumo-produção, de forma a construir uma realidade que antes
não existia (Cavalcante et al 2007, p.110).
Assim, surge na Arquitetura e no Design de Interiores um grande compromisso de construir
o belo como parte da vida das pessoas, transformando os espaços para dotá-los de
características dependentes dos atores, mas muitas das vezes totalmente desconhecidas e
fora das expectativas estético formais dos habitantes em questão, se adequando apenas ao
conhecimento técnico e ao perfil estético do agente da criação, o designer.
Considerando a abordagem sobre os conceitos mais aprofundados na intervenção projetual,
e as mudanças sociais que tornam o homem mais voltado para o seu habitáculo, as ações do
profissional de design se tornam mais versátil, no sentido de buscar não apenas o novo, mas
de encontrar conceitualmente uma percepção do homem enquanto ser singular que é. O
homem além de buscar possuir um ambiente com suas características pessoais estéticas, de
uso e de rotinas, busca agora contribuir com algo muito maior, a comunhão com o seu entorno
e com o planeta.
As novas tecnologias, ditas ecologicamente corretas, foram implantadas como também as
novas alternativas de matérias-primas foram evidenciadas. A madeira oriunda de peças de
demolição ganharam espaço caracterizando o reaproveitamento de produtos, mas é no uso de
madeiras oriundas de árvores caídas que se situa uma oportunidade para se gerar mudanças
de comportamento nas ações dos designers e arquitetos. Pois, segundo Manzini & Jégou
(2003,p.15 apud Lucca, 2008), um futuro sustentável pode ser construído a partir dos nossos
esforços e das nossas ações individuais, sendo cada um em seu momento um agente
fundamental com responsabilidades e poderes de decisão.
A especificação de materiais, segundo Keeler & Burke (2010), é a espinha dorsal de um
projeto, cujo ciclo de vida inclui tanto o impacto quanto os atributos ambientais. Portanto, a
responsabilidade em se indicar uma determinada matéria-prima para se executar um projeto
não é uma tarefa tão simples e inconseqüente, pelo contrário, é determinante tanto do ponto de
vista do resultado projetual quanto do tipo de extrativismo que está sendo realizado.
Assim sendo, o uso de matérias-primas de origem natural, sem a observância dos aspectos
de sustentabilidade, aceleram os impactos ambientais negativos, sendo um dos principais
responsáveis por isso o especificador, que pode contribuir significativamente para fazer
acontecer uma cadeia produtiva mais equilibrada, atuando desde o momento da fase inicial do
processo de desenvolvimento do projeto.

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3 Desenvolvimento
O projeto foi realizado a partir da disponibilidade de troncos caracterizados como árvores
caídas, encontrados em áreas privadas da zona rural no entorno da cidade de Manaus, estado
do Amazonas, sendo estes de madeiras resistentes a intempéries, e que por isso, próprias para
o uso em área externa.
Depois de selecionada a madeira que seria usada no projeto, os troncos foram
beneficiados, cortados e pranchados, cada prancha foi submetida a cortes de dois tamanhos,
cada peça consistia de quatro espessuras distintas de 1,5cm; 2,0cm; 2,5cm; 3,0cm, pois
inicialmente os painéis seriam fixados apenas em volta dos pilares estruturais da varanda.
No projeto, mosaicos foram montados na matriz base (malha regular com módulos
retangulares), e fixados sobre uma superfície a noventa graus do piso. O objetivo era que
fossem percebidas as diferenças de volumes dos níveis e dos vários tons da madeira, quando
sob a incidência da iluminação natural ou artificial (dia ou noite), para se obter um movimento
visual a partir do efeito de luz e sombra (Figura 04). A paginação projetada neste caso é o
arranjo contra-fiado, ou seja, as peças foram dispostas entre si em um sistema não alinhado.
Figura 04. Revestimento - mosaico

O pilar se configura de forma modular criando uma repetição padrão, porém com uma
rotação na aplicação da paginação (Figura 05).

Figura 05. Revestimento dos pilares.

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Com o excelente resultado visual obtido da aplicação do mosaico nos pilares, e por ainda
possuir matéria-prima disponível, ainda sem corte, decidiu-se revestir a superfície da parede do
balcão da churrasqueira, optando por módulos mais estreitos e mais alongados, o que
favoreceu a fixação em superfície curva (Figura 06).

Figura 06. Revestimento do balcão.

Buscando inovar ainda mais o conceito do painel, foi elaborado um design cuja variação de
cores e tons compunham um efeito visual de destaque, em que os desenhos gerados
permitissem composições variadas para serem utilizadas como detalhe decorativo em geral
para a aplicação em outros elementos da habitação (Figura 07).

Figura 07. Detalhe do teto - revestimentos das vigas camuflando as instalações dos lustres.

Por serem madeiras obtidas de forma não planejada, e de certa forma improvisada, não foi
possível determinar um único tipo, não sendo possível também de se obter um resultado mais
homogêneo a nível cromático e de texturas, todavia, os efeitos visuais dos veios da madeira
foram aproveitados para a combinação de desenhos para tornar ainda mais diferenciada a
composição.
Assim, as formas de instalação dos módulos, em sistema não alinhado, aproveitam as
tonalidades peculiares da madeira obtendo-se diferentes efeitos que, para aplicações futuras,
podem variar mudando-se apenas a forma de instalação e do tipo de acabamento escolhido.

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4 Conclusões
O Design de Interiores interfere em vários aspectos em uma edificação, que vão desde
paginações de revestimentos, passando por design de mobiliário e de forro, até decoração. A
interferência projetual, neste caso, se deu em utilizar a madeira, uma matéria-prima comum e
bastante difundida, mas de origem inusitada (oriunda de arvores caídas) que provavelmente
seria descartada na natureza, agora é transformada em revestimento de parede, forro de teto e
mobiliário.
O design de superfície, como suporte à criação dos elementos decorativos, conferiu aos
revestimentos de parede uma valorização sob medida, construindo, por exemplo, colunas muito
altas e de grande efeito visual, valorizada principalmente pelas nuances dos tons da madeira
aliada ao arranjo contra-fiado.
O balcão da churrasqueira, por sua vez, com um traçado mais orgânico, passou a ter uma
rusticidade bem rural, como na verdade era a proposta do projeto, mesmo as madeiras do
mosaico possuindo um acabamento superficial em verniz de poliuretano, acabamento este que
possui certo brilho.
A madeira usada entre os caibros marcou como um ornamento as áreas de instalação das
luminárias, que por serem intercaladas, dotaram o teto de mais movimento, reduzindo
visualmente a dimensão da área coberta.
Enfim, considera-se o resultado como um grande ganho sustentável, já que na busca por
um material nobre como a madeira se obteve um uso racional em se preservando o meio
ambiente, e principalmente, se obtendo um resultado expressivo a nível estético e formal,
estabelecendo um diálogo entre o Ecodesign, o Design de Interiores e o Design de Superfície
para caracterizar o design sustentável.

Referências
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de Interiores: interfaces entre uso, consumo e arte. Revista Signos do Consumo. V. 2, N.1.
Dalmau, Érico. (2011). Parque Nacional da Tijuca: Árvores caídas na floresta. Matéria e
entrevista. Disponível em: www.terrabrasil.org.br/noticias/materias/pnt_arvorescaidas.htm.
Acessado em Mar/2011.
Desai, A.; Mital A. (2003). Evaluation of disassemblability to enable design for disassembly in
mass production. International Journal of Industrial Ergonomics, n.32, p. 265-281.
Dias, Solange Irene Smolarek.(2011). O estudo da forma no campo bidimensional. Teoria do
Design. Curso de Tecnologia em Design de Interiores. Núcleo de Design de Superfície NDS
– UFRGS. Disponível em: www.nds.ufrgs.br/.../ds_principio_basico.php. Acesso em
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concurrent engineering. Journal of Engineering Design. p. 251-261.
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler - FEPAM. (2010). Instrução
Normativa nº 02/2002. Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul.
Disponível em: http://www.fepam.rs.gov.br. Acessado em Mai, 2010.
Instituto de Conservação e de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas - IDESAM. (2010).
Proposta de uso múltiplo para a RDS do Uatumã. Políticas Públicas. Disponível em:
http://www.idesam.org.br/programas/unidades/proposta.php. Acessado em Mai, 2010.
Keller. Marian; Burke, Bill. (2010). Fundamentos de projeto de edificações sustentáveis.
Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 362p. ISNB 978 85 7780 710 9.
Lima, E. G.; Silva, D. A. (2005). Resíduos gerados em indústrias de móveis de madeira
situadas no Pólo Moveleiro de Arapongas-PR. Revista Floresta. Curitiba: v. 35, n. 01.

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Lucca, André de Souza. (2008). Desenhar o bem-estar sustentável. In: 8º Congresso Brasileiro
de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, P&D Design 2008, São Paulo, Brasil. Anais.
São Paulo: AEnD-BR. cd-rom.
Rinaldi, Ricardo Mendonça; Menezes, Marizilda dos Santos. (2010). Contribuições do design
gráfico para o design de superfície. Revista Educação Gráfica. V.14 – No. 01. ISSN 1414
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Advisor (ELDA). Manufacturing Modeling Laboratory. Department of Mechanical
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Rüthschilling, Evelise A. Design de Superfície: prática e aprendizagem mediadas pela
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2002.
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WCDE (1987). The World Comisión on Environment and Development, Our Common Future.
Oxford University Press, New Cork.

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Gestão de resíduos semissólidos provenientes de
lavanderias têxteis: um estudo de caso (Semi solid waste
management from textile laundry: a case study)

NASCIMENTO, Sabrina; Graduanda; UFPE, Campus Agreste


sabrinakeitty@hotmail.com

LEITE, Charles; Doutorando; UNESP, Campus Bauru / UFPE, Campus Agreste


charles.leite@gmail.com

Palavras Chave: design, lavanderias, sustentabilidade

Este artigo aborda a gestão do resíduo semissólido proveniente de lavanderias têxteis. A partir de estudo
de caso em lavanderia no município de Caruaru/PE, onde foram observados aspectos relacionados à
gestão destes resíduos, destacando como e de que processo ele é resultante e a importância para seu
correto descarte. Para alcançarmos os objetivos propostos, utilizou-se de pesquisas de campo,
entrevistas semi-estruturadas, observações e síntese, a partir de comparação com outras ações para
gestão destes resíduos, buscando propor aperfeiçoamento do processo. Destaca-se que o correto
descarte dos resíduos é importante confecção de peças de roupas que atendam os requisitos de
sustentabilidade, tão necessário e oportuno. Assim como, esta pesquisa evidencia e serve de base para
outras relacionadas a produção de artefatos de design com resíduos deste tipo ou similares.

Keywords: design, laundry, sustainability

This paper discusses the semi solid waste management from textile laundry. From case study of laundry
in the city of Caruaru / PE (Brazil), which were observed aspects of waste management, highlighting how
and what process it is the result and the importance for its correct disposal. To achieve the proposed
objectives, we used field research, semi-structured interviews, observations and summary, from
comparison with other actions to manage these wastes in order to propose improvements in the process. It
is noteworthy that the correct disposal of waste is important to the manufacture of garments that meet
sustainability requirements, as necessary and appropriate. As this research highlights and serves as the
basis for the production of other related design artefacts’ with such and similar waste.

1 Introdução

O Pólo de Confecção do Agreste (PCA), composto principalmente por Caruaru, Toritama e


Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco, possui várias atividades pertencentes ao setor
têxtil e de confecções, sendo a principal atividade da região, pois corresponde a 15% da
produção de confecção do país (IBGE, 2000). Esta, por sua vez, gera muitos empregos e um
PIB relevante para o Estado de Pernambuco. Particularmente na confecção do jeans é
necessário o serviço de lavanderias para o beneficiamento das peças produzidas. Durante este
procedimento, composto de várias etapas, dentre elas a filtragem da água, já se reaproveita
60% da água utilizada nesse processo. Contudo, tal processo ainda gera dejeto, que ainda não
possui um destino “adequado”.
No ano de 2008 foi implementado no PCA o projeto ‘selo verde’ da parceria entre o Serviço
Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE e o Instituto de Tecnologia de
Pernambuco - ITEP, onde cerca de 25% das 240 lavanderias localizadas na região teria a
capacidade de adotar um sistema de reaproveitamento da água e tratamento dos seus dejetos.
Esperava-se que cerca de 40% dos seus dejetos restantes seriam devolvidos ao rio Ipojuca
(manancial local) sem prejuízo mais significativo a natureza. Por sua vez, observou-se um
problema ambiental devido ao resíduo semissólido (lodo), resultante desta filtragem que ainda
não possui um destino particular, bem como não havia se pensado num local, como um aterro
sanitário próprio, em nenhuma das cidades do PCA.
Neste contexto, que esta pesquisa é desenvolvida. A mesma foi proposta e esta sendo
acompanhada dentro de um projeto de pesquisa que trata a gestão de design dentro das

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empresas de confecções do PCA. Assim, tem-se como objetivo investigar as possibilidades
para emprego (uso ou descarte) desses resíduos, que também possuem sustâncias químicas
nocivas ao ambiente. Para tanto, foi conduzido um estudo de caso em uma lavanderia,
localizada na cidade de Caruaru-PE, onde foi assistida a gestão destes resíduos semissólidos.
De forma que seja, realmente, possível pensar na criação de artefatos, ligados a moda, que se
preocupem com uma produção sustentável, ou seja, que atenuasse o impacto da produção
desse lodo.

2 As lavanderias têxteis x design sustentável: uma difícil articulação.

O jeans é, atualmente, um item básico, que consta no guarda roupas de uma boa parcela da
população. Ele nem sempre teve esse prestígio, indícios apontam que ele surgiu da
comercialização de lonas para a criação de uma calça utilitária para os garimpeiros protegerem
o corpo para realização do trabalho. Pacce (2008) afirma que o primeiro modelo de Jeans era
desconfortável e buscou-se adaptação com tecido feito de algodão produzido em Nimes na
França, que batizou-se de Denim ou Jeans, como os genoveses pronunciavam. As calças
jeans apareceram em filmes de cowboys na década de 40 e na década de 50 tornou-se
símbolo da rebeldia jovem, tanto que chegou a ser proibido. (BARNARD, 2003). Até então o
jeans era repassado para os clientes sem nenhum beneficiamento, proporcionando
desconforto. Atualmente, o jeans é sinônimo de versatilidade e é usado por várias classes
sociais sem distinção.

De acordo com Bezerra & Monteiro (2009), foi a partir 1975 que surgiram as primeiras
lavanderias têxteis no Brasil, que tinham como objetivo apenas amaciar as peças, já que as
mesmas eram enrijecidas pela goma, por não possuir nenhum beneficiamento. A partir da
década de 80 é que os tingimentos, diferenciados e estonagens e a inserção de produtos
químicos.

O beneficiamento das peças surgiu das demandas do mercado da moda, as lavagens são
possibilidades de acrescentar um diferencial ao produto agregando valor. Além dos produtos
químicos adicionados ao jeans, o uso de recursos naturais para a confecção do jeans são
exorbitantes. Segundo Figueiredo & Cavalcante (2010), em 2006 a empresa Lévi’s Straus &
CO. divulgou seus gastos com a fabricação do seu jeans. São 501: 920 galões de água,
400.000 kW de energia, 32 kg de dióxido de carbono lançados ao ambiente. Alem disso,
afirma-se que:

Para adquirir a tonalidade correta de azul, o denim é jogado em tonéis de corante índigo sintético.
Após esse tingimento inicial o desgaste é adquirido por repetidas lavagens e enxágues, rajadas de
substâncias químicas tão tóxicas como a sílica, tingimentos ou alvejamentos com permanganato de
potássio. Todos tóxicos para a fauna se forem despejados na água e também para os trabalhadores
que respirarem tais substâncias (FIGUEIREDO & CAVALCANTE, 2010, p.5)

Com o passar do tempo a preocupação ambiental tem crescido, devido ao crescimento


populacional e suas conseqüências como a necessidade de se produzir mais e melhor que o
concorrente (ZAMORA et al., 2002). Hoje, os produtos sustentáveis apresentam um diferencial
importante e tem ganhado mercado. Não apenas com o interesse de vender mais também com
o intuito de preservar o ambiente. Para Araújo (2009), esses produtos são identificados pelo
selo verde que é resultado de uma avaliação com aspectos pertinentes ao ciclo de vida do
produto.

Dentro deste contexto, o setor têxtil busca soluções ecológicas para a lavagem do jeans,
tornando-o também um produto sustentável. A ISO 14062 oferece normas para implementar e
ajudar a gestão de ecodesign e processos. Promove a integração de aspectos ambientais em
projetos de desenvolvimento de produtos. É um grande desafio do século XXI seguir todas as
normas e tornar produtos de moda sustentáveis, mas não uma tarefa impossível (SOARES,
2006).
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O ecodesign projeta produtos que propiciem bem estar sem gerar danos à natureza. Essa
preocupação começa desde a escolha da matéria prima para a fabricação do jeans, passando
pela gestão de processos, como o transporte e a embalagem até o ciclo de vida útil do produto.
Hoje há a possível utilizar o algodão orgânico, tecnologias que minimizem os produtos
químicos, reciclar as sobras e os jeans antigos, fazendo um redesign das peças. Alguns
fabricantes de denin tem produzidos tecidos que respondem a lavagem com maior rapidez,
reduzindo assim o uso de produtos químicos (FIGUEIREDO & CAVALCANTE, 2010).

3 As características da produção local

O PCA surgiu na década de 60, tendo como principal objetivo comercializar produtos de baixo
preço. Essa situação ocorreu, prioritariamente na cidade de caruaru, na feira popular e depois
nas cidades vizinhas. Atualmente o PCA tem como principais cidades membros, Caruaru,
Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, que são os municípios que mais movimentam recursos,
sejam eles capital e/ou mercadorias (SANTOS & GOMÉZ, 2009).
O município de caruaru é a cidade Pólo do arranjo produtivo local (APL), com cerca de 250 mil
habitantes, Índice de Desenvolvimento Humano de 0,713 e um PIB de R$ 31 milhões
(SANTOS & GOMÉZ). Segundo o MDIC (2008), todo esse APL possui 2.500 empresas de
médio, pequeno e grande porte e 9.500 estabelecimentos informais. E, é responsável por 90
mil empregos diretos e indiretos e conta com um volume interno de vendas de 1,5 bilhões de
reais.

Apesar deste contexto, o PCA possui muitas carências com relação à condição de vida da
população, principalmente nas áreas de saúde, educação, saneamento básico, abastecimento
de água e a falta de aterros e/ou destino correto para os resíduos provenientes da principal
atividade da cidade que é a confecção. O desenvolvimento sustentável busca melhorar a
qualidade de vida da sociedade em torno das problemáticas referentes ao meio ambiente. Para
Oliveira (2010), de acordo com esse novo paradigma emergencial, tecnologias e materiais
alternativos são utilizados na construção de todo e qualquer novo produto, tornando o design
um agente fundamental na preservação do ambiente e criação de novos produtos sustentáveis.

4 A importância da gestão de design

Segundo Cardonetti (2009) o design é área do conhecimento que planeja, programa, melhora
os aspetos funcionais do produto e também forma a imagem corporativa da empresa. Para
Dias Filho (2004) apud Cardonetti (2009) o investimento em design é uma ferramenta
estratégica para a empresa tornar-se mais competitiva. A vantagem competitiva é conquistada
através de um somatório de diferentes áreas na empresa, abrangendo a gerência, criação do
produto, fabricação, promoção e distribuição.
A função do designer não é apenas criar o produto e sim fazer com que o produto simbolize a
imagem da empresa e a torne competitiva independente do porte da empresa. Para Martins
(2004), a gestão de design é uma área que visa programar diretrizes operacionais para se
atingir os objetivos preocupando-se com o custo-benefício e a sustentabilidade. Ela destaca-se
como recurso importante, para ajudar as empresas no incremento de sua eficiência,
competitividade e na inovação de produtos e serviços (CARDONETTI, 2009).

Introduzir a cultura de Design em uma empresa é mais do que contratar um designer, significa,
enfatizar a ideia de integração de tarefas no processo e na sequência das decisões, muitas
dessas mudanças neste processo, em curto prazo, sejam mais significativas na cultura da
empresa do que nos aspectos estruturais e econômicos (MARTINS, 2004).

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5 Procedimentos metodológicos

Foi realizado um estudo de caso numa lavanderia têxtil de caruaru, que consiste em
compreender ‘como’ e ‘porque’, um determinado fenômeno contemporâneo ocorre inserido em
um contexto real. Nesta pesquisa o fenômeno analisado foi a produção e o surgimento do
resíduo semissólido decorrente do processo de lavagem do jeans.
A coleta de dados é a qualitativa que visa coletar dados através de entrevistas espontâneas e
observações. Após a coleta foi feito uma explanação dos dados coletados na forma escrita e
através de fotografias. (Yin, 2005). Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental para
fundamentação da pesquisa proposta por Lima, (2008).
Foi realizada uma visita a empresa, guiada pelo proprietário, onde foi visto todo o processo
produtivo. Através de fotografias e anotações foram registradas informações pertinentes para
obtenção dos resultados e compreensão do caso.

6 Resultados e discussões

A empresa visitada possui um sistema de reaproveitamento de 60% da água utilizada durante a


lavagem do jeans. Os 40% restantes são devolvidos ao rio Ipojuca sem danos ao ambiente. A água é
vem da Lavanderia através de canos, fica em tanque, num sistema que foi implantado pelo o próprio
dono para borbulhar a água e assim não deixá-la parada. Essa mesma água é misturada em uma
substância química dentro de outro tanque; para passar para um outro tanque onde é filtrada. Esses
tanques são compostos de tijolos, areia e brita para proporcionar a filtragem. Durante este
processo de filtragem da água, foi visto que o resíduo semissólido não possui um destino correto.
Figura 1: Processo de filtragem da água.

Figura 2: Filtro da água.


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Em estudos feitos em várias regiões do país mostram o aproveitamento do resíduo semissólido
na construção civil. Neste artigo será observado o seu uso para a confecção de cerâmica.

Segundo (Herek, et al.,2005) a partir da estabilização/solidificação é possível diminuir a carga


de material químico poluente encontrada no lodo. Inserido na argila, possui como
características boa resistência mecânica, capacidade de suportar altas temperaturas e boa
estabilidade. Foi realizado testes com várias amostras com a adição de 10 e 20 % de lodo seco
e estabilizado. Os blocos cerâmicos de tijolos de 6 furos prontos foram colocados 24 horas
para descansar, secos em estufa e queimados num forno comum em processo industrial por 8
horas. Em seguida os tijolos secam ao natural por cinco dias e depois desse prazo inicia-se o
período de cura que pode durar de 7 a 90 dias. Verificou-se que os blocos cerâmicos com a
adição de até 10% e com tempo de cura maior obtiveram maior resistência e qualidade.

Por sua vez, faz-se necessário se destacar as características dos resíduos semissólidos e seus
derivativos. Para tanto destaca-se a norma, NBR 10004,(BRASIL, 2004) que classifica os
resíduos sólidos quanto seus riscos ao ambiente e a saúde pública. Existe no lodo proveniente
do tingimento: corantes, soda, polímeros, sulfato de alumínio, ferro, cal e os próprios produtos
usados no tratamento da água, entre outros. Por essa composição variada o lodo é solvente
em água e não pode entrar em contato com a natureza sem tratamento. Essa composição
química pode mudar de acordo com o beneficiamento e os objetivos pretendidos com a
lavagem. Segundo esta norma, BRASIL/ (op. cit.)/ podem ser definidos como aqueles que
resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de
tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição,
bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na

7 Considerações Finais

Foi visto em vários estudos que existe a possibilidade de adicionar o resíduo semissólido
proveniente das lavanderias em materiais cerâmicos. Salienta-se que o estudo apresentado
neste artigo tem suas particularidades, inclusive os materiais químicos encontrados no lodo
estudado pelos pesquisadores. Visto que para cada efeito que se quer dá ao jeans utiliza-se
uma variante de materiais químicos o que pode alterar os resultados. Isso não representa uma
solução definitiva para o resíduo e sim uma amenização, já que ele não pode ser adicionado
em grande quantidade aos blocos cerâmicos.

A possibilidade da inserção do lodo na confecção de outros artefatos de cerâmica é uma


possibilidade que precisa amadurecer e ser explorada, já que caruaru comercializa artesanatos
de cerâmica produzidos no Alto do Moura. Então vê-se uma possibilidade de estudos mais
aprofundados para atestar esta funcionalidade do resíduo visto que há essa necessidade de se
encontrar uma maneira de descartar e/ou dá um destino ao mesmo.

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O designer de moda é um profissional que cria, projeta e acompanha todo o processo de
confecção das peças, agregando valor ao produto e tornando-a competitiva no mercado. O
designer como gestor é uma ferramenta importante para a solução desse caso, claro que com
auxilio de outros profissionais de áreas afins. Assim serão produzidos artefatos sustentáveis e
com um diferencial no mercado.

Agradecimento
A Pró-Reitoria de Extensão, a Pró-Reitoria para Assuntos Acadêmicos e a Pró-Reitoria para
Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPE pela concessão de apoio financeiro e bolsa.

Referências

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Competitividade territorial e inovação sustentável (Local
competitiveness and sustainable innovation

LUCCA, André de Souza; Ph.D


aslucca@yahoo.com.br
palavras chave: desenho industrial; competitividade do território; inovação sustentável.

Este artigo tem o propósito de fornecer conceitos para uma aproximação ao design para a inovação
sustentável, com a intenção de auxiliar as fases de análise do projeto de produtos e de controle dos
resultados obtidos, de forma a espelhar as exigências das sociedades emergentes na ótica da
sustentabilidade ambiental, econômica e social. Projetar a inovação sustentável nos países emergentes
significa sobretudo considerar o espaço e as atividades locais como o ponto inicial para a renovação da
socialidade. A pesquisa foi assim endereçada na busca de alternativas orientadas ao alcance de
resultados competitivos e sustentáveis através da relocalização das atividades produtivas no território. Um
projeto orientado à inovação sustentável nos contextos emergentes não pode prescindir de uma atenta
investigação e observação contextual; a capacidade propositiva de um projeto pode ser ulteriormente
ampliada através do envolvimento dos atores locais; o conceito de projeto interdisciplinar pode ser
operado através do projeto participado; cada resultado de projeto deve ser atentamente verificado e
controlado; e, enfim, os processos de feedback e de avaliação podem dar início a novos projetos ou a
reprogramação daqueles realizados. A argumentação geral do texto evoca os designers dos países
emergentes a agir em modo a estimular e gerir, sozinhos ou com o auxílio de outros profissionais,
processos inovativos fundados nas metodologias e instrumentos próprios do design com o objetivo de
incrementar a competitividade dos sistemas produtivos territoriais.

Keywords: industrial design; local competitiveness; sustainable innovation.

The aim of this paper is to provide concepts for an approach to design for sustainable innovation, with the
intention of assisting the analysis phases of product design and verification of the results obtained, which
are capable of reflecting the needs of developing societies from the perspective of a social, economic and
environmental sustainability. Planning a sustainable innovation in developing countries means first of all to
consider local spaces and activities as the starting point for the renewal of social interaction. Consequently,
the investigation has been focused on the achievement of sustainable and competitive results through the
relocation of local productive activities. It was ascertained that a project aimed at achieving a sustainable
innovation in developing contexts should not neglect a thorough contextual investigation and study; that
the innovative potentiality of a project can be increased even further by involving local players; that
interdisciplinary designing approach can be carried out through the participatory planning; that all the
results should be carefully verified and checked, and finally that feedback and evaluation processes can
launch new projects or the replanning of existing ones. The global argument of the text calls the designers
of developing countries to act in order to promote and manage, alone or with other professionals,
innovative processes focused on methods and instruments of design aiming at increasing overall
competitiveness of local productive systems.

1 Introdução

Este texto nasce a partir de uma interrogação referida a prática do design nos países
emergentes da América latina, ou seja, a capacidade que esta disciplina possui de propor
projetos que favoreçam ao mesmo tempo a sustentabilidade e a competitividade das atividades
produtivas locais sem, no entanto, forçar tais comunidades a assumir relações que determinem
laços de exclusiva dependência dos recursos externos (como os recursos materiais,
energéticos, financeiros e tecnológicos), ou da mão de obra, dos conhecimentos e do mercado
consumidor, necessários para a produção de produtos e serviços no território.
Isto deve-se ao fato que nos países emergentes as dinâmicas econômicas que guiam a
extração das matérias-primas, a produção e a comercialização dos produtos (gêneros
alimentícios, manufatos, utensílios, máquinas etc.), são fortemente influenciadas por demandas
externas, o que junto ao baixo valor das moedas locais, faz com que inteiros setores produtivos
se posicionem em direção à exclusiva produção para a exportação. Este fenômeno, além de
determinar o ritmo e a escala de produção desses produtos, ocasiona consideráveis e
imediatos efeitos sobre a dimensão ambiental, social e cultural do território, pois é conduzido

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por solicitações que se comportam de forma indiferente as complexas relações locais, ou seja,
as singularidades e as particularidades dos recursos naturais (biodiversidade, clima e solo), das
características sociais (competências, saberes e condições econômicas) e dos valores culturais
(tradições, comportamentos e valores).
Nos últimos anos os países emergentes da América latina têm observado um excepcional
crescimento do seu produto interno bruto (comparável aquele dos países avançados) e hoje,
encontram-se em transição para uma organização social semelhante aquela dos países
avançados. Consequentemente, os países emergentes também apresentam economias que
irrompem de uma situação atrasada para sistemas econômicos avançados. São considerados
então sociedades intermediárias, ou seja, sociedades onde alguns setores apresentam
dinâmicas e características desenvolvidas e que representam o motor do atual crescimento
econômico, quais: um moderno parque produtivo industrial; uma variada oferta de serviços e
infraestruturas (geralmente localizadas nas zonas prósperas); o poder aquisitivo da população
em crescimento; o desenvolvimento de atividades virtuosas e de tecnologias de ponta etc.; em
interação com outros setores que apresentam ainda dinâmicas atrasadas, quais: a presença de
zonas com estrutura agrícola baseada nos latifúndios; vilas, pequenas localidades ou inteiras
zonas rurais que não têm acesso a cuidados médicos, a água potável, a alimentação, a
educação ou a habitação; a falta de controle em relação à extração das matérias-primas, quais
os recursos minerais e vegetais (com o consequente dano ambiental que deriva). Todos
problemas que estão muito ligados a própria evolução histórica destes países.
Este quadro socioeconômico produz, no contexto onde os designers latino-americanos
encontram-se a projetar, uma variedade de situações correlatas de origem econômica, social,
cultural e ambiental, cuja as implicações com o projeto não são sempre fáceis de distinguir,
entre as quais: o crescimento demográfico e o êxodo rural (que incrementam o fenômeno das
favelas nas grandes cidades); a demanda por serviços, produtos e infraestruturas para a
segurança ou contra o vandalismo; um conjunto de necessidades de grande parte da
população que vive com baixa renda e demandam produtos e serviços com preços baixos etc.
Na complexidade deste cenário é compreensível o fato de que, muitas vezes, o designer
assuma uma postura projetual centrada no produto, ou seja, no conjunto das interações
relativas ao seu desenvolvimento, como a eficiência dos processos produtivos, a
compatibilidade das matérias-primas utilizadas e as conexões com outros sistemas quais a
promoção, a distribuição e o descarte, derivados do inserimento do novo produto no mercado.
Nestes casos os aspectos socioculturais ligados ao projeto de design vêm muitas vezes
considerados somente como elementos de análise das características do usuário ou do
consumidor. O território, ou seja, o espaço local onde se encontram as atividades produtivas, é
frequentemente pouco considerado uma vês que o sujeito ‘cliente’ vem habitualmente
delineado como um indivíduo abstrato e representado por suas características comuns de um
consumidor padrão. Nesse contexto, as empresas vizinhas regularmente não são avaliadas
como possíveis parceiros ou são consideradas como indesejáveis concorrentes. Desta forma, a
capacidade do designer de propor soluções sustentáveis é consideravelmente reduzida pois,
voluntariamente ou inconscientemente, a sua ação projetual transcura muitas das ligações
concernentes às dimensões que compreendem a sustentabilidade, ou seja, o ambiente, a
economia, a sociedade e as instituições. Os projetos inovadores, quando acontecem, podem
sem dúvida demonstrar méritos em cada uma destas dimensões, entretanto, os resultados
finais raramente conseguem apresentar efeitos em mais de um destes campos.
Essa postura é inadequada quando o objetivo é a busca pela inovação sustentável.
Segundo Manzini e Jégou (2003, p. 53): ‘Para orientar-se na perspectiva da sustentabilidade,
deve-se por em ação uma descontinuidade sistêmica […] Tal descontinuidade apresenta-se
come uma mudança radical nos resultados exigidos e nas formas para alcançá-los’. Esta
mudança deve sobretudo operar a passagem de uma visão centrada sobre os produtos para
uma visão enquadrada nas soluções, endereçando o desenvolvimento de uma nova geração
de resultados sustentáveis. Segundo os autores, para traduzir essa mudança em atitudes de
projeto, o designer deve deslocar o centro de sua atenção do objeto aos resultados que tal
objeto procura favorecer, para imaginar a partir disso, soluções baseadas em formas
alternativas de se obter tais resultados. Neste caso, as alternativas concebidas serão
presumidamente aquelas mais intimamente referidas ao contexto considerado e, portanto, irão

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apresentar maiores possibilidades de demonstrarem-se adequadas para orientar o designer no
desenho dos produtos e serviços que favoreçam a implementação da solução.
Além disso, inovar de forma sustentável significa também considerar um sistema em sua
complexidade de sistema social, tecnológico e ambiental. Isto quer dizer que as atividades
projetuais devem empenhar-se na avaliação de uma pluralidade de atores provenientes de
diferentes âmbitos: produtores, fornecedores de serviços, instituições etc., que representam a
expressão da sociedade (Manzini e Jégou 2003, p. 232). Isto significa que a componente
social, em relação as outras, é uma dimensão assaz relevante quando se investiga a
sustentabilidade. Essa condiciona fortemente as inter-relações entre a economia e o ambiente
pois concentra a atenção sobre as pessoas, as competências, as instituições e a cultura, ou
seja, sobre o conjunto das características que, juntamente a geografia e a política, definem as
peculiaridades de um território. O contexto, entendido como o ambiente geográfico, ambiental e
das relações sociais, descreve então o ponto focal para o projeto de design sustentável.
A busca por um conceito de projeto que favoreça a obtenção de resultados competitivos e
sustentáveis para os países latino-americanos, leva a considerar alguns princípios que, no
âmbito geral da disciplina do design podem parecer incomuns, mas quando analisados à luz do
raciocínio sobre o projeto no território e a sustentabilidade, podem indicar também novos
percursos para a pesquisa da inovação. Tais princípios são a relocalização e a resiliência.
A interpretação desses princípios no campo do design permite estabelecer as conexões
necessárias para compor uma abordagem ao projeto orientado ao desenvolvimento do território
e que considere as quatro dimensões da sustentabilidade. Esta interpretação levanta uma
principal consideração: a sustentabilidade e a competitividade das atividades produtivas locais,
na complexidade dos problemas e variedade dos contextos presentes nos países latino-
americanos, pode ser favorecida através de projetos de design baseados na valorização das
características e nas competências do território, e endereçadas para a relocalização e a
construção da resiliência local?

2 Design para a inovação sustentável

As atividades científicas e as atividades de projeto distinguem-se porque apresentam um


diferente interesse em frente a uma mesma realidade. O projetista observa o mundo do ponto
de vista da programação (do plano); o cientista observa o mundo através da perspectiva da
investigação (do reconhecimento). São dois conceitos diversos, como distintos são também os
resultados obtidos em frente ao processo de inovação. Se o cientista produz novos
conhecimentos, o projetista produz (ou permite que ocorram) novas experiências no uso dos
produtos, dos sinais e dos serviços, ou seja, move-se na esfera do quotidiano da sociedade
(Bonsiepe 2004, p. 63).
Apesar das diferenças acima enunciadas, ambas atividades concorrem para alimentar as
dinâmicas econômicas. Enquanto as inovações científicas - sempre mais estimuladas pelo
mercado em razão da sua capacidade de transformar-se em inovações tecnológicas -
representam ingredientes indispensáveis para a busca da competitividade econômica; a
atividade de projeto - devido a sua competência em âmbito técnico e produtivo, e a capacidade
de dialogar com o inteiro tecido social - transforma-se no campo ideal para o desenvolvimento
das inovações sociais.
A inovação projetual permite então a transformação da sociedade. Ela possui a capacidade
de interpretar as necessidades materiais e comportamentais do homem. E esta característica é
o que confere a este tipo de inovação o papel de guia no processo de construção da cultura
material da sociedade. A inovação projetual, assim entendida, é o resultado de uma dinâmica
social, na qual uma série de necessidades percebidas pela comunidade, pelos atores
econômicos e pelas instituições públicas e privadas, associam-se aos conhecimentos gerados
pela pesquisa científica, para depois voltarem para coletividade na forma de utensílios,
instrumentos, artefatos, conhecimentos e comportamentos. Ao seu interno, a inovação projetual
refere-se aos processos de produção, ao grau de qualidade, as modalidades de distribuição, as
formas de consumo e também a própria elaboração do projeto.
Para Tamborrini, a inovação projetual significa particularmente:
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Atuar um processo de transformação que preveja a implementação da qualidade dos modos, dos
instrumentos, dos valores e dos objetivos do agir humano, entendido no sentido mais amplo do termo.
Isto acontece através da introdução de elementos dotados de uma novidade ontológica (diferente de
… deduzido de … ) e não cronológica (o mais recente … o último …): então, novos elementos ou
inéditas conexões entre elementos existentes, novos atores, regras, estratégias, que num arco de
tempo racional sejam reconhecidas como válidas e úteis e, enquanto tal, aceitas como
consuetudinárias (Tamborrini 2009, p. 47).
Não existe uma norma unívoca que conduza uma ação em direção a inovação projetual,
que é em geral, alcançável através de diversos métodos até mesmo contraditórios. O autor usa
como exemplo o conceito de design radical em antítese ao conceito de design incremental:
O primeiro indica um fazer projeto centrado sobre a inovação radical do valor simbólico e emocional
dos produtos, que leva a uma redefinição do significado dos objetos; enquanto o segundo, através de
investigações etnográficas e de uma atenta observação dos comportamentos e dos âmbitos
específicos, encontra resposta a satisfação das necessidades evidenciadas pelos consumidores ou
usuários (ivi, p. 48).
Em ambos os casos, a função do designer na pesquisa pela inovação caracteriza-se como
aquela de analisar e entender as necessidades coletivas e ajudar os atores econômicos a
agirem em direção as suas satisfações, ou seja, escapar daquilo que John Thackara define
como o dilema da inovação. Segundo o autor, este dilema é caracterizado pelo fato que as
empresas sabem realizar tecnicamente produtos e serviços extraordinários, mas não sabem
analisar as necessidades sociais e culturais que estão em contínua transformação. O dilema
está no fato que inserir uma tecnologia inteligente num produto inútil, que não responde a
nenhuma necessidade presente ou futura, produz um produto estúpido. Os projetistas sabem
como ajudar as empresas a evitar esse dilema, são capazes de equilibrar a tecnologia, a
cultura e o interesse econômico para o bem do homem. O futuro está no projeto com e não
para o público, no fazer dos usuários o sujeito e não o objeto da inovação (Capella 2000, pp.
70-78).

Inovações sustentáveis
Ao interno dos princípios da sustentabilidade ambiental, a inovação pode ser alcançada através
da proposta de novos cenários correspondentes a estilos de vida sustentáveis. Significa
desenvolver no plano cultural, atividades inclinadas a promover novos critérios de qualidade e,
em perspectiva, modificar a própria estrutura pela demanda de resultados. Na compreensão de
Vezzoli e Manzini este nível de intervenção pode emergir das complexas dinâmicas de
inovação sociocultural ao interno das quais os projetistas podem ter um papel importante,
porém limitado, de investigação, interpretação, proposição e estímulo de ideias socialmente
elaboradas:
Não se trata tanto de aplicar específicas novas possibilidades tecnológicas ou produtivas, quanto de
promover novos critérios de qualidades que sejam ao mesmo tempo sustentáveis para o ambiente,
aceitáveis para a sociedade e atraentes culturalmente. É um nível de atividade projetual que pode
explicar-se em diversas formas, não diretamente relacionadas com a produção material, como a
publicação de artigos e livros e a articulação de palestras, conferências ou mostras. Um nível no qual
os centros de pesquisa e formação em design podem exercer um papel chave, mas que também pode
encontrar uma relação com as empresas intencionadas em redefinir a própria identidade e a
desempenhar, nesta prospectiva, um papel cultural (Vezzoli e Manzini 2007, p. 5).

Inovação e eco-eficiência de sistema


Neste campo, a inovação é entendida como um sistema de novas interações entre os atores
socioeconômicos e refere-se a oferta de produtos e serviços estruturados entorno ao conceito
de eco-eficiência de sistema, ou seja, nas situações nas quais é interessante economicamente
e competitivamente para as empresas reduzir, em nível sistêmico, o consumo dos recursos. As
inovações podem ser pesquisadas nas configurações e nas interações entre os atores das
fases e dos ciclos de um determinado sistema de satisfação de necessidades (Vezzoli e
Manzini 2007, p. 196).

Para Thackara, uma característica chave da sustentabilidade é a eficiência dos recursos:

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Na economia futura, compartilharemos todos os recursos: a energia, as matérias-primas, o tempo, as
capacidades individuais, os softwares, o espaço e os alimentos. Para fazer isso, utilizaremos sistemas
sociais e as vezes faremos uso de comunicação em rede. O princípio de usar sem possuir pode ser
aplicado a cada tipo de manufato: edifícios, estradas, veículos, escritórios etc. Na prática, nenhum
objeto pesado e fixo deve obrigatoriamente nos pertencer: é suficiente saber como e onde encontrá-lo
[...] Uma radical eficiência dos recursos pressupõe que os produtos, as coisas, sejam vistas como um
meio para um dado fim, e não como um fim em si. A concentração sobre o objeto e seu aspecto –
disseminada especialmente entre os projetistas – substitui-se com a atenção particular pelo ‘sistema
produto’, que satisfaz as necessidades em cada aspecto da vida quotidiana (Thackara 2008, pp. 16-
17).
Esse conceito liga-se ao princípio com o qual as empresas oferecem acesso aos produtos
ao invés de vendê-los. Vezzoli e Manzini (2007, p. 202) definem como ‘plataformas habilitantes’
estas modalidades de oferta de equipamentos ou de oportunidades para os clientes obterem os
resultados desejados. Nestas plataformas, o cliente opera pessoalmente para haver a própria
utilidade: ele não possui os equipamentos e paga somente pelo efetivo uso que faz. A forma
comercial mais frequente deste tipo de comportamento é o leasing, o compartilhamento e o
aluguel de um produto. Trata-se de uma oferta que conduz à intensificação do uso dos
produtos, no qual o prestador de um serviço coletivo pode ser mais eficiente porque tem uma
alta profissionalidade, pode permitir-se um maior nível tecnológico e aproveitar-se da economia
de escala.
Portanto, introduzir a inovação de sistema no design requer novas capacidades.
Inicialmente, significa que o designer deve aprender a projetar conjuntamente produtos e
serviços. Em segundo lugar, deve aprender a projetar a configuração dos atores e operadores
para encontrar soluções inovadoras que conduzam a convergência de interesse econômico e
ambiental. Enfim, deve também aprender a trabalhar num ambiente de projetação participada
entre diversos empreendedores e/ou entre empreendedores, organizações, instituições e,
naturalmente, usuários (ivi, p. 205).

Inovação e capacidades projetuais difusas


Como definem Manzini e Jégou:
A essência de cada comportamento projetual consiste na capacidade em imaginar alguma coisa que
não existe e nas estratégias de ação para alcançá-la [...] Assumir este comportamento e por em
prática não é nem óbvio nem fácil, o fatalismo, a fuga em direção ao sonho ou das utopias irrealizáveis
e, não menos importante, o esforço para definir e por em prática estratégias de ação, rendem esta
capacidade projetual um recurso raro (Manzini e Jégou 2003, p. 14).
A ideia que a projetualidade difusa deve ser cultivada e promovida é um dos temas
fundamentais na obra de Manzini e Jégou. Em particular, a hipótese dos autores é que é
possível e se deve operar neste terreno também com os instrumentos do design. E que,
portanto, a responsabilidade do designer não seja somente aquela de projetar os artefatos,
mas também, aquela de facilitar o desenvolvimento e a condução das capacidades projetuais
difusas e dos contextos que favoreçam a sua aplicação (ivi, p. 15).
Para os autores, o papel que os designers podem assumir dentro de uma tal situação é
aquele de propor respostas alternativas em confronto das necessidades e exigências da
sociedade: ‘Os designers não produzem somente artefatos, mas também cenários de vida e
ideias de bem-estar. E assim fazendo, concorrem para alimentar o catálogo de imagens
socialmente produzidas com o qual cada um se confronta na definição do próprio projeto de
vida’ (ivi, pp. 15-16). Para realizar isso, o comportamento projetual deve partir de uma
percepção dos problemas fundamentalmente de baixo. Operar no quotidiano implica partir da
observação das pessoas nos seus contextos, das suas demandas e das suas atitudes
comportamentais.
Para Thackara (2008, p. 146) o modo tradicional de projetar é aquele de concentrar-se
sobre a forma e a estrutura. Os problemas são separados em pequenos compartimentos e
ordenados numa forma sequencial. Nesses compartimentos são assinaladas as prioridades
(ações e inputs externos) e veem definidos num projeto que será depois executado por outras
pessoas. Trata-se de um conceito “de cima para baixo”: ‘Hoje isto não é muito funcional porque
os sistemas complexos, especialmente quando possuem ao centro os seres humanos, não
ficam estáticos à espera pelo nosso redesign. Funciona melhor uma estratégia de projeto
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baseado na percepção e resposta: são descritos os resultados desejados, mas não os modos
para alcançá-los’. Perceber e responder significa ser sensível aos eventos num contexto –
como uma cidade ou uma região – e responder de forma rápida e apropriada as mudanças.
Isso significa que:
Devemos encarar o projeto como um modo para endereçar as coisas, mais do que a um modo para
dar a elas uma forma, passando por uma concepção de nós mesmos como autores de um trabalho
acabado para aquela de facilitadores, cujo trabalho consiste em ajudar as pessoas a agir de forma
mais inteligente e mais projetual ao interno dos sistemas nos quais todos nós vivemos. Procedendo
desta maneira, a projetação transforma-se num processo de contínua observação, avaliação e reação
(ivi, p. 147).
Como visto, a inovação econômica inspira-se na inovação científica, modela-se com a
competição tecnológica e é governada pelo poder econômico e financeiro. A inovação
sustentável é também inspirada pela inovação científica, porém, configura-se através de novas
formas de sociabilidade geradas pela autoridade da coletividade e por ela sujeita. A inovação
orientada à construção da sociabilidade baseia-se em dinâmicas de cooperação. Essas
dinâmicas, por sua vez, levam a idear novos modos, ou maneiras alternativas, de satisfação
das necessidades através da concepção de bens e serviços tangíveis e intangíveis e entre as
suas possíveis confluências. Entendida neste modo, a competitividade forma-se na maneira
com a qual uma comunidade, em um dado contexto territorial, é capaz de afrontar a
concorrência do mercado garantindo ao mesmo tempo a própria sustentabilidade ambiental,
social, econômica e cultural, mantendo um alto nível de resiliência. Esta concepção é em
sintonia com a ideia expressa por Thackara (2010) sobre a construção de uma economia
restaurativa, ou seja, uma economia baseada na prosperidade que não sobrecarrega os
sistemas naturais e sociais.
Para Thackara (ibidem), uma economia restaurativa não é uma coisa que deve ser criada
do nada, ao contrário, em todo mundo existem centenas de milhares de pequenos projetos
que, num modo ou em outro, são modelos de estilos de vida sustentáveis ou restaurativos. O
problema é que a maior parte destes projetos são pequenos, invisíveis e frágeis. Para o autor,
o primeiro passo a se fazer em direção a esse tipo de comportamento é o de verificar e
contatar as realidades que trabalham atualmente com essas ideias no território. É um modelo
similar àquele assumido pelas Transition Towns (veja transitionnetwork.org): um modelo de
organização social que parte do pressuposto de trabalhar com aquilo que está disponível,
visando a prevenção sobre aquilo que pode ocorrer se algo negativo ou inesperado acontecer
com a comunidade. Nestas comunidades as pessoas estão capacitadas a auto fornecerem-se
de alimentos, aquecimento, água etc., porque executam uma análise muito prática e não
ideológica da própria comunidade e conseguem, assim, haver uma precisa lista de prioridades
sobre o que necessitam fazer pela própria infraestrutura. É um modelo de evidente simplicidade
e por isso está propagando-se velozmente.
Nessa circunstância, as ações de design podem ser realizadas de duas formas:
inicialmente, propondo questões que não foram formuladas anteriormente, por exemplo, novos
modos de fornecer alimento, água, mobilidade, etc.; a segunda maneira, é de fazer encontrar
as pessoas e fazê-las dialogar sobre esses argumentos:
Os designers são particularmente hábeis em mobilizar as capacidades e guiar as pessoas para que se
encontram em grupos, compartilhando recursos. Pois que são capazes de comunicar e de orquestrar -
e possuem grande empatia - os designers são, talvez, os profissionais mais aptos a coordenar
projetos multidisciplinares com diversos atores e interesses. São estas capacidades que devem ser
cultivadas na mente e no mundo do design e da indústria (ibidem).
O comportamento projetual proposto por Thackara é baseado em quatro fundamentos:
1. de centrado no homem a centrado na vida;
2. de extrativista a restaurativo;
3. de produtivista a solidário;
4. focado no sistema e não sobre os sintomas (ibidem).
Para Maiocchi e Pillan (2009, p. 25) a inovação não é novidade, não é tecnologia
precedentemente não empregada, não é invenção do novo e não é ideia antes inexistente, mas

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é qualquer coisa destas, que permita a modificação de um contexto social com um direto
resultado econômico ao produtor. Um novo produto deve distinguir-se pela sua forma,
materiais, custo, significado, modelo cultural ou modo de utilização. Segundo os autores, esta é
a tarefa do designer.

3 Competitividade e design para o território

Ser competitivo significa, geralmente, ser capaz de sustentar a concorrência do mercado. A


competitividade, portanto, tem a priori um sentido puramente econômico. É, porém, possível
afirmar que uma empresa, uma comunidade ou uma região, sejam economicamente
competitivas quando as condições sociais dos seus dependentes ou cidadãos são deploráveis?
Estas interrogações levam a atribuir ao termo competitividade um significado mais amplo,
expresso no conceito de competitividade territorial: ‘Um território torna-se competitivo se é
capaz de afrontar a concorrência do mercado garantindo, ao mesmo tempo, uma
sustentabilidade ambiental, econômica, social e cultural baseada na organização em rede e
nas formas de articulação interterritorial’. Em outros termos, a competitividade territorial
pressupõe:
 A consideração dos recursos do território;
 A participação dos vários sujeitos e das instituições;
 A integração dos setores produtivos numa ótica de inovação;
 A cooperação com outros territórios e a articulação com as políticas regionais,
nacionais e globais (Observatório Europeu Leader 2001, quaderno n. 6, fasc. 5, p. 5).
Portanto, projetar em termos territoriais significa fazer com que os sujeitos e as instituições
locais adquiram quatro tipos de capacidades: a capacidade de valorizar o ambiente; de intervir
conjuntamente; de criar pontos de contato entre os diversos setores fazendo em modo a
manter in loco o máximo de valor agregado; de entrar em contato com outros territórios e com o
resto do mundo. Estas capacidades podem ser relacionadas com aquelas que veem definidas
como os quatro elementos da competitividade territorial, os quais combinam-se de modo
específico em cada território:
 A competitividade social: é a capacidade dos sujeitos de intervir em conjunto e
eficazmente, em base a uma mesma concepção de projeto e encorajada por uma
gestão entre os vários níveis institucionais;
 A competitividade ambiental: é a capacidade dos sujeitos de valorizar o ambiente
enquanto elemento distintivo do próprio território, garantindo ao mesmo tempo a tutela
e a renovação dos recursos e do patrimônio natural;
 A competitividade econômica: é a capacidade dos sujeitos de produzir e manter ao
interno do território o máximo de valor agregado, consolidando os pontos de contato
entre os vários setores, e combinando com eficácia os recursos com a finalidade de
valorizar a especificidade dos produtos e dos serviços locais;
 A competitividade no contexto global: é a capacidade dos sujeitos de encontrar uma
própria colocação respeito aos outros territórios e ao mundo em geral, de modo a
realizar plenamente o próprio projeto territorial e garantir a praticabilidade no quadro da
globalização (ibidem).

Propor a competitividade no território


Operar uma estratégia que vise a solução dos problemas sociais e econômicos através do
confronto democrático e que, conjuntamente, ponha de acordo os vários componentes sociais,
pressupõe a existência de algumas condições: que os operadores e atores interessados
estejam convencidos pelo fato de que a longo prazo se revelará mais profícuo para todos
operarem conjuntamente e não individualmente; que os territórios estejam ao centro dos seus
projetos de vida, que estejam ativamente envolvidas e que nisso incluam as suas perspectivas

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futuras; que as instituições interessadas ao desenvolvimento do território, sobretudo as
administrações públicas, aceitem a ideia da participação.
A competitividade social, portanto, obtêm-se combinando várias estratégias: participação,
colaboração, gestão dos conflitos e adequamento do plano institucional e social aos contextos
em contínua evolução. O saber agir colegialmente e em modo eficaz contribui em larga escala
para desenvolver atividades econômicas futuras enquanto pressupõe uma ampla administração
entre operadores e instituições. Como demonstra a experiência do programa Leader, um
projeto territorial construído excluindo um qualquer grupo (os jovens, as mulheres, os
desocupados, as classes carentes ou qualquer minoria étnica) perderia parte de sua
legitimidade e de sua praticabilidade a longo prazo. Um projeto territorial que não preveja a
participação de uma instituição estatal que desempenha uma própria função no
desenvolvimento local (organização do território, serviços técnicos, instituições de ensino, etc.)
não seria totalmente integrado e por esse motivo perderia parte de sua força e do seu poder de
impacto. A competitividade social é essencial para legitimar o território, os seus operadores e
os seus representantes de fronte aos poderes decisórios de nível superior, não somente
porque esta consente a obtenção de financiamentos ou subsídios, mas porque confere aos
operadores e as instituições o poder, as capacidades e os instrumentos (empowerment) para
negociar a autonomia necessária para a realização de um projeto territorial (Observatório
Europeu Leader 2001).
A competitividade atua in primis no âmbito econômico do território, contudo, não é possível
alcançá-la se não são adequadamente considerados os aspectos sociais, ambientais e as
diferenças presentes em cada contexto. A competitividade social, mesmo considerando a
noção de coesão e de inserimento social, é um conceito muito mais amplo que engloba a
capacidade dos operadores locais de introduzir e gerenciar conjuntamente as mudanças e de
colher eficazmente os atuais desafios, criando conexões e contatos entre as pessoas, setores e
instituições, entorno de estratégias e ações concretas.
Para Wackernagel e Rees:
As crises ambientais não são tanto um problema ecológico e técnico, quanto comportamental e social
e, consequentemente, podem ser resolvidas com a ajuda de soluções comportamentais e sociais […]
Os seres humanos são certamente organismos competitivos, mas, ao mesmo tempo são seres sociais
e cooperativos. Por fim, é bastante paradoxal o fato de que, hoje, muitas das sociedades de maior
sucesso na economia, tenham uma organização interna extraordinariamente cooperativa e sejam
aquelas com o mais amplo capital social e cultural (Wackernagel e Rees 2000, p. 21).
A construção da competitividade socioambiental local não pode prescindir de ações
coletivas e participativas, que possibilitem envolver as energias indispensáveis para qualquer
estratégia de desenvolvimento. Essa, reforça a capacidade de fornecer respostas responsáveis
e socialmente compartilhadas aos desafios aos quais hoje confronta-se o mundo. Portanto,
numa abordagem ao design orientado à inovação sustentável, a dimensão da participação
conquista um papel estratégico determinante. A participação no projeto, segundo Luzenberger
(2008, p. 3), procura promover novas formas de diálogo entre quem guia o percurso inovador e
quem dele se beneficia. Para o designer o desafio é aquele de estar disposto a discutir o
próprio ponto de vista oferecendo seus conhecimentos técnicos ao serviço da coletividade.
Para a coletividade, o desafio é aquele de alargar o próprio horizonte mental fazendo crescer a
consciência sobre as prioridades e necessidades que as caracterizam.
Além disso, a sustentabilidade exige que a economia seja redirecionada ao serviço das
pessoas e da comunidade. Como demonstram Wackernagel e Rees, o escopo da atividade
econômica deveria ser aquele de favorecer a segurança material nos lugares onde as pessoas
vivem, mais do que promover o consumo para manter a saúde financeira de um país a custas
da ecosfera.
Pode parecer paradoxal, mas a segurança global poderia encontrar suas próprias raízes no
fortalecimento das comunidades e das economias regionais. Nenhum poder sobre a Terra pode gerir
tudo globalmente. Contudo, se as distintas regiões aprendessem a viver segundo um uso sustentável
dos próprios recursos, integrando-o com trocas comerciais ecologicamente balançadas, o resultado
final seria a sustentabilidade global (Wackernagel e Rees 2000, p. 147).

Design, relocalização e resiliência

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Em primeiro lugar relocalizar, ou regionalizar, significa buscar a autonomia alimentar e
sucessivamente aquela econômica e financeira. É um conceito ligado à conservação e ao
desenvolvimento das atividades de base de qualquer território: agricultura e horticultura
(preferivelmente orgânicas e no respeito das estações); autonomia energética e comércio local.
Em alguns casos, o efeito de um processo de relocalização no tempo é uma verdadeira política
monetária local.
Por exemplo, no quotidiano a relocalização pode manifestar-se como uma redução integral
das quantidades nos transportes, originada por cadeias de produção mais transparentes, por
estímulos a uma produção e consumo sustentáveis, e pela menor dependência dos fluxos de
capital estrangeiro. Para Latouche:
Regionalizar e reenquadrar a economia na sociedade local preserva o ambiente, oferece a todos uma
economia mais democrática, reduz a desocupação, reforça a participação e promove a solidariedade;
oferece novas perspectivas aos países em desenvolvimento; enfim, fortifica a saúde dos cidadãos dos
países ricos graças ao aumento da sobriedade e da redução do estresse (Latouche 2009, pp. 61-64).
Segundo Brangwyn e Hopkins:
Num panorama de energia decrescente, o uso de recursos locais permite uma utilização de energia e
materiais menor e mais eficiente: menor transporte de mercadorias, menor emprego de embalagens,
menor dependência das cadeias do frio para os alimentos, economia e conveniência para a reuso e a
reciclagem (Brangwyn e Hopkins 2009, p. 8).
A relocalização, por exemplo, pode reforçar a resiliência necessária em nível local no
confronto dos potenciais efeitos negativos do exaurimento dos combustíveis fósseis e pode
ajudar a reduzir de maneira drástica a pegada de carbono das comunidades.
Para Lester Brown (2002, p. 114): ‘É difícil imaginar uma restruturação setorial mais
importante do que aquela do setor energético, no momento em que se passará do petróleo, do
carvão e do gás natural à energia eólica, solar e geotérmica’. No que diz respeito aos materiais,
a mudança não será tanto nos materiais utilizados, mas na própria estrutura do setor, no
momento em que acontecerá a passagem de um modelo econômico linear para um modelo
econômico circular representado pelo reuso e pela reciclagem. No setor alimentar as grandes
mudanças não serão na estrutura, mas no modo no qual é gerido o setor. O desafio está em
gerir melhor o capital natural, em estabilizar as faldas freáticas e em preservar os terrenos
superficiais. Sobretudo, significa suportar o crescimento da produtividade agrícola para evitar a
necessidade de abater mais florestas para produzir alimentos (ibidem).
De acordo com Hopkins:
Existem mais válidos motivos para importar computadores e frigoríferos do que maçãs e galinhas. O
alimento é o produto mais lógico pelo qual começar a reconstruir a resiliência, mas, os materiais para
a construção, os tecidos, a madeira, a energia e as moedas o seguirão logo após. De fato, no
momento em que for blocado a chegada de computadores e escovas de plástico, graças à resiliência
da comunidade, ainda seremos capazes de obter alimentos, moradia, combustíveis, medicinais e bens
de primeira necessidade (Hopkins 2009, pp. 81-86).
O princípio da resiliência está então diretamente ligado ao conceito de relocalização. A
resiliência refere-se a capacidade de qualquer sistema, do único indivíduo àqueles
econômicos, de resistir e de manter o próprio funcionamento mesmo após uma mudança ou
um choque sofrido do exterior. Para Hopkins (2009, pp. 12-15): ‘Construir a resiliência em uma
comunidade significa reativar a agricultura e a produção de alimentos locais, localizar a
produção de energia, repensar a saúde e redescobrir os materiais locais para a construção’.
Um modo de conceber a resiliência em relação à produção agrícola em uma comunidade é
a permacultura. A permacultura é um sistema baseado nos princípios ecológicos que visam a
instauração de uma cultura permanente ou sustentável. Reúne os diversos modos e estilos de
vida que temos a necessidade de redescobrir e desenvolver para sermos capazes de mudar a
nossa posição de consumidores dependentes para produtores responsáveis (ivi, p. 160-161).
Para Latouche (2005, pp. 80-82) a construção de uma sociedade menos injusta se traduz
também na recuperação da convivialidade e de um consumo mais limitado quantitativamente e
mais exigente qualitativamente. ‘Trata-se de por em discussão o volume exagerado nos
deslocamentos de homens e mercadorias sobre o planeta e o relativo impacto negativo gerado
sobre o ambiente, a publicidade obsessiva e, enfim, a obsolescência acelerada dos produtos’.
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Segundo Illich (1993, p. 3): ‘Sociedade convivial é aquela na qual o instrumento pode ser
utilizado pelo indivíduo integrado com a coletividade e não ser reservado a um grupo especial
que o tem sobre controle’. Convivial é portanto a sociedade na qual prevale a possibilidade
para todos de usar o instrumento para realizarem suas próprias intenções.
De acordo com Latouche (2009, p. 44), a grande transformação necessária para a
construção de uma sociedade convivial e autônoma pode ser representada como a articulação
de oito mudanças interdependentes que se reforçam reciprocamente. O autor sintetiza o
conjunto destas mudanças em oito objetivos que veem definidos círculo virtuoso dos oito R
(reavaliar, recontextualizar, reestruturar, redistribuir, relocalizar, reduzir, reutilizar e reciclar).
Segundo Latouche (ivi, p. 73) as sociedades em desenvolvimento podem acionar um
movimento para colocarem-se na órbita do círculo dos oito R. Essa espiral poderia organizar-se
segundo outras R, ao mesmo tempo alternativas e complementares:
 Romper com a dependência econômica e cultural no confronto do Norte;
 Reanodar o fio de uma história interrompida pela colonização, pelo desenvolvimento e
pela globalização;
 Reencontrar e reapropriar-se de uma identidade cultural;
 Reintroduzir os produtos tradicionais esquecidos ou abandonados e os valores
antieconômicos ligados ao passado destes países;
 Recuperar as técnicas e os saberes tradicionais.
Essas mudanças referem-se sobretudo a um modelo econômico baseado na reconstrução
do tecido social e na auto-organização. Para Latouche (1993, pp. 124-125): ‘Lá onde os
poderes públicos não chegam para resolver os problemas, a própria população encontra
soluções muitas vezes geniais que esses seriam incapazes de por em prática’. A economia da
reciprocidade não é somente um modo para a circulação de bens já existentes produzidos ao
externo das redes; essa reintegra o econômico no social. A preparação coletiva de alimentos,
os serviços de reparação, de manutenção, de instalação etc., equivalem à construção de
habitações, a empresas de hidráulica e de pintura. Isto, estende-se também à fabricação de
calçados, ao trabalho com metais, à carpintaria, ao vestuário, ou ainda, à instrução e a saúde.
A organização comunitária apoia a produção de bens coletivos: da mobilidade as atividades
culturais que não aparecem nunca como tal porque estão mergulhadas na sociabilidade.
As sociedades em desenvolvimento continuam a conservar muitos valores tradicionais. Elas
dispõem de conhecimentos técnicos produzidos pelos países desenvolvidos mas não possuem
a organização produtiva nem os meios materiais para a construção das máquinas, nem o saber
fazer adequado. Em compensação, têm necessidades urgentes para satisfazer. Adaptar os
conhecimentos técnicos e desobstruir os meios disponíveis para produzir o quanto necessário
exige uma engenhosidade como sabe dar exemplo o artesanato informal. Para Latouche
(1993, pp. 186-200): ʻA técnica apropriada encontra aqui, naturalmente, o seu sentido e o seu
campo de aplicaçãoʼ.
Nesse sentido, as tecnologias apropriadas referem-se as máquinas, aos procedimentos de
fabricação mais aptos a um determinado contexto econômico, social e cultural e, muitas vezes,
as técnicas ditas intermediárias. Essas são assim designadas enquanto situam-se entre as
técnicas tradicionais e as técnicas avançadas. Intermediárias do ponto de vista da
complexidade de concepção ou da manipulação, essas compreendem um menor número de
caixas pretas, ou seja, elementos difíceis de compreender. Essas são menos refinadas,
portanto, as máquinas que estão a elas ligadas podem ser facilmente reparadas, produzidas ou
reproduzidas no lugar. Essas são apropriadas no sentido de que os países em
desenvolvimento podem fazê-las próprias, ou seja, dominá-las. São intermediárias também no
nível financeiro. Mais custosas do que os instrumentos simples usados pelos artesãos, são
muito menos caras do que as máquinas de última geração. Enfim, essas técnicas são
intermediárias no que se refere ao número de postos de trabalho criados. Sabe-se que as
técnicas de ponta criam pouca ocupação, enquanto que os equipamentos tradicionais
empregam uma grande quantidade de mão de obra de forma pouco produtiva. Pode-se então
encontrar um justo equilíbrio entre o grau de produtividade e o número de desocupados. As

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técnicas apropriadas são muitas vezes técnicas tradicionais melhoradas. As técnicas
autóctones são, de fato, adaptadas à cultura local e ao ambiente. O melhoramento da
produtividade e do rendimento dessas máquinas pode introduzir inovações nos processos
locais de fabricação, ao invés de desordená-los. Finalmente, estas técnicas são em geral
técnicas doces, ou seja, respeitosas do ambiente em virtude de sua dimensão e concepção,
além de terem sofrido a prova do tempo (Latouche 1993, pp. 149-150).

Design para a valorização da produção no território


O design é reconhecido como elemento estratégico para a valorização dos produtos locais.
Projetar para o território significa promover o reconhecimento e a preservação da identidade e
da cultura local. Produto local é tudo o que possui uma estreita ligação com o território e com a
comunidade que o originou, e neste sentido, os produtos locais abrangem também os eventos
culturais. Estes produtos são o resultado de uma rede tecida no curso do tempo e que envolve
os recursos da biodiversidade, os usos e os costumes tradicionais dos consumidores.
A identidade territorial transforma-se então no ponto de partida de qualquer hipótese de
projeto de relocalização; uma identidade que deve ser selecionada entre os diferentes perfis
possíveis que um território pode exprimir. Essa deve ser reconhecida, renovada ou planificada,
para depois ser compartilhada pelos atores locais (Parente 2010). O projeto da identidade local
desenvolve-se através de uma análise crítica do existente, do próprio patrimônio de valores
materiais e imateriais, e de uma reinterpretação em perspectiva sustentável do uso dos
recursos. Valorizar os recursos e o patrimônio cultural do território significa, além disso,
reconhecer, e tornar reconhecível esses valores e as qualidades do lugar (Krucken 2009). As
ações de projeto, capazes de implementar tais processos, são então fenômenos que induzem
as conexões entre os saberes e a difusão do conhecimento em favor das atividades
cooperativas. Segundo Villari (2009, pp. 176-177): Num sistema territorial assim compreendido,
as implicações do design podem assumir diferentes conotações, quais:
 Social: é um processo descontínuo e negociado, no qual a intervenção sobre o
território, em termos de desenvolvimento sustentável, não se configura como o
resultado de uma decisão imposta pelo alto, mas sim, deriva de um processo
negociado entre as partes que representam interesses diferentes;
 De planejamento: as atividades de projeto podem confrontar-se com a dimensão
econômica e técnico produtiva, ampliando o campo de atividade para as práticas no
campo social, cultural e ambiental;
 Gerencial: a ação de design coloca-se ao interno de um processo amplo que conecta
público e privado e que envolve diversos níveis de competências e os sujeitos
institucionais como os próprios indivíduos e representantes das partes sociais;
 De ligação: a atividade projetual pode ser ela mesma o instrumento para habilitar e
facilitar os processos de natureza criativa para então compartilhar os saberes entre
comunidades heterogêneas.
Essas características podem ser descritas em atividades concretas, em sistemas de
serviços, produtos e sistemas de comunicação que apresentam como objeto o território.
Projetar, então, um serviço ou um sistema de produtos na ótica da valorização territorial implica
um confronto com atividades de natureza organizativa, negociável e gerencial, que se
transformam em parte integrante da ação de projeto.
Ler o território, interpretá-lo, visualizá-lo, construir âmbitos de significado e de visões
compartilhadas, promover formas de projetação participada, transformar as visões em ações e
em iniciativas praticáveis, projetar as interfaces dos serviços que decorrem, promover e realizar
uma eficaz comunicação do inteiro processo são, segundo Parente (2010), capacidades
presentes no fazer design. O design pode então participar dos processos de desenvolvimento
local seja com uma atribuição de organização do inteiro processo, seja na realização específica
de ações projetuais. Colocando em campo o seu particular set de competências e de
instrumentos, o design pode orientar as ações em direção da sustentabilidade socioambiental.
O design para o território, sendo uma atividade de natureza coletiva, apresenta uma clara
dimensão participativa que o caracteriza. Seus pressupostos baseiam-se em situações que têm
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uma forte componente relacional e social. O projeto nasce e se desenvolve em contextos nos
quais a cooperação e a colaboração, são fundamentais para a concretização das mudanças,
próprio porque reconhece a complexidade dos interesses e das realidades que compõem um
sistema territorial. Portanto, o design apresenta uma importância estratégica como disciplina
capaz de organizar, gerenciar e prefigurar relações, modalidades de ação e competências,
para sistematizar e, ao mesmo tempo, delinear soluções operativas específicas derivadas das
formas de projeto de natureza coletiva. Nesta circunstância, a participação transforma-se numa
forma de co-definição do programa de design através da cooperação entre sujeitos promotores
e destinatários do projeto.
Porém, a participação global e profícua da população nos projetos de valorização do
território é um objetivo extremamente árduo de se alcançar, quando não utopístico. O campo
de intervenção seria, pois, muito vasto enquanto uma população é composta por inúmeros
grupos sociais com diferentes interesses, preocupações e recursos. De fato, é oportuno
identificar o maior número de grupos de interesse que cubram os diferentes aspectos da vida
política, econômica, social e cultural; individuar as suas expectativas e motivações e suscitar
nelas a participação, focalizando a sua atenção sobre os elementos e as fases do projeto que
revestem, para eles, a maior importância (Observatório Europeu Leader 1996a, parte I).
Os métodos para suscitar a participação da população local estão estreitamente ligados às
diferentes fases do processo. No decorrer de um projeto é possível distinguir quatro fases
principais:
 A fase inicial de sensibilização, informação e motivação: onde é possível envolver
todos os atores interessados;
 A fase de diagnose: permite a individuação dos problemas existentes;
 A fase de programação e elaboração do projeto: permite a decisão das ações a
realizar;
 A fase de atuação e de acompanhamento: permite a execução do projeto e a sua
manutenção (ibidem).
A primeira fase orienta o público chamado a participar. Durante tal fase é possível adotar
diversos instrumentos em função dos objetivos prefixados: um encontro para discussões,
solicitação de parcerias, reuniões abertas, conferências públicas e mostras itinerantes revelam-
se instrumentos eficazes. Na segunda fase, são maiormente indicados métodos mais seletivos
e intensos como: encontros multidisciplinares, consultorias com especialistas, comissões de
trabalho em função dos setores de atividade, organização de associações locais, elaboração
de dispositivos de diagnóstico local etc. A fase de elaboração do projeto, que faz referência à
equipe de design, requer métodos especializados e exige instrumentos peculiares do design
como os workshops de projeto e as avaliações através de consultas multidisciplinares. As fases
de atuação e de acompanhamento, que se referem diretamente aos operadores envolvidos,
requerem também métodos especializados de assistência técnica, guias de produção, critérios
de qualidade e orientações para a implementação e manutenção dos sistemas e produtos.
Tudo isso demanda notável tempo e energia. Envolver a população numa dinâmica de co-
projetação pressupõe a confiança na (e da) população e a oferta de espaço no momento das
decisões. Nesse ponto, levanta-se a questão da formação: aquela da população local, mas
também do coordenador de projeto e dos facilitadores locais. Se bem tais pessoas possuam
normalmente de uma sólida bagagem projetual – trata-se geralmente de designers, arquitetos,
engenheiros etc. - uma organização de tipo ascendente (bottom-up) não é uma prática simples.
Os facilitadores locais, os coordenadores de projeto e os intermediários culturais devem ser
capazes de compreender a natureza da comunidade local e das relativas estruturas, sejam
formais ou informais, de construir um capital de confiança, de criar redes de contato e de
parcerias, e de conservar uma certa flexibilidade.

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4 Considerações finais

Projetar a inovação sustentável nos países emergentes significa, antes de tudo, considerar o
espaço e as atividades locais como o ponto de partida para a renovação da sociabilidade. A
sociabilidade, por sua vez, constitui a base para a estruturação das atividades que podem
estabelecer a prosperidade nas localidades onde, por diversos motivos, foi perdida a
capacidade de atrair as pessoas para que ali se estabeleçam e elaborarem seus projetos de
vida. É a partir das pessoas, dos seus interesses, das suas expectativas e desejos – e
principalmente pela vontade de idear um futuro em comum – que é possível programar projetos
de design que objetivam a regeneração (Manzini e Jégou 2003) e a restauração (Thackara
2010) das atividades que operam no quotidiano de uma comunidade, ou seja, dos trabalhos
destinados a prover a subsistência, o desenvolvimento de atividades produtivas e econômicas,
até abranger as atividades culturais. Nesse contexto, a cooperação, o compartilhamento e a
reciprocidade, apresentam-se como princípios e valores fundadores da sustentabilidade
socioambiental e econômica do território.
O desenvolvimento teórico empreendido neste ensaio permitiu a construção de um percurso
com o qual entender como os processos inovadores podem ser entendidos, no campo do
design, além dos seus aspectos econômicos. As inovações, entendidas como transformações
socioculturais, são as formas com as quais é possível promover mudanças de tipo radical:
rompendo com os costumes, podem produzir nos indivíduos e na sociedade novos
comportamentos, tais a induzir atitudes intrinsecamente sustentáveis no inteiro sistema
socioeconômico.
Um projeto para o território não pode prescindir de considerar a dimensão social, ambiental,
econômica e cultural do contexto em exame. Um projeto de design que se adapte a isso pode
fazer parte do processo de recuperação dos valores tradicionais, afetivos e de pertencimento
do território. Tal projeto é então determinado pela ampla participação dos vários sujeitos e das
instituições locais. Valorizar o local e relocalizar aquelas atividades que permitem a uma
comunidade de construir uma autonomia basilar, descrevem então possíveis e promissores
endereços com o qual os designers podem orientar seus projetos e experimentações
finalizadas à inovação sustentável.
Em relação à interrogação inicial foram propostas algumas respostas: viu-se que um projeto
orientado à inovação que favoreça contemporaneamente a sustentabilidade e a
competitividade das atividades locais nos contextos emergentes não pode prescindir de uma
atenta investigação e observação contextual; que a capacidade de proposição de um projeto
de design pode ser ulteriormente ampliada através do envolvimento dos atores locais, incluindo
além dos usuários, consumidores e operadores empresariais, também as instituições locais, a
administração pública, os sindicatos, as associações comunitárias, de vizinhança, de
trabalhadores etc., até alcançar a população local; que o princípio de projeto interdisciplinar
pode ser operado através da utilização de instrumentos como o workshop de projeto e o co-
design; que cada resultado de projeto deve ser atentamente verificado e controlado; e, enfim,
que os processos de feedback e de avaliação dos resultados podem ser considerados como
pontos de reflexão para o início de novos programas projetuais ou para a reprogramação dos
sistemas e produtos desenhados. Essa proposta de ajuste do projeto tem o objetivo de manter
a validade no tempo dos resultados que uma ação de design pode alcançar. A importância
desta característica é dada pela (atual) velocidade com a qual evolui e se alteram os contextos
econômicos, sociais, culturais e políticos nos países emergentes.
Hoje, talvez mais que em outros períodos, os designers são convocados a imaginar
comportamentos, idear cenários e prever necessidades. Esta é uma das formas no qual a
inovação sustentável no design pode ser traduzida como geradora de renovação. Uma
renovação endereçada não só para a concepção de percursos alternativos para a satisfação
das necessidades quotidianas ou para a articulação da competitividade de um território, mas
também, para fundar as bases de uma organização comunitária e social mais igualitária e
restaurativa. Estes princípios são então concebidos como parâmetros com os quais avaliar a
validade e a legitimação das ações do design. A prosperidade, entendida como o resultado
equitativo e sustentável das práticas produtivas, é a destinação com a qual endereçar os
esforços para melhorar a competitividade local.

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design de Superfície Sustentável (Sustainable Surface
Design)

CARDOSO, Gabriel Julian Wendling; Graduando; Universidade FUMEC; Brasil


gabrielwendling@gmail.com

CARDOSO, Gabriel Julian Wendling; Graduate Student; Universidade FUMEC; Brazil


gabrielwendling@gmail.com

palavras chave: design de superfície; modulação; sustentabilidade.

O intuito deste artigo é analisar o impacto da informação como resíduo, tanto digital quanto físico. Tendo
como cenário um estilo de vida no qual a demanda profissional geral exige constante atualização, porém
onde se há dificuldade para digerir o excesso de informação. Nesse cenário das velocidades, um resíduo
sólido a ser observado são os periódicos, eliminados antes que sua vida útil esteja terminada. É
apresentado um projeto de design de superfície sustentável que lida com o jornal descartado como uma
possível solução para a incorporação do resíduo na lógica da superfície e reinseri-lo no sistema de
produção. Para isto, foi desenvolvido um módulo baseado na iconografia da engrenagem. Esta foi
repartida e re-estruturada visualmente de forma a relacionar semanticamente a produção industrial em
série, o descarte urbano e ainda o excesso de informação ao assimilar os restos dos impressos de jornal.

Keywords: surface design; modularity; sustainability.

The purpose of this article is to analyze information as a type of material waste just as a digital. Having as
a background a lifestyle in which the general professional demands are that of up-to-date knowledge, and
also of difficulty in processing such amounts. In this scenery of speed, a solid waste to be observed is the
printed news media, eliminated before its service life is reached. Later is presented a sustainable surface
design project which deals with disposed newspaper as a possible solution for the incorporation of the
waste in the logic of surface and through this reinsert it in the production system. This was achieved
through the development of a module based on the iconography of a cog wheel. It was visually sliced and
re-structured in order to semantically relate mass production, urban disposal, as well the excess of
information while the leftover newspaper print is assimilated.

Introdução

O mundo anseia por redução de resíduos. Pode-se resumir essa história com as tentativas do
Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005 e a United Nations Climate Change
Conference, em 2009. Apesar de esses eventos focarem na emissão de gases causadores de
efeito estufa e aquecimento global, o interesse é que se modifique a forma de pensar a
indústria: o chamado desenvolvimento sustentável (KAZAZIAN, 2005). Porém, no ritmo em que
nos encontramos, é necessário que se lide com os resíduos materiais que já comprometem a
qualidade de vida do homem e do meio ambiente. Além da reciclagem, é necessário o
desenvolvimento de projetos de reutilização, de forma que se evite a chegada de resíduos aos
aterros. Enquanto a reciclagem se ocupa da alimentação da indústria através da preparação do
material para voltar ao ciclo produtivo, a reutilização garante um redirecionamento mais rápido
para os resíduos. Trata-se de desenvolver produtos que consigam minimizar a fabricação de
novos, contando com a mesma eficiência funcional, e, assim economizando energia no ciclo de
vida dos materiais. Isso é feito se aproveitando as características físicas encontradas nas
peças descartadas, através de um estudo formal e estético para responder a uma demanda de
mercado com produtos fabricados com essa matéria (BARBERO; COZZO, 2009).

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Lógica de produção e consumo de informação versus seu tempo de absorção

Os problemas que enfrentamos com os resíduos são claros, incluindo o comprometimento


geral da saúde, da qualidade de vida e destruição do meio ambiente. Porém, não sofremos
apenas com resíduos físicos, mas também com resíduos virtuais ou excesso de informação.
Mark Hurst (apud Wurman, 2001) explicita que:
Quem tem um computador pessoal ou um palm top não escapa dos bits. Quando desligamos o
aparelho, os bits continuam se acumulando silenciosamente, preparando-se para nos atacar quando a
máquina for religada. Uma semana de férias sem email significa uma caixa de mensagens abarrotada,
com sete vezes mais bits à espera do nosso retorno. (WURMAN, 2005, p. 6).
Os bens materiais, além de terem se tornado mais baratos devido à produção em massa,
estão cada vez mais avançados, multifuncionais e dotados de tecnologia capaz de resolver
nossos problemas do cotidiano. Com a internet, cada vez mais interativa e inclusiva, todos
podem ficar sabendo das notícias ao redor do planeta ou mesmo o que ocorre em seus bairros,
além de assuntos complexos acessando bancos de teses acadêmicas. A informação está lá, só
é necessário aprender a utilizar os dispositivos de pesquisa. O público geral tem um contato
extenso com assuntos anteriormente apenas acessíveis aos eruditos. Os temas da arte e da
ciência não são mais restritos ao círculo acadêmico.
Tendo sublinhado as vantagens que os avanços tecnológicos propiciaram à acessibilidade,
tanto dos bens materiais quanto da informação para todos, é preciso também ressaltar que não
necessariamente qualidade de vida é garantida aos seus usuários. Conforme Richard Wurman,
[...] a ansiedade de informação é causada pela distância cada vez maior entre o que compreendemos
e o que achamos que deveríamos compreender. É o buraco negro existente entre os dados e o
conhecimento, que aparece quando a informação não diz o que queremos saber (WURMAN, 2005, p.
14).
Isso representa que, apesar da inclusão digital, o acesso à informação não garante que os
usuários sejam capazes de achar exatamente o que querem, ou pior, que tenham capacidade
crítica sobre o que lhes é oferecido. Esse cenário é intensificado quando a informação é
bombardeada sobre a população, gerando um efeito de atordoamento pelo excesso. Ainda
deve-se pontuar a qualidade da informação, e talvez sua veracidade, que como o autor indica,
também dependemos ‘[...] de quem organiza a informação – dos editores e produtores de
noticiários, que decidem quais notícias iremos receber; dos que tomam decisões no setor
público e no setor privado, que podem restringir o fluxo da informação.’ (WURMAN, 2005, p.
14). Apesar de todos sermos iguais na era digital, de podermos participar da esfera social
virtual sem empecilhos, ainda há uma clara hierarquia sobre quem tem acesso a quê e quem
tem o know-how para garimpar informações de qualidade. Assim, enquanto algumas pessoas
vão direto ao assunto por saber navegar na rede de informações, outras não têm muita opção
senão ficar esperando a informação chegar até elas. A alfabetização digital num âmbito geral é
inegável, porém mesmo que não se precise de permissão para entrar em contato com
informação de qualidade, apenas quem desenvolve um senso crítico refinado é capaz de filtrar
aquilo que realmente importa, e isto ainda é alcançado somente no meio acadêmico.
Tendo como proposta uma reflexão sobre a ação do excesso de informação no mundo
físico, foquemos nas mídias impressas, que geram volumes impressionantes predispostos a
terminar em um aterro (quando não vão parar em vias públicas). Sobre as práticas de leitura
de um jornal: será que todos o leem inteiro ou apenas os cadernos de seu interesse? Supondo
que o jornal seja utilizado apenas parcialmente, então grande parte de sua produção foi feita
em vão, se pensarmos na quantidade de exemplares impressos. Isso significaria que um
percentual de água, energia e matéria-prima seria desperdiçado na tentativa de que todos
leiam a informação ali contida. Sobre a vida útil dos periódicos além do jornal, podemos refletir
acerca da capacidade de terminarmos de ler uma edição antes que a nova chegue às nossas
casas. Quase que nos afogamos de tanta informação que recebemos ou somos obrigados a
digeri-la de forma a nos manter atualizados para a vida profissional e social. Se considerarmos
as malas diretas e outros impressos invasivos, a situação se intensifica. Dessa forma,
acumulamos algumas pilhas de revistas pela casa que, esperançosamente, foram lidas na
íntegra pelo menos uma vez. Quando essa pilha gera um incômodo, separamos as edições
mais velhas e as descartamos no lixo. Ou seja, a vida útil da informação acaba antes da vida

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útil do material, este último ainda capaz de atingir sua função. Mesmo assim nos vemos
obrigados a dar um fim às duas. Agora, a questão não é que a produção de impressos
periódicos deve ser considerada errada, mas existe um problema quanto à eliminação dos seus
restos, que pretensiosamente deveriam desaparecer nos lixões. Segundo Hurst, ter ‘bitcultura’,
ou ser alfabetizado no mundo digital, é aprender a lidar com essa informação efêmera,
metralhada para nossos e-mails e outros serviços. Ele indica que devemos aprender a ‘liberar
os bits’: ‘Não tome posse deles. Não tente guardá-los e não se preocupe, porque eles irão até
você.’ (HURST apud WURMAN, 2005, p. 6). Isso funciona muito bem no mundo virtual, pois
todo o lixo também é virtual, basta clicar em ‘delete’ que magicamente tudo o que não se quer
mais desaparece. Sabemos que isso não é possível no mundo físico. Quando queremos que o
lixo de nossa casa suma, podemos até deixar o serviço para os lixeiros, mais isso não significa
que ele desapareceu da Terra.
Agora, é importante pensar que toda a teoria desenvolvida na academia tenha algum valor
para o mundo prático. De outra maneira, seríamos egocêntricos em demasia ao apenas criticar
o que é feito e não contribuir na solução de problemas. Portanto este artigo é a premissa para
o desenvolvimento de projetos que fortaleçam o vetor da sustentabilidade. Para que o design
atue sobre esse tipo de resíduo (os periódicos) é preciso voltar aos princípios da reutilização:
quais são as propriedades e a forma desse material? Com essas informações é possível
projetar e dar-lhe nova vida.

Uma proposta de solução

O papel jornal tem uma gramatura de 40g/m² ou 60g/m² e contém alta porosidade por não ser
revestido. Alguns são impressos em P&B, ou policromia, outros contêm os dois tipos de
processo. Sua dimensão padrão está entre 60 cm x 38 cm e 75 cm x 60 cm, sendo que o
Estado de Minas (utilizado a seguir) tem 64 x 58 cm. Tendo selecionado o jornal para
exemplificar a aplicação ou usabilidade das ideias contidas no artigo, é apresentado aqui o
projeto desenvolvido na disciplina de Estamparia, cursada em concomitância com a
participação no projeto extensionista, da Universidade FUMEC, Design de Resíduos.
O semestre foi conduzido ali para uma produção de caráter sustentável, seguindo as ideias
sugeridas neste texto. Portanto, também foi assumido que a tinta a ser utilizada deveria não
causar impactos ambientais, teria que ser natural. Para isso foi consultado o Professor Antônio
Fernando Batista dos Santos, doutor pela Universidade Politécnica de Valência, o qual auxiliou
no projeto com artigos técnicos e na escolha dos químicos envolvidos. Sobre o jornal, ele tem
qualidades propícias ao design de superfície, por se assemelhar ao papel de parede. Essa
escolha foi essencial para unir resíduos sólidos à área de concentração específica da
disciplina. Assim, houve um estudo da azulejaria portuguesa, pois era necessário o
entendimento das formas de encaixe de módulos para padronagem, já que iria ser criada uma
forma de design de superfície que pudesse ser aplicada e construída visualmente seguindo o
raciocínio modular.

Figura 1: Comparação entre as possibilidades de encaixe: O azulejo português, encontrado na Capela de Nossa
Senhora do Pilar de Recife e a proposta deste projeto (foto usada com a permissão de Santos).

Para a geração dos módulos foi fragmentada uma imagem de engrenagem em quatro
partes, adicionando a elas um módulo reto criado a partir da mesma forma. Com esse conjunto

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poderia ser formado qualquer desenho, pensando-o como uma linha, seguindo a teoria da
Sintaxe da Linguagem Visual, de Donis A. Dondis (DONDIS, 2007). O desenho da engrenagem
foi feito manualmente com estêncil, o qual foi digitalizado e vetorizado. A textura e a abstração
geométrica foram atingidas apenas através desse processo manual, de caráter orgânico, o que
também simula uma corrosão do material. Vale ressaltar que a escolha da engrenagem está
alinhada ao conceito do projeto, que trata a ferrugem como um agente metafórico para a
deterioração dos aspectos humanos. Isso seguiu a lógica do design de superfície, que é ser
aplicada num ambiente e gerar uma proposta de reflexão para o usuário. O público-alvo é
formado por jovens e adultos, numa faixa de 20 a 30 anos, com interesses em cultura e filosofia
e que apresentem questionamentos existencialistas, além de serem praticantes assíduos da
leitura. Além disso, a carga semântica, ou resíduos de imagem contidos no jornal, contribuiria
na construção da ambiência discutida.

Figura 2: Azulejaria sustentável

A tinta foi feita com uma base mix serigráfica, de qualidade opaca e orgânica, e o pigmento
foi extraído de sementes de urucum (Bixa orellana). O urucum foi escolhido pela sua coloração
avermelhada e exigiu um processo de umidificação, maceragem e decantação que durou cerca
de três semanas. Seu insumo foi misturado à base mix e batido até que sua consistência
atingisse o nível adequado. Para a impressão, foram utilizadas as aulas da oficina de
estamparia, além de algumas horas extras, para estampar cerca de 200 folhas que
posteriormente foram cortadas, revelando as peças unitárias, ou módulos. A produção foi
pensada de forma a facilitar a seriação e o corte manual dos módulos, com marcas de corte
seccionando a matriz.

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Figura 3: Arte final para a tela de serigrafia

Figura 4: Impressos dos módulos antes do corte

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Para o teste do protótipo, foi feita a instalação em um quarto. Foram selecionados os jornais
em escala de cinza para a impressão, pois o interesse era no contraste entre o fundo e a figura.
Com relação às camadas de material, temos dois níveis: um abaixo, feito de jornal sem a
impressão serigráfica, e ainda módulos isolados recortados; outro acima, compreendendo os
módulos estampados. Tendo em vista que o fundo da camada inferior é o mesmo contido nos
módulos acima, estes irão se fundir no mesmo plano. Não há diferença de cor ou luz e sombra
entre os dois. Já a impressão dos módulos, será destacada num plano acima pelo seu tom
chapado e radiante. Foram aplicadas peças em formato de engrenagem e quebras nas bordas
para se criar uma transição entre o resto do ambiente da casa e o canto de quarto destinado à
leitura e ao repouso. Agora, sobre as camadas de informação a ideia foi que a impressão
residual do jornal trabalhasse a favor do conceito do projeto, e que, embaralhada e destituída
de seu valor semântico original, agregasse peso composicional criando um efeito estético
relacionado à superexposição midiática. Quando se olha para a camada acima dessa,
contendo a impressão vibrante do urucum, é possível perceber uma tentativa de uma nova
organização desse sistema semântico, dada justamente pela malha de módulos se aglutinando
e subvertendo o que a engrenagem originalmente representa: um pensamento de produção
industrial antiquado, causador dos problemas com os quais o mundo se depara hoje, uma
deterioração do meio ambiente e do homem que nele também vive.

Figura 5: Um sistema em sobrecarga

Figura 6: Por uma nova razão no sistema industrial

A aplicação do jornal na parede foi feita num


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processo similar ao utilizado para papel de parede, porém usando um químico atóxico
chamado Carbox Metil Celulose. Esse produto é biodegradável e, para exemplificar sua
inofensiva ação, é também utilizado pela indústria alimentícia como espessante ou
estabilizante. Quanto ao sistema modular, esse originou um padrão intrincado, representando
uma força de cicatrização do meio ambiente, através do reposicionamento da indústria com um
ideal de sustentabilidade.

Figura 7: Módulos dos Módulos

Figura 8: Ressignificação

Conclusão

Pensando que o problema de design aqui é o resíduo, por que não incorporá-lo na lógica de
superfície? É preciso ressignificar a iconografia da engrenagem, ou sua representação como
indústria tradicional, de forma a reinserir o resíduo no sistema de produção. Esse ensaio
propõe que o revestimento fabricado através da reutilização, contando com o design de
superfície, seja utilizado com propósito de gerar diferentes situações de ambientes. Foi
apresentada uma possível solução, porém é de se acreditar que a pesquisa abra um leque de
desdobramentos para resolver outras aplicações.

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Perspectivas para sustentabilidade: patentes e inovação
em produtos orientados à redução do consumo de água
(Prospects for sustainability: patents and innovation in
products oriented to reduction of water consumption)

PORTO, Renata; Mestranda; Universidade Federal do Rio Grande do Sul


regastal@gmail.com

VAN DER LINDEN, Júlio; Dr.; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
julio.linden@ufrgs.br

Palavras chave: patentes; inovação; sustentabilidade.

Este trabalho apresenta um estudo sobre patentes nacionais referentes a equipamentos de linha branca,
metais e louças sanitárias orientados à redução do consumo de água, com o objetivo de cotejar o nível de
inovação na indústria brasileira nesses segmentos. O sistema de patentes, internacionalmente
reconhecido como instrumento de avaliação do desenvolvimento, é entendido como um meio de estimular
a criatividade no setor produtivo, incentivar soluções técnicas e fortalecer a indústria. Pela análise do
registro de patentes pode se vislumbrar as perspectivas de inovação para sustentabilidade. O padrão de
inovação industrial no Brasil caracteriza-se como defensivo e adaptativo, com investimentos restritos no
desenvolvimento de produtos inovadores. Os resultados desta pesquisa indicam fraco esforço de
inovação em um campo relevante para a sociedade, tanto pelo número reduzido de patentes, como pelos
longos períodos sem publicação de patentes nas áreas analisadas. O baixo índice de inovação reflete a
ausência de investimentos em áreas estratégicas de inovação tecnológica e o descaso com temas
ambientais, contribuindo para a estagnação industrial nesse campo.

Keywords: patents; innovation; sustainability.

This paper presents a study about national patents relative to white line equipment, metals and sanitary wares turned
to reducing the consumption of water, with the aim of collating the level of innovation in Brazilian’s industry in these
segments. The patent system, internationally recognized as assessment tool development is understood by
encouraging creativity in industry production, encourages technical solutions and strengthens the industry. By
analysis registration of patents could glimpse the prospects for innovation sustainability. The pattern of industrial
innovation in Brazil is characterized as defensive and adaptive, with limited investment in developing innovative
products. These results indicate weak effort innovation in a relevant field to society, by the reduced number of patents
and long periods without publication of patents in these areas analyzed. The low rate of innovation reflects the lack
of investment in strategic areas of technological innovation and neglect of environmental issues, contributing for
industrial stagnation in this field.

1 Introdução

A questão do consumo consciente que vem se tornando mais sofisticada com o passar
dos anos, não envolve apenas a preocupação com o meio-ambiente. Passados mais de
trinta anos da conferência de Estocolmo e quase vinte após a conferência do Rio de
Janeiro, os consumidores mais esclarecidos têm a percepção bastante adequada da ideia
de sustentabilidade, e se preocupam com as suas dimensões ambiental, econômica e
social. São frequentes as declarações em jornais e noticiários da televisão de
consumidores que evitam adquirir produtos que de alguma maneira prejudiquem o
meio-ambiente e a sociedade. Um exemplo, entre tantos, está no seguinte trecho de uma
reportagem sobre as preocupações com o ambiente e a cadeia produtiva:
Para evitar o desperdício enquanto o chuveiro a gás não esquenta, Cristine Naum enche baldes com a
água fria não utilizada e guarda para aproveitar na máquina de lavar roupas. Quando vai ao
supermercado, fica atenta à procedência dos produtos e dá preferência àqueles com certificado de
origem e embalagem reciclável. Se compra um produto pequeno em uma loja ou farmácia, ela

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dispensa a sacola plástica e o coloca direto na bolsa. Comprou um carro de motor flex para diminuir
emissões de gases de efeito estufa. Procura orientar e conscientizar seu filho de sete anos e sua
empregada doméstica, que já racionaliza as compras na feira e passou a reciclar lixo em casa. E se
recusa a comprar roupas e sapatos provenientes de países com trabalho semiescravo (Preocupação,
2009).

O vínculo entre os diferentes tipos de desperdício de recursos naturais é abordado


pelo Selo Procel de Economia de Energia, ‘o principal instrumento de indução da
eficiência energética em equipamentos, eletrodomésticos e sistemas de aquecimento
solar no país’ (Eletrobrás, 2008). Inicialmente voltado apenas para o desempenho no
consumo de energia, desde 2006 o Selo Procel para as categorias de máquinas de lavar
roupas automáticas e semi-automáticas, contempla ‘o baixo consumo de água, a alta
eficiência de lavagem e, no caso das máquinas automáticas, a capacidade de
centrifugação’ (Eletrobrás, 2008).
O discurso ambiental, presente em autores da área de projeto e de
desenvolvimento de produtos (Papanek, 1977; Bonsiepe, 1978; Baxter, 1998; Manzini
& Vezzoli, 2002) hoje está sendo assumido por grandes corporações que vêem no
atendimento a demandas de vanguarda da sociedade o caminho para a sua
sustentabilidade. Iniciativas como o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e o
Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) são exemplos do envolvimento
de setores empresariais com outros segmentos da sociedade civil em torno do tema da
sustentabilidade.
Diante do novo ambiente de produção e de competição, onde as normas
ambientais e a certificação ambiental se associam a um novo perfil de consumidor,
algumas empresas estão assumindo o compromisso de se antecipar a exigências legais e
as demandas do mercado. O setor de linha branca adotou o discurso da sustentabilidade
em toda a sua cadeia, contribuindo para a conscientização da sociedade por meio de
ações de qualificação de seus funcionários. Mas existem restrições para implantação de
uma visão comprometida com a sustentabilidade, relacionadas com a dificuldade dos
consumidores brasileiros em pagar um valor superior na aquisição de produtos que
ofereçam dispositivos de tratamento de efluentes. Se na Europa as lavadoras têm filtros
que permitem a saída de uma água ‘o mais limpa possível’, no Brasil isso não é ainda
uma exigência do consumidor. De todo modo, gradativamente se fortalece a tendência
pela adoção de tecnologias mais limpas: ‘O grande diferencial do futuro da linha branca
será a ecologia’ (Bertola, 1998; 2001, apud Ono, 2009).
A relevância do tema redução de consumo de água em atividades domésticas,
como lavagem de roupas e louças, atividades de higiene, torna-se ainda mais evidente
quando se leva em conta o fato de que os sistemas de abastecimento urbano de água no
Brasil apresentam grandes perdas, estimadas pelo Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento (SniS) em cerca de 44%, conforme dados referentes ao ano de 2006
(Eletrobrás, 2008). Esse desperdício torna a água que chega aos reservatórios
residenciais um recurso ainda mais nobre. Além das práticas de reuso de água, com ou
sem tratamento, que vêm sendo disseminadas de maneira sistemática, cabe tratar da
efetiva redução do consumo. Uma das formas para estimular a redução do consumo está
nos produtos economizadores de água, que incluem soluções mecânicas e eletrônicas,
como o uso de sensores. Esses dispositivos, quando utilizados adequadamente, ajudam a
reduzir o desperdício gerado por deixar torneiras abertas e pelo tempo gasto para
acionar o volante da torneira. Em alguns casos essa ação pode ser irrelevante, mas em
muitos casos, os volantes de torneiras e misturadores exigem maior esforço físico ou
controle motor devido ao seu formato ou acabamento, levando a um desperdício de água
tanto no momento de ligar como no momento de desligar. Entender o volante como uma
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interface entre o produto e o usuário ajuda a conceber produtos mais adequados às suas
funções. Contudo, tendências formais de mercado levam ao desenho de produtos, como
volantes de torneiras e misturadores, que não são adequados às habilidades e
necessidades de seus usuários (Campos & Paschoarelli, 2009).
No caso de produtos como metais sanitários, aparelhos sanitários e
equipamentos de linha branca, seguramente há uma contribuição a ser feita na
eliminação de desperdícios, decorrentes de falhas, desatualização de projeto, ou de
perdas que podem ser decorrentes de erros de concepção. Um caso de flagrante
desperdício que pode ser corrigido por meio de um novo projeto está nos dispositivos de
descarga em vasos sanitários com caixa acoplada. Quando esses dispositivos não
permitem o controle do volume de água a ser utilizado, geram um excessivo consumo
de água em diversas situações de uso. Hamzo (2005) estudou o uso de dispositivo
seletivo de descarga que permitiu uma redução de 44,2% de consumo de água em
ensaios de laboratório e medições em campo. Alterações na geometria do vaso sanitário
poderiam contribuir para reduzir mais o consumo de água, nesse caso caracterizando-se
como uma eliminação de perda. Da mesma forma, a redução de consumo de água no
processo de lavagem de roupas está ligado ao conceito de perda, no que se refere a
mudanças no conceito do produto ou à inclusão de novas tecnologias. Iniciativas como a
essa sentido estão presentes nos sítios virtuais de um dos principais fabricantes de
lavadoras de roupas (Eletrolux, 2009).
O Brasil conta com centros mundiais de desenvolvimento de produtos,
vinculados à empresas multinacionais que aqui desenvolveram competências em
determinados segmentos. Esse é o caso da Electrolux e da Whirlpool (detentora das
marcas Brastemp, Consul e Whirlpool), nos estados do Paraná e São Paulo. A análise de
boas soluções de projeto pode gerar um acervo relevante de conhecimentos para a
sociedade, em particular considerando que a questão ambiental deve ser abordada de
forma estratégica. Respeitando-se os direitos dos autores e das empresas, é
indispensável que o conhecimento circule na sociedade promovendo a emergência de
novas iniciativas, novos produtos, novos empreendimentos.
O estudo de patentes permite identificar soluções que podem ser consideradas
como boas práticas. Embora, pela proteção legal que é conferida pela patente, essas
soluções não possam ser simplesmente adaptadas, o seu conhecimento contribui para a
geração de novos conceitos e evita desprender esforço no desenvolvimento de soluções
já existentes e protegidas. A busca de patentes é de livre acesso pelo portal do Instituto
Nacional de Propriedade Industrial, contudo essa atividade exige tempo e isso não se
torna viável para pequenas empresas de projeto, que não contam com uma estrutura
qualificada para realizar esse trabalho de forma rápida e eficiente. A existência de uma
base de dados previamente filtrada contribuiria para maior divulgação do conhecimento
de domínio público.
Nesse contexto, este trabalho apresenta um estudo sobre patentes nacionais e
internacionais referentes a equipamentos de linha branca, metais e louças sanitárias
orientados à redução do consumo de água, com o objetivo de cotejar o nível de inovação
na indústria brasileira nesses segmentos. O trabalho está inserido em um projeto de
pesquisa e desenvolvimento que tem o objetivo de desenvolver uma plataforma de
informações sobre o design de produtos orientados à redução do consumo de água.
Para este trabalho foram procedidos estudos em documentos de órgãos brasileiros de
normatização e de registro de propriedade intelectual, e em associações setoriais. As Normas
Brasileiras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR) foram utilizadas como
referência para caracterizar as categorias de interesse: aparelhos sanitários, metais sanitários
e eletrodomésticos de linha branca. A Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos
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Eletroeletrônicos – organização que representa a indústria de bens de consumo duráveis de
eletrodomésticos e eletrônicos de consumo – é responsável pela definição da categoria de
eletrodomésticos de linha branca, fazendo parte deste os produtos lava louça, lavadora
automática de roupas e lavadora semi-automática de roupas.
Deste modo, para o foco da pesquisa, compreende-se por aparelhos sanitários as
banheiras, bebedouros, cubas, lavatórios, mictórios, pias e tampos, tanques de lavar roupa,
vasos sanitários e bidês. Para o segmento de metais sanitários, restringiu-se aos arejadores
para torneiras, chuveiros, duchas, torneiras, misturadores, válvulas e caixas de descarga. E
para os eletrodomésticos de linha branca foram determinadas as máquinas lava louça,
máquinas lava roupa e tanquinhos.

2 O sistema de patentes

As patentes são títulos de propriedade temporária sobre uma invenção (PI), que supõe um
novo produto ou processo de fabricação e apresentam progresso quando comparados a
similares existentes no mesmo setor técnico; ou modelo de utilidade (MU), que considera
produtos já conhecidos e apresentam modificações na forma e melhorias no desempenho
funcional ou no processo de fabricação (Andrade Lima, 2006; Barbosa, 1996). Podem ser
entendidas como um meio de estimular a criatividade no setor produtivo, fazendo surgir novos
produtos e processos, fortalecendo a indústria do país (Barbosa, 1996), além de incentivar a
demanda de soluções técnicas, ampliando o campo de opções e alternativas de soluções,
possibilitando escolhas eficazes (Di Blasi, 1998).
Os benefícios da propriedade industrial para a sociedade refletem nos ramos empresarial e
técnico-científico, seja pela segurança que oferece aos empresários que investem na pesquisa
para novos produtos e processos de fabricação, assim como para a comunidade científica, que
têm assegurados os resultados obtidos em pesquisa e desenvolvimento (Barbosa, 1996).
Através do conteúdo encontrado no relatório descritivo, nas reinvidicações, nos desenhos e no
resumo, as patentes mais recentes mantêm os empresários informados sobre o nível de
desenvolvimento da tecnologia aplicada aos seus ramos de atuação.
O sistema de patentes é reconhecido internacionalmente como um instrumento de avaliação
do desenvolvimento, sendo ainda um mecanismo de controle da entrada e saída de divisas e
da promoção de setores estratégicos das indústrias nacionais (Di Blasi, 1998; Varella, 2005). A
partir do número de pedidos de patentes requeridos em um país, é possível avaliar o nível de
desenvolvimento e identificar o setor tecnológico de maior crescimento (Di Blasi, 1998).
De acordo com estudos realizados nos anos 2000, o padrão de inovação industrial no Brasil
tem se caracterizado como defensivo e adaptativo, ou seja, pouco se investe no
desenvolvimento de produtos inovadores. Técnicos do INPI reuniram dados de 2004 oriundos
da Organização Mundial da Propriedade Industrial, os quais demonstram que o número de
depósitos de patentes até o ano avaliado, de residentes no Brasil era de 21 para cada milhão
de habitantes, contra 2.884 do Japão, 2.189 da Coréia e 645 dos Estados Unidos (Cassiolato &
Lastres, 2005; Nítolo, 2007).
Os dados bibliográficos presentes nos relatórios são elementos de relevância, visto que
levam ao conhecimento de atividades em outros setores industriais, possibilitando novas idéias
e identificando concorrentes (Barbosa, 1996). Através do estudo de patentes pode-se investigar
a novidade do objeto contido num pedido de privilégio, o levantamento do estado de uma
determinada técnica ou ainda, a precisão do desenvolvimento de um determinado campo
tecnológico em uma região específica (Di Blasi, 1998).

3 O procedimento metodológico

Para análise das patentes, foi utilizado o sistema de busca no portal digital do INPI, que é um
banco de dados de livre acesso. Para o processo de busca nesta pesquisa foram usadas
palavras-chave em títulos e resumos das patentes registradas no portal. As palavras-chave
selecionadas para o sistema de pesquisa básica (modalidade disponível no site) foram as
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seguintes: conservação de água; consumo de água; consumo racional de água;
eletrodomésticos de linha branca; materiais para construção; aparelhos sanitários; lavatórios;
caixas de descarga; bebedouros; tanques de lavar roupa; pias; cubas; mictórios;
hidromassagem; banheiras; vasos sanitários; bidês; metais sanitários; acessórios para metais
sanitários; arejadores para torneiras; chuveiros; duchas; torneiras; misturadores; linha branca;
máquinas de lavar louça; máquinas de lavar roupa; tanquinhos. A partir da análise dos
resumos, foram adquiridos os documentos de registro no INPI, que serão utilizados para
análise qualitativa do estado-da-arte.

4 Análise das patentes

De acordo com a proposta, foram catalogadas informações como título; número da patente;
edição, data e página de publicação na Revista de Propriedade Intelectual (RPI); nome do
inventor; resumo do invento; e imagens ilustrativas do invento. Foram registradas 42 patentes
de PI e 43 de MU, totalizando 85 publicações entre os anos 1990 a 2010 (Figura 1).

Figura 1: Distribuição da publicação de patentes no período de 1990 a 2010

Aparelho M
12
ero de Publicações

10
8
6
4
2
0

Os maiores índices de publicação de patentes ocorreram nos anos de 2003, 2006, 2008,
2009 e 2010, com um total de 45 patentes (52,9% do total do período). Observa-se que desde
1999 existe uma tendência ao aumento do número de patentes concedidas, com dois períodos
de crescimento, um correspondendo ao período 1999 a 2003 e o outro do ano de 2004 ao ano
de 2010.
Com relação aos aparelhos sanitários, pode-se concluir que houve um déficit na produção
intelectual de patentes. Em mais da metade do período analisado não houve registro de
patentes. No total foram contabilizadas apenas 17 patentes, distribuídas da seguinte forma: dez
patentes foram destinadas para vasos sanitários (59%), duas patentes para bacias sanitárias
(12%), duas patentes para mictórios (12%), duas patentes para lavatórios (12%) e uma (01)
patente para vasos sanitários e mictórios (5%).
Quanto as patentes de metais sanitários, foi identificado que as publicações neste segmento
ocorrem a partir de 1993, com intervalo nos anos 1995 e 1996. No período de 1993 a 2010,
houve um total de 52 patentes, distribuídas da seguinte forma: 28 patentes destinadas para
caixas de descargas (54%), dez patentes para chuveiros (19%), sete patentes para torneiras
(13%), duas patentes para válvulas (4%), uma patente para banheiras (2%), uma patente para
duchas (2%), uma patente para duchas higiênicas (2%), uma patente para chuveiros e duchas
(2%) e uma patente para dispositivo controlador de fluxo de água em pontos de consumo de
instalações sanitárias (2%).
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O quadro na Figura 2 apresenta uma lista parcial das patentes referentes a descargas.
Pode-se observar em muitos casos dessa lista a ausência de informações quanto à previsão de
seus efeitos na economia de água. Da listagem total, com 28 patentes, apenas cinco
apresentam dados acerca da redução do consumo de água. Esse é um aspecto importante na
análise, posto que a incorporação de um novo dispositivo em um sistema dessa natureza
deveria ser apoiada em números confiáveis.
Figura 2: Tabulação de Patentes do tipo: Descargas (parcial)

Nome da patente PI ou MU Função e/ou Método Dados da


Objetivo Patente
Caixa de descarga MU8401104U Economia de água Utilização de dois tipos de Não
para vaso sanitário descarga, um para resíduos fornece
com dois sólidos e outro para líquidos números
compartimentos
Caixa de descarga MU8403216U Economia de água e Bipartição da caixa de Não
econômica reduzir tempo de descarga para utilização em fornece
enchimento da caixa dois tempos números
de descarga
Dispositivo de MU8501824U Economia de água Controle do usuário sobre o Não
acionamento múltiplo volume de água a ser utilizado fornece
para caixa de descarga na descarga números
Caixa de descarga com MU8501902U Comodidade, higiene Presença de sensor para aciona Não
sensor e aromatizante e economia descarga aromatizada e fornece
temporizador para controle de números
volume
Caixa de descarga com MU8502240U Economia de água Descarga em dois tempos Não
botão de acionamento fornece
parcial números
Disposição construtiva MU8602809U Economia de água Reaproveita a água usada na Não
aplicada em caixa torneira, reutilizando-a na fornece
acoplada interligada a descarga números
lavatório
Dispositivo MU8801676U2 Economia de água Controle do volume de água Não
economizador de água usado na descarga fornece
para sanitários com números
caixa de água
Sistema inteligente de PI0603314A Comodidade, higiene A urina faz com que um Não
descarga automática por e economia de água circuito se feche e acione a fornece
condutibilidade elétrica descarga do mictório números
da urina
Caixa de descarga PI0705510A2 Economia de água e Otimização no aproveitamento Consumo
econômica e ecológica economia na da água, acionamento parcial, inferior a 7
fabricação da caixa baixo volume requerido, litros por
de descarga possibilidade de usar água não descarga
tratada, eliminação da
retrosifonagem e ser
totalmente estanque
Dispositivo integrado PI0800772A2 Economia de água e Redisposição de componentes Não
em caixa de descarga aproveitamento de da caixa de descarga a fim de fornece
espaço deixá-la compacta sem perda números
funcional

A Figura 3 apresenta a tabulação das patentes referentes a chuveiros. Observa-se que


embora todas tenham como objetivo a redução de consumo de água e/ou energia elétrica,
apenas seis das dez fornecem estimativas de redução. A respeito da dificuldade em gerar
dados reais sobre a redução do consumo, seria possível apresentar valores obtidos em
estudos de laboratório, comparando o uso do dispositivo, como o Temporizador/Limitador de
Água para Chuveiro (primeira patente apresentada na figura 3), com o mesmo chuveiro sem a
melhoria proposta.
Figura 3: Tabulação de Patentes do tipo: Chuveiros

Nome da patente PI ou MU Função e/ou Método Dados da


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Objetivo Patente
Temporizador / MU8401724U Redução do Temporizador acionado por Não fornece
Limitador de água consumo de água e uma bóia que limita a números
para chuveiro energia elétrica quantidade de água usada
no banho
Chuveiro elétrico MU8402626U Redução do Pré-seleção do volume de Economia de 50%
super econômico consumo de água e água a ser utilizado e pré- de energia elétrica
1500 a 2200 W energia elétrica aquecimento da água até a comparado a
temperatura desejada chuveiros
convencionais
Controle digital para MU8700757U2 Redução do Controle do volume e Economia de até
chuveiro com tempo consumo de água e temperatura de água 75% de energia
de banho e ajuste de energia elétrica utilizada elétrica e água
temperatura
Disposição PI0505774A Redução do Gaseificação da água para Economia de até
introduzida em ducha consumo de água e redução de volume e 47% de água
higiênica ou similar maior conforto pressão que sai da ducha
Sistema eletrônico PI0106379-0 Redução do Controle do tempo de fluxo Não fornece
temporizado com consumo de água e d’água números
controle de vazão energia elétrica
para fluxo d’água
Dispositivo MU7702018 Redução do Desligamento do chuveiro Não fornece
temporizador de uso consumo de água e e aquecedor após números
de chuveiro e energia elétrica determinado tempo de uso
aquecedor de água
elétricos
Disposição em MU7702603 Economia de Reduz o excesso de pressão Não fornece
redutor de fluxo para energia elétrica na câmera de aquecimento números
chuveiro
Reservatório de água MU8001810 Economia de água Reaproveitamento de água 100% da água
para recolher as águas utilizada no chuveiro e em usada na descarga
utilizadas e uma outros lugares para ser é proveniente de
entrada suplementar utilizada na descarga de reaproveitamento
para ser usada na vaso sanitário ou mictório (cerca de 120 litros
descarga diários)

A Figura 4 apresenta uma lista parcial das patentes referentes a torneiras, nas quais se
observa a mesma falta de informações sobre o nível de economia que pode ser alcançado.
Figura 4: Tabulação de Patentes do tipo: Torneiras (parcial)

Nome da patente PI ou MU Função e/ou Método Dados da


Objetivo Patente
Disposição MU8602809U Economia de água Água da torneira Não fornece
construtiva aplicada reaproveitada para uso na números
em caixa acoplada descarga
interligada a
lavatório
Restritor de vazão e MU8700053U Economia de água Redução da força que passa Economia em
assento interno para e praticidade pelo registro de água fria torno de 50% de
registros e torneiras e/ou quente água
de água quente ou fria
Torneira de MU8200698-9 Economia de água Controle do tempo em que Não fornece
fechamento a vazão de água fica aberta números
automático e com nas torneiras de
registro de controle fechamento automático
da água

No segmento de produtos de linha branca, as publicações ocorrem a partir de 1999 de forma


regular, com exceção dos anos de 2000, 2003 e 2007, quando não houve registro desse tipo
de produto. A despeito da regularidade, observa-se que nos anos em que houve o registro de

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patenteamento, varia entre uma a duas patentes. Em 2010, verificou-se um crescimento
significativo, com quatro patentes, o que ainda é pouco expressivo. No período de 1990 a
2010, foram identificadas patentes distribuídas da seguinte forma: 15 são destinadas para o
desenvolvimento de máquinas lava-roupas (94%), uma (01) patente para máquinas lava-roupas
e máquinas de lava-louças (6%) e nenhuma patente para máquinas lava-louças.
As patentes referentes às lavadoras de roupas, cuja lista parcial está na figura 5,
apresentam a mesma falta de informações sobre o desempenho previsto. Apenas uma, do total
de 15, informa a redução prevista com a adoção do dispositivo.

Figura 5: Tabulação de Patentes do tipo: Lavadoras de Roupas (parcial)

Nome da patente PI ou MU Função e/ou Método Dados da


Objetivo Patente
Sistema para MU8301937U Economia de água Reaproveita a água do 2º Não fornece
redução de ciclo para uso no próximo números
consumo de água 1º ciclo
em máquinas de
lavar roupas
Disposição aplicada MU8800512U2 Economia de água Reservatório de água entre Não fornece
em lavadora de roupa o tanque e a carcaça, com números
com tanque de reuso dois filtros e sensores para
de água perimetral reuso ou não da água
Lavadora compacta MU8900032U2 Promover a Não esclarece o método Não fornece
de tênis e roupas lavagem de roupas usado números
e tênis de forma
econômica
Método para controlar PI0308893A Eficiência Mede o peso da lavagem e Não fornece
o programa de uma energética e calcula volumes de água a números relevantes
máquina de lavar economia de água serem utilizados baseados a economia de
roupa, e, máquina de em algoritmos de absorção água
lavar roupa de água do algodão
Reutilizador de água PI0603424A Economia de água Reserva a água usada pela Não fornece
de máquina máquina de lavar roupa números
automática de lavar para ser reutilizada em
roupa outras finalidades
Reaproveitador de MU8002700-8 Economia de água Reaproveita a água do Reduz o consumo
água para máquinas enxágue para a próxima de água pela
de lavar roupa lavagem máquina em 50%

5 Considerações finais

No período analisado de 21 anos, observa-se que no Brasil, a maior ocorrência de registros em


patentes com o objetivo de contribuir para a redução do consumo ou do desperdício de água
está na categoria de metais sanitários. Considerando o tipo de produto, o maior número de
patentes está direcionado a caixas de descarga, com 27 registros, seguido de máquinas de
lavar roupa, com 16 registros e vasos sanitários, com 10 registros. Observa-se que não foi
identificada qualquer patente voltada para máquinas lava-louças. Este dado indica uma lacuna
no mercado brasileiro, que é carente de pesquisa e desenvolvimento neste segmento,
apontando uma área em potencial para o desenvolvimento de projeto de produto.
As informações levantadas indicam fraco esforço de inovação em um segmento tão
relevante para a sociedade, tanto pelo número reduzido de patentes, como pelos longos
períodos em que não houve publicação de patentes em todos os segmentos analisados. Isso
pode estar associado a ausência de investimentos em áreas estratégicas de inovação
tecnológica, contribuindo para a estagnação industrial, ou por descaso com temas ambientais.
Não é do escopo deste trabalho, mas caberia averiguar relações entre o baixo nível de
inovação observado no Brasil com relação à necessidade de gerenciar melhor os recursos
hídricos e a situação política e econômica do país.
Observa-se ainda a falta sistemática de informações mais precisas quanto ao desempenho
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previsto. Por um lado pode ser parte de uma estratégia de proteção do conhecimento gerado,
por outro pode refletir falta de apoio, ou de busca de apoio, para a validação de resultados. A
declaração de previsão de desempenho, como ‘redução de 50%’, deve ser feita com base em
experimentos conduzidos com rigor científico. A distância ainda existente entre a academia e as
empresas pode contribuir para esse tipo de problema, com prejuízos para toda a sociedade.
Por fim, esse trabalho terá continuidade com uma análise qualitativa das patentes
identificadas até agora, além de atualização na medida em que novas patentes venham a ser
publicadas.

Agradecimento

Os autores agradecem ao apoio e financiamento concedido pelo Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Processo número 556210/2009-3).

Referências

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Humano-Tecnologia: Produtos, Programas, Informação, Ambiente Construído, 2009,
Curitiba. Anais do 9º ERGODESIGN.
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as implicações de política. São Paulo em Perspectiva, 19(1), pp.34-45.
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Preocupação ambiental do consumidor já resulta em transformações expressivas na cadeia
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Podem o Design Emocional e a Neurociência se tornarem
ferramentas para o desenvolvimento de produtos
sustentáveis? (Can the Emotional Design and the
Neuroscience if become tools for the development of
sustainable products?)

PODLASEK, Celso Luiz; Mestre; Universidade de Caxias do Sul


clpodlas@gmail.com

CASAGRANDE Jr., Eloy Fassi; Ph.D; Universidade Tecnológica Federal do Paraná


eloy.casagrande@gmail.com

Palavras chave: emoções; design; sustentabilidade.

Algumas constatações, derivadas do desenvolvimento sustentável enxergaram que a resolução dos


problemas ambientais deveria ultrapassar a abordagem exclusiva dos objetos em seu contexto material e
penetrar em uma discussão que envolva a sociedade e suas relações de bem estar.
Esta relação de bem estar envolve o produto além de suas características físicas e materiais, incluindo as
relações sociais e os "benefícios" que um objeto possui pelo conjunto emocional que desperta.
Sabemos que é possível medir estímulos elétricos cerebrais de pessoas expostas a determinados
experimentos na Neurociência. Estes testes podem revelar em que nível está a atividade cerebral de uma
pessoa, abrindo a possibilidade de uma mensuração quantitativa. Relacionando estas medições com
considerações emocionais, é possível imaginar um processo que faça uma medição de emoções que um
produto pode despertar em um determinado grupo social.
Dentro destas perspectivas, este artigo vai abordar as ideias e métodos iniciais que um grupo de
pesquisadores estão desenvolvendo para relacionar o Design Emocional com os problemas ambientais.
O objetivo é obter dados quantitativos relacionados com as emoções, que possibilitem o desenvolvimento
de produtos melhores integrados às necessidades sociais e ambientais para contextos diversos.

Keywords: emotions; design; sustainable.

Some evidence derived from sustainable development considers that the solution to environmental
problems should go beyond the exclusive role of objects in their material context, and stimulates
discussion involving society and its relation to well being, including social interaction and the “benefits” that
the material object offers because of the range of emotions it evokes.
We know that it is possible to measure electrical impulses in the brains of people whom are exposed to
experiments in neuroscience. These tests can reveal the level of brain activity of an individual, opening up
the possibility for a quantitative measurement. By comparing these measurements with emotional
considerations, it is possible to envisage a process that can measure the emotions a product may arouse
in a certain group of people.
Within this perspective, this paper will approach the initial ideas and methods that a group of researchers
are currently developing to combine the theories of Emotional Design with neuroscience, aiming to
improve the approach to design in relation to present environmental problems. The objective is to obtain
quantitative data related to emotions evoked by objects, which enables the development of superior
products integrated with social and environmental needs in several different contexts.

Introdução
A proposta de Desenvolvimento Sustentável apresentada em 1987, no Relatório Brundtland,
tem sido a mais aceita para conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção ao meio
ambiente e respeito social. Várias propostas teóricas e metodológicas no design vêm
apropriando-se desta definição, aperfeiçoando abordagens e competências para enfrentar este
desafio.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Isto implica em utilizar meios sistêmicos de pesquisa e análise, que considerem o impacto e
as interferências que um produto causa no meio ambiente, na economia e nas relações sócio
culturais.
No entanto, a grande maioria dos trabalhos científicos, acadêmicos e de outras naturezas,
que envolvem o design e a sustentabilidade, acaba restringindo a análise do produto em sua
materialidade, ou seja, em tópicos como reciclagem, economia de energia, produção mais
limpa, etc.
A subjetividade, relações culturais e psicológicas do consumo passam distantes das
técnicas comumente apresentadas para a sustentabilidade, mesmo sabendo-se que grandes
faixas da sociedade global estão muito distantes de serem classificadas como sociedades de
consumo, especialmente quando comparadas aos EUA, países da Europa Ocidental e Japão.
Mesmo que sejam eficientes os programas de reciclagem, economia de energia e redução da
dependência de fontes de matéria prima não renováveis, a biosfera não conseguirá suportar o
acréscimo de novos grupos de consumidores que apresentam-se dentro do mesmo modelo
baseado na obsolescência e descarte prematuro de bens de consumo. É necessário que
existam novas possibilidades, e que a sociedade exerça o consumo em sua essência máxima,
extraindo todos os benefícios que um objeto possa trazer (Barbosa &Campbell, 2006).
Aumentar a vida útil dos produtos e eliminar a ideia de descarte prematuro pode ser
pensado sem a necessidade de uma revisão ou revolução completa do sistema político e
econômico vigentes. Para isto, a relação com a cultura material deve extrapolar o expediente
ordinário e instantâneo das relações imediatistas de prazer e significações, através de maior
valor simbólico e qualidade nos produtos.
Para o design, que visa trabalhar com a sustentabilidade, um caminho seria assumir os
componentes emocionais que um objeto pode despertar num indivíduo, utilizando esta
característica para caminhar no sentido inverso do descarte, embutindo simbologias que
possam despertar um conjunto emocional que gere apego e satisfação (Chapman, 2005). Isto
não anula as técnicas de abordagens materiais, apenas complementa e amplia as análises que
devem ser consideradas no desenvolvimento de novos produtos.
Aumentando a vida de um produto, não apenas pela sua qualidade de uso e possibilidades
de pós-uso, mas pelas relações emocionais entre o usuário e o objeto, temos assim a
capacidade de utilizar tais características como elementos constituintes para um consumo
responsável e não restritivo.
Não restringir o consumo, mas consumir com responsabilidade é a indicação de um
caminho mais aceito social e economicamente. Para isto devemos assumir o consumo como
uma ação social, livre de preconceitos ideológicos, e composto de uma teia de significações
que derivam-se e montam o complexo do extrato social.
Atualmente entender as manifestações emocionais não é tratar apenas de interpretações
subjetivas sobre comportamento e memória, mas também entrar no complexo científico que
trata a Neurociência, através das manifestações neuro-fisiológicas do corpo humano.
Assim uma pesquisa que pretende ser sistêmica não necessita ficar presa a compromissos
metodológicos rígidos e pode se aventurar em técnicas mistas, que tratem tanto do subjetivo
quanto do objetivo no mesmo objeto de pesquisa.
Esta é uma boa perspectiva para o design, que por natureza se constitui multidisciplinar,
podendo se valer dos conhecimentos já conquistados com as abordagens mais comuns da
sustentabilidade, agregando os modos de pesquisa derivados da Antropologia, Sociologia e
Neurociências nesta nova proposta.
Este artigo trará nos próximos parágrafos a descrição de um conjunto misto de técnicas
que alguns pesquisadores estão iniciando para utilizar o Design Emocional como uma
ferramenta para a sustentabilidade, seu encadeamento como uma pesquisa mista e a
indicação de limitações e alcance nos resultados.

Design Emocional e a Sustentabilidade


Um dos autores mais citados no campo dos estudos das emoções, o neurocientista António
Damásio (1996), afirma que os objetos com os quais nos relacionamos são capazes de
desencadear emoções. Ele diz que os objetos emocionalmente competentes que
desencadeiam sentimentos negativos passam a ser detestados e evitados, e os objetos

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emocionalmente competentes que desencadeiam sentimentos positivos passam a ser queridos
e escolhidos.
Pode-se imaginar que estes objetos podem ser mantidos por mais tempo, ganhando
sobrevida e ainda um descarte mais tardio. É importante, no entanto, ressaltar que os
sentimentos e as emoções não estão no objeto, e, sim, relacionados à experiência de uso da
qual participaram ou intermediaram.
O homem tem a capacidade de reconhecer e distinguir situações agradáveis ou dolorosas
nos objetos, bem como de controlar as emoções e escolher com que objetos desejam conviver.
‘ [...] podemos decidir quais objetos e quais as situações que podem ou não fazer parte do
nosso ambiente, quais objetos e quais situações nos quais queremos investir tempo e atenção’
(Damásio, 2004, p:59).
Ao longo de nossas vidas, estamos sempre tomando decisões em relação aos objetos e
vivendo experiências e relações sociais novas intermediadas por eles.
Donald Norman (2004) realizou um estudo sobre os objetos com os quais nos relacionamos
e apresentou três níveis de design: visceral, comportamental e reflexivo.
O Design Visceral opera no âmbito biológico do homem. Ele produz reações incontroláveis
e instintivas no usuário. Design visceral é quando a forma física do produto — incluindo sua
textura e seu odor — é o aspecto que mais afeta o usuário. O design visceral manifesta-se
principalmente na aparência, no toque e no cheiro.
Conforme a classificação de Norman, o Design Comportamental está ligado ao uso e à
experiência com um produto. Ele diz que a experiência tem algumas facetas, como função,
desempenho e usabilidade. Função diz respeito às atividades mecânicas do produto.
Desempenho diz respeito ao quão bem o produto exerce suas funções. Usabilidade é a
facilidade com que o usuário entende como o produto e seus mecanismos funcionam. O autor
acredita que produtos que confundem ou frustram seus usuários podem gerar emoções
negativas. Mas se o produto atinge o que é esperado, é divertido de usar e satisfaz seus
objetivos, e o usuário será afetado positivamente.
Já o Design Reflexivo diz respeito ao plano subjetivo e pessoal. A forma e a função do
objeto não importam. O design reflexivo está ligado à auto-imagem, às lembranças evocadas
pelo objeto ou às mensagens que os objetos transmitem para outras pessoas. Está
relacionado, também, a aspectos culturais e psicológicos, significados dos objetos e de seu
uso. Este nível é o mais afeito e revelador para o campo do Design Emocional. No plano
reflexivo, os objetos ilustram passagens de nossas vidas, refletem nosso passado, nos dão
orgulho, nos fazem lembrar de algo, nos alegram ou entristecem.
Norman percebe uma distinção importante entre os três níveis: o tempo. Tanto o visceral
quanto o comportamental ocorrem no momento presente em que os objetos são vistos ou
usados. O nível reflexivo, por sua vez, diz respeito a experiências duradouras com os objetos e
que favorece o ‘apego’. Favorece, também, a identificação do usuário com o produto, e ainda a
permanência dos objetos com as pessoas, invertendo o descarte precoce. Ele ainda atenta
para que somente no nível reflexivo residem a consciência e os graus mais elevados dos
sentimentos, das emoções e do raciocínio, afirmando que na maior parte das vezes são os
efeitos do nível reflexivo que determinam na pessoa a impressão geral de um produto. É nesse
nível que podemos refletir sobre o produto em si, considerando o interesse geral das pessoas
por ele e a experiência de uso que elas têm.
Para poder ampliar a vida de um objeto entende-se que é necessário desenvolver atributos
específicos que possam evocar emoções e sentimentos positivos. As pessoas preferem usar
objetos que tenham memória afetiva, aqueles que atuam como lembrete de nossas memórias,
que nos contam histórias, como os objetos do Design Reflexivo.

‘Consumo consciente (ou ético) é um movimento social baseado no impacto das decisões de compra
no meio ambiente e na saúde e bem estar do consumidor. A maior motivação para se consumir
eticamente é certamente o prazer que este tipo de consumo gera nas pessoas’ (Russo & Hekkert,
2008, p:42).

Com estes atributos podemos levar o consumo para seu exercício máximo (Barbosa,
2004), ou seja, usufruir de todos os benefícios que um objeto pode oferecer, em todos os níveis
possíveis, e ir além, fazendo surgir alguns produtos que possam ter sua vida ampliada, mesmo
estando com alguma função avariada, mas com tantos atributos emocionais que seu descarte
não irá ocorrer.

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Esta opção não invalida as abordagens e técnicas ambientais (como ecodesign, design
para serviços, etc) apenas oferece uma complementação, utilizando elementos da
subjetividade humana no processo de desenvolvimento de produtos sustentáveis, já que estes
elementos interferem diretamente sobre as escolhas e consequências ambientais.
A dificuldade reside em como atribuir argumentos subjetivos (emoções) em produtos
concretizáveis (materiais ou virtuais), sem cair em interpretações erradas ou distorcidas sobre
os consumidores. Victor Papanek(1977) alerta sobre esta possibilidade nas descrições de
alguns mitos que circundam a atuação do designer, que dentre outros acredita que tem a
capacidade de interpretar as necessidades de outras pessoas.
Para Papanek em muitos casos o designer adota uma posição arrogante, acreditando que
possui uma capacidade superior de análise e síntese, esquecendo-se de envolver ou ouvir os
usuários sobre suas reais necessidades. Este mito deriva-se da própria metodologia de
trabalho no design, que tem no momento da concepção, mesmo sendo executada ou aferida
em grupo, a atribuição de traduzir num produto as intepretações que alguns poucos
profissionais possuem sobre as necessidades de um conjunto de indivíduos muito maior, os
consumidores. Obviamente que as técnicas existentes tentam minimizar os equívocos, porém
os fracassos ocorrem em grande número e variedade, desde produtos que simplesmente não
vendem até àqueles que tornam-se nocivos à saúde e ao meio ambiente.
As metodologias de trabalho do design são apropriações de técnicas desenvolvidas em
outras áreas, constituído por arranjos mistos multidisciplinares. Os trabalhos que vêm fazendo
referências às emoções estão utilizando pesquisas de comportamento, etnografia, grupo focal,
história de vida, e outras derivadas das Ciências Sociais, que oferecem instrumentos que
conseguem identificar os elementos subjetivos de um determinado grupo social, seus valores,
significações e correspondências.
Estes métodos e técnicas possuem no compromisso ético do pesquisador sua base de
sustentação científica, que tenta trabalhar dentro de princípios de imparcialidade e
transparência na coleta e interpretações de dados. Claro que sabemos que não existem ciência
e pesquisa neutras, e sempre haverão influencias que poderão modificar os resultados, porém
esta possibilidade atualmente não é mais obstáculo para a validação científica de pesquisas
desta natureza (Weber & Cohn, 2006).
O preocupante quando toca a sustentabilidade é que já existe muita informação equivocada
a respeito, e a exploração de uma proposta que envolva as emoções tende a aumentar as
dificuldades, pois a interpretação errada dos elementos subjetivos emocionais pode trazer mais
dificuldades do que ganhos. Neste sentido, as técnicas já desenvolvidas de sustentabilidade,
por suas características quantitativas, demonstram inúmeras vantagens, pois em quase todas é
possível mensurar os ganhos e perdas que um produto ou serviço ocasionam. No entanto,
estas abordagens apoiam-se numa mudança de consciência por parte dos consumidores, sem
descrever como isto irá ocorrer.
Então, para aproximar a exploração emocional das técnicas e métodos sustentáveis
existentes, foram incluídos os avanços que a Neurociência vem realizando nos estudos do
cérebro humano e suas reações neuro-fisiológicas: ´[...] as Neurociências compreendem os
estudos das leis que governam o funcionamento do cérebro como órgão da atividade mental’
(Luria, 1981, p:32).
Estes estudos incluem uma série de técnicas que mensuram reações involuntárias do
corpo humano submetido a um estímulo externo. Todos os sinais que os sentidos humanos
captam, de alguma forma, são processados pelo corpo e envolvem diretamente o sistema
nervoso e suas regiões.
As emoções são processadas em regiões distintas do cérebro humano, e envolvem áreas
que podem ser identificadas em testes específicos, dentre eles o mais comumente utilizado é o
eletroencefalograma (EEG), que mede as variações das ondas elétricas no cérebro humano.
Sendo assim, é possível então tentar medir quais são as reações ocasionados no cérebro
humano quando um indivíduo é exposto a u sinal emocional. Isto abre a possibilidade de
explorar as emoções com testes quantitativos, e aproximar esta abordagem das técnicas
existentes da sustentabilidade.
Deste modo precisaremos determinar quais são os elementos emocionais significativos
para um determinado grupo, aferir sua manifestação no corpo humano e de alguma forma
introduzir estes elementos emocionais em um novo produto.
Não há dúvidas que trata-se de um método de pesquisa e analise misto, envolvendo meios
qualitativos e quantitativos para alcançar um meio mais preciso de mensurar a capacidade
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emocional de um objeto em busca de um compromisso que evite o descarte prematuro de
objetos, caminhando no sentido inverso da obsolescência e abrindo mias uma possibilidade na
busca do desenvolvimento de produtos sustentáveis.

Metodologia
A partir das menções anteriores é possível descrevermos os passos metodológicos que serão
executados. Existem três etapas distintas que devem ser abordadas por métodos e técnicas
apropriadas.
A primeira etapa é a determinação do objeto que se pretende desenvolver através da
perspectiva sustentável, e a partir disto determinar qual será a ampliação de vida útil que se
pretende alcançar, ou seja, fazer uma avaliação sobre como as estratégias de obsolescências
atuam sobre o objeto e qual o tempo de uso e descarte do mesmo, utilizando indicadores
ambientais que possam medir se houve ganhos pelo aumento de expectativa de uso do
produto.
A segunda envolve as emoções, os sentimentos e suas manifestações. Isto fará com que
procuremos emoções comuns num grupo social, todas derivadas dos sentimentos individuais,
que têm sentido e buscam correspondência através do repertório da coletividade que foram
construídos.
Sem muitas dúvidas, teremos aqui uma variedade de objetos que não irão coincidir com o
mesmo que está em desenvolvimento. A pluralidade de objetos ocorre pelo fato da
manifestação sentimental variar em cada indivíduo, a partir de suas experiências vividas. Isto
irá exigir uma delimitação no campo de estudo com as seguintes características:
1. Delimitar o público em estudo seguindo o mesmo gênero, proximidade de faixa etária,
região de moradia, grau de escolaridade e poder aquisitivo;
2. Tomar como experimento uma pequena população específica que permita testar a
hipótese;
Estas medidas visam controlar de maneira mais adequada o experimento, evitando que
ocorram grandes desvios de interpretação.
Mesmo com este controle, a relação de objetos e suas manifestações podem ser
extremamente variadas. Então o que vai se pretender encontrar são quais sentimentos serão
expressos de maneira mais comum entre os participantes.
A técnica eleita para este procedimento é a de história de vida, que é de origem qualitativa
através de um método biográfico que resgata a trajetória de grupos sociais. É uma técnica
narrativa e oral em que um elemento leva a outro, e assim os eventos podem oferecer ao
pesquisador uma riqueza de detalhes que incluam expressões faciais, mudança de
comportamento e até mesmo reformulação de questionamentos e esclarecimentos mais
aprofundados acerca de determinado assunto (emoções e sentimentos), inclusive
confrontando-o com respostas de histórias de outros indivíduos (Haguete, 1987).
Para a obtenção das memórias despertas por determinados objetos, a técnica irá mapear
quais os tipo de emoções positivas que se relacionam com o objeto, isto exige o registro de
manifestações sintáticas, pragmáticas e materiais da pessoa em relato de sua história, ou seja,
manifestações públicas. Os critérios semânticos envolvendo os relatos históricos dão conta dos
sentimentos envolvidos na relação, dando significação e profundidade simbólica aos elementos
relatados.
A execução da técnica necessita que a narrativa se desenvolva a partir de um objeto
particular da pessoa, que irá relatar suas experiências vividas, independente de qual seja o
objeto. O objetivo é verificar se existe alguma (ou algumas) categoria emocional específica que
se repete entre as pessoas submetidas a esta técnica, e o modo de interação e simbologia que
permitiu esta ocorrência.
Como técnica exige um espaço de tempo de aplicação mais extenso que meios
quantitativos, e o número de pessoas submetidas são determinados a partir da saturação de
respostas coincidentes estudadas.
A particularidade destes eventos poderia ser entendida como de pouca validade para o
desenvolvimento de um novo produto, que irá ocorrer para uma coletividade social. No entanto,
estas emoções e sentimentos são possibilidades que se concretizam através de manifestações
sintáticas, semânticas, materiais e pragmáticas, que combinadas propiciam a interação entre o
usuário e sua vida cotidiana.

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Estas quatro dimensões devem ser resgatadas com as histórias de vida, e até mesmo
hierarquizadas, caso exista a influência ou predominância detectada de uma sobre as demais.
Isto também pode ser alcançado quando o conjunto de relatos apresentar saturação de
elementos comuns em cada história relatada.
No entanto, é necessário ampliar este conjunto de signos para obter material suficiente
para o desenvolvimento de um produto, que seja abrangente para uma coletividade, e não
reflita apenas suficiente para poucas pessoas.
Então o passo seguinte será introduzir os resultados coletados nas histórias de vida como
elementos que irão iniciar discussões em grupos focais.
O objetivo desta técnica é tentar encontrar referencias que expressem correlações
emocionais e sentimentais universais e semelhantes àquelas obtidas nas histórias de vida, mas
que possam servir de base generalizadora para o grupo, para formar um espectro mais amplo
e passível de ser utilizado no desenvolvimento de um novo produto.
O grupo focal envolve necessariamente uma discussão sobre os temas propostos. É um
recurso para compreender o processo de constituição das percepções, atitudes e
representações sociais de grupos humanos (Veiga & Gondim, 2001). Estas características do
grupo focal podem tornar homogêneos os elementos singulares apontados nas histórias de
vida e de grande interesse para o desenvolvimento de produto.
Com estes apontamentos os designers podem fazer a concepção do novo projeto.
Levando em consideração do que foi observado quanto aos mitos de Victor Papanek,
entram a partir de agora os testes de eletroencefalograma (EEG), mas muito mais do que isto,
estes testes servem para traçar um caminho mais seguro de desenvolvimento, evitando que
interpretações equivocadas acabem por transformar os dados coletados em produtos distantes
do propósito inicial. Seria a terceira etapa de desenvolvimento
Os testes de EEG necessitam de equipamentos e esquemas determinados para a sua
realização.
Nesta técnica serão utilizados uma amostra representativa da população para qual se
destina o produto. A intenção é descobrir quais são os padrões que se manifestam
regularmente entre os membros da amostra, guardando as ressalvas estatísticas que podem
ser observadas.
Para realizar testes de eletroencefalograma devemos levar em conta que o cérebro
humano é um sistema integrado, mas com áreas responsáveis por processamentos
específicos. Neste caso o lobo frontal do córtex cerebral (Figura 1) é o responsável por analisar
o código emocional de um sinal, ou melhor, dar significado emocional e social para um sinal
que foi captado através de um dos canais receptores do corpo. Lembramos que para isto
outras regiões cerebrais anteriores devem responder positivamente a um estímulo,
especialmente a amigdala, para que a significação emocional ocorra no indivíduo.
Figura 1: Córtex cerebral

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Os testes de EEG não conseguem interpretar o que um sinal significa para uma pessoa,
mas monitorar e registrar as reações no cérebro humano. Deste modo é possível fazer uma
leitura das reações involuntárias que uma emoção causa em um indivíduo.
Existem diversas técnicas em uso e novas sendo desenvolvidas para registrar as reações
do corpo humano em testes de emoção, no entanto o mais usual é o mapeamento cerebral
através de testes de EEG, que consiste em monitorar o cérebro com eletrodos não invasivos
fixados no couro cabeludo para mapear as ocorrências da região dos córtices pré frontais
ventromediano (Figura 2), expondo imagens visuais com apelos emocionais distintos (de
alegria, neutro e tristeza) e registrando as variações das frequências e amplitudes das ondas
cerebrais nestas regiões.

Figura 2: Córtice pré fronal ventromediano

Testes já indicaram variações significativas em conjuntos de indivíduos que mostraram


maior atividade cerebral nas imagens alegres, e um declínio à exposição das imagens tristes
(Teixeira, 2008).
Isto abre a possibilidade de conseguirmos instrumentalizar a subjetividade das
indicações emocionais necessárias para o desenvolvimento de um produto. Determinada a
intenção emocional que se deseja transmitir por um objeto, com estas técnicas é possível
buscar uma verificação se o design desenvolvido está adequado ao seu consumidor. Para isto,
deve-se medir a variação de amplitude das ondas cerebrais que determinada emoção causa
sobre um mesmo grupo de pessoas, pessoas estas que sejam o foco de desenvolvimento do
produto.
Uma vez encontrada qual é a variação das ondas cerebrais para o grupo, um novo
objeto deve ser exposto no mesmo teste de EEG e verificado se as variações de ondas
cerebrais que ele manifesta correspondem ao das emoções que se deseja alcançar.
Para relacionarmos com o meio ambiente, e conseguirmos construir um cenário inverso da
obsolescência, é necessário resgatar as emoções que, de alguma forma conseguiram atribuir
uma vida útil maior para alguns produtos. Neste caso, além da emoção também há
necessidade de um resgate de memória e história, já que esta relação é construída a partir de
diversos momentos ao longo da relação entre o usuário e o objeto.
Então, temos de um lado os elementos subjetivos do consumo, e de outro as reações que
cada emoção causa no cérebro humano, ou seja, a necessidade de utilizar métodos
qualitativos para investigar os elementos emocionais do consumo, e os métodos das ciências
naturais para analisar o que ocorre no corpo humano.

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Os procedimentos operacionais destes testes podem ser obtidos no anexo 1 desta tese.
O teste de EEG será feito em duas etapas. No primeiro os participantes serão expostos a
imagens que tenham correspondência com as informações obtidas a partir do grupo focal, e
outras sem estas características. A intensão é determinar qual é o padrão gerado para estes
grupos distintos. Esta distinção irá classificar quais são as manifestações neuro-fisiológicas que
são compatíveis com as imagens extraídas dos apontamentos dos grupos focais. Pode-se
afirmar que para um produto ser considerado dentro das características emocionais e
sentimentais em estudo, ele deverá ter correspondência semelhante nos testes de EEG.
Deste modo temos um mapeamento prévio do que seria interpretado como compatível,
bastando submeter os produtos desenvolvidos ao mesmo teste. Esta seria a segunda etapa,
além das imagens neutras e compatíveis seriam colocadas as imagens dos produtos
desenvolvidos, e feito a comparação para avaliar em que grau eles se aproximam ou se
afastam dos padrões gerados a partir do grupo focal.
O universo de pesquisa será delimitado pelos estudantes de graduação da Universidade de
Caxias do Sul, integrantes dos cursos superiores da instituição, num total de 37000 alunos.
Dentre vários objetos que estes estudantes possuem, um dos mais comuns e que também
são substituídos facilmente são os aparelhos celulares. Seja pela obsolescência percebida ou
tecnológica, a grande maioria troca os aparelhos é descartado num intervalo de tempo
pequeno se comparado com tempo que a biosfera necessitar para reabsorver os resíduos
destes objetos.
O primeiro passo é determinar por amostragem representativa da população qual é o
tempo de vida que estes aparelhos possuem neste grupo social, e quais são os motivos que
levam a substituição dos aparelhos. Esta etapa poderá ser realizada pela técnica de
questionário, com um tamanho de amostra de 90 indivíduos, correspondendo a um erro de
10%.
O indicador que pretende-se melhorar será justamente o tempo de vida em uso dos
celulares, cuja a extensão será determinada pelos resultados do questionário. Deve-se
entender que o tempo de vida útil não refere-se apenas à funcionalidade prática, pois para
tanto bastaria apenas ampliar a qualidade dos celulares, mas também as demais significações
e referencias simbólicas que estes objetos deverão possuir e manter para evitar o descarte
prematuro.
Para as histórias de vida e grupo focal não existe uma delimitação por tamanho de
amostra, e a saturação das respostas é que determinam que a técnica pode ser encerrada.
Para as histórias de vida serão solicitadas pessoas que possam participar voluntariamente,
dentro de convites que sejam executados aleatoriamente dentre a população em pesquisa.
Os grupos focais serão constituídos por seis integrantes, mais o moderador. A composição
será equilibrada entre três participantes do gênero masculino e três femininos. A instituição
possui 9 áreas do conhecimento, e 74 cursos de graduação, o que possibilita que além da
divisão por gênero, cada integrante seja escolhido a partir de cada curso em específico.
Os testes de EEG irão respeitar ao número de 90 participantes da amostra populacional,
também por amostra acidental, nas duas edições que o teste se repetir.

Limitações
As possibilidades de inconsistência podem ocorrer na fase de coleta de dados, caso as
técnicas de história de vida e grupo focal não sejam executadas de maneira satisfatória. No
entanto estas técnicas podem ser controladas a partir dos procedimentos adotados pelo
pesquisador. Como se tratam de pesquisas qualitativas, a experiência dos pesquisadores,
especialmente os mediadores dos grupos focais são determinantes para o sucesso da técnica.
No entanto, caso sejam mal executadas as técnicas de história de vida e grupo focal, os
referenciais para o desenvolvimento do produto e testes de EEG estarão comprometidos.
As maiores limitações que todo este método pode encontrar são derivados dos testes de
EEG, especialmente pela natureza do ambiente em que devem ser executados. Como trata-se
de uma sala de experimento (Gaiola de Faraday) com temperatura e ruídos controlados, ele
difere das condições habituais do dia-a-dia em que as interações se darão entre os usuários e
os produtos.

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A preparação de uma pessoa para o teste de EEG, com o posicionamento dos eletrodos,
pode levar vários minutos. Entre a passagem de uma imagem e outra sugere-se que exista um
intervalo de tempo para que o registro não seja confundido.
A partir de 20 minutos, numa mesma posição, o corpo pode começar a apresentar sinais de
cansaço, o que pode fazer com que surjam ruídos de estímulos indesejados. Deste modo, a
quantidade de imagens deve ser relevante sem estressar a pessoa em teste. Ainda não existe
uma determinação de quantas imagens devem ser expostas, e talvez isto seja possível só com
o refinamento da metodologia.
A determinação do tamanho da amostra populacional deverá seguir todos os requisitos
estatísticos para poder ter validade quantitativa.
Os gráficos de amplitude e tempo poderão apresentar variações entre os agrupamentos de
cada categoria. Estas variações serão aceitas de acordo com desvios estatísticos previstos.
Provavelmente os estudos sejam reflexos de valores temporários, sujeito a mudanças de
diferentes escalas, o que fará com que sua validade tenha tempo determinado. Este tempo
terá que ser compatível com as expectativas de projeto, fabricação e lançamento do produto no
mercado.
Porém o teste funciona como um elemento de controle que indicará necessidades de
ajustes antes do produto ser lançado.
Existem ainda as críticas que podem ser originadas por oposição epistemológica, que
afirmam que emoções e sentimentos, ou melhor, questões de ordem subjetivas e sociais não
podem ser mensuradas e testadas em procedimentos quantitativos. No entanto o design, em
sua essência, é livre destas concepções determinantes, pois nasceu multidisciplinar, e tem
como objetivo primordial a busca da inovação, e assim deve se aventurar por novos caminhos.
Para a realização desta pesquisa é importante destacar quais são os obstáculos que
podem ocorrer antes da execução, já que ao longo dos procedimentos novas variáveis tenham
que ser controladas para que o resultado expresse cientificamente seus resultados.
No momento é necessário delimitar os pontos iniciais descritos no método, ou seja, o
produto e os indicadores ambientais que se desejam melhorar, bem como o público para o qual
pretende-se destinar o objeto final.
O teste irá envolver profissionais de áreas distintas, que deverão apresentar uma sintonia
de esforços, e ter um entendimento mínimo e sistêmico das teorias envolvidas.

Considerações finais
A metodologia apresentada neste artigo ainda é experimental. A aproximação de teorias
distintas como os conceitos do Design Emocional e da sustentabilidade apresentam a
possibilidade de resultados que representem avanços em novas concepções do design, porém
não pode haver superficialidades epistemológicas que corrompam ou reduzam quaisquer
definições.
Existe também a possibilidade de que novas definições teóricas e tecnológicas ampliem o
entendimento nestas áreas, o que poderá provocar uma evolução nos procedimentos descritos.
Como uma metodologia experimental, os processos foram descritos com base em testes e
métodos efetuados em outras áreas. O design ao agrupar todos eles, além de extrair os
resultados que necessita, deve atuar como o agente de aproximação e integração.
Esta é uma metodologia de aferição de produtos concebidos pelo design. Todas as formas
que constituem o desenvolvimento de um produto devem funcionar em simbiose e com os
mesmos objetivos.
Cabe esclarecer que por serem designers, os pesquisadores não têm a pretensão de
modificar os testes de EEG, apenas atuam como gerenciadores do processo de medição para
o objetivo desta pesquisa.

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Recursos Metodológicos de Ecodesign – antecedentes
históricos e a contribuição das abordagens do século XX.
(Ecodesign methodological resources – historical issues
and the contribution of 20th century approaches.)

SANTOS, Ivan M.; Mestrando; PPGD, Escola de Design da Universidade do Estado de


Minas Gerais (UEMG)
santos.ivan@gmail.com

ALMEIDA, Marcelina das Graças de; DsC.; PPGD, Escola de Design da Universidade do
Estado de Minas Gerais (UEMG)
marcelinaalmeida@yahoo.com.br

palavras chave: design; história; metodologia.

O presente trabalho tem como foco o estudo dos recursos metodológicos do ecodesign. É possível
identificar uma produção bibliográfica cada vez mais dedicada ás temáticas do design e do seu papel
referente ao desenvolvimento sustentável, e, neste sentido a apresentação de diversos recursos
metodológicos que permitem aos profissionais da área desenvolver projetos coerentes às demandas
ambientais emergenciais da atualidade. A partir dos estudos que apresentam e classificam estes
diferentes recursos, analisamos sob o ponto de vista histórico, o aprimoramento destes recursos
metodológicos até a sua configuração atual. Assim, é possível entender a relação direta destes novos
recursos com diversos eventos históricos sejam eles tecnológicos, estéticos, ergonômicos ou culturais,
principalmente do século XX, que contribuíram para sua configuração atual, reconfigurando as
abordagens metodológicas do design aplicado.

Keywords: design; history; methodology.

The current work studies the ecodesign methodological resources. It´s possible to identify a dedicated
variety of bibliography regarding design and its importance to the sustainable development, as well many
resources and approaches that provides to designers ways to develop projects aiming to the new
environmental needs. Based in the many studies that identify and classify this resources and approaches
we have analyzed from historical point of view, the development of this methodological resources to their
new configuration. Therefore it´s possible to understand the evolution of this approaches based in
technological, esthetic, cultural and historic events from twentieth century.

Introdução

Na última década temos acompanhado o desenvolvimento de trabalhos de design que


investigam a relação entre o design e o desenvolvimento sustentável. As bibliografias
referentes ao tema têm se mostrado extremamente dedicadas a contribuir construtivamente
para definir os aspectos do papel do design para o consumo do futuro, principalmente,
apresentando projetos desenvolvidos no contexto atual.
Deste modo, podemos perceber que as mudanças cada vez mais rápidas e a evolução e
maturidade das soluções de design para a sustentabilidade se devem a uma constante busca
da prática do design aplicada às atuais preocupações referentes ao desenvolvimento
sustentável. Vezzoli (2010) aponta ainda uma mudança na maneira como o design tem se
portado perante o tema, apresentando soluções ligadas a novos sistemas de produção e
consumo, superando as soluções isoladas e, ainda, aumentando a complexidade das questões
envolvidas no projeto, sejam elas ambientais ou sociais em uma perspectiva mais madura.
Este estudo pretende entender este processo de amadurecimento dos recursos e soluções de
design para a sustentabilidade a partir de dois aspectos abordados de forma investigativa: o
primeiro é dedicado aos autores que apontam a organização e classificação destes recursos

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metodológicos nas bibliografias dedicadas ao tema, de forma a compreendermos sua definição
e natureza. O segundo aspecto tem como objetivo apresentar os antecedentes destes recursos
de design, ou seja, as tentativas situadas principalmente no século XX, dedicadas ao
desenvolvimento sustentável, sejam movimentos estéticos, novos materiais e processos de
produção ou mudanças nos aspectos de concepção de produtos a fim de atender aos
requisitos ambientais de projetos de produtos.
Esta abordagem nos permite compreender a dimensão de mudança contínua em que estamos
inseridos e como o design tem respondido às demandas atuais. O acompanhamento das
bibliografias nos revela um momento único de convergência global de informações e que,
segundo Reis (2010) nos apresenta uma verdadeira “revolução sustentável no design de
produtos”.

Recursos metodológicos de design para o desenvolvimento sustentável

Partindo da análise dos recursos e soluções de design para sustentabilidade, é imprescindível


dedicarmos nosso olhar para o entendimento dos métodos aplicados ao desenvolvimento de
produtos. A preocupação com o desenvolvimento sustentável, além dos outros fatores que
influem no desenvolvimento de produtos, como os fatores mercadológicos, tecnológicos em
escala global, vão afetar a configuração dos métodos de design diretamente. Ashby e Johnston
(2002) colocam a sustentabilidade lado a lado com mais quatro fatores que influenciariam
diretamente os métodos de design na atualidade: o clima do mercado, a linguagem estética
vigente, os desejos do mercado e as disponibilidades tecnológicas e científicas.
A partir desta abordagem, podemos perceber a amplitude e a complexidade referentes aos
desafios do desenvolvimento sustentável associado ao mercado, ao consumo e à cultura
material. Além disso, como podemos perceber na figura 1 o processo de design perpassa a
conceituação, o desenvolvimento e o detalhamento, mas tendo como preocupação a produção,
o uso e o descarte dos produtos projetados.

Figura1: As forças que influenciam o processo de design. Retirado de Ashby e Johnston, 2002, p. 8.

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Com a intenção de compreender com mais profundidade o fator de influência ligado aos
aspectos ambientais do projeto, Fuad-Luke (2009) apresenta-nos mais de 150 recursos
utilizados em projetos para satisfazer esta questão. Diferentemente, o autor dedica ainda mais
atenção às fases do processo de design, e situa os recursos ligados à sustentabilidade em
relação às fases do projeto e do ciclo de vida do produto, como podemos ver na tabela 1.
Na obra em questão, o autor utiliza, também, uma legenda de dados para classificar os
projetos apresentados. Nela, ele apresenta o designer responsável pelo projeto e sua
nacionalidade, o produtor e sua nacionalidade, os materiais e componentes utilizados no
produto, os recursos ou estratégias utilizadas no projeto para requisitos ambientais do projeto
e, finalmente, os prêmios e certificações alcançados pelos produtos na área do ecodesign.
Assim, associamos as informações da legenda aos recursos apontados pelo autor e
numeramos o número de soluções apresentadas referentes às estratégias de ecodesign
aplicados nos projetos com foco em diferentes fases da vida do produto.

Tabela 1: Classificação de projetos, estratégias de ecodesign, fases da vida do produto e número de recursos
apresentados.Baseado em Fuad-Luke, 2009.

FASES DA VIDA DO NÚMERO DE


TABELA DE CLASSIFICAÇÃO
PRODUTO RECURSOS
Nome e nacionalidade do designer responsável. Pré-produção 60
Nome e nacionalidade do produtor / fabricante. Produção 37
Materiais e componentes utilizados para redução de
Distribuição 5
impacto ambiental.
Recursos/estratégias de ecodesign aplicados no
Uso 66
projeto.
Prêmios e certificações obtidas pelo produto
Descarte 8
referentes à sustentabilidade.

Diferente desta abordagem, Barbero e Cozzo (2009) nos apresentam uma classificação dos
recursos de ecodesign a partir de sua natureza, do benefício direto gerado pela adoção do
recurso no projeto. As autoras apresentam diversos projetos que são classificados por estes
oito recursos:
• Design de componentes,
• Miniaturização / redução do volume,
• Reciclagem e Reuso,
• Uso de Monomateriais/ seleção de biomateriais,
• Uso de tecnologias para a sustentabilidade,
• Design de serviços / desmaterialização,
• Redução do uso de materiais / design para desmontagem,
• Design de sistemas.
Se considerarmos a forma como as duas últimas obras analisadas nos apresentam os recursos
de ecodesign, podemos perceber as diversas aplicações possíveis e a magnitude dos
resultados para os métodos de design e para o desenvolvimento de produtos e sistemas de
produção e consumo. Neste cenário, a contribuição destes recursos para desenvolvimento de
produtos que possam satisfazer as necessidades do mercado, ser viáveis economicamente e
combinarem fatores de uso com os requisitos ambientais é enorme.

Design e desenvolvimento sustentável – fatores históricos

Vimos anteriormente que a preocupação com os impactos ambientais advindos da produção de


bens de consumo vem alterando a maneira como designers abordam o desenvolvimento de
produtos, fazendo com que métodos e estratégias de ecodesign sejam cada vez mais
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aprofundados e consigam atender cenários complexos. Também notamos que o aumento da
produção de produtos ecologicamente coerentes e de ferramentas de projeto fez com que uma
revolução acontecesse na prática e cultura do design, reconfigurando aspectos de consumo e,
conseqüentemente nossa cultura material.
Percebemos que a proposta do modelo de Ashby (2002) das cinco forças que influenciam o
processo de design pode ser compreendida como um modelo dinâmico que coloca os materiais
e processos como o repertório para que os designers desenvolverem novas linguagens em
produtos (figura 2).

Figura 2: Influência das novas tecnologias no processo de design. Retirado de Ashby e Johnston, 2002, p.9.

Neste contexto, entender o século XX, e o caminho percorrido pelo design neste período se
torna essencial para entendermos os antecedentes destes recursos de ecodesign. Adotaremos
aqui a abordagem de Fiell e Charlotte (2006), que apresentam um entendimento da história do
design a partir dos recursos de linguagem dos designers, neste caso: estilos, materiais e
concepção.
Se considerarmos esta abordagem podemos perceber a relação direta dos recursos
tecnológicos e metodológicos disponíveis em cada período da história, e os bens provenientes
deste contexto. Fuad-Luke (2009), por exemplo, apontará que a produção de bens sustentáveis
é anterior à revolução industrial. Para ele, os móveis e utensílios produzidos nos períodos
históricos anteriores à revolução industrial seguiam uma lógica de produção local que
valorizava os recursos disponíveis e processos de produção não degradantes.

Primeira metade do século XX


O autor ainda aponta uma relação direta entre o nascimento da preocupação com o meio
ambiente, com o nascimento dos processos industriais. Ele afirma que “os fundadores do
Movimento Britânico Arts and Crafts já notavam a degradação ambiental associada às novas
práticas industriais” desenvolvidas entre as décadas de 1850 e 1910.
As décadas de 1920 e 1930, segundo ele, foram dominadas pelo discurso modernista que
defendia o uso de formas associadas à função e o desenvolvimento de produtos de fácil
produção em massa, alta qualidade, duráveis e de baixo custo, assim, contribuindo para a
reforma social. Neste sentido, a economia e uso racional de materiais e energia andavam de
mãos dadas com o funcionalismo e modernismo.
O desenvolvimento de materiais e processos também acompanhava a mesma lógica, e,
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segundo o próprio autor o principal exemplo do período foi o uso do metal tubular no
desenvolvimento do mobiliário. A cadeira Wassily modelo B32 de Marcel Breuer, é uma
referência direta deste ideário, presente também na escola Bauhaus, de onde Breuer é
oriundo.
Nas décadas de 1930 e 1940 podemos perceber que estes princípios modernistas foram
somados ao desenvolvimento de novos processos que valorizavam a utilização de materiais
orgânicos com economia de energia, alta durabilidade, satisfazendo necessidades
ergonômicas e emocionais dos usuários. Como exemplo, Fuad-Luke nos aponta as peças de
compensado de madeira de Charles e Ray Eames.

Segunda metade do século XX


Em seqüência, nas décadas de 1950 e 1960, podemos ver dois movimentos bem diferentes
influenciando a maneira como nos vestimos, pensamos e agimos. O primeiro movimento é o
Streamline, valorizando a aerodinâmica e os desenvolvimentos tecnológicos ligados aos meios
de transporte, aeronaves e locomotivas. O segundo é o movimento hippie que valorizava o
consumo consciente e o equilíbrio com a natureza.
Neste período, a aceleração e propagação dos processos industriais levaram a questão
ambiental a ser “entendida como o impacto da produção e consumo no equilíbrio do sistema
ecológico” (Vezzoli, 2010), gerando discussões e investigações. Assim, na década de 1970
foram publicados os primeiros estudos científicos sobre o tema.
Durante os anos 1980, segundo Vezzoli (2010, p.20)
“os debates internacionais sobre a questão ambiental se
tornaram mais intensos e tiveram maior propagação. (...) as
instituições assumiram uma conduta pautada por uma série de
normas políticas e ecológicas, as quais se baseavam no
princípio do poluidor-pagador, e a partir das quais se
analisavam as atividades produtivas”.
O autor ainda apontará as décadas de 1980 e 1990 como as definidoras dos conceitos,
legislações internacionais e criação dos programas internacionais de desenvolvimento
sustentável, como a UNEP ( United Nation Enviromental Programme, Programa ambiental das
nações unidas).

Considerações Finais

Como vimos neste estudo, os recursos metodológicos de design para a sustentabilidade e as


estratégias utilizadas pelos designers para alcançar as metas do desenvolvimento sustentável
têm evoluído de acordo com diversos fatores que influenciam o processo de design. Estes
fatores podem ser entendidos historicamente a partir de movimentos estéticos e conceituais,
desenvolvimento de materiais e processos e abordagens sistêmicas e complexas relacionadas
ao processo de desenvolvimento e fabricação de produtos.
Percebemos que o século XX forneceu aos designers uma série de recursos e estratégias
ligados à preocupação ambiental, principalmente referente à redução de materiais, reciclagem,
desenvolvimento de materiais biodegradáveis, miniaturização, desenvolvimento de serviços e
aumento da vida útil dos produtos. Este novo cenário permitiu ao design assumir papel
importante na busca pelo desenvolvimento sustentável e para novos estilos de vida e consumo.

Referências

ASHBY, Mike F. e JOHNSON, Kara. (2002). Materials and design: the art and science of
material selection in product. Oxford: Elsevier.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
BARBERO, S. COZZO, B. (2009). Ecodesign. H.F. Ullman.
FIELL, P. CHARLOTTE. (2006). Guida al Design. Concezioni, materiali, stili. Taschen. Italia.
FUAD-LUKE, A. (2009). Ecodesign, the source book. Third Edition. Chronicle Books. United
States.
REIS, D. (2010).Product Design in the Sustainable Era. Taschen. Germany.
VEZZOLI, C.(2010). Design de Sistemas para a Sustentabilidade. EDUFBA. Salvador.

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Ecodesign e Consumo – um estudo de caso sobre
contribuição do design para comunicação da cadeia de
valor de produtos. (Ecodesign and consumption – a study
about the design enhancements to the value chain of
products communication.)

SANTOS, Ivan M.; Mestrando; PPGD, Escola de Design da Universidade do Estado de


Minas Gerais (UEMG)
santos.ivan@gmail.com

RIBEIRO, Rita A. C.; DsC.; Professora do Programa de Pós-Graduação em Design


Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
rita_ribeiro@uol.com.br

palavras chave: design; cadeia de valor; consumo.

O estudo de caso foi desenvolvido durante o processo de criação das peças da coleção 2010 da empresa
Miho Design Consciente. Utilizando a metodologia do ecodesign e buscando ampliar o entendimento pelo
usuário dos recursos de design que contribuem para o desenvolvimento sustentável, o processo de
comunicação das peças contou com a representação da cadeia de valor dos produtos em catálogos,
manuais e website. De forma simples e direta, este instrumento permite que o usuário compartilhe da
ideologia da marca e se informe sobre o processo de produção, aproximando-o do mesmo. A busca pelo
desenvolvimento sustentável e pelo consumo consciente passa pelo design e pelo desenvolvimento de
técnicas e métodos atualizados às necessidades dos usuários e das corporações. Assim, para validar
todo o processo, utilizamos o Metaprojeto como instrumento de averiguação dos diversos aspectos
envolvidos neste cenário complexo. Veremos que este estudo apontará para aproximação da marca e dos
usuários tendo como interface, os recursos de design.

keywords: design; value chain; consumption.

This study was developed during the design process that developed the items of the 2010 collection of
Miho conscientious design Company. Making use of ecodesign methodologies and aiming to increase the
users perception of design resources for sustainable development, the chain of value communication was
represented properly in catalogs, manuals and website. In a simple direct way this tool allows users to
share the company vision and the manufacturing process bringing them closer to it. The sustainable
development and conscientious consumerism pursue are linked directly to design´s resources and
methodologies that can synchronize user´s and companies’ needs. Though, validating this approach, the
Metaprojeto was used to check the many variables that this complex globalized scenario offers us. We´ll
see that this study will show that design techniques can be used properly as the interface between users
and brands.

Introdução

O estudo de caso foi realizado durante o desenvolvimento de alguns produtos dentro da


empresa MIHO, de Belo Horizonte. A colaboração de profissionais das áreas de design gráfico
e de design de produto com interesse na prática e no estudo das teorias do Ecodesign foi de
suma importância para o desenvolvimento do projeto. Porém, não apresentaremos aqui o
processo de desenvolvimento dos produtos, e, sim, aspectos relacionados à validação dos
recursos metodológicos de ecodesign sendo utilizados como informação para criação de valor
dos produtos.
Neste sentido, estas informações foram tratadas como fatores de grande valia, para que o
usuário possa compreender as estratégias adotadas pela empresa para garantir o
desenvolvimento de produtos de alta qualidade com redução e controle dos impactos
ambientais. Para assegurar o controle das diretrizes do projeto de comunicação utilizamos do
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Metaprojeto, abordagem que prevê um conhecimento sistêmico dos diversos fatores que
influenciam o projeto. O estudo apontará como foram selecionadas e apresentadas as
estratégias de ecodesign em manuais de venda, website e outras mídias.

Sustentabilidade e Design nas empresas

A relação entre o processo de desenvolvimento de produtos e as questões ambientais é hoje


um dos grandes focos de estudo no design. Para Ashby e Johnson (2002), as questões
relacionadas à redução de impacto ambiental no projeto de um produto são uma das forças
que influenciam um projeto. Neste sentido os autores apontam as estratégias de
sustentabilidade como um dos cinco fatores que influenciam todo o processo de
desenvolvimento de um produto, juntamente com as exigências do mercado, tecnologias
disponíveis, estratégia de negócios e linguagem estética.
Podemos perceber nesta abordagem uma coerência com outros autores, como Reis (2010)
que demonstra a mudança da percepção das questões ambientais. Para o autor, nas últimas
décadas a melhoria constante no entendimento da questão associada ao desenvolvimento de
tecnologias, métodos e ferramentas têm causando uma revolução de produtos sustentáveis.
Para Vezzoli (2010), o design deixou de atuar de maneira pontual, para o desenvolvimento de
sistemas produto/serviço, estratégias e estilos de vida sustentáveis.
Em sua obra sobre o Metaprojeto, Moraes (2010) aponta as questões referentes à
sustentabilidade socioambiental como um dos aspectos contemporâneos mais importantes das
abordagens contemporâneas do design. Porém, como o autor apresenta uma abordagem
sistêmica, as decisões projetuais dedicadas à sustentabilidade devem estar em consonância
com outros fatores que, conjugados, formam as forças que irão influenciar e configurar o
planejamento sistêmico do projeto: tendências mercadológicas, estratégias, tecnologias e
linguagem estética. Neste sentido, percebemos que o projeto de design tangencia vários
aspectos normalmente direcionados a diferentes áreas, mas cumprindo papel importante para
a formação dos atributos dos produtos e da marca. No caso apresentado, percebemos como a
empresa interpreta estes atributos e os apresenta aos usuários:
“A coleção O Mundo Descartável propõe uma reflexão a respeito da
superficialidade das relações, dos objetos que são inutilizados
rapidamente e da falta de significados mais constantes e duradouros. É
sobre as escolhas conscientes, relativas - ou não - ao consumo; sobre
as relações do homem com o mundo contemporâneo e de sua
incapacidade sensitiva. A intenção é levantar questionamentos e
reflexões, além de contribuir com a função prática destes produtos,
provando que é possível fazer moda contemporânea de maneira
sustentável. Os produtos da coleção O Mundo Descartável foram todos
desenvolvida a partir de matéria prima residual, orgânica e reciclada.
Em todo o conceito da coleção foi utilizado a estética do excesso e o
objetivo é chamar a atenção para como as coisas são dispensadas no
planeta, para a maneira que se vive conectado ao presente sem cogitar
resultados das ações em um futuro próximo. É uma coleção
propositalmente sem datações ou referências temporais justamente por
propor uma moda mais durável, que não se desatualize com as
estações.” (Website Miho, em dezembro de 2010)

Podemos concluir que uma empresa que se configura como escritório de design que atua nas
áreas de gráfico, de produto e de moda, e que trabalha conjugando estes serviços ao conceito
do design consciente (termo usado pela empresa para denominar o direcionamento de seus
processos, produtos, metodologias e serviços, que estão estritamente voltados para o
desenvolvimento sustentável), deve direcionar todas as decisões para o baixo impacto
ambiental gerado em todos os seus processos. Assim, as informações presentes nos canais
de comunicação da empresa confirmam os preceitos apontados por Moraes (2010), porém, não
existe uma estrutura comunicacional referente ao projeto de design direcionado à informação a
ser transmitida, principalmente a transformação destes recursos de design voltados à
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sustentabilidade em valor percebido para os usuários.

Ecodesign e comunicação

Percebemos que diversas bibliografias apontam a preocupação com o desenvolvimento


sustentável, seja como uma medida de contenção do consumo desenfreado, dos impactos
exagerados causados nos últimos séculos, ou como oportunidade para um mercado cada vez
mais crescente. É por isso que muitas empresas desenvolvem maneiras de garantir o direito do
cliente de se informar sobre todas as etapas da produção dos bens de consumo e serviços
oferecidos.
Fuad-Luke (2009) apresenta uma legenda de classificação de produtos sustentáveis. Nesta
legenda, diversos dados referentes à localidade, projetistas, produtores, materiais, processos,
dentre outros, são expostos divididos em cinco grupos:
1. identificação e nacionalidade do designer / designer-produtor,
2. identificação e nacionalidade da empresa produtora,
3. materiais e/ou componentes de baixo impacto ambiental,
4. estratégias de design / decisões de projeto como foco em sustentabilidade, e
5. premiações ou certificações referentes à natureza sustentável do produto.
Barbero e Cozzo(2009), diferentemente, organizaram os recursos de ecodesign em nove
categorias, dependendo do tipo de solução projetual, e apresentam, como uma proposta para a
comunicação sustentável de produtos e serviços, o uso de recursos de eco-publicidade:
“utilizando a sustentabilidade tanto como objeto direto da mensagem, bem como uma
ferramenta para validar e publicizar o produto no mercado.” (BARBERO, COZZO; 2009, p.32)
1. Design de componentes,
2. Redução de materiais e design para a desmontagem,
3. Monomateriais e biomateriais,
4. Reuso e reciclagem,
5. Redução de volume,
6. Design de serviços,
7. Tecnologias sustentáveis,
8. Eco-publicidade,
9. Design sistêmico.
A primeira coleção da empresa em questão já levava em consideração diversos destes
aspectos, como vimos anteriormente. Assim, as informações sobre matérias-primas, processos
e estratégias comerciais, como parcerias, eram apresentados em manuais e no site da
empresa de forma descritiva:
“As garrafas utilizadas na produção das embalagens são recolhidas
diretamente após o uso pelos próprios fornecedores (buffets e adegas).
Este vidro é recolhido e levado ao parceiro instituto Kairós, que faz a
limpeza e o corte dos anéis. A folha de fibra de bananeira e sua
viscose são produzidas no instituto Kairós. Seu processo de produção
é 100% artesanal, desde a colheita das folhas em cultura até o seu
cozimento e secura ao sol. Fabricado pela empresa Menegotti, a malha
utilizada nas roupas (linha Ecologic) é 100% de algodão orgânico e seu
tingimento é feito por pigmentos naturais, como a clorofila, imbuía,
cebola, ipê roxo e cedro rosa dentre outros. A tinta utilizada nas
estampas é produzida industrialmente, constitui-se de pigmento
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orgânico e fixador ainda químico. O catálogo manteve o conceito.
Produzido pela empresa Sulamericana com papel Silprint 120g/m
100% reciclado” (Figura 1). (Website Miho, em dezembro de 2010)

Figura1: Peça, embalagem e catálogo - coleção 2008

Todas as informações sobre os materiais, processos, parceiros e produção eram encontradas


no site da empresa, bem como nas demais mídias impressas, como manuais de venda,
catálogos e editoriais. Porém, esta informação ainda não possuía uma abordagem direta,
apesar de estrategicamente conter todos os elementos apontados por Fuad-Luke (2009) em
sua legenda: pré-fabricação, fabricação, uso e pós-uso. Desta forma, utilizamos o Metaprojeto
para organização destas informações de forma a garantir coerência entre os recursos de
sustentabilidade e os fatores mercadológicos relevantes (Tabela 1).

Tabela 1: Fatores Mercadológicos e recursos de ecodesign

O QUE É A EMPRESA?
Um escritório de design sustentável;
Uma empresa de moda sustentável;
Um empreendimento de ecodesign.
FATORES MERCADOLÓGICOS
Desenvolvimento de métodos e abordagens coerentes aos princípios do desenvolvimento sustentável:
• Exemplo: seleção de materiais e insumos;
Colaboração de profissionais de design, artes visuais e marketing;
• Exemplo: soluções de uso e linguagem estética;
Valorização de parcerias e desenvolvimento de núcleos de produção artesanal;
• Exemplo: seleção e desenvolvimento de processos;

Neste sentido, podemos perceber que o principal benefício da empresa é a oferta de produtos
e serviços com utilização de processos e recursos de sustentabilidade. Assim, esta abordagem
deve ser clara e direta para que os consumidores possam entender o que se trata e como os
produtos e serviços são pensados de maneira sustentável.

Comunicando a Cadeia de Valor

De acordo com as abordagens do Metaprojeto, as considerações referentes ao sistema

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produto/design ajudam a equipe de projeto a entender de forma ampla e sistêmica uma série
de questões referentes ao produto, rede de suprimento, recursos humanos, ou seja, aspectos
relacionados à cadeia de valor. No caso da coleção de produtos, nosso objeto de estudo, os
preços variam de R$9,00 à R$185,00, sendo vendidos pela internet, no showroom da empresa
e nas lojas parceiras. Além das mídias digitais, impressos como pop-cards são utilizados para
comunicar os valores da empresa.
Além das características do sistema produto/design, a abordagem de Moraes (2010) nos
apresenta os requisitos ambientais de projeto. Diferentemente das abordagens anteriormente
mencionadas, o autor nos coloca um check-list para mensuração básica dos impactos gerados
pelo processo de produção dos produtos. (Tabela 2)

Tabela 2: Requisitos ambientais e sustentabilidade – Metaprojeto

REQUISITOS AMBIENTAIS SIM NÃO


Utilização de matérias primas recicladas, recicláveis, reutilizadas; X
Utilização de poucos componentes no mesmo produto; X
Fácil desmembramento dos componentes; X
Extensão da vida útil dos produtos; X
Utilização de insertos metálicos; X
Utilização de adesivos informativos; X

Podemos perceber o benefício principal agregado à empresa resultante da busca por


processos, materiais e estratégias sustentáveis. Estas ferramentas têm se tornado importantes
para empresas que buscam comunicar suas atividades referentes à contribuição para o
desenvolvimento sustentável. Neste contexto, o design vem assumindo posição de destaque
no desenvolvimento de recursos metodológicos, linguagens estéticas e modelos de
comunicação que transformem estas informações em valor agregado aos produtos.
Para a apresentação do estudo de caso, destacaremos alguns dentre os produtos idealizados
e produzidos pela empresa, e apresentaremos de forma direta e simplificada resultados do
processo de desenvolvimento da informação ligado à organização e comunicação da cadeia de
valor como ferramenta educacional e informacional de recursos de design voltados à
sustentabilidade. Dedicaremos atenção especial a três produtos neste estudo: um acessório,
um objeto utilitário e uma peça de moda. Poderemos entender assim, a estrutura utilizada para
comunicar de maneira clara e unificada os recursos de sustentabilidade e a cadeia de valor
como forma de estimular o consumo consciente.
Para tal, foram selecionados os principais aspectos relacionados aos métodos de design e às
estratégias de sustentabilidades adotadas pela empresa: materiais (orgânicos, reciclados,
reutilizados), linguagem estética (estampas, design de superfície) e processos produtivos.
Estas informações foram organizadas conforme a Tabela 3.

Tabela 3: Informações de recursos de ecodesign.

INFORMAÇÕES DE RECURSOS DE ECODESIGN


Seleção de materiais Soluções de uso Processos de produção Produto Final

Após a seleção das informações, os ícones referentes a cada material, processo ou solução de
uso são desenvolvidos e organizados de forma a representar a cadeia de valor do referido
produto. No primeiro exemplo, veremos a aplicação deste modelo em uma camiseta, um dos
principais produtos da empresa (Figura 2).

Figura 2: Representação do processo de produção das peças de moda.

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A linha de acessórios, por sua vez, utiliza-se de recursos diferentes e o impacto destes
recursos é diverso ao dos produtos de moda. Assim, o material utilizado é o principal fator de
redução de impacto dos acessórios, por exemplo, um porta celular ou MP3 player (Figura 3).

Figura 3: Case da coleção 2010

Toda a linha de acessórios foi desenvolvida a partir do uso do Ecoprene, material similar ao
Neoprene, mas com menor impacto de produção devido ao uso de resíduos deste último para
sua fabricação. Este material é trabalhado pelo grupo de costura parceiro da empresa de forma
artesanal, garantindo o impacto estético característico das peças da empresa (Figura 4).

Figura 4: Representação do processo produtivo dos cases.

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O futon, (Figura 5) uma das peças da coleção dedicadas ao uso doméstico, igualmente, teve
seu processo de produção representado como forma de aproximar o usuário dos conceitos de
sustentabilidade assumidos pela marca. Neste caso, uma característica peculiar foi a
reutilização de espuma de poliuretano, doada por empresa parceira e utilizada inicialmente
como preenchimento de embalagens de itens eletrônicos importados.

Figura 5: Futon da Coleção2010

Estas espumas são unidas e forradas com um tecido feito a partir de pet reciclado e resíduo de
algodão. Finalmente a costura artesanal é utilizada para acabamento das peças. (Figura 6)

Figura 6: Representação do processo de produção do Futon

A informação sintetizada e iconográfica, representada pelas figuras 2, 4 e 6, é inserida


posteriormente em manuais de venda, website, loja online, editoriais e demais mídias
impressas ou digitais. O intuito é aproximar o usuário do processo de produção fazendo-o
entender os diversos recursos que garantem a natureza sustentável do bem de consumo.
Desta maneira, a decisão de compra é influenciada positivamente, tanto pelo entendimento de
soluções anteriormente imperceptíveis, mas também devido à confiabilidade gerada pela
sensação de transparência em relação a todo o processo de transformação.

Considerações Finais

A partir do estudo de caso, podemos perceber como a abertura do processo de produção de

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produtos sustentáveis pensada como uma forma de aproximar o usuário da marca pode
cumprir importante papel no processo de percepção de valor de produtos. Seja ela percebida
como uma preocupação global inevitável, seja como uma maneira de incentivar o consumo
consciente, apresentar os recursos de design para a sustentabilidade adotados no projeto de
produtos é uma estratégia eficaz de comunicação dos valores da marca.
A escolha da representação da cadeia de valor foi determinante para a postura da empresa
frente a seus consumidores. Ela permite que o usuário entenda e perceba o uso de recursos de
sustentabilidade desenvolvidos a partir do design, para a redução dos impactos ambientais da
produção dos produtos, e age de forma informativa, aumentando a valorização da marca.
A escolha da representação da cadeia de valor de forma simplificada foi direcionada pela
abordagem escolhida pela empresa, que já utilizava a descrição dos processos como um
recurso de comunicação, ainda que pouco eficaz. O impacto gerado pela estruturação e
sistematização da informação fez com que a valorização dos produtos, aparentemente simples
num primeiro contato, fosse consideravelmente elevada. Recursos e decisões projetuais antes
ignoradas pelo usuário passam a se tornar fatores de decisão de compra, e, além disso, fatores
de fidelização de clientes.

Referências

ASHBY, Mike F. e JOHNSON, Kara. (2002). Materials and design: the art and science of
material selection in product. Oxford: Elsevier.
BARBERO, S. COZZO, B. (2009). Ecodesign. H.F. Ullman.
De MORAES, Dijon.(2010). Metaprojeto – o design do design. Blucher. São Paulo.
FUAD-LUKE, A. (2009). Ecodesign, the source book. Third Edition. Chronicle Books. United
States.
REIS, D. (2010).Product Design in the Sustainable Era. Taschen. Germany.
VEZZOLI, C.(2010). Design de Sistemas para a Sustentabilidade. EDUFBA. Salvador.
HTTP://www.miho.com.br , em dezembro de 2010.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design para a inovação Social | contribuição teórica sobre
casos promissores e o design para a sustentabilidade
(Design for social innovation | promise cases and design for
sustainability)

CHAVES, Liliane Iten; PhD; Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal


do Paraná
lilianeitenchaves@id.uff.br

palavras chave: inovação social; design para a sustentabilidade, design estratégico.

O artigo explora novos cenários para novas formas de estilos de vida, dentro da disciplina de design para
a sustentabilidade. Ele apresenta como o tema do design para a inovação social tem sido desenvolvido
em projetos de pesquisa usando o âmbito do design estratégico. No Brasil, design para a inovação social
está relacionado, geralmente, com a ajuda a comunidades menos favorecidas, criando a idéia de que
design social é ligado a ações para ajudar pessoas pobres, como, por exemplo, o uso de resíduos para o
desenvolvimento de produtos, etc. Neste artigo, inovação social representa novas formas de relações e
interações entre pessoas, que voluntariamente querem melhorar sua vida cotidiana de forma sustentável.
Estas iniciativas possuem um forte potencial para mudar os atuais padrões de consumo e produção.
Assim, este documento apresenta reflexões sobre as dificuldades de ensinar as novas e necessárias
habilidades para os estudantes de design, dentro do âmbito do design estratégico, em um contexto onde
o ensino de design de produto não está ainda associado com o desenvolvimento de soluções não
tangíveis, como Sistemas Produto-Serviços (PSS).

Keywords: social innovation; design for sustainability; strategic design.

This article explores new scenarios for more sustainable ways of life, into design for sustainability
discipline. It presents how design for social innovation thematic has been developed in research projects
using strategic design approach. In Brazil, design for social innovation is related, generally, with help for
disadvantaged communities, creating the idea that social design is to create design actions to help poor
people, as, for example, the use of refuse resources for products development, etc. At this article, social
innovation means new forms of relationships and interactions among people who voluntarily want to
improve their daily life more sustainably. These initiatives have a strong potential to change the current
patterns of consumption and production. Thus, this document presents some reflections regarding how to
teach new and necessary abilities for design students, into strategic design approach, in a context where
product design education is not yet associate with the development of non tangible solutions, as Product-
Service Systems.

1 Introdução

Este artigo apresenta um olhar sobre como a disciplina do design para a sustentabilidade tem
afrontado as grandes transformações sociais vividas na atualidade. Para isto, inicialmente, é
apresentado um breve panorama sobre estas mudanças sociais e ambientais resultantes do
modelo econômico vigente. O conhecimento deste panorama permite contextualizar e
compreender melhor os exemplos de iniciativas que emergem na disciplina do design para a
sustentabilidade, aqui apresentados. Posteriormente, são explanadas as habilidades
necessárias para o designer interagir com os projetos de comunidades criativas e, ao final, são
feitas algumas considerações sobre a formação deste novo designer, que irá projetar para e na
comunidade criativa.
Vivemos um período de grandes transformações do mundo. O modelo atual da
globalização, que de forma hegemônica procurou uniformizar as relações, parece não estar
dando conta das diversidades locais existentes. A economia capitalista, fundamentada no
mercado livre e na troca de mercadorias, não previu as diferenças, as reações e adaptações

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
locais. O modelo econômico atual parece ter ignorado outras necessidades que não aquelas
materiais. Além disto, observa-se a degradação ambiental do planeta, cujos limites de
45
resiliência já foram superados, como demonstram os desastres ecológicos recentes.

Percebe-se uma modificação nos ‘modelos de vida, produção e consumo’, sendo que
muitas empresas e indivíduos estão preocupados em criar produtos com menor impacto
ambiental. Apesar disto, o modelo de consumo não mudou. Continua-se a consumir de forma
exacerbada até mesmo produtos com menor impacto ambiental. Para Manzini (2008, p. 15), as
mudanças que estão ocorrendo rumam visivelmente para um futuro insustentável. Portanto, há
a necessidade de mudar a mudança de forma urgente e radical, pois fazer o redesign do
existente já não é suficiente, ou seja, manter o mesmo estilo de vida, porém consumindo
objetos projetados com baixo impacto ambiental não é mais suficiente para mudar a rota do
desastre ambiental premente. Estudiosos hipotizam que é necessário reduzir em 10 vezes o
consumo de recursos ambientais nos próximos 50 anos, para manter a vida no planeta
(Meadows et al., 1992). Ou seja, teremos que adotar em nossas vidas um estilo de vida em que
se consuma apenas 10% dos recursos atuais.
O que tem de acontecer, e, na prática, já está acontecendo, é uma descontinuidade sistêmica: uma
forma de mudança em cujo final o sistema em questão – em nosso caso, o sistema sociotécnico no
qual as sociedades industriais estão baseadas – será diferente, estruturalmente diferente, daquilo que
tivemos conhecimento até hoje (MANZINI, 2008, p. 25).
O descaso da globalização com a dimensão social acabou criando reações locais de busca
por uma melhor qualidade de vida, de significação e pertencimento do ser humano com sua
cultura. O simplismo de entender o ser humano como parte da engrenagem do jogo
econômico, localizando-o como uma peça que porta a uma máxima produtividade, não mais
vigora. ‘O capitalismo adota uma visão estreita da natureza humana, presumindo que as
pessoas são seres unidimensionais, interessadas apenas na busca de lucro máximo. De
maneira geral, o conceito de mercado livre baseia-se em um ser humano unidimensional’
(YUNUS, 2008, p. 33). No entanto, somos multidimensionais, diversos e singulares, resultado
da globalização que acabou por despertar de forma antagônica as diferenças locais, fazendo
crescer a necessidade do sentimento de pertencimento.
De um lado, o aumento da insignificância por excesso de uniformização, padronização, normalização,
regulamentação, todas geradoras – isto é, paradoxal - de uma multidão de sítios tecno-burocráticos e
socioculturais mais ou menos clonados ou híbridos! Por outro lado, assistimos à volta do local, do
sustentável, do criativo, sob todas as formas (Panhuys, 2006, p. 28).
Assim, atualmente, foram tiradas do centro das relações somente as trocas econômicas,
passando a cultura a ser foco de atenções. Para Panhuys (2006), vários são os motivos do
crescente interesse pela cultura. Para ele os efeitos da tríplice revolução (econômica, digital e
genética), fez com que o mundo se tornasse ‘uma enorme máquina que serve a mercantilizar,
tecnologizar, cientificizar’, cujos resultados são o de ‘desumanizar, deculturar’ (PANHUYS,
2006, p. 21).
Tão grande é este apelo, esta necessidade de uma ‘humanização’ do cotidiano, que existe
um movimento reverso nas esferas políticas e econômicas, que passam a se debruçar sobre
temas sociais e culturais, sob o título da Responsabilidade Social Corporativa (RSC), que,
como classifica Yunus (2008), se apresenta em duas formas: RSC fraca e RSC forte. Na
primeira a empresa se limita a não causar danos às pessoas ou ao planeta, ou seja, elas não
possuem atividades pró-ativas com relação a melhoria em termos sociais ou ambientais, mas
se comprometem a não contribuir com uma maior degradação. Já, segundo Yunus (2008), as
empresas RSC fortes possuem ações de contribuição efetiva com as pessoas ou o planeta. Em

45
‘A resiliência de um ecossistema é a sua capacidade de sofrer uma ação negativa sem sair de forma
irreersível da sua condição de equilíbrio. Esse conceito, aplicado ao planeta inteiro, introduz a idéia de
que o sistema natural em que se baseia a atividade humana tenha seus limites de resiliência que,
superados, provocam fenômenos irreversíveis de degradação ambiental’ (MANZINI &VEZZOLI, 2002, p.
27)
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
ambas as formas, RSC fraca ou RSC forte, o prejuízo ao lucro é o limitador das ações, sejam
pró-ativos ou não. Existe, portanto, uma instrumentação das esferas políticas e econômicas
para inserção de cuidados socioculturais (PANHUYS, 2006).
Mas mesmo com as iniciativas acontecendo neste âmbito, o das empresas e da política, o
que se assiste é uma necessidade da humanidade quanto à identidade e à segurança, quanto
a possuir referências, sentimento de pertencimento. Assim, a cultura local ressurge e ganha
espaço, uma vez que de forma rápida e surpreendente, os seres humanos assistem desabar
partes da atual civilização material, desmoronando as referências éticas, sejam elas individuais
ou coletivas, ficando o anseio da ‘tranqüilidade e do charme gostoso da vida cotidiana: comer,
beber, conversar, fazer amor, criar, vestir-se, morar, rir, passear, divertir-se, etc.’ (PANHUYS,
2006, p. 21).
A humanidade está deixando de associar bem estar com o consumo de produtos (Manzini,
2008). Por outro lado, este mesmo autor nos apresenta um movimento de associação de bem
estar para uma ‘economia baseada nos serviços e no conhecimento’. Esta associação poderia
carregar em si uma forte possibilidade de desmaterialização, porém o que se percebe é uma
não diminuição no consumo de recursos ambientais, pelas seguintes razões explicitadas por
Manzini ( 2008, p. 47):
• As novas ‘necessidades intangíveis’ tendem a ser adicionadas às antigas ‘necessidades
materiais’, e não a substituí-las.
• A velocidade e a flexibilidade dos novos estilos de vida implicam a mesma velocidade e
flexibilidade no acesso aos serviços que, por essa mesma razão, proliferaram.
• Serviços e experiências, por si só, podem ser imateriais, mas seu fornecimento pode se
basear em um alto nível de consumo material.
O mesmo autor tem por hipótese, que a razão para não ter acontecido resultados
significantes, em termos de diminuição do consumo de recursos ambientais, pode estar
baseada em três aspectos: a crise dos bens comuns, o desaparecimento do tempo lento e
contemplativo e a difusão dos bens remediadores. No primeiro aspecto Manzini compreende
como bens comuns ‘desde os recursos físicos básicos tais como o ar e a água, passando por
recursos sociais tais como a comunidade de bairro ou o senso cívico de seus cidadãos, até
incluir recursos complexos tais como a paisagem, o espaço público urbano ou a ‘segurança
percebida’ entre os habitantes de uma determinada cidade’ (MANZINI, 2008, p. 48). O segundo
aspecto, o desaparecimento do tempo lento e contemplativo, entendido também como o ‘não
fazer nada’, mas não de forma pejorativa e vazia, e sim o tempo para perceber e apreciar
qualidades, como por exemplo, a visão de um pôr-do-sol. Com relação a difusão dos bens
remediadores, o terceiro aspecto abordado por Manzini, se baseia no consumo de ‘produtos e
serviços que tentam tornar aceitável um contexto de vida que é, por si mesmo, altamente
deteriorado’ (MANZINI, 2008, p. 50). Isto é, com a crise dos ‘bens comuns’ e a falta de ‘tempo
contemplativo’ as pessoas buscam ‘bens remediadores’ a fim de suprir estas faltas.
Associando estas hipóteses de Manzini (2008) com as mudanças locais originadas como
reação à globalização, observadas por Panhuys (2006), pode-se compreender que o
rompimento com o modelo atual de consumo está intrinsecamente ligado a iniciativas locais
que levem a um melhor bem estar e relação dos indivíduos, e por conseqüência, das
comunidades.

2 Inovações sociais e design para a sustentabilidade

Já em 1971, em seu livro Design for the Real World: Human Ecology and Social Change, Victor
Papanek (PAPANEK, 1973) manifestava a importância do papel do designer nas questões

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sociais e ambientais. Em 1979, no encontro promovido pela UNIDO46 (United Nations
Industrial Development Organization) com a cooperação do ICSID (International Council of
Societies of Industrial Design), foi gerada a Ahmedabad Declaração sobre Design Industrial
para o Desenvolvimento, com a preocupação de introduzir o design industrial nos, então,
chamados países em desenvolvimento. Neste documento encontra-se inserida a preocupação
em fazer com que os designers procurem respostas locais para as necessidades locais, além
de respeitar a identidade, as tradições, modos de produção e consumo locais (Ahmedabad,
1979).
Esta discussão inicial sobre o papel do design e, portanto, do designer sobre o âmbito
social, parece estar fortemente vinculada com a noção de que o argumento social está
relacionado com a ajuda aos menos privilegiados e a busca pela da eliminação da pobreza. Na
declaração de Ahmedabad o auxílio vem em forma de diretrizes para os países ditos na época
‘em desenvolvimento’ e possuíam menor condição econômica que os dito ‘desenvolvidos’.
Ainda hoje, no Brasil, observa-se que o design social é uma disciplina associada a projetos
vinculados a pessoas com menor poder aquisitivo, para diminuição da pobreza e para a busca
da equidade social, quase sempre planejados de forma top-down. Neste sentido, muitos são os
trabalhos associados com iniciativas de criação de cooperativas.
Neste artigo não se pretende afrontar esta vertente da inovação social para a busca da
solução da desigualdade social, mas sim observar as dinâmicas que o design para a
sustentabilidade tem adotado para enfrentar as reações locais à globalização apresentadas por
Panhuys (2006, p. 27).

...continua a expansão acelerada em escala planetária de um modelo hegemônico uniformizante (com


dominante tecnoenconomiscista, cientificista, financeiro e, cada vez mais, militar e policial), mas com
efeitos muito diferenciados segundo os lugares, os momentos, os contextos, as organizações, as
atividades. É preciso considerar as reações dos atores locais que decodificam e recodificam sem
parar os recursos materiais e imateriais que lhe cheguem. Também é preciso tomar em consideração
a especificidade dos sítios de procedência, dos modelos e organizações a que estão vinculados.
Mais que isto, é preciso considerar que o ser humano parece ter se acordado para outras
necessidades, aquém do dinheiro e do poder.
Todos esses atores aspiram, ao contrário, a reconciliar o homem com o homem, o homem com a
natureza, o homem consigo mesmo. Trata-se de uma tríplice reconciliação que doravante valoriza as
virtudes da partilha, do diálogo, da inclusão, da justiça, do serviço, da sensualidade, da criatividade, da
beleza. Em suma, de tudo o que tona a vida mais humana (PANHUYS, 2006, p. 29).
Em termos de design, o que se busca não são apenas modelos em que o designer projeta
um produto (dimensão física), que é parte da cultura material de um povo e sem dúvida irá
interagir com a cultura local, modificando e sendo modificado por esta cultura. O redesign do
existente, como apresenta Manzini (2008) não é mais suficiente para evitar os resultados dos
problemas ambientais.
Como alternativa viável, Manzini (2008) apresenta projetos de iniciativas locais, onde
pessoas se organizam para a busca de soluções do seu cotidiano a fim de encontrar uma
melhor qualidade de vida. É preciso enfatizar que o projetar, aqui alvo de observação, não trata
mais da ação de projetar produtos tangíveis, mas de Sistemas Produto-Serviço, ou seja, se
encontra no âmbito do design estratégico, uma vez que as mudanças necessárias, como
apresentado anteriormente, devem ser radicais, rompendo com o modelo vigente.
Assim, afirma Manzini (2008, p. 36):
...a expressão Design para a Sustentabilidade (Design for Sustainability, DfS) deve ser interpretada
como uma atividade de design cujo objetivo é encorajar a inovação radical orientada para a
sustentabilidade, ou seja, conduzir o desenvolvimento dos sistemas sociotécnicos em direção ao baixo

46
UNIDO é a agência das Nações Unidas especializada em promover desenvolvimento industrial para a
redução da pobreza, globalização inclusive e sustentabilidade ambiental.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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uso dos materiais e da energia e a um alto potencial regenerativo. Efetivamente, para tomar esse
rumo, precisamos usar uma abordagem de design estratégico (e ferramentas de design estratégico).
Zurlo define design estratégico como uma atividade de cujo objetivo é dar forma a estratégia
que é, principalmente, um sistema-produto, isto é, um conjunto orgânico e coerente das várias
mídias (produto, serviço, comunicação) com as quais uma empresa constrói a própria
identidade, se posiciona no mercado, definindo o senso da sua missão na sociedade (Zurlo,
2004).

3 Design para a inovação social e sustentabilidade

Seguindo a necessidade de mudança de comportamento como forma de transição para a


sustentabilidade, Manzini (2008), corroborando com Panhuys (2006), percebe que as iniciativas
locais possuem cada vez mais importância na quebra dos padrões atuais, denominadas por ele
como ‘descontinuidades locais’. São entendidas como inovações sociais, pois representam
novas formas dos indivíduos ou comunidades se organizam para resolver problemas cotidianos
na busca por melhoria de qualidade de vida. Por outro lado, com relação a sustentabilidade, os
casos de interesse são os que possuem a tendência a levar estilos de vida mais sustentáveis,
criando melhorias sociais (em termos de reestruturação do tecido social) e ambientais.
Os estudos de caso levantados no livro Creative Communities: people inventing sustainable
ways of living, editado por Meroni (2007), representam estas inovações coletadas em diferentes
países (Polônia, França, Estonia, Itália, Reino Unido, Alemanha, Países Baixos e Finlândia) e
são o resultado do Projeto EMUDE – Emerging user Demands for Sustainable Solutions,
financiado pela Comunidade Européia. Os casos apresentados estão organizados em
categorias: habitação, alimentação, comutar, trabalhar, aprender, e socializar (housing, eating,
communing, working, learning, socializing).
 Habitação (housing): são casos de pessoas que vivem juntas ou compartilham suas
vidas em um espaço comum, casos de pessoas que melhoram o seu ambiente
residencial (bairro, rua...) com melhoria da segurança ou dos espaços comuns e casos
de serviços de compartilhamento e reutilização de móveis, objetos, etc.
 Comer (eating): casos de pessoas que criam atividades de melhoria em sua qualidade
alimentar, como por exemplo a criação de grupos de compra em conjunto de produtos
orgânicos, ou compras direto com o produtor, etc.
 Comutar (commuting): casos de pessoas que se organizam para facilitar o transporte.
São exemplos as caronas solidárias, as excursões com grupos de bicicletas, car
sharing, etc.
 Trabalhar (working): casos da criação de facilidades para disponibilizar bens e tempo,
como, por exemplo, bancos de tempo e aluguel de escritórios.
 Aprender (learning): são iniciativas voluntárias para ensinar e aprender novas
habilidades e de forma inovativa. Um exemplo seria a dos encontros de troca de
ensino entre estrangeiros que querem aprender uma nova língua.
 Socializar (socializing): são casos em que a finalidade principal é a de criar contextos
de socialização, um exemplo seria a criação de plataformas de troca de livros.

O papel efetivo do designer, nestas iniciativas, é o de, enquanto profissional especialista em


projetar novos produtos e serviços auxiliar de forma co-participativa no planejamento destes
sistemas produto-serviço. Pode, assim, projetar ‘nas’ comunidades criativas ou ‘para’ as
comunidades criativas utilizando as ferramentas do design estratégico (Manzini, 2008).
Enquanto estiver projetando nas comunidades criativas, o designer irá ter um papel de
facilitador para ‘promover a colaboração entre diferentes atores sociais (comunidades locais e
firmas, instituições e centros de pesquisas); participar na construção de visões e cenários
compartilhados; combinar produtos e serviços já existentes para suportar a específica
comunidade criativa com a qual colaboram e efetivamente participam’ (MANZINI, 2008, p. 97).
Já o projetar para comunidades criativas se refere a observar os casos promissores e, a partir
de suas forças e fraquezas, projetar melhorias, seja de produtos ou serviços com co-
participação dos atores.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Portanto, as capacidades exigidas para este novo papel do designer estão vinculadas, além
das tradicionais capacidades gráficas e de desenvolvimento de produto, à área de gestão
estratégica, de design de serviços e de criação de cenários. São exigidas, entre outras,
habilidades de comunicação, geralmente associadas a capacidades gráficas de expressão
(como a criação de ferramentas visuais facilitadoras).

4 Considerações finais

Frente ao novo papel do designer para atuar em inovações sociais, como acima apresentadas,
é preciso refletir sobre a formação dos futuros designers. Desde 2008, a autora deste artigo
tem ministrado cursos de inovação social em diferentes formatos (cursos de extensão,
disciplinas optativas para a graduação em design de produto e para o mestrado stricto-sensu
do Programa de Pós-Graduação em Design da UFPR) na UFPR – Universidade Federal do
Paraná. Tais disciplinas têm como principal objetivo a preparação de novos pesquisadores para
projetos de Design de Sistemas para a Inovação Social.
Ao ministrar esta disciplina verificou-se que existe uma carência de conhecimento sobre
conteúdos e ferramentas do design estratégico, de design de Sistemas Produto-Serviço e de
design de serviços. Esta carência é perfeitamente compreensível, uma vez que as disciplinas
foram ministradas em um curso cuja habilitação é a de design de produto.
Esta carência é compreensível, porém não aceitável, visto que, em uma disciplina como o
design, que está sofrendo profundas transformações, que é influenciado diretamente pelas
mudanças sociais e cujo papel é o de facilitador interdisciplinar, exista ainda um pensamento
de criar habilitações estanques, como gráfico e produto, que não dialogam entre si. Esta
especialização em determinada área, e não na gestão do projeto, é bastante visível nas
apresentações dos estudantes de design de produto, por exemplo, onde muitas vezes não
existe um projeto visual da apresentação, do produto ou do processo de desenvolvimento.
Percebe-se a não habilidade em criar ferramentas visuais, tais como mapas, de síntese visual
para comunicar o produto e o processo desenvolvido. Faz-se necessário, portanto, repensar a
formação dos novos designers em um âmbito mais amplo a fim de instrumentalizá-los para o
projeto do design estratégico.
O perfil do novo designer deve dominar diversas habilidades, deve dominar o
desenvolvimento de produto para projetar para projetos de comunidades criativas, mas deve, e
de fundamental importância, ter a capacidade de comunicar, de criar condições de mapear a
situação do grupo e transformar em ferramentas visíveis e facilitadoras os resultados,
necessidades, etc., quando está projetando nas comunidades criativas. Portanto, este novo
profissional não pode ser especialista em produtos tangíveis (físicos), apenas, mas ter a
habilidade de perceber e traduzir as mudanças que estão ocorrendo. Deve ter a habilidade de
co-projetar com os outros participantes.
Existe uma carência de instrumentalização entre os estudantes para lidar com o
desenvolvimento de produtos não tangíveis (não físicos), por conseguinte, em desenvolver
projetos no âmbito do design estratégico.

Referências
Manzini, Ezio (2008). Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas,
organizações colaborativas e novas redes projetuais, Rio de Janeiro, e-papers.
Meadows, H. Donella, et al. (1978). Limites do crescimento: um relatório para o projeto do clube
de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Meroni, Anna (2007). Creative Communities: people inventing sustainable ways of living.
Milano, Poli.design.
Panhuys, Henry (2006). Do desenvolvimento global aos sítios locais: uma crítica metodológica
à globalização. Rio de Janeiro, e-papers.
Papanek, Victor (1971). Design for the Real World: Human Ecology and Social Change, New
York, Pantheon Books.
Papanek, Victor (1995). Arquitetura e Design: Ecologia e Ética, Lisboa, Edições 70.
UNIDO (1979). Ahmedabad Declaration on Industrial Design for Development. Ahmedabad:
UNIDO-ICSID.
Yunus, Muhammad (2008). Um mundo sem pobreza: a empresa social e o futuro do
capitalismo. São Paulo, Ática.
Zurlo, Francesco (2004). Design del sistema prodotto. In: E. Manzini, P. Bertola (a cura). Design
Multiverso: appunti di fenomenologia del design. Milão, Poli.Design,. p. 129 – 136.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Comunidades Criativas pela ótica do design: um estudo
comparativo (Creative Communities by design: a
comparative study)

REYES, Paulo;Dr.; Universidade do Vale do Rio dos Sinos


reyes@unisinos.br

EICHENBERG, Carolina; mestranda; Universidade do Vale do Rio dos Sinos


carolina.eichenberg@gmail.com

BERGER, Ana; mestranda; Universidade do Vale do Rio dos Sinos


anavfberger@gmail.com

palavras chave: comunidades criativas; design; sistema-produto-serviço.

Este artigo é resultado de uma pesquisa que tem o foco em práticas de sustentabilidade social. A
referência teórica está fundamentada no conceito de inovação social proposto por Manzini, concentrando-
se em práticas emergentes de sustentabilidade. O objetivo é compreender essas práticas sociais e suas
relações com o território em que se encontram. O objeto em observação são os Projetos Move Mentes e a
Griffe Morro da Cruz em Porto Alegre. A abordagem está centrada nos aspectos do sistema-produto-
serviço que organizam essas práticas sociais. A metodologia utilizada é um estudo comparativo entre as
duas práticas que tem na construção de cenários orientada pelo design a ferramenta de interpretação. Os
resultados demonstram que as comunidades analisadas se estruturam a partir de intervenções
divergentes ao longo de seus processos. A organização estrutural da Griffe Morro da Cruz se estabelece
de forma assistencial, político e técnica, sucessivamente ao longo do seu processo, enquanto o projeto
Move Mentes procede da intervenção técnica, a partir do design, constituindo a autonomia do grupo.

Keywords: sustainability; creative communities; design; service-product-system.

This article is the result of a research that focuses on social sustainable practices. The theoretical
reference is based on the concept of social innovation proposed by Manzini, concentrating on emergent
sustainable practices. The objective is to understand these social practices and the relationship within the
territory in which they occur. The object of the observation concerns the Projeto Move Mentes and Griffe
Morro da Cruz in Porto Alegre. The approach of this research concentrates on the service-product-
systems that organizes these social practices. The methodology used is a comparative study between the
two practices that focuses on design oriented scenarios as an instrument of interpretation. The results
demonstrate that the analysed communities, structure themselves from the divergent interventions that
occur throughout the process. The structural organization of Griffe Morro da Cruz is established in an
assistant, political and technical form successively throughout the process, while the Projeto Move Mentes
proceeds from technical intervention by design, constituting the autonomy of the group.

1 Considerações iniciais

Este artigo é resultado de uma pesquisa que tem o foco em novas práticas emergentes de
sustentabilidade relacionadas à valorização do território, centrando nas comunidades criativas.
Está apoiado nos fundamentos de inovação social de Manzini e considera a organização
estrutural de comunidades criativas e sua envoltura no aprimoramento e gestão de soluções
inovadoras. Sua teoria propõe a investigar como se movem os atores sociais no contexto
analisado, bem como o reconhecimento das interfaces possibilitadas por suas plataformas. A
abordagem é no enfoque dos vínculos estabelecidos com os atores sociais compreendidos no
processo, suas dimensões e implicações a partir da visão do design. Para tanto, se faz uma
reflexão sobre o sistema de inovação social em duas diferentes comunidades: os Projetos
Move Mentes e a Griffe Morro da Cruz em Porto Alegre. O objetivo é compreender essas
práticas sociais e suas relações com o território em que se encontram.

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A metodologia utilizada é um estudo comparativo entre as duas práticas que tem na
construção de cenários orientada pelo design a ferramenta de interpretação. Os dados para a
realização dessa pesquisa foram coletados por meio de entrevistas de profundidade, com visita
em loco e análise documental. Seu desenvolvimento consiste na utilização do conceito de
cenários proposto por Reyes, que se relaciona com as teorias do Design Estratégico. A
capacidade de potencializar a partir da imaginação criadora torna a aplicação desse método
favorável na solução de problemas complexos relacionados a contextos sociais, como é o caso
do tema abordado neste artigo.
Os resultados demonstram que as comunidades analisadas se estruturam a partir de
intervenções divergentes ao longo de seus processos. A organização estrutural da Griffe Morro
da Cruz se estabelece de forma assistencial, político e técnica, sucessivamente ao longo do
seu processo, enquanto o projeto Move Mentes procede da intervenção técnica, a partir do
design, constituindo a autonomia do grupo.

2 No território de Manzini

O presente artigo está pautado na teoria de Manzini, em que o conceito de sustentabilidade se


constrói a partir da inovação social, compreendida como um processo de aprendizagem. Nessa
perspectiva, as transformações rumo à sustentabilidade dependem de mudanças de
comportamento, buscando outras maneiras de solucionar os obstáculos da modernidade,
diferentemente do tradicional consumo de artefatos. Segundo Manzini, a redução do consumo
e dos resíduos já não são suficientes para a projeção de um futuro digno às novas gerações.
De acordo com ele (2008:43), ‘as escolhas consideradas positivas para o ambiente
demonstram gerar novos problemas quando colocados em prática’, transformando
“naturalmente” em uma nova oportunidade de consumo.
O conceito de inovação social está fundamentado em práticas emergentes de
sustentabilidade, percebidas em comunidades que unem esforços na solução de seus
problemas, por meio da interação com outras pessoas ou comunidades, sem criar expectativas
com relação ao sistema de organização social vigente.
As comunidades criativas encontram alternativas de solução nos esforços e habilidades dos
próprios indivíduos que compõem esses coletivos. Manzini considera que ao longo da história
as inovações sociais derivam de contextos de urgência e inserção de novas tecnologias.
‘Períodos particularmente intensos de inovação social tendem a ocorrer quando novas
tecnologias penetram na sociedade ou quando problemas particularmente urgentes ou difusos
devem ser enfrentados’ (2008:62).
As iniciativas que emergem dessas comunidades, na busca de soluções alternativas aos
problemas são consideradas por Manzini como um processo bottom up. Ou seja, as ações
ocorrem de baixo para cima, estabelecendo uma ruptura no sistema que impulsiona a
sociedade. Assim, há uma mudança nos padrões, sem que haja um incentivo externo desse
movimento - uma transição no comportamento social. Freqüentemente, para se sustentar, as
comunidades criativas trocam-se informações com outras organizações similares (interação
“entre pares”) e pela intervenção de instituições, organizações cívicas ou empresas (interações
“de cima para baixo”).
O que Manzini propõe é que o design estude as formas de organização, interação e as
plataformas de aplicação utilizadas por essas comunidades, para que esses novos sistemas
possam ser replicados em outras localidades. ‘A expressão Design para a Sustentabilidade
deve ser interpretada como uma atividade de design cujo objetivo é encorajar a inovação
radical orientada para a sustentabilidade’ (2008:36).
As soluções inovadoras gerenciadas pelas comunidades criativas recombinam o que já
existe, determinando a descontinuidade local, podendo ser vistas como experimentos sociais
de futuros possíveis. Essa recombinação utiliza a tradição do território como recurso. O
passado que emerge nesses casos é um recurso social e cultural extraordinário, absolutamente
atualizado. Esses processos representados pelas comunidades criativas tem forte apelo
territorial, pois tem a capacidade de vincular valor não só na atividade como no lugar de
convívio.
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Devido a essa relação com o território, é pertinente a atenção sobre a replicação dessas
ações em outros ambientes. Pois, questiona-se a possível aplicação desses sistemas
estabelecidos em comunidades de diferentes territórios, uma vez que as soluções propostas
sejam vinculadas à tradição do local. Se essas alternativas forem replicadas à revelia, não
cumprem com seu objetivo principal que é o rompimento com a descontinuidade gerada pela
globalização dos mercados. Pois o que pode correr é que

O valor de troca, impresso no espaço-mercadoria, se impõe ao uso do espaço, e assim os modos de


apropriação passam a ser determinados cada vez mais pelo mercado. Dessa forma, o acesso ao
espaço se realiza pela mediação nos modos de uso e consumo (Sánchez, 2003:45).

Para efeito deste artigo, analisa-se até que ponto o conceito de território ou a ação de
territorializar facilita a construção das comunidades criativas. Serão considerados dois estudos
de caso como objeto de observação: os Projetos Move Mentes e a Griffe Morro da Cruz, de
Porto Alegre.

3 No território da Griffe Morro da Cruz

A Griffe Morro da Cruz surge a partir de um trabalho de base da Igreja existente no Morro da
Cruz, que conhecia as dificuldades vividas naquela comunidade e percebia a necessidade de
criar alternativas para melhorar a vida das mulheres, moradoras do local, por meio de geração
de verba e de auto-estima. O grupo foi formado por senhoras casadas, que por cuidarem do
lar, não conseguiam exercer um trabalho formal e sentiam-se desvalorizadas.
Em virtude dos seus conhecimentos em crochê e bordado, as moradoras optaram trabalhar
com confecção de roupas a partir de material reciclado, não havendo assim, o custo da
aquisição de tecidos, pois o material de descartes era utilizado como matéria prima. A
confecção foi pensada e desenvolvida tendo o público feminino como perfil.
A inserção das novas atividades no cotidiano dessas mulheres se iniciou na própria casa
das participantes. Passado esse período, o Centro Comunitário da Igreja cedeu o espaço onde
se instalaram por oito anos. Então o grupo se mobilizou na construção de uma sede própria,
contando com auxílio das famílias das participantes e de demais atores envolvidos com a
causa.
Para dar andamento aos planos, a Griffe Morro da Cruz elaborou projetos para captação de
recursos e passou a ter o apoio da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio SMIC e,
conseqüentemente, da Prefeitura de Porto Alegre. A parceria com esses órgãos facilitou o
trabalho por um determinado período, com a disponibilidade de local para expor as peças e
divulgação do trabalho desenvolvido, a partir de material impresso. Os produtos da Griffe Morro
da Cruz eram comercializados no programa Economia Solidária em locais específicos. Essas
lojas vendiam artefatos produzidos a partir de mobilizações sociais e com princípios
sustentáveis, para a aquisição de matéria-prima. A Griffe também participava de eventos e
feiras no interior do estado, fazendo a venda de seus produtos e muitas vezes ministrando
cursos nessas localidades.
As atividades na Griffe Morro da Cruz se articulavam por dois vieses: um na linha de cursos
de aperfeiçoamento dessas moradoras, para exercer esse ofício; outro na construção da
própria Griffe, com a confecção de roupas a partir da reciclagem, com o objetivo de
comercialização. Os artigos do vestuário feminino confeccionado pela Griffe Morro da Cruz não
obedeciam a um modelo de produção nem um padrão de qualidade. Em geral, se
confeccionava saias, blusas, acessórios como bolsas e cachecóis, e decorativos como tapetes,
cortinas. Produziam os modelos de acordo as ideias das próprias participantes.
Com o passar do tempo, designers se interessaram pelo trabalho da comunidade e
passaram a orientar a confecção dos produtos. Mas sua atuação não foi continua e tão pouco
sistêmica. Com o afastamento da Igreja, uma das participantes assumiu a gestão do grupo,
centralizando as atividades de forma diferente da que se propunham a trabalhar inicialmente.
Apesar disso, acredita-se que o grande diferencial para o sucesso desse projeto tenha sido o
total compartilhamento e a troca de conhecimento entre as integrantes.
Analisando a estruturação da Griffe Morro da Cruz, nota-se que tanto a rede construída
internamente nesse movimento, quanto a de contato com os demais grupos, centralizam-se em
determinados atores sociais. A organização estrutural da Griffe Morro da Cruz se estabelece de

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forma assistencial, político e técnica, sucessivamente ao longo do seu processo. A fase
assistencial é a de iniciação do projeto, onde a partir da intervenção da igreja se define o que
precisa ser feito para melhorar as condições daquela comunidade, quem serão os atores
envolvidos e como o problema será solucionado. O segundo momento, entendido como
político, compreende o apoio estendido pela prefeitura e SMIC, que se encerra na troca de
governo. E por fim, a estrutura técnica proposta por designers interessados pelo projeto em
desenvolver melhores soluções para os produtos comercializados pela Griffe.
Quando o apoio desses atores não se faz mais possível, as atividades da comunidade
enfraquecem. Não se propõe uma cadeia de valor sustentável, onde se analisa todo o sistema
produto e considera a melhor maneira de executá-lo, de forma que se configurem resultados
positivos, não havendo a relação de dependência de um eixo central. Essa dependência
focaliza o poder de ação em poucos elementos e de grande força, o que acaba por engessar
os demais participantes do movimento na busca de novas soluções ou mesmo no
desenvolvimento de ações que estimulem suas aptidões. Proporcionou-se o acesso às
soluções, mas não se preparou o grupo para conquistar, aperfeiçoar e manter tais condições.

4 No território do Projeto Move mentes

O Projeto Move Mentes é fruto de uma parceria entre uma ONG (Associação Saúde Criança de
Porto Alegre) e um grupo de estudantes de graduação em design da Escola de Design
Unisinos. A Associação Saúde Criança é uma organização sem fins lucrativos que auxilia
famílias de crianças com doenças crônicas internadas no Hospital Conceição de Porto Alegre.
Visando uma atuação não assistencialista, a Associação Saúde Criança submete as famílias
atendidas a um programa de ações que propõe benefícios nas áreas da saúde, educação,
cidadania, moradia e profissionalização. No campo da profissionalização, encontra-se o Projeto
Move Mentes.
Iniciado em outubro de 2009, o Projeto foi sendo aperfeiçoado progressivamente, passando
por diversas configurações desde o seu início. Por causa do grande volume de doações de
refugos da indústria têxtil recebidas pela ONG e dadas à comunidade, a ONG vislumbrou uma
oportunidade de transformar as doações em produtos comercializáveis, produzidos pela própria
comunidade. A instituição, então, entrou em contato com um grupo de estudantes da Escola de
Design Unisinos.
Montou-se então uma equipe de trabalho composta pelas estudantes de design e pela
comunidade atendida. Em um primeiro momento, definiu-se que seriam realizados encontros
semanais para o desenvolvimento de técnicas artesanais e confecção de acessórios para
comercialização. Nessa primeira fase, a equipe de design ficou responsável pelo andamento de
tudo o que se referia ao Projeto: administração dos recursos financeiros, humanos e materiais;
planejamento e criação de produtos; comunicação do projeto e busca por colaboradores.
A reflexão por parte das estudantes durante o andamento do projeto levou à modificação da
postura da equipe de design. Além do estímulo constante ao desenvolvimento da criatividade e
à criação de produtos sem a intervenção da equipe de design, foram identificadas lideranças
entre as integrantes da comunidade de forma que o projeto pudesse ter continuidade sem a
intervenção intensiva das designers. À ONG foi atribuído o trabalho de administração dos
recursos e busca por colaboradores. Tais mudanças resultaram em uma segunda configuração
do Projeto Move Mentes, no qual a equipe de design passou a atuar como consultora do grupo,
uma vez que à comunidade foi conferida maior autonomia, e responsabilidades foram
atribuídas à instituição.
Nessa segunda fase, após o período inicial de capacitação, os encontros semanais, a
criação e orientação do desenvolvimento de produtos passaram a ser promovidos por
integrantes da própria comunidade. A participação mais ativa e intensa dos membros da
comunidade lhes atribuiu maior responsabilidade, pró-atividade e autonomia. Apesar disso,
certas limitações ainda eram evidentes, especialmente no que se refere à criação e
desenvolvimento de produtos, bastante limitado pela inexperiência e falta de conhecimento de
mercado. Ao identificar tal problema, a equipe de design auxiliou no aprimoramento e
diversificação de novos produtos.
As atividades de contato com potenciais fornecedores e expositores, antes realizados pela
equipe de design, nessa segunda etapa, passaram a ocorrer por iniciativa da ONG, o que
rendeu maior visibilidade ao projeto. A ampliação da rede de contatos possibilitou a instalação
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de um ponto de venda temporário em um shopping center de grande movimento de Porto
Alegre, e com a orientação da equipe de design, produziu ótimo resultado financeiro e de
exposição.
Em uma terceira etapa, com a experiência adquirida e com o suporte da ONG, a
comunidade passou a se organizar sozinha para a criação, produção e comercialização de
produtos. Os bons resultados observados atraíram novos membros da comunidade para o
projeto. A experiência adquirida passou a propiciar a membros do projeto a se desligar do
mesmo e a empreender atividades autônomas por conta própria, fato que poderá ser melhor
analisado com o passar dos anos.

5 Metodologia: cenários orientados pelo design

O método aplicado na análise desses objetos complexos se fundamenta no conceito Reyes


(2010a), que propõe um processo dinâmico, diferente das estruturas hierárquicas tradicionais.
Atua-se com a intervenção de diversos fluxos de entrada de informação, sem a necessidade de
um eixo centralizador. O método consiste no aproveitamento e fuga das sínteses de
informações.
A partir da coleta de dados, realiza-se a síntese e o seu aproveitamento; o que não for
aplicado nessa fase é considerado como fuga. No entanto, esse material pode vir a ser
recuperado nas fases seguintes do projeto ou até mesmo reutilizado em etapas anteriores. Na
percepção de Reyes (2010a), o método sistêmico desdobra-se conforme o material
apresentado inicialmente e novamente de acordo com a interpretação dos dados observados.
A técnica se desenvolve a partir do levantamento de dados da realidade, que formam o ciclo
aberto e informativo proposto. Para cada elemento extraído, é criada uma imagem, que poderá
ser representada por fotografia ou sintetizada por palavras. Na busca de se encontrar um
número maior de palavras, é aplicado um brainstorming, no qual todas as possibilidades
levantadas são consideradas, pois se tem o entendimento de que poderão ser relevantes em
determinada etapa do processo.
Listadas essas imagens, ingressa-se na fase de organização das propostas, na qual se
agrupam as palavras por grau de semelhança. Cada grupo formado é denominado de acordo
com um conceito de síntese percebido. A partir desses conceitos, aplica-se a análise SWOT
(strength, weakness, opportunity e threat), onde é construído um gráfico que considera os
pontos fracos e fortes, e as ameaças e oportunidades exercidas sobre esse contexto. Com
base nessas exposições, ordena-se um gráfico de polaridades que busca contrapor aspectos
relevantes percebidos. Em cada intersecção do gráfico, forma-se um quadrante que originará
possíveis cenários futuros, como solução para o problema. A figura a seguir demonstra como
se configura essa abordagem:

Figura 1: Modelo dinâmico e sistêmico do método de design estratégico aplicado ao território. Fonte: Reyes, 201

Para Reyes (2010), os cenários são


projeções e lidam com a incerteza do
ambiente futuro, e não com a previsibilidade evidente. A construção de um cenário tem a
finalidade de simular um contexto e é o resultado do cruzamento dos conceitos do gráfico de
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polaridades com uma história, que tem a finalidade de simular um contexto (2010:12). Os
cenários que resultaram deste cruzamento na aplicação da metodologia metaprojetual estão
representado a seguir:

Figura 2: desdobramentos dos cenários Griffe Morro da Cruz: Fonte: autor.

Entende-se que a Griffe Morro da Cruz encontra-se no quadrante de cruzamento dos


conceitos autêntico e gestão coletiva, onde se desenvolve o cenário Griffe to Griffe. No entanto,
a maneira como o movimento se organizou, criando dependência, no sentido assistencialista,
de outros órgãos ou de atuações centralizadas dos próprios atores da comunidade, fez com
que a realidade não se desenvolvesse da forma desejada e, nos dias atuais, esteja estagnada
no tempo.

Figura 3: desdobramentos dos cenários Projeto Move Mentes: Fonte: autor.

Percebe-se que as progressivas transformações do Projeto Move mentes sugerem a


compreensão dos cenários como um desdobramento natural do projeto. Inicialmente
configurado conforme o cenário 2: PROJETO ASSISTENCIALISTA, no qual a intervenção da
equipe de design e da ONG se fazia indispensável à manutenção de todas as atividades
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relativas ao projeto, as modificações feitas no decorrer do projeto o levaram a tomar uma
configuração que se situa entre os cenários 3 e 4: PROJETO AUTO GESTÃO MOVE MENTES
E ASSOCIAÇÃO MOVE MENTES.

6 Considerações finais

Embasado nos conceitos e percepções realizados anteriormente, o capítulo de considerações


finais desse artigo se apresenta em formato de análise comparativa dos processos ocorridos
nas comunidades Griffe Morro da Cruz e Projeto Move Mentes. Tendo como fundamento a
análise estrutural das comunidades, percebe-se que há forte intervenção de uma ou mais
instituições externas. No entanto, essas interações se estabelecem com diferentes
configurações. A análise dos projetos incidiram sobre as dimensões assistencial, político e
técnica.
Com relação à dimensão assistencial, percebe-se que na Griffe Morro da Cruz as trocas
realizadas não possuem a mesma importância ou comprometimento para todos os envolvidos.
As soluções desenvolvidas na Griffe, por não focarem no sistema como um todo e apenas no
produto, tornaram sua aplicação insustentável, a medida que criavam dependência de outras
organizações. Entretanto, o vínculo dessa comunidade com as tradições locais permitiu que o
grupo desenvolvesse seu trabalho por mais de 10 anos, até que o sistema ruísse.
No Projeto Move Mentes percebe-se o baixo nível de instrução e as dificuldades devido à
condição social das integrantes da comunidade como um entrave ao desenvolvimento da
comunidade criativa. Isso resulta em uma excessiva relação de dependência do grupo em
relação à ONG e, também, no caminho inverso. Também agravada por não haver nenhum tipo
de identificação com um território específico que garantisse a noção de comunidade. Tal
situação só foi possível ser alterada mediante o reconhecimento do projeto por parte da
sociedade em geral.
Com relação à dimensão política, na Griffe Morro da Cruz houve a assistência da Prefeitura,
com o apoio da SMIC. No entanto, essa relação se baseou no suprimento de matéria prima
para a produção dos artefatos. Os referidos orgãos não souberam desenvolver políticas
públicas que apoiassem esse processo de bottom up desenvolvido na comunidade. Tão pouco,
auxiliaram no desenvolvimento de plataformas impulsionadoras, que poderiam servir de base
para outros projetos sociais. O que se percebe é que a visão do poder político quanto a essa
ruptura estabelecida no sistema, por meio de soluções alternativas, e as oportunidades que
proporciona é bastante restrita.
No Move Mentes, a dimensão política está na atitude da ONG em organizar essas mulheres
e em prover um espaço físico para a condução do trabalho, através da construção de valor nas
ações. Como o grupo não se encontra organizado em uma única comunidade, a ação política
ocorre somente dentro da organização da ONG, não sendo possível replicar esta ação social
em uma de maior vulto, que pudesse atingir parcela de uma comunidade carente específica,
funcionando como um estímulo a outras iniciativas.
Quanto a dimensão técnica, compreendida aqui pelo design, percebe-se uma enorme
distinção entre os processos estabelecidos na Griffe Morro da Cruz e no Projeto Move Mentes.
Em destaque nesse artigo, é possível analisar as diferenças nos cenários aplicados nas duas
práticas.
A Griffe Morro da Cruz surge com a proposta de solucionar um problema local, valorizando
uma atividade diária, e se posiciona de forma sustentável nessa busca. Todavia, a iniciativa
dessas ações parte de um movimento de base da Igreja, que anda bastante atrelado à
proposta de assistencialismo, diferente da visão colaborativa de troca em nível de igualdade.
Ou seja, o processo que se desenvolveu não possui a ótica do design estratégico.
Os cenários apresentados no método anterior incidem o olhar sobre esse sistema
estabelecido com muitas falhas, que culminaram no encerramento das atividades da Griffe.
Eles podem vir a ser aplicados em ações futuras, com o desenvolvimento de uma cadeia de
valor sustentável, onde se analisa todo o sistema-produto e considera a melhor maneira de
executá-lo.

Entende-se que a intervenção externa por parte de atores sociais que auxiliem na sustentação
da Griffe Morro da Cruz é essencial. No entanto, também é preciso que esses apoiadores
sirvam de alicerce no sentido de dar condições para que o movimento se torne auto-suficiente.
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No Projeto Move Mentes, a condução do projeto ocorreu a partir dos cenários apresentados.
O design estratégico orientou o processo. Apesar das dificuldades iniciais relacionadas a
adesão de integrantes no grupo e sua resistência ao aprendizado, uma comunidade criativa foi
constituída. A mudança no comportamento dos integrantes da comunidade se vê na medida
que alguns passaram a ter iniciativas próprias, estimulados pela experiência.
Quanto à equipe de design, a orientação pela metodologia de cenários foi definitiva no
modo como a equipe se relacionou com o projeto, que buscou afastar-se do grupo a medida
que a autonomia deste aumentava. Desta forma, o resultado foi positivo: a comunidade ficou
mais independente, novos produtos foram produzidos e a exposição do projeto e
comercialização dos produtos aumentou.
Os resultados do Projeto Move Mentes demonstraram que a intervenção do designer
estratégico na formatação de uma comunidade criativa desde o seu início se mostra uma ação
favorável, sendo relevante e significativo para a construção da autonomia social. Uma vez que
a autonomia social é alcançada, a orientação do designer não é mais essencial, e seu papel se
transforma em uma atividade de consultoria.

Referências
Manzini, E. (2008). Design para inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas,
organizações colaborativas e novas redes projetuais. Coordenação de tradução: Carla Cippola.
Rio de Janeiro: E-Papers.
o
Reyes, P. (2010). Construção de cenários no design: o papel da imagem e do tempo. In: 9
o
Congresso de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Anais do 9 Congresso de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design. São Paulo: Anhembi Morumbi.
_________ (2010a). Ensino em Paisagismo: um percurso metodológico. In: 10º Encontro Nacional
de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, 10º ENEPEA.
Porto Alegre: EDIPUCRS.
o
_________ (2010b). Construção de cenários no design: o papel da imagem e do tempo. In: 9
o
Congresso de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Anais do 9 Congresso de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design. São Paulo: Anhembi Morumbi.
Sánchez, F. (2003). A reinvenção das cidades para um mercado mundial. Chapecó: Editora Argos.

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A função social do Design e seu papel para a
sustentabilidade (The Design social role and its acts for
sustainability)

BASTANI, Kátia Regina; Designer de Ambientes, Mestranda em Ambiente construído e


Patrimônio Sustentável; Escola de Arquitetura/Universidade Federal de Minas Gerais
katiabastani@gmail.com

CAMPOS, Cláudia Fátima; Designer de Ambientes, Mestranda em Ambiente construído e


Patrimônio Sustentável; Escola de Arquitetura/Universidade Federal de Minas Gerais
claudiacammpos@gmail.com

PACHECO, Priscilla; Graduanda em Ciências Biológicas; Universidade Federal de Minas


Gerais; Graduanda em Design de Ambientes; Escola de Design/Universidade do Estado
de Minas Gerais
priplimplim@gmail.com
Palavras chave: design; sustentabilidade; função social do design

O tema proposto neste resumo apresentará a interpretação da função social do design desde seu
aparecimento, considerando como marco inicial a Revolução Industrial, até a atualidade, objetivando a
partir desta analise fundamentar seu papel nas questões relacionadas à sustentabilidade. Para tanto, foi
efetuada uma revisão bibliográfica que permitiu embasar uma discussão analítica sobre o tema, apoiada
em diversos autores. Buscou-se entender a trajetória, ao longo do tempo, do foco projetual de uma
atividade que visava soluções pontuais e atingiu uma atuação ampla, via análises complexas que
possibilitam favorecer a sustentabilidade em seus pilares sócio-cultural, econômico e ambiental. A
abordagem deste tema torna-se relevante em um momento de grandes questionamentos, no qual se
exige propostas de design inovadoras que considerem as varias inter-relações, resultando em uma
conduta ética que demande uma avaliação de suas conseqüências a partir de uma visão ampliada.

Keywords: design; sustainability; design social role

The proposed theme in this abstract introduces an interpretation of the designer social role since its
dawning, considering a beginning in the Industrial Revolution, until current events. From this analysis, this
report intends to underlie the designer action in questions related with sustainability. For that, a
bibliographic review supported in diverse authors was made, affording an analytical discussion about this
topic. The intention was to understand the project focus trajectory, along the time, from an activity that
wonder punctual solutions and became largest after considering the complexes analysis that would favor
the sustainability in its three pillars, sociocultural, economic and environmental. The approach of this
theme became relevant in a moment of great debates, that demands innovative design propositions,
allowing that many connections exists. The results end in an ethic behavior supported by a global
evaluation of the consequences of this acting.

1 Introdução

Paralelamente às transformações do mundo, são necessárias novas abordagens nas diversas


atuações humanas. Considerando o design como uma atividade com potencial transformador e
possibilidade de atuação em conjunto com diversas disciplinas, busca-se justificar através da
identificação da sua função social ao longo do tempo o seu papel para a sustentabilidade na
atualidade.
Percebe-se a relevância de analisar a evolução do conceito de design para entender a
transformação e as possibilidades de novas formas de atuação. A partir de exemplos do
passado, como cita Cardoso (2008), identificar formas criativas e conscientes de se proceder
no presente.

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Na busca pelo sentido da palavra já se encontra a ambigüidade entre o aspecto abstrato de
conceber, planejar e o concreto de dar formas, configurar, registrar. Adota-se aqui a
compreensão de que o design é uma atividade que conecta estes dois níveis, ou seja, atribui
forma a conceitos intelectuais a partir de objetivos estratégicos.
O design e a sustentabilidade são termos de aplicação relativamente nova, que nasceram a
partir da modernidade e estão ainda em processo de construção, apesar de expressarem em
sua essência necessidades básicas que acompanham a história humana, pois a
sustentabilidade pode ser identificada na constante necessidade de equilíbrio e o design na
busca de sua conformação.
Objetiva-se então, a partir deste estudo entender estes conceitos e seu desenvolvimento ao
longo da história, para identificar o momento de seu encontro e suas interconexões, de forma a
contribuir com o debate necessário a sua consolidação.
Para alcançar tal objetivo, foi efetuada uma revisão bibliográfica sobre os temas correlatos,
buscando autores que permitiram embasar uma discussão analítica sobre o tema.
Desta forma este artigo foi estruturado em três partes: na primeira apresenta-se o design e
sua função social, descrevendo conceitos e discutindo sua evolução. Na segunda parte
constrói-se um breve histórico do conceito de sustentabilidade e identifica ainda suas conexões
com o design e, por fim, apresenta-se uma analise sobre as possibilidades atuais do design a
partir de uma visão inovadora que apresentem estratégias que se embasem na complexidade e
assim colabore para as diversas dimensões da sustentabilidade.

2 A Função Social do design

Conceito de Design: trajetória evolutiva


Conforme Bürdek (2006, p.13), a primeira menção e descrição do termo Design encontra-se no
Oxford English Dictionary, do ano de 1588, e consiste em ‘um plano desenvolvido pelo homem
ou um esquema que possa ser realizado; o primeiro projeto gráfico de uma obra de arte ou um
objeto das artes aplicadas ou que seja útil para a construção das outras obras.’

Anos depois, por volta de 1948, Mart Stam utilizou pela primeira vez o termo Design
Industrial. Como cita o Bürdek (2006, p.15), Stam compreendia por ‘projetista industrial aquele
que se dedicasse, em qualquer campo, na indústria especialmente, à configuração de novos
materiais.’

Cardoso (2008, p. 21), cita a definição tradicional do design como ‘a elaboração de projetos
para a produção em serie de objetos por meios mecanizados’. O momento exato da inserção
de meios mecanizados no processo produtivo é discutível e acontece de diferentes formas,
dificultando assim a precisão tanto da data em que teve inicio a separação entre projeto e
execução como identificação do processo de mecanização.

Entre os inúmeros aspectos que influenciam o pensamento atual em relação a definição do


termo design, Bürdek (2006), atribui como contribuição os longos e intensos debates que
ocorreram na Alemanha, que determinaram o design como parte integrante da política social,
cultural e econômica. Em 1978, Horst Oelke, alertou que o design não poderia ficar vinculado
somente à configuração formal dos objetos que considerasse as dimensões sensoriais e
perceptivas, deveria ampliar sua atividade como ‘meio de satisfazer as necessidades da vida
social ou individual.’ (BÜRDEK, 2006, p.15).

Com a fundação, em 1957, da International Council of Societies of Industrial Design (ICSID),


a atividade de design industrial, no ano de 1959, teve definição que foi esboçada,
inicialmente, como:

a capacidade de, por meio da qualificação de seus conhecimentos técnicos, experiência e


sensibilidade visual determinar os materiais, mecanismos, forma, cor, acabamentos de superfície e
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decoração de objetos que são reproduzidas em quantidade de processos industriais. O designer
industrial pode ocupar-se também dos problemas de publicidade, embalagens, exposição e
comercialização quando a resolução de tais problemas requer a apreciação visual, além de
conhecimento técnico e experiência.

Por volta de 1969, a ICSID adota uma nova definição de design industrial que foi proposta
por Tomas Maldonado, na qual lia-se o seguinte:

Desenho industrial é uma atividade criativa cujo objetivo é determinar as qualidades formais dos
objetos produzidos pela indústria. Estas qualidades formais não são apenas os recursos externos,
mas são principalmente as relações estruturais e funcionais que convertem um sistema para uma
unidade coerente tanto do ponto de vista do produtor e do usuário. Desenho industrial se estende para
abraçar todos os aspectos do ambiente humano, que são condicionados pela produção industrial.

Para Couto & Ribeiro (2011) esta interpretação é divergente da visão dos adeptos de uma
vertente equivocada do design, o styling, segundo a qual o profissional do design é entendido
como um simples inventor de formas, um especialista direcionado a um puro formalismo que
cuida exclusivamente das facetas externas do objeto.

A organização ICSID, em sua ultima divulgação que se encontra vigente, interpreta a função
do design, de forma mais ampla e abrangente, descrita como:

uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multi-facetadas de objetos, processos,
serviços e seus sistemas em ciclo completo de vida. Portanto, design é o fator central da humanização
inovadora de tecnologias e o fator crucial de intercâmbio cultural e econômico.

Nesta colocação, o design tem como uma das principais características a capacidade de
modificar o ambiente e transformar a relação entre o indivíduo e o meio material em que vive,
tendo em vista as necessidades humanas concretas e subjetivas. Apresenta-se, assim,
fortalecida a percepção de design como elemento transformador capaz de impactar diversos
aspectos do cotidiano.

Identifica-se nas conceituações aqui apresentadas que o design inicialmente nasceu para
atender a demandas especificas, ligadas a produção industrial que respondessem ao mercado
a exemplo a reprodução seriada, processo produtivo mediado por maquinismo e o lucro. O
design da metade do século XIX tinha, predominantemente, um caráter industrial, que
separava o projeto da produção, processo que anteriormente era realizado por um único
indivíduo.
Ao discutir o método mais recente do trabalho do profissional do design, Bürdek constata
que a ação de design caracteriza-se pela multidisciplinaridade imbricada de questões culturais,
fatores semióticos, semânticos, cognitivos, tecnológicos, culturais, artísticos, relacionados à
sociologia, à antropometria, à ergonomia, à antropologia e à filosofia, sem se esquecer das
questões ecológicas. Para Bürdek (2006, p. 226) o design é ‘uma atividade, que é agregada a
conceitos de criatividade, fantasia cerebral, senso de invenção e de inovação técnica e que por
isso gera uma expectativa de o processo de design ser uma espécie de ato cerebral.’ E,
portanto, é uma ação caracterizada como intelectual, resultante de um processo de
planejamento de método e de assimilação de teoria.

Nesta perspectiva, para realização de sua atividade o designer atua através de uma
metodologia, que apesar de possibilitar inúmeras variações, se conduz pelo mesmo eixo que
leva a uma solução. Visto assim, para se criar a estratégia da ação, uma proposta de design
terá inicio na identificação do problema de projeto que deve ser gerado a partir da busca de
informações de diversos níveis. Então, torna-se claro que quanto mais se aprofundar no
levantamento e analise de informações, maior será a possibilidade da identificação de um
problema mais consistente, gerando assim um objetivo que propicie melhores resultados e
eficiência na solução.
O design, como tantas outras atividades humanas, apresenta-se em permanente processo
de evolução sobre sua definição, seus objetivos e funções. Isso não tem sido diferente no

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design de ambientes, por exemplo, que surgiu a partir da decoração como campo de atuação,
mas que se modificou nos aspectos do processo metodológico e dos objetivos. O design de
ambientes é uma área em expansão do design que atua no planejamento da ocupação e do
uso de ambientes para a utilização humana, sejam eles internos ou externos. Os ambientes
humanos, neste estudo, são vistos como espaços onde acontecem os processos industriais,
comerciais, de serviço, institucionais, lazer, sociais, culturais e residenciais. Logo o design de
ambientes, busca através do planejamento de qualquer espaço de convivência ou atividade
humana, relativizar aspectos conceituais, funcionais e estéticos para propor ambientes
eficientes, considerando suas inter-relações, através de estratégia e solução proposta.

Identificação da função social do design ao longo de sua historia


No percurso de sua existência, a função social do Design se modifica e se aprimora,
respondendo às questões relacionadas ao meio ambiente, à economia de energia, à
reutilização e descarte e à ergonomia.
A preocupação educativa do design teve início com uma pequena publicação de Henry
Cole, o Journal of Design, de 1848 a 1852. Em sua argumentação, Cole defendia ‘a orientação
funcional dos objetos, à qual deveriam se submeter os elementos decorativos e de
representação’ (BÜRDEK, 2006). Desse modo, o jornal oferecia medidas educativas para o
projeto e a configuração da vida diária.
Em contraposição ao avanço industrial, o ambiente ganhou novas formas por meio dos
quarteirões habitacionais e distritos industriais devido ao empobrecimento de parte da
população e ao surgimento do proletariado. Neste cenário, ‘qualidade moral da atividade
humana ficou definida pela sua utilidade (ou sua nocividade) para a sociedade’(BÜRDEK,
2006).
Das observações do século XIX, pode-se apreender e extrair os elementos necessários
sobre o século seguinte que ajudaram o designer a tomar consciência do próprio trabalho.
Reconhece-se nos esforços da razão, ao opor a arbitrariedade do formalismo histórico, a
implementação da idéia da configuração funcional, de forma que o mundo das pessoas, suas
cidades, casas, ambientes, objetos tenham uma configuração característica, na qual se permita
reconhecer a vida em sua plenitude (FISCHER, 1971 apud BÜRDEK, 2006).

Movimentos questionadores dos produtos beneficiados pelo desenvolvimento industrial


vigente foram, portanto, freqüentes, podendo-se citar a revitalização dos processos artesanais
por John Ruskin e o Arts and Crafts, de William Morris, como reformador social e de renovação
do estilo. Ao final do século XIX, contudo, movimentos como o Art Nouveau, na França, e o
Modern Style, na Inglaterra, mantiveram o trabalho artístico manual, beneficiando apenas a
consciência da elite e do individualismo (BÜRDEK, 2006).

Na década de 1910, foram fundados os Werkbund na Áustria e na Suíça, o Slöjdforenigen


na Suécia e o Design and Industries Association na Inglaterra, com o objetivo de atuar na
educação tanto do produtor quanto do usuário de produtos para a formação do gosto. Nesse
mesmo conceito, fundou-se a partir de 1919, a Bauhaus, uma instituição de ensino e de
produção de protótipos industriais. ‘A meta da atividade de projeto na Bauhaus era a de criar
produtos para camadas mais amplas da população, que fossem acessíveis e tivessem alto
grau de funcionalidade’ (BÜRDEK, 2006).

A Bauhaus foi, de acordo com Moraes e Figueiredo (2008, p. 46), ‘a primeira escola a
apresentar uma consistente e estreita relação entre a forma, a função e a produção de bens
industriais, precedida de uma teoria ética e comportamental previamente estabelecida’. Desse
modo, para o mesmo autor, a Bauhaus pretendia unir artistas e artesãos para o bem comum de
todos, com o intuito de eliminar os motivos decorativos excessivos e supérfluos existentes nos
produtos industriais, prevalecendo as facilidades construtivas e produtivas fabris. ‘Os
professores e alunos da Bauhaus foram capazes de traduzir com perfeição o contexto histórico
da época e deixaram, através dos princípios éticos e estéticos da escola, um legado inconteste
para a cultura material não somente européia, mas mundial’ (MORAES E FIGUEIREDO, 2008,
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p. 49).

Novos métodos foram incorporados a atividade de elaboração de projeto que partiu da


criação de produtos voltados para as camadas amplas da população, passando pela metas da
Bauhaus de incluir atributos como mais acessíveis e com alto nível de funcionalidade, para a
‘pesquisa do comportamento’ e a ‘análise funcional’ assim como com uma ‘ciência da
configuração’ que se desenvolvia, deveriam orientar as dimensões objetivas do projeto
(BÜRDEK, 2006, p.37).

Os anos de guerra marcam um período de enormes avanços tecnológicos como uso de


novos materiais como o plástico e equipamentos eletrônicos. Logo após a Segunda Guerra, se
tornou necessário manter o grande volume de produção industrial redirecionando os produtos e
até de se expandir o parque industrial em países como o Brasil.Os trinta anos pós-guerra,
marcam o apogeu do modelo de acumulo de capital pela expansão continua do consumismo e
segundo Cardoso ( 2008, p. 165) isto gerou conseqüências de suma importância com relação
ao papel do design na produção industrial. A prática do descarte torna-se uma necessidade,
gerando a idéia da obsolescência programada. Idéia que o design colabora, através de suas
solução para produtos e ainda dos anúncios destes, a manter uma produção de larga escala e
sustentar durante muitas décadas um crescimento quase sem limites.

Nos Estados Unidos, a indústria estava em franca expansão no pós-guerra. O produto


orientava-se para o mercado, com incentivo ao consumo e ênfase nas vendas e na obtenção
de sucesso mercadológico. Moraes e Fiqueiredo (2008, p. 49) afirmam que, na concepção
americana, o design era tido como algo que pudesse ser inserido, posteriormente, ao produto
como uma maquiagem cosmética final. Esse estilo americano foi denominado styling, que teve
como derivação de maior reconhecimento no Streamline. Nesse caso, a estética surgia de
forma coerente com a realidade vivida, um momento de expansão industrial e econômica
americana.

Para dar continuidade à tradição da Bauhaus, surgiu, em 1947, a Hochschule für Gestaltung
Ulm que tinha como meta contribuir para a construção de uma nova cultura, buscando formas
de vida adequadas ao desenvolvimento técnico da época. Dentre os resultados históricos da
HFG Ulm, o mesmo autor, constata a inclusão do engajamento ativo e amplo do design no
contexto cultural, sob o qual não está expressa claramente a arte, mas, são definidas outras
áreas, a exemplo, a arquitetura, cenografia, design de eventos, cinema, fotografia, literatura,
moda, cultura pop, planejamento urbano, teatro, assim como a motivação para criação da
metodologia do design.

Conforme Moraes e Figueiredo (2008, p. 52), ‘Ulm colocou em foco a antítese da estética
que enaltece o consumo e faz referências ao supérfluo e inseriu uma nova estética, fruto do
racionalismo e da funcionalidade, no contexto da cultura do projeto’. Essa instituição não
absorveu a crítica ao funcionalismo e o início do debate sobre as questões ecológicas, no fim
dos anos 1960. Este questionamento manifestou-se especialmente na arquitetura e no
planejamento urbano das cidades.

Segundo Cardoso ( 2008, p.176) no Brasil, os anos cinqüenta foi um período muito fecundo
para o design, pois apresentava importantes inovações a partir de ares modernizantes que
transformavam a economia e a sociedade. Muito antes de se explicitar a idéia design social, a
Unilabor - cooperativa de produção de moveis, que contou com a colaboração de Geraldo de
Barros- já colocava em prática a idéia de usar a produção para transformar as relações sociais.

Este autor destaca, ainda, a fecundidade de propostas de trabalho em torno do design de


interiores nesta mesma época,que reflete grandes transformações, pois o pais experimentou
uma verdadeira febre de modernização que levou a renovação de valores e costumes e isto fez
com que se trocassem também os velhos mobiliários, possibilitando assim uma diversidade de
projetos, em importante cenário histórico de nosso pais.

Em 1963, nesta efervescência propicia a prática de design, acontece a abertura da ESDI –

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Escola Superior de Desenho Industrial, tida como marco inicial dos cursos de design no Brasil.
Cita-se que a Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais foi criada em 1955
com o nome de Escola de Artes Plásticas e inicia suas atividades em 1957 com sua primeira
turma de alunos, onde podia se encontrar cursos como desenho industrial e decoração.

Em meados dos anos 1960, apareciam os primeiros sintomas de crise nos países europeus.
A fase de crescimento após a Segunda Guerra Mundial estava encerrada. A longa guerra do
Vietnã conduziu os Estados Unidos para manifestações de protesto dos estudantes, que logo
foram repetidas na Europa: a primavera de Praga, as manifestações de Maio em Paris ou as
demonstrações em Berlim e Frankfurt (BÜRDEK, 2006, p. 61).
Desse modo, no começo dos anos 1970, diante das discussões ambientais evidentes, foram
estabelecidas as primeiras exigências ecológicas para o design.
Nos anos posteriores, discute-se a possível e real separação entre a arte e o design, já que
nos anos 1980, alguns designers se direcionaram à arte, muitos artistas se debruçaram a
retrabalhar objetos de uso (BÜRDEK, 2006). Ainda, para o mesmo autor, houve uma mudança
decisiva desse quadro nos anos 1990, nos quais o design se tornou uma disciplina cultural
fundamental, que influencia a arte, mais do que o contrário, ao atuar de maneira global.

3 Sustentabilidade

Breve histórico

Uma nova realidade, contrária à lógica objetiva e linear moderna, surgiu para questionar a
participação da humanidade no destino do mundo industrial. Se, em um passado não muito
distante, o ‘sonho do mundo moderno’ pré-estabelecia que maior numero de pessoas teriam
acesso a uma vida mais digna e feliz através da indústria e da tecnologia, as imperfeições
desse sistema começam a aparecer, como sugerem Moraes e Figueiredo (2008).

Conhecer, portanto, o conceito de desenvolvimento sustentável, seus antecedentes, suas


intenções, aplicações e concepções ao percorrer a história do termo contribui para
compreendermos as condições que tornaram possível o surgimento e a aceitação desta
associação entre desenvolvimento e preservação ambiental por diversas forças sociais.

Desde a década de 1960, ‘despontam movimentos contra-culturais e ecológicos,


inconformados com o modelo materialista, bélico, individualista, competitivo e degradador do
meio ambiente da sociedade de consumo’ (SCOTTO, 2007, p. 17). No entanto, o primeiro
grande debate mundial sobre o meio ambiente aconteceu em Estocolmo - Suécia, 1972: a 1ª
Conferência sobre o Meio Ambiente Humano. Além desse encontro, lançou-se, ainda na
década de 1970, o Relatório Meadows, uma pesquisa global, na colocação do referido autor,
sobre a dinâmica da expansão humana e o impacto da produção sobre os recursos naturais.

Um ano depois, o choque do petróleo reforça essas incertezas quanto à disponibilidade dos
recursos não-renováveis. Celso Furtado lança, em 1974, seu trabalho denominado O mito do
desenvolvimento econômico, no qual constata que a idéia do desenvolvimento baseava-se
ainda na manutenção das desigualdades sociais entre os países do bloco capitalista.

A consciência da crise ecológica nos anos 70 veio somar-se às constatações do fracasso do


desenvolvimentismo na solução dos problemas globais, denunciando a exploração ilimitada dos bens
ambientais e a insustentabilidade social e ambiental por ele gerada (SCOTTO, 2007, p. 19).

Nesse contexto de crise econômica e ambiental, aprofunda-se a crítica ao desenvolvimento


e ao modelo social hegemônico. Os movimentos sociais dividem-se, então, entre os contrários
às raízes do sistema capitalista e seu uso do meio ambiente e ‘outros setores do movimento
ecológico e das instituições internacionais que buscarão reformar a noção de desenvolvimento’,
com o intuito de incorporar a dimensão ambiental ao seu projeto inicial, como afirma Scotto
(2007).

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Ainda, em 1973, surge o conceito de ecodesenvolvimento, como precursor do
desenvolvimento sustentável. Como cita Scotto (2007), esse termo é definido por Sachs como:

um processo criativo de transformação do meio com a ajuda de técnicas ecologicamente prudentes,


concebidas em função das potencialidades deste meio, impedindo o desperdício inconsiderado dos
recursos, e cuidando para que estes sejam empregados na satisfação das necessidades de todos os
membros da sociedade, dada a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais. [...]
Promover o ecodesenvolvimento é, no essencial, ajudar as populações envolvidas a se organizar, a
se educar, para que elas repensem seus problemas, identifiquem as suas necessidades e os
recursos potenciais para conceber e realizar um futuro digno de ser vivido, conforme os postulados
de justiça social e prudência ecológica (SACHS, 1986 apud SCOTTO, 2007, p. 25).

Por meio de um comparativo entre os valores estabelecidos pela sociedade ocidental,


Souza (2007) demonstra a transição de uma preocupação com a divisão de bens, das décadas
de 1960 e 1970, para um aumento generalizado do medo da escassez, nas décadas seguintes,
1980 e 1990. Apesar da continuidade da cultura da abundância, esse temor ‘levou a uma
mudança de visão saindo da justiça social e do bem-estar para um modelo de materialismo
centrado no individual’ (HOOKS, 2000 apud SOUZA, 2007).

O pensamento de Schumacher, de 1977, a respeito da consideração dos valores e razões


sociais, ambientais, estéticos, morais ou políticos são citados por Souza (2007, p.22), como
antieconômicos, ‘julgados pela economia como aspectos de interesse secundário, e até mesmo
irrelevantes na tomada de decisões, uma vez que não são capazes de converterem-se em
valores monetários’.

O conceito de desenvolvimento sustentável surge, então, como uma reação pós-Guerra Fria
a um modelo de desenvolvimento predatório independente do sistema, capitalista ou socialista.
Convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), presidida por Grau Brudtland, anuncia o Relatório
Brudtland, com o chamado: ‘Uma agenda global para a mudança’, em abril de 1987.

Com o desenvolvimento sustentável, a questão ambiental é situada no marco mais amplo das
relações sociais, onde se reconhece a desigualdade entre os países e o aumento da pobreza como
ameaças a um futuro social e ambientalmente equilibrado para todos (SCOTTO, 2007, p. 29).

A partir disso, a natureza ganha um valor possível de ser contabilizado na produção e


comercialização, diferentemente da economia clássica, que considera a natureza não
transformada pelo trabalho humano como um ‘bem livre’, sem valor econômico. Segundo
Scotto (2007), ‘a natureza passa a ser um bem de capital numa economia ecológica de
mercado’.

Logo, nos anos 1990, iniciam-se os preparativos para a Conferência Nacional das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida também como Rio-92. Esse
encontro, sediado no Rio de Janeiro, estimulou o debate ambiental no Brasil. Ainda em 1990,
organizou-se o Fórum das ONGs e dos movimentos sociais brasileiros, no qual se estabeleceu
uma agenda de discussões para elaborar um diagnóstico da crise social e ambiental e sugerir
propostas para uma nova ordem internacional, de acordo com Scotto (2007).

Paralelamente à Rio-92, como cita o mesmo autor, a sociedade civil internacional realizou o
Fórum Global, para ‘redigir e assinar acordos de tratados ambientais com apoio das ONGs e
movimentos sociais de todo o mundo’. Nesse contexto, cria-se a noção de que os problemas
em debate não eram sociais ou ambientais, separadamente, mas convergentes em uma
abordagem socioambiental. O resultado foi apresentado na forma de um relatório que critica a
ausência de um caminho para o desenvolvimento sustentável no Relatório Brundtland. A partir
disso, ocorre ao longo dos anos 1990 a transição da noção de desenvolvimento sustentável
para a concepção de sociedade sustentável.

Vinte anos após a Conferência de Estocolmo (1972), a Rio-92 completou o ciclo social da
ONU, ‘pautando o debate em torno da questão ambiental pensada em relação aos dilemas do
desenvolvimento’ (SCOTTO, 2007). Tanto a Rio-92 quanto o Fórum Global produziram
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documentos significativos, como a Agenda 21, a Carta da Terra, as Convenções sobre
Mudança do Clima e sobre Diversidade Biológica, entre outros. Decorrente da Convenção
sobre Mudança do Clima de 1992, surgiu em 1997 o Protocolo de Kyoto, que previa ‘uma
redução de 5% nas emissões globais de gás carbônico por parte dos países desenvolvidos,
entre os anos 2008 e 2012, tendo como base os níveis de emissão de 1990’, segundo
SCOTTO (2007). Aconteceu nesse mesmo ano ainda a Rio+5, conferência promovida pelo
Conselho da Terra, com o objetivo de avaliar os cinco anos posteriores à Rio-92.

A partir de então, podemos afirmar que os novos conceitos e debates sobre a


sustentabilidade envolvem agentes sociais com interesses e perspectivas diversas, até mesmo
antagônicas e conflitantes. Segundo FERREIRA (2010),

seria utópico imaginar que os países se uniriam para resolver os problemas do planeta, cujos efeitos
seriam, de forma geral, quase imperceptíveis. No entanto, se cada país, dentro dos compromissos
firmados com sua própria realidade ambiental, econômica e social, cumprir suas metas, com certeza
o impacto traria consequências positivas para todo o planeta. (FERREIRA, 2010, p. 183)

Em 1993, por exemplo, Sachs define segundo SOUZA (2007), a sustentabilidade do meio
ambiente a partir de um relacionamento entre sistemas sócio-econômicos e sistemas
ecológicos dinâmicos, em que os indivíduos prosperam social e economicamente, obedecendo
a limites para não destruir a diversidade, a complexidade e a função do sistema ecológico de
apoio à vida.

MANZINI e VEZZOLI (2005) acrescentam a estes conceitos o princípio da equidade,


introduzido pelo Wuppertal Institute em 1995, segundo o qual, ‘no quadro da sustentabilidade,
cada pessoa (incluindo as gerações futuras) tem direito ao mesmo espaço ambiental, isto é, a
mesma disponibilidade de recursos naturais do globo terrestre’ (MANZINI e VEZZOLI, 2005, p.
28).

Em 1996, estabeleceu-se a busca por oferta de serviços sociais e acessos coletivos aos
bens naturais a partir de decisões com base em consenso, ao invés de imposições e
confrontações por meio da defesa exclusiva de interesses de caráter individual (BADSHAH,
1996).

Por sua vez, Bossel afirma em 1999 que

criar condições de sustentabilidade para uma sociedade é dimensionar de modo integrado a


viabilidade das mudanças sociais e ambientais, culturais e tecnológicas, além de mudanças de
valores e aspirações, procurando percebê-las no caminho de desenvolvimento que possa comportar
mudanças de longo prazo. (BOSSEL, 1999 apud SOUZA, 2007, p.19)

A partir disso, SOUZA (2007) entende que ‘o desafio para a efetivação da sustentabilidade
impõe, necessariamente, equilíbrio entre os diversos interesses econômicos, os interesses
sociais e individuais, além do respeito aos limites funcionais do meio natural’.

O chamado ‘modelo de sustentabilidade’ é entendido como um sistema de balanços e


trocas ecológicas, formado de recursos finitos, em que a degradação de um de seus elementos
leva obrigatoriamente a um colapso do conjunto (MARGOLIN, 2002b). No âmbito biofísico, a
sustentabilidade é entendida como sendo a tendência dos ecossistemas em balancear, de
modo dinâmico, seus padrões de consumo de matéria e energia, e evoluir a um ponto em que
a vida possa continuar. Entende-se que a sustentabilidade assume papel decisivo no projeto de
desenvolvimento dos povos, revelando fortemente uma necessidade de planejamento e
integração das políticas públicas e decisões empresariais com parâmetros de desenvolvimento
que envolvam conjuntamente as pessoas, a economia e a natureza (SOUZA, 2007, p.23).

Assim, pode-se concluir que não existe atualmente uma definição única do que seja o
desenvolvimento sustentável, um conceito que permeia diferentes perspectivas, embora com
elementos recorrentes em todas elas. Em uma abordagem atual se considera desenvolvimento
sustentável aquele que mantém o equilíbrio dinâmico entre as dimensões sócio-culturais,

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ambientais e econômicas, salientando que não basta a preservação ambiental para que haja
sustentabilidade, mas o equilíbrio dinâmico entre todas suas dimensões.

Design e sustentabilidade
A partir da segunda conferencia da ONU em 1992, o movimento ambientalista começa a se
consolidar definitivamente e segundo Cardoso (2008, p. 245), o design vem exercendo um
papel discreto, mas ativo ao longo deste processo de surgimento e ressurgimento do
ambientalismo. O assunto entrou em pauta entre os designers , quando em 1969, o ICSID
aconselhou os designer a darem prioridade à qualidade de vida sobre a qualidade de
produção.
Impulsionado pela preocupação com as degradações ambientais, Papanek (1995), discute a
relação do design com o meio em que vive, dizendo que é imperativo que o profissional de
design contribua na busca de soluções para atenuar estas mudanças, tão grandes e tão
ameaçadoras, que estão ocorrendo no meio ambiente. Acrescenta que é função do design
responsabilizar-se pelo compromisso social de que projetos e produtos devem ser
verdadeiramente aplicáveis a necessidades especificas dos usuários tendo consciência dos
problemas e as consequências do resultado de seu trabalho.
Considerando esta conexão do design com resultados ambientais de suas propostas nasce
o termo ‘ecodesign’ que segundo Manzini e Vezzoli (2005) se define genericamente como
‘aptidão projetual que concebe os aspectos do projeto considerando também o impacto
ambiental’.
Estes autores citam ainda como a conscientização acerca dos problemas ambientais levou
a discussão e reorientação de novos comportamentos sociais ou seja de um consumo mais
consciente.
Perfazendo este caminho depara-se o design com dinâmicas complexas de inovações
socioculturais que devem apresentar alem da aplicação de inovações tecnológicas,
considerações de cunho social e cultural e ambiental.
Pode-se perceber assim nova abordagem na ética do design que de acordo com
International Council of Societies of Industrial Design (ICSID):

‘procura descobrir e avaliar estruturalmente as relações funcionais, expressivas e econômicas, com a


tarefa de propor:

• Melhoria na sustentabilidade global e proteção ambiental (ética global)

• Dar benefícios e liberdade para toda a comunidade humana, individual e coletiva, aos usuários
finais, produtores e protagonistas de mercado (ética social)

• Apoiar a diversidade cultural apesar da globalização do mundo (ética cultural)

• Elaborar produtos, serviços e sistemas, cujas formas sejam expressivas de (semiologia) e sejam
coerentes com (estética) sua própria complexidade. ’

Na colocação do ICSID, produtos de design são, também, serviços e sistemas concebidos com
ferramentas lógicas não apenas produzidos por processos em série. O adjetivo ‘industrial’
acrescentado ao design pode está relacionado com a indústria em seu significado como setor
de produção ou em seu sentido antigo de ‘atividade industriosa’. O design é uma atividade que
permeia um amplo espectro de profissões nas quais produtos, serviços, comunicações
gráficas, ambientes, tecnologia e arquitetura estão incluídas. Juntas, essas atividades poderiam
ampliar ainda mais - de forma integrada com outras profissões relacionadas - o bem estar
social.

Portanto, o termo designer ‘refere-se a um indivíduo que pratica uma profissão intelectual, e
não simplesmente um negócio ou um serviço para as empresas’ (ICSID, 2011).

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Diante destas novas abordagens surgem outros termos que expressem formas de atuação
do design que integrem em suas propostas outras condicionantes. Destes destaca-se o ‘design
ambiental’ que segundo Varejão (2008), é um modo integrado de criar espaços públicos
sensibilizado pela renovação ambiental, através da interdisciplinaridade. Resultam espaços
urbanos que possam relacionar pessoas com lugares, buscando nestes espaços um nível de
sustentabilidade que mantenha a harmonia dos aspectos ambientais e culturais propiciando
assim diversidade ambiental e cultural, tornando estes espaços uma referencia local, que se
contrapõe às faces da globalização.

4 Considerações finais

A partir das colocações acima pode-se perceber que as primeiras demandas relativas aos
aspectos ambientais nas propostas de design, que acontecem no inicio da década de 70,
aparecem antes mesmo da consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável
considerando-se como marco o Relatório Brudtland, de 1987, demonstrando desta forma
significativa capacidade de percepção desses aspectos pelo design .

O design, como atuação profissional nasce com a industrialização e participa de sua


estruturação, colaborando assim com seus resultados. A sustentabilidade, como conceito,
surge para sanar os resultados negativos da industrialização e como prática solicita que o
design também faça parte de sua construção diária rumo a transformações que vão permitir a
busca do equilíbrio dos aspectos humanos entre si e desses com os aspectos naturais.

Nenhuma área de atuação, hoje, pode desconsiderar em suas práticas além da dimensão
econômica, as socioculturais e ambientais. O design que já utiliza como ferramenta a pesquisa
e a coleta de dados para identificação do problema e a proposição de soluções inovadoras
deve aprofundar cada vez mais na complexidade destas questões, para que possa estabelecer
as inter-relações entre estas dimensões e assim chegar a proposições que favoreçam o
equilíbrio entre elas, ou seja, que alcance maior sustentabilidade.

O design, na pós-modernidade, surge como elemento transformador capaz de identificar


estilos de vida e com sua atuação possibilitar modos de viver mais sustentáveis. Apesar de ser
uma disciplina com percepções amplas que atua dentro de seus próprios limites, entende-se
que sua atuação para a sustentabilidade se potencializa através de ações interdisciplinares. E
esta atuação efetiva-se na medida em que se estabelece um compromisso social partindo do
profissional.

No design ambiental nota-se uma gama de possibilidades de atuação do design de


ambientes, que além de espaços internos pode e já percebe grande necessidade de participar
dos planejamentos de espaços livres de uso público. Nestes locais as dimensões da
sustentabilidade não só estarão presentes em aspectos técnicos e materiais como nas formas,
símbolos e usos, estabelecendo assim fatores educativos e fortalecimento de novos valores
para a sociedade.

5 Referências
Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livros
Couto, R. M. de S. & Ribeiro F.N. da F. (2011). Ensino de Disciplinas de Projeto em Curso de
Design sob o Enfoque do Design em Parceria. Disponível em:< www.puc-
rio.br/sobrepuc/depto/dad/ lpd/.../designemparceria.rtf>.
International Council of Societies of Industrial Design (ICSID). (2011). Definition of design.
Disponível em: <http://www.icsid.org/about/about/articles31.htm>.
International Council of Societies of Industrial Design (ICSID). (2011) History. Disponível em:
<http://www.icsid.org/about/about/articles31.htm>.

Livros, e material não publicados


Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Bürdek, B. E. (2006). Design: história, teoria e prática do desenho industrial. São Paulo: Edgard
Blücher.

Cardoso, R.(2008). Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher.

Ferreira, S. P. (2010). Desenvolvimento Sustentável: Cultura e cidadania. Horizonte – Revista


de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, V. 8, nº 17. Belo Horizonte, MG: Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.

Moraes, D.; Figueiredo, C. (2008). Ética e estética na produção industrial: caminhos possíveis
para o design no novo século. Cadernos de Estudos Avançados em Design: Design e
Sustentabilidade, organizado por Dijon de Moraes e Lia Krucken. Barbacena, MG:
EdUEMG.

Papanek, V. (1995). Arquitectura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70.

Scotto, G.; Carvalho, I. C. M.; Guimarães, L. B. (2007). Desenvolvimento sustentável.


Petrópolis: Vozes.

Souza, P. F. A. S. (2007). Sustentabilidade e responsabilidade social no design do produto:


rumo à definição de indicadores. 271f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) -
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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Eficiência Energética em um Escritório Modelo Sustentável: O Caso do
Escritório Verde da UTFPR (Energy Efficiency in a Model of a Sustainable
Office: The Case of the Green Office of UTFPR)

Eloy Fassi CASAGRANDE JR 47

João Almeida de GÓIS 48

Palavras chave: Eficiência Energética, Escritório Verde, Prédio Verde

Este artigo apresenta soluções de eficiência energética adotadas em um escritório modelo sustentável
que está sendo construído na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Curitiba.
Trata-se do primeiro Escritório Verde (EV) de uma universidade brasileira, sendo que sua criação tem
como base o modelo adotado em diversas universidades do exterior, para tornar os campi universitários
mais sustentáveis. O objetivo do EV é desenvolver a política de sustentabilidade do Campus Curitiba
tendo sua própria sede como exemplo físico deste comprometimento. O projeto prevê instalação de
3290W de energia solar, uma parte conectada diretamente à rede da concessionária e a outra a baterias.
Uma das inovações no modelo é a instalação de um sistema de resfriamento dos módulos fotovoltaicos
usando o calor para aquecimento de água. A iluminação se dará por lâmpadas LED associado ao uso de
iluminação natural. O sistema de climatização é composto por painéis de energia termodinâmica (bombas
de calor) para também aquecimento da água usada na calefação, integrado de forma inovadora a
equipamento para controle de umidade e resfriamento do ar. O uso de telhados verdes, paredes duplas
com mantas em PET e pneu reciclado e janelas de vidros duplos, compõe o conjunto para maior
eficiência.

Keywords: Energy Efficiency, Green Office, Green Building

This article provides energy efficiency solutions adopted in a model of sustainable office being built at the
Federal University of Technology of Paraná (UTFPR), Campus Curitiba. This is the first Green Office (EV)
of a Brazilian university, and its creation is based on the model adopted in many universities abroad, to
make Campi more sustainable. The goal of EV is to develop the sustainable policy of the Campus Curitiba
with its own headquarters as a physical example of this commitment. The project includes the installation
of approximately 3290W of solar energy, part of it directly connected to the utility grid (grid tie) and part in
batteries. One of the innovations in the model is to install a cooling system for photovoltaic modules using
heat to heat water. The lighting will be LED bulbs associated with the use of natural lighting. The HVAC
system consists of panels of thermodynamic energy (heat pumps) to also heat the water used in heating,
integrated in an innovative way to equipment for humidity control and air cooling. The use of green roofs,
double walls with layers of recycled PET and recycled tire and double glazing, comprises the set for
greater efficiency.

Introdução

Muitos são os impactos do setor da construção civil convencional adotado no Brasil, baseada
principalmente no uso de materiais com alta emissão de carbono na construção em alvenaria.
Sendo que também se adota pouco os princípios da arquitetura bio-climática durante a fase de
projeto e que impacta diretamente no consumo de energia durante o uso de uma edificação.
Soma-se a isto o aumento anual de demanda de energia elétrica no Brasil e a necessidade
de construção de mais hidrelétricas, termelétricas e usinas nucleares, que geram também
grande impacto ambiental. De acordo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo
brasileiro cresceu 4,8% nos três primeiros meses de 2011 em relação ao primeiro trimestre de
2010, tendo atingido, de janeiro a março, demanda de 107.231 gigawatts-hora (GWh), sendo

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UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná – BRASIL, eloy.casagrande@gmail.com
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UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná – BRASIL, joaogois@gmail.com
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que o maior crescimento percentual ficou com os consumidores comerciais e de serviços, com
expansão de 6,1% entre um trimestre e outro, acumulando demanda de 18.961 GWh.
(OLIVEIRA, 2011).
O projeto do Escritório Verde (EV) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
estabeleceu parcerias com empresas para construir sua sede dentro dos princípios de
sustentabilidade, da eficiência energética e do conforto ambiental. Assim foram aplicadas
tecnologias ainda pouco utilizadas no Brasil, como o sistema de construção a seco (wood-
frame) que permite o uso de mantas para isolamento térmico acústico, janelas de vidros
duplos, telhados verdes, iluminação natural, lâmpadas LEDs, uso de placas fotovoltaicas para
fornecer energia elétrica, uso de placas termodinâmicas (bomba de calor) para aquecimento da
água e equipamentos para controlar umidade do ar.
Um dos importantes fatores a ser considerado em uma edificação é o controle de sua
temperatura interna, sendo que medidas adotadas neste sentido também têm uma relação
direta com a eficiência energética do ambiente construído. Segundo a ASHRAE (1977),
conforto térmico é um “estado de espírito”, reflete a satisfação com o ambiente térmico que
envolve a pessoa. Em linhas gerais há conforto térmico quando o balanço de todas as trocas
de calor a que está submetido o corpo for nulo e a temperatura da pele e suor estiverem dentro
de certos limites. Retirando preferências pessoais subjetivas, as características climáticas
chaves para o conforto térmico são a temperatura do ar, o movimento do ar, a radiação e a
umidade do ar.

Soluções construtivas sustentáveis - impacto em eficiência e conforto térmico

Segundo a ASHRAE (1977), Conforto Térmico é um “estado de espírito”, reflete a satisfação


com o ambiente térmico que envolve a pessoa. Em linhas gerais há conforto térmico quando o
balanço de todas as trocas de calor a que está submetido o corpo for nulo e a temperatura da
pele e suor estiverem dentro de certos limites. Retirando preferências pessoais subjetivas,
características climáticas chave para o conforto térmico são a temperatura do ar, o movimento
do ar, a radiação e a umidade do ar.
O EV da UTFPR buscou e celebrou parcerias para trazer conforto térmico da forma mais
adequada aos princípios de sustentabilidade, e eficiência energética. Foram aplicadas
tecnologias recentes e ainda pouco utilizadas no Brasil, como janelas de vidros duplos,
telhados verdes, paredes duplas recheadas com mantas feitas de lã de garrafas plásticas PET
e mantas de um composto com base em pneu reciclado.

Sistema construtivo Wood-frame


Diversos autores, entre os quais Giglio (2005), e Bogo (2003) citam o baixo desempenho
térmico das habitações em madeira mais utilizadas no sul do país, de fechamentos verticais
com apenas 2,2 cm de espessura, considerado inadequado na maioria dos locais. No entanto,
um estudo de painéis de vedação em madeira estilo wood-frame, (conhecido como painéis de
parede dupla), em Londrina - PR, concluindo que alguns tipos de painéis tem conforto térmico
equiparável às paredes tradicionais de tijolos. (GIGLIO, 2005).
A madeira de reflorestamento utilizada é material renovável, com baixo consumo energético e
boa possibilidade de aproveitamento dos resíduos, além de contribuir positivamente na
renovação do ar (BARBOSA E INO, 2001). Segundo Navarro e Ino (1998), a montagem dos
painéis em fábrica acelera, facilita e otimiza o processo, após fabricados e transportados, em
alguns poucos dias é possível montar a estrutura de uma casa simples de 100m2 com um
guindaste.
A madeira apresenta um bom isolamento térmico, principalmente o pinus (SSP), madeira
porosa, de baixa densidade térmica, condutividade térmica da ordem de 0,15 W/(m.K),
(UCHÔA, 1989) (NBR 15220-2 de 04/2005), enquanto que a cerâmica apresenta valor de 0,90
W/(m.K). O pinus tem preferência também por sua elevada permeabilidade ao tratamento em
autoclave, fundamental para evitar o ataque de organismos xilófagos.
Molina e Calil Junior (2010) citam que nos Estados Unidos da América a tecnologia wood-frame
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é utilizada em 95% das casas construídas, e que o controle de gastos é facilitado ainda no
projeto já que é industrializável. Apresentam como exemplo a Alemanha, onde a
industrialização dos painéis de parede, de piso e cobertura, com alto controle de qualidade,
possibilita a construção de casas com mais de 200 m2 em apenas 60 dias, sendo necessário
apenas um único dia para montagem da casa.
Um assunto recorrente, a segurança da edificação em wood-frame contra incêndio, também é
abordada por Molina e Calil Junior (2010), que informam ter a madeira um excelente
comportamento em situação de incêndio. Citando Pinto (2001), elementos estruturais de
madeira, quando expostos ao fogo, carbonizam primeiramente seu perímetro externo, ficando o
interior da madeira praticamente intacto.
De uma maneira geral, a principal preocupação dos órgãos normativos com a ocorrência de
incêndio não está ligada ao interesse de preservar o patrimônio, mas sim de garantir que a
edificação permaneça com sua capacidade resistente preservada por um período de tempo
suficiente para garantir a total evacuação das pessoas. A principal preocupação, neste caso, é
a de preservar a integridade física do ser humano. A questão da perda como patrimônio pode
ser facilmente garantida por meio de contratos e seguros.
Finalmente, apresentam o wood-frame como:
“Um sistema leve, estruturado em perfis de madeira reflorestada tratada, que permite a utilização em
conjunto com diversos materiais, além de permitir rapidez na montagem e total controle dos gastos já
na fase de projeto por ser industrializado. Seu comportamento estrutural é superior ao da alvenaria
estrutural em resistência, conforto térmico e acústico.” (MOLINA E CALIL JUNIOR, 2010, p. 1).

O uso de soluções Wood frame no Escritório Verde da UTFPR


O EV da UTFPR foi concebido para ser um escritório comercial modelo dentro dos princípios
da construção sustentável. Assim, a estrutura adotada foi a de wood-frame usando painéis
estruturais de OSB (Oriented Strand Board), ou painéis de fibras de orientadas, que formam um
“sanduiche”, onde internamente se pode colocar mantas de isolamento térmico-acústico. No
caso do EV, foi utilizado a manta de PET reciclado de 75mm para o isolamento térmico e a
manta de pneu reciclado de 5mm para o isolamento acústico. Como revestimento interno foram
usados painéis de OSB com um lâmina de acabamento em pinus (DecoWall) e placas
cimentícias. No caso do revestimento externo se usou lâminas de PVC (Siding Vinilico) e
tábuas de OSB, tendo uma resina isolante um uma das faces (SmartSide). (LP Brasil, 2011).
Para colocar a estrutura do EV em pé foram necessários apenas cinco dias, com um operador
de guindaste e cinco pessoas (figura 1), sendo que as paredes foram executadas na fábrica em
doze dias e com resíduo praticamente zero.

Figura 1 – fotos com momentos da obra.

Fonte: Escritório Verde (2011)

O isolamento térmico-acústico está diretamente ligado ao conceito de edifícios sustentáveis


quando se considera a economia de energia e a eficiência térmica, fatores que são analisados
quando se busca uma “certificação verde” para a obra. O custo inicial um pouco mais alto é
compensado pela redução nos custos financeiros de uso e manutenção do edifício, além de
ter-se um ganho ambiental por reduzir a demanda de energia necessária para o seu bom

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funcionamento.
Menor uso de energia, redução de custos, menor emissão de gás carbônico, maior
produtividade acadêmica e maior satisfação com o ambiente de trabalho são todos os pontos
positivos da construção sustentável que Universidade Tecnológica passará a conhecer a partir
do Escritório Verde.
Um dos estudos a serem conduzidos através de uma pesquisa de mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil – PPGEC, orientado pelo Prof. Casagrande Jr., será o
cálculo de estoque de carbono fixado em todo o sistema. Sendo a madeira o único material
renovável utilizado na construção civil, ao contrário dos demais, como o tijolo, cimento, aço, cal,
areia e pedra brita, todos não renováveis e grandes emissores de dióxido de carbono para a
atmosfera, este estudo se constitui de grande importância para a ciência, principalmente
quando se discute medidas para reduções na emissão dos gases do Efeito Estufa e maneiras
de se enfrentar as mudanças climáticas.
Telhados verdes
O uso internacional dos telhados verdes já é bem conhecido. Segundo Araújo (2007), países
como Alemanha, Áustria e Noruega já utilizam amplamente o conceito de telhado verde,
inclusive devido ao forte interesse em reverter a degradação ambiental e a eliminação dos
espaços verdes.
Telhado Verde é uma cobertura ou telhado com uma camada de solo ou substrato com
vegetação. Os modelos intensivos usam plantas com maior consumo de água, adubo e
manutenção, nos extensivos as plantas utilizadas têm alta resistência às variações pluviais e
climáticas, minimizando manutenção e estrutura (LAAR et al, 2001). A figura 2 apresenta dois
cortes básicos.

Figura 2 – diversas camadas de dois exemplos de cobertura verde.

Fonte: Vecchia (2005) e Araújo (2007).

A alta temperatura da superfície da maioria dos telhados e coberturas quando exposto ao sol é
um dos problemas da construção convencional. No Brasil é comum as lajes apresentarem
rachaduras e infiltrações com o passar dos anos, as altas variações de temperatura com verão,
inverno, sol, chuva acabam deteriorando os materiais utilizados, notadamente concreto
armado. Onmura et al (2000) mostrou que uma laje exposta ao sol a uma temperatura
ambiente de 38°C durante o verão no Japão apresenta uma diferença de 30°C a menos
quando coberta por telhado verde. Vecchia (2005) registrou que as temperaturas nas
superfícies dos telhados são muito mais amenas no telhado verde. O gráfico da figura 3
apresenta medição mostrando que em um telhado cerâmico num dia a 34°C a temperatura da
superfície do telhado ensolarado chegou a mais de 50°C, enquanto a cobertura verde leve
(CVL) foi no máximo a 30°C.
Quanto à temperatura interna, Vecchia (2005) registrou internamente a uma edificação com

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telhado verde uma amplitude térmica média de 9,2°C, frente à externa de 21,4°C, ver figura 4,
portanto mais conforto térmico, além de um atraso térmico de cerca de 4 horas, tempo que a
mudança interna leva para acompanhar a externa.

Figura 3 - Temperaturas superficiais internas de cinco protótipos: 1) aço galvanizado; 2) fibrocimento ondulada; 3) laje
pré-moldada cerâmica inclinada (sem telhas) e com impermeabilização, de cor branca, com resina de óleo vegetal
(Ricinus communis); 4) cobertura verde leve e, finalmente; 5) telha cerâmica.

Fonte: Vecchia (2005).

O conforto térmico com menor amplitude de variação da temperatura interna se traduz em


economia. Mello (et al, 2010) calculam uma redução de 40% no consumo de energia do ar
condicionado na Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP com a implantação de
telhados verdes.
Outro fator importante, estudos apontam que telhados verdes provêm isolamento acústico, um
substrato de 12 cm de profundidade pode reduzir o som decibéis (OLIVEIRA & RIBAS, 1995).

Figura 4 - Gráfico do dia para o dia 9 de outubro de 2004 contendo os valores da temperatura interna do ar (tbs) com
altura tomada a 1.0 m do piso; da temperatura superficial do forro pré-moldado de laje cerâmica (tsicer) e da
temperatura externa do ar (temp. ar exterior).

Fonte: Vecchia (2005).

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As coberturas verdes do Escritório Verde da UTFPR
No EV da UTFPR foram planejadas duas coberturas verdes, conforme ilustra a figura 5, que
apresenta fotos e ilustração tridimensional do projeto. Neste sistema usou-se o sistema de
módulos composto de resíduos de EVA (polímero usado em sola de calçados) que já vem com
substrato para a vegetação (ECOTELHADO, 2011). Estes módulos são colocados sobre a laje
impermeabilizada com um tinta conhecida como “borracha líquida” desenvolvida através de
nanotecnologia (HM RUBBER, 2011). Sobre eles, leivas de gramas foram acomodadas, como
no caso da cobertura da área do café do EV e que poderá ser acessado pelo mezanino. Já na
parte frontal da edificação, a área da coordenação também receberá o ecotelhado com plantas
que necessitam de menos água para se manterem. Está será a primeira obra da UTFPR a
empregar cobertura verde e sua avaliação será um dos importantes temas pesquisa ligados a
escritório modelo sustentável. stá será a primeira obra da UTFPR a empregar cobertura verde
e sua avaliação será um dos importantes temas pesquisa ligados a escritório modelo
sustentável.

Figura 5 – Instalação do telhado verde do EV da UTFPR e ilustração do projeto.

Fonte: Escritório Verde (2011)

Iluminação natural e janelas de vidros duplos


O projeto do EV privilegiou a entrada a luz natural através de um conjunto de janelas amplas,
estrategicamente posicionadas. Estudos também demonstram a maior eficiência das janelas se
estas forem de vidros duplos, ainda de alto custo e pouco difundidas no Brasil.
Silva e Almeida (2003), com métodos de análise baseados na regulamentação portuguesa,
avaliaram as necessidades energéticas anuais (NEA) e o custo anual da energia (CAE). As
NEA (kWh/m2.ano), figura 6, foram obtidas pela soma das necessidades energéticas de
aquecimento (NEAq) com as necessidades energéticas de arrefecimento (NEArr). O CAE
(€/ano), foi calculado tendo por base a área útil de pavimento dos edifícios estudados e o custo
da energia, considerando que é utilizada energia elétrica (0.093 €/kWh), neste estudo
concluíram que o maior investimento em vidros duplos, comparando ao simples, se paga em 9
anos.

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Figura 6 - necessidades energéticas anuais (NEA) baseadas na regulamentação portuguesa.

Fonte: Silva e Almeida (2003).

Baltar (2006) mostra um estudo em hospitais onde diversos tipos de vidro são testados em
relação aos gastos com ar-condicionado, concluindo nos ensaios uma redução de 7% ao longo
de 12 meses nos gastos com energia de climatização (refrigeração e aquecimento).
O EV UTFPR tem todas as janelas em madeira de reflorestamento Lyptus com ferragem alemã
e com vidro duplo (MADO, 2011). As janelas têm abertura maximoar e seguem o design
europeu, conforme mostra a figura 7.

Figura 7 – Janelas de vidros duplos.

Fonte: Escritório Verde (2011)

Aquecimento de água e climatização

O sistema de aquecimento de água e climatização do Escritório Verde da UTFPR é composto


por sistema termodinâmico (bombas de calor) de aquecimento com painéis solares que captam
o calor (do sol e do ambiente) para aquecimento da água usada na calefação, integrado de
forma inovadora a equipamento desumidificador dessecante, para controle de umidade e
resfriamento do ar.

Aquecedor temodinâmico
Sistemas termodinâmicos são baseados fundamentalmente na compressão e expansão de
algum gás, o princípio “bomba de calor” do físico francês Nicolas Carnot. Os equipamentos
básicos são um compressor, que consome energia elétrica, um condensador que troca calor
com um acumulador de água quente, uma válvula de expansão, um painel evaporador. No
caso do aquecimento de água, o compressor comprime o gás tornando-o fluído e
conseqüentemente aumentando sua temperatura no condensador, este está mergulhado
(serpentina) dentro do acumulador com a água a ser aquecida. A seguir o fluido vai para a
válvula de expansão e, sendo expandido, torna-se gasoso novamente no evaporador, sugando

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calor do ambiente (o painel “solar” exposto ao ambiente externo fica frio), este gás quente volta
ao compressor e o ciclo se repete. Portanto, a expansão do gás absorve calor de fora,
resfriando a placa externa, e sua compressão entrega calor dentro do acumulador, aquecendo
a água.
Com equipamento adequado é possível inverter este ciclo e “bombear” calor para fora, assim
teríamos a refrigeração da água, este princípio é utilizado em alguns modelos de
condicionadores de ar.
Estes dispositivos não devem ser chamados simplesmente de “aquecedores de água com
painéis solares”, uma vez que o sistema termodinâmico não necessita sol, pois “bombeia” /
transfere calor de um lado para outro, o painel externo (evaporador) fica mais frio a medida que
a água do acumulador fica mais quente. Por outro lado um melhor desempenho é obtido com
temperatura externa alta, portanto a iluminação solar auxilia o sistema, é possível aproveitar o
calor solar, mas se não houver sol o calor do ambiente, mesmo a baixas temperaturas, é
aproveitado. Um nome que define melhor é sistema termodinâmico de aquecimento com
painéis solares. A figura 8 mostra, à esquerda, uma ilustração do princípio de funcionamento de
um produto comercial da SOLAR FLEX (2011), mostrando a posição da placa evaporadora
(acima), e do reservatório, tendo acima o compressor e internamente a “serpentina” onde
circula o gás que aquece a água. Na mesma figura, à direita, exemplo de painel externo de um
sistema termodinâmico de aquecimento, mostrando condensação e congelamento do ar
exterior, mesmo em temperaturas frias e sem sol o gás se aquece ao expandir, o sistema
termodinâmico consegue bombear energia térmica de fora para dentro, resfriando o painel e
aquecendo o gás.

Figura 8 – Á esquerda: ilustração do princípio de funcionamento de um sistema termodinâmico de aquecimento com


painéis solares; à direita, painel externo de um sistema termodinâmico de aquecimento, mostrando condensação e
congelamento do ar exterior.

Fonte: Fonte: SOLAR FLEX (2011) e SOLARIS (2011).

Outra distinção importante é que sistemas termodinâmicos de aquecimento com painéis


solares exigem compressor que consome energia elétrica, diferentemente dos tradicionais
“aquecedores de água com painéis solares” que aquecem água diretamente a partir da luz
solar, e usam o princípio “termosifão”, onde a água aquecida no painel circula para o
acumulador impulsionada pelo calor captado, portanto não consome energia elétrica. Ainda
assim este consumo é menor que se a água fosse aquecida por resistência elétrica, existe um
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coeficiente, denominado COP, coeficiente de desempenho, que para este tipo de aquecedores
está entre 3 e 4, o que significa que aquecer água com resistência elétrica gastaria 3 a 4 vezes
mais energia elétrica que o sistema termodinâmico de aquecimento com painéis solares. Com
1000W é possível aquecer o mesmo que uma resistência elétrica de 3000 a 4000W aqueceria.
Isso é explicado devido à captação da energia do calor externo pelo gás.
O quadro 1 compara sistemas termodinâmicos de aquecimento com painéis solares, com os
“aquecedores de água com painéis solares”.

Quadro 1 - comparação entre sistemas termodinâmicos de aquecimento com painéis solares e os tradicionais
“aquecedores de água com painéis solares”.

sistemas termodinâmicos de aquecedores de água com


CARACTERÍSTICA
aquecimento com painéis solares painéis solares
Semelhante aos painéis de troca de calor Tem durabilidade menor.
DURABILIDADE das geladeiras, os painéis termodinâmicos
apresentam durabilidade superior
Mais leve, normalmente fabricado em Mais pesado.
PESO
alumínio.
Pode ser instalado na vertical, horizontal Exige posicionamento geográfico /
GEOMETRIA sem ângulos ou desníveis específicos, geométrico em função do sol e do
ESTÉTICA sem grande prejuízo de eficiência. Facilita funcionamento do termosifão,
INSTALAÇAO acomodamento estético. dificultando a instalação e
prejudicando estética.
Funciona sem sol, capta calor do ambiente Exige luz solar.
LUZ SOLAR
mesmo a baixas temperaturas
Não precisa sistema elétrico de apoio Precisa aquecedor elétrico de
SISTEMA DUPLO apoio para períodos muito longos
sem sol.
MANUTENÇÃO Menor Maior
Custo de operação menor, levando em Custo de operação maior, levando
CUSTO OPERAÇÃO conta falta de sol e manutenção (ver ao em conta a falta de sol
MANUTENÇÃO lado) (acionamento do sistema elétrico) e
freqüência de manutenção
CUSTO Custo de instalação maior Custo de instalação menor
INSTALAÇÃO
Sem vidros Vidros ou materiais transparentes
exigem limpeza freqüente e se
VIDROS
danificam mais fácilmente com
granizo e outros agentes
DANO POR Não ocorre com o gás Pode ocorrer em locais muito frios
CONGELAMENTO com a água.
FLUÍDO Fluído refrigerante ecológico R 410ª. Água (aquecimento direto).
Fonte: elaborado pelos autores a partir dos fornecedores pesquisados.

Climatização com Desumidificador Dessecante


Conforme já mencionado, segundo a ASHRAE (1977), conforto térmico é um “estado de
espírito”, reflete a satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa, e está relacionado
principalmente à temperatura do ar, o movimento do ar, à radiação e à umidade do ar.
O Escritório Verde da UTFPR instalará um sistema desumidificador dessecante, capaz de
reduzir a umidade do ar a níveis mais baixos que usando refrigeração mecânica. Este sistema
utiliza um cilindro tipo colméia (honeycomb) como mostrado na Figura 9 (CAMARGO, 2003).

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Figura 9 - Desumidificador tipo cilindro rotativo

Fonte: Camargo (2003)


O equipamento da Munters, denominado DryCool™ HD Desumidificador Dessecante
(DryCool™ HD Dessiccant Dehumidifier) é apresentado da figura 10. Usa-se aqui o mesmo
princípio termodinâmico já comentado acima para bombear calor com compressão e expansão
de um gás. O gás é comprimido, liquefeito e aquece no condensador, a seguir expande e esfria
no evaporador. São aproveitados os dois lados do bombeamento de calor do sistema
termodinâmico. O DryCool™ HD usa fluido refrigerante ecológico - R 410a. Trata-se de
equipamento de alta eficiência energética, diferentemente de uma geladeira, por exemplo, que
transfere o calor de dentro para fora sem aproveitá-lo, este equipamento transfere calor e
aproveita o lado frio e o lado quente. O ar a ser tratado entra pelo evaporador (frio) e é
resfriado, umidade e partículas são retirados neste processo, tornando o ar mais limpo e frio. A
seguir passa pelo desumidificador tipo cilindro rotativo com material dessecante, que absorve a
umidade, e volta ao ambiente. O cilindro dessecante precisa ser “reativado”, pois vai saturando
com a umidade absorvida, isso é feito com uma segunda circulação de ar, do meio externo, que
passa pelo condensador (quente) e reativa o dessecador.

Figura 10 – ilustração do sistema de refrigeração DryCool™ HD Desumidificador Dessecante.

Fonte: Adaptado de DRYCOOL HD (2010)

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O Sistema Termodinâmico do Escritório Verde da UTFPR e interligação com o DryCool™
HD Desumidificador Dessecante
De acordo com a empresa ASTROREI (2011) o consumo de energia mensal de um sistema
termodinâmico de aquecimento com painéis solares é inferior aos tradicionais “aquecedores de
água com painéis solares” que necessitam de um aquecedor elétrico auxiliar, conforme mostra
a figura 11.

Figura 11 - quadro comparativo entre sistemas de aquecimento de água.

Fonte: ASTROREI (2011)

Interligando os sistemas
Nos dias muito quentes há necessidade de refrigeração e aquecimento extra no DryCool™,
causando gasto de energia adicional, está em estudo o uso do sistema termodinâmico da Astro
Rei para fornecer calor para o sistema DryCool™. Inicialmente uma serpentina será instalada
no acumulador térmico de água para uso do fluxo de ar.

Painéis solares híbridos, lâmpadas LEDs e aquecimento de água


O EV da UTFPR pretende ser a primeira edificação autônoma solar do Paraná, com cerca de
3290 Watts instalados e conectados uma parte a rede pública de energia (2050W) e outra parte
acumular em baterias (1240W), sendo que para redução no consumo de energia, serão
empregadas lâmpadas LEDs (Light Emitting Diodes). Elas são diferentes de lâmpadas
incandescentes comuns, pois não têm filamentos que se queimam e não ficam muito quentes.
Além disso, são iluminados somente pelo movimento de elétrons em um material semicondutor
(o diodo é o tipo mais simples de semicondutor) e duram tanto quanto um transistor padrão.
O termo “célula fotoelétrica” é usado por qualquer dispositivo que converta luz em eletricidade,
mais utilizado para sensores de luz, como os utilizados em máquinas fotográficas. Para o caso
de produção de energia elétrica para consumo, o termo mais utilizado é “célula fotovoltaica”, ao
conjunto de células fotovoltaicas podemos designar de módulo, placa ou painel fotovoltaico.
Como sua fonte de energia é a luz solar, designamos painéis solares fotovoltaicos.
Os painéis solares fotovoltaicos podem ser conectados diretamente na rede elétrica (modelo
grid tie) ou armazenar a energia em baterias, podendo ser usada quando não há luz solar. Os
painéis solares fotovoltaicos necessitam de equipamentos adicionais para funcionar: Baterias,
que armazenam a energia para uso quando não há luz solar; controlador de carga, responsável
por manter baterias carregadas corretamente; inversores, responsáveis por converter a energia

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em corrente contínua, gerada pelos painéis e armazenada pelas baterias, em corrente
alternada, adequada ao consumo da rede pública de energia elétrica de baixa tensão.
Pretende-se acoplar os painéis fotovoltaicos em estruturas com circulação de água por
serpentinas, resfriando os painéis com conseqüente aumento da vida útil e eficiência,
comprovadamente reduzidas quando trabalhando nas altas temperaturas provocadas pela
incidência solar. Como subproduto será gerado água quente que poderá ser utilizada. A figura
12 mostra uma ilustração dos painéis fotovoltaicos a 30º C e tubos de entrada (20º C) e saída
(26º C) de água para refrigeração.
As medições de eficiência energética e sobre o funcionamento do sistema serão conduzidas
com o apoio dos professores e alunos do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT).

Figura 12 - sistema de resfriamento dos painéis fotovoltaicos

Fonte: CPF (2011)

Bicicleta a hidrogênio e veículo elétrico


Com a energia elétrica gerada durante o dia pelos painéis fotovoltaicos, o projeto também tem
como objetivo alimentar um veículo elétrico e uma bicicleta a hidrogênio.

Bicicleta a hidrogênio da NESHy


A bicicleta a hidrogênio usa este gás dentro de um inovador cilindro fabricado com materiais
compostos, incluindo garrafa pet e fibras de carbono, mais leve que os convencionais de aço.
O hidrogênio engarrafado é usado em uma célula combustível que gera eletricidade que aciona
um motor. A idéia dos empresários é gerar o hidrogênio em postos de recarga que coletam
água da chuva e serão cobertos de células fotovoltaicas, portanto terão certa autonomia. No
posto de recarga, a eletricidade das células será usada para fazer eletrólise da água coletada,
gerando hidrogênio.
A figura 13 traz alguns ensaios sobre o projeto. A bicicleta tem protótipo e está sendo testada,
sendo que uma empresa parceira fornecerá os hidrolisadores, dispositivos que com uso de
eletricidade convertem água em hidrogênio (H2Bike, 2011).

Figura 13 - Da esquerda acima em sentido horário: posto de recarga (concepção), bicicleta a hidrogênio (foto de
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protótipo real), célula combustível, reservatório de hidrogênio.

Fonte: H2Bike (2011)

Veículo Pompeo
O veículo elétrico a ser avaliado é o Triciclo Pompeo (2011), figura 194, que utiliza baterias
recarregáveis. Trata-se de um carro elétrico que está sendo desenvolvido no Paraná, sendo o
primeiro carro elétrico genuinamente brasileiro e que promete ser acessível a todos, tanto pelo
baixo custo, quanto pela tecnologia simples. O POMPEO poderá ter uma autonomia de até 200
km, sendo que necessitará de apenas 1KW/h para rodar 10 km a um custo de R$0,40, ou seja
R$0,04/km. O projeto já vem sendo desenvolvido desde 2007 e conta com diversas parcerias
de empresas do setor automobilístico, sendo que os testes com seu protótipo será finalizado
até o final do ano de 2011. Havendo investimentos para sua produção, a estimativa de preço de
mercado para um veículo básico pode ficar na faixa dos R$30 mil Reais.

Figura 14 – Ilustração e protótipo do carro elétrico POMPEO

Fonte: Triciclo Pompeo (2011)

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Considerações finais

O projeto do EV de conforto ambiental e eficiência energética reúne grande parte das


tecnologias disponíveis hoje no mercado e reconhecidas como eficientes. A promoção do baixo
consumo de energia elétrica em uma edificação está diretamente ligado a redução nas
emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) e também diminui a necessidade de se construir
usinas hidrelétricas, termelétricas e nucleares.
Sendo uma espécie de “laboratório vivo”, o EV permitirá que estudos sejam conduzidos para
provar sua eficiência, pois na sua concepção, o importante foi promover o encontro das
empresas, demonstrando que o conjunto integrado de suas tecnologias e produtos fazem mais
sentido do que as empregando isoladamente. Ao associar o projeto do carro elétrico e da
bicicleta a célula de hidrogênio, será possível também avaliar um modelo único de edificação
sustentável integrada a mobilidade sustentável. O desafio aqui é demonstrar que além do
ganho ambiental, o custo inicial na sua implantação será compensado como o custo benefício
ao longo do uso do escritório e dos meios de transportes menos poluentes.

Referências

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Ideias sustentáveis em uma pequena marcenaria: um
estudo de caso sobre aproveitamento de resíduos
(Sustainable ideas in small carpentry: a case study on
waste recovery)

Rossana Viana Gaia 49

Áurea Rapôso 50

Wanessa G. P. dos Santos 51

Ana Maria F. da Silva 52

Palavras chave: design; sustentabilidade; APL

Este paper integra parte das reflexões iniciadas em 2010, em pesquisa de iniciação científica sobre
design do Arranjo Produtivo Local de Móveis do Agreste, em Alagoas, ampliado em 2011 com a inserção
de análises das características do design de móveis, no programa APLmob+design, do Núcleo de
Pesquisa em Design (NPDesign) do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Nesta investigação, o objetivo foi
detalhar o trabalho de uma marcenaria na qual um móvel guarda-roupa é fabricado com mínimo de
perdas, o que garante menor impacto ambiental. A metodologia utilizada neste estudo de caso foram
entrevistas, visitas técnicas, levantamento fotográfico e revisão bibliográfica sobre design, produção
moveleira e sustentabilidade. Como resultados parciais é possível indicar que investigações sobre
pesquisas em APL contribuem para visibilidade sobre ações individuais passíveis de ampliação em outros
grupos, o que possibilita proposta educativa e compartilhada. Além disso, verifica-se também que o
desperdício pode ser reduzido a partir do próprio design do mobiliário, considerado anônimo, em casos
desse tipo. Desse modo, pesquisas nessa perspectiva contribuem para reflexões acerca da urgência de
reduzir os impactos ambientais em todo o ciclo de vida dos produtos, desde a obtenção da matéria prima
e insumos, até o uso e pós-uso dos produtos finais.

Keywords: design; sustainability; APL

This paper incorporates part of the discussions initiated in 2010 in search of basic scientific research on
the design of the Local Productive Arrangement of Furniture of the Arid part in Alagoas, expanded in 2011
with the inclusion of analysis of the characteristics of furniture design, design program APLmob +, from
NPDesign of the Instituto Federal de Alagoas (IFAL). In this research, the goal was to detail the work of a
carpentry shop in which a wardrobe is manufactured with minimum loss, which ensures minimum
environmental impact. The methodology used in this case study were interviews, visits, photographic
survey and bibliographic review on design, furniture production and sustainability. As partial results it is
possible to indicate that investigations of research at APL contribute to visibility over individual actions
likely to increase in other groups, which allows shared and educational proposals. Moreover, there is also
that waste can be reduced from the very own design of furniture, considered anonymous, in such cases.
Thus, research in this out look contribute with ideas about the urgent need to reduce environmental
impacts throughout the life cycle of products, from obtaining raw materials and supplies, to use and post-
use final products.

49
Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Brasil, rossgaia@hotmail.com
50
Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Brasil, aurearaposo@ig.com.br
51
Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Brasil, wgps8@yahoo.com.br
52
Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Brasil, mariusckafx@gmail.com
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1 O design da contemporaneidade

O design é um signo ideológico e uma das mais poderosas linguagens do mundo


contemporâneo, pois se configura como uma forma de comunicar eficazmente (Postrel, 2004;
Cavalcante, Gaia, Rapôso & Lins, 2010). Desse modo, é possível identificá-lo como um estilo,
uma forma possível de expressão estética. A clássica ideia ‘a forma segue a função’, conforme
registra Postrel (2004, p:9), foi superada pela nova máxima ‘a forma segue a emoção’, ou seja,
esta é quem indicará a funcionalidade da forma. Enquanto na premissa primeira, a oferta se
baseava em eficiência, racionalidade e verdade, a proposta estética promete ‘liberdade, beleza
e prazer’. Ainda que Postrel (2004) defenda o apelo estético, o mundo contemporâneo com
suas múltiplas facetas e sujeitos com idiossincrasias impedem que tanto a trilogia da lógica
moderna quanto a da lógica estética se cumpram plenamente.
No caso específico do Arranjo Produtivo Local (APL) de Móveis do Agreste de Alagoas, os
dados levantados indicam que o sertanejo alagoano trabalha o consumo com base em sua
realidade financeira, mas sem perder de vista uma necessidade estética própria da sua
identidade. Essa ruptura com o conceito padronizado de beleza é o que nos possibilita
concordar parcialmente com Postrel (2004).
Nessa mesma perspectiva, Norman (2008, p:63) indica diferenças e similaridades entre
desejo, necessidade e vontade, a partir da ótica do design. Ainda que a publicidade seja um
fator importante no processo de definição do que se denomina “gosto”, as emoções são fatores
intervenientes, o que pode resultar em dificuldades para a etapa de vendas de um determinado
produto. Como registra o autor, ‘satisfazer as verdadeiras necessidades das pessoas, inclusive
as exigências de diferentes culturas, faixas etárias, exigências sociais e nacionais, é difícil’ e
requer, por parte dos que se envolvem nessa cadeia produtiva considerar caprichos, opiniões e
preconceitos.
A partir de estudos desenvolvidos por Manzini, Krucken (2009, p:37) destaca ‘a necessidade
de projetar formas alternativas de intermediação local-global’ o que aquele autor denomina
‘localismo capitalista’, mas para que isso efetivamente ocorra é necessário equilibrar as
dimensões local e global à ‘valorização sustentável dos recursos locais’. Dito de outro modo,
isso significa compreender que o designer pode fornecer indicativos importantes aos
marceneiros e proprietários de lojas sobre o potencial produtivo dos materiais na produção e
venda.
A capacidade interdisciplinar do design, no mundo contemporâneo, favorece o
tangenciamento com diversas áreas como arquitetura, engenharia, economia, marketing e
ecologia (Krucken, 2009) e o habilita enquanto atividade eminentemente vinculada à fluidez e
complexidade do paradigma vigente internacional.
Postrel (2004, p:9) observa que o denominado ‘bom design’ não é mais o que se considera
perfeito, mas o que ajuda a confirmar a identidade de um sujeito e/ou grupo. Nesse sentido, é
importante identificar as ‘qualidades do contexto local ― o território e a maneira como cad a
produto é concebido e fabricado ― para compreender as relações que se formam em torno da
produção e do consumo de produtos’ (Krucken, 2009, p:17).
O processo de globalização, tal qual identificamos a partir do século XX, requer atenção das
empresas, independentemente do tamanho e número de funcionários, a garantia de comunicar
eficazmente ao consumidor detalhes acerca do ‘contexto de origem e a sua história, de modo
que possam assimilá-los e reconhecê-los. Para que isso aconteça, é necessário compreender
a maneira como as pessoas percebem os produtos’. O conhecimento desses valores e
qualidades dos produtos é que garantem a definição de estratégias para divulgar não somente
a origem do produto, mas seu modo de produção e significados possíveis, da produção ao
consumo (Krucken, 2009, p:23-4).
Entende-se o consumo como uma atividade intrínseca à lógica do capitalismo, portanto
consumir pode ser tanto para “fins de satisfação de ‘necessidades básicas’ e/ou ‘supérfluas’ ―
duas categorias básicas de entendimento da atividade de consumo nas sociedades ocidentais
contemporâneas [...]” (Barbosa, 2010, p:7). No caso específico do estado de Alagoas,
sobretudo na região do Agreste, onde estão situadas as empresas vinculadas ao APL de
Móveis, o índice de renda majoritário do público consumidor está entre as faixas C e E. No

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entanto, há pesquisas locais que indicam a Classe B como parte desse público consumidor
(Barbosa, Silva, Santos & Fernandes, 2010).

Tabela 1: Classes Sociais no Brasil segundo renda total familiar

Especificação Faixa de Renda


da classe
Classe A Acima de R$ 15.300,00
Classe B De R$ 7.650 até R$ 15.300,00
Classe C De R$ 3.060,00 até R$ 7.650,00
Classe D De R$ 1.020,00 até R$ 3.060,00
Classe E Até R$ 1.020,00
Fonte: IBGE (apud Coelho, 2010)

Abaixo desses níveis, são considerados pobres os grupos familiares cuja renda per capita é
de até R$ 140,00, o que significa R$ 4,66 por dia; e indigentes, aqueles cuja renda per capita é
de até R$ 70,00, o que significa o valor de R$ 2,30 por dia. O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), segundo Coelho (2010) utiliza como base a renda total familiar de uma
família de 4 pessoas.
O segmento moveleiro do agreste alagoano existe há mais de cinco décadas, mas sua
consolidação existe apenas no âmbito do próprio Agreste, segundo dados do Informativo
Conjuntural do governo de Alagoas (Alagoas, 2009). Para difundir este setor, o Programa de
Arranjos Produtivos Locais − PAPL e o APL de Móveis do Agreste de Alagoas, juntamente com
o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-AL), desenvolvem
ações para garantir o crescimento associativo das empresas nos municípios de Arapiraca e
Palmeira dos Índios (Gaia et. al., 2011). O APL começou com um número reduzido de
marceneiros, e atualmente, segundo registram Barbosa, Silva, Santos & Fernandes (2010)
possibilitam empregos, formais e informais há cerca de 2.500 pessoas.
O setor moveleiro é destaque no Agreste alagoano e movimenta o comércio de madeira e
derivados, acessórios para móveis, tecido, vidro, metais e espuma produzindo móveis
planejados, estofados, granito e móveis de metais, ou seja, não se restringe aos móveis em
madeira. Envolve empreendimentos dos segmentos de madeira, ferro e estofados, com a
produção de móveis em série, sob encomenda e sob medida para diferentes classes sociais e
com atendimento não somente em Alagoas, mas também em estados circunvizinhos como
Pernambuco e Sergipe.
No Informativo Conjuntural de 2010 organizado pela Secretaria do Estado do Planejamento
e do Orçamento (Alagoas, 2009), o setor moveleiro não consta na tabela sobre participação
percentual dos principais segmentos de arrecadação de Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) o que se deduz sua inclusão no item “outros”, com reduzido
impacto na movimentação financeira estadual. No entanto, quando avalia dados locais, o
relatório identifica na região do APL de Móveis do Agreste os seguintes setores com potencial
para desenvolvimento: fruticultura, móveis e madeiras, confecções. A existência do setor
moveleiro há cinco décadas é revelador sobre a sua importância.

2 Do Movimento Artes e Ofícios ao Biomóvel: a questão da sustentabilidade

O Movimento de Artes e Ofícios foi um dos mais importantes para a história internacional do
design e um dos marcos indicados como fundadores foi a Exposição Arts & Crafts realizada na
New Gallery, em Londres. Em 1861, conforme registram Fiell & Fiell (2005), William Morris
fundou, na Inglaterra, a empresa Marshall, Faulkner & Co. Além de Morris [1834-1896],
destacaram-se no movimento John Ruskin [1819-1900] e C. R. Ashbee [1836-1942]. A utopia
dos que integravam o movimento Artes e Ofícios, que coincide com os primórdios da etapa de
industrialização, foi a preferência pelo artesanato e a rejeição pela produção em massa.
Destaque-se que até a Revolução Industrial, cabia ao artesão criar e executar todas as
tarefas do processo de desenvolvimento de um produto. No ambiente considerado típico do

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movimento, todos os objetos são produzidos artesanalmente (Sennett, 2009). Nesse sentido,
não bastava a utilidade, eram necessárias as características de beleza e simplicidade.
Para os que integravam o movimento, o tipo de ambiente de vivência e de trabalho molda o
caráter das pessoas. O problema do design, nessa perspectiva, estava não somente no estilo
dos objetos, mas no bem-estar dos trabalhadores que idealizavam e materializavam o produto.
Com uma lógica que incluía o artesanato como salvação moral dos trabalhadores e
consumidores, a proposta de W. Morris relacionava a maquinização à redução da jornada de
trabalho. No entanto, a contradição dos produtos da Companhia de Morris, bem como de
outras empresas similares, estava no elevado custo dos produtos artesanais, acessível
somente às classes de maior poder aquisitivo. Essa dicotomia é parte intrínseca do próprio
movimento, pois, segundo Cardoso (2004, p:70) Morris ‘foi o primeiro designer a apostar a sua
sobrevivência comercial na idéia de que o consumidor pagaria mais para ter o melhor’, mas
que foi superado com o fortalecimento da produção massiva.
No Brasil, o impacto do movimento foi pequeno já que após a abolição da escravatura não
havia mão-de-obra qualificada para suprir as necessidades produtivas do país. A partir de
1850, há iniciativas isoladas para promover a formação técnica e artística do trabalhador
brasileiro, dentre as quais destacam-se a criação, em 1855, do curso noturno de desenho
industrial na Academia Imperial de Belas Artes, para alunos artífices e que durou cerca de três
décadas. Outra referência importante para o ensino industrial foi o Liceu de Artes e Ofícios, no
Rio de Janeiro, cuja história vincula-se às escolas técnicas, os atuais Institutos Federais
(Cardoso, 2004).
O século XXI apresenta novas necessidades, mas o ideal do Movimento Artes e Ofícios
ainda é referência importante, quando se reflete acerca de um design genuíno. No entanto, há
problemas urgentes, tais como a sustentabilidade. É nesse contexto que discutimos o
biomóvel, que implica pensar a produção de artigos que gerem menos impactos ao meio
ambiente em todo o ciclo de vida do produto desde o reflorestamento ao descarte, que
possibilite reuso e reciclagem e, ainda, seja economicamente mais rentável, pois inclui
aproveitamentos diversos de matérias-primas (Gaia et. al., 2011).
O setor moveleiro, assim como diversos outros campos da área do design, inseriu nas
discussões de diversos grupos que atuam no País. Ainda que existam empresas que
preservam o índice de geração de resíduos, observa-se um início de reflexão sobre suas
práticas e modos de produção. Uma das razões para essa inversão de lógica produtiva é,
sobretudo a crise mundial nas fontes de matérias-primas. As Tecnologias Limpas e a Produção
mais Limpa (P+L) são ferramentas que propõem novos parâmetros para a produção industrial e
para o consumo e ambas objetivam diminuir os impactos ambientais negativos em todo o ciclo
de vida dos produtos, desde a obtenção da matéria prima e insumos, até o uso e pós-uso dos
produtos finais.
Gorini (1998) indica que dados de pesquisa realizada pelo BNDES, mostram um perfil
multifacetado da indústria moveleira nacional, com particularidades desde os processos de
produção, que envolvem diversidades de matérias-primas até os produtos finais. O que define
a escolha dessas matérias-primas dos mobiliários são as funções oferecidas por cada tipo de
material (madeira, metal, etc.), assim como a função prática dos produtos, ou seja, a
usabilidade. Os móveis de madeira são os mais produzidos dentro do setor moveleiro e
definidos em dois tipos: retilíneos ou torneados. Os primeiros apresentam um design mais
simplificado e liso; e, as matérias-primas mais utilizadas neste tipo de mobiliário são os
aglomerados ou painéis de compensados. Já os segundos mesclam os traços retos com linhas
curvas, possuem um design mais sofisticado e complexo. A matéria-prima de maior uso neste
tipo de mobiliário é a madeira maciça (de lei ou de reflorestamento), podendo também serem
executados com painéis de MDF (medium-density fiberboard).
O objeto de estudo deste artigo, está classificado no setor com produção de móvel retilíneo
e atende a uma demanda específica de público-consumidor, cuja marca de localidade não
pode ser desconsiderada nos estudos, pois se vincula a traços de identidade marcados pela
necessidade de economizar. Ainda que muitas marcenarias, em Arapiraca, trabalhem com
produção totalmente industrial ou semi-industrial, observou-se neste estudo de caso, uma
produção de móveis totalmente artesanais.

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Estudo de caso em marcenaria de micro porte: Empresa caso
No levantamento de dados em 2010 e confirmado em 2011, verificou-se um dado relevante na
marcenaria da empresa caso, há 27 anos no mercado local e que atende a demandas de
cidades circunvizinhas como São Luis do Quitunde, Atalaia e Flexeiras. Na lógica de Papanek
(2006) pensar a complexa definição de design requer pensar que todas as pessoas são
designers e tudo o que fazemos, o tempo inteiro, é design, o que implica pensá-lo como uma
atividade básica da atividade humana. Nesse sentido, o proprietário da empresa caso, relatou
que costuma observar o design da televisão, propagandas ou de lojas e os adapta. Segundo
ele, o cliente é quem define o tipo de acabamento.
Estudos como o desenvolvido por Barbosa (2010, p:22) indicam que a lógica do desejo por
consumir não se limita, na contemporaneidade, sequer pelo fator renda, pois ‘produtos
similares e ‘piratas’ permitem que estilos de vida sejam construídos e desconstruídos e
lançados ao mercado [...]’. Isso comprova que a lógica interna do capital sofre alterações a
partir das construções simbólicas de sujeitos que buscam sinalizar emoções, sendo o design
parte fundamental desse processo, pois,
[...] como produção de uma realidade inexistente, tem como base o processo de pensamento contínuo
e não instrumental, representação de narrativas, resultado de escolhas. Liga-se à percepção de uma
necessidade de consumo, desejo de aquisição do objeto transformado em signo e que comunica o ser
psicológico e o desejo do ser (Cavalcante, Gaia, Rapôso & Lins, 2010, p:109)
A marcenaria também fabrica por encomenda para lojistas e clientes, além de vender na
feira livre de móveis de Arapiraca. Em 2010, a micro pequena empresa informal tinha três
funcionários, incluindo os dois filhos do proprietário. A produção média é de 20 armários por
semana.
A gestão do APL, juntamente com o SEBRAE-AL, orientou no processo de formalização da
marcenaria, mas por conta dos encargos sociais, funcionários e empregados consideram
inviável financeiramente, razão pela qual se mantém na informalidade.

Figura 1: Armário padrão 4 portas da Empresa Caso (usado com a permissão de Gaia)

O armário em seu modelo 4 portas atende a um público específico que não busca luxo ou
sofisticação (Figura 1). Ainda que muitos dos modelos sejam entendidos pelo marceneiro como
cópias, são considerados nesta pesquisa como design anônimo, pois ocorrem adaptações que
a empresa realiza, incluindo a preocupação com o reuso dos materiais na produção. Logo,
verifica-se uma preocupação quanto ao design.
A criação do desenho dos móveis assim como a venda é administrada, na maioria das
vezes, pelo próprio dono da marcenaria. Segundo os dados de observação do marceneiro os
compradores do seu principal produto, um armário para roupas com quatro portas, estão nas
classes de menor renda (D e E), sendo o modelo mais consumido desde que entrou no ramo
de móveis.

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Uma das características sustentáveis do móvel guarda-roupa, em suas diferentes versões, é
a utilização integral das peças empregadas, inclusive madeira e outros acabamentos (Figura
2). Todos os ajustes do móvel, incluindo madeiramento lateral para apoio de gavetas e
cabideiros e, eventualmente, continuação de portas, são possíveis com o reaproveitamento dos
cortes maiores da peça original.

Figura 2: Detalhamento do armário padrão 3 portas da Empresa Caso (usado com a permissão de Silva)

Posteriormente, com apoio da gestão do APL e do SEBRAE-AL, a empresa inovou no


design a partir do detalhamento de cores. Essa mudança não alterou o design interno, mas
possibilitou aumento na margem de lucro, a partir da possibilidade de venda a preços maiores.
O design como fator de inovação pode permitir a redução do uso de materiais e recursos
energéticos, utilização do menor número possível de peças para consolidar um determinado
produto e a diminuir o tempo de fabricação. O design ‘é mais do que um avanço na estética,
pois significa também o aumento da eficiência global na fabricação do produto, incluindo
práticas que minimizem a agressão ao meio ambiente’ (Gorini, 1998). Nos países recém-
industrializados asiáticos, percebeu-se que o uso de design em produtos reduziu os custos da
produção, através da simplificação do processo de fabricação e da diminuição do número de
partes e peças utilizadas na construção dos móveis, como também, através da substituição de
materiais. Essa lógica é identificada nesse estudo de caso.
O SEBRAE-AL implantou em Arapiraca o programa “O Popular Que é Um Sucesso”
direcionado para produtos e móveis populares da feira livre. O objetivo foi melhorar o design
das peças por meio do aprimoramento do acabamento dos móveis com a finalidade de auxiliar
na prospecção de clientes. A empresa desse estudo recebeu apoio e orientação para ampliar
seu mercado e os resultados possibilitaram a definição de um novo estilo para o móvel (Figura
3).

Figura 3: Armários da Empresa Caso com novo design (usado com a permissão de Silva)

Atualmente, a empresa utiliza MDF e chapa


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de compensado para elaborar o guarda-roupa. Como estratégia para atrair a clientela e reduzir
os custos, utiliza MDF na fabricação das portas e a chapa de compensado de madeira mista no
resto do móvel. A empresa produz portas e gavetas com um tamanho diferenciado de maneira
a aproveitar melhor o material e eliminar ou reduzir a geração de resíduos. Anteriormente havia
produção de outros tipos de móveis, mas a definição de fabricar uma única peça resultou da
própria lógica de demanda.
O preço médio do guarda-roupa sofre variação de acordo com o tamanho. O móvel com
duas portas custa R$ 170,00, o de quatro portas R$ 200,00 e o de seis portas vale R$ 270,00.
O público consumidor é o da classe E, com menor poder aquisitivo. Os períodos de maior
venda são sazonais, pois durante o período de inverno, os trabalhadores da região estão nas
lavouras. Quando termina o ciclo da safra, época em que os trabalhadores recuperam os
investimentos, há um aumento no número de clientes.
Segundo relatou o proprietário, a inserção do design na produção dos móveis agrega valor
ao produto sem causar ônus na fabricação e proporciona a possibilidade de aumentar os
lucros. Informou ainda que, a seu ver, o cliente da feira está mais exigente e mudou o perfil nos
últimos anos, sendo necessário adaptar-se a essa realidade.

3 Considerações finais

Com base nos levantamentos dos dados empíricos, bem como das reflexões propiciadas pela
revisão de literatura sobre móveis e APLs, identifica-se que o grau de competitividade no ramo
moveleiro depende de vários fatores, tais como: desempenho dos processos produtivos;
qualidade e facilidade no processo de montagem do produto; difusão do produto via
publicidades formais e informais; design. No APL de Móveis do Agreste de Alagoas, o desafio
para designers e pesquisadores que atuam como colaboradores que possibilitam ideias e
reflexões para que os marceneiros possam redesenhar propostas de móveis, é entender o
público-alvo predominante e suas origens, o que inclui análise das classes sociais e outros
fatores relevantes como percepções acerca da função e uso dos produtos.
O design anônimo já existente requer intervenções mínimas e que respeitem a história
anterior desses sujeitos com potencial para descobertas e inovações, mas muitas vezes sem
informações técnicas necessárias. Os dados revelam que os clientes desses produtos
diferenciados e originados no APL revelam não somente necessidades pessoais, mas
igualmente um vínculo afetivo com o produto.
O papel dos órgãos governamentais, do SEBRAE e outras instituições que atuam junto ao
segmento é possibilitar estímulos criativos e condições de maior visibilidade dos produtos,
através de eventos, divulgação de pesquisas e outras ações positivas que propiciem mudanças
que possam definir, em novos parâmetros, condições de produção pertinentes à nossa época.
Como resultados parciais, indicamos que investigações sobre demandas de pesquisas em
APLs contribuem para maior visibilidade sobre ações individuais passíveis de ampliação em
outros grupos, o que possibilita proposta educativa e compartilhada. A ação de pesquisadores
pode propiciar oficinas, palestras e outras reflexões possíveis que permitem a marceneiros e
gestores a possibilidade de reflexões. Com base nessas atividades, o design do mobiliário,
pode contribuir para redução de impactos ambientais em todo o ciclo de vida dos produtos,
desde a obtenção da matéria prima e insumos, até o uso e pós-uso dos produtos finais, posto
que no estudo de caso verificou-se uso otimizado com reaproveitamento integral dos materiais.

Agradecimento

À Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) pela


garantia de bolsa de estudos de iniciação científica às alunas desta pesquisa, Wanessa G. P.
dos Santos e Ana Maria Félix da Silva.

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Estratégias de Design aplicadas ao território para o
desenvolvimento local e a construção de identidade em um
assentamento rural (Design strategies applied to the
territory for local development and identity contructs of
settlement countryside)

PORTO, Renata; Mestranda; Universidade Federal do Rio Grande do Sul


regastal@gmail.com

VAN DER LINDEN, Júlio; Dr.; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
julio.linden@ufrgs.br

Palavras chave: design; território; identidade.

Neste artigo é apresentado um projeto que associa pesquisadores de design e de engenharia de


produção no suporte a um grupo de mulheres de um assentamento rural. Diversas iniciativas de produção
e comercialização já foram desenvolvidas por esse grupo, mas ainda não se constituiu um sistema de
produção e comercialização que lhes permita vislumbrar mudanças efetivas em sua realidade. Porém, por
meio de um posicionamento estratégico, podem ser realizadas ações que poderão impulsionar o
desenvolvimento local. A atuação do design em comunidades tem sido fortalecido por meio de
experiências sob diversos enfoques, entre os quais o Design Territorial. Nessa abordagem, as
características e tradições locais são valorizadas. Além de haver a relação entre os fatores sociais,
econômicos e ambientais, existe a integração entre as partes interessadas no processo. O enfoque nos
fatores sociais faz com que os fatores econômicos e ambientais se equilibrem, dando origem a novos
modelos de vida, de produção, de consumo e de sociedade. A partir do entendimento que o principal valor
está nas pessoas, o desenvolvimento do sistema produtivo se dará com a atuação dos trabalhadores
como protagonistas do processo.

Keywords: design; territory, identity.

This paper presents a project that combines research and design production engineering in support of a
group of women from settlement countryside. Several initiatives have been producing and marketing
developed by this group, but has not been a system production and marketing to enable them to discern
actual changes in its reality. However, through a strategic positioning can be performed actions that could
promote local development. The design performance in community has been strengthened by experiments
under several perspectives, including the Territorial Design. In this approach, characteristics and traditions
are valued. Besides, the relationship between the social, economic and environmental, there is integration
between stakeholders in the process. The focus on social factors causes the economic and environmental
factors to balance, giving rise to new models of life, production, consumption and society. Based on the
understanding that the main value is in the people, the development of the productive system will look at
the role of workers as protagonists of the process.

1 Introdução

O artigo apresenta os primeiros resultados de um projeto que integra pesquisadores de design,


engenharia de produção e sociologia, que tem como objetivo oferecer suporte a um grupo de
mulheres de um assentamento rural. Essas mulheres estão organizadas em torno de uma ideia
de esforço coletivo para a melhoria de suas condições de vida, por elas denominada Grupo de
Mulheres do Assentamento Filhos de Sepé, ainda não formalizada como modelo de
organização. Diversas iniciativas de produção e comercialização já foram desenvolvidas por
esse grupo com o apoio de outras instituições, mas ainda não se constituiu um sistema de
produção e comercialização que lhes permita vislumbrar mudanças efetivas em sua realidade.
Entre outras questões, a flutuação na participação de mulheres ao longo dos últimos
anos, com a saída de algumas e ingresso de outras, e a formação de grupos externos, refletem

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no fato de que a identidade como grupo ainda não se estabeleceu. A partir de uma visão das
possibilidades de contribuição do design para a sociedade, entende-se que a marca do Grupo
de Mulheres do Assentamento Filhos de Sepé pode ser trabalhada de modo a conduzir esse
grupo de produtoras, hoje em condição precária, a uma condição digna por meio de seu
esforço produtivo.
Baseado na realidade da comunidade está sendo realizado o projeto ‘Design e
Mulheres da Terra: território, produção, identidade e sustentabilidade’, em desenvolvimento
pelo Departamento de Design e Expressão Gráfica (DEG) da Faculdade de Arquitetura, com a
colaboração do Laboratório de Otimização de Produtos e Processos (LOPP) ligado ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP), da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objetivo do projeto é oferecer a esse grupo de mulheres
suporte no desenvolvimento de sua marca, planejamento da certificação de produtos orgânicos
e desenvolvimento de um site que servirá como interface entre produtores e consumidores.
O projeto contém dois subprojetos que dependem entre si, visto que a organização de um
site para a venda de produtos sem a certificação das hortaliças que lhes agrega valor, pode
não gerar os resultados esperados. A certificação das hortaliças sem organização do site de
vendas, igualmente não dá amplitude na divulgação da produção das mulheres para o mercado
consumidor. Desta forma, o método de trabalho foi dividido em dois blocos, o primeiro no
desenvolvimento da marca, seguido da certificação das hortaliças.
No artigo presente é relatado o processo de trabalho inicial referente ao primeiro bloco, que
estabelece o levantamento das características do grupo, através de pesquisa etnográfica
apoiada pela socióloga da equipe de projeto. A pesquisa prevê captar informações acerca da
história do grupo de mulheres, suas características e expectativas para reunir subsídios
necessários à criação de uma identidade para o grupo. Profissionais de design, apoiados em
informações coletadas em visitas ao assentamento e na técnica de painel semântico,
apresentam uma primeira proposta de identidade visual. Desde então, a identidade tem sido
construída de modo cooperativo, onde são feitas reuniões constantes para a avaliação de
satisfação por parte das mulheres.

2 Estratégias de Design territorial

O território é entendido como o espaço repleto de elementos de pertencimento de uma


determinada comunidade, onde neste local ocorrem experiências sociais coletivas, processos
de produção e desenvolvimento econômico. A nova ordem geográfica decorrente da
globalização age sobre o território abrindo fronteiras e estabelecendo espaços de trocas livres
entre diversos agentes – governos, indústrias e produtores locais. Com a maior circulação de
pessoas e ideias, culturas são incorporadas, onde muitas vezes ocorre a descaracterização
das referências locais.
O design territorial denota a aproximação do design à complexidade multidisciplinar do
projeto do território. Semelhante ao design estratégico, é uma atividade de projeto cujo objeto
de estudo é o sistema-produto, ou seja, um conjunto de produtos, serviços e comunicação com
os quais uma organização se apresenta no mercado. O projeto para o território tem como
princípio valorizar o capital territorial local e ter como resultado produtos oriundos do território,
tais como: ações de revitalização das atividades produtivas e comerciais; criação de eventos
para a valorização dos bens culturais do território, materiais e imateriais; produtos e serviços
para serem usufruídos por moradores e turistas (ZURLO, 2003).
Para as questões de valorização do território, podem ser considerados como os pilares do
Design Estratégico (MERONI, 2008): a solução integrada entre sistema-produto; a evolução
sustentável do sistema; a inovação social orientada para o desenvolvimento de uma identidade
distinta; a mudança do design centrado no usuário para design centrado na comunidade (co-
design); a construção de novos cenários; a capacidade de diálogo do designer para captar e
interpretar as necessidades coletivas – o diálogo estratégico; e a habilitação de capacidades.
Este campo de estudo, o design territorial, tem como característica mediar produção e
consumo, tradição e inovação, qualidades locais e relações globais. Segundo autores desta
área, para dinamizar os recursos do território e valorizar seu patrimônio imaterial é fundamental
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que o designer reconheça e divulgue os valores e qualidades locais através de: promoção da
qualidade dos produtos, dos territórios e dos processos de fabricação; apoio à comunicação,
aproximando consumidores e produtores, intensificando as relações territoriais; apoio ao
desenvolvimento de arranjos produtivos e cadeias de valor sustentáveis, visando o
fortalecimento de micro e pequenas empresas (KRUCKEN, 2009).
Para nortear as escolhas que levem ao desenvolvimento dos territórios é importante adotar
uma postura projetual, que a partir do reconhecimento de potencialidades desenvolva
estratégias para um crescimento duradouro e sustentável. O designer deve mediar o processo
de trabalho articulando as possibilidades produtivas no âmbito vernacular, numa práxis
sustentável com base no trinômio sócio-econômico-ambiental. Os novos desafios do designer
tendem a ser a criação de sistemas para a troca do conhecimento tácito (THACKARA, 2008).
Deste modo, as práticas de Design em regiões desfavorecidas podem fazer das economias
locais mais sustentáveis, incentivando o crescimento de pequenos negócios e em longo prazo
proporcionarem melhores condições de vida aos moradores locais.
Por meio de um posicionamento estratégico podem ser realizadas ações que impulsionem o
desenvolvimento local (FIGUEIREDO et al., 2009). Essas iniciativas são contextualizadas,
havendo precaução para que as características e tradições locais sejam mantidas. Nesse tipo
de estratégia, além de haver a relação entre os fatores sociais, econômicos e ambientais, tripé
da sustentabilidade, existe a integração entre as partes interessadas no processo. O enfoque
nos fatores sociais aplicados nos projetos faz com que os fatores econômicos e ambientais se
equilibrem. Novos modelos de vida, de produção, de consumo e de sociedade devem surgir.
Existem diversos caminhos sugeridos por estudos para que a sustentabilidade deixe de ser
um discurso, tornando-se possibilidades práticas e viáveis de serem alcançadas (NETO, 2009).
Algumas das diretrizes enfatizam que mudanças promovidas pelas comunidades envolvidas, a
partir da percepção, conscientização e iniciativa são capazes de promover cenários e soluções
mais rápidas, eficientes e duradouras. As comunidades possuem problemas peculiares na sua
realidade, sendo adequado que as diretrizes gerais de sustentabilidade sejam adaptadas para
cada contexto. Neste caso, é papel do Design detectar essas peculiaridades e propor
diferentes metodologias de trabalho.
Neste contexto, a possibilidade de inovar pela sustentabilidade requer a participação da
sociedade, desenvolvendo uma visão sistêmica e a integração de competências de diversos
atores (KRUCKEN, 2009). Desta forma, o designer assume o papel de agente facilitador em
inovações colaborativas, promovendo interações na sociedade. Os projetos a serem
desenvolvidos nas comunidades devem ser realizados de forma participativa, prática similar ao
co-design, envolvendo os diversos atores da comunidade. Tais projetos devem desenvolver
condições para que estas comunidades sejam auto-suficientes, estruturando como diretriz
prioritária do projeto a autogestão e auto-sustentabilidade. Antes de concluir os objetivos de um
projeto é necessário compreender os sonhos, o imaginário, as vocações das pessoas e das
comunidades para habilitá-las para outras oportunidades.

3 Caracterização do território

O assentamento do INCRA ‘Filhos de Sepé’, localizado no município de Viamão, é o maior do


Estado do Rio Grande do Sul, totalizando 9406 hectares dos quais 6080 hectares (65%) são de
solo eutrófico, com topografia plana a quase plana e textura média, próprios à cultura de arroz
irrigado por inundação; 2566 hectares (27%) são ocupados com barragens, benfeitorias, áreas
pantanosas e de preservação permanente e os 760 hectares restantes (8%) são de solos
podzólicos vermelho-amarelos, de textura arenosa e topografia ondulada, as chamadas áreas
secas. A instalação das 376 famílias ali residentes, divididas em quatro setores (A, B, C e D),
ocorreu em 1998, com assistência técnica precária e sem programas de educação ambiental.
Apesar de a terra ser adequada para a plantação de arroz e hortaliças, existe algumas
restrições do seu uso. Como condição inicial da posse da terra, as famílias ali residentes
deveriam plantar apenas produtos orgânicos. É proibida a contaminação ou degradação de
nascentes e lençol freático; o uso de agrotóxicos e produtos transgênicos, a não ser quando
autorizado pelos órgãos ambientais competentes; o corte de vegetação em área de

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preservação permanente, como nas margens dos rios, lagos, nascentes e nas áreas definidas
de preservação ambiental e uso de fogo ou queimadas em florestas ou qualquer outra forma de
vegetação, conforme relatório de Oliveira (2004).
No caso deste assentamento onde o Grupo Mulheres da Terra está situado, os lotes
domiciliares ficam sob a responsabilidade das mulheres enquanto os homens trabalham na
lavoura de arroz localizada na área baixa. Inicialmente,
o segmento populacional das mulheres assentadas apresentava uma baixa participação nas reuniões
gerais da comunidade, com agravante de que as poucas participantes quase nunca expressavam
suas opiniões. Constatava-se uma grande apatia e desinteresse pela vida comunitária, o que
reforçava a necessidade de empreender um processo educativo, onde os primeiros passos
envolvessem uma abordagem de cunho pessoal para trabalhar o resgate da auto-estima e colaborar
na construção de identidade (Oliveira, 2002).
Conforme relata Oliveira (2004), foi constatado que a política das reformas agrárias é
centrada no oferecimento de benefícios aos homens, entendendo que estes seriam
automaticamente estendidos as famílias. Os planos governamentais e os movimentos rurais
ignoraram que as mulheres podiam buscar direitos iguais sobre a terra. A consequência foi a
adoção de um padrão de comportamento da própria mulher, fundamentado numa visão
negativa dos seus direitos e capacidades. Esta realidade exige uma mudança de cenários da
mulher, cujo encorajamento para tais mudanças exige ações de agentes externos.
No entanto, este quadro vem se alterando através da organização do grupo de mulheres.
Desde 1999, após a implantação do assentamento, as mulheres buscaram se organizar como
um setor. O grupo produz atualmente bolsas artesanais, hortaliças para consumo e venda,
extratos fitoterápicos e, pães e assemelhados em uma pequena panificadora. Dentre estes
produtos, cujos processos ainda estão em desenvolvimento e melhoria, a comercialização de
hortaliças orgânicas foi apontada como a mais promissora pelo grupo de mulheres. Além de ser
um processo de baixo custo, existe a disponibilidade da terra, o grupo domina bem o processo
e parte da produção é para o consumo próprio das famílias. Entretanto, as hortaliças são
produtos que apresentam um baixo valor agregado e estão ao alcance dos consumidores em
supermercados e feiras nos centros urbanos. Por outro lado, pode ser agregado valor às
hortaliças, caso estas sejam certificadas como produtos orgânicos.
No momento, o grupo de mulheres não dispõe de recursos para certificação, divulgação e
distribuição das hortaliças, o que as deixa em desvantagem em relação aos outros produtores.
A grande dimensão territorial do assentamento faz com que a circulação interna seja realizada
com dificuldade pelas mulheres, as quais residem em setores que distam até 30 minutos de
caminhada. Frente a esta proposta de trabalho, o desenvolvimento da identidade visual Grupo
Mulheres da Terra pretende unificar as atividades produtivas destas mulheres, gerando uma
identidade coletiva de reconhecimento interno e externo ao assentamento. Como
consequência, a identidade virá a ser utilizada nos produtos que estão em processo de
comercialização, nas embalagens destinadas ao transporte e exposição, e futuros meios de
divulgação do grupo como previsto no projeto.

4 O método de trabalho participativo

No escopo do projeto, para a criação da identidade visual do grupo e a construção do site está
contemplado o levantamento de informações junto ao grupo de mulheres. Os designers com
apoio da socióloga têm se dedicado a esta tarefa. Os engenheiros contribuirão futuramente
com o desenvolvimento de canais de distribuição que serão operacionalizados através do site.
Na primeira etapa, durante o levantamento das características do grupo, os pesquisadores
do Programa de Pós Graduação em Design (PGDesign) e do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção (PPGEP) da UFRGS investigam a história do grupo de mulheres,
suas características e expectativas, afim de reunir subsídios necessários para a criação da
identidade do grupo. Foram realizadas reuniões quinzenais registradas em vídeo, onde se
buscou detectar as peculiaridades do grupo. O produto desta etapa inclui a construção de
painel semântico, que serviu de subsídio para a construção da identidade.

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O uso da técnica do painel semântico consiste em uma ferramenta que otimiza a
comunicação gráfica através de metáforas, a rápida visualização e a compreensão de
significados abrangentes, facilitando o raciocínio projetual. O uso de metáforas pode estimular
o pensamento bissociativo em projetos, no qual o designer associa coisas que pertencem a
contextos diferentes e formula novas soluções de projeto a partir destas associações
(BAXTER, 1998 apud SANTOS & JAQUES, 2009). A técnica do painel semântico aplicada ao
raciocínio projetual consiste primeiramente na compreensão do universo do problema projetual,
construída pela composição de cores, formas e texturas; na transcrição da linguagem verbal do
problema projetual para a gráfica; e, por fim, na compreensão exaustiva do problema projetual
(SANTOS & JAQUES, 2009).
A proposta de construir um painel semântico em conjunto com as mulheres, teve como meta
representar cada uma das fases do processo de produção, abarcando matéria-prima,
produção, distribuição, vendas, uso, descarte e retorno financeiro. O painel conteve imagens
selecionadas pelas próprias mulheres conforme o entendimento que tinham em relação às
fases do processo de produção.
Após a conclusão do painel, o material foi analisado graficamente conforme predominância
morfológica e cromática, e a carga semântica dos ícones selecionados, sendo necessário
algumas vezes recorrer ao vídeo registrado. No processo de criação interno dos designers,
foram desenvolvidos modelos de identidade com marca, cores e fontes tipográficas distintas,
que foram submetidas à avaliação das mulheres. Durante a reunião de apresentação da equipe
de projeto, realizado no assentamento, a avaliação foi conduzida com o apoio da socióloga,
seguida do preenchimento de um questionário de satisfação em relação à identidade.

5 Resultados

O painel desenvolvido coletivamente pelas mulheres do grupo consiste na representação e


entendimento do próprio processo de produção. Organizado na forma de uma mandala,
apreciada pelas mulheres e utilizada nas práticas holísticas de permacultura, trata-se de um
sistema que não fragmenta, orienta o olhar para as necessidades dos indivíduos, bem como as
necessidades da terra, prevendo resultados desta relação, inclusive a distribuição do
excedente resultante. No centro do painel está disposta a imagem representativa do sol, que
compreendemos remeter ao centro de energia solar, espiritual e a própria força da natureza.
Pela semiótica, é possível analisar o material sobre muitos aspectos. A partir das imagens e
recursos gráficos escolhidos pelas participantes, foi possível identificar valores do grupo, o
reconhecimento de signos e a compreensão do ambiente em torno. A opção por utilizar ícones,
desenhos ou fotografias indicam a capacidade de abstração e o nível de compreensão. Os
acessórios encontrados nas imagens selecionadas podem indicar o reconhecimento de
acessórios utilizados no cotidiano das mulheres. A predominância cromática indica o
favorecimento de um padrão que remete aos produtos de origem na natureza.
Pode se verificar que poucos recursos gráficos próprios foram utilizados, como desenhos,
uso de palavras, sobreposição de figuras, ainda que oferecido materiais para tal atividade. Foi
sugerido as participantes que se apropriassem do próprio desenho. Inicialmente, frente à
dificuldade em representar a primeira fase do processo de produção, a matéria-prima, o grupo
considerou em reunir em pequenos sacos amostras de terra, sementes e adubo para
identificação, mas a ideia não foi concretizada.
Como resultado deste primeiro trabalho foi desenvolvido pela equipe de projeto de
designers, uma primeira proposta de identidade visual, que foi submetida à avaliação pelo
grupo de mulheres (figura 1). O trabalho foi apresentado em reunião, no qual foram expostas
opiniões individuais apoiadas por uma matriz de percepção sobre a identidade. A primeira
etapa do questionário consistia em identificação geral, como: nome; idade; setor de moradia;
atividade exercida no Grupo de Mulheres, no assentamento ou externa ao assentamento.

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Figura 1: Identidade Visual proposta ao Grupo Mulheres da Terra

Em relação ao perfil das avaliadoras, quanto à faixa etária foi identificado como idade
mínima 25 anos e máxima 52 anos. Quanto ao setor de moradia, cinco mulheres moram no
setor A, e apenas uma mora no setor C. A atuação destas mulheres no grupo se dá na
seguinte configuração: duas responderam trabalhar na produção de fitoterápicos; duas
mulheres responderam participar com mudas orgânicas; uma respondeu trabalhar na horta;
apenas uma respondeu atuar na panificadora; e duas mulheres definiram sua atividade no
grupo como participantes. Em relação às atividades executadas no assentamento foram
identificadas a produção de mudas orgânicas, leite e ovos; em cooperativas; e em cargos na
Coordenação da Associação. Na questão sobre possuir atividades externas ao assentamento,
foram respondidas as atividades de acompanhante de idosos, doméstica e faxineira.
De modo a facilitar o entendimento do processo de avaliação, a equipe de design optou
por utilizar uma matriz de percepção que apresenta qualificações de significados opostos, onde
é possível avaliar tais qualificações nos níveis neutro, pouco ou muito (figura 2). Os resultados
gerados a partir da matriz, apontam para as qualificações de maior predominância para a
identidade visual: original, quente, agradável, de significado, natural, bela, distinta, alegre,
harmoniosa e animada. A avaliação relatada oralmente pelas mulheres foi que a identidade
visual construída representou a sintonia de ideias atingida entre o grupo de mulheres e os
pesquisadores envolvidos, pois a energia gerou um símbolo repleto de beleza.

Figura 2: Mancha gráfica gerada a partir da avaliação

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6 Considerações finais

O trabalho realizado cooperativamente apresentou resultados satisfatórios para ambas as


equipes de trabalho, de pesquisadores e de mulheres. Ficou evidente que projetos
desenvolvidos de forma integradora, além de ativar os compromissos de todos os participantes,
fortalecem a comunicação, reduzindo os riscos de incompreensão do escopo do projeto e das
necessidades reais do grupo de trabalho.
Com base nos encontros iniciais, entende-se que esta proposta fortalece os vínculos entre
as mulheres e reforça o seu papel nessa comunidade rural. Por outro lado, percebe-se que
aumenta o nível de maturidade do grupo para gestão dos seus projetos e negócios. Cabe
destacar que um aspecto especial dessa proposta é a sensibilização humano-tecnológica. A
partir do entendimento que o principal valor está nas pessoas, o desenvolvimento do sistema
produtivo se dará com a atuação dos trabalhadores como protagonistas do processo,
identificando suas vocações, forças, fraquezas, ameaças e oportunidades.
Dentro desta proposta, surgem como vantagens para o grupo de mulheres: o
desenvolvimento de sistemas produto-serviço (SPS), de acordo com as características e
demandas do grupo; capacitação para execução de trabalho coletivo e estímulo ao surgimento
de lideranças internas; amadurecimento administrativo do grupo de mulheres através do uso de
práticas de gestão de projetos e de design; fortalecimento da identidade do grupo; reforço da
infra-estrutura existente e melhoria do processo produtivo das hortaliças; criação de canais de
divulgação dos produtos comercializados.

Agradecimento

Os autores agradecem ao apoio e financiamento concedido pelo Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Processo número 402427/2010-6).

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A importância social do Design (The social importance of
Design)

SILVA, Jucelia S. Giacomini; Doutoranda; Pontifícia Universidade Católica do Rio


de Janeiro (PUC-Rio)
jucelia_giacomini@yahoo.com

CAMARGO, Luciana Nishi Ferreira; Graduanda; Universidade Tecnológica Federal


do Paraná (UTFPR)
luciananishi@yahoo.com

MIYASHITA, Camille; Graduanda; Universidade Tecnológica Federal do Paraná


(UTFPR)
c.miyashita@gmail.com

Palavras-chave: Design Social; Sustentabilidade; Inovação Social; Mudança de Comportamento.

Em um panorama mundial de intermitentes crises socioambientais o Design tem passado por constantes
críticas e reelaborações em seu campo de atuação. Entre as proposições que merecem destaque, se
encontra a necessidade de redefinição do papel social do Design em relação aos padrões tradicionais de
consumo e produção. Deste modo, submerge a necessidade de buscar soluções e melhorias, não
meramente mercadológicas, mas fundamentadas no bem-estar humano e no equilíbrio ambiental. Assim,
o presente artigo tem como objetivo analisar “cases” em Design que enfatizem aplicações orientadas à
sustentabilidade, que influenciem mudanças de comportamento e, consequentemente, atuem como
transformadores dos cenários sociais. A metodologia baseia-se na revisão de literatura dos principais
conceitos do Design para a Sustentabilidade Social. Na sequência são pesquisados e analisados cases
com clara ênfase em inovação social e, por fim é efetuado um cruzamento entre as informações
levantadas na literatura e os requisitos de Design aplicados nos casos reais. Os resultados explicitam as
principais melhorias que o Design propiciou nos casos analisados, a partir da aplicação dos critérios
sociais.

Keywords: Social Design, Sustainability, Social Innovation, Behavior Change.

In a world scenario of intermittent social and environmental crises Design has been constantly criticized
and redrafting in its field. Among the propositions that are worth mentioning, is the need to redefine the
social role of Design in relation to traditional patterns of consumption and production. Accordingly, the need
to seek solutions and improvements rises, not merely marketing, but based on human wellbeing and
environmental balance. Thus, this article aims to analyze "cases" in Design that are oriented applications
which emphasize sustainability, influencing behavior change and, consequently, act as transformers of
social settings. The methodology is based on literature review of key concepts of Design for Social
Sustainability. Following are researched and analyzed cases with a clear emphasis on social innovation,
and finally made it a cross between the information collected on the literature and the requirements of
Design applied in actual cases. The results explain the major Design improvements that resulted in the
cases analyzed from the application of social criteria.

1 Introdução

No cenário atual é possível observar que as preocupações relacionadas aos aspectos


socioambientais são crescentes. Segundo Margolin (1997), em relatório publicado pelo Clube
de Roma, The limits to growth (Os limites do crescimento) em 1972, já se defendia
vigorosamente a necessidade de se conquistar um equilíbrio global baseado nos limites do
crescimento da população e no desenvolvimento econômico dos países menos desenvolvidos,
com ênfase redobrada aos problemas ambientais. Ainda segundo o autor, ‘o mundo é um
ecossistema de equilíbrio delicado, baseado em recursos finitos’, sendo que há anos vem se
pensando em estratégias que possam amenizar o impacto gerado pelo atual sistema de
produção e consumo desenvolvidos desde a Revolução Industrial (MARGOLIN, 1997, p. 41).
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
É visto que deve haver uma mudança de postura por parte de toda a sociedade frente à
diminuição dos recursos naturais. Para tanto são necessárias mudanças de idéias,
comportamentos, conceitos e ferramentas metodológicas, para que seja possível alcançar um
ambiente sustentável e a busca de um equilíbrio entre demanda e produção, assim como
defende Manzini (2007).
Tais mudanças de comportamento têm como fundamento a redefinição do papel social dos
mais diversos atores que compõem a sociedades, visto que estes atores são agentes que
impulsionam os sistemas de consumo e produção, bem como os movimentos orientados à
melhoria socioambiental. Nesse sentido merece destaque a discussão referente ao papel do
Design, pois nesta nova perspectiva, o Design deixa de ser parte do problema (o Design
enquanto uma das disciplinas do conhecimento que dá suporte ao estilo de consumo atual) e
passa a ser parte integrante da solução, no que se refere ao desafio da sustentabilidade.
Similarmente, para Santos (2008), o Design pode desempenhar um papel fundamental,
tornando exequível a proposição de novos cenários e sistemas, baseados nos requisitos da
sustentabilidade. Segundo o autor essa transição exige uma abordagem ampla e integrada das
competências do designer, tornando possível passar do projeto unicamente focado no produto
para projetos sistêmicos, baseados nos requisitos ambientais e socioéticos, além dos
econômicos. Margolin (1997) já afirmava que o Design é a atividade que produz resultados
tangíveis demonstrando e colocando em discussão a maneira em que poderíamos viver. Esse
profissional deve, portanto, utilizar seus conhecimentos, juntamente com as demais áreas
multidisciplinares, para que possa contribuir com tal fim, uma vez que a profissão pode
desempenhar um papel fundamental, tornando exeqüível a proposição de novos cenários e
sistemas, baseados nos requisitos da sustentabilidade.
Neste sentido, torna-se necessário superar o comportamento vigente, baseado em visões
ingênuas e discutir profundamente o atual modelo de desenvolvimento. Manzini (2005) defende
que a transição para a sustentabilidade deve compor um processo articulado entre a inovação
social, cultural e tecnológica. Segundo o autor, nossa sociedade necessita alterar a noção de
desenvolvimento baseada na ampliação do consumo e da produção para novos cenários, nos
quais se torne possível viver melhor a partir de uma economia baseada no consumo suficiente
e na redução dos processos e das práticas materiais.
Sob esta ótica, são explorados neste artigo os conceitos de sustentabilidade social
aplicados ao Design. Na sequência, foram selecionados e analisados “casos” em Design que
enfatizam aplicações orientadas à ampliação do bem-estar humano e ao equilíbrio ambiental e,
por fim é efetuada uma análise comparativa entre as informações levantadas na literatura e os
requisitos de Design aplicados nos casos reais. Os resultados explicitam as principais
melhorias que o Design propiciou nos casos analisados, a partir da aplicação dos critérios
sociais.

2 Design e inovação social

Com o advento da produção em massa, a quantidade de produtos fabricados tem aumentado


cada vez mais, em contrapartida muitos dos recursos naturais não podem ser renovados,
causando assim um grave desequilíbrio ambiental. Há preocupações e discussões crescentes
sobre o assunto e o pensamento de que ‘o dano causado ao meio ambiente é o preço
inevitável a pagar pelo desenvolvimento’ (LUZ NETO, 2010, p.16) mostra-se antiquado e
inadequado frente ao público, que, atualmente mais informado, observa rápida e claramente
que estas consequências se devem em parte a políticas ambientais inadequadas. Um exemplo
disso pode ser visto na Global Survey on Sustainable Lifestyles (UNEP, 2004), em entrevista
feita com pessoas de classe-média de 18 a 35 anos, a qual apresenta como resultado que a
pobreza e os desafios ambientais são prioridades para essas pessoas, bem como o impacto
dos modelos atuais de desenvolvimento e mudanças climáticas.
Desses mesmos cidadãos surgem também iniciativas voltadas ao meio-ambiente, com foco
na comunidade, inovações sociais realizadas em pequenos grupos a fim de que haja uma
melhora na qualidade de vida e/ou de produtos e serviços. A UNEP (2004) também relata que
diversas empresas têm mudado suas estratégias com relação ao marketing, devido a
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valorização dada pelos consumidores a produtos e serviços que respeitem o meio ambiente ou
que tenham ações atreladas à responsabilidade social. Nesse contexto surgem diversas
mudanças de comportamento com ênfase em conceitos do Design, que aliados à atuação da
comunidade, geram bons resultados, tanto para as pessoas, quanto para governos e para o
meio ambiente.
Embora os esforços para a melhora das condições ambientais e sociais sejam cada vez
mais amplos, observa-se também um ‘grande vácuo entre a escala dos problemas que
enfrentamos e as soluções que oferecemos’ (MULGAN, 2007, p.09). Há defasagem também
entre a tecnologia que avança com relação aos produtos que são lançados diariamente e as
soluções que são dadas para o descarte e reciclagem de componentes. Uma das
possibilidades que se pode abordar no âmbito da mudança é a inovação social, aliada a
conceitos de Design, as quais estão em fase de aplicação ou em uso observado em vários
locais do mundo.
A Inovação Social é definida pela Mulgan (2007) como: novas ideias, que podem se
constituir em ações ou atividades e que trabalhem para a solução de um problema social. Já a
UNEP (2004, p.11) define Inovação Social como “novas estratégias, conceitos, projetos e
organizações que vão de encontro a necessidades sociais no contexto do desenvolvimento
sustentável”. Manzini (apud TIE, QIUYUE, 2010 p. 04) descreve a inovação social como ‘um
processo de mudança onde novas ideias emergem de diversos atores diretamente envolvidos
para que os problemas sejam resolvidos’. Exemplos de inovações sociais citados por Mulgan
(2007) vão desde grupos de auto-ajuda de saúde, instituições de ajuda por telefone, bazares
de caridade, até microcrédito e cooperativas.
Na realidade brasileira podemos apontar também ações como o projeto Amigos da Escola –
Todos pela Educação e a Ação Global, projetos apoiados pela Rede Globo e o último em
parceria com o Serviço Social da Indústria - SESI, a fim de fortalecer a educação envolvendo
comunidade, escola, alunos e familiares no primeiro caso e, prestar serviços de vital
importância, como acesso gratuito a documentação básica, diversos serviços de saúde, e
práticas de esporte e lazer a comunidades no caso do segundo, como citado nos objetivos
encontrados nos respectivos sites dos projetos. Entretanto, mesmo com a ocorrência frequente
de ações desta categoria, estas acabam se perdendo em meio a interesses econômicos, que
acabam por complicar problemas que antes eram pequenos e de fácil solução (MULGAN,
2007).
Neste sentido, torna-se necessário compreender que a inovação social em Design não se
refere apenas a aspectos materiais e não se fundamentam somente na solução de problemas
de ordem física, mas envolvem a intencionalidade da ação humana e o contexto das relações
políticas e sociais. Deste modo, além dos aspectos técnicos que envolvem estes campos do
conhecimento, devem ser considerados seus aspectos socioculturais.
Nesse sentido, Luz Neto (2010) defende que a inovação com conceitos fundamentados no
desenvolvimento sustentável mostra-se bastante complexa, visto que envolve não só questões
relacionadas ao meio ambiente como também as interações sociais, afetando os diversos
atores do processo. Nesta nova perspectiva voltada para a Inovação Social, o Design almeja
deixar de ser parte do problema e vir a ser parte integrante da solução. O Design para a
Inovação Social é definido por Manzini (2005) como um processo de aprendizagem em que os
seres humanos têm de aprender a viver melhor consumindo (muito) menos recursos
ambientais, além de melhorar ou regenerar os contextos físicos e sociais. Estas idéias
baseiam-se em um novo conceito de bem-estar, fundamentado em uma drástica redução do
consumo.
Deste modo, esta área de atuação do Design orientada aos requisitos da sustentabilidade,
embasa seus fundamentos teóricos na substituição das atuais soluções centradas no “bem
físico” por soluções “imateriais” orientadas ao bem-estar humano, tendo em vista propiciar
ganhos socioambientais mais significativos do que as estratégias difundidas pela tradicional
prática do Design (MANZINI, 2005, p.04).
Neste sentido, esta abordagem identifica como ponto-chave da mudança a articulação
sociocultural e organizacional. Deste modo, o Design para a Inovação Social propõe o
envolvimento sistêmico dos atores inseridos no processo, a redefinição das relações e o

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redesign dos sistemas de produção e consumo, tendo em vista a regeneração do tecido social,
econômico e ambiental. Corroborando esta idéia, diversos autores defendem que o Design
deve contribuir para a mudança do perfil atual da produção e do consumo, conduzindo à
resolução de problemas reais e a mudanças efetivas, objetivando uma maior sustentabilidade
desses sistemas. Contudo, estas proposições ainda carecem de objetividade e clareza, bem
como de um alinhamento político-didático nas propostas curriculares das instituições de ensino.
Deste modo, para ampliar o posicionamento crítico e politizar as práticas socioambientais
atuantes no campo do Design torna-se válido utilizar as proposições de Harvey e iniciar um
‘contra-ataque da narrativa contra a imagem, da ética contra a estética e de um projeto de Vir-
a-Ser em vez de Ser, buscando a unidade no interior da diferença’ (HARVEY, 2010, p.325).
Fonseca e Serafim (2009) defendem que a constituição de um novo modelo cognitivo capaz
de reorientar a estratégia da Ciência e da Tecnologia necessita ser orientado a partir de da
conscientização da comunidade de pesquisa em relação à necessidade de produção de
conhecimento para a inclusão social e do empoderamento dos atores sociais que buscam uma
nova lógica para a relação entre a ciência, a tecnologia e a sociedade.
Obviamente, não é possível dar continuidade a este processo sem antes rever as estruturas
de poder e o contexto contraditório e de limites pouco definidos que despolitizam e fragmentam
as práticas do Design no campo da sustentabilidade. Entretanto, a partir do embate aos
mecanismos sedimentados do poder e da clara compreensão das forças que atuam e dão
forma às atuais formatações sociais contemporâneas, torna-se possível construir práticas
politizadas, críticas e conscientes de seu papel representador do locus social.
2.1 Potencialidades do Design Social
O debate sobre as potencialidades, bem como as discussões sobre a responsabilidade do
Design direcionadas à melhoria das condições de equidade e coesão social e a sua atuação
em questões sociais ainda é bastante recente (VEZZOLI, 2007). Diversos autores relatam que
o sistema econômico vigente cria obstáculos frente ao desenvolvimento de uma mentalidade
preocupada com os impactos gerados pelo consumo frenético e rápida obsolescência dos
produtos, dificultando o estabelecimento dessas novas formas de consumo.
Margolin (2004) estabelece dois pólos de atuação para o Design, sendo que o objetivo
primário do Design para o mercado seria criar produtos para venda e de modo contrário, o
objetivo primordial do Design social estaria orientado à satisfação das necessidades humanas.
Entretanto, para Langenbach (2008), o bem-estar hoje transmite a ideia da possibilidade de
consumo, sendo esta considerada de forma errônea, como uma satisfação de necessidade
humana, pois o que é oferecido ao consumo está muito além do que é necessário à
sobrevivência ou ao bem-estar dos indivíduos. Margolin (1997, pg. 43) considera que,
“frequentemente, a qualidade do produto está além daquilo que o usuário pode aproveitar, mas
mesmo assim, a compra é efetuada porque o produto representa o que há de melhor e isto
vem a constituir-se em uma declaração simbólica”. Nesse sentido o papel do Design deve se
estabelecer de modo a redirecionar a mentalidade humana a novas formas de satisfazer
necessidades, minimizando o foco do consumo e maximizando a orientação para métodos
inovadores de serviço, por exemplo, que da mesma forma solucionem estes problemas.
Para Vezzoli (2007), pensar em equidade e coesão social não significa apenas buscar
estratégias para erradicar a pobreza, mas, de uma forma mais ampla, favorecer a melhoria da
qualidade de vida, visto que esta melhoria não está intimamente ligada ao alto poder de
consumo.
A partir do levantamento da problemática socioambiental associada ao Design, verifica-se
que a reestruturação das reflexões sobre seu campo de atuação não podem estar dissociadas
dos processos de Design (de produtos, serviços ou sistemas), visto que estes processos, até
certo ponto, fundamentam as contradições que caracterizam o modelo linear de
desenvolvimento.
O Design por diversas vezes foi apontado como contribuinte para os principais problemas
ambientais que nos defrontamos atualmente, mas possui grande potencial para desenvolver
atribuições favoráveis ao processo de mudança. Entretanto, mesmo quando se torna possível
articular o processo de Design aos requisitos socioambientais é necessário cautela, de modo

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que as ações não se tornem um mero favorecimento da mercadificação e da competitividade.
A partir da investigação efetuada na área do Design para a Inovação Social identificou-se
que uma das linhas deste estudo se fundamenta nas novas organizações sociais, baseadas
em soluções reinventadas coletivamente, como respostas próprias para necessidades locais
específicas. Como condições importantes para este novo modo de organização coletiva, foi
possível identificar as formas inovadoras de consumo e cidadania, desenvolvidas de forma
cooperativa por grupos de pessoas, baseadas em interesses individuais e coletivos, coerentes
com a perspectiva da sustentabilidade. Estes grupos, denominados por Meroni et al. (2007, p.
5), como ‘comunidades criativas ou colaborativas’, desenvolvem e gerenciam inovações
sociais, que se caracterizam como mudanças na forma como os indivíduos e as comunidades
agem para resolver problemas socioambientais ou para explorar novas oportunidades.
Estas soluções resultam em um novo cenário, baseado em iniciativas e especificidades
locais, composto a partir da ação de cada indivíduo em favor do bem-estar comum. Com base
nesta perspectiva, o Design voltado para a inovação social identificou um potencial latente nas
soluções desenvolvidas pelas comunidades colaborativas para o desenvolvimento de ações
direcionadas aos aspectos socioambientais da sustentabilidade. Deste modo, é possível criar
condições para uma utilização mais satisfatória de recursos (humanos, ambientais e
econômicos), restaurando ou atribuindo sentido e valor às atividades cotidianas, visto que estas
ações se caracterizam como um caminho promissor de transição para a sustentabilidade
(JÉGOU; MANZINI et al, 2008, p.29).
Este enfoque também foi exposto por Vieira Pinto (apud FREIRE, 1987, p.104) que propõe
investigar a consciência que os indivíduos tomam das “situações-limite”, que provocam suas
respectivas necessidades. O autor defende que este confronto com as contradições básicas
que ocorrem no contexto da vida humana se caracteriza como um problema que exige
respostas e estas podem ser expressas de forma intelectual ou na forma de uma ação. Neste
sentido, torna-se possível retomar aspectos particulares das forças produtivas organizadas
localmente de forma colaborativa, possibilitando ao Design, a partir de uma atuação
participativa, estabelecer novas esferas de projeto, mais democráticas e politizadas.
Estas práticas baseadas na democratização e na consciência crítica se fundamentam na
problematização do fazer tecnológico, cuja finalidade consiste em desconstruir as concepções
ingênuas sobre a Ciência e a Tecnologia e abrir espaço para a reflexão acerca das possíveis
implicações negativas que as atividades de Design podem desencadear, de modo a despender
ações para preveni-las. Subjacente a essa ideia se encontra a inclusão das variáveis
socioambientais nessa avaliação, identificada por meio do referencial teórico como uma
questão pertinente e de grande relevância, mas que ainda necessita de ações práticas para
sua viabilização.
2.1.1 Sistema Produto-Serviço (PSS) como ferramenta do Design Social
Muitos estudos tem sido desenvolvidos na área do Design com a intenção de propor um novo
âmbito de atuação. Assim, os termos “Sistemas de inovação” ou “Design de sistemas
ecoeficientes” são expressões que têm sido bastante utilizadas nas discussões científicas nos
últimos anos como uma interpretação mais precisa da sustentabilidade. Para Vezzoli (2007)
esta nova dimensão do Design diz respeito a mudanças profundas nos modelos de consumo e
produção e no estilo de vida atual, pois se amplia além do escopo do produto, incidindo sobre
todo o sistema de demanda e atendendo às necessidades e aos desejos do usuário, ao
mesmo tempo em que promove o consumo “suficiente”.
Alcott (2008) define a suficiência como a satisfação das necessidades pela classe que
atualmente não possui poder de compra e a redução voluntária do consumo pelas classes de
maior poder aquisitivo, objetivando a redução dos custos ambientais e o benefício para o
presente e o futuro das espécies existentes no planeta. Embora o debate sobre Sistemas de
Inovação seja amplo e ainda se encontre em desenvolvimento, pesquisadores em Design o
correlacionam ao termo “Sistemas Produto-Serviço”. Neste caso, o PSS se apresenta como
uma ampliação do atual escopo de atuação do Design, pois se manifesta como o resultado de
uma estratégia inovadora, que se desloca da aquisição de produtos físicos para a aquisição de
um sistema de produtos e serviços capazes de satisfazer às demandas requeridas (VEZZOLI,
2007). O desenvolvimento de sistemas produto-serviço pode ser considerado como uma das

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intervenções de destaque no âmbito do Design Social, pois conforme defende Tischner e
Verkuijl (2006), a maior diferenciação de um modelo de inovação baseado em PSS é uma
efetiva transformação do comportamento sociocultural e dos padrões de utilização, visto que
combina diversos elementos heterogêneos como: aspectos culturais, pessoas, artefatos
tecnológicos, transformações organizacionais e novas tecnologias.
O conceito de Sistema Produto-Serviço tem como objetivo ‘oferecer produtos e serviços
coerentes com as perspectivas da sustentabilidade, além de socialmente aceitáveis e que
promovam a modificação cultural e comportamental dos consumidores’ (Silva; Santos, 2009,
p.01). No momento atual, em que os recursos naturais já estão em fase de escassez, é
necessária uma mudança no sentido de diminuição de produtos gerados e na maneira como
estes são consumidos, criando novas formas de suprir nossas necessidades, sem a
necessidade de possuir um produto de fato. Segundo Manzini (2007), criar modos não
convencionais de pensar e agir são o ponto de partida da estratégia rumo à sustentabilidade. O
Design de sistema produto-serviço se encaixa nesse contexto, no qual há a mudança de foco
do consumo para todo um sistema, que servirá para uma determinada comunidade.
Halen e VezzoIi (2005) discorrem sobre o Design de sistema produto-serviço, indicando que
o PSS pode gerar diversos benefícios para as empresas que a implantem, sendo eles: alto
valor de mercado para os produtos produzidos, satisfação e confiança na relação com os
clientes, mas em contrapartida aos benefícios, existe a barreira da mudança comportamental
dos consumidores, tão acostumados e incentivados a comprar mais e melhores produtos e
agora direcionados a mudar tal forma de consumo.
Nesse sentido o PSS funciona como uma inovação no sistema de consumo e produção
atual e também, como uma oportunidade de negócios, para facilitar o processo de
desenvolvimento socioeconômico de contextos emergentes, pois busca minimizar a posse e o
consumo individual de bens produzidos em massa e se direcionar a uma economia de serviços
mais avançados, baseada no bem-estar e na baixa intensidade de uso de recursos (UNEP
apud Vezzoli, 2002). Além disso, este sistema busca enfatizar o desenvolvimento de empresas
e iniciativas locais estruturadas em rede, levando a um processo de reglobalização sustentável,
que visa à redemocratização do acesso a recursos, bens e serviços (LENS apud Vezzoli,
2010).
Por outro lado, tanto a consolidação quanto a prática dos sistemas produto-serviço ainda se
encontram em fase de experimentação, pois a implementação desses sistemas requer
mudanças imprescindíveis e essas mudanças, segundo Mont (2002), passam em primeiro
lugar pela superação da tradicional inércia de todos os interessados na aceitação, na adoção e
na utilização de novos produtos e/ou serviços.
Como sustenta Manzini (2006), para atuar como personagem estratégico nas categorias de
projeto voltadas para os requisitos da sustentabilidade, o designer deve aprofundar suas
propostas na constante avaliação das implicações ambientais, bem como nas diferentes
soluções (técnica, econômica e socialmente aceitáveis). Ainda segundo o autor, somente uma
atuação exemplar do designer não é suficiente para que um projeto neste nível de interferência
seja bem sucedido. Para que isso ocorra é necessário que exista um inter-relacionamento
satisfatório entre as esferas de decisão, sejam elas políticas, empresariais ou sociais.
Entretanto, Tischner e Verkuijl (2006) afirmam que este processo precisa ser iniciado
imediatamente, primeiramente em escala local e, futuramente em escala global.

3 Diretrizes sociais aplicáveis ao projeto de Design

Para que haja resultados em um caso de inovação social, todos os atores do sistema (tais
como governos, empresas, sociedade em geral e instituições como Associações Comunitárias,
Organizações não Governamentais entre outras e cidadãos), devem contribuir para a resolução
do problema. Também é necessária a construção de plataformas de conhecimento para que
haja uma base efetiva para a inovação social, como apontado por Tie e Qiuyue (2010). A partir
desses dois conceitos pode-se determinar a estrutura da inovação social e o conteúdo a ser
proposto pelo Design.

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A UNEP (2004) define oito áreas comuns em que a comunidade pode liderar projetos para
uma vida mais sustentável, sendo eles: cooperativas para compra de produtos, trocas locais de
serviços e habilidades, centros para crianças onde essas e os pais podem se encontrar, divisão
de carros em grupos (car pooling), trocas agrícolas entre produtores e consumidores
(engajamento entre meio rural e urbano), comunidades de cuidados com idosos com a
participação dos próprios idosos, jardins urbanos e enfermarias comunitárias.
Também é de vital importância, a educação como meio de ‘encorajar o estilo de vida
sustentável’ (UNEP, 2004, p.13), pois uma vez conhecidos os danos provenientes do impacto
ambiental do consumo e produção, decisões pessoais com relação ao assunto podem ser
tomadas mais facilmente. Segundo a UNEP (2004) as gerações mais recentes veem o estilo de
vida sustentável como uma oportunidade para moldar o seu futuro, pois os jovens não são
apenas os líderes de amanhã, mas os inovadores de hoje. Deste modo, é através da educação
que se pode também atingir tal segmento, a fim de caminhar para um futuro com bases na
Sustentabilidade e Inovação Social.
No que tange ao projeto de Design orientado à inovação social torna-se necessário construir
uma visão compartilhada entre as diferentes áreas do conhecimento envolvidas no
desenvolvimento de produtos/serviços/sistemas. Nesta dimensão o Design atua nos níveis
indutivos de desenvolvimento e implementação de cenários de vida economicamente viáveis,
socialmente aceitáveis e culturalmente atrativos, sendo que as inovações neste nível são mais
radicais e sua complexidade demanda maior articulação com todos os stakeholders para que
as soluções sejam duradouras.
Vezzoli (2007) propõe alguns requisitos e diretrizes de Design, visando à equidade e
coesão social, como modelos promissores de inovação social e ambiental. Tais critérios podem
ser aplicados no projeto de produto, serviços ou sistemas em diversas (ou todas) as etapas do
ciclo de vida, de forma a estruturar o ambiente de produção e consumo, satisfazendo as
necessidades humanas, mas diminuindo o impacto causado. Os requisitos mencionados são
expostos abaixo:
1. Melhorias das condições de trabalho e emprego para reforçar e estimular condições
justas de trabalho, buscando criar um ambiente baseado na responsabilidade social e
que promova satisfação, participação e motivação aos colaboradores.
2. Aumento da equidade entre os atores do sistema, promovendo maior nível de
colaboração entre empresas, fornecedores e usuários finais, desenvolvendo sistemas
de parceria com trocas justas de informações e benefícios.
3. Promoção do consumo responsável que permita maior participação do usuário final
direcionando-o a um comportamento responsável.
4. Desenvolvimento de sistemas que integrem indivíduos com necessidades especiais
e/ou marginalizadas, criando produtos, sistemas e serviços que permitam a esses
usuários o acesso aos sistemas em condições de igualdade..
5. Aumento da coesão social capacitando a integração entre vizinhos, gerações, gêneros
e diferentes culturas. Alguns sistemas já desenvolvidos neste âmbito são sistemas de
co-housing (compartilhamento de moradias), sistemas de co-working
(compartilhamento de informações ou de espaços de trabalho), compartilhamento e
manutenção de bens comuns e co-design de bens comuns.
6. Capacitação e melhoria dos recursos locais identificando e valorizando as
possibilidades encontradas dentro de cada comunidade, respeitando as diversidades e
identidades culturais e desenvolvendo soluções estruturadas em redes colaborativas
dentro de tais possibilidades.
Vezzoli (2007) ainda cita o “princípio da equidade” em que todas as pessoas, em uma
distribuição justa de recursos, tenham direito a níveis equivalentes de satisfação, oportunidade
de acesso e disponibilidade de recursos naturais globais. Entretanto, apesar das iniciativas
empreendidas, este nível de atuação ainda possui lacunas metodológicas e conceituais, pois
se apresenta como uma concepção relativamente nova no âmbito da pesquisa e da prática em
Design. As principais lacunas se encontram na comunicação e nas competências estratégicas
necessárias para reconhecer, reforçar e transmitir adequadamente as idéias e soluções
geradas em nível social. A implantação prática também necessita superar diversas barreiras,

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pois a proposição de cenários inovadores ainda é tratada com precaução pelo sistema
produtivo, pela sociedade e pela comunidade de designers.

4 Cases orientados à inovação social

Apesar das soluções em Inovação Social ainda serem poucas, diante das diversas crises que
são enfrentadas atualmente, existem alguns bons exemplos para serem seguidos e
possivelmente aplicados em outras comunidades. Analisam-se no presente artigo três casos
em diferentes áreas, identificados pelo EMUDE - Emerging User Demands for Susteinable
Solutions (2005), projeto de pesquisa multidisciplinar financiado pela Comunidade Européia
que tem como base a busca por soluções sustentáveis desenvolvidas por comunidades
criativas atendendo necessidades específicas e melhorando a qualidade de vida da sociedade.
Tais casos vem demonstrar diversos ângulos dos problemas, iniciando-se com a problemática
inserida no contexto, a inovação aplicada e a solução, visando, sobretudo a Inovação Social
com aplicação de diretrizes sociais no desenvolvimento do projeto.

4.1 Habitações Sustentáveis em Utrecht, Holanda


Utrecht é uma cidade na Holanda, situada próxima ao Rio Reno: é uma cidade histórica,
artística e pequena. Foi nessa cidade onde um grupo formado por sete pessoas fundou uma
comunidade sustentável, na região oeste de Utrecht, denominada Leidsche Rijn.
O processo de concepção da ideia de uma comunidade ecológica e socialmente sustentável
levou cerca de um ano e meio para ser desenvolvido. Socialmente falando, segundo o SEP -
Sustainable Everyday Project (2005) havia um bom contato com a vizinhança e diversas
atividades sociais, tudo organizado pelos próprios moradores da comunidade. Esse projeto,
porém, foi só posto em prática através da iniciativa dos fundadores, que levaram o plano até as
lideranças da cidade e demais instituições, no mês de dezembro de 2004.
Figura 1: Vizinhança ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável, em Utrecht
Fonte: http://www.sustainable-everyday.net/EMUDE/?p=79

Diversos aspectos foram levados em conta nessa comunidade, tais como: materiais
sustentáveis (de baixo impacto ambiental e minimização de resíduos), energia solar, sistema de
ventilação, entre outros, além de aspectos de Inovação Social, compartilhamento de carros
entre os moradores (sistemas de caronas entre os vizinhos), entre outras atividades
socializantes.
Ainda segundo informações do SEP (2005), como a comunidade dispunha de uma
quantidade menor de automóveis circulando, a região passou a ser mais segura para
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atividades destinadas a crianças. A socialização também aumentou devido às atividades serem
mais direcionadas ao trabalho em equipe e a comunidade passou a ter ideias mais inovadoras
como a divisão de carros por parte da comunidade em sistemas de caronas, por exemplo.
Estas novas proposições trouxeram benefícios para o meio-ambiente, como por exemplo, o uso
de energia solar e da água da chuva para usos domésticos. Também ampliaram a coesão
social pois desenvolveram a participação e o sentimento de pertencimento da comunidade. Por
outro lado propiciou uma economia financeira que foi revertida para os moradores. O projeto,
que se iniciou em 2004, continua vigorando e mostrou-se pioneiro em atuações realizadas por
uma comunidade prol da ampliação de seu bem-estar.
Observa-se no caso proveniente da Holanda que é possível associar iniciativas
comunitárias com os conceitos de equidade social. Pioneira nesse sentido, a localidade
valorizou o aspecto social do local, ao realizar atividades socializantes, aumentando também a
coesão social, conforme verifica-se na proposição de Vezzoli (2007).
Mostra-se também como uma solução em que o bem-estar dos moradores foi levado em
consideração, ao substituir o foco centrado em bens-físicos para soluções “imateriais”, como
segurança, socialização, bem como a sensação de responsabilidade dentro de uma
comunidade. Também se observou o aumento de coesão social e qualidade de vida, uma vez
que toda a comunidade envolve-se nesse projeto e, em todas as atividades é necessária a
união de diversos grupos para que haja um bom resultado para todos.
Para que seja possível a replicação desse modelo em outros locais, torna-se necessário
que exista um engajamento entre comunidade, governos, empresas e/ou demais associações,
pois se não houver tal engajamento, um projeto de tamanha grandiosidade e, que necessita de
envolvimento das pessoas, este não atinge os resultados esperados. Visto que, conforme
mencionado pela Young Foundation (2007), diversos inovadores (sociais) que obtiveram
sucesso aprenderam a trabalhar com os diversos setores sociais, uma vez que a inovação
funciona melhor quando há sólidas alianças cooperativas entre organizações, comunidade e
empresários.

4.2 Partilha de automóveis em Milão


A cidade de Milão, assim como outras grandes cidades de diversos países, possui um grave
problema de transporte, causado principalmente por carros particulares. A grande maioria
prefere ter seu próprio carro em vez de usar um instrumento de transporte alternativo, como
metrô, ônibus, bicicleta, etc. Segundo Feldman (2011), os meios de transporte público são tidos
como inferiores pela população, devido à má qualidade desse serviço, que não supre
devidamente as necessidades das pessoas, tendo problemas como superlotação, atrasos,
entre outros. Em outros grandes centros urbanos, como Berlim, soluções alternativas estão
permitindo às pessoas experimentarem formas inovadoras de transporte e tais soluções
baseiam-se em práticas como a partilha do produto no lugar da compra.
Esse sistema adotado em Milão é conhecido como MCS (Milan Car Sharing), cujo serviço
consiste no aluguel de automóveis, permitindo às pessoas conduzir um carro sem as despesas
e aborrecimentos de ser o proprietário do veículo e com a vantagem de redução das despesas
com o produto (ALOI, 2005).

Figura 2: Sistema de partilha de carros em Milão


Fonte: http://www.sustainable-everyday.net/EMUDE/?p=57

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Segundo Aloi (2005) o projeto começou com três carros, uma garagem na Via Pascoli e um
site na Internet introduzindo o novo sistema para a população. Depois de assinar o contrato
com o MCS e obter o cartão com um código, o indivíduo se torna membro do MCS e pode fazer
a reserva pelo call center (denominado Europe Assistance Vai). O usuário pode escolher o
modelo e a garagem mais próxima onde retirar e devolver o veículo. A cobrança é feita ao final
do mês, pela quantidade de uso, computado em quilômetros a partir do momento que cliente
passa o cartão magnético.
O sistema ainda precisa investir em melhorias na divulgação, mas tem boa aceitação
segundo a opinião de usuários e organizadores. Além do sistema de uso compartilhado, que
diminuem a necessidade de compra dos automóveis, estes são escolhidos também de modo
que apresentem um menor impacto ambiental. Assim, todos os carros do serviço apresentam
baixa emissão de carbono e baixo consumo de combustível, portanto causam menos danos ao
meio ambiente.
A partir de um problema recorrente das cidades grandes, a partilha de carros é um método
que pode e deve ser replicado em demais localidades. São sistemas que ‘motivam o uso
eficiente de carros e outros transportes, influenciando também o comportamento do
consumidor.’ (BRICENO et al, 2004, p.04), fatores esses que contribuem para uma sociedade
mais sustentável. O Sistema Produto Serviço também desponta como maneira eficaz de atingir
tais conceitos, barateando custos com relação ao uso do automóvel, diminuindo os resíduos
gerados com a circulação dos mesmos e ofertando serviços personalizados de acordo com as
necessidades requeridas pelos usuários.
O caso apresentado em Milão pode servir como base para criação de outros sistemas em
outras localidades, ou em escala menor com o uso de bicicletas, também sendo necessário
que haja mudança de comportamento da população onde será aplicado tal sistema. Para a
replicação deste caso, o Design se torna um fator importante na identificação das diferenças
culturais e no desenvolvimento de um sistema que promova o compartilhamento de bens e a
participação das pessoas, oferecendo benefícios significativos para cada indivíduo particular
em prol de um ganho socioambiental comum.

4.3 Distribuição de arquivos MP3 na Internet


No cenário atual, observa-se a Internet como meio de difusão rápida de informações,
interatividade e comunicação, sendo também considerada um local sem fronteiras, com
inúmeras possibilidades diferentes a cada dia. Porém, é este cenário que acaba por estimular
práticas ilícitas de distribuição de cópias não autorizadas de diversos softwares, bem como
quebras de direitos autorais.

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Segundo Castro (2006, p.2), ‘no campo da música, a aplicação de leis de copyright nas
relações contratuais entre músicos e gravadoras têm a função de regular o poder de barganha
das instâncias intermediárias entre criador e seu público’. Dessa forma, a distribuição de
músicas em formato MP3 pela Internet, sem nenhum tipo de controle pelas gravadoras e
artistas é vista como problema atual e recorrente. A autora afirma ainda que segundo a IFPI
(Federação Internacional da Indústria Fonográfica), ‘um a cada três CDs de música vendidos
em todo mundo é ilegal’. Os valores perdidos nesse mercado, com relação a direitos autorais e
impostos são enormes: segundo a APCM (Associação Anti-Pirataria de Cinema e Música)
(2006) no período de 1997 a 2005, foram perdidos R$ 500 milhões anuais em impostos,
considerando-se apenas a ICMS, PIS e Cofins, além da redução de 50% de postos de trabalho
diretos. A pirataria mostra-se como um problema que não atinge apenas o mercado de música,
como também todos os campos relacionados a lazer e trabalho, como por exemplo, livros,
cinema e softwares. É nesse contexto que os critérios de Inovação Social podem surgir, de
modo a reduzir este problema e simultaneamente, propiciando o acesso das pessoas a
informações, trabalho e cultura.
O SEP (2005) aponta o caso encontrado no site www.foryourears.com, como uma solução
para este problema. Neste caso foi criado um canal de distribuição para os arquivos de
músicas, além de prover um canal de compra e venda para que gravadoras pequenas
pudessem vender seus produtos. Foi proposto também um canal de troca em que os usuários
podem oferecer seus produtos gastando pouco para colocá-los no mercado, uma vez que
estão em formato digital. Os benefícios desta solução se apresentam a partir da minimização
de diversos subsídios materiais, como por exemplo, energia para a produção de CDs e para a
gravação dos mesmos, impacto ambiental reduzido no processo de logística por não precisar
de uma logística para a entrega, distribuição e venda dos produtos.
Quando se faz necessário um processo de logística “comum”, no caso de distribuição de
mídias gravadas em CDs, segue-se o seguinte modelo: o selo que detém os direitos manda a
música para uma fábrica que irá gravá-las em CD, em seguida esta fábrica envia o material a
uma distribuidora, que por sua vez, envia os CDs para lojas e demais distribuidores (SEP,
2005). Todas essas ações não ocorriam no processo desenvolvido pelo site “foryourears”, uma
vez que o canal de distribuição se deteria ao processo de concepção e gravação da música em
um formato adequado, no caso em MP3. Tal comercialização também não acarretaria resíduos
do processo de produção, uma vez que apenas a mídia em formato digital seria
comercializada.
Segundo Holopainen (2005), os custos de cada música seriam de 0,99€, similarmente ao
que ocorre hoje na loja do iTunes, e o preço cairia se, por exemplo, o consumidor comprasse
um álbum inteiro. Para fins econômicos, a distribuição via Internet também se torna mais viável,
pois o lucro proveniente da venda dos produtos e arquivos de músicas retorna mais rápido aos
músicos e para o selo detentor dos direitos autorais. Essa democratização da música bem
como a possibilidade de acesso mais barato e com menor impacto ambiental foi um dos
diferenciais do site.
Parte também da solução encontrada advêm das novas tecnologias de gravação,
transmissão e consumo, vindos do uso de produtos que decodifiquem essas mídias e
transmitam o conteúdo das mesmas, como os tocadores de MP3, celulares e computadores,
que podem armazená-las e também produzi-las. A solução proveniente desse site foi lançada
em 2004 e no momento já não se encontra ativo, porém, foi pioneiro nesse âmbito de atuação.
Trazendo para a realidade brasileira, observa-se o case do site TramaVirtual (2011)
(http://tramavirtual.uol.com.br), local que, segundo Castro (2006), é “um exemplo de modelo
alternativo que não criminaliza o download gratuito, mas compõe com ele, servindo-se desta
tecnologia para inaugurar nova modalidade de prospecção de mercado”. No próprio site da
Trama, divulga-se um manifesto de crenças e propostas, onde os presidentes da comunidade,
Szajman e Bôscoli (2004) afirmam que “a tecnologia existe para servir a música e não o
contrário”. No site é possível fazer o download de diversas músicas gratuitamente, e como no
extinto foryourears.com, também é possível fazer o que se chama no TramaVirtual de
“downloads remunerados”. Essa remuneração funciona porque empresas que apoiam músicos
independentes cedem determinada verba no início de um mês, a ser dividida entre todos os
downloads realizados durante o período. Todo download ocorrido no mês é contabilizado pelo

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site da Trama, e o valor é repassado para cada artista, que pode recolher sua quantia através
de depósito. Além do propósito econômico do site, este também é um meio de divulgação
rápido e barato para os artistas e um meio de difusão de novas bandas para os ouvintes.
Atualmente, o site é composto de 183.802 músicas e de 74.630 artistas, número este que
tende a crescer cada vez mais.
No caso do extinto “foryourears”, observa-se que a configuração de produção e consumo foi
alterada, de forma a ocasionar menor impacto ambiental, visto que o conteúdo material foi
significativamente reduzido. Nesse sentido, aproximam-se também os consumidores, os
ouvintes, aos artistas, divulgando de forma rápida seus trabalhos na mídia. De outro ângulo,
sites como esse mudam o foco da venda de um produto “concreto” (no caso, as mídias
gravadas em CDs), para um produto “intangível”, ou seja, as mídias MP3. Por outro lado
possibilitam a melhoria das condições de trabalho e emprego, oferecendo divulgação do
trabalho e posterior pagamento, aos profissionais que ofertam seus serviços na WEB
Também deixam para trás a divisão de diversos grupos e indivíduos nesse processo de
produção, logística e venda, pois unem consumidores de diversos gostos musicais aos artistas,
tornando essa interação mais próxima e livre de intermediários. Nesse sentido, assim como
diversas comunidades e redes sociais existentes na Internet, sites como o da TramaVirtual
promovem interação e socialização através da comunidade que se forma a partir de um gosto
em comum.

5 Considerações finais

Tendo em vista os conceitos de sustentabilidade social aplicados ao Design e explorados neste


artigo verifica-se a necessidade de uma tomada rápida e urgente de decisões frente às crises
ambientais e sociais. Antigos pensamentos, de produção, uso, consumo e descarte
desenfreados necessitam ser repensados, para que haja uma solução efetiva no âmbito da
mudança. Por outro lado a Inovação Social, construída de modo cooperativo e compartilhado,
em diversas localidades e ocorrendo de forma muitas vezes simultânea, pode ser tomada como
um modelo de melhoria para um futuro que pode ser sustentável, sem cair nos clichês
despolitizantes do termo. Entretanto, apesar das divergências no campo do Design, observa-se
o surgimento de proposições que vão além da mera reconfiguração de produtos e extrapolam a
composição estética e funcional, passando a abranger e intervir nos aspectos socioeconômicos
e ambientais, propondo novos cenários baseados na solução de em problemas reais.
Entretanto, para essas soluções sejam bem sucedidas necessita haver um envolvimento de
produtores, consumidores, colaboradores e entidades públicas de modo a unir forças na
construção destes novos cenários baseados no bem estar e na economia ambiental. Como
demonstrado no caso sobre habitações sustentáveis, a valorização de iniciativas criativas
comunitárias traz soluções para problemas locais, mas pode contribuir para questões globais,
servindo de exemplo e referência.
Modelos de compartilhamento de produtos e informações tem se mostrado também de
extrema eficiência à substituição da atual e exorbitante produção de bens de consumo. Assim
como os casos analisados sobre compartilhamento de carros e música, outros produtos
também vem caminhando nesta direção, como softwares, locais de trabalho, bicicletas e até o
tempo ocioso, em que as pessoas oferecem seu tempo para cooperar com vizinhos ou com a
comunidade. Dessa forma os usuários, atuando em sistemas de cooperação, diminuem a
necessidade de aquisição definitiva de produtos, adquirindo-o apenas conforme suas
necessidades.
A questão estudada no presente artigo é analisar de que maneira o Design pode influenciar
tais mudanças de comportamento, incentivando novas formas de consumo, valorizando ideias,
pessoas e recursos naturais e desenvolvendo estratégias que reduzam os impactos gerados ao
meio ambiente e a sociedade, neste sentido, torna-se necessário compreender que o projeto
em Design não se refere apenas a produtos ou aspectos materiais e não se fundamenta
somente na solução de problemas de ordem física, mas envolve a intencionalidade da ação
humana e o contexto das relações políticas e sociais. Deste modo, além dos aspectos técnicos
que envolvem estes campos do conhecimento, devem ser considerados seus aspectos
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socioculturais. Por outro lado observam-se diversas lacunas na teoria e nas práticas do Design
orientado à melhoria social, que ainda carecem de explicitação clara e sistemática, de modo
possam ser disseminadas e implementadas de modo mais amplo.
Entretanto, a partir das reflexões apresentadas é possível identificar o surgimento de alguns
movimentos reformadores que tem alterado o modo de vida humano, ainda que em pequena
escala, mas que buscam incorporar as questões sociais e políticas às questões
socioambientais. Considerando estas breves averiguações, cabe propor que os princípios que
fundamentam o campo do Design sejam revisitados de modo que se torne possível a inserção
do pensamento crítico e o estabelecimento das referências conceituais, pedagógicas e políticas
necessárias ao desenvolvimento dos princípios da sustentabilidade no complexo contexto
contemporâneo.

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Identidade Coletiva na produção artesanal local (Local
handcraft with Collective Identity)

Hyrla Marianna O. S. Silva 53

Palavras-chave: Artesanato; Identidade Coletiva; Empreendimentos Sociais

O trabalho da Identidade Coletiva em empreendimentos sociais tem como foco principal ressaltar as
características singulares do grupo e da região nos seus produtos e materiais gráficos; contribuir para o
fortalecimento e valorização desses empreendimentos no mercado local e nacional. A sua execução
compreende diagnóstico, processo de capacitação através de oficinas de sensibilização com abordagem
teórica e construção de painéis que sintetizem a produção, a personalidade do grupo e o universo local e
cultural. A metodologia foi aplicada em duas associações e uma cooperativa apoiadas por incubadora do
Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília – CDT/UnB. O diagnóstico
dessas entidades de produção artesanal mostrou diversidade de tipologias de produtos, falta de foco e
baixa comercialização. Com o suporte do design, e por opção dos participantes, no presente caso em dois
dos três empreendimentos sociais, a Identidade Coletiva traduz-se no alinhamento de produtos e técnicas
com unidade, reforço de pertencimento coletivo e valorização do artesanato, com o resultado a
demonstrar crescimento nas vendas e consequente aumento da renda.

Keywords: Handcraft; Collective Identity; Social Enterprises.

The Collective Identity work in social enterprises is focused to highlight the unique characteristics of the
group and region in their products and graphic materials; contribute to its strengthening and appreciation in
the local and national market. The work execution includes diagnostic, awareness workshops with
theoretical approach and production of panels that summarize the production, the group personality and
the local and cultural universe. The methodology was applied in two associations and a cooperative
supported by Incubator of Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico of the University of Brasilia –
CDT/UnB. The groups of handcraft diagnostics presented different types of products, lack of focus and low
sales. Supported by design, and with the groups’ choice, in the present case with two of three social
enterprises, Collective Identity is reflected in alignment of products and techniques with unity,
reinforcement of collective belonging and appreciation of the handcraft, which result is in sales and in
income increase.

1 Introdução

As pessoas se tornaram cidadãs do mundo, circulam com seus celulares, plugadas na internet, e
podem estar em qualquer lugar do planeta tendo a informação, em tempo real, do que ocorre em
todos os lugares. Mas, ao mesmo tempo em que nos tornamos sem território, sentimos cada vez mais
uma necessidade de pertencimento, de algo que o artesanato pode nos trazer. (Borges, 2007, p:32).
Os mercados estão cada vez mais competitivos, dinâmicos e globais. Nos mercados são
encontrados produtos industrializados produzidos e comercializados mundialmente, e também
objetos artesanais locais produzidos individualmente ou por empreendimentos sociais. Estes,
ao transmitirem referenciais simbólicos, éticos e culturais de uma comunidade ou região,
contribuem para a valorização de identidades, sentimento de pertença, além de contribuir para
o desenvolvimento local e social.
Para valorizar e potencializar produtos artesanais, é cada vez mais frequente o surgimento
de iniciativas que levam à união entre designers e artesãos, cujo trabalho abrange intervenções
e co-criações. Além disso, e segundo Krucken (2009), uma das principais tarefas do designer
contemporâneo é a de reconhecer e tornar reconhecíveis valores e qualidades locais. Dessa
forma, a parceria designers e artesãos pode acontecer para aperfeiçoamento de aspectos

53
Universidade de Brasília, Brasil.
hyrlamoss@gmail.com
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formais e técnicos dos produtos; melhoria do uso de insumos locais; valorização de território e
identidade cultural.
É nesse contexto que o presente artigo relata a experiência de trabalho entre designer e
artesãos com foco no levantamento e reforço da Identidade Coletiva de empreendimentos
sociais que atuam no artesanato e/ou trabalhos manuais. A Identidade Coletiva pode ser
definida como o conjunto de características singulares e fundamentais que são reveladas como
pertencentes a determinado grupo, que o diferencia dos demais. Na experiência ora relatada
foram considerados como componentes dessa Identidade os referenciais da produção e
personalidade do grupo, assim como do universo local e cultural no qual está inserido.
A Identidade Coletiva está ligada a determinado grupo e é parte integrante da Identidade
Cultural, que é ‘[...] um sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que
envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o
trabalho, os esportes, as festas, entre outros.’ (RIBEIRO, 2009 apud FERREIRA, 2009).
Desde 2009, a Identidade Coletiva é utilizada como ferramenta para atuação em (i)
empreendimentos cujos artesãos têm valores em comuns, se reconhecem unidos por esses
valores e causas, mas seus produtos pouco os representam conceitualmente; e, (ii) em
empreendimentos que apresentam quantidade de produtos diversos e sem identidade de
grupo, que são comercializados com uma mesma marca, a ser fortalecida no mercado.
De acordo com Krucken (2009, p:82), ‘[..] o produto carrega em si um conjunto de
elementos combinados que determinam sua essência e personalidade.’ Ainda segundo a
autora, esses elementos podem ter sido combinados no projeto por uma série de decisões e
escolhas, conscientes ou não, alinhadas ou não. Sabendo da possibilidade da inconsciência e
não alinhamento, esforços devem ser feitos para se desenvolver uma visão estratégica, de
forma a buscar conscientemente a coerência do conjunto de princípios que originam o produto
para a coerência do próprio produto.
Alinhado também a esses conceitos, Kovadloff (2008) afirma que a metodologia do branding
para gestão de marcas, com seu conceito moderno de experiências construídas na mente e
coração das pessoas, pode ser aplicada em qualquer dimensão, gênero e negócio. Para isso, a
coerência e a consistência nos diferentes pontos de contato da marca são fatores
determinantes para que o acúmulo dessas experiências resulte em relações emocionais e crie
preferências.
Dessa maneira, as atividades desenvolvidas desde 2009 tiveram como objetivo trabalhar a
Identidade Coletiva de cada grupo e aplicá-la conscientemente nos produtos e peças de
comunicação, de modo a reforçar o diferencial, valorizar o artesanato local, gerar trabalho e
renda. E, por consequência, reduzir a lacuna entre os valores e características do coletivo na
representação dos produtos e ações de comunicação.
O trabalho foi desenvolvido pela área de design da Incubadora Social e Solidária em duas
associações e uma cooperativa: Associação Cultural Ciartcum, Associação dos Produtores
Rurais e Artesanato de Planaltina – Rurart e Cooperunião – Cooperativa de Trabalho e
Produção das Pessoas Unidas de São Sebastião, localizadas respectivamente em Taguatinga,
Planaltina e São Sebastião, regiões administrativas do Distrito Federal. Esses
empreendimentos são incubados pelo Programa Multincubadora do Centro de Apoio ao
Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília – CDT/UnB.

2 Metodologia

A abordagem utilizada para trabalhar a Identidade Coletiva de um grupo fundamentou-se na


pesquisa-ação. De acordo com Barbier (2002), que se fundamenta em Ardoino (1983), a
pesquisa-ação visa à mudança de atitudes, de práticas, de situações, de condições, de
produtos, de discursos... em função de um projeto-alvo. É um método, que agrega diversas
técnicas de pesquisa social, com as quais se estabelece uma estrutura coletiva, participativa e
ativa no nível da coleta de informações. Requer, portanto, a efetiva participação das pessoas
envolvidas no problema em pauta.
Esse processo participativo, para levantamento e construção da Identidade Coletiva dos
empreendimentos e sua aplicação nos produtos e peças de comunicação, foi realizado em
cinco fases indicadas a seguir.
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Fases:
 Diagnóstico;
 Sensibilização;
 Construção de Painéis Visuais;
 Validação;
 Aplicação.
O diagnóstico foi o primeiro momento de conhecimento do grupo, que se fez por meio de
entrevista, observação e análise dos produtos e modo de produção. No presente caso, o
diagnóstico dos três empreendimentos foi semelhante: comercialização (com a marca do
empreendimento) de produtos, em sua maioria, manufaturados individualmente; diversidade de
técnicas e materiais; valores pessoais e culturais em comum e fortalecidos pelo grupo.
Foi com o diagnóstico que se confirmou a oportunidade de trabalho por meio da Identidade
Coletiva para amainar a diversidade de produtos sem identidade e reforçar o diferencial de
cada grupo. Com base no diagnóstico, estimou-se o tempo da ação de três meses a doze
meses para se visualizar os resultados, a depender do estado inicial e da evolução de cada
empreendimento.
Após o diagnóstico, constatada a necessidade de se buscar a Identidade Coletiva do grupo,
tornou-se importante a realização de atividades de sensibilização com os artesãos envolvidos
no processo para que percebessem a importância do trabalho.
Em dois momentos, as técnicas de sensibilização foram aplicadas. No primeiro, a dinâmica
de sensibilização Se fulano fosse, o que seria, que conceituou identidade e sua relação com a
imagem percebida; no segundo, o jogo da Memória dos Produtos, dinâmica que trabalhou a
diferença entre variedades de produtos e variedades dentro de uma linha de produtos.
Com o grupo sensibilizado, partiu-se para a construção de painéis visuais para cada grupo.
Segundo Perotto (2007, p:10), ‘[...] a identidade é ideal, intangível, posicional, mediada por
suas representações e somente estas é que podem ser objeto de proposições.’ Com esse
embasamento, os painéis foram importantes ferramentas para tornar evidente e mais
compreensível, através de imagens, a essência do grupo, os valores e seu universo local e
cultural, ou seja, sua identidade coletiva, para posteriormente traduzi-la e aplicá-la nos produtos
e materiais gráficos: representações da identidade.

Painéis visuais
Para cada Identidade Coletiva trabalhada, foram realizados painéis visuais com três temas:
Produção, Personalidade e Universo Local e Cultural, que se completaram para formar a
Identidade de cada empreendimento. Nessa fase, foi fundamental a construção participativa
pelos artesãos e designer.
Para a composição dos painéis Produção, foi realizado pela designer o registro fotográfico
no espaço dos empreendimentos. Durante a sessão fotográfica, foram documentados os
produtos, materiais e técnicas, cores usadas, texturas. Também se fez registros da sede das
duas associações e da cooperativa, com detalhes da decoração, do ambiente e da estrutura
física. Os produtos e espaços revelaram características dos artesãos e dos grupos. Esses
registros foram importantes para a construção do sentimento de coletivo.
Como a seguir exemplificado com o da Rurart, compuseram o painel Produção de cada
empreendimento imagens físicas, e não de inferência.

Figura 1: Exemplo de painel Produção realizado para a Rurart.

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Em complemento ao painel das características da produção, trabalhou-se o painel
Personalidade. Para essa pesquisa, num primeiro momento, prevaleceram a observação e a
coleta de dados: quantas pessoas; quais habilidades; que técnicas conheciam; histórias e
valores que uniam as pessoas. As técnicas utilizadas para apreender essas informações foram
gravação de conversas, questionário estruturado, dinâmicas de grupo.
No segundo momento importante para construção do painel Personalidade, buscou-se os
sinais particulares do grupo que fossem de consenso do coletivo. Como extensão da técnica
Se fulano fosse, o que seria, utilizada na sensibilização, aplicou-se com o foco no grupo: Se o
empreendimento fosse, o que seria. As palavras que expressavam o grupo foram exploradas
no seu significado para o entendimento, ao máximo, do empreendimento.
Na verbalização pelos artesãos dos empreendimentos, as palavras estavam associadas,
geralmente, a sentimentos, adjetivação e características abstratas. Diante da abstração, para
as palavras-chave buscou-se imagens que as representassem e pudessem ser visualizadas
em elementos, características palpáveis e inspiradoras para aplicação nos produtos e peças
gráficos.

Figura 2: Exemplo de painel de Personalidade realizado para Cooperunião.

O terceiro painel (Figura 3) que contribuiu para a construção percebida e consolidada no


processo da Identidade Coletiva dos empreendimentos sociais foi o do Universo Local e
Cultural e suas influências. Por Universo Local e Cultural considerou-se o sistema de valores,
geografia, sociedade, princípios fundamentais que governam e interagem com o
empreendimento na sua localidade. As referências e ícones identificados foram agregados às
demais informações levantadas para o fortalecimento da Identidade Coletiva.

Figura 3: Exemplo de painel de Universo Local e Cultural realizado para Ciartcum.


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O painéis foram impressos ou projetados para apresentação ao grupo, discussão dos
resultados visuais e, principalmente, para validação pelos grupos.
A Validação, quarta fase do processo, foi um momento enriquecedor e decisivo em todos os
grupos, pois, durante a discussão foram fortalecidas características e até mesmo absorvidos
novos conceitos. Como exemplo, no levantamento da personalidade da Associação Rurart,
foram identificados vários elementos-chave ligados à questão rural: terra, rústico, roça. Na
busca por imagens que representassem esses conceitos, uma das escolhidas mostrava uma
grande plantação rural. Imediatamente, na validação, todos do grupo rejeitaram a imagem, que
foi considerada como resultado de indústria, degradação, exploração agrícola. Naquele
momento, os conceitos de agricultura familiar, orgânico, do cuidado tradicional com a terra se
evidenciaram e se fortaleceram como elementos da Identidade Coletiva.
Por fim, na quinta fase, a da Aplicação, as imagens que compuseram os painéis e os dados
levantados durante o processo foram analisados e traduzidos em paleta de cores, texturas,
formas, materiais, técnicas e grafismos que simbolizaram o coletivo, e não somente o artesão.
Esses elementos que sintetizaram e reforçaram a identidade do grupo, quando concretizados,
foram mais facilmente aplicados nos produtos e peças de comunicação.
Esta quinta fase fechou o ciclo do processo de levantamento, construção e aplicação da
Identidade Coletiva. Esse processo foi estruturado e realizado visando auxiliar os
empreendimentos a se reconhecerem, expressarem-se e conseguirem comunicar-se com o
mercado por meio de sua produção e de ações coerentes com os seus valores e influências
culturais.

3 Resultados e discussão

Dos três empreendimentos que iniciaram o processo de levantamento, construção e aplicação


da Identidade Coletiva, a Ciartcum e Cooperunião concluíram as cinco fases. A Rurart, por
opção dos associados, não aplicou a identidade na totalidade de seus produtos; apenas alguns
artesãos, e pontualmente.
Infere-se que a não adesão final de todos da Rurart ao trabalho decorreu de a Associação
ter ficado quase inativa por dois anos como ponto de comercialização e reunião dos
associados. Os encontros de Identidade Coletiva foram aos poucos motivando o retorno dos
associados ao empreendimento. No início, participavam quatro associados; ao final, quando se
decidiu pela não continuidade, a participação tinha alcançado o número de doze associados,
mesmo assim pouco representativo da Associação.
Não havia reconhecidamente um clima associativo para trabalho em conjunto. Numa
tentativa de se agregar os associados, houve a participação de psicóloga da Incubadora, com
as ações voltadas para o fortalecimento do grupo, de há muito disperso.

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Ainda assim, e por a Rurart ser uma Associação com história de realizações, foi possível
apresentar o levantamento da Identidade Coletiva, validada pelo grupo. Os poucos artesãos
que aplicaram a Identidade em seus produtos entenderam ser necessárias algumas
adequações nesses produtos, e que resultaram da reflexão dos artesões sobre a Identidade
Coletiva. Exemplos: 1. Sino dos ventos confeccionados com coco, bambu e miçangas, que
foram substituídas por sementes do cerrado. 2. Suspensão da comercialização de estatuetas
indianas em gesso, que eram adquiridas no mercado para serem apenas pintadas. 3.
Retomada da produção de cabaças decoradas, como eram anteriormente criadas.
Por sua vez, o trabalho realizado na Ciartcum e Cooperunião demonstrou que a Identidade
Coletiva fez o reconhecimento das qualidades e das características singulares de cada
empreendimento. Ao ser expressa nos produtos artesanais e nas peças de comunicação, as
qualidades e características são reforçadas e protegidas pelo uso das cores, texturas, técnicas
e padrões identificados como do grupo.
O reconhecimento e afirmação dessas qualidades e características pelos grupos também
possibilitaram à designer novas ações nos empreendimentos focadas na melhoria e
aperfeiçoamento das mesmas, com a realização de capacitações e oficinas pontuais.
Com a afirmação de seus valores e singularidades, a Ciartcum concordou com o redesign
da marca realizado por alunas do Desenho Industrial da UnB. A falta de movimento e energia
na sua marca anterior, elementos importantes para sua Identidade, foram argumentos mais
decisivos para a mudança do que os argumentos técnicos. Com a referência dos Painéis, no
artesanato, o grupo foi capacitado com oficinas de Teoria das Cores e Expressão de Produtos.
Essas oficinas, por sua vez, foram importantes para destacar e comunicar os diferenciais das
cores alegres, padrões e traços característicos dos produtos.

Figura 4: Mudança da marca e oficinas de Teoria das Cores e Expressões de Produtos.

Os principais elementos levantados durante o processo da Identidade Coletiva da


Cooperunião foram o uso de materiais reciclados e a união dos cooperados, considerada um
valor do grupo.
As oficinas e capacitações na Cooperunião foram ao encontro da personalidade consciente
do grupo e ao desejo coletivo de se trabalhar com reciclagem. Promoveu-se, assim,
capacitação em reciclagem de papel com professora do departamento de Artes Visuais da
UnB.
Durante as oficinas de qualificação do artesanato, alguns produtos individuais foram
reconhecidos como representativos do empreendimento e tornaram-se referenciais do grupo
para serem produzidos coletivamente, com a transmissão das técnicas entre os artesãos.

Figura 5: Capacitações na Cooperunião com focos na reciclagem e repasse de técnicas.

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As características admitidas para expressar a Identidade nos produtos e materiais de
comunicação, que foram reforçadas e melhoradas com as capacitações, permitiram que a
Ciartcum e Cooperunião realizassem análises e adequações formais nos produtos e peças
gráficas que já eram produzidos, para que esses produtos fossem oferecidos com maior grau
de afinidade e de unidade visual com a Identidade Coletiva. O processo promoveu também a
criação de novos produtos e peças gráficas, baseados no referencial das Identidades
reveladas, que respeitaram e valorizaram a vocação dos empreendimentos.

Figura 6: Adequações formais nos produtos Ciartcum: cores e expressões.

Figura 7: Peças gráfica de acordo com nova marca e Identidade da Ciartcum.

Diferente dos resultados dos produtos da Ciartcum (adequações e consolidação), o trabalho


entre artesãos e designer na Cooperunião foi voltado principalmente para criação de novos
produtos a partir da Identidade Coletiva. É importante ressaltar que os produtos que guiaram a
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reestruturação – flores de saco de cimento e alguns produtos de experiência com papelaria
artesanal – foram reconhecidos como do grupo. A reutilização do saco de cimento para
confecção dos produtos (flores, caixas, agendas, porta-lápis) tornou-se matéria-prima
característica do grupo. Os sacos trazidos pelos artesãos para a Cooperativa surgiram do
próprio olhar da realidade vivida por eles na cidade de São Sebastião: muitas construções.
Na Ciartcum, o processo da Identidade envolveu o redesign da marca e sua aplicação em
peças de comunicação. Na Cooperunião realizou-se o desenvolvimento de grafismos e a
definição de paleta de cores em conformidade com as características levantadas durante o
processo da Identidade Coletiva, sem implicar na mudança da marca. Como resultados, foram
executadas peças gráficas que comunicaram a Cooperativa como um todo e o seu novo
trabalho no artesanato, matérias-primas envolvidas e diferencial. Os resultados ilustram as
Figuras 8 e 9.

Figura 8: Evolução dos produtos com a Identidade Coletiva na Cooperunião.

Figura 9: Evolução gráfica da Identidade Coletiva na Cooperunião.

Além dos resultados nos produtos e peças de comunicação, com a consistência das linhas
de produtos e unidade visual, dados comparativos do antes e do durante o trabalho mostraram
que a evolução do processo da Identidade Coletiva da Ciartcum e Cooperunião também se
refletiu na valorização dos produtos artesanais desses empreendimentos e no consequente
aumento das vendas, como se demonstra a seguir nas Figuras 10 e 11.

Figura 10: Gráfico Ciartcum - Comparativo da produção e venda nos eventos:


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FNA – Feira Nacional de Artesanato em Belo Horizonte;
Feiarte – Feira Internacional de Artesanato em Porto Alegre.

Figura 11: Gráfico Cooperunião – comparativo produção e vendas nos eventos:


FNA – Feira Nacional de Artesanato em Belo Horizonte;
Finnar – Feira Internacional de Negócios do Artesanato em Brasília.

É oportuno ressaltar que a Cooperunião, durante o trabalho da Identidade participou da FNA


quando recebeu convite para enviar suas flores de saco de cimento para avaliação por loja
reconhecida nacionalmente no segmento de decoração. A Cooperativa, após a avaliação e
negociação, recebeu a encomenda para a venda de 375 flores. Ressalta-se também que as
flores foram escolhidas por estilista de moda para apresentação em desfile de sua coleção.
Em síntese, os processos da Identidade Coletiva na Rurart, Ciartcum e Cooperunião
apresentaram períodos, etapas, momentos de ações próprios. Na Ciartcum e Cooperunião, que
realizaram as cinco fases do processo, foi possível apurar resultados também na vendas, além
dos alcançados nos produtos e peças gráficas.
Para os três empreendimentos que apresentaram no diagnóstico valores coletivos em
comum, a diversidade de produtos e técnicas sem identidade, constatada inicialmente, foi mais
desafiadora e também motivadora para o trabalho da Identidade Coletiva que, diante dos
resultados revelados, mostrou-se importante e apropriada para o design.

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4 Conclusão e desafios

O trabalho de Identidade Coletiva para reforço de pertencimento, diferenciação e valorização


de empreendimentos sociais que fazem artesanato e/ou trabalhos manuais mostra que o
histórico dos produtos e dos materiais de comunicação do passado não se apagam, pois não
se pode pedir a um grupo social para ser algo diferente do coletivo deles mesmos. Esse
histórico delimita o campo de competências, potenciais e legitimidade. Parece óbvio, mas essa
é uma das questões mais importantes, e que pode acabar com as frustrações de algumas
intervenções sem sucesso contínuo, e de intervenções com “a cara” do designer, e não com a
do empreendimento social.
A metodologia aplicada mostra que as fases e ferramentas descritas tornam o processo
mais concreto do que seria a identidade em seu conceito apenas ideológico. Foi percebido que
o conhecimento e explicitação da identidade e valores do grupo abrem grandes possibilidades
de temas, cores e universos relacionados, os quais devem ser observados e aplicados para
aumentar o valor percebido, promover e reforçar o diferencial do grupo.
É um desafio trabalhar para que os artesãos apreendam a importância da sua identidade
aplicada e do processo como um todo. Para isso deve-se buscar métodos participativos, que
auxiliem o empreendimento na posse dos conceitos, na manutenção e fortalecimento da
Identidade Coletiva, mesmo com a entrada de novos membros ou sem a atuação de
profissional com esse foco.
O imediatismo e o individualismo de alguns artesãos são fatores que podem ser restritivos
durante o desenvolvimento do trabalho, pois demanda tempo e continuidade para os resultados
aparecerem. O processo envolve mudanças de percepção e comportamento no
desenvolvimento e consolidação das ações.
Na certeza de que a identidade é um fator diferencial e necessário, pode-se afirmar que a
Identidade Coletiva fortalecida, com o adequado produto e a eficaz comunicação, reconhece as
qualidades do empreendimento, valores e influências; desperta o sentimento de pertença;
protege o patrimônio local; aumenta o encantamento e o envolvimento do público com os
produtos locais.

Referências

Barbier, R. (2002). A pesquisa-ação. Brasília: Editora Plano.


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Borges, A. (2007). A intervenção do design no produto de artesanato. In Artesanato:
Intervenções e mercados. Caminhos possíveis. São Paulo: Artesanato Solidário/Artesol &
Sebrea, pp. 31-42.

Ferreira, E. (2009). Diversidade e identidade cultural no Acre. Brasília. Disponível em:


<http://www.cultura.gov.br/site/2009/10/07/diversidade-e-identidade-cultural-no-acre>.
Acesso em: 15 abr. 2010.

Kovadloff, H. (2008). Marcas na mente e no coração das pessoas. In Roteiro de uma vida no
design. São Paulo: Edições Rosari, pp. 149-151.

Krucken, L. (2009). Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São


Paulo: Studio Nobel.

Perotto, E. (2007). Olhando a marca pela sua enunciação: aproximações para uma
teoria da marca contemporânea. In Organicom - Revista Brasileira de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas, Ano 4, Nº 7. São Paulo: Eca/USP, pp. 126-139.

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Mídia interativa de apoio à Educação Ambiental infantil
(Interactive media for children’s Environmental Education)

ONO, Maristela Mitsuko; Professora Dra.; Universidade Tecnológica Federal do Paraná;


Universidade Federal do Paraná
maristelaono@gmail.com

LEME, Samira El Ghoz; Bióloga, MSc.; Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba
samiraleme@yahoo.com.br

SANTOS, Fernanda Bornancin; Estudante de Tecnologia em Design Gráfico, bolsista


PIBITI/CNPq; Universidade Tecnológica Federal do Paraná
fbornan@hotmail.com

SILVEIRA, Emanuela Lima; Estudante de Design, bolsista PIBIC/CNPq; Universidade


Tecnológica Federal do Paraná
manu_silveira@yahoo.com.br

ALBUQUERQUE, Camilla Hanako Nishihara de; Estudante de Tecnologia em Design


Gráfico, bolsista PIBIC/UTFPR; Universidade Tecnológica Federal do Paraná
cami.nishi@gmail.com

Palavras chave: educação ambiental; bacia hidrográfica; mídia interativa.

Este artigo trata da pesquisa e desenvolvimento de uma mídia interativa sobre a Bacia Hidrográfica do Rio
Belém, localizada em Curitiba, Paraná, Brasil. Voltada a crianças de 8 a 12 anos e a ser disponibilizada a
instituições de ensino, este trabalho tem como objetivo apoiar a Educação Ambiental, por entendê-la
como um caminho muito importante para a promoção do conhecimento e conscientização sobre o valor
do meio ambiente e a corresponsabilidade em seu cuidado. E, ainda, para a orientação a ações
cooperativas, visando à melhoria da condição presente e futura do meio ambiente, com base em
abordagens sistêmicas e transdisciplinares que considerem a inter-relação e interdependência do
conhecimento e todas as dimensões do meio ambiente e da vida. Considerando-se a necessidade de se
integrar uma abordagem sistêmica ao design da mídia educacional, incorporando informações relevantes
e linguagens apropriadas ao público beneficiário, com uma comunicação eficiente, amigável e agradável
ao se interagir com ela, a referida mídia segue princípios de design de interação, incluindo recursos
multimídia, tais como: vídeo, fotografia, ilustração, animação, etc. Além disso, a mídia registra
experiências sociais e culturais contextualizadas localmente, despertando a atenção e promovendo o
envolvimento das pessoas em ações voltadas à conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.

Keywords: environmental education; hydrographical basin; interactive media.

This paper is related to the research and development of interactive media about the Hydrographical Basin
of the Belém River, which is located in the city of Curitiba, Brazil. Addressed to children from 8 to 12 years
of age, and to be delivered to educational institutions, this work aims at giving a contribution to
Environmental Education, understanding it as a very important way for promoting knowledge and
awareness about the value and co-responsibility of taking care of the environment. Furthermore, that it is
important for promoting cooperative actions in order to improve the present and future environmental
conditions, based on systemic and trans-disciplinary approaches, considering the inter-relationship and
interdependence of knowledge and all dimensions of environment and life. Taking into account the
requirement of integrating a systemic approach in designing the educational media, both incorporating
relevant information and appropriate languages for the beneficiary group, making it efficient in
communication, friendly, and pleasant to interact with, the reported media follows interaction design
principles, and includes multimedia resources, such as video, photography, illustration, animation, etc.
Moreover, it registers social and cultural experiences locally contextualized, stimulating awareness and
involvement of people in actions to conserve, recover and improve the environment.

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1 Introdução

Preocupações com o meio ambiente acentuaram-se com a percepção mais ampla do risco de
esgotamento de recursos naturais e de agravamento da degradação ambiental, notadamente a
partir da década de 1960. O evento Rio-92 marcou a formalização de um maior envolvimento
governamental, quando 173 chefes de estado e de governo assinaram a Agenda 21,
documento que estabeleceu um compromisso com o ‘desenvolvimento sustentável’, reforçado
por mais dois documentos complementares do Fórum Mundial, em prol de ‘uma sociedade
sustentável: a Carta da Terra e o Tratado da Educação Ambiental para as Sociedades
Sustentáveis e a Responsabilidade Global. E, em 2002, as Nações Unidas lançaram a Década
da Educação para o Desenvolvimento Sustentável - de 2005 a 2014, destacando o papel da
educação para uma vida sustentável.
De acordo com Morin et al, ‘a tarefa da educação para era planetária é encorajar fortalecer
as condições da emergência de uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas,
consciente e criticamente comprometidos com a construção de uma civilização planetária’
(2003, p. 98).
Esta perspectiva pressupõe a promoção, mediante a educação, de sentimentos de
solidariedade, identidade e pertencimento ao planeta Terra como pátria de toda a humanidade
e demais seres vivos. E, ainda, o respeito à diversidade cultural, à singularidade e livre arbítrio
de cada pessoa, sempre em inter-relação com a sociedade e o conjunto do meio ambiente.
Sob este prisma e com vistas à promoção da educação em prol da sustentabilidade, este
artigo trata do design de uma mídia interativa de apoio à educação ambiental infantil, com foco
na bacia hidrográfica do Rio Belém, situada no município de Curitiba, estado do Paraná,
54
Brasil.
Pretende-se, com este trabalho, contribuir na solução do problema de: Como a educação
ambiental pode promover, junto à população, desde a infância: ‘atenção para com o meio
ambiente e seus problemas’, ‘conhecimento básico e entendimento sobre o meio ambiente e
sua inter-relação com o homem [ser humano]’, ‘habilidades para solucionar problemas
ambientais’, ‘um senso de responsabilidade e urgência para com o meio ambiente, de modo a
assegurar ações apropriadas para solucionar problemas ambientais’, conforme estabelecido
pela Conferência de Tbilisi (UNESCO, UNEP & IEEP, b1986, p. 10-11), dentre outras questões
relevantes relacionadas ao cuidado do meio ambiente?

2 Educação ambiental, cultura e sustentabilidade

As interferências da humanidade no meio ambiente, mediante a composição do polissistema


material, em contínua transformação desde a construção dos primeiros artefatos, têm
demandado a adoção de um conjunto de medidas reativas, ativas e proativas em educação
ambiental, visando ao cuidado e à solução e prevenção de problemas, tais como: degradação
da água, da terra e do ar, risco de esgotamento de recursos naturais, dentre outros.
O termo sustentável, proveniente do latim sustentabile, refere-se ao que se pode ‘conservar,
manter; [...] proteger, favorecer [...]’. (Ferreira, 2004, p. 1902).
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo,
em 1972, começou a esboçar o conceito de sustentabilidade, embora este termo ainda não
tivesse sido incorporado nas questões ambientais até então. Este evento atentou para
problemas relacionados à degradação ambiental e à poluição, bem como acerca da
necessidade de melhoria do meio ambiente humano para as gerações atuais e futuras.

54
Este projeto faz parte de um projeto mais amplo intitulado ‘Design e cultura: mídias digitais de apoio ao ensino e
pesquisa’, coordenado pela Profa. Dra. Maristela Mitsuko Ono e que se iniciou no ano de 2005, no Núcleo de Design
de Mídias Interativas (DMI), abrigado pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE) da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
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A ideologia do desenvolvimento sustentável expandiu-se a partir de meados da década de
1980, inserindo-se gradativamente no movimento da educação ambiental, fortalecendo-se a
ponto de alcançar uma posição dominante. (Sauvé, 2005).
Na acepção do relatório Nosso Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, desenvolvimento sustentável ‘é aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem também as suas próprias necessidades’. (Comissão Mundial..., 1991, p. 46).
O relatório esclarece, ainda, que o conceito de desenvolvimento sustentável tem seus
limites, ‘não limites absolutos, mas limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da
organização social, no tocante aos recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de
absorver os efeitos da atividade humana’. (Comissão Mundial..., 1991, p. 9).
Segundo Moacir Gadotti (2008, p. 14), sustentabilidade é ‘harmonia entre os diferentes’ e se
tornou, parafraseando Paulo Freire, ‘um imperativo histórico e existencial’.
O conceito de Educação Ambiental (EA), por sua vez, também apresenta diversas
abordagens, e sua evolução está relacionada com a do conceito de meio ambiente, que
inicialmente teve um enfoque reducionista nas ciências naturais, e, gradativamente, passou a
incorporar também as ciências sociais e humanas, expressando a complexa interdependência
e inter-relação entre o conhecimento, valores, condutas e ações necessários à vida
sustentável.
Para Dias, a Educação Ambiental é ‘um processo por meio do qual as pessoas apreendam
como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a
sua sustentabilidade’ (2004, p. 100). Esclarece, ainda, que a educação ambiental pretende
desenvolver conhecimento, compreensão, habilidades e motivação para adquirir valores,
mentalidades e atitudes, necessários para lidar com questões e problemas ambientais e
encontrar soluções sustentáveis.
A Educação Ambiental foi recomendada na Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano (Estocolmo, 1972); estruturada na Conferência de Belgrado, em 1975; e
configurada como um programa internacional na Primeira Conferência Intergovernamental
sobre Educação Ambiental de Tbilisi (URSS), em 1977, ampliando princípios, objetivos e
orientações práticas, visando promover o conhecimento dos problemas ambientais pelas
pessoas. Tal programa dispôs uma reorientação e articulação de fatores biológicos, culturais,
econômicos, físicos, políticos e sociais, de modo a impulsionarem o controle e o manejo do
ambiente local e global. Dentre os critérios a serem adotados em Educação Ambiental
recomendados pelo relatório desta conferência, vale destacar:
Ainda que seja fato que os aspectos biológicos e físicos constituem a base natural do ambiente
humano, suas dimensões éticas, sociais e culturais também participam na determinação das linhas de
abordagens e instrumentos com os quais as pessoas podem compreender e fazer melhor uso dos
recursos naturais para a satisfação de suas necessidades.
Um objetivo básico da educação ambiental é conseguir fazer com que os indivíduos e comunidades
compreendam a natureza complexa dos ambientes natural e construído, resultantes da interação de
seus aspectos biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais, e que adquiram conhecimento,
valores, atitudes e habilidades práticas para participar de modo responsável e efetivo na antecipação
e solução de problemas ambientais, e na gestão da qualidade do meio ambiente.
[...] a educação ambiental deveria suscitar um vínculo mais próximo entre os processos educacionais
e a vida real, construindo suas atividades em torno de problemas ambientais que são enfrentados por
comunidades particulares e enfocando a análise desses por meio de uma abordagem interdisciplinar e
compreensiva, que permita um entendimento adequado de problemas ambientais.
A Educação Ambiental deveria atender a todas as idades e grupos sócio-profissionais na população.
[...] Para o alcance de um desenvolvimento efetivo da educação ambiental, faz-se necessário um
pleno aproveitamento de todas as facilidades públicas e privadas disponíveis à sociedade para a
educação da população: o sistema de educação formal, diferentes modos de educação não-formal, e
as mídias de massa. (UNESCO & UNEP, 1978, p. 25-26).
A Conferência Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a
Sustentabilidade, promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
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e a Cultura (UNESCO), realizada na Grécia em 1977, ressaltou o papel fundamental da
educação para promover a atuação consciente das pessoas.
Em resposta às recomendações do capítulo 36 da Agenda 21, ‘a UNESCO substituiu seu
Programa Internacional de Educação Ambiental por um Programa de Educação para um Futuro
Viável’ (UNESCO, 1997), com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável.
Nesta abordagem, segundo Sauvé (2005, p. 37): ‘A educação ambiental torna-se uma
ferramenta, entre outras, a serviço do desenvolvimento sustentável’, tendo como objetivo
'promover desenvolvimento econômico’, respeitando-se aspectos sociais e ambientais, e
contribuindo para esse desenvolvimento com um enfoque ‘pragmático’ e ‘cognitivo’ (p. 42).
Em 2002, a Assembleia Geral das Nações Unidas declararam a Década da Educação para
o Desenvolvimento Sustentável (DEDS): de 2005 a 2014, designando a UNESCO como a
agência líder para a promoção desta década. O objetivo global da DEDS é ‘integrar os valores
inerentes ao desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da aprendizagem com o
intuito de fomentar mudanças de comportamento que permitam criar uma sociedade
sustentável e mais justa para todos’ (UNESCO, 2005, p. 16). Salienta-se, assim, o papel central
da educação em prol do desenvolvimento sustentável e a necessidade do comprometimento
prático e da corresponsabilidade de um conjunto de parceiros, que incluem os governos, as
organizações públicas e privadas, a sociedade civil e as comunidades locais, dentre outros, em
busca da vida sustentável. Para tanto, a DEDS congrega dois eixos transversais fundamentais
55
da educação: a ambiental e a científica .
o
No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL... Lei N 6.938, de 31 de agosto de
1981), que tem por objetivo ‘a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico,
aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana’, tem como
um de seus princípios: ‘educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente’.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que orientam a educação no Brasil,
incorporam conteúdos de meio ambiente ao currículo, como tema transversal em todas as
práticas educativas. E, ainda, o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA)
estabelece diretrizes para o desenvolvimento da educação ambiental enquanto prática
dialógica que pretende desenvolver a consciência crítica e sensível das questões ambientais
pela sociedade brasileira, fundamentada em uma abordagem que relacione os fatores sociais,
ecológicos, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos e éticos, a fim de contribuir
para a autonomia, liberdade e responsabilidade individual e coletiva nos processos de escolha,
tomadas de decisão e participação em ações da vida cotidiana.
Uma questão de fundamental importância a ser considerada em educação ambiental e
sustentabilidade é a diversidade cultural e de contextos, que dificultam ou inviabilizam a
adoção de estratégias e instrumentos generalistas, na medida em que a cultura influencia o
modo como as pessoas percebem o mundo real e sua relação com este.
Entende-se a cultura, na perspectiva interpretativa (Geertz, 1989), como a teia de
significados tecida pelas pessoas ao longo de suas vidas, com base na qual desenvolvem suas
análises, seus valores, pensamentos e sua conduta, e compreendem sua própria existência.
A cultura material e imaterial, bem como as manifestações da diversidade cultural, precisam
ser consideradas como partes inter-relacionadas do meio ambiente, na perspectiva de sua
complexidade, transdimensionalidade e transdisciplinaridade. E, do mesmo modo, em
Educação Ambiental.
Diante disso, faz-se necessário atenção a certas premissas de Educação Ambiental
apresentadas no documento da Série 18 de Educação Ambiental da UNESCO/UNEO/IGEP
(a1986), tais como:

55
Representação da Unesco no Brasil. Disponível em: <http://www.unesco.org>. Acesso em: 22 jun. 2011.
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Sistemas humanos são governados tanto pela evolução biológica quanto cultural. (p. 19).
Em certa medida, cada tipo de evolução, biológica ou cultural, também afeta a outra. Por exemplo,
diferentes culturas colocam significados diferentes em eventos naturais. Enquanto uma cultura pode
explicar uma seca em termos científicos, outra pode atribui-la à raiva de um deus. De tais diferenças
de interpretação decorrem diferenças posteriores em como cada cultura tenta lidar com a seca. (p.20).

Além disso, a Série 23 de Educação Ambiental da UNESCO/UNEO/IGEP (c1986) aponta


que:
Muitos problemas ambientais são localizados, ou têm uma manifestação local, e precisam ser
discutidos e, felizmente, solucionados pelas pessoas locais e oficiais locais. Com frequência, não é
apropriado confrontar pessoas com problemas que estão em um nível mundial ou mesmo nacional;
eles precisam examinar os problemas de sua vila ou sua cidade, tal como o de suprimento de água,
[...], etc. (p. 64-65).
Vale ainda ressaltar, como argumenta Dias (2004, p. 215-216), que:
Os problemas ambientais devem ser vistos primeiramente no seu contexto local de maneira que o
indivíduo possa perceber a sua importância e, em seguida, no contexto global. [...]
Uma relação harmônica e ética do homem com o seu ambiente, tendo a conservação e melhoria das
condições ambientais como tema, pode ser desenvolvida desde a infância até a fase adulta através da
educação formal e informal. (Cit. In: Dias, 2004, p. 215-216).
Com base nesses entendimentos, desenvolveu-se a mídia digital interativa voltada à
educação ambiental.

3 Mídia digital interativa de apoio à educação ambiental

A pesquisa e desenvolvimento da mídia digital interativa de apoio à Educação Ambiental,


tratada neste artigo, parte do entendimento da Educação Ambiental como um caminho muito
importante para a promoção do conhecimento e da conscientização sobre o valor do meio
ambiente, o pertencimento a este e a corresponsabilidade de cada pessoa em seu cuidado.
A mídia proposta contribui para o atendimento a recomendações para a educação
ambiental, com base em uma abordagem sistêmica e transdisciplinar, relacionada à
identificação e interpretação de problemas ambientais locais, e a promoção de ensino entre
crianças e adultos, assim como a ‘produção de programas de ensino específicos, locais,
incluindo apoio audiovisual’ (UNESCO, UNEP & IEEP, c1986, p. 58).

Objetivos
O objetivo geral da mídia interativa de apoio à educação ambiental é promover o
aperfeiçoamento do conhecimento e conscientização sobre a importância do meio ambiente,
assim como promover entre as pessoas um senso de pertencimento e corresponsabilidade
para com o mesmo, e valores que as orientem à adoção de modos de vida, condutas e
comportamentos que contribuam em sua conservação, recuperação e melhoria, mediante uma
comunicação eficiente e eficaz, com um interativo, fácil e agradável acesso a conteúdos
relacionados, com base no exemplo da bacia hidrográfica do Rio Belém, foco da pesquisa e
desenvolvimento.
Os objetivos específicos são:
 Promover o aperfeiçoamento do conhecimento e a conscientização do público
beneficiário sobre a contextualização histórica e importância dos rios para a vida, no
passado, presente e futuro;
 Promover o aperfeiçoamento do conhecimento e a conscientização do público
beneficiário sobre a importância de se conservar a qualidade das águas dos rios em
uma condição ótima, ou melhorá-la / recuperá-la, se estiver prejudicada;
 Promover o aperfeiçoamento do conhecimento e a conscientização do público
beneficiário sobre os cuidados necessários para a conservação, recuperação e
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melhoria da qualidade das águas dos rios;
 Promover a aproximação e contextualização da realidade local, o sentimento de
pertencimento das pessoas ao meio ambiente e de corresponsabilidade para com este,
assim como valores que as orientem à adoção de modos de vida, condutas e
comportamentos que contribuam para uma vida sustentável;
 Propiciar fácil e agradável acesso a conteúdos de apoio à educação ambiental, com a
utilização de recursos digitais multimídia que promovam interatividade e comunicação
eficiente e eficaz.

Delimitação
Os rios são fontes de um dos recursos naturais indispensáveis aos seres vivos: a água. No
entanto, muitos deles têm sofrido um processo de degradação com a poluição de suas águas,
sobretudo em decorrência de destinação inadequada de lixo e efluentes domésticos, problema
acentuado pelos impactos ambientais causados pelo processo de urbanização. Trata-se de
uma questão ambiental que vem sendo debatida há anos, salientando-se a necessidade de
abordagens sistêmicas e transdisciplinares em ações ambientais, que levem em conta a
interdependência, complexidade e diversidade de contextos, voltadas à conservação,
recuperação e melhoria da qualidade das águas.
Vale ressaltar os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, que compreendem o
cuidado com as águas, pertencentes ao meio ambiente, patrimônio público a ser assegurado e
o
protegido. (Brasil... Lei N 6.938).
Entende-se, de acordo com Dias (2004, p. 217), que: ‘A aprendizagem será mais
significativa se a atividade estiver adaptada concretamente às situações da vida real da cidade,
ou do meio, do aluno e do professor’.
Pela grande relevância dos rios para a vida sustentável e visando à contextualização da
realidade local, promoção de identidade, solidariedade e sentimento de pertencimento das
pessoas ao meio ambiente, bem como a conscientização sobre a corresponsabilidade em seu
cuidado, a mídia em questão focaliza um contexto específico: a bacia hidrográfica do Rio
Belém.
A bacia hidrográfica do Rio Belém abrange 35 dos 75 bairros de Curitiba. E o rio que lhe dá
o nome nasce e deságua no município de Curitiba (Paraná, Brasil), percorrendo em torno de
17,3 Km, sendo que seu leito principal percorre 14 bairros, com distintas características
urbanas, socioeconômicas e culturais.
Apesar de sua destacada importância na composição do meio ambiente, a qualidade das
suas águas do Rio Belém foi sendo seriamente degradada com o processo de urbanização,
apresentando atualmente o maior nível de poluição hídrica de Curitiba. Dentre as principais
causas deste problema, salientam-se: precariedade da infraestrutura de esgotamento sanitário;
deposição de lixo nos rios; ocupações irregulares nas margens dos rios; poluição e
contaminação dos rios por resíduos sólidos e efluentes domésticos, sendo que estes últimos
são responsáveis por cerca de 90% da poluição das águas (Bollman & Edwiges, 2008).
A bacia hidrográfica do Rio Belém congrega, assim, diversos fatores relevantes para serem
tratados em educação ambiental, tais como, por exemplo: composição da bacia hidrográfica,
contextualização histórica e importância dos rios, qualidade das águas dos rios, cuidados
necessários com as águas dos rios, dentre outros.

Público beneficiário
O público beneficiário compreende crianças de 8 a 12 anos vinculadas a instituições de ensino,
não se restringindo, no entanto, seu acesso por outras pessoas interessadas no tema.

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Metodologia
Com abordagem sistêmica (Sauvé, 2005), transdisciplinar (D’Ambrósio, 1997; Nicolescu, 1999;
Antônio, 2002; Soethe, 2003; Sommerman, 2006) e da complexidade (Morin & Le Moigne,
2000) e metodologia adotada de cunho qualitativo e natureza interpretativa (Moreira, & Caleffe,
2006), buscando-se conjugar a dimensão histórica e sociocultural, na qual estamos inseridos, e
a nossa visão de mundo, desenvolveu-se a mídia interativa de apoio à educação ambiental.
A abordagem sistêmica em Educação Ambiental propicia, segundo Sauvé (2005, p. 22):
conhecer e compreender adequadamente as realidades e as problemáticas ambientais. A análise
sistêmica possibilita identificar os diferentes componentes de um sistema ambiental e salientar as
relações entre seus componentes, como as relações entre os elementos biofísicos e os sociais de
uma situação ambiental. Esta análise é uma etapa essencial que autoriza obter em seguida uma visão
de conjunto que corresponde a uma síntese da realidade apreendida, Chega-se assim à totalidade do
sistema ambiental, cuja dinâmica não só pode ser percebida e compreendida melhor, como também
os pontos de ruptura (se existirem) e as vias de evolução. [...] A corrente sistêmica em educação
ambiental apoia-se, entre outras, nas contribuições da ecologia, ciência biológica transdisciplinar [...].
O conceito de ‘transdisciplinaridade, por sua vez, vai além das disciplinas e das inter-
relações entre disciplinas específicas, situando-se em uma dimensão cujas fronteiras são
fluidas e permeáveis. (Nicolescu, 2002).
Vale ressaltar que não se pretende estabelecer verdades absolutas, generalizações e
homogeneizações nas categorias de análises e conclusões, considerando-se que as condições
e contextos são complexos e dinâmicos (Oliveira, 2002). Entende-se, como afirma Morin, que
‘existem instâncias que permitem controlar [- em certa medida -] o conhecimento; cada uma
delas é necessária e cada uma delas é insuficiente’ (Morin & Le Moigne, 2000, p. 62). E ‘[...]
aquilo que permite o conhecimento é ao mesmo tempo aquilo que o limita (p. 64). Assim, há
sempre um grau de incerteza, o que exige uma perspectiva não determinista e reducionista na
organização de sistemas em prol de seu desenvolvimento.
Os procedimentos metodológicos incluem:
 Entrevistas semiestruturadas com uma amostragem intencional de profissionais e
pesquisadores da área ambiental e de cidadãos e cidadãs que trabalham, moram e/ou
moraram nas proximidades do Rio Belém, com registro audiovisual de suas memórias
e perspectivas presentes e futuras deste rio;
 Pesquisa documental;
 Pesquisa iconográfica;
 Pesquisa de websites relacionados a temas sobre o meio ambiente e voltados ao
público infantil, com análise comparativa de sua composição gráfica, usabilidade, etc.;
 Elaboração de mapas mentais;
 Elaboração de design de mídia digital interativa: conceituação, geração, avaliação e
seleção de alternativas, detalhamento e finalização da proposta (botões de comando,
frentes e fundos, ícones, ilustrações, menus, molduras, janelas; definição de
mapeamento e recursos de navegação e acessibilidade; dentre outros itens);
 Implementação da mídia em suportes digitais (Internet, DVD-Rom, etc.).
Princípios de design de interação
O design da mídia digital interativa segue princípios de design de interação (Badre, 2002;
Bannon, 2005; Löwgren, & Stolterman, 2004; Nielsen, 2000; Norman, 2006; Preece, Rogers, &
Sharp, 2005; dentre outros autores), tais como, por exemplo:
 Adequação à experiência, contexto e linguagem do público beneficiário;
 Adequação ao contexto sociocultural (em termos de requisitos de uso, técnicos e
simbólicos);
 Adequação estética da interface gráfica ao perfil do público beneficiário;
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 Affordance (refere-se ao atributo de um artefato que propicia às pessoas
compreenderem possibilidades de interagirem com ele);
 Ajuda e documentação (informações sobre o uso e conteúdo da mídia)
 Consistência (similaridade de ações e elementos da interface gráfica relacionados a
execução de tarefas similares);
 Facilidade de compreensão e uso;
 Feedback de ações (relacionado à visibilidade, por exemplo, de botões de comando
em posições: over, down);
 Flexibilidade e eficiência (de modo a permitir a pessoas mais experientes realizarem as
ações com maior rapidez, ‘saltando’ alguns passos);
 Mapeamento (relação entre elementos e suas posições);
 Prevenção de erros;
 Promoção de reconhecimento, prioritariamente à memorização;
 Restrições (delimitações de determinados tipos de interação);
 Visibilidade (dos elementos da interface gráfica e do estado do sistema); dentre outros.
Vale ressaltar que a interação com qualquer artefato é dinâmica e diversa para cada
pessoa, sendo, pois, esses princípios, relativos e não absolutos.

Mapa mental da mídia


A elaboração de um mapa mental da mídia contribuiu para a organização mais eficiente de seu
sistema comunicacional e arquitetura, assim como para uma inter-relação mais adequada e
harmônica entre os elementos na composição da interface gráfica, recursos multimídia e
sistema de navegação (Figura 1).

Figura 1: Mapa mental da mídia digital interativa de apoio à educação ambiental

Menus da mídia
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A mídia compõe-se de um menu principal (disposto verticalmente e à esquerda na tela) e outro
secundário (disposto horizontalmente e abaixo na tela) (Figura 2).
O menu principal propicia o acesso a conteúdos sobre: localização da bacia hidrográfica do
Rio Belém e bairros que dela fazem parte; contextualização histórica do Rio Belém; cuidados
necessários e qualidade das águas.
O menu secundário propicia o acesso aos seguintes conteúdos: o que é a mídia
(apresentação, equipe de pesquisa e desenvolvimento, colaboradores); índice; opções /
acessibilidade; dicionário (glossário) e ajuda.

Figura 2: Página de ‘Início’, mostrando os menus principal e secundário e o mapa da bacia hidrográfica do Rio
Belém, com a localização de sua nascente (no bairro Cachoeira) e de sua foz (no bairro Boqueirão), além de
outros bairros por onde passa

Páginas da mídia
A mídia integra recursos como: vídeo, fotografia, ilustração, animação, etc., com o registro de
experiências sociais e culturais contextualizadas localmente, visando despertar a atenção e
promover o aperfeiçoamento do conhecimento sobre o meio ambiente, a noção de
pertencimento e a conscientização sobre a corresponsabilidade social, bem como o
envolvimento das pessoas em ações voltadas ao cuidado com o meio ambiente.
As páginas da mídia trazem conteúdos sobre:
 Bacia do Rio Belém – com informações relacionadas a sua localização geográfica -
possibilitando uma perspectiva macro e micro, com ilustrações da localização da bacia
do Rio Belém no planeta Terra, no continente americano, no Brasil, no estado do
Paraná e na cidade de Curitiba (Figura 3);
 Bairros que fazem parte da bacia hidrográfica do Rio Belém, com enfoque naqueles
percorridos pelo leito principal do Rio Belém (Figuras 4 e 5);
 Rio Belém na história – com informações, ilustrações e fotografias de registros de
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acontecimentos relacionados ao Rio Belém e suas redondezas, ao longo da história
(Figura 6);
 Cuidados – com recomendações para cuidados com os rios, com vistas à
conservação, recuperação e melhoria de seus recursos naturais e da qualidade de
suas águas, tais como, por exemplo: instalação de sistema de esgoto apropriado,
destinação adequada de lixo, conservação e melhoria da vegetação das margens dos
rios; ocupação adequada de construções na bacia hidrográfica, dentre outras;
 Qualidade das águas – com informações sobre o índice de qualidade das águas em
alguns pontos do Rio Belém, ao longo de sua trajetória, da nascente à foz, em
diferentes bairros (Figura 7).

Figura 3: Página da ‘Bacia do Rio Belém’, mostrando sua localização

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Figura 4: Página com ilustração e fotografias do Rio Belém e Parque da Nascente, localizados no Bairro
Cachoeira

Figura 5: Página com ilustração do Rio Belém no Bairro Cachoeira

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Figura 6: Página inicial de ‘Belém na História’

Figura 7: Página de ‘Qualidade das Águas’

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Recursos de acessibilidade
Visando ampliar o acesso ao conteúdo e reduzir a restrição a determinados públicos, a mídia
oferece recursos como: legendas em vídeos; interpretação / tradução em Língua Brasileira de
56
Sinais (LIBRAS), além de opções de outras línguas , além do português (língua base do
projeto); opções de áudio, cores e tamanhos de fontes.
O vídeo com intérprete e tradutora de LIBRAS apresenta-se em tamanho ampliado na tela,
enquanto que o vídeo original apresenta-se em tamanho reduzido, posicionado no canto
esquerdo inferior da tela (Figura 8). Isto possibilita uma visualização adequada das expressões
e gestos da intérprete e tradutora de LIBRAS, requisito fundamental desta língua, o que não
tem sido observado por outras mídias audiovisuais disponíveis que adotam o contrário (vídeo
em LIBRAS em tamanho reduzido na tela), prejudicando, assim, a comunicação com pessoas
surdas.

Figura 8: Exemplo de cena de vídeo de uma entrevista (imagem menor), e sua interpretação / tradução em LIBRAS
(imagem maior)

Avaliação da mídia
Procederam-se avaliações da mídia junto à amostragem do público beneficiário (crianças de 8
a 12 anos), com o intuito de identificar possíveis falhas e melhorias. A primeira avaliação de
57
uma versão preliminar da mídia ocorreu junto a um grupo de crianças surdas do Instituto de
Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto (IEPPEP) e crianças de duas escolas públicas:
58 59
Escola Municipal Aroldo de Freitas e da Escola Municipal Felipe Zeni , ambas do município
de Pinhais / PR, na ocasião da exposição da mídia na Bienal Brasileira de Design 2011 / Ações
Paralelas. Com vistas a uma avaliação complementar, também levaram-se em conta opiniões e
60
sugestões de pessoas adultas que também visitaram essa exposição e se dispuseram a
interagir com um demonstrativo da mídia.
Em uma segunda avaliação, houve a participação de crianças da Escola do Bosque /

56
Pretende-se incluir opções de outras línguas, a partir de apoios e colaborações futuras ao projeto.
57
6 crianças surdas.
58
Total de visitantes: 74 alunos, com idade entre 8 e 12 anos.
59
Total de visitantes: 80 alunos, com idade entre 9 e 14 anos.
60
Com idade entre 18 e 48 anos.
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Mananciais de Curitiba. Esta foi selecionada para avaliação por abrigar crianças da faixa etária
do público beneficiário da mídia e pela localização, no bairro São Lourenço, junto às margens
do leito principal do Rio Belém, que atravessa a parte frontal do terreno da escola, propiciando,
assim, uma maior contextualização e familiaridade dos alunos e alunas da escola com o tema
da mídia.
O contexto de uso, na sala onde os alunos e alunas da escola costumam ter aulas de
informática, também foi importante na avaliação da mídia, em vista de estarem já familiarizados
com o ambiente e propiciarem uma condição de uso adequada.
As avaliações referiram-se a itens relacionados à composição da interface gráfica (botões
de comando, ícones, personagens, ilustrações, cores, dentre outros elementos) e princípios de
design de interação.
Procurou-se simplificar ao máximo possível o instrumento de registro das avaliações da
mídia, considerando-se o perfil da amostra e os objetivos, utilizando-se ícones de expressão de
satisfação e insatisfação com relação aos itens avaliados, e espaço para anotação de
comentários e sugestões.
Observações diretas e por meio de registro audiovisual da tela do computador e do
comportamento das crianças, durante a interação destas com a mídia, também foram
realizadas, o que muito contribuiu na avaliação do grau de interesse e satisfação das crianças,
ao interagirem com a mídia.
As crianças, de um modo geral, avaliaram positivamente a interface gráfica e demonstraram
especial interesse pelos vídeos, que mesclaram entrevistas com pessoas, fotografias e
ilustrações. As crianças continuaram navegando pela mídia após o término da avaliação (feita
com duas crianças de cada vez), enquanto aguardavam a chegada das próximas, o que
ressaltou seu interesse pela mídia, demonstrando que a experiência lhes foi agradável. Além
disso, a interação com a mídia foi intuitiva e de fácil aprendizagem para a maioria delas.
As avaliações indicaram a necessidade de alguns ajustes e possibilidades de
aperfeiçoamentos na mídia, tais como, por exemplo:
 A necessidade de tornar mais claro o link para vídeo (affordance) com a inserção de
uma miniatura da tela, por exemplo;
 Melhorar a consistência no fechamento de janelas;
 Melhorar a comunicação dos nomes dos bairros nas páginas referentes a estes;
 Melhorar a comunicação do caminho de navegação, ou seja, da localização da página
atual e links como um caminho para retornar à página inicial da mídia;
 Apresentar os conteúdos textuais de modo mais dinâmico (observou-se que as caixas
de textos tendem a ser pouco atrativas para as crianças), com a inserção de recursos
de áudio e apresentação do conteúdo por meio de personagens ilustrados;
 Incluir introdução com uma apresentação sobre a mídia, para uma visão geral desta;
dentre outros.

4 Considerações finais

A mídia digital interativa de apoio à educação ambiental, tratada neste artigo, foi elaborada com
uma abordagem sistêmica e transdisciplinar, e a composição da equipe de pesquisa e
desenvolvimento, juntamente com as pessoas colaboradoras, contribuíram expressivamente
para o alcance dos objetivos propostos, conjugando reflexões, diferentes visões e ações em
prol da educação ambiental.
A pesquisa e desenvolvimento pautaram-se na inter-relação entre os polissistemas que
compõem o meio ambiente, na perspectiva de sua complexidade e da diversidade cultural.
A mídia proposta possibilita sua associação, pelo público beneficiário, com a vida real e o
contexto local, promovendo o aperfeiçoamento do conhecimento e a conscientização sobre seu
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pertencimento e corresponsabilidade com os cuidados com o meio ambiente, em sua dimensão
macro e micro. Propicia uma associação do conteúdo com o contexto real por meio de uma
linguagem lúdica e próxima ao público infantil. Oferece, além disso, recursos de acessibilidade
que contribuem para ampliar a inclusão e diversidade do público beneficiário.
A mídia será disponibilizada em site(s) de internet e outros suportes digitais, tais como DVD-
Rom e CD-Rom. Deste modo, promover-se-á um amplo acesso à mesma, contribuindo também
como referência para a produção de outras mídias voltadas à educação ambiental.
Pretende-se realizar expansões futuras do conteúdo e a inclusão de outras bacias
hidrográficas da região metropolitana de Curitiba e outras localidades, com a possibilidade de
estender a abrangência do conteúdo da mídia a outros temas relacionados ao meio ambiente,
mediante apoio e estabelecimento de parcerias com pesquisadores e instituições que atuem
em prol do meio ambiente.
Vale salientar a importância da colaboração de profissionais da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente de Curitiba, no processo de pesquisa e desenvolvimento, bem como de
Intérprete e Tradutora de Libras, na disponibilização de recursos de acessibilidade, e de todas
as pessoas que colaboraram com seus relatos na pesquisa de campo e no processo de
avaliação e aperfeiçoamento da mídia.

Agradecimento
Ao CNPq, pelo fomento de bolsas PIBIC e PIBITI concedidas, respectivamente a: Emanuela
Lima Silveira (2009-2011) e Fernanda Bornancin Santos (2010-2011);
À UTFPR, pelo fomento de bolsas PIBIC concedidas, respectivamente a: Fernanda Bornancin
Santos (2009-2010) e Camilla Hanako Nishihara de Albuquerque (2010-2011) e por abrigar o
Núcleo de Design de Mídias Interativas (dmi), no qual se tem desenvolvido o projeto em
questão;
À Samira El Ghoz Leme, Bióloga, Mestre em Tecnologia – Secretaria Municipal do Meio
Ambiente de Curitiba, pela colaboração na pesquisa de campo;
Ao Felipe Leoni Gomes, bolsista PIBITI / Voluntário, pela colaboração no desenvolvimento do
projeto;
À Leny Mary de Góes Toniolo, Bacharel em Letras, Secretaria Municipal do Meio Ambiente de
Curitiba, pela colaboração na pesquisa de campo;
À Tamara Simone van Kaick, Bióloga e Artista Plástica, Profa. Dra., Departamento de Química
e Biologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela colaboração na pesquisa de
campo;
À Ana Paula Ferreira de Almeida, pela colaboração como Intérprete e Tradutora de LIBRAS;
À Escola do Bosque / Mananciais (Curitiba / PR), pela colaboração no processo de avaliação
da mídia junto a seus discentes;
A todas as pessoas entrevistadas, por sua colaboração na pesquisa de campo, e a todas
aquelas que colaboraram no processo de avaliação e aperfeiçoamento da mídia.

Referências
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O reuso do PET, no contexto social urbano. (Reuse of PET
in the urban social context.)

Tamires, M. de Lima Silva; Universidade Federal de Pernambuco, Brasil,


tamireslimaufpe@gmail.com.

palavras chave: reutilização; PET; sustentabilidade.

Este artigo propõe identificar métodos e recomendações de melhoria para o destino dos resíduos sólidos
urbanos, com maior êxito o processo de reutilização. Desse modo, o direcionamento do estudo dá-se a
partir do PET (Poli tereftalato de etileno), um dos principais agentes integrantes dos rejeitos descartados
pelo homem. Buscou-se com esse trabalho a identificação de possibilidades para o reuso do PET, através
da geração de luminárias, desenvolvidas com esse polímero sintético compondo a maior parte de sua
estrutura. Substituição de materiais como, por exemplo, grampos, parafusos, e, substancias de colagem
também foram exploradas, observou-se maior relevância para a utilização de amarras e encaixes
alternativos provenientes da própria estrutura do polímero. Integram as etapas metodológicas: revisão
bibliográfica, levantamento de possibilidades para reutilização e aplicação do PET e as análises
colaborativa e participativa. Tal iniciativa propiciou o estimulo a confecção artesanal de artefatos oriundos
de projetos socioambientais, com valores agregados e economicamente viáveis. A obtenção dos
resultados conota a relevância dos trabalhos de incentivo a reutilização e ao prolongamento da presença
do PET no contexto urbano, principalmente ao que tange comunidades ou associações dispostas a
incorporar métodos inovadores ecologicamente corretos para o processo sustentável de produção.

Keywords: reuse; PET; sustaiability

This article aims to identify methods and recommendations for improvement for the fate of solid waste, the
more successful the process of reuse. Thus, the direction the study takes place from PET (poly ethylene
terephthalate), a member of the main agents responsible for waste disposed of by man. Sought, with this
work to identify possibilities for reuse of PET, by generating lamps, developed with this synthetic polymer
comprising the bulk of its structure. Material substitution, for example, staples, screws, and glue
substances have also been explored, there was greater relevance to the use of tethers and alternative
fittings from the same polymer structure. Integrate the methodological stages: literature review, survey of
possibilities for reuse and application of PET and analysis of collaboration and participation. This initiative
provided the stimulus for handmade artifacts arising from environmental projects, with aggregate values
and economically viable. The achievement of results connotes the relevance of the works to encourage
reuse and extension of the presence of PET in the urban context, particularly with respect to the
communities or associations wishing to incorporate innovative methods for the environmentally friendly
sustainable production process.

Introdução

Os meios de comunicação de massa propiciam para a humanidade uma imensurável facilidade


no acesso a informações. Essas informações carregam consigo traços indeléveis,
sobreviventes ao tempo, e representantes de uma nova era, a era do consumismo.
O período que sucede a revolução industrial é marcado pelo consumo exacerbado de bens e
serviços em prol das necessidades e aspirações humanas.
Para Rocha, (2005) a sociedade contemporânea só pode ser compreendida a partir do
seu comportamento de consumo, aqui tido como reflexo da modernização e do
aperfeiçoamento dos meios pelos quais os indivíduos são estimulados a adquirir; como, por
exemplo, os grandes veículos de comunicação de massa.
O consumo sempre foi um grande aliado no desenvolvimento das civilizações.
No entanto, uma das questões ligadas ao consumo com maior abrangência diz respeito ao
descarte, se há consumo há descarte, composto na maioria das vezes por resíduos nocivos
e/ou poluentes.

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Tão crescente quanto os meios de comunicação de massa, instigadores e propiciadores
da aquisição de bens, é a geração dos resíduos sólidos, um problema que assola a humani-
dade há décadas e encontra na atualidade seu manifesto mais voraz. Produtos industrializados
e descartáveis são reflexos dos meios facilitadores da sobrevivência, desenvolvidos pelos
seres humanos. Como afirmam Manzini e Vezzoli, (2008) o reuso dos resíduos sólidos vem se
tornando uma das mais viáveis soluções no combate ao acúmulo dos rejeitos.
Entre esses rejeitos está o poli tereftalato de etileno (PET), matéria-prima integrante da
família dos polímeros sintéticos, passível das mais variadas funções na atualidade. O reuso do
PET tem se mostrado eficaz e promissor, dentro das novas propostas de harmonização do
design com a ecologia.
Este trabalho tem como pretensão, identificar possibilidades para o reuso dessa matéria-
prima até então tida como descartável, para isso foram elaboradas duas luminárias de mesa
compostas em quase sua totalidade com garrafas de PET descartadas. Explorou-se ainda, a
substituição dos materiais redutores da “eficiência” (MANZINI, E. VEZZOLI, C. 2008, p: 39) dos
produtos desenvolvidos, chegando-se com relevância a utilização de amarras e encaixes
alternativos provenientes da própria estrutura permitida pelo PET.
Para o alcance dos resultados, inicialmente realizou-se um levantamento de alternativas
possíveis para a reutilização e aplicação do poli tereftalato de etileno, por meio do
planejamento e da execução de duas luminárias de mesa. Buscou-se ainda realizar uma
intervenção do design, a partir das participações colaborativa e participativa.
O local da intervenção compete a Escola Carmelita Gomes da Silva, situada no município de
São Caetano, localizado no agreste de Pernambuco, a 148 km da capital Recife, a qual
disponibiliza para as crianças e adolescentes do município a modalidade de ensino
fundamental. Foram realizadas oficinas para desenvolvimento dos artefatos projetados e
exposição de cases sobre os princípios de reutilização.

Do consumo ao descarte
A produção industrial tangencia a evolução capitalista desde o fim da Primeira Guerra Mundial.
Os meios de propagação do consumo ganharam força exponencial para alcançar cada vez
mais adeptos. O surgimento do automóvel e dos primeiros eletrodomésticos prontamente
fomentou a necessidade de inovar para acompanhar a modernidade, que segundo os ditadores
do consumo, deveria ser rápida e precisa. Faz-se evocar dessa forma o acelerado
desenvolvimento de todos os meios, inclusive os de comunicação. Sendo assim, a
modernização que permeia a aquisição de bens possibilitou para os indivíduos, um significativo
crescimento na economia e tão logo, o sonhado acesso aos objetos de desejo tornou-se cada
vez mais real. (KAZAZIAN, T. 2005).
Abordagens referentes à sociedade de consumo fazem parte de uma realidade crescente
nos dias atuais. As aspirações suscitadas e veiculadas pelo marketing, encontram no
capitalismo forças para existir. No entanto, é neste cenário que atua um dos mais preocupantes
temas da atualidade: O consumo consiste em montanhosas pilhas de descartes, formados por
rejeitos materiais em vários estados, passíveis de diversificados destinos.
Nesse contexto, o processo de reutilização ganha destaque e abrangência, em um cenário
repleto de oportunidades. Para Manzini, (2008) o segundo uso dado às ditas matérias-primas
descartáveis, propicia meios de driblar situações adversas ao progresso do consumo, como é o
caso dos problemas ambientas, principais resultantes da geração humana de resíduos sólidos.
E deste modo, meios viáveis de reutilização estão sendo constantemente adotados por líderes
de opinião, instituições e comunidades criativas, integrados dos mais diversos atores sociais.
Existe hoje a possibilidade de se transformar o lixo em produtos, o que antes parecia
impossível, porém, as conquistas ainda estão longe de serem suficientes ou muitas. Muitos dos
artefatos criados deixam a desejar estética e funcionalmente. De acordo com Löbach, (2007) à
configuração de um produto deve obedecer a critérios práticos, estéticos e simbólicos. Esta
postura condiz com os fundamentos metodológicos de desenvolvimento acarretados pelo
design. Ao observar esse nicho, o profissional de design pode interagir e atuar junto aos
demais atores sociais, projetando ideias que agreguem valor aos materiais até então
considerados como lixo.
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A preservação ambiental tornou-se um assunto de extrema necessidade. Grandes
questões como destruição de reservas naturais, aquecimento global, desigualdade social entre
outras, refletem o período pós-revolução industrial, e nos dias atuais estão sempre em pauta.

[...] A revolução Industrial, gerando uma gigantesca necessidade de mão-de-


obra, esvazia o mundo rural. Mergulhando seus operários no furor das forjas
e na noite das minas, ela se apoia na exploração da natureza e leva à
desagregação das raízes e referências que o homem aí havia cultivado.
Estranhamente a ornamentação floral, então muito utilizada na produção
industrial pode ser vista como um símbolo da perda da relação física que até
aí o homem mantivera com a natureza: das fachadas das casas aos objetos
domésticos, tudo parece carregar o luto desse vínculo íntimo num horizonte
invadido pelo carvão’. (KAZAZIAN, T. 2005 p: 13).

A notória necessidade da preservação do meio ambiente, tem propiciado a criação e


utilização de meios tecnológicos que passem a poupar os recursos naturais ou, ao menos
minimizar sua demanda, ao passo em que busca-se também, soluções de redução para a
geração dos resíduos industriais. Deste modo, o direcionamento na criação de produtos e
serviços viáveis ecologicamente está ganhando dimensões, assim como as diversas novas
abordagens acerca do tema.
Os descartes da sociedade contemporânea alcançaram limites considerados nocivos ao
meio ambiente. Devastadores são os problemas identificados na atualidade devido ao acumulo
e disposição incorretos dos resíduos sólidos, originados principalmente da obsolescência
produtiva de produtos e serviços que alimentam a sociedade de consumo. Haja vista, nas
dimensões atingidas pela humanidade, é inevitável a não produção de rejeitos, esta
problemática há muito suscita olhares seguidos de atitudes lideradas na maioria das vezes por
ONGs e outras instituições. No entanto, o envolvimento da sociedade como um todo, assim
como a notória necessidade de mudança, vem sendo conquistada aos poucos.
Conforme Thackara (2008), os princípios da sustentabilidade atingem a humanidade de
forma incompleta, porém crescente. Os mesmos facilitadores das condições e qualidades de
vida atuais como a tecnologia e a modernização de conceitos, são também os facilitadores das
ações em prol da desaceleração dos atos de agressão ao meio ambiente.
De acordo com o Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), que divulgou em
2010, a Pesquisa Nacional de saneamento Básico (PNSB), efetuada em 2008, pouco mais da
metade dos municípios brasileiros (50,8%) despejam resíduos sólidos em vazadouros a céu
aberto, mais conhecido como lixões. A pesquisa mostra redução desse índice quando
comparada com 1989, onde os lixões a céu aberto representavam 88,2% dos municípios. Não
se pode negar, porém, que a diversidade dos resíduos sólidos dispostos de forma incorreta,
ainda é considerada espantosa, ao passo que uma significativa parcela desses rejeitos é
formada por materiais recicláveis ou passíveis de serem reutilizados.
Atitudes defensoras das mudanças na então realidade dos resíduos sólidos, surgem por
todos os lados, entre elas algumas leis de incentivo a redução dos impactos causados pela
disposição dos descartes como, por exemplo, a lei que estabelece a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, promulgada no dia 2 de agosto de 2010, pelo governo brasileiro, tendo como
princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população. Essa lei
tende a impulsionar o retorno dos produtos às indústrias após o consumo, e obriga o poder
público a realizar planos para o gerenciamento do lixo, consagra ainda, o viés social da
reciclagem e a participação formal dos catadores organizados em cooperativas. Entre outros
benefícios, a lei visa à realização de planos e metas sobre resíduos com participação dos
catadores; a erradicação dos lixões em quatro anos; a realização de compostagem pelas
prefeituras e o controle obrigatório de custos que reflitam a qualidade do serviço. (CEMPRE,
2010).
Ao se eliminar um produto, proliferam várias alternativas que desencadeiam o destino final
de cada um dos seus resíduos, muitas vezes descarta-se o reconhecimento desses resíduos
como sendo matérias-primas passíveis dos mais variados meios de reaproveitamento. Desta
maneira, a grande maioria desses resíduos torna-se imprestável para estes fins. Deixa-se de
efetuar a aplicação de uma segregação prévia e lançam-se tais matérias indiscriminadamente

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no lixão, comprometendo toda a proposta da eco eficiência e seus benefícios. (MANZINI, E.
VEZZOLI, C. 2008).
Este cenário propicia a vários profissionais que integram diferentes áreas do conhecimento,
identificar alternativas viáveis para a redução e o controle da disposição atual dos materiais
descartados pelos indivíduos, reflexos da sociedade moderna. Insere-se aí um dos principais
papéis, o do designer, que como nunca poderá ser mediador de novos conceitos em face de
um desenvolvimento deveras sustentável.

Surgimento e utilização do PET


De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET), o Poli (Tereftalato de
etileno) corresponde a um polímero termoplástico pertencente aos poliésteres. Muito embora
conhecido e largamente utilizado para a fabricação de garrafas plásticas na atualidade, esse
material, desenvolvido pelos ingleses Whinfield e Dickson, em 1941, foi utilizado inicialmente
na indústria têxtil.
O desabastecimento de matérias-primas que afetou o período pós-segunda guerra mundial,
obviamente atingiu também a indústria têxtil, até então baseada em fibras de algodão. Deste
modo, à produção em larga escala do poliéster ganhou forças, e possibilitou a substituição do
algodão e demais fibras, proveniente dos campos devastados pela guerra. Atualmente a fibra
de poliéster, é largamente utilizada na indústria têxtil, até mesmo a desenvolvida a partir das
garrafas recicladas. As primeiras aplicações do polietileno tereftalato em embalagens surgiram
na década de 1970, nos Estados Unidos e na Europa. O Brasil só integrou a utilização deste
polímero no final da década de 1980, assim como no restante do mundo, a aplicabilidade do
PET no Brasil também destinou-se ao setor têxtil. Só a partir de 1993, a fabricação do PET
incorporou o mercado de embalagens, expressivamente para os refrigerantes. Contudo,
ressalta-se a presença dessa matéria-prima, inclusive oriunda da reciclagem das garrafas de
refrigerantes nos mais diversos segmentos, desde utensílios domésticos a carpetes para
revestimento interno de automóveis.
Ainda segundo a ABIPET, a produção das embalagens de resina PET no Brasil vem
crescendo exponencialmente, atingiu em 2009, 471.000 toneladas. Esse crescimento se deve
entre outros fatores, as significativas qualidades desencadeadas por este material ao ser
aplicado no armazenamento de produtos alimentícios, como: total transparência e brilho, que
atrai a atenção do consumidor e acarreta características importantes, entre elas a higiene; alta
resistência e leveza; barreira que impossibilita a penetração de gases e odores e o fato de se
tratar de um polímero 100% reciclável.
Dados do CEMPRE, Compromisso Empresarial para Reciclagem, conotam que 55,6% das
embalagens PET pós-consumo foram recicladas em 2009, esse percentual totaliza 262.000
toneladas e contempla o Brasil com o segundo lugar na reciclagem do PET mundial. O primeiro
lugar ficou para o Japão com 77,9%.

A reutilização do PET para o design de artefatos

Muito embora aspectos técnicos e econômicos das embalagens de PET apresentam benefícios
significativos, o ponto de vista ecológico apresenta ainda muitas restrições.
Como boa parte das embalagens, a garrafa PET possui um curto ciclo de vida, ela
armazena e protege um produto que na maioria das vezes é consumido rapidamente, o que
resulta na fabricação e descarte em questão de semanas. Deste modo, torna-se longa a vida
inútil do PET; quando não alcança as vias de reciclagem, o polímero disposto no meio
ambiente, na maioria das vezes de forma inadequada leva cerca de 100 anos para se
decompor. Ressalta-se ainda, a alta capacidade combustível comportada pelo PET, e o impacto
ambiental causado por seu descarte em aterros sanitários, ou leito de rios, poluição e
enchentes estão entre os fatores mais prejudiciais. (ABIPET, 2011).

Algumas restrições também são quantificadas para o processo de reciclagem do PET,


como, por exemplo, a inviabilidade do uso do PET reciclado na fabricação de novas
embalagens, devido ao risco de contaminação; e o processo de coleta, fator que dificulta a

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viabilidade econômica dessa prática.
Entre as alternativas adequadas para o destino do polietileno tereftalato, ou PET, integrante
de grande parte das embalagens da atualidade, está o processo de reutilização,
correspondente de acordo com Manzini e Vezzoli (2008), a possibilidade da aplicação de um
segundo uso para produtos ou suas partes, previamente descartados. A reutilização de
materiais vem ganhando destaque e abrangência por todo o país, haja vista algumas
comunidades atualmente fazem desse viés sua forma de sobrevivência e ascensão social.
Retirar, selecionar e reutilizar as embalagens descartadas compete a uma iniciativa que
demanda o uso incentivo de mão-de-obra, não necessariamente especializada, sendo assim as
oportunidades de trabalho surgem para diversas camadas de profissionais.
A cada ano novas iniciativas e comunidades criativas se erguem para fortalecer as práticas
que subsidiam o desenvolvimento sustentável. Deste modo, a produção de artefatos originados
de garrafas de PET descartadas, reforça a afirmativa de que nem tudo que é jogado fora se
trata de lixo, muito pode ser reaproveitado e ganhar um novo destino.
Objetos de decoração, mobiliário, e utilitários em geral integram a lista dos artefatos
produzidos a partir da reutilização e reposicionamento das garrafas de PET descartadas, que
antes comporiam simplesmente o cenário dos resíduos sólidos.

Metodologia projetual
Esta etapa objetiva apresentar todos os procedimentos e métodos utilizados durante o
desenvolvimento desta pesquisa e atividade de intervenção. Inicialmente delimitou-se como
critérios obrigatórios:
 Pesquisa bibliográfica com levantamento de dados relevantes as questões que tratam
da sustentabilidade, com maior ênfase para produção, descarte e reutilização do PET.
 Levantamento de alternativas possíveis para a aplicação do reuso do PET, no contexto
social urbano;
 Elaboração de luminárias de mesa, passíveis de reprodução seriada e compostas a
partir dos valores e fundamentos da metodologia do design (Löbach, 2007);
 Abordagem colaborativa e participativa, por meio da composição em conjunto das
luminárias elaboradas, e exposição de cases referentes a reutilização promissora do
PET, em uma comunidade disposta a incorporar métodos inovadores ecologicamente
corretos para o processo sustentável de produção.
A primeira etapa do trabalho consistiu na geração de alternativas para a definição das
luminárias de mesa que compuseram a intervenção prática do estudo. Foram desenvolvidas
duas luminárias a partir da reutilização de garrafas PET, ambas possuem esse material
aplicado na maior parte de sua estrutura, e realçam principalmente a eliminação das
substancias de apoio ecologicamente incorretas como, colas, parafusos, grampos entre outros.
A execução das luminárias partiu de uma abordagem assistemática na cidade de São
Caetano - PE para o então mapeamento e identificação dos possíveis alvos para a atividade de
intervenção. Como meio de intervenção mais promissor identificaram-se as escolas do
município. Realizou-se uma oficina expositiva na Escola Carmelita Gomes da Silva.

Resultados
A intervenção projetual da pesquisa consiste no desenvolvimento de duas luminárias, as quais
serão aqui detalhadas quanto a seus componentes e composição. Em seguida serão listados
todos os resultados alcançados com a atividade de intervenção realizada na Escola Carmelita
Gomes da Silva.
A primeira luminária, composta por uma garrafa PET de 2,5 litros, teve a sua parte superior
retirada, a qual assumiu um formato simplificado e ao mesmo tempo sofisticado; após o corte
suas bordas receberam uma aplicação de temperatura, permitindo a suavização do aspecto de
aspereza antes percebido; (essa temperatura foi atingida por meio do controle de aquecimento
do ferro elétrico, bem como do auxílio do calor proveniente de uma vela acesa). A base da
luminária é constituída por um gargalo de uma garrafa de 2 litros na cor verde, o qual foi
apoiado no ferro de passar em temperatura estável durante alguns minutos; esse procedimento
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permitiu a suavização da borda proveniente do recorte e ainda ampliou a resistência do
material, que novamente moldado assumiu outro aspecto.
Figuras 01: Luminária de mesa desenvolvida Figura 02: Luminária em uso

Essa base foi introduzida num furo com o mesmo diâmetro feito na estrutura de 2,5 litros,
também através de uma ferramenta (ferro de solda) aquecida. Por ser um termoplástico, o PET
oferece a possibilidade de incorporar novos formatos a partir do correto direcionamento do
calor, o que permite o atendimento a diversas necessidades e pontos de vista (ABIPET, 2011).
Para rosquear a base, teve-se auxílio do politetrafluoretileno (PTFE), popularmente conhecido
como veda-rosca. Um melhor acabamento e ainda um maior apoio para a estrutura foram
atingidos; além disso, a principal virtude desse material é que se trata de uma substancia
praticamente inerte, não reage com outras substancias químicas exceto em situações muito
especiais. Esta carência de reatividade permite que sua toxidade seja praticamente nula.
Figuras 03: Base da luminária

O revestimento da luminária compete a filetes de PET cortados manualmente com o


auxílio de uma tesoura, alguns destes (os menos espessos), foram submetidos ao contato com
água em estado de ebulição, o que possibilitou um formato diferenciado aludindo a fios
cacheados. Vale ressaltar que foram cortadas aproximadamente 10 garrafas PET, para se
atingir a quantidade necessária de filetes, no revestimento de uma luminária, representando
unicamente ganhos ambientais.
Figura 04: Filetes de PET Figura 05: Cachos de PET

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A lâmpada utilizada necessita apenas de 15w de potencia, possui uma estimativa de
durabilidade de 1000 horas.

Para a execução do segundo projeto, utilizou-se uma garrafa de 3 litros cortada em suas
extremidades, à parte do gargalo foi cortada para que se encaixasse no fundo da garrafa,
tornando-se assim a base. As duas extremidades do corpo da garrafa foram moldadas através
do calor do ferro de passar, mesmo procedimento utilizado no artefato anterior. Isso possibilitou
o encaixe da base sem a necessidade do auxílio de outra estrutura ou substancia.
Figuras 06: Segunda luminária de mesa

À parte interna da estrutura da luminária, foram encaixados cinco filetes de PET na cor
verde, cortados na altura da estrutura, bem como gargalos de garrafa na mesma cor e
quantidade dos filetes, a possibilidade de encaixar cada uma das peças propiciou um
agradável efeito que agregou valor ao artefato.

Figura 07: Peças recortadas

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Um dos pontos mais relevantes desses produtos, diz respeito ao fato de não terem sido
utilizados nenhum auxílio químico ou poluente que viesse a diminuir o conceito de eficiência
pretendido, muito embora sejam artefatos simples, sua finalização não deixa em nenhum
momento de ser agradável, elegante, e sofisticada.

A escola Carmelita Gomes da Silva, oferece a modalidade de ensino fundamental durante os


turnos da manha, tarde e noite. Contém aproximadamente 1200 alunos, dos quais foram
selecionadas três turmas, sendo duas oitavas e uma sétima série.
Figura 08: Fachada da escola Carmelita Gomes da Silva, São Caetano PE (usado com a permissão de Cavalcante)

A atividade de intervenção consistiu em uma exposição de cases referente a temas como: o


design com suas mudanças e benefícios, meio ambiente, desenvolvimento sustentável,
resíduos sólidos e o processo de reutilização. A explanação e toda a parte expositiva foram
efetuadas em cerca de 60 min.
Figura 09: Atividade expositiva (usado com a permissão de Quaresma)

A atividade expositiva foi sequenciada da amostragem das luminárias desenvolvidas, além do


passo-a-passo, para execução das mesmas pelos alunos.
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A atividade resultou com relevância, no interesse mútuo por partes dos alunos em fazer parte
da confecção dos artefatos, e ampliar desta forma seus conhecimentos a cerca das
possibilidades de reutilização do PET. Despertou ainda, a criação de novas possibilidades de
produção de artefatos e ampla visibilidade, para darem-se outros destinos a esta matéria prima
descartável.
Figuras 10 e 11: Atividade prática, desenvolvimento das luminárias (usado com a permissão de Quaresma)

Considerações finais
O presente trabalho demonstra que é possível amenizar os efeitos do acelerado e crescente
consumo de garrafas PET por meio de técnicas de reaproveitamento aplicadas a diversificados
projetos. A obtenção dos resultados conota com relevância as atitudes de incentivo ao
processo de reutilização, com o único intuito de prolongar a presença do PET útil no contexto
social urbano, principalmente ao que tange os mais diversificados atores sociais, atuantes e
ocupantes das mais diversificadas localidades, dispostos a incorporar métodos inovadores e
propiciadores de um processo sustentável de produção. Com a reutilização viabiliza-se
oportunidades tanto para as comunidades criativas quanto para cada indivíduo que compõe a
então massificada humanidade, de melhorar sua relação com o meio ambiente, sem deixar de
ter lucro e galgar assim um futuro promissor, dentro dos parâmetros necessários para a
sobrevivência com qualidade e equilíbrio. Entre tantos métodos e procedimentos desenvolvidos
para dar a natureza oportunidade de se recuperar, o viés da reutilização é uma das principais
atitudes, para que o consumo não reflita apenas na inutilidade e inconveniência do descarte.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design de Superfícies a partir de resíduos industriais
têxteis (Surfaces design from textile industrial )

ANICET, Anne; Doutoranda em Design; Universidade de Aveiro e Uniritter


anneanicet@hotmail.com

BESSA, Pedro; Doutor em Design; Universidade de Aveiro


pbessa@ua.pt

BROEGA, Cristina; Doutora em Engenharia Têxtil; Universidade do Minho


cbroega@det.uminho.pt

palavras chave: Design de Superfície de Moda, Colagem Têxtil, Sustentabilidade.

O presente resumo faz parte da pesquisa de Doutorado em Design pela Universidade de Aveiro
(Portugal), cujo foco é o desenvolvimento de colagens têxteis como diferencial em design de produtos
sustentáveis.
Para tal, foi realizado um levantamento dos resíduos têxteis existentes no Banco de Vestuário de Caxias
do Sul (Brasil) que são provenientes de 42 indústrias têxteis da região da serra gaúcha. Para que as
colagens têxteis tivessem um cunho sustentável, 20 artesãs pertencentes ao Banco de Vestuário foram
treinadas para executarem as colagens com resíduos têxteis para o desenvolvimento de peças, com
tratamentos de superfícies diferenciados.
O worshop realizado com as artesãs teve muito sucesso devido a destreza que as mesmas já tinham com
trabalhos manuais, que são de extrema importância no desenvolvimento de novos tratamentos de
superfícies cujo objectivo é a inovação no design de novos produtos de moda e de decoração.
A técnica de colagem apreendida pelas artesãs têxteis ao longo do workshop está em produção e em
breve os produtos serão comercializados.

Keywords: Fashion Surface Design, Textile Collage, Sustainability.

This paper is part of a case study conducted within a PhD Research in Design at the University of Aveiro
(Portugal), whose focus is the development of the textile collage technique as a means for sustainable
design.
To prepare this research, a survey was made in the region of Caxias do Sul (Brazil) where a clothing and
textile wastes collecting bank, the Banco de Vestuário, serves 42 textile industries of this region. This work
has the aim of make the effort of some of these communities more sustainable, in this way 20 artisans
associated with the Banco de Vestuário were trained to implement the techniques of collage with textile
waste to the development of fashion garments, with surface design implemented.
A workshop performed with the artisans had a very significant success, resulting in products with high
quality of execution. It was found that the technique was easily understood by the artisans because of the
manual skills they already had, which represents an important step for the sustainability of local
communities.
The collage technique apprehended by textile artisans throughout the workshop is under production and
soon the products will be commercialized.

1. Introdução

Muitos são os desafios que empresas dos dias de hoje se deparam, sejam eles para
acompanhar os grandes avanços da tecnologia, sejam por questões de dimensões simbólicas.
Para tal, a valorização da imagem de marca tem sido fundamental importância para
estabelecer relações diretas com o mercado. Nessa imagem de marca também incluem-se as
preocupações ambientais, na verdade, elas encontram-se de mãos dadas com a qualidade
produtiva, inovação, conforto, grau de acabamentos, entre outros. Para isso, são necessárias
adequações que vão desde as questões produtivas às questões ambientais, o que resulta em
grandes desafios para atender aos requisitos de produtos industriais para os profissionais de
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design, sempre tendo em mente os fatores ambientais em seus projetos.
Na área do design de moda estes desafios não são diferentes. No início do século XXI,
começaram as produções em massa e os primeiros sinais da democratização da moda, mas foi
a partir dos anos 80 que aconteceu a enorme difusão de marcas de moda com etiquetas que
viraram símbolos de status social. Desde essa época, cresce o número de marcas de moda
com esse foco.
Em pouco tempo, a moda tornou-se muito mais rápida e mais acessível ao consumidor que,
por sua vez, virou vítima do marketing excessivo realizado pelas marcas de moda incentivando
o consumo acelerado e, consequentemente, a obsolescência rápida das roupas que em pouco
tempo são consideradas “fora de moda”.
Na contra-mão desta corrente, estão as marcas que se preocupam com o meio ambiente e que
estão agindo de inúmeras formas para preservá-lo. O equilíbrio entre as preocupações com o
meio ambiente e o suprimento das necessidades comerciais e financeiras da empresa não é
uma tarefa fácil, mas alguns designers de moda estão conseguindo destacar-se num mercado
que até a pouco tempo atrás era reverenciado pela agilidade do fast fashion.
Segundo Black (2008, p.17), a moda é repleta de contradições porquê é efêmera e cíclica,
refere-se ao passado mas está sempre a procura do novo, representa uma expressão de uma
identidade pessoal mas ao mesmo tempo busca pertencer a um grupo. Para entender e
conseguir criar um design de moda de acordo com esse pensamento existem algumas
alternativas, sendo algumas delas a customização e utilização de trabalhos artesanais
orientados por designers nos vestuários de moda.
Neste pensamento também se encontra o slow fashion, conhecido como a produção de moda
lenta que prima pela qualidade e durabilidade do produto, o que resulta em produtos mais
sustentáveis. (Livini, 2010) Para tal, a moda ecológica está sendo intensificada com base na
combinação de preocupações com a ecologia e princípios éticos unidos ao conceito de
inovação e alto nível estético. Para isso existem inúmeras ações que estão sendo
desenvolvidas nesse sentido. (Black, 2008, p.17)
Algumas das ações que estão em crescimento na área da moda para agredir menos o meio
ambiente são: uso de coleções confeccionadas com algodão orgânico e tingimentos naturais;
reaproveitamento de roupas usadas na execução de novas; reciclagem de tecidos; brechós;
reaproveitamento de garrafas PET no desenvolvimento de novos tecidos, como por exemplo a
empresa gaúcha Maxitex; e reaproveitamento de resíduos têxteis na concepção de novas
peças, entre outras ações.

2. Reaproveitamento de resíduos têxteis

No mundo capitalista que vivemos, é natural a busca pelo aumento nas produções em série.
Por um lado o avanço tecnológico acarreta pontos positivos gerando lucro para as empresas,
mas por outro o excesso de desperdícios provenientes desses produtos é depositado de forma,
a maior parte das vezes, incorreta no meio ambiente. Ao longo do ciclo de vida do produto,
materiais e energias são despendidas com intensidades diversas nas mais variadas fases do
seu processo. Devido a isso, a redução de refugos e perdas, assim como a correta utilização
da energia necessária para a produção são fundamentais para o desenvolvimento de um
design de produto sustentável.
Uma das grandes questões da atualidade é o reaproveitamento de resíduos industriais. Os
resíduos industriais em geral, e os têxteis em particular, não podem ser descartados como lixo
comum, pois as indústrias que não cumprirem estas normas podem vir a sofrer conseqüências
fiscais graves, além do mau exemplo que seria a falta de consciência ecológica.
Muitas empresas do ramo têxtil (tecelagens, malharias, confecções, etc.) optam por doar seus
resíduos para instituições de caridade. Essas instituições, por sua vez, fazem uso desses
resíduos, frequentemente, no enchimento de almofadas, na fabricação artesanal de cobertores,
tapeçarias, e outros trabalhos (figura 1), mas isso por ser considerada uma solução de baixo
consumo e limitada a apenas alguns produtos. A outra solução é o pagamento para a recolha e
tratamento dos seus resíduos.

Figura 1: Produtos desenvolvidos pelas artesãs do Banco de Vestuário de Caxias do Sul

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A reciclagem de resíduos também é um método bastante utilizado nas empresas para otimizar
a produção e diminuir os impactos ambientais, mas a reciclagem pode não ser considerada
uma ação muito ecológica porquê tende a reduzir a qualidade da matéria-prima ao longo do
tempo nesse processo.
O conceito que vem ganhando importância na busca de um design sustentável é o upcycling,
que significa o reaproveitamento de um material já utilizado ou o resíduo de um produto da
maneira com que foi encontrado, se que seja utilizada a reciclagem no processo. (McDonough
e Braungart, 2002, p.53)
No alinhamento deste raciocínio, esta pesquisa visa utilizar lixos limpos provenientes de
empresas têxteis na criação de novos substratos têxteis através da colagem para realimentar a
indústria da moda – não considerando apenas o setor de vestuário, mas também o de
decoração, entre outras áreas, com a criação de produtos inovadores com maior valor
agregado e com responsabilidade social. Nesse sentido, estão a ser realizadas investigações
sobre as possibilidades expressivas de resíduos têxteis fabris aliadas ao desenvolvimento de
novas tecnologias de construção e/ou reconstrução de tecidos e não-tecidos dentro dos
pressupostos ecológicos.
Neste contexto, uma das tecnologias com grande potencial de utilização é a colagem têxtil, pois
possui inúmeras vantagens, dentre elas por ser um método limpo, não poluente, que não gera
subprodutos, além de ser uma tecnologia nova e de pouca exploração. Essa tecnologia é
bastante similar as entretelas (tecidos ou não-tecidos que possuem uma de suas superfícies
termoadesivada) a qual assenta nos métodos tradicionais de confecção de vestuário.
Acredita-se que os adesivos termocolantes usados nessa pesquisa sejam uma evolução das
entretelas acima citadas.
Esta investigação, em curso, tem como aspectos norteadores e relevantes o design sustentável
enquanto aplicado à reutilização dos resíduos têxteis. Na primeira fase da pesquisa, a recolha
dos resíduos se deu em apenas quatro empresas, sendo uma do setor calçadista, uma de
confecção e duas de malharias retilíneas.
Na fase seguinte da pesquisa, optou-se pela recolha dos resíduos no Banco de Vestuário de
Caxias do Sul, entidade que recebe diariamente um número considerável de resíduos têxteis
provenientes de diversas empresas do ramos localizadas na região de Caxias do Sul, cidade
localizada na região Sul do Brasil. Em menos de dois anos de existência, o Banco de Vestuário
já recebeu mais de 44 toneladas de resíduos têxteis provenientes de 42 empresas têxteis da
região da serra gaúcha, e conseguiu redirecionar mais de 22 toneladas desses resíduos em
130 entidades previamente cadastradas. A figura 2 mostra uma pequena parte dos resíduos
frequentemente descartados.

Figura 2: Resíduos têxteis descartados no Banco de Vestuário de Caxias do Sul

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Depois dos primeiros levantamentos sobre os resíduos industriais têxteis encontrados nas
principais indústrias do setor, fizeram-se testes sobre os resíduos já coletados de forma a
selecionar os que melhor se adequavam à técnica da termocolagem.
Na fase seguinte, foram criados novos produtos e realizados treinamentos de comunidades
carentes com vistas às questões sociais que fazem parte de um design sustentável, e por fim, a
comercialização desses produtos. (Manzini e Vezzoli, 2008)
Devido a isto, a presente pesquisa tem grande importância no desenvolvimento de novas
texturas têxteis na busca de novas visualidades para o design de produtos de moda e de
decoração na busca por produtos sustentáveis. A utilização de filmes termocolantes nesse foco
e no design de superfície oferecem vantagens reais, como em poucos segundos se ter pronto
um efeito de superfície têxtil novo, proporcionando o desenvolvimento de produtos
diferenciados no mercado, a custos acessíveis, sem poluição e com aproveitamento de
resíduos.

3. Colagens Têxteis

Com este pensamento, a presente pesquisa visa o reaproveitamento de lixos limpos das
empresas têxteis na criação de novos substratos têxteis através da colagem para realimentar a
indústria da moda com a criação de produtos inovadores com maior valor acrescentado e com
a responsabilidade social, tanto no setor de vestuário, quanto no de decoração, além de ser
uma tecnologia pouco explorada e nova.
Além de ser uma tecnologia nova e pouco explorada, a colagem têxtil possui vantagens tanto
de ordem estética, quanto por ser um método limpo, que não gera subprodutos, e não é
poluente. Esse tipo de tecnologia é comumente usado em confecções de vestuários com a
utilização de entretelas, como mencionado anteriormente. As entretelas comumente usadas
tem como objetivo de dar maior rigidez à determinadas partes da peça, como por exemplo
golas, punhos e lapelas. Elas são compostas por superfícies têxteis recobertas por
termocolantes que aderem aos tecidos por termoindução, em determinadas condições de calor,
tempo e pressão. A colagem realizada com as entretelas comuns podem ser aderidas nas
peças através ferro de passar roupa ou prensa térmica, dependendo do tipo de tecido que
estão a trabalhar.
Os adesivos termocolantes utilizados na presente pesquisa, por sua vez, podem ser
encontrados sob três formas: web, net e filmes. Esses adesivos possuem a propriedade de
amolecerem quando expostos à determinada temperatura, tempo de exposição e pressão por
serem adesivos termoplásticos, variando estas de acordo com as características das matérias-
primas e termocolantes usados.
Os adesivos termocolantes possuem estruturas moleculares que se modificam com a elevação
da temperatura, rearranjando-se assim numa nova estrutura. Com isso, é possível modelar
superfícies têxteis, como por exemplo efeitos de drapeados e plissados que se tornam
permanentes quando a peça é resfriada, e suas propriedades físicas iniciais são mantidas. As
características dessas colagens não se modificam desde que a peça não seja reaquecida com
temperatura igual ou superior à da fixação.

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Os adesivos termocolantes possuem grandes vantagens por serem 100% sólidos e isentos de
solventes, o que garante a não poluição do meio ambiente quando expostos ao calor. Outra
grande vantagem é a aplicação uniforme de quantidades bastante reduzidas de adesivo,
permitindo assim uma laminação sem bolsas de ar, além de poder ser cortado em vários
ângulos porque não possui urdume, nem trama, o que torna um melhor aproveitamento do
material.
Além das vantagens acima citadas, os adesivos termocolantes não necessitam de nenhum tipo
de pré-tratamento e resguarda as características de maciez, permeabilidade e flexibilidade dos
tecidos, e possui resistência ao uso e às lavagens.
(Rüthschilling & Anicet, 2006)

4. Desenvolvimento de produtos

Na primeira fase da pesquisa foram recolhidos os resíduos de quatro empresas, entre elas uma
do setor do calçado, uma de confecção de vestuário e duas malharias retilíneas, que
resultaram em produtos que, posteriormente, foram apresentados na Bienal Brasileira de
Design 2010, realizada em Curitiba. (Bienal Brasileira de Design, 2010, p.121)
Alguns dos produtos desenvolvidos nesta fase foram bolsas e carteiras femininas (figura 3) que
tiveram suas texturas criadas através de colagens com misturas de plástico, gotas siliconadas
e resíduos de confecção (fios e tecidos). Para tal, foram criadas algumas texturas com efeitos
similares, mas com estéticas diferentes. Uma das peculiaridades dessa técnica é que as peças
colocadas em produção podem ficar parecidas, mas nunca iguais porque é uma técnica que
mescla o fazer manual com o industrial com a utilização de prensa térmica industrial. As
colagens da figura 3 foram executadas com adesivo termocolante sob a forma web com 30
g/m², fixados à temperatura de 160ºC e pressão de 5 N/cm², durante 40 segundos.

Figura 3: Bolsas e carteiras desenvolvidas com a tecnologia da colagem

Além de bolsas e carteiras, nesta primeira fase da pesquisa também foram desenvolvidas
inúmeros modelos de roupas com superfícies coladas com fios de malharias retilíneas.
A segunda fase da pesquisa teve apoio do Banco de Vestuário de Caxias do Sul ao ceder os
resíduos para o desenvolvimento de novos produtos para o design de moda. Nessa fase,
primeiramente foram recolhidos para a testagem e criação de novos produtos colados para re-
alimentar a indústria da moda.
Um tipo de design de superfície explorado através dos resíduos é a reutilização de ourelas de
malhas de algodão com a colagem de fios siliconados. Esta técnica pode ser utilizada na
criação de objetos de decoração, tais como tapetes e trilhos de mesa, com podemos observar
nas figuras 4 e 5, respectivamente. Esta colagem têxtil foi desenvolvida inicialmente somente
com os fios siliconados e, posteriormente, com adesivo termocolante sob a forma web com 25
g/m², à temperatura de 150ºC, e pressão de 5 N/cm², durante 50 segundos, para a colagem de
um tecido de sarja de algodão como base.

Figuras 4 e 5: Tapete e trilho de mesa criado com ourelas de algodão e fios siliconados

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Posteriormente, foi realizado um workshop para o treinamento de 20 artesãs previamente
cadastradas no Banco de Vestuário para que as mesmas pudessem reproduzir os modelos
colados para que mais tarde pudessem ser aplicados em roupas. As peças usadas como
modelos a serem seguidos no worshop foram punhos, golas e tiras. (Figuras 6, 7, 8 e 9)

Figuras 6, 7, 8 e 9: Colagens desenvolvidas pelas artesãs para posterior aplicação em vestuário de moda

Um dos objetivos desta pesquisa é alcançar o equilíbrio entre o eixo tecnológico e o eixo
cultural trabalhando-os de forma efetiva, tanto através do desenvolvimento da tecnologia da
colagem têxtil, quanto através do treinamento de artesãs e trabalhadoras locais para que elas
tenham condições de ter uma renda melhor, convergindo numa solução de design sustentável.
As peças apresentadas na segunda fase do presente artigo ainda estão em fase de
prototipagem, mas pretende-se colocá-las em breve em linha de produção, a qual parte da
colagem têxtil será realizada pelas artesãs do Banco de Vestuário de Caxias do Sul.

Reflexão Final

Tendo o design um papel fundamental na sociedade contemporânea, a responsabilidade social


dos designers na criação, desenvolvimento e colocação de um novo produto no mercado são
apenas alguns dos seus grandes desafios do mercado atual, pois a cada novo produto existe
um novo problema de descarte e poluição do meio ambiente.
Devido a isso, a presente pesquisa se torna importante devido ao desenvolvimento de novas
texturas têxteis na busca de novas visualidades para o design de produtos de moda e de
decoração na busca por produtos sustentáveis. O uso de filmes termocolantes nesse foco e no
design de superfície oferecem vantagens reais, como em poucos segundos se ter pronto um
efeito de superfície têxtil novo, proporcionando o desenvolvimento de produtos diferenciados
no mercado, a baixo custo, sem poluição e com aproveitamento de resíduos.
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A presente pesquisa ainda está em curso e novos produtos estão em constante
desenvolvimento com o intuito de criar produtos com novas visualidades, além de manter a
parceria tanto com o Banco de Vestuário de Caxias do Sul, quanto com as artesãs que são
fundamentais nesse processo.

Referências

ANICET, A.; BESSA, P; BROEGA, C. (2010) Reciclagem de resíduos da indústria da moda


através de colagem. In Anais do VI Colóquio de Moda. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2010.
Bienal Brasileira de Design. Curadoria de Adélia Borges. Curitiba: Centro de Design Paraná.
BLACK, S. Eco-Chic: The Fashion Paradox. London: Black Dog Publishing, 2008.
LIVNI, A.; SCUDER, F. (2010) Manifesto Moda Lenta. In: Ana Livni.
(http://analivni.com/AnaLivni-MODAlenta-SLOWfashion/filosofia.html.
MCDONOUGH, W.; BRAUNGART, M. (2002) Cradle to cradle: remaking the way we make
things. New York: North Point Press.
MANZINI, E.; VEZZOLI, C. (2002) O desenvolvimento de produtos sustentáveis : os requisitos
ambientais dos produtos industriais. EDUSP /Editora da Universidade de São Paulo.
RÜTHSCHILLING, E.; ANICET, A. (2006) Design de superfície em 3 dimensões aplicado à
moda. In: XXII CNTT Congresso Nacional de Têxteis Técnicos. Pernambuco.

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A indústria gráfica e o meio ambiente: aspectos e impactos
ambientais relacionados ao desenvolvimento de produtos
gráficos (The graphic industry and the environment:
environmental aspects and impacts associated to
developing products in graphic design)

STAUDT, Daiana; Mestre; Universidade Feevale, Brasil


daiana@feevale.br

palavras chave: design; produção gráfica; projetos sustentáveis.

A necessidade de controle das emissões atmosféricas e da geração de resíduos sólidos e efluentes nos
processos produtivos faz com que muitas empresas adotem diversas ferramentas e metodologias visando
à diminuição do impacto ao meio ambiente. Baseado em coleta bibliográfica e documental, e pesquisa de
campo em instalações industriais, o presente artigo aborda os principais sistemas de impressão e
acabamentos que contemplam a indústria gráfica, considerando sua interação com o meio ambiente,
através dos aspectos e possíveis impactos ambientais relacionados aos diferentes processos. Os dados
servem de subsídio para ações que visem à diminuição do impacto ambiental na indústria, bem como o
desenvolvimento de projetos gráficos mais sustentáveis, considerando a escolha de formatos, substratos
e os meios de produção/impressão e acabamentos.

keywords: first; second; third. Keywords: design; graphic production; sustainable projects.

The need of controlling atmospheric emissions, solid waste and effluents production on industrial
processes has stimulated many industries to adopt many different methods for the development of
sustainable products. Based on literature and documents collection, and field research in industrial
facilities, this article presents the main printing systems and finishes that include the printing industry,
considering its interaction with the environmental at different process. The information provided for the
actions aimed at reducing environmental impact in the industry and development of graphics projects more
sustainable, considering the choice of formats, substrates and means of production/printing and finishing
process.

1 Introdução

Pode-se afirmar que, atualmente, a maior parcela de emissões de gases de efeito estufa e
substâncias tóxicas resultam de atividades industriais em todo o mundo. Fazendo um breve
resgate acerca do surgimento dos principais problemas ambientais em escala industrial, ao
longo da história, pode-se afirmar que a Revolução Industrial foi o marco da intensificação dos
problemas ambientais e, segundo Barbieri (2007), foi responsável pelo aumento da degradação
ambiental, pois trouxe o avanço de técnicas produtivas intensivas em materiais e energia para
atender aos mercados de grandes dimensões. Importante destacar que, durante as décadas
de 1960/70, as chaminés industriais expelindo fumaça eram um sinônimo de desenvolvimento
e progresso.
Segundo Soares (2001) e Séguin (2006), durante muitos anos, havia um entendimento por
parte da sociedade e da indústria de que a natureza conseguiria absorver infinitamente os
materiais tóxicos lançados ao meio ambiente e o equilíbrio natural seria mantido de maneira
automática.
Mas, a escala de exploração dos recursos naturais bem como a geração de resíduos cresceu
de tal modo que, na década de 80, sociedade e indústria começaram a questionar a ameaça à
subsistência das presentes e futuras gerações. Foi a partir do Relatório Brundtland (1987),
publicado com o título ‘Nosso futuro comum’, que iniciou-se uma nova fase de relação entre o
meio ambiente e o desenvolvimento, através do conceito de ‘Desenvolvimento Sustentável’,
sendo ‘aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de
as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades’ (Comissão Mundial sobre o Meio
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Ambiente, p. 46, 1988).
Kazazian (2005, p. 36) conceitua o desenvolvimento de produtos sustentáveis como:
[...] uma abordagem que consiste em reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo em que
conserva sua qualidade de uso (funcionalidade, desempenho), para melhorar a qualidade de vida dos
usuários de hoje e de amanhã. [...] Uma abordagem global que exige uma nova maneira de conceber.
Assim, conforme Gomez e Braun (2007), o design surge como peça-chave para alcançar um
modelo de desenvolvimento mais sustentável, através do uso de matérias-primas renováveis e
processos de produção menos impactantes ao meio ambiente, aplicados ao desenvolvimento
de produtos e sistemas gráficos.
Em se tratando do design gráfico, o profissional precisa ter conhecimento não só dos
elementos que compõem a linguagem visual do projeto (a natureza das imagens, tipografia,
identidade, cores), e o designer passa a assumir um papel importante também no processo
produtivo, adquirindo novas responsabilidades e decisões em relação à escolha do formato,
suporte e os meios de produção/impressão e acabamentos.
É na etapa de produção industrial, onde entra a indústria gráfica. Segundo a Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB (2007), esta é responsável pela produção,
impressão e acabamentos de projetos gráficos de jornais, rótulos/etiquetas, periódicos/revistas,
formulários, livros, envelopes, embalagens cartonadas e flexíveis, calendários, transfers,
material de sinalização, material promocional, entre outros. E a produção destes diferentes
materiais gráficos apresenta relação com o meio ambiente, através da geração de resíduos
sólidos (restos embalagens, papel, plásticos e pós-impressão), efluentes líquidos, emissões
atmosféricas, ruídos e vibrações decorrentes dos processos (CETESB, 2007).
O presente artigo aborda dados acerca dos principais sistemas de impressão e acabamentos
que contemplam a indústria gráfica, identificando entradas (matérias-primas, insumos, recursos
naturais, energéticos) e saídas (geração de resíduos sólidos, efluentes e emissões
atmosféricas) relacionadas às diferentes etapas de produtivas do segmento, visando
potencializar aspectos ambientais significativos e possíveis impactos associados.
A metodologia é baseada em coleta bibliográfica e documental acerca do tema e compilação
de dados estatísticos. Realizaram-se também observações diretas em instalações industriais,
com entrevistas abertas e não estruturadas (por conversação) e aplicação de questionários via
formato eletrônico com técnicos responsáveis pelas atividades produtivas, observando critérios
técnicos e ambientais sugeridos por autores do âmbito ambiental organizacional, legislação
ambiental e normatizações da ABNT ISO 14001:2004, que trata dos requisitos e orientações
para implementação e uso dos Sistemas de Gestão Ambiental.
Os dados aqui tratados servem de subsídio para concepção e desenvolvimento de projetos
gráficos de forma mais sustentável, através da escolha de recursos de baixo impacto
ambiental, minimização de materiais, redução de perdas e, consequentemente, visando à
redução de impactos gerados pela indústria gráfica.

2 A indústria gráfica

Segundo a CETESB (2007), a indústria gráfica é muito diversificada e atende a diversos


setores da economia como serviços públicos, financeiros, publicitários, editorais, prestadores
de serviços e a indústria de manufatura. Dados do Estudo Setorial da Indústria Gráfica no
Brasil, realizado pelo SEBRAE, e da Associação Brasileira da Indústria Gráfica - ABIGRAF
(Agência SEBRAE de Notícias, 2009), demonstram que a receita bruta do setor cresceu no
Brasil cerca de 9,6% entre 2006 e 2008. Os impressos editoriais tiveram uma participação de
31% no crescimento das receitas, sendo considerados os produtos e serviços que mais
contribuíram para o seu crescimento. Os impressos promocionais e comerciais ficaram com
30%; as embalagens, com 28%.
As etapas de produção industrial encontram-se entre o projeto gráfico e o produto final.
Conforme Fuentes (2006), a indústria gráfica está estruturada em seu setor de produção em,
basicamente, três setores principais: pré-impressão, impressão e acabamentos.

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Na etapa de pré-impressão, conforme Figueiredo et al (2000) é feita a preparação da imagem e
sua reprodução para uma película que poderá ser uma matriz ou chapa (offset); tela
(serigrafia), borracha (flexografia), ou seja, o tipo de película depende do tipo de processo. Esta
etapa contempla, ainda, a produção de facas especiais para corte.
De acordo com Fuentes (2006, p. 91):
A área denominada pré-impressão tende a desaparecer. O surgimento do mercado de sistemas de
escaneamento de alto rendimento e cada vez mais baixo custo, a fotografia digital, os processos de
impressão offset, o CTP - Computer to Plate (processo direto do computador para a chapa), além do
importante impulso que estão recebendo os sistema de impressão digital em larga escala, continuam
mudando radicalmente o sentido e habilidades que o mercado exige dos designers gráficos no campo
tecnológico.
A etapa da impressão, para Ambrose e Harris (2009) e Villas-Boas (2008), consiste na
transferência de pigmentos da película para o suporte. Estes pigmentos poderão ser tanto sob
forma líquida, como pastosa, em pó, ou gelatinosa e, a partir de suas características, serão
empregados na forma de tinta, tonner, fita ou filme, de acordo com o processo.
Os sistemas de impressão por ordem de mercado, segundo o Manual Técnico-Ambiental da
Indústria Gráfica (SINDIGRAF/RS, 2006, p. 9), são: offset, flexografia, serigrafia e tipografia.
Cada sistema possui um processo diferenciado, em função do método utilizado para
transferência da imagem e do tipo de película que receberá a imagem a ser reproduzida. A
partir daí, as imagens poderão ser transferidas para o suporte/substrato de forma direta ou
indireta.
O suporte, segundo Villas-Boas (2008, p. 15), consiste na superfície que receberá a
transferência da imagem e esta poderá ser tanto em papel, como plástico, madeira, metal,
tecido, etc. Dados do Estudo Setorial da Indústria Gráfica no Brasil (Agência SEBRAE de
Notícias, 2009) apontam que o consumo do papel acompanhou a expansão do setor gráfico,
aumentando em 9% entre 2006 e 2008, equivalendo a 6,5 milhões de toneladas.
A etapa de pós-impressão ou acabamento, segundo Lima (2004), é considerada o processo de
finalização do processo ou aprimoramento do aspecto final e/ou tátil, servindo muitas vezes
como proteção ao material. O acabamento contempla desde o uso de guilhotina para corte e
refile, vinco e dobra, costura, encadernação ou cortes especiais. Existem, também,
acabamentos como os revestimentos plásticos (plastificação), relevo a seco, hot stamping,
vernizes, entre outros, que em função do seu alto custo, são utilizados somente em alguns
casos para conferir efeitos especiais ao material.
Sobre a questão ambiental em relação ao setor gráfico, um aspecto interessante levantado
pelo estudo realizado pelo SEBRAE e ABIGRAF (Agência SEBRAE de Notícias, 2009) é que
apenas 7% das empresas prestadores de serviços gráficos possuem certificações ISO 14000 e
83% dos responsáveis por estas empresas afirmam que não possuem interesse para a
obtenção desta certificação. As normas ISO são consideradas normas internacionais e, no
Brasil, são representadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Segundo
Braga et al (2005), as normas da ISO 14000, além de abordar os sistemas de Gestão
Ambiental, tratam das Diretrizes para Auditoria Ambiental, Avaliação de Desempenho
Ambiental, Avaliação de Ciclo de Vida dos Produtos, Rotulagem, Ambiental e Aspectos
Ambientais em normas de produtos. Segundo a Norma ISO 14001:2004 (ABNT, 2004), toda
organização deve implementar, manter e controlar seus procedimentos para identificação dos
aspectos ambientais de suas atividades produtos ou serviços, dentro do seu escopo de seu
Sistema de Gestão Ambiental (SGA), determinando os aspectos que possam ter impacto
significativo sobre o meio ambiente.

3 Processos de impressão e acabamentos

Os processos de impressão e os acabamentos, segundo Fuentes (2006, p. 98), conferem a


forma final e definitiva ao projeto e devem ser considerados desde a sua concepção até a sua
fase final. Os processos gráficos analisados foram baseados nos principais empregados no
mercado e de acordo com a acessibilidade às informações necessárias, através de pesquisa
bibliográfica e documental e visitas com observações sistemáticas nas instalações produtivas.
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Foram considerados, portanto, os processos de offset, flexografia, serigrafia e hot stamping e
acabamentos básicos como corte/refile, vinco/dobra, plastificação, aplicação de verniz e corte
especial.

3.1 Impressão offset


O processo de impressão offset, segundo Villas-Boas (2008), é um dos mais empregados
desde o século 20. O sistema é planográfico, ou seja, possui uma matriz plana, onde as áreas
de grafismo (imagem) desta matriz de impressão são preparadas para possuir repulsão água e
tinta. A impressão offset pode ser aplicada em diferentes substratos como papel, plásticos
(PVC, PP), laminados e folha de flandres, sendo indicado para baixas e médias tiragens (de
1000 a 100 mil impressões).
Na etapa de pré-impressão é feita a preparação da imagem e sua reprodução para a chapa de
impressão. Segundo dados do SENAI (2001), a cópia da chapa é baseada em princípios
fotomecânicos ou através dos sistemas CtP (computer to plate) e CtPress (computer to press),
onde os dados do arquivo são armazenados diretamente na impressora que grava as chapas,
dispensando, assim, o uso de fotolitos.
Nos processos fotomecânicos, a chapa de alumínio recebe o fotolito, que consiste em uma
lâmina transparente com a imagem gravada pelo processo fotográfico. A chapa é exposta sobre
luzes ultravioletas e é submetida a banhos para sua revelação. Esses banhos contêm soluções
ácidas e alcalinas, solventes e, em alguns casos, até a presença de metais pesados. Após a
revelação das chapas, é feita uma lavagem com água para remoção dos resíduos de sua
superfície. O revelador dissolve a área exposta à luz, permanecendo, assim, somente a área
do grafismo na chapa.
Segundo Villas-Boas (2008), no CtP (computer to plate), as chapas são gravadas diretamente
por meio de um laser controlado por um computador, dispensando o uso de fotolitos. Estas,
porém, necessitam de banhos químicos para revelação. O CtPress (computer to press) é
conhecido também como um sistema de impressão digital de chapas ou também denominado
offset digital, e o equipamento para gravação das chapas está embutido na própria impressora.
A partir da gravação da imagem na chapa metálica, esta é inserida na impressora offset.
Conforme dados do SENAI (2001), as impressoras offset podem ser rotativas (com alimentação
através de bobinas e empregada no ramo editorial) e planas (que utilizam folhas planas).
As chapas são entintadas (cada matriz recebe uma cor) e transferidas para um cilindro
intermediário, também chamado de blanqueta, que, por meio deste, é transferido para o papel.
A secagem das tintas é quase que instantânea e ocorre logo após a absorção pelo substrato,
porém, faz-se necessário a utilização de lâmpadas UV ou outro processo para liberação de
calor. Domingues et al (2006) explicam que as tintas para impressão offset são mais resistentes
à água e seus pigmentos não se dissolvem facilmente na própria água ou no álcool.
Conforme Ollandezos e Borges Leal (2007), as principais matérias-primas utilizadas no
processo offset são tintas e substratos (papel, papelão, plástico); insumos utilizados para
revelação de filmes (reveladores, fixadores), chapas, substâncias utilizadas para preparação
das formas, soluções e solventes utilizados durante a impressão e subprodutos como produtos
químicos, aparas de papel, materiais plásticos, chapas de alumínio, filmes, etc.

3.2 Flexografia
A impressão flexográfica, segundo o Manual Técnico Ambiental da Indústria Gráfica
(SINDIGRAF/RS, 2006, p.11), consiste em um processo de impressão que utiliza uma matriz
flexível e cilíndrica, de borracha ou material polimérico, sob forma de clichês de fotopolímeros
gravados através de um processo fotoquímico, ou seja, com uso de substâncias químicas e
exposição à luz. Este clichê é preso a um cilindro que, uma vez entintado, transfere a tinta,
imprimindo diretamente sobre o suporte que poderá ser papel, papelão, plástico, vidro, metal.
Conforme Villas-Boas (2008), uma das principais vantagens da flexografia é que o maquinário
realiza as etapas de acabamento, como laminação, plastificação, corte, dobra ou colagem. Um
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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exemplo é a fabricação de sacolas plásticas de supermercado, onde além da impressão sob o
material plástico, faz a etapa de moldagem, soldagem e a preparação dos fardos. O processo é
indicado para médias e altas tiragens (30.000 a 1 milhão de impressões), podendo, assim, ser
utilizada para impressão de embalagens, etiquetas, rótulos, sacarias, jornais, sacolas,
corrugados, etc.

As tintas utilizadas na impressão flexográfica são muito mais fluidas, viscosas e com secagem
rápida. São constituídas por pigmentos ou simplesmente corantes solúveis, normalmente à
base de água, álcool ou outro tipo de solventes. Os novos processos flexográficos já utilizam
tintas UV, consideradas mais fluidas e voláteis, reagindo rapidamente sob a radiação
ultravioleta, secando quase que instantaneamente.

3.3 Serigrafia
O processo serigráfico é um sistema de impressão direta que consiste basicamente em cobrir a
área que receberá a impressão com uma tela (matriz), normalmente feita de seda, nylon ou
poliéster, onde são gravadas as imagens a serem impressas.
Conforme Gallon, Giacomolli e Rödel (2006), a tinta é vazada pela pressão de um rodo ou
puxador através desta tela conferindo a imagem desejada. Os pontos escuros da matriz ficam
vazados nesta tela e os pontos claros são impermeabilizados por emulsão fotossensível ou
película recortada. Após a aplicação da tinta é feita a secagem da peça que poderá ser feita de
forma manual ou mecânica. Segundo Costa (2006), a serigrafia é aplicada tanto para
substratos em plástico, como vidro e metal, sobre superfícies planas e curvas, em diversos
formato e tamanhos e em diferentes espessuras de camada de tinta (alto relevo).
Hoje, com as tecnologias voltadas para este tipo de impressão, as máquinas são
automatizadas regulando pressão/inclinação e velocidade dos rodos, sistemas automáticos de
registro, estufas, secadoras, etc. (Oliveira, 2007).
Para Martines (2006), os principais insumos e componentes de um processo serigráfico são: a
matriz, que tem como função deixar livre para passagem de tinta, os espaços correspondentes
à imagem que deverá ser impressa, e vedar, impedindo a passagem de tinta, a área restante; o
rodo, que é uma espécie de peça de madeira e borracha que empurra a tinta de uma
extremidade para outras da matriz; as emulsões, que são utilizadas para barrar a passagem da
tinta para a tela de impressão. Sua escolha dependerá da resistência dos solventes presentes
nas tintas; e a tinta, que, basicamente, é a partir de uma composição de diversos produtos
químicos. A mistura pode ser dividida em: óleo ou resina, pigmento (corantes) e produtos
químicos que evitarão reações químicas indesejáveis. A tinta de serigrafia é, normalmente, de
secagem à base óleo e utilizam solventes.

3.4 Acabamentos
Os acabamentos são aplicados na etapa de pós-impressão. Segundo Oliveira (2000), a
plastificação consiste em uma aplicação de película plástica brilhante ou fosca, transferida a
partir de calor e pressão sobre o material. A película pode-se ser em PVC, cada vez menos
utilizada, ou o sistema de laminação BOPP (polipropileno biorientado), que confere brilho e
proteção ao impresso. Papeis com gramatura inferior a 180 g/m² não são aconselhados para
este processo.
Os vernizes visam destacar um determinado elemento no layout, proporcionando uma
aparência de brilho, lisura e avivamento das cores, além de aumentarem a resistência abrasiva
e ao calor. Os principais tipos de vernizes são: verniz de máquina ou offset (que consiste numa
impressão adicional aplicado pela própria máquina de impressão); verniz de alto brilho (é
aplicado por máquina especial, sendo muitas vezes terceirizado); verniz U.V (exige
equipamento apropriado, com matriz em nylonprint e estufa de luz ultravioleta. Este verniz
possibilita também a aplicação sobreposta somente sobre alguns elementos, dando-lhes
destaques, chamado verniz localizado).
O corte/vincagem é realizado com uma guilhotina com tamanho programado, onde as folhas de
papel passam por equipamentos chamados “vincadeiras” para corte na dimensão especificada

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e são formados os vincos das dobras.
Cortes especiais são feitos através de um gabarito com o desenho em seu formato aberto. As
facas especiais consistem em lâminas especificas, geralmente de aço afixadas em uma chapa
de madeira, A faca de corte, através de pressão realiza o corte desejado. As facas especiais
são confeccionadas através de montagem manual ou a laser

3.4.1 Hot Stamping


O processo de hot stamping, conforme Villas-Boas (2008), consiste em uma estampagem a
quente, Possui maquinário próprio e sua aparência é metálica (dourada, prateada) tanto em
brilho como textura. O hot stamping apresenta uma matriz a traço com um clichê de metal ou
fotopolímero, que transfere a imagem para a peça, através de calor e pressão. Os pigmentos
estão presentes em uma fita descartável que, com o calor e pressão, aderem ao substrato.
Segundo Sant'Anna (2005), as fitas pigmentadas são feitas de poliéster, matéria-prima sobre a
qual se aplicam ainda as camadas: transportadora; libertadora (fina camada que permite
liberação seletiva de película decorativa sob calor e pressão); secante (que serve como
proteção da película após estampagem a quente); decorativa (que será em alumínio ou outro
metal); e adesiva (específica para cada tipo de plástico, de forma a dar a máxima adesão após
decoração).

4 A interação dos processos gráficos com o meio ambiente

Nos processos de impressão offset, serigrafia e flexografia, os principais aspectos ambientais


estão relacionados ao consumo de água para lavagem de máquinas e equipamentos, e
consumo de energia (para maquinário), presentes em quase todas as etapas do processo. A
água também é utilizada em soluções de molha, tanques de lavagem de telas, rolarias e peças
e limpeza de máquinas. Em alguns casos, cada tanque utiliza água limpa que deverá ser
trocada constantemente e esta, após utilizada, fica contaminada, podendo conter fosfatos
(PO4), hidrocarbonetos (HC) e metais pesados, que sem o devido tratamento podem causar a
alta demanda química de oxigênio (DQO) e eutrofização dos corpos d’água, além de riscos à
saúde humana.
Nos processos onde ocorre o processamento da imagem para a matriz/chapa, há geração de
efluentes líquidos com reveladores, fixadores, prata, solventes, soluções ácidas, alcalinas,
lacas e metais pesados. Os efluentes líquidos gerados no processo de lavagem das máquinas,
chapas, rolos são compostos por PO4, HC e metais pesados, responsáveis pela alta demanda
química de oxigênio (DQO) e eutrofização dos corpos d’água sem o devido tratamento.
As emissões atmosféricas também estão presentes nos processos e tem efeito crítico ao meio
ambiente, pois uma vez lançadas no ar, não são passíveis de tratamento. O uso de solventes
para diluição de tintas e limpeza de equipamentos gera emissões responsáveis pelos efeitos
fotoquímicos (CO, NOx, SO2, VOC's), acidificação (NOx, SO2, VOC’s) e aquecimento global
(CO2, CO).
A evaporação das tintas e solventes são potenciais geradores de emissões de Compostos
Orgânicos Voláteis (VOC’s) e outras emissões atmosféricas, que podem causar sérios
problemas à saúde humana e também contribuir para impactos regionais e globais, quando em
grande quantidade. Segundo Domingues et al (2007), as tintas base álcool ou base petróleo
geralmente são utilizadas com mais frequência, pois secam por evaporação. Estas emitem
30% mais compostos orgânicos voláteis em relação às outras tintas.
Conforme a Normatização de Classificação de Resíduos Sólidos - NBR 10004/87, resíduos
como filmes usados, restos de tinta/verniz, lâmpadas UV queimadas, latas de tinta,
panos/estopas e telas contaminados com tinta, solventes, óleos lubrificantes são considerados
Classe I – Perigosos e, sem a destinação e tratamento corretos, acarretam a contaminação do
solo e lençóis freáticos. Portanto, precisam ser encaminhados para estações de
destinação/tratamento e licenciadas.
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Resíduos como papelão e plástico, tubetes que comportam a bobinas de papel e chapas de
alumínio são classificados como classe II e destinados a empresas recicladoras. Os
acabamentos de refile e corte especial geram perdas de processo (rebarbas de plástico ou
papelão) que também costumam ser encaminhados para a reciclagem.
Além dos aspectos analisados, existe também a geração de ruídos e vibrações, através do
maquinário presente em todo o processo, desde impressoras, dobradeiras e vincadeiras.
No processo de hot stamping, o principal resíduo gerado e em maior quantidade é considerado
classe I – perigoso, segundo NBR 10004/87. Trata-se da fita de hot stamping, fabricada em
poliéster, com uma fina camada pigmentada. Esta fita, após utilizada na estampagem a quente,
não pode ser reciclada pois está contaminada e deve ser destinada corretamente.

5 Design gráfico sustentável

Conforme Kettles (2008) observa-se que mais de 80% do impacto ambiental de um produto é
definido no estágio de design. Segundo Papanek (1977), o profissional responsável pelo
desenvolvimento de todos os produtos industriais consumidos pela sociedade, neste caso,
conceituado como designer, deve utilizar de ferramentas para reduzir o uso de matérias-primas
e de recursos naturais, minimizando, assim, a pressão sobre a natureza.
As principais linhas-guia para integração de requisitos ambientais no desenvolvimento de
produtos e serviços são apresentadas por Manzini e Vezzoli (2005), e envolvem a minimização
de recursos no processo produtivo, reduzindo o uso de materiais e de energia; utilização de
recursos e processos de baixo impacto ambiental, seleção de materiais, processos e fontes
energéticas de maior eco compatibilidade; otimização da vida dos produtos, estendendo a vida
dos materiais empregados, valorizando a reaplicação e reciclagem dos materiais descartados;
facilitação da desmontagem, com a separação dos componentes e dos materiais e redução de
riscos crônicos, através de processos mais limpos, evitando substâncias tóxicas e perigosas.
O design sustentável, segundo Gomez e Braun (2007), deve considerar o ciclo de vida dos
produtos e serviços, controlando o uso dos materiais e técnicas de produção, em todas as
fases do desenvolvimento projetual. Devem ser analisadas as possíveis implicações ambientais
ligadas a cada fase do processo, incluindo a comunicação visual do produto/serviço, buscando,
assim, diminuir os efeitos negativos para o ambiente e contribuindo para o desenvolvimento
econômico e sustentável.
O papel do designer frente ao desenvolvimento sustentável é de propor melhorias não só na
concepção do projeto, mas também nos processos, procedimentos operacionais e na escolha e
aquisição dos materiais, optando pela reutilização e reciclagem dos materiais e insumos não só
dentro, mas também fora do processo, e comunicando a melhor maneira de tratar e dispor
adequadamente os resíduos gerados. Os impactos ambientais nos processos de produção
gráfica podem ser reduzidos, projetando materiais com um melhor aproveitamento, evitando a
geração de refugos no processo de corte e optando, preferencialmente, pela utilização de
apenas um tipo de substrato.
As tintas com base solvente aderem a todos os substratos, porém são tóxicas, emitindo
compostos orgânicos voláteis. Segundo o Manual Técnico Ambiental para a Indústria Gráfica
(SINDIGRAF/RS, 2006) e Domingues et al (2006), pode-se optar por soluções menos
agressiva ao meio ambiente, através do uso de tintas isentas de metais pesados, sendo à
base de óleo de soja ou de linhaça, milho, canola. Estas, já são utilizadas na impressão de
materiais gráficos de papel, apresentando um bom comportamento sobre papeis reciclados,
porém, exigindo um tempo maior de secagem. Também podem ser utilizadas tintas à base
d’água, que não utilizam solventes para sua diluição.
Segundo Domingues et al (2006), as tintas à base d’água são consideradas mais econômicas e
secam por evaporação e absorção, porém, são mais indicadas para impressões em papel e
com qualidade de impressão limitada, pois secam lentamente e não são aplicáveis em
substratos plásticos. Outro aspecto importante é que o solvente aquoso quando evaporado não
emite compostos orgânicos voláteis, evitando a geração de emissões atmosféricas.
Tintas UV também são muito utilizadas em processos como flexografia, rotogravura, serigrafia
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e jato de tinta. Estas não causam evaporação de compostos orgânicos voláteis, em função de
sua rápida secagem, porém as lâmpadas utilizadas para o processo geram ozônio. Assim, o
maquinário deve ficar em local apropriado e reservado.
Conforme os autores (2006), em relação à escolha do papel, deve-se evitar o uso do cloro
como agente branqueador, pois este é extremamente tóxico. É possível optar por agentes
branqueadores contendo substâncias menos prejudiciais, como o oxigênio, peróxido de
hidrogênio, ozônio e peróxido. Existem dois tipos de papel que não utilizam cloro na sua
manufatura, os ECF (Elemental Chlorine-Free), compostos por dióxido de cloro em substituição
ao cloro, diminuindo as emissões e eliminando quase que totalmente as dioxinas produzidas no
processo de branqueamento e TCF (Total Chlorine-Free), que utilizam oxigênio, ozônio ou
peróxido.
Importante, também, considerar o melhor aproveitamento em relação ao formato de papel
utilizado pelas gráficas, evitando, assim, desperdícios gerados após cortes e refiles.
Sugere-se, ainda, o uso de substratos provenientes de matéria-prima reciclada, visto que os
processos produtivos que utilizam matéria-virgem envolvem a extração de recursos naturais e
mais energia e água. As perdas de processo como aparas de papel, por exemplo, quando
reciclados e reincorporados no processo produtivo, reduzem em 74% as emissões
atmosféricas liberadas no ar e em 35% os efluentes despejados na água, além de reduzir o uso
dos recursos naturais. Uma ressalva à escolha de papeis reciclados que, segundo Domingues
et al (2006), ao mesmo tempo que oferecem uma diversidade de texturas, cores e gramaturas
acabam muitas vezes absorvendo mais tinta em função de sua porosidade, exigindo mais
cautela na escolha do tipo de impressão, tamanho dos tipos, tempo de secagem de cada folha
e a tinta utilizada.

6 Considerações finais

O papel dos responsáveis pela concepção de produtos frente ao desenvolvimento sustentável


é de propor melhorias aos produtos e processos envolvidos, considerando o seu ciclo de vida.
Diversas medidas podem ser empregadas visando à redução de impactos ambientais nos
processos gráficos.
Assim, o emprego de práticas sustentáveis na indústria gráfica pode gerar benefícios ao
consumidor, indústria e meio ambiente, estimulando a inovação, oportunidade de novos
negócios e melhoria da qualidade de produtos e processos. Tratando-se de questões
financeiras para a indústria, podem-se prever redução de custos, através da recuperação e
redução de perdas nos processos, minimização de materiais e recursos, minimização e reuso
de água e busca de fontes energéticas alternativas, além do fortalecimento da imagem da
empresa frente aos consumidores e entidades regulamentadoras.

7 Referências

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Análise do ciclo de vida do produto no projeto de mobiliário
multifuncional de papelão (Analysis of the Product Life
Cycle to design of multifunctional furniture cardboard)

TORRES, Pablo Marcel de Arruda; Mestre; Universidade Federal de Campina Grande


pablotorres@ddi.ufcg.edu.br

CAVALCANTE, Abraão Gomes Lacerda; Graduando; Universidade Federal de Campina


Grande
abraaogcavalcante@gmail.com

palavras chave: Mobiliário de papelão; Ciclo de vida do produto; Ecodesign.

O objetivo deste trabalho é mostrar o desenvolvimento de um produto utilizando como matéria-prima principal
o papelão ondulado, em que as etapas do ciclo de vida do produto serviram como base para guiar as decisões
de design que o projeto exigiu. Na fase de pré-produção, a coleta do material ocorreu junto a cooperativas de
catadores de papelão; a produção do móvel priorizou a construção por meio de cortes e vincos; sua
distribuição é simplificada pela compactação de sua estrutura e facilidade de empilhamento; no uso, pela
multifuncionalidade do objeto; e por fim, a facilidade de separação para reciclagem. O mobiliário projetado é
composto de duas partes: o suporte e a caixa. A configuração do suporte permite a ele ser utilizado de forma
independente como uma mesinha portátil, que pode ser usada como bandeja, suporte para notebook ou
suporte para atividades diversas, e a caixa funciona como mesa independente, corpo do produto e como
embalagem. O resultado é um mobiliário compacto e inteligente, que utiliza a própria embalagem como
elemento estrutural do móvel, de baixo custo, sustentável, multifuncional e com flexibilidade de configuração,
resistente ao descarte precoce e que consegue estender a vida útil do material.

Keywords: Furniture cardboard; Life Cycle Design; Ecodesign.

The aim of this paper is demonstrate the development of a furniture using as material corrugated cardboard,
where the stages of product life cycle served as basis to guide the design decisions that the project required.
During pre-production, collection of material occurred along the cooperatives of recyclable cardboar; the
production prioritized the construction through cuts and creases; the distribution is simplified by compact
structure and ease of stacking; in the use, the multifunctionality of the object; and finally, the ease separation for
recycling. The furniture is designed in two parts called support and box. The support configuration allows it be
used independently, as a table that can be used as a tray, support for notebook or support for various activities,
and the box works as independent body like the product and packaging. The result is a compact and smart
furniture, which uses the own package like a structural element, low cost, sustainable, multifunctional and
configuration flexibility, resistant to early discard and that can extend the life cycle of the material.

1 Introdução

A utilização do papelão ondulado na fabricação de embalagens já tem mais de 100 anos de


existência e no Brasil sua utilização começou em meados da década de 30. A indústria de
papelão ondulado é a que mais recicla no Brasil, conforme levantamento da ABPO (2003), que
indica que 65% dos papéis utilizados na fabricação de caixas de papelão ondulado são
produzidos com fibras recicladas, e 77,3% dos papéis utilizados na fabricação de caixas de
papelão ondulado são recuperados. A reutilização deste material apresenta muitas vantagens
para o meio ambiente, dentre as quais o fato de uma tonelada de papelão reutilizado poder
evitar o corte de 10 a 12 árvores de plantações comerciais reflorestadas (REVIVERDE, 2011).

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A disseminação do uso do papelão ondulado como matéria-prima para embalagens e tipos
diversos de produtos encontra força no fato deste material oferecer ao mesmo tempo
resistência e leveza física. O papelão ondulado apresenta algumas vantagens: é um material
de fácil coleta em grandes volumes comerciais, seu custo de processamento é relativamente
baixo, apresenta facilidade construtiva, resistência mecânica, variação de temperatura e
compressão, além de ser um material 100% biodegradável e reciclável (SANTOS, 2006).

A utilização do papelão ondulado no design de produtos teve início com Frank Gehry, arquiteto
americano, entre as décadas de 60 e 70. Desde então, outros projetistas vêm utilizando esta
matéria-prima para desenvolver vários tipos de produtos, em que são exploradas as
características estruturais, estéticas e ambientais deste material como elemento fundamental
do design.

O uso do papelão ondulado vem ganhando destaque em feiras e concursos de design,


buscando-se soluções inovadoras para produtos que representem as novas demandas
mercadológicas de uso sustentável de produtos industriais. Inclusive já existem até empresas
que fabricam e comercializam produtos em papelão ondulado, como a RETUR DESIGN (2011).
Neste tipo de empresa a filosofia é baseada em quatro princípios: repensar, reduzir, reutilizar e
reciclar. A sua preocupação está relacionada com as várias etapas a produção dos produtos,
desde a escolha dos materiais, o processo de produção, até as implicações administrativas e
sustentáveis da companhia (SANTOS, 2006).

De acordo com a ABNT NBR 5985 (2008), que define a terminologia empregada na indústria
de papelão ondulado e em caixas de papelão ondulado, existem quatro tipos de papelão: face
simples; parede simples; parede dupla e parede tripla. A diferença principal entre estes tipos
está na quantidade dos elementos ondulados, que são fixadas com cola a um ou mais
elementos planos.

O objetivo deste trabalho é apresentar o desenvolvimento de um mobiliário multifuncional


utilizando o papelão ondulado como matéria-prima principal sob a ótica do Ciclo de Vida do
Produto, que serviu de referência para guiar as decisões de design que o projeto exigiu.

2. CICLO DE VIDA DO PRODUTO

Segundo MANZINI e VEZZOLI (2008) o ciclo de vida (Life Cycle Design) indica as fases que
acompanham o produto ao longo de sua existência, considerando o produto desde a extração
dos recursos necessários para a produção dos materiais que o compõe (“nascimento”) até o
ultimo tratamento (“morte”) desses mesmos materiais, após o seu período de uso e utilidade.
Cada etapa do ciclo de vida gera impactos no meio ambiente; desta forma é necessário
analisá-las a fim de aperfeiçoar o processo de produção do produto, proporcionando a
otimização ambiental de cada etapa (KAZAZIAN, 2005).

O ciclo de vida esquematiza-se em cinco fases interdependentes:

Pré-produção: compreende a produção da matéria-prima utilizada na fabricação dos


componentes de um produto;

Produção: compreende desde a fase de planejamento do produto até a sua finalização no


ambiente fabril;

Distribuição: Nesta fase, o produto desenvolvido é embalado, transportado e ou estocado;

Uso: O produto é utilizado pelo usuário, podendo necessitar de reparos e ou manutenção de


seus elementos;

Descarte: Acontece quando o produto é eliminado pelo usuário, podendo a partir daí, ser
recuperado, reciclado ou despejado no lixo (MANZINI e VEZZOLI, 2008).

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De acordo com KAZAZIAN (2005), a valorização do objeto pode se dar de várias formas, seja
pela reutilização do produto ou de um de seus componentes, seja pela recuperação de energia
pela compostagem, se ele for derivado de fibra vegetal (papel, madeira, tecido...). Com esta
abordagem é possível ter uma visão mais ampla da vida do produto, em que aspectos como a
valorização do material e do objeto, bem como seu impacto ambiental, estão no cerne da
atividade de projeto.

3. REQUISITOS AMBIENTAIS

A partir do entendimento acerca das etapas que compõem o ciclo de vida do produto (LCD) e
visando tornar mais objetivo o projeto de um produto mobiliário em papelão, foi determinado
previamente uma série de requisitos que abrangem desde a seleção da matéria-prima para o
desenvolvimento do produto até o seu descarte. Esses requisitos surgem de linhas-guia
utilizadas para direcionar o projeto, contemplando assim todas as etapas do LCD.

Minimizar o Uso de Recursos na Produção:


- Matéria-prima proveniente de descarte;
- Utilizar poucos materiais (papelão e revestimentos);

Minimizar e facilitar as operações para a desmontagem e separação:


- Fácil dissociação de peças;
- Utilizar sistemas de encaixe de fácil manipulação;

Adequada utilização do material:


- Utilização de papelão parede dupla;
- Utilizar a posição das ondas para favorecer a estruturação do produto;

Minimizar as perdas e os refugos:


- Uso adequado de cortes e vincos;
- Utilizar matéria-prima selecionada;
- Estender a vida útil da embalagem, evitando seu descarte em curto prazo;

Minimizar o consumo para transporte:


- Evitar dimensionamento e peso excessivos;
- Possibilitar fácil empilhamento (otimização logística);
- Possibilitar a montagem no local de uso;

Projetar para a Reciclagem:


- Não contaminação do material;
- Possibilitar a fácil separação dos materiais que constituem o produto;

Facilitar a Reutilização:
- Possibilitar a extensão do uso do produto por meio da multifuncionalidade.

4. Resultados e Análise do Ciclo de Vida

O produto se destina aos moradores de pequenos domicílios, cada vez mais comuns no
mercado imobiliário atual. Não gostam de permanecer com o mesmo layout dos cômodos da
casa por muito tempo; apreciam a mudança, fugir da rotina e novas possibilidades. Pertencem
à classe popular (C e D), gostam de produtos práticos, que possam ser facilmente
transportados, funcionais, mas também bonitos. Compram pelo preço, mas valorizam
diferenciais que o produto ofereça, podendo até pagar mais se os considerarem relevantes.

O mobiliário desenvolvido é composto de duas partes simples: o suporte e a caixa. Para


confecção do suporte, o papelão duplo é recortado nas formas das laterais e do tampo. Para
ambas as partes, são utilizados duas camadas de papelão duplo, o que aumenta sua
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resistência sem aumento de peso significativo. O tampo possui ‘dentes’ que penetram em
fendas presentes nas peças laterais, fixados com cola à base de látex (atóxica). Após a
montagem, cantoneiras são coladas unindo laterais e tampo, finalizando a montagem do
suporte (Figura 1b). Essas peças são revestidas com papel liso em suas faces, enquanto os
topos não possuem revestimento e revelam a textura ondulada do papelão. Já a caixa possui
forma triangular e abas laterais que se abrem, sendo revestida por tecido estampado de
algodão aplicado por meio de cola à base de látex natural diluída (Figura 1a). Sapatas de feltro
podem ser fixadas para evitar o contato direto das peças de papelão com o chão, o que
aumenta sua durabilidade.

A caixa além de funcionar como elemento estrutural do móvel tem a função de embalagem, o
que aumenta a sua utilidade e ciclo de vida. Ou seja, o suporte vem inserido dentro da caixa,
que tem tanto a função de embalagem como de elemento constituinte do próprio móvel; ao
invés do usuário comprar o produto e descartar a embalagem quando do seu transporte, ela
será utilizada como parte do produto. A proposta torna mais racional e menos banal a relação
produto-embalagem, ampliando as funções da caixa para além do transporte e do marketing,
tornando-a parte integrante e fundamental do mobiliário, aumentado sua vida útil e evitando o
seu descarte precoce. Além da extensão da utilidade da embalagem, outra motivação para o
desenvolvimento do produto é que ele fosse multifuncional, o que estende suas possibilidades
de utilização e configuração.

Figura 1: Imagens do protótipo: em (a), o suporte está dentro da caixa, que funciona como embalagem; em (b),
visualização da caixa e do suporte; em (c), o suporte sobre a caixa e em (d) a caixa sobre o suporte

(a) (b)

(c) (d)

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Pré-produção:
O móvel é todo feito em papelão adquirido junto a cooperativas de catadores, o que permite a
inclusão dessas pessoas no processo produtivo, ao mesmo tempo em que consegue estender
a vida útil do material rejeitado.

Produção:
A produção levou em consideração a utilização de processos (recorte, vinco, encaixe e
colagem) e material único de baixo impacto ambiental, recebendo apenas revestimentos de
fácil separação e conseqüente destinação do papelão para reciclagem, além da extensão da
vida do material, da embalagem e do produto.

Distribuição:
Como a caixa é utilizada também como embalagem, o volume transportado é reduzido e
simplificado. O formato triangular da caixa possibilita empilhamento eficiente e economia de
espaço, facilitando desta maneira a logística de transporte e distribuição.

Figura 2: Simulação do empilhamento das caixas

Uso:
Seu uso e montagem são extremamente simples e intuitivos: abre-se uma das abas da caixa e
retira-se o suporte contido em seu interior. Em seguida, fecha-se a caixa triangular. Por meio
das fendas nas laterais do suporte, o usuário intuitivamente percebe que a caixa pode se
encaixar neles, ficando à escolha do usuário a melhor configuração e função para o móvel
(Figuras 1c e 1d), o que dispensa ferramentas, pessoal, montadores ou processos complicados
na montagem e uso do produto.

A configuração do mobiliário permite diversas maneiras de utilização, o que além de ampliar as


possibilidades de uso e layout também estende a vida útil do produto. O suporte pode ser
utilizado como bandeja, mesa para notebook ou suporte para atividades diversas do usuário.
Já a caixa, além de embalagem, também pode ser usada como mesa independente. Apesar de
poderem ser utilizados separadamente, quando utilizados em conjunto demonstram unidade e
se fundem, tornando-se um único produto. Por exemplo, se utilizar a caixa sobre o suporte tem-
se uma mesa lateral ou mesa de apoio, com o suporte podendo assumir a função de porta-
revista. Já utilizando o suporte sobre a caixa, mantém-se a função de mesa de apoio, porém
com suporte assumindo a função de mesa para notebook removível, e a caixa servindo de
base fixa para apoio desse suporte (Figura 3).

Descarte:

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Na fase de pós-uso, a separação entre as partes é instantânea (caixa e suporte já são
naturalmente separados). Já entre os materiais, papelão e papel (utilizados no suporte) são
ecocompatíveis e podem ser descartados juntos; o papelão que constitui a caixa deve ser
separado do tecido e então destinado à reciclagem.
Figura 3: Diferentes possibilidades de uso do mobiliário multifuncional de papelão

5. CONCLUSÃO

Os resultados deste projeto permitiram reforçar a idéia de que o desenvolvimento de mobiliário


de papelão reaproveitado é possível e viável, desde que em cada etapa do ciclo de vida do
produto o designer esteja atento a aplicar os requisitos ambientais necessários para a
produção de produtos sustentáveis.

Desse modo, o entendimento acerca do ciclo de vida do produto e a definição dos requisitos
ambientais serviram como guia para o projeto, gerando um produto com configuração
multifuncional, estrutura estável, possibilitada pelas técnicas de dobra, corte e encaixe do
papelão, e um visual contemporâneo e minimalista.

A projetação de produtos com essa abordagem é de extrema importância para o


desenvolvimento de uma cultura material de alicerce sustentável, sendo também mais uma
opção de produto para a sociedade atual, que deve se relacionar melhor com os recursos
naturais ainda existentes.

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6. REFERÊNCIAS

ABPO - Associação de empresas produtoras de papelão ondulado e embalagens de papelão


ondulado no Brasil. Anuário Estatístico, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5985: Papelão ondulado e caixas


de papelão ondulado - Terminologia. Rio de Janeiro, 2008.

KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São
Paulo: Editora Senac, 2005.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos


ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2005.

REVIVERDE. Papel. Disponível em: <http://www.reviverde.org.br/papel.htm>. Acesso em: 30


mai 2011.

RETUR DESIGN STUDIO. Disponível em: <http://www.returdesign.se>. Acesso em: 30 mai


2011.

SANTOS, A. Design em Papelão Ondulado. Curitiba: UFPR - Núcleo de Design &


Sustentabilidade, 2006.

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Sistema de conforto para praia (Comfort system to on the
beach)

Lívia C. Maia 61

Palavras chave: praia; conforto; portátil, indentidade cultural

Trata-se de um sistema confortável de permanência na praia. A conclusão do sistema foi um objeto


compacto, com fácil transporte para pedestres; compartimento existente acima da altura do solo, para
guardar pequenos pertences e protegê-los da água do mar e de possíveis furtos; material ecologicamente
aceitável resistente a água, maresia, de fácil limpeza e secagem; menor peso; permite a posição sentado
em mais de uma posição; segurança do usuário contra acidentes de corte ou tombamento; higienico com
o intuito de motivar o uso do próprio objeto, descartando a necessidade locatária de sistemas alternativos
de uso rotativo pelo público em geral, como as cadeiras alugadas na praia. O propósito deste trabalho é
transformar resíduos em matéria-prima para a fabricação de um novo produto, minimizar ao máximo a
criação de mais “lixo” no mundo com a transformação, sem deixar de lado as necessidades, aliado à
cultura de praia existente no Brasil.

Keywords: beach; comfort; laptop, cultural identity

It is a comfort system to stay on the beach. The conclusion of the system was a compact object with easy
transportation for pedestrians; with a compartment above the existing ground height, to keep small
belongings and protect them from seawater; environmentally acceptable water resistant material, easy to
clean and drying, lower weight, allows sitting in more than one position, safe against cutting accidents and
overturning; hygienic in order to motivate the use of the object itself, eliminating the need for tenant
alternative systems of rotational use by the general public, such as chairs rented on the beach. The
purpose of this work is to turn waste into raw material to manufacture a new product, to minimize the
creation of more "junk " in the world, without neglecting the existing needs, combined with the beach
culture existing in Brazil.

1. Incompatibilidade no ambiente praiano


Este trabalho é resultado de um projeto de produto voltado para cultura de praia existente no
Rio de Janeiro, realizado no segundo semestre de 2010 como trabalho de conclusão do curso
de Desenho Industrial – Projeto de Produto na UniverCidade.
Os problemas percebidos na praia são pouco explorados mesmo em uma cidade que a
enxerga como segunda casa. O projeto teve como objetivo buscar um novo modelo de sistema
confortável para praia, pois o atual amplamente utilizado nas faixas de areia apresenta
incompatibilidade nos aspectos visual, funcional e material com o ambiente natural praiano
(Figura 1). Não oferece algo que comunique integração ou reflexão relacionada à preservação
do mar e das areias. Inviabiliza a oportunidade de disseminação da idéia de reaproveitamento
dos resíduos sólidos e preservação da limpeza nas praias. Este estudo propõe a reutilização de
materiais comumente descartados nos oceanos e praias pela população mundial,
transformando-as em matéria prima para fabricação de um produto capaz de solucionar os
principais desconfortos enfrentados por pessoas que fazem da praia parte de suas vidas.
Para auxiliar no conforto de permanência na praia, muitos escolhem alugar artigos no local,
deixando em casa seus próprios objetos que exercem a mesma função, como cadeira de praia
e guarda-sol. Mesmo pessoas que possuem carro, demonstram preferir utilizar produtos
ofertados no lugar, onde podem pagar para usar ao invés de trazer de casa. Isto se dá pelo
desconforto em transportar muitos itens, na maioria dos casos pesquisados.
Em contra partida, não ficam totalmente satisfeitos com os produtos oferecidos para aluguel
por uma série de problemas vivenciados. Não há higienização dos produtos após o uso por

61
Centro universitário da cidade/UniverCidade, Brasil, aliviacaroline@gmail.com
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outros banhistas que permanecem expostos a temperaturas altas, o que propicia maior
produção de suor e conseqüentemente acúmulo de bactérias que podem causar irritações ou
doenças de pele em outra pessoa. Costuma-se utilizar, cangas ou toalhas como proteção deste
problema.
Com relação a segurança física, as cadeiras convencionais apresentam materiais cortantes
em sua estrutura, causam marcas na pele ou cortes mediante seu acionamento. Tombamento
é um acidente bastante apontado, ocasionado pela estrutura como também por rasgos do
tecido ou material frágil utilizado.
A segurança dos pertences pessoais levados por quem costuma ir à praia sozinho é um
transtorno, pois o freqüentador se preocupa com a ameaça iminente de furto, este fato foi
mencionado por todos os freqüentadores entrevistados residentes do Rio de Janeiro, local
onde foi feita toda a pesquisa. É comum pedirem para pessoas desconhecidas olharem seus
pertences quando precisam se afastar para dar um mergulho por exemplo. Os objetos também
ficam vulneráveis a ondas repentinas quando determinam um lugar de permanência muito
próximo ao mar.

Figura 1: Cadeiras construidas em alumínio empilhadas na orla

2. Contextualização

2. 1 Cultura de praia carioca


Com a chegada da República, a praia como ambiente terapêutico vai cedendo lugar à praia
como espaço social, sobretudo após a reforma urbana promovida pelo prefeito Pereira Passos.
As casas de banhos são derrubadas para trazer movimento ao Cais e à Avenida Beira-Mar. Os
esportes náuticos aparecem associados ao lazer e à ocupação do tempo livre. A busca por
outras praias já chegava ao Flamengo e a Copacabana. No final do Século XIX, bondes
levavam os cariocas para outras praias. Já no início do século XX, eram tantas pessoas nas
areias que as autoridades tiveram que estabelecer regras para banhos de mar no Leme e
Copacabana. O conceito de valorização da estética corporal invade as praias, ganhando
dimensão nas areias que antes, resumia-se à bem-estar e saúde. Os anos 40 viram surgir a
pesca submarina esportiva. E nos anos 50 e 60, no Arpoador, chegava o surf, um esporte que
tempos depois geraria o windsurf, bodyboard e o atual kitesurf (Leme 2008).
Ir a praia faz parte da cultura no litoral carioca. Lugar com freqüente rotatividade de pessoas
em todas as horas do dia. É ponto de encontro, reflexão, relaxamento, trabalho, furtos e sobre
tudo lazer.
O litoral brasileiro tem aproximadamente 8.500 km de extensão (dados do Ministério do
Meio Ambiente), 635 km situados no Rio de janeiro, com mais de 50km de praia, onde a capital
adere como estilo de vida a prática de freqüentá-la. É amplamente conhecida por suas belezas
naturais, prática de esportes aquáticos e diversão. O carioca tem a praia como um quintal e
não distingui as estações do ano para estar em contado com este ambiente. Segundo o

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antropólogo Edward Hall o espaço tem grande influencia sobre os seres humanos e é
responsável por moldar nosso comportamento (Leme 2008).
Com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em pouco mais de R$ 1 bilhão, a economia
que se desenvolve das areias às calçadas ao longo dos mais de 50 quilômetros de praias do
Rio de Janeiro vai entrando para a formalidade e ganhando ares de bom negócio, com
sustentabilidade (O Globo - 29/08/2010).

3. Consumo consciente

No modelo atual de consumo e produção, consumimos mais do que a capacidade de


renovação dos recursos naturais, acima do que a terra consegue sustentar (Trigueiro/2005).
Hoje por conta do atual ritmo, a demanda poles recursos excede em 50% a capacidade de
reposição da Terra (Veja – especial sustentabilidade 2010). A cada ano os dados aumentam
rumo a maiores degradações. A questão fundamental é que o consumidor raramente pensa
antes do ato de consumir, na grande maioria é um ato seguido de um impulso. Algumas
pesquisas do instituto Akatu mostram que esta realidade está mudando, mas ainda está longe
da solução. Parte dos consumidores brasileiro se mostram comprometidos ou conscientes de
seu ato de consumo, ou seja, consideram alguma questão diferente de somente preço e
qualidade.
O discurso do consumo consciente não propõe que as pessoas não comprem, pois estamos
imersos em uma cultura consumista, isto seria irrealista. O fundamental é que haja reflexão no
ato de consumir. Refletir sobre o ciclo que o produto percorreu, de que maneira foi produzido,
qual a sua proposta, se o seu descarte é nocivo ao meio ambiente. Este pensamente
naturalmente leva a reduzir, reutilizar e reciclar. Atos que se adotados por cada habitante do
planeta traria mudanças consideráveis.

3. 1 Criação de produto e o desafio para um desenvolvimento sustentável


Indústrias para produção de bens secundários utilizando matéria-prima se tornam principais
colaboradores para a degradação do meio ambiente. Com isso, o Designer ocupa importante
papel neste ciclo na busca de um desenvolvimento viável e possível no âmbito de produção em
que encontre conexão com a escassez de suas próprias reservas. De modo que cada vez mais
se torna inviável continuar a produção de inúmeros produtos artificiais (Figura 2) sem uma
projeção consciente. Conceber um produto que tenha relação coerente com o ambiente, o
território e o homem consumidor.

Figura 2: Ofertas predominantes

Tudo que foi produzido em termos de matéria prima continua inevitavelmente no planeta. Pode
ser citada a grande “sopa” de lixo plástico situada no oceano Pacífico entre a Califórnia e o
Hawaí formada por materiais oriundos do planeta inteiro (Rede Globo/2011).

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Desde a criação de um produto ele é carregado de intenções e significados culturais que
podem transparecer status social ou estilo de vida. Através do ciclo de transformação existente
na natureza, este estudo visa o conceito pouco aplicado de reflexão pelo consumidor/usuário e
dar novos significados a este objeto amplamente utilizado nos litorais. Criar uma relação
estreita entre desfrutar e cuidar do ambiente praiano, sem deixar de lado as necessidades
existentes aliadas à cultura de praia. Transformar resíduos sólidos em matéria prima para a
fabricação sem deixar de considerar à forma e estética dos novos produtos. Se encaixa nesta
visão uma citação de Cristina Morozzi, teórica italiana do design ambiental:

‘Re-usar, transformar os lixos em objetos de uso não significa renunciar a sua beleza, pois quase
sempre tem a ver somente com o desperdício, os reflexos preciosos e as superfícies brilhantes e
acetinadas, excluindo aquelas granuladas e opacas dos plásticos recicláveis, dos cartões prensados,
etc. Aliás, quer dizer encontrar uma nova beleza que traz dentro de si, traços daquilo que foi restos
daquilo que transcorreu. Uma beleza não abstrata, mais ancorada na corrutilbilidade, que contém uma
esperança de ressureição, se não pelos próprios seres humanos, ao menos pelas coisas’. (Oggetti
risorti,1998, pag 20 e 21 Apud Sampaio 2008).

3. 2 De consciência passiva para ativa com a economia criativa

A crescente cosnciênica ambiental nos encaminha para um mundo mais evoluído, algumas
pessoas presam pela qualidade de vida por meio de pequenos gestos sustetáveis. Porém,
muitas pemanecem com uma “consiência passiva”, ou seja, sabem e refletem a respeito dos
impactos de suas ações para o ambiente e as pessoas, mas permanecem passivos por falta de
estímulos ou facilitações, necessitando de “empurrões” para transformar pequenos gestos em
ações efetivamente relevantes.
Na economia criativa, setor cujo os recursos se renovam e multiplicam com o uso, duas das
estratégias de atuação é estimular o desenvolvimento dos recursos intangíveis como a cultura,
criatividade, conhecimento e fazer entender um novo conceito de riqueza que vai além do
econômico. A ênfase está nos processos culturais/criativos e não somente nos produtos novos.
Movimentar essa economia unindo aos “conscientes passivos” é uma visão de venda do
produto projetado descrito neste artigo. Nesse caso funciona como uma troca: o consumidor
traz materia prima, plásticos rígidos recolhidos do ambiente, preferencialmente da praia para a
posterior fabricação do produto comprado naquele momento. Como benefício ganharia
vantagens econômicas (menor preço) e satisfação em colaborar com pequena parcela para
uma situação mais sustentável. Isto proporciona uma experiência vivida, mas do que apenas
adquirir um novo objeto. A partir daí, passaria de passivo para consciente ativo, pois o
consumo não seria apenas por impulso e sim uma ação refletida e colaborativa para obtenção
do seu objeto de desejo.

4. Material

4.1 Madeira plástica reciclável


Desde os primórdios utiliza-se a madeira como matéria prima para construção de barcos,
pranchas de surf e remos para locomoção e lazer no mar. Antigamente prevalecia o processo
artesanal. Nos dias atuais, a produção se dá em larga escala para suprir a demanda
populacional crescente. Um dos intuitos do projeto é resgatar e incentivar uma integração com
o meio natural sem colaborar com sua escassez.
Entende-se que acabar com a introdução de mais objetos no mundo se torna impossível
atualmente, somente uma intervenção retrógrada nos hábitos de vida mundial seria um início
de solução benéfica ao planeta natural. Como estamos longe de atingir esta realidade não
visionada por todos, precisa-se da busca em soluções auxiliares para a diminuição desta
fábrica de “lixos”. O plástico rígido é apontado como o material que compõe cerca de 77% das
embalagens plásticas no Brasil, tal como garrafas de refrigerantes, recipientes para produtos
de limpeza, higiene e alimentos (Cempre-2008), são objetos que podem ser transformados em
algo de utilidade para satisfazer o desejo pelo novo que o consumidor nutre.

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Desde a origem até o descarte, a madeira plástica é um produto com características
ecológicas. Em entrevista com Daniel Pilz, diretor da empresa Cogumelo fabricante da Policog,
marca pioneira em fabricar a madeira plástica no Brasil, pôde-se constatar características
importantes: É muito similar à madeira convencional e totalmente reciclável. São
reaproveitados plásticos dos tipos citados acima, apresenta excelente desempenho e ótimo
custo/benefício, pois tem textura e aparência iguais às da madeira, com a vantagem de ser
mais resistente a interpéries com ter menor custo de manutenção, resiste à corrosão, pragas,
não absorve umidade, não empena e não racha. Pode ser idêntica à madeira, por combinar na
sua composição fibras vegetais ao plástico. O processo não gera poluição ou novos resíduos.
O material possui grande aplicabilidade e se encaixa no projeto por sua característica 100%
reaproveitável.

5. Métodos de pesquisa
Para elaboração de uma solução compatível com o meio ambiente que ao mesmo tempo supra
as necessidades do usuário, foi necessário levar em consideração os principais desconfortos
gerados que levavam o indivíduo preferir sistemas aleatórios ao invés dos seus. Com isso,
foram de total relevância a observação e registro em vídeo e fotografia das atividades
exercidas por quem vai a praia com frequência.
Análise de similares trouxe o conhecimento de sistemas menos conhecidos, com soluções
interessantes, mas pouco práticas ou aceitáveis pelo público. Mostrou que a cadeira de praia
em alumínio ainda é a mais utilizada, porém curiosamente amplamente criticada negativamente
por grande parte dos usuários. Foi aplicada a técnica de PNI (pontos positivos, negativos e
interessantes), considerando os pontos relevantes ao usuário e ao meio ambiente.
As entrevistas foram informais em praias diferentes. Sem a opção de repostas fechadas
propositalmente para verificar naturalmente opiniões iguais ou similares. Os pontos mais
mencionados foram:
 Transtorno em transportar.
 Tamanho do objeto.
 Peso.
 Insegurança com objetos menores como: celular, chave e dinheiro.
 Desconforto.
 Higiene.
Através das informações levantadas, gerou-se um novo conceito de descanso para o
ambiente praiano. A observação possibilitou diagnosticar a situação atual dos sistemas
utilizados e os principais problemas enfrentados por quem freqüenta a praia e exerce
atividades que necessitam de descanso como: ler, conversar, contemplar o ambiente ou
simplesmente permanecer no local.

6. Requisitos e atributos projetuais


Após coleta de dados, análise e observação minuciosa de cada item, concluíram-se os
seguintes resultados: Na análise estrutural predomina-se a necessidade de compactação e
leveza, ambas características para maior conforto no transporte por pedestres, ciclistas e por
quem utiliza meios de locomoção (individual ou coletivo), material não cortante a fim de evitar
ferimentos, rigidez para suportar o peso do corpo humano apoiado e relaxado na posição
sentado. O assento deve estar na altura do solo para evitar acidentes do tipo tombamento e
fabricado em tecido, o que resulta em maior compactação, fácil limpeza e mais integração com
o ambiente, remetendo as cangas e toalhas utilizadas a tempos. Deve conter um
compartimento com altura acima do solo para proteção de ondas repentinas e ser de difícil
percepção por terceiros, com intuito de guardar e proteger pertences de possíveis furtos.
Com relação ao material, a madeira plástica mostra ser o mais indicado por ser uma matéria
prima totalmente reciclável que ilustra a coleta do lixo de plásticos rígidos despejados nos
oceanos, além de obter resistência a intempéries, ter imunidade contra pragas e

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apodrecimento, agrega fácil limpeza de detritos característicos da praia, pode ser furada,
serrada e aparafusada assim como a madeira natural.
O requisito mercadológico é suprir a demanda de pessoas efetivas na cultura de praia que
não se sentem satisfeitos com os sistemas disponibilizados pelos barraqueiros.
Por se tratar de um projeto com características ecológicas, deve incitar a reflexão sobre o
acúmulo de lixo nos mares e praias. Ajudar a preservar de alguma forma o ambiente praiano.
Muito plástico é despejado no oceano, sendo trazido pelas correntes até as praias
transformando-as em lixões a céu aberto. Utilizar estes plásticos na fabricação da madeira
plástica e nas fibras do tecido/assento é requisito fundamental, pois visa contrubuir com a
coleta do lixo descartado no mar.
Este produto é utilizável exclusivamente na praia, em integração com o ambiente. O natural
auxilia o funcionamento do artificial sem ser agredido, isto reafirma o cunho de esforço
sustentável do projeto.

7. Testes com modelo rústico


Para avaliar o comportamento do sistema, foram realizados testes de funcionamento dos
subsistemas recebendo comportamento e peso humano em suas estruturas (Figura 3 e 4)

Figura 3: Posição sentado.

Figura 4: Posição com angulação mais enclinada

8. Alternativa definida

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Figura 5: Modelagem virtual.

Figura 6: Detalhe do compartimento para guardar objetos.

9. Protótipo sendo utilizado

Figura 1: Detalhe do sub-sistema que permite posições distintas.

Figura 7: Produto completo.

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Figura 8: Pespectiva do mesmo

10. Conclusão
Envolver-se na busca de processos que motive as pessoas aderirem hábitos saudáveis para o
planeta, assim como hábitos de consumo inteligente de modo que fomentem a economia
criativa e o consumo consciente se torna a cada dia mais imprescindível. O designer chegou a
uma posição importante e urgente nesta era. Estamos em um patamar em que nosso papel
não se defini em apenas trazer mais utensílios para o mundo e sim em como diminuí-los ou
excluí-los. Tudo naturalmente se transforma, devemos seguir este exemplo na constante busca
de soluções para no mínimo diminuir a quantidade de detritos artificiais despejados na terra.
Criatividade, conhecimento e cultura são recursos que se renovam e multiplicam com o uso,
por isso gerar processos e produtos desenhados a partir do uso sustentável de recursos
naturais com ênfase nos abundantes recursos intangíveis como oferecer experiencias é mais
do que produto. Vivenciar, obter experiencias nos afeta mais do que apenas ter objetos. Design
é planejar para uma melhor relação entre a sociedade e o ambiente.

Referências

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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<http://www.cempre.org.br/imprensa_detalhe.php?id=MTU=> Acesso em: 10 jun 2011.
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<http//laladeheinzelin.com.br> Acesso em: 10 jun. 2011.
Deheinzelin, L. Economia criativa e Desenvolvimento sustentável: Desafios e oportunidades.
Disponível em: <http://laladeheinzelin.com.br/wp-content/uploads/2010/07/2008-Economia-
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<http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/cadeira_praia.pdf> Acesso em: 10 jun. 2011.
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Alves J. E. D. (2010) Uma terra ja não é suficiente. Revista Veja – Edição especial
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Design towards social sustainability: a process of
pedagogic design of artistic creation, and construction of
the social tissue (Design para a sustentabilidade social: um
processo de design pedagógico de criação artística e
construção tecido social.)

Ana Thudichum Vasconcelos; Ph. D; Faculdade de Belas-Artes da Universidade de


Lisboa, Portugal, Ana.vasconcelos@fba.ul.pt

Palavras chave: design, educação; inovação social, metodologia

This proposal is based on the supposition that teaching of design towards sustainability has to undergo
immersion into the specific reality of local territories, where artistic creation is achieved through direct
contact with the communities involved. Two experimental projects carried out by design students are on
the basis of reflection. One, responds to the challenge of creation of inter-generational relationships - "try
harvesting". This is a school vegetable-garden, which gathers children and youngsters to the elderly of the
daytime centres inside locations; the other, of social inclusion - an artistic home, by a group of creators
inside a slum. This explores how artistic expression can help break social barriers, and contribute towards
the improvement of the community's standard of living.
This article intertwines a reflexive thought about the teaching of design towards social sustainability, which
begins by restlessness, discussion and confrontation with doubt, the need to search for "truths", and look
into "realities". It is in the scenario of all-inclusive pluarlity that solution can be found to meet the current
needs of the community. As a final conclusion, we wish to enunciate the fundamental parametres for the
creation of a strategy of action in design towards social sustainability.

Keywords: design; education; social innovation, mhetodology

This proposal is based on the supposition that teaching of design towards sustainability has to undergo
immersion into the specific reality of local territories, where artistic creation is achieved through direct
contact with the communities involved. Na base de reflexão estão dois projetos experimentais realizados
por estudantes de design, um que responde ao desafio de criação de relações inter-geracionais -
“experimenta cultivar”, uma horta na escola que junta crianças e jovens a idosos do centro de dia das
localidades; e outro, de inclusão social, - uma residência artística, de um grupo de criadores dentro de
uma favela, que explora como a expressão artística pode ajudar a quebrar barreiras sociais e contribui
para a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Este artigo entrecruza um pensamento reflexivo sobre o ensino do design para a sustentabilidade social
que se inicia na inquietação, a discussão e no confronto com a dúvida, na necessidade de procura sobre
as “verdades” e no olhar das “realidades”. A acção motiva-se nesta tomada de consciência. E é no
cenário abrangente de pluralidade que se encontram novas soluções que vão ao encontro das atuais
necessidades da comunidade. Como conclusão final pretendemos enunciar os parâmetros fundamentais
para uma estratégia de actuação em design para a sustentabilidade social.

Introdução

Como preparar os futuros designers para a incerteza do planeta? Tantos os estudantes


oriundos das grandes cidades, das zonas metropolitanas ou rurais, independentemente do
género e da origem social e cultural? Como facultar-lhes as reais possibilidades de
desenvolverem plenamente as suas capacidades criadoras? Como estimula-los a construir os
instrumentos para poderem estar mais preparados para enfrentarem o futuro? Como aumentar
a auto-confiança dos alunos, as suas capacidades e talentos individuais e sociais?
Numa época de charneira em que as dúvidas são mais que as certezas, confiamos que é
preciso fomentar o espírito criativo, a capacidade para interpretar os acontecimentos e agir em
conformidade. A condução do processo pedagógico artístico parte da reflexão sobre o mundo
que nos rodeia, concretiza-se na capacidade de intervir por via das acções, ainda que seja

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necessário uma conjuntura politica de suporte às iniciativas. No final, todos os actores
envolvidos agradecem, sentem que ganham.

O design como um lugar de inquietação, de discussão e de confronto com a dúvida

“The first is by designing, that is working, trying. The second is by articulate a critique of cultural
conditions the educidates the effect of design on the society, and the third is by direct political
engagment” (Margolin, 2002)
Independentemente da ordem de importância dos factores: o trabalho prático; a
fundamentação crítica; e, a necessidade de envolvimento político, o facto é que estas são as
componentes fundamentais do design contemporâneo. O design actual tem um papel
interventivo no âmbito social, o que pressupõem que por de trás da acção haja uma
fundamentação.
O design para a sustentabilidade social ou inovação social nasce da tomada de consciência
que o bem estar da civilização depende da nossa capacidade para responder criativamente
aos desafios humanos e ambientais (Mau, 2004).
Precisamos de designers com competências que trabalhem com novas ferramentas e que
deste modo ajudem a consolidar esta nova vertente do design, nova pelo menos em termos da
sua delimitação de corpo de acção. O objectivo nobre do design sempre foi o de melhorar a
qualidade de vida das pessoas. Sendo que recentemente este novo paradigma de actuação
em design se intensificou, se tornou mais autónomo.
O design para a sustentabilidade social requer um pensamento holístico e em articulação com
o projeto. A valorização da vertente social no seio da prática do design chegou pela
necessidade de criar novos modelos de vida mais sustentáveis. Se for possível criar modelos
de vida humana sustentável, estes marcar-se-ão por uma forte desmaterialização, por novos
comportamentos e pela melhoria das relações inter-pessoais.
Neste mundo em mudança acreditamos, tal como Fuad-Luke ( 2009), que “the first group of
people that urgently need to change their behaviours are the designers themselves”,
São precisos designers que pratiquem um design mais ambicioso e simultaneamente mais
modesto, como refere Mau (2004), com uma visão abrangente e não fragmentada da
sociedade. Compreende o design na sua totalidade, significa perceber a interligação dos
fatores previamente enunciados por Margolin.
A inquietação, a discussão e o confronto com a dúvida inicia-se na necessidade de constante
procura sobre as “verdades” e o olhar das “realidades”. Numa atitude de design que reflecte
sobre a sua própria dimensão social, promovendo acções conscientes, de intervenção positiva
na vida e cultura dos homens. Neste contexto “nem o design é neutro nem o designer neutral”
Frascara (2006).
A criação de referências positivas direccionada para novos comportamentos, compreendendo a
necessidade de ser plural e do conhecimento holístico, tem como base uma atitude
interpretativa das “verdades”, as nossas pedras angulares.
Para o Comité invisível (2010) as Verdades são,
Um encontro, uma descoberta, um vasto movimento de greve, um tremor de terra: todo o
acontecimento produz uma verdade, ao alterar a nossa maneira de estar no mundo. Inversamente,
uma constatação à qual ficamos indiferentes, que não nos modifica, que não nos compromete ainda
não merece o nome de verdade. Existe em cada gesto, em cada prática, em cada relação, em cada
situação uma verdade subjacente.
São estas “verdades” que suscitam a mudança, a necessidade de criar e apoiar novos padrões
de comportamento que levam ao desenvolvimento de uma comunidade mais justa e equitativa,
onde as condições básicas de desenvolvimento se apoiam na criação de coesão social, de
tecido urbano, de equidade e de igualdade de oportunidades.
O design que colabora na iniciativa de mudança, faz jus à expressão “design activism” usada
por Fuad-Luke (2009). “Design activism” induz a este novo paradigma, que se realiza na
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tomada de consciência e na necessidade de ação para obtenção de um sistema socialmente
mais sustentável.
Deste modo, design para a sustentabilidade social remete-nos para valores de cidadania.
Promove uma cultura de serviço e de sistemas colaborativos em detrimento do consumo
individual, criando condições para termos um ambiente colectivo mais saudável, mais
democrático e descentralizado, com maior transparência nos processos, que partilhe a
informação, que divulgue e promova a continua aprendizagem (Manzini, 2005), com maiores
acessibilidades, desenvolvendo ideias em conjunto (Leadbeater, 2008), incentivando todos a
participar, reconhecendo as diferenças.
Nenhuma ordem social se pode basear de modo doradouro no principio que nada é verdadeiro.
(…) “nada é verdade” nada diz à cerca do mundo (…) pode-se naturalmente falar aqui de
“gentes verdadeiras” (Comité invisível, 2010).
O lugar de inquietação levamos a olhar em volta, a questionar e a perceber que há várias
realidades, que no mundo real coexistem de vários mundos reais, várias realidades vários
quotidianos, onde todos são iguais mas uns mais iguais que outros. O mundo está povoado por
comunidades que não estão assim tão distantes umas das outras (Steffen, 2007).
É a realidade que nos deve motivar, não como uma ideia abstrata, mas focalizada nas
pessoas. “Queremos olhar para além do racionalismo, para a realidade da interdependência,
além da interdependência, para além das obrigações de solidariedade, para além do indivíduo,
para além da comunidade” (Desai, 2009). Com uma atitude crítica e desejo de mudar.
Neste contexto de pluralidade há que encontrar novas soluções que vão ao encontro das atuais
necessidades da comunidade. Esta nova forma de atuar debruça-se sobre o indivíduo, sobre o
trabalho de equipa, usando novos meios de atuação e novas ferramentas, que promovam a
inter-relação e a valorização cultural.

Transpor a barreira da zona de conforto, o design no terreno na procura de realizar


mudança
“Can the poetry save the Earth?” John Felstiner pergunta e encontra resposta citando o historiador
ambientalista William Cronon “we must think long and hard about the nature we carry inside our heads,
whether wild, rural or urban. Poems do best at trying nature to what’s in our heads” (Queiroz, 2011)
De uma forma generalizada, vivemos um sentimento de eminente colapso do sistema. Onde a
inoperância não é uma saída. Pré-fraseando Bernhard, no filme Home é tarde de mais para ser
pessimista.
Transpor a barreira da zona de conforto, o design no terreno na procura de realizar mudança,
relata duas iniciativas de design aplicado ao desenvolvimento social, realizadas por estudantes
ou recém-licenciados da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
O primeiro projecto - estimular novos olhares e novas formas de inclusão social - joga com “a
tensão entre a fé na autonomia da arte e a crença na arte como algo inextrincavelmente ligado
à promessa de um modelo melhor por vir” (Bishop cit. Farmhoouse)
Trata-se de uma residência artística integrada no projecto, EVA- Exclusão de Valor
62 63
Acrescentado , uma iniciativa promovida pelo Programa Escolhas em parceria com o Clube
Português de Artes e Ideias e integrada no Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão
Social.
Durante 2 meses vários artistas ou grupo de artistas realizaram projectos artísticos orientados
para as comunidades. Sete residências que tiveram como locais de acolhimento sete bairros
problemáticos na Área Metropolitana de Lisboa.

62
https://projectoeva.wordpress.com/
63
http://projectoeva.programaescolhas.pt/

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“A iniciativa implementou residências artísticas em conexão com as comunidades, com o propósito de
reflectir sobre as práticas contemporâneas e contribuir para a quebra de distâncias e de
territorialidades, à transformação, modificação e constantes mutações que alteram a geografia social
em várias escalas. As residências multidisciplinares tiveram uma incidência particular na área do
Design Sustentável e da Performance”.
De entre as várias residências destacamos a intervenção do grupo composto por: Joana
Manaças – bailarina; Catarina Vasconcelos – designer; e Catarina Gonçalves – artista. Juntas
trabalharam em colaboração com a ONG, Anos Ki Ta Manda, no Bairro 6 de Maio; 6 de Maio é
um bairro clandestino e degradado considerado como um bairro problemático, às portas de
Lisboa. Constituído por uma malha apertada de 267 barracas a qual correspondem 394
agregados familiares, segundo fonte: CMA, Câmara Municipal da Amadora, Departamento de
64
Habitação, 2007 , implantados numa área relativamente pequena circundada pelo asfalto que
a isola da envolvente com a qual contrasta. Um bairro de autoconstrução sem rede de esgotos,
serpenteado por ruas apertadas e labirínticas, por vezes tão estreitas que mal cabe uma
pessoa. Um desenho urbano propício a tudo o que é clandestino. A população é
essencialmente constituída por imigrantes africanos, cuja grande maioria são de origem cabo-
verdiana, pobre e com baixa escolaridade (Tella, 2008).
No dia da apresentação dos resultados finais da residência pôde-se assistir a uma festa.
Dançando abrindo caminho à visita guiada ao espaço de intervenção da residência, o grupo de
danças tradicionais de Cabo Verde, Nós Terra, mostrou um circuito em forma de anel de casas
com as paredes pintadas de cores coloridas. Durante semana e meia, tinha-se pintado o centro
do bairro, escrito pela primeira vez os nomes das ruas, que todos sabiam sem que nunca
estivessem sido escritas, com tintas doadas por várias instituições. Todos fomos convidados a
pintar, “tias” de fora e gente do bairro, criança e adultos que se juntavam quando chegavam do
trabalho, numa azáfama alegre, de grande energia, pintava-se velozmente entre latas,
tabuleiros, pincéis e tintas entornadas no chão. A festa passou por um pátio tornado jardim,
feito de amores-perfeitos dentro de alguidares coloridos, que o senhor Pedro, ex-morador do
bairro, ajudou a plantar. A festa seguia, passava por uma senhora que da sua janela distribuía
gelados de pau, e chegou a um outro pequeno pátio onde se encontrava uma instalação de
envelopes, uma forma carinhosa de comunicação, que começou por seu uma dinâmica própria
do grupo das artistas residentes e que acabou por tomar a forma de uma performance, uma
forma de agradecimento e o desejo de manter contato com todas pessoas da comunidade que
tinha participado no projeto; cada carta era alusiva a cada um. A Festa continua com a
vivacidade das Batucadeiras, grupo de mulheres que toca e canta as músicas tradicionais de
Cabo Verde, para terminar com todos, visitante e gentes do bairro, a dançar o funáná.
O segundo projecto – experimenta cultivar – aspira, “in fact the secret ambition of design is to
become invisible, to be taken up into the culture, absorbed into the background. The highest
order of success in design is to achieve the ubiquidaty, to become banal” (Mau 2004)
65
Trata-se de um projecto lançado pela ExperimentaDesign , que promove a Bienal de design
EXD, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian e com o apoio da Santa Casa da
Misericórdia, lançaram o programa “Acting for Age” à escolas de Design portuguesas.
A iniciativa pretende apoiar projectos de design, sobre a forma de laboratórios criativos a
operar em simultâneo em Lisboa e Londres, onde se cria experiência e se testam soluções que
fomentam a inter-geracionalidade. A Joana Nunes e o Pedro Frois foram um dos 12 finalistas
selecionados para a segunda fase de implementação do projecto.
Experimenta cultivar é um projecto de uma horta nas escolas com a cooperação de idosos da
área envolvente. Sensibilizando, deste modo os jovens para a importância das relações inter-
geracionais, e simultaneamente tornando o espaço escolar mais dinâmico. O projecto envolve
os jovens e os idosos, mas também toda a comunidade que os circunda. A escolha do local foi
a primeira etapa do projecto, encontra uma escola e um centro do dia relativamente próximos.
Visitas às escolas e reuniões com as entidades locais para comunicar o projecto e medir a

64
www.cm-amadora.pt/files/2/.../20070626225327286139.xls
65
http://www.experimentadesign.pt/
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receptividade ao programa foi o passo seguinte. Identificada as organizações, uma escola
primária, localizada no centro de Lisboa e uma escola secundária na periferia de Lisboa, era
altura de iniciar o planeamento do programa. As crianças desenharam e fizeram um vídeo para
convidar os idosos a juntarem-se ao projecto. Daqui em diante todas as semanas jovens e
crianças se empenham em cultivar a sua horta no quintal da escola. O projecto envolve a
criação de instrumentos de design vinculando a imagem corporativa da iniciativa e ainda um
registo documental do processo de trabalho de forma a criar as bases para uma eventual
replicação de experimenta cultivar.

Notas finais sobre a estrutura da metodológia de intervenção

Os projectos artísticos abordados demarcam-se pela conexão com as comunidades, mas


também parte com o propósito de reflectir sobre as práticas artísticas nesta área que não é
imune à contaminação da contemporaneidade, à quebra de distâncias e de territorialidades, à
transformação, modificação e constantes mutações que alteram a geografia social em várias
escalas.
A análise destas duas iniciativas parte da possibilidade de se poder enunciar os parâmetros
fundamentais para uma estratégia de actuação em design para a sustentabilidade social.
Uma pesquisa não estandardizavel com uma orientação metodológica destinada à acção. Uma
linha transversal aos dois projectos vialibiza-se na capacidade de gestão estratégica do
processo de trabalho. Ambas as implementações foram minuciosamente planeadas,
correspondendo a um compromisso diário, de ajustar constante do programa e consequente
preparação dos materiais para que a interação acontecesse.
De salientar que para o sucesso dos projectos descritos foi fundamental o envolvimento político
de uma rede de organizações topdown, que conjuga organizações institucionais de peso,
organizações não governamentais e dinamizadores culturais. Este conjunto de atores
demonstrou ter sensibilidade e abertura para criar as condições para a implementação de
projectos experimentais no âmbito do design para a inovação social, onde a autonomia dada
aos criadores, deu espaço para a interpretação da necessidade, e permitiu inovar tendo por
base uma realidade bem concreta.
Ainda que bastantes distintos entre si, os projectos permitem concluir sobre o benefício de
crescimento e de preparação emocional dos intervenientes. Estes futuros designers provaram
serem capazes de intervenção, de se manifestarem, de partilharem ideias e criarem cultura.
Numa só ideia desenvolveram-se como pessoas e tornaram-se seres mais completos.
O resultado muito mais que artístico permitiu quebrar barreiras e proporcionar novos olhares
sobre os outros, saber enfrentar as dificuldade da saída da zona de confronto para construir em
comunidade. Nestes projectos experimentais pulou-se o muro, entrou-se na ilha, plantou-se
flores e legumes, semeou-se a esperança e colheu-se agradecimentos.
Os projetos aqui apresentados serão com certeza uma gota no oceano. Importa reflectir sobre
o modo com a arte e o design estão a responder aos desafios sociais e ambientais que a
civilização demanda (Toynbee, cit. Mau, 2004). Sabendo que nos identificamos como criadores
e não agentes sociais, procuramos ir ao encontro das necessidade do mundo real num
contexto local. Na tentativa de quebrar preconceitos de estruturar propostas válidas, de criar
sonhos que fazem acreditar que é possível recriar o mundo social (Vasconcelos, 2010) onde os
“problems are taken up everywhere, solutions are developed and tested and contributed to the
global commons” (Mau, 2004)

Referências

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design Participativo e Sustentabilidade: ferramentas de
gestão participativa do design (Participatory Design and
Sustainability: Tools for participatory design management)

STRAIOTO, Ricardo; Mestrando; Universidade Federal de Santa Catarina


ricardo.straioto@gmail.com

FIGUEIREDO, Luiz; Dr; Universidade Federal de Santa Catarina


lffigueiredo2009@gmail.com

palavras chave: Gestão Participativa, Gestão de Design, Design para sustentabilidade

O design participativo oportuniza o envolvimento das pessoas, permitindo-as participar mais plenamente
nas decisões que afetam suas próprias vidas, passando do design para as pessoas ao design com as
pessoas. Um ponto chave das discussões atuais do design participativo é a perspectiva da configuração
dos atores envolvidos. Requerendo do designer competências como operacionalizar/facilitar processos de
design participativo entre empreendedores, usuários, ONGs, instituições entre outros atores relevantes,
direcionando esse processo para soluções sustentáveis. Especificamente, este artigo visa articular o
processo participativo com o processo de design, com intuito de se aproximar de uma possível
abordagem para a Gestão Participativa de Design, que inclua o design para a sustentabilidade. Por meio
de uma breve revisão bibliográfica, realizou-se uma pesquisa exploratória sobre os temas de Gestão
Participativa e Gestão de Design, buscando integrá-los, tanto no âmbito conceitual, como prático. Como
resultado gerou-se uma matriz conceitual que busca relacionar participação, as principais filosofias de
design e os desafios organizacionais, como produtividade, competitividade e sustentabilidade. Como
também apresenta uma proposta de ferramenta para traçar estratégias de participação dos atores
relevantes no processo de design.

keywords: Participatory Management, Design Management, Design for Sustainability

The participatory design it make possible the involvement of people, allowing them to participate more fully
in decisions that affect their lives, moving from design for people to design with people. A key point of
current discussions of participatory design is the configuration of the perspectives of the actors involved.
Requiring the designer's skills how to operationalize/to facilitate participatory design processes among
entrepreneurs, users, NGOs, institutions among other relevant actors, directing this process for
sustainable solutions. Specifically, this article seeks to articulate the participatory process with the design
process, aiming to get closer to a possible approach to Participatory Design Management, oriented
towards design for sustainability. Through a brief literature review, was held an exploratory research on
issues of Participatory Management and Design Management, seeking to integrate them, both at the
conceptual and practical. As a result was generated a conceptual matrix that seeks to relate participation,
the main design philosophies and organizational challenges, such as productivity, competitiveness and
sustainability. Also proposes a tool to design strategies for participation of relevant stakeholders at each
stage of the design process.

1 Introdução

A Revolução Industrial criou uma sociedade de consumidores. A enorme escala da economia


industrializada levou à padronização dos produtos e também dos serviços associados a eles.
Isso resultou em enormes benefícios à sociedade, incluindo preços mais baixos, melhor
qualidade e padrões de vida mais elevados. A desvantagem foi que, com o tempo, o papel dos
consumidores passou a ser quase totalmente passivo. Atualmente, a transição para o design
participativo está se tornando rapidamente a norma no desenvolvimento de novos produtos,
assim como projetar experiências que criem oportunidades para o envolvimento e a
participação ativa das pessoas. (BROWN, 2010)
A abordagem participativa no design tem suas origens nos ideais de uma democracia
participativa, onde a decisão coletiva é descentralizada, de modo que todos os indivíduos
aprendem habilidades participativas e pode participar efetivamente de diversas formas na
realização de todas as decisões que os afetam.A participação não é somente para fins de
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obtenção de um acordo. É também de envolver as pessoas na adaptação significativa e
proposital para mudar a sua vida diária. (SANOFF, 2007: 213)
As abordagens sobre design participativo, segundo Pilemalm (2007) originaram-se na década
de 1970 e 1980, quando foram usados como meios para capacitar os trabalhadores no local de
trabalho, permitindo-lhes tomar parte na concepção da tecnologia que eles estavam indo para
usar. Por outro lado, conforme Carrol e Rosson (2007:245-246) a participação direta do usuário
era quase ausente das concepções norte-americanas do design centrado no homem na
década de 1980. Durante a década de 1990, os métodos de design participativo tornaram-se
práticas comuns em todo o mundo. Mesmo que ainda existam diferenças regionais.
Dessa forma, projetando com e para os usuários se tornou um dos pilares do design de
interação, para melhor compreender como os produtos e ferramentas são utilizadas, e para o
uso desses artefatos para subsidiar a formulação de produtos futuros. Neste campo, a
aquisição de habilidades “etnográfica” é um componente importante de ensino e aprendizagem
do design. (LUCK, 2007:222)
A abordagem participativa do design já era defendida por Papanek (1995) no século passado,
para ele o trabalho do designer é o de proporcionar escolhas reais e significativas, permitindo
as pessoas participar mais plenamente nas decisões das suas próprias vidas, e possibilitando a
elas comunicar-se com designers na procura de soluções para os seus próprios problemas.
Passamos então, conforme Thackara (2008:271), do design para pessoas ao design com as
pessoas, essa nova abordagem do trabalho criativo da preferência as interações entre as
pessoas do que aos processos e ferramentas.
Logo, segundo Tim Brown (2010), o designer solitário, sentado sozinho em um estúdio e
refletindo sobre a relação entre forma e função, é substituído pela equipe interdisciplinar. O
isolamento do designer prejudica as iniciativas criativas da organização, pois ficam isolados de
outras fontes de conhecimento e expertise. Para ele, precisamos inventar uma forma de
colaboração que turve as fronteiras entre criadores e consumidores, o design deve ser uma
questão de nós com eles, isto é, devemos “explorar o próximo estágio do design na medida em
que ele migra de designers criando para as pessoas para designers criando com as pessoas e
a pessoas criando por si só” (BROWN, 2010:55).
Somado ao design participativo, destaca-se no debate atual a existência de uma função
potencial do design para a sustentabilidade. Assim, o design operaria como um facilitador e
promotor de inovações de sistemas que resultariam em iniciativas/empreendimentos
ecoeficientes e socialmente justos e coesos. Um ponto chave das discussões atuais é a
abordagem do design sob a perspectiva da configuração dos atores envolvidos, com intuito de
criar e promover formas de interação e de parcerias inovadoras entre atores, requerendo do
designer novas competências, como operacionalizar/facilitar processos de design participativo
entre empreendedores, usuários, ONGs, instituições entre outros, direcionando esse processo
para soluções sustentáveis. (VEZZOLLI, 2010:207)
A inovação voltada para a sustentabilidade requer um alto grau de participação social. Neste
quadro, a partir de uma perspectiva sistêmica de projeto, o usuário torna-se um ator que
coproduz valor e faz parte da inovação. Por outro lado, o designer assume o papel de
facilitador no desenvolvimento de inovações colaborativas e sistêmicas. (KRUCHEN, 2009)
Logo, os designers precisam promover novas relações fora das zonas de conforto do design
clássico, assim, conforme Thackara (2008:39), os designers devem aprender novas formas de
colaborar e conduzir projetos, melhorar a capacidade de todos os cidadãos de se envolver em
um diálogo significativo sobre seu ambiente e contexto e promover novos relacionamentos
entre as pessoas que fazem as coisas e as pessoas que as utilizam.
Conforme Vezzolli, (2010:209), frente a essas novas competências exigidas de um designer,
fica clara a necessidade do uso de novos métodos e ferramentas para auxílio nos processos de
desenvolvimento de sistemas para a sustentabilidade, ou seja, métodos e ferramentas para a
orientação da prática do design de sistemas, levando em consideração a interação e as
relações entre os atores envolvidos.
Neste ponto se encontra parte da problemática da pesquisa, quais métodos e ferramentas
podem ser utilizados para potencializar a participação dos atores relevantes no processo de

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design de sistemas de produtos e serviços sustentáveis?
Entretanto, consideramos também necessário estabelecer uma base conceitual para o
entendimento do design participativo no âmbito das organizações, ou seja, uma matriz
conceitual para compreensão de uma Gestão Participativa de Design.

1.1. Metodologia da Pesquisa


Para se alcançar esse objetivo foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório,
desenvolvida na forma de uma revisão teórica sobre os temas e suas possíveis inter-relações,
utilizando basicamente fontes secundárias. Essa categoria de pesquisa trata-se do estudo para
conhecer as contribuições científicas sobre determinado assunto. Tem como objetivo recolher,
selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado
assunto. (MARTINS, 2000) No caso, pesquisando os temas da Gestão Participativa e da
Gestão de Design, buscando integrá-los no âmbito da Gestão Participativa de Design,
propondo uma matriz conceitual que equacione a participação de atores relevantes, os
desafios organizacionais e as filosofias de design. A pesquisa também resultou em uma
ferramenta para Gestão Participativa de Design, mais especificamente, na configuração da
participação dos atores relevantes em um projeto de design, contribuindo, de forma prática, na
articulação entre o processo de design e o processo participativo.

2 Gestão Participativa de Design

Se antes a inovação era uma exceção e às vezes interrompia a rotina, atualmente deve-se
praticá-la de forma constante. Por esse motivo, algumas organizações elevaram o design às
funções diretivas, em pé de igualdade com as finanças, a produção, a distribuição e o
marketing. (BONSIEPE, 1997)
Esta crescente necessidade de inovação imposta as organizações que concorrem em
mercados cada vez mais dinâmicos, elevou o design a níveis estratégicos dentro das
organizações, fomentando a área da Gestão de Design, que visa, principalmente, a
incorporação da inovação em produtos e serviços, bem como, nos processos operacionais e na
cultura da organização. Assim considerada, a Gestão de Design, pode-se tornar uma das
variáveis decisivas da eficácia organizacional e transformar-se na força motriz da inovação.
(CPD , 1997)
Sendo que, por inovação se entende trazer ao mundo algo novo, que não exista. A inovação
não é simplesmente causalidade, é, sim, uma rigorosamente controlada investigação
sistemática. (BONSIEPE, 1997:30)
No entanto, a maioria das organizações ainda não aprenderam a introduzir a inovação em seus
quadros. O máximo que algumas delas têm feito é atribuir essas responsabilidades a certos
órgãos específicos, como se apenas eles pudessem prover toda a organização da inovação
necessária. Desse modo, os órgãos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da grande maioria
das empresas introduzem forte dose de criatividade para gerar novos produtos e novos
serviços e descobrir novas tecnologias. Porém, a inovação precisa estar presentes em todas as
pessoas dentro da organização e não apenas em algumas. (CHIAVENATO, 1996: 273
Há uma série de maneiras diferentes das organizações abordarem a inovação, porém, segundo
Von Stamm (2008) parece se cristalizar em torno de dois pontos de partida fundamentais: a
abordagem do processo (Gestão de Design) e a abordagem das pessoas (Gestão
Participativa).
Em suma, a abordagem do processo é freqüentemente assumida pelas organizações como um
estágio inicial no caminho da inovação, geralmente inicia-se na formalização de métodos de
design, passando pelas etapas e técnicas utilizadas para conceber e materializar a inovação.
Entretanto, Von Stamm (2008:239) afirma que a criação de uma organização realmente
inovadora requer uma abordagem centrada em pessoas, afinal de contas, são as pessoas que
vêm com idéias e as transformam em inovações, não processos. Cabe ressaltar, que as
pessoas podem promover a inovação no próprio processo, ou seja, promover a inovação na
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própria metodologia ou sistema de gestão.
Com o objetivo de compreender melhor cada uma das duas abordagens propostas,
passaremos a analisar cada uma delas: a abordagem do processo, focada na gestão de
design, como também, a abordagem das pessoas, a partir da gestão participativa. Com intuito
de, em seguida, definirmos uma base conceitual para Gestão Participativa de Design.

2.1 Gestão de Design


Frente à demanda crescente por inovação nas organizações desenvolveu-se a Gestão de
Design, que tem por objetivo atender as necessidades de gestão nas organizações que
reconhecem a importância do design de produto e da comunicação para fazer da inovação algo
significativo e que responda às necessidades reais dos clientes, usuários, consumidores,
investidores, operários e dirigentes. Assim considerada, a Gestão de Design, pode-se tornar
uma das variáveis decisivas da eficácia organizacional e transformar-se na força motriz da
inovação. (CPD, 1997)
Uma definição mais recente de gestão de design provém do Design Management Institute –
DMI(2011): A gestão de design abrange os processos, as decisões e estratégias que permitem
que a inovação e a criação de produtos, serviços, comunicações, ambientes e marcas
projetados de forma eficaz, que melhorem a qualidade de vida e proporcione o sucesso
organizacional. Em um nível mais profundo, a gestão de design visa conectar design, inovação,
tecnologia, gestão e clientes para oferecer vantagens competitivas. É a arte e a ciência de
potencializar o design para melhorar a colaboração e sinergia entre o design e gestão para
melhorar a eficácia do design.
No escopo de aplicação da gestão de design em um nível operacional encontra-se a gestão
táctica da função design na organização e agências de design, incluindo as operações de
design, pessoal, métodos e processos (DMI, 2011). Em suma, é o nível com a responsabilidade
da implementação das novas idéias (CPD, 1997)
A Gestão de Design também atua tanto no nível estratégico da organização, realizando
diagnósticos situacionais, definindo campos de atuação, fazendo do design e da inovação algo
instalado na cultura organizacional (CPD, 1997). O que inclui a defesa estratégica do design
em toda a organização como um diferenciador-chave e condutor de sucesso, a partir do uso de
uma filosofia de design na gestão organizacional, ou seja, usar o processo de design para
resolver os problemas gerais da organização (DMI, 2011; grifo nosso).
No entanto, com as transformações ocorridas desde sua origem, o design pode ser entendido
e, conseqüentemente, praticado de formas diferentes. Nuno Portas (1993) cristaliza três
correntes principais de pensamento em design que embasam as principais filosofias e práticas
de design, bem como a formação da maioria dos designers.

Principais Filosofias de Design: Styling, Funcionalista e Sistêmico


A imagem mais comum do design corresponde a uma escola de designers que ficou na História
com o nome de Styling, que teve seu surto na América do Norte no período entre guerras e, no
pós-guerra, na Europa e Japão. Essa filosofia identifica o design com o “embelazamento de um
dado produto para torná-lo mais atrativo em termos de venda, ou seja, como um fator adicional
de competitividade comercial” (PORTAS, 1993: 233). O designer pautado por esta filosofia
torna-se “um instrumento não na substituição de um produto por outro substancialmente
melhor, mas sim da persuasão do consumidor para substituir os produtos que usa por outros,
apenas porque o aspecto é diferente.” (PORTAS, 1993: 234).
A escola funcionalista é historicamente a primeira surgir, ligada aos tempos áureos da teoria do
design na Europa Central do primeiro pós-guerra, sobretudo pela influência da escola alemã
Bauhaus. Tendência esta muito mais exigente em relação à criação da forma dos produtos na
medida em que procurava racionalizar a concepção do produto para, sobretudo, torná-lo mais
útil e adaptado, melhor manipulável pelo usuário, cujas atividades ou necessidades se vão
conhecendo pela via científica e não por questões de marketing (PORTAS, 1993:235). O
designer funcionalista, “preocupou-se sobretudo com o uso imediato do objeto e em melhorar
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sua utilidade dentro das condições econômicas e técnicas aceitáveis pela indústria.” (PORTAS,
1993: 236)
Por fim, a escola sistêmica resulta do “alargamento” da visão funcionalista, revelada por um
dos mais relevantes aspectos da evolução recente da teoria do design: a concepção de um
produto transcende a lógica do produtor e a lógica do uso individual. Assim, o designer
sistêmico “não se limita ao objeto em si, mas o repensa como componente de sistemas mais
vastos por reconhecer que a simples racionalização tecnológica e formal pode ter na base uma
irracionalidade de necessidades do ponto de vista da economia do país, dos interesses reais
(não fictícios) dos consumidores ou do equilíbrio ecológico ou ambiental.” (PORTAS, 1993:
238)
Complementando, para Manzini (2005), o design assume uma abordagem sistêmica quando a
tarefa de desenvolvimento de um novo produto torna-se o ato de projetar todo o ciclo de vida
do sistema-produto, o inclui etapas como pré-produção(definição de materiais e tecnologias),
produção (transformação do material em produto), distribuição (transporte e venda do produto),
consumo ou uso e o descarte ou eliminação.
Dessa forma, podemos observar o crescente aumento da complexidade projetual passou da
predominância da relação produção-consumo do inicio funcionalista, para ênfase na
distribuição e venda - através do marketing, da gestão e dos agentes econômicos-.E,
atualmente, considerando todo o projeto do ciclo de vida do sistema-produto, incluindo o
descarte ou a eliminação. Frente a problemas cada vez mais complexos, novos modelos
fizeram-se necessários para a compreensão e solução desses problemas. A abordagem
sistêmica é hoje uma das mais utilizadas para entender, intervir ou projetar sistemas de
produção e consumo sustentáveis.

2.2 Gestão Participativa


Passamos agora para compreensão da gestão participativa, relativa à abordagem das pessoas.
O tema da gestão participativa é recorrente desde a antiguidade, com a invenção da
democracia pelos gregos. Desde os conselhos tribais, o senado romano e a democracia
moderna são todas formas de administração participativa ou colegiada. A administração
participativa é prática usual na maioria das organizações, porém, restrita as diretorias e outros
tipos de alto comando. Logo o adjetivo tradicional lhe é apropriado. Entretanto, a inovação é a
ampliação dessa participação aos trabalhadores, clientes e demais atores relevantes. De certa
forma a gestão participativa procurar criar nas organizações contemporâneas agregados de
grupos inteligentes. (MAXIAMIANO, 1995)
“A administração participativa é uma filosofia ou política de administração de pessoas, que
valoriza sua capacidade de tomar decisões e resolver problemas.” (MAXIAMIANO, 1995:19)
Chiavenato (1996:297) aponta a participação com uma das condições para o sucesso
organizacional “A empresa deve proporcionar uma nova cultura organizacional de inovação, de
participação e de envolvimento emocional de todas as pessoas em seu negócio, através do
esforço coletivo e do trabalho em equipe.”
Conforme Maximiano (1995) existem dois modelos básicos de gestão de pessoas e
organizações: o modelo diretivo e o modelo participativo. Esses modelos podem ser
contrastados como pontos opostos da mesma escala, enquanto o modelo diretivo usa
predominantemente os atributos dos cargos, o poder da autoridade formal e obediência, no
modelo participativo predominam a liderança, a disciplina e autonomia.
Nas organizações os dois modelos não são mutuamente exclusivos, ambos se estruturam com
base na autoridade formal dos cargos, mas a organização participativa procura depender
menos desta e mais da liderança e da autonomia do grupo.
Um nível fundamental de distinção entre o modelo diretivo e o participativo é o comportamento
do dirigente em relação aos colaboradores, principalmente no que se refere ao estilo de
liderança. Desde os primeiros estudos experimentais sobre o tema feitos na passagem dos
anos 30 para 40, o critério para se definir liderança é o processo de tomar decisões dentro de
grupos. Um dos primeiros modelos concebidos vem da antiguidade e baseia-se na diferença
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entre governo democrático e autocrático. Sendo que o a autoridade para tomar decisões
poderia estar situada no líder (autocracia) ou no grupo (democracia). Nesse modelo, a vontade
da maioria é uma categoria mista, pois implica a imposição a minoria. (MAXIMIANO, 1995:69)
Logo, se observou que participação na tomada de decisão pode expressar-se em variações
muito maiores do que os pólos, autocracia ou democracia, líder ou grupo, respectivamente. Um
exemplo das nuanças da participação processo de tomar decisões esta apresentada na régua
abaixo (Figura 1), supondo que um dirigente tivesse uma decisão qualquer para tomar ou
problema qualquer para resolver, ele:
Figura 1: Régua para medir a participação do chefe (ou líder) e do grupo no processo decisório (adaptado de
Maximiano, 1995:74)

I. Resolveria o problema ou tomaria a decisão sozinho, sem consultar ninguém, usando a


informação que tivesse no momento.
II.Procuraria informar-se com os subordinados ou outras pessoas e em seguida tomaria a
decisão sozinho. Os subordinados ou outras pessoas não influenciariam a essência de sua
decisão; eles estariam apenas trabalhando para fornecer ao líder a informação necessária.
III. Ele comunicaria o problema aos subordinados as pessoas importantes individualmente,
pedindo suas idéias e sugestões sem reuni-los. Em seguida, tomaria a decisão, que poderia
ou não refletir a participação dos subordinados ou de outras pessoas.
IV. Comunicaria o problema aos subordinados e as pessoas importantes coletivamente,
pedindo-lhes suas idéias e sugestões como grupo. Depois disso, o líder tornaria a decisão,
que poderia ou não refletir as opiniões deles.
V. Ele compartilharia o problema com os subordinados e as pessoas relevantes
coletivamente. Juntos, o líder e seu grupo criariam e avaliariam as alternativas e, finalmente,
procurariam obter uma solução de consenso, como grupo.
VI. O líder comunicaria o problema aos subordinados e as pessoas relevantes
(colaboradores) e lhes pediria que apresentassem uma solução ou decisão, que ele
aceitaria e pela qual se responsabilizaria. Ou seja, o líder delegaria e assumiria junto com
eles as responsabilidades pelas decisões que tomassem
O importante nesta régua de tomar decisões é o fato de que as seis possibilidades podem ser
válidas ou legítimas - dependendo do tipo de decisão. De qualquer forma, é possível utilizá-la
como referência para buscar uma média geral sobre o estilo de liderança do dirigente no
processo de tomada de decisão, podendo ser considerar como uma ferramenta de diagnóstico
de estilo de gestão e de liderança.
Por fim, Chiavenato (1996:298) resume a profunda mudança que um modelo participativo
representa na cultura organizacional. As pessoas passam a ser visualizadas como portadoras
do conhecimento capaz de realizar e alavancar o potencial da empresa. Assim como, os
gerentes devem deixar seu comportamento autocrático e passar a colaborar com o grupo. As
decisões passam a ser compartilhadas entre todos aqueles que estão envolvidos em sua
execução.

2.3 Gestão Participativa de Design: uma proposta conceitual


A partir do que vimos, podemos perceber que a Gestão Participativa de Design pode ser
compreendida como equacionamento entre a abordagem das pessoas - com a forma
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participativa de tomar decisões e trabalhar em grupo-, com a abordagem do processo -
relacionado com as metodologias e ferramentas de design utilizadas para a inovação e para a
solução de problemas dentro das organizações.
Afinal, mesmo que Von Stamm (2008) enfatize a abordagem das pessoas como modelo para
organizações inovadora, não se pode minimizar a importância de uma boa metodologia. Pois,
além de melhorar o desempenho, ela criará as condições para aperfeiçoar o relacionamento
com o cliente. Quando as organizações desenvolvem metodologias e ferramentas de gestão de
design que se completam e se complementam. No entanto, o simples fato de ter uma
metodologia não garante sucesso nem excelência. Pois há necessidade de aperfeiçoamento
como reposta as mudanças constantes no ambiente e na organização. Mudanças que exigem
a dedicação de todos os níveis da organização com uma visão que conduza ao
desenvolvimento de sistemas de gestão de design em completa integração com os demais
sistemas da organização. (KERZNER, 2006) O que volta a abordagem das pessoas, pois
somente elas são capazes de inovar, principalmente através dos métodos de design.
Como vimos anteriormente, o design pode ser entendido e, conseqüentemente, praticado de
formas diferentes, mas Nuno Portas (1993) sintetizou três correntes principais de pensamento
em design são elas: Funcionalista, Styling e Sistêmico. Essa metamorfose do conceito, da
função e da prática do design, de certo modo, acompanhou as mudanças na própria sociedade
em que vivemos e, conseqüentemente, também se refletiram no mercado e no ambiente
organizacional. Para entendermos melhor essas mudanças, faremos uma breve análise com
foco nos desafios enfrentados pela sociedade, que resultou em novas necessidades de
inovação.
Desafios Organizacionais, Participação e Filosofias de Design
Conforme o sociólogo Domênico de Masi (2000), vivemos a efervescência da sociedade pós-
industrial. Esta nova sociedade vem se configurando, segundo Toffler (1997), desde meados do
século XX, quando passamos a vivenciar uma mudança econômica e estratégica profunda,
chamada por ele de “Terceira Onda”. Em contraposição a “Primeira onda” de caráter agrícola e
a “Segunda Onda” de caráter industrial, a “Terceira Onda” cria e explora o conhecimento.
Simbolizada pelo computador e em rápida expansão, essa nova economia vende ao mundo
informação e inovação, administração, cultura, tecnologia, educação, assistência técnica e
financeira, além de outros serviços como o design.
O surgimento dessa economia é fruto de diversos movimentos, segundo Maximiano (1995) dois
merecem destaque: o desafio da competitividade e a evolução tecnológica. Após a abertura
dos mercados com o fim dos monopólios estatais e privados, acentuado nos anos 80 e 90 pela
globalização baseada no livre comércio e a velocidade crescente da evolução tecnológica que
simplificou estruturas e automatizou processos, aliados também aos movimentos de defesa do
consumidor e o aumento da disponibilidade de informação, todos esses fatores, formaram uma
conjuntura que obrigou as organizações a focalizar o planejamento estratégico em duas
prioridades: satisfação do cliente e aumento de produtividade.
Para satisfazer o cliente, é preciso promover sua participação na criação de produtos e
serviços e oferecer-lhe produtos e serviços livres de deficiências. Assim, do mesmo modo que
o cliente foi posto no centro do processo de criação, os operadores e funcionários tornaram-se
o centro do processo produtivo, sendo considerado um elemento-chave para aumento da
produtividade. (MAXIMIANO, 1995)
Além do desafio da competitividade e da evolução tecnológica, potencializados pela
globalização econômica e cultural ligados a difusão das tecnologias de informação e de
comunicação, Manzini(2005) identifica outro fenômeno que coloca em tensão nossa sociedade
contemporânea: a emergência dos limites ambientais para o crescimento econômico. O
fenômeno tem como marco inicial a publicação, em 1972, do relatório “The limits to growth” (Os
limites do crescimento).

Esta consciência sobre os limites ambientais para o crescimento econômico reflete-se na


necessidade de mudanças na forma como produzimos e consumimos, e estende-se até a
forma como percebemos e agimos no mundo, (CAPRA, 2002) essa necessidade de mudança

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difundiu-se mundialmente através do conceito de desenvolvimento sustentável.
(GIANSANTI, 1998 e VANVAN BELLEN , 2007)
Considerando aqui o conceito mais aceito de desenvolvimento sustentável, que é aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
atenderem às suas próprias necessidades. (BRUNDTLAND, 1987)
A sustentabilidade, em uma dimensão econômica-produtiva, deve refletir-se nos produtos,
serviços e processos que precisam ser concebidos, segundo Capra (2002) na perspectiva do
ecodesign, isto é, de forma a diminuir os impactos ambientais. Ou mesmo, conforme Manzini
(2005), se deve projetar todo o ciclo de vida do produto-serviço, considerando as tendências e
a competitividade.
Para Almeida (2003), o desafio da sustentabilidade, por exemplo, apresenta-se para as
organizações como uma oportunidade de inovação, que produz tendências como a
desmaterialização, na qual fluxos de material são substituídos por fluxos de conhecimentos, e
também, como a customização de produtos e serviços.
Entretanto, conforme a União Internacional pela Conservação da Natureza, um modelo de
gestão sustentável depende da plena participação das comunidades, pois assegura que as
decisões sejam corretas e que recebam suporte de todas as partes envolvidas (UICN, 1991)
Frente ao que foi exposto, cada um dos desafios impostos as organizações acarretaram em um
novo foco estratégico para inovação, e conseqüentemente, implicou na inclusão de novos
atores no processo de design dos produtos, serviços, processos e sistemas. Logo, o foco
estratégico assumido pela organização, também deve se refletir na determinação da filosofia de
design.
A tabela (tabela 1), a seguir, apresenta um equacionamento entre os desafios colocados as
organizações, que se refletiram em novos focos estratégicos, bem como, determinando a
participação de diferentes atores no processo de design, e claro, apontando também uma
filosofia de design coerente com o propósito da inovação.

Tabela 1: Desafios Organizacionais e Filosofias de Design (fonte o autor, adaptado de Maximiano 1995, Manzini e
Vezzoli 2005 e Portas 1993).

Desafio Foco Participação Filosofia de


Organizacional Estratégico dos Atores Design
Evolução tecnológica Produtividade Funcionários Funcionalista
Competitividade Satisfação do Cliente Consumidor Styling
Limites Ambientais Sustentabilidade Sociedade Sistêmico

De modo geral, a satisfação do cliente relaciona-se mais fortemente com a corrente do Styling,
isto é, com a persuasão do consumidor através do aspecto mais atraente. Enquanto, a
produtividade refere-se diretamente a escola funcionalista, que procura racionalizar a utilidade
do produto e as condições técnicas da indústria. Por fim, o desafio da sustentabilidade
aproxima-se da concepção sistêmica de design, pois, no decorrer de seu ciclo de vida, os
impactos socioambientais atingem diversos sistemas que vão além do produtor e do usuário,
alcançando a comunidade local e, em última instância, estendendo-se toda a sociedade.
Por fim, em síntese, os desafios com os quais as organizações se deparam nas últimas
décadas do século passado as obrigaram a focalizar suas estratégias na satisfação do cliente e
no aumento da produtividade. Neste inicio de século, a sustentabilidade também passou a
integrar os objetivos estratégicos de algumas organizações. Todos esses desafios mostram-se
como oportunidades desde que a organização saiba aproveitar seu potencial para gerar
inovações, tanto em produtos e serviços, como nos processos operacionais.
Desse modo, considera-se a Gestão Participativa de Design como equilíbrio entre a
necessidade de uma abordagem centrada nas pessoas, com a abordagem do processo.
Considerando a abordagem das pessoas a partir de estruturas participativas, pautadas no
trabalho em grupos que integrem os atores relevantes conforme o foco estratégico da inovação
e que tenham responsabilidade e autonomia para inovação (Gestão Participativa). Como

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também, na abordagem do processo considerando a necessidade da filosofia de design se
refletir nos métodos, processos e ferramentas de design a serem desenvolvidos e utilizados
pelo grupo na resolução criativa de problemas e no processo de inovação (Gestão de Design).
Sobre a abordagem participativa do design, cabe apresentar algumas ressalvas e reforços
provenientes de estudos e experiências recentes.
Conforme Brown (2008), atualmente estamos diante de problemas mais complexos, logo as
equipes tendem a aumentar de tamanho e isso costuma levar a uma grande redução de
velocidade e eficiência à medida que as comunicações entre a equipe passam a consumir mais
tempo do que o processo criativo em si.
Estudo recente sobre tomada de decisão por consenso ou pelo líder sozinho com input da
equipe coloca que a decisão tomada pelo líder pode ser alcançada com menos compromisso e
potencialmente em menos tempo. O estudo conclui que a velocidade da tomada de decisão
está relacionada com a percepção da qualidade da decisão pela equipe, porém a decisão por
consenso da equipe tem a tendência a levar as pessoas a “comprar a idéia” e engajar-se nela
com mais comprometimento. (YANG, 2010)
As conclusões do estudo citado acima, de certo modo, corroboram a afirmação de Luck (2007)
que observa que a adequação das práticas de democracia participativa não pertencem a um
método ou uma regra, mas dependem do contexto de cada situação. Porém, por outro lado,
conforme Brown (2010:59), “invariavelmente, obtemos resultados muito melhores quando o
cliente está a bordo conosco e participando ativamente.”
Tendo em vista o melhor resultado de projeto possível, conforme Carroll e Rosson (2007:243),
o design participativo possui grande relevância, pois, integra duas proposições sobre o projeto.
A primeira é a proposição moral que as pessoas cujas atividades e experiências serão afetadas
mais diretamente por um resultado de projeto deveriam ter uma participação em dizer que esse
resultado é. A proposição moral é que os usuários tenham o direito de ser incluídos diretamente
no processo de design. A segunda é a proposição pragmática que as pessoas que terão de
adotar e, talvez, de se adaptar a um resultado ou artefato do projeto, devem ser incluídos no
processo de concepção, de modo que possam oferecer mais perspectivas e preferências aos
especialistas a respeito da atividade que o projeto irá apoiar e, provavelmente, transformar. A
proposição pragmática é que, incluindo a entrada dos atores relevantes irá aumentar as
chances de um resultado de projeto bem sucedido.
Logo, a seguir apresentaremos uma ferramenta que busca identificar os atores relevantes
(stakeholders) e elaborar estratégias para a participação desses dentro de um projeto de
design. Equacionando as diferentes formas de participação, com as etapas do processo de
design e assim, permitindo definir o nível de participação de cada ator, dentro de cada etapa de
projeto.

3 Ferramenta para Formulação de Estratégia de Participação de Atores Relevantes

O trabalho do designer industrial consiste em encontrar uma solução do problema,


concretizada em um projeto de produto industrial (serviço ou sistema), incorporando as
características que possam satisfazer as necessidades humanas, de forma duradoura
(LOBACH, 2001). Em cada etapa deste processo, muitas decisões devem ser tomadas
relativas às mais variadas características e configurações do produto ou serviço que está
sendo projetado.
No entanto, nessa nova era de inovação colaborativa, os designers estão tendo de evoluir de
autores individuais de objetos, ou construções, para facilitadores da mudança entre grandes
grupos de pessoas. Pois, sistemas complexos são moldados por todas as pessoas que os
utilizam. (THACKARA, 2008)
Idealmente, todos os interessados em participar do mesmo circuito interno de design também
devem continuar a participar de forma significativa quando projeto é especificado, executado,
entregue, instalado e usado. As partes interessadas, em especial os usuários diretos do
artefato ou sistema concebido seriam incluídos no projeto, juntamente com os gerentes,
colaboradores, clientes, fornecedores e outros, cujas práticas seriam afetados pelo projeto. O
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processo de planejamento participativo torna-se uma negociação entre os parceiros sociais, e a
responsabilidade do designer nesse processo é o de traduzir fielmente, colaborar e responder
às preocupações dos outros intervenientes. (Carroll e Rosson, 2007:243)
Dessa forma, chegamos a necessidade de uma abordagem participativa de design. Assim, faz-
se necessário um equacionamento entre o processo de design e o processo participativo.
Sendo que esse último, conforme Karner (1998) é definido como uma dinâmica de grupo para
tomada de decisão. A questão passa a ser como formar o grupo de atores relevantes?
Fornecedores, consumidores, usuários, ONGs, agentes públicos, etc.. Quais destes devem
integrar o processo de design, e em que etapa? Outra questão é qual o nível de participação
pertinente para cada ator?
Como forma de equacionar tanto o processo de design como o processo participativo de
tomada de decisão usaremos, inicialmente o modelo formulado pelo departamento ambiental
do Banco Mundial (McCRACEN, 1997), que equaciona as fases do processo de design com os
tipos de participação.

Ferramenta: Análise dos Atores Relevantes (McCRACEN, 1997)


Análise dos atores relevantes (stakeholders) é uma ferramenta vital para a compreensão do
contexto social e institucional de um projeto ou política. Seus resultados podem fornecer
informações essenciais sobre: quem será afetado pelo projeto (positiva e negativamente),
quem poderia influenciar o projeto (também, positiva e negativamente) quais os indivíduos,
grupos ou entidades precisam estar envolvidos no projeto, e como, e quais capacidades devem
ser construídas para lhes permitir participar.
Sendo que “Atores relevantes são pessoas, grupos ou instituições quais possam ser afetados
(negativa ou positivamente) por uma intervenção proposta, ou aquelas quais podem afetar o
resultado da intervenção." (McCRACEN, 1997:2)
Análise dos atores relevantes, portanto, fornece uma base e estrutura para o planejamento
participativo, implantação e monitoramento. A análise dos atores relevantes é essencialmente
um processo de quatro etapas:

Passo 1. Identificar os principais atores relevantes


Indicar quem deve ser envolvido no trabalho e que podem ajudar no processo. A primeira etapa
da Análise dos Atores Relevantes é identificar os principais atores relevantes, a partir do amplo
leque de instituições e indivíduos que poderiam afetar ou serem afetados pela intervenção
proposta. Ao responder às perguntas abaixo, considere os beneficiários, os grupos afetados, e
outros grupos interessados.
• Quem são os beneficiários em potencial?
• Quem pode ser adversamente afetado?
• Quais grupos vulneráveis foram identificados?
• Quais apoiadores e opositores foram identificados?
• Quais são as relações entre os atores relevantes?

Passo 2. Avaliar o interesse dos atores relevantes e do potencial impacto do Projeto sobre
esses interesses
Uma vez que os principais grupos foram identificados, seus possíveis interesses no projeto
devem ser considerados. Alguns interessados são menos óbvios do que outros e podem ser
difíceis de definir, especialmente se eles estão "escondidos", em grupos ou em contradição
com os objetivos pretendidos- da organização ou do indivíduo. As perguntas abaixo podem
orientar o inquérito sobre o interesse de cada ator relevante no processo.
• Quais são as expectativas das partes interessadas de projeto?
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• Quais são os prováveis benefícios para os atores relevantes?
• Que recursos os interessados podem ser capazes e dispostos a mobilizar?
• Quais conflitos de interesse dos atores relevantes com os objetivos do projeto?

Passo 3. Avaliar a influência e a importância dos atores relevantes


Influência refere-se ao poder que os atores relevantes tenham no projeto. Pode ser exercido
por meio do controle do processo decisório, diretamente ou indiretamente facilitando a
execução do projeto. Esse controle pode vir de status ou poder dos atores relevantes, ou a
partir de ligações informais com os líderes.
Outra variável, a de importância, diz respeito ao grau em que a realização dos objetivos do
projeto depende da participação ativa de um grupo de atores relevantes.
Para cada grupo de atores relevantes, avaliar seus:
• poder e status (político, social e econômico)
• grau de organização
• controle de recursos estratégicos
• influência informal (por exemplo, conexões pessoais) *rede de relacionamentos
• relações de poder com outros atores
• importância para o sucesso do projeto
Tanto a influência e a importância dos diferentes grupos de atores relevantes podem ser
classificadas em escalas simples, e mapeados uns contra os outros, como um passo inicial na
determinação de estratégias apropriadas para o seu envolvimento.

Etapa 4. Delinear uma estratégia de participação dos atores


Com base nas três etapas anteriores do processo de Análise dos Atores Relevantes, algum
planejamento preliminar pode ser feito sobre como os diferentes atores relevantes podem ser
melhor envolvidos nas etapas subseqüentes do projeto. Sugere-se planejar a participação dos
atores de acordo com:
• interesse, importância e influência de cada grupo de atores
• esforços especiais necessários para envolver os atores relevantes importantes que
carecem de influência
• formas adequadas de participação em todo o ciclo do projeto.
Como uma “regra de ouro”, as abordagens adequadas para a participação dos atores
relevantes de diferentes níveis de influência e importância podem ser do seguinte modo:
• atores relevantes de influência alta e alta importância devem estar estreitamente
associados ao longo do projeto de assegurar o seu apoio;
• atores relevantes de influência de alta, baixa importância não são o alvo do projeto,
mas podem opor-se a intervenção, o que, portanto, necessitam, conforme o caso,
serem informados e as suas opiniões reconhecidas, para evitar perturbações ou
conflitos;
• atores relevantes de influência baixa, alta importância exigem um esforço especial
para assegurar que suas necessidades sejam satisfeitas e sua participação é
significativa; e
• atores relevantes de influência de baixa, pouca importância não são susceptíveis
de estarem intimamente envolvido no projeto e não necessitam de estratégias de
participação especial (para além das estratégias de compartilhamento de informações
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para o "grande público").
A tabela 2 apresentada abaixo, chamada Matriz de Análise dos Atores Relevantes, integra as
informações geradas na análise os atores relevantes, e permite definir as estratégias de
participação dos mesmos no desenvolvimento do projeto em questão.

Tabela 2: Formulação da Estratégia de Participação dos Atores Relevantes

Tipo de Compartilhament Consultivo Colaboração Empoderamento


participação / o de informação (fluxo de duas (controle (transferência do
(fluxo de uma-via) vias) crescente sobre a controle sobre as
Estágio processo tomada de decisões e
de design decisão) recursos)
1 Análise do
Problema
2 Geração de
Alternativas
3 Avaliação das
Alternativas
4 Realização da
Solução

Conforme Lobach(2001), o processo de design deve buscar a definição e análise do problema,


bem como a geração e avaliação de alternativas e, por fim, a realização e avaliação da
solução, só que, como vimos, permitindo ao designer fazê-lo de modo participativo.
Cabe ressaltar que, em alguns casos, a análise dos atores relevantes envolve a identificação e
discussão de informações sensíveis (como as agendas escondidas/secretas de determinados
grupos de atores, ou por que certos grupos são susceptíveis de se opor ao projeto), que muitas
vezes são mais propensos a configurações mais privadas. Seguem algumas dicas:
• Melhor fazer com os principais grupos de atores;
• Usar sempre que possível métodos participativos: Workshops de atores relevantes, as
consultas locais, diagnóstico participativo; e
• Usar dados secundários, quando disponíveis, confiáveis.
Com complemento à revisão de dados secundários e reunião com atores relevantes
selecionados, várias outras técnicas mais participativas podem ser usados para coletar
informações. O uso de abordagens participativas na análise dos atores relevantes também cria
um senso de propriedade sobre o trabalho de forma mais ampla pelos atores interessados. Os
workshops de atores relevantes são especialmente úteis no início do processo para gerar uma
lista completa dos grupos atores relevantes e, na fase final do trabalho de análise para
construir um consenso sobre a estratégia de participação dos principais interessados.

4 Considerações

Por fim, considera-se pertinente um esclarecimento sobre o uso da terminologia participativa


entre a expressão Gestão e Design. Ao propor um modelo participativo de gestão de design,
outros termos também pareciam adequados em um primeiro momento, como colaborativo ou
mesmo cooperativo. No entanto ao confrontar os resultados encontrados durante a pesquisa,
com a definição fornecida pelo Michaelis Moderno Dicionário de Língua Portuguesa para cada
termo foi definida a manutenção do termo derivado de participação e participar.
O dicionário define colaboração como ato de colaborar, cooperação. Sendo que Colaborar é
definido como Trabalhar em comum com outrem na mesma obra. Cooperar para realização de
qualquer coisa. Enquanto, Cooperação é definido como Ato de cooperar, colaboração. E
Cooperar é definido como Agir ou trabalhar junto com outros para um fim comum, colaborar.
Desse modo, as duas definições apresentam-se muitas próximas, sendo que uma é faz parte
da definição da outra.

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Por outro lado, o dicionário define Participação como Ato ou efeito de participar,
metaforicamente: União da parte com o todo, do ser finito com infinito. Além disso, o dicionário
define Participar como Ter ou tomar parte em, Associar-se pelo pensamento ou sentimento,
solidarizar-se.
Dessa forma, conforme as divisões da gestão de design em níveis estratégicos e operacionais
colocam a definição de cooperação e colaboração associada de modo mais direto ao trabalho
em grupo, buscando um resultado em comum.
Logo, consideramos que, cooperação e colaboração são nomenclaturas mais adequadas para
um nível operacional, ou, conforme a divisão apresentada por Von Stamm(2008), os termos se
relacionam mais com a abordagem do processo. Enquanto, a definição de participação se
coloca mais próxima de um nível estratégico, ou até mesmo, filosófico de gestão, que
compartilha significados próximos ao de liderança, disciplina e democracia, exposto no modelo
conceitual de uma gestão participativa, na medida em que prega União da parte com o todo, ou
seja, das partes interessadas (funcionários, clientes, fornecedores e comunidade em geral)
com toda a organização. No caso específico da gestão participativa de design, associar-se pelo
pensamento a uma filosofia ou mentalidade de design, de modo que todas as partes estejam
comprometidas com o todo, colocando a inovação e o design como mentalidade/filosofia da
organização, ou seja, como responsabilidade de todos dentro da organização.
Por fim, considera-se a terminologia gestão participativa de design, mais adequada na medida
que se refere ao foco na filosofia de gestão de design, que apresenta alguns conceitos e
estruturas centrada nas pessoas, do que com métodos e processos específicos de gestão de
design. Pois, conforme foi exposto são as pessoas que promovem a inovação, inclusive nos
processos e metodologias, como também, na própria filosofia.
Além das considerações sobre a terminologia, cabe também argumentar sobre a justificativa da
pesquisa, seja pela perspectiva social, por buscar a inclusão da sociedade, através de atores
sociais relevantes no processo de produção de bens e serviços, contribuindo com métodos e
estratégias de empoderamento e capacitação de comunidades para a resolução de seus
próprios problemas, através de métodos de design. Ou mesmo, justificando pela perspectiva
simbólica, pois a possibilidade das pessoas participarem dos processos que as envolvem,
fortalece a sentido de pertencer, além de que, como a própria palavra participar traz em sua
raiz a noção de parte de um todo, fortalecendo o espírito coletivo e a compreensão de fazer
parte de algo maior, zelando por esse todo do qual se faz parte. Assim potencializando a
interpretação da democracia participativa de forma mais ampla e plena.

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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Design para a Sustentabilidade e Metodologias de Projeto:
um estudo sobre a integração de princípios e ferramentas
aos métodos de projeto (Design for Sustainability and
Design Methodologies: a study on the integration of
principles and methods of design tools)

MORAES, Laíse Miolo de; Mestranda; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
laisemoraes@gmail.com

VAN DER LINDEN, Júlio; Dr.; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
julio.linden@ufrgs.br

CATTANI, Airton; Dr.; Universidade Federal do Rio Grande do Sul


marcavisual@portoweb.com.br

Palavras chave: design; sustentabilidade; metodologias de projeto.

O discurso da sustentabilidade envolve a sociedade com preocupações sobre a questão ambiental, o


consumo consciente e o uso de novos produtos ecoeficientes. Nesse contexto, observa-se a atividade do
design como participante no desenvolvimento industrial e econômico, mas com necessidade de assumir
responsabilidade social e ambiental. Contudo, isso depende da ampliação do foco do design e da
formação de novos designers com orientação para a sustentabilidade. Assim, esse trabalho relata um
estudo, realizado com alunos da graduação em Design, que teve por objetivo inserir os conceitos do
Design para a Sustentabilidade na disciplina de Metodologia de Projeto. Para tanto, princípios, diretrizes e
ferramentas para projetos mais sustentáveis foram integrados aos métodos apresentados por Löbach
(2001) e Baxter (1998), adotados na disciplina. Essa abordagem foi aplicada no projeto de produtos
visando a redução do consumo de água, em três contextos: Redesign Ambiental, Novos Produtos
Sustentáveis e Produtos-Serviços. Os resultados mostram que os princípios ampliam o escopo das
análises ambientais; e que, para projetos orientados à sustentabilidade, é possível adequar as
ferramentas preconizadas pelos autores para a análise do problema. Essa abordagem pode ser aplicada
ao longo do curso, em diferentes tipos de projetos, facilitando as análises ambientais no desenvolvimento
de produto.

Keywords: design, sustainability, design methodologies.

The discourse of sustainability involves the society with concerns about environmental issues, the
consumer awareness and use of new eco-efficient products. In this context, we observe the design activity
as a participant in the industrial and economic development, but yet they need to assume social and
environmental responsibility. However, it depends on the broadening of design focus and the training of
new designers with guidance for sustainability. Thus, this paper reports a study conducted with
undergraduate students in design, which aimed to embed the concepts of Design for Sustainability in
teaching Design Methodology. For this purpose, principles, guidelines and tools for more sustainable
projects were integrated into the methods presented by Löbach (2001) and Baxter (1998), adopted in the
discipline. This approach was applied in the design of products aimed at reducing water consumption in
three contexts: Environmental Redesign, Sustainable New Products and Product-Services. The results
show that the principles extend the scope of environmental analysis and that, for projects aimed at
sustainability, it is possible to adapt the tools recommended by the authors to analyze the problem. This
approach can be applied throughout the course, in different types of projects, facilitating the environmental
analysis in product development.

1 Introdução – cenário da proposta

O mundo contemporâneo caracteriza-se pelo desenvolvimento da tecnologia, da produção de


bens industriais e do consumo. No entanto, a geração de resíduos e descartes do sistema
industrial acompanhou esse progresso, causando a maioria dos problemas socioambientais.
Atualmente, a sociedade vive sob a preocupação com a questão ambiental, o discurso da
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sustentabilidade e a busca por consumidores mais críticos. No campo do design, tem se
consolidado a preocupação com as tecnologias empregadas, a minimização do uso de
recursos e o impacto ambiental dos produtos.
Ainda, observa-se a atividade do design como uma das grandes responsáveis pela
manutenção do desenvolvimento industrial, ambiental e social, para o contínuo crescimento
econômico. Contudo, isso só pode ser alcançado com a formação de uma cultura de designers
conscientes da problemática ambiental, preparados para projetar frente aos princípios da
sustentabilidade. No entanto, para Margolin e Margolin (2004), tem-se dado pouca atenção
para mudanças no ensino e na educação de designers orientadas por essa vertente, o que
prepararia estes profissionais para projetar para as diversas camadas sociais ao invés de
apenas para o mercado de consumo. Assim, os saberes relacionados às questões ambientais
e ecológicas devem ser trabalhados também com os alunos de design, de maneira a formar um
novo pensamento epistemológico. Para Lepre e Santos (2008), os alunos devem ser capazes
de discernir as ferramentas de projeto que fazem a relação destes conhecimentos, permitindo
uma visão mais abrangente do que pode ser feito no projeto.
Portanto, acredita-se na necessidade de formação de designers preparados e críticos para
atuar no cenário da sustentabilidade, tanto no que diz respeito ao conhecimento da cultura e
ética ecológica, como da disponibilidade de ferramentas e métodos para projetar sob essa
perspectiva. Assim, este trabalho é parte do desenvolvimento de dissertação de mestrado, que
tem como objetivo a integração de princípios, diretrizes e ferramentas de Design para a
Sustentabilidade nas atuais metodologias de projeto utilizadas no ensino de Design.
Esta pesquisa teve início com a análise dos principais métodos de projeto utilizados no
ensino de Design no Brasil, destacando-se a ocorrência de procedimentos que denotam a
preocupação ambiental, a saber, os autores: Bonsiepe (1984), Munari (2002), Löbach (2001),
Baxter (1998), Back (2008), Frascara (1996), Kaminski (2008), Barbosa Filho (2009) e De
Moraes (2010). Observou-se que poucos apresentam técnicas ou processos para a condução
de análises ambientais. Muitos deles tratam da necessidade de atender a princípios orientados
à sustentabilidade, mas de maneira apenas teórica, sem aprofundar-se em ferramentas.
Assim, uma proposta que incorpora ferramentas de projeto voltadas à questão da
sustentabilidade está sendo aplicada na disciplina de Metodologia de Projeto da graduação em
Design da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e em parceria com a disciplina de
Engenharia de Produto - 1, do curso de Engenharia da Produção da UFRGS. Os alunos de
ambas as turmas estão realizando, de forma integrada, projetos orientados à redução do
consumo de água.
Com o desdobramento deste trabalho, foi desenvolvido uma proposta de ferramenta para
ser aplicada na fase de análise ambiental, a qual integra princípios e diretrizes orientadas à
sustentabilidade, nos métodos de projeto adotados no ensino da graduação em Design –
Baxter (1998) e Löbach (2001). Assim, visa-se contribuir para a incorporação do conceito de
Design para a Sustentabilidade no processo de ensino-aprendizagem de projeto sem a
necessidade de adoção de novos métodos e aprimorando os existentes.

2 A proposta da pesquisa

A aplicação desta pesquisa está acontecendo, no primeiro semestre de 2011, e teve por
objetivo integrar os conceitos de Design para a Sustentabilidade às aulas teóricas e nos
projetos da disciplina de Metodologia de Projeto do Curso de Graduação em Design da
UFRGS. A disciplina ocorre no segundo semestre do curso e forma duas turmas, uma
composta de oito alunos e outra de 24. Nesta disciplina, os discentes já estavam orientados a
desenvolver produtos visando à redução do consumo de água, desenvolvendo os seguintes
projetos: cubas para cozinhas industriais, duchas de banho para condomínios populares,
lavadoras automáticas de roupas para usuários da terceira idade, bebedouros para mobiliário
urbano e torneiras misturadoras para hotéis.
Para o desenvolvimento desse trabalho, foram definidas orientações e requisitos, para cada
um dos 5 grupos de projetos, bem como, foi feito um plano de aulas para parte do semestre. A

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Figura 1 mostra o quadro de definição dos projetos, os quais foram divididos em três
abordagens para a sustentabilidade, conforme os autores Manzini e Vezzoli (2002): Redesign
66
ambiental, Novos Produtos Sustentáveis e Sistema Produto-Serviço . Os grupos de projeto,
compostos por 6 a 8 alunos, utilizaram dois métodos, baseados em Löbach (2001) e Baxter
(1998), conforme previsto na ementa da disciplina. Para os projetos seguirem uma orientação
de mercado, cada um é hipoteticamente projetado para uma empresa reconhecida em seu
setor, por exemplo, as máquinas de lavar serão projetadas para a Brastemp. Para o mesmo
direcionamento, foi definido inicialmente o público de cada projeto, focando as pesquisas para
o produto. Além dos projetos conceituais dos produtos, os alunos projetarão a identidade visual
e a embalagem dos produtos. Isso porque a turma de Design é composta de alunos da
graduação em Design de Produto e Design Visual.
Como os produtos são voltados à ecoeficiência, alguns princípios do Design para a
Sustentabilidade foram alocados como requisitos ambientais em cada projeto. Por exemplo, o
projeto da ducha precisa prever a “reciclabilidade” do produto. Bem como, foram definidas as
ferramentas de análise que seriam utilizadas por cada grupo, o que é melhor explicado na
próxima sessão deste artigo.

Figura 1: Quadro das definições dos projetos. Fonte: Desenvolvido pelos autores.

O planejamento das aulas pode ser visto na Figura 2. Iniciou-se o trabalho com os alunos
acerca dos conceitos de Design para a Sustentabilidade com exemplos de tipos de projetos
orientados à sustentabilidade e os princípios ambientais. Foram aulas de explanação teórica e
de discussão de alguns textos e vídeos sobre o tema.

66
Redesign ambiental: é o processo que visa melhorar a eficiência de um produto em termos de
consumo de matéria e energia, além de facilitar a reciclagem de seus materiais e a reutilização de seus
componentes.
Novos produtos sustentáveis: é o projeto de produtos que oferece os serviços ecologicamente mais
favoráveis em relação aos demais. A inovação técnico-produtiva deve ser mais facilmente direcionada à
busca de uma qualidade ambiental e social.
Sistema produtos-serviços sustentáveis: o projeto considera o mix produtos-serviços de forma
socialmente apreciável e radicalmente favorável ao meio ambiente, de modo a superar a inércia cultural e
comportamental dos consumidores. Nesta proposta, a ideia é que o projeto não seja simplesmente um
bem material, evoluindo a uma direção sistêmica que incorpora serviços e informações aos produtos. Tal
dinâmica implica a ação de modelos colaborativos, que incluam o usuário (MANZINI E VEZZOLI, 2002,
KRUCKEN, 2009).
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Figura 2: Quadro de resumo das aulas. Fonte: Desenvolvido pelos autores.

Em seguida, trabalharam-se diretamente com os métodos de projeto, dos autores Baxter


(1998) e Löbach (2001). As aulas destinaram-se a explanação sobre os métodos e
acompanhamento das análises propostas pelos autores. Desse modo, em cada aula estudava-
se e realizava-se uma análise ou ferramenta; por exemplo, análise de estilo feita através de
painel semântico.
Após terem sido abordadas as ferramentas de definição do problema proposta pelos
autores, iniciou-se o processo das análises ambientais, que foram integradas aos métodos.
Depois de todo o problema e escopo do projeto levantado, iniciou-se o projeto conceitual, com
as aulas sobre técnicas de criatividade e desenvolvimento dos desenhos.

2.1 Os métodos utilizados nos projetos

Dentre os vários métodos de projeto utilizados no ensino de metodologia de projeto, dois


autores foram adotados na disciplina: Baxter (1998) e Löbach (2001); por apresentarem
processos de projeto com diferentes características, aquele orientado à gestão do processo de
desenvolvimento de produto e este ao projeto de produto. Contudo, como os demais autores,
esses autores também denotam a falta de ferramentas e até mesmo de princípios ambientais
para o desenvolvimento de projetos.

Para Löbach (2001), o processo de design pode se desenvolver de forma bastante


complexa, dependendo do problema. Assim, divide sua metodologia em quatro fases principais
do processo criativo que resultam na solução de um problema. O processo apresenta inúmeras
análises, como: a histórica, da necessidade, da relação social, do mercado, entre outras.
Encontra-se na fase de Definição do problema, a proposta de uma análise ambiental, definida
como: ‘a análise da relação com o meio ambiente, onde devem ser consideradas todas as
relações recíprocas entre a possível solução (produto) e o meio ambiente onde será utilizado’
(Löbach, 2001, p. 143). Devendo-se efetuar um prognóstico de todas as circunstâncias e
situações em que o produto será utilizado durante sua vida útil, analisando-se as ações do

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meio ambiente sobre o produto (condições meteorológicas, sujeira, etc.), e as ações do produto
sobre o meio ambiente (poluição, impacto ambiental, etc.). A partir disso, é possível inferir que
Löbach (2001) descreve apenas um conceito de análise de ciclo de vida do produto.

Por seu lado, Baxter (1998) propõe a análise de ciclo de vida do produto já na fase de
conceitual de processo de desenvolvimento de produto. Para ele, esta análise pode ser usada
no sentido de redução de impactos ambientais, mas, principalmente como possibilidade de
inovação e melhora econômica em alguma fase da vida do produto. Sua ênfase está nos
aspectos mercadológicos, pré e pós-projetuais, sempre verificando a possibilidade de real de
produção e inserção do novo produto no mercado. Durante o processo existe uma série de
ferramentas desenvolvidas para auxiliar as etapas projetuais, onde se consideram as
preocupações ambientais em algumas técnicas como: a modularidade, os componentes
intercambiáveis e a otimização de materiais e componentes. O conceito e os passos da análise
do ciclo de vida são explicados na ferramenta 30 de seu livro com a construção do fluxo de vida
do produto, desde a entrada da matéria-prima na fábrica, passando pela produção, distribuição
e uso, até o descarte final do produto (Baxter, 1998).

Observa-se que esses métodos consideram as questões ambientais, no entanto, não


trazem muitas orientações para o desenvolvimento dessas análises. Isso se deve ao fato de
que no período em que as metodologias foram desenvolvidas, o problema socioambiental não
era discutido com a ênfase que ocorre atualmente. Mas, ainda hoje, encontram-se basicamente
princípios e guias para projetos orientados à sustentabilidade, publicados em livros sobre o
tema, mas que não tratam dos métodos de projeto. Já as ferramentas quantitativas existentes
são muito difíceis de serem implementadas, mas podem ser utilizadas de maneira qualitativa,
como se explicará na proposta de desenvolvimento das análises ambientais.

3 Processo das Análises ambientais

O processo das análises ambientais foi desenvolvido com base em revisão bibliográfica,
principalmente dos autores Kazazian (2005) e Manzini e Vezzoli (2002). Esse processo foi
integrado aos métodos na fase de definição do problema e está resumido na Figura 3 a seguir.

Figura 3: Processo de desenvolvimento das análises ambientais. Fonte: Desenvolvido pelos autores.

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Inicialmente os alunos identificaram quais princípios ambientais precisariam seguir como
requisitos do seu projeto, apresentados no quadro de projetos (Figura 1). Esses princípios se
tornaram a estratégia norteadora da análise ambiental, sendo o requisito de maior importância
a se considerar nos próximos passos. A seguir, foi proposto aos alunos, fazerem a Análise do
Ciclo de Vida do produto atual ou similar. O conceito adotado para ciclo de vida do produto é o
de Manzini e Vezzoli (2002):
Refere-se às trocas (inputs e outputs) entre o ambiente e o conjunto dos processos que acompanham
o “nascimento”, “vida” e a “morte” de um produto através dos fluxos de matéria, energia e emissão.
Considera-se o produto desde a extração dos recursos necessários para a produção dos materiais
que o compõe até o último tratamento após o uso do produto. Esses processos vêm agrupados nas
seguintes fases: Pré-produção, Produção, Distribuição, Uso e Descarte (Manzini e Vezzoli, 2002, p.
22).
A Análise de Ciclo de Vida (Life Cycle Analise) é uma técnica para avaliar os aspectos
ambientais e os potenciais impactos durante todo o ciclo de vida do produto ou de um serviço,
no âmbito da saúde ecológica, saúde humana e do esgotamento de recursos naturais. Os
autores afirmam que esse método quantitativo é hoje o modelo de referência internacional em
algumas normas, como a ISO 14000. Contudo, é muito complexo e custoso para as indústrias
e, no caso do desenvolvimento de projeto, não se tem domínio sobre todas as fases do projeto,
onde se envolvem fornecedores e decisões de terceiros. Por conta disso, a proposta de
aplicação desta análise pelos alunos, é de cunho qualitativo, onde observa-se o
comportamento do produto durante sua vida útil, os possíveis impactos ambientais para então,
identificar quais as fases do ciclo poderiam obter melhorias no novo projeto. Ademais, com esta
análise adota-se uma visão sistêmica de produto, não se projetando mais apenas um produto,
mas identificando possíveis melhoras no sistema-produto. Assim, os futuros designers
entendem como reduzir com eficácia os impactos dos produtos em uma fase do ciclo de vida,
sem se limitar a deslocar tais problemas para outra fase do ciclo de vida do produto.
Após realizar a análise do ciclo de vida do produto, propõe-se o Projeto do Ciclo de Vida do
novo produto (Life Cycle Design – LCD). Essa é uma ferramenta desenvolvida pelos autores
Manzini e Vezzoli (2002), considerada uma proposta mais avançada em termos de definição
dos conceitos a serem seguidos do que em termos de aplicações práticas. Assim, seu objetivo
é identificar as fases estratégicas do ciclo para a redução do impacto ambiental desejado, a
partir dos princípios de sustentabilidade adotados no projeto. A intenção é criar uma ideia
sistêmica do produto em que os inputs de materiais e de energia, emissões e refugos sejam
reduzidos ao mínimo possível, seja em termos qualitativos ou quantitativos.
Manzini e Vezzoli (2002) apresentam o LCD em forma de estratégias, linhas guias e
referências para integrar os requisitos ambientais no desenvolvimento dos produtos e dos
serviços. Em termos gerais, eles colocam que é muito improvável que apenas uma estratégia
consiga satisfazer os requisitos ambientais. No entanto, a escolha de duas ou mais estratégias
podem ser conflitantes para o ciclo de vida do produto. Por isso, é necessário estabelecer as
prioridades em relação aos objetivos e consequentemente qual estratégia seguir. As
estratégias apresentadas pelos autores para o Projeto do Ciclo de Vida são:
 Minimização de recursos: projetar em busca de reduzir o uso de materiais e energias
em todas as fases do ciclo de vida;
 Escolha de processos e recursos de baixo impacto ambiental: selecionar materiais,
processos e fontes energéticas atóxicas e não nocivas;
 Otimização da vida dos produtos: projetar artefatos que durem no tempo e que sejam
utilizados intensamente por meio de reaproveitamento de componentes e de
reciclagem;
 Extensão da vida dos materiais: projetar em função da reciclagem, combustão ou
compostagem dos materiais descartados;
 Facilidade de desmontagem: projetar em função da facilidade de separação das partes
(design for disassembly), visando à facilidade de manutenção, reparos, updating ou
reuso.
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Os autores colocam que as ações para o Projeto do Ciclo de Vida têm início após as
estratégias do projeto do produto já estarem definidas, ou seja, as outras análises do problema
de design já terem sido realizadas. Desse modo, as estratégias do LCD estarão apoiadas nos
princípios ambientais, os quais foram utilizados como os requisitos para cada projeto de
produto.
No LCD as cinco estratégias formam um conjunto de guias e diretrizes para os projetos e
trazem benefícios para todo o ciclo de vida do projeto. Assim, ‘minimização do uso de recursos
e a escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental’ são prioritárias, pois geram
benefício para todo o ciclo de vida. Já as estratégias de ‘otimização da vida dos produtos e
extensão da vida dos materiais’ são direcionadas a durabilidade (fase de uso) e reciclagem
(fase de fim de vida) e são percursos indiretos para as estratégias anteriores. A ‘facilidade de
desmontagem’ é uma estratégia direcionada à reciclagem, ou seja, o fim de vida. Por isso, foi
necessário identificar em qual fase do ciclo cada diretriz tem resultado, conforme se observa na
Figura 4.

Figura 4: Relação das estratégias do Ciclo de Vida do Produto com as fases de vida do produto. Fonte: desenvolvido
pelos autores.

Desse modo, as diretrizes de Manzini e Vezzoli (2002) foram distribuídas conforme as fases
do Ciclo de Vida e, para os alunos terem uma visão geral das principais estratégias do Projeto
de Ciclo de Vida (LCD), adaptou-se a Roda de Ecoconcepção de Kazazian (2005). Nesta figura
observa-se um ciclo de vida com diretrizes para o projeto, onde em cada fase o aluno irá
encontrar inúmeras diretrizes para seguir no seu projeto, atendendo a fase estratégica do ciclo
de vida do novo produto.

Figura 5. Roda de Ecoconcepção do Projeto do Ciclo de Vida. Fonte: Kazazian (2005). Adaptado pelos autores.

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Em seguida, para quantificar as análises de ciclo de vida foi adotada uma tabela de Excel
como ferramenta, incluindo as fases do Ciclo e suas principais diretrizes, de modo que é
possível dar notas de 1 a 5 para cada fase. O objetivo desta ferramenta é comparar o produto
anterior/similar com o novo produto, o qual utilizou os princípios e as diretrizes do projeto do
Ciclo de Vida. A partir dos resultados numéricos das tabelas se gera um gráfico radar
comparativo e verifica-se se houve uma melhora no produto nas fases estratégicas.

Figura 6: Detalhe da tabela do Ciclo de Vida para análise do produto anterior e do novo produto. Fonte: desenvolvido
pelos autores.

Figura 7: Gráfico radar comparativo do produto anterior e do novo produto. Fonte: desenvolvido pela autora.

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4 Resultados preliminares

A conscientização sobre o problema ambiental e o impacto da atuação profissional do design,


direcionou a pesquisa dos alunos por produtos e serviços ecoeficientes, bem como orientou
discussões sobre comportamentos sociais e culturais relacionados à redução do consumo de
água. Desse modo, desde as primeiras aulas, pode-se perceber um bom entendimento e
posicionamento crítico dos alunos sobre as questões da sustentabilidade e sociedade.
Em nível de projeto e de processos industriais, estudaram-se os princípios que vão ao
encontro da responsabilidade ambiental, como as abordagens de reduzir, reutilizar e reciclar,
gestão de recursos e durabilidade do produto, bem como, diretrizes e técnicas para a criação
de produtos e serviços mais sustentáveis, como as orientações para o mínimo gasto de
materiais e energia, projeto para a reciclabilidade e as análises de ciclo de vida do produto
(Manzini e Vezzoli, 2002).
Como os projetos ainda estão em andamento, este trabalho traz apenas resultados prévios
da aplicação do processo das análises para a fase ambiental dos métodos e de observação
das atividades e exercícios em sala de aula. Assim, mesmo em um estágio não conclusivo da
pesquisa, já é possível afirmar que o processo de integração de princípios e ferramentas
ambientais aos métodos de projeto, tem se mostrado bastante positivo, pela fácil adequação da
proposta nos diferentes métodos trabalhados em sala de aula e pela adesão dos alunos na
realização das atividades.
Pode-se perceber, por exemplo, na Figura 8, alguns resultados da atividade de construção
de mapas mentais, que demonstram a apropriação dos conceitos de Design para a
Sustentabilidade e a preocupação ambiental como requisito de projeto. Nesta tarefa, os alunos
tiveram apenas dez minutos para construir um mapa mental sobre o maior número de
informações que tinham sobre o projeto. Os resultados mostram, na maioria dos casos, a
incorporação das orientações para a sustentabilidade nos produtos e serviços e, o mais
importante, a capacidade de ter uma visão sistêmica de projeto, onde os requisitos de uso,
materiais e estilo tem a mesma atenção que aos requisitos ambientais.

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Figura 8: Mapas mentais. Fonte: Trabalho desenvolvido pelos alunos.

Ainda, pode-se observar que os princípios ambientais ampliam o escopo das análises do
problema; e que, para projetos orientados à sustentabilidade, é possível maximizar as
ferramentas preconizadas pelos autores para as fases de análise do problema. Ainda, essa
abordagem pode ser aplicada ao longo dos cursos, em diferentes tipos de projetos, facilitando
as análises ambientais no desenvolvimento de produtos.

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5 Considerações Finais

Diante da emergência dos problemas socioambientais, tem se consolidado no campo do


design, a preocupação com as tecnologias empregadas, a minimização do uso de recursos e o
impacto ambiental dos produtos. Para Costa Jr. (2010), o design pode ser utilizado como
ferramenta de transformação da mentalidade industrial e consumidora, podendo oferecer à
sociedade novas alternativas de produtos e serviços, que permitam a transição para modelos
de comportamentos mais sustentáveis.
No entanto, isso depende de um maior foco no ensino voltado em ações para a
sustentabilidade e da disposição de ferramentas e métodos que conduzam a projetos mais
sustentáveis. Papanek (1992) considera o principal problema do ensino superior o fato das
universidades não darem atenção suficiente aos aspectos ecológicos, sociais, econômicos do
ambiente onde o profissional irá atuar. ‘A educação é um processo em que o ambiente muda o
aluno, e o aluno muda o ambiente’ (Papanek, 1992, p. 287). No âmbito projetual, Dijon de
Moraes (2010) atenta para uma ‘crise da metodologia projetual’, justificada pelo fato que suas
premissas se tornaram insuficientes para a gestão do projeto neste cenário complexo e
globalizado. Os modos de produção precisam se modificar, fazendo com que a metodologia
deixe de ser específica e pontual, passando a uma relação mais flexível e holística dentro da
cultura de projeto.
Desse modo, esta pesquisa visa coordenar esforços para a disseminação de
conhecimentos e sensibilização das questões de sustentabilidade, bem como de auxiliar na
escolha de métodos e ferramentas de projeto que venham a somar na construção de projetos
ecoeficientes.
Mesmo em seus estágios iniciais, já é possível afirmar que a pesquisa está atingindo seus
objetivos, uma vez que os resultados preliminares obtidos (ora em fase de análise) dão conta
tanto da apropriação pelos alunos dessas ferramentas, quanto da pertinência desta abordagem.
Certamente a cada semestre será possível realizar ajustes, de modo a atender a especificidades
de cada tema e à necessidade de incorporar novos conhecimentos. O que deve permanecer
inalterado é a concepção que norteou a pesquisa, resumida na visão de que cabe aos novos
professores e pesquisadores contribuir para a evolução do conhecimento atualizando os
métodos e técnicas consagrados por meio da associação de boas práticas de ensino de projeto
com novos conceitos que emergem no campo do design.

Referências
Baxter, Mike (2003). Projeto de Produto: Guia Prática para o design de novos produtos. São
Paulo: Edgard Blücher Ltda.
Costa Jr., Jairo (2010). A Atuação do Designer na Formação de Cenários Possíveis ao
Desenvolvimento Sustentável de Produtos e Serviços. In: Anais do 9º Congresso Brasileiro
de Pesquisa e Desenvolvimento em Design – P&D Design. São Paulo: AEND-BR.
De Moraes, Dijon (2010). Metaprojeto: o design do design. São Paulo: Blücher.
Kazazian, T. (Org) (2005). Haverá a Idade das Coisas Leves: design e desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Senac.
Lepre, Priscilla; Santos, Aguinaldo (2008). Implicações da Sustentabilidade no escopo de
Atuação do Design. Estudos em Design, v. 16, n. 2. Rio de Janeiro, p. 73–86.
Löbach, Bernd (2001). Design Industrial: Bases para a configuração dos produtos industriais.
São Paulo: Editora Blucher.
Manzini, E.; Vezzoli, C (2002). O Desenvolvimento Sustentável de Produtos. São Paulo: Edusp.
Papanek, Victor (1992). Design for the Real World: human ecology and social change. Londres:
Thames and Hudson.

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Biomimética e tecnologia: soluções da natureza aplicadas
no desenvolvimento de novos produtos - Estudo de caso
(Biomimetics and technology: nature's solutions applied in
the development of new products - Case Study)

SILVA, Sérgio; Designer de Produtos; Universidade do Estado de Minas Gerais


sergiojunio@gmail.com

RIOS, Igor. Mestrando; Universidade do Estado de Minas Gerais


igor.rios@gmail.com

“Quanto mais o nosso mundo se parecer com a natureza e funcionar como ela, mais probabilidade
teremos de ser aceitos nesse lar que é nosso, mas não exclusivamente nosso”. (BENYUS, 1997)

palavras chave: biomimética; tecnologia; fundição.

A Biomimética é uma área da ciência que estuda as estruturas biológicas com o objetivo de imitar os
seres vivos, trazendo soluções que a natureza encontrou durante toda a sua evolução para projetos de
diversas áreas. Tomando como base a biomimética, foi desenvolvida uma cadeira em alumínio fundido
para a empresa Belga Móveis, sediada em Cláudio/MG, ultilizando como inspiração a estrutura óssea.

Os ossos são estruturas constitucionalmente pesadas e por isso, a natureza tenta compensar essa
característica, sendo o mais econômica possível em sua composição. O osso é parcialmente vazio por
dentro e é composto por uma rede complexa de ligações e arcos que se encontram em linhas de força.
Este fato torna-o mais forte possível utilizando o mínimo de material.

O processo de fundição em alumínio consiste na deposição de material fundido para posterior


solidificação em molde. Ao reforçarmos os pontos de maior esforço - como na estrutura óssea - e
retirarmos material de onde não é necessário, obtivemos um produto muito mais leve, sem perder a sua
resistência. Os pontos que sofreram maior esforço foram definidos através da análise por elementos
finitos em modelos tridimensionais genéricos de cadeiras. Como resultado, obtivemos um produto mais
econômico e eficiente.

Keywords: biomimetics; technology; foundry.

The Biomimicry is a field of science that studies the biological structures in order to imitate living things,
bringing solutions that nature found throughout its development projects in various areas. Based on
biomimetics, has developed a chair in cast aluminum for Belgian furniture company, based in Claudio /
MG, uses as its inspiration the bone structure.

The bones are heavy constitutional structure and therefore, nature tries to compensate for this
characteristic, the most economical way possible in its composition. The bone is half empty inside and is
composed of a complex network of links and arcs that are in power lines. This fact makes it the strongest
possible using minimal material.

The aluminum casting process is the deposition of molten material into a mold for further solidification. By
strengthening the points of greatest stress - like the bone structure - and take away material where it is not
necessary, we created a product much lighter without losing strength. The points that have suffered
greater efforts were defined by finite element analysis in generic three-dimensional models of chairs. As a
result, we obtained a product more economical and efficient.

1 Introdução

Com o advento da Revolução Industrial, em meados no século XXVIII, o homem conseguiu


produzir materiais, energia e produtos em uma velocidade e quantidade nunca vista
anteriormente. As máquinas substituíram o trabalho artesanal/manual e essa nova forma de
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produção teve interferência direta no nosso modo de vida como consumidores e isso se
estende até os dias de hoje.
A busca por soluções mais sustentáveis e eficientes se torna cada vez mais importante e
necessária. A natureza aparece nesse contexto como uma biblioteca infinita de soluções que
podem ser utilizadas como referência para o desenvolvimento de novos produtos. A
biomimética é uma área da ciência que estuda e procura entender as estruturas biológicas e
suas características, com o objetivo de imitar os seres vivos, trazendo soluções que a natureza
encontrou e desenvolveu durante milhões de anos de evolução, inserindo-as na resolução de
problemas de engenharia, projetos de novos produtos e aplicações que venham melhorar a
vida moderna.
Tomando-se como referência a natureza, essas soluções desenvolvidas são calcadas no
conceito de sustentabilidade. A natureza é a estrutura mais eficiente e totalmente sustentável
que existe, sempre alcançando os objetivos de economia com o mínimo de energia,
conservando seus recursos, reciclando completamente seus resíduos e produzindo somente o
que consome. Com exceção do homem, todas as criaturas existentes foram moldadas pela
seleção natural para serem o mais econômicas possível e nesse contexto, o homem é o único
animal que consegue transformar a natureza ao seu favor. Tal transformação deve ser feita de
forma consciente para que não haja esgotamento das fontes de matérias-primas.
Atualmente, passamos por outro período de ruptura da história: a revolução da informação.
Essa revolução teve início nos anos 90 com a invenção da internet, nos moldes que
conhecemos hoje, e contribuiu para a disceminação do consumo de produtos e serviços de
forma desordenada. A informação é agora transformada em matéria-prima e passa a permear
toda atividade humana. Tal fato fez com que surgisse uma série de transformações,
acarretando no que denominamos de “homem digital”. O homem digital e industrial cresceu
longe da natureza, sem se preocupar com as consequências que o desenvolvimento e os
avanços tecnológicos teriam para com o planeta. A biomimética tem por objetivo nos levar em
uma direção diferente: enteder os princípios básicos da energia da natureza e das revoluções,
além de buscar novas maneiras de viver no planeta Terra.

2 Revisão bibliográfica

2.1 - Biomimetismo e ecodesign

Do grego bios, vida, e mimesis, imitação.


A biomimética utiliza a natureza de três formas diferentes: a primeira é a utilização desta
através do estudo dos modelos da natureza, para posterior imitação ou inspiração de seus
processos para resolução dos problemas humanos. A segunda forma é a utilização da natureza
como medida, através do uso de um padrão ecológico para ajuizar a “correção” das nossas
inovações. A terceira é sua utilização como mentora, onde a biomimética se torna uma nova
forma de ver e valorizar a natureza - ela inaugura uma era cujas bases assentam não naquilo
que podemos extrair dela, mas no que podemos aprender com a mesma (BENYUS, 1997).
Segundo (MUTSCHLER apud NATCHTIGALL et SCHÖNBECK, 1994. p. 119, 193) a
biomimética é definida como “a adoção de ‘invenções da natureza’ a serviço da técnica do ser
humano”. Considera-se, de certo modo, “a natureza” como mestre de ensino da técnica.
SOARES ( 2008) aponta que o biomimetismo deve ser entendido como uma possibilidade
de mudanca no conceito actual de sustentabilidade de produção, o que traduz um objectivo do
ecodesign.
Segundo ( BOTELHO apud OLIVEIRA, 1998, p.787), “os termos Eco-Design e Green
Design, foram inicialmente utilizados por designers e de uma forma ou de outra estão ligados à
idéia de se projetar produtos que causem menos impacto ao meio ambiente, focalizando
prioritariamente o produto e preocupando-se com o seu uso, com os materiais envolvidos -
reciclados ou recicláveis - com a embalagem e o marketing.”
Na atual situação global, onde a preocupação como o meio ambiente é crescente, através
da produção de produtos que causem menos impactos ambientais e processos de produção
mais limpos. O ecodesign se apresenta nesse contexto como uma alternativa projetual, onde o
meio ambiente direciona e interfere nas decisões de design desde o início, no que se refere à
escolhas de materiais, matérias-primas e processos.
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2.2 - Aplicações da biomimética no desenvolvimento de novos produtos

A natureza já inspira soluções aplicadas pelos seres humanos há bastante tempo. O exemplo
mais conhecido é do Velcro, que foi inventado em 1941 pelo engenheiro suiço George de
Mestral de uma maneira bastante casual. Durante uma caminhada pelos Alpes, ele analisou
atentamente as sementes de Arctium, conhecidas popularmente como carrapicho, que
grudavam constantemente na sua roupa e no pelo de seu cão. A estrutura da semente de
Arctium é composta por filamentos entrelaçados terminando em pequenos ganchos,
propiciando a sua aderência nos tecidos.
Outro exemplo foi desenvolvido pela empresa canadense Whalepower, sediada em
Toronto, que produziu turbinas eólicas 20% mais eficientes e muito menos barulhentas com
inspiração e observação nas barbatanas das baleias.
A Mercedes-Bens desenvolveu o conceito do Bionic Car. Segundo a montadora, os
engenheiros procuraram um exemplo específico na natureza que não apenas se aproximasse
da idéia de um carro aerodinâmico, seguro, confortável e ambientalmente compatível em
termos de detalhes, mas como um conjunto formal e estrutural. A fonte de inspiração foi o
Peixe-Cofre (Figura 1). Através de observação, os engenheiros descobriram que a forma do
Peixe-Cofre é bastante aerodinâmica e os testes com o protótipo do Bionic Car em túnel de
vento comprovaram isso. Os resultados obtidos se equivaleram aos melhores já obtidos na
indústria automotiva. Além disso, a estrututa óssea do peixe é extremamente resistente
ultilizando o mínimo de material. Usando essa solução da natureza, foi desenvolvido um
software para construção do chassi e como resultado eles obtiveram uma redução do peso do
carro em torno de 1/3 e aumentaram a resitência do chassi externo em 40%.
Pode-se observar que em todos esses exemplos de projetos inspirados na natureza, a
forma não é a única preocupação ao se desenvolver um produto: o intuito não é copiar a
natureza em sua forma - mas sim em termos de soluções e funcionalidade, que trazem algum
tipo de benefício para o ser humano.

Figura 1: Conceito Bionic Car produzido pela Mercedes-bens (Fotos divugação)

3 Metodologia

Para orientação do projeto e mapeamento da representação da empresa frente ao mercado e


de suas fraquezas quanto ao desenvolvimento de novos produtos, foram aplicados
questionários com o intuito de levantar dados relevantes sobre a empresa, a fim de se fazer um
primeiro diagnóstico de sua atual situação. Em âmbito geral, a pesquisa foi direcionada da
seguinte forma:

 Segmentação de mercado: definição dos segmentos de mercados - Divisão por


produtos;
 Formas de comercialização existentes: levantamento das possibilidades de contatos
ou perfil próprio de venda de produtos;
 Clientes por segmentos: divisão do perfil de clientes e redes de distribuição
(consumidor final ou perfil de revenda);

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 Clientes por segmentos: divisão do perfil de clientes e redes de distribuição
(consumidor final ou perfil de revenda);
 Obtenção de informações dos pontos de vendas: perfil predominante - mapeamento
dos locais onde os produtos são comercializados;
 Características da produção: Matérias-primas e tipos de processos existentes;
 Diagnóstico - Método de DNP (Desenvolvimento de Novos Produtos): avaliação das
informações de subsídios destinados ao desenvolvimento e das ferramentas de auxílio
na geração de grau de inovação e coerência estratégica;
 Nicho de mercado: definição dos nichos de atuação da empresa dentro dos segmentos
pré-estabelecidos (posicionamento por produto);

Foram analisados, através de observação direta, os usuários de mobiliário em alumínio


fundido e a relação do produto com o ambiente de uso. Durante o processo, foram feitas
entrevistas que abordaram assuntos relacionados à utilização do mesmo, sua ergonomia,
facilidade de uso e conforto de mesas e cadeiras.
Em termos de viabilidade e estudo técnico, foi utilizado software CAD para cálculo de
elementos finitos e, assim, identificar os pontos de maior esforço nas peças. Sabendo-se isso,
foram reforçados os pontos críticos e retirado material em áreas de menor esforço,
proporcionando economia de material e leveza à peça.

4 Desenvolvimento

Para chegar-se ao produto final, a Cadeira Organika, foram feitos diversos procedimentos ao
longo do desenvolvimento do projeto, como descritos abaixo:

4.1 - Análise do problema

 As cadeiras produzidas pelo processo de fundição em alumínio geralmente são


pesadas, o que dificulta a sua utilização em ambientes internos;
 As cadeiras desenvolvidas pela empresa necessitam da utilização de muitas matrizes
para produção, o que implica numa lentidão do processo de produção e aumento de
custos no mesmo;

 Ausência, no mercado, de cadeiras em alumínio fundido empilháveis;

 Dificuldade na estocagem e no transporte dos produtos, uma vez que esse prcesso é
feito com a peça já montada e não empilhada;
 Grande quantidade de material utilizado para a produção das peças, além da
necessidade de alto número de parafusos para conexão das mesmas;
 Alta demanda de mão-de-obra para a produção das cadeiras fabricadas na empresa –
São necessários 2 trabalhadores por placa de matriz. Há cadeiras na empresa que
necessitam de 8 placas, ou seja, 16 homens trabalhando.
A forma de produção das peças na empresa, se dá através do processo de fundição em
molde de areia verde. O que consiste na elaboração de um molde com areia úmida modelada
pelo formato da peça a ser fundida. Atualmente é o processo mais empregado, pelo fato de
poder ser aplicado para produção de peças em todos os tipos de metais. Porém, não é
adequado para peças grandes, de geometria complexa, nem para acabamento fino, pois ficam-
se as marcas de corrugamento da areia e sua tolerância dimensional é reduzida. Isso explica a
dificuldade da empresa em apresentar um produto final de boa qualidade.

4.1 - Estudo da estrutura óssea

Como inspiração para o desenvolvimento do projeto, foi ultilizado o estudo da estrutura óssea.
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“Os ossos são estruturas constitucionalmente pesadas. Por isso, a natureza tenta compensar
essa característica, sendo o mais econômica possível em sua composição. O osso é
parcialmente vazio por dentro e é composto por uma rede complexa de ligações e arcos. Os
suportes ósseos se encontram em linhas de força, fazendo-os ser mais fortes onde precisam de
mais força. São o mais forte possível usando o mínimo de material”. (Nature Tech - O Design
da Natureza).

A ultilização da estrutura óssea como referência foi realizada de 2 formas diferentes:

 A primeira forma foi no que se refere à deposição de material. Como na estrutura


interna do ósso, foi depositado mais material nos pontos onde é requisitado mais
esforço e retirado material das áreas onde a requisição é menor;
 A segunda referência utilizada foi a do osso fêmur. O fêmur tem um formato que
possibilita a distribuição do peso do nosso corpo de forma econômica. Esse conceito
foi transferido para os pés traseiros da cadeira, que jogam o peso da cadeira para os
lados e depois para baixo, dando maior estabilidade e distribuindo melhor o peso da
mesma.

Figura 2: Detalhe da ultilização do conceito do osso fêmur nos pés traseiros.

4.2 - Método de análise por elementos finitos

O método de análise por elementos finitos tenta representar as características de tensão,


temperatura, potencial, etc. encontradas nos modelos reais, em modelos virtuais. Segundo
(FONSECA, 2002) o cálculo de elemento Método dos Elementos Finitos (MEF) é muito
utilizado face à analogia física direta que se estabelece, com o seu emprego, entre o sistema
físico real (a estrutura em análise) e o modelo (malha de elementos finitos).
A análise por elementos finitos foi usada para definir os pontos de maior tensão em uma
cadeira. Foi simulada a pressão exercida por uma pessoa com peso de 80kg em um modelo
tridimensional de uma cadeira comum. A simulação foi feita em software CAD e os gráficos
mostram a distribuição de tensão no modelo (Figura 2). As áreas de maior esforço são
representadas pelo vermelho e as que recebem menos força estão representadas em azul.
Atualmente, a empresa não trabalha com alumínio de liga, o que impossibilitou uma maior
precisão no resultado dos cálculos. Medidas serão tomadas na aquisição de alumínios de liga
específicos para produção de mobiliário e os novos cálculos serão feitos com o intuito de
diminuir ainda mais o peso da cadeira sem perder a resistência.

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Figura 3: Distribuição de tensão deformação em modelos comuns de cadeira.

4.3 - Processo de fabricação

Após a prototipagem virtual do projeto em software de modelagem 3D, foi feito um modelo da
cadeira em madeira para posterior confecção da matiz de fundição. A figura 4 mostra o
desenvolvimento das peças.

Figura 4 : Processo de modelagem em madeira.

Com a confecção do primeiro protótipo (Figura 5), foram realizados testes de resistência,
de ergonômia e de conceito junto à empresa e aos usuários do produto.

Figura 5 : Primeiro protótipo da Cadeira Organika.

Os devidos reparos foram realizados e as matrizes finais de fundição foram


confeccionadas. As figuras 6 e 7 representam as matrizes no pátio de fundição, prontas para
receberam o alumínio fundido.

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Figura 6 : Preparação das matrizes para fundição do modelo final.

Figura 7 : Preparação das matrizes para fundição do modelo final.

Depois de concluído o processo de fundição, as peças foram direcionadas ao setor de


acabamento (Figura 8) onde foram desbastadas com lima e lixadeira para posterior processo
de pintura. Podemos observar na Figura 9 que o formato da peça principal (assento/encosto)
da cadeira propicia o empilhamento e por consequência uma utilização melhor do espaço de
trabalho.

Figura 8 : Setor de acabamento.

Figura 9: Estrutura assento/encosto.

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A empresa utiliza atualmente o processo de pintura eletrostática (Figura 10), que propicia
um melhor acabamento à peça em alumínio fundido. Tal processo consiste em na fixação da
pintura através de carga elétrica oposta à peça. Em seguida, a peça é levada à estufa aquecida
onde a tinta é curada. Foram inseridas a pintura amarela, verde, vermelha e preto fosco para
esse projeto.

Figura 10: Cadeira Organika no processo de pintura eletrostática.

A cadeira Organika foi apresentada na Feira UNILAR 2011 em Belo Horizonte (Figuras 11
e 12) onde foi realizado teste de conceito com o produto. Os resultados com o teste de conceito
foram bem satisfatório e a cadeira obteve uma grande aceitação perante os usuário e
compradores.

Figura 11: Produto final exposto na Feira UNILAR 2011 / Belo Horizonte - MG

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A cadeira Organika foi apresentada na Feira UNILAR 2011 em Belo Horizonte (Figuras 9 e
10) onde foi realizado teste de conceito com o produto. Os resultados com o teste de conceito
foram bem satisfatórios e a peça obteve as maiores vendas.

Figura 12 : Produto final exposto na Feira UNILAR 2011 / Belo Horizonte - MG

4.4 - Resultados alcançados

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O protótipo da cadeira Orgânika apresentou resultados bem satisfatórios quanto ao seu peso e
resistência. O peso final da cadeira foi de 4,3kg, o que representa uma redução de cerca de 30
a 40%, comparando-se ao peso das outras cadeiras produzidas pela empresa, sem ter perdido
a resistência necéssária. Além disso, ela é desmontável, o que resultou na facilidade quanto ao
transporte, estocagem e manuseio do produto.

 A cadeira poderá ser vendida desmontada em embalagem de apenas 1 volume, sendo


que a montagem pode ser feita facilmente, sem a necessidade de um técnico;
 O seu empilhamento proporciona uma melhor usabilidade no ambiente;
 Possibilidade de aplicação de diferentes cores e acabamentos diferenciados.

5 Considerações Finais

O uso de conceitos da biomimética se mostrou bem satisfatório quando aplicados à indústria de


fundição em alumínio. Os atributos que foram considerados no projeto como: leveza, conforto,
praticidade e facilidade de uso foram percebidos pelos usuários, no teste de conceito realizado
na Feira UNILAR 2011, em Belo Horizonte/MG.

Segundo estatísticas repassadas pela Belga Móveis, desde a inserção da cadeira Organika
no mercado, a mesma tornou-se o item de maior saída e demanda de produção pela empresa.
Para enriquecimento dos resultados obtidos com o projeto, serão feitos estudos para
melhoria do mesmo, no que se refere à embalagem, formas e canais de distribuição e
comercialização do produto.

Agradecimento
Os autores agradecem à empresa Belga Móveis por acreditarem no projeto e também por
investirem na confecção dos protótipos. Um agradecimento especial ao Sidnei Pereira,
talentoso profissional, pela atenção e carinho na condução das modelagens e prototipagens do
projeto.

Referências

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BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos; tradução Itiro
Iida. 2 ed. rev. São Paulo: Edgard Blücher, 1998

BENYUS, Janine. Biomimética: inovações inspiradas pela natureza. São Paulo: Cultrix, 1997
Bionics - Learn from nature. Disponível em: <http://www.mercedes- benz.co.in/content/india/
mpc/mpc_india_website/enng/home_mpc/passengercars/home/passengercars_world/innovatio
n_sustainability/future_cars/history/bionic_car.html>. Acesso em: 31/06/2011

FONSECA, J. Ferramentas de simulação em Mecânica: Elementos finitos.Disponível em:


< www.reocities.com/hiostar/Material/finitos3.pdf>. Acesso em: 30/06/2011

MUTSCHLER, Hans-Dieter. Introdução à filosofia da natureza. São Paulo: Loyola, 2008.

NATURE Tech - O Design da Natureza. Áustria: Log On Editora Multimidia, 2006. 3 Dvds (150
min.)

PRADO, T. Biomimética: a indústria sustentável imita a natureza. Disponível em:


<http://super.abril.com.br/blogs/planeta/biomimetica-a-industria-sustentavel-imita-a-natureza>.
Acesso em: 01/07/2011.

SOARES, M. Biomimetismo e ecodesign: Desenvolvimento de uma ferramenta criativa de


apoio ao desenvolvimento de produtos sustentáveis. Dissertação de mestrado. Faculdade de
Ciências e Tecnologia. Universidade Nova de Lisboa, PT.

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Confecção de uma luminária de mesa a partir da
reutilização de resíduos industriais da cidade de Caruaru
(Making a desk lamp from the reuse of industrial waste
from the city of Caruaru)

RATTES, Rafael; Graduando em Design; Universidade Federal de Pernambuco


rafaelrattesaguiar@gmail.com

JESUMARY, Gabriela; Graduanda em Design; Universidade Federal de Pernambuco


gabriela.jesumary@gmail.com

OLIVEIRA, Emílio; Doutorando; Universidade Estadual Paulista


emiliodesign@gmail.com

Palavras chave: ecoeficiência; reutilização de materiais; ecodesign.

Este artigo é resultado de um projeto de produto executado no grupo de estudo ‘Reutilização de


Material’, do curso de Design da Universidade Federal de Pernambuco, Campus Acadêmico do Agreste,
localizado na cidade de Caruaru. O briefing se resume à execução de uma luminária de mesa, utilizando
materiais provenientes da reutilização de resíduos industriais ou domésticos no ciclo de vida do produto,
com a finalidade de ser passível a uma produção seriada e que não cause impacto ambiental. O projeto
teve três fases bem definidas fundamentais para sua execução. A primeira fase consiste em uma
pesquisa de resíduos na região para definição do material a ser utilizado; na segunda, definiram-se as
questões estéticas através de brainstorm e sketches; por fim, fez-se uma análise do índice de
ecoeficiência do produto. Através destas fases, obteve-se como resultado um artefato eficiente, que
atende aos requisitos do ecodesign, favorecendo a sustentabilidade.

Keywords: eco-efficiency; reusing materials; ecodesign.

This article is the result of a product design implemented in the study group ‘re-use of materials’, the
Design course at the Federal University of Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, located in the city
of Caruaru. The briefing comes down to execution of a desk lamp, using materials from the reuse of
industrial or household waste in the cycle of the product, in order to be liable to a serial production and will
not cause environmental impact. The project had three phases well defined core for execution. The first
phase consists of a residue research in the region to define the material to be used, in the latter, we
defined the aesthetic issues through brainstorming and sketches, and finally became an index of eco-
efficiency analysis of the product. Through these phases was obtained as a result an efficient device that
meets the requirements of the eco design, fostering sustainability.

1 Introdução

O crescimento acelerado dos centros urbanos, em conjunto com a enorme extração de


recursos naturais, o grande número de produtos desenvolvidos que não possuem a
preocupação com o meio ambiente e o consumo desenfreado de bens, são problemas sérios
que a humanidade enfrenta hoje, pois vem acarretar em sérios danos para o meio ambiente,
como extinção de recursos naturais e crescimento na geração de resíduos sólidos.
Porém, o que ocorre atualmente é uma crescente mudança nos valores éticos mundiais,
ocasionando uma maior relação e preocupação do indivíduo com o meio ambiente, surgindo
assim estratégias em diversas áreas em favor a sustentabilidade.
Neste contexto, o presente artigo consiste na apresentação de alguns aspectos gerais a
cerca de temas como resíduos sólidos, reutilização de materiais, eco-eficiência e biomorfismo,
tangendo a sustentabilidade, resultando em referencial teórico fundamental para as outras
etapas do projeto, que teve como objetivo o desenvolvimento de uma luminária de mesa a
partir da reutilização de materiais provenientes de resíduos sólidos urbanos da cidade de
Caruaru, Pernambuco.
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A metodologia projetual consistiu em três fazes bem definidas e fundamentais pra sua
execução. Primeiramente, foi realizada uma pesquisa preliminar acerca dos tipos de resíduos
provenientes na região, a partir daí foi definido o material a ser utilizado no protótipo; na
segunda etapa, ocorreram métodos criativos como brainstorming e analogias; a terceira etapa
consistiu na realização de uma análise da ecoeficiência do produto, através de critérios
proposto por Joseph Fiksel (1996).
O resultado de todas as etapas projetuais foi o desenvolvimento de uma luminária de
mesa, que além de atender aos requisitos do ecodesign, é passível a produção seriada.

2 Resíduos Sólidos

O mundo se encontra incluso numa problemática ambiental há tempos, e como se sabe, vem
sendo alertado por vários cientistas, instituições, ONGs, etc. Entretanto, só agora se pode notar
uma crescente vontade de mudança da situação, assim, conforme Thackara (2008), a
sustentabilidade permeia de maneira incompleta entre a sociedade global, por meio de
soluções tecnológicas e sociais (principalmente), mostrando-se não tão distante quanto parece.
Nota-se que governos, empresas, pesquisadores, consumidores e instituições estão sempre
buscando uma melhor forma de lidar com o assunto. O lado positivo é que há um despertar em
todos os atores sociais, e a partir disto, surge a oportunidade da aplicação de novas idéias do
tipo: como o design pode atuar para a sociedade, quebrando paradigmas e consolidando o
reajuste dos estragos ambientais, provocado por toda a humanidade?
Um grande problema causador do impacto ambiental, de repercussão relevante no Brasil,
são os Resíduos Sólidos Urbanos – RSU – e o seu descarte. De acordo com o Panorama dos
Resíduos Sólidos no Brasil 2010, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE – em 2010 no Brasil, a quantia da geração
de RSU foi de 195.090 toneladas por dia, e o índice per capita da geração de RSU por
habitante, consta um total de 1,213 kg/dia. Comparado com 2009, este índice teve um aumento
expressivo de 5,3% no Brasil como um todo e de 6,8% na quantidade total gerada. Quanto à
coleta, foram 173.583 ton/dia para 1,079 kg/hab/dia, houve um aumento comparado com o ano
de 2009. Destaca-se também que 61% dos municípios brasileiros destinam seus resíduos para
unidades inadequadas. Percebe-se uma diferença entre geração e coleta dos resíduos,
ocasionando uma ‘sobra’, assim como, o destino final da maioria dos resíduos coletados ajuda
a acentuar mais ainda o problema ambiental.
Conforme o Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE – a população da cidade de Caruaru consta com um total de 314.951 habitantes, sendo
278.098 o total da população urbana. A quantidade de RSU coletada nesta última é de 249
ton/dia, com 0,90 kg/hab/dia (Abrelpe, 2010). Apesar de a cidade possuir um aterro sanitário
com licenciamento ambiental, há um impasse quanto à sua capacidade que está quase no seu
limite máximo, caso que está sendo debatido entre os gestores da cidade para uma nova
solução sustentável (Câmara Municipal de Caruaru, 2011). No entanto, enquanto se procura
uma solução, e para isto demanda-se tempo, este trabalho apresenta uma proposta de
intervenção direta nesse cenário, em relação à questão dos resíduos sólidos urbanos e a sua
reutilização, resultando em um artefato.
Portanto, de uma maneira geral, percebe-se o agravante que é derivado da gestão dos
resíduos sólidos, intrínseco aos costumes da sociedade brasileira, merecendo uma atenção
maior por parte dos atores sociais com o foco na mudança, onde se insere o papel do designer.

3 Reutilização de Materiais

A reutilização de materiais, segundo Manzini (2008, p:201) define-se por ‘um segundo uso de
produtos, ou de suas partes, previamente descartados/eliminados’ e em conjunto com a
reciclagem tornam-se aspectos que estão sendo cada vez mais utilizados pelas indústrias. No
Brasil nota-se um crescimento considerável nestas práticas, porém muito ainda é preciso ser
feito. Essas práticas são de suma importância para a redução do problema de resíduos sólidos,

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pois são alternativas reais para o tratamento e redução destes resíduos, de forma que além de
contribuírem para o ciclo de vida do produto, acabam por destinar apenas uma pequena parte
aos aterros (Lima e Romeiro Filho, 2011).
Sabe-se que os produtos possuem diversos tipos de materiais em sua composição,
podendo gerar várias formas de impactos ambientais. De acordo com Lima (2006) este
problema se dá pela utilização de materiais sintéticos substituindo os naturais, pelo fato destes
últimos terem uma resistência menor às condições adversas do ambiente em que se
encontram, já que aqueles auxiliam no custo quando se procura altos volumes de produção.
Mas em decorrência do impacto provocado pelos materiais sintéticos, alguns materiais naturais
estão sendo utilizados e entrando em destaque por possuir características de renovação de
suas reservas naturais e bio-compatibilidade, atribuindo valores positivos como afirma o autor:
‘em situações onde há o contato humano, os materiais naturais são mais confortáveis’ (2006,
p:86). É neste contexto que o designer deve procurar entender e identificar os possíveis
impactos que os produtos podem oferecer ao meio ambiente, para isso é necessário que seja
feito uma abordagem sistêmica, conforme afirma Manzini (2008), projetando para todo o
sistema, ou seja, pesando em todo o ciclo de vida do produto. Ele ainda acrescenta que é
muito mais fácil e eficaz agir preventivamente durante o processo de desenvolvimento do
produto do que procurar soluções posteriormente (Manzini, 2008).
Diante da realidade de algumas empresas ou indústrias onde esses ciclos já estão
concretizados, o designer também pode se inserido como um agente atuante, de forma a
interferir nos resíduos descartados por essas empresas, trabalhando a reutilização ou
reciclagem desses resíduos. Durante o descarte, existe uma serie de opções a respeito do
destino final dos resíduos, segundo Manzini (2008, p:96):
 Pode-se recuperar a funcionalidade do produto ou de qualquer componente (quando
podem ser reutilizados para a mesma função ou para uma diferente função);
 Podem-se valorizar as condições do material empregado ou o conteúdo energético do
produto;
 Enfim, pode-se optar por não recuperar nada do produto.
Dentre essas opções, ele acrescenta que ‘em termos ambientais, geralmente é preferível
reutilizar um produto, ou uma parte dele, em vez de reciclá-lo ou incinerar seus materiais’
(Manzini, 2008, p:114), porém o que ocorre normalmente é o descarte dos resíduos em lixões,
visto que essas operações supracitadas possuem um custo elevado. A partir disso identifica-se
que a reutilização de resíduos industriais pode ser uma solução para o problema de descarte,
pois é viável economicamente e socialmente para empresa na qual será implantado, visto que
proporciona baixo custo, bem estar social, baixo impacto ambiental e geração de lucro.

4 Ecoeficiência

Diante da consciência e da necessidade de estabelecer políticas governamentais para diminuir


a ação da degradação do meio ambiente, passou a existir uma alteração nos valores e
paradigmas, onde houve um aumento em planos e ações voltados para sustentabilidade.
Segundo Fiksel (1996) o design for environment (DfE) é a consideração sistemática do
desempenho do projeto em respeito ao meio ambiente, saúde, segurança e sustentabilidade
sob todo o produto e processo, e ao longo do ciclo de vida, ou seja é o conjunto de práticas
que norteiam o desenvolvimento de produtos ecoeficientes, visando a redução de impacto
ambiental durante o ciclo de vida, através de elementos como redução de consumo de
materiais; escolha de materiais com menos impacto, recicláveis ou que possam ser
reutilizáveis; aumento da vida útil do produto; redução do consumo de energia, entre outros.
Ele defende que existem sete princípios básicos para a integração do DfE nas empresas, são
elas (Fiksel, 1996, p:83, tradução livre)
1. Incorporar o pensamento do ciclo de vida no processo de desenvolvimento do produto.
2. Avaliar a eficiência dos recursos e a eficácia do sistema geral.

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3. Selecionar métricas apropriadas para representar o desempenho do ciclo de vida do
produto.
4. Manter e aplicar um portfólio de estratégias sistemáticas de design.
5. Usar análises de métodos para avaliar o desempenho do design e trade-offs.
6. Fornecer recursos de software para facilitar a aplicação de práticas do DfE.
7. Buscar inspiração da natureza para a concepção de produtos e sistemas.
Diante disso, não se deve considerar apenas as conseqüências dos impactos ambientais,
mas também os impactos econômicos e sociais. Para garantir a eco-eficiência do produto,
Fiksel (1996) afirma que existem inúmeras formas métricas de desempenho ambiental com
parâmetros quantitativos para definir metas para a melhoria do produto, ele ainda fala que
‘devido ao seu papel fundamental no desenvolvimento de processos, as métricas são
essenciais para a prática bem sucedida do DfE’ (Fiksel, 1996, p:106, tradução livre).
É neste contexto que este artigo se fundamenta, no desenvolvimento de uma luminária
100% eco-eficiente de acordo com as métricas de Fiksel, atendendo todas as práticas durante
todo o processo e ciclo de vida do produto.

5 Metodologia

Esta etapa do artigo tem o intuito de apresentar a metodologia utilizada durante a fase projetual
deste estudo. O briefing consiste na elaboração e confecção de uma luminária de mesa, na
qual atende alguns critérios obrigatórios:

 Utilizar materiais provenientes de reutilização de resíduos sólidos no ciclo de vida de


algum produto (industriais ou artesanais);
 Deverá ser passível a uma produção seriada e que não cause considerável impacto
ambiental;
 A lâmpada a ser utilizada é uma fluorescente compacta PL;
 As dimensões devem ser em torno de 40 x 25 x 25 cm.

Para público-alvo definiu-se como pessoas solteiras e casadas, sem faixa etária definida,
que se preocupam com o meio ambiente, se envolvem com questões sustentáveis e sociais,
dão valor a produtos reciclados, recicláveis e reutilizados.

O projeto se estabeleceu em três fases bem definidas fundamentais para sua execução. A
primeira fase consistiu numa pesquisa de campo na parte urbana da cidade de Caruaru, a fim
de identificar os tipos de resíduos provenientes da região, para definição do material a ser
utilizado no protótipo. Essa coleta de dados foi feita através de uma observação assistemática
em algumas microempresas e pequenas empresas da cidade de Caruaru.

Na segunda etapa, após ter ciência de qual material utilizar para a confecção do artefato,
definiram-se questões estéticas através de métodos criativos tais como o brainstorming e
analogias, a partir de sketches manuais. Toda a produção do produto foi artesanal, mas este
caso em específico se deu desta forma por não ter sido um projeto feito diretamente para a
indústria, portanto, vale salientar que foi projetado com a finalidade de ser passível à produção
seriada.

Por fim, após o desenvolvimento do artefato, fez-se uma análise da ecoeficiência do


produto através de uma tabela baseada em critérios propostos por Joseph Fiksel, em seu livro
Design for Environment, publicado em 1996. Esta tabela apresenta 12 práticas que podem ser
aplicadas nas empresas quanto aos conceitos de ecodesign (Fiksel apud Riul, Filho &
Wanderley,2007):

1. Recuperação de material: Utilizar materiais que facilitem sua recuperação e que não
estejam em condições distantes de seu estado natural.

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2. Recuperação de componentes: Reutilizar componentes de outros produtos ou
encaminhar para seus respectivos fabricantes a fim de recuperá-los.
3. Facilidade de acesso aos componentes: Proporcionar uma fácil desmontagem,
auxiliando a recuperação de peças e sua reutilização conseqüentemente, como
também, ajuda na reciclagem do restante do produto.
4. Projetos voltados à simplicidade: otimizar o custo de produção diminuindo a
quantidade de matéria projetando com formas simples, além de auxiliar a montagem e
desmontagem.
5. Não utilização de materiais contaminantes: Implica na não utilização de materiais
que dificultem a separação, tanto no produto quanto nas embalagens, neste caso,
reporta-se à colas, tintas, pigmentos, grampos e rótulos. A utilização destes materiais
não permite a reciclagem.
6. Recuperação e reutilização de resíduos: Normalmente há resíduos com o descarte
de produtos, como também após a produção, então deve-se pensar em utilizar
tecnologias que recuperem os resíduos, favorecendo às questões ambientais e
econômicas, tornando-se ecoeficiente.
7. Redução do uso de energia na produção: Optar pela diminuição do consumo de
energia favorecendo o meio ambiente e ocasionando um baixo custo operacional.
8. Produtos multifuncionais: Projetar um produto multifuncional, favorecendo a redução
da quantidade de material e energia que seria aplicado à outros produtos que
atendessem as mesmas funções.
9. Utilização específica de materiais reciclados: Procurar utilizar materiais reciclados
ao invés de matéria-prima nova, auxiliando à conservação dos recursos não
renováveis. A aplicação desses materiais se dá também pelo seu grau de pureza, ao
ponto em que não prejudiquem a qualidade do produto final.
10. Utilização de materiais renováveis: Utilizar materiais que possibilitem ser renovados
em contraponto aos que não são.
11. Não utilização de substâncias perigosas: Vetar a utilização de qualquer substância
que danifique a saúde dos que lidam com o produto, seja na produção ou na utilização,
assim como, o meio ambiente.
12. Utilização de produtos biodegradáveis: Escolher materiais ou produtos para
acabamento (vernizes naturais, à base d’água, etc.) que facilitem a disposição final do
produto.
13. Prevenção de acidentes: Ao projetar, deve-se aplicar práticas de prevenção de
acidentes e fazer uma análise de riscos, que o processo de produção ou o uso do
produto, possa ocasionar.

Levando em consideração estes itens e colocando-os em prática, puderam fornecer uma


consolidação entre os níveis de ecoeficiência e a produção do produto em todos os níveis
possíveis – sociais, ambientais e econômicos, possibilitando um índice favorável à
sustentabilidade, especificamente em relação à produção industrial. Assim, obteve-se um
resultado satisfatório e capaz de atingir o mercado com facilidade.

6 Resultados

Em função da primeira etapa da metodologia utilizada, foi identificado e escolhido o tubo de


papelão, um resíduo bastante comum e descartado por alguns setores como o têxtil e as
gráficas, pois são utilizados para o transporte e armazenamento dos papéis ou dos tecidos.
Este material é bastante resistente, de fácil manuseio e é possível encontrá-lo em variados
tamanhos em comprimento e em diâmetro (Figura 01). No projeto foi utilizado um único tubo
com diâmetro de 9 cm e aproximadamente 80 cm de comprimento. Em decorrência da
pesquisa de campo, encontrou-se outro material – madeira MDF – que também é bastante
comum na região, principalmente nas atividades de marcenaria, e de acordo com a forma que
os profissionais dessa área lidam com o material, permite que se originem sobras de tamanhos
variados, ocasionando na verdade, descartes sem um direcionamento correto.
Figura 6: Tipos de tubos de papelão. Ao centro o tipo utilizado.

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Através dos sketches da segunda etapa, estabeleceu-se quanto à forma o conceito da
luminária, já que segundo Podborschi et al. apud Basso e Ruthschilling (2010), a Biônica e o
Biomimetismo possuem uma similaridade e sobre isso ele diz que é ‘a ciência que estuda os
princípios básicos da natureza (construtivos, tecnológicos, de forma, etc.) e a aplicação destes
princípios e processos na procura de soluções para os problemas que a humanidade encontra’,
ele ainda acrescenta que a biônica possui cinco categorias principais: mimetismo total,
mimetismo parcial, analogia não-biológica, abstração e inspiração. Dessa forma, identifica-se o
uma grande semelhança no conceito de biomorfismo desenvolvido pelo blog Acuidade da
forma (2009), onde ele diz que consiste na aplicação, simplesmente decorativa, das formas
inspiradas no mundo natural.
As formas, estruturas e cores encontradas na natureza sempre foram grandes fontes de
inspiração para profissionais de diversas áreas. Este projeto foi desenvolvido justamente na
busca de inspirações de formas da natureza como conceito principal, trazendo à tona a idéia
de uma flor solitária. Após a execução desta etapa, observou-se a necessidade de incorporar
mais alguns materiais, de uma maneira que auxiliassem a possibilidade de concretizar a idéia
escolhida. Para tal fim, escolheu-se o uso do bambu, pois conforme Gaion, Paschoarelli &
Pereira (2005) este material tem excelentes características físicas, químicas e mecânicas, e
também, apresenta-se sendo altamente ecológico pois se renova em seu habitat (áreas
tropicais e de clima quente e chuvoso) rapidamente durante anos; assim sendo é um material
sustentável, onde foram utilizadas sobras adquiridas na feira de artesanato da cidade, da
mesma maneira se deu com a escolha de sobras de ferro maciço (que seriam descartados)
provenientes de serralharias da região, para serem inseridas na base.
Sintetizando o que foi utilizado para a confecção do artefato, teremos: Tubo de papelão,
bambu, madeira MDF, Materiais elétricos (fio, soquete de lâmpada, interruptor, tomada e plug
de microfone), parafusos, porcas, roscas de pressão, sobras de ferro maciço e verniz à base
d’água.
A produção da luminária consistiu em utilizar o tubo de papelão e cortá-lo em pequenos
cilindros com um arco de serra, os quais foram transformados em 03 abas grandes e 03 abas
pequenas para a parte superior e outras 03 abas para a base (Figura 02). Esses cortes foram
feitos de forma que não houvesse desperdício de material. Cada aba foi lixada a fim de
alcançar a forma desejada, e posteriormente, foi envernizada com verniz à base d’água, já que
não possui nenhuma substância perigosa, solventes ou metais pesados. Após esses
processos, utilizou-se uma furadeira elétrica para criar orifícios nas abas, onde foram fixadas
entre si com os parafusos, as porcas e as roscas de pressão, gerando a parte superior da
luminária com a forma idealizada, já com as abas de papelão da base só foi preciso utilizar
parafusos para sua fixação. O uso de materiais como parafusos, porcas e roscas, foi escolhida
pela facilidade da desmontagem do produto e pela possibilidade de serem reutilizados ou
reciclados posteriormente.

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Figura 7: Cilindros cortados e exemplo da aba da parte superior.

A fim de completar a base da luminária foi usado o MDF criando uma sustentação, assim
como, para a peça que fixa o bocal da lâmpada à estrutura das abas da parte superior. Essas
peças foram cortadas, com uma serra tico-tico movido à energia elétrica, seguindo a forma da
luminária e em seguida foram lixadas e envernizadas. Para a haste da luminária utilizou-se o
bambu, o qual foi dobrado até atingir o diâmetro desejado. Para realização desse procedimento
foi necessário o uso de um maçarico à gás natural e areia fina, portanto é um procedimento
com baixo custo e não causa danos ao ambiente, sendo bastante favorável ao propósito do
projeto. A haste de bambu fica presa à peça de madeira da base através de um encaixe, que
consiste em um furo feito por uma furadeira elétrica. A junção das peças de papelão com a
peça de madeira da base, juntamente com a haste de bambu, serviu para esconder a fiação e
a parte elétrica do interruptor, auxiliando na prevenção de acidentes. Na necessidade realizar o
equilíbrio físico do artefato foi preciso utilizar um peso na base, e para tal fim inseriu-se peças
pequenas de ferro maciço encontradas em serralharias da região, que por sinal seriam
descartadas de maneira errônea.
Ao decorrer do projeto notou-se a possibilidade do mesmo ser multifuncional, podendo ser
utilizado de três maneiras diferentes: de mesa, pendente ou abajur, e isso se dá pelo fato da
luminária possuir um conector (plug de microfone) fixado na saída do bocal e na extremidade
da haste oposta à base (ver Figura 03), possibilitando o usuário desconectar e retirar a parte
superior com a possibilidade de conectá-la em outros locais, dando-lhe as outras opções de
uso. Todas as outras possibilidades terão que ter um plug fêmea, para que possa ser
encaixado na cúpula, que possui uma saída macho.
Figura 8: Detalhe do componente plug de microfone.

Apesar dos métodos e dos processos de produção do artefato divergirem um pouco do


processo de produção industrial, pois foi feito de maneira artesanal por ser um protótipo, houve
a possibilidade de fazer a análise da ecoeficiência proposta por Fiksel apud Riul, Ribeiro Filho

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& Wanderley (2007). A tabela a seguir mostra como se comporta o produto em relação às
práticas do ecodesign, atribuindo-se o valor de ‘atendido’ ou ‘não atendido’ para as mesmas.
Tabela 2: Produto final e análise de ecoeficiência baseada em Fiksel apud Riul, Ribeiro Filho & Wanderley (2007).

Artefato Práticas de Ecodesign Atendido Não


atendi
do
Recuperação de Material X
Recuperação de componentes X
Facilidade de acessos aos componentes X
Projetos voltados à simplicidade X
Não utilização de metais contaminantes X
Recuperação e reutilização de resíduos X
Redução do uso de energia na produção X
Produtos multifuncionais X
Utilização específica de materiais X
recicláveis
Utilização de materiais renováveis X
Não utilização de substâncias perigosas X
Utilização de produtos biodegradáveis X
Prevenção de acidentes X

Desta forma identifica-se um atendimento de 100% do total das práticas. Os materiais


encontrados no produto são reutilizados, os quais normalmente seriam descartados pelas
empresas, assim encontra-se uma maneira de gerar renda e trabalho. Esses materiais também
podem ser facilmente separados, facilitando uma posterior reciclagem. Vale ressaltar que o
verniz à base d’água atende às práticas, pois o mesmo é biodegradável, assim como, é
importante comentar que a energia elétrica utilizada na confecção do produto realizou-se em
um pequeno espaço de tempo, em torno de 2 a 4 minutos, tendo uma redução relevante no
uso da energia não renovável. A luminária possui uma estética simples, com poucos elementos
e poucos materiais utilizados. Seu sistema de encaixe referente aos parafusos permite um fácil
acesso aos componentes e previne acidentes, o produto possui multifuncionalidade e outros
fatores a mais como foi visto anteriormente, tornando-o um produto 100% ecoeficiente
atendendo tanto ao briefing quanto às práticas da tabela. Abaixo temos uma imagem do
artefato materializado e em funcionamento, apresentando suas qualidades estéticas e
enfatizando que é possível pôr em prática um projeto de design utilizando resíduos sólidos e
aplicando as práticas de ecoeficiência de design.
Figura 9: Produto final.

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7 Considerações finais

A proposta do artigo foi abordar um projeto de design focando a reutilização de resíduos


sólidos urbanos da cidade de Caruaru, em Pernambuco, criando um artefato passível à
produção seriada e tornando-o ecoeficiente em todo o seu ciclo de vida. Vale ressaltar que
toda a pesquisa do projeto foi feita em um único local, abrangendo suas características
específicas, como o tipo de descarte por parte das empresas e das atividades produtivas
locais, não podendo assim, tomar esse exemplo como um todo.
Este projeto mostra o quanto um designer pode interferir em sua região, embasado nos
conceitos do ecodesign e da reutilização de materiais, propondo uma reflexão naqueles que se
familiarizam com tais idéias, mostrando o quanto é possível consolidar esses tipos de projetos.
Foi possível criar uma junção entre o referencial teórico com a prática, atribuindo valores
positivos ao produto, sendo capaz de gerar renda e originar um bem-estar na sociedade,
ocasionando uma contribuição aos valores sociais, pôde também promover novas formas de
lidar com as questões econômicas, baixando os custos de uma produção seriada, e
principalmente, auxiliar o meio ambiente, não causando impactos severos provenientes dos
processos produtivos atuais. Porém, houve algumas dificuldades na parte da execução do
processo de produção, pelo fato de ser estudante e não possuir as ferramentas necessárias ou
algum ambiente propício a este tipo de trabalho, como também, sentiu uma defasagem em
profissionais que trabalham com bambu pela cidade, precisando se deslocar para outra cidade
para conseguir o resultado esperado.
Por fim, verifica-se a viabilidade da aplicação de projetos deste porte na cidade em que
ocorreu a pesquisa, promovendo uma mudança nas vias de produção local, trazendo
benefícios à cidade em todos os fatores.

Agradecimento
Agradecemos aos amigos marceneiros, o Sr. Silvano e o Sr. Venceslau, que nos favoreceram
com sua ajuda ímpar, agradecemos também ao Sr. Sivuca, grande mestre do bambu que nos
atendeu com tanto carinho e às empresas da cidade de Caruaru que nos doaram os seus
descartes.

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Referências
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forma.blogspot.com/2009/05/biomorfismo.html>. Acessado em: 09 mai. 2011
Basso, L. & Ruthschilling, E. A. (2010). Possibilidades Expressivas e Combinatórias de
Biomorfismo no Design de Superfície: Caso Caranguejo. 9º congresso brasileiro de
Pesquisa e Desenvolvimento em design. São Paulo, SP..
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Sanitário e Coleta Seletiva em Caruaru. Disponível em:
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Fiksel, J. (1996). Design for Environment. Mc Graw Hill, New York.
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o Design Industrial: um estudo de caso. In: 3º Congresso Internacional de Pesquisa em
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Lima, M. A. M. (2006). Introdução aos Materiais e Processos para Designers. Rio de Janeiro:
Editora Ciência Moderna Ltda.
Lima, R. M. R. de & Romeiro Filho, E. (2001). A reciclagem de materiais e suas aplicações no
desenvolvimento de novos produtos: um estudo de caso. 3º congresso brasileiro de gestão
e desenvolvimento de produto. Florianópolis, SC.
Manzini, E. & Vezzoli, C. (2008). O desenvolvimento de produtos sustentáveis. Tradução: Astrid
de Carvalho. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
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material local. II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação
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Thackara, J. (2008). Plano B: o design e as alternativas viáveis em um mundo complexo.
Tradução: Cristina Yamagami. São Paulo: Saraiva: Versar.

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Identidade visual sustentável - Iconografia e valor cultural
na comunidade de Jatobá

PONTUAL, Bruna Gomes; Graduanda; Universidade Federal de Pernambuco


bruna.pontual@gmail.com

PINTO, Manuela dos Santos; Graduanda; Universidade Federal de Pernambuco


manukha@gmail.com

CASTRO, Ana Emilia Gonçalves de; Professora; Universidade Federal de Pernambuco


aemilica@yahoo.com.br

palavras chave: identidade visual; sustentabilidade; valor cultural.

O artigo objetiva descrever a experiência do desenvolvimento de uma identidade visual e suas


aplicações para dois grupos produtivos da comunidade de Jatobá, Abreu e Lima, Pernambuco,
durante a disciplina “Rede Pernambucana de Design Social” da Universidade Federal de Pernambuco.
Utilizou-se como metodologia técnicas da andragogia e conceitos de iconografia para uma construção
coletiva entre estudantes do curso de design e os integrantes dos grupos produtivos de uma
identidade visual própria, dotada de valor cultural, ícones representativos do modo de vida dos
produtores e elementos significativos de sua produção. O resultado alcançado foi o fortalecimento do
trabalho coletivo respeitando os recursos naturais, promovendo a autoestima dos produtores locais em
relação a sua cultura e identidade, com a preocupação de desenvolver uma identidade de fácil
aplicabilidade através do uso de técnicas artesanais e tintas naturais, ampliando as oportunidades de
venda no mercado, as possibilidades de sucesso e sustentabilidade no processo produtivo.

Keywords: branding; sustainability; cultural value.

This article aims to describe the experience of designing a visual identity and its applications for
two productive groups from the community of Jatobá, Abreu e Lima, Pernambuco, during the discipline
"Rede Pernambucana de Design Social”. Andragogy technical methodologies and concepts of
iconography were used to build a particular visual identity with cultural value, representative icons of
the way of life of the producers, and meaningful elements of their production. The achieved result was
the empowerment of the collective work respecting natural resources and the fomenting the self-
esteem of the local producers regarding their culture and identity but also with the concern of
developing an identity of wide applicability using craft techniques and natural paints, amplifying the
selling opportunity in the market as well as the possibilities of success and sustainability in the
productive process.

1. Introdução
A comunidade de Jatobá no município de Abreu e Lima, Pernambuco, se localiza às margens
do Rio Timbó. A principal atividade econômica sempre foi a pesca, no entanto, há alguns anos,
a expansão industrial em localidades próximas afetou o ecossistema local provocando uma
diminuição na oferta de pescado. Numa tentativa de driblar a escassez, as esposas dos
pescadores resolveram agir. Foi assim que nasceu o primeiro grupo produtivo da comunidade,
o Marearte, que aproveita conchas, escamas e sementes locais, transformando-os em objetos
de decoração e acessórios femininos.
Depois de verem seus esforços gerando aumento na renda familiar e valorização da
comunidade, melhorando a qualidade de vida, nasceu um novo grupo, Aquarius, que utiliza
ingredientes locais, anteriormente descartados, para produzir receitas típicas e comercializá-las
sob encomenda ou em feiras da região.
O protagonismo dos habitantes de Jatobá logo criou fama e ganhou incentivo de instituições
de ensino e órgãos do Governo. Esse estímulo juntamente com a consciência ecológica
desenvolvida gerou o reconhecimento desses grupos produtivos pelos próprios moradores, e
foi criado um terceiro grupo, a horta Planeta Vida, que tem como filosofia o plantil de alimentos
organicos em uma horta com formato de mandala, uma tecnica desenvolvida no Canadá.

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Dois destes três grupos tiveram a identidade visual e suas aplicações desenvolvidas
durante a disciplina de Rede Pernambucana de Design Social da UFPE. Apenas o Marearte,
com uma marca já consolidada anteriormente, não participou da etapa de desenvolvimento de
marca, apenas das aplicações. O objetivo era valorizar nos artefatos produzidos a cultura
própria e a vertente artesanal, introduzindo, para isso, metodologias de identidade visual,
embalagem de produto e gestão de negócio.
Era importante, em todas essas etapas, levar em conta o modo de vida na comunidade,
fazendo uso dos conceitos de andragogia e design participativo, para que o trabalho
desenvolvido não fosse imposto ou desenvolvido em contradição com as expectativas e
necessidades dos grupos.

2. Contextualização teórica

Sustentabilidade
O conceito de sustentabilidade surgiu na década de 1970, em meio a diversas questões
relativas ao futuro do meio ambiente. Kazazian (2005) o define como “uma abordagem que
consiste em reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo em que conserva sua
qualidade de uso (funcionalidade, desempenho), para melhorar a qualidade de vida dos
usuários de hoje e de amanhã. [...] Uma abordagem global que exige uma nova maneira de
conceber”.
Isso implica que, o designer, ao desenvolver um artefato sustentável, deve pensar na sua
usabilidade no presente, sem comprometer às necessidades de gerações futuras, atendendo
ao que escreve Paula (2001) “para ser sustentável, qualquer empreendimento humano deve
ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito”.

Andragogia
Andragogia, termo formulado pelo professor alemão Alexander Kapp em 1833 (Smith, 1996), é
a ciência que busca compreender a forma como aprendem os adultos. No ensino de adultos,
as “regras” são diferentes das usadas com jovens e crianças. Os adultos (participantes)
possuem experiência prévia, o que os diferencia dos jovens e entre si. É de extrema
importância que o facilitador utilize essa experiência como ferramenta de transmissão de
conteúdo.
A forma de iniciar um processo de aprendizagem andragógico também difere do
pedagógico. Enquanto crianças e jovens encaram o conteúdo como meio somente para
sucesso na vida escolar, adultos estão mais dispostos a aprender o que lhes é de interesse
para a resolução de problemas reais, da vida pessoal ou profissional. Sendo assim, o
aprendizado é mais focado no uso do que no conteúdo. Auto-estima e satisfação são de
extrema importância para o estímulo ao aprendizado adulto, por isso não é interessante
classificar os resultados por notas ou conceitos.
O uso da andragogia é feito de forma horizontal, proporcionando uma troca de saberes entre
facilitador e participantes, como afirma Paulo Freire em “Pedagogia do Oprimido”: “ninguém
educa a ninguém, ninguém tampouco se educa sozinho, os homens e as mulheres se educam
entre si, mediatizados pelo mundo.”

Design Participativo/comunitário
O design participativo se baseia na valorização do usuário durante o processo de
desenvolvimento dos serviços ou produtos. Por meio de oficinas e outras ferramentas de
colaboração, os usuários são incorporados no que está sendo projetado. Através dessa
inserção, o individuo participa da criação de bens culturais, exercita a critica e atua
politicamente.
Um dos pontos notáveis dessa pratica, é a capacidade de motivar o usuário a se envolver
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no delineamento do futuro a partir das experiências vividas no passado e no presente, e por
conta disso os participantes tem a chance de contribuir com propriedade, enfatizando os
aspectos que lhes são cruciais.
A todo o momento esse método leva ao debate, onde as críticas devem ser incentivadas,
visto que os interesses e vivências de cada indivíduo são diferenciadas. Esse debate é sempre
direcionado para se chegar a um consenso para que se possa progredir num mesmo caminho.
Os desejos transformam-se em objetivos e as ações serão baseadas nos mesmos.

Comunidade
Na literatura, o conceito de comunidade possui duas vertentes: aquela que usa o termo
aplicado para designar pequenos agregados rurais (como aldeias ou freguesias) ou urbanos
(como quarteirões ou bairros) e a outra que utiliza o termo para se referir a grupos
profissionais, organizações ou a sistemas mais complexos como países.
Segundo Gusfield (1975), há uma distinção entre as duas maneiras de usar o termo
comunidade. Na primeira, a territorial, o sentimento de comunidade implica um sentimento de
pertença com uma área particular, ou com uma estrutura social dentro dessa área. Na
segunda, há um caráter relacional, que diz respeito à rede social e à qualidade das relações
humanas dentro da localização de referência.

Iconografia
O termo “Iconografia” provém do grego “eikon” que significa imagem e “graphia” que significa
escrita, “escrita da imagem”. A iconografia é uma forma de linguagem que agrega imagens na
representação de determinado tema. Ela é a representação gráfica de algo. Se, por exemplo,
em uma comunidade existe a cultura da lavoura, a representação iconográfica disso pode ser a
imagem de um vegetal plantado na mesma.

Cultura
O antropólogo Tião Rocha escreve que “Todo e qualquer ser humano tem cultura.” Apesar da
aparente obviedade dessa citação, ainda existem aqueles que acreditam na superioridade ou a
inexistência da cultura de alguns seres humanos em detrimento de outras.
Por muito tempo, a Antropologia fez os indivíduos acreditarem que havia homens superiores
a outros pelo simples fato de haverem nascido em locais diferentes ou viverem de outra
maneira. Partindo desse ponto, o conceito de cultura passou a ser a justificativa científica da
imposição do modelo branco, capitalista, cristão e europeu como superior a todos os demais.
Outro equívoco sobre a questão da cultura é o fato de não haver um conceito definido da
mesma. Por conta do uso indiscriminado da palavra, ela foi perdendo sua substancia e seu
significado, tornando-se uma expressão vazia. Segundo Edward Burnett Tylor, “cultura são os
conhecimentos; crenças; artes; moral; leis; costume e quaisquer outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem como membro da sociedade.” No entanto, essa é apenas uma das
varias definições que existem do termo, e frequentemente elas diferem em conteúdo.
Ainda de acordo com Tião Rocha, a cultura pode ser associada com uma piscadela. Todas
as pessoas piscam os olhos e não pensam nisso, o fazem de forma inconsciente e natural, e
com a cultura não é diferente. Todos a vivem sem se dar conta que seja ou não cultura. Ela se
produz socialmente, mas acontece, naturalmente. Flui, semelhante às piscadelas. A cultura é
algo humano, social, público, visível, perceptível, notório, mas microscópico.

Identidade visual
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“Identidade visual é entendida como: o conjunto de imagens composto pela marca e os elementos
visuais adicionais que, combinados, transmitem o padrão estético que identifica uma instituição ou um
produto.”
Daniela Michelena Munhoz, Manual de identidade visual: Guia para construção. (Curitiba: 2AB, 2009)

3. Metodologia
A comunidade de Porto Jatobá, localizada no município de Abreu e Lima, Recife, Pernambuco,
possui cerca de “200” moradores que tem como base econômica a pesca, já que moram as
margens do rio Timbó. No entanto, por conta dessa tradição da pesca outras fontes de renda
eram deixadas de lado em detrimento da mesma, já que essa é uma cultura antiga. Esse
panorama só começou a mudar quando agentes externos à comunidade passaram a trabalhar
em conjunto com os moradores outros potenciais produtivos existentes no local.
Apesar do baixo grau de instrução, ao longo dos anos os moradores de Jatobá
desenvolveram uma forte consciência ambiental, passando a não mais desmatar a flora local, a
utilizar excedentes da pesca como matéria prima para a produção de alimentos e a fazer o
plantio de alimentos orgânicos. Tudo isso foi relatado por seu Dega, uma espécie de líder muito
respeitado da comunidade. De acordo com o mesmo, antigamente era comum a prática do
desmatamento do mangue as margens do rio Timbó, fato que hoje em dia não mais acontece
devido a informações trazidas por indivíduos externos a comunidade que desenvolveram
trabalhos de capacitação educacional e profissional no local.
O mesmo ocorreu no caso do grupo produtivo Planeta Vida, que passou a plantar produtos
orgânicos em detrimento dos cultivados anteriormente por conta de esclarecimentos e
informações trazidas por alunos do curso de Geografia da UFRPE.
Antes de iniciar o desenvolvimento de qualquer uma das marcas, era necessário identificar
elementos locais que refletissem a identidade própria da comunidade. Isso tudo feito de
maneira conjunta, integrando a comunidade no aprendizado e na percepção do meio em que
vivem.
Para garantir a horizontalidade dessa troca de conhecimentos, foram usadas técnicas de
Andragogia, já que os participantes tinham, de maneira geral, vasta experiência de vida, que
deveria ser levada em conta em cada etapa do trabalho. Tais técnicas garantiram tanto que os
moradores pudesse identificar de maneira espontânea os ícones do seu dia-a-dia, quanto
reconhecê-los de maneira legítima. Estes ícones não deveriam ser “impostos” pelos
facilitadores, e sim identificados junto a eles. Na atividade também foi discutida a noção de
cultura, levando os participantes a perceber que, ao contrário do pensavam e de acordo com
Tião Rocha, todo e qualquer ser humano é dotado de cultura.
Ainda na ocasião, com um passeio pela comunidade tendo alguns dos moradores como
guias, foram identificados costumes, hábitos e elementos ambientais - plantas, flores, folhas,
etc - como ícones típicos de Porto Jatobá, que mais tarde serviriam de base para iniciar o
desenvolvimento de cada uma das identidades visuais.
Após identificados esses elementos, foi extraída uma paleta de cores baseada nos
elementos obtidos, juntamente com os membros de ambos os grupos. Logo depois,
desenvolvidas sínteses dos elementos que caracterizavam seus produtos. Em seguida, foram
selecionadas por meio de técnicas de seleção de alternativas as opções que melhor se
adequavam a proposta inicial de cada grupo. A partir daí, o trabalho se concentrou nas mãos
dos estudantes de Design que desenvolveram marcas baseadas em todo esse processo e que
posteriomente foram apresentadas aos membros dos grupos.
Nas duas marcas foram utilizadas cores que remetiam a cada uma das atividades. Também
prezou-se por formas facilmente reproduzíveis, assim as aplicações futuras em embalagens,
por exemplo, poderiam ser feitas com técnicas manuais (carimbo, serigrafia, etc).

Figura 1: Marca do grupo Aquarius

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Figura 2: Marca do grupo planeta vida

Na marca do grupo Aquarius (figura 1), foram usados tons de azul, remetendo ao rio e à cor
da manjuba, a matéria-prima mais utilizada na confecção dos salgados, representada pela
forma da tipografia. Na marca do Planeta Vida (figura 2), as cores representam cada um dos
três elementos envolvidos na agricultura orgânica: a água (azul), a terra (marrom) e os vegetais
(verde). O ícone em verde tem forma dúbia e pode ser “lido” tanto como uma folha de coentro
(carro-chefe da produção da horta) ou como uma árvore representando a natureza a ser
preservada. A onda em azul representa as nascentes de água presentes em Porto Jatobá.

Aprovação da marca
Depois de desenvolvidas as soluções para as marcas, as mesmas foram apresentadas aos
grupos para avaliação, sendo então aprovadas. O próximo passo foi aplicá-las (figuras 3 e 4)
no material gráfico dos grupos (cartão de vista, banner, etc).

Figura 3: Aplicações do grupo Aquarius

Figura 4: Aplicações do grupo Planeta Vida

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4. Conclusão

A experiência vivida com a comunidade de Jatobá foi um aprendizado de mão dupla: ambas as
partes, ao mesmo tempo, aprenderam e ensinaram muito uma à outra. A consciência ecológica
dos moradores aliada ao conhecimento dos estudantes, rendeu e ainda pode render muitos
resultados positivos à comunidade. O objetivo proposto foi alcançado, e com ele, espera-se,
um maior sentimento de pertencimento entre os integrantes dos grupos produtivos, bem como
um aumento de sua auto-estima em relação à produção e da repercussão positiva dos
produtos perante o público.
É fundamental deixar sregistrado os reais benefícios que o campo do Design pode trazer
para comunidades carentes. A criação e o uso de identidades visuais propriamente planejadas
visa aumentar a competitividade dos produtos, sem fazê-los perder a essência artesanal, seu
diferencial no mercado, mantendo os grupos em condição de igualdade.
Durante todo o processo, foi visível o interesse dos grupos produtivos em obter uma
identidade visual de qualidade bom como melhorar a qualidade estética de seus produtos e a
gestão interna do grupo e perceptível o seu aprendizado em aspectos relacionados ao Design,
bem como o dos alunos da UFPE.
Foi observado também o quão importante foi, tanto para os estudantes quanto para os
membros dos grupos, toda a etapa de levantamento da iconografia local para que, ao fim, as
marcas desenvolvidas conseguissem, de fato, comunicar de forma direta os valores e
elementos da cultura de Porto Jatobá.
Por fim, se pôde constatar a importância do trabalho coletivo para encontrar soluções de
design que satisfaçam todas as partes envolvidas nesse processo, e de comprovar o quanto o
projeto se tornou mais enriquecedor e gratificante quando realizadoem conjunto.

5. Agradecimentos

Agradecemos à professora Ana Emília de Castro, do dDesign da Universidade Federal de


Pernambuco; a Cesar Henrinque Figueiredo pelo apoio e compreensão; a todos da
comunidade Porto Jatobá pela oportunidade de aprender e ensinar por meio do Design.

6. Referências

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social na formação cooperativa. Ribeirão Preto: V Encontro de Pesquisadores Latino-
americanos de Cooperativismo.
Munhoz, D. M. (2009). Manual de identidade visual: Guia para construção. Curitiba: 2AB
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Editora
Pereira, C. V. & Vieira, M. L. H. (2009). Design gráfico ambiental para a sustentabilidade. São
Paulo: 2° Simpósio Brasileiro de Design Sustentável
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Raichelis, R. (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: Instituto de
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Smith, M. K. (1996; 1999). 'Andragogy', the encyclopaedia of informal education,
http://www.infed.org/lifelonglearning/b-andra.htm. Última atualização: 07 de setembro de
2009.

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Consumo consciente: análise das embalagens Ecobril
(Conscious consumption: analysis of Ecobril packings)

BOTELHO, Aline Botelho; Mestranda em Design; Pontifícia Universidade Católica do Rio


de Janeiro (PUC-Rio).
alinerbotelho@gmail.com

NOJIMA, Vera Lucia. Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São


Paulo. Instituição de Ensino Superior: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
nojima@puc-rio.br

palavras chave: embalagem; semiótica; sustentabilidade, design gráfico

As idéias sobre as relações entre o homem e a natureza em torno das questões ambientais têm gerado
novas alternativas de consumo. Muitas empresas, que buscam produzir produtos denominados
comumente de ‘ecológicos’, necessitam informar nas embalagens, de forma clara, o propósito ambiental
do referido produto. Como estão as embalagens dando conta de tal recado? Este artigo apresenta um
estudo sobre a comunicação de embalagens de produtos chamados ‘verdes’. A partir de uma análise
semiótica peirciana, pretendeu-se verificar como o design gráfico das embalagens dos produtos de
limpeza da linha Ecobril, da marca Bombril, constrói as mensagens de modo a atrair a atenção para o
denominado ‘consumo consciente’, na disputa de espaço nas gôndolas dos supermercados, dentre uma
infinidade de cores e formas já conhecidas.

Keywords: packing; semiotics; sustainability; graphic design

The ideas about the relationship between man and nature around environmental issues has generated
new consumption alternatives. Many companies, seeking to manufacture products most commonly called
‘ecologic’ need to inform clearly in the packing its environmental purpose. How are the packings managing
this issue? This article presents a study about the communication of the packings of the so called ‘green’
products. From an peircean semiotics analysis, was sought to determine how the graphic design of the
packings of Ecobril cleaning products, from Bombril brand, builds the messages to attract the attention for
the entitled ‘conscious consumption’, in the shelf battle in the supermarkets, among an infinity of colors
and forms already known.

1 Introdução

Um dos aspectos centrais que evidenciam e caracterizam a prática do Design diz respeito às
significações que a produção em Design engendra. Assim, a partir da prática projetual, em que
são transferidos diversos ‘sentidos’ ao artefato de Design, este passa a ser composto por uma
extensa e complexa teia de relações e processos dialógicos que avançam sob critérios de
utilidade e funcionalidade, orquestrando práticas culturais, políticas e econômicas, e
transformando, de modo indelével, o contexto social e ambiental.
Deste modo, o objeto de Design como portador de significados, se caracteriza também
como um objeto semiótico, visto que o artefato é criado a partir dos meios tecnológicos de
produção, distribuição e consumo, os quais se integram ao Design do objeto de modo
imbricado. Esta argumentação é estruturada a partir do pensamento de Forty (2007:325), que
considera o Design como um ‘meio de representação’ que contém e transmite idéias ‘sobre a
natureza do mundo’.
Para a semiótica peirciana, signo é definido como ‘uma coisa que representa uma outra
coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar,
substituir uma outra coisa diferente dele’ (Santaella, 1983:58). Deste modo, é importante
salientar que a produção em Design atua como um processo de construção de signos, visto
que influencia nosso modo de pensar e de agir, pois quando o Design associa características

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estéticas e formais às condições de produção, define uma ‘significação’ e passa a comunicar
contextos sociais a partir de representações, pois pode determinar ‘formas tangíveis e
67
permanentes às idéias sobre quem somos e como devemos nos comportar’ .
Obviamente, o Design como signo busca representar conceitos de um certo modo e com
uma certa capacidade, pois ele apenas está no lugar das idéias representadas. Segundo
Santaella (1983:58), os signos substituem o objeto que representam ‘de um certo modo que
depende da natureza do próprio signo’.
Neste sentido, com a ampla disseminação dos conceitos da sustentabilidade em nível
global, o Design se torna um portador de significações ‘sustentáveis’, representando por meio
de sua linguagem sincrética, as características ‘verdes’ hoje reconhecidas pelos consumidores
de modo geral. A partir da inserção e apropriação dos conceitos da sustentabilidade, a
atividade do Design passa a conter em si a aspiração de promover os requisitos sustentáveis,
com o propósito de minimizar e combater os desequilíbrios socioambientais causados pela
produção industrial. Contudo, sob vários pontos de vista, a atividade de Design representa um
dos fatores centrais no estímulo aos altos níveis de consumo de recursos naturais observados
na sociedade atual.
Corroborando esta afirmação, verifica-se que a partir da disseminação dos conceitos da
sustentabilidade, surgiram no mercado global diversos produtos que se dizem portadores de
requisitos sociais ou ambientais e embutem essas idéias na cabeça de seus consumidores.
Assim, a grande preocupação ambiental, fez crescer no mercado os chamados produtos
68
‘verdes’ ou ‘ecológicos’ .
Esta segmentação de mercado gerou um amplo campo de oportunidades para o projeto em
Design, pois demonstrou ser suficientemente importante para provocar uma verdadeira
explosão de embalagens, propagandas, estratégias de marketing e produtos voltados para o
consumidor preocupado com as questões ambientais. De acordo com Denis (2000:218-9), com
a rápida evolução desse mercado nas décadas de 1980 e 1990, ocorreu uma situação
paradoxal, pois a produção denominada ‘ecologicamente correta’ engendrou um consumismo
verde, se contrapondo à sua própria crítica e servindo à reprodução das estruturas sociais
vigentes.
Partindo-se deste contexto, busca-se investigar neste ensaio, as possibilidades de utilização
de signos que comuniquem um conceito ambiental, buscando identificar mais especificamente
quais códigos do Design gráfico são utilizados nos produtos da linha Ecobril, visto que estes
são denominados por seu fabricante como ‘ecológicos’. A partir desta análise também se busca
identificar se os códigos utilizados comunicam claramente o propósito ambiental dos referidos
produtos.
Sob esta ótica, são explorados neste artigo os conceitos de Design e Sustentabilidade e
como os mesmos podem utilizar conceitos semióticos para alterar as concepções do
consumidor a respeito da natureza de um produto, redefinindo-o a partir destes signos, como
um produto de maior ou de menor ecoeficiência. Na seqüência são apresentados os conceitos
de Peirce, utilizados na análise da embalagem escolhida: ponto de vista icônico, ponto de vista
indicial e simbólico.
Partindo-se dessas conjecturas busca-se caracterizar a atuação do Design voltado às
práticas sustentáveis, bem como as relações entre Design, semiótica e sustentabilidade a partir
da análise das referidas embalagens. Por fim, investiga-se de que forma os signos constroem
as mensagens de modo a atrair a atenção para o denominado ‘consumo consciente’, na
disputa de espaço nas gôndolas dos supermercados, dentre uma infinidade de cores e formas
já conhecidas.

67
Forty (2007: 12)
68
Denis (2000)
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
2 Compreendendo a semiótica

A semiótica é, num amplo sentido, uma ciência que estuda as linguagens através de
representações feitas por meio de sinais. Esses sinais, denominados signos, permitem
representar coisas e idéias. Através delas, podemos, conforme cita Nöth (2008:20),
‘compreender todas as investigações sobre a natureza dos signos, da significação e da
comunicação’.
O nosso mundo é rodeado de representações. Através de unidades visuais, ou seja, os
signos, pode-se formar um conceito e passar uma mensagem ao receptor, ou no caso, o
consumidor dos produtos de limpeza.
Desta forma, o designer, utiliza signos gráficos para remeter, indiretamente, ao consumidor,
noções de sustentabilidade.

2.1 A semiótica peirciana


A semiótica peirciana tem como fundador Charles Sanders Peirce, considerado o ‘mais
importante dos fundadores da moderna semiótica geral’ (Nöth, 2008:40).
Segundo ele, os signos não são um fenômeno paralelo aos objetos em geral. Ao contrário,
69
Peirce (CP, 5.448) define tudo como sendo um signo, ‘o mundo está inteiro permeado de signos’.
Em uma tentativa de classificar e estudar a semiótica, Peirce desenvolveu uma
fenomenologia dividida em três módulos, capaz de apreender todo e qualquer fenômeno:
primeiridade, secundidade e terceiridade.
Como primeiridade, entende-se uma relação direta com o objeto, aquilo que se manifesta
através dos sentidos, sem procurar por nenhuma referência anterior do inconsciente. ‘É a
categoria do sentimento sem reflexão’, ou ‘da liberdade, da qualidade ainda não distinguida’
70
(CP, 1.302-303, 1.328,1.531) . Desta forma, a primeiridade é a impressão do consumidor,
formada no momento em que se depara com a embalagem nas gôndolas do supermercado.
A secundidade necessita de certo grau de associação. É o momento em que se permite
fazer comparações com experiências já vividas e interpretar certas particularidades. De acordo
com Nöth, (2008:64) ‘é a categoria da comparação, da ação, do fato, da realidade e da
experiência no tempo e no espaço’. Na secundidade é o momento em que o consumidor
consegue distinguir, dentre uma gama de produtos no seu campo visual, a linha Ecobril.
Por último, a terceiridade é o módulo que dá espaço ao pensamento. É o momento que o
consumidor tem a oportunidade de refletir sobre os conceitos empregados na embalagem.
Nesta etapa, permite-se buscar, através ‘do hábito, da memória, da síntese, da comunicação,
71
da representação’ (CP, 1.337/SS) , a percepção e análise dos conceitos da sustentabilidade
que foram empregados na embalagem através dos signos.
Essa relação triádica, formada através da teoria peirciana é ‘a base do signo’ (Nöth, 2008:64)
e, através dela, originam-se outras conceituações. Da primeiridade, obtém-se o representamen,
ou o ‘objeto perceptível’ (Nöth, 2008:67). Ele é o que vai estimular os sentidos, o que é
identificado somente no primeiro contato. A secundidade, pela possibilidade de associações, gera
o objeto representado de acordo com a realidade. A relação da terceiridade origina o
interpretante, dotado de conhecimento e com possibilidades de análises e reflexões. Desta forma,
72
o interpretante é ‘algo criado na mente do intérprete’ (CP, 8.179) . Todas essas relações
acontecem quase que simultaneamente e, na maioria das vezes, despercebidas pelo
consumidor.
Depois de definidas as classificações - representamen, objeto e interpretante-, Peirce
começou a traçar relações entre elas, chamadas tricotomias, gerando um novo sistema de
classificação. Para analisar o design das embalagens, foi feito um estudo baseado na segunda
tricotomia, ou seja, ‘o ponto de vista das relações entre representamen e objeto’ (Nöth, 2008:78).
Dentro da segunda tricotomia, os elementos são classificados como ícones, índices e
símbolos. O ícone, situado na primeiridade, mantém, como tal, a manifestação através dos

69
CP apud Nöth (2008:62)
70
idem, p. 63
71
idem, p. 64
72
idem, p. 71
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sentidos. Sendo assim, ele nada mais é do que uma percepção do que está sendo
representado. O ícone é ‘um signo cuja qualidade significante provém meramente da sua
73
qualidade’ (CP, 2.92) .
O índice, por estar relacionado à secundidade, é a representação do fato em si. É a
percepção do objeto feita a partir de associações anteriores já vividas pelo consumidor. ‘O índice
74
está fisicamente conectado com seu objeto; formam, ambos, um par orgânico’ (CP, 2.299) .
Por fim, o símbolo atua na terceiridade, é o momento oportuno para o pensamento. Através dos
símbolos gráficos permite-se avaliar os conceitos de sustentabilidade transmitidos por meio de uma
embalagem. A análise simbólica depende basicamente de ‘convenções sociais’ (Nöth, 2008:83).
A definição dos conceitos criados por Peirce permite, neste momento, uma análise mais
detalhada dos produtos, podendo-se explorar cada item já identificado.

3 Critérios de sustentabilidade e sua aplicação no Design

Diante de novas alternativas e preocupações constantes com o futuro do planeta, a elaboração de


produtos com critérios sustentáveis passou a ser um dos focos dos fabricantes de um modo geral.
No Design existem ‘quatro níveis fundamentais de interferência’ (MANZINI, VEZOLLI,
2005:20), sendo que o mais facilmente alcançado é o chamado, conforme cita Manzini e
Vezolli, ‘Redesign Ambiental do Existente’. Este nível, nada mais é, do que uma melhoria de
produto já em atividade no mercado, buscando uma eficiência em ‘termos de consumo de
matéria e de energia, além de facilitar a reciclagem de seus materiais e reutilização dos seus
componentes’ (MANZINI, VEZOLLI, 2005:20).
Para a aplicação deste nível de interferência, é fundamental analisar todas as etapas
percorridas por um produto, desde a pré-produção, passando pela produção, distribuição, uso
e finalmente, o descarte. Essas etapas constituem o ciclo de vida, ou seja, a análise do
‘produto desde a extração dos recursos necessários para a produção dos materiais que o
compõe [‘nascimento’] até o ‘último tratamento’ [morte] desses mesmos materiais após o uso
do produto’ (MANZINI, VEZOLLI, 2005:91). Além disso, a análise do ciclo de vida está
associada ao uso de materiais e energia gastos durante todos os processos.
A análise de material é um critério relativamente importante, visto que a escolha deste pode
influenciar em ‘um impacto ambiental maior na fase de produção e na fase de eliminação mas
pode fazer o produto perdurar por um período maior e de maneira mais eficiente’ (MANZINI,
VEZOLLI, 2005:147). Ao aumentar a vida útil de um produto, deve-se levar em conta que
outras características do mesmo devem se manter intactas, ou em ‘condições normais de uso’
(MANZINI, VEZOLLI, 2005:181).
Hoje em dia, com a crescente fabricação de produtos ‘verdes’, são comumente encontrados
materiais biodegradáveis na elaboração das embalagens. Essa utilização é de extrema
importância para a ‘fase final do ciclo de vida’ (MANZINI, VEZOLLI, 2005:153). Além disso,
outros critérios para a escolha de materiais e tecnologias para a fabricação devem ser levados
em conta, como exemplifica Manzini e Vezolli (2005:153): ‘evitar inserir materiais tóxicos e
danosos no produto’, ‘usar materiais renováveis’, ‘usar materiais reciclados, em separado ou
junto com outros materiais virgens’ e ‘escolher tecnologias de transformação dos materiais de
baixo impacto’.
Mesmo com a gama de possibilidades para elaboração de produtos ecoeficientes, existe a
dificuldade de comprovação dos critérios utilizados. Sendo assim, algumas empresas utilizam-
se do slogan ‘verde’ apenas para passar uma mensagem, não fazendo valer efetivamente em
seu produto, os requisitos ambientais exigidos.
A fim de estabelecer critérios, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
(CONAR), criou algumas normas éticas para a utilização da sustentabilidade em campanhas
publicitárias. O objetivo, segundo o site da própria entidade, é ‘reduzir o espaço para usos do
tema sustentabilidade que, de alguma forma, possam banalizá-lo ou confundir os
consumidores’. Além disso, é fundamental que o consumidor consiga comprovar de forma clara
todas as menções divulgadas sobre o produto. Estas regras entrarão em vigor no dia 1º de

73
idem, p. 78
74
idem, p. 82
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agosto de 2011 e abrange todos os meios de comunicação, incluindo a internet. Ainda de
acordo com o site do CONAR, todos os materiais devem seguir os princípios de: concretude (‘a
publicidade de condutas sustentáveis e ambientais devem ser antecedida pela efetiva adoção
ou formalização de tal postura por parte da empresa ou instituição’), veracidade (‘as
informações e alegações veiculadas deverão ser verdadeiras, passíveis de verificação e
comprovação’), exatidão e clareza (‘as informações veiculadas deverão ser exatas e precisas,
expressas de forma clara e em linguagem compreensível’), comprovações e fontes (‘os
responsáveis (...) deverão dispor de dados comprobatórios e de fontes externas que
endossem’), pertinência (‘é aconselhável que as informações socioambientais tenham relação
lógica com a área de atuação das empresas, e/ou com suas marcas, produtos e serviços’),
relevância (‘os benefícios socioambientais comunicados deverão ser significativos em termos
do impacto global que as empresas, suas marcas, produtos e serviços exercem sobre a
sociedade e o meio ambiente’), absoluto (‘a publicidade não comunicará promessas ou
vantagens absolutas ou de superioridade imbatível’), além de levar em consideração o
marketing relacionado a causas (‘a publicidade explicitará claramente a(s) causas(s) e entidade
(s) oficial (is) ou do terceiro setor envolvido (s) na parceria com as empresas, suas marcas,
produtos e serviços’).
Alem do CONAR, a Associação Brasileira de Embalagens (ABRE), vem voltando seus
interesses em criações que sejam mais ecológicas. Segundo eles, cabe ao setor produtivo a
responsabilidade pelo uso e desenvolvimento de tecnologias limpas, ou seja, menos impacto
ambiental. Além disso, propõem programas sociais de educação ambiental, priorizando
principalmente a reutilização de materiais e coleta seletiva. De acordo com uma cartilha divulgada
75
pela ABRE , ‘todos os produtos, bens e serviços causam impacto ao meio ambiente ao serem
produzidos e utilizados, em qualquer uma de sua etapa de vida’. Ainda segundo ela, ‘esses
impactos podem ser mais ou menos significativos; eles podem ser de curta ou longa duração, e
76
podem ser locais, regionais e/ou globais’.
De acordo com esta realidade, empresas influenciam as pessoas a repensarem seus hábitos de
consumo, visto que explicitam em suas embalagens sua ecoeficiencia. Desta forma, foram
analisados a seguir, os sinais perceptíveis existentes nas embalagens dos produtos de limpeza.

4 Análise semiótica do lava louças concentrado Ecobril

A embalagem do lava louças concentrado da linha Ecobril, fragrância laranja com gengibre; e o
respectivo refil, ambos produzidos pela empresa Bombril foram analisados com base nos
conceitos semióticos de representamen, objeto e interpretante, incluindo suas relações
baseadas na segunda tricotomia, ou seja, um estudo entre as relações do representamen com
o objeto.

4.1 Breve histórico do produto no mercado


A empresa Bombril, presente no mercado brasileiro desde 1948 e aproveitando a popularidade
da esponja de aço, que apresenta o mesmo nome da empresa, lançou em 2010 uma linha de
produtos de limpeza com 24 itens entre limpadores, detergentes, amaciante de roupas, lava-
roupas, sapólios e pastilhas para ralo (Vide Figura 1, a seguir). A empresa garante que esta
linha segue os padrões dos 4Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Respeitar a biodiversidade)
(BOMBRIL, 2011).

75
Adequação à Indústria de Embalagem da ABNT ISO/TR 14.062/2004: Gestão Ambiental – Integração de Aspectos
Ambientais no Projeto e Desenvolvimento do Produto
76
idem.
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Figura 1: Linha de produtos Ecobril
Fonte: http://www.bombril.com

Coincidentemente, surgem no mercado diversos outros produtos atrelados ao mote da


sustentabilidade, visto que este assunto está em pauta nos meios de comunicação. Assim, agregar
ao plano de negócios um posicionamento ‘sustentável’, além de auxiliar na construção da imagem
da marca perante o consumidor, também possibilita obter um maior índice de lucratividade em um
nicho de mercado ainda pouco explorado. Entretanto, para que essas ações sejam tangíveis as
empresas necessitam incorporar essa filosofia de modo ético e transparente ou, correm o risco de
que esta postura se caracterize apenas como uma ‘maquiagem verde’. Segundo a empresa
Bombril, também são divulgadas ações no âmbito sociocultural e entre as iniciativas são citados o
‘Movimento de Reconhecimento da Mulher’ e o projeto ‘Mulheres que Brilham’, voltado ao principal
público consumidor dos produtos da marca, as mulheres (BOMBRIL, 2011).

4.2 Análise da embalagem a partir do objeto e suas relações triádicas


Conforme descrito no tópico 2.1, esta categoria do signo corresponde à relação da primeiridade
com a secundidade, ou seja, o momento em que o consumidor vê o objeto na gôndola e
posteriormente consegue identificá-lo dentre os outros produtos existentes.

4.2.1 Referências icônicas


Este aspecto se refere às representações que compõem a embalagem e se manifestam sem
nenhum tipo de referência anterior do consumidor. Identifica-se, tanto no caso da embalagem
principal de lava louças concentrado Ecobril, quanto no refil do mesmo produto, a
predominância das cores laranja, sendo que o verde é utilizado na marca e em uma
composição gráfica que contém a sigla 4R (Vide Figura 2).
A embalagem principal deste produto é lisa e seu aspecto é brilhante, pois o material
utilizado é o PET. A transparência desse material possibilita a visualização da cor do produto.
Sua tampa é produzida também em plástico e apresenta a cor branca opaca. Sua textura é lisa,
apenas com um corte na horizontal para que o usuário identifique sua abertura. Além disso, no
alto da tampa encontra-se gravado, em alto relevo, a marca Ecobril e logo em cima a Bombril,
na mesma disposição presente no rótulo.
O rótulo da embalagem principal, feito em adesivo com recorte especial, utiliza
predominantemente as cores brancas e laranja. Na parte da frente é possível visualizar a foto de
uma fruta laranja e de pedaços de gengibre. No centro deste, verifica-se a existência de uma tarja
laranja com dizeres em branco, facilitando a leitura pelo contraste. Ainda nesta parte nota-se a
existência de outros dizeres em branco e também em laranja e vermelho. Além disso, é possível
ver o selo característico da marca Ecobril, chamado 4R. Ao observar o rótulo dianteiro da
embalagem principal, nota-se que na parte superior há um elemento gráfico na cor branca,
possivelmente para dar o destaque necessário para a logomarca da empresa e do produto.

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O verso da embalagem principal é produzido com o mesmo recorte no adesivo da frente. Possui
predominantemente as cores laranja e branco, com uma tarja em verde, situada mais acima, com
os dizeres em branco. No verso há uma predominância de cores brancas com textos em preto.

Figura 2: Embalagem frente e verso do lava louças concentrado Ecobril fragrância laranja com gengibre
Fonte: pessoal

A embalagem refil deste produto é feita de plástico branco, com um formato quadrado, e
base oval, o que permite ficar em pé nas gôndolas. Nela foram impressas as informações
frente e verso. As cores predominantes, assim como na embalagem principal, são o branco e o
laranja. Na parte da frente, a embalagem foi dividida ao meio por uma tarja laranja contendo
dizeres em branco. Embaixo desta tarja encontra-se uma cor degradê em laranja, assim como
alguns dizeres em vermelho e laranja, além da foto da fruta laranja com pedaços de gengibre e
o selo 4R. Na parte superior, predominantemente branca, encontra-se a marca Ecobril. Além
disso, nota-se a presença da marca Bombril, situada acima e à esquerda da marca do produto.
Um pouco acima da marca, alinhado à direita, encontra-se um desenho da embalagem
principal do produto, junto de uma folha. Na extremidade superior esquerda da embalagem,
encontra-se um triângulo laranja, com dizeres brancos em destaque.
O verso da embalagem refil foi divido em quatro partes. A primeira, uma caixa laranja,
escrita em verde. Ainda neste box encontra-se, situado à esquerda, a marca Ecobril envolta
numa forma oval branca. A segunda parte da embalagem refil é formada por uma tarja verde
com os dizeres em branco. A terceira é formada por um quadrado branco com informações em
disposição no formato de tabela. A última parte é um quadrado feito em tom de laranja degradê
composto por imagens e texto.

Figura 3: Embalagem refil, frente e verso, do lava louças concentrado Ecobril fragrância laranja com gengibre
Fonte: pessoal

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4.2.2 Referências indiciais
Esta categoria do signo se relaciona aos aspectos que já particularizam o produto,
características que permitem identificá-lo dentre os demais existentes no mercado.
O lava louças concentrado Ecobril, conforme analisado no item 4.2.1, é composto
graficamente das cores verde, laranja e branco. Culturalmente o uso da cor verde se relaciona
com a natureza, assim, a marca, os princípios da sustentabilidade e a ilustração de folhas que
identificam a fragrância são apresentados nesta cor. A cor laranja, por sua vez, é associada à
energia, à sociabilidade e apresenta uma boa visibilidade, deste modo, percebe-se que esta
cor é utilizada com freqüência na embalagem e o rótulo ganha destaque com um tom de laranja
mais escuro. A marca Bombril é apresentada em vermelho, visto que esta é sua cor original.
A embalagem principal deste produto, por ser transparente, facilita a visualização do seu
conteúdo, e também, possibilita ver a sua quantidade, permitindo ao usuário identificar a
necessidade de troca. Nesta embalagem, a forma do produto o particulariza e difere das
embalagens de detergentes produzidas até o seu lançamento, pois seu formato apresenta um
aspecto oval na parte inferior que vai se afinando até formar um gargalo na parte superior. A
embalagem, com capacidade de 500ml, tem um tamanho físico maior do que as outras e, seu
gargalo permite o encaixe da mão e facilita o manuseio da embalagem, mesmo quando molhada.
Além disso, o gargalo, por ser mais largo que o convencional, permite o encaixe da embalagem
em refil facilitando a reposição do produto sem desperdício ou dificuldades ao consumidor.
O rótulo da embalagem principal, tanto frente quanto verso, tem um formato que remete a
uma folha. Na parte da frente verifica-se no canto direito embaixo, a fruta laranja e pedaços de
gengibre, o que remete a um produto natural, feito com ingredientes conhecidos, sem
interferências de químicas ‘camufladas’. Este posicionamento se reforça com a cor do líquido
laranja no interior.
No centro deste rótulo verifica-se a existência de uma tarja laranja que identifica o tipo de
produto, ‘lava louças concentrado com tensoativo biodegradável’. Esta tarja é comum a todos
os itens da linha Ecobril o que facilita ao consumidor encontrar o tipo de produto que deseja.
Além disso, encontra-se ainda nesta parte do rótulo, informações como ‘rende mais’,
passando ao consumidor a noção de que é um produto concentrado e ‘leia atentamente o
rótulo antes de usar o produto’. Sua extremidade superior possui uma cor laranja com a
informação de que o produto é novo.
Na parte posterior do rótulo da embalagem principal, encontra-se logo na extremidade
superior, um grafismo em branco com a marca Ecobril em seu interior. Embaixo vem um box
laranja, escrito em verde, explicando o que é a linha Ecobril. Em seguida, vem uma tarja, em
verde, escrito em branco com os seguintes dizeres: “entenda como a linha Ecobril pode
contribuir com o meio ambiente através do conceito ‘4R’s’:’. Logo abaixo, vem em formato de
uma tabela as informações sobre ‘reduzindo’, ‘reutilizando’, ‘reciclando’ e ‘respeitando a
biodiversidade’. Essas informações vêm dentro de box em cor bege, com o texto em marrom, e
ao seu lado esquerdo um grafismo, diferente para cada uma delas. Em seguida, vem um fio
verde, dividindo o rótulo e, posteriormente, vem as informações sobre o produto: ‘Ecobril Lava
Louças Concentrado possui tensoativo biodegradável e rende mais que os detergentes
convencionais. Não descarte o frasco deste produto. Na próxima compra procure a embalagem
Refil do Ecobril Lava Louças Concentrado’. Por conseguinte, vem uma tarja laranja escrita em
verde, especificando o modo de usar. O texto que o segue vem no fundo branco, com
especificações em preto. Além disto, pode-se notar na parte posterior do rótulo da embalagem
principal, um box em verde e branco, de ‘fale conosco’ e um símbolo de embalagem reciclável,
além do código de barras.
A embalagem refil deste produto segue a mesma linha gráfica da embalagem principal,
tanto em disposição quanto em cores. Porém, por seu formato ser maior, há uma facilidade de
leitura e melhor espaço de respiro entre as informações.
Na parte da frente desta embalagem, pode-se dizer que foi divida em três partes, a superior,
a tarja laranja de identificação do produto e a parte inferior. A parte superior,
predominantemente branca, tem o destaque da marca do produto, assim como a marca da
Bombril. Na sua extremidade superior esquerda, encontra-se um triângulo laranja escrito em
branco: ‘Refil econômico e ecológico’. Do lado direito, tem-se o desenho da embalagem
principal em cima de uma folha verde e com um círculo verde atrás, dando mais destaque ao
produto. A parte inferior é constituída de um fundo laranja em degradê indo do alaranjado para
o branco (de baixo para cima) o que sugere que a fragrância do produto está sendo exalada.

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Nesta parte, encontra-se também, assim como na embalagem principal, o desenho da fruta
laranja e do gengibre, a informação ‘rende mais’ e a especificação da fragrância ‘laranja com
gengibre’ além de um maior destaque para o selo 4R. Todas essas informações foram
alinhadas pelo centro, uma embaixo da outra. Nesta parte, situa-se também as informações de
500ml e o ‘leia atentamente o rótulo antes de usar o produto’.
Assim como na parte da frente do rótulo refil, a parte posterior também segue a linha da
embalagem principal. Pode-se dizer que ele foi divido em quatro partes. A primeira, dentro de
uma caixa laranja, escrita em verde, passa informação do que é a linha Ecobril. Ainda neste
Box, encontra-se, situado à esquerda, a marca Ecobril e a marca Bombril, na mesma
disposição da parte da frente. A segunda parte da embalagem refil é formada por uma tarja
verde com os dizeres ‘entenda como a linha Ecobril pode contribuir com o meio ambiente
através do conceito ‘4R’s’:’. A terceira parte, em formato de tabela, contem as informações
sobre ‘reduzindo’, ‘reutilizando’, ‘reciclando’ e ‘respeitando a biodiversidade’. Essas
informações vem dentro de box em cor bege, com o texto em marrom, e ao seu lado esquerdo
um grafismo, diferente para cada uma delas. Em seguida, vem um fio verde, dividindo o rótulo
e, posteriormente, vem as informações sobre o produto: ‘Ecobril Lava Louças Concentrado
possui tensoativo biodegradável e rende mais que os detergente convencionais’.
Na última parte, por conseguinte, vem uma tarja laranja escrita em verde, especificando as
instruções de uso. O que se segue, é um quadrado feito em tom de laranja degradê que vem com
três desenhos informativos sobre como utilizar o refil na embalagem principal. O texto seguinte
contém informações escritas em preto. Além disto, pode-se notar na parte inferior a direita do
rótulo da embalagem refil, um box branco com o código de barras, ao centro o símbolo de
embalagem reciclada e por fim, alinhado a direita, um box verde e branco, de ‘fale conosco’.

4.2.2 Símbolo
O símbolo, atuante da terceiridade, diz respeito aos padrões ou normas identificados. Além disso,
é o momento oportuno para se criar uma mensagem e aplicar os conceitos da sustentabilidade.
A princípio, verifica-se que a fórmula do produto, presente em ambas as embalagens, se
caracteriza como uma norma, e que, além disto, difere dos demais detergentes por conter
ativos biodegradáveis. Verifica-se também que, por ser um produto concentrado, indica
economia e conseqüentemente maior durabilidade.
Outro símbolo que remete à sustentabilidade é o selo do 4R utilizado em todas as
embalagens. Este símbolo é formado por uma união de duas folhas, com um 4R no meio e um
círculo com sentido de movimento que identifica os quatro conceitos: reduzir, reutilizar, reciclar,
respeitar a biodiversidade. O próprio slogan do Ecobril, situado sempre abaixo da marca é um
símbolo remetente a questões ambientais ‘cuidando da sua casa, preservando a natureza’.
Além disso, todas as embalagens, sejam elas principais ou refis, explicam em seu verso
detalhadamente o que constitui cada R do projeto, passando ao consumidor, a todo o
momento, noções de sustentabilidade.
Por ser feito de embalagens recicláveis, com fragrâncias exclusivas e ingredientes naturais,
a marca Ecobril também sugere que é uma empresa consciente ambientalmente.
Desta forma, as embalagens passam ao consumidor, noções de sustentabilidade embutidas
no produto.

5 Conclusão: interconeconexões semióticas aplicadas aos conceitos da sustentabilidade

Foi presenciado no decorrer deste artigo que soluções semióticas vêm sendo aliadas a
produtos oriundos do Design a fim de passar uma mensagem de produção sustentável. Esta
produção, no que diz respeito a quesitos ambientais, inclui ‘eco-eficiência e eco-design’
(HILTON, 2001:126). Além disso, está relacionada, conforme exemplifica Hilton, a ‘materiais
renováveis, materiais recicláveis/residuais, energia renovável e químicas verdes’.
Desenvolver produtos de Design em que se manifestem signos de real ecoeficiência, não só
contribuem com o ambiente, mas podem modificar o comportamento do consumidor e
influenciar em questões sustentáveis.
Baseando-se no tópico 3 deste artigo, pode-se entender, conforme explicação de Manzini e
Vezzoli (2005:41-2) três critérios básicos para avaliar a ecoeficiencia de um produto:
‘eficiência’, ‘suficiência’, ‘eficácia’, simbolicamente representados nas embalagens.

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Analisando no critério de ‘eficiência’, busca-se por materiais ‘limpos e recicláveis’. De acordo
com a mensagem produzida pelo lava louças Ecobril, tanto a embalagem principal quanto a refil
possui o indicativo de embalagem reciclável estampada no verso. O fato de serem produzidas em
plástico também leva o consumidor a crer na possibilidade de reciclagem.
No segundo critério proposto, o da ‘suficiência’, sugerem ‘produtos biológicos e
biodegradáveis’. Ambas as embalagens tem em destaque na tarja laranja, junto com o nome do
produto, a informação ‘com tensoativo biodegradável’. Além do mais, se formos levar em conta
que produtos biológicos sejam o mesmo que produtos naturais, a figura da laranja com
gengibre, e a cor do líquido no interior do frasco passa esta mensagem ao consumidor.
Por fim, o último critério definido, o da ‘eficácia’, propõe ‘produtos e serviços ecoeficientes
(isto é, de baixa intensidade material)’. O fato produzirem produtos concentrados, especificados
no rótulo como ‘rende mais’ já evita uma reposição mais constante de embalagens. Além disso,
por existir uma versão em refil, faz com que as compras que virão, por conseguinte, sejam
feitas com um produto com menos material e que causará menos impacto ambiental.
Ainda analisando a embalagem do lava louças concentrado Ecobril, permite-se notar que o
fato de explicar e exemplificar constantemente em sua embalagem os conceitos dos 4R
(reduzir, reutilizar, reciclar e respeitar a biodiversidade), busca comunicar claramente o
propósito de seus produtos.
Por terem cores e formatos diferentes dos demais concorrentes existentes nas gôndolas
dos supermercados, entende-se que o mesmo consegue ser identificado pela parcela de
consumidores que preferem produtos menos agressivos.
Por outro lado, em pesquisa realizada pelo Instituto Ethos em parceria com o Instituto Akatu
(2010) verifica-se que o percentual de consumidores denominados ‘conscientes’ manteve-se
em 5% do total da população brasileira. Entretanto, no grupo de consumidores denominados
de ‘indiferentes’, ou seja, mais distante destes valores comportamentais, constatou-se um
crescimento de 25% para 37% do total, desde a pesquisa anterior realizada em 2007. Segundo
a referida pesquisa ‘o contexto econômico favorável ao consumo explica uma parte do
resultado geral de crescimento dos indiferentes’ (AKATU; ETHOS, 2010:51), entretanto não é
possível atribuir todo o percentual de aumento a esse fator.
Em resumo, as ações voltadas a uma ampliação da sustentabilidade, não elaboraram
mensagens facilmente decodificáveis, pois não conseguiram atingir o nicho de consumidores
conscientes no Brasil. Portanto, é necessário propor novas formas de diálogo, de modo que um
maior percentual da população seja sensibilizado.

Bibliografia

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Associação Brasileira de Embalagens – ABRE: http://www.abre.org.br/meio_download.php

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Educação e Sustentabilidade: Um redesenho do modelo
molecular numa perspectiva de inclusão social (Education
and Sustainability: A redesign of the molecular model
under a perspective of social inclusion)

RAMOS, Amanda 77

PIRES NETO, João Pessoa 78;

Palavras chave: sustentabilidade, modelo molecular; educação.

O presente artigo expõe o redesenho de um modelo molecular para auxílio no ensino da química e física,
numa perspectiva de inclusão social. Esta última foi a lacuna identificada em tais modelos existentes no
mercado, em que se verificou a não existência de características que possibilitem a manipulação por
deficientes visuais (DVs). No desenvolvimento, fez-se uso da sustentabilidade como diretriz a ser seguida
e aplicada na confecção do modelo através da textura. Para isto, se utilizou resíduos provenientes da
indústria moveleira (sobras de madeira e lixas) e têxtil (laminados, Ethylene Vinyl Acetate - EVA e velcro).
A inserção de texturas como fator de diferenciação, fez-se necessário para que seja possível a
modelagem de moléculas da química geral e orgânica pelos DVs, como também, aliar a aplicação de
cores, possibilitando um aumento no nível de percepção e concentração dos videntes. Ao mesmo tempo,
verificar a relevância e o papel do designer em parceria com o químico no que diz respeito ao
desenvolvimento de projetos de ensino-aprendizagem. O resultado final deste produto está pautado numa
discussão ampla do conceito de sustentabilidade, perpassando o campo da inclusão social, ambiental e
financeiro. Como também, possibilitar um espaço de debate na sociedade sobre a relação de consumo
industrial em detrimento aos produtos artesanais.

Keywords: sustainability; molecular model; education.

This article presents the redesign of a molecular model to aid in the teaching of chemistry and physics, in a
perspective of social inclusion. The latter was the gap identified in such models on the market, which saw
the lack of features that enable the manipulation by the visually impaired (VI). In the development, use of
sustainability was made as a guideline to be followed and applied in making the model through the texture.
For this, we used residues from the furniture industry (scrap wood and sandpaper) and textiles (laminated,
Ethylene Vinyl Acetate - EVA and velcro). The insertion of textures as a differentiation factor, was
necessary to make the modeling of molecules of general chemistry and organic by VI possible, as well as,
combined with application of color, allowing an increase in the level of perception and concentration of the
seers. At the same time to verify the relevance and role of the designer in partnership with the chemist in
relation to development projects of teaching and learning. The end result of this product is lined in a broad
discussion of the concept of sustainability, spanning the field of social, environmental and financial
inclusion but also to open a space for debate in society about the ratio of industrial consumption in
detriment of craft products.

77
Graduada em Desenho Industrial - UFCG; Professora da Faculdade de Desenvolvimento e
Integração Regional – FADIRE – Brasil. amandasrazevedo@gmail.com
78
Mestrando em Ensino de Ciências – Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE e
licenciado em Química pela UEPB. Brasil. joaoppneto@yahoo.com.br

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1. Introdução

A utilização de temas geradores no campo da educação, a exemplo da sustentabilidade no


campo escolar, tem sido objeto de investigação em várias áreas do conhecimento e em
diversos países, inclusive no Brasil, (GADOTTI, 2003; MORIN, 2003; MAGALHÃES, 2004;
FREITAS, 2005; ASSMANN, 2001; BRASIL, 2000), em diversos periódicos, como também em
documentos oficiais, que dão diretrizes nas atividades a serem trabalhadas, bem como, na
tentativa de orientar uma discussão pautada no comprometimento social dos pares envolvidos
no processo de ensino-aprendizagem.
No entanto, percebe-se que ainda há lacunas a serem preenchidas nessa discussão, a
exemplo das diversas formas de contribuições do designer no ensino das ciências naturais,
79
incorporando elementos que possam favorecer a inclusão social no ensino, perpassando as
várias modalidades e interesses do setor, a exemplo de elaboração de materiais didáticos
utilizando materiais alternativos que possibilitem uma integração da comunidade escolar numa
perspectiva histórico-cultural, bem como favorecer possibilidades de uma educação com foco
na sustentabilidade ambiental, de modo a beneficiar as diversas áreas do saber uma postura
igualitária e inclusiva através das diversas formas de contribuição desse profissional nas
discussões sobre o uso de materiais alternativos dentro dos conhecimentos específicos das
ciências naturais com foco no desenvolvimento sustentável.
O princípio básico considerado nesse espaço está pautado na questão da inclusão social na
educação, através de elaboração de materiais didáticos que possam inserir a comunidade
escolar em um ambiente participativo e equitativo. Para tanto, surge a seguinte questão: em
80
uma aula de química ou física, como os estudantes e professores com deficiência visual se
inserem em atividades de modelagens de moléculas, utilizando os kits de modelos moleculares
existentes no mercado brasileiro e no exterior, uma vez que os modelos moleculares
geralmente são confeccionados em dois tamanhos e aproximadamente dez cores diferentes? A
partir dessa questão, a proposição inicial será de que os portadores de deficiência visual,
incluindo os cegos e os de baixa visão, serão excluídos dessa atividade.
Para tanto, o objeto desse trabalho é apresentar uma proposta de redesenho de modelos
moleculares com inclusão social, direcionados para o ensino da química e da física, como
também discutir os aspectos de sustentabilidade na educação como possibilidades de
transformar o ambiente escolar em um espaço questionador e consequentemente
transformador.

2. Fundamentação teórica

Historicamente a discussão sobre sustentabilidade teve um marco significativo a partir da


Agenda 21, em que houve um amadurecimento e consequentemente debates na comunidade
internacional, visando buscar pontos convergentes entre o desenvolvimento econômico e a
proteção ambiental, no sentido de fortalecer a real necessidade de uma continuidade

79
O termo inclusão social nesse espaço está apoiada na necessidade de uma alfabetização científica com
a finalidade de potencializar alternativas para uma educação mais comprometida com a inclusão social
(Chassot, 2003). No entanto e dentro desse espaço, a questão da inclusão social no ensino de química
transcende a sala de aula e busca dar sustentabilidade nas práticas sociais, na vida cotidiana dos pares
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, a real necessidade de um ensino questionador e
transformador.
80
Consideramos nesse espaço a deficiência visual categorizado como: os cegos e os de baixa visão.
Mesmo não havendo consenso na literatura sobre a definição de cegueira, referimos aqui não apenas
aqueles que vivem na escuridão total, mas sim, ao que possuem problemas visuais suficientemente graves
para serem considerados legalmente de cegos.
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sustentável da vida no Planeta. Para Kazazian (2005) a sustentabilidade está relacionada a
uma abordagem com o propósito de minimizar os impactos ambientais que um produto poderá
ocasionar levando em consideração as sua funcionalidade e desempenho, visando sempre
uma melhor qualidade de vida.
Nesse sentido Gadotti (2003) defende que a sustentabilidade se torna um tema gerador,
capaz não só de pensar o planeta como um todo, mas sim, um projeto social de modo a ser
capaz de repensar e ou reeducar um olhar mais amplo, assim como capaz de projetar um
mundo possível com igualdade e dignidade de forma democrática e igualitária.
Como aponta Coimbra (2003) quando diz que a escola precisa repensar os conteúdos
‘relevantes’ cientificamente, mesmo considerando os temas abstratos, mas que consiga
relacionar com as experiências dos estudantes, evitando dessa forma uma abordagem
descontextualizada dentro do espaço cultural e social, no qual a comunidade escolar está
inserida, evitando dessa forma, a reprodução de modelos educacionais do tipo ‘Ivo viu a uva’
ou se apropriando de analogias ao relacionar o modelo atômico de Joseph John Thomson
(1856 – 1940) análogo ao ‘pudim de passas’ em que por um lado os estudantes muitas vezes
podem ter visto a uva, mas não pôde comprar, e por outro lado, nunca ter visto um pudim de
passas. Nesse sentido, entende-se a real necessidade de um ensino contextualizado dentro de
um espaço social, cultural e econômico dos pares envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem. Afastando-se disso, percebe-se a prática uma mera transmissão de
conhecimento, impregnado de argumentos de autoridade quanto ao conhecimento científico e
distante da Química Social proposto por Pires Neto, (2007).
Nesse sentido Carvalho (2006) defende que a enculturação científica no ensino das ciências
é de fundamental importância, uma vez que o aprimoramento nas linguagens escrita e oral dos
alunos criam condições para a construção das relações morais, como também o papel da
linguagem do professor nesse processo, favorecendo dessa forma um espaço aberto e de
argumentos por parte dos pares envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Quando se trata do termo sustentabilidade na educação, Pereira, et al. (2007)
compreendem como sendo ‘uma proposta de educação voltada para a conscientização do
homem de que a vida dos seres que habitam o planeta é a própria vida do planeta’. (p.84),
Nesse sentido, entende-se nesse espaço, a sustentabilidade na educação como instrumento
necessário à promoção de uma política voltada às questões sociais e culturais de uma
sociedade que deverá pensar numa perspectiva que envolva ‘uma educação sustentável para
a sobrevivência do planeta’ (GADOTTI, 1998 apud Pereira, et al,. 2007).
Nessa perspectiva, percebe-se a formação de obstáculos epistemológicos existentes quanto
às concepções ingênuas de sustentabilidade apreendida pelo senso comum, ao mesmo tempo
em que se insere nessa discussão a contribuição de outras áreas do conhecimento, nesse
processo de construção educacional, a exemplo da contribuição do designer na educação.
Para Fontoura (2002) o design torna-se um instrumento capaz de colaborar ativamente na
educação formal e informal de crianças e adolescentes, como sendo uma proposta pedagógica
e ou como uma filosofia educacional, com potencial transformador do sujeito através do
processo de ensino-aprendizagem.
Para tanto, percebe-se que a inserção de elementos pedagógicos inseridos no espaço
escolar, deverá contribuir com as outras disciplinas curriculares, não se tornando uma prática
isolada e ou disciplinar, uma vez que Behrens (2000) chama atenção para o fato de que essas
concepções isoladas da disciplina direcionam professores e alunos a restringirem na
reprodução do conhecimento.
Nesse sentido, a real necessidade em incorporar elementos do design com um
comprometimento social e sustentável será imprescindível no ensino e especificamente neste
caso, o ensino das ciências naturais, uma vez que, seu papel na educação é colaborar com a
formação do sujeito em um espaço participativo e inserido no Universo, entendendo dessa
forma toda sua complexidade cultural, político e social, necessitando assim, de uma reflexão
inclusiva no ensino.
Mas, o que e como falar de inclusão em um país com fortes demandas sociais, onde ainda
há jovens que passam fome e recorrem a escola como forma de minimizar suas necessidades

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fisiológicas básicas? Como falar em inclusão numa sociedade em que temos jovens na escola
que não têm uma moradia digna, capaz de favorecer um pequeno espaço para seus estudos?
Como falar em inclusão onde as escolas, centros de saúde, hospitais, ruas, entre outros, não
dispõem da acessibilidade e mobilidade? Como falar em inclusão se as formações iniciais das
ciências naturais pouco ou nada se fala no assunto? Como falar de inclusão em um país onde
os recursos didáticos nas escolas destinados aos deficientes visuais ainda estão aquém do
esperado? Sabe-se que a complexidade está instalada no discurso, ao mesmo tempo em que
o propósito dessa investigação não será esgotar as diversas possibilidades, muito menos
fornecer fórmulas mágicas e ou argumento de autoridade na tentativa de responder todas as
questões apresentadas, mas sim, de fornecer elementos necessários para as diversas
possibilidades de uma aproximação das questões sociais no campo escolar, incluindo nesse
espaço, o deficiente visual no ensino de química e física. Corroborando com essas questões
Sordi (2006) afirma que ‘quanto mais se tem falado em inclusão nas atuais reformas
educativas, mais a exclusão se configura como produto de uma sociedade de desiguais a ser
equacionado’ (p. 5) e questiona como poderemos manter a utopia acesa de uma possível
inclusão de portadores de necessidades especiais em uma sociedade que ainda não resolveu
as questões de inclusão das pessoas do tipo ‘normais’?
Para Caiado (2003), ‘uma pessoa com deficiência nunca foi efetivamente contemplada
pelas políticas sociais e educacionais e que nossa prática educacional em educação especial
foi construída no paradigma da educação não-formal e segregada’ (p. 27) e acrescenta que
dentro da legislação, a pessoa com deficiência tem um status de cidadã. No entanto, os
movimentos sociais ainda precisam lutar mais pelos seus direitos, incluindo a luta pela
aquisição de materiais didáticos que não diferencie dos demais colegas quanto aos conteúdos
a serem trabalhados. Ou seja: respeitar as limitações biológicas preservando a capacidade
cognitiva de cada indivíduo.
No entanto Marchesi (2004) quando se refere à prática de escolas inclusivas, aponta que
para que essas escolas estejam inseridas em um processo integradoras, necessariamente,
precisam mudar sua cultura, sua organização e a prática do e entre os professores
Ainda focado nessa discussão, Caiado (2003) aponta dados de uma pesquisa sobre
inclusão de deficientes visuais na escola regular, em que uma estudante se queixa do
professor de química ao tratar das atividades sugeridas na disciplina, através da seguinte fala:
[...] quando falei com a professora de química, no 1º colegial, a respeito do meu material que seria um
pouco diferente, ela disse que me daria um trabalho. Eu disse que não queria fazer trabalho, eu queria
ter acesso à mesma matéria que o pessoal teria, porque se eu quisesse fazer um vestibular, precisaria
desse conteúdo. (Caiado, 2003, p:59)
Para tanto, Coimbra (2003) orienta que ao utilizar essencialmente os estímulos visuais
como instrumento pedagógico, cabendo nesse caso o livro didático, a escola não deverá ser
negligente quanto às possíveis implicações que trará ao sujeito desprovido do sentido da visão.
Ademais, a autora sugere que haja desenvolvimento de várias formas pedagógicas alternativas
com o objetivo de minimizar os déficits de aprendizagem desse sujeito.
Ademais, Ochaíta e Espinosa (2004) dizem que a utilização do tato e do ouvido, assim
como em menor grau o olfato e o paladar em substituição da visão nos trazem certas
peculiaridade na construção do desenvolvimento e da aprendizagem de crianças cegas. O tato
segundo as autoras “é um dos principais sistemas sensoriais que as crianças não-videntes
utilizam para conhecer o mundo à sua volta.” E acrescentam que suas características podem
explicar uma grande parte das particularidades do desenvolvimento e integração educativa das
crianças com deficiência visual. (p. 151)

3. Percurso metodológico

Tratou-se de uma proposta metodológica de natureza teórica – empírica onde os processos de


redesenho do modelo molecular ocorreram em dois níveis distintos: O primeiro, teórico –
estudo exploratório - contendo os referenciais de análise do tema em questão, formando a
fundamentação teórica do trabalho. O segundo, ‘empírico’, que possibilitou a validação da
hipótese de trabalho, frente ao aporte teórico.
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A elaboração dessa proposta de modelos moleculares com inclusão social está motivada na
ausência de elementos nos materiais didáticos que possibilitem ao deficiente visual a
manipulação e participação nas aulas de modelagens de forma igualitária.
O procedimento de criação do redesenho, partiu dos seguintes pressupostos: a) ter
elementos táteis que diferenciem as cores presentes nos modelos de átomos; b) ser
confeccionado com materiais alternativos e de baixo custo; c) ser de fácil aquisição,
considerando as diversas regiões do Brasil e outros países; d) preservar o apelo visual
existente nos modelos moleculares encontrados no mercado e e) chamar a atenção para as
diversas possibilidades de criações e ou redesenhos nos materiais didáticos para o ensino das
ciências com elementos de inclusão social e de forma sustentável.
No item diferenciação de cores, através de elementos táteis, realiazou-se um levantamento
de vários materiais que tivessem texturas diferenciadas umas das outras, percebeu-se também
que existiam materiais com diferenças de texturas de forma muito sutis, o que comprometia as
percepções táteis pelos deficientes visuais, tendo em vista as diversas particularidades
existentes em cada sujeito, uma vez que nem todos apresentaram a mesma sensibilidade tátil.
Outra observação nesse item foi a opção em não utilizar materiais regionais, a exemplo de
sementes, buchas vegetais, estopas ou jutas, uma vez que a sua reprodução em outras
regiões do país ou exterior sofreria comprometimento, necessitando dessa forma, pesquisas de
materiais de fácil obtenção, como também aplicação de testes prévios com os deficientes
visuais como forma de aferir a sua aplicabilidade na prática.
Já na questão do apelo visual, a exemplo das cores estabelecidas, percebe-se que há um
consenso nas escolhas das cores adotadas nos modelos comercializados, e como a proposta é
de inclusão, esse elemento é de fundamental importância para os estudantes e professores
videntes. Para tanto, neste trabalho, procurou-se preservar essa característica.
Após o estudo dos itens listados anteriormente, o processo seguiu as seguintes etapas: i)
confecção dos modelos atômicos; ii) pesquisa de materiais para as ligações entre os átomos;
iii) aplicação das texturas nos modelos atômicos; iv) perfuração das esferas – modelos
atômicos, v) pintura e vi) confecção da embalagem do modelo molecular.
A primeira etapa consistiu em várias visitas a fábricas moveleiras, no sentido de encontrar
sobras de madeiras que tivessem características necessárias de serem modeladas em formato
de esfera. Após a seleção do material, utilizou-se o torno mecânico para a modelagem,
totalizando 70 esferas. Dessas, 34 medindo 24 mm de diâmetro, com variação de 0,5 mm para
mais e ou para menos e 36 esferas medindo 20 mm de diâmetro, com variação de 0,2 mm para
mais e ou para menos. (Figura 1)

Figura 1: Modelagem de uma molécula apresentando o antes e depois das texturas e pinturas aplicadas.

Na etapa das ligações entre os átomos, foram utilizadas pequenas hastes de madeira,
sendo 40 unidades com 3 cm e 12 hastes com flexibilidade, medindo 6 cm de comprimento. As
referidas ligações foram solucionadas através de hastes de madeira utilizadas para a
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estruturação das partes dos móveis. E para as hastes flexíveis, fez-se necessária a inserção de
cabos de aço de 2 mm entre uma haste partida ao meio. (Figura 2)

Figura 2: Detalhe das hastes de madeira utilizadas nas ligações químicas.

Na etapa da inclusão dos elementos táteis, houve uma diversificação maior nos setores
encontrados, a saber: restos de lixas, nº 120, 80; adesivos antiderrapantes utilizados em
escadaria, rampas e ou pisos escorregadios, encontrados na construção civil; sobras de
velcros, laminados e EVA, encontrados em fábricas têxteis. Totalizando oito tipos de texturas.
A pintura dos modelos atômicos relacionados aos elementos químicos foi utilizada tinta
acrílica para identificação dos elementos, visto que a variedade e tonalidade das cores (Tabela
1) não são facilmente encontradas em resíduos provenientes da construção civil.

Tabela 1: Legenda dos elementos químicos com suas respectivas características.


Quantidade Elemento / Símbolo Cor Tipo de átomo Nº de Furos
28 Hidrogênio – H Branco - 1
14 Carbono – C Preto Tetraédrico 4
8 Oxigênio – O Vermelho Angular 2
4 Nitrogênio – N Azul Tetraédrico 4
8 Cloro / Flúor – Cl/F Verde - 1
2 Bromo – Br Laranja - 1
2 Enxofre – S Amarelo Tetraédrico 4
2 Fósforo – P Lilás Tetraédrico 4
2 Metais Cinza Bipiramidal trigonal 5
2 Boro / Outros metais Marrom Octaédrico 6

E por fim, para a embalagem do produto final, utilizou-se sobras de MDF (Mediun Density
Fiberboard) – Fibra de Média Densidade, empregadas na fabricação de móveis. Para o
revestimento foi desenvolvido uma embalagem com apelo visual, impresso em papel
fotográfico e transcrito em Braille. (Figura 3)

Figura 3: Kit modelo molecular para Química Geral e Orgânica com inclusão social para deficientes visuais. (RAMOS,
Amanda; PIRES NETO, João Pessoa, 2011)

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Após o produto ter sido finalizado, foi apresentado e aplicado em uma atividade de
modelagem no ensino de Química em uma amostra de 12 estudantes com deficiência visual e
em 30 estudantes videntes, frequentando a escola regular do ensino médio de uma instituição
pública na cidade de Campina Grande – PB. Os resultados evidenciaram que todos os
estudantes com deficiência visual conseguiram modelar e identificar os elementos a partir das
texturas e no caso dos estudantes videntes, possibilitou um espaço de interação e participação
mais efetiva na atividade. Dessa forma, percebeu-se a comprovação da funcionalidade e sua
aplicabilidade no ensino da química, como também o despertar na comunidade escolar para o
exercício da cidadania no trato das questões sociais e especificamente na inclusão dos
deficientes visuais nas atividades escolares.

Considerações finais

A educação em uma perspectiva sustentável possibilitou um olhar diferenciado no campo do


ensino das ciências naturais, por um lado, na elaboração de materiais didáticos sob a ótica da
inclusão social, e por outro lado a contribuição significativa do papel do designer no processo
de ensino-aprendizagem. Diante das discussões apontadas, percebe-se que há uma real e
urgente necessidade de transformar um ensino pautado em práticas ‘dominadoras’ e ou
excludente, em práticas ‘libertadoras’, com comprometimento ético, político, social e ambiental.
Para tanto, este trabalho procurou identificar lacunas existentes no campo do ensino das
ciências, bem como propor alternativas quanto ao produto apresentado, de modo a favorecer
um campo aberto de discussões e possíveis trabalhos futuros na comunidade acadêmica.

Agradecimento

A escola pesquisada pelo apoio e receptividade no desenvolvimento da pesquisa;


Ao programa de Pós-graduação em Ensino das Ciências da Universidade Federal Rural de
Pernambuco – UFRPE;
A Faculdade de Desenvolvimento e Integração Regional – FADIRE.

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A mediação do design na socialização de redes de valores
de móveis artesanais trançados em fibras (Design’s
mediation in values’ networks of handcrafted twisted
fiber’s furniture )

Mariuze Dunajski Mendes 81

Palavras chave: design e artesanato; design e sociedade; design e redes de valor de móveis artesanais
trançados em fibras; móveis artesanais e desenvolvimento territorial sustentável.

Este artigo tem por objetivo tecer algumas considerações sobre modos de socialização de valores
refletidos e refratados na produção de artefatos e analisar o comprometimento de designers na mediação
entre produção e consumo. Práticas sociais e culturais atravessam a materialização de artefatos e
codificam/decodificam representações expressas em narrativas objetuais. Estas, compartilhadas na
esfera da circulação, podem ser espaços de difusão de trajetórias e valores, articulando e reordenando
práticas sociais e relações com artefatos, engajados a territórios. Se, no período de industrialização, o
design refletiu e refratou discursos da modernidade, do ser moderno e a disfusão do consumo em massa,
atualmente busca ressonâncias e engajamento a estilos de vida considerados naturais, sustentáveis e/ou
ecológicos. No campo do móvel artesanal trançado em fibras, discursividades e representações da
natureza constituem-se como campos de possibilidades para promover o artesanato em redes de
relações sustentáveis. Pretendo, assim, apresentar um esboço de cadeia de valor de móveis artesanais
em fibras, apontando aproximações de práticas de produção e de consumo, de modo a valorizar
identidades, saberes locais e tradições, possibilitando promover o desenvolvimento territorial de forma
justa e inclusiva.

Keywords: design and society; design and handcrafted fibers’ furniture networks; handcrafted fibers’
furniture and sustainable territorial development.

This article aims to present some considerations on communication modes and artifacts socialization
related to sustainable lifestyles and analyze designer’s involvement in mediating values
between production and consumption processes. Social and cultural practices cross artifacts’
materialization and encode / decode symbolic aspects expressed in objectual narrative built on
production sphere. These aspects socialised in circulation spheres can constitute diffusion spaces of
paths and values, articulating and reordering social practices mediated by
artifacts, sometimes proposing deviations and (re) contextualization linked to lifestyles. If, in
industrialization period, design reflacted and refracted modernity discourses and mass consumption,
now, looks for resonances and engagement with natural, sustainable and eco-friendly lifestyles. Craft’s
furniture made in fibers enphasizes discourses and representations of nature as possibilities to promote
craft as object code of sustainable relationships. I intend to present some possible design mediations on
establishing fair values’ chain, meaning sustainable consumption practices, valuing identities, local
knowledge and territories.

Introdução

O humano é vestígio que o homem deixa nas coisas, é a obra, seja ela uma obra-prima ilustre ou
produto anônimo de uma época. É a disseminação contínua de obras, objetos e sinais que faz a
civilização, o habitat de nossa espécie, sua segunda natureza. E mais: todo homem é o homem-
mais-coisas, é homem na medida em que se reconhece em um número de coisas, reconhece o
humano investido em coisas, o si mesmo que tomou forma de coisas (Calvino, 2010).

81
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Brasil, mariuzem@gmail.com

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Ao deixar marcas e rastros, reais ou metafóricos, a cultura material significa, testemunha e
narra a construção de histórias, culturas, lugares, épocas e formas de viver. Com este artigo
objetivo enunciar como trajetórias materiais e de significação de móveis artesanais trançados
em fibras revelam o potencial deste saber-fazer de comunidades e territórios e relacioná-lo a
redes de valor sustentáveis de artefatos. As marcas, ilustres ou anônimas, deixam sinais de
culturas, revelando modos de relacionamento entre sujeitos, destes com as coisas e com a vida
em comum. Como processo, o fazer artesanal de móveis trançados em fibras pode
potencializar relações ecológicas, regenerar tecidos sociais locais, valorizar e comunicar
experiências de tempos vividos em espaços.
Ao cartografar trajetórias de móveis artesanais trançados em fibras, em minha tese de
doutorado, além de narrar histórias, descrever técnicas e mapear espaços de produção,
circulação e consumo desses artefatos, em contextos do Brasil e Itália, busquei refletir
criticamente sobre abordagens e ações no campo, sobretudo acerca do papel do designer
como um dos possíveis mediadores no planejamento de ações que valorizem práticas,
saberes, trabalhos, identidades e territórios (Mendes, 2011).
Apresento um recorte desta reflexão, enfatizando a importância de considerar redes de
valores de móveis artesanais trançados em fibras na análise de fluxos e comprometimentos
entre atores, detectando “gargalos” e mapeando oportunidades para o desenvolvimento
territorial, de forma sustentável e justa. O universo de configurações de redes de valores e
desenvolvimento territorial sustentável foca, especificamente, em indústrias da região de Santa
Felicidade, em Curitiba. Santa Felicidade, Campo Magro e arredores compõem tradicional polo
moveleiro de trançado em fibras, que ao longo de quase cem anos vem gerando trabalho e
renda a artesãos, hoje totalizando cerca de três mil pessoas diretamente envolvidas no
trançado e produção de artefatos.

Contextualizando as Indústrias Artesanais de Santa Felicidade


As indústrias artesanais têm origem nas corporações de ofício que tiveram seu apogeu na
Idade Média, especialmente em países da Europa. Destas origina-se a palavra Artesanato, que
abarcava todo o trabalho organizado por interesses comuns, das artes aos serviços, passando
pelos tradicionais ofícios de carpinteiro e moveleiro. Os ofícios eram ensinados nas
corporações, passando os conhecimentos de mestres a aprendizes, constituindo-se como
heranças de cultura e trabalho.
A industrialização em massa e os princípios de uma ordem capitalista, baseada em relações
individualistas, romperam com esta tradição e desmobilizaram a estrutura coletivista que
caracterizava as corporações e artesanias (Nadalin, 2001). Muitos artesãos, sentindo-se
oprimidos pelo sistema capitalista que diminuiu oportunidades de trabalho aos moldes das
corporações, no século XVIII, iniciaram um processo de imigração da Europa para a América,
principalmente a do Sul e para o Brasil, onde encontraram condições mais favoráveis para
instalar suas oficinas. Estas originaram indústrias de móveis artesanais trançados em fibras,
principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
As trajetórias biográficas (Appadurai, 2008) de algumas destas indústrias evidenciam
nuanças, fases, resistências e transformações que caracterizaram práticas e estratégias de
ação que fazem com que se mantenham no mercado, guardando muitas características
particulares do artesanato: tradições das técnicas de trançado, repasse de conhecimentos de
mestres-artesãos a aprendizes, relações de trabalho mais colaborativas do que em indústrias
convencionais, forma de gerenciamento familiar, apesar das inovações tecnológicas, estéticas
e de formas de circulação ampliadas.
Como móveis artesanais circulam no cotidiano enfatizando questões relativas à tradição,
modernidade e natureza, indústrias acabam por configurar estratégias de atualizar-se para o
consumo, contemporaneamente focando em estilos de vida sustentáveis. Empresas buscam
ações mediante projetos de artefatos, inovação de sistemas e criação de redes de valor
sustentáveis, para aproximar as esferas da produção, consumo e valorizar o móvel artesanal
feito em fibras. Evidencio, dentre estas estratégias de atualizar-se, a contratação de designers,
como um dos mediadores no estabelecimento de diálogo entre quem faz e quem usa estes
móveis.
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Antes de seguir discutindo as redes e possibilidades de ação do design, ressalvo que esta
abordagem é considerada especificamente no caso de indústrias artesanais. As demais
manifestações, a exemplo do artesanato tradicional de comunidades (indígena, folclórico,
identitário), seguem outra lógica e necessitam de análises aprofundadas sobre sistemas de
valores culturais, históricos, sociais e econômicos, não sendo possível, na maioria dos casos,
haver qualquer interferência ou, caso solicitado pelas próprias comunidades, estas devem ser
muito pontuais e cuidadosas (não irei abordar este tema no artigo).

Abordagem territorial e redes de valor de móveis em fibras de Santa Felicidade


A abordagem territorial da produção valoriza o “produto local”, ou seja, aquele que é fruto da
interação do trabalho do homem ligado a um território geográfico localizado, usando recursos
locais, respeitando relações ecológicas, tradições, culturas e contemplando, também,
conhecimentos e práticas tecidas ao longo do tempo (Krucken, 2009). Sob certos aspectos é
possível usar esta abordagem também para os móveis artesanais trançados em fibras. Estas
se apresentam como possibilidades de planejar ações que fortaleçam economias locais,
valorizem culturas, patrimônios materiais e imateriais ligados a territórios e promovam o
comércio justo, de forma sustentável.
Dentre os instrumentos utilizados na abordagem territorial, destacam-se os mapas de rede
de valor (Manzini; Jegou; Meroni, 2003), que servem para esquematizar relações entre atores
sociais envolvidos em um sistema de produtos/sistemas/serviços, levantando quais são seus
papéis e, assim, permitindo planejar ações que prevejam o fortalecimento de cenários locais
pelo encadeamento de ações de cooperação entre atores envolvidos.
Apresento, a seguir, um esboço da rede de valor de móveis artesanais trançados em fibras de Santa Felicidade, elaborado a
partir de algumas percepções do campo, tecidas ao longo de cerca de seis anos de interações com a comunidade local e de
pesquisas minhas e de outros designers paranaenses, mostrando alguns atores envolvidos no processo e tecendo algumas
considerações sobre aspectos envolvidos nas esferas deste circuito.

Quadro 1: Mapa de relações entre atores envolvidos na rede de valor de móveis artesanais trançados em fibras de
Santa Felicidade.
Fonte: Autoria própria, 2011.

O esquema representa apenas um mapa sintético das relações entre atores na rede de
valor de móveis artesanais trançados em fibras de Santa Felicidade. Basicamente a rede é
composta por quatro níveis de envolvimento: produção e transformação da matéria-prima,
produção de artefatos, circulação/distribuição e consumo/uso.
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1. Extração e transformação da matéria-prima.
A principal matéria-prima utilizada em Santa Felicidade e região vizinha é o vime. Este, que era
abundante na região, passou a ser importado de Santa Catarina desde a década de 1970. O
plantio foi abandonado, porque Santa Felicidade especializou-se na manufatura de artefatos,
não dispondo de mão-de-obra para produzi-los e, ainda, cuidar do plantio. Os médios artesãos
e indústrias compram direto dos produtores ou associações da região do Rio Rufino e serra
catarinense. O contato direto garante políticas de melhoria da qualidade do que é comprado e
preços acordados sem intermediários.
No caso da fibra de bananeira, os principais fornecedores são a região norte do Paraná
(Jacarezinho e arredores) e o Vale do Ribeira (São Paulo). Estes produtores de fibras tiveram
apoio de instituições de pesquisa para conseguirem preparar uma fibra com qualidade. O
principal problema encontrado é controlar o mofo, resultante da umidade pela secagem de
maneira inadequada ou falta de tratamento químico no beneficiamento. Outras cidades que são
grandes produtoras de banana e estão tentando aprimorar o tratamento das fibras são
Morretes (litoral do Paraná) e Garuva (Santa Catarina). Também nestas regiões há outra fibra
que é utilizada em menor escala, a taboa, que é uma planta de alagadiços, muito usada em
cadeiras empalhadas de restaurantes.
As fibras do junco e apuí, que foram muito usadas na confecção de móveis mais elaborados
para residências, entre as décadas de 1980 a 2000, são resultantes de extração no norte do
Brasil (região amazônica). Pela falta de maior consciência no modo de extrair as fibras e
ganância de exploradores interessados na maximização do lucro, sua comercialização foi
restringida pelos órgãos ambientais, e apenas algumas empresas certificadas podem fazê-lo. O
preço para compra tornou-se muito elevado, considerando-se principalmente o transporte que,
do Norte ao Sul, perfaz quase cinco mil quilômetros. Além do custo econômico há o custo
ambiental - emissão de CO2 na atmosfera - e o custo social, pois a maioria dos extratores
trabalham em condições de trabalho próximas à escravidão (à exceção das empresas
legalizadas). Há de se considerar também o contrabando de junco extraído de reservas de
mata, de forma ilegal e predatória, derrubando árvores para coletar as touceiras do cipó.
Considerando-se estas relações, a situação ideal seria o plantio e coleta de material o mais
próximo possível do local de produção, pois, além de poder controlar melhor a qualidade da
matéria-prima, seria possível assegurar-se da procedência legal, negociar preços sem
atravessadores e evitar grandes impactos ambientais com o transporte em longas distâncias.
Analisando o mapa apresentado, aos artesãos de Santa Felicidade seria aconselhável utilizar
na produção, preferencialmente, vime e fibras de produtores regionais – do Paraná, Santa
Catarina e sul de São Paulo.
2. Produção
A produção de artefatos da comunidade de Santa Felicidade tem características que oscilam
entre a produção caseira (“fundo de quintal”), a associativa e a industrial. As indústrias locais e
médios artesãos estão relativamente bem preparados com relação ao processo de confecção
de estruturas e trançado – possuem tecnologia, matéria-prima, artesãos experientes, no
entanto, precisam de apoio para estruturar melhor a planta fabril, organizar processos, planejar
fluxos de produção e, principalmente, encontrar canais de divulgação e venda. Na maioria dos
casos são artesãos, mas não empreendedores. Estes gargalos podem ser solucionados com
ações pontuais para melhorar o existente, valorizar processos e aproximar a produção e
consumo, ou seja, ações na esfera de circulação dos artefatos poderiam solucionar grande
parte dos ruídos da rede de valores.
Algumas indústrias de Santa Felicidade tentaram resolver este problema contratando
administradores, fazendo parcerias com outras empresas mais experientes no mercado e
participando de cursos de empreendedorismo (Sebrae). Na área de gestão de processos e de
produtos contaram com a consultoria de designers que criam linhas e sistemas de móveis,
elaboram material de divulgação (folders, sites), organizaram feiras e acompanharam a
produção de protótipos. Possuem um quadro fixo de funcionários, mas contratam mão-de-obra
de artesãos autônomos, sem vínculo empregatício, para períodos de maior demanda.
Estes pequenos artesãos (denominados de “fundo de quintal”), apesar de representarem
um grande número (cerca de três mil pessoas trabalham com o trançado em Curitiba e Região
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Metropolitana), ao meu ver, são os que sofrem as maiores limitações e empecilhos em todas as
fases da rede de valor. Não conseguem comprar direto de fornecedores, pagando mais pela
matéria-prima e dependendo da disponibilidade desta, que nem sempre é a de melhor
qualidade. Na maioria dos casos são explorados, pois, como não têm estrutura e nem preparo
para fechar negócios, acabam nas mãos de atravessadores que compram produtos “no osso”
(sem acabamento), por preços muito abaixo do valor de mercado, e revendem para
distribuidores. Esta prática, não raro, é associada à agiotagem. Os atravessadores “adiantam”
dinheiro para a compra de material e levam produtos em troca por um preço mais baixo. Em
depoimento, alguns artesãos relataram que trabalhavam para pagar as contas do mês que
passou. Normalmente, pequenas lojas fazem o acabamento e expõem os produtos ao
consumidor final.
Uma possível solução seria promover a associação dos artesãos em cooperativas que
tivessem suporte de organizações governamentais (prefeitura, secretarias do desenvolvimento,
cultura, trabalho), instituições de ensino (organismos de pesquisa e incubadoras de
cooperativas – que já existem) e Organizações Não Governamentais - ONGs (movimentos de
consumidores que incentivam o comércio justo, além do Sebrae, Provopar, etc). A cooperativa
pode ser um local de compartilhamento de espaço, ferramentas, maquinário, armazenamento,
gerenciamento de processos, produtos, serviços e distribuição direta dos produtos às lojas.
Este é o maior desafio do setor e, com certeza, o mais importante movimento a ser feito. Esta é
uma oportunidade de organizar a rede de relações entre os atores envolvidos: ampliando
potencialidades produtivas, apoiando a inclusão social de artesãos à margem do sistema
formal, favorecendo a valorização territorial (pela implantação de um arranjo produtivo local),
promovendo produtos e serviços de forma sustentável de fato.
3. Circulação de artefatos
Conhecer trajetórias culturais e históricas de sociedades e a relação destas com os artefatos
permite aproximar repertórios de produtores e consumidores e negociá-los, promovendo
dinâmicas e transformações em ambos os lados. Os principais mediadores apontados na
pesquisa são: designers – responsáveis por projetar produtos, sistemas e redes que valorizem
o trabalho, identidades, tradições e desenvolvam territórios sustentavelmente; e mídias – que
comunicam estes valores e podem relacionar artefatos a estilos de vida, incentivando novas
dinâmicas de consumo.
4. Consumo, uso e pós-uso
Esta etapa relaciona-se diretamente com as anteriores. Se o consumidor conhecer a
procedência e a história dos artefatos possivelmente passará a valorizar mais o que comprou,
principalmente se forem feitos estudos prévios de consumo que objetivem atender a certas
demandas e desejos de quem usará os móveis que serão feitos (como nem sempre a venda é
direta, este estudo é aproximativo, mas baseado em questões culturais e sociais dos mercados
consumidores). Esta atitude comunica atributos culturais, aproxima e cria vínculos – até mesmo
emocionais - entre usuários e produtores, mediados pelos artefatos, que prolongam a
permanência destes em espaços domésticos. Algumas indústrias de Santa Felicidade
oferecem serviços para reparos e atualização de móveis – troca da fibra, estofamento, pintura -
o que, também, prolonga sua vida útil, evitando a obsolescência e o descarte precoce.
Aproximar produção e consumo, na esfera da circulação, configura-se como fundamental
para criar uma positiva cadeia de valor de artefatos, pelo entendimento do artesanato como
processo, com toda a dinamicidade e riqueza humana envolvida. Para traduzir, comunicar e
socializar valores, mais que a tradicional “cadeia de valor” (pautada em conceitos
economicistas e em organizações empresariais) apresentam-se como alternativas as “redes de
valores”, que contemplam aspectos mediados por valores percebidos de artefatos: sociais,
culturais, históricos, funcionais, ambientais, emocionais, éticos e econômicos.
Esse sistema, representado sucintamente no Quadro 2, é aberto e multidirecional,
contempla mútuas interferências, inter-relações e negociações. A mediação do design pode
enfatizar valores na interface das esferas da produção e consumo resultando em sistemas de
interação e valorização de territórios, saberes, culturas, práticas sociais e ambientais,
coerentes com o conceito de sustentabilidade.

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Quadro 2: Relações entre produção/circulação/consumo.
Fonte: Autoria própria, 2010.

Produtores: Trocas simbólicas em Mediadores:


Artesãos(ãs) feed-backs Design
Indústrias Mídia
artesanais Arquitetos

produção Circulação consumo


Cria, codifica, decodifica, recria,
interações e
comunica valores e resignifica valores em
compartilhamento de
práticas tradicionais usos e
valores
práticas

Consumidores:
Comércio
Residências

Artefatos são criados, materializados e codificados a partir de repertórios preferenciais


comuns à esfera da produção; comunicados na esfera da circulação, onde ganham visibilidade
e buscam compartilhamento de significados e aderência a projetos que relacionem quem faz e
quem usa e; no consumo, materialidades e significados são decodificados e vivenciados em
práticas e usos cotidianos, materializando e significando estilos de vida.

Concluindo...
Ao introduzir ações de design no cotidiano de criação e planejamento de produtos e sistemas
em indústrias artesanais, incorporam-se práticas de pesquisa e trabalho que podem refletir
identidades, tradições e conhecimentos tecnológicos. Estes valores, enfatizados em redes de
valor sustentáveis, com definição de comprometimentos e interações entre atores, permitem às
empresas repensar seus processos, promover mudanças em prol da sustentabilidade.
Organizar a produção, readequar processos para não serem poluentes, atender demandas de
órgãos ambientais (IBAMA) e inserir matérias-primas certificadas e sustentáveis na produção
de móveis, permite obter certificações que atestem produtos ecológicos. Estas atitudes,
coerentes com o perfil de potenciais consumidores que valorizem produtos e serviços
sustentáveis - considerando suas trajetórias, estilos de vida, demandas e modos de se
relacionar com artefatos - criam elos entre produção e consumo.
Pela observação de campo, pude perceber que as iniciativas de designers que projetaram
artefatos inseridos em redes sustentáveis de valor de móveis artesanais trançados em fibras,
contemplaram as seguintes premissas: comunicar aspectos de tradições ligadas ao território de
Santa Felicidade e sua vocação como polo moveleiro no trançado em fibras; enfatizar
qualidades materiais e imateriais de artefatos, os apresentando como sistemas de identidades
e trabalhos relacionados à comunidade e seus valores; ligar atores envolvidos em toda rede de
valor; priorizar matérias-primas locais, a exemplo do vime, fibra de bananeira e taboa.
No Brasil, existem instrumentos de avaliação e certificação de produtos que respeitam o
meio ambiente e a sociedade, que visam dar garantia de procedência e qualidade. Órgãos
certificadores podem fornecer certificações, a exemplo de selos EcoSociais (Mercado Justo ou
Fair Trade), além de fornecer treinamento e favorecer protocolos de parcerias. As normas
seguem legislações trabalhistas, ambientais e se preocupam em ligar o produtor e consumidor
por laços de confiança, respeito e valorização mútua. Os critérios de Comércio Justo são
considerados critérios mínimos nesta forma de certificação.
Redes de valor podem ser estruturadas de forma a estabelecer relações solidárias, coletivas
e localmente instituídas, performatizadas por atores que se relacionam e que “por meio de
encontros e desencontros e do exercício de debates e acordos, busca-se tacitamente a
readaptação às novas formas de existência” (Santos, 2000, p.111). O planejamento de
sistemas de artefatos e os processos que o envolvem, representado pela “rede de valor” de
móveis de Santa Felicidade, esquematizada no artigo, objetiva aproximar dois grupos que
foram separados com o advento da revolução industrial e do controle da produção pelo capital:
os criadores/produtores e os consumidores. Numa perspectiva de sustentabilidade é
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fundamental que processos sejam compartilhados entre todos os envolvidos no processo,
considerando o design como interface em processos criativos comunitários.
Este novo campo que se abre aos designers, exige capacitação além de aspectos
usualmente prescritos por metodologias projetuais mais tradicionais. É preciso iniciativa à
análise e compreensão do campo (pela pesquisa de cunho mais antropológico da produção e
consumo), permanente atualização e capacidade de gestão da complexidade, entendendo esta
como uma rede de relações entre sistemas vinculados e interdependentes, no entanto,
heterogêneos e distintos. Além das escolhas materiais e de processos relacionados à
produção, também é fundamental considerar as relações de trabalho envolvidas e os
significados atribuídos na produção, circulação e consumo. Estes convergem para a análise de
valores de artefatos e seus arranjos, considerados como espaços privilegiados para valorizar
referenciais culturais e/ou transformar estilos de vida.
Considerando a necessidade de maior compromisso com as “coisas do mundo” e com a
“vida em comum” (Arendt, 2007), ressalto que consumo sustentável não se trata só de
consumir menos, aderir a estilos de vida ecológicos ou desmaterializar o consumo, mas de
projetar um modo de alcançar uma melhor qualidade de vida para todos, sem prejudicar
relações ecológicas do planeta. A aproximação de estilos de vida mais ligados à natureza e à
vida coletiva, podem traduzir-se como novas oportunidades para o artesanato e vice-versa. O
fato de utilizar tradicionais técnicas de trançado, fibras naturais e representar práticas culturais
de comunidades, possibilita comunicar produtos ressonantes a mercados e consumidores que,
cada vez mais, valorizam atitudes “ecologicamente corretas” e o valor cultural e simbólico de
artefatos.
Em suas permanências e metamorfoses, o artesanato desempenha papel fundamental no
desenrolar de práticas socializantes e humanizantes. Trajetórias sociais são atravessadas por
processos de objetificação (Miller, 2010), em relação mútua e dialética de construção de
biografias. Saberes, memórias locais, ligação com a natureza e com culturas, tornam o fazer
artesanal, simultaneamente, matriz e possibilidade. Matriz - porque materializa o trabalho
humano e significa culturas. Possibilidade - porque pode atualizar-se em novos cenários e
dialogar com distintos projetos e estilos de vida.
O artesanato potencializa a tradução e convergência da arte e a existência cotidiana,
pertencendo a tempos e espaços marcados pela duração da experiência vivida. Um existir
intenso que une a utilidade à contemplação, como obras da vida (Paz, 2006), em conjunções
de temporalidades, espacialidades e materialidades. Significa a vida de artesãos(ãs), que
tecem as fibras e, assim, participam da tessitura de histórias por artefatos materializados a
partir de atos criativos do trabalho na produção. Ao circularem por diferentes mundos na esfera
do consumo, por sua vez, os móveis escreverão outras histórias. Mapear trajetórias e percorrer
a complexa dinâmica de sua existência passa por compreender como, apesar de modismos,
novos estilos de vida e processos de mudanças sociais (desvios ou curtas temporalidades), ele
transforma-se para acompanhar novos tempos, sem, contudo, perder uma certa referência
cultural, uma rota preferencial, baseada na tradição (longa temporalidade) - o “eterno retorno” –
marcado pelas diferenças.

Referências
Appadurai, A. A Vida Social das Coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói:
EdUFF, 2008.
Arendt, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
De Moraes, D., Krucken, L. Design e sustentabilidade. Coleção Cadernos de Estudos
Avançados em Design, Belo Horizonte: EdUEMG, 2009. Disponível para download:
www.tcdesign.uemb.br.
Calvino, Italo. Coleção de areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Canclini, Néstor G. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
Fry, T. Ecodesign, sustentabilidade e desenvolvimento. In: Catálogo Prêmio ecodesign. São
Paulo: FIESP/CIESP; Centro São Paulo Design, 2003.
Krucken, Lia. Design e Território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo:
Editora Nobel, 2009.
Manzini, E.; Jegou, F; Meroni, A. The Design Plan: a tool for organizing the design activities
oriented to generate sustainable solutions. Amsterdan: Conference Proceedings of
sustainable Product-Service Systems, 2003.
Nadalin, Sérgio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e imigrações. Curitiba:
SEED, 2001.
Paz, Octavio. O Uso e a Contemplação. Tradução de Alexandre Bandeira. São Paulo: Editora
Cultura e Ação, Revista Raiz n. 3, 2006, p. 82-89.
Santos, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
São Paulo: Record, 2000.
Saramago, José. A Caverna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
United Nations Environment Programme (UNEP). Disponível em: http://www.unep.org. Acesso em 20
ago. 2010.
Vezzoli, Carlo. Design de Sistemas para a Sustentabilidade. Salvador: EDUFBA, 2010.

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A indústria moveleira e o aproveitamento do resíduo de
MDF - o caso da Cimol (The furniture industry and
recovery of waste MDF – the case of Cimol)

FREITAS, Aline; Especialista; Faculdade do Centro Leste


alinegoval@gmail.com

FIGUEIREDO, Carolina F.; Graduada; Faculdade do Centro Leste


carolina.finamore@yahoo.com.br
Palavras chave: design sustentável; indústria moveleira; MDF.

Esta pesquisa é o estudo do reaproveitamento de resíduos de MDF, da Cimol, uma indústria do Polo
Moveleiro de Linhares, Espírito Santo. A pesquisa apresenta conceitos como, design sustentável,
Ecodesign, Cradle to Cradle e outros.
Neste contexto, o designer tem contribuído na busca de soluções, analisando custo-benefício de produtos
que atendam as necessidades de seus usuários, sem que isso deixe de garantir às gerações futuras os
recursos necessários para a manutenção da vida.
Os resíduos da indústria podem ser aproveitados de forma mais efetiva, evitando o descarte e extração
desnecessária de matéria prima da natureza. Foi demonstrada através do projeto de uma mesa de centro,
a possibilidade da produção de um mobiliário com qualidade semelhante ao que utiliza a chapa inteira de
MDF, utilizando princípios do design sustentável, bem como a possibilidade de projetar uma linha de
produtos, aproveitando os tamanhos variados dos resíduos da indústria.
Com base no conjunto de informações coletadas, pode-se considerar que o Polo Moveleiro Linhares já se
preocupa com as questões ambientais. Isso reforça a relevância desta pesquisa que demonstra à
viabilidade e a necessidade deste levantamento de resíduos, que segundo informações do Sindimol é
meta descrita no Planejamento do Arranjo Produtivo Local para o próximo triênio, que propõe levantar os
resíduos gerados pelas indústrias do Polo, no intuito de viabilizar a instalação de uma Central de
Resíduos no município.

Keywords: sustainable design; furniture industry; MDF.

This survey is the reuse of waste MDF, the Cimoli, an industry Polo FurnitureLinhares,
Espirito Santo. The research introduces concepts such assustainable design, Ecodesign, Cradle to Cradle,
and others.
In this context, the designer has contributed to finding solutions by analyzingcost-effective products
that meet the needs of their users, without leave to future generations to ensure the necessary resources
to maintain life.
The waste industry can be leveraged more effectively, avoiding unnecessarydisposal and extraction of
raw materials from nature. Was demonstrated by designing a coffee table, the possibility of the
production of furniture with aquality similar to using the entire sheet of MDF, using principles of sustainable
design as well as the possibility of designing a product line, building sizes variety of industrial waste.
Based on the set of information collected, we can consider that the PoloFurniture Linhares already worried
about environmental issues. This reinforces the relevance of
this research that demonstrates the feasibilityand need for this survey of waste,
which is reportedly the target Sindimoldescribed in the Local Productive Arrangement Planning for the next
triennium, which proposes to raise the waste generated by industries in thePolo, in order to facilitate the
installation of a Waste Plant in the city.1 Introdução

1 Introdução

O meio ambiente passou por profundas transformações ao longo dos anos e, em meio a muitas
crises mundiais, percebeu-se que os recursos naturais são uma fonte esgotável. O
aquecimento global, as mudanças climáticas e os diversos desastres naturais reforçam a
necessidade de se repensar o consumo e a forma de utilização desses recursos.

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Ainda que se pense em produção industrial, cientificamente nada é produzido, mas
transformado pela indústria, que extrai a matéria prima, ou seja, os recursos produzidos pela
natureza, a qual deve ser reposta, haja vista que a humanidade possui uma longa história de
destruição do solo e da cobertura florestal, comprometendo o ecossistema.
O consumismo desenfreado e a ausência de programas que se preocupassem desde a
extração da matéria-prima (berço) até o descarte pelo consumidor final (túmulo) passaram a
ser argumento para pesquisas, com o intuito de elaborar projetos comprometidos e que
pudessem minimizar o impacto sobre a natureza.
Victor Papanek [17] (1927-1999), professor e designer, já afirmava que o design tinha a
responsabilidade social com esses aspectos, e que o profissional da área deveria elaborar
projetos com essa preocupação, utilizando ferramentas adequadas para tomada de decisões,
de forma que os recursos sejam melhor aproveitados, tanto na escolha do material quanto no
processo de fabricação, procurando avaliar todos os requisitos necessários em todas as fases
do seu ciclo de vida.
É proposta deste trabalho, através dos conceitos de Design Sustentável e Ecodesign,
apresentar uma alternativa que possa servir de referência para o desenvolvimento de uma linha
de produtos a fim de melhorar o aproveitamento de resíduos e, consequentemente, evitar a
extração desnecessária de matéria-prima da natureza, considerando o nível de degradação
que o meio ambiente tem sofrido.
Outro ponto relevante para esta pesquisa é o fato do Sindimol, Sindicato das Indústrias da
Madeira e do Mobiliário de Linhares e Região Norte, tentar, juntamente com a Secretaria de
Estado do Desenvolvimento, SESI/SENAI e SEBRAE, elaborar soluções para utilização dos
resíduos. A proposta é de incluir no Plano de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local
(APL) no triênio de 2011 a 2013 um levantamento acerca dos resíduos gerados pelas indústrias
do polo moveleiro de Linhares, com vistas a viabilizar a instalação de uma Central de Resíduos
no município.
Para alcançar o objetivo desta pesquisa, realizou-se um estudo de caso na indústria
moveleira Cimol, situada no Polo Moveleiro de Linhares, a qual possui tecnologia para otimizar
a utilização de sua principal matéria-prima - o MDF. Este trabalho aborda, assim, o
reaproveitamento dos resíduos de MDF provenientes do processo produtivo da indústria citada
para o projeto de um mobiliário.
Ao desenvolver um produto aplicando os princípios propostos, os resíduos serão
reaproveitados de forma mais efetiva, com custo-benefício satisfatório para a indústria, para o
meio ambiente e para a comunidade.
A metodologia adotada permitiu a elaboração de um produto dentro das tendências de
mobiliário para o ano de 2011, com requisitos do design sustentável.

2 Revisão de literatura

2.1 Contexto Global – Meio ambiente


De acordo com Manzini e Vezzoli (2005) [14] as atividades humanas trazem impactos sobre a
natureza e essas ações podem determinar os efeitos positivos ou negativos sobre o meio
ambiente. As emissões de substâncias no meio ambiente e as extrações de matérias-primas
trouxeram, ao longo dos anos, diversos efeitos ambientais, dentre eles, o esgotamento de
recursos, o aquecimento global, a redução da camada de ozônio, a eutrofia, toxinas no ar, água
e solo, a poluição, a contaminação de solos e o aumento do lixo.
Segundo Kazazian (2005, p.20), [11] embora as preocupações com o impacto sobre o meio
ambiente datassem do período industrial do séc. XIX, o pensamento ecológico somente surgiu
nos anos 60 como ideologia contra uma sociedade materialista. No entanto, esse
sentimentalismo acerca das questões ambientais fracassa no primeiro momento em razão das
privações ocorridas pelas crises do pós-guerra, tornando-se apenas uma preocupação da
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população na etapa final do consumo, ao perceber o lixo que produz e descarta.
O movimento acerca dos problemas ambientais ocorreu somente após as repetidas
catástrofes, incluindo as crises de petróleo do final da década de 60 ao início da década de 80,
fato que levou à percepção do limite dos recursos naturais e ao fomento de discussões sobre
questões ambientais. Meadows et al. (1978) apud Chaves (2009, p.68) [2] ressalta que neste
período dois grupos de cientistas unidos sob a denominação Clube de Roma divulgaram uma
das primeiras pesquisas relacionadas aos problemas ambientais, encomendando um livro em
1972 intitulado The Limits to Growth (Os limites do crescimento) a fim de relatar três principais
fatores que contribuíram para as crises: a explosão demográfica, o consumo exagerado e a
ineficiência das tecnologias da época.
A humanidade passou por diversas crises devido à falta de energia e de alimentos e tais
situações levaram cientistas a apresentar previsões exageradas, mas que contribuíram para
uma consciência política que culminou na Conferência de Estocolmo em 1972, sendo a
primeira reunião a tratar do tema meio ambiente humano. A partir dessa reunião surge o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Segundo Guimarães (2006), [7] em 1992 ocorre à segunda Conferência da ONU sobre Meio
Ambiente - a ECO 92, no Rio de Janeiro - que discutiu os problemas ambientais e resultou em
vários acordos e protocolos, tendo sido apresentado o conceito mais conhecido de
desenvolvimento sustentável: “...aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”
(CNUMAD, 1991, p.46 apud CHAVES, 2009, p.69). [2]

3 Uma reflexão: ecodesign e design sustentável

3.1 Conceito de Ecodesign

O ecodesign, assim como o Design for Enviroment, o Green Design e o Ecological design,
surgiu na década de 60, com a necessidade de juntar a atividade de projetar e a preocupação
com o meio ambiente. Mas foi nos anos de 1970 que o conceito ecodesign se intensificou,
quando surgiu o termo desenvolvimento sustentável, proposto pela CMMAD - Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; termo apoiado/usado por Manzini e Vezzoli
(2005) [14] e outros pesquisadores.
“O encontro entre a atividade de projetar e o meio ambiente, compõe um modelo
‘projetual’ ou de design orientado por critérios ecológicos. Deve ser economicamente viável,
isto é, um produto competitivo no mercado e ecologicamente correto, ou seja, um produto que
minimize o impacto ao meio ambiente e que possa ser mensurada sua qualidade ambiental
(PAZMINO, 2007, p. 5). [18]
Já para Kazazian (2005, p. 10), [11] o ecodesign é um processo que tem por
consequência tornar a economia “mais leve”. Igualmente chamada de Eco concepção, trata-se
de uma abordagem que consiste em reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo em
que se conserva sua qualidade de uso (funcionalidade, desempenho), para melhorar a
qualidade de vida dos usuários de hoje e de amanhã.
Primeiramente, prevendo-se o futuro do produto para reduzir o impacto ambiental por todo
ciclo de vida, isto é, fabricação, uso e fim de vida. Posteriormente, considerando-se o produto
como um sistema constituído tanto por componentes quanto por consumíveis - peças para
troca, suportes publicitários, embalagens utilizadas para todos esses elementos (itens que
geram impactos que às vezes podem ser maiores que o do produto final). O criador escolhe
como finalidade a utilização e não o produto. Ele inicia uma cooperação com uma cadeia de
atores em uma abordagem transversal e multidisciplinar.
Para criar um produto com critérios ecológicos ou fazer um redesign de um produto já
existente, o designer deve estar atento às decisões que precisa tomar em todas as fases do

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ciclo de vida do produto: pré-produção, produção, uso, descarte, reciclagem, reuso, etc., para
que a minimização do impacto ambiental do produto ocorra de forma a atender seus objetivos.
Com isso, é possível perceber que os principais objetivos de produtos desenvolvidos com
foco no ecodesign são o econômico e o ambiental, conforme pode ser visto na Figura 01.

Figura 01: Fatores do Eco Design


Fonte: Pazmino (2007, p. 6) [18]

É importante ter-se em mente que o artesanato produzido a partir de sucatas ou a partir


da reciclagem de materiais não é ecodesign. Este reflete uma concepção mais abrangente de
design, que não considera apenas os aspectos estéticos e funcionais do produto, mas
principalmente o fator ambiental ao longo do ciclo de vida dele, de forma a reduzir o impacto no
meio ambiente.
O que é promovido também na atualidade, além da visão de ecodesign, é o
desenvolvimento do design sustentável. Este se refere não só ao economicamente e ao
ambientalmente viável (Design Ecológico), mas também ao socialmente equitativo.

3.2 Conceito de Design Sustentável


O homem busca o progresso e a superação de suas limitações e todo seu esforço tem
sido o de transpor essas barreiras, mesmo que isso possa comprometer o meio em que vive.
De acordo com Papanek (1977), [17] o design está diretamente ligado às questões ambientais.
O design sustentável surgiu do movimento advindo do desenvolvimento sustentável.
Dentro desse contexto, o designer pode contribuir para projetos que preservem o meio
ambiente ou, em contrapartida, agravá-lo. Para Papanek, ainda, muitos profissionais da área
procuram projetar considerando os problemas, o país e o mundo, mas muitas vezes são
acusados de atender a uma minoria. Contrariando essa acusação, o autor afirma que se trata
de uma percepção falsa da realidade, visto que projetos como este contribuem para todos.
Segundo Vezzoli (2006b) apud Chaves (2007) [3] design sustentável é a prática do
design, da educação e da pesquisa que, de uma forma ou de outra, contribui para o
desenvolvimento sustentável, integrando seus três pontos fundamentais: o econômico, o
ambiental e o social. Nesse sentido, alguns pesquisadores têm trabalhado dentro de uma
abordagem de design estratégico, pois o design para a sustentabilidade é uma atividade de
projeto que incentiva inovação radical, buscando sempre resultados mais eficientes no quesito
ambiental.
Martins e Merino (2008, p. 77) [13] definem Design Sustentável como “projetos que se
preocupam com o descarte ou o re-uso de produtos, com a utilização de materiais que não
prejudiquem o meio ambiente e sejam economicamente viáveis”.
Para Pazmino (2007) [18] o design sustentável é um processo abrangente e complexo
em que o produto deve ser economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente
equitativo, além de buscar maximizar os objetivos ambientais, econômicos e o aumento do

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bem-estar social (conforme Figura 02). Tem o propósito e a responsabilidade de não prejudicar
o equilíbrio ambiental atual e garantir este equilíbrio às gerações futuras.

Figura 02: Fatores do Design Sustentável


Fonte: Pazmino [18] (2007, p. 8)

3.2.1 Conceito de Resíduos

De acordo com Hawken, Lovins e Lovins (2007, p.141), [9] o capital natural - “a soma total dos
sistemas ecológicos que sustentam a vida” - tem sido menosprezado pela indústria. Porém sua
ausência pode gerar sérios problemas à economia, uma vez que não pode ser produzido pelo
homem, mas proveniente do complexo trabalho do ecossistema.
Normalmente apenas quando as funções do ecossistema são afetadas e os recursos
deixam de existir que a humanidade reavalia a necessidade de se preservar as comunidades
ecológicas. Preocupando-se com isso, os recursos explorados devem ser preservados, visto
que eles também trarão implicações econômicas sobre a indústria. Se esta extrair rapidamente
a matéria prima, de forma que o recurso não possa ser reposto pelo ambiente, e ao mesmo
tempo destruir os meios de sua criação, criará problemas para a produção do material extraído.
Para maximizar a produtividade em relação ao capital natural é preciso mudar os
padrões de consumo e de produção. Ao economizar nas etapas de produção, possibilita-se a
redução das derrubadas florestais. Segundo Hawken, Lovins e Lovins (2007, p.173), [9]
“inovações simples no processo podem tornar a reciclagem uma opção ainda mais atraente”,
através de técnicas que, ao serem adotadas, aliviam a pressão sobre as florestas primárias e
secundárias.
Para Santos (2009), [21] a utilização de recursos extraídos da natureza deve ser
minimizada de maneira a buscar sempre soluções sistêmicas para satisfazer as necessidades
das pessoas, mas de modo a utilizar o mínimo necessário para isso. Existem soluções
adequadas no design de produtos que minimizam a utilização desses recursos, dentre eles,
determinados métodos que avaliam se há possibilidade de ampliar o tempo de utilização de um
determinado material sem que ele seja utilizado para a mesma função para a qual foi extraído
do meio ambiente. A intervenção do designer pode contemplar todas as etapas do processo
produtivo, desde o projeto, e até mesmo propor melhores soluções para o descarte ou para
uma nova finalidade desses resíduos.
Manzini e Vezzoli (2005, p.117), [14] entendem por minimização dos recursos “a
redução dos consumos de matéria e energia para um determinado produto”, visto que a
redução do uso de recursos está diretamente ligada a menores impactos ambientais, pois
utilizará menos material e menos energia e, como conseqüência, menos descarte.
Outro ponto que deve ser considerado é que na extração de matéria-prima da
natureza há gastos de energia, gastos esses que também trazem impacto na natureza. O peso
do impacto ambiental advindo de um determinado material também está ligado ao seu contexto
de produção e consumo, e o histórico de escassez de madeira no país demonstra a
necessidade de se preservar ao máximo esse recurso tão valioso.

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Segundo Santos (2009), [21] embora a madeira seja um material com característica
de recurso renovável, quando não há prática da gestão florestal de forma planejada e
controlada, esse recurso tende a reduzir-se. Sabe-se que algumas madeiras de fontes
renováveis se encontram em escassez no ambiente, o que oportuniza a utilização de matérias-
primas provenientes de refugos industriais. Outro ponto a ser tratado é a legislação associada
aos resíduos sólidos, em que as empresas são responsáveis pelo que descartam, o que torna
o lixo matéria-prima preciosa para outros produtos.
O mercado para a utilização de resíduos aumenta, visto que muitas empresas já
comercializam esse material, seja para a venda ou para a aquisição do mesmo. Além disso,
produtos com este atributo passam a ter valor agregado. De acordo com Abreu, Mendes e Silva
(2009, p. 172) [1] os “resíduos de painéis de madeira têm grande potencial econômico, ainda
pouco explorado”.
A importância da utilização desses resíduos se dá principalmente pelo crescimento da
disponibilização por indústrias de base florestal, que incineram e descartam tal material em
local indevido (BRAND et al., 2004 apud ABREU, MENDES E SILVA, 2009). [1]
Manzini e Vezzoli (2005) [14] dividiram o ato de refugar em duas categorias: o do pré-
consumo e o do pós-consumo.
Os de pré-consumo estão ligados ao processo produtivo, são mais limpos e podem
ser chamados de refugos do ciclo produtivo, reciclados dentro do mesmo processo. Também
são materiais derivados de refugos e excedentes provenientes do processo produtivo original,
em qualquer momento de sua produção. Advindos diretamente da produção, os materiais de
pré-consumo eliminam os problemas de logística do regresso, de desmontagem e de
desmembramento, entre outros ligados à reciclagem de pós-consumo.
Os materiais de pós-consumo estão relacionados àqueles eliminados pelo
consumidor final.

3.2.2 Cradle to Cradle

Os materiais descartados, ou melhor, o lixo, pode contaminar solo, rios e prejudicar o


ecossistema e o homem, consequentemente, já que ele está inserido e faz parte desse meio.
No cradle to grave (do berço ao túmulo) os produtos são projetados e não há preocupação com
o seu descarte final, que segue para aterros e incineradores.
A proposta de William McDonough, [15] arquiteto e designer, e de Michael Braungart,
químico e ex-ativista do Greenpeace, é de mostrar que os resíduos não devem ser
considerados como lixo. Autores como Manzini e Vezzoli (2005) [14] defendem que o ideal
seria que o resíduo fosse zero, mas esta proposta foi considerada utópica pela razão de que
em um ciclo produtivo sempre haverá resíduo, por menor que seja.
Dentro de uma nova perspectiva, denominada cradle to cradle (do berço ao berço),
proposta por McDonough e Braungart (2002), [15] os resíduos se tornam alimento, ou seja,
matéria-prima para um novo produto.
O reaproveitamento de um determinado resíduo proveniente da produção de móveis,
por exemplo, pode ser utilizado para a produção de um novo produto de qualidade igual ou
superior ao original. O novo produto não precisa necessariamente ter o mesmo mercado ou a
mesma aplicação do original.
A necessidade de uma mudança conceitual baseia-se em uma ciência com valores e
visão de sustentabilidade. O cradle to cradle propõe uma mudança em que os aspectos social,
econômico e ambiental sejam contemplados, propondo uma nova revolução industrial aliada a
uma ferramenta de análise e crítica de negócios e produtos, considerando o impacto e a
conexão entre os aspectos mencionados.
A proposta é de uma mudança de conceito em relação ao sistema industrial atual,
que utiliza produtos tóxicos em sua cadeia produtiva, sem a preocupação de utilizar materiais

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ecologicamente corretos e processos que permitam a fácil manutenção e desmontagem do
produto.
Estes requisitos, quando observados, garantem maior durabilidade e contribuem para
que haja um sistema fechado de reciclagem, no qual o produto final retorna ao seu estado
inicial, ou quando descartado, se degrada ou não contamina o meio ambiente.
Outra questão é a de que a ecoeficiência não atende plenamente por se referir à
redução de emissão de gases até se chegar à emissão zero, conceito que impulsionou a
utilização dos 5 R’s (Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Reparar) pelas empresas, mas
não trouxe mudanças significativas no sistema industrial de hoje. Já a ecoefetividade proposta
por McDonough e Braungart (2002) [15] é mais benéfica por envolver o ciclo completo da
natureza, tratando as matérias como nutrientes técnicos perpétuos, assim como ocorre com os
organismos vivos.
O objetivo final de ter um design cradle to cradle não é o de minimizar e evitar o lixo,
mas de escolher materiais que permitem fechar um ciclo biológico - da produção de um objeto
obtém-se um resíduo que pode ser decomposto naturalmente no meio ambiente e servir de
alimento a outro componente do sistema. Em meio tecnológico, o material excedente da
construção de um determinado produto pode voltar a ser usado, sendo sujeito a processos de
transformação mais ou menos simples para posterior aplicação na produção do mesmo produto
como matéria-prima (RIBEIRO, 2009, p. 20). [19]
Além disso, os autores do cradle to cradle propõem cinco passos para que se possa
alcançar a ecoefetividade, que, resumidos, podem ser assim descritos: ausência de produtos
tóxicos conhecidos (cloreto de vinil, cádmio, mercúrio, chumbo, asbestos, benzeno, tri oxido de
antimônio, cromo, etc.); escolha de matérias-primas menos agressivas ao meio ambiente e ao
ser humano; inovação na escolha de matérias-primas com menor impacto social e ambiental,
atendendo a função inicial; busca por ser bom e não “menos ruim”, e reinventar para garantir
efeitos reais e positivos para o meio ambiente.

4 A INDÚSTRIA MOVELEIRA – POLO MOVELEIRO DE LINHARES

Foi durante a crise cafeeira que a produção de móveis assumiu um papel de grande
importância no sustento das famílias no município de Linhares, que até então tinham no café
seu principal meio de subsistência.
As primeiras indústrias tiveram início em grupos populacionais próximos da região de
Colatina. No mesmo período o governo estadual começou a doar terras em várias regiões do
estado do E.S., como em Linhares, que até 31 de janeiro de 1943 ainda era ligada à Colatina.
Mas somente em 1964 que a indústria de móveis de Linhares teve início, ainda de
forma artesanal, com a oficina Movelar estofados (atual Delare), do senhor Natan Elias.
Entre 1965 e 1975 surgiram também quatro fábricas de compensados, duas em
Colatina (Serraria Barbados e Serraria Industrial Alves Marques), uma em Conceição da Barra
(Companhia Brasileira de Indústria e Comércio - Cobraice) e uma em Linhares (Mobrasa)
(Cf. VILLASCHI FILHO E BUENO, 2000, apud, CASAGRANDE JUNIOR, 2004). [10]
Mas a madeira existente no Estado não foi suficiente para abastecer as serrarias por
muito tempo. Já na primeira década após a abertura das serrarias, a escassez de matéria-
prima provocou o deslocamento de várias serrarias para o norte do país (Rondônia e Pará) e
para o sul da Bahia.
Além da escassez de matéria-prima, a crise na construção civil e a fiscalização do
IBAMA e de grupos ambientalistas geraram um grande aumento no preço dos insumos, o que
também contribuiu para que as empresas fechassem as portas, como foi o caso da Serraria
Barbados (que abriu concordata em 1983 e não conseguiu dar continuidade aos negócios).

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A serraria Industrial Alves Marques migrou para a área de esquadrias e funciona até
hoje de maneira retraída. A Cobraice fechou no fim da década de 80 e a Mobrasa abriu
concordata em 1979.
Em nível nacional e local, iniciou-se a busca por produtos substitutos da madeira.
Além do uso do compensado, apareceram novos produtos como as chapas de fibra
de madeira revestida (conhecidas como fórmica) e o aglomerado revestido com melanina de
baixa pressão.
Em 1979, com apoio do BANDES (Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A)
a família Rigoni, que já possuía uma fábrica em Montanha, adquiriu as instalações e grande
parte das máquinas e equipamentos da Mobrasa. A partir dessa transação, conforme
Casagrande Junior (2004), [10] a família Rigoni passou a possuir a maior fábrica de móveis do
Espírito Santo e a décima maior do Brasil.
Já a Indústria de Móveis Movelar S.A passou a produzir dormitórios, o que foi um
marco para a expansão do setor moveleiro no município, onde a produção de móveis em série
se tornou uma tendência local. Ainda no final dos anos de 1980 a Movelar propôs outra
modificação nos estilos dos móveis, passando a adotar a estratégia de focalizar a produção em
padrão mogno, que era a tendência seguida pela empresa líder de mercado na época. A
importância dessa mudança por parte da Movelar foi a redefinição do tipo de móvel produzido
pelas empresas em Linhares. Em virtude do processo de imitação na indústria moveleira, os
empresários locais frequentemente adotam a estratégia de seguir as empresas líderes
(VILLASCHI FILHO e BUENO, 2000, apud, CASAGRANDE JUNIOR, 2004). [10]
Foi ainda na década de 1980 que a indústria de móveis passou por um processo de
modernização e atingiu uma escala de produção em massa de ótima qualidade.
Além de todas essas mudanças, a disponibilidade na época da matéria-prima
aglomerado, que vinha pela BR 101 do sul do país, e a madeira extraída do sul da Bahia,
ajudaram a desenvolver o Polo Moveleiro de Linhares. Na mesma época, senhor Luiz Rigoni
(ex-sócio da Movelar) e Jonilson Suave compraram a fábrica de móveis que pertencia à
empresa Danúbio e criaram, então, a empresa Rimo, que hoje é a segunda maior do Polo de
Linhares.
A indústria capixaba de móveis retilíneos de madeira com produção seriada é
constituída por capital nacional e possui grande participação na economia do estado,
empregando grande quantidade de mão-de-obra direta e não especializada. Desta quantidade,
nem todas são legalizadas ou registradas nas entidades de classe que as representam.
A distribuição espacial das empresas de móveis é bastante irregular. Linhares
concentra o maior número de empresas moveleiras do Estado - quatro entre as cinco maiores
empresas do segmento, o que representa 95,1% do faturamento total. Além disso, este é o
único polo que se destaca na produção seriada, tendo como mercado Espírito Santo, Minas
Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e, em menor proporção, São Paulo, Alagoas e outros estados do
Nordeste.
O Polo Moveleiro de Linhares ocupa o 5º lugar em volume de empresas e o 7º em
volume de empregos. Os principais produtos fabricados são as camas (27%) e os guarda-
roupas duplex (54%), consumidos no mercado capixaba. Da sua produção, 45,7% vai para o
mercado nacional e uma pequena parte (0,3%) para o exterior.
Hoje, as principais matérias-primas utilizadas são o aglomerado (inclusive o MDF),
painéis e sólidos de madeira (pínus e eucalipto), vindas quase todas de fora do Estado, da
região sul e do norte do país. Do Estado é utilizada somente a madeira reflorestada
(VILLASCHI FILHO E BUENO, 2000, apud, CASAGRANDE JUNIOR, 2004). [10]
Todas as informações até aqui mostram como se iniciou a produção de móveis no
Polo Moveleiro de Linhares. Elas contribuirão para que entendamos como as indústrias
deverão se comportar frente às mudanças, como os novos tipos de matérias-primas que estão
surgindo e a novas tendências relacionadas às questões ambientais.

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5 ESTUDO DE CASO – INDÚSTRIA MOVELEIRA CIMOL

5.1 Descrição da empresa estudada

O estudo de caso foi realizado em uma empresa de médio porte - de acordo com a definição do
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Microempresas) - localizada no polo
moveleiro de Linhares, considerado o 6º maior do Brasil.
Atuando no mercado moveleiro desde 1991, a Cimol conta com 150 funcionários e
ocupa uma área de 15.000m², da qual somente 8.000m² de área construída. Iniciou produzindo
diariamente apenas cinco peças de roupeiros, ampliando seus negócios em 1998 na produção
de gabinetes para banheiros e em 2004 na produção de camas, criados e cômodas. Em 2007,
diversificou sua produção através de lançamentos como os jogos de jantar, que se tornaram o
principal foco da empresa.
O intento da empresa, por meio de sua missão e visão, é garantir a satisfação dos
colaboradores, clientes e fornecedores produzindo móveis de forma sustentável; ser
reconhecida pelas partes interessadas como empresa sustentável; e tornar-se referência
estadual em sua produção.
Com 12 linhas de produtos, busca produtividade e qualidade utilizando a tecnologia de
máquinas nacionais e importadas, o que permite à empresa produzir 35 mil peças por mês,
com um percentual de 0,03% do faturamento mensal para a assistência técnica.
A utilização de softwares para o planejamento de corte ocorre na busca por redução de
perdas, que são entre 5% (percentual aceitável) e 35%, dependendo da dimensão da chapa de
MDF utilizada.

6 Projeto de produto

6.1 Seleção de amostra por taxonomia

Observou-se através de análise in loco que a empresa tenta reduzir ao máximo suas perdas
através da utilização do software Corte Certo e o maquinário de controle numérico
computadorizado (CNC). Por isso, a empresa aproveita os retalhos de MDF (pedaços maiores)
na produção, e o que não é possível aproveitar é descartado em tambores de aço, chamados
pela empresa de caixas.
As sobras da produção têm o comprimento e a espessura das chapas-padrão
adquiridas do fornecedor. No entanto, em razão do reaproveitamento dos retalhos, há também
o descarte dos pedaços menores.
A largura, a espessura e o comprimento estão representados na Figura 3. As
espessuras das chapas mais utilizadas na produção são, mais frequentemente, de 12, 15, 18 e
de 25 mm. As de 30 e de 35 mm são usadas em menor quantidade.
A largura dos resíduos gerados na maior parte é entre 20 e 30 mm, com os
comprimentos de 2750, 2440, 2100 e 1900 mm, tamanho padrão das chapas de MDF. O
resíduo com largura de 55 mm geralmente possui espessura de 12 mm e comprimento 2100
mm.

Figura 3 – Resíduo gerado

A seleção dos resíduos baseou-se na classificação aproximada (taxonomia), baseada


em critérios como formato, tamanho e cor, de acordo com Guimarães (2009).[6]
As formas dos resíduos são muito semelhantes, o que facilitou a definição das
amostras para o desenvolvimento do produto.

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Como o plano de corte é semanal, as larguras variam semanalmente entre 20 e 55
mm. Para a produção das peças o corte é realizado nas laterais, variando de acordo com as
encomendas, que também são semanais. O índice de perda aceitável é de 5%, mas, não
havendo chapa ideal, o índice pode chegar a 35%.
Embora a maior parte dos resíduos da primeira fase de produção (sem aditivos e in
natura) tenha o comprimento das chapas, para a confecção do protótipo foram utilizadas 38
peças de 15 mm x 24 mm x 610 mm, devido à distância entre empresa estudada e a instituição
de ensino, o que dificultou o transporte de peças maiores para a pesquisa.
O estudo só foi possível mediante as informações coletadas através de questionário
enviado à empresa (Tabela 1) e de informações prestadas verbalmente pelos funcionários.

Tabela 1: Questionário

Há um planejamento de corte?
É possível aproveitar mais das chapas de MDF
do que é feito hoje?
Quanto ao aproveitamento máximo das chapas
de MDF que é feito no planejamento de corte,
qual o índice médio de perdas mensais? Qual o
maior índice de perda no mês? A indústria
possui este levantamento?
Quais são os tamanhos padrões de chapa de
MDF utilizadas na produção?
A Cimol possui um programa de Gestão
Ambiental? Como ela busca alcançar os
objetivos propostos em sua visão e missão?
Quais máquinas e equipamentos a Cimol têm no
setor de produção?
Em quantos setores a Cimol está organizada?
Quais são eles?
Quais são as entradas e saídas no processo de
produção?
Qual a quantidade de resíduos de MDF
descartada semanalmente?
Fonte: Empresa pesquisada

[12]
6.2 Método de Lobäch (2001)

Löbach (2001) [12] define o processo de design como algo criativo e de solução de
problemas, que objetiva satisfazer as necessidades humanas de forma duradoura.
Para atingir esse objetivo, o autor divide o processo criativo embora, na realidade, não
seja divisível, em quatro fases distintas: fase de preparação (análise do problema), fase da
geração (alternativas do problema), fase da avaliação das alternativas e fase da realização do
problema, as quais se entrelaçam, avançando ou retrocedendo quando necessário.
Segundo o autor, é preciso conhecer o problema, coletar informações e analisá-las, a
fim de traçarem-se os objetivos que se desejam alcançar, de forma a descrever as
características que o novo produto deve ter, além de suas exigências.

6.2.1 Análise do Problema:

Relação Social Homem x Ambiente

Para o desenvolvimento do projeto foram consideradas as diretrizes do Design


Sustentável descritas na tabela abaixo.

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Tabela 2: Check-list para a seleção de materiais na dimensão ambiental do design sustentável.

Item Descrição

Minimiza ou evita inserir materiais tóxicos



e danosos no produto
Evita aditivos que causam emissões

tóxicas e danosas
Evita acabamentos tóxicos e danosos ao

meio ambiente
Evita o uso e a dispersão de materiais de
 consumo tóxicos e danosos na fase de
uso

 Usa materiais renováveis

Usa materiais que provêm de refugos de



processos produtivos
Usa componentes que provêm de

produtos já eliminados
Usa materiais reciclados, separadamente
 ou em conjunto com outros materiais
virgens
Escolhe tecnologias de baixo impacto
 ambiental na transformação dos
materiais
[21]
Fonte: Adaptado de Santos (2009)

Relação Social Homem x Produto e Estética

A questão estética, segundo Löbach (2001) [12] torna-se complexa uma vez que cada um
percebe seu entorno de forma diferenciada, dificultando a aceitação por usuários distintos,
havendo necessidade de se aplicar conhecimentos acerca da percepção estética. Alguns
aspectos essenciais influenciam diretamente na percepção individual.
De acordo com Löbach (2001, p. 181), [12] “os padrões sofrem variações no tempo e
nos diversos âmbitos do entorno social, modificando também os valores estéticos”, ou seja, na
configuração de um produto, estes podem mudar de acordo com a época e com o contexto. O
autor esclarece que os produtos possuem funções variadas, mas que elas seguem uma
hierarquia de importância, daí a importância de se conhecerem as necessidades não só
práticas, mas psíquicas e sociais do grupo de usuários. Essas funções podem ser classificadas
como prática, estética e simbólica (J. GROS apud LÖBACH, 2001). [12]
A função prática está relacionada às necessidades fisiológicas; a estética está ligada
aos processos sensoriais durante o uso; e a função simbólica é determinada por aspectos
sociais, psíquicos e sensoriais. (LÖBACH [12] 2001).
Com base nisso, buscou-se analisar o aspecto emocional do homem - suas sensações
e suas percepções acerca dos produtos que almeja. Segundo o caderno de Referências em
Mobiliário 2011 do SENAI, [22] para compreender os anseios do usuário final é preciso analisar
a forma como são despertados os sentidos humanos, bem como o cérebro percebe e associa
as informações nesse processo de percepção. Tal processo é atribuído aos sentidos humanos
(visão, audição, tato, olfato e paladar), pelos quais cada indivíduo organiza e interpreta suas
impressões, no anseio de dar sentido ao seu ambiente.
Observando-se esses aspectos, os estímulos visuais estão associados ao bom gosto,
em que a harmonia e o equilíbrio das formas transmitirão a sensação de bem-estar, havendo
necessidade de se evitar os excessos.

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Os estímulos auditivos são trabalhados dentro de projetos de design para transmitir
sensações e, ao final do processo de percepção pelo cérebro, trazem ao receptor reações
emocionais, estimulando a criação.
O tato é a forma como o ser humano explora o ambiente, é a extensão de seu corpo,
pois o toque permite informações que vão além da visão, da audição e do olfato. Assim, o
acabamento de um produto, além de propiciar o aspecto visual agradável, deve induzir o
estímulo tátil agradável. A textura é o elemento visual e tátil que mais propicia a emoção e está
em abundância na natureza. Refere-se ao aspecto de um material e pode se apresentar lisa ou
rugosa, macia ou dura, suave ou áspera, fosca ou polida. Divide-se em natural - quando o
aspecto é de coisas já existentes na natureza (cascas, madeira, folhas) -, e artificial -
proveniente da intervenção humana, criando texturas iguais às da natureza (polímeros, metais).
Ainda segundo as referências propostas pelo SENAI (2010, p.57), [22] “as sensações
do olfato e do paladar dependem da combinação das cores, dos materiais, das texturas e das
formas que podem induzir sensações ligadas à memória afetiva”.
Bem mais associados ao design emotivo, projetos de produtos mais humanizados
objetivam atingir as emoções individuais e coletivas. Isso reflete preocupação com o meio
ambiente e agrega valor ao produto. As sensações de aconchego associadas aos valores
ecológicos com acabamentos naturais passam sensações que os indivíduos almejam. Segundo
Yves Behar, apud SENAI (2010), [22] quando se reconhece as necessidades dos clientes no
que se refere aos aspectos ambiental, emocional e estético, provavelmente se está fazendo um
“bom Design”.

Processo de Fabricação e Materiais

Na busca de soluções para a realização do projeto, foram realizadas visitas em marcenarias na


Grande Vitória, a fim de identificar o melhor processo de fabricação para os resíduos trazidos
da empresa estudada. Para tanto, foram feitas perguntas abertas para se obter informações
úteis ao processo de fabricação do mobiliário.
Inicialmente a pesquisa abordou a possibilidade de confecção de chapas para a
confecção de um novo produto.
A marcenaria 01 apresentou a seguinte solução: peças coladas, utilizando um grampo
sargento, com um pedaço de madeira pressionando o grupo de tiras de madeira. O marceneiro
possuía um grampo sargento com altura máxima de 0,80 cm, impedindo a confecção de uma
peça maior para o projeto.
A marcenaria 02 apresentou a mesma solução da marcenaria 01, no entanto, possuía
grampos sargento em tamanhos maiores variando entre um e quatro metros. O marceneiro da
segunda marcenaria pesquisada informou que quanto maior a peça a ser colada, maior a
possibilidade de ela envergar.
A marcenaria 03 apresentou a mesma solução que as anteriores, possuía variados
tamanhos de grampo sargento, mas explicou que havia necessidade da utilização de prensa
para que as peças fossem coladas adequadamente.
Em todas as marcenarias pesquisadas, o procedimento de colar pedaços de MDF é
comum, no entanto observou-se que a confecção de chapas, por ser trabalhosa, é pouco
adotada. Esta primeira forma de colagem apresentava algumas dificuldades em relação aos
resíduos e não houve interesse das marcenarias neste tipo de produção.
Outro ponto pesquisado foi a colagem dos resíduos, que formavam um grande bloco.
De acordo com os marceneiros entrevistados, o ideal para a obtenção de maior resistência
seria trabalhar com encaixes, mas o tamanho dos resíduos inviabilizaria fazer isso. Para o corte
de blocos maiores para formar novas chapas seria necessário maquinário de uma serralheria.
Outro ponto abordado pelos marceneiros é que a peça de MDF possui face e topo, e
por se tratar de pedaços e não de chapas inteiras, dependendo do lado que a peça é
trabalhada ela pode ficar quebradiça e pouco resistente.
Segundo o manual de MDF disponibilizado pela Duratex, em razão das chapas serem
um produto derivado da madeira, para a colagem, podem-se usar adesivos utilizados em
madeira natural tipo uréia formaldeído, de contato ou de PVA (cola branca). Sugeriu-se, ainda,
o lixamento grosseiro na superfície a fim de aumentar a aderência.
Outras recomendações para a colagem são: os pingos e escorrimentos de cola devem
ser retirados imediatamente com pano limpo; para o uso da cola branca e da ureia formaldeído

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é preciso usar um pano umedecido com água, e ao usar a cola de contato o pano é umedecido
com gasolina, aguarrás ou outro removedor.
Através das entrevistas com os profissionais, identificou-se que, sem a possibilidade de
se trabalhar com os encaixes, devido às larguras dos resíduos gerados na indústria
pesquisada, haveria um fator limitador para a projetação de mobiliário que suportasse pesos
maiores.
A escolha do produto ocorreu devido à disponibilização das 38 peças pela empresa
pesquisada para a realização deste projeto. Para se atingir o objetivo deste trabalho, optou-se
por um produto conceitual, que demonstrasse que é possível produzir um mobiliário de
qualidade semelhante ao que utiliza a chapa inteira de MDF, podendo servir como base para a
produção de uma linha de produtos.
Face ao exposto, optou-se pelo desenvolvimento de uma mesa de centro, pela
possibilidade de se apresentar um protótipo em escala natural.

Normas

Para o projeto de mesa de centro foram identificadas algumas normas. Dentre elas,
identificou-se a altura através da tabela de dimensões básicas de antropometria. Embora o
Brasil não tenha uma tabela adequada de medidas, conforme Guimarães (2004), [8] as
pesquisas já realizadas focaram apenas a parte mais representativa da população e não há um
levantamento antropométrico da população brasileira em geral. Por conta disso, propõe-se a
utilização das medidas estrangeiras, principalmente dos povos mediterrâneos, cujas
proporções se assemelham às dos brasileiros.
De acordo com Panero e Zelnik (2002) [16] a medida da altura do sulco poplíteo
percentil 95 (maior medida) para homens é de 49 cm e para mulheres 44,5 cm, como se
observa na Figura 4.

Figura 4: Dimensão básica do sulco poplíteo na Antropometria (A)


Fonte - Adaptado de Panero e Zelnik [16] (2002)

Dessa forma a altura mínima para evitar a curvatura acentuada da coluna, tanto em
homens como em mulheres diante da mesa de centro seria de 49 cm, de acordo com a
literatura espanhola. No entanto, como solução de compromisso, preferiu-se utilizar as medidas
sugeridas pelo Designer de móveis e professor da Instituição de Ensino, Profº. Ms. Paulo Cezar
Pinheiro Guedes, profissional brasileiro que atua no mercado há mais de 20 anos.
De acordo com este profissional, a base da mesa de centro pode ter entre 40 e 45 cm
de altura e é no mínimo 51% menor que o tampo da mesa.

4.1.1 Alternativas do problema

Figura 5 - Alternativa 01
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Figura 6 - Alternativa 02

Figura 7 - Alternativa 03

Figura 8 - Alternativa 04

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Figura 9 - Alternativa 05

Quadro 09: Descrição das alternativas propostas

IMAGEM DESCRIÇÃO
Com um tampo feito da junção de peças de MDF na horizontal, base
colada e parafusada no centro para a mobilidade, a alternativa 01
(Figura 5) se assemelha ao que é encontrado no mercado, não
apresentando novidade. Projetada com uma base pesada e tampo
feito da junção de pequenas peças de MDF, essa proposta foi
considerada complexa pelo marceneiro Irineo Bisnetto,
necessitando de maquinário de serralheria. De acordo com o senhor
Bisnetto, o tampo se tornaria quebradiço se sua espessura fosse
muito fina e teria um acabamento inadequado em razão do topo da
peça de MDF, e não a face, ficar exposto
Para solucionar o problema da alternativa 01 em relação ao
acabamento quando as peças fossem coladas na vertical, formando
um bloco, a alternativa 02 (Figura 6) foi gerada com um tampo de
vidro e base com pedaços diversos colados. Embora uma proposta
diferenciada, a base se mantinha pesada e necessitaria de grande
quantidade de MDF para a montagem, o que se tornou
impedimento, devido a dificuldades de logística.

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A alternativa 03 (Figura 7) manteve a proposta do tampo de vidro da
segunda alternativa, mas buscou solução para a base pesada,
utilizando o material trazido da empresa Cimol em visita realizada.
Observou-se, no entanto, que havia excesso de material ao inclinar
a base para formar o triângulo, não sendo este bem aproveitado.

A alternativa 04 (Figura 8) utilizou a mesma repetição de peças na


vertical da alternativa 03 pela leveza e pela sensação de harmonia.
Manteve o tampo de vidro, mas para que a altura chegasse ao
mínimo de 40 cm, sua base ficaria muito fina, o que poderia causar
instabilidade na mesa.

A alternativa 05 (Figura 9) procurou solucionar as dificuldades


apresentadas nas alternativas anteriores, atendendo aos requisitos
apresentados.

Fonte: Acervo pessoal

4.1.2 Realização da solução do problema

A alternativa escolhida apresentou forma semelhante a uma ampulheta, com a base e


topo maiores que o centro da peça de sustentação.

Figura 10 - Alternativa selecionada em perspectiva – Vista 01

Para se transmitir a sensação imediata de harmonia, seguindo um ritmo, optou-se por


utilizar os conceitos de Wong (1998) [24] pela repetição de formato, do tamanho, da cor, da
textura, da posição e do espaço.
Para se evitar a monotonia, houve variações de direção e de espaço. Nas variações de
direção, duas peças são posicionadas paralelamente e ligadas a outras duas em um ângulo de
90º, formando quadrados de tamanhos variados, como pode ser visto nas Figuras 09 e 10.
Na variação espacial da base, as peças 7 a 22 e 37 a 52 se refletem como um espelho,
formando a imagem semelhante a uma ampulheta.
Com base nas informações das visitas realizadas em marcenarias e nos conceitos de
sustentabilidade propostos nesta pesquisa, optou-se por trabalhar um mobiliário com valores

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ecológicos, visto que se evita extrair a matéria-prima ao utilizar um material que seguiria para a
incineração.
Por se tratar de uma proposta de objeto decorativo, a função estética é trabalhada a
partir da utilização de formas harmônicas e através da apresentação de diferentes vistas,
conforme o ponto de vista do usuário. Ela não possui pés, apenas uma base central, evitando
os excessos, uma vez que as formas do MDF já se repetem em toda a base.
Trata-se de um mobiliário na cor natural do MDF, em razão dos conceitos de
sustentabilidade tratados nesta pesquisa, podendo, a gosto do usuário, ser pintado, encerado
ou envernizado. A alternativa prototipada serve como referência para o desenvolvimento de
outras bases de mesa de jantar, de bar ou de lateral, utilizando os tamanhos variados dos
resíduos gerados na indústria.

4.1.3 Montagem

A montagem da alternativa escolhida foi feita na Rui Móveis e Decoração Ltda.,


localizada no bairro José de Anchieta/Serra-ES.
Em um primeiro momento foi feito o corte das peças de acordo com os tamanhos
descritos na Tabela 3, com a topejadeira. Nesta é possível marcar com precisão o tamanho
desejado para o corte.

Tabela 3 - Detalhamento das peças utilizadas em cada parte da mesa

Foram selecionadas peças que precisariam de o mínimo de corte para que fosse
possível o melhor aproveitamento do resíduo. De 38 peças fornecidas pela indústria,
obtiveram-se as 56 peças necessárias para a construção da mesa. Todas as peças foram
cortadas, para depois iniciar o processo de montagem.
Após o corte, em uma base plana com o auxílio de um esquadro, alinham-se as
primeiras peças e, com a cola branca, vai se sobrepondo peça por peça (Figura 11), colando-
as pelas extremidades.
Com a ajuda de outra peça das mesmas espessura e largura, vai se alinhando uma
peça ao final da outra. O lápis é utilizado para marcar a parte da peça que se encaixa à outra.
As imagens a seguir mostram passo a passo a construção da base do produto.
Figura 11 - Construção da base
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Depois de montada é preciso fazer o acabamento, retirando o excesso de cola que
eventualmente tenha permanecido e limpando a peça.
Para a confecção do tampo de vidro foram realizadas pesquisas em vidraçarias da
região, com vistas a se identificar qual o mais adequado para o projeto. Também foram
realizadas pesquisas na indústria fornecedora do material.
Entre os tipos de vidro apresentados, optou-se pela utilização de vidro temperado por
possuir resistência a impacto e maior proteção em caso de quebras. O tampo pesa 11,25 kg, é
incolor, tem o acabamento lapidado, canto tipo moeda, com polimento e brilho natural, para
evitar lesões em virtude do fluxo de pessoas nas proximidades da mesa.
A espessura, de acordo com as vidraçarias pesquisadas, é de 8 mm, devido ao
tamanho do tampo definido como 750 mm x 750 mm. O vidro é transparente para que o usuário
possa visualizar o efeito escada no centro da mesa. A empresa fornecedora do tampo, Viminas
Vidros Especiais, [23] possui uma política com base nos conceitos de desenvolvimento
sustentável, viabilizando seu processo produtivo com a redução dos impactos sobre o meio
ambiente.
5 Considerações finais
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Neste capítulo são apresentadas as conclusões obtidas a partir do levantamento e da análise
dos dados coletados na Cimol, com as pesquisas bibliográficas e com as várias visitas e
conversas com profissionais do setor de móveis, como marcenarias e outros.
A análise do contexto histórico, do design sustentável, do ecodesign, do cradle to
cradle, juntamente com o estudo sobre a matéria-prima MDF e sobre os principais polos
moveleiros do país, garantiu um bom repertório teórico para o desenvolvimento do trabalho.
Com base no que foi abordado nesta pesquisa, o Design para a Sustentabilidade tem
exercido papel relevante na sociedade, abordando questões ambientais e também
considerando as questões sociais e econômicas, o que é demonstrado a partir das leis que
surgiram no Brasil acerca da responsabilidade do descarte dos resíduos sólidos pelas
empresas fornecedoras. A análise do contexto histórico acerca do desenvolvimento sustentável
demonstra que o conhecimento era escasso e não havia preocupação com os resíduos
gerados nem como eles seriam descartados na natureza. Hoje, além das leis, percebe-se uma
valorização de produtos e empresas que não prejudicam o meio ambiente e que contribuem
para o aumento da renda de comunidades e de grupos menos favorecidos economicamente,
preocupação esta que se tornou atributo para agregar valor em projetos na atualidade.
Dentro deste contexto, o designer tem contribuído na busca de soluções, analisando
custo-benefício de produtos que atendam as necessidades de seu usuário, sem que isso deixe
de garantir às próximas gerações os recursos necessários para se manter a vida.
De fato, as indústrias do Polo Moveleiro de Linhares, e a própria Cimol, mesmo com
uma visão voltada para a questão sustentável, ainda descartam matéria-prima importante na
produção de outros projetos, uma vez que sua tecnologia ainda não permite o uso dos
menores pedaços na produção.
Demonstrou-se, nesta pesquisa, que é possível repassar a terceiros a
produção de peças mais manufaturadas em razão dos tamanhos sem que, com isso, perca a
qualidade, evitando a incineração. Os recursos naturais deixam de ser extraídos e a matéria-
prima se torna um produto de valor agregado, atendendo as necessidades psíquicas, sociais e
sensoriais do consumidor.
Como conclusão geral deste trabalho, com base no conjunto de informações coletadas,
pode-se considerar que o Polo Moveleiro Linhares (ES) já se preocupa com as questões
ambientais. Isso se reflete em trabalhos como este e tem reforçada sua relevância através da
divulgação de informações do Sindimol para o Planejamento do Arranjo Produtivo Local (APL)
para o próximo triênio, que propõe levantar os resíduos gerados pelas indústrias do Polo, no
intuito de viabilizar a instalação de uma Central de Resíduos no município.
Nesta pesquisa está demonstrada a viabilidade e a necessidade deste levantamento,
realizado em forma de estudo de caso para a realização do produto mesa de centro. Através da
mesa intencionamos atender os princípios abordados no design sustentável, misturando
materiais virgens com o material que foi descartado, comprovando a possibilidade de se
desenvolver produtos de qualidade comparada a um produto desenvolvido com a chapa de
MDF.
É possível também oportunizar a criação de cadeias de pequenos grupos para a
produção de produtos com esses resíduos, abrangendo a questão social, uma sugestão para
trabalhos futuros. Outras sugestões de pesquisas é a possibilidade de analisar a fabricação de
chapas e painéis de madeira, usando resíduos como o modelo da Eucatex. No Brasil ainda não
existem práticas de reciclagem de resíduos de madeira para a produção desses produtos.
Sugere-se a realização de estudos de viabilidade para este tipo de iniciativa, já que o consumo
nacional de chapas de painéis cresce a cada dia.

6 Referências

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A sustentabilidade que vem do rio (The sustainability that
comes from the river)

MONTEIRO, Juliana Aguiar Cavalcante; Especialista; Centro Universitário-CESMAC.


jususpyro@hotmail.com

palavras chave: sustentabilidade, design, produção artesanal.

O trabalho aqui apresentado se propõe apresentar o percurso de uma pesquisa participativa, realizada
em uma comunidade de artesãos da cidade Piranhas/Alagoas. Tem como foco a intervenção de design,
realizada junto à Associação dos Artesãos em Couro de Tilápia da referida cidade. Este projeto contou
com o apoio da CODEVASF, SEBRAE e do APL de Piscicultura que representa o governo do Estado de
Alagoas. Para atingir nosso intento, utilizamos entrevistas semi-estruturadas e conversas informais a fim
de identificar o perfil do grupo. Também fizemos, com o grupo, visitas a locais estratégicos a fim de
identificar aspectos marcantes da região que seriam usados como elementos/ícones dos futuros produtos,
a fim de desenvolver a capacidade de criação, através da valorização da identidade dos artesãos, como
indivíduos envolvidos com a cultura local, mediante a utilização de técnicas sustentáveis. Ao final da
pesquisa, para facilitar a análise dos resultados de nossa intervenção, o recurso metodológico aplicado foi
o mesmo do início, entrevistas semi-estruturadas com questões que nos trazem resultados concretos do
trabalho realizado. Mediante essa análise, constatou-se que as peças produzidas adquiriram maior
visibilidade o que propiciou grande aceitação no mercado local, nacional e internacional.

Keywords: sustainability, design, handcraft production.

This paper ´s objective is to bring forward the development of a participatory research conducted in a
community of artisans in Piranhas, a town in the state of Alagoas in the Northeast of Brazil. The study
focuses on intervening in the artisan design, conducted by the Association of Craftsmen in Tilápia Leather,
settled in that town. The project was supported by Sebrae and by APL Psiculture which represents
Alagoas´ government. In order to achieve our goals, semi-structured interviews and informal conversations
were used so as to identify the profile of the group. Besides that, the group was taken to visit strategic
locations with the objective of identifying important aspects of the region that would be used as
elements/icons of future products. Those visits´ purpose was the development of creative skills, through
the enhancement of the artisans´ identity, as individuals involved with the local culture, making use of
sustainable techniques. The last part of the research used the same methodological approach dealt with at
the beginning, that is, semi-structured interviews with topics that bring about a tangible outcome of the
work done. The results of this analysis show that the pieces of work produced after the intervention
acquired greater visibility and were very well accepted locally, nationally, and internationally.

1 Introdução

O presente artigo tem como objetivo relatar trabalho realizado em parceria com a Associação
dos Artesãos em Couro de Tilápia (AACT), localizada na cidade de Piranhas – AL, que surge
com a necessidade do grupo em melhorar o design de suas peças, até então resultado de
cópias de revistas ou outras peças de terceiros. Visando esse foco, fomos à busca de
elementos da cultura e tradição local, com o objetivo de diferenciá-las e atrair novos mercados,
seguindo as orientações de Ostrower (1999) quando diz que ‘O ato criador abrange, portanto a
capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar,
significar’.
O grupo domina a técnica do curtimento da pele de peixe com processo natural, utilizando a
casca de angico - planta típica da caatinga, existente em abundância na região – técnica
sustentável comprovada pela sequencia de etapas realizadas demonstrando que o produto
final faz parte de uma cadeia sustentável que vai desde o recebimento da pele (que é realizado
através de doação) até a finalização com a confecção artesanal de artigos e mantas em couro
que são vendidos em feiras, eventos e na sede da própria associação. Conta com o auxilio de
instituições e empresas parceiras, tais como: Netuno Alimentos S.A., CODEVASF, SEBRAE e
o APL de Piscicultura que desenvolvem projetos a fim de capacitar seus associados em busca
de novos horizontes e perspectivas melhores de futuro. É formado, na sua maioria, por
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mulheres casadas, com filhos, idade média de 35 anos e com ensino fundamental completo,
que fazem do artesanato o complemento de sua renda familiar.

Figura 1: Grupo de associados (Fonte: Monteiro, 2010).

O resultado dessa pesquisa reverteu-se em peças artesanais que fazem parte de uma coleção
com produtos como: sandálias, biojóias, cintos, bolsas, etc, podendo expandir com peças para
decoração, acessórios utilitários, artigos para escritório. Usou-se para concluir essa intervenção
a mesma metodologia inicial, aplicação de entrevista para analisar a viabilidade do trabalho.
Analisou-se o resultado, e por fim toda a produção reverteu-se em material suficiente para
confecção de um catálogo que facilitará a divulgação dos produtos e, consequentemente, sua
inserção das peças no mercado.

2 A cidade de Piranhas: um pouco de história

Segundo documento de tombamento da cidade de Piranhas, ‘a paisagem histórica do Vale do


São Francisco materializa uma conjunção equilibrada de elementos naturais e culturais, onde o
fator urbano não se impõe à natureza. A paisagem exibe, com predominância, seus
componentes naturais: água, rocha, vegetação da região do sertão, morro, numa relação de
82
equilíbrio com gestos humanos que testemunham a história do lugar’.
É nesse contexto que surge a cidade de Piranhas, erguida no fundo de um vale (cânion do São
Francisco) e fundada no século XVIII, a 290 km da capital Maceió, em pleno sertão alagoano
numa região de caatinga localizada no baixo São Francisco.
Originou-se de um cais, que, tempo depois, tornou possível a navegação a vapor que em 1867,
estabeleceu uma ligação entre Penedo-Piranhas. Após a construção da estrada de ferro
Piranhas-Paulo Afonso, a cidade propriamente dita veio a se consolidar, pois obteve um
crescimento econômico de destaque, consolidado por sua linha férrea que passava a ser mais
um elo entre a cidade e outros polos econômicos existentes naquela região. É dona de um
conjunto arquitetônico ímpar, valorizado por seus estilos, seu casario e por edificações, de
maior porte, localizadas em pontos estratégicos dentro do contexto urbano. Além disso, sua
localização privilegiada tem como pano de fundo o Vale do São Francisco que, aliado à forma
como a cidade se desenvolveu no decorrer dos anos, gera uma paisagem única de belezas
naturais incontestáveis que atrai turistas de todos os lugares. Ainda segundo tombamento ‘As
singularidades apresentadas pelos valores paisagístico, urbanístico e arquitetônico ligam-se às

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expressões das tradições culturais forjadas pelas pessoas que ocuparam e vivenciam o lugar,
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criando histórias e vínculos afetivos tão fortes e valorosos quanto esses materiais’.’
A região apresenta traços fortes e marcantes que caracterizam bem seus habitantes e que no
decorrer dos anos viveram momentos que fizeram parte da história do Nordeste.

Figura 2: Cidade de Piranhas (Monteiro, 2009).

A população que vive no sertão nordestino enfrentou e enfrenta até hoje vários fatores
desfavoráveis à permanência no local desde a sua migração do litoral para o interior do país
(fins do século XVII). O clima semiárido apresenta irregularidade de chuvas, solos secos e rios
intermitentes ou temporários, a vegetação de Caatinga, que representa cerca de 70% da
região, ecossistema extremamente rico e importante do ponto de vista biológico, pois é um dos
poucos biomas que tem sua distribuição totalmente restrita ao Brasil, somado ao desinteresse
do poder público por essa população e aos desmandos dos coronéis, trouxe para o homem do
sertão nordestino características fortes e modos embrutecidos tolerantes a atos violentos, de
acordo com Mello (2004) ‘a excessiva tolerância à violência encontra suas raízes nos primeiros
tempos da colonização sertaneja, quando seu emprego fazia-se necessário à difícil
sobrevivência em face aos ataques indígenas e animais bravios’. Esse modo de agir e pensar
faz parte do cotidiano dessa população. O perfil apresentado demonstra peculiaridades de um
homem aventureiro, que aplica suas próprias leis, vivendo como se diria: ‘sem lei nem rei’.
Diante de toda essa atmosfera apresentada surge um fenômeno que estabelece raízes
profundas junto a essa população fazendo parte de sua história, influenciando na literatura, na
música, na dança, na forma de vestir. O Cangaço surge e ganha força como uma reação ao
tipo de política que colocava o sertanejo cada vez mais à margem da sociedade, sempre
tratado de forma desigual pelos seus governantes. Dentro desse contexto, a figura de Lampião
traz forte influência na cultura de toda esta região e a cidade de Piranhas não poderia estar
fora disso. Em 1938, a morte de Lampião na Fazenda de Angicos, localizada em Sergipe, fez
com que a cidade de Piranhas ficasse nacionalmente conhecida, por ser o local onde as
cabeças de Lampião e seu bando ficaram expostas e empilhadas após a decapitação, na
escadaria da prefeitura do município. Lampião tornou-se figura presente na história e na cultura
da região, tanto por sua importância dentro do cangaço, como por seus hábitos - forma de se
vestir e de se arrumar com soluções estilísticas bem próprias e exóticas para aquele tipo de
vegetação e clima.
Voltando para o desenvolvimento da cidade, após o encerramento das atividades da ferrovia,
em 1964, a cidade de Piranhas sofre um impacto na sua economia que só é rompido com a

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Disponível em: http://www.ceci-br.org/piranhasWeb1/tombamento/conjunto.html
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construção da Usina Hidroelétrica de Xingó (a partir de 1986), que imprime mudanças no modo
de vida da cidade com uma onda de modernização com elementos construtivos novos,
alterando sua organização social, rompendo com a estagnação e o isolamento econômico.
Hoje, a cidade vive uma nova expectativa de avanço econômico, que mostra a cidade de
Piranhas como um forte foco turístico da região, além de investimentos na área educacional
com a interiorização da Universidade Federal de Alagoas (sede da universidade fica em
Delmiro Gouveia, cidade vizinha a Piranhas) e a instalação de um Instituto Federal (antigo
CEFET), que trazem para a população novas oportunidades.

3 A Tilápia

A região do Baixo São Francisco possui grande potencial para a criação de peixes em cativeiro,
principalmente a Tilápia que vem se apresentando como alternativa de renda para muitas
comunidades. As construções de hidroelétricas transformam o rio em grandes reservatórios,
com características favoráveis a este tipo de cultura. Segundo Nogueira (2007), ‘em meados da
década de 90, o cultivo de tilápias, em caráter comercial, passou a se disseminar rapidamente
para outros estados, principalmente para Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Ceará, Alagoas e
Sergipe’. Ainda segundo Drucker (2000), ‘novas e inesperadas indústrias vão surgir... - e
rapidamente. Uma delas já está entre nós: a biotecnologia. Outra é a criação de peixes. Nos
próximos 50 anos, a criação de peixes pode nos transformar de caçadores e coletores
marinhos em pecuaristas aquícolas’. Exatamente como há mais ou menos 10.000 anos atrás,
uma inovação semelhante transformou nossos ancestrais de caçadores e extrativista em
agricultores e pastores.
Nos últimos anos, a indústria de beneficiamento de peixe vem-se expandindo rapidamente.
Com isso, o resíduo gerado por esta produção - peles - vem sendo descartado no meio
ambiente, podendo ser reaproveitado a partir do processo de curtimento. Foi a partir dessa
possibilidade produtiva que surgiu na cidade de Piranhas, com o incentivo do governo do
Estado de Alagoas, através do APL (Arranjo Produtivo Local) Piscicultura e do SEBRAE/AL, a
AACT (Associação dos Artesãos em Couro de Tilápia) que utilizam o couro do peixe, doado
pela empresa Netuno Alimentos S.A., para a fabricação de diversos artigos, tais como: bolsas,
cintos, biojóias, etc. Essa iniciativa pioneira em Alagoas e no Nordeste vem-se destacando pela
qualidade de seus produtos. Segundo Alencar (2008) gestor do APL Piscicultura, ‘As pessoas
se encantam com a qualidade dos artigos feitos do couro da tilápia. Nosso estado é pioneiro no
Nordeste na produção de peças artesanais’ o processo de curtimento é natural, com casca de
angico, não agride o meio ambiente e não utiliza produtos químicos, ‘é um trabalho de inclusão
social que beneficia diretamente esses trabalhadores e agrega valor ao produto. É através do
84
aproveitamento do couro que eles garantem o sustento de suas famílias’, segue Alencar
(2008), além de utilizarem um processo sustentável que contempla toda a cadeia de produção
até o produto final, que são as peças artesanais confeccionadas pelos artesãos da associação.

4 A Proposta

A capacitação do grupo incentivada por empresas parceiras, CODEFASF, SEBRAE, Netuno


Alimentos S.A. e o APL de Piscicultura, realizada através de projetos importantes para a
organização dos associados, tornou-se uma nova oportunidade que surgia em suas vidas. A
iniciativa deu certo e trouxe resultados. A participação em feiras e eventos (locais e na capital
do Estado) mostrou que o grupo tinha potencial, e necessitava apenas de algumas orientações
para criar peças exclusivas e aperfeiçoar seu trabalho, principalmente no que se refere à
qualidade do acabamento, através da melhoria contínua dos processos, motivando e
comprometendo a todos da AACT com os resultados.

84
Disponível em: http://www.planejamento.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/julho-2008/alagoas-e-destaque-no-aproveitamento-
do-couro-da-tilapia
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Levantou-se então a necessidade de criar uma marca que identificasse a associação e que
lavasse para além das fronteiras do município as características presentes na cultura da região
que são expressivas para a sua população.
Diante disso, algumas questões precisavam ser pesquisadas para o levantamento de subsídios
que revelassem os pontos fortes da tradição local, são elas: Como produzir peças com design
atrativo e que retratassem as raízes do lugar? Quais elementos poderiam representar esse
grupo? Como extrair da cultura local esses elementos? Como adequá-los a peças existentes e
a novas que seriam criadas? Para incentivar a autoestima do grupo partiu-se do pressuposto
que peças copiadas podem ser confeccionadas em qualquer parte do Brasil e do mundo, mas,
peças que retratem a realidade vivida por aquela comunidade não existem em nenhum lugar a
não ser na cidade de Piranhas – AL.
Nossa intervenção como educadores, nasce, a partir desse ponto, em que o grupo sente a
necessidade de criar peças novas que os representassem, com melhor acabamento, viáveis
economicamente sendo atrativas para o mercado, acreditando ainda, que o papel do design é
mostrar o processo metodológico para criação e inovação de novos produtos, dando aos
artesãos as ferramentas necessárias para sua continuidade mesmo após a nossa participação.
Segundo Giroto (2004) ‘A gestão da criatividade como a capacidade de geração de valor
percebido para o mercado tem sido uma tarefa básica para a organização, principalmente
através de ideias voltadas para a definição de atributos, de requisitos e de aspectos do
produto’.
Peças produzidas pelos artesãos da Associação (peças existentes antes da intervenção):

Figura 3: Peças existentes (Monteiro,2009)

As peças inicialmente confeccionadas não apresentavam vínculo com a cultura da região eram
frutos de cópias retiradas de revistas ou de outras que já existiam.

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Figura 4: Peça existente (Monteiro, 2009)

Os artigos fabricados apresentavam problemas no acabamento demonstrando que o grupo


necessitava de orientações para consequente correção dos defeitos. Como se trata de peças
artesanais o foco não é a produção em massa com o mínimo de defeitos possíveis, mas sim a
excelência do produto dentro das suas imperfeições, pois o artesão se destaca pela produção
de peças únicas onde não existe repetição rigorosa padrão.
Para intervir de forma adequada nessa realidade, foi necessário antes de tudo, conhecer o
grupo. Assim, como metodologia inicial para reconhecimento do grupo, utilizou-se entrevistas
semiestruturadas que auxiliou na identificação do perfil do grupo, bem como suas dificuldades
no processo criativo e o que poderia caracterizá-los dentro do contexto local. Segue Giroto
(2004) afirmando que: ‘Pode-se afirmar que a metodologia de projeto do produto, como um
conjunto integrado de conceitos, concepções, prototipagem e gestão mercadológica do
produto, surge como o próprio manejo sustentável das fontes de energia e de materiais, além
do reconhecimento do ser humano como a base, o meio e a finalidade do processo de design
do produto’.
A partir daí, seguiu a pesquisa para levantar pontos expressivos existentes na cultura e
vegetação locais. Segundo Casteião e Martins (2004) ‘Design pressupõe uma dimensão
invisível. Pode e deve atuar no sentido de identificar, revelar e incorporar códigos éticos e
morais nos objetos e desenhar formas que indiquem condutas socialmente responsáveis e
transformem situações existentes em outras mais desejáveis’.
Levantados os dados do questionário detectou-se algumas influencias nos componentes do
grupo, tais como: a forte presença do cangaço na região, a vegetação e relevo singular da
caatinga, rica em diversidade de plantas que se destacam pela exuberância de suas flores e os
elementos arquitetônicos marcantes da cidade que perduram até hoje. Retirou-se então de
cada ponto, elementos que os caracterizassem e que pudessem compor com as novas peças,
bem como servissem de inspiração na criação de uma marca que representasse o grupo diante
das características relatadas na entrevista.
Destacaram-se alguns elementos que poderíamos usar em nosso trabalho:
 elementos da vestimenta do cangaceiro - a vestimenta dos cangaceiros exibe detalhes
únicos e peculiares que fazem parte da cultura local;
 elementos da vegetação do sertão - as flores da caatinga bem características da
região e com formas rebuscadas;
 elementos da arquitetura local - adornos presentes na arquitetura da cidade (destaque
para o prédio da antiga Estação Ferroviária, hoje Museu do Sertão).
Para a criação da marca, primeiro pensou-se que uma marca vai além da assinatura de uma
empresa, visto isso iniciou-se a análise pensando na forma que melhor representasse o grupo
e que nome seria mais interessante para a proposta. A topografia do local com muitos montes e
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vales, criando uma atmosfera sinuosa e impar que caracteriza a implantação da cidade que
evoluiu esparramando-se morro acima, apresenta um cenário belo, o Cangaço traz fortes
influencias para o cotidiano da população passando a ser um forte apelo turístico para a região
e por último a matéria prima utilizada pelos artesãos o couro de tilápia (neste caso a pele do
peixe), como antes visto a economia da cidade evoluiu depois a construção da linha férrea e da
construção da Estação Ferroviária do município de Piranhas tornando esse fato de extrema
importância para a história da cidade. Levantados todos esses pontos e após várias análises
chegou-se a um símbolo aliado a um logotipo (figura 5), nasceu a Estação Cangaço.

Figura 5: Marca criada (Fonte: Monteiro, 2009).

Detectadas quais seriam as fontes de inspiração, iniciou-se a confecção de protótipos com o


seguinte questionamento: o que poderíamos retirar de cada elemento pesquisado para dar
início à confecção das peças? Após alguns estudos detectou-se que da vestimenta do
cangaceiro a cartucheira usada por Lampião e seu bando apresenta detalhes marcantes que
destacam a peça, inclusive pela forma que era usada, ; da vegetação da caatinga destacou-se
a flor de mandacaru e a cabeça de frade exemplares comuns da flora local, mas e da
arquitetura da cidade de Piranhas um exemplar torna-se referencia não só por sua beleza
como monumento, mas também como ponto de destaque na história da economia da região -
a Estação Ferroviária, hoje Museu do Sertão,- apresenta detalhes na sua fachada como ponto
de destaque. Visto isso, estudou-se de que forma usar todas essas informações, e transformá-
las em detalhes ou em novas peças.
Criaram-se protótipos em couro de cada elemento pesquisado, como os apresentados a seguir:
 cartucheira do cangaceiro;

Figura 6: Detalhe vestimenta Lampião (Fonte: http://www.joaquimdepaula.com.br/2009/07/frase-do-dia-94, 2009).

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Figura 7 – Protótipo em couro de Tilápia (Fonte: Monteiro, 2009).

 Flor de mandacaru;

Figura 8 – Flor de Mandacaru (Fonte: Monteiro, 2009).

Figura 9 – Protótipo em couro de Tilápia (Fonte: Monteiro, 2009).

 Detalhe da fachada do Museu do Sertão (Antiga Estação Ferroviária).

Figura 10 – Detalhe fachada Museu do Sertão (Fonte: Monteiro, 2009).

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Figura 11 – Protótipo em couro de Tilápia (Fonte: Monteiro, 2009).

Com o desenvolvimento do trabalho, observou-se que tínhamos três vertentes bem definidas
que poderíamos transformar em três linhas distintas que comporiam a coleção, tornando-a
mais atrativa e marcante. Nasce então a Coleção Cangaço que se divide em três linhas: Linha
Cartucheira, Linha Flores da Caatinga e Linha Arquitetura.
O trabalho prosseguiu agora com um novo incentivo, que vai do aproveitamento e
desenvolvimento de peças existentes focando na adequação dos produtos as linhas
estabelecidas, à criação de novas peças que se encaixem em todo conceito trabalhado até
então.
O que se procurou até agora foi o foco de novas criações para evolução do nosso trabalho,
detectado esse foco partiu-se para novas ideias que comporiam a coleção. Após o recorte em
cada ponto levantado, começou-se a reproduzir novos estudos em couro. A partir de então, a
proposta evoluiu e adequou-se as transformações desse material em produtos com design
interessante, fruto de um trabalho em conjunto do profissional de design com os artesãos.
Procurando recuperar certos valores humanísticos tentamos, contudo, fornecer alguns elementos para
que se enfrente melhor uma época como a nossa, em que dos sistemas e dos processos dirigidos de
massificação só vemos resultar um condicionamento muito grande para os indivíduos, um aviltamento
e um esmagamento do seu real potencial criador. (OSTROWER, 1999, p.7).
Viu-se que a questão do design, se tratada como processo, pode render produtos artesanais
com conceito e identidade cultural obedecendo a princípios sustentáveis. Constatou-se que
intervenção vai além da elaboração de peças novas, demonstrou-se que cada artesão é capaz
de criar dentro dos novos conceitos da metodologia projetual, onde o produto deve ter
ressonância junto aos consumidores antes de serem produzidos, como argumenta Burdek
(2006), assim como a produção deve envolver satisfação de realizá-lo bem, uma vez que o
término de um projeto ou a conquista de um objetivo, a cooperação com os demais e o
reconhecimento, além do crescimento pessoal, fazem parte do prazer que deveria acompanhar
o trabalho, como colocado por Ishikawa (1997).
A consequência da criação de peças diferenciadas veio em seguida com o volume de vendas
efetuadas nas feiras que o grupo participa em todo o Brasil, ampliando dessa forma sua
autoestima e perspectiva de crescimento não só em vendas mais em qualidade e acabamento.
Ao final realizou-se nova entrevista semiestruturada com o objetivo de avaliar o posicionamento
dos integrantes da associação frente ao trabalho realizado, bem como colher sugestões para
futuros trabalhos, pois o objetivo é contribuir para que os artesãos de Estação Cangaço
consigam conquistar novos mercados através da gestão de produtos inovadores, de boa
qualidade, preços justos, entregues dentro do prazo e sem desperdício.
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5 Análise final

Diante o exposto enfatiza-se que o processo de criação pode ser estimulado e desenvolvido
através de técnicas que identifiquem elementos regionais que possam ser usados como fonte
de inspiração ou até mesmo como modelo de peças novas e diferenciadas, onde esses valores
são ressaltados e abraçados pela população com forma de resgate da cultura local.
O resultado da entrevista final traz depoimentos que confirmam a análise satisfatória do
trabalho realizado junto com os artesãos. Todas as respostas foram favoráveis sobre a
contribuição de mudanças estimuladas pela intervenção, proporcionando novos horizontes,
novos modelos, melhor acabamento, maior visibilidade das peças, passaram a valorizar mais a
história da cidade, junto com suas características e suas tradições.
‘Foi um período de grandes oportunidades, para o nosso conhecimento, quanto ao trabalho
com temas da nossa região, qualidade dos produtos e agregar valores e diversidades’.
‘Foi ótimo pois pudemos desenvolver novos trabalhos...fazer novos produtos com
características pois temos bastante em nossa região como arquitetura e outros’.
‘Acho que demos um grande salto para o futuro’.
(contribuiu)’para o nosso crescimento, tanto econômico como no pessoal. No econômico nos
ajudou a levar para os clientes novidades em peças... fazendo com que fosse mais valorizado o
artesanato em nossa cidade e em nossas vidas. E no pessoal fazendo com que cada uma não
só explorasse suas ideias mas que pudesse coloca-las em prática. Valorizando em si cada
ideia surgida’.

Referências

BÜRDEK, Bernhard E.( , 2006) História, Teoria e prática do design de produtos. São Paulo:
Edgard Blücher.
CASTEIÃO, André Luiz e MARTINS, Rosane Fonseca de Freitas. (2004) “Aspectos sociais e
econômicos da gestão de design como contribuição à competitividade de pequenas empresas
do setor moveleiro” In: Metodologia do projeto. Faap.br/ped. sessões técnicas.
DRUCKER, Peter. (2000). Portal exame edição 710, São Paulo
GIROTO, Luiz Fernando. (2004). “Contribuições históricas na difusão da Ciência e Tecnologia
de projeto do produto” In: Metodologia do projeto. Faap.br/ped. sessões técnicas.
ISHIKAWA, K. (1997). Controle de qualidade total. Rio de Janeiro: Campus.
MOTTA, H. C. (1970) Enciclopédia dos municípios alagoanos. Fundação do Estado de
Alagoas.
OSTROWER, Fayga. (1999). Criatividade e processos de criação. 14ª ed. Petrópolis: Vozes.
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2000). Atlas do
desenvolvimento humano no Brasil.
www.ceci-br/piranhasWeb1/tombamento/conjunto Acesso 15 mar.2010
www.planejamento.al.gov.br/sala-de-imprensa/julho-2008/alagoas-e-destaque-no-
aproveitamento-do-couro-da-tilapia Acesso em 15 mar.2010
www.ebdailheus.wordpress.com Acesso em 16 mar.2010
www.joaquimdepaula.com.br/2009/07/frase-do-dia-94/ Acesso em 16 mar.2010
www.joaquimdepaula.com.br/2009/07/frase-do-dia-94/ Aceso em 16mar. 2010
www.flickr.com.br/photos/lucasbra/3187731966/ Acesso em 17 mar.2010

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A Colaboração na Manutenção do Design de Serviço: uma
contribuição para o Slow Shopping (Collaboration in the
Maintenance of the Service Design: a contribution to the
Slow Shopping)

DAROS, Carolina; Mestranda; Universidade Federal do Paraná


carolinadaros@gmail.com

ROSA, Ivana Marques da; Mestranda; Universidade Federal do Paraná


ivanamarquess@gmail.com

HEEMANN, Adriano; Ph.D; Universidade Federal do Paraná


adriano.heemann@gmail.com

SANTOS, Aguinaldo; Ph.D; Universidade Federal do Paraná


asantos@ufpr.br

palavras chave: Novos estilos de vida; Sustentabilidade; Design de serviço; Design em colaboração.

Este artigo resgata conceitos fundamentais e premissas do design em colaboração presentes na literatura
atualizada e os orienta a uma nova estratégia de consumo de roupas: o Slow Shopping. Nesse caso, o
usuário final participa do processo como co-produtor. O estudo engloba uma pesquisa bibliográfica sobre
aspectos do design em colaboração que podem ser aplicados a este tipo de serviço. Identifica e relaciona
as atividades do usuário no âmbito do trabalho colaborativo, além de apontar possíveis caminhos de
solução para envolver e manter o usuário nesse processo. Por fim, apresenta as conclusões desse estudo
e sugere aprofundamentos específicos para futuras pesquisas sobre a colaboração em Design de
Serviço.

Keywords: New lifestyles, Sustainability, Service design, Design collaboration.

This paper presents basic concepts and premises of the design collaboration in the literature to date and
guides them to a new consumer strategy of clothes: SlowShopping. In this case, the final user participates
in the process as co-producer. The study includes a literature review on aspects of collaborative design
can be applied to this type of service in addition to identifying and lists the user's activities within the
collaborative work. Suggests possible ways of solution to engage and keep the user in this process.
Finally, presents the findings of the study and suggests specific insights forfuture research on collaborative
service design.

1. Introdução

Os impactos ambientais, bem como as consequências, são amplamente divulgados e


demonstram a importância de mudanças efetivas relacionadas ao estilo de vida para que as
próximas gerações não tenham suas necessidades comprometidas. Portanto, novos cenários
sustentáveis que visem manutenção e/ou preservação do meio ambiente, que sejam
socialmente justos e economicamente viáveis, devem ser planejados.

Cenários que correspondam à estilos de vida sustentáveis exigem mudanças significativas dos
hábitos de consumo quando comparados com os praticados atualmente. As possíveis
soluções para esse nível atuam em abordagens mais estratégicas do que as usuais e, são
mais voltadas à inovações, principalmente no que se refere a serviços.

Para tanto, o designer pode auxiliar neste processo atuando, principalmente, no projeto de
serviço ou na experiência do cliente com produtos e serviços. Para MORITZ (2005, p. 33), este
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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novo campo de estudo atua no desenvolvimento de processos, sistemas, estratégias e
filosofias, abordando diferentes níveis de complexidade: (1) Design de soluções tangíveis
(produto, serviço e espaço); (2) Design de experiências; (3) Design de processos e sistemas;
(4) Design de estratégia, filosofia, política e ideologia.

O design de serviço é um processo baseado no profundo entendimento das pessoas, contexto,


prestador de serviço, estratégias de marketing, e práticas sociais, resultando em um sistema
desafiador direcionado ao entendimento da experiência do consumidor (EVERSON, 2008, p.
26).

Nesse contexto, o designer pode desempenhar um papel importante neste processo, já que a
questão da melhoria da qualidade do mundo estão intrinsicamente relacionadas com o conceito
de design (MANZINI, 2008).

2. Método

O presente artigo relata um levantamento bibliográfico acerca dos conceitos de slow shopping,
design em colaboração e sustentabilidade. O procedimento metodológico utilizado na análise
do levantamento bibliográfico foi a triangulação. Esta visa verificar as diferentes perspectivas
no que se refere aos temas correlatos para posterior discussão que resulta na constituição de
provas eficientes de validação, em que há combinação e cruzamento de múltiplos pontos de
vista (MINAYO, 1994) (Figura 1).

Figura 1. Método de triangulação


Fonte: Adaptado de Minayo (1994)

3. Slow Shopping e Colaboração

Slow Shopping é um conceito de consumo proposto por Saba dos Reis (2010). De acordo com
a autora, possibilita o consumo de roupas mais consciente e sustentável, que pode ser
aplicado em lojas de roupa de varejo. Tem como característica principal a participação do
usuário final na cadeia de produção, tornando-o co-produtor.
O termo utilizado foi inspirado no movimento Slow que, segundo a autora, repensa os valores
das ações cotidianas com relação intrinseca com a qualidade de vida. Esse conceito de
consumo emerge das necessidade de alternativas e soluções para estilos de vida
contemporâneos que promovam mudanças de hábito de forma natural e gradativa, mantendo o
conforto e o bem-estar (MANZINI, 2006).

A sustentabilidade, no presente artigo, é abordada sob a ótica do design, atendendo às


dimensões em seu maior nível de interferência, ou seja, de novos cenários correspondentes ao
estilo de vida (Figura 2).

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Figura 2. Níveis de sustentabilidade
Fonte: Adaptado de Manzini e Vezzoli (2008, p. 20) e Santos (2009).

Uma loja slow viabiliza a redução do uso de recursos naturais, a reutilização de materiais de
peças antigas para a criação de novas, a conscientização de consumidores, a redução de
custos com materiais, além da promoção da responsabilidade sócio-ecológica e da valorizacão
da qualidade. Outro aspecto a ser considerado nesse conceito de consumo é a atração dos
clientes pela possibilidade de economizar através de cupons de desconto, além da experiência
diferenciada e única.
A proposta de uma loja com serviços diferenciados e com o envolvimento do usuário no
processo de co-design contribui para a efetivação de estilos de vida mais sustentáveis.
Entende-se, portanto, que é essencial a colaboração do consumidor nesse processo.

Contudo, devido a possíveis desentendimentos sobre o significado da colaboração, é


necessário o estabelecimento prévio de sua definição. No presente estudo, entende-se por
colaboração um estado de entendimento compartilhado, sobre um determinado trabalho. (LIMA
e HEEMANN, 2009). Por se tratar de um estado, a colaboração pode ainda ser estabelecida,
mantida e dissolvida. Embora seja difícil estabelecer diferenças claras entre esses estágios
existem, contudo, diferentes técnicas que podem otimizar as diferentes fases do trabalho em
grupo. Dessa forma, é possível explorar “a colaboração no seu sentido mais amplo, que
engloba planejamento, definição de metas e a própria ação colaborativa.” (LIMA e HEEMANN,
2009)

De acordo com esses autores, uma vez definida a equipe de trabalho, a primeira etapa é o
estabelecimento da colaboração. Para que isso ocorra é necessário interesse, integração,
confiança mútua e comprometimento, considerando as peculiaridades e as necessidades do
grupo. O segundo estágio, é a manutenção da colaboração que compreende a utilização de
técnicas de motivação, comunicação, coordenação entre os membros. Deve-se atentar para
que todos sintam-se motivados, tanto com o trabalho quanto com a própria equipe; deve-se
estimular o grupo constantemente. A último estágio da colaboração corresponde a sua
dissolução, ponto normalmente menosprezado pelos grupos de trabalho. O que se espera
desse estágio é que os participantes tenham a capacidade de trabalhar individualmente, mas
com possibilidade de um reestabelecimento facilitado da colaboração em uma ocasião futura.
Os estímulos aqui concernem a independência, confiança e compartilhamento acessível. O
primeiro refere-se a autonomia dos integrantes após a dissolução da colaboração. A confiança
entre as partes é essencial para que se mantenha um vínculo positivo entre os integrantes. O
reestabelecimento da colaboração pode ser facilitado se as vias de compartilhamento se
mantiverem acessíveis entre os antigos integrantes do grupo de trabalho.

3. Resultados

No presente item é demonstrado o mapa do sistema de uma loja Slow Shopping, bem como as
relações entre seus stakeholders (formados pelo proprietário da loja, seus vendedores,
consumidores, funcionários etc.), conforme Figura 3.

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Figura 3: Serviços Slow e as relações entre os stakeholders em seus diferentes níveis
Fonte: Adaptado de Saba dos Reis (2010)

De acordo com Saba dos Reis (2010), a loja Slow oferece serviços de venda de roupas
usadas, reutilização de peças, customização e doação de roupas para instituições de caridade.
Pode-se considerar como benefício gerado por este sistema a oferta de produtos com menor
impacto sócio-ambiental.

Os usuários podem participar deste modelo de loja Slow através da venda de peças usadas, ou
seja, o consumidor vende suas roupas usadas para a loja e, com isso, pode receber cupons de
desconto para uma nova compra, com menor preço. Outra modalidade, é a customização ou
reforma de uma peça antiga no ambiente da loja. Nesse caso, o consumidor paga pela mão-de-
obra e pelo material utilizado. Esse serviço é ofertado no ambiente da loja, onde haverão
profissionais disponíveis para executar as modificações requeridas pelo consumidor.
Entretanto, o próprio consumidor pode realizar o serviço de reforma ou customização no
ambiente da loja, deixando de pagar pela mão-de-obra.

Saba dos Reis (2010) observa que a loja Slow deve proporcionar “conhecimento” aos usuários,
visando a conscientização, envolvimento e aprendizado para estilos de vida mais sustentáveis.
Nesse sentido, além dos desafios já mencionados, faz-se necessária também a integração de
todos os stakeholders em torno de um discurso a favor da ideia de sustentabilidade e das suas
práticas.

A Tabela 1 correlaciona as premissas de colaboração apresentadas por Lima e Heemann


(2009), como possíveis soluções aos desafios da loja Slow identificados por Saba dos Reis
(2010).

Desafios da loja Slow Soluções de colaboração - designers Soluções de colaboração -


usuário

Planejamento da loja - verificar a aceitação junto ao público-alvo - participação através da


através de redes sociais, pesquisa, observação, sugestão de serviços e
entrevistas; melhorias da loja e sua gestão.
- projetar serviços;
- estabelecer linguagem atrativa.

Planejamento da - displays, material digital (site, blogs, redes - interação com o processo
comunicação, pontos de sociais) e impresso que abordem temas voltados (aprendizado);
contato, interação e a produção de tecidos, fabricação das roupas, - mudança de hábito de
experiência meio-ambiente, etc; consumo;
- estabelecer uma linguagem visual e de - participação ativa no sistema.
comunicação atrativa;
- conscientização do consumidor: origem e o
destino do produto, a compreensão do ciclo de
vida;

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- promover o sentimento de dever cumprido e de
colaboração.

Envolvimento dos clientes - identificar o papel do usuário (comprador, - usuário que vende, apenas
vendedor ou ambos); comercializa seu produto na
- planejar estratégias que atendam as loja;
expectativas dos diferentes usuários: cupons de - usuário que compra, apenas
desconto ou programa de pontos. consome os produtos
oferecidos;
- usuário que compra e vende,
atua amplamente no conceito
Slow Shopping.

Serviço de compra e venda - promover um sistema de compra-venda de - usuário recebe cupons;


roupas usadas; - compra roupas “novas” ou
- oferecer produtos provenientes de companhias redesenhadas;
social e ecologicamente responsáveis; - divulgação.
- oferecer outras modalidades de serviço como
aluguel, empréstimo, consignação, etc.

Serviço de re-design, - oferencer lugar e profissionais para atender - participar do processo: co-
customização e reforma outros serviços, como costureiras, estilistas, criação;
designers de moda; - possibilidade do usuário
- utilizar peças para re-design; realizar suas próprias
- agregar valor nas peças usadas. modificações.

Serviço de consultoria - oferecer consultoria de imagem e estilo; - comprar o serviço de


- oferecer oficinas e/ou cursos. consultoria;
- participar das oficinas e
cursos.

Serviço de doação - doa roupas a instituições de caridade; - entregar as roupas na loja;


- planejar evento de doaçào, onde os usuários - participar da entrega de
participem da entrega das roupas e ganhem roupas em instituições de
benefícios na loja. caridade.

Discurso engajado - propor treinamento da equipe (vendedores, - os usuários podem divulgar


consultores, e outros atores atuantes na loja); este novo conceito para outros
- verificar o perfil dos vendedores, antes da stakeholders (boca-boca).
contratação.

Relacionamento com cliente - promover benefícios aos usuários cadastrados; - permitir a coleta de
- pós-venda; informações sobre o seu perfil,
- fidelização; preferências e expectativas.
- banco de dados com informações dos clientes.

Lucro - percentual da venda de roupas; - comprar e vender roupas


- mão-de-obra das reformas; usadas.
- consultorias.
Tabela 1: Desafios da loja Slow e possíveis soluções por meio da colaboração
Fonte: Os autores

Como descrito anteriormente, este modelo de loja propõe um novo conceito, onde se faz
necessário um processo de educação, conscientização e conquista constante de novos
adeptos a este estilo de vida. Considerando que o diferencial é a participação do usuário no
sistema, vendendo, comprando e doando roupas usadas, além de co-criar ou até mesmo
redesenhar as próprias roupas; a tabela acima descreve ações que poderiam auxiliar no
estabelecimento, manutentação e dissolução da colaboração entre o usuário, a loja e vice-
versa.

Para a loja slow, é importante compreender que, possivelmente se terá duas equipes
trabalhando colaborativamente e trocando informações entre si, sendo uma equipe de
funcionários da loja e a outra de usuários.

Portanto, para implementar a premissa de estabelecimento que visa formar uma equipe onde
os princípios de interesse e comprometimento são fundamentais, se faz necessário a aplicação
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de ações que promovam à conscientização da importância da mudança do hábito de consumo,
para que as pessoas participem da loja.

Na premissa de manutenção, aplicam-se ações e técnicas de motivação e comunicação. Neste


sentido espera-se que o usuário sinta-se envolvido e participe do sistema. O primeiro passo a
ser definido pela loja é o posicionamento, a linguagem visual e a comunicação diante do
público. Este tipo de loja tem o objetivo de abordar um público antenado às questões sócio-
ambientais, mas que apresente, também, interesse por tendências que movimentam a moda e
a opinião pública. Por isso, é fundamental o planejamento constante de ações diferenciadas,
que gerem benefícios econômicos ao consumidor e, o façam sentir satisfeitos em relação a
qualidade do serviço prestado e dos produtos comercializados.

Com base nas informações na Tabela 1, a loja slow terá acesso a dados pessoais (nome,
endereço, e-mail, preferências, relação de compras efetuadas, etc) que podem auxiliar na
premissa dissolução.

Como pode ser observado, as premissas de estabelecimento, manutenção e dissolução estão


interligadas, não havendo limite entre uma e outra. Elas acontecem, muita vezes,
simultaneamente como, por exemplo, para haver o estabelicimento da colaboração é
imprescindível que as ações voltadas à comunicação e motivação sejam realizadas ao mesmo
tempo.

Também, é importante ressaltar, que não há relação entre este tipo de comércio e os modelos
conhecidos como brechós ou loja de aluguel de roupas. O modelo slow, tem como principal
objetivo a mudança de comportamento do prestador de serviço e do usuário, e assim, atender
a critérios ambientais como redução de recursos utilizados, aumento da eficácia do uso e
extenção do ciclo de vida do produto.

4. Discussão

No modelo convencional de comercialização de vestuário, os consumidores são estimulados a


comprar, por uma gama crescente de motivos. Entre eles, destacam-se todas as formas de
compra facilitada. Cabe considerar ainda que, neste modelo, os fabricantes, comerciantes e
consumidores procuram se manter desvinculados da origem e do destino futuro do produto.

Ora, o Slow Shopping emerge justamente com o objetivo de “modificar a dinâmica atual do
consumo, promovendo conscientização do usuário e resgatando o ritmo que é necessário para
se entender o produto e sua necessidade” (SABA DOS REIS, 2010). Trata-se de um sistema
de serviços que buscam incentivar a troca de roupas, a revenda ou a troca de peças usadas,
ou ainda, serviços de reparo que aumentam o ciclo de vida dessas peças.

No entanto, esta nova proposta parece exigir uma mudança significativa do hábito de consumo
quando comparada com a proposta em voga no setor de vestuário. No presente artigo
argumenta-se que, nesse sentido, é fundamental a colaboração do consumidor. A colaboração
aqui não é apresentada como auxílio, mas como estado em que o consumidor exerce papel
ativo e importante. Ele deverá não apenas usufruir dos dos serviços slow, mas também
promover redes sociais, divulgar o conceito (boca-boca, blogs, site, etc) e sobretudo sugerir
aprimoramento. A empresa, por outro lado, deve oferecer motivos para que o usuário
permaneça motivado e envolvido, estabelecendo uma relação sólida de confiança,
credibilidade e inovação.

5. Conclusão

O presente artigo apresentou a colaboração como um meio de auxílio para o chamado Slow
Shopping, um conceito comercial que abre possibilidades de serviços no setor de vestuário.
Resgatou premissas do trabalho colaborativo que podem embasar a elaboração e o
planejamento dos serviços slow e fazer com que o usuário participe ativamente em todo o

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sistema, mantendo os serviços oferecidos, auxiliando na identificação de melhorias dos
mesmos, da gestão e sugerindo novos serviços.

Nesse sentido, é possível argumentar que o Slow Shopping necessitaria de dois grupos
permanentes. Um formado por profissionais diretamente ligados aos serviços oferecidos pela
loja. O outro grupo seria formado pelos usuários. Ambos os grupos permaneceriam
colaborando entre si. Os serviços slow ofereceriam, assim, uma experiência não apenas no
que se refere ao vestuário, mas também de aprendizagem e engajamento dos stakeholders.

Sugere-se que pesquisas sobre o assunto contemplem o design em colaboração como


ferramenta para a projetação do design de serviço e para a manutenção do mesmo quando
voltado a novos estilos de vida sustentáveis.

Referências

EVERSON, S. A Designer’s View of SSME. In: HEFLEY, B.; MURPHY, W.(Ed.).


Service Science, Management and Engineering Education for the 21st Century.
New York: Springer, 2008. 376 p. Disponível em:
<http://www.springer.com/business+%26+management/book/978-0-387-76577-8>.
Acesso em: 14 jun. 2011.

LIMA, Patrícia Jorge Vieira. HEEMANN, Adriano. Premissas para o Alcance do


Trabalho Colaborativo em Design. 5 Congresso internacional de pesquisa em
design.Bauru:2009.

MANZINI, Ezio. Design para a inovação social e sutentabilidade: comunidades


criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-
paper, 2008.

MINAYO, M. C. S. et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:


Vozes, 1994.

MORITZ, S. Service Design: Pratical Access to an evolving field. 245 p. (Masters


of Science thesis) - Faculty of Cultural Science, Köln International School of Design,
University of Applied Sciences Cologne, Cologne, 2005.

SABA DOS REIS, Maria Paula. Slow shopping: Criando experiências Significativas. 9º
Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design 2010.

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A colaboração no design de sistemas produto-serviço
(Collaboration in the design of product-service systems)

FONTANA, Isabela Mantovani; Universidade Federal do Paraná


isabelafontana@gmail.com

HEEMANN, Adriano; Dr.; Universidade Federal do Paraná


adriano.heemann@gmail.com

GOMES FERREIRA, Marcelo Gitirana; Dr.; Universidade Estadual de Santa Catarina


marcelo.gitirana@gmail.com

Palavras chave: design; sistema produto-serviço; sustentabilidade; colaboração.

O presente artigo aborda o desenvolvimento de sistemas produto-serviço sob a ótica do design


colaborativo. A motivação por este estudo deve-se a carência de publicações esclarecedoras sobre esses
dois assuntos em conjunto. Desta problemática emerge o questionamento sobre a sua exequibilidade e
sustentabilidade. Com base em uma pesquisa bibliográfica sobre cada assunto isoladamente, foram
obtidos e discutidos resultados teóricos. Finalmente, argumentou-se sobre o papel da colaboração para
um design de sistema produto-serviço.

Keywords: design; product-service system; sustainability; collaboration.

This paper discusses the development of product-service systems from the perspective of collaborative
design. This study was motivated by the lack of enlightening publications on these two issues together.
From this problem arises questions about the practicability and sustainability. Based on a literature search
on each subject separately, were obtained and discussed theoretical results. Finally, it was argued the role
of collaboration in the design of a product-service system.

1 Introdução

Nas últimas décadas, a área do Design vem recebendo críticas crescentes por ter
supostamente se tornado uma promotora de modos de vida não sustentáveis. Em uma fase
marcada pela superprodução, escassez de matérias-primas, desemprego crescente entre
outros aspectos, a tarefa do designer industrial sofre pressão por mudanças.

É nesse contexto que a competência principal do designer, até então vista como a de
conceber bons produtos ou serviços, sofre questionamentos. Pesquisadores vêm buscando
novas e viáveis maneiras para melhorar a contribuição do campo do Design diante dos
desafios de sustentação da sociedade contemporânea, “orientando esforços para sensibilizar,
construir capacidades e implantar procedimentos práticos que contribuam para o
desenvolvimento de economias sustentáveis por meio de ações, ferramentas e estratégias
voltadas às mudanças profundas nos estilos de vida atuais” (SILVA e SANTOS, 2009b).
A procura da ampliação além do foco restrito do produto ou do serviço, o presente artigo
resgata um conceito mais amplo: o de Sistema Produto-Serviço (PSS). De acordo com a lógica
do PSS, o enfoque é dado ao sistema composto do produto ao respectivo conjunto de serviços.
Nessa nova abordagem há, portanto, “a necessidade do desenvolvimento contínuo de novas
pesquisas, pois agora, apresenta-se uma nova categoria de projeto, a qual une as questões
econômicas, ambientais, culturais e sócio-éticas, abrangendo um pensamento global e
sistêmico que permeia a concepção do projeto como um todo” (SILVA e SANTOS, 2009b).

Contudo, para que um PSS seja concebido, é necessário, entre outras coisas, “a análise do
potencial tecnológico, a investigação do comportamento e atitudes dos usuários, a

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interpretação dos modelos sociais emergentes e a tradução destes modelos para que
direcionem as aplicações futuras desse novo modo de projetar” (SILVA e SANTOS, 2009b).
Portanto, as competências do designer tradicional precisam aqui ser ampliadas.
Entretanto, essas são tarefas difíceis de serem executadas por uma pessoa
individualmente. Trata-se de um desafio que transcende a capacidade de aprendizado e
exercício individual do designer. Assim, se há o impulso para uma efetivação do PSS no campo
do Design, emerge daí a necessidade de o designer dialogar com outros profissionais e com o
futuro usuário do sistema.
Mas seria a colaboração uma maneira de o Design tratar do PSS? A partir desse
questionamento, o presente artigo apresenta um estudo teórico e, sobretudo preliminar, sobre
a nova abordagem de PSS no campo do Design. Nesse sentido, o texto esclarece o método do
referido estudo, os resultados e sua discussão. Finalmente, é sugerida uma resposta ao
questionamento inicial visando, sobretudo, contribuir para a continuidade dessa reflexão e o
desenvolvimento do campo do Design.

2 Método

O presente artigo foi elaborado com base em uma pesquisa bibliográfica, teórica e preliminar
sobre os temas colaboração, PSS e Design. Em um primeiro momento, constatou-se a
escassez de pesquisas nacionais e internacionais que contemplem os três assuntos
conjuntamente. Por esse motivo, foi feita uma nova pesquisa com o uso dos termos de busca
isoladamente, o que possibilitou a coleta de informações sobre cada assunto, mas que
pudessem contribuir para uma reflexão integrada.
Dentre os trabalhos consultados, foram selecionados como foco dessa pesquisa
bibliográfica Tukker (2004), Baines et al. (2007), Heemann et al. (2008), Manzini e Vezzoli
(2008), Piirainen et al. (2009), Silva e Santos (2009a) e (2009b).

3 Resultados

Os resultados da pesquisa bibliográfica são apresentados no presente tópico em duas partes.


A primeira parte oferece uma visão geral do conceito de PSS e uma possível categorização
básica. A segunda parte ocupa-se com o fenômeno da colaboração no design.

3.1. O conceito de sistemas produto-serviço (PSS)


Já sob uma perspectiva inicial, é possível relacionar o conceito de PSS com as perspectivas de
um Design voltado para os requisitos de sustentabilidade. Segundo Silva e Santos (2009b) a
principal característica do PSS está na mudança do enfoque do produto para o de um conjunto
de serviços, com vistas a suprir de modo sustentável a necessidade ou os desejos das
pessoas.
Trata-se, portanto, de um sistema de inovação que transfere a ênfase da aquisição de
produtos para a sua utilização. Isso se dá de modo articulado em um sistema que, segundo
Baines et al. (2007), pode fornecer melhores funcionalidades e consequentemente a satisfação
do usuário.
De modo geral, um PSS possibilita que a propriedade do produto permaneça com o
produtor, abrindo um novo campo para otimizações na utilização e no projeto além de uma
percepção mais apurada sobre o seu desempenho (SILVA e SANTOS, 2009b). Para melhor
entendimento sobre o conceito de PSS, apresenta-se uma classificação básica dos seus tipos
(Quadro 1).

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Quadro 1 - Categorias de PSS
Fonte: adaptado de Baines et al.(2007) e Tukker (2004).
PSS orientado ao produto PSS orientado ao uso PSS orientado ao resultado
Venda do produto, tendo incluso Comercializa-se a utilização ou a Fornece um resultado ou uma
serviços adicionais durante a acessibilidade de um produto competência em vez de um
fase de uso do produto, tais que não é propriedade do produto. O fornecedor é
como pós-venda para garantir a cliente. Neste caso o fornecedor proprietário e oferece um serviço
funcionalidade e durabilidade do ou produtor freqüentemente é personalizado ou um mix de
produto (manutenção, motivado a criar um PSS para serviços. O cliente paga pela
reparação, reutilização, maximizar a utilização para aquisição dos resultados
reciclagem, consultoria e atender à demanda e também fornecidos
treinamento). A empresa é para estender a vida do produto
motivada a introduzir um PSS e dos materiais utilizados para
para minimizar os custos de produzir ou fornecer o serviço,
utilização, tendo em vista uma porém o cliente tem acesso
longa duração, o bom- individual e ilimitado durante o
funcionamento do produto e a uso
melhoria no design.

Para facilitar o entendimento sobre as categorias de PSS, segue abaixo um exemplo para
cada uma (Quadro2):
Quadro 2 - Exemplos de PSS
Fonte: adaptado de UNEP (2004), CARSHARING (2010) e ECOCONCEPT (2010)
Exemplo de PSS orientado ao produto
A empresa Allegrini produz detergentes e cosméticos biodegradáveis, livres de fósforo e produzidos a
partir de vegetais. Utiliza embalagens recicláveis, reduzindo o custo e os impactos ambientais. Ela
desenvolveu a Casa Quick, uma loja-móvel que entrega detergentes e cosméticos na casa do cliente.
Assim, personaliza o atendimento e reduz os custos, já que o consumidor recebe em casa somente o
produto líquido, pois as embalagens são recuperadas pela empresa. A Casa Quick recolhe, recicla e
fabrica novas embalagens.
Exemplo de PSS orientado ao uso
O Carsharing é um sistema de mobilidade urbana que permite o uso compartilhado de um automóvel por
várias pessoas. O cliente só usa o automóvel de acordo com sua necessidade, sem precisar comprá-lo
ou mantê-lo. O usuário efetua o pagamento desse serviço de acordo com o tempo de utilização e da
quilometragem percorrida. A empresa fornece um cartão magnético para que o usuário destrave o
veículo escolhido em locais determinados, permitindo sua utilização.
Exemplo de PSS orientado ao resultado
O Rent-o-box consiste em uma unidade móvel para trabalho remoto, completa e auto-suficiente e que
pode ser posicionada em qualquer lugar. A reserva do escritório é feita via Internet ou telefone. Oferece
infra-estrutura de alta tecnologia que potencializa os resultados de indivíduos ou grupos de profissionais
O escritório possui painéis solares, captação de água pluvial e células de combustível, que satisfazem as
necessidades de seus usuários com impacto ambiental reduzido.

Ao se analisar as categorias básicas de PSS, fica evidente o que Manzini e Vezolli (2008)
consideram ser, referindo-se à sociologia contemporânea, o “projeto feito por todos”. Portanto,
é na sociedade participativa que o designer torna-se uma parte de um complexo sistema de
concepção (SILVA & SANTOS, 2009a).

3.2. A colaboração no design de PSS


Como mencionado na introdução do presente artigo, parte-se da premissa que o tema PSS,
uma vez considerado no campo do Design, demanda a ampliação das habilidades do designer
para novos domínios.

A aceitação dessa premissa no projeto aponta para múltiplos critérios sobre todo o ciclo de
vida de um sistema, o que, por sua vez, impulsiona a atividade projetual para uma
interdisciplinaridade ainda mais profunda (MANZINI e VEZZOLI, 2008). É no contexto
interdisciplinar que um empreendimento de Design ganha em complexidade e,
consequentemente, torna-se uma tarefa essencialmente multi-ator (PIIRAINEN et al., 2009).

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Ainda de acordo com Piirainen et al. (2009) muitas vezes não é viável nem desejável para
um profissional dominar todo o conhecimento necessário para o desenvolvimento de um
sistema complexo. A colaboração no Design, portanto, pode ser motivada tanto pelos limites da
competência quanto pelo controle e segurança do processo. Nesse sentido, segundo Heemann
et al. (2008), a perspectiva colaborativa pode ser definida pelos três níveis de trabalho humano,
amplamente considerados em estudos sobre Gestão: no nível estratégico, no nível tático e no
nível operacional.

Da integração desses conceitos emerge o entendimento sobre o papel basilar da


colaboração em cada nível de trabalho durante o projeto de um PSS (Figura 1).

Figura 1 – A colaboração como fundamento de um PSS


Fonte: os autores

A colaboração organizada entre pessoas com diferentes competências enfoca, no nível


estratégico, a definição do problema e o respectivo objetivo do PSS. No nível tático de trabalho,
compartilha a identificação de metas necessárias para o alcance dos objetivos estabelecidos
no nível de trabalho anterior. Por fim, os partícipes da colaboração operacionalizam as tarefas
de projeto, mantendo a gestão dos trabalhos de cunho estratégico e tático. Portanto, “a
ocorrência do fenômeno da colaboração é percebida quando da reunião dos três níveis de
trabalho” (HEEMANN et al., 2008).

4 Discussão

Com esse estudo observa-se que tanto a pesquisa quanto a prática do PSS ainda se
encontram em fase de experimentação. O estudo aponta que a efetivação dessa abordagem é
pequena e sua ampliação requer mudanças estruturais na sociedade. Já, a consolidação do
campo do Design, encontra barreiras em sua própria concepção tradicional. Os estudos que
buscam soluções sustentáveis por meio do Design ainda parecem estar longe de atingir
consenso geral. O motivo provavelmente seja a amplitude global do tema aliada a sua
importância, que naturalmente geram dissensos.
Embora novos direcionamentos baseados em soluções sistêmicas sejam facilmente
incorporados pelo Design, este tipo de orientação não deixa de trazer novos desafios
metodológicos e conceituais. Contudo, é possível argumentar aqui o que o conceito de PSS
pode ser tratado como objeto do Design.
O estudo bibliográfico apontou ainda que o projeto de PSS parece exigir do designer um
tipo de abordagem compartilhada, visto que englobará a concepção não apenas de um objeto
mas sim de um sistema amplo e articulado. É nesse sentido que a capacidade de compartilhar

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o entendimento sobre a concepção, ou seja, de colaborar, é fundamental para designer
(HEEMANN et al., 2008).
Essa colaboração do designer com outros profissionais se ocupará de pelo menos três tipos
básicos de PSS, que podem ser subdivididos ainda nos níveis estratégico, tático e operacional
de trabalho (Figura 2).
Figura 2 – A colaboração e os níveis de trabalho durante um projeto de PSS
Fonte: os autores

Nível

Produto orientado Uso orientado ao Serviço orientado


ao serviço serviço para os resultados

Nível Tático

Nível

COLABORAÇÃO
PS

É desse processo de desenvolvimento compartilhado de sistemas que emerge um potencial


importante para a inserção de requisitos de sustentabilidade. Desse modo, deixa-se de tratar
de um recurso básico de produção para enfocar um sistema de conhecimento, pois, no PSS, a
atividade criativa e a produtiva buscam suprir toda a amplitude das necessidades.

5 Conclusão
O conceito de PSS demanda do campo do Design uma ampliação de competências. Esse
conjunto de novas competências é extenso e dificilmente poderá ser executada por apenas
uma pessoa. Emerge daí a necessidade de o designer interagir com outros profissionais em
busca de um entendimento compartilhado.
O presente artigo apresentou um estudo teórico e preliminar sobre o papel da colaboração
no design de PSS. Com base nesse estudo, sugere-se que a colaboração seja um caminho
para a abordagem de PSS no campo do Design. Contudo, o objetivo do estudo não foi o de
exauri-lo. Acredita-se que os resultados aqui alcançados constituem um compromisso lógico
entre os conceitos teóricos sobre esse tema que ainda se encontram publicados em trabalhos
distintos.
Nesse sentido, recomenda-se para trabalhos futuros, que os conceitos de colaboração,
Design e PSS sejam integrados em um estudo amplo e exaustivo de modo a preencher a
lacuna ainda existente em pesquisa a esse respeito, incluindo o mapeamento e a determinação
dos atores e disciplinas envolvidas, a análise das ferramentas relacionadas à Metodologia para
PSS (da sigla em inglês MEPSS – Metodology for Product Service Systems) junto aos níveis de
trabalho humano, entre outros.

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Referências

Baines, T. S., Lightfoot, H. W., Evans, S., Neely, A., Greenough, R. et al. (2007) State-of-the-art
in product-service systems. In: Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part
B: Journal of Engineering Manufacture. Volume 221, Number 10 / 2007. Professional
Engineering Publishing. London, UK.
CARSHARING. The car of the future will be shared. Disponível em:
<http://www.carsharing.net/>. Acesso em 12 de nov. 2010.
ECONCEPT. The sustainable office. Disponível em: <http://www.econcept.org> Acesso em: 20
set. 2010.
Heemann, A., Lima, P. J. V. & Corrêa, S. J. (2008). Compreendendo a Colaboração em Design
de Produto. Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto, Centro Federal de
Educação Tecnológica de Santa Catarina, Brasil.
Manzini, E. & Vezzoli,, C. (2008). O desenvolvimento de produtos sustentáveis: Os requisitos
ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp.
Piirainem, K., Kolfschoten, G. & Lukosch, S. (2009). Unraveling Challenges in Collaborative
Design: A Literature Study. 15th International Conference on Groupware: design,
implementation, and use. Disponível em
http://www.springerlink.com/content/a61mv6lm1w37gl32/.
Silva, J. S. G. & Santos, A. (2009a). Implicações dos conceitos da sustentabilidade no design:
uma revisão crítica. Revista Tecnologia e Sociedade, v. No. 8, p. 07.
Silva, J. S. G. & Santos, A. (2009b). O conceito de sistemas produto-serviço: um estudo
introdutório. III Encontro de Sustentabilidade em Projeto do Vale do Itajaí.
Tukker, A. (2004). Eight types of product service system: eight ways to sustainability?
Experiences from Suspronet. Published online in Wiley InterScience. 13, 246–260.
UNEP - United Nations Environment Programme. Product-Service Systems and Sustainability:
Opportunities for Sustainable Solutions. INDACO Department, Politecnico di Milano, Milão:
2004.

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EMBALAGEM PARA PRODUTOS ARTESANAIS - UMA
PESQUISA COM FOCO NA SUSTENTABILIDADE SOBRE A
PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR NO PONTO DE VENDA
(Packing for handricraft products – a research focused on
sustainability and the perception of the consumer at the
retailer)

ACIOLY, Angélica de S. G., Msc. Universidade Federal da Paraíba.


angelica@ccae.ufpb.br

QUIRINO, Louise B., Msc. Universidade Federal da Paraíba.


louise@ccae.ufpb.br

FREITAS, Victor H. F., Universidade Federal da Paraíba.


vhffff@gmail.com

OLIVEIRA, Anadelly R., Universidade Federal da Paraíba.


anadelly_rocha@hotmail.com

OLIVEIRA, Moema D., Universidade Federal da Paraíba.


moema_oliveira@yahoo.com.br
Palavras chave: embalagem, artesanato, sustentabilidade.

A embalagem de um produto artesanal, além dos atributos básicos, pode ressaltar os aspectos manuais e
culturais da peça. Percebendo esse importante aspecto, um grupo de mulheres artesãs de uma
comunidade em João Pessoa, participante do Projeto Tricotando e Gerando Renda, identificou uma
possibilidade de ampliar sua linha de produtos (kit de cozinha de algodão e bordado) através da produção
de embalagens artesanais com foco na sustentabilidade. Foi composta então, uma equipe de Design para
criação das embalagens e condução de uma pesquisa de mercado. Este artigo apresenta dados da
pesquisa sobre embalagens para produtos artesanais/regionais, cujo objetivo foi dar suporte à elaboração
de Embalagens sustentáveis. A pesquisa realizada com o público consumidor em diversos locais,
principalmente em centros/feiras de artesanato de João Pessoa e Região Metropolitana, apresenta: o
perfil do consumidor, motivações de compra dos produtos artesanais/regionais, importância e utilização da
embalagem e sua relação com a sustentabilidade. A partir dos dados da pesquisa e atividades da equipe
juntamente com o grupo de mulheres foram desenvolvidas duas linhas de embalagens artesanais, tendo
como matéria prima principal o jornal. Atualmente o Grupo de Artesãs de Mandacaru – Cactáceas da
Paraíba, comercializa parte da linha desenvolvida

Keywords: packaging, craftsmanship, sustainability.

The packaging of a handmade products, beyond the basic attributes, can bring out the handicraft and
cultural aspects of the piece. Because of this important aspect, a group of women artisans in a community
participating in the project “Tricotando e Gerando Renda”, in João Pessoa, identified an opportunity to
expand its line of products (kitchen sets made of cotton and embroidery) by producing handmade
packaging with a focus on sustainability. It was composed then, a design team to create the packaging and
to conduct a market research. This article presents the survey data on packaging for handicraft/regional
products, which goal was to support the preparation of sustainable packaging. The survey of the
consuming public, which took place in various locations, mostly in centers /craft fairs in Joao Pessoa and
Belo Horizonte, presents: the consumer profile, motivations to buy the crafts / regional, importance and
use of packaging and its relationship with sustainability. From the survey data and team activities with the
group of women were developed two lines of craft packaging, using as main raw material old newspapers.
Currently the Group of Artisans “Mandacaru – Cactáceas da Paraiba”, commercializes part of the
developed line.

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1 Introdução
Segundo Mestriner (2002) conhecer o consumidor não é uma tarefa fácil, e para tanto,
especialistas em comportamento do consumidor e empresas fabricantes, através de
departamentos próprios, têm se dedicado em “conhecer” o consumidor cada vez melhor, como
um pressuposto básico para a competitividade entre as empresas. Se os hábitos e desejos do
consumidor não forem reconhecidos, e conseqüentemente ignorados, como vender o seu
produto? Como planejar uma embalagem eficiente para um determinado produto?

Partindo desse princípio “conhecer o consumidor para melhor projetar um produto”, um grupo
de mulheres artesãs de uma comunidade em João Pessoa - as “Cactáceas da Paraíba”
participante do Projeto Tricotando e Gerando Renda, identificou uma possibilidade de ampliar
sua linha de produtos (kit de cozinha de algodão e bordado) através da produção de
embalagens artesanais com foco na sustentabilidade. O projeto foi coordenado pela ONG
Recife Voluntário e subsidiado pelo Instituto Wal-mart.

Duas premissas foram imprescindíveis na realização deste projeto: a sustentabilidade, ou seja,


a escolha de materiais e processos de produção visando a reutilização/reciclagem; e a outra,
conceitual, onde o design dos produtos seria baseado em elementos identificados a partir da
história de vida das mulheres do grupo.

Ao comercializar os produtos do kit de cozinha da linha “Mandacaru” onde era fornecida uma
embalagem confeccionada a partir de jornal, o grupo percebeu a importância que as pessoas
atribuíam a esse item, passando a querer comprar só a embalagem ou até mesmo adquirir um
produto para poder “levar” a embalagem. Assim, surgiu a demanda de desenvolver uma linha
de embalagens artesanais para o kit já produzidos pelo grupo.

Foi realizada então uma intervenção em design no projeto, a fim de desenvolver embalagens
artesanais com foco na geração de renda e desenvolvimento sustentável. O grupo da
intervenção foi formado por duas designers e três graduandos em Design, tendo como
atividades: a realização de uma pesquisa de mercado, e a partir dos resultados o projeto de
duas linhas de embalagens cuja matéria prima principal foi o jornal.

A pesquisa de mercado apresentada neste artigo teve como objetivos: fornecer dados para a
elaboração da linha dos novos produtos (embalagens) que seriam produzidos pelo grupo de
mulheres, bem como subsidiar a elaboração do plano de negócios.

2 Metodologia da Pesquisa
A pesquisa de mercado sobre embalagens aqui relatada foi conduzida no período de 2 meses.
A aplicação dos formulários ocorreu em diversos locais da cidade, principalmente em
centros/feiras de artesanato de João Pessoa e Região Metropolitana, para possíveis públicos
consumidores dos produtos do projeto – podendo atuar diretamente com dois tipos de clientes -
o cliente final e o intermediário (lojas). Neste artigo, são enfatizados os resultados referentes
ao consumidor final.
Para melhor conduzir a pesquisa e atingir os resultados esperados, várias reuniões foram
realizadas com a coordenação do Projeto a fim de discutir o andamento da pesquisa, além da
aplicação de alguns formulários como pré-teste para avaliar a eficácia da estrutura adotada.

2.1 Ambientes e sujeitos da Pesquisa


O produto principal investigado na pesquisa, devido à necessidade do projeto, foi a embalagem
(artesanal ou industrial) e sua relação com os produtos dos pontos de venda analisados. Como
o projeto previa a reciclagem/reutilização de materiais como proposta, foram inseridos também
na pesquisa aspectos sobre essa temática.

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O público consumidor final das embalagens, para definição do sujeito da pesquisa, foi
inicialmente identificado como consumidores de produtos artesanais e/ou regionais
confeccionados a partir de quaisquer tipos de materiais. Foram aplicados 270 formulários no
período da pesquisa, onde os respondentes foram perguntados sobre: sexo, faixa etária,
escolaridade, profissão, faixa de renda, loca da residência, regularidade e motivações na
aquisição de produtos de artesanato, artigos de preferência, intenção de compra e influência
das embalagens.
Para estabelecer um universo da pesquisa os pontos comerciais foram pesquisados pela lista
telefônica e nos principais mercados de artesanato e feirinhas de João Pessoa e Região
Metropolitana. Para a pesquisa então, foi estabelecido um universo de 189 pontos/lojas, sendo
a amostra da pesquisa composta por 104 pontos/lojas de artesanato e produtos regionais.

3 Referencial teórico

3.1 Embalagem e sustentabilidade


Um dos maiores questionamentos da atualidade esta em volta da temática que rodeia o destino
do planeta em relação às ações humanas e o impacto no meio ambiente.
Segundo Manzini (2008) o termo sustentabilidade ambiental refere-se às condições sistêmicas
a partir das quais as atividades humanas não perturbem os ciclos naturais além dos limites dos
ecossistemas e não empobreçam o capital natural para as próximas gerações. Entretanto
apesar da indagação acima ser pertinente, outras esferas, a econômica e a social, que tangem
a sustentabilidade devem ser citadas a fim de esclarecimento da real situação. Pois se é
observado que o funcionamento da sustentabilidade ambiental esta ligado de forma intima as
estas questões visto que não existe sustentabilidade ambiental se o saldo econômico para tal
atividade seja negativo interferindo diretamente o âmbito social.
Em relação ao Design de embalagens e suas perspectivas indeléveis, a sustentabilidade
ambiental entra em pauta a fim de controlar, sobretudo a grande quantidade dos resíduos
gerados pós-uso.
A produção das embalagens atrelada a questões ambientais tem sido bastante discutida. São
visíveis as mudanças em relação à reciclabilidade dos materiais, e da sua indicação nas
embalagens, além de outras ações como redução de itens/materiais, reutilização,
desenvolvimento de novas tecnologias dos materiais, dentre outros.
Pereira e Silva (p. 29, 2010) colocam que “questões como a inserção de parâmetros ecológicos
no projeto, facilidade de degradação dos materiais e o prolongamento do ciclo de vida das
embalagens vem sendo consideradas no design, visando projetos mais sustentáveis”.
Segundo a ABRE (2010) são características da embalagem sustentável:
 Contemplar proporção ideal de embalagem x produto, otimizando o seu peso
específico
 Proporcionar o melhor uso e distribuição do produto acondicionado, visando maximizar
o sucesso de seu uso e minimizar a geração de resíduo e desperdício
 Prever destinação final adequada, oferecendo o reaproveitamento de seu material
 Não ter efeitos indesejáveis no meio ambiente que possam reduzir a qualidade de vida
para gerações futuras

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3.2 A embalagem e o produto de artesanato
Segundo a Associação Brasileira de Embalagem - ABRE, um estudo efetuado pela CNI
(Confederação Nacional das Indústrias) apontou que, quando a embalagem é atraente, a
mesma representa o diferencial do produto, onde o consumidor se mostra interessado em
adquiri-lo até mesmo quando se trata de um produto desconhecido. (O3 DESIGN, 2010)
Podemos entender que a importância atribuída a uma embalagem atraente na hora da compra,
pode se aplicar perfeitamente também aos produtos artesanais.
Costuma-se “desprezar” o atributo atraente das embalagens quando se refere à compra de
artesanato, direcionando-se muitas vezes a embalagem apenas a função de proteção e
transporte do produto. Ou seja, apenas um dos propósitos apresentados por Etzel et al
(2001), quais sejam: proteger o produto no seu caminho até o consumidor; fornecer proteção
após o produto ter sido comprado; ajudar a ganhar aceitação do produto por parte dos
intermediários e a persuadir o consumidor a comprar o produto.
O artesanato, em definições de dicionários diversos, se determina por modo de fazer primitivo e
manual. Porém, o significado pode ser considerado mais amplo a partir do momento que se
percebe que ele se caracteriza como uma fonte de renda, uma arte-terapia e principalmente,
um legado da humanidade.
As diferentes técnicas de artesanato são características próprias de uma localidade, e se
mostram como um marcador de identidade de um povo e permanecem nesta sociedade
através da tradição familiar de produzi-la, em um movimento de ensino do fazer manual entre
gerações.
Conseqüentemente, o artesanato agrega fatores socioeconômicos, pois várias comunidades
produtoras de artesanato se mantêm da renda adquirida pela venda de suas peças. Fato que
não desperta nesses artesãos a vontade de sair do seu local de origem, por vezes são cidades
nos interiores dos estados. Evitando assim, o êxodo rural para capitais, onde maioria dos
artesãos teria dificuldade de manter sua atividade, uma vez que capitais tendem a ter custo de
vida mais elevado e pouco acesso e conservação de matérias primas para o artesanato.
Em todo o Estado podem ser encontrados produtos em couro, madeira, renda, cerâmica, além
da cestaria, da tecelagem, do trançado, algodão colorido, entre outros.
Na mesorregião do Sertão o artesanato que predomina é o de couro e a tecelagem industrial
nas cidades de São Bento e Aparecida, mas também há a presença de objetos produzidos de
barro. Na mesorregião da Borborema as que prevalecem são a tecelagem artesanal e o
artesanato em pedras na cidade de Juazeirinho devido a sua riqueza mineral, além da renda
renascença, labirinto, artefatos de couro e objetos em madeira. Na mesorregião do Agreste
existem trabalhos em renda, cestaria, brinquedos, estopa, couro, madeira e tecelagens. Na
mesorregião da Zona da Mata o artesanato é bastante diversificado em objetos de mariscos,
ossos, conchas, coco, cestaria, bordado e cerâmica. (LIMA, 2007). Algumas peças podem ser
conhecidas no site do Governo do Estado e da Casa do Artista Popular.
Há um importante potencial em relação ao artesanato paraibano como geração de emprego e
renda. Com o Programa Paraíba em suas mãos, o artesanato do Estado ganhou visibilidade no
território nacional e internacional. Este programa é considerado um marco na história do
artesanato paraibano, por valorizar o artesão e o artesanato e com isso gerar renda de forma
sustentável além de estimular a permanência do artesão em sua região. Com a missão de
promover o desenvolvimento do artesanato paraibano, o programa – vinculado à Secretaria do
Turismo e Desenvolvimento Econômico do Estado da Paraíba – possui mais de 5.400 artesãos
cadastrados em 125 municípios do Estado (GOVERNO DA PARAÍBA, 2011).
Para atender ao tipo de artesanato que o Estado comercializa os materiais mais usuais nas
embalagens para fins de proteção são: plástico bolha, caixa de madeira, jornal, feltro/TNT,
dentre outros.
O plástico bolha utilizado para envolver/proteger peças frágeis tais como de cerâmica
(escultura e louças) e marchetaria. Por serem resistentes e macios impedem que a cerâmica se
quebre e a peça de marchetaria arranhe. Assim como a caixa de madeira (caixote) utilizada
para o auxilio no transporte de peças individuais de cerâmicas evitando assim que se quebrem.
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O Jornal é comumente utilizado para proteger/ envolver as peças de madeira e principalmente
a cerâmica (pequenas louças).
O TNT/Feltro utilizado para evitar que peças de marchetaria arranhem durante o transporte.

4. A pesquisa
A pesquisa de mercado aqui relatada foi aplicada em diversos pontos da cidade de João
Pessoa, principalmente nos pontos de venda de produtos de artesanato e regionais. A
pesquisa englobou o perfil do consumidor, do produto de artesanato e das embalagens
utilizadas no mercado local, bem como da percepção do consumidor quanto à importância e
valor das embalagens para produtos de artesanato.

4.1 Perfil do consumidor


No intuito de entender melhor o perfil do público consumidor e dos pontos de venda foram
aplicados formulários em diferentes locais como lojas de artigos artesanais e regionais (com
foco em clientes e visitantes. Trezentas e treze pessoas foram abordadas, onde 270 se
prontificaram a responder o questionário.
Dentre os resultados obtidos, cerca de 52% eram do sexo masculino e 48% feminino, com uma
grande maioria (47%) entre 36 e 50 anos e nível de escolaridade entre ensino superior
incompleto (34%) e ensino superior completo (30%).
A renda mais evidente entre os questionados foi entre 1 e 3 salários mínimos (26%), porém boa
parte preferiu não responder a esta pergunta (31%).
A maioria reside em João Pessoa (69%) e dentre os demais alguns residiam nas Regiões
metropolitanas (6%), no interior da Paraíba (3%) e em outros estados (13%).

4.2 Características das embalagens comercializadas


Os pontos comerciais visitados foram compostos por estabelecimentos/pontos comerciais que
comercializam embalagens (industrial/artesanal), ou que simplesmente fornece ao cliente a
embalagem quando o mesmo adquire o seu produto. Neste ultimo caso, foi dada a preferência
as lojas de artesanato e produtos regionais, por serem mais relacionada à categoria do produto
em questão - a embalagem artesanal. Foram visitados 104 pontos comerciais, onde 65% eram
lojas de artesanato, 30% pontos nas feirinhas de artesanato, e 5% papelarias e lojas de
embalagem.

Dentre os pontos de venda visitados, percebe-se que há uma diversidade nos produtos
ofertados tanto nas Feirinhas quanto no Mercado de Artesanato da Paraíba (MAP), eles variam
de artigos para decoração, lembranças do estado, produtos em cerâmica, camisas, bordados,
artigos de couro, artefatos de pedra, gemas, bijuterias, redes, rendas, provenientes do interior
da Paraíba, e também de outros estados como Pernambuco e Rio Grande do Norte. A partir
dos pontos de venda visitados tem-se o seguinte perfil do artesanato encontrado.

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Gráfico 1 – Produtos artesanais comericializados

Observou-se também que, as embalagens tidas como artesanais feitas na própria loja para
entregarem o produto ao cliente são, em termos gerais, papéis ou sacos de papel
ornamentados com algum acessório, fita ou etiqueta, representando uma embalagem de
presente tradicional.

Em relação às embalagens encontradas em lojas não há uma preocupação da maioria dos


estabelecimentos com este item na compra, muitos fornecem sacos plásticos (80%) e apenas
20% utilizam embalagens artesanais (caixas, sacolas e cestas em papel, papelão, fibra e
tecido). Uma minoria, concentrada principalmente nas lojas de artigos de vestuário (de
camisas) fornece também um saquinho de pano de origem industrial com a saudação
“Lembrança de João Pessoa” ou embalagem de TNT.

Em nenhuma loja, exceto no caso de “enrolar/proteger” produtos sensíveis, foi encontrado


embalagens confeccionadas em jornal.

A estimativa de venda por época do ano respondida por todos entrevistados coincide, tendo
seu ápice de vendagem na alta estação (meses de dezembro a inicio de fevereiro), e declínio
nas vendas nas baixas estações.

Sobre o tipo de produção da embalagem, cerca de 75% terceirizam a embalagem utilizada,


14% produzem suas próprias embalagens, 7% produzem e terceirizam e 4% não respondeu.

Um ponto importante da pesquisa foi a dificuldade de acesso às informações em relação à


questão de valores/lucro, principalmente no caso das lojas que comercializam embalagens.
Não tendo, portanto, na maioria das respostas como conhecer a margem de lucro e outras
informações referentes a valores.

4.3 Percepção do Consumidor


Dentre as questões colocadas aos respondentes, a primeira foi relacionada à freqüência de
compra do consumidor pelo produto artesanal/regional. Segundo o gráfico a seguir, a maioria
declarou comprar “às vezes” os produtos de artesanato.

Gráfico 2 – Frequência de compra de produtos artesanais

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Sobre a preferência dos produtos de artesanato têm-se as seguintes indicações (podendo
haver mais de uma indicação por respondente:

Tabela 1 – Produtos artesanais segundo a preferência dos respondentes

Lembranças do lugar 67%


Enfeite de moda 38%
Produtos de decoração para a sala 38%
Acessórios para escritórios 31%
Utensílios para cozinha 25%
Moda 15%
Embalagens diversas 8%
Acessórios de viagem 7%
Não respondeu 1%

Complementando a preferência do consumidor, a pesquisa indicou que a maioria dos


respondentes tem como motivo(s) para comprar um produto de artesanato a “originalidade”
seguido da “beleza”. A tabela a seguir demonstra os demais motivos (podendo haver mais de
uma indicação por respondente:

Tabela 2 – Motivos da compra

Originalidade 53%
Beleza 50%
Utilidade 24%
Preço 14%
Qualidade 16%
Outros (gosto pessoal/encomenda/ revenda) 1%
Não respondeu 5%

Sobre a percepção a respeito do preço do produto artesanal a maioria dos respondentes (53%)
considera o preço intermediário, 25% caro, 9% barato, 1% desconhece e 12% não respondeu.

Quando questionados se comprariam produtos artesanais feitos com materiais reciclados, a


maioria (70%) declarou que sim (Gráfico 3). Enquanto que, ao serem perguntados se
comprariam embalagens feitas a partir da reciclagem de papéis, 75% declarou que compraria
(Gráfico 4). Os demais percentuais podem ser vistos nos gráficos a seguir.

Gráfico 3 – Compra de produtos artesanais feitos de


materiais recicláveis

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Gráfico 4 – Compra de produtos artesanais feitos a
partir da reciclagem de papel

Duas questões da pesquisa foram direcionadas à relação do consumidor com embalagens em


termos gerais. A primeira sobre o uso da embalagem pós compra, ou seja, se os consumidores
costumam guardar as embalagens que adquirem - cerca de 37% declararam que guardam,
27% às vezes, 26% não e 10% não respondeu. Já em relação à influência que a embalagem
possui na compra de um produto, 63% declararam que a embalagem exerce muita influência
na compra, 23% pouca, 5% nenhuma e 9% não respondeu.

Para melhor entender as respostas dos respondentes as justificativas das questões semi-
abertas dos formulários estão transcritas a seguir por ordem de importância de acordo com a
quantidade de citações de cada motivo. Contudo, foram colocadas neste artigo nas indicações
com muitas respostas apenas as dez primeiras.

Sobre a questão A: Você compraria produtos artesanais feitos com materiais reciclados?

Resposta: Sim, pq? Os motivos apresentados foram:


1. ajuda/respeito/preservação do meio ambiente
2. ecologicamente correto
3. se eu me agradar compro sim
4. algo diferente e do meu gosto
5. prefiro produto com qualidade e que não prejudique o meio ambiente
6. pela criatividade
7. reduz a poluição ambiental e fica bonita pela criatividade
8. são bonitos
9. acho uma ótima iniciativa
10. incentivo a reciclagem

Resposta: Talvez, pq?


1. depende do produto
2. questão ecológica
3. depende da originalidade
4. Se gostar
5. se tiver qualidade
6. se for bonito, preço acessível e for o meu estilo
7. se for esculturas
8. depende do que foi produzido
9. depende da utilidade do produto
10. depende da estética e funcionalidade

Sobre a questão B: Você compraria embalagens feitas a partir de reciclagem de papéis?

Resposta: Sim, pq?


1. ajuda a não prejudicar/preservar o meio ambiente
2. é ecologicamente correto
3. é mais barato
4. é um incentivo a não derrubada de seringueiras
5. para incentivar o aumento da produção
6. consciência ambiental
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7. ajuda a criar uma nova utilidade para o lixo
8. inovação e respeito ao meio ambiente
9. chamam atenção pelo diferencial
10. criatividade

Resposta: Talvez, pq?


1. dependendo do resultado final e do acabamento
2. de todo jeito a embalagem retorna ao lixo
3. iria depender da qualidade
4. não compro com freqüência
5. depende do produto
6. só se fosse muito interessante

Ao analisarmos os motivos expostos em todas as respostas da pesquisa das indicações “sim”


tanto das questões A e B, e sintetizarmos, em termos gerais, verificamos que cerca de 55%
são respostas relacionadas à preservação do meio ambiente, sendo as demais relacionadas ao
gosto pessoal e beleza/criatividade/utilidade. E em relação aos respondentes das respostas
“talvez” percebemos uma preocupação com a qualidade, funcionalidade e estética dos
produtos feitos a partir de materiais recicláveis. Percebe-se ao questionar o consumidor que
existe certa “desconfiança” em relação ao resultado final desses produtos.

Sobre a possibilidade de reciclagem ou reutilização das embalagens compradas pelos


respondentes, através da questão “C” - Você costuma guardar as embalagens que adquiri?

Resposta: Sim, pq?


1. para reutilizá-la
2. sempre tem utilidade
3. elas são práticas e úteis
4. fica como lembrança
5. mando para reciclagem

Resposta: Às vezes, pq?


1. acredito que podem ser utéis
2. quando é bonita/ muito bonita
3. depende da utilidade
4. quando são duráveis
5. depende da qualidade do material
6. quando são funcionalmente interessantes

Resposta: Não, pq?


1. não gosto de guardar/acumular muita coisa
2. não acho utilidade/não tem valor
3. não tenho espaço para guardar
4. não tenho interesse
5. nunca tive esse costume
6. sempre esqueço
7. onde eu moro tem sistema de reciclagem
8. geralmente perco
9. pra mim são lixo
10. não acho correto

Sobre os motivos expostos para quem guarda a embalagem, a maioria dos respondentes
relaciona suas respostas à questão da reutilização/reciclagem/utilidade da embalagem.

Sobre a questão D: Qual a influencia da embalagem na hora da compra de um produto?


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Resposta: Nenhuma, pq?
1. não compro pela embalagem
2. não guardo as embalagens
3. geralmente não tem muita significância, o importante é o produto em si

Resposta: Pouca, pq?


1. chama atenção mais não é o principal
2. algumas delas são muito simples
3. Serve de um item a mais, mais não determina
4. vai depender do produto que necessite algo mais sofisticado ou não
5. me importo mais com o produto/qualidade do produto
6. muitas vezes não me serve
7. só observo se não danifica o produto

Resposta: Muita, pq?


1. mostra a qualidade do produto
2. primeira impressão do produto é importante
3. a presença e valorização do presente
4. vários motivos: beleza, praticidades, etc
5. chama a atenção
6. por conta da estética/beleza e qualidade
7. as vezes compro determinado produto apenas pela embalagens
8. destaca o produto
9. a aparência vale muito
10. atratividade/influência nas compras

5 Conclusões da Pesquisa
Em relação aos resultados da pesquisa realizada podem-se destacar alguns pontos:

 Em termos gerais, o público abordado é adulto, possui sua própria renda e


reside em João Pessoa e região metropolitana, o que representa um
importante público em potencial.

 Comparando os motivos pelos quais as pessoas são levadas a comprar


artesanato, podemos comparar as primeiras indicações – originalidade
(~52,6%) e beleza (~49,6%) ao item qualidade (~14,4%), isso pode levar uma
possível indicação de que as pessoas não percebem claramente a qualidade
do artesanato local.

 Sobre a escolha de opções de artesanato, a pesquisa demonstrou a seguinte


referencia: 1° lembrança do local (61,8%); 2° enfeite de moda (41,85%);
3°produtos de decoração (36,67%); 4° moda; 5° utensílios para cozinha, 6°
acessórios para escritório; 7° embalagens diversas; 8° acessórios para
viagem. Em relação às indicações de embalagens diversas, a pesquisa
demonstrou que as pessoas não relacionam muito a questão artesanato com
a embalagem. O que pode ser evidenciado pelo uso das embalagens
“comuns” fornecidas pelas lojas/ produtos de artesanato.

 Comparando o resultado de como as pessoas valorizam a embalagem (muita


62,6%) com as embalagens fornecidas pelas lojas/ pontos pesquisados (80%
sacos plásticos) percebem-se uma lacuna considerável entre o que o cliente
deseja e valoriza e o que as lojas locais têm oferecido. Portanto, uma
demanda real de embalagens criativas, bonitas e sustentáveis.

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 Nos pontos relacionados à embalagem, observou-se uma importante
inclinação dos respondentes aos produtos com materiais recicláveis e a
importância da embalagem, cujos resultados positivos ultrapassam 60% das
respostas totais.

 Em relação às justificativas apresentadas pelos consumidores nas questões


abertas percebe-se que os motivos apresentados, em termos gerais, para
aquisição de produtos com materiais recicláveis indicam uma preocupação
premente a respeito da preservação do meio ambiente; sobre a possibilidade
de aquisição (talvez), apesar de haver a inclinação cita outras questões, onde
as pessoas querem um produto ”ecologicamente correto”, mais bonito e de
qualidade.

 Sobre a importância da embalagem, a maioria dos entrevistados declarou que


acha muito importante o papel da embalagem na compra de um produto,
destacando que a roupagem do produto tem muito a dizer sobre ele, desde a
criatividade imposta na concepção até o cuidado que se tem com o resultado
final. Alguns entrevistados declararam que, apesar da embalagem ser um
atrativo a mais para o produto, não é o principal, e que o mais importante é a
qualidade do produto desassociando-o da embalagem. Quanto aos que
atribuíram nenhuma importância a embalagem, justificaram alegando que a
compra é motivada pelo produto em si e não pela embalagem.

Em termos gerais, foi possível perceber a partir dos resultados da pesquisa que os
consumidores valorizam a embalagem, inclusive com preocupação em relação ao meio
ambiente, à reutilização, contudo as lojas não oferecem alternativas criativas, com diferencial
estético e de qualidade.

Com os resultados da pesquisa, foram desenvolvidas as linhas das embalagens para o Projeto
Tricotando e Gerando Renda, e atualmente o grupo de artesãs de Mandacaru – Cactáceas da
Paraíba, comercializa parte da linha desenvolvida, e divulga o seu trabalho em feiras e
exposições de artesanato na Paraíba e estados vizinhos.

Referências

ABRE. A Embalagem construindo sustentabilidade. Disponível em: http://www.abre.org.br/


meio_ambiente.php. Acesso em 2010.
ETZEL, Michael J; WALKER, Bruce J; STANTON, William J. Marketing. 11 ed. São Paulo:
Makron Books. 2001.
GOVERNO DA PARAÍBA. Artesanato paraibano gera emprego e promove o Estado por
todo o mundo. Maio de 2011. Disponível em http://www.paraiba.pb.gov.br/2011/05/03/
artesanato-paraibano-se-destaca-na-geracao-de-emprego-e-promove-o-estado-por-todo-o-
mundo/ Acesso em jun.2011
LIMA, Silvia Almeida de Oliveira Cunha. Artesanato e Arte Popular na Paraíba. João Pessoa:
Fundação Casa de José Américo/Gráfica Liceu. 2007. 175p.
MANZINI, E. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas,
organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: Epapers, 2008.
MESTRINER, Fábio. Design de Embalagem – curso avançado. São Paulo: Prentice Hall.
2002.
O 3 DESIGN. A importância da embalagem. Disponível em: http://www.o3design.com.br/
pt_BR/empresa/the-importance-of-package. Acesso em: 2010.
PEREIRA, P. Z; SILVA, R. P. da. Design de Embalagem e Sustentabilidade: uma análise sobre
os métodos projetuais. Design & Tecnologia. UFRG. Rio Grande do Sul. n. 02. 2010.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Mulheres de fibra: artesanato e design como forma de
inclusão social (Women of fiber: crafts and design as a
form of social inclusion)

Maria de Lourdes Valente Reyes¹

palavras chave: design; artesanato; inclusão social.

O presente artigo relata e discute uma experiência de ação conjunta de um grupo de mulheres da
Associação de Vilas Reunidas FRAGET, Pelotas/RS e alunos e professores dos Cursos de Artes Visuais e
Design, do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas, através do projeto de extensão “Mulheres
de fibra: artesanato e design como forma de inclusão social”. O trabalho em parceria segue a metodologia
da Sociologia Compreensiva do sociólogo francês Michel Maffesoli, que tem por objetivo descrever o
vivido naquilo que é, contentando-se em compreender os fenômenos a partir de um pensador que se
coloca do lado de dentro do fenômeno. Partindo de uma sensibilidade relativista, busca se aproximar do
estilo do cotidiano, através de aproximações concêntricas, por sedimentações sucessivas, para encontrar
um “saber-fazer”, um “saber-dizer” e um “saber-viver” que caracterizam este grupo social e que servem de
referência para a proposição de criação de objetos artesanais orientados pelo design.

Keywords: design; crafts; social inclusion.

This paper reports and discusses an experience of joint action of a group of women from the Associação
de Vilas Reunidas FRAGET, Pelotas / RS and students and teachers of courses of Visual Arts
and Design, Arts Centre, Universidade Federal de Pelotas, through the extension project "Women of
fiber: crafts and design as a form of social inclusion”. The work follows the methodology of
the Comprehensive Sociology of the French sociologist Michel Maffesoli, which aims to describe the
lived in what is content to understand the phenomena from a thinker who stands inside the
phenomenon. Starting from a relativistic sensibility, seeking to approach the style of everyday
life, through concentric approaches by successive sedimentation, to find a "know-how ", a "knowledge-
telling" and a "know-live” that characterize this social group and serving as a reference to the
proposed creation of handmade objects oriented by design.

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Introdução

O presente trabalho tem sua origem na solicitação de apoio técnico feita pela Associação de
Vilas Reunidas FRAGET, localizada em Pelotas, Rio Grande do Sul ao Centro de Artes da
Universidade Federal de Pelotas – UFPel, com o objetivo de orientar o desenvolvimento de
produtos artesanais com design. Considerando a possibilidade de atuação conjunta dos alunos
dos Cursos de Artes Visuais e de Design, bem como dos professores do Centro, foram feitos
os primeiros contatos para organização de um projeto de extensão o qual formaliza a parceria
UFPel – FRAGET. Dividido em três partes, o texto começa pela caracterização da Associação
e os objetivos do projeto; em seguida, apresenta as primeiras aproximações a partir do método
da sociologia compreensiva do sociólogo francês Michel Maffesoli; e finaliza um primeiro
delineamento de produtos artesanais e os estudos feitos pelos estudantes para a marca da
associação.

_________________________________
1 Universidade Federal de Pelotas, Brasil, <valentereyes@gmail.com>.

1 Associação de Vilas Reunidas FRAGET como grupo de produção artesanal

A Associação de Vilas Reunidas FRAGET, fundada em 1981, compreende moradores das Vilas
Farroupilha, Real, Aurora, Guabiroba, Elza e Treptow, todas pertencentes ao Bairro Fragata, na
cidade de Pelotas/RS. No momento está focada na capacitação e formação de mulheres que
estão envolvidas em atividades como catadoras, na triagem de lixo reciclável, no artesanato e
na costura, num total de 50 mulheres, de baixa renda e ainda chefes de família. A partir de
então, formalizou-se o projeto de extensão intitulado “Mulheres de fibra: artesanato e design
como forma de inclusão social” o qual tem como objetivo geral atender a esta solicitação da
comunidade e, como objetivos específicos: possibilitar aos alunos dos cursos de artes e design
da UFPel o contato direto com as demandas da comunidade, trocando saberes acadêmicos e
populares; pesquisar as potencialidades de trabalho do grupo de mulheres em termos de
saberes, materiais e técnicas; estudar as referências visuais e culturais do grupo como forma
de construção de possibilidades de produtos com identidade cultural; discutir e propor soluções
artesanais em conjunto com o grupo de artesãs; propor o desenvolvimento de produtos viáveis
de serem executados pelo grupo e de serem inseridos no mercado; desenvolver protótipo para
os produtos e/ou coleção com a valorização das artesãs como pessoas criativas e capazes de
superar desafios e, finalmente, apresentar os produtos em feiras nacionais.
A princípio, pretendia-se adotar uma metodologia tradicional de projeto partindo por uma
pesquisa de campo através do contato direto com a comunidade envolvida, a documentação
fotográfica de imagens da localidade, das pessoas, dos costumes. No entanto, não se tratava
apenas de resolver questões de design, seria preciso chegar à comunidade de forma a torná-la
parceira no trabalho ao invés de considerá-la cliente, como tradicionalmente acontece na área
do design.
Conforme Ullmann (2010, p:39), ‘grupos de produção artesanal, por natureza, não pertencem
ao modelo de mercado globalizado’. Portanto devem ser tratados de forma diferenciada,
inclusive há um grupo de designers que está propondo uma forma de ‘design participativo’, o
qual deixa de lado a característica autoral do design e busca aproximá-lo da maior quantidade
de pessoas possível.
A gestão de um projeto de design participativo exige: ter um projeto associativo; objetivos claros e
focados na possibilidade real do cliente (tanto gerais como específicos); interdisciplinaridade no
processo de projeto; gerar metas acessíveis; projeto não imposto, e sim um consenso; designer dentro
do processo de gestão; parceiros confiáveis; flexibilidade; projeto de longo prazo; análise do fator local
com visão global; apropriação do projeto pelos participantes (Ullmann, 2010, p:41).
Um dos grandes desafios de trabalhar com comunidades reside na forma de contato com as
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pessoas que interagem, de maneira que o trabalho possa ser conduzido de forma a resultar
num projeto associativo, interdisciplinar, consensual, caracterizado pela confiança dos
parceiros. Como fazer esta aproximação entre as partes? Todas estas reflexões reforçavam a
necessidade de uma aproximação compreensiva da universidade com a associação de vilas
reunidas que permitisse elaborar um cenário possível e participativo de forma a atingir os
objetivos propostos.

2 Abordagem compreensiva de Michel Maffesoli para o contato com a comunidade

A metodologia utilizada para a aproximação foi a da sociologia compreensiva desenvolvida pelo


sociólogo francês Michel Maffesoli, aplicada aos temas do atual e do cotidiano, publicada sob o
título La connaissance ordinaire em 1985 e traduzida para o português como O conhecimento
comum, em 1988. Nesta forma de abordagem social, o pesquisador deve mostrar em vez de
demonstrar, compreender e não explicar, constatar e descrever em vez de criticar. Maffesoli se
propõe a descrever os fatos, constatá-los e captar-lhes a inteligência. Isto demanda um olhar
generoso sobre os fatos, que respeite as coisas pelo que são, e que tente apreender qual pode
ser sua lógica interna.
Critica a divisão entre razão e imaginação, descreve o vivido naquilo que é, contentando-se em
compreender os fenômenos a partir de um pensador real, não abstrato. È um pensador que faz
parte daquilo que descreve, situado no plano interno, colocando-se do lado de dentro do
fenômeno, que se torna muito apropriado para uma possibilidade de trabalho participativo.
Para que o pesquisador consiga descrever, de dentro, os contornos, os limites e a necessidade
das situações e das representações constitutivas da vida cotidiana, o autor sugere que se
trabalhe com a idéia de forma: ‘depois de alguns séculos de iconoclasmo, o recurso
metodológico à forma é inteiramente pertinente se se pretende dar conta de uma socialidade
cada vez mais estruturada pela imagem’ (Maffesoli, 1988, p:28).
Sugere, ainda, que se trabalhe com uma sensibilidade relativista, aproximando-se do objeto de
estudo, através de aproximações concêntricas, por sedimentações sucessivas, permitindo ver
as imperfeições e as lacunas que, por um lado, são empiricamente observáveis e, por outro,
são estruturalmente necessárias à existência enquanto tal.
Para se chegar às idéias formadoras, é necessária uma pesquisa estilística, uma vez que:
há um estilo do cotidiano [...] feito de gestos, de palavras, de teatralidade, de obras em caracteres
maiúsculos e minúsculos, do qual é preciso que se dê conta – ainda que, para tanto, seja necessário
contentar-se em tocar de leve, em afagar contornos, em adotar um procedimento estocástico e
desenvolto (Maffesoli, 1988, p:36).
Prestar atenção aos discursos e às ações cotidianas é observar o estilo da sociedade. O
observador faz parte de seu objeto de estudo, interage com ele, faz parte dele. Assim sendo,
para apreender as sutilezas, as descontinuidades de uma situação social, é preciso cultivar um
‘espírito livre’, trabalhar pela liberdade do olhar (Maffesoli, 1988, p:44).
A grande questão é, para Maffesoli: ‘saberemos ainda ouvir e interpretar o pensamento de
praça pública?’ (1988, p:195). Esta parece ser a grande questão inicial do projeto: saberemos
ouvir e interpretar o pensamento do grupo de associados do FRAGET? Neste questionamento
o autor reforça o foco de sua atenção ao conhecimento empírico cotidiano, neste ‘saber-fazer’,
‘saber-dizer’ e saber-viver’ que se constituem no ponto de partida do trabalho em andamento.
A partir destes referenciais, buscou-se a aproximação com o grupo de artesãs, em encontros
semanais, com a participação da coordenação do projeto, uma bolsista de extensão, uma
assistente social que apóia e promove a gestão de projetos para a Associação FRAGET.
O primeiro encontro realizado na Associação permitiu a visitação ao Galpão de Reciclagem, no
qual um grupo formado por homens e mulheres trabalha na separação de lixo reciclável,
embalagem e venda do mesmo (Fig. 1). Constatou-se a presença de materiais como papel que
passa por uma picotadeira, papelão, metal, plástico, vidro, os quais são separados por
tipologias, enfardados, pesados e vendidos, sendo o transporte realizado por um caminhão da
própria associação. Destes materiais que chegam para reciclagem, algumas garrafas pet são

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fiadas e utilizadas para revestimento de cadeiras de praia, em processo artesanal.

Figura 1: Trabalho no galpão de reciclagem da Associação FRAGET (fonte: a autora)

Outro grupo se dedica aos trabalhos com artesanato e costura. A atividade de costura é
recente, resultado de projeto que permitiu a compra de máquinas de costura e de
acabamentos, cujas atividades estão iniciando e cumprem dupla finalidade: qualificação
profissional de associados para inclusão no mercado de trabalho formal de empresas da
indústria têxtil da região e desenvolvimento de trabalho têxtil artesanal na associação (Fig. 2).

Figura 2: Espaço de costura da Associação FRAGET (fonte: a autora)

Esta primeira aproximação permitiu que se pensasse nas possibilidades decorrentes das
atividades em desenvolvimento na associação, às quais promovem a melhoria do grupo
envolvido bem como do meio ambiente, tendo a reciclagem como atividade geradora de renda
dos participantes. Além disso, a associação tem como objetivo promover a melhoria da
qualidade de vida de seus associados, através da geração de renda e do ingresso no mercado
formal de trabalho.

Continuando na busca pela compreensão do grupo de trabalho, tentou-se ouvir as pessoas,


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aproximar-se deste ‘saber-dizer’, nas palavras de Maffesoli (1988). Numa roda de conversa a
questão era saber se as associadas eram de origem urbana ou rural. Verificou-se que a maior
parte delas tinha por origem pequenas cidades do interior do Rio Grande do Sul ou do meio
rural do próprio município. Este diálogo foi sendo conduzido no sentido das lembranças, das
memórias do grupo, dos costumes. O objetivo, neste caso, era de compreensão dos rituais
cotidianos, das práticas de habitar, de conversar, consideradas significantes para a abordagem
compreensiva. Estes elementos são considerados a partir da valorização do espaço, que
possui seus próprios valores. Maffesoli (1988) afirma que há uma correspondência física e
social, uma maneira de aprofundar a relação humana com o meio físico e dos vínculos que
estruturam o meio social. O autor observa que, até nos espaços urbanos de países
industrializados, onde houve uma grande migração campo-cidade, reconhece-se a freqüência
de valores rurais, fato este plenamente observável no grupo. Considera, ainda, que isto
signifique um retorno à natureza, o que pode ser bastante significativo como elemento de
construção de identidade do grupo e que vem ao encontro das práticas de sustentabilidade
ambiental desenvolvidas pela ação de reciclagem dos materiais. A primeira impressão foi de
que havia um sentimento de nostalgia em relação às questões de uma vida mais simples, não
sendo compreendida como algo a ser perseguido, como algo de valor.

Ainda na busca dos saberes populares, outro encontro foi marcado, desta vez para detectar o
‘saber-fazer’ das mulheres dedicadas ao artesanato e à costura. Ao contrário das atividades do
galpão de reciclagem, onde homens e mulheres desempenham atividades, no artesanato e na
costura apenas um homem apareceu, tratando-se de ações predominantemente femininas. As
artesãs relataram o seu pertencimento a vários grupos, com desenvolvimento de produtos
artesanais que são vendidos geralmente em feiras locais, com participações eventuais em
feiras fora de Pelotas. Os trabalhos são feitos nas residências das associadas por não haver
espaço suficiente na sede da associação. As artesãs realizam uma série de objetos, em geral
têxteis, com técnicas diversas, algumas com materiais novos (Fig. 3 e Fig. 4), outras com
material reaproveitado de confecções locais que são doados à associação constando de
retalhos de malha de algodão em cores variadas e retalhos de tnt azul claro (Fig. 5 e Fig. 6).

Figura 3: Bonecas ‘puxa-saco’ e almofada em costura (fonte: a autora)

Figura 4: Acessórios (tipo manta) feitos com diversos tipos de fios e flor em crochê (fonte: a autora)

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A produção artesanal é bastante diversificada, incluindo, ainda, trabalhos de mantas feitas de
fios diversos tecidas em tear tricô, recapeamento de cadeiras de ferro com fios de garrafa pet,
guardanapo comprado com imagem rebordado ao qual foi adicionado acabamento com bico
em crochê, trabalho com miçangas sobre sandália havaiana, revestimento de frascos com
coador de café reaproveitado, entre outros. Segundo as artesãs, a maior parte dos produtos
artesanais é resultante da participação em cursos de artesanato e têm boa aceitação nas feiras
de que participam. Observou-se que dois produtos apresentavam um diferencial em relação ao
artesanato em geral: o primeiro deles, a colcha em tricô, feita com reaproveitamento de tecido
de uma empresa local (Fig. 5) e o outro, um tapete de franjas, que pode apresentar outras
cores dependendo da material prima – algodão, disponível para reaproveitamento (Fig. 6), cuja
artesã produz por encomenda. O reaproveitamento de materiais presente nos referidos
produtos artesanais indicam possibilidades de ação integradas entre os dois componentes da
associação: o galpão de reciclagem e o setor de costura e artesanato.

Figura 5: Colcha em tricô feita com tecido tnt reaproveitado (fonte: a autora)

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Figura 6: Tapete de franjas feito com malha reaproveitada sobre tela de saco de cebola (fonte: a autora)

As artesãs têm consciência de que seus produtos não transmitem uma identidade visual do
grupo e já foram cobradas disso em eventos fora de Pelotas. Um dos pontos a ser trabalhado
na próxima etapa se refere ao próprio bairro Fragata, considerado bairro cidade em função de
sua extensão e da variedade de serviços existentes. No bairro são encontradas a Faculdade de
Medicina da UFPel, o Quartel da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada, o Esporte Clube
Farroupilha, além do Cemitério de Pelotas. A Associação FRAGET está localizada numa rua
que passa nos fundos do terreno do cemitério, fato que parece não gerar muita alegria entre
as associadas. Assim, a pesquisa sobre a história do bairro, será uma próxima etapa, já que
não foi possível constituí-la a partir dos relatos das pessoas que participam dos grupos de
artesãs às quais parece se identificarem muito mais com a cidade de Pelotas como um todo.

A constituição da associação através da participação de seis vilas, bem como a participação


dos artesãos em diferentes grupos, como Multimãos, Esperança e Emanuel, aumenta a
dificuldade de identificação tornando o trabalho bastante complexo. Algumas vezes um artesão
participa de um grupo, outras vezes de mais de um grupo, mas no final todos se unem na
Associação de Vilas Reunidas FRAGET. Por outro lado, a atividade de reciclagem desenvolvida
no galpão está separada das atividades de costura e artesanato, do ponto de vista das
pessoas envolvidas nos processos bem como das ações específicas de cada setor.

3 A integração dos saberes acadêmicos e populares

A par da intenção da associação de qualificar pessoas na área de costura de forma que


possam vir a participar do mercado de trabalho bem como da perspectiva de desenvolver uma
produção têxtil na sede da mesma, a primeira questão que se discutiu foi: como fazer um
produto de qualidade por pessoas que ainda não têm prática nas máquinas e como adquirir
prática a partir de produtos simples de serem executados? Inicialmente havia uma intenção em
trabalhar com costura voltada à moda. No entanto, quem sabe não seria a oportunidade de
desenvolver uniformes para trabalho? A bolsista de extensão ficou encarregada de fazer uma
pesquisa no comércio de Pelotas, para observar e documentar os tipos de peças de vestuário
que eram usados pelos profissionais que atuam neste ramo. Foram escolhidas uma loja local,
outra regional e uma terceira de âmbito nacional, com o objetivo de traçar semelhanças e
diferenças. Feitas as primeiras abordagens nos locais de comércio e registradas as
vestimentas através de fotografias, com a permissão dos lojistas, foi possível concluir que seria
preciso investir em outro setor uma vez que as vestimentas eram bastante complexas para
serem costuradas pelo grupo de iniciantes, pois envolvia terno, calça social, camisa, outras
ainda, com blusas em malharia, coletes especiais, tudo bastante sofisticado para o momento.
Descartada esta possibilidade, buscou-se outro setor que necessitasse de vestuário especial,
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encontrando no ramo de restaurantes uma chance de trabalhar com um traje simples, de
costuras simplificadas: o avental. Peça básica que pode ser produzida em série para um
determinado local de trabalho, mas que também pode ser aproveitado para tantos outros
setores para o uso doméstico, na educação, nas indústrias, etc. Neste caso, considerou-se o
processo de design, como ‘um processo iterativo de tentativa e erro, que gera e testa
hipóteses, verificando, por sucessivas e reiteradas comparações, qual delas parece ser a que
melhor atende à necessidade-problema’ (Cauduro, 2004, p:160).
Depois de discutir em reunião com o grupo de artesãs, pensou-se na possibilidade de
desenvolver o primeiro produto com a dupla finalidade: treinar o pessoal da costura através de
um projeto simples – o avental; aproveitar o projeto para que as artesãs pudessem usar seu
produto, proporcionando uma identidade na apresentação em feiras, cujos aventais poderiam
ser encomendados por diferentes interessados. Além disso, o design deveria se dirigir
estrategicamente para a valorização de produtos locais enquanto manifestações culturais
fortemente ligadas ao território e à comunidade que os produziu (Krucken, 2009).
Mas como designar o produto de forma a percebê-lo como produto local? Kurcken (2009)
sugere que o design pode contribuir para a percepção dos produtos ‘buscando formas para
tornar visível à sociedade a história por trás dos produtos’.
Contar a ‘história do produto’ significa comunicar elementos históricos, culturais e sociais associados,
possibilitando ao consumidor avaliar e apreciar o produto de uma forma mais ampla – considerando,
por exemplo, os serviços ambientais embutidos no próprio produto (Krucken, 2009).

Esta qualidade de contar a história do produto é percebida pelo consumidor como valor
agregado que se associa à confiança que se constrói em relação ao produto, sua origem e ao
local de exposição e comercialização. Assim, para Kuchen (2009, pp. 27-28), a qualidade
percebida de um produto ou serviço é o resultado conjunto de seis dimensões de valor: a) valor
funcional ou utilitário; b) valor emocional; c) valor ambiental; d) valor simbólico e cultural; e)
valor social; f) valor econômico.
Estas dimensões de valor do produto pensadas a partir da abordagem compreensiva do grupo
de artesãs da associação resultaram no primeiro projeto de design de um avental a ser
produzido pelo grupo de costura, o qual foi projetado e executado para servir de protótipo e de
teste de qualidade e aceitação pelo grupo e pelo mercado consumidor.
Assim, o avental foi pensado de forma a cumprir sua função de proteção da roupa no caso de
uso em atividades de trabalho – valor funcional ou utilitário. A adequação ao uso, mensurada
por atributos objetivos refere-se às qualidades intrínsecas do produto, para o qual foi escolhido
um tecido 100% algodão, de fácil aquisição na cidade de Pelotas, que permite a higienização
completa após o uso. Também houve preocupação com os aspectos ergonômicos: altura da
alça que pendura o avental ao pescoço, comprimento das alças que pendem nas costas, altura
do corpo do avental, inclusão de bolso frontal para colocação de materiais de trabalho.
A escolha do padrão do algodão, localmente denominado “capa de colchão”, ou “riscado de
pena”, deu-se em função das histórias contadas pelas artesãs as quais lembravam que, na
infância, as cobertas de inverno eram feitas com penas de ganso dispostas dentro de uma
espécie de capa de algodão forte que conseguia prender as penas em seu interior. Até mesmo
os colchões eram fabricados artesanalmente, divididos em dois tipos de enchimento: de um
lado a lã de ovelha, usado para cima no inverno e, do outro, palha de milho ou outro material
vegetal, mais refrescante, escolhido para o verão. Foi a partir do ‘saber-dizer’ das artesãs que
se criou esta possibilidade, incorporando ‘a dimensão memorial, relativa a lembranças positivas
e negativas de acontecimentos passados’ (Krucken, 2009, p:27).
Em relação ao valor ambiental, o uso de tecido 100% algodão, remete à possibilidade de
matéria-prima renovável, de boa qualidade, que garante uma vida longa ao produto. Uma vez
não servindo mais ao seu uso primeiro, pode ser reaproveitado, sendo possível descosturar
toda a peça, separando as partes que a compõem.
No Rio Grande do Sul encontra-se um objeto tradicional da indumentária gaúcha, a mala de
garupa, que é produzida com o tecido “riscado de pena” e costuma ser comercializado em
casas específicas de pilchas e tradições gaúchas. A mala de garupa é uma espécie de bolsa
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longa, com dois espaços tipo bolsos que ficam sobre o cavalo e serve para carregar pertences
do homem do campo, ainda em uso na atualidade. A lembrança do gaúcho, da vida no campo,
da simplicidade são memórias de forte valor simbólico e cultural. Some-se a isto toda uma
história que se encontra por trás das listras, consideradas coisa de presidiário, criminoso,
marinheiro e outras associações marginais que remontam aos textos bíblicos e que
subverteram a ordem dos aspectos negativos muito recentemente (Pastoureau, 1993).
Como valor social considera-se próprio processo de trabalho colaborativo desenvolvidos pelas
artesãs reunidas em uma associação, a possibilidade de que este tipo de trabalho qualifique
pessoas para inclusão no mercado de trabalho formal bem como no informal são valores fortes
constitutivos do próprio produto final.
Finalmente, em termo de valor econômico, o protótipo foi desenvolvido de forma a que fosse
possível produzir pudesse duas peças com 1m de tecido, uma vez que este apresenta largura
suficiente para cortar dois aventais. Todas as tiras foram pensadas a partir de faixas sarjadas
100% algodão, na cor crua, harmonizando com o avental como um todo o qual já apresenta
informação visual suficiente pela presença das listras azuis e vermelhas.
As primeiras peças produzidas servirão como identidade do grupo de artesãs e serão
apresentadas ao público na FENADOCE – Festa Nacional do Doce, realizada em Pelotas, no
período de 15 de junho a 3 de julho de 2011. Após a exposição do produto ao público pretende-
se avaliar o resultado, e traçar as estratégias para comunicar a sustentabilidade dos mesmos
através de indicadores tais como a rastreabilidade e a autenticidade, conforme Kruchen (2009).
Para esta etapa estão previsto o desenvolvimento de etiquetas para os produtos, a criação de
uma marca geral para a Associação FRAGET e de marcas específicas para cada um dos
grupos de artesãos que a compõem.

Estudos para a marca da Associação FRAGET


Os primeiros estudos para a criação da marca da associação foram realizados através de uma
proposta feita aos alunos do Curso de Design Gráfico, matriculados na disciplina de
Fundamentos da Linguagem Visual I. Após apresentar o projeto aos alunos e delinear as
características do grupo em questão, foram desafiados a construir uma marca composta por
símbolo e/ou tipografia que traduzissem a imagem associativa desejada. Considerando que se
pretendia que as próprias artesãs tivessem condições de reproduzir a marca da associação foi
feita a exigência de que a solução, em termos de produção gráfica, fosse feita com a técnica do
stencil.
Uma das soluções baseou-se em forma orgânica, numa configuração final do tipo floral, em
que cada pétala está no lugar de cada uma das vilas que, reunidas, dão origem à Associação
Fraget. A disposição das formas em torno de um único eixo trouxe movimento ao resultado final
da imagem e a escolha pela tipografia toda em caixa alta imprimiu força à organização (Fig. 7).

Figura 7: Estudo de Camila Bender para a Associação FRAGET (fonte: a autora)

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Muitas outras marcas foram desenvolvidas, não sendo possível apresentá-las no presente
artigo. A escolha da marca ainda está em processo de discussão entre todos os parceiros e
deverá levar em conta as dimensões de valor já analisadas para o desenvolvimento do
produto, com ênfase nos inúmeros saberes das artesãs.

Considerações finais

A possibilidade de trabalhar com uma associação de artesãos em parceria com professores e


alunos dos cursos de artes e design da UFPel tem se mostrado um grande desafio para
integrar e trocar os saberes acadêmicos e populares. As ações desenvolvidas até o momento
exigiram um pensamento projetual diferenciado no qual o designer e pesquisador desempenha
múltiplos papeis tendo que se colocar simultaneamente no lugar do artesão, no lugar do
estudante universitário, no lugar do professor. Isto demanda uma postura de integração e, ao
mesmo tempo, de reflexão e avaliação das atitudes e das noções teóricas próprias do meio
acadêmico. O método da sociologia compreensiva de Michel Maffesoli tem sido um importante
suporte para a ação, pois permite apreender o atual, o contemporâneo como um processo de
idas e vindas, de aproximações concêntricas, descrevendo o vivido naquilo que está
acontecendo. A sensibilidade relativista propicia chegar às idéias formadoras do estilo do
cotidiano que, como o autor afirma, é feito de gestos, de palavras, de teatralidade e de obras
em caracteres maiúsculos e minúsculos (Maffesoli, 1988). As formas de se aproximar do grupo
através de seus saberes: saber-dizer, saber-viver, saber-fazer permitem uma visão holística
dos processos sociais que são de natureza complexa.
O projeto está apenas começando, a idéia principal é fazer com que o grupo encontre uma
forma de trabalho com características locais, carregado de valores territoriais, que conte uma
história de vida, de lutas, de fibra como o título do projeto sugere. Para cada produto artesanal
será preciso discutir as possibilidades em termos de valores, de critérios como originalidade,
inovação, identidade. Espera-se que o resultado promova o bem-estar do grupo de artesãs e
sua inclusão social, seja pela participação no mercado formal ou no informal de trabalho.
Paralelamente, do ponto de vista acadêmico, o contato dos alunos com a comunidade externa
da universidade, trocando saberes e tentando lidar com questões do cotidiano, deverá
aproximar o ensino, a pesquisa e a extensão fazendo com que compreendam que além do
conhecimento específico das áreas de estudo são necessários muitos outros aprofundamentos
os quais se inserem em dimensões das relações sociais, da vida em sociedade em constante
diálogo entre a teoria e a prática.

Agradecimento
A autora agradece o apoio à pesquisa e o suporte institucional da Universidade Federal de
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Pelotas – UFPel, bem como à possibilidade de contar com bolsista de extensão PROBEC
2011.

Referências
Cauduro, F. (2004) Reflexões sobre o processo de design. In Magalhães, E.; Wolff, F; Bozzetti,
N.; Bastos,R. (Orgs.). Pensando design. Porto Alegre: UniRitter, pp. 158-167.
Kazazian, T. (2005). Haverá a idade das coisas leves:design e desenvolvimento sustentável.
São Paulo: SENAC.
Krucken, L. (2009). Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo:
Studio Nobel.
Maffesoli, M. (1988). O conhecimento comum: compêndio de sociologia compreensiva. São
Paulo: Brasiliense.
Manzini, E. & Vezzoli, C. (2002). O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo:
Edusp.
Pastoureau, M. (1993). O pano do diabo: uma história das listras e dos tecidos listrados. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar.
Ullmann, C. (2010). Design participativo. AbcDesign, 32, pp. 39-41.

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Gestão do ciclo de vida de móveis em instituições de
ensino superior públicas: um estudo de caso na
Universidade Estadual de Maringá (Furniture life cycle
management on public higher education institutions: a
case study at the State University of Maringa)

BURGO, Fabiano; Mestrando; Universidade Estadual de Maringá


fburgo@uem.br

RAZERA, Dalton; Doutor; Universidade Federal do Paraná


daltonrazera@ufpr.br

palavras chave: móveis; gestão de ciclo de vida; instituições de ensino superior.

Este artigo apresenta uma pesquisa de campo de caráter exploratória focada na análise do modus
operandi do sistema de controle do ciclo de vida útil dos móveis utilizados pela Universidade Estadual de
Maringá - UEM. Buscou-se verificar se a instituição de ensino superior apresenta problemas provenientes
de uma gestão do estado de conservação dos artigos de mobiliário, fazendo com que os mesmos atinjam
o final de sua vida útil precocemente. Outro ponto analisado foi a forma como a UEM supre sua demanda
por móveis, descrevendo-se as práticas adotadas para tal. Com a intenção de identificar as diferentes
situações exatamente como ocorrem, foram realizadas análises e entrevistas in loco com funcionários e
responsáveis pelos diferentes setores, os quais representam diferentes níveis administrativos da
instituição. Dentre as conclusões obtidas, detectou-se que existe a carência de um sistema de gestão do
ciclo de vida dos móveis, o que se reflete no descarte prematuro e a aquisição freqüente dos mesmos.

Keywords: furniture, life cycle management, higher education institutions.

This paper presents a exploratory field study research focused on the furniture life cycle control system
used by State University of Maringá - UEM. It was sought to determine whether the higher education
institution presents furniture conservation status management problems, making them reach the end of its
life span prematurely. Another discussed issue was how UEM meets its demand for furniture, describing
the practices adopted. Intending to identify different situations exactly as they occur, there were taken
place on-site employees and responsible for different sectors interviews, sectors that represent different
institution’s administrative levels. Among the conclusions reached, it was found that there is a lack of a for
furniture life cycle managing system, which is reflected in its premature disposal and frequent acquisition.

1 Introdução

Visto que a sociedade atual passa por período de questionamento e revisão de seu
comportamento, visando uma estrutura social na qual seja possível atingir o Desenvolvimento
Sustentável - DS, a busca por soluções em instituições públicas que venham a servir de
exemplo configura-se num caminho interessante. Instituições públicas de ensino superior, como
é o caso da Universidade Estadual de Maringá - UEM, podem se mostrar ótimas ‘vitrines’ para
a sociedade de como implementar soluções eficientes.
Este artigo analisa uma pequena parcela dentre os vários aspectos inerentes a padrões e
comportamentos de consumo encontrados em tais instituições: aquisição, manutenção e
descarte de móveis.
A UEM possui uma grande demanda por artigos mobiliário em suas instalações, tanto para
salas de aula e laboratórios quanto para setores administrativos em geral. Para suprir esta
demanda, realiza processos de compra freqüentes, o que a torna uma grande consumidora e
futura produtora de resíduos provenientes dos mesmos.
Fundada em 20 de julho de 1969, conforme avaliação de 2010 do MEC a UEM ficou
classificada em primeiro lugar dentre as universidades do Paraná, além de se configurar numa
das 19 instituições de ensino com maior produção científica e tecnológica nacional.
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(COMUNIDADE determinou a criação da UEM, 2010)
Conforme Gonzales et al. (2010) a UEM possui cerca de 17.098 alunos matriculados em 49
cursos de graduação, além de apresentar 140 cursos de pós-graduação com um total de 4.539
alunos. No ano de 2009 a UEM ofereceu 4.649 vagas por meio de concurso vestibular,
apresentando um total 42.037 candidatos inscritos. Analisando-se o período de 1997 a 2009
totalizou-se 366.897 candidatos inscritos nos concursos vestibulares da universidade.
Estes cursos estão distribuídos por uma estrutura multi-campi adotada pela UEM, estando
esta presente nas cidades de Cidade Gaúcha, Diamante do Norte, Cianorte, Goioerê,
Umuarama, Ivaiporã, Iguatemi (por meio de uma fazenda experimental) e Porto Rico (Centro de
Pesquisa).
‘Com a criação dos campus regionais, a UEM, como universidade pública e gratuita,
contribui decisivamente para o desenvolvimento humano da região onde atua’. (“Presença forte
na região Noroeste,” 2010)
A estrutura administrativa da UEM é composta de Pró-Reitorias, Assessorias, Centros de
Ensino e Colegiados Superiores (além dos campi regionais), detalhada na Figura 1 na
seqüência.

Figura 1: Organograma da estrutura administrativa da UEM

Sobre a estrutura física, a UEM possui um total de 246.134,07 m² de área (somando-se


todos os campi), sendo somente o campus sede responsável por 185.890,75 m². Desta área
total da sede, destacam-se 12.108,43 m² das salas de aula, 14.187,33 m² dos laboratórios,
12.337,94 m² das bibliotecas e 8.678,62 m² do Hospital Universitário. Já sobre os aspectos
orçamentários, a UEM possui em 2009 uma despesa total de R$ 279.670.063,64 e uma receita
total de R$ 286.312.040,17. (GONZALES et al., 2010)
Pode-se perceber pelos números citados que a UEM apresenta um alto nível de
abrangência geográfica, assim como sua grande relevância econômica e social para as
comunidades na qual está presente. Principalmente em função do seu tamanho, pode ser vista
como não só como uma instituição de ensino, mas também como uma cidade inteira, com sua
ampla estrutura física, população e serviços.

Juntamente com esta característica urbana, como não poderia deixar de ser, a UEM apresenta
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também alguns de seus problemas. A quantidade de resíduos que a comunidade universitária
gera constantemente é muito grande, sendo que o único caminho adotado até o momento seria
o de encontrar saídas para a destinação correta destes resíduos.
No entanto, há uma série de outras abordagens passíveis de serem adotadas, sendo uma
delas a extensão do ciclo de vida de produtos utilizados na instituição visando retardar ao
máximo possível o final de sua vida útil.
Porém, para que se encontrem as soluções mais adequadas e interessantes á instituição
faz-se necessário uma prévia análise das normas e práticas já adotadas, para que seja
possível encontrar pontos críticos, discuti-los e propor reparações ou mesmo mudanças totais
de padrão de consumo para que se minimize o problema.
Para isso, será descrito no tópico a seguir o método adotado na análise proposta por este
artigo, seguido de uma rápida contextualização do DS e a apresentação das informações e
dados coletados.
Por fim, chega-se às considerações finais e encaminhamentos futuros, onde é disposto um
resumo de toda a análise feita e indicadas ações e pesquisas já feitas e em andamento.

2 Método e objetivos

Ao se verificar a existência de um possível problema ou mesmo ao se proceder à análise de


uma situação pré-existente, o passo inicial recomendado seria a realização de um
levantamento que permita que se conheça as características específicas dos aspectos a serem
abordados.
No caso deste artigo, o objetivo é verificar quais são as estruturas, práticas e procedimentos
adotados pela UEM no que se refere à aquisição, manutenção e descarte de peças de
mobiliário.
O caminho adotado, então, foi o de trabalhar-se em duas vertentes paralelas: a primeira
tratando-se de uma pesquisa documental, caracterizada por relatórios setoriais e bancos de
dados institucionais, fazendo-se uma triagem dentro as informações separando-se apenas as
diretamente relacionadas com o mobiliário da universidade; a segunda caracteriza-se por uma
pesquisa exploratória:
Quando pouco se sabe a respeito da situação-problema, é desejável começar com a pesquisa
exploratória. Ela é adequada quando é preciso definir o problema com maior precisão, identificar os
cursos alternativos de ação, desenvolver as perguntas ou hipóteses da pesquisa e isolar as variáveis-
chave como dependentes ou independentes. (MALHOTRA, 2001, p. 109)
Conforme Marconi & Lakatos (2002, p.85), uma pesquisa de campo na qual parte-se à
‘observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente’ é imprescindível para
que se averigúe uma hipótese ou ateste a veracidade de uma suposição realizada.
Por meio destas duas abordagens (e a comparação entre suas análises) torna-se possível
verificar se o problema de resíduos provenientes de móveis descartados pela UEM representa
um problema real, passível de ser levantado e analisado.
A abordagem por meio de pesquisa exploratória tornou possível também que se verificasse
de forma mais assertiva o modus operandi dos setores responsáveis da UEM com os móveis,
sendo que muitas vezes a realidade difere das normas e regulamentações adotadas. Para
tanto foram realizadas algumas abordagens informais com funcionários destes setores para
identificar os procedimentos adotados na prática pela universidade.
Para que se compreenda melhor o conteúdo proveniente da pesquisa, de forma que a
análise do mesmo se dê da forma mais relevante possível, faz-se necessário uma breve
contextualização do panorama do Desenvolvimento Sustentável para que em seguida seja
abordado o estudo de caso da UEM. O tópico a seguir reflete-se nesta introdução.

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3 O Desenvolvimento Sustentável - DS

A forma como a sociedade se relaciona com os produtos muda de acordo com a evolução de o
próprio ser humano, motivadas por aspectos tecnológicos, sociais, comportamentais e etc.
Seguindo este raciocínio, pode-se afirmar que uma época pode ser compreendida pela análise
da forma com que seus produtos são produzidos e quais funções desempenham para
corresponder aos anseios do público consumidor contemporâneo. ‘Estilo é a linguagem visual
que indica a uma cultura que ela está a orientar de forma bem sucedida, segundo padrões de
trabalho, lazer e institucionais’. (DORMER; DIAS, 1995)
Um dos fatores que vem aumentando o nível de relevância tanto no desenvolvimento,
fabricação quanto no consumo dos produtos é o impacto que estes aspectos têm diretamente
no meio ambiente, quer seja a curto, médio ou em longo prazo.
A conscientização acerca do problema ambiental - e as atividades daí derivadas - seguiu um percurso
que vai do tratamento de poluição [...], à interferência nos processos produtivos que geram tal poluição
[...], ao redesenho dos produtos num processo que se faz necessário [...]. A conscientização acerca do
problema ambiental levou à reorientação de novos comportamentos sociais, isto é, da procura por
produtos e serviços que motivem a existência de tais processos e, conseqüentemente, desses
produtos. (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p.19)
O descarte de móveis corresponde por uma grande parcela do impacto ambiental (LEWIS;
GERTSAKIS, 2001), pois:
[...] um móvel não é mais um bem patrimonial, mas um objeto encarregado de refletir a personalidade
de seu proprietário. A indústria do móvel migrou de um mercado de equipamentos para um mercado
de renovação. A troca regular de móveis gera um acréscimo de consumo de recursos necessários à
sua produção. De um a trinta materiais podem entrar na fabricação de um móvel, dentre os quais dois
terços são de madeira, um recurso renovável, porém ameaçado. [...] no Brasil, 80% da madeira de
florestas é explorada ilegalmente. (KAZAZIAN, 2005, p.122)
A UEM não possui foco na produção de artigos de mobiliário, embora o faça em algumas
situações (como no caso de bancadas destinadas a equipamentos com um tamanho
específico, por exemplo), sua estrutura neste aspecto é bem acanhada e não supre a
demanda, conforme será mostrado no item 4.
Por se tratar de uma instituição pública, os processos de compra, contratação de pessoal e
investimento em estrutura deve seguir regras complexas e por vezes extremamente demoradas
para que sejam realizadas. Isso faz com que uma abordagem na aquisição se mostre
extremamente complexa, tornando impossíveis mudanças sem que leis sejam alteradas.
No entanto, outros aspectos inerentes ao consumo e descarte dos móveis podem ser
adotados, possibilitando assim que o ciclo de vida médio dos mesmos tenha um aumento
significativo, culminando na redução do número de peças a serem descartadas pela instituição.
A discussão e as propostas de adequação de sistemas e procedimentos ao DS costumam
ser bem complexas, e por muitas vezes se caracterizam pela proposta de novos sistemas
inteiros que venham a, se não solucionar, minimizar os problemas existentes.
Neste caso em questão, portanto, a análise realizada pode servir de ponto de partida para
outras pesquisas que visem novos sistemas de consumo, manutenção e descarte de móveis
não só pela UEM, mas também para outras instituições de ensino públicas.
Porém, esta possível alteração deve dar-se por meio de uma extensa averiguação e
discussão de todas as estruturas, regulamentações e etapas envolvidas no processo,
permitindo somente que sua implementação se dê de médio em longo prazo.
É necessária uma transformação não só da esfera tecnológica, mas, sobretudo, na esfera social – nos
comportamentos, nos hábitos e modos de viver. Devemos aprender a viver melhor, consumindo
menos e regenerando o tecido social. (KRUCKEN, 2009, p. 14)
Encerrando, portanto, esta brevíssima contextualização do DS ao foco deste artigo, reitera-
se que os aspectos abordados e analisados aqui não se configuram em soluções de
adequação da instituição ao princípio do DS, mas sim em uma visualização inicial do problema
proveniente da forma como a comunidade e a estrutura universitária lidam com a questão do
consumo de seus móveis.
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4 Procedimentos, estrutura e ferramentas de aquisição, manutenção e descarte de
móveis adotados pela UEM

Neste tópico serão apresentadas as informações provenientes tanta da pesquisa documental


quanto da pesquisa exploratória. De forma a estruturar a apresentação dos dados, foram
definidos tópicos baseados nos setores da UEM abordados.
A análise é realizada primeiramente de forma individual, sem que haja uma comparação
entre as informações de diferentes setores, visto que a análise mais geral é apresentada no
tópico de encerramento deste artigo.

4.1 Divisão de Material e Patrimônio - DMP

O setor responsável pela aquisição, distribuição e manutenção dos equipamentos da UEM é a


Divisão de Material e Patrimônio - DMP, vinculada à Pró-Reitoria de Administração - PAD. A
mesma apresenta sub-setores, apresentados na Figura 2.

Figura 2: Organograma da Divisão de Material e Patrimônio - DMP

Conforme citado anteriormente, a UEM deve se submeter às legislações estaduais e


federais vigentes para proceder à aquisição de equipamentos, materiais e contratação de
serviços. Todos os artigos de mobiliário são considerados equipamentos, e portanto devem
seguir e respeitar as mesmas regras e normas definidas para tais (Lei Federal nº 8.666 de
1993, Lei Federal nº 10.520 de 2002, Decreto Estadual nº 5.892 de 2009, além das
regulamentações internas traçadas para seguir tais leis).
No ano de 2009 a UEM procedeu à atualização do inventário físico de seus bens
patrimoniais, com o intuito de manter um controle mais apropriado e técnico dos mesmos. Para
tanto, a universidade valeu-se do sistema denominado Gestão de Compras, Orçamento,
Material e Patrimônio - GESCOMP, o qual pode ser visualizado na Figura 3.

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Figura 3: Tela de apresentação do GESCOMP para os itens inventariados

O GESCOMP permite um acompanhamento com um nível razoável de detalhes dos bens


patrimoniais, permitindo inclusive uma classificação das condições em que os mesmos se
encontram, conforme ilustra a Figura 4.
No entanto, há uma mesma lista de classificação para todos os itens inventariados,
passando desde “Sem condições de Uso”, a “Péssima Condição de Uso”, “Regular Condição
de Uso”, “Boa Condição de Uso” a chegando em “Total Condição de Uso”. Não há também
espaço para uma descrição mais detalhada das condições dos componentes de cada bem,
assim como não existe um mecanismo de visualização e solicitação de reparo do mesmo.
Figura 4: Tela de cadastramento/atualização de cadastro de bem patrimonial do GESCOMP

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Quanto à baixa dos equipamentos, não há uma legislação específica, no entanto a UEM
tem um procedimento estabelecido e que se dá sempre que necessário. O registro de tal
processo se dá por meio de processos de baixa de bens patrimoniais.
Quando há um acúmulo razoável de peças a serem desligadas da lista de patrimônios da
universidade, a Divisão de Patrimônio solicita a uma Comissão de Baixa Patrimonial
(permanente na instituição) para que a análise dos mesmos se proceda.
Note-se que a avaliação realizada leva apenas em consideração critérios como ‘Data de
Aquisição’, ‘Servível’ e ‘Inservível’. Após a definição da ‘inservibilidade’ dos bens analisados, o
relatório é encaminhado à Pró-Reitoria de Administração para que esta aprove a baixa dos
bens.
Uma vez aprovada a baixa, geralmente há a indicação de que os bens sejam encaminhados
ao Programa de Gerenciamento de Resíduos - Pró-Resíduos para que este providencie a
destinação mais correta para cada tipo. O programa separa e encaminha os resíduos
provenientes dos bens que obtiveram baixa a destinações distintas.

4.1.1 Divisão de Patrimônio - PAT

Após um contato inicial com a Divisão de Patrimônio, verificou-se a existência de móveis em


situação de descarte na instituição à época. Os mesmos encontravam-se no armazém principal
do setor, no qual foi realizado um registro fotográfico que pode ser visto nas Figuras 5 e 6.

Figura 5:10 Cadeiras aguardando por baixa patrimonial (06/07/2010)

Figura 6: Equipamentos aguardando por baixa patrimonial (06/07/2010)

Apesar de móveis, cadeiras e carteiras danificadas serem comumente encontradas nas


dependências das instituições de ensino, a imagem que o agrupamento dos mesmos até que
seja possível o procedimento de baixa patrimonial proporciona é um tanto assustadora.
Conforme Paulo Pegoraro, técnico administrativo da Divisão de Patrimônio, periodicamente
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há um acúmulo de bens que necessitam desligamento da universidade, principalmente devido
a danos tidos como impossíveis de reparo pela estrutura atual da universidade.
Em seguida foi indagado ao técnico o motivo que levava alguns móveis que se
apresentavam em condições de uso ou com uma perspectiva de reparo simples estarem à
espera da baixa patrimonial. O mesmo indicou que a estrutura de reparo da universidade não
teria capacidade para realizar o reparo em tantas peças, sendo que os reparos mais simples
eram feitos li naquele local.
Como última informação coletada na Divisão de Patrimônio, foi indicado que alguns móveis
eram encaminhados à oficina de marcenaria do campus,

4.2 Marcenaria / serralheria


Na marcenaria do campus sede da UEM, estabeleceu-se contato com Edson Caetano da Silva,
chefe da divisão. Procedeu-se então à análise do espaço e equipamentos disponíveis não só à
manutenção dos móveis adquiridos pela UEM, mas também à confecção de novas peças.
Conforme indicado pelo chefe (podendo ser percebido pela Figura 7) a estrutura e os
equipamentos não são suficientes para suprir a demanda por móveis de toda a universidade. O
setor trabalha com uma quantidade mínima de materiais e recursos humanos, sendo que cada
encomenda de novos móveis chega a demorar cerca de seis meses para ser entregue, dado o
volume de trabalho.

Figura 7: Estrutura da marcenaria e serralheria da UEM (06/07/2010)

Quando se fala em manutenção, a situação é até mais complicada: há um espaço


específico para realizar reparos e total restauração de móveis, no entanto (Figura 8) a estrutura
é ainda mais acanhada.

Figura 8: Espaço destinado à pintura e restauração (06/07/2010)

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4.3 Aquisição de móveis pelo Centro de Tecnologia - CTC

Como uma forma de verificar os procedimentos administrativos adotados por parte de quem
solicita a aquisição e serviços de reparo de móveis na UEM, buscou-se o estudo de um caso
recente do Centro de Tecnologia - CTC ao solicitar a aquisição de artigos de mobiliário para
toda a estrutura de sua secretaria. Devido às características exclusivas de funcionalidade,
espaço disponível e padronização dos aspectos estéticos decidiu-se pela solicitação dos
mesmos sob encomenda.
Conforme já mostrado, a UEM tem uma estrutura capaz de fabricar móveis. No entanto,
devido à alta demanda e ao tamanho e recursos insuficientes na marcenaria/serralheria, a
produção dos mesmos chega a demorar de um a dois anos, não conseguindo atender a
demandas mais imediatas, como seria o caso do CTC.
Segundo Éder Rodrigo Gimenes, técnico administrativo secretário do centro, o
procedimento de aquisição de móveis personalizados também segue as regras estipuladas
para a aquisição de qualquer equipamento pela universidade. No entanto, por se tratar de algo
que não possui um cadastro dentre os equipamentos já adquiridos pela universidade faz-se
necessário um novo cadastramento da descrição de cada uma das peças.
Fez-se necessário, então, realizar um levantamento de preços para que se fizesse um
primeiro cadastro dos equipamentos a serem adquiridos. Este cadastramento, neste caso,
consistiu na elaboração orçamentos por quatro empresas diferentes para o fornecimento dos
móveis com as mesmas características.
Os quatro orçamentos obtidos, no entanto, servem apenas de base para a definição do
preço a ser cadastrado pela universidade para que num segundo momento possa ser realizado
o processo licitatório para o fornecimento dos móveis. As empresas locais já estão cientes de
que a tomada de preços inicial não as coloca na competição pelo fornecimento, então tem
havido cada vez uma dificuldade maior em conseguir interessados na elaboração inicial de
orçamentos.
Após o cadastramento das descrições dos móveis e do preço a ser pago pela universidade,
a solicitação de aquisição é feita e o processo de licitação é iniciado. A DMP agrupa os pedidos
realizados por similaridade e estipula um cronograma de aquisição.
Somente após o final do processo licitatório, com a escolha de um fornecedor, é que a
empresa selecionada fornece o equipamento solicitado e recebe o pagamento pela UEM.
Neste caso, a empresa confeccionou as peças e montou-as no local conforme ilustra a Figura
9, na forma como foi solicitado e indicado na descrição cadastrada.

Figura 9: Móveis sob encomenda para a secretaria do CTC / visão geral (12/04/2011)

Conforme o secretário, o problema deste processo é que se houver a necessidade da


solicitação de um móvel com as mesmas características, mas com um tamanho um pouco
diferente todo o processo deve ser novamente feito, desde a solicitação dos quatro orçamentos

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até a seleção do fornecedor por processo licitatório.
Aproveitando o contato, averiguaram-se também as práticas de manutenção e baixa dos
móveis mais comuns ao centro e a todos os departamentos e cursos afetos ao mesmo.
Conforme descrição feita, a universidade não presta manutenção para os móveis novos, em
função de não possuir know how, equipamentos ou mesmo materiais em sua estrutura para
trabalhar com os mesmos. A manutenção é restrita aos móveis mais antigos, quando há a
necessidade de reparo dos novos devem ser contratados prestadores de serviços ou procede-
se à inutilização e conseqüentemente baixa do objeto.
Para os móveis mais antigos (e mais simples) que necessitam de manutenção, é realizada a
solicitação pelo sistema online, sendo que a partir daí são enviados técnicos para averiguar os
danos descritos. Caso os reparos sejam simples, numa segunda visita os técnicos realizam o
reparo no local; os danos sendo mais extensos, os móveis são levados à marcenaria e levam
em média de seis a sete meses para serem feitos.
Como mesmo as visitas de averiguação podem demorar, reparos mais simples e muitas
vezes inadequados são providenciados pelos próprios usuários, como pode ser percebido na
Figura 10.

Figura 10: Exemplo de reparo simples feito pelo próprio pessoal da secretaria (12/04/2011)

Sobre a baixa de equipamentos, o secretário descreveu que a solicitação da mesma para


qualquer peça é simples de ser feita pelo sistema online, no entanto é evitada ao máximo.
A prática mais comum adotada por toda a universidade é a consulta a departamentos,
cursos e outros órgãos sobre o interesse nos móveis que não interessam mais por email,
sendo que na maioria das vezes encontram-se interessados.
No entanto não há um sistema nem um procedimento formal para tanto: as características e
localização dos mesmos são informadas e os interessados devem se encaminhar ao local para
analisar o interesse no mesmo – caso haja, deve-se providenciar o transporte e o órgão onde
se encontra a peça a ser transferida providencia a alteração do registro do mesmo para o órgão
ao qual será encaminhado, fazendo com que o móvel passe a fazer parte dos bens
patrimoniais do mesmo.

4.4 Abordagem dos departamentos

Conforme citado anteriormente, a administração da UEM é pautada basicamente em cima de


uma estrutura de assessorias, pró-reitorias e centros de ensino. No entanto, a menor unidade
administrativa é representada por seus departamentos, sendo estes os maiores responsáveis
diretos pelo diagnóstico da necessidade de aquisição e manutenção das peças de mobiliário
encontradas em laboratórios, salas de aula e etc.
Sendo assim, buscou-se um dos departamentos mais antigos da instituição com o intuito de
verificar quais seriam suas práticas, problemas e soluções encontradas em anos de atuação. O

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departamento escolhido foi o Departamento de Engenharia Química - DEQ.
‘O Departamento de Engenharia Química da Fundação Universidade Estadual de Maringá
(DEQ/UEM) foi implantado em agosto de 1973 para dar suporte ao Curso de Graduação em
Engenharia Química, que havia sido criado em 1971.’ (DEQ - Departamento de Engenharia
Química, online) Por ser um dos departamentos mais antigos, o DEQ conta com uma das
estruturas mais completas da UEM.
O DEQ conta com uma oficina própria de mecânica, onde são produzidos equipamentos
usados nos laboratórios, salas de aula e outros setores do departamento.

Figura 11: Oficina mecânica do DEQ (28/07/2010)

A demanda por móveis do DEQ não é diferente da encontrada em todos os outros setores
da UEM. No entanto, o departamento tomou a iniciativa de colocar a estrutura da qual dispõe
para resolver seus problemas mais imediatos relacionados com o mobiliário: a oficina, na
medida do possível e de sua capacidade, realiza a restauração e reforma de móveis do
departamento, sendo que estes são geralmente metálicos.

Figura 12: Reparo e restauração de bancada metálica feito na oficina do DEQ (28/07/2010)

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4.5 Dados recentes de aquisição e baixa de móveis pela UEM

A seguir são apresentados dados disponíveis em relatórios emitidos pela universidade


referentes ao controle realizado dos bens patrimoniais da instituição. Note-se que as
definições, classificações e nomenclaturas utilizadas não foram alteradas, sendo exatamente
os termos utilizados e divulgados pela universidade:

Tabela 1: Gastos globais com aquisição de móveis pela UEM em 2009 e 2010
Percentual do total
gasto no ano Valor
Total gasto na aquisição de equipamentos - 2009 -- R$ 20.268.321,38
Gasto com aquisição de móveis - 2009 ≈ 6,4% R$ 1.292.644,82
Total gasto na aquisição de equipamentos - 2010 -- R$ 15.082.436,37
Gasto com aquisição de móveis - 2010 ≈ 1,9% R$ 286.389,61
(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010;
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2009 a 31/12/2009)
Tabela 3 - Incorporação de Móveis em 2009
Tipos de Móveis Quantidade
Cadeira, Bancos e Poltronas 5273
Mesas, Carteiras e Pranchetas 2438
Armários, Arquivos e Estantes 762
Balcões e Bancadas 77
Prateleiras e Gaveteiros 56
Outros 125
TOTAL 8731
(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2009 a 31/12/2009)

Tabela 3: Incorporação de Móveis em 2010

Tipos de Móveis Quantidade


Cadeiras, Bancos e Poltronas 3003
Mesas e Carteiras 2530
Armários, Arquivos e Estantes 353
Balcões e Bancadas 175
Prateleiras e Gaveteiros 61
Outros 88
TOTAL 6210
(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010)

Tabela 3: Baixa de bens patrimoniais em 2010 (Fonte: Relatório de Baixa de Bens Patrimoniais - 01/01/2010 a
31/12/2010, 2011)

Tipos de Móveis Quantidade


Cadeiras/Banquetas 720
Mesas/Pranchetas 37
Estantes/Prateleiras 13
Armários, Arquivos, Racks 2
Outros móveis 6
Outros equipamentos 293
TOTAL 1071
(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Baixa de Bens Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010)

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Figura 13: Tipos de Móveis adquiridos em 2009: cadeiras, bancos e poltronas

(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2009 a 31/12/2009)

Figura 14: Tipos de Móveis adquiridos em 2009: mesas, carteiras e pranchetas

(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2009 a 31/12/2009)

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Figura 15: Tipos de Móveis adquiridos em 2010 - cadeiras, bancos e poltronas

(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010)

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Figura 16: Tipos de Móveis adquiridos em 2010: mesas e carteiras

(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010)

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Figura 18: Baixa de bens patrimoniais pela UEM em 2010: tipos de móveis (Fonte: Relatório de Baixa de Bens
Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010, 2011)

(Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Baixa Patrimoniais - 01/01/2010 a 31/12/2010)

4 Considerações finais e encaminhamentos futuros

Após o levantamento das normas utilizadas para a aquisição de móveis e, principalmente, os


procedimentos formais e informais adotados pelos vários setores no que se refere ao trato com
os móveis, foi possível conhecer com um pouco mais propriedade o problema do descarte dos
mesmos pela UEM. Como forma de ilustrar os resultados obtidos, apresenta-se a seguir um
breve resumo com alguns pontos considerados relevantes:
 Considerando-se a aquisição de móveis nos últimos dois anos pela UEM observa-se
que foi adquirida uma média de 7470 artigos de mobiliário (Tabelas 2 e 3);
 Destes, a grande maioria foi de cadeiras, bancos, poltronas, mesas, carteiras e
pranchetas, caracterizando-se numa média anual de 6622 ou aproximadamente
88,6% do total de peças adquiridas;
 Numa descrição mais detalhadas dos móveis, pode-se notar que os itens mais
adquiridos foram 'cadeira de aluno', 'cadeira de aluno estofada com prancheta’,
'cadeira estofada giratória', 'cadeira estofada fixa', 'cadeira para digitação', 'carteira',
'mesa de aluno', 'mesa para microcomputador' (Figuras 13, 14, 15 e 16);
 Sobre os artigos com maior quantidade de baixas, observou-se que ‘cadeira de aluno’
e ‘cadeira estofada simples’ representam também a grande maioria a serem
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encaminhados para o descarte (Figura 17);
Verificou-se, em primeiro lugar, que o problema não é pontual, mas sim de todo um sistema
que não apresenta mecanismos, mão de obra e estrutura apropriada para proporcionar uma
manutenção mais adequada do mobiliário da universidade.
Apesar do empenho para que os móveis apresentem a maior vida útil possível, a
durabilidade do todo acaba por ser menor do que poderia ser. Há ainda aqueles que continuam
a ser utilizados até que se desgastem completamente, no entanto uma falta de manutenção
mais adequada faz com que os mesmos se configurem apenas em soluções paliativas e
opções de custo zero para alguns setores até que os mesmos possam contar com recursos
para a aquisição de novas unidades.
As características estéticas que definem os móveis também são tidas como pontos
importantes para a definição da obsolescência dos mesmos, visto que os usuários muitas
vezes se utilizam da degradação de determinadas partes do móvel para solicitar um novo (na
maioria das vezes, com uma nova cor, textura, acabamento).
Como já dito anteriormente, apesar de a solução ideal ser a revisão de todo o sistema de
aquisição, manutenção e baixa dos móveis, tal procedimento seria aplicável somente em médio
e em longo prazos, fazendo com que a situação atual perdure por mais tempo.
Uma solução total talvez não seja viável para ser aplicada imediatamente, porém
abordagens mais específicas ao problema podem ser propostas de forma que gradualmente
sejam implementadas alternativas de gestão do mobiliário da universidade que venham a
amenizar o problema com o passar do tempo.
Com base no que foi levantado, propõe-se que a definição de um procedimento de
avaliação do estado dos móveis se caracterizaria numa forma inicial de se prevenir que danos
tomem uma proporção tal que os levem a serem inutilizados.
Exemplificado, um móvel que apresente determinada fadiga numa de suas partes poderia
tê-la reforçada antes que esta se quebre totalmente.
No entanto, pode-se levantar a seguinte questão sobre tal abordagem ao problema: ‘Se a
universidade não apresenta a estrutura necessária para a reparação manutenção dos móveis,
como seria possível providenciar reparos preventivos? Os mesmos ainda não ficariam
aguardando tais reparos por um tempo extremamente longo fazendo com que os mesmos
deixem de ser preventivos e passem a ser, novamente, corretivos?’.
Realmente tais questões seriam pertinentes, porém não há como alterar um comportamento
tão arraigado numa comunidade sem que se passe por uma fase de convencimento e transição
da mesma. Ou seja, a obtenção de informações sobre as necessidades específicas de
manutenção e descarte dos móveis tornaria possível a reivindicação de alterações nos
processos e regulamentos existentes, além de poderem servir de guia para tais mudanças.
Além disto, iniciativas como projetos sociais que tenham como objetivo o ensino
profissionalizante poderiam proporcionar uma oportunidade em obter a mão de obra tão
escassa e necessária à manutenção e mesmo possíveis intervenções nos móveis já
descartados.
Outro ponto inerente ao DS, o aspecto econômico, a viabilidade financeira da implantação
de um sistema mais amplo de manutenção e reparo do mobiliário da UEM poderia vir a ser
interessante. No entanto esta viabilidade deve levar em consideração não só os valores gastos
atualmente com a aquisição de novos itens, mas também os gastos com mão de obra,
transporte, desgaste de equipamentos e desvio de funções de funcionários, que tenham que se
desviar das funções para as quais foram contratados ou ainda cumprir horas-extra para poder
finalizar todo o serviço existente.
Ressalta-se que esta análise demonstra que a gestão dos móveis por parte da UEM não
apresenta mecanismos eficientes de controle patrimonial no que se refere ao estado de
conservação dos mesmos, tornado praticamente impossível que a instituição trace uma
programação de aquisição, manutenção e baixa de artigos de mobiliário.
Uma ferramenta de controle mais completa, no entanto, só surtiria efeito também caso

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houvesse uma revisão de toda a estrutura física e de pessoal existente nos setores de
manutenção relacionados aos móveis, visto que não a estrutura presente se mostra muito
aquém da necessidade imediata da instituição.
Porém, conforme já citado, as mudanças devem ter algum ponto de início que motive ou
conscientize os envolvidos a alterarem comportamentos e adotarem procedimentos mais
adequados à ótica do DS. Uma mudança muito drástica e súbita poderia reforçar a resistência
em sua assimilação, o que faria com que houvesse um abismo entre as regras e normas
estipuladas e as práticas adotadas na realidade.
A presente pesquisa é parte integrante de uma pesquisa maior que foca na determinação de
um procedimento de análise do estado de conservação dos móveis da UEM. O objetivo desta
pesquisa é oferecer uma ferramenta que facilite uma primeira abordagem a estes móveis,
direcionando para a determinação de pontos críticos de controle para a manutenção dos
mesmos. Tem ainda como um esperado efeito colateral a coleta periódica de dados que
permita um dimensionamento das estruturas e projetos de reparo da instituição, podendo
proporcionar assim em médio prazo uma mudança no comportamento de consumo
institucional.
Concluindo, percebe-se, ainda que informalmente, que a situação de instituições de ensino
superior públicas apresenta problemas semelhantes, o que infelizmente não se reflete na
quantidade de pesquisas disponíveis. Como já dito, as universidades públicas podem servir de
exemplo para as sociedades nas quais se encontram, ou seja, uma comunidade universitária
que esteja consciente do DS em todas as suas práticas poderia ser uma imediata
multiplicadora de comportamentos de consumo mais sustentáveis à sociedade como um todo.

Agradecimento

Agradecemos ao apoio irrestrito da administração central da Universidade Estadual de


Maringá, assim como aos técnicos responsáveis pelos setores percorridos, pois se mostraram
disponíveis e dispostos a compartilhar seu conhecimento técnico e prático sempre que
solicitados.

Referências

BRASIL. Congresso Nacional. Lei Federal nº 10.520. Brasília, 2002.


BRASIL. Congresso Nacional. Lei Federal nº 8.666. Brasília, 1993.
COMUNIDADE determinou a criação da UEM. REVISTA UEM - 40 ANOS, p. 98. Maringá:
EDUEM 2010.
DEQ - Departamento de Engenharia Química. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÀ.
Departamentos. Disponível em http://www.deq.uem.br/. Acesso em 31 de março de, 2010.
DORMER, P.; DIAS, P. A. Os significados do design moderno: a caminho do século XXI. Porto:
Centro Português de Design, 1995.
GONZALES, B. B. A.; ROSA, P. M. DA; TOLEDO, C. B. S.; CENERINO, A. Base de Dados
2010: Ano Base 2009. p.116. Maringá: EDUEM, 2010.
KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São
Paulo: Editora SENAC, 2005.
KRUCKEN, L. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo:
Studio Nobel, 2009.
LEWIS, H.; GERTSAKIS, J. Design + environment: a global guide to designing greener goods.
Aizlewoodʼs Mill: Greenleaf Publishing, 2001.
MALHOTRA, N. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3rd ed. Porto Alegre:
Bookman, 2001.

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MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos
ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2005.
MARCONI, M. DE A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de
pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de
dados. São Paulo: Atlas, 2002.
PARANÁ (Estado). Decreto nº 5.892. Curitiba, 2009.
PRESENÇA forte na região Noroeste. Revista UEM - 40 anos, p. 98. Maringá: EDUEM, 2010.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais -
01/01/2009 a 31/12/2009. Maringá, 2011.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Incorporação de Bens Patrimoniais -
01/01/2010 a 31/12/2010. Maringá, 2011.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Relatório de Baixa de Bens Patrimoniais -
01/01/2010 a 31/12/2010. Maringá, 2011.

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Design, Arte e Identidade (Design, art and identity)

MOTA, Sheila Cordeiro, Mestre; Universidade Federal do Amazonas


email@provedor.com.br

ANDRADE, Ellen Barbosa; Especialista; Universidade Federal do Amazonas


ellenandrade@ufam.edu.br

AMORIM PEREIRA, Helder Alexandre; Mestre; Universidade Federal do Amazonas


arqhelder_amorim@yahoo.com.br

QUIRINO, Magnólia Grangeiro, Mestre; Universidade Federal do Amazonas


quirino.designer@gmail.com

palavras chave: design; arte ceramista; identidade ambiental.

O projeto Design, Arte e Identidade, teve como objetivo principal motivar a melhoria das condições de vida
da Comunidade Agrovila, REDES do Tupé, área rural de Manaus - AM, por meio de reflexões que
orientaram ações sistemáticas de modo participativo, fazendo com que os envolvidos reconstruíssem sua
identidade, de modo interativo. Essas ações propiciaram a busca pela consolidação de uma identidade
significante e peculiar da realidade ambiental entre os agentes mediadores da discussão, da técnica e o
grupo social envolvido. Para tanto foram ministradas oficinas de arte, permitindo que houvesse uma
materialização do conhecimento cultural, social e natural, que muitas vezes se encontra obscurecido
pelas influências externas e dominantes da realidade contemporânea. Conseqüentemente, esse projeto
permitiu que se desenvolvesse uma nova alternativa de geração de renda e trabalho, tendo em vista que
se buscou por meio das oficinas de cerâmica uma capacitação técnica para os envolvidos. O aprendizado
da técnica tornou-se um meio viável, do ponto de vista tecnológico e econômico, para que os ícones
identificados e devidamente formatados pudessem ser reproduzidos em cerâmica e posteriormente
comercializados.

Keywords: design, art ceramics, environmental identity.

This Project, Design, Art and Identity, had as main objective to motivate the improvement of living
conditions of the Community Agrovila, Redes Tupé, rural area of Manaus – AM, through reflections that
guided systematic actions in a participatory manner, causing those involved to rebuild their identity, so
interactive between staff mediators of discussion, the technique involved and the social group, whose
perception of reality and decoding sedimentary environmental sought significant and unique identity of
their environment. For both were taught art workshops, allowing that there was a materialization of cultural
knowledge, social and natural, which is often obscured by the dominant external influences and
contemporary reality. Therefore, this project has enabled us to develop a new alternative source of income
and work, in order that was sought by means of a pottery workshops technical training for those involved.
This learning became a viable means of a technological and economic, that the icons identified and
properly formatted could be reproduced in pottery and subsequently marketed.

Introdução

Considerando a necessidade de se trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável, verifica-se que


prioritariamente deve-se tentar buscar soluções que envolvam a saciedade das necessidades humanas
sem comprometer o futuro do planeta, portanto os meios que podem possibilitar as práticas sustentáveis,
de acordo com Manzini e Vezolli (2008), são aquelas que não estariam limitadas pelo estágio atual da
tecnologia e da organização social, pelos recursos ambientais e pela capacidade da biosfera de absorver
os efeitos da atividade humana (MANZINI e VEZOLLI, 2008).
O Design é um dos responsáveis pelo desenvolvimento de produtos produzidos pelo homem, em
qualquer segmento produtivo, possuindo funções definidas para atender necessidades de usuários,
atuando de modo a equacionar conflitos de interesses entre o usuário enquanto consumidor, empresários
enquanto fornecedor, além da necessidade do uso consciente dos recursos naturais. Desta forma

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observa-se que o mesmo se torna cada vez mais importante, para o desenvolvimento de novos meios de
produção, assim como, ferramentas, técnicas e ambiente produtivo, pois possibilita que haja uma relação
de interação mais harmônica, continuada e controlada entre o produtor, seu meio e o produto. (Ecodesign
Guide, 2002).
A importância da manutenção e da utilização racional dos recursos naturais estimula cada vez mais
as preocupações em torno da preservação do meio ambiente, promovendo discussões constantes para
desenvolver ações mitigadoras e sustentáveis que possam reduzir os impactos ambientais negativos
causados pela ação consciente ou inconsciente do homem em seu meio (ISO14040, 1997). Desta forma
entende-se que para viabilizar tais ações, no que diz respeito a produtos e processos, a utilização de
métodos projetuais estratégicos faz-se necessário para que o conceito de desenvolvimento sustentável,
fundamentalmente, possa interligar o que deve ser sustentado com o que deve ser desenvolvido,
diferenciando-se entre si, uma vez que essas interligações têm sido discutidas e consideradas de várias
maneiras, dependendo por quem e em que esfera está sendo discutida, estabelecida ou implícita.
A experiência vivenciada no projeto Design, Arte e Identidade (2010/1), buscou contribuir com a
melhoria das condições de vida da comunidade Agrovila da Rede Tupé, fazendo uso de reflexões e ações
participativas, motivando uma relação com os elementos iconográficos, característicos daquele grupo
social e de sua realidade ambiental, havendo um despertar para uma sensibilidade maior sobre o
potencial real e natural, bem como o que possa ser bem quisto pela população ribeirinha, no que diz
respeito às possibilidades de melhoria da qualidade de vida para esta parcela da população amazonense.
Foi diagnosticado durante o levantamento iconográfico que aquela população não se identificava
com sua realidade ambiental, tampouco com sua realidade cultural, tendo em vista que os mesmos estão
sobre um sítio arqueológico e não se incluem nesse contexto. Tal fato foi comprovado durante as
atividades do levantamento iconográfico, diagnosticando a necessidade de se trabalhar fortemente a
questão da Educação Patrimonial, como um dos caminhos para isso. Dessa forma foram sinalizados, por
um grupo de comunitários, após o aprendizado de técnicas de modelagem cerâmica, o desejo de se criar
um grupo produtivo de ceramistas, para difundir mais fortemente essa cultura, bem como possibilitar uma
nova alternativa na geração de renda e trabalho para os mesmos.
Para orientar essa experiência torna-se importante destacar alguns objetivos desse projeto, como
por exemplo: a) Realizar caracterização iconográfica de modo participativo, visando identificar, refletir e
revelar formas da realidade ambiental e fatos históricos que simbolizem a identidade da comunidade
envolvida; b) Realizar formação em técnicas artesanais de cerâmica; c) Mobilizar e assessorar a
comunidade envolvida, na aplicação dessas técnicas artesanais, visando a criação, confecção e
comercialização de produtos/artefatos, idealizados a partir dos ícones que simbolizem, divulguem e
consolidem sua identidade; d) Produzir material educativo impresso e/ou audiovisual, de apoio às
atividades desta ACE (Ação Curricular de Extensão); e) Buscar articulação com outras atividades de
ensino, pesquisa e extensão e; f) Contribuir para formação profissional e cidadã dos envolvidos –
universidade e sociedade.
Sendo assim torna-se importante ressaltar que muitas vezes a eficácia de alguns projetos para
implantação de sistemas produtivos, transcende e independe do interesse dos órgãos competentes,
sejam eles instituições de ensino e pesquisa, ou órgãos do governo, pois os fatores de interação entre o
que pode ser feito e o que se deseja culturalmente e socialmente por essa parcela da população, faz
parte de um contexto muito mais complexo e variado, haja vista que se lida com elementos intangíveis,
principalmente quando se busca trabalhar seguindo a guisa do desenvolvimento sustentável. Apesar de o
Design buscar estar harmonizado com discursos socialmente orientados, buscando a interação entre os
agentes mediadores da técnica e do grupo social envolvido, toda percepção e decodificação da realidade
ambiental só poderá ser consolidado a partir de uma identidade significante e peculiar do meio como um
todo.
Desta forma coloca-se também que além da importância para a comunidade, a participação de
acadêmicos em projetos dessa natureza, contribuiu de modo significativo para a formação de conceitos
sociais e culturais voltados ao desenvolvimento sustentável, somando assim valores que irão ajudar a
construir uma sociedade mais justa e consciente sobre seus deveres ambientais, culturais e sociais.
De acordo com Krucken (2009) uma das principais tarefas do designer é reconhecer e tornar
reconhecíveis valores e qualidades locais para dinamizar os recursos do território e valorizar seu
patrimônio cultural imaterial. Fazendo uso desses preceitos, este projeto buscou orientar os participantes,
por meio da intervenção do Design, para que houvesse um desenvolvimento focado nos atributos locais e
peculiares da comunidade envolvida.

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Procedimentos para o projeto Design, Arte e Identidade

As atividades educativas e culturais, realizadas em comunidades (associações, escolas e similares),


mediadas pelo Design participativo, identificaram e revelaram os elementos iconográficos característicos
desse grupo social, bem como a transmissão de técnicas de modelagem cerâmica. Dessa forma foram
realizadas reuniões para a identificação e caracterização figurativa dos ícones representativos,
constando junto a isso procedimentos comuns de levantamento de dados, pesquisa de campo, registros
por meio de inquirições entre os participantes e oficinas de arte.
Durante a realização das oficinas foram geradas as idéias pela comunidade, por meio de sessões
conduzidas pelos pesquisadores envolvidos, contudo como se tratava da identificação iconográfica,
sugeriu-se que os participantes possuíssem certa convivência e historicidade diante do contexto
pesquisado.
O cenário das oficinas foi formatado a partir do uso de técnicas de criatividade. Por meio de uma
análise prévia tornou-se possível estruturar a sistemática e os recursos materiais necessários, pois em
caso de possíveis dificuldades, se lançaria mão de técnicas que se adequassem às características do
grupo, haja vista que essas técnicas deveriam conduzir as oficinas de modo que não impedisse o
incentivo à crítica, principalmente para se perceber a presença de forças sociais externas à atividade
projetual, tornando-se necessário cautela para que os objetivos anteriormente definidos não entrassem
em contradição com os interesses de subgrupos ou indivíduos, privando-os de sua liberdade.
A implementação metodológica para o projeto Design, Arte e Identidade, buscou concretizar os
objetivos almejados pelo projeto por meio de uma abordagem metodológica organizada e distribuída em
fases, da mesma forma que a execução de um projeto de design, concretizando dessa forma a atuação
do design de forma participativa. A distribuição a seguir apresenta o modo de execução das ações de
acordo com as respectivas etapas.
Fase informativa: Caracterização e mapeamento do ambiente de estudo, por meio de levantamento
de dados e atividade de campo (visita técnica) junto à Comunidade Agrovila, REDES do Tupé, área rural
de Manaus – AM, cujas atividades envolviam: a) levantamento de dados por meio de registros fotográficos
e inquirições entre os comunitários; b) definição do grupo de participantes para as oficinas de arte; c)
definição do local e dos recursos para as oficinas de arte; d) observações e registro sobre o modo de vida
da comunidade; e) levantamento bibliográfico sobre a região do Tupé e; f) elaboração de projeto para
produção de material educativo impresso e/ou audiovisual, para apoio às atividades desta ACE (Caderno
de técnicas cerâmicas)
Fase projetiva: Desenvolvimento de oficinas de criatividade para realizar a identificação dos ícones
representativos da comunidade, que correspondia a oficinas de arte com os alunos da escola, oficinas de
arte com os moradores / professores, desenvolvimento dos ícones por meio dos acadêmicos envolvidos
no projeto, geração de alternativas e detalhamento técnico dos ícones desenvolvidos para adequação das
técnicas cerâmicas e criação de um plano de marketing para divulgação da identidade.
Fase executiva: Produção dos ícones por meio de técnicas de representação visual / bidimensional e
tridimensional (modelagem cerâmica), que correspondia ao treinamento em modelagem cerâmica para
transmissão das técnicas de acordelado, placa e molde com gesso, produção dos ícones em cerâmica e
queima cerâmica dos produtos desenvolvidos.
Fase conclusiva: Apresentação dos resultados para a comunidade e direcionamento discursivo para
identificação de estratégias de difusão. Esta difusão se deu por meio da apresentação dos produtos em
cerâmica para a comunidade, bem como a expansão e publicação do projeto no meio acadêmico e
científico;

A figura 01 e 02 apresenta o registro de uma das oficinas realizadas com os comunitários, bem como
o resultado dessa oficina, que buscou desenvolver junto com os comunitários o levantamento
iconográfico, cujo objetivo foi motivar a expressão de sua identidade por meio de desenhos que
refletissem seu entendimento sobre seu ambiente, além de sua relação social e cultural com o mesmo.
A figura 02 representa a caracterização visual que os mesmos possuem sobre seu território.

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Figura 01: Oficina de arte para criação dos ícones representativos.

Figura 02: Desenhos e colagens criados pela comunidade.

Como resultado dessas oficinas foi desenvolvido ícones representativos da região, para serem
produzidos em argila a partir de oficinas de cerâmica, cujas técnicas transmitidas por meio das oficinas, fazem
parte da tentativa de se resgatar a cultura ceramista da região, que comprovadamente se extingue aos poucos.
(Figura 02). Os elementos comuns encontrados em todas as representações, verificados nas oficinas de
criatividade foram agrupados de acordo com suas definições e significados, como por exemplo: a) conjunto
árvore casa; b) Os ambientes de convivência comum (escola, igreja e campinho); c) Entrada da Agrovila (casa,
árvore grande, margem do lago); d) Sol e areia; e) Água e os elementos contidos e: f) Diversidade de flora
(diversidade de árvores).
A figura 03 apresenta a representação visual de modo iconográfico, resultado dos desenhos gerados
pela comunidade. Estas representações foram aplicadas em cerâmica, materializando as idéias criadas na
oficina de criatividade. O objetivo maior de fazer as aplicações foi contemplar o uso prático do conhecimento
transmitido, possibilitando aos agentes da atividade, a experimentação que transita entre o que se

Figura 03: Representação iconográfica e aplicação em cerâmica.

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AS OFICINAS DE CERÂMICA

Dentre os frutos desse projeto, a comunidade atendida obteve uma nova alternativa de geração de renda
e trabalho, tendo em vista que se buscou também, por meio das oficinas de cerâmica, uma capacitação
técnica para os envolvidos, havendo grande motivação pelo resgate da cultura ceramista.
A figura 04 apresenta uma das oficinas realizadas com a comunidade, cuja técnica cerâmica
transferida aos mesmos, contemplou a técnica da placa.

Figura 04: Primeira oficina de aprendizagem da técnica cerâmica (técnica da placa)

A figura 05 apresenta o primeiro resultado das oficinas, a produção dos participantes na reprodução
dos ícones por eles idealizados.
Figura 05: Resultado preliminar da técnica da placa. Peças que

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reproduzem os ícones desenvolvidos.

O aprendizado da técnica tornou-se um meio viável, do ponto de vista tecnológico e econômico, para
que os ícones identificados e devidamente formatados pudessem ser reproduzidos em cerâmica e
posteriormente comercializados. A partir das atividades desenvolvidas, foi detectado uma repercussão
significativa, pois alguns participantes firmaram planos de se iniciar um grupo produtivo, com o intuito de
aperfeiçoar as técnicas e gerar renda e trabalho para o mesmo, que culminará na consolidação de uma
identidade cultural para a comunidade.

AVALIAÇÃO E RESULTADOS DO PROJETO

No que diz respeito a caracterização iconográfica de modo participativo, o projeto obteve os


resultados esperados, pois as atividades direcionadas a essas caracterizações geraram resultados que
refletiram sobre a identificação, reflexão e revelação das formas da realidade ambiental, bem como de
fatos históricos que pudessem simbolizar a identidade da comunidade envolvida. A seguir pontuam-se
os parâmetros estabelecidos como essenciais para se avaliar a eficácia desse projeto.
 Houve uma avaliação do ponto de vista técnico, quando da capacitação em modelagem
cerâmica por parte da comunidade envolvida;
 Houve uma avaliação sobre os aspectos que envolveram a mobilização e assessoramento
técnico adequado para a aplicação das técnicas de modelagem artesanal, previstas nos
objetos. Um indicador para essa avaliação foi a mediação a partir da criação e confecção dos
artefatos idealizados, a partir dos ícones que simbolizaram e a identidade da comunidade de
modo a consolidar as idéias iniciais deste projeto. A figura seguinte apresenta uma
 Do ponto de vista científico, houve a produção de material educativo impresso na forma de um
manual de técnicas cerâmicas, a partir da realização das oficinas realizadas pelos acadêmicos
e pelos comunitários;

O material didático desenvolvido, bem como os ícones encontram-se em anexo a este relatório;

Finalizando essa avaliação, torna-se importante colocar que houve uma contribuição para
formação profissional e cidadã dos envolvidos – universidade e sociedade, como comprovação
disso, lança-se mão dos relatos anexos a este relatório.

Referências
J. RODRIGO, F. CASTELLS: Electrical and Electronic Practical Eco-design Guide (2002).
MANZINI, Ezio e VEZZOLI, Carlo;. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos
ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2008.
ISO14040; Environmental management -life cycle assessment- principles and framework; 1997

KRUCKEN, Lia: Design e Território - Valorização de identidades e produtos locais; 2009.


Editora Nobel. 128 páginas.

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Perspectiva para o design sustentável no Brasil a partir da
nova Política Nacional de Resíduos Sólidos: o design de
ciclo de vida do produto.

STRAIOTO, Ricardo; Mestrando; Universidade Federal de Santa Catarina


ricardo.straioto@gmail.com

FIGUEIREDO, Luiz; Dr; Universidade Federal de Santa Catarina


lffigueiredo2009@gmail.com

palavras chave: Brasil, design sustentável, ciclo de vida do produto.

No Brasil, destaca-se a Lei 12.305, de 02 agosto 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, que em seu artigo 6, sobre os princípios e objetivos da lei, institui em inciso IV, ciclo de vida
do produto, e no mesmo artigo, em seu item VII institui também a responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos. Desse modo estabelece a concepção do ciclo de vida do produto
como marco no design e avaliação dos produtos ofertados ao mercado, ao consumidor, e a sociedade
em geral. Este artigo tem como objetivo realizar uma breve análise sobre a lei utilizando-se de
conceitos de design, especificamente por meio da abordagem do design do ciclo de vida do produto
apresentada por Manzini e Vezzoli que constitui um modelo amplamente difundido internacionalmente.
Além disso, o artigo aprofunda o tema expondo outras duas perspectivas para o design, a partir de
elementos presentes na lei, como o design de sistemas e o design participativo.

1 Introdução

Atualmente, com a consciência sobre os limites ambientais, já não é mais possível conceber
qualquer atividade de design sem confrontá-la com o conjunto das relações que, durante o seu
ciclo de vida, o produto vai ter no meio ambiente. Ninguém mais nega que um artefato deve
provocar um baixo impacto ambiental ao ser produzido, distribuído, utilizado e eliminado/
descartado. Logo, em termos de projeto, é muito mais interessante, e eco-eficiente, intervir
diretamente no produto em questão, do que projetar e produzir (a posteriori) soluções e
produtos com o propósito de gerir os impactos ambientais, não perdendo tempo, saúde e
dinheiro para reparar os danos já causados, desta maneira unindo as vantagens econômicas
com as ecológicas. (MANZINI e VEZZOLI, 2005)

No mundo do design, desde a segunda metade dos anos 90, a atenção deslocou-se para o
desenvolvimento de produtos com baixo impacto ambiental. A disciplina que integra requisitos
ambientais no processo de design é, usualmente, chamada de Design do ciclo de vida do
produto, ou mesmo ecodesign e design for environment. Sendo que essa abordagem busca
intervir na origem, de forma a prevenir as emissões perigosas e reduzir o consumo de recursos.
(VEZZOLI, 2010)

O conceito de ciclo de vida, em termos ambientais, é um pouco diferente da terminologia


econômica mais difundida no mundo empresarial – que significa percorrer as etapas de
engenharia, desenvolvimento do produto e lançamento no mercado até as fases de maturação
e obsolescência do produto. (VEZZOLI, 2010)

Em termos ambientais, o conceito do ciclo de vida introduzido por Manzini e Vezzoli (2005)
refere-se às trocas (input e output) entre o ambiente e conjunto dos processos que
acompanham o “nascimento”, “vida” e a “morte” de um produto. Em outras palavras, é conjunto
de atividades e processos, cada um deles absorvendo uma certa quantidade de matéria e
energia, operando uma série de transformações e liberando emissões de natureza diversa.

Neste contexto, no Brasil, destaca-se a Lei 12.305, de 02 agosto 2010, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos(PNRS), que, conforme veremos mais detalhadamente em

Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


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seguida, estabelece a concepção do ciclo de vida do produto como marco no design e
avaliação dos produtos ofertados ao mercado, ao consumidor, e a sociedade em geral.
Segundo a Lei, em seu artigo 6, inciso IV, ciclo de vida do produto é entendido como “série de
etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e
insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final”.
Dentro desse quadro, conforme Manzini e Vezzoli (2005), o papel do design pode ser
sintetizado como a atividade que liga o tecnologicamente possível com o ecologicamente
necessário, criando propostas que sejam social e culturalmente aceitáveis.

Cabe ressaltar, que não é taxativamente necessário operar em todas as fases do ciclo de
vida do produto, mas, mais realisticamente, podemos projetar com o objetivo de minimizar o
impacto ambiental, pois, para ser um bom produto não é suficiente que ele satisfaça apenas os
requisitos ambientais, é preciso satisfazer os requisitos típicos de um projeto de produto, como
os requisitos de prestação de serviço, tecnológicos, econômicos, legislativos, culturais e
estéticos.(MANZINI e VEZZOLI, 2005)

Destacamos os aspectos legislativos, pois, em virtude da a Lei citada anteriormente, operar


considerando o ciclo de vida do produto, deixa de ser uma escolha moral e torna-se uma
obrigatoriedade legal. Desse modo, este artigo tem como objetivo traçar um paralelo entre a
Política Nacional de Resíduos Sólidos(PNRS) e o design de ciclo de vida do produto. Expondo
uma breve contextualização sobre a Lei, apresentando algumas definições presentes na Lei
que consideramos uteis para o design de produtos e serviços que componham sistemas
sustentáveis de produção e consumo. Assim como apresentaremos algumas informações
sobre a realidade Brasileira e algumas possíveis conseqüências da aplicação da Lei. Também
apresentaremos, de forma sintética, o modelo de Manzini e Vezzoli para o projeto de ciclo de
vida do sistema-produto, algumas estratégias para o design de sistemas mais sustentáveis e,
por fim, o design participativo e o design sistêmico como abordagens complementares ao
design de ciclo de vida do produto.

1.2 Metodologia da pesquisa


O artigo tem natureza teórica, qualitativa e exploratória sobre o design de ciclo de vida do
produto e a PNRS (Lei 12.305, de 02 agosto 2010), constituindo sua base informacional
através do uso de sites, periódicos e livros como referência, caracterizando-se, assim, como
uma breve revisão bibliográfica, que segundo Martins (2000), trata-se do estudo para conhecer
as contribuições científicas sobre determinado assunto. Tem como objetivo recolher,
selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado
assunto.

2 A Política Nacional de Resíduos Sólidos

No Brasil, o tema do meio ambiente está presente na constituição de 1988 com grande
solenidade no artigo 225:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibridado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as futuras gerações.
Na década de 1990, leis importantes foram aprovadas para preservar o meio ambiente no
Brasil. Dividi-se o campo em agenda verde, azul e marrom, todas destinadas, na sua intenção
a melhorar as condições ambientais do País. (GABEIRA, 2003)
Acima dessas classificações, atravessando todas as agendas, está a lei que trata de crimes
ambientais (Lei federal n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, regulamentada pelo Decreto n
3.179, de 21 de setembro de 1999).
Na agenda verde, na área de florestas, um dos projetos mais importantes até o momento foi
o que definiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Na agenda azul, que
trata da água, fixou-se a base legal para preservar os recursos hídricos. A agenda marrom é

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muito ampla e um dos seus pontos essências foi o debate sobre resíduos sólidos. (GABEIRA,
2003)
A elaboração da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305, de 02 de
agosto de 2010, foi orientada pela tentativa de adaptar ao Brasil o princípio de
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida total do produto. Na versão aprovada da Lei,
em seu artigo 6, define em seu item XVII a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos, como sendo:
“conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo
dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para
reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida
dos produtos, nos termos desta Lei;”
Através da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, há obrigações
para consumidores, comerciantes, fabricantes e governo. A Lei, defini em seu artigo 6, inciso
IX, como geradores de resíduos sólidos as “pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou
privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas incluído o consumo.”
Assim, todos os agentes das cadeias produtivas estarão sujeitos a penalidades da Lei de
Crimes Ambientais caso não destinem corretamente os produtos após o consumo. (Folha.com,
2010)
Cada setor deve apresentar um projeto ao governo, que para os efeitos da lei é definido
como acordo setorial (artigo 6, inciso I): “ato de natureza contratual firmado entre o poder
público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a
implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto”. A indústria de
vidro, por meio da Abividro (Associação Brasileira da Indústria do Vidro) foi a primeira a
apresentá-lo após a sanção do marco regulatório, no final de 2010. O acordo poderá fazer do
Brasil uma potência verde capaz de reciclar de 95% a 100% das embalagens de vidro
consumidas no país, acima das médias européias e americanas, de 62% e 28%
reciprocamente (FOLHA.COM, 2011).
Como instrumento para tornar a lei praticável, o texto cria a chamada “logística reversa”
para coleta de produtos descartados pelos consumidores. Especificamente a Lei define
também no artigo 6, inciso XII, a logística reversa como:
“ instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações,
procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação
final ambientalmente adequada;”
Na prática, comerciantes e distribuidores serão os principais pontos de receptação dos
produtos descartados, que depois devem ser enviados aos fabricantes ou importadores. Estes
últimos darão o destino final ao lixo. (FOLHA.COM, 2010)
Conforme a lei, a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos (artigo 6, inciso
VII) inclui “a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento
energético”, caso não seja possível nenhuma das alternativas anteriores deverá ser feita
disposição final ambientalmente adequada (artigo 6, inciso VII), ou seja, “distribuição ordenada
de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos
ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”.
Neste ponto cabe diferenciar os dois conceitos de resíduos sólidos e rejeitos conforme
exposto na Lei, ambos estão definidos no artigo 6:
XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e
recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra
possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;
XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível;

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Por fim, é relevante destacar que a PNRS tem abrangência maior do que gestão de
resíduos, pois, como disse o Presidente Lula quando a sancionou: “A lei trata não só de
preservação ambiental, como de saúde pública” (FOLHA.COM, 2010)
O caráter econômico também merece destaque. Isso porque, conforme o IBGE, o Brasil
gera 183 mil toneladas de lixo por dia. Destas, 73 mil toneladas são de resíduos recicláveis e
não aproveitados, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
desse modo, o País perde 8 bilhões por ano quando deixa de aproveitar os resíduos recicláveis
que estão disponíveis (ESTADÃO, 2011a; ESTADÃO, 2011b). Logo, além das questões
referentes à preservação ambiental e de saúde pública, a legislação tem forte relevância
econômica.
Hoje no Brasil há mais de mais de 800 mil pessoas exercendo a atividade de catador no
Brasil. Estima-se que cada um deles recolha por dia 500 quilos de materiais. A PNRS faz 11
referências à participação dos catadores no País. A intenção é integrá-los ao sistema e oferecer
condições mais dignas de trabalho. (ESTADÃO, 2011a)
Além disso, conforme a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira (FOLHA.COM, 2010) a lei
poderá formalizar o trabalho dos catadores, aumentando a renda dos mesmos, como também,
em um aspecto mais amplo, mudar o padrão de consumo, diminuindo a produção de resíduos,
alcançando assim, padrões sustentáveis de produção e consumo.
Padrão esse, definido na lei(artigo 6, inciso XIII) como: “produção e consumo de bens e
serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores
condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades
das gerações futuras”.
As metas estabelecidas no Brasil são ambiciosas, como por exemplo: extinguir os lixões até
2014, universalizar a coleta seletiva até 2015 (só 443 de 5.560 cidades têm coleta seletiva) e
reciclar 40% do lixo seco até 2031 (hoje, menos de 15% são reciclados).
Tanto para alcançarmos as metas estabelecidas, como também, para nos aproximarmos
dos padrões sustentáveis de produção e consumo, é mais oportuno e eco-eficiente
trabalharmos no projeto de produtos mais sustentáveis, que facilitem a reciclagem e utilizem
materiais menos nocivos, de forma a diminuir o impacto destes no ambiente, do que buscarmos
soluções para os danos já causados ao ambiente. Logo, passaremos a expor a perspectiva do
design do ciclo de vida do produto, abordagem internacionalmente difundida quando o assunto
é projeto e produção de produtos e serviços ambientalmente corretos. Detalhando também
algumas das principais diretrizes para minimização dos impactos ambientais dos produtos e
serviços.

3 Design de Ciclo de vida do Produto

O design é a atividade que dá categoria de existência ao mundo dos objetos tal como o
conhecemos e desse modo incide na própria identidade do homem contemporâneo
(LEDESMA,2005). Todo objeto de design há de ser entendido como resultado de um processo
de desenvolvimento, portanto, implica sempre em refletir nas condições sob as quais surgiu: o
contexto histórico, social e cultural, as limitações da técnica e da produção, os requisitos
ergonômicos, ecológicos, os interesses econômicos, políticos e até as aspirações artísticas.
(BURDEK, 1994)
Uma definição recente de design que é apresentada pela International Council of Societies
of Industrial Design – ICSID(2010) “Design é uma atividade criativa que objetiva estabelecer as
múltiplas qualidades dos objetos, processos, serviços e seus sistemas em todo o seu ciclo de
vida. Portanto, o design é um fator central para a humanização inovadora das tecnologias e um
fator crucial para a troca econômica e cultural.” De certa forma, este conceito de design busca
equacionar as varias dimensões do produto-serviço, referentes aos desafios impostos as
organizações contemporâneas e, conseqüentemente, a atividade de design, considerando os
aspectos tecnológicos, econômicos e todo o ciclo de vida do sistema-produto.

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No percurso desse conceito de design, houve um crescente aumento da complexidade
projetual, passando pela predominância da relação produção-uso do inicio funcionalista,
seguindo pela ênfase na distribuição, venda e consumo- através do marketing, da gestão e dos
agentes econômicos-, e, mais recentemente, com a abordagem do design do ciclo de vida do
produto. Nessa nova abordagem passou ser de suma importância aos designers o
entendimento mais aprofundado sobre o descarte, a reciclagem, o reaproveitamento de
materiais e produtos de modo que seus projetos e produtos, ou mesmos ou sistemas
projetados por eles, tenham menor impacto ambiental e que alcancem níveis de
sustentabilidade cada vez mais elevados. (PORTAS, 1993; MANZINI, 2005)
O que colocou o design diante de problemas cada vez mais complexos, e novos modelos
fizeram-se necessários para a compreensão desses problemas, sendo que a abordagem
sistêmica é hoje uma das mais utilizadas. Nesse sentido, o design para sustentabilidade, que
prevê, conforme Manzini e Vezzoli (2005) o planejamento de todo ciclo de vida do produto, da
concepção ao descarte, apresenta-se como a solução possível para garantir a renovação dos
recursos de produção e a renovação dos ciclos de consumo, ampliando a esfera do consumo
simbólico e restringindo o desperdício de recursos não renováveis.
Manzini e Vezzoli (2005:23) ainda afirmam que para o design ser verdadeiramente para a
sustentabilidade deve: “aprofundar suas propostas na constante avaliação comparada das
implicações ambientais, nas diferentes soluções técnica, econômica e socialmente aceitáveis e
de considerar, ainda, durante a concepção de produtos e serviços, todas as condicionantes
que determinam por todo seu ciclo de vida.
Dessa forma, propor o design para sustentabilidade significa que o sistema produtivo seja
capaz de responder a demanda social por bem-estar utilizando uma quantidade de recursos
ambientais drasticamente inferiores (em torno de 90% menor) do que os níveis atualmente
praticados. Logo, o design para sustentabilidade pode ser entendido como uma espécie de
design estratégico, pois:

Projeto de ciclo de vida e design para sustentabilidade são duas atividades absolutamente
complementares para o desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis: Sem o caráter
estratégico do segundo, o primeiro não poderia sair dos limites do redesign de produtos existentes;
sem o primeiro, por sua vez, o design para sustentabilidade não teria fundamentação concreta para se
basear.(MANZINI e VEZZOLI, 2005:24)

Cabe ressaltar que a abordagem do design para sustentabilidade pode manifestar-se no


design de várias formas, e que o modelo do design do ciclo de vida apresentado, constitui-se
em uma estratégia amplamente difundida internacionalmente. Ao incluir a perspectiva do ciclo
de vida na legislação sobre gestão dos resíduos, o Brasil - e conseqüentemente a sociedade
brasileira- reconhece essa perspectiva como fundamental para alcançarmos padrões de
produção e consumos sustentáveis.

Abordagens complementares: design sistêmico e design participativo

Contudo, antes de nos aprofundarmos nas fases do ciclo de vida do produto e nas diretrizes de
projeto, destacamos a concepção de design de sistemas ou design sistêmico e o design
participativo por considerarmos essas abordagens complementares. Pois, o design de ciclo de
vida do produto:

“implica a passagem, do projeto de um produto, ao projeto do sistema-produto inteiro, entendido como


o conjunto de acontecimentos que determinam o produto e o acompanham durante o seu ciclo de
vida. Assim, o design assume uma abordagem sistêmica, passando do produto ao sistema-produto
como um todo.” (MANZINI e VEZZOLI, 2005:100)

Conforme Manzini e Vezzoli(2005:92), considerar o ciclo de vida quer dizer adotar uma
visão sistêmica de produto, para analisar o conjunto dos inputs e dos outputs de todas as suas
fases, com a finalidade de avaliar as conseqüências ambientais, econômicas e sociais. Portas
(1993),define o design sistêmico – ou ecológico-, como corrente de design que transcende a

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lógica do produtor e do consumidor (ou usuário), pois não se limita ao objeto em si, mas o
repensa como componente de sistemas mais vastos. O designer sistêmico, reconhece que :
“a simples racionalização tecnológica e formal pode ter na base uma irracionalidade de
necessidades do ponto de vista da economia do país, dos interesses reais (não fictícios) dos
consumidores ou do equilíbrio ecológico ou ambiental” (PORTAS, 1993:238).

Segundo Vezzoli (2010:55), nos últimos anos, a partir de uma interpretação mais exata de
sustentabilidade, a atenção foi parcialmente deslocada para o design de sistemas
ecoeficientes, ou seja, para uma dimensão maior do que a do produto isolado. Em outras
palavras, a estratégia deve se deslocar o centro dos negócios do projeto e venda de produtos
isolados, para oferecer produtos e sistemas de serviços conjuntamente.

Por outro lado, ao utilizarmos a abordagem do ciclo de vida do produto compreende-se que:

“Na verdade, poucas vezes o projetista/produtor é o único responsável pelo sistema-produto como um
todo. De fato, vários atores participam e controlam os vários processos no decorrer do ciclo de vida de
um produto, ou seja, fornecedores de matérias-primas e de materiais semi-elaborados, os produtores,
os distribuidores, os usuários, os organismos públicos e ainda as empresas que se ocupam do
descarte/eliminação.” (MANZINI e VEZZOLI,101)

O designer não é único responsável, até porque, nem tudo já é conhecido no momento do
projeto. O contexto social, legal, cultural e econômico está sempre mudando. Logo, segundo
Tim Brown (2010:25), o designer solitário, sentado sozinho em um estúdio e refletindo sobre a
relação entre forma e função, é substituído pela equipe interdisciplinar. O isolamento do
designer prejudica as iniciativas criativas da organização, pois ficam isolados de outras fontes
de conhecimento e expertise.

Isso nos leva a um ponto chave das discussões atuais, a abordagem do design sob a
perspectiva da participação dos atores envolvidos. Essa abordagem requerer do designer
novas competências, como operacionalizar/facilitar processos de design participativo entre
empreendedores, usuários, ONGs, instituições entre outros, direcionando esse processo para
soluções sustentáveis. (VEZZOLLI, 2010)

Desse modo, apontamos o design participativo como conseqüência da abordagem do ciclo


de vida, envolvendo os demais atores responsáveis pelo sistema-produto em questão. Pois,
conforme Kruchen (2009), a inovação voltada para a sustentabilidade requer um alto grau de
participação social. Neste quadro, o designer assume o papel de facilitador no desenvolvimento
de inovações colaborativas e sistêmicas.

Essa abordagem participativa merece destaque não somente em relação ao design de ciclo
de vida dos produtos, mas também, pela própria PNRS, que estabelece o controle social (artigo
6, inciso VI) como “conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade
informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das
políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos” Assim, o design participativo transcende o
próprio desenvolvimento de produtos, alcançando também o desenvolvimento das políticas e
demais ações relacionadas a gestão dos resíduos.

Após complementarmos o conceito de design do ciclo de vida dos produtos, com a


abordagem sistêmica do design e o design participativo, passaremos agora para detalhamento
das fases que compõem o ciclo de vida dos produtos.

Fases do Ciclo de Vida do Produto

No design do ciclo de vida do produto, devemos considerar, em todas fases do ciclo de vida, os
processos de input e output em relação com a geosfera e a biosfera. Usualmente, são
identificados cinco fases do ciclo de vida (VEZZOLI, 2010:63):
• pré-produção: identificação da matéria-prima/recursos/ aquisição de suprimentos e
processos de refinamento;
• produção: processo, montagem e acabamentos;

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• distribuição: transporte e armazenagem, bem como embalagem;
• uso do produto: como o usuário usa e se relaciona com o produto, incluindo consumo de
recursos necessários para a sua operação (se aplicável) e processos relacionados como
manutenção;
• descarte do produto: que pode ter diferentes destinos depois da sua coleta: aterros,
incineração, compostagem, reciclagem, refabricação ou reutilização (de todo o produto ou
de algumas partes).

A figura a seguir apresenta de forma resumida o conjunto das possíveis relações físicas e
químicas – em um sistema produto visto em todas as suas fases.

Figura 7. Ciclo de vida do sistema-produto (fonte: Manzini, 2005:92)

Seguem, abaixo, mais detalhes sobre cada uma das fases do ciclo de vida, segundo Manzini e
Vezzoli (2005), com maior destaque e aprofundamento para a fase de descarte e eliminação:

Pré-produção
Nesta fase deve ser respondida a questão: Como escolher materiais a serem utilizados?
Os momentos fundamentais desta fase são: aquisição dos recursos; o transporte dos recursos
do lugar da aquisição ao da produção; e a transformação dos recursos em materiais e em
energia. Sendo que os recursos podem ser classificados em primários e secundários. Os
recursos primários ou recursos virgens podem ser recursos primários renováveis ou não
renováveis (um recurso é entendido como renovável quando sua taxa de recuperação natural é
comparável à sua taxa de consumo). Por outro lado, os recursos secundários ou reciclados
podem ser pré-consumo e pós- consumo.
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Produção
Os momentos fundamentais desta fase são: a transformação dos materiais; a montagem e o
acabamento. A maior parte dos manufaturados requer uma grande variedade de materiais para
serem produzidos, sejam diretos ou indiretos. Os materiais diretos são aqueles que, uma vez
beneficiados, encontram-se no produto. Por sua vez, os indiretos estão incorporados nas
instalações fabris e nos equipamentos necessários para a sua produção. Outras atividades e
processos atribuíveis a essa fase são: a pesquisa, o desenvolvimento, o projeto, os controles
produtivos e, ainda, a gestão dessa atividade.

Distribuição
Esta fase tem como principais momentos a embalagem, o transporte e a armazenagem. O
produto acabado é embalado para que chegue íntegro nas mãos do usuário final e capaz de
funcionar. O transporte pode ser feito por vários meios (trem, caminhão, navio, avião,
portadores etc.) para um local intermediário ou diretamente para aquele em que vai ser
utilizado [o cliente final]. Desta fase fazem parte, em princípio, não somente os consumos e a
energia para o transporte, mas também o uso dos recursos para a produção dos próprios
meios de transporte utilizados, não esquecendo as estruturas para sua estocagem ou
armazenamento.

Uso
Também pode ser chamada de consumo conforme a característica do produto. Assim seu uso
pode se dar por um período de tempo ou consumidos. No caso de serviço deve se considerar
os reparos e a manutenção. Em muitos casos, o uso de um produto absorve recursos materiais
e energéticos para o seu funcionamento e produz, conseqüentemente, resíduos e refugos.

Descarte/eliminação
Nesta fase de descarte ou eliminação as opções, em um primeiro momento são:
- pode-se recuperar a funcionalidade do produto ou de qualquer componente;
- pode-se valorizar as condições do material empregado ou o conteúdo energético do produto;
- enfim, pode-se optar por não recuperar nada do produto.

No primeiro caso, o produto, ou algumas de suas partes, podem ser reutilizados para a mesma
função anterior, ou para uma outra função diferente. O produto destinado à reutilização, deve
ser [separado,] recolhido e transportado. Em outros, casos, o produto pode ser “refabricado” ou
reprocessado. Isto é, submeter-se a uma série de processos que permitem que seja reutilizado
como se fosse novo.

No segundo caso, os materiais de um produto pode ser reciclado, passar por um processo de
compostagem ou ser incinerados (queimados). Em ambos os casos, os materiais a serem
devem ser recolhidos e transportados antes de serem tratados.

Para a reciclagem, existem dois processos fundamentais: a reciclagem em anel fechado e a


reciclagem em anel aberto. Por reciclagem em anel fechado, entende-se um sistema em que
os materiais recuperados são utilizados em lugar de materiais virgens. Isto é, são usados na
confecção dos mesmos produtos ou componentes de onde foram derivados. Na reciclagem em
anel aberto, por sua vez, os materiais são encaminhados para um sistema-produto diferente
dos de origem. Nos dois casos, a reciclagem é caracterizada por uma série de processos e de
fases que vão desde a recolha e transporte, até à produção dos materiais reciclados. A Política
Nacional de Resíduos Sólidos define reciclagem, no artigo 6 inciso XIV, como:

“processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades
físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos,
observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes..”

Como veremos a frente, a reciclagem integra algumas das diretrizes para o design do ciclo de
vida dos produtos, em especial, a que trata da otimização da vida dos produtos. Neste ponto

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daremos uma atenção especial ao chamado design para reciclagem.

Diretrizes para o design do ciclo de vida dos produtos

Em um breve resumo do item anterior, há dois conceitos-chave trazidos pela abordagem do


Design do Ciclo de Vida do Produto, o primeiro, adota uma visão ampla do design, movendo o
foco do design do produto para o design de todas as fases do seu ciclo de vida. Aqui
complementamos com o design participativo, cabendo ao designer buscar e articular os
conhecimentos e expertises dos demais atores que integram as fases do ciclo de vida.
E o segundo, é a “referência” do design, que mudou de projetar “apenas” produto para projetar
a função deste. Na abordagem funcional o design deve ter como referência em suas atividades
a função provida por um dado produto. Em outras palavras, não é apenas o produto que deve
ser projetado, mas todos os processos associados ao cumprimento de uma determinada
função. Neste segundo ponto, a concepção sistêmica do design apresenta-se como
complementação.
A partir deste ponto, serão apresentados os principais requisitos ambientais e diretrizes de
projeto de ciclo de vida do produto, segundo Vezzoli (2010):
Minimizar o uso de recursos denota o projeto com foco na redução do uso de materiais e
energia em um dado produto ou, mais precisamente, de um dado serviço oferecido por aquele
tipo de produto.

Selecionar recursos e processos de baixo impacto ambiental implica em projetar usando


materiais e fontes de energia de alta qualidade ambiental. É uma redução de impacto
qualitativo. O que inclui o design com recursos renováveis (para as futuras gerações); e o
design com recursos atóxicos e não nocivos em todas as etapas do ciclo de vida. Cabe uma
ressalva ao materiais “naturais”, isso porque praticamente todos são sujeitos a algum processo
para torná-lo passível de aplicação de produção, no entanto, há vantagens, pois são mais
renováveis e geralmente mais biodegradáveis que os sintéticos.

Otimizar a vida dos produtos é o projeto que visa a extensão do tempo de vida útil dos
produtos (e seus componentes) e a intensificação do seu uso. Um produto com um tempo de
vida maior do que outro de mesma função, geralmente, determina um menor impacto
ambiental. Um produto com desgaste acelerado, não apenas significa mais lixo, mas também
um novo produto para substituí-lo, o que envolve o consumo de novos recursos e mais geração
de emissões.

Estender a vida dos materiais significa projetar valorizando materiais oriundos de produtos
descartados, bem como pensar no uso de materiais que podem ser consumidos após o fim da
vida útil do produto, e que, ao invés de acabar em aterros, podem ser reprocessados para a
obtenção de novas matérias-primas secundárias, ou incinerados (queimados) para recuperar
seu conteúdo energético.

Em se tratando do pós-consumo, reciclagem, é necessário reconhecer suas diferentes fases:


● a coleta;
● o transporte do ponto de coleta até o local de reciclagem;
● a separação, ou seja, a desmontagem e/ou trituração dos materiais que não são
compatíveis: metais de plástico, e também os tipos de plásticos que não podem ser
reciclados juntos;
● a identificação dos diversos materiais;
● a limpeza, por exemplo, em virtude de materiais contaminados ou com etiquetas
adesivas (rótulos) e, finalmente;
● a produção dos materiais secundários.

Tudo isso significa que, o design para reciclagem, deve-se facilitar todas essas etapas
descritas acima. Isto é, projetar de forma a facilitar a coleta e o transporte após o uso,
identificar os materiais, minimizar o número de materiais incompatíveis, e facilitar sua
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separação e limpeza. Aqui surge outro conceito associado ao saber-como-fazer, é o “saber-
como-desfazer”, o que nos leva ao nosso próximo e último item.

Facilitar a desmontagem significa projetar melhorando o sistema de separação das partes do


produtos (para manutenção, melhoria ou reutilização) e também, separar materiais
incompatíveis entre si (que serão reciclados ou incinerados). Essa estratégia é, portanto, muito
útil para estender a vida útil dos materiais e produtos.

Por fim, antes mesmo de começara projetar, é importante elencar a importância relativa das
diversas estratégias para o sistema-produto específico a ser projetado e o nível de importância
de cada requisito terá para o objetivo desejado.

4 Considerações

Este artigo apresentou uma perspectiva sobre o design sustentável no Brasil, a partir de
definições presentes na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece o ciclo
de vida do produto como marco para a produção, avaliação dos produtos e serviços no País,
com intuito de minimizar o impacto ambiental do sistema produtivo nacional, com objetivo de
alcançarmos padrões sustentáveis de produção e consumo. Segundo argumentos
apresentados, é mais oportuno e ecoeficiente focar no desenvolvimento de produtos mais
sustentáveis do que em minimizar os impactos gerados pelo produto e pelos processos
necessários para sua produção, distribuição, uso e descarte.
Nesse intuito de desenvolver produtos e serviços mais sustentáveis, apresentamos o design
para o ciclo de vida dos produtos concebido por Manzini e Vezzoli, detalhando as fases que o
compõem, e apontando diretrizes e requisitos ambientais para o projeto de sistemas mais
sustentáveis.
Ante de finalizar, julgamos pertinente tecer algumas considerações tanto sobre a PNRS
quanto sobre o design de ciclo de vida do produto, principalmente no que concerne a
minimização dos impactos ambientais e ao estabelecimento de padrões sustentáveis de
produção e consumo.
Sobre o estabelecimento de leis e políticas para a sustentabilidade no Brasil, um desafio
para as lutas ambientais é que as questões sociais ainda dominam o imaginário político
brasileiro, e é razoável esperar que o número de deputados ecologistas seja pequeno ainda
nesta década. Essa interface entre questões sociais e ambientais talvez seja o caminho real
para a formulação de saídas, principalmente através da criação de uma frente socioambiental.
Pois, é preciso compreender que o tema ecológico é transversal. Aos poucos os parlamentares
vão se acostumando, o que também deveria se refletir em uma reforma tributária, onde muito
se pode fazer no sentido de estimular certos comportamentos e desestimular outros, como no
princípio poluidor pagador (princípio presente na PNRS). Por exemplo, no caso da garrafa PET,
onde paga-se o imposto industrial quando se produz a garrafa; e quando se recicla para
transformá-la numa vassoura, por exemplo, paga-se, de novo, o mesmo imposto. Uma boa
vontade do governo e do Congresso já teria superado esse problema, algo que só será
equacionado, finalmente, em uma reforma tributária. (GABEIRA, 2003)
Algumas considerações sobre design de ciclo de vida para minimização de impactos
ambientais e para sustentabilidade também se fazem necessárias. Neste aspecto, segundo
Manzini e Vezzoli (2005), uma contribuição ao desenvolvimento de uma cultura projetual capaz
de enfrentar a transição para a sustentabilidade e de promover o aparecimento de uma nova
geração de produtos e serviços intrinsecamente mais sustentáveis. O que significa, capaz de
operar no duplo terreno do projeto de ciclo de vida e do design para sustentabilidade, ou seja,
propostas que vão desde o redesign ambiental; passando pelo projeto de novos produtos ou
serviços que substituam os atuais; projeto de novos produtos-serviços intrinsecamente
sustentáveis; e, por fim, chegando até a propostas de novos cenários que correspondam ao
estilo de vida sustentável.
Sobre a compreensão do impacto ambiental de um produto e ou de um sistema, tomando como
base a função deste, a comparação entre um carro e um ônibus nas fases dos seus ciclos de

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vida pode ser um bom exemplo para explicar esse ponto. Comparando-se os ciclos de vida
desses itens, sem cálculos complexos, vê-se que o ônibus tem um impacto maior em todas as
etapas. Quando considerados de acordo com suas funções (nesse caso, transporte de uma
pessoa por “n” quilômetros), assume-se que o carro comporta duas pessoas em média e o
ônibus 20. Portanto, deve-se comparar o ônibus com 10 carros e, assim, verifica-se que o
impacto do carro é maior do que o do ônibus. (VEZZOLI, 2010)
Concluindo, em síntese, constituindo-se como uma abordagem prática para o design para
sustentabilidade, o design do ciclo de vida do sistema-produto, torna-se um elemento chave no
desenvolvimento dos novos produtos e serviços no mercado nacional, que, em virtude da
PNRS. Logo, devemos observar um aumento de demanda por parte das indústrias e demais
agentes econômicos para desenvolver políticas, estratégias, ações e, conseqüentemente,
produtos e serviços que já incluam essa perspectiva. O que pode vir a valorizar ainda mais o
design nestas instituições. Lembrando que o design de ciclo de vida do produto busca tornar
claras as relações do produto ou serviço com o ambiente desde sua pré-produção, passando
pela produção, distribuição, consumo e eliminação. Sendo que, com a Lei citada anteriormente,
a última fase de descarte/eliminação deixa de ser, uma escolha moral e incorpora-se ao âmbito
de obrigatoriedade legal. E desse modo, passa a exigir das indústrias, das empresas e dos
designers novas competências e responsabilidades, como o compromisso com
sustentabilidade ambiental.

5 Referências

BROWN, Tim; Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim as velhas
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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Reflexões sobre a inserção do ensino de práticas de
sustentabilidade nas escolas de Design de Moda
(Reflections on the insertion of teaching sustainability in
Fashion Design schools)

VIEIRA, Thais; professora do Bacharelado em Design de Moda do SENAI-CETIQT e


doutoranda; PEP – COPPE - UFRJ
contato@thaisvieira.com.br

Palavras chave: Sustentabilidade; Ensino; Design de Moda.

Dentre os vários cursos de design existentes atualmente, o de Design de Moda é sem dúvida o que ainda
mantém vínculos fortes com práticas de desenvolvimento de projetos de obsolescência programada. O
planejamento de coleções sazonais vai totalmente de encontro aos preceitos da sustentabilidade
imperiosos para a melhoria das condições das gerações futuras. Apesar de ser esta uma situação
delicada, deve-se levar os alunos ao conhecimento e à reflexão sobre como poderão se posicionar em
relação às novas práticas sustentáveis ainda embrionárias, mas inegavelmente necessárias. Este artigo
apresenta observações oriundas da prática cotidiana de uma designer e professora de uma faculdade de
Design de Moda sobre os canais de aproximação com seus alunos a respeito deste assunto tão polêmico
neste universo onde impera o consumo conspícuo de novos produtos.

Keywords: Sustainability; Education; Fashion Design.

Among many courses currently existing in design, the Fashion Design is undoubtedly the one that still
maintains strong links with development of projects with planned obsolescence. Planning for seasonal
collections goes completely against the principles of sustainability, imperative to improve conditions for
future generations. Although this is a delicate situation, one should lead students to knowledge and
reflection on how they can position themselves in relation to new sustainable practices, still embryonic but
undeniably necessary. This article presents observations resulting from the daily practice of a designer and
teacher at a Fashion Design School, about the channels of approach with their students on this
controversial issue, in this universe dominated by the conspicuous consumption of new products.

1 Moda e sustentabilidade são compatíveis?

Para melhor compreendermos a possível relação entre moda e sustentabilidade é importante


esclarecer exatamente o significado desses termos, quando utilizados neste artigo. Tanto a
palavra “moda” como “sustentabilidade” têm sido utilizadas, com muita frequência e para fins
diversos dos que são propostos aqui.
A moda é um fenômeno relacionado ao surgimento de novos produtos, de tempos em tempos,
para satisfazer a necessidade que têm algumas pessoas de possuir Apesar disso acontecer em
relação a vários objetos, é mais frequentemente associada à vestimenta, sendo que as novas
coleções de roupas são desenvolvidas e lançadas para seu público periodicamente, de acordo
com as estações do ano. Geralmente espera-se de uma boa marca de moda pelo menos duas
coleções anuais: uma para a primavera/verão e outra para o outono/inverno. Lars Svendsen
apresenta esta característica com bastante clareza em seu livro “Moda, uma filosofia” como
podemos constatar no seguinte comentário:
A natureza da moda é ser transitória. Há uma insistência central na inovação radical, uma busca
constante da originalidade. A moda só é moda na medida em que é capaz de avançar. Ela se move
em ciclos, um ciclo sendo o espaço de tempo desde o momento em que uma moda é introduzida até
aquele em que é substituída por uma nova, e seu princípio é tornar o ciclo – espaço de tempo – o
mais curto possível, de modo a criar o número máximo de modas sucessivas. A moda ideal desse
ponto de vista, duraria apenas um instante antes de ser substituída. Neste sentido, ela se aproximou
cada vez mais de uma realização de sua essência, já que seus ciclos se tornaram mais curtos,
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deixando de durar uma década como no século XIX para durar apenas uma estação dos anos 1970
em diante. (SVENDSEN, 2010, p:34)

Percebe-se então que a moda está intrinsecamente ligada ao tempo, movendo assim a
indústria que a cerca num ritmo alucinante e veloz. Acredita-se que quanto mais rapidamente
for fomentada, maior será a chance de sobrevivência da empresa num mercado como esse, de
extrema competitividade. Muitas vezes, para isso, são sacrificadas a qualidade dos produtos e
da vida das pessoas que as produzem, sem contarmos os estragos feitos na natureza pelo
mau uso de seus recursos.
A moda como a conhecemos hoje, não foi sempre assim, ou melhor, sequer existia na idade
média quando uma roupa era considerada uma relíquia de família colocada inclusive em
inventário, passando assim de mãe para filha. Mudanças de condições sociais e econômicas
fizeram com que as pessoas agregassem às peças do vestuário um valor simbólico
diretamente associado à novidade. É preciso compreender que o valor da roupa pode estar
mudando novamente e que o designer pode ser o profissional que venha a atuar como
contemporizador dessa transição (LIPOVETZKY, 1989).
O designer, por ser um profissional responsável pelo desenvolvimento de projetos, deve se
familiarizar com todas as etapas do processo produtivo, desde a escolha dos materiais até a
forma de distribuição e divulgação dos mesmos. Portanto pode e deve agir positivamente em
relação às possibilidades de um mundo mais sustentável, nos seus vários níveis de atuação.
Quando se fala de produtos, a associação mais rápida que se faz à sustentabilidade é a que
os liga ao meio ambiente. Principalmente pelo envolvimento direto que têm com seu ciclo de
vida nos processos produtivos, abordaremos aqui o desenvolvimento sustentável em seu
sentido mais amplo, ou seja, aquele que abrange além dos recursos naturais, a sociedade, a
economia e também a cultura.
O designer de moda não deve ser diferente de outros designers, mas encontra-se diante de
um grande dilema, na medida em que deve pensar seus produtos baseado na obsolescência
programada. Essa prática vai de encontro a tudo que se deve fazer para aumentar o ciclo de
vida dos produtos, premissa básica do design ecológico.
Este artigo apresenta considerações desde as observações feitas no bacharelado em
85
Design de Moda no SENAI/CETIQT , entre os anos de 2008 e 2011 ao ministrar disciplinas
teóricas e práticas para os alunos matriculados nesse período. Revemos ainda alguns
pensamentos sobre ensino de sustentabilidade em outras instituições, para compará-los e
buscar novas soluções para essas atividades.

2 A delicada abordagem da sustentabilidade no ensino de Design de Moda

O aluno recém chegado em uma escola de design de moda, como todo neófito universitário,
em geral, ainda não compreende bem o resultado de sua formação. Tem uma vaga noção de
sua vida profissional baseando-se no glamour representado pela mídia, quando veicula os
lançamentos do universo da moda.
Muitos não entendem a função de algumas disciplinas, nas quais devem conhecer os
materiais e compreender os processos produtivos. É preciso por isso colocá-los a par de quais
sejam exatamente os limites de atuação do designer, que vão muito além de simplesmente
conceber um bom desenho, como às vezes imaginam.
Atualmente com o desenvolvimento de novas tecnologias esses limites vêm se expandindo
mais ainda, permitindo que o designer aja em outros âmbitos da empresa, mais ligados à sua
gestão, justamente por sua capacidade projetual e formação multidisciplinar.

85
Serviço Nacional de aprendizagem Industrial - Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil, localizado na
cidade do Rio de Janeiro - Brasil
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Junto com as novas tecnologias surgem novas necessidades, em um mundo mais
complexo, que inclusive enxerga com maior clareza os reflexos da utilização indiscriminada da
natureza e da humanidade, caminhando para um provável colapso dos recursos naturais.
Propor o desenvolvimento do design para a sustentabilidade significa, portanto, promover a
capacidade do sistema produtivo de responder à procura social de bem-estar, utilizando uma
quantidade de recursos ambientais drasticamente inferiores aos níveis atualmente praticados. Isto
requer gerir de maneira coordenada todos os instrumentos de que se possa dispor (produtos, serviços
e comunicações) e dar unidade e clareza às próprias propostas. Em definitivo, o design para
sustentabilidade pode ser conhecido como uma espécie de design estratégico, ou seja, o projeto de
estratégias aplicadas pelas empresas que se impuseram seriamente a prospectiva da sustentabilidade
ambiental. (MANZINI, 2008, p:23)
O designer deve, neste contexto, passar de criador de mais produtos que aumentem a
geração de lixo, para ser aquele que otimiza o processo produtivo, economizando os recursos
naturais, podendo ainda programar uma forma de reaproveitá-los após seu descarte. Isso é
fundamentalmente uma visão que deve fazer com que as empresas valorizem a função do
designer, não só pela necessidade em adequar sua produção às leis em defesa do meio
ambiente que vem surgindo a cada dia, mas também, pela própria economia resultante dessa
adaptação. Quanto menos energia e materiais gastos, menor o custo de produção!
Visto isso, fica ainda o dilema sobre a obsolescência das coleções, vigente no mercado da
moda nos dias de hoje. O profissional tem que estar preparado para corresponder às
expectativas de seu empregador, que ainda funciona de acordo com um sistema de economia
linear, no qual a finitude dos produtos não é considerada. No desenvolvimento sustentável,
busca-se o processo circular no qual o próprio produto se torna insumo para outro produto
assim como acontece nos ciclos da natureza.
Sobre este aspecto, procuramos chamar a atenção dos alunos para alguns fenômenos que
vêm se apresentando como manifestações espontâneas de novos comportamentos em relação
ao consumo de roupas. São as formas de reaproveitamento de peças através de trocas,
compras em brechós, recuperação de objetos antigos tidos como “vintage” e a customização
fazendo com que se possa usar um mesmo modelo de várias maneiras diferentes.
A função de uma escola é preparar um profissional para os desafios do mercado de
trabalho. Isso inclui, sem dúvida, a capacidade crítica e reflexiva para que ele saiba tomar as
decisões necessárias durante a sua atividade fim.
É preciso apresentar aos alunos, os inúmeros fatos em relação às questões de
sustentabilidade nas suas várias manifestações. Fazendo-o da forma o mais isenta possível,
para que não aja influência demasiada em relação a um caminho específico a ser seguido. Isso
para que ele saiba se posicionar, por si só, frente aos desafios cada vez maiores na
aproximação entre a moda e a sustentabilidade.
Outras escolas de design de moda vêm enfrentando dificuldades e analisando as
possibilidades de inserção dos conceitos de sustentabilidade em seu currículo, como esta
escola de Londres:
No primeiro ano do ensino de sustentabilidade, começamos o curso, apresentando todos os
resultados negativos da produção de têxteis, tais como a poluição, devido ao crescimento de fibras, a
sintetização de corantes, fibras e acabamento. O resultado foi que os alunos ficaram
surpresos e retidos em sua criatividade, pensando que a indústria globalizada iria além de seu alcance
e influência. Aprendemos com nossos primeiros passos errados e temos, desde então, focado o
papel central que o designer desempenha na escolha de materiais e cores, na definição da tendência
e na resposta às necessidades e desejos dos consumidores. Mostrando um espaço no qual podem
agir e ter influência, assim a criatividade e a fantasia dos alunos são ativados. (BOUTRUP, 2009, p:3)
Neste mesmo texto encontramos mais algumas considerações relevantes sobre a
metodologia dessa escola e ainda sobre seus objetivos na formação de seus alunos, quanto ao
resultado de seus projetos e a consciência de sua responsabilidade:
Na Kolding School of Design, temos mais de dez anos ministrando um curso em materiais e
sustentabilidade para estudantes do terceiro semestre em moda e têxtil. O objetivo do curso é criar
uma consciência dos aspectos ambientais em todos os alunos, a fim de torná-los uma parte natural do
processo de design. Apresentando exemplos, métodos e materiais novos, melhores e mais amigáveis
ao ambiente, já em uso ou em desenvolvimento, estimulamos a criatividade dos alunos e a repensar
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os produtos. Além disso, ressaltamos que os designers têm uma responsabilidade ética na
concepção de consumo de massa. No entanto, a mensagem principal do curso é que um bom
design é sustentável e que a sustentabilidade não é necessariamente visível no produto final. O
projeto deve ser tão atrativo que o consumidor vai preferir este produto, mesmo sem saber sobre a
sua sustentabilidade. (BOUTRUP, 2009, p:3)

Nos produtos de moda especificamente, houve uma fase em que surgiram os feitos com
insumos sustentáveis, utilizando técnicas e materiais que empobreciam o resultado final,
estabelecendo um estigma que os relacionava à baixa qualidade final. Hoje já podemos
encontrar roupas que só podem ser diferenciadas por seu processo ecológico se este for
descrito na etiqueta, porque mantém o aspecto das roupas que não utilizam processos
sustentáveis.
O conhecimento dessas possibilidades vai sendo introduzido aos nossos alunos desde o
primeiro período durante as aulas do currículo normal, por dever estar a sustentabilidade
presente em todo o ensino do design. É uma formação multidisciplinar que aborda aspectos tão
variados como comportamento e tecnologia e, portanto, não deve limitar o ensino do assunto a
apenas uma matéria. Mora afirma que, ´Segundo os parâmetros curriculares nacionais, o tema
meio ambiente é considerado como transversal, deve pois perpassar todo currículo, sendo sua
abordagem de competência de todas as disciplinas`(2008, p:83) .É disponibilizada aos alunos
ainda, uma disciplina específica de design sustentável, que é optativa para os que desejarem
se aprofundar nestas questões, além de palestras e seminários eventuais sobre a matéria ao
longo do ano.
Na disciplina de Fundamentos do Design que é ministrada no primeiro período utilizamos como
base o livro “Uma Introdução a história do design”, no qual Rafael Cardoso quando escreve
sobre os desafios do design no mundo pós-moderno comenta:
Cabe ao designer pensar cada vez mais em termos de ciclo de vida do objeto projetado, gerando
soluções que otimizem três fatores: 1) uso de materiais não poluentes e de baixo consumo de energia,
2) eficiência de operação e facilidade de manutenção do produto, 3) potencial de reutilização e
reciclagem após descarte. A visão de planejamento de ciclo de vida é especialmente importante do
ponto de vista do designer, por se tratar de uma atividade que só pode ser realizada como parte do
processo de produção e que se encaixa portanto na busca de qualidade total intrínseca às filosofias
mais recentes de gestão empresarial (CARDOSO, 2005, p:217)
A ênfase na sustentabilidade durante as aulas tem aumentado progressivamente e
conseqüentemente o interesse manifestado pelos alunos recém chegados, mas os resultados
dos trabalhos de conclusão de curso (TCC) ainda são relativamente pouco expressivos. Na
turma que se formou no primeiro semestre de 2011, não chegam a 7% do número total de
monografias que demonstram preocupação com a ecologia em seus projetos de coleções de
moda. Esse número tem crescido, mas ainda muito timidamente em relação ao aumento da
necessidade social e ambiental de um mundo mais sustentável.
Uma das oportunidades interessantes que a instituição oferece aos alunos é o contato com a
“ARTêxtil:Casa de inclusão social” onde são ministrados cursos de extensão comunitária nas
áreas de confecção, modelagem, estamparia pintura em tecidos, artesanato têxtil e outros
ligados à moda. Neste espaço, são privilegiadas as pessoas de baixa renda oferecendo
gratuitamente formações para melhor prepará-los em relação ao mercado de trabalho. Também
há cursos para portadores de deficiências que lhes propicia capacitação para inclusão social.
Portanto a importância da mão de obra é um valor apresentado na própria prática da escola,
que abre suas portas aos mais necessitados.(CETIQT, 2011)
Um dos relatos mais interessantes quanto a práticas de ensino sobre desenvolvimento
sustentável em escolas de nível superior trata da descrição de uma mesma experiência feita
por três autores em duas instituições: University of Aberdeen e Università degli Studi di Torino.
Os professores instituíram exercícios de encenação de questões ligadas à sustentabilidade, na
qual deveriam julgar as possibilidades de solução como se estivessem num tribunal. O
resultado mostrou-se positivo, no sentido de fazer com que os alunos se colocassem no âmago
de questões complexas, tendo visões diferenciadas e experienciando as dificuldades reais na
solução dos problemas sócio-ambientais (COLUCCI-GRAY, 2006). Os autores ressaltam a
complexidade do mundo atual e uma consequente necessidade de rever as formas da relação

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ensino-aprendizado.
A importância do incremento do ensino para o desenvolvimento sustentável nas escolas foi
apresentada como um desafio na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento ocorrida no Rio de Janeiro em 1992 (UNCED). O programa de ação “Agenda
21” surgido da própria conferência, identifica a necessidade dos países reforçarem o ensino
para a sustentabilidade desde a escola até às universidades. Doze anos depois a UNESCO
estabeleceu a década da “Educação para o desenvolvimento sustentável” entre os anos de
2005 e 2014, em cujo projeto verifica-se a importância específica do ensino em nível superior.
(JONES, 2010).
Das universidades saem as principais lideranças, que geralmente decidem o futuro e por
isso torna-se necessário colocar esses estudantes a par dos conhecimentos, não apenas
relativos a suas escolhas profissionais específicas, mas também das necessidades sociais,
econômicas e culturais vigentes. Se forem os profissionais qualificados responsáveis pelos
problemas os que causam os maiores impactos ambientais, deveremos promover a crítica e
dar ferramentas técnicas aos novos formandos, para mudar esse cenário.
O mercado de trabalho precisa de profissionais que conheçam e saibam atuar de acordo
com as muitas leis e políticas de proteção ao meio ambiente que vêm surgindo. Não se pode
mais produzir sem pensar em alguns aspectos que antes eram opcionais e que eram utilizados
no caso de haver uma consciência ética por parte do empresário

3 Valores futuros

Apesar de todos estes fatores, há quem questione a necessidade do ensino para o


desenvolvimento sustentável colocando-o como uma possibilidade de escolha a ser oferecida e
não uma prioridade.
Muito tem sido dito sobre a Responsabilidade Social da Corporação (CSR) e surgirão,
portanto, necessidades de ações, no sentido de aumentar a produção de tecidos orgânicos,
comércio justo, produção sustentável e ética. Para tanto é preciso formar designers de Moda
preparados para atender a tal demanda. As indústrias terão de se adaptar e,
consequentemente, os profissionais que nelas atuam.

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Atualmente podemos notar indícios de novos modelos mais adequados as proposições de
diminuição de consumo, como o surgimento de roupas já criadas com intenção de serem
reutilizadas, pela versatilidade de sua função. Vestidos que podem ser amarrados e
entrelaçados de várias maneiras, saias que podem se transformar em blusas ou ainda um
casaco que se transforma em mochila.
Muito em breve a visão ecológica no projeto de design será reconhecida como condição
fundamental para a formação do profissional do design de moda, assim como em todas as
profissões que exigem desenvolvimento de projeto. As mudanças ocorrerão aos poucos,
resultado das experiências nas condutas dos processos.
A transição para a sustentabilidade será um processo de aprendizagem social, que vai nos ensinar
progressivamente, através de erros e contradições – como em todo processo de aprendizado – como
viver melhor, consumindo (muito) menos e como recriar o ambiente físico e social em que vivemos
(VEZZOLI, 200, p:29)
Falamos portanto resumidamente sobre a formação de valores dos cidadãos, sejam eles
consumidores, estudantes ou ambos. É possível e necessário esclarecer os fatos, mas as
escolhas finais cabem aos indivíduos e sua subjetividade. O ensino há muito já deixou de ser
visto como uma imposição de cima para baixo e o professor como detentor da verdade. Cabe a
este o papel de pesquisar e trazer para a sala de aula as informações a que tem acesso.O
conhecimento deve ser uma construção diária, reflexo da interação preferencialmente
harmônica entre mestre e aluno.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Comunidades criativas: Inovações sociais e produtivas do
agreste Pernambucano (Creative communities: Social and
Productive Innovations of countrified Pernambucano)

ALCOFORADO, Manoel; Doutorando; UFPE/UNESP


manoelguedes@hormail.com

Palavras-Chaves: comunidades, sustentabilidade, design

Esse artigo apresenta novos resultados parciais da pesquisa comunidades criativas no agreste
pernambucano, que objetiva recolher dados sobre as inovações sociais locais e promover uma reflexão
sobre o papel do design no desenvolvimento dessas pequenas comunidades do agreste, discutindo como
as recomendações e as diretrizes globais da sustentabilidade podem ser aplicadas a um contexto local e
como as experiências dessas comunidades podem ser compartilhadas para ampliar o conhecimento
sobre a relação entre design e sustentabilidade em um contexto global.

Keywords: communities, sustainability, design

This paper presents partial results of new research in creative communities of the countrified
Pernambuco, which aims to collect data on local social innovation and promote a reflection on
the role of design in the development of these small communities, discussing how the
recommendations and guidelines of global sustainability can be applied to a local context and
how the experiences of these communities can be shared to increase knowledge about the
relationship between design and sustainability in a global context.

1 Introdução

O aumento crescente da demanda de desenvolvimento de produtos, acelerada pela


competitividade advinda de um processo contínuo de globalização, onde co-existe o constante
estimulo ao consumo por parte da indústria mundial e um mercado cada vez mais espelhado
pelos padrões da Europa e do EUA. Esse contexto, ao mesmo tempo que amplia o processo
de aculturação, fortalece os movimentos de identificação cultural. Dessa situação surgem
novas formas de organização social, comunidades conectadas a uma realidade global mas,
que conservam características peculiares, redefinindo o termo local. Segundo Manzini (2006),
esse localismo é capaz de criar uma economia e sociedade híbrida, um mix entre o contexto
local e globalizado (informações, idéias, dinheiro...) em busca de um equilíbrio sustentável.
A comunidade científica tem refletido e proposto diversos caminhos para criação de cenários
sustentáveis, sejam elas: (1) soluções incrementais, em uma dimensão tecnológica, pela
racionalização e controle do sistema produtivo que incluem: a gestão do ciclo de vida dos
produtos, a redução no uso de energia e recursos naturais, uso de tecnologia limpas e redução
de refugos, projetos de produtos que considerem as propriedades dos materiais, promovendo a
racionalização, a redução, a reciclagem, o reuso e a remanufatura ou (2) soluções radicais, em
uma dimensão cultural, que apontam para a necessidade de redução drástica do consumo e de
produção através de uma mudança cultural a partir de novos estilos de vida; adoção de
soluções coletivas em detrimento a soluções individuais; substituição de produtos por serviços;
consideração de aspectos emocionais, capazes de prolongar o tempo de uso dos produtos;
aplicação de novas legislações e impostos sobre responsabilidade ambiental...
Contudo, muitas vezes temos desconsiderado a importância que as pequenas soluções e
mudanças podem produzir em um cenário global. Edward Lorenz (MIT) ao desenvolver a teoria
da borboleta, abre o caminho para o surgimento de uma filosofia mais otimista em relação às
possibilidades de reversão de cenários desfavoráveis. Pequenas ações desenvolvidas

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individualmente ou por comunidades criativas, podem se mostrar bastante eficientes em
situações adversas. Essas podem nos ensinar o caminho para produzirmos soluções viáveis a
outras dimensões da sociedade, seguindo o caminho inverso da estrutura top-down.
Para Jason McLennan (2004) “Temos uma incrível capacidade de destruir o habitat em que
todos os seres vivem, mas também temos uma grande capacidade de projetar um bom design”.
A partir dessa visão, acreditamos: no poder das inovações sociais que surgem de comunidades
criativas, na busca de soluções locais de seus problemas e na contribuição que essas
inovações podem nos dar para produção de cenários sustentáveis globais.
Sendo assim, propomos nesse artigo refletir como podemos compartilhar essas informações e
como essas podem contribuir para construção desse cenário sustentável, ou seja, como
diretrizes gerais de sustentabilidade e as experiências de pequenas comunidades podem ser
interpretadas para construção de novas soluções para problemas comuns.
Para isso, levantaremos as principais diretrizes de sustentabilidade utilizadas pela comunidade
científica e refletiremos sobre algumas soluções individuais e coletivas de comunidades do
agreste pernambucano, buscando ampliar o conhecimento sobre esse tema. Analisaremos
ainda, os resultados alcançados por projetos de extensão realizados em comunidades
produtivas locais, considerando a experiência adquirida durante o desenvolvimento do projeto.
Para isso, estruturaremos esse artigo nas seguintes sessões:
Sessão2: Princípios e diretrizes globais de sustentabilidade
Sessão3: O localismo e as Comunidades Criativas
Sessão4: Comunidades do Agreste Pernambucano
Sessão5: Integrando Soluções
Sessão6: Contribuições e conclusão

2 Princípios e diretrizes globais de sustentabilidade

O desenvolvimento sustentável pode ser definido como, o processo de crescimento sustentável


das condições sociais, políticas, culturais, econômicas, educacionais e ambientais de uma
comunidade, com base na tomada de consciência individual e uma responsabilidade coletiva
sobre a realização de iniciativas locais produtivas ou não. Isso implica na solidariedade entre as
gerações para satisfazer as necessidades básicas da população, através de um contínuo
processo de equidade social, em uma perspectiva de sobrevivência com qualidade de vida das
gerações atuais e futuras (Oliveira, 2006).
Manzini e Vezzoli (2005) descrevem duas dimensões de uma sociedade sustentável: (1) A
dimensão econômica e produtiva e a (2) dimensão social e cultural.
A dimensão econômica e produtiva visa construir uma sustentabilidade econômica,
considerando o contexto capitalista, através do equilíbrio das forças produtivas e ecológicas. O
objetivo é atingir um ponto de estabilidade, ou seja, onde se possa manter a sustentabilidade
econômica: empregos, salários, consumo,... de forma equilibrada com os aspectos ecológicos,
relacionados a preservação e manutenção dos recursos naturais.
A dimensão social e cultural seria um processo de mudança de consciência, um novo olhar do
mundo, novos estilos de vida, de consumo e de bem estar, ou seja, uma descontinuidade de
modelos sociais consolidados em busca de um novo modelo, que possam promover uma
sustentabilidade em uma escala global, através de comunidades cada vez mais
interconectadas por um objetivo comum. Isso envolve todos os fatores humanos: Ética nos
negócios, responsabilidade social e responsabilidade ambiental (Melo Neto e Brennand, 2004).
Manzini e Vezzoli (2005) apontam quatro níveis fundamentais de interferência do design: (1) O
redesign ambiental existente (2) o projeto de novos produtos ou serviços que substituam os
atuais (3) projeto de novos produtos-serviços intrinsecamente sustentáveis e (4) proposta de
novos cenários que correspondam ao estilo de vida sustentável.
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Um ponto importante a ser observado é a relação entre: (1) o tempo da natureza em gerar ou
renovar um recurso (2) o tempo de consumo, que corresponde ao tempo de utilização dos
produtos (do uso ao descarte) e (3) o tempo de reabsorção ou transformação dos resíduos pela
natureza. O que observamos é um profundo descompasso nessas relações de tempo, que
podem chegar ao extremo no caso de produtos descartáveis. Eles são desenvolvidos
normalmente a partir de termoplásticos como poliestireno (PS) e Polietireno de baixa
Densidade (PEBD) derivados do petróleo, que possui um tempo de geração e renovação na
natureza na casa dos milhões de anos, pode ter um tempo de consumo na casa de segundos e
um tempo de reabsorção pela natureza na casa das centenas de anos. Esse descompasso,
pode explicar parte da situação insustentável que vivemos com a produção, o consumo e
descarte de diversos produtos.
Manzini (2005), Kruken (2009) e Moraes (2010), apontam diversos aspectos que devem ser
considerados na promoção da sustentabilidade, alguns aspectos relacionados a uma dimensão
técnica e tecnológica, outros mais relacionados às dimensões sociais e culturais. A seguir
relacionaremos algumas diretrizes de sustentabilidade mais relacionadas com a pesquisa sobre
comunidades criativas:
 Favorecer o uso de recursos renováveis e reduzindo e otimizando o uso de recursos
não renováveis.
 Favorecer a implantação de soluções que favoreçam o coletivo em detrimento de
soluções individuais.
 Uso de matérias primas locais ou já empregadas na indústria local e das tecnologias
disponíveis na região;
 Inserção de referencias e identidade local, através da decodificação de signos e
ícones que representassem o território e cultura local em uma linguagem
contemporânea destinadas ao mercado global, adequando o projeto as linguagens e
anseios do mercado local e global.
 Identificação e exploração sustentável do potencial dos recursos e competências do
território, desenvolvimento de produtos e serviços diferenciados com alto valor
agregado local (recursos e riquezas culturais locais)
 Processos colaborativos de inovação e melhoramento do design local (diálogo tradição
x inovação) que fortaleça o pertencimento da comunidade.
 Prolongar ao máximo o ciclo de vida dos produtos mantendo sua eficiência ecológica,
através de um projeto para durabilidade, reposição, adaptação, atualização,
reutilização e remanufatura,

3. O localismo e as comunidades criativas

Segundo Manzini (2008, p34-35) em todas as sociedades industriais um número cada vez
maior de pessoas com desejo, energia e capacidade de inventar formas originais de alcançar
seus objetivos. Grupos de pessoas com iniciativa, chamado aqui de comunidades criativas,
que, por exemplo, estão experimentando novos estilos de vida e promovendo soluções para o
desenvolvimento de serviços e criando condições alternativas para problemas comuns seja em
comunidades, bairros ou nas residências, seja de forma individual ou coletiva, através de
grupos ou redes sociais.
Segundo o autor, as comunidades criativas são grupos de pessoas organizadas para obter um
certo resultado, para resolver um problema e / ou para abrir uma nova oportunidade. Eles se
envolvem nas busca de soluções ao invés de aguardar as repostas de como deve ser feito,
fecundando o conceito de inovação social.
Essa pessoas ,muitas vezes usam das novas tecnologias e de ferramentas de organização e
mobilização em redes sociais, peer-to-peer como forma de atrair um grande número de
participantes,dar-lhes um objetivo comum e desenvolvem projetos muitas vezes complexos e
difíceis, como: o desenvolvimento de softwares livres para inibir o monopólio de softwares,
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produzir um dicionário coletivo, como o Wikipédia, para difundir conhecimento, promover um
encontro ou ação relâmpago (“flashmob”) para crítica social ou protesto político ou para
massificar um boicote a produtos de uma determinada empresas que vem explorando mão de
obra escrava e infantil ou que geram danos a natureza e aos animais do planeta.
Manzini (2006) defini comunidades criativas como grupos de pessoas engajadas para a
solução ou criação de novas possibilidades para problemas comuns, a partir de um processo
de construção de um conhecimento social voltados para a promoção da sustentabilidade social
e ambiental. Essas soluções podem ocorrer no ambiente do lar (co-housing), nos bairros (como
projeto de mobilidade compartilhada), movimentos sociais ou cooperativas (como produção de
alimentos orgânicos, reciclagem de materiais,...). Sendo assim, o designer precisa aprender a
identificar essas inovações e reorientações sociais, e compreender como elas podem ser
aplicadas para promoção da sustentabilidade.
Dessa forma, uma pesquisa nessa área deve coletar informações sobre os seguintes aspectos:
 Verificar como as comunidades e atores sociais desenvolveram soluções criativas e
como essas alternativas ajudam as pessoas a superar problemas em contexto locais e
que podem ser rescaladas para outros contextos.
 Buscar respostas de como viver melhor? Como produzir de forma socialmente e
ecologicamente adequada? Como gerar conhecimento que possam ser aplicados em
outros contextos insustentáveis.
 Como identificar essas inovações e essas reorientações sociais? E como aplicá-las
para promoção da sustentabilidade?
 Pesquisar em que ambientes e sobre quais condições ocorrem essas inovações?
Como por exemplo: no ambiente do lar (co-housing), nos bairros (como mobilidade),
movimentos sociais ou cooperativas (como produção de alimentos orgânicos,
reciclagem de materiais,...).
Observamos também a necessidade de redefinir o conceito e o olhar sobre essas
comunidades, nesse sentido o método etnográfico tem se mostrado um importante caminho de
compreensão da realidade. Segundo Manzini (2006) o código do design prever a idéia de
promoção da qualidade de vida, atuando como uma ponte entre as inovações técnicas e
sociais de forma a promover artefatos habilitados a ajudar as pessoas a viver melhor. Para o
autor, precisamos redefinir radicalmente a definição de “viver melhor”, através da redefinição de
conceitos e ferramentas operativas do design. Para isso, novos modelos de vida, de produção,
de consumo e de sociedade deverão surgir.
Para Walker (2006) o designer deve trabalhar as seguintes questões para desenvolver o “bom
design”:
 Projetar pensando em reduzir as distâncias entre as pessoas
 Devemos projetar produtos que possam enriquecer a nossa vida em profundidade
 Adicionar utilidade e emoção aos objetos
 Buscar benefícios econômicos à produção
 Incluir considerações sociais e ambientais no desenvolvimento de produtos
Para o autor, precisamos de idéias que quebrem convenções (globalização, capitalismo,
disparidades sócio-econômicas,...), supere preconceitos, remodele a cultura material pós-
industrial. Para propor novas formas de viver, ou de viver melhor, fica claro que precisamos
compreender como os indivíduos e as comunidades vivem, o que há de positivo e negativo em
cada experiência e como podemos trabalhar juntos, verificando caminhos para que elas vivam
melhor, ou aprendam a viver melhor compartilhando essas experiências.
A mudança ou o novo olhar sobre a identidade material local pôde se acompanhada pela
mudança desse conceito no ensino de desenho industrial nas nossas universidades. O modelo
que regia o ensino nos anos 70, 80 e início dos anos 90, era estruturado a partir da escola
Ulmiana (modelo que foi implantado no Brasil com o surgimento da primeira escola superior de
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design do Brasil, a ESDI). Esse modelo considerava o Desenhista industrial, o profissional que
desenvolvia produtos para serem produzidos em série (em detrimento aos produtos e
produções artesanais, visto sobre o olhar preconceituoso da época). Hoje, o curso de design
de nossas universidades não apenas estão perdendo o adjetivo industrial, como estão sendo
quebrados os preconceitos sobre os produtos e produções artesanais. Isso tem nos levado a
compreender melhor a nossa identidade e as nossas comunidades. Possivelmente, se o
projeto de escola idealizado por Lina Bo Bardi tivesse sido implantado antes do modelo da
ESDI, não tivéssemos perdido tanto tempo para encontrar a nossa identidade no design.
Nesse sentido, alguns caminhos apontam para o design vernacular (adaptado a cada
contexto), um design que considera a cultura tradicional e uma cultura material adequada ao
seu ambiente, ao uso de recursos e valores locais, buscando caminhos para uma vida
sustentável (considerando inclusive os valores éticos). Esses valores puderam ser observados
em diversas comunidades do agreste pernambucano.

4. Comunidades do Agreste Pernambucano

Engajados nesse processo de construção coletiva do conhecimento, na identificação das


inovações sociais e no desenvolvimento participativo de soluções e produtos para a
sustentabilidade de comunidades locais, o Núcleo de Design da UFPE (Centro Acadêmico do
Agreste – Caruaru-PE), juntamente com alunos, bolsistas e docentes, estão desenvolvendo
uma série de ações das quais podemos destacar:
Projeto Modelando Sonhos: Projeto de extensão desenvolvido pelo Núcleo de design da
UFPE (www.ufpe.br/designcaa), com objetivo de identificar, através de um estudo etnográfico e
iconográfico, os elementos representativos da cultura material e imaterial do município de Barra
de Guabiraba-PE e construir um projeto coletivo a partir dos desejos e vocações das mulheres
artesãs do município. O projeto foi viabilizado pela estruturação de uma equipe multidisciplinar
e de uma rede de parceiros da rede de municípios saudáveis, entre eles: O Núcleo de Saúde
Pública e Desenvolvimento Social NUSP/UFPE ((www.ufpe.br/nusp), a ONG Canadense AIPS
e a Agencia Estadual de planejamento e pesquisa do Estado de Pernambuco
(CONDEPE/FIDEM), que realizaram reuniões periódicas com as artesãs e líderes municipais.
Essas etapas foram fundamentais para definição de um cronograma executivo do projeto e
estruturação de cursos de capacitação que visaram ampliar a visão empreendedora das
artesãs e o conhecimento técnico em produção. Conhecimentos esses que favorecessem a
autonomia para o desenvolvimento de novos produtos, que identifiquem a comunidade e
favorecessem a geração de ocupação e renda para essas artesãs, contribuindo para a
construção de um município saudável. Esse projeto visa promover um município saudável, não
apenas no sentido da saúde física, mas, na promoção do bem estar como um todo
(psicológico, ideológico, social,...). Durante a execução do projeto, observamos e registramos
informações relevantes que contribuam para compreender as inovações sociais, econômicas e
produtivas envolvidas no processo de desenvolvimento e comercialização dos produtos
artesanais.
Pesquisa em comunidades locais: Dentro das disciplinas projetuais do curso de design do
Centro Acadêmico do Agreste da UFPE: (a) Projeto de produto sustentáveis e (b) Design
Social, temos solicitado aos alunos a pesquisa e o desenvolvimento de produtos dentro de
comunidades produtivas do agreste Pernambucano. Durante a fase de levantamento, os
alunos normalmente coletam um material riquíssimo de pesquisa. Esses favorecem o
desenvolvimento de projetos de extensão e a produção de artigos científicos. Apresentaremos
a seguir alguns resultados dessa pesquisa e faremos uma posterior análise desse material:
 Comunidade da vila de Santa Tereza (Agrestina-PE) – comunidade com mais de
500 pessoas, cuja a atividade econômica principal e o desenvolvimento de chocalhos
de gado a partir da reciclagem, que inclui a conformação de restos de latões, tampas e
demais materiais metálicos descartados e a queima do metal bolo de areia com zinco
(“tapioca”) em forno artesanal de 1000º. A atividade, existente no município desde os
seus fundadores, a mais de 80 anos, faz movimentar a economia de toda a

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comunidade, mantendo a sustentabilidade social e econômica do município e
contribuindo com a sustentabilidade ambiental.

 Vila Viturino (Riacho das Almas - PE): É uma pequena comunidade afastada do
centro do município e organizada em cooperativa. Ela desenvolve produtos artesanais
como: mobiliário (sofás, cadeiras e mesas), objetos de decoração e árvores natalinas a
partir de fibras de cipó disponíveis na natureza do local e nos municípios
circunvizinhos. Essa arte, passada de geração em geração entre os membros dessa
comunidade, com grande valor cultural, nos ajuda compreender caminhos para
integração da sustentabilidade econômica e social com a manutenção da qualidade de
vida e da identidade cultural local.

 Máscaras de Bezerros - PE – O município de Bezerros


tradicionalmente conhecido pela força de sua cultura material e
imaterial, pela produção da literatura de cordéis em xilogravura, de
artistas como J. Borges, pela produção de artesanato em madeira e
também a produção das famosas máscaras em papel e jornal
utilizadas pelos foliões durante o carnaval. A produção dessas
máscaras, movimentam a economia local, uma vez que os artista
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diversificam a sua aplicação produzindo: chaveiros, canetas objetos de
decoração e painéis, permitindo que esses artistas se dedicam a esse
ofício durante o ano inteiro, mantendo a sua produção tradicional, com
cola de trigo e reaproveitando jornais e papeis descartados e os todos
valores simbólicos da sua cultura tradicional.

Projetos de Pesquisa e extensão em comunidades locais:


Na região do agreste pernambucano (região que compreende os municípios de Santa Cruz do
Capibaribe, Toritama e Caruaru), está localizado um dos maiores pólos de confecções e jeans
do Brasil, O pólo da moda. Como o processo de formação desse pólo se deu de forma
espontânea, ou seja, foram os próprios produtores que iniciaram o processo através da criação
de fabriquetas e lavanderias familiares, ela surgiu de forma desordenada, em locais
inadequados e causaram diversos impactos ambientais, como poluição do solo e rios da
região.
Com objetivo de mudar essa realidade, diversos atores como: Instituto Tecnológico de
Pernambuco (ITEP), Ministério Público do Estado, Prefeitura da Cidade de Caruaru, CPRH,
ONGs e Universidades, estão engajados no planejamento, pesquisa, desenvolvimento de
produtos e gestão ambiental. Os primeiros passos já foram dados com a criação de uma
lavanderia experimental no ITEP-Caruaru, para teste de novos processos de lavagem do
Jeans, Criação do primeiro curso no mundo em gestão de lavanderias (no instituto tecnológico
da Moda - ITAC), criação de um arranjo de lavanderias com gestão dos recursos hídricos e
sólidos e com a criação de legislação específica para adequar empresas as novas regras
ambientais do município.
Através dos projetos de extensão e pesquisa, com foco na melhoria do processo de lavagem,
desenvolvimento de novos produtos de moda, tratamento dos resíduos líquidos e reutilização
dos resíduos sólidos, como “lodo” químico do Jeans, para desenvolvimento de produtos e para
construção civil, os núcleos de design e tecnologia da UFPE vem dando a sua contribuição
para o desenvolvimento de comunidades sustentáveis.

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5. Integrando soluções

Ao analisarmos as comunidades do agreste pernambucano podemos refletir sobre os seguintes


pontos:
 As mudanças promovidas pelas comunidades, a partir de sua própria percepção,
conscientização e iniciativa, são capazes de promover cenários e soluções mais
rápidas, eficientes e duradouros, se comparadas com as iniciativas de alguns projetos
ou pressões promovidas pelo poder público através de legislações;
 Cada comunidade possui problemas peculiares a sua realidade. Sendo assim, não é
possível ter soluções prontas, cada comunidade desenvolverá um caminho próprio de
sustentabilidade. Nesse caso, as diretrizes gerais de sustentabilidade precisaram ser
adaptadas para cada realidade e para cada contexto e caberá ao design compreender
essas peculiaridades a fim de criar a melhor metodologia de trabalho com elas.
 Para reconhecer e compreender os valores de nosso território, precisamos aprofundar
a aplicação de métodos das ciências sociais, como a etnografia e iconografia, de forma
a identificar os elementos da cultura material e imaterial, seus valores e assim, a partir
de metodologias de design específicas, configurar artefatos culturais que promovam os
esses valores a partir da sua decodificação em atributos nos produtos, de forma
promover uma sustentabilidade social e econômica conectada com a sustentabilidade
cultural.
 Precisamos observar com atenção as inovações sociais e econômicas presentes nas
ações das pessoas, nos processos e nas comunidades produtivas, de forma a
identificar aspectos relevantes para a teoria da sustentabilidade e idéias concretas que
possam ser compartilhadas e orientar a promoção da sustentabilidade em outros
cenários.
 Todos os projetos a serem desenvolvidos nas comunidades devem ser realizados de
forma participativa, ou seja, envolvendo os diversos atores da comunidade. Modelos
top-down estarão condenados ao fracasso.
 Os projetos nas comunidades precisam ter início, meio e fim. Não podemos pensar de
forma assistencialista ou paternalista. Devemos desenvolver comunidades que possam
andar com suas próprias pernas. Sendo assim, devemos estruturar projeto colocando
como diretriz prioritária a autogestão e auto-sustentabilidade.
 As comunidades ao se agruparem conseguem resolver de forma criativa e colaborativa
os seus problemas, inteirando o pensamento tão conhecido e muitas vezes pouco
praticado que “a união faz a força”. O mesmo pensamento deve ser seguido por
nossos projetos, devemos reunir todos os atores (poder público, privado, ONGs e
Instituições de pesquisa e ensino) necessários para o pleno desenvolvimento de
ações.
 Antes de fechar os objetivos de um projeto é necessário compreender os sonhos, o
imaginário, as vocações das pessoas e das comunidades. Um pesquisador precisa
está preparado para escutar mais do que falar e para aprender mais do que ensinar.

6. Contribuições e conclusão

Com esse artigo, acreditamos termos contribuído para a compreensão do papel social e
sustentável do designer. As pesquisas em campo e nas comunidades, e os projetos de
extensão geram um aprendizado valioso para os alunos e docentes, não apenas pelo sentido
acadêmico, mas, sobretudo pelo sentido humano e projetual. As equipes de designers
envolvidas, ampliaram a sua capacidade de projetar soluções diante da grande quantidade de
limitações, fortalecendo uma capacidade primordial do design sustentável, a desenvolver
soluções simples, que não devem ser confundidas aqui com simplórias (como dizia um antigo
professor universitário), e sim soluções que fazem mais com menos. No sentido humano,

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acreditamos que as contribuições vão além do que pode ser descrito, talvez aí repouse boa
parte da compreensão do termo sustentabilidade, um caminho de amor a vida e aos outros.
Esse artigo contribui para que possamos compreender como as diretrizes da sustentabilidade
podem ser aplicadas a uma realidade local, a partir de uma intervenção do design, que ao
nosso ver, devem ser personalizadas, ou seja, observando caso a caso as necessidades
específicas de cada empresa ou comunidade, o que abre novas expectativas e possibilidades
de atuação para a nossa profissão.
Acreditamos que as experiências de sucesso local podem e devem ser ampliadas a outras
dimensões sociais, fazendo com que elas possam ser compartilhadas com as indústrias de
médio e grande porte, contribuindo para a ampliação de experiências sustentáveis locais e
globais.

Referências Bibliográficas:
Birkeland, Janis. For Sustainability: a sourcebook of integrated eco-logical solutions. London:
EarthScan, 2005
Kazazian, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. Tradução Eric Roland Rene Heneault. São
Paulo: Editora Senac SP, 2005
Krucken, Lia. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São
Paulo: Studio Nobel, 2009.
Lima, Marco Antônio Magalhães. Introdução aos materiais e processo para Designers. Rio de
Janeiro:Ciência Moderna, 2006
Melo Neto, Francisco Paulo, Brennand, Jorgiana Melo. Empresas Socialmente Sutentáveis: o
novo desafio da gestão moderna. Rio de Janeiro: QualityMark, 2004.
Manzini, Ezio; Vezzoli, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. Tradução Astrid de
Carvalho. 1 ed 1 reimpr. São Paulo: Ed da USP, 2005.
Vezzoli, carlo; Manzini, Ezio. Design for Environmental Sustainability. Milan:Springer, 2008.
Manzini, Ezio. Creative Communities, Collaborative networks and Distributed economies
http://www.dis.polimi.it/manzini-papers/06.01.06-Creative-communites-collaborative-
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Mclennan, Jason F. The Philosophy of Sustainable Design. Missouri: Ecotone LLC, 2004
Moggridge, Bill. Designing Interactions. Mit Press, 2006
Oliveira, Maria Mary. Associativismo e Cooperativismo no desenvolvimento local. In
associativismo e desenvolvimento local SANTOS, Maria Salett Tauk e CALLOU, Ângelo
Brás Fernandes (organizadores). P. 171. Recife: Bagaço, 2006.
Rozenfeld, Henrique; et al.Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para
melhoria do processo. São Paulo: Editora Saraiva, 2006
Schiavo, Mário Ruiz. Glossário Social. 3ª ed. p.98-99. Rio de Janeiro: Comunicarte, 2004.
Walker, Stuart. Sustainable by Design. London: EarthScan, 2006

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Design para sustentabilidade: transformações dos
territórios e das paisagens locais (Design for sustainability:
transformations of the local territories and landscapes)

Gabriela Varanda de Castro *

Palavras-chaves: design; território; sistema produto-serviço.

O caráter sistêmico de soluções (incluindo produtos, serviços e informações) acentua a necessidade de


repensar a cultura e a prática do projeto. Nessa nova visão, o papel do designer é facilitar o
desenvolvimento de inovações em uma comunidade. Para promover uma visão sistêmica, o design
assume o papel de facilitador de mudanças, permitindo transformações na sociedade. Sob a ótica da
sustentabilidade, um dos principais papéis do design é estabelecer os conceitos de regeneração
ambiental e social. A noção de regeneração ambiental está ligada à ideia de conservação da natureza,
soluções não poluentes e eficientes, novos materiais e tecnologias. Enquanto por regeneração social,
entende-se o resgate da qualidade de vida, da sociabilidade, do compartilhamento e da inclusão social e
econômica em economias emergentes. Este artigo procura analisar os conceitos de território e paisagem,
em projetos de design voltados para regeneração social e ambiental.

Keywords: design; territory; product-service system.

The systemic nature of the solutions (including products, services and information) stresses the need to
rethink the culture and practice of the project. In this new vision, the designer's role is to facilitate the
development of innovations in a community. To promote a systemic vision, design assumes the role of
facilitator of change, enabling transformations in society. From the perspective of sustainability, one
of major roles of design is to establish the concepts of environmental and social regeneration. The notion
of environmental regeneration is linked to the idea of nature conservation, clean and efficient solutions,
new materials and technologies. As for social regeneration, means the recovery of quality of life, sociability,
sharing and social and economic inclusion in emerging economies. This article seeks to discuss the
concepts of territory and landscape in design projects toward social and environmental regeneration.

1 Introdução

Existem vários interpretações associadas ao conceito de design. A palavra refere-se tanto ao


desenho quanto ao projeto e ao planejamento de produtos, serviços e sistemas. Segundo o
International Council of Societies of Industrial Design – ICSID (2010), “design é uma atividade
criativa que tem como objetivo estabelecer as múltiplas qualidades dos objetos, processos,
serviços e seus sistemas em todo o seu ciclo de vida. Portanto, o design é um fator central para
a humanização inovadora das tecnologias e um fator crucial para a troca econômica e cultural”.
Inicialmente centrado no projeto de produtos físicos, o escopo do design vem evoluindo em
direção a uma perspectiva sistêmica. O principal desafio do design atualmente é desenvolver
ou suportar o desenvolvimento de soluções para questões de alta complexidade, que exigem
uma visão abrangente do projeto, envolvendo produtos, serviços e comunicação de forma
conjunta.
A globalização e os avanços tecnológicos nos conduzem a novas formas de pensar o
projeto. Assistimos a uma crescente redução do peso e à desmaterialização do objeto, à
incorporação de serviços a produtos.
O caráter sistêmico das soluções (incluindo produtos, serviços e informações) também
acentua a necessidade de repensar a cultura e a prática do projeto. Nessa nova visão, o papel
do designer é facilitar e apoiar o desenvolvimento de inovações em uma comunidade (Manzini,

*
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Brasil, gabriela.varanda@terra.com.br

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2007). A transição de produtos para serviços reforçou a necessidade de ver o design como uma
ferramenta, implicando em modelos de ação colaborativos, contínuos e abertos, que incluam o
usuário.
Para promover uma visão sistêmica e integrar competências de diversos atores, o design
assume o papel de facilitador de mudanças, ou agente motivador de inovações, promovendo
transformações e interações na sociedade.
Sob a ótica da sustentabilidade, um dos principais papéis do design é estabelecer o
conceito de regeneração ambiental e social. A noção de regeneração ambiental está
fortemente ligada à ideia de recuperação da natureza, soluções não poluentes e eficientes, uso
de energias alternativas, novos materiais e tecnologias. Enquanto por regeneração social,
entende-se o resgate do bem-estar, da qualidade de vida, da sociabilidade, do
compartilhamento e da inclusão social e econômica, principalmente, em economias
emergentes (UNEP e TU Delft, 2006).
Este artigo procura analisar os conceitos de território e paisagem, aplicados à área da
geografia, conferindo embasamento teórico para projetos de design voltados para a
sustentabilidade.

2 Territórios, paisagens e transformações

A palavra paisagem possui diversas conotações. Pintores, geógrafos, geólogos, arquitetos,


ecólogos, todos têm uma interpretação própria do seu significado. Apesar dessa diversidade,
há uma noção comum de espaço aberto, um espaço vivenciado de diferentes formas, por meio
da projeção de sentimentos ou emoções pessoais, da contemplação, da organização ou do
planejamento territorial. A paisagem ganha sentido através do olhar ou da percepção de um
observador.
A ecologia da paisagem é uma nova área do conhecimento dentro da ecologia, marcada
pela existência de duas principais abordagens: uma geográfica, que privilegia o estudo do
homem sobre a paisagem e a gestão do território; e uma outra ecológica, que enfatiza a
importância do contexto espacial sobre os processos ecológicos, e destas em termos de
conservação biológica. Segundo Metzger (2001), numa conceituação mais abrangente,
paisagem é “um mosaico heterogêneo formado por unidades interativas, sendo esta
heterogeneidade existente para pelo menos um fator, segundo um observador e numa
determinada escala de observação”.
Ao associarmos ações passadas e presentes, vemos a paisagem como uma categoria
polissêmica do espaço, como um produto da coevolução das sociedades humanas e do meio
natural (Naveh, 2005). Para a compreensão da transformação das paisagens, a história
ambiental apoia-se em dois pilares: cultura e território. O primeiro refere-se às formas de
apreensão de recursos naturais por parte das sociedades ao longo do tempo. O segundo se
refere às dimensões simbólica, jurídica, territorial etc. O território só pode ser considerado em
uma perspectiva que integre as dimensões naturais, políticas, econômicas e culturais. A
dinâmica de transformação dos territórios deve reconstituir a história da atividade humana
sobre os ecossistemas, em diferentes escalas espaciais e temporais. Esses recortes devem
levar em consideração o fato de que são parte do espaço geográfico, são percebidos como
territórios, ou seja, espaços vividos e apropriados pelas culturas que os utilizam ou os
utilizaram em diferentes épocas (Oliveira, R.R. & Montezuma, R.C.M., 2010).
Projetos de design (figuras 1, 2, 3 e 4), que ajudam a regenerar aspectos ambientais e
sociais, são essenciais nesse processo de apoiar reconfigurações territoriais. A proposta de
novos sistemas que possam corresponder a estilos de vida sustentáveis prevê que o designer
deve interferir no plano sociocultural local, apresentando novos critérios e ideias de qualidade,
com vistas a um desenvolvimento sustentável (Manzini, 2007).

Figura 1 – High Line Park, em Nova York, ferrovia abandonada que virou parque público (Fonte: High Line, 2010).

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Figura 2 – Sistema Samba: serviço de bicicletas de aluguel para uso compartilhado, no Rio de Janeiro (Fonte:
Mobilicidade, 2011).

Figura 3 – Revitalização da ilha de Chongming, próxima à cidade de Xangai, no projeto chinês The Design Harvest
Project (Fonte: Desis-China, 2010).

Figura 4 – Cooperativa de mulheres artesãs, na Favela da Maré, Rio de Janeiro (Fonte: ITCP COPPE/UFRJ, 2010).

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3 Design, uso sustentável do espaço e desenvolvimento local

A maioria dos problemas ambientais mais críticos enfrentados pela civilização moderna tem
suas origens nos padrões de produção e consumo, claramente centrados nas áreas urbanas.
Os primeiros movimentos de cidadãos mobilizados em torno da questão ambiental surgiram na
década de 1960, e foi nessa época que a bióloga Rachel Carlson lançou seu pioneiro livro
Silent Spring, em 1962, um manifesto contra a devastação química causada por poluentes e
agrotóxicos, onde ela denuncia a extinção de uma espécie de pássaro por influência dos
pesticidas.
Também nos anos 1960, há um outro marco importante para a consciência ambiental, a
criação do Clube de Roma. Um grupo de cientistas, que incluía economistas, humanistas,
industriais e pedagogos, reuniu-se pela primeira vez, em 1968, e chegou à conclusão de que o
mundo teria que diminuir a produção, de forma que os recursos naturais fossem menos
solicitados e os resíduos, gradualmente reduzidos, fundamentalmente o lixo industrial.
A partir daí, o Clube de Roma produziu uma série de relatórios de grande impacto, entre
eles, Os Limites do Crescimento, publicado em 1972, trazendo uma análise do que poderia
acontecer se a humanidade não mudasse seus métodos econômicos e políticos. Rapidamente
o livro se tornou um sucesso, trazendo à tona o discurso ecológico.
Mas foi a década de 1970 a mais importante para a tomada de consciência. É durante os
anos 1970 que o consumo humano de recursos naturais começa a ultrapassar as capacidades
86
biológicas do planeta. A pegada ecológica constata essa alteração e também o declínio da
abundância das espécies que vivem na biosfera.
Vários órgãos ambientais foram fundados nessa época e legislações estabelecidas, para
regulamentar o despejo de resíduos, nos países industrializados. O primeiro Ministério do Meio
Ambiente é criado na Alemanha, em 1970. Normas técnicas se tornam mais rígidas, forçando a
indústria a implementar procedimentos que reduzem a geração de resíduos, efluentes e
emissões, fazendo um melhor aproveitamento de recursos.
Os impactos sobre o meio ambiente só se tornam um desafio global nos anos 1980. A
superabundância de diversos resíduos, o declínio da biodiversidade, o aquecimento do planeta
pelo aumento do efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, causado pelos gases CFCs, a
nuvem radioativa de Chernobyl, a degradação das florestas do hemisfério norte, por conta das
chuvas ácidas, e a importância que a imprensa dá a esses assuntos, acabam por mobilizar a
opinião pública.

86
Criada pelos pesquisadores americanos William Rees e Mathis Wackernagel, a pegada ecológica é uma
ferramenta que avalia a superfície produtiva necessária a uma população para responder a seu consumo de
recursos e suas necessidades de absorção dos resíduos (Kazazian, 2005).
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Em 1983, a Organização das Nações Unidas (ONU) forma a Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Presidida por Gro Harlem Brundtland, a comissão
publica, em 1987, o relatório Nosso Futuro Comum, que descreve o estado do planeta e expõe
a relação essencial entre o futuro das comunidades humanas. Esse relatório influencia a nova
Constituição do Brasil, aprovada em 1988, que passa a conter vários artigos versando sobre a
proteção ao meio ambiente (Kazazian, 2005).
Esse documento serviu ainda de guia à Conferência do Rio de Janeiro, de 1992, que seria
conhecida como Eco 92, e introduzia conceitos como “tecnologias limpas”. Foi a Comissão
Brundtland que trouxe um novo horizonte ao discurso ambiental, com a definição do conceito
de “desenvolvimento sustentável”: um crescimento para todos, assegurando ao mesmo tempo
a preservação dos recursos para as futuras gerações (ONU, 1987).
Muitos dos projetos de design voltados para o desenvolvimento sustentável, que objetivam
a regeneração ambiental e social, são implantados no âmbito urbano. A maneira como o
espaço é utilizado nas cidades pode ter consequências ambientais enormes. Por exemplo, o
adensamento em cidades que funcionam com transporte coletivo de massa integrado é
vantajoso do ponto de vista ambiental. Orientar a expansão urbana, planejar o metabolismo
urbano, em termos de seus insumos e da disposição dos dejetos, investir antecipadamente em
infraestrutura básica, favorecer a construção de espaços abertos e a proteção de recursos
sensíveis da terra e promover o uso do espaço público são ações a serem destacadas. A
importância ambiental das cidades é potencializada pelo papel crucial dessas no
desenvolvimento. Como a globalização é, paradoxalmente, amarrada a um processo paralelo
de localização, cidades específicas e governos locais têm mais influência na atração de
investimentos e de atividade econômica do que nunca (Martine, 2007).
A transformação urbana constitui uma das maiores questões do desenvolvimento no século
21. De certa forma, as cidades teriam mais facilidade para fazer um uso mais sustentável do
espaço, uma vez que possuem maior flexibilidade para operar mudanças na organização,
forma e uso do espaço urbano. Ao mesmo tempo, cidades menores tendem a ter recursos
técnicos e financeiros reduzidos para realizar tais mudanças, fato que se torna particularmente
importante para políticas públicas (Martine, 2007).
Outra grande preocupação é a vulnerabilidade social, o estabelecimento de espaços
segregados dirigidos exclusivamente à população de baixa renda. O planejamento da
distribuição espacial não pode ser pensado como um equilíbrio racional da população às
quantidades naturais de ecossistemas locais, ignorando séculos de história econômica e
demográfica (Hogan, 2005).
Designers estão começando a entender os princípios envolvidos nesses sistemas
complexos. Redesenhar a vida cotidiana precisa ser uma atividade contínua, e não esporádica.
Essa abordagem sugere desenvolver uma compreensão e uma sensibilidade em relação à
morfologia dos sistemas, sua dinâmica, sua “inteligência” – e como trabalhar e estimulá-los
(Thackara, 2006). Muitos desses projetos são ainda pequenos e desenvolvidos em escala
local.
Segundo Rua (2007), as geografias de cada grupo, de cada sociedade, nas múltiplas
escalas de vivência, correspondem a modelos particulares de desenvolvimento e de
sustentabilidade. O desenvolvimento em escala local se baseia em conceitos como
solidariedade, criatividade, atração local e identidade. Para Santos (1998), o que é interno de
um lugar é tudo aquilo que, num determinado momento, aparece como local. O externo é tudo
cuja fonte está situada fora do lugar. Cada lugar tem variáveis internas e externas. A
organização da vida em qualquer parte de um território depende do encontro desses fatores. O
que define um lugar é, exatamente, uma teia de objetos e ações com causa e efeito, que
formam um contexto e atinge todas as variáveis já existentes, internas; e a novas, que se vão
internalizar. Os lugares se diferenciam pela maneira pela qual os fatores internos resistem aos
externos, determinando as modalidades do impacto sobre a organização preexistente. A partir
desse choque, impõe-se uma nova combinação de variáveis.
A percepção de um produto ou serviço de design como parte do território é a base para o
conceito de “capital territorial”, que remete para aquilo que constitui a riqueza de um local. Para
Thackara (2006), o descaso em relação ao contexto é uma das principais razões do fracasso

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da nova economia. O local é uma escala relevante para a ação cotidiana dos homens, mas é
necessário considerar a sua realidade multifacetada, sem recorrer à simplificação numa
separação simplista ente endógeno e exógeno, negligenciando os complicados
entrelaçamentos históricos e feedbacks entre processos pertencentes a distintos espaços e
escalas de análise; as abordagens monoescalares ou muito fracamente multiescalares, sem
levar em conta a necessidade de considerar as interações socioespaciais horizontais e as
articulações verticais, entre fatores que remetem a distintos níveis escalares; e ainda a
negligência para com o papel do espaço na maioria das teorias da modernização e do
crescimento. O desenvolvimento, considerado como multidimensional, abrange as escalas de
sociedades/Estados-nação, classes sociais-territórios, indivíduos/local. O desenvolvimento
sustentável deve procurar enfatizar as demandas locais, resgatando a força do lugar, mas
integradas ao global (multiescalaridade), reduzindo ao mínimo, ou eliminado, as assimetrias
que marcam tal integração (Rua, 2007).
A globalização nos confronta o tempo todo com relações complexas. Encontrar
oportunidades e situações de equilíbrio na relação local-global é um grande desafio,
especialmente no que se refere à melhoria das condições de qualidade de vida, à valorização e
ao respeito da diversidade e do ecossistema, aos modelos de produção e de consumo.
A aparente oposição de relações criadas pela globalização pode representar
complementaridades e o surgimento de novos contextos e possibilidades, que requerem
lógicas e perspectivas de análise alternativas.
A necessidade de projetar formas alternativas de intermediação local-global é abordada por
Manzini (2007). Segundo o autor, a interseção de duas estratégias complementares pode
representar um contexto de “localismo cosmopolita”: a interação equilibrada da dimensão local
com a dimensão global e a valorização sustentável dos recursos locais.
O design deve ser capaz de contextualizar e globalizar, desenvolvendo soluções que
relacionem favoravelmente esse dois polos. Dessa forma, é possível favorecer os recursos e as
potencialidades locais, atendendo as necessidades de usuários situados em contextos
específicos e, simultaneamente, pode-se promover a integração das comunidades e das
diversidades, incorporando os benefícios dos avanços tecnológicos e ativando diálogos e redes
locais e globais (Krucken, 2009).
Para Guimarães (1997), é preciso ainda definir dimensões e critérios operacionais para a
sustentabilidade ou sustentabilidades:
1. Sustentabilidade planetária: guarda relação direta com os problemas que extrapolam
as fronteiras do Estado-Nação, referindo-se especificamente à necessidade de
reversão dos processos globais de degradação ecológica e ambiental.
2. Sustentabilidade ecológica: refere-se à base física do processo de crescimento e
objetiva a conservação e uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às
atividades produtivas.
3. Sustentabilidade ambiental: está relacionada com a manutenção da capacidade de
carga dos ecossistemas, ou seja, a capacidade da natureza para absorver e recuperar-
se das agressões antrópicas.
4. Sustentabilidade demográfica: refere-se aos impactos da dinâmica demográfica tanto
nos aspectos da gestão da base de recursos naturais, como de manutenção da
capacidade de carga ou de recuperação dos ecossistemas.
5. Sustentabilidade cultural: reconhece que a base do desenvolvimento reside na
manutenção da diversidade em seu sentido mais amplo e se dirige, portanto, à
integração nacional ao longo do tempo.
6. Sustentabilidade social: tem por objetivo a melhoria da qualidade de vida,
especialmente em países periféricos.
7. Sustentabilidade política: vincula-se ao processo de construção da cidadania e busca
garantir a incorporação dos indivíduos ao processo de desenvolvimento.
8. Sustentabilidade institucional: projeta no próprio desenho das instituições que regulam

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a sociedade e a economia as dimensões sociais e políticas da sustentabilidade em
seus conteúdos macros.
É importante considerar que produtos e serviços de design resultam de ações
desenvolvidas por um conjunto de pessoas e organizações no tempo e no espaço. Essas
redes, muitas vezes, surgem pela sinergia dos atores e estão baseadas no interesse em uma
atuação conjunta. O seu desenvolvimento pode estimular a valorização de produtos e serviços
ligados a um dado território, valorizando também as diversidades locais.
Portanto, a geografia ganha ênfase na discussão temática do design para sustentabilidade,
por possibilitar a análise de conceitos como paisagens e sustentabilidade, em que a cultura e a
história de cada grupo tornam-se elementos centrais para orientar as ações de design
(re)configuradoras dos territórios.

Referências

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UNEP and TU Delft (2006). Design for sustainability: A practical approach for developing
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Sacolas plásticas como matéria prima alternativa na
tecelagem manual: Design sustentável de uma bolsa de
praia (Plastic bags as alternative raw material in the
manual weaving: Sustainable design of a beach handbag)

Vicente Santana de Jesus Neto; Especialista; Universidade Estadual de Feira de Santana


– UEFS, Brasil
vicente.neto@ymail.com

Ana Kelly Reis; Especialista; Universidade Salvador – UNIFACS, Brasil


kellyareis@hotmail.com

Ana Beatriz Simon Factum; Doutora; Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Brasil
anabiasimon@uol.com.br

Palavras Chave: Design; Sacolas Plásticas; Tecelagem Manual;

Este artigo apresenta o resultado de um projeto cujo objetivo foi o desenvolvimento de um produto a partir
de matéria-prima reciclável, em uma abordagem participativa do design. Alunos da disciplina de
Desenvolvimento de Projeto de Produto III do curso de Desenho Industrial da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB) e os cooperados da COOPERTEXTIL – Salvador/BA desenvolveram através da
metodologia da pesquisa-ação a possibilidade de gerar produtos de qualidade a partir do reuso de
materiais descartados, produzindo uma bolsa de praia confeccionada a partir de sacolas plásticas e fibra
natural (juta) usando a tecelagem manual como processo de fabricação, pautada nos princípios da
responsabilidade social e sustentabilidade. Buscou-se, com esta ação, atender a dois requisitos
principais: primeiramente, desenvolver e mostrar uma alternativa de reutilização limpa da sacola plástica
de supermercado, minimizando, assim, o impacto causado no meio ambiente pelo seu descarte
indiscriminado; e em segundo lugar, proporcionar à COOPERTEXTIL uma fonte de renda, cujo trabalho
desenvolvido se dá no âmbito da produção de artesanato e trabalhos manuais.

Key Words: Sustainable Design; Plastic Bags; Manual Weaving;

This article is a result of a Project which objective was to develop a product from recycled raw. In a
participative approach of Design, students of Product Project Development III (discipline from the Industrial
Design course, offered by University of the State of Bahia – UNEB) and cooperative workers from
COOPERTEXTIL – Salvador/BA, developed, through research-action methodology, the possibility of
creating products with quality by reusing discarded materials. Beach handbags were produced with plastic
bags and natural fiber, using the manual weaving as the process of fabrication, based on principles of
social responsibility and sustainability. This action sought to attend two principals’ requirements: first,
develop and present an alternative of clean reuse to the supermarkets plastic bags, minimizing the
environment impacts of this material that is usually careless discarded. Secondly, it sought to provide
COOPERTEXTIL an income source by making handcraft and general manual products.

1 Introdução

A preservação do meio ambiente tem sido nos últimos anos, preocupação de grande parcela
da sociedade que, gradualmente, - em vista dos sinais de desgaste apresentados pelo planeta
- tem voltado às atenções para os problemas resultantes da presença do homem moderno e
seus hábitos no meio ambiente. A exploração dos recursos naturais até o seu esgotamento e o
descarte de resíduos sólidos configuram-se como os principais pontos de atenção da
sociedade que se organiza em prol da preservação e a reversão da situação de descaso e
degradação do meio ambiente.
Recentemente, um grande problema que também tem sido posto no centro das
atenções dos ambientalistas, governantes e do setor do mercado varejista, causando muitas
vezes, polêmicas discussões, é o uso da sacola plástica de supermercado. Item amplamente
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usado em todo o mundo como meio de embalagem para o transporte de pequenas compras,
este objeto de grande praticidade teve o seu uso introduzido nos anos 70, com o objetivo de
oferecer uma forma prática e barata de transporte de produtos de compra em lojas de
supermercados e lojas de varejo. ‘No Brasil, ele passou a ser adotado pela rede
supermercadista a partir do final da década de 1980, em razão da elevação do custo do papel’.
(Viana, 2010, p: 4).
Derivado do petróleo, ou seja, de fonte não renovável, o plástico que compõe estas
sacolas - geralmente o Polietileno de baixa densidade - tem o desagradável e incômodo poder
de resistir até 100 anos até a sua total decomposição. No meio ambiente, este fato configura-se
num problema de consequências bastante nocivas, que perpassam desde o entupimento de
tubulações de esgoto, até à impermeabilização do solo e poluição visual, dentre outras. A
prática do seu uso atualmente influencia diretamente no número de sacolas produzidas e
também nas sacolas descartadas diretamente no meio ambiente.

O Brasil é tido como o paraíso dos sacos plásticos, pois todos os supermercados, farmácias e o
comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. E isso já foi
incorporado na rotina do consumidor, como se o destino de cada produto comprado fosse um saco
plástico. (Trigueiro, 2007).

Consciente do papel do profissional incumbido da elaboração e desenvolvimento de


conceitos de novos produtos, bem como das possibilidades e desafios que lhe são
apresentados, a intenção deste artigo é mostrar os resultados obtidos por meio de uma
intervenção realizada por alunos da Universidade do Estado da Bahia através do trabalho de
cooperação com mulheres integrantes de uma cooperativa de tecelagem artesanal em
Salvador.

2 Proposta Acadêmica

Com o objetivo de abordar e agregar à formação do profissional designer, a metodologia da


concepção e desenvolvimento de design de produtos, pautados nos valores da
sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental, o desenvolvimento de um produto
sustentável, a partir da reutilização de resíduos sólidos como matéria prima, foi o resultado da
proposta apresentada à turma de 2005.1 do curso de Desenho Industrial com habilitação em
Projeto de Produto, como programa da disciplina Desenvolvimento de Projeto de Produto III.
Buscou-se, além deste propósito de caráter ambiental, utilizar o fazer artesanal e de seu rico
potencial presente na produção artesanal brasileira, de modo a romper com o paradigma
acerca do Design no que se refere ao seu distanciamento do artesanato.

Isso aconteceu porque a gênese do Design erudito no Brasil foi muito vinculada ao funcionalismo
alemão. O programa da primeira escola de design brasileira, a Escola Superior de Desenho Industrial,
a Esdi, do Rio de Janeiro, foi calcado na escola de Ulm, alemã, que professava axiomas, como a
forma segue a função e o bom design independe de tempo e de lugar, podendo ter uma forma
padronizada, estandardizada. (Borges, 2007 p:31).

Em vista dos sinais de esgotamento mostrados pelo meio ambiente e a consciência da


necessidade de reversão do quadro de devastação e extrativismo desregrados dos dias
presentes, o programa da disciplina ministrada pela docente Ana Beatriz Simon Factum, já há
alguns anos, tem o propósito de inserir na formação do designer de produtos baiano, a
relevância da prática profissional consciente dos problemas socioambientais. Com isto, buscou-
se também, a valorização do diálogo entre o design e o artesanato brasileiro no
desenvolvimento da proposta deste trabalho através da metodologia que consiste no
envolvimento conjunto do artesão e do designer em prol do objetivo situado no
desenvolvimento de um produto.
Denominada design participativo, a metodologia, caracterizada por colocar o designer e
o artesão no mesmo patamar no processo de desenvolvimento de design, apresenta uma nova
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visão que consiste na valorização do profissional do artesanato de forma a retratar as
proximidades, além daquelas já conhecidas, entre o fazer artesanal e o design. O artesão
adquire assim, o status de desenvolvedor de ideias e conceitos juntamente com o designer,
enquanto que este conhece na prática o status de manufaturador como o artesão, dialogando e
contribuindo no processo.
Em sua visão acerca do artesão, o designer Aloísio Magalhães nos mostra de forma bastante sintética
esta ideia quando diz que ‘o artesão brasileiro é basicamente um designer em potencial, muito mais do
que propriamente um artesão no sentido clássico’. (Magalhães, 1997).
Frequentemente desprovido do valor devido, o artesanato por muito tempo não foi visto como campo
de atuação do design e segundo Aloísio Magalhães, ‘só passaria a ser respeitado quando o próprio
designer viesse a agir como um artesão’.
Partindo deste pressuposto, como parte integrante da proposta acadêmica, foi sugerida
a realização do trabalho em parceria direta com uma cooperativa de produção têxtil artesanal, a
COOPERTÊXTIL.

A Coopertextil

Instalada no centro histórico da cidade de Salvador, a COOPERTEXTIL é uma cooperativa de


mulheres artesãs que surgiu a partir da resposta à solicitação feita por um grupo de mães
inscritas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, PETI, de uma capacitação em
tecelagem artesanal ao secretário Municipal do Trabalho e Desenvolvimento Social, com o
objetivo de com isto, suprir à necessidade de geração de trabalho e renda do contexto no qual
estavam inseridas.
Após as fases de concepção, aquisição dos equipamentos e implantação, aquisição de
matéria prima, organização do espaço e início da prática recém-aprendida, a produção do
grupo passou a contemplar uma gama de produtos composta por itens de função decorativa,
acessórios e utilidades domésticas, confeccionados através do processo da tecelagem manual.
Para o processo de produção adquirido com a capacitação, as mulheres utilizam, de
forma convencional como matéria prima, fios de fibras naturais, tais como juta, algodão e lã;
palha de ouricuri, taboa, rami e a fibra da piaçava. Dentre as fibras sintéticas, usam também
basicamente dos fios de nylon e o poliéster.

3 Sacola Plástica: um novo uso

Ultilizado como matéria prima na produção industrial de sacolas plásticas, o Polietileno de


baixa densidade, em forma de plástico filme, é produzido em quantidades bastante elevadas
quando o seu fim é a produção de sacolas plásticas. No total, são 210 mil toneladas de plástico
filme, a matéria-prima das sacolas, ou 10% de todo o detrito do país. Não há dúvida: é muito
lixo. (Planeta Sustentável, 2007).
O número de sacolas produzidas a cada ano atinge números bastante expressivos tanto no
âmbito mundial quanto no âmbito nacional. Em todo o mundo são produzidos 500 bilhões de
unidades a cada ano, o equivalente a 1,4 bilhão por dia ou a 1 milhão por minuto. No Brasil, 1
bilhão de sacolas são distribuídas nos supermercados mensalmente - o que dá 66 sacolas por
brasileiro ao mês.(Planeta Sustentável, 2007).
Consciente dos aspectos nocivos e incômodos destrutivos do plástico, é necessário ter
entendimento também de que este material, além de poluente, possui propriedades físicas e
químicas que possibilitam uma variedade de características que podem ser exploradas de
forma bastante satisfatória e benéfica, incluindo também neste sentido, o uso no trabalho
artesanal. No entanto, sob a forma de película de baixa espessura, como se apresenta nas
sacolas plásticas, encontramos empecilhos que tornam difícil a sua exploração devido à sua
baixa resistência e leveza, o que torna necessário dedicar atenção no que se refere ao
processo de “beneficiamento” prévio da sacola, transformando-a em fios para torna-las então,
aptas ao uso em teares.
A busca por uma alternativa funcional nesta direção, também foi um objetivo inerente ao
trabalho aqui relatado.

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Fios Plásticos

De acordo com França, 2008, a tecelagem utilitária evoluiu na tecnologia, incorporando os mais
diversos tipos de fibras disponíveis em cada região. Partindo desta ideia, a sacola plástica
passa a ser um material de potencial particularmente especial, tendo em vista que o seu uso,
conforme relatado neste trabalho, tem relação direta com as ações em favor do meio ambiente
e do desenvolvimento sustentável.
A possibilidade de utilização deste material, no contexto que se refere, leva à
necessidade de se desenvolver e implantar o processo de transformação por meios não
industriais do filme plástico em fios. Para isso, foram combinados os esforços do grupo que se
dedicou na busca por alternativas de transformação de plásticos que pudesse ser aplicável ao
caso das sacolas.
Após pesquisa focada na identificação de uma técnica semelhante ao princípio da
fiação, foi encontrada, na internet, a referência de uso de uma técnica de corte de plástico de
sacolas de supermercado para o uso desta, como matéria prima na confecção de artigos em
croché. Após a análise da técnica encontrada, o método foi testado. Na fase de testes, este
processo foi bastante experimentado até a adaptação dos fios resultantes pelas cooperadas,
para então serem experimentados no tear.
A solução encontrada para este processo consiste numa técnica que parte de um
conceito muito simples, o que possibilita o processo de transformação da sacola em fios com
uma pequena intervenção através do uso de uma tesoura. Este método parte da ideia comum
ao processo de descascamento de uma laranja, em que consiste em filetar a sua superfície
externa numa trajetória circular de forma helicoidal. A aplicação deste conceito na sacola
plástica, porém, dá-se de forma adaptada, dada a característica morfológica plana desta,
necessitando assim, de dobraduras prévias que permitem o corte simultâneo de várias
camadas do material.
O método encontrado foi resultado da pesquisa, realizada na rede mundial de
computadores, sobre ações de reciclagem e desenvolvimento sustentável com o material
plástico. O referido método é veiculado por um website cujo objetivo é estimular práticas de
técnicas artesanais com materiais recicláveis.
O processo encontrado e utilizado pelas cooperadas na obtenção dos fios é ilustrado
de forma suficientemente clara, a partir da sequência de imagens abaixo:

Imagem 1. Preparação da sacola plástica para transformação em fios. Disponível em:


http://www.recicloteca.org.br/Default.asp?Editoria=7&SubEditoria=28 (usada com permissão de Helena Nunes)

Imagem 2: Processo de recorte dos fios a partir de uma sacola de plástico com uma tesoura. Disponível em:
http://www.recicloteca.org.br/Default.asp?Editoria=7&SubEditoria=28 (usada com permissão de Helena Nunes)

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Imagem 3: Fios obtidos após processo de recorte da sacola plástica. Disponível em:
http://www.recicloteca.org.br/Default.asp?Editoria=7&SubEditoria=28 (usada com a permissão de Helena Nunes)

O processo consiste primeiramente, em cortar as alças da sacola, dobrá-las e depois


cortá las sem separá-las completamente.
Obtidos os fios de plástico, a matéria prima básica para a produção da bolsa passa a
ser apta à produção.
Estes fios apresentam duas características que interferem diretamente, de forma
positiva e de forma negativa no processo de produção e no resultado final do produto. Como
característica positiva, ele proporciona maior volume no trabalho finalizado, diferentemente dos
fios e linhas convencionais, possibilitando assim, maior velocidade à produção e necessidade
de menor quantidade de material por metro quadrado de tecido. Como característica negativa,
apresentam baixa resistência à tensão, o que inviabiliza o seu uso na urdidura, dada a tensão
natural e constantemente sofrida por este quando disposto paralelamente ao longo do tear,
restringindo, portanto, o seu uso somente à trama.

Imagem 4: Esquema básico de funcionamento do tear de pente liço. Disponível em:


http://www.tecelagemanual.com.br/manuais/manual.pdf

a – Urdidura; b – Trama.

Tendo em vista esse problema, como solução, as cooperadas optaram por usar o
plástico em conjunto com fios de fibra naturais, sobretudo na urdidura, já que fios destas fibras,
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como juta e algodão oferecem maior resistência à tensão e servem de forma satisfatória às
atividades do tear. Assim, conforme ilustrado no esquema acima, o iten a, urdidura é composto
principalmente por fibras naturais mais resistentes. O iten b, a trama, este é então formado
pelos fios de sacola plástica até o total preenchimento do tecido.

Imagem 5: Uma das alunas da discplina participando do processo de confecção do protótipo num tear de pente liço da
Cooperativa. (usada com permissão de Ana Kelly Reis).

O resultado de todo este processo, que se repete continuamente, é um tecido de


tramas e padrões obtidos a partir da combinação em estampas que exploram as texturas e
cores das fibras naturais, na urdidura e as cores da sacola plástica na trama. Deste tecido, uma
infinidade de possibilidades é obtida com o auxílio da prática dominada. Dentre elas, a bolsa de
praia feita com sacolas.

4 Metodologia e Ação

A metodologia utilizada no processo de concepção e desenvolvimento do projeto, cujas bases


foram os valores da sustentabilidade e responsabilidade ambiental, deu-se basicamente em
duas fases. Primeiramente, iniciou-se com a escolha da matéria prima a ser utilizada no
desenvolvimento do produto e, em seguida, a sua concepção, tendo em vista a produção a
partir do reuso do resíduo escolhido.
A escolha do material reciclável foi caracterizada pela informação e fundamentação
teórica que discorre acerca dos efeitos reais do impacto causado e a real necessidade de
transformação do resíduo como forma de alterar o cenário atual. Para isso, utilizou-se da
pesquisa para levantar na produção bibliográfica acerca da temática, dentre os resíduos
sólidos recicláveis presentes no contexto da cooperativa, aquele que fosse mais adequado e
mais viável ao desenvolvimento e exploração enquanto matéria prima para um novo produto.
Neste processo de escolha, foram usados os seguintes critérios que, dispostos de
forma ordenada com os exemplos de material descartado, compõem uma simples tabela:

Tabela 01 – Critérios para seleção de material reciclável.

1. Produção anual em toneladas:


2. Disponibilidade de matéria prima:
3. Capacidade de reciclagem não industrial:
4. Poder de Impacto ambiental:
5. Aplicabilidade à realidade da COOPERTEXTIL:

A estes quesitos, foram dadas respostas que contemplavam uma das três classes:
Alta, média ou baixa. Assim, a tabela com os critérios citados, após pesquisa e levantamento
de dados de informações sobre produção e impacto de resíduos sólidos no Brasil, configurou-
se no seguinte resultado:

Tabela 02 – Critérios e resultados para seleção de material reciclável.

Requisitos Sacolas Plásticas Vidro Garrafas PET


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Prod. anual alta alta alta
Disponibilidade de
matéria prima alta alta alta
Capacidade de
Reciclagem não
industrial média baixa Média
Poder de impacto
ambiental alto alto alto
Aplicabilidade à
Coopertextil média baixo baixa

A partir da análise dos resultados, foi possível identificar a sacola plástica de


supermercados como um resíduo que apresentava considerável potencial para torna-lo objeto
de abordagem no desenvolvimento de um projeto em que fosse utilizado como matéria prima.
O quesito produção anual em toneladas tem resultados bastante expressivos quando se trata
da produção do plástico filme, matéria prima utilizada na produção das embalagens plásticas.
A segunda fase do processo de concepção partiu da premissa de que a produção da
Coopertextil, e consequentemente a habilidade e experiência das cooperadas, juntamente com
o maquinário existente se dava, sobretudo, no âmbito da produção têxtil, de modo que a
concepção de um produto fora deste contexto seria caracterizada pela inviabilidade funcional e
de produção dada a necessidade de investimento de tempo e novos recursos na capacitação e
especialização da mão de obra.
Após decisão de que o produto deveria ser o resultado do processo de tecelagem em
teares manuais, procurou-se identificar, dentre os acessórios femininos de uso inerente e
habitual na cidade de Salvador, aquele que apresentasse compatibilidade como o processo de
produção têxtil artesanal. Após pesquisa, concluiu-se que, devido ao hábito de ir à praia, os
usuários do sexo feminino utilizam da bolsa de praia como meio de transporte de pequenos
objetos e pertences de uso pessoal, o que torna este objeto, um potencial de produto a ser
produzido na cooperativa.
O desenvolvimento da forma da bolsa de praia foi resultado, mais uma vez, da
interação dos alunos com as cooperadas. Nesta fase, as contribuições dadas pelas
cooperadas exerceram papel fundamental para a realização do projeto executivo do produto,
resultado do domínio técnico acumulado de forma empírica através da experiência diária.
Como resultado deste trabalho, foi obtido o primeiro protótipo da bolsa feita a partir de sacolas
plásticas de supermercado. Em sua confecção, além das 150 sacolas, foi usada a fibra natural
da juta que proporciona além da resistência durante o processo, o valor estético da fibra
natural.

5 Conclusão

A realização de um projeto de produto, cujo objetivo é levar o valor da sustentabilidade, mostra-


se como um grande desafio. Muitas vezes classificados como produtos sem interesse
comercial ou de resultado estético inferior a um similar tradicional, este fato mostra de forma
clara, tamanha a necessidade existente de se pensar e repensar o melhor uso da matéria
prima e os conceitos de design, seja ela resultado de um reaproveitamento, seja uma matéria-
prima jamais usada, atrelada ao poder do conhecimento técnico do artesão.
O ponto forte a ser trabalhado, portanto, está no encontro do domínio da técnica, a
ponto de tornar possível a adaptação desta a uma nova matéria prima ou ao processo de um
novo produto. Este fato é o resultado do diálogo entre o designer e o técnico, que na
metodologia do Design Participativo, encontrou a melhor condição para o desenvolvimento de
um trabalho de tal relevância.
A sustentabilidade, mais uma vez, se manifesta de forma dupla por meio da
intervenção do Design. Primeiramente por possibilitar à comunidade o desenvolvimento uma
cadeia de produção de uma série de produtos a partir do reuso de um material impactante,
transformando o problema ambiental em solução alternativa de matéria prima. Do outro lado, a
alta disponibilidade deste material possibilita a sustentabilidade econômica, devido à baixa
necessidade de recursos extras para a realização do projeto.
Esta ação encontrou numa técnica bastante tradicional, que remonta à antiguidade,
quando o homem começou a produzir suas roupas para se proteger das ações do meio
ambiente, uma forma de tentar solucionar ou amenizar, de forma inovadora, alguns dos
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problemas resultantes de um hábito bastante contemporâneo. Resultado disto, o
reconhecimento do trabalho desenvolvido por esta parceria foi sentido com a aceitação da
bolsa na Bienal de Design de Curitiba em 2010. Na ocasião, o protótipo da bolsa foi exposto na
exposição novíssimos, consolidando assim, a relevância e importância da ação empregada.

Imagem 6: Protótipo da bolsa feita com sacolas plásticas de praia exposta na Bienal de Design de Curitiba. (foto do
autor).

Agradecimento

Agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. As
cooperadas da COOPERTEXTIL que se dedicaram e acreditaram no desenvolvimento de um
produto partindo desta proposta. Por toda a paciência e cuidado no ensino das técnicas. A
Gilson, nosso colega, que teve parte fundamental na concepção e execução da bolsa.
Um agradecimento especial para a Sra. Heloisa Nunes por ter permitido o uso de suas
imagens para demonstrar a técnica de filetamento da sacola. Muito obrigado.

Referências Bibliográficas

Benavides-Puerto, Henry. (2005). Contribuições do design em comunidades artesanais.


Documento interno. Programa Bahia Design, Salvador Bahia, 2005.

Borges, Adélia. A Intervenção do design no produto de artesanato. Artesanato,


Intervenções e Mercados.

Fachone, Savana Leão; Merlo, Márcia. (2010). Designer artesão ou artesão designer? Uma
questão contemporânea. As aproximações por meio das intervenções de
design no artesanato. São Paulo.

França, Rosa Alice. (2007). Coopertextil. Salvador Ba: Coopertextil.

Magalhães, Aloísio. E triunfo?. A questão dos bens culturais no Brasil. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, Fundação Roberto Marinho, 1997.

Revista Design em Foco. (2005) Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Julho-


dezembro ano II, N. 002, Universidade do Estado da Bahia,

Viana, Maurício Borato. (2010). Sacolas plásticas: aspectos controversos de seu uso e
iniciativas legislativas. Brasília: Consultoria Legislativa.

Referências Eletrônicas

Planeta Sustentável. As sacolas de plástico devem ser substituídas? Disponível


em:http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_255967.shtml
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Trigueiro, André. A farra dos sacos plásticos [online]. 24 de maio de 2007. Disponível em:
http://ashera0008.multiply.com/journal/item/14.

Wikipedia, Saco Plástico. http://pt.wikipedia.org/wiki/Saco_de_plástico.

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Identificação de aspectos e impactos ambientais
relacionados à produção de embalagens de perfumaria –
proposta metodológica (Identification of environmental
aspects and impacts associated to the production of
fragrances packaging – proposed methodology)

STAUDT, Daiana; Mestre; Universidade Feevale, Brasil


daiana@feevale.br

palavras chave: embalagens; perfumaria; impacto ambiental.

Visando diminuir o impacto causado ao meio ambiente, muitas empresas estão adotando diversas
ferramentas e metodologias visando o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis. Assim como os
produtos, as embalagens também possuem ciclo de vida próprio e seus impactos estão ligados à extração
de matéria-prima, fabricação, transporte e destinação pós-consumo. No segmento de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos, o crescimento do mercado e do consumo de produtos tem acarretado um
aumento da produção das embalagens utilizadas para acondicionamento dos produtos e o processo está
associado a diferentes aspectos ambientais como geração de resíduos sólidos, efluentes líquidos,
emissões atmosféricas, ruídos e vibrações. O presente trabalho identificou e organizou os principais
aspectos e impactos ambientais relacionados à produção de embalagens do segmento de perfumaria,
envolvendo a seleção e transformação de materiais e processos, através de uma proposta metodológica
baseada em técnicas e ferramentas empregadas nas áreas do design e de estudos de impacto ambiental
da série ISO 14000. Concluiu-se, a partir dos resultados, que todos os processos de fabricação
analisados apresentaram aspectos e impactos ambientais, relacionados com o consumo de recursos
naturais, geração de efluentes, emissões atmosféricas e geração de resíduos com efeitos em nível local,
regional e global.

keywords: packaging, fragrances industry, environmental impact.

To reduce the impact to the environment, many companies has stimulated many industries to adopt many
different methods for the development of sustainable products. Even as products, packaging have their
own life cycle and their impacts can be associated to raw materials extraction, fabrication, transport and to
post consumption aspects. On the segment of Personal Care, Fragrances and Cosmetics, the market
growth and consumption of products has been causing increased production of packaging used for the
products and the process is associated with solid waste, liquid waste, emissions atmospheric noise and
vibrations. This work has identified and organized the main environmental aspects and impacts associated
to the production of packaging from the fragrances segment involving the selection and processing of
materials and processes through a methodology based on techniques and tools used in its design and
environmental impact studies of the ISO 14000 series. It was concluded that the most significant impacts
are associates to atmospheric emissions, since they have local, regional and global impacts.

1 Introdução

O aumento da escala produtiva tem sido um importante fator de estímulo da exploração dos
recursos naturais e da crescente geração de resíduos. Segundo Barbieri (2007), os resíduos
gerados são compostos cada vez mais de embalagens e produtos industriais.
Pode-se afirmar que a Revolução Industrial foi o marco da intensificação dos problemas
ambientais, pois, conforme Barbieri (2007), a era industrial foi responsável pelo aumento da
degradação ambiental, pois trouxe o avanço de técnicas produtivas intensivas em materiais e
energia para atender aos mercados de grandes dimensões. Tanto a escala de exploração dos
recursos como a descarga de resíduos cresceu de tal modo que passou a ameaçar a
possibilidade de subsistência das presentes e futuras gerações. Segundo o autor, a maior
parcela de emissões, gases de efeito estufa e substâncias tóxicas resultam de atividades
industriais em todo o mundo.

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Sabe-se que a indústria possui um papel fundamental na economia, sendo indispensável para
o seu crescimento e desenvolvimento, pois é responsável pela transformação das matérias-
primas extraídas de recursos naturais em produtos para o consumo humano. Porém, segundo
a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente (1988), os impactos ambientais da atividade
industrial podem ser tanto positivos (melhorando a qualidade de um recurso ou ampliando seu
uso); como negativos (devido á poluição causada pelo processo ou mesmo pelo próprio
produto ou esgotamento e deterioração dos recursos naturais). Os impactos da indústria sobre
o meio ambiente envolvem desde a exploração e extração dos recursos naturais, a
transformação da matéria-prima, a fabricação de produtos, o consumo de energia, a geração
de resíduos e o uso e descarte dos produtos pelos consumidores.
Esta interação dos produtos com o meio ambiente, aliado ao consumo de recursos da
natureza, emissões, resíduos e poluentes, faz com que muitas empresas, atualmente, adotem
diversas ferramentas e metodologias para desenvolvimento de produtos sustentáveis, levando
em consideração fatores como custo, assistência, aspectos legais, ambientais, culturais e
estéticos. As embalagens também são consideradas produtos, pois têm um ciclo de vida
próprio e, hoje, seguem as tendências de mercado em função de aspectos econômicos,
ecológicos e mercadológicos, sendo consideradas tão importantes quanto o seu conteúdo.
Seus impactos estão ligados à extração de matéria-prima, fabricação, transporte e a questões
pós-consumo, onde se tornam um importante componente do lixo urbano (Mestriner, 2001).
No caso das embalagens do segmento de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos,
juntamente com o crescimento do mercado e do consumo de produtos, existe a geração de
resíduos provenientes não só da etapa de pós-consumo, mas também em todo o seu processo
de fabricação. Segundo Selke (1994), a função da embalagem no atual modelo social abrange,
além da contenção e proteção do produto, a comunicação, conveniência e praticidade. No caso
das embalagens deste segmento, além de possuírem a função básica de conter o produto, as
embalagens precisam atender estas demais funções e, principalmente, em relação ao apelo de
venda. O mercado neste segmento ainda dita as tendências de materiais, principalmente
levando em consideração fatores estéticos e, no processo de projeto, os aspectos ambientais
têm sido, historicamente, pouco considerados.
Assim, o objetivo deste artigo é apresentar os resultados levantados através da análise do
processo produtivo de embalagens do segmento de perfumaria, envolvendo a seleção e
transformação de materiais e seus processos de acabamento, identificando e estruturando os
aspectos e impactos ambientais relacionados aos diferentes processos, servindo de
embasamento e subsídio na proposição de melhorias na concepção e produção de produtos
sustentáveis.
Segundo Barbieri (2007), para agir sobre os impactos ambientais causados é necessário
primeiro conhecê-los, e daí a necessidade de estudar os aspectos e impactos resultantes de
atividades humanas presentes como as que podem vir a ocorrer a partir de novos produtos,
serviços ou atividades. Para Papanek (1977), o profissional pelo desenvolvimento de todos os
produtos industriais consumidos pela sociedade, neste caso, conceituado como designer, deve
utilizar das ferramentas para reduzir a necessidade de matérias-primas e de recursos naturais,
reduzindo, portanto, a pressão sobre a natureza.

2 O mercado de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

O segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, segundo Capanema et al (2007), é


caracterizado pela presença de grandes empresas internacionais diversificadas e também
pelas pequenas e médias empresas nacionais, também em grande número. Visando cumprir
seus objetivos de mercado, estas empresas investem grandes somas de recursos em novos
lançamentos e estratégias competitivas envolvendo a marca, embalagens, canais de
comercialização e distribuição. O mercado brasileiro está entre os mais importantes do mundo,
caracterizado pelo fato de que o consumidor passou a considerar estes produtos como
essenciais. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos - ABIHPEC (2011), o mercado brasileiro de higiene e beleza cresceu
4,1% nos últimos 5 anos (dados de 2010), o equivalente 1 1.640 milhões de toneladas. O

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segmento teve, ainda, um crescimento no seu faturamento no mesmo período de 12,2%,
equivalendo a R$ 23.318.000, em 2010. O segmento de fragrâncias ficou em segundo lugar no
ranking, sendo responsável por 16% deste faturamento, perdendo para o segmento de
desodorantes com 22%.

O setor caracteriza-se, ainda, por manter relações estreitas com diversos setores de produção,
desde a indústria química e farmacêutica, responsável pelo desenvolvimento de seus produtos,
como também dos produtos da indústria de embalagens. Esta representa uma parcela
significativa de custos em função da diversidade (sejam elas de papelão, plástico ou vidro),
além de possuírem um forte investimento em design e novos materiais para embalagens. A
questão da inovação no segmento de perfumaria pode estar ligada a uma simples troca de
embalagem, onde um novo design de embalagem pode ser considerado uma estratégia
inovadora de marketing. (Capanema et al , 2007).

Neste segmento de embalagens existem diversas possibilidades para o desenvolvimento de


frascos, tampas e cartuchos, e a criatividade dos profissionais para as mais diversas formas. As
embalagens, segundo Levy (apud Gonçalves Dias, 2006), devem atender não só as exigências
legais e as demandas do mercado (serem atrativas no ponto de venda, eficientes nas linhas de
produção e transporte, eficazes na proteção dos produtos que acondicionam), mas também
devem ser pensadas quanto ao impacto que terão sobre o custo final do produto. Além disso,
as questões ambientais também devem ser adotadas no projeto, pensando na sua
funcionalidade.

Segundo estudo da Associação Brasileira de Embalagem - ABRE, publicados no Anuário


ABIHPEC de 2010 (ABIHPEC, 2011), a produção física de embalagem cresceu 16,29% no
primeiro semestre de 2010, estimando-se um valor de produção nacional equivalente a R$ 40
bilhões em 2010.

3 Questões ambientais do segmento

Conforme o Guia Técnico Ambiental do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos


(CETESB, 2005), a geração de resíduos proveniente das embalagens é um dos impactos mais
significativos do setor, em função da diversidade de caixas de papel/papelão, frascos, sacos,
rótulos, sacolas e afins que são utilizadas para acondicionamento dos produtos. A disposição
inadequada das embalagens, muitas vezes com restos do produto, pode causar sérios danos
ambientais, tanto na contaminação do solo como das águas subterrâneas. Quando destinadas
incorretamente aos aterros sanitários e lixões, estas embalagens refletirão seus impactos a
curto e longo prazo: primeiramente pela poluição visual causada, com sua difícil
reincorporação à natureza, pelo espaço que ocuparão durante anos e pela alteração da
qualidade tanto do solo como do lençol freático.

Ainda conforme o Guia (CETESB, 2005), a atividade envolve também a geração de resíduos
em diversas áreas de operações e características diversas, incluindo a sobra de materiais,
produtos sem especificações ou com prazo de validade vencido, material retido em sistema de
poluição atmosférica, sólidos grosseiros e lodos gerados no sistema de tratamento de
efluentes, entre outros.

Na área de acabamentos, há a participação da indústria gráfica, que envolve a produção de


etiquetas, adesivos e embalagens secundárias como cartuchos e sacolas. Os aspectos
ambientais deste setor estão ligados à geração de resíduos sólidos (restos de papel,
embalagens, plásticos e pós-impressão), efluentes líquidos, emissões atmosféricas, ruídos e
vibrações (CETESB, 2003).

Torna-se importante o levantamento dos aspectos e impactos ambientais ligados ao processo


produtivo das embalagens, a fim de verificar a influência destas sobre o meio ambiente e
visando possíveis alternativas que minimizem os impactos gerados.

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A relação entre ‘aspectos ambientais e impactos é uma relação de causa e efeito’, segundo a
NBR ISO 14004:1996 (ABNT, p. 11, 1996). Defini-se como aspecto ambiental ‘o elemento das
atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente’
(ABNT, p.2, 2004). Moura (2004) exemplifica como aspecto ambiental, as matérias-primas, o
consumo de água e energia, a embalagem utilizada e a geração de efluentes. Impacto
ambiental é definido pela ISO 14001:2004 - cláusula 3.7, como ‘qualquer modificação do meio
ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte dos aspectos ambientais de
uma organização’ (ABNT, p.2, 2004). Como exemplo de impacto pode ser citado: a poluição ou
contaminação da água e o esgotamento de um recurso natural.

4 Estudo de impacto ambiental

Conforme citado por Barbieri (2007), qualquer abordagem de gestão ambiental de uma
organização visando à correção, prevenção ou como foco estratégico dos produtos ou
processos, requer a identificação e análise de impactos ambientais para estabelecer medidas
de ação dentro das conformidades da legislação e da própria política da empresa.
São referenciados por Barbieri (2007) e Souza (2006), diferentes modelos de gestão ambiental
que podem ser utilizados por empresas de qualquer porte ou segmento, como a Produção Mais
Limpa (P+L), que enfatiza a minimização de impactos sobre o meio ambiente através de ações
para conservação de energia e matéria-prima, eliminação de substâncias tóxicas e redução de
desperdício (através de minimização ou reciclagem) e poluição resultante dos processos
produtivos; a Ecoeficiência, que desenvolve práticas visando o aumento da competitividade da
empresa através de minimização da intensidade de materiais e energia e a dispersão de
materiais tóxicos; aumento da reciclabilidade de seus materiais e aumento da durabilidade dos
produtos e intensidade dos serviços; o Projeto para o Meio Ambiente (DfE), que segundo Fiksel
(1996), considera a sistemática do desempenho do projeto, visando objetivar questões
ambientais, de saúde e segurança e considerando todo o ciclo de vida de um produto ou
processo, ou seja, desde a fase de concepção dos produtos e seus respectivos processos de
produção, distribuição, utilização e descarte.
Ainda segundo o autor (1996), esta proposta não limita a produtividade e lucratividade; e as
Normas ISO 14000, que tratam das diretrizes para auditoria ambiental, avaliação de
desempenho ambiental, avaliação do ciclo de vida dos produtos, rotulagem, ambiental,
aspectos ambientais em normas de produtos, dentre outras.
Outro modelo, referenciado por Callenbach et al (2004), é baseado no gerenciamento
ecológico ou ecomanagement. Este modelo de gerenciamento, criado pelo Elmwood Institute,
objetiva a minimização do impacto ambiental e social da empresa, tornando todas as suas
operações as mais ecologicamente corretas possível. O gerenciamento ecológico enxerga a
empresa não como um sistema mecanicista passivo de controle, e sim como um sistema
sistêmico e vivo. Os autores estruturaram etapas a serem analisadas através das eco-
auditorias, visando abranger as reais medidas ambientais:

 Fluxo de entrada (energia e materiais): verificando a adoção de medidas de


minimização do consumo de energia e matérias-primas e administração de materiais,
incluindo relação com subcontratados e fornecedores (pois em uma política ambiental
responsável estes podem contribuir significativamente para os impactos ambientais
gerados pelas empresas);

 Projeto, processamento e fabricação: envolve a consideração de fatores como projeto


de produtos ecofavoráveis, os quais possuem características como aumento da vida
útil dos produtos, facilitação do conserto e reciclagem das peças e componentes,
minimização do uso de embalagens e materiais tóxicos tanto nos produtos como nos
processos. Estes fatores incluem também a utilização de tecnologias menos
impactantes e equipamentos que reduzam energia, matéria-prima e geração de
resíduos e recuperação, reciclagem e reutilização;

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 Fluxo de saída (vendas, marketing, resíduos e emissões): este fator recai sobre as
questões de publicidade, promoção e sistema de distribuição, além da identificação
dos resíduos e emissões e oportunidades para a reciclagem. As atividades envolvem
também o fornecimento de informações ecológicas do produto para seus
consumidores e formas de identificação e minimização dos resíduos gerados, bem
como sua disposição e monitoramento adequado;

 Finanças, recursos humanos e outras estruturas de apoio: envolve as questões


financeiras e de seguros, local de trabalho (condições físicas e de relacionamento
humano), estrutura relacionada ao transporte de materiais e pessoas, planejamento
em casos de emergência. São analisados também os retornos financeiros com
investimento em medidas ambientais.

Segundo Barbieri (2007), a adoção de qualquer modelo de gestão requer o uso de


instrumentos para alcançar objetivos específicos em relação às questões ambientais, sendo
alguns deles: a auditoria ambiental, avaliação de ciclo de vida (ACV), estudos de impacto
ambiental, sistemas de gestão ambiental, relatórios ambientais, rotulagem ambiental e
avaliação de riscos Ambientais.

O estudo de impacto ambiental, segundo o autor (2007), faz parte do processo de


implementação e operação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e das auditorias
ambientais pertinentes. Existem diversos instrumentos de gestão ambiental baseados em
estudos de impacto, como a avaliação de ciclo de vida (ACV), avaliação de riscos, auditorias
ambientais, rótulos ambientais, avaliação de desempenho ambiental, entre outros, já citados
anteriormente.
A avaliação de impacto também faz parte deste estudo e procura identificar os impactos e
estimar as suas conseqüências. Portanto, o estudo de impacto ambiental compreende, além
desta avaliação dos impactos, a identificação de soluções alternativas, o desenvolvimento de
medidas de prevenção, controle e compensação de impactos inevitáveis e outros.
A NBR ISO 14004:1996 (ABNT, 2006) – Sistemas de Gestão Ambiental, estabelece
especificações para a identificação e avaliação de aspectos e impactos ambientais, divido em 4
etapas:

1. Seleção da atividade, produto ou serviço: através de uma análise criteriosa do


tamanho e abrangência da atividade, produto, ou serviço para que o estudo seja
significativo e de fácil compreensão.

2. Identificação dos aspectos ambientais da atividade, produto ou serviço: considerando


as entradas e saídas associadas às suas atividades, as emissões atmosféricas,
lançamentos em corpos d’água e no solo, uso de matérias-primas e recursos naturais,
uso de energia, resíduos e subprodutos e atributos físicos como tamanho, forma , cor e
aparência. Estes aspectos deverão ser considerados sobre as etapas de projeto e
desenvolvimento; processos de fabricação; embalagem e transporte; desempenho
ambiental e práticas de serviços prestados e fornecedores; gerenciamento de
resíduos; extração e distribuição de matéria-prima e recursos naturais; distribuição, uso
e fim de vida dos produtos, e vida selvagem e biodiversidade, associadas às suas
atividades, produtos ou serviços relevantes presentes, passados, planejados ou de
novos desenvolvimentos.

3. Identificação dos impactos ambientais: reais e potenciais, positivos e negativos


associados a cada aspecto identificado. Enquanto que os impactos adversos, segundo
a NBR ISO 14001:2004 (ABNT, 2004), representam uma mudança negativa ao meio
ambiente (envolvendo uma emissão ou contaminação do solo, por exemplo) os
impactos benéficos são vistos como uma mudança positiva ou corretiva (redução de
consumo, reutilização, descontaminação, etc.). Segundo Silva (2005), outro exemplo
de impacto positivo envolveria questões financeiras e sociais como a geração de

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emprego, a agregação de valor ao produto ou produção ou arrecadação de impostos
em favor do município em função de alguma ação reparadora ou geradora de
impactos. Para Callenbach et al (2004), a identificação dos impactos ambientais requer
a avaliação de todas as atividades da empresa, a qual deve ser analisada de forma
sistêmica e com base na gestão e busca de qualidade ambiental. A análise dos
processos produtivos deve ser realizada através de suas interações com o meio
externo e as relações existentes internamente. Estas relações internas e externas
envolvem a entrada de energia e água; fornecedores de matérias-primas;
equipamentos e capital; saídas de resíduos, efluentes, emissões, produtos e ruídos;
operações de projeto e fabricação. Desta forma, esta análise expressará a relação
empresa-meio ambiente-sociedade, que é fundamental para a compreensão e
implementação da gestão ambiental.

4. Avaliação da importância dos impactos: levando em conta considerações ambientais


como escala de impacto; severidade do impacto; probabilidade de ocorrência e
duração do impacto; e considerações comerciais como potencial exposição legal e
regulamentar, dificuldade de alterações do impacto, custo para alteração do impacto,
efeito de uma alteração sobre outras atividades ou processos, preocupações das
partes interessadas e efeitos na imagem pública da organização.

Segundo a NBR ISO 14001:2004 (ABNT, 2004), toda organização deve estabelecer,
implementar, manter e controlar seus procedimentos para identificação dos aspectos
ambientais de suas atividades, produtos ou serviços, dentro do escopo de seu Sistema de
Gestão Ambiental (SGA), determinando os aspectos que possam ter impacto significativo sobre
o meio ambiente.

5 Metodologias para avaliação de impacto ambiental

Segundo Barbieri (2007), a avaliação dos impactos ambientais é ponto central de um estudo de
impacto ambiental. Existem diferentes métodos desenvolvidos para elaboração desta
avaliação, fundamentando-se em informações da análise do ciclo de vida e metodologias de
avaliação e medição destes impactos.
As linhas metodológicas para avaliação de impactos ambientais, segundo Bastos et al (2000),
são mecanismos que servem para ‘comparar, organizar e analisar informações sobre impactos
ambientais de uma proposta, incluindo os meios de apresentação escrita e visual destas
informações’.
Conforme os autores (2000), as principais linhas metodológicas desenvolvidas para a avaliação
de impactos ambientais são as Metodologias Espontâneas (Ad hoc); Listagens (Checklist);
Matrizes de Interações; Redes de interações (Networks); Metodologias Quantitativas; Modelos
de Simulação; Mapas de Superposição (Ovelrays), Projetos de Cenários, entre outras.
Para a fase inicial de identificação e enumeração dos aspectos e impactos ambientais
relacionados à operação, é possível utilizar o método de listagens, ou também chamado
checklist. Este método tem caráter qualitativo e determina os aspectos e impactos ambientais
mais relevantes. Segundo Braga et al (2005), o método de listagens é um método simples, que
pode utilizar informações e dados mais limitados. As listagens de controle poderão ter caráter
descritivo, relacionando ações, componentes ambientais e outras características mais técnicas;
as listagens comparativas incorporam critérios de relevância aos impactos como nenhum
efeito, pouco efeito, efeito significativo, efeito grave, etc.; e as listagens em forma de
questionário, consideram os impactos de um projeto de forma isolada, sem levar em conta suas
interdependências, utilizando perguntas específicas e de caráter descritivo.
Segundo Bastos et al (2000), não existe uma metodologia completa e ideal que atenda os
diferentes tipos de estudos de impactos e suas fases. A escolha da metodologia deverá ser
adotada de acordo com as necessidades, adaptando-as para que sejam realmente úteis no
processo decisório do projeto, de acordo com as condições específicas de cada estudo
ambiental e da realidade local e nacional.

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6 Proposta metodológica empregada ao estudo das embalagens de perfumaria

A coleta de informações acerca do objeto de estudo foi baseada em pesquisa bibliográfica, a


partir da revisão da literatura em livros, artigos e publicações periódicas e pesquisa
documental, para compilação de dados estatísticos, onde caracterizou-se o setor de higiene
pessoal, perfumaria e cosméticos, em específico do setor de perfumaria e suas embalagens,
identificando os materiais e processos produtivos envolvidos. Também levantou-se informações
de caráter ambiental nas organizações, legislação e normatizações técnicas e as metodologias
adotadas para identificação e avaliação de aspectos e impactos ambientais, visando à seleção
e à adaptação dos critérios e métodos de avaliação ambiental existentes na literatura para
aplicabilidade prática no estudo proposto.
Realizou-se uma pesquisa exploratório-descritiva a fim de buscar o embasamento técnico e
prático acerca dos processos e coletar dados de caráter qualitativo. Segundo Gil (2008) este
tipo de pesquisa tem como objetivo buscar uma maior ‘familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses’. Para o autor esta pesquisa envolve
também o levantamento bibliográfico e técnicas de coleta de dados a partir de questionários e
observações sistematizadas. Sendo assim, realizou-se observações diretas intensivas, nas
instalações produtivas das indústrias de fabricação e decoração de embalagens do segmento
de perfumaria. As empresas não permitiram identificação por questão de confidencialidade de
informações. Segundo Lakatos e Marconi (2010), a técnica de observação é utilizada na
obtenção de dados e aspectos mais reais, não consistindo apenas em ver e ouvir, mas também
examinar os fatos que se deseja estudar.
Nas observações, o pesquisador atuou como não-participante, aplicando entrevistas abertas e
não estruturadas (por conversação), das quais não foram gravadas. Observaram-se critérios
técnicos e ambientais sugeridos por autores do âmbito ambiental organizacional, legislação
ambiental e normatizações da ABNT ISO 14001:2004, que trata dos requisitos e orientações
para implementação e uso dos Sistemas de Gestão Ambiental e ABNT ISO 14004:1996, que
trata das diretrizes gerais, princípios, sistemas e técnicas de apoio também em SGA’s.
Nos casos em que não foi possível a visitação e observação nas instalações das empresas do
segmento, aplicou-se questionário com perguntas estruturadas via formato eletrônico. Tanto as
entrevistas como os questionários foram respondidos por técnicos responsáveis pelas
atividades produtivas e com conhecimento acerca das entradas e saídas dos processos.
A primeira etapa da metodologia consistiu na análise estrutural de embalagens (levantamento
dos materiais e acabamentos empregados – Figura 1, Figura 2 e Figura 3) das duas maiores
empresas nacionais do segmento de perfumaria, denominadas por “Empresa A” e “Empresa B”,
a partir de uma amostragem de 10 embalagens, selecionadas a partir de critérios de consumo
e diversidade de materiais empregados.
Seguindo a classificação de Moura e Banzato (1997, p. 12), os tipos de embalagens analisados
foram as acondicionadoras, também chamadas de embalagens primárias. As embalagens
secundárias, que acondicionam e protegem a embalagem primária (cartuchos ou caixas), não
foram considerados para a análise.

Figura 1: Aspectos considerados na análise estrutural das embalagens das duas maiores empresas nacionais do
segmento de perfumaria.

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Figura 2: Embalagens analisadas - “Empresa A”

Figura 3: Embalagens analisadas -“Empresa B”.

A segunda etapa consistiu na análise dos processos de fabricação das embalagens, através de
coleta de dados secundários e questionário dirigido às empresas de acordo com o segmento
de fabricação da embalagem: Indústria do Segmento de Perfumaria; Empresa de Fabricação
de Frascos Plásticos; Empresa de Fabricação de Frascos de Vidro e Acabamentos; Empresa
de Fabricação de Tampas e Válvulas.
As informações coletadas foram de caráter qualitativo, identificando as entradas do processo
(inputs): matérias–primas, materiais secundários e produtos auxiliares; consumo de água e tipo
de energia e combustível utilizado; e as saídas do processo (outputs): geração de efluentes
líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos.
As informações foram disponibilizadas em forma de fluxogramas de processo, conforme figura
4. A partir destes fluxogramas, foram levantados os aspectos ambientais associados às etapas
do processo, de acordo com o seu estado físico (resíduo, efluente e emissão), descrevendo-os.

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Figura 4: Modelo de fluxograma do processo produtivo.

A etapa seguinte consistiu no levantamento dos impactos ambientais relacionados a cada


aspecto identificado anteriormente, em relação ao consumo de recursos naturais e energéticos,
matérias-primas e geração de resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas.
Baseado em diversos autores como Manzini e Vezzoli (2005), Moura (2004), Santos (2006) e
em legislações ambientais, os principais efeitos determinados pelos impactos ambientais e
seus agentes de poluição, serviram de indicadores de impacto ambiental, sendo estes
determinados como: aquecimento global, camada de ozônio, acidificação, eutrofização,
formação de oxidantes fotoquímicos, índice de toxicidade (ar, água e solo) e geração de
resíduos.
Cabe salientar que para fins deste trabalho não foram realizadas análises e levantamento das
questões sociais, econômicas e culturais também relacionadas ao processo produtivo das
embalagens do segmento de perfumaria.

7 Resultados e Análise

7.1 Análise estrutural das embalagens


Os materiais e acabamentos observados pela análise estrutural das embalagens estudadas
são demonstrados através da tabela 1.

Tabela 1: Panorama Geral da Análise Estrutural das Embalagens

Embalagem Materiais Acabamentos


Frasco Vidro Incolor ou pigmentado
PET Impressão serigráfica
Tampa PP Pigmentado
Alumínio Metalização brilho ou fosco
Pintura
Válvula Alumínio Pigmentado
Aço inox Metalização brilho ou fosco
PP e PE

7.2 Análise dos aspectos ambientais dos processos de fabricação das embalagens
O levantamento de aspectos ambientais relacionados aos processos de fabricação e
acabamento/decoração das embalagens quanto ao uso de recursos naturais e energéticos,
matérias-primas secundárias e também quanto à geração de resíduos sólidos, efluentes e
emissões atmosféricas, são citados nas tabelas 2, 3, 4 e 5.

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Tabela 2: Aspectos ambientais ligados à produção de embalagens de vidro
Aspecto Ambiental Etapa
Consumo de recursos naturais: Processo de fundição e fabricação
areia, barrilha, calcário e alumina do frasco de vidro
Consumo de água Óleo de lavagem
Utilização de pigmentos contendo Equipamentos
metais tóxicos como cromo/selênio
Consumo de energia térmica e Processo de sopro, resfriamento e
elétrica transporte.
Emissão de efluentes líquidos Águas de lavagem
contendo
NaOH e NH3
Emissões atmosféricas Gases e MP de combustão
HCl, NH3, NOx, SO2, VOC’s, CO,
CO2, HC, N2O
Resíduos Sólidos Industriais Embalagens secundárias de
Classe IIB plástico e papelão
Perdas de Processo Embalagens Danificadas

Tabela 3: Aspectos ambientais ligados à produção de embalagens de PET

Aspecto Ambiental Etapa


Consumo de recursos naturais Produção da pré-forma
Consumo de água Fabricação da garrafa
Óleo de resfriamento e lavagem
Consumo de energia térmica e Maquinário, caldeiras e transporte
elétrica
Emissão de efluentes líquidos Águas de lavagem e resfriamento
contendo NH3
Emissões atmosféricas Gases de combustão
MP, CO2, CO, SO2, NOx, HCl, HC,
VOC’s
Resíduos Sólidos Industriais Classe Embalagens secundárias de
IIB plástico e papelão
Perdas do Processo Granulado PET e frascos com
defeito

Tabela 4: Aspectos ambientais ligados à produção de tampas e válvulas spray

Aspecto Ambiental Etapa


Consumo de recursos naturais Processo de injeção
Consumo de água Óleos e Processo de lavagem
Consumo de energia térmica e Maquinário, caldeira e transporte
elétrica
Emissão de efluentes líquidos Águas de lavagem
contendo NH3
Emissões atmosféricas Gases de combustão e
MP, CO2, CO, SO2, NOx, HCl, HC, polimerização
VOC’s
Resíduos Sólidos Industriais Classe Embalagens secundárias de
IIB plástico e papelão
Resíduos Sólidos Industriais Classe Óleos, graxas e embalagens
I contaminadas
Perdas do processo Válvulas danificadas e materiais
secundários com falhas (aço inox,
alumínio)

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Tabela 5: Aspectos ambientais ligados à decoração de frascos - serigrafia

Aspecto Ambiental Etapa


Geração de emissões atmosféricas Pré-impressão: Diluição das tintas
CO2, CO, NOx, SO2, VOC's, MP, em solvente
NH3 Impressão
Pós-impressão:
Processo de secagem da tinta,
limpeza das telas e máquinas com
uso de solventes
Geração de efluentes líquidos Pós-impressão:
contendo Limpeza das telas e máquinas com
PO4, HC e metais pesados uso de solventes
(chumbo) Águas de Lavagem

Geração de Resíduos Industriais Pós-impressão:


Classe IIB Restos de embalagens falhadas,
rolos, telas obsoletas e embalagens
secundárias
Geração de Resíduos Industriais Pós-impressão:
Classe I Resíduo de tinta/verniz, lâmpadas
UV queimadas, latas de tinta
contaminadas, panos/estopas
contaminados, fotolitos, óleos
lubrificantes, graxas e telas
contaminadas

A partir das análises e aspectos observados através das tabelas 2, 3, 4 e 5 é possível apontar
as seguintes considerações:
Referente ao processo de fabricação do frasco de vidro:

 O consumo de recursos naturais está ligado à matéria-prima principal que provém da


areia, calcário, dolomita, feldspato, barrilha e nos compostos utilizados para coloração
do vidro; o consumo de água está nas operações lavagem de equipamentos;

 A utilização de compostos com metais pesados na pigmentação do vidro gera toxinas


no ar e água, que podem causar sérios problemas à saúde humana;

 O consumo de energia elétrica e térmica (queima de óleo e gás) contribui para o efeito
estufa e aquecimento global principalmente pela liberação CO2, CO, VOC's, MP;

 Os gases de combustão geram emissões atmosféricas que são responsáveis pelos


efeitos fotoquímicos (VOC´s,CO, HC); acidificação (HCl, NH3, NOx, SO2) e
aquecimento global (CO, CO2, HC, N2O);

 Quanto à geração de resíduos sólidos, a maior parte é perda de processo (embalagens


falhadas) e podem ser recicladas, pois estão limpas, ou seja, sem contaminantes;

O processo de fabricação do frasco PET contempla:


 O consumo de recursos naturais está ligado à matéria-prima principal - polímero
termoplástico e aos óleos de resfriamento, que provém do petróleo; o consumo de
água está ligado aos processos de lavagem;

 O consumo de energia elétrica e térmica gerado pelos maquinários e caldeiras


contribui para o aquecimento global;

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 Os gases de combustão geram emissões atmosféricas que são responsáveis pelos
efeitos fotoquímicos (VOC’S, CO, HC), acidificação (HCl, NOx, SO2) e aquecimento
global (CO2, CO, HC);

 Quanto à geração de resíduos sólidos, a maior parte é perda de processo (embalagens


falhadas e grânulos) que podem ser recicladas, pois estão limpas, ou seja, sem
contaminantes;

No processo de decoração de frascos através da serigrafia:


 Tanto o consumo de água para lavagem de máquinas e outros equipamento, como a
energia (para maquinário) estão presentes em quase todas as etapas do processo;

 Nas etapas de impressão, com a evaporação das tintas durante a secagem e na


diluição das tintas com solventes e lavagem de telas e maquinário são geradas
emissões atmosféricas responsáveis pelos efeitos fotoquímicos (VOC’s, CO, HC),
acidificação (NOx, SO2, NH3) e aquecimento global (CO2, CO);

 A limpeza das telas e máquinas com uso de solventes e águas de lavagem geram
efluentes líquidos contendo PO4, HC e metais pesados, responsáveis pela alta
demanda química de oxigênio na água e eutrofização dos corpos d’água sem o devido
tratamento;

 A maioria dos resíduos gerados no processo é considerada segundo a NBR 10004,


classe I: sendo eles: resíduos de tinta/verniz, lâmpadas UV queimadas, latas de tinta
contaminadas, panos/estopas contaminados, fotolitos, óleos lubrificantes, graxas e
telas contaminadas que sem a destinação e tratamento corretos acarretam a
contaminação do solo e lençóis freáticos, odores e riscos de explosão.

Para o processo de fabricação de tampas e válvulas plásticas:


 O consumo de recursos naturais está ligado à matéria-prima principal (resina PP) que
provém do petróleo e ao consumo de água nas etapas de lavagem;

 O consumo de energia utilizado para todo maquinário e energia térmica nas caldeiras
contribuem para o aquecimento global através das emissões de CO2, CO, VOC's e
MP;

 As emissões decorrentes de combustão e processo de polimerização: CO2, CO, SO2,


NOx, HCl, HC, VOC são responsáveis pelos efeitos fotoquímicos (VOC, CO, HC),
acidificação (HCl, NOx, SO2) e aquecimento global (CO2, CO, HC)

 Os resíduos gerados são na maioria perdas do processo (flocos de resina e peças


danificadas) e também na montagem de válvulas, com outros materiais secundários
que podem ser reciclados, pois encontram-se descontaminados (peças em aço inox).

Pode-se concluir que os processos que envolvem combustíveis fósseis necessitam de um


gerenciamento apropriado quanto à liberação dos gases de combustão, pois geram emissões
atmosféricas, que são responsáveis por impactos a nível local, regional e até global. Este é um
tipo de poluição que não permite um tratamento após lançado na atmosfera. As perdas de
processo (embalagens danificadas, porém descontaminadas) podem ser consideradas como
fonte de matéria-prima, quando estas são recicladas e reaproveitadas no ciclo produtivo. Como
exemplo, pode-se citar o uso dos cacos de vidro como matéria-prima na fabricação de
embalagens de vidro e os pellets provenientes de PET reciclado, que são utilizados na
fabricação dos frascos plásticos. Estes diminuem o uso dos recursos naturais não renováveis.
Nos processos de decoração de frascos e cartuchos (principalmente na impressão) existe a
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maior quantidade de aspectos e impactos negativos, que afetam à saúde humana, tanto direta
como indiretamente, através da contaminação do ar, água e solo. A evaporação da tintas e
solventes gera emissões atmosféricas que podem causar sérios problemas à saúde humana e
também contribuir para impactos regionais e globais, quando em grande quantidade. Os
efluentes contendo principalmente metais pesados, assim como os resíduos sólidos perigosos,
caso não destinados e tratados corretamente, podem causar sérios danos aos mananciais, solo
e lençóis freáticos.

8 Considerações finais

Sabe-se que, em função de aspectos mercadológicos de venda e comunicação do produto, as


indústrias, em especial do segmento de perfumaria, investem cada vez mais em novos
formatos, materiais e acabamentos. Para criar uma embalagem eficaz e ambientalmente
favorável, é preciso estar atento a uma série de detalhes, não só quanto à aparência e ao
formato, mas como a sua funcionalidade, manuseio, transporte, materiais e a geração de
resíduos em todas as etapas de sua produção.
O estudo dos aspectos e possíveis impactos ambientais, envolvendo a seleção e
transformação de materiais e seus processos de fabricação, é de extrema importância para
contribuição de novas alternativas que reduzam o impacto ambiental não só de embalagens,
mas também de outros produtos e processos, pois pode trazer benefícios não só na concepção
de projetos mais sustentáveis, mas também visando ações de melhoria isoladas em processos,
através da escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental, minimização de
materiais e recursos, otimização da vida do produto (intensificando o seu uso), redução de
perdas e refugos e, conseqüentemente a redução do lixo pós-consumo.
Não existe uma metodologia completa e ideal que atenda aos diferentes tipos de estudos de
impactos e suas fases. No caso da análise de embalagens, por exemplo, não existia um
método de estudo ambiental específico. Por isso, utilizou-se para o levantamento dos aspectos
ambientais relacionados aos processos de fabricação das embalagens e seus acabamentos, a
aplicação de fluxogramas, que estruturaram e subdividiram as etapas dos processos,
facilitando a identificação das entradas e saídas e seus aspectos ambientais relacionados, e
para identificar os impactos ambientais associados, foi adaptado o método de listagem
(checklist), com o objetivo de identificar e organizar as informações referentes ao estudo dos
aspectos e impactos ambientais do processo. Assim, a partir do método adotado foi possível
identificar e relacionar os diversos aspectos ambientais relacionados aos processos analisados
e relacionar os possíveis impactos associados a cada aspecto.
Para a indústria, o emprego de requisitos e práticas sustentáveis no desenvolvimento de
produtos pode gerar benefícios tanto na redução de custos, como no estímulo à inovação,
oportunidade de novos negócios e melhoria da qualidade do produto. Tratando-se de questões
financeiras, poderá trazer resultados para estudos e projetos visando à recuperação e redução
de perdas nos processos, minimização de materiais e recursos, minimização e reuso de água e
busca de fontes energéticas alternativas. Além disso, tanto o descarte adequado dos resíduos
perigosos gerados pela indústria como o tratamento de seus efluentes e emissões
atmosféricas, poderá fortalecer a imagem da empresa frente aos consumidores e entidades
regulamentadoras.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Desenvolvimento de suporte para garrafões de água em
transporte de duas rodas motorizado(Development support
for bottles of water in two-
wheeled motorized transportation)

CARVALHO, Jessica; Bacharel em Design; Universidade Federal do Amazonas


cherry.jessica@gmail.com

SANTOS, Erik; Bacharel em Design; Universidade Federal do Amazonas


dossantos.erik@yahoo.com.br

QUIRINO, Magnólia; Mestre em Engenharia Civil; Universidade Federal do Amazonas


quirino.designer@gmail.com
palavras chave: Design Vernacular, Design de Transportes, Design de Produtos

O presente artigo se propõe a desenvolver um suporte para o transporte de garrafões de água em


veículos de duas rodas, através da integração do Design Vernacular juntamente com o Design de
Transportes e o Design de Produtos. Para isso foram-se coletadas amostras do emprego do Design
Vernacular em nossa sociedade cotidiana, estudados os princípios do Design de Transporte
contemporâneo e também as características principais agregadas a um bom desenvolvimento na área de
design de produtos. Este levantamento possibilitou um maior entendimento de que as soluções
vernaculares podem oferecer grandes idéias para a geração e desenvolvimento de novos designs de
produtos e de que o conceito de mobilidade se ligado ao conceito de design expande os seus horizontes
mantendo, ainda, a dinâmica dos tempos recentes. O desenvolvimento deste projeto tende a promover
melhor mobilidade com segurança tanto para o operador quanto para o produto a ser transportado,
transferindo o conceito de algo “improvisado” para o de algo projetado.

Keywords: Vernacular Design, Transportation Design, Product Design.

This article proposes the develop of a support for transporting bottles of water in two-wheel, through the
integration of Vernacular Design with the Design of Transportation and Product Design. For that to
happens samples of the use of Vernacular Design in our everyday society were collected and the
principles of contemporary design Transportation and also the main features added to a good development
in the area of product design were studied. This survey has enabled a greater understanding of that the
vernacular solutions can offer great ideas for generating and developing new product designs and if the
concept of mobility is linked to the concept of design it expands your horizons while staying based at the
dynamics of recent times. The development of this project tends to promote better mobility with security for
both the operator and the product being transported, transferring the concept of something "improvised" for
something designed.

1 Introdução

A pesquisa tem como finalidade desenvolver um suporte para o transporte de garrafões de


água, visando facilitar e permitir que qualquer pessoa possa desenvolver a atividade da
entrega de garrafões de água, apresentando uma maior segurança, agilidade e economia
financeira. Devido ao aumento da demanda de entregas a domicílio, com a grande quantidade
de condomínios de casas; surgiu a necessidade de meios que tornassem o transporte de um
ou mais garrafões de água de forma rápida e econômica. Atualmente este transporte vem
apresentando muitas falhas, atendendo precariamente esta necessidade. Essa locomoção
coloca em risco não somente o produto em questão, mas também a segurança do
trabalhador/motorista/entregador.
Um meio de transporte alternativo adotado pela maioria das pessoas como escapatório para o
constante trânsito e a falta de apoio ao ciclismo como meio de transporte foi, justamente, a
utilização de outro meio de locomoção de duas rodas, mas infinitamente mais eficiente, as
motocicletas. As motos vêm sendo a melhor escolha das pessoas, principalmente das que
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moram em cidades grandes. Esse meio de transporte é o mais econômico, rápido, fácil de
evitar o engarrafamento e ágil. Porém, além de apresentar seus pontos positivos, como
qualquer outro transporte também apresenta pontos negativos, ressaltando o mais grave, a
segurança do próprio motorista.
O design de produtos trabalha na produção de objetos e produtos tridimensionais para usufruto
da humanidade. Sua projetação inclui massivamente a produção de bens de consumo ligados
à vida cotidiana, mas também a produção de bens de capital.
O Design Vernacular tende a inovação de novas práticas da vida urbana, ou de novos
significados para os objetos postos em prática no cotidiano. Na cultura corriqueira, os
problemas do design são menos de caráter técnico-profissional e mais de caráter funcional, o
que atende às características propostas pelo mesmo, pois visa aos fenômenos de uso e da
funcionalidade de uso.
O Design de Transporte tornou-se um segmento de design importantíssimo na atualidade.
Além de sua proposta de maior mobilidade, o Design de Transportes visa também estabilidade,
portabilidade, leveza, mas principalmente conforto e maior segurança. É justamente visando à
interligação destas três formas tão distinta de Design, que acarretará na formulação final de um
produto que atende as expectativas traçadas e formuladas neste projeto, que ofereça,
principalmente, segurança para os transportadores e garanta a chegada segura ao destino do
produto, de uma maneira mais eficaz, prática e higiênica.

2 Justificativa

Com o crescimento das cidades e seus vastos condomínios, modificando assim os hábitos de
consumo e de vida de seus moradores; além da usabilidade de motos como veículos de
transporte de passageiros, elas passaram a transportar também cargas para entrega em
pequena e em larga escala.
Este projeto busca os conhecimentos do Design Vernacular para o desenvolvimento de um
suporte que ofereça tanto segurança para o produto transportado, quanto para o seu
transportador, que no decorrer da entrega exerce diversas funções, não sendo somente o
entregador em si, mas também o caixa na hora do pagamento à domicílio; o vendedor dos
produtos transportados; o entregador por entrar em contato direto com o cliente e o operador,
pôr por vezes ter que manusear o produto sem que haja a necessidade de um investimento
fora do orçamento previsto.

3 Materiais e Métodos

Este trabalho científico utilizou de duas linhas de pesquisa; a primeira sendo a pesquisa
bibliográfica, onde foi possível delinear, entender e explicar o problema, a partir da utilização de
um conhecimento disponível em livros, periódicos e obras congêneres. A carência e a
necessidade do desenvolvimento de um suporte para o transporte de garrafões de água, foi
evidenciada a partir da análise da não existência primordial de um objeto antes assim criado
que não fosse de cunho popular ou vernacular, com o auxílio de uma pesquisa bibliográfica
fez-se possível a análise e o melhor entendimento da criação de um projeto de produto bem
sucedido, do melhor funcionamento e da objetivação do design de transportes e da
necessidade e adaptação conforme o tempo do chamado design vernacular.
Como segunda linha de pesquisa utilizou-se do levantamento amostral ou Survey; um processo
de se coletar informações não-controladas sobre alguns meios. Por meio deste último, foi-se
possível entender as reais necessidades dos entregadores de garrafões de água, analisar os
suportes já em utilização considerando-se seus pontos positivos e negativos e obter-se uma
idéia realística do comportamento deste suporte para o transporte de garrafões de água em
veículos de duas rodas.
O ambiente de estudo são as ruas da cidade de Manaus, mais especificadamente o caminho
traçado por um entregador de água da loja/mercearia até o seu ponto final, o
domicílio/condomínio/apartamento; levando em consideração o peso e a desestabilização da
motocicleta, o trânsito, os pedestres, as intempéries, os outros motoristas, o risco de acidentes,
a segurança do produto e do motorista e todos os outros fatores externos envolvidos. Os

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objetos de estudo são as criações cotidianas de suporte para o transporte de garrafões de
água já existentes no mercado geradas pela necessidade fazendo assim, do seu sujeito, o
próprio garrafão de água e também o motorista/entregador responsável pela sua locomoção do
ponto de compra até sua entrega em domicílio.

4 Design Vernacular

Na parte das questões vernaculares, o termo gambiarra é usado por muitos para definir
qualquer procedimento necessário para a constituição de um artefato ou objeto utilitário
improvisado às necessidades imediatas. Neste sentido, sob a visão da cultura material, o termo
gambiarra pode ser entendido como uma forma alternativa de design: Gambiarra é uma forma
sem conceito físico de desenvolver uma solução funcional/aplicada. Ou seja, um processo
baseado no raciocínio objetivo e imediato, nascido a partir de uma necessidade particular
específica com qualquer recurso material disponível – os quais definem a constituição de um
objeto de maneira improvisada. Se a atividade do design de produtos se define, não pelo
estilismo, mas principalmente pelo desenvolvimento de projetos de objetos (sejam eles
industriais ou não), então em suma, design e gambiarra são procedimentos parecidos. O que
vem a ser diferente são alguns fatores relacionados a cada contexto que podem variar, como
por exemplo, a tecnologia empregada, os métodos, a infra-estrutura envolvida (fábrica,
pessoas, equipamentos, matérias-primas, etc.), o processo industrial, seus propósitos políticos
e alguns objetivos corporativos, como por exemplo, para quem, porquê e para quê se produz.
A relação entre design e gambiarra nos traz uma reflexão sobre valores, mitos e significados,
as contribuições e conseqüências dos objetos em uma cultura e no desenvolvimento de uma
sociedade pós-moderna. A questão da gambiarra envolve temas como o desenho de artefatos,
à volta a questão social do design, o problema do lixo, o contexto das características peculiares
a um indivíduo ou ao seu grupo e das necessidades específicas, bem como a caracterização
da cultura material brasileira. (Boufleur, Rodrigo, 2006)

5 Briefing do Produto

• Cliente: Entregadores de garrafões de água

• Objetivo/ problema a ser resolvido: Desenvolver um suporte para o transporte de


garrafões de água em veículos de duas rodas, promovendo uma melhor mobilidade
com segurança tanto para o operador quanto para o produto a ser transportado,
transferindo o conceito de algo “improvisado” para o de algo projetado.

• Público alvo: Entregadores de garrafões de água em veículos de duas rodas.

• Principal diferencial a ser adotado: Possibilitar maior segurança, agilidade e economia


financeira.

• Quem compra/ consome: Donos de mercadinhos e armazéns que oferecem o serviço


da entrega de garrafões de água à domicílio.

6 Requisitos e Parâmetros

Requisitos
• Deve ter uma estrutura simples.
• Deve proporcionar segurança para o motorista.
• Deve assegurar a inviolabilidade e a segurança do produto.
• Deve buscar a estabilidade do transporte de duas rodas.
• Deve gerar um sistema de aviso noturno.

Parâmetros
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• Utilizar de conhecimentos cotidianos simples para a percepção do seu modo de
funcionamento.
• Possuir um compartimento individual para os produtos, que seja notadamente
separado do motorista, sem que haja contato entre ambos.
• Estabelecer uma rígida fixação do produto dentro do suporte, para que este se
mantenha estável em todo o trajeto da entrega, sem que sofra danos.
• Procurar balancear os pesos a mais no veículo, para que o motorista não perca a
estabilidade.
• Desenvolver um meio de identificação do transporte incorporado no próprio sistema de
suporte.

7 Projetação

O desenvolvimento projetual, partiu da mescla entre os conceitos das duas alternativas


apresentadas respectivamente nas figuras abaixo (fig. 1 e fig.2):
Figura 1: Representação da primeira alternativa gerada

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Figura 2: Representação da primeira alternativa gerada

Agregando-se os conceitos disponibilizados pelas duas alternativas selecionadas como


principais, uma nova etapa de geração de alternativas fez-se necessária para a visualização
dos novos conceitos a serem adotados e de suas possíveis adaptações.
Com esta nova geração obtiveram-se duas possíveis propostas, mostradas a seguir:

Figura 3: Representação da primeira alternativa gerada

A alternativa finalizada consiste em três compartimentos individualizados para acomodar três


garrafões de água, respectivamente, pode ser melhor visualizada pela figura 3.
Possui um compartimento localizado em cada lado do veículo, o que totaliza dois, e o terceiro
acomodado no lugar do passageiro, na parte superior do banco traseiro da motocicleta. A
alternativa oferece claramente uma proporção de equilíbrio, qualquer que seja a quantidade de
produtos a serem transportados simultaneamente, tal que se a opção for o transporte de
apenas dois garrafões por viagem ambos deverão ser compactados cada qual em um
compartimento da lateralidade da motocicleta, oferecendo assim equilíbrio para o motorista. No
caso do transporte de apenas um garrafão de água, este deverá ser posicionado no suporte da
parte superior da motocicleta, posicionado no lugar do passageiro do veículo, oferecendo
assim o devido equilíbrio.

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8 Subsistemas

A base oferece por principio o sistema de fixação por meio de rebites e soldas, seu subsistema
pode ser melhor visualizado como auxílio da figura 50. Esta consiste em uma chapa de
alumínio cortado em um formato que oferece a ponta a ser exposta meio ovalada, conforme o
formado da base de um garrafão de água. É encaixado nesta base uma outra chapa de
alumínio retangular, do comprimento da ovalação final do garrafão de água, que por sua vez
faz o meio círculo proposto como envoltório do garrafão por meio de braçadeiras posicionadas
em toda a sua extensão e de solda. Oferecendo a base perfeita para o posicionamento inicial
do garrafão de água dentro de sua estrutura, vide figura 4.

Figura 4: Subsistema base

O sistema de alças para maior segurança do garrafão em transporte consiste em duas faixas
de câmara de ar de bicicleta ou caminhão, cortada na espessura da ovalação, explicada pela
figura 5, dos garrafões. Para melhor entendimento, segue abaixo uma figura ilustrativa da
indicação dessas áreas:

Figura 5: Subsistema alças

Para atender ao requisito listado da geração de um sistema de aviso noturno eficiente,


procurou-se no mercado atual seu modo de implantação e sua existência.
Para sua delimitação e maior entendimento fez necessário um estudo referente às Normas
Regulamentadoras (NR), que apresentam um ponto especificadamente para as cores a serem
utilizadas na segurança do trabalho, NR 26, a ser comentada a seguir;
A NR 26 trata das cores a serem utilizadas como maior segurança em trabalhos práticos, esta
norma regulamentadora tem como objetivo a especificação de cores a serem utilizadas em
seus devidos locais de trabalhos para a identificação de equipamentos, delimitação de áreas,

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de canalizações e para a condução de líquidos e gases, advertindo assim contra risco e na
prevenção de possíveis acidentes.
Algumas cores foram notadas como básicas para a segurança em locais de trabalho, a fim de
que sirvam para indicar e advertir sem que haja a interferência em outras possíveis formas de
prevenção. É também indicado que o uso das cores delimitadas seja o mínimo possível afim de
que não cause distração, confusão ou possível cansaço ao trabalhador.
A cor indicada segundo a norma para sinalizar “Cuidado!” seria a cor amarela, assinalando
possíveis locais que apresentem perigo caso não notado como partes baixas de escadas,
corrimões, parapeitos, bordas horizontais de portas de elevadores, faixas no piso da entrada,
meios-fios, equipamentos de transporte e manipulação de materiais entre outras coisas.
Assinala também que listras (verticais ou inclinadas) poderão ser utilizadas sobre o amarelo
quando houver a necessidade de uma melhora na visualização da sinalização.

9 Representação Visual

Figura 6: Representação do produto

Para uma melhor representação visual do resultado final do produto proposto, foi feito um
modelo virtual do mesmo em 3D, no software 3DMAX, com todas as suas peças chaves e
componentes principais. Pelo auxílio do rendering, é possível entender mais claramente o
produto e obter uma visão de seu comportamento e proporção na realidade.

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10 Processos de fabricação

Na fabricação do suporte para o transporte de garrafões de água em veículos de duas rodas


envolvem-se dois processos de fabricação: as junções por processo de rebitagem e a junção
por soldagem.
Através da junção por rebites são mantidos unidos os componentes de uma estrutura ou peça.
Neste caso os elementos os rebites estão tão fortemente deformados plasticamente, que uma
separação posterior da peça só é possível através da destruição dos rebites. Antes da
rebitagem as peças devem ser montadas em uma posição relativamente exata para a furação e
a colocação do rebite. O rebite pode ser introduzido no furo de rebitagem manualmente ou
através de uma ferramenta pneumática, para que seja deformado plasticamente,
proporcionando a imobilização dos componentes e formação de uma cabeça para o
travamento (fixação definitiva) das partes rebitadas.

11 Considerações finais

O projeto desenvolvido atendeu aos requisitos projetuais elencados no decorrer do mesmo e


ainda conseguiu suprir a necessidade de um suporte próprio para uma necessidade latente, o
transporte de garrafões de água.
Visava-se a exposição da necessidade do desenvolvimento de um design vernacular por uma
população completamente inábil quanto aos seus princípios básicos, que desenvolviam
projetos sem qualquer análise, guiando-se apenas por seus materiais e seu motivo principal.
Foi possível assimilar através de pesquisas sobre diferentes campos de design, coleta de
informações e registros fotográficos, as reais necessidades tanto do produto a ser transportado
quando de seu transportador, permitindo assim a criação de um trabalho com verdadeiro
enfoque, pesquisa bibliográfica e preocupação com as inexistências expostas.
Este projeto visava o desenvolvimento de um suporte básico, ainda que contemplando
princípios do design vernacular, mas não em seu todo, por ainda precisar possuir de um
processo de fabricação e objetivar, acima de tudo, a segurança tanto do produto quando de
seu entregador.

12 Referências

BAXTER, Mike, Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São
Paulo, Edgard Blucher, 2003.

BONSIEPE, Gui. Design: do material ao digital/Gui Bonsiepe [tradução de Cláudio Dutra].


Florianópolis,FIES/IEL,1997.

BÜRDEK, Bernhard E. DESIGN: História, Teoria e Prática do Design de Produtos. São


Paulo, Edgard Blucher, 2006.

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IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2005.

JORGE, Maria Helena de Mello; KOIZUME, Maria. Acidentes de Trânsito no Brasil: a


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LARICA, Neville Jordan, Design de automóveis: Arte em função damobilidade/ Neville


Jordan Larica. Rio de Janeiro, 2AB, 2003.

LOBACH, Bernd, Design Industrial. Rio de Janeiro, Ed. Edgard Bhneher Ltda., 2001.

MORAES, Anamaria de. Ergonomia: conceitos e aplicações/Anamaria de Moraes, Cláudia

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Mont’Alvão. Rio de Janeiro, A. de Moraes,2003.
BOUFLEUR, Rodrigo.A Questão da Gambiarra: formas alternativas de produzir
artefatos e suas relações com o design de produtos. Dissertação (Mestrado em Design e
Arquitetura) FAU-USP, São Paulo, 2006.

CARDOSO, Fernanda de Abreu; Msc.; Possibilidades de legitimação do Design


Vernacular. Anais do 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e desenvolvimento em Design, 8 a
11 de outubro de 2008, São Paulo.

DARRON, Dean, A Slipware Dish by Samuel Malkin: An Analysis of Vernacular Design,


Journal of Design History, Vol. 7, 1994.

NAOTAKE, Fukushima, Dimensão Social do Design Sustentável: Contribuições do


Design Vernacular da População de Baixa Renda, Dissertação (Mestrado em Design)
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

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Aplicação do MEPSS (Methodology for Product Service
System) no processo de desenvolvimento de Sistemas
Produto-Serviço: estudo de caso
(MEPSS (Methodology for Product Service System) applicat
ion in Product-Service Systems development: case study)

SILVA, Jucelia S. Giacomini; Doutoranda; Pontifícia Universidade Católica do Rio de


Janeiro (PUC-Rio)
jucelia.giacomini@gmail.com

SANTOS, Aguinaldo; Ph.D; Universidade Federal do Paraná (UFPR)


asantos@ufpr.br

Palavras-chave: Sistema Produto-Serviço, Metodologia, MEPSS, Design

O PSS pode ser definido como um sistema de inovação que transfere o foco da “aquisição” de produtos
para a “utilização” de produtos e serviços combinados em um sistema, que por sua vez necessita fornecer
as funcionalidades requeridas pelo usuário, objetivando a redução do conteúdo material. Tendo em vista
que o design de Sistemas Produto-Serviço (PSS) ainda é pouco disseminado no Brasil e,
conseqüentemente carece de abordagens práticas, este trabalho tem por objetivo apresentar o
desenvolvimento do conceito do PSS em um caso real, a partir da aplicação do MEPSS (Methodology for
Product Service System). O método utilizado foi composto por revisão bibliográfica, fundamentada no
conceito de sistemas produto-serviço, bem como na metodologia MEPSS e suas ferramentas. Na
seqüência foi efetuado um estudo de caso, em parceria com uma empresa localizada em Curitiba (PR),
que oferece produtos e serviços voltados ao trabalho remoto. Este estudo de caso teve como objetivo
reelaborar o sistema da empresa a partir dos conceitos do PSS e foi realizado a partir da aplicação das
etapas iniciais do MEPSS: a) Análise estratégica; b) Explorando oportunidades e c) Desenvolvimento do
conceito do PSS. Como principais resultados verificou-se a complexidade de aplicação do MEPSS devido
à quantidade de ferramentas e à necessidade de amplo envolvimento dos stakeholders envolvidos no
sistema, por outro lado o desenvolvimento de novas soluções baseadas na sustentabilidade esbarra na
lacuna de conhecimento e na inércia dos envolvidos na utilização e no desenvolvimento destes sistemas.

Keywords: Product-Service System; Methodology; MEPSS, Design

The PSS can be defined as an innovation system that shifts the focus from the products "ownership" for
the “utilization" of products and services in a system, which needs to provide the functionality required by
the user, aiming to reduce material content. This paper aims to present the PSS concept development in a
real case, using the MEPSS (Methodology for Product Service System) because the design of Product-
Service Systems (PSS) isn’t widespread in Brazil and consequently there are lacks of practical
approaches. The method used was composed of literature review, based on the concept of product-service
systems, MEPSS methodology and tools. Following is presented a case study conducted with a
partnership company located in Curitiba (PR), which offers products and services oriented to remote work.
This case study aims to redesign the company's system from the PSS concepts. This study was
conducted following the initial steps determined by MEPSS: a) Strategic Analysis b) Exploring
Opportunities and c) Development of PSS concept. The main results showed the MEPSS complexity
application because the large amount of tools and the need for stakeholders involvement, on the other
hand the development of new solutions based on sustainability touches on the gap of knowledge and
inertia of those involved in using and developing these systems.

1 Introdução

A presente investigação propõe uma oportunidade de intensificar as características


ecoeficientes do trabalho remoto, abordando o conceito a partir da ótica do design de sistemas
produto-serviço. Segundo Morelli e Loi (2000), o trabalho remoto é uma contribuição possível
para a redução dos impactos ambientais e esta contribuição pode ser intensificada se, a partir

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das abordagens do PSS, o mesmo possuir uma infra-estrutura segura, confiável e
compartilhada, projetada especificamente para atender às necessidades dos usuários e aos
requisitos da sustentabilidade, visto que atualmente, os trabalhadores que fazem uso desta
modalidade de trabalho não dispõem de projetos específicos para a realização de atividades
profissionais à distância e, deste modo, buscam adaptar suas necessidades à estrutura
existente. Deste modo, a primeira etapa da pesquisa foi composta pela revisão bibliográfica e
fundamentou-se no levantamento dos conceitos referenciais sobre sustentabilidade ambiental,
trabalho remoto e PSS. Esta etapa teve como objetivo levantar o estado da arte e traçar um
mapeamento teórico da estruturação conceitual, a qual fundamentou o desenvolvimento da
pesquisa.
A pesquisa de campo foi realizada em duas etapas principais: um Estudo de Caso Múltiplo
(ECM) seguido de um Estudo de Caso com Observação Participante (ECOP). Para o
desenvolvimento destas etapas foram utilizados os procedimentos para o design de sistemas
produto-serviço contidos no método para o desenvolvimento do PSS, denominado de
Methodology for Product-Service Systems – MEPSS (2009). Também foram utilizadas
ferramentas do compêndio Design for Sustainability – D4S (UNEP, 2007), bem como o checklist
Sustainable Design-Orienting Toolkit (SDO-MEPSS, 2009).
O Estudo de Caso Múltiplo foi realizado em três empresas que oferecem serviços para
trabalho remoto e se localizam em Curitiba. Para a realização do ECM utilizou-se a primeira
fase do MEPPS (análise estratégica) que auxiliou no diagnóstico do sistema atual. Na
seqüência foi realizado o Estudo de Caso com Observação Participante, efetuado a partir de
workshops realizados com a participação de uma empresa selecionada, designers e
estudantes de design. O ECOP correspondeu à aplicação da 2ª e 3ª etapas do MEPSS:
Explorando Oportunidades e Desenvolvimento do conceito do PSS e as ações desenvolvidas
contaram com a cooperação e participação integral dos participantes em todas as fases, as
quais incluíram a geração de idéias e proposição de cenários, a avaliação das oportunidades
mais promissoras e a identificação dos parâmetros de aplicação do design do PSS no sistema
atual. Todas as análises foram submetidas à exploração, reflexão e avaliação do grupo, para
que surgissem proposições participativas, cooperativas e coerentes com o contexto real. A
partir desses resultados foram estruturadas diretrizes para o design de um sistema produto-
serviço voltado ao trabalho remoto.

2 Sistema produto-serviço

Em linhas gerais é possível definir um sistema produto-serviço pela associação sistêmica de


produtos e serviços, tendo como objetivo ampliar a tradicional funcionalidade de um produto
por meio da integração de serviços adicionais. De acordo com a literatura investigada, o PSS
permite diversos níveis de integração entre produtos e serviços, desde a oferta de produtos de
forma tradicional com um ou mais serviços associados (por exemplo: manutenção, upgrade,
descarte em fim de vida, etc.) até ofertas em que a ênfase é focada na utilização do serviço em
vez da aquisição do produto e, neste caso, os produtos desempenham um papel secundário.
Esse nível de integração é comumente citado na literatura como a categoria mais elaborada do
PSS, na qual o cliente paga a utilização de um produto e não a sua compra, e o
fornecedor/fabricante passa a oferecer “soluções” em serviços claramente diferenciadas do
produto tradicional (BAINES et al, 2007).
Mesmo que tradicionalmente os produtos tenham sido considerados separadamente dos
serviços, os sistemas produto-serviço apresentam-se como uma convergência destes fatores,
pois apresentam os produtos e os serviços como itens correlacionados (MORELLI, 2002).
Similarmente, para Halen, Vezzoli e Wimmer (2005), produtos e serviços sempre estiveram
interconectados, pois o fornecimento de serviços sempre envolve um número tangível de
produtos e o fornecimento de produtos compreende uma rede de produção e distribuição,
incluindo muitos serviços. Neste sentido, segundo os autores, a principal característica do PSS
envolve a mudança do foco baseado unicamente na venda do produto para o oferecimento de
um mix de produtos e serviços, movendo-se de um recurso básico de produção para um
sistema de conhecimento, em que toda atividade comercial procura atingir a necessidade do
usuário.

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2.1 Fatores indutores do PSS
Com a emergência das questões ambientais surge a necessidade de reposicionamento das
companhias, motivadas por diversos fatores internos e externos que as empresas devem
considerar quando necessitam elaborar novas soluções para o negócio. A seguir são
apresentados os principais fatores encontrados na literatura, que podem induzir a implantação
do PSS:
a) A globalização: com a integralização da economia mundial, entender as questões
culturais e desenvolver novas habilidades para incorporar valores e competências com o
objetivo de prever e criar tendências futuras de mercado torna-se um fator primordial para as
companhias que pretendem destacar-se no mercado atual. Neste caso, o PSS apresenta-se
como um sistema que visa atender a essas questões, pois integra em sua proposta
metodológica os requisitos para criar valor de mercado ao mesmo tempo em que considera os
fatores culturais e socioéticos da localidade na qual será implantado (HALEN; VEZZOLI;
WIMMER, 2005).
b) A sociedade da informação: o impacto da informação e das tecnologias da
comunicação está transformando as atividades econômicas e sociais, e esta transformação
apresenta-se como um fator-chave para o desenvolvimento de sistemas produto-serviço. Neste
sentido Halen, Vezzoli e Wimmer (2005) afirmam que, devido ao formato articulado do sistema,
este necessita de uma rede flexível em que as informações possam ser facilmente
compartilhadas entre os stakeholders envolvidos, sendo que o uso das Tecnologias da
Informação e da Comunicação podem facilitar essa interconexão.
c) A possibilidade de crescimento da economia de serviços: Halen; Vezzoli e Wimmer
(2005) afirmam que estamos em um processo de transformação entre uma economia voltada à
demanda de produtos para uma economia voltada ao fornecimento de serviços. Para ampliar a
possibilidade de crescimento, Mont (2002) afirma que as empresas necessitam criar soluções
personalizadas e instaurar relações mais estreitas com os usuários de seus produtos. Portanto
utilizando um sistema de inovação como o PSS as companhias teriam condições adequadas
para reposicionar suas estratégias de negócio nas novas regras do mercado, além de modificar
ou redirecionar a identidade corporativa para serviços mais focados no usuário.
d) O contexto político, legal e ambiental: existe uma preocupação crescente em todo o
mundo sobre as questões ambientais, e Alonso (2007) afirma que esse fato aumenta a pressão
para que as empresas estejam de acordo com a regulamentação ambiental estabelecida pelos
governos dos diferentes países. Neste contexto a ecoeficiência tende a transformar-se no
principal modelo econômico do século XXI e, para tornar possível que as companhias atinjam
esse objetivo, o PSS demonstra ser uma ferramenta que pode agregar os requisitos da
sustentabilidade em todas as suas etapas (HALEN; VEZZOLI; WIMMER, 2005).
e) Demanda dos consumidores: Mont (2002) relata que os clientes estão cada vez mais
exigentes no que tange à responsabilidade da empresa sobre o período de utilização do
produto. Com o PSS esta demanda do consumidor (entre outras como, por exemplo: a
eficiência, a manutenção, a substituição e o descarte) podem ser atendidas, além do inter-
relacionamento com o cliente tornar-se mais estreito. Neste contexto, Halen, Vezzoli e Wimmer
(2005) defendem que o PSS possui como um de seus objetivos a compreensão das
motivações do consumidor final, tendo em vista que esse inter-relacionamento pode ser
extremamente importante na inovação e na aceitação do PSS, bem como na conexão entre os
clientes e a marca em um nível emocional, estabelecendo relações estáveis e de longo prazo.
f) Redução de custos e economia de matéria-prima: a economia gerada a partir da
implantação de soluções baseadas na minimização de custos (como por exemplo: otimização
da vida do produto, compartilhamento, reciclagem, etc.) pode tornar-se um importante
impulsionador para as companhias adotarem o modelo PSS. A adoção de ciclos fechados
também permite que as empresas mantenham um fluxo constante de matéria-prima, a qual
pode ser reintroduzida no ciclo produtivo em diversas etapas do processo, permitindo a
redução no custo de fabricação dos produtos (MONT, 2002).

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2.2 Barreiras para a adoção do PSS
Segundo Mont (2004), o processo de expansão do PSS, além de ser influenciado pela
transferência dos resultados obtidos no campo da pesquisa para o campo prático, também
sofre interferência de alguns fatores críticos fundamentados nas tendências mundiais, os quais
podem estimular ou desencorajar esforços que direcionem o sistema atual para a configuração
de um novo modelo de utilização baseado no PSS. De acordo com estas proposições esta
sessão assinala os principais fatores críticos encontrados na literatura, que podem funcionar
como barreiras para a implantação de um modelo PSS:
a) Inter-relacionamento entre os atores do sistema: segundo Mont (2002), a implantação
de um modelo PSS exige uma reconfiguração das relações entre os fornecedores, prestadores
de serviços, produtores e consumidores finais, tendo como objetivo a melhoria do desempenho
ambiental dos produtos. Para tanto, Alonso (2007) afirma que é necessário firmar termos de
compromisso entre os cooperados de modo que a partilha de informação e a transparência
torne-se uma meta viável para atender os propósitos comuns, pois de outra forma o
desenvolvimento efetivo do sistema pode ser prejudicado.
b) A posse do produto e a redução do consumo: a hipótese de que o cliente está mais
interessado na utilização do que na propriedade não representa exatamente a realidade,
conforme afirma Alonso (2007). Similarmente, Mont (2002) defende que os fatores psicológicos
em relação à posse desempenham um papel muito mais abrangente do que o preço, a
qualidade, a funcionalidade e o design do produto. Partindo-se desses pressupostos o
potencial de inovação para o desenvolvimento sustentável no que diz respeito à utilização
(excluindo o sentido de propriedade), somente pode ser colocado em prática quando condições
organizacionais e sociais forem desenvolvidas e introduzidas no mercado, incentivando uma
maior aceitação das categorias de compartilhamento do PSS.
c) Lacuna no engajamento do mercado: Alonso (2007) afirma que há um pequeno
percentual da população e da classe produtiva que conhece e está disposta a adotar soluções
em PSS, basicamente devido a sua melhoria ambiental. O autor afirma que as proposições
relativas aos fatores econômicos ainda são desconhecidas pela maioria de seus potenciais
clientes e as companhias, de modo geral, possuem pouca experiência e conhecimento no
desenvolvimento de sistemas de produtos associados a serviços.
d) Lacuna de informações sobre custos: muitos clientes (organizações e indivíduos) não
têm acesso ao custo total dos produtos que compram, mas apenas ao custo de aquisição.
Nota-se que esta desinformação dificulta a avaliação e a escolha mais adequada entre o
modelo PSS e a aquisição de “produtos puros”. Alonso (2007) afirma que em muitos casos, o
custo de aquisição representa uma parte limitada do custo total necessário à manutenção de
toda a vida do produto (por exemplo: aquisição de insumos, manutenção, assistência técnica,
etc.), os quais facilmente podem exceder o preço de aquisição inicial.
e) O PSS não assegura os benefícios ambientais: embora em uma circunstância ideal, a
utilização dissociada da posse ofereça muitas vantagens e expectativas, esta categoria de
consumo também possui suas próprias controvérsias e apresenta-se como outro quesito que
dificulta a implantação do PSS. Mont (2002) afirma que estudos realizados até agora
demonstram que as características do modelo PSS não conduzem automaticamente a um
menor impacto sobre o ambiente, pois a redução deste impacto ambiental depende em grande
medida das circunstâncias, das condições e do regime de utilização envolvidos no processo.
f) Barreira cultural: para Mont (2002) a reorientação das companhias para que
desenvolvam sistemas baseados em serviços requer uma mudança fundamental na cultura e
no envolvimento com o mercado, necessitando de tempo para o desenvolvimento e recursos
de capital humano e financeiro empregados na adaptação e no ajuste do sistema proposto.
Sampaio (2008) afirma que a promoção por parte da mídia, de estilos de vida baseados em
conceitos relativos à acumulação, ao consumo, ao status, ao luxo e à competitividade dificulta a
mudança cultural necessária nos padrões de comportamento existentes para que os
consumidores venham a preferir a utilização do serviço em vez da apropriação de produtos.
g) Designers e equipe de marketing sem experiência na concepção de PSS: de acordo
com Mont (2004), neste quesito existem as lacunas da metodologia de aplicação do PSS e da
qualificação de profissionais das áreas de marketing e design para desenvolver os processos
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direcionados à concepção de soluções sistêmicas. Neste contexto, Sampaio (2008) afirma que
o PSS é uma solução bastante recente e, portanto a qualidade, o envolvimento e a experiência
da equipe de gestão do design e do marketing tornam-se primordiais para o desenvolvimento
do sistema, o qual muitas vezes requer novos ajustes nas habilidades da empresa.
h) Aspectos legislativos: o Estado em muitos casos carece de experiência e
conhecimento sobre o tema, portanto Sampaio (2008) defende a necessidade de revisão de
aspectos legislativos. No Brasil verifica-se a falta de integração entre as políticas de
desenvolvimento voltadas para as dimensões da vida humana em sociedade, as quais
deveriam incluir, segundo Sousa (2009), os aspectos sociais, ambientais, políticos e
econômicos.

2.3 MEPSS – Methodology for Product Service System Innovation


Durante a realização da pesquisa verificou-se que a quantidade de métodos existente é
relativamente grande, porém de modo geral as etapas nos métodos diferem ligeiramente e
podem ser agrupadas em três blocos principais: a) Análise: avaliação dos pontos fortes e fracos
e decisão sobre a priorização dos conceitos; b) Geração e seleção de idéias: buscar idéias,
selecionar as mais promissoras e efetuar o design do sistema e c) Implementação: implantar o
conceito proposto e efetuar a gestão do sistema. A seguir será apresentado o método MEPPS,
o qual foi utilizado na etapa de campo da presente pesquisa, pois seus conceitos são
direcionados para a inovação e para o desenvolvimento sustentável baseado no design de
sistemas produto-serviço.
O MEPSS foi desenvolvido com o objetivo de proporcionar à indústria um conjunto de
ferramentas que possibilitem implementar, com sucesso, novos modelos de PSS que atendam
às necessidades do usuário e minimizem os impactos ambientais e sociais. Este método foi
desenvolvido por pesquisadores em design e consultores que atuam na área de PSS em
estreita cooperação com a indústria e com parceiros que forneceram subsídios para a
implantação de novas oportunidades ou melhores práticas de negócio. O MEPPS pode ser
utilizado como um todo ou em partes, permitindo a escolha e a seleção dos módulos de acordo
com as necessidades específicas do caso que está sendo desenvolvido. Pode ser aplicado
com uma pequena equipe de profissionais ou com todos os participantes do processo a ser
implementado (HALEN; VEZZOLI; WIMMER, 2005).
O método é dividido em cinco fases, as quais são estruturadas em passos e esses passos,
por sua vez são executados por meio de uma série de processos. A estrutura modular é
desenvolvida a partir de três eixos principais: o processo metodológico, a avaliação do
ambiente econômico e social (incluindo os aspectos éticos, as pessoas, o meio ambiente e a
competitividade) e a análise dos fatores que influenciam a aceitação dos clientes. As principais
fases do MEPSS descritas por Halen, Vezzoli e Wimmer (2005) são:
a) Análise estratégica: busca entender o sistema original;
b) Explorando oportunidades: tem o objetivo de gerar idéias pelo cenário do design e
orientar processos para o desenvolvimento sustentável;
c) Desenvolvimento da idéia PSS: visa responder a pergunta sobre como as
oportunidades podem ser utilizadas com sucesso;
d) Desenvolvimento do modelo PSS: identifica o parâmetro de design mais bem
sucedido;
e) Implementação: busca identificar a direção dos instrumentos e controlar a direção do
sistema.
O MEPSS é disponibilizado por meio de dois instrumentos principais: um manual e um sítio
de Internet. Ambos introduzem o conceito, explicam o design do projeto e os instrumentos
relevantes. Entretanto, este método se caracteriza como uma nova abordagem para o design
de sistemas produto-serviço ainda pouco aplicada em situações práticas, deste modo os
procedimentos e as ferramentas utilizadas no MEPSS se encontram em fase de construção e
testes.

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3 A sustentabilidade no trabalho remoto por meio do PSS

O PSS é caracterizado por alguns autores, como por exemplo, Manzini; Vezzoli e Clarck (2001)
e Baines et al (2007) como um sistema que pode complementar ou substituir os modelos
tradicionais de negócios, ofertando aos usuários sistemas de design que enfatizem a
“utilização” de produtos e serviços, em vez da “aquisição” de produtos. Os autores também
associam ao conceito de sistema produto-serviço outras características (como por exemplo:
redes de stakeholders, infra-estrutura e suporte, compartilhamento, desempenho e estratégia
de inovação) que idealmente direcionariam o sistema produtivo à redução dos impactos
ambientais, à satisfação do usuário e à ampliação da competitividade.
A literatura relevante sobre PSS para trabalho remoto aponta tendências importantes para
projetos de inovação nesta área, identificando pontos-chave que necessitam de
aprimoramento. Dentre os principais autores que abordam o tema, pode-se citar Tischner e
Verkuijl (2006), pois além das necessidades de redução do impacto ambiental fazem referência
ao oferecimento de produtos e serviços que promovam a qualidade de vida do usuário
(atividade física, entretenimento, alimentação, etc.). Entre as proposições apresentadas, os
autores também defendem a transformação de um ambiente de trabalho individual em um
ambiente mais virtual e criativo, o fácil acesso à rede de informação e base de dados, áreas
interativas para trabalho em equipe e áreas adaptáveis para trabalho individual e coletivo. Para
Tishner e Verkuijl (2006) o desafio colocado hoje com a difusão do trabalho remoto é traçar, a
partir da potencialidade do PSS, uma maneira criativa para fazer surgir oportunidades de
trabalho que apontem para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, preservem a
competitividade das empresas e ao mesmo tempo promovam novas e potenciais dimensões
para a sustentabilidade.
De acordo com as informações levantadas, o PSS apresenta-se como um importante fator
para a redução dos impactos ambientais, visto que a proposição de um sistema produto-serviço
para trabalho remoto busca enfatizar a transposição da posse de produtos para a utilização de
produtos associados a serviços. Deste modo, o design de um sistema produto-serviço voltado
ao trabalho remoto pode promover o compartilhamento do espaço e das ferramentas de
trabalho possibilitando a redução dos custos de desenvolvimento das atividades profissionais,
de energia e de manutenção, pois o PSS possui o objetivo de ampliar a eficiência de uso e
estender a vida dos materiais (TISHNER; VERKUIJL, 2006).

4 Estudo de caso múltiplo (ECM)

Este tópico apresenta os resultados atingidos a partir do uso das ferramentas prescritas pelo
método MEPSS, durante a realização do Estudo de Caso Múltiplo, o qual buscou averiguar o
estado dos produtos e serviços voltados ao trabalho remoto existentes em Curitiba e efetuar
análise qualitativa da ecoeficiência desses sistemas,

4.1 Ferramentas e métodos aplicados no Estudo de Caso Múltiplo


Esta etapa da pesquisa consistiu na realização de um Estudo de Caso Múltiplo, realizado
simultaneamente em três empresas que prestam serviços destinados à execução de trabalho a
distância, selecionadas em pesquisa preliminar, que foi realizada a partir de uma investigação
exploratória por meio de documentação indireta nos sítios de Internet para verificar a existência
de business centers ou espaços destinados à execução de trabalho remoto. Para a realização
do ECM foi efetuado um levantamento pormenorizado dos sistemas de produto e serviços
existentes, por meio de entrevistas semi-estruturadas, observação direta e registros
fotográficos. Das quatro empresas que forneciam infra-estrutura para a realização do trabalho
remoto identificadas no estudo preliminar, somente três aceitaram participar do estudo de caso,
as quais serão identificadas nesta pesquisa como empresas A, B e C.

4.2.1 Coleta de informações e diagnóstico do sistema


A etapa do estudo de caso múltiplo foi composta pela coleta de informações necessárias para a
execução de um diagnóstico do sistema existente, bem como dos produtos e serviços

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destinados ou associados ao trabalho remoto. A seguir são apresentados os procedimentos
realizados durante essa etapa da pesquisa.
b) Agendamento de visita: após a investigação preliminar, foi selecionada a amostra de
empresas-alvo e efetuou-se contato telefônico e/ou via e-mail para agendamento de visita e
entrevista, enviando documento de solicitação de registro de imagens, documentação e coleta
de artefatos;
c) Entrevista (Diretoria): foi realizada uma entrevista direcionada, semi-estruturada dirigida
à diretoria da empresa, efetuando gravação digital e transcrição das partes mais importantes;
d) Observação direta: a observação direta foi efetuada com a finalidade de conhecer o
ambiente no qual se desenvolveu o processo de análise, verificar o fluxo de um ou mais
componentes do processo e efetuar uma pré-validação das informações obtidas nas
entrevistas e nos questionários;
e) Coleta de artefatos físicos: foram coletados artefatos e documentos (por exemplo:
folderes, tabela de preços, etc.). Estes artefatos foram analisados e descritos de modo
qualitativo e contribuíram para a caracterização dos produtos e serviços oferecidos pela
empresa;
f) Solicitação de divulgação das informações e imagens das empresas: para a
publicação dos nomes das empresas, bem como das informações e imagens coletadas foi
enviando um termo de autorização para a diretoria de cada empresa pesquisada.

4.2.2 Estratégia de análise individual dos estudos de caso que compõem o ECM
A análise individual de cada empresa que compõe a etapa do estudo de Caso Múltiplo consistiu
em classificações qualitativas das informações coletadas e baseou-se em alguns estudos de
caso descritos na literatura que já fizeram uso do MEPPS para desenvolver sistemas produto-
serviço, como exemplo pode-se citar Sampaio, Ferreira e Alencar (2007); Jégou e Joore (2004)
e Parkersell (2004).
Durante a coleta de dados, objetivou-se examinar múltiplas fontes de evidência (entrevista,
observação direta, artefatos físicos e registros fotográficos) para que se tornasse possível
desenvolver questionamentos sobre a estratégia da empresa. Para uma maior confiabilidade
sobre as informações em cada uma das empresas analisadas, foi efetuado o cruzamento das
informações obtidas na entrevista, na observação direta, na coleta de artefatos físicos e
registro fotográfico efetuado na empresa. Para tanto, as fontes de evidência obtidas durante a
fase de coleta foram organizadas e examinadas e o resultado da análise dessas fontes
forneceu o embasamento necessário para a construção das ferramentas MEPSS e D4S
utilizadas no ECM e descritas neste tópico.
a) Caracterização da empresa: por meio de uma análise qualitativa das informações
coletadas (durante a visita, observação direta, entrevista, informações disponibilizadas no site,
registro fotográfico e coleta de artefatos físicos) foram estabelecidas as principais
características apresentadas pela empresa tendo como objetivo estabelecer seu perfil e
compreender sua estrutura de funcionamento.
b) Diagnóstico do sistema atual: para compor o diagnóstico do sistema existente efetuou-
se primeiramente a análise estratégica de cada empresa investigada no ECM. Tal levantamento
foi efetuado unicamente a partir da ótica da empresa e durante a realização dessa etapa da
pesquisa, não houve interferência ou alteração da estratégia para a inserção dos requisitos do
PSS e da sustentabilidade ambiental. A partir da entrevista realizada, identificou-se também a
“Unidade de Satisfação” a qual consiste no principal valor que a empresa oferece ao usuário do
sistema produto-serviço.
Para compreender os pontos fortes e fracos, as ameaças e as oportunidades, o D4S e o
MEPSS indicam a utilização da ferramenta SWOT (acrônimo de Forças – Strengths, Fraquezas
– Weaknesses, Oportunidades – Opportunities e Ameaças –Threats) utilizada para fazer
análise de cenário (ou análise de ambiente), pois serve como base para a gestão e o
planejamento estratégico de uma corporação ou empresa.
Por meio da análise das informações coletadas, foi desenvolvida a representação visual dos

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fluxos existentes no sistema utilizando-se a ferramenta System Map ou mapa do sistema. Esta
ferramenta advinda do MEPSS permite identificar os atores, bem como as conexões e os fluxos
de produtos e serviços necessários para o funcionamento do sistema. Para efetuar a
caracterização dos produtos e serviços, efetuou-se e análise dos artefatos físicos coletados
(tabelas de produtos e serviços, preços, etc.), os quais foram classificados e comparados com
as informações coletadas na entrevista e no site da empresa.
Para a classificação dos níveis da sustentabilidade ambiental do sistema foi utilizado o
checklist SDO-MEPSS, o qual foi composto a partir das informações obtidas durante a coleta
de dados e permitiu identificar o nível de prioridade ambiental existente nas empresas
analisadas. Com o objetivo de complementar o diagnóstico da ecoeficiência do sistema
existente foi utilizado o Diagrama de Polaridades, pois esta ferramenta consiste em uma
representação gráfica da competência central da empresa e dos aspectos funcionais (principais
e secundários) associados a ela e necessários para a manutenção das características do
sistema. Segundo afirmam Halen; Vezzoli e Wimmer (2005), essa etapa do método MEPSS
permite utilizar o conhecimento pré-existente para desenvolver novas estratégias para a
companhia sob a ótica do PSS, permitindo avaliar os meios que a empresa tem utilizado para o
desenvolvimento/oferecimento de produtos e serviços.

4.2.3 Análise Cruzada – Estudo de Caso Múltiplo


A análise cruzada dos resultados obtidos nas empresas pesquisadas no ECM foi efetuada de
forma comparativa, qualitativa e exploratória, a partir da análise individual dos estudos de caso
realizados no ECM, em que os resultados obtidos durante o diagnóstico do sistema foram
confrontados com os principais constructos do PSS existentes na literatura. Por meio dessa
análise, buscou-se verificar os aspectos comuns, as divergências e as lacunas existentes nos
modelos de PSS analisados, sob a ótica da ecoeficiência, apontando oportunidades de
inovação para as empresas estudadas. A partir do cruzamento das informações obtidas, foi
possível estabelecer uma conceitualização das principais funcionalidades existentes no serviço
e uma visualização inicial de novas oportunidades.
Conforme afirma Yin (2005), a análise cruzada é utilizada em estudos de casos múltiplos a
fim de elaborar uma explanação geral que se ajuste a cada um dos casos individuais, embora
esses casos variem nos detalhes. Para se estabelecer os parâmetros comparativos entre essas
investigações, os critérios utilizados tiveram como foco principal os aspectos ambientais da
sustentabilidade e sua aplicação em sistemas produto-serviço.

4.2.4 Validação interna e externa


Para realizar a validação interna de cada estudo de caso, efetuou-se a triangulação das
informações levantadas pelas múltiplas fontes de evidência (entrevistas, visitas, observação
direta, coleta de artefatos físicos e registros fotográficos), também foi efetuado um workshop
com a empresa para apresentar os resultados obtidos e efetuar a avaliação dos mesmos. A
validação externa foi efetivada por meio da comparação entre os resultados obtidos nos
estudos de caso e as principais características do PSS encontradas na literatura, e também
pela análise cruzada dos estudos de caso realizado nas empresas participantes do ECM.

5 Ferramentas e métodos aplicados no Estudo de Caso com Observação


Participante (ECOP)

Esta etapa da pesquisa teve seu ponto de partida fundamentado nos principais aspectos
positivos e negativos dos sistemas analisados durante o ECM. Os procedimentos efetuados
neste estudo de caso, baseado na observação participante, buscaram delinear as diretrizes
para o design do PSS para trabalho remoto, tendo como finalidade a redução dos impactos
ambientais do sistema, quando comparado com os sistemas não projetados a partir dos
requisitos do PSS.

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5.3.1 Planejamento da ação
Para o desenvolvimento dessa etapa da pesquisa, optou-se pela modalidade da observação
participante, pois segundo Yin (2005) esta categoria de investigação possibilita a interação
entre o pesquisador e o objeto de pesquisa, permitindo que o pesquisador atue sobre o objeto
pesquisado e observe os acontecimentos de um ponto de vista “interno”. Partindo deste
pressuposto, a autora da presente pesquisa e o Mestre em Design, Cláudio Pereira Sampaio
participaram como ministrantes e facilitadores do desenvolvimento dessa etapa da pesquisa,
tendo como objetivo auxiliar o grupo participante a compreender a complexidade dos processos
e intermediar a transição do pensamento projetual para atuar em níveis mais estratégicos e
sistêmicos.
Esta etapa contou com a participação de uma das empresas participantes do ECM e de
profissionais e estudantes de design e foi realizada por meio de um Curso de Extensão, que
incluiu também a avaliação e validação dos resultados. Optou-se pela execução de um curso
de extensão aberto a profissionais e estudantes de design, pois a participação colaborativa de
designers no processo de exploração de oportunidades e desenvolvimento do conceito foi
considerada essencial para a validação das diretrizes para o projeto do PSS. Segundo Halen;
Vezzoli e Wimmer (2005), o envolvimento de diferentes participantes auxilia na construção de
diferentes proposições para o PSS, pois agrega experiências em diversas áreas e amplia a
motivação, trazendo diferentes idéias e opiniões. Além das contribuições para a presente
pesquisa, a realização do curso teve como objetivo propiciar uma introdução ao conceito do
design para a sustentabilidade e ao desenvolvimento do PSS para a comunidade de designers;
possibilitando a aplicação da metodologia e das ferramentas MEPSS no desenvolvimento de
proposições e diretrizes para um caso real, voltado para a dimensão ambiental do sistema. Os
procedimentos para a composição desta etapa se encontram descritos a seguir:
a) Projeto do curso de extensão: para a realização do curso de extensão, sob a tutela do
Departamento de Design do Setor de Ciências Humanas Letras e Artes e a partir dos trâmites
legais da Universidade Federal do Paraná, foi efetuado um projeto cujo modelo se encontra
disponível no site da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura – PROEC (http://www.proec.ufpr.br).
Após a submissão do projeto para aprovação da PROEC, foi efetuada a divulgação do curso,
por meio de cartazes em faculdades de Design existentes em Curitiba, em sites de empresas
que apoiaram a realização do curso, e-mail marketing e contato telefônico direcionado ao
público especificado.
b) Planejamento dos encontros de trabalho: após a divulgação do curso de extensão,
denominado de “O design de Sistemas Produto-Serviço (PSS)” foi dado início à preparação do
mesmo. O plano de trabalho foi composto pelo planejamento dos encontros e dos materiais
necessários à realização de cada workshop ou sessão de criatividade, além da revisão e
seleção das ferramentas mais apropriadas para o desenvolvimento dessa etapa. Tal etapa da
pesquisa possuía o objetivo de agregar (além dos profissionais e estudantes de design) os
principais stakeholders e usuários relacionados à empresa participante, de tal modo que o
objetivo inicial consistia em vivenciar o tema com profunda abertura de diálogo. Entretanto não
foi possível integrar todos os atores envolvidos no processo e essa etapa da pesquisa foi
realizada com a participação da empresa e dos profissionais e estudantes de design. Foi
previsto a realização de um encontro semanal com duração de 4h30, durante quatro semanas.
A partir da composição do programa, buscou-se fundamentar as estratégias para o
desenvolvimento do curso a partir das seguintes proposições:
• Apresentar os temas relativos à sustentabilidade, ao ecodesign e ao PSS por meio de
apresentações expositivas buscando a interação e discussão entre os participantes;
• Disponibilizar previamente aos participantes, material informativo e técnico sobre o tema
abordado nas sessões de trabalho, para que se torne possível ampliar o nível de discussão,
visto que desse modo os participantes adquirem conhecimento prévio a respeito do assunto;
• Desenvolver atividades práticas para a fixação dos temas apresentados, buscando utilizar
as ferramentas do MEPSS e D4S para o desenvolvimento do conceito do sistema (como por
exemplo: System Map, Diagrama de Polaridades, Matriz de Análise das Necessidades,
etc.);
• Desenvolver o conceito do PSS preferencialmente em equipes, pois a soma dos
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conhecimentos e habilidades individuais tende a facilitar a interação e a cooperação para
atingir os objetivos propostos (MEPSS, 2009);
• Efetuar a validação dos resultados e a conclusão do curso por meio da apresentação de
seminários tendo como objetivo investigar, debater e validar os conceitos apresentados.
c) Aparato de pesquisa: as reuniões de trabalho foram efetuadas em uma sala de aula
disponibilizada pelo Departamento de Design da Universidade Federal do Paraná, a qual
possui um quadro de projeção frontal com um projetor instalado, um computador e um quadro
de giz. Para a execução das ferramentas do MEPSS e D4S e para a realização de
brainstormings e sessões de criatividade, foram utilizados os seguintes materiais: canetas
hidrográficas e marcadores coloridos, papéis coloridos e autocolantes, tesoura, revistas para
recorte e folhas de papel tamanho A1. A documentação do trabalho foi efetuada por meio de
registro fotográfico e também por um “diário de bordo”, no qual foram anotadas as informações
e acontecimentos relevantes para o tema investigado, para tanto foi necessário utilizar uma
câmera fotográfica e um caderno de anotações. É importante salientar que o diário de bordo
consiste em um registro das observações diárias do pesquisador, suas reflexões e anotações a
respeito dos acontecimentos mais importantes relacionados com a realização da investigação
(MORIN, 2004).

5.3.2 Execução da Proposta – Explorando oportunidades e desenvolvimento do conceito


Para permitir o desenvolvimento das etapas do MEPSS – Explorando Oportunidades e
Desenvolvimento do Conceito do PSS para trabalho remoto, foram utilizadas as ferramentas do
MEPSS e D4S. Para a realização desta etapa da pesquisa também foi solicitado autorização
para divulgação das imagens e demais informações disponibilizadas pelos participantes. Essa
fase da investigação foi composta pelos procedimentos descritos a seguir:
a) Workshops e Sessões de criatividade: o método MEPSS caracteriza os workshops e
sessões de criatividade como ferramentas para a experimentação e para o desenvolvimento do
conceito do PSS. Segundo o MEPSS (2009), estas atividades devem ter início a partir dos
resultados da fase de Análise Estratégica. Desse modo, para dar início ao trabalho e para que
seja possível efetuar a proposição de alternativas viáveis e condizentes com a realidade da
empresa, é importante que seja efetuada uma explanação e uma discussão coletiva da
estratégia da empresa analisada e de todo material coletado na fase anterior do MEPSS.
b) Ferramentas MEPSS e D4S: para o desenvolvimento do conceito do PSS foram
utilizadas as seguintes ferramentas durante os workshops: Análise SWOT (nas dimensões
ambiental, social e econômica), Matriz de Análise das Necessidades, System Map, Diagrama
de Polaridades e Checklist SDO. Essa etapa da pesquisa teve como objetivo esclarecer alguns
aspectos determinantes para o desenvolvimento do conceito do PSS para trabalho remoto,
priorizando o potencial para implementação em curto e médio prazo, portanto, por meio das
ferramentas descritas anteriormente, buscou-se esclarecer os tópicos a seguir:
• Identificar o interesse real dos atores do sistema e reconhecer a legitimidade de suas
perspectivas;
• Identificar os riscos e oportunidades;
• Buscar avaliar qualitativamente os impactos ambientais e integrar os resultados dessas
avaliações ao sistema quando for apropriado;
• Definir os drivers da sustentabilidade ambiental que serão abordados e definir
procedimentos para atingi-los;
• Identificar o nível de participação pública necessária para integrar o projeto direcionado à
sustentabilidade;
• Definir diretrizes para o design do sistema de produto e serviços para o trabalho remoto
baseado na ecoeficiência e identificar as principais oportunidades para sua realização;
• Aumentar a validade interna das diretrizes oriundas do trabalho a partir do envolvimento de
profissionais do mercado no processo de criação.

5.3.3 Análise dos resultados – Desenvolvimento das diretrizes do PSS


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A utilização do método MEPSS associado ao ECOP proporcionou uma organização das
informações obtidas, permitindo também a representação das informações por meios gráficos e
a coleta e disposição das informações de forma a identificar os aspectos prioritários para a
construção das diretrizes para o novo sistema. As informações qualitativas obtidas durante a
realização das sessões de trabalho foram transcritas e analisadas com base nas proposições
do PSS investigadas durante a presente pesquisa. A utilização das ferramentas MEPSS e D4S
como técnica de análise permitiu a comparação entre os eventos empiricamente observados e
os eventos teoricamente previstos. Em termos gráficos, essas ferramentas obedecem a uma
seqüência lógica de construção e possuem como objetivo mapear e comparar entre si as
informações obtidas durante a etapa de coleta. Após o desenvolvimento das ferramentas, a
equipe de trabalho discutiu as propostas e efetuou críticas e sugestões, as quais foram
apresentadas, discutidas e avaliadas posteriormente com a empresa participante do ECOP. Os
resultados foram analisados conjuntamente com o propósito de ponderar a viabilidade de
implantação dos conceitos propostos para o sistema.

5.3.4 Validação interna e externa


Para realizar a validação interna das diretrizes propostas para o sistema, foi efetuada uma
avaliação com os participantes dessa etapa por meio de um workshop de apresentação e
discussão dos resultados obtidos. Tal validação comparou qualitativamente os resultados,
buscando identificar a viabilidade para a implantação das diretrizes propostas na situação atual
de forma que o sistema possa ser direcionado para os requisitos da sustentabilidade. A
validação externa consistiu em uma avaliação comparativa das diretrizes propostas com os
resultados obtidos no estudo de Caso Múltiplo e com as informações obtidas na revisão de
literatura. O resultado final identificou as principais oportunidades para a implantação do
sistema produto-serviço e abrange os objetivos apresentados nas proposições iniciais que
dizem respeito à ampliação da ecoeficiência do sistema. Os resultados alcançados após a
validação da proposta contribuíram para a identificação dos pontos positivos e negativos
relativos à aplicação da referida metodologia.

6 Considerações sobre o estudo de caso múltiplo

O estudo de caso múltiplo realizado em diferentes empresas possibilitou a observação e a


compreensão dos sistemas existentes, sendo considerado apropriado para a coleta de
informações referentes ao problema proposto. Como essa etapa da pesquisa baseou-se na
análise e na comparação dos sistemas, a inserção das ferramentas MEPSS e D4S ao estudo
de caso múltiplo possibilitaram um mapeamento e um diagnóstico adequado dos processos
existentes. No entanto, verificou-se que os sistemas existentes ainda não se encontram
estrategicamente planejados como um modelo de PSS integral, conforme definições
encontradas na literatura, mas possuem diversas características que correspondem a um
sistema produto-serviço. Assim, observou-se que a partir de um reposicionamento estratégico
das empresas e de um projeto específico para o design do sistema é possível ampliar a
ecoeficiência, garantindo um salto qualitativo e quantitativo na redução do impacto ambiental
de ambientes voltados para o trabalho remoto. Os objetivos da presente etapa da investigação
foram atingidos a partir da utilização dos métodos e ferramentas propostos, pois foi possível
avaliar os requisitos da sustentabilidade existente nos sistemas atuais e identificar os pontos
positivos e negativos e as oportunidades em que o design pode se inserir como elemento
estratégico para a ampliação da ecoeficiência do sistema.

7 Considerações sobre a etapa 2: estudo de caso com observação participante

A realização do estudo de caso com observação participante foi de fundamental importância,


pois permitiu vivenciar de forma aprofundada a aplicação do MEPSS, possibilitando uma
melhor compreensão e uma melhor interpretação do contexto da pesquisa. A correlação das
etapas e ferramentas do MEPSS e D4S às etapas de pesquisa de campo realizadas nessa
investigação propiciou uma análise mais aprofundada das informações coletadas, visto que
compara a situação real à luz das estratégias do PSS. Entretanto, verificou-se que as
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ferramentas MEPSS muitas vezes são por demais genéricas e qualitativas e, sendo identificada
a necessidade de inserção de ferramentas mais específicas, como por exemplo, ferramentas
do ecodesign e de análise do ciclo de vida.
Outro aspecto importante dessa etapa da pesquisa se caracterizou pela experiência e
observação das principais dificuldades e facilidades encontradas no desenvolvimento do
conceito do PSS junto aos profissionais e estudantes de design, visto que as informações
contribuíram particularmente para a definição das diretrizes voltadas ao processo de design do
PSS. Dentre as informações mais relevantes coletadas com a equipe durante o projeto do
PSS, é importante salientar a dificuldade na compreensão dos conceitos e ferramentas para o
desenvolvimento de sistema produto-serviço, os quais foram considerados complexos por
diferir bastante dos métodos utilizados para o desenvolvimento de produtos. De modo geral a
principal dificuldade consistiu em desenvolver um pensamento sistêmico voltado à integração
de atores, produtos e serviços, pois essa categoria de projeto difere das tradicionais funções do
design, agregando novas dimensões de atuação. Outra dificuldade relatada pelo grupo diz
respeito à grande quantidade de informação, atores, produtos e serviços envolvidos, que
associados à limitação de tempo e de resultados quantitativos dificultaram a proposição de
conceitos específicos para o sistema.
Como facilidades percebidas pelos participantes do ECOP destacam-se o trabalho em grupo e
o contato direto entre os designers, a empresa e seu contexto. A identificação dos stakeholders
e das relações existentes também foi percebida como um aspecto positivo, pois tornou possível
conhecer melhor o negócio e identificar novas possibilidades para o design atuar de forma mais
precisa e eficiente, possibilitando uma percepção mais aguçada dos problemas ambientais e
das lacunas do sistema. É importante salientar o relato efetuado pelos participantes a respeito
da importância do desenvolvimento do projeto a partir das ferramentas MEPSS, pois
possibilitou uma visão ampliada para a geração de novas soluções. Após absorver os conceitos
do PSS, foi observado pela equipe que, pensar em soluções sistêmicas, passou a fazer parte
de um processo automático, impossibilitando efetuar o projeto baseado unicamente no produto
sem levar em consideração o seu processo do desenvolvimento e o contexto em que se
encontra inserido.

8 Considerações finais

Durante a realização deste trabalho verificou-se que a estratégia utilizada para o projeto do
PSS a partir do MEPSS (a qual busca abranger todo o sistema de oferta de produtos e
serviços) se insere na visão estratégica do design e propicia ao designer um entendimento
global das estruturas e dos inter-relacionamentos envolvidos no processo. Por meio do estudo
desenvolvido durante o ECOP observou-se que a ampliação das competências do design
torna-se necessária para o desenvolvimento de soluções ambientalmente viáveis, voltadas ao
sistema de produtos e serviços, visto que as soluções se diferenciam das tradicionais atuações
que usualmente tem focado no projeto unicamente voltado ao desenvolvimento de produtos.
Esta pesquisa teve início com o diagnóstico do sistema existente, pois de acordo com o
MEPSS, essa análise permite identificar os níveis de inserção da sustentabilidade na política
das empresas analisadas. Após a realização da análise qualitativa as proposições para o
sistema produto-serviço buscaram abranger todo o sistema, visando minimizar as principais
lacunas identificadas à luz dos preceitos do PSS.
Verificou-se que a análise do sistema como um todo proporciona uma percepção macro do
problema, porém a excessiva quantidade de informações dificulta o desenvolvimento do projeto
do sistema. Desse modo, tornou-se necessário compartimentar o sistema em setores
prioritários de ação para que fosse possível efetuar proposições mais específicas e que
apresentassem um resultado ambiental mais expressivo.
Entretanto, a partir do desenvolvimento da pesquisa de campo verificou-se que a análise do
ciclo de vida do sistema analisado deve ser realizada nas etapas iniciais do trabalho e é
prioritária para o desenvolvimento de soluções mais específicas para o sistema. Assim, propõe-
se a inserção dessa ferramenta no projeto do PSS, como sendo de fundamental importância
para a identificação e priorização dos setores que mais necessitam reduzir seu impacto
ambiental.
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
O presente estudo restringiu-se à proposição do conceito do PSS e devido ao tempo disponível
para a realização da pesquisa não foi possível realizar as etapas de “Desenvolvimento do PSS”
e “Implementação”, desse modo como proposição para estudos futuros sugere-se o
desenvolvimento das próximas etapas do MEPSS. Para a etapa de implementação em uma
situação real, identifica-se a oportunidade de aplicar o conceito proposto e medir os resultados
da minimização do impacto ambiental, assim, novos estudos direcionados para a mensuração
dos resultados podem corroborar com os objetivos sustentáveis vislumbrados por meio da
implantação do PSS. Dentre as possibilidades de melhoria do método MEPSS, encontra-se a
complementação do mesmo com as ferramentas voltadas ao desenvolvimento de produtos
sustentáveis e de análise de ciclo de vida, bem como com os métodos voltados ao
desenvolvimento de serviços baseados na satisfação e experiência do usuário.

Referências

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Projeto Reuse (Reuse Project)

MONTEIRO, Maécio; Especialista; Universidade do Estado do Pará


maeciomonteiro@gmail.com

BRAGA JR, Antonio Erlindo; Mestre, Universidade do Estado do Pará


aerlindo@yahoo.com.br

palavras-chave: Ecodesign, desenvolvimento sustentável, ciclo de vida do produto.

A vivência de uma situação limite no que concerne à questão ambiental impulsiona o desenvolvimento de
soluções de projeto visando integrar o sistema de fabricação de produtos industriais ao sistema da
natureza. Um ponto estratégico nesta mudança na atividade do design refere-se à revalorização dos
resíduos, de forma a encontrar soluções para a extensão da vida útil dos materiais. Este trabalho teve por
objetivo apresentar os resultados da aplicação de uma ferramenta metodológica de projeto aplicada à
reutilização de produtos descartados. A ferramenta baseia-se no conceito de ciclo de vida do produto,
propondo análises que permitem detectar as funções práticas, estéticas e simbólicas, assim como a
relação social e ambiental do resíduo para o projeto de um novo ciclo de vida através da ressignificação
do lixo.

Keywords: Ecodesign, sustainable development, product life cycle.

The experience of an extreme situation with respect to environmental issues drives the development of
design solutions to integrate the system for manufacturing industrial products to the system nature. A
strategic change in this design activity refers to the waste recovery in order to find solutions to the
extended shelf life of materials. This study aimed to present the results of applying a methodological
design tool applied to the reuse of discarded products. The tool is based on the concept of product life
cycle, offering analysis to detect the practical functions, aesthetic and symbolic as well as the relationship
of social and environmental waste for the design of a new life cycle through the redefinition of garbage .

1 Introdução

O presente trabalho tem a proposta de apresentar os resultados do Projeto Reuse, ferramenta


metodológica para auxiliar projetos que visem a concepção de novos produtos a partir da
reutilização de produtos descartados. Considera-se aqui a reutilização como o ato de dar um
novo uso para um produto inteiro ou parte dele, diferenciando este processo da reciclagem,
que em geral busca o reaproveitamento dos materiais, reprocessando o material descartado e
inserindo-o em uma nova cadeia produtiva sem manter a configuração original do produto.
Sendo assim propõe-se uma forma diferente de enxergar o fim da vida do produto, estimulando
a criatividade e definindo requisitos para a concepção de produtos que transformem esses fins
em novos começos, com vistas à ressignificação do lixo e à extensão da vida útil dos produtos
descartados.

2 Metodologia: O Espelhamento das Análises

O ato de reutilizar produtos e embalagens já acontece de forma espontânea pelos


consumidores. Usar potes de requeijão como copos, latas de tinta como vasos e garrafas pet
para armazenar água são exemplos que fazem parte da nossa realidade.
Como visto, os produtos industriais podem ser classificados em categorias distintas, definidas
por Lobach (2001), em função da intensidade das relações afetivas que cada tipo de produto
estabelece com o usuário. O ato de reutilizar pode provocar uma transposição entre essas
categorias e, consequentemente, na forma como o produto passa a ser utilizado pelo
consumidor. Por exemplo, quando reutiliza-se uma embalagem de requeijão como copo, esta
deixa de comportar um produto de consumo para ser reutilizada como um produto para ser

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usado por um determinado grupo de pessoas, conforme é visto no quadro 5. A reutilização
acontece neste caso mantendo-se a função prática da embalagem, deixando de comportar
apenas o produto requeijão para comportar outros líquidos no novo uso.
É importante notar que, através da reutilização, a embalagem que teria um curto tempo de vida
útil (prazo de validade do requeijão), passa a ser utilizada por vários anos como copo. Atentos
a esta mudança na relação do consumidor com este produto (de embalagem efêmera para
copo duradouro), muitos fabricantes passaram a investir na reconfiguração dessas
embalagens, inserindo cores, texturas e estampas decorativas que influenciam a decisão de
compra, com vistas ao consumidor que deseja reutilizá-la como copo.
Figura 1 - A transposição de categorias no ato de reutilização da embalagem de requeijão.

Percebe-se, então, que no processo de transposição da embalagem de requeijão,


originalmente pertencente à categoria produtos de consumo para uma categoria de produtos
de uso por um determinado grupo de pessoas foram necessárias adaptações na aparência do
produto, ou seja, na sua função estética.
A mudança da aparência do produto acaba por refletir-se também nos seus aspectos
simbólicos, que devem ser trabalhados para atender necessidades psíquicas do usuário,
fortalecendo o valor da marca do fabricante. Percebe-se no caso da reutilização da embalagem
de requeijão como copo, uma tendência em direcionar o produto a segmentos específicos de
consumidores, fato evidenciado pela inserção de gravuras com temas diferentes, como vemos
na figura 2.
Este exemplo nos permite perceber que o processo de reutilização promove transformações na
configuração do produto descartado, que sofre adaptações para entrar em um novo ciclo de
vida. O Projeto Reuse propõe a análise dessas transformações para a reutilização de produtos
dentro de uma concepção de projeto, sistematizando o processo de geração de ideias de reuso
e definição das adaptações necessárias para uma nova relação homem-produto. Portanto, o
princípio do Projeto Reuse está na análise das funções e das características de uso no pré-
descarte (primeiro ciclo de vida) e das funções e características de uso no pós-descarte
(segundo ciclo de vida), o que representa um espelhamento dessas análises (figura 3), que
servirão como norteadoras para o projeto de reutilização.
Através desse espelhamento, o Projeto Reuse busca evidenciar pontos essenciais que devem
ser levados em consideração ao se propor um novo uso para o produto descartado, de maneira
que o projetista tenha melhor ciência das características do resíduo que devem ser mantidas
ou trabalhadas para possibilitar a revalorização do resíduo.
O primeiro passo para o desenvolvimento da ferramenta foi a redefinição das categorias de
produtos. Uma primeira mudança foi feita com relação à categoria produtos de consumo (figura

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4). Esses produtos por se esgotarem durante o uso, como é o caso de alimentos e cosméticos,
evidentemente não permitem a reutilização e por isso foram desconsiderados. Em seu lugar foi
inserida a categoria embalagens, visto que estas possuem grande potencial de reutilização
pelo alto valor afetivo agregado pelas marcas e pela possibilidade de extensão da vida útil
desse tipo de produto, que em geral possui utilidade efêmera.
Figura 2 - Embalagens de requeijão com gravuras inspiradas na obra de Alfredo Volpi (FONTE:
www.projetorequeijao.blogspot.com).

Figura 3 - O espelhamento das análises do produto descartado para o produto reutilizado.

Outra mudança acontece pelo desmembramento da categoria de produtos para uso por um
determinado grupo de pessoas. Esta categoria foi dividida entre a categoria de produtos para
uso por pessoas que se conhecem e a categoria de produtos para uso por pessoas que não se
conhecem. Esta divisão foi feita em função da diferença do nível de afetividade usuário-
produto: no caso dos produtos para uso por pessoas que se conhecem, existe uma relação de
média afetividade, já que o produto é compartilhado por um grupo pequeno de pessoas,
enquanto que na categoria de produtos para uso por pessoas que não se conhecem, esta
responsabilidade se torna ainda menor pela ausência da sensação de posse pelo produto.
Como visto, o ato de reutilizar produtos descartados promove a transposição entre as
categorias de produtos industriais, permitindo que um produto que fazia parte de uma categoria
no seu primeiro ciclo de vida possa transitar para uma categoria diferente, mudando suas
funções e características de uso. Ao reutilizar-se peças de computador para confeccionar
bijuterias, por exemplo, transpõe-se um produto para uso indireto (placa de computador) para
um produto para uso individual (bijuteria). O reuso de uma garrafa para produzir uma luminária,
traz um produto da categoria embalagens (garrafa) para ser um produto de uso por pessoas
que se conhecem (luminária). Os caminhos possíveis para a transposição destas categorias
são mostrados na figura 5. As implicações dessas transposições podem ser sistematizadas
pela discriminação das mudanças nas funções prática, estética e simbólica do produto no
processo de reutilização.

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Figura 4 - Adaptações na categorização dos produtos industriais.

Por fim, é importante verificar o impacto ambiental causado pelo destino final do produto que
será reutilizado, perguntando-se por que e como o produto em questão foi descartado. O
levantamento do motivo e das características do descarte do produto a ser reutilizado ajuda o
projetista a antever a disponibilidade do produto descartado para o desenvolvimento em maior
escala do novo produto, assim como prepara o discurso da importância do projeto para a
extensão da vida útil do material reutilizado.
Figura 5 - Caminhos possíveis para a transposição de categorias a partir da reutilização.

3 Aplicação da metodologia e alguns resultados obtidos

A primeira oficina aconteceu em setembro e outubro de 2010 e envolveu estudantes de Design


de várias faculdades de Belém. Com o apoio do Centro Acadêmico de Design da UEPA, foram
coletados diversos tipos de produtos descartados como roupas, garrafas, eletrodomésticos e
material eletrônico, doados pelos próprios alunos da Universidade.

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Figura 6 - O primeiro contato dos participantes com os produtos coletados.

Durante a oficina foram desenvolvidos 40 novos produtos entre peças de moda, objetos e
móveis, que foram postos à venda em um bazar realizado na Casa 25287, um dos parceiros do
projeto. Alguns dos objetos criados são apresentados a seguir.
Figura 7. Luminárias “Penso Logo Acendo” e “1 litro de Luz”.

Figura 8 Puff “Jeans”.

87
Casa 252 é um espaço colaborativo para a execução de projetos relacionados à moda e design. A Casa abriga um
atelier de costura, uma editora de revista e uma loja para a venda de produtos autorais, além de promover oficinas
de curta duração, dentre elas as oficinas do projeto Reconstruções.
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Figura 9. Aromatizadores “Aromatoys”.

3.1 Próximas Edições


O projeto pretende executar três oficinas durante o ano de 2011, atuando na revalorização de
produtos descartados em três esferas: o centro urbano de Belém, a população ribeirinha e a
indústria madeireira. A seguir uma breve descrição de cada uma delas:
1. Oficina Multiplicadores: Oficina a ser realizada no centro urbano de Belém, envolvendo
estudantes e profissionais de design, arquitetura, artes visuais e áreas afins, além de
representantes de ONGs, associações e cooperativas que trabalhem com produtos
reciclados, gerando oportunidades de negócios através da adequação e inserção
desses produtos em suas cadeias produtivas. Visa desenvolver produtos a partir de
resíduos coletados das vias públicas de Belém.
2. Oficina Devoluções: Oficina que busca envolver estudantes e profissionais de design,
arquitetura e artes visuais e a população ribeirinha. Visa coletar resíduos dos mangues
e rios que contornam Belém para o desenvolvimento de produtos. Os produtos serão
vendidos para a população urbana de Belém e a renda será destinada em parte aos
ribeirinhos.
3. Oficina Reconstruindo Madeira: Será oferecida a estudantes e profissionais de design,
arquitetura e artes visuais e áreas afins que irão desenvolver produtos a partir de
sobras de madeira das marcenarias de Belém.

4 Considerações Finais

A busca por soluções de projeto com vistas à sustentabilidade ambiental pode percorrer
diferentes caminhos que representam mudanças tecnológicas e culturais da sociedade. Neste
sentido o desenvolvimento de projetos de Ecodesign reflete a busca por inovações
tecnicamente viáveis e socialmente aplicáveis para a integração do sistema-produto ao
sistema-natureza. Frente às diferentes realidades socioeconômicas das civilizações modernas,
trata-se então de encontrar novas formas de pensar o design e novas oportunidades de
desenvolver produtos que possam propor soluções para problemas ambientais ao mesmo
tempo em que conserva a qualidade de vida da população.
Neste sentido, o Projeto Reuse surge como uma proposta inovadora que alia análises teóricas
da configuração de produtos industriais à prática de desenvolvimento de projetos de
reutilização com vistas a transformar o lixo em oportunidade de negócio com geração de renda
para as partes interessadas. A ferramenta foi aplicada por estudantes e profissionais de design
e áreas afins para o desenvolvimento de produtos reutilizados que tiveram grande aceitação do
público consumidor e boa repercussão na mídia local e nacional.

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5 REFERÊNCIAS
LOBACH, B (2001) - Design Industrial – Bases para a configuração dos produtos industriais.
Ed. Edgar Blucher.

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Biônica e Biomimética: diferenças e aproximações à luz da
sustentabilidade (Bionics and Biomimicry: differences and
approaches in the light of sustainability)

OLIVEIRA, Emilio; Doutorando; UNESP | FAAC | UFPE/CAA


emiliodesign@gmail.com

LANDIM, Paula; Doutora; UNESP | FAAC


paula@faac.unesp.br

palavras chave: biomimética; biônica; sustentabilidade.

A humanidade encontra-se envolvida em uma série de problemas ambientais, fruto das alterações
climáticas, biodegradação dos ecossistemas dentre outros impactos relacionados à produção industrial e
o consumo. Neste cenário, novas idéias deverão fundamentalmente reportar o redesign de produtos,
processos, serviços e instituições, a fim de catalisar a transição para uma civilização humana mais
sustentável. Assim, há a necessidade de uma abordagem de um design que proporcione criar projetos
sustentáveis que são sensíveis às condições específicas sociais, culturais e ecológicas de um
determinado lugar, inspirados a partir das soluções disponíveis na natureza. O meio natural funciona sob
ciclos fechados, é eficiente em relação ao uso de energia e materiais e utiliza a cooperação entre
espécies, de forma bastante eficiente. Portanto, este artigo propõe que duas ciências, biônica e
biomimética, consideradas por muitos autores, como sinônimas, são na verdade, complementares e
representam dois tipos distintos de abordagens entre “design e natureza”, baseados em concepções
diferentes da relação entre natureza, tecnologia, produção industrial e cultura.

Keywords: biomimicry; bionics; sustainability.

Humanity is involved in a number of environmental issues, as a result of climate change, degradation of


ecosystems among other impacts related to industrial production and consumption. In this scenario,
fundamentally new ideas should report the redesign of products, processes, services and institutions, to
catalyze the transition to a more sustainable human civilization. Thus, there is a need for a design
approach that provides sustainable building projects that are sensitive to the social, cultural and ecological
conditions for a particular place, inspired from the solutions found in nature. The natural environment
operates under closed life cycles, it is efficient in the use of energy and materials and uses the cooperation
between species, in a efficient way. Therefore, this article proposes that two sciences, bionics and
biomimicry, considered by many authors as synonymous, are actually complementary and represent two
distinct approaches between “design and nature”, based on different conceptions of the relationship
between nature, technology, Industrial production and culture.

1 Introdução

Ao longo de sua existência, através de milhões de anos de experiência, a natureza sempre


buscou critérios de eficiência a partir de modelos próprios. Diante desta fonte inspiradora, o
homem primitivo se valia desta experiência e tentava contornar a sua dificuldade nas questões
de sobrevivência seja em relação à moradia, a caça e a segurança. Para tanto, vestígios
arqueológicos mostram que os hominídeos moravam em choupanas que se assemelhavam
aos ninhos das aves; abatiam mamíferos com machadinhas de pedra, tal qual rígidos cascos
de animais; e utilizavam pontas do arpão de madeira, semelhantes aos espinhos de algumas
plantas, para se protegerem.
Neste cenário de luta pela sobrevivência, o homem, muitas vezes, viu como única alternativa a
destruição da fauna e da flora, na tentativa de controlar e não ser controlado pelos fenômenos
naturais. Ramos (1993) aponta que talvez seja por esse fato que, só após criar soluções
tecnológicas como o sonar, por exemplo, teve que admitir que essas soluções já existiam há
muito na natureza (como no caso do sonar dos golfinhos ou dos morcegos).
Assim sendo, pesquisas indicam que uma importante fonte para desenvolver a criatividade no
desenvolvimento do projeto de produtos se refere aos processos de analogia direta com a
natureza. Nesta ótica, os conceitos da biônica e da biomimética consistem em analisar os
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sistemas naturais, com vistas à reprodução dos seus princípios de solução, buscando também
contribuições relevantes no processo de desenvolvimento de produto. Conforme Detanico et al
(2010), essas adaptações permitem a criação de formas análogas, funções análogas ou ainda
comportamentos análogos.
Segundo Lodato (2005), Leonardo Da Vinci pode ter sido o primeiro verdadeiro investigador
desta relação, visto que a maioria dos seus projetos foi baseada em observações na natureza.
No período contemporâneo, surgem atividades científicas que propõem uma emulação dos
princípios eficientes disponíveis na natureza, tais como a biônica e a biomimética. Estes dois
termos são apresentados como sinônimos por muitos autores, por terem características
conceituais semelhantes.
Portanto, este artigo se propõe a apresentar as semelhanças e destacar as diferenças entre
estas abordagens, à luz de uma revisão bibliográfica e exemplos de aplicação no design de
produtos e processos, com vistas à sustentabilidade.

2 O contexto da biônica

A história mostra que a utilização proposital de princípios naturais no projeto de artefatos


desenvolvidos pelo homem já pode ser vista em 1490 nos trabalhos do renascentista italiano
Leonardo Da Vinci (1452-1519), que estudou o vôo dos pássaros a partir do batimento das
asas, do vôo planado, e do vôo em equipe. Através desta analogia, Da Vinci inicialmente
projetou asas a serem movidas pela força muscular humana. Quando concluiu que o homem
não teria, por si só, força suficiente para sustentar o vôo nestas condições, passou a analisar a
possibilidade de aproveitar a força do vento e a resistência do ar para tornar viável um conceito
de uma máquina “voadora” nomeada de ornitóptero, conforme visualizado na figura1
(NACHTIGALL, 1987).

Figura 1: Ornitóptero (disponível em: http://seerpress.com/ornithopter-%E2%80%93-da-vinci-conceived-canadian-


student-realizes-the-engineless-flying-machine/8043/

Posteriormente, em 1850, Coineu e Kresling (1989) citam o caso do arquiteto inglês Joseph
Paxton que projetou o Crystal Palace, um enorme espaço para exposições, cuja inspiração foi
baseada na estrutura das folhas da vitória régia. A planta, de formato circular, é extremamente
rígida em virtude da presença de várias nervuras, que partem do centro e se bifurcam em
várias direções estruturantes. Os autores complementam ao afirmar que este projeto teve uma
influência significativa nos conceitos arquitetônicos modernos, principalmente dos métodos de
construção e montagem pré-fabricada.

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Partindo-se destes exemplos, segundo Soares (2008) e Allgayer (2009), o termo biônica foi
apresentado, em 1958, pelo Engenheiro da Força Aérea dos EUA. o Major Jack Ellwood Steele
que a definiu como “a análise das formas pelas quais os sistemas vivos atuam e têm
descoberto os artifícios da natureza”. Steele, neste caso, realizava pesquisas que buscavam
na estrutura dos olhos das abelhas uma solução viável para criar um sistema de orientação que
se utilizasse da luz polarizada. Gerardin (1968) relata ainda que em 1960, a Força Aérea
Americana promoveu um simpósio, no qual compareceram matemáticos, físicos, biólogos,
engenheiros e psicólogos, dentre outros. Oficialmente, este evento marca o início da biônica
como ciência ou como atividade formalizada.
Etimologicamente, a palavra biônica vem do grego “elemento de vida”. Na literatura biomédica,
por exemplo, é comum encontrar sua aplicação ligada à origem nos termos bio (vida)
juntamente com eletrônica, através da promoção da sistematização de estudos biológicos, com
ênfase na produção de dispositivos para substituição de membros ou órgãos humanos. Seu
raio de ação, todavia é mais amplo, a exemplo de invenções como o radar, o ultrassom e
demais aplicações em cibernética e inteligência artificial.
Assim, conforme Hsiao e Chou (2007), o termo biônica está basicamente relacionado à
imitação da forma e da estrutura fisiológica dos organismos, utilizando características
biológicas induzidas como base para o desenvolvimento técnico e funcional.
A biônica parte do princípio que todo o organismo vivo é resultado de evolução de milhões de
anos, e que por meio da seleção natural sobrevivem somente espécies adaptadas, por este
motivo fica evidente a importância de procurar entender as formas e estruturas naturais
(MUNARI, 2008).
Segundo Gomes (1988), na natureza, a célebre frase “a forma segue a função” é totalmente
acertada, pois o estudo dos sistemas naturais possibilita a redescoberta de formas e funções
de alto desempenho, eficiência e confiabilidade e a sua posterior utilização e adaptação para
configurar produtos, torna-os mais equilibrados e harmônicos.
Nas palavras do designer austríaco Victor Papanek, a biônica consiste em uma ciência que
emprega uma estratégia de simulação na natureza com a finalidade de produzir inovação
tecnológica.
“A biônica não se ocupa somente da forma das partes, ou da maneira das coisas, mas também de
estudar como a natureza faz e propõe as coisas, de compreender a inter-relação das partes, a
existência dos sistemas” (PAPANEK apud ARRUDA, 2002).
De acordo com Podborschi et al (2005) e Kindlein Jr. E Guanabara (2005), uma vez que a
biônica lida com a aplicação das estruturas, procedimentos e princípios de sistemas biológicos,
foi convertida em um campo interdisciplinar que combina a biologia com a engenharia, a
arquitetura, e a matemática. Contribuiu também para as inovações tecnológicas na
aerodinâmica, sistema sonar, ventilação, empacotamento, adesão, propulsão, bombeamento,
locomoção e composição material, dentre outras.
Pesquisadores também contextualizam a biônica nos processos metodológicos do
desenvolvimento de produtos industriais. Arruda (2002) define que o campo biônico é um
ambiente de investigação do design, no qual a natureza assume um papel estratégico para
afrontar novas soluções de caráter tecnológico.
Kindlein et al (2005) apontam a importância da biônica como uma ferramenta alternativa para
buscar a diferenciação de produtos industriais em meio às exigências de competitividade no
mercado. Complementam ao definir as etapas metodológicas deste processo: a seleção,
coleta, observação e parametrização de amostras que desencadeiam as etapas finais,
constituídas na analogia do sistema natural ao projeto de design.
Portanto, conforme Vanden Broeck (1989), pode-se analisar elementos disponíveis na natureza
sob aspectos de forma, estrutura, volume, encaixe e textura, entre outros a serem aplicados na
solução de problemas projetuais. Para o autor a contribuição da biônica se dá nas seguintes
questões interdependentes:
 Na determinação da melhor forma;
 Na definição de princípios de solução adequados para as funções desejadas;
 Na redução da quantidade de materiais necessários.
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Neste sentido, autores como Rossin (2010), Montenegro (2003), Blüchel (2009) e Costa et al
(2010) apontam várias ideias inovadoras que surgiram de pesquisas sobre sistemas,
mecanismos e propriedades naturais, como por exemplo:
 O aerodinâmico trem bala japonês Shinkansen, que tem como referência o bico do
pássaro martim-pescador, que mergulha sem espirrar água em busca de refeição;
 Inspirado na estrutura dos ossos, o engenheiro Gustave Eiffel projetou a famosa torre
que leva o seu nome, e que suporta seu enorme peso em suas curvas elegantes;
 O sistema velcro, desenvolvido, em 1948, pelo engenheiro suíço Georges de Mestral, a
partir da estrutura funcional de pequenas sementes, os carrapichos, que ficavam
presos em suas roupas, durante as caminhadas no campo. Desta forma, Mestral
observou em microscópio que as superfícies das sementes eram cobertas por
minúsculos ganchos que poderiam ser aderentes a quaisquer superfícies.
 O sistema de locomoção do helicóptero, inspirado no mecanismo de vôo da libélula;
 O carro biônico, desenvolvido pela empresa Mercedes-Benz, a partir da forma
hidrodinâmica do peixe-cofre;
 O projeto de detectores de incêndios, através da analogia com uma espécie de
escaravelho que consegue detectar a radiação infravermelha produzida por um
incêndio florestal, a 100 km de distância;
 O uso de agulhas hipodérmicas com a ponta dotada de minúsculo serrilhado,
semelhante ao de um mosquito, que reduz a estimulação dos nervos e,
consequentemente, possibilita menos dor;
 O revestimento anti-reflexivo dos olhos da mariposa que inspirou o mesmo princípio na
aplicação em telas mais luminosas para telefones celulares.
A partir destes exemplos, Costa et al (2010) afirmam que a metodologia de design proposta
sob uma abordagem biônica apresenta duas formas de desenvolvimento (figura 2). Na
situação A, pode-se partir de um problema e buscar suas soluções, com base na observação
da dinâmica dos sistemas naturais, como plantas e animais. Um exemplo apresentado por
estes autores se refere à seguinte pergunta: como desenvolver superfícies autolimpantes ou
um novo detergente? A resposta pode estar na flor de lótus que se mantém sempre limpa,
embora seu habitat seja em zonas pantaneiras. No caso, o estudo microscópico revela que a
estrutura dessas folhas, impede a aderência de sujeira e favorece a ação de limpeza por parte
da água da chuva via gravidade. Esse conceito, segundo o autor, originou a tinta Lotusan
Paint, produzida por uma empresa alemã e que já é utilizada em edifícios “auto limpantes”.
Por outro lado, na situação B, propõe o caminho inverso, ou seja, observa-se a natureza e, a
partir das soluções que ela apresenta em determinado sistema animal ou vegetal, busca-se a
criação de um artefato, cuja utilidade será definida posteriormente.

Figura 2: metodologia da biônica a partir do problema e da observação de soluções (Costa et al, 2010)

Os autores complementam que neste método, o conhecimento é construído por associação de


ideias, seja por semelhança, por relação de causa e efeito ou por contiguidade de tempo ou de
lugar. O sistema “velcro”, como solução de design, é decorrente de uma associação de causa
e efeito porque, na natureza, duas superfícies com um determinado tipo de textura tendem a
aderir uma na outra. Por outro lado, as formas naturais apresentam funções específicas, como
as formas aerodinâmicas que serviram de modelo para o carro conceito do trem bala

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Shinkansen, que foi projetado a partir de associações por semelhança. O design básico de um
helicóptero, com relação ao animal libélula, decorre de uma associação por contiguidade,
porque houve a adaptação direta de um sistema natural para um produto cultural, que é
percebida na analogia com as formas das asas e, mais especificamente, na reprodução de sua
capacidade de voar em espiral, devido ao funcionamento de hélices.
Em relação ao padrão estrutural da natureza, conforme Bonsiepe (1978), a análise biônica de
fenômenos formais da natureza facilita e estimula a capacidade de percepção de detalhes e
princípios presentes em sua estrutura. Assim, as proporções geométricas na natureza
constituem relações harmoniosas, nas quais é possível observar, por exemplo, constantes
proporções matemáticas na constituição de seres humanos, animais e vegetais. (DOCZI,
1990).
Nesta ótica, Pearce (1990) aponta que a natureza tende a produzir estruturas padronizadas, mas com
diversidade, o que no fim das contas lhe garante a conservação de recursos naturais e energia através da
produção de componentes modulares que, ao serem combinados, podem gerar uma infinidade de
padrões. Neste contexto, um exemplo prático na natureza se refere às colméias de abelhas. Neste
sistema é possível armazenar a maior quantidade de mel produzido com a menor quantidade
de cera utilizada na construção dos favos hexagonais.
No âmbito do design, Ribeiro (2010) cita a linha de sofás “Campo” do escritório paulista Ovo, que
consiste em uma linha de módulos assimétricos, com alturas, formatos, ângulos e cores diferentes, podem
ser organizados de modo a compor infinitos arranjos e combinações (figura 3).

Figura 3: Linha Campo (disponível em: http://ireicomdoroty.blogspot.com/2011/05/ovo-design.html)

No entanto, Pazmino et al (2007) ressaltam que fazer uso apenas das formas, cores ou
geometria encontradas nos sistemas naturais não seria suficiente para se enquadrar no
conceito de biônica, pois os problemas construtivos não se resolvem apenas emulando as
formas naturais. Torna-se necessário, portanto, que o estudo dos sistemas naturais no design,
seja mais aprofundado, visando à análise de soluções funcionais, estruturais e morfológicas,
em detrimento apenas do contexto do biomorfismo, mais atrelado somente às questões
estéticas.

3 Biomimética: uma evolução?

O advento da Revolução industrial e o consequente domínio da tecnologia sobre o meio


natural, que caracterizou este período, conduziram a extensos impactos ambientais em nível

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planetário. A utilização sem controle de combustíveis fósseis não-renováveis e de outros
recursos naturais, culminando com a destruição dos ecossistemas, levou à alteração do padrão
climático e da composição atmosférica do planeta. Em face disto, vários debates internacionais,
Iniciados na década de 60, possibilitaram a introdução do conceito do paradigma do
desenvolvimento sustentável.
Em nível empresarial, a complexidade deste desafio requer uma mudança profunda não só no
mundo empresarial em geral, mas também no desenvolvimento de produtos e serviços. Como
resposta a esta mudança, as progressivas pressões sociais e governamentais têm induzido as
empresas a repensar os seus processos industriais e as suas metodologias de design e
produção de novos produtos. Neste sentido, soluções sustentáveis requerem uma integração
de vários tipos de conhecimento, e nesta medida, o design pode desempenhar um papel
facilitador e integrador, em todo o ciclo de vida do produto, como forma de minimizar impactos
ambientais e custos (WAHL, 2006).
Assim, palavras-chave como utilização de recursos renováveis, maior eficiência energética e
minimização de resíduos são imperiosas. Segundo Benyus (2007), todos estes conceitos
podem associar-se também aos sistemas naturais da biosfera, presumivelmente sustentáveis,
pois têm existido há centenas de milhões de anos.
Conforme Benyus (1997), a biomimética é uma área da ciência que tem por objetivo o estudo
das estruturas biológicas e das suas funções e a utilização desse conhecimento em diferentes
domínios da ciência, através da inovação tecnológica para fins sustentáveis. Etimologicamente
o termo surge da combinação das palavras gregas bíos, que significa vida e mímesis que
significa imitação. Dito de modo simples, a biomimética é a imitação da vida. Isso não quer
dizer que a biomimética se restrinja apenas a copiar a natureza. Esta oferece pistas, mas não
necessariamente a solução. A natureza não projeta. Suas soluções são resultado de um
processo de tentativas, com erros e acertos, testados em bilhões de anos de evolução. Neste
contexto de “pesquisa e desenvolvimento”, as “falhas” na natureza tornam-se fósseis, e aquilo
que nos rodeia é o segredo para a sobrevivência (DRACK. 2002)
De acordo com Benyus (1997) existem três fatores que descrevem este novo campo de estudo
da ciência:
1. Natureza como o modelo: estuda os modelos da natureza e imita-os ou utiliza-os como
inspiração no processo de design, com o intuito de resolver os problemas humanos;
2. Natureza como uma medida: utiliza o padrão ecológico para julgar a relevância e a
validade das inovações, ou seja, o que funciona, o que é apropriado e o que dura;
3. Natureza como um mentor: uma nova forma de observar e avaliar a natureza, baseada
não no que se pode extrair do mundo natural, mas o que se pode aprender com ele.
Ainda segundo a autora, em uma sociedade acostumada a dominar ou "melhorar" a natureza,
imitá-la de forma respeitosa é uma abordagem radicalmente nova, uma revolução de verdade.
Fazendo as coisas à maneira da natureza, é possível mudar a forma de cultivar alimentos, de
produzir materiais, de gerar energia, de curar, de armazenar informações e de realizar
negócios.
A biomimética observa a natureza e procura estimular novas idéias para finalmente produzir
sistemas sintéticos similares aos encontrados nos sistemas biológicos. Este estudo permite
desenvolver ou aperfeiçoar novas soluções de engenharia, sendo que os biomimeticistas
encontram na natureza um modelo perfeito de inspiração e de imitação.
Segundo Riechmann (2006) o ambiente urbano, industrial ou agrário, deve se parecer cada vez
mais com o funcionamento dos ecossistemas naturais. Visto desta forma, a biomimética é uma
estratégia de reinserção dos sistemas humanos dentro dos sistemas naturais, possibilitando o
surgimento de comunidades sustentáveis. Assim por exemplo, Capra (2006) assinala cinco
grandes princípios desse processo de “ecoalfabetização” à luz da organização dos
ecossistemas:
 Interdependência;
 Natureza cíclica dos processos ecológicos;

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 Tendência a associar-se, estabelecer vínculos e cooperar como características
essenciais da vida;
 Flexibilidade;
 Diversidade.
Os ecossistemas naturais funcionam baseados em ciclos fechados de matéria e movidos a
partir de energia solar. Trata-se de uma “economia” cíclica, totalmente renovável e auto-
reprodutiva, sem resíduos e cuja fonte de energia é inesgotável em termos humanos: a energia
solar em suas diversas manifestações (que inclui também, por exemplo, o vento e as marés).
Nesta economia cíclica natural cada resíduo de um processo se converte na matéria prima do
outro, através de ciclos fechados. Por outro lado, a economia industrial capitalista desenvolvida
nos últimos dois séculos, considerada na relação com os fluxos de matéria e de energia, é de
natureza linear, ou seja, os recursos terminam desconectados dos resíduos e os ciclos não se
fecham. Portanto, a natureza deve ser olhada como uma fonte de soluções baseadas em
princípios sustentáveis de vida, incluindo os sistemas industriais (LODATO, 2005).
Esse caráter funcional da biomimética juntamente com seu lado ideológico, por exemplo, no
que diz respeito à sustentabilidade, que encontra na natureza seu melhor exemplo de sucesso,
tem feito o interesse de empresas ao redor do mundo crescer sensivelmente e abrir espaço
para um mercado até então menos interessante. A grande demanda por esse tipo de soluções
vem abrindo espaço para pesquisas e por empresas e associações que oferecem esse tipo de
serviço.
Neste cenário a biomimética pode trazer soluções para várias questões que comprometem o
desenvolvimento sustentável, em nível global, como por exemplo: como produzir alimentos de
forma mais eficiente? Como poupar energia? Como desenvolver medicamentos com menor
efeito colateral? Como administrar negócios sem estrangular o capital natural? A pesquisadora
Janine Benyus aponta o caminho:
Ao invés de olhar para a natureza como um armazém, iremos aprender a olhar a natureza como um
professor. Em vez de avaliar o que podemos extrair da natureza, iremos avaliar aquilo que poderemos
aprender da natureza. Iremos perceber que a evolução livre é mais preciosa que qualquer filão de
petróleo de tal forma que a racionalidade de proteger locais selvagens será por demais evidente.
(BENYUS, 2007)
Para Wahl (2006), biônica e biomimética representam duas abordagens distintas ao “design e
natureza”, baseadas em diferentes concepções. Enquanto a biônica aborda a previsão,
manipulação e controle da natureza, a biomimética aspira à participação na natureza, e por
isso, constitui uma maior contribuição para a sustentabilidade. Segundo este autor, uma
transição para a sustentabilidade, mediada pelo design, requer uma abordagem holística e
participatória da natureza e da cultura, dentro de um sistema dinâmico e interligado. Nesta
visão, por exemplo, a biônica emularia o sistema mecânico de tração de um caranguejo na
adaptação funcional de um quebra-nozes. Já a biomimética se preocuparia em adaptar o
sistema de captação hídrica que o lagarto-do-deserto obtém água por meio de canaletas nas
escamas, assim como o besouro da Namíbia, por meio da névoa, para solucionar o problema
da falta deste recurso em comunidades com baixa taxa pluviométrica.
Pesquisadores de diversas áreas estão estudando as soluções encontradas pela natureza e
procurando adaptá-las na solução de seus problemas e na inovação de seus produtos, a partir
de princípios sustentáveis. Isto porque a natureza sempre alcança seus objetivos com
economia, com um mínimo de energia, conserva seus recursos e recicla completamente seus
resíduos. Para o Biomimicry Institute (2011), o maior centro de pesquisa desta ciência, é fato
que a biomimética também compartilha inspiração e inovação inspiradas na natureza, assim
como outros campos da bioinspiração. Porém, no seu entendimento, a biomimética é o único
método que pode resultar em soluções sustentáveis, com máximo de eficiência, mínimo de
resíduos, quantidade reduzida de energia e reuso de matéria-prima nos processos de
produção, assim como nos exemplos apresentados por Benyus (2007), Klein (2009), Mueller
(2008) e Rossin (2010):

 Materiais têxteis, como o Nylon, inspirados na teia de aranha, a qual a seda tem
extrema tenacidade, resistência e elasticidade. O fio é mais fino que um fio de cabelo,
mais leve que o algodão, e (nas mesmas dimensões) mais forte que o aço;

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 O aquecimento central e ar-condicionado do edifício Eastgate em Zimbábue, tal qual o
sistema das torres de cupim.
 Turbina WhalePower, inspirada na forma das nadadeiras da baleia jubarte, nas quais
as lâminas nervuradas desse tipo de turbina eólica produzem 32% menos atrito e 8%
de deslocamento de ar que as lâminas lisas convencionais;
 O nariz dos golfinhos é o modelo para uma protuberância em forma de pêra na proa do
navio, que possibilita cruzar os oceanos com menor resistência da água e redução do
consumo de combustível;
 Células fotovoltáicas copiadas da estrutura das folhas e sistemas móveis de energia
solar concentrada que, assim como espécies de plantas, se direcionam para a posição
do sol, à medida que este vai mudando de lugar;
 As características ópticas do brilho metálico e as cores deslumbrantes das aves e
besouros tropicais não se devem a pigmentos, mas a características ópticas de
microestruturas rigorosamente espacejadas que refletem comprimentos específicos de
ondas luminosas;
 Celltak, uma marca de adesivos resistentes e biodegradáveis similares aos viscos
utilizados nos mexilhões para a fixação das conchas;
 O equipamento para emergências em tsunamis Rescue Bottle, que utiliza um processo
de dessalinização da água a partir de células que usam eficiente processo de osmose
reversa;
 Algumas indústrias dinamarquesas da cidade de Kalundborg, que se utilizam de uma
economia de mercado que se movimenta como um ciclo vital das árvores e recifes de
coral. Neste parque industrial as empresas estão coligadas e dependentes umas das
outras para a obtenção de recursos (resíduos industriais) e energia (calor e vapor).
 Um exemplo mais recente e complexo é o tecido colorido Morphotex, fabricado com
Nylon e Poliéster, pela empresa japonesa Teijin. Seu design baseou-se na borboleta
Morfo Azul, que possui asas com coloração azulada intensa e metálica, mas que não
possui pigmentos desse matiz. O efeito de cor é obtido através das microestruturas da
sua asa em forma de canaletas. Estas possuem vãos da mesma dimensão do
comprimento de onda da cor azul. Desta maneira, quando a luz do sol bate em sua
superfície, apenas o tom azul é refletido, enquanto os demais comprimentos de onda
(cores) são absorvidos. Além disso, sucessivas ondas da cor azul, incidindo sobre
essas canaletas, fazem com que haja uma interferência construtiva, gerando um
aumento na amplitude da onda e conseqüente intensificação do brilho e da cor. As
tramas do Morfotex simulam essas microestruturas, dando origem a um tecido colorido
sem a necessidade de tingimento e cuja coloração nunca se desbota ou altera (figura
4).

Figura 4: Morphotex (disponível em: http://biodsign.wordpress.com/2009/02/04/morphotex-and-the-butterfly/)

Segundo Reed (2004), a biomimética continuará a influenciar a vida humana, uma vez que, por
mais desenvolvimento tecnológico que possa existir, ainda não se conhece profundamente a
totalidade dos princípios da natureza. Para o autor, por exemplo, estima-se que na natureza
existem vários milhões de espécies das quais menos de dois milhões estão catalogadas até
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agora. Isto representa uma gigantesca base de dados de soluções inspiradas em sistemas
biológicos para a resolução de problemas das várias áreas do conhecimento.
No contexto destas possibilidades, Sarikaya (1994) afirma que a humanidade está no limiar de
uma revolução de materiais equivalente à que houve na Idade do Ferro e na Revolução
Industrial. O autor propõe uma nova era de materiais e que, dentro de um século, a
biomimética modificará significativamente o modo de vida do planeta ao trazer inúmeros
benefícios à sociedade.

4 Considerações finais

Com base nos assuntos abordados, percebe-se que as ciências que pesquisam a relação entre
forma, função e material na natureza, buscando a compreensão dos princípios naturais para
futuras aplicações em sistemas tecnológicos inovadores, podem trazer inúmeros benefícios
para a humanidade.
Neste sentido, a biônica pode dar uma importante contribuição na procura de princípios de
solução, indicando os sistemas naturais que são portadores das funções procuradas. Neste
caso, aproveitar-se de tecnologias como essa, aprimoradas pela natureza, parece óbvio. Mas
só há pouco tempo as empresas perceberam o potencial desse conhecimento. Não se trata
somente de lançar mão de processos naturais para resolver problemas, como usar
microorganismos para limpar esgotos, a exemplo do que ocorre na natureza. Esse
conhecimento vai um passo além: analisa profundamente a biologia dos organismos, como são
formados, como se desenvolveram, como estão estruturados e como eles próprios lidam com
obstáculos para sobreviver.
Além de fornecer essas respostas tecnológicas, a biomimética também pode ajudar a combater
a amenizar os impactos ambientais. Os projetos aperfeiçoados pela natureza durante milhões
de anos tendem a ser altamente sofisticados e eficientes. Nesse sentido, poderiam fornecer
substitutos melhores do que os criados durante a primeira era industrial, que trocou o
conhecimento observado na natureza pela química e física, que obedeciam aos desejos
humanos. Seria, enfim, um retorno à mecânica simples e elegante desenvolvida pela natureza.
Portanto, o que a biomimética propõe é o redesenho da relação do homem-inventor com a
natureza, abandonando a mera exploração de recursos naturais para buscar a inspiração para
uma vida mais sustentável.
Diante destes dois casos infere-se que, para, de fato, viabilizar o uso da biônica assim como o
da biomimética, de forma regular e com sucesso, é necessário que haja, por um lado, a
pesquisa básica, realizada por estudiosos dos sistemas naturais e, por outro lado, a pesquisa
aplicada, em que designers desenvolvem em seus produtos mecanismos, formas e
características análogas à natureza, utilizando informações levantadas pela pesquisa básica.
Em suma, consciência ecológica e inovação tecnológica estão intimamente relacionadas. A
exigência ambiental estimula a criatividade e pode estar na origem de maiores evoluções:
novas funcionalidades, novos materiais, novos processos, novos usos. Não existe discussão
sobre ecologia sem discutir simultaneamente o design, pois cada homem é o criador de seu
próprio ambiente, adaptando-se às evoluções sociais e econômicas, na busca da melhoria da
qualidade de vida.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Contextualização do consumo e o surgimento de novas
embalagens (Consumption contextualization and the
appearance of new packings)

BOTELHO, Aline Botelho; Mestranda em Design; Pontifícia Universidade Católica do Rio


de Janeiro
alinerbotelho@gmail.com

palavras chave: consumo, mercado, sustentabilidade

Este artigo utiliza da análise de revisão bibliográfica para fazer uma breve contextualização histórica do
consumo. Por conseguinte, objetiva-se introduzir ao leitor o início do consumo no Brasil até os dias atuais,
chegando ao chamado ‘consumo verde’ e novas propostas de tornar este ato mais sustentável.

Keywords: consumption, market, sustainability

This article uses the analysis of the literature review to make a historical brief of the consumption.
Therefore, its objective is to introduce the reader to the beginning of consumption in Brazil until these days,
reaching the so-called “green consumption” and new proposals to make this act more sustainable.

1 Introdução

Ao longo da história humana, as formas mais desejadas de consumo eram através de bens.
Tecidos, alimentos e outros materiais básicos geralmente eram produzidos pelos próprios
usuários e seus subordinados.
Os bens, que geralmente eram adquiridos por uma família, passavam de geração em
geração, como sinal de status. Este tipo de aquisição era caracterizado, conforme descreve
McCracken (2003:32), pelo chamado ‘culto do status familiar’. Este modelo, presente
principalmente na Inglaterra durante a dinastia Tudor, mostrava a relação entre a geração atual
com a passada e a futura.
Para demonstrar este status, a família era obrigada a possuir objetos, sejam eles ‘mobília,
prataria, cutelaria, construções, retratos, jóias, roupas’ (MCCRACKEN, 2003:54) dentre muitos
outros, que tivessem características de pátina, ou seja, aspectos de usados e de envelhecidos.
A pátina não reivindicava título de nobreza, ela existia para confirmá-la, para agregar valores à
família. Mostrava perante a sociedade que aqueles que a possuíam, existiam durante gerações
obtendo objetos de grande status e valor.
Durante o reinado de Elizabeth I, ainda na dinastia Tudor, o consumo se fez como forma de
demonstrar a grandiosidade do poder da rainha. Sendo assim, ela embutiu nas pessoas uma
necessidade de consumir. Desta forma, empobrecia seus nobres, enfraquecendo-os e os
impedindo que a destituíssem do poder. Além disso, trouxe os nobres para a Corte, fazendo
com que eles, não só competissem suas riquezas e feitos com ela, como consumissem cada
vez mais, a fim de demonstrar e se comparar aos outros nobres. Desta forma, iniciou-se um
boom do chamado ‘consumo competitivo’ (MCCRACKEN, 2003:35), onde os nobres da
Inglaterra ‘começaram a gastar com um novo entusiasmo e em uma nova escala’.
Esta nova maneira de consumo mudou a relação entre a família, e também a forma de
hospitalidade. Ambos ficaram completamente comprometidos pelos gastos exacerbados,
trazendo mudanças na forma de consumo.
A partir do século XVIII, diferentemente do período elizabetano, quando somente os nobres
podiam comprar, o consumo se estendeu às demais classes sociais, aumentando o número de
pessoas aptas a participarem desta revolução. Desta forma, de acordo com McCracken
(2003:42), tem-se início o chamado ‘consumo de massa’.
Apesar de todas as classes poderem consumir, suas aquisições não eram as mesmas. Os
de classes mais baixas buscavam atingir o padrão social no qual o nobre se encontrava
naquele momento, compravam os mesmos tecidos, e mobílias semelhantes, porém sem pátina
e de qualidade inferior. Almejavam, de alguma forma, os mesmos bens que traziam felicidade à
nobreza. O nobre, por sua vez, consumia em quantidades cada vez maiores, com outras
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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finalidades sociais, novos gostos e buscavam, ainda, produtos que ‘cheiravam além-mar’
88
(ANON, 1579) .
O século XVIII permitiu aos consumidores uma infinidade de produtos anteriormente
restritos, como cerâmicas, pratas, tecidos, móveis dentre outros. Desta forma, o mercado
sempre tinha a sua disposição, e cada vez crescente, o número de consumidores ativos.
89
Segundo McKendrick (1982) , ‘o século XVIII viu o ‘nascimento’ da sociedade de consumo e
os primórdios de nossa própria cultura de consumo moderna’.
Toda essa transformação de sociedade em consumidores tornou-se possível a partir,
principalmente, da Revolução Industrial que, substituindo homens por máquinas, permitiu ‘mais
tempo livre e, consequentemente, maior acesso ao lazer, ou seja, um novo padrão de bem-
estar estava se estabelecendo na sociedade’ (SILVA, 2009:22).
A partir daí, foram estipuladas as necessidades e desejos de consumo, que ‘vão de fome e
sede até amor, status ou ainda realização espiritual’ (SOLOMON, 2002:24). Desta forma,
Barbosa e Campbell (2006:37) classificam o consumo em dois tipos, as chamadas
necessidades básicas, ‘cujo consumo não nos suscita culpa, pois podem ser justificadas
moralmente’ e o chamado consumo supérfluo, relacionado ao desejo. Este consumo requer
uma necessidade de explicação, algo que justifique nossa ação.
A partir desta ênfase no surgimento e permanência do consumo, trataremos a seguir, da
análise da revisão bibliográfica sobre o início do consumo no Brasil, principalmente baseado no
consumo necessário a subsistência humana.

2 O consumo brasileiro anterior ao supermercado

Paralelamente à colonização do Brasil, existia o consumo de bens para abastecer a colônia. O


mercado era monopolizado pela Coroa Portuguesa, não existia aqui fábrica, nem tampouco
qualquer tipo de produção. Tudo o que se vendia vinha diretamente de Portugal, através de
navios que abasteciam, necessariamente, todo o território colonizado.
A maioria dos produtos atendia a encomendas de pequenos comerciantes ou eram
vendidos no próprio porto. Todos os recipientes destinados a embalar as mercadorias eram de
excelente qualidade e, algumas vezes, finamente decorados. Todo invólucro era reaproveitado
nas casas das pessoas, devido à tamanha escassez de produtos diversos.
Até o tecido dos sacos nos quais chegava o trigo transformava-se em vestuário, e as latas de biscoitos
vazias enchiam-se de alimentos variados, guarnecendo despensas. (CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:15)

Com a vinda da família Real, em 1808, a situação mudou. Primeiramente, ocorreu a


abertura dos portos a outras nações, o que permitiu a entrada, principalmente de ingleses, para
dominar o mercado do Brasil. Além disso, o país tinha que ter uma estrutura para atender, de
prontidão, a qualquer necessidade vinda da Coroa.
Iniciou-se, assim, a produção de embalagens para atender as exportações de produtos
oriundos da agricultura. Produziam-se então, conforme exemplifica Cavalcanti e Chagas
(2006:19), ‘os caixotes para o transporte de açúcar’, ‘os surrões de couro e as barricas de
madeira para o mate’ e, posteriormente, ‘os sacos de juta para o café’.
Neste período, existiam os armazéns ou ‘empórios’, que podemos considerar como
antecessores dos supermercados. Neles, era possível encontrar absolutamente todos os
produtos que fossem necessários, sendo que estes, encontravam-se em quantidade, como
algumas ‘mercadorias penduradas no teto’ ou em grandes saco de juta ou caixas, como o caso
do arroz, feijão, trigo ou café que, posteriormente, eram vendidos à granel, ou seja, o atendente
pesava a quantidade desejada pelo cliente e lhe entregava a mercadoria, geralmente em
pacotes feitos de papel ou jornal. Neste período, ‘as compras eram marcadas em caderninho,
90
para pagamento no fim do mês’ (BARBOSA) .
Nos antigos armazéns, os fabricantes e suas marcas não eram tão importantes quanto o
nome dos produtos. Não existia praticamente concorrência, cada um produzia um tipo de

88
ANON (1579:39) apud MCCRACKEN (2003:34)
89
MCKENDRICK (1982:3) apud MCCRACKEN (2003:36)
90
BARBOSA apud CAVALCANTI, CHAGAS (2006:124)
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
mercadoria e atendia a determinada região, não cabendo ao consumidor, a variedade de
escolha, como exemplifica Forty (2007:107) no caso dos sabões, que o consumidor comprava
pelo tipo, ‘mosqueado, coalhado, primavera ou Windsor’, reconhecidos pelo cheiro. No Brasil,
produzia-se apenas o sabão para lavar roupa, sabonetes e perfumes eram importados,
principalmente da França. Os sabões vendidos nas mercearias eram artesanais, feito em
blocos e ‘cabia aos vendeiros a tarefa de repartir o sabão à faca, vendendo os pedaços por
peso’ (CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:61)
Normalmente, os clientes não tinham muito contato com as mercadorias, sendo comum o
mesmo chegar com uma lista feita de papel e aguardar enquanto o atendente separava todos
os itens.
Durante o século XIX, a nível mundial, não houve muita diferenciação na forma de consumo
que se estipulou no final do século XVIII, porém, ocorreu a consolidação da indústria. O Brasil
pode acompanhar este período produzindo, conforme cita Cavalcanti e Chagas (2006:19),
‘sacaria de algodão para os moinhos de trigo, o metal para a lataria dos frigoríficos, os vidros
para os remédios e perfumes, as garrafarias para a cerveja, o papel para os cigarros e os
embrulhos’ e, produzia também, ‘o papelão para todos os tipos de caixa’.
No final do século XIX e início do século XX, pode-se dizer que houve uma revolução na
forma de consumo, vinda principalmente da França, considerada executora do ‘plano piloto do
91
consumo de massa’ (WILLIAMS, 1982:11) . Leva-se em conta que, os franceses, iniciantes no
comércio varejista e na publicidade, tenham sido os precursores no desenvolvimento das
grandes lojas de departamento. Estas lojas, que entraram efetivamente em vigor no século XX,
influíram principalmente na forma de compra, fazendo com que o consumidor tivesse uma nova
vivência e acesso mais direto às informações dos produtos.

3 O consumo brasileiro após o surgimento do supermercado

O final do século XIX foi marcado na Europa, principalmente, pelo surgimento das lojas de
departamentos, na década de 1860. Estas lojas aguçaram principalmente o desejo das
mulheres, cuja participação em qualquer atividade, como trabalho ou estudo, não eram bem
quistas. Além disso, as lojas de departamento propiciavam segurança aos clientes,
contribuindo com que as mulheres gastassem seu tempo passeando pelas lojas, coisa que não
fariam nas ruas. Sendo assim, para elas, as lojas tornaram-se ‘um mundo encantado dos
sonhos, com infinitas possibilidades de interação social e de expressão pessoal’ (DENIS,
2000:79).
O modelo de supermercado tal qual conhecemos hoje surgiu nos Estados Unidos nos anos
de 1930, numa tentativa de botar em prática o auto-serviço. Após a crise de 1929, o país teve
que arrumar meios de economizar, sendo assim, propôs de início, a eliminação dos
atendentes, como forma de redução de custos. Posteriormente, pensou-se em novas formas de
praticidade para atender aos clientes sem intervenção de funcionários.
Nos anos 50, no Brasil, inúmeras transformações ocorreram posterior à presidência de
Getúlio Vargas. Presenciamos durante o governo de Juscelino Kubitschek mudanças como o
surgimento de hidrelétricas, o término da construção da Companhia Siderúrgica Nacional, o
início da indústria automobilística no Brasil, a mudança da capital do país, dentre muitos outros
acontecimentos. Mudava também a forma de comércio, antes ‘dominado por bazares,
armarinhos, quitandas e empórios, tornando-se o comércio dos supermercados’
(CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:127).
Um dos primeiros supermercados nacionais, criado em 1952, na cidade de São Paulo,
chamava-se ‘Sirva-se’, que ‘se apresentou como o estilo que mais se aproxima dos
supermercados atuais’ (CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:133). Assim como ele, surgiram em
outros Estados, novas redes: no Rio de Janeiro o primeiro supermercado chamava-se ‘Disco’,
criado em 1956, em Copacabana. ‘Na Bahia, em 1959, Mamede Paes Mendonça iniciava sua
rede’. A rede Pão de Açúcar surgiu somente no final da década de 1960, porém, ‘esse tipo de
estabelecimento ainda era uma realidade com gosto de novidade’.

91
WILLIAMS (1982:11) apud MCCRACKEN (2003:26)
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
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Se por um lado, o supermercado era, a princípio, uma completa novidade para os
consumidores, que se viram sozinhos para escolherem seus produtos e analisarem preços sem
ajuda de balconista ou inclusive do próprio dono do estabelecimento, para o comerciante a
situação também não foi a das mais fáceis. Não existia, a princípio, nenhum tipo de embalagem
que atendesse as necessidades do supermercado. Os mesmos tinham que ter funcionários a
disposição para fazer todo o processo de embalar as mercadorias, como o caso das carnes,
sabões e até ovos. Estes últimos chegavam em ‘caixa de madeira com fios finos de arame’,
aos trabalhadores dos supermercados ficavam incumbidos de colocá-los em ‘uma bandeja de
cartolina ou de fibra, um berço com buracos para doze ovos e colocava o celofane por cima’
(CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:139).
No mercado, como a variedade de produtos era escassa, as multinacionais viram no país
uma oportunidade de ampliar seu mercado. Além disso, os fabricantes tiveram que expor seus
produtos junto com outros. Existiam agora as gôndolas dos sabões, dos detergentes, dos
grãos, fazendo com que o consumidor tivesse um maior contato com todos os concorrentes e,
nessa infinidade de produtos a sua disposição, escolher um.
Uma das formas de atrair o consumidor foi ocupar um maior espaço nas gôndolas com uma
mesma marca, foi a partir daí que os produtos passaram a adquirir novas versões. Neste
momento, as embalagens passaram a ter outra funcionalidade além de simplesmente proteger
o produto. Elas se comunicavam com o cliente, tinham que chamar a atenção para se
venderem sozinhas e, muitas vezes continham explicações da sua funcionalidade, modo de
utilização, dentre outras coisas. Além disso, essa variedade em um mesmo produto permitia
que o consumidor comprasse diferentes versões, de uma mesma marca, aumentando o
número de vendas.
Esse aumento de concorrência, de supermercados, e de surgimento de novos produtos, fez
com que os fabricantes se preocupassem mais com a elaboração de suas embalagens, ‘o que
era simples envoltório anônimo se transformou em uma das mais poderosas armas de
propaganda e marketing’ (CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:15). Sendo assim, paralelo ao
surgimento dos supermercados, cresceram também, os escritórios de marketing e design,
impulsionados, principalmente, pelo crescimento de variedades propostas pelo mercado.
Surgiu um sem-número de concorrentes, produtos em vastas quantidades e qualidades
semelhantes, fazendo com que apenas a embalagem seja um diferencial para atrair o
consumidor.
Em uma tentativa de diferenciação e conseqüentemente, a busca pelo aumento do número
de vendas, o mercado, aproveitando-se do cenário de crise ambiental, embutiu em seus
produtos, questões ecológicas. Isso porque, a sociedade é movida por causa das mudanças de
consumo e, com tanto produto a sua disposição e tendo consciência de que suas vontades
serão atendidas pelo sistema vigente, o consumidor ‘aprendeu a exigir, faz questão de
informações e de sofisticações que nem se cogitavam um quarto de século atrás’
(CAVALCANTI, CHAGAS, 2006:176).
Assim, temos hoje, não só uma vasta quantidade de produtos nas gôndolas a disposição
dos consumidores, como também diferenciações, novas alternativas de produtos alimentícios,
de limpeza, e vários outros que buscam atrair os consumidores com produtos igualmente
semelhantes, mas sem a carga de impacto dos tantos outros. Este consumo de materiais
básicos não tem capacidade de ser diminuído pela sociedade, mas presenciamos atualmente a
valorização por parte dos consumidores de alternativas que agridam menos e que possam ser
recicláveis, numa tentativa de tornar o consumo mais consciente.

3 Novas propostas de consumo

Os resíduos sólidos, principalmente os invólucros em geral que tem um ciclo de vida bastante
curto, são um dos principais responsáveis pelo rápido desenvolvimento dos problemas
ambientais. Conforme comenta Löbach (2001:41), ‘todos os produtos industriais são bens de
consumo, que em um momento determinado se tornam propriedade do usuário, são utilizados
e mais tarde são descartados, saindo do ciclo de consumo’.
Diante disto, novas propostas projetuais estão sendo desenvolvidas, a fim de prolongar o
ciclo de vida e reaproveitar materiais. Estas novas atitudes têm como intuito evitar e retardar o
descarte de produtos.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Dentre uma das principais alternativas adotadas, temos a reciclagem. Esta, apesar de não ser
obrigatória por lei no Brasil, tem uma grande representatividade, buscando reaproveitar
materiais, dando novas finalidades ou até mesmo, voltando-o para o ciclo da cadeia produtiva.
De acordo com Cavalcanti e Chagas (2006:216), ‘95,7% das latas de alumínio para bebidas
são recicladas no país’, além disso, ‘cerca de 1,3 milhão de toneladas/ano de papelão
ondulado são reciclados, o que corresponde a 79% da produção desse setor’. Esta reciclagem
proveniente do papelão ondulado constitui uma ‘cadeia fechada’, ou seja, ‘a embalagem usada
é reciclada e a celulose é novamente utilizada na fabricação de novas embalagens’.
Além da reciclagem e reaproveitamento de materiais, outras formas estão atraindo os
olhares dos consumidores, como é o caso dos produtos em refil, criado principalmente por
empresas de cosméticos e produtos de limpeza. A utilização do refil permite que o usuário
compre, na primeira vez, uma embalagem mais resistente e elaborada, podendo ser reutilizada
diversas vezes. Nas compras seguintes, o consumidor buscará apenas o refil, feito em
embalagem menor, com menos materiais e mais econômica financeiramente. Deste modo, o
usuário obterá a partir da segunda compra um material que causará menos dano, tanto na
produção quanto no descarte. Além do refil, a venda de produtos concentrados, feitos para
serem diluídos pelo consumidor, também atua como um redutor de embalagens, visto que, com
um menor volume, consegue-se vender o mesmo produto, com a mesma quantidade final.
Outra alternativa proposta é o Sistema Produtos e Serviços, que busca oferecer aos
consumidores novas formas de consumo. Com isto, a sociedade não mais compra um objeto e
depois se preocupará em dar um fim adequado ao mesmo. Compra-se um serviço e fica a
cargo da empresa a manutenção e o devido fim dos materiais utilizados. Como por exemplo,
empresas que começaram a não mais vender filtros, e sim, a vender água filtrada. O
consumidor ‘aluga’ o produto por tempo indeterminado, ficando a cargo da empresa, a
manutenção no aparelho e o descarte ou reaproveitamento do mesmo no devido tempo.
O design de sistemas e a questão da qualidade vêm sendo percebidos crescentemente
como um meio fundamental para projetar o uso mais eficiente de recursos através do
planejamento do consumo e da eliminação do desperdício.
As novas alternativas que estão sendo, aos poucos, inseridas no mercado, devem levar em
consideração algumas atitudes, tais como ‘minimização dos recursos’, ‘selecionar os materiais,
os processos e as fontes energéticas de maior ecocompatibilidade’, ‘projetar artefatos que
perdurem’, propor a ‘extensão da vida dos materiais’ e pensar também, na hora do projeto, na
‘facilidade de separação das partes e dos materiais’ (MANZINI, VEZZOLI, 2005:105-6). Todas
essas considerações satisfazem os requisitos ambientais e permite que, apesar da produção,
se mantenha o bom funcionamento do meio ambiente.

4 Considerações finais

O consumidor atual, assim como todos os outros ao longo dos séculos, vive de forma
paradoxal, ‘encoraja e resiste às mudanças’ (MCCRACKEN, 2003:172). Desta forma
McCracken (2003:172) chega a compará-lo com a face de Janus, Deus da mitologia romana,
dotado de enorme prudência, de modo ‘que o futuro e o passado estavam sempre diante dos
92
olhos’ .
As informações sobre a insustentabilidade no planeta é noticiada diariamente nas mídias, o
que torna os consumidores cada vez mais conscientes, preocupados e exigentes por
mudanças. Sendo assim, vemos no consumidor atual que, mesmo dotado do desejo de
consumir, possui também um tipo de conscientização, ‘o consumo consciente e todas as
atividades ‘verdes’ nunca foram tão valorizados’ (MACHADO, 2008:33).
Aliado a preocupação por parte dos consumidores, muito dos fabricantes começam a
repensar seus produtos, mudando a postura do mercado para novas alternativas, onde é
possível consumir e manter o meio ambiente.
Diante das novas alternativas e preocupações constantes com o futuro do planeta, algumas
empresas utilizam-se do slogan de ‘marketing verde’ apenas para vender mais produtos, não

92
http://mithos.cys.com.br
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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
se responsabilizando e agindo conscientemente para melhoria ambiental. Percebe-se que
assuntos relacionados à sustentabilidade e conservação do planeta geram grandes
investimentos e obtém boa aceitação social. Cabe ao consumidor, além de modificar suas
atitudes na maneira de consumir, buscar frente aos fabricantes, um posicionamento que seja
verdadeiramente sustentável e engajado com a melhoria ambiental.

Bibliografia

• BARBOSA, L.; CAMPBELL, C., Cultura, consumo e identidade (Rio de Janeiro: Editora FGV,
2006)
• CAVALCANTI, P.; CHAGAS, C., História da embalagem no Brasil (São Paulo: Grifo Projetos
Históricos e Editoriais, 2006)
• DENIS, R. C., Uma introdução à história do design (São Paulo: Edgard Blücher, 2000)
• FORTY, A., Objetos de desejo: design e sociedade desde 1750 (São Paulo: Cosac & Naify,
2007)
• LÖBACH, B., Design Industrial: bases para a configuração dos produtos (São Paulo: Edgard
Blücher, 2001)
• MACHADO, A. S., A questão das embalagens e sua relação com a sustentabilidade. 2008.
Dissertação (Mestrado em Design) - Puc-Rio.
• MANZINI, E., O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos
produtos industriais (São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005)
• McCracken, G., Cultura & Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e das
atividades de consumo (Rio de Janeiro: Mauad, 2003)
• SILVA, J. S. G.; SANTOS, A., O Conceito de Sistemas Produto-Serviço: um estudo
introdutório. In: III Encontro de Sustentabilidade em Projeto do Vale do Itajaí. Balneário
Camburiú, 2009.
• SOLOMON, M. R., O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo (Porto
Alegre: Bookman, 2002)

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A contribuição do pensamento sistêmico no design
sustentável. (The Contribution of the systemic thought in
the Sustainable Design.)

Ms. Ronise de Paula 93

Ms Frederico Breslau 94

Prof. Dr. Dorival Rossi 95

Prof. Dr. Francisco de Alencar 96

Prof. Dr. Olimpio José Pinheiro 97

Palavras chave: Design Sustentável; Pensamento Sistêmico; Educação Ambiental

A escolha e delimitações deste artigo vêm ao encontro da grande preocupação mundial em desenvolver
para a sustentabilidade tanto social, como dos recursos naturais, ambientais e econômicos. É preciso
abandonar o ato de projetar com a materialidade objetiva e não sustentável, para projetar com um novo
design que surge: o de articular um projeto humano, no sentido de produção de bens materiais e
imateriais e na construção de novos valores. Esta ideia pode implicar em um novo desenho para o mundo
e os seres humanos. Partindo deste propósito, são apresentados de forma ampla: as definições que
compõem o saber científico, trazendo uma abordagem filosófica do pensamento sistêmico, explicando o
conceito de teia (redes), onde o todo é analisado em toda a sua complexidade, bem como, as relações
(conexões) de interdependência com suas interfaces. Tais conceitos visam à autoconsciência a respeito
da vida humana e terrestre, e que podem vir a ser, o cerne do panorama contemporâneo e sistêmico,
presentes no design. O objetivo deste artigo é compreender este panorama, auxiliando na construção de
uma nova percepção da vida, a fim de resultar na contribuição do design de objetos, serviços e
comunicações.

Keywords: first; second; third.

The choice and delimitations of this article come to the meeting of the great worldwide concern in
developing for in such a way social support, as of the natural resources, ambient and economic. It is
necessary to abandon the act to project with the objective materiality and not sustainable, to project with
new design that it appears: to articulate a human project, in the direction of production of corporeal
properties and incorporeal and in the construction of new values. This idea can imply in a new drawing for
the world and the human beings. Leaving of this intention, they´re presented of ample form: the definitions
that compose scientific knowing, bringing a philosophical boarding of the systemic thought, explaining the
nets concept, where all it´s analyzed in all its complexity, as well as, the relations (connections) of
interdependence with its interfaces. Such concepts aim at to the self-conscience regarding the life
terrestrial human being and, and that they can come to be, the central point of the panorama
contemporary and systemic, gifts in design. The objective of this article is to understand this panorama,
constructing a new perception of the life, in order to result in the contribution of design of objects, services
and communications.

93
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Brasil; ronisedepaula@hotmail.com.br
94
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Brasil; breslau@yahoo.com.br
95
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Brasil; bauruhaus@yahoo.com.br
96
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Brasil; chicodealencar@uol.com.br
97
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Brasil; olympiop@faac.unesp.br

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Introdução
Design, para muitos autores, foi definido como método no qual o processo criativo busca
soluções de problemas concretizados pelo projeto industrial: “processo de adaptação dos
produtos de uso, fabricados industrialmente, às vezes, necessidades físicas e psíquicas dos
usuários ou grupos de usuários” (LOBACH, 1976, p.21), dividindo-os em blocos a serem
resolvidos e resultando em um produto final.
O primeiro entendimento por método (do termo grego méthodos), no pensamento
cartesiano, significa ordenar o pensamento em busca de uma verdade absoluta, conjunto de
regras ou caminhos para se chegar a um fim, ou seja, um conjunto de ideias e experiências a
fim de produzir um novo conhecimento. Em suma, consiste em juntar evidências observáveis,
empíricas e mensuráveis e as analisar com o uso da lógica (do grego clássico logos).
MORIN (2003, p. 19) afirma que, originalmente, método significa caminhada e o que
ensina a aprender, é o método. Para ele, precisamos aprender a caminhar por caminhos sem
caminho.
Metodologia, literalmente se refere ao estudo dos métodos, especialmente da ciência,
que é, supostamente, a disciplina universal. A metodologia científica foi caracterizada a partir
do pensamento de Descartes e posteriormente com Isaac Newton, cuja proposta era a de se
chegar à verdade através da dúvida e da decomposição dos problemas em blocos. Reduzindo,
assim, a metodologia científica em receitas técnicas, o que simplifica todas as áreas em
problemas e soluções comuns. Neste viés, pode-se expor que Design é metodologia.
O desafio da ciência para com áreas correlatas pode ser o de lançar os dados e montar
um novo jogo, onde as regras de como ordenar esses dados, inaugura uma postura projetual,
fundamentada no design. Nesta hipótese, ao fazermos ciência do Design exercitamos
inevitavelmente essa práxis.
Para entender de metodologia de Design pode ser preciso, antes, compreender os
conceitos e teorias que dão um norte às investigações científicas e especialmente o contexto
das investigações que configuram o pensamento sistêmico. Ao levantar esses aspectos
evolutivos da metodologia do Design, tornou-se inevitável apontar alguns aspectos da evolução
humana, reorganizando uma nova estrutura do saber. Onde pode ser preciso não somente
rearticular o indivíduo e a sociedade, mas também tratar da complexidade da vida, efetuando a
articulação entre a esfera biológica e a esfera antropossocial, rearticulando o método do
Design.
Segundo Morin (2003, p. 20) é necessário levantar um questionamento quanto à
dimensão e consequentemente a responsabilidade do conhecimento científico e suas
disciplinas, ao se considerar o indivíduo não se pode excluir a sociedade, a espécie, a physis, a
vida e consequentemente os progressos locais sem acompanhar os objetivos globais.
“Mais do que nunca a natureza não pode ser separada da cultura e precisamos aprender a pensar
“transversalmente” as interações entre ecossistemas, mecanosfera e Universos, de referências sociais
e individuais” (GUATARRI, 1990, p. 25).
O objetivo deste artigo é compreender este panorama cientifico, auxiliando na
construção de uma nova percepção da vida, a fim de resultar na contribuição do design de
objetos, serviços e comunicações.

Da Materialidade ao Invisível: o tempo das coisas

2.1. A evolução da Vida


É importante salientar que as escolhas aqui tratadas se baseiam em conceitos de áreas
diversas como filosofia, física, biologia, matemática, ecologia, entre tantas outras disciplinas.
Definições que de maneira nenhuma se esgotam, pelo caráter de mudança e vastidão das
produções teóricas.
A discussão de conceitos do novo paradigma sistêmico, neste artigo esta
fundamentada por autores como Capra (2005), Maturana (2001), Pierre Lévy (1996), Edgar
Morin (2003), entre outros tantos pensadores que se dedicam a revelar este momento histórico
em processo, na tentativa de explicar o contexto contemporâneo. Para esses autores, é
urgente se pensar em produção em escalas de redes e da ecologia e essa necessidade pode

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se tornar uma questão de tal grandeza que, de agora em diante, poderá liderar logicamente os
conjuntos das ciências.
São propostas que procuram apontar um método que ajude a encontrar o ponto no
qual as áreas se entrecruzam, gerando saberes e interfaces mais inteligentes de conexões,
numa espécie de “ecologia digital” e relações “imateriais”. Conforme aponta Flusser (2007),
sugerindo novo método de produção de objetos e imagens contemporâneos,
“Antigamente, o que estava em causa era a ordenação formal do mundo aparente da matéria, mas
agora o que importa é tornar aparente um mundo altamente codificado em números, um mundo de
formas, que se multiplicam incontrolavelmente. Antes o objetivo era formalizar o mundo existente; hoje
o objetivo é realizar as formas projetadas para criar mundos alternativos. Isso é o que se entende por
“cultura imaterial”, mas deveria na verdade se chamar de cultura materializadora”. (FLUSSER, 2007,
p. 31).
Este pensamento de integração se opõe ao pensamento analítico que explica as
estruturas visíveis e mensuráveis dentro das possibilidades da visão. Sistema na qual formou o
princípio da ciência moderna “clássica”, muito divulgado por René Descartes (Damásio, 1996),
podendo ser considerado o alicerce que vem daquilo que é chamado de real, ou seja, o visível
que fundamentou praticamente todos os esforços da ciência.
A evolução encontrou suporte na física Newtoniana, que defende uma abordagem e
um aparato capaz de dar conta das maiorias de nossas estruturas materiais (substância
“incriada”) e desta forma disseminar e se valer da ciência mecânica, repetitiva e imutável
(energia). O Universo, neste contexto, é autossuficiente, perpetuando a Natureza absoluta.
Se compreendermos a história, Isaac Newton (Gleick, 2004), no século XVII, formulou
leis gerais de física que explicavam até certo ponto assuntos importantes, como a gravidade e
o comportamento dos corpos em movimento, configurando mais um grande impacto favorável
ao modelo de Descartes. Os cálculos pareciam mostrar que a mecânica deste sistema poderia
dar conta de explicar todos os processos físicos. Por seu êxito, o modelo serviu como base de
estudo de todos os campos das ciências, estendendo-se até as disciplinas filosóficas, humanas
e biológicas. A ciência ganhou instrumentos metodológicos precisos e racionais, transformando
o universo científico em analítico.
Dentre as proposições de Descartes, o método analítico de dissecar sistemas e
entender, primeiramente as suas funcionalidades individuais para depois entender a
organização de todo o sistema, foi até certo ponto, extremamente bem sucedido, gerando
avanços em diversos campos, principalmente para as ciências racionais e lógicas, como a
física. Porém, seu método analítico dividiu mente e matéria em blocos independentes, como
uma máquina. Descartes se utilizou de uma metáfora para explicar os sistemas, que, para ele,
se parecem mais com o design de um relógio, baseado em ideias objetivas e racionais, onde
cada parte, individualmente, tem uma existência para alguma função clara. São sistemas
fechados e autônomos, desprovidos, aparentemente, de inter relações com outros sistemas.
Nesta teoria, fica estabelecida uma visão mecanicista destes sistemas, atribuindo a cada coisa
uma única função objetiva e fechada em si mesma, na medida em que as proposições da
ordem dos problemas são resolvidas por partes distintas.
Transpor os sistemas em fechados, sem a troca de calor (energia), cria a frágil
racionalização da ordem, ou seja, o Universo Incriado como sendo perfeito e autossuficiente.
Esse determinismo ignora a dispersão, o desgaste e a degradação tão evidente no mundo
atual. Tal visão elimina o começo, a gênese que traz a perspectiva de mudança e evolução.
Neste contexto, a realidade se transpõe em ordens:
 Ordem Física, na qual todas as coisas obedecem a Lei da Natureza.
 Ordem Biológica, na qual o indivíduo obedece a Lei da Espécie.
 Ordem Social, na qual todo o humano obedece a Lei da Cidade.
Os Sistemas obedecem a uma organização, porém, os problemas do desenvolvimento
social se degelam e se transformam.
Com o advento principalmente da física, os fundamentos básicos de percepção da vida e
matéria se alteram sobremaneira. Descobre-se que a Vida depende da evolução; agora, a
revolução significa ruptura e mudança.
Foram Albert Einstein e Niels Bohr que descortinaram o mito da matéria absoluta, constante
e tangível. Em 1915, Einstein, com seus estudos sobre a Relatividade Geral que unifica o
espaço e tempo; em 1922, Bohr, com a sua Teoria Eletromagnética, juntamente com vários
físicos que levaram ao entendimento e utilização da energia atômica no século XX.
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Com este marco, não se tratará mais do entendimento da matéria como algo provido de
massa sólida, absoluta em si e perceptível aos olhos. A ciência percebeu que a materialidade
não existe em nenhum nível tangível, onde toda massa perceptível aos olhos, em escala
atômica, simplesmente não existe.
Mesmo a primeira noção de átomo, originária na Grécia com Demócrito em 400 a.C e
resgatada por John Dalton no século XIX, compreendia uma partícula de tamanho infinitamente
pequeno que, em dada escala, seria impossível subdividi-lo novamente. Dalton nomeou esta
partícula Átomo, ou seja, “A” prefixo negativo, “Temnein” – do grego ‘cortável’ e divisível. Toda
estrutura do átomo, revelada por Einstein e Bohr, agora é apenas constituída por padrões de
probabilidade de existência: toda a sua estrutura passa a ser constituída, quase que em
totalidade, por espaço vazio. Isto revolucionou toda base, na qual a física se sustentava,
abrindo uma janela para um mundo totalmente novo de possibilidades nas ciências.
Seu efeito sobre a concepção de realidade dos físicos foi verdadeiramente dilacerante. A
nova física exigia profundas mudanças nos conceitos de espaço, tempo, matéria, objeto e
causa e efeito; como esses conceitos são fundamentais para o nosso modo de vivenciar o
mundo, sua transformação causou um grande choque (CAPRA, 1982,)
Os físicos no século XX se questionaram, a partir de então: o que faria com que a matéria
se manifestasse como é percebida, em uma escala da física mecânica, iniciada por Isaac
Newton no século XVII e regida pelas leis da física clássica?
O que surgiu foi uma noção de que as estruturas não estavam presentes no átomo ou
em qualquer unidade precisa em si. O tecido da vida começou a surgir somente a partir da
noção de redes de conexões, partindo da suposição de que são as estruturas de linguagem
que organizam e geram formas. Entendendo-se por rede o estabelecimento de relações entre
os elementos de um dado sistema, estas interações constituem, de maneira autônoma,
padrões de organização que resultam em estruturas, em escalas diferentes da matéria
observada.
Pode-se, assim, dizer que o “modelo” foi forjado, segundo aquelas circunstâncias e
contingências. O modelo salta da era mecânica para a era digital de forma tão abrupta que
coloca em xeque as formas existenciais da própria vida. Todo este panorama do
desenvolvimento científico aponta para uma mudança de modelo metodológico, mostrando a
necessidade de uma mudança na explicação das relações que sustentam os sistemas e não
unicamente em encontrar respostas na matéria.
O pensamento cartesiano apresenta confiança em seus julgamentos: ele exorciza a
dúvida em primeiro plano, estabelece certezas prévias e faz surgir um método, preparado para
todos os males, que surge como remédio e soluções de cura nas mãos. É inevitável o pré-
julgamento das condições linguísticas, culturais e lógicas do pensamento; ignorar o que já é
sabido é impossível, porém, a dúvida agora duvida de tudo, incluindo da própria dúvida.
Segundo Morin (2002) as incertezas sobre a dúvida trazem uma nova dimensão: a
reflexão. Interrogamos quais as condições de emergência e de existência do próprio
pensamento relativista e relacionista. Não dá para aceitar uma simplificação que mutila.
Dispomos do antimétodo, pelo qual ignorância, confusão e incerteza, tornam-se virtudes.
Trata-se de uma nova consciência da certeza: a consciência da confusão. Tomamos
consciência não da ignorância humana em geral, mas da ignorância escondida, quase que no
coração do nosso saber, reputado como o mais certo, o saber científico.
Pode-se dizer que a humanidade parece transitar por este cenário composto de
territórios um pouco ainda íngremes e que, aos poucos, vai se desvelando um novo
entendimento e percepção do mundo.

2.2. Mudança de Paradigma


O termo mudança de Paradigma, (do grego, PARÁDEIGMA), foi esquematizado por Thomas
Kuhn, em 1962, com realizações científicas reconhecidas universalmente, servindo de base
fundamental ou modelar para uma comunidade científica. Seu significado indica um padrão na
concepção de crenças, valores, procedimentos e técnicas compartilhadas por determinada
comunidade, ou seja, significa um esquema de modelos e padrões para descrição,
compreensão e explicação da realidade.

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CREMA (1989, p. 16) analisa o esquema do desenvolvimento científico de Kuhn: “É muito
mais que uma teoria, pois implica uma estrutura que gera teorias, produzindo pensamentos e
explicações e representando um sistema de aprender a aprender que determina todo o
processo futuro de aprendizagem”.
Essa “mudança de paradigma” acaba por transferir o modelo da física e da mecânica para
modelos mais sensíveis e dotados de ação e reação, ou seja, interatividades; já que suas
partes estão mais conectadas à ideia de “todo”, criando as teias de relações que abandonam
naturalmente os sistemas “fechados” e migram para sistemas “abertos”, de trocas e interações
múltiplas e diversas.
O organismo não é um sistema estático fechado ao mundo exterior e contendo sempre os
mesmos componentes idênticos; é um sistema aberto num estado (quase) estacionário. [...]onde
materiais ingressam continuamente vindos do meio ambiente exterior, e neste, são deixados materiais
provenientes do organismo. (MATURANA e VARELA, 1987, p. 89)
Segundo CAPRA (1997, p 54) entende-se por sistema fechado uma organização sem trocas
com o ambiente, que por definição é entrópica, ou seja, a desordem é mantida dentro do
sistema, sem troca de energia com o exterior. Nesta configuração, sistemas fechados não
podem sustentar a vida. Já os sistemas abertos e, consequentemente, a vida natural, são
entendidos por sistemas integrados ao seu meio ambiente, ao ponto que consomem e trocam
energia para permanecerem vivos.
Nesta abordagem sistêmica, a tentativa é ler as relações e redes de maneira
transdisciplinar, abarcando perspectivas e definições que, aos poucos, fundem e diluem as
fronteiras entre campos de estudos antes muito bem definidos. Buscam-se os processos, não a
matéria, em uma estrutura sem escalas ou formatos lineares. Este pensamento se organiza em
mapas de redes e conexões.

2.3. Ecologia Profunda, Redes e Conexões


A visão de mundo holística (Do termo grego “Holos”, que designa o Todo ou Totalidade),
também denominada como visão sistêmica, é produto do saber e “experiênciar” o mundo, na
qual o “Todo” está integrado. Ou seja, é a compreensão em todos os níveis dos sistemas vivos
– organismos, sistemas sociais e ecossistemas, representando o encontro da ciência e
consciência, ou seja, mente e matéria.
CAPRA (1997 p. 25) prefere o termo visão ecológica, que acrescenta ao conceito a
percepção de que o objeto está encaixado no ambiente social e natural. Neste conceito, a vida
passa a ter uma visão ampla da sua concepção e todas as relações podem gerar uma
organização com estrutura integrada e indissociável, propondo um modo de pensar global.
O termo “ecologia profunda” provém da escola filosófica fundada por Arne Naes, no
início da década de 1970, e distingue a “ecologia rasa” da “ecologia profunda”. Defende que a
ecologia rasa é antropocêntrica, vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todos
os valores, assumindo um valor de uso ou instrumental à natureza. Dentro da organização
complexa da perspectiva sistêmica ecológica divulgada por CAPRA (1997), a “Ecologia
Profunda” não separa os seres humanos ou qualquer outra coisa viva do meio natural. Ela
valoriza a “Vida” e vê o mundo como uma rede de fenômenos que estão interconectados e são
interdependentes. Ainda segundo o autor pode-se afirmar que é a percepção espiritual ou
religiosa, e traz novos questionamentos acerca da visão do mundo e do modo de vida
moderno, científico e industrial, orientados para o consumo material.
“Quando a concepção do espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o
indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade com os cosmos como um todo, torna-se
claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência, é mais profunda” (CAPRA 1997, p. 26)
Segundo Capra (1997) há mais duas escolas filosóficas de ecologia: a Ecologia Social
e a Ecologia Feminista, também conhecido como “Ecofeminismo”. As três escolas ecológicas
abordam aspectos importantes do paradigma sistêmico, porém com focos distintos.
Enquanto a Ecologia Profunda tem o foco na base filosófica e espiritual, capaz de
fornecer um estilo de vida que valoriza o meio natural e ecológico, a Ecologia Social envolve as
características e os padrões culturais de organização social, que produziram a atual crise
ecológica. Já o “Ecofeminismo” pode ser encarado como uma bifurcação da ecologia social,
porém, aborda a dominação social do patriarcado, defendendo que a exploração e a

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dominação do homem sobre a natureza vêm de mãos dadas com a dominação sofrida pelas
mulheres.
Todos os valores da ecologia profunda estão centrados nos valores “ecocêntricos”, ou
seja, centralizados na Terra. É uma visão que reconhece o valor de todos os tipos de vidas não
humanas, colocando os seres vivos como membros de uma só comunidade, numa rede de
interdependências e conexões.
Nesta hipótese, os novos paradigmas podem vir centrados na reconstrução das
relações humanas, em todos os níveis:
“Ela jamais deverá perder de vista que o poder capitalista se deslocou e se desterritorializou, ao
mesmo tempo em extensão – ampliando seu domínio sobre o conjunto da vida social, econômica e
cultural do planeta; e em intenção – infiltrando-se no seio dos mais inconscientes estratos subjetivos”.
(GUATARRI, 1990, p. 33)
O reconhecimento desses valores, como base e força motriz para a ciência e a tecnologia,
coloca os fatos científicos como parte da vida cotidiana, e do “eu” moral. Neste pensamento, os
fatos científicos seriam captados por todas as percepções, valores e ações humanas, deixando
a responsabilidade das pesquisas, tanto no âmbito da ciência, como no âmbito da moral, aos
pesquisadores.

2.3.1. Princípios do Paradigma Holístico


Nas palavras de CREMA (1989, p.71), o físico Brian Swimme (1987), diretor do Instituto de
Cultura e Espiritualidade criativa, na Califórnia, sintetiza os princípios do novo paradigma
holístico:
 Todos os elementos não possuem real identidade e existência fora do seu entorno
total, eles interagem no universo, se envolvem e se superpõem num dinamismo de
energia.
 Nossos conhecimentos são provenientes de uma participação e de uma interação no
processo através de uma dimensão qualitativa da consciência.
 A análise e a síntese são fundamentais na compreensão do mundo. Para se conhecer
algo, há que se saber sua origem e finalidade.
 O Universo é uma realidade que se auto organiza, é total e inteligente.
Pierre Weil (1987) aponta dois fundamentos complementares para uma abordagem
holística: (1) a “holologia”, compreendida por uma abordagem interdisciplinar do conteúdo,
como enfoque especulativo e experimental para tratar da dimensão do saber; e (2) a
“holopráxis”, representando o caminho vivencial de natureza “transpessoal”.
Segundo CARDOSO (1995, p. 63), “holopráxis” é o conjunto de práticas vivenciadas que
antecedem, permeiam e finalizam toda aprendizagem, destinada a dar conta da dimensão do
ser.
O parapsicólogo Stanley Krippner, aponta quatro princípios básicos do paradigma Holístico,
(CARTA MAGNA, 1987):
1. A consciência ordinária compreende apenas uma parte pequena da atividade total do
espírito humano.
2. A mente humana estende-se no tempo e espaço, existindo em unidade com o mundo
que ela observa.
3. O potencial de criatividade e intuição é mais vasto do que ordinariamente se assume.
4. A transcendência é valiosa e importante na experiência humana e precisa ser
abrangida na comunidade orientada pelo conhecimento.
GUATARRI, (1990) acredita que o momento é o resgate da virtuosidade “futurista” e
“construtivista”. O inconsciente fica arraigado em construções arcaicas do conhecimento
somente, até algum engajamento (aprendizado) o fazer projetar-se para o futuro. Ou seja, o
aprendizado significativo é que mobiliza a complexidade do inconsciente.
A definição de aprendizagem significativa, apresentado por AUSUBEL (2003) se baseia:
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“proposição de que a aquisição e a retenção de conhecimento são produtos de um processo ativo,
integrador e interativo entre o material de instrução e as ideias relevantes da estrutura cognitiva do
aprendiz, com as quais as novas ideais estão relacionadas de formas particulares”.
A aprendizagem acontece basicamente por recepção, ou seja, o conceito é apresentado e
partindo da compreensão daquilo que se deve apreender. O conteúdo é incorporado na própria
estrutura cognitiva do aprendiz.

2.3.2. Redes e Conexões


Diante do cenário de mudanças científicas apresentadas, as redes de relações fornecem uma
estrutura para dar conta de questões que não se limitam às fronteiras de suas disciplinas. Elas
afetam a vida como um todo, nas relações com o meio, nas redes sociais, na construção do
pensamento e na produção de coisas.
Para tanto, faz-se necessário uma mudança de leitura do plano real linear para
múltiplos planos de realidades sobrepostas em outra estrutura não hierárquica e não linear.
Antes, pode ser preciso, primeiramente, entender o conceito de virtual proposto por LÉVY
(1996), conceito de fundamental importância para levar à compreensão do paradigma
sistêmico, uma vez que apresenta as potencialidades das relações dessas redes.
Assim como outros pensadores sistêmicos mostram que a visão dualista entre a real e
virtual impede a compreensão de uma estrutura mais plural - se distinguindo, não por
realidade/ilusão, mas por atual tendência à realização; para LÉVY (1996) o virtual é um estado
de potência do vir-se a realizar, latente e tão real quanto à manifestação “tangível” de um
sistema. O autor pondera, ainda, que outro ponto importante sobre o virtual seja o fato de que
ele se atualiza mesmo sem se manifestar como real.
Se o entendimento partir de que os sistemas que nos cercam são dinâmicos, então o
virtual está sujeito às mudanças estruturais, mesmo sem existir no atual, configurando em uma
atualização que muda as estruturas, atualizando-as sem a necessidade de sua realização.
“O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído,
o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma
situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de
resolução: a atualização”. (LÉVY, 1996, p. 16)
Igualmente importante é o conceito de rizomas, como entendimento de estrutura de
conexões, atribuídas à organização não linear, difundido por DELEUZE e GUATARRI (1995, p.
32). Tal conceito é caracterizado pela disposição de reconhecer a multiplicidade, os
movimentos e os devires, contrariando os conceitos de raiz e da dicotomia, nas quais
configuram escolhas por dualidades binárias, como o bem e o mal, o certo e o errado, o
dominado e o dominante.
O rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre
desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas com suas
linhas de fuga. “São os decalques que precisam referir aos mapas e não o inverso." (DELEUZE
e GUATTARI, 2000, p. 32-33)
MATURANA e VARELA (1995, p. 88) propõem um modelo de entendimento da
organização da vida e das estruturas que são à base da sustentação para um conceito mais
universal, o de “Autopoiese”, (da junção Auto: si mesmo, e Poiese: criação, construção). Este
modelo atribui à constituição de estruturas “vivas”, objetivando uma auto organização, regida
por uma percepção cognitiva que compõem o sistema do todo indissociado das partes, criando
desta forma, uma auto organização ou autocriação em uma transliteração mais direta.
Neste padrão de rede, cada componente tem a função de ajudar na compreensão e
transformação de outros componentes, enquanto mantém o padrão de circularidade global do
sistema. MATURANA e VARELA (1995, p. 80-90) concluíram que este é o padrão básico da
vida, postulando que o sistema nervoso corresponde a esse mesmo padrão auto regulador.
“As atividades das células nervosas não refletem um meio ambiente,
independente do organismo vivo e, consequentemente, não levam em
consideração a construção de um mundo exterior absolutamente existente”.
O próximo passo destes autores foi mais radical, ao afirmar que o próprio processo de
organização circular é idêntico ao processo de cognição.

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2.4. Auto organização
Estes conceitos discutidos fazem parte de um fio que, da grande teia que consiste o
pensamento sistêmico e que podem ser vistos de diferentes aspectos. Cada qual tem igual
importância e um desses pensamentos é o pensamento contextual. O conceito de Teia,
defendido por CAPRA (1997, p. 182) aborda que “[...]a evolução não pode ser limitada a
adaptação de organismos ao seu meio ambiente, pois o próprio ambiente é modelado por uma
rede de sistemas vivos capazes de adaptação e de criatividade”.
No pensamento cartesiano, há estruturas fundamentais, seguidas por forças e mecanismos
que se interagem, originando os processos. A imagem que melhor representa este sistema
cartesiano pode ser a estrutura de uma árvore.
Já no pensamento sistêmico, toda estrutura é sempre vista como um pensamento
processual. Esse pensamento foi enfatizado na década de 30 por BERTALANFFY (1968) e,
posteriormente, foi explorado na década de 40 pela cibernética, fazendo com que os estudos
de ciclos de realimentação e padrões dinâmicos se transformassem em assunto de
investigação científica.
Com essa abertura, os ecologistas começaram a estudar os fluxos de matéria e energia
através dos ecossistemas. Daí vem o termo “homeostase”, defendido pela primeira vez pelo
fisiologista CANNON em 1932, em que o “meio ambiente interno” é regido por um organismo
auto regulador, que mantém o equilíbrio dinâmico às condições de sobrevivência, mesmo em
condições caóticas.
O termo homeostase abrange os sistemas ecológicos, biológicos e sociais. Nesta hipótese,
a ordem seria manter ou repor o equilíbrio, contrariando qualquer mudança onde o não
sucesso pode levar a interrupção do funcionamento do sistema.
“Neste meio termo, estudos experimentais detalhados de células, tornaram claro que o metabolismo
de uma célula viva combina ordem e atividade de uma maneira que não pode ser descrita pela ciência
mecanicista”. Capra (1997, p. 51)
A concepção de homeostase e os estudos do metabolismo influenciaram Bertalanffy (1968)
a formular a teoria sobre os “sistemas abertos”. Capra (1997, p. 52) contribui de forma sucinta,
“eles precisam se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas do seu
meio ambiente para permanecerem vivos”.
Os pensadores sistêmicos adotaram a concepção de auto organização para representar em
diferentes contextos o comportamento da vida. Se Bertalanffy (1968) combina fluxo e equilíbrio
para definir os sistemas abertos, Prigogine (1984), com sua formulação na teoria das estruturas
dissipativas, vai além, quando junta ao conceito dos sistemas abertos a ideia de instabilidade,
na qual pode emergir novas estruturas e novas ordens. Defende, ainda, que os organismos
vivos mantêm seus processos de vida em condições de não equilíbrio, com equações não
lineares. Nesta teoria, nos pontos de instabilidade do sistema, ocorrem eventos dramáticos e
imprevisíveis, gerando o caos na desordem, de onde emergem e desdobram novas formas e
novas ordens.
Ou seja, o sistema, quando afastado de seu equilíbrio, gera a instabilidade (caos) e pode
ser capaz de produzir novas formas de ordem. A mudança evolutiva, pela qual o mundo passa,
pode ser vista como uma tendência inerente à vida, na criação de um mundo novo. O qual
pode ser, ou não, adaptado às novas condições ambientais em mudança.
Ao entender o conceito de caos nestas estruturas, será possível entender seu design. A
este conceito sistêmico caótico, atribuímos uma organização autoconsciente.
Capra (1997) coloca sua teoria como uma “reconceitualização” radical associada à
estrutura, “Uma mudança de percepção da estabilidade para a instabilidade: da ordem para a
desordem; do equilíbrio para o não equilíbrio; do ser, para o, vir a ser”.
“Cada grande período da ciência tem levado a algum modelo da natureza. Para a ciência clássica, era
o relógio; para a ciência do século XIX, o período da Revolução Industrial, era a máquina parando.
Qual será o símbolo para nós? O que temos em mente pode talvez ser expresso por meio de uma
referência à escultura, da arte indiana ou pré-colombiana até a nossa época. Em algumas das mais
belas manifestações da escultura, seja ela uma representação de Shiva dançando ou dos templos em
miniatura de Guerreiro, aparece muito claramente à procura de uma junção entre quietude e
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movimento, entre o tempo parado e o tempo passando. Acreditamos que esse confronto dará ao
nosso período seu caráter singular e específico”. (PRIGOGINE e STENGERS, 1984, p.123-24)
O foco agora é a coo evolução: os organismos se acoplam à evolução do seu meio, ambos
se fundem neste processo evolutivo, existindo uma sutil interação entre cooperação e
competição, entre criação e mútua adaptação. Na manifestação do caos, a vida se recria
proporcionalmente.

Design e Sustentabilidade
Do termo Sustentabilidade ou Desenvolvimento para a Sustentabilidade são percebidos dois
discursos ou práticas bem distintas entre si:
 Um discurso político ético, muito usado por ecologistas, filósofos e educadores,
direcionado basicamente para a educação ambiental, em que a participação entra
como base teórica na construção de um novo cenário global; o objetivo principal é
formar um cidadão que respeite o meio ambiente.
 Um discurso técnico “naturalista” formado por metodologias e ferramentas que auxiliam
na ação da conservação ou manutenção do meio ambiente (social, ambiental e
econômico), aplicado basicamente no meio industrial e no processo projetual.
Quando se trata de Design, os termos para a Sustentabilidade focalizam muitas versões de
eco design ou eco concepção, sobressaindo às questões “técnico naturalista”. Entre tantas
ações práticas, os métodos sugerem um processo com resultados na redução dos impactos
ambientais, melhorando ou conservando a qualidade de utilização, interferindo diretamente no
relacionamento produto – usuário, consistindo em melhoria da vida humana.
Essa abordagem tem como objetivo melhorar a qualidade da vida humana e considera o ecossistema
do qual fazemos parte tão importante quanto à exeqüibilidade técnica, o controle de custos e a
demanda do mercado. (SILVA e HEEMANN, 2007).
Um exemplo de “discurso técnico naturalista” pode ser a definição de MANZINI e
VEZZOLI (2002), na qual Design para a Sustentabilidade significa promover a capacidade do
sistema produtivo de responder ao bem estar social, aplicando o mínimo possível de recursos
ambientais e reduzindo o uso dos níveis já praticados. Requer, ainda, a gestão das próprias
propostas, de maneira clara e organizada, dos produtos, serviços e comunicações.
Dentre os conceitos de Design para a Sustentabilidade, tem a versão do D4S (Design
for Sustainability) – compreendido na 2ª. Edição do relatório publicado em 2007 pelo Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas, UNEP/ONU, em parceria com a Universidade
Tecnológica Holandesa de Delft, juntamente com o apoio de outros peritos em ecodesign. A
proposta D4S está estruturada em dois documentos: um contendo o manual de aplicação,
denominado “Manual D4S”, apresentando metas e objetivos que orientam empresas e
profissionais para a prática do desenvolvimento sustentável; e outro, contendo formulários de
trabalho, denominados “Worksheets D4S”, servindo de guias para o preenchimento dos dados
do projeto em desenvolvimento, complementando o manual.
O Manual D4S consiste em um material extremamente longo e complexo, que vai desde
uma possibilidade de aplicação em uma situação regional, até a aplicação em grande escala,
ao mesmo tempo em que deve atingir os níveis considerados satisfatórios para a
Sustentabilidade. Fica claro que a grande preocupação é passar os conceitos de eficiência na
produção e no projeto de novos produtos e serviços, ainda apoiando o sistema capitalista.
Observa-se que o objetivo é fornecer conhecimento necessário para auxiliar na manutenção ou
ampliação das condições de competição e fornecimento das indústrias, focando o conceito de
Design para a Sustentabilidade (Design for Sustainability), na qual contempla o "triple bottom
line" levantando questões sociais, econômicas e ambientais. Cada etapa dos processos de
Desenvolvimento de Produto e de Inovação é ilustrada com atividades alternativas, que
objetivam atingir as diretrizes para a Sustentabilidade. Na etapa de formulação da política, é
oferecido um passo a passo de como administrar o planejamento e posicionamento da
empresa e do produto. Na etapa de definição dos conceitos de Design, justamente na fase de
Geração de Ideias, traz pouquíssimas informações, e sugere uma busca criativa baseada na
combinação de forças e fraquezas da empresa e do produto (Análise SWOT). É nesta etapa

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que o designer poderia atuar com maior força, pois as sessões de criatividade podem permitir a
busca por soluções inovadoras. O foco do manual fica na administração, trazendo mais
detalhes quanto às questões econômicas e administrativas, sugerindo estudos mais
abrangentes para a pesquisa de mercado.
Nestes termos, o Design parece atender às necessidades da civilização
contemporânea. Porém, na prática, o maior desafio é o desenvolvimento e gerenciamento de
produtos dirigidos à sustentabilidade, já que a exigência do mercado de consumo é almejar
sempre mais, dando a sensação de que, por mais que se façam inovações, os produtos
acabam virando “commodities”. O meio ambiente está pagando um alto preço pelo avanço da
inovação e tecnologia, com seus efeitos ambientais determinados, sejam por extrações ou por
emissões, provocando o esgotamento dos recursos naturais. O resultado é um verdadeiro
colapso das comunidades locais, enquanto que a globalização, do bem capital e cultural, não
dá conta do alto índice de pobreza em âmbito mundial e do crescimento demográfico. Se esses
problemas parecem impossíveis de serem resolvidos, suas abdicações tornaram-se ainda mais
impossíveis.
Os trabalhos direcionados somente com a finalidade equivocada de gerar lucro e
responder a relações de poder, só podem aumentar os impasses entre a pobreza e
precariedades dos países em desenvolvimento e das políticas de poder dos países
desenvolvidos, com seus absurdos das centrais nucleares e do mercado mundial. Diante de tal
cenário, pode se afirmar que essas metodologias “clássicas” já não são mais suficientes para
provocar o sentimento de indissociação da vida humana, do objeto e do ambiente.
Entretanto, observa-se que essas definições de Design “clássicas” e,
consequentemente, suas metodologias de desenvolvimento, parecem resistir nas academias e
nos processos industriais, visto que o termo “Sustentabilidade” ainda é abordado como uma
disciplina ou ferramenta de opção da problemática a ser tratada como “opcional”. A prática
mais usual e difundida é a técnica de Avaliação do Ciclo de Vida (LCA, proveniente de Life
Cycle Assessment), onde alguns autores a veem como uma abordagem específica.
“[...] Outra técnica analítica que pode ser usada na geração de novos conceitos é a análise do ciclo de
vida. Essa técnica é muito usada pelos designers que pretendem diminuir a agressividade ambiental
de novos produtos, mas pode ser aplicada também em outros casos”. (BAXTER, 1998, p. 183)
MANZINI e VEZZOLI (2002, p. 291) defendem que, uma metodologia de análise e avaliação
como a LCA é, propriamente, um instrumento de suporte ao desenvolvimento de produtos, que
deve indicar possíveis soluções e estratégias, a fim de reduzir a carga ambiental associada a
todo ciclo de vida. Porém, enfatiza que esta metodologia reduz a questão a sistemas físicos,
sem levar em considerações fatores sociais e econômicos. Os autores colocam o Design para
a Sustentabilidade como uma espécie de design estratégico, deixando-o como uma opção na
abordagem temática das empresas que optam pela proposta da sustentabilidade ambiental.
Sugerem ainda a tomada estratégica de decisões nas primeiras fases de projeto, no “Concept
Design” (fase de criação do conceito), defendendo que é nesta etapa que surgem as melhores
propostas de inovação, permitindo a contribuição positiva para a preservação do meio
ambiente.
Porém, o que se percebe é que, para se tomar a decisão de quais são os procedimentos e
passos a seguir, pode ser necessário, antes, compreender quais alternativas são mais
apropriadas e capazes de se adequar aos problemas da sociedade contemporânea. Essa
inadequação, talvez, seja proveniente do tamanho da complexidade da problemática.
Considerando-se as possíveis interferências do design no projeto, deve-se atentar para a
complexidade do processo de inserção de produtos e serviços ecologicamente aceitáveis dentro de
um panorama cultural e comportamental despreparado para a aceitação desses novos valores
(MANZINI; VEZZOLI 2002, p. 25).
Nestes termos, pode-se dizer que o despertar da consciência “ecologicamente” correta,
chamado de crescimento sustentável, resulta da importância da intervenção do Design, com
uma visão sistêmica, aplicando metodologias voltadas para a sustentabilidade ainda na
concepção do projeto.

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Considerações Finais
Como o método cartesiano se inspira partindo de um princípio fundamental ou paradigma, a
diferença aqui, pode estar no paradigma. Não se trata mais de obedecer à ciência que liga a
facilitação lógica, mas de ligar o que estava separado através de um princípio de enredamento.
Talvez hoje, a necessidade histórica seja a de encontrar, não somente um método que revele
essas ligações, mas também, suas interdependências e as complexidades das disciplinas.
Projetar dentro dessa visão sistêmica torna-se um desafio metodológico, que repensa toda
a estrutura que auxilia na concepção dos objetos e imagens, dignos de uma nova ética e de
possíveis relações, já que, neste contexto, a percepção do meio passa a envolver a ecologia,
economia e as ciências sociais. Agora, a ferramenta de projeto para o designer pode ser o de
orquestrar novos ritmos e novas composições, onde o modo de produção físico passa a ser
completado pelo modo de produção dos sentidos culturais, aparentemente intangíveis. Neste
ambiente, o homem não está desenhando objetos para si, ele está em um momento muito
frutífero para a espécie e evolução terrestre; está se redesenhando, portanto, novos objetos e
signos serão produzidos por este “novo” homem.
Enquanto que, compreender o contexto das mudanças cientificas e de seus termos podem
resultar no necessário “engajamento” para invocar esses paradigmas, é preciso ir além; é
preciso “experiênciar” a sustentabilidade, ou seja, vivenciar e capturar seus sentidos na
essência, conectanto as diversas disciplinas que regem a profissão e a devida concepção do
Design para a Sustentabilidade, na qual as habilidades do “designer”, como até então foram
compreendidas, não são suficientes para o sucesso do mundo ambiental.
É preciso vínculo aos sentimentos e sabores da cognição sistêmica, caso contrário, o
Design para a Sustentabilidade será apenas um modismo, restringindo-se a ações
mecanizadas. Ou seja, o Design não apenas responde quanto às questões da sustentabilidade
(social, ambiental e econômica), como também deve provocar o despertar da percepção para
os sentidos mais amplos e ocultos da cognição. Levando ao questionamento da concepção do
design, não mais em apelos estéticos, funcionais, econômicos, entre tantos outros; ele agora é
concebido partindo da consciência e do engajamento do profissional para significados mais
abrangentes e intrínsecos, resultando na categorização da vida humana inseparável do meio
ambiente, tanto construído, quanto natural.
No âmbito das compreensões destes conceitos, esta um questionamento mais profundo
quanto ao papel desempenhado pelo designer. De um modo geral, pode-se afirmar que o
cenário aponta o designer como ator responsável não somente pela concepção de um projeto
sustentável. A reivindicação é que, no cerne das relações cognitivas do profissional, exista a
conscientização necessária para auxiliar no planejamento de ações sustentáveis, como
também um idealizador de um meio que se aplique a educação ambiental.
A orientação, então, se dá no desenvolvimento da moral e da ética, transpondo valores
através de produtos, objetos, comunicação e ideias de Design para a Sustentabilidade.
Significando discriminar, dentro da complexa sociedade contemporânea, os sinais mais
coerentes com as necessidades ambientais.

Agradecimento
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que financiou a
pesquisa de mestrado “Mapas Mentais: uma proposta de metodologia de design para a
sustentabilidade” na qual este artigo é parte da súmula.

Referências
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visitada em janeiro 2011. http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d/apostila/renasc7/node10.html
Isaac Newton (1642-1727) - Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Página visitada
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Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)


Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Desenvolvimento sustentável: um estudo de caso na
Indústria Central Máquinas de Uberlândia/MG
(Sustentainable development: a case study in Central
Máquinas industry)

SOUZA, Aline; Mestre; UFU


aline@faurb.ufu.br

SILVA, Kelenson; Designer de Produtos; UFU


nosnelek@hotmail.com

palavras chave: design sustentável; materiais alternativos; aço inox e carbono.

O objetivo deste trabalho é contribuir com a área de design e seleção de materiais com um estudo de
caso realizado na Central Máquinas, indústria de Uberlândia/MG, atuante no projeto, fabricação e/ou
reparos de máquinas e equipamentos industriais para diversos segmentos, utilizando como principais
matérias-primas o aço inox e o aço carbono. Trata-se de um levantamento realizado em três etapas: a
primeira consistiu numa análise dos processos produtivos da empresa visando entendimento de sua
capacidade produtiva; a segunda em uma visita aos depósitos dos resíduos provenientes da produção
para análise da viabilidade de utilização como matéria-prima de novos objetos; e por fim, a classificação
dos resíduos, onde a matéria descartada foi analisada e catalogada de acordo com as possibilidades de
produção. A investigação integra os levantamentos realizados em um projeto de pesquisa do Núcleo de
Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU) em parceria com a Central Máquinas financiado pela Fundação de Apoio a Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) , cujo objetivo geral era levantar as possibilidades de utilização de
resíduos industriais do setor metal mecânico no design de objetos residenciais, proporcionando um valor
a matéria descartada.

Keywords: sustentainable development; alternative materials; stainless steel and carbon.

This work pretends to contribute to the area of design and material selection with a case study conducted
in Central Machinery industry, Uberlândia / MG, active in designing, manufacturing and / or repairs of
machinery and equipment for various industrial segments, using as main raw material stainless steel and
carbon steel. This is a survey conducted in three stages: the first was an analysis of business processes
aimed at understanding its productive capacity, the second in a visit to the deposit of waste from
production to study the feasibility of use as feedstock of new objects, and finally, the classification of waste,
where the matter was dropped analysed and catalogued according to the production possibilities. The
research includes surveys done on a research project of the Núcleo de Design da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) in partnership
with Central Máquinas financed by Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG), whose general objective was to raise the possibility of using industrial waste in the metal
mechanic sector residential design of objects, providing a valuable matter dropped.

1 Introdução

O presente trabalho apresenta um estudo sobre as possibilidades de aproveitamento do


resíduo de aço que integra um projeto de pesquisa desenvolvido na cidade de Uberlândia/MG
pelo Núcleo de Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design (FAUeD) da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em parceria com a Central Máquinas financiado
pela Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
O objetivo geral do projeto foi implantar uma Unidade de Design e Inovação (UDI) na
Central Máquinas, indústria do setor metal mecânico, que pudesse realizar os estudos lidando
diretamente com a produção e as peças descartadas, a fim de proporcionar valor a elas.
Para isso pretende-se: desenvolver novos produtos que aproveitem os resíduos e
facilitem o processo de aproveitamento; fazer uso do design como ferramenta estratégica;
contribuir com o desenvolvimento sustentável; e contribuir com o desenvolvimento local.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Para a realização do projeto foram definidas as seguintes etapas executoras:
- Implantação da UDI na Central Máquinas, local destinado aos estudos, armazenamento de
materiais da pesquisa e desenvolvimento de projeto de produtos.
- Levantamento, identificação e separação por categorias da matéria-prima descartada pela
Central Máquinas.
- Levantamento de maquinário, processos de transformação e mão-de-obra especializada.
- Pesquisa de mercado para identificação de público-alvo e oportunidades. Estudo de
usuários em potencial.
- Etapa de criação. Análise da viabilidade produtiva, impacto ambiental e da potencialidade
comercial.
Este trabalho apresenta os resultados da segunda etapa de execução do projeto, a fim de
contribuir com o design e a área de seleção de materiais.

2 Resíduo de Aço

O Aço é um material industrial formado pela liga de ferro e carbono, sendo que o percentual de
carbono por peso não ultrapassa 2%. Em relação às suas propriedades mecânicas, em termos
genéricos, o Aço possui elevada dureza, grande resistência à tração, à compressão, elevada
plasticidade, ductibilidade, além de ser bom condutor elétrico e térmico. (LIMA, 2006).
Neste trabalho foram estudados dois tipos específicos de Aço – Carbono e Inoxidável.
Conforme Lesko (2004, p.18) o Aço Carbono é “um metal a base de ferro que contém carbono
e pequenas quantidades de outros elementos.” Os formatos comerciais disponíveis variam
entre chapas, perfis, barras e tubos, com aplicabilidade na construção civil, mecânica, produtos
ferroviáros, estruturais para mobiliário, entre outros. Já o Aço Inoxidável de acordo com Lima
(2006, p.45) é “a combinação do aço carbono (0,03 a 0,15%) com o cromo na proporção de 11
a 20% o que lhe confere uma notável resistência à oxidação”. Sendo considerado, portanto, um
material nobre. É disponibilizado nos mesmos formatos comerciais que o aço carbono e
aplicado na indústria de cutelaria, instrumentos de medição, produtos que requerem cuidados
extremos de higiêne, entre outros.
Ambos podem ser transformados em objetos por meio de Estamparia de Corte,
Conformação Mecânica, Sinterização, Fundição e Extrusão, requerendo investimentos altos em
equipamentos por conta da potência exigida para trabalho com aço.
Segundo o Instituto Aço Brasil (2011) a produção brasileira de aço bruto em fevereiro de
2011 foi de 2,7 milhões de toneladas, com aumento de 11,4% em relação ao mesmo mês em
2010. As vendas internas foram de 1,8 milhões de toneladas e as exportações atingiram 870
mil toneladas. Os principais setores consumidores de aço no Brasil são: Construção Civil,
Automotivo, Bens de capital, Máquinas e Equipamentos (incluíndo agrícolas), Utilidades
Domésticas e Comerciais. O estado de Minas Gerais é o maior produtor brasileiro, com
participação de 32,8%, o que corresponde a 1812,0 toneladas de aço bruto.
O setor metal mecânico, assim como os demais setores industriais, gera resíduos sólidos.
Conceitualmente, Resíduo Sólido Industrial é classificado pela NBR 10004 (ABNT, 2004) como
as sobras descartáveis das atividades industriais.
As decisões técnicas e econômicas tomadas em todas as fases de gerenciamento dos
resíduos, tais como, manuseio, acondicionamento, armazenagem, coleta, transporte,
tratamento e disposição final, devem estar fundamentadas na classificação dos mesmos.
(ROCCA, 1993). No caso dos resíduos de aço, a responsabilidade deste gerenciamento é das
indústrias.
Resíduo sólido industrial é o nome dado aos refugos provenientes da produção de bens de
consumo (exemplos: computadores, automóveis, televisores, mobiliário, etc). Os resíduos
industriais sólidos merecem cada vez mais atenção de especialistas e do poder público a fim
de uma melhoria da qualidade ambiental. Essa preocupação é justificável, segundo o

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Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (2007) estima-se que as indústrias do estado de
Minas Gerais gerem 15.165.193,65 de toneladas de resíduos sólidos anualmente.
No panorama internacional, houve um grande avanço no aproveitamento de resíduos. Em
países europeus e no Japão essa prática tem crescido a cada ano e isso é justificado não só
pela escassez de espaço, que eleva o custo do armazenamento, como pela escassez de
matéria-prima. No Brasil, discussões de logística e viabilidade econômica permeiam o setor.
(FERNANDES, 2009).
O desenvolvimento econômico estimula o consumo e promove como consequência o
crescimento do descarte de produtos e resíduos. O reaproveitamento da matéria descartada
torna-se necessário, por implicações ambientais (poupar recursos naturais e minimizar a
geração de agentes poluentes), questões de espaço (áreas disponíveis para aterros), e
também pela vantagem de novos produtos com menor custo.
Um importante aspecto na avaliação do uso de resíduos como matéria-prima para produtos
industriais é a aplicabilidade em projetos bem-sucedidos. O conceito de sustentabilidade só
tem sentido quando permeia a àrea da eficácia, ou seja, as propostas apresentam equilíbrio
entre a dimensão técnica e a dimensão cultural da inovação, conforme Manzini e Vezzoli
(2008).
A utilização de resíduos como matéria prima evita prejuizos ambientais com transporte,
trabalho de equipamentos, embalagem e processamento, além de impedir o acúmulo de
material no meio ambiente. Do ponto de vista econômico, essa prática poderá gerar ainda uma
ampliação de mercado para as indústrias, acabar com possível ociosidade da produção, gerar
novos empregos e valorização da matéria descartada.

4 Estudo de Caso

Uberlândia é a maior cidade do interior do estado de Minas Gerais, localizada na região do


Triângulo Mineiro, uma das mais desenvolvidas do estado. Segundo estudo realizado pelo
CEPES/UFU (2004) sobre o perfil das indústrias de Uberlândia/MG existe cerca de 90
empresas do ramo de metalurgia na cidade.
O objeto de estudo desse trabalho foi uma dessas empresas, a Central Máquinas. Trata-se
de uma empresa de pequeno porte que atua no projeto, fabricação e/ou reparos de máquinas e
equipamentos industriais para diversos segmentos, utilizando como principais matérias-primas
o aço inox e aço carbono. As peças produzidas são de grandes dimensões, exigindo extensos
barracões para montagem e manuseio, além de material em quantidades elevadas. O reparo
de equipamentos é a principal atividade, com a qual, a empresa atende indústrias
multinacionais renomadas, seja na substituição de peças inteiras ou no reparo de partes
danificadas.
O estudo foi realizado no período de novembro de 2010 a março de 2011 e se enquadra no
tipo monográfico ou estudo de caso, com a técnica de observação direta intensiva na forma de
entrevista e registro fotográfico.
Trata-se de um levantamento realizado em três etapas: a primeira consistiu numa análise
dos processos produtivos da empresa visando entendimento de sua capacidade produtiva; a
segunda em uma visita aos depósitos dos resíduos provenientes da produção para análise da
viabilidade de utilização como matéria-prima de novos objetos; e por fim, a classificação dos
resíduos, onde a matéria descartada foi analisada e catalogada de acordo com as
possibilidades de produção.

Primeira etapa – Análise dos processos produtivos

A primeira etapa consistiu em uma visita ao setor produtivo, momento em que ocorreu
entrevista com um representante da empresa e registro fotográfico, com o objetivo de entender
a estrutura organizacional da produção, do ponto de vista do aproveitamento dos resíduos.

A produção atende duas demandas distintas: o desenvolvimento de peças novas e o reparo


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de equipamentos industriais. Para tanto, a empresa é setorizada em tornearia e caldeiraria.
Nesta etapa foi possível identificar que durante o processo de fabricação ou reparo destes
equipamentos/máquinas são gerados inúmeros resíduos. A produção de peças novas dá
origem a retalhos de aço inox e carbono de dimensões e formatos diversos. Já o conserto de
equipamentos promove o descarte de peças prontas nos mesmos materiais que não tem mais
serventia devido ao desgaste, dimensões inapropriadas, partes danificadas, entre outros.

Assim, os tipos de resíduos gerados puderam ser preliminarmente classificados em dois

tipos: retalhos e sucatas (Figura 1).

Figura 1: A primeira imagem mostra exemplos de retalhos e a segunda de sucatas

Para a indústria, no segmento atual, tanto os retalhos quanto as sucatas não têm serventia
às demandas da produção. No entanto, caso fossem delineadas novas demandas por produtos
de menores dimensões, os dois tipos de resíduos poderiam ser utilizados como matéria
alternativa, pois as propriedades mecânicas dos metais permitem a reutilização e a indústria
possui o maquinário necessário para a transformação.

Segunda etapa – Estocagem dos resíduos


A segunda etapa consistiu em uma visita aos depósitos dos resíduos provenientes da produção
para análise da viabilidade de utilização como matéria-prima de novos objetos. Verificou-se que
o descarte desses resíduos além de ser oneroso à indústria devido à desvalorização
expressiva do material, é prejudicial ao meio ambiente.
O aço inox novo custa cerca de R$15,00 o quilo, quando vendido ao ferro-velho custa em
média R$ 2,00 o quilo, já o aço carbono cerca de R$ 3,00 novo e a empresa consegue vender
ao ferro-velho por R$0,20. Quando chega ao ferro-velho, as peças que não são reaproveitadas
para outros fins, são destinadas à fundição que exige a utilização de transporte, aquecimento e
derretimento do material (extremamente nocivo), processamento para adequar o material aos
formatos e padronagem comerciais, embalagem, novo transporte, armazenamento e
estocagem para serem comercializados, gerando prejuízos ao meio ambiente.
Existem resíduos de dimensões, espessuras e formatos variados que podem ser utilizados
como material alternativo na produção de infinitos tipos de produtos industriais. Em geral, os
resíduos são acumulados nos fundos do próprio terreno da empresa e quando atingem um
volume significativo são vendidos aos ferros-velhos da cidade (conforme figura 2).

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Figura 2: Estocagem de retalhos
e sucatas no terreno da empresa

Verificou-se que a
empresa não utiliza uma
prática sistemática para o
estoque das sobras da
produção. Além do
acúmulo a céu aberto e diretamente em contato com o solo, não há preocupação com a
separação do material por classificação. O representante da empresa explicou que o
armazenamento mais adequado não ocorre, principalmente, por dois motivos: os retalhos e as
sucatas não são usados pela empresa e não há mão de obra com tempo disponível para este
tipo de serviço. Ele acredita que se existisse algum meio do funcionário fazer isso já no
momento do descarte, seria mais fácil de incentivar a prática.
Foram levantadas possibilidades diferentes de sistemas de armazenagem, em conjunto com
o empresário e os funcionários. Concluiu-se que para os retalhos a melhor opção era destinar
uma parte do estoque de materiais novos com prateleiras largas. Pensou-se também em locar
os retalhos nas prateleiras mais próximas da produção, objetivando-se um ciclo continuo,
facilitando tanto a saída quanto a entrada de material. Os retalhos devem ser classificados por
tamanho e espessura para serem encontrados com facilidade.
Já em relação às sucatas o empilhamento em pallets em local coberto seria uma opção
viável, já que a maioria das peças é de grandes dimensões e ocupariam muito espaço nas
instalações internas da empresa. Em relação, a proximidade da produção, segundo os
funcionários não seria um empecilho, pois de qualquer maneira, devido às dimensões
extremas, as peças têm que ser deslocadas com carrinhos industriais. Analisando as peças,
acredita-se também que elas não seriam apropriadas para o reaproveitamento em uma
produção seriada, o que faz crer que serão utilizadas com menor frequência que os retalhos.

Terceira etapa – Classificação dos resíduos


A última etapa foi realizada com o objetivo identificar e classificar o resíduo gerado a fim de
uma padronização de referência que seria utilizada nas etapas subsequentes do projeto de
pesquisa.
Foi organizada uma classificação do material descartado tendo em vista os seguintes
critérios: tipo de material (inox ou carbono); tamanho; geometria; espessura; tipo de sobra
(retalho ou sucata). Esta etapa foi de fundamental importância para outra etapa do projeto de
pesquisa – o desenvolvimento de objetos com as sobras.
Esse procedimento foi essencial: para entendimento de quais processos produtivos seriam
necessários para transformar o material e se a indústria conseguiria atender com a produção
atual essa demanda; como ferramenta para criação; e como um banco de dados de acesso
rápido e facilitado não só para criação com os resíduos, mas também para material novo, já
que as espessuras são padronizadas conforme o formato comercial.

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Dentro do formato “Retalhos”, matéria mais abundante, foi possível criar ainda outros
grupos de classificações de acordo com o formato das peças: geométrico (retângulos,
quadrados, triangulos e círculos) e formato orgânico (todos os outros) (Figura 3).

Figura 3: Exemplos de geometrias encontradas nos retalhos

Tanto no tipo “retalho” quanto no “sucata”, os resíduos ainda foram subdivididos de acordo
com as dimensões para facilitar o armazenamento e incentivar a separação. Ao estudar as
potencialidades de transformação dos resíduos, foi possível observar que apesar do estado
aparente de deterioração (como se encontram a maioria das peças), tais como, pontos de
ferrugem e irregularidades na superfície, o tratamento do material permite transformá-lo em
objetos com as mesmas qualidades de resistência e estética daqueles que são fabricados com
matéria-prima nova, como é o caso do teste mostrado na figura 04.

Figura 4: Testes de possíveis acabamentos

5 Discussão

Do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, o reaproveitamento dos materiais descartados


proporcionará um planejamento ambiental inserido nos serviços das empresas evitando
prejuízos ambientais com transporte, queima, trabalho de equipamentos, embalagem e
processamento para a reciclagem convencional, além de impedir o acúmulo do material no
meio ambiente.

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Do ponto de vista econômico, o aproveitamento dos resíduos terá um impacto importante
para a empresa. Na maior parte do tempo, os equipamentos e funcionários ficam ociosos
enquanto aguardam novos serviços, além do fato dos processos de fabricação utilizarem
setores diferentes que normalmente não operam ao mesmo tempo. Vários autores citam que a
utilização de resíduos sólidos industriais constituem um problema ambiental e seu
gerenciamento deve ser conduzido de forma adequada, seja pela disposição final ou pela
reciclabilidade.
É importante destacar ainda que, em geral, objetos de uso que têm como matéria-prima o
aço, têm alto valor de venda e esse fator aliado a um bom projeto poderia acarretar o
crescimento de indústrias do mesmo setor que a Central Máquinas quando os produtos fossem
introduzidos no mercado.

6 Considerações finais

Tanto para a empresa Central Máquinas quanto para os pesquisadores envolvidos, o projeto
permitiu novas reflexões no sentido de uma produção mais sustentável. Os resíduos passaram
a ser vistos de outra maneira após os estudos e aplicações em testes.
Os encontros entre os pesquisadores, funcionários e o empresário tornaram possível o
desenvolvimento de ideias em grupo que atendessem ora as expectativas dos pesquisadores
ora a objetividade dos representantes e funcionários da empresa.
Com a realização deste trabalho pretende-se contribuir para a criação de parâmetros de
sustentabilidade aplicados ao design e seleção de materiais que possam servir de referência
na atividade de projeto de produto, além de estimular e contribuir com a aplicação de
estratégias de design adequadas para a produção sustentável no Brasil.

Agradecimento
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Geriais (FAPEMIG) e à Central
Máquinas, gostariamos de manifestar nosso agradecimento pelo financiamento e apoio que
permitiram a viabilização deste trabalho.

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FIGUEIREDO, Luiz Fernando Gonçalves de; Doutor em Engenharia de Produção pela


Universidade Federal de Santa Catarina; Professor do Pós Design – Mestrado em Design
e Expressão Gráfica; UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina.
llf@cce.ufsc.br

BALEM , Francieli Regina; Graduada em Design industrial; Universidade do Oeste de


Santa Catarina; Cursando a Especialização em Gestão de Design pela Universidade
Federal de Santa Catarina.
francybalem@yahoo.com.br

HOSS, Mauricio Junior; Graduado em Design industrial; Universidade do Oeste de Santa


Catarina;
mauriciohoss@hotmail.com

Palavras chave: design; sistemas sustentáveis; valorização de produtos locais.

Este artigo propõe-se a discutir a importância do design como instrumento para a geração de renda, e a
sua aplicação para o desenvolvimento local obtendo um conceito de valorização da cultura, favorecendo a
regeneração e a melhoria da economia local e ainda gerar soluções em termos de sustentabilidade. Este
tipo de abordagem vem ao encontro das premissas do design, que tem como intenção desenvolver os
produtos em sua forma mais ampla. Assim, a aplicabilidade do design para valorização de produtos locais
Neste sentido os conteúdos são organizados, na primeira etapa uma abordagem do design e
sustentabilidade, partindo para as ações efetivas do design, dessa maneira, criou-se um diagrama:
Atuação do design sustentável na concepção de produtos Locais. Os resultados alcançados permitem
visualizar uma significativa contribuição das bases teóricas auxiliando de forma consistente.

Keywords: design; sustainable systems; enhancement of local products.

This article aims to discuss the importance of design as a tool for income generation, and its application to
the local development concept of getting an appreciation of culture, encouraging regeneration and
improving the local economy and generate solutions in terms of sustainability. This approach meets the
assumptions of design, which is intended to develop the products in its broadest form. Thus, the
applicability of the design for the recovery of local produce this sense the contents are arranged in a first
step approach to design and sustainability, setting out to design effective actions, thus, created a diagram:
Performance of sustainable design in Local product design. The results let you see a significant theoretical
contribution of assisting consistently.

1 Introdução

As profundas transformações que o mundo passa nesse momento, no contexto,


ambiental, econômico, político e social vem exigindo dos diferentes profissionais e
pesquisadores novos estudos, novas reflexões e novas práticas que busquem o
desenvolvimento de ações dentro de um contexto sustentável.
O profissional de design é responsável por grande parte da criação e desenvolvimento
de produtos, serviços e sistemas, porém, essa função vem se modificando, o trabalho do
designer como criador solitário no futuro aos poucos se modificará, este deve evoluir de criador
de objetos, ou construções para agente capacitador de mudanças envolvendo grandes grupos
de pessoas num ambiente sustentável.
A intenção do artigo é utilizar do design para possibilitar o desenvolvimento Local,
considerando as oportunidades e potencialidades da comunidade, desenvolvendo projetos

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para gerar redes de conhecimentos para atuar em territórios com vista ao desenvolvimento real
da comunidade, que seja, acima de tudo consistente com as exigências da sustentabilidade.
Complementa Manzini (2008a) Aplicando habilidades do design, pode-se resolver muitos
problemas, trabalhando em redes, valorizando os recursos locais e, em primeiro lugar,
tornando as comunidades diretamente envolvidas. No desenvolvimento do artigo em questão,
foram abordados como métodos de pesquisa a revisão bibliográfica, que referiu-se à busca de
dados na literatura e em meios digitais, de forma a consolidar uma estrutura conceitual e
metodológica para apoio ao processo.
O design tem se apresentado como uma área de atuação profissional que busca
solucionar problemas agregando valores estéticos e funcionais aos produtos ou serviços de
forma estratégica levando em consideração fatores sociais e culturais. Nesta perspectiva
busca-se valorizar a sustentabilidade de produtos e serviços com um novo comportamento
estético que transpasse aos consumidores toda a qualidade e confiança da produção local.
A Implementação desse processo resulta em inúmeras quantificações e benefícios, tais
quais, algumas são citadas por Vezolli (2010):
1) Respeitar/fortalecer as características peculiares locais;
2) Respeitar e fomentar as identidades e diversidades culturais;
3) Fomentar diferentes gostos e estéticas;
4) Desenvolver um sistema para fomentar e movimentar a economia local;
5) Reforçar o papel da economia local, criando serviços no mesmo local em que serão
usados;
Sendo um estudo exploratório, o trabalho não apresenta dados empíricos a fim de
concluir a pesquisa. Todavia, neste estudo teórico, buscou-se aprofundamento na literatura
com dados bibliográficos e documentais referentes ao campo do design com foco na
sustentabilidade e valorização dos produtos locais.

2 Abordagem do Design Sustentável

O design, assim como outras atividades humanas, são fazedores de artefatos. Artefatos esses,
que revelam valores, conhecimentos, hábitos e necessidades humanas que permitem a
compreensão de um processo de transformação da humanidade. Mas, atualmente o design,
além do “fazer” passa para o “pensar”, alinhando estrategicamente os dois pontos. Por isso o
estudo parte da ideia citada por Santos (2009) o design desenvolvido a partir da valorização do
saber popular, do reconhecimento das tradições, habilidades e do uso dos materiais, sempre
com a participação do artesão, refletindo seus valores culturais e sociais e, ao mesmo tempo,
compatível com as demandas do mercado, promovendo a sustentabilidade econômica da
atividade.

No atual contexto social, cultural e econômico, conhecer e trabalhar para que a redução dos
impactos ambientais seja parte integrante nas atividades independente da profissão vem aos
poucos se tornando realidade. No design, atividade projetual que gera necessidades e bem de
consumo, descartar a importância do pensar sustentavelmente não é mais desculpa como foi
no passado, onde extrair o máximo da natureza era sinônimo de progresso e crescimento. Ter
uma visão de mundo e saber quais passos deve-se tomar para tornar o planeta um ambiente
sadio e alto sustentável é obrigação e dever de todos.

A palavra sustentabilidade tornou-se rapidamente numa das palavras-chave dos últimos anos.
Apesar do seu significado se ter estendido para os mais variados temas e grupos de interesse,
o cerne do conceito continua a ser a preservação da sociedade e de tudo o que a rodeia, de

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forma a podermos deixar para as gerações vindouras um mundo senão melhor, pelo menos
igual ao que herdámos. (BSCD, 2009)
De acordo com Manzini (2008b) Uma solução sustentável é o processo por meio do qual
produtos, serviços e conhecimento são articulados em um sistema que objetiva facilitar ao
usuário a obtenção de um resultado coerente com os critérios da sustentabilidade. Sendo mais
claro: um resultado que tenha também o efeito de transformar um sistema dado e gerar um
novo que seja coerente com os fundamentais princípios da sustentabilidade.
De acordo com Andrade, Cavalcanti e Silva (2009) O conceito de sustentabilidade evoca, num
sentido mais amplo, a ideia de algo que se mantém duradouro, sendo um conceito relacional e,
portanto, como ideia isolada não tem sentido. Esse direcionamento para uma sociedade
sustentável se propõe conciliador de necessidades econômicas, sociais e ambientais. Como
impulsor da inovação, de novas tecnologias e da abertura de novos mercados, o
desenvolvimento sustentável contribui para o ambiente de competitividade global.
Ainda, pode-se complementar, que quanto à dimensão social e cultural, a sustentabilidade está
diretamente relacionada à melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades e
injustiças sociais e à inclusão social por meio de políticas de justiça redistributivas. Como pano
de fundo, a questão ambiental deve ser considerada no sentido de permitir que o ecossistema
tenha capacidade de absorver ou se recuperar das agressões derivadas das atividades
humanas. E assim, alcançar um novo equilíbrio entre as taxas de emissão ou produção de
resíduos e as taxas de absorção ou regeneração da base natural de recursos. Nesse sentido,
as questões de sustentabilidade têm sido discutidas nos diversos ambientes produtivos, na
esfera governamental e pela sociedade civil organizada na busca de soluções que tragam
benefícios econômicos, sociais, políticos e ambientais. (ANDRADE, CAVALCANTI e SILVA,
2009)

3 Ações do Design estratégico nas comunidades locais

De acordo com Krucken (2009b) as contribuições do design para a valorização de produtos


locais podem ser agrupadas em três linhas: 1)promover a qualidade dos produtos, dos
territórios, dos processos de fabricação; 2)apoiar a comunicação, aproximando consumidores e
produtores intensificando as relações territoriais; 3)apoiar o desenvolvimento de arranjos
produtivos e cadeias de valor sustentáveis, visando o fortalecimento de micro e pequenas
empresas.
A configuração final de um produto que compramos é o resultado de várias decisões projetuais.
Para que o consumidor identifique e prefira o consumo de produtos sustentáveis, às ações de
projeto devem ser conscientes e estratégicas, destinadas a favorecer a sustentabilidade de
produtos e serviços, fornecer através da comunicação, transparência e subsídios para que o
consumidor identifique e valorize a qualidade de produtos/serviços oriundos de comunidades
locais.
Alguns fatores podem contribuir para que os consumidores avaliem a qualidade e a
sustentabilidade de produtos ou serviços. As informações devem dar transparência sobre as
características que auxiliam na identificação como os ingredientes, processo de fabricação,
origem, impactos ambientais e sociais, entre outros. O design como atividade que procura
desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis é um importante aliado para aproximar
produtores e consumidores, transparecendo a qualidade dos produtos ou serviços e
fortalecendo os valores do processo de produção e consumo.
A qualidade percebida de um produto ou serviço é o resultado conjunto de seis dimensões de
valor:

a) valor funcional ou utilitário – mensurado por atributos objetivos, caracteriza-se pela


“adequação ao uso”. Refere-se às qualidades intrínsecas do produto, sua composição, origem
e propriedades; à segurança de consumo (controle sanitário quanto à natureza das matérias-
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primas, ao modo de produção e comercialização, aos ingredientes e aditivos, à segurança da
embalagem etc.) e à aspectos ergonômicos;
b) valor emocional – de caráter subjetivo, incorpora motivações afetivas relacionadas às
percepções sensoriais, que compreendem componentes táteis, visíveis, olfativos e gustativos,
e ao sentimento vinculado à compra e ao consumo/utilização do produto. Incorpora ainda a
nossa dimensão “memorial”, relativa a lembranças positivas e negativas de acontecimentos
passados;
c) valor ambiental – vinculado principalmente à prestação de serviços ambientais por meio do
uso sustentável dos recursos naturais como as florestas. Os principais serviços ambientais são
a proteção das bacias hidrográficas (produção de água em boa quantidade e qualidade), a
conservação da biodiversidade e o sequestro de carbono no contexto das mudanças
climáticas;
d) valor simbólico e cultural – profundamente relacionado às outras dimensões da qualidade
relaciona-se à importância do produto nos sistemas de produção e de consumo, das tradições
e dos rituais relacionados, dos mitos e dos significados espirituais, da origem histórica, do
sentido de pertença que evoca. Está associado ao desejo de manifestar a identidade social,
pertença em grupo étnico, posicionamento político, dentre outras intenções. Fortemente
influenciado pelo contexto sociocultural (época, local) e pelos fenômenos contemporâneos,
esta dimensão está relacionada ao “espírito do tempo” e à condição de interpretação do
produto em um referencial estético;
e) valor social – relaciona-se aos aspectos sociais que permeiam os processos de produção,
comercialização e consumo dos produtos (exemplo: repartição equitativa dos benefícios,
inclusão, qualidade das relações, bem-estar, reconhecimento). Os valores morais dos cidadãos
e a atuação e reputação das organizações na sociedade também se incluem nesta dimensão;
f) valor econômico – de caráter objetivo, baseia-se na relação custo/benefício em termos
monetários. (KRUCKEN e TRUSEN, 2009)
De acordo com a afirmação, os valores de qualidade são resultados de como os produto são
produzidos e consumidos. O consumidor consciente ao adquirir produtos ecologicamente
corretos ajuda no crescimento e desenvolvimento de estudos ,afim de promover a
sustentabilidade de produtos e serviços, contribuindo para a redução dos impactos ambientais,
garantindo um ambiente sadio para as futuras gerações.
Segundo Buarque (1997), para ser um processo consistente e sustentável, o desenvolvimento
deve elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia local,
aumentando a renda e as formas de riqueza, ao mesmo tempo em que assegura a
conservação dos recursos naturais”. Ainda, Krucken (2009b) complementa para dinamizar os
recursos do território e valorizar seu patrimônio cultural imaterial, é fundamental reconhecer e
tornar reconhecíveis valores e qualidades locais.
Assim, reconhecer os territórios por meio da valorização dos recursos locais e gerar um
conceito de valorização orientada para favorecer esses locais, se torna um beneficio eficiente,
ainda mais, quando se trata de uma fonte de geração de soluções em termos de
sustentabilidade.
O conceito de desenvolvimento local se apoia na ideia de que as localidades e territórios
dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além de
economias de escalas não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento.
(ZAPATA, 2001).
Para Vezolli (2010) “O fortalecimento e a valorização dos recursos locais denota que o design
de sistemas promove e favorece a regeneração e a melhoria da economia local”.
Com o intuito da aplicabilidade do design nesse processo, criou-se o diagrama : Atuação do
design sustentável na concepção de produtos locais. O qual representa a inserção do design
no decorrer de varias etapas da concepção de produtos locais.

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Figura 1: Pontos de atuação do design sustentável na concepção de produtos Locais. Fonte: Autores

 A fase de Gestão e desenvolvimento de estratégias deve pontuar e identificar as


principais características da localidade, conhecer o desenvolvimento local, a cultura e
também o saber popular para destinar as ações juntamente com os envolvidos e
promover estratégias que melhore o processo desde a seleção da matéria-prima até o
descarte do produto. Nesta fase o designer deve atuar como mediador de informações,
garimpando as principais idéias e focar nas melhores estratégias.
 A seleção e Extração de matéria-prima devem ser pensadas a priori com a finalidade
de minimizar os impactos ao meio-ambiente e promover um ciclo sustentável,
utilizando materiais alternativos e renováveis. O designer poderá auxiliar na escolha de
materiais que ressaltem a valorização da cultura local, assim como custos reduzidos e
adequados a produção pretendida.
 A Transformação da matéria-prima deverá extinguir a produção de resíduos ou
minimizá-los, a fim de produzir materiais mais limpos e naturais sem a utilização de
produtos químicos para tratamento ou colorização. Por isso a etapa de seleção deve
ser pensada estrategicamente para que a transformação seja rápida, limpa e
sustentável.
 A fase de Concepção dos produtos deve levar em conta além das etapas
metodológicas do design a inserção das questões de gestão ambiental considerando a
redução dos impactos causados pela extração e transformação de matéria prima, na
produção, utilização ou descarte e focar para que o produto tenha uma vida útil maior.
 Os resíduos impróprios e poluentes ao meio ambientes gerados pela produção
indevida que em muitas situações são descartados em solos e rios, é uma grande
preocupação discutida dentro dos parâmetros da sustentabilidade. Neste ponto o
design pode auxiliar e promover uma linha de produção mais limpa, utilizando a mão
de obra local procurando aproveitar o máximo da matéria-prima e reduzir o descarte e
minimizar produção de resíduos.

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 O design pode atuar na comunicação dos produtos sustentáveis focando na
identidade local, transparecendo a qualidade do produto e do processo de produção.
Identificar na embalagem pontos que auxiliem o consumidor a conhecer a procedência
do produto e ter confiança no mesmo.
 A atuação do mercado competitivo perante a inserção de produtos em escala
artesanal não é adequadamente valorizado quando se observa também a produção
cultural por trás dos objetos. A valorização e o favorecimento ao consumo dos
produtos considerados artesanais ou de baixa produção deve ser pensada
estrategicamente pelo designer, gerando ações para que os envolvidos entrem num
ciclo de produção sustentável e obtenham os lucros necessários tanto para sobreviver
como para dar continuidade nas atividades. Desta forma o design conseguirá atingir os
três pilares da sustentabilidade, sendo eles os econômicos, sociais e ambientais.
 A extração abusiva dos recursos naturais para produção de bens de consumo assim
como o descarte inadequado e inconsequente de produtos considerados “lixo” no meio
ambiente provocaram grandes catástrofes ambientais. A vida útil de um produto deve
ser considerada e analisada ainda nas fases de projeto, o designer tem como
obrigação destinar seus esforços na concepção de produtos mais duráveis e capazes
de serem repostos por peças quando derem algum defeito. No caso de produtos
considerados artesanais tem se a ideia de que a matéria-prima tenha origem das
alternativas e produção local, sendo estes materiais naturais quando descartados não
teriam maiores danos ao meio-ambiente. Mas, pensando na reutilização ao invés do
descarte pode se trabalhar com a reciclagem ou então com recuperação de energia
por incineração. Na reciclagem trabalha-se com a transformação do produto
novamente em matéria-prima ou então a reutilização do mesmo ou partes na
formulação de novos produtos. Já quando não é possível de reciclagem pode ser
pensando na recuperação do produto ou resíduos para a produção de energia por
incineração.
Enquanto designers, capazes de mediar entre a teoria e a prática baseando-se numa
metodologia multidisciplinar pode auxiliar e gerar soluções criativas, de impacto duradouro,
favorecendo a pratica do design sustentável melhorando as condições ambientais para as
presentes e futuras gerações.
Essa contribuição pode ser ainda mais efetiva quando existe uma estratégia de abordagem
metodológica voltada para os conceitos de ecoeficiência e durabilidade. Por meio de uma
avaliação do ciclo de vida de um produto (desde a obtenção da matéria-prima até o descarte) é
possível equacionar as implicações ambientais e os fatores econômicos com soluções
criativas. (ANDRADE, CAVALCANTI e SILVA, 2009).
Considera-se uma experiência no terreno da transição para a sustentabilidade ambiental e
social, a qual traz de forma muito clara a importância da dimensão local: qualquer solução
sustentável, para ser verdadeiramente tal, deve ser também, e acima de tudo, a nível local. É
portanto uma condição necessária para desenvolver estratégias viáveis para a
sustentabilidade.

Considerações Finais

No atual modelo econômico onde o acumulo de bens e o consumismo exagerado,


apenas como forma de ostentar status e diferenciação perante a diferentes grupos vem
se criando uma consciência de se pensar sustentavelmente. A necessidade urgente de
rever nossos próprios conceitos diante de várias catástrofes ambientais, provocadas
pela extração exagerada dos recursos naturais vem exigindo habilidades especificas dos
profissionais de design.
O modelo proposto nesse artigo, por um diagrama de pontos de atuação do design
sustentável na concepção de produtos Locais ,que visa a otimização de recursos naturais; um
melhor posicionamento das comunidades no mercado; e a oferta de diferenciais de valor aos
produtos a serem comercializados para o público em geral.
O designer tem a capacidade, também, por meio do modelo proposto, de auxiliar em várias
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etapas, alavancando e transformando ideias em produtos. Gerando uma interação e integração
renovando produtos e a própria comunidade.
Em análise, a valorização do design sustentável, representa uma resposta multifacetada
coerente ao mostrar mudanças positivas resultando em processos efetivos de desenvolvimento
local. Portanto, o trabalho do designer nesse contexto se justifica, em razão desse ser
considerado ferramenta para a tradução destas dimensões culturais em produtos, sistemas ou
serviços, tradução essa realizada a partir de conhecimentos extraídos da comunidade, os quais
são codificados e aperfeiçoados ao se tornarem uma nova solução induzindo e assentando o
processo de desenvolvimento, originalmente local.
Portanto, o desenvolvimento desse sistema, direcionado a valorização dos produtos locais l,
num contexto de transição para a sustentabilidade, econômica, social e ambiental, procede
como um processo cultural de aprendizado coletivo, servindo como plataforma de ativação nas
comunidades.

Referências

Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livros

ANDRADE, A. M. de; CAVALCANTI, V. P.; SILVA, G. D.G.A; Design sustentabilidade e


artesanato, reflexão e praticas metodológicas. Cadernos de Estudos Avançado em design.
Minas Gerias: EdUEMG, 2009.

SANTOS, A. Níveis de maturidade do design sustentável na dimensão ambiental. Cadernos de


Estudos Avançado em design. Minas Gerias: EdUEMG, 2009.

KRUCKEN, L.; TRUSEN, C. (2009a) A comunicação da sustentabilidade de produtos e


serviços. Cadernos de Estudos Avançado em design. Minas Gerias: EdUEMG.

BUARQUE, Sérgio C. (1997)"Metodologia de planejamento do desenvolvimento local e


municipal sustentável". Material para orientação técnica e treinamento de multiplicadores e
técnicos em planejamento local e municipal. Recife: INCRA-IICA, (publicado em livro pelo
MEPF/INCRA-IICA).

MANZINI, E. (2008a) Internacional Summer School. Designing Connected Places. Torino.

Livros, e material não publicados

BCSD. (2009) Sustentabilidade nas Tecnologias de Informação e Comunicação. Manual de


Boas Práticas. Portugal: Lidergraf Artes Gráficas SA. 90 p.
COPELAND, T.; KOLLER, T.; MURRIN, J. (2000) Avaliação de empresas: valuation. São
Paulo: Makron Books.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
KRUCKEN, L. (2009b) Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São
Paulo: Studio Nobel, 126 p.

MANZINI, E. (2008b). Design para a inovação social e sustentabilidade, Comunidades criativas,


organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: e-papers, 2008. 103p.

VEZZOLI, C. (2010) Design de Sistemas para a sustentabilidade: teoria, métodos e


ferramentas para o design sustentável de “sistemas de satisfação”. Salvador : EDUFBA,
343p.

ZAPATA, T. et al. (2001). Desenvolvimento local: estratégias e fundamentos metodológicos. Rio


de Janeiros: Ritz.

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Sustentabilidade, Territorialidade e Emoção: conceitos
para a diferenciação de um produto. (Sustainability,
Territoriality and Emotion: concepts to differentiation of a
product.)

Bernadete S. Teixeira; Msc.

Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil. designjoias@uemg.br

Raquel P Canaan

Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil. raquel.pcanaan@gmail.com

palavras chave: sustentabilidade; territorialidade; design.

A atividade de design é amplamente influenciada pelo comportamento da sociedade. Por incluir a


capacidade de perceber e interpretar potenciais técnicos e expectativas sociais, projetando-os em novas
soluções, à medida que mudam os valores da sociedade, muda também sua abordagem.
O direcionamento comportamental da sociedade atual caminha para a conscientização ambiental, que
desperta no indivíduo a busca por suas raízes e pela preservação do local onde vive, através de uma
relação emocional. Esse cenário envolve os conceitos de sustentabilidade, territorialidade e
perceptualidade através da emoção, que estão sendo amplamente utilizados como ferramenta estratégica
na concepção de produtos.
Assiste-se atualmente à transformação da cultura em mercadoria, representada de forma a ser consumida
pelos adeptos ou não da mesma. Como exemplos, encontram-se os produtos que exprimem a idéia de
um país no mundo, através da exploração da cultura e produção local e do apoio aos produtores da
região. O design contribui para a conversão desses traços culturais em modos de agregar valor aos
produtos, atuando como uma ferramenta de promoção do território. Foi nessa vertente da pesquisa que
nasceu o conceito de territorialidade e o objetivo deste artigo é demonstrar como a fusão dos conceitos
estudados pode se traduzir em estratégias para a diferenciação de um produto no Mercado. Nesse estudo
de caso, o café mineiro.

Keywords: sustainability; territoriality; design.

The design activity is largely influenced by the behavior of society. By including the ability to perceive and
interpret technical potential and social expectations, projecting them into new solutions, as we change the
values of society, changes also its approach.
The behavioral target of the society is headed for environmental awareness, which makes that the
individual searches for the preservation of where he lives through an emotional relationship. This scenario
involves the concept of sustainability, territoriality and perceptually by emotion, which are being extensively
used as a strategic tool in product design.
We watch today the transformation of the culture into a commodity, represented as to be consumed by the
fans or not of it. Examples are the products that express the idea of a country in the world, through the
exploration of culture and local production and support for local producers. The design contributes to the
conversion of these cultural traits in ways of adding value to products, acting as a tool to promote the area.
It was this strand of research that was born the concept of territoriality and the goal of this paper is to
demonstrate how the merger of the studied concepts can be translated into strategies to differentiate a
product on the market. In this case of study, the coffee from Minas Gerais.

Introdução
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Este artigo é o resultado de uma pesquisa pesquisa teórica sobre o produto café e o
Estado da Arte de novas demandas de projetação em Design. Ela tem por objetivo principal
mapear essas novas demandas, a fim de demonstar como estas podem atuar juntas
constituindo uma estratégia para diferenciação de um produto/serviço. Neste estudo de caso,
especificamente, escolheu-se o café para identificar oportunidades em seu mercado para a
ação do designer, constituindo uma estratégia para a construção da identidade do mesmo
como um produto de origem mineira.
Desde os tempos mais remotos, a atividade criativa tem acompanhado o homem. Suas
observações cotidianas serviram, muitas vezes, para a construção de artefatos para facilitar
suas atividades. Dos registros nas paredes das cavernas aos dias de hoje, essas atividades
desenvolveram-se juntamente com as conquistas tecnológicas e orientadas pelas
necessidades e estilos de vida dos indivíduos.
O atual acesso à informação facilitado e a rapidez de sua disseminação contribuiu
para a construção de uma sociedade que vive constantemente em um intercâmbio global,
resultado da globalização e seu ritmo acelerado, o que levou a sociedade a outros caminhos,
estabelecendo um diálogo entre a globalização e valores locais. Aí manifesta-se a busca pelas
raízes e a identidade, que cresce à medida que os valores da sociedade caminham para a
procura por distinção. Isso ocorre porque tanto no mercado em geral, quanto na moda e nos
comportamentos, a tendência à padronização tornou-se uma constante. A informação, os
objetos de desejo comum, a comunicação, tudo teve seu acesso facilitado, possibilitando que
setores sociais diversos, antes diferenciados por estilos de vida próprios, tenham acesso às
mesmas oportunidades, diminuindo distâncias e diferenças.
Nesse cenário, a diferenciação passou a ser imprescindível na busca e recuperação
das identidades, e muitas vezes o meio usado para atingí-la é o retorno às próprias raízes. O
sentimento de pertencer a um determinado local, época ou contexto atinge o emocional das
pessoas, refletindo no comportamento da sociedade.
Também outras mudanças determinam novos valores da sociedade. A natureza, por
exemplo, tem dado sinais de que, em breve, não poderá comportar mais o ritmo acelerado do
consumo, manifestando-se através da gradual escassez de seus recursos.
No contexto da evolução humana, o design também tem sido influenciado pelas
mudanças da sociedade, alinhando-se a diferentes movimentos e tendências como arte,
metodologia, marketing, ergonomia, dentre outros, desenhando novos territórios para o
desenvolvimento da atividade.

Contexto Histórico e Evolutivo do Café


É importante conhecer o percurso da evolução histórica do café como produto para
entender os caminhos responsáveis por sua abrangência mundial e que constituem a história
da chamada “cultura do café”.
Sobre a origem do consumo do café, diferentes lendas foram espalhadas pelo mundo,
apesar de não existir uma evidência concreta sobre sua descoberta. A mais recorrente das
lendas é uma estória que se passou no século III d.C. Segundo ela, um pastor de cabras que
se chamava Kaldi e vivia na Absínia, hoje Etiópia, observando suas cabras, notou que elas
dotavam-se de uma energia extra sempre que mastigavam os frutos de arbustos existentes em
alguns campos de pastoreio, conseguindo caminhar por vários quilômetros. Kaldi, então,
comentou sobre o comportamento dos animais com um monge da região, que decidiu
experimentar o poder dos frutos. Este apanhou um pouco, levou consigo até o monastério e
começou a utilizá-los na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao
sono enquanto orava ou em suas longas horas de leitura do breviário. Essa descoberta se
espalhou rapidamente entre os monastérios, criando ali um consumo da bebida.
À medida que o café se tornava popular, foram reservadas salas especiais nas casas
dos mais abastados, exclusivamente para se saborear a bebida, além do aparecimento de
locais exclusivos para a prática nas cidades. A partir de 1615, ele começou a ser consumido no
Continente Europeu, trazido por viajantes em suas freqüentes visitas ao Oriente. Até o século
XVII, somente os árabes produziam café e os comerciantes europeus da Holanda, Alemanha e
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Itália estavam importando grãos e tentando introduzir a lavoura em suas colônias. Foram os
holandeses que conseguiram as primeiras mudas e as cultivaram nas estufas do jardim
botânico de Amsterdam, fato que tornou a bebida uma das mais consumidas no velho
continente, passando a fazer parte definitiva dos hábitos europeus. A partir destas plantas, eles
iniciaram o cultivo comercial no Sri Lanka, em 1658, e então em Java, em 1699. Por volta de
1706, passaram a exportar esse café e estenderam sua produção para outras partes da
Indonésia.
Em 1714, os holandeses ofereceram como presente ao Rei da França, Luís XIV, um pé
de café. Este cresceu numa estufa em Versailles e suas mudas foram levadas para a ilha de
Réunion, na época chamada de Ilha de Bourbon, onde iniciou-se seu cultivo. A variedade que
se desenvolveu na ilha tornou-se conhecida como o café Bourbon.
No Brasil, em 1727, o Governo do Pará, após se dar conta de que a terra do país tinha
características peculiares que convinham à cafeicultura, enviou o Sargento-Mor Francisco de
Mello Palheta à Guiana Francesa para que solicitasse algumas mudas de café ao governador,
M. d’Orvilliers. Estas lhe foram negadas, por ordem expressa do Rei da França. Acerca dessa
história, muitas versões foram criadas, mas todas com a mesma essência, que diz que a
esposa do governador, enviou a Palheta, quando ele estava embarcando de volta para o Brasil,
um ramo de flores onde estavam, dissimuladas pela folhagem, as sementes do café. Foi a
partir delas que cresceu o famoso império do produto no Brasil. Do Pará, sua cultura se
estendeu ao Maranhão e, em meados de 1760, foi levada para o Rio de Janeiro por João
Alberto Castelo Branco. De lá, se espalhou pelo Vale do Paraíba.
O desenvolvimento da produção do café no país foi favorecido por vários fatores, entre
eles a brusca queda na produção internacional por a praga que atacou os cafezais de Java e a
crescente demanda européia e americana por uma bebida barata, fato que se aliou à busca
dos fazendeiros brasileiros por um produto de fácil colocação no mercado internacional, diante
da crise das culturas de açúcar e algodão.
Um outro fator muito contribuiu para a consolidação do Brasil e de Minas Gerais como
grandes produtores de café. A decadência da produção aurífera fez com que a mão-de-obra
usada na mineração se dirigisse para outras áreas da Capitania das Minas Gerais, como era
chamada na época, em busca de trabalho. Por outro lado, os recursos financeiros usados em
outras culturas estavam agora livres para serem aplicados em atividades mais lucrativas. As
lavouras de café da Capitania do Rio de Janeiro, então, atingiram Minas Gerais e rapidamente
a cafeicultura se difundiu, transformando-se na principal atividade da Província.
Os governadores dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro reuniram-
se no Convênio de Taubaté com o objetivo de buscar soluções para enfrentar a crise. Este
encontro definiu a adoção de medidas para desencorajar a expansão das lavouras, além do
comprometimento dos governos estaduais em comprar o excedente da produção.
O “ciclo do café”, que representou a expansão da atividade, repercutiu econômica e
socialmente no Brasil, pois ocasionou a ampliação das vias férreas, a modernização dos portos
do Rio de Janeiro e de Santos e a vinda de imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras.
Por ser o primeiro produto de exportação controlado majoritariamente por brasileiros,
possibilitou o acúmulo de capitais no país, criando mercado interno importante que serviu de
suporte para o desenvolvimento das atividades industriais, comerciais e financeiras.
Não somente no consumo do café solúvel se baseou a produção, o mercado e a
cultura do grão no Brasil. Ao contrário. Desde que surgiu no país, o produto se expandiu do
Sudeste para todas as outras regiões e, por esse motivo, a cafeicultura brasileira possui
características muito diversas. O país produz os mais variados tipos de grãos e obtém todas as
qualidades de bebida, ao contrário do que ocorre em outros países produtores.
O consumo de café no país chega a 2 bilhões de quilos e o consumo per capita excede
7 quilos por ano. O país se encontra, atualmente, na condição de maior produtor mundial de
café, sendo responsável por 30% do mercado internacional, além de ser o segundo mercado
consumidor, atrás somente dos Estados Unidos. O grande negócio do Brasil ainda é a
exportação do café em grão verde. Porém, já tem prestígio na venda de café solúvel e
recentemente iniciou a conquista de espaço também para o café torrado e moído, que
começou a ser exportado há quatro anos.
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As áreas cafeeiras de destaque estão concentradas no centro-sul do país, nos Estados
de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. Além disso, na região Nordeste destaca-
se a Bahia e no Norte, Rondônia. Em Minas Gerais, as principais regiões produtoras são:
Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Matas de Minas e Jequitinhonha. O Cerrado Mineiro possui
grande destaque no Estado por ter desenvolvido um grão de qualidade superior e recebido a
primeira indicação geográfica de café de qualidade no Brasil, dados que serão explicados no
próximo item.
Seu cultivo iniciou-se na década de 70, um pouco tardiamente. Foi uma iniciativa de
agricultores paranaenses que haviam fugido das geadas. No início, as terras foram
consideradas ruins para o plantio de café, por possuírem um solo inadequado e o clima árido e,
por isso, seus grãos eram vendidos por preços abaixo da média. Após um tempo, os
agricultores e produtores passaram a investir em novas técnicas, que tornaram possível o
cultivo em grande escala. O grande diferencial da região foi o investimento na qualidade do
café, fato que a tornou pioneira na produção de café gourmet, que deu ao produto um novo
rumo.
Foi o Cerrado Mineiro a primeira região a receber a Indicação Geográfica de café do
mundo. Para um café obter esse selo, é necessário alcançar pontuação determinada pela
Metodologia Specialty Coffee Association of America (SCAA) de Classificação Sensorial, que
vai de 0 a 100. Essa nota depende de iniciativas que ocorrem desde o plantio inicial, em prol da
obtenção de um grão de melhor qualidade.
Nota-se a tendência mundial de buscar em um produto uma qualidade diferencial. Por
esse motivo, somente ser um grande produtor de café não é suficiente se a mistura do produto
não satisfaz ao gosto do consumidor. Atualmente, a demanda por cafés de qualidade vem
crescendo a cada dia e os consumidor são capazes de pagar um valor mais alto por um
produto que possui diferencial e qualidade.
Depois de ostentar, por vários anos, o título de maior produtor e exportador mundial de
café, o Brasil agora disputa, ao lado da Colômbia, um outro troféu: o de líder no mercado de
cafés especiais. Essas recentes iniciativas direcionam-se para um rigoroso controle de
qualidade em relação a seus cafés.
É notável a mudança da cultura do café no Brasil, resultado de uma demanda mundial
de consumidores e também dos programas e investimentos realizados pela ABIC- Associação
Brasileira da Indústria de Café. Todas as iniciativas passam, então, a compor uma estratégia
corporativa, que visa melhorar a qualidade do café brasileiro e aumentar sua visibilidade no
mercado mundial. Isso tudo através de esforços gerenciais e de marketing, no sentido de
fortalecer os cafeicultores, para que sobrevivam à forte concorrência através de diferenciais
competitivos.
Estratégias para valorização das zonas produtoras, captação de novos mercados e
fidelização dos antigos devem ser feitas com base em dados concretos. Por esse motivo, a
Abic realiza todos os anos, uma pesquisa relacionada a tendências tanto sobre o mercado
mundial, como sobre as tendências de consumo, não somente em relação ao grão, como
também ao setor em que se encontra, o de bebidas e serviços.
Dados de uma pesquisa da ABIC pontuaram algumas considerações relevantes, como
a afirmativa de que esse é um mercado maduro e aberto à inovação em tipos de produtos,
embalagens, forma de preparo e consumo. Por esse motivo é que tem exigido investimentos
em inovação.
A observação das demandas mercadológicas contemporâneas, analisadas em
conjunto com os dados de pesquisas de tendências indica que o diferencial competitivo,
independentemente do contexto em que é abordado, possui grande influencia na s decisões de
escolha de um consumidor. O design, como ferramenta estratégica, tem nesse processo a
função de inovar e agregar valor aos produtos pela diferenciação em diversos níveis e aspectos
e, em colaboração e interface com profissionais de áreas diversas, pode estabelecer níveis de
interação em toda a cadeia ou rede de valor do produto.

O Sistema Produto
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A sociedade pós-industrial caracteriza-se pela integração da dimensão cultural da
produção ao consumo e ao descarte. Suas tendências mais fortes constituem-se em produtos
como suporte de comunicação de valores culturais, o que significa relacionamento direto entre
as atividades industriais de produção e estratégias de comunicação. No cenário atual, a
sociedade se deparou com a escassez de recursos, o que faz com que ela se volte para o meio
ambiente de forma mais atenta.
A cadeia de valor é um sistema que se organiza em torno de um produto ou serviço e
tem como função conectar as diferentes atividades necessárias para concebê-lo e distribuí-lo.
Como resultado do reflexo do comportamento da sociedade, a projetação em design deve
acompanhar suas aspirações e é por isso que se torna importante a atuação do profissional da
área ao longo de toda essa cadeia.
Juntamente com os novos valores e movimentos que entraram em questão na
sociedade atual, a sustentabilidade ganhou maior destaque e abrangência, sendo discutida
amplamente em todo o mundo. Manzini e Vezzoli defendem que este consiste um processo de
aprendizagem social a que as pessoas estão sendo gradualmente submetidas e que consiste
em viver melhor consumindo muito menos, regenerando a qualidade do ecossistema global e
dos contextos locais em que estamos inseridos.”
Segundo os autores, um dos principais desafios do design atualmente é desenvolver e
suportar o desenvolvimento de soluções para questões mais complexas, que exigem visão
mais abrangente, que envolva produtos, serviços e comunicação de forma conjunta e
sustentável. O papel do designer nessa nova visão é atuar como facilitador de processos. Para
isso, a atividade deve ser vista como um serviço e não somente como o ato de desenhar
soluções para produtos.
O cenário contemporâneo questiona a produção de artefatos, orientando a busca por
produtos que se adaptem melhor à atual necessidade de redução do impacto ambiental.
Somado a isso, encontram-se os novos materiais e tecnologias de produção que abrem
oportunidades a esse direcionamento, fazendo com que a estética do novo milênio passe a ser
diretamente vinculada à ética ambiental.
Nesse panorama, deve-se entender o design como criador de um Sistema-produto,
que constitui o conjunto integrado de produto, serviço e comunicação. Além disso, esse
sistema deve preocupar-se também com as formas como uma empresa se apresentará no
mercado e o designer, então, passa a ter a função de projetar sistemas e serviços,
desenvolvendo um conceito global. No âmbito do design sustentável, seu papel é ligar o que é
tecnicamente possível com o que é ecologicamente viável, a fim de propor soluções social e
culturalmente harmonizadas.
O ciclo de vida de um produto envolve pré produção, produção, distribuição, uso e
descarte. O design voltado para a sustentabilidade considera que é mais eficaz agir
preventivamente do que buscar soluções de recuperação. Isso significa projetar com o
pensamento voltado para tentar reduzir o input de materiais e/ou energia e o impacto das
emissões e refugos ao mínimo possível. Dentre as melhorias que podem ser trabalhadas, estão
a eficiência global em consumo de matéria/energia, a reciclagem de materiais e a reutilização
de componentes.
Trabalhar com produtos inovadores significa posicionar-se no nicho da diferenciação,
como já foi pontuado, e a projetação para a sustentabilidade tem dado sinais de que reserva
um futuro promissor, por ser uma forma de inovação que pode atender às necessidades e
anseios do consumidor final, colaborando também para a construção de um cenário que
contribua para a preservação do meio ambiente.
Adotar uma atitude sustentável muitas vezes abrange pensar em um ciclo de vida mais
longo para o produto, estendendo sua utilização e, conseqüentemente, reduzindo o uso de
materiais para novas produções. A utilização de recursos locais disponíveis também auxilia
nessa atitude sustentável, à medida que reduz energia no transporte dos mesmos. Essas e
outras questões são tratadas no tópico que se segue, aliada ao conceito de territorialidade.

Identidade e Território
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Assiste-se atualmente à transformação da cultura em mercadoria, representada de
forma a ser consumida pelos adeptos ou não da mesma. Como exemplos, encontram-se os
produtos que exprimem a idéia de um país no mundo, através da exploração da cultura e
produção local e do apoio aos produtores da região. O design contribui para a conversão
desses traços culturais em modos de agregar valor aos produtos, atuando como uma
ferramenta de promoção do território. Foi nessa vertente da pesquisa que nasceu o conceito de
territorialidade.
A busca dos consumidores contemporâneos por produtos rastreáveis é uma tendência
que vem crescendo a cada dia. Essa caracterização abrange todo produto que possui origem e
percurso até o consumidor identificáveis. O fato de um consumidor poder ser comunicado,
através do produto que compra, sobre suas características históricas, ambientais, culturais e
sociais faz com que ele passe a apreciá-lo de forma mais ampla, absorvendo também sua
cultura. Isso promove transparência em relação ao produtor, aproximando-o, juntamente com
seu produto, do consumidor final.
Os conceitos aqui adotados em relação a esse estudo foram baseados no livro Design
e Território, de Krucken (2009). Segundo a autora, para projetar em prol da valorização dos
recursos e produtos, deve-se perceber as qualidades do contexto local – o território e a
maneira como cada produto é fabricado e percebido - para compreender as relações que se
estabelecem ao longo de sua cadeia de valor.
Os produtos locais são formas de manifestação cultural da comunidade ou território
que os gerou, carregando em si características (das propriedades físicas aos hábitos de
consumo) que em muito influenciam essa sociedade. Comunicar essas características de forma
correta faz com que se desenvolva uma imagem favorável do território em que o mesmo se
origina e o elemento chave dessa valorização é a relação entre produtores e consumidores.
Krucken defende que para o consumidor, o valor do produto é correspondente à
qualidade percebida por ele e tem a ver com uma série de requisitos que fazem parte da
experiência do consumidor para com o produto. Diante de um mau resultado, seu
comportamento em relação a ele irá mudar dificultando sua fidelização com a marca.
Esses pré-requisitos em relação a um produto são representados por uma estrela de
valor (Ilustração 4), que possui em cada uma de suas pontas os valores principais relacionados
a ele. Eles se estabelecem de forma integrada e se articulam ao longo da experiência do
consumidor.

Figura 01: Estrela de Valor de um Produto


Fonte: Design e Território: Valorização de Identidades e Produtos Locais (Krucken, 2009).

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Todos esses valores podem contribuir também para a constituição de um projeto de promoção
do produto. Dentro do contexto de território, a autora defende a adoção de uma política cultural
que respeite a cultura local e promova a ligação entre território, comunidade e produto,
resultando em um consumo responsável e produtos de qualidade superior. Eles devem ser
parte de uma construção coletiva ao longo da cadeia, conectando produtores. A importância da
ligação entre qualidade do produto e do território e seu modo de fabricação se torna mais
reconhecida a cada dia pelos consumidores, acarretando a busca por informações que os
possibilitem identificar a história por trás do produto
O design, nesse contexto de valorização dos produtos locais, passa a ser visto como
uma ferramenta para competitividade e uma oportunidade para a inserção dos pequenos
produtores no mercado atual. A conscientização das pessoas em relação a essa função e da
importância de investir na área deve e está sendo divulgada, pelas experiências de sucesso de
países que o adotam como atividade estratégica.
A abordagem do design aplicado ao território visa beneficiar tanto produtores como
consumidores. Para isso, é necessário o planejamento de ações em nível sistêmico, pela
colaboração de áreas diversas e o estabelecimento de redes favoráveis ao desenvolvimento
local, com ênfase nos pequenos produtores. Além de produzir de acordo com o potencial e
características locais, pequenos produtores associados tem mais peso, pois não se depende
de uma única produção para a inserção do produto no mercado, o que diminui os riscos.
A cafeicultura do cerrado mineiro vem conseguindo evoluir nesse processo,
constituindo associações de cafeicultores. Através delas, os produtores passaram a participar
de concursos de qualidade e foi instituída também a marca regional Café do Cerrado. Outras
práticas foram adotadas, como a divisão em quatro regiões produtoras de café de Minas
Gerais, com identificação de origem e qualidade, além da criação de um lacre de inviolabilidade
que garante sua rastreabilidade. A região do cerrado mineiro ainda possui o diferencial de ser a
primeira a receber a indicação geográfica de café do mundo.
As indicações geográficas podem ser por procedência ou origem. Em ambas, o nome
do país, cidade ou região serve como elemento distintivo e identificador do produto ou serviço.
A grande variedade de solo e condições climáticas no Brasil possibilita ao país produzir uma
grande variedade de tipos de café, o que faz com que se desenvolvam qualidades diferentes
de sabor do produto, fator que deve ser mais explorado para a abertura de novos mercados
para o país. Existe também a necessidade de olhar para o consumidor final, seus gostos e
hábitos em relação à bebida, de forma a dialogar com o mesmo, consolidando sua marca.
Algumas tentativas com o objetivo de estabelecer diferenciais para o café brasileiro tem
ocorrido por parte da indústria de torrefação e moagem. Uma dessas formas de distinção é a
classificação do produto em categorias, ilustradas no quadro abaixo.
Na última década, foi grande o aumento do número de consumidores dispostos a pagar mais
por produtos que possuam diferenciais, tangíveis ou intangíveis. Essas possibilidades de
segmentação e diferenciação estão entre os fatores mais relevantes na influência da escolha
do consumidor e, por esse motivo, atributos de qualidade vem sendo incorporados aos
produtos, como é o caso das certificações. Elas facilitam aos consumidores a identificação de
atributos de qualidade específicos e permite também que pequenos agricultores se incorporem
mais facilmente ao mercado de café.

Aspectos Emocionais
A identidade mineira vem sendo construída ao longo de sua história desde os seus
primeiros habitantes e pode relacionar-se de forma direta com o conceito de território. É
importante pontuar alguns aspectos relacionados aos costumes e tradições, que confirmam os
traços peculiares que ajudaram a caracterizar essa identidade.
A história de Minas é parte indissociável da História do Brasil. Não se sabe onde
começa uma, onde termina a outra. A identidade mineira se formou ao longo de todos esses
anos de história, através de uma mistura curiosa das épocas em que se passaram, as
atividades que se desenvolveram e, principalmente, os povos que a habitaram. O povo de
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Minas é uma mescla de etnias, bem temperada com ricas e diversas histórias.
Foi da mistura de culturas ancestrais, manifestações, épocas e locais que se originou a
identidade mineira e seu patrimônio histórico, artístico e cultural, onde idéias opostas se
fundem, valores tradicionais se traduzem em costumes modernos, elementos clássicos se
preservam, formando sua cultura material e imaterial. Essa característica permitiu a abertura
para novas idéias, sem renunciar à tradição, sua particularidade, possibilitando a exploração de
novos caminhos para a disseminação dessa originalidade.
Esses traços fazem parte de um povo e da conservação de sua memória. O mineiro,
muito ligado às suas tradições, estabelece um forte vínculo afetivo com as próprias raízes e
não abre mão de preservá-las. É nesse tipo de vínculo que muitos produtos afirmam o aspecto
emocional, que explorado na concepção, determina o sucesso de sua marca. O sistema
emocional muda o modo como o sistema cognitivo opera por atribuir valor ao significado do
produto. Por influenciar a percepção humana, o componente afetivo é capaz de mudar esse
significado. Assim, o Marketing tradicional, que se preocupa essencialmente com o
atendimento a demandas observadas, já não atende às novas exigências. Para satisfazê-las,
surge uma nova tendência de consumo orientada para o aspecto sensorial. Diante de um
mercado saturado de produtos iguais, o consumidor tende a buscar um diferencial e, muitas
vezes, um dos fatores que mais o influencia é o emocional, atrelado ao conceito de produto de
“personalidade”. Ele oferece o que o outro não possui, criando a ilusão de ser único, o que faz
com que o próprio consumidor se sinta da mesma maneira. Ele tende a depositar no produto
determinadas expectativas em relação a si mesmo. Isso caracteriza a transposição da
personalidade do produto para quem o consome, fazendo com que a compra passe a significar
o que se deseja representar como imagem pessoal.
Atualmente, com a facilidade de produção em massa de produtos que atuam numa
mesma fatia de mercado, a inovação coloca-se como uma forma de distinção entre os iguais e
ganhou característica de fator competitivo.
Satisfazer necessidades inclui dialogar com culturas, faixas etárias, grupos sociais e
exigências diferentes, que constituem dificultadores e, ao mesmo tempo, norteadores de um
projeto. O conceito de personalidade é culturalmente diferente ao redor do mundo, mas existe
um fator em comum nas escolhas: a realização pessoal, que se origina da sensação de
consumir algo unicamente seu, gerando orgulho e sentimento de pertencimento em relação ao
produto. “It´s all about emotion, pride and feeling of accomplishment” segundo NORMAN
(2005).
As ferramentas básicas do design emocional consistem no planejamento de uma
personalidade, atrativos prazerosos e entendíveis e bom preço. Isso constitui o conceito de
brand dos produtos, uma marca de identificação que produz uma resposta emocional capaz de
aproximar e sustentar o consumidor.
A emoção e a percepção dos sentidos atuam como formas de criação de valor
simbólico, recordações e qualidade de vida ao usuário, que levam à busca por um produto que
saiba traduzir valor e identidade. Nesse sentido os conceitos aqui abordados se fundem,
resultando em produtos/serviços. Alguns países investiram na comunicação holística de seus
produtos, ativando aspectos ligados às emoções e identidade de seu território, como ilustram
os exemplos nesta sequência com o produto café. É interessante pontuá-las, já que são
representam culturas diversas que souberam explorar dentro de um mesmo ramo a tradução
de sua identidade, atingindo mercados diferenciais e alcançando maior visibilidade.

Figura 02: Estabelecimentos Voltados Para o Consumo do Café


Quadro Síntese sobre estabelecimentos que abordam o tema de formas diversas.

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O presidente da Electrolux, Detlef Munchow, tem uma frase ilustrativa sobre a
tendência emocional que está sendo discutida: “Colocando o consumidor final no centro do
pensamento e efetuando, tanto no design de alimentos quanto no design de produtos,
investigações de tendências futuras, podemos oferecer soluções profissionais completas e
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capazes de garantir a satisfação de nossos clientes.” Nessa vertente, o futuro do setor e em
particular do food design deverá contribuir para ampliar sempre as relações do indivíduo com
seus alimentos.

Conclusões
Formada pela contribuição das diversas culturas que originam o povo brasileiro, a
cozinha mineira preserva a soma dessas características. O sucesso da gastronomia em Minas
advém do encontro de ingredientes simples com o potencial criativo de seu povo, que no início
da história, diante da escassez de alimentos e recursos, investia na mistura do que era de mais
fácil acesso. Muito colorida, de sabores e temperos ricos e diversos, está diretamente
associada à hospitalidade mineira. Não importa a hora do dia, um visitante sempre será
convidado a tomar um “cafézinho”. Porém, engana-se quem pensa que este se limita a um
simples café preto, coado no filtro de pano.
O café está associado à prática que inclui as “quitandas” e o costume de se deixar
posta a mesa da cozinha, geralmente mais acolhedora que a própria sala de visitas. A
expressão do título faz parte do curioso vocabulário mineiro e é recorrente quando se oferece
café a uma visita, pois significa um convite à sentar-se à mesa e saborear das iguarias que
compõem a quitanda.
A cozinha de uma casa mineira, sempre ampla e farta, sintetiza toda a diversidade
herdada dos povos que constituíram essa cultura. O hábito do encontro em torno do fogo nas
casas de fazendas deu a este cômodo um lugar de destaque, para onde um convidado era
logo levado, a fim de ‘prosear’, contar histórias e transmitir lendas, além de ser, é claro, o local
‘central’ da organização da casa, por onde passavam todas as ordens e onde a maioria dos
afazeres ocorriam.
Porém, um verdadeiro “Café Mineiro” é mais do que mesa farta. Falar de café é falar de
Minas e suas tradições: do ambiente das fazendas, das lendas, das receitas de família, do café
da tarde, das procissões, do ócio na janela. Ao tomar um café acompanhado de uma broa, a
‘biblioteca de recordações’ é automaticamente acessada, evocando memórias que nos
permitem palpar e degustar costumes, mesmo nos tempos atuais de pressa e ruidosa rotina. É
esse o valor intangível de maior influência em relação à cultura mineira, e, principalmente, o
diferencial do hábito de se tomar café, que o faz distinto de todos os outros do mundo.
O café, como foi apresentado neste trabalho, apresenta as características de um
produto que mantém um lastro histórico, aliado à tradição de Minas Gerais, não só como
grande produtora, mas também pelo valor consagrado de sua culinária como patrimônio
material e imaterial do Estado. Foi responsável pela ascensão da Província de Minas Gerais,
pelo desenvolvimento da Economia Brasileira e pela instituição de hábitos culturais da cozinha
mineira, constituindo parte de uma identidade que carrega consigo um patrimônio cultural de
origem com muito para ser explorado. Além de seu valor econômico, possui grande
reconhecimento mundial e é um exemplo de produto onde as novas tendências se aplicam,
constituindo um cenário em potencial para o design. Isso acontece porque sua aceitação é
comum em todo o mundo e existem muitos exemplos bem sucedidos de formas de exploração
do produto de forma inovativa.
Os conceitos relacionados aos novos territórios do design, abordados nesse trabalho,
podem ser inseridos na cadeia de valor do café, ampliando seu potencial de produto de
exportação, não só bruto, como por meio de alto valor agregado.
Por essa perspectiva amplia-se a inserção do design na cadeia produtiva do setor,
desdobrando-se em múltiplas possibilidades de intervenção e atuação, que podem ser
exploradas em níveis de trabalhos mais aprofundados.

Figura 04: Produtos Contemporâneos com Base no Café


Fonte: Lavazza Training Center

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A cafeicultura é uma atividade que tem contribuído ao desenvolvimento sócio e
econômico do país e de Minas Gerais, que ainda apresenta um grande potencial de
diversificação de consumo interno e de produtos para a exportação.
A análise da cadeia produtiva do café, vista da perspectiva do design contemporâneo
sinaliza oportunidades de exploração e inovação, que podem contribuir à ampliação da sua
estratégia de produto como identidade territorial.
Conceitos como sustentabilidade, territorialidade, perceptualidade e emoção são
aspectos do design contemporâneo que associados à qualidade, produtividade e políticas
públicas podem consolidar a estratégia corporativa do produto, fortalecer as relações da cadeia
de valor, além de abrir novos caminhos para o mercado mundial.
A ilustração gráfica representada abaixo sintetiza como o design pode ser transversal à
cadeia de valor do café, contribuindo em várias fases de seu desenvolvimento à criação de
novos conceitos, marcas, produtos e serviços.

Figura 05: Proposta de Cadeia de Valor


Proposta de inserção do design na Cadeia de Valor do café

Referências
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Abdala, Mônica Chaves. Receita de mineiridade : a cozinha e a construção da imagem do
mineiro. Uberlândia, EDUFU-Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 1997.

De Moraes, Dijon (Org.) ; Krucken, Lia. (Org.) . Cadernos de Estudos Avançados em Design
– Multiculturalismo, Sustentabilidade I e II e Transversalidade. Contagem: Editora Santa
Clara, 2008.
Krucken, Lia. Design e Território: Valorização de Identidades e Produtos Locais. Belo
Horizonte: Studio Nobel, 2009.

Lindstrom, Martin. Brand Sense. A marca Multisensorial. Porto Alegre: Bookman, 2007.

Luna, Eury Pereira. Cafés do Brasil e indicações geográficas. Disponível em:


<http://www.chabad.org.br/BIBLIOTECA/artigos/cafe/home.html.> Acesso em 05/09/2009.

Manzino. Ezio; Vezolli, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos


ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2002.

Neto, Ensei U. Indicações Geográficas: Por dentro da Nova Onda. Disponível em: <
http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=23443>

Norman, Donald A. Emotional Design: Why we Love (or hate) everyday things. Perseus
Book, 2005.

Souza, Maria Célia M. e Saes, Maria Sylvia M. A qualidade no segmento de cafés especiais.
Disponível em: <http://www.chabad.org.br/BIBLIOTECA/artigos/cafe/home.html.> Acesso
em 05/09/2009.

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Sustentabilidade com rendas em produtos slow fashion a
partir das dimensões social, ambiental e cultural
(Sustainability with bobbin lace in slow-fashion products
from the social, environmental and cultural dimension)

SCHULTE, Neide Köhler; Mestre; Universidade do Estado de Santa Catarina


neideschulte@gmail.com

GODOY, Ilma; Especialista; Universidade do Estado de Santa Catarina


ilmagodoy@hotmail.com

RAMOS, Janaína; Graduada; Universidade do Estado de Santa Catarina


jana@limonada.com.br

palavras chave: sustentabilidade; renda de bilro; slow fashion.

O propósito deste artigo é apresentar os resultados do Programa de Extensão Ecomoda UDESC e da


pesquisa em conjunto com o Museu da UFSC e a Ong ALICE. O grupo trabalhou no resgate da renda de
bilro, artesanato típico da Ilha de Santa Catarina, acompanhou a capacitação das rendeiras, apresentou
alternativas de aplicação das rendas em outros produtos e criou diversas peças como: roupas,
acessórios, objetos de decoração e obras artísticas. O projeto foi selecionado para o 1° Paraty Ecofashion
que acontece em agosto de 2011, em Paraty-RJ, onde serão apresentados os resultados oralmente, em
exposição e desfile. A proposta que norteou o trabalho foram as dimensões: social, ambiental e cultural
para a sustentabilidade. As peças foram desenvolvidas com fios e tecidos de algodão orgânico e
reciclado. O trabalho teve a participação de professores, alunos, artesãos e demais pessoas da
comunidade que aplicaram o seu saber em peças exclusivas numa perspectiva da slow fashion que
também serão expostas no Museu da UFSC que será inaugurado em 2012.

Keywords: Sustainability, Bobbin Lace, Slow Fashion

The purpose of this article is to present the results of the extension program Ecofashion UDESC and the
researc, in partnership with UFSC Museum and the ONG “Alice”. The group worked in the recovery of the
Bobbin Lace, a traditional craft from Florianópolis, an island in the state of Santa Catarina- Brazil, followed
the training of the craftswomen, and presented alternatives in the application of the Bobbin Lace in other
products, such as: apparel, accessories, decorative objects and artistic works. The project was selected for
the first ParatyEcofashion, which will take place in August in the town of Paraty-RJ, where it will be
presented the results orally, in an exhibition and in a fashion show. The proposal that guided this project
was the social, environmental and cultural dimensions for the sustainability. The pieces were developed
with organic cotton and recycled yarns and fabrics. The project had collaborators such as professors,
students, artisans and the community, who applied their knowledge in creating exclusive pieces in a slow-
fashion perspective, whichwill be exhibit in the inauguration of the UFSC Museum in 2012.

1 Introdução

Reciclar, reutilizar, reaproveitar, customizar. São conceitos cada vez mais presentes no
cotidiano dos profissionais envolvidos com o mundo da moda, e que de certa forma, estão
presentes também em toda a sociedade. Cada vez mais os consumidores de diversas esferas
sociais no Brasil estão se preocupando com o que utilizam, levando em consideração em sua
decisão de compra, questões sócio-ambientais. Estamos vivenciando momentos de grandes
mudanças climáticas, que geram grandes prejuízos, além da degradação do planeta em função
do grande acúmulo de resíduos e poluentes. Todos esses fatores vêm dificultando a vida no
planeta Terra.
O designer destes novos tempos, além de possuir a tarefa de criar coleções “vendáveis” e
imagens do que poderá ser usado na próxima estação, gradativamente precisa conscientizar

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seus clientes e consumidores acerca da gravidade que envolve as questões ambientais e o
consumismo na atualidade. Segundo Papanek (1997, p.14), o
(...) designer tem sido sempre (...) um professor, estando em posição de informar e influenciar o
cliente. Com a atual confusão ambiental é ainda mais importante que ajudemos a orientar a
intervenção do design, de modo que seja natural e humana. Temos de alargar nossas próprias
áreas de conhecimento, e simultaneamente reorientar os nossos modos de trabalhar.

Com o objetivo de investigar e propor um novo direcionamento para os produtos do vestuário o


foi criado em 2005 o Programa de Extensão EcoModa UDESC, a partir do convite feito por
Marly Winckler, presidente da SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira – organizadora do 36°
Congresso Mundial de Vegetarianismo, em 2004, para participar do evento com um desfile.
Para o evento foi desenvolvido o projeto de extensão “Coleção de Moda para o 1° Veg
Fashion”, coordenado pelos professores Lucas da Rosa e Neide Schulte. O evento foi realizado
em Florianópolis, no Hotel Resort Costão do Santinho, no período de 08 a 12 de novembro de
2004.
Desde então o Programa de Extensão EcoModa vem se destacando através de seus projetos,
como um grande difusor dos conceitos de produção sustentável e do consumo consciente na
área da Moda.
O presente artigo pretende relatar as experiências de trabalho do Programa de Extensão
EcoModa UDESC com rendas de bilro, artesanato típico da cultura açoriana na Grande
Florianópolis. A coleção de roupas “Primavera Silenciosa”, apresentada em novembro de 2010,
na Università degli Studi di Firenze, Itália, foi o primeiro trabalho com utilização rendas de bilro
nas roupas. O segundo trabalho será apresentado no Paraty Ecofashion em agosto de 2011. O
diferencial em relação ao primeiro trabalho são as rendas feitas com fio de algodão orgânico e
com algodão reciclado.

2. Ecodesign e sustentabilidade ambiental

2.1. Ecodesign

Segundo Traversim (2005, p. 1), o termo ecodesign: é uma junção entre a palavra grega “eco”,
que significa “casa”, e a palavra inglesa “design”, que quer dizer “planejar, desenhar”.
Resumindo, o ecodesign propõe um casamento entre a natureza e a tecnologia, tendo a
ecologia como base. Os materiais devem ser escolhidos levando em consideração sua
toxicidade, abundância na natureza e possibilidade de regeneração ou reciclagem.
Como a moda é uma das indústrias de maior alcance nas camadas sociais e também a que
tem um dos maiores índices de poluição em toda sua cadeia produtiva, os designers de moda
precisam considerar as questões ambientais em suas criações em todo processo produtivo,
utilizando tecidos ecológicos, evitando os sintéticos e as peles. Os consumidores estão
buscando cada vez mais por inovações e por produtos menos poluentes.

2.2. Sustentabilidade ambiental

O conceito de sustentabilidade ambiental foi criado no início da década de 70, na Conferência


das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, para sugerir que era possível conseguir um
crescimento econômico e a industrialização sem destruir o meio ambiente. O modelo proposto
para o desenvolvimento sustentável foi uma tentativa para harmonizar o desenvolvimento
humano com os limites da natureza.
Na visão de Vezzoli (2005, p.27), as ações humanas para serem consideradas sustentáveis
devem atender aos seguintes requisitos: a) basear-se fundamentalmente em recursos
renováveis e, ao mesmo tempo, otimizar o emprego dos recursos não renováveis
(compreendidos como ar, água e o território); b) não acumular lixo que o ecossistema não seja
capaz de reutilizar (isto é, fazer retornar as substâncias minerais orgânicas, e, não menos
importante, as suas concentrações originais); c) agir de modo com que cada indivíduo e cada
comunidade das sociedades “ricas” permaneça nos limites de seu espaço ambiental, bem
como que cada indivíduo e cada comunidade das sociedades “pobres” possa efetivamente
gozar do espaço ambiental ao qual potencialmente tem direito.

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O grande interesse pela questão ambiental através de encontros, trabalhos acadêmicos e
reuniões envolvendo nações de todo o mundo demonstra uma crescente preocupação na
utilização dos recursos da Terra e, apesar de todo o reconhecimento da importância de um
desenvolvimento compatível com os ciclos naturais, caminha-se para um futuro que desafia
qualquer noção de desenvolvimento sustentável, e de respeito à natureza.
Diante de uma crescente necessidade de mais e mais produtos diferenciados no mercado,
observa-se hoje, a grande preocupação, sobretudo na questão do gerenciamento ambiental
adequado na conservação dos recursos naturais para futuras utilizações (e gerações).

2 Coleções ecomoda com rendas de bilro

2.1 Coleção Primavera Silenciosa

Partindo dos conceitos de ecodesign e sustentabilidade ambiental, a coleção “Primavera


Silenciosa” homenageia a bióloga Rachel Carson, considerada pelo jornal britânico The
Guardian, em 2006, como a pessoa que mais contribuiu para a defesa do meio ambiente
natural em todos os tempos. Com sua obra “Primavera Silenciosa”, publicada em 1962, Carson
inicia uma verdadeira revolução em defesa do meio ambiente natural, desencadeando
investigações sobre os danos dos inseticidas e outros produtos químicos à saúde humana e
para as demais formas de vida. Contudo, a indústria química multimilionária gastou milhares de
dólares para difamar sua pesquisa e seu caráter. Por ser cientista, sem doutorado, mulher,
amante de pássaros e coelhos, ter gatos, ser solteira aos 54 anos, foi considerada uma
histérica cuja visão alarmista do futuro podia ser ignorada ou, caso necessário, silenciada.

Figura 1 – Rachel Carson – Fonte: http://clinton2.nara.gov/WH/EOP/OVP/24hours/carson.html

Rachel, ao mesmo tempo, lutava contra um inimigo mais poderoso do que a indignação das
corporações: um câncer no seio que evoluiu rapidamente para uma metástase. Ela deixou o
alerta de que “a humanidade parece estar se envolvendo cada vez mais em experiências de
destruição de si própria e de seu mundo”.

Processo da criação e produção


Com a colaboração de alunos da UDESC, alguns já graduados pela instituição, outros
graduandos, além de professores e a parcerias com fornecedores, a coleção “Primavera
Silenciosa” foi desenvolvida como uma proposta para se repensar o sistema da moda diante da
emergência por um modo de vida sócio-ambientalmente mais sustentável.
Foram pesquisados materiais com menor impacto ambiental, como os tecidos orgânicos,
reciclados e reaproveitados. Também foram utilizados produtos da cultura local como as
rendas de bilro e os acessórios feitos por artesãos. Além disso, buscou-se trabalhar com uma
estética menos efêmera, mais atemporal, para que as roupas sejam usadas por mais tempo,
não sujeitas à moda passageira.

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O Ipê, uma árvore da mata atlântica brasileira, que floresce durante os meses de agosto e
setembro, geralmente com a planta totalmente despida da folhagem cujos frutos amadurecem
a partir de setembro a meados de outubro, é o tema escolhido para criação da coleção
“Primavera Silenciosa”.
Os estágios de transformação do Ipê durante o ano: no inverno, folhas e galhos secos,
parecendo estar sem vida, então renasce na primavera com suas flores brancas, amarelas,
rosas e roxas, e no verão, o verde exuberante das folhas e o marrom do troco harmoniza o
calor entre o céu e a terra, inspiraram a estrutura da coleção “Primavera Silenciosa” que
apresenta peças com formas básicas, baseadas na alfaiataria. Uma roupa feita para sair da
passarela e ser usada por uma mulher consciente com o mundo que a cerca, que se veste bem
e prima pela qualidade.

Figura 2 – Looks com renda da Coleção Primavera Silenciosa – Fonte: arquivo pessoal

Em Firenze, no Palazzo Medici, no dia 12 de novembro, foi apresentado o Programa de


Extensão EcoModa UDESC, em se mostrou todo processo de criação e execução da coleção
“Primavera Silenciosa”, desde a escolha do tema - uma homenagem à bióloga Rachel Carson;
as referências - o Ipê com suas fases: seco, floração e verde; a escolha dos materiais – o
algodão reciclado da Eco Simple, o algodão orgânico da Justa Trama, as rendas de bilro de
Zéllia dos Santos e suas colaboradoras; até o uso de sementes nas bijuterias desenvolvidas
por Andréa Alves, os chapéus artesanais de Yone Vecchi, as carteiras de retalhos de Isabel
Possidônio e os sapatos forrados com algodão reciclado pela empresa Raphaella Booz.

2.2 Parceria e a coleção “Dia especial de Maria Morena”


Em março deste ano formou-se a AME (ALICEong, Museu da UFSC e Ecomoda UDESC), uma
parceria para desenvolver projetos de pesquisa e extensão entre as universidades UFSC e
UDESC, e a Ong Alice. Entre os projetos está a coleção de roupas “Dia especial de Maria
Morena” para o Paraty Ecofashion, em agosto de 2011.
O objetivo do evento Paraty Ecofashion é promover em Paraty um grande encontro de
estilistas, designers e estudantes de moda, que tenham como propósito a Eco moda. Escolas e
faculdades com seus alunos de moda de todo o Brasil mostram no evento o resultado de suas
pesquisas traduzidas em vestimentas.
A coleção de roupas “Dia especial de Maria Morena” apresenta roupas leves para dias quentes
e foi desenvolvida com tecidos de algodão orgânico e reciclado, com ênfase no uso de rendas
de bilro feitas com fios de algodão orgânico e reciclado. Na elaboração das peças da coleção
também foram reaproveitadas rendas que foram produzidas para decoração. Além das roupas
foram criadas outras peças para o vestuário, como bolsas, carteiras, bijuterias e sapatos.
Maria Morena é o nome de um tipo de renda típica de Florianópolis. Outra renda típica é a
tramóia. Ambas foram utilizadas na coleção, além de outras rendas tradicionais, que
apresentam roupas para um dia especial na vida da mulher, o dia do casamento. Do despertar,
com uma lingerie, ao momento do “sim”, num vestido de noiva, a coleção apresenta uma
proposta de roupas leves, estéticas e com rendas delicadas para serem usadas no dia muito
especial para a mulher, e nos demais dias, enquanto a roupas durar.

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Projeto “Vivo de Renda”
A Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação – ALICE é uma organização não-
governamental sem fim lucrativo, que tem como objetivo desenvolver projetos alternativos e
autogeridos de comunicação para discutir comportamento, ética e tendências da imprensa,
formar leitores críticos e contribuir para democratizar e qualificar a informação no Brasil.
A ong ALICE está desenvolvendo o projeto “Vivo de Renda” que dá visibilidade à tradição das
rendeiras de bilro de Florianópolis, por meio da produção de livro, documentário, exposição
fotográfica, entre outros reunindo depoimentos, história, projetos, e um catálogo de rendas e de
piques (moldes utilizados para elaborar os diferentes tipos de renda de bilro).
Ao amplificar vozes, imagens e modos de vida desses sujeitos e comunidades, interliga
diversas propostas elaboradas por instituições da região, colaborando para a interação e o
debate. Provocando a participação ativa das rendeiras, constrói uma rede capaz de transformar
ações isoladas em processo comunitário, e processos comunitários em projetos institucionais.
O presente projeto, portanto, propõe documentar e – por meio da comunicação – compor uma
parceria para a preservação de um patrimônio cultural através de sua difusão e discussão de
projetos de geração de renda e sustentabilidade.
Conforme Andrea Zanella e colaboradoras, “com relação à atividade – a renda de bilro – trata-
se de uma manifestação cultural e, como tal, deve ser entendida como atividade social
realizada por uma determinada coletividade. Desse modo, ao aprendê-la o sujeito apropria-se
não somente de um fazer, mas de toda a história e valores que o caracterizam, sendo que, ao
mesmo tempo, imprime a estes sua marca singular. Ser renderia consiste, assim, dadas as
transformações que vêm re-organizando o viver dessas mulheres nesse contexto social
específico, em saber tecer, envolver-se afetivamente com a atividade e comprometer-se com a
sua história (Zanella et. al, 2000).
Fazer renda, segundo as autoras, é o movimento em que o trançar fios de significados
produzem novas rendas, onde o sujeito que tece é tecido pela trama da história de que faz
parte/participa.

Coleção de rendas de bilro Doralécio Soares


A renda de bilro também conhecida como renda de almofada, era no século XIX, uma
atividade feminina praticada no âmbito doméstico. Surgiu provavelmente do bordado,
porém diferencia-se deste por trabalhar com pontos no ar, sem tecido. Provavelmente
sua origem remonta ao século XV, na Itália, e foram introduzidas na Ilha de Santa
Catarina então Desterro, no século XVIII pelos açorianos.
A confecção de renda é uma atividade que se desenvolveu principalmente nas regiões
litorâneas habitadas por pescadores sendo que sua confecção contribuía com a renda
doméstica. Também é uma atividade passada de mãe para filha, e é bastante comum
encontrar gerações de rendeiras trabalhando juntas.
Com a aquisição da Coleção “Doralécio Soares”, em 2007, pelo Museu Universitário
Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) através da Caixa
Econômica Federal, o acervo de rendas do museu tornou-se o maior conhecido no
estado, constituindo uma referência para pesquisadores interessados nesta atividade.
A referida coleção é constituída por 224 peças. Enfatiza-se a importância de da
incorporação ao patrimônio do museu, por sua significação e abrangência. O fato de
sua guarda ser de uma instituição pública, que tem como compromisso, entre outros, a
difusão do conhecimento, é uma garantia de que este patrimônio possa ser usufruído
pela coletividade.
Doralécio Soares, atualmente com 97 anos, é um pesquisador preocupado com esta
atividade, tendo publicado uma série de trabalhos sobre a renda.
O novo espaço expositivo do Museu da UFSC, com finalização prevista para 2012,
deverá constituir o maior espaço museal de Santa Catarina. Assim, os esforços têm
sido dirigidos para os trabalhos de pesquisa, catalogação e captação de recursos para
a informatização dos dados, visando sustentar, de maneira consistente e responsável,
a ampliação do papel que desempenha no quadro científico e cultural do estado.

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A coleção de roupas “Dia especial de Maria Morena” e os resultados do o projeto “Vivo de
Renda” serão apresentados no Museu da UFSC em 2012.

3 Considerações sobre a moda

Para compor a identidade de cada pessoa o sistema de moda atualmente oferece um modelo
de comercialização que abastece o mercado com as novidades do mundo fashion de forma
muito rápida, é a chamada “Revolução do Fast Fashion”, onde existe uma complexa estratégia
de organização que reúne várias áreas de uma mesma empresa para que a produção de uma
roupa seja muito rápida.

Segundo Cietta (2010), nos anos 80 o mecanismo era copiar e vender o que havia sido
definido como moda para a temporada seguinte. Já nos anos 90, o mercado passou a ter coisa
demais para copiar. Atualmente, há o poder das marcas e, além disso, copiar apenas não
basta, tornou-se um risco. Por isso, até as confecções menores passaram a investir no design.
O fast fashion envolve o consumidor no design do produto, na medida em que é produzido
aquilo que o consumidor deseja. O design é local, e a velocidade exige que a produção
também seja feita no local. No Brasil ainda é um movimento recente, mas com a
internacionalização da moda brasileira, o modelo de negócio no país vem aprimorando e se
tornando cada vez mais importante para o consumo de massa.

Com a fast fashion, prever as tendências de consumo, característica de muitas indústrias na


cadeia têxtil-vestuário, é tarefa que vem se tornando cada vez mais difícil em razão da extensa
variabilidade dos produtos, da forte segmentação, da grande quantidade de informações que é
necessário levar em consideração, e dos ciclos de vida do produto, cada vez mais breves. É a
diferenciação horizontal do produto, a variabilidade infinita, a participação do consumidor ao
processo de produção que tornam a previsão da tendência da estação sucessiva muito mais
complexa (CIETTA, 2010).

O fast fashion é a expressão máxima da efemeridade na moda e como antítese surgiu a slow
fashion. É o conceito que define que a moda terá uma velocidade menor, com peças perenes,
ou que pelo menos persistam mais de uma estação. É o movimento que defende peças
duráveis, de qualidade para serem guardadas e não descartadas. Não se trata de tendência e
sim de um movimento, pois têm consumidores que pensam mais na hora de comprar. A crise
econômica e ambiental, certamente contribui para a mudança no comportamento de consumo.
A quantia investida no consumo passa a ter importância e por consequência o produto será
melhor avaliado pelo consumidor.

Existem definições tratando o slow fashion como moda sustentável, usando tecidos ecológicos,
agindo eticamente com os trabalhadores (fairtrade), existe uma mudança em relação ao
sistema da moda. É a indicação de que algo tem que mudar em relação ao planejamento das
coleções, produção, calendários.

Com o slow fashion também se deve reorganizar o conceito de luxo, apontando que o luxo não
será ligado ao preço do produto, e sim à sua disponibilidade e acesso. O acesso deve ser
restrito, atendendo aos desejos dos consumidores de serem únicos. É o que se pode chamar
do luxo simples, sem grandes exageros, sem gastar enormes quantias para ter o produto, ter
exclusividade é fundamental, ou seja, produtos que não estão à venda em lugares de grande
acesso ou até mesmo nas lojas mais consagradas.

A estilista sueca Sandra Backlund está sendo chamada de precursora do slow fashion. As
peças que cria são todas feitas a mão pela própria estilista. Faz peças por encomenda e se
recusa a participar das temporadas de moda em Londres, porque é contra o ritmo alucinante da
moda.

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Outro exemplo são os estilistas uruguaios Ana Livni e Fernando Escuder. Os produtos que
criados pela dupla são quase artísticos e muitas vezes feitos à mão, tornando-os únicos, sem a
preocupação da produção em massa e necessidade de novidades para o consumidor. O foco é
diminuir o consumo em excesso e trazer ao mercado peças duráveis e versáteis.

O julgamento da moda atual – como o de qualquer manifestação artística que se desenvolve sob
nossas vistas – é provisório e depende sempre de uma revisão futura, quando o afastamento no
tempo, isentando-nos das coerções do momento, mostra-nos até onde a aceitação ou rejeição dos
valores estéticos dependeu das condições sociais (SOUZA, 1996, p. 22)

Com a slow fashion parece que a lógica do sistema da moda começa a ser alterado, mas para
que seja possível fazer uma avaliação se efetivamente está em curso uma mudança é
necessário uma avaliação no futuro.

4 Considerações finais

A sustentabilidade pode ser trabalhada na moda desde que as dimensões social, ambiental e
cultural sejam consideradas no desenvolvimento de produtos para o vestuário com um ciclo de
vida mais longo.
A proposta da slow fashion pode ser uma direção para um novo sistema da moda onde o ethos
do novo seja substituído por outro ethos a ser definido (slow, ético, consciente...).
O trabalho com a renda de bilro em peças para o vestuário estimulou as rendeiras tradicionais
as ilha de Santa Catarina e também as “novas rendeiras”. Pessoas mais jovens começaram a
se interessar em aprender a fazer um artesanato tradicional que estava acabando. Segundo as
avós rendeiras, as netas não querem mais aprender a fazer renda.
Como a moda tem forte influência nos jovens, trabalhar as rendas de bilro em peças do
vestuário com um visual jovem, traz para o universo deles um aspecto tradicional da cultura
local, além disso, ao se utilizar materiais orgânicos e reciclados as peças terão um valor
agregado a mais: a busca pela sustentabilidade.

Referências
Brower, Mallory, Ohhlman. Diseño Eco-Experimental: arquitetura/moda/produto. Barcelona:
Editorial Gustavo Gili, 2005.

Cietta, Enrico. A revolução do fast-fashion: estratégias e modelos organizativos para competir


nas indústrias hibridas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.

Ecodesign, Disponível em: <


http://www.amigosdanatureza.org.br/noticias/358/trabalhos/382.Ecodesign.pdf>
Acesso em: 17/02/2011, 21h42.
ECOMODA, Disponível em: < www.ecomoda.limondamoda.com.br > Acesso em: 17/02/2011,
21h45.
Limonada Moda Customizada. Disponível em: < www.limonadamoda.com.br/>
Acesso em: 11/02/2011, 19h29.
Papanek, Victor. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Ed.70, 1997.
Marcos, Janaina Ramos. Sobre Sustentabilidade, Ecodesign e o Planeta – Apresentação do
Projeto Limonada. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Design) -
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
Rachel Carson, Disponível em:
< http://clinton2.nara.gov/WH/EOP/OVP/24hours/carson.html > Acesso em: 17/02/2011,
21h42.

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Schulte, Neide Köhler. LOPES, Luciana Dornbusch. Sustentabilidade ambiental: um desafio
para a moda. Actas de Deseño n° 9, año 5, Univesidad de Palermo, Julio 2010, Buenos
Aires, Argentina.
Traversim, l. Ietec - Instituto de Educação Tecnológica, 2005. Apresenta textos sobre
ecodesign. Disponível em:
<http://www.ietec.com.br/ietec/cursos/area_meio_ambiente/2005/08/05/2005_08_05
_0001.2xt/materia_gestao/2005_08_05_0190.2xt/dtml_boletim_interna>.
Acesso em:31 jan. 2011.
Vezzoli, Carlo, Manzini, Ézio. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: Os Requisitos
ambientais dos Produtos Industriais. São Paulo: EDUSP, 2005.
Zanella, A. V. O ensinar e o aprender a fazer renda: estudo sobre a apropriação da atividade
na perspectiva histórico-cultural. São Paulo. Tese de Doutorado em Psicologia da
Educação, PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1997.

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Cidadania, ética e consumo consciente baseados no
Design Emocional interferindo no comportamento dos
usuários

SILVA, Paulo Roberto; Mestre em Design; Universidade Federal de Pernambuco


pauloroberto.silva56@gmail.com

SANTOS, Naiana da Silva; Graduanda em Design; Universidade Federal de Pernambuco


naianasantos18@gmail.com

MAIOR, Nathallya Souto; Graduanda em Design; Universidade Federal de Pernambuco


nathallyasouto@yahoo.com.br

palavras chave: consumo; design emocional; sustentabilidade ambiental.

Este artigo pretende fazer uma reflexão teórica bibliográfica sobre o cidadão e sociedade
contemporâneos, consumo consciente, a ética e a nova tendência mercadológica do Design Emocional(
Emotion Design), que alguns autores definem também como Design Experiencial. "Quem comanda as
nossas escolhas são as emoções. Elas estão em tudo pelo que optamos. Servem, inclusive, de guia para
o nosso comportamento", diz o psicólogo americano Donald A. Norman, professor da Universidade North-
western, em Illinois, e autor do livro “Design Emocional - Por que Adoramos [ou Odiamos] os Objetos do
Dia-a-Dia". Ainda segundo ele, quem entra em ação nessa hora é o sistema afetivo - o responsável, em
nosso organismo, por julgar o que é bom ou ruim, seguro ou perigoso. Nada a ver com a razão ou com a
lógica. Ele divide em três tipos de design emocional: o visceral, o comportamental e o reflexivo.
Todas estas co-relações influenciam diretamente os consumidores mudando seu comportamento de
consumo de produtos e serviços. Vários produtos são lançados no mercado diariamente, numa
concorrência acirrada entre as empresas, num ambiente de globalização mundial, esta proliferação tem
tornado nosso meio ambiente insustentável.

Keywords: consumption; emotional design; environmental sustainability.

This article intends to make a theoretical literature on the citizen and society, contemporary, conscious
consumerism, ethics and new marketing trend of Emotional Design (Emotion Design), which some authors
define as well as Experiential Design. "Who controls our choices are emotions. They are all so chose.
Serve, including a guide for our behavior, "says the American psychologist Donald a. Norman, a professor
of North-western University in Illinois, and author of" Emotional Design-why we love [Hate] objects of
everyday life ". He who enters in action at this time is the affective system-the body responsible for judging
what is good or bad, safe or dangerous. Nothing to do with the reason or logic. He divides into three types
of emotional design: visceral, behavioral and reflective. All these co-relations influence directly the
consumers changing their behavior of consumption of products and services. Several products are
released to market daily, a fierce competition between enterprises, in an environment of globalization, this
proliferation has become untenable for our environment.

1 Introdução

O processo de globalização da economia tem levado as organizações a uma concorrência


extremamente acirrada e a disponibilidade tecnológica faz com que os produtos sejam
massificados, influindo decisivamente para uma direção estratégica de concorrência pelo custo.
É inegável que o processo de globalização dos mercados intensificou-se com o advento da
internet, onde as informações e conhecimentos/aprendizagem acontecem em tempo real. Há
sentimentos contraditórios entre os pesquisadores, uns defendendo que a globalização
aumenta processo de dominação de classes sociais e nações, criando uma falsa igualdade de
oportunidades e acesso a bens antes de difícil aquisição, outros pensam que é um processo

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irreversível e temos que saber conviver com ele, sendo uma oportunidade de melhoria
continua, num processo de aprendizagem e crescimento coletivo.
A tecnologia já não é mais um fator crucial de diferenciação entre os produtos, pela sua ampla
disponibilidade para empresas e organizações industriais.
Esta massificação da produção, leva a um consumo desenfreado, onde o consumidor perde
sua identidade, consumindo sem consciência necessária e o marketing das empresas buscam
alternativas de uma melhor colocação dos produtos desenvolvidos.
Uma das ferramentas desta estratégia é o design emocional, que busca uma relação afetiva
entre os produtos e os usuários.serem pesquisados
Visando compreender o contexto de consumo, ética, na sociedade contemporânea e a
ferramenta estratégica de design emocional, abordaremos as seguintes relações: 2.
Globalização, ética e cidadania; 3 o consumo na sociedade contemporâneo; 4 design
emocional; 5 Marketing Sensorial. No final faremos nossas conclusões.

2 A globalização ,ética e cidadania


É inegável que o processo de globalização dos mercados intensificou-se com o advento da
internet( World Wide Web), onde as informações e conhecimentos/aprendizagem acontecem
em tempo real. Há sentimentos contraditórios entre os pesquisadores, uns defendendo que a
globalização aumenta processo de dominação de classes sociais e nações, criando uma falsa
igualdade de oportunidades e acesso a bens antes de difícil aquisição, outros pensam que é
um processo irreversível e temos que saber conviver com ele, sendo uma oportunidade de
melhoria continua, num processo de aprendizagem e crescimento coletivo.
A globalização é um processo de massificação da comunicação:
Uma das idéias mais caras às classes dominantes é a de uma sociedade aberta, onde
todos são iguais e têm asa mesmas oportunidades. Para as populações massacradas pelos
meios de comunicação( eletrônico principalmente), ser livre, igual e ter oportunidades
significa”consumir”. Dessa forma, por meio da propaganda se adquire o falso conceito de
liberdade e igualdade e perde-se o de cidadania – a política já não conta, por isto os
candidatos são”vendidos como sabonete”.... e vencem.( Chiavenato, 2008, p.52).
Ainda Baseado no pensamento de Chiavenato, a globalização criou a ilusão de que o consumo
é a base de se conseguir o bem-estar social. Acarretando a uma falsa identificação ideológica
entre os ricos e os pobres. Resultou numa maior concentração de poder de compra dos ricos e
aumentou-se o consumo de produtos inúteis de baixo preço, com pouco valor agregado,
gerando uma sensação de poder aos pobres.
A questão da ética no design, ICSID (International Council of Societies of Industrial Design)
enfatiza o design como intermediador da humanização inovadora das tecnologias, culturas e
economia. Objetiva enfatizar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global);
gerar benefícios e liberdade para a inteira comunidade humana, individual e coletiva, usuários
finais, produtores e protagonistas de mercado (ética social); dar suporte à diversidade cultural,
independentemente da globalização mundial (ética cultural).
Sabemos que o mercado busca atender às necessidades dos clientes e, em paralelo, criar
necessidades (aqui se insere o marketing, nos enredando com suas artimanhas, o que é seu
papel). Cabe aí a ação de mudança, tanto por parte dos consumidores, ao apresentar
necessidades que levam em conta a preservação da qualidade de vida das gerações presentes
e futuras (a sustentabilidade), quanto das empresas que, assumindo sua responsabilidade
socioambiental, também podem inverter o caminho atual. Como? Buscando desenvolver
produtos que: usam menos matéria prima, fazem uso de matéria prima mais rapidamente
renovável, geram menor quantidade de resíduos no descarte, e que sejam mais saudáveis para
o consumidor. Este processo de mudança é um ato de cidadania.

A partir da década de 90, surgem as abordagens de design sustentável que se apóiam na


reflexão sobre a capacidade de gerar mudanças por meio de uma demanda mais ética, que
atribui aos consumidores um papel mais importante capaz de exercer pressões sobre a

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produção na busca de um consumo sustentável, não mais baseado na quantidade, mas na
qualidade dos produtos e serviços. Esta posição é um ato de cidadania.
A cidadania pode ser caracterizada por uma postura assumida pelo indivíduo capaz de se
sentir sujeito e não objeto de seu contexto,mas provido de uma consciência crítica, certo que a
sua atitude interfere no seu contexto de vida.

Esta consciência cidadã, não é algo pertencente apenas aos indivíduos, mas as entidades e
empresas. Então, podemos pensar em cidadania, no sentimento de pertencer a uma sociedade
e ser responsável pelo que se faz nela, tanto em nível pessoal quanto empresarial, e
trabalharmos juntos no sentido de gerar cada vez mais qualidade de vida para todos, sem
esquecer, ainda, de se manter as possibilidades para as gerações futuras.
O mundo é fluido, isto é fato. Essa fluidez torna os objetos de consumo rapidamente
descartáveis, atingindo de forma direta o processo de produção. Os produtos são consumidos,
depois substituídos por outros produtos, que também são rapidamente descartados. Ressalta-
se portanto, a importância das empresas entenderem o comportamento do consumidor para
massificar a sua produção.

3 O consumo na sociedade contemporânea


O termo Sociedade de Consumo é utilizado em economia e sociologia, para designar o tipo de
sociedade que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e
que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços, disponíveis graça a elevada
produção dos mesmos.
Campbell afirma que o que caracteriza a sociedade de consumo moderna é a
insaciabilidade dos consumidores. Assim que um desejo ou “necessidade” é satisfeito, outro
já se acha à espera. Esse processo é incessante, ininterrupto. Essa sucessão interminável
de “necessidades vitais”, que surgem umas de dentro das outras, é qualificada. Não é a
simples permanência de um sentimento de insatisfação, de um eterno “querer mais”, mas a
existência de uma insaciabilidade para com novos produtos. ( Barbosa, 2008, p:50):
De acordo com esta afirnação, as organizações atentas a este comportamento do consumidor
capitalista, fazem inovações incrementais nos seus produtos, lançando no mercado com
pequenas adaptações, mudanças que causem sensações, emoções, na relação cognitiva entre
o usuário e objeto.
Importante distinguir os termos que normalmente são confundidos, CONSUMO E
CONSUMISMO. Consumo faz parte da vida humana, que precisa de alimentação, morar,
vestir, divetir,deslocar, entre outros. Precisamos atender nossas necessidas fisiológicas,
psicológicas, sociais, econômicas.
Consumismo é o ato de consumir exageradamente produtos e/ou serviços. Então um meio fértil
para atuação da propaganda e publicidade, como também a cultura das mídias exercem sobre
as pessoas, induzindo ao consumo desenfreado. Este é um fenômeno da sociedade
contemporânea, como o crescimento da tecnologia da informação, mídias digitais, concorrência
acirrada entre empresas, decorrente do processo irrevessível da globalização.
98
O Instituto Akatu e o WWI (Worldwatch Institute) , organização com sede em Washington,
lançaram a versão em português do relatório “Estado do Mundo - 2010”. O documento é uma
das mais importantes publicações periódicas mundiais sobre sustentabilidade.
A pesquisa mostra que entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o
consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, quatorze vezes. Atualmente, um

98
Disponível em: http://www.santanderempreendedor.com.br/noticias/sustentabilidade/651-um-sexto-da-
humanidade-consome-78-de-tudo-que-e-produzido

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europeu consome em média 43 quilos em recursos naturais diariamente - enquanto um
americano consome 88 quilos, mais do que o próprio peso da maior parte da população.
Abaixo um gráfico baseado nesta pesquisa, mostra claramente a que nível de consumo a
sociedade contemporânea chegou:

Fonte: Instituto Akatu, disponível em: www.akatu.com.br


O problema O consumo Conseqüências

Apenas um sexto da Consome 78% de tudo que é Sem uma mudança cultural
humanidade produzido no mundo. que valorize a
sustentabilidade em vez do
consumismo, nada poderá
salvar a humanidade dos
riscos ambientais e de
mudanças climáticas
Aumento no Na última década foi na ordem de Uso mais intensivo de
consumo de bens e 28% este aumento recursos naturais
serviços
Em 2008 foram vendidos no mundo
68 milhões de veículos, 85 milhões
de refrigeradores, 297 milhões de
computadores e 1,2 bilhão de
telefones celulares.

Para Portilho (2005), ‘ o consumo não é só uma atividade alienada e manipulada, consumir é
um ato político. Temos poder de escolher e usar uma mercadoria, mostrando nossa visão do
mundo. Tem o lado simbólico, consumir é comprar, usar, mostrar a nossa posição social.’
O momento atual da economia brasileira tem favorecido o aumento do consumo de bens e
99
serviços. De acordo com recente pesquisa publicada numa matéria da Revista ISTOÉ a
estabilidade econômica, aumento linhas de créditos e emprego ( desde 2003, o crédito
disponível no Brasil passou de R$ 380 bilhões para R$ 1,5 trilhão e na última década foram
criados mais de 15 milhões de empregos), longo prazo para pagamentos, além de campanhas
do governo federal induzindo ao consumo. Isto reflete em recente matéria da Revista ISTOÉ14
milhões de PCs serão comprados por brasileiros em 2010, maior marca da história, Presume-
se que em 2011, o Brasil será o terceiro mercado mundial de computadores, somente atrás de
Estados Unidos e China; entre janeiro a junho de 2010 foram compradas 6,4 milhões de
unidades de TVs, equivalente a um aumento de 75% sobre mesmo período de 2009. As
vendas de smarthphones, cresceram 70% no segundo trimestre de 2010.
Os consumidores têm atualmente ao seu dispor múltiplos objetos e bens de consumo. Esta
enorme profusão de produtos vem juntamente com uma velocidade incrível da sua substituição
por outros objetos novos. A disponibilidade de novas tecnologias, inovações incrementais ou
radicais,contribuem enormemente para esta proliferação de produtos. Para escoar esta
produção são usadas várias técnicas de marketing, inclusive criando “falsas necessidades”,
com o consumidor perdendo sua individualidade, passando a tomar decisões compulsivas, até
com um “toque de controle remoto”, nas comprar e-commerce.
Esta produção o exagerada, sob ponto de vista ambiental, há um aumento da extração de
recursos naturais, e do despejo de resíduos, ameaçando a capacidade de regeneração da
natureza desses mesmos recursos imprescindíveis para a geração humana atual e futura.

99
Fonte: Revista ISTOÉ – Nº 2128, pag. 44 e 45
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Portanto, o consumo desenfreado e até induzido, tem sua origem na necessidade de produção
em larga escala no mercado globalizado, onde o marketing tem sido intensificado e importante
ferramenta de explorar necessidades reais e virtuais.
Consumo Responsável é um termo que pode expressar o caminho para a mudança
necessária. Mas, o que é consumo responsável ? Como age um consumidor responsável?
Como agir para ser uma empresa com responsabilidade socioambiental?

Consumo Responsável o sujeito consciente assume suas responsabilidade socioambiental


inerente as suas práticas de consumo, que ao desejar adquirir um produto ou serviço, procura
analisar os impactos socioambientais envolvidos desde a produção até os descartes, refletindo
num processo de mudança no que o mercado produz.
Uma ferramenta poderosa que as empresas estão a utilizando nas suas estratégias
competitivas tem sido o design experiencial, baseado nas emoções que os produtos provocam
na sua relação com o consumidor.

4 Design emocional

A disponibilidade tecnológica é tão intensa, que hoje não pode ser considerada como fator
primordial de diferenciação nos produtos que nós consumimos. O processo de globalização, as
inovações tecnológicas, mercados interconectados, aliados a velocidade com que tudo se
transforma evidenciam os desafios diários das empresas. Os produtos ofertados ao mercado
são nivelados em relação a funcionalidade e qualidade. Também o foco no preço dos produtos
como uma das estratégias competitivas de diferenciação pelo custo, segundo Porter( 1989), já
não garante mais a preferência do consumidor. As empresas, face esta nova exigência de
mercado, as organizações estão buscando vínculos mais efetivo, também afetivo, com os seus
clientes. Hoje a tendência é a valorização dos aspectos emocionais dos objetos.

Design Emocional( Emotion Design), que alguns autores definem também como Design
Experiencial. Para ( Norman,2008), ‘Quem comanda as nossas escolhas são as emoções. Elas
estão em tudo pelo que optamos. Servem, inclusive, de guia para o nosso comportamento’.
Ainda segundo ele, quem entra em ação nessa hora é o sistema afetivo - o responsável, em
nosso organismo, por julgar o que é bom ou ruim, seguro ou perigoso. Nada a ver com a razão
ou com a lógica.

Os artefatos do meio material além de forma física e funções mecânicas, estes objetos
assumem funções simbólicas e sociais. Em decorrência disto, A observação como os usuários
se relacionam com os objetos frutos do meio físico e social, como interpretam e interagem com
eles, passa a ser vital pra o design focado na emoção, com intenção de proporcionar
experiências agradáveis.
Portanto a emoção é elemento de análise importantíssimo, quando a atenção do designer foca
no que os usuários sentem quando usa um produto e serviço. ‘É a experiência consciente do
afeto, completa com a atribuição de sua causa e identificação do objeto’ (Norman, 2008, p.31).

Ele classifica em três níveis de processamento dos nossos sistemas emocional e cognitivo:

O nível visceral é de impacto mais imediato, ligado as nossas emoções primárias, que um
produto nos causa. Ainda no pré-consciente é a primeira impressão que o produto transmite,
são preferências primitivas em nosso sistema cerebral.
São reações instantâneas, opera no âmbito biológico e viscerais sobre os usuários, que
envolvem todos os sentidos, como exemplo tátil, olfato, percepção, paladar, audição, visão.
Estas reações podem ser positivas ou negativas.
Um dos exemplos de design neste nível são os blobjects( Figura 1), que se caracteriza por
suas formas bulbosas, curvilíneas e fluídas.

Figura 1- Exemplo de blobjects


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O nível comportamental está relacionado à usabilidade e a experiência, na relação física e
prática do usuário com o produto. Aspectos funcionalidade e as sensações físicas causadas
durante a interação com o produto.
A função diz respeito aos aspectos mecânicos do produto, a usabilidade é a facilidade que os
usuários compreendem como os produtos funcionam com seus respectivos mecanismos. Já
Desempenho engloba a funcionalidade e função que o produto exerce perfeitamente.

Já no nível reflexivo engloba a nossa memória, cultura, aspectos psicológicos, significado e


mensagem que os objetos transmitem. É geralmente parte do relacionamento que
estabelecemos com um produto, desde o primeiro contato, envolvendo além do uso, o
processo de exposição e compra do produto.
Como exemplo, podemos citar os bens exclusivos e de luxo.
Os produtos neste nível reflexivo assumem identidade própria, significados, lembranças e
associações. Possuindo personalidade, alma, caráter, contam história de como foram feitos,
em que localidade e comunidade. Estão impregnados de símbolos e nos remetem a
lembranças e associações, nossas experiências vividas.

Mas isto varia de pessoa para pessoa.


Devido à complexidade de interação destes três níveis, as preferências em relação aos
produtos variam de pessoa para pessoa, e com o tempo. No nível visceral somos em geral
semelhantes, enquanto que no nível reflexivo e comportamental, que estão diretamente
relacionados à experiência e à cultura, podemos ser extremamente diferentes.
Conhecer os mecanismos das emoções é o primeiro passo para buscar compreendê-las
no contexto da interação entre o ser humano e os objetos. Hoje, porém, ainda sabemos
pouco sobre as reações emocionais dos consumidores em relação aos produtos, e sobre
que aspectos do design provocam essas emoções.( Fontoura & Zacar, p:31,2008).
A interação do sujeito com o objeto vai além dos interesses práticos e imediatos,pois além de
despertar interesse prático, um produto pode despertar prazer estético e provocar emoções.
Diversos fatores influenciam esta interação do usuário com os objetos, podendo ser racionais,
como emocionais. Os fatores racionais estão relacionados à função prática, função de uso,
preço, portanto mais objetivos. Já os fatores emocionais estão mais relacionado às funções
estéticas e simbólicas dos objetos, onde evidencia-se a aparência, traduzida como forma, cor,
textura e também pelo seu significado, ou seja, pelo que ele representa para o indivíduo.
Algumas áreas do conhecimento desenvolvem ferramentas, métodos, com objetivo principal de
medir as emoções dos usuários, mas cada uma em seu grau de interesse, como Sociologia,
Psicologia, Ciência da computação, Marketing. Estes instrumentos utilizados costumam
analisar mais as reações de comportamentos, físicas e sentimentos subjetivos.
São inúmeras abordagens e ferramentas em pesquisa aplicada, que variam desde uma simples
escala em papel a sofisticados equipamentos de medição de ondas cerebrais e movimentos
oculares.
Decorrente desta nova ferramenta do design emocional, sensorial ou experiencial, surge o
marketing sensorial como uma ferramenta de competitividade das empresas no mercado
globalizado
.

5 Marketing Sensorial
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O Marketing Sensorial, diferentemente do marketing tradicional, que explora estrategicamente
as dimensões lógicas e racionais do produto(como os 4 Ps), ele se propõe explorar o lado
emocional dos consumidores como forma de induzi-los a comprar determinado produto ou
serviço.
Kotler conceitua marketing:
Como análise, planejamento, implementação e controle de programas cuidadosamente
formulados, destinados a ocasionar trocas voluntárias de valores dentro de alvos
mercadológicos definidos, no sentido de alcançar os objetivos da empresa. Tem como
fundamento básico o oferecimento de serviços ou produtos, através da empresa, que
satisfaçam os gostos e desejos do mercado alvo, utilizando um sistema efetivo com
relação a preço, comunicação e distribuição para informar, motivar e servir estes mercados
Kotler (1993, p. 03).
Esta nova conceituação surgiu nos estudos de Bernd Schmitt (Columbia Business Scholl) e Alex
Simonson (Georgetown University), em 1998. Baseado na sedução dos consumidores, através
de mensagens para atingir o lado direito do cérebro( da emoção), contrapondo ao tradicional
que buscam atingir o lado esquerdo( da razão).
Este novo conceito de Marketing é também chamado de Terceira Onda. A primeira se baseia
nos atributos intrínsecos dos produtos, a segunda mais na fixação da marca, e este agora na
indução de um vínculo mais emocional, sensorial na relação do consumidor com o produto ou
serviço.
São analisadas as sensações experimentadas pelo consumidor, no uso de determinado
produto, através dos cinco sentidos humanos (olfato, tato, visão, audição e paladar). A
realidade virtual é uma ferramenta muito importante, criando sensações na usabilidade de
produtos pelo meio virtual.
As empresas neste mercado globalizado se equivalem, se nivelam, com a disponibilidade
tecnológica, quando vem oferecendo e valorizando atributos objetivos dos produtos, ao invés
de diferenciá-los através de apelos sensoriais que atuem no inconsciente dos
usuários/consumidores.
Muitas organizações já vêm utilizando esta estratégia de design emocional na consolidação de
suas marcas, no planejamento do Branding Design, criando identidade com os consumidores.

6 Conclusões

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A produção massificada, focada em atributos objetivos dos produtos e serviços, com início da
revolução industrial e que ainda hoje influenciam e compactam a competitividade das empresas
no mundo fluido e globalizado, levam a competição pelo preço. Milhares de produtos são
jogados a cada minuto no mercado e isto gera uma produção acima da necessidade de
consumo do planeta, daí decorrem os problemas ambientais.
A sociedade contemporânea começa uma mudança de paradigma, sendo mais exigente nas
escolhas, nas preferências, exigindo produtos mais personalizados, que emocionem,
transmitindo boas sensações na relação com os objetos da cultura material de uso cotidiano.
As organizações partem então para analisar e compreender o comportamento dos
consumidores, seus desejos e devem focar mais nos atributos subjetivos, se diferenciando dos
concorrentes. Portanto, a ferramenta estratégica do Design Emocional, que através do
Marketing Sensorial é direcionada para o mercado consumidor, tem suma importância para as
empresas, fator de agregação de valor e diferenciador.
A lógica da competitividade agora não mais a quantidade, a concorrência pelo preço, mas as
reais necessidades dos consumidores, mesmo que eles paguem um pouco mais pelo produto
ou serviço, característica primordial dos consumidores conscientes sustentáveis.
A importância do design emocional como diferenciador e agregador de valor surge da
possibilidade de direcionar os produtos às necessidades e expectativas do consumidor,
podendo até mesmo prever como será a sua relação com o material proposto, através de
testes de usabilidade virtual ou real.
O design emocional não busca apenas aliar a beleza e funcionalidade a um produto, mas sim
focar nos aspectos de representações simbólicas, cognitivas, capazes de gerar vínculos
significativos com o receptor.
Foi pensando nesta relação de afeto que os objetos estabelecem com as pessoas, que a
maioria das grandes empresas estão inserindo suas descobertas tecnológicas dentro do
ambiente particular emocional dos indivíduos, criando não mais discursos efêmeros em
campanhas publicitárias, mas pensando essa relação de afeto no momento de criação e
planejamento do objeto.
A sociedade contemporânea, fez emergir novas responsabilidades das organizações, cabendo
ao design um papel importante, de ser um mediador entre o consumo e a produção. Buscará a
reorientação do consumo, na busca de uma redução material e energética efetiva, mas ao
mesmo tempo garantindo a sustentabilidade social gerada pela produção, perpassada por uma
lógica econômica.Trata-se de um contexto complexo.
Neste mundo da economia e mercado globalizados, onde impera a fragmentação, fluidez,
exige das empresas uma nova postura, onde cada solução deve ser desenhada sob medida,
cabendo ao design a combinação dos diversos elementos existentes de forma original, criativa,
buscando soluções inovadoras, desenhando não só novos produtos, mas também novos
contextos e novas formas de vida.

Referências
Barbosa, L.( 2008). Sociedade de consumo. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar.pp.50.
Chiavenato, J. J.( 2004). Ética globalizada & sociedade de consumo. 2 ed. São Paulo: Editora
Moderna, pp.52 .
Definition of design. Disponível em: http://www.icsid.org. Acesso em 20 de jun, 2011.
Fontoura,A.M, Zacar, C.R.H (2008). Quando o design mexe com a gente. Revista Absdesign,
Nº 25, pp. 31.
Kotler, P.( 1993). Administração de marketing: planejamento, análise e controle. São Paulo,
Atlas, pp. 03.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Löbach , B(2001). Tradução Freddy Van Camp. Design Industrial: bases para a configuração
dos produtos industriais. São Paulo: Edgar Blüncher Ltda.
Norman, D. A. ( 2008). Design emocional: Por que adoramos (ou detestamos) os objetos do
dia-a-dia. São Paulo, Rocco, pp.31.
Portilho, F. (2005). Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo: Cortez
Editora.
Revista ISTOÉ – Nº 2128. Editora Três Ltda, São Paulo, 2010.
Sociedade de Consumo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org. Acesso em 24 de jun, 2011.
Um sexto da humanidade consome 78 de tudo que e produzido. Disponível em:
http://www.santanderempreendedor.com.br/noticias/sustentabilidade. Acesso em 20 de jun,
2011.

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Um design para uma nova habitabilidade (A design for a
new urban housing)

LOPES, Eduardo; designer; UEMG (Antiga Universidade Mineira de Arte – curso de Desenho
Industrial)
eduardolopes.design@gmail.com

Palavras chave: Ambiente, Design, Mega estruturas elevadas.

Resumo – Enchentes transtornam a vida de cidadãos em diversas zonas do planeta, gerando crescente
desconforto e insegurança. Demanda design de sistemas construtivos e produtivos e de equipamentos
em todas as escalas e dimensões. Considerou-se o tema das mega-estruturas habitáveis como sendo de
interesse. Será apropriado gerar uma nova configuração espacial tal como um novo espaço de vivência
para além do solo. A superfície habitável do planeta terá que ser poupada mediante a geração de uma
nova “casca”, tanto quanto possível, independente da natural. Propõe-se retomada do modelo “palafitas”,
mediante alta tecnologia de construção e pré-fabricação.

Keywords: Environment, Design, Mega structures.

Abstract - Floods disrupt the lives of citizens in various parts of the world, generating growing unease and
insecurity. Demand the design of constructive and productive systems and equipment in all scales and
sizes. We considered the issue of mega-habitable structures as being of interest. Is it appropriate to
generate a new spatial configuration as a new living space regardless the soil. The habitable surface of the
planet must be preserved by generating a new "shell", as much as possible, independed from the original.
Proposes the resumption of the model "stilts" by high-tech construction and prefabrication.

Introdução

A proposição de um design para uma nova habitabilidade expõe-se como um ensaio mas também é um
paradigma e um modelo virtual do que deverá vir a ser em breve o novo cenário de toda vivência e
manifestação humana. Para melhor entender essa visão prospectiva do habitat, com a preocupação de
preservar o pouco que lhe resta de natureza, convém pensar sobre um ambiente onde o espaço de uso
intensivo seja revigorado de forma a reduzir o impacto sobre o ecossistema. É fácil perceber que a infra-
estrutura das edificações e dos serviços é responsável por ataques em grandes extensões em razão de
técnicas e procedimentos que os favorecem. O acentuado desenvolvimento de poderosos
equipamentos de operação de solos - as máquinas operatrizes de grande porte que conhecemos hoje -
tem sido fator de grande valia nesse processo destrutivo. Por tudo isso é de se prever que em futuro
próximo, as edificações em seu conjunto, até mesmo as infra-estruturas das cidades irão, pouco a
pouco, tendendo a distanciar-se do solo elevando-se a altitudes compatíveis tal como palafitas em
concreto e aço.

Justificativa ao teor propositivo em que pesa um certo grau de utopia?


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Utópias devem ser consideradas ao nível de um desejável realismo. Propõe-se
considerar um estudo como algo que pode ser rico em si mesmo, isto é, por
sua própria e inerente fertilidade.

O princípio norteador é idéias geram idéias, de menor ou maior teor, mais ou


menos apropriadas às circunstâncias, sejam elas factíveis ou não. Essa
postura compreensível face ao porvir irá viabilizar novos espaços e mesmo
contribuir para a revitalização de áreas já inadequadas para habitação e
vivência humana em todas as suas manifestações.
A conjetura sobre um futuro urbano relativamente desprendido dos solos
falará por sua própria consistência. Deve-se ainda considerar aqui o fato de
que os programas habitacionais carecem de áreas livres para a sua
implantação. Esta pesquisa e desenvolvimento de design orientado a mega-
estruturas em concreto e aço, é algo que se oferece como paradigma à
viabilização de espaços para edificações e assentamentos humanos. Sítios
inadequados como alagados ou inundáveis, pântanos, terrenos
topograficamente acidentados, solos de baixa consistência e encostas tornar-
se-ão viáveis a edificações mediante aplicação do teor desta formulação de
design.
Esta formulação supera a tendência a, de imediato, proceder a desmontes e
aterros que destroem áreas que muitas vezes superam à da própria área
efetivamente construída. Nisto mananciais, viveiros aquáticos, jazidas de real
valor, vegetações e demais fatores presentes no ecossistema natural são
destruídos.
Todo o sistema formulado é para ser produzido na modalidade de pré-
moldados, tornando-se com isto um item específico de design industrial.
Propostas de design contribuem para sustentabilidade na razão direta em
que oferecem
compensações adequadas em todas as escalas. Cabe abrir o universo e o
campo de atuação, reformulando o conceito de objeto. A escala ou dimensão
que define atualmente o campo de atuação do design pode e deve ir além

Metodologia

Foi adotada metodologia em modalidade gradiente (MÜLLER, A Rubbo, Teoria


da Organização Humana, FESP, São Paulo, 1960-85 - pressupõe variação em
graus de generalização e/ou/ora especificidade). Nesta modalidade procede-se
desde nível empírico de abordagem pelo estudo de casos e suas
circunstâncias em razão da proposta. Assim: 1 - uma vez isoladas as
propriedades dos casos, foram constatadas constantes e variáveis freqüentes
nos diferentes casos; 2 – foram comparados grupos de propriedades e
verificou-se que algumas são mais freqüentes; 3 – por um algoritmo
identificado como “bubble sort” as constantes e também as variáveis
destacadas foram anotadas como dominantes e determinantes (generalização);
4 – reverteu-se o procedimento aplicando as generalizações em diferentes
realidades; 5 – constatou-se a universalidade desta proposta, justificando a
solução apontada.

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em dez anos de atuação por parte do autor junto a empreiteiras de obras
públicas e implantação de infra-estrutura. As observações feitas enquanto
participava de elaboração de propostas técnicas visando concorrências
públicas, permitiram reunir um elenco de impressões sobre o teor e caráter
destrutivo da técnica convencional de operação e implantação.
Observou-se que a facilidade oferecida pelas máquinas operatrizes em
romper terrenos e
proceder aterros compactados leva em muitos casos a uso excessivo destas
operações
Os procedimentos metodológicos que instrumentam a hipótese formulada
estão calcados
. Por outro lado a inexistência de alternativas válidas e aceitáveis condiciona
um pragmatismo, muitas vezes inconseqüente sobre o impacto causado no
meio ambiente.
A pesquisa comparou a modalidade “palafitas”, em diversos casos
diferenciados e anotou o
relativamente baixo efeito perverso que as mesmas causam ao sítio da
edificação. Há que considerar alterações na cobertura vegetal, antes exposta
ao sol. No entanto este novo espaço sob a plataforma (palafita) pode ser
melhor equacionado por eficiente projeto paisagístico dentre outras finalidades
e usos.
As comparações caso a caso revelaram um elenco de constantes e de
variáveis que com
elevada frequência caracterizam as circunstâncias anotadas. Ver (tabela 1) Ao
oferecer esta nova alternativa, este trabalho passa a contar com novas
soluções em urbanismo, em arquitetura e em engenharia para a sua efetivação
em diversas circunstâncias. Um princípio que norteia bons projetos em
circunstâncias sujeitas a alagamentos e inundações, versa o preceito
metodológico de que “não se deve lutar contra as águas”. Sugere que se deve
buscar soluções em que o comportamento natural deve ser dominado sem que
disto resulte enfrentamento. O fenômeno dominado aqui poderá aflorar de
outra forma e em outro local, já com ímpeto imprevisível. Ver tabela 1.

Tabela 1
LEGADOS ATUALIDADE PROSPECTIVA
Práticas construtivas Práticas construtivas Necessidade de novas
primitivas tornadas convencionais práticas construtivas
Submissas ás Superam as condições Propõe-se reassumir
condições ambientais consentaneidade
ambientais
Reduzido impacto Causam elevado teor de Pretende-se reduzir os
ambiental impacto ambiental efeitos e impacto ambiental
Distribuídas e Contrariam a topografia Dispõe-se a retomar
instaladas seguindo local e em extensão, a modalidades de infra-
as conformações do sítios vizinhos estrutura condizente
terreno
Oferecem facilidade Demandam técnicas e Busca-se novas soluções
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de manutenção e procedimentos em que pese manutenção e
reforma específicos reformas
Para correção e
manutenção
Admitem Alterações impactam Tornar os procedimentos de
modificações instalações contíguas à alteração autônomos face
conforme as da edificação específica ao conjunto instalado
circunstâncias
Exibem aspecto Tendem a dispor Objetiva conciliar preceitos
relativamente edificações de forma de adequada funcionalidade
caótico ordenada

Design conceitual - Mega-palafitas de alta tecnologia construtiva

Essa é uma concepção que rompe os padrões convencionais. Expressões como mega-estruturas já fazem
parte da terminologia em vigor em áreas de planejamento, mas a sua perfeita definição ainda desafia
ideólogos e planejadores que se arriscam a formular hipóteses sobre novos parâmetros a serem
adotados.
Boas razões recomendam cautelas. A formulação de novas hipóteses fora dos
parâmetros históricos que ainda regem as intervenções nos assentamentos e
grandes aglomerados
humanos, merece argumentação coerente. Veremos que isso depende
também de apoio em metodologia e em teorias mais consistentes sobre a
organicidade humana.
Os estudos desenvolvidos a cerca de 25 anos já configuram um pacote
tecnológico
caracterizado e formatado para essa finalidade. Este breviário reserva algumas
páginas ilustradas, com exposições sintéticas embora suficientes para
documentar uma parte significativa
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do teor das pesquisas, estudos e projetos em curso.
Não é intenção afirmar que essa proposição solucionará totalmente os
problemas tão complexos do novo habitat pois que pairam ainda incertezas
nessa radical antevisão do processo evolutivo,
da cultura, das formas de organização e conduta social.

Multidisciplinaridade para um futuro sustentável

Diferentes profissionais que podem atuar e contribuir nas pesquisas,


planejamentos e projetos
(urbanismo, ecologia, arquitetura, sociologia, paisagismo, engenharia de
variadas especialidades) terão todos, um campo vastíssimo de aplicação, já
que muito terá que ser reformulado em função de novos parâmetros.
Reserva-se ao design aqui uma função especial, a de arrojar e quebrar
paradigmas.

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Mas tudo indica que a tendência é favorável a uma modalidade de edificação
verticalizada ou elevada sobre altiplanos construídos. Estes altiplanos estarão
apoiados em suportes discretos,
colunas ou pilares assentes em apoios restritos. Isto sem afetar de forma tão
acentuada a topogênese natural com sua vegetação, terras e águas. A
criatividade tecnológica vai gerar a nova infra-estrutura. Abaixo destes
altiplanos, ao nível do solo e quase intacta, a natureza estará sendo
preservada.

Altiplanos Construídos em plataformas elevadas

Revisando a evolução verificamos que as cidades médias e grandes, tal como


concebidas e construídas, surgiram espontaneamente, pelo menos em sua
maioria - muitas delas - sem maiores critérios de planejamento e boa
administração e gestão. Portanto, são cidades repletas de problemas porque
não se levaram em conta condições impostas pelo crescimento e densificação
acelerados, como também não foram respeitados critérios de qualidade vital.
Estes habitats provêem de tecnologias construtivas a princípio rudimentares
que se tornaram convencionais e tradicionais. Na sua origem, aquelas
tecnologias são pouco ou nada questionadas. Pode-se imaginar uma mutação
em alto grau, radical mesmo, desde que se considere a possibilidade de
conceber uma configuração livre das amarras tradicionais.
Cabe reafirmar que a infra-estrutura é marcante nesse processo de
degradação. Está na razão direta com a tecnologia do sistema
desmonte/aterro, a terraplanagem e as escavações em função do forte
incremento das máquinas operatrizes de grande porte. (Fig. 1)

(Fig. 1) Operações no solo e a alternativa proposta

Naquelas operações a área afetada é sempre maior que a construída, isto


é, destrói-se pelo menos em dobro relativamente ao construído. Isto posto, em
extensão e intensidade, implica
num processo degradativo que tende a ser cada vez mais acentuado.
Pelo que temos visto, a implantação da infra-estrutura urbana, tal como
ocorre em larga escala em áreas externas, é uma “cirurgia” brutal. Urge
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aperfeiçoar uma nova metodologia de construção mais condizente com os
elevados intuitos de preservação ambiental e sustentabilidade. Julgo ser esse
momento adequado à presente proposição, pois o teor da mudança é de tal
magnitude que exigirá uma nova postura radical e globalizada.
De outra forma, sob a ótica do que aqui proponho, gostaria que nossos
habitats fossem bem diferentes do que são atualmente. As razões são muitas,
todas conhecidas por todos e é sobre isso que quero falar, embora, sob outro
enfoque ou abordagem. Para corrigir as disfunções dadas pelos desajustes e
as inadequações e para regenerar equipamentos degradados e superados,
governos são obrigados a fazer enorme quantidade de intervenções pelas
quais cidadãos pagam altos custos sociais, culturais e econômicos, dentre
outros.
É inadequado negar a necessidade de tais obras ou “cirurgias”, mas é
recomendado alertar para o fato de que muitas delas poderiam ser evitadas,
minimizadas ou mesmo alteradas para melhor, se os assentamentos e as
necessárias infra-estruturas, fossem precedidos de uma decisão conjuntural.
Seria conveniente levar em conta condições para as quais este trabalho
oferece alternativas.
A mensagem é endereçada aos responsáveis pelas decisões que irão
afetar os programas e planos diretores que promoverão as alterações futuras.
Prioritariamente, dirige-se aos especialistas em análise de impacto ambiental,
aos quais caberão trabalhos técnicos diferenciados em função das novas
possibilidades emergentes.
Muitos dos assentamentos constituídos, em dimensões e padrões ainda
razoáveis, mas que se acham na premência de eclodirem para um
desenvolvimento mais acelerado, como grandes cidades, podem evitar graves
erros de suas similares mais antigas, que se agigantaram de forma tão
despreparada.
Para desconforto geral, surge e aumenta a necessidade de proceder a
grandes desapropriações, construir túneis, vias elevadas, passarelas,
remanejamento de galerias subterrâneas e outros. Nisto destroem-se
patrimônios comunitários e de interesse histórico e cultural dentre outras
agreções. Tudo isso feito a custos elevados demais, que levam de roldão
recursos que poderiam ser destinados a outros fins mais condizentes com os
interesses das comunidades..

A crescente tendência a invasão das águas

O conjunto das atividades humanas no Planeta está conduzindo ao


agravamento do aquecimento global. Ora, das muitas conseqüências a que
causa preocupação crescente é a dos inevitáveis retornos compensatórios ou
“contra ataques” do ecossistema. A anunciada elevação do nível das águas
marinhas precipitação pluvial, causam grandes enchentes e inundações. Os
fenômenos estimulam preocupações no sentido de prevenir correções de forma
antecipada.
Ao que tudo indica, essa é uma tendência que se faz em escalada
geometricamente progressiva. Prever soluções para tão grave problema é
obrigação de todos. Mas, sem dúvida, será também, uma nova e vasta
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oportunidade para novos empreendimentos. Se de um lado as precipitações
fora de controle causam transtornos, por outro lado, a crescente e, os cada vez
mais freqüentes e acentuados fenômenos de
impermeabilização dos solos nas grandes cidades em conseqüência do
capeamento em asfalto e concreto das edificações cada vez mais extensas,
concorre para o agravamento do problema.
A histórica cidade de Veneza é um documento real; também certas
ameaças que
assustaram recentemente os Países Europeus, o Oriente e outras regiões da
Terra. No território Sul Americano são muitos os exemplares que merecem
atenção. Em várias regiões são comuns
os problemas com enchentes, inundações e deslizamentos. Também dispõe de
vastas áreas de pântanos que já começam a ser prejudicados pelas
modalidades convencionais de implantação de infra-estrutura e edificação.
A proposta de edificar sobre plataformas elevadas inclui soluções como
permeabilidade e de regeneração de solos e vegetação. Reduz áreas de
incidência e impactos do processos construtivo de infra-estrutura que fica,
assim, restrita às edificações em si (figura 2).
(figura 2) infra-estrutura de serviços instalada nos vazios celulares contínuos

Esse cuidado com o entorno deve tornar-se, cada vez mais, centro das
preocupações em design orientado à sustentabilidade. Esse novo
entendimento requer a reconceituação do próprio design que poderá estender
sua abrangência a outras dimensões e outros setores.

Origens e costumes que justificam a proposta radical

Em minhas observações constatei que tudo se dá em razão das origens


remotas das edificações que se fizeram de forma altamente dependentes do
terreno. O solo que compareceu nas origens das edificações como o apoio
único possível, é a ancoragem direta de fundação, o que parece óbvio a
primeira vista. No transcorrer desta exposição veremos que isso não é tão
óbvio assim.
Comparo isto com o surgimento dos pilotis. Anteriormente, edificavam-se os
volumes funcionais diretamente no solo, sobre alicerces superdimensionados.
Possivelmente como herança dos castelos e fortificações. Foi custoso e
demorado no passado convencer clientes a adotar o sistema de estruturas
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independentes compostas por pilares, colunas e vigas. Julgavam-nos fracos e
inseguros. Hoje esta prática está definitivamente incorporada aos sistemas
construtivos e não se concebe que possa ser de outra forma.

Conceitos e crenças determinam as modalidades construtivas

Define-se a camada solo como sendo o nível zero. Portanto, os subterrâneos -


porões, túneis, galerias, subsolos e demais equipamentos são as camadas
inferiores ao nível zero; os elevados, os viadutos, as edificações em vários
pisos ou pavimentos, são naturalmente os níveis superiores. Pelo menos tem
sido dessa forma.
A questão que levanto agora é a de que pagamos um custo elevado demais
por essa implantação de edificações totalmente aderentes ao solo - uma ilusão
de economia que um dia se revela altamente prejudicial. É um barato que
acaba ficando caro, a médio e longo prazo.
A partir dessas breves e genéricas constatações, embora fundamentais, quero
levantar uma nova hipótese e que se faz em função de pesquisas e
desenvolvimentos nos quais venho me empenhando já fazem cerca de 25
anos. A proposta é de que poderá ainda existir um complexo
urbano capaz de oferecer aos seus habitantes condições de vivência mais
adequadas.
A trajetória da evolução humana tem sido orientada no sentido da elevação. A
espécie saiu do rastejamento, assumiu o caminhar a quatro patas, evoluíu para
a ereção sobre duas pernas e
aprendeu a voar ganhando altitudes. Assim também foi que um significativo
salto evolutivo se deu quando a tecnologia construtiva ascendeu em termos de
verticalização. Em estágios ainda primitivos surgiram as palafitas. Esse “salto
quântico” foi dado em termos restritos em comparação – relativamente - ao que
está sendo proposto neste trabalho. Cabe argumentar em defesa da conjetura.
Portanto vale lembrar que muitas técnicas sobresistem tão só enquanto não
surge algo substitutivo. A história das técnicas está repleta de exemplos
destacáveis. Assim, comparar processos e métodos construtivos, mesmo em
setores diferentes ajuda a esclarecer o que se propões como “Um design para
uma nova habitabilidade”.
Por exemplo, ferrovias são instalações que pouco prejudicam a paisagem. Pela
sua significação,
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pelo porte e volume de benefícios que prestam elas realmente estragam
relativamente pouco o ecossistema. Seguem em sua estreiteza ao longo das
curvas de nível com variações suaves.
A descrição não é só romântica, é que a agressão ao meio - essa variável hoje
dominante é muito reduzida na ferrovia se compararmos com o que resulta da
rodovia. As vantagens e benefícios das hidrovias são ainda mais evidentes.

Edificações e instalações elevadas de interesse para assentamentos


humanos
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A nova hipótese é de que altiplanos instalados acima do solo - tal como
tabuleiros elevados - podem ser um apoio mais eficaz para edificações em
geral, oferecendo grandes vantagens. A solução de dispor tabuleiros elevados
a alturas variáveis do solo - isso conforme a topografia - parece custosa a
primeira vista, mas poderá trazer altos benefícios capazes de compensar e
mesmo superar outros custos. O retorno é sumamente compensador. É claro
que haverá alguns problemas a serem solucionados, mas as vantagens serão
altamente compensadoras.

Um design estrutural pré-fabricado para infra-estrutura

Deste contexto emergiu a solução de um novo design para um sistema


construtivo orientado à implantação de plataformas elevadas. O novo conceito
se expressa por Monoblocos Estruturais vazados – MEV. A simplicidade desta
solução origina enorme variedade de possibilidades de uso e aplicações. Os
diferentes equacionamentos e adequações a circunstâncias regionais e locais,
passam por profissões diversas conforme suas especialidades.

Quais seriam as vantagens?

Relaciono abaixo algumas delas considerando que a essência dos monoblocos


que compõem as plataformas é a sua característica de ser vazados, assim:
 preservação do meio ambiente - os altiplanos compostos por tabuleiros
instalados sobre pilares especialmente concebidos, dimensionados e
calculados para sustentá-los, tornarão o contato com o solo apenas pontual
- dessa forma, assim como nas pontes, a vegetação, as águas e os relevos
permanecerão pouco alterados;
superação de problemas relativos a enchentes, inundações e
deslizamentos – o princípio mais eficaz é de que não se deve “lutar contra
as águas”, antes deve-se buscar contornar seus efeitos aliviando suas
consequências indesejáveis (palafitas constituem-se
 em solução posta à prova desde os primórdios da humanidade e em
diferentes locais e circunstâncias); facilitação do sistema viário em suas
múltiplas modalidades - emerge a possibilidade de separar os fluxos
viários por categorias genéricas, variando por exemplo conforme volume de
cargas e também por sua natureza ou especialidade - vias elevadas em
tabuleiros viários
 serão reservados para os veículos leves, já que surgiriam muitas
alternativas em razão de novos designs – veículos pesados somente ao
nível solo;
 redes de dutos de manutenção e serviços em todas as direções -
facilitadas pelas células vazias e contínuas orientadas em três eixos x, y, e
z instalação das redes evitando e até eliminando as tradicionais
terraplenagens, aterros, escavações extensas, correções e serviços de
manutenção tão custosos e prejudiciais ao meio ambiente;

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 compressão de espaços favorecendo uma verticalidade mais racional -
tabuleiros poderão ser superpostos em muitos casos, desde que sejam
ordenados de tal forma a que
os superiores prejudiquem o mínimo possível os inferiores - usos de
espaços a nível solo,
estacionamentos, mercados e feiras, play-grounds, serviços públicos em
geral;
maior liberdade de planejamento e ordenamento do espaço - o
planejamento se fará de forma um tanto independente da topografia, de seus
componentes geográficos e topográficos.
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 ecossistêmicos – novas concepções de urbanismo, novas arquiteturas e
novos designs de ambientes emergirão em função da nova habitação sobre
as plataformas;
 capilaridade dos solos – assume aqui enorme significado uma vez que
enchentes inundações estão relacionadas à redução da capilaridade do
solo resultante dos processos convencionais – as plataformas elevadas (ou
mesmo as apoiadas) favorecem esta capilaridade recuperando a
propriedade de absorção das águas;
 conforto e segurança – livre de tráfego pesado e sob controle dos
acessos, as instalações constituídas em condomínios comunitários poderão
aprimorar soluções de conforto e de segurança, como facilidade de acesso
a escolas, a pontos de abastecimento, áreas de lazer, clubes, associações,
centros culturais e outros;
 Outros usos sugeridos - uma vez que os altiplanos serão compostos de
células vazadas, isto viabiliza cultivos agrícolas de caráter restrito
(hidroponia, por exemplo) - que se faria otimamente sobre os tabuleiros,
aproveitando os vazios como “covas” ou canteiros (poderão ser instalados
independente do solo natural - para tanto já se dispõe de tecnologia
agrícola satisfatória);
 qualidade de vida - pressupondo que a tendência dominante é a de
acentuada e crescente compressão espacial e que isso se dá de forma
irreversível, resta prever soluções que viabilizem agregados comunitários
onde prevaleçam boas condições sanitárias, clara distinção dos cenários
vivenciais quer rurais, quer urbanos - tais soluções devem facultar o mais
imediato e livre acesso aos ambientes naturais que nesse caso passarão a
coexistir, apenas separados por diferenças de nível. De tudo isto a imagem
(fig. 3) é sugestiva

(fig. 3) Plataformas em MEV e margens alagáveis

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Algumas conclusões e recomendações

Não pretendo é pretensão ser exaustivo num campo assim sabidamente vasto
e complexo. São
ponderações que dizem respeito aos indicadores mais realistas que apontam
para um futuro dramático e de mudanças radicais. Um vasto programa
estimulativo à introdução de novas
tecnologias mais racionais, pode assegurar resultados satisfatórios a médio
prazo em que pese um benefício social amplo.

Viabilidade

É possível demonstrar que ponderações tipo custo econômico x benefício


social justificam a proposta. Grande variedade de novos equipamentos
residenciais e de trabalho deverão ser criados e desenvolvidos bem como
novos dispositivos a título de mobiliário urbano. Contando com auto-suficiência
passar-se-á a viver e circular tão só em altiplanos já que, ali serão encontrados
quase todos os serviços indispensáveis. As diversas soluções de edificações
leves, práticas e econômicas devem ser prioridade neste novo espaço sobre
plataformas.
isto um vasto campo para aplicação de design de equipamentos e objetos a fim
de configurar os novos ambientes.
Também é sabido que evoluções derivadas ou paralelas às propostas
originais, costumam
ser tanto ou mais significativas que o escopo original. Prevalece a expectativa
de que este ensaio contribua para novas evoluções em conceitos e práticas.

Produção, transporte einstalação

O sistema de fôrmas moduladas admite montagens variáveis conforme


especificações e
cálculos de engenharia estrutural. Módulos cúbicos são acoplados em
conjuntos, ajustados em caixão apropriado e conforme dimensionamentos
especificados e são dispostos os vergalhões de ferro, quando então recebem a
carga de concreto mediante vibração para eliminação de bolhas.
A montagem no canteiro da obra é feita apoiando os MEV sobre vigas
metálicas e pilares de
concreto ou mesmo de estrutura metálica. Nesse caso, em se tratando de
variações no nível do terreno e em se pretendendo manter o relevo pouco ou
nada alterado, os pilares serão de alturas variáveis.

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Fig. 4 – design das fôrmas, produção e transporte dos monoblocos estruturais vazados (MEV)

Outras aplicações do MEV

MEV – apoiado no solo


Os monoblocos apoiados no próprio terreno oferecem diversas soluções
especialmente em drenagem e capilaridade do solo. A fig. 5 ilustra aplicação
para campos de futebol e outras situações de alagamentos potenciais.

Fig. 5 – capilaridade e escoamento das águas

Uma aplicação à reurbanização de favelas – revitalização de áreas urbanas


degradadas –

Um grave problema dificulta operações de reurbanização de agregados


precários (favelas). Trata-se da dificuldade e até impedimento de se deslocar
populações de assentamentos espontâneos com objetivo de demolição,
restauração e recomposição ambiental. A figura 6 ilustra uma sequência
tornada possível pelo novo sistema construtivo de infra-estrutura pré-fabricada.
Nesse caso é possível proceder ao trabalho de implantação com um mínimo de
deslocamento dos habitantes uma vez que a operação se faz na seguinte
ordem: implantação de pilares; implantação das plataformas; edificação das
unidades habitacionais e de trabalho;
implantação de equipamentos e mobiliário urbano e paisagismo; concluída a
criação do novo espaço, desloca-se a população para a área superior.
Procede-se então à regeneração do espaço degradado no solo e implantação
de diversos serviços e equipamentos de interesse da população: áreas de
lazer, estacionamentos, mercados, serviços públicos como postos de saúde
preventiva e emergencial, segurança, abastecimento, correios, serviços de
coleta seletiva de
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rd
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lixo, escolas, agências bancárias, pequenas empresas produtivas, templos
religiosos e possivelmente shoppings, dentre outros.

Figura 6 – sequência do processo de revitalização


Etapa 1 – implantação de pilares
conforme engenharia convencional;

Etapa 2 – lançamento de segmentos


da plataforma sobre os pilares;

Etapa 3 – beneficiamento do novo


piso, com vedação, revestimentos,
instalação de redes de dutos etc;

Etapa 4 – edificação das unidades


residenciais ou de trabalho;

Etapa 5 – complementação com


equipamentos, mobiliário urbano e
paisagismo tanto da área superiores
como da inferior

Continuidade do trabalho

A sequência em dimensões restritas e para isto será necessário fixar um


consórcio de profissionais, empresas e apoio do meio acadêmico e do poder
público. O plano de negócio está formatado com a finalidade de orientar
financiamentos e investimentos. Especificações, cálculos e ensaios
tecnológicos devem preceder a realização. Requer realizar uma experiência
piloto.

Agradecimento

O autor é grato à ITEBE – Incubadora Tecnológica de Betim (MG) bque em


parceria com a
PETROBRÁS, UFMG, Instituto Euvaldo Lodi, apoiou a pesquisa e o
desenvolvimento deste projeto (1996-98).

Bibliografia:

Müller, A Rubbo, Teoria da Organização Humana, FESP-SP, Escola Pós-


Graduada de Ciências
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Socialis,São Paulo 1960-85.

Lopes, Eduardo, comunidade virtual


http://www.peabirus.com.br/redes/form/comunidade?id=1855 desde
03/02/2010 – in www.peabirus.com.br .

Aguiar, Dorinha, O design em Minas, 50 anos. 2006, Edição especial, páginas


22 a 114, diversas
citações nominais sobre o autor e inovações apontadas.

Taurion, Cezar, Conciliando cidades inteligentes com sustentabilidade


/www.ibm.com/developerworks/mydeveloperworks/blogs/ctaurion/entry/c
onciliando_cidades_inteligentes_com_sustentabilidade?lang=en.

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A sustentabilidade dos pólos moveleiros pernambucanos
na formação de arranjos produtivos locais, baseados na
valorização da identidade territorial, como estratégias de
competitividade

SILVA, Paulo Roberto; Mestre em Design; Universidade Federal de Pernambuco


pauloroberto.silva56@gmail.com

SANTOS, Naiana da Silva; Graduanda em Design; Universidade Federal de Pernambuco


naianasantos18@gmail.com

MAIOR, Nathallya Souto; Graduanda em Design; Universidade Federal de Pernambuco


nathallyasouto@yahoo.com.br

palavras chave: identidade territorial; design ; sustentabilidade.

Este artigo pretende fazer uma revisão bibliográfica sobre a importância da formação de arranjos
produtivos locais na valorização das identidades territoriais, para sustentabilidade dos pólos
moveleiros pernambucanos. As significativas transformações sociais, econômicas com o
advento da globalização, aceleraram a busca por novos modelos produtivos competitivos,
visando a inclusão social, baseados nas vocações locais. Para aplicação desta ferramenta
eficaz no efetivo desenvolvimento econômico, social faz-se necessária a utilização de novos
modelos produtivos competitivos que visem à inclusão social, tendo como base as vocações
regionais de uma localidade. Um fator determinante de diferencial competitivo para as
empresas é a condição de produto ligado ao território e à sociedade nos quais surgiu, que
reflete no conceito de terroir. Para Krucken(2009), o conceito de terroir abrange o produto, o
território e a sociedade que o produz. Para atuarem competitivamente, os pólos moveleiros de
Pernambucanos, são territórios que devem atuar cooperativamente, aplicando ações sugeridas
por Krucken( 2009): Reconhecer as qualidades dos produtos, Ativar as suas competências,
Comunicar o produto e o território, Proteger a identidade local e o patrimônio material e
imaterial, Apoiar a produção local, Promover sistemas de produção e consumo sustentáveis,
Desenvolver produtos respeitando a vocação do território, Consolidar redes.

Keywords: territorial identity; design; sustainability.

This article intends to do a literature review on the importance of training of local productive
arrangements in valuation of territorial identities for sustainability of Poles furniture makers
Pernambuco. The significant social, economic transformations with the advent of globalisation,
accelerated the search for new models, targeting competitive productive social inclusion, based
on local vocations. To implement this effective tool in the effective economic development, social
makes necessary the use of new productive competitive models aimed at social inclusion,
based on regional vocations of a locale. A determinative factor of competitive differentiator for
companies is the condition of the product linked to territory and society in which it arose, which
reflects on the concept of terroir. For krucken (2009), the concept of terroir covers the product,
the territory and the company that produces it. To act competitively, the poles of Pernambuco,
furniture makers are territories that must act cooperatively, applying actions suggested by
Krucken (2009): Recognize the qualities of products, Enabling their skills, Communicate product
and territory, protect local identity and the material and immaterial heritage, Supporting local
production, Promote systems of sustainable production and consumption, develop products
respecting the vocation of the territory, Consolidate networks.

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1 Introdução

O cenário mundial, face ao processo acelerado de globalização, o setor empresarial vem


sofrendo grandes mudanças e transformações nas suas estratégias competitivas. Há a
necessidade de se estabelecer um novo modelo de desenvolvimento da produção que seja
capaz de proporcionar o desenvolvimento social e econômico por meio do aproveitamento das
vocações regionais locais, focado nas inter-relações empresariais, na cooperação, nas médias,
pequenas e microempresas e no acesso a novos mercados.
Há necessidade de utilização de novos modelos produtivos competitivos que visem à inclusão
social, tendo como base as vocações regionais que proporcionem o efetivo desenvolvimento
econômico e social de uma localidade em um mundo globalizado.
Entre os vários tipos de redes relacionais, destaca-se os arranjos produtivos locais, formados
por MPEs- Micros e pequenas empresas, e sustentados pela capacidade de inovação,
empreendedorismo e tecnológica em um território produtivo.
A valorização da identidade territorial, sua sustentabilidade no desenvolvimento local, é uma
das ferramentas de suma importância para as pequenas empresas competirem no mercado
globalizado, que alcança, entre outros assuntos, inclusão social, economia, competitividade e
desenvolvimento.
Os pólos produtivos são territórios, impregnados de valores culturais, sociais, econômicos,
tecnológicos, onde geram emprego e renda para a localidade. Cada pólo produtivo, tem sua
história, características, identidades, qualidades dos produtos e serviços. Estas qualidades
precisam ser percebidas pelo consumidor consciente, cada vez mais exigente, Este exigente
consumidor contemporâneo tem buscado produtos e serviços que valorizem determinada
localidade, identificando neles valores sociais, econômicos, culturais, ambientais.
Este artigo foi baseado na revisão bibliográfica sobre os assuntos: A formação de arranjos
produtivos locais(2), Valorização da identidade territorial ( 3), Os pólos moveleiros
pernambucanos( 4), O design e a sustentabilidade dos pólos moveleiros pernambucanos ( 5),
finalizando com a Conclusão(6).

2 A Formação de Arranjos Produtivos Locais- APLs


A competitividade das empresas no mercado globalizado está muito ligada a sua capacidade
de atuação cooperativamente em Arranjos Produtivos Locais.
É recente, a partir das últimas décadas do século XX, a intensificação da promoção de
aglomerações produtivas e inovativas locais. Estas aglomerações passam a ser principais
fatores de alavancagem do desenvolvimento de uma nação.
Segundo Porter,

Um aglomerado é um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e


instituições correlatas numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares.
O escopo geográfico varia de uma única cidade ou estado para todo um país ou mesmo uma rede de
países vizinhos. Os aglomerados assumem diversas formas, dependendo de sua profundidade e
sofisticação, mas a maioria inclui empresas produtos ou serviços finais, fornecedores de insumos
especializados,componentes,equipamentos e serviços, instituições financeiras e empresas em setores
correlatos.Os aglomerados geralmente também incluem empresas em setores a jusante(ou seja,
distribuidores ou clientes) , fabricantes de produtos complementares,fornecedores de infra-estrutura
especializada,instituições governamentais e outras, dedicadas ao treinamento. (Porter,1989, p:211)

Todas as empresas envolvidas no sistema de aglomerações produtivas compartilham um


conjunto de tecnologias, conhecimentos da cadeia produtiva, como também os recursos
financeiros e capacitações necessárias para o desenvolvimento coletivo. Eles detêm um
importante estoque de conhecimento tácito, que faz circular com eficiência para a difusão de
conhecimento local, compartilhando os códigos, identidade, culturas e linguagem comuns. Isto
é um contraponto as políticas tradicionalmente implementadas de tratamento individualizado
das empresas, mas que vem sendo mudado atualmente na esfera governamental.
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Para o Serviço Brasileiro de Apoio as Empresas(Sebrae), os arranjos produtivos são
aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam
especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem entre si e com outros atores locais tais como governo(municipal, estadual e
federal), associações empresariais, além de instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Ainda segundo o Sebrae, um Arranjo Produtivo Local é caracterizado pela existência da
aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma
atividade produtiva principal. Para isso, é preciso considerar a dinâmica do território em que
essas empresas estão inseridas, tendo em vista o número de postos de trabalho, faturamento,
mercado, potencial de crescimento, diversificação, entre outros aspectos.

Por isso, a noção de território é fundamental para a atuação em Arranjos Produtivos Locais.
No entanto, a idéia de território não se resume apenas à sua dimensão material ou concreta.
Território é um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que se projetam em
um determinado espaço. Nesse sentido, o Arranjo Produtivo Local também é um território onde
a dimensão constitutiva é econômica por definição, apesar de não se restringir a ela, deve
trabalhar pensando em valorizar as crenças, as dimensões materiais de uma localidade.
Também possua sinais de identidade coletiva (sinais sociais, culturais, econômicos, políticos,
ambientais, históricos, etc.), além de estabelecer parcerias e compromissos para manter e
especializar os investimentos de cada um dos atores no próprio território.
Com relação ao grau ou estágio de desenvolvimento, os arranjos podem ser classificados em
três níveis, na tabela abaixo segundo (Castro, 2009, p: 13,14,15,16):

Arranjos incipientes Arranjos em desenvolvimento Arranjos desenvolvidos


(Sistemas Produtivos e
Inovativos Locais)
Não tem articulação e carência Suas lideranças empresariais São aqueles arranjos
de lideranças legitimadas; Não são mais legitimadas e produtivos cuja
possuem integração entre capacitadas, atuando em interdependência, articulação
empresas e poder publico; Seu entidades de classe. e vínculos consistentes
mercado ainda é o local ou resultam em interação,
microrregional, não O arranjo passa a interessar aos cooperação e aprendizagem,
apresentando competitividade bancos, que, por conhecer possibilitando inovações de
para tentativas mais arrojadas. melhor o setor e seus produtos, processos e
empresários, aumentam as formatos organizacionais e
Baixo desempenho operações de crédito. gerando maior competitividade
empresarial. empresarial e capacitação
O produto já começa a ser
Foco individual. identificado com alguma social.
característica sociocultural local. Foco territorial.
Isolamento entre empresas. Realizam-se de forma mais
Ausência de apoio/presença de constante pesquisas relativas a Interação com a comunidade.
entidade de classe. inovações técnicas e questões
mercadológicas. Mercado estadual, nacional,
Mercado local. internacional.
Foco setorial.
Base produtiva mais simples. Relacionamento comercial
Ainda tem estrangulamentos nos estreito entre bancos e
elos da cadeia produtiva. empresas.
Dificuldade no acesso a serviços • Base institucional local
especializados diversificada e abrangente
(tecnologia/design/crédito).
Interação com entidade de
classe.
Mercado local, estadual,
nacional

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A formação e atuação em APLs, favorece o clima organizacional para a inovação. De acordo
com (Sicsú & Rosenthal, 2005), na concepção Schumpeteriana, a inovação não deve ser vista
apenas pelo lado tecnológico, mas pela idéia que ela corporifica a busca do novo, podendo ser
uma nova tecnologia, como também, uma forma diferente de organização social, novos canais
de distribuição. Dentro deste contexto explicitado, a inovação é concebida como uma dos
principais mecanismos de promoção do desenvolvimento de um APL, e que deve envolver
necessariamente desde sua concepção, os usuários finais, os agentes institucionais, as
empresas, enfim todos atores envolvidos no APL. O processo de inovação envolve
necessariamente a valorização da identidade do território, sendo portanto importante
ferramenta competitiva para o desenvolvimento local.

3 Valorização da identidade territorial

Um fator determinante de diferencial competitivo para as empresas é a condição dos produtos


e serviços ligados ao território e à sociedade nos quais surgiram, que reflete no conceito de
terroir. Para (Krucken,2009, p:31), o conceito de terroir abrange o produto, o território e a
sociedade que o produz, neste espaço geográfico existem relações sociais, econômicas,
culturais, ecológicas, com diversos níveis de complexidade.
Terroir é um termo de origem francesa (lê-se terroar), provém do latim popular (terratorium)
alterado no galo-romano (territorium; territoire). Usa-se também a expressão produtos de terroir
para designar um produto próprio de uma área limitada.
O terroir, na ampliação do conceito desenvolvido por geógrafos franceses, é um conjunto de
terras sob a ação de uma coletividade social congregada por relações familiares e culturais e
por tradições de defesa comum e de solidariedade da exploração de seus produtos. Terroir é
um termo de origem francesa (lê-se terroar), provém do latim popular (terratorium) alterado no
galo-romano (territorium; territoire). Usa-se também a expressão produtos de terroir para
designar um produto próprio de uma área limitada.
O terroir, na ampliação do conceito desenvolvido por geógrafos franceses, é um conjunto de
terras sob a ação de uma coletividade social congregada por relações familiares e culturais e
por tradições de defesa comum e de solidariedade da exploração de seus produtos.
Ainda segundo( Krucken,2009, p:49), a abordagem do design estratégico aplicado num
determinado território, tem como objetivos beneficiar simultaneamente produtores e
consumidores, valorizando conjuntamente o capital territorial e o social, sempre buscando
sustentabilidade a longo prazo.
Isto reflete numa mudança de paradigma, numa sinergia entre os atores, produtores e
empresas, que se fortalecem e se complementam sua capacidade de competição no mercado
local e global.
Além disso, a globalização impôs uma transformação radical nos mercados, nas tecnologias,
na formação de redes de conexões, na expansão e dispersão geográfica,influindo
sobremaneira nas empresas uma atuação ampla de mercado em detrimento do sentido local
de produtos e serviços.
Neste cenário contemporâneo, o design é reconhecidamente uma eficaz ferramenta estratégica
para a valorização de produtos e serviços, promovendo o território e preservando a identidade
cultural. O Design Territorial tem a finalidade de gerar valor associado a uma identidade
promovida para além dos próprios limites, construindo um novo posicionamento e gerando
sustentabilidade econômica, social e ambiental, que são os pilares da sustentabilidade.
Compreende-se como identidade territorial os elementos culturais que demarcam espaços, que
são refletidos na arquitetura, gastronomia, nas práticas sociais/culturais e nos costumes
reconhecíveis de uma localidade.
As pessoas buscam cada vez mais identificar a origem dos produtos e serviços, sua história,
ligando a qualidade do produto à qualidade do território, como também ao modo de fabricação.
Quando se agrega valor aos produtos e serviços, a identidade local é estimulada e fortalecida.
O design pode contribuir eficazmente para estes valores agregados, funcionando como

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elemento catalisador de inovação, possibilitando a criação de uma imagem positiva ligada ao
território de uma determinada localidade.
Os pólos produtivos constituem fortes relações de valorização das identidades e estão
impregnados de cultura de uma determinada sociedade.

4 Os Pólos moveleiros pernambucanos


Os pólos produtivos de empresas são formados por grupos de firmas concentradas em um
determinado espaço geográfico, trabalhando num setor específico, normalmente utilizando
base tecnológica similar. O setor moveleiro é bastante representativo na formação de pólos,
quando as empresas formadas, mantém similaridades de processos, de produtos e linha de
produção.

Na atuação nos pólos estas empresas não estão necessariamente cooperadas ou associadas,
mas na formação de clusters é imprescindível. Um cluster de pequenas empresas
compreende-se como conjuntos de organização que trabalham cooperando entre si, cada uma
das firmas executando um estágio do processo de produção.
O Sebrae define um cluster como concentrações geográficas de empresas – similares,
relacionadas ou complementares – que atuam na mesma cadeia produtiva auferindo vantagens
de desempenho por meio da locação e, eventualmente, da especialização. Essas empresas
partilham, além da infra-estrutura, o mercado de trabalho especializado e confrontam-se com
oportunidades e ameaças comuns.

A colaboração e aprendizado dentro do cluster geram elevados níveis de produtividade,


formando aglomerados dentro dos quais os impactos das sinergias positivas entre os
participantes é maior do que a soma dos esforços individuais de cada participante. A
existência de um cluster deve ter alguns condicionantes, como existir uma aglomeração de
empresas; compartilhamento de atividades por um número expressivo de firmas; estas firmas
se relacionam de forma intensiva e contínua; existência de estreita relação de confiança e
estímulo da prática da mesma entre os pares.
Ao redor das firmas integrantes do sistema de clusters existe, freqüentemente, uma rede de
instituições públicas e privadas.

A formação dos pólos segue a regra básica de formação de qualquer pólo industrial, quando
pequenas empresas surgem a partir de uma empresa “mãe” normalmente estimuladas pelas
concessões de benefícios fiscais da localidade, pela visão empreendedora de alguns e pela
necessidade de negócios da cadeia produtiva mais próxima da localidade.

De acordo com o SINDMÓVEIS/PE, o estado de Pernambuco conta com vários pólos regionais
de fabricação de móveis, destacando-se os pólos da Região Metropolitana do Recife, Gravatá,
Afogados da Ingazeira e João Alfredo.
Dentre estes, focaremos em dois pólos frutos de um projeto de extensão em andamento.

• Pólo de Gravatá
Estima-se que existam na cidade de Gravatá entre 300 e 400 fábricas. A maioria funciona com
estrutura familiar, gerando cerca de 2.000 empregos. São fabricados móveis para residências e
escritórios, com uma fabricação voltada à utilização de madeira maciça nos estilos rústicos,
semi-rústicos e country.
Uma das características deste pólo moveleiro é oferecer exclusividade. A fabricação não é
seriada, mas por encomenda e segue o desejo do cliente, com desenho mais personalizado.
Em decorrência da importância para a cidade do setor moveleiro, a prefeitura urbanizou a Rua
Duarte Coelho, onde se concentram as lojas de fábricas. No local, em cada uma das 60 lojas,
os móveis dividem espaço com peças de decoração e do artesanato local.
.
A característica principal da produção dos móveis deste pólo é a produção utilizando máquinas
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tradicionais de marcenaria, num processo produtivo classificado como semi- artesanal, de uso
intensivo de mão de obra. A madeira é comprada em pranchas brutas, sendo a mais usual a
angelim pedra, embora algumas empresas já estejam usando prancha de lyptus (tipo de
eucalipto) que não precisa passar pelo desengrossamento, haja vista que já vem aparelhada.

• Pólo de Afogados as Ingazeiras

Afogados das Ingazeiras, município que está localizado na região do sertão pernambucano e,
como tantos outros, começa pela instalação de uma empresa principal, derivando outras
concorrentes ou fornecedoras.
As duas principais empresas instaladas no município são a Magno Móveis e Móveis São
Carlos, ambas com uma produção voltada para móveis de linha reta, tipo rack para TV,
conjunto de sala, estantes. A produção destas empresas é seriada, contribuindo enormemente
para o crescimento da economia local com o aparecimento de diversos fornecedores de
implementos e matérias primas. Estas duas empresas são exemplos significativos de produção
de móveis de linha reta. Estas empresas utilizam maquinário moderno e gerando vários
empregos direto e indiretos para o município.

Fora estas duas empresas, existem várias microempresas que recentemente formaram a
APMAI- Associação dos Produtores de Móveis de Afogados as Ingazeiras.
A principal dificuldade do pólo moveleiro de Afogados da Ingazeira, de acordo com a APMAI-
Associação dos Produtores de Móveis de Afogados as Ingazeiras, é a falta de capacitação,
visto que o ginásio industrial foi extinto desde os anos 70. As outras dificuldades citadas são a
distância dos fornecedores de insumos, a falta de cultura empresarial na região.
O pólo de Afogados da Ingazeira, apesar de distante dos fornecedores de insumos, é
localizado em uma posição estratégica no que diz respeito à distribuição para as capitais da
região nordeste. Afogados da Ingazeira está a menos de 400 quilômetros de três capitais
nordestinas (Maceió, Recife e João Pessoa), a cerca de 550 quilômetros de Natal e Aracaju, a
cerca de 650 quilômetros de Fortaleza e a menos de 900 quilômetros de Teresina.

Estes dois pólos moveleiros pernambucanos constituem um território, com suas crenças,
identidades culturais, valores sociais e econômicos, que estão sendo estudados no projeto de
extensão em desenvolvimento, onde a sustentabilidade é fator primordial para sua existência e
reconhecimento.

5 O design e sustentabilidade dos pólos moveleiros pernambucanos

Segundo Pego (2010, p:2, apud Santos ,2006, p:1) ‘A natureza de problemas ambientais é
parcialmente atribuída à complexidade dos processos industriais utilizados pelo homem,
fazendo uso dos diversos recursos tecnológicos’. Essa constatação trouxe o reconhecimento
da necessidade de mudanças na forma de exploração e utilização dos recursos naturais, assim
como nas formas de produção, resultando no atual conceito de desenvolvimento visto sob o
paradigma da sustentabilidade.
Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos
econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Propõe-se a ser um meio de
configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e
as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial
no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais,
planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais.
O design baseado na sustentabilidade, deve repensar a forma como estão sendo produzidos,
comercializados os produtos e serviços, como também o destino final o descarte.
Para projetar produtos e serviços, baseados na sustentabilidade, repensar a utilização dos
materiais, sua origem, aplicar os 3 Rs, (Reduzir, Reusar, Reciclar). Pesquisar continuamente
novos materiais, aperfeiçoar técnicas de fabricação, montagem, desmontagem e descarte.
Projetar baseado na diminuição do uso da energia, no ciclo de vida dos produtos.

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Projetar para setor moveleiro aplicando os conceitos de sustentabilidade, deve-se pensar a
cadeira produtiva completa, desde a matéria prima, processos produtivos, comercialização,
usabilidade do produto pelo consumidor e descarte. Diminuição dos componentes, facilidade
de montagem e desmontagem, facilidade de transporte, multifuncionalidade, são algumas das
metas no projeto de produto. Uma outra questão são os resíduos originário do processo
produtivo, se recicla ou onde vai para o meio ambiente. Outro fator importante e comumente
não observado, é a questão de segurança no trabalho, adequação do meio físico do setor
produtivo ao trabalhador e sua saúde. Esta deveria ser mais uma dimensão a ser considerada
no projeto do produto: saúde do trabalhador, ergonomia de produção.
O desenvolvimento sustentável, de uma maneira simplificada, procura satisfazer as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazerem as suas próprias necessidades. Isto significa que as duas gerações atinjam um
nível satisfatório de desenvolvimento econômico, social, cultural, fazendo, ao mesmo tempo,
um uso razoável dos recursos do planeta, como também preservando as espécies e os habitats
naturais.
Baseado nestes conceitos, a sustentabilidade dos pólos moveleiros pernambucanos se dará
efetivamente, quando os microempresários se derem conta da necessidade de formação de um
APL, da compreensão de valorização do seu território, suas identidades e valores.
Compreensão da cadeia de valor da localidade, mudança cultural na produção dos móveis
preocupado com o meio ambiente e ciclo de vida dos produtos.
Como cadeira valor entende-se como um conjunto de atividades criadoras de valor, as origens
das matérias primas básicas, passando por fornecedores de componentes e indo até o produto
final entregue nas mãos do consumidor. Este conjunto de atividades de uma organização é um
amplo sistema de relações com os fornecedores, ciclos de produção e de venda, até à fase da
distribuição final.
Formado o APL, o design deve ser o suporte para o fortalecimento do mesmo, buscando
sinergia entre os diversos atores participantes do Arranjo, tais como empresas, fornecedores,
governos municipais e estaduais, Sebrae, órgãos de financiamentos e fomento, universidades,
centros de pesquisas tecnológicas, dentre outros. Baseado em ( Krucken, 2009, p:51 e 52), o
design deve atuar nas seguintes ações:
Identificar e explorar de forma sustentável o potencial dos recursos e competências situadas no
território;
Projetar e desenvolver novos produtos e serviços diferenciados e com alto valor agregado, com
base nos recursos, nas competências disponíveis e na riqueza cultural, identificados conforme
item anterior;
Processos colaborativos de inovação e aperfeiçoamento do design local, promovendo o diálogo
de tradição e inovação, fortalecendo o sentido de pertença da comunidade;
Desenvolver uma cultura de co-produção de valores e de processos produtivos colaborativos,
entre os diversos atores;
Fortalecer a imagem do território, de seus produtos, serviços e empresas, dando maior
visibilidade internamente e externamente;
Projetar novas interfaces e formas de intermediação entre os produtores/produtores, entre
produtores/consumidores (redes e cadeias de valor), mas sempre envolvendo os recursos e
potencialidades das empresas e do território;
Resgatar os valores e cultura local, desenvolvendo produtos a partir de matérias-primas
alternativas disponíveis no território, além de utilização de subprodutos e resíduos.
Na nossa conclusão ressaltamos como os pólos devem buscar a sua sustentabilidade,
baseado na valorização do território.

6 Conclusões

Concluímos que a partir da revisão bibliográfica dos assuntos tratados, se reveste de suma
importância a formação do pólos moveleiros pernambucanos em APLs, como fator de melhoria
de competitividade, atuando do forma cooperativa, integrada.

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Além desta atuação de forma integrada com diversos atores, a valorização da produção dos
territórios, favorece sobremaneira o desenvolvimento da localidade, respeitando a cultura,
valores e identidades, externando suas qualidades para serem reconhecidas além das
fronteiras territoriais.
Seguindo as recomendações de Krucken (2009), a sustentabilidade dos pólos moveleiros
pernambucanos que estão sendo estudados será viabilizada considerando:
Reconhecimento das qualidades do produto e do território- compreender o contexto onde
nasce o produto, seu processo histórico, qualidades, sempre associadas a sua delimitação
territorial e comunidade;
Ativar as competências situadas no território – Fazer integração das competências,
desenvolvendo uma visão compartilhada entre atores do setor empresarial, institucional e
governamental;
Comunicar o produto e o território – Investir na comunicação, utilizando uma linguagem
acessível para consumidores de contextos externos, mostrando os valores e qualidades locais.
Informar sobre o “modo de fazer tradicional”, por exemplo, é importante para a recuperação e a
perpetuação da tradição e da história dos produtos, distinguindo e exaltando as comunidades
que os produzem e as regiões de origem.
Nessa mediação de produtores e consumidores é importante considerar a conformação do
produto, de modo que atenda ao mercado e ao usuário aos quais se destina e, ao mesmo
tempo, conserve sua autenticidade. Como a qualidade da experiência que envolve o produto é
construída ao longo da rede, é fundamental promover a coerência dos diversos atores
participantes. Sob esse ponto de vista, o design pode contribuir para visualizar a rede, bem
como para desenvolver novas possibilidades de combinar produtos, serviços e atores, por meio
da construção de mapas gráficos.
Tornar as práticas solidárias e sustentáveis conhecidas da sociedade também é um dos
desafios da comunicação.
Proteger a identidade local e o patrimônio material e imaterial- O sentido de pertença e o
orgulho dos moradores de um território dependem muito da imagem associada à região, à sua
herança cultural e história social e econômica.
Para fortalecer a imagem do território, é fundamental valorizar e proteger o patrimônio material
e imaterial. Os elementos que registram as histórias e a passagem dos anos são testemunhas
da comunidade que vive e viveu no território. Proteger o patrimônio também significa
resguardar uma herança para os sucessores no uso do território.
Apoiar a produção local - O desenvolvimento da produção local deve conjugar tradição e
inovação. O design pode contribuir muito nessa tarefa, valorizando o saber-fazer tradicional e
buscando formas de incorporar novas tecnologias e possibilidades de projeto sem
descaracterizar a identidade do produto e do território. Inovações podem tornar um produto
mais atraente para o consumidor, mantendo suas qualidades essenciais.
Promover sistemas de produção e de consumo sustentáveis - O uso sustentável de
recursos depende da conscientização e da sensibilização dos produtores e dos governantes e
exige condições básicas relacionadas com qualidade de vida na comunidade, para que os
recursos sejam utilizados em longo prazo e não esgotados rapidamente.
Consolidar redes no território - O desenvolvimento de redes é essencial para integrar
competitivamente o território, pois pode facilitar o acesso ao produto para o consumidor (ou
seja, o acesso aos mercados) e promover a conectividade e o domínio de novas tecnologias.

Referências

Castro, L. H ( 2009). Arranjo produtivo local- Série Empreendimentos Coletivos. SEBRAE,


Brasília. 44 pp.

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Krucken. L ( 2009). Design e Território: valorização de identidades e produtos locais. 1ª Ed.
São Paulo: Studio Nobel.
Metodologia de desenvolvimento de arranjos produtivos locais.Projeto PROMOS/SEBRAE
/BID. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/br/cooperecrescer/projetopromos.asp.
Acesso em: 04 julho, 2011.
Pêgo, K. A. C; Pereira, A. F; Carrasco, E. V. M. (2010). Método INPAR – Inserção de
Parâmetros Ambientais no Design de Produtos. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design.São Paulo.
Porter, M ( 1989). Vantagem competitiva. São Paulo: Editora Campus.
Sicsú, A. B, Rosenthal, D ( 2005). Gestão do conhecimento empresarial: concepção e casos
práticos. Recife, FASA gráfica.
Silva, P. R ( 2006). Design, inovação e arranjos produtivos moveleiros das micro e pequenas
empresas : o caso dos pólos pernambucanos. Dissertação não publicada. Departamento de
Design. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

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Design e identidade: a dinâmica do cotidiano na produção
e representação da Identidade regional e a
responsabilidade social como ferramentas para agregar
valor ao conceito de design (Design and identity: the
dynamics of everyday life in the production and
representation of regional identity and social responsibility
as tools to add value to the design concept)

Mercedes L. Manfredini 100

Eliana Rela 101

Bernardete Venzon 102

Palavras chave: identidade; território; design


O artigo possui como objetivo apresentar os fundamentos teóricos e metodológicos que nortearam o
projeto de pesquisa “A Identidade regional e a responsabilidade social como ferramentas para agregar
valor na Moda da Serra Gaúcha”. Os conceitos basilares como identidade; cultura; região; território;
cotidiano; realidade; responsabilidade social; design e moda são discutidos à luz da vida cotidiana que é
história e movimento. Um dos benefícios é o autoreconhecimento dos recursos territoriais, ponto de
partida para a promoção de um sentimento identitário que coloca em jogo os diferentes componentes
sociais envolvidos. O saldo que se cria entre o desenvolvimento social necessariamente conectado com o
econômico, na preservação e promoção do ambiente, é a melhoria através da informação e da
comunicação, das relações entre os diversos atores sociais envolvidos, sejam eles da administração
publica, as empresas, as associações ou mesmo o cidadão. Estão em jogo duas dimensões: de um lado
a valorização do território em relação à diversidade biocultural e de outro, a educação para a
sustentabilidade para o setor do design. O texto apresentará como elementos de conclusão a metodologia
para o reconhecimento da identidade do design na região de abrangência do Polo da Moda da Serra
Gaúcha.

Keywords: identity; territory; design

The paper aims to present the theoretical and methodological framework that guided the research project
"The regional identity and social responsibility as tools to add value in the Serra Gaucha Fashion." The
basic concepts as identity, culture, region, territory; daily; reality, social responsibility, design and fashion
are discussed in light of everyday life that is history and movement. One benefit is the autorecognized
territorial resources, the starting point for promoting a sense of identity which brings into play the various
social components involved. The balance that is created between the social development necessarily
connected with the economic, conservation and promotion of the environment is improved through
information and communication, relations between different social actors involved, whether from public
administration, business, associations or even the citizen. At stake are two dimensions: on one hand the
exploitation of the region in relation to biocultural diversity and secondly, education for sustainability for the
sector of design. The text will present evidence of completion as the methodology for recognizing the
identity of design in the region covered by the Polo Serra Gaucha Fashion.

100
Universidade de Caxias do Sul, Brasil. mlmanfre@gmail.com
101
Universidade de Caxias do Sul, Brasil. nanirela@gmail.com
102
Universidade de Caxias do Sul, Brasil. b.venzon@terra.com.br
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1 Introdução
A sociedade ocidental vive neste início do século XXI o ápice da transformação do modelo
econômico industrial para o modelo pós-industrial. Se o modelo industrial sustentava-se na
capacidade de produção em larga escala de bens de consumo e serviços como resposta a
exigências e expectativas de consumo bem definidos, o modelo pós-industrial está se
constituindo sobre escolhas que respondam as novas exigências de natureza identitária, na
tentativa de superação à lógica dos grandes volumes. O caráter de natureza identitária, esta
exigindo dos produtores a mudança na lógica do valor agregado, ligado a um processo que
cresce dia-a-dia aos recursos imateriais de natureza cognitiva, experiencial, social, simbólica
(Sacco, 2003).
Os processos de renovação industrial dão lugar a complexos fenômenos que modificam
profundamente a estrutura da oferta e procura de trabalho, impõe novos modelos
organizacionais e distributivos. Tais processos assumem caráter ainda mais complexo nos
contextos onde predominam estruturas características das pequenas e médias empresas as
quais precisam agora conquistar capacidade de investimentos, de pesquisa e
desenvolvimento, de inovação. A esse fenômeno associam-se elementos que compõe o
valor agregado, os quais estão cada vez mais relacionados à dimensão do conhecimento e
das competências especificas (capital humano), a dimensão das relações interpessoais e dos
modelos sociais (o capital social), e a dimensão identitária e simbólica que define os modelos
comportamentais de percepção e uso dos bens e serviços (capital simbólico). Ou seja,
fatores de produção imaterial os quais, mais que substituir os produtos tradicionais, integram-
se de maneira sinérgica com aqueles dando lugar a novos modelos de organização de
empresas e de mercados (Sacco, 2003).
No atual momento social, sair da lógica do consumo industrial significa estar diante de um
vasto panorama de escolhas e, sobretudo, independentes da antiga percepção de
“necessidade”. Escolher hoje está relacionado ao sentido polivalente de “imaginar”. O que
esta sendo posto a venda não é mais o sabão em pó e sim a idéia de limpeza; não mais o
perfume, mas a idéia de sedução. Atualmente, um produto tecnicamente muito bom, mas
“sem alma” está fadado a ficar na prateleira.
Estamos entrando na Era do Simbólico. Escolher significa encontrar maneiras eficazes
para explicar aos outros e a nós mesmos quem se é. A escolha passa a ser a construção de
uma narrativa da identidade que passa a ser o fio condutor de cada sujeito social na busca de
pistas para orientar-se na complexidade contemporânea. Sobre construção de identidades no
atual momento, Manuel Castells (1999) a define como o processo de construção de
significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais
inter-relacionados, os quais prevalecem sobre as outras fontes de significado, podendo haver
para um ator social ou coletivo identidades múltiplas. Referencias centrais como Nação, etnia,
religião e gênero dão lugar a outra configuração, a qual passa pela construção de um “estilo
de vida”, considerado pelo sociólogo Giddens (2002) como “um conjunto mais ou menos
integrado de praticas que um individuo abraça porque dão forma material a uma narrativa
particular de auto-identidade”. Nesse sentido, a pluralidade de identidades que passam a
fazer parte do repertório dos indivíduos tem como característica a de que não possuem mais
a permanência e a solidez como parte de sua construção, mas ao contrário, a fluidez e a
efemeridade podem ser os descritores dessa nova realidade.
No cenário pós-industrial os bens são expressão de uma dada cultura, aqui compreendida
como conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, o direito e qualquer
outra capacidade habilidades adquiridas do homem como membro de uma sociedade (Burke,
2006). Os bens representam um mundo de possibilidades e são envolvidos por uma aura
inédita. A produção de sentidos não é mais restrita ao pequeno grupo de “iniciados” a quem
se assistia. Neste inicio de século todos os sujeitos são estimulados a se colocarem em cena
a cada dia, a cada instante, associando assim uma narrativa a cada coisa que realiza. A
experiência de criar significados surge como o terreno fértil onde produzir uma “nova
arquitetura da identidade”. O momento de criação surge dentro da condição originária para
dar sentido ao cotidiano. Nada do que esta longe da vida cotidiana, ao contrario, o que é
familiar, o sentido de pertencimento são valores que a sociedade volta a experimentar como
construção de sentido da identidade.

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A Serra Gaúcha possui tradição de qualidade na fabricação de seus produtos, porém com
o acirramento da competitividade neste setor, se faz necessário, para o desenvolvimento das
empresas locais, que se agregue valor aos produtos, através da criação e design próprios.
Com a realidade do cenário mundial torna-se necessário qualificar as empresas do setor de
moda, mostrando o design como fator estratégico para alcançar resultados diferenciados no
mercado, sendo este o instrumento capaz de transformar a identidade cultural em produtos
diferenciados no mercado.
Neste contexto, subsidiado também pelos resultados do estudo mencionado nasceu o
projeto “A Identidade regional e a responsabilidade social como ferramentas para agregar
valor na Moda da Serra Gaúcha” que tem por finalidade o aumento da competitividade das
empresas integrantes do Polo da Moda da Serra Gaúcha, através de estratégias de
diferenciação aplicadas, que possibilitem um salto qualitativo do setor ao incorporar conceitos
de identidade regional aos produtos fabricados, para buscar uma vantagem de
competitividade sustentável para as empresas locais. O Projeto está subdividido em três
fases distintas, a saber: a identidade regional, o design como ferramenta para agregar valor e
a responsabilidade social e sustentabilidade do processo.
Os resultados resgataram identidade cultural da moda com a finalidade de agregar valor e
design nas criações atuais, capacitar as micros e pequenas empresas do setor de moda, na
busca de diferenciais competitivos e mostrando o design como fator estratégico para agregar
valor ao produto e alcançar resultados diferenciados no mercado, reduzir o consumo de
matéria-prima, minimizar a geração de resíduos, reduzir o consumo de energia, reciclar,
reutilizar e reaproveitar resíduos dentro da empresa. E, finalmente, disseminar e aplicar os
conhecimentos teóricos e práticos a respeito dos processos de produção mais limpa nas
empresas que participam do Polo de Moda da Serra Gaúcha, possibilitando uma revisão de
técnicas e práticas que favoreçam as boas práticas ambientais, bem como propiciem uma
mudança de cultura organizacional em prol do desenvolvimento sustentável.
Aliado a isso, a relação entre o princípio da sustentabilidade planetária e o conceito de
eco-eficiência de um produto é o principal condicionante para o design de produtos. A função
design confere ao produto características diferenciadas baseadas na ótica de preservação e
recuperação ambiental, podendo ser considerada como ponto desequilíbrio nas relações
descontinuidade-descartabilidade-reciclabilidade, inerentes a um produto ecologicamente
correto.
Atualmente é necessário pensar em desenvolvimento de produtos eco-orientados, isto é, a
consideração dos “aspectos éticos e ambientais sobre onde algo é feito, quem faz, sob que
condições, de que é feito, como será usado e como será eliminado ou reciclado, se torna parte
integrante da atitude de design, mais do que de estilo ou de moda.
Tal iniciativa surge por meio da sinergia entre a Universidade de Caxias do Sul (UCS), o
Polo da Moda da Serra Gaúcha e o CNPQ.
Propor o Design de uma identidade contemplando dinâmicas cotidianas na produção e
representação da identidade regional e a responsabilidade social como ferramentas para
agregar valor ao conceito de design implicará dimensões específicas como a da História, da
sociologia, da comunicação e do design.
Um sistema cultural tem componentes de ordem tecnológica, social e ideológica,
entrelaçados. No plano da tecnologia, estão os instrumentos e suas técnicas de uso. No plano
social, se incluem os usos e costumes, as instituições, os códigos de comportamento. No plano
da ideologia tem-se um sistema de valores e uma visão de mundo expressa em conceitos e
crenças. Esses componentes se articulam com o ambiente físico e à simbolização linguística
adquirindo assim a sua identidade (RIBEIRO E POZENATO, 2001).
Este projeto de pesquisa se debruça sobre dois tipos de manifestações da cultura da
região de abrangência do Polo da Moda da Serra Gaúcha: os signos materiais e o discurso.
Os signos materiais, ou concretos, dizem respeito principalmente às tecnologias, aos
fazeres, às práticas. Podem ser de três tipos: os antigos instrumentos de trabalho, as técnicas
ou processos do fazer, o produto resultante do fazer. Desde atividades que desapareceram da
economia tradicional ate a tecnologia informatizada. A observação e o registro desse tipo de

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signo concreto podem mostrar, de um lado, a criação cultural articulada com o habitat e, de
outro, apontar para significados sociais vinculados à tecnologia.
O discurso, segundo Ribeiro e Pozenato (2001), além de articular o sistema cultural no seu
todo, também o explica. Pode ser de tipo formalizado, narrativo e interpretativo.
A Fenomenologia então nos auxiliará na compreensão do pensamento cotidiano da
identidade do design distinguindo a consciência prática da consciência discursiva ou
reflexiva. Schutz (2003) propõe que a construção de sentido dos fenômenos se dá quando a
experiência se dá por meio de movimentos reflexivos aos fenômenos vividos e sedimentados.
O sentido global de uma experiência forma o conteúdo de todos os nexos de sentido subjetivo,
e o sentido específico de uma experiência deriva da organização dela mesma na totalidade dos
nexos da experiência. O sentido de subjetividade é nada mais nada menos que a auto-
interpretação do próprio projeto de ação. A auto-interpretação se origina sempre em um aqui e
um agora, portanto é sempre relativa, pois as interpretações de sentido variam conforme o
tempo no qual ela ocorre e conforme o interesse do momento e do lugar no qual ocorre a
interpretação.
Para identificação da dinâmica cultural e valores de uma identidade será caracterizado o
conceito espacial de Serra Gaúcha. Foram realizadas entrevistas com foco em narrativas dos
entrevistados sobre o tema moda. As escolhas feitas para narrar, contar uma história, a história
de cada um, forma como cada um se vê e quer ser visto no mundo é a própria identidade.
A capacidade do design como forma de expressão das identidades é fonte de
entendimento da realidade. O momento das entrevistas (segunda etapa do trabalho) teve
registro fotográfico e em vídeo dos signos materiais e concretos da cultura da moda nas
comunidades e municípios que formam o Polo da Moda. O inventário fotográfico, de caráter
etnofotográfico, terá como produto final um acervo de imagens de peças de vestuário, da
indústria têxtil, artesanato.
Arte, moda, artesanato expressam emoções, sentimentos, pensamentos, cultura. A beleza
é uma busca constante da intuição transcendental que une o homem a natureza e que desta,
traz inspiração que a ela deve retornar. Ontem e hoje: dependência histórica da vida cotidiana
e construção das identidades sociais.
Para a etapa das entrevistas foram realizadas diversas viagens aos municípios
pertencentes ao Polo da Moda. Concomitantemente foram consultados os arquivos de memória
oral do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, os arquivos do ECIRS no que diz
respeito a acervos fotográficos sobre artesanato, entrevistas que abordam o tema e as
publicações já oficializadas.
Delimitado o espaço, o tempo, produzidos os horizontes de sentido (conteúdos da cultura)
foi construído o cenário da identidade da moda/Design.
Perceber o valor das identidades desde a planificação regional e local – Seus conteúdos,
os sentidos de pertinência das pessoas, os valores com que se movem as sociedades
regionais, as dinâmicas culturais, a relevância do território, o valor assinado e especialmente o
projeto futuro desejado são atitudes básicas. Como também observar a valorização da
identidade e da cultura nos processos sociais, econômicos e produtivos.

2 Evidenciar a identidade, nossa experiência


Na perspectiva de contribuir para a disseminação dos benefícios da preservação da ciência e
tecnologia do vestuário para todas as pessoas e grupos sociais, seja ampliando o acesso a
produtos de moda para todas as classes, seja aumentando o retorno para as pessoas e
comunidade que nele atuam, é necessário que, as questões de sustentabilidade relativas à
moda sejam examinadas no mínimo a partir de seus significados individual, econômico e
ambiental.
No plano individual, as pessoas, pressionadas pelo sistema da moda, que valoriza o novo
como essencial, depara-se com a urgência cultural de proteger o planeta. Aí o exagero sai de
moda. Vale um consumo mais consciente, é o que estão defendendo muitos formadores de
opinião na área.
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No plano econômico, há de se desenvolver conhecimento sobre formas de confecção, de
melhor tecnologia do produto, contribuindo para o desenvolvimento de inovações têxteis como
reciclados.
Finalmente, no plano ambiental, é importante que os estudos se direcionem para a
identificação, análise e proposição de formas de fabricação do vestir que promovam a
educação ambiental e proporcionem o desenvolvimento sustentável.
Do conjunto de questões suscitadas nos diferentes planos de análise indicados, uma delas,
que parece perpassar os âmbitos individual, social, econômico e ambiental, não recebeu ainda
a devida atenção, desafiando a busca de alternativas adequadas. Trata-se de examinar em
que medida a produção do vestuário e artigos manufaturados representa alternativa para
preservação do patrimônio cultural, desenvolvimento de tecnologias alternativas e ampliação
do retorno financeiro evidenciando valor voltado à moda.
Com a realidade do cenário mundial torna-se necessário qualificar as empresas do setor de
moda, mostrando o design como fator estratégico para alcançar resultados diferenciados no
mercado, sendo este o instrumento capaz de transformar a identidade cultural em produtos.
Queremos falar aqui de identidade para o desenvolvimento, para isto é necessário observar
as diversas dimensões teóricas e práticas para a compreensão e para impulsionar a sua
projeção.
Reconhecer a identidade desde o reconhecimento histórico/social/político: percebendo a
identificação e a distinção. O processo evidencia a existência de múltiplas identidades: de um
conjunto de ativos, produtos e serviços carregados de identidade que podem ser valorizados
em diferentes perspectivas. Por sermos híbridos, estamos no trânsito de várias singularidades,
não temos uma singularidade particular, e esta sim é nossa singularidade.
Através da identidade se pode construir o desenvolvimento que nasce da própria
autodeterminação das pessoas e de seu território entendendo que a identidade na medida em
que está associada a uma cultura (local) deve ser o ponto de partida para orientar o
desenvolvimento.
Nesta primeira etapa, o desafio foi nos debruçar com um novo olhar para ir observando o
nosso entorno. O cotidiano é o material em torno do qual gira a vida de cada individuo, vida
que contem em si tanto o comportamento cotidiano, no sentido do agir condicionado pela
rotina, pelo hábito, como a necessidade de ruptura de tal comportamento, isto é, contem em si
uma dialética que a caracteriza entre hábitos e rupturas, entre sentido comum e experiência.
Neste sentido fazem parte da vida cotidiana o ambiente, as práticas, as relações e os universos
de sentido.
Estudar seu entorno e explorar os recursos locais, conhecer e traduzir um estilo próprio de
ser e viver este lugar de forma criativa e com diferenciação se torna o desafio em reforçar laços
mais estreitos do design com a cultura de uma região. Uma base que poder ser reconhecida de
forma particular a influenciar o imaginário criativo de designers e surpreender os consumidores
com produtos originais e inovadores, repletos de histórias narradas pelas tramas do lugar.
A Região, muito conhecida pela capacidade produtiva, demonstrou, por meio desse estudo,
uma rede de relações que se constituem na construção dos elementos identitários. As tramas
que se fortalecem com o uso do vime, diretamente relacionada com a cultura da videira, e
tendo no seu produto, o vinho uma das principais economias da região, desde os primeiros
tempos de colonização e origem de muitas histórias e de desenvolvimento econômico. Outras
tramas seguem sua trajetória própria e originam tecidos preciosos. Do plantio à colheita, o linho
ganha importância e com a habilidade artesanal originam peças de alfaiataria. A tecelagem de
linho se torna representativa e criativa.
Na religiosidade a presença mais marcante é a figura de santos e Nossa Senhora, com
sentido bem cristão. No grande esforço dos colonos para conquistar o território, a religião foi o
incentivo para sobreviver.
As peculiaridades da serra gaúcha contribuem para a construção de uma série de
representações em torno dela que acabam adquirindo força. A Região apesar de sua grande
característica de colonização italiana tem uma forte representação da figura do gaúcho com

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suas expressões campeiras, envolvendo o cavalo, o chimarrão e a construção de um tipo social
livre e bravo. Serviu também de modelo para grupos étnicos diferentes, o que estaria indicando
que essa representação une os habitantes deste espaço, fruto da vinda de muitos migrantes
em busca de novas perspectivas.
A renda, a trama, o vime, a religiosidade de forma reelaborada, passam a formar um todo
coerente ao colocar o design como mediador. O espaço, a territorialidade, a natureza
constituem elementos que não podem ser esquecidos quando se busca a identidade de um
lugar. A identidade é neste sentido, elemento de unificação das partes.
A identidade fornecida por este lugar é simbólica e compensada pelas relações e
cruzamentos que se entrelaçam, criando um tecido urbano, formada por rendas entre seus
habitantes. No entanto, fica claro que a própria identidade regional é fruto de uma construção
histórica cujo resultado, ao final do processo, aparece como uma unidade revestida de uma
essência.
Estudar a vida cotidiana com o intuito de observar características identitárias é estudá-la
como um conjunto de modos pelos quais determinados grupos de seres humanos agem e se
comunicam cotidianamente nas relações com o próprio ambiente. Trata-se das formas de
cultura que permeiam as formas de vida.
A força religiosa, entre os grupos colonizadores da Serra Gaúcha, foi registrada e se
manifestada de diferentes formas, incluindo a arquitetura. Essa arquitetura religiosa tem nas
capelas uma das manifestações mais representativas, especialmente para minimizar o
isolamento físico entre os habitantes da colônia aumentando as possibilidades de convivência
e trocas sociais, as quais já faziam parte de seu cotidiano nos países de origem. A forma de se
reunir em torno da capela aos domingos ou em dias de festa permitiram a este imigrante uma
forma de construir sua vida cultural nesta região. Essa afirmação é possível pelos numerosos
exemplares encontrados em toda a região funcionando como catalisadores da vida
comunitária.
Quanto aos materiais usados iniciaram com o uso da madeira e essas construções deram
origem a construção das igrejas. As capelas primitivas destacavam-se pela simplicidade e, por
volta de 1896, com a chegada da missão apostólica dos padres capuchinhos franceses, chega
também um novo estilo que influenciará as construções a partir dessa data, o neogótico
simplificado. O ideal gótico de aberturas verticais em arco ogival, rosáceas misturando-se em
partes ao estilo românico será uma mistura de influências significativa nas construções
religiosas da região.
Outras manifestações artísticas consideradas populares também integradas a estilo
religioso foi a pintura e a escultura. A pintura segue a simplicidade das construções e pode
ser considerada um estilo primitivo com cores primárias. Usada para decorar capelas e igrejas
e com estilo muito mais ligado a arte medieval. Imagens de santos e anjos além de cenas
bíblicas decoram estes espaços além de frisos decorativos com figuras geométricas e de
inspiração floral. É a natureza levada a estes ambientes religiosos como referência de seu
entorno.
Os ornamentos são simples, mas muito importantes e a natureza volta a ser referência
quando as flores artesanais são representadas. Utilizadas enfeitaram os altares, a matéria-
prima utilizada era o tecido, papel ou palha de milho, ou seja, o que estivesse mais próximo e
possível de ser usado, mas onde as cores poderiam também existir em seus buquês.
Os castiçais, os candelabros e as lamparinas produzidos em madeira policromada ou em
metal, com especial dedicação aos castiçais são peças decorativas de traços muito simples a
complexidade de linhas com o passar do tempo e das possibilidades técnicas que eram
desenvolvidas.
Os exemplos citados aqui, resgatados do cotidiano de crenças religiosas são apenas o
início. A criatividade e a “expressão de si” como originalidade e elementos mais importantes do
que os símbolos de status massificadores são decorrentes mais do estar atento às novas
tecnologias, ter como ponto de partida a diversidade e a tradição para inovar.
Individuação e aprofundamento das particularidades de cada cultura, selecionando e
potencializando as características únicas, porém ao mesmo tempo universais, de culturas
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diferentes. Não se trata de homologar, mas de traduzir, não se trata de unificar, mas convergir;
não se trata de propor receitas preconcebidas, mas de ativar transações e transições.

3 Os elementos do lugar-local como sinônimos de pluralismo, convivência e


bioculturalismo: recompor para reconhecer-se em um ambiente de relações
consigo, com os outros, com o território e a cultura
A palha do trigo como elemento do cotidiano, mais que um problema pelo não uso, passa a ser
aproveitada, em atitude inovadora. Independente da espessura, todas eram aproveitadas. As
mais finas eram reservadas aos trabalhos vendáveis, as outras para os de consumo próprio.
No Brasil, o trançado surge em todas as tribos indígenas por sua acessibilidade e
abundância de matéria prima. Ele assume formas que narram lendas dos nossos mitos
originais e contam a história das tribos indígenas. O ato de trançar uma fibra está
profundamente ligado à trama do destino e à história dos homens.
Para os índios, o fato de o trançado estar intrinsecamente ligado à sua utilidade não diminui
seu valor simbólico e narrativo. Para eles forma (beleza), utilidade e sacralidade estavam
intrinsecamente ligadas. O sublime estava muito ligado ao cotidiano. A arte e o artefato, em
quase todas as épocas, foram a mesma coisa. A separação entre elas é coisa recente
inventada pelo homem branco.
Os objetos produzidos por uma cultura podem falar muito sobre ela. A diferença básica na
produção de utilitários dos índios para a nossa é que eles faziam tudo com as próprias mãos. A
fibra era colhida, tratada com cinzas, surrada, finamente trançada, ornamentada, sempre fibra
por fibra. Cada objeto é feito como único, sendo assim, um objeto que exige um tratamento tão
trabalhoso e individual só pode culminar impregnado das mãos de quem o trançou, que por sua
vez está impregnado de sua cultura.
Em nosso espaço territorial não foi diferente. Aproveitando a matéria-prima disponível em
grande escala com o cultivo do trigo, surge o manuseio habilidoso entrelaçando palha como fio
e construindo utensílios necessários e decorativos distintos. Com a palha do trigo originou-se
um rico artesanato que preenchia as horas de lazer das mulheres. A dressa (trança) a qual era
confeccionada com as longas tiras da palha, transformando-se em chapéus e sportas (bolsas).
Nos primeiros anos da colonização, o trigo não era cultivado na região. O plantio do
produto fez surgir na paisagem, como também os moinhos com grandes rodas d’água,
acrescidos de videiras e pinheiros. O trigo gerava uma parte não aproveitada para uso
alimentar. Desse material não-aproveitado surge o artesanato da palha de trigo que persiste
até os dias atuais.
Os elementos do lugar-local como sinônimos de pluralismo, convivência e bioculturalismo e
a longevidade como critério decisivo, já fazia parte de um modo de viver, voltado a solução de
problemas quer econômicos, sociais e ambientais. A palha do trigo como elemento do
cotidiano, mais que um problema pelo não uso, passa a ser aproveitada, em atitude inovadora.
Independente da espessura, todas as palhas eram aproveitadas. As mais finas eram
reservadas aos trabalhos vendáveis, as outras para os de consumo próprio.
Olhar novamente para si percebendo a própria essência da identidade articula o trançar a
palha como um hábito que possui um elo com a cultura do trigo.
A longevidade como critério decisivo, e o pensamento voltado a solução de problemas já
estava presente na prática desse artesanato. O uso da palha de trigo decorre do
aproveitamento, pois o imigrante constatou logo cedo a impossibilidade utilizá-la como
forragem para animais. Passou então a depositá-la na lavoura e embaixo de parreirais, mas
isso não era suficiente, a excelente qualidade de trigo produzia uma palha bonita, e esse
destino ainda lhe soava como desperdício. Esse foi o caminho para o nascimento da atividade
artesanal local.
A disponibilidade da matéria aliada às necessidades da colônia: usar chapéus, transportar
pequenos objetos, levar diariamente o alimento para a roça, ocupar o tempo ocioso e a

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possibilidade de uma nova fonte de renda, foram fatores que somados, estimularam o
desenvolvimento do artesanato.
Aprender trançar a palha significava, às jovens, sonhar com peças para o enxoval. É dentro
desse universo que se insere a confecção do enxoval, o único dote dado à mulher, já que não
tinha direito a herança de propriedade.
Tecendo o mesmo caminho da longevidade como critério decisivo, e o pensamento voltado
a solução de problemas pode ser percebido também na utilização dos sacos de embalagem
do açúcar. Estes eram lavados e preparados para a confecção de lençóis, toalhas de mesa, de
rosto, panos de parede, panos de prato. Mas este é um tema que merece outro capítulo.

4 A longevidade como critério decisivo, pois o objetivo não é maximizar o


lucro, mas fazer parte do pensamento voltado à solução de problemas
sociais e ambientais
Diante desta realidade torna-se necessário qualificar os profissionais no âmbito da moda e no
âmbito dos formadores de tais profissionais, com foco na reflexão do design como fator
estratégico para alcançar resultados diferenciados no mercado, sendo este o instrumento
capaz de transformar a identidade cultural em produtos.
Olhar para si percebendo a própria essência da identidade. O vime é material que merece
nosso estudo e consideração por sua representatividade e significado. É elo de ligação desde o
início da história deste lugar até os dias de hoje. A princípio utilizado por necessidade passa a
ser transformado em design de alto valor agregado, diferenciado e fiel à essência dos fazeres
deste território. Produziam-se com o vime, as amarras das parreiras, os cestos, a proteção para
os garrafões para vinho; posteriormente sua utilização passa as ser para móveis . O design e a
identidade Cultural se tornam elementos para compreender a lógica da mudança na tradição.
‘Se não existissem videiras na nossa região, não haveria vime. Utilizado, essencialmente,
para amarrar as parreiras, seu plantio foi intenso, gerando material para outros produtos, como
os cestos usados para a colheita da uva. ’ (Depoimento de Ivo Saccaro)
Em 1946 Albino e Angelo Saccaro fundam a empresa IRMÃOS SACCARO, localizada em
Ana Rech e, iniciaram produzindo pequenas peças como: cestos, balaios, berços, camas para
crianças, cavalinhos, utilizando como matéria-prima o vime. Comercializavam seus produtos
em Caxias do Sul, Porto Alegre e principalmente na porta da fábrica, para os turistas. Desses
produtos, a empresa passou ao beneficiamento do vime para utilizá-lo pro cesso de empalhar
garrafões utilizados para armazenar o vinho, produzido pela indústria vitivinicola da região.
Quando lançaram o plástico como invólucro no garrafão, a empresa precisou repensar seu
produto. Para resistir, mudou sua atividade para os móveis, isto é retomou a produção de algo
já conhecido e que o identificava.
Em 1970 a Empresa passou a denominar-se INDÚSTRIA DE VIMES PIONEIRA LTDA
apostou juntamente com seus filhos na fabricação de artigos de vime. Nesta fase produziam
poltronas, mesas, sofás e eram vendidos nas regiões de praia , tendas ambulantes.
‘A madeira era usada para estruturar o móvel de vime. Chegamos a usar alguns detalhes
de trança de palha do trigo –“a dressa” – nas cadeiras concha. Passamos a montagem de
móveis utilizando rattan. Nas matérias-primas, começaram a ser introduzidas a aplicação de
madeira, o junco, a cana-da-índia, a malacca, o ferro, o alumínio. A Saccaro sempre
inovou bastante, tanto no que diz respeito ao material, quanto no design, que na época, nós
chamávamos de modelos’. (Depoimento de Sergio Rech)
O fornecimento de matéria-prima ainda tem origem em diversas localidades próximas à
cidade de Caxias do Sul. Segundo o Sr. Albino Saccaro: “temos famílias em São Marcos,
Gramado, aqui em Vila Oliva, que trançam artesanalmente partes dos móveis. Levamos e
buscamos as peças, da mesma forma como era feito antigamente”.
O processo assinala a importância da tecnologia de ponta e dos designers na inovação
e criação dos produtos. O conceito de design inicia na empresa nos anos 80. Nessa mesma
década, com a desvalorização do vime como matéria-prima a busca de uma solução para os
móveis e para a empresa, comprovando a criatividade e a força para inovação.
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O nome precisava ter identidade que caracterizasse um produto de design artístico.
Acabamos identificando a marca Saccaro, lançada em 1986. A razão social continuou a ser
Indústria de Vimes Pioneira. A marca soou bem, funcionou tanto que um ano depois, em 1987,
mudamos a razão social também.”(Ivo Saccaro). A década de 80 se torna significativa. O
conceito de design inicia na empresa, contratando designers e desenvolvendo produtos
diferenciados , agregando novos materais como rattan, malacca, fibra sintética, fibra de
bananeira entre outros, mas matendo sempre viva sua essência de nascimento: a trama das
fibras. Levou para o mundo suas raizes e habilidades manuais de trançar o vime e todos os
materias que vieram a seguir.
A empresa que enfrentou inúmeros desafios e inovou no uso de matérias-primas , soube se
adaptar às mudanças de mercado observando, inovando com design sem perder o foco de
seus objetivos iniciais, sua essência . Hoje está consagrada como uma marca sofisticada e de
alto valor agregado. Valorizando pessoas e processos, buscaram aprimoramento fazendo o
melhor em produtos, construindo uma marca sólida e reconhecida de sucesso e de
criatividade. Do vime aos materiais mais sofisticados do mercado atual, as tramas são sua
marca registrada.
A importância da identidade do produto e da assinatura de um nome que iniciou todo o
processo, de trabalhar as fibras, ganhou força e associando sempre sua marca à diversificação
do uso de materiais, à harmonia da produção artesanal com o conceito de design.
Sustentabilidade de processos, de história e marca de identidade reconhecida e valorizada.
O verde está na moda, menos como cor e mais como tendência a produzir pensamento
e condições para uma vida ecológica e socialmente sustentável. Em todo o mundo, empresas
dos mais diversos setores empenham-se em implantar processos de produção ambiental e
socialmente corretos, aplicando padrões sociais justos à produção. No case descrito acima,
além das matérias-primas utilizadas manterem o trabalho artesanal realizado pelas famílias da
região, é pensar em padrões sociais com qualidade.
Além disso, atualmente é necessário pensar em desenvolvimento de produtos eco-
orientados, isto é, a consideração dos “aspectos éticos e ambientais sobre onde algo é feito,
quem faz, sob que condições, de que é feito, como será usado e como será eliminado ou
reciclado, se torna parte integrante da atitude de design, mais do que de estilo ou de moda.
Longevidade é o critério decisivo!

5 Cobiçar a formação para o design


Olhando para a primeira escola noturna de “desenho artístico” implementada por uma empresa
da região nos anos 40 do século XX, passando pelo pioneiro curso superior universitário
voltado a formação dos profissionais para a moda e estilo, é possível operacionalizar o cenário
do futuro, o qual deverá ter forte acento na formação dos formadores.
A mística do sucesso pelo trabalho é responsável por um conceito bem definido de
educação. É fácil encontrar afirmações que apontem o imigrante italiano como contrário á
escola, considerada menos importante que o trabalho. Em realidade, o que ele não admitia era
uma escola que impedisse o trabalho, sobretudo no tempo da plantação e da colheita, ou uma
escola que não se voltasse para a vida, que não fosse centrada no trinômio ler, escrever e
contar, três elementos necessários à comunicação e à gerência dos próprios negócios.
A história da Escola Noturna de Desenho Artístico José Venzon Eberle aponta para
mentalidade oposta aquela descrita acima. Formava profissionais com competências artísticas
para a criação dos mais de 15 mil produtos da empresa Metalúrgica Abramo Eberle. Fundada
aproximadamente em 1940, as aula eram ministradas nas dependências do Departamento de
Cultura do Grêmio Atlético Eberle. Ensinamentos de desenho artístico e técnico compunham o
currículo do curso, que desde sua fundação até o início dos anos 1950, formara mais de 200
alunos.
Todos os anos, após o término do curso, era realizada uma exposição dos trabalhos
executados pelos alunos, cujas exposições ficavam abertas à visitação pública. Os estudantes
construíam competências para, posteriormente, criar produtos que seriam reconhecidos
nacionalmente.
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Ao longo da história centenária da Metalúrgica Abramo Eberle, o conhecimento artístico foi
matéria prima que inspirado na religiosidade da sociedade local, produziu peças para igrejas.
Ou então, inspirados na cotidianidade do gaúcho, desenhavam peças para montaria.

6 A título de uma conclusão

Ao lado da concepção do produto, é cada vez mais importante a criação de identidade. Uma
tarefa muito importante, mas difícil, pois as marcas necessitam de longevidade, e a moda está
em mutação permanente. Essa complexidade necessita ser trabalhada ainda durante a
formação do profissional. É nessa relação entre cultura e economia que está a força intrínseca
do design.
Um dos elementos identitários encontrados pela pesquisa está na tradição da formação dos
profissionais do design. Estará sendo desenvolvido um projeto com objetivos de (a) identificar
elementos do lugar vinculados a sustentabilidade do território; (b) apoiar o processo de
construção da identidade pessoal oferecendo instrumentos que possibilitem a gestão da
complexidade e transformação de competências e valores que auxiliem o sujeito no processo
de atribuição de significado tornando-o capaz de construir relações significativas e autenticas
por meio do conhecimento, das raízes e da própria cultura e identidade criando uma abertura à
alteridade; (c) promover a difusão de uma cultura de responsabilidade territorial por meio da
representação e compartilhamento de diferentes visões territoriais; (d) aumentar a cooperação
de todos os atores sociais que produzirão novos conhecimentos territoriais na valorização e
reconhecimento da própria cultura e identidade. Tal objetivo visa identificação de redes, nós e
malhas para a criação de uma “rede de territórios”.
A Região conversa com o mundo em sua produção e tem como pontos fortes: área metal-
mecânica, vinho, móveis e utensílios. Os imigrantes formadores receberam legado de
conhecimentos e tradição do fazer manual, mas desenvolveram técnicas e utilizaram a matéria-
prima encontrada no lugar. As conversas e os negócios sempre giram em torno de uma boa
comida e o vinho. O alimento tem um valor muito alto e sempre é feito com muita fartura, talvez
para compensar os tempos difíceis. O espírito do lugar pode ser sintetizado como: Trabalhar
para viver. Viver para trabalhar.
No caso da identidade, o trabalho total é direcionado para os meios. Não se começa pela
imagem final, mas por uma série de peças já obtidas ou que pareçam valer a pena ter, e então
se tenta descobrir como é possível agrupá-las e reagrupá-las. Tal construção é guiada pela
lógica da racionalidade do objetivo, sendo que a tarefa de um construtor de identidade é, como
diria Lévi Strauss, (apud Bauman,2005) a de um bricoleur, que constrói todo tipo de coisas
como material que tem à mão.
A decodificação da cultura do cotidiano em suas manifestações materiais, imateriais, e
simbólicas, assume neste trabalho o eixo principal que norteia e direciona as atividades na qual
estão inseridas as pessoas da comunidade do lugar, ajudando a tirar o alimento de que
necessita para a identificação e valorização de si mesmo e de sua coletividade, de reconhecer
suas raízes e reconhecer-se nelas. Neste caso, o uso de recursos disponíveis mais o
conhecimento trazido na bagagem contribuíram sobremaneira para a construção de elementos
e significados.
A partir dos dados obtidos cada vez fica mais claro que é preciso transformar a identidade
do lugar em poderosa alavanca estratégica e mola propulsora para desenvolver nova
criatividade e projetos sempre mais sustentáveis e avançados.
Os estudos mostram que as regiões, e como consequência, o país inteiro, correm o risco
de ir perdendo paulatinamente sua identidade. Os artesanatos estereotipados expostos nos
mercados regionais, a folclorização de festas e expressões artísticas, a homogeinização dos
alimentos e as comidas numa gastronomia cada vez mais anônima, a contaminação do meio
ambiente.
Claro está que as identidades são de distintas origens: familiares, étnicas, religiosas,
nacionais, regionais, locais, políticas, culturais, e uma grande lista. E também é claro que as
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identidades não só se recebem da sociedade, também que se constroem individualmente.
Porém se constroem com os materiais da experiência, da prática compartilhada, da biologia, da
historia, do território, de tudo o que faz nosso entorno e o entorno de nossos ancestrais.
Quanto mais materialmente arraigada está uma identidade, mais força tem na decisão
individual de sentir-se parte dessa identidade.
Neste sentido, o estudo de Identidade Regional pode se constituir em uma ponte que
permite dar continuidade ao processo de elaboração de estratégias regionais de
desenvolvimento, assim como possibilita elaborar de maneira mais pertinente políticas públicas
no âmbito da cultura o patrimônio regional.
É evidente que este estudo não cobre todas as alternativas e níveis de caracterização de
identidades existentes em uma região complexa e heterogênea como a Região da Serra
Gaúcha.

Referências

Bauman, Zygmunt. (2005) Identidade. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.
Burke, Peter. (2006) La storia culturale. Bologna: Società Mulino.
Castells, Manuel. (1999) O poder da identidade. Vol 2. A era da informação: economia,
sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra.
Giddens, A. (2002) Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Ribeiro, Cleodes Maria Piazza J. e Pozenato, José Clemente. (2001) Caminhos e Passos:
aspectos históricos e culturais da área da usina hidrelétrica Machadinho. Caxias do Sul:
EDUCS.
Sacco, P. L.. e Viviani, M. Scarsità, benessere, libertà nel contesto dell’economia dell’identità.
Disponível em
http://www.lascuoladivolontariato.it/wpcontent/scarsitabenessere_%20liberta_%20
nelcontestodelleconomiadellidentita.pdf. Acesso em 1maio 2009.
Schutz Alfred . (2003). El problema de la realidad social. Buenos Aires: Amorrortu, 2003.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Perspectivas de ações sustentáveis de Design no contexto
de políticas públicas estratégicas (Prospects for
sustainable actions of design in the context of strategic
public policies)

PORTO, Renata; Mestranda; Universidade Federal do Rio Grande do Sul


regastal@gmail.com

VAN DER LINDEN, Júlio; Dr.; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
julio.linden@ufrgs.br

Palavras chave: design; sustentabilidade; políticas públicas.

Frente ao cenário da globalização, de desenvolvimento industrial e urbanização dos países periféricos,


onde os governos aparentam ser a única instituição capaz de resistir aos efeitos da expansão comercial e
da invasão cultural, levantam-se questões sobre os papéis do design. Entre essas, cabe discutir
perspectivas de contribuição do design para a formulação de políticas públicas estratégicas. A definição
de ações públicas e privadas orientadas à sustentabilidade são pautadas por políticas gerais,
regulamentações e condições econômicas, além de motivações éticas e ideológicas. Um
reposicionamento do campo de atividade do designer industrial pode torná-lo capacitado a contribuir para
a reestruturação do entorno sócio-ambiental, por meio de processos de planejamento integrado com o
poder público ou de programas públicos de fomento à pesquisa e de investimento em tecnologias. Deste
modo, torna-se viável a colaboração do design em companhias e nas suas estratégias de
desenvolvimento, a fim de criar produtos e sistemas eco-eficientes, além da resolução de problemas que
emergem na sociedade contemporânea. Novas ações para a sustentabilidade ambiental dentro dos
sistemas sócio-tecnológicos voltam-se para a qualidade ecológica de produtos e serviços, e soluções que
permitem o acesso a estilos de vida sustentáveis.

Keywords: design; sustainability; public policies.

Against the background of globalization, urbanization and industrial development of developing countries,
where governments appear to be the only institution capable of withstanding the effects of trade expansion
and the cultural invasion, there are questions about the roles of design. Among these, it should discuss
prospective contribution of design to formulation of strategic policies. The definition of public and private
actions directed towards sustainability is guided by general policies, regulations and economic conditions,
in addition to ethical and ideological motivations. A repositioning of the activity field of industrial design can
turn able to contribute for restructuring of social and environmental surroundings, through integrated
planning processes with the government or public programs to encourage research and investment in
technologies. Thus, it becomes feasible to design collaboration in companies and in their development
strategies in order to create products and eco-efficient systems, and solving problems that arise in
contemporary society. New actions for environmental sustainability within the socio-technological systems
turn to ecological quality of products and services, and solutions that allow access to sustainable lifestyles.

1 Introdução

O ponto de partida para compreensão da atividade de design está na evolução das sociedades
modernas – industriais e urbanas – nos séculos XIX e XX, profissão esta vinculada a inovação
e a competitividade (Van der Linden & Lacerda, 2009). Se compreendermos que a atividade de
design está ligada à tecnologia e ao processo de produção industrial, pressupomos que as
mudanças ocorridas nos processos de desenvolvimento de projeto de produto decorreram das
transformações econômicas da sociedade (Niemeyer, 1998). Desde a Revolução Industrial, o
paradigma do design, uma atividade de natureza de concepção projetual, tem sido o de
desenhar para os interesses industriais das grandes corporações, permanecendo o
conhecimento da área sob o domínio mercadológico (Margolin & Margolin, 2004; Neto, 1981).
A prática de Design era intensamente voltada ao desenvolvimento de artefatos industriais,
cujo pensamento se concentrava na forma, na estrutura e na função das coisas, tendo como
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objetivo os aspectos técnico-construtivos e técnico-produtivos da configuração de produtos,
atividade então reconhecida como design técnico (Löbach, 2001; Thackara, 2008). As recentes
ações de design têm considerado outros fatores para além da resolução de problemas técnicos
oriundo das indústrias – o design social – cujos produtos-serviços são desenvolvidos a partir de
necessidades locais de base social. Deste modo, compreende-se que, enquanto o design
técnico está orientado para o produto e tem como meta a melhora e posterior desenvolvimento
dos produtos existentes segundo critérios principalmente econômicos e de venda, o design
social é orientado para os problemas sociais e tem como meta a melhoria das condições de
vida de determinados grupos sociais (Löbach, 2001).
Na atual fase de desenvolvimento da humanidade, marcada pela superprodução, escassez
de matérias-primas, desemprego crescente e progressivo consumo de bens duradouros, a
tarefa do designer industrial exige uma nova concepção de trabalho, cujo profissional domine
com excelência além da configuração de produtos, a capacidade de detectar e produzir
artefatos que façam sentido frente à nova realidade (Löbach, 2001). O Design, perante os
desafios atuais tem demonstrado evolução na diversidade de soluções possíveis por meio da
atividade projetual (Van der Linden & Lacerda, 2009).
Em geral, os designers têm trabalhado para clientes ou chefes – responsáveis por
determinar o que é possível, viável ou aceitável para a prática profissional – no contexto da
indústria e do comércio, que resultam na principal área de atividade. As políticas e práticas
industriais são fundamentais para compreender como funciona o design em nível operacional,
assim como seus papéis e funções a executar. Por consequência, o desenho industrial não tem
participado das estruturas que definam políticas tecnológicas, que estabeleçam prioridades,
que avaliam investimentos e que decidam sobre projetos industriais, já que as manifestações
específicas sobre o seu papel na estratégia geral das empresas são relativamente raras. (Neto,
1981; Heskett, 2005).
A atividade enquanto projetista de produtos dentro das empresas industriais não é a única
possibilidade de trabalho para o designer (Löbach, 2001). Dentro das inúmeras alternativas
para a inserção do design junto às organizações, no desenvolvimento de produtos e serviços,
talvez o principal desafio seja a dificuldade do trabalho interdisciplinar (Andrade, 2009). Se a
indústria apresenta-se como área vital do processo de decisão do design em nível de
microdesign, em contrapartida, muitos governos têm desenvolvido políticas de macrodesign
para o desenvolvimento e a promoção do design como fator importante no planejamento
econômico nacional para a competitividade industrial. De modo, similar à indústria, os governos
também mostram consideráveis variações nas estruturas e práticas em torno de seus objetivos
políticos com relação ao design. Alguns governos envolvem-se na prática do design para
promover objetivos específicos, na interação com empresas para garantir a eficácia de
qualquer política nacional. Ações como esta podem influenciar significativamente na direção
tomada pelo design na sociedade (Heskett, 2005).
Nesse contexto, este artigo apresenta a evolução da prática de Design, inicialmente
responsável pelo desenvolvimento de projeto de produto – ação compreendida como design
operacional, em direção a nova fase de posicionamento estratégico do design nas empresas,
vista como uma ferramenta a promover a eficiência nas instituições. Até o momento ambas as
práticas estão a serviço dos interesses econômicos das grandes corporações. Esta discussão é
baseada em revisão de literatura em fontes da área do Design, Design de Produto e Design
Estratégico. Por fim, é apresentada outra questão como alternativa futura, conforme sugere
Heskett (2005), acerca da atividade de Design aliada às políticas governamentais, como uma
das áreas de influência contextual na prática do design, podendo esta ter um valor significativo
no intuito de alavancar a competitividade das nações.

2 A Atividade de Design

Por design industrial podemos entender toda a atividade que tende a transformar as ideias em
produto industrial passível de fabricação para a satisfação de determinadas necessidades de
um grupo (Löbach, 2001). Para tal, profissionais de design devem evoluir de criadores de
objetos a agentes capacitadores de mudança envolvendo grupos de pessoas (Thackara, 2008).
Para exemplificar, a equipe da IDEO anteriormente destinava seus projetos a inovações de
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produtos e, recentemente passou a ter a inovação como instrumento de transformação de
culturas organizacionais inteiras. Um produto original não é mais o suficiente para manter o
sucesso dos negócios, mas as empresas que pretendem assumir a liderança no ambiente
competitivo necessitam inovar em todos os aspectos do negócio, entre todos os membros da
equipe, atingindo novos pontos de vista e novos papéis (Kelley & Littman, 2007).
Ao analisar a atividade do profissional de design no planejamento organizacional de
empresas, verificam-se três níveis de atuação: no projeto, no processo e no estratégico, cujo
profissional deve permear os três níveis de maneira simultânea. No projeto, de forma
operacional, garantindo a execução de projetos e viabilizando benefícios tangíveis para os
clientes; no processo, a nível tático atuando em paralelo com o operacional, integrando o
design nos sistemas e demais processos da organização; e no estratégico, agindo como
fomentador na mudança da visão da empresa, nas políticas e na missão da organização
(Camacho, 2004; Best, 2006; Andrade, 2009).
Para contrapor, Löbach (2001) propõe a atuação no campo do Design para além do
planejamento organizacional de empresas, classificando os possíveis papéis do designer
industrial em dois grupos; um voltado para atividades com dependência de empresas
industriais e outro sem dependência de empresas industriais. O primeiro campo de atividade
seria resultado da prática profissional, composto por designers industriais, de sistemas de
produtos, diretores e consultores em design, ou seja, profissionais formados pelas escolas
tradicionais de design. No segundo campo estariam os críticos, experts em planejamento e
configuração do entorno, teóricos e pedagogos do design, talentos estes até o momento pouco
desenvolvidos nas escolas de design.
O processo de design é caracterizado por quatro itens: pela criatividade, pois o design
requer a criação de algo novo; pela complexidade, apresenta grande quantidade de parâmetros
e variáveis; pelo compromisso, exige equilíbrio múltiplo de requisitos conflitantes entre si; e
pela escolha, possibilitando muitas soluções para um problema em todos os níveis (Borja de
Mozota, 2003). Esta definição contribui para o que as áreas de Engenharias, Arquitetura e
Design/Desenho Industrial entendem sobre projeto, com características não apenas técnicas,
mas que refletem e impactam aspectos sociais e políticos, contribuindo para a ideia moderna
de sociedade industrial (Van der Linden & Lacerda, 2009). Um dos maiores desafios que os
designers enfrentam na modernidade, é a necessidade de compatibilizar os sistemas da
natureza com os sistemas artificiais gerados pela criatividade humana. O design pode vir a ser
parte da solução, se os clientes, o público e os governos implantarem estratégias e
metodologias adequadas para abordar os problemas de um modo eficaz. Frente a este cenário,
o design constitui um subsistema dentro dos sistemas econômico e social, que não funciona de
forma independente (Heskett, 2005).

Desde suas origens, pelo menos desde o final do século XVIII, o design esteve relacionado
diretamente com o desempenho de empresas industriais, orientado ao mercado e articulando
cultura e conhecimentos tecnológicos para o sucesso de novos produtos. Autores como Forty
(2007) e Cardoso (2008) descrevem os papéis que os pioneiros do design exerceram no
desenvolvimento da indústria de bens de consumo na Inglaterra e, mais tarde, em outros
países. A competição internacional, com o advento dos transportes movidos a vapor,
particularmente os trens e os navios, gerou a necessidade de melhorias nos produtos, seja
para mercado interno ou para exportação, já em meados do século XIX. As exposições
internacionais permitiram confrontar diferentes níveis tecnológicos e de qualidade formal de
produtos, gerando um clima de competição nunca existente até então. As comunicações, com o
telégrafo e os sistemas postais, permitiram a comercialização de produtos por meio de
catálogos de um modo que podemos considerar precursor dos modos contemporâneos de
compra on-line. O caso do sucesso dos Irmãos Thonet é um exemplo de uma indústria que se
descolou dos modos tradicionais de produção e comercialização (Heskett, 2006; Forty, 2007;
Cardoso, 2008).

Um dos frutos dessa competição foi a criação da Deutsche Werkbund, em 1907 na


Alemanha, que atendia a necessidade do Estado, o desenvolvimento de uma cultura projetual
adequada à necessidade de competir no mercado internacional. A essa iniciativa se seguem
outras, como a criação de uma escola de design, a Bauhaus, cujas influências ainda hoje são

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sentidas. Diferentemente do Deutsche Werkbund, as ideias programáticas da Bauhaus
estavam vinculadas a uma ideia humanista, em busca do artista total, que conjugasse o modelo
renascentista de artista/artesão/artífice.

Ao longo do século XX, o desenvolvimento do design nos diversos países onde se teve uma
relevância econômica e cultural, se deu essencialmente a partir das orientações de mercado e
indústria, Estado e indústria, e cultura e indústria. No primeiro caso é exemplar o styling nos
Estados Unidos durante a depressão dos anos 1930, onde havia a necessidade da indústria
em atender ao mercado. No segundo caso, surge a ação do Estado para desenvolver a
indústria nacional. Com resultados diversos, isso ocorreu em muitos países em
desenvolvimento, mas também em países centrais. The India Report, de Charles e Ray Eames,
é um documento que exemplifica esse tipo de ação, no caso com designers de renome
internacional atendendo a uma demanda do governo da India. Por fim, ações como a criação
da ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) no Brasil, correspondem ao terceiro caso,
onde a cultura, ou melhor, pessoas do meio cultural de uma nação em desenvolvimento
‘puxam’ a ideia de design para melhorar ou implantar uma indústria que ainda não tenha
demanda por essa necessidade.

A história do design tem sido contada a partir de diferentes abordagens, desde as que
personalizam o fenômeno atribuindo a preponderância a pioneiros sem a devida
contextualização, às que esquecem a importância dos designers como autores, vendo-os
apenas como atores de papéis definidos pela ‘corrente da história’. Alguns autores descrevem
a história do Design por meio de ciclos ou períodos, relacionando-os com aspectos mais
amplos, como as fases do processo de industrialização e/ou com aspectos específicos como a
criação de escolas ou movimentos. Um exemplo é encontrado em Burdek (2006), que cita um
padrão cíclico identificado por Nigel Cross, para quem no século XX a cada 40 anos ocorreram
modificações paradigmáticas. São três momentos: anos 1920, com a Bauhaus, quando o
conhecimento científico começou a ser incorporado na formação do designer; anos 1960 com o
florescimento de estudos sobre métodos de Design, caracterizando essa época como a do
cientificismo no Design; e anos 2000, com o reconhecimento do design como disciplina
autônoma. Outra visão a esse respeito é apresentada por Perks et al. (2005), que descrevem a
evolução do papel do Design no desenvolvimento de novos produtos com base em referências
de historiadores e na análise das atribuições e da imagem que os profissionais adquiriram
(Figura 1).

Figura 1 Evolução do papel do design no desenvolvimento de novos produtos (Fonte: Perks et al., 2005)

No século XIX e até o início do século XX, o design fazia parte do conjunto de novos
métodos e técnicas de produção e marketing que norteavam os negócios em empresas
inovadoras, sem personalidade própria. A partir dos anos 1920 há uma tendência à
especialização de alguns profissionais, oriundos de disciplinas já relativamente consolidadas
como engenharia e artes, no papel de desenvolvedores de novos produtos. É o período do
apogeu de designers como Raymond Loewy, Walter Teague, Norman Bel Geddes e Henry
Dreyfuss. Os anos 1960 correspondem à institucionalização da profissão, com a difusão de
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escolas e modelos de ensino, criação de associações e sociedades científicas, com a
realização das primeiras conferências, na época orientadas às questões de metodologia
projetual. Os anos 1980, considerada a década do Design, são caracterizados pela elevação
de designers ao conceito de marca, pelos valores simbólicos associados aos seus trabalhos. A
década seguinte, sob efeito de recessão, levou a uma mudança na percepção do valor do
Design, por vezes ligado a luxo e superficialidade. Isso levou a uma desvalorização do papel
do designer no processo de desenvolvimento de produtos (PDP). A recuperação da economia
mundial, com o aumento da competitividade e com a globalização, levou a uma revisão nesse
conceito, a partir de experiências de sucesso lideradas por designers. Além da concepção de
que o designer pode ou deve ser o líder do PDP, passa a existir um grande interesse pelos
modos de resolução de problemas característicos do Design. Considerando o século XX,
existem elementos comuns com os ciclos paradigmáticos propostos por Nigel Cross.

3 Do Design operacional ao Design Estratégico

Ao caracterizar a evolução gradual do Design Operacional ao surgimento do Design


Estratégico, percebe-se que o primeiro parte de um problema cujo objetivo é desenvolver o
produto com ênfase nas necessidades do usuário e na solução de problemas, cumprindo com
aspectos técnico-construtivos e técnico-produtivos industriais. De ação isolada em relação às
outras áreas, este se caracteriza pelo processo de dentro do produto para o ambiente externo,
aplicando a premissa ‘a forma segue a função’ (Andrade).
O designer interpreta o briefing do projeto não como uma especificação para a solução, mas
como uma espécie de mapa parcial de um território desconhecido, cuja solução e problema são
desenvolvidos em simultâneo (Jones, 1981 apud Cross, 1999). A natureza mal-definida de
problemas de projeto significa que eles não podem ser resolvidos simplesmente através da
coleta e síntese de informação, como o arquiteto Richard MacCormac observou:
I don’t think you can design anything just by absorbing information and then hoping to synthesis it into
a solution. What you need to know about the problem only becomes apparent as you’re trying to solve
it (Cross, 1999).
A crescente importância do design de sistemas, em contraste com o design centrado nas
formas, deriva em parte da consciência da complexidade – também em ascensão – na vida
moderna, com múltiplas inter-relações e sobreposições de elementos que influenciam o
desempenho global. Um sistema pode ser visto como um conjunto de elementos inter-
relacionados, interatuantes ou interdependentes que formam uma entidade coletiva. A
qualidade coletiva em relação ao design se manifesta de várias maneiras (Heskett, 2005).
Deste modo, começamos a compreender os princípios com base na evolução dos sistemas
complexos. Reprojetar o espaço dos fluxos deve ser uma atividade contínua, focando no
funcionamento das coisas, além da aparência formal. Esta mudança no modo de projetar
implica na relação entre as pessoas que projetam coisas e as que as utilizam (Thackara, 2008).
A separação das funções e processos de design significam que as oportunidades muitas
vezes são perdidas para otimizar todo o sistema, que pode levar ao design ineficiente, por
atrasos nas construções, grandes sistemas de aquecimento, custos elevados e desnecessários
impactos ambientais (Anarow et al., 2003 apud Charnley & Lemon, 2010). A necessidade de
resolver problemas complexos, de forma sistemática e a partir de uma multiplicidade de
perspectivas, destaca a importância da colaboração interdisciplinar e parcerias dentro da
indústria (Hebel, 2007 apud Charnley & Lemon, 2010). Altos níveis de trabalho multidisciplinar
não só aumentam os níveis de complexidade, como também criam problemas e preocupações
a serem considerados, que podem configurar conflitos.
O Design Estratégico por sua vez, de caráter interdisciplinar, atua de maneira global e tem
foco na eficácia do projeto, que apresenta como meta satisfazer as necessidades e desejos
requisitados pelos usuários, compreendidos como o fabricante, o fornecedor e o consumidor.
Além de prospectar novas oportunidades, o Design Estratégico interpreta em primeira instância
o ambiente externo para ir em direção ao artefato/serviço, assumindo os concorrentes como
referência (Andrade). O Design Estratégico entende o problema como um sistema complexo,
repleto de variáveis e sensível aos inputs e outputs que influenciam a organização.

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Para Bahiana (1998 apud Andrade), os investimentos voltados para a área de design
deixaram a questão estética para se concentrarem na questão estratégica, saindo de uma
posição estritamente operacional para uma atuação mais abrangente dentro das organizações.
O nível operacional de projetos passa a ser visto como o primeiro degrau para a evolução do
design na integração com as instituições (Figura 2). No primeiro nível, estão localizadas as
empresas que ainda não convencionaram o design as suas práticas de negócio; no segundo
nível se encontram as empresas que entendem o design de forma primária, veiculado as
questões formais e de estilo do artefato; no terceiro, estão as organizações que compreendem
o design como um processo eficiente ao oferecer produtos e serviços ao mercado; e no nível
superior, está o design para a inovação, impulsionando projetos e trazendo satisfação às
necessidades do usuário.

Figura 2: Subindo a escada do Design (Fonte: Adaptado de The design difference, Centre for Design Innovation, 2007)

A Gestão de Design envolve o pensamento em design nos níveis de estratégia


organizacional, interpretando as necessidades da organização e de seus clientes, e identifica
oportunidades para o design contribuir para o negócio. Neste caso, é papel do gestor criar um
relacionamento entre design, estratégia, identidade e cultura da organização (Best, 2006; Borja
de Mozota, 2003). Outra abordagem da gestão de projetos consiste na totalidade de conceitos,
métodos e ferramentas ordenadas para orientar por completo o processo projetual, com etapas
demarcadas para o alcance dos objetivos e entregas pré-definidas dos resultados do projeto
(Cardinal & Marle, 2006).
No nível estratégico, as decisões da organização sobre o tipo de posicionamento
competitivo a construir é decidido multidisciplinarmente, com a participação do designer. Isto
contribui para a definição da empresa quanto as soluções a serem implementadas, passando
por projetos e metodologias de design, que para sua melhor execução, podem se utilizar da
Gestão de Projetos. De acordo com o International Project Management Association – IPMA
(2006), a gestão de projetos tornou-se uma disciplina com um grande desenvolvimento e uma
ampliada visibilidade, com atuação expandida do meio da construção civil e estratégias de
defesa, a gestão de projetos abordando áreas como desenvolvimento organizacional,
desenvolvimento de produtos, projetos de legislação, projetos educacionais, projetos sociais,
pesquisa, eventos, projetos políticos e nos mais variados setores da economia.

4 Design Estratégico para políticas públicas

Uma política governamental entende-se como uma série de princípios, objetivos e


procedimentos acerca de suas intenções em determinado campo estratégico. Além de fazer
declarações em documentos formais, determina os aspectos implícitos de como se executam
políticas relevantes para a efetividade planejada. Muitos governos têm o design como um
elemento de seus objetivos econômicos e comerciais, embora suas funções dependam da
natureza política de cada governo e de seus objetivos (Heskett, 2005).
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No passado, a intervenção nos assuntos econômicos por parte do governo ocorria quando a
inovação ameaçava seus interesses ou possibilitassem alterações sociais. No século XVIII,
com o nascimento do mercantilismo na Europa, que previa medidas para restringir as
importações e promover as exportações nacionais para a expansão da economia, desde
incentivos para a fabricação nacional a atração de renomados artesãos e técnicos de outros
países, que por sua vez permitiram o desenvolvimento das oportunidades de formação do
design. No mercantilismo, o design era considerado um fator decisivo para criar vantagens
competitivas, e mediante essas políticas, a França se tornou líder em fabricação de produtos
de luxo, uma posição que tem mantido até os dias de hoje (Heskett, 2005).
Em qualquer política governamental de design atualizada, persiste a crença de que os
Estados devem atuar em matéria econômica em função de seu próprio interesse. Trata-se de
promover a tecnologia e o design para ganhar vantagem econômica reforçando a
competitividade nacional. A crença dessa capacidade pode definir-se em termos nacionais e
promover-se dentro das fronteiras do Estado (Heskett, 2005).
No caso do Rat fur Formgebung – Alemanha, fundado em 1951, era apoiado por
financiamento do governo com fundos federais e estatais. Durante determinado tempo
desempenhou papel significativo, promovendo o Design na indústria e entre o grande público,
priorizando não somente o papel econômico como também o papel cultural do design na
sociedade moderna. Nos Estados Unidos, não se tem relatos de investimento numa política de
design. As organizações profissionais de design, ainda que proposto projetos, somente os
estados de Michigan e Minnesota tem mostrado algum interesse no design como disciplina
capaz de melhorar a competitividade. Reside em parte uma mentalidade que considera o
design como estilo, onde os competidores podem copiar facilmente, prejudicando o apoio
governamental (Heskett, 2005).
O design no sentido moderno, evolui gradualmente a um nível de prosperidade no
desenvolvimento econômico e tecnológico de distintos países. Os exemplos de uso estratégico
do design no âmbito nacional para ajudar a levantar uma economia subdesenvolvida são
praticamente inexistentes, embora, possa ser uma ferramenta construtiva para as economias
do Terceiro Mundo. A questão sobre a qual setor da população os designers direcionam o seu
trabalho é fundamental, pois as necessidades básicas da pequena percentagem da população
mundial dos países industrializados estão satisfeitas, visto que a maioria das pessoas têm
acesso a um bom padrão de vida, a saúde e a educação (Heskett, 2005).
Heskett (2005) contribui para esta reflexão onde define três áreas relevantes da influência
contextual na prática do design: a organização profissional de design ou como os designers
vêem a si mesmos; o contexto profissional em que se localiza a prática do design; e a área da
política governamental, variável para diferentes países, mas que para muitos pode ser um fator
significativo. Por sua vez, Löbach (2001) compreende que um novo campo de atividade para o
designer industrial, sem dependência de empresas industriais, na área do planejamento
municipal, definido inicialmente por Bernd Meurer e Gert Selle, para ser desenvolvido como
modelo na Fachhochschule Darmstadt. O profissional designer municipal, teria a tarefa de
estruturar o entorno com um processo de planejamento integrado com o poder público, coordenando a
atividade dos profissionais envolvidos no design. Contudo, não se trata de um tipo especial de
designer municipal e, sim, de um profissional com uma visão ampla e capaz de direcionar as tarefas
em torno de um objetivo comum. As tarefas desse designer municipal seriam: a) influenciar o
relacionamento entre o público e os trâmites do planejamento junto à administração pública; b)
influenciar as estruturas de comunicação e decisão no âmbito dos poderes executivos e legislativos; c)
influenciar a prática de projetos de interesse público. Para as tarefas do item a) se designam
especialmente os planejadores e órgãos de decisão; para as tarefas do item b) designers gráficos e
meios de comunicação; as do item c) serão realizadas pelos designers industriais em colaboração
com o público e com os demais interessados no processo de planejamento e desenvolvimento,
projetando produtos que atendam às necessidades da comunidade. A participação direta da
comunidade garante uma nova qualidade desses produtos comunitários.
O autor citado prevê seis tipos de designers ambientais. Estes profissionais atuam nas
especialidades de planejamento regional e territorial, planejamento paisagístico, e
planejamento e configuração urbana. Ao serem contratados pelos estados e municípios,
garantiriam a inclusão dos aspectos de interesse público nos projetos. As especialidades
citadas são suscetíveis a leis e portarias e influem na configuração do meio ambiente, pois
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realizam projetos de interesse público.
Frente à globalização, o desenvolvimento industrial e a urbanização dos países periféricos,
também se levantam questões sobre o papel econômico e cultura do design. Algumas
corporações multinacionais têm se desvencilhado da mão-de-obra em seus países de origem,
mantendo somente as principais funções de gestão e design, e transferido a produção para
qualquer país com mão de obra barata, demonstrando escassa sensibilidade pela diversidade
das culturas locais que afetam o processo. Fora do reduzido número de países industrialmente
avançados, o governo pode ser a única instituição capaz de resistir aos efeitos mais
predadores da expansão comercial e da invasão cultural, que em qualquer caso, pode originar-
se igualmente dentro ou fora das fronteiras (Heskett, 2005).

5 Considerações finais

A atividade de Design tem sido fortemente explorada pelas organizações industriais, em seus
diferentes níveis de evolução técnica. Percebe-se a partir do que foi discutido neste artigo que
os profissionais de design pouco trabalham para interesses de fundo coletivo, tendo a sua
prática voltada a atender os desejos particulares estimulados pela era da modernidade aliada a
globalização econômica.
O crescimento da complexidade da vida moderna, fundada no comportamento
individualizado, vem afetando o sistema global, desde as relações políticas, econômicas e
ambientais. Sendo assim, outra das atribuições do design é planejar os atuais sistemas de
fluxo de informações, preocupando-se com o funcionamento eficaz das coisas, proporcionando
acesso a todos, onde as formas coletivas são valorizadas nos processos de design.
De acordo com as atuais características da humanidade apresentadas a partir do
desenvolvimento sócio-econômico ocorrido no século XXI, surgem essas novas concepções da
atividade de design industrial, cuja atuação não permanece em torno das exigências do
mercado industrial. Frente a esta demanda, espera-se por outros perfis de profissionais de
design, até o momento pouco desenvolvidos nas escolas tradicionais, que possuam
habilidades em trabalhar de forma crítica para propor novos sistemas sustentáveis de vida e
estabelecer outras configurações das atuais políticas vigentes.
Deste modo, não se pretende neste trabalho propor a extinção da prática tradicional
operacional de design, mas apresentar novas possibilidades de cenários de trabalho, onde se
produza para o coletivo, alçando esferas estratégicas para o funcionamento de políticas de
bem-estar social.

Referências

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Efficient Bag: experiência e sustentabilidade na concepção
de sacola retornável (Efficient Bag: experience and
sustainability in design of eco bag)

SOUSA, Morgana; Graduanda; Universidade Federal de Pernambuco


morganadesign@hotmail.com

FLORÊNCIO, Bárbara; Graduanda; Universidade Federal de Pernambuco


barbaralaflorencio@hotmail.com

NANES, Naiany; Graduanda; Universidade Federal de Pernambuco


naiany.nanes@msn.com

VALFRIDIA, Tercia; Doutoranda; Universidade Federal de Pernambuco


terciav@gmail.com

BUCCINI, Marcos; Mestre; Universidade Federal de Pernambuco


marcosbuccini@gmail.com

Palavras chave: design; sustentabilidade; experiência.

O conceito de sociedade moderna proporciona o consumo desenfreado com consequências devastadoras


para o meio ambiente. Dentre resíduos e lixo orgânico, as sacolas plásticas têm grande parcela no
processo de degradação, pois mesmo quando recicladas e reutilizadas o descarte desses materiais é,
muitas vezes, inadequado. Segundo o MMA, o Brasil consome 33 milhões de sacolas plásticas por dia.
Destes, mais de 80% é utilizada apenas uma vez. Diversas soluções surgiram com vistas a minorar o
dano ambiental causado pelas sacolas plásticas: plásticos biodegradáveis, oxibiodegradáveis e sacolas
retornáveis. Embora essas alternativas gerem controvérsias, especialistas concordam que as retornáveis
são a melhor opção entre as demais. No entanto, no Brasil, o consumo das mesmas não é significativo.
Nesse contexto, este estudo visa identificar as causas da não aceitação das sacolas retornáveis na
cidade de Caruaru e conceber um novo modelo considerando os desejos e expectativas dos usuários,
com base na teoria do design experiencial e sustentável. Para isso foram utilizados questionário e
entrevista, a partir dos quais se obtiveram dados que nortearam a concepção da nova sacola. Os
resultados obtidos constataram que a experiência é um elemento transformador na valorização de
artefatos, seja pelo aspecto de uso, motivacional, cognitivo ou social.

Keywords: design; sustainability; experience

The concept of modern society provides the binge with disastrous consequences for the environment.
Among the waste and organic waste, plastic bags have large share in the process of degradation, because
even when recycled and reused disposal of such materials is often inadequate. According to the MMA,
Brazil consumes 33 billion plastic bags a day. Of these, over 80% is used only once. Several solutions
have emerged in order to mitigate the environmental damage caused by plastic bags: biodegradable
plastics, oxo-biodegradable bags and returnable. Although these alternatives generate controversy,
experts agree that the returnable are the best option among others. However, in Brazil, the consumption of
them is not significant. Therefore, this study aims to identify the causes of non-acceptance of returnable
bags in the city of Caruaru and devise a new model considering the desires and expectations of users,
based on the theory of experiential and sustainable design. For this we used questionnaires and
interviews, from which we obtained data that, guided the design of the new bag. The results found that the
experience is a transformative element in the recovery of artifacts, is the aspect of use, motivational,
cognitive or social.

1 Introdução

Os problemas ambientais começaram a surgir com a revolução industrial. Com o avanço


tecnológico e o sistema capitalista, a produção em série intensificou, acarretando aumento de
extração de matérias-primas advindas da natureza, em sua maioria não renováveis. O novo
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conceito de sociedade moderna incentiva o consumo excessivo, cujas consequências
devastadoras para a sociedade e para o meio ambiente se fazem notar de forma crescente.
O acúmulo de lixo se destaca em meio aos malefícios ocasionados pelo consumo demasiado e
acarreta os mais diversos problemas ambientais e de saúde. Segundo o Ministério do Meio
Ambiente - MMA, cada brasileiro utiliza cerca de 800 sacolas por ano, totalizando 12 bilhões de
sacolas. No mundo este número totaliza aproximadamente 500 bilhões de sacolas consumidas
por ano. Entre os resíduos e o lixo orgânico, as embalagens e as sacolas plásticas têm uma
grande parcela no processo de degradação, pois mesmo as embalagens plásticas sendo
recicladas e as sacolas plásticas reutilizadas a forma de descarte desses materiais se dá, na
maioria das vezes, de forma irresponsável, em áreas urbanas e rurais.
Os diversos impactos negativos a que o meio ambiente tem estado incessantemente submisso,
sensibiliza um número crescente de usuários e acarreta uma postura diferenciada das
empresas, que buscam satisfazer as novas necessidades dos seus consumidores. Estas
empresas objetivam atender as necessidades ambientais investindo em produtos considerados
ecologicamente corretos, por meio da diminuição do tempo de produção e da utilização de
materiais com maior durabilidade ou menos agressivos ao meio ambiente. Para elas, o termo
“ecologicamente correto”, significa atingir o usuário além das suas necessidades básicas, pois
os consumidores estão cada vez mais dispostos a pagar a mais pela consciência do valor
social de determinado produto. Os produtos então são concebidos com vistas a estimular
experiências agradáveis nos usuários, pois a valorização do produto pelo aspecto ambiental
pode ir muito além de suas funções, matéria-prima ou descarte.
Algumas soluções já foram propostas para diminuir o impacto ambiental, como plásticos
biodegradáveis, oxibiodegradáveis e sacolas retornáveis. No entanto, estas alternativas
causam controvérsias, pois a forma de descarte destes materiais considerados biodegradáveis
nem sempre são realizada da forma correta. Assim a alternativa mais plausível para a questão
é o uso das sacolas retornáveis, pois ao se usar a sacola retornável, se diminui
consideravelmente o uso das sacolas plásticas, contribuindo com o meio ambiente.
Nesse contexto, este estudo visa identificar as causas da não aceitação das sacolas
retornáveis na cidade de Caruaru e conceber um novo modelo de sacola plástica considerando
os desejos e expectativas dos usuários, com base na teoria do design experiencial e
sustentável. Para isso foram utilizados questionário e entrevista, a partir dos quais se obtiveram
dados que nortearam a concepção da nova sacola. Os resultados obtidos constataram que a
experiência é um elemento transformador na valorização de artefatos, seja pelo aspecto de
uso, motivacional, cognitivo ou social.

2 Sustentabilidade e ecodesign

Design para a sustentabilidade implica atender às necessidades do presente sem comprometer


as possibilidades de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades ONU
(1991).
Manzini & Vezolli (2008) afirmam que: “Os limites ambientais são testemunhos de que já não é
mais possível conceber qualquer atividade de design sem confrontá-la com o conjunto das
relações que, durante o seu ciclo de vida, o produto vai ter no meio ambiente”. O Design por
sua vez tende a pensar nos produtos como possibilidades de resolver ou minimizar os danos a
natureza.
Desenvolvimento sustentável, portanto implica em conciliar aspectos econômicos, sociais e de
preservação dos recursos naturais. São estas três esferas que, entrelaçadas e
interdependentes, poderão gerar a sustentabilidade.
Reafirmando essa ideia, Manzini & Vezolli (2008) apresentam requisitos aos quais as ações
humanas devem obedecer a fim de serem consideradas sustentáveis:
 Basear-se fundamentalmente em recursos renováveis;
 Otimizar o emprego dos recursos não renováveis;

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 Não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de reutilizar;
 Agir de modo com que cada indivíduo e cada comunidade das sociedades “ricas”
permaneça nos limites de seu espaço ambiental, bem como que cada indivíduo e cada
comunidade das sociedades “pobres” possa efetivamente gozar do espaço ambiental
ao qual potencialmente têm direito.
Os autores defendem a ideia de uma visão sistêmica do produto que possibilite uma redução
ao máximo dos impactos causados ao meio ambiente.
O designer teria, segundo Baria & Wilke (2009), que estar mais preocupado e interessado em
desenvolver produtos mais duráveis, que consumissem pouca energia, pouco material e que
determinassem baixos níveis de emissões de lixo e menos impacto ambiental. A principal
contribuição do designer para a sustentabilidade se inicia por meio da determinação da
longevidade do produto de design.
Em corroboração, o conceito de ecodesign representa a convergência entre as empresas e o
desenvolvimento sustentável. Segundo Fiksel (1996), ecodesign é definido como um conjunto
específico de práticas de projeto, orientadas à criação de produtos e processos eco-eficientes,
tendo respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança, durante todo o ciclo de vida
destes produtos e processos.
Com o objetivo de auxiliar no projeto de produtos eco-eficientes, Fiksel (1996) apresenta uma
variedade de práticas específicas associadas ao projeto de eco-eficiência, que procuram
alcançar as metas ambientais propostas, tais como:
 substituição de materiais;
 redução de resíduos na fonte geradora;
 redução do uso de substâncias tóxicas;
 redução do consumo de energia;
 extensão da vida útil do produto;
 projeto de montagem e desmontagem facilitadas,
 projeto para reciclagem;
 projeto para a disposição final;
 projeto para reuso;
 projeto para refabricação;
 projeto para recuperação de energia.
Por fim, Manzini & Vezzoli (2008) reafirmam que, apesar de existirem uma variedade de
medidas que apontem na direção da conservação e uso racional dos recursos naturais, a
sustentabilidade requer uma mudança cultural nos hábitos de consumo e se relaciona com o
desenvolvimento local das comunidades, o que vai de encontro aos interesses do mundo
globalizado. No entanto os consumidores podem escolher produtos e serviços que prezam pela
conservação do patrimônio natural, para forçar a uma mudança de hábitos e assegurar às
futuras gerações o mesmo direito aos recursos naturais que tem a geração presente.

3 O conceito de experiência

A escolha por determinado produto atualmente não está baseada simplesmente na razão, mas
também em emoções. Assim, independentemente do tipo do produto, projetar a experiência de
uma forma positiva e eficiente é o novo desafio para os designers. De acordo com Norman
(2004), a emoção e as experiências relacionadas com o design podem ser mais críticas para o
sucesso de um produto do que seus elementos práticos. Isto revela que, além de buscar os

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aspectos associados ao desempenho funcional do produto, os usuários também buscam o
prazer ao usá-lo (JORDAN, 2002).
Csikszentmihalyi (1991) define "fluxo" como qualquer coisa que torna a vida mais valiosa e
agradável. É algo além da satisfação das necessidades básicas, e isso suplanta os limites de
estímulo-resposta, e está relacionado com experiências positivas e ao gozo da vida. O "fluxo"
atua por meio dos sentidos, do pensamento, do corpo, de outras pessoas e de ações. Ele pode
ser entendido, portanto, como a chave para pessoais experiências humanas.
A experiência é um fenômeno individual que ocorre na mente de um indivíduo, resultante do
processamento de um complexo conjunto de estímulos externos e internos, além de depender
das interpretações subjetivas inerentes a cada pessoa (BUCCINI e PADOVANI, 2006). Já o
Design Experiencial é entendido como sendo a prática do design que busca não somente
atender às necessidades imediatas e objetivas do usuário, mas entender e preencher as
motivações humanas em relação ao produto. Os fatores ligados à experiência são bastante
subjetivos e dependem de vários aspectos dinâmicos, difíceis de serem previstos e
mensurados pelo profissional de design, como experiências passadas; gostos e ideias que
mudam com o tempo (JÄÄSKÖ, MATTELMÄKI e YLIRISKU, 2003).
O AIGA (2001), grupo de estudo em design experiencial define as seguintes características
para o seu objeto de pesquisa:
 Possui abordagem mais ampla que o design tradicional e tem como objetivo criar
experiências, ao invés de simplesmente produtos e serviços;
 Visualiza todo o ciclo de um produto;
 Cria um relacionamento com indivíduos e não com uma massa de consumidores;
 Preocupa-se em criar um ambiente que conecta o usuário emocionalmente;
 É baseado em ambas as disciplinas tradicionais, e também nunca em campos antes
usado na criação de produtos, serviços e ambientes.
A partir das teorias de Schmitt (2000), Norman (2004) e Jordan (2002), distinguem-se seis
categorias principais de experiência propostas por Buccini e Padovani (2006) e que se
encontram apresentadas na tabela 1. Estas categorias podem ser utilizadas como uma
ferramenta para a análise e o estudo da experiência na relação entre usuário e produto.

Tabela 1: Categorias das experiências (BUCCINI e PADOVANI, 2006).

Tipo de Experiência Descrição

Relacionada aos sentidos Diretamente relacionadas aos órgãos sensoriais e à


sexualidade

Relacionada aos sentimentos Reações emocionais provindas do uso de um produto

Sociais Acontecem entre indivíduos intermediados por produtos

Cognitivas Relacionadas ao pensamento e à interpretação de


códigos pelo usuário

De uso Usabilidade e funcionalidade, ou como os produtos são


utilizados.

De motivação Posse ou uso do produto é responsável pelo


comportamento do usuário

Cada categoria tem diferentes origens e resultados. No entanto, muitas vezes eles ocorrem
simultaneamente, tornando difícil diferenciação.

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As experiências básicas são aquelas relacionadas aos sentidos. Eles acontecem mais rápido e
instintivamente, com baixo desempenho cognitivo. Essas experiências são diretamente ligadas
aos órgãos sensoriais e também à sexualidade. As experiências relacionadas aos sentimentos
são reações emocionais originados do uso de um produto. Esta categoria tem caráter bastante
subjetivo, e varia de pessoa para pessoa. Experiências sociais ocorrem entre os indivíduos e
são intermediadas por produtos. Experiências cognitivas estão relacionadas ao pensamento e
à interpretação do usuário dos códigos. A categoria de experiências de uso diz respeito à
usabilidade e funcionalidade dos produtos. Finalmente, as experiências motivacionais, derivado
do módulo de ação experimental da teoria de Schmitt marketing experiencial, que se referem
ao devido ou o uso de um produto como sendo capaz de produzir determinados
comportamentos.

4 Metodologia

Com o objetivo identificar quais as causas da não utilização das sacolas retornáveis por
usuários de supermercado na cidade de Caruaru, o estudo teve caráter exploratório, utilizando
métodos e técnicas de pesquisa qualitativa.
Ressalte-se que o público alvo deste estudo foram os consumidores de uma rede de
supermercados da cidade de Caruaru, localizada no agreste pernambucano. No entanto, os
entrevistados não foram distinguidos por sexo ou idade.
Para a consecução do objetivo supracitado e gerar bases para a concepção de uma sacola
agradável aos usuários, este estudo consistiu das seguintes etapas metodológicas:
 Elaboração de um questionário, com 17 perguntas abertas no qual os usuários
puderam expressar de forma clara e objetiva as suas impressões acerca do uso da
sacola retornável;
 Identificação, por meio dos dados coletados na etapa anterior, dos principais
problemas relativos ao não uso das sacolas retornáveis por parte dos consumidores
alvo da pesquisa;
 Análise de produtos similares existentes no mercado a fim de se confirmar os
problemas relatados;
 Geração de alternativas, a partir dos aspectos positivos e negativos relatados pelos
usuários;
 Avaliação da alternativa que mais se adequasse às expectativas dos consumidores;
 Concepção do produto final e determinação de medidas, formas e materiais a serem
utilizados.

5 Resultados

Os parâmetros iniciais para nortear a concepção da nova sacola retornável que atendesse às
expectativas dos usuários alvo deste estudo, foram os dados obtidos no questionário a que os
consumidores foram submetidos.
Por meio da coleta de dados, problemas relevantes relativos ao não uso das sacolas
retornáveis foram identificados, a saber:
 Tamanho: foi relatado que, algumas sacolas existentes no mercado são pequenas,
comparadas ao volume necessário para as compras;
 Formato retangular na horizontal desagradou esteticamente aos consumidores
respondentes;
 Material usado para confecção do produto: insatisfação ao que diz respeito a não
impermeabilidade do mesmo.

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Foi mencionada ainda uma insatisfação relativa ao fato de que com a sacola retornável, as
compras secas ficam juntas as molhadas e aos produtos de limpeza e higiene.
A coleta de dados possibilitou então a compreensão das expectativas dos consumidores em
relação à sacola retornável. Esta deveria conter os seguintes atributos:
 Ser leve;
 Ter estética agradável;
 Ser grande;
 Ser resistente;
 Servir para carregar produtos úmidos, como congelados e;
 Servirem para outras ocasiões como usar no dia a dia.
Após a etapa de tratamento dos dados, isto é extração dos atributos relevantes uma sacola
retornável deveria ter, prosseguiu-se com a análise de produtos existentes no mercado, com o
propósito de se confirmar os problemas relatados nos questionários.
A seguir foi dado início a geração de alternativas (esboços/ desenhos), com o intuito de se
chegar a uma solução viável para o problema.
Um dos critérios para a avaliação de alternativas é a de formulação de perguntas, entre as
apresentadas nesta metodologia, foi utilizada a que ressalta a “importância do novo produto
para determinados grupos de usuários”. A resposta para este questionamento está em atender
as necessidades, através da solução dos problemas e a valorização do produto com o design
experiencial, agindo na sensação, emoção e prazer que o produto pode proporcionar ao
usuário.
Após a coleta de dados, no processo de desenvolvimento do produto, foi idealizada a nova
sacola retornável considerando as expectativas dos usuários, a valorização social e o aumento
da relação usuário/produto. Buscou-se a interpretação através das características estéticas e
simbólicas, para solucionar os problemas encontrados, concernente a usabilidade e ao mesmo
tempo colaborar com o meio ambiente, estimular a consciência ambiental e contribuir
efetivamente para um planeta mais sustentável. Nesta última fase do processo foram
determinados as medidas, formas e materiais que serão utilizados, para a geração de um
produto que atenda as necessidades e aspirações dos usuários.
A Efficient bag, apresentada na figura 1 é um produto desenvolvido com base nas expectativas
dos usuários de determinada rede de supermercado de Caruaru. Este produto, concebido
segundo preceitos de sustentabilidade estimula nos usuários experiências sociais, cognitivas,
de uso e de motivação.

Figura 01 – Efficient bag

A figura 2 ilustra as dimensões da Efficient Bag, 65 cm x 37 cm, cujo tamanho é superior se


comparada às sacolas plásticas tradicionais.
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Figura 02 – dimensões e a comparação

A nova sacola retornável possui também bolsos auxiliares, apresentados na figura 3, com
capacidade para armazenar cinco sacolas, cada. O tecido escolhido para a confecção da
Efficient Bag é impermeável, auxiliando assim no transporte de produtos congelados e de
limpeza.

Figura 03 – Bolsos auxiliares com a sacolas plásticas tradicionais

Por fim, a Efficient Bag foi submetida a análise de produtos sob a ótica das estratégias do Life
Cycle Design - LCD (Finksel 1996). Com base na referida análise, constatou-se que a Efficient
Bag atende a oito das treze práticas do ecodesign preconizadas no LCD, o que corresponde à
62%. Sendo assim um produto sustentável.

Figura 04 – Análise de produtos sob a ótica do Life Cycle Design

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6 Conclusão

A Efficient Bag foi idealizada como uma alternativa a ser implementada com vistas a diminuir o
uso das sacolas plásticas numa rede de supermercados de Caruaru, no agreste
pernambucano. Para isso, a concepção deste produto foi centrada nas expectativas desses
usuários alvo de quais seriam os atributos desejáveis em uma sacola retornável. Com base em
questionário, foram identificados os aspectos considerados negativos em produtos similares
existentes no mercado e as aspirações por parte dos consumidores com relação ao referido
produto.
A partir desses atributos tabulados, considerando princípios de design sustentável e
experiencial, deu-se início à geração de alternativas, dentre as quais uma seria a escolhida.
Foi atribuída ao produto, durante a geração de alternativas, com a intenção de superar os
problemas identificados, mais do que a funcionalidade, o que aumentou a relação consumidor
produto. Esta relação foi intensificada por meio de aspectos experienciais adicionados ao
produto. No caso da Eficiente Bag, as experiências motivacionais são estimuladas na medida
em que o fato de utilizar sacolas retornáveis pode causar mudanças positivas no
comportamento dos usuários, inclusive relacionadas a outras áreas do problema ambiental.
Além disso, proporciona certo nível de satisfação por colaborar com a conservação do
ecossistema.
Como desdobramentos desta pesquisa sugere-se implementar o projeto, tecer estudos sobre
seu processo de produção, avaliação, validação, testes ergonômicos, simulação e protótipo.
Realizar testes em relação a cores, texturas e materiais para então ajustar o projeto segundo
informações reais de outros usuários, bem como buscar avaliar o projeto depois de aplicado a
fim de informar-se sobre a satisfação dos mesmos.
Acredita-se, desta forma, que a presente pesquisa tenha uma importante contribuição no
campo do design sustentável, e principalmente para a construção de uma sociedade
consciente de seus direitos e deveres.

Referências

ONU (Organização das Nações Unidas). Nosso Futuro Comum, Fundação Getulio Vargas, Rio
de Janeiro, 1991.

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Baria, E.; Wilke, R. C. Produção gráfica sustentável – Um estudo para designers. Simpósio
Brasileiro de design Sustentável. 2009.
Fiksel, J. Design for environment: creating eco-efficient products and processes. McGraw-Hill:
New York, 1996
Löbach, Bernd. Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais . 1 ed.
São Paulo: Edgard Blucher, 2001.
Manzini, Ezio.; Vezzoli, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos
ambientais dos produtos industriais. 1 ed.São Paulo: EDUSP, 2002.
Norman, Donald A. Design Emocional: porque adoramos (ou detestamos) os objetos do dia-a-
dia. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
Oliveira, Manoella. Saco é um saco. Em: < http://planetasustentavel.abril.com.br>. Acesso em: 02
maio 2011.
Buccini, Marcos; Padovani, Stephania. Uma introdução ao design experiencial. Revista Estudos
em Design, v. 13, n.2. p. 9-29, abr. 2006.
AIGA. (2001). “What is experience design?”. (accessed Nov 2004).
(http://www.aiga.org/content.cfm?contentalias=what_is_ed).
Csikszentmihalyi, M. (1991). “Flow’. HarperCollins, New York.
Jääskö, V.; Mattelmäki, T.; Ylirisku, S. (2003). “The scene of experiences”. The Good, The Bad
and The Irrelevant. Helsinki.
Jordan, P. W. (2002). Designing pleasurable products: an introduction to the new human
factors. Taylor & Francis, London.
Norman, D. A. (2004). Emotional design: why we love (or hate) everyday things. Basic Books,
New York.
Schmitt, B. (2000). Marketing experimental. Nobel, São Paulo.

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De lixo para lixo: projeto de uma lixeira ecológica a partir
da reutilização de garrafas e implementos plásticos em
comunidades indígenas da Paraíba (From junk to junk:
designing a ecological trash by recycling bottles and plastic
implements in indigenous communities of Paraíba, Brazil.)

Kléber da Silva Barros 103;

Tatiana Rita Nascimento 104

Ana Raquel Fernandes Perazzo 105

Moema Davi Oliveira 106

Palavras chave: Ecodesign; Projeto; Comunidades Indígenas

O presente trabalho faz referência aos resultados obtidos no Projeto de Extensão “Ecodesign”, sediado no
Campus IV da UFPB, onde, de forma inovadora, estudantes do curso de Design e Ecologia projetaram
uma lixeira ecológica, a partir da reutilização de garrafas plásticas. Esta iniciativa foi motivada por uma
demanda específica de comunidades indígenas litorâneas da praia da Baía da Traição-PB, que sofriam
com problemas relativos ao excesso de lixo em ruas e praias. Os procedimentos metodológicos reuniram
estudo de referências teóricas e ações específicas das metodologias de Design. Como resultados práticos
foram produzidas três lixeiras experimentais, as quais serviram de base para repasse da técnica de
produção para jovens artesãos de comunidades indígenas da região, os quais, reunidos em cooperativa,
passaram a produzi-las e vendê-las para proprietários de hotéis da região. De forma paralela, esta mesma
técnica foi replicada em comunidades carentes e assentamentos do MST (Movimento dos Sem Terra) da
região da Selva Amazônia no estado do Pará. Esta experiência confirmou, entre outras coisas, a
importância da participação das universidades em ações sociais que busquem parcerias entre
pesquisadores e os agentes transformadores das comunidades, como também, evidenciou nossa
responsabilidade social e ambiental como designers projetistas de novos produtos.

Key Words: Ecodesign; Project; Indigenous communities;

This paper refers to results obtained in the Extension Project "Ecodesign", located in the Campus IV of
UFPB where, in an innovative way, students of Design and Ecology designed a “ecological trash”, by
recycling plastic bottles. This initiative was motivated by a specific demand of indigenous communities of
Baía da Traição Beach, PB, Brazil, which suffered with problems related to excessive garbage on streets
and beaches. The methodological procedures met the study of theoretical references and specific actions
of the methodologies of Design. As practical results, they produced three experimental “ecological trash”,
which served as the basis for transfer of production technology for young indigenous artisans from the
region, who gathered in a cooperative, began to produce them and sell them to owners of hotels the
region. In parallel, this same technique has been replicated in underserved communities and settlements
of the MST (Landless Movement) in the region of the Amazon jungle state of Pará This experience has
confirmed, among other things, the importance of the participation of universities in social actions that seek
partnerships between researchers and community change agents, but also showed our social and
environmental responsibility as designers of the new products.

103
Universidade Federal da Paraíba, Brasil - klerros@gmail.com
104
Universidade Federal da Paraíba, Brasil - tatirln@hotmail.com
105
Universidade Federal da Paraíba, Brasil - aninhaperazzo@hotmail.com
106
Universidade Federal da Paraíba, Brasil - moema_oliveira@yahoo.com.br
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1 Introdução

O Litoral Norte do estado da Paraíba/Brasil é abastado de recursos naturais e culturais muito


abrangentes, vez que lá estão localizadas as mais belas praias do litoral brasileiro, reservas
biológicas, florestais e primordialmente tratando da cultura, diversas reservas indígenas. De
acordo com ‘Pontes’ (2011) o estado da Paraíba possui uma das maiores comunidades
indígenas do Brasil, com uma população em torno de 13.547 pessoas, o que representa a
maior comunidade indígena do Nordeste do país. Esta população está distribuída em 26
aldeias, localizada nos Municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Marcação, numa área
territorial de 37.757 hectares.
Os povos indígenas fazem parte do que foi conceituado de comunidades tradicionais. Segundo
o Decreto nº 6.040, de fevereiro de 2007 “as comunidades tradicionais são grupos
culturalmente diferenciados e que se reconhecem como descendentes indígenas”. Possuem
formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios tradicionais, além de
recursos naturais, como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e
econômica. “Para tanto, se utilizam de conhecimentos, inovações e práticas geradas e
transmitidas pela tradição”. (Pontes, 2011)
Como todas as comunidades tradicionais no Brasil, os povos indígenas continuam lutando com
muita dificuldade para manter as suas tradições, condições de trabalho, e sobrevivência em
meio ao crescente desenvolvimento urbano que está no seu entorno. Na região do Litoral Norte
da Paraíba isso não é diferente. Verificou-se em pesquisas in loco que um dos grandes
problemas destas aldeias diz respeito ao excesso de resíduos sólidos depositado
aleatoriamente em ruas e praias anexas às aldeias. O lixo vem sendo armazenado em áreas
não apropriadas ou despejado em locais abertos, sem nenhum tipo de preocupação com a
higiene ambiental, tendo como conseqüência a contaminação dos recursos hídricos superficiais
e subterrâneos, do solo, do ar e a degradação da paisagem, como também a proliferação e
disseminação de agentes patogênicos.
Nessa perspectiva os cursos de Bacharelado em Design e Ecologia da Universidade Federal
da Paraíba – UFPB, por meio do Projeto de Extensão intitulado “Eco Design: Alternativa
Sustentável para o litoral Norte da Paraíba”, que tematiza a Educação ambiental, Tecnologia,
Cultura e Sustentabilidade, procurou viabilizar alternativas de geração de renda para a
comunidade, através de atividades relacionadas ao desenvolvimento de produtos recicláveis e
da conscientização para mercado de trabalho, buscando retomar as raízes produtivas,
peculiares a essas aldeias, aproveitando os recursos naturais da região e paralelamente
trabalhando a consciência ambiental.
O projeto teve como principal objetivo prospectar as necessidades e potencialidades do Litoral
Norte – PB, em especial das comunidades indígenas presentes na região, e propor alternativas
para geração de renda, voltadas ao projeto e produção de bens, visando a sustentabilidade das
matérias-primas, dos recursos e processos envolvidos. De forma específica, destaca-se a
busca por um estimulo ao empreendedorismo, apontando perspectivas reais de viabilidade,
aplicabilidade, rentabilidade e posterior autonomia, tanto em termos de produção do produto,
como de serviço.
Utilizando metodologia própria do desenvolvimento de novos produtos, foram realizadas varias
práticas de design visando a produção de pequenos produtos concebidos a partir da
reutilização de materiais que seriam descartados no meio ambiente como lixo. Um destes
produtos, foco deste artigo, é a “lixeira ecológica”, produto produzido a partir da reutilização de
garrafas plásticas de refrigerante, concebido e produzido por uma equipe de docentes e
discentes dos cursos de Design e Ecologia com o objetivo de repassar a técnica de produção
para jovens artesãos das comunidades indígenas mencionadas, os quais, reunidos em
cooperativa, passariam a produzi-las e vendê-las para proprietários de hotéis da região,
gerando renda para a comunidade e contribuições para o meio ambiente.

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2. Referencial Teórico
2.1 Desenvolvimento Sustentável e Design de Produto
Desde a década de 60, cientistas e pesquisadores de design e meio ambiente começaram a
prender atenção no impacto avassalador que o consumo exacerbado de bens ocasionara a
natureza. Diante disso, estudos foram desenvolvidos ao longo de duas décadas, as quais
geraram Protocolos, Termos de Responsabilidade Ambiental, Alteração nas Legislações de
alguns países, surtindo grande efeito e preocupação em relação a produção de bens de
consumo e extração de recursos naturais. O conceito de Desenvolvimento Sustentável – “O
desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometera habilidade das
futuras gerações de encontrar suas próprias necessidades” – conhecido atualmente e
amplamente difundido desde a década de 80 foi criado no ano de 1987, por ocasião da
Assembleia Geral das Nações Unidas. (United Nations, 2008).
Neste contexto, o desenvolvimento sustentável estrutura-se basicamente em três pilares
fundamentais: a proteção ambiental, a estabilidade econômica e a responsabilidade social
(Castro, 1998). Alguns autores consideram ainda a dimensão espacial e cultural como
componentes dessa estrutura, na qual a primeira reflete na busca de equilíbrio entre a
população rural e urbana, e a segunda a característica de manter a tradicionalidade das
culturas e indivíduos. Tanto a espacial quanto a cultural, podem estar inseridas em um conjunto
macro de domínios amplos a dimensão social.
De acordo com ‘Romeiro’ (2010), estes domínios – ambiental, econômico, social, espacial e
cultural – estão presentes naturalmente num domínio mais amplo, a sociedade. Nessa
perspectiva, o autor ressalta que as empresas, ao consumirem recursos naturais e gerarem
impactos ambientais no decorrer do processamento desses recursos, tanto na produção de
produtos como na oferta de serviços, interferem diretamente na sociedade e devem assumir as
suas responsabilidades na busca da sustentabilidade.
Entretanto, este não é um fato globalizado. Muitas empresas ainda continuam atuando na
sociedade de consumo desenfreado, implantando nos consumidores a ideia de que consumir
compulsivamente e possuir muitos bens torna-o mais aceito no convívio social na medida em
que os produtos agregam status e bem-estar aos proprietários. As conseqüências disto são os
inúmeros produtos descartados no ambiente antes mesmo do seu tempo de vida útil total,
consistindo em um gigante problema ambiental. (Kazazian, 2009; Romeiro, 2010)
De forma paralela, verifica-se que este cenário está em mutação e tende a mudar ainda mais
ao longo dos anos. Cada vez mais empresas estão se voltando para a produção de produtos
ecológicos com foco no Design Sustentável, ou seja, assegurar o sucesso do negócio em longo
prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da
comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade igualitária. (Grüninger, 2008 apud
Romeiro, 2010)
Para ‘Manzini e Vezzoli’ (2008), o designer de produtos é um dos responsáveis pelo
planejamento, a forma sequenciada de produção e a escolha do material (novos ou
modificados) de produtos advindos da indústria, que preconizem baixos coeficientes de
utilização de matéria-prima e recursos naturais, reduzindo principalmente, a energia que
alimenta os processos industriais. Além disto, o autor ressalta que uma segunda inquietação
não menos relevante, diz respeito ao que o consumidor fará com um produto depois de
consumo, visto que os materiais alternativos ou biodegradáveis demoram 1/3 de tempo para a
degradação total em relação aos normais.
Por fim, ‘Kazazian’ (2009), enfatiza a necessidade da união do design ambiental com a
educação ambiental visando proporcionar dentre outros fatos, a consciência ambiental e a
responsabilidade social dos consumidores.
2.2 Ecodesign
O projeto de produto para o meio ambiente aborda a referente problemática de consumo
versus resíduos, pois na fase inicial de planejamento projetual de produtos, insere-se uma nova
perspectiva, o estudo do ciclo de vida do material, do processo de produção e do produto.
Desse modo, o Ecodesign surge como estratégia primordial no processo de desenvolvimento
de produtos, com o intuito de que cause o mínimo de impacto ambiental possível ao longo de
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seu ciclo de vida. (Kazazian, 2009)
Diversas são as acepções acerca do termo ecodesign, contudo, verifica-se que todas
apresentam semelhanças no que diz respeito ao conteúdo e a mensagem transmitida.
Para ‘Lofthouse’ (1999), o ecodesign é um elemento chave em direção ao desenvolvimento
sustentável, tendo o potencial de reduzir o impacto ambiental dos produtos e ao mesmo tempo,
alcançar oportunidades reais para as indústrias além dos padrões atuais de exigibilidade. De
acordo com ‘Dewberry & Goggin’ (1996), trata-se do processo de desenvolvimento do produto,
onde todos os impactos ambientais desse processo são considerados em todo o ciclo de vida
do produto, e por último, ‘Johansson’ (2002), se reporta ao ecodesign como
(...) as ações tomadas no processo de desenvolvimento do produto, visando á minimização
dos impactos ambientais do produto ao longo de seu ciclo de vida, sem comprometer outros
requisitos fundamentais esperados para o produto tais como desempenho funcional e custo
de produção.
Verifica-se que os significados atribuídos pelos autores têm função comum quanto ao real
objetivo do ecodesign: reduzir ou eliminar os impactos ambientais em todas as etapas do ciclo
de vida do produto, sem que para este feito seja posto em risco a economia e crescimento das
empresas e do mundo. A filosofia principal do ecodesign baseia-se em “prevenir é melhor que
remediar”. Em favor disto, a grande estratégia é fazer com que o produto tenha funcionalidade
enquanto reduz o impacto ambiental, aumentando os lucros da empresa e atraindo a atenção
do consumidor e do empresário (Kazazian, 2009).
Nessa perspectiva e de forma paralela ao desenvolvimento industrial consciente, emergem
ações produtivas voltadas para concepção de uma nova gama de produtos
criados/confeccionados a partir de resíduos sólidos, ou seja, produtos de materiais reciclados e
reutilizados. Esses projetos, em suma, agem de forma imediata nos produtos já descartados no
meio ambiente, onde passam a gerar renda para comunidades e contribuem de forma eficiente
para a redução dos resíduos sólidos depositados no meio ambiente e no desenvolvimento
sustentável local.
3. Projeto da Lixeira Ecológica
3.1 Procedimentos metodológicos para concepção da lixeira ecológica
O processo de concepção, produção e replicação da lixeira ecológica foi permeado por etapas
seqüenciais que permitiram uma sistematização e organização de atividades com foco na
otimização do tempo e do produto. A figura 1 ilustra o processo hierarquizado das atividades,
as quais serão descritas posteriormente.

Figura 1 – Esquema de concepção e produção da lixeira ecológica

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Como apresentado no esquema da figura 1, a problemática do lixo na praia da Baía da Traição
está diretamente ligada ao descarte incorreto por parte das comunidades e da população da
cidade. A partir deste cenário, foram realizadas pesquisa de campo, a fim de se reconhecer o
problema real e identificar oportunidades de produtos (figura 2 e 3);

Figura 2 – Lixo depositado em meio as aldeias Figura 3 – Lixo depositado em meio as aldeias
indígena e plantação de feijão indígenas e plantações de milho

Em decorrência destas pesquisas foi gerado o briefing do projeto, ou seja, a equipe deveria
produzir um produto com viabilidade de confecção artesanal, utilizando material de descarte
numa tentativa de diminuir o lixo gerado na região, de baixo custo de produção, baixo grau de
complexidade, e que de alguma forma contribuísse com a geração de renda para as
comunidades indígenas envolvidas na ação (Figuras 4 e 5). Associado a este projeto
desenvolveu-se também um forte trabalho de educação ambiental nas escolas da região.

Figura 4 – Equipe reunida para reconhecimento do Figura 5 – Equipe reunida para reconhecimento
problema e definição do briefing do projeto do problema e definição do briefing do projeto

Com base nestas discussões, emerge a ideia de projeto e produção de uma lixeira ecológica
para ser utilizada em locais públicos – praias e calçadas – da cidade da Baía da Traição – PB,
como forma de reaproveitar as garrafas plásticas de refrigerantes observadas em grande
número no local e disciplinar a população sobre o descarte correto e seletivo dos seus
resíduos.

3.2 Etapas de produção da Lixeira Ecológica

Na sequência de atividades ilustradas na figura 1, foram definidos os requisitos e parâmetros


do produto, partindo-se em seguida para a produção do protótipo da lixeira, conforme descrito
a seguir:

a) Recolha de Garrafas Plásticas:


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Nesta primeira etapa foram recolhidas garrafas tipo PET em cooperativas de
catadores, em ambientes públicos ou em estabelecimentos aos quais são
comercializados refrigerantes, também por consumidores finais,
amigos, etc.

b) Limpeza das garrafas:


Numa segunda etapa executou-se a limpeza dessas garrafas, visto que a maioria tinha
procedência incerta, podendo conter bactérias e materiais químicos por estarem em
ruas, lixeiras, em contato com material orgânico, em terrenos ermos, etc, além de
conterem resíduos de refrigerante. (Figuras 6 e 7)

Figura 6 – Processo de lavagem das garrafas PET Figura 7 – Processo de lavagem das garrafas PET.

c) Preparação dos módulos para construção da lixeira:


Após a lavagem, as garrafas foram unidas duas a duas, formando assim módulos que
posteriormente seriam ligados para formar a lixeira. Para construção de uma lixeira é
necessário a confecção de 60 módulos, utilizando assim 120 garrafas; (Figuras 8 a 12)

Figura 8 – Duas garrafas PET, cortadas e Figura 9 – Encaixe de duas Figura 10 – Módulo
prontas para formação de um módulo garrafas finalizado

Figura 11 – Desenho ilustrativo do processo de Figura 12 – Desenho ilustrativo do processo de


produção de um módulo produção de um módulo

d) Marcação e furação dos módulos de garrafas:


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Com o módulo finalizado, executou-se a marcação de pontos no corpo da garrafa, os
quais serviriam para orientar a furação. Após a marcação, utilizando um furador manual
ou elétrico, foi executado um furo concêntrico, ultrapassando todas as faces das
garrafas (Figuras 13 e 14).

Figura 13 – Marcação do módulo Figura 14 – Furação do módulo.

e) Fixação dos módulos de garrafas:


Finalizada a confecção de 60 módulos, iniciou-se a etapa de união destes. A união é
realizada por meio de um fio de arame de aço transpassado por entre os furos das
garrafas, formando assim três grandes cintas que posteriormente formarão a lixeira.
(Figuras 15 e 16)

Figura 15 – Fixando os módulos com arame Figura 16 – Montando as cintas

f) Montagem da lixeira
Finalizada as três cintas de módulos de garrafas, estas foram amarradas formando
anéis com auxílio de um pneu usado. Estes anéis foram posicionados um sobre o outro
de forma vertical, sendo fixados com fios de arame, formando assim a estrutura da
lixeira. (Figuras 17, 18 e 19)

Figura 17 – Cintas para Figura 18 – Anéis sendo unidos para montagem da Figura 19 – Lixeira sendo
formação dos anéis lixeira montada
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g) Acabamento da lixeira
A última etapa do trabalho trata-se do acabamento da lixeira. Nesta etapa foram
confeccionadas e adicionadas as alças – produzidas com as tampas das garrafas – e
também, de forma opcional, pintaram-se as lixeiras com esmalte sintético em spray
vermelho para torná-la mais atrativa esteticamente. (Figuras 20 a 22)

Figura 20 – Alça produzida com as tampas das Figura 21 – Lixeira finalizada Figura 22 – Lixeira
garrafas Finalizada

3.3 Replicação da técnica de produção da lixeira com a comunidade indígena do Litoral


Norte da Paraíba
Após a produção experimental das lixeiras ecológicas na universidade, seguiu-se para a
segunda grande etapa do projeto: a replicação da técnica de produção com a comunidade
indígena do Litoral Norte afim de que estes pudessem reproduzir os exemplares e vender para
proprietários de hotéis como alternativa de renda.
No período de replicação foram realizadas 03 palestras referentes à Design, Ecologia,
Educação Ambiental e Educação e Saúde. Na sequência foram realizadas oficinas de
confecção da lixeira. Nestas oficinas estavam presentes professores e alunos do projeto,
jovens da Organização dos Jovens Indígenas Potiguaras (OJIP) e pessoas da comunidade.
(Figuras 23 a 26)

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Figura 23 – alunas monitoras do projeto Figura 24 – monitoras e comunidade trabalhando

Figura 25 – Pessoas da comunidade participando Figura 26 – Turma da oficina na frente da oca e


da oficina lixeiras produzidas

3.4 Replicação da técnica de produção da lixeira ecológica em comunidades da região da


Selva Amazônica Brasileira
Em janeiro de 2011, o projeto da lixeira ecológica esteve na região de Selva Amazônica
Brasileira. Na ação chamada de Operação Carajás, a equipe atuou no município de Canaã dos
Carajás, onde estão compreendidos a cidade de Canaã dos Carajás e algumas vilas no seu
entrono, acampamentos do Movimento Sem Terra (MST) e áreas de tribos indígenas.
Durante o projeto foram realizadas quatro oficinas para formação de agentes multiplicadores
locais. Três delas ocorreram em área urbana, onde duas foram realizadas em uma escola da
rede pública com professores que aprenderam a técnica da confecção das lixeiras e levaram
para outras escolas da rede pública do Estado do Pará (Figura 27).

Figura 27 – Turma de multiplicadores em escola pública do Pará e lixeira produzida

Uma terceira replicação foi realizada com o apoio da Multinacional Companhia Vale, através da
Casa de Cultura Vale, tendo como participantes artesãos cadastrados pela Casa, funcionários
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da Casa, algumas participantes de uma comunidade local de mulheres ceramistas, professores
da escola de ensino fundamental e médio mantida pela Vale e demais moradores da região.
(Figura 28 e 29)

Figura 28 – Realização da oficina Figura 29 – Realização da oficina

A última oficina foi ministra em um acampamento do Movimento Sem Terra (MST), o qual é
formado em grande maioria por pessoas de origem pobre e indígena. Neste acampamento, a
comunidade já tem o hábito de juntar e reutilizar as garrafas pet, pois elas servem como
reservatório para acondicionar água e grãos. A oficina contou com a ajuda das crianças do
acampamento para coleta das garrafas e divulgação nas habitações, bem como de soldados
do exército brasileiro. Desta forma, participaram da oficina em grande maioria, mulheres donas
de casa e crianças da escola do acampamento. (Figura 30)

Figura 30 – Realização da oficina com mulheres e crianças do MST

4 Conclusões
O problema do lixo na região do Litoral Norte da Paraíba/Brasil se configura como um dos mais
graves da região do ponto de vista ambiental. Os lixões espalhados nas comunidades
indígenas impressionam pelas proporções e conseqüências trazidas para a comunidade. Este
fato, associado a falta de educação ambiental, abre para as universidade da região
oportunidades de realização de pesquisas e projetos de extensão que busquem contribuir de
forma positiva com essa problemática.
O Projeto de Extensão “Ecodesign: Alternativas Sustentáveis para o Litoral Norte-PB”, da
UFPB, formado por docentes e discentes dos cursos de Design e Ecologia vem executando
suas ações nesse intuito e favorecendo a participação dos alunos em trabalhos externos à
universidade, se configurando como uma oportunidade de aplicação de conceitos, técnicas e
praticas do design de forma real e voltada para uma perspectiva ecológica.
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Nesse contexto, destaca-se o projeto e produção de uma lixeira ecológica, pensada para ser
concebida com garrafas plásticas descartadas no meio ambiente como forma de
reaproveitamento do resíduo e como estimulo a educação ambiental e a geração de renda para
as comunidades. O projeto da lixeira ecológica foi concebido por alunos do projeto “Ecodesign”
e teve sua técnica de produção replicada com grupos indígenas da cidade de Baía de
Traição/PB e em comunidades da Selva Amazônica Brasileira com o intuito de incentivar o
trabalho cooperado e a geração de ocupação e renda.
Do ponto de vista acadêmico o projeto apresentou grande relevância educacional, ambiental e
social para os discentes e docentes envolvidos no projeto, não somente pela realização da
pesquisa e extensão, mas pela humanização proporcionada com as ações. Do ponto de vista
social, o projeto possibilitou novos olhares no que diz respeito à responsabilidade das pessoas
sobre o meio ambiente em que vive, além de estimular de forma direta a ocupação e geração
de renda, na medida em que se verificou a organização de alguns grupos em cooperativas de
trabalho para produzir as lixeiras e vendê-las para proprietários de hotéis e pousadas da
região.
Do ponto de vista ambiental, ficou constatado que durante a realização das oficinas nas
comunidades foram produzidas 12 lixeiras experimentais que retiraram do meio ambiente 1440
garrafas plásticas. Além disso, estima-se que pelo menos 150 pessoas participaram de forma
direta das oficinas de criação da lixeira, tornando-se multiplicadoras da ideia nas comunidades
e contribuindo eficazmente com a problemática do lixo na sua comunidade, fazendo-nos supor
que o número de garrafas retiradas do meio ambiente tornar-se-á uma progressão aritmética
crescente ao longo do tempo.
Por fim, ressaltamos com especial relevância o fato de que os dois grupos de comunidades
envolvidas com o projeto estão localizados em regiões bastante diferentes do Brasil (Nordeste
e Norte), e distantes geograficamente aproximadamente 2000 km, mostrando, entre outras
coisas, que o problema do acúmulo de lixo – em especial de garrafas plásticas – não é pontual
e que projetos e iniciativas como estas podem e devem ser enxergados numa perspectiva
global, partindo da premissa de que se todos modificarem o lugar em que vive o planeta todo
se modificará.

5. Referências
Castro, N.; Setti, A.A.; Gorgonio, A.S.; Faria, S.C. A questão ambiental e as empresas. (Meio
ambiente e a pequena empresa). Brasília: Sebrae, 1998. p. 240. ISBN: 85-7333-163-1.
Dewberry, E.; Googgin, P. Spaceship ecodesign. Londres: Co-Design, 1996.
Johansson, G. Success factors for integration of ecodesign in product development – a view
of state-of-art. Disponível em http://www.sciencedirect.com.
Kazazian, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. 2ª Ed.São Paulo: SENAC, 2009.
Lofthouse, V.A.;Bhamra, T.A.; Evans,S. Effective ecodesign: finding a way forward for industry.
Cranfield University, School of Industrial & Manufacturing Science, 1999.
Manzini, Ezio.; Vezzoli,Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis; tradução de Astrid
de Carvalho. – I. ed. 2 .reimpr.- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
Pontes, Luiz Renato. ”Comunidade Indígena” Coluna semanal - Pró-Reitor/UFPB, 25 de Abril
de 2011.
Romeiro Filho, Eduardo et al. Projeto de Produto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
United Nations. Un documents Cooperation circles gathering: a body of global agreements.
Report of the World Commission on Environment and development: Our Common Future.
Disponivel em http://www.um-documents.net/ocf-02.htm#I. Acesso em 10 de junho de 2008.

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Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
A valorização do artesanato através da intervenção do
design (The appreciation of the craft through the
intervention of design)

CALEGARI, Eliana Paula; Graduanda; Universidade Federal de Santa Maria - Brasil


elianapaulac@gmail.com

palavras chave: artesanato; design; identidade cultural.

A presente pesquisa tem por objetivo reconhecer a identidade cultural da região da Quarta
Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul, a fim de valorizar os produtos artesanais
através da intervenção do design no artesanato local com o intuito de promover o
desenvolvimento regional com vistas para a sustentabilidade. Para isso, será realizada uma
pesquisa exploratória acerca do artesanato, do design aliado a este, da cultura da região da
Quarta Colônia do RS e da sustentabilidade. Além disso, será feito um levantamento de
informações em torno do artesanato regional, por meio de visitas a uma associação de artesãs
com a intenção de conhecer a cadeia produtiva, isto é, os produtos desenvolvidos, materiais
utilizados, recursos disponíveis. A partir disso, serão analisadas as possibilidades de
melhoramento e desenvolvimento de novos produtos visando à sustentabilidade e identificá-los
com a cultura da região. Dessa forma, este estudo visa estimular práticas sustentáveis através
do artesanato.

Keywords: crafts, design, cultural identity.

This research aims to recognize the region's cultural identity of the Fourth Italian Immigration Colony of Rio
Grande do Sul (RS) in order to appreciate the crafts through the intervention of the local crafts design with
the aim of promoting regional development with a view to sustainability. This will be done on an exploratory
craft, design allied to this, the culture of the region's fourth colony RS and sustainability. In addition, a
survey will be made of information about the regional handicrafts, through visits to an association of
artisans with the intention of knowing the chain, ie, the developed products, materials, resources available.
From this, we analyze the possibilities of improvement and development of new products aimed at
sustainability and identify them with the culture of the region. Thus, this study aims to encourage
sustainable practices through workshops.

1 Introdução

No Brasil, o artesanato está presente em todas as regiões com suas especificidades. A partir do conceito
proposto pelo Conselho Mundial do Artesanato, define-se como artesanato “toda atividade produtiva que
resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou
rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade”, SEBRAE (2010). Dessa
forma, é possível afirmar que as diferenças do artesanato em cada região são de cunho
produtivo e cultural, já que aquela geralmente utiliza-se de técnicas de produção tradicionais
dependendo da cultura em que está inserida.
No país, em seus 26 estados e no Distrito Federal, é possível encontrar uma produção artesanal
diferente, feita a partir das matérias primas que cada região oferece e de acordo com os costumes
locais. Essa diversidade é um grande diferencial que o artesanato oferece aos consumidores (Botelho,
2005).
Neste contexto, muitas famílias brasileiras têm no artesanato o seu sustento, que segundo Barroso
(2011), nos países subdesenvolvidos ele representa hoje uma parcela significativa de seu produto interno
bruto (PIB), além de seu valor social, pela quantidade de mão de obra que utiliza e valor cultural pela
expressão do saber e do fazer popular. Assim, percebe-se a importância dessa prática produtiva, pois
atualmente gera desenvolvimento social e econômico pelo emprego da mão de obra, e a valorização

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cultural por meio de traços de quem produziu o artefato artesanal. Além de ser uma alternativa de
melhoria de vida como uma fonte extra de renda, principalmente pessoas que vivem no campo.
Seguindo nesta ótica, o artesanato possui como característica importante, o fato de ser
resultante de um trabalho produtivo executado através das mãos do homem, com
sensibilidade, perícia e cuidado, Barroso (2011). Dessa forma, o produto artesanal se torna
único, com características próprias promovendo resgate cultural e fortalecimento da identidade
regional, como contrapartida conforme SEBRAE (2010), á massificação e uniformização dos
produtos oriundos da globalização.
Em virtude disso, o trabalho em questão tem por objetivo reconhecer a identidade cultural
da Região da Quarta Colônia do RS com o intuito de agregar valor nos produtos artesanais por
meio da intervenção do design. Para isso, foi realizada uma pesquisa exploratória acerca do
artesanato, do design aliado a este, da cultura da região da Quarta Colônia de Imigração
Italiana do RS e da sustentabilidade. Além disso, foi feito um diagnóstico em torno do
artesanato regional, por meio de visitas a uma associação de artesãs com a intenção de
conhecer a cadeia produtiva, isto é, os produtos desenvolvidos, materiais utilizados, técnicas
de produção, motivos trabalhados. A partir disso, foram analisadas as possibilidades de
melhoramento e desenvolvimento de novos produtos identificados com a cultura da região.

Cabe abordar que o presente trabalho integra o projeto de elaboração de um curso de


capacitação para a Associação de Artesãs do município de Ivorá – RS, integrante da Quarta
Colônia de Imigração Italiana. Com isso, o desenvolvimento e os resultados deste trabalho são
baseados no diagnóstico da Associação de Artesãs de Ivorá, em específico.

2 Design aliado ao artesanato

O artesanato pode ser visto como um gerador de renda e propulsor de desenvolvimento social
e econômico. Dessa forma, é preciso agregar valor ao produto artesanal para que este possa
ser competitivo no atual mercado globalizado. Para isso, intervenções do design no artesanato
podem contribuir na medida em que o designer pode atribuir valor advindo da identidade
cultural ao produto artesanal, além de procurar a melhoria e o desenvolvimento de produtos
diferenciados. Diante disso, o designer possui infinitas possibilidades de atuar na sociedade
como um agente de transformação social em conjunto com a comunidade.
Entre as cadeias produtivas vocacionadas do Brasil, o artesanato tem elevado potencial de ocupação
e geração de renda em todos os estados, posicionando-se como um dos eixos estratégicos de
valorização e desenvolvimento territorial (SEBRAE, 2010).
O mercado atual está em constante mudança com necessidade de produtos cada vez mais
diferenciados, países que possuem uma cultura forte como o Brasil podem incorporar a
identidade cultural nos produtos como forma de valorização do artesanato. Nesse contexto, o
designer é o profissional que pode agregar valor ao produto artesanal, tornando-o competitivo
ao mesmo tempo em que mantém os elementos simbólicos que remetem as características da
cultura local.
Sob esta perspectiva, para desenvolvimento da prática do artesanato, são tomadas
iniciativas de intervenções, que segundo Botelho (2005), procuram trazer uma melhoria de vida
para a comunidade produtora e a valorização da cultura local. Para isso, ele afirma que estas
intervenções podem ser realizadas através de ferramentas como o design.
Em virtude disso, as intervenções no artesanato podem trazer benefícios sociais e
econômicos para as comunidades envolvidas. Cavalcanti, Andrade, Sá, Santos e Pereira apud
Botelho (2005) diz que “um dos desafios das intervenções no artesanato é aumentar o nível de
renda dos artesãos, gerar trabalho promovendo a qualidade de vida. Desse modo é preciso
valorizar as questões étnicas, históricas e culturais da comunidade”. Assim, essas
interferências são importantes no sentido de orientar os artesãos para que voltem sua
produção para um mercado competitivo que anseia por produtos diferenciados.
O design pode contribuir de forma satisfatória com o artesanato, por meio da valorização e
agregação de valor. A partir dos costumes e tradição do artesanato de uma determinada

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comunidade, o design pode intervir no sentido de orientar os artesãos a fim de melhorar o
produto em termos de qualidade, inovação e implementação de referenciais culturais levando
em consideração a identidade cultural e as técnicas produtivas.
Nesse enfoque, segundo SEBRAE (2010) o design pode ser uma ferramenta promissora, já
que o designer procura projetar os objetos com referências históricas culturais da comunidade
em que é produzido. Dessa forma, quem compra esse tipo de produto artesanal está
adquirindo um pouco da história daquele que produziu, ainda de acordo com o SEBRAE, essa
identificação pode se dar através de cores, formas, símbolos, texturas, técnicas produtivas e
materiais.
A intervenção do design está transformando o artesanato brasileiro, na medida em que agrega
qualidade e valor as peças que ganham competitividade e conquistam o mercado internacional. As
mudanças também se refletem no resgate dos valores culturais das comunidades que vivem desse
tipo de trabalho, na melhoria da qualidade de vida dos artesãos, na geração de renda e na
movimentação da economia local gerando desenvolvimento (Botelho, 2005).
Nesse âmbito, conforme SEBRAE (2010) além do designer cuidar de questões referentes
ao desenvolvimento de produtos, ele aborda questões que vão desde o tratamento da matéria-
prima até a qualidade do acabamento do produto final. Sendo assim, o designer também
planeja, organiza e acompanha todo o processo produtivo.
Portanto, a intervenção do Design no artesanato, é uma união promissora, que proporciona
crescimento cultural e econômico aos envolvidos. Dessa forma, através da agregação de valor
por meio do design, há valorização do artesanato e da cultura de quem produz, além de
atender de forma mais efetiva e rentável o mercado atual.

3 Artesanato a partir de identidade cultural

Para abordar o artesanato de referência cultural, inicialmente é preciso discorrer acerca do


conceito de cultura, que segundo Arantes (2004), “cultura refere-se ao conjunto de significados
explícitos ou subjacentes á ação social, que a tornam reconhecível como sendo própria de
determinado grupo ou categoria social”. Dessa forma, cultura diz respeito aos valores e ideais
partilhados por determinado agrupamento, que podem associar significados a atividades e a
objetos.
Nesse sentido, conforme Arantes (2004) a ideia de valor cultural agregado se apoia no
reconhecimento dos signos e as significações que se associam a códigos culturais vigentes em
objetos, estilos e atividades. Ainda segundo o autor, valor cultural agregado “diz respeito aos
diferenciais expressivos ou de informações característicos de determinado grupo social, de sua
cultura ou território, que são utilizados com o objetivo de aumentar a competitividade dos bens
e serviços a eles associados”. Dessa forma, pode-se entender como se dá o valor cultural
agregado, isto é, as características de determinados grupos são reconhecidas e aplicadas em
objetos no caso do artesanato, a fim de valorizar a própria cultura e tornar esses produtos
competitivos e diferenciados no atual mundo globalizado.
A agregação de valor cultural a bens e serviços, quando voltadas para territórios e práticas densas de
significados e referenciais culturais, indica novos caminhos para a promoção do desenvolvimento
social e humano. Essa valorização de ativos culturais e salvaguarda de patrimônio natural e cultural
tornam-se, portanto, desejáveis do ponto de vista econômico (SEBRAE, 2010).
Nesta perspectiva, no artesanato de referência cultural, são confeccionados produtos cuja
característica é a incorporação de elementos culturais da região onde são produzidos. De
acordo com SEBRAE (2010), esses produtos são em geral, resultantes de uma intervenção
planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar
os produtos, porém preservando seus traços culturais mais representativos. Sendo assim,
podem ser feitas intervenções do design no artesanato para diagnosticar as possíveis
referências culturais que serão aplicadas em produtos.
Referências têm como suportes edificações e paisagens naturais. São atividades como as artes,
ofícios e formas de expressão, e inclusive os conhecimentos e modos de fazer tradicionais. São as
festas e os lugares aos quais a memória e a vida social atribuem sentido diferenciado: os
considerados mais belos, os mais lembrados, os mais queridos. São atividades e objetos que
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mobilizam a gente mais próxima e que reaproximam os que estão distantes, permitindo reviver o
sentimento de pertencer a um grupo, de ocupar um lugar reconhecível. Em suma, referências são
sentidos atribuídos a objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na construção da identidade
social. Elas formam o que popularmente se chama de “raízes da cultura” (Arantes, 2004).
Neste contexto, desenvolver produtos artesanais de referência cultural significa utilizar
elementos, isto é, referencias que reportem ao lugar de onde foram produzidos, seja pelo uso
de elementos simbólicos que mencionem a origem de seus produtores ou antepassados ou
pelos materiais utilizados, SEBRAE (2010). Dessa maneira, torna-se importante que as
pessoas que trabalham com artesanato conheçam profundamente os referencias que
distinguem sua região, bem como a importância que o público confere à representação dessas
características nos produtos artesanais.
Em virtude disso, o designer procura agregar ao produto artesanal elementos simbólicos
que o remetam a aspectos expressivos da cultura local e de elementos de uso cotidiano da
comunidade. Assim, esses elementos podem vir expressos por meio de cores, forma, matéria –
prima, técnica produtiva ou em detalhes do objeto artesanal.
A identidade cultural é caracterizada por costumes, ritos, mitos, cores que remetem à paisagem local,
pelas imagens prediletas, pela fauna e flora, pelos tipos humanos retratados e seus costumes mais
singulares, que contribuem para distinguir um determinado grupo social dos demais. O outro aspecto
que caracteriza uma determinada cultura relaciona-se ao uso de matérias-primas disponíveis na
região e de técnicas de produção que foram passadas de geração em geração. Esses são os atributos
mais valorizados por um mercado globalizado (SEBRAE, 2011).
Portanto, o artesanato de referencia cultural está sendo cada vez mais valorizado pelo
mercado, pois origina produtos diferenciados com as características simbólicas de determinado
grupo. Para isso, designers e artesãos integram um trabalho de reconhecimento da identidade
cultural para posterior desenvolvimento de produtos com grande valor cultural agregado.

4 A sustentabilidade no artesanato

Pode-se considerar que o artesanato de referência cultural é uma ação que objetiva agregar
valor cultural aos produtos explorando a identidade cultural de determinado grupo social.
Contudo, segundo Arantes (2004) é necessário atentar para o fato de que, para tornar viáveis
ganhos de médio e longo prazo, é preciso atender algumas exigências de sustentabilidade
relacionadas aos produtos culturais, que seguem as seguintes premissas:
 Singularidade - a ênfase está na criação de produtos com diferenciais enraizados nas
culturas locais e reconhecidos tanto pelos próprios produtores como externamente,
“combatendo-se a produção de contrafações e a indução de identidades de vitrines”
Arantes (2004);
 Rastreabilidade - a preservação do vínculo entre produtos, produtores e territórios,
para proporcionar o contato do consumidor com o ambiente onde o artesanato foi
produzido, bem como a lógica cultural que lhe deu origem;
 Qualidade - “o desenvolvimento das condições materiais e técnicas de produção, bem
como a requalificação dos produtos, que forem gerados para consumo externo, deve
respeitar a disposição cultural dos produtos e sua organização social”, Arantes (2004).
Neste contexto, essas requisições de sustentabilidade voltadas aos produtos, tornam o
artesanato cada vez mais identificado com a cultura em que são originados. Além disso, cabe
salientar que o artesanato emprega outros meios que colaboram com a sustentabilidade
conforme aponta Botelho (2005), o artesanato emprega mão de obra local, em geral, utiliza de
forma ecologicamente correta os recursos naturais, e explora a riqueza e o repertório cultural
existentes.
Uma infraestrutura que busque sustentabilidade ao artesanato deve incluir um sistema de inteligência
capaz de captar, processar, analisar e disseminar informações e conhecimentos, qualquer que seja
sua natureza, de modo a dar respostas rápidas e eficazes diante dos problemas, preferencialmente de
modo criativo e inovador. Isto inclui, evidentemente, a capacidade de projetar produtos de acordo com
as tendências e os desejos do mercado, sem perder as características essenciais que identificam sua
origem e procedência (SEBRAE, 2010).

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Dessa forma, nota-se que o artesanato pode se tornar uma prática sustentável que além
das questões referentes ao desenvolvimento dos produtos de referência cultural, implica pontos
referentes ao consumo que tem a ver com a identidade cultural representada em um produto,
como pode ser observado no discurso de Verbena Medeiros, coordenadora de
responsabilidade socioambiental da Unimed Fortaleza "hoje o consumidor também adquire
produtos porque têm uma história por trás, que tem que ser boa, saudável. Esse é o princípio
básico do consumo sustentável”, Diário do Nordeste (2011). Assim, a sustentabilidade de
produtos artesanais anseia a agregação de valor por meio de referencia cultural.

5 Intervenção do design na Associação de Artesãs de Ivorá – RS

A mediação do design na Associação de artesãs de Ivorá – RS consiste em orientar a


produção, em específico o desenvolvimento de produtos. Para isso, é realizado o diagnóstico,
no qual é feito o levantamento de informações por meio de visitas a Associação de Artesãs.
Nessa perspectiva, o diagnóstico tem início com a descrição do município de Ivorá, cujas
informações são retiradas do site da prefeitura de Ivorá, bem como da Associação, que procura
contextualizar o trabalho em questão. Além disso, a análise é focada na produção, isto é,
produtos desenvolvidos, materiais utilizados, técnicas de produção, motivos trabalhados e no
reconhecimento da identidade cultural local.

Diagnóstico
O município de Ivorá faz parte da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul,
foi colonizado em setembro de 1883, a emancipação político - administrativa ocorreu em 1988.
Atualmente possui 2.378 habitantes distribuídos em uma área de 130 km² localizada na faixa
de transposição da Depressão Central para o Planalto Médio, sendo que 90% da população é
descendente de italianos e 10% de outras etnias, Ivorá (2011).
No município existem 12 comunidades religiosas e 16 entidades esportivas, uma
associação de artesãos, um CTG, uma associação italiana e uma associação da Terceira
Idade. A economia do município baseia-se na agricultura e na pecuária. Na cultura, o município
busca preservar as raízes dos primeiros imigrantes através da gastronomia, da música, do
canto e da língua.
Além disso, a cultura do município conta com um coral infanto-juvenil, um coral adulto, um
grupo que canta músicas italianas e populares, um grupo de danças folclóricas gaúchas nas
modalidades pré-mirim, mirim e juvenil, uma biblioteca pública e um museu constituído de
objetos e utensílios dos primeiros moradores da vila que deu origem ao município.
Os eventos mais tradicionais do município são as festas religiosas promovidas pelas
comunidades e pela matriz, as Semanas Farroupilha e Cultural, a Feira Regional da Abóbora, a
Feira Regional do Amendoim e as Cantatas Natalinas. O Turismo em Ivorá destaca-se por suas
belezas naturais, por seu relevo e vegetação que formam paisagens belíssimas, que podem
ser contempladas do alto de vários morros.
Ivorá conta uma Associação de Artesãs que é composta por sete integrantes, possui sede
própria com localização no centro da acidade. O trabalho é realizado por todas as artesãs,
sendo que possuem habilidades diferenciadas, isto é, uma faz costura em tecido, uma trabalha
com tricô e todas fazem crochê.
A produção é feita sob encomenda e algumas peças são confeccionadas para exposição na
sede. Para escoar a produção e divulgar o trabalho, participam de feiras na região. Há uma
gama de produtos desenvolvidos na Associação, com diversos materiais, técnicas de produção
e motivos, como: guardanapos e panos de pratos (figura 1), jogos de banheiro (figura 2), trilhos
de mesa (figura 3), roupas de bebê (figura 4), cachecóis (figura 5), tapetes (figura 6), objetos
decorativos (figura 7), objetos funcionais (figura 8).

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Figura 1: Guardanapos.

Figura 2: Jogos de banheiro.

Figura 3: Trilhos de mesa.

Figura 4: Roupas de bebê.

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Figura 5: Cachecóis.

Figura 6: Tapetes.

Figura 7: Objetos decorativos.


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Figura 8: Objetos funcionais, porta guardanapo, capa para celular, puxa saco, porta tesoura, porta calcinhas, porta
prendedor de roupas.

Os principais materiais utilizados são toalhas, tecidos, linhas, barbante, tecido, lã, botão,
fibras e fitas. A partir desses materiais as artesãs fazem crochê, tricô, patchwork, ponto cruz,
bordados, pinturas de motivos florais, frutas e animais.
Outro ponto importante no diagnóstico é o reconhecimento da identidade cultural do
Município de Ivorá – RS. Como a região é integrante da Quarta Colônia de Imigração Italiana
do RS, há traços marcantes da cultura italiana na comunidade, como na gastronomia,
arquitetura, turismo.

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A cultura esta nas ruas, nos prédios, nas praças, nas formas de ser e fazer das pessoas. Ela está em
cada produto material e imaterial fruto da nossa ação. Como programa a cultura é um processo aberto,
dinâmico e a sua expressão assume tantos rostos, formas, ritmos e movimentos quantos forem os seus
atores. Na Quarta Colônia ela é palavra, dialetos alemães e italianos, artesanato, prédios, lavouras, o
badalar dos sinos, a gastronomia, as danças, os cantos populares e religiosos.
A cultura é uma herança renovada a cada dia e nos cabe o papel de entendê-la, protegê-la e qualificá-la
como um patrimônio individual e coletivo (Quarta Colônia, 2011).
Sob esta perspectiva, existem diversas maneiras de conhecer um povo e sua cultua. Uma
delas é através da gastronomia, “A Quarta Colônia é rica em sua culinária com pratos típicos
que assumem forma de relíquias herdadas de gerações”, Quarta Colônia (2011). A culinária é
composta por tortas doces, cucas, sopa de agnoline, fortaia, grostoli, polenta brustulada, radici,
as figuras 9 e 10 mostram parte dessa gastronomia.

Figura 9: Cucas e outros doces.

Figura 10: Culinária italiana.

A arquitetura da Região da quarta colônia segundo Quarta Colônia (2011) é baseada na


arquitetura colonial (portuguesa, alemã e italiana), fruto da herança cultural dos imigrantes
associada às condições da tecnologia, material e financeira do processo de reconstrução de
um novo lugar na América, como pode ser vista na figura 11.
Os materiais para as construções foram os que estavam disponíveis no lugar, como,
madeira, basalto, arenito e barro para construir tijolos e telhas. Ainda segundo Quarta Colônia

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(2011), “O desenho era sóbrio e seus espaços respondiam a necessidades funcionais e práticas,
sem com isso deixar de ser harmônico com o ambiente natural”.
Figura 11: Arquitetura da região da Quarta Colônia de Imigração Italiana do RS.

Além da gastronomia e da arquitetura o turismo também pode ser uma forma de conhecer a
identidade cultural. Em específico no município de Ivorá, ele se dá de três formas, turismo
ecológico, cultural e religioso. O primeiro compreende belas paisagens de cascatas e o Monte
Grappa visualizado na figura 12.

Figura 12: Monte Grappa e cascatas situadas no município de Ivorá – RS.

Os principais pontos turísticos Culturais de Ivorá é a casa de arquitetura italiana, a pedra


fundamental e a Casa Alberto Pasqualini que se constitui da casa-museu onde nasceu o
Senador Alberto Pasqualini, como mostra a figura 13.

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Figura 13: Casa de arquitetura italiana, pedra fundamental, casa-museu Alberto Pasqualini e interior do museu.

Além disso, o município conta com o turismo religioso composto pelo Conjunto da Matriz e
pela Cruz Luminosa, visto na figura 14.

Figura 14: Conjunto da Matriz e Cruz Luminosa.

Análise do diagnóstico
As visitas na Associação de Artesãs de Ivorá permitiram realizar observações acerca da
produção e da identidade cultural da comunidade. Dessa forma, inicialmente constatou-se que
a grupo possui fortes traços da cultura italiana, por ser uma região colonizada por italianos.
A principal técnica de produção utilizada pelas artesãs é o crochê, sendo que possuem boa
qualidade no acabamento dessa técnica. Porém, em alguns produtos percebem-se excessos
de cores e texturas e falta de padronização, isto é, utilizar mesmos motivos, cores, texturas
para produtos que formam conjuntos. Segundo as artesãs, os produtos mais vendidos são
panos de prato, trilhos de mesa, jogos de banheiro e objetos decorativos como peso de porta
em forma de animais.

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Os tipos de produtos desenvolvidos são comuns e produzidos há bastante tempo. Na
maioria das peças os motivos são florais, frutas e animais. Com isso, nota-se a importância de
uma renovação do artesanato local com melhoramento da produção e desenvolvimento de
novos produtos sem descaracterizar o trabalho das artesãs.

6 Resultados e discussões

A partir da análise do diagnóstico dos produtos desenvolvidos, técnicas de produção, materiais


e motivos utilizados pelas artesãs da Associação, percebeu-se a boa qualidade de trabalhos
realizados com fios, especialmente em crochê. Além disso, o crochê é tradição da comunidade,
sendo passado de geração para geração. Com isso, as possibilidades de melhoramento e o
desenvolvimento de novos produtos podem ser baseados nesta técnica de produção, já que
evidencia um fator cultural preponderante pela tradição e pela habilidade das artesãs
trabalharem com essa técnica.
A cultura da região é composta por traços marcantes da cultura italiana, principalmente na
gastronomia e na arquitetura. Além de possuir belas paisagens naturais que fazem parte dessa
cultura. Dessa forma, para o melhoramento e desenvolvimento de produtos com valor
agregado por meio da identidade cultural podem ser utilizadas referências desses traços.
A busca pela renovação do artesanato deve colocar em evidencia os elementos mais comuns e típicos
do seu entorno. Deve utilizar as cores de sua paisagem, imagens prediletas, sua fauna e flora, retratar os
tipos humanos e seus costumes mais singulares, utilizar as matérias-primas que estão mais próximas e
as técnicas que foram passadas de geração em geração. Esses elementos únicos dão sentido ao
artesanato e indicam ao artesão seu lugar no mundo. Essas referências e atributos são valorizados por
um mercado globalizado, ávido por produtos diferenciados (SEBRAE, 2011).
Nesse âmbito, podem ser utilizados como referências para os motivos decorativos nos
produtos artesanais, elementos que remetam a gastronomia, arquitetura e as belas paisagens,
através de cores, formas, texturas e símbolos. Sendo assim, foi feita uma lista de novos
produtos que podem ser produzidos em crochê pelas artesãs, além do melhoramento dos
produtos que elas já confeccionam e que mais vendem. Cabe salientar que esta lista foi
verificada pelas artesãs no sentido de que há possibilidade de confeccionar essas peças em
crochê e se são vendáveis. A seguir, a lista de novos produtos:
 Móbile
 Porta toalha
 Marcador de página de livro
 Jogo americano
 Ímã de geladeira
 Saches perfumados
 Lembrancinha de bebê

Inicialmente, foram desenvolvidas alternativas de jogo americano, a figura 15 mostra a


primeira alternativa, que consiste em uma folha com vazados. Essa ideia surgiu a partir do
ambiente da cidade de Ivorá composto pela exuberância das paisagens verdes. Dessa
maneira, o formato de folha do jogo americano remete as árvores das paisagens bem como a
cor verde.

Figura 15: Jogo americano “Folha”.

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Procurando não descaracterizar o trabalho das artesãs foi feita uma alternativa que utiliza
motivos florais, como pode ser vista na figura 16. Essa ideia também remete a paisagem de
Ivorá, principalmente na primavera, na qual a praça da cidade e os jardins das casas estão
floridos.

Figura 16: Jogo americano “Primavera”.

As artesãs estão produzindo essas primeiras alternativas e os outros produtos da lista estão
sendo projetados. Além disso, está sendo feito o melhoramento dos produtos já
confeccionados por elas, através de sugestões de cores, motivos, formas, dimensionamento,
padronização e outros.

7 Conclusão

Este artigo expõe o diagnóstico realizado por meio de visitas na Associação de artesãs de Ivorá
com o intuito de valorizar o artesanato local através da intervenção do design. Dessa forma,
aborda os produtos desenvolvidos, os materiais utilizados, as técnicas de produção, motivos
trabalhados e a identidade cultural. Além disso, as visitas na Associação permitiram entrar em
contato direto com as artesãs e vivenciar a cultura e o meio em que elas trabalham.

Em virtude disso, o diagnóstico é de fundamental importância, pois ele fornece informações


que guiarão o trabalho. A partir da análise das informações da visita, pode-se perceber em
quais aspectos da produção há necessidade de melhoramento. Além disso, o diagnóstico foi
favorável para se conhecer a identidade cultural da região e as possibilidades de utilização de
referencias nos produtos da Associação. Dessa forma, o artigo mostra as primeiras alternativas
de novos produtos e cita outros que estão sendo desenvolvidos.

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6 Referencias

Arantes, A.A. (2004). Cultura e territorialidade em políticas sociais. In: LAGES, Vinícius et al:
(Org). Território em movimento: cultura e identidade como estratégia de inserção
competitiva. Brasília DF: SEBRAE.
Barroso. E. (2011). Design no artesanato. Disponível em:
<http://www.eduardobarroso.com.br/design_artesanato.htm>.
Botelho, V. S. (2005). Design e artesanato: um estudo comparativo sobre modelos de
intervenção. Universidade Federal de Pernambuco.
Ivorá (2011). Ivorá. Disponível em: <http://www.ivora.rs.gov.br/index.php?site=ivora.php>
Quarta Colônia (2011). Quarta Colônia de Imigração Italiana do RS. Disponível em:
<http://quartacolonia.prumosweb.com.br/home.jsp>
SEBRAE (2010). Termo de referência: Atuação no sistema brasileiro de artesanato. Brasília:
SEBRAE.
Diário do Nordeste (2011). Artesanato une sustentabilidade, beleza e preço. Disponível em: <
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=794471>

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Quebrando paradigmas tecnológicos e culturais - O Design
Sustentável no transporte aéreo- O DIRIGÍVEL HÍBRIDO
MULTIMISSÃO (Breaking technological and cultural
paradigms - Sustainable Design in air transport multi-
HYBRID The Airship)

MARTINS, Edgard Thomas; Doutor; Universidade Federal de Pernambuco


edgardpiloto@gnail.com

Palavras chave: primeira; segunda; terceira.

Desde as experiências bem sucedidas de vôo do homem no final do século XIX que o transporte aéreo
se afirmou como presença tecnológica. O aeróstato tem sido tratado como o “Navio-do-ar” e foi mais
adaptável para transporte de passageiro e cargas, mesmo após o aparecimento do mais pesado-que-o-
ar. Na expansão do sistema viário nacional a opção pelo dirigível resurge como melhor opção. Países em
desenvolvimento necessitam de um sistema de transporte moderno mas sofrem as limitações dos
recursos insuficientes para implantá-lo como o Brasil. Com nossas dimensões continentais e carente de
sistemas de transportes compatíveis, o Dirigível-Híbrido-Multimissão é grande solução e Será o único
que complementará todos os outros tipos. Em 1982 um avião para 200 passageiros custava US$
25.000.000; enquanto o Dirigível custa metade ou menos, com mesma capacidade de carga. O preço dos
derivados do petróleo são vetores que pressionam o mundo para emprego intensivo do transporte quase
extinto no último século. Condições climáticas favoráveis permitem operação ininterrupta no ano com
vantagens econômicas e alta taxa de retorno de investimentos. A crise energética elege o dirigível, como
alternativa limpa, barata, atendendo exigências do espaço geofísico e potencialidades naturais do Brasil
apoiadas em boas práticas sustentáveis no meio ambiente.

Key words: fuel economy, rationality, air transport.

Since the successful experiences of the man flying in the late nineteenth century that air travel itself as
presence technology. The airship has been treated as the "ship-of-the-air" and was more adaptable to
transport passengers and cargo, even after the appearance of heavier-than-air. In the expansion of the
national road system option for the blimp resurge as the best option. Developing countries need a modern
transport system but suffer the limitations of insufficient resources to deploy it as Brazil. With our
continental size and poor transport systems compatible, Airship-Hybrid-Multimission is great and will be
the only solution that will complement all other types. In 1982 a 200 passenger plane to cost U.S. $ 25
million, while the airship is half or less, with the same load capacity. The price of oil derivatives are vectors
that push the world for employment-intensive transport almost extinct in the last century. Favorable climatic
conditions allow for uninterrupted operation in the year to economic advantages and high rate of return on
investments. The energy crisis elects the airship as an alternative clean, cheap, meeting requirements of
the geophysical space and natural potential of Brazil supported by best practice in sustainable
environment.

1 Introdução

Um avião se mantém no ar devido à resultante de quatro vetores: tração, peso, resistência do


ar e sustentação segundo representação da figura 1. Este último componente representa, no
final, um consumo substancial de combustível, pois o avião só voa se neutralizar, devido ao
movimento do ar sobre as asas, o vetor PESO. Mas é possível aliviar este componente com o
auxílio de elementos da natureza, que são os gazes mais leves que o ar. Desta forma haveria
uma significativa redução de consumo de combustível pois a tração dos motores seriam
prioritariamente destinados ao controle direcional.
Mas isto tem um preço incontestável: a perda de velocidade. O formato deste tipo de aeronave
precisa alojar grandes quantidades de gazes e o desenho aerodinâmico do artefato é muito
diferente das aeronaves que estamos acostumados a ver nos céus. Até muito pouco tempo, os
balões e dirigíveis, como são classificados, tinham tido o uso restrito à recreação, a algumas

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aplicações como propaganda, monitoração, filmagens e também tem sido usados balões para
fins de controle metereológico.
Figura 1 – Vetores que atuam no movimento aerodinâmico da aeronave (figura montada pelo autor)

Um dirigível é um veículo que se desloca no ar, sustentado por um gás mais leve que este e
que pode ser equipado com motores para propulsão e dotado de mecanismos de controle. O
Dirigível tem a capacidade de navegar de dia (em regime de vôo VFR – Visual Flight Roule-
Regras de Vôo Visual) e de noite, em regime de vôo visual - VFR, ou IFR- Instrument Flight
Rules ou Regras de Vôo apoiado em Instrumentos que significa o conjunto de regulamentos e
procedimentos que se aplicam à pilotagem de aeronaves quando as condições de vôo não
asseguram que o piloto possa ver e evitar obstáculos ou outro tráfego aéreo. O Dirigível
permite uma autonomia em grande escala, oferecendo excepcional conforto aos usuários, pois
está livre de ruídos, tem baixíssima vibração e boa visibilidade e sofre baixa interferência
eletromagnética como resultado de sua estrutura atual ser construída de material composto.
Estes são diferentes dos metais tradicionais e são combinações de diferentes materiais na
composição ou forma.
Os constituintes retêm suas identidades no material final composto, e não se dissolvem ou se
fundem completamente em outro, embora eles atuam juntos.O concreto armado é um
excelente exemplo de uma estrutura composta na qual o concreto e o aço ainda mantêm suas
identidades. As barras de aço transportam as cargas de tensão, e o concreto transporta as
cargas de compressão. Na construção de aviões, as estruturas termo composto refere-se a
combinações de tecido resina no qual o tecido é incorporado na resina, mas ainda mantém a
sua identidade.
Entre as vantagens dos Dirigíveis se ressalta a de maior mobilidade que qualquer espécie de
transporte terrestre, que avião ou navio. Pode ser estruturado para maior capacidade de carga
que o maior helicóptero existente e dispensa complexas e dispendiosas infra-estruturas
portuárias, fluviais ou terrestres. Utiliza bases temporárias reduzindo significativamente os
custos operacionais. Os dirigíveis modernos fazem uso do que são chamadas bolsas de ar ou
compartimentos interno do gás que pode sugar o ar de fora para dentro a fim de aumentar o
peso total do dirigível e assim diminuir, sob controle, a pressão e eficácia da elevação a gás.. O
formato e composição de um dirigível tradicional é apresentado na figura 2.

Figura 2- A estrutura tradicional de um dirigível (Montagem do autor)

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Este projeto combinado com superfícies de controle aerodinâmico e hélices permite que os
dirigíveis modernos mudem de altitude e voem com maior eficiência e com um custo menor do
que os sistemas tradicionais de aviões.

2- FUNDAMENTAÇÃO

Os gases de sustentação apoiam esta proposta. O hidrogênio, o hélio, o metano, a amônia e o


ar quente são todos capazes da elevação aerostática. Devido aos princípios de flutuabilidade
esses gases criam sustentação, porque são muito menos denso do que o ar circundante
Enquanto o ar mais denso é puxado para baixo pela gravidade a elevação do gás menos
denso tende a se separar do mais denso. Como o ar está sendo atraído para a Terra pela
gravidade, não há lugar para o gás menos denso para ir, senão para cima.
O hidrogênio é o primeiro elemento da tabela periódica e é também o elemento mais leve e
mais abundante no universo. Nos primeiros dias da aviação mais leves que o ar, o hidrogênio
muito comumente usado. Mas o hidrogênio é altamente explosivo e quando em presença de
oxigênio, contribuiu para alguns desastres espetaculares, incluindo a explosão do Hindenburg.
O hidrogênio foi usado porque ele poderia ser produzido em abundância através de uma
variedade de processos químicos diferentes e com baixo custo.
O hélio é o gás de sustentação mais comumente usados hoje e é o gás que enche balões de
festa e permite que você fale com um tom alto quando inalado. É o segundo elemento da
tabela periódica e também o mais leve segundo e mais abundante no universo depois do
hidrogênio. O hélio é bastante estável e é hoje mais disponível que era na época do desastre
do Hindenburg.

LTAS- Veículos mais leves que o ar

LTA´s (Lighter Than Air) ou dirigíveis foram muito utilizados desde o início do século passado
até 1960. Durante a I Guerra Mundial, foram construidoas cerca de 100 aeronaves. variando da
menor (100 mil pés cúbicos) e não-rígidos até o maior (2,5 milhões de pés cúbicos) e rígidos.
Em 1933, A empresa Zeppelin Corp. fabricou dois dirigíveis rígidos, Akron e Macon, para a
Marinha dos Estados Unidos da América. Estas foram as maiores aeronaves construídas para
aquela época. Quatro dos maiores dirigíveis não-rígidos já construído (ZPG-3W), foram
concluídos em 1960 também pela Goodyear. Dirigíveis rígidos são construídos de uma leve
estrutura com um tecido exterior de tecido tratado (CRAIG, 2007).
O gás utilizado está contido em vários compartimentos independentes. Em contraste, o dirigível
não-rígido é um simples envelope (casco) tipicamente feito de um tecido revestido preenchido
com um compartimento de gás. Vários compartimentos de ar dentro do casco são usados para
manter uma constante pressão e fornecer lastro por circulação de ar conforme necessário
(POWERS,2006).

Propriedades potenciais dos Dirigíveis modernos

De acordo com um estudo recente da NASA - National Aeronautics and Space Administration
financiadora dos estudos da Goodyear Aerospace Corp, conclui-se que 26 por cento de
redução no peso vazio pose ser obtido em artefatos LTA modernos, em comparação ao Macon
1933 (vide figura 3) e poderia ser alcançado usando plástico moderno e materiais metálicos. A
relação peso-carregado / peso-vazio pode ser reduzido de 40% a cerca de 50%. A quantidade
de carga vai depender da quantidade de combustível que carrega e depende dos requisitos da
missão ( MACHADO, 2009). Tais avanços tecnológicos podem melhorar substancialmente a
carga útil dos modernos dirigíveis.
Estudos realizados pela Goodyear para a NASA pela Guarda Costeira dos Estados Unidos e
pelo Ministério de Transportes de Alberta, Canadá, e pela Força Aérea dos EUA mostram que a
versatilidade operacional e a economia de operação podem ser substancialmente melhoradas
utilizando modernas tecnologias de propulsão similares às aeronaves convencionais rígidas ou
não-rígidas porém trabalhando como rotores direcionais (ESCHER,2003).
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Figura 3- O Uss Macon, de 1933 – (Foto cedida por Alexandre Rizzo de seu acervo pessoal)

O sistema de propulsão convencional (hélice) melhoraria a velocidade cruzeiro e o


desempenho das operações nos terminais, ou se dotado de múltiplas unidades de rotores
poderia fornecer precisão e desenvolver capacidade de elevação suportando de 20 a 150
toneladas ( MACHADO, 2009).
A figura 4 apresenta um desenho que representa o que poderia ser um Dirigível HÍBRIDO
MULTIMISSÃO. Este desenho tem as características preconizadas pelos centros de
desenvolvimento de LTA´s modernos

Figura 4- O Dirigível Híbrido Multimissão – (montagem do autor, baseado nas previsões e desenhos dos LTA’s
modernos)

Este artefato terá o tamanho de um campo de futebol com um consumo de combustível de um


avião médio. Como este tipo de aeronave poderia operar em áreas remotas e despreparadas
sucederiam redução substancial de custos que as alternativas atuais com cargas se
comparado com os atuais métodos de transporte aéreo ou qualquer outro.

3- APLICAÇÕES EFETIVAS DO ARTEFATO

O Exército dos Estados Unidos da América está desenvolvendo um moderno dirigível não
tripulado para propósito de vigilância e reconhecimento. Está inserido no programa chamado
Long Endurance Multi-INT Vehicle - LEMV).

O efetivo uso militar nos dias de hoje


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Os primeiros testes do LEMV serão feitos no Afeganistão. Este será um dirigível híbrido com
flutuação, propulsão e meios aerodinâmicos para facilitar o pouso e decolagem. Deverá levar
uma carga de mais de 1 tonelada voando a 20 mil pés (7 mil metros) permanecendo no ar até
por três semanas.
Será pilotado opcionalmente. Nesta opção, poderá ter o alcance de 2.500 milhas. Voando a 10
mil pés (três mil metros) de altitude onde ainda nesta altitude, não é requerida pressurização
nem oxigênio para os pilotos e passageiros.

Figura 5- O interessante dirigível chamado Long Endurance Multi-INT Vehicle – LEMV do Exército dos Estados
Unidos da América (arte e desenho do US Army, disponível para uso mediante citação)

A carga útil transportável do LEMV será de 2 toneladas. A velocidade máxima será de 80


milhas por hora com a velocidade de 20 milhas/hora em regime de vôo cruzeiro. A figura 5
apresenta este interessante dirigível (PINTO, 2009).

A vigilância aérea silenciosa- o projeto ISIS- (Integrated Sensor Is Structure) da Darpa e


Lockheed (fabricantes)

O ISIS (Integrated Sensor Is Structure) é um conceito de dirigível não tripulado, cuja


concorrência foi vencida em 2009 pelo estúdio Skunk Works da Lockheed Martin para a
Agência de Pesquisa de Projetos Avançados de Defesa - DARPA (Defense Advanced
Research Projects Agency), do Pentágono, para a Força Aérea dos Estados Unidos da
América. O programa prevê o voo do primeiro veículo para 2013. Ele promete permanecer
como um Dirigível de Alta Altitude (HAA - High Altitude Airship) a uma altitude estratosférica
próxima a 20 mil metros, de onde poderá perseguir e encontrar alvos terrestres e aéreos por
até 10 anos.(Op.cit) Vide figura 6

Figura 6- Dirigível estratosférico não tripulado ISIS. (Arte Lockheed Martin) Acesso autorizado mediante citação)
http://www.defesabr.com/Eb/eb_dirigiveis_futuro.htm

O ISIS visa substituir várias plataformas aerotransportadas de vigilância, incluindo a única


existente chamada de E-8C (JSTARS), com a capacidade de altitude estratosférica próxima a
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20 mil metros.
O objetivo do Programa ISIS é desenvolver um sensor autônomo e não tripulado baseado em
um dirigível estratosférico, com uma persistência de anos em vigilância e detecção de alvos
aéreos e terrestres. Ele será capaz de detectar os mais avançados mísseis de cruzeiro a 600
km de distância e tropas a pé a 300 km, além de mover-se para qualquer ponto no mundo em
15 dias.

Aplicações sócio/políticas/militares e a atenção à sustentabilidade

Pinto (2009) registra que em 1957 um dirigível da Marinha dos Estados Unidos estabeleceu um
recorde de 11 dias no ar e 9000 milhas viajando sem reabastecimento. Isso significa ser
utilizado muito além do que é possível com aeronaves de asa fixa ou rotativa (rotativa é a
classificalção de helicópteros). O LTA também tem baixo nível de vibração, baixo ruído nível, e
alta carga de trabalho reduzindo a fadiga da tripulação. Algumas aplicações sugeridas foram:

Detecção de minerais. Armado com os necessários instrumentos usados em grandes


dirigíveis promove pesquisas minerais que podem superar o uso de aviões convencionais em
exatidão e custos. Computadores e uma grande quantidade de equipamentos podem ser
colocado a bordo. O vôo estável e a baixa vibração contribuiria para a precisão dos resultados
prospectados.

Controle de poluição. Uma aeronave de pequeno porte, controlada por rádio carregando
várias centenas de quilos de instrumentos de detecção, além de câmaras de televisão, poderia
patrulhar o espaço acima de uma cidade. A poluição do ar e o nível a qualquer ponto escolhido
poderia ser monitorada com precisão. Os sinais de fontes de poluição podem ser transmitidos
para o centro de controle no solo.

Plataforma de Radar. Pode-se instalar plataformas em altitudes determinadas, a exemplo do


Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, tendo como alvo especial a deteção
de alvos específicos, utilizando radares em balões estacionários. Mesmo sendo muito lentos os
movimentos dos equipamentos ainda assim é estimado que o custo de utilização é altamente
favorável para balões estacionários de observação a baixa altitude, que é apenas um décimo
do custo da utilização de aviões. A mobilidade do dirigível combinada com a sua tolerância para
uma gama mais ampla de condições atmosféricas e ambientais poderia expandir esta
capacidade largamente.

Patrulhamento local e vigilância de fronteiras longínquas. Dirigíveis equipados com


instrumentos eletrônicos de vigilância podem servir como postos de vigilância e comunicação.
Ligações entre as unidades de patrulha e de comando são estabelecidos em áreas chave de
fronteira. Nosso solo, principalmente a amazônia, extenso e inóstpito pode ser totalmente
vigiado com o auxílio deste tipo de equipamento.
Os LTA´s da Goodyear tripulados e não tripulados foram analisados por patrulhas da polícia.
e da cidade de Tempe, Arizona.
Um experimento incluiu o desenvolvimento de miniblimps (pequenos dirigíveis) controlado
remotamente até 10.000 pés (3000 metros), com uso de câmeras de TV. Para esta aplicação,
é esperada ter vários vantagens econômicas e operacionais sobre os outros meios de
patrulhamento e vigilância. A introdução de tais sistemas tem sido considerada nos dias de
hoje, no sul da Califórnia.
Um experimento foi avaliado pela Guarda Costeira dos Estados Unidos está se mostrando ser
economicamente e operacionalmente eficaz para atender uma variedade de missões, incluindo
o monitoramento de bóias, atividades de vigilância, monitoramento e as condições do gelo nos
Grandes Lagos.

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Um projeto moderno materializado - O P-791 DA LOCKHEED

O P-791 é um Dirigível Híbrido experimental (vide figura 7) desenvolvido pela Lockheed Martin.
Seu primeiro vôo ocorreu em 31 de janeiro de 2006 no campo de teste de Palmdale (Air Force
Plant 42).

Figura 7- O P-791 DA LOCKHEED – Adota as características tecnológicas modernas (acervo do autor cedida por
Alexandre Rizzo)

Esta fotografia do P-791 no seu vôo inaugural mostra a viabilidade técnica da inserção das
novas tecnologias comentadas neste texto, nos LTA´s modernos.

4- DISCUSSÃO

A situação atual do Brasil se põe em foco. Devido aos custos extremamente elevados da
implantação e ou expansão de uma malha de transportes terrestres (agravados por parâmetros
ecológicos cada vez mais rigorosos) necessários a reabilitação da malha rodoviária e ao
crescimento exponencial das novas necessidades de interligação política/sócio/comercial, o
modelo de prioridade rodoviária deve ser mudado para uma diversificação mais coerente com a
aptidão geoeconômica da região em meta. Machado (2009) enfatiza que, quando nos
detivermos às necessidades de reconstrução e de expansão do sistema viário nacional, a
opção pelo dirigível poderá, em muitos casos, ser a solução com larga vantagem logística,
operacional e econômica. Os países desenvolvidos cerca de 2,5 % de seu Produto Interno
Bruto (PIB) aplicam na sua infra-estrutura de transporte para avançar o seu desenvolvimento
enquanto necessitam de um sistema de transporte moderno. Os países em desenvolvimento
igualmente tem esta carência, mas sofrem limitações dos recursos para implantá-lo. O dirigível
é uma solução adequada para o ambiente sendo muito mais rápido para implantar.
No Brasil, considerando suas dimensões e carente de sistemas de transporte compatíveis com
o momento atual de desenvolvimento e crescimento, o dirigível se ajusta como uma grande
solução. “É o único meio de transporte capaz de interligar e complementar todos os outros”,
segundo aquele autor.

A Integração de áreas distantes como a amazônia

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Uma vez que os LTA’s (Lighter them Air) podem voar muito próximos ao solo por longos
períodos de tempo e com uma interferência mínima sobre o ambiente, eles preenchem uma
lacuna nas escalas de observações aéreas, provendo imagens com melhor resolução e
provendo muito maior flexibilidade de aquisição que aquelas obtidas com o uso de satélites ou
de aviões devido a sua facilidade de manobra. A monitoração e vigilância de áreas de
preservação ou de acesso restrito são exemplos de tarefas que requerem este tipo de
capacidade de aquisição de imagens.
Felippes (1995) conta que a História mostra que a área tecnológica dos “mais leves que o ar”
sempre esteve envolvida com a evolução sócio-política-histórica do Brasil (na área militar e na
civil). Na área militar, como elemento de observação de posições do adversário pelo então
marquês de Caxias, quando no comando das tropas na Guerra do Paraguai.
Na área civil, com Alberto Santos Dumont, mostrando a manobrabilidade dos dirigíveis, ao
contornar a Torre Eiffel, em Paris no ano 1901.
A Amazônia Brasileira representa, em termos territoriais, a maior parcela regional do território
do Brasil, formando um bioma de cerca de 3,7 milhões km2, contendo ao mesmo tempo a mais
ampla reserva de água doce superficial do Mundo, com 175.000 m3/seg somente do rio
Amazonas despejando no Atlântico (20% de todos os rios do Mundo), e abrigando sua maior
biodiversidade, com muitos componentes ainda desconhecidos pelos setores técnicos
envolvidos, com 1/3 das matas tropicais do globo terrestre cuja extração ilegal de madeira
representa atualmente entorno de 80% da produção mundial.
A Região Amazônica, por sua importância para sustentabilidade social e ambiental, tem áreas
com restrições legais muito significativas, observando-se a seguinte distribuição:
• 20% do total corresponde a áreas indígenas;
• 7,6 % áreas de uso e desenvolvimento sustentável;
• 4% áreas de proteção integral.
Segundo Pinto (2009) “não tem sido possível até agora realizar um verdadeiro controle de
essas áreas, pior ainda de aquelas que não estão legalmente protegidas”. Esta grande área de
nosso território conta com alguma proteção legal (cerca de 32% da área total da região, ou seja
2
da ordem de 1 milhão km ) mas que abriga uma enorme biodiversidade. Os noticiários nos
levam a presumir que no restante de seu território existem ameaças à sobrevivência de
espécies e ao desenvolvimento sustentável da rica fauna e flora regional. Podemos ter como
exemplo os primatas onde, das 94 espécies identificadas até nossos dias, 71 vivem nas áreas
acima referidas e 23 em áreas que não são legalmente protegidas.

Os Dirigíveis Hibridos Mutimissão na Amazônia.

Muitas experiências acontecido em todo o mundo para o retorno do Dirigível. O Dirigíveis


Hibridos Mutimissão na Amazônia será uma destas propostas. Machado (2009) enfatiza que o
transporte por dirigíveis será mais um meio utilizado em futuro próximo em todo o mundo. E
seu sucesso será diretamente proporcional ao encarecimento dos combustíveis usados pelos
cada vez mais pesados e altamente poluidores aviões tradicionais. O projeto deste veículo está
clamando por acontecer. A figura 8 apresenta a arte de Edilson Moura Pinto para esta
proposta.

Figura 8 - O Futuro Dirigível Híbrido Multimissão DHM CD-300 (Pesado, de 300 ton) do EB e da MB. (adaptação do
autor das especificações de uma aeronave desta natureza, de Edilson Moura Pinto)

De acordo com o projeto do Exército Brasileiro "DIRIGÍVEIS NA AMAZÔNIA", o dirigível inflado


com gás hélio (não inflamável) permite grande autonomia e economia, sofre baixa interferência
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eletromagnética, é mais seguro ecologicamente correto, oferece excepcional conforto aos
usuários, por estar livre de ruídos, além de ter baixíssima vibração e boa visibilidade; tal fator
torna-o capaz de navegação diurna e noturna, inclusive por instrumentos.
O dirigível oferece possibilidades de cumprir missões de busca e salvamento, vigilância aérea,
patrulha fluvial e marítima, apoio a núcleos isolados na forma de Ação Cívico-Social, e,
principalmente, transporte de pessoal e material com enorme eficiência e facilidade, em
comparação com outros modais aéreos, terrestres e marítimos, os quais deverão operar em
conjunto, como intermodais.
O Exército Brasileiro vem se preparando desde 1990 para a introdução definitiva desse meio
de transporte militar e já conta hoje com estrutura e equipagem de apoio às operações dos
dirigíveis na Amazônia, abrangendo unidades militares em diversas localidades dos Estados do
Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Acre, Rondônia e Maranhão.
Somente no aspecto logístico militar de sua operação, os dirigíveis serão destinados, por um
lado, ao transporte de equipamentos e produtos necessários para a construção e operação de
obras de engenharia, pequenas comunidades, bases aéreas, navais e pelotões militares, e, por
outro lado, ao transporte de veículos, embarcações, aeronaves, tropas, e serviços (vigilância e
patrulha) de proteção e segurança de nossas extensas fronteiras.
De acordo com um simulação do Exército, sua maior missão será a de suprir e interconectar as
diferentes Unidades e as operações realizadas pelas 3 Forças Armadas na Amazônia, como
Forças Integradas Orgânicas operando com enlace em redes, atendendo como ninguém tanto
aos Pelotões de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro como aos navios-patrulha da
Marinha, dando-lhes a sinergia logística que nenhum outro meio ou intermodal alcançará em tal
região inóspita e difícil.

A experiência no Rio de janeiro em 2002

A noticia abaixo foi divulgada em 02/09/2002 às 20h14 “Dirigível começa a patrulhar o Rio de
Janeiro na próxima quinta-feira (da Folha Online)”
A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro realizou com sucesso uma experiência
com a patrulha por um dirigível. O programa "Um Olho no Céu" monitorou toda a cidade,
principalmente os 380 pontos críticos mapeados pela Secretaria de Segurança.
O dirigível foi usado na guerra da Bósnia e voou, no Rio, 16 horas por dia. Por ele, foram
captadas imagens com alta qualidade tanto de dia como de noite com câmeras especiais de
grande resolução. Vide figura 9.
Além disso, foi equipado com aparelhos de transmissão de imagens por microondas e
sensores de radiação infravermelha, que registrou e enviou mensagens em tempo real. As
imagens captadas foram remetidas imediatamente para uma central de comunicações que
funcionou no prédio da Secretaria de Segurança, no centro da cidade. Interrompido por falta de
verbas e falta de visão administrativa.

Figuras 9- Um Dirigível em patrulha aérea e silenciosa no Rio de Janeiro. Imagens capturada em vôo de
vigilância por Isnard Thomas Martins - cedidas e autorizadas).

Referências

Material não publicados


Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
BUSTAMANTE, José, (2003) Projeto Emprego de Dirigíveis na Amazônia Brasileira, artigo em
Notícias Tecnologia, Instituto Militar de Engenharia.

BARAHONA, A. J.(2005) Monitoramento ambiental usando Dirigíveis, artigo em Notícias


Tecnologia, Instituto Militar de Engenharia

BAUMBERG, Nick.(1995) Pan Atlantic Aerospace Corp Canadá. (boletim de Informações


técnicas)

FELIPPES, Marcelo Augusto (1995) Monografia "O Batalhão de Transporte na


Amazônia". Diretoria de Transporte. Instituto Militar de Engenharia

FELIPPES, Marcelo Augusto (1990) Projeto Dirigíveis para a Amazônia, artigo, Instituto Militar
de Engenharia

MACHADO, José Lima (2009) Dirigíveis / Airships – “De volta para o futuro” , artigo em
Notícias Tecnologia, Instituto Militar de Engenharia

Sites consultados

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http://www.robotgroup.org/projects/blimphst.html (acessado em 20/06/2011)

DE SOUZA Coelho, Lúcio,(2001) Navegação de Dirigíveis Autônomos baseada em Visão


Computacional, www.dcc.ufmg.br (acessado em 13/06/2011)

ESCHER, R.,(2003) Airship and Blimp Resources, http://www.hotairship.com/index.html


(acessado em 21/06/2011)

PINTO, Edilson Moura,(2009) Meios Disponíveis e Futuros- DIRIGÍVEIS DO FUTURO Exército


Brasileiro - EXÉRCITO BRASILEIRO (http://www.defesabr.com/Exército Brasileiro/Exército
Brasileiro_dirigiveis_futuro.htm) (acessado em 26/06/2011)

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http://watt.seas.Virginia.EDU/~jap6y/isb/home.html (acessado em 13/06/2011)

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Tecnologia Assistiva e Sustentabilidade: proposta de
órtese para reabilitação motora (Assistive Technology and
Sustainability: design proposal of orthosis for motor
rehabilitation)

Cantuária, Marina Fernanda; Graduada em Design; Universidade do Estado do Pará.


marina.cant@yahoo.com.br

Santos, Núbia Suely S.; Dr.; Universidade do Estado do Pará.


nubiatrib@yahoo.com.br

palavras chaves: órteses; compósitos; fibras vegetais.

Neste trabalho um material compósito com fibra vegetal é proposto como alternativa ao material
atualmente utilizado na confecção de órteses pela Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (UEAFTO), o policloreto de vinila (PVC). A UEAFTO é vinculada à Universidade do
Estado do Pará e sua importância é fundamental no atendimento de crianças e idosos com foco na
reabilitação física de pacientes do SUS com seqüelas de diversas doenças neurológicas, traumas
ortopédicos em geral como doenças relacionadas ao trabalho, acidentes domésticos, acidentes de
trânsito, entre outros.O protótipo de uma órtese de membro superior é desenvolvido a partir de um molde
de gesso, sendo o compósito moldado diretamente sobre este molde. O material proposto resultou em
vantagens de processamento em relação ao utilizado atualmente pela unidade. Com este trabalho
pretende-se ampliar as alternativas em materiais de baixo custo no projeto de produtos da área da saúde,
podendo assim contribuir para a interdisciplinaridade entre os profissionais da saúde e os profissionais de
design, o que será um grande ganho para a sociedade como um todo que poderá utilizar-se das melhores
atribuições e serviços de cada profissional.

Keywords: orthosis; composites; natural fibers.

In this work, a plant fiber reinforced a composite material is proposed as an alternative to materials
currently used in the orthosis by Unity and Service Learning in physiotherapy and Occupational Therapy
(UEAFTO), polyvinyl chloride (PVC). The UEAFTO is linked to the University of Pará and its importance is
critical on caring for children and elderly focusing on physical rehabilitation of SUS patients with sequels of
various neurological diseases, orthopedic trauma in general as work-related diseases, domestic accidents,
traffic accidents, among others. The prototype of an upper limb orthosis is developed from a plaster mold,
the composite being molded directly on this template. The proposed material resulted in processing
advantages compared to currently used by the unit. This work aims to expand the alternatives in low-cost
materials in the design of healthcare products could also contribute to the interdisciplinary approach
among health professionals and design professionals, which will be a great gain to society as a whole that
can be used best assignments and services of each professional.

1 Introdução

Historicamente o desenvolvimento da indústria é marcado pela pesquisa e utilização de novos


materiais. Com o avanço do Design percebemos que os objetos de uso diário vêm sendo
redesenhados com a utilização de novos materiais. A partir da década de 40, as pesquisas
voltadas para o uso de polímeros influenciou novos projetos de design, fazendo da flexibilidade
das formas e leveza do material as principais vantagens. O estudo de compósitos iniciou-se
com a associação da fibra de vidro á resina poliéster, e vem tomando grande proporção em
vários campos de atuação que vão muito além do âmbito do design. O avanço tecnológico vem
antes de tudo para suprir as necessidades humanas, para construir produtos funcionais,
duráveis, ecológicos, e com as mais variadas formas.

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Apesar do crescente avanço tecnológico na área de materiais nas últimas décadas, ainda é
preciso inserir a tecnologia em âmbitos da sociedade onde ela ainda não tem acesso, por seu
alto custo ou pela carência em pesquisa. Nesse sentido, este trabalho vem propor

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aplicabilidade de um material compósito no projeto de órteses que auxiliam a reabilitação física
e motora de pacientes do Sistema Único de Saúde que são atendidos pela Unidade de Ensino
e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universidade do Estado do Pará. O
material compósito desenvolvido se coloca como uma alternativa ao material utilizado
atualmente no UEAFTO _ o Policloreto de Vinila (PVC), demonstrando vantagens
principalmente no processo de produção, fator que o torna viável para utilização em produtos
ortóticos e outros dispositivos de auxílio à reabilitação.

2 Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional – UEAFTO

A Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UEAFTO) está


vinculada a Universidade do Estado do Pará (UEPA), e foi criada em 1997 por docentes desta
Universidade através de projeto de Extensão, com o objetivo de desenvolvimento de estágios
curriculares, extracurriculares, pesquisas, aulas práticas e outras atividades voltadas para a
formação de profissionais capacitados, éticos e com responsabilidade social (Estatuto
UEAFTO, 1997). A instituição está cadastrada no Sistema Único de Saúde (SUS) para
realização de Ações e serviços assistenciais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional os quais
estão disponibilizados para atender a demanda referenciada através do SUS do município de
Belém e de outros municípios paraenses, chegando a fazer em média, 400 a 500 atendimentos
ao mês.
A UEAFTO tem como público alvo o atendimento de crianças a idosos com foco na reabilitação
física de pacientes com seqüelas de diversas doenças neurológicas, traumas ortopédicos em
geral (como doenças relacionadas ao trabalho, acidentes domésticos, acidentes de trânsito,
entre outros) e, doenças degenerativas como as síndromes neurológicas.
Dentro da unidade encontra-se o Laboratório de Tecnologia Assistiva – (LABTA) onde através
de disciplina específica de confecção e adaptação de órteses, são desenvolvidos pelos
acadêmicos produtos destinados aos pacientes atendidos pela Unidade.
Segundo Reis & Spessoto (2005,) órteses são dispositivos mecânicos utilizados para manter
ou aumentar a amplitude de movimento, proteger estruturas, melhorar a qualidade de um
movimento, substituir a ação muscular perdida temporariamente ou servir em aparelhos de
auto-ajuda, sempre visando a inserção do paciente às atividades cotidianas. Atualmente as
órteses são desenvolvidas de diversos materiais, desde os de mais alta tecnologia até
materiais alternativos. A utilização de materiais como o Orthoplast, específico para a produção
de órteses podendo ser moldado diretamente sobre a pele do paciente por ser um material
termomoldável a baixa temperatura, pois se adéqua de maneira eficaz ás formas biomecânicas
do paciente e pode ser produzido no momento da consulta. Contudo, a utilização deste
material é incompatível com o contexto do SUS devido ao seu alto custo.
No Laboratório de Tecnologia Assistiva, funciona o Ambulatório de Assistência Fisioterapêutica
a Seqüelas Neuro-Motoras da Infância e, dentro dele o Núcleo de Desenvolvimento em
Tecnologia Assistiva e Acessibilidade – NEDETA. O núcleo é um projeto aprovado pela
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e, tem caráter de pesquisa básica e aplicada com
desenvolvimento de novas tecnologias de ajuda aos pacientes da unidade. O NEDETA
implementa, através da avaliação e pesquisa, novos dispositivos de ajudas técnicas,
substituindo a tecnologia importada por tecnologia brasileira e regionalizada, visando a
melhoria no processo de (re) habilitação global, contribuindo para a mobilidade, comunicação e
a acessibilidade de portadores de limitações físicas, sensoriais e mentais utilizando recursos de
baixo custo.
No LABTA são confeccionadas órteses com PVC (policloreto de vinla), que embora seja
maleável (a alta temperatura) necessita de certos cuidados com a manipulação e requer certa
habilidade para manuseio e modelagem da forma desejada. A fig.1 (à direita) mostra uma
órtese de PVC produzida no LABTA. O PVC é um material amplamente encontrado em nosso
cotidiano, podendo ser utilizado em materiais cirúrgicos, por exemplo, ou na construção civil.
Por suas características de fácil empregabilidade, baixo custo e versatilidade, o PVC foi
escolhido como material viável para a produção de órteses destinadas ao tratamento de
pacientes da UEAFTO. O PVC é adquirido em forma de tubo (fig.1), onde através de
aquecimento em chama de fogão a gás, muda suas características tornando-se maleável o
suficiente para ser cortado com tesoura comum, como mostrado na fig. 02.
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Figura 1: Tubos de PVC utilizados nas órteses (à esquerda), à direita órtese de posicionamento, infantil, de PVC, EVA
e velcro confeccionada pelo LABTA (Autor, 2009).

Figura 2: Corte do PVC durante aquecimento em chama a gás (Autor, 2009).

Embora tenha ótimos resultados no tratamento e seja uma alternativa para os materiais de alto
valor comercial, o PVC possui suas limitações relacionadas a dificuldades durante o
processamento e falta de conforto quando utilizado sem revestimento, tendo, por esse motivo,
que ser revestido de EVA para que se torne mais confortável no contato com a pele humana.
Após o processo planificação do tubo de PVC, inicia-se a fase de produção da órtese, onde é
desenhado o contorno do braço do paciente em folha de papel A4 demarcando as articulações
e respeitando as angulações morfológicas do paciente e obedecendo as especificações de
cada caso e prescrição médica.

Reabilitação

Reabilitação é um processo global e dinâmico voltado para a recuperação física e psicológica


da pessoa portadora de deficiência, tendo em vista a sua reintegração social. Está associada a
um conceito mais amplo de saúde, incorporando o bem-estar físico, psíquico e social a que
todos os indivíduos têm direito (PEDRETTI, 2005).
Par uma plena realização, as ações de reabilitação devem abranger campos complementares,
como a saúde, a educação, a formação, o emprego, a segurança social, o controle ambiental, o

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lazer, campos que embora complementares, são vitais para a qualidade de vida do individuo
afetado pela deficiência. Na sociedade atual onde se busca cada vez mais a valorização do ser
humano, seu bem estar e sua qualidade de vida, a reabilitação torna-se uma ferramenta que
auxilia e possibilita esta valorização. A reabilitação tem um papel essencial para a sociedade,
pois, através de métodos e iniciativas promove a inserção do indivíduo na sociedade e em
atividades além das atividades básicas do dia a dia, tão simples para os sem deficiência, mas
tão valorizadas quando alcançadas pelos limitados fisicamente, em atividades como trabalho e
estudo que até então seriam impensadas para os portadores de tais limitações. A reabilitação
atua em diversos campos possibilitando qualidade de vida e conforto para o usuário, podendo
tratar pacientes com doenças crônicas, que afetam principalmente os idosos, tornando-os
ainda mais suscetíveis a acidentes que restrinjam ou diminuam seus movimentos.

3 Tecnologia Assistiva: Acessibilidade

O avanço da tecnologia tem nos proporcionado dimensionar novos rumos para a inclusão
social de pessoas portadoras de deficiências, oportunizando, através da utilização de
dispositivos, aumentar habilidades, capacidades funcionais e estimular a independência dessas
pessoas em vários níveis funcionais. Deste modo a Tecnologia Assistiva é considerada como
um sistema de componentes (cliente, dispositivo de assistência tecnológica e meio ambiente) e
pode ser definida como sendo qualquer instrumento, equipamento ou sistema de modelo,
utilizado para aumentar ou melhorar as capacidades funcionais do indivíduo com incapacidade.
Portanto, a tecnologia assistiva é um instrumento pelo qual, podemos aumentar ao máximo a
independência, minimizar as incapacidades e manter habilidades (NEDETA, 2007).
Tornar a vida independente, aumentar a qualidade de vida e incluir socialmente as pessoas
com limitações físicas e/ou mentais, torna-se cada vez mais importante se analisarmos o
crescente número de pessoas que precisam de atendimentos especiais. Para que estas
pessoas possam ter o mínimo de qualidade de vida e independência para desenvolver suas
atividades básicas do dia a dia, como escovar os dentes, pentear os cabelos ou simplesmente
(para os ditos normais) levar a colher a boca, buscar alternativas e tecnologias que possam
contribuir para a eficácia dos tratamentos sem dúvida é de relevante importância. A
Tecnologia assistiva é uma alternativa, uma nova ferramenta para os tratamentos já utilizados,
pois esta pensa não somente em curar, mas também em inserir as pessoas nas atividades
básicas, como estudar e desenvolver atividades profissionais.
Segundo Bersch (2008), para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais
fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis. É a partir
destes pensamentos que a Tecnologia Assistiva vem sendo cada vez mais discutida e utilizada
na reabilitação de pessoas com limitações diversas. Tornar independente a vida dessas
pessoas sem dúvida é uma meta cada vez mais tangível com o uso de tecnologias que pensem
diretamente nas deficiências e dificuldades impostas pelo meio em que estas estão inseridas.
A partir desta crescente necessidade em discutir tecnicamente sobre o assunto e, gerar um
conceito que se adéque ao Brasil, em 16 de novembro de 2006, a Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República - SEDH/PR, através da portaria nº 142, instituiu
o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), que tem como objetivos principais: apresentar propostas
de políticas governamentais e parcerias entre a sociedade civil e órgãos públicos referentes à
área de tecnologia assistiva; estruturar as diretrizes da área de conhecimento. Nesse sentido, a
atuação do designer se torna cada vez mais importante no desenvolvimento de projetos
voltados para TA, seja desenvolvendo produtos novos e eficientes, seja desenvolvendo
materiais que possam ser utilizados em produtos de TA.

4 Material proposto para o novo produto/ órtese

Em função da necessidade de se desenvolver um material que apresentasse um processo


produtivo viável e atendesse a características desejadas como baixo custo e flexibilidade de
formas, optou-se pelo desenvolvimento de um compósito reforçado com tecido de fibra de juta
como mostrado na figura 3, tendo como matriz a resina de poliéster. Um material composto, ou
simplesmente compósito, é resultado de dois (ou mais) materiais distintos que se combinam e

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interagem entre si, resultando em um material com propriedades melhoradas e melhor
desempenho, características que dificilmente seriam alcançadas considerando os mesmos
materiais individualmente.
Tanto a fibra de juta quanto a resina poliéster são materiais de custo bastante acessível e são
fáceis de serem adquiridos, além de serem leves, não-tóxicos, e podem ser moldados em
formas complexas.

Figura 3: Tecido de juta (Autor, 2009).

Os materiais compósitos são formados pela matriz, fase contínua e de maior fração volumétrica
da mistura, e a fase dispersa, a qual pode estar na forma de partículas ou de fibras. Para
compósitos poliméricos, a matriz é constituída de um material polimérico e a fase dispersa é
formada por um componente denominado de carga ou fibra.
Para o designer a escolha de um material apropriado para o desenvolvimento de seu produto
deve ser pensada no momento em que o projeto é inicializado, pois o material escolhido
influencia diretamente no projeto, tanto a nível econômico como funcional.

4.1 Sustentabilidade da proposta

A consciência ambiental, cada vez mais presente na produção de novos produtos e pesquisa e
desenvolvimento de novos materiais, deve ser levada como fator de total importância, assim
como, o descarte deste produto, ao final do seu ciclo de vida, para que o meio ambiente não
seja afetado ou em caso de impossibilidade, que seja afetado o minimamente. As vantagens
das fibras vegetais são baixo custo, baixa densidade, reduzida irritação dermatológica e
respiratória. Além disso, são provenientes de recursos renováveis, são biodegradáveis e
podem ser recicladas com baixo impacto ao meio ambiente. A partir das últimas décadas, uma
maior consciência ambiental da sociedade está forçando a indústria a escolher materiais
provenientes de fontes renováveis em substitutos aos materiais de fontes não renováveis. A
juta é uma planta originária da Índia, que foi introduzida no Brasil no início do século XX, é um
arbusto que atinge de 3 a 4 metros de altura, pertencente a família das tiliáceas, com nome
científico de Corchorus capsularis, Linn (ESMERALDO, 2005). É cultivada intensamente na
Amazônia para obtenção de suas valiosas fibras têxteis, sendo composta por 64% de celulose,
12% de hemicelulose, 12% de lignina e outras substâncias. A juta normalmente é utilizada na
produção de embalagens e sacos devido a sua robusteza e compatibilidade determinadas.
A Companhia Nacional de Abastecimento, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Conab) apresenta a conjuntura semanal da fibra de juta no período de 07 a 11 de agosto de
2006, e mostra que segundo dados colhidos em reunião da cadeia produtiva de fibras de juta e
malva, realizada em 13/07/2006, na sede da CONAB, em Manaus/AM, e visitas a produtores,
realizadas em conjunto com técnicos da CTC - Companhia Têxtil de Castanhal e IFIBRAM -
Instituto de Fomento à Produção de Fibras Vegetais do Amazonas, a safra já está colhida e
com cerca de 90% comercializada.

4.2 Aspectos de Usabilidade e maleabilidade

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O PVC utilizado para produção de órteses no LABTA é o PVC industrial, utilizado em
construção civil e adquirido em forma de tubo de 6 metros. Este material é considerado
totalmente maleável quando aquecido, tendo ponto de fusão relativamente baixo. Contudo para
a produção no Laboratório em questão sendo totalmente artesanal apresenta certas limitações
nos requisitos de segurança, uma vez que para o PVC torne-se maleável e moldável é
necessário aquecê-lo em fogão a gás e ir moldando manualmente, sem um molde específico e
que facilite o trabalho. Como não há molde, pois não existe a possibilidade de moldar a peça
diretamente sob a pele do paciente, o que causaria queimaduras, essa moldagem se torna
comprometida, pois toda angulação e especificações antropométricas do paciente são levadas
em consideração apenas pela experiência do profissional que molda a peça, caso este não
tenha adquirido esta experiência, este produto pode ser seriamente comprometido,
comprometendo o tratamento.

5 Desenvolvimento de produto

Para o processo de fabricação do produto aqui proposto, será utilizada uma matriz de resina
polimérica, que tem o papel de manter a integridade estrutural do compósito através da ligação
simultânea com a fase dispersa (tecido de fibra de juta), em virtude de suas características
coesivas e adesivas. Sua função é, também, impermeabilizar a fibra vegetal protegê-la contra o
ataque ambiental (BARRA, 2008).
Na fase inicial são desenvolvidos desenhos à mão livre das possíveis peças a serem
construídas, são testados tamanhos e formas (fig.4). Após isso iniciou a etapa de
desenvolvimento do molde mais adequado, que atendesse especificações como moldabilidade,
leveza e atoxidade, uma vez que o material do molde deverá entrar em contato com a pele do
paciente para tomar o contorno do membro a ser tratado. Esta foi a etapa que demandou mais
tempo durante o desenvolvimento do produto.

Figura 4: Croqui de órtese Membro Superior Esquerdo com detalhe para a angulação do metacarpo falangiana (Autor,
2009).

O molde de gesso é considerado adequado para a confecção de órteses, pois pode ser
moldado diretamente sob a pele do paciente, e, após a secagem do gesso que dura em torno
de 12 horas de exposição ao sol, este pode ser lixado para excluir possíveis imperfeições na
superfície do material. Um molde de gesso foi desenvolvido nesta etapa para a construção do
protótipo de órtese de membro superior estática de posicionamento funcional.
Os moldes serão exclusivos de um único paciente e atenderá as suas medidas antropométricas
e angulações determinadas de acordo com a necessidade do tratamento. Para a execução do
protótipo aplicou-se uma camada de cera desmoldante sobre o molde de gesso previamente
lixado (fig. 5), em seguida com um pincel aplicou-se uma camada de resina, esperando o
tempo de 4 minutos para aplicar o tecido de fibra de juta sobre o molde impregnado de resina
de poliéster (fig.6). Camadas consecutivas de resina e fibra foram montadas no molde de
gesso até atingir a espessura necessária especificada no projeto. Após este processo é
necessário um período de cura de 24 horas para que a fibra de juta impregnada de resina de

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poliéster se adapte as formas do molde e possa ser retirada do molde facilmente. Após o
período de cura a peça é retirada do molde com facilidade e está pronta para receber os
acabamentos finais.

Figura 5: Molde de gesso impregnado de resina pronto para receber o tecido de fibra (Autor, 2009).

Figura 6: Fibra de juta impregnada de resina em período de cura (Autor, 2009).

O protótipo desenvolvido neste trabalho é apresentado nas figuras 7 e 8, e foi feito com
objetivo de imobilização total do membro superior direito, para pacientes que necessitem de
posicionamento funcional de todo o membro. O protótipo de órtese estática de posicionamento
funcional foi desenvolvido e ficou demonstrada a aplicabilidade do material compósito,
obtendo-se o resultado esperado, tendo ótimo acabamento, não necessidade de revestimento
para garantir conforto térmico.

Figura 7: Protótipo órtese funcional estática. De fibra de juta e resina de poliéster (Autor, 2009).

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Figura 8: Protótipo órtese funcional estática, de fibra de juta e resina de poliéster (Autor, 2009).

Conclusões

O material aqui proposto é uma alternativa ao material atualmente utilizado na Unidade,


proporcionando diminuição no tempo de produção, maior adequação formal para o paciente,
facilidade de formas e modelagem. Como não é utilizada chama de fogão a gás, pode-se obter
uma diminuição dos riscos ocupacionais, assim como do tempo de processamento do material
o que resultará em menor tempo para confecção da órtese. Para as órteses desenvolvidas com
o material proposto, cada paciente deverá ter seu molde específico para seu problema, e em
caso de quebra, perda da órtese, será mais fácil produzir outra a partir do molde existente.
Ao final deste trabalho é possível afirmar a importância em se pesquisar novos materiais que
sejam alternativas e que contribuam positivamente para a sociedade, como é o caso do
material aqui proposto, que além de atender as necessidades do projeto aqui proposto (leveza,
flexibilidade de formas, atoxidade, resistência), pode ser perfeitamente utilizado em outros
projetos voltados para reabilitação física, como cadeiras, brinquedos adaptados, mobiliário de
inserção escolar, entre outras opções viáveis.

Referências

Barra, A. R. de F. Compósitos híbridos: desenvolvimento de configuração e efeitos de


umidificação, 2008.
Baxter, M. Projeto de produto. 2. ed. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2000. 272 p.

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Bersch, R. Introdução á tecnologia assistiva, Centro especializado em desenvolvimento infantil,
Porto Alegre, 2008.
CONAB, Companhia Nacional De Abastecimento, Ministério da Agricultura, Pecuária, e
Abastecimento. 2006
Callister,W. Ciência e engenharia de materiais, uma introdução. Editora LCT, 7ª Edição, 2006.
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Esmeraldo, M. Preparação De Novos Compósitos Suportados Em Matriz De Fibra
Vegetal/Natural.
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Ciência E Tecnologia. Out/Dez 1999.
Löbach, B. Design Industrial. 2 ed. São Paulo: Editora Edgard Blücher.
Spessoto, K. C. R. & Reis, S. C. A atuação da Terapia Ocupacional junto ao portador de lesão
medular: uma revisão bibliográfica. Batatais, 2005.
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Edição.
CAT, Ata de constituição do. Disponível em:
www.mj.gov.br/corde/arquivos/doc/Ata_V_CAT1.doc

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Coleta seletiva: estratégia para conscientização
socioambiental (Selective collection: a strategy for socio
environmental awareness)

BATISTA, Arianne Raísy da Silva Alves; estudante de graduação; Universidade Federal de


Pernambuco
arianne-alves@hotmail.com

Palavras chave: Sustentabilidade; Conscientização; Certificação.

Este artigo tem por objetivo despertar nas pessoas atitudes sustentáveis, através da proposta de
mudanças nas perspectivas da cultura organizacional. A consecução deste projeto visa à implantação
de programas de conscientização, que resultarão em uma certificação “Parceiros da Sustentabilidade”,
motivando e incentivando a comunidade acadêmica a participar do projeto. Assim, a proposta desse
artigo está voltada para a segmentação de conscientização da problemática coleta seletiva,
apresentando de modo didático as principais ações para desenvolver e gerenciar as redes de
responsabilidade socioambiental na instituição UFPE/Centro Acadêmico do Agreste.

Key-word: Sustainability; Awareness; Certification.

This article aims to awaken in people attitudes sustainable, through the proposed changes from the
perspectives of organizational culture, through the implementation of awareness programs that will
result in a certification "Sustainability Partners", motivating and encouraging the academic community
to participate the project. So our project is focused on targeting selective collection awareness of the
problem, presenting a didactic way the main actions to develop and manage networks of environmental
responsibility in the institution UFPE / Academic Center of the Wasteland.

1. Introdução
Nos últimos anos tem ocorrido uma transformação intensa no ambiente em que as instituições,
educacionais ou comerciais, operam. Antigamente tais instituições eram encaradas apenas
como estabelecimentos com responsabilidades referentes a resolver os problemas
fundamentais de seu nicho ambiental e econômico. Agora, elas têm presenciado o surgimento
de novos papéis a serem desempenhados, como resultado das alterações que seu ambiente
vem sofrendo perante a sociedade.
Logo, uma crescente atenção, por parte destas instituições tem se voltado para problemas que
vão além do cunho econômico, atingindo um âmbito mais amplo, envolvendo preocupação de
caráter político-social e ambiental.
Como resultado da ampliação desse contexto, tem ocorrido uma proliferação de pressões por
parte da sociedade, que resultam em novas leis e regulamentos que acabam provocando
mudanças nas regras do “jogo”, cobrando, assim, o que chamamos de conscientização social.
A conscientização social, de acordo com Donaire (1999) é a ‘capacidade de uma organização
responder às expectativas e pressões da sociedade’. E nesse sentido, a instituições de ensino,
tentam responder a tais pressões, buscando através de procedimentos, métodos, mecanismos
e padrões comportamentais contrapor aos anseios da sociedade e da legislação.
Diante dessa conjuntura, órgãos das entidades da administração pública federal direta e
indireta, fundos especiais, autarquias, sociedades de economia mista e demais instituições
tiveram que se adequar a legislações sobre gestão de resíduos sólidos e limpeza urbana.
Dentre tais legislações, destacamos o decreto federal Nº 5.940, de 25 de outubro de 2006. Este
institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da
administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às
associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis.
Percebendo tal situação, e trazendo para o ambiente micro-organizacional, este projeto/artigo
se objetiva a tentar mudar a atual realidade da de ensino Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), Centro Acadêmico do Agreste (CAA) ante a ausência da coleta seletiva. Afinal, muito
embora existam na universidade, lixeiras de coleta seletiva, observou-se que não ocorre de fato
a separação do lixo. E, portanto, a proposta deste artigo é explorar o fato de que a separação
deve ser trabalhada pela educação, pelas mudanças de atitudes das pessoas perante o
processo de coleta seletiva.

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Coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais
e orgânicos, previamente separados na fonte geradora e que podem ser reutilizados ou reciclados. A
coleta seletiva funciona, também, como um processo de educação ambiental na medida em que
sensibiliza a comunidade sobre os problemas do desperdício de recursos naturais e da poluição
causada pelo lixo (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE, 2005, p. 32).
Perante esse contexto, tal projeto justifica-se por integrar ferramentas e conceitos da gestão
socioambiental com o sistema de gestão da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste, na busca de
melhorar as performances ambientais, políticas e sociais. Tendo sua relevância no fato da
UFPE tratar-se de uma instituição de pesquisa e extensão que pode ampliar este projeto as
outras unidades acadêmicas, bem como, às cidades nas quais a instituição está inserida.

2. Referencial Teórico
Todos os processos produtivos geram resíduos sob a forma líquida, sólida ou gasosa.
Depostos na natureza, podem exigir inúmeros anos para a decomposição. E, todos esses
resíduos têm regulamentação própria para uso e descarte, de acordo com o país.
Com isso, a proposta relatada nesse trabalho, propõe uma mudança na cultura organizacional
da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, localizada na cidade
de Caruaru-PE. Propõe-se, também, buscar implementar um certificado de “Parceiro da
Sustentabilidade” nesta instituição educacional, no sentido de evitar o uso de materiais que
geram poluentes de uma maneira geral. Além disso, a proposta tenta desenvolver, também, um
sistema de gestão ambiental que se adéque as padronizações internacionais, como a ISO
14000, que estabelecem diretrizes educacionais para esse sistema.
A série de normas ISO 14000 tem como objetivo a criação de um sistema de gestão ambiental que
auxilie as organizações a cumprir os compromissos assumidos com o meio ambiente. Viabilizando
harmonizar os procedimentos e diretrizes aceitos internacionalmente com a política ambiental por ela
adotada (LUIS; LEMOS; MARIA, 2008, p. 205).
Da mesma forma, a ISO 10015 se adéqua ao projeto, pois estabelece o aprimoramento
contínuo de políticas e práticas sustentáveis necessárias para implantação de um sistema de
gestão socioambiental, através da ênfase dada ao treinamento e a melhoria contínua.
A ISO 10015 é uma norma de Gestão da Qualidade que tem por função fornecer diretrizes que
possam auxiliar uma organização a identificar e analisar as necessidades de treinamento, projetar o
treinamento, executar o treinamento, avaliar os resultados do treinamento, monitorar e melhorar o
processo de treinamento, de modo a atingir seus objetivos. Esta Norma enfatiza a contribuição do
treinamento para a melhoria contínua e tem como objetivo ajudar as organizações a tornar seu
treinamento um investimento mais eficiente e eficaz (ABNT, 2001, p. 2).
Assim sendo, o projeto “Parceiro da Sustentabilidade” destina-se a conscientização da
comunidade acadêmica para importância da coleta seletiva e da reciclagem de lixo como papel
fundamental para o meio ambiente, obedecendo as legislações e padronizações vigentes no
Brasil, a fim de receber uma certificação por ações corretivas. Afinal, centenas de milhões de
107
toneladas de lixo doméstico no mundo ainda são depositadas no solo, por não haver tal
conscientização.
Outro ponto que agrava a problemática do acumulo de lixo nos solos é a dificuldade que as
ONGs (organizações não-governamentais) que trabalham com a reciclagem do lixo encontram
para realizar seu trabalho. As ONGs “recicláveis”, a exemplo da que operava no UFPE/CAA,
têm a intenção de contribuir para a redução de danos ambientais, através da reciclagem, mas
são “impedidas” de operar por não dispor de capital e pessoas suficientes para fazer o
processo de separação do lixo. Isso porque a coleta seletiva não funciona de maneira correta,
visto que a comunidade acadêmica deposita o lixo de maneira inadequada, não respeitando a
coleta seletiva.
Com isso, grandes impactos ambientais são acarretados por esses resíduos que acabam
culminando em um acumulo nacional, segundo último censo de saneamento básico (IBGE,
2002), realizado em 2000-2002, em cerca 228 toneladas de lixo por dia. Desse total 21% são
depositados a céu aberto, ou seja, nos lixões, segundo dados do IBGE (2002). O que causa

107
Conforme análise feita em Classificação do Lixo (2000), o lixo doméstico é aquele formado pelos
resíduos sólidos produzidos pelas atividades residenciais e por alguns estabelecimentos que apresenta
composição que servirão de matéria-prima para outros processos industriais, como: embalagens plásticas,
latas, vidros, papéis, etc.
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108
danos ambientais nocivos nos solos e nas águas, através do chorume , afetando, assim, todo
o ecossistema, incluído a qualidade de vida dos seres humanos, principal degradador
ambiental.
Percebendo essa situação, este projeto pretende analisar e alertar sobre a atual situação do
microambiente da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, este
localizado na cidade de Caruaru-PE. Diante dessa conjuntura de grandes impactos e, desse
microambiente, o projeto/artigo buscará atuar junto à instituição, certificando os discentes,
docentes, e funcionário que aderirem à mudança de comportamento perante ações
sustentáveis, voltadas, principalmente, para a coleta seletiva.
Para que a conscientização seja aplicada com sucesso é necessário que ela aconteça de
modo eficiente. Para isso, podemos utilizar algumas ferramentas e conceitos da Gestão da
Qualidade, pois é fundamental administrar esse processo para que ele seja eficaz e atinja seus
objetivos, não se restringindo apenas a aspectos de controles, ou programas de modernização.
Afinal, qualidade, segundo Ishikawa (1993) apud PALADINI (2007) ‘é uma revolução da própria
filosofia administrativa, exigindo uma mudança de mentalidade de todos os integrantes da
organização, principalmente da alta cúpula’. Logo, gerir a qualidade também envolve uma nova
maneira de ver a relação entre as pessoas, visando o benefício comum.
Por isso, o serviço oferecido, no caso o programa de conscientização sobre a coleta seletiva de
lixo, na universidade, deverá estar em conformidade com algumas dimensões que são
sugeridas por autores como Deming (1990), Aguayo (1993) e Longo (1996). São elas:
1. A qualidade intrínseca, que diz respeito à conformidade dos produtos ou serviços entre
suas especificações e seus objetivos;
2. O custo, que terá que ser compatível a quem oferta e a quem compra;
3. O atendimento dos parâmetros a respeito de prazos e satisfação do cliente;
4. O moral de funcionários, dedicando especial atenção as condições adequadas de
trabalho e motivação;
5. A segurança, indispensável aos clientes e colaboradores;
6. A ética, onde relevantes aspectos morais e regras de conduta são essenciais para o
bom funcionamento do trabalho.
Portanto, o respeito a essas dimensões e a aplicação das mesmas seria o ponto inicial da
Gestão da Qualidade nesse projeto. Isso porque, a ideologia principal de qualquer sistema de
Gestão da Qualidade, aborda conscientização, esta que é o foco deste projeto. Assim, é
factível que a conscientização atrelada à qualidade e ao reconhecimento de sua importância,
torna-se indispensável para qualquer situação.
Após avaliar a importância da qualidade em suas variadas facetas, atentaremos para a
identificação dos principais problemas encontrados na universidade a respeito da coleta
seletiva. Para isso, utilizamos o diagrama de Ishikawa para identificarmos as causas e os
efeitos da não separação do lixo, causado pela falta de conscientização a importância da coleta
seletiva.

108
Segundo Lacerda (2009), chorume é uma substância líquida resultante do processo de putrefação
(apodrecimento) de matérias orgânicas. Este líquido é muito encontrado em lixões e aterros sanitários. É
viscoso e possui um cheiro muito forte e desagradável (odor de coisa podre).
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Figura 1: digrama de Ishikawa para falta de conscientização perante a coleta seletiva
Fonte: adaptado de Ishikawa (apud PALADINI, 2007)

Materiais Mão de obra


Uso inadequado Desatenção
das lixeirasAcumulo Hábitos Falta de
de lixo incorretos conscientização para
Falta de Danos coleta seletiva
parcerias irreversíveis
ao
Métodos ecossistema
Meio Ambiente
A partir desta representação gráfica, podemos utilizar no projeto o conceito dos 5S que tem
como objetivo desenvolver um planejamento ordenado de classificação, e o ciclo PDCA, que
visa o desenvolvimento da melhoria contínua, conforme presente na figura 2. Assim, com esses
métodos, será possível alcançar os objetivo almejado, e obter como finalidade a redução de
despesas e/ou reaproveitamento de materiais, e, conseguinte, melhoraria na qualidade.

Figura 2: Ciclo de Deming ou Ciclo PDCA


Fonte: GIANFABIO, 2010

Com base neste ciclo, e objetivando a conscientização de maneira continua, integraremos tal
método (PDCA) com o modelo 5S para atuar na instituição UFPE/CAA. Contudo, dentre os 5S
utilizaremos, principalmente, o Senso de Autodisciplina, pois este está mais relacionado com a
nossa proposta de conscientização. Isso porque, o Senso de Autodisciplina se refere aos
hábitos e costumes, e à conservação dos padrões estabelecidos pelos outros sensos, bem
como, pelos padrões defendidos pelo projeto a ser implantado. Dessa forma, a utilização da
autodisciplina alinhada ao ciclo PDCA faz com que a nova cultura implantada se fixe de
maneira contínua e resistente na instituição.

3. Método de Pesquisa
Entendendo que a pesquisa qualitativa, presente na citação de Minayo (2010), busca a
compreensão dos significados, e leva em consideração a particularidade do assunto abordado,
é que este projeto/artigo foi identificado como estudo qualitativo. Afinal, o projeto traz à
especificidade do entendimento da temática estudada e compreende a dificuldade de sua
quantificação.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa nas Ciências Sociais,
com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha como

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o universo dos significados, dos motivos das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes
(MINAYO, 2010, p. 21).
A pesquisa é do tipo exploratória, pois tem por finalidade conhecer melhor a realidade da
instituição UFPE/CAA.
Pesquisa Exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo
explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que
tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a
compreensão (SILVA E MENEZES, 2001, p.21).
E para realização da mesma (pesquisa) utilizou-se as técnicas de análise de conteúdo e
observação participante, mobilizadas em função do método do caso alargado. Isso porque este
projeto compreende que através da análise de conteúdo, segundo Gil (2008), refere-se ‘a
observar, selecionar e investigar materiais coletados no campo de pesquisa de acordo com a
necessidade do projeto’, é que se conseguirá atingir os objetivos pretendidos. Já a observação
participante ajudará a ter uma visão sistêmica da situação do campus, pois segundo Gil (2008),
‘observação ativa, que consiste na participação do observador como membro do grupo, que
conhece a vida da comunidade ou de uma situação determinada’.
A partir da percepção da peculiaridade da instituição, mas também entendendo a necessidade
de expandir suas experiências a fim de contribuir para o crescimento de demais unidades
institucionais, este projeto também se utilizou do método caso alargado.
O melhor método a ser utilizado não é aquele mais conhecido e de domínio amplo, mas aquele que
consegue investigar todos os pontos relevantes para que os resultados da pesquisa sejam
alcançados. O Método do Caso Alargado é caracterizado por um estudo de caso convencional que
tem alargada as suas implicações quando da sua conclusão (LAGE, 2009, p.5).
Além dessas concepções teóricas, o projeto/artigo utilizou-se de levantamento bibliográfico,
que se utiliza de referências bibliográficas, bem como artigos, revistas e pesquisas na internet
para justificar o desenvolvimento do trabalho.

4. Análise/Proposta de intervenção
Atualmente, na UFPE/Centro Acadêmico do Agreste não existe a coleta seletiva de lixo, pois
apesar de existir o material (as lixeiras seletivas) necessário para que este processo aconteça,
não ocorre de fato. Isso por causa da falta de conhecimento e conscientização da comunidade
acadêmica, que não respeita a coleta seletiva, depositando o lixo em locais inadequados.
A não separação do lixo, e consequentemente, a sua não reciclagem causam danos visíveis e
de grande impacto ao meio ambiente, pois as degradações dos resíduos podem demorar anos
e anos para a natureza decompor. O que prejudica diretamente o meio ambiente por poluir os
lençóis freáticos, rios, mares, solos, enfim, todo o ecossistema.
A partir dessa realidade o projeto “Parceiro da Sustentabilidade” propõe uma mudança na
cultura organizacional da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste, através de políticas e práticas
socioambientais que serão aplicadas por meio de:
 Comunicação Direta – abordaremos as pessoas com o intuito de conscientizá-las
para importância da coleta seletiva, como um grande passo para modificação desta
cultura.
 Semanas Sustentáveis – promoveremos ações sustentáveis, nas quais as pessoas
podem contribuir para a proliferação de atitudes sustentáveis, que vai além da
coleta seletiva, como: arrecadamento de pilhas e baterias, plante uma árvore, etc.
 Palestras – trataremos o tema sustentabilidade e coleta seletiva como fatores
estratégicos e decisivos para mudar a cultura organizacional e gerar diferencial
competitivo.
 Parceria – (re)ativaremos parcerias com instituições que tem preocupações
socioambientais, desde ONG para coleta seletiva, como também, parcerias com
empresas privadas, onde arrecadaremos materiais acadêmicos ao vender, por
exemplo, pilhas e baterias que serão reaproveitadas.
 Certificado “Parceiro da Sustentabilidade” – serão certificadas as pessoas que
aderirem ao projeto, recebendo como brindes de identificação do projeto: bottons,
chaveiros e certificados.
Mas para que tais políticas e práticas venham a acontecer, é necessário que os responsáveis
pela implantação da gestão socioambiental, bem como seus substitutos, dominem os conceitos

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básicos relacionados a esse tema. Afinal, por se tratar de um centro de estudos superiores, é
factível a renovação de docentes e discentes no âmbito institucional, e, por isso, faz-se
indispensável a prática e o aprimoramento dessas políticas e práticas sustentáveis
continuamente na instituição.
Assim, percebe-se que um programa de conscientização para coleta seletiva não é tarefa difícil
de realizar, porém é trabalhosa, exigindo dedicação e empenho. E, portanto, é preciso que o
projeto englobe rigorosamente o modelo PDCA, abordando: PLANEJAMENTO,
IMPLANTAÇÃO e MANUTENÇÃO, todas com muitos detalhes importantes.
O primeiro passo para a realização do programa é o planejamento, que envolve conhecer as
quantidades geradas de lixo por tipo de material, as possibilidades de estocagem no local, os
recursos humanos existentes para colaboração, e o conhecimento do mercado dos recicláveis.
Este último tópico (conhecimento do mercado dos recicláveis) é imprescindível, pois é
necessário saber encaminhar os materiais da coleta seletiva: serão doados a associações ou
cooperativas, ou vendidos. E, para finalizar essa etapa, é preciso integrar todas as atividades
de informação, sensibilização e mobilização de todos para participarem do programa.
O segundo passo é a implantação. Etapa crucial, que contribui muito para o sucesso do
programa, pois uma vez desencadeado o processo, ajustes sempre serão necessários, mas é
importante manter seu controle. Divisão dos trabalhos: para garantir a realização das várias
tarefas e contatos planejados – é a estratégia mais eficiente para as políticas e práticas
socioambientais serem aplicadas na instituição.
Por fim, o terceiro passo, constituído do acompanhamento e gerenciamento da coleta, do
armazenamento, venda e ou doação dos materiais, divulgação dos resultados, e
aprimoramento contínuo das informações e sensibilização da comunidade acadêmica para o
programa de conscientização da coleta seletiva e do certificado “Parceiro da Sustentabilidade”.
Portanto, a conscientização para coleta seletiva, bem como, para a gestão socioambiental é o
caminho para a comunidade acadêmica da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste contribuir para
a construção do desenvolvimento sustentável global. Afinal, estará assumindo a
responsabilidade social de adotar as melhores práticas que tornarão os seus processos
produtivos o mais sustentáveis possível. Obtendo e proporcionado, assim, vantagens como:
 Redução da exploração de recursos naturais;
 Redução da poluição do solo, da água e do ar;
 Prolongamento da vida útil dos aterros sanitários;
 Possibilidade de reciclar os materiais que iriam para o lixo, em troca de materiais
acadêmicos;
 Criação de oportunidade com parceiros, fortalecendo organizações comunitárias;
 Contribuição para a valorização da limpeza pública e para formação da
conscientização ecológica.

Para obter resultados positivos, no que se refere às reduções dos impactos sócio-ambientais e
econômicos, conforme listado acima, é de fundamental importância que haja o
desenvolvimento contínuo do projeto “Parceiro da Sustentabilidade”. Afinal, a conscientização
da coleta seleta, e a busca de maior participação da comunidade acadêmica na separação
devida do material, implicam em mudanças de hábitos na vida cotidiana das pessoas. E,
portanto, é preciso incentivar não só a comunidade acadêmica, mas a população que freqüenta
o centro universitário, a refletir sobre questões como essa, do nosso cotidiano, que embora
simples, contribui significativamente para a melhoria de vida da sociedade.

5. Conclusão
Enfim, como foi elencado ao longo do texto, o projeto tem por objetivo principal aplicar a
sustentabilidade, por meio do processo de conscientização da coleta seletiva e da certificação
“Parceiro da Sustentabilidade” para, então, haver a reciclagem de todo o lixo gerado na
UFPE/Campus Acadêmico do Agreste. Buscando, com isso, evitar que a nossa existência –
ser humano – não corra o risco de extinção, por degradar o meio ambiente. Afinal, como foi
explorado ao logo do artigo, todo nosso lixo não seletivo geram resíduos sob a forma líquida,
sólida ou gasosa que depostos na natureza podem exigir inúmeros anos para a decomposição,
prejudicando o meio ambiente, e conseguinte, a todos nós.

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Diante dessa situação, propusemos que a sustentabilidade aplicada ao processo de
conscientização da coleta seletiva, atrelada aos conceitos de qualidade, aconteça de forma
integrada com a comunidade acadêmica, reconhecendo que a noção de desenvolvimento
precisa ser repensada. Afinal, todo o planeta depende do ecossistema global. E, portanto, é
preciso harmonizar os três pilares da sustentabilidade – ambiental, social e econômico – para
não corrermos o risco, como já foi mencionado, de extinção.
Por fim, propomos que este trabalho possa vir a ser mais abrangente, no futuro, não se
limitando a UFPE/Campus Acadêmico do Agreste. Incluído, assim, outras escolas, faculdades
e estabelecimentos, através de apoio de parceiros, vinculando informações importantes sobre a
acuidade da reciclagem para nossa sociedade e nosso meio ambiente.

Referências

Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livros


Aguayo, R. D. (1993). Deming, o Americano que Ensinou Qualidade Total aos Japoneses. São
Paulo: Record.
Carvalho, P. C. (2006). O Programa 5S e a Qualidade Total. 4ª Edição. Campinas/SP: Alínea.
Deming, W. E. (1990). Qualidade: a revolução na administração. Rio de Janeiro: Saraiva.
Donaire, D. (1999). Gestão Ambiental na Empresa. 2ª Edição. São Paulo: Atlas.
Gil, A. C. (2008). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas.
Lage, A. (2009). Orientações Epistemológicas para a Pesquisa Qualitativa em Educação e
Movimentos Sociais. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS E PRÁTICAS
CURRICULARES, 4., 2009, Pernambuco. Diferença nas políticas de currículo. Pernambuco:
Universidade Federal de Pernambuco.
Longo, R. M. J. (1996) Gestão da Qualidade: a construção de um novo estado precisa da
sociedade. Rio de Janeiro.
Luis, F. N., Lemos, Â. D. C. & Maria, C. A. (2008). Gestão Socioambiental Estratégica. Porto
Alegre: Bookman.
Minayo, C. S. (2008). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Petrópolis.
Ishikawa, K. (1993) Controle de qualidade total à maneira japonesa. 2ª Edição. Rio de Janeiro:
Campus, apud Paladini, E. P. (2007) Gestão da Qualidade: teoria e prática. 2ª Edição. São
Paulo: Atlas.
São Paulo (Estado - 2005). Secretaria do Meio Ambiente. Guia Pedagógico do Lixo. 4ª Edição.
São Paulo.
Silva, E. L. & Menezes, E. M. (2001). Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 3ª
Edição Revisada. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC.
Tachizawa, T. (2009). Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa. 6ª Edição.
São Paulo: Atlas.

Sites
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2001). NBR ISO 10015/2001 - Gestão da
Qualidade: Diretrizes para Treinamento. Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://xa.yimg.com/kq/groups/14782341/1022853565/name/NBR>. Acesso em: 02 dez..
2010
Anteprojeto. Classificação do Lixo. Disponível em:
<http://sobrelixo.awardspace.com/entre.php>. Acesso em: 01 dez. 2010.
Brasil (2006). Decreto Nº 5.940, de 25 de outubro de 2006. Declara o presidente da república
Luis Inácio Lula da Silva. Brasília/DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5940.htm>. Acesso
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Gian F. (2010). O ciclo PDCA e sua aplicação e controle dos processos organizacionais. 2010.
Disponível em: <http://gestaodaqualidade-gianfabio.blogspot.com/2010/03/pdca-o-caminho-
certo-para-o-sucesso.html>. Acesso em: 02 dez. 2010.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007). Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável: Pesquisa nacional de saneamento básico 2000-2002. Rio de Janeiro: IBGE,
2002. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/>. Acesso em: 08 dez.
2010.
Larceda, A. G. (2009). O que é chorume? O que é um aterro sanitário? Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://antoniogomeslacerda.blogspot.com/2009/05/o-que-e-chorume.html>.
Acesso em: 08 dez. 2010.
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Anais do 3º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (III SBDS)
Proceedings of the 3rd International Symposium on Sustainable Design (III ISSD)
Transformando a dor da loucura em ‘loucuras’ sustentáveis
(Transforming the pain of madness in 'crazy' sustainable)

ROSSETTO 109, Tânia Mara Mattiello

Palavras-chaves: Arteterapia, Saúde Mental, Sustentabilidade, Cultura.


Este projeto-piloto foi obtido a partir da observação das mulheres em tratamento em Unidade de
atendimento a pacientes agudos da saúde mental em um Estado do Sul do Brasil. Através de pesquisa
foram identificados materiais que poderiam adequar-se a manipulação no espaço de tratamento. Teve
início com a adesão de algumas pacientes que aceitaram o convite de experimentar os materiais
selecionados a fim de criar objetos ou elementos que pudessem interagir com as pessoas que
compartilham o espaço de tratamento. O bom resultado no manuseio dos materiais e a satisfação das
pacientes pela realização da atividade possibilitou observar mudança na relação consigo mesma em
reconhecer suas habilidades, melhora na auto-estima, vontade de manter o tratamento e de continuar o
experimento. A temática proposta na etapa seguinte visa a exploração de imagens fotográficas de
ladrilhos e azulejos de prédios históricos possibilitando a ressignificação das cores e formas
características na criação de objetos.

Keywords: Art Therapy, Mental Health, Sustainability, Culture.


This pilot project was obtained from the observation of women on treatment in an Unit of acute mental
health care in a state in southern Brazil. Through research there were materials that were identified as
adequated within the ambience of the treatment. It began with the accession of some patients who
accepted the invitation to try out the material selected to create objects or elements that could interact with
people with whom they share treatment. The good result in material’s handling and patients’
satisfaction by performing the activity allowed to observe change in relation to themselves by
recognizing their skills, improving self-esteem, desire to maintain the treatment and to continue the
experiment. The theme proposed in the next step aims to explore the images of tiles of historic
buildings and allowing the redefinition about the color and shape features of object creation.

Introdução

A proposta deste projeto originou-se do questionamento sobre as possibilidades de interagir


com o ser humano em sofrimento psíquico desvelando habilidades desconhecidas ou
resgatando-as, tornando-as úteis para ampliar a percepção de suas necessidades no contexto
de tratamento.
O projeto foi idealizado a partir da observação das mulheres em tratamento em Unidade de
atendimento a pacientes agudos da saúde mental em um Estado do Sul do Brasil.
O contato inicial aconteceu através da Residência Integrada em Saúde, com ênfase em
Saúde Mental da Escola de Saúde Pública - ESP que estabelece a integração dos Programas
de Residência Médica com os Programas de Aperfeiçoamento Especializado (especialização
em área profissional), enfatizando o trabalho educativo articulando permanentemente as
diferentes profissões da saúde e os vários campos do saber, o ensino, o serviço, a gestão do
SUS articulando as ciências biológicas e sociais com a área das ciências humanas tendo como
fim a Atenção Integral à Saúde. (1)
O contato com a equipe técnica possibilitou levantar a necessidade de propor atividades que
reduzissem a ociosidade no período de tratamento possibilitando um re-significar do tempo e
um encontro com as habilidades esquecidas ou não desveladas.

109
Universidade de Caxias do Sul, Brasil, tania.mmr@hotmail.com . Espec. Arteterapia, Espec. ArtesPlásticas Suportes Científicos e Práxis, Residente em Saúde
Mental, Licenciatura Plena em Educação Artística, Universidade de Caxias do Sul, Brasil.

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Ficou a indagação: como interagir de forma assertiva distanciando, mesmo que vagamente,
do sofrimento psíquico através de atividade que proporcionasse momentos de prazer utilizando
materiais que não oferecessem prejuízo à vida? Iniciou-se uma pesquisa experimentando e
materiais que fossem de baixíssimo custo e que pudessem ser usados no ambiente hospitalar
buscando uma idéia viável.
Identificados os materiais, o projeto piloto foi realizado com algumas pacientes que aderiram
ao convite de experimentar tais materiais. O bom resultado no manuseio dos mesmos e a
vibração das pacientes na realização da atividade proporcionou bem estar e satisfação
incentivando a continuidade da experimentação.
Para a etapa seguinte, foi pensado inserir elementos de identidade ou culturais a fim de
integrar saberes de tempos diversos através de fotografias de ladrilhos de prédios históricos
que poderiam servir para desencadear criações diversas a serem usadas em espaços distintos
explorando cores, formas, texturas oferecidos pelos materiais disponibilizados que,
preferencialmente, serão reciclados.
Por outro lado, a re-significação das imagens, cores, formas e dos materiais gerando
produtos novos poderiam auxiliar na revisão de comportamentos, com a ajuda da
arteterapeuta, permitindo relacionar um re-significar da forma de viver as dores e as
dificuldades da doença vislumbrando possibilidades de gerar resultados diferentes nas
experiências diárias.

Conhecendo a Realidade

O contato inicial com a Unidade de tratamento de agudos em Saúde Mental feminina foi
através da observação dos vários profissionais que atendem as pacientes internadas pelo
Sistema Único de Saúde – SUS, na referida Unidade. Trocar informações com assistente
social, psicólogos, enfermeiros, médicos, educador físico, técnicos de enfermagem, pessoas do
serviço da limpeza, secretária, estagiários e residentes foi fundamental para compreender a
lógica do tratamento.
As mulheres em atendimento na Unidade observada são provenientes de cidades do interior
do Estado do sul do Brasil. Apresentam sofrimentos psíquicos relacionados com transtornos de
comportamento e transtornos afetivos. Muitas vezes são trazidas por transporte público e
recebem visitas de familiares sempre que estes podem se fazer presentes. Suas idades podem
variar dos 18 anos aos 45 anos aproximadamente.
O ambiente da Unidade de tratamento com paredes brancas e aberturas verdes-bandeira é
pouco acolhedor, mas o contato visual e oral com as mulheres em tratamento permite perceber
as diferentes formas de agir e de interagir com o mundo onde a doença é o assunto que
emerge a todo instante.
A loucura, segundo Foucault (2007), só existe em cada homem, porque é o homem que a
constitui no apego que ele demonstra por si mesmo e através das ilusões com que se alimenta.
(Foucault, p.24)
Imediatamente ocorre o questionamento sobre as possibilidades de ver aqueles seres além
de suas dores.
Poderemos pensar o ser humano considerando as patologias, mas poderemos respeitá-lo
_____________
(1) Este parágrafo refere-se a Lei Estadual 11.789, de 17 de maio de 2002 e à Portaria
SES/RS 16/99, de 01 de outubro de 1999.
pelo que ele é, com habilidades e limitações que o tornam ser único, introduzindo atividades
criativas que amenizem as dores dessa “loucura” e, que possam proporcionar prazer, mesmo
que temporário? Será possível perceber o tempo de tratamento como um tempo para
reencontrar-se, reestruturar-se, desvelando habilidades ou resgatando-as construindo
significados diferentes?

A Carta de Ottawa documento apresentado na Primeira Conferência Internacional sobre

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Promoção da Saúde, realizado em Ottawa, Canadá, em 1986, afirma que
“a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma
importante dimensão da qualidade de vida´ (...)’A promoção da saúde é o fator fundamental de
melhoria da qualidade de vida e é responsabilidade de todos em prol do bem-estar global.’ (...) ‘É
essencial capacitar as pessoas para aprender durante toda a vida, preparando-as para as diversas
fases da existência, o que inclui o enfrentamento das doenças crônicas e causas externas.”

A atitude de interesse por outra vida, a das pacientes, através do verbal e pelo visual
permitiu estabelecer um encontro mais afetivo e mais sensível. Ouvir, pareceu ser a palavra
chave. Gradativamente, além da atenção, materiais para expressar as dores, amores,
angústias, esperanças foram oferecidos. Aos poucos, as folhas imaculadamente brancas
transformaram-se com desenhos, palavras, frases registrando sentimentos de esperança,
saudade, lembranças, angústias... A expressão plástica tornou-se um meio de acesso à
interioridade das pacientes permitindo abertura para outras falas.
Lidar com experimentos utilizando materiais artísticos e imagéticos pode ser uma forma de
entrar em contato com o mundo interior. Selma Ciornai*(2004) afirma:
“processos artísticos, assim como outros processos experimentais, podem ser um recurso valioso para
ajudar a intensificação do contato do indivíduo consigo, com os outros e com o mundo pois (...) todo
contato tem raízes em nossas funções de contato – ver, escutar, tocar, mover, etc. Falar ... apenas
nomeia, e às vezes ajuda a organizar, o que antes contatamos com nossos sentidos; muito ‘falar sobre’
pode conduzir a meras racionalizações.” (Ciornai, p. 53)
O trabalho terapêutico, respeitando a experiência interior do indivíduo, possibilita que traga
as suas recordações, que explore a sua pessoa de forma ativa tornando presente com
intensidade aquelas lembranças, expondo seus sentimentos e idéias que espontaneamente lhe
ocorrem, a fim de compreender o que ela tem em mente.

Não será o momento de cuidados com a saúde mental o momento de ressignificar o lixo
interno que está atrapalhando? Que representações internas poderão vir à tona permitindo
ressignificar?
O set terapêutico pode ser um momento de contactar com os elementos que muitas vezes
estão inconscientemente querendo vir à tona. Os materiais podem permitir ver aquilo que está
precisando tornar-se consciente, com a ajuda do arteterapeuta.

Gerando possibilidades
Pesquisar materiais alternativos que possam ser utilizados com pacientes em tratamento foi
uma possibilidade de redimensionar elementos que em geral são destinados ao lixo. Resgatar
esses materiais e ressignificá-los é pensar junto em como transformar o lixo em algo
visualmente aceitável. Por outro lado é questionar o desperdício de elementos ricos e de
relermos quantas situações são desperdiçadas diariamente por não olharmos de outro modo,
com outro sentido.

_____________

* CIORNAI, Selma. Mestre em Arteterapia, doutora em psicologia Clínica e fundadora do


Departamento de Arteterapia do Instituto Sedes Sapientiae/SP.

D. Norman, citado por Francesco Zurlo, afirma que


“ver é a capacidade de observar os fenômenos muito além da superfície visível, é ato criativo porque
para retirar a essência das coisas é preciso por de lado os preconceitos para colocar-se como
curiosidade diante do fenômeno observado. (...) Prever é fortemente relacionado com ver: aquilo que
observa alimentando criações futuras. (...) Fazer ver é tornar visível o campo do possível ...” (Zurlo,
2010).
A pesquisa exploratória ajudou a identificar materiais que pareciam adequados para a

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manipulação no espaço de tratamento para os momentos em que não havia atividades
programadas. Foram selecionados os seguintes materiais reaproveitáveis: rede de saco de
batatas e tiras de tecidos com cores.
O projeto piloto iniciou quando os materiais foram mostrados ao grupo de pacientes e,
apresentado o desafio: passar as tiras de tecidos na rede somente usando as mãos. Ao verem
os materiais a escolha pela atividade foi natural: algumas pacientes pediram materiais para
desenhar, outras não falaram nada e se afastaram, outras ainda, sentaram e se entregaram ao
desafio. As respostas distintas e escolhas foram acolhidas com respeito pois cada paciente
deveria fazer a sua escolha.
Enquanto algumas pacientes foram orientadas na expressão gráfica, muitas tiras de tecido
haviam sido amarradas sobre a tela e o desejo de prosseguir apareceu na fala daquelas cinco
mulheres. Mais tiras de tecido foram oferecidas e rapidamente as mãos trabalharam
comprometidas e silenciosas.
O que se passaria naquelas mentes? Cada um dos seus gestos em torno da mesma tela
mostravam persistência e vontade de fazer. Ao terminarem a experimentação dos materiais,
rostos sorridentes pediram para continuar a atividade demonstrando alegria em realizá-la.
Que importância visual e perceptiva teria a manipulação daqueles elementos? Pelas falas
das pacientes, estava em jogo ocupar-se, deixar os pensamentos angustiantes de lado. Ter um
momento para si. Um estar presente por inteiro.
A ansiedade, segundo May (1982), é criada pela incapacidade de conhecer o mundo em
que vivemos, por não se saber orientar a própria vida. (May, p.58).*
.

A continuidade do trabalho naquela tela experimental, se deu num outro dia, porém, um
outro desafio ficou até o próximo encontro: pensar em uma imagem/símbolo que pudessem
representá-las para ser trabalhada no meio já que haviam explorado ao redor da tela.
A presença nas decisões e escolhas fazem das pacientes co-autoras do trabalho
construindo uma determinada identidade ou ainda, auto-descobrindo-se.

Construindo um tapete/painel

Na semana que foi continuada a atividade, três pacientes já haviam terminado o tratamento
naquele ambiente. Com sorrisos nos lábios, uma continuou o trabalho e, a outra pediu para não
participar pois não sentia-se bem.

O trabalho individual abriu a possibilidade de deixar a tela disponível na Unidade se a


paciente achassem possível administrar os materiais. Contamos com o apoio da equipe de
enfermagem que guardou os materiais e ficou de disponibilizá-los quando solicitado.
Entre os amarrados e as reflexões outra paciente interessou-se pelo trabalho e foi aceita
pela participante daquele dia. Decidiram colocar no centro da tela a forma de um coração
representando-as. Alegres com o crescimento das tiras amarradas, as pacientes já pensavam
onde poderiam localizar o painel coletivo. Tinham certeza que queriam que ficasse visível a

________
* o grifo é do autor
todos que visitassem a Unidade, mesmo quando já tivessem finalizado o tratamento.
A re-significação dos materiais possibilitou, especialmente na fala de uma das pacientes,
repensar os modos de viver as suas dores, as suas dificuldades pessoais, vislumbrando
possibilidades de gerar resultados diferentes daqueles costumeiros. A transformação dos
materiais pelas suas mãos tomaram outro significado através das habilidades individuais e
coletivas.
Sobre a relação com o outro, Janie Rhyne (2000), afirma:

“estimulo cada um a expandir sua consciência de como se percebe, a aceitar-se como é, a encontrar
sua própria maneira de ser e a confiar em seu próprio senso do que o levará à integração e à

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autonomia.” (RHYNE, p.220).

O painel produzido passou a fazer parte do ambiente de tratamento formalizando a


possibilidade do ser humano tornar-se presente quando há motivação ou quando há o
reconhecimento de ser capaz de agir e interagir com as habilidades que possui ou que se
revelam ao longo do processo criativo.

Outras possibilidades

Dos resultados obtidos no projeto piloto, propo-se a continuidade do trabalho agora com um
projeto que manteria a orientação semanal e, continuaria com a autonomia de manuseio dos
materiais e uso para realização do trabalho no ambiente de tratamento.
O objetivo seria conhecer outros tempos a partir de registros fotográficos de ladrilhos de
prédios históricos que serviriam como ponto de partida para a reprodução ou criação de outras
combinações de formas, cores e texturas a partir dos materiais selecionados na reciclagem.
Poderiam ser usados no lugar do tecido, sacos de papel aluminizado que permitem ser
cortados e amarrado na tela além de outros materiais que estivessem adequados ao uso
naquele ambiente. Além disso, dar sentido ao viver resgatando habilidades adormecidas ou
desconhecidas; ressignificar as dores em cores e formas possibilitando outras construções
visuais.
Os produtos gerados passam a fazer parte de variados contextos articulando espaços,
tempos, pessoas, pensamentos, proporcionando significados infindáveis e únicos aos que
deles se apropriam.

Considerações Finais
Se a Carta de Ottawa afirma que
“a promoção da saúde apóia o desenvolvimento pessoal e social através da divulgação de informação,
educação para a saúde e intensificação das habilidades vitais e, com isso, aumentam as opções
disponíveis para que as populações possam exercer maior controle sobre sua própria saúde e sobre o
meio-ambiente, bem como fazer opções que conduzam a uma saúde melhor”,
caberá a cada um dos multiprofissionais e a cada um dos cidadãos envolvidos no processo da
promoção da saúde contribuir para atingir tais objetivos.
Ao divulgar a experiência desenvolvida no ambiente de tratamento da saúde mental
interessa ir além do espaço de tratamento. Interessa reconhecer o ser humano em tratamento
como ser sensível capaz de descobrir-se, de construir, de descobrir um mundo possível apesar
das limitações que traz consigo e que estão em cada um dos seres humanos de forma
diferente, possibilitando reinseri-lo no contexto social.
Ao enfatizar a construção da identidade, o resgate da cultura, ao possibilitar a educação e a
ocupação do ambiente observando o cuidado na utilização dos meios durante a realização dos
trabalhos podem gerar um outro encantamento pela vida enquanto reelaboram as suas dores.
Os produtos gerados passam a fazer parte de variados contextos articulando espaços, tempos,
pessoas, pensamentos, proporcionando significados infindáveis e únicos aos que deles se
apropriam.
A promoção da saúde apóia o desenvolvimento pessoal e social.

Agradecimentos

Agradecemos as pacientes participantes das atividades criativas propostas na Unidade de


Tratamento de agudos e a todas as pessoas que diariamente constroem relações para que
esse trabalho aconteça.

Referências

FOUCAULT, Michel. Historia da loucura.Sao Paulo: Perspectiva, 2007.

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CIORNAI, Selma. Percursos em Arteterapia, São Paulo: Summus, 2004.
MAY, Rollo. A coragem de Criar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
RHYNE, Janie. Arte e Gestalt padrões que convergem. São Paulo: Summus, 2000.
ZURLO, Francesco. Design Strategico, 2010

Site:
http://www.opas.org.br/promocao/uploadArq/Ottawa.pdf
Carta de Ottawa

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Intermobilidade Sustentável: um sistema aplicável à
realidade de Porto Alegre (Sustainable Intermobility: a
system applicable to the reality of Porto Alegre)

ROSSETTO, Luiza; Mestranda em Design; Bel.Design; Universidade do Vale do Rio dos


Sinos – Escola de Design
rossetto.luiza@gmail.com

PIANTÁ, Pedro; Mestrando em Design; Bel. Publicidade; Universidade do Vale do Rio dos
Sinos – Escola de Design
pedro@nextcs.com.br

palavras chave: Design; mobilidade; sustentabilidade.

A necessidade de um sistema alternativo de mobilidade de baixo custo operacional e não poluente é


emergencial. O problema ambiental gerado pela emissão de gases na atmosfera, decorrente do crescente
número de veículos que superlotam as vias públicas só reforçam tal necessidade. Essa situação de
saturação exige que o cidadão disponha de um tempo maior para o seu deslocamento, além de não
contribuir para uma vida saudável e com espírito de coletividade. O uso da bicicleta como serviço público
é um exemplo de sucesso em cidades como Paris, Amsterdã, Berlim e Copenhague permitindo a
integração entre as pessoas de maneira responsável e cidadã. Será apresentado nesse artigo – a partir
do conceito de Design Estratégico – um sistema viável de intermobilidade sustentável compatível com a
realidade de Porto Alegre/RS/Brasil. Este estudo foi realizado para trabalho de conclusão de curso. O
propósito é refletir sobre um sistema integrado de transporte público, que seja gerido a partir da iniciativa
pública em parceria com organizações empresariais e entidades do terceiro setor. Este tripé gera
condições de manutenção de um projeto que se retroalimente, gerando a percepção de valor e
reconhecimento sócio-cultural. Esse artigo apresenta os processos de um sistema interligado de
mobilidade para o deslocamento das pessoas nas grandes e pequenas cidades.

Keywords: Design; mobility; sustainability.

The need of an alternative system of mobility of low operating cost and not pollutant is an emergency. The
environmental problem generated by emission of gases in the atmosphere, from the
growing number of vehicles on public overcrowded roads only reinforce this need. This
situation of saturation requires that the citizen has a longer time for displacement, and does
not contribute to a healthy life and community spirit. The use of bicycles as public service is a successful
example in cities like Paris, Amsterdam, Berlin and Copenhagen enabling
integration between people and in a responsible citizen manner. Therefore, this article will present – based
in the Strategic Design theory – a viable system of sustainable intermobility compatible with the reality
of Porto Alegre/RS/Brazil, a study realized for a design final paper. The purpose is to think about
an integrated public transportation, which is managed by the public initiative in partnership with private
entities and third sector entities. This tripod creates conditions for maintenance of a project that would feed
back, creating the perception of value and socio-cultural recognition. This article presents the
processes of an interconnected system of mobility that would work in the displacement of people in cities
and towns.

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Introdução
Partindo-se do pressuposto de que os sistemas de mobilidade de grandes cidades do mundo
tendem a saturação, percebe-se também a movimentação para criação de alternativas
sustentáveis que auxiliem na solução desses problemas. Iniciativas como o tratado de Kyoto
(1997) no Japão, seguido da ECO92 (1992), no Rio de Janeiro, são exemplos disso. Soluções
sustentáveis são buscadas, desde então, para diversas áreas. Neste artigo será apresentado
um estudo para tornar a mobilidade mais sustentável.
Por ser uma das grandes cidades brasileiras que receberão os jogos da Copa de 2014 e por
já apresentar características de saturação em sua malha viária contendo excesso de carros,
saturação do serviço público de ônibus e falta de alternativas de transporte, este estudo teve
como foco a cidade de Porto Alegre/RS, Brasil. Desta forma, foi proposta uma pesquisa sobre
mobilidade e sustentabilidade compatíveis com o local, sendo analisadas cidades de porte
semelhante. Chegou-se, por fim, ao conceito de intermobilidade sustentável usando bicicletas.
Para pensar soluções para a problemática, seguiu-se o ponto de vista do design, por
abordar a busca de soluções através da cultura de projeto e seguindo a metodologia do design
estratégico, por enxergar o projeto de maneira ampla. Auxiliado pela pesquisa exploratória e
estudos de casos, a temática e a problemática do local foram analisadas.
Cruzando informações recolhidas nos casos, propôs-se um projeto de design de serviços
para Porto Alegre aproveitando oportunidades locais e respeitando as características do povo.
Sua etapa de implantação foi pensada posteriormente, propondo que se desenvolva
articulando parcerias entre o tripé público, privado e terceiro setor. Através da metodologia do
design estratégico e do fomento das redes, sugere-se um sistema que dê conta das questões
socioculturais.
Mobilidade Sustentável e Intermobilidade
Atualmente, o Brasil apresenta uma grande saturação da mobilidade em suas grandes cidades.
A capital gaúcha, como tal, vêm apresentando os mesmos sintomas. Engarrafamentos
constantes em horário de pico, incapacidade de expansão da malha rodoviária, sentimento de
opressão e stress por parte da população, poluição do ar, inversões térmicas em dias de frio,
poluição sonora, poluição visual causada pelo excesso de publicidade nas vias de circulação
pública.
Por mobilidade entende-se, segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 2009, p.558), uma
“qualidade do que é móvel”, não se trata apenas de movimentos físicos de corpos, mas
também de liberdade de movimento do que não é palpável e constante. Esta liberdade diz
respeito a como nos relacionamos com o nosso psicológico, com nossas limitações sociais e
para com o ambiente em que nos encontramos. Complementarmente à Mobilidade, o
“Sustentável”, segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 2009, p.760), é compreendido como o
“conservar a mesma posição; suster-se”. Isso quer dizer que seja algo que se mantenha em
equilíbrio. Além disso, ser sustentável tem muito a ver com ter uma estrutura de suporte que se
encaixe com outras, que crie um circuito de trânsito, uma forma de transmissão para outro que
possa utilizar determinada informação, seja ela tangível ou intangível, por mais um periodo até
que possa ser passada para o detentor seguinte. A saturação, por sua vez, é um estado em
que se atinge o limite de resistência ou tolerância.
Relacionando esses três conceitos com a situação atual encontrada em Porto Alegre, pode-
se dizer que o uso da bicicleta incentiva uma mudança de hábitos saturados como uma
alternativa à situação. Segundo Thackara, "Design de serviços acontece a cerca de organizar
as coisas para que as pessoas que precisam fazer algo estejam conectadas a outras pessoas
e equipamentos.” (Thackara, 2006, p.19) Isso quer dizer que nem sempre é necessário ter a
posse sobre o objeto utilizado para utilizá-lo, pode-se compartilhar as coisas e usufruir de seus
benefícios da mesma maneira. Em “In the Bubble”, John Thackara diz no capitulo “Leveza” sob
o subtítulo “Use, mas não possua” que trata justamente desta questão: “Por que temos que
possuir tudo que precisamos? Não seria menos pesado para o ambiente e para a pessoa em si
se ela pudesse usar o objeto que precisa, quando precisa, onde precisa, sem ter de carregá-lo
para todo o lugar?”(Thakara, 2006, p.18) Este compartilhamento acaba sendo positivo para as
relações sociais, incentivando-as e integrando-as.
Em relação à mobilidade, este compartilhamento pode tornar-se a intermodalidade: usar
transportes diferentes em trechos diferentes do percurso desejado como alternativa para
permitir o acesso de mais pessoas a um mesmo local, ao mesmo tempo. Trata-se de criar

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alternativas para os usuários. Com vista em aplicar um sistema que atenda aos conceitos de
mobilidade, sustentabilidade, compartilhamento e integração, deve-se pensar no contexto para
o qual se está propondo esta mudança. O envolvimento das pessoas em um novo sistema de
mobilidade depende da cultura sob a qual elas estão imersas, mas também dos estímulos que
recebem e que as fazem mudar.
Desta forma, é possível afirmar que os estímulos que as pessoas recebem ao perceber um
projeto sociocultural de intermobilidade sustentável são benéficos, pois já carregam em si o
conceito de sustentabilidade, cidadania e inclusão social.
Objetivos
O objetivo geral do projeto é criar um sistema de intermobilidade sustentável para a cidade de
Porto Alegre. Este projeto visa criar alternativas para problemas existentes no trânsito desta
cidade. Trata-se de propor uma solução sustentável que facilite a mobilidade e integre-se aos
demais meios de transporte. Para tal, será necessária uma mudança de paradigma, oferecer
serviço coletivo e acessível, financiado pelo poder público em parceria com poder privado, além
de qualificar o que já existe e revigorar iniciativa de projetos anteriores como ciclovias entre
parques, etc.
Neste sentido, o problema de pesquisa que aqui se configura é o desenvolvimento da
cultura intermodal de transportes. Como objetivos específicos, buscou-se identificar sistema de
mobilidade sustentável, analisar aspectos positivos e negativos dos sistemas de bicicletas,
compreender quais são as características da cidade de Porto Alegre, entender a relação das
pessoas que circulam pela cidade em relação às bicicletas e projetar um serviço de biclicleta
público para esta cidade.
Metodologia
Para a realização deste projeto, seguiu-se o ponto de vista do design. O projeto é visto de
maneira mais sistêmica, tornando o design uma “cultura de projeto”, não somente um
articulador que visa uma solução industrial, mais técnica. (Celaschi, 2010) Dessa forma,
entende-se que o design é muito mais que um desenho ou uma solução definitiva. Trata-se de
um processo com início, meio e fim, mas que pode ser continuamente trabalhado, gerando
ciclos que se interligam.
No principio, parte-se de um problema na relação do homem com a sociedade e/ou
ambiente onde vive. Isso, na teoria, é chamado de problem finding. Este problema é analisado
e, através de etapas e ferramentas, compreende-se o que exatamente se pode fazer para
contribuir positivamente àquele problema ou, em termos teóricos, problem setting. As etapas
que seguem são divididas e direcionadas usando ferramentas de design, conforme seus
fatores latentes, para, enfim, chegar-se numa solução para o problema, ou problem solving.
Esta resolução pode não ser permanente, mas é importante para o momento em que está
sendo criada, uma vez que proporciona o avanço para um estágio seguinte.
Dentro da visão de design, seguiu-se a metodologia do design estratégico. Dentro dessa
metodologia, aborda-se o problema como um sistema aberto (Zurlo, 2010) e mal estruturado
(Cross, 1984 apud Dorst, 2006) devido a sua complexidade. O design estratégico é uma
abordagem específica que observa a situação compreendendo as relações sociais envolvidas
no processo de uso de determinado objeto ou serviço. (Zurlo, 2010) Trata essa situação sob
um olhar transdisciplinar, o que possibilita ter uma visão ampliada do objeto de estudo e
capacita o projetista a chegar num resultado que faça sentido, dando corretamente as
dimensões de valor que as pessoas possam reconhecer como válidas e desejáveis. (Zurlo,
2010)
No método do design estratégico, segue-se primeiramente uma pesquisa contextual
chamada meta-projeto ou o projeto antes do projeto, ou seja, o projeto de pesquisa-ação.
Pesquisa-se, nesta etapa, sobre o cliente ou foco do estudo, seus precedentes, seus
concorrentes atuais, quem o consome, e sua projeção de tendências, podendo ser
determinante para a geração de inovação. A partir de Desserti (2010) compreende-se
metaprojeto como a fase de projeto que auxilia o designer a afrontar a tarefa de desenvolver
sistemas-produto com o objetivo de fazer inovação. Ou seja, trata-se do desenvolvimento do
produto, da comunicação vinculada a ele, do serviço e das experiências que ele venha a
provocar. Desserti explica:
“Um primeiro esquema processual da atividade metaprojetual nos diz que ela pode ser organizada em
uma fase de pesquisa; uma fase de interpretação dos dados coletados, finalizada para a geração de

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algumas meta-tendências de um lado e para a formação de dados de base para a construção de
trajetórias de inovação do outro; uma fase de construção de cenários que é sem duvida aquela a qual
se define uma série de trajetórias de inovação intercalando os dados da pesquisa com algumas
constantes do comportamento das pessoas e dos grupos sociais; enfim uma fase a qual, operando
das escolhas com cenários e com seus potenciais contraditórios, se constrói algumas visões para
utilizar como instrumento de estimulo e orientação das escolhas no aportamento ao concept design,
que introduz a passagem do metaprojeto ao projeto.” (Desserti, 2010, p. 57)
Dessa forma, dentro da etapa meta-projetual, foi feita uma pesquisa exploratória buscando
dados através de revisão bibliográfica, em livros, periódicos, revistas, fotos e impressos para
entender o assunto e buscou-se referências históricas sobre a relação social do homem
construída junto à bicicleta. Estudou-se cinco cases sobre sistemas de bicicletas que tivessem
algum diferencial inovador e se localizassem em cidades de semelhante porte de Porto Alegre.
Estabeleceu-se paralelos entre essas realidades distintas, buscando-se entender as
características de inovação dos principais sistemas, conforme a importância apontada por Filho
e Machado sobre a análise dos dados obtidos (Filho e Machado, 2004).
Através disso, pode-se observar a interação usuário-cidade, dificuldades e facilidades desde
a fase de projeto até a fase de implantação e manutenção. Para o presente trabalho foram
estudados os sistemas de bicicletas encontrados em Paris, Berlim, Copenhague, no âmbito
internacional, e Brasília e Rio de Janeiro, no âmbito nacional. As informações apresentadas
nos casos foram conseguidas através dos sites dos sistemas e sites relacionados, assim como
publicações de periódicos, revistas e folhetos informativos. Essas informações foram
complementadas ainda por entrevistas feitas com pessoas-chave para alguns dos sistemas.
O estudo de caso foi escolhido por proporcionar visão global do problema e possibilitar
identificar fatores que o influenciam ou por ele são influenciados. É uma análise de similares
para compreender o universo existente em torno de um produto. Segundo Yin:
“Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro de seu contexto na vida real, especialmente quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Em outras palavras, você usaria o
método de estudo de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condições contextuais
– acreditando que elas poderiam ser altamente pertinentes ao seu fenômeno de estudos.” (Yin,
2005, p. 32).
Já na etapa projetual, foram utilizadas outras ferramentas de design, dentre as quais a
pesquisa bluesky, cenários, análise swot, storyboard e blueprint. Destacam-se como as mais
relevantes para o entendimento do processo de projeto a etapa de cenários, e blueprint para
compreensão do serviço.
-cenários: inicia-se fazendo um brainstorm, especulação de conceitos em torno de uma
palavra central do tema trabalhado. A partir de palavras-chave definidas no final da técnica de
brainstorm, que sejam mais relevantes para o tema trabalhado, é criada uma matriz com
palavras que se opõem em dois ou mais eixos perpendiculares. Entre cada um desses eixos
surgem cenários onde imagina-se como a temática se apresentaria em uma situação
determinada pelas palavras dos eixos que a cercam. Para expressar essas conclusões, é
escrito um parágrafo descrevendo o cenário (vision), nomeando-o, e apresentando fatos de
como foi possível que tais eventos acontecessem. Segue-se também uma coleta de imagens
que ajudem a expressar o humor ou principais características deste cenário, denominando-se
moodboard o quadro feito com as imagens. Defini-se o público que se enquadra em cada
cenário e, por fim, identifica-se um caminho para seguir com o desenvolvimento do
projeto.(Reyes, 2011)
-blueprint: para caracterizar um serviço, que é algo intangível, baseado na interação do
usuário com um objeto ou conjunto deles. O usuário acaba sendo parte da produção do serviço
(Morelli, 2009) e para que essa interação funcione, é preciso planejar. Por isso, é importante
buscar ferramentas de apoio para representar a interatividade do serviço com o usuário. No
blueprint, pode-se enquadrar os elementos que compõem o serviço tanto físicos, como os
aspectos mais abstratos como tempo, sequência lógica de ações ou processos. Podendo-se
evidenciar o que é visível ao usuário como eventos e ações, bem como aquilo que não é visto,
mas que dá suporte ao serviço. (Morelli, 2009)
Segundo Morelli (Morelli, 2002 apud Morelli, 2009), deve-se avaliar o serviço tendo o ponto
de vista do consumidor como central, afinal é feito para que ele compreendao e use. Pode-se
usar mapas de contexto para entender a interação entre os diversos atores envolvidos no
serviço ou articulação de serviços como visto na figura 10. Os mapas de contexto de interação

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são a descrição sintética do ciclo de ações do consumidor antes, durante e depois do uso do
serviço, podendo ter como referencial o tempo de interação. No caso deste projeto, os locais
onde ocorrem o serviço foram usados como referencial, pois o tempo pode variar muito de
acordo com o objetivo do usuário ao andar de bicicleta.
O projeto de um sistema de bicicletas envolve de maneira enfática a área específica do
design, a área de serviços. O design de serviços é recente e, por isso, ainda tem pouca
bibliografia se comparado às demais áreas do design. Foi apresentado no meio acadêmico no
inicio dos anos 90 e a primeira conferência relativa ao tema foi realizada em Londres, em 2004.
No ano seguinte, foi consolidada como movimento de design em Milao, Italia, e, posteriormente
foi criado um site onde foram divulgados a teoria elaborada sobre Service Design, seu método
e práticas, estabelecidos nas discussões das conferências. “Design de serviços “dá endereço”
à funcionalidade e à forma de serviços da perspectiva dos clientes. Objetiva garantir que as
interfaces de serviço sejam úteis, utilizáveis e desejável do ponto de vista do cliente e eficaz,
110
eficiente e diferenciado do ponto de vista do fornecedor.” segundo Birgit Mager .
Serviço também seria uma forma de relação contratual, cujo acordo é feito através de
facilidades providas por instrumentos e pelo julgamento de quem o usa (Nelson e Stolterman
2000 apud Nelson, 2003). Design de serviços seria, portanto, segundo Nelson, “definido por um
relacionamentos contratuais (formais ou informais) com benefícios mútuos ou múltiplos. É uma
relação de troca de valores equivalentes sem relações de dominação, inferioridade ou
obrigação. Como serviço, o design depende da presença de um sistema autêncito e empático.”
(Nelson, 2003).
Assim sendo, o Design de Serviços é apontado como a forma de interação entre o
consumidor e o produto. Ele é uma forma de cultura e pode gerar novas formas de agir, novas
formas de pensar no dia-a-dia. Para o presente projeto é interessante criar este serviço a fim
de mudar uma situação de saturação existente na mobilidade que tende a se agravar num
futuro próximo.
Bicicletas como serviço público: estudos de caso
Na intenção de oferecer uma via sustentável para a situação encontrada na cidade de Porto
Alegre e pensando em opções sustentáveis para a mobilidade, foram analisadas as
alternativas já existentes de tecnologias e meios de transporte a fim de compreender qual seria
mais aplicável e plausível em relação aos esforços já realizados no local. Entre alternativas
como o carro elétrico, o carro a ar e carros menores, são soluções que favorecem as mesmas
pessoas que hoje já possuem carros, sendo de pouca relevância para um projeto de design
com objetivos sustentáveis mais imediatos.
Na esfera de transportes públicos, trens de alta velocidade e metrô estão em uma esfera de
investimento muito maior e, este último, já está em pauta para implementação. Por fim, projetos
como Portais da Cidade que idealizam a integração dos ônibus com centros de compras
apresentam um conceito muito relevante: a intermobilidade (Thackara, 2006). Da mesma forma
que se pode fazer um trajeto a pé, pode-se continuar de ônibus, etc. Tendo em vista o reforço
de projetos já existentes como o das ciclovias e do Plano Cicloviário de 2008, que já prevêm a
implantação da malha cicloviária pela cidade, torna-se pertinente pensar em projetos que
agreguem valor à utilização da bicicleta como meio de transporte.
Complementarmente, na atualidade, percebe-se uma retomada do sistema de mobilidade
existente, visando implantar uma nova cultura relacionada à mobilidade. Isso se verifica no
Plano Diretor Cicloviário Integrado De Porto Alegre (2008) onde a pretensão por dar mais
qualidade à circulação e ao transporte urbano que, dentre outras premissas, priorizará o
transporte coletivo, os pedestres e as bicicletas. Também, pela análise de meios de transporte
que são tendências, a bicicleta se destaca como a forma mais facilmente aplicável à capital em
questão de custos baixos.
A fim de pensar em um sistema de bicicleta para Porto Alegre, foram pesquisados estudos
de caso de cidades de mesmo porte que já apresentam sistemas de bicicletas implantados e
que obtiveram boa aceitação da população local e dos turistas. Observou-se a dominância de

110
http://www.service-design-network.org/content/definition-service-design

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sistemas de aluguel de bicicletas como solução, o que acabava por influenciar na compra de
bicicletas privadas pelos habitantes conforme será apresentado.
Os cases que se destacaram foram os sistemas encontrados em Paris, Vélib, em Berlin,
Call a Bike, e em Copenhague, OPEN Copenhague. Este por ter caráter transformador cultural
muito forte a ponto de já estar saturado quando a pesquisa foi realizda em 2010, esse por
articular a tecnologia à atilização do sistema, e aquele por sua relevância em função do
marketing atribuído, tendo se tornado uma referência de sistema de bicicletas e sendo
mundialmente conhecido. Uma observação importante a fazer sobre os sistemas existentes
hoje, nessas e outras cidades, é que elas derivam de um modelo criado pelo movimento dos
Provos, em Amsterdam.
Paris, Vélib
A França é um país que, tradicionalmente vê o ciclismo como um esporte. Sua capital,
Paris, é a sede da final do importante campeonato Tour de France, o qual ocorre sempre em
julho, desde 1903, sendo interrompido apenas durante as duas Grandes Guerras Mundiais.No
entanto, de 2007 até os dias de hoje, esta visão sobre o ciclismo mudou radicalmente com a
implantação do sistema Vélib. Este sistema constitui-se de um serviço público de aluguel de
bicicletas que é subsidiado pela publicidade da cidade, ou seja, os anunciantes contribuem
pagando o investimento para a implantação do sistema, tornando acessível para os usuários
em geral (figura 1). Esta forma de pensar o financiamento do serviço foi um dos motivos pelos
quais a Marie de Paris (a prefeitura) recebeu bem o sistema e deu suporte político para ser
efetuado.
Figura 1: Sistema Vélib, Paris (fonte: da autora)

O sistema tornou-se extremamente acessível aos usuários, constituindo-se principalmente


de estudantes e turistas. O serviço está disponível a cada 300 metros na capital francesa. Um
incentivo dado aos usuários é a isenção de pagamento para os primeiros trinta minutos de uso,
bem como a vinculação do sistema Vélib com o cartão NAVIGO, o qual permite o uso de
qualquer transporte público mediante pagamento semanal, mensal ou anual, provendo
descontos a medida que o tempo de uso oferecido cresce.
O sistema Vélib é responsável por ter aumentado significantemente o número de venda de
bicicletas na França – em 2009, foram vendidas 3,1 milhões exemplares de diversos tipos de
bicicletas – segundo um relatório do Conselho Nacional dos Profissionais do Ciclismo de
111
Paris . Uma vez que as pessoas experimentam a sensação de ser ciclista durante o dia-a-dia
e percebem muitas vantagens como, por exemplo, ganhar tempo para ir para casa almoçar,
sem a necessidade de utilizar um transporte coletivo.
Acredita-se que o suporte dado aos ciclistas tem ajudado muito no desenvolvimento dessa
nova cultura de mobilidade sustentável: construção de ciclovias que interligam muito bem a
cidade, sinalização adequada para conduzir o transito de bicicletas e integrá-las aos demais
meios de locomoção (mobilidade) que transitam nas vias, mapas com localizações das
ciclovias (pistas cicláveis), pontos de conexão com RER e Metro (transportes públicos mais
utilizados para longas distâncias em menor período de tempo) e pontos de aluguel da Vélib,

111
Conseil National des Professions du Cycle de Paris
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onde pode-se tanto locar como devolver a bicicleta. Essas informações ainda podem ser
consultadas no site do sistema.
Outras informações são agregadas aos mapas “Paris à vélo: Le Bom Plan” (figura 2) que
são distribuídos pela “Marie de Paris”, nos guichês de informações, nos guichês de metrô e nas
lojas de venda de bicicletas. Nele encontra-se onze itinerários para se circular por Paris, o
posicionamento das estações Vélib, referencia de site, e outras informações como revisão de
equipamentos da bicicleta, indicação de equipamento de segurança, regras de tráfego,
observação de cuidados ao partilhar o espaço com os demais usuários mais vulneráveis,
indicação da sinalização que deve ser conhecida e respeitada pelo ciclista. Salienta-se que há
30.000 lugares para se estacionar bicicletas por ruas e parques de Paris.
Figura 2: mapa para ciclistas em Paris. (fonte: Marie de Paris)

A situação que se opõe à Vélib é justamente ela representar um ato político, já que está
presente apenas na capital e não é interligada com as cidades de banlieu, ou seja, a “grande
Paris”. Isso ocasiona movimentos de vandalismos contra o sistema de bicicletas que, depois de
três anos de ser implantado, já perdeu um número de bicicletas por roubo, depredação ou uso
excessivo equivalente ao número de bicicletas implantadas durante todo o primeiro ano de
serviço.
Por outro lado, o sistema tem um design muito bem trabalhado, portando características
inspiradas na art nouveau, arquitetura tradicional e muito presente em Paris, criando uma
identidade visual muito forte e sendo a primeira a ser lembrada quando se pergunta a qualquer
pessoa, em diferentes partes do mundo. Definitivamente é uma referencia em marketing. Além
do sistema em si, existem iniciativas como o Espaces Mobilité Électrique que oferecem a
oportunidade de experimentar veículos cicláveis elétricos antes de se comprar, reforçando a
idéia de sustentabilidade nos transportes.

Berlin, Call a Bike


Berlim possui um sistema de bicicletas chamado Call a Bike. Como o nome já diz, ele
envolve o uso do celular para conseguir acessar a bicicleta. Primeiramente, o usuário deve
fazer seu cadastro na internet, através do site, obtendo um número de uso que estará
vinculado com sua conta bancária através do cartão de crédito. Depois de cadastrado, basta
sair na rua e procurar uma bike através de GPS, já que as bikes são equipadas com este tipo
de tecnologia.
Um ponto negativo do site, ou, mais especificamente, estratégico, é o fato de o site
apresentar apenas a versão em alemão, o que dificulta o acesso ao serviço por usuários que
não saibam o idioma. Esta pode ser uma forma de selecionar os clientes do serviço, tornando
elitista através do acesso, do preço – bem mais alto que o de Paris, sendo o contador em
minutos – e da forma de uso: ter um celular com tecnologia compatível. Pode-se dizer que este
serviço é destinado aos turistas internos, ou seja, alemães que fazem turismo no próprio país
ou a turistas que falem alemão.

Figura 3: site do sistema Call a Bike (fonte: http://www.callabike-interaktiv.de/ acessado em 11/07/11)

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Usando o celular, a partir do envio de solicitação de uma bike, o sistema envia uma
mensagem dizendo onde está a bicicleta mais próxima. É só ir até ela e desbloqueá-la (figura
4) com um código enviado pelo celular. A bicicleta possui uma interface que gera códigos e que
são enviados pelo celular, quando se liga para o telefone informado na bicicleta. Há uma trava
da roda que deve ser retirada após o desbloqueio da bicicleta e recolocada quando a bicicleta
não for mais usada. As interações com o celular são através de escritos e mensagens de voz, o
que requer o conhecimento da língua. Ao final da utilização, deve-se informar a localização da
bicicleta por telefone. Finalmente, pode-se dizer que a palavra que define o sistema certamente
é tecnologia.

Figura 4: detalhes do sistema de funcionamento do sistema, explicado no site (fonte: http://www.callabike-interaktiv.de/


acessado em 11/07/11)

A Identidade Visual do sistema é marcante: vermelho, cinza e preto (figura 5). Chamativo e
fácil de identificar, o Call a Bike é organizado pela empresa Deutsche Bahn que atua no setor
de transportes em geral e possui sistemas de Call a Bike espalhados por várias cidades da
Alemanha.
Figura 5: bicicletas do sistema Call a Bike, em Berlim (fotos: da autora)

Copenhague, OPEN Copenhague


O sistema “OPEN Copenhagen” originalmente tem como identidade os escritos no quadro
da bicicleta e suas rodas podem ser customizadas pelos usuários no site do serviço, ajudando
a criar a identidade de Copenhague, que busca, através desta atividade, criar uma história para
a cidade. O serviço procura mostrar que a cidade é open-minded (“cabeça aberta”) por suas
bases históricas de pensamento liberal. A idéia do sistema é incentivar o uso das bicicletas
como meio de transporte, sendo de fácil acesso: a forma de trancar a bicicleta é com uma
presilha de carrinho de supermercado (existentes por toda a Europa). Essas informações de
funcionamento do sistema podem ser vistas no site (figura 6).
Figura 6: site do sistema de bicicletas OPEN Copenhague (fonte: http://www.opencopenhagen.com/Open.aspx,
acessado em 11/07/11 )

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Copenhague apresenta um sistema público de bicicletas que já foi superado, uma vez que
dentre as mais de três mil bicicletas que se pode ver pela cidade durante qualquer dia da
semana foram avistadas apenas quatro delas. Algumas delas já foram inclusive consideradas
particulares, possuindo correntes particulares em seu entorno, em vez de ser fixada de maneira
correta. Isso ocorre pela cultura local, que aderiu fortemente ao uso da bicicleta, a ponto de
inutilizar o sistema de aluguel público, usando-o como sua própria bicicleta (figura 7).

Figura 7: bicicleta OPEN Copenhague que virou bicicleta particular.(fonte: da autora)

Os dinamarqueses têm um sistema amigável e simples de bicicletas. As ciclovias são


encontradas por toda a parte da cidade, são divididas por pequenas muretas das pistas para os
carros. Funcional como linhas paralelas, as pistas estão dispostas lado a lado, possuindo ainda
a calçada, no outro lado da ciclovia. Isso dá a impressão de segurança aos ciclistas e tornando-
as convidativas. No site do serviço ainda são disponibilizadas informações sobre a cidade
direcionando-as de acordo com perfis pré-estabelecidos: turistas, pessoas em negócios,
investidores, pessoas que querem ir morar em Copenhague.
Um sistema de bicicletas para Porto Alegre
A partir das considerações feitas nos estudos de caso, buscou-se analisar quais das
características dos sistemas seriam compatíveis com as características de Porto Alegre e sua
população. Elaborou-se um esquema (figura 8) que ressalta as características principais de
cada sistema analisados e como são aplicadas. Considerou-se que Paris, cidade que já possui
forte carga cultural da bicicleta e de promoção, conseguiu imprimir essas características na
Vélib, além de aliar-se à tecnologia de integração dos meios de transporte públicos. Call a Bike
é um sistema baseado fortemente na tecnologia e no marketing, tendo uma identidade alemã
forte e condizente, mas sem vincular-se com os demais transportes. OPEN Copenhague, tem
identidade amigável, estrutura tecnológica simplificada e caráter transformador cultural forte.

Figura 8: Representação das características mais fortes nos sistemas de bicicletas analisados. (fonte: da autora)

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Através das análises dos estudos de caso apresentados e das características da cidade e
das pessoas, foi possível caracterizar serviço de aluguel de bicicleta aplicável à Porto Alegre:
 Primeiramente, após a implantação do plano cicloviário, o uso do sistema é sugerido
somente dentro das ciclovias para criar-se a cultura de uso das mesmas e das
bicicletas do sistema, com segurança;
 Incentivar o hábito de andar de bicicleta nos finais de semana como esporte ou lazer,
procurando mostrar que é viável utilizar esse meio de mobilidade durante a semana
com o devido suporte e divisão de espaço nas vias;
 Aplicar o sistema a locais de grande acesso e com alta demanda, mas que possam
geral novas experiências aos usuários e não apenas sobrepor-se às vias já existentes.
Uma área oportuna apontada no estudo foi a orla do guaíba, ligando o centro histórico
ao Barra Shopping Sul;
 Necessidade de suporte educacional à nova cultura de mobilidade através de
campanhas e incentivos nas escolas;
 Qualificar e integrar as estrutras e sinalética de transporte público já existentes;
 Utilizar-se das tecnologias existentes, para tornar o sistema mais acessível à
população;
 Valer-se dos meios de comunicação, publicidade, ou outros parceiros para financiar o
sistema a exemplo do que acontece em Paris, com a Vélib;
 Tornar o sistema amigável e mais próximo da população, envolvendo-a e
conscientizando-a;
 Utilizar-se do marketing como ferramenta difusora de cultura;
 Projetar um sistema que venha a tornar-se superado em alguns anos, ou seja, que
incentive os portoalegrenses a comprar suas próprias bicicletas, tal qual em
Copenhague. Um diferencial frente a este sistema seria a idéia de conseguir mantê-lo
em uso por turistas, por exemplo, mesmo depois de difundida a idéia do uso das
bicicletas entre a população, através do disposição dos quiosques;
O modelo proposto envolve pontos centrais de atendimento em quiosques com serviço de
atendimento ao cliente, credenciamento, manutenção das bicicletas, aluguel e estacionamento
das mesmas, e pontos intermediários para aluguel e estacionamento. Os quiosques seriam
containers que poderiam ser deslocados ao longo das ciclovias de acordo com a necessidade
de eventos da cidade, criando-se também uma alternativa de uso e expansão para o serviço.
Ofereceriam também um pequeno lounge com acesso à internet sem fil para melhor acolher os
usuários, podendo tornar-se um ponto de encontro.
A identidade deve refletir o conceito “conectividade”, por ser um sistema de intermobilidade,
a imagem da cidade de belezas naturais, e a vivacidade, alegria, amizade e boas energias

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presentes no povo. Isso deveria provocar sentimentos de compatibilidade e identificação nos
usuários. Para tal, foi escolhido o pôr-do-sol como símbolo relevante, direcionador da palheta
de cores e das formas da identidade. A arte urbana dos grafittes foi o elemento de ligação
presente na cidade que reflete contemporaneidade, preocupação com causas e engajamento
social. Estes elementos resultaram no estilo do sistema.
A bicicleta do sistema deveria ser resistente, de fácil manutenção, feita de um material
reciclável. Deveria dar confiança às pessoas ao ser utilizada, o que, segundo Norman,
depende de “fidedignidade, segurança e integridade” (Norman, 2008, p.168). A cor branca foi
escolhida por ser referência ao movimento de oposição dos Provos supracitado e por ser a cor
do PET reciclado, material escolhido por responder às características requeridas e por ser
abundantemente encontrado para reciclar. Essa preocupação remete aos estudos de Manzini,
onde aponta a relevância da “redução do consumo de recursos em todas as fases (...) de
projeto e de gestão.”(Manzini, 2005, p.117).
Pela observação dos hábitos de transportes dos usuários (EPTC, 2008) e pela necessidade
de uma alternativa de preço que incentive o uso das bicicletas, sugeriu-se que pudessem ser
buscados parcerias que “diluissem” o pagamento. Propõe-se que a forma de pagamento seja
diversificada, satisfazendo diversos públicos: cartão de banco/crédito, cartão de bônus de
operadoras de celular e cartão TRI, por exemplo. O cartão TRI atualmente é utilizado como
pagamento em ônibus, podendo ser o ponto de convergência entre os transportes da cidade,
unindo-se às bicicletas e ao Trensurb. Bônus vindos do uso de celulares poderiam ser
convertidos como “milhas” para uso de bicicletas, tornando-se atrativo do sistema. Neste
sentido, tentou-se desenvolver uma forma de disseminar a cultura intermodal de transportes
para um serviço público acessivel.
De maneira articulada, o serviço seria oferecido seguindo os seguintes passos:
 a pessoa toma conhecimento do serviço atarvés de propagandas de parceiros (ex.
operadoras) nos sites, nos pontos de venda dos mesmos ou nas ruas através da
sinalização do serviço;
 cadastrar-se ou credenciar-se no site do serviço (podendo fazê-lo no quiosque de
atendimento também) para estar apto ao uso. O custo do uso da bicicleta deve ser
baixo, a fim de incentivar o uso do transporte diferenciado;
 feito isso, pode-se ir a qualquer estacionamento de bicicletas do sistema, e pegar
uma bicicleta, pagando com o cartão TRI, de banco, de bônus de celular, o que tiver
cadastro. Os quiosques de atendimento podem ser encontrados nos pontos de
maior fluxo de pessoa da cidade onde houver ciclovia. A intenção é incentivar o uso
das ciclovias e promover a segurança no trânsito para os ciclistas;
 usa-se a bicicleta no trecho desejado;
 ao longo da ciclovia são encontrados pontos intermediários do sistema,
possibilitando que se estacione a bicicleta conforme desejado;
 continua-se o trajeto, a partir daí, em outra forma de mobilidade, seja a pé, carro,
ônibus, etc;
Implantação sustentável: parcerias entre organizações públicas, privadas e do
terceiro setor
As organizações empresariais consistem em sistemas de atividades que visam, através de
produtos, serviços, ou a combinação de ambos, gerar valor, comercializar isso ao mercado e
assim obter lucro. Para que esse objetivo seja alcançado, existem várias abordagens, e cada
especialista na sua área é responsável pela elaboração de estratégias que maximizem e
rentabilizem esse sistema.
A humanidade vive em um mundo da massificação. Aprende-se de modo massificado,
fabrica-se de maneira massificada e vive-se em massa. Contudo a complexidade dos sistemas
sociais se tornou tão grande que vivemos em uma época singular. É neste cenário tão peculiar
que importantes agentes de inovação – como os profissionais de Design – interagem com
áreas aparentemente tão distintas. Deste modo, o Design Estratégico possui diversas
vantagens em relação a outras teorias, pois ele dá visualidade à estratégia das organizações
empresariais, tornando muito mais fácil as comunicação e permeabilidade por toda instituição,
fomentando a colaboração e pro atividade dentro da instituição.

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É necessário entendermos que o Design Estratégico possui um método de planejamento
transdisciplinar, e que é justamente esta capacidade que potencializa as ações desenvolvidas
pela união entre organizações empresariais, organizações públicas e entidades do terceiro
setor. É fundamental que seja salientado que somos diferenciados uns dos outros
socioculturalmente, e que as reações desejadas – em determinadas regiões – podem sofrer
variações na percepções do público.
É de fundamental importância que seja compreendido que para que haja um sistema de
intermobilidade urbana sustentável – no sentido de que as parcerias sejam interdependentes –
deve ser formado o tripé entre organizações públicas, organizações privadas, e entidades do
terceiro setor; considerando que este projeto pode e deve ser entendido como um projeto
sociocultural, orientado sob a luz do Design Estratégico.
A maioria das intervenções na área sociocultural ainda são realizadas em caráter
assistencialista e baseadas em uma ótica de necessidades micro-específicas de certas
populações. O desenvolvimento, a aplicação e a disseminação de novas metodologias para o
trabalho na área sociocultural são insumos fundamentais para fomentar o estabelecimento e a
implantação de políticas coerentes com a realidade social da população a ser beneficiada.
Desta forma, um Desenvolvimento Social Sustentável – DSS – é entendido como uma
ferramenta estratégica ideal para organizações empresariais que desejam ampliar a sua fatia
de participação no mercado, agregar valor a sua marca, e rentabilizar substancialmente seus
negócios. A prática do Desenvolvimento Social Sustentável baseia-se na gestão inovadora do
planejamento estratégico dos processos sociais. Este método adota comportamentos, atitudes
e práticas individuais e coletivas, orientadas pela ética, e fundamentados nos direitos humanos
e na equidade social, sendo orientada para gerar resultados com saldo positivo para as
organizações envolvidas. Esta prática, resulta no uso sistemático de princípios e técnicas
orientadas para promover aceitação de uma causa ou ideia, tendo como objetivo principal
transformar a maneira pela qual o público percebe uma questão social e promover mudanças
comportamentais.
O Desenvolvimento Social Sustentável apropria-se de conhecimentos e técnicas
mercadológicas, adaptando-se à promoção do bem estar social. Trabalha-se com objetivos
claramente definidos, metas mensuráveis, pesquisas e avaliações quantitativas e qualitativas,
além do desenvolvimento de tecnologias sociais para segmentos específicos, como os
propostos neste artigo. Através das ações sociais planejadas, busca-se gerar valor à
população, introduzindo e implementando estratégias, criando, planejando e executando
campanhas de comunicação para satisfazer necessidades que não estão sendo atendidas,
estabelecendo inovações sociais.
O DSS funciona como articulador do tripé deste complexo sistema de intemobilidade social,
onde cada um dos atores sociais participa potencializando o sistema conforme é indicado
adiante:
 Organização Pública: Oferece através da dedução do Imposto de Renda – IR –
incentivo fiscal, onde parte da verba a ser declarada deverá ser aplicado em projeto
sociocultural (o percentual de isenção varia de acordo com a Lei a ser utilizada). Esta
dedução é oferecida para organizações empresariais que patrocinem os projetos
socioculturais de entidades do terceiro setor. Em contrapartida, as organizações
empresariais, patrocinando projetos socioculturais, acabam por suprir uma demanda
latente da sociedade que caberia às organizações públicas resolverem.
 Organização Empresarial Privada: É beneficiada pela Lei que oferece incentivo fiscal
sob forma de dedução de parte de seu IR, o qual é direcionada para projeto
sociocultural gerido por entidade do terceiro setor. Como contrapartida, o projeto
sociocultural acaba por gerar valor à marca da organização empresarial patrocinadora.
 Entidade do Teceiro Setor: Realizam a gestão do Projeto Sociocultural através da
verba obtida como patrocínio das Organizações Empresariais, e cooperam com as
demandas latentes das Organizações Públicas no que diz respeito a geração de renda
e qualificação profissional dos integrantes da entidade em questão, fazendo com que a
sociedade os percebam como geradores de inclusão social.
A Figura 9 que é apresentada a seguir representa o tripé desta articulação:
Figura 9: Articulação do tripé (fonte: do autor)

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No projeto em questão o sistema ocorre da seguinte forma, seguindo o tripé entre
organização empresarial, entidade do terceiro setor e governo – conforme ilustrado na figura
10: O projeto – previamente formulado, e aprovado por lei de incentivo fiscal – é gerido pela
entidade do terceiro setor, a qual é responsável pela captação de recursos e manutenção do
público interno – devidamente capacitado e humanizado pelo projeto. A mesma entidade é
responsável também pelo desenvolvimento do protótipo e desenvolvimento das bicicletas, e
gestão do relacionamento com os demais atores envolvidos em todo o processo.
A organização empresarial – ou mais de uma – que adere ao projeto como patrocinadora, é
responsável pela manutenção financeira do projeto, e inclusão de seus produtos de
relacionamento com os seus clientes, como forma de benefício e facilidade no momento de
utilização das bicicletas.
O projeto conta com o apoio da Empresa Pública de Transporte e Circulação – EPTC, bem
como Secretarias da Cultura, Esporte e Turismo, os quais potencializam a propagação da
geração de valor dada aos cidadãos capacitados pela entidade do terceiro setor.
O projeto de um modo geral, gera o reconhecimento dos benefícios à saúde pelo ato de
andar de bicicleta, bem como a inclusão e capacitação de pessoas outrora carentes e com
auto-estima baixa, e que a partir do projeto passam a ser reintegradas à sociedade como
atores fundamentais para a manutenção de um sistema benéfico para a sociedade em que
estão inserido, servindo de modelos para outras comunidades e suas próprias famílias.
É importante salientar que a lei de incentivo fiscal – forma como o governo se insere
beneficiando o projeto – é condição sine qua non para a existência do mesmo; já que é com a
verba deduzida do Imposto de Renda (IR) da organização empresarial que a entidade do
terceiro setor irá custear suas operações.
Figura 10: mapa de aplicação do tripé que dá suporte ao sistema (fonte: da autora)

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Considerações finais: o que ainda é necessário para implantar?
Antes de mais nada, para que haja uma implantação coerente de um sistema de
intermobilidade sustentável, é fundamental que seja de fato implantado o planejamento
cicloviário já existente, o qual baseia-se na premissa de estimular a utilização da bicicleta como
meio de transporte em uma região urbanizada. O enfoque vai além das ciclovias e visa
enxergar o uso da bicicleta dentro do contexto urbano existente para atender às necessidades
reais dos usuários. O planejamento cicloviário aborda aspectos como a segurança viária para
um tráfego adequado dos condutores – pois se percebido pelo cidadão, serve de forte estímulo
ao uso – a circulação e a infraestrutura - para que a manutenção ocorra com baixa frequência e
alta usabilidade.
Seguem alguns pontos considerados como fundamentais de um adequado planejamento
cicloviário:
 Segurança Viária: Planejamento e criação da infraestrutura cicloviária
desenvolvida com a participação do maior numero de atores sociais com conhecimento
técnico, para que sejam formatadas ciclovias que garantam deslocamentos seguros
para todos os usuários, sejam ciclistas ou não.
 Rotas diretas/rapidez: Objetiva minimizar o tempo e o esforço necessário para
o deslocamento por biciletas.
 Coerência: implica em manter não só uma unidade visual em relação a
sinalização e pisos, mas também em rotas completas e fáceis de serem seguidas.
 Conforto: A percepção de conforto certamente representa um fator
fundamental. Atingir esse objetivo significa projetar de modo que o ciclista realize
poucas paradas, que o piso seja de qualidade e largura adequada, que haja proteção
contra intempéries (sempre que possível) e que o ciclista nunca seja forçado a descer
da bicicleta durante seu deslocamento.
 Atratividade: O pedestre que ainda não tem por hábito utilizar a bicicleta como
meio de transporte se sentirá convidado a fazê-lo quanto mais atrativa for a
infraestrutura. Para isso, deve-se pensar em rotas que cruzem ambientes
diversificados, agradáveis, que não coincidam com vias arteriais de trânsito motorizado
e por fim, que não seja zonas inseguras em relação à criminalidade.

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 Centrais de deslocamento: A partir da identificação de regiões de fluxo de
partida e chegada de condutores de bicicletas, implementar os quiosques de
atendimento.
Tendo sido desenvolvido um planejamento cicloviário, é chegado o momento de articular os
atores fundamentais que integram o tripé do projeto sociocultural supra citado: organização
empresarial privada, organização pública e entidade do terceiro setor.
Agradecimento
Agradecemos a orientação do professor Dr. Fábio Parode na etapa de pesquisa para o
trabalho de conclusão de curso que possibilitou este artigo, e a orientação do professor Dr.
Celso Skaletsky para a redação deste artigo.
Referências
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campo: o desafio da mudança sustentada nas organizações e na sociedade. Porto Alegre:
Bookman, 2006.
Conseil National des Professions du Cycle de Paris (2009)
Dorst, K. (2006) The Problem of Design Problems.
EPTC. Plano Diretor Cicloviário Integrado De Porto Alegre (2008)
Ferreira, A. B. de H. (2009) Miniaurélio: O Minidicionário Da Língua Portuguesa.˚ 7Edição.
Curitiba: Editora Positivo.
Filho, W. N.; Machado, D. del P. N. (2004) Organizações inovadoras: estudos e casos
brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV.
Manzini, E., Vezzoli, C.( 2005) O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. São Paulo:
Edusp. Pp. 117
Manzini, E. (2007) _____.
Morealli, N. (2009) Service as value co-production: reframing the service design process.
School of Architecture and Design, Aalborg University, Aalborg, Denmark
Nelson, H. G. (2003) Design Communication: Systems, Service, Conspiracy, and
Leadership. Advanced Design Institute, Seattle, WA, USA.
Norman, D. (2008) Design Emocional. Editora Rocco. Pp.168
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em Design: Interseções. Bauru: UNESP.
Yin, R. K. (2005) Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre, Bookman.
Thackara, J. (2006) In the Bubble.
Zurlo, F. (2010) Design Estratégico, in AA.VV., Gli spazi e le arti, Volume IV, Opera XXI
Secolo, Editore Enciclopedia Treccani, Roma.

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Desafios da sustentabilidade: estudo de caso de folder em
papel reciclado (Challenges of sustainability: case study
brochure on recycled paper)

SILVA, Claudio Henrique da; Mestre; Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL
design@midiak.com.br

FIGUEIREDO, Luiz Fernando; Doutor; Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC


lff@cce.ufsc.br

palavras chave: sustentabilidade; análise do ciclo de vida; design.

A sustentabilidade traz para o design diversos desafios. Interpretar a sustentabilidade de maneira mais
precisa, dentro do contexto de design, parece ser um desses desafios que carece de atenção. O tema
sustentabilidade vem se fazendo cada vez mais presente no dia-a-dia de pessoas e empresas. Estas, por
sua vez, vêm aos poucos procurando adotar práticas mais sustentáveis buscando incorporar esta
mensagem à sua imagem perante clientes e consumidores. A preocupação surge quando se observa que
algumas práticas, como a utilização de papel reciclado, tornaram-se por si só sinônimos de
sustentabilidade. Basta utilizar papel reciclado e a empresa pode ser considerada engajada no movimento
da sustentabilidade. Mais preocupante ainda é quando o designer adota um conceito limitado de
sustentabilidade ou não inclui toda a cadeia que envolve a produção, uso e descarte do produto na
análise de seus projetos. Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo de caso de folder de uma
empresa de cosméticos onde, após a realização de uma Análise do Ciclo de Vida (ACV) concluiu-se que a
opção de utilização de papel reciclado para a sua impressão era mais uma ação de marketing do que
efetiva contribuição no que diz respeito à sustentabilidade.

Keywords: Sustainability; Life Cycle Analysis; Design

Sustainability brings many challenges for design. Interpreting sustainability more precisely, within the
context of design, seems need a special attention. The sustainability issue is becoming more present in
day-by-day people and companies. These, in turn, have been trying to adopt more sustainable practices
reaching to incorporate this message to your image to customers and consumers. The concern arises
when one observes that some practices, like using recycled paper, became in itself synonymous with
sustainability. Just use recycled paper and the company can be considered engaged in the sustainability
movement. More worrying is when the designer adopts a narrow concept of sustainability or not include
the whole chain involving the production, use and disposal of the product in the analysis of their projects.
This article aims to present a case study of the cosmetics company’s folder, after conducting a Life Cycle
Analysis (LCA) concluded that the option of using recycled paper for its printing was a more marketing
activity that the effective contribution with regard to sustainability.

1 Introdução

Nos últimos anos a expressão ‘desenvolvimento sustentável’ vem se vulgarizando nas esferas
política, econômica e social. O tema sustentabilidade vem se fazendo cada vez mais presente
no dia-a-dia de pessoas e empresas. Estas, por sua vez, vêm aos poucos procurando adotar
práticas mais sustentáveis buscando incorporar esta mensagem à sua imagem perante clientes
e consumidores. No entanto, a sua complexidade deste tema requer uma reflexão adequada,
de modo que sua implementação seja efetiva, em especial no meio empresarial. Buscando
explicitar o conceito de desenvolvimento sustentável, Bellen (2010, p.13) afirma que ‘é um tipo
de desenvolvimento que garanta qualidade de vida para as gerações atuais e futuras sem a
destruição da sua base de sustentação, que é o meio ambiente.’
Para o design, pensar em sustentabilidade traz diversos desafios. Interpretar a sustentabilidade
de maneira mais precisa, dentro do contexto de design, parece ser um desses desafios que
carece de atenção. A preocupação surge quando se observa que algumas práticas, como a
utilização de papel reciclado, tornaram-se por si só sinônimos de sustentabilidade. Basta utilizar
papel reciclado e a empresa pode ser considerada engajada no movimento da
sustentabilidade. Mais preocupante ainda é quando o designer adota um conceito limitado de
sustentabilidade ou não inclui toda a cadeia que envolve a produção, uso e descarte do
produto na análise de seus projetos.

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Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo de caso de folder de uma empresa de
cosméticos onde realizou-se uma Análise do Ciclo de Vida (ACV), permitindo observar as
implicações da adoção de determinadas iniciativas quanto à sustentabilidade e marketing das
empresas, e o papel do designer neste processo.

2 Papel Reciclado e Análise do Ciclo de Vida (ACV)

A iniciativa do papel reciclado


Grandes empresas vêm ampliando seus esforços para alcançar resultados em sua
administração que as levem a contribuir com um desenvolvimento sustentável por parte do
setor industrial mundial. Esta opção não se dá apenas por questões sociais, mas também
econômicas e políticas. O setor industrial tem sido apontado como um dos maiores detentores
da culpa por resultados desastrosos no que se refere à questão ambiental. A produção
contínua sem preocupação com seu processo vem sendo duramente questionada. Outros
setores da economia também optaram por iniciativas mais sustentáveis. Dentre as muitas
iniciativas, ligadas diretamente à idéia de mudar sua imagem junto ao público, a utilização de
papel reciclado em seus materiais, em particular materiais de divulgação, tem sido a opção
mais amplamente utilizada. Folders, catálogos, correspondências, talões de cheques, são
exemplos de materiais que carregam o propósito da empresa em contribuir para um mundo
mais sustentável. Outras iniciativas incluem a mudança de sacolas plástica por de papel
reciclado e aprimoramento de suas embalagens, de forma geral. Desta forma, elas têm
buscado definir abordagens que contribuam para que sua ação no planeta possa ocasionar o
menor impacto possível.

Uma visão geral da Análise do Ciclo de Vida


Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma das ferramentas aplicáveis ao contexto de
sustentabilidade, utilizada como uma forma de estar avaliando e ao mesmo tempo buscando
soluções no desenvolvimento do produtos. Segundo Chehebe (1997) a ACV considera o
impacto ambiental ao longo de todo ciclo de vida do produto ou serviço. Da extração da matéria
prima utilizada à disposição final do produto. Júnior et al (2008, p. 40) afirma que a ACV
‘surge como uma técnica que encoraja as empresas a considerar sistematicamente as questões
ambientais associadas à cadeia produtiva e permite avaliar o impacto ambiental de um produto,
processo ou sistema, do berço ao tumulo, ou seja, desde a extração da matéria-prima até a disposição
final.’
Utilizando como referencia a NBR ISO 14040, estabelece-se como principais fases da ACV:
Definição de objetivos e escopo, Análise de inventário, Avaliação de impacto e Interpretação de
resultados. A ACV realizada no catálogo em papel reciclado obedeceu estas fases.

3 Análise do Ciclo de Vida (ACV) do catálogo em papel reciclado

Por não ser o foco deste artigo, optou-se por omitir o nome da empresa cujo catálogo foi
analisado. Não se trata de uma prática exclusiva desta empresa, mas sim adotada largamente
por inúmeras outras, independentemente de seu porte ou área de atuação.
A ACV limitou-se ao ciclo que compreende a extração da matéria-prima (celulose) até a
disposição final do produto, compreendendo os processos que estejam atrelados neste meio. É
importante ressaltar a ação social que também esta associada ao desenvolvimento deste
material, uma vez que o produto utilizado neste catálogo (papel) é proveniente em parte por
rejeitos provenientes da sociedade e indústria. Estes rejeitos são reciclados para uso neste
produto. As informações apresentadas foram coletadas a partir de informes publicados pela
empresa, assim como informações disponibilizadas em meio eletrônico.
O objeto da ACV foi um catálogo de venda promocional de produtos da empresa com as
seguintes características:
 Dimensões aberto: 3 folhas 388x255 mm
 Dimensão fechado: 194x255 mm

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 Cores: todas as folhas foram empresas em 4x4 CMYK
 Cores especiais ou efeitos: nenhum
 Dobras: sim – 01 dobra central
 Grampo: sim – 02 grampos

Inicialmente foi desenvolvido um fluxograma (figura 1) dos processos envolvidos no ciclo de


vida do produto estudado. Este fluxograma tem por objetivo criar uma visão global, sistêmica,
permitindo compreender as etapas que vão desde a matéria-prima (papel reciclado) até o seu
descarte.

Figura 1: fluxograma do processo

Nesta etapa de inventário do ciclo de vida do catálogo identificou como principais entradas:
água, energia elétrica, solventes, fibra secundária. Como principais saídas obteve-se emissões
(Compostos Orgânicos Voláteis – VOC, gases resultantes da queima de óleo e outros
combustíveis e ruídos e vibrações), efluentes (fixadores, prata, resíduos de solventes, metais
pesados, água contaminada) e resíduos sólidos (embalagens vazias, filmes usados/revelados,
chapas defeituosas, panos e estopas contaminados, provas/papel maculado, latas de tinta
vazias e resíduos de manutenção).
Foram consideradas as seguintes Categorias de Impacto para esta avaliação:
 Consumo de recursos naturais
 Aquecimento Global (efeito estufa)
 Acidificação
 Eutrofização (ou nutrificação)
 Toxicidade
A tabela a seguir apresenta a relação estabelecida entre Aspecto Ambiental e Efeitos
Ambientais.

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Tabela 1 – Aspecto Ambiental x Efeitos Ambientais

Aspecto Ambiental Efeitos Ambientais


Entradas
Água PCRN
Energia Elétrica PCRN
Solventes PTH, PAc, PAG e PEu
Fibra Secundária PCRN

Saídas
Emissões
Compostos Orgânicos Voláteis PTH, PAG
(VOC)
Gases resultantes da queima de PTH, PAG
óleo e outros combustíveis
Ruídos e Vibrações
Efluentes
Fixadores PTH, PEt
Prata PTH, PEt
Resíduos de Solventes PTH, PAc
Metais Pesados PTH, PEt
Água Contaminada PTH, PEu, PEt
Resíduos Sólidos
Embalagens Vazias PTH, PEt
Filmes usados/revelados PTH,PEt
Chapas Defeituosas PTH, PEt
Panos e estopas contaminados PTH, PEt
Provas/Papel Maculado PEt
Latas de Tinta vazias PTH, PEt
Resíduos de manutenção PTH, PEt

LEGENDA: PAG (Potencial de Aquecimento Global); PTH (Potencial de


Toxicidade Humana); PAc (Potencial de Acidificação); PCRN (Potencial de
Consumo de Recursos Naturais); PEu (Potrencial de Eutrofização) ; PEt
(Potencial de Ecotoxicidade)

A partir desta análise pode-se observar o seguinte:


 Quanto ao papel reciclado: o processo de reciclagem do papel reduz o consumo de
recursos naturais e o uso de solventes, exceto quando ele é tratado para ficar branco.
Neste caso, o consumo de solventes é maior do que no processo normal de produção
de papel. Como o papel utilizado no catálogo não é branco, significa que há uma
sensível redução nos impactos ambientais.
 Quanto ao processo de impressão: o catálogo foi impresso em processo tradicional
de offset. A composição básicas das tintas utilizadas inclui metais pesados (cromo,
chumbo, cádmio, entre outros). Embora existam tintas biodegradáveis, seu uso ainda é
impeditivo sob o aspecto financeiro. Impactos ambientais podem ser reduzidos desde
que a gráfica inclua princípios ambientais em suas atividades produtivas.
Segundo recomendações do Guia Ambiental Técnico da Indústria Gráfica (ABIGRAF, 2011) os
impactos ambientais nos processos de impressão podem ser reduzidos se a gráfica:
 Evitar que matérias-primas passem do prazo de validade.
 Impedir a deterioração das matérias-primas estocadas.
 Evitar perdas por derrame das matérias-primas.
 Reduzir o descarte de matérias-primas deterioradas.
 Reduzir a quantidade de resíduos gerados.
 Aumentar a utilização dos banhos.
 Recuperar e reutilizar os banhos.
 Reduzir a quantidade de efluentes gerados.
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 Buscar matérias–primas menos tóxicas.
 Eliminar resíduos de revelação.
 Recuperar metais do banho.
 Substituir processos que contenham produtos e/ou resíduos tóxicos
 Reduzir quantidade geral de resíduos gerados
 Usar equipamentos mais eficientes
 Reciclar resíduos
 Reduzir a quantidade geral de resíduos
 Gerenciar a periculosidade do resíduo
 Reduzir necessidade de limpeza
 Reduzir a quantidade de resíduo gerada
Após percorrer as etapas da ACV pode-se concluir que, embora a empresa em questão possua
um grande envolvimento com a questão ambiental, a produção de catálogo em papel reciclado
não reduz significativamente os impactos ambientais resultantes de sua produção. No entanto,
atua no consciente coletivo na medida em que, para o senso comum, papel reciclado significa
preocupação com o meio ambiente e a empresa demonstra o seu envolvimento com esta
questão. Neste sentido, a proposta da empresa está intimamente ligada a trabalhar a sua
imagem como uma empresa ambientalmente responsável.

4 Considerações finais

Este tipo de análise revela alguns pontos que devem ser objeto de reflexão. Inicialmente, sem
ter uma visão sistêmica do processo é difícil para o designer dimensionar os impactos de seus
projetos. Isto pode levá-lo a interpretar a sustentabilidade de forma leviana e a agir de forma
mais apaixonada do que consciente no que diz respeito a este tema. Considerando que o
designer tem como oportunidade influenciar tanto empresas como consumidores, desenvolver
um entendimento mais efetivo de sustentabilidade pode ser entendido como um elemento
essencial. Embora trabalhar a imagem das empresas faça parte das atividades do designer, é
crucial aliar a imagem com uma proposta coerente no que diz respeito a desenvolver produtos
e materiais num contexto de efetivo desenvolvimento sustentável.

Referências
ABIGRAF. Guia Técnico Ambiental da Indústria Gráfica. Disponível em:
<http://www.abigraf.org.br/index.php/publicacoes/doc_details/6-guia-tecnico-ambiental-da-
industria-grafica>. Acesso em: 20 mar. 2011
Barbosa Júnior, A. F. et al. Conceitos e Aplicações de Análise do Ciclo de Vida (ACV) no Brasil.
Disponível em:
<http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/revistagerenciais/rgerenciais_v7n1/rgerenciaisv7n
1_03d972.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2011.Wogalter, M. S., Dejoy, D. M. & Laughery, K. R.
(1999). Organising theoretical framework: a consolidated communication-human information
processing (C-Hip) model. In M. S. Wogalter, D. M. Dejoy & K. R. Laughery (Eds.). Warnings
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Belen, H. M. Indicadores de sustentabilidade. 2a. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
Chehebe, J.R. Análise do ciclo de vida dos produtos: ferramenta gerencial da ISO 14000. Rio
de Janeiro: Qualitymark, CNI, 1997.
Vilela Júnior, A; Demajopovic, J. (org). Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental – Desafios
e perspectivas para as organizações. São Paulo: Editora Senac, 2006.

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Ainda há lugar para descartáveis em uma sociedade que
busca ser sustentável? (Is there still a place for
disposables in a society that seeks to be sustainable?)

Anael Alves 112

Palavras-chave: embalagens; descartáveis; plástico; sustentabilidade; design

Este artigo se propõe a revisar os dados dos últimos seis anos – disponíveis na literatura acadêmica e no
mercado de embalagens, plásticos e tratamento de resíduos – acerca do uso de utensílios e embalagens
plásticos descartáveis na indústria brasileira de alimentos e seus impactos na produção de resíduos
sólidos. O objetivo é propor uma reflexão sobre o espaço que estes produtos ocupam no cotidiano dos
brasileiros e o espaço que se pretende que eles ocupem numa sociedade sustentável. Paralelamente,
observa-se a influência que o design destes produtos pode exercer sobre os referidos impactos e a
importância do papel dos designers neste cenário.

Keywords: packaging; disposables; plastic ; sustainability; design

This article intends to review the last six years’ data – available on academic literature, and on the
packaging, plastics and waste treatment markets – on the use of disposable plastic utensils and packages
in the Brazilian food industry, and its impacts on solid waste production. The objective is to propose a
reflection about the space these products occupy in the Brazilians’ everyday life and what is intended for
them in a sustainable society. At the same time, the influence that those products’ design may exert on the
referred impacts and the importance of the designers’ role in this scenario is observed.

Introdução
Atuando por muitos anos como designer na indústria de transformação de plástico, uma
mudança em minha carreira alterou a trajetória que vinha tendo no projeto de bens duráveis
para o projeto de embalagens e utensílios descartáveis para a indústria de food service – como
é conhecida a área da indústria de alimentos que se dedica ao ‘[...] fornecimento de
mercadorias e serviços a operações privadas e públicas dedicadas a alimentar as pessoas fora
de seus lares’ (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação – ABIA, 2010, p.22).
Esta mudança de foco gerou em mim uma inquietação quanto a trabalhar com a criação e
produção de produtos de vida útil efêmera e períodos de degradação extremamente longos,
principalmente considerando o momento no qual a discussão sobre sustentabilidade ocupa
grande espaço na ciência, em governos e na mídia. Esta inquietação suscitou uma questão,
talvez mais importante, que diz respeito ao consumo destes tipos de produtos. Enquanto
pesquisadores estudam sistemas de produto-serviço para enfatizar e prolongar a fase de uso
de produtos (Mont, 2002) e governos promovem restrições ou mesmo banimento de sacolas
plásticas não retornáveis, seria ainda possível que descartáveis plásticos fossem consumidos
despreocupadamente?
Com o objetivo de propor uma reflexão sobre o espaço que estes produtos ocupam no
cotidiano dos brasileiros e o espaço que se pretende que eles ocupem numa sociedade
sustentável, este artigo buscará fazer um panorama nacional geral de seu ciclo de vida junto
aos atores envolvidos nas diferentes etapas deste ciclo. As informações utilizadas serão
basicamente aquelas disponíveis entre os anos de 2005 e 2011 em sua produção (junto às de
associações industriais do setor de transformação de plástico e embalagens), seu uso (junto à
associação industrial do setor de alimentos e instituições de pesquisa) e seu descarte (em
instituições de pesquisa e na academia).

112
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, anaelalves@pep.ufrj.br

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Definindo os objetos da pesquisa
Para deixar claro quais são os objetos enfocados por esta pesquisa, é interessante que sejam
apontadas as definições que foram utilizadas para delineá-los:

Embalagens
Segundo a Associação Brasileira de Embalagem (ABRE, 2011a):
A embalagem é um recipiente ou envoltura que armazena produtos temporariamente e serve
principalmente para agrupar unidades de um produto, com vista à sua manipulação, transporte ou
armazenamento. Outras funções da embalagem são: proteger o conteúdo, informar sobre as
condições de manipulação, exibir os requisitos legais como composição, ingredientes, etc e fazer
promoção do produto através de gráficos. É o contenedor de um produto material, para configurar
como embalagem tem que ter um produto dentro. (ABRE, 2011a)
Para este artigo consideraremos apenas aquelas embalagens ou partes de embalagens
produzidas em plástico e utilizadas na indústria de alimentos que em sua quase totalidade são
descartáveis.

Utensílios
Conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2011), ‘utensílio’ pode ser definido como
‘qualquer implemento útil ou necessário aos usos do cotidiano, da vida diária; utilidade’
(Houaiss, 2011). No caso específico deste artigo, estamos nos referindo àqueles implementos
úteis para a alimentação como talheres, copos, pratos, recipientes, etc., ou seja, os
facilitadores do ato de consumir os alimentos. Consideramos também para este caso apenas
os descartáveis fabricados em material plástico.

Descartáveis
Mais uma vez seguindo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (op. cit.), ‘descartável’
pode ser definido como ‘que não se destina a conservar nem a consertar; que se deita fora
após uma ou mais utilizações (diz-se ger. de objeto facilmente substituível)’ (Houaiss, op. cit.).
Acrescenta-se para fins deste artigo que majoritariamente, os itens descartáveis têm pouco
valor agregado, e sempre apresentam uma fase de uso efêmera em seus ciclos de vida.

Alimentos/ alimentação
Mantendo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (op. cit.) como referência, ‘alimento’
pode ser definido como ‘toda substância digerível que sirva para alimentar ou nutrir’ e
‘alimentação’ como o ‘ato ou efeito de alimentar(-se)’ (Houaiss, op. cit.). Cabe observar que
para este artigo serão considerados todo e qualquer produto comestível usado na alimentação
humana, saudável ou não, indiferentemente a valores calóricos ou nutricionais.

Plástico
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Instituto de Embalagens apud
ABIPLAST, 2011a):
Os plásticos, que tem seu nome originário do grego ‘plastikos’ que significa - capaz de ser moldado,
são materiais sintéticos ou derivados de substância naturais, geralmente orgânicas, obtidas,
atualmente, em sua maioria, a partir dos derivados de petróleo. [...]
Os plásticos fazem parte da família dos Polímeros, que se constitui de moléculas caracterizadas pela
repetição múltipla de uma ou mais espécies de átomos ou grupo de átomos, formando
macromoléculas, estruturadas a partir de unidades menores, os monômeros, que se ligam através de
reações químicas. [...] (Instituto de Embalagens apud ABIPLAST, 2011a)
Para a indústria de embalagens de alimentos, as resinas poliméricas usadas de forma
significativa são as commodities pertencentes à classe dos termoplásticos. Para o Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa (2011), commodity é ‘cada um dos produtos primários [...], cujo
preço é determinado pela oferta e procura internacional’ e termoplástico se define como a ‘[...]
resina com estrutura linear macromolecular, que amolece ao ser aquecida e enrijece ao ser
resfriada [...]’ (Houaiss, 2011). As commodities termoplásticas são o Polietileno Tereftalato
(PET), o Polietileno de Alta Densidade (PEAD), o Cloreto de Polivinila (PVC), o Polietileno de
Baixa Densidade (PEBD), o Polipropileno (PP) e o Poliestireno (PS).

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Os atores e suas atuações

A Transformação de plástico
O plástico, em seus diversos tipos e composições, é um material de grande versatilidade
podendo ser leve e resistente, muito duro ou muito flexível, transparente ou opaco, colorido ou
incolor, liso ou texturizado e, dependendo das limitações de processo de fabricação específico,
pode tomar formas inalcançáveis por outros materiais. Estas características fizeram dele um
material muito apreciado por designers que podem tirar proveito desta versatilidade para dar
forma a projetos de todos os tipos. Por ser um material relativamente barato, que permite
produção em massa e certa rapidez no desenvolvimento de produtos, também agrada a
empresários e investidores. Por todos estes e outros motivos é um material bem aceito pelos
consumidores.
O setor industrial que transforma as resinas poliméricas em produtos de todos os tipos é
conhecido como indústria de transformação de plástico. O faturamento desta indústria no Brasil
vem apresentando crescimento desde 2005, acumulando o total de 51,7% até 2010 e embora a
crise mundial no final de 2008 a tenha feito amargar ligeira queda em 2009, recuperou-se com
um crescimento de 36,5% no ano seguinte alcançando movimentação total de 25,11 bilhões de
dólares em apenas um ano. Se for considerado o período a partir de 2001, este crescimento é
ainda mais impressionante acumulando 275,3% (ABIPLAST, 2011b).
Em 2009 o setor envolvia 11.465 empresas tendo observado um aumento de 29,6% desde
2005 (MTE, 2009 apud ABIPLAST, op. cit.). A mão de obra empregada formalmente se elevou
em 37,9% entre 2005 e 2010 alcançando o número de 349.453 pessoas (MTE, 2009, CAGED,
2010 apud ABIPLAST, op. cit.). Neste período a produção de transformados plásticos cresceu
42,7%, passando de 4,15 milhões para 5,92 milhões de toneladas, mas como o consumo
aparente cresceu 49,2% passando de 4,17 milhões para 6,23 milhões de toneladas (ABIQUIM/
MDIC apud ABIPLAST, op. cit.) houve um aumento do déficit no comércio externo da ordem de
279,47 mil toneladas, equivalente a um bilhão de dólares (MDIC apud ABIPLAST, op. cit.).
Inferindo, a partir dos dados da produção setorial desta indústria entre 2007 e 2010
(ABIQUIM apud ABIPLAST 2008, 2009, 2010, 2011b), que mais de 50% do montante de 5,92
milhões de toneladas de transformados plásticos produzidos internamente foi destinado a
embalagens e descartáveis, chegamos a uma quantidade próxima a 3 milhões de toneladas de
plástico destinadas à fabricação de produtos de vida efêmera, sem contabilizarmos os 9,7%
direcionados ao setor de utilidades domésticas, onde se incluem os descartáveis, que teve um
crescimento discreto de 0,4% durante o período.

Embalagens
Como observado acima, um dos maiores segmentos entre os transformadores de plástico é a
indústria de embalagem que movimentou 40,5 bilhões de reais em 2010, vendo seu
faturamento total crescer 39,6% desde 2005 (IBGE/FGV apud ABRE, 2010).
As embalagens são os grandes intermediários entre os produtos e seus fabricantes, e os
consumidores. Elas permitem que o mundo da economia de consumo de massa que
conhecemos hoje exista e prospere. Segundo Mestriner (2001):
Desde seus primórdios a humanidade necessitou conter, proteger e transportar seus produtos e para
fazer isso lançou mão de embalagens. [...]
Nos anos pós-Segunda Guerra Mundial surgiram os supermercados, e a venda em sistema de auto-
serviço estimulou os produtos a conterem a informação necessária para concretizar a venda sem o
auxílio de vendedores. (Mestriner, 2001, p.13).
Quando bem projetadas e utilizadas de forma correta elas protegem seus conteúdos
permitindo que se evitem perdas e desperdícios. Facilitando a logística podem permitir
economia de energia e tempo, além de serem inescapáveis meios de comunicação.
Provedoras de personalidade, as embalagens podem ainda ser influenciadoras diretas na
percepção de qualidade dos produtos e agregar valor e significado a eles (Mestriner, op. cit.).
Os designers têm nas embalagens uma área de trabalho muito rica. Conhecendo bem o
produto a ser embalado, o mercado onde se insere e trabalhando em conjunto com os
departamentos de marketing, podem fazer muita diferença no sucesso ou no fracasso
comercial de um produto. Da mesma forma, conhecendo bem a indústria, sua capacidade
produtiva e seus recursos tecnológicos e atuando em conjunto com os departamentos de

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engenharia, pode garantir que este sucesso comercial se sustente com produtos entregues da
melhor forma possível aos consumidores em termos de qualidade e impacto ambiental
(Haberfeld, 2001).

Embalagens e descartáveis plásticos


Devido a algumas das características mencionadas anteriormente como baixo custo relativo,
leveza, versatilidade e resistência associadas a outras como impermeabilidade e inércia, o
plástico tem sido matéria prima dominante neste mercado. Embora sua participação no total da
produção nacional desta indústria em 2010 tenha caído para o segundo lugar com 29,7%, sua
média entre 2007 e 2010 foi de 35,2%, observando-se os dados da Associação Brasileira de
Embalagem (ABRE, 2011b, 2011c, 2011d, 2011e). Porém, mesmo com a perda da liderança
produtiva, ainda conta com o maior contingente de funcionários: 117.906 pessoas empregadas
formalmente ou 54,15% de toda a indústria de embalagens do país (MTE, 2009, CAGED, 2010
apud ABRE, 2011e).
No Brasil, apesar do crescimento de 45,1% nas exportações de embalagens plásticas entre
2007 e 2010 as importações também aumentaram (61,3%) no mesmo período superando as
exportações em 184 milhões de dólares (baseado em dados da SECEX/MDIC apud ABRE,
2011b, 2011c, 2011d, 2011e). Isto demonstra um aparente aumento do déficit de embalagens
plásticas no mercado interno que chegou a 47,28% do total de importações de embalagens do
país em 2010 (SECEX/MDIC apud ABRE, op. cit.).

A indústria de alimentos
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE apud ABIA, 2011a), os
alimentos industrializados representavam 85% do consumo de alimentos no Brasil em 2008
contra apenas 15% dos alimentos in natura, enquanto o mercado de food service verificou um
aumento de 5,1 pontos percentuais na participação do no total de vendas da indústria da
alimentação entre 2003 e 2010, chegando a 29,5% deste total contra 70,5% do varejo
alimentício (ABIA, 2011b).
Para a ABIA (2010) o food service tem duas vertentes:
Na vertente privada, inclui fast food, delivery, hotéis, quick service, lanchonetes, bares, restaurantes,
refeições coletivas, rotisserias, padarias, pizzarias, sorveterias, vending, cafeterias, catering aéreo,
lojas de conveniência, entre outros gêneros de estabelecimentos e serviços. Na área pública, abrange
serviços como merenda escolar e alimentação em hospitais e presídios. (ABIA, 2010, p.22)
Com isso, este setor serve milhões de refeições por dia, que por sua vez utilizam múltiplos
milhões de embalagens e utensílios descartáveis gerando pressão crescente no fornecimento
destes produtos.
Observando apenas o valor da produção interna de transformados plásticos (como
mencionado anteriormente) veremos que em 2010 25,9% desta produção foi direcionada
especificamente para o setor alimentício com 1,5333 milhão de toneladas de plástico
transformadas em embalagem, representando um crescimento de 48% em relação a 2007
(ABIPLAST, 2008, 2011). Estimando a partir de dados da ABIPLAST (op. cit.) e ABRE (2011b,
2011e), as importações de embalagens plásticas neste período foram de aproximadamente
0,0816 milhões de toneladas, isto é, meros 5,05% do consumo somado das duas fontes, mas
obtiveram um crescimento aproximado de 55,7%, ou seja, 7,7 pontos percentuais a mais do
que o da produção interna, possivelmente demonstrando um aumento da demanda maior do
que a capacidade de absorção da indústria brasileira.

Hábitos alimentares
Como potenciais fatores que explicam os números de industrializados e food service na
indústria de alimentos podemos citar as mudanças nos padrões familiares do Brasil. Conforme
pode ser verificado na Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (2009a), o aumento
proporcional de casais sem filhos (3,3% entre 1998 e 2008), mulheres sem cônjuges com filhos
(0,5%) e famílias unipessoais (3,2%) e a maior presença das mulheres no mercado de trabalho
dos grandes centros urbanos (de 43,0% em 2003 para 45,1% em 2009) (IBGE, 2009b), podem
estar influenciando a modificação dos hábitos alimentares brasileiros que vêm acontecendo ao
logo do tempo. Conforme demonstra a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009
(IBGE, 2010), com relação à POF 2002-2003 (IBGE, 2004) houve uma queda significativa nas
despesas com aquisição per capita anual de itens como arroz (40,5%) e feijão (26,4%), e

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farinha de trigo (33,2%). Simultaneamente, verificou-se o crescimento proporcional de comidas
industrializadas (37%) como embutidos, biscoitos e refeições prontas, panificados (6%), além
de refrigerantes de cola (39,3%) e água mineral (27,5%). Somando-se a este quadro verificou-
se também um aumento de 7,0 pontos percentuais no período, passando de 24,1% em 2002-
2003 para 31,1% em 2008-2009, nas despesas de alimentação fora do domicílio.

Impactos
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) considera que ‘vivemos na Era do
Plástico, pois sua presença é marcante em todas as atividades do nosso cotidiano’ (ABDI,
2009a, p.37). Isto é verdade no mercado de embalagens e mais especificamente no de
embalagens de alimentos, mas também é verdade no que diz respeito à produção de resíduos
sólidos. A elevação do consumo de embalagens e descartáveis, constatada anteriormente,
contribui para o aumento da produção de resíduos sólidos domiciliares e públicos cujo
montante coletado diariamente no país chegou a 259.547 toneladas em 2008, registrando um
crescimento acumulado de 13,6% em relação a 2000 (IBGE, 2002, 2010b).
Por diversos fatores, o plástico tem se destacado entre os resíduos sólidos (Santos et al.,
2004), e embora a maioria dos materiais plásticos usados nas embalagens de alimentos
possua tecnologia para serem reciclados (Piva, Wiebeck, 2004, Zanin, Mancini, 2004 apud
Gonçalves-Dias, 2006) existem entraves ao reprocessamento destes materiais. De acordo com
o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE, 2010) os custos deste tipo de
coleta são muito altos em relação aos da coleta comum, ficando em torno de 400% mais caros
em 2010, embora tenham caído proporcionalmente desde 2004 quando chegaram a ser 600%
mais caros que a coleta comum. Soma-se ainda o fato de alguns materiais como o EPS
(Poliestireno Expandido, comumente conhecido pelo nome comercial Isopor®), por exemplo,
serem tidos como não recicláveis devido à falta de interesse de mercado (Xavier, Cardoso,
2005, IDEC, 2006 apud Gonçalves-Dias, 2006), embora existam projetos de coleta e
reprocessamento deste material como o projeto Repensar (Isopor®), uma parceria entre várias
empresas de toda a cadeia produtiva do EPS e do XPS (Poliestireno Extrusado) como
apontado pelo Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida, 2011).
Embora o segmento de PET (Polietileno Tereftalato) já considere uma taxa de recuperação
pós-consumo de 54,8% sobre o consumo de resina virgem, deixando o país em posição
confortável no cenário mundial, estando à frente da Europa e dos Estados Unidos e atrás
apenas do Japão (Associação Brasileira da Indústria do PET, 2008), os motivos mencionados
acima podem explicar o porquê de apenas 17,5% (977) dos 5.564 municípios brasileiros
existentes em 2008 possuírem algum serviço de coleta seletiva que contemplasse os plásticos
(IBGE, 2010b), apesar de estes materiais comporem cerca de 20% dos resíduos sólidos
(medida em um grupo de 20 municípios pesquisados pelo CEMPRE entre 2006 e 2010). Assim
como a relação entre os 4,95 milhões de toneladas de transformados plásticos aparentemente
consumidos em 2007 (ABIPLAST, 2010) e as 962 mil toneladas de produtos plásticos
reciclados no mesmo ano pela Indústria de Reciclagem Mecânica de Plástico (Plastivida,
2008), parece demonstrar que apenas 19% do plástico consumido foi reciclado.
Se fizermos a relação acima apenas com a produção de descartáveis do período,
aproximadamente 2 milhões de toneladas (41,1% do total da produção de transformados
plásticos a partir da segmentação por setores produtivos da ABIPLAST, 2008), teremos uma
proporção de 48,1% representando uma reciclagem de quase metade de todo transformado
plástico descartável. Porém, não se pode esquecer o fato de nestes números estarem contidos
não apenas resíduos plásticos pós-consumo, mas também o resíduo industrial (aparas, etc.)
que no ano verificado apresentou uma participação de 39% do resíduo plástico processado
pela indústria de reciclagem mecânica de plástico.

Tendências

Consumo de alimentos
Tendências em embalagens para alimentos estão diretamente relacionadas a tendências de
consumo apontadas para este mercado. Em 2010, a Federação das Indústrias de São Paulo
(FIESP) e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) publicaram o Brasil Food Trends 2020
(BFT 2020), resultado de um projeto que visa dar bases para esta discussão no setor de

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alimentos e bebidas do país. Mencionando que os consumidores não têm domínio sobre o
preparo de seus alimentos e que tiveram seu poder de compra aumentado, este documento
reforça como expectativas a conveniência e a praticidade despertadas como necessidades a
partir da modificação da estrutura familiar do país conforme observado anteriormente. Com
34% dos consumidores, esta tendência foi a que apresentou maior resposta na pesquisa
FIESP/IBOPE realizada para o projeto (FIESP, ITAL, 2010).
Neste escopo, refeições prontas e semiprontas, alimentos de fácil preparo e serviços de
entrega apontam para a continuação do crescimento da necessidade de embalagens.
Atendendo ao almoço de 53% dos moradores dos grandes centros pelo menos uma vez por
semana, e contando com lanchonetes e redes de fast-food representando a preferência de
19% destes consumidores e padarias com mais 18% desta preferência (FIESP, ITAL, op. cit.),
o segmento de food service é também intenso utilizador de embalagens e descartáveis. A ABDI
(2009a) corrobora esta visão em seu ‘Estudo Prospectivo – Plásticos’, e um estudo do Fredonia
Group Inc., divulgado pela revista Pack, diz que os descartáveis para food service verão um
crescimento da demanda mundial de 4,8% ao ano, esperando um crescimento ainda mais
rápido para a América Latina apoiando, assim, as tendências apresentadas acima (Fredonia
Group Inc., 2010)
Consta ainda no BFT 2020 que empresas que investem em projetos ambientais contam
com a admiração e o respeito de 30% dos consumidores, mas, ao mesmo tempo, aponta que
38% deles afirmam não conhecer ou nunca ter ouvido falar em sustentabilidade. A mesma
pesquisa mostra também que ao adquirir um produto considerado sustentável os consumidores
pensam estar fazendo bem a terceiros ou à natureza, não compreendendo a dimensão dos
reflexos desta atitude para si próprios. Assim, acredita-se que o consumidor não aceite pagar
mais por um produto que tenha este tipo de apelo (FIESP, ITAL, op. cit.).

A cadeia produtiva de embalagens


Em 2 de agosto de 2010 foi sancionada a Lei Nº 12.305 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS). Dentre seus princípios podemos destacar, por talvez afetar de forma
mais direta a cadeia produtiva descrita neste artigo, a ‘responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos’, a ‘ecoeficiência’ e o ‘reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e
reciclável como bem econômico e de valor social’, todos convergindo para o desenvolvimento
sustentável. Da mesma maneira podemos destacar os objetivos de ‘estímulo à adoção de
padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços’ e o ‘incentivo à indústria de
reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de materiais e insumos derivados de materiais
recicláveis e reciclados’ (Brasil, 2010). A responsabilidade compartilhada, mencionada nos
princípios da lei conforme estabelecida no Título III, Capítulo III, Seção II, deve ser distribuída
entre fornecedores de resinas, transformadores, produtores de embalados, governos e
consumidores de forma que estes atores a assumam em cada momento da existência do
produto. As chaves para esta parte da PNRS são a análise do ciclo de vida de produtos
existentes, o projeto do ciclo de vida de novos produtos e o planejamento da logística reversa
ao final no descarte.
Espera-se como consequência disto que produtos como os descartáveis, incluindo as
embalagens, sejam criados, produzidos, utilizados e descartados do modo mais adequado
possível tentando, em última análise, estabelecer um ciclo fechado ‘do berço ao berço’, onde o
que for compostável volte à terra como nutriente biológico e o que for reciclável ou reutilizável
volte à cadeia industrial como ‘nutriente’ técnico (McDonough, Braungart, 2002).
Outra tendência de consumo para o segmento de embalagens é a constante preocupação da
sociedade com o consumo sustentável. De acordo com essa tendência, cada vez mais o consumidor
adquire uma consciência correta em relação ao impacto ambiental provocado pelo descarte das
embalagens. (ABDI, 2009a, p. 41)
Embora o BFT 2020 tenha observado uma possível não disposição dos consumidores a
pagar mais por um produto dito sustentável, isto não invalida a tendência descrita acima pela
ABDI, já que sustentabilidade não é necessariamente equivalente a custos de produção mais
altos. Pelo contrário, muitas atitudes que visam dar ao produto um caráter mais sustentável
podem, de fato, reduzir custos, como redução de uso de matéria prima e energia.

Design

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Talvez as ações mais eficientes para atingir a sustentabilidade e reduzir custos estejam ligadas
justamente à fase mais inicial de seu projeto: a concepção. Responsável por esta fase, o
designer assume um dos papéis mais importantes no impacto dos produtos, sobretudo quando
este tem vida útil tão curta quanto a de um descartável. Nestes casos o designer que deve
sempre estar atento a toda vida do produto, precisa multiplicar sua atenção às etapas que
antecedem e sucedem a fase de uso do produto, uma vez que esta é efêmera por natureza.
O projeto do ciclo de vida (Life Cicle Design) que se caracteriza pela visão sistêmica do
produto e suas interações com o ambiente por toda a sua vida, é uma abordagem que
potencializa a ação do designer para atender a este objetivo ao tratar das entradas e saídas de
material e energia do produto em toda sua cadeia ( Manzini, Vezzoli, 2002). Certamente o
designer não tem o poder de resolver todos os problemas, visto que é apenas um ator dentre
tantos outros envolvidos, desde o fabricante da matéria prima ao usuário, mas é inegável o
poder de influência que pode ter em projetos como os de embalagens e utensílios
descartáveis.
Como criador e desenvolvedor do produto, o designer pode interferir na escolha da matéria
prima, de seu fornecedor e influenciar na produção e na logística. Com especial cuidado pode
tentar, através do projeto de produtos autoexplicativos ou intuitivos, tentar instruir o usuário
sobre a forma correta de descarte, reduzindo o esforço intelectual e físico em tarefas como
desmontagem e separação de partes que necessitem destinações diferentes. Segundo a ABDI:
‘Observa-se uma tendência crescente da rotulagem ambiental das embalagens, para facilitar o
reconhecimento do seu impacto no meio ambiente.’ (ABDI, 2009a, p.42).

Discussão
Este artigo procurou mostrar um breve panorama das embalagens e utensílios descartáveis
plásticos da indústria brasileira de alimentos desde os transformadores de resina, passando
pelos usuários intermediários (a indústria de alimentos) até o usuário final (o consumidor), e
seus impactos na produção de resíduos sólidos. Além disso, apresentou o que tem sido
considerado como algumas das tendências para estes produtos, e ressaltou a influência dos
designers que se ocupam em criá-los e sua importância ao planejar seus ciclos de vida.
A partir dos dados dispostos, propõe-se uma reflexão sobre algumas questões, tais como:
Se as embalagens e os descartáveis plásticos têm suas fases de uso curtas e se há uma
tendência de intensificação da procura por estes produtos, há um fluxo crescente de materiais
cuja decomposição é muito longa se juntando aos resíduos sólidos, criando um efeito negativo
no impacto destes resíduos. Este efeito negativo somado a um manejo ainda muito pobre de
tais resíduos acarreta ameaças aos ecossistemas. Sendo assim, podemos deduzir que as
embalagens e os descartáveis plásticos são uma ameaça ao meio ambiente?
Se a dedução for verdadeira e se ao mesmo tempo há a intenção de reduzir o impacto da
sociedade sobre o meio ambiente tornando-a sustentável, não seria lógico deduzir também que
se deveria optar por um consumo cada vez menor destes produtos?
Porém, isto entra em contradição com o crescimento deste consumo que pôde ser
observada anteriormente neste artigo, que nos demonstrou que este produto tem ocupado um
espaço cada vez maior na vida cotidiana dos brasileiros. Mas e no futuro? Qual o espaço que
se pretende que estes produtos ocupem na sociedade?
As tendências apontam para a continuação do crescimento de seu uso e de sua influência
na vida das pessoas. Mas se existe de fato a busca pela sociedade sustentável, quais seriam
as possíveis alternativas? É possível reverter uma tendência tão forte? Quais seriam as ações
necessárias? As iniciativas deveriam partir da sociedade civil ou de seus governos? Dever-se-
ia pensar em abandonar tais produtos? A sociedade está preparada para abandoná-los?
Segundo Garcia (2001), abandonar o uso de embalagens não solucionaria seu impacto nos
resíduos sólidos, ao contrário, acarretaria um aumento no desperdício e consequentemente no
volume dos próprios resíduos sólidos. Seria possível então, prolongar a vida destas
embalagens e descartáveis? Seria possível e viável substituirmos as embalagens e utensílios
descartáveis por outros retornáveis? Seria interessante do ponto de vista econômico? O efeito
ambiental seria, de fato, positivo? Seria possível (ou mais fácil) transformar o modo como
embalagens e descartáveis plásticos impactam os resíduos sólidos? A reciclagem, ao tornar os
plásticos pós-consumo em matéria prima para a indústria, tem sido considerada uma solução

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potencial neste sentido, mas como valorizar o ‘lixo’ para que haja interesse em levá-lo de volta
ao sistema produtivo? Como reduzir os custos da coleta e da triagem? Como valorizar a mão
de obra envolvida, tradicionalmente tão desprivilegiada?
Deve-se também observar as dificuldades relacionadas ao uso de material reciclado em
embalagens em contato com alimentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
estabelece em sua Resolução nº 105, de 19 de maio de 1999, a proibição da utilização de
plástico reciclado no contato com embalagens, com exceção das aparas que são as sobras do
processo de transformação e podem ser reprocessadas, e do PET multicamada, em que o PET
reciclado não entra em contato com o alimento isolado por camadas de PET virgem. No
entanto, na mesma resolução há uma ressalva onde se abre uma brecha para que processos
tecnológicos de reaproveitamento de materiais reciclados possam ser estudados pela
‘autoridade sanitária competente’ (ANVISA, 1999). A Resolução RDC nº 20, de 26 de março de
2008, já estabelece um regulamento para a utilização de PET pós-consumo reciclado em grau
alimentício, o PET-PCR (ANVISA, 2008). A grande questão relacionada à utilização de
reciclados plásticos pós-consumo em embalagens se deve a algumas características dos
polímeros que possivelmente poderiam absorver substâncias químicas nocivas com que
tivessem contato e que não seriam retiradas na lavagem ou no reprocessamento,
diferentemente de agentes biológicos (FDA, 2003 e Devlieghere, Huyghebaert, 1997 apud
Santos et al., 2004).
Por outra óptica, é possível reduzir o impacto dos resíduos sólidos no meio ambiente ao
invés de reduzir os impactos dos produtos descartáveis plásticos nos resíduos sólidos? Os
bioplásticos têm criado grandes expectativas neste sentido, mas têm também criado muita
confusão devido à falta de informação, informações equivocadas e até o chamado ‘marketing
verde’ (greenwashing), quando as informações equivocadas são divulgadas, mesmo que por
vezes apenas de forma sutil, pois servem a um propósito comercial (Klohn, Ferreira, 2009).
Confunde-se bioplásticos com biodegradáveis compostáveis e empresas aderem aos oxi-
degradáveis alardeando uma atitude sustentável que pode ser mais nociva do que benéfica.
Bioplásticos são de origem renovável, porém não necessariamente biodegradáveis (ABDI,
2009b). Plásticos biodegradáveis são aqueles que, consumidos por micro-organismos, se
decompõem dentro de até 180 dias (Instituto Nacional do Plástico, 2011), ou seja, são
compostáveis. A biodegradabilidade e a compostabilidade são estabelecidas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através da NBR 15448-1 e NBR 15448-2 e por normas
internacionais como a ASTM D6400-04 e a BS EN 13432:2000. Não se pode confundi-los com
os oxi-degradáveis, que não se enquadram nas normas acima. Ao contrário, são resinas
comuns (commodities) acrescidas de aditivos químicos que com a ação do oxigênio ao longo
do tempo têm suas cadeias moleculares quebradas transformando-os em micropartículas
facilmente suscetíveis a dispersão. Embora estas micropartículas não se apresentem tóxicas
em testes laboratoriais, não se pode afirmar o mesmo após disposição de grandes quantidades
no ambiente. Sua rápida degradação também compromete a reciclagem caso sejam
misturados aos materiais destinados a este fim (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do
Sul, 2009; Universidade Federal de Goiás, 2009).
No entanto, deve-se considerar que a compostagem necessita ocorrer em ambiente com
temperatura e umidade controladas e que apenas 3,8% dos municípios brasileiros contam com
unidades de compostagem de resíduos orgânicos, sendo que 78,7% destes municípios têm até
50.000 habitantes e densidade menor que 80 hab./km² (IBGE, 2010b). Soma-se a este dado a
(ainda) baixa produtividade de bioplásticos e seus altos preços, fazendo com que a
compostagem não pareça ser uma boa aposta em curto ou médio prazos.
A ABDI sugere que outra alternativa pode ser uma tendência: a queima do material para
reaproveitamento do potencial energético dos plásticos, realimentando o setor produtivo com
parte da energia utilizada para transformá-lo (ABDI, 2009a). No entanto, deve-se ficar atento à
forma com a qual isto seria aplicado para que a poluição do solo, da água e visual não seja
trocada por poluição atmosférica e agravamento do efeito estufa.

Considerações finais
Ainda há muito a ser estudado no que tange a minimização dos impactos dos produtos
plásticos descartáveis no ambiente. Atualmente, a dependência da sociedade para com estes
materiais, especialmente na indústria de alimentos, tem como principais questões os problemas

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relacionados ao reaproveitamento do material pós-consumo no mesmo ciclo produtivo e as
dificuldades de ordem estrutural e informacional no tratamento de resinas compostáveis.
Soluções para estes problemas tendem a necessitar abordagens sistêmicas, e com este
pensamento talvez a questão central não deva ficar restrita aos produtos, mas abordar
comportamentos e escolhas dos usuários.
Há ainda que atentar para o ‘efeito boomerang’ (rebound effect) conforme definido por
Manzini (2008):
[...] o fenômeno através do qual, devido a uma intricada trama de eventos, as escolhas consideradas
positivas para o ambiente, demonstram gerar novos problemas quando colocadas em prática.
(Manzini, 2008, p.43-44).
Enfim: é possível que nenhuma solução seja definitiva, mas é certo que o preço da
procrastinação será alto caso não se aja com a devida urgência.

Referências
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