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Literatura Infantojuvenil
Sumário
CAPÍTULO 1 – Como os diferentes gêneros e formas discursivas promovem
a produção de conhecimento?.........................................................................................05
Introdução.....................................................................................................................05
1.2.1 Situações dialógicas informais, de acordo com determinados grupos sociais ..........13
Síntese...........................................................................................................................21
Referências Bibliográficas.................................................................................................22
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Capítulo 1
Como os diferentes gêneros e
formas discursivas promovem a
produção de conhecimento?
Introdução
Olá, caro estudante!
Iniciaremos o nosso curso de Literatura Infantojuvenil falando sobre como o discurso humano
está intimamente ligado ao conhecimento. Mas o que isso tem a ver com literatura? Ora, a lite-
ratura não é a arte da palavra?
Não podemos pensar nesta produção artística sem pensar em palavras ou por meio delas: as
palavras permeiam nossa relação dialógica com o mundo. Seja de forma artística, científica,
pedagógica ou espontaneamente nas relações humanas, ela é a mais importante ferramenta de
comunicação do ser humano.
Temos, então, a resposta para nossa primeira questão: as palavras, presentes em todas as formas
discursivas verbais, orais e escritas, são o nosso principal sujeito, nosso objeto de estudo, e tam-
bém nossa ferramenta principal em toda e qualquer área de conhecimento. Inclusive na literatura
em geral e na Literatura Infantojuvenil.
Neste capítulo, refletiremos sobre os gêneros discursivos à nossa volta, inclusive os virtuais, e
sobre a relação deles com a literatura.
Afinal, de que forma as leituras literárias podem melhorar o discurso diário oral e escrito e,
consequentemente, o acesso ao conhecimento? E de que forma os gêneros discursivos informais
podem ajudar na compreensão da complexidade da trama literária?
Vamos ao trabalho!
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Literatura Infantojuvenil
Figura 1 – Dependendo do contexto, dos interlocutores e das intenções, estruturamos o discurso de diferentes formas.
A denominação “gêneros discursivos” foi utilizada, pela primeira vez, pelo autor russo Mikhail
Bakhtin, na década de 70, como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 1979).
De acordo com o autor, os gêneros que circulam nas diferentes esferas sociais refletem o conjun-
to possível de relações nas formas e estilos de enunciar, de falar e de escrever.
Esses aspectos estão vinculados e se concretizam em forma de gêneros, sejam de esferas cotidia-
nas (gêneros primários) ou de esferas mais complexas, formais e públicas (gêneros secundários).
Os gêneros primários são os gêneros com menor grau de complexidade. Eles são produzidos de
forma mais espontânea, sem rigor de estrutura e de linguagem. São os gêneros que surgem em
nossas relações primárias, como a que estabelecemos no âmbito familiar, e são adquiridos com
a mesma naturalidade com que o ser humano adquire sua língua materna.
Mas é importante destacar que gêneros discursivos e tipos de linguagem são coisas diferentes.
De acordo com os estudos de Bakhtin, a linguagem tem natureza dialógica e sócio histórica.
Portanto, produzir linguagem é o mesmo que produzir discursos sociais. Mas enquanto o tipo de
linguagem só pode ser formal ou informal, os gêneros discursivos apresentam uma gama muito
maior de variedade.
A linguagem que empregamos em nossas relações dialógicas pode ser formal ou informal. A
linguagem formal é usada quando não há familiaridade entre os interlocutores da comunicação
ou em situações que requerem uma maior seriedade. E a linguagem informal é usada quando há
familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações descontraídas.
VOCÊ SABIA?
Que J.K. Rowling , escritora da série de romances de Harry Potter, escreveu todos os
sete livros da coleção à mão? O primeiro deles, “A Pedra Filosofal”, foi lançado em
1997. Por meio de enredos que contemplam a vida de um jovem bruxo, a autora in-
glesa aborda temas como morte, preconceito e corrupção. Sucesso de vendas, a série,
que ficou popular entre adolescentes de todo o mundo (traduzida para 73 idiomas),
também foi transformada em oito filmes. Para se ter uma ideia, em 2015 já haviam sido
vendidos 450 milhões de livros.
Os gêneros não são estruturas absolutamente estáticas e imutáveis. Eles podem ser transforma-
dos, já que a língua está viva e em constante mudança para dar conta de atualizar as transfor-
mações do mundo em forma de registros verbais.
VOCÊ O CONHECE?
Mikhail Mikhaïlovitch Bakhtine é um autor russo que revolucionou o estudo da Lin-
guística. Ele dedicou a vida à definição de noções, conceitos e categorias de análise
da linguagem, com base em discursos cotidianos, artísticos, filosóficos, científicos e
institucionais. O autor trouxe as relações de comunicações verbais orais e escritas, pre-
sentes na rotina diária, formal ou informalmente para a categoria de gênero textual, e,
portanto, objeto de estudo. Diante da grande heterogeneidade de produções textuais,
dividiu os gêneros do discurso em dois grupos: primários e secundários.
Em cada momento histórico podem surgir gêneros discursivos novos, de acordo com as transfor-
mações não apenas sociais, mas também tecnológicas, científicas e artísticas.
Nesse sentido, vemos hoje uma série de novos gêneros discursivos, a exemplo dos que surgiram
no contexto tecnológico: e-mail, chats, blogs, hipertextos, sites de relacionamento etc. Vale lem-
brar que os gêneros virtuais também usam linguagem ora formal, ora informal, de acordo com
as características da comunicação via internet.
Desde a infância, interagimos com os gêneros discursivos que colaboram na composição do re-
pertório oral e escrito de cada um. E gosto pela leitura pode despertar à medida que o indivíduo é
exposto a situações em que a literatura é apresentada a ele de maneira significativa, agradável e
lúdica, levando- o a se perceber e a entender melhor seu mundo, por meio das histórias dos livros.
Literatura infantil (e juvenil) é, antes de tudo, literatura; ou melhor, arte: fenômeno de criatividade
que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática,
o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização... (COELHO, 2000, p. 9)
Temos uma produção diversificada desse ramo da literatura, com histórias fictícias, biogra-
fias, novelas, poemas, obras folclóricas e culturais, ou simplesmente obras contendo/explicando
fatos da vida real.
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Literatura Infantojuvenil
Figura 2 – A literatura infantojuvenil desenvolveu-se a partir das obras escritas para adultos.
Fonte: Steve Mart, Shutterstock, 2016.
A Literatura Infantil, por sua vez, é voltada para o desenvolvimento de uma nova visão da reali-
dade, da diversão e do lazer. Obras literárias destinadas às crianças, em geral, trabalham grupos
de palavras e poucas e simples frases. Os livros são coloridos e possuem muitas imagens.
No Brasil, o mais importante escritor infantil foi Monteiro Lobato, mas temos um número consi-
derável de grandes autores cada vez mais conhecidos atualmente, como Ana Maria Machado,
Ruth Rocha, Maria Clara Machado, Eva Furnai, Tatiana Belink, Ziraldo, Vinicius de Moraes, entre
muitos outros.
VOCÊ O CONHECE?
Pedro Bandeira é um dos escritores brasileiros que fazem mais sucesso entre os jovens.
O autor já escreveu mais de 70 livros, todos grandes sucessos de venda. Os mais con-
sagrados fazem parte da série protagonizada pelos Karas, uma turma de estudantes
“investigativos”, com os quais os leitores se identificam. Fazem parte da série livros
como “A Droga da Obediência” e ”A Droga do Amor”. Bandeira teve outras obras re-
conhecidas, como “O Fantástico Mistério de Feiurinha” que ganhou o Prêmio Jabuti na
década de 80 e faz sucesso até hoje
Já a Literatura Juvenil é voltada para leitores com idades entre 12 e 16 anos. Antunes (2013, p.
14) explica que, para efeitos práticos, pode ser considerado o público da Literatura Juvenil os
estudantes “dos dois ou três últimos anos do ensino fundamental e o primeiro ou o segundo ano
do ensino médio”, ou seja, “quando não é mais criança, mas ainda não é considerado adulto”.
• um número maior de páginas do que os livros voltados a crianças, podendo alcançar 200
a 300 páginas, em vários casos;
• linguagem clara e de fácil compreensão, muitas vezes com usos de gírias e variações
populares e regionais;
A partir da Idade Média, com as cantigas dos trovadores palacianos, a escrita foi desenvolvendo
um olhar estético, sensível, voltado para a fruição, expressão de emoções e reflexão, mais do
que para a informação, caracterizando a produção literária como forma de expressão artística.
VOCÊ SABIA?
Na China, o primeiro grande autor de táticas militares e estratégicas foi Sun Tzu, no
século IV a.C., com A Arte da Guerra. No Japão, as primeiras obras literárias foram
as crônicas Kojiki e Nihonshoki, no século 8 d.C. Depois vieram os contos de fadas,
o renga, o teatro Nô, o kabuki e o haicai, que é um estilo de poesia bastante conhe-
cido pelo mundo. A literatura árabe floresceu durante a Era de Ouro do Islamismo, e
continua forte até os dias de hoje.
No século XVIII, as crianças ainda eram vistas como adultos em miniatura, tendo grande parti-
cipação na vida dos mais velhos. Assim, em se tratando de leituras, tanto as crianças quanto os
adultos compartilhavam as mesmas obras, não existindo até essa época uma criação literária
específica para desenvolver a sensibilidade das crianças.
Somente a partir do século XIX, com os estudos da psicanálise e da psicologia, a sociedade en-
xergou a criança como diferenciada do adulto. Ela passa a:
A partir desse momento foi possível um terreno fértil para a uma literatura que pudesse contribuir
para a formação das crianças como indivíduos. E foi este o primeiro foco da Literatura Infantil: a
formação, ou a educação das crianças.
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Literatura Infantojuvenil
Os primeiros livros direcionados às crianças foram feitos por professores e educadores no final
do século XVII, com o objetivo de passar valores e ensinar, além de desenvolver bons hábitos e
regras da boa educação, por meio de histórias infantis.
Em meados do século XX, com a evolução da psicologia e da pedagogia, surgem novas concep-
ções sobre as características do público infantojuvenil e seu processo de aprendizado.
Surge, então, a nova concepção da literatura infantojuvenil, que se distancia de sua função pura-
mente pedagógica para uma função integradora entre o pedagógico e o lúdico. A literatura em
quadrinhos, entre outros gêneros, passa a prevalecer dentro da preponderância da esfera visual
e das brincadeiras de linguagem.
VOCÊ SABIA?
Atualmente, estamos vendo o desenvolvimento da Literatura Africana, que tem uma
longa história, uma vez que se conhecem obras literárias africanas desde o Antigo Egi-
to. Mas, na maior parte da África, a escrita só começou a ser produzida após a colo-
nização. A partir do século XX, diversos autores do continente africano, principalmente
em Língua Portuguesa, atingiram grande destaque internacional com autores premia-
dos com o Prêmio Nobel.
No Brasil, as mudanças na educação das crianças e a produção literária voltada ao público in-
fantil começaram a partir da criação do Império, com a vinda da família real portuguesa, dando
início a grandes transformações de caráter educacional, político e social . A modernização não
poderia ser completa sem que a área educacional fosse incentivada, uma vez que eram necessá-
rias pessoas cada vez mais qualificadas para essa nova fase do país.
Enfim, como Lena Lois (2010, p. 10) inicia seu livro “Teoria e Prática da Formação do Leitor”:
Quando falamos sobre livro e leitura, hoje estamos tratando de um conteúdo que tem muita
história para contar. Uma história que vai desde a evolução dos materiais que conduziam ao
texto escrito... até os atuais textos virtuais.
Na obra, Lena fala da história do livro no Brasil, desde quando o país era povoado apenas por
índios, relacionando a leitura com a questão do poder, no caso da colonização portuguesa e dos
interesses que nortearam a Literatura Brasileira através do tempo.
Atualmente, temos um mercado específico de literatura infantojuvenil, que está em franco cresci-
mento, apesar de os pessimistas alardearem que crianças e jovens leem cada vez menos.
Embora as obras dirigidas a este público sejam cada vez mais publicadas e disponibi-
lizadas pelas editoras e estejam muito presentes na Educação, o grande receio é que
acabe predominando a linguagem visual ou imagética, nesta época dominada pela
tecnologia virtual.
Diante deste cenário, o desafio é cuidar da escolha das obras infantojuvenis que sugerimos aos
alunos, já que o mundo virtual reforça a tendência das crianças e jovens de fugirem de textos
longos e de linguagem complexa, por serem mais “trabalhosos”.
Por outro lado, constata-se que alguns livros dedicados a adolescentes têm se tornado gran-
des best-sellers mundiais, como aqueles de bruxos, magia, ficção científica, futurismo, suspense,
terror, mistério, além de vampiros contra lobisomens.
No Brasil, diversos autores se destacam no ramo da literatura infantojuvenil. Entre os mais ad-
mirados e lidos estão:
• Pedro Bandeira, com sua série de livros com “A turma dos Karas”: Entre as obras estão “A
droga da Obediência”, “A droga do amor” e “A droga da amizade”;
• Marcos Rey, com seus livros de suspense, como “O rapto do garoto de ouro” e “Um
cadáver ouve o rádio”;
• Moacir Sclyar, com seus romances fantásticos como “Um centauro no Jardim” e “A mulher
que escreveu a bíblia”;
• Stella Carr, também com os livros de mistério que os jovens tanto gostam, como “Paranoia,
a síndrome do medo”, “Os criminosos vieram para o chá”, “Assombrassustos”, “A morte
tem sete herdeiros”;
• Ganymedes Jose, com “Uma luz no fim do túnel”, “Um girassol na janela” e uma vasta
produção para crianças e jovens.
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Somos cercados por produções textuais desde o início da vida, como as certidões de nascimento,
seguidas das certidões de casamento, documentos de identidade, de relações comerciais, diplo-
ma acadêmico, receita culinária e médica; provérbios; ordens na educação e em treinamentos;
locução de evento esportivo; conversa informal; memorando; entrevista; tratado de filosofia;
enunciado de problema matemático; informe; decreto-lei; oração; sermão; poema; verbete de
dicionário; blogs, sites de relacionamentos; buscas no Google; conversas pelo celular... Parale-
lamente, temos os contos infantis, as brincadeiras, as regras de jogos, histórias em quadrinhos,
vídeos e filmes, teatro, aulas, Youtube...
Enfim, a lista é aberta, e o gênero discursivo pode ser oral ou escrito, presencial ou virtual; ligado
a imagem e ícones... E ainda não conseguimos imaginar o que vem vindo por aí...
E como se pode inserir os discursos sociais nas leituras literárias? Sabemos que cada gênero
ocorre em um determinado contexto, que envolve agentes que o produzem e o consomem. A
constituição dos gêneros se dá em conformidade com a esfera comunicativa, o propósito do
enunciador e o contexto em que vai circular. Ora, o gênero literário pertence à esfera comuni-
cativa da Arte, com finalidades específicas, como despertar a sensibilidade, provocar emoções,
encantar pela surpresa e pela beleza, entre outras. Mas, de uma forma ou de outra, o texto lite-
rário retrata, de forma real ou simbólica, a própria vida, seus encantos e desencantos.
Vale lembrar que o gênero literário é um produto cultural construído historicamente pelo ser hu-
mano, com a função de “tocar” a percepção artística por meio das palavras.
Enfim, é frequente a mescla de gêneros literários e não literários nos livros de literatura infantoju-
venil. E isso é uma boa maneira de realizar projetos com atividades entremeadas pela linguagem
literária e não literária, com palavras de encantamento artístico compondo juntas a estruturas
simples do cotidiano, na criação literária.
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Literatura Infantojuvenil
A forma de utilizar essa linguagem, as suas nuances, os seus tons, o seu ritmo e o seu repertório
variam de acordo com o momento histórico, com o local geográfico, com o grupo social ao qual
você pertence e até mesmo com a sua faixa etária.
As variações na maneira de falar têm sido consideradas como “falar errado”, mas os diferentes
falares são considerados diferentes formas de expressão e não erros.
Alguns grupos sociais podem ter formação mais erudita e, por isso, ter um repertório formal mais
amplo. Mas isso, de maneira alguma, determina que é um grupo que fala de forma mais correta
que o outro.
Marcos Bagno (2015), em seu livro “O preconceito linguístico”, trata exatamente disso e defende
que é importante trabalhar este assunto nas escolas. Para isso, é fundamental que os estudantes
recebam uma educação linguística crítica, que demonstre que todas as línguas e variedades lin-
guísticas são instrumentos perfeitos para expressar e construir a experiência humana neste mundo.
Até na própria literatura podemos perceber diversos autores que saem do registro formal carac-
terístico da linguagem literária, para registrar exatamente a maneira de falar de determinados
grupos sociais ou pessoas, como faz Monteiro Lobato, por meio dos personagens do Sítio do Pica
Pau Amarelo. É uma forma de incorporar a realidade à produção literária.
Na Literatura Juvenil contemporânea também temos esta tendência de registrar a fala jovem,
com suas gírias e, às vezes, até palavras de baixo calão, a fim de levar a leitura para o mundo
dos mais jovens e “falar a sua língua”.
Muitos professores renegam esse tipo de leitura por considerar que os alunos vão aprender
errado. Mas, na verdade, não se pode ignorar a maneira de falar dos jovens e rotular de “fala
errada”, sob o risco de nos tornarmos estrangeiros para eles.
É preciso considerar todo tipo de variação para, a partir delas, apresentar a norma padrão e
mostrar para as crianças e jovens que há uma linguagem mais formal, pertencente à variedade
padrão da língua. Padrão porque é registrada de acordo com regras determinadas e seguindo
um formato e um repertório que seja compreendido em qualquer época, por qualquer idade e
em qualquer situação.
Esse cuidado é necessário na leitura de livros literários, para fazer a relação entre o trabalho
artístico com as palavras, presente na maioria dos livros de literatura, e as formas de incorporar
a este trabalho, variações orais da língua, que pertencem à realidade dos alunos, sem depreciar
o valor da obra.
Uma das formas de fazer este trabalho pode ser transformando a sala de aula em uma sala de
leitura. Confira algumas sugestões:
• Criar murais onde podem ser compartilhadas notícias, receitas, letras de músicas,
sugestões de filmes, horóscopo.
• Criar um espaço onde os alunos possam compartilhar as dúvidas que têm em relação
ao conteúdo estudado e criando a possibilidade de os próprios colegas que entenderam
ajudarem os que estão com dificuldade. Frequentemente, a linguagem do colega é mais
adequada para o entendimento do que a explicação do professor.
• Criar um blog de leitura, onde todos compartilhem sumários e comentários de livros que
a turma lê (tanto os sugeridos pelo professor quanto os lidos espontaneamente).
Enfim, existem muitas formas de unir Literatura e dia-a-dia. É só o professor estar com o foco
voltado para este objetivo.
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ao longo dos anos. Além disso, vivencia contextos de produção de textos livres, de textos para
provas, de seminários, de representações teatrais, de debates, de avaliações, enfim, vários gê-
neros escritos e orais.
Figura 6 – Oralmente ou por escrito, a sala de aula promove oportunidades de vivenciar diferentes gêneros discursivos.
Fonte: CandyBox Images, Schutterstock, 2016.
Cada um desses gêneros usados pelos professores deve ser aproveitado no estudo da linguagem,
pois têm características próprias e podem ajudar no domínio da competência leitora e na relação
com o contexto literário.
Como exercício interessante para fazer em sala de aula, sugiro convidar os estudantes a respon-
derem às seguintes questões:
• Como Branca de Neve cantaria, atualmente, para seus colegas, na Festa da Primavera?
• Como Peter Pan convidaria seus colegas para um fim de semana na Terra do Nunca?
Apesar de os gêneros escolares parecerem mais restritos à formalidade dos registros escritos na
aula, eles fazem parte de um contexto maior, que é o ambiente escolar. E é todo o contexto que
deve ser relacionado com os textos literários para que a rotina enriqueça a arte e para que a arte
aperfeiçoe a rotina.
Isso tudo determina as escolhas feitas com relação ao gênero no qual o discurso se realizará, à
seleção de procedimentos de estruturação e, também, à seleção de recursos linguísticos.
Dessa forma, quando encontra com um colega, a criança já fala com ele na linguagem informal
a qual está habituada, usando as palavras do repertório do grupo, sobre assuntos do interesse
deles.
Figura 7 – Existem gêneros específicos da literatura que não ocorreriam em outro contexto.
Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2016.
Cabe à escola viabilizar o acesso do estudante ao universo dos textos mais complexos, que circu-
lam socialmente, e ensinar a produzir e a interpretar textos dos diferentes gêneros com os quais
o aluno se defronta. É necessário oportunizar que ele se torne capaz de utilizar textos cuja finali-
dade seja compreender um conceito, apresentar uma informação nova, descrever um problema,
comparar diferentes pontos de vista, argumentar a favor ou contra uma determinada hipótese ou
teoria, presentes nos livros e apostilas escolares.
Só dominando esta variedade textual é que o ser humano convive confortavelmente na socie-
dade letrada e intermediada pela palavra em todos os âmbitos, tornando-se um agente de sua
própria história.
E como fazer a interligação dos textos secundários formais, necessários para o conhecimento e
a informação, com os textos literários, necessários para a formação?
A literatura deve sempre ser uma forma de aprender e não apenas uma obrigação a ser cumpri-
da para fazer uma prova. Para isso, mais importante do que avaliar se o aluno leu ou não leu o
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Literatura Infantojuvenil
livro indicado, o importante é garantir sua compreensão e a percepção de que os textos literários
retratam nada mais nada menos do que a própria vida.
É preciso apresentar os textos literários aos alunos seguindo um passo a passo que leve a essa
compreensão, já que, frequentemente, a linguagem e a estrutura literária são mais formais e se-
guem modelos menos flexíveis. Além de a literatura não parecer, para o público infantil e jovem,
imediatista por natureza, um gênero que “sirva” para alguma coisa.
Nosso trabalho é mostrar, que a literatura está a serviço da nossa formação tanto individual
quanto coletiva. Somos seres humanos, sociais por natureza, sensíveis e criativos, que enquanto
seres racionais, precisamos e devemos aperfeiçoar a nossa capacidade reflexiva, para sermos
pessoas capazes de alcançar o autoconhecimento e termos uma vida responsável e sustentável.
CASO
Quando lecionei para estudantes do Ensino Fundamental, apliquei um exercício que teve um re-
sultado imediato em sala de aula. Aos mais novos, eu recontava diferentes fábulas, transforman-
do os animais em seres humanos e criando cenas onde as crianças representassem a história.
Depois disso, promovia um debate para discutir como cada história se aplica à nossa sociedade.
Já com os maiores, os exercícios seguiam a mesma linha, mas eu sugeria que fizessem paródias
cômicas a partir das fábulas e também que fizessem o “julgamento” das personagens centrais,
para avaliar se agiram corretamente ou não.
O professor deve ser um modelo de leitor, antes de tudo. Sendo visto pelos alunos sistematica-
mente em situações de leitura, ele garante uma grande variedade de textos para compartilhar
e seduzir para a leitura e também inspira os alunos a procurarem sabe que tanto interesse as
leituras podem despertar.
Comece, então, a mostrar o valor e a importância da leitura de literatura, lendo livros tanto para
fazer boas escolhas para seus alunos, quanto para enriquecer seu próprio repertório e também
relacionar suas leituras com sua vida pessoal e pedagógica.
Além disso, é importante que as práticas sistemáticas de leitura sejam muito bem planejadas,
afim de que cada leitura atinja o objetivo estabelecido.
Sugiro seguir roteiros programados para tornar a leitura mais efetiva. Veja exemplos de como
fazer isso:
• Fazer sempre uma primeira leitura coletivamente, ressaltando que toda leitura começa
com a observação e interpretação atenta da capa e todos os seus componentes verbais
e não verbais. Cada cor e cada imagem escolhida já fala algo sobre o texto: a data
em que foi escrito, o local onde foi publicado e o público alvo são fundamentais para a
compreensão de cada obra.
• Conhecer melhor o autor, sua história e sua visão de mundo, ajuda a perceber as
semelhanças e diferenças entre o autor e cada leitor.
• Marcar um tempo da aula para que, diariamente, seja lido um trecho de um livro, com
comentários e esclarecimentos do vocabulário e de outros aspectos que possam dificultar
a compreensão dos alunos.
• Orientar os estudantes sobre como fazer os registros de leitura. Pode ser um pequeno
resumo de cada trecho lido, um esquema visual, desenhos ilustrações. É importante variar,
para que os alunos fiquem sempre na expectativa de qual será o próximo passo.
• Discutir e ouvir a turma sem restrições e pedir que, em grupos, eles passem a história
para outro gênero: transformar o livro em história em quadrinhos, fazer uma paráfrase ou
paródia da história, transformar em poesias ou música, animação, filme, peça de teatro,
exposição de fotos, criações com argila.
Enfim, é importante que as atividades com textos literários estejam incorporadas às práticas de
rotinas da sala de aula, já que a literatura é uma forma específica de conhecimento.
De acordo com Lajolo (2008), ler é essencial, e a leitura literária também é fundamental. É por
meio da literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os diferentes imaginários,
as diferentes sensibilidades, os mais variados valores e comportamentos, por meio dos quais uma
sociedade expressa e discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias.
Os textos literários não devem ser instrumentos apenas para servir ao ensino das boas maneiras,
dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, muito menos dos tópicos gramaticais e das re-
ceitas desgastadas do “prazer da leitura”.
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Literatura Infantojuvenil
Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, podemos observar um mercado de literatura
infantojuvenil cada vez mais especializado. As obras são classificadas rigorosamente de acordo
com a faixa etária e os livros seguem padrões sistemáticos de tipo de linguagem, vocabulário,
estrutura, quantidade de imagens e cores e assuntos tratados. Dessa forma, fica simples para o
professor selecionar os livros que indicará para a sua turma a cada ano.
Como no Brasil não há esse critério seletivo, cabe ao professor ler cuidadosamente, com ante-
cedência, as obras que pretende indicar aos alunos, fugindo da armadilha de se contentar com
os catálogos de editoras que tentam atraí-los nas salas de professores. Somente com a leitura do
resumo no catálogo o professor não tem noção do tipo de linguagem empregadas, das palavras-
-chave para a compreensão, do tipo de letra, do tipo de ilustrações, sem falar nas mensagens
subliminares que podem ser prejudiciais.
Procure ler as fábulas, contos e poesias japonesas, que têm excelentes versões para o português;
os livros de ensinamentos chineses para crianças; as histórias das mil e uma noites árabes e todo
o tipo de textos que possam trazer conhecimentos sobre outras culturas.
Caso você tenha alunos de outras nacionalidades, peça que pesquisem com os parentes quais
os melhores livros para crianças e jovens no lugar de onde vieram.
• compreender que a literatura é uma forma de arte que reinventa a realidade e reflete
sobre ela;
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Referências Bibliográficas
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