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os

Eis urna obra que vem fazer luz sobre urna insti- .
tuif;áo sobre a qual recai um véu de mistério, de eso-
terismo, quase de magia. O leitor, ao longo do livro,
TEMPLARIOS
verá as razoes que contribuíram para esse halo enig-
mático. A Ordem religioso-militar do Templo, .funda- Régine Pernoud
da em 1119, tinha a fun~áo de proteger os cruzados e
peregrinos que se dirigiam a Terra Santa. No nosso
País, inclusive, desempenhou um importa.nte papel na
defesa e povoamento do território.
Concluída aqueta fun~áo, e fruto de urna acumu-
la~áo de privilégios, a Ordem entregou-se a activi-
dades de ordem financeira. De tal maneira se tornou
poderosa que sobre ela se concitaram as aten~oes ávi-
das de alguns monarcas. Foi o caso de Filipe, o Belo,
de Fran~a, que em 1307 ordenou o desencadeamento
de urna vasta persegui~áo aos Templários, com o
objectivo de proceder ao controlo das riquezas da
Ordem.
Sobre todos estes factos se debru~a, com rigor his-
tórico, Régine Pernoud, que nao precisa de apresen-
ta~oes ao leitor portugues. Especialista de temas
medievais, é a autora ·de outros Iivros publicados por
nós, como Luz sobre a /dade Média, As Origens da
Burguesía ou O Mito da /dade Média.

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PUBLICACOES
11b482 http://alexandriacatolica.blogspot.com EUROPA-AMÉRICA
Titulo original: Les Templiers
RÉGIN E PERNOUD
Tradu~tlo tf,e Maria do Pilar Delvaul:i:

Capa: estúdios P. E. A.

© 1974, Presses Univer.sitaires de Fratnce


(n. 0 1557, da Col. «Que sais-fet>)

D'reito.~ reservados por


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ou por qualquer processo, electrónico, mectiníco
ou fotográfico, incluindo fotoc6pia, xerocópia ou
gravar;áo, sem autorizagáo prévia e escrita do
editor. Exceptua-se naturalmente a trans~tlo
de peque-nos te:x:to8 ou passagem para aprese7,-
os TEMPLÁ·RIOS I
tagtlo ou crUica do lim-o. Esta excepcáo ntJo
®ve de mo·d o nenhum ser 'nterpretada como
sendo extensiva a
transcrit,;ao de textos em reco-
Zhas antológicas ou -similares donda Tesulte pre-
Juizo para o interesse pela ob,·a. Os tranagTes-
aores sao passiveis de procedimento judicial

Ed,itor: Francisco Lyon de C<l8trD

E<lit,;(J,o n.o 1164/ 3139


colecc;:ao
Execu~áo técmca:
Socieda<J,e Astória, Lda.,
Lisboa PUBLICAQOES ElJROPA-A.MimiCA

http://alexandriacatolica.blogspot.com
Na mesma coleccAo ·pode'rá. en·c ontrar o leitor outras
obras que completaTáo o qu&tro histórico dos periodos
a que se refere a presente obra:
N .º 5-A8 O rigerrwJ da Bu'f'g uesia, Régin-e Pernoud
N.º 51 ·~-.As Cidades da Id<Nle MMia, Henri Piren.ne
N .º 76 - Q?.l.e 1!J <> Feudaliis-mof, F. L. G ranshof
N .0 99-.A RevolU{(oo Indu.stril:U na Idade Médúi, .Jean
Gimpel .
N .º 125-0 Mito da Ii<lail,e Média, Régine P ernoud
N .º 145- O T r a balho na Idn,;il,a Média, J'acques Heers
N. 0 148 __, O Isüio, Dominoque Soul'1del
N .0 156 - A Alta .ldade Média Ocidental, Michael
Ba.nniard

íNDIOE
P á g.

Capitulo I- As origmis </,o Tem>pl<> .. ... ... .. .. 13

Capít ulo II - Estruturas e vid.a quotidiama . . . . . . 21

Capitulo fil - A arqwite,ctura dos Templários 51

Oapitulo IV - A epopeW, do Templ.o 65


Capítulo V- Achninistradore.s e ba-n;queiros . . . 99

Oapitulo VI - Detengáo e 'f1'1'0Cesso dos Templários 125

Capítulo VII - Os Templários perante a poste-


....: ..Jl~,'1 ~
I~ • · · • ·•• ·• · • · ·• · • · • · · · · · · · •• • • ••·• • • · · · • 151
...... .. ... .... .... ............ ......... 167

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O.APtTULO 1

AS ORIGENS DO TEMPLO

No ano de 1099 os cruzados retomaram Jeru-


salém e os lugares santos da Palestina que
haviam caído nas maos dos Mu~lmanos qu·atro-
centos anos a.ntes e que, numa data muito roa is
r ecente, tinhrun sido submetidos ao poder dos
turcos Selj:úci·d as, cuja invasao na Ásiai Menor
foi qtra:se oomo um maremoto e cuja vitória
sobre as forgas do Império Bizantino (bat.alha
de Mantzik·e rt, 1071) constituiu para estas um
vertladeiro desastre.
As peregrina~oes nao haviam sido, nunca,
completamente interrompidas, a nao ser durante
os periodos de persegui~es especialmente cruéis
contra os cristaos, como acontecera, por exemplo,
durante o reino do califa Hakim, nos principios
do século XI. E iam ser consideravelmente esti-
muladas por essa reconquista dos lugares san-
tos; mas continuava~ a ser feitas em condi-
~oes. :p recárias, pois a m·a ior parte dos baroes
cruzados regress·a vam a Eul'opa após havere.m
cumprido os seus rvotos. As forgas que perma-
neciam na Term Santa eram irrisórias e apenas
foram refo:r~das nalgumas cidades fortifi1c adas
ou em alguns castelos edificados a pressa ou
reconstruídos nos pontos nevrálgicos do reino;
«.facínoras e ladr5es infestavam os caminhos,

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¡ 14
REGINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 15

que tinha sido criada passa a ser a Ordem do


apanh!avam. os per~inoo d~ sur.p res·a, despo- Templo e os seus membros os Templários.
javam um grande nU!me~o destes e massacra\ram No início, a cria@.o desUJ.. Ordem nao é mais
n1t1iltos» (Jacques d.e V1try). . . do que urna. manifesta~áo d~e sentido da adap-
Conscientes desta situ2.gáo, algu,.vis .caval_;i~os ta~o, dessa. preocup~o de corresponder as
decidem prolongar o voto que l1.:a.v'1am :t.~1to, necessidades do momento, que parecem. caracte-
consagrando a Slla vida a defesa dos pere~nOS. rizar as fund~oes religiosas durante todo o
· Agrupam-se a volta de um deles: Rugues, período feudal. Antes da criagao da Ordem dos
oriundo de p.a yns, na Champanl1a, e do seu Templários já exis:tia-gra~as. a uma iniciativa
companheiro Geoff:roy, de Saint-Om.e:r., A esta. semelhiante e da mesma forma. espontanea - o
iniciativ·a que ocorret1 em 1.118, ou, mellior, em Hospital de sao Joáo, onde, em Jerusalém, eram
1119., em' breve aderem altos baróes: entr~ o.~ albergados os peregrinos doentes ou pobres.
primetros nove membros encontra~se Andre ~e Os «Hospitalários», da mesma maneira que os
Montbard tío de Bernardo, o abade de Clair-
«Pobres Cavaleiros», entravam nessa Ordem por
voto, e para manterem a sua fidelidad.e ao
vaux · Fo~qu.es d' Angers reU!Ilir-se·á a. eles em abrigo das fraquezas humanas adopta.varo uma
1120 '·e, .pouco tempo depois - certamente antes regra de vida inspirada. na de Santo Agostinho.
de 1125-, também Rugues, conde da Cham- A Ordem do Templo - que nunca deixará de
panha, se 1Tá ·a grt1par a eles. considerar como sua casa principal a oa,.~a diri-
Os cavaleiros comprometem-se a defender os gente,
,
esse Templum
. Salorrumtis que sempre figu~
peregrinos, ~. proteger os cami:i?os q11e l~m rara no seu srnete - c,"Onstitui uma cria~o
a .Jerusalém. Dedicam as suas v1d16.s a esse 10.eal a~olutamente original, pois iez apelo aos cava-
e decidem transformar este num voto~ que pro- leiros seculares para que dedi·quem ·a sua aetivi-
nunciam em prese-nº3- do patriarca de Jerusa- dade, as suas forQaS e as suas armas ao servi~
lém. O rei Balduíno TI aeolh&os numa das salas daqueles que precisam de ser defendidos. Por
do seu ·palácio· da es.p lanada do Tem:plot en'C1uanto C?nseguinte, concilia duas a;ctividades que pare-
os cónegos da Cidade Santa lhes cedem um ciam incompatíveis: a vida militar e a vida
terreno contíguo 'ªº deles; isto passa-se d·u rante religiosa. E, efect iwmente, muito cedo oom-
0 prímeiro ano em que o grupo ~e forma, 11J.9..
preendem a ·n ecessidade de uma norma precisa
1120. P.....lguns anos depois, o re1 de J ert1sale~, que, ·ao mesmo tempo que reprima os seus mem-
por se ter ido insta1ar n~ Torre d~ David~ bros evita:rido irregi1laridades sempre possiveis,
cederá aos «Pobres Cavale1ros de Cr~to» (e lhes _permita serem reconhecidos pela Igreja na
nome ·q ue eles escolh·e ram 1par~ des1~~r .o fun~ao que exercem.
0
grupo a que pertencem) essa prm:~1ra r~1de11cia E assim, no Outono do ano 1127, Rugues de
real, a que chamam o Templo de 8alomao, e que Payns atra.vessa o mar c.om cinco dos seus com-
os l\Iu<lulmanos haviam transformado na mes- p~nheiros. Vai a Roma, solieitou ao ·p apa Honó-
quita Al~Aksa. A partir desse momento¡ a ordem no Il um reconhecimento oficial e consegtte que
16 R1!1GINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 17
1
1
sao Bernardo se interesse pela causa da Ordem gu.in'S e os escudeiros, que sao os seus ajudantes
a que pertencem; €Ste reúne em Troyes um e podem ser recrutados no povo ou na burguesia;
concilio ·p ara estalbelecer os .p ormenores daqu~~ os padres e os clérigos, que se encarregam do
organ~o (13 de Jane1ro de 1128). O conc.~110 servi~o religioso da Ordem; finalmente, os cria-
foi presidido pelo legado do papa, Mathieu dos, artífiees, os servos e outros ajudantes
d'Mbano. Reúne os .aroobispos de Sens e de diversos.
Reims, os bispos de Troyes e de Auxerre, muitos Como rtambém se passa em muitas outras
abades, entre os quais se en.contra.va o s:bade ordens., ao fundador, Hugues de Payns, falecido
de Citeaux Etienne Harding, e muito provavelM em 1136, suc€de-se u.m organizador> Robert de
mente - e~b,ora o fa;cto tenha sido posto ero CraQil. Este, tendo-se compenetrado de que é
dúvida - Bernard de ClaiTVaux. Hugues de indisper.sável estabelecer as doa~oes, que já sao
Payns faz o relato da fund~ao da sua Ord.em,
muito numerosas, sobre urna a;provagao· ponti-
dos costumes que ·e le e os seu~ compa~ei;-os fical, solicita ao p apa Inocencio. II a bula Om1ie
seg11em e pede aquele que ma1s tarde v1r~ .ª
1

ser ·c hamado Sao Bernardo 1para lhes :red1g1r datwtn ü¡Jtirnum, (29 de Mar~o de 1139), ria qual
urna norma. Esta, depois de discutida e um ficarao estahelecidos os privilégios da Ordem.
pou:co modificada, é adoptada ·p elo concílio. Esta O· princirval desses privilégios é a isen~ao da
l primeira redacgao será seguida ~ outra, que
se deve a Etienne de Chartres, patriarca de J eruM
jur.isdigao :episcopa;l; a Ordem poderá ter os
seu..s próprios pétdres, os seus capela-es, garan-
salém (1128-1130): é a Nornia latina, cujo texto tindo a assistencia religiosa e o culto litúr-
se conserva· 11ma. versao f rancesa, posterior gico, e que 11ao dependerao dos bispos da regiao.
(feita por v~1ta de 1140) , virá a. ser feita ~~se Um privilégio desses será contestado e dará
texto 1 • Como a maior parte das ordens religioM <Yrigem a muitos problemas como clero secular.
sas dessa época, preve diversas espécies d~ A Ordem também fica isenta de pagar dízi-
membros: os cavaleir-os, que pert€ncem a mas; além dos· Templários há apenas uma ordem
nobreza (sabemos que, nessa época, apenas os que está isenta desse ·pagamento: a dos Cister-
nobres podem .a ssumir a fun~ao militar) e que ~enses. E é compreensível que esse privilégio
sao os combatentes propriamente ditos; os bele- fiscal tenha suscitado numerosas invejas, pois
favorecia os dominios pertencentes a essas
ordens.. Além. disso., os Templários tem o direito
1 o conjunto dos regularnentos elaborados pelos Tem- d,e construir oratórios ·e de serem enterrados
1

·p lários foi publicado por Curzon. Compreendem: ·a Norma dentro deles. Por conseguintet a Orden1 disp5e
latina primitiva (1128); a v ersao · france~a (por volta
de 1140); os Hábito<S ou Costum~ (-escrito~ por volta de urna gra11de autonomia e de grandes recursos,
de 1165); os Estatutos conventua1s determinando, por pois as doagoes afluíram. E as acusaQoes de
exemiplo, as cerimónias (redigido~ entre ~230-1240); e orgulho e de a vareza encontrarao nelas urna base
os Privilégios, un1 ·compilado de Jurisprudencia, enume-
rando as f altas e os castigos diversos {entre 1~57-1267). sólida a medida que a Ordem se f or desen-
A N<:lr"ln<J; também foi redigida em catalü.o, depo1s de 1267. volvendo.
Saber 164 - 2
18 REJGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 19

Com efeito, a sua expansao ultrapassa tudo Deus. Coma sua fogosa eloquencia, havia exal-
quanto ·t eri:am ·p odido prever e esperar o;s .n ove tado as profundas virtudes do novo com.batente,
prime1ros cavaleiros, esses «Pobres Oavaleiros apoiadas pelas exigencias da. Norma:
de Cristo» que, reunidos em tomo ·d e Hugues
1

de Payns, se responsabilizavam pelo ingrato Eim primeiro luga·r a disciplina é cons-


encargo ·d e vigj.ar o ·c aminho - por exemplo, o tante e ·a obediencia é sernpre respei-
que ·v ai de Caifa a Cesareia, na Palestina, ver- tada; va;i-se e vem-se, consoante a ordem
dadeiro desfiladeiro entre montanhas, onde come- daquele que tem iautoridade; anda-se ves-
~ram obscuramente os seus €Sforgos, e onde, tido com o que ele deu; nem sequ.er passa
desde o an·o de 1110, Hugues e o seu compa- pela ideia ir buscar comida e vestuário a
·n heiro Geoffroy haviam construído uma torre, qualquer outro lugar [ ... ] Vivem 1eal-
a Torre de Destroit, po·n to de descanso para os m·e nte em comunid:a de, urna vida sóbria
peregrinos.. N enhum ·d eles poderia ter imaginado e alegre, sem ·m ulher nem filhos; nunca
o .es.p.Iendor que iri.a envolver -essas ordens mili- e.~tao. s·em. fazer nada, ociosos, cur.iosos
tares ·q ue viriam a surgir ª'º lado da Or.den1 [ .. . J ; ent re .e les nao há 11enl1uma prefe-
1

.do Templo: em primeiro lugar, o carácter mili- rencia por ninguém : honra-se o r.aais valo-
tar que também adoptou ia Ordem dos Hospita- roso, nao o maffi, nobre [ ... ] ; detesta.ni
lários, a que se seguiu a fundagao da Ordem joga;r os dados e o xadr-ez, detestam
dos Cav.alieiros Teutónicos; r.aas, sobret11do, as ca~ar [ .. . ] ; t em o cabelo cortado a esco-
suas prolongagoes pela ·Espa11ha, onde, de~de os
1
vinha [ ... ]., nunca ·penteados, raramente
primeiros momentos, os Temp·l ários vem para lavados, 0 :pelo descura:do e hirsuto; sujos
1

UJn a luta _
1 semeilh·a nte a que travam. na Terra de pó, a pele curtida pelo ~alo:r :e ·a cota
S1anta; houve também a Ü'r dem de Alcantara, de malhas [ ... ]
1

a ·d e Calatrava, a de Avis, a de Cristo - e é


nesta última que os. Templários sobreviverao E esbogado um inolvidável retrato desse tipo
depois de a sua Ordem ter sido suprimida-, a de cavaleiro: .
de Sant'Iago da Espada, etc. E verdade que a
grande voz de Sao Bernardo se elevara para os Este eavaleiro de Cristo é um cruzado
defender e para clamar os ·m éritos qu.e tinham. permanente empen11ado num duplo com-
A a:pologia que ele :f azia da cavalaria do Tem:plo, bate,: co·ntra a ·c arne e o sangue, contra
De laude. novae militia.e (escrita €·ntre 1130 e as poten·cia'S. espirituais malign·a s nos
1

1136), era um ·apelo lan~ado· )a os cavaleiros. do céus. A vanga sem medo, este ·c avaleiro,
século, cujo «gosto ·p elo fausto, cuja sede de vigilante a direita e a esquerda. Revestiu
glória va ou a cobiga dos ·b ens temporais» ele o seu peito com a cota de malha e a sua
ridicularizava, exortando-os a vir pro·curar urna alma com a armadura da fé. }.{unid.o
verdadeira elevagao espiritual na nova milícia, destas duas defesas, náo receia nem
que se eomportava. co·m o uma pura cavalaria de homem nem dem6nio. Avancem, pois, oom
20 REGINE PEl:.NOUD

firmeza; eava:leiros, e :a fasta.i da vossa


frente, com um coraQao intrépido, os
i:nimigos da Cruz de Cristo:. da caridade
dele, ten.des a certeza, ne1n ·a m.orte nem
a vida vos poderao separar [ ... J Quao
glorioso é o vosso rreg'reisso de vencedor
no comb·ate ! Con10 ela é bem-aventura:da,
a vossa morte como márti1.., no combate!

ALnda menos possibili·dades h·aviar11 tid.o


0

para prever a to1'".rer1te de teses, hipóteses e


T-al como se apresen.ta, através das diversas
lucubragoes inumeráveis que foran1 emitidas a,
partes da Norma, a Ordem do Templo é muito
propósito da Orde1n do Ten1plo, ·d as '.&uas eri- tipica d~~ sociedad.e feud.al que a v'iu nascer.
gens; do se:t1 funciona.mer1to dos. se.us costu1116-s.
1
_i\s suas estruturas estao nítidamente hierarqui-
..Pa·:ra o "hlS1.,01r1a,
. ._ . d or, a d. e
. 11eren~~t ent re as ianta-
P ,
21adas, mas os poderes exercidos na.o sao «tota..
sjas as quais se dedicaran1 sem reserva nenhu1na litftrios». O pa.pel que a eleigao desempenha para
l
1
os escritores ·de história d·e: todas as categori2..s
e, por o·u tro· lado, os doc11mentos autenticos, as
designar os i:rue exereem o pode:r, e o desem-
penl1ado pelas assembleias ·para o assistir e, em
matérias .indubitáveis ·que abundaxrt nos nossos caso de necessidade, o controiar erani multo
arquivos e nas nossas biblioteeas é tal que até
1
importantes.
parecia inacreditável~ nao fosse esta oposi~ao .tl cabe~a da hierarquia, o mestre do Temr>lo -
manifestar-se da maneira mais visível 1 mais evi.. a que¡ nos ten1pos modern.os, insistern em cha-
dente. Acontece co.m .os Templá:rios o raesn10· que mar o· g·rao-1nestre, gostaria de saber por qu.e,
aconteceu, por exemplo, cora Joana. d' ¡\..re, ern pois essa expressao nunca foi utilizada na Norma
que, a. par de urna 2,bundante literatura hagio-- nern 11os div·e:rsos capítulos <los Estatutos q.ue a
gráfica e de hi'póteses em. abundancia, total- completarr1, ne1n sequei· na própria época em
mente gratuitas e uniformem~nte disparata- que a 0Tdem rl.o Templo existiu (só encontramos
das --· nascimento bastardo, etc. - , os documenu es.se termo· no s·écrilo x1v· e, mesmo assim, muito
tos, esses, impoem-se com o rigor mais absoluto. raran1ente). O poder desse ·mestre é exactarme-nte
No que se refere aos Templários, é inimag·inável o mesmo q·u e o do padre-abad.e nas ordens reli-
·c omparar em espírito. a literatu\I'a (já :nao a giosas, isto é, e segundo a linguagem senlpre
literatura hagiográfica, mas decididam.ente de.. rechea.d·a de raetáforas e figuras que se us·ava
mencial, nalguns casos) que suscitaram e, por .u.e.sse tempo, que «deve ter na ma.o o pa;u e a
outro lado, ess-es docl1mentos tao simples, tao vergas.ta: o pau oom o qual ele <leve am·p arar as
convincentes, tao serenamente irrefutáveis, que fraquezas e as f or~s dos outrcs; :a vergasta
constituem a ve:cdadeira história deles. co1n, a. qual deve castigair os vicios daqueles

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22 R:t!JGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 23

' que faltarao» (ao seu dever); este duplo poder nao lhe é permitido bater-lhe, seja. qual for a
de aplica~ao e de disciplina deve exerce"lo «por falta de que se tenha tornado culpado. Também
amor daquilo que é recto»J evita.n do· tanto a se mencionam os cavaleiros e beleguins que se
indulgencia. .como a severidade imoderada 'l. vem reunir aos freires, para servir «a prazo»,
E assistido -p or um conselho de freires que ele sem ificarem ligados por voto. Para. bem se
saberá sere.rn sensatos e capazes de d~relll UlD. diferenciarem uns dos outros, está determinado
conselho judicioso. Mas Quando se trata de que só os cavaleiros do Templo podem usar
tomar um·a decisao importante que envolve o «branco manto». D·e sde a primeira redacQao da
conjunto. da casa: como dar urna terra, receber Norma esta :preca.uQao foi tomada para evitar,
um freire, etc., <<é coisa conveniente convocar o que entao já havia acontecido, que «falsos
toda. a congregaQao e reunir o conselho de freires, casados e outros», se apresentassem
todo o ca:pítulo·; e o .q ue parecerá ao1 mestre como f,reires do Ten1plo· para ·e xtorquir dons . ou
como ·m ais proveitoso .e meilhor, que o faga». favores diversos, «e por isto, fizeram nascer
Os freires devem-lhei «obediencia firme». Deven1 muitos escandalos». O manto branco será a
executar «~em. hesitar» (imediatamente) o que a maneira. de diferenc:iar os cava:leiros do Templo
o mestre :t1ver mandado; nao podem .ir «a vila propriam.e nte ditos. Os escudeiros e beleguins
ou a cidade>> sem ·a «licen~» do .rnestre (:sem destes só terrao direito .a usar mantos pretos ou
1 sua ·a utorizaQao). E também o mestre que decide ca;stanhos.
o ofício que os freires tem na casa ou na O:rdem. Por último, há alguns que desejam participar
Poz: fim, é também a -ele que compete fazer dos beneficios espirituais, conservando-se · na
apl1c~r a ~o:ma.,O potler ma·i s importante que vida. secular, casados ou nao; tal como a maior
lhe e atr1bUido e o que a redacQao francesa parte das ordens religiosas, os Templários terao,
atribuí ao mestre e que nao se encontra na por conseguinte, confrades associados, que, mais
Nonna latina primitiva: «Todos os manda1nentos tarde, serao os membros das Ordens Terceiras
que ·e stao citados e -escritos nesta Norn1a esta.o Franciscana e Dominicana; mas está expres-
SUj.eitos a merce e a ·C Onsideragao do mestre.» samente mencionado que esses. confrades nao
~e qu.alquer rmaneiva, os termos ernpregatlos nao devem ne.m usar o m anto branco, nem. sequer
1

s1gr11f1cam, de ma11eira r1enhu:c.'1.a, a arbitrarie- viver nas casas dos freires. Essas casas tam-
dad.e ou o bel-p,r azer. bém nao devem receber freiras, ·p ois, tal como o
N~o há .mai:s nenhuma fungao que esteja bom senso. indica, «coisa perigosa é companhia
menc1o·n ada na Norma ,p rimitiv,a . Em oontra- de mulheres» para. homens que fizeram voto de
pa~t~da, menciona-se o :pessoa l indispensável ao castidade. E'ª Norma es;peci.fica este ponto:
serv1go da ·casa e dos freires : cada um destes
pode ter um escudeiro e está espec.i:fieado qu e
1
Acreditarnos ser ·coisa perigosa em
qualquer religiao [ordens religiosas]
Todas as 'Cita~oes deste ·capítulo foram extraídas
1 olha.r icom frequencia. para caras de
da Norma, nas suas várias :redac~óes. mulheres e, por isso, que nenhum se

I
24 .REGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 25
- - -- - - - - - - -- - -·-- - - · - - -- -
1

atreva a beijar mulher, nem viílva nem províncias de Trí.polis ·e de Antioquia há dois
.
v1rgem, - .
nem mae nem 'lrfila,- ,.
neµi 1:i.a, nem. comendadores que representara o mestre e dis-
nenhuma outra mulher. poem, cada um na sua, provincia, da mesma auto-
ridad.e que este tern dentro da Ordem.
É verdade que, nessa época, o beijo é urna. As províncias do Ocidente sao as da Fran~
marca de simples cortesia, a:bsolutamente arrei- da Inglaterras do Poitou, da Preven~, de Ara-
gada nos hábitos, quer eritre homens e mullieres, gao, de Portugal, de Pouille e da Hungria.
mas o preceito que aqui foi dado dá o alerta A -cabe~ ·d estas províncias estao comendadores
contra o perig·o <leste costume, o que é o mesmo ou mestres. ou preceptores; es tes títulos pare-
que aconselhar a «fugir das tentag5es». cendo a:ssemelhar-'Se muito uns aos outros, a
Os Cost umes vem determinar e completar o medida que os documentos conservados sao con~
conhecimento que ternos da instituigao ·e forne- su,J.tados; a extrema riqueza dos bens imóveis,
cer abundantes pormenores sob·r e as prerroga- de terras., ·e a nao m:enos im·port.ante dis.p ersao
tiv·a s e ·a s obrigag6es do mestre, ·assim como delass darao origem ao estabelecimento de sub-
dos outros oficia:is ·da casa do Templo~ No mo- divisoes. E' é ·a ssim. que o mes.t:r:e da. Proven~a
1nento ·em que f oram escritos, a O·r dem já ti.11ha terá sob a sua. autoir idade nao !SÓ a Proven~a
mais de meio século de existencia e a sua rapi- pro·p riamente dita e o condado de Venaissin,
díssima extensa o diferenciou as fun~oes e pre- mas ainda a tl"egiao de N!n1es-Saint-Gilles, a de
cisou cada urna delas, consoante a experiencia Velay e Géva.udan, a de Maguelonne e Béziers,
adquirida. No seu conjunt o, sa.o muito ·CM"acte- d€ Narbonne e Carcassonne, de Rodez, Albi e
rísticos de urna época em que reinam os costu- Cahors-, de Toulouse e Cor.a.minges, da Gaseonha
mes. A Norma deu o espirito; os Ch?-tumes dao e Agenais.
informes sobre os hábitos q11e se estabeleceram Os Cootumes apresentaAm várias precisoes a
a pouco e pouco. respeito da autoridade dos principais dignitários,
N esse momento a Ordem já possui várias a comegar pelo próprio mestre. Desde que haja
provínci·as: ·n a Terra Santa, as de J erusalém, de urna decisáo1 i1nportante a tomar ele deve ser
Trípolis e de Antia.quia....~ casa de J·erusalém, a a:ssistido. pelo capítulo. Sem a. aiprova~ao do
que está instalada no Templum Domini, a Cúpula capítulo nao pode ·n em drur nem alienar uma
de 1a Roche, é a casa principal, a eas,a «prin- terra, ·n em empreender o cerco de um. cas.telo,
1

cipal» ; é a residencia habitual do mestre e dos nem .co1ne~ar urn·a g11err.a, nem acabar urrra
dois. comendad,o res: o· comendador da terra e reino guerra , nem nom·ea:r QS 'Comendadores para as
1

de Jerusalém, que tem a sua guarda todos os ·princi'.pa.is ·c asas da Ordem, ·n em nomear os
est.abelecirnentos da provincia <leste nome, e o dignitáriost ta'is como senescais 'OU marechais.
com·e ndador da -cidade de J erusaJ.ém, ao qual a Todos o-s subsídios que ll1e chegam vindos de
a,ctividade ·e specífica da 0Tdem está mais espe- além-mai!" devem ser-lhe ·apresentados a ele antes
cialmente entregue: a tlefesa e o transporte dos de serem ·e ntregues ao comendador do reino de
peregrinos da Terra Santa. A cabega das duas Jerusalém, que também é o tesoureiro principal
26 R2GINE PERNOUD 08 TEMPI.1ARI08 27

da Ordem no Oriente. Submetido como os. outros Os 03stumes resumem, com uma única frase,
frei·r es a essa priva~ao d e poss·e que deve carac- a situa~ao do mestre: «Todos os freires do
terizar os religiosos, o mestre «nao deve pos- Templo devem ser obedientes ao mestre e o
suir chave nem fechadura do tesouro»; mas, m:estre deve obedecer ao seu ·c onvento» (aqui,
acrescentam os Costumes, :p ode ter no seu a paiavra <.;convento» designa. a totalidade dos
tesouro urna hidCha, um cofre com fechadura fireires).
para guardar as suas jóias f echadas. Pode dispor. O se11escal está «em vez do mestre», o que
de uma parte da:s riquem.s da Ordem com a equi,va.le a dizer que é o seu lugar-t€1lente.
aprova~ao dos. «homens íntegros», dos homens Substitui o mestre quando este se encontra
honestos que o rodeiam. Pode fazer present es, ausente e represer1ta-o; o seu séquito compüe-se
desde que estes nao ·ex·cedam a soma de cem sensivelrnente do mesmo pessoal que o do mes-
besantes 0 u lim cavalo, ou uma ta~a de OUir'O e
1 tre; a. única dif eren~a. é que, em vez de u.m
.prata ou um «manto. de veiro»> (de pele de ca;pelao, tem um «diácono· escrevente .para ler
am1ir1ho· ou zibelin a ) , o t1 errt ao urna armadura, o livro de horas» .
o·u «jóias>», mas. nao pode dar nem tirar ferro O• ma.rechal, esse, tem 1s01bretudo as atri-
de langa, nem. «faca de armas».1 buiQoes militares; «deve ter sob o seu comando
Para seu us·o, o mest re disp6e de quatro todas as airmas e as arm·a duras ·da casa [ . .. ]
1 cavalos. O• sell séquito é composto por dois todas as pe~as ·q ue sao necessária:s para equipar
freires cavaleiros, um padre capelao, um clérigo, um cava:lo de batalha [ .. . ], €xcepto as arbaletas
um beleguim, lhlll lacaio. Além disso, deve ter que estao na mao do comendador da regiao, as
ao seu servigo um «ferreiro» (ferrador), um armas turcas [arco turco] que o comendador
compra para dar aos freires beleguins».
«·e screvente árabe», por outras .p alavras, um
Os outros dignitários sao os comendadores
secretário exercendo as fun~oes de intérprete, das casas, de várias importancias. Os Costumes
um turcópolo - esses soldados auxiliares a que estendem-se sobretudo a res.p eito das atribui-
se referem frequentemente os textos-e um <:;oes do comendador da regiao de J erusalém e
cozinheiro. E, finalmer1te, ·dois mo~os «a pé» do comendador da cidade e dos de Trípolis e
(enquanto o la;caio· preeedentemente citadoi q.ue de Antioquia. Nas comendadorias pequenas, os
leva ·a sua espada ·e a sua langa, tem direito a «'COme-nda dores dos cavaleiros» de·p endem do
1

um cava.lo) e um cavalo turcomano, animal do


1
co1nend·a do·r da regiao; podem reunir -capít ulos
que há de melhor, que. se reserva para as viagens na ausencia de dignitários mais elevados; nao
a ca,valo. Durante ·as expediºoes tem dirieito a podem au.torizar um frei:re a sair do convento
dois .a nimais de ·carga, a uma. tend·a redonda e mais de uma noite.
ao estandarte bicolor dos T:emplários. De facto, Enfim, O·u tra ·p ersonagem importante da casa
o estand·arte do Templo t em duas coires, prata é o roupeiro, cuja fiun~ao consiste em «dar aos
sobre negro com, depois do concílio de 1145, f{feires o que eles precisam .p ara se vestirem e
a cruz ivermelha bordada por cima.. donnirem»; é, de certo modo, o ecónomo da
28 RgGJ1'lE PERN'OUD 08 TEl,/lPL.4.RJOS ....?·9

casa. Está incun1bido do aspecto dos freires e e~.ndo que durante a leitura. dos salmos devem
d.eve velar por qu:e ,e stes sejan1 <~ap·arados dece11- ficar sent.ado:s, só tlevendo conse:rvar...se de pé
temente» (os cabelo.s correetamcnte cortados). para o pr11ne1ro salmo, que se cl1ama «O jnvita-
Os Cost11mes, ao· enumerarem OB vários devc- tório») para a recit::>~~ao do G"loria n<", f im de
res a que todos estao sujeitos na Ordem do cada . . salmo e para o Te De'l.1,m, no final das
Templo, pennitem re~onstituir- nas suas gran- mat1nas.
des llnhas - o em.prego do tempo ql1otidiano Além disso, a ascese deve ser moderada rio
nu:ma casa d a: Te.1nplo. que se refe.re a ibebida e a comida. A Norma
Vós, renunciando a vossa própria von- acon~_elha-o~ a. 1)edir, quando estiio a mesa, o
tad e1 e vés outrcs, servindo o Soberano que lhes seJa necessário «SUa\rem ente e pessoal-
Rei com cavalos e airmas, para a salva- mente», com discernimento. Dur ante as ref.ei~
~ªº da:E. vossaz a·1mas, a :p razo, velai sen:1- ~o~.;¡ é-l~?s. lida a S anta Escritura. Em ger al, os
1

pre p-0r desejar ouvir matina.s e todo o fre1res t ern urna esou·dela. ·p ara dois, mas cada
serviQo totalmente, co11Soante a institui- um tem e seu hana po coJrn 'ª mesma ,m edida
cao canónica e o hábito dos mestres
~
de vinilio. .Comen1 carne tres ·vezes por semana
1

·regulares da cidade santa de J·erusalém. e, n.o düfil.L"lg·o, os cavaleiros come·m dois pratos
d~ carne, enquanto os escudeiros e os beleguins
É desta maneira qu.e co·m ega a Nor ma dos so cor:i·?11! um. De:ve~ dar gra gas a D'e us <lepo.i s
cavaleiros, que, após ter sole.n emente recordado da refe1gao do· me10...cl1a e aª'ª noite; além d ísso,
que o servi~o, eome~a pel'a. ora~ao e pelo culto ~s re~to.s dos pratos devem ser (lados aos pobres.
divino, acresce:n_:ta: «Depois de o servi~o divino A no1te, quando toca o sino, tomam a sua última
ter acabado, [que] nen11um se ass-u.ste de ir refeigao diária «ao arbítrio e a discriQao do
para ·a ba ta.Lha, maR se aprest'e para a coroa>> mestre»; ein seguida, recitam as completas. após
('preparado lYara receber a. C<)roa de m.ártir) . o qu': deve ,r einar o s'iJencio. Chama·se-IÍ1es a
A N or·rr1a 'ainda. 1diz que, se a;s necessidades da atenºª? p~ra .. º. há:bito do silencio: «que falar
v ida no Oriente ·o €Xigem («a qual coisa cren1os de ma1s nao e isento de pecado». Devem evitar
que COOl freq11encia. acontecerá») €' que Se nao todas as conversas desonestas e tambér.n nao
f or no~sível 011vir o oficio na st1a totalidade, os devem pedir o ca·v aio ou a arn1adura dos seus
~onf~ades, nem entregar~se a maledicencia ou a
L

cavaleirop, {leverao1 rezar t.reze padre-n:ossos em


vez das '.!na.tinas, ma:is sete po1r 1C:ada hora e 1~ve~a. A ca~a, 'qu.e é a divers a.o, - por exce~
nove pelas vés.peras, e que é preferível rezá-los len~1~ - do~ c8:vale1ro, é-lhes proibida: «Aos
em conjunto. 1~- vida de oragao é, :ass im, estabe- rel1g1osos na? e. conveniente entregar-se ao pra-
leeida desde o inicio da. !~-orma, como oonvém a rer, mas ouv1rr ae boa vontade os mandamentos
todos os religiosos,; além disso, desde os pri- de De;1s. e orar con:- ~r~que~cia.»; u rna excepgao,
m eiros capít ulos, sao pr.evenidos. de qi1e náo co11tu?º: «Erst a pro1b1~ao nao se refere ao Ieao.»
devem viver numa asees.e e:x:cessiva, especifi- .:m a un1ca caQ·a que lh es é ·p ermitid·a .

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30 RPJGINE PElRNOUD OS TE.J.'W:PL..ARIOS 31

As roupa,s id os freir.es devem s er todas ig11ais de expedi~ao, onde s·e possa, meter o equ.ipa-
e da mesma ·c or: .túnica branca ou ;pret:a ou de ·m ento de a:vmas; ·d e cada. um ou as suas indu-
bu.rel ( castanho). Qs¡ mantos sao brancas; essa mentárias nocturnas. Dis:poe1n de um guarda-
brancura significa castidad-e, que é «gairantia na:po e de uma toalha de cara. Também se
de •COragem e saúde do• COrpO». 1fas 00Sas túni~
1 enumerara os ,a cessórios .ind·i spensáveis ao oficio
cas «devem ser :sem nenhum.a superfluidade e de caval·eiro, ·p ara eles. própríos, para os seus
sein ne11hum orgulho»; nao sao autorizados g, escudeiros. 1e para os seus. rcavalos: desde o
usar o·u tras. ipeles que as de cordeir o ou de cobertor para o cavalo até ªº' «caldeirao para ·
fazer a 1comida e púcaros para medir a eevada».
carneiro·.
·O equipamento completo. do cavaleiro com-
Cada cava1eiro tem direito a tres alforges: um
para ele . e · dois para os escudeiros, a uma
p6e-se do lorigao -- isto é, a cota de malha - , 'a rreata, a uma cilha, a. :camas sus.p ensas, fras-
do :eilmo ou id o chapéu a:rm.a do (o primeirt") cos, a um barrete de algodao e a um de f el-
sendo· um easco ajustado e o seg"U..ndo urna. ca:ra- tro, etc.
puga com abas, leve) e dos outros elementos da Os belegu;i ns vestem-se de ·p reto ou de cas-
a,r1nadura: cota de arnras, ombreir.a:s, sapatos tanho ; algu·n s podem dispoc de dois cavalos: o
de ferro. As armas de que dispoe sa.o: a espada, submarech·al, o gonfalo.11eiro, o· cozinheiro, o fer·-
a. lan~a, a mag:a 1d e ·a rm.a s e -escudo 0 1u b·ro.q uel. rado.r .. Os o·u tros beleguins só poderr1 ter 11m
Além disso, tem tres f·acas: uma faca d·e armas cavalo.
-·- runa es:pécie de adaga - , outra que é ·a faca
para o pao e mna faq.11inha, pequena, de lamina ·A disciplina é estrita e abso·lutame11te m ili-
flexível. Os ca~valeiros podem ter um·a m'ant3J tar: «Nenhum freire s·e deve la.v ar, nem tr tt.,tar,
de cavalo, duas c~misas, dois :cal~oes. e duas nem tio1na.r ·m edicina, nem ir a ·Ci dade, nem cor-
ceroulas. Tiendo em considera~ao o· 3JT'do·r do
1 rer a ca.v alo sem disper.usa.» Nao· tem. autoriza~ao
clima, tem direito· ·a um_a ·c amísa de linho. Dois par.a se levantar da mesa, excepto s,e sang1'.'am
n1antos, um :p ara o v;erao, o out:ro para o pelo nariz - o que, provavelrr1ente, era fre~
Inverno, f orrado Sobre o; corpo usa.m uma
1• quente, nos climas. do Oriente - ou, naturalª
túnica, u·rn:a cota de malha e um cinto, de couroo mente, em caso1 de alarme de guerra. Quando
Na Norma está especif1cad·o que s,e deve evitar o sin10 · toca., devem juntar-ise para a ora~áo ;
qualquer concessao' a moda, e :a ssim os sapatos ape11as sao exceptuados dessa ob:rigaQao o que
de biqueiras reviradas. O·U OS atacadores nao sao tem «as maos na massa» ·o u O· ferro em brasa
autorizados. E, 1por fim, a respeito das suas na forja para o bater enquanto está quente,
camas: urna ·enxerga, um «St1dáric » (len~ol) e
1
ou o pé <l.o cavalo preparado .p ara ferrar ou «se
u1na «estamenha.» ou cobertor; ·a lém disso~, urna está a lavar a cabe~a». Faz-se-lhes recordar que
«'Carpete» branca ou preta; ou as riscas, ou um «abandonaram a sua própria vontade» e que
cobertor espesso, para cobrir o leit o. Tan1bém «nao há nada que seja tao agradáv~l a J esus
sao previstos os, sacos necessái.rios para épocas Oristo co·mo a obediencia». Em conjunto, devem
R:d:GINE PERNOTJD OS TEMPLARIOS 33
32

ouvir a miss·a e ·a s horas, ·a joelhar..se em con- os cavaleiros. «do século» desejosos de adoptar
junto e, em ·conjunto, sentar-se ou ficar de pé. uma vida m.ais perfeita:
Apenas se exceptuam desta. obriga~ao «OS velhos
e os achacados», os doentes. «E aqueles que náo Dirigimo..nos, em primeiro lugar, a
srubem quando é que os f:reires se devem ajoe- todos aqueles que desdenham obedecer a
lhar. o devem perguntar aes que o sabem e sua própria. vontade e desejam oorajosa-
aprender como eles fazem e devem ficar atrás mente sel"Vlr como cavaleiros ao Sobe-
dos outros.» r~o Rei. [ ... ] advertimo-los, a vós que
No exercício das suaS- fu11g6es, os Templários ate ag·ora. tendes sido cavaleiros secula-
res,
. que
, . nao tivestes Jesus Cristo como
sa.o, com bast ::J.nte frequencia, cavaleiros andan-
pr1nc1p10, mas que vos haveis enfileirado
tes, em todo o caso pelos caminhos ; e, por isso, ~ic~mente por valimento humano, a que
lhes é ·p rescrito·, seja onde for que se enco11- s1ga1s os que Deus escolheu por entre a
trem, «através das várias :vegi5e.s do século», gente de perdigao e ordenou [ ... ] para a
de se esforgarem por obedecer a Norma dentro defesa da Sua Igreja.
das suas pc13Sibilidades ·e «que deem exemplo de
boas obras e de modéstia». Normalmente andam P~r conseguinte, qualquer cavaleiro pode ser
aos pares, r1áo se devem afastar sem a autori-
1
re~b1do· na cavalaria do Templo e é-se ·a utori-
:za~ao ·do mestre QU daquele que o substitui e za~o a pensar que o recrutame·nto essenci:al era
deve1r.1, em tudo, co·n forrnar-se com as ordens fe1to entr.e ·o s cruzados vindos a Terra S.a nta
recebidas. Nu.m dos capítulos é-lhes recomen- e quie,. em vez de regress·a rem a pátria desde o
dado nao permanecer ..~nern em furor nem em cu.mpr1mento do voto-como faziam a ma.ior
ira» contra algum dos irmaos. Devem venerar parte dos per:egrinos, armados ou nao, sentiam
os f1~eires velhos e enfraquecidos e dispensar bro~ar neles o desejo de prolongar esse voto
«a;plicada vigilanci·a » aos freires <loen.tes. lJm dedicando as suas vidas inteiras a d~esa do
enfermeiro, em todas as casas impor-tantes, deve Santo Sepul,c ro.
prover-se de tudo quanto possa contribuir para Nesse caso - e isso· é sempre a mesma coisa,
que recuperem a saúde. DI.U «físico», um médico, em todas as ordens religiosas - , a prudencia
deve ser requerido «para oo visitar e dar con- manda «experimentar o espírito»:
selho da doenºa que tem».
Quem entra·va na Ordem e como se en- . Antes :<Ie !he ser concedida a compa-
tra.va nela? Estas questoes virao a ser muito n~1a dos irmaos, que a N·o rma seja lida
importa ntes na tragédia. pela qual acabou a d1ante dele. Se ele quer obedecer aplica-
cavalaria do Templo. A Norma e os diversos damente aos mandamentos da Norma e
aditamentos que se lhe seguem permitem res- que agrade ao mestre e aes irmaos rece-
po1nder a essa pergunta. O próprio ·p reambulo be-lo, estando os irmaos reunidos em
dessa Norma é, efectivam.ent~, um apelo .a todos capítulo, que ele diga a sua vontade e o
Saber 164-3
ESGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 35

seu desejo diante de todos ~ fa~ o seu 'lfiungados. Com~a assim: <<Lá, onde sou-
pedido corajosamente. berdes que se encontram cavaleiros exco-
mungados, lá mesmo vos m·anda:mos ir;
Nao é .p ermitido receber criangas, quer se e se alguns houver que queiram ir jun-
trate de oblatos oferecidos pelos pais, .ou de
tar-se a ordem de cavalaria das regiooo
jovens que se apresentem por sua propria von- do ultTamar, VÓS nao deveis esperar O
:tade. O· recrutamento dos Templários é feito proveito temporal deles tanto q11anto a \
ex:clusivamente entre os adultos. Aliás, sabe-se saJva~a.o eterna das suas almas.»
que a caval'aria só é - geralmente - conferida O texto da Norma em latim é com-
aos que atingiram já, nao só a maioridade pletame11te diferente: «Lá, onde se sou-
(catorz~ anos para os rapazes, na maior parte ber estarem reunidos cavaleiros ni1o exco-
dos costumes de FranQa), como também a idade r:.4u·ngados,, dizen1os que é necessário ir, sem
de ·apresentar armas: dezoito anos, ou mais. considerar muito a utilidad.e temporal,
m·as a s·a lvagao eterna das almas deles.»
O estudo comparado das diversas veT~ E assim, ve-se que o mesmo artigo
soes da Norma, a seguir, levanta difi~ que, no fim de contas·, se rela.ciona com
cuidades que ~I. Melville, felizmente, a propaga11da ·e o recratamento da Ordem,
acentuou. Elm ·primeiro lugar, no texto dirige~se no texto original, latino, aos
em latim da Norma, havia referencia a cavaleiros nao excomungados e na Norma
um ·p razo· de · ·p reparaQao e de exercícios; francesa aos cavaleiros excomungados.
por conseguinte., tratava-se de um novi- Cla;ro que a d ivergencia é grave.
ciado. IDm seguimento ao pedido feito, A continua~ao do mesmo artigo nao
segundo o texto acima citado, uma frase, mu.da: é prescrito aos que querem fazer
suprimida. na versao francesa, especifica parte da cavalaria do Templo irem apre-
que o tempo do noviciado depende, inteª sentar-se ao bispo, que, no texto latino,
gmlmente, «da reflexao e ·prudencia do o uve o pedido f eito 1por aquele que quer
mestre, tomando em con!3ideragao a de- ser admitido, em presenQa do templário
cencia de vida daquele que pediu [para recrutador eJ 110 segundo· caso, o texto
ser .a ceite] ». Por conseguinte, é ev.idente
1
em frances, «ouve e absolve">> (o termo
que esse artigo foi completamente supti· nao existe no texto o·r.iginal latino) o
mido da !'1orma em frances. cava.1eiro excomungado, per-mitiu.do-lhe
1

A segunda dificulda<l.e é mais 'inquie- assiru entrar para a cavalaria do Templo.


tante: o rutig·o 12, que se segue, ten1 A contradi~ao entre os dois textos
como título, no texto latino: Dos freritres .continua no artigo 13: «De nenhuma outra
que pa,.rterm através das di/versas provin- Inaneira [diz a Nornia francesa] os frei-
cias. O mesmo· artigo, na Norma em :res do Templo devem ter companhia oom
frances, intitula-se: Dos cavaleiros exco- homem manifestamente excomungado.»
RÉGINE PERNOl.TD
36 08 TEMPLARIOS 37

Os freires devem ter um rigoroso cuidado


e recear que um dos cavaleiros de Cristo
hoo,pitalá_rios de Inglaterra por darem. 1
sepultura eclesiástica aos excomungados.
(Teanplários) se aproxime de um homem. O mefilllo papa, em 1180, também censu-
·p ublica e terminantemente excomungado, rava os b~s.p?s por estes exigirem, sem
seja de que manei..ra for», diz o texto ~en.hum <?re1to~ a obediencia dos cape-
latino. laes - nos dirJamos: dos padres - do
Sao, portanto, divergencias fundamen- Templo, que a.penas deviam obediencia a
tais que aparecem no intervalo dos dez Roma. E .isso nao era mais do que um
ou vinte anos que separam o concilio de episódio da luta que, durante teda ou
Troyes, em 1128 - em que foi estabele- quase toda a sua existencia, o.p orá a
cida a Norma - da redac~ao da Norma Orden: do Templo aos. bispos. E eer1:o que
j francesa, por vo·l ta de 1140, ou um po·ut!o ~~· luta, .i;t~º · é diferente da que, por
mais. tarde. Ora essa divergencia te1n todo varias. ocas.1oes, no decorrer da história
o a.e::;pecto de ei1cobrir um aibuso ·q ue se da Igreja, opos 01 clero secular as ordens
tornou l1abitual entre os Templários. religiosas directamente ligadas ao papa,
Entre outros, reparou-·se nu1na deso'be- e _q_ue, por ~sse facto, €SCapavam a juris-
diencia incontestável ao interdito langado dl~ao dos b1s1pos.
sobre os ex:comungados: os templários de
' Inglaterra, ·em 1143, recolhem e sepultam
em solo crista.o o corpo de Geo.ffroy de
lilandeville, conde de Essex, morto exeo-
Voltando a falar da admdssao dos freires os
Costumes especificam que «O· mestre nao deve
fazer freires seni ·c apítulo»: por outras palavras,
mungado. E urna acusaQao que, comum- a ·Prees:nga do capítulo é indispensável para a
mente, S·e fez a Ordem, a de acolher nas admassao de~um novo temiplário; a;penas se preve
suas fileiras excomungados. Busca de nma. excep~ao: se o mestre, durante uma via-
eficiencia ou inst1bordina~ao? A:bririam g~: encontra 11Il1; ~oribundo que lhe pede para
eles as suas fileiras para deixarem entrar ace1car a sua admissao na Ordem, pode aceitá-lo ·
aque1es cujos pecados os haviam afastado mas «Se Deus der saúde [ao. recém-admitido 1
]'

da comunhao da Igreja, para eng·rossarem logo que es.te entrar na nossa caisa deve faze~
essas mesmas fileiras e oferece:rem aos a sua profissao <liante de todos ~ irmaos e
1

pecadoves a :p ossrbilidade de f azer peni~ aprender 0 que os irmaos devem fazer».


1

tencia? O·u , 1pelo contrário, teriam uma A c:rim?nia. de admissao 1está minuciosa-
tendencia, mais ou menos aberta, para ~ente <:-escrita num texto - aliás b1astante tar-
t
desprezar ·a autoridade dos bisp·os e do dio, po1s completa os últimos ·aditamentos a
papa, únicos sei1hores que deti11ham esse Norma 1 , e as que datam da segunda metade
poder «de ligar e desligar»? A verdad.e
é que, ero 1175, o papa Alexandre m
.censurav·a aibru.p tamente os ternplárioo e 1 A Norma tem setenta e dois capítulos. (N. da T.)
38 R'J!JGINE PERNOUD OB TEMPL.ARIOt~ 39

do século. XIII. A Norma rprimitiva dá unica- mado da condi~o civil e física dele, os
mente as fórmulas de .p roffusao e os Cootumes freires voltam a entrar no ca:pítulo e
acrescentam vários porme11ore.s que se encon- deelaram: «lMestre, falámos a iesse homem
tra.m no cerimonial citado. honesto que está lá fora. e mostrámos-lhe
as severidades. da casa; [ ... ] e ele d:isse
Segundo este eerimonial, dia.nte do que quer ser servo e eser.avo da casa
capítulo reunido, o mestre toma a pala" [ ... ] » O ·mestre f a.z as mesmas pergunt.as
vra: «Distintos senhores .irmios, -bem e torn·a. a ·p erguntar: «Quereis que o
vedes que a maioria. [de vós] está de fagamos vir aqui, por amor de Deus?»
acordo ·p ara que Fulano. seja freire; se O capítulo respo11de: «Fazei-o vir, por
se encontrasse e11tre vós um que soubesse amor de Deus.>> Entao, vai-se ·b uscar o
sobre ele coisa pela qual ele nao deveria, postulante e torna-se-lhe a perguntar se
por direito, ser freire, q11e o diga; pois ele continua com as mesmas intengoes;
seria melhor coisa que o dissesse antes que · em seguida, introduzem-no no capitulo:
depois que ele se tenl1a. ap1~esentado dia,nte «Ele deve ajoelhar-se <liante daquele que
de ·nós.» Se ning11ém diz nada, ele deve o dirige,, com as maos juntas, e deve
mand·ar busc:a.r O· post11lante e mete~lo num dizer: 'Mestre, vim <liante de Deus e
1 quarto perto do 'Capítulo; neste quarto~ diante de vós e diante dos freires, e
este recebe a visita de dois ou tres dos imploro-vos e solicito, por Deus e por
«homens probos» mais antigos da casa, Nossa Senhora, que me acolhais na vossa
que lhe perguntam: «Irmao, demandais companl1ia e nos favores da casa como
a oompan.J1ia da ·c asa?» (para entrar na aquele que continua a q11erer, de hoje em
comipanhia da casa). Se ele responde que diante, ser servo e escravo da casa.'»
sitn, eles devem revelar-lhe «as grandes N essa altura verifica-se a belíssima
severidades da casa e as caridosas ordens ~ortagao daquele que preside o capítulo:
que nela. estao». E se ele ·d iz que «está «Distinto irmao, .p edis-me grande coisa, ·
disposto a tudo suportar, por Deus, e que pois da nossa Teligiao nao vedes senao a
deseja ser servo e escrav:o da ·c asa sem- casca. exterior, mas a casca é que vedes
pre, todos oo días da sua vida», eles devem que ternos belos cavalos, belos arneses,
·voltar a fazer~lhe. algumas perguntas refe- boa ·b ebida, boa oomida e bel-as roupas e
rentes ao seu estado: tem mulher, esposa aqui parece-vos que estareis muito a vosso
ou ·n oiva? nunca fez voto ou ·promessa bel-prazer. Mas nao saJbeis os duros man-
noutra ordem? Nao contraiu dividas que <!ament~ que estao por dentro: pois é
nao pode pagar? É sao, de corpo? Nao dura ·OOJ.Sa que vós,, que sois senhor de
tem nenhuma doenga escondida? Nao é vós mesmo, vos f a~is servo de outrem,
servo de nenhum ho1nen1.? Depo1is de, pois com grande pena fa;reis vós alguma
1

assim; se terem cuid·adosaanente infor- vez :coisa que queirais: se quereis estar

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40 Rt!:GINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 41

na terra. do ·o utro laido, do mar (no Oci- A se~uir a .is.to, as perguntas que
dente], mandar-vo.s-emos ·p ara o lado foram f e1tas ao postulante em privado
oposto ; se quiserdes .e star em Acre, man- sao enuncia-das so1enemente perante o
dar-vos-ao [ enviar-vos-ao] parra a terra capítulo: «Quereis ser todos os di.as da
de Trípolis, ou de Antioquia, ou da Armé- vossa vida, de hoje em dia.nte, servo e
nia [ .. . ] ou ,p ára várias outras terras es eravo da casa? Quereis abandonar a.
onde ternos. casas e domínios. E quando vossa própria vontade, todos os dias de
quiserdes dormir, ser.eis obrigado a velar, hoje em <liante, da vossa vida, pam f~zer
e se quiserdes, por vezes, ficar de vela, o que o vosso comendador ordenará?»
seneis mandado para irdes descansar Se o postulante dá a resposta ade-
sobre o vosso leito. » quada : «Sim, mestre, oo Deus quiser», o
Está especificado que, quando se trata m~tre ordena-lhe que saia do capítulo
da admissoo de ;u m belegtiim, os termos e, em seguid.a, dirigindo-se aos íreires
serao um pouco diferentes.: «Pode-se-lhe reunidos, torna a fazer a pergunta prece-
dizer que o ·p oremos ·n um dos mais vis dentemente f eita, para o caso em que un1
ofícios que ternos,. por acaso [:por exem- de entre eles conhec~e algum rimpedi-
plo] ao forno, ou ao :m oinho, ou na cozi- mento a admissao do novo freire. Depois
nha, ou nos -camelos, ou na pocilga ou do que um deles deve dizer: «Fazei-lo vir,
noutros vários. io fícios que ternos.» E, em por amor de De.us.»
ambos os casos, as apóstrofies terminam A cerimónía da ada"nissao propria-
,. com a mesma pergunta: «Ora, vede, bom mente dita come~ quando o postulante,
e distinto irmao, se podereis suportar no capítulo, se ajoelha, de maos juntas,
todas essas durezas.» E. se ele disser: 1e pronuncia o seu pedido: «Aifestre, venho,
«Sim, suportá-las-ei todas, se Deus o per- dia.nte dei Deus, e diante de vós, e diante
mitir», o mestre ou aquele que o :repre- dos freires, e vas. imploro e solicito, por
senta deve dizer: «Distinto irmao, nao Deus 1e por Nossa :S enhora, que me
deveis pro·curar a companhia da casa acolhais na vossa compa.nhia e nos favo-
para ter senhoria. ou riqueza, nem para res da casa, espirituaimente e temporal-
ter conforto ou honrarlas pa·r a o vosso mente, como aque1e que quer ser servo e
corpo' ; mas deveis procurá-la por tres escravo da casa, todos os dias da sua
coisas: urna delas, para vos esquivar e vida, de hoje em <liante.» 0 capítulo,
1

af.astar do :pecado deste mundo; a outra, reunido,, faz as mesm~is perguntas que
pa·r a fazer o serví~ de Nosso• Senhor; e precedentemente fez e em seguida exort.a
a terceira, para ser pobre e fazer peni- o postulante a orar. Todos, em conjunt.o,
1 tencia :neste século, pa.ra a salv~ao da rezam o padre-nosso e o freire capelao

l alma. E tal deve ser a inten~áo pela qual


a quereis pedir.»
reza urna ora~ao ao Esipírito Santo; em
segu.ida, o que preside o capítulo pega no
42 R:SGINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 43

livro dos Evangelhos e o novo freire tolo [o papa] e ·p or amor de todos os


segura-<> com as du~..s maos, na ¡)osi~ao santos do Templo, vos acolhemos a todos
ajoelhado. É entá.o que recome~m, em os benefíeios da casa que fora:ro. f eiros
pormenor, as iperguntas feítas sobre todos desde o comego e serao feitos até ao fim,
os assuntos: o postulante náo está casado, -
a vós e ao vosso pa1. e a" vossa mae e a
nem noivo, nao ·p ertenceu a outra ordem todos os que queirais acolher da vossa
religiosa, etc. Todos os impedimentos pos- linhagem. » É a .parlicipa~ao nas oragé}es,
siveis sao, assim, lembrados e geral- preces e benefícios espirituais da Ordem
mente convidam~se os «velhotes da casa» do Templo. «Vós também, ·vós nos
para saber se nenhu.m desses impedimen- iacolhereis em todos os benefícios que
tos tfoi esquecido. Ero seguida :passa-se a fizestes e que fareis; e nós também vos
parte positiva dos compromiissos: a s pro- prometemos pao e água e o pobre ves-
messas que faz o freh"e: «Distinto irmao, tuári:o da casa e bastante cru1sa~o e tra-
1

entendei bem o que vos diremos: pro.me- balho. » (Vestuário, aqui, designa os bens
teis a Deus e a Nossa Senhora que, de temporais, em geral.)
hoje em <liante, durante todos. os dias da O postulante, entao, é revestido do
vossia vida, obedec.ereis ao lnestre do Tem- manto. Depois de uma oraQao dita peio
plo e a alguns comen·d adores colocados capelao e o salmo de admissao, habitual
acirna de vós? Promteis a· Deus e a nas outras ordens religiosas: «Oh! Como
Senhora Santa Maria que, de boje em é bom e agradável viver juntos» (salmo
diante, e durante todos os dias da vossa 132) ' o mestre ou o seu representante
' vida vivereis na castidade do vosso carpo? ,
manda o freire levantar-se e da-lhe uin
Que vivereis 'sem próprio.' [pobremente, beijo na boca, da. mesma maneira que o
sem ter bens próprios]? Que seguir eis os caipelao; este beijo é o que também se dá
bons usos e os fbons costumes da nossa nas eerimónias de homenagem, durante
ca....~? Que 'ajudareis a conquistar, con- a época feudal. Segue-se tima exorta~ao,
soa.n te a forQa ·e o ·p oder que Deus vos que enumera ao postulante os principais
deu, ·a Terra Santa de J erusalém? Que usos e .p reces da casa do Templo: trata-se
nunca abandonareis esta 'religiao' [ ordem de um resumo da Norma, insistindo sobre
religiosa.] , nem por forte, nem por fraco, as faltas que dariam origea.n a que o
rlJem po~ pior, nem 1p or melhor?» A todas cavaleiro «perdesse o ·hábito» ou «:per-
estas perg11ntas a respost:a, é: «S.im, mes- d~..se a -casa», o que significa. a expulsao
tre, se Deus quiser»; e o que preside o da Ordem.
capitulo conclui : «·Nós, por amor de Deus
e por amor de Nossa Senhora Santa Com efeito, a disciplina é mantida gragas aos
Maria, por amor de monsenhor Sao Pedro capítulos ou assembleias de freires, que se rea-
de Roma e por 3,mor do nosso pai o Ap6s- lizam todas as semanas em todas ~s oomenda-
08 TEMPLARIOS 45
44 RE:GINE PERNOUD

Norma recomenda aos Templários que


dorias,. ma:;mo que só hajam tres frei!es. Os comecem 1por se a:visar mutuamente,
Templárioo dev.-em-se apresenta.ir revestidos do segundo as recomenda~oes do Evangelho.
manto; geralmente, o capítulo celeb:·a-~ na MaJS, se o freire que foi a . \Tisado
. se recusa
grande sala da casa ou na capela, uepo~s da a emendar-se, o templário que testemu~
missa. Uma grande parte dos Costum.es e-lhes nhou o seu acto pode, no capítulo, fazer
consagrad.a. Depois. de recitarem em conjlmto o a pergunta ao co·m enda.dor. ou ao mestre:
padre-nosso, o mestre º1: o !lue o sub~titui a.~re «Distinto irmao, de-me dis.p ensa [auto-
a sessao e faz um sermao o.e exorta<;;ao. Entao, riza~oo] de falar a tal irmao. » E quando
os freires que cometer.am algum erro d:-ve;n tem a. dispensa, 1pode 1-evantar~.e e deve
adiantar-se, ajoelhar-se e f.a.2Jer a confissao cha111ar pelo 11o·m e o· freire que deve cen-
pública desses erras. Em seguida, os culpad~s surar. Este pode corifess·a r ·a. sua falta
devem sair e o capítulo discute sobre a ·p.en1- ou n.egá.~la e designar testemunhas q_ue
tencia que deve ser aplicada a cada um. ~quele provem que está .inocente da acusaQao.
que preside o capítulo manda-os V?itar e i~or­ Vale a ·p ena referir os termos usados,
ma-os da decisao tomada ·p elos fre1res reunidos. .pois nos tra!1sportam ao centro desse
Thtá especificado· que nenhum deles deve ~es­ mundo do Próximo Oriente onde se exer-
cobrir o capítulo», isto é, revelar q_ual dos fre1res cia particularmente ·a voc·a gao dos freires
sugeriu esta ou aquel:a penitencia, ou eomo se da Ordem do Templo: «Mas se um freire
passaram os deba_tes. Es~ regra do se~edo era dizia, no capítulo, a outro: 'Distinto
sensata, ipois - nesse me10; de co.m batent-es - as L.-mao, vós comet'estes tal falta em Cha-
divisoes e os ódios poderian1 ser suscitados por tel-Pelerin, no domingo, implorai merce
tais indiscri~oes. Q. segredo do capítulo ass~e­ [pedí perdao]\ e o freire -lhe responder:
lha-se no fim de contas, ao segredo da conf1s- 'Nao, gra~as a Deus, p.ois no do.m ingo
sao. ~ notável que, qua ndo as penitencias sao estive €'m Beirute', e o puder prova.r,
relatadas no liv·ro dos Privilégios, que, na seria absolvido e o seu acusador acusado
Norma, se segue ao dos Costumes, o redactor de mentir.» A.s penas sao debatidas,
ser.o:pre de exemplos de casos _extra~~os ?º _pas-
1
tornando em 1inh·a de CO·nsidera<;;áo o
s·ado e relacionados CO!ID fre1res Ja fa..tec1do~. comportamento costumeiro do freire cul-
Nada disto diferencia a Ordem do Templo das pado e as -circunstancias atenuantes que
outras ordens reli O"io·s as; mas essa recomenda- puderam ser apresentadas. A pouco .e
º com a cont1nua~ao,
cao do segredo virá, . - a dar pouco foi-se estabelec€·ndo um procedi-
azo a urna. explora~o twl que nao a podemos mento, de que testemunha o texto dos
deixar pa,ssar sob silencio. Privilégios, estabelecendo várias espécies
de penas, estudadas com muita precisao
Além das confiss5es espontaneas fei- por Marion ldelville. As penitencia~ imp~- .
tas em presen~a do c~pítulo, há as ª?u~a­ tas vao desde a «perda da casa» a expu1-
goes praticadas tambem na assemble1a. A
1
Rt!JGINE PERNOUD 08 'l'EMPLARIOB 47

sao da Ordem «de que D.eus proteja tulo e que deveria permanecer secreto),
todos», ao jejum de ~1ma# sex'oo.-feira, etc., sao igu.almente castigados. Dá-se
com~do p ela falta mais grave e aoo... pouca importancia a.os delitos sexuais.
bando na mais ligeira. Aquele que foi Um único e.aso de violacá.o é mdieado
excluido do Templo deverá entrar nu.1-ua oom u:m.a punigao leve; -pelo contrário,
outra ordem - de preferén.cía na Ordem u:m. caso de sodomia é punido oom a
dos Cistercienses. Depol.s desta pena - a «perda da casa». Procuram-se garantias
mais pesada-, vem a da «per~la do sobretudo naquilo que pode prejudicar a -
hábito», e isso por um pra.zo riJ.ais ou
1
vida.. em oomum: :traigao ou conspira~
menos longo, que, geralmente, nao ultra~ e violencias diversas, mesmo quando os
passa o tempo habitual da prescri~ao ca.valeiros que agirarn «com. ira e com
dessa época,. ou seja um ano e tun dia. i'mpeto viollento» seJam tratados com
ibastante indulgencia.
E d.e i1otar qu.e, consoar1te os costumes das
ordens religiosas, os delitos assinalados empre- A.inda. falta dizer urna. palavra a respeito da
sen~a do capítulo sa.o os que se referern a elei~ao do mestre _. pois, de conformidade com
N orrna, nao os ·p ecados que se r~.ferem num.a os usos da época na Igreja, é pcYr elei~o que
cori.fissao. Parece, no entanto - e quando se deu este é designado.
1 a tragédia. final do Templo, os acusadores tíra- Quando o mestre morre, é ao marechal que
rao partido disso - , que tenha ha:vido, por compete substituí--lo e . ordenar .as exéquias.
vezes, uma confusao mais ou menos voluntária Durante os sete primeiros dias a seguir a morte
entre o capítulo e a confissao propriamente dita, do mestre todos os freires devem rezar duzen.tos
o que pod:la ser considera-Jo como um ataque sJO padre-nossos por alma daquele que faleceu e,
rpoder dos b is.pos e, :ero geral, dos ·p adres, únicos dUTante esses set-e dias, também se deve dar
detentores do direito de ligar e desligar. almo~-0, -e jan.tar a cem pobres. Os objectos .pes-
soais daquele que acaba de moITer devem ser
.Os exemplos específicos indieados nos distr~buídos entre os outros freir.es e o «manto»
Privilégios mostram que as faltas raais que eile 11Sava deve ser dado aos leprosos. Sao
duramente punidas sao as da s imonia enviadas mensagens a todos os comer1dadores,
(aqueles que compraram a sua entrada que se devem reunir em Jerus·além ou no reino,
na casa através de corrup<.;áo, por meio para elegerem, inici·almente, u·m comendador que
de dinheiro ou qualquer dádiva), de tomará ·a interinidade do lugar. :m a este que
assassínio, de conspira~ao; da mesma compete usar «a boia do ·mestre», isto é, o seu
forma, os renegados, os que desertara.m. sinete. Entreta.n to é Jh-""'eSCrito a todos os freí.res
em plena batalha, os que comete-.cam fur~ do Templo de jejua.r tres sextas-feiras a seguir,
tos ou os que «descabriram o capítulo» apenas oomendo ·pao e água., e rezar pela elei~aó.
(revelando o que se tinha dito no e:api 0
No dia. da elei~áo, todos os freires que puderam
48 Rt!JGJNE PERNOUD 08 1'EMPLARJOS 49

deixar as suas c.omendadorias sem as :p orem em a jurar que guardarao obediencia ao mestre do
perigo encontram-se reunidos no local que foi Templo1 o comendador da elei~ao vai ter com
d€Signado pelo grande-comendador, assistido do o que foi eleito ie diz-lhe: «Nós, em nome do
marechal e dos comendadores das tres provin- Pai e do Filh'O e do Espírito Santo, escolhemos
cias do reino. como mestre e elegemos-vos, Freire Fulano»;
Com os seus adjuntos, o grande-comendador em seg-u.ida¡ virando-se para os outros: «Distin-
designa, entao, alguns dos .h omens probos do tos senhores irmaos, dai gra~as a Deus, aqui
convento, fá-'los sair da assemblei·a e designa, está o nosso mestre.» «E, logo a seguir, os. frei-
entre eles, icom o eonsielho, o que deve ser res ca;pelaes devem entoar o Te Deum laiuila-
comendador da elei~ao; ·p ara isso deve escolher m~ .»
um. freire «tal que a..me Deus e justi~a e seja .E por esta o·r dem que, normalmente, a oeri-
com.um a tod.as as línguas. e a todos os freires, mónia decorre. Po~ vári'as v·ezes, a m·a neira de
e que ame paz e concórdia na cas·a»; tendo-o eleger teve de :s1er mo·d ificada, ou devido a cir-
eleito segundo estas prescrig5es, escolhem-lhe cunstancias de guerra, ou porq11e o mestre
«um freire cavaleiro como compa11l1eiro·» . Estes desig11ado n.ao· s·e e11contrasse presente na assem-
dois freires devem ir a Ca!pe·la e orar; passam a bleia. No· enta.n to·, ·esta ma.neira de designar o
noite, em oragao·, na capela, e no dia seguinte, mestre, que nos 1Jarece com.p licada, corres.poodia
1

depois da missa, o capítulo 1rolta a reunir-se. aos costumes que e:x.istiam no11tros lugares,
A 1pedido do grande-comendador, o com-endad~r naquela época. Efectivamente, em :várias cida-
da ~leiQao e o s-eu -companheiro escolhem do1s des; a eleiQao· do presidente da crumara. ou ~o
outros freires; em 1Seguida, os quatro reunidos co:nsul devia-se a escolha de cleitores previa-
escolhem mais dois, e assim por diante, até que mente designados a cuja vontade os outros jura-
• o número deles atin.ja do.ze, «em honra dos doze
anóstolos». Estes doze, em seguida, designam
vam conformar-se.
As insígnias do ·m estre, nas s11as fun~óes,
uin freire capelao que entre eles «substituirá sao as oue se encontram para uso dos visita-
Jesus Cristo». O colégio de eleiteres assim f or- dores en;_viados para um ou outro lado da cris-
mado deve, obrigatoriamente, comportar oito tandade e do Próximo Oriente, pelo mestre ou
cavaleiros e quatro beleguins. Por fim, depois pelo capítulo geral; é aquilo a que se chama a
das preces :fieitas em ·conjunto, depois do· sermao bola 1 (bula) e a bolsa, o sinete e o tesauro,
feito pelo grande-comendador, r~ordando que que constituem os meios ·postos ao servi~ do
nos seus cargos devem. ter «Unicamen.te Deus mestre para desempenhar as suas. funQóes de
diante dos olhos, ·nao· ter outra ambi~ao que nao administrador, gerente e dirigente de urna colec-
seja a da honra e do benefício da casa e da tiv:idade que também é uma pessoa moral.
Terra Santa», os eleitores retiram-se e escolhem,
de comum aoordo, o ·cavaleiro que deve ser
eleito; em seguida volt&"n ao capítulo e, depois 1 Sielo antigo que tem -como pendente urna bola de
d-e terem obrigado todos os que esta.o ·p resentes metal. (N. da T.)

Saber 164-4

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CAPtTULO ID

A ARQUITEO.rU'"RA DOS TEMPLARIOS

As constru~5es erigidas pelos Templários sao,


-
por defini~ao, o que subsiste de mais fácil aces-
s~bilidade, pois: os. monumentos - a.o inverso dos
t<extos - sao f áceis de ver e, por conseguin_te,
de reconhecer ·e identificar. No entanto, os en.ga..
nos també1n sao· ab undantes, neste domínio:
1

enganos provenientes de f.alsas identifica~oes; o


exemplo mais esipan_toso é o da forta1eza de
Gisors, na l\Jormandia, a propósito da qual se
forjaram lendas absurdas des.providas de qual-
quer funda.mento histórico, pois Gisors só foi
oonfi:ada a guarda dos Templários durante os
poucoo ro.eses que duraram as co.n tendas entre
o iiei de Fran~a e o •r ei de Inglat€rra., e que,
se fui - como muitas outras fortalezas da
Fran~ - a prisao1 de vários templários, nao
pode~ de maneira nenhuma, ser considerada
como «fortaleza templária». Também existe urna
ler1da bastante arreigada -- que :nao é apoiada
por nenhUL--n texto - que atr:i·b ui aos Templários
o eastelo d·e Gréoux, na. Provenga; esse eastelo,
no seu estado actual, r1áo pode ce:rtamex1te ser
anterior ao século XIV. Existem outras · lendas
persistentes que passaram para o dominio
público1, depois de terem sido propagadas no
século XIX, e que provocaram. enganos; uma

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52 P.,J!;GINE PER.N OtTD 08 TEIYIPLARJOS 53

delas é a que pretende que as igrejas <los 'Jiem- Os Templários possuíram_ cerca de nove mil
plários tenham tido· a f orn1a redonda, construí- comendadorias no Ocidente. A maior parte des-
das sobre planta central. A erudi~áo moderna, sas comendadorias e·r a1n aglomerad·os de cons--
eom os tra·b alhos de E1lie Lambert, esclare·ceu truG6es agrícolas, erigidas em. terras que. os
urna ideia a qual a autoridade de Víollet-le-Duc Terll!)lários tinham receb.i do -como donat1vcs
dava certo peso, mas que provinha, sobretudo, de alguns senhores generosos e das quais eles
de uma. g·e-neraliza~ao abusiva'. extraia.m o·s seus recursos ·mais i.m portantes,
Quando se fala d·a arquitectura dos Tem- sob a forr:na de trigo, vinho,. azeite, ou ainda
plários, devem ter-se em vista vários tipo·s de g~.do e pro·dutos cDmo a la dos seus. carneiros.
construQoes: as mais cor.ventes, as das comen- Por conseguinte, e na maior parte dos casos,
dadorias ou granjas, no Ocidente; as mais típi~ de domínios rurais semelhantes - fez-se notar
cas, as c-0·n struQoes mi.l itares; por fim, as cons- isso frequentes vezes - as granjas ou priorados
truQ5es religiosas: igrejas ou .ca;pelas. 1ifas, para cistercienses, ot1 mesmo a mosteiros dessa 111esma
ser totahnente válido, sem·elha.nte estudo deve- Orden1, cujo 1parentes.co· -espiritual com. os T·em-
ria ser precedido de recenseamentos completos plários s.e afirma n11m parentesco a:_qt11tectural.
dos monumentos que subsistem. Ora, por mais Na maioria dos casos, :a s ·constru~oes forma.ro
incrível que isso pare~a, €Sses recensea1nentos um qua,lrado com, a cape!~ .ªº sul, o ref.ei~?~io
ao i1orte e, I.iO centro, o p,at10, co1no em mu1tas
1

ainda mal comegaxam. E '.m detie:mninadas regioes expl1oragoes. agrícolas desse tempo. Para esse
foram efectuados de maneira especialmente pátio dao a.s cavaiari~~· A cria~ao do ~cavalo
aprofundada, como sucedeu na PT.oV!enga; na é, evidentemente, essenc1al para essa O~em d.e
Charente, também-e os trabalhos que aí foram freires cavaleiros, e sao as comer1dadorias oc1-
efectuados pcr Charles Daras fornecem, ~~ual­ dentais que fornecem a :cera?nt3; p·ara os cava,-
mente, ilnforma.~oes muito ·c ertas. A:lgiimas lciros da 1'er r.a Santa. Tambero e frequente que
outras regioes, tal -como a. de Coulomm.iers, s ede
1 1
uríla comendadoria seja composta por edificios
de um grupo int€·rnacional de estudos templá~ r·e ctangulares com uma :torre d~ esquina pela
rios, ou a do Franco Co·n dado, também estao a qual se acede aos anda.res superiores e, sempre
ser estudadas e recenseadas. Finalmente, os do lado sul, uni.a capela.
trabalhos efectuados eom o fim de elaborar o E sob este aspecto - talvez um pouco sur-
Inventário Geral ·dos Monumentos d,a F'ratnga preendente para a imag·in aQa? - qu~ se apr~ser1-
permitirao, em breve, dispormos desses recen- tam a maior parte das come11dador1as rura1s do
seamentos, base b:1dispensável para os estudos 'femplo em Fran~a: robustos conjuntos agrí-
de valor. Tudo isto, no que se refere a Fran~. cola.S ~os ouais \risivelmente ~ atribuiu muito
Estudos semelhantes esta.o a ser efectuados no mais importancia as granjas, as cava1ar1qa~,
1 "' .
a. .
estrangeiro - em Espanha e em Portugal, ·por capela, do que a fortifi'CaQao. Quando: est~ existe,
exemplo, o·n de su.bsistem notáveis espécin1es da é, nos casos mad·s frequentes, posterior a ocupa..
actividade arquitectural dos Templários. ~ao dos 'remplários:_ e é assim que em La ~u-

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54 R2GlNE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 55

v?I1oirade 'ª cintura fortificada data apenas do em 3Jllgulo, com uma torre de esca.da redonda
sec1!1º. xrv, quando esta regiao dos pla.naltos no angulo interior. Apresenta unía nave rectan-
desert1cos do Larzac - que foi dada a Ordem do gular de cerca de quinze metros de compr.imento
Templo, em 1158, pelo visconde de Millau - foi por seis de largura, com um coro mais iestreito,
en~egue aos Hospitalários. E certo que, ná;:, que aeaba uma abside sobrieelevada; no arco de
mu1to longe de lá, La Cavalerie sede da comen- volta inteira estao aber+....as tres janelas. O· con-
dadovia, f oi prova·v elmente f ortrricada desde a junto é coberto por um1a, abób·ada em her~ que-
época dos T€mplários, mas a presenca das mura- brado, sustenta.da. na nave .p or uro pendente
l~as pode explicar,,,se pela necessidade de um
1
pousado sobre duas cons.o las. ,
s1.s tema de defesa, nesta regia:o rnu.ito selvagern. É ·e sta ·p lanta muito simples que se ep.contra
Em todos os outros lugares em que se instala- na maior parte das igrejas dos Templários: um
ran:._, .ra Templários, nas suas constru~0es oci- rectangulo terminado, muitas vezes, por urna
den1,a1s, apenas revelam o seu aspecto pacífico de abside plana ou por urna abside semicircular,
exploradores agrícolas, preocupados em valoriza- como em tantas outras igrejas, nos séculos XII e
rem as suas terras; só na Terra Santa e na Penín- XIIIr. Tal como as próprias comendadorias, sáo
sula Ibérica é que se revelatn. sob o aspecto de constrn~es robustas mas sem requintes espe-
c?mba.tentes. Aliás, mesmo er11 París, os Templá- ciais.. Os ,p lanos restabelecidos por Ch. Daras
r1os revelaran1-se, de início, pelos trabalhos de na regiao da Charente sao absolutamente signi-
secag·em do bairro que continua a chan1ar-se ficativos; sao os de quatro capelas dos Templá-
:r\~arais; pegado aos edifícios da sua comendado- :rtlos: Malleymnd, Angles, Chateaubernard e
r1a, esse terreno lodacento f oi transformado 11or Grand.-Mas-Dieu 1 ; o autor ve neles o protótipo
eles em. ~ardins. hortícolas, que, durante mclto desses monumentos, nao só no departamento da
tempo, ir1am alimentar a cidade parisiense. Oharente, mas também · nas suas cercanías:
Em contrapartida, o que parece uma cons- capelas mod:estas, todas s•o bre planta rectangu-
tante, nas ~ons~ru~oes dos Templários , é a lar,/ cobertas de a:bóbadas apoiadas ou nao sobre
ca1pela ot1 a 1gveJa,.. Desde 1139, cerca de vinte pendentes e terminadas por um eoro em abside
anos após a sua. funda~ao, a Ordem do Ternplo plana. Esse coro é iluminado1 por tres janelas;
obtém do papa Ir1oc&ncio II a autorizacao ~de a ilumina~ao da nave propriamente dita é feita
ca:i~t:Uir capelas para uso dos freires. ~ Esses apenas por urna janela aberta no verso da
~1f1c~os eram, ger~lmente, servi,d os pelos ·car:.e- fachada. O ornado demonstra a mesma sobrie-
la~s. ligados exclusivamente a Ordem dos 1~em­ dade que o edifício: o pórtico, muito simples,
~lar1os ·e que, ao m·e smo tempo, se encontravam
11be~os d·~ tutela dos 1bispos; o que, já vimos,
devi.a -suscitar numeros·a s inv.ejas e rancores. da 1 Arch.eoZog·W.., n.º· 27, M.ar~o-Abril de 1969, ip. 4:9.
parte do ic1ero secular. Este núm-ero, eonsagrado· mais especiaJmente aos Tem-
pláil'ios, ,oont ém vários est udos {de M. Melville, R. Our-
. A:. caipela de Fontenotte (Cote-d'Or) - para sel, entre out.ros), os quais convidamos oo nossos leitores
citar uro. exemplo - abre para wna habita.gao a consultar.
56 RJ!JG-INE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 57

por vezes 1a .poiado a oolunelos, os capitéis escul- nela foram descobertos; a Comendadoria do
pidos, freq11entemente, corr1 folhas de ·a canto ou Tastre (perto de Condéon) e a de Guizengeard.
volutas.. A. torne, nesta regiao, é urna arcada Por fim,. a oeste da regiiao, na estrada que liga
limitada por urna sucessao de colunazinhas supor- Angouleme ·a :S aintes, encontra~-:se as Comen~
tando arcos, gera;lmente colocada sobre a dadorias de Chateaubernard, cuJa capela tam-
fa;chada, culminando-a. Constru~oes severas que bém está conservada, e .a de Angles, no val~ do
contrastam ·Crom a 'e xuberancia e a riqueza o:n1a.- Né. Esta enumera~ao permite t er urna ideia da
mentaJ das 'igrejas paroquiais da mesma regiao; importáncia das im;pla.nta~5es dos Templá.rios
esse carácter severo faz recordar os estreitos 11uma fu1ica regiao. O carácter uniformemente
lagos que ligam a Oroe.m do Tiemplo aos Cister- simples ida sua arquitectura, rieligiosa ta,mb~m
cienses. fica nitidamente evide11ciado. A sua ma1or
Ora, trata-s·e de uma regiao na. qual as riqueza, na noss a opiniao, consiste nesse fresco
comen~aidoria·s sao· muito· numerosas; por con- de Cressa-c, muito típico d a arte do século xn
seguinte, é possível ter-se ruma i:deia bastante e que se torna ainda .m a1is. precioso por r-epre--
exacta dos princí1pios que as caracterizam. sentar dois cavaleiros em ac~ao, armados, com
O estudo a que me referi permite salientar, na os Gapacetes na oabe~a, saindo de 11ma cidade
regiao norte do departamento, a parte a casa para perseguir, d·e lan~a ·en1 riste, estan~rtes
desfraldados, os inimigos qué batem 1er.n retirada
de .Angouleme, La Commanderie, que deixou o .p axa o sell ea.ropo.
set1 ·n ome a um lugar no concelho de Maine-de-
1 •
• No entanto, algu.mas igrejas tem um carácter 1

Boixe, Fouilloux, Coulonges, Fouqueure e Ville~ diferente, sobre O• qual se fo·r mou a lenda das
J ésus . A i1ordeste encontra-se a capela do rigrejas redondas «Segundo o modelo do Templo
Grand-~!as-Dieu, que ainda subsiste. A Comen- de . Salomao, em J erusalém» . Conti11uando :3'
dadoria da S anta Trindade, em Auna.e, essa.
0
referir~nos a s.ua. arq1i:ite1ctura.. r€'ligiosa ·n o Ocl·
1

desaparecen, tal co.m o a de Chambon. A capela dente (veremosJ m.a:is Ionge, o que foram as
da Comendadoria do Petit-Mas-Dieu, :perto da capelas dos seus ca-stelos n8;. Terra Sa~ta); veri-
aldeia de Loubert, é a.ssin.a lada como particular- Íican1os que um pequeno numero de igreJaS ~o
mente característica da arquitectura religiosa. Templo apresent am, efectivamer1te, a fov:rria <:1r~
da Ordem do Templo, com o seu coro rectan- cular. ESpecialmente a do Templo d e LOJ.1dres
gular,, a sua :abóbada em bergo quebrado, os e a de Paris, ho·j e d€Swparecida; ta...-rito um. como
seus tres vaos de janela;s iluminando a !pa:rede o outro e dificio aprese11tavam muitas semelhan-
leste e a sua torre-arcada. Mais a leste, .p ode- ~as. Visita-se sempre oom interesse a Rotunda
mos assinalar a capela da Comendadoria de dos TempláT°ios. de Londres, que, apesar das
Malleyrand, de Vouthon, de Charmant; ·p or fim, grandes rrestauraQoes que sofreu no século XIX
a.o sul, Viville, Saint-Jean-d' Auvignac (perto de e dos bo·m bardeamentos que a sacudiram no
Barbézieux), Malatret e, sobretudo, Cressac, século xx ainda subsiste no bairro ao qual ela
hoje bem conhecida, gragas a.os frescos que deu o s-e~ nome: o T·e mplo, b·a irro dos magis-
58 RJJJGINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 59

trados, nas margens do Tamis:a. De planta cir- se trate dos rebordos dos ~os da Normandia
cular, com uro.a cúpula central apoiada a s eis ou de bQries do Sudo:este ou da P'.?:-ovenga.
oolunatas formadas por colunelos agrupados e A igreja do Templo, em París, também era
um deamibuJ.atório do dore vaos, esta igreja construída. em rotunda. Conhecemo-la apenas
ha,ria sido erigi<la durante o reinado de Hen- pelos plar1os e ·p elas descri~oes anterior.es a
rique Plantageneta, e consag-rada, em 1185, pelo Revoh1~ao. Parece teir s1do construfda err1 .meado~
patriarca de J erusalém, Heráclio. No século do século XII; ·c omo a de I~ndres, a rotunda foi
seguinte é aumentada e ·e leva-se, do lado· leste, aumentada ·corn um ooro rectangular, e? em
um vasto coro, de forma rectangular., ~onsa­ seguida, um ático análogo ao da Sainte-Chapelle.
grado em 1240, :em presen~a do rei Henrique III. Depo~. da supressao da Ordem, outras adigoes
Allás, a planta circular parece ter tido a fora_m efect uadas dos lados do coro rectangular.
preferencia dos construtores ingleses, pois outras A rotunda inicial medja. cerca de vinte metros
igrejas do Templo, na Inglate1Ta, também a de diamet:ro; :a cúpula ·c entral est ava apoiada,
1

a;doptara,m, em ép.ocas d ifer.entes do· século xrr: 001nc,¡ a de Londres, a seis colunas de base
especialmente em Douvres, em Brístol, em Gar- redonda.
way. Mas essa predilec~a:o nao se deve uilica- Se é ·a úrrir.a que, ern Fran~a, pode ser atri-
buida a Ordem do Templo: a rotunda de Paris
mente aos Templários, já que na mesma ép-0-ca
nao é, :n:em por sombras, a única igreja de
hi outros ~onumentos que sao erigidos em planta central construída nessa épóca ou mesmo
rotunda, como a Igreja d 0 Santo S:é pulcro, em
1
anteriormente. l\l.Iencio,n emos a rotunda de Neu-
Cambridge, ou a de Northampton. Os próprios V1J-S,a h1t-Sépulcre, no Ben-y, que, cssa, foi efec-
I-Iospitalários, em Londres, no bai:rro de Cler- tiva·m ente construída com a 1inte11~ao de r€cor-
lrcnwell, haviam erigido urna votunda cuja cripta dar a rotu11da de Anastasis: a lgreja do Santo
ainda existe, sob a paróquia denominada Sa:int- Sepulcro de Jerusalém. Por .outro lado, as cape-
J ean, segundo a sua origem. Ao enumerar estes las de cemitérios, de planta central, for a1n muito
monumentos, Elie Laanbert observava. que a numerosas; planta central arredondada, como a
predilec~ao ·por essa forma circular pareci~ Torre dos 11fortos, de SRrlat, no Périgord; qua-
d·e ver-se mais a uma «tradi~ao anglo-normanda» drada, como a Ca1)ela de Santa Catarina de
do que a uma influencia directamente oriental. Fontewault, ou ainda, como a Capela Sa:inte-
E nao seria despropositado examinaT, a este Croix de Montmajor, de planta. quadrada, orna~
respeito, a. influencia q.ue nelas podem ter pesado ro.entada corr1 quatro absidíolos semicirculares.
as tradigües célticas, que continuam testemu- Outros ~ificio·s apresentaram a planta octogo-
nha;das na Ilha.~ Britanicas pelo que subsiste das nal, fazendo recordar o de muitos baptistérios
antigas mamo as, túmulos de forma .circular; antigos, entre outrosJ o f.amoso Octógono de
isso levar-nos-ia a encontrar, mesmo em Franc;;a Montmorillon. Ora, foi por engano que este
e em todas as regioes onde viveram os Celt3,s, í'1ltimo edifício se atribuiu a Ordem do Templo.
o gosto ~las ha;bita~oos de forma ciTculair, quer Ero contrapartida, é possível, embora nao seja
60 RJ!JGINE PERNOUD 08 TEMPLARJOS 61

certo, qu.e a. eapela, octo-g onal de ft.f.etz ten.l1a relíquia da Verdadeira Cruz, qu.e Sao Fernando,
sido, ·e ssa, ·edificada~ pelos Te1nplário.s. EJ1firn, a reí de Espan.ha, veio ,,enera•r . A ch<i.rola de
cwpela de Laoo, tan1bém de forma octogonal, Tomar, essa, foi construída em diver:.::>as cam-
pode ser atribuida -~ essa, sen1 sombra. de C.(1vi- panhas sucessivas, o andar inferior em ...pla11ta
das - aos Templários. Mas os trab&lhos de octogonal, em seguida o deambulatório compor-
Elie Lambert demonstrara1n o se11 parentesco, tando dezasseis vaos. 1

nao com 0 utra:s «ca.pelas templárias», mas com


1
Para concluir, a forma icir-cular, embora se
a capela, fm1erári'a, da. Abadia de Sao Vicente, de encor1tr.e, por v·ez€S, na arquitectura religiosa
1

Laon, conl1ecida pela impor tancia qu.e ·ela te~1e dos Templários, nao, pode, de maneira nenhuma,
, .. considerada como uma das suas caracte-
nessa regiá·o e que foi destruída aqua...11do das ser
guerras de religiao; trata.va-se de uma. capela TIStlCas.
de cemitér.io corf10 inuitas outra;s que existiram.
Tar.abé11:n está. de1nonstrado. que dois edificios O carácter :rnilitar da 0 rdem do Templo afir-
1

de planta central, ambos situados no ca.mmo ma-iS1e :nas suas constru~oes no Oriente. Conl1e-
frwnces que ,os. peregri11os. seguiam pa'.rla ir a ce-se 0 1 pa;pel que de8em penharam as fortalezas
Santiago de Con1·p ostela, i1u...71ca pertenceram aos . na defesa do reino de Jerusalém - esse reino
Ter.a.plárias: a capela de Eu11ate e a de ·Torres infinitamente vulnerável, dada a sua configu-
del R io. Aírrda lleste .caso, t ra.ta-s.e de capelas ragao, tomando ern consideragao o <!omprimento
funerárias, e a sua atri})1J.i~ao a OI\iem do das fronteiras que a Ordem devia guardar,
'I'emplc é completamente errad.a..
1
·contra urna populagao hostil. Desde o século XII,
1

No· entar1to~ é na Península Ibérica que i1oje os Templários come~aram a a.ssumir a defesa
em dia se encontram os ex emplos mais impres- de castelos e até de cidades fortificadas. Foi
sionantes de igrejas tendo realmente perte11cido assim que, em 1150, o reí Balduíno m lhes
a OI'dem do Templo e construídas sobre planta · ofereceu a ·c ida:de de Gaza, cujas muralhas
circular: a . igreja dita. da Ve:rdadeira Crüz, em alteara e que «pelo comum conselho d e todos,
S:e·góvia, e a charo-la. de Tomar, em Portugal. foi dada aos Tem plários porque, nessa época,
Nestas regioes~ onde a. Ordem do Templo era os Templários tinham bastantes freires que
levada a manifestar-se na sua fungao guerreira, eram bons cavaleiros e homens probos», como
con10 na Terra Sa11ta, as construgües sao f orta- declaro o cronista Ernoul. Pela mesma razáo,
1e·zas, como as que encontra!!los 210 Oriente ou por volta do ano 1165, iríam assumir a guarda
em raros casos com.o o do T·e mplo de P aris, que
1 da cidade de Tortasa (Tarto·u s). Por es:sa altura,
era a <<casa principal»; uma das -casas principais
1 tornavam-se senhores da fortaleza de Saphet,
da Ordem. No que se refere ao edifício propria- ao norte da Galileia. Poucos anos mais tarde,
mente religi·o so, a ig.c·eja de Segó-vía, consagrada em 1178, construíam em frente desta fortaleza
em 1208, f oi il1tenciona1mente construída para o Chatelet du Gué de Jaoob. Este devia receber
reco:ridar o Santo s .epulcro de_J erusalém (:e ·nao
1 uma guarnigfio, de oitenta cavaleiros e de sete~
o 1."emplo de Salomao ! ) ; continha um•a faraooa eentos e cinquenta ibeleguins, mas foi dest:ruída
62 RSGINE PERNOUD 08 TEMPLÁRIOS 63

por Saladino apenas um ano depois da sua bem conhecido pela descri~ao que del3 fez o
construgao ·(1179). bispo de Marselha, Benoit d' Alignan, aquando
O giiande período das oonstrugoes militares· da sua passagem pela Turra Santa, em 1244, no
dos 'Tumplários sitmt-se

após a perda de J, eru-
:t •
momento em que se comegava. a sua reconstru-
salém, em 1187. l!Ea1s ao que nunca, a umca gao. Podía, em tempo de guerra, dar abrigo a
esperanga de reconquistar a Cidade Santa residi~ mil e setecentos homens e dar asilo aos campcr-
nessas tlhotas de resistencia que as suas fort1- neses das cercanias. A guarni~o ipermanente
ficagoes tornavam pratícamente inexpugnáveis. compun...ha-se de .cinquenta freires cavaieiros,
O primeiro castelo assim. construído f oi, sobre trinta freires helegu.ins. ass,i stidos por cinquenta
o promontório de Athlit, aquele a que se chamou turcópolos, tr.ezentos balistários, oitocentos e
Chatel-Pelerin (ao sul de Ha;ifa). Separado da vinte lbeleguins e escudeiros, e quarenta escravos
terra :p or um ,p rofundo fosso~ e1~a defendido por
1
mu~ulmanos. Dioze ·azenhas situadas na parle
uma muralha e po;r duas grandes to,r res recta.n- exterior do castelo aprovisionavam-no com água;
g·ulares de trinta metros de comprido por v.i nte
1
estas po·d iam ser subs:t ituídas, momentanea-
e ·c inco de largura, do lia:do da terra ; do lado mente, por vários moinhos de vento, situados
do mar, a muralha garantia a defes:a, da penín- adentro das mur::tlhas. O castelo encontrava-se
sula; havia um pequeno porto instalado· para defe11dido por urna série de f ossos e de postos
permitir o reabastecimento, e~m caso de c~rco. avangadas, que dissimulavam er1genhos de lan~
Na grande sala abobadada da rortaleza, a ra1nha ~r. pe<:lras e manganelas.
de Fra·nga, Margarida da Provenga, esposa de Tortosa iria servir de refúgio aos Templários
Sao Luís, .foi recebida aquando da sua visita. a após o desastre de Hattin - enquanto os Hospi-
Terra Sa.nta e foi nessa mesma sala que ela talái.~os se retiravam para Margat e para o
deu a luz um dos seus filhos 1 P·ed.ro. Chatel- Krak des Chevaliers. A fortaleza apresentava,
Pelerin continha, naturalmente, dependencias do lado do mar, uma torre de menagem rectan-
para a instala~ao da guarni~ao, continha lojas, gular, ladeada de toITes quadra.OOs; casamatas
cavalaricas e, bem ·e ntendido, um pogo. A forta- abertas ao· nível do mar permitindo o reabaste--
leza tambér.a comportava duas capelas; uma cimento por meio de barcos. Do laJdo da terra,
delas a,presentava-se eomo urna rot11nd.a hexa- esta fortaleza estava ísolada por fossos. A única
gonal coro d-ea;mbulatório de do.zie· lia dos: o facto forma de acesso era uma caJ~ada que se ligava
merece ser assinala.do, po is trata-se do único
1
ao único ¡portal aberto na muralha. A capela
caso de iigreja. em rotunda erigida pelos 'I'em- era de planta rectangular, sem aibs.ide, e f ioava.
plários na Terra Santa. Como se ve, apareceu en'l frente da grande siala, iluminada por seis
relativamente tairde: stl:bsi.c.;tiu a.té ao tremar j.anelas altas.
d·e terra de 1837., que a. iria abalar a.té as fun- Em Safita, a que também chamam Chatel-
da~oes. BJ.a.:nc, situada entre Tortosa e Trípolis, nas
- ¡¡ •
Uma das constru~oes soore as quais pos- montanhas da Sír.ia, a capela, abobadada, de
suímos .m ais pormenores é o castelo de Saphet, planta rectangular com abside em semicírculo,
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RSGINE PER NOUD 08 'l'EMPLARIOS 67
66

sobre a Marche para a defesa dos cristáos»1, súbditos do rei apressaram.-se a anular o testa·
os Templários, neste C&SO Robert le Sénéchal e mento· o reino ac-..abou por .caber ·a. Rairoundo
·Huguies Rigaud, recebem das maos do conde Béranger I'v, de Barcelonar 0 Templo havia
Ermengaud d'Urge11 o castelo de Baroora; isbo resist ido a tenta~o que, no séeulo seguint.e,
·pa:ssa-se em Setembro de 1132; o fundador da viria a uferecer-se aes Cavaleiros Teutónicos
Ordem, Hugues de Pa:y-ns, ainda vivía. A recon- l nas regióes nómicas. No entanto¡ as Slia.;3 P?s-
quista da Espanha e de Portugal suscita"l/ a as sessoes deviam ser importantes na Pen1nsula,
mies.mas iniciativas que a dos lugares santos: '
1 ondie, desde 19 de Mar~o de 1128, a raínha de
Portugal 1 lhes f izera dom do castelo de Soure,
foi de Toulouse que partiu a .pr.imeira expedi~ao
que pode ser considerada como Ullla pré-oru~ sobre o rio Mondego ; tam.bém viriam a receber
zada, a de 1064, que tinh·a como objectivo a a floresta de Cera, com a condi~ao de a. arran-
l:iJberta~áo de Barcelona.. E em Espanha que a ca.rem ·a os Sarra,-cenos; o que fizeram, e no
hist6ri.a do Templo é mais rica, no seu início. território assi:m libertad o fundaram as · cid ades
O rei Afon~o, de Aragao, t inha , pensado fundar de Radin, Ega e, sobret udo, Coimbra, prometida
uma ordem militar tomando como modelo a dos ao destino que se sabe. Ao mesmo tempo, em
«Pobres Cavaleiros», a Ordem de Montréal, Espanha, r.ecebiam vários cast elos e fortalezas,
assim deno·m inada por a cida;de desse :n.ome lhes
1
entre outros Monzon e Montjoie, em troca da
ter sido dada. entre 1126e1130. Mas essa Ordem parte importante que t om.avam n.a ~econ~uista.
esbogad:a ir1a qua'Se imediatamente co:nfundir-se Na próp.ria Ter-.ra Santa, o pr1me1ro fe1to de
c?m a do Templo, que, pela ·m esma época, rece" armas conhecido, no qual to:mar a..m parte, nomea-
b1a a ·praf:,a-forte de Calatrava, r.ecentemente da.me.nte os "Pera.plários , ocorreu err1 1138; aliás,
~ancarla ·~os Mouros.. E um curioso episódio foi uros, derrota para eles. Guillaun1e de Tyr-
1na produzir-se no momento em. que morreu n.a .rra como os Turcos se tL."lham a.poder ado de
esse rei Afonso, em 1134; :por testamento, es t e Teqo~Ji a cidade do profeta Amos, cujos h~b.i­
havia legado o seu· reino - na ausencia de her- tantes se ha"viam i)()Sto em fuga. Um templa.no
deiro do sexo masculino -- as ·ordens. de cavalaria chamado Robert. le Bourguignon, e que, sem
que nessa. altura existiam: Templários e Hospi- dúvida, nao era outro se11ao Robert de Craon - .o
talários, assim como aos ~ó.negos do Santo s11cesso:r itnedia.to de H rtgu.e s de Payns - , reun1u
Sepulcro. Os Templários tiveram o bom senso alg1ms f reires e mvaleh-ns e retomou a c id-ad.e;
de recusar uma doa~ao que, fixando-os em mas, ac:rescenta ele, «fez mal em nao perseguir
Esipanha, teria, provavelmente, feito que se des- os turcoí::i- que tinham fugido» e que, por sua
viassem da sua primitiva vooa~áo. De resto, os vez, se reun-1.ram, voltaram, e fizeram. urn1 hor-
roroso n1assa.c:re, durante o qual morreu, e11tre
Foral do bispo Elbert d-e Ch!lons, fazendo urna
'l.
doa~ao aos Templários, em 1132. A maior parte dos
forais citados est!.o publicados no Oatrtulário. {Ver
____ _
outros, o templário E udes de Montfaucon; «t odo
...

Bibliografia, em ALBON. ) 1 D. Teresa. (f.T. da T. )

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68 R2GINE PERNOUD
08 TEMPLARIOS 69

o es~o entre Hébron e Teqoa ficou juncado


com os cadáveres deles». Iria..m, sem tardar, dar a prova do seu valor,
. ~ta.va-se. ,,d~es turcos de .Ascalon, cujas es·pecralmente na passagem, que .p ermaneceu
n;icursoes per1ód.1~s haviam tornado perigosis- célebre, da «montanba. execrável». Sabe-se, com
s~os rertos ~1nh,os, como o de Jafa a Jeru- efcito~ .como:, no. dia da E;p ifania, 6 de Janeiro
salem ou de Jerusalem a Hébron, oomo atesta.ni de 1148, nas garganit.as de Pisidie, a imprudencia
algumas narra~oes de .p eregrinos do início do da guarda avan~da real, que, apesar das ins-
século XII, que pudemos verificar. Os cavaleiros tru~6es formais, se aventurou nos desfiladeiros
. do Templo tinham sido instituídos. precisamente perigosíssimos, permitiu aos Turcos - que, aliás, .
para garantir a. seguran~ contra eles. Do que se tinham juntado aos Bi~ntinos - cair sobre
n~o restam. dúvidas é de que pelos meados do a ·p arte mais importante do exército, atulhado
seculo XII o tenham conseguido: «Náo acredi~ com · bagagens e dificilmente embrenhado nos
tam~ que os fiéis pos'Sam ignorar quanta con~ estreitos desfiladeiros. Só a co.r agem de Luís VII,
sol:a~ao e qua.n ta assistencia os eavaleiroo do reunindo os ·C~.valeiros, para se dirigirem aos
Templo dispensam aos indígenas, aos. :peregri~ .Iocais mais expostos,. sa1vou o exército dos cru-
nos, ·a os pobres e a todos que desejam ir ao zados, evitando·- lhes uma derrota completa, como
sepulcro do Senhor», atesta uma carta do ano a que teve, por seu lado, o imperador Con.rada,
d~ 1132. O seu zelo e a eficiencia do seu socor.co a ea;beg:a dos cruzad-O$ alemaes, que, enganados
mllit'a:r terao ocasiao de se fazer plena.mente pelos seus guias bizantLTJ.os, haviam perdido
aJpreciar no momento da cruzada do rei de trinta mil homens, nas mesmas regi5es, sob os
Franga, Luís VII. ataqu€S dos Turcos. Quando o rei - a;pós alguns
O mestre do Tiemplo em Franga, Everard des dias consegrndos. a enterrar os .m ortos e a reto-
Barres, devia desempenhar um papel prepon- mar folego decidiu repor-se a caminho, pTleferiu
dara11ter de.'3de o mon1ento ero que esta cruzada colocar-se sob a tutela de E'verard des Barres
foi ~-ecidi~a. O papa Eugénio III~ que nessa e dos Tem.p lários.
oca31ao f 01 pessoalmente a Pari...s assisti11 em. Everard des Barres d-everia, em seguida,
27 ~e Abril de 1147, ao capít1tlo 'geral, q~e se suceder a Robert de Craon como mestre do
real~u na c~a do Templo, ainda nova.; ce:nto Templo; em seguida, trocando esta vocagao, que,
e trin~ cavaleiros estavarn ali reunidos, «todos a seu gosto, ainda era demasiado mun·d ana, pol"
reviestxdos do manto brai."1.CO», como faz r€S- urna vida votada a oontemplagao, abandonou o
saltar o cronista. Sobre es.ses mantos brancos seu cargo para entrar em Citea.ux, 011de viria a
destacava-se, 1pela primeira vez, do lado esque:rdo moITer mu1to mais tarde, no .dia 25 de !t-Jovem-
por cima do coraQao, a cruz de pano, vermelha., bro de 1174.
q~e o papa acabava de lhes conferir ooI:no bra- Por conseguinte, nao f oí ele, mas sim o seu
sao, «a fim de que esse sinal triunfante seja para sucessor, Bernard de Tremelay, o responsável
e~es como que um escudo, pat-a que nao f ujam do episódio de Ascalon, onde os Templários
diante de nenhum infiel». se revelara.m sob tra~os muito menos favorá-

veis.
70 RJ!JGlNE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 71

A cidade de ABealon, última p~ do litoral Cerca de q11inze anos. mais tarde, outro acon-
que hav.ia resistido ao prim.eiro ímpeto dos cru.e tecimento viria, esse, a dar raza.o aos Templá-
~?8' tinha a reputa~o de ine:x¡pugn.á...10 1 e oons- :r.ios. O· rei de Jerusalén1 - desta vez, trata-se
titu:ia um covil, donde os •ruroos a.m.ea~var.a de .Amau.r y - :tinh·a esbogado luna ·política de
const.antem.iente os carrrin11os :per:L'01Tidt~ pel-os alian~ com os isultoes do Egipto, rupós ter
peregrinos. O rei de Jenwalém, Balduíno· JlI, sofrido vária..~ derrotas, durante as suas hostili-
decidiu, ern 1153, cercar essa cidade; empresa dades contra eles. Tornara-se evidente, com
difícil; €5Se cerco rprolongou·se durante quatro efeito, que o reino da Palestina ·n ao poderia
meses e teria sido, provavelmente, abandonado sobrevivers na sua posigao precária, a nao ser
. sem a t-enacidade das orden.'> militares dos Hos- que r.einasse a discórdia entre a Síria e o Egipto,
pitalários e dos Templários; estes últimos já entre Damasco e a «·Ba!bilónia». Mas, influen-
era.m senhoces da cidade de Gaza, que lhes havia ciado pelo i.mperador de Bizancio, 1p reparava-se
sido entregue em 1149, e também d a fortaleza para romper o ·pa;cto de ami7íade que o ligava
de Saphet, na Galileia. !)aj lhes veio talvez ao s111t5,o do Cairo. 0 mestre da Ordem dos
1

a esperanga de se a.p ropriarem para si sós da Hoopitalár1os, Gi~bert d e Assailly, reuniu os seus
1

cidade de Ascalon. De qualquer maneira, o ca,ral-eiros, :p ara. combater, a pedido do rei.


que aconteceu f oi que, quando, po!" fim, na O mest1~ do Templa, Bertrand de Blanquefort,
manha do dia 13 de Agosto, consegui:ram recusou·se a associar-se a uma expedi~ao qu~
abrir urna brecha na · muralha, «O mestre considera va perjura e, além do mais, arriscada:
do Templo, Bernard de Tremelay, avan~ou P'ai"a as :tres campanhas do EgiJpto tinham-lhe, prece-
ela, com os seus templários, e postou-se diante denten1:ente, custado seis·c entos cava;lei.rros e cerca
dessa entrada, para que ninguém entrasse; a nao de doze mil beleguins. a [pé.
serem os freires. E -i sso fez para obter maior
ganho na cidade». ~las isso teve um efeito
contrário aos seus desejos; pois os qua.renta O mestre do Templo e os outros frei-
templários que h:aviam. penetrado em. .Ascalon res nunca quiseram intrometer-se nessa
~m .b reve SB viram rodeados ,p elos turcos, que,
tarefa e rl.isseram que nessa guer-ra nao
a pressa, se puseram a tapar a brecha, em seguiriam o rei [ .. . ] Bem póde ser que se
seguida mataram todos os cavaleiros, incluindo
o rn.estre, «muitas vezes acontece que coisas que tivessem apercebido de que o rei nao
sao com~das com m.á .inten~ao nao swo levadas tinha boa razao para guerrear os Egtpcios
a bom fim: isso ficou bem provado lá» ~ conclui de enoontro as conveniencias [ conven$
~ntenciosamente o cronista Guillaume de Tvr. ~5es] que lh:e eom.p etiam peló seu jura-
Muito majs tarde, relatando o mesmo episódio, mento. [ .. . ]
Jacques de Vitry deveria retirar dele tlllla. li~
favorável aos Templários: Asca.lon viria final- reconhece Guillaume de Tyr, ger.almente hostil
mente a ser tomada em 19 de Agosto de 1153. aos Templários. Os acontecimentos viriam a dar
12
R2GINE PERNOUD OS TEMPLARIOS '73

~o a estas, P?is. que, perante esse ataque «Caminho» - é desta maneira que se
mesperado, os· Egiipc100 reataram a alian~ rom- designa um exéreito em oompanha - , é
pida eom . Damasco. entao essencial. Esse ·p apel será mantido
durante todas as guerras medievais, até
. Tend? .chegado_ a este ponto do -capitulo dos e incluindo os combates de Joana d'Arc,
fe1tos m1l1tares, nao deixa de ter interesse exa- trezentos anos mais tarde. No que se refere
minar a maneira oomo se di:spunha o aparelho aos cavaleiros do Templo, o estandarte, o
de guerra dos Templários nas suas exipedi~ estandarte bicolor, é confiado ao marechal
em campo raso~ Com efeito,. os Costumes, isto é, que . tem a direc~ao materi~ da expedi~ao.
os estatutos acresce:ntados a Norma e determi- Esse marechal «deve designar cinco ou
n~do os costumes dos cavaleiros, datam pre- seis freires cavaJ.eiros, ou um máximo de
cisamente desta época e foram, sem dúvida, dez freires, para. o guardarern a ele e a.o
postos por escrito aquando do mestrado de estandarte». É esse pequeno grupo que
Be:tra.nd de Blanquefort, entre 1156 e · 1169. será sem·p re o ponto central do conibate.
E e o período em que essa, actividade em campo Afém disso, o marechal deve ordenar ao
raso faz especialmente parte dos costumes tem- comendador dos cavaleiros «que leve um
plários; a vida deles, de¡:'Ois da perda de J eru- estandarte dobmdo em torno da sua
salém, vai passar-se, sobretudo, nas fortalezas. lan~». Tria.ta-se de um estandarte de
reserva, !¡>ara o e.aso em que o do mare-
Vários caipítulos descrevem-nos «como chal tenha sido derrubado, tomado pelo
os freires devem tomar abrigo» - como inimigo ou perdido por um infortúnio
se devem alberg·ar, em campanha. ~<Ne­ qua:lquer.
nhum freire deve tomar lugar enquanto A ordem ·p ela qual se toma alojamento
a grita nao tenha gritado: 'Albergai-vos, \' é muito significativa: em primeiro tugar,
senhores irmaos, por ordem de Deus !' ' o marechal; e apenas o mestre do Templo
[ ... ] e enquanto o· marechal nao o tenha e a caipela, que marcará o centro do aeam-
tomado, ou o mestre, e a capela .e a
tenda da carne [reabastecimento] com pamento, o podem preceder, da :r:nesm:i
o seu comendador e o comendador da maneira que ·a «ten.da da ·c arne», isto e,
terra.» A paragem da marcha, o alber- as earrogas: e bestas de carga que trans-
gamento propriamente dito, era mar- portan1 os abastecilll:ento~. Por fim, o
cado pelo estandarte. Apercebemo-nos comPvnd:ador da terra, 1sto e, do local onde
portanto, aqui, dos costumes miliitares n~
1 todos se encontram, também pode come-
que el~ contem de genal, .nessa époc~, e gar a tomar o seu lugar de aloja.mento,
de rpart1cul:ar, ·a os Templários. O papel antes: que o grito seja lan~ado no exér-
desempenhado pelo es·t andarte, ao qual se cito convidaindo todos os freires a faze-
une qualquer «batalha», em quaJquer rem' a mesma coisa .
74 R:€GINE PERNOUD OS T EMPLARIOS 75
- -·- - -

Em seguida -eleva~se outro «grito», o pá:ssaros e aniraais selvagens, se soube-


que autoriza os f reires a «mandar a. for- i~em aJpanhá-los semos caQar, pois a ca~,
ragem e aos cavacos». '!rata-se de ir fazem recordar os Costumes, é proibida
apanhar a forragem para os cavalos e pela Norma». Por con:seguinte, o comen-
~

a lenha para se aquecerem, no acampa- dador distribui os vívere..-;;.; é-lhe recomen-


mento. Os freire.s enviam os seus eseudei- dada justi~ e igualdade, assim como um
ros para ess·e trabalho, mas está-lhes cuidado especial para aqueles que estao
especifica:do que e8tes escudeiros e os «ach·aca:dos», doentes, f:racos; ou feridos;
proprios cavaleiros dervem permanecer ao esses, deve1n ter urna par.te sUJplementa.r.
a lcance do «grito» : «Desde que possam Também se distribui aos combatentes a
1

ouvir o . grito ou. a eampa.na [sino].» carne, o vinho, o azeite e o pao; «as me-
N este ponto, os Costumes sao bais!tante didas devem S'er iguais». Pouco a pouco,
precisos, o que nos permite imaginar a os cavalos devidame:nte tratados pelos
cena: os freires tiram. as selas dos cava- €Scudeiros, os freires e o seu pe..~soal de
los e deve1n cob,rir essas. selas co·m a t urcó1polos re de beleguins restaurados,
es·clavina, ·a gvande ca:pa~ d·o 1peregrino, ou esta,b.e lece-se o silencio no acampa1nento.
oom cobertores. O gritador, cujo papel, Por vezes, há um alerta. Ne.sse caso, se
está-se a ver, é essencial no exército um grito se el·e va no albergamento, todos
(outro aspecto da época), deve tomar devem ir em auxílio; uns, os que se
alojam.ento perto do estandarte que está encontram mais perto do local em que se
ao centro, assim como o graneiro, aquele produziu o alerta, dirigem-se imedi•a ta-
ao qual se irá pedir ·ara~ para as mon- inente para lá; os outros váo a capela
tadas. Em seguida, «grita-se» as entregas, para «ouvir a orden1 que lá receberao».
is'to é, anuncia.M
se a distri:buigao dos víve- Mas, se o grito, o alerta, provém nao
res; os freires devem, en.tao, «enfiar» o do albergament.o mas do exterior, está
mar.1.to e ir «belamente e em paz», um bem es.pecificado aos freires que nao
atrás do outro, «em caminho [por com- devem s.air «Sem dispensa» (sera licen~).
pa!nhia] tomar, por ordem de Deus, o que Qua.ndo, ao nascer da manha, a com-
lhes quiserem dar» ; quer isto· dizer qu.e ·panhia levanta o acampamento, isso será
a Norma 1previne as. bichas .e os emipurN feitc· depois, do «grito» do marech!al. Nao
roes ·p ossíveis durante as distribui~óes. é permitido fazer seja o que for antes
Os freires estao, proibidos d.e gt.Jiardar nas do seu . aipelo, !".1.em que seja unicamente
suas tend.as ou a sua disposi~ao outros selar o cavalo. Apenas os peq11enos tra-
víveres além dos que lhes sao distribuí- balhos de arruma~a. o tpOdem ser efectua·
dos; também estao proibidos de comprar dos : recolher as. tvaves em que esta.o
víveres, a nao ser coisas sem importan- penduradas as selas e os arreios, os fras-
cia,, como legumes ou ainda «·p eixes ou eos vazios. os machados, as cordas e
OS 'l'EMPLÁ.RIOS 77
76 R~GINE PERNOUD

adiante» sem se dessedentar., devem faz.er


vasilhas, tudo o que constitui o carr.ega- a mesma coisa e nao deixarem os seus
mento das bestas de carga. Quando soa ca.,..ralos par.arem ¡para beberem. Urna vez
o grito, «OS freires devem olhar ¡para os mais, em campanha eomo na para;gem
seus. lugares, que nada dos seus aipr.estos ,oara a noite, é o estandarte que regula-
l'á tenha ficado e, em segu.ida, devem menta os seus actos. o único descarte que
monlt:ar e 1pór-se •a c·ami.nho belamente, a lhes é permitido, quando vao em com- .
passo ou a furta-passo, comos e.scudeiros panhia., diz respeito ao cavalo: pode
ao seu lado». E especificado que se esse acontecer que o cavaleiro tenha de endi-
levantar se passa duriam.te a noite, tudo
1
reitar a sela ou as mantas ou ainda te-
s·e deve fazer em silencio, e os Costumes nha de obrigar a sua n1ontada a galopar
ltambém preveem os «gritos» que se
1 um :p ouco, para a dominar. Nesse caso
levantam inesperadamente, em tempo de pode faze-lo sem pedir autoriza~aos mas
gueIT.a; e, nesse caso, é o estandarte que n.&o lhe é permitido «a!pontar», isto é,
regulamenta os seus actos: nao lhes é carregar ou «desifilar»., deixar fc:l.; fila, sem
permitido saírem do local ond·e se encon- autoriza~ao. Tumbém precisa de autori-
tram enquanto o esta.ndarlte nao aiparecer. za~'º para tomar o escudo e a lang-a, isto
E '.m contraipartida, desde que o vejam, é, .pür·-se ern batalha, ou para enfiar o
«devem ;a;proximar-se dele, o mais rapida- elmo ou o oaipacete de ferro. Em contra..
mente ipossível». partida, quando lhe tiver sido ordenado
A ordem de caminho também está qtle enfie o elmo, já na'O o pod:erá tirar
prevista. Os freires cava:Ig·am em. oom- da ~be~..a ser.a autoriza~ao. Os Cosltumes
panhia, €m silencio. Se tem nooessidade sao severos para todos os que se afastam
de comunicar ·oom outro freire, é ao que d:a fila: é qua.se que contrariados que
vai a frente que compete dirigh·-se para autorizam o caval·eiro a sócon·er o irmao
o que vai atrás, cavalgando de lado qut .se afastou da companhia. «por acaso»
e, precisa-se, que deve · cavalgar, nessa ou «irreflectidamen'te» ; nao o deve fazer'
altura, «Sob o vento», de tal modo que os a nao ser que .a sua consciencia lho
outr.os cavaleiros nao sejam incomoda..:ios ordene, «e, em seguida, regressar a sua
pela :poeiria que o seu ca.valo nao deixaria fila belamente e em •paz». Esta disciplina
de :levantar. Tam.bém nao podem afas- est~ita tinha. valido aos Templários a
tar-se da companhia sem autoriza~o; fai11a, segundo o testemunho de um cro-
qu:ando· muito, em. 1tempo de paz, se atra- n ista árabe, de serem os guerreiros mais
vessam uma água corrente, podem deixar prudentes do mundo.
as suas montadas dessedentarem-se, se Enfi1n, em batalha e quando a ordem.
qu.iserem, mas · n:a 1condi~ao de náo a.tra- de ·assalto é dada, «OS freires devem
sar a compa.nhia. Se se encontram em atacar os inimigos que se ·e ncontrarem
terras inimigas ·e que o estandat.tie «passe

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78 R.F:GlNE PERNOUD OS TEMPLARIOS 79

em volta do estandarte com a melhor de Damasco, Nour-ed-d1n, morria (15 de Maio


forr~ que ·p uderem» .. de 1174), deixando como único herdeiro urna
«E, se viesse a aicon.tecer que a cr:is- crianQa de quinze runos, Malik-es-Salik. Sala-
iandade comeº3-SSe a: ~r derrota.da, de dino iria -arrancar...Ihe, sucessivamente, Dama.seo
cuja coisa Deus a proteja, nenhlun freire e Alep, realizando assim, em 1183, a unifica~áo
dev-e aband.onar o campo (de bata.lhal do imeruro reino mu~ulmano.
para se colocar ac -s#brigo, enquanto o Ora, entretanto, o rei Amaury morria coro
estandar.te bicolor se mantiver erguido, o tifo, aos .trinta e nove ·anos (11 de Julho de
pois se partisse seria. .b anido da easa, 1174) . Deixava, como herdeiro, o seu filho, Bal-
para sempre. E, se vir que nao há mais duíno IV, urna crianga de treze anos, atingida ·
nenhur.a. recurso, deve dirigir-se ao 1pri- pela lepra.
meiro est·a ndarte dos Hospitalál"ios ou Esta morte, que privava o reino de Jerusa~
d.os cristaos, se os ho11ver . If.: quando lém do d.e fensor enérgi~o e em plei1a, forma de
este ou os o·utroS: estandartes f orem de:r- que tantft necessidade tinha, salvav~:t possivel·
1

rubados, nessa altura poderá o freire mente a Ordem do Templo, pois gr,av·e s desia~
pór--se 'e.tn seguran~a, lá onde Deus ll1e cordos havia:m surgido entre o mestre da
aconselhar. » Orden1 ·e o rei e ip retendia-se que este último
estava oom a ·tnten~ao de f:azer dissolver urna.
Semelhant-e <?.a~ jria produzir-se, •pois esse f orQa que, para ele, era inco·ntrolável. O segiu"'ldo
desastre dé Hattín, onde se consumo·u a perda. sucessor de Bertrand de Blanquefor, Eudes d-e
de JerusBlém, tao durame11te :reconquistada pela Saint~A mand, era" segundo Guillaume de Tyr,
crista11dade, cerca de cem anos mais cedo, é «¡pérfido e orgulhoso; pouco receava Deus e o
uma página da história milit~.r dos Templários. seu nome, a ninguém respeitava, nao temia
Para bem compreender o que a-conteceu, é Deus e nao :t inha resipeito por ninguéin» ; 11avia
necessário esbo~ar um rápido esquema da situa- cometido um acto d·e insubQrdina~ao im.per-
~ die co·n jun to d~o reino de J erusalém ness·a doável, mandando degolar os emiss.ários do
época. O rei Amaury havia, deploravelmente, Velho da ~!ontanha, quando estes regressavam
iposto fim. a alian~a como Egipto, que lhe teria carregados de presentes depois de uma embai-
permitido frazer frente a Síria. 1nu~uíma.na.. Ora, :x:ada a corte dú rei Amaury; o Velho da ~Ion­
urna série de assassínios e de golpes de Estado tanha era o famoso chefe dos Assassinos.
iriarn. ·permitir a uma per-sonagen1 e1reepcion·al O rei, indig.n.ad~, exigim que lh·e entregassem
reunir ·11as suas maos as duas potencias que o culpado· desse m3.ssacre, mas, para conseguir
estreitavam o débil reino latino: <)famoso Sala~ apa.nhá-lo -- t ratava-se de um certo Gau tier du
dino, que iria, sucessivamente, :assassinar, em Mesnil - vira-se obrigado a fazer o cerco a
1169, o vízir ; em seguida, dois a:noo 1nais tarde, Comendadoria de Sídon.
depor o e-alifa do Egipto, último descendente da No entanto, o curto reinado do rei leproso
din·astia dos F'atimidas. Eill.treta.nto, o sultao iria a ssistir" enfrentando ro iperigo mt1~ulmano,
80 R:GJGINE PERNOUD
08 TEMPLARIOS 81

ao reagrupamento das for~as vivas do mundo


pela sua doen~a - ,
conseguira que lhe atri-
cristao·. Os cavaleiros do Templo tomam uma
parte activa na defesa do reino. Enoontram-se buíssem o cargo d·e marechal do reino de Jern-
presentes quando, em 22 de Novembro de 1177, salém e, em seguida, te11do entrado na Ordem.
esse rei de dezassete anos, a cabe~a de quinhen- do Templo, fara eleito mestre, aquando da morte
tos cavaleiros - entre os quais se encontravam de Arnaud de la Tour Rouge (Torroge). O desejo
oitenta templários. vindos de Gaza, ero. marchas de vingan~ que o animava contra o conde Rai-
1

fio~adas. - , obteve, contra os trinta ·m il mame-


mundo deveri.a, muito naturalmente, fiazer dele
lucos do sultao Saladino, «urna das mais bri-
1
o aliado dos Lt1signan, e qua11do Guy se tornou
lhantes vitórias das cruzadas» (René Grousset) rei de Jerusalém, podia prever-se que as suas
a de Montgisard. ' opinioos teriam mais peso que as dos baroes
Mas Balduíno IV, cujos feítos de armas de antiga linhagem, dedicados a Terra Santa.
sempre foram representados por vitórias, fruto O:ra essa influencia viria a manifes.tar-se
do mais. puro heroísmo., ·m orre aos vinte e qua- abe:riame.nte no momento ni:ais crítiico da sua;
tro anos (16 de Margo de 1185) . Prevendo as história e ¡precipitar o desmoronamento do
desordens q11e, necessaria:mente, iriam ser pro- reino. Os f.actos já for.am relatados várias
vocadas por uma situa~áo bastante confusa veze.s: um a ventureiro de ·b aixa origem, Renaud
:--:- pois, nao de~a.n~o herdeiro directo, o poder de Chatillon, qt1e, ;possuidor de feudos na Trans-
ma, ·parar~ de d1re1to, 'ª sua meia-irmá Sibila
cu.jo marido, Guy de Lus:ignanp era um incom~
jordania, corn o Kralr de Moab e Montréal, do
outro lado do mar Morto, havia <>..onservado, no
petente, mu.ito rnal visto 1pelos baroes da TetTa sen domínio senhorial, hábitos de senhor-mal-
Santa-, havia designado um regente que tinha feitor, atacou ~a pesar das tréguas - urna rica
dado ·p rovas da. sua eoragem e valorf o conde caravana egípcia. Semelhante agressao fornecia
de Trípolis, Raimundo m. Ora, Raimundo a Saladino a ocasiá·o de tirar urna grande des-
tinha u_m ini1n!go jurado, na pessoa do mestre
1
f.orra. Invadiu a Jordania com um exército
do Templo, Gerard de Ridefort. numeroso. De conformidade eom os seus acor-
Ant€S de desempenhar esse alto cargo, dos com Raimundo de Trípolis, avisou-o de urna
Gérard de Ridefort, de origem flamenga., incursao de represálias sobre o dominio senho-
1

era - como diz a. erónica - , «cavaleiro andante rial de Acre. Reimundo, levado a parede, auto-
do século». Fora; durante algum tempo, runigo riza a passagem das tropas mu~ulmanas atra-
de. Raimundo de Trí1polis, e contaus•e que o seu vés da Gali.leia, na condi~ao de que ·a incursao
6d10 e o seu tlesejo de vinga:n~.a se deviarn. a.o nao dure mais de um dia e poupe as cidades
facto de aquele lhe ha.ver recusado a mao da e a popula~o civil. Ora, Gér-ard de Ridefort,
sua vassala, herdeira do feudo de Boutron. a ca~ de cento e quarenta cavaleiros, teve a
Aproveitando~se da desordem e da atn1osfera
audácia de atacar, em Casal Robert, os sete mil
de intrigas q·ue reinavam na corte do jovem mamelucos de Sa:ladino. Todos os seus homens
rei leproso - de dia para dia ma,is enfraqueeido foram mortos. Gérard foi um dos raros que
escapou ao massacre e a populagáo de N'.a zaré,
Saber 164 - 6
t
82 Rl!!GI NE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 83

em represália,. f oi envolvida e qua.se completa- guido atingir o único ponto de água ~-:-_aliÍ!-8
mente reduzida a escravatura. A seguir a isto, minúsculo - que se er1contrava entre Sephor1e
Saladino dirigiu-se para Tiberíade e cercou-a e Tiberiade. Oprimida pela sede e pelo ca}-or,
(1187). importunada pelos ~valgadores de Sa~ad1no,
A partir d€Ssa altura, a guerra estava decla- teve de acampar, a n'O~te, sabre o oute1ro de
rada. Raimundo de Tripolis - ele próprio era Hattin. O ininiigo, para lhe agravar a situa~o,
senhor de Tiberíade,, onde se encontrava.m a acendeu fogos de mat,a , que o vento empur;_ava
mulher e os filhos - reuniu os seus homens e para o outeiro. Apesar das cargas heroicas
foi juntar-se, com eles, as furgas do rei de - urna das Quais quase resultou e até esteve a
J e-ros a.lém, Guy de Lusigna, enquanto Gérard
1
por !e m perigo o ipróprio Saladino _:_, os. fria.neos
de Ridefort, pelo se11 l:ado, levantava contin- nao tardaram a ficar cercados. Raimundo de
gentes de tropas, gragas as riquezas da Ordem Trí1p olis, coro !tres outros, senhore~, Rafffio~d
do Templo. de Antio che, Renaud de .S1don, Bal1an d lbel1n,
1

O exército franco assim .constituido concen- conseguiram, nu.ma. carga desesperada, romper
trou-s·e em Séphorie, perto de Nazaré. A pru- as Ii.nhas inimigas e fugirem. Todos os que
dencia aconselharia a entrincheirar-se e a es·pe~
1 ficaram foram capturados ou massacrados.
rar pela retirada de S ·ala<lino. Raimundo de Trí- O rei de J erusalém tinha fioado ·prisioneiro; e,
polis, muito nobremente, preferia ver cair a com ele, Renaud de Chatillon, primeiro respon-
fortaleza de Tiberiade e deixiar a sua mulher sável d 0 desastre, que Saladino mandou deca-
1

ficar catiVia que pür todo o seu exército em pitar imediatamente. Também mandou deca~itar
perigo: estava-se em meados d·e Julho ;. toda todos os cavaleiros do Templo e do Hospital;
a batalha se iria desenrolar em volta dos .p ontos mas, coisa estranha, concedeu a vida a Gérard
de águ·~t, nessa es~ao, sob o sol brilhante, de Ridefort.
Sala:dino com os seus sessenta mil homens teria O comportamento deste último, que Saladino
podido, facilmente, impedir o acesso a esses liberta. pouco depois, permanece inexplieável,
pontos de água aos cerca de trinta mil francos, tanto quanto a ciemencia ma·n ifestada para com
de que faziam parte unicamente mil e duzentos ele: mais. tarde, na Ordem, e m·a is geralmente
cav-aleiros e quatro mil iturcópolos. Mas Rai· na Terra Santa, acusá-lo-ao de ter «ralbado a
mundo apenas conseguiu que Guy de Ridefort Lei», abra~do 3_, fé mu~ulma11.a. Aipressou-se
o a cusasse de cobardia. Aipós ter balan~ado em ordenar a Gaza e as fortalezas vizinhas que
durante muito tempo entre aquelas duas opi.. capitulassem, quando a!final, em todos os outros
nióes contrárias, Guy de Lusignan decidiu-se a lugares, os casteles e as pra~~fortes resistiam
escutar Gérard e deu as suas tropas ordem pai-~a OU na 0 S·e re11diam a. nao ser ein troca de COll-
1

avan~arem. Os acontecimen:tos desenrola.ram-se di~oes honrosas. Viram-no, m€Smo, exortar os


tal ·eornlO se pod.ia prever. Ten.do deixado Sépho- habitantes de Asca.Ion a render-se; a popula~ao
• r ie no día 3 de Julho de 1187, o exército, ao rec1tSou-se a dar-lhe ouvidos e s6 ca1p itulou um
fim da tarde desse mesmo dia, nao tinba conse- mes e meio depois de ter sido cercada.
OS TEMPL.A.l?-IOS 85
Rl!JGINE PERNOUD

- nun1 momento de mau humor - 11avia con-


Entretan.tot em Acre, infeiramente abando- quistado aos Bizanti:nos; mas, mal reoebidos
nada a ·p ilhagem, os bens do Te1nplo e:ram atri" pela ·popu1a<.;ao· cipriota, que se revoltou e os
buídos a um conselheiro de Saladino, o jurista cereou no ·Castelo de Nicósia, em. 5 de Aibril
Isa-al-Hakkari. Em Jerusalém, cuja popula~ao, de 1192, eles abandonaram a 'ilha, que, final·
depois de urria heróica resistencia, era reduzida mente. veio a. pertencer a Guy de Lusignan, o
a escravatura - e~cep~ao feita para a.lguns anti•go rei de J erusalém, que, já 11ao gozando
milhares que tinham podido resgatar-se e d.os d.a co1n.fiar1ga d<:~s baroes, teve de contentar-se
que Saladino, num gesto de generosidade, liber- com ela, abru1donando o reino ·-- para O· qual
tou .p or sua própria vontade, o Tem,plum Dom.ini
1
J erusalém nao passaria a ser mais d_o que U:U
e o Templo de Salomao voltavam a ser mes- título vao, pois a cidade nunca. ma1s dever1a
quitas. ser reconquistada - a Conrad de. Montferrat.
Depois daquela data fatal de 4 de Julho de Os T·e m plários tomam parte activa nos coro~
1187 ninguém poderia imaginar que '()S Ociden- b·a tes diri2'i1do-s pelo rei Rica.rdo contra Salafl.J.no.
tais ainda se manteriam no Próximo Oriente É, disfar;.do de terr11plário, que o rei da Ingla-
1

dura:nte ainda r.aais de um século. O reino fica terra, chamado a Europa, abandona a Terra
reduzido, mais ou menos, a uma faixa de ter-- Santa e acaba por regressar aos seus Estados,
ritório, estreita~ mas que subsiste: em parte, após uma viagmn movime~tada, seguida por
graQas ao mar - pois essa faixa de território urna longa deten~ao nas J.Ortalezas do Tiro!
é precisamente constituida pelo litoral - , e em austriaco·. Quando, em J.19·3 , Robert de Sable
parte gragas as fortalezas, nas quais as ordena mo:rre o seu sucessor é Gilbert Ern.il, o mesmo
militares desempenham uro papel mais activo a quei~ - ·p ela mais funesta das de.cisües _:--os
que nunca. A «resistencia» deveria, aliás, come- Te1nplários haviam, ou:trora, preferido Gera.rd
~ em Tiro, praticamente inatacável sobre a de Ridefort. Entretanto, ele tinha, desde 1184,
sua península fortificada, onde desembarcava deixado o Próxir.n o Orie11te, para de.sempenha.r
- dez días depois de Hattin, em 14 de Julho de as suas fun~5es. -como n1·e stre na Pro:venga, em
1187 - o marques Conrad de Montferrat, a Espa..nha e, em segl1i<Cla., «no Ocidente». N.esse
cabe~ de uma pequena frota. mesmo a110, marre Sala.dino, cuja personalidade
:Esta «resistencia» nao tardaría a €Stender-se simbolizav.a a U'Ilidade recuperada do mundo
a fim de reconquistar Acre, graºas a chegada mugulm,ano. Po1· conseguintei oferecem-se no,1 as
de reforºos ocidentais, qu·e nao eram pequenos, perspectivas, qtie os Ocidentais na:o deixarao
pois o rei de Fran~a e o rei de Inglaterra de aproveitar. O· seu ponto de apoio passa. ·a ser
tinham tomado a Cruz. Os Tiem·plárics, que Sao Joáo de Acre, e em 1204, no mesmo mo-
haviam ficado sem mestre, depois da morte de mento em que a cruzada desencadeada _pelo
Gérard de Ridefort, em 1189, ao fim de dezoito pa;pa fuocenr.io m . era ?~viada contr~ Cons~
meses elegeram Robert de Sablé, vassalo do rei tantir1opla, devitio a astucia dos yenez1anos, o
\
da Inglaterra, Ricardo Oora<;ao ·de Leao. Fize- rei de Jerusalén1 {nessa ·altu-ra e Alnaury de
r a m a aquisi~ao de ilha de Ch~pre, que Ricardo
86 Rl!:GINE PERNOUD OS TEMPLARIOS

Lusignan) conseguia que lhe voltassem a er1tre-


1 coro~ram a chegar-lhes das fronteiras longín-
gar o território de Sídon, ao 11orte, e, ao sul, quas do imenso mundo m~~llhn:aino: :falav"'a-;;e .de
Lydda e Ramla. As hooti1lidades duram pouco um povo estranho que vinha mvadir a Pers1a;
tempo e 'Sáo escassas no ·p eriodo que se segue, e, para os cruzados, esse_povo. tomava? aspect~
apesar de refor~os passageiros, como a cruzada. do misteriio so Prestes Joao, re1 das 'indias, sobre
húngara do rei André Il, em 1217. A sobre- o qual havia já algumas ~ez~nas de anos ~~e
vivencia do reino a.presentava-se muito precária, corriam lendas. O mundo mterro em breve ma
e mesmo as suas cor.aunicag5es vitais' assim saber que esse ipovo em marcha nao era outro
.
como o ca.nunho· entre .&ere e Cesareia, estavam senao o dos Mongóis, sob o comando de Gen-
amea~ados, pois os !~u~ulmanos haviam erigido giscao. Uns vinte anos mais tarde é um tem-
sobre o monte Thabor uma fortaleza que muito plário, Ponce d' Anbor1, que, por uma carta ~ue
depressa se revelou inexpugnável ·para os Fran- ficou céleibre avis.a rá o rei ·d e Fr·anQa do per1go
cos. l!l para tentar colocá~la em situa<lao críti.ca a que estao' sujeitos, tanto o mundo cristao
que, eT?- 1218, ao mesmo tempo que fortificam co·m o o mundo mu~ulmano. . , .
Cesare1a, constroem em Athlit a forta1eza cha- Será a esperanQa de es se refor~o qu1mer1co
mada Chatel-Pelerint confi8~da a Ordem do ou a simples teimosia do ca.rdeal Pélage, leg-ado
Ten1plo. do papa, que veio ·a niquilar as esperan~ nas-
No ano. seguinte, os Templários partici·pavam cidas com a tomada de D amiette '? SeJa como
1

na ousada. ofensiva que o rei de J erusalém, for, após atrasos inexplicáveis, seguidos de uma
1

Jean de Br1enne, desencadeava contra o Egipto: tentativa de ofensiva absolutamente louca, o


tratava··S~ de desapertar o torno que, no tempo exército foi impedido de avan~ar, devido a cheia
de Salad1no, havia permitido o cerco do reino. do Nilo., e teve de caipitulrur ( 30 de Agosto
No dia 5 de Nov·e mbro de 1219, Damiette era de 1221)~
tomada de assalto, e esse feito de armas ines~ A Ordem do Templo opor-·s e-á oom tooas as
perado iespalhou no mundo islarrilco urna tal suas forgas 1a o Tunperador F'rederico TI de
consternagao .que o sultao Al-Kamil propunha Hohenstaufen, quando 1es.te dirige urna crtl2ruia
a J ean de Bn·e nne ceder-lhe 'ª Palestina, se ele aJbsolutamente diplomática e consistindo sobre-
consentisse em evacuar o Egipto. O reino de tudo em negociaQ5es com os sultoes do Eg~pto,
Jerusalém iria renascer, tal romo l1avia sido mas também com fins p·olíiticoo., pois Frederioo Il,
ant~ das ca~p~nhas de Saladino? Essa pers- enibore excomungado, queriia que em toda a
pectiva parec1a tao provável que os Mugulmanos parte fosse reconhecida. urna autoridiade sobe-
come~am logo a d·esma:ntelar as sua.s forta- rana que ·e le se atrib·uía. a s i mes·mo-, tanto. em
1

lezas palestinas) comegando por Jerusailém e Chipr.e como em Jerusalém; tudo isso teve co~o
por ess·a fortaleza do monte Thabor que cau- resultado o tratado de Jafa (18 de Fevere1ro
sava tanto receio aoo defensores de Acre. de 1229) , que permttia aos Francos recupera-
O pa1'lico dos Mu~ulmanos ainda se tornou mais rem 0s domínios senhoriais de Sídon e de Toron.
impressionante quando inquietantes run1ores A cidade de Jerus-além, em ¡)rincípio, era-lhes

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88 R2GINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 89

devolvida, mas os lugares santos do Islao fica- Sao Joáo' havia t ·o mado um caráct-er militar,
vam pertenga dos M ugulma..'fltos; o·ra. esse.a lugares ,
como este último. Desde o ini:cio, tem um carrac-
santos comportaviam a mes.qui.ta de Omair, o iter «naoionalisrt:a», que a opüe as outras fUl1da-
Templum Dow.;ini e a mesquita AJ. . Aqsa, o ~Oes da Terra Santa; oom a. oontinuagao, viria a
TB'lntp~um_ S~~· Por isso, esse aspecto das tornar-se o instrumento dócil dos Hohenstaufen
ne-?'oc13:~oes so podia ~tribuir para r-eforQa.r a na p-oJ.ítica de conquista. <lestes.
a:nID.-nos1dade dos Templarios contra o imperador Eri1 contrapartida, os Templários iriam r~e­
exoomunga;do. Por •01utro lado, a:s muralh·as da
1
ber o wpoio das fumílias frrunoas da Pal~tma,
cidaide n~o deveriam tornar a ser 1e rigidas., o especialmente dos Tueli:n, s·e~ores de ..-Berr1:1te.
que a. de1xava a ·b erta a todos. os perigos. Desde Por ot1tro 1000, as suas rela~oes com o Hosry1tal
1229, de, facto, os sarracenos da regiáo .pilha- de Sao Joao, de J arusalém, mais próxima dos
:vam-~ia. a V()IIltad~. O único apoio die que iria Teutónicos e menos hostil a Frederico II, irriam.
oenef1c1ar . Freden·co II durante a su.a oo.m- retesar-se, até a luta d-escoberta. Aliás, a pre-
panha eiia., a1lém do entendimento esrtabeleci1do Sellºª do im1pemdor germamco na, Terra Santa.
por el~ com os. MuQulmanos e, em especial, com tivera, como consequenciia, um periodo de anar-
o sultao do Egipto, o dos Oavaleiros 'I'eutónicos.
1
quia e de guerra oivil. A pop1tla~ao fra!Ilca e
O grao-mestre desta Ordem Herman de Salza. itaJia.na. sublevara-se contra os ;representantes
foi o único qoo iaJSSistiu a ~roagao de Frede~ de Fvederico II: a luta entre g11elfos, partidá-
rico II, _ooroa~ao· bastante r.eduzida, pois o impe- rios do pa;pa, e gibelinos, pa:rtidárioo d~ 1mpe-
rado.r tirou a coroa rleal aio S1amto1 S1epulcro, e rador, propagara-se a Chipre e a ~al.ratina.
como mais tarde, o viria a. faz¡er Naipoleao, · A Terra Santa tornrura..se um recinto fechado,
oolocou-a ele mesmo na sua ca;b~ (18 de onde se ·a frontavaim permianentemente os iinte-
Margo de 1229). Dois di.as depois chegava a ress€S mais temporais. Em 1238, templ~"ios .e
J e~usal~ o le~do do, papa, que se aipreooou hispitalários bat-0m--s:e por causa de dois mo1-
a x:nt·e~d1tar a C1dade Sa:nta e ·e xcomun.g air o seu nhios. Em 1241, o Templo decliarava-se abeita-
rei. Friederico· II iria ving;ar-s1e dessas afrontas, mente contra o Hoopital e os 'I'eutónicos reu-
cereando, em Acre, o oas:telo• dos Templários. nidos. Contudo, os partidáriog de ~,rederioo 11,
Por ~im, acabou por embarcar apressadamente, aos quais se <lava o nome de _Imp~iais, e~am,
no d1a 1 de Maio seguinte, perseguido por urna a pauro e pouco, expulsos., nao so de ~1pre
sublevaQao popular. como tar.abém da Síl'lia. e da Palestina (1243), e
A pres·emQa de F'!'!ederico· II aoabou por ama- já nessa altura - g~aga..c:; as sua~ ~lianQas com
durecer e exasperar as rivalidad,e s entre as o sultao de Damasoo - os Ten1plrur1os se encar-
¡ ordens . militares. A última dessas ocdens que regavam de voltar a ocupar as SUJas casas d.e
se haviam formado, a dos Cavaleiros Tuutó- Jerusalém e de se fortificarem nelas, quando a
ni?08', ti:nha sido fundada em 1198, ou anites, Cidade ·Santa., :por instiga~ao dos sult~ ?º
f01 _ne~se ano· que «0 Hcspibwl dos Alemaes», Egipto, foi atacada por hordas _de Khwar1smi:a-
ínst1tu1do· •e m 1190, ·p elo modelo do' HospitaJ de nos, que a saquearam e destru1ram os lugares
90 RJ!JGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 91

santos (Agosto de 1244). Um pouco mais tarde, só pode negociar oom eles por intermédio do
pa...rto de Gaza, o próprio m€Sltre do Templo seu aJiado, F'rederico II; e desta mesma maneira,
.Arrmaind de Périgord, <era morto numa batalh~ vangloriando-se dessa. aiian~a, T'E..'Cusa o ofereci-
arn ca.m po raso, com '€SS€S s-eilvagens oomb.a- mento de tréguras que lhe é 1p roposto pelo papa
tentes turcos que puderam serr com;pariados aos Iinooeneio IV.
soldados ra~illlantes que, mais tarde, villriam a É~ 1por oons.eguinte, :n o meio deste estado de
assolar o Ocidenre, aquando das guerras franco- confusoo sem prt;cc~ientes q11e o espírito que
-inglesas. Desta vez, Jerus·a lém esta.va defi.Iriti- anirnfura. a primeira oruza.ila v·a i ressuscitar oom
vamente perdida e o exércit.o fl!'lMlco esta.va todas ·as su.as furgas: p ano d.e 1244 nao aoaba
pnaticamente des~do; só do lado dos 'T'em- sem que o rei de Franga, Luís IX, tenha tomado
plários, de trezentos e quaoon.ta e oito cava- a Cruz. Era tempo: o sulta.o A!iyub irira tom~r,
leirros, :restavam apenas tr.inta e seis. sucessivam'€11lte, em 1247, Tiberíade e a cidade
J'eru.salém ·perdida., o exá:ici.to dos Ociden- de .Asoalon; o reino d~fazia.-se em farrapos; o
tais 1dest~ado, as tres ordens consideravel- soo. «rei» (F.rederi00 Il) havia sido, nessie mesmo
mente empobrecidas pelas perdas s1ofl"idas, o anoj depootr> pelo papa,, ratifiC'..ando assim a
mestre dos Templárioo morto, o dos Hospitalá~ revolta. dos francos da Síria. No di'a 17 de Abril
rios feito rprisioneiro, o dos Teutónicos, Gérard d·e 124·7, o !I"ei de Chi1p re, Henrique, foi re~onhe­
~ Mahlberg, ten.do provavelmente fugido (vi.- cido «senhor do ireino de Jerusalérn». Enquanto
ria, ·a ser deposto, ipouco depois) : mais do que o rei de Fran~ armazenava, metodioomente,
nunca, o precário reino de Jerusalém parece víveres e equipamentos para a su·a expedigao, o
estar. a dar o último suspiro. Mas o que mais impera,dor, nao mer1os metodicrumente, avisava
para111s.a os soco:ros que o Ocidente deseja levar o s.ultao do Eg·ipto dois, progressoo desses. pre-
a Terra Santa e o facto de aqu:ele qu.e oficial- parativos. Sabe-se como - sendo xnais urna vez
mente +,lá reina ser o 'i mperador Frederico II' o Egipto o objectivo principal - o reí desem-
que 1esr.a excomungado, em luta aJberta com o barcou 1am Damiette e se apoderou dela, sem
papa, :=' "'-12-ªº tem,, °:e roa.nema nen~uma, o apoio di:fieuldades. nen:humas, no di.a 6 de Junho de
dos cr.isra.os da Siria. ou da· Pal€St1na; por out_ro 1249. Nao desejando repetir o erro do lega.do
lado, sólidas ia;li·ang.as ligrum-no com o suitao do Pélage, Luís IX decidiu - esperaT n€Sf.a. cidade
1

Egipto; e oomo esse sultao se 1a:poderou de o fim_ da eheia do Nilo (J ulho-Setembro) ; mas
Danl'asco (Outubtro d-e 1245), o jogo das alia.n-
1
esse €Spa~o· de tempo - inevitáv·e l - iria ¡per-
~as q_ue,. a~teriormentie permitia ·aprovieitarr-se mitir aoo E ,g ípcios fortalecierem-se.
1

da.s d1scord1as entre Mugu1manos já nao fazia Os Templários desie mpenhe.m um papel -
s·entido. Quando os representantes da. Ordem do ctl.iás, mesmo sem. o tere.Ih querido - Il'a batalha
Temipl?. ped~m que lhes_seja permitido resga.tar que, em s·~<YUida., se desenrolou: a de Mansoumh
?8 :pns10n:Siros, o ~ultao Aiyub responde-lhes (Al-Mansu:ra, a Vitorios·a ), furbaleza erigida
1:r0n1cainente,, fazendo-lhes lembrar que o POrta- vinte anos antes pelos sult.Oes, :no eKtremo
-estandartJe deles fugiu durante a batalha -e que sudeste do delta do Nilo. A guM"da avan~ do
RP:GINE .PERNOUD
08 'I'EMPLARIOS 93

exército tinha-ll1es sido consignada pelo rei, assim


como ao seu próprio irmao Robert d' Artois. «O é contada por J oinville. P ersistindo na sl1a polí-
génio do mal da expedi~ao» (René Grousset) . tica de alianga com os Damasquinos, os Tem-
Este, a despeito dos co11selhos de prudencia que plários, com efeito, a.través do seu ma.Ir'echal,
lhe prodiga-va o n1estre1 Guillaurne ·de Son.llac, ha.v-iam assinaido um tratad·o espiecial, qrte o rei
e da ordem :fiorrn:a:l dad.a pe1o reí e recordada os 1o~Yr.igou a· rom:p er; o· eX:entplo tinh:a como
por ele, no momento crítico rec1.lsou·se a espe- finalidade pór fim 'ªº espírito de independencia
rar q11e O· exérci.to corn·pleto tivess.e atravessiado que, desde há já ·ml1iito tempo, havia pr-0;vocado
o rio e lan~ou-se, quase rozin ho, a conquista do tragédias na Terra Santa e m·erecer.a aos Tem-
acam:pamento eg!pcio, cuja su.rpres·a foi tota1; plários a sua reputa~ao de orgulho e de insu-
em segriida, ainda mais loucament-e, lan90u-se a bordirn.~ao. Quando Sao Luís voltou a emba.II:''-
conquista de MansoUTah, e:nde iria. enoontrar a cair para a F'rnnQa. (25 de Abril de 1254) tinha
mo:rte com todos os seus. companh.eiros, incluindo voltado a est:aibeleoor as for.tif'ic·a~oes de Ces·a -
os .cavaJ.eiroi:s do Templo, que o hav1am seguid(>
1
reia, de .Tafa, de S.ídon, mas, sobretudo ti11ha
1
,

parria. nao permitirem. que o seu ·pequeno con.tin- estabe1ecido .uma, certa u11idade no reino - fa-
1

gente , f~-c.asse exposto, soztnho, ao per.igo da z.endo sootir a sua autoridade as orrdens mili-
temerar1a empresa. N esse di·a , o heroísmo do ta.res. Em seguida, obteve-c..,e wna trégua. que
rei de Franga, salvou o ·exército 'le um desastre durou dez anos.
certo (8 de Fevereiro d€ 1250) . .A:.o filn da ll1Ias as rivalidadies oomerciais das cidadm
tarde iria ~Jcampar no lOO"dl onde estivera insta- ibalia.nas, Génova, Pisa, V eneza, desencadeiam
lado o acarnpMnento egípcio; mas, n€Sse mesmo entao - nessas f eitorias da Terra Santa que lhes
lugm·, receben a noticia da# m.o rte do ilrmiit). g0JI"antem. :a ·p rosiperidade dos negócioo - hosti-
Depois disso, o avru:1~ do exército t.ú.Tnou-se lidades sangrentas.. Génova, no I·amentável epi-
impossível, no meio dos oa..~ais e doc.; p8m.ta...'11.os. sódio a que se chama «guerra de Saint-Sabas~,
Urna epidemia de tifo e de disenteria acab2Xia encontra o apoio do mestre do Hospital, en-
por dizimar o exército. A ordem de retirada foi qua.n.to Veneza e Pis·a tem o apoio do Templo.
dada d.~"'lla.sia<lo tarde e o rei, numa das eta;pas Em vao o papa Alexandre IV intervém pa.ra
do. camrnho
. . de regrasso a Da..miette' foi feito que se acabe com uma luta que nao pode deixar
pris1one11~, com o r-.esto do seu exér<Cito em de lan.Qar «O miseráv.el reino de Jerusalém,
• L"" • ;
c1rcunscanc1as que, oontudo, estao mial definidas, arruinado ·e desipedagado por tantas angústias
mas onde ·a traiºªº desempenhou, 1eerta;mer1te, e niales, •a urna extrema. desola~ao» (1258). Só
· um papel. O· mootre do Te1n.plo, Guillaurr1e de muito mais tarde é que - sob as i11stancias de
Sonnac, :enoontrava-se entre os ocnortos <leste Siio Luís - Génova e Veneza consenten1 em
drar.o.ático episódio (5 de Abril de 1250). cessar as hostilidades que afronta.vam U!IlS con-
Foi oom o seu sucessor, Re11aud de Vichiers, tra os outros - em terra e, sobretudo, no
que s-e efectuou o famoso deb2,te e a humilhacáo mar- os seus concidadaos (1270). Urna guerra
imposta aos Templários, por Sao Luís que J;.os inexpiável, como todas as guerras comerciais,
' -
no decorrer da qua! se v.iu, por válrias vezes,
94 RGJGJNE PERNOUD 08 TE.MPLAR108

u:ns e. outros peditrem a ajud.::t doo 1'1u~ulmanos, algwns peregrinos ifalmnos, acabados de deoom-
nos seus com~too. contra out:oos cristaos. baroar, ·c ontra a popula~ao mu~uJ.m.aJna., ¡mira vir,
E sobre este último plano de sórdidas riva- com for~as consideráveis - duzentos e vinte mil
lidades, alifmenta.das pelos co.m erciantes it,alia- homer1s - fazer o cerco de Sao Joáo de Acre.
nos, que se prepara o último ,acto, a.qu:elte 'ª que Ass:iste~1e entao a um.a, das mais belas pági-
se ·assiste, coma queda do reino la:tino de Jeru- nas de. bravura na história do Orioo.te oristao.
saJém, ao fin1 da ootividade n1hlitar d.os Tem.- As orden.s militares encontram-se ali represen.e
plários: a tomada de Acr·e 7 iem 1291. E>Ste fim ta!d:as, nas pessoo.s. dos seu.~ T'espectivoo mestres:
teria sido ceTbamente n:tais rápido sem a entrada Guillaume de 'Beaujett, pelo Templo; Jean de
na cena de lm1a terceim forga., a dos; iVfongóis. Villie:rs, pelo Hoop1tJal. O rei de G1:1:ipre, Hen-
. Nessa. altura já havia mu.i to tempo que t:inham rique Il, que desde 1286 recebeu a corroa de
deiX'wdo de ser considerados oorn.o os 1enviados Jerusalém, também ali se enc'Olltra oom carea
do Prestes Joao; por dua,s vezes, Sao Luis de rotorr~e mil combatentes a pé e oitooentos
- seguindo, nisso, o exen1plo d.o papa - havia cavwleiroo que viernm apresentar-se para defen-
en,,.riiado ·e mbaixadOTes a €Sses povos do Extremo der os tr.ifnta e cinco mil hab1tantes da cidade.
Oriente que aterrorizav-a:m osMu~ulmanoo e A unida.de, que a Siria. f.ranca nao conseguilra
cu.jo ·av·ango tinha considerravelmente ·retar-dado
1
obter nesse segi.mdo século da suia existencia,
a do temiviel ~,dversário que os francoo da. Síria está reali.21ad.3.., desta vez. Inutiilmente, pois os
tinl1am, na pessoa do sultao Baiba:rs. Este~ meios de qu1e d;ispüe o agressor tomavam va
senhor do Eg'i•p to, apoderara~sie de Al.ep e de qualquer ·esipécie de iresistencia. No ootanto, ela
Damasco - em 'p arte, graQM a cumplici&ide do.<:> prolongou-se durante doie meses (de 5 de Abril
ha.roes frai1cos, qlte nao souber.a:m -apr oveitar as a 28 de Maio de 1291). O mestre do . Templo,
viarntag'ens ·q ue lh:es teria oferecido unia alia.n~ Guillan.une de Beaujeu, ~..ntou urna saída, na
oon1. os 1\-fungóis. Depois d-e .lüep e de Daniasco, no1te de 15 de Abril~ para. incendiar ·as ·m áquiw
apoderara-se, sucessiva1nente~ de Cesareia., Sa 0
nas de guerra dos Egípcioo; nao OODSlegttiUo
phet, Jafa, Beaufort e Antioqu.ia (1.265m1268). O sultáo re-~usou-.se a qutalquer nregocia~ao e
A notícia da s·e gunda cruzada -de Sao Luís pro-
1
lanº°u-se ao assalto, f.inial na sex.tacfeim, 18 de
vooou urna trégua, iapós ·a qual Baibars arroin- 1t1:aio., •ao alvorecer. Iriam. ver~se os mestres
. do
cava ia os Templários o Chatel~Blanc (Safitha) Hospital e do Tieimplo ava.ngar juntos, . paa:"B.
e, ·a os Hospitalários~ o famoso Krak das Oa.v·a- defenderem a Tour Maudite, sobre a qual pas..
Ieiros (1271). Aquela trégua die dez anos nao savam as ooluhas mugulman·as. Foi ali que
tinha sido, de mooo nenhum, apro,reitada para Guilla:ume de Beaujeu ficou ferid.o de morte.
u.roa uniao sól.ida..~ em f~.ce do perigo, desta. ·vez «Qu:ando se sentiu atingido, retirou.-se, e pen...
iminente, e a ofensiva dos Ma:melucos recome- sarrun que quería. fugir-; a:lguns cruzados de
~ava ern 1228, ·Cl.)m o sultao Qalaoun qu.e se 9 Spoleto obrigaram-no a parar e gr.itaram~Ihe:
apoderava de Trípolis. O seu sucesso.c, o sultao Pe·io amor de Deus, senhO!I"r nao nos. abandoneis
Al-Ash..-raf, tornou como pretexto um ataque de ou a ci<lade f.ioa perdida.!, e ele res·po:ndeuNlhes:
• 08 TEMPLARIOS 97
96 R:tílGINE PERNOUD·

Eu nao €Stou a fugir, esrou morto, vejam o teve, no seu frmera.l, dois mil cadáveres turcos»
ferimento-!, e i16s vi·m oo a frecha espetada no (René Grousset).
. seu reito.» Levara.ro-no pa...~ a casa do Templo, . As últimas p:r.agas da Terra S·a nta iriam ser
onde.i: marreru. J·earn de V.illiers iTia ficar gr.ave- evacuadas sem combate: Tiro, Sídon, Tortosa.
mente rferildo, mas póde ser salvo a tempo, Apenas os T·emplários •c ons·e rvaram, até ao ano
enqua.n:'-t,0 o ma:rechal do Hospital, Mait~ieu de 1303 em f!rente de Tortosa, ·a ilha de Roua~,
Clermont deV€lri.ia morrer nas cercan1as do que ~ontav.am fortificar. Um dos cavaleiros do
porto, onde, a press·a, se evacuav.a;m os feridos Templo, Rugues de Ampurias, iria, com al~
e os oombatentes. O último bastiao foi o con- compa:nheiros, resistir coraj003mente ao su1tiio,
vento dos Templários, donde os freires «Sau- 01Il'tes de morrer, vítima. de urna trai~ seme-
daram oom 11ma. precie» os baroos que se aifasta- lhante a que hav.ia. marcado o fim dos últimos
vam ·para. se refu·gia:rem em Chipre, com os defensoT€S de Acre: violaIDdo as. suas promes-
S8.St os: ma.m elucos. iriam decaJPi:t:ar alguns e
roros sob:reviv.enrtes desse di.a ; o marech:a1 do
'l"'emlplo, Pierre de Sevry;, e o comendador Thi-
liev~ os outros, C()ffiO cativos, para, o OaJiro.
· Um esitranho epilogo é o do ·t emplário ale-
baud Gaudin estavam ·al:i bamcados comas suas
últimas for~. Urna nov·a ~astúcia do s'ttltao mao Roger Blum, mais conhecido sob ra tra-
du~ao do seu nome em Roger de Flor, que, em
Al-Ashraf iría acabar com estes últimos defen-
sores : ofereceu urna eapitulagao honrosa aos seguida, se tornarla ch~fe da célebre compa-
nhia d-e mercenários conhecida sob o nome de
TempláTi'OO. Oeroa de cem mamelucos pene~~-­ Companhia Oatala e desposaria a filha do czar
ram -n a torre; mas, diesprezando o acordo feito,
coms.:>f'I~ 'Mlffi a meterNse com ias damas refugiadas
dos Búlgaros, antes de ser ass.assi.nado, em
"'~~- · d m 1 1305.
sob a. saJvaguarda dos oo:valeir0s o .!.•emp~o.
1

Estes, indignados, mass·a crara.m-nos e fecharam


as portas. De novo, o sultao Al-As~ fez p~­
messas honoráveis a Pierre de Sevry, na condi-
c;ao de que este fosse a sua tenda, pessoalmente.
Mal -ele lá chegou, o sultao, renegando a sua
palavra, mandava-0 deca;pitar, assim como aos
seus oompa;nheiros. Vendo isso, os 'l"emplários
que l1aviam permanecido na tOITe decidira:m
resistir até ao fim. O sultao teve det pela ter-
ceira. vez, recomeQar o cerco. Mandou iescavar a
base da torre, e no día 28 de Maio lan~u o
assalto final. A torre cedeu e sepu.ltou, nos seus
es·c ombros, oom os últimos templários, os IP...a!11e-
luoos que a atacavam: «0 Templo de Jerusalem»
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Sab er 164 - 7
CAPITULO V

ADMINISTRADORES E BANQUEIROS

A .a~i·vidade
militar da Ordem do Templo
é sUJbentendidai 1p or 11ma actividad.e económica
muito importante. Desde o início da sua his-
tória., veem-oo, com efeito, as doa~5es afluir ao
Oriente ·e. também ao Oicidente. Muito cedo se
previra a necessidade de dotar a Palestina - no-
vamente crista - de urna defesa permanente,
já que a maior ·p arte dos ·peTlegrinos, sienhores
ou gente humilde, regressavam ao país da sua
ori.gem após o cumprimento do voto. Por con-
seguirnte, os Templários 1e ra·m consid-erados· como
a solu~ao, ou antes, urna das solu~oes ttrtazidas
a esse problema espinhoso quie era a def-esa.
mf1Iitar dos lugarreg. santos, 1Jal oomo, na Penín~
sula Ibérica,, ai reoonqu.ista do tercitório; e, nos
tlois casos, os €Sfor~os que faziam aitraíam as
doag5es doo. fié~, comegando ¡pelas. dos países
limítrofes, Aragao,. Barcelon·a , Toulouse, onde,
como vimos, as doa~oes afluem desde 1128 ·e, em
brevie, em todo o Ocidentie. Os forais reunidos
pelo marques de Albon, que ~brangem unica-
mente o rperíodo; inicial (1119-1150), sao, na.
sua grand-e maiJOria, f0!1'1ais de doa~ao. Nel'€S
estao incluidas seisrentas aetas,. das qua:is,
de meta.de, sao provenientes da. Proven~a
C€TC3...
e do Languedoque.; um tergo, da Flandres; da

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100 RSGINE PERNOUD
08 TEMPLARIOS 101

Borgonha e, em. geral, do lieste da. FmnQa · o


resto, proveniente da Inglaterra, da EspanÍia, a de Monts aunes - que aqui foi tomada como
die Portugal oru (];e vár ias out.ras .p rovinc1as da exemplo - tendo-se multiplicado. E sse modo de
FtranQa. V áir.ios cartulários, rp or outro lado, expansao , típico de l.llmL época em que a riquem
f~ co_n~er-vados e phblicadoo., o que n os per- permanece fortemente Jigada a terra que a pro-
1

m1te ver1f 1car que esse movimento de doa~oes duz, nS:o é diferente da expansao das, outras
a f avor da Ordem do T.emplo continua siempre. ordens reLi•giosas : Cluny, Cireaux, •etc. Foi muito
Assi·m ,. o eartulário dos r.vem p lá.rios de Montsau- forte, porque a Ord.em do Templo correspondia.
nes, compilado no fi·m do século xrr ou nos a urna. dasi iWeocupa~oes. da época: a pereg rina-
princípios do s éculo xin, r elata, paira uma gem aos lugares sa;ntüS era, D!esse tempo, mu.irto
reg.iao muito lim1tada do Cornminges, uma cen - querida a toda a o-ristandade do Ocidente. E é
tena de forais, escalonados entre 1156 e 1193- dessa ·m aneira que se atingirá o númiero de nove
1194, a maior prurte dos qu:a:is. constitui doa- miJl com_le!ldad.orias, ao qu:aJ se elevavam as. pos..
~o:es. E ,. ,~sim, dá-se aoo Templários urna t~...rra, sessoes do Templo, no momento da sua su-
.um ·d om1n10· aiha11donado, algumas pastagens, as
-
pressao.
rendas de uma dízima, os direitos sobr e servos Piar a se poder eomrpiieender ·e sta rápida pro-
ou ~p~neses da r egiao, etc. Doa~oes, por gressao é muito ±nteressrunte seguir a e~ansao
viezes, illlf1mas, tal como essa terra dada aüS do Templo nu·ma. regiao determinada. E ·a ssim,
Tumplá.r:ios de Montsa unes ejm tToca de urna esse desenvolvimento foi estudado para o mes-
~ ' trado da; P!r.ovten~. Eate, mu:ito expandido, com-
~gua (n.º 30 do car tulário); por vezes , mais
1mportante·, como esse otA-~ de Saint-Quintin , portava nao só a ProvenQa propriament'e dita,
que o conde de Comminges lhies entrega por mas, sobretudo, 'ª pairtir de 1143, algu1na.s par-
urna quantia de sessenta soldos (n. s 24 e 29).
0 tes da. Espanha, o Languedoque, o Rossilhao,
Tu~o isso acaba. ·p or formar , nessa Tegia o, uma a. Gasconha, a Guyenne, o Delfimdo e mesmo,
·POOI·r a die feudos.- direitos sobve urna terra .n n 1 em parte, a Itália. Para nos limitarmos unica-
'

·p or vezelSi, t erras tprura explorar directamrente - ,


V'U..J
meinite a Proven~a.,. o
inventár.io das. comenda.-
que coloca:va o eomendador de Montsaunes na dor.ias evidencia u!mia. verdadeira rede d-e ~'
situ aQao de um s enhoc feudal Tiecebendo a s ren- de várias importancias, que dao urna impres-
das .de umia. multiplicidade de parcelas onde se sionante ideia do poder dos Templários nessa
cultiva o frumento,. o milho m iú.d o· ou •a vinha., regiao.
onde, nos .pastos, s e ·c riam b oiis e cavialos ' 01nde,
1 Prtnci1pia-se por assinainlar algumas doa~Oes
nos alq ue1ves, ·p ascem os carneiros', e t c. Toda isoladas: a m·atis 1a ntiga quie se conhece é rela-
U~a actividad.e ·l igada a 1 e xploraQaO d o solo, tada nessa acta. de 1 de Julho de 1124, pela qua.l
di.r ectament e ou, c om mais frequencia, pelos o oonde Guillaume de Poiti:ers faz doa~ao aque.
aldeües que iali vivein. les que ainda se intitulam os «Pobres Cavalei-
E dessa maneir a se iria constituir a f or~ ros de Cristo» de ruma igreja dedicada. a Sao
tuna do Tumplo, e as co.m endadorias semelhantes Bartolom1eu, em La Motte, na Diocese de lílréjus.
Mas o im•cio do seu estabe1eeimento propria-
102 08 TEMPLARIOS 103

mente dito situa-se em 1136: nesse ooo err1 19 ven~». Encontram-se repairtidas pe]Jas regi0es
die Margo, F., A.rnia.u~ d·e Bedos, ql1e ~em de natUI"ais do país: sete, ao \IlDl:r.te da Bai:m Du-
Thp~a, obtém do ·hISpo, em Sa.int-Paul-Trois- ran.ce, que vira o seu primeiiro estabelecimento
c;hateau..x, a Igreja ·ae Sao Joao, o palácio con- em Richerenches; sete, no Babto · Ródano; tres,
tiguo e as tpragas confinantes. E entao mstal3. na regiao de Afx-:.Miarselha; tres, no vale do
uma casa. rural, no terrritório de Richerenches Méd:io DUTrun.ce; cinco, na Proven~ Central, de
entre .Sa!i:nlt-Paul e V alréas. Esse territóri~ ambos os lados do vale do Argens; e, f inalmente,
depend1a. do senhor de Bourbouton, que ia quatro, nos Alpes Marítimos.
~tratr na Ordem e tornar-se com-e11d·adoT de A importanc]a desse mestrado da Proven~
~;cheren~h·es; _<leste Hugues de ~ourbouton pro- era grande, nao só por causa das suas· iposses-
vem a ·~pamsao, da Oomendador1a. de Richeren- soes que, como v.imos, se estendiam pelo La.n-
ches, i?.?18 ·ele iriru multiplicar ·a s aquisi~es e gued.oque e mesmo ·p ara além diessa regiao, mas
a .reun1ao das ·p arcelas de terTa, de tal ma.r1eira devido a importfunciia que, para o tráfego desse
qlie, ~quando aa s.u a morte, em 1151, a Ordem tempo, oferecia o vale do Ródano e - evidente-
enoo:itrava-se sen.hora de ipossessoes em várias m~nte - o porto de Marselha, que se furnam,
loorul1dadres,
3,: Q1I'1t
<~o·mo:
T .~
Gnignan, Taulirnan
b t·
R.nn,ag..ok
"'V'U>':) Vl.'
sob:retudo no f:im do sé-culo xrr, um dos. por.tos
o n e; J...kt. Ga;rde-Adhémar Malatave1-ne de embaTque favoritos dos cruzados e dos pere-
S~e-la-Rousse, a oeste e ·Sul .' Ssa inte n.t.-.=1e' grinos. Aliás, tinham-se levantado pr oblemas
CaiJJranne, .J ornq·u1eres,
., '
Courthezon, ~'
do lado de entre a. casa do Tetnplo, em Marsielha, e os
Orange; G1g~d:as, Séguret e, sobnetudo, Roaix, armadores da. cidia.de. Fin-a.Imente estabeleceu-se
do lado de Van.sorn, etc.. um acordo entre a mun.i1c ipalidade e as duas
Em seguida, os freires instalam-se em AVi- ordens militares - Templários e Hospitalá-
gnon, por volta de 1150. Aliás, nessa cidade, a rios - , pelo qual estes estavam autorizados, em
c~sa de~nd~ . da Comendadoria de Arles, só 1234, a enviiar - duas rvezes por ano, em Abril
v1ndo ·a a.a.quin: a sua ~utonomila no século XIII. e em Agosto - um. navio de cada urna das
A Oomendad~1a de Sai:únt-Oi:Jles. é mencionada 0Tdens e:rn. direcgao da Te:rrra Santa, na oondi~ao
pouco tempo, depois da de Richerench~ e, em de que .e sses na.vioo nao ca·r rregassem mais de
brev.e, estara oom numerosas ipossessoes na mil e quinhentos passa:geiros oad·a um.
Cama_rga, para as Sa:intes-Mru-ies..de-la-~Ier e Contudo, na Provien~, -como nas outras
1

es.pec~ente, na ire~iao d~ ·Saliers., ao long~ regioes d.o Ocidente, sao os rendimen'Ws da


d? Rodano. Em seguida, ass1ste-se ao dese11vol- terra, 1a.s rendas pagas 1pelos oamipor1eses ot1
vimen~o das Comoodadorias de Afx, de Saint- eX:ploradores de 1solos especiia1lmente ricos e fér-
A~ton1~, de Marselha, Fos; mais tarde, para teis:, que constttuiem os maas importantes recur-
? interior, em Lachau, Sisteron, illa direc~ao de sos: dasi comendadorias do Templo. Q:b servou-se
V ~ttlun,. de ~g;ns; por fim, em Nice, Grasse, como, no norte. da IToven~, as oomendado.rias
B1ot, R1gaud. Pode-se, assim, calcuJ.a r «vinte e da Orrdem se reparbe.m,. em direc~o das ·p asta-
1

nove casas do Templo nos limites do Midi pro- gens, dispostas como estagoes de muda de cava-
104 105
RSGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS

l~, nos ca.m inh0s de tmnsumancia. praticados de cama (em roa.u ootado) . Na. oozinba
ate aos nossos tempos. As possessoes das vmte ~stem quatro panelas de mebal e uma.
e nove comendadorias estudadas encontmm-se grande (esta .últi.ma é, rprovave1..mente, um
repartid~; por du.zentos concelhos ou qua.se. caldeiirao) e ainda duas 1panelas rotas.
Por outro liado, podemos vier ·a manaira oomo Tamoom há «illma baicia. para as m8ios
funcionravaim essas casas rurais qure oonstituem lavar» e «Uma !baeia para bairbeil"-0». A
a qua.se totalidade dos bens oo' Onlem do Tem- batería da. oozinha ainda eomporba tres
plo, gra~as as contas que ainda se conse~..ram. ta-chos com cabo comiprido e dois mais
Um feliz acaso permite que isso acon~ oom pequen.os, tamibém com cabo comprido;
as contas da Comendadoria de Payns, na Dio- além disso, .u m tacho de ferro, dois almo-
cese de 'r.royes.- ·lugaJ.r de origem, oomo já farizes, dois pil5es, cinco «hianapos de
s~bemos, do .furndador da Ordem. EXJislte, efec- madre», velhos --- por outras pail.avras,
t1v2..mente, o inventário dos ·be:ns: encontrados reci pi1ent€S ipara beber, ern madeira dura;
nmta ~endadoria, a;quando da deten~o dos também esta.o mventruriadas s·eis pintas,
Templanos1, em 1307, e, por outro lado as oon- dois qwart.Hhos de estan.ho e dez velhas
tas do administrador que nessa altura foi escudelas de estrunho, «tanto g.rand€S
nomeado, Thom.as de Savieres. Esses documen- como pequenias». Apenas sao citados os
tos, que ~á foriam ipublicados, reconsfiluem, para utensilios de metal; o mesmo arontece em
nós, a vida de uma casa rural,. humilde ponto muiitos inventários, o que ·n os permi~
de par.bid.a dJOS meios utilizados .p or :t oda, a suporr que nao se dao ao trabalho de
Or·dem. Tho~~ de _Sa-vieres., que tiomou posse mencionar os utensilios vulgares, de ba.rro
· da sua admmistragao1 era 13 de Se!tem.bro de ou d e ce:ramiica. O inventário de Jiean. de
1308, sucederai a Jean de Hulles, a;gente real, H:utles. tiambém !f.az men~ao de tres;es<)ri-
~tre as maos do qual a casa do 'Tuimplo havia nios ou oofres que constituem, com as
srido coloca.ida, no momento da detengao, em 13 camas, o único mobiliário do donnitório,
~e Ou~1..1.~ro de 1307. Existe, por oonseguinte, o e mais uro escrínio «no quarto do irmao
mventário dos ·b aos, ~ a. gesta.o desses bens, Poi.nsiart»; trata-se die F. Ponsa:rd die
durante o espa~o de um ano. Gisy, o comendador (cuja deposi~áo n_?
prooosso ainda. s·e conserva). Neste es~n­
Os ibens a que ele se refiere, pa.rooem, nio (ou cofre), encontravam-se os obJec~
aliás, ba.<ltante mis1eráveis.: em prima:iro tos da oa:pela, que o mventário pass.a a
·l ugar, os que eriam de;tinados a.o uso das enumerar: l1avia duas oruzes de «Limo-
pesooas, consistem em oitenita oou.tes ges», isto é, de cobl'!e esmaltado, que ei:a
(oober:t:ores) e a.Lm.ofadas, vinte :p ares de urna especialidad.e de Limoges; doIS
Jen~óis de cama (ve1bos, como ~pecifica. gomis, um de oobre _e o ,o~tro de esta'?~º'
o inventário) , seis sarjas - aquilo a que um missal, um antifon.ar10, um saltér.io,
nós chamamos colchas - e urna coberta um breviário, um ordi:nário da missa.
106 RJ!JGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 107
1

~te c."011junto de livros liitúrgicos permite cinco - ovelhas ou carneiros - , duzen-


ooreditar que na Come:ndadoria de Pa.yns tos e quarenta e quartro oordeliros e aiind~
lia-se o ofício, em vez de se oontentarem
1 trezentos e treze «Castrados ou oa:rne1-
oom os ¡padre--nossos,. que 1eram. ·p reseritos TOO»., refermdo-se os primeiros a.os. c:ar-
aoo freires il~trados, prum o substituir. neiros r~--entemente castrados .
!Além disso, «tres. v(}Ji,ssel,s oontendo relí- .A explo·ra.~01 do domínio e oo cuida-
qu:i·as», relicários.. O primeiro tinventár.io dos a dispensar a.o giado exig1am ~ume-.
também. menciona.va duas bolsazilnhas de roso ·p essoal: no tempo dos· Te~pl~""los, a
seda, que nao se encontraim. no segundo. Comood:adori'a de Payns: tem vmte e sete
Por fim, vem mencionada a roupa¡ para o criados contratados, cato.rze boieiros, seis
altar., que se compOe de 'tres toalhas e de pastores, tres oharr_eto~ ~<!arr~ceiros),
tres pares de paramentoo, «todOs fome- um vaqueiro, um ooz1nheH"o-!fornei:ro ~que
cidos para celebrar no altar»'Y que quier se ocupava do forno do pao)..e, f1na.1-
dizer, par.a::m.entos litúrrgicos de celebra¡nte. me...nt:e, um porteiirO:, um «granJeiro», que
E, fmalmente, f~se men~o de urna. pía toma .conta. da «gr&v.tja», situada em La
de água íbenta e d.e um ineensório, a;mbos Ba:r-de, provavelmente um 1pouco d;is~­
de cobre. ciada da casa principal. É este último
1

.Ailém do mobi¡iá..."io e dos utensilios, a que recebe o m~lhor salário: vi.nte e cinco
oome.ndadoria, aquaindo da sua. trrunamis- soldos ·p elo periodo compreendi.do entre o
sao palt."a as maos de Thomas de Savie- Sao Joáo e o Sao Martmho (de 24 de
res., ·1o ontém mn determinado :n.úmero de Junho .a 11 de Novembro). Os out.ros
brens de consumo: na granja, uma «postée salários varriaim de v.inte e quatro soldos
de frumento» e também um. amontoado
1 e quatro denári0s entregues a um dos
de rnéteil (mistura de trigo 1e de centeio); car.roceiros, V.in-cent, a 'Ci•n co soldos, 'PM'ia
finalmente, p~ovisóes de oonteio, de ce- um dos pastores, Oudant, 'ÍJrmao de um
vada e de aveia. E ainda seis queues outro chamado Lamberl, que, provavel-
(pipas de v·i nho). '.Dambém há nove col- mente, só ali 1e stava para o a judar, durante
meias e um ·e nxame que, proviavelmen.te, a época do Verao. A ~asa de P~~ tam-
lua~iam acabado de recolher. Por outro bém tinha ao seu se:rv1QO uma freira, uma.
lado, o gado >eompóe-se de trinta e sete mulher filiiada na Ordem, para a qual
boris e urna vaca, utilizados ·parnJ os tra- nao1 s·e (~)nta sa;lár.io nenhum; vero.o-la
balhoo, .p ara os quais :e xistem seis char- permanecer na comendadoria duran~ a
raas. E ainda treze vacas, um. touro, época da administragao real; ero. segw.d.a,
quatro vite1oo. Tam.bém há ci:n.co cava.los, mamdam-.na Bmbora, dando-lhe uma magra
que sao bes.tas de mrga, vinte e q·u atro pensao: dez soldos.
1
.
·porcos e doze báooros. O rebanho de Atmvés das contas, transpareoo a vida
carn!e1ros é gra:nde: duzentos e oitenta e quotldiana da casa. E há, pelo que se
108 RSGINE PERl/OUD

mento em que a Pérriau sucedeu um.


rpode ver :p or :urna. das oorveias essencia:ia homem cha,mado Jeha:nnm, o oo.tigo usual
que. ali se encontram pormenorizadas, a do teve de «ir ensin·a r o que era. costume
·u sual; trata-se, ·c omo explie.a a oonta, das fa.zer iao novo usual». E, para s.e encar-
«despesas. f.ei tas pelo can"'OCeiro da casa, reo-ar disso pagam-lhe doze ··denários.
que é chamado o usual, ·p orque vwi., todos NKo faJiem~ das despesas insignilfioonta;
os días, ao bosque de uso (}a dita casa de cons-erva~ao: um dia, .é? eixo de lll?ª
[ ... ] para OOil'.'ta.r a sua carro~». Com :roda que se tem. de subst1tu1r; noll:tro di:a,
efei!to, os Templár.ios goza.vam de um
1
urna cilha, etc. As desipesas fe1tas .n o
direito de uso sobre um bosq.ue que se carpinteiro de carro~as ou no albarde1ro
veio a saber se encontrava em Villieloup, constituem, aliás, um capítulo importamte
no condado de Troyes .. E ao carroceiro na vida quotidiana da casa: conse~o ~as
que c·orn:pete o trabalho de 'c ortair Os cava- carrogas, tornar a pür «relhas e ta1pa~»,
oos ·p aria o aqueeimento da casa e, aJ.ém substituir ·o s eixos, trarem, oom frequen-
do seu salário (al1ás, está contratado em cia o «relhadeiro» ( carpinteiro de car-
troca de ·u ma soma de treze soldos e otto ro¿as) a 'COmetndadoria. Fioou . mesmo
denários, para o pré-citado período de a....~inalado que ele Víeio um. d1a ~
s·atlário), este usual, chamado Perriau, 1
a.rranja;r uma ca,rroQa que se partl!~,
recebe, por C'ada. dia da trurefa indicada, carregada de f eno. Quanto ao .albarde1ro
uma soma de seis denários, de que se - a qu1em dao o· nome de s~leLro.~, que
serve prura ·p agax os len11adores que mora na a;ldei,a ·perto de Sa1nt-L1~ vero,
em.pl'lega. A pormenoriza~aio das conta.s lp01' várias vezas, fiazer a reP3;rra~ao dos
que se referem a ele., ·per:mi.te verificar arneses fornecer arreatas e red€·a s,; por
que trabalhou exacbamente cento e lD.Ü"· vezes ~sas coisas sao compradas em
venta e cinco días, entre o día 15 de Troy~, assim como outros fornecimentoo,
Novembro de 1.307 1e odia 8 de Setembro como a tela necessár.ia aos a:pr estos dos
de 1308, pois é evidente que nao trn.balha cava.los ou 'ª corda, qu·e se compra em
aos domingos nem noo. dias santifica- grande qua.ntidad~, ta;nto para J?UXar as
dos - em duzentos e oitenta e seis dias, ch!arruas como para a tar as re1fas.
exia.ctamoote -.....,, o que demonstra urna As des!pesias de ma:nuten~ao também
a;preciável 3Jternancia de dias de tra,ba~ se refierem COiffi f requencia., as constru-
1110 ie de días de descanso. Algu.ns inci- ~Oes. Foi ·preciso., por exemplo, recobri~
dentes de pouca importancia encmri..ram- a gra.nj:a d o t rigo; -ess e trabalho f 01
1

-s·e anotados. Assim, alguns drias 1a111rtes do efectuado por um t elhador, que,. para
Natal, o usual teve de «demorar.JSe tres isso, permanieceu duran~e qua~, d1as. na
dias: por necessidade d·a neve» ; nesse caso,
1
granja . Da mesma maneira, d ois pedreiros
reem:bolsam~lhe as des.p esas, damdo-lhe
passar am o mesmo lrupso d e tempo a
dois soldos. Da mesma maneira, no mo..

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110 RE:GINE PERNOUD 08 TEMPLARJOB 111

reparaT o muro do lardeiro (despensa), rante a semana de sao Tomás, oontm-


o da i><)Cilga e outn:L .pared.e perto da. taram-se oí.to malhadores (21 de Dezem-
porta; esta estava ¡partid a e for-a. neces- bro), que malharam o trigo, nas granjas.
sário substituir a tranca (a. travessa.) - · E a±n.da; dois trabalbadores paira. o trem.s- .
o q.ue, a:liás, pode ter sido provocado ¡p orte dos estemos ; faz-se notar., nessa
pela iITUpgao dos. homens do :rei, aqua.ndo ocasiao, que o €Stábulo doo carne.iros,
da captura dos 'l"emplárioo; a chave tamQ d-essa miam.eira, só é desemiba.ragado do
1bém p:rooisou de ser substituída. També:m esteroo uma vez por ano - o que é bem
há as despesas insignificantes, as que com.preensívcl, se 111m a parte dos rebanhos
dizein respeiito, ·p or exemplo, a ilumi·na~áo permanece .nos campos durante vários
da casa: mandia:m-se fazer as lantie.rn:as a meses do runo, cootume que contribui par a
u.m «esipeciiaif.:ista», Jantemeiro, que ta.m- esWu.ma.r os a:lqueiVies. Por outro lado,
bém vive ero. SaJint-Dié; compram-se . v&--se que ia casa. nao se fornece unica-
ca:ndelabrOSJ de madewa e lanternas ·por mente de pequenos utensilios., como as
várias · vezes. N um desses casos, assina.- vassouras ou as escud,elas, mas também
la-se que ·algi1:m a.s dessas cande:i:as sao . de sapatos.
compradas paira uso do redil «para as As despesas que a·p areoem com mais
ovelhas que 1parem», quando ·isso acon- regularidad.e sao, evidentemente, as dies-
tece em ¡p lena noite. :Essas compras de ipesas da ·b ooa; nota-se, semana aipós
c.andeias efectuam-se fl'lequentemente. A
1 semana, as compras de «Carnadura», de
corda do 1po~ é mudada duas vezes ca.me 10 de ovos; durante a Qua.resma, sao
duramte o período de tempo já citado. os «arenques e peixea» ou a;inda os iare.n-
As compoo.s de gordut>as para untar as ques secos, pebres e outras coisas. Em
catrTOQaS: ie as carretas. também sao fre- contrapartida, no d:ia da Pásooa e no dia
quentes.. Pelas contas, podem0s verificar de Penteoostes, nota-se a compra de «bom
que os servidores da casa -esta.o digna- virn·h o» - o que leva: a pensar ·que o que
mente mumdos dos utensílios do se-u se bebia geralmente ·n a casa dos freires
t rabalho, incluindo luvas: compram-se era de qualidade m€díoore. Al iás, as com-
c-i.neo pal"es de luv3~ «para debulhar e pras de vinho vem raramente menciona-
ea.rregar as aveias». E também fora da das; viviam, cerbamente, dos 1p rodutos
casa q11e se compram. Os sacos rpara o vinícolas e das dízimas de v.inho recebidas
frumento ou os .t ecidos que sáo u tilizados das regiües era torno; só depois da Ascen-
para os fazer. s áo é que compram vilnho, certamenrte
Os trabalhos noTmais d0s campos e porque o da provisao da casa já se esgo-
da oosa sao feitos :p elos criados que a tou . De resto, a maior parte das despesas
ela estao ligados:; mas, por wzes, con- de boca nao aparece. Pode-se calcular que
trata-se pessool de refor~. Assim., du- as compras m encionadas atjngero., ao
1
112 RJlJGINE PERNOUD 08 TBMPLARIOB 113

todo, e ·para. toda a casa, a média de um e recebidos f0lll dízimas e rendas du.zen-
soldo 1por diia. O que, mesmo se tomarmos tos e sebe alqucires e meio de frumento,
em consider~o o valor do soJdo., naquela ou seja, ·a.o todo, setecentos e qllla!I"enta. e
época, deixa ·p ensar que viviam -essenctaJ.- einoo aJ.quei:res e meio, dos. qua.is quanhen-
mente dos produbos da casa: dos campos, t.os .e setenta e seis foram vendiidos.
das hort:as e da criagao do gado. O editor O .produto dess1a venda elevou-se a trinta
das contas da Comendadoria de Payns e nove libras e dezasseis soldos. Afguns
reparo·u que, nelas·, nao se menciona, a artlgos sao def.icitáriios: assim. ootao as
compria de quaJ.quier qu-e ijo, mas que, Teceitas do eenteio e dia aveia, que fora.m
por outro lado, oompI'!all"am. um alqueiTe inferiores a doopesa. No oonjün.to, durante
de sal :p or sieman:a «para sal1g ar os quei- um ano de exploragao - fleita, na r eali-
jos», o que impH:ca que comia;m enormes
1
d:ade, pelos agentes do rei, que sao admi-
quantidades de ·q ueijo; de resto, ve-se que nistradores temporários - as reooitas ele-
c.ompram foissel"le>s, ou formas par.a quei- vam-se a duzentas e cinquen~ 1libras e
jos. E tambérn, rob o 111ome de «Carna- as desuesas a. cento e oitenta e nove
dura», deve entooder-se un:icamente a libras. be tal maneira que podemos infe-
carne de talho, bo·i ou :vitela., pois a carne rir d~tas oontas, ao querermos fuYler o
de porco iara fornecida pela ·p ocilga da cálculo das !l"andas das múltiploo comen-
casa,, da mes:m a maneira que os. _cordcir.os dadorias existentes no século xm, e em
e •os earneiros eram fomecidos pelo redil. todo o Ocidente.
Um magarefe de Saint-Lié, a quem cha-
rnWin Petit- Vilain, vem salgar e «salgar Estas contas, a parte o mteresse bastante
lombos» de ein·OO porcos, e rooeb·e cinco vivo que despertam, .pa-._rmitem ter urna ideia.
soldos pelo seu trrabalho. D1a mesma ma- da vida quotidia;na de urna explora~ao rural, e
tneira, na épcea, desde ·a Páscio a até ao isso nos. sieus mínimos -p ormenores (até é men-
Sao· Joao, sáo contratadas tres mulheres cionado o pergaminho emp:riegado para fazer a
para mugirem as ovelhas; é de supor que própria conta e o salário a.tribuido ao escre-
o leite destes anima;is lhes servia para vente que a relatou:. tres libras) .. Apercebe~o­
fa;bricarem os seus quieijos. -nos ao viivo, da ongem dos me1os de subsis~
Mais importantes ainda, sao as rooei- tenoia da Ordem, os que lhe perm.itiam manter,
tas da ·c asa. Os administradol"es da para lá do mar, uma milí·c ia perpatt1amente ern
Comendadoria de Bayns tom:aram o €Stado de combate, subVe.ncionar o seu equipar
cuidado de anotar:, para cada artigo., o mento construir '00.Stelos e fortalems, etc.
que f oi colhido, consumido e vendido. O susfento doo oorobatentes provinha, antes de
Dess0: maneiira, podemos ficar a saber mais nada, diessas receitas de trigo e de cevada,
que nas terrsas dessa comendadoria foram dessas tosquias de crurneiros, dessas vendas de
oolhidas quinJ1entos e quarenta alqueires oordeiros e de queijos.
114 RJJJGINE PERNOUD OS T E M PLAR I OS 115

Essas eram as: reooitas ordinárias, as qua.is


1
nao .os diferencia nada das outras ordena. reli-
se viiD.Jham. a;cr.escentar as receitas extraordi:ná- giosas: n essa época. é m uito corrente \r.er as
ri:as, como, 1>0r exemplo, oo ·p editórios que os popula~oes corrf)i:arem OS SeUg. bens as igrejas
Templários. estavian1- autorJzados, a fazer, uma ou as abadia.s:, para b 00.ef,icia rem da pro.tec~o
1

vez por ano, em cada igreja da cristandade ass.egu:mda a essas casas, ipelia Paz de Deus.
ocidental, ou iaimda os rtestamrotos. fieitos. a seu Da m esma. ma:neira, assiste-se - e os ca:rtulár ios
favior. Esses mei.os eXiWaordinários, de resto, do Templo conserv-am muit os desses exempl.oo,
valerra;m-lhes inúmems. difi:culdades. oom o clero t al como os de qualquer abadia - a doa~o das
sioouJ.ar., que parece iter entraido, por várias vezes, ;próprias pessoo.s; eom 3.JS. suas gentes e os seus
em. 1coínflito, com os frei:res da. ca:valar.ia do bens· a esta ou ·a quela casa. r eli gioo·a , para dela
Templo, sobretudo no século xm, contestando- oibter prortec~aoi e seguranQa; e também lhes
-lh€S 0 dir.eito aos pedirtórios e a recep~o de
1
entregam be11S n1óveis, .p ratas, jóias:, etc.., sem
legados. que o papa. lhes havia conferido. Foram no entmito :renunciar a rpropriedade d ess;es bens,
necessáriias duas \bulas pontif1cais, vá1ias v·ezes mas a t ít ulo de depósito. O tesouro dais igvejas
repetidas, para co:ndena.r explicimmente 100 que, e das. ab1adias, n essa época, desempenha um
no Clero, S e opunham as !doa~Oes fui.tas a
1 1
poruco º' mes:m o prupel que, n o1 nosso tieinpo, o
Ordem do Templo.. Essias duas bulas, Dilecti cofre dos ba;ncos., Esses bens fieam entregues
f üii oo~ri e Owm dilectis filiis (1198 e 1212) ., a guarda de pessoas. ho·n es;bas que ali vivem
renoviavam ene:rigicamente as medidag tomadas pern1anentemente e que, por outro lado, sao
1

precedentemente 1p elos ·pa;pas Me:x:andre 1U, em i!nviolávieis a oo olhoo dos homens.


seguida Lúcio fil e Celestino ill, pam garantlilr Ora, no que se ref.ere ao Templo; essa fun-
aoo Tamplários. a fruigao completa das, doag5es ~ao de depos1 i tário iría adquirir uma. conside-
que recebiam; Os bispoo e o clero secular em r8~vel 'importancia, devido as ¡peregrina~.
gierad haviiam. 1pretendido1obif;er uma. quarta parte O fact o de a m.esxna. oi-·dem 1p ossuir casas s imuJ-
de todas as doa~oes. feitas aos: Templáriios por taneam.ente no Ocidente e no 'a lém-mar per-
testamento.. E significativo observ.ar que estáo mitia ·aos cruzaclos obterem, na Terra Saint.a;
excluíd:as desta 'p rietensao as doa~oes. consistindo
1
moedas ou géneros; em. trooa. de urna atesta-
em airr.aas. e em m.vial<>h~ e, por conseguinte, ~ªº dos depósitos efiectu:ados nas teso1irairias do
d ir.ectamen.te ·u ti[:i záveis ·paira a. defesa da T€1J.'.'ira Templo; de Paris , de Lon~..s, etc. Isso riepresen-
Santa. . tava o embriao - f ez-se notar - do que viria,
A actividade económica dos Templários nao mais tardie, ·a ser a letra de cambio, OU, O cheque
se limitou a esses rendimento$ ordinários ou recebido so1b re um depósito. Quanto a trans ..
extrao,r dinários. ferencia ·p ro p:r.iamente dita das moodas e espé--
1

Há já muito tempo que os h istoriadores cies, o Templo, ordem milit ar, que dispunha
faz~ ressaltar <) ·p apel que eles desempenharam - em todo o caso, a partir do século xm - de
como banqueiroo. Efectivamente, essa aicti:vi- TIJav.ios próprios €Sitava, evide""11t emente, ma:is
dade, desde os com~os da fundagao da Ordem, qua1i.Ticado para a, efectuar com toda a segu-
116 RaGINE PERNOUD 117
OB TEMPLARIOB

m.n~ do que s1mple;s particulares, n.em que se servido, ent:retanto, de garantía para ~
tratasse de senhores. empréstimos que o rei tcve de contrair
E a.través dos documentos encontrados ve-se no deoorrer das lutas dirigidas por ele
como a ·actividade financeiro do Templo se foi própr.i o, pela sua. m!11her e oou f·i lho.
desenvolvendo sob diversas formas, que, coro Outro exen1olo célebre data do tempo
o tempo, daráo origem as formas modernas de da ~~ada. de ...Sáo Luís, ero 1250. Feito
oortas opera~oes baí!lcár:ias. Sem entrar-mes nos prisioneiro com o seu exé:r.cito, aquanrlo
pormenores das análises a que esses documentos do desastre que marcou o fim da. sua
deram lugar, evoquem.0s res.umida;ml€{[lte os expedi~ao a.o Eg~pt.o, o rei co·mprometeu-
diversos aspectos desta actividade financeira, q·ue -se a pagar um resgate que se eleva.va a
virá a tomar toda a, sua importancia no duzentas mil libras. Ora, as suas gentes
século xm, :nas rela~0es entre a Ordem do rupercebem-\Sle de que lhes f<altam cerca de
Templo ·e o rci de F:ran~. trinta mil libras pM"a ·p erfuzer essa quan-
fiá, em primeiro lugar, a fu.ngao de depo- tia. Entao, Joinvi1l1e propóe que se ~
sitária que as várias casas do Templo desem- emprestada a.os Templários a soma que
penharam; e isso cada vez com mais frequencia, falt.a. Estes, efectiv.amente, levaram, numa.
a medida que ·a Ordem se desenvolvía. o tesou- das su.as ·g aleras, as somas que lhes
reÍil"o do Templo de Paris, o do Tempio de · haviam sido confiadas. Mas o comendador
Londn:s, ·t iveram, a iesse res·p eito, devido a esoo.s Etienne de ~t.Xirourt levanta. um protesto:
posi~oes, lugares de maiior relevo. :Esses depó- €SS·a s somas representamos depósitos que
sitos podem ser ocasionais. · foram oonf·iarl.üs a Ord~ . do Templo
, .e
aos quais, por consegu1nte, oo proprios
Um exemplo célebre é o do depó- Templári0s nao tero. o direito de tocar.1
sito das jóias do vei de Inglaterra, Hen. 0 Entretanto, o m.:arechal do 'l'emlplo, F •
rique m, entre as maos da sua cunhada, Renaud de V.ichiers, dá a entender que.
·a !I"ainha Margarida de Fran~, no mo- n ·u m caso dessa importancia, obedeceráo
mento em que d€Sen·c adeia a luta contra as ordens do rei; que, além disso, conser-
o seu vassalo Simon de Montfort (o .filho va.ro, em Acre, um depósito real, sobr~ o
daquele que havia dirigido a cruzada albi- qual poderao ser reembolsados. .Jomv:1lle
1

gense), ·e m 1261. A rainha, depois de lhe relata .e m seguida - a sua manerra,


ter mandado fazer um inventário porme- directa' e metafórica-, as alterca~oes - que
norizado, m3.ndou encerrar dentro de dois teve oom o tesoureiro, que, no ga1eáo do
cofres selados esse importa..."'lte t€Souro,
1 Tem1plo1 comega por se recusar a entre--
que depositou. ·no Templo de Paris. Hen- giar-lhie a chave d<?S cofres; . entáo ele
rique só viria a entra1r, nova;mente, na pegou numa machadi!Ilha que ·ali ~e enoon-
possessao do seu tesouro dez anos mais :trai.ra e declara «que fa.rá delia. a chave do
tarde, em 1272, pois o depósito ha.via reí». Finalmente, ·as trinta mil libras

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118 R:GJGINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 119

, .
.n~a.rias ipa¡ra·p erfazer a qu~ntia pro- da Terra Santa» (L. Delisle) ; e nao se pode
metida pelo resgate sao-Llie enwegues e negwr iessa constata~ao. O estudo pormenori-
em seguida, pagas aos Sarraoonos. ' zado das cartas da. Qmperatiz de Constaintmoplia,
Maria- sempre oom falta de diinheiro- oon-
Essa confiianQa que a sua fungao milibar con- duziiu o historiador J. Piquet a en'OOiltra.r nessas
fere a Orden1 ass~m eomo aos freires é uma formas de empréstimo todos os elemie:ntos futu-
garantia para os depositantes. E os Templários ros da .1ewa de ·cambio.
também sao detentores, além de dinhei...ro ou de
1

teso:iros em jóias e obras de ourivesaria, dos E é aooim qUJe ela pede a raitnll'a de
~er1dores de p~so. E ·a ssim se ve o ·p esador do Fr<tnga, Branca de Castela, qu·e mande
v1sc:ondad? fluvial de Rouen, chamado Gui;l laume, entregar 'ª um dito Esoot, Toscano, uma
pedir a libra do Templo de París para esta- soma de cento e cinquentaJ libras tornesas
belecer, segundo esse peso-padrao, a libra de oomo reembolso de urna soma equiva..
Rouen. Os Temp~ários russumem as fun.ºoes de lente que €SSa 1personagem lhe entregou
guarda e de canga.o em todos Os d01nínios : sim- em moeda. die Oonstam:tiooipla; a carta
ples ·p articulares, ~o ~omento em que iempreen- ·especifica que o pagamento deverá ser
dem ·u.ma peregrmaºªº' depositat'"ll nas maos feito no .p razo da quinze dias a contar
deles uma ~orna de dinhei:o, que, se nao regres- do momento iem qua o credor lhe terá
sa:e1n, s~ra entregue, maJJ.S tar<l.e , aos seus her- ra•p resentado ·o seu título de reemboJso.
deiros; e o que se passou com Pi.1eroe Sa.rrasin
1
Ora., ·o tesouro ~ r·a inha, ·e ncontrando-se
em 122~, no ilnomento em que ;pa1"te, ia caminh~ no Templo, é o tesoureiTo do '.Demplo
de SaJ;tiago de Compostela. E também sao os que 1irá pagar a:o credor.
Templ_ario~ que - aquando dos desacordos entre
os do1s :reis, o· de Fr.an~ e o de Inglaterra - Oartas desi:Je teoir sao do -maior interesse,
~oo~em, . em ~or, o castelo de Gis·o rs, em potis fazem intervir a personagem que, nessa
li58 '. essa fungao de penhora' aJiás, só será épo:e:a, se encontra constantemente nas opera-
exerc1da ·por 1eles durante :aJguns meses'. goes oom€lrciais e financeiras: o negociante
~~ ~ursos. da. Oirtlem também lhe permitiam italiano. Personagem omnipresente nas feito-
c?nst:itl11r urna verdadeira C'a ixa, a qual recor- rias do Or.i:ente, onde provoca guerras fra'f:rti-
ir;am Os que queria.~ dinheiro emprestado, cid:as geradas pelas. rivalidades comercias, e nas
tivessem eles a categorua que tivessem; foi esse feiras da Champanha e do Norte da Fran~a e
o pape} 9ue desempenharam, em grande escala, da :@hmdres. No Tesouro dos Forais;, nos Arqui-
~ Proxmro O:riente. «Nao é exagero nenhum voo Nacionais (de Franga.), encontrom-se nume-
afirmar~ que o 1:Jesou;o do !etn·p lo foi dlµ"ante rosos reconhe:cimentos de dívida, contratados
todo o seculo xm a ca1xa onde se centraliizavam no OT'iente e 1pagáveis ·n as feiras da Champanha,
e. se admiinistravam os recuraos filllJaiilceiroo des- a negooilantes de Siena, de Placencia, die Pisa,
tmad0s ·as cruzadas e as diferentes neoossidarles de Génova, etc. De iresrto, a casa dos Templários
121
120 RSG!NE PEBNOUJJ 08 TEMPLAB!08

em Provins, adquirida por eles e cuja possie lhes dados; nao diferem. dos quie estavam. em uso
havia sido confirmada, desde 1171, pelo conde nessa época. O cálculo do din.beiro entrado faz-a.e
da ChampanbaJ, dava-·l hes a ;possi'bilidade de com o auxilio do «tabuleiro de xadrez» (o termo
estarem tantas vezes presentes nessas feiras deveria subsistir durante rouito tempo, oobre-
internacionais, que era.m, por excelencia, o locsJ tudo na Norma.ndia e na Inglatel'fra): neste caso,
dos pagamentos de eontas. trata-se de ,1una. tabuirnba quadl~ dividida
em recta...Tlgulos ou quadrados, por linhas hori-
E assim se ve, aquando da estada do zontais e vertica.is · a miesma ~ de metal,
exército dos cruzados em Chipre, Yolande oonsoonte a. casa ~ qu.e se encontra colocada,
de Bourbon receber, emprestada, nm.SJ pode s:ignifi-car um denário, um sol~. 11ma.
soma de dez mil besantes de ou:ro, que ·libra o·u os múltiplos, vinte, cero. e mil 11br2S.
deverá reembolsar na feira de I.;agny, A casa de Paris - •aquela. a que, em mranº3-,
com o equivalente ero. moeda .t ornesa de chamavam. «a. casa principal» - foi o centro das
• A • • '

tres mil. s abecentos e oinquoo.ta liibras.


1 · finan~ reais desde os fins do .século XIH. No
A operagao de reembolso deveria ser efec- mor.o.en.to ·e m qUJe ia iparl;ir para a cruzada,
tuada pelo Templo die Paris, pert.o do F.iilipe Augusto, ao red.igir o ~ _t.e-.Btamento,
local das reLebr€S. f eiras da Ilhia de dmignia como executor testam.enta.no um tem-
Fran~. Nieste caso, como no precedente, plá.rio, F. Aymard, tesour-eir:? ~o ~emplo; espe-
sao comerciantes italianos, enumerados cifica que, durante a sua a~.qencia, e esse t€SOurO
no documento, que. forneeeram os besan- do Templo que recebará as somas P&J5~ pel?S
tes de ouro. seu.s ibailios e provenientes da administra~o
dos dom.ínioo reaiS!. Um clérigo, chamado Adam,
Penhores, emprésti.mos, T1eem.bolsos - toda.a tomará ¡¡1ota dessas contas; para o cofre real
as opera~ financeims dos Templários fiea.m estao pr.evistas várias cp~ves, mna. das ,uais
anotad.rus nas pergaminhos e registos, nas vár.ias será. entregue a.os Templarios e as outras ~qu~­
~· Os documentos que nos chegai-am as les que ·t amam conta do reino durante ·a ausencia
. .
maos revielam as SU\as c:a;pa:cidades de adm~n'.is­ QO rei.
tradores.. Através de um destes ireg~tos é pos-
sível seguir-se a actividade do teooureiro do A:. paxti!r d:esse momento eram m~u­
"fumplo durante um dia de tr.abalho, o dia 16 de ·gul".adas ·as fun~óes do Templo de~,
F'evereiro de 1296, desde o momento em que o como depósito do tesouro rooJl e i~~o
templário se ;instala no seu guichet até la.O fim
0 da futuTa «CAmla;ra das Contas». Bailios
da t:arde, qu.ando «·f az a sua ca:Lxa» - o~o e prebostes iiriam., a partir d€SOO mo-
complicad.a, pois as espécies: entregues a:inda mento' levar directamente ao , Templo
.
dievi1a:m ser convertidas na moeda de cont.a. em oo produtos da receita. dos domtmos e ?
uso, e que, em Paris, era a l:iibra parisis. Os seus Templo firará a ser o «t-eso~o real>~ a.t~
métodos de contabilidade t:ambém. lfomm estu- ao .fim do século xra:. O ire'l possu1a la
122 MGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 12 ~

U:Il'l.aespécie de oonta icorrente perma- todo o caso, gerido - nessa altura -


nente, de onde retirava. o que lhe era pelos banqueiros florentinos Afbizi Fran~
necessário para as suas despesas pes- cesi e Musciiatto (na linguagem popular
soois e a.s da 1administragao do reino. ;passam a ser conhecidos; romo Biche e
ESsa. aetividade mrun.teve-se durante todo Mou,che 1 ) . Até 1303, o movimento das
o século. Existem os origina-is de a:lgu- fina.n~aa rea.is é, asslln., dirigido pelo
mas das; contas do Tiemplo .p ara a rainha
1
tesolli"O do Louwe ..
Branca e 'bambém os pormenores das A situa~ao iria mudar bruscamente em
somas .:1ew.ntadas. do tesouro para a fun- Julho de 1303. O rei volta. a ordenair a
da~o da iabadia de l\1:aubuisson, mandarla todos ·os seus :responsávei.~ de conbas q~e
erigir pela ra;inha. Os seus filhos, enviem as suas treceitas para o tesouro
.Mphonse de Poitiers, Charles d'Anjou, do ~emplo. O visitador de Franga, Hugues
utilizara igualmente ClS servigos do Tem- de Pa:ir·aud, f.iea :e ncacreg-a do de arr~dar
plo. A actividade das tesourarias da casa "JS impostos levantados ·p ara ta oontmua~
do Templo, desde o já citado F. Aymard ~ao das guerras; e, nova.mente, toda a
até J ean de Tour - e qt1ase a sua biogra- orga...11iza~ao flinanceira do ~ino se enoon-
f.ia.- , poderi:a ser :reconstituída, através trou transferida para o Templo.
d<>s documentos relativos ao servigo dos Na realidade, esse revimmento real 1

reis de Firanga. :E! ·part~cularmente impor- coincide com um período de profunda


tante no mome.."flto da segunda cruzada de miséria financeira: dá··se, após o desastre
Sao Luís, pois o rei tinha-se responsabi- oo Courtrai, em 1302, onde a oovalaria1

~:izado 1pelos divers0s empréstimos con- francesa sofirem a maior derrota da sua
traídos para a expedi!;ao, po!r determi- hisltória - inflingida, ·ainda .p or .cim:a, pelo
nados sienhories, tais como Geoffroy de pequeno ·p ovo da Flanwes, oprimido por
Sergines, e sempre a banqueiros italianos. un11a oligarquia burgwesa, apoiada pelo
A situa~ao iria modificar-se: durante rei de Fra.nga. Este deverá, ·para fazer
o reinado de Filiipe, o BeZo~· em 1295 face a. essas dificuldades, tomar várias
faz-se men~ao de um. tesouro real fun- medidas de aJ.tier:aQao das moedas. e é,
cionando iilO Louvre; é diferente do mruito provavielmente, impelido pelia neces-
:besouro .p rivado que os reís de Fran~a lá
ha;via:m possuído anteriorm.entJe; é um
instrumento de admi:n istraQ.ao. Ignora-se
1

a data exaeta em que foi criado este .1 Biche e Mouche: entre os vários stnónimos que
segundo tesouro e em que medida ele exi:stem para es.ses substantivos e, dada a época en1
que foram ern.prega<los e as personagens a quem foram
compartillmva ou nao 0S suas ·a tribuí- atribuídos, eu tiraduzi'lia essas dua.s palavras por, res-
~ oom o tesouro do Templo.. O essen- pectivamente: ser~nte e políci;a; secreta ( ou espiáo) .
ciM da administm.~ao f.inanooira é, em (N. iJn, T.)
124

• :t ,..:¡
s·ia:aue qu~
v:,olta . a levar ao Templo a.
s~ ~;ct1v1dade fmarneeira: os Temiplá-
r1(_yg dlspunh:am, muito possivelmente,- de
rec~ mais irnportant-oo qtIJe o tesou.ro
do Louvre, esgotado pelo esfo:R"CO de
g·uerra na Flar1dres. ~
. °'De ~es¡tfJ<, .es.~ traJlsferencia pre-cede · . . . . CAPITULO VI
apenas dle q.u:atro ancis a qu!Cd.a da O:rdem..
DErEN()AO E PROOESSO
Os his.toriadores. 8)U1d.a 112.o ool>A...:rn se o
1
DOS TEMPLARIOS
Templo
~~1 d
1
era credor ou deviedor de~ rei
~ G~ IV7
,l.... .._ __
in.....
w.
f a:ww. e 1.•.>V' • Qs documentos enoontrad.os nao JUIG!;. '-&,'(l.¡

permitem elucidar a · questoo, o que se com- Ao naseer do diada siexta-feim, 13 de Outu-


·~nde se.- ~:n.10 é provável -~Os agentes do b-.co •d.e 1307, todos os templários de Fmn~ sa..o
re1, ªº ·p rocederem a deten~aoj fi2.1eram desa- detidoo nas suas comoo.dadorias.
parecer os registoo da 0011tabilidadeo'. Com efeito, Havirurr1 passado dezasseis anos desde :a perda
desde 0 utu.tw de 130,7, é o rei que1n controla 0
1
de Sao J'oao de Acre. Ao mestre Guill:aume de
tesouro, altravés .dos sieus iagen.tes; a11ás, Wviez Beaujeu, siucedera Thtbaud Gaulin; em seguida,
1

es~a ~da de poosie ·n8.o tenha. ~azido <>.:>rASe· depois d:e este ter n1orrido, iem 1295, sucedera-
quen~1as ~portantes, pois em Janeiro de 1308 ~llre Jacqt1es d;e JV[ola,y. A Ordem nao !r'enuncio:u
o '.J'.€:1 decide um !no1ro enfiraquecimiento das a sua ·lu'41. no Ori€lllte; o próprio J .a cques de
mo..,.ad'as. · Mol~y passou lá urna grande !parle da sua. vida,
A. 0
p
1
tesouro Teal tiria ·perma.P..ecer tno Templo participando - em 1303 - ·n um ,a taque na ilha
a~ ao rnandiato de 19 de .Jfün:eiro die 1313, oue
1 1 de Tortooa, ·ataque esse qu:e, 'aJliás, foi mal
cri~ uma du.pla orga,niza~o: tesouro do Templo sucedido; ai;n da vi.wa em. Chipre, onde a Ordem
1

e t1€SOOT\)
~
do1• I..t011vre.
• Esta nova Oral!l:nl
o.....,._..., Zí"' r·a
- n.
Gt.~ V
ti nha, iprovisoriamente, a sua casa principal
1

pouco. iempo .1r1a durar, pois logo após a n1orte (1307). Nessa altura falava-se muito em reunir
do ~e1 e a do seu tesoureiT0, Enguerrru1d de 1 numa única as duas ordens militares da Terra
Mangny, o tei.siQiruro \C"ea:l é novamJente u:r1tficado~ Santa: TempláriDs e HoS'pitalários. Ja;cques de
ooquanto os I-IospitaJ.ários tomam possessao da IviolayJ a pedido do papa Clemente V, iria redigir
ca.~ d·o Tumplo en1 Paris. urna ·nota Telativa a esste -projecto de fu.sao.
O estudo ·dessa nota {r.elatório) , permite-:nos
ver que projectos desse género já ha"'viam sido
fieitos em várias ocasioes, especialmente depo·is
da perda da Ter:ra Santa pelos papas Nicolau IV, .
ein S'e guida pelo papa Bo11ifácio VIII. O mestre
nao,_, esconde a sua r.eipugnanc1a pera~nu:::
A • +.~ ta~
:r

http://alexandriacatolica.blogspot.com
126 RÉGINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 127

medida: ·i nsiste sobre as desavengas que nao Por conseguinte, nada :permite suspeibar de
deixarao de se ma.n•iiiestwr entre Os membros de qua!quier desavenQa entre o rei e a _9rdem ~
ambas as ordens e insiste no fa;cto de que a Templo, qu:am.do· estala, como um trovao, a noti-
Norma dos Templários é mwis sevem qu,e a cia \ia debengao destes. Ainda na véspera desse
dos H is·p italários : · día o mestre da Ordem, J aicques de Mola y,
1

aicdmpanhava o reina Igreja dos J31cobins, para


Seria necessário que os Templários ·a ssistir aos funerais de Catherine de Oourtenay,
denunci:em [ desistam] muitas coisas e esposa de Charles de Valois, o irmao mais novo
que os Hospitalários se I'lestrinjam mais. do l'!ei. Essa ca;ptura maci~, efectuada no
mesmo dia, a ·m esma ho1--a, nas eerca de tres
Miás, termina com pr:otestos de obedienci-a : mil oomendadori·a s reparbidas por toda a Firan~,
representa sem dúvid:a lll!~huma, . .~mo· f?i
Sezn:p ve qUJe voo ·a gradar ouvi:r o con- esicr:ito «urna das opera~oes pol1c1ais mtaiis
selho do 111osso convento e dos homens '
exfxaordinárias de todos os tero.pos» (Lé~vLS-
.
sensatos da nossa Ordem [ ... ] f á-los-ei Mirepoix).
reunir uns oom os out.ros, se vós o dese- Era ,n ecessário, 1p ara ia levar a bom cabo,
jardes, na vossa pnesenQa. que e.la tivesse Stido minuoios~n:ente prepar~.
Na !!"ealidade, a ordem de prisao fora env1ad;a
No decurso das violentas disputas que opu- um ,mes antes, em 14 de Setembro de 1307, s<?b
seram o iiei de Ftranga ao papa Bonifácio VIIl, a forma. de cartas fechadas., dirigidas aoo bai-
os 'Demplárioo, geralmente, tomaram o partido
1
l·ios e s1ooes'C~ais, com ·a ordem de as aibrirem
de Filipe, o Belo. E também nao é impossível numa determinada data. O· texto dessas mstru-
que - como sugeríu M. Melville - a transferen- goes que 0Jinda conservamos, apracrenta ac~­
ci.a do tiesouro real do Templo para. o Louvre ~5es contra a Ordem do Templ~, aeusa~~
tenha sido refuctuada. 'ª pedido dos próprios essas que teriam chegad.o a0s ouvidos ~o re1;
Templárioo, que, nao querendo desobedecer ao ordena que «se iprendam todos os freires da.
papa, aquando da ta;lha (tributo) levantada dita Ordem, sem excap~ao nenhuma, se os
sobre os bens do clero, em benefício das finan- ma:ntenham ·p risioneiros e il"eServados pam o
~as reais, teriam, dessa. maneira, deixado ao julgamento da Igreja; qu<B se apodere~ dos
rei 13.S máos. livries na gesta.o do tesouro. Essa seus bens, móveis e imóveis», e explica cu1dado-
primeira disputa ientrie Bonifácio VIll e Filipe, ooment e ¡a, maneira como se deve proceder: man-
o Belo, tinh·a come~do em 1295. Quando, de dar fazer urna inform~ao secreta sobre todas
novo, em 1303, a ruptura :parece iminente entre as casas dependientes <la Ord.em do Templo,
eles, o visitador do OcidJente, Hugues de Pai- situadas na oircunscrigáo do bailio; escolher
~ud, toma, a:bertamente, tra.rbido pelo rei e «homens probos e poderos0s. do país, ao abrigo
recebe deste uma carta de protec~ao para ele da suspeita [ ... ] e i!llformá-los do trabalh~ a
próprio e para a sua Ordem. · fazer, sob juramento e secretamente»; por f1m,
128 R'SGINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 129

«em diia marcado, muito cedo», ir ~der as Guillaume de Noga.ret, nomeado chanooler do
persona.gens e a;preender oo bens. reino l01ll 22 de Seternbro de 1307, por eonse-
Se se pode ri1mag.inar a man~a oomo a gu:inte pouoo tem•p o antes da prisa.o dos Tem-
opera~áo foi dirígida, gra~as as contas de admi- plários, de que - provavelmente - fixou todos
mstra~io, já citadas, da Comen.da.doria de P.ayns. os rpormenores. Nasci.do em Saint-Félix-de-Cara-
Na man.ha do dlia 13 de Outubro, o oa\~eiro man, 1estudou e em. seguida ensinou direito. em
Jea.n de Y.ill.arcel, rp or ordean do bailio de Tr-oyes, Montpellier, antes. de ser nomeado juiz-m:a;ior
aipresenta-se di.ante da - oomendadoria, a frente de Beaucatre e de Nimes (1299) . Muito depressa,
de uma tropa oo qua.renta homens de ru.""maS, · Fhlipe, o Belo, o chamou 1p ara o seu cons·e lho e
a pé ou a cavalo. Apodera-se da pessoa do o fez eavaleiro (ele atribuía faci•l mente este ·
comendador, F. Ponsard de Gisy - cujo. interc título a.os '1egis~ de que se rodeavia - hábito
rogiatório, aliás, ·ainda. existe-, .ass:irm como dos que é suficiente para fazer compreendoc que a
freires e be1ieguins que lá se encontmm, mas cavalar.ia propria.mente dita desapareceu a , par-
dJa:ixa lá os criados. Alguns dias ma;is tarde, tir dai e que nao ·p assa de um título comparável
no en.tanto, e certamente antes do dia 27 de a uro.a condecora~ao). Guill:a ume de N ogaret deu
Novembro, 1nn administrador, Jean de Hulles, que faltar, en1 1303, devido a sua luta contra o
é nomeado, ·p or oonta do reí .. papa Bonifácio VIII. Conhece-se, 'com todos os
O processo que ero seguida se desenrola é po.mnenores, o. atentado de Anagni (7 dei Setem-
boje ie m dia já bastante conhecido. Reteve bro de 1303) , organizado por ele, e no decorrer
durante muito tempo a aten~ao do ·p úbliw e, do qu1a l o rpapa teria sido esbofeteado por
por conseguinte, a dos historiiadoves. De tal Sciatrra Colonna; é durante¡ esta dramática
ma:neira que, paradoxalmente, esta fase termi- ·entrevista que Bonifácio teria apostrofado ~o­
nal da história. da Ordem do Templo f.ieou g.aret: «Nós ficaríamos bem co·n tente e .satis.-
muito ma:is bem estudada que os cerca de duzen- feíto se fóssemos deposto por um patarin tal
tos anos da sua existencia. como sois' 1e tal como foram os vossos. pai,. e
Portanto, contenta.r-nos-emoo em resumí-la mae castigados como patarims ! » P atar1n e a
1

' ' +.~ 1


rapidamenta, recúmendando ao leitor os tra- deformagao popular da ipailavra: «Cal;(:l,ro ».
balhos já publicados. Em prim.eiro lugar, os Nogaret é suspeitQ de :ber, ,em todo.º ~~o p~las
pró·p rios textos, tais como foram publicados por suas origens, rela~&es com a h€!I"€S1a Ja iextmta
Michelet, por G. Lizerand; em seguida, os publi- e mais tarde em 1313, o CO!l(le Louis de Nevers
cados mais :riecentemente por ~ymond Oursel. ~ferir-se-á ~o «sacrílego Nogaret, filho de
O !'!elato dos ·a contecimentos foi, por outro lado, heréticos». As .a;cusa~oes la.n~as aos Tem-
efectuado em várias oeasioes.
Paira melhor poder seguirr as diferentes eta-
pas cronológicas do caso é necessário d€S'etilhar, 1 Nom·e de vá!rias seitas religiosas de origem orien-
a tragos largos, a . personalidade dos principais tal que apareceram na Europa ocldental nos séculos XI;
protagonistas. Ero ·primeir.tSSinlo lugar, a de xn e nn. (N. da T.)

Saber 164 - 9
130 RSGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 131

plários ser®, pouco m.ais. ou menos, as mes- do seu cavalo, póde levantar-se e retirar ele
mas e redigidas 1110 mesmo estilo qrue as latn~a­
1
mesmo. de entre o entull10, a sua tiara, que
das contra Bontfácio Vlll: ·hel'lesia, sacrilégio,
tra.i~ao para com a lgrreja, etc. Recordemo-nos,
caíra ao cl1ao. 0 a oidente provoc.ou do.ze mortos,
1

entre os qua is se contava o duque de Bretanha


finalmente, qu'8 num rel:atório f eito pauco e um doo irmaoo do ·p ontífice; Charl~ de V&ois,
a:nt€S, ·a respeito da recupera~ da Terra Santa, irm.8.o do .r ei da lílran~, que segurava o seu
Nogaret acuoou os. Templários de terem sido os palafrém pela brida, também estava g:ro.ve-
res1ponsávie:is pela sua 1p erda e ;p ro1p ós conifiiscar ment~ ferido. E1'se pontificado, com~o sob
as suas rendas, para financiar ·r una expedi~ao. auspicios tao sombrios, vai ver suoederem-se
A Bonifácio VIII, morto de emo~ao (11 de as nomeagoes de cardeais fran'Ceses - e tam-
OutubT'o de 1303) depois de ter sido libertado bém a famí.lia tlo papa a tulhar, literalmente, os
·p or urna. sublevaºáo popular, sucooeu o papa e.argos e a s d ignidades eclesiást icas. No Sagrado
Cl!mn.€nte V, depois de um conclave q11(e durou Colégio, quando Clemente V mor.reu, dos vinte
onze meses; entretanto, houver:a o breve poi1ti- e quatro cardea.Js que o oonstit11ía.rn a:penas
ficado d e Bento XI, morto muito ii.nesperada- seis deles er.am italianos.
mente (7 de .Julho de 1304), oo. v€spera do Afinal, F ilipe, o Belo, é consider ado como
dia em que se prepa.rava para excomungar o mais enigmát ico de todos os r eís ·de Fra nQa.
Nogaret. Talwz o estado da cúria rorrµµia , divi- Tanto pelos seus OOT!.temporaneos como por nós:
dida em frac~oes, nas quais se enfr€!ntavam. «·n ao é mn homem, é u ma iest át ua.», declarava
os Orsini e oo Colonn'a, tiviesse sido a verd.a- Bernand Sajsset, bispo de Pamiers, qu1e foi urna
d eira e~plica~ao para esse ·l ongo interregno. das suas vitirnas. Durante o seu reinado, a
Os car1d eais reunid'OS em Perúsia haviam aca- nece.ssidade de diiiheiro torna-se mna obc€Ss ao;
bado ipor designar, em 5 de J unho de 1305, o sabamcs ·~-orno ele instaurou as desvaiori~o~,
·arcebispo de Bor déus, Ber.trand de C+ot. fazend o b &:ixa,:r e ~;-ubiir o \-"'alor da moeda, con-
'fi'rata-1se de um Jurista, fionr1ado e;rn Orleaes, soa,n te as nece.~sidades finax10eiras; ·oomo ele
em s egu,ida em Bolonha, para o en:s ino do direito desenr.adBou, oontr3J a I«"llandres1 uma guerra
r omano. R eceando a atmosfiera de Roma, onde m1tito incert3~, ::.10 decorrer da. q ual ia. c:avalaria
íhe teria s ido preciso enfrentaT as fac~OOs. riva is francesa conheceu. a sua. primeira derrota
que divid imn o Colégio dos Cardeais, preferiu d:mp·J'rtante (Courtrai, 1302), prelúdio dos· desas~
convocar estes em Liao onde se fez coroar
1 tres do século XIV, e ,c omo expulsou os Judeus
(14 de l\Tovembro de 1305). Virá a ser o primeiro da F:ran~ (1306), efectuando sobre os bens
«papa de Avignon». Após a coroaga.o, que se
1
d~tes um emba1·go, cujo agente foi Nogaret .
efiectuolt ·e m presen9a do rei de FFa.n.~, F'ilipe, No ano que precedeu o processo dos Temr.fJlárioo,
o Belo~ o cortejo pontifical passava por uma o rei havia - de maneira bastant e estranha -
rrra ootreita ladeaq.a por um muro s1o bre o qual en.cont ra.d o riefúgio na casa do Templo de Paris, "
se tiJ:lha a1pinl1aido a multidao die espectadores, aiq1la.r1do de uma subleva~o do povo, provo~
quando esse muro desabou. O· ·papa;, derrubado cada pc1· lL'na n0:v.a altera~o do valor da moeda.

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132 08 TEMPLARIOS 133
R.1$GINE PERNOUD

P~001.os perguntar-.wos se a mola secreta des.te perturbado, de Filipe, o Belo. A ordem. de rpri-
=nado n~o terá sido o. crese~o de instaurar, a sáo ibaseia--se em «presun~Oesi e suspeitas vio,..
u ·proveito, a. moniarqma universal,· qu.e repre- lentas»; no início, as denúncias de um individuo
1

sent.a.., oorta.mente, o «~die ~rojecto» dos legis- chamado Esquieu de Floyro:n, oriundo de
~s ~OTmandos. ou mer1d1onais que compOem. e Bézte:rs, que, em Agen, teria recolhido as con-
sequ1~ do re1. e entre os quais um, Pierre fidencias de um templário preso; te-las-ia con-
Dubo1s, 'ª. ~plica.va, a 1ar.gos tra!<QS, no seu tado, em iprimeiro lugar, ao rei de Aragao,
tratado, ;1nt1tulado De 1~e<m¡era.timie Terrae Jaime II, e, em seguida, tendo sido mandado
8anctae. afastar-se .p or este rei, foi oontá-las a Filipe,
. .Por fi.m., _FiliJpe, o Belo, opós-se a urna perso- o Belo. Este conta com a aprova~ao do papa
nali~de, . nao menos auto:riitária n:em menos Cle.ment·e V, qu,e, ·n a realidade ( 001 24 de Agosto
1

«~qnarqu1ca» q~e a dele; a do papa Bonifá- de 1307) , tinha mandado uma resposta diJatória
~10 VIII. Esse estudo ultra1passa os propósitos ao ·p edido do rei de Franga, pedindo-lhe que
~o p:r_-e~ente trrabaJho, ~ ·U·m a. única iim·a gem reserv·asse ·par.a mais tarde o exame das acusa-
e .. s~1c1ente ·para r€Sunr1r a person1a gem: Boni- ~oes de que este lhe f izern. ;i1ma lista. Enfim, o
facio. VID acrescen~ou a tia11a po·ntific-al uma acto de acusa~o· refe1~e..1Se a um inqruérito
~cewa coroa, destk!.ada a simbo1iz¡ar o ·p oder efectuado pelQ i:inquisidor Gui:llaume de P·a ris
:emporal (as duas precedentes riepresentavam (um monge pregador que, 3lém de tudo o roa.is,
º. duplo poder de ordem e de jurisdigao con- é o confessor do rei) ; mas esse inquérito, que
f~a~ :1º pastorr da Igreja e sempre h~vi1am se resumiu ao interrogatório de alguns templá-
:im. ol1zado as. duas chavies do apóstolo P.edro;
, tiara, em s1, recordemo-lo, só apare-cera no
rios, data apenas. de 22 de Setembro de 1307,
enq·u anto a ordem de prisao fora enviada no
sec~l? xm) ·,Para o historiador é surpreendente día 14 do mesmo mes. A ·p artir desta data,
ver~f1car ate que ponto o caso dos Templários Guillarume de Nogaret tratou de reunir teste-
f~r:=i lembrar o precedente conflito com Bon1·-
f ac~o VIII
, .. · os mesmos procedimentos e
, po1s
munhas de acusa~ contra a Ordem; o mesmo
fiez o legista de Tolosa, Guillaume de Pla1isians,
ª!e. quas,e <:s mesmos tennos se ·e ncontrnm nos que o rei também nomeara cavaJ.eiro e que irá
varios man1fest~s dirigidos as assembleias con~ desempenh·a r · um ipapel a;ctivo nesse processo.
v~axl:as ~lo re1, para dar 'ª oonhecer e obter Entre iessas testemunhas encontraremos Esquieu
a aprov~ao ~ a posigao qu~ tomou. Se é de Floyirn:n, que será formalmente acusado, pelo
verdad.e que fio1 ~ prim·e iro rei que se comportou com:en<l:ad•o r de Payns, na Champan·h a, F. Pon-
oomo soberano, e também o prim1eiro chefe de S&.-d de Gisy, de o t'ffi" torturado para o obrigar
~ta.do, q1:1e se tenha servido do recurso a opi- a «confess;ar» os crimes de que o a:cusava.
nJ.ao ·p ubl'lca e c~pi"eendido 'ª im·p ortanci·a dos Seguem-se as principais etapas do processo,
«'g rupos. d·e pressao». pela su·a ordem cronológica, depois da deten~
O desenviolvi1nento do caso dos T emplários efectuada em 13 de Outubro·:
preenche os sete últimos anos do reinad.o, tao 14 de Outubro de 1307: um imamifesto real
134
ReGJNE PERNOUD 08 TEMPL~..f.RIOS 135
,
Paris .
e espalhado por , .
a~ oontidas . ' tornando publicas as competencia do papa. Quanto ªº m de Ingla-
'""~- na ordetn
.1.~p...an.os ooriam cm·
1, •
. da detoY> ~
v.u.~.ao; os terra, Eduardo II (genro de Filipe, o Belo),
ultrajes a pessoa de ~<100 de .ªP<Jstasia, de longe de se deixar convencer, ma ele próprio
~e ...sodomia e, por f~nst.o, ,.de ritc:s obscenos, escrev€l" aes reis de Fiortugal, de Cast.ela, de
infamias m:anifiestam ' de ~:iolatr1a. As suas Aragao ,e da Sicí~ia, para !hes pedir que nao
da admissao dos fr ..-se'. m~milmez1te, aquando agiss.em senao depois de madura reflexao, pois
Ccist.o tres eres. Ob!'1gam-nos a renegar as aousag5€s fonnu:ladas contra o Templo lhe
, vezes, e a escarrar sob,...e o cruc1.f.ix.o;
em seguida dAQ!r\r\ ·.
i...--= • '
.,:J.
~......t-NJauos das suas
... ·
·~ - ipareciam ditadas pela. calímia e pela cobi~.
~1Jados na po;n+~a .;,. . ~ . v~ ...es, sao 19 de Outubro-24 de Novembro de 1307:
...... W: .u.u.er1or da col
no rumbigo e n:a ·b oc·a , unra vertebml, cento e trinta e oit.o prisior1eil"os sáo int~oga­
depois, obrigam-nos por aquele q·ue os recebe; dos em Paris, na sa~a baixa do Templo·, pelo
Sodonria se · l'h.....~ prometer entregar-se a mquislidor Guillaiume de Paris, depois de terem
' 1SSO .A.U"tS ror ~~d . ,..
adoram uma. esta.tuet:a ~ o, rzna:Imente, passarlo pelas maos dos ofioiais do rei, que,
met e tco ..,~._. .-
~ consigo ur.a e·00d-
ªque chrumrurn Bapho-
. ·de conformidade coro as instrl1~0es contidas nas
precedentemente d to aozinho que foi, cartas fechadas, empregaram «a tortura, em
. .
Os h istor1adore.s estao todsobre essa est't
' epos
a ua.
·
caso de necessidade». De facto, trinta e 'Seis dos
I'eConheeer no estilo d te os . de ·acordo para presos deveriarrn morrer em ~sequeneia. dessas
Nogaret Com ·, . es nm..:ru.festo o estilo do tortums. Perante o inquisidor, apenas tres deles
córdi · o J~ ,a:contecera aqua.ndo das d .... 'C
as com Bomfacio v,m ·· is- negaran1 ter .c ometido os crim€s . de que os
novamente no . e Vll'Ia a acontecer acusavam: Jean de Chateauvillars, Henri de
de 1308 ando· segrJ1nte, no mes de Outu¡i...-- Her.ci,gny e J ean de .P aris - toid os eles inter-
. , aquan o do ~ .. - i .JL1.J
hispo de Troyes no día'.t-'~oc~so ae Guichard, rogados no dia 9 de Novembro, no decorrer de
bro, que era dom. ~~1nte, 15 d·~ Outu- urna sessao, a qual nao· a;ssistia nem o pr6prio
.pregadores e oficirusm~o, .- ir1am ver-se ir.maos inquisidor nem ~quele que, em geral, ·'O secun-
Jardins do palácio e ~e:1s .;~!harem-~~ pelos dava, Ni!co\Las de E 1nnezat; nesse mesmo d.ia,
contar as boas en CI ~e
de Pa·rzs, para estes estao ocupados ·e om o visitador de Frarnga,
sao. En,f im nog a.J:8
l:'""
os motivos daquela pri-
o Belo, dirigia aos , , 1~ de Outubro, Filipe,
R ugues de P.a;imud, cujas confiss0es sao espe-
1

cialmente circunstan•c iadas; o seu 1int~g-atório,


cristandade cartas fu~~1~ e aos. rp:r:e~ados da a liás, .comporta um pormenor muito significa-
mandar prender os t n ,<>-:0 s a imita-lo e a tivo: :p erguntam.-lhe «S1e ele acredita q·u e todos
trassem . nos seus .E:_larr1os que se encon- os freires da Ordem fossem admitidos dessa
obtiveram tres os. Essas cartas só m.aneim» (com ús ritos obscenos e blasfema-
duque da n ,_ .. r€SLopostas fa voráveis : a de Jean tóri-os, já enumerados) :
. .oa.axa rena · de Gé '
J u11ers, e a do aroob. ' r~, conde de
de Liege, 0 rei de ~P? d~ °?loril·a . O hispo Ele responden que nao aereditava
(Alberto) r espondem-lhg ao, o re1 dos Romanos nisso; contudo, mais tarde~ no m€Smo
e que o assunto é da dia, oompareoondo na presenQa do dito
136
R:SGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 137

oom iss_á rio .[ ... ] aCN!SCen.tou que havia medida ;pelas conf1iss0es ?~s templári?S de
perc<:b1do mal e mal respondido e afirm.ou Fran~ .e que •c ertos templar.ios em servi~ na
sob Juramení? que acreditava que todos cúria romana lhe teriam confirmado o bem
fossem reoob1dos dessa ma.neira. fundado dessas confissoes; seria efectuado um
pr.oceooo eclesiástico, em seguida ao qual, se a
Nos nossos dias, em que o mecanismo dos O'l"dem fosse reeoohecida ~nocente, todos os
processos, ·in~errogatóri~ e torturas é aompla~ seus bens lhe seriam devolvidos; caso contrário,
n::ente conhe~1do, o sentido daquela inte~ao esses bens seriam consagrados a defesa da Terra
na? pode ~e~ lugar a dúvidas.: Hugues de Sa.nta.
. ~airaud 1:~ tmha percebido; suspende-se o No fim desse ano de 1307, o rei de Fr.anga
mterrogator10 e, quando o recomregam, ele já podia, por cons~cuinte, co~iderar qi1e bavia
compreendeu. ganh'o, ·p lenamente, a ,p artida; no entanto,
. _27 de <?'~tubro de 1307: o papa 01~ente V segu.ir-se--á ·u m perío!d o de indecisao. ~·eme11.te V
dirige a F1lrpe, o Be'/Jo, um.a carta de protesto: envia ao ir ei dois oardeais para pedir que as
1

pesSíOHs dos Templáxios lhe sejam ·e ntregues na


Vós haveis estendido a mao sobre as sua mao, da mesma, maneira que os seus bens.
pessoas e os bens dos '.D~plários, vós até O rei decla~a que está disposto a entregar-lhe
ousastes po-l0s na. prisao [ ... ] Vós haveis as pesooas mas que mantém os bens delas oob
acresoentado a afligao da catividade uma a guarda ~eal. Ora, em Fevereii:o. de .1?08, na
outra ~~ que, por pudor para. com véspera do di:a era que os Templarios !Jl"Jta;m ser
a IgreJa e para rconnosco, archamos mais entreguesi ao ·pod.er ipontif:ical, circulruram umas
própr.io deix.a.r passar actualmente sob tabuinhas por entre os prisioneiros: .o :nestre
silencio [ ... ] convidava-os a revocarem as suas conf1ssoes, tal
como e1e próprio o fazia e oo outros dignit~ios.
Embora discreta, a alusao a tortura nao Essa retracgao teria decidido o papa a modif.1ea:r
deixa de estar 1bem expressa. Por outro lado o o seu compartamento? Logo em seguida, vemo-lo
papa havia reunido os cardeais em consist~lo retirar os ·p oderes aos inquisidores e próclamar
desde o dia 17 de Outubro e no dia segu:ilnte a sua intien~ao de encavregair-se ele m€Smo do
havia mandado vir a sua presen<;a os camarei- assun.to. . _
ros
, . da Orden1, que estavam de servigo na 25 de MM"~o de 130·8 : os EStados Geraas sao
cuna romana, para lhes assegurar a sua pro- convocados eín Tours pelo reí de F'ranQa. A con-
tec~ao. . voeagao, redigida no mesmo estilo que o :acto
1

22 de Novembro de 1307: pela bula P<JASto-- de arcusa~ao, descrevie mais uma vez os cnmes
ralis praeminentiirre, o papa Clemente V ordena cometidos ·p elos Templários e inci~ o ·pov?
a todos os ·p ríncipes da cristandade que prendam cristao ·a exigir que esses pecados seJ3lD. casti-
os Templári0s que se encontram nos seus Esta- gados. Outro texto qoo,. ~~' le~va ia marea
dos. Ex!plica que se vira obrigado a. tomar ~ do l·egista Pierre Dubo1s, 11na ·c treulax sob o
138 R!SGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 139

títu!o d~ R&mx>ntramces d'tt Pf>LUple de Fr(Jffl.;()'3) e havi.am oferecido o seu t.estemunho antes de
oomo se fosse o resultado da consulta popu~0.¡-, a detengao ter sido decidida; alguns comenda-
feita em. Tours. E.m temios am.eaQadores, oon- dores, mas pouco numerosos. Enftm, enq11amto
sura o paipa pela lentidao que ele l~va para o pa:pa, tin.ha reservado para si, pessoaln1ente, o
castigar os cullpadoo e faz alusao aos seus ponJ. julgamento dos dignit&11'.'ios da Ordem, anuncia-
tos fracos: a su:a complacencia pelos seus oobri- -se-lhe que restes, doontes, nao podem cavalg-a.r
1

nhos e o seu apego aos bens :bemporais. ma·is adiam.te, e deveráo ficar em Clrinon, onde
26 d~ l\fuio de 1308: o rei Filipe, o Belo, se encontram detidos; tr.atava-se do m.es:t:ce
vero, 'p eBsoahnente, a Poitiers, para se encon- Jacques de Molay, do visitador Hugues de Pai-
trar com o ·p apa Clemente V; este iria, no dia raud, do preceptor de 3:lém-mar Raimbaud de
29, reunir um consist6rio na sua ·prese;n.9a, no Ca.ron, de Geoffroy de Charnay e de Geoffroy
deoorrer do qual Guillaume de Plaisans. deveria de Gonn.eville, res·p ectivamerrte preceptores da
1pronunciar um djscurso, .proclan1ando que, depoi~ Nomn.andia e do Poi.tou e da Aquitania.. Sem
da «vitória universal» obtida pela Oruz contra · tres
insistir, o iprupa iria. delega.ir cardea;is? para
«O antigo mimigo», Cristo nao tinha ganho irem a Chinon: Bérenger Fred-Oll, Etierme de
sobre os i11im.igos da sua igi~ja uma vitória Strisy e I ..a.ndolphe Brancaccio- aliás, os dois
«tao admirável, grande e rápida, tao útil e primeiros eram íntimos do rei de Fran.º8-. Esses
necessária», que a que havia posto a nu, <liante delegados ·interrogairam, efectivamente, os digni-
dos olhos de todos, a ·p erversidade dos Tem.iplá- tários, em Chinon, no mes de Agosto seguinte;
:rios. O mesmo Plaisans deveria. tornar a .foalax mas Noga.ret e Plaisians assistiam ao interroga-
11um segundo C()IIlSiistório que se ;realizB!ria no tório. O processo verbal menciona que os digni-
dia 4 de Junho seguinte, sempre em. pres€nga tários se lim:itaram a confirm:a;r ias oonfissoes
do rei, para ooplicar ao papa que co:r1denassie,
1 1
feitas. :n o mes. de Outubro do ano anterior.
sem iespera, a Oroem. do Templo·, compl eta, 1
Nesoo mesmo mes de Agosto de 1308, o papa
«como u.m vaso· realmente inútil e cheio d-e deixa Poitiers, tendo, no entanto, recusado con-
escandalos ». denar os templáirios que se ti~ham acusado na
27 de Junho de 1308: setenta e dois tem-plá- sua. presen~, coisa que o rei de F'ra.:n~ lhe
ri()S com·parecem diante do IJ8_;pa Clemente V~ pedía: a Igreja nao conoontia na condena~o
O Tei de Frang:a, continuando a mantee a. sua de penitentes; · esses templários ,~CQD.ciliados»
guarda. sobre os bens da Ordem, ·a ceitara entre- · deveriani ser considerados como pecadores
gar as pessoa.s, tal como já tinha prometido. awependidos.
As deposi~Oies sao op:ressiv.as para á Ordem do I~o en.tanto, rom a continuagao, Olemente V
Templo. No entanto, o · es.tudo atento dos inter- dever1..:a fa.zer concessoes sobre concessoes: r€S-
rogatórios revela que, entre esses ~plários tabe1eceu o inquisidor Guillaume de Parr'is e oo
entregues ao papa pelo rei, nao se encontra seus con.frades ; em seguidat decide instituir em
nenhum dignitário; sao, sobretudo, beleguins 1 cada diocese comiss0es destinadas a efectuar,
muitos dos quaís haviam abandonado a Ordem rea;lmente, o ·p rocesso eclesiástioo dos Templá-

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140 RIJJGINE PERNOUD
08 TEMPLARIOS 141

rios - n1as aceitando que as pessoas dos ac."USa- primeira testemu:n?a:' um ~omem cha:mad? Jm.n
dos ·p erm·a:neQam a guarda do reí, apesar dos Melot, cujas: ·p ropos1tos d1s·p a.r ata.J.os ~1:ªº que
protiestos precedentemente fuitos. seja considerado como simp1es de esp1irrto. No
As ·comisooes. ·eclesiásticas deviam ser insti- mesmo dia comparece Huguies d·e Pa:iraud, que
tuídas em todas as. d:ioceses; funcionavam sob se limita a declarar que nao tem nada a acres-
a ·a utoridade do bispo e a:;.te devia ser assistido
por dais cónegoS1, dois mon:gies. pr.egadores, doiis
centar as s:u•a s depüSÍQOOO precedenties.
26 de N ovembro de 1309: o mestre da
frades menooes; ·m as es:ba decisao, tomada em Ordem, Jacques de Molay, comp,ari~e perante
12 de Agosto de 130·8, seria posta em exeeu~ao os comíssários; ora, quando lh·e e lida ·a depo-
oom uma 1e xtrema lentidao, pois foi ·preciso si~ao que fiziera em Chi~on, em ~o· de Agosto
passar ma;is de um ano paira que a primeira de 1308, diante dos tres. c.ardea1s,_ de1~gados
dessas comiss5es come~~e a funcionar. pelo papa, este manifesta o nuis violento
8 de Agosto de 1309: ·a primeira oomissao espanto:
ecl€S'iástica de FranQa abre as suas sessOes em.
Pa.ris, no Mosteiro de Santa Geno·v eva. É, qua.se O mestTe, f.azendo duas vezes o sin.al
exclusiva;mente, compostJa ·p or bispos dedicados da cruz diante do seu rosto, e por outros
a .oau.s·a do r.ei, entre os qua.is s·e encontram sinaiis pa;recerndo pretender que estava
Gilles Ayce1in, arcebispo de Narbori..ne (ministro comp1etamente estup~f·acto p~lo _que €S-
da Justi~a do rei, antes de Nogaret); Guil- tava contido na dita conf1ssao [ . . . ]
laume Durand, hispo de ~lende; Guillaume dizendo [ ... ] ·q ue se os sie nhores comis-
Bollil!et, :nomeado1 :por intervengao do rei no Bis- sários fossem o·u tras pesS'oas a quem
pado de Ba.y eux, e quatr-0 outros prelados, mais fosse permitido ouvi..;lo, ele diría, ele
obscuros. mes·m o, outra coisia [ ... ]
A atri·b uigao confiada a essas comissoes
pontifica:~s era essencialmente in.quirriT da culipa- ·N esse día. aos membros da comissao t;inha-se
bilidade do Templo, por conseguinte, ouV'ir todos juntado Gu.Íllaume de Plaisia~s ~ «nao . por
os que d esejass.e m d epor, a favor ou contra a ord€lm. d0s di:tos s:enhores co m:1ssar1os», como
1

Oroem, mas unicamente a título de testemunhas, está expressamente mencionado no processo


nao de acusados. Ora, as cita~oes que elas enviam verbal. Exorta o mestre a nao «Se perder
levam mais de dois meses a serem transmitidas sem rausa»; J ·ac.ques de Molay solicitou uma
aos interessados.. Os. comissáirios. deverao cha- moratória, que lhe foi conce~ida. Quando vol-
mar a 1ordem, entre outros, o hispo de Paris, tou a comparecer, no dia segu·mte, 28 de Novem~
Guillaume de Baufet, e insistir para que os tem- bro, no momento em que ia comeQar a sua
1

plários que se encontram. presos sej:a:m autori- doo1ara~ao, ·alguém fez a sua eint~3:da na .s ala:
zados a comparecer debaixo de bo-<t guarda, Guillaume de Noga1"et. A sessao i rlta continu~
para depor <liante deles, se est€s o desej-arem. na sua. presenga, mas Jacques de Molay d-ever1a
Só no dia 22 de Novembro é qu€1 aparece a J:i:mita~-se a alguns vagos protestos, recordando
142 14:3
~GINE PERNOUD OS TEMPLARIOS

as beleltas das cerimónj:as religú.osag que se A d espeito d0g obstáculos, os Ten:i:pl~rios


1

efectuava.m ina ~dem, as €Smolas que re-cebiam, ccms.eguiram orgamizar a. su.a defusa, e ~esigna­
o 1s.angue vertido ·p ar.a deferder a f é crista. rara quatro delegados ~ lhes·. set"V'lTem de
A :res·peito da quaridade 0013Sa fé, ele declaxa rporta-voz: Renat1d de ProVJ.ns, Pierre de Bou-
que «~ua.:rido a alma iestivesse separada do cor.po · logne, Guillaume de Cham.bonnet ~ Bertran~ de
se ver1~ q1~em era bom, e quem era mau, e que Sartiguoo; redigem ~a dec:lar-a.gao, que amda.
todos f1car:1am a saber a verdade sobre as ooi- se conserva, e constitui um :eloquente razoodo
sas que estav.am prooen.temente ein questao». !p0;ra a ~esa da 0Td€1lll.:
Entre os dois i'.nterrog:a.tór.ios. do mestre
efectuou-se o interrogatório do comendador d~ ·Se os freires do Templo disseram,
Pa~, ~ 111a ~hampru1ha, Ponsard de Gisy; a dizem ou viessem a di~ no. futuro, - .
depos11Qao f:e1ta l?~r este é acusatória qu.anto enquanto se oonservarem na pnsao, seJa
1

ª?3 ·procesrs oo util1zado.s. para com os Templá- o que for contra eles, ou oontr·a ª. Orde1~
r.1:os; deooreve as torturas de que foi objecto do Templo isoo nao traz 'I.>~eJ~ .a
7
(u.m dos torci<0nários, no caso dele, e~a «Floy- Ordem acima citaida, porque e no"t:órl?
ran ...de Béziers») e decla-ra que «s.e o tornassem. que fala.ram. ou falaráo fur~ado.s ou obr1·
a . ;por 11~ ~ort~a negaria tudo o q11e esta.va a gados ou subornados pelos pedidos, pelo
dizer e d1r1a tudo o que qu-isessem». No. entanto, dinheiro ou pelo IOOeio ; e declara.ro que
em ~ ?-~ Noviembro de 1309 o rei, :a pedido dos
1 0 prova;ra.o €m · tempo e ~1ig·ar quiamd.o
~m1ssar100., autorizav.a os b·ailiu~ de R·o uen, de usufruíre.m de urzna ple:nia liberdade [ ... ]
GISors e de Caen a mandar a Paris, debajxo Eles pedem, suplicam, requerem que ~m­
d-e boa g-uarda, os t-e.m:plários que desejassem. :pre que act0s sejam examinados ne-n_hum
tomar a. defes·a da OrdenL laico esteja presente ou ipossa ouvi-loo,
6_ de Fevereiro de 1310: a com.issao pontifieal nem nenhuma outra pessoa de cuja hones-
r~~111da no1r~entie .recome~a com os interro.ga.- tidade se possa duvidar com razao [ ... ]
tor1os; o numero de templários que cleclaram
quer~r c:omparecer e defender a. Ordie.m aumenta Evocan1 os terrores que a tortttra causa e
con~~d-eraveI;nente; no dia 28 de M¿:\.TQ'O ooguinte admira-se que se de mais crédito aquel~ q~e,
~r1f1-ca,r-se-a que quiv_bentos e quarenta e seis
pai"'a a evimem, f~eram todas ~ conf1ssoes
~mplários pedir.am para testemunh:ar. Esse
que lhea foram ped1das, do que aquel€s, que,
1

numero,. no dia 2 de Maio, já terá passado


1
«como mártires de Cristo, morremm nas tor-
par~ qu1nhei1too e s·etenta e .t res. A1gT1mas decla-
ra~s, como a de Laurent de Beaune conren-
tui!'.as para. ma.ntér a vepiade ( ... ] e que [ .. ·]
dador de Epailly, atestam as ·press.Oes 'cl:-ectua- sofrera.m e sofrem ainda, cada . d~a que passam
das, especialmente sobre aqueles q.ue foram na pri.sao, tantas .tortu~, sofrimen.tos,. tribula-
presos em S·ens, ·pava. oo, exortar a. perseverál"
1 goes, angústias, incomodidades, calamidades. e
nas suas oonfissooo. · misériaS [ ... ] »
144 R~GINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 145

Por fim, fazem notar que, fora. de Fvaz.i~, mente :extorquidas. No diia s1e guinte, , f~a. d~
nao se encontrou nenhum f:re.irre do Templo que P·aris, rp erto da porta de Sainto A:ntomo, fm
<lissesse ou aipoiasse as «mentiras» proferidas erguida un1:a fogueira sobTe . a 1~1ll~ eles mor-
contra a, Ordem. flfl...ram, ipT'.oc~aa.nando ;a sua ·moce:i:-c1~. Os que
"' Por conseguiLnte, ·a. defesa do Templo esta:va haviam ·persis~cidolfl!as rsuas ~onf ~soes foram
a organizrur-se e, a.os olhos. d.Os comissários «!'1€'CO[}CÍ'liados» e postos em hberdade.
eclesiásticos, tumavai un1 novo aspecto. ·13 de Ma:io de 1310.: a comissao pontifical
. 10 ·d e Mwio de 1310: oo delegados da Ordem !..,eton1a, as. suais sessoes,_ A primeira testeniurtha.,
do Templo. pedem aos ·C omissários, que se reúq Ainieljr de V:i lliers-le-D·uc:, lanQa:~ ao~ joelJ_ios
1

:nai.m., sem perda de ten1:po, 1para os oovirem, dos; ·COOl!issá:rios; na vés1per:a, ass1st1fi.a a partida.
tendo tido conhecimento de. que havia sido convo- dos seus ir:maos. '(~Olil:denadOSr a fogueira. e S Uplica
1

cado um •oo..ncilio iprovincia.1, parra o dia seguinte, a'0\9 1comissários. que nao ~rrevelem as, gentes do
em .sens. Orra1 Fi.l i1pe, o Belo, acab ava de fazer
1
reí () que re le va:i dí.2Jer ; com ef.eito, r~ra1cta_-s:e
eleger, paria o Arcebispado :de Sens, o irmao do de todas :a.s; ·c onfissoes, que lhe hav:1am s1do
seu favorito Etnguerrand, Philippe de Marigny; arra;ncadas. 1pel!a, tortura, inas receia nao poder
este vai passar a desempe:nhar . U m papel de
1

of€tl""ecer resisrténcia, se .ttver de s:e r qure imado;


p.rimeira importa:ncia no d·e senrolar do processo.
C\q delegados da Ordem do Templo suplicavam sen.te que :confessairá o que lhe_ diss·e rem paira
confessa:r e que «·a té c•onfessar1a ter morto o
aos comissários que convidassem o arceíbispo
Senhor, oo lho pedissem».
de s ,ens. a nao tomar nenhu·m a decisao a1ntes de
o . inquérito que estavam a fazer tivesse ter- A 'Partir daí os trabalhos .da. 'C?n:iss_ao de
..,
m1naao. inquérito em·m reconhecidos , 1c~o· :nutets; ~
1

Uma 1interven~ao dos CDrmissários talvez comissários tentaram ·u ma t 1m1da. 1mtiervenQao


ti:v€Sse inflectido tod.o o 1pDocesso; mas o que junto de Philippe de Marign,y , ·q11e se reicusou
os presidia, ·o •arcebispo de Na;rbonne, G.illes a deixM" comparecer un1 dos delegarlos da
Ayoolm, esquivou-se; na tarde diesise mesmo dia, defesa detido na sua província, Renaud de
1

os outros •comissários limitaram-Eie a decl~rar Pro;vin:s. O·u tro desses delegaidos, Pierre de Bou-
aüs delegados da Ordem que os las.t imavam, logne, viria a; d~~pare?er nos mes¡es que ~e
mas que nao podiam razer nada por el1es1, seguiram.. A eom1ssao,. nao1 po<J:endo fazer n.ada,
No día sieguinte, 11 de Ma:io. de 1310" o ficoiu adia1d a 1para o¡ d1·a 3 de N ove:r1bro'. En~r~­
ooncí1io provincial :r:eunia-se 1em ·S ens, sob a t;am.to, supu:nha.- se· que se :ef.ectua~11a º' 1co~c1l10
presidencia de Philippe de ~Iarigny, ·e cornde- que o papa hravi'.a; decidid? :re~r em ~I~na,
nava a marte cinquenta e qua'"i.,ro templários, nesse ano' de 1310; :m as vár1<0s :ad11~entos 1r1a1~
como «rielapsos», isto é, como heréticos I'feinci- i!lltervir de tal maneira que o cornc1l10 se reun1u
dentes nos set1s crimoo, depois de Os terem oom u~ runo de atraso. As deposiQ~es, q:ie, ~
abjurado; efectivamente, eles haviiam negado as
1 seguida, foriam reco~hidas pelos ·~om1ssar1os s,ao
«oonfissoes » q1te lhes tiiil'haim sido precedente- quase todas 1proven1entes de frea:r€S e tambem

Saber 164 - 10
146 R2GINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 147

de beleguins. das províncms de Reims e de Sens, reúnam, para designar um procurador"?


cujas decllaragOes. sao conformes as confiss5es Ou, ainda1 é o papa que deve designar um
precedentemente rrecolhidas. Renega.ram Ortlsto defensor, por dever de ofício?
com 1pa:lavras, nao cor.a o cora~áo; orrd€1Illair3ID1-
1

·1hes que es:cia-rrassem sobre a ·c ruz, eles escar- O voto dos c2,rdeais foi claro: todos., «salvo1

raram ao lado, etc. Nenhuma das testemunhas cinco ou seis que pertenciam ao oonsclho do
que se havia,m of.erecido para a defesa, !Ilas pro- :rei de Fran~a», · como o nota um observador
vínciiais maJis :af.astJadrus, rfoi ouvida. O· i:nquérito dffise t empo, pediám que os templárioo. fossem
da icomissao ecl·esiástica foi declarndo enoorrado, admitidos: '.a defender-se. Ess·a res.posta sem
em 5 de Junho de 1311, no decurso de uma a.n1biguidade só podia embaira.~ar o pontífic~;
confierencia que se reali~ou na abadia de Y...a:u- quanto 'a"O rei, este encontrava-se retido, nesse
buisson, perto de Pontoise, em presenºa do uei. momento, por vários assuntos, entre os quais
16 de Outubro de 1311: o prupa Clemoote V o: seu eonflito com o conde Louis de Nevers.
1

a;br.e o concílio em Viena, :n a catedral. Aos A d ecisao foi 1adiada para mais tarde.
padres reunidos em concí·l io fv~am oonrun~carlos 17 de F evereiro de 1312: urna delega~ao das
1

os resultados dos in:qué:ritos eC'leStiásticoo, assim gentes do reí faz ·a su.a. entrada em Viena.; nela
como os: iinquéritos. ciiVis; eram os. furi:oos ver.a Nogaret, Plaisi3.:ns, Etnguerrand de Marigny
documentos sob:re os quais podiam deliberar, e a1guns conselheiros. laicos d.e Filipe, o Belo;
·p ois é de notar que ·a s. 1perquisig6'es: efectuadas estas gentes iri1am ter encoin tros quotidianos
aquando da detenQa0 dos 'Turnplários. nao hiaviam
1 corn os quatro cardeais franceses: ....\rnaud de
fom ecido rnenhuma prova de culpabilidade. Pellegn1e~ Amalid de Cantelorup, Béreger Frédol,
Por outro lado,. sete templáriios e~ em. N i:colas de mauville e um cardea;l italiano,
1

seguida, roa.is dois, a:pres!e:ntara:m-se declarando favocável ao rei de Fmn~, Arnaud Novelli.
Eim segtrida, esta delega~ao regressou a. Macon,
que queriam defender a Ordem; o papa oonten- onde se insta11ara o riei; depois, Mar~gny voltou
tou-se em m a:ndá-los prender. Aliás, o rei rproi-
1

so.ziITTho e, a, partir daí, parece ter desempenhado


.
b ira. qu e se ·i evlass·e m a v·tena os dig.m.t.<U~Ios
·+.t:. -~·
u;m paipel preponde:rtante entre o rei e o concilio.
1

da Ordem .q ue oontinuavam enearicerados. No dia 2 de lMarQO F'ili!pe, o Belo_, entregava-lhe


Nos principios de Dezembro, o papa reunia uma carta que exigia a aboli~ao da Ordem do
os padres do concíJio, -p ara !hes :DazJer quatro ".Demplo e a transfierencia dos seus: bens ·p ara
perguntas: outra ortleim d e cav·w laria.
20 de Margo de 131.2: o rei Filipe, o Belo,
Deviemos COil:Oeder defensores a Ordem apries:eni:a-se, em pessoa:, em Viena, seguido de
do Templo1? Devemos aeei.tar a defesa um 1grande cortejo.
of.erecida pel'Os nove templários que se 22· de 1viar~o de 1312: e.m consistóri,o secreto,
apresentaram? Ou entao, podemos per· Clemente V faz aprovar a supressao da Ordem
mit~r aos 1nembros da Ordem que se do '.Demplo, pela bula Vox in exce'lso_,· o t~..rto
148 RÉGINE PERNOUD 149
OS TE!;!PLARJOS

. .
desta ·b ula ~ conden.a ta Ordem, mas invoca o
1
Ora, no 1nomento em que se enunciava esta
bem da Igre~a, para pronunciar a. sua supressao. sent-en~, fo~"'ll vistos erguer-se Jacquea de
_2 ~e, Ma10 de 1312: A bula Ad p;Y>vúiaan Mola.y e Geoffrcw de Cha:rnay. So1enemente,
a.t:11?u1 a Ü!r'dem do Hoopital c-s be:ns rl.os Tein- pera.nte a inultidáo que, se reurJ.ra, ·p rotestaram,
planos. decla:r~ando que o único1crime que lraviam come-
. E conhecido o epí~ogo d:este s·i nistro prO"...,es-
1 1
tido fora o de se terem :p restadora fazer falsas
so, ~l~ente y ~btivera ~ que desejava. no 1
confissoes. para salvareim a vida. A 0 rdem era
q11~ diz11a resipe1t~1 a devolu~ao d.os befos. (Fi·l ipe, santa, a Norma do Templo era sainta, justa. e
o Bew, esse, t:en·a. querido - ipelo que ·p arece - catól'i100.. Nao ha;viam. cometido as, heresias. e os
qUJe ess€S bens foosem. ·pos.tos a disposigao da pe001das que 'lhes atribuÍ!aJil.
Ter:ra San.ta, t.:alvez ·crl.a1ldo urna, nova ordem No próprj.o dia fo,i _preparada. uma fogueira,
1

t3:1 como Ihe: sugeri:ra o seu cons.ell1eiro--legistia:


1
pe:rto d-0 ja:rdim do· 1palácio, a·p roximadamente
1

P1eI"l"~ D·u~is). No que se refieria as ·p essoas,


1

no local em q.ue hoje se encontra - quando se


ele nao se ~1nha. fi!"eocupado. No dia 6 de Ma;io vai para o Pont-Neuf - a estátua de Henri-
de 1.312 oraena1ra aos co·neíilios provincia.is que quie IV. Os dois -cond.e:rrados subiram para o
oont1nua:ssem. os sieus ·processo.'31, re.~ervaindo-se estrado, onde s·e eneontrava a. pil"a rnessa mesma
·n ovamente; o dos dtgnitários. No dia 22 d~
1

tarde. Pedil"étm para ficar de cara v-oltlada para


Noveln:bro d~legava os sieus poder~ ·em tres Notre"'"D1aime., cla;maram rr1ais urna. ·vez a sua
cardea1s: N icolas de Fréauville, Arnaud de . .
1.l""'locenc1a e, diante da. multidao iparalisada de
"'

espanto, morrera!fn com 'ª maris tranquila


Auch e Arnlaud NovelH:, que, como já se viit
eram ~b~olutam·ente ?'edic.3:d?s ao reí de Fran~:
1

coragem.
Es.tes 1r1am ·p ronuncrax publica.mente a su.a sen-
tenga, em 18 de Mar~ de 1314.
N<:> adro da Igreja de Notre-Dame de París
fo~~ 1ns1t.ala?-<? ~ cadaifalso. Mandat"am vir os '
qua-ero d1gn1tanos: J ·a cques de Moh~~y, o mestre
da Oroem; Hugues. de Pail"aud, vis itador de 1

Fran~a; Geoffroy de Cbarnay, precept.or da Nor-


ma:ndia, e Geoffro:y,. d~ Gonrnevil1e, preceptor do
~01tou e da Aqu1tan1a. Os tres cardeais, que
t1nham ~· sieu laido o arciebispo de S·e ns Philippe
de Mar1gny, enunciiaram a sentenº3- definitiva
que os con1den•ava a 1prisao ·per-pétu-a. :B'altav·am
du~ "personagens.:. Gui:llaume de Nogaret e
Guill~ume de P1'aIS1ans, ambos mortes ·:no 3,no
anterior, um em Abril e o outro em Dezembro
1

de 1313.

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CAPITULO VII

OS TEMPLARIOS
PERANTE A POSTERIDADE

O ·p apa Cllemen.te V deveria vir a morrer


aJP€'Il3S ummes depois da morte do mestre do
Templo, na tnoite de 19 para 20 de Abril de
1314, no castelo· de Rv·quemaucre, cujas ruinas
amda dominara o viare do Ródamo. Filipe, o Bew,
esse, iria ter um ataque de apoplexia no dia
4 de N ovembro do mesmo. a:no ·e mOl"J'le!.r pouoos
di.as depois, a 29 do mes.m o mes, com quarenta
e· set.e anos de idade. Estas duas mortes suces-
sivas iriam 'impressionar a popuJa~ao e dar
origem a lenda de J~cques de Molay, citando
em juízo,. um e outro, para comparoecerem. den~
.. de seis meses. no tri!bunal de Deus.
Simples lenda, a qual - seja dito, de pas-
sagern - se opüe urna realidade mais surpreen-
dente que qualquer fic~o, pois, reflectindo· bem,
as circunstancias que envolvem a mort~ do
papa, assim 1como a do rei, sao menos trágicas
que o epilogo desse po!lltificado: os setenta runos
passados pelo pa;pado em A viignon, sob a tutela
mais ou menos efectiva,, do :poder temporal - e
o epílogo desse reinado: o desa.par.ecimento, em
menos de treze anos, de toda umia; linhagem
q~, desde havi·a ma;is. de tl'!ezentos •a nos. (o
mesmo tiempo que decorreu entre a morte de

••
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152 - REGINE PERNOIJD 08 TEMPLARIOS
153

..
H·en:riq·ue IV a.té a guerra de 1940) vi:a o her~ die urna oroem totalmente corrompida, prati-
~ei~o leg~timo suceder a seu pai, s~m qualquer cando colectivame11te tais horrores, _tenh~
mterrup~alO. De resto, o •runo de i314 ficou assi- ·podido abwlar toda a cristandad;e.. · ~ao ha
nalado na histó·r~a, por .out.ro caso, o mais tene- dúvi:das de que as oom·t~óe.s ip~tif1e~lS· cons·
broso, talvez, desse reinado cheio die processos, tituídas. nos outros ·p aises nao :re\joJherom
de a.cu.s1a~0es infamai.--ites. e de denúncias : o pro- nenhuma dess•as ac~O.es l•evantada.s contra os
ces1s10 de adu:ltér1o· dws tres noras do rei diri- Templá.l"ios e..'7!1 Frn.n~a: ·houve :apenas uro. tem-
gido pelo próprio rei e ipel!a su.a filha :Ísabef, ·pláirio, em lnglaterra, que se acm;?u de ªJ?OS~
aquela a que O..lj Jin·g1eses a:pelidam 'ª Lob·a de sia. Mas 01 facto de a OT1dem ter sido,_supnm1~a
Frain~a. Poderá dizer-se que,, ttanto em matéria pe~o p~pa - q~e a deveria . ~er d...efen~1do - ~a~
de proces:sos co1no em matériia de moeda:s, deixar11a, por 1sso de susc~ta:.r ~us·p~tas, sobr
1,

I~1ipe, o Belo, :i.mwginou tuJdo. as quais t!'laba:lh3:1"am_ ais 'unagina~oes. , .


S·ab~se que, pouco tempo depois da morte E ,69sas imag1·na~oes. rt1•aba1~a:am. ate aoo
do rei, 0 seu favorito·, Elnguerrand de Marigny,
1
nossos dias, o que deu origem _a mc:r1vel1~·ent-e
era enforeado no cadafalso de Montfaucon (30 grande quanti<dade de a;lega~oes funta~1osas,
de Abril de 1315); ern,.. el•e que havia substituído
1 atribuindo aos 'remplários todos os espter1smos,
os N ogaret ie os Plaisians. 1e se tornara o exe- dos mais antigüs aas mais vulg~, :todas as
cuto~ d~ ord~ns do rei. É ~tranho pensar que varlaJntes. 1de conhecimentos de .ªl!l~un;.a ou ~e
'º propr101 Mrur1gny tenha. fe1t:O· rudoptarr a últilna magia, todos os 1prooessos de :l:Illcta<}aO ou a.e
acta de Fi;Iipe, o Bel.o, que é, também., a pri- afiliaQ-aO, já exiisteDJtes ou a_ v-iir-em ~?'
.meir.a disposigao ll'leal que af-asta. :a s raparigas todos ess:es «S:egredas» ·q ue ial1mentam. urna ru.1s1a
d? direito de s·u cessao ao :trono - essa disposi- de mistério inerente a natureza. h~~a. e q11e,
~ao que, quando retrocedemos, na. história, :revela por uma espécie de vin~ga 'i:nst11I1t1ya, nunca
ter s~do o ·p relúdio das guerras f:mm:co-ing~esas
1
·p arece m;ais confirmada do que nas ~as. ~
do seculo .XIV. Se houve um reinado que teve que se parece rejeitar tudo o q~e parec1a .miste-
consequ·encias frun:est·as, f oi certamente o die rio: lembremo-nos. de que fo1 (J:lo temJ:?O de
FiJi1pe, .o Be"lo! l)esca.rt;es que os: ·processos de ..~ ~
O processo dos Tem.plárioo, no· f.iim de con- 1nultiplicaram; que f oí . nos . princ1p1os do se-
.t as, nao· foi nern ma:is vil no que se reiLere as culo xv1n - século rac1onal1sta-; que nas.ceu
acus~~es ievanta:das, nem mais brutal - nos a f:rarri..ieo-magon:aria.; que o nosso ~ulo ~cien~
mét~o~ que se iempre~ar.am -- que o do1 papa tífico é também 10 século da prolife1:'a.~ao das
Borufac10 Vlll, o de Gmchard, ·h ispo de Troy.es., seitas e de uro. renascimento do ocultismo, etc.
{:>U q:u e o das. próprias noraJS1 do rei; mas devido Os Templários, a Ordem d•o 'll~pl~, ~f~e­
a sua amplitude e ao número, assim como a ceram naquela época, um repertór10 t.tlfnnta-
mente' sed.utor paira o espírito, podemos m~o
-
pemona11.idade
. . daquelies.. que atingia, a sua reper-
ieussao VITLa a ser mu1to ma;is· ¡pro.funda. E c'O!Ill- oonsiderá-lo oomo um conjunto d~ v:ei~e1!I"OS
prende-se que ·a impressáo senrtida.. com a ideia esquemas de estruturas, compairaveis aqueles
lM R2GINE PERNOUD OS TEMPLARIOS 155

que, num plano evidente.mente mui:to elemen- ser - com as maiores probabilidades - atribuí-
ta.r'1 ·a s obras de Rudyaird Kipling oferecera.m do.s a.os prisionei:ros tem.plários; uma simplicís~
ao escutismo. E assim, os companhei:rismos, sima oompaocagao entre os caracteres traQados
que, possivelmente, tiveram inicio no século XIV, e QS cara.c teres supostos te.1~ia sido suficiente
mrBS de que só se enCO!Iltram vestigios oortos. no ·pa.ra eli.rninar o ·e rro; a bela inscri~áo je requiers
sécu;lo xv, ~nvocarao «Segredo» do Templo. Na a Dieu pardmi 1 , as eruzes, as várias person:a-
época a;ctl.l.all amda sao abundantes as oh.ras
1
gens gravadas na pedra sao certamente as
literári~, os arttgos de revistas di·t os «histó- que os prisioneiros pocleri1am ter gravado, na
ricos»., onde se enoontram espalhadas as mais época de Filipe, o Bek> - s001 que, para isso,
espantosas mexeriquices sobre segredos dos seja. necessário prooura:r dar-lhes interpreta-
Templários ligados aos seg:redos da.s piramides ~oes relacionadas com um hermetismo e um
e OOS1Cidos: da mesma inspiragao; nesses artigos esoterismo de pacotilha: em todas .a s paredes
e obras encontm.-se tudo o que caracte-riza os de 1pris6es se encontrara semelhantes traQadOS,
mitos modernoo, do Másrcara de Ferro ao teso.uro que vao do desenho· absolutamente snn.p les:
dos citaros, em Mootségur, iludindo um público quadradoo, rectángulos, egfu'elas, aos rel~
cuja. ccredulidade é ·espantosa, neste século de mais elaborados, sem que se torne necessario
progressos cieDíbífioos, com a mais desconcer- invocax inter.preta~oes mágicas, alquimistas,
talllte n1istura de intrujice, de dogmatismo e de herméticas ou outras! Por que razao nao se
urma boa-fé que chega a ser comov.ente. Muito teriarn eles servido dos seus poderes seicretos,
recentemer1te (1972) , dava-se - numa das tor- esses desgragados templários, impelidos para a
res do castelo de Chinon - a «descoberta» de morte e ques sobre a fogueira, clamaram a sua
grafitos dos 'Tiemplários em condigües ta.:is que
1
inoce,ncia?
nao. :havia dúvidas de que 'Q. 8Jutor da «d€S-
1
Mas, de facto·, os grafitos deixados por tem-
coberta» era sincero; mas esse género de sin- plários tem interesse e~ em muii<'JS casos, con-
cer:idade nao é um crité!r io aceitá~el em matéria tribuem para revelar uma mentalidade: a dos
de históri:a e feria sido, para ele, muito mielhor prisioneiros oprLmidos. sob o 1peso de acusia~oes
a aquisi~ao d e alguns conhecimentos ipaieográ- injustas; ·e é o que se evidencia nos grafitoo
1

ficos, através dos quais se teria apercebid.o de q11e foram. desoobertos na torre d·e Domme, 1:-º
que os caracteres que , supunha discemir no Périgord, por P.-1vf. Tonnelier 2 , onde, at:r:aves
ca1cário rter,J'."()! e 'b astante esboroado do interior de i1nscri~oes vingatiivas. ( Cle'l'rU3ns destructor
' ' da .t orre do Oouldriay nao podí:am, de modo Termpti)7 crucifixos muito belos, anjos apoca-
nenhum, ter sido tvagados no · 'início do sé- lipticos, os templários clama;rn a tnjusti~a do
.'
culo XIV, época iem que .o s :templários lá esti- seu destino e o 1Calvário por que passa·m .
veram encerradoo~ Nes:te caso, o eingano ainda
s:e toma.va ma;is surpreendente, ·pois já mvia 1 Pego perdáo a Deus. (N. da T.)
muito tempo que tirn.ham sido d€SCober.rtos, na . 2 A.rohlx>k>gm., n .º" 32-33, Janetro-Fevereiro e :M.a.r<;o-
mesma to1tre, uns grafitos que, eSses., pod.em -Abtil, 1970, pp. 24-37 · e 22-23.
OS TEMPLARIOS 157
• 156 RJJJGINE PE.Rl!-JOUD

E ssa e, que e,. a, h"'1s1:.oria~ e e ae SU!par que o


.1:. ,, • , '.'f air'lriscam a vida, w,nto mais q11e, no que !hes
d iz res:peit<)', n.ao existe· esperam.~ :nenhu..m.a de
acturul interesse -pek=i arq11eo·í ogia. :permiti1rá des-- seren1 resgat8.rlo s \por dli1.heJiro; sao rfrassaora-
1

oobrir a;inda ,n 1uitas i.n:scri~oes. verídica,s,, em d-0s, impiedosamen.te. Urna cena trágica, narrada
vez de «:seg:redos» i'1usó1.rios e «tes 0 1.i1·00» qu:trn.é- 1
com todos os porm.e11ores por A1-Isfal1ani 1,
rico&! !1. contribui~ao !.d e tai.s d.es.cobertas s eria ro.a.rea, des:t a :rnañeira., rpa.ra ·eles, o epílogo de.'Ssa
i'Il!finitam.ente preciosa para ;;1 h:ist<~ria, e es 1
jornada. de Hattin, que viu, em 1187, a perda
investigadoTes apaixJ01n1adf>s nao t ar<l.a.rianl a de J erusalém_. A sua 11au."\f'aQfüo ·mostra-rnos Sala.-
1
compreender que é iesse o «tesiou.iro» a. ·des.cobrir., dint) mandando q_ue lhe fossem trazidos os
.u.as exploraQoes metódicas - :tanto dos locais de
1
templários. e os 'hospit~lários ·cativios, e di.zendo:
detenga.o. co.:mo:, ma.i s simpleS'rnente, 11as nume- «Eiu rpu,rificarrei ·a terra destaJs, duas ord~ns
rooíssiimias. 1oomen<lad.ori~~ dos Te:n1ipláriost de imm1das.» Promete urna recompens.a de c1n·
q11e :ainda subsistem a.Jgu:ns ve.stígi1osi.
quenta dinares a todos aqi:eI:es que ~.prr~ei:t~­
H-0je 1E-m di:a. já nao oo tarn dúvidas de que sem um prisi·oneiroJ t-emplai·10 ou l1os:p1tala:no.
essa:s pesqu1iisa__~ r.a:etódica.s, aliás já empree-ndidas
1 1
:UJgo em seguida,, os soldaid0s apresentarn .cen-
ou áJeabadas com res.ulta.d-0, e-m várias. l!."legioes, tenas d€·~es ; ele dá OT'.dem. para q_ue ()S decap 1tem 1

nao chegam. para ·elucida1~ 'CO:J ]'lpletamente


?'l!"'ii
O que
,, • e :a ssis.te, ·pessoa.lm-e-nte,, as exec·ugo·es: «0 seu
perma.:nece obscm~o, no ip rocesso d oSi l. emp1ar1iQs. ro1s:bo estav·a sorri:d ente; [ . . . ] qu·amtias ·I'\ecom- ·
Pia ra r1o:s resium.i·rmos ·a.o que os documentos pensas durado·u ras., ac;rescenta o· narrador, em
históricos nos dfüo a •conhecer, é 11ec-essáriio farer 1
tro,ca do, sangue que derira:mou ! »
mn. r egresso ao1 p.r:'IBs•a:do, a fim de .'T.errific8..,!", ivlas - e aqui comega para o historia~or
. d e rrta1s.
antes . naua, º' que o.s prapr1-0s
,;l ~ , '
coJ:11..e~~ . .
4 'VY\
p

a ambiguidade dos factos - desta mesma JOr-


poran<B'OS; dos Te:m plári1os peai,<3avam des.tes.. na1da de Hátti.n, º' responsável erra 10, mestre do
Em pi~imeir-o lu.gar, 100 seus a.dversários, ess{..>s
1
Templo, Gérad de Ridefort e, o que ainda é
mu~Ulm&.rios qu·e eles comba:tera:.m. Or:a, a es.tima
menos iexplicáve1, foi ele 0 ~nico .a ser ~um
1

que! 1estes tem. nao deixa d.úvida.s: «Üs ~,avale~:r:_os pa1do; e .¡nuito m:a is : :a sua rat1tude, em _s1e~1da,
1

eram 11omens. ,pi,edosos, q11e a.provavan1 a f11de~ iJD.citando as guarni~oes que ainda res1stiam a
lidarle á pala.vra dsrla», afi:rma. füu...ai!~Atl1ir, q_u e render-se, faz que pesem :sobre ele pe.-sadas
declara. que a gara.ntia dada ·p elo Templo era sus:peitas. Parece ·n3.:o restarem dúvi,~as de qu~,
suf1cioote 'f>al'3J a. :ei;:'{ecu~áo, dos tvatados efectua- pelo :rr11enQs .n este c:aso, tenha h3;v:do conlu10 1

dios entre re1.¡isitáos e ¡¡_nu~u 1l1na-n0:s. ; Orus:aa:n.a, egse com Q1 inim.-igo, ou, ·p:e lo m·e nos, tra1Qao recon.he-
t:amibém, presta homenagern ao seu espirito de cida p1or !parte do ·m estre da Or-dem.
tolerar1cia e declara que os Templários reservaª
v13:.m. ¡no .seu te:rritório; em Jerusalém, urna mesd
quitá. o.n de os. mu~uiJm.a.nos podiam. orar ~.1vTe­
mente.. i Récits d'lmad-ad-din Al-Isf<thani (11$5-1201) , tra-
Quanto a sua, eoragem., eia é moontest.áviel. duzidos -e publicados por Henri ].fassé, Geutlmer, 1972,
pp. 28'-29.
Todos Os texnplários em. coro.bate sabe.ro.. que

http://alexandriacatolica.blogspot.com
158 RfiJGINE PERNOUD OS T E MPLARIOS 159

De resto., os seus oontemporaneoo :náo se e pode conceber-se ql1e a opiniáo pública, no


deixara:m iludi!r pela ·p essoo d€Sse reles ca.va.- séoo:lo XI!II, nao tenha sido fa.vm.-ável aos Tem-
leiro, levado pelea sentimentos mais ignorados plários; os ri~ai~ d€StBS benef~ciavam, ~el~
na cava:l.a;ria: cobi~ e vinganºa. Enquanto nao menos, da reputagao que lhes valia ~ activi-
dispuserm0s de out.ras fontes. de inform.a~ao, da;de hospiWeirra, que eles in:unca d·e ixa:ram ~e
somos obrig-ados a ·considerar a personagem exercer ·p ara com os peregr1n0s doentes, alei-
b.aseando-nos no que dela se escreveu no tempo jados, v.elhos:, que recolhiam. Er.a muito fácil,
em que viveu, isto é l'Estoire. d'Eracws. E -esse dadas as ·actividad€S de ibanqueiros a que se
re1'ato, emboT'a critiqu·e d.lIDamente o mestre, nao entreg·a vam os icava1eiros do: 'Demplo, a.cusá-los
est abelece quallquer liga~ao entre a causa des.te de serem orgufl.hosos e •avia!'lentos também.
e a ·causa da 0Tdam.. No entanto, ás ·prim.eiras acusa~oes, formu-
M. Melville faz-nos judiciosamente notar o ladas de maneira c~ara, vem do im·p erador F'.re-
modo como, depois do mestrado de Bertrand derico II. Qltalildo J•erusalém, que ele supusera
de Blanquefort, · se ib.tr oduziu o costume de reCU1perar atriavés. de um sim:p les tratado e pela
escolher como mestre do Templo um homem sua ructividade unicamente diplomática, foi per-
exterior a Ordem, tendo já desempenhado, por dida em ·1244, a nece.ssidade de encontrar uma
exemplo, altas fun~oes no reino de Jerusalém, de justifim~o para si mesmo leva-o a atribuir a
preferéncia a cavaleiros a:rr1adurecidos na obser- responsa;bilidade desta .segunda perda..ªos Tem-
vancia da Norma. E era esse o caso de Gérard de plários. N•a carta qll;e escrereu a Richard ~e
Ridefort e de vários dos seus antecessores, tal Cornouailles, irmao do ..rei de In9"l~terra,. opoe
como Eudes de Saint-Amand 1. Semelhante costu- «a Ordem orgulhosa» dos Templarios ao . c?m-
me, gerado, talvez, pelo desejo de melhor garantir portamento· dos Hospitailári0s e doo Cava~eiros
a influencia da üroem perante o poder secular,
1
Turutónicos que havi'3JI!l tomado o seu partido, e
1

vir~a rmlmente a dar origem a lastimáveis


1
prossegue:
erros.
O facto de que Jerusalém, urna vez perdida, A tal ponto que, como iss·o nos foi
náo tenha podido ser recuperada, vai tffi" um
1
apres·e ntado de maneira evidente, par
grande .p eso sobre ·a fam.a das o\rdens milita.a~. alguns rcligiosoo vindos ao nosso encon-
Que os Templários e os HospitaJ.ários, em vez tro d:as regioes de :além-mar, os. Tem-
de se uniTem para a causa comum, tenham plários :receberam nos claustr~ · da su.a
estado divididos, chegando a. afrootar-se pelas
1

morada os sultOes e os seus homens, CQm


a:rmas, isso tornava-se absolummente intolerável
solícitas honrarlas, e cumpriram as su.as

supemti~,. invocando Maonié e entre-
gando-se a despesas digna~ das gentes do
MELVILLE, pp. 102 e seguintes. Ver, também ,
1
sé.culo. Nada póde impedi-los de cometer
neste trabalho as e!ta~oes de outros contemporAn.eos,
• como Guiot de Provins, etc. o perjúrio [ .. . ]
160 RJJJGINE PERNOUD 161
08 TEMPLARIOB

Sao essas mesmas acusa~oes de que Guil- isso nao é ·u m tm~o


especial dos Templários:
laume de Nogaret tirou partido e que irao rea- em todas as ordens religiosas, a Norma só é
pax-ecer sob· Filipe, <> Belo., a.gravadas nas pro- comurn:icarla normalmente, aos postulantes; em
~Oecs. indis¡pensáveis ·p ara ·o ontria eles obter a todas elas iambém.,
o segredo do· 00.pítulo, urna
1

~º~ e acompanhadas .p or alguns a'CI"é& extensa.o do segredo da oonfissao, ·p arece nor-


cimos. Entre estes, há alguns que sáo inoons- mal embora a Norma do Templo tenha., talvez,
cientes, •00Illo o «Seg-.cedo da N·orm..a», O'U «O iíns~tido nesse ponto, sem dúvida 1por causa dos
ídolo chamado Baphomet»; este último termo dissenti.mentos e das violencias que poderiam
nao pa~·a de uro.a deforma~ao da pa;laV1"'a ter feito germinar, nesses homens de armas,
«Mahomet». Thtá atestado em vários textos:, a revelagao dos erros ou desobediencias reve-
entre outros, no famoso sirventes 1 Ira· et lados no capitulo.
dolor, poema em lingua de oc, eomposto por Quanto as outras acusa.~5es enume:ra~as no
um tem.p lário ainó11imo após: a perda de Arsouf,
1
,
acto de detenQao e nos diferentes ·m anifestos
em 1265, no qual º' ipoeta brada dol1oros1amente: que se sooederam durant~ o pr?C;~' nem
sequer resistem a observagao: saicri.leg1os, blas-
. . . ja nuJ, kom que en J ezu Ckrist creza f émias faltas de respeito de todos os géneros,
N an remartr.ra, s'el tpot~ en est paes.; consti;tuem o repertório habitual dos processos
Etfl.11>~ fwr.a baf omairia
instaurados durante o reinado de Fili·pe, o Belo,
Del Mostier de Someta Maria e dirigidos por Gui.:llaJume de Nogaret. Ne:;se
1

repertório notara-se ·alguns ·~elent0s de cata-


o que .e quivale a di.zer que, ·de uma igreja rismo, especialmente no sent1mento de horror
dedicada a Virgem, far-se-á urna mesquita 2 • pela cruz, e também no horiror pela m1:1lher, de
Recordemos também 10 Je'u. de Sa1mt-Nicolas, no que é testemunha a acusagao de sodom1a; s?-be-
qool, aliás contra todas as veroades veligiosas, mos como os puros cátaros estavam sub.metidos
s.e ve um mu~ulmano a adorar «llnl Mao1mé com a severas penitencias se, mesmo por madver-
1

chif.res» . Ess·a assimil1aQao de Maomé a. um tencia tiv.essem tocado, ·a o de leve, numa


ídolo, tal como · a deformagáo do termo ern mulher; -
' estas, pwa a prooriaQaO, eram. . auxi- .
(<Baphomet», faz parte do folclore da época. liares do deus do mal, criador do ~verso
Quanto ao segredo da Norma., eom a inter- natural, cuja destruigao os cátaroo deseJavam.
di~o de revelar o que se ·p assou no caipítulo,
Apenas a lguns histo~a~or€S q?~ defendem
encarnigadamente a ·m emoria de F1l1;pe, o "f}e_lo,
dao crédito as acusa~Oes de que os. 'Tiempl~os
1 Poema prov·en~al. (N. da, T. ) fora.m vítimas. Um exame, mesmo superf1c1al,
!? Nenhum homem que creia em Jesus Cristo con-
tinuará a viver, se for p ossível, neste país. Do Mosteiro do ;processo das pec;as actualmente publicadas
~ Santa Maria váo fazer a «baifomerie» (ou «maome- nao ·n 0s deixa dúvidas nen.humas sobr~ 'ª ques-
ria» ). Paul MEYER, Recueü d'anoiens textes bas-latins tao: todas as confissoes forrem extorqu1~ .pela.
et proveriQaux, Pai"'is, 1874, p. 95.
tortura; e essas confissoes - excepto inf1mas
Saber 164 - 11


162 R:SGINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS 163

excep~óes - só se obtiveram e·m Franga 1 • Se é Estudos mais a.profundados poderiam faoor


poosível que a:lguns templátri0s tenham sido ressaltar o papel desempenhado por est~ ou
corrompidos, ess·e s casos s6 podem ter sido aqueta personagem, rugumas delas sem equívoco,
i:nuito raros; mesmo os documentos a¡presen- como Floyran de ~iers,. que encontramos como
tJadoo para os acusai:r decktram que as aeusag0es primeir'o aeusador e , em s eguida, como torcio-
sao provenientes de poucos e de «homens de nário; outros, como Hugues, de Payraud, mere-
muito pequen1a condigao para desencadeairem ceriam um re st udo muito atento. ESse. visitador
um processo .táo grave». A própria ordem de de FranQa mantém liga~Oes estreitas como rei;
detenga.o diz que «·t odos os !freires nao o sabem» é ele que actua, a;quiando da transferencia do
(a ·p ropósito da cordazinha de que se cingem t€SOuro do Templo do Louvre ; rrecebe,, de Filipe,
e que teria, precedentemente, SI.ido deposta o Bew, em 1303, urna oo:rta de protecgáo ¡para
sobre o «baphomet» ! ) . Mgumas d estas ccmfis- si próprio e para a sua ordem. O rei chega
sóes pariticu'.larmente ci.r eunstanciadas puderam, a indemnizá-lo com urna importante quantia
neste caso, ser sincern.s., mas em:anam, i.nvaria- (2000 marcos ) , pela qual se havia, impruden-
velmente, de ·b eleguins oo de personagens adm.i- temente, responsabilizado. Um templário, Mat-
rtidos na Ordem há pouco tempo ou que a rein- thieu de Arras, declara que nos princípios de
teg:raram, depois de a terem deixado. Outubro de 1307, 1p or conseguilnte cerca de
Em qualquer das hiipóteses é de noúrur que, quinze dias antes da deten~ao, Hugues lhe teria
entre as vítimas da acusagao, unicamente seres confi:ado que a Ordem iestava «difamada», a.cres-
inocentes teriam de temer a justiQa do rei. Os cent:ando «que ·ele, se lhe fosse ·possíviel, salvarla
que oonfessavam sem terem sido submetidos a o seu corpo»~ As suas oonfissües estao tre1Cheadas
tort~a e declaxavam ·p edir a a;bsolvi~o eram de ponnenores, e vários beleguins que 3!CUS'a m
considerados como pecadores «•reconciliados». o Templo da. mameira mais vil, referem-se espe-
Em contrapartida, os que, após t erem confes- cialmente a Hugues de Prui·r aud dizendo que foi
sado soba tortura, negaV1alm o que ha viia1m con- ele q.u e os «admitiu» na Ordem. Enfim, no
1

fes~a.do, caíam. s.ob o rigor dos costumes inquisi- momento em que dois d0g dignitários, o mestre
toria1s, que ex1g1am que o rela:pso f osse entregue e o comendador da N oMDJandia, sacrificara a
a autoridade secular e condenado como pecador
1
vida para declarar a inocencia da Ordem, ele
empedernido - geralmente qu·e imado. próprio e o comendador da Aquitania perma-
n ecem silenciosos: tinham. «salvo oo seus oor -
pos». Nao se pode deixar de s upor que Hugües,
i Nós P.róprios h a vía mos emitido ~ há já alguns sem ser for~siamente culpado, ten.ha s ido man.o-
anos - • a h1pótese d e um «Templo negro», culpado e brado constantemente pelo r ei ou pe1as suas
responsaveil do processo dos Templários. Um estudo
mais atento dos documentos leva-nos a pensar de outra gentes e ten.ha obedecid o doeilmente as suas
forma: se esse «Templo negro~ existiu, realm~nte nao ordens eX1pressas.
deve ter tido muitos a deptos: A inocencia da tota.IÍdade Também nos podemos perguntar em que
dos Tumplários náo pode deixar dúvidas. medida. as crumplicidades deste género teráo
,

......... a
164 R2GINE PERNOUD 08 TEMPLARIOS
165

facilitado a deten~.?. maci~, que permanece segunda. inteng[o financeira, na deten~o dos
bas:tan-te ·p ouoo, ~pl1c1ta, sem algumas ajudas TempláTios, tanto. oomo ia l~ta que ~ ~
oot1~~ ~'ª propria Ord.em do Templo. Uma obter que os bens destes seJam submet1d0s a
conf1denc11a como a de Matthieu de Arras, fil- guarda dos. seus oficiais, an:~ d~ serem retm.ns-
trando ~través dos prooossos verba.is, a.pesar das mitidos a «Outra ord.001», mdica bem a sua
iprooaugoes tomad:as para apenas deixar relamr segunda inten~ao. Aicontece que o pwpa Cle-
o .que pudesse justificar as acusa~ do rei, mente V esta.va, tanto romo o rei, interes~o
ev1denc1a que, pelo menos, alguns dign.itários n0s bens do Templo. E bas~te contrariado
estavam ao corriente da operaQao. que, fina;lmente, o rei se inc~ma. perante a
. Os, ~tim0s estudos sobre o processo dos decisao do concilio e consente que esses bens
Templan.os tendem a minimizar essa for~ que sejam. entregues aos Hospitalári?S. , ~tretan't.?,
lhes era, geralmente, atribuída e que, pelo se.m fala;r na v·e nda dos bens imov01S, hav1a
menos,na. . EU:ropa, nao er-a uma forpa mi·l itar .·
'::{
recolhido as rendas dos domínios dos :remplá-
pouqUissimas. das comendadorias dos Templários rios durtante cinoo ou seis anos. É ·poostvel que
c?mportam fortificagoes; tem um carrácter pací- tivesse esperado receber mais. Assiste-se ao
fico, r.ural, o que, efectiviam.ente, pode em reaiparec.imento da má moed.a .em 1310-1~~:
grande parte e~licar a facilidade com a qual um expediente foi, por consegumte, ne~r10
as gentes. do re1 puderam operar. para taipar esse 3:bis1!1? que sao as .fman~
P<;>r fi~, :1 man·e ira pela quaJl. operariam rnao reais, no· tempo de Fi~1pe, o Bek>. Mas a boa
pernnte duvi1das sobre o móbil, que naco foi moeda rea;parece em 1313.
talvez
. . o. único - . mas foi, icert:amen.te' um dos E depois desta da.ta que <:ºm~~ a entrega
prmC11pais: a oobiQa de Filipe, o Bek>7 e o desejo dos bens do Templo aos Hoop1talanos, em con-
de se apoderar
. dos bens que ele estimava, tal- di~oes que, por veres, ·pa>recem ~íceis e que
vez. super~o:esi a~ que r~ente eTaan. Segundo parecem ter sido, pouco satisfutórJJa.S. Podemos
.
Os mventar100 fe1.tos, ver.1f1ca-se, ef-ectivamente, perguntar-nos se esses «tesouros. do TemJ?lO»
q~e .m wtQ1antes de ter sido declarada a supres- hipotéticos, que excitaram a cobi~ do rei. e,
sao do Templo, os bens móveis das comendado- em seguida, a cobi~a nao menos . agu~ do
rias ha.viam. sido vendidos em proveito do rei · papa, nao terao continuado a. ex:c1tax ~ ima-
es~ observa.Qao fum, muito judiciosamenu; ginagoes atl"avés· dos tempos., proporcionando
feita pelo editor d0g inventários da Comenda- aos pesquisadores. decep~Oes que se pod~. com-
dor.ia de Pa~r.ns. Que 'O' produto dessas vendas. e parrur as que tiveram aqueles que benef'lciaram
"
·p or !consequenc1a,. o provel:to. tenha sido iínferior' com a aJbol1igao da Ordem. .
aquele 9ue o. rei haviia esperado, é provável. Por outro la.do, é evidente que a cob1~
Mas ate o cmdado que ele teve ao introduzir do rei nao é a única ~azao que ;p rovocou a dis-
- nas suas circulares d~ 8 e de 12 de Agosto solu~o da Ordem... Parece nao restarem dú~?as
de 1308 - urna fórmula que extorquiu a chan- de que, ao destruir a Oro~ d~ ~mplo, Fill!pe.
celaria pontif1ca1., =pam o inocentar de qualquer o Belo, alfirmava já essa tendenCJ.a ao ~bsolu-
1
http://alexandriacatolica.blogspot.com http://alexandriacatolica.blogspot.com
JACQUES DE VITRY, principalmente em Analecta twvi8-
8ima sp4cilegii Solesmen.sis de J .-B. P ITRA, n, pp. 405-

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. 1

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