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PORTUGUÊS – 9º ANO

Auto da Barca do Inferno


1. Título: itálico ou sublinhado: no Auto da Barca do Inferno / do Auto da Barca do Inferno
Auto: termo usado na Idade Média para referir uma peça de teatro, sobretudo de assunto religioso.
Nota: A obra foi representada em 1517, já no Renascimento e não na Idade Média.

2. Argumento (resumo da ação): após a morte, as almas dirigem-se a um cais, onde se decide em que barca (do
Inferno ou da Glória) viajarão, de acordo com o seu comportamento em vida.

3. Tem como objetivos:


fazer refletir sobre a conduta na Terra e sobre a condenação ou salvação da alma após a morte;
expor e denunciar os vícios (defeitos) da sociedade;
divertir o público, apresentando situações e personagens cómicas.
» "Castigat ridendo mores" (o riso castiga os costumes) - expressão de finais do séc. XVII sobre a sátira,
que se costuma citar a propósito desta obra: através do riso, da ironia e do ridículo, podemos apontar
defeitos da sociedade e corrigi-los.

“Segundo lá escolhestes / assi cá vos contentai” (cena do Fidalgo) – De acordo com o modo como procedeste
em vida, terás o castigo ou a recompensa.

4. As personagens são, na maior parte, personagens-tipo, isto é, representam um grupo social ou


profissional. O Diabo e o Anjo são personagens alegóricas, pois representam os conceitos de Mal e Bem.
Existem, também, figurantes. Esta obra é considerada uma alegoria, já que representa noções como a salvação ou condenação
das almas, o Bem e o Mal através de elementos concretos (um cais, duas barcas, personagens…)

5. As personagens fazem-se acompanhar de símbolos cénicos (adereços, figurantes), que se associam ao modo
como procederam em vida, constituindo elementos de acusação. Por outro lado, ajudam os espectadores a
identificarem as personagens.

6. A acusação das personagens é construída com base:


» nos símbolos cénicos;
» nas palavras das próprias personagens;
» nos argumentos do Anjo, do Diabo e do Parvo.

7. Processos de cómico – técnicas usadas para provocar o riso.

» de caráter: o caráter (personalidade) é divertido ou ridículo; está presente, sobretudo, no Parvo e no Frade, mas
também no Fidalgo (pela vaidade e arrogância), no Sapateiro (pela personalidade grosseira), na
Alcoviteira (por se mostrar uma vítima e ser demasiado amável)…
» de situação: as personagens colocam-se numa situação inesperada e divertida ou ridícula
» de linguagem: o uso das palavras leva ao riso; por exemplo, os trocadilhos/jogos de palavras, a ironia, os termos
obscenos ou grosseiros, os insultos, as pragas rogadas pelo Parvo e pelo Judeu, o discurso sem nexo do Parvo,
os termos depreciativos (naviarra, cortiço, zambuco, traquitana...), o latim macarrónico (inventado) na cena
do Corregedor

8. Síntese por cena


O mais importante, em cada cena, é saber:
 o que representa cada personagem (e, no caso do Parvo, a sua função)
 os símbolos cénicos e o que representam
 o destino
 a intenção crítica

0. Preparação da Barca do Inferno – ambiente agitado e festivo; otimismo e confiança do Diabo; interjeições,
repetições, frases curtas, frases exclamativas, frases de tipo imperativo, uso dos demonstrativos (apontam para
diferentes espaços) – ideia de dinamismo, rapidez, emotividade, entusiasmo…

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PORTUGUÊS – 9º ANO

1. Fidalgo (D. Anrique) – nobreza


» símbolos cénicos: pajem (exploração do povo, tirania); “rabo”/manto e cadeira (poder, vaidade, arrogância)
» argumentos de defesa: deixa em vida quem reze pela sua alma; estatuto social
» argumentos de acusação: vida de prazer, sem se preocupar com a salvação; os antepassados tiveram esse
destino; tirania, exploração e desprezo pelo povo; vaidade, arrogância
» processos de cómico: de linguagem (ironia do Diabo, insulto ao Anjo em “Que giricocins”); de situação (o
Fidalgo confunde o Diabo com uma mulher, insulta o Anjo antes de obter resposta, recebe remos para remar na
barca do inferno, pede para regressar à vida quando percebe o seu destino, descobre pelo Diabo que a sua
mulher e a sua amante não eram sinceras nem fiéis) e de caráter (a vaidade, arrogância e ingenuidade do Fidalgo
chegam a ser cómicas)
» percurso cénico: D  A  D: Barca do Inferno
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à vaidade, arrogância e exploração do povo, sobretudo por
parte da nobreza.

2. Onzeneiro (aquele que pratica usura, isto é, que empresta a juros imoralmente elevados)
» representa a burguesia ligada à atividade financeira
» símbolo cénico: bolsão (usura, ganância, ambição).
» argumentos de defesa: o bolsão está vazio; tem dinheiro para pagar a entrada na Barca
» argumentos de acusação: mantém-se ganancioso, ambicioso; dava maior importância ao dinheiro; praticou a
usura; tem o coração cheio de pecados
» processos de cómico: de linguagem (ironia do Diabo) e de situação (o Onzeneiro pretende ir buscar dinheiro
para subornar o Anjo)
» percurso cénico: D  A  D: Barca do Inferno
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à ganância, ao enriquecimento ilícito, ao materialismo e à
corrupção, sobretudo por parte da burguesia ligada à atividade financeira.

3. Parvo (Joane) – pessoas simples e sem maldade


» símbolos cénicos: não possui, já que não tem pecados graves (NOTA: o funil é uma ilustração do manual, que
não existe na obra!).
» argumentos de defesa: Joane não se defende; o Anjo refere a simplicidade (“simpreza”) e falta de maldade
» argumentos de acusação: (não são apresentados)
» processos de cómico: de linguagem (termos depreciativos, como “naviarra”, “zambuco”; insultos e pragas
contra o Diabo, termos obscenos), de situação (pergunta se entra na Barca de pulo ou de voo; explica os problemas
intestinais que o levaram à morte) e de caráter (é uma personagem cómica, que revela algum atraso mental)
» percurso cénico: D  A: Cais (à espera de mais passageiros para o Paraíso; deste modo, pode ir comentando a
passagem de outras personagens; no fim, talvez entre na Barca)
» função do Parvo: além de o Parvo mostrar que aqueles que não têm maldade embarcarão para o Paraíso, esta
personagem irá, em cenas posteriores, expor defeitos e pecados de outras personagens, como o Frade, o Judeu e
o Corregedor. Nos dois primeiros casos, substitui o Anjo na acusação.

4. Sapateiro (Joanantão) – artesãos desonestos


» símbolos cénicos: formas (isto é, fôrmas de sapateiro) e avental (representam a sua profissão e a desonestidade
ao exercê-la, roubando o povo)
» argumentos de defesa: morreu confessado e comungado; assistiu a missas, rezou pelos defuntos e deu
esmolas à Igreja
» argumentos de acusação: ocultou os seus pecados na confissão; exerceu desonestamente a sua profissão
(roubou o povo); falsa religiosidade
» atitudes demonstradas: ao dirigir-se ao Anjo, desvaloriza as suas formas, para tornar insignificantes os seus
pecados
» processos de cómico: de linguagem (ironia do Diabo, discurso grosseiro do Sapateiro, trocadilho coser/cozer ao
Inferno)
» percurso cénico: D  A  D: Barca do Inferno
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à desonestidade e falsa religiosidade, sobretudo por parte
daqueles que enganam e roubam o povo.
5. Frade (Frei Babriel) – clero

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» símbolos cénicos: Moça/Florença (imoralidade, quebra do voto de castidade); espada, “broquel”/escudo e


“casco”/capacete (divertimentos fúteis e espírito aguerrido); hábito e capelo (pertença ao clero).
» argumentos de defesa: pertença ao clero; paixão e virtude; oração; importância social
» argumentos de acusação: vida mundana, de prazeres; imoralidade
» características: alegre, bem-disposto; hipócrita (não segue os princípios que defende); cavalheiro; cortesão
(com comportamentos próprios de um membro da corte)
» processos de cómico: de situação (dança, aula de esgrima…), caráter (é uma personagem divertida, com
comportamentos cómicos e inesperados), linguagem (ironia do Diabo)
» percurso cénico: D  (A – mas é o Parvo quem responde)  D: Barca do Inferno
NOTA: O Anjo não participa nesta cena, já que as suas críticas ao clero seriam bastante incómodas para a época.
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à imoralidade e à vida mundana do clero.

6. Alcoviteira (Brísida Vaz) – alcoviteiras, aqueles que exploram a prostituição


» símbolos cénicos: Moças (proxenetismo, isto é, exploração da prostituição); objetos ligados à sua atividade
(prática do proxenetismo e falsidade, fingimento, mentira).
» argumentos de defesa: já sofreu castigos físicos em vida, forneceu raparigas ao clero, melhorou o nível de vida
das raparigas que explorava
» argumentos de acusação: imoralidade
» características: mentirosa, hipócrita, bajuladora (elogia o Anjo apenas para obter um favor), vaidosa
» atitudes demonstradas: vitimiza-se, elogia o Anjo e trata-o com proximidade; o Anjo não argumenta e
simplesmente manda-a embora
» processos de cómico: de linguagem (discurso demasiado carinhoso, ao dirigir-se ao Anjo)
» percurso cénico: D  A  D: Barca do Inferno
NOTA: Nesta cena, o Clero é, também, criticado, já que recorria aos serviços da Alcoviteira. Talvez seja intencional
que a Alcoviteira entre em cena depois do Frade.
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à falsidade, à imoralidade e exploração da prostituição,
sobretudo por parte das alcoviteiras. Também está implícita uma crítica à imoralidade e corrupção dos costumes
da sociedade em geral, principalmente do clero.

7. Judeu (Semifará?) – judeus


» símbolo cénico: bode (representa o judaísmo e a recusa em converter-se ao cristianismo).
» argumentos de defesa: não pretende ir para a BG, mas alega possuir dinheiro para pagar a viagem para o
Inferno
» argumentos de acusação: o facto de professar o Judaísmo; desonestidade (o Parvo acusa-o de ter furtado o
bode); desrespeito pelo cristianismo (profanação de sepulturas, incumprimento do jejum)
» características: materialista, vive em função do dinheiro e pensa que ele pode comprar tudo; recusa a religião
cristã
» atitudes demonstradas: o Diabo demonstra, desde o início, aborrecimento, pois o Judeu é um passageiro
indesejado, o que revela desprezo pelos Judeus; o Judeu mostra-se desesperado e acaba por ficar extremamente
irritado ao ver que não o aceitam no Inferno. Logicamente, uma vez que recusa o Cristianismo, é o único
passageiro que não pretende embarcar para o Paraíso. Assim, o Anjo não participa nesta cena; Joane insulta o
Judeu e acusa-o de práticas contrárias à doutrina cristã
» processos de cómico: linguagem (duplo sentido de “cabrão”, pragas rogadas pelo Judeu e termos obscenos)
» percurso cénico: D: a reboque (“à toa”) da Barca do Inferno, com o bode “na trela”
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica ao desrespeito pela religião cristã e apego ao dinheiro,
revelados pelos Judeus.

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8. Corregedor e Procurador – poder judicial, Justiça, tribunais


» símbolos cénicos: “feitos”/processos (burocracia, isto é, o excesso de papéis e de processos que atrasam o bom
funcionamento da Justiça; corrupção); vara (poder, autoridade); livros (erudição, conhecimento, sabedoria).
» argumentos de defesa: (Corregedor) aplicou sempre bem a justiça; era a mulher quem aceitava os subornos
» argumentos de acusação:
 Diabo: corrupção (aceita subornos), parcialidade na aplicação da justiça (favorecia os mais poderosos);
 Próprios: não confessaram os seus roubos, logo não estão verdadeiramente arrependidos (o Procurador,
porque não contava morrer tão cedo; o Corregedor, porque tinha medo de ser obrigado a devolver o
dinheiro recebido ilicitamente);
 Anjo: praticaram o mal, apesar de serem “filhos da ciência” (isto é, a sua cultura e sabedoria deveriam
levá-los a agir de modo correto e dá-lhes maior responsabilidade)
 Joane: corrupção (aceitaram coelhos e perdizes)
» papel do Procurador: esta personagem secundária surge para que, durante o diálogo entre os dois, o público
ouça o Corregedor a admitir a sua corrupção
» atitudes demonstradas: inicialmente, o Corregedor procura valer-se do seu estatuto social e retirar autoridade
ao Diabo; após as acusações por parte do Diabo, do Anjo e de Joane, acaba por aceitar o seu destino
» percurso cénico: D  A  D – Barca do Inferno
» recursos expressivos usados na cena: o Anjo usa a ironia não com um fim cómico, mas para realçar a gravidade
dos pecados
NOTA: As cenas mais longas são as do Fidalgo, do Frade e do Corregedor, o que leva a crer que Gil Vicente
pretendesse reforçar a crítica social às classes mais poderosas.
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à corrupção por parte dos representantes da Justiça.

9. Enforcado – criminosos condenados à morte


» símbolo cénico: talvez o “baraço”/corda (representa os crimes pelos quais foi condenado à forca)
» argumentos de defesa: teria já pago em vida pelos seus crimes (prisão, morte por enforcamento), o que,
segundo Garcia Moniz, seria suficiente para ir para o Céu
» argumentos de acusação: (não são apresentados, talvez por ser evidente a sua culpa)
» características: talvez ingénuo e influenciável; confiante
» percurso cénico: D – Barca do Inferno
» intenção crítica: Nesta cena, é efetuada uma crítica à prática de crimes graves
NOTA: Nesta cena, torna-se claro que, qualquer que seja o castigo em vida, não é suficiente para salvar a alma, se
não houver um arrependimento genuíno

10. Cavaleiros – aqueles que lutam e sacrificam a vida pela fé cristã


» símbolos cénicos: Cruz de Cristo, espadas, escudos (luta pela fé)
» argumentos de defesa: são mártires; morreram a combater por Cristo
» argumentos de acusação: (não são apresentados)
» características: desprendidos de bens materiais, defensores da fé
» atitudes demonstradas: mostram-se firmes e confiantes, ao passarem pelo Diabo. Entoam um cântico dirigido
ao público, que contém a moralidade da obra: a Barca do Inferno deve recordar-nos que a vida eterna depende
do modo como procedermos na Terra.
» percurso cénico: D  A – Barca da Glória.

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