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GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
E LÍQUIDOS
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3 INTRODUÇÃO
5 UNIDADE 1 - O crescimento das cidades – causas e consequências
8 UNIDADE 2 - Resíduos sólidos urbanos – RSU
8 2.1 Definição

8 2.2 Classificação

11 2.3 Acondicionamento

11 2.4 Recolhimento

SUMÁRIO
12 2.5 Coleta Seletiva e os “R’s”

13 2.6 Tratamento
16 UNIDADE 3 - Resíduos dos serviços de saúde – RSS
17 3.1 Coleta, tratamento e destinação

19 UNIDADE 4 - Resíduos sólidos industriais – RSI e resíduos das construções civis


19 4.1 Geração, classificação, tratamento e disposição

21 UNIDADE 5 - Resíduos Líquidos


24 UNIDADE 6 - Poluição Sonora
25 UNIDADE 7 - A legislação e o plano de Gestão Integrado E Sustentável De Resíduos Sólidos Urbanos – GISRSU
33 UNIDADE 8 - Os aspectos epidemiológicos, sociais, econômicos e ambientais dos resíduos urbanos
39 REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO

A globalização, por um lado facilitou a impressão de que lixo é algo sem valor, sem
vida das pessoas, já por outro ângulo, pro- importância e que deve ser jogado fora. Ain-
porciona, a cada dia, o consumo exagerado da hoje, muitas vezes, o lixo é tratado com a
dos mais variados produtos aliada ao au- mesma indiferença da época das cavernas,
mento da população e aglomerações nos quando o lixo não era verdadeiramente um
núcleos urbanos, ou seja, nas cidades, trou- problema, seja pela menor quantidade ge-
xe problemas ambientais e consequências rada, seja pela maior facilidade da natureza
diretas para a vida das pessoas, tais como em reciclá-lo. Entretanto, em tempos mais
carência de saneamento básico, poluição recentes, a quantidade de lixo gerada no
nas suas mais diversas formas, conflitos de mundo tem sido grande e seu mau geren-
uso do solo, inadequação na localização de ciamento, além de provocar gastos finan-
atividades especializadas, etc. ceiros significativos, pode provocar graves
danos ao meio ambiente e comprometer a
Todos esses fatores levam a gestão ur-
saúde e o bem-estar da população.
bana a ser complexa, exigindo entre outras
posturas, respostas técnicas a partir de pla- É por isso que o interesse em estudar re-
nejamentos urbanos pensados com muito síduos sólidos tem se mostrado crescente.
critério e seriedade, integrando os aspec- O assunto tem se tornado tópico de deba-
tos ecológicos, econômicos e sócio-cultu- tes em diversas áreas do conhecimento e
rais, além, é claro, de incorporar a dimensão sua importância crescente se deve a três
política no enfrentamento dos problemas fatores principais:
do meio ambiente e do desenvolvimento
1. Grande quantidade de lixo gerada – de
urbano.
acordo com dados de Brown (1993), a pro-
Dentre os problemas mais graves surgi- dução de lixo pode variar de aproximada-
dos e enfrentados pela sociedade contem- mente 0,46 kg/hab./dia, em Kano (Nigéria),
porânea, encontramos a crescente produ- a 2,27 kg/hab./dia, em Chicago (Estados
ção de lixo urbano, quer seja ele sólido ou Unidos). Segundo Caixeta Filho (1999), o
líquido, proveniente das residências, das índice per capita brasileiro está em torno de
indústrias, das construções ou dos servi- 0,50 a 1,00 kg/hab./dia;
ços de saúde. É preciso entender toda a di-
2. Gastos financeiros relacionados ao ge-
nâmica dessa produção para desenvolver
renciamento de resíduos sólidos urbanos,
medidas cabíveis na solução dos problemas,
de acordo com Brasil (2000), no Brasil, em
caracterizando os resíduos e seu acondicio-
média, os serviços de limpeza demandam
namento, coleta, transporte, tratamento e
de 7% a 15% do orçamento dos municípios;
destinação final, enfatizando, obviamente,
os aspectos sanitários e ambientais envol- 3. Segundo Cunha e caixeta Filho (2002),
vidos. impactos ao meio ambiente e à saúde da
população, a destinação final, inadequada,
Segundo Cunha e Caixeta Filho (2002) o
dos resíduos, pode levar à contaminação do
próprio significado da palavra transmite a
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ar, da água, do solo e à proliferação de veto-


res nocivos à saúde humana.

A literatura sobre os resíduos urbanos e


toda a problemática urbana é enorme, ex-
tensa e até mesmo um pouco controver-
sa. Esta apostila pretende compilar os re-
sultados de alguns estudos sobre o tema,
apresentando os conceitos pertinentes,
mostrando as causas e consequências do
crescimento das cidades, a legislação e o
plano integrado e sustentável de resíduos
sólidos urbanos e os aspectos epidemioló-
gicos, sociais, econômicos e ambientais de-
correntes da grande produção de lixo.

Salientamos que o assunto não se esgo-


ta e que as referências ao final da apostila
têm muito a acrescentar. Boa leitura!
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UNIDADE 1 - O crescimento das cidades –
causas e consequências
Quando o assunto é planejamento urba- (2008), atualmente, muitos fatores inter-
no, principalmente planejar pensando em ferem nesse ciclo, comprometendo a qua-
um futuro melhor, precisamos levar em con- lidade das águas urbanas, pois desenvolvi-
sideração o poder ou a grande capacidade mento e o crescimento das cidades geram
que o ser humano tem em construir e des- o acréscimo da poluição doméstica e indus-
truir tudo aquilo que a sociedade constitui. trial, propiciando o aumento de sedimentos
e material sólido, bem como a contaminação
Neste sentido, a cidade tanto se cons-
de mananciais e das águas subterrâneas.
titui em condição para o desenvolvimento
econômico, como também é resultado do De modo geral, os problemas ecológicos
desenvolvimento, que tanto pode caminhar são mais intensos nas grandes cidades do
num sentido positivo quanto negativo, con- que nas pequenas ou no meio rural. Além da
centrando riquezas e pobrezas. poluição atmosférica, as metrópoles apre-
sentam outros problemas graves:
Especificamente no caso do Brasil, e dos
países em desenvolvimento, essa questão Acúmulo de lixo e de esgotos, boa
da geração de resíduos em ambientes ur- parte dos detritos pode ser recuperada
banos atinge contornos muito graves, quer para a produção de gás (biogás) ou adubos,
sejam os resíduos sólidos ou líquidos. mas isso dificilmente acontece. Normal-
mente, esgotos e resíduos de indústrias são
De acordo com Ambiente Brasil (2008), o
despejados nos rios. Com frequência esses
desenvolvimento das cidades sem um cor-
rios perdem toda sua fauna característica
reto planejamento ambiental resulta em
e tornam-se imundos e malcheirosos. Em
prejuízos significativos para a sociedade.
algumas cidades, amontoa-se o lixo em ter-
Uma das consequências do crescimento ur-
renos baldios, o que provoca a multiplicação
bano foi o acréscimo da poluição doméstica
de ratos e insetos.
e industrial, criando condições ambientais
inadequadas e propiciando o desenvolvi- Congestionamentos frequentes,
mento de doenças, poluição do ar e sonora, especialmente nas áreas em que os auto-
aumento da temperatura, contaminação da móveis particulares são muito mais impor-
água subterrânea, entre outros problemas. tantes que os transportes coletivos, muitos
moradores da periferia das grandes cidades
O desenvolvimento urbano brasileiro
dos países em desenvolvimento, em sua
concentra-se em regiões metropolitanas,
maioria de baixa renda, gastam três ou qua-
na capital dos estados e nas cidades pólos
tro horas por dia só no caminho para o tra-
regionais. Os efeitos desta realidade são
balho.
possíveis verificarmos sobre todo aparelha-
mento urbano relativo a recursos hídricos, Poluição sonora, provocada pelo
ao abastecimento de água, ao transporte e excesso de barulho (dos veículos automoti-
ao tratamento de esgotos cloacal e pluvial. vos, fábricas, obras nas ruas, grande movi-
mento de pessoas e propaganda comercial
No entanto, segundo Ambiente Brasil
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ruidosa). Isso pode ocasionar neuroses na sene, carvão, etc., nas fábricas, residências
população, além de uma progressiva dimi- e veículos são responsáveis pelo aumento
nuição da capacidade auditiva. de temperatura do ar. Já o aumento dos ín-
dices de pluviosidade se deve principalmen-
Carência de áreas verdes (parques,
te à grande quantidade de micropartículas
reservas florestais, áreas de lazer e recrea-
(poeira, fuligem) no ar, que desempenham
ção, etc.). Em decorrência da falta de áreas
um papel de núcleos higroscópicos que fa-
verdes, agrava-se a poluição atmosférica,
cilitam a condensação do vapor de água da
já que as plantas através da fotossíntese
atmosfera. E as enchentes decorrem da di-
contribuem para a renovação do oxigênio
ficuldade da água das chuvas de se infiltrar
no ar. Além disso, tal carência limita as opor-
no subsolo, pois há muito asfalto e obras, o
tunidades de lazer da população, o que faz
que compacta o solo e aumenta sua imper-
com que muitas pessoas acabem passando
meabilização.
seu tempo livre na frente da televisão, ou
assistindo a jogos praticados por esportis- Nesse contexto, de acordo com Brasil
tas profissionais (ao invés de eles mesmos (1995), os dados levantados no Censo de
praticarem esportes). 1991 apontaram que menos de 64% dos
domicílios brasileiros possuíam algum sis-
Poluição visual, ocasionada pelo
tema de destinação do esgoto sanitário,
grande número de cartazes publicitários,
sendo que, do esgoto coletado nos 49%
pelos edifícios que escondem a paisagem
dos domicílios que são atendidos pela rede
natural, etc.
pública de coleta, 80% não recebem qual-
Na realidade, é nos grandes centros ur- quer tipo de tratamento, sendo despejado
banos que o espaço construído pelo ho- diretamente no solo ou nos corpos d’água,
mem, a segunda natureza, alcança seu grau gerando sérios impactos aos ambientes
máximo. Quase tudo aí é artificial e, quando de vida. O mesmo Censo aponta que quase
é algo natural, sempre acaba apresentando 79% dos domicílios têm seus resíduos do-
variações, modificações provocadas pela miciliares coletados, mas que 76% desse
ação humana. O próprio clima das metrópo- material é depositado a céu aberto, sem
les – o chamado clima urbano – constitui um qualquer tipo de tratamento ou controle.
exemplo disso. Nas grandes aglomerações
Segundo a Pesquisa Nacional de Sane-
urbanas, normalmente faz mais calor e cho-
amento Básico (PNSB), realizada pelo Ins-
ve um pouco mais que nas áreas rurais vizi-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística
nhas, além disso, nessas áreas são também
(IBGE, 2002), citada por Pinto (1999), a po-
mais comuns as enchentes, após algumas
pulação brasileira é de aproximadamen-
chuvas. As elevações nos índices térmicos
te 170 milhões de habitantes, produzindo
do ar são fáceis de entender: o asfaltamento
diariamente cerca de 126 mil toneladas de
das ruas e avenidas, as imensas massas de
resíduos sólidos. Quanto à destinação final,
concreto, a carência de áreas verdes, a pre-
os dados relativos às formas de disposição
sença de grandes quantidades de gás car-
final de resíduos sólidos distribuídos de
bônico na atmosfera (que provoca o efeito
acordo com a população dos municípios, ob-
estufa), o grande consumo de energia devi-
tidos com a PNSB, indicam que 63,6% dos
do à queima de gasolina, óleo diesel quero-
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municípios brasileiros depositam seus re- res a partir da instalação de programas de


síduos sólidos em “lixões”, somente 13,8% reciclagem na cidade.
informam que utilizam aterros sanitários e
Alguns organismos governamentais e
18,4% dispõem seus resíduos em aterros
não-governamentais, nacionais e do exte-
controlados, totalizando 32,2 %. Os 5% dos
rior, têm se preocupado com pessoas, in-
entrevistados restantes não declaram o
clusive crianças, sobrevivendo dos lixões,
destino de seus resíduos.
como veremos no último capítulo.
Essas estatísticas afirmam a grave situa-
Alberguini (2008) cita três medidas ur-
ção dos resíduos e suas consequências que
gentes para diminuir a quantidade de lixo e
decorrem da concentração populacional e
o impacto dos resíduos no meio ambiente
do processo de industrialização que acon-
que são a coleta seletiva, a reciclagem de
tece a partir do século XX, aumentando a
materiais e a compostagem, que devem ser
quantidade de lixo e também mudanças na
realizados de forma integrada, dentro de
sua composição. Ao lixo, que até então era
um programa contínuo, com apoio do poder
formado por restos de alimentos, cascas e
público municipal, de empresas e conscien-
sobras de vegetais e papéis, foram sendo
tização da população.
incorporados novos materiais como vidro,
plásticos, isopor, borracha, alumínios entre Enfim, adensamento populacional nas
outros de difícil decomposição. Para se ter grandes cidades, falta de uma política que
uma ideia, enquanto que os restos de comi- incentive as práticas agrícolas levando as
da se deterioram rapidamente, o papel de- pessoas do campo para as cidades na ilusão
mora entre 3 a 6 meses para se decompor, de melhores condições de vida, igualmen-
o plástico dura mais de cem anos e o vidro te falta de planejamento urbano, levam as
cerca de 1 milhão de anos quando jogados cidades a se tornarem um imenso cantei-
na natureza. ro onde são encontrados todos os tipos de
“lixo” e que, a priori, ou seja, a curto prazo
Segundo Alberguini (2008) o impacto
não tem solução. É preciso conscientização
desse volume de lixo no meio ambiente das
imediata da população em relação aos pro-
cidades é grande. A quantidade de dejetos
blemas decorrentes dos resíduos para que
só tende a aumentar e pode ocasionar es-
as futuras gerações tenham alguma condi-
cassez e esgotamento de recursos natu-
ção de sobrevivência.
rais, poluição do ar, da água, do solo, além de
problemas de saúde pública, devido à proli-
feração de parasitas e surgimento de do-
enças. Nessa esteira, o crescente número
de catadores, que garantem o sustento de
suas famílias com a venda do que é encon-
trado nos depósitos de lixo, é outro desafio
para muitas prefeituras. Diversos municí-
pios tentam reverter essa situação, incor-
porando esses trabalhadores ao processo
produtivo, criando cooperativas de catado-
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UNIDADE 2 - Resíduos sólidos urbanos – RSU

2.1 Definição
líquidos cujas particularidades tornem
De acordo com o Dicionário de Aurélio
inviável o seu lançamento na rede pú-
Buarque de Holanda, “lixo é tudo aquilo
blica de esgotos ou corpos de água, ou
que não se quer mais e se joga fora; coisas
exijam para isso soluções técnicas e
inúteis, velhas e sem valor.”
economicamente inviáveis em face a
Já a Associação Brasileira de Normas melhor tecnologia disponível. (ABNT.
Técnicas – ABNT – define o lixo como os NBR-10.004, 1987)
“restos das atividades humanas, consi-
derados pelos geradores como inúteis,
indesejáveis ou descartáveis, podendo-se 2.2 Classificação
apresentar no estado sólido, semi-sólido
Dentre as várias maneiras de se clas-
ou líquido, desde que não seja passível de
sificar os resíduos sólidos, temos: em
tratamento convencional.”
relação aos riscos potenciais de contami-
Normalmente, os autores de publica- nação do meio ambiente e quanto à na-
ções sobre resíduos sólidos se utilizam tureza ou origem, ou seja, se baseiam em
indistintamente dos termos “lixo” e “resí- determinadas características ou proprie-
duos sólidos”. Para Monteiro et al (2001), dades identificadas.
resíduo sólido ou simplesmente “lixo” é
A classificação é relevante para a es-
todo material sólido ou semi-sólido inde-
colha da estratégia de gerenciamento
sejável e que necessita ser removido por
mais viável. A NBR 10.004/87 trata da
ter sido considerado inútil, por quem o
classificação de resíduos sólidos quanto
descarta em qualquer recipiente destina-
a sua periculosidade, ou seja, caracterís-
do a este ato.
tica apresentada pelo resíduo em função
Segundo a classificação para resíduos de suas propriedades físicas, químicas ou
sólidos que consta na norma brasileira infectocontagiosas, que podem repre-
NBR 10004, de 1987, resíduos sólidos são: sentar potencial de risco à saúde pública
e ao meio ambiente.
Aqueles resíduos nos estados sólido
De acordo com sua periculosidade
e semi-sólido, que resultam de ativida-
os resíduos sólidos podem ser enqua-
des da comunidade de origem indus-
drados como:
trial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços e de varrição. Fi- Classe I – resíduos perigosos
cam incluídos nesta definição os lodos
São aqueles que apresentam pericu-
provenientes de sistemas de tratamen-
losidade ou uma das características se-
to de água, aqueles gerados em equi-
guintes: inflamabilidade, corrosividade,
pamentos e instalações de controle
reatividade, toxicidade ou patogenicida-
de poluição, bem como determinados
de.
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Classe II – Não-inertes minais rodoferroviários, agrícola e resí-


duos dos serviços de saúde.
São aqueles que não se enquadram na
classe I ou III. Os resíduos classe II podem Quanto aos componentes do lixo, eles
ter as seguintes propriedades: combusti- podem ser diferenciados nas seguintes
bilidade, biodegradabilidade ou solubili- categorias: matéria orgânica putrescí-
dade em água. vel; plástico; papel/papelão; vidro; metal
ferroso; metal não ferroso; pano, trapo,
Classe III - inertes couro e borracha; madeira; contaminan-
Segundo Zanta e Ferreira (2006), são te biológico e contaminante químico; pe-
aqueles que, por suas características in- dra, terra e cerâmica; e diversos. Deve-se
trínsecas, não oferecem riscos à saúde sempre explicitar o teor de umidade pre-
e ao meio ambiente. Além disso, quando sente, uma vez que o peso dos resíduos
amostrados de forma representativa, orgânicos é determinado em condição
segundo a norma NBR 10.007, e subme- úmida. No Quadro 1 abaixo, apresentam-
tidos a um contato estático ou dinâmi- -se exemplos de materiais que podem
co com água destilada ou deionizada, a compor cada categoria, observando-se a
temperatura ambiente, conforme teste grande diversidade de materiais.
de solubilização segundo a norma NBR
10.006, não têm nenhum de seus cons- 1 – Exemplos básicos de
tituintes solubilizados a concentrações
cada categoria de resíduos
superiores aos padrões de potabilidade
da água, conforme listagem nº 8, cons- sólidos urbanos
tante do Anexo H da NBR 10.004, exce-
tuando-se os padrões de aspecto, cor,
turbidez e sabor.

De acordo com Monteiro et al (2001),


a origem é o principal elemento para a
caracterização dos resíduos sólidos. Se-
gundo este critério, os diferentes tipos
de lixo podem ser agrupados em cinco
classes, a saber:

1. Lixo doméstico ou residencial;


2. Lixo comercial;
3. Lixo público;
4. Lixo domiciliar especial: entulho de
obras, pilhas e baterias, lâmpadas fluo-
Fonte: Zanta e Ferreira (2006, p. 8) adaptado de Pessin
rescentes, pneus; et al (2002).

5. Lixo de fontes especiais: industrial,


radioativo, de portos, aeroportos e ter-
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Segundo Monteiro et al (2001), em compactada. Submetido a uma pressão de


consonância com a NBR 10.004/87, os re- 4kg/cm², o volume do lixo pode ser reduzi-
síduos sólidos podem ser classificados de do de um terço (1/3) a um quarto (1/4) do
acordo com suas características físicas, seu volume original.
químicas e biológicas.
Características Químicas
Características Físicas
O poder calorífico indica a capacida-
A “geração per capita” que relaciona de potencial de um material desprender
a quantidade de resíduos urbanos gerada determinada quantidade de calor quando
diariamente e o número de habitantes de submetido à queima. O poder calorífico
determinada região. Muitos técnicos con- médio do lixo domiciliar se situa na faixa
sideram de 0,5 a 0,8kg/hab./dia como a de 5.000kcal/kg.
faixa de variação média para o Brasil.
Potencial hidrogeniônico (pH) indica
A composição gravimétrica que tra- o teor de acidez ou alcalinidade dos resí-
duz o percentual de cada componente em duos. Em geral, situa-se na faixa de 5 a 7.
relação ao peso total da amostra de lixo
A composição química que consiste
analisada.
na determinação dos teores de cinzas,
O Peso específico aparente que é o matéria orgânica, carbono, nitrogênio,
peso do lixo solto em função do volume potássio, cálcio, fósforo, resíduo mineral
ocupado livremente, sem qualquer com- total, resíduo mineral solúvel e gorduras.
pactação, expresso em kg/m3. Sua deter-
A Relação carbono/nitrogênio (C:N)
minação é fundamental para o dimensio-
indica o grau de decomposição da maté-
namento de equipamentos e instalações.
ria orgânica do lixo nos processos de tra-
Na ausência de dados mais precisos, po-
tamento/disposição final. Em geral, essa
dem-se utilizar os valores de 230kg/m3
relação encontra-se na ordem de 35/1 a
para o peso específico do lixo domiciliar, de
20/1.
280kg/m3 para o peso específico dos re-
síduos de serviços de saúde e de 1.300kg/ Características Biológicas
m3 para o peso específico de entulho de As características biológicas do lixo são
obras. aquelas determinadas pela população mi-
crobiana e dos agentes patogênicos pre-
O Teor de umidade que representa a
sentes no lixo que, ao lado das suas carac-
quantidade de água presente no lixo, me-
terísticas químicas, permitem que sejam
dida em percentual do seu peso. Este pa-
selecionados os métodos de tratamento e
râmetro se altera em função das estações
disposição final mais adequados.
do ano e da incidência de chuvas, poden-
do-se estimar um teor de umidade varian- O conhecimento das características
do em torno de 40 a 60%. biológicas dos resíduos tem sido muito
utilizado no desenvolvimento de inibido-
A Compressividade que é o grau de
res de cheiro e de retardadores/acelera-
compactação ou a redução do volume que
dores da decomposição da matéria orgâ-
uma massa de lixo pode sofrer quando
nica, normalmente aplicados no interior
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de veículos de coleta para evitar ou mini- evitar acidentes;


mizar problemas com a população ao lon-
evitar a proliferação de vetores;
go do percurso dos veículos.
minimizar o impacto visual e olfativo;
Da mesma forma, estão em desenvol-
vimento processos de destinação final e reduzir a heterogeneidade dos resí-
de recuperação de áreas degradadas com duos (no caso de haver coleta seletiva);
base nas características biológicas dos re-
facilitar a realização da etapa da co-
síduos.
leta.
2.3 Acondicionamento De acordo com Monteiro et al (2001),
De acordo com Cunha e Caixeta (2002), infelizmente, o que se verifica em muitas
a primeira etapa do processo de remo- cidades é o surgimento espontâneo de
ção dos resíduos sólidos corresponde à pontos de acumulação de lixo domiciliar a
atividade de acondicionamento do lixo. céu aberto, expostos indevidamente ou
Podem ser utilizados diversos tipos de espalhados nos logradouros, prejudican-
vasilhames, como: vasilhas domiciliares, do o ambiente e arriscando a saúde públi-
tambores, sacos plásticos, sacos de papel, ca.
contêineres comuns, contêineres bascu-
lantes, entre outros. No Brasil, percebe- 2.4 Recolhimento
-se grande utilização de sacos plásticos. O Coletar o lixo significa recolher o lixo
lixo mal acondicionado significa poluição acondicionado por quem o produz para
ambiental e risco à segurança da popula- encaminhá-lo, mediante transporte ade-
ção, pois pode levar ao aparecimento de quado, a uma possível estação de trans-
doenças. O lixo bem acondicionado facilita ferência, a um eventual tratamento e à
o processo de coleta. disposição final.
Ainda segundo os autores acima, acon- A coleta e o transporte do lixo domici-
dicionar os resíduos sólidos domiciliares liar produzido em imóveis residenciais, em
significa prepará-los para a coleta de for- estabelecimentos públicos e no pequeno
ma sanitariamente adequada, como ainda comércio são, em geral, efetuados pelo
compatível com o tipo e a quantidade de órgão municipal encarregado da limpeza
resíduos. A qualidade da operação de co- urbana. Para esses serviços, podem ser
leta e transporte de lixo depende da for- usados recursos próprios da prefeitura,
ma adequada do seu acondicionamento, de empresas sob contrato de terceiriza-
armazenamento e da disposição dos reci- ção ou sistemas mistos, como o aluguel de
pientes no local, dia e horários estabele- viaturas e a utilização de mão-de-obra da
cidos pelo órgão de limpeza urbana para a prefeitura.
coleta. A população tem, portanto, parti-
cipação decisiva nesta operação. De acordo com Monteiro et al (2001), o
lixo dos “grandes geradores” (estabeleci-
A importância do acondicionamento mentos que produzem mais que 120 litros
adequado está em: de lixo por dia) deve ser coletado por em-
presas particulares, cadastradas e autori-
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zadas pela prefeitura. processamento e recuperação (incinera-


ção ou usinas de triagem e compostagem)
2.5 Coleta Seletiva e os “R’s” ou para seu destino final (aterros e lixões).
A operação de coleta engloba, desde a A reciclagem, uma das etapas da cole-
partida do veículo de sua garagem, com- ta seletiva, consiste de uma série de pro-
preendendo todo o percurso gasto na via- cessos industriais que permitem separar,
gem para remoção dos resíduos dos locais recuperar e transformar os componentes
onde foram acondicionados aos locais de dos resíduos sólidos do lixo urbano (domi-
descarga, até o retorno ao ponto de par- ciliar/comercial).
tida.
A necessidade de poupar e preservar
A coleta normalmente pode ser classi- os recursos naturais não-renováveis vem
ficada em dois tipos de sistemas: sistema motivando cada vez mais o aproveitamen-
especial de coleta (resíduos contamina- to de resíduos, visto que crescem expo-
dos) e sistema de coleta de resíduos não nencialmente a população e o consumo, o
contaminados. Nesse último, a coleta que não acontece com as reservas natu-
pode ser realizada de maneira conven- rais.
cional (resíduos são encaminhados para
o destino final) ou seletiva (resíduos reci- Segundo Dias ( 2008), outro fato agra-
cláveis que são encaminhados para locais vante é a disposição final dos resíduos
de tratamento e/ou recuperação). produzidos nos centros urbanos, de for-
ma desordenada e sem um planejamento
Os tipos de veículos coletores são os técnico, pois áreas são ocupadas com a
mais diversos. Uma primeira grande clas- deposição de lixo sem tratamento, áreas
sificação seria dividi-los em motorizados estas que, a curto e médio prazo, invia-
e não-motorizados (os que utilizam a tra- bilizam a sua utilização para outros fins,
ção animal como força motriz). Os motori- agredindo de forma drástica o meio am-
zados podem ser divididos em compacta- biente e tornando vulneráveis à contami-
dores, que, segundo Roth et al citado por nação, os mananciais de água, sem contar
Cunha e Caixeta Filho (2002), podem re- que geralmente são áreas o mais próximo
duzir a 1/3 o volume inicial dos resíduos, possível dos centros produtores de lixo,
e comuns (tratores, coletor de caçamba no sentido de diminuir os custos operacio-
aberta e coletor com carrocerias tipo pre- nais de transporte, e se caracterizam em
feitura ou baú). Há também os caminhões pouco tempo em áreas nobres (em função
multi-caçamba utilizados na coleta sele- da proximidade dos centros urbanos), com
tiva de recicláveis, em que os materiais o rápido esgotamento de seu uso.
coletados são alocados, separadamente
dentro da carroceria do caminhão. Assim, segundo o mesmo autor, de
modo a evitar estes problemas, o papel da
Para Cunha e Caixeta Filho (2002), no reciclagem está em desenvolver ao con-
Brasil, a escolha do veículo coletor é, ain- sumo da população, dentro do possível, as
da, bastante empírica. Os resíduos cole- substâncias e a energia contida nos resí-
tados poderão ser transportados para duos do lixo, de modo que se extraiam da
estações de transferência, para locais de
13

natureza as quantidades de matérias-pri- mes vantagens econômicas e ambientais.


mas mínimas, de forma racional e organi- A agricultura e a indústria absorvem gran-
zada, protegendo de maneira prática os des quantidades de resíduos, aliviando
recursos naturais disponíveis, preservan- a “lata de lixo” das cidades. A reciclagem
do efetivamente o meio ambiente. deve ser aplicada somente para mate-
riais não reutilizáveis. Embora a recicla-
Segundo UFV/Lesa (2008), para ajudar
gem ajude a conservar recursos naturais,
a diminuir o lixo temos a fórmula dos RE’s
existem custos econômicos e ambientais
que consiste numa apresentação suges-
associados à coleta de resíduos e ao pro-
tiva de como se pode atingir o objetivo
cesso de reciclagem.
de conscientização para a prática de rea-
proveitamento de materiais em busca da 5. RE pensar os hábitos de consumo e
qualidade de vida e preservação do meio de descarte, pois para a maior parte das
ambiente. pessoas tais atos são compulsivos e, mui-
tas vezes, poluentes. É preciso também
1. RE duzir a geração de lixo - é o pri-
desmistificar a ação de jogar fora, porque,
meiro passo e a medida mais racional, que
na maioria dos casos, o “fora” não existe.
traduz a essência da luta contra o desper-
O lixo não desaparece depois da coleta e
dício. São inúmeros os exemplos domés-
acaba sendo destinado a aterros, incine-
ticos e industriais para a minimização dos
radores ou usinas, localizados próximos à
resíduos. Sempre que for possível, é me-
nossa residência. A educação ambiental é
lhor reduzir o consumo de materiais, ener-
básica para que os esforços em prol dos 5
gia e água, a fim de produzir o mínimo de
RE’s sejam vistos com seriedade pela po-
resíduos e economizar energia.
pulação.
2. RE utilizar os bens de consumo -
significa dar vida mais longa aos objetos, 2.6 Tratamento
aumentando sua durabilidade e reparabi- Monteiro et al (2001), define trata-
lidade ou dando-lhes nova personalidade mento como uma série de procedimentos
ou uso, muito comum com as embalagens destinados a reduzir a quantidade ou o po-
retornáveis, rascunhos, roupas, e nas ofi- tencial poluidor dos resíduos sólidos, seja
cinas de Arte com Sucatas. Após a utili- impedindo descarte de lixo em ambiente
zação de um produto ou material (sólido, ou local inadequado, seja transforman-
líquido, energia, etc.) deve-se recorrer a do-o em material inerte ou biologicamen-
todos os meios para reutilizá-lo. te estável. O tratamento mais eficaz é o
prestado pela própria população, quando
3. RE cuperar os materiais - as usinas
está empenhada em reduzir a quantidade
de compostagem são unidades recupera-
de lixo, evitando o desperdício, reapro-
doras de matéria orgânica. Os catadores
veitando os materiais, separando os re-
recuperam as sucatas, antes delas vira-
cicláveis em casa ou na própria fonte e se
rem lixo.
desfazendo do lixo que produz de maneira
4. RE ciclar - é devolver o material usa- correta, que acaba por fazer parte da co-
do ao ciclo da produção, poupando todo o leta seletiva.
percurso dos insumos virgens, com enor-
14

Além desses procedimentos, o mesmo construção, ou dejetos sólidos retirados


autor diz que existem processos físicos e do esgoto.
biológicos que objetivam estimular a ati-
Segundo Monteiro et al (2001), a base
vidade dos micoorganismos que atacam
do aterro sanitário deve ser constituída
o lixo, decompondo a matéria orgânica e
por um sistema de drenagem de efluen-
causando poluição. As usinas de incine-
tes líquidos percolados (chorume 1) acima
ração ou de reciclagem e compostagem
de uma camada impermeável de polietile-
interferem sobre essa atividade biológi-
no de alta densidade - PEAD, sobre uma
ca até que ela cesse, tornando o resíduo
camada de solo compactado para evitar o
inerte e não mais poluidor, pois a incinera-
vazamento de material líquido para o solo,
ção do lixo é também um tratamento efi-
evitando assim a contaminação de lençóis
caz para reduzir o seu volume, tornando o
freáticos. O chorume deve ser tratado e/
resíduo absolutamente inerte em pouco
ou recirculado (reinserido ao aterro) cau-
tempo, se realizada de forma adequada.
sando assim uma menor poluição ao meio
Mas sua instalação e funcionamento são
ambiente.
geralmente dispendiosos, principalmente
em razão da necessidade de filtros e im- Para o mesmo autor, o seu interior deve
plementos tecnológicos sofisticados para possuir um sistema de drenagem de ga-
diminuir ou eliminar a poluição do ar pro- ses que possibilite a coleta do biogás, que
vocada por gases produzidos durante a é constituído por metano, gás carbôni-
queima do lixo. co(CO2) e água (vapor), entre outros, e é
formado pela decomposição dos resíduos.
As usinas de reciclagem e composta-
Este efluente deve ser queimado ou be-
gem geram emprego e renda e podem
neficiado. Estes gases podem ser queima-
reduzir a quantidade de resíduos que de-
dos na atmosfera ou aproveitados para
verão ser dispostos no solo, em aterros
geração de energia. No caso de países em
sanitários.
desenvolvimento, como o Brasil, a utiliza-
De acordo com Monteiro et al (2001), ção do biogás pode ter como recompensa
a economia da energia que seria gasta financeira a compensação por créditos de
na transformação da matéria-prima, já carbono ou CERs do Mecanismo de Desen-
contida no reciclado, e a transformação volvimento Limpo, conforme previsto no
do material orgânico do lixo em compos- Protocolo de Quioto, como já é feito por
to orgânico adequado para nutrir o solo diversos aterros sanitários no Brasil: ater-
destinado à agricultura representam van- ro de Nova Iguaçu, aterro dos Bandeiran-
tagens ambientais e econômicas impor- tes e São João em São Paulo, Embralixo-A-
tantes, proporcionadas pelas usinas de rauna em Bragança Paulista, entre outros.
reciclagem e compostagem.
Sua cobertura é constituída por um sis-
Um aterro sanitário é uma forma para a
deposição final de resíduos sólidos gera- 1- É o Líquido malcheiroso e escuro produzido a partir da
dos pela atividade humana. Nele são dis- composição da matéria orgânica contida no lixo. É ácido e
apresenta alto potencial contaminante, podendo poluir o solo
postos resíduos domésticos, comerciais, e os lençóis de água subterrâneos, principalmente em locais de
deposição não controlada de lixo, onde a grande quantidade
de serviços de saúde, da indústria de desse líquido se infiltra facilmente no solo.
15

tema de drenagem de águas pluviais, que de lixo domiciliar; células de lixo hospita-
não permita a infiltração de águas de chu- lar (caso o Município não disponha de pro-
va para o interior do aterro. cesso mais efetivo para dar destino final
a esse tipo de lixo); impermeabilização de
Quando atinge o limite de capacidade
fundo (obrigatória) e superior (opcional);
de armazenagem, o aterro pode ser alvo
sistema de coleta e tratamento dos líqui-
de um processo de monitorização espe-
dos percolados (chorume); sistema de co-
cifico, e se reunidas as condições, pode
leta e queima (ou beneficiamento) do bio-
albergar um espaço verde ou mesmo um
gás; sistema de drenagem e afastamento
parque de lazer, eliminando assim o efei-
das águas pluviais; sistemas de monitora-
to estético negativo. Uma das principais
mento ambiental, topográfico e geotécni-
vantages é o fato de poder ser deslocado
co; pátio de estocagem de materiais.
de um lugar para outro sem prejudicar a
vida animal. Unidades de apoio: cerca e barreira
vegetal; estradas de acesso e de serviço;
A Associação Brasileira de Normas Téc-
balança rodoviária e sistema de controle
nicas (ABNT) define da seguinte forma os
de resíduos; guarita de entrada e prédio
aterros sanitários:
administrativo; oficina e borracharia.

Aterros sanitários de resíduos só- O Aterro controlado, por não possuir


lidos urbanos, consiste na técnica de sistema de coleta de chorume, esse líqui-
disposição de resíduos sólidos urbanos do fica retido no interior do aterro. Assim,
no solo, sem causar danos ou riscos à é conveniente que o volume de água de
saúde pública e à segurança, minimi- chuva que entre no aterro seja o menor
zando os impactos ambientais, mé- possível, para minimizar a quantidade de
todo este que utiliza os princípios de chorume gerado. Isso pode ser consegui-
engenharia para confinar os resíduos do empregando-se material argiloso para
sólidos ao menor volume permissível, efetuar a camada de cobertura provisória
cobrindo-os com uma camada de terra e executando-se uma camada de imper-
na conclusão de cada jornada de traba- meabilização superior quando o aterro
lho ou à intervalos menores se for ne- atinge sua cota máxima operacional.
cessário. (ABNT, 1992)
Também, é conveniente que a área de
implantação do aterro controlado tenha
De acordo com monteiro et al (2001),
um lençol freático profundo, a mais de
além do aterro sanitário, temos o aterro
três metros do nível do terreno.
controlado, sendo que este prescinde de
uma coleta e tratamento do chorume, as- Normalmente, um aterro controlado
sim como da drenagem e queima do bio- é utilizado para cidades que coletem até
gás. 50t/dia de resíduos urbanos, sendo desa-
conselhável para cidades maiores.
Um aterro sanitário conta necessa-
riamente com as seguintes unidades:
Unidades operacionais: células
16
UNIDADE 3 - Resíduos dos serviços de
saúde – RSS
Os resíduos dos serviços de saúde com- 12.808 da ABNT, os resíduos de serviços
preendem todos os resíduos gerados nas de saúde seguem a classificação apresen-
instituições destinadas à preservação tada no Quadro 2, abaixo:
da saúde da população. Segundo a NBR

TIPO NOME CARACTERÍSTICA


Classe A – Resíduos Infectantes
Cultural, inoculo, mistura de microorganismos e meio de
cultura inoculado provenientes de laboratório clínico ou de
A.1 Biológicos pesquisa, vacina vencida ou inutilizada, filtro de gases aspira-
dos de áreas contaminadas por agente infectantes e qualquer
resíduo contaminado por estes materiais.
Sangue e hemoderivados com prazo de validade vencido ou
A.2 Sangue e hemoderivados sorologia positiva, bolsa de sangue para análise, soro, plasma
e outros subprodutos.
Tecido, órgão, feto, peça anatômica, sangue e outros líquidos
Cirúrgicos, anatomopatoló-
A.3 orgânicos resultantes de cirurgia, necropsia e resíduos conta-
gicos e exsudato
minados por estes materiais
A.4 Perfurantes e cortantes Agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro.
Carcaça ou parte de animal inoculado, exposto a microorganis-
mos patogênicos ou portador de doenças infecto-contagio-
A.5 Animais contaminados
sas, bem como resíduos que tenham estado em contato com
eles.
Secreção e demais líquidos orgânicos procedentes de pacien-
A.6 Assistência a pacientes tes bem como os resíduos contaminados por estes materiais,
inclusive restos de refeições.

Classe B – Resíduos Especiais


Material radioativo ou contaminado com radionuclídeos,
B.1 Rejeitos radioativos proveniente de laboratório de análises clínicas, serviços de
medicina nuclear e radioterapia.
Medicamento vencido, contaminado, interditado ou não utili-
B.2 Resíduos farmacêuticos
zado.
Resíduos químicos perigo- Resíduo tóxico, corrosivo, inflamável, explosivo, reativo, ge-
B.3
sos notóxico ou mutagênico.
Classe C – Resíduos Comuns
São aqueles que não se enquadram nos tipos A e B, por sua
C Resíduos comuns semelhança aos resíduos domésticos, não oferecem risco
adicional à saúde pública.
17

O lixo de serviços de saúde e hospita- 3.1 Coleta, tratamento e


lar se constitui dos resíduos sépticos, ou
seja, que contêm ou potencialmente po- destinação
dem conter germes patogênicos; ou de De acordo com Monteiro et al (2001), a
resíduos assépticos destes locais, cons- higiene ambiental dos Estabelecimentos
tituídos por papéis, restos da preparação Assistenciais à Saúde – EAS ou simples-
de alimentos, resíduos de limpezas gerais mente Serviços de Saúde (hospitais, clíni-
(pós, cinzas etc.), e outros materiais que cas, postos de saúde, clínicas veterinárias
não entram em contato direto com pa- etc.), é fundamental para a redução de in-
cientes ou com os resíduos sépticos, an- fecções, pois remove a poeira, os fluidos
teriormente descritos, que são conside- corporais e qualquer resíduo dos diversos
rados como domiciliares. equipamentos, dos pisos, paredes, tetos
e mobiliário por ação mecânica e com so-
Há, no Brasil, mais de 30 mil unidades
luções germicidas. O transporte interno
de saúde, produzindo resíduos e, na maio-
dos resíduos, o correto armazenamento
ria das cidades, a questão da destinação
e a posterior coleta e transporte comple-
final dos resíduos urbanos não está re-
tam as providências para a redução das
solvida. Predominam os vazadouros a céu
infecções.
aberto.
Sobre as áreas hospitalares, o mes-
Segundo Ferreira (1995), da mesma mo autor, mencionado anteriormente,
forma que para os resíduos sólidos, em as classificam em três categorias:
geral, as propostas de gerenciamento
para os resíduos hospitalares têm-se fun- 1. Áreas críticas: que apresentam
damentado em padrões do Primeiro Mun- maior risco de infecção, como salas de
do. operação e parto, isolamento de doenças
transmissíveis, laboratórios etc.;
A questão central que se coloca é sobre
a periculosidade ou não dos resíduos hos- 2. Áreas semicríticas: que apresen-
pitalares. Embora esta seja uma questão tam menor risco de contaminação, como
não-resolvida, os países desenvolvidos áreas ocupadas por pacientes de doenças
adotam uma política cautelosa e conside- não-infecciosas ou não-transmissíveis,
ram tais resíduos como resíduos que exi- enfermarias, lavanderias, copa, cozinha
gem tratamento especial. De acordo com etc.;
Ferreira (1995), a recomendação de inci- 3. Áreas não-críticas: que teorica-
neração dos resíduos, ou de parte deles, é mente não apresentam riscos de trans-
uma constante. As prefeituras brasileiras missão de infecções, como salas de admi-
precisam estruturar-se para resolver com nistração, depósitos etc.
maestria os seus problemas, principal-
mente pelo fato de termos unidades de Existem regras a seguir em relação à
saúde em todas elas, ajudando a maximi- segregação (separação) de resíduos in-
zar o problema destes resíduos. fectantes do lixo comum, nas unidades de
serviços de saúde, quais sejam:
18

Todo resíduo infectante, no momen- Para Monteiro et al (2001), são muitas


to de sua geração, tem que ser disposto as tecnologias para tratamento de resídu-
em recipiente próximo ao local de sua ge- os de serviços de saúde. Até pouco tempo,
ração; a disputa no mercado de tratamento de
resíduos de serviços de saúde era entre a
Os resíduos infectantes devem ser
incineração e a autoclavagem, já que, em
acondicionados em sacos plásticos bran-
muitos países, a disposição em valas sép-
cos leitosos, em conformidade com as
ticas não é aceita. Recentemente, com os
normas técnicas da ABNT, devidamente
avanços da pesquisa no campo ambiental
fechados;
e a maior conscientização das pessoas, os
Os resíduos perfurocortantes (agu- riscos de poluição atmosférica advindos
lhas, vidros etc.) devem ser acondiciona- do processo de incineração fizeram com
dos em recipientes especiais para este que este processo tivesse sérias restri-
fim; ções técnicas e econômicas de aplicação,
devido à exigência de tratamentos muito
Os resíduos procedentes de análises
caros para os gases e efluentes líquidos
clínicas, hemoterapia e pesquisa micro-
gerados, acarretando uma sensível perda
biológica têm que ser submetidos à este-
na sua parcela de mercado.
rilização no próprio local de geração;
Os processos comerciais disponíveis
Os resíduos infectantes compostos
que atendem às premissas fundamen-
por membros, órgãos e tecidos de origem
tais são: a incineração (de grelha fixa ou
humana têm que ser dispostos, em sepa-
de leito móvel), fornos rotativos, pirólise,
rado, em sacos plásticos brancos leitosos,
autoclavagem, microondas, radiação ioni-
devidamente fechados;
zante, desativação eletrotérmica e trata-
Os resíduos infectantes e especiais mento químico.
devem ser coletados separadamente dos
O único processo de disposição final
resíduos comuns;
para esse tipo de resíduo é a vala séptica,
Os resíduos radioativos devem ser método muito questionado por grande
gerenciados em concordância com reso- número de técnicos, mas que, pelo seu
luções da Comissão Nacional de Energia baixo custo de investimento e de opera-
Nuclear – CNEN; ção, é o mais utilizado no Brasil. De acor-
do com Monteiro et al (2001), a rigor, uma
Os resíduos infectantes e parte dos vala séptica é um aterro industrial Clas-
resíduos especiais devem ser acondicio- se II, com cobertura diária dos resíduos e
nados em sacos plásticos brancos leitosos impermeabilização superior obrigatória,
e colocados em contêineres basculáveis onde não se processa a coleta do percola-
mecanicamente em caminhões especiais do.
para coleta de resíduos de serviços de
saúde. Tais resíduos representam no má-
ximo 30% do total gerado.
19
UNIDADE 4 - Resíduos sólidos industriais –
RSI e resíduos das construções civis
Segundo Monteiro et al (2001) a indús- to dos volumes gerados, dos impactos que
tria da construção civil é a que mais explora eles causam, dos custos sociais envolvidos
recursos naturais. Além disso, a construção e, inclusive, das possibilidades de seu rea-
civil também é a indústria que mais gera re- proveitamento, fazem com que os gesto-
síduos. No Brasil, a tecnologia construtiva, res dos resíduos se apercebam da gravida-
normalmente aplicada, favorece o desper- de da situação unicamente nos momentos
dício na execução das novas edificações. em que, acuados, vêem a ineficácia de suas
ações corretivas.
Enquanto em países desenvolvidos a
média de resíduos proveniente de novas
edificações encontra-se abaixo de 100kg/
4.1 Geração, classificação,
m2, no Brasil este índice gira em torno de tratamento e disposição
300kg/m2 edificado. Segundo Swana citado por Pinto (1999),
Em termos quantitativos, esse material a classificação da origem dos RCD proposta
corresponde a algo em torno de 50% da pela The Solid Waste Association of North
quantidade em peso de resíduos sólidos America, é bastante útil para a quantifica-
urbanos coletados em cidades com mais de ção de sua geração:
500 mil habitantes de diferentes países, in- Material de obras viárias;
clusive o Brasil.
Material de escavação;
Segundo Monteiro et al (2001), em ter-
mos de composição, os resíduos da cons- Demolição de edificações;
trução civil são uma mistura de materiais Construção e renovação de edifícios;
inertes, tais como concreto, argamassa,
madeira, plásticos, papelão, vidros, me- Limpeza de terrenos.
tais, cerâmica e terra, não recebem solução A composição dos RCD originados em
adequada, impactam o ambiente urbano e cada uma dessas atividades é diferente em
constituem local propício à proliferação de cada país, em função da diversidade de tec-
vetores de doenças, aspectos que aumen- nologias construtivas utilizadas.
tam os problemas de saneamento nas áreas
urbanas. De acordo com Pinto (1999), a madeira é
muito presente na construção americana e
De acordo com Pinto (1999) e Montei- japonesa, tendo presença menos significa-
ro et al (2001), os resíduos de construção tiva na construção européia e na brasileira;
e demolição (RCD) são partes dos resíduos o gesso é fartamente encontrado na cons-
sólidos urbanos que incluem também os trução americana e européia e só recente-
resíduos domiciliares com todos os proble- mente vem sendo utilizado de forma mais
mas anteriormente relatados. Porém, para significativa nos maiores centros urbanos
os resíduos de construção e demolição há brasileiros. Da mesma forma acontece com
agravantes: o profundo desconhecimen- as obras de infra-estrutura viária, havendo
20

preponderância do uso de pavimentos rígi- A presença dos RCD e outros resíduos


dos em concreto nas regiões de clima frio. cria um ambiente propício para a prolifera-
ção de vetores prejudiciais às condições de
Segundo o mesmo autor, além de se
saneamento e à saúde humana; é comum
tornarem resíduos, acontece um grande
nos “bota-foras” e locais de deposições ir-
desperdício que implica em custos maiores,
regulares a presença de roedores, insetos
sendo considerada como perda a quantida-
peçonhentos (aranhas e escorpiões) e inse-
de de material sobre-utilizada em relação
tos transmissores de endemias perigosas
às especificações técnicas ou às especifica-
(como a dengue).
ções de um projeto, podendo ficar incorpo-
rada ao serviço ou transformar-se em resí- Para Pinto (1999), não há dúvidas de que
duo. O quadro mais comumente encontrado a elevada geração de resíduos sólidos, de-
nos municípios de médio e grande porte é terminada pelo acelerado desenvolvimento
a adequada disposição dos grandes volu- da economia neste século, coloca como ine-
mes de RCD em aterros de inertes, também vitável a adesão às políticas de valorização
denominados de “bota-foras”. Constitui o dos resíduos e sua reciclagem, nos países
problema mais significativo na destinação desenvolvidos e em amplas regiões dos pa-
dessa parcela dos resíduos o inexorável e íses em desenvolvimento. Os processos de
rápido esgotamento das áreas designadas gestão dos resíduos em canteiro, de sofisti-
para disposição. cação dos procedimentos de demolição, de
especialização no tratamento e reutilização
De acordo com Pinto (1999), os “bota-fo-
dos RCD, vão conformando um respeitável
ras” são áreas de pequeno e grande porte,
e sólido ramo da engenharia civil, atento à
privadas ou públicas, que vão sendo desig-
necessidade de usar parcimoniosamente
nadas oficial ou oficiosamente para a re-
recursos que são finitos e à necessidade de
cepção dos RCD e outros resíduos sólidos
não sobrecarregar a natureza com dejetos
inertes. A designação dessas áreas pela ad-
evitáveis.
ministração pública se faz necessária pelo
fato de a ampla maioria das Leis Orgânicas A reciclagem dos resíduos de construção
Municipais prever como competência das e demolição no Brasil é bastante recente,
municipalidades a definição do destino dos mas vem chamando a atenção dos gestores
resíduos municipais. A oferta dessas áre- urbanos pelas possibilidades que apresenta
as por agentes privados se faz em função enquanto solução de destinação dos RCD e
principalmente do interesse de planificá-las solução para a geração de produtos a baixo
e, com isso, conquistar valorização no mo- custo.
mento da sua comercialização.
Segundo Pinto (1999), os primeiros es-
Dentre os impactos, que muitas vezes tudos sistemáticos foram realizados a par-
são extremamente visíveis, causados pe- tir de 1983, PINTO (1986), ocorrendo na
los resíduos das construções, temos: ex- sequência os estudos de SILVEIRA (1993),
tenso comprometimento da qualidade do ZORDAN (1997), LEVY (1997), LATTERZA
ambiente e da paisagem local; prejuízos às (1998) e LIMA (1999), além de uma série de
condições de tráfego de pedestres e veícu- outros estudos pontuais.
los; obstrução de córregos; dentre outros.
21

UNIDADE 5 - Resíduos Líquidos

Os resíduos líquidos ou esgotos sanitá- possível, a fim de que se possa evitar o de-
rios segundo a NORMA NBR 9648/86 são senvolvimento de suas condições sépticas.
definidos como: “o despejo líquido cons-
Os despejos industriais são constituí-
tituído de esgoto doméstico e industrial,
dos pelas águas servidas provenientes das
água de infiltração e a contribuição para-
indústrias que podem, em muitos casos,
sitária”.
apresentar produtos químicos que impossi-
- esgoto doméstico: é o despejo líquido bilitam a sua coleta no mesmo sistema em-
resultante do uso da água para higiene e pregado para os aspectos sanitários.
necessidade fisiológicas humanas.
Assim, os sistemas de coleta e remoção
- esgoto industrial é o despejo líquido de resíduos líquidos (também chamado de
resultante dos processos industriais, res- esgoto ou águas servidas) podem ser clas-
peitados os padrões de lançamento. sificados de acordo com a composição ou
espécies das águas a esgotar, tomando de-
- água de infiltração é toda água pro-
signações especiais, como: sanitário (água
veniente do subsolo, indesejável ao sistema
usada para fins higiênicos e industriais);
separador e que penetra nas canalizações.
sépticos (em fase de putrefação); pluviais
- contribuição parasitária é a parcela (águas pluviais); combinado (sanitário + plu-
do deflúvio superficial inevitavelmente ab- vial); cru (sem tratamento); fresco (recente,
sorvida pela rede de esgoto sanitário. Como ainda com oxigênio livre). Existem soluções
exemplo, temos a penetração direta nos para a retirada do esgoto e dos dejetos, ha-
tampões de poços de visita, ou outras even- vendo ou não água encanada.
tuais aberturas, ou ainda pelas áreas inter-
Segundo UNESP (2008), existem três
nas das edificações e escoam para a rede
tipos de sistemas de esgotos:
coletora, ocorrendo por ocasião das chuvas
mais intensas com expressivo escoamento 1. Sistema unitário: é a coleta dos es-
superficial. gotos pluviais, domésticos e industriais em
um único coletor. Tem custo de implantação
De acordo com UNESP (2008), a coleta
elevado, assim como o tratamento também
e o movimento da drenagem superficial de
é caro.
águas pluviais, esgotos sanitários e despe-
jos industriais exige a solução de proble- 2. Sistema separador: o esgoto do-
mas de natureza diferente dos existentes méstico e industrial ficam separados do es-
no sistema de abastecimento de água. Os goto pluvial. É o usado no Brasil. O custo de
esgotos domésticos, por exemplo, que se implantação é menor, pois as águas pluviais
constituem das águas servidas, provenien- não são tão prejudiciais quanto o esgoto do-
tes da utilização da água potável em zonas méstico, que tem prioridade por necessitar
residenciais e comerciais, devem ser cole- tratamento.
tados e removidos para suas áreas de dis-
3. Sistema misto: a rede recebe o esgo-
posição final ou tratamento, o mais rápido
22

to sanitário e uma parte de águas pluviais. ro de vítimas de desabamento, contornar o


problema de enchentes ou controlar epide-
Todos esses sistemas são constituídos
mias.
de canalizações enterradas, geralmente as-
sentadas com declividades suficientes para O saneamento é de responsabilidade
o escoamento livre por gravidade. do município. No entanto, em virtude dos
custos envolvidos, algumas das principais
Nesse contexto, o saneamento é o con-
obras sempre foram administradas por ór-
junto de medidas, visando a preservar ou
gãos estaduais ou federais e quase sempre
modificar as condições do ambiente com a
restritas a soluções para o problema, como
finalidade de prevenir doenças e promover
enchentes.
a saúde. Saneamento básico se restringe
ao abastecimento de água e disposição de
esgotos, mas há quem inclua o lixo nesta ca-
Esgotos, Coleta e Trata-
tegoria. Outras atividades de saneamento mento
são: controle de animais e insetos, sanea-
Ainda que só 0,1% do esgoto de origem
mento de alimentos, escolas, locais de tra-
doméstica seja constituído de impurezas
balho e de lazer e habitações.
de natureza física, química e biológica, e
Normalmente, qualquer atividade de o restante seja água, o contato com esses
saneamento tem os seguintes objetivos: efluentes e a sua ingestão é responsável
controlar e prevenir doenças, melhorar a por cerca de 80% das doenças e 65% das
qualidade de vida da população, melhorar a internações hospitalares. Atualmente, ape-
produtividade do indivíduo e facilitar a ativi- nas 10% do total de esgotos produzido re-
dade econômica. cebem algum tipo de tratamento, os outros
90% são despejados “in natura” nos solos,
Investimentos em saneamento, princi-
rios, córregos e nascentes, constituindo-se
palmente no tratamento de esgotos, dimi-
na maior fonte de degradação do meio am-
nui a incidência de doenças e internações
biente e de proliferação de doenças.
hospitalares e evita o comprometimento
dos recursos hídricos do município. Investir no saneamento do município me-
lhora a qualidade de vida da população, bem
A percepção de que a maior parte das do-
como a proteção ao meio ambiente urbano.
enças é transmitida, principalmente, atra-
Combinado com políticas de saúde e habi-
vés do contato com a água poluída e esgo-
tação, o saneamento ambiental diminui a
tos não tratados, levou os especialistas a
incidência de doenças e internações hospi-
procurarem soluções integrando várias áre-
talares. Por evitar comprometer os recursos
as da administração pública.
hídricos disponíveis na região, o saneamen-
Atualmente, emprega-se o conceito mais to ambiental garante o abastecimento e a
adequado de saneamento ambiental. Com qualidade da água. Além disso, melhorando
o crescimento desordenado das cidades, a qualidade ambiental, o município torna-se
no entanto, as obras de saneamento têm atrativo para investimentos externos.
se restringido ao atendimento de emer-
Nas obras de instalação da rede de coleta
gências, como: evitar o aumento do núme-
de esgotos poderão ser empregados os mo-
23

radores locais, gerando emprego e renda


para a população beneficiada, que também
pode colaborar na manutenção e operação
dos equipamentos.

De acordo com Ambiente Brasil (2008),


conduzido pela administração pública mu-
nicipal, o saneamento ambiental é uma
excelente oportunidade para desenvolver
instrumentos de educação sanitária e am-
biental, o que aumenta sua eficácia e efi-
ciência. Por meio da participação popular,
ampliam-se os mecanismos de controle ex-
terno da administração pública, concorren-
do também para a garantia da continuidade
na prestação dos serviços e para o exercício
da cidadania.

Ainda segundo Ambiente Brasil (2008),


apesar de requerem investimentos para as
obras iniciais, as empresas de saneamento
municipais são financiadas pela cobrança
de tarifas (água e esgoto) o que garante
a amortização das dívidas contraídas e a
sustentabilidade a médio prazo. Como a co-
brança é realizada em função do consumo
(o total de esgoto produzido por domicílio é
calculado em função do consumo de água),
os administradores públicos podem imple-
mentar políticas educativas de economia
em épocas de escassez de água e praticar
uma cobrança justa e escalonada.
24

UNIDADE 6 - Poluição Sonora

Segundo Pereira Jr (2002) a emissão de municipais de obras e de posturas. Se, em


sons e ruídos em níveis que causam incô- determinado Município, essas leis – ou
modos às pessoas e animais e que preju- a ausência delas – permitem a poluição
dicam, assim, a saúde e as atividades hu- sonora, nada pode ser feito em termos
manas, enquadram-se perfeitamente no de legislação federal ou estadual, pois o
conceito de poluição legalmente aceito “Pacto Federativo” garante a autonomia
no Brasil, o qual é, também, de consenso administrativa dos entes federados, res-
do meio técnico. Como a poluição sonora peitando-se as competências constitucio-
pode causar danos à saúde humana, afe- nais de cada um deles.
tando os sistemas auditivo e nervoso das
De acordo com Pereira Jr (2002), para
pessoas, pode aquele que a provocar, ser
controlar a poluição sonora, os Municípios
enquadrado pela lei, sujeitando-se a pe-
e os órgãos ambientais e de trânsito se
nas de reclusão de um a quatro anos, além
valem de normas técnicas editadas pela
de multa.
Associação Brasileira de Normas Técni-
Para Pereira Jr (2002), está entre as cas – ABNT e pelo Instituto Brasileiro de
competências da União, portanto, a de es- Normatização e Metrologia – INMETRO,
tabelecer normas gerais sobre o contro- as quais definem os limites de ruído acima
le da poluição, entendida esta de forma dos quais se caracteriza a poluição. Como
ampla, bem como nos planos urbanísticos normas técnicas, esses instrumentos são
municipais, onde, por exemplo, as ativi- periodicamente atualizados, de acordo
dades urbanas devem ser distribuídas de com a evolução tecnológica, o que não po-
modo a não haver incompatibilidades, tais deria ocorrer – ou seria muito mais difícil
como a localização de uma grande meta- de ocorrer – se fossem leis. Isto sem se le-
lúrgica no meio de uma área residencial var em conta que as normas técnicas tra-
ou, pior ainda, ao lado de um hospital. São tam de assuntos altamente complexos,
também decisões municipais que deter- de natureza especializada e, portanto,
minam outras medidas mitigadoras da impossíveis de serem tratados pelos po-
poluição sonora, como: a restrição ao uso deres legislativos.
de buzinas em determinadas áreas; e os
horários e locais em que podem funcio-
nar atividades naturalmente barulhentas,
como espetáculos musicais e esportivos,
bares, boates, obras civis, etc.

De acordo com o caput do art. 18 da


Constituição Federal, o disciplinamento
do uso do solo e das atividades urbanas é
estabelecido por meio das leis municipais
de ordenamento urbano e pelos códigos
25
UNIDADE 7 - A legislação e o plano de
Gestão Integrado E Sustentável De Resíduos
Sólidos Urbanos – GISRSU
Observamos, ainda nos dias de hoje, Ferreira (2006), o aterro sustentável é uma
principalmente em municípios pequenos, o tecnologia para municípios pequenos que
depósito de resíduos sólidos a céu aberto pode ser alternativa para o GISRSU aten-
ou lixão que é uma forma de deposição de- dendo vários objetivos, dentre eles:
sordenada sem compactação ou cobertura
O manejo ambientalmente adequado
dos resíduos, o que propicia a poluição do
de resíduos sólidos urbanos;
solo, ar e água, bem como a proliferação de
vetores de doenças. Por sua vez, o aterro A capacitação técnica das equipes
controlado é outra forma de deposição de responsáveis pelo projeto, operação, moni-
resíduo, tendo como único cuidado a cober- toramento e encerramento do aterro;
tura dos resíduos com uma camada de solo
A geração de emprego e renda;
ao final da jornada diária de trabalho com o
objetivo de reduzir a proliferação de veto- Custos adequados à realidade sócio-
res de doenças. -econômica dos municípios;
Segundo Zanta e Ferreira (2006), a pre- O efetivo envolvimento dos atores
dominância dessas formas de destinação políticos e institucionais e da população lo-
final pode ser explicada por vários fatores, cal.
tais como: falta de capacitação técnico-ad-
ministrativa, baixa dotação orçamentária, Para Zaneti e Sá (2004) a gestão inte-
pouca conscientização da população quan- grada dos resíduos sólidos urbanos deveria
to aos problemas ambientais ou mesmo implicar na necessidade de compreender a
falta de estrutura organizacional das insti- complexidade da questão socioambiental,
tuições públicas envolvidas com a questão ou seja, da ecologia urbana que é alvo do
nos municípios, o que acaba refletindo na sistema de gestão proposto, o que inclui co-
inexistência ou inadequação de planos de nhecer a natureza das fontes geradoras de
GIRSU. resíduos, seus impactos na população e am-
biente urbanos, estudando-se a realidade
Para reverter essa situação, uma das local em seus aspectos sócio-econômicos,
ações possíveis é a busca de alternativas políticos, e pessoais/coletivos, além de arti-
tecnológicas de disposição final sustentá- culá-los com os impactos da dimensão glo-
vel, entendida como aquela que atente para bal, para que se obtenha uma visão real da
as condições peculiares dos municípios de complexidade da questão.
pequeno porte quanto às dimensões am-
biental, sócio-cultural, política, econômica Essa integração exige a criação de redes
e financeira, e que, simultaneamente, seja relacionais de sustentação da comunicação
integrada às demais etapas do Gerencia- entre os atores, que, no caso dos resíduos
mento Integrado e Sustentável dos Resídu- sólidos urbanos, são os produtores, catado-
os Sólidos Urbanos (GISRSU). res, o poder público, os serviços privados, os
intermediários e as empresas que utilizam
Nesse sentido, de acordo com Zanta e os resíduos como matéria prima.
26

As instituições responsáveis pelo Ambiental, formado por segmentos


sistema de GISRSU devem contar com a representativos da comunidade com
existência de uma estrutura organiza- função de contribuir com a proposição
cional que forneça o suporte necessário e o controle do GIRSU.
ao desenvolvimento das atividades do
A essa gerência de resíduos sóli-
sistema de gerenciamento. A concepção
dos urbanos, com atribuição técnica
desse sistema abrange vários subsis-
de planejamento, projeto e operação,
temas com funções diversas, como de
está subordinado o setor de fiscaliza-
planejamento estratégico, técnico, ope-
ção e atendimento, ao qual compete
racional, gerencial, recursos humanos,
a fiscalização do desempenho das ati-
entre outros.
vidades e a comunicação com a popu-
Esta concepção é condicionada pela lação quanto às demandas e esclare-
disponibilidade de recursos financeiros cimentos, não possuindo estruturas
e humanos, como também pelo grau de próprias de suporte jurídico, financeiro
mobilização e participação social. Para e administrativo.
municípios de pequeno porte, observa-
Alguns aspectos do arranjo institu-
-se muitas vezes uma organização hie-
cional, como normas municipais para
rárquica construída com base no princí-
a limpeza urbana, a capacitação técni-
pio da especialização funcional, no qual
ca continuada dos profissionais e sua
a cadeia de comando flui do topo para
motivação para o melhor desempe-
a base da organização, como ilustrado
nho de suas atribuições e a existência
pela figura abaixo:
de um canal de comunicação a fim de
Exemplo de estrutura organiza- possibilitar a participação social nos
cional do sistema de gerenciamento processos decisórios, ouvir e atender
integrado de RSU para um município demandas, divulgar os serviços pres-
de pequeno porte. tados, bem como permitir a formação
de consciência coletiva sobre a impor-
tância da limpeza pública por meio da
educação ambiental, quando imple-
mentados, favorecem a melhoria dos
serviços prestados.

As diretrizes das estratégias de


gestão e gerenciamento de resíduos
sólidos urbanos buscam atender aos
objetivos do conceito de prevenção da
Fonte: Zanta e Ferreira (2006, p. 11). poluição, evitando-se ou reduzindo a
Nesse exemplo, observa-se que o sis- geração de resíduos e poluentes pre-
tema de GIRSU constitui-se em uma das judiciais ao meio ambiente e à saúde
gerências da Secretaria de Saneamento pública. Desse modo, busca-se priori-
Ambiental da Prefeitura Municipal, as- zar, em ordem decrescente de aplica-
sistida pelo Conselho de Saneamento ção: a redução na fonte, o reaproveita-
27

mento, o tratamento e a disposição final. resíduos sólidos, alteração no padrão de


No entanto, cabe mencionar que a hie- consumo da sociedade que promova a não
rarquização dessas estratégias é função geração, incentivar o consumo de produ-
das condições legais, sociais, econômicas, tos mais apropriados ambientalmente ou
culturais e tecnológicas existentes no mu- mesmo o compartilhamento de bens, con-
nicípio, bem como das especificidades de tribui para melhoria da condição de vida
cada tipo de resíduo.
da comunidade. Ainda nessa etapa, a ação
A redução na fonte pode ocorrer por de segregar os resíduos com base em suas
meio de mudanças no produto, pelo uso características possibilitará a valorização
de boas práticas operacionais e/ou pelas dos resíduos e maior eficiência das demais
mudanças tecnológicas e/ou de insumos etapas subsequentes de gerenciamento
do processo. De acordo com Valle citado por evitar a contaminação de quantidades
por Zanta e Ferreira (2006), a estratégia significativas de materiais reaproveitá-
de reaproveitamento engloba as ações veis em decorrência da mistura de resídu-
de reutilização, a reciclagem e a recupe- os.
ração. Observa-se que no reuso, o resí-
Segundo Zanta e Ferreira (2006), o
duo está pronto para ser reutilizado, en-
acondicionamento dos resíduos sólidos,
quanto a reciclagem exige um processo
por sua vez, deve ser compatível com suas
transformador com emprego de recursos
características quali-quantitativas, faci-
naturais e possibilidade de geração de re-
litando a identificação e possibilitando o
síduos, embora possa produzir um bem de
manuseio seguro dos resíduos, durante
maior valor agregado. Por último, têm-se
as etapas de coleta, transporte e armaze-
as ações de tratamento e disposição fi-
namento. A coleta e transporte consistem
nal que buscam assegurar características
nas operações de remoção e transferên-
mais adequadas ao lançamento dos resí-
cia dos resíduos sólidos urbanos para um
duos no ambiente.
local de armazenamento, processamento
As ações de gerenciamento podem ser ou destinação final. Essa atividade pode
promovidas por meio de instrumentos ser realizada de forma seletiva ou por co-
presentes em políticas de gestão. Se- leta dos resíduos misturados. A coleta dos
gundo Milanez citado por Zanta e Ferrei- resíduos misturados, denominada de re-
ra (2006), os instrumentos econômicos gular ou convencional, é realizada, em ge-
compreendem os tributos, subsídios ou ral, no sistema de porta em porta ou ain-
incentivos fiscais; os instrumentos volun- da, em áreas de difícil acesso, por meio de
tários, as iniciativas individuais; e os ins- pontos de coleta onde são colocados con-
trumentos de comando e controle, as leis, têineres basculantes ou intercambiáveis.
normas e punições. A coleta seletiva é a coleta de materiais
segregados na fonte de geração passíveis
O sistema de GIRSU pode ser compos- de serem reutilizados, reciclados ou recu-
to por atividades relacionadas às etapas perados. Pode ser realizada de porta em
de geração, acondicionamento, coleta e porta com veículos coletores apropriados
transporte, reaproveitamento, tratamento
ou por meio de Postos de Entrega Volun-
e destinação final. Na etapa de geração de
tária (PEVs) dos materiais segregados.
28

Para Zanta e Ferreira (2006), o dimen- damento, de acordo com as exigências do


sionamento da frota de veículos coleto- mercado consumidor.
res empregados para o transporte é es-
Segundo Zanta e Ferreira (2006), para
tabelecido com base nas características
municípios de pequeno porte, a disposição
quali-quantitativas dos resíduos a serem
final dos RSU deve ser realizada segundo
coletados e da área de coleta, como, por
técnicas de engenharia de modo não pre-
exemplo, o tipo de sistema viário, pavi-
judicar o meio ambiente e a saúde pública.
mentação, topografia, iluminação e ou-
Algumas técnicas recomendadas na lite-
tras. Vários tipos de veículos coletores
ratura para municípios de pequeno por-
podem ser utilizados, como caminhões
te são: aterros em valas (Cetesb, 1997),
compactadores, caminhões basculantes,
aterro simplificado (Fiuza et al., 2002) e
caminhões com carroceria de madeira
aterro manual (Jaramillo, 1991).
aberta, veículos utilitários de médio porte,
caminhões-baú ou carroças. Independen- Temos, abaixo, algumas das atividades
temente do tipo de coleta a ser adotado, a operacionais de GISRSU relativas aos RSU
educação ambiental é peça fundamental domésticos e àqueles oriundos dos ser-
para a aceitação confiabilidade nos servi- viços de limpeza pública que abrangem,
ços prestados, motivando a participação neste exemplo, atividades de varrição,
da comunidade. capina, raspagem, poda, limpeza de feiras
e limpeza de boca-de-lobo.
O reaproveitamento e o tratamento
dos resíduos são ações corretivas cujos Atividades operacionais relaciona-
benefícios podem ser a valorização de re- das aos resíduos sólidos domésticos e
síduos, ganhos ambientais com a redução de limpeza pública.
do uso de recursos naturais e da poluição,
geração de emprego e renda e aumento
da vida útil dos sistemas de disposição fi-
nal. Essas ações devem ser precedidas de
estudos de viabilidade técnica e econômi-
ca, uma vez que fatores como qualidade
do produto e mercado consumidor podem
ser restritivos ao uso de algumas dessas
alternativas.

Essas ações, quando associadas à co-


leta seletiva, ganham maior eficiência por Fonte: Zanta e Ferreira (2006, p. 14).
utilizarem como matéria prima, resíduos
De acordo com o Ministério do Meio Am-
de melhor qualidade. Os resíduos coleta-
biente (2001):
dos também podem ter maior valor agre-
gado se beneficiados por meio de proce- O plano de gerenciamento é um do-
dimentos como segregação por tipo de cumento que apresenta a situação atu-
materiais constituintes, lavagem, tritura- al do sistema de limpeza urbana, com a
ção, peneiramento, prensagem e enfar- pré-seleção das alternativas mais viáveis,
29

coleta informal, existência de cooperativas


com o estabelecimento de ações integra- ou associações);
das e diretrizes sob os aspectos ambien-
Identificação, levantamento e carac-
tais, econômicos, financeiros, adminis-
terização da estrutura financeira do serviço
trativos, técnicos, sociais e legais para
de limpeza urbana (remuneração e custeio,
todas as fases de gestão dos resíduos
investimentos, controle de custos);
sólidos, desde a sua geração até a des-
tinação final. (MINISTÉRIO DO MEIO AM- Identificação e caracterização de ações
BIENTE, BRASIL, 2001). ou programas de educação ambiental.

Depois da obtenção e da sistematização


Considerando essa definição, no plano de de dados e informações, é possível realizar
gerenciamento deve haver um diagnóstico um diagnóstico em que sejam identificados
da situação atual que apresente os aspec- os problemas, as deficiências e as lacunas
tos institucionais, legais, administrativos, existentes e suas prováveis causas. Esta
financeiros, sociais, educacionais, opera- primeira fase subsidiará a elaboração do
cionais e ambientais do sistema de limpeza prognóstico contendo a concepção e o de-
pública, como também, informações gerais senvolvimento do plano de gerenciamento.
sobre o município. As informações relativas A concepção, as proposições e as alternati-
ao município abrangem: a coleta de dados vas apresentadas no plano fundamentam-
sobre os aspectos geográficos, sócio-eco- -se em princípios e diretrizes de políticas
nômicos, de infra-estrutura urbana e da públicas existentes ou a serem propostas
população atual, flutuante e prevista. Em que precisam estar claramente menciona-
relação ao sistema de limpeza pública são das no texto do plano. O plano de gerencia-
informações de interesse: mento deve contemplar:

Características quantitativas e qualita- O modelo tecnológico, sua estrutura


tivas dos resíduos sólidos urbanos; operacional e estratégia de implantação
com as devidas justificativas e com defini-
Identificação e análise das disposições ção de metas e prazos;
legais existentes, incluindo contratos de
execução de serviços de limpeza urbana A estrutura financeira e estudos
municipal por terceiros; econômicos com a definição das fontes de
captação dos recursos necessários à im-
Identificação e descrição da estrutura plantação e operacionalização do sistema
administrativa (organização e alocação de previsto pelo plano (organograma, remune-
recursos humanos); ração e custeio);
Identificação, levantamento e caracte- A proposição de uma estrutura organi-
rização da estrutura operacional dos servi- zacional e jurídica necessária ou a adequa-
ços prestados (infra-estrutura física, proce- ção da estrutura existente, com a inserção
dimentos e rotinas de trabalho); da participação e do controle social;
Identificação dos aspectos sociais Planos que promovam a inserção so-
(presença de catadores na disposição final, cial para os grupos sociais envolvidos;
30

Programas e ações de atividades de legislar concorrentemente sobre “[...] pro-


educação ambiental. teção do meio ambiente e controle da polui-
ção” (inciso VI) e, no artigo 30, incisos I e II,
Monitoramento dos programas de ges-
estabelece que cabe, ainda, ao poder públi-
tão, empregando-se como ferramentas,
co municipal “legislar sobre os assuntos de
indicadores que resumem de forma inteligí-
interesse local e suplementar a legislação
vel e comparável uma série de informações,
federal e a estadual no que couber”. A Lei
tais como, os de desempenho, os econômi-
Federal n. 6.938, de 31/8/81, que dispõe
co-financeiros e sócio-econômicos e am-
sobre a Política Nacional de Meio Ambiente,
bientais.
institui a sistemática de Avaliação de Impac-
De acordo com Zanta e Ferreira (2006), to Ambiental para atividades modificadoras
além da Constituição Federal, o Brasil já dis- ou potencialmente modificadoras da quali-
põe de uma legislação ampla (leis, decretos, dade ambiental, com a criação da Avaliação
portarias, etc.) mas que, por si só, não tem de Impacto Ambiental (AIA). A AIA é forma-
conseguido equacionar o problema do GIR- da por um conjunto de procedimentos que
SU. A falta de diretrizes claras, de sincronis- visam assegurar que se realize exame siste-
mo entre as fases que compõem o sistema mático dos potenciais impactos ambientais
de gerenciamento e de integração dos di- de uma atividade e de suas alternativas.
versos órgãos envolvidos com a elaboração Também no âmbito da Lei n. 6.938/81 ficam
e aplicação das leis possibilitam a existência instituídas as licenças a serem obtidas ao
de algumas lacunas e ambiguidades, dificul- longo da existência das atividades modifi-
tando o seu cumprimento. cadoras ou potencialmente modificadoras
da qualidade ambiental.
Nas diferentes esferas governamentais,
ainda são iniciativas recentes ou inexistem A Lei de Crimes Ambientais (Brasil, n.
leis específicas de Políticas de Gestão de Re- 9.605, de fevereiro de 1998) dispõe sobre
síduos Sólidos que estabeleçam objetivos, as sanções penais e administrativas deri-
diretrizes e instrumentos em consonância vadas de condutas e atividades lesivas ao
com as características sociais, econômicas meio ambiente e dá outras providências.
e culturais de Estados e municípios. Alguns Em seu artigo 54, parágrafo 2º, inciso V,
dos principais instrumentos legais e norma- penaliza o lançamento de resíduos sólidos,
tivos de interesse para o tema são citados e líquidos ou gasosos em desacordo com as
comentados brevemente. exigências estabelecidas em leis ou regula-
mentos. No parágrafo 3º, do mesmo artigo,
Segundo IPT/Cempre citado por Zanta
a lei penaliza quem deixar de adotar, quan-
e Ferreira (2006), a Constituição Federal,
do assim o exigir a autoridade competente,
promulgada em 1988, estabelece em seu
medidas de precaução em caso de risco de
artigo 23, inciso VI, que “compete à União,
dano ambiental grave ou irreparável.
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni-
cípios proteger o meio ambiente e combater Outras legislações federais de interesse
a poluição em qualquer das suas formas”. são:
No artigo 24, estabelece a competência da
Resolução Conama n. 005, de 31 de
União, dos Estados e do Distrito Federal em
março de 1993 – Dispõe sobre o tratamento
31

de resíduos gerados em estabelecimentos produtos perigosos – Terminologia.


de saúde, portos e aeroportos e terminais
NBR 9190, de 1993 – Sacos plásticos –
ferroviários e rodoviários;
Classificação.
Lei ordinária 787, de 1997 – Dispõe so-
NBR 9191, de 1993 – Sacos plásticos –
bre o Programa de Prevenção de Contami-
Especificação.
nação por Resíduos Tóxicos, a ser promovi-
do por empresas fabricantes de lâmpadas NBR 9800, de 1987 – Critérios para lan-
fluorescentes, de vapor de mercúrio, vapor çamento de efluentes líquidos industriais
de sódio e luz mista e dá outras providên- no sistema coletor público de esgoto sani-
cias; tário – Procedimento.
Resolução Conama n. 237, de 19 de de- NBR 10004, de 1987 – Resíduos sóli-
zembro de 1997 – Estabelece norma geral dos – Classificação.
sobre licenciamento ambiental, competên-
NBR 10005 – Lixiviação de resíduos.
cias, listas de atividades sujeitas a licencia-
mento, etc.; NBR 10006 – Solubilização de resíduos.
Resolução Conama n. 257, de 30 de NBR 10007 – Amostragem de resíduos.
junho de 1999 – Define critérios de geren-
ciamento para destinação final ambiental- NBR 11174, de 1990 – Armazenamento
mente adequada de pilhas e baterias, con- de resíduos classe II, não-inertes, e III, iner-
forme especifica; tes – Procedimentos.

Resolução Conama n. 283/2001 – Dis- NBR 12245, de 1992 – Armazenamen-


põe sobre o tratamento e a destinação final to de resíduos sólidos perigosos – Procedi-
dos resíduos dos serviços de saúde. Esta mentos.
resolução visa aprimorar, atualizar e com- NBR 12807, de 1993 – Resíduos de ser-
plementar os procedimentos contidos na viço de saúde – Terminologia.
Resolução Conama n.05/93 e estender as
exigências às demais atividades que geram NBR 12808, de 1993 – Resíduos de
resíduos de serviços de saúde. serviço de saúde – Classificação.

Da normalização técnica da Associação NBR 12809, de 1993 – Manuseio de re-


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) são síduos de serviço de saúde – Procedimento.
citadas somente algumas mais específicas NBR 13055, de 1993 – Sacos plásticos
ao tema tratado: para acondicionamento de lixo – Determi-
NBR 7039, de 1987 – Pilhas e acumula- nação da capacidade volumétrica.
dores elétricos – Terminologia. NBR 13221, de 1994 – Transporte de
NBR 7500, de 1994 – Símbolos de ris- resíduos – Procedimento.
cos e manuseio para o transporte e armaze- NBR 13463, de 1995 – Coleta de resí-
namento de materiais. duos sólidos – Classificação.
NBR 7501, de 1989 – Transporte de NBR 8419, de 1992 – Apresentação de
32

projetos de aterros sanitários de resíduos contram-se interligadas, comprometidas


sólidos urbanos. entre si.

NBR 13896, de 1997 – Aterros de Resí- De acordo com Zanta e Ferreira (2006),
duos não Perigosos – Critérios para Projeto, para além das atividades operacionais, o
Implantação e Operação. gerenciamento integrado de resíduos sóli-
dos destaca a importância de se considerar
Segundo Zanta e Ferreira (2006), deve-
as questões econômicas e sociais envol-
-se ressaltar que, até o momento, não há
vidas no cenário da limpeza urbana e, para
legislação específica sobre o procedimen-
tanto, as políticas públicas – locais ou não
to de licenciamento ambiental ou da ABNT
– que possam estar associadas ao gerencia-
para aterros de disposição de resíduos em
mento do lixo, sejam elas na área de saúde,
município de pequeno porte. Esta falta de
trabalho e renda, planejamento urbano etc.
regulamentação faz com que alguns órgãos
ambientais questionem a adoção de tecno-
logias como a do aterro sustentável, que,
apoiado em métodos científicos, apresente
a simplificação de alguma etapa clássica de
dimensionamento ou de operação, sem im-
plicar a redução da eficácia da solução.

Para Monteiro et al (2001), o Gerencia-


mento Integrado de Resíduos Sólidos Urba-
nos é, em síntese, o envolvimento de dife-
rentes órgãos da administração pública e da
sociedade civil com o propósito de realizar
a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e
a disposição final do lixo, elevando assim a
qualidade de vida da população e promo-
vendo o asseio da cidade, levando em con-
sideração as características das fontes de
produção, o volume e os tipos de resíduos
– para a eles ser dado tratamento diferen-
ciado e disposição final técnica e ambiental-
mente corretas – as características sociais,
culturais e econômicas dos cidadãos e as
peculiaridades demográficas, climáticas e
urbanísticas locais.

Para tanto, as ações normativas, opera-


cionais, financeiras e de planejamento que
envolvem a questão devem se processar de
modo articulado, segundo a visão de que
todas as ações e operações envolvidas en-
33
UNIDADE 8 - Os aspectos epidemiológicos,
sociais, econômicos e ambientais dos resíduos
urbanos
Antes de analisarmos os aspectos epi- resíduos sólidos e líquidos se constituem
demiológicos, sociais, econômicos e am- em graves problemas para as cidades, as
bientais dos RSU, vamos mostrar algumas quais têm crescido em ritmo acelerado e
estatísticas e fazer algumas pontuações desordenado, ou seja, sem planejamento
pertinentes. algum. As cidades, por sua vez, se consti-
tuem de pessoas, as quais sofrem em vários
De acordo com Alberguini (2002), cerca
aspectos, como veremos a seguir, mas de
de 76% do lixo (ou resíduos sólidos) produ-
imediato podemos fazer algumas relações
zido no Brasil vai para lixões, 13% para ater-
que mostram o aumento da geração de lixo
ros controlados, 10% para aterros sanitá-
nas cidades.
rios e apenas 1% passa por processos de
compostagem, reciclagem ou incineração. Demograficamente, quanto maior a po-
pulação, maior a geração per capita e, por
O processo de coleta, transporte, trata-
conseguinte, maiores os problemas com a
mento e destinação final dos resíduos sóli-
geração de resíduos.
dos é de responsabilidade dos municípios e
transformou-se em um dos grandes proble- Sócio-economicamente:
mas enfrentados por inúmeros governan-
Quanto maior o nível cultural, maior a
tes que não sabem o que fazer com tanto
incidência de materiais recicláveis e menor
lixo.
a incidência de matéria orgânica;
Segundo Alberguini (2002), os lixões,
Quanto maior o nível educacional, me-
para onde vai a maior parte do lixo domés-
nor a incidência de matéria orgânica;
tico, são depósitos a céu aberto, onde os
resíduos, depositados de forma regular ou Quanto maior o poder aquisitivo, maior
clandestinamente, formam verdadeiras a incidência de materiais recicláveis e menor
montanhas. Além da poluição visual, do ris- a incidência de matéria orgânica (no mês –
co de contaminação do solo, de rios e águas maior o consumo de supérfluos).
subterrâneas - caso os resíduos alcancem
No que diz respeito à relação com a co-
o lençol freático - nos lixões proliferam pa-
munidade, reciclagem e catadores, um dos
rasitas causadores de doenças. Muitas pes-
aspectos sociais mais degradantes nos ser-
soas, ainda, lançam seus lixos em vias públi-
viços de limpeza urbana é a catação de re-
cas, rios, praias, mares, em terrenos baldios,
cicláveis nos aterros e lixões, onde pessoas
margens de vias públicas, redes de esgoto,
de todas as idades, misturadas ao lixo, entre
entre outros locais impróprios.
animais e máquinas, e em condições de in-
Os aterros sanitários são uma forma um salubridade e risco, lutam pela sobrevivên-
pouco mais sofisticada de depósito desses cia. Aqui podemos juntar todos os aspectos
materiais, mas que também possuem vida epidemiológicos, sociais e econômicos, pois
útil limitada. os lixões transmitem doenças as mais varia-
das e são locais degradantes para a condi-
Ficou bem claro, até o momento, que os
34

ção humana. mas ambientais e reverter suas causas sem


que ocorra uma mudança radical nos sis-
De acordo com Monteiro et al (2001), a
temas de conhecimento, dos valores e dos
participação de catadores na segregação
comportamentos gerados pela dinâmica de
informal do lixo, seja nas ruas ou nos vaza-
racionalidade existente, fundada no aspec-
douros e aterros, é o ponto mais agudo e vi-
to econômico do desenvolvimento.
sível da relação do lixo com a questão social.
Trata-se do elo perfeito entre o inservível Nesse sentido, a educação ambiental,
– lixo – e a população marginalizada da so- assume uma função transformadora na re-
ciedade que, no lixo, identifica o objeto a ser alidade, na qual a co-responsabilização dos
trabalhado na condução de sua estratégia indivíduos torna-se um objetivo essencial
de sobrevivência. para promover um novo tipo de desenvol-
vimento – o desenvolvimento sustentável.
A dimensão ambiental, no seu senti-
do positivo, configura-se crescentemente Somando-se os esforços através da ini-
como uma questão que envolve um con- ciativa dos gestores públicos, apoiados por
junto de atores do universo educativo, po- especialistas, a educação ambiental é con-
tencializando o engajamento dos diversos dição necessária para modificar um quadro
sistemas de conhecimento, a capacitação de crescente degradação socioambiental,
de profissionais e a comunidade universitá- inclusive os problemas com a grande gera-
ria numa perspectiva interdisciplinar. Nesse ção de resíduos sólidos urbanos.
sentido, a produção de conhecimento deve
Como diz Jacobi (2003):
necessariamente contemplar as inter-rela-
ções do meio natural com o social, incluindo
A problemática da sustentabilida-
a análise dos determinantes do processo, o
de assume neste novo século um papel
papel dos diversos atores envolvidos e as
central na reflexão sobre as dimensões
formas de organização social que aumen-
do desenvolvimento e das alternativas
tam o poder das ações alternativas de um
que se configuram. O quadro socioam-
novo desenvolvimento, numa perspectiva
biental que caracteriza as sociedades
que priorize novo perfil de desenvolvimen-
contemporâneas revela que o impacto
to, com ênfase na sustentabilidade socio-
dos humanos sobre o meio ambiente
ambiental.
tem tido consequências cada vez mais
Tomando-se como referência o fato de complexas, tanto em termos quantitati-
a maior parte da população brasileira viver vos quanto qualitativos. (JACOBI, 2003,
em cidades, observa-se uma crescente de- p.195).
gradação das condições de vida, refletin-
do uma crise ambiental. Isto nos remete a Ainda na dimensão ambiental e epide-
uma necessária reflexão sobre os desafios miológica encontramos agentes físicos,
para mudar as formas de pensar e agir em químicos e biológicos presente nos RSU e
torno da questão ambiental numa perspec- mesmo nos processos dos sistemas de seu
tiva contemporânea. Leff citado por Jacobi gerenciamento que podem interferir na
(2003), fala sobre a impossibilidade de re- saúde humana e no meio ambiente, a saber:
solver os crescentes e complexos proble-
35

Agentes físicos: o odor emanado dos levar à magnificação biológica e provocar


resíduos pode causar mal-estar, cefaléias intoxicações agudas no ser humano (são
e náuseas em trabalhadores e pessoas que neurotóxicos), assim como efeitos crônicos
se encontrem proximamente a equipamen- (Kupchella & Hyland, 1993 apud Ferreira e
tos de coleta ou de sistemas de manuseio, Anjos, 2001).
transporte e destinação final. Ruídos em
Agentes biológicos: transmitem do-
excesso, durante as operações de geren-
enças direta e indiretamente. Microorga-
ciamento dos resíduos, podem promover
nismos patogênicos ocorrem nos resíduos
a perda parcial ou permanente da audição,
sólidos municipais mediante a presença de
cefaléia, tensão nervosa, estresse, hiper-
lenços de papel, curativos, fraldas descar-
tensão arterial. Um agente comum nas ati-
táveis, papel higiênico, absorventes, agu-
vidades com resíduos é a poeira, que pode
lhas e seringas descartáveis e camisinhas,
ser responsável por desconforto e perda
originados da população; dos resíduos de
momentânea da visão, e por problemas
pequenas clínicas, farmácias e laboratórios
respiratórios e pulmonares. Em algumas cir-
e, na maioria dos casos, dos resíduos hospi-
cunstâncias, a vibração de equipamentos
talares, misturados aos resíduos domicilia-
(na coleta, por exemplo) pode provocar lom-
res (Collins & Kenedy, 1992; Ferreira, 1997).
balgias e dores no corpo, além de estresse.
Alguns agentes que podem ser ressaltados
Responsáveis por ferimentos e cortes nos
são: os agentes responsáveis por doenças
trabalhadores da limpeza urbana, os ob-
do trato intestinal (Ascaris lumbricoides;
jetos perfurantes e cortantes são sempre
Entamoeba coli; Schistosoma mansoni); o
apontados entre os principais agentes de
vírus causador da hepatite (principalmen-
riscos nos resíduos sólidos.
te do tipo B), pela sua capacidade de resis-
Agentes químicos: nos resíduos só- tir em meio adverso; e o vírus causador da
lidos municipais pode ser encontrada uma AIDS, mais pela comoção social que desper-
variedade muito grande de resíduos quí- ta do que pelo risco associado aos resíduos,
micos, dentre os quais merecem destaque já que apresenta baixíssima resistência em
pela presença mais constante: pilhas e ba- condições adversas. Além desses, devem
terias; óleos e graxas; pesticidas/herbici- também ser referidos os microorganismos
das; solventes; tintas; produtos de limpeza; responsáveis por dermatites. A transmis-
cosméticos; remédios; aerossóis. Uma sig- são indireta se dá pelos vetores que encon-
nificativa parcela destes resíduos é classifi- tram nos resíduos, condições adequadas de
cada como perigosa e pode ter efeitos dele- sobrevivência e proliferação (FERREIRA E
térios à saúde humana e ao meio ambiente. ANJOS, 2001).
Metais pesados como chumbo, cádmio e
Riscos ocupacionais: a saúde do tra-
mercúrio, incorporam-se à cadeia biológica,
balhador envolvido nos processos de ope-
têm efeito acumulativo e podem provocar
ração do sistema de gerenciamento dos re-
diversas doenças como saturnismo e dis-
síduos sólidos municipais está relacionada
túrbios no sistema nervoso, entre outras.
não só aos riscos ocupacionais inerentes
Pesticidas e herbicidas têm elevada solubi-
aos processos, mas também às suas con-
lidade em gorduras que, combinada com a
dições de vida (Anjos et al., 1995; Velloso,
solubilidade química em meio aquoso, pode
36

1995 apud Ferreira e Anjos, 2001). lhadores. Os motivos são semelhantes aos
do item anterior.
Novamente, englobando todas as dimen-
sões, encontramos os riscos de acidentes e Queda do veículo: a natureza dos tra-
de agravos à saúde que mesmo dependen- balhos no sistema de limpeza urbana, em
do da atividade exercida pelo trabalhador, especial na coleta domiciliar e operações
tem relação com o manuseio direto de RSU especiais de limpeza de logradouros, aca-
e que merecem ser destacados para refle- ba por obrigar o transporte dos trabalha-
xão e prevenção por parte dos gestores pú- dores nos mesmos veículos utilizados para
blicos. a coleta e transporte dos resíduos. Isso faz
com que as quedas de veículos sejam co-
Cortes com vidros: caracterizam o aci-
muns. Dois aspectos são importantes como
dente mais comum entre trabalhadores da
causas destes acidentes (muitos dos quais
coleta domiciliar e das esteiras de catação
fatais): a inadequação dos veículos para tal
de usinas de reciclagem e compostagem, e
transporte, onde o exemplo maior é o veí-
também entre os catadores dos vazadou-
culo de coleta em que os trabalhadores são
ros de lixo. As estatísticas deste tipo de aci-
transportados dependurados no estribo
dente são subnotificadas, uma vez que os
traseiro, sem nenhuma proteção (os veícu-
cortes de pequena gravidade não são, na
los de coleta são construídos com base na
maioria das vezes, informados pelos traba-
tecnologia dos países desenvolvidos, onde
lhadores, que não os consideram acidentes
a coleta é realizada por guarnições de no
de trabalho.
máximo dois homens, que viajam na cabi-
A principal causa destes acidentes é a ne junto com o motorista); e a elevada pre-
falta de informação e conscientização da sença de alcoolismo entre trabalhadores da
população em geral, que não se preocupa limpeza urbana (Robazzi et al., 1992 apud
em isolar ou separar vidros quebrados dos FERREIRA E ANJOS, 2001).
resíduos apresentados à coleta domiciliar. A
Atropelamentos: a eles estão expostos
adoção obrigatória de sacos plásticos para o
tanto os trabalhadores da coleta domiciliar
acondicionamento dos resíduos sólidos mu-
e limpeza de logradouros como os traba-
nicipais, com efeitos positivos na qualida-
lhadores de locais de transferência e des-
de dos serviços de limpeza urbana, infeliz-
tinação final dos resíduos. Além dos riscos
mente amplia os riscos pela opacidade dos
inerentes à atividade, contribuem para os
mesmos e ausência de qualquer rigidez que
atropelamentos a sobrecarga e a velocida-
possa proteger o trabalhador. A utilização
de de trabalho a que estão sujeitos os tra-
de luvas pelo trabalhador atenua, mas não
balhadores e o pouco respeito que os moto-
impede a maior parte dos acidentes, que
ristas em geral têm para os limites e regras
não atingem apenas as mãos, mas também
estabelecidas para o trânsito. Também
braços e pernas.
deve ser lembrada a ausência de uniformes
Cortes e perfurações com outros obje- adequados (roupas visíveis, sapatos resis-
tos pontiagudos: espinhos, pregos, agulhas tentes e antiderrapantes) como um fator de
de seringas e espetos são responsáveis por agravamento dos riscos de atropelamento.
corriqueiros acidentes envolvendo traba-
Outros: ferimentos e perdas de mem-
37

bros por prensagem em equipamentos de todas as operações, a exposição a poeiras


compactação e outras máquinas, mordidas orgânicas e microorganismos pode ser cau-
de animais (cães, ratos) e picadas de formi- sadora de doenças do trato respiratório. A
gas também fazem parte da relação de aci- exposição a acidentes com agulhas hipo-
dentes com resíduos sólidos municipais. dérmicas e a eventual presença de microor-
ganismos patogênicos podem ser respon-
Especificar doenças ocupacionais rela-
sáveis por acometimentos de hepatite B e
cionadas aos resíduos sólidos municipais é
AIDS entre outras doenças, nos trabalhado-
tarefa complexa. Os trabalhadores dos sis-
res. No entanto, não existem estudos que
temas de limpeza urbana estão expostos a
comprovem o nexo causal destas doenças
poeiras, a ruídos excessivos, ao frio, ao ca-
nos trabalhadores envolvidos com os resí-
lor, à fumaça e ao monóxido de carbono, à
duos sólidos municipais.
adoção de posturas forçadas e incômodas
e também a microorganismos patogênicos Por fim, segundo Ferreira e Anjos (2001),
presentes nos resíduos municipais. também, deve-se fazer referência ao es-
tresse, como resultado das tensões a que
Além disso, entende-se que as condi-
os trabalhadores estão sujeitos, dos longos
ções de trabalho devam ser consideradas,
períodos de transporte no trajeto casa-tra-
de acordo com Mattos citado por Ferreira e
balho-casa, dos problemas de sobrevivên-
anjos (2001), como:
cia e agravos nutricionais (tanto desnu-
trição quanto obesidade) resultantes dos
forma mais integrada e global, onde
baixos salários e do desgaste que a carga
as cargas de trabalho são determinadas
fisiológica do trabalho pode produzir. O es-
por fatores relativos ao processo de tra-
tresse pode ser a causa invisível de muitos
balho - a organização do trabalho e as
dos acidentes de trabalho, pela redução da
condições ambientais; e por fatores re-
capacidade de autocontrole dos trabalha-
lativos ao indivíduo - sexo, idade e con-
dores, e de doenças ocupacionais, pela re-
dições de inserção na produção, nível de
dução das defesas naturais e do desgaste
aprendizagem, condições de vida, esta-
dos organismos.
do de saúde física e emocional, motiva-
ção e interesse (MATTOS apud FERREI- Desse modo, os impactos ambientais e
RA E ANJOS, 2001, p.11) econômicos são a decorrência da inexis-
tência de solução para o descarte correto
Ainda com relação a doenças ocupacio- e para a captação racional dos resíduos.
nais relacionadas às atividades com resídu- Nesse sentido, os gestores precisam balizar
os sólidos municipais, de acordo com Ferrei- suas ações, conhecendo os volumes reais
ra e Anjos (2001), as micoses são comuns, de resíduos sólidos gerados e relacioná-los
aparecendo mais frequentemente (mas com importantes agentes do processo. En-
não exclusivamente) nas mãos e pés, onde tretanto, o que deveria ser feito seria o pla-
as luvas e calçados estabelecem condições nejamento das cidades como prioridade de
favoráveis para o desenvolvimento de mi- governantes que pensam no futuro de seus
croorganismos. pares.

Segundo Ferreira e Anjos (2001), em Em últimas palavras, nós sabemos que as


38

necessidades humanas são inúmeras e ili-


mitados os meios para o suprimento delas.
Com isto, o homem passa a não ter limites
para satisfazer suas necessidades e des-
se modo, o que era “luxo” passado passa a
ser uma necessidade primordial no presen-
te. Nesse sentido, a produção excessiva de
bens de consumo passa a ser o próprio es-
torvo para o ser humano.

Esse desenvolvimento pautado na pro-


dução de bens a uma taxa decrescente de
utilidade, chamamos de lixo. Neste cenário,
a produção de resíduos advêm da crescente
produção do luxo.

Aproveitar, tratar ou destinar o que cha-


mamos de lixo se torna uma responsabili-
dade da qual a sociedade não tem como se
esquivar e que deve ser incentivada pela
gestão pública local. Assim, passa a ser
uma questão de cidadania propor alternati-
vas para que a sociedade trate de maneira
menos impactante ao meio ambiente e a si
mesma, o que é atualmente considerado re-
jeito.

É preciso que as pessoas passem a refle-


tir sobre o problema, pois se cada indivíduo
cuidasse adequadamente dos próprios resí-
duos que produz, ele já estaria contribuindo
para, se não diminuir, amenizar a situação
que caminha para um descalabro.
39

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