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Avaliação Psicológica, 2003, (2)2, pp.

123-145 123

A estrutura fatorial do Inventário do Significado e


Motivação do Trabalho, IMST
The Factor Structure of Work Meaning and Motivation
Livia de Oliveira Borges
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Antônio Alves Filho
Universidade Potiguar

Resumo
O Inventário da Motivação e Significado do Trabalho compõe-se de quatro escalas, sendo duas referentes às
facetas do significado do trabalho – atributos valorativos (como o trabalho deve ser) e atributos descritivos (como
o trabalho é concretamente) – e duas referentes aos componentes da motivação – expectativas (o que se espera que
o trabalho seja) e instrumentalidade (quanto o esforço ou dedicação ao trabalho garante a obtenção de resultados
desejáveis ou não). O estudo tem por objetivo aperfeiçoar o inventário, buscando melhores índices de consistência
e verificando a estabilidade da estrutura fatorial das escalas. Aplicou-se o inventário numa amostra de 525 partici-
pantes, dos quais 55,2% eram profissionais de saúde, 23,4%, trabalhadores de uma distribuidora de petróleo e
21,3%, bancários de um Banco de economia mista. As análises fatoriais confirmatórias e os coeficientes Alfa de
Cronbach das escalas indicaram que as modificações implementadas implicaram melhorias de consistência e nas
estruturas fatoriais.
Palavras-Chave: Significado do Trabalho; Motivação; Análise Fatorial

Abstract
The factor structure of work meaning and motivation
The motivation and work meaning inventory has four scales. Two scales are about the facets of the meaning of
work: values attributes (how work should be), and descriptive attributes (how work actually is). Other scales refer
to the components of motivation: the expectation (what it is hoped that the work be), and the instrumentality
(how much the effort or dedication to work imply obtaining the desirable results or not). This study aims to
improve the inventory, searching for better coefficients of consistency, and verifying the stability of factor
structures of thee scales. A sample of 525 participants completed the inventory. Of these, 55.2% were health
professionals, 23.4% were workers from a distributor of oil, and 21,3%, of a government bank. The factor analysis
and Cronbach’s Alpha coefficients indicated that the changes resulted in better consistency and factor structures.
Key-Words: Meaning of Work; Motivation; Factor Analysis.

Assinalar o crescimento da influência da


Cognição Social na Psicologia Organizacional e do
Endereço para correspondência: R. Prof. Luis Carlos Teixeira, Trabalho (POT) já é lugar comum (Bastos, 2000;
10. Bairro Lagoa Nova. 59.075-130. Natal-RN. E-mail:
liviab@digi.com.br.
Bastos & Siqueira, no prelo; Bruner, 1997/1990;
Katzell, 1994) e, sem dúvidas, é também de reco-
Publicação decorrente do desenvolvimento do Projeto Integrado nhecimento geral que sua influência incrementou as
de Pesquisa (Comportamento no trabalho e saúde: um estudo com
profissionais de saúde em Natal. Os autores agradecem a todos os pesquisas na área e marcou grandes tendências como
quje colaboraram, em especial ao pesquisador Ms. João Carlos T. a busca permanente de base empírica, a adoção de
Argolo, aos estudantes de mestrado Vladimir Claudino O. Barros e um perspectiva sistêmica, a disposição de estar pon-
Ana Maria S. Lima e às estudantes de iniciação científica Viviane
S. Félix, Hilze Moura e Pollyanna S. Gê. do a prova modelos e teorias e o direcionamento da
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atenção de psicólogos e psicologistas para novos te- tratégia teórico-metodológica de descrição do fenô-
mas, a maior parte relativos à cultura, como signifi- meno mental sem elucidar seus nexos dialéticos com
cado do trabalho, comprometimento no trabalho, o ambiente no qual tem sentido. Reconhece-se, no
aprendizagem nas organizações, percepção de su- entanto, como cada vez mais presente, a tendência
porte organizacional, crenças e valores. A influência de busca de sentido na relação dialética cognição/
da Cognição Social, no entanto, é alvo também de contexto. A importância atribuída aqui ao contexto
muitas críticas e preocupações, inclusive algumas traz a baila a discussão entre o universalismo e par-
originadas entre aqueles que a representam. ticularização da produção de conhecimento, ainda
Assim, segundo Bruner (1997/1990) desde a faltando muito para ser possível ter clareza de até
revolução cognitivista que se reivindica uma aborda- que ponto aspectos da cognição são universais ou
gem mais interpretativa e centrada na construção de particulares à individualidade e ao regionalismo.
significados, o que não se consolidou até o momen- Outra crítica corrente à Cognição Social apon-
to. Tanto o referido autor, como outros estudiosos ta a forma fragmentada em que lida com os temas,
(como Fiske, 1992) afirmam que a influência da aten- embora alguns autores já identifiquem uma tendên-
ção centrada no processamento da informação e na cia a adoção de perspectivas mais molares (Katzell,
analogia do computador levou ao tecnicismo, tornando 1994; Álvaro-Estramiana, 1995), o que se faz notar
a abordagem da Cognição Social alvo da crítica se- no surgimento de modelos que tentam relacionar
gundo a qual obteve seus êxitos à custa da vários construtos. Na literatura especializada em
desumanização do conceito de mente. Para retomar medidas de comportamento organizacional, tal críti-
a abordagem dentro de uma perspectiva de constru- ca toma corpo apontando à multiplicidade de instru-
ção sócio-histórica da mente é preciso conceder maior mentos de mensuração em Psicologia Organizacional
centralidade aos conceitos de cultura e de significa- e do Trabalho, bem como a ambigüidade e interse-
dos, os quais para Bruner são componentes centrais ção dos construtos nos quais se baseiam as pesqui-
na explicação do que seja a natureza humana e situ- sas (por exemplo, Borges, 2001; Borges & Alves,
am-se na linha divisória da evolução humana, sendo 2002; Pasquali, 1999; Siqueira, 2002). Mas longe de
os principais elementos na configuração das mentes tais críticas significarem que os investimentos no
dos que vivem sob a influência dos mesmos. São, aperfeiçoamento instrumental devam ser reduzidos,
portanto, os significados componentes mediadores a literatura tem apontado na direção de que o avan-
importantes da relação do indivíduo com o seu mun- ço na clareza dos construtos é interdependente ao
do. Compreender os significados é, no entanto, sem- aperfeiçoamento instrumental. O uso de técnicas
pre uma tarefa complexa, devido seu caráter sem- como a análise fatorial, ao mesmo tempo, que con-
pre multifacetado. tribui na elucidação sobre a capacidade de cada item
Ilustrativo e elucidativo da complexidade de dos questionários estruturados medirem o que se pro-
conceitos como significados e cultura é a frase de põe, estimando quanto contribuem para mensuração
Bruner (1997/1990): “Uma psicologia culturalmente de um determinado fator (validação), termina tam-
sensível (...) é, e deve ser, baseada não apenas no bém avaliando a qualidade conceitual do construto.
que as pessoas realmente fazem, mas no que elas Explicando melhor, lembra-se uma frase de Konder
dizem fazer e no que dizem que as levou a fazer o (1985, p.71), descrevendo princípios da dialética: “...a
que fizeram. Diz igualmente respeito ao que as pes- prática exige um reexame da teoria e a teoria servia
soas dizem que os outros fizeram e porquê. E, acima para criticar a prática em profundidade, servia para
de tudo, refere-se ao que as pessoas dizem ser os questionar e corrigir a prática”. Nessa linha de raci-
seus mundos” (p. 26-27). Desta forma, dizer e fazer ocínio, compreende-se que um bom questionário é
se constituem em uma unidade dialética e, por con- concebido a partir de um arcabouço teórico claro, no
seqüência, a cultura e os significados construídos qual tanto o construto mais amplo (latente) é tanto
pelos indivíduos, em conformidade com a cultura em melhor definido quanto se identificam os seus indi-
que se insere, são causas da ação humana. cadores operacionais. O teste empírico do questio-
Uma segunda linha de crítica, associada ao que nário, por sua vez, permite criticar e reavaliar a qua-
já foi assinalado sobre a desumanização do conceito lidade conceitual do construto e da identificação dos
de mente, diz respeito a secundarização do contexto indicadores (Pasquali, 1999).
socioeconômico (Álvaro-Estramiana, 1995; 1999; Os avanços conceituais e instrumentais, por sua
Borges, 1998; Bruner, 1997/1990; Fiske, 1992; vez, respondem melhor às necessidades da prática
Katzell, 1994), concretizada pela adoção de uma es- profissional e da pesquisa em Psicologia. Quanto
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melhores os instrumentos disponíveis no sentido de e a capacidade dos escores nos fatores diferencia-
que realmente meçam o que declaram, melhores di- rem as categorias ocupacionais (profissionais de saú-
agnósticos psicossociais e pesquisas os psicólogos de e bancários). No entanto, dois problemas foram
realizam nas organizações ou sobre categorias constatados: o primeiro referia-se ao fato da escala
ocupacionais e profissões. dos atributos valorativos (características atribuídas
Por isso, o Inventário de Motivação e Signifi- ao trabalho definindo como esse deve ser) mostrar-
cado do Trabalho (IMST) foi criado, pensando em se menos consistente do que no IST e o segundo, à
melhor munir os profissionais e pesquisadores com distinção acentuada da estrutura fatorial da escala
um instrumento confiável e, ao mesmo tempo, reunir de instrumentalidade. Esses problemas conduziam,
evidências que permitam criticar os conceitos nos por sua vez, a dúvidas sobre a adequação do forma-
quais se embasa. Essas preocupações com exatidão to tabular do questionário (IMST), além de que aquele
justificam-se no fato de que interessa ao mundo do primeiro estudo de validação sugeria a pertinência
trabalho maior competência gerencial nas organiza- de eliminação de vários itens tornando o questioná-
ções e investir no bem-estar do trabalhador, deman- rio mais leve para a aplicação. Desenvolveu-se, en-
dado um maior conhecimento da relação do indiví- tão, o presente estudo com os seguintes objetivos:
duo com o seu trabalho. 1 – Aperfeiçoar o Inventário da Motivação e
A elaboração do IMST (Borges & Alves (2001) do Significado do Trabalho, buscando melhores índi-
ocorreu através da ampliação do Inventário do Sig- ces de consistência e verificando a estabilidade da
nificado do Trabalho (Borges, 1997, 1999) pela ab- estrutura fatorial dos componentes da motivação e
sorção de conceitos da teoria da motivação designa- do significado do trabalho mensurados no referido
da como Teoria da Expectância (Vroom, 1995/1964; questionário.
1969) e das categorias empíricas a partir de entre- 2 – Ampliar a aplicabilidade para outras cate-
vistas com bancários e profissionais de saúde em gorias ocupacionais.
Natal. Importa recordar que o IST, por sua vez, foi Para que se torne compreensível a operacio-
criado fundamentando-se em ampla e multidisciplinar nalização de tais objetivos, descreve-se sucintamen-
revisão de literatura sobre o assunto (significado do te, nas seções subseqüentes, os principais conceitos
trabalho) e de categorias empíricas levantadas em sobre significado do trabalho e motivação os quais
entrevistas com operários da construção habitacional, fundamentam o IMST.
costureiras e comerciários. São com tais estratégias
teórico-metodológicas que se concretizam aqui uma Significado do Trabalho
perspectiva interpretativa dos significados a luz do Aborda-se (segundo Borges, 1998a) o signifi-
contexto socioeconômico e cultural e, ao mesmo tem- cado do trabalho como uma cognição subjetiva, só-
po, sistêmico atentando para as inter-relações entre cio-histórica e dinâmica, caracterizado por múltiplas
os componentes dos significados atribuídos ao tra- facetas que se articulam de diversificadas maneiras.
balho e da vivência da motivação para esse mesmo É subjetiva, apresentando uma variação individual, a
trabalho. Como se partiu da noção, já referida qual reflete a história pessoal de cada um e repre-
(Bruner, 1997/1990), de que os significados são com- senta a forma que o indivíduo interpreta e dá sentido
ponentes fundantes da natureza humana, compreen- ao seu trabalho. É social, porque além de apresentar
de-se que os significados que os indivíduos atribuem aspectos compartilhados por um conjunto de indiví-
ao seu trabalho estão associados a suas motivações duos, reflete as condições históricas da sociedade,
e ambos ao que fazem no ambiente de trabalho e na qual estão inseridos. É dinâmico, no sentido de
como se relacionam com esse e com a organização que é construto inacabado, em permanente proces-
empregadora. A motivação no trabalho, por sua vez, so de construção. Decorrente disto, sua caracteriza-
é um dos tópicos que mais tem ocupado os psicólo- ção variará conforme seu próprio caráter sócio-his-
gos, acompanhando toda a história da POT desde os tórico. É dinâmico também no sentido de que está
anos de 20. sempre em construção para cada indivíduo. Tal cons-
O IMST conta com um estudo anterior (Borges trução individual ocorre através do processo de so-
& Alves, 2001) de validação. Sua apreciação geral cialização, no qual o indivíduo ativa e criativamente,
aponta que as diferentes escalas, as quais o com- apropria-se e recombina elementos da realidade so-
põem, são consistentes e úteis, levando em conta as cial e material, bem como das concepções do traba-
proporções da variância explicada, os Coeficientes lho oriundas das diversas formas de conhecimento
Alfa de cada fator, os coeficientes de fatorabilidade do seu tempo histórico.
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É importante perceber que esta conceituação equipamentos adequados, segurança, higie-


do significado do trabalho é concernente com as ten- ne, assistência e amparo social.
dências reclamadas à Cognição Social na introdu- Essa estrutura fatorial dos atributos descritivos
ção deste artigo no sentido de assumir uma perspec- diferencia os profissionais de saúde e bancários dos
tiva interpretativa, contextual e sistêmica. trabalhadores da construção habitacional e de redes
A bibliografia especializada tem convergido de supermercados do Distrito Federal (participantes
quanto a assumir o construto - significado do traba- do estudo referido anterior de Borges, 1999 e de
lho - como multifacetado, embora haja divergências Borges & Tamayo, 2001). Esses resultados são mais
na identificação de quais são as principais facetas. próximos aos resultados encontrados no estudo da
Borges (1998) e Borges e Tamayo (2001) tem iden- equipe MOW. Provavelmente, o fato está associado
tificado essas como: a centralidade do trabalho, atri- ao nível de instrução dos participantes.
butos valorativos, atributos descritivos e hierarquia O fator Desgaste e Desumanização faz parte
dos atributos. da estrutura fatorial, mas, a exemplo da estrutura
A primeira faceta – centralidade do trabalho – fatorial encontrada no estudo com operários da cons-
supõe uma hierarquização das esferas de vida (fa- trução habitacional e trabalhadores de redes de su-
mília, trabalho, religião, lazer e comunidade) como é permercado (Borges, 1997; 1999; Borges e Tamayo,
exposto por England e Misumi (1986) e a Equipe do 2001), também apresenta um coeficiente alfa inferi-
MOW (1987). É, certamente, a faceta mais ampla- or aos demais fatores da escala.
mente aceita. Os atributos valorativos consistem em uma de-
Atributos descritivos designam a percepção do finição sobre o que o trabalho deve ser. Toma-se
trabalho como ele é concretamente. Borges (1997, aqui como referência o conceito de valor de Schwartz
1998a e 1999) identificou a estrutura fatorial destes (1994, p.21), segundo o qual é um “alvo transituacional
atributos primeiramente a partir de uma amostra de desejável, variando de importância que funcionam
trabalhadores da construção civil e de redes de su- como princípio-guias na vida de uma pessoa ou ou-
permercados no Distrito Federal, através da aplica- tra entidade social”.
ção do IST. A estrutura fatorial primária compôs-se Borges (1998a e 1999) e Borges e Tamayo
dos seguintes fatores (Borges, 1998a e 1999): Êxito (2001), através da aplicação do IST (Inventário do
e Realização Pessoal, Justiça no Trabalho, Sobrevi- Significado do Trabalho) numa amostra de operários
vência Pessoal-Familiar e Independência Econômi- da construção habitacional e trabalhadores de redes
ca e Carga Mental. Com o desenvolvimento do IMST, de supermercado, encontraram a estrutura fatorial
Borges e Alves (2001) explorando a estrutura fatorial de tais atributos, da qual os fatores primários são:
dos atributos descritivos com profissionais de saúde Exigências Sociais, Justiça no Trabalho, Esforço
e bancários, identificaram um novo conjunto de fato- Corporal e Desumanização, Realização Pessoal e
res primários, a saber: Sobrevivência Pessoal e Familiar. No primeiro teste
a) Auto-expressão (r2= 53,3 e alfa=0,86): indi- empírico do IMST desenvolvido por Borges e Alves
ca que o trabalho representa concretamen- (2001), com profissionais de saúde e bancários, foi
te possibilidades de opinar, influenciando nas identificada a seguinte estrutura fatorial dos atribu-
decisões; de expressar a criatividade; de tos valorativos:
merecer confiança e reconhecimento; ser a) Justiça no Trabalho (r2= 57,9 e alfa=0,91):
pessoa e crescer pessoalmente; define que o trabalho deve garantir boas
b) Responsabilidade e Dignidade (r2= 16,6 e condições na forma de higiene, assistência,
alfa=0,80): indica que no trabalho se assu- conforto, eqüidade de direitos entre colegas;
me responsabilidades, sente-se produtivo e, provisão salarial, proporcionalidade entre
por isso, uma pessoa digna e respeitadora; esforços e recompensas (ou entre deveres
c) Desgaste e Desumanização (r 2= 13,7 e e direitos) e reconhecimento;
alfa=0,63): indica quanto o trabalho implica b) Desgaste e Desumanização (r 2= 16,9 e
no desgaste e na desumanização; alfa=0,77): define que o trabalho deve impli-
d) Recompensa Econômica (r2= 8,7 e alfa=0,70): car em ritmo, desgaste, desumanização, re-
indica quanto o trabalho garante o auto-sus- petição, ocupação, pressa e exploração;
tento e independência; c) Realização (r2= 10,2 e alfa=0,83): define que
e) Condições de Trabalho (r2= 7,9 e alfa=0,84): o trabalho deve gerar prazer na forma de
indica quanto no trabalho se pode contar com gosto pelos resultados, amparo social, acolhi-
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mento e confiança, independência, desafio, cundária, a partir da comparação dos escores indivi-
auto-respeito, produtividade e sentido social; duais nos diversos fatores.
d) Bem-Estar Socioeconômico (r 2= 8,2 e Desde os estudos da equipe do MOW (1987), a
alfa=0,67): define que o trabalho deve pro- tentativa de apreensão do todo do significado do tra-
ver reconhecimento pelas recompensas, balho compartilhada por um grupo vem sendo realiza-
oportunidades de qualificação, estabilidade, da através do conceito de padrão do significado do
boas relações interpessoais, crescimento e trabalho, que consiste na configuração de escores dos
auto-sustento; indivíduos nas diversas facetas e fatores quando é o
e) Auto-Expressão (r2= 6,8 e alfa=0,77): define caso. Partindo, então, das facetas consideradas por
que o trabalho deve prover oportunidade de Borges (1998 e 1999), os padrões do significado do
expressão da criatividade, das habilidades trabalho consistem na combinação dos escores em
interpessoais, da capacidade de opinar, do centralidade do trabalho, nos fatores valorativos e des-
raciocínio e do bem-estar mental. critivos e na hierarquia atribuída a tais fatores.
Observa-se que a estrutura fatorial encontrada
para os atributos valorativos é qualitativamente dis- Motivação no trabalho
tinta daquela encontrada a partir da aplicação do IST Sobre a motivação para o trabalho, toma-se
em trabalhadores da construção civil e de redes de como referência a Teoria das Expectativas, elabo-
supermercados. Indica, pois, que os profissionais de rada por Vroom (1995/1964). Essa, segundo
saúde e bancários organizam as atribuições de valo- Muchinsky (1994), essa teoria consagrou o conceito
res ao trabalho de forma diferenciada, sendo que entre de Expectativas no campo da motivação. É uma te-
estas diferenças estão: (1) o crescimento da propor- oria cognitiva e assume existir uma relação entre o
ção da variância explicada pelos fatores Justiça no esforço que se realiza e o rendimento do trabalho.
Trabalho e Desgaste e Desumanização; (2) o Segundo Francès (1995), centra a atenção sobre o
surgimento do fator designado Auto-Expressão; (3) processo de motivar e não exatamente no conteúdo.
a substituição do fator de Sobrevivência Pessoal e E concernente com o que se tratou na introdução
Familiar pelo de bem-estar; e (4) a inexistência de desse capítulo a Teoria da Expectativa pressupõe a
um fator que represente exigências sociais (deman- unidade entre a mente e ação humana e valoriza a
das da sociedade). No lugar deste último, para a pre- volição humana. Entretanto, é muito criticada por sua
sente amostra, o sentido de dever está incluso em ahistoricidade, à medida que só permite revelar a
justiça no trabalho e o sentido social vinculado dire- motivação em um dado momento.
tamente ao prazer pelo conteúdo do trabalho. Tal teoria se sustenta em cinco conceitos bási-
Apesar da estrutura conter a mesma quantida- cos (Muchinsky, 1994; Klein, 1990; Francès, 1995;
de de fatores, os últimos – bem-estar e auto-expres- Vroom, 1995/1964): (1) Resultados do trabalho, que
são – apresentam consistência (coeficiente alfa) in- são as conseqüências que uma organização pode
ferior àquela da estrutura anterior, indicando que o oferecer a seus empregados a partir do exercício de
formato tabular adotado no IMST pode ter afetado suas funções; (2) Valências que consistem nos valo-
negativamente sua confiabilidade. res positivos ou negativos atribuídos pelos trabalha-
Por fim, entende-se por hierarquia de atributos a dores aos resultados do trabalho; (3) Expectativa que
organização hierárquica das características atribuídas consiste na percepção de quanto o esforço condu-
ao trabalho pelos indivíduos (Salmaso & Pombeni, zem aos resultados esperados; (4) Instrumentalidade
1986; Ravlin & Meglino, 1989). Borges (1998) e que consiste no grau de relação percebido entre a
Borges e Tamayo (2001) têm aplicado este conceito execução e a obtenção dos resultados; (5) Força
tanto aos atributos valorativos quanto aos descritivos. motivacional que é, então, a quantidade de esforço
Encontraram que, subdividindo amostra segundo as ou pressão de uma pessoa para motivar-se. Repre-
hierarquias, as correlações entre os fatores se tornam senta-se matematicamente pela seguinte expressão:
mais fortes. Isto significa que conhecer a organização
ΣVi Ii ]
FM = E [Σ
hierárquica individual dos atributos, pode tornar previ-
síveis os nexos sistêmicos existentes entre os diver- Na qual, FM é a força motivadora, E a
sos fatores valorativos e descritivos, corroborando a Expectativa e I a Instrumentalidade.
previsão da bibliografia consultada sobre o poder de
discriminação da hierarquia dos valores. Tais hierar- Para Muchinsky (1994), a Teoria da Expectati-
quias são aferidas no IMST como uma medida se- va proporciona uma base racional e rica para a com-

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preensão da motivação em um determinado traba- E para a Instrumentalidade (r2 = 42,5) foram:


lho. Oferece ampla possibilidade de aplicação e pres- a) Envolvimento (r2= 70,1 e alfa=0,91): indica
ta-se ao teste empírico. Apesar das polêmicas em quanto os indivíduos percebem o próprio de-
torno da adequação de se multiplicar os escores dos sempenho como influente para que se sinta
componentes do modelo, o referido autor avalia que produtivo, identificado com as tarefas, res-
os estudos posteriores fortalecem o modelo e que é ponsável, digno, merecedor de confiança;
possível fazer predições de boa qualidade a partir do incluído no grupo, adaptado às normas e
produto de seus elementos, da soma ou de compo- respeitador da hierarquia;
nentes em separado. Segundo Muchinsky (1994), b) Justiça no Trabalho (r2= 13,6 e alfa=0,92):
acerca da capacidade preditiva e validade empírica indica quanto os indivíduos percebem o pró-
pode-se consultar os estudos, por exemplo, de Mitchel prio desempenho como influente para con-
e Knudsen (1973) e de Muchinsky e Taylor (1976). seguir contar com equipamentos adequados,
Vroom (1995/1964) desenvolveu seu modelo de conforto, igualdade de direitos, assistência,
motivação considerando quatro grandes grupos de proporcionalidade entre esforços e recom-
resultados do trabalho, a saber: a provisão de salário, pensas, salário e sua suficiência;
o dispêndio de energia física e mental; a produção de c) Desgaste e Desumanização (r 2 = 9,2 e
bens e serviços; as interações sociais com outras pes- alfa=0,76): indica quanto os indivíduos per-
soas e status social. O referido autor fundamentou a cebem o próprio desempenho como respon-
eleição desses resultados em uma ampla e apro- sável por provocar desgaste e desuma-
fundada revisão de literatura. Entretanto, as diferen- nização;
ças do contexto sociohistórico, tanto no que diz res- d) Independência e Bem-Estar (r 2= 7,1 e
peito aonde desenvolveu seu modelo e quando, está alfa=0,72): indica quanto os indivíduos per-
muito distante da nossa realidade. Daí, utilizaram-se cebem o próprio desempenho como respon-
(Borges & Alves, 2001) como critério de eleição des- sável pela obtenção de independência, auto-
ses resultados os itens do IST somados a revisão rea- sustento, status, estabilidade e assistência.
lizada para criação do IMST (a partir de entrevistas
com bancários e profissionais de saúde), para então
lidar com os fatores empiricamente encontrados. Es- Método
ses para as Expectativas (r2 = 41,1) foram: Tendo em vista a consecução dos objetivos anun-
a) Justiça no Trabalho e Auto-Expressão (r2= ciados anteriormente, planejou-se o desenvolvimento
69,8 e alfa=0,94): indica quanto o participante da pesquisa de forma a proporcionar modificações no
espera obter justiça no trabalho, nas formas IMST visando superar as limitações encontradas an-
de assistência, salário, proporcionalidade teriormente e submetê-lo a novo teste empírico com
entre esforço e salário e higiene, e oportuni- uma amostra de profissionais de saúde e bancários,
dade de expressão da criatividade, do reco- assemelhando-se a pesquisa anterior, mas incluindo
nhecimento e da sua influência nas decisões; outra categoria ocupacional – trabalhadores de uma
b) Desgaste e Desumanização (r 2= 15,6 e distribuidora de derivados de petróleo (petroleiros)
alfa=0,79): indica quanto o indivíduo espera privada – dos quais se esperava que se aproximas-
esgotar-se, ocupar-se, apressar-se e sem dos primeiros quanto ao nível de instrução.
desumanizar-se;
c) Bem-estar e Independência (r 2 = 7,7 e Amostra
alfa=0,87): indica quanto o indivíduo espera A amostra foi formada por 525 participantes,
encontrar estabilidade no emprego, oportu- sendo 290 (55,2%) profissionais de saúde, 112
nidade de profissionalização, tarefas (23,4%) trabalhadores de uma empresa de distribui-
prazerosas, garantia do sustento, do amparo ção de derivados de petróleo (petroleiros) privada e
social e independência enquanto consumi- 123 (21,3%) bancários de um banco de economia
dor; mista. A formação da amostra seguiu uma estraté-
d) Responsabilidade (r2= 6,9 e alfa=0,76): indi- gia acidental, na qual o critério de inclusão era a aces-
ca quanto o indivíduo espera ser responsá- sibilidade do indivíduo. Dos profissionais de saúde,
vel pelo que faz, pelo respeito à hierarquia, 138 trabalham em Unidades Básicas de Saúde, (26,3%
pelo cumprimento de normas, por decisões da amostra total) e 152 em hospitais (29% da amos-
e pela qualidade do que faz. tra total). Estimando-se o Qui-Quadrado para exa-

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me das distribuições do nível de instrução por cate- rística dos profissionais de saúde se deve, principal-
goria ocupacional, verifica-se que as duas distribui- mente, a inclusão dos técnicos e auxiliares de enfer-
ções não são independentes (Qui-quadrado = 40,9, magem e, por conseqüência, há maior concentração
p<0,001). Examinando a Tabela 1 que traz o cruza- de pessoas com apenas instrução superior nos profis-
mento das duas variáveis (nível de instrução e cate- sionais de saúde atuantes na rede hospitalar.
gorias ocupacionais) verifica-se que petroleiros e ban- No entanto, importa observar que tal variação
cários apresentam uma maior concentração de parti- embora significativa ocorre principalmente dentro do
cipantes com nível superior, enquanto os profissionais intervalo da instrução média (secundária) e superior.
de saúde estão mais divididos entre a instrução supe- A Figura 1 permite perceber isto com mais clareza.
rior e secundária. Importa observar que esta caracte- Por isso, julga-se que a inclusão dos petroleiros atende

Tabela 1. Nível de Instrução por categorias ocupacionais


Categoria Ocupacional
Profissionais de
saúde Bancários Petroleiros Total
Nível de 1º Grau 15 2 3 20
instrução 5.2% 1.8% 2.7% 3.9%
2º Grau 88 22 37 147
30.6% 19.3% 33% 28.6%
Superior 93 72 65 230
32.3% 63.2% 58% 44.7%
Especialista 86 17 7 110
29.9% 14.9% 6.3% 21.4%
Mestre 5 5
1.7% 1%
Doutor 1 1 2
3% 9% 4%
288 114 112 514
Total
100% 100% 100% 100%


7


6

5 –
*393
LEGENDA

1 – Ensino Fundamental
4 2 – Ensino Secundário
*
3 – Estudos superiores
3 – 4 – Especialização
% – Mestrado
6 – Doutorado

*
Nível de instrução


1
*399
–I
0 I I I
288 114 112
Prof. de saúde Bancários Petroleiros

Categoria Operacional
Figura 1. Nível de instrução por categoria ocupacional
Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145
130 Livia de Oliveira Broges & Antônio Alves Filho

a característica esperada de nível de instrução. Tal exigia do participante quatro respostas simultâneas
diferença já existia no estudo anterior entre bancári- a cada item. O IMST foi aplicado, inserido em um
os e profissionais de saúde. protocolo de coleta de dados mais amplo, porque a
A amostra foi composta de 67,2% de mulheres presente pesquisa é parte de um Projeto Integrado
e 32,8% de homens. A maioria dos participantes de Pesquisa, intitulado Comportamento e Saúde no
declaram-se católicos (73,9%). A maioria também é Trabalho. Ao final do protocolo, há uma ficha
casada (60%) e tem filhos (71,4%). Quanto a renda sociodemográfica.
familiar declarada, 25,9% da amostra têm renda de
1 a 5 salários-mínimos, 25,3%, de 6 a 10 salários- Procedimentos
mínimos, 28,5%, de 11 a 21 salários-mínimos e 20,2%, Entre os profissionais de saúde os questionários
mais de 21 salários-mínimos. Apresentam uma mé- eram entregados pessoalmente e o aplicador orienta-
dia de idade de 38,2 anos com desvio padrão de 9,6. va o participante sobre as instruções do questionário.
Nesses casos, o participante devolvia posteriormente
Os instrumentos de pesquisa e seus aperfei- preenchidos. No setor de saúde pública, esse foi o
çoamentos único procedimento percebido como viável diante da
O IMST inicia-se por uma apresentação e as pressão que cada profissional vivencia tendo em vista
instruções, nas quais se trata dos seus objetivos, do atender aos diversos usuários, seja nas Unidades Bá-
anonimato do participante, do compromisso da equi- sicas de Saúde, seja nos Hospitais. No intuito de ga-
pe com o sigilo das respostas individuais, do conteú- rantir representatividade da amostra nesse setor, fo-
do do questionário, da forma de respondê-lo e ofere- ram escolhidas Unidades Básicas de Saúde nos qua-
ce exemplos de questões extras com o mesmo estilo tro Distritos Sanitários da cidade de Natal. E procura-
das que serão respondidas. Em seguida, apresenta- vam-se aqueles que faziam parte das profissões mais
se a escala dos Atributos Valorativos composta de numerosas (Médicos, Enfermeiros, Técnicos e Auxi-
64 itens na forma de frases, cada uma descrevendo liares de Enfermagem, Assistentes Sociais,
um valor do trabalho. O participante responde, es- Nutricionistas, Dentistas e Psicólogos), em conformi-
crevendo pontos de 0 a 4 em linha tracejada que dade com os parâmetros levantados junto a Secreta-
antecede a frase, apontando quanto a frase descre- ria Municipal de Saúde. Em cada Distrito se manti-
ve algo que o trabalho deve ser. nham as proporções destas profissões da amostra
Segue-se, então, as escalas de expectativas e como existia na sua população. Nos Hospitais, aplica-
atributos descritivos, com 62 itens. Estão precedidas vam-se os questionários nos mesmos profissionais
por nova instrução contendo exemplos de questões buscadas nas Unidades Básicas, mantidas as propor-
extras respondidas. Os itens são possíveis resulta- ções existentes em cada um. Participaram da pesqui-
dos do trabalho. Para essas escalas foi mantida a sa um hospital universitário geral, um hospital infantil,
forma tabular, porém. no lugar de marcar um núme- um hospital de emergência, um hospital militar e um
ro, o participante o escreve. Essa pequena modifica- hospital geral localizado em bairro de periferia.
ção tem um impacto forte na apresentação (aparên- No banco de economia mista, os questionários
cia) do questionário que se torna mais leve. Nessas foram enviados por malote aos funcionários de todas
escalas, o participante apresenta duas respostas para as agências mantida por aquele banco nas capitais
cada item. Uma dizendo quanto espera que o resul- brasileira. Os questionários eram acompanhados de
tado indicado no item ocorra (expectativa) e outra uma carta explicativa adicional solicitando a adesão
dizendo quanto observa aquele resultado na prática de cada um. Era feito contado com um facilitador em
(Atributos descritivos). cada agência, os quais já exercem esse papel no coti-
Por fim, apresenta-se a escala de instrumen- diano, intermediando os contatos do órgão de
talidade, composta de 49 itens (resultados do traba- gerenciamento de recursos humanos e os funcionári-
lho), aos quais o participante responde atribuindo os. A esse facilitador competia divulgar a pesquisa e
pontos de 0 a 4 (escreve em linha tracejada antes do procurar conquistar a adesão. Os funcionários res-
item) indicando quanto o seu desempenho é útil para pondiam e devolviam sem identificação também por
obter o referido resultado. malote. Na Agência na qual um colaborador da pes-
Tal formato descrito é bastante diferente da quisa trabalha, foi posto uma urna para que o funcio-
versão testada anteriormente que, assumindo a for- nário ao devolver não se sentisse identificado.
ma tabular para as quatro escalas (atributos valora- Na empresa de distribuição de derivados de
tivos e descritivos, expectativas e instrumentalidade), petróleo, contava-se com a colaboração do gerente
Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145
Significado e Motivação do Trabalho 131

de recursos humanos. Na sede da empresa (Natal) fatorial designando esse número de fatores e solici-
os questionários foram aplicados por estagiários de tando a solução com rotação oblíqua. Caso a matriz
psicologia. Nas demais filiais, os questionários fo- de correlação entre fatores indicasse alguma corre-
ram enviados por malote e as estagiárias contatavam, lação superior a 0,30, essa era tomada como a solu-
por telefone, os gerentes das mesmas, mantendo ção final, o que aconteceu apenas com a escala de
contatos sempre que necessário. Instrumentalidade. Caso contrário, solicitava-se nova
As respostas dos participantes foram registradas análise fatorial como rotação ortogonal (Varimax),
na forma de banco de dados do SPSS (Statistical sendo portanto a última solução. Como se adotou o
Package for Social Science) e as análises estatísticas número de fatores sugerido pelo Scree Plot, a expli-
desenvolvidas através das rotinas desse programa. cação da variância exposta nos resultados é bem in-
Foram realizadas análises fatoriais confirmatórias (téc- ferior a da Tabela 1, porque esta opção significa fi-
nica dos eixos principais) para cada escala. Para cada car apenas com os fatores que contribuem mais efe-
uma fazia-se uma aplicação inicial sem estabelecer o tivamente para a explicação da variância.
número de fatores. Nessa, avaliavam-se os coefici- Estimaram-se também os coeficientes Alfa de
entes de fatorabilidade (Tabanichnick & Fidell, 1989), Cronbach para cada escala (no total) e para cada fa-
os coeficientes de comunalidade de cada item, a ex- tor. Conhecida a estrutura fatorial de cada escala, es-
plicação da variância total e o Scree Plot que revela a timaram-se também os escores nos fatores, através
relação entre os valores-critério (Eigenvalues) e a pro- de média ponderada pelas cargas fatoriais, e foram
porção explicada da variância por cada fator. Nos casos realizadas análises de Variância comparando as mé-
de verificar-se itens com comunalidade menor que dias de escores nos fatores por categoria ocupacional
0,30, examinava-se na matriz de correlação se aquele (profissionais de saúde, bancários e petroleiros).
item apresentava coeficiente de correlação superior Por último, estimou-se a Força Motivacional
a 0,30 com pelo menos um outro item. Em caso ne- através do produto dos somatórios dos escores nos
gativo, entendendo que o item não apresenta uma fatores de expectativas e o somatório dos escores
boa inserção em seu conjunto, era eliminado das de- nos fatores de instrumentalidade, subtraído o produ-
mais análises. to dos escores no fator de expectativa e de
Depois de eliminados os itens, realizava-se nova instrumentalidade referidos a resultados do trabalho
análise fatorial, sendo encontrados os coeficientes não desejáveis (ou não atrativos), ou seja, para os

Tabela 2 – Coeficientes de fatorabilidade

de fatorabilidade resumidos na Tabela 2, os quais são quais por hipótese se atribui valência negativa. As
considerados favoráveis. médias desses escores por categoria ocupacional
Observando-se, então, o número de fatores su- (bancários, profissionais de saúde e petroleiros) fo-
geridos pelo Scree Plot, desenvolvia-se nova análise ram comparadas, aplicando-se análise de variância.
Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145
132 Livia de Oliveira Broges & Antônio Alves Filho

Resultados onário pode ter seu número de itens diminuído, em-


bora tenha melhorado a consistência (coeficientes
Para a consecução dos objetivos estabelecidos Alfa). Houve também uma melhoria nas cargas
a comparação com o estudo anterior é fundamental. fatoriais. Por exemplo, na estrutura fatorial atual, no
Assim, serão apresentadas as quatro estruturas primeiro fator as cargas variam de 0,40 a 0,83 e há
fatoriais referentes aos dois componentes do signifi- cinco itens com cargas superiores a 0,70, enquanto
cado do trabalho – atributos valorativos e descritivos que na estrutura anterior variava de 0,32 a 0,72 ha-
– e os dois componentes da motivação – expectati- vendo apenas dois itens com cargas superiores a
vas e instrumentalidade – desenvolvendo a compa- 0,70. Isto significa que, na atual estrutura fatorial, os
ração com as estruturas fatoriais encontradas no fatores estão identificados com mais clareza.
estudo anterior uma a uma. Os fatores dos atributos valorativos encontra-
Observa-se na Tabela 3, que a escala dos atri- dos podem ser definidos na seguinte forma:
butos valorativos não conseguiu confirmar a estru- a) Justiça no Trabalho (r2=0,17 e Alfa=0,92):
tura com cinco fatores, porém apenas uma estrutu- define que o ambiente de trabalho deve garantir as
ra com quatro fatores. Isso ocorreu porque dois fa- condições material, de higiene e de equipamentos
tores (do estudo anterior) designados por Auto-ex- adequados às características das atividades e à ado-
pressão e Realização não conseguiram se diferen- ção das medidas de segurança, bem como garantir o
ciar, mantendo-se como dois fatores distintos. E retorno econômico compatível, o equilíbrio de esfor-
implicou na redução da proporção da variância ços e direitos entre os profissionais.
explicada pelo conjunto dos fatores de 37% para b) Auto-expressão e realização pessoal (r2=0,12
33%. Observou-se, entretanto, um fortalecimento e Alfa=0,81): define que o trabalho deve oportunizar
da consistência dos fatores, pois na estrutura ante- expressão da criatividade, do sentimento de produtivi-
riormente encontrada os Coeficientes Alfa varia- dade, das habilidades interpessoais, da capacidade de
vam de 0,69 a 0,89 enquanto que, na estrutura atu- tomar decisões e do prazer pela realização das tarefas.
al, estão variando de 0,77 a 0,92. c) Sobrevivência Pessoal e Familiar (r2=0,05 e
Além disso, observa-se que, na versão anterior, Alfa=0,78): define que o trabalho deve garantir as
o primeiro fator era responsável por uma proporção condições econômicas de sobrevivência e de sus-
ampla da variância (r2 = 0,21) e todos os demais ex- tento pessoal, a assistência à família, a existência
plicavam parcela muito reduzida (r2 = 0,03 a 0,06). Na humana, a estabilidade no emprego através do de-
versão atual, os dois primeiros fatores explicam pro- sempenho, o salário e o progresso social.
porções amplas (17% e 12% respectivamente), sen- d) Desgaste e Desumanização (r 2=0,04 e
do que o segundo, que explica 12% da variância, é Alfa=0,77): define que o trabalho deve implicar em
exatamente o fator resultante da fusão entre Auto- desgaste, pressa, atarefamento, perceber-se como
Expressão e Realização. Houve, portanto, uma divi- máquina ou animal (desumanizado), esforço físico,
são mais equilibrada de explicação da variância pelos dedicação e perceber-se discriminado.
dois primeiros fatores. É importante registrar que o A análise fatorial dos Atributos Descritivos con-
fator Sobrevivência Pessoal e Familiar, na versão atu- firmou a estrutura fatorial do estudo anterior, identi-
al, é o mais semelhante, em conteúdo, do fator desig- ficando os mesmos cinco fatores, embora que, a par-
nado como Bem-estar socioeconômico na versão an- tir do segundo fator, tenha ocorrido mudanças quan-
terior. Ambos têm um caráter econômico, mas se di- to a posição e proporção de explicação da variância.
ferenciam porque no fator atual predomina itens que A proporção da variância explicada melhorou (pas-
se reportam a garantias básicas (sobrevivência, sus- sou de 36 para 45%), bem como a consistência dos
tento, assistência a si e a família). Por conseguinte, fatores, pois que no estudo anterior os Coeficientes
equivalendo ao fator encontrado no estudo com tra- Alfa variavam de 0,63 a 0,86 e, no atual, variam de
balhadores da construção habitacional e de redes de 0,70 a 0,91. As cargas dos itens nos fatores também
supermercados (Borges & Tamayo, 2001), justifican- apresentam-se mais elevadas. No primeiro fator há
do assim a mudança (retomada) de nomenclatura. dois itens com cargas acima de 0,70 e mais dois a
Por fim importa observar, que a solução fatorial partir de 0,60 (Ver Anexo II). Na estrutura anterior,
utilizada é, no estudo atual, de rotação ortogonal e a carga de maior magnitude era de 0,58. Isto se re-
adotou-se o critério de eliminar todos os itens com pete a cada fator, devendo-se destacar que o quarto
cargas em dois fatores. Por conseguinte, essa solu- fator (Alfa=0,82) é formado apenas com três itens,
ção só utilizou 47 itens, o que significa que o questi- cujas cargas variam de 0,64 a 0,74, enquanto o mes-
Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145
Significado e Motivação do Trabalho 133

Tabela 3 – Análises fatoriais nas versões anterior e atual do IMST

Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145


134 Livia de Oliveira Broges & Antônio Alves Filho

mo fator na estrutura anterior (Alfa=0,70) contava ser respeitado, influenciar nas decisões, independên-
com seis itens porém com cargas de 0,47 a 0,56. cia econômico-financeira, aprendizagem), os quais
Como há variações na composição dos fatores, correspondem aos itens de maiores cargas fatoriais.
ajustou-se a conceituação dos mesmos que passam A estes seguem diversos itens que dizem respeito
a ser: aos aspectos econômicos (assistência pessoal e fa-
a) Auto-expressão (r2=0,24 e Alfa=0,91): des- miliar, sobrevivência, sustento, estabilidade, pro-
creve o trabalho como oportunizando a aplicação de porcionalidade entre recompensas econômica e es-
opiniões dos participantes e como lugar de influenciar forço) e, ainda, mesclando com outros referentes à
nas decisões, de reconhecimento do que se faz, de auto-expressão e à realização pessoal (crescimento
sentir-se tratado como pessoa respeitada, de relacio- pessoal, contribuição à sociedade, reconhecimento
namento de confiança e de crescimento pessoal. pelas autoridades, responsabilidade pelas decisões).
b) Condições de trabalho (r2=0,07 e Alfa=0,83): A revelação desta associação de conteúdos econô-
descreve o trabalho exigindo para o desempenho micos, incluindo idéias de reciprocidade e assistên-
adequado equipamentos específicos, conforto mate- cia familiar, aos conteúdos interpessoais e de respei-
rial e higiênico, assistência e melhores salários para to conduziu ao uso da nomenclatura de Justiça no
o trabalhador. Trabalho. Nesse fator de expectativa, ao associar-
c) Responsabilidade (r2=0,04 e Alfa=0,70): des- se o incentivo a auto-expressão à tal noção de Justi-
creve o trabalho como implicando na necessidade ça no trabalho, entende-se que o fator traduz a ex-
de cumprir com as tarefas previstas, na ocupação e pectativa de que a Justiça no trabalho é esperada
no direito de que a organização cumpra com seus como representando o reconhecimento do envol-
deveres, fazendo o indivíduo sentir-se bem. vimento auto-expressivo.
d) Recompensa econômica (r2=0,03 e Alfa = O terceiro fator da escala de Expectativa –
0,82): descreve o trabalho como garantia do susten- Desgaste e desumanização – apresentou-se mais
to, independência econômica e sobrevivência. consistente (Alfa = 0,83), porém a maioria das car-
e) Desgaste e Desumanização (r 2=0,02 e gas dos itens sofreram uma leve queda. No estudo
Alfa=0,73): descreve o trabalho como associando a anterior, variavam de 0,43 a 0,71 e, no atual, variam
valorização da condição de ser gente à aceitação da de 0,40 a 0,69. Mas reúne os mesmos conteúdos:
dureza no trabalho, terminando por fazê-lo perce- esgotamento, pressa, atarefamento, exigência de ra-
ber-se como máquina ou animal, exigindo rapidez, pidez, desproporção entre esforços e recompensas,
esforço físico, ritmo acelerado, repetição de tarefas negação da própria condição humana, discriminação
e até discriminando-o em função do que faz. e esforço físico.
Passando a descrever o IMST na mensuração Nessa escala, dois fatores – o segundo, Segu-
dos componentes da motivação, inicia-se observan- rança e Dignidade e o quarto, Responsabilidade –
do a estrutura fatorial das Expectativas no trabalho. apresentaram queda da consistência mensurada atra-
A estrutura fatorial encontrada confirma a estrutura vés do coeficiente Alfa de Cronbach: eram de 0,87
de quatro fatores primários e mantém a proporção e de 0,76 respectivamente e passaram a 0,71 e 0,66.
da variância explicada (passa de 41% para 44%). O Além de que, no segundo, o conjunto dos itens é mais
primeiro fator (Auto-expressão e Justiça no traba- restrito, associando a expectativa de contarem com
lho), da mesma forma que no estudo anterior, con- a adoção de medidas de segurança à expectativa de
centra uma parcela muito elevada da explicação da respeito ao profissional enquanto pessoa e de ma-
variância (28%) em comparação com os demais fa- neira democrática atingindo a todos igualmente. Em
tores (8%, 4% e 4% respectivamente). Isso signifi- decorrência desse conteúdo mais restrito, adotou-se
ca que, quando se refere as expectativas dos indiví- aqui uma nomenclatura também mais específica.
duos em relação a ocorrência dos resultados espe- Assim, deixou-se de designar o fator como Bem-
rados do trabalho, as noções de justiça no trabalho e estar e independência para adotar-se a designação
auto-expressão são construídas de forma que há de Segurança e Dignidade. Os itens de independên-
interdependência acentuada entre elas. Apesar des- cia econômica-financeira carregaram no primeiro
se primeiro fator ser muito semelhante ao primeiro fator, mostrado-se indicadores de auto-expressão e
da estrutura fatorial do estudo anterior, inverteu-se a justiça no trabalho. O quarto fator, cuja consistência
forma de designá-lo com a intenção de enfatizar na também diminuiu (coeficiente Alfa de 0,76 para 0,66),
nomenclatura os conteúdos de auto-expressão (re- teve o número de itens que o compõe bastante redu-
lações interpessoais com a chefia, reconhecimento, zido (três itens) e está expressando a responsabili-
Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145
Significado e Motivação do Trabalho 135

dade através das idéias de obrigação, ocupação e ou um animal, esgotamento, percepção de discrimi-
obediência. nação, atarefamento e pressa;
Observando a escala de instrumentalidade (Ta- O quarto fator que, conforme já se descreveu,
bela 3), constata-se que confirmou a estrutura de fortaleceu-se na consistência (Alfa = 0,81) e na
quatro fatores e manteve a proporção da variância magnitude de suas cargas. Teve sua natureza tam-
explicada (de 43% para 42%). O primeiro fator con- bém modificada, sendo que o item de maior carga
tinua concentrando muito da variância explicada diz respeito ao reconhecimento do que se faz, segui-
(r2=0,23), embora que se comparando com a estru- do da consideração pelas opiniões do profissional,
tura encontrada no estudo anterior tenha ocorrido das oportunidades de profissionalização e de influ-
um pouco de distribuição da proporção da variância ência nas decisões. Só a partir daí passa a incluir
explicada, fortalecendo um pouco os três fatores itens referentes a parte da independência econômi-
subseqüentes: no primeiro estudo, a proporção da ca e de garantia do sustento. Por conseguinte, pro-
variância explicada pelos referidos fatores variava põe-se uma mudança de nomenclatura, passando a
de 3% a 6% e, no atual, varia de 4% a 9%. A con- designar esse fator por Reconhecimento e indepen-
sistência dos fatores que no estudo anterior varia- dência econômica.
va de 0,72 a 0,92, no atual, varia de 0,72 a 0,89. Desenvolvidas as análises de variância com os
Portanto, aqueles mais consistentes apresentaram escores obtidos nos fatores valorativos, constatou-se
uma pequena queda, mas foram mantidos Coefici- haver diferenças significativas por categorias
entes Alfa com magnitudes consideradas muito boas ocupacionais nas médias obtidas nos três primeiros fa-
(0,88 e 0,89). No terceiro fator, sua consistência tores. Assim, os petroleiros valorizam mais Justiça no
sofreu uma queda mais significativa (de 0,76 para Trabalho, seguido dos bancários e, por fim, dos profissi-
0,72), porém o quarto melhorou bastante (de 0,72 onais de saúde. Os petroleiros valorizam mais Auto-
para 0,81). expressão e realização pessoal, seguidos dos profissio-
O padrão de cargas fatoriais dos itens nos fato- nais de saúde e, por fim, dos bancários. Os profissio-
res, de uma maneira geral, se fortaleceu (Ver Anexo nais de saúde valorizam mais o bem-estar sócio-eco-
IV)). Por exemplo, no primeiro fator, dois itens pas- nômico, seguido dos petroleiros e depois dos bancários.
saram a apresentar cargas superiores a 0,70, no se- As análises de variância com os escores obti-
gundo fator o primeiro item tem carga de –0,81 e, no dos nos fatores descritivos revela que nos três pri-
quatro, o primeiro item apresenta carga de 0,73. Esse meiros há diferenças significativas entre as médias
fenômeno só não aconteceu no terceiro fator (o obtidas segundo as categorias ocupacionais. Assim,
mesmo que o coeficiente Alfa baixou). os petroleiros percebem o trabalho como represen-
A composição e o significado de cada fator tando mais oportunidade de auto-expressão, com
estão mantidos muito proximamente nos três primei- melhores condições de trabalho e implicando em mais
ros. De forma que podem ser conceituados assim: responsabilidade. Seguem-se por ordem, dos bancá-
a) Envolvimento (r2=0,23 e Coeficiente Alfa = rios e, por fim, dos profissionais de saúde.
0,88): indica quanto os indivíduos percebem o pró- O mesmo procedimento estatístico com os es-
prio desempenho como influente para que resolva cores em expectativas não revelou diferenças signi-
problemas, seja responsável pelas decisões, se sinta ficativas entre médias por categorias ocupacionais.
digno, adaptado às normas, respeitador da hierarquia, Em compensação encontraram-se diferenças signi-
identificado com as tarefas, merecedor de confian- ficativas entre as médias de todos os fatores de
ça; incluído no grupo e perceba-se produtivo e ten- instrumentalidade. Assim, petroleiros percebem mais
tando fazer o melhor; ligação entre o esforço aplicado no desempenho e
b) Justiça no Trabalho (r2= 0,09 e alfa=0,89): os resultados de envolvimento, de justiça no trabalho
indica quanto os indivíduos percebem o próprio de- e de reconhecimento e independência econômica e
sempenho como influente para conseguir contar com menos ligação entre o desempenho e o resultado de
equipamentos adequados, conforto, igualdade de di- desgaste e desumanização que as demais categorias
reitos, assistência, proporcionalidade entre esforços ocupacionais. Isto significa que a motivação dos in-
e recompensas, salário e sua suficiência; divíduos por categoria terá mais o impacto da perce-
c) Desgaste e Desumanização (r 2= 0,05 e bida instrumentalidade no trabalho do que das ex-
Alfa=0,72): indica quanto os indivíduos percebem o pectativas que são mais homogêneas.
próprio desempenho como responsável por provo- Aplicando, então, a fórmula para estimar a For-
car esforço físico, percepção de tornar-se máquina ça Motivacional, os resultados mostram que a força
Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145
136 Livia de Oliveira Broges & Antônio Alves Filho

motivacional dos participantes varia de 7,6 a 137,56, Comparando-se as médias por categorias ocupa-
com média de 87,45. Dividindo a amostra em quatro cionais (bancários, profissionais de saúde e petrolei-
intervalos (Figura 2 e 3), percebe-se que a maior con- ros) encontrou-se que os petroleiros apresentam
centração de participantes ocorre no terceiro interva- média da força motivacional mais elevada (F = 8,39;
lo (médio superior) em ambos os estudos. No entanto, p< 0,001). A Figura 4 ilustra que não só as médias
no estudo anterior, havia um número de participantes são distintas mas também intervalos de distribuição
proporcionalmente maior no segundo intervalo (mé- das médias, indicando que há predomínio de petro-
dio inferior) que no presente estudo. Em compensa- leiros entre aqueles com coeficientes de Força
ção, no presente estudo cresceu o número de partici- Motivacional acima de 100. Isto significa que a mu-
pantes no quarto intervalo (superior). dança observada, no segundo estudo, caracterizada

Figura 2. Distribuição da força motivacional (estudo anterior)

Figura 3. Distribuição da força motivacional (estudo atual)

Avaliação Psicológica, 2(2), 2003, pp. 123-145


Significado e Motivação do Trabalho 137

na maior freqüência de participantes no intervalo mais altos de acordo com as características da cate-
superior de Força Motivacional (Figuras 2 e 3), deri- goria ocupacional na qual se inserem. Petroleiros,
vou da inclusão de petroleiros na amostra. como foi exposto na seção de resultados, priorizaram
os fatores de Justiça no Trabalho e de Auto-expres-
são, o que de fato tem sido enfatizado na empresa
na qual trabalham. O fator de Justiça no Trabalho
contempla vários itens relativos as condições
ambientais/materiais de trabalho, o que visivelmente
é muito cuidado na empresa. A gestão organizacional
da mesma se associa a um forte discurso favorável
à participação, bem como de ênfase nas realizações
da jovem empresa. Estes fatos mostram a coerência
entre os resultados encontrados e o contexto no qual
esses indivíduos trabalham.
Ainda sobre a mesma escala, é pertinente ob-
servar que foram os bancários que apresentaram
médias mais baixas no fator valorativo de Auto-ex-
pressão e realização e são exatamente esses profis-
sionais, na amostra do estudo, que desenvolvem um
maior volume de atividades repetitivas e muitos não
tem no ambiente de trabalho indicadores concretos
do que realmente produzem, fato que vem sendo in-
dicado na literatura especializada (por exemplo, Codo
(1995) quando trata da síndrome do trabalho vazio
em bancários). São também os bancários dessa amos-
Figura 4. Variação da Força Motivacional por categoria tra aqueles trabalhadores que no momento da pes-
ocupacional quisa estavam vivenciando mais diretamente pres-
são na organização provenientes de mudanças es-
truturais as quais têm posto em pauta as questões de
Discussão e conclusões permanência no emprego, em contraste a um passa-
do histórico de plena estabilidade.
De uma maneira geral, as escalas responde- Na escala de atributos descritivos as melhores
ram às modificações implementadas com aumento descrições do trabalho são dos petroleiros, o que é
de consistência (coeficientes alfa) e com melhoria concernente com o fato de estarem vivenciando um
na estrutura fatorial (fatores com itens apresentan- momento de crescimento e destaque da empresa no
do maiores cargas). Além disso, compreende-se que nordeste. Isto certamente tem influenciado no sentido
os resultados apontam na direção de uma relativa de construir uma percepção concreta do trabalho mais
estabilidade nas estruturas fatoriais para pessoas favorável. Os que apresentam escores menores são
dentro de um nível de instrução do ensino secundá- justamente os profissionais de saúde que como conhe-
rio ao superior. A escala de atributos valorativos foi cido até na imprensa enfrentam condições de trabalho
a que apontou uma mudança mais forte na sua es- que contradizem fortemente os princípios norteadores
trutura fatorial, porém esta ocorreu transformando do Sistema Único de Saúde, sendo hoje conhecida as
dois fatores em um único (os quais na versão anteri- campanhas de “humanização” dos serviços.
or apresentava alta correlação) e ganhando em con- As diferenças nos escores da escala de
sistência. Entende-se por isso que a variação de es- instrumentalidade por sua vez refletem o fato das
trutura entre os dois estudos foi uma resposta às políticas de pessoal no setor privado conseguir com
modificações implementadas. mais facilidade estabelecer elos claros entre o es-
As análises de variância demonstraram sensi- forço no trabalho e os resultados obtidos.
bilidade das escalas às particularidades das catego- A escala de expectativa foi a única que não foi
rias ocupacionais com exceção da escala de Expec- capaz de refletir diferenças entre as categorias
tativas. Assim, na escala de atributos valorativos, ocupacionais. Compete, então, indagar sobre as ra-
observa-se que os participantes obtiveram escores zões pelas quais isso ocorre: Estariam as expectati-
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vas muito vinculadas à cultura geral, por isso sendo pessoas com as quais se aplicam o IMST. É o saber
mais homogêneas que os demais componentes? O do profissional que permitirá o uso dos resultados do
que há em comum entre as categorias ocupacionais IMST de forma interpretativa, focando a relação
que as assemelham seus participantes nas suas ex- dialética contexto/cognição.
pectativas em relação ao trabalho? O IMST pode facilitar o caminho de psicólogos
Importa ainda destacar que mesmo sendo pos- e psicologistas acessarem aos significados que as
sível observar algumas tendências por categorias pessoas atribuem ao trabalho, mas não deve ser o
ocupacionais, há um amplo leque de escores indivi- único instrumento. O IMST mensura apenas duas
duais, o que o leitor pode atestar através dos escores facetas do significado do trabalho – atributos
mínimos, máximos e desvio-padrão registrados no valorativos e descritivos. A hierarquia dos atributos
Apêndice A-5. Essa observação é reveladora da pode ser aferida como medida secundária como foi
sensibilidade do IMST às diferenças individuais. É tratado por Borges & Tamayo (2001). Deve ser, no
preciso, portanto, sublinhar que o amplo número de entanto, aplicado junto com as questões de
itens do IMST é um aspecto que facilita a expressão centralidade do trabalho a fim de permitir uma apre-
dessas diferenças, as quais em conformidade com o ensão dos significados do trabalho multifacetada e
referencial teórico sumariado na introdução do pre- mais global, identificando-se seus padrões.
sente artigo, origina-se na subjetividade inerente a Com os parâmetros do IMST disponíveis e de-
atribuição de significados. vido ao fato do presente estudo ser parte de um pro-
Por conseqüência, entende-se aqui que o IMST jeto de pesquisa mais amplo, é importante que outras
dá conta de apoiar o psicólogo na percepção das análises sejam realizadas com os dados, tentando a
homogeneidades e heterogeneidade ou das generali- apreensão dos padrões de significado do trabalho,
dades e singularidades simultaneamente. Afinal, um bem como explorando a relação dos padrões com a
desses aspectos do fenômeno não existe sem o ou- força motivacional e entre os componentes da moti-
tro. É o olhar do profissional e o seu objetivo ao uti- vação e do significado do trabalho.
lizar o questionário que permitirá privilegiar um des- Por fim, importa assinalar que o estudo atingiu
ses aspectos ou deter-se na articulação dos dois. seu objetivo de produzir um instrumento de qualida-
Essas rápidas reflexões e questões levantadas de. Isso não significa, no entanto, que se trata de
acerca dos resultados encontrados e o contexto de instrumento acabado. Significado do Trabalho e
trabalho dos participantes da amostra se coadunam Motivação são construtos dinâmicos. Instrumentos
com a concepção de significado apresentada na in- para aferi-los precisam de permanente atualização.
trodução e demonstra que os psicólogos e psico- Deixa-se também registrada a sugestão de dar con-
logistas ao usarem o IMST podem interpretar os re- tinuidade aos estudos sobre o IMST, visando testar
sultados a luz do contexto de trabalho. Portanto, não sua aplicabilidade com um número mais amplo de
dispensa o domínio do profissional sobre a constru- categorias ocupacionais e re-testando a estabilidade
ção de significados e sobre a realidade vivencial das da estrutura fatorial de suas escalas.

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Anexo I – Análise Fatorial dos Atributos Valorativos

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Anexo II – Análise Fatorial dos Atributos Descritivos

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Anexo III – Análise Fatorial de Expectativas

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Anexo IV – Análise Fatorial de Instrumentalidade

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Anexo V – Estatísticas descritivas dos escores nos fatores e análise de variância por categorias
ocupacionais nas quatro escalas do IMST

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Anexo V – Estatísticas descritivas dos escores nos fatores e análise de variância por categorias
ocupacionais nas quatro escalas do IMST

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