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Outro fato noticiado pela autora é que no início do século XX, em Paris e
Londres, o fascínio pela cor roxa era latente na moda local, sendo viável na cidade do
Natal a adaptação desta cor nas vestimentas femininas, como por exemplo, os tons rosa
e lilás, que eram mais aprazíveis ao clima local.
Como podemos perceber Henrique Castriciano, ao optar por uma
vestimenta escolar de tom claro, não a escolheu por acaso; vários motivos podem ter
influenciado diretamente nessa escolha. No momento em que a discente realizasse a sua
matrícula na escola, teria que trazer consigo alguns objetos pessoais e dentre esses,
peças de roupas brancas que iriam compor as suas vestes diárias.
Segundo as observações de Mendes e De la Haye (2003, p 44) “[...] um dos
desenvolvimentos mais notáveis em 1914 foi a mudança das estreitas saias-funil para
modelos largos, em forma de sino, alguns com camadas sobrepostas, plissados ou
pregas”. Essa nova silhueta tornava as anáguas elaboradas novamente essenciais e as
lojas ofereciam uma série de modelos, cheios de babados, alguns divididos, com pernas
largas. Em 1916, as bainhas haviam subido duas ou três polegadas acima do tornozelo,
elevando a altura dos calçados. Ainda segundo as autoras, no período pós-guerra, no
mundo, novas exigências surgiram em relação aos modos de vestir das pessoas,
afetando também os grupos mais favorecidos economicamente, pois com a escassez de
empregados, as vestimentas que exigiam procedimentos elaborados para lavar, passar e
vestir logo deixaram de ser usadas e os modelos começaram a sofrer algumas
modificações com o intuito de se acomodar à nova ordem econômica, adaptando-se à
escassez de recursos provenientes da guerra e a estilos de vida mais modestos.
As roupas consideradas fáceis de usar também passaram a ser as mais
procuradas geralmente a blusa sem abotoamento era prática e estava na moda para ser
usada com uma saia ou um conjunto. Era uma peça de vestuário muito procurada pelas
mulheres, pelo fato de ser colocada pela cabeça e não ter nenhum tipo de fecho,
facilitando as ações do cotidiano. A blusa usada antes, fora da saia, ao invés de enfiada
nela, chegava pouco abaixo dos quadris e, às vezes, tinha gola de marinheiro, um cinto
ou uma faixa. A blusa sem abotoamento era geralmente feita de algodão ou seda e
tornou-se um elemento importante na moda da década de 1920, assim como o uso de
cardigãs de tricô, casacos e xales. (MENDES, DE LA HAYE, 2003).
A Escola Doméstica não seguia todas essas regras de modismos, mais aderia a
roupas leves e práticas, como era o caso das vestes de uma peça só. A instituição
deixava a aluna à vontade para optar por esse tipo de vestimenta em algumas ocasiões
de uso diário.
A Escola Doméstica de Natal, ao optar pelas vestes com roupas práticas e de cor
branca para as alunas, aconselhava através do Plano de Curso que as alunas ao se
matricularem na ED adquirissem obrigatoriamente um enxoval pessoal composto de
lençóis, toucas, aventais, vestidos brancos para uso diário, meias brancas, dentre outras
peças. (ESCOLA DOMÉSTICA DE NATAL: 1927. p. 9)
Na nossa compreensão, isso se configurava numa das formas de disciplinar o
tipo e o modelo de roupa a ser usada por cada aluna. No que se referia especificamente
às alunas internas sobre a opção do enxoval, estas deveriam obedecer a algumas regras
específicas para a sua seleção como por exemplo, não escolher roupas finas e objetos de
valor, tendo em vista a escola não se responsabilizar pelas perdas desses. Havia também
uma recomendação particular que dizia que toda a roupa deveria ser marcada com uma
numeração cedida pela escola. Essa era uma das formas, a nosso ver, de a Escola
controlar a circulação e a organização da vestimenta que era usada diariamente pelas
estudantes internas, bem como evitar a propagação de modismos nas cores e nos estilos
a serem usados. Sob o prisma da influência do movimento higienista e de preceitos
moralizantes, Nestor Lima, na época, indicava algumas orientações a seguir na escolha
da vestimenta diária da mulher:
A Escola Doméstica de Natal aconselhava, por exemplo, que nas roupas usadas
pelas alunas, tanto nas recepções, como no viver diário da escola, não houvesse
extravagância nos detalhes e nos acessórios, não sendo permitido às aluna, o uso de
jóias e vestidos caros. Propõe, pois, através da vestimenta da aluna, a racionalização da
roupa, a higiene no seu uso, a simplicidade no modo de se vestir e para além do uso
interno da escola, ao cruzar os portões do estabelecimento de ensino “As alumnas
devem trajar com simplicidade, sendo obrigatório o uso do uniforme fora da Escola.”
(ESCOLA DOMÉSTICA DE NATAL, 1915, p. 29).
Os códigos do universo escolar transpareciam na organização das vestimentas
específicas, fossem as usadas durante a prática esportiva ou em ocasiões de eventos
internos da Escola, ou ainda a utilizada no dia-a-dia da sala de aula, como nos lembra
Nunes (2003, p. 17) “Nas escolas, as vestimentas específicas funcionam para seus
usuários como exigências de construção de novos papéis.” E o papel a ser
desempenhado pelas discentes na Escola Doméstica de Natal era a de mulheres
disciplinadas, bem comportadas, vestidas com simplicidade e elegância, mantendo-se
sempre limpas e organizadas. Esses valores apregoados constantemente na rotina
escolar deveriam transpor os muros da instituição, funcionando como habitus a serem
apropriados, com base em uma pedagogia que primava pelas normas higiênicas e
disciplinares que deveriam ser praticadas socialmente.
O livro intitulado „Os quatro livros da mulher: o livro da dona de casa‟ (escrito
por Paulo Combes, publicado no ano de 1917 e utilizado como fonte de consulta na
biblioteca da Escola Doméstica de Natal) muito enfatizava, no seu conteúdo, algumas
recomendações quanto ao uso de determinadas vestimentas específicas para as
mulheres. Nele, o autor sugeria à mulher reconhecer que era preciso dar ao vestuário
ares de higiene e de elegância e não de aspecto luxuoso, ou seja, o vestuário além de
cumprir o papel de adorno, era preciso ter higiene na conservação e uso das roupas.
Nesse sentido citava:
REFERÊNCIAS
AS MODAS E A EDUCAÇÃO. Revista pedagogium. Natal: Typografia Natalense,
1921.
CASCUDO, Luís da Câmara. Nosso amigo Castriciano. Natal: Imprensa
Universistária, 1965.
GEORGET. Pela Moda. In: SANTOS, Maria das Graças de Aquino (Org.). Revista da
Escola Doméstica. Natal: Escola Doméstica de Natal, n. 1, vol. 1, Edição fac-similar de
1925-1926. (Edição atualizada em Set. 1998.)
GONDRA, José Gonçalves. Medicina, higiene e educação escolar. In: LOPES, Eliane
Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes de; VEIGA, Cyntia Greive. (Orgs.)
500 anos de educação no Brasil. 3.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. (Coleção
Historia 6).
HOBSBAWM, Éric. A era dos impérios – 1875-1914. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2001.
MALUF, Marina; MOTT, Maria Lúcia. Recôndidos do mundo feminino. In: NOVAIS,
Fernando A; SEVCENKO, Nicolau. República: da Belle Époque à Era do rádio. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998. (Coleção História da vida privada no Brasil 3).
MENDES, Valerie; DE LA HAYE, Amy. A moda do século XX. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
NOVAIS, Fernando A. & SEVCENKO, Nicolau. (Org.) República: Belle Époque à Era
do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. (Coleção História da vida privada no
Brasil 3).