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Terceira Civilização - Edição 442 - 01/06/2005 - pág.

48 - Estudo

[5] Comparação Quíntupla

Na primeira metade de “Abertura dos olhos”, Nitiren Daishonin delineia o ensino que, posteriormente, ficaria
conhecido como “comparação quíntupla” ou “as cinco comparações” (sistematizado, tempos depois, por
Nitikan Shonin). Gostaria de analisar, nesta oportunidade, o significado dessas comparações e de resumir o que
vimos ao longo desta série.

Já expus que as três virtudes de soberano, mestre e pais formam o tema de “Abertura dos olhos”. Daishonin
menciona diversas pessoas e seres respeitados como soberanos, mestres e pais em muitas filosofias e religiões
de sua época.

Especificamente, analisa:

1) o confucionismo e outras filosofias e tradições religiosas da China, que se agrupam sob o nome de
“confucionismo ou escrituras não-budistas” e as que são referidas comumente como “escrituras externas”;

2) ensinos da Índia, anteriores ao budismo ou não-budistas, incluindo o bramanismo, que juntos são
denominados “ensinos não-budistas”, ou “caminho externo”; e

3) ensinos do budismo, referidos como “caminho interno”. Daishonin também examina o que é ensinado às
pessoas e qual a atitude que elas têm em relação à vida mediante a veneração de algum desses seres
reverenciados. Ele faz isso porque o critério diferencial que permite estabelecer se alguém incorpora as
qualidades notáveis de soberano, mestre e pais é ver em que medida o ensino que ele representa permite às
pessoas viverem de maneira correta e segura.

Dessa forma, em “Abertura dos olhos”, quando Daishonin debate o tema de soberano, mestre e pais, examina
incisivamente cada tipo de ensino e o modo de vida que cada uma dessas diferentes religiões e filosofias
propõem. O foco de sua análise é a lei causal da vida.

A essência da filosofia ou religião está em esclarecer a causa e o efeito


O propósito da comparação quíntupla é esclarecer qual religião ou filosofia pode fazer, de maneira real e
efetiva, com que as pessoas superem seus sofrimentos e atinjam um estado de felicidade indestrutível.

Essa comparação implica em avaliar os diferentes ensinos com base na forma que explicam os trabalhos da
causa e do efeito na vida — em outras palavras, a causalidade da vida. Especificamente, esta se refere à
causalidade que determina a verdadeira felicidade ou a infelicidade.

Em última instância, é a mesma causalidade dos dez mundos, ou seja, a causalidade de atingir o estado de
Buda, sobre a qual falamos da vez passada.

Em outras palavras, a comparação quíntupla examina a superioridade e a profundidade relativas de cada


ensino pesando em que medida busca e reconhece fundamentalmente a lei causal da origem da felicidade ou
da infelicidade.

Por exemplo, quando um médico tenta curar uma enfermidade, se o tratamento não se basear numa minuciosa
compreensão da causa do mal, só agravará o estado do paciente. Do mesmo modo, se não conhecemos bem as
causas fundamentais do sofrimento e da dor, toda medida que for empregada para resolver o sofrimento
humano acabará agravando a situação.
A essência de uma filosofia ou religião é esclarecer a causa e o efeito.

O Grande Mestre Tient’ai, da China, cita cinco importantes características do Sutra de Lótus, e as expressa como
“os cinco princípios fundamentais”: nome, essência, qualidade, função e ensino. 1 Desses, entende-se por

“qualidade” a doutrina ou ensino central de um sutra; sua essência ou âmago.

Mais especificamente, Tient’ai diz que nada mais é que o princípio de causa e efeito. 2

O princípio de causa e efeito referido por Tient’ai é, na realidade, a lei causal da vida, pela qual as pessoas que
vivem imersas no sofrimento (causa) possam revelar seu potencial interior mais sublime, superar seu
sofrimento e estabelecer um estado de vida de felicidade indestrutível (efeito).

Tient’ai definiu a Lei suprema da iluminação como o “verdadeiro aspecto” (que corresponde à “essência” nos
cinco princípios fundamentais).

Ele afirmou que essa Lei só pode ser descrita como inescrutável, como algo que vai além da dimensão das
palavras e da capacidade de compreensão da mente. Porém, indica que o verdadeiro aspecto está
inextricavelmente relacionado à lei causal para se atingir o estado de Buda.

Empregando uma analogia de Tient’ai, o verdadeiro aspecto seria como um espaço vasto e ilimitado, enquanto
a causa e o efeito seriam como vigas e pilares. Com vigas e pilares, o espaço passa a ser uma sala. Ao mesmo
tempo, as vigas e os pilares não poderiam receber esse nome se não convertessem o espaço em um recinto. 3

Em outras palavras, a profundidade da doutrina causal exposta por determinado ensino se relaciona totalmente
com a profundidade da lei da iluminação que forma a premissa básica do ensino.

O ensino de Nam-myoho-rengue-kyo propagado por Daishonin consiste da Lei Mística suprema (myoho) e na
lei de causa e efeito em que se baseia (rengue).

Podemos considerar esta única frase, Nam-myoho-rengue-kyo, como expressão da lei de causa e efeito
suprema para se atingir o estado de Buda. Portanto, recitando Nam-myoho-rengue-kyo ainda que uma única
vez podemos ativar neste momento a causa e o efeito da iluminação em nossa vida.

Se examinarmos as tradições religiosas e filosóficas abordadas por Daishonin, veremos que há diferenças na
forma como ele explica a causalidade da vida. Neste tratado, ele avalia a profundidade relativa de seus ensinos
mediante a comparação quíntupla, e dessa forma esclarece a causalidade suprema para se atingir o estado de
Buda (Nam-myoho-rengue-kyo) como o ensino essencial para conduzir todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei
à iluminação.

Gostaria de discutir o conteúdo da comparação quíntupla com base nas palavras de Daishonin.

O ensino budista que nos permite moldar o destino por meio do nosso próprio desejo e ações
1. O budismo é superior aos ensinos não budistas.
A primeira comparação é entre o budismo, o “caminho interior”, e os ensinos não budistas da Índia e China, o
“caminho exterior”.
O budismo ensina que a causa principal que determina nossa felicidade ou infelicidade reside em nós próprios e
que somos protagonistas com o poder para decidir nosso próprio destino. Por isso, o budismo é chamado de
“caminho interior”.

Em contrapartida, se observarmos as religiões e filosofias não budistas, veremos que:

•algumas não reconhecem o princípio de causalidade no que concerne à boa sorte ou ao infortúnio individual.

- Embora algumas exponham doutrinas de acidentalismo ou indeterminismo, segundo as quais tudo é produto
do acaso ou da coincidência,
- outras expõem doutrinas de determinismo ou de fatalismo, segundo as quais tudo está predeterminado ou
predestinado.
- Há também aquelas que se posicionam no meio dessas duas perspectivas. Isto se refere aos ensinos dos três
ascetas, 4 considerados como os fundadores das filosofias não-budistas da Índia.
- Há também doutrinas semelhantes que podem ser encontradas em muitas filosofias e correntes de
pensamento existentes na atualidade.
- Entre os sistemas de pensamento analisados por Daishonin, estão também aqueles que reconhecem o
princípio de causalidade dentro dos limites da existência presente, mas não antes do nascimento ou após a
morte, pois afirmam que o que ocorre depois não pode ser conhecido. Nessa categoria se enquadram o
Confucionismo e o Taoísmo. 5

Também se incluem o racionalismo ocidental, que se fundamenta no desenvolvimento da ciência moderna.

Esses tipos de filosofias não podem explicar de maneira satisfatória questões como: “Por que os seres humanos
nascem em diferentes circunstâncias?” e “Por que, em certos casos, os efeitos do bem e do mal não aparecem
nesta existência?”. Dessa forma, não podem responder questões existenciais como: “Por que eu nasci?” ou
“Qual o propósito de minha existência?”.

O bramanismo hindu, 6 as seis escolas de filosofia,7 e outros ensinos na Índia antiga expõem a causalidade da
vida que permeia as três existências do passado, presente futuro, mas é uma causalidade influenciada pelo
determinismo ou fatalismo e sujeita a forças externas como a natureza ou alguma divindade que controla o
destino humano. Conseqüentemente, esses ensinos limitam seriamente a vontade e a autonomia humana.

Em síntese, os ensinos antigos da Índia e da China, com exceção do budismo, falham em explicar a causalidade
ou o fazem de maneira parcial e tendenciosa. Esta é a conclusão de Daishonin. Assim, em “Abertura dos olhos”,
ele diz a respeito dos fundadores dessas religiões e filosofias: “Nada mais são que bebês que não compreendem
os princípios de causa e efeito.” (Os Escritos de Nitiren Daishonin [END], vol. 4, pág. 15.)

Porém, o budismo, o “caminho interior”, ensina que o indivíduo é responsável por tudo o que ocorre com ele,
ou seja, cada um colhe o que semeia.

Podemos aceitar tranquilamente o rigoroso princípio de causa e efeito agindo em nossa vida pela seguinte
razão: por compreendermos a verdade de que possuímos inerentemente o ilimitado poder transformador
conhecido como “natureza de Buda”. Para continuarmos nos empenhando pela nossa felicidade, precisamos
saber que a possibilidade para atingi-la reside em nós.
O budismo, o “caminho interior”, possibilita-nos despertar para a nossa responsabilidade e autonomia
pessoal, ou seja, reconhecer que temos o poder de escrever nosso próprio destino por meio da nossa vontade
e das nossas ações no presente.

O Budismo Mahayana busca esclarecer a causa para atingir a felicidade


2. O Budismo Mahayana é superior ao Budismo Hinayana.

O próximo nível da comparação quíntupla é entre o Budismo Mahayana e o Hinayana. Em “Abertura dos olhos”,
entretanto, Daishonin menciona pouco sobre essa comparação em particular. Ele o faz em sua comparação
entre o Mahayana verdadeiro e o Mahayana provisório, ou mais especificamente, em sua comparação entre o
ensino teórico do Sutra de Lótus e os ensinos provisórios anteriores a esse

sutra, quando se refere à censura aos discípulos dos dois veículos (os ouvintes e os que compreendem a causa),
que eram praticantes dos ensinos do Hinayana.8 Assim, embora não o discuta separadamente, podemos incluir
este nível em particular na comparação entre o Budismo Mahayana e o Hinayana.

O budismo é chamado de “caminho interior”. No entanto, ele abarca uma ampla variedade de ensinos. Entre
eles, os do Hinayana buscam libertar as pessoas dos desejos mundanos, que são a causa do sofrimento, e atingir
o nirvana — estado de suprema paz e tranqüilidade — mediante práticas como a observância de preceitos e a
meditação. Porém, a felicidade a que aspiram os ensinos do Hinayana é passiva, porque só buscam eliminar a
causa da infelicidade das pessoas. Não permitem ao ser humano abrir o caminho ativamente para sua própria
felicidade e, muito menos, a felicidade dos demais.

Como o Hinayana defende que os desejos mundanos dos nove estados inerentes em nossa vida são a causa da
infelicidade, a única forma de eliminá-los completamente é extinguindo a vida junto. Por isso, é dito que, para o
Hinayana, o enfoque da iluminação está em “reduzir o corpo a cinzas e aniquilar a consciência”. Nesse ponto
encontra-se a limitação do Budismo Hinayana.

Em contraste, os ensinos Mahayana, em vez de procurar eliminar os desejos mundanos, afirma que é possível
controlá-los adequadamente e construir uma vida pura, forte e automotivada, abrindo e manifestando a
sabedoria da

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iluminação que se encontra dormente nesta mesma vida cheia de desejos. Este é o princípio chamado de
“desejos mundanos são iluminação”. Muito mais do que simplesmente possibilitar às pessoas eliminar as causas
da infelicidade, buscam ativamente capacitá-las a transformar essas causas de infortúnios em causas para a
felicidade, e conduzir seus semelhantes à iluminação.

O Mahayana verdadeiro revela que todas as pessoas possuem o estado de Buda

3. O Mahayana verdadeiro é superior ao Mahayana provisório.

Os ensinos do Mahayana, que buscam possibilitar às pessoas manifestar as causas para a felicidade, também
podem se dividir em duas categorias: o Mahayana verdadeiro e o Mahayana provisório.

O Sutra de Lótus, que constitui o Mahayana verdadeiro, esclarece que a vida de todas as pessoas está
originalmente dotada do estado de Buda, a causa fundamental da felicidade. (“Todos os seres possuem
igualmente a natureza de Buda.”) O Sutra de Lótus também revela outra verdade: todas as pessoas podem
manifestar e revelar a natureza de Buda em sua vida. (No 2º capítulo, “Meios”, expõe quatro aspectos da
sabedoria do Buda — abrir, revelar, despertar e ajudar as pessoas a entrar no caminho da sabedoria do Buda.9)

Os ensinos do Mahayana anteriores ao Sutra de Lótus, que constituem o Mahayana provisório, defendem que
as pessoas dos dois veículos, desprezadas

porque só buscavam a própria iluminação, como também as pessoas más e as mulheres, que se acreditava
serem incapazes de se tornarem felizes, não estão dotadas intrinsecamente da natureza de Buda. Dessa forma,
esses ensinos impõem limitações às causas da felicidade. Não pertencem ao Mahayana verdadeiro. São ensinos
expostos como meios para adequação às crenças populares da época. Nada mais são que ensinos provisórios.

Por outro lado, o Sutra de Lótus, o ensino verdadeiro, elucida a iluminação real do Buda com base no fato de
que todas as pessoas — incluindo as dos dois veículos, as pessoas más e as mulheres — podem igualmente
atingir a iluminação. Revela também a doutrina (dos três mil mundos num único momento da vida), na qual
este ensino se baseia.

A verdadeira intenção do Buda é que todas as pessoas tornem-se felizes. E é no Sutra de Lótus, que expõe os
princípios que torna isso possível, que a iluminação do Buda é diretamente revelada.

O ensino essencial supera as falhas das doutrinas prévias

4. O ensino essencial do Sutra de Lótus é superior ao ensino teórico do Sutra de Lótus.

Embora todas as pessoas possuam em sua vida o estado de Buda — causa fundamental da felicidade —, isso
não significa que podem manifestá-lo ativamente.

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Se analisarmos do ponto de vista da eternidade da vida e do princípio de causa e efeito que abrange o passado,
o presente e o futuro, o estado de vida que experimentamos no presente é produto de nossas ações (carma)
acumuladas desde incontáveis existências passadas. Os sutras anteriores, incluindo o ensino teórico (primeira
metade) do Sutra de Lótus, ensina que, para transformar esse carma, necessitamos constantemente realizar
boas ações por um período extremamente longo, e acumular benefícios dessas ações em nossa vida. Por esse
ponto de vista, atingir a iluminação requer incontáveis kalpas de prática budista.

Esses sutras ensinam ainda que o Buda Sakyamuni atingiu a iluminação pela primeira vez naquela sua existência
na Índia, como resultado de suas práticas realizadas durante um período de tempo incalculável. Essa forma de
ver a iluminação persiste no erro de “rejeitar e procurar eliminar os desejos mundanos nos nove estados”. Esse
enfoque sugere que somente extinguindo nossa vida dos nove estados (causa) é que podemos fazer surgir a
vida do estado de Buda (efeito).

Em contraste, o ensino essencial (segunda metade) do Sutra de Lótus esclarece que Sakyamuni realmente
atingiu o estado de Buda no remoto passado, há kalpas tão numerosos quanto as partículas de pó de um grande
sistema de mundos e, pelo fato de sua vida como um bodhisattva ter perdurado desde então, ele continuou a
aparecer sob várias formas para ensinar os seres vivos. Isso revela a verdadeira imagem do Buda. Em outras
palavras, os nove estados e o estado de Buda também

se encontram inerentes na vida de Sakyamuni, o Buda.

Ao explicar isso, o ensino essencial revela que podemos manifestar o estado de Buda em nossa vida dos nove
estados, tal como somos, e que é possível abrir o caminho da iluminação exatamento como somos.
Fazendo do Gohonzon o nosso espelho, e de Daishonin o nosso exemplo

5. O Budismo da Semeadura é superior ao Budismo da Colheita.

O ensino essencial do Sutra de Lótus abre o caminho para atingirmos o estado de Buda exatamente como
somos. Porém, quando vistos no contexto de seu significado literal e superficial, observamos que Sakyamuni só
conseguiu adquirir a vida eterna como resultado de ter praticado o caminho do bodhisattva antes de sua
iluminação no remoto passado. Para chegar a essa vida eterna, ele precisou atingir o primeiro estágio de
segurança,10 o da não-regressão. Dessa forma, por ter atingido esse estágio, foi capaz de romper com sua fé
resoluta a escuridão ou a ilusão fundamental, de adquirir sabedoria e perceber que os nove estados e o estado
de Buda se encontram sempre presentes na própria vida sob forma inata.

Contudo, a prática necessária para atingir o primeiro estágio de segurança é extremamente difícil, da mesma
forma que é atingir a sabedoria que permite perceber o estado de Buda na própria vida. Ambos os feitos
excedem a capacidade das pessoas comuns. Desta maneira, do ponto

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de vista de seu significado literal, o ensino essencial não abre diretamente o caminho para as pessoas comuns
atingirem o estado de Buda em sua presente forma e atingir a iluminação nesta existência.

Mas o ensino implícito nas profundezas do Sutra de Lótus — ou seja, o Budismo de Nitiren Daishonin — revela
diretamente o Nam-myoho-rengue-kyo, que é a força motriz que sustentou a prática de bodhisattva de
Sakyamuni para atingir o primeiro estágio de segurança no remoto passado, e é, ao mesmo tempo, a Lei
fundamental que ele percebeu naquele momento. Ao buscar e praticar esta Lei com fé, uma pessoa comum
pode obter imediatamente o fruto do estado de Buda.

Daishonin nos deixou o Gohonzon, no qual representou fielmente o estado de Buda que percebeu em sua
própria vida mediante o Nam-myoho-rengue-kyo, sem deixar de ser uma pessoa comum. Com este Gohonzon
como espelho, e com Daishonin como exemplo, podemos fazer surgir instantaneamente esse estado iluminado
de nosso interior, com a profunda fé e a convicção de que nós também possuímos o estado de Buda.

O ensino da causa e efeito num único momento da vida

Assim sendo, a causalidade suprema está contida na forte e profunda fé das pessoas comuns. Se tivermos uma
fé resoluta, fator necessário para romper a ilusão e a escuridão fundamental, nossa vida — nos nove estados —
manifestará sua natureza eterna (os nove estados sem início), e poderemos manifestar o estado de Buda.
Falamos sobre isso no final da explanação

anterior.

Em “Sobre o princípio místico da verdadeira causa” (Gosho Zenshu, págs. 870–877), Daishonin esclarece em
poucas palavras a superioridade e a profundidade relativa dos diversos ensinos budistas com base no princípio
de causa e efeito. Descreve quatro visões sobre a causalidade, sendo que a mais elevada é o “ensino da causa e
efeito num único momento da vida”.11

Os ensinos provisórios, pré-Sutra de Lótus que foram expostos como meios, estabeleciam uma idéia da
iluminação que rejeitava os desejos mundanos dos nove estados e buscava eliminá-los. Sustentavam que
somente se livrando dos nove estados (causa) era possível manifestar o estado de Buda (efeito). É por essa
razão que Daishonin diz que eles incorporam um “ensino de causa e efeito de natureza distinta”.
O ensino teórico do Sutra de Lótus, por sua vez, explica que os nove estados e o estado de Buda são inerentes à
vida, e representa um “ensino de causa e efeito de natureza idêntica”.

Quanto ao ensino essencial do Sutra de Lótus, constitui um “ensino de causa e efeito de coexistência eterna”,
por esclarecer que o verdadeiro corpo do Buda é caracterizado pelos nove estados e o estado de Buda que
existe inerente eternamente — no passado, presente e futuro.

Em contraste a essas doutrinas, o ensino único e essencial de Daishonin — implícito

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nas profundezas do 16º capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”, que é o Nam-myoho-
rengue-kyo dos Três Grandes Ensinos Fundamentais — esclarece que tanto os nove estados como o estado de
Buda estão contidos na forte fé de uma pessoa comum. Diz também que, mediante a fé, uma pessoa pode
manifestar o estado de Buda a cada instante, e atingir a iluminação mantendo a sua forma, ou sem deixar de ser
o que é. Por isso é chamado de “ensino da causa e efeito num único momento”.

No Budismo de Nitiren Daishonin, a chave está em nossa atitude mental ou disposição interior. Como Daishonin
diz: “O coração é o mais importante.” (WND, págs. 949 e 1000.)

Um “eu” que incorpore o propósito fundamental da vida

Assim como as idéias sobre a causalidade vão se aprofundando à medida que uma pessoa avança na
comparação quíntupla, também se aprofunda na mesma proporção o significado de soberano, mestre e pais
que todos devem respeitar.

Mesmo que tenham existido em escrituras não-budistas e em religiões e filosofias da China e da Índia antigas
pessoas dignas de respeito como soberanas, mestres e pais, os ensinos que elas deixaram não puderam
estabelecer uma noção clara sobre a causalidade. Conseqüentemente, por mais que tenham sido respeitadas
por simbolizar as virtudes de soberano, mestre e pais, por mais onipotentes e poderosas que tenham sido, não
puderam oferecer às pessoas um propósito claro de vida. Conseqüentemente, essas pessoas caíram

na busca cega ou na obediência passiva à autoridade.

Prosseguindo, mesmo dentro do budismo, há ensinos como os Hinayana e o Mahayana provisório que expõem
a idéia de se atingir a iluminação e da causalidade que rejeita os desejos mundanos dos nove estados
procurando eliminá-los. Nesses ensinos, o Buda é venerado como um ser especial. Seus adeptos vivem
satisfeitos com o pequeno objetivo de eliminar seus desejos mundanos (no caso do Hinayana), ou viver uma
existência de ilusão, esperando serem salvos por algum grande Buda que só existe em um mundo fictício (no
caso do Mahayana provisório). Porém, em ambos os casos, um modo de vida passivo é inevitável.

O Sutra de Lótus, o Mahayana verdadeiro, revela a possessão mútua dos dez mundos. Esclarece que os seres
vivos dos nove estados também estão dotados do estado de Buda (ponto revelado no ensino teórico) e que o
Buda que realmente atingiu a iluminação no remoto passado também possui os nove estados (ponto revelado
no ensino essencial). Por fim, abre o caminho para que as pessoas vivam uma existência cheia de esperança,
conscientes de que podem manifestar o estado de Buda supremo em sua própria vida.

Não obstante, a descrição do Buda que atingiu a iluminação no remoto passado foca, primordialmente, o fato
de ter atingido o estado de Buda de forma plena e perfeita. Por isso, até hoje continua sendo um mero objeto
de idolatria e veneração para as pessoas, e não um exemplo que possamos seguir para conseguirmos

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compreender a causalidade que nos permita atingir o estado de Buda por nós próprios.

Em contrapartida, no Budismo de Nitiren Daishonin, ele próprio se apresenta como um exemplo de pessoa
comum que se torna um buda mediante o poder da fé ou de sua profunda convicção interior. As lutas de
Daishonin, sua prática altruísta, seus juramentos, sua coragem de rei-leão — como detalha o Gosho —, mostra-
nos a determinação pura e absoluta, o espírito necessário para que uma pessoa comum manifeste o estado de
Buda. Isso pode ser observado claramente em suas declarações: “Como Nitiren, por exemplo” (WND, pág. 302),
ou “Não é preciso ir muito longe para encontrar um exemplo” (WND, pág. 614).

Por esclarecer o princípio supremo da causa e efeito, a comparação quíntupla é um ensino que estabelece o
objetivo mais elevado ou o caminho para nos aprimorarmos continuamente. Em síntese, é uma doutrina que
revela o supremo conceito de soberano, mestre e pais, que oferece o exemplo máximo para as pessoas comuns
nos Últimos Dias da Lei atingirem o estado de Buda nesta existência.

“Abertura dos olhos” proclama a todas as pessoas dos Últimos Dias que Nitiren Daishonin é o devoto do Sutra
de Lótus. Por essa razão, é considerado o escrito que revela o objeto de devoção em termos de Pessoa.

NOTAS

1. Cinco princípios fundamentais — nome, essência, qualidade, função e ensino: Cinco

perspectivas por meio das quais Tient’ai interpretou o Sutra de Lótus em seu tratado

Profundo Significado do Sutra de Lótus. “Nome” refere-se ao significado do título de um

sutra. “Essência” aplica-se ao princípio supremo de um sutra. “Qualidade” indica as

principais doutrinas desse sutra. “Função” refere-se ao benefício e poder de um sutra, e

“ensino” corresponde à posição e à influência de um sutra em relação aos demais.

2. Em Profundo Significado do Sutra de Lótus (vol. I), Tient’ai diz: “Qualidade refere-se ao

ponto-chave. É representada pela causalidade criada pela própria prática do Buda.”

3. Profundo Significado do Sutra de Lótus, vols. VIII e IX.

4. Três ascetas: Três mestres religiosos que viveram antes da época de Sakyamuni.

Kapila, fundador da escola Samkhya, ensinou que as causas produzem efeitos. Uluka,

fundador da escola Vaisheshika, expôs que as causas não produzem efeitos. E Rishabha,

fundador do jainismo, ensinou que as causas produzem e não produzem efeitos.

5. Confúcio, fundador do confucionismo, disse por exemplo: “Se nada sabes sobre a vida,

como poderás entender a morte?” [Analetos de Confúcio, Simon Leys, trad. Nova York,

W.W. Norton Company, 1997, pág. 50.]

6. Bramanismo: Sistema de pensamento que se desenvolveu antes do budismo,

embasado nos Vedas e em comentários sobre eles.


7. Seis escolas de filosofia: As seis escolas mais importantes de filosofia brâmane na

Índia antiga: Sanmkhya, Yoga, Nyana, Vaisheshika, Mimamsa e Vedanta.

8. Em “Abertura dos olhos”, Daishonin explica as diferenças entre o Sutra de Lótus e

todos os demais sutras, dizendo: “No caso do Sutra da Grande Coleção, do Sutra da

Grande Sabedoria, do Sutra da Luz Dourada e o Sutra Amida, com o propósito de

censurar o ideal dos dois veículos demonstrado nos vários sutras Hinayana, o Buda

descreveu as terras puras das dez direções e, com isso, inspirou os mortais comuns e os

bodhisattvas a aspirar a alcançá-las. Dessa maneira, ele fez com que as pessoas dos

dois veículos se sentissem confusas e envergonhadas.” (Os Escritos de Nitiren Daishonin,

vol. IV, pág. 41.)

9. No capítulo “Meios” do Sutra de Lótus consta que todos os budas aparecem neste

mundo pelas seguintes razões: 1) “para abrir o portal da sabedoria do Buda a todos os

seres vivos”; 2) “para mostrar a sabedoria do Buda a todos os seres vivos”; 3) “para fazer

com que todos despertem para a sabedoria do Buda”; e 4) “para conduzir todos os seres

vivos a entrarem no caminho do Buda”. (Sutra de Lótus, 2º cap., pág. 31.) Essas quatro

razões são referidas como quatro modalidades ou aspectos da sabedoria do Buda.

10. Primeiro estágio de segurança: O primeiro dos dez estágios da segurança, que

corresponde ao décimo primeiro dos 52 níveis da prática de bodhisattva. Nesse estágio,

cultiva-se a aspiração de atingir o estado de Buda. É considerado o ponto em que os

bodhisattvas não retrocedem em sua prática.

11. Em “Sobre o princípio místico da verdadeira causa”, Daishonin declara: “Os quatro

tipos de ensinos são os seguintes: o primeiro é o ensino da causa e efeito de natureza

distinta. Trata-se de um ensino provisório e introdutório. O segundo, é o ensino de causa

e efeito de natureza idêntica. Este é o ensino teórico. O terceiro, é o ensino de causa e

efeito de coexistência eterna. É o ensino essencial. O quarto, é o ensino de causa e efeito

num único momento da vida. No quinto volume de Grande Concentração e

Discernimento [de Tient’ai], consta: ‘Se houver o menor indício de vida, esta contém os

três mil mundos.’ Isso nada mais é que a transferência da essência do Sutra de Lótus, a

Lei Mística, o ensino puro e perfeito dos Últimos Dias da Lei.” (Gosho Zenshu, pág. 871.)

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