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1 Anatomia Crânio-Facial (Ossos e Músculos do Crânio e da Face) ................................................... 1
2 Laudos e documentos periciais, modelos e interpretação. .............................................................. 24
3 Biotipologia ................................................................................................................................................ 25
4 Identificação Craniométrica: estimativa de sexo, estatura, idade, fenótipo, cor da pele, por meio do
estudo do crânio ..................................................................................................................................... 30
5 Noções de tanatologia .................................................................................................................... 42
Questões ........................................................................................................................................... 49

Candidatos ao Concurso Público,

O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para


dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um
bom desempenho na prova.

As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao


entrar em contato, informe:

- Apostila (concurso e cargo);

- Disciplina (matéria);

- Número da página onde se encontra a dúvida; e

- Qual a dúvida.

Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados.
O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la.

Bons estudos
É com grande satisfação que apresento a vocês este curso de NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL E
ODONTOLOGIA LEGAL projetado especialmente para atender às necessidades daqueles que se
preparam para o concurso de PAPILOSCOPISTA da Polícia Civil do Distrito Federal.

Conteúdo do edital:
1. Anatomia Crânio-Facial (Ossos e Músculos do Crânio e da Face). 2. Laudos e documentos
periciais, modelos e interpretação. 3. Biotipologia. 4. Identificação Craniométrica: estimativa de sexo,
estatura, idade, fenótipo, cor da pele, por meio do estudo do crânio. 5. Noções de tanatologia.

Apresentação do curso
A proposta do curso é facilitar o seu trabalho e reunir toda a teoria em um só material. Nosso curso será
completo. Ao mesmo tempo, não exigirá muitos conhecimentos prévios, na maioria do curso.
Portanto, se você está iniciando seus estudos no assunto, fique tranquilo, pois, nosso curso atenderá aos
seus anseios perfeitamente. Se você já estudou os temas e apenas quer revisá-los, o curso também será
bastante útil.
Por isto sua preparação com afinco e dedicação pode ser seu diferencial. E aqui estou, junto a você,
nesta batalha. Procuraremos a sua melhor preparação.
Lembre-se que, como concursando, muitas vezes você se sente sozinho, desacreditado e sem muita
confiança. Mas saiba que o trabalho do estudo é duro, solitário, cansativo e requer muita vontade e
dedicação. Quando vier sua aprovação, sua vitória você verá que o seu sucesso pertence a todos
(inclusive àqueles que nunca te apoiaram... mas assim é a vida). Força e pense sempre em você, nos
seus familiares, naqueles por quem você tem amor.
Desejo um excelente estudo e ótimos resultados nesta jornada. Muito boa sorte, dedicação e boa
prova!!!!

1 Anatomia Crânio-Facial (Ossos e Músculos do


Crânio e da Face)
Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Você pode se perguntar qual o motivo de estudar ossos da face e como estes estariam relacionados
com a identificação do indivíduo como disciplina para um concurso de papiloscopia.
Acontece que muitas vezes a identificação papilar não é possível, principalmente quando há um
estado avançado de decomposição do cadáver. Portanto, existe a necessidade de se identificar o
indivíduo através de outras técnicas. E, dentre estas, existem as análises de ossos cranianos e dos
dentes. Caso você tenha estudado Criminologia deve estar familiarizado com os estudos de
LOMBROSO. Este cara foi um pioneiro no estudo antropológico com finalidade científica.
A associação de conhecimentos científicos da Antropologia pode ser aplicada na prática ao Direito e
à administração das leis. Denominamos de Antropologia Forense. Esta visa responder às questões
relacionadas à identidade médico-legal e à identidade judiciária ou policial.
O processo de identificação implica no uso do conhecimento médico (SCHMITT, CUNHA,
PINHEIRO, 2006; KROGMAN, ISCAN, 1986) e das ciências correlatas; distintas da natureza médica,
diz respeito à antropometria e à datiloscopia. Existe um interesse mútuo da área das ciências jurídicas e
médicas em englobar de uma só vez a área de conhecimento da antropologia forense.
No âmbito da investigação criminal, a antropologia biológica, por meio da antropometria, tem
subsidiado métodos e técnicas para a identificação humana. Sobre essa contribuição, os trabalhos de
Alphonse Bertillon (1853-1914), que relacionavam dados antropométricos com os da identificação,
foram bastante usuais antes da criação de um processo de maior eficácia, alcançada pela papiloscopia,
através da datiloscopia, e mais recentemente pelas análises biomoleculares comparativas.

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A Antropologia tradicional alcançou grande desenvolvimento graças à incorporação da pesquisa
científica. Destacaram-se, fora do Brasil a British Association for the advancement of Science Section of
Antropology (1822), a Société Ethnologique de Paris (1839), a Berliner Gessellschaft für Anthropologie,
Ethnologie und Urgeschichte (1869) e a Société d´Anthropologie de Paris (1895), entre outras. Segundo
Ávila (1958), foi Paul Broca (1824-1880) o impulsionador da Antropologia, criando o Laboratório de
Antropologia da Escola de Altos Estudos em 1871 e a Escola de Antropologia de Paris, em 1876. No
Brasil, essa escola francesa influenciou o desenvolvimento da antropologia física na segunda metade
do século XIX. Surgem João Batista de Lacerda, José Rodrigues Peixoto, Roquete Pinto e Fróes da
Fonseca, incentivador da antropologia física até a primeira metade do século XX. Para Bertillon o
essencial é estudar o homem em relação com o meio que o cerca e com as espécies que o
precederam.
Os métodos de estudo da Antropologia Criminal no início do século XX incluíam as medições
craniométricas, os índices cranianos, suas representações gráficas, as anomalias do crânio, as
anomalias dentárias, o desenvolvimento cerebral, o estudo do indivíduo vivo, a identificação - à maneira
de Bertillon, a datiloscopia, os caracteres psíquicos, dados biográficos, altura e peso, psicologia
experimental, pletismografia (registro da psique), craniologia criminal, antropometria comparada,
anomalias psíquicas, atavismo orgânico e psíquico, entre outras. A recorrência de alguns desses eixos
temáticos na moderna Antropologia Forense ocorrem em relação ao processo da identificação de
indivíduos (vivos ou mortos) e no estudo comportamental do agente do delito e da vítima na perspectiva
de uma criminologia (CARVALHO, 1961, 1964; FERNANDES, FERNANDES, 1995), da dinâmica da
agressão (MEGARGEE, HOKANSON, 1976) e da neurociência (BENNETT, HACKER, 1996).
Em 1939, o médico Arídio Fernandes Martins exemplificou um modelo de exame de esqueleto
humano, indicando sua completude, articulação, cor, mensurações e índices. Suas observações finais
surpreendem:

[...] Em nota final [...] seus ossos não apresentam fratura ou seus vestígios, assim como qualquer
outro indício macroscopicamente observável de lesão anatomo-patológica. Das verificações acima
relatadas pode o perito deduzir as seguintes conclusões:
1º) o esqueleto apresentado ao exame pertenceu a indivíduo do sexo masculino, dados os seus
caracteres gerais e particularmente as constatações da pélvica;
2º ) o individuo era de idade adulta, preliminarmente pela sua forma dentária, seguramente com mais
de 35 anos, dadas as sinostoses craneanas, menos de 50 anos por não estar ossificada a parte média
da sutura coronal, sua idade pode, pois ser avaliada de 40 anos, em favor de que fala ainda a
ossificação do ponto sagital posterior. Esta conclusão tirada de acordo com os dados de Topinard fica
sujeita as restrições possíveis decorrentes de quaisquer condições individuais especiais;
3º) a sua estatura dadas as dimensões dos ossos longos pode ser avaliada em um metro e setenta
centímetros, pelas tábuas de Manouvrier. Pelo conjunto dos caracteres ósseos pode-se afirmar que
esse indivíduo era de raça branca. Dadas as rugosidades e asperezas pronunciadas dos membros
superiores é plausível que ele tivesse profissão manual (MARTINS, 1939, p. 210-211).

Os requisitos técnicos estabelecidos por Bertillon para a identificação humana fundamentavam-se na


unicidade antropométrica entre os homens, a imutabilidade dessa característica após os 20 anos de
idade, a praticabilidade das mensurações e a classificabilidade dos dados antropométricos
individuais em fichas.
Outros conjuntos sinaléticos descritos por Almeida Júnior (1956) incluem o uso de características
morfológicas corporais objetivando a identificação. Assim, estariam incluídas a identificação otométrica
(ângulo aurículo-temporal, diâmetros da orelha), craniográfica (tomada de perfil do crânio e
comparação), geométrica (mensurações da face), dentária (forma da arcada, disposição dos dentes,
anomalias), oftalmográfica (comparação de fotografias do fundo do olho), radiográfica (mensurações
das falanges, metacarpo e metatarso), flebográfica (comparação da conformação superficial das veias
do dorso da mão), palmar (comparação de desenhos dos sulcos palmares das mãos), poroscópica
(comparação de poros por sua imutabilidade e individualidade) e umbilical (morfologia do umbigo).
No Brasil, no caso de São Paulo, muitas décadas depois dos trabalhos realizados por Godoy (1936a,
1936b, 1937, 1947), Daunt e Godoy (1937) e Godoy e Júnior (1947), no extinto Laboratório de
Anthropologia do Instituto de Identificação Gabinete de Investigações Criminais, o Núcleo de
Antropologia do Instituto Médico Legal de São Paulo realiza exames de identificação médico-legal em
cadáveres e esqueletos humanos. O trabalho do Núcleo inclui exames de confronto de características

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individualizadoras da pessoa procurada, recuperando vínculos genéticos e dados dos registros
médicos, hospitalares e odontológicos para comparação.
Segundo Coelho e Júnior (2008), a rotina de trabalho integrada entre os Núcleos de Antropologia e
de Odontologia Legal, vinculada aos papiloscopistas do necrotério do IML, o Instituto de Identificação
Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e o Núcleo de
Biologia e Bioquímica Laboratório de DNA do Instituto de Criminalística de São Paulo.
Nos casos de material severamente decomposto, esses dois Núcleos estabelecem as possibilidades
de coletar impressões digitais, encaminhando ao IIRGD dedos ou luvas cadavéricas. Os esqueletos
humanos recebem tratamento diverso: a) Os parentes de vítimas suspeitas são entrevistados e
recolhidos documentos médico-hospitalares e odontológicos, assim como dados para a identificação
pessoal; b) Realizam-se perícias complementares nos locais de encontro dos restos humanos para a
coleta complementar de ossos, fragmentos, dentes e outros materiais que serão essenciais no decorrer
da perícia médico-legal; c) Realiza-se a limpeza do cadáver ou dos ossos e dentes humanos para
possibilitar o estudo antropológico e odontológico; d) Convoca-se o dentista responsável pela
elaboração dos documentos odontológicos referentes à vítima suspeita; e) Após as etapas anteriores, é
encaminhado o material biológico da vítima e dos familiares para determinação do vínculo genético. A
fundamentação dos procedimentos encontra-se no seguinte comentário:
A existência de uma pessoa é definida pelo nascimento com vida e seu devido registro civil, assim
como a pessoa deixa de existir legalmente com o devido assento de óbito no cartório de registro civil e,
como se sabe, só se pode emitir a declaração de óbito da pessoa perfeitamente identificada (COELHO,
JUNIOR, 2008).
A Antropologia Forense está constituída, segundo Hunter (2002), por três grandes áreas: a
identificação do grupo biológico, incluindo gênero, estatura e afinidade racial; identificação do indivíduo
biológico, incluindo sua atividade laborativa, marcas de estresse, análise de DNA e reconstrução facial;
e a identificação positiva, baseada na comparação dentária, anomalias congênitas e na superposição
de fotografias sobre o crânio.
Determinação do grupo de afinidade étnico-racial ou da ancestralidade através da craniometria
(CARVALHO et al., 1987: 58-62, CROCE, JUNIOR, 1996: 37-45). Nesses casos existem programas que
analisam os índices cranianos como o nasal, de prognatismo, transverso, horizontal e vertical, orbitário,
entre outras mensurações, simultaneamente, indicando a situação racial do indivíduo em gráfico.
Determinados traços podem indicar afinidades raciais como a proeminência dos zigomáticos,
arqueamento do fêmur, entre outros. Determinados caracteres epigenéticos como os dentes incisivos
em forma de pá (shovel-shaped), buraco parietal e suturas no osso maxilar podem indicar determinada
afinidade étnico-racial.
A determinação ou verificação da identidade pessoal post mortem por meio das evidências dentárias
recebe o nome de odontologia forense ou odontologia legal (GRADWOHL, 1954:451; ARBENZ, 1988;
HILLSON, 1996; OLIVEIRA et ali., 2002) vislumbra as formas da dentição (perda dentária), dentes
supranumerários, anomalias de posição, oclusão, anomalias congênitas, alterações pre-mortem por tipo
de ocupação, acidentes, doenças, afinidade racial, elementos de restaurações, queima, sinais de
mordidas, cálculo etário em crianças, identificação de fragmentos dentários.
A reconstrução facial tridimensional (STEWART, 1954; KROGMAN, 1986; UBELAKER, 1989;
GEORGE, 1993; TAYLOR, 2001 e outros) e a bidimensional (UBELAKER, 1989; TAYLOR, 2001 e
outros), a partir do crânio, além das sobreposições fotográficas crânio/foto da face, auxiliam na
identificação de pessoas desaparecidas.
A Odontologia Forense tem como objetos de estudo a identificação humana através da análise do
complexo maxilo-mandibular, considerando: a) os traços de identificação não dentários, b) as
informações obtidas através dos ossos cranianos, c) a análise dos tecidos e fluídos orais, d) a
estimativa da idade pelo desenvolvimento dentário e outras características, e) os procedimentos
laboratoriais, f) o emprego de registros médicos e odontológicos ante-mortem da vítima a ser
identificada, g) análise de dentes em casos de desastre de massa, h) as marcas de mordidas e i)
análise de remanescentes dentários de procedência arqueológica (ARBENZ, 1988; WHITTAKER,
MACDONALD, 1989; BOWERS, BELL, 1997; CLEMENT, 2000).
Exames em mortos e em materiais, com a emissão de laudos técnicos periciais, quando se torna
impossível a identificação humana por meio da papiloscopia. Nesse tipo de exame, nos casos de
identificação antropológica de esqueletos, a estimativa da idade é obtida pela análise dos arcos
dentários e respectivos dentes, pela pesquisa em próteses dentárias e em fragmentos dentários e
análise de marcas de mordidas (COELHO, JUNIOR, 2008).
Vejamos os principais ossos do crânio e da face.

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Vista Anterior do Crânio

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Ossos da Órbita

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Vista Lateral do Crânio

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Vista Lateral do Crânio

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Vista Medial do Crânio

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Vista Superior do Crânio - Calota Craniana

A parte superior do crânio é chamada de cúpula do crânio ou calvária. É atravessada por quatro
suturas (articulações que permitem mínima mobilidade aos ossos do crânio):
1 - Sutura Coronal ou Bregmática: entre os ossos frontal e parietais
2 - Sutura Sagital: entre os dois parietais (linha sagital mediana)
3 - Sutura Lambdóide: entre os parietais e o occipital
4-Sutura Escamosa: entre o parietal e o temporal.

Alguns Pontos Antropométricos do Crânio:


Bregma - ponto de união das suturas sagital e coronal
Lâmbda - ponto de união das suturas sagital e lambdóide
Vértex - parte mais alta do crânio
Gônio - ângulo da mandíbula
Ptério - ponto de união dos ossos parietal, frontal, esfenóide e temporal
Vista Superior do Crânio - Face Externa

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Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed,
2000.

Fossas Cranianas
É dividida em 3 fossas: Fossa Anterior, Fossa Média e Fossa Posterior.

Fossa Anterior
Limites: Lâmina interna do frontal à borda posterior da asa menor do esfenóide
Ossos: Frontal, esfenóide e etmóide
Forames:
Forame Cego - passagem de uma pequena veia da cavidade nasal para o seio sagital superior
Lâmina Crivosa - Passagem do I Par Craniano (Nervo Olfatório)
Canal Óptico - Passagem do II Par Craniano (Nervo Óptico) e Artéria Oftálmica

Fossa Média
Limites: Borda posterior da asa menor do esfenóide à borda superior da porção petrosa dos
temporais
Ossos: esfenóide e temporal
Forames:
Fissura Orbitária Superior - Passagem do III Par Craniano (Nervo Oculomotor), IV Par Craniano
(Nervo Troclear), V Par Craniano (Nervo Trigêmeo - Ramo Oftálmico), VI Par Craniano (Nervo
Abducente) e a veia oftálmica
Forame Redondo - Passagem do V Par Craniano (Nervo Trigêmeo - Ramo Maxilar)
Forame Oval - Passagem do V Par Craniano (Nervo Trigêmeo - Ramo Mandibular)
Forame Espinhoso - Passagem da Artéria Meníngea Média

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Lácero ou Rasgado Anterior - não passa nada, é coberto por tecido fibroso
Canal Carotídeo - Passagem da artéria carotídea

Fossa Posterior
Limites: Borda superior da porção do rochedo do temporal à lâmina interna do osso occipital
Ossos: Temporal e occipital
Forames:
Meato Acústico Interno - Passagem do VII Par Craniano (Nervo Facial), VIII Par Craniano (Nervo
Vestibulococlear)
Forame Jugular - Passagem do IX Par Craniano (Nervo glossofaríngeo), X Par Craniano (Nervo
Vago) e XI Par Craniano (Nervo Acessório) e veia jugular interna
Canal do Hipoglosso - Passagem do XII Par Craniano (Nervo do Hipoglosso)
Canal Condilar - Inconstante
Forame Magno - Passagem do bulbo, meninges, líquor, artérias vertebrais, raízes espinhais e nervo
acessório

Estruturas das Fossas Cranianas

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Ossos das Fossas Cranianas

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Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Vista Inferior do Crânio

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Encontrei um material muito interessante na internet, em que se faz um amplo estudo sobre a
identificação à partir dos ossos da face. Não é um assunto que necessariamente cairá na sua prova,
mas, serve para se ter uma ideia de como anda a evolução de técnicas de identificação associadas com

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a evolução da informática. Não se preocupe com os termos técnicos empregados. Apenas em
acompanhar o desenrolar da pesquisa. Este trecho foi extraído do seguinte site:
http://www.ciceromoraes.com.br/?p=1247, acessado em 09/01/2015.

Reconstrução facial forense de uma pessoa viva com software livre (teste cego)

No começo de 2012 iniciei efetivamente meus estudos no campo da reconstrução facial forense.
Agora, um ano e meio depois, já lá se vão quarenta reconstruções, a maioria de humanos modernos,
alguns hominídeos e até um tigre dentes-de-sabre.
Durante esse tempo, nas palestras que ministrei, nos e-mails que recebi ou mesmo nos cursos
oferecidos, as pessoas me questionavam acerca da precisão do método; se eu já havia testado ele em
crânios de pessoas conhecidas (vivas ou não).

Gráfico representando a precisão (em milímetros) em relação à pele do voluntário, obtida por
escaneamento óptico. As áreas em azul representam áreas nas quais a face reconstruída ficou mais
profunda que a face real, ao passo que áreas em amarelo representam regiões em que a face real ficou
mais profunda que a malha reconstruída.
Eu já havia feito algo nesse sentido, mas por motivos de sigilo técnico ou respeito à privacidade de
voluntários, não havia publicado até então. Em face disso, me limitava a mostrar os trabalhos de
grandes artistas como o russo Gerasimov, a inglesa Caroline WIlkinsons e a americana Karen T. Taylor.
Felizmente, há alguns dias atrás, um parceiro de pesquisa, o Dr. Paulo Miamoto me enviou um
crânio digitalizado a meu pedido, para que eu testasse uma técnica recém desenvolvida para “vestir” a
pele nos músculos virtuais. Esse crânio, enviado sem muitas observações, porém com autorização de
reconstrução por parte de seu “dono”, seria a primeira oportunidade que eu teria para mostrar um caso
de reconstrução facial de uma pessoa viva, expondo o grau de precisão que os trabalhos alcançam.

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Desenvolvimento do Trabalho
Há alguns dias, comecei a testar uma série de modificadores do Blender, buscando uma opção que
me permitisse “vestir” a pele em uma reconstrução. O objetivo era tornar o processo mais rápido, e,
portanto, mais acessível a quem desejar replicá-lo, seja essa pessoa dotada de dons artísticos ou não.
Consegui achar uma solução com um modificador chamado Shrinkwrap (e uma série de adaptações)
como pode ser visto no vídeo acima. O crânio do vídeo é oriundo de outra reconstrução em andamento.
Pode parecer algo quase imperceptível a um leigo em reconstrução, mas é uma “benção” para aqueles
que estão colocando a mão na massa há pouco tempo.
Voltando ao crânio previamente pelo Dr. Paulo Miamoto, isto me ofereceu a possibilidade de
reconstruir uma pessoa viva e conhecida dele. Ele me pediu uma ajuda com a configuração do crânio
em questão, pois ele teria que “montar” a estrutura, pois a tomografia era do tipo Cone Beam.
Grosso modo, uma tomografia Cone Beam captura geralmente apenas uma parte de um crânio
devido ao tomógrafo ter um campo de visão menor. É muita usada no meio odontológico e geralmente o
equipamento é mais barato que um tomógrafo médico.

Um fato interessante nessa história, é que todo o processo fora feito com software livre. Inicialmente,
o Dr. Miamoto abriu as tomografias no InVesalius e filtrou apenas a parte que representava os ossos.
Para fazer esse processo ele utilizou um tutorial que eu havia escrito, explanando o funcionamento
básico do InVesalius:http://www.hardware.com.br/tutoriais/reconstrucao-3d-tomografias/pagina3.html

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Em seguida, ele importou as três partes no Meshlab e alinhou-as no espaço 3D de modo que a parte
face do crânio ficasse estruturada. Todos os passos desse processo foram feitos graças aos tutoriais
disponível no canal do Mister P no Youtube: https://www.youtube.com/user/MrPMeshLabTutorials
Depois do crânio montado, ele o exportou como um arquivo .ply e enviou-o com os seguintes dados
do indivíduo para orientação da reconstrução:
- Gênero: masculino;
- Ancestralidade: miscigenação entre xantodermas (descendentes de japoneses) e leucodermas
(brancos);
- Idade: entre 20-30 anos.

Ao receber o crânio, tive de simplificar a malha, pois a tomografia reconstruída havia gerado algumas
áreas com bastante ruído, inerentes à técnica de captura de imagem em tomógrafos Cone Beam. Em
seguida, reconstruí a área do crânio que faltava com outro crânio presente em meu banco de dados,

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como preconizado por autores da área. Dessa forma, o trabalho seria feito mais tranquilamente, com
mais referências espaciais.

Com o crânio devidamente limpo e posicionado no plano de Frankfurt, foram colocados os medidores
de profundidade, traçadas as projeções do nariz e o perfil da face. Como indivíduos asiáticos e nativos
americanos (ameríndios) compartilham traços físicos antropológicos que tornam seus crânios
indistinguíveis entre si, uma tabela para índios nativos do sudoeste da América do Sul (Rhine, 1983) foi
utilizada como referência.

Para dinamizar o processo, o conjunto englobando os músculos, cartilagens e glândulas fora


importado de outro arquivo. Evidentemente que algumas alterações na forma precisariam ser feitas para
que se adequassem ao crânio em estudo.

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Aos poucos, um a um, os músculos são deformados e se adaptam ao crânio.

Ao final todos os elementos são posicionados e ao contrário do que muitas pessoas pensam, mesmo
com todos os músculos na face é difícil se ter uma ideia de como ficará o trabalho finalizado.

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Para a configuração da pele, o trabalho segue a mesma linha usada nos músculos. Uma espécie
detemplate geral é importado de outro arquivo.

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E adaptado até que se adeque ao shape (forma) delineada pelo perfil, pelos músculos e pelos
marcadores de profundidade.

Podemos acompanhar a transformação progressiva de forma que a malha sofreu.

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Ao colocar a pele e “vesti-la” aos músculos, eu desconfiei se tratar do crânio do próprio Dr. Miamoto.
A forma do queixo e a vista levemente pela lateral denunciaram algumas características que são
evidentes em fotografias (não conheço o Dr. Miamoto pessoalmente). Ao interroga-lo finalmente, pois
nesse campo não podemos ter incerteza… ele me disse sim, se tratar de seu crânio.

Nem preciso dizer que eu fiquei extremamente satisfeito com o resultado.


Agora seria o momento de testar a qualidade da reconstrução em relação ao “dono” do crânio.

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Um teste fora feito com uma fotografia, onde a malha foi posta sobre ela, no mesmo ponto de vista.
Veja que os lábios quase se alinharam com o modelo 3D.

O Dr. Paulo então fez no mesmo processo para filtrar a pele da tomografia e me enviou outro arquivo
.ply. Em seguida, a mesma foi alinhada com a reconstrução, revelando uma compatibilidade bastante
grande.

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Por último um escaneamento a óptico da face (feito separadamente da tomografia) foi alinhado ao
rosto em 3D. Perceba que novamente a linha dos lábios ficou bastante compatível, bem como a largura
do nariz.

Os dados da Malha 3D vs. Escaneamento a Óptico foram enviados ao CloudCompare e um gráfico


3D de compatibilidade foi gerado. Parte significativa da Malha 3D ficou apenas alguns poucos
milímetros de distância da malha escaneada. A parte em azul que compreende a lateral dos lábios

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tradicionalmente difere em relação ao escaneamento do indivíduo vivo, pois o levantamento da
profundidade usado como referência para os marcadores fora feito em cadáveres que já haviam sofrido
uma leve alteração em sua forma (desidratação e ação da gravidade no registro).
Esse foi um exemplo de como uma reconstrução facial feita com software livre pode apresentar um
alto grau de compatibilidade com o indivíduo vivo, desde que se cumpra todo o protocolo já estudado e
testado pelas técnicas usuais. O uso de novas tecnologias e de ferramentas específicas do Blender 3D
contribuem para um grau de compatibilidade maior das linhas de expressão da face, tornando o
processo mais rápido e fácil para aquelas pessoas que desejam fazer uma reconstrução, mas, muitas
vezes não tem uma formação voltada a arte. FIM.
Então, meu caro concursando, deu para perceber que muitos estudos contribuem para melhorar e
aperfeiçoar a Ciência Forense.

MÚSCULOS DA FACE
A seguir relaciono os músculos da face e suas principais propriedades.

Couro Cabeludo
O Epicrânio é uma vasta lâmina musculotendinosa que reveste o vértice e as faces laterais do crânio,
desde o osso occipital até a sobrancelha. É formado pelo ventre occipital e pelo ventre frontal e estes
são reunidos por uma extensa aponeurose intermediária: a gálea aponeurótica.
* Ventre Occipital
Origem: 2/3 laterais da linha nucal superior do osso occipital e processo mastóide
Inserção: Gálea aponeurótica
Inervação: Ramo auricular posterior do nervo facial
Ação: Trabalhando com o ventre frontal traciona para trás o couro cabeludo, elevando as
sobrancelhas e enrugando a fronte.
* Ventre Frontal
Origem: Não possui inserções ósseas. Suas fibras são contínuas com as do prócero, corrugador e
orbicular do olho
Inserção: Gálea aponeurótica
Inervação: Ramos temporais
Ação: Trabalhando com o ventre occipital traciona para trás o couro cabeludo, elevando as
sobrancelhas e enrugando a fronte. Agindo isoladamente, eleva as sobrancelhas de um ou de ambos os
lados

GÁLEA APONEURÓTICA
Couro Cabeludo
A Gálea Aponeurótica reveste a parte superior do crânio entre os ventres frontal e occipital do
occipitofrontal.
Origem: Protuberância occipital externa e linha nucal suprema do osso occipital
Inserção: Frontal. De cada lado recebe a inserção do temporoparietal
Inervação: O ventre frontal e temporoparietal são supridos pelos ramos temporais, e o ventre
occipital, pelo ramo auricular posterior do nervo facial
Ação: Traciona para tras o couro cabeludo elevando a sobrancelha e enrugando a fronte, como uma
expressão de surpresa.

ORBICULAR DO OLHO
Pálpebras
Este músculo contorna toda a circunferência da órbita. Divide-se em três porções: palpebral, orbital e
lacrimal.
Origem: Parte nasal do osso frontal (porção orbital), processo frontal da maxila, crista lacrimal
posterior (porção lacrimal) e da superfície anterior e bordas do ligamento palpebral medial (porção
palpebral)
Inserção: Circunda a órbita, como um esfíncter
Inervação: Ramos temporal e zigomáticas do nervo facial
Ação: Fechamento ativo das pálpebras

CORRUGADOR DO SUPERCÍLIO
Pálpebras

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Origem: Extremidade medial do arco superciliar
Inserção: Superfície profunda da pele
Inervação: Ramos temporal e zigomáticas do nervo facial
Ação: Traciona a sobrancelha para baixo e medialmente, produzindo rugas verticais na fronte.
Músculos da expressão de sofrimento

Prócero
Nariz
Origem: Fáscia que reveste a parte mais inferior do osso nasal e a parte superior da cartilagem nasal
lateral
Inserção: Pele da parte mais inferior da fronte entre as duas sobrancelhas
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Traciona para baixo o ângulo medial da sobrancelha e origina as rugas transversais sobre a
raiz do nariz

Nasal (Transverso do Nariz)


Nariz
Origem:
* Porção Transversal - Maxila, acima e lateralmente à fossa incisiva
* Porção Alar - Asa do nariz
Inserção:
* Porção Transversal - Dorso do nariz
* Porção Alar - Imediações do ápice do nariz
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Dilatação do nariz

Depressor do Septo
Nariz
Origem: Fossa incisiva da maxila
Inserção: Septo e na parte dorsal da asa do nariz
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Traciona para baixo as asas do nariz, estreitando as narinas

Auricular Anterior
Orelha
Origem: Porção anterior da fáscia na zona temporal
Inserção: Saliência na frente da hélix
Inervação: Ramos temporais
Ação: Traciona o pavilhão da orelha para frente e para cima

Auricular Superior
Orelha
Origem: Fáscia da zona temporal
Inserção: Tendão plano na parte superior da superfície craniana do pavilhão da orelha
Inervação: Ramos temporais
Ação: Traciona o pavilhão da orelha para cima

Auricular Posterior
Orelha
Origem: Processo mastóide
Inserção: Parte mais inferior da superfície craniana da concha
Inervação: Ramo auricular posterior do nervo facial
Ação: Traciona o pavilhão da orelha para trás

Levantador do Lábio Superior


Boca

Levantador do Lábio Superior e Asa do Nariz

21
Boca
Origem: Processo frontal da maxila
Inserção: Se divide em dois fascículos. Um se insere na cartilagem alar maior e na pele do nariz e o
outro se prolonga no lábio superior
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Dilata a narina e levanta o lábio superior

Levantador do Ângulo da Boca


Boca
Origem: Fossa canina (maxila)
Inserção: Ângulo da boca
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Eleva o ângulo da boca e acentua o sulco nasolabial

Zigomático Menor
Boca
Origem: Superfície malar do osso zigomático
Inserção: Lábio superior (entre o levantador do lábio superior e o zigomático maior)
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Auxilia na elevação do lábio superior e acentua o sulco nasolabial

Zigomático Maior
Boca
Origem: Superfície malar do osso zigomático
Inserção: Ângulo da boca
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Traciona o ângulo da boca para trás e para cima (risada)

Risório
Boca
Origem: Fáscia do masseter
Inserção: Pele no ângulo da boca
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial
Ação: Retrai o ângulo da boca lateralmente (riso forçado)

Depressor do Lábio Inferior


Boca
Origem: Linha oblíqua da mandíbula
Inserção: Tegumento do lábio inferior
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial
Ação: Repuxa o lábio inferior diretamente para baixo e lateralmente (expressão de ironia)

Depressor do Ângulo da Boca


Boca
Origem: Linha oblíqua da mandíbula
Inserção: Ângulo da boca
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial
Ação: Deprime o ângulo da boca (expressão de tristeza)

Mentoniano
Boca
Origem: Fossa incisiva da mandíbula
Inserção: Tegumento do queixo
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial
Ação: Eleva e projeta para fora o lábio superior e enruga a pele do queixo

Transverso do Mento
Boca

22
Não é encontrado em todos os corpos.
Origem: Linha mediana logo abaixo do queixo
Inserção: Fibras do depressor do ângulo da boca
Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial
Ação: Auxilia na depressão o ângulo da boca

Orbicular da Boca
Boca
Não é encontrado em todos os corpos.
Origem: Parte marginal e parte labial
Inserção: Rima da boca
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Fechamento direto dos lábios

Bucinador
Boca
Importante músculo acessório na mastigação, mantendo o alimento sob a pressão direta dos dentes.
Origem: Superfície externa dos processos alveolares da maxila, acima da mandíbula
Inserção: Ângulo da boca
Inervação: Ramos bucais do nervo facial
Ação: Deprime e comprime as bochechas contra a mandíbula e maxila. Importante para assobiar e
soprar

Ilustrações

músculos da Face - Vista Anterior

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Músculos da Face - Vista Lateral

23
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

2 Laudos e Documentos
Periciais, Modelos e Interpretação
Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini

A prática médico-pericial obedece a uma extensa e complexa relação de leis, decretos, portarias e
instruções normativas, que estabelecem os limites de atuação dos setores administrativos e indicam
quais as competências e atribuições do médico investido em função pericial.
A aplicação dos dispositivos contidos nos principais diplomas legais (leis, decretos e portarias), todos
da área federal, depende da avaliação médico-pericial.
Vamos falar um pouco dos documentos médico-legais mais importantes: Atestado, notificação, auto,
laudo e parecer.

O que constitui o atestado médico e quais as suas partes?


O atestado médico é a afirmação simples, exata e escrita de um fato e suas consequências. Tem por
finalidade informar a capacidade ou incapacidade do indivíduo para a realização de determinado ato.
Deve ter cabeçalho ou preâmbulo, a qualificação do examinado, o nome de quem solicitou, descrição
do caso e, se absolutamente necessário, diagnóstico através do CID (Código Internacional de
Doenças).

Notificação

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A notificação é a comunicação compulsória às autoridades competentes de um fato médico por
necessidade social ou sanitária sobre acidentes de trabalho ou doenças infecto-contagiosas (Código
Penal, art. 269). Ex.: sarampo, tuberculose etc.

Auto
Auto é um relatório da perícia médica, ditado diretamente ao escrivão.

Laudo
Laudo é o documento feito por escrito pelo perito. São suas partes: preâmbulo – que contém nome
do perito, seus títulos, nome da autoridade que o nomeou, motivo da perícia, nome e qualificação do
indivíduo a ser examinado; histórico – que é a anamnese do caso, colheita de informações do fato,
local, envolvidos etc; descrição – que é a parte mais importante, deve ser minuciosa ao relatar as lesões
e sinais do indivíduo, e se envolver cadáver tem que constar os sinais da morte, identidade, exame
interno e externo; discussão – que é o diagnóstico onde o perito externará sua opinião, relatório dos
critérios utilizados; conclusão – que é o resumo do ponto de vista do perito, baseando-se nos elementos
objetivos e comprovadores de forma segura; por fim respostas aos quesitos – eventualmente oferecidos
pelas partes ou juízo.

Parecer
Parecer é um documento solicitado (sempre que o relatório médico suscitar dúvidas) por qualquer
pessoa a um especialista (perito oficial ou qualquer médico fora da perícia, isto é, assistente técnico),
procurando documentar o processo com resultados de exames e considerações médicas referentes a
determinada situação de interesse jurídico. Ou seja, consultam, escrita ou verbalmente, um ou vários
especialistas sobre o valor científico do laudo em questão. O parecer é a resposta, a conclusão. São
suas partes: preâmbulo, exposição dos fatos, discussão do assunto, conclusão e respostas às
perguntas.

3 Biotipologia
Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini

A chamada biotipologia humana e sua derivada, a biotipologia criminal, foram ciências que se
desenvolveram no período do entreguerras e que a sua maneira buscavam o conhecimento completo
da personalidade de cada indivíduo, a partir de ilações entre o corpo e o comportamento. Além de
caracterizar seu conteúdo, o objetivo deste estudo é mapear a circulação destas doutrinas e identificar
a rede de personagens e instituições científicas que as mobilizaram e lhes forneceram consequência
social. Sob a direção do médico endocrinologista Nicolas Pende, a biotipologia ganhou difusão na Itália
e fora dela, com destaque para a rede que acabou se consolidando com países de “cultura latina”,
particularmente Espanha, Argentina e Brasil, recorte espacial da presente análise.
Essas ciências, na verdade, constituíam expressões particularizadas de um conjunto mais
amplo de disciplinas, práticas e representações, todas voltadas ao estudo e ao controle do corpo
humano na busca da estabilização social. No período do entreguerras, diversos biodeterminismos
encontraram reconhecimento e difusão, produzindo impactos na realidade e legando continuidades
históricas.

Os determinismos biológicos no entreguerras


Tentar compreender – e conseguintemente controlar – o comportamento humano é utopia
recorrente na história. Após a era iluminista, que libertou os homens dos desígnios divinos, novos
determinismos vieram substituir aqueles. Por um lado, a maneira como a vida coletiva se organizava

25
passava a fornecer o arcabouço para explicar as atitudes e os pensamentos dos indivíduos,
configurando os polissêmicos determinismos sociais que vicejaram no século XIX, como o marxismo, o
liberalismo e o positivismo comtiano. Por outro, desenvolvia-se uma tradição concorrente que concebia
o corpo humano como o centro de gravidade da etilogia comportamental, caracterizando os diversos
determinismos biológicos que se difundiram desde então e que condicionaram grande parte da história
dos dois últimos séculos, vindo das primeiras experiências frenológicas do início da
contemporaneidade, até as recentes promessas fáusticas da decodificação do genoma humano, ao
redor da última virada de século. No meio do caminho, sob o influxo dos darwinismos sociais,
desenvolveram-se os diversos racismos científicos, as eugenias estatais e a antropologia criminal,
possibilitando novas legitimações de velhas hierarquias sociais e étnicas.
Do embate entre os determinismos sociais e os determinismos biológicos, que em todo momento de
alguma maneira foram conviventes, a resultante histórica acabou por produzir um movimento
pendular entre os dois extremos, com hegemonias alternadas entre as duas grandes tradições. O
período que ora nos interessa assistiu a uma sobrevaloração das chamadas “ciências da vida”, o que
por sua vez tornou cada vez menos nítidas as fronteiras entre a política e a biologia. O holocausto
perpetrado pelos nazistas é sem dúvida a expressão mais emblemática desse fenômeno, mas está
longe de ser o único ou de dar conta de todas as complexidades doutrinárias, empíricas e institucionais
envolvidas.
Uma das novas ciências que surgiram no período do entre-guerras e que acabou fazendo parte
central do arcabouço biodeterminista foi a chamada biotipologia humana. Seu principal propositor,
dirigente doutrinário e articulador institucional foi o médico genovês Nicolas Pende (1880-1970).
Em 1921, aparecia um artigo seu intitulado “Endocrinologia e Psicologia” e, dois anos depois, a obra
“A aplicação da endocrinologia aos estudos dos criminosos – a Escola Positiva”. Pende passou a
associar desvios de comportamento com perturbações endócrinas, afirmando, por exemplo, que “os
hipertireoidianos-hipersupra- renalianos seriam majoritários entre os delinqüentes violentos e
impulsivos, os hiperpituitários entre os assassinos frios e cínicos” (DARMON, 1991: 273).
Essencialmente, se tratava de uma continuidade aprimorada das teses de seu compatriota Cesar
Lombroso, considerado o criador da antropologia criminal, que perseguia na morfologia do corpo
humano os estigmas identificadores de seres desviantes ou potencialmente desviantes. Mais do que
isso, as ideias de Pende acabaram por fornecer uma sobrevida às teses lombrosianas, já há muito
consideras precárias cientificamente, ao pretender associar a forma do corpo ao equilíbrio humoral,
por sua vez concebido como condicionador decisivo do funcionamento do pensamento e da vontade.
Segundo Pende, “(…) os hormônios das glândulas endócrinas, da mesma forma que influem sobre a
constituição e sobre a forma harmônica do corpo, tomam também parte essencial na constituição e na
forma do espírito” (PENDE, 1934:3).
Dessa maneira, e por via da endocrinologia – sua especialidade –, Pende fornecia a ponte entre
o comportamento de um indivíduo e a forma de seu corpo. Os hormônios literalmente faziam a
mediação entre a esfera psíquica e a morfológica, e junto com a base representada pelo patrimônio
hereditário, estruturavam a chamada Pirâmide de Pende. Não foram poucos os seus seguidores que
explicitamente se congratularam com a recuperação de Lombroso, dessa maneira transformado de
autor de quimeras grosseiras em gênio antecipador dos progressos da ciência. Dito de outro modo, o
acervo teórico da endocrinologia permitia uma conciliação possível entre antropometria e psiquiatria,
dentro do discurso da então chamada biotipologia constitucionalista, que procurava propor um
paradigma abrangente, extensivo e integrador.
Portanto, as disfunções endócrinas a um só tempo poderiam ser denunciadas por desarmonias
morfológicas e denunciar desvios comportamentais. Quando procurava exemplificar, e assim dar
concretude a tais biodeterminismos radicais, é que Pende parecia trazer de volta as mais clássicas
formulações lombrosianas:
O desenvolvimento exagerado do esqueleto e da cara, especialmente dos zigomas e da mandíbula;
a exagerada longitude, quase simiesca, das articulações superiores; a grossura enorme das mãos e
dos pés; o cútis, espesso e untuoso; quiçá também a hiper ou a hipoalgesia cutânea, notas que
freqüentemente se acham em certas categorias de delinqüentes, são todas elas ‘notas somáticas’,
próprias dos sujeitos que têm uma hiperfunção congênita ou adquirida da glândula pituitária, cuja
relação com as funções psíquicas, e mais ainda com os poderes inibitórios e com o desenvolvimento
do sentido moral, havemos exposto brevemente (PENDE, 1934.

Na Argentina, o grupo liderado por Arturo Rossi, diretor do Instituto de Biotipología, Eugenesia y
Medicina Social, e dileto discípulo de Pende, replicava esse gênero de determinismo humoral. Assim

26
que os assassinos “sanguinários congênitos”, conforme classificação de Pende, seriam em regra
afetados por “hiperpituitarismo anterior, freqüentemente associado a hipopituitarismo posterior; além de
hipogenitalismo e hipersuprarrenalismo” (BOSCH; ROSSI; RODRIGUEZ, 1934:14). O hábito
morfológico que lhes seria característico seria “megalosplánico e hipervegetativo, brevilineo”. Já os
“ladrões e os estafadores” possuiriam uma fórmula endócrina associada a “hipopituitarismo,
distiroidismo e hipertimismo”, o que corresponderia a uma morfologia “microsplâcnica, hipovegetativa e
longilínea” (idem).
Leonídio Ribeiro, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e diretor do Instituto de
Identificação e de seu laboratório de Antropologia Criminal, e Waldemar Berardinelli, seu colega
nessas instituições, faziam medicina nessa direção no Brasil. No trabalho que apresentaram
conjuntamente no 1º Congresso Latinoamericano de Criminologia, realizado em Buenos Aires em julho
de 1938, os autores afirmavam que os hiperpituitários teriam “estatura fora do normal,
desproporcionados, mãos, pés, cabeça e mandíbula exageradamente desenvolvidos, tórax largo e
curto, membros compridos, pele seborréica, com cicatrizes de acne na face e no dorso” (RIBEIRO;
BERARDINELLI, 1938:530). Tal constituição corresponderia a um temperamento pouco emotivo e
egoísta, com “tendências sexuais moderadas” e aversão “às preocupações abstratas e sintéticas”.
A partir de um núcleo doutrinário derivado de formulações do gênero, e essa é uma hipótese central
deste estudo, Pende logrou articular uma ampla rede de discípulos e aliados, para além de Gênova e
da Itália e para muito além de seus núcleos institucionais de atuação, compreendendo desde
autoridades governamentais e personalidades do mundo jurídico, a autoproclamados adeptos da
Escola Italiana de vários outros países, da Europa e fora dela. Na perspectiva do sociólogo da ciência
Bruno Latour:
O problema do construtor de ‘fatos’ é o mesmo do construtor de ‘objetos’: como convencer outras
pessoas, como controlar o comportamento delas, como reunir recursos suficientes num único lugar,
como conseguir que a alegação ou o objeto se disseminem no tempo e no espaço. Em ambos os
casos, são os outros que têm o poder de transformar a alegação ou o objeto num todo duradouro
(LATOUR, 2000).

A tática embutida aqui é a da busca da imprescindibilidade social (LATOUR, 2000:197). Em outras


palavras, da consolidação da rede de aliados: “A congregação de aliados desordenados e não-
confiáveis vai, pois, sendo transformada lentamente em alguma coisa muito parecida com um todo
organizado” (LATOUR, 2000:216).
As estratégias para a construção de uma tal rede passavam, dentre outras coisas, pela circulação de
palavras escritas em veículos legitimados e legitimadores, como revistas especializadas, anais de
congressos e conferências e livros de autores reconhecidos. Os artigos dos líderes doutrinários da
biotipologia, e de seus principais aliados, circularam intensamente pelas principais revistas da área. O
próprio Nicolas Pende freqüentava com assiduidade tanto as páginas dos Anales de Biotipologia,
Eugenesia e Medicina Social, dirigidos por Arturo Rossi, quanto as dos Arquivos de Medicina Legal e
Identificação, cujo diretor era Leonídio Ribeiro. Mas por meio de tais revistas, também brasileiros e
argentinos intercambiavam seus textos, sempre reverenciando a filiação à escola biotipológica e a suas
teses centrais. Um levantamento da “permuta” de prefácios e de resenhas que os principais autores
faziam entre suas obras pode fornecer, da mesma maneira, um mapa da circulação das idéias e da
prática das mútuas legitimações: Pende escreveu o prólogo da edição italiana de Evolución de la
sexualidad, de Gregorio Marañón, o principal difusor daquele na Espanha, que o retribuiu devidamente
fazendo o mesmo com a primeira edição espanhola da obra Endocrinología, do médico italiano.
(MARAÑÓN, 1975:165-7). Leonídio Ribeiro também contou com a boa vontade de Marañón, que
prefaciou o seu Homossexualidade e endocrinologia (MARAÑÓN, 1975:169-178). Rossi, por sua vez,
foi contemplado com um texto de Pende na apresentação de seu livro “Il diabete, patogenesi e terapia
moderna”, prefácio devidamente reproduzido na revista sob sua direção (LA SECRETARÍA DE
REDACCIÓN, 1934:2-3).
Outra maneira de consolidar os laços e arregimentar as solidariedades se dava por meio das
viagens. Arturo Rossi e Waldemar Berardinelli (ROSSI, 1937:20), por exemplo, realizaram visitas
demoradas ao paradigmático Instituto de Biotipologia, dirigido e criado por Pende nas colinas de
Gênova. O primeiro deles, e como derivação da sua experiência na Itália, quando do seu retorno
criou a Asociación Argentina de Biotipología, Eugenesia y Medicina Social (VALLEJO, 2004:234). Mas
antes de tudo isso, foi o próprio Pende que visitara a Argentina, onde proferiu um curso de
aprofundamento em endocrinologia (idem). Já Berardinelli visitava com relativa freqüência o país
vizinho, como por exemplo quando da inauguração da “Academia Americana de Endocrinologia y

27
Biotipología”, ocasião em que proferiu uma conferência acerca da biotipologia criminal, no início de
1938 (“EL Dr. Berardinelli entre nosotros”, 1938:4). Por outro lado, seu colega e conterrâneo, Leonídio
Ribeiro, desembarcava em Turim em janeiro de 1935, para receber o Prêmio Lombroso referente ao
ano de 1933 (CARRARA, 1935:V-VIII), a concessão do qual não deixava de ser em si mesma outra
forma de fornecer legitimidades e estreitar relações. Por fim, ainda que sempre a título de
exemplificação, devem ser mencionados os périplos que Gregorio Marañón realizou pela América
Latina em 1927 e novamente dez anos depois, e que se tornaram acontecimentos para muito além
do circuito científico atinente.
Portanto, como já se intui, no que se refere à internacionalização da rede científica-institucional
construída por meio da biotipologia, o estudo realizado permitiu identificar uma clara priorização de
laços e intercâmbios entre a Itália, a Espanha, a Argentina e o Brasil. Que fosse assim também
correspondia às próprias ideias eugênicas de Pende, voltadas a um conceito de “raça latina,
responsável pelas maiores realizações culturais da humanidade” e subordinada a uma inconteste
liderança italiana. Em um texto seu publicado na Argentina, o pai da biotipologia assim sintetizava suas
ideias sobre o tema e vaticinava:
A história então e a biotipologia das raças nos demonstram qual será o verdadeiro destino dos
povos circum-mediterrâneos: aquele de reconstruir a unidade espiritual latina-mediterrânea, desde uma
e outra desembocadura do grande mar, unidade mediterrânea que deve fazer resplandecer de uma luz
novamente potente aquela primeira grande e poliédrica civilização que do Mediterrâneo oriental através
de Grécia e Roma e de nosso Renascimento tem esclarecido em todos os tempos com seus grandes
principios verdadeiramente humanos, vale dizer éticos, o caminho da humanidade (PENDE, 1935: 4).
No entanto, a própria circulação das idéias em questão por esse universo as transformava algum
tanto, por conta de deslocamentos não apenas de seus conteúdos e de suas ênfases, mas também
dos seus “pontos de aplicação”. As teses pendianas da biotipologia humana recepcionadas na América
Latina muitas vezes eram submetidas no meio do caminho ao influxo de sua manipulação por
Gregorio Marañón, na Espanha, principalmente no que elas poderiam ser úteis na compreensão da
gênese das “perversões sexuais” e na sua relação com o combate ao crime e ao ato antissocial.

Sexo, gênero e endocrinologia


Na Espanha, Marañón não apenas introduziu os ensinamentos biotipológicos de Pende, como foi o
seu principal divulgador. O médico espanhol é um dos principais autores da “teoria da
intersexualidade”, que sob sua interpretação trazia mobilizados os ensinamentos de Pende para a
compreensão e tratamento dos desvios e perversões sexuais, consideradas assim as manifestações
paradigmáticas da anormalidade endócrina. Foi a partir das teses de Marañón que a endocrinologia
criminal proposta por Pende ganhou alguma imprescindibilidade científica e dessa forma maior
presença cotidiana na busca da normalização social desde as instâncias médico-policiais do Estado.
O principal trabalho de Marañón utilizado pelos médicos interessados no tema da biotipologia
era La evolución de la sexualidad y los estados intersexuales, publicado em 1930 (MARAÑÓN, 1930).
Na verdade, trata-se de uma segunda edição de Los estados intersexuales en la especie humana, de
1929 (MARAÑÓN, 1929). A definição dos chamados caracteres funcionais ali utilizada expressa
claramente a atribuição de papéis sociais aos sexos que fazia Marañón. Como propriedades
eminentemente femininas, estariam o instinto de maternidade e o cuidado direto da prole, a maior
sensibilidade aos estímulos afetivos e menor disposição para o trabalho abstrato e criativo, menor
aptidão para a impulsão motora ativa e para a resistência passiva, e voz de timbre agudo. Além de
se caracterizar pelo oposto dessas propriedades, a “masculinidade”, por sua vez, poderia ser medida
pela maior presença do instinto de atuação social, como expressão da “defesa do lar”. Várias questões
culturais e ligadas ao comportamento resultavam assim determinadas pelo balanço hormonal.
Portanto, se a maternidade seria a função sexual por excelência da mulher, o trabalho o seria para o
homem (MARAÑON, 1929:56, grifo do autor). Consolidava-se, assim, enquanto formulação de fundo
médico-biológico uma infinidade de clichês acerca da diferença entre os sexos, como a associação
da racionalidade e da atitude ativa com o homem e da emoção e passividade com a mulher.
Essas interpretações endocrinológicas dos papéis arquetípicos atribuídos aos gêneros não eram
idiossincráticas dentro da escola biotipológica. Pende chamava a tireóide de “glândula da emoção”, e
da “hiperfuncionalidade tireóide” feminina se poderia concluir que “nada é mais certo, desde o ponto de
vista fisiológico, que o ditado „o homem pensa, a mulher sente‟” (PENDE, 1934:4). As secreções das
glândulas sexuais ajudariam a reforçar tais diferenciações, conferindo ao homem “escassa
emotividade, domínio de si mesmo, estabilidade psíquica, maior firmeza de inteligência, fazendo-o mais
adaptável ao pensamento abstrato y mais independente. A mulher deve principalmente a esta

28
substância de origem sexual suas virtudes de ternura, de piedade, de abnegação, de doçura” (PENDE,
1934:6).
Por conta de tais condicionamentos hormonais, o pensamento criador e o gênio artístico só
poderiam ser características masculinas. Que algumas mulheres se tenham notabilizado nesses
territórios a elas exóticos não constituía para Pende grande perturbação teórica: “É muito interessante o
fato de que apresentavam atributos masculinos muitas das escassas mulheres de gênio com que conta
a história” (idem).
Para além da explicação da maior capacidade de ternura das mulheres, o balanço hormonal
feminino justificava que, via de regra, sobre elas houvesse maior necessidade de vigilância. Isso
porque a sua emotividade poderia implicar a falta de controle sobre o comportamento, e desvios de
conduta e mesmo o crime poderiam ser o resultado. As secreções “exageradas e improvisadas da
glândula tireóidea” poderiam provocar “emoções violentas de medo, de terror ou de cólera” (PENDE,
1934:4). E se o balanço endócrino feminino já seria por si mesmo causa de preocupação, mais ainda
seriam as fases biológicas da vida da mulher que produziam natural e violentamente novos
desequilíbrios hormonais.
Desde a Argentina, Rossi e seus colegas refletiam assim sobre o tema: “Nas mulheres delinqüentes
e nas prostitutas agressivas, costumam coincidir alguns atos puníveis com verdadeiras crises de ordem
fisiológica, e que se referem sobretudo à puberdade, à menstruação, à gravidez e ao climatério
(BOSCH; ROSSI; RODRIGUEZ, 1934:13).
O descontrole emocional também caracterizaria os povos meridionais, e a explicação persistia
biotipológica. Por essa via, Pende nos remete de volta a Marañón, sem deixar de fazer mais um
exercício de aproximação entre corpo e espírito:
Nos países meridionais, sobretudo ao largo das costas, por exemplo, nas de Sicilia e singularmente
nas de Espanha, segundo a opinião do endocrinólogo de Madrid, meu amigo Marañón, é muito
freqüente entre a população o tipo hipertiroideo, quer dizer, o tipo delgado, ágil de corpo e de mente, de
pelos e sobrancelhas hirsutas, de ótima dentadura, de inteligência e sexualidade precoce, de grande
emotividade e impulsividade, de inquietude motriz e cerebral; tipo meridional, que no que respeita ao
delito, se caracteriza (…) pela tendência aos delitos passionais, impulsivos e sexuais, de forma
bárbara, violenta, primitiva (PENDE, 1934:8).

No Brasil, o grande difusor de Marañón foi Leonídio Ribeiro. Em 1938, o médico carioca publicava
“Homossexualismo e endocrinologia”, livro prefaciado pelo próprio Marañón, como referido acima.
Enquanto diretor da Revista Arquivos de Medicina Legal e Identificação, favoreceu ali o aparecimento
recorrente de artigos do médico espanhol. Seu local de trabalho, dentro de um laboratório científico a
serviço da polícia, permitiu-lhe “estudar” uma grande quantidade de delinqüentes, incluindo não poucos
homossexuais, ou assim considerados. Em 1933, como já informado, foi agraciado com o Prêmio
Lombroso, concedido pela Academia Real de Medicina Italiana, pela apresentação de um relatório
de suas pesquisas científicas desenvolvidas no referido laboratório. Suas investigações, ali relatadas,
tratavam de patologias da impressão digital, dos tipos sangüíneos dos índios guaranis, dos biotipos
criminais afro-brasileiros e das relações entre a homossexualidade masculina e o mau funcionamento
endócrino (LOMBROSO-FERRERO; ROMANESE; CARRARA, 1934:VII- IX). Para este último tema,
Ribeiro realizou estudos em 195 homossexuais que foram colocados a sua disposição pelos cárceres
da polícia do Rio de Janeiro. Esse estudo, de alguma forma, se tornou um padrão para outros legistas
dedicados ao tema.
Dessa forma, a acolhida que a medicina legal e a criminologia deram às idéias de Marañón acerca
do tema da sexualidade permitiu o enriquecimento do repertório e do acervo teórico para a tarefa de
identificação e enquadramento do indivíduo “anormal”.

Extraído da publicação de LUIS ANTONIO COELHO FERLA.

29
4 Identificação Craniométrica: Estimativa de Sexo, Estatura, Idade,
Fenótipo, Cor da Pele, por meio do Estudo do Crânio

Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini

ANTROPOLOGIA FORENSE
É a área científica que estuda os restos mortais. Resulta da aplicação de conhecimentos de
Antropologia às questões de direito no que diz respeito à identificação de restos cadavéricos
(necroidentificação).
Através dos ossos, podemos obter dados sobre o sexo, idade, estatura do falecido e pormenores da
vida que a pessoa teve (hábitos alimentares, algumas doenças, lesões, etc.)
É a aplicação prática de conhecimentos científicos básicos como a anatomia, fisiologia, bioquímica,
patologia, tanatologia e criminalística, etc., no estudo analítico do corpo humano completo ou despojos,
visando a identificação antropológica, a identidade civil, data e causa provável da morte.
A pesquisa antropológica nos permite reconhecer, ou seja, conhecer de novo, afirmar, admitir como
certo a identidade antropológica (pela antropometria); e a identidade civil em razão de informações
peculiares e imutáveis que caracterizam cada indivíduo (arcada dentária, papiloscopia, DNA, íris).
ANTROPOLOGIA FORENSE
“Apesar de todos os humanos adultos terem os mesmos 206 ossos, não existem dois esqueletos
iguais”.

DOUTRINA CONSTITUCIONALISTA (BERARDINELLI, 1942)


1. Todos os indivíduos são diferentes, não há duas pessoas iguais.
2. O mesmo indivíduo é diferente de si mesmo a cada momento – momentos condicionais.
3. As diferenças individuais obedecem a determinadas leis.
4. O indivíduo é uma unidade, havendo indissolúvel correlação entre suas diversas partes e funções.
5. Dentro das diferenças há semelhanças que permitem agrupar os indivíduos em tipos.
6. O conhecimento do indivíduo normal deve preceder e servir de base ao estudo do indivíduo
patológico.
7. Na gênese das doenças, as reações individuais têm importância igual ou superior às causas
externas.

ETAPAS DA IDENTIFICAÇÃO
1º etapa- Arqueologia forense. É feita uma escavação minuciosa do local onde se encontra o corpo.
2º etapa- Antropologia social. Consiste na coleta de informações ao redor da área do crime
(entrevistas às pessoas da região, consulta em arquivos municipais, eclesiásticos e militares, etc.)
3º etapa- Investigação laboratorial. Há uma aplicação de técnicas como a osteologia humana (área
que se debruça sobre o estudo dos ossos que compõe o esqueleto), paleopatologia (ramo da ciência
que se dedica ao estudo das doenças do passado) e tafonomia (estudo sistemático da evolução de
fósseis).Pode ainda ser feita uma reconstrução facial do cadáver e superposição fotográfica.

EXAME DE INDIVÍDUO VIVO OU CADÁVER

IDENTIDADE
É o conjunto de caracteres físicos, funcionais ou psíquicos, normais ou patológicos, que
individualizam determinada pessoa.
Ernani Simas Alves (1965)

IDENTIFICAÇÃO

30
Conjunto de procedimentos diversos para individualizar uma pessoa ou objeto.

RECONHECIMENTO X IDENTIFICAÇÃO
Reconhecimento é a identificação empírica.
Identificação é o reconhecimento científico.

IDENTIFICAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO GENÉRICA: Compreende a determinação da espécie, raça, sexo, idade, estatura
etc.
IDENTIFICAÇÃO ESPECÍFICA: Compreende a pesquisa de tudo aquilo que passa individualizar o
examinado; cicatrizes, tatuagens, sinais profissionais, mutilações etc.

PRINCIPIOS DA IDENTIFICAÇÃO:

Unicidade
Imutabilidade
Perenidade
Praticabilidade
Classificabilidade

IDENTIFICAÇÃO - MÉTODOS SIMPLES

Cédulas de identidade ou registros.


Fotografias.
Testemunhas.
Retrato falado.
Vídeo.
Sinais individuais.

IDENTIFICAÇÃO - MÉTODOS COMPLEXOS


Estudo Antropológico (antropometria)
Métodos laboratoriais, químico/físicos. DNA – cabelo, secreções, manchas e etc.
Superposição de imagens.
Estudos de pontos
Datiloscopia (papiloscopia)
Arcada dentária
Íris

IDENTIFICAÇÃO ODONTOLEGAL
Documentação produzida em função de atendimento odontológico: prontuário odontológico,
radiografias, modelos de gesso, fotografias.
Por se tratar de uma metodologia comparativa, é dividida em três etapas:
exame dos arcos dentais do cadáver, exame da documentação odontológica e confronto odontolegal.

IDENTIFICAÇÃO
Em ambas as situações, vivos e mortos, se pode investigar:
-averiguação da identidade de criminosos e alienados
-averiguação da idade verdadeira
-averiguação da paternidade
-averiguação da maternidade
-averiguação de consangüinidade
-averiguação do sexo

ASPECTO DO OSSO INUMADO

Observações Tempo de morte

Ossos recobertos de mofo 2 a 4 anos

31
Canal medular enegrecido 6 a 8 anos
Ausência de cartilagens e ligamentos mais de 5 anos
Desaparecimento das graxas dos ossos 5 a 10 anos
Canal medular branco como a superfície mais de 10 anos
Persistência de restos de polpa dentária até 14 anos
Desaparecimento completo da polpa 16 a 20 anos
Desaparecimento dos canais de Havers mais de 20 anos
Osso quebradiço, frágil, superfície porosa mais de 50 anos

MÉTODOS ANTROPOMÉTRICOS

(estudo das dimensões das diversas partes do corpo humano)
Bertillon (bertillonage)
Geométrico de Matheios
Odontológico de Amoedo
Otométrico de Frigério

MÉTODOS ANTROPOGRÁFICOS

(estudo da anatomia do corpo humano)

Craniográfico de Anfosso
Onfalográfico de Bert e Viamay
Flebográfico de Ameuille
Radiográfico de Levinsohn
Oftalmoscópico de Levinsohn

EXAME DE DNA

Pode ser realizado em qualquer tecido ou líquido orgânico.


A identificação pelo DNA tornou obsoleta quaisquer outras técnicas prévias.

MÉTODOS DERMOPAPILOSCÓPICOS

Impressões digitais
Impressões palmares
Impressões plantares
Poroscopia

DACTILOSCOPIA

A polpa dos dedos, a palma das mãos e as plantas dos pés têm linhas e saliências papilares de
disposição variável.
Estes desenhos aparecem em torno do 6º mês de vida intra-uterina, permanecem durante toda a
vida do indivíduo, e continuam até algum tempo após a morte, quando são eliminados pelo fenômeno
putrefativo, diferindo gêmeos univitelinos.

IDENTIFICAÇÃO DO SEXO

Depois da bacia, o crânio ocupa o segundo lugar.


Utilizando dados objetivos (dimensões dos côndilos occipitais) e cálculos matemáticos relativamente
simples, é possível obter valores de discriminação do dimorfismo sexual superiores a 90 %.


IDADE 

A avaliação da idade dentária pode ser realizada mediante exames direto e indireto.
Exame direto:
É feito por meio de exame clínico, onde se verificará o número de dentes irrompidos, seqüência
eruptiva, e estado geral dos elementos dentários ( cáries, exodontias, desgastes etc.)

32
Exame indireto:
É feito pela análise de radiografias intra e extrabucais. Nesse tipo de exame é possível avaliar os
itens constantes do exame direto e, principalmente, aqueles relacionados à mineralização dentária.

Mineralização

Técnica de Gustafsson
A técnica baseia-se na utilização de dentes monorradiculares, quando são analisados seis pontos, a
saber:
A- Desgaste da superfície de oclusão;
P- Periodontose;
S- Desenvolvimento de dentina secundária no interior da cavidade pulpar;
C- Deposição de cemento da raiz;
R- Reabsorção da raiz;
T- Transparência do ápice da raiz.

Segundo Gustafsson, cada uma dessas observações, recebera notas de 0 a 3. Assim:


A0 – ausência de desgaste;
A1 – desgaste leve;
A2 – desgaste que atinge a dentina;
A3 – desgaste que atinge a polpa.
P0 – ausência de periodontose;
P1- inicio de periodontose;
P2 – atinge mais de um terço da raiz;
P3 – atinge mais de dois terços.

S0 – ausência de dentina secundaria


S1 – inicio de formação de dentina secundaria;
S2 – dentina secundaria preenche metade da cavidade pulpar;
S3 – dentina secundaria preenche quase completamente a cavidade pulpar.

C0 – apenas o cemento natural;


C1 – deposito de cemento maior que o normal;
C2 – grande camada de cemento;
C3 – abundante camada de cemento.

T0- Ausência de transparência;


T1- Transparência visível;
T2- Transparência que atinge um terço da raiz;
T3- Transparência que atinge dois terço da raiz.

R0- Inexistência de reabsorção;


R1- Pequena reabsorção;
R2- Grau mais adiantado de reabsorção;
R3- Grande área de reabsorção.
Após a observação de cada um dos seis fenômenos preconizados, procede-se ao somatório dos
pontos:
An + Pn + Sn + Cn + Rn + Tn = soma dos pontos

Obtido o somatório dos pontos, localiza-se no gráfico os valores correspondentes à idade fisiológica




MODO E CAUSA DA MORTE





A determinação da causa da morte é relativamente fácil quando o cadáver ainda apresenta toda a
sua estrutura de tecidos, músculos e carne. Técnicas como raio‐x são de máxima importância nestes
processos, e neste caso toda uma gama de características de interesse são exaltadas, como lesões
ósseas, restos de metais, dentes serrados ou fragmentos de balas.

33
DADOS SOMATOSCÓPICOS

COR DA PELE

Melanina

Epiderme (mais espessa, menos espessa)


Sangue circulante (circulação periférica)
Influência da luz solar ( qtdade melanina)

DIFERENTES TONALIDADES

DETERMINAÇÃO DA COR DA PELE


ESCALA DE VON LUSCHMAN (escala cromática)
Sempre usar duas tonalidades, uma mais clara e outra mais escura.
Usar área protegida pelas vestes.

DETERMINAÇÃO DA COR DA PELE


POPULAÇÃO BRASILEIRA
Brancos ou leucodermas
Negros ou melanodermas
Mulatos ou faiodermas
Mamelucos (branco + índio)
Cafuzo (negro + índio)

PERÍCIA DE PÊLOS
IMPORTÂNCIA MÉDICO-LEGAL
Extrema resistência aos agentes químicos, inclusive ácidos concentrados
Solubilidade em substâncias alcalinas concentradas (soda, potassa)
Descorabilidade pelos oxidantes como cloro, acido clórico, bromo, água oxigenada, acido paracético.

PÊLOS
HOMEM # ANIMAIS
Cilíndricos, flexíveis, colorido homogêneo
Histologicamente, cutícula muito fina, córtex preponderante, medula nem sempre visível.

BIOTIPOLOGIA
Biótipo= tipo morfológico + temperamento

INDIVIDUALIDADE FÍSICA
INDIVIDUALIDADE PSÍQUICA

BIÓTIPOS CORPORAIS
NORMOLÍNEO
BREVILÍNEO
LONGILÍNEO

O QUE É NORMAL????
VÁRIOS MÉTODOS ESTATÍSTICOS DETERMINAM.
CLASSIFICAÇÃO DE BARBARA
Determinação do biótipo craniofacial.
Analisa desvios de medidas entre o crânio cerebral e o crânio visceral e classifica os indivíduos.

ODONTOLEGISTA
Pesquisa os dentes, as peças ósseas do neurocrânio e do viscerocrânio ou seus fragmentos que, às
vezes, são os únicos elementos com que se conta.

CRANIOMETRIA

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A realização e o exame das medições antropométricas apenas das diversas partes do crânio,
sempre visando estabelecer identidade quanto à constituição, ao sexo, à raça e à idade do indivíduo.

ESTUDOS DE CRANIOMETRIA
Influência dos ambiente nas dimensões do crânio
Idade em que se fixam as distâncias
Estudo de diferentes grupos populacionais
Análise de grupos étnicos
Classificação biotipológica de crânios
Crescimento e desenvolvimento do crânio
Estudo da tendência dos leucodermas a braquicefalização
Perícias de identificação
Teorias da origem do homem
Deformações intencionais do crânio

PONTOS CRANIOMÉTRICOS
São determinados locais do crânio ósseo que se tomam como pontos de referência para seu estudo
e medição.
1) pontos medianos ou ímpares
2) pontos laterais ou pares

IDENTIFICAÇÃO DE SEXO
ÍNDICE DE BAUDOIN

35
Utiliza as dimensões dos côndilos occipitais.
Os côndilos aparecem, longos e estreitos, no sexo masculino; curtos e largos, no sexo feminino.
O índice de Baudoin é obtido pela relação entre a largura do côndilo e o seu comprimento máximo,
relacionados pela fórmula:
Índice Condíleo = largura do côndilo x 100
comprimento do côndilo

NDICE DOS DIÂMETROS DO FORAME MAGNO


DISTÂNCIA BIGONÍACA (BIGONIÔNICA)

IDENTIFICAÇÃO DA RAÇA OU GRUPO ÉTNICO


índices cranianos (formatos das normas cranianas):
horizontal,
sagital (vertical lateral ou perfil),
transversal (vertical posterior)
índice facial superior
índice nasal
índice de prognatismo (do perfil facial ou ângulo facial)
É a determinação mais difícil de se fazer, em função da miscigenação. O crânio é a região
que permite a melhor determinação.
Vejamos um quadro comparativo das diferentes ancestralidades:

36
Fonte: Ciências Forenses: uma introdução às principais áreas da Criminalística Moderna, pag 65.

37
38
ESTIMATIVA DA IDADE

PELAS SUTURAS CRANIANAS


PELA MANDÍBULA
PELA ARCADA DENTÁRIA
OSSOS
APARÊNCIA
PELE

39
Estuda-se pelo apagamento das suturas cranianas

Médio-frontal 2 a 8 anos
Fronto –parietal 25 a 45 anos
Biparietal 20 a 35 anos
Parieto –occipital 25 a 50 anos
Temporo –parietal 35 a 80 anos
Eclosão dos dentes 1ª e 2ª dentições

Pela mandíbula
De acordo com Martin, este ângulo mandibular, no recém-nascido, varia de 160 a 170º. Com a
evolução etária ele diminui paulatinamente até atingir, no adulto, entre 95 e 100º, após este estágio,
aumenta à razão de 0,186º a cada ano. alcançando, no velho, entre 130 e 140º.

ESTIMATIVA DE ESTATURA
Método de Carrea (1920) – utiliza dentes anteriores inferiores.
Estatura máxima = (a X 6 X Pi)/2
a= arco em milímetros
Estatura mínima = (a‟ X 6 X Pi)/2
a„= corda em miímetros

EXAME DENTÁRIO
- 13a semana de vida intra-uterina – calcificação dos germes dentários
- Tabela de erupção dentária
- Involução dentária
- Modificações na mandíbula
- Ângulo mandibular
- Desgaste dos dentes

IDENTIFICAÇÃO PELA ARCADA DENTÁRIA


Elementos singulares na identificação odonto-legal devido a extraordinária resistência das peças
dentárias às situações que produzem a destruição das partes moles, como putrefação e as energias
lesivas.

IDENTIFICAÇÃO PELA ARCADA DENTÁRIA


Espécie
Grupo racial
Sexo
Idade
Altura

Dados particulares
Determinadas profissões
Patologias
Tratamentos dentários

RUGOSCOPIA PALATINA
Os relevos que o palato apresenta constituem-se em um conjunto de cristas lineares – as
rugosidades palatinas – que aparecem no 3° mês do período embrionário, permanecendo invariáveis
por toda a vida do indivíduo e, inclusive, persistindo vários dias após a morte.
Anatomicamente, na mucosa do palato duro, identificam-se a rafe palatina, um sulco ântero-
posterior, central, limitado por um conjunto de cristas lineares; as rugosidades palatinas, originárias do
tecido conjuntivo denso da submucosa,fibrosas, que variam de três a cinco para cada lado.
Com o aumento no tamanho da parte anterior do palato, nos primeiros anos de vida, o comprimento
das rugas e a distância entre elas aumentam de forma que seu padrão de orientação torna-se mais
claro.
De um modo geral, dois terços das rugas são curvas e o restante é angular.

40
A configuração, o comprimento, a largura, o número e a orientação variam consideravelmente entre
as pessoas, até mesmo entre gêmeos monozigóticos.
Esta variação também existe, embora em menor grau, entre os dois lados em uma mesma pessoa.
O conjunto dessas cristas é espécie-específico, sendo assimétrico nos humanos, o que os diferencia
dos demais mamíferos, cujas rugosidades são simétricas.

RUGOSIDADES PALATINAS
FUNÇÕES
a) Facilitar o transporte dos alimentos através da cavidade oral;
b) Evitar perda de alimento da boca;
c) Participar na mastigação, percepção gustativa e tátil devido à presença de receptores;
d) Reter a saliva, que é um componente importante para a digestão inicial dos alimentos devido à
presença de enzimas responsáveis pela hidrólise;
e) Auxiliar na trituração dos alimentos;
f) Proteger a mucosa do palato de traumas provocados por alimentos duros ou fibrosos;
g) Desempenhar papel na fonação, visto que dispersa as ondas sonoras em diferentes direções, o
que confere timbre e sonoridade peculiares à voz.

SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 
TROMBO-HERMOSA - 1932


SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 
CARREA – 1937
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 
BASSAURI – 1946
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 
CORMOY – 1973
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 
MARTINS DOS SANTOS – 1946
Inicial
Complementar
Subinicial
Subcomplementar

A identificação odontolegal é um dos procedimentos mais rotineiramente executados nos


departamentos de odontologia legal situados nos inúmeros Institutos Médico-Legais do país. Entretanto,
para que esta metodologia de identificação proporcione resultados confiáveis, torna-se necessário que
dois requisitos sejam atendidos:

1) Os arcos dentários do cadáver, ou seja, os objetos alvos do exame pericial, devem apresentar-se
satisfatoriamente íntegros, permitindo que as particularidades anatômicas ou
restauradoras/reabilitadoras possam ser adequadamente analisadas;

2) A documentação odontológica produzida em vida deve apresentar-se registrada em detalhes
quando confeccionada pelo Cirurgião-dentista, principalmente durante o preenchimento do prontuário
odontológico. Além disso, as radiografias, modelos em gesso, fotografias e outros exames
complementares, quando produzidos para subsidiar diagnóstico, planejamento ou execução dos planos
de tratamento odontológico, devem ser devidamente confeccionados dentro dos padrões técnicos
estabelecidos, sendo os mesmos posteriormente arquivados junto ao prontuário odontológico. 


FATORES QUE ATRAPALHAM IDENTIFICAÇÃO ODONTOLEGAL


inerentes à vítima (arcos dentários destruídos)
ao profissional (documentação odontológica incompleta ou pobremente registrada), associadas às
particularidades circunstanciais, como a falta de informações sobre a vítima examinada ou sobre o
dentista que a atendia.

41
5 Noções de Tanatologia.

Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini

A Tanatologia estuda a morte e as consequências jurídicas a ela inerentes. Assim como não se pode
definir a vida, é teoricamente impossível conceituar a morte. Por isso, deveria bastar-nos procurar
compreender e aceitar essa única e insofismável verdade. Antes do advento da era da transplantação
dos órgãos e tecidos aceitava-se a morte como cessar total permanente, num dado instante, das
funções vitais. Supera hoje esse conceito o conhecimento de que a morte não é o cessamento puro e
simples, num átimo, das funções vitais, mas sim, toda uma gama de processos que se desencadeiam
inexoravelmente durante certo período de tempo, afetando paulatinamente os diferentes órgãos da
economia.
Baseado nisso criaram-se modernamente dois conceitos distintos de morte: a cerebral, teoricamente
indicada pela cessação da atividade elétrica do cérebro, tanto na cortiça quanto nas estruturas mais
profundas, pela persistência de um traçado isoelétrico, plano ou nulo, e a circulatória, por nada cardíaca
irreversível à massagem do coração e às demais técnicas usualmente utilizadas nessa eventualidade.
Qualquer que seja a teoria adotada vê-se logo quão difícil é estabelecer um critério de morte.
Fiquemos, pois, apenas com as razões indiscutíveis da morte: a cessação dos fenômenos vitais, por
parada das funções cerebral, respiratória e circulatória, e o surgimento dos fenômenos abióticos, lentos
e progressivos, que lesam irreversivelmente os órgãos e tecidos. Assim, deve-se prudentemente deixar
escoar certo lapso na ampulheta do tempo para afirmar com rigorismo clínico a realidade da morte,
conforme preceitua a Sociedade Alemã de Cirurgia:
“A morte cerebral pode produzir-se antes que cessem os batimentos cardíacos (traumatismo
cerebral). Considera-se que o cérebro está morto após doze horas de inconsciência com ausência de
respiração espontânea, midríase bilateral eletroencefalograma isoelétrico, ou quando o angiograma
revela a parada da circulação intracraniana (durante trinta minutos). Pode ocorrer que o coração pare,
mas o sistema nervoso central está intacto ou com possibilidade de recuperar-se. Convém, então,
iniciar a ressuscitação; se os batimentos cardíacos não reaparecem pode dar-se por morto o paciente,
mas se reaparecem, sem que se restabeleçam a consciência ou a respiração, deve seguir-se aplicando
as normas usuais de assistência intensiva até que possa ser demonstrada a morte cerebral.”
Do que se trata, deve-se dar o indivíduo por morto quando se constata, induvidosamente, a
ocorrência verdadeira da morte encefálica geral e não apenas da morte da cortiça cerebral.

O Conselho Federal de Medicina aprovou a Resolução 1480/97 dispondo que os parâmetros clínicos
para a avaliação da morte encefálica são os indicados na valorização do coma aperceptivo com
ausência de atividade motora supraespinhal e de apneia. Os exames complementares indicados para
essa confirmação devem estar representados pela ausência da atividade elétrica cerebral ou pela
ausência da atividade metabólica cerebral ou pela ausência de perfusão sanguínea cerebral. A morte
encefálica deverá ser consequência de processo irreversível e de causa conhecida.
Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas e eletroencefalográficas para caracterização
da morte são definidos por faixa etária como:
- de 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas
- de 2 meses a 1 ano incompleto – 24 horas
- de 1 ano a 2 anos incompletos – 12 horas
- acima de 2 anos – 6 horas.

Modalidades de Morte
Existem várias modalidades de morte:

42
Morte Anatômica – É o cessamento total e permanente de todas as grandes funções do organismo
entre si e com o meio ambiente.
Morte Histológica – Não sendo a morte um momento, compreende-se ser a morte histológica um
processo decorrente da anterior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem
paulatinamente.
Morte Aparente – O adjetivo “aparente” nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o indivíduo
assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil persistência da circulação. O estado de
morte aparente poderá durar horas, notadamente nos casos de morte súbita por asfixia-submersão e
nos recém-natos com índice de Apgar baixo. É possível a recuperação de indivíduo em estado de morte
aparente pelo emprego de socorro medico imediato e adequado.

Morte Relativa - O indivíduo jaz como morto, vitimado por parada cardíaca diagnosticada pela
ausência de pulso em artéria calibrosa, como a carótida comum, a femoral, associada à perda de
consciência, cianose, ou palidez marmórea. Entende-se por parada cardíaca o cessamento súbito e
inesperado da atividade mecânica do coração sob forma de fibrilação ventricular, taquicardia ventricular
sem pulso periférico palpável, dissociação eletromecânica em ritmo orgânico, útil e suficiente, em
indivíduos que não portam moléstia incurável, debilitante, irreversível e crônica, pois que nesses
enfermos a parada cardíaca nada mais é do que a consequência natural do envolver maligno da doença
de base. Ocorre estatisticamente em 1/5.000 casos de anestesias cirúrgicas. O ofendido, submetido em
tempo hábil à massagem cardíaca, poderá retornar à vida, como sucedeu em quatro pacientes por nós
socorridos, acometidos por parada dos batimentos do coração durante gastrectomia total por neoplasia
maligna de estômago.

Morte Intermédia - É admitida apenas por alguns autores. A morte intermédia é explicada, pelos que
a admitem, como a que precede a absoluta e sucede à relativa, como verdadeiro estágio inicial da
morte definitiva. Diversos autores têm relatado em seus livros centenas de casos de indivíduos que,
inúmeras circunstâncias (atos cirúrgicos, afogamentos frustrados etc.), perceberam-se como que saídos
de seus corpos, flutuando no espaço, presos por um “fio prateado” à cicatriz umbilical, sentindo-se como
se mortos estivessem. Socorridos adequadamente, em tempo hábil, retornaram à consciência física,
contando avidamente as experiências vividas.

Morte Real - É o ato de cessar a personalidade e fisicamente a humana conexão orgânica, por
inibição da força de coesão intermolecular, e o de formar-se paulatinamente a decomposição do
cadáver até o limite natural dos componentes minerais do corpo (água, anidrido carbônico, sais etc.),
que, destarte, passam a integrar outras formas de organizações celulares complexas em eterna
renovação, como se por átomos químicos do corpus, ou de seus despojos, estivéssemos unidos aos
átomos de todo universo.

TANATOGNOSE E CRONOTANATOGNOSE e FENÔMENOS CADAVÉRICOS.


Tanatognose
É a parte da tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico
será tanto mais difícil quanto mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenômenos
transformativos do cadáver, não existe sinal patognomônico de morte. Então, o perito observará dois
tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e consecutivos, e os
transformativos, destrutivos ou conservadores.

FENÔMENOS CADAVÉRICOS
Fenômenos abióticos imediatos

Apenas insinuam a morte:


- perda da consciência;
- abolição do tônus muscular com imobilidade;
- perda da sensibilidade;
- relaxamento dos esfíncteres;

43
- cessação da respiração;
- cessação dos batimentos cardíacos;
- ausência de pulso;
- fácies hipocrática;
- pálpebras parcialmente cerradas.

Fenômenos abióticos consecutivos

- resfriamento paulatino do corpo;


- rigidez cadavérica;
- espasmo cadavérico;
- manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
- dessecamento: decréscimo de peso, pergaminhamento da pele e das mucosas dos lábios;
modificações dos globos oculares; mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da
tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.

Vejamos alguns destes fenômenos:


- rigidez cadavérica

- espasmo cadavérico (corpo na posição da morte)

- hipóstase e livores cadavéricos:

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Fenômenos Transformativos
Compreendem os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e os conservadores (mumificação e
saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão intensas que a vida se torna
absolutamente impossível. São, portanto, sinais de certeza da realidade de morte.

Destrutivos
Autólise: Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas intracelulares, determinando lise
dos tecidos seguida de acidificação, por aumento da concentração iônica de hidrogênio e consequente
a diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por diminuta que seja a acidez, será a
vida impossível, iniciando–se os fenômenos intra e extracelulares de decomposição. Os tecidos se
desintegram porque as membranas celulares se rompem e flocula o protoplasma, devido ás desordens
bioquímicas resultantes da anóxia e da baixa do pH intra e extracelular.
A autólise afeta precocemente os cadáveres de recém- nascidos e aqueles ainda não putrefeitos ou
em que esse fenômeno mal se iniciou. A acidificação dos tecidos é então sinal evidente de morte, que
pode ser pesquisado por vários métodos laboratoriais, dentre os quais a colorimetria, ou, quando não se
dispõe de aparelhagem especial, por diversos sinais, para se apurar a realidade da morte. São eles:
- Sinal de Labord- Esse autor recomenda a introdução de uma agulha de aço bem polida no tecido,
onde permanecerá cerca de 30 minutos; retirada, se permanecer seu brilho metálico, afirma-se
diagnostico de morte real.
- Sinal de Brissemoret e Ambard- Além de pouco prática, não é isenta de riscos nos casos de morte
aparente. Consiste na punctura com trocarte do fígado ou do baço e análise dos fragmentos obtidos
pelo papel de tornassol. No morto a reação é ácida.
- Sinal de Lecha-Marzo- Não é sinal preciso porque não se manifesta em todos os casos de morte
real, podendo, embora rarissimamente, ser encontrado em vida, durante agonia. Consiste em colocar
entre o globo ocular e a pálpebra superior papel de tornassol, que se tornará vermelho pela acidez,
indicando morte, ou azul, se o meio for alcalino, afirmando vida.
- Sinal de De-Dominicis- Emprega-se também o papel de tornassol apenas em área escarificada no
abdome, onde a acidez, se houver, é mais precoce.
- Sinal de Silvio Rebelo- Também não é infalível. Consiste na introdução de um fio-testemunha e de
um fio corado pelo azul de bromo-timol, por agulha montada, numa dobra da pele, deixando as suas
extremidades exteriorizadas. Se o fio indicador, que é azul, adquirir na intimidade dos tecidos cor
amarela, comprovará acidez cadavérica.
- Sinais de forcipressão de Icard- 1) forcipressão física: comprime-se, com pinça, uma prega da pele,
que persistira no morto e desaparecera no vivo; 2) forcipressão química: o pinçamento da pele provoca
o escoamento de serosidade, que, pesquisada pelo papel de tornassol, indicara acidez no morto e
alcalinidade no vivo; 3) reação sulfídrica: consiste em colocar nas narinas e dentro da boca papel
previamente umedecido em uma solução de acetato neutro de chumbo em água destilada a 50%, o
qual adquire cor negra de sulfereto de chumbo pela ação do ácido sulfídrico e do sulfidrato de amônio
originado pela morte. Ex expositis, avulta aos olhos a importância desta prova e a da fluresceína, por
serem práticas e confiáveis.

Putrefação: Para Icard, a putrefação se inicia assim que cessa a vida. A putrefação, forma de
transformação cadavérica destrutiva, se inicia, após a autólise, pela ação de micróbios aeróbicos,
anaeróbicos e facultativos em geral sobre o ceco, porção inicial do grosso intestino onde mais se
acumulam os gases e que, por guardar relação de contiguidade com a parede abdominal da fossa ilíaca
direta, determina por primeiro, nessa região, o aparecimento da mancha verde abdominal, qual,

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posteriormente, se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a tonalidade verde-enegrecida
conferindo ao morto aspecto bastante escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção; neles
a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do corpo, especialmente pelas vias
respiratórias. Nos afogados, a coloração verde dos tegumentos aparece primeiramente na metade
superior a anterior do tórax e, depois, na cabeça, pela posição declive assumida pelo corpo dentro
d‟água.
Na dependência de fatores intrínsecos (idade, causa mortis, constituição) e de fatores extrínsecos
(temperatura, aeração, higroscopia do ar), a mancha da putrefação, embora não siga cronologia
rigorosa (tanto ser possível a simultaneidade de vários períodos transformativos, em regiões diferentes,
num mesmo cadáver), se faz em quatro períodos:
- Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos tegumentos, originada pela combinação
do hidrogênio sulfurado nascente com a hemoglobina, formando a sulfometeglobina, surge, em nosso
meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando, em média, 7 dias.

- Período de gasoso - Os gases internos da putrefação migram para a periferia provocando o


aparecimento na superfície corporal de flictenas contendo liquido leucocitário hemoglobínico com menor
teor de albuminas em relação ás do sinal de Chembert, e de enfisema putrefativo que crepita à
palpação e confere o cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especialmente na face, no
tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compressão cardiovascular emigra sangue para periferia
originando na pele curioso desenho denominado circulação póstuma de Brouardel. A compressão do
útero grávido produz o parto de putrefação (parto post mortem), com eversão do órgão, sendo o feto em
geral, encontrado entre as coxas maternas. As órbitas esvaziam-se, a língua exteorizar-se, o pericrânio
fica nu. O ânus se entreabre evertendo a mucosa retal. A força viva dos gases de putrefação inflando
intensamente o cadáver pode fender a parede abdominal com estalo. O odor característico da
putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfídrico. Esse período dura em média duas semanas.

- Período coliquativo - A coligação é a dissolução pútrida das partes moles do cadáver pela ação
conjunta das bactérias e da fauna necrófaga. Os gases se evolam, o odor é fétido e o corpo perde
gradativamente a sua forma. Dependendo das condições de resistência do corpo e do local onde está
inumado, esse período pode durar um ou vários meses, terminando pela esqueletização.

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- Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e da fauna cadavérica destrói os resíduos
tissulares, inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamente livres de
seus próprios ligamentos. Os cabelos e os dentes resistem muito tempo à destruição. Os ossos também
resistem anos a fio, porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura habitual, tornando-se
mais leves, frágeis e, alguns, quebradiços. Afinal, para remate, mors omnia solvit (a morte dissolve
tudo).

Maceração: É também fenômeno de transformação destrutiva que afeta os submersos em meio


líquido contaminando (maceração séptica) e o concepto morto a partir do 5° mês de gestação e retido
intrauterinamente (maceração asséptica). Manifesta-se mais intensamente nos casos de retenção de
feto morto. Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está representada pelo surgimento
lento, nos três primeiros dias, de flictenas contendo serosidade sanguinolenta. A pele, em contato com o
líquido amniótico que adquiriu tonalidade esverdeada e consciência espessa, comparável á sopa de
ervilhas, pelo mecônio expelido espontaneamente para o interior da matriz, na fase inicial de sofrimento
fetal, e no submerso, enruga e se torna amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos
cutâneos, deixando à mostra tecido subjacente de colorido avermelhado, devido à embebicação por
hemoglobina.
Nas mãos, os retalhos cutâneos destacam-se em “dedos de luvas”, conservando as unhas, e,
durante algum tempo, as cristas papilares, o que permite ao legisperito calça-los a modo de dedal
epidérmico e efetuar a tomada das impressões digitais do cadáver. No segundo grau, a ruptura das
flictenas confere ao líquido amniótico, cor vermelhado-pardacenta, e a separação da pele de quase toda
a superfície corporal, a partir do oitavo dia, dá o feto aspecto sanguinolento. No terceiro grau, destaca-
se o couro cabeludo, à maneira de escalpo, do submerso ou do feto retido intra-uterinamente, e, em
torno do 15° dia post mrotem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns sobre os outros, os
ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna
adquire acentuada cifose, pela pressão uterina. Dessarte, o cadáver macerado tem diminuída a sua
consistência inicial, o ventre achatado como o dos batráquios, e os ossos livres de sua parte de
sustentação, dando a impressão de estarem soltos.

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Conservadores
Mumificação: É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápida e acentuada a
desidratação. A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões de clima quente e seco e
de arejamento intensivo suficiente para impedir a ação microbiana, provocadora dos fenômenos
putrefativos. Assim é que têm sido encontradas múmias naturais, sem caixão, simplesmente na areia ou
sobre a terra, ou em catacumbas ou cavernas, sem vestígios de tratamento e tão bem conservadas
quanto às embalsamadas artificialmente, graças a condições favoráveis. Por exemplo, as múmias
naturais do convento dos Capuchinhos, de Palermo e do Grande São Bernardo, do subterrâneo da
catedral de Bremen, das catacumbas dos Franciscanos e dos Jacobinos, em Tolosa, e da caverna da
Babilônia, em Minas Gerais.
A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente pelos egípcios e pelos incas, por
embalsamento, após intensa dessecação corporal. Os egípcios, primeiramente, extraíam o cérebro do
cadáver, com auxilio de um gancho de metal, pelas fossas nasais. Ato contínuo, incisavam o abdome
com uma faca de sílex para esviscerar os órgãos nele contidos, os quais eram colocados em bilhas, e o
tórax, objetivando substituir o coração por um escarabeu de pedra. Seguia-se meticulosa lavagem
externa e o cadáver era recoberto por natrium, durante 40 a 70 dias, e amortalhando em vários ataúdes
ou sarcófagos, após ter sido recheado com areia, argila, resina ou serragem (para evitar a deformação),
besuntado com ervas aromáticas e envolvido em rolos de pano de linho. As múmias têm aspecto
característicos: peso corporal reduzido em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura, coriácea,
ressoando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e dentes conservados.

Saponificação (adipocera): É um processo transformativo de conservação que aparece sempre após


um estágio regularmente avançado de putrefação, e que o cadáver adquire consistência untuosa, mole,
como sabão ou cera (adipocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalando odor de
queijo rançoso. A saponificação atinge comumente segmentos limitados do cadáver; pode, entretanto,
raramente, comprometê-lo em sua tonalidade. Tal processo, embora factível de individualidade,
habitualmente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em valas comuns de grandes
dimensões, como nas primeiras exumações ocorridas no Cemitério dos Inocentes de Paris.
Discutem os autores se somente a gordura normal é passível de saponificar-se – a análise química
revela a existência de ácidos graxos –, ou se todos os demais tecidos, mesmo os de natureza
albuminóide, como os músculos, podem sofrer tal transformação. Os adeptos da exclusividade das
gorduras alegam que, sendo a adipocera fenômeno posterior à putrefação, os músculos,
evidentemente, já teriam desaparecido pela decomposição antes do início da saponificação. Influenciam
o surgimento desse fenômeno: fatores individuais e, especialmente, os fatores mesológicos
representados pelo solo argiloso e úmido, que permite a embebição e dificulta, sobremaneira, a
aeração. O cadáver que sofreu o fenômeno da adipocera apresenta, segundo Thouret, o aspecto de
“queijo branco ordinário” e rançoso.

Mumificação:

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CRONOTANATOLOGIA.
A CRONOTANATOLOGIA define se houve comoriência ou primoriência.
Comoriência: Significa a morte simultânea de duas ou mais pessoas em um mesmo acontecimento,
sem hipótese de averiguação sobre qual delas morreu primeiro.
Trata-se de uma presunção legal fundamentada pelo Código Civil Brasileiro de 2002, que dispõe no
Artigo 8°: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se
algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.
O significado de comoriência tem especial importância no Direito das Sucessões, nas situações em
que os indivíduos que faleceram (denominados “comorientes”) são ligados por vínculos sucessórios, ou
seja, são reciprocamente herdeiros.
Quando é crucial para efeitos de herança que haja comprovação de qual indivíduo faleceu primeiro,
porém não há como apurar esse fato, então a Lei brasileira admite que a morte foi simultânea. São
casos em que é impreterível o esclarecimento sobre os plenos direitos do herdeiro na partilha do
patrimônio.

Premoriência: É a morte de uma pessoa, ocorrida anteriormente à de outra pessoa determinada, que
lhe sobrevive. É a precedência na morte, como, por exemplo: quando um casal sem descendentes e
ascendentes falece no mesmo evento. Se se demonstrar que o marido pré-morreu à esposa esta
recolhe a herança daquele, para a transmitir em seguida aos próprios herdeiros e vice-versa.

CRONOTONATOGNOSE
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte. Com efeito, os fenômenos
cadavéricos, não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferentes
corpos e com a causa mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condições do terreno e da
temperatura e umidade ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte tão
exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. O seu estudo importa no que diz
respeito à responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à sobrevivência e de interesse
sucessório.
O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à
sobrevivência e de interesse sucessório.

Questões

Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini

01. (CESPE / Perito Bioquímico Toxicologista/PCES2013). O laudo pericial é uma exigência


descrita no Código Penal e deve conter a síntese do exame e da discussão do caso.

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02. (FUNCAB/MEDICO LEGISTA/PCES/ 2013). Em relação aos atos e documentos médico-legais, é
correto afirmar:
(A) Consulta médico-legal é o atendimento realizado pelo perito no setor de necropsias.
(B) Os atestados judiciários são os únicos que têm importância administrativa.
(C) A etapa do relatório conhecida como “Descrição” é a parte mais importante do relatório médico-
legal.
(D) Os legistas devem afirmar a causa jurídica da morte no atestado de óbito.
(E) A consulta médica é a resposta a um parecer médico-legal.

03. (FGV/Perito Legista (Clínica Médica)/2011). Com relação ao resfriamento do corpo humano
após a morte, analise as afirmativas a seguir.
I. Se fizermos um gráfico com as temperaturas retais e o tempo pós-morte, obteremos uma linha
descendente reta cuja inclinação aumenta nos ambientes frios quando comparada à dos ambientes
quentes.
II. A fórmula de Moritz para calcular as horas desde a morte, pela temperatura retal, manda subtrair
de 37º a temperatura registrada no momento do exame e somar mais 3 ao resultado. Este expressa o
número de horas pós-morte.
III. Em condições semelhantes, o corpo de crianças sofre resfriamento mais rápido que o dos
adultos.
Assinale:
(A) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
(B) se todas as afirmativas estiverem corretas.
(C) se apenas a afirmativa III estiver correta.
(D) se apenas a afirmativa I estiver correta. (E) se apenas a afirmativa II estiver correta.

04. (UNIVERSA/ Médico-Legista/ GO/ 2010 - Prova do curso de formação). A constatação de


rigidez muscular nos membros inferiores precedendo aos superiores
(A) pode ser consequência de esforço físico intenso
(B) ocorre nos enforcamentos com suspenção completa
(C) ocorre em qualquer tipo de asfixia
(D) resulta do trauma que ocorre nas pernas
(E) somente se verifica após mobilização prévia dos membros superiores

05. (FGV/Perito Legista Odontologia/PCRJ 2011). Um processo de grande importância na


cronotanatognose desenvolve-se em quatro fases: período cromático, período enfisematoso, período
coliquativo e período de esqueletização. Esse processo é denominado:
(A) autólise.
(B) putrefação
(C) maceração.
(D) coreificação.
(E) mumificação.

06. (UNIVERSA/ Médico-Legista/ GO/ 2010 - Prova do curso de formação). Dos fenômenos
conservadores, qual exige processo prévio de putrefação?
(A) mumificação
(B) saponificação
(C) petrificação
(D) corificação
(E) fossilização

07. (UNIVERSA/Perito Criminal/Prova 3 Odontologia/PCDF/2012). Com relação aos fundamentos


relacionados à cronotanatognose, assinale a alternativa correta
(A) O esfriamento do cadáver representa um dos fenômenos mais importantes na estimativa do
tempo de morte, obtendo-se uma avaliação mais precisa quanto a esse aspecto depois de decorridas
doze horas da cessação da vida.
(B) Para a determinação da morte a partir da análise da perda de peso, faz- se necessário saber,
com a maior precisão possível, o peso do corpo no momento do óbito, o que inviabiliza a utilização de
tal parâmetro na maioria dos casos para estimativa do tempo de morte.

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(C) Um fenômeno importante na determinação do tempo da morte é a análise dos livores
hipostáticos, formados geralmente em torno de 30 minutos após o óbito, atingindo o máximo de
intensidade e extensão 2 horas após a morte, fixando-se definitivamente.
(D) A rigidez cadavérica é um dos elementos mais precisos na determinação do tempo de morte,
pois leva em consideração a rigidez em diferentes regiões anatômicas (nuca, membros superiores,
membros inferiores e outros) e não sofre influência do meio externo e do interno.
(E) Os gases da putrefação normalmente não são considerados na estimativa do tempo de morte.
Apesar de serem importantes para a determinação da morte em si, não há variação relevante nos tipos
de gases formados ao longo das horas após a morte. Destarte, os gases da putrefação possuem
discreta relevância na cronotanatognose.

08. (UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia). Verificou- se em um cadáver os


seguintes fenômenos: rigidez generalizada, esboço de mancha verde abdominal, reforço da
fragmentação venosa e desaparecimento das artérias do fundo de olho. Com base apenas nessas
observações e desconsiderando outros fatores ambientais, a morte teria ocorrido
(A) de 2 a 4 horas.
(B) mais de 8 e menos de 16 horas.
(C) mais de 16 e menos de 24 horas.
(D) de 48 a 72 horas.

09. (CESPE/PERITO CRIMINAL PB/2008). Em relação aos exames periciais, assinale a opção
correta.
(A) Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, ainda que haja
infração penal a apurar.
(B) Quando encontrados em posição diversa, os cadáveres deverão ser colocados em posição
horizontal para serem fotografados.
(C) Em regra, a autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito.
(D) É vedado aos peritos instruir os laudos com fotografias que contenham imagens de forte
mutilação corporal.
(E) Após a conclusão das perícias de laboratório, os peritos deverão descartar imediatamente o
material periciado.

10. (Perito Criminal Federal (área 12) Medicina/PF – CESPE 2013). Para uma pessoa ser
considerada clinicamente morta, todas as células de seu organismo devem estar mortas.

11. (Perito Criminal/Prova 3 Odontologia/PCDF - UNIVERSA - 2012 No contexto da


tanatologia forense, existe uma tríade amplamente citada que define, clinicamente, o estado de
morte aparente levando-se em consideração os seguintes parâmetros: imobilidade, ausência
aparente da respiração e ausência de circulação. Assim, na morte aparente, esses três
elementos, em conjunto, têm a denominação da tríade de:
(A) Thoinot
(B) Nysten
(C) Docimasias
(D) Etiene Rollet
(E) Sommer e Larcher

12. (Odontolegista/PC-MARANHÃO FGV – 2012). A morte aparente pode ser definida


como um estado transitório em que as funções vitais “aparentemente” estão abolidas, em
consequência de uma doença ou entidade mórbida que simula a morte. A tríade de Thoinot,
que define clinicamente o estado de morte aparente, é composta por
(A) imobilidade, ausência real da respiração e ausência de circulação.
(B) rigidez articular, ausência aparente da respiração e ausência aparente de circulação.
(C) imobilidade, ausência aparente da respiração e ausência de circulação.
(D) rigidez cadavérica, ausência aparente da respiração e ausência de circulação.
(E) rigidez articular, ausência real da respiração e ausência de circulação.

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13. (Perito Legista Odontologia/PCRJ - NCE UFRJ – 2001). Com relação aos livores
hipostáticos, assinale a opção INCORRETA:
(A) constituem sinal tardio da realidade da morte;
(B) sua coloração ajuda a esclarecer a causa da morte;
(C) sua fixação permite afirmar que um corpo foi mudado de posição, se já se tiverem
fixado na posição primitiva;
(D) são retardados pelo frio, anemias, morte lenta, diarréias, vômitos e outras causas de
desidratação;
(E) fornecem elementos de certeza, no que tange à cronologia da morte.
14. (Perito Legista Odontologia/PCRJ – FGV – 2011). São considerados fenômenos
abióticos mediatos:
(A) parada cardiorespiratória, desidratação cadavérica e palidez.
(B) abolição do tônus muscular, esfriamento do cadáver e livores hipostáticos.
(C) midríase, abolição do tônus muscular e palidez.
(D) desidratação cadavérica, livores hipostáticos e rigidez cadavérica.
(E) desidratação cadavérica, esfriamento do cadáver e midríase.

15. (PERITO CRIMINAL/PCMG FUMARC - 2013 O esboço vascular na derme,


denominado de circulação póstuma de Brouardel, caracteriza o período
(A) coliquativo da putrefação.
(B) cromático da putrefação.
(C) gasoso da putrefação.
(D) liquefativo da putrefação.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
ERRADO C A A B B B C C ERRADO
11 12 13 14 15
A C E D C

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