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Relação da síndrome da pelve cruzada


com a força respiratória: relato de caso
The relationship between the pelvic cross syndrome
with respiratory force - a case report
Resumo Introdução: a má postura desencadeia desequilíbrios sobre a
coluna vertebral, provocando alterações lombares e pélvicas, dentre elas
a síndrome da pelve cruzada, interferindo na mecânica respiratória. Ob-
jetivo: mostrar a relação entre a síndrome da pelve cruzada e a função
respiratória. Metodologia: a amostra foi constituída por uma voluntária
com hiperlordose lombar. Para avaliação, foram aplicados a manova-
cuometria, cirtometria e testes de força muscular para coluna e quadril.
O tratamento foi composto por vinte sessões, constituído por exercícios
de alongamento e fortalecimento. Resultados: houve ganhos satisfa-
tórios nas pressões respiratórias máximas, sendo que a PImáx evoluiu
de 65 para 90 e a PEmáx, de 45 para 80 cmH2O. Quanto ao ângulo de
inclinação anterior pélvica, houve uma redução de 4,3º da primeira para
a última avaliação. Conclusão: concluiu-se que há melhora da função
pulmonar com o tratamento da síndrome da pelve cruzada, havendo,
assim, possível relação entre o segmento lombar e a função respiratória.
Palavras-chave: síndrome da pelve cruzada, fisioterapia, mano-
vacuometria.

Abstract Introduction: Poor posture triggers imbalances on the


spine, causing lumbar and pelvic changes, among them the cross syn-
Tiago Del Antonio drome pelvis, interfering in the respiratory mechanics. Objective: To
Universidade Estadual do Norte do show the relationship between pelvic cross syndrome and respiratory
Paraná
function. Methodology: The sample consisted of a volunteer with lum-
Fabrício José Jassi bar hyperlordosis. For evaluation purposes, we applied the manovac-
Universidade Estadual do Norte do uometry, cirtometry, and muscle strength tests for spine and hip. The
Paraná
treatment consisted of 20 sessions of stretching and strengthening ex-
LUCIANE MAYUmI MIYAJImA ercises. Results: There were satisfactory gains in maximal respiratory
pressures; relative MIP evolved from 65 to 90 cm H2O and MEP evolved
NATAlIA TIEmI DA SIlVA SATO
Mestranda em Fisioterapia from 45 to 80 cm H2O. As to the anterior pelvic-tilt angle, it decreased
Núcleo de Estudos em Neuropediatria by 4.3° from the first to the last assessment. Conclusion: We conclude
e Motricidade - NENEM that there is improvement in lung function with the treatment of pelvic
Universidade Federal de São Carlos
- UFSCar cross syndrome, so there is a possible relationship between the lumbar
segment and the respiratory function.
Ana Carolina Ferreira Tsunoda
Keywords: pelvic cross syndrome, physical therapy, manovacuo-
metry.

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Relação da síndrome da pelve cruzada com a força respiratória: relato de caso
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Tiago Del Antonio et al.

Introdução do tecido, mecanismo de compensação, rea-


ções de defesa antálgica, rigidez e contrati-
Postura é a posição assumida pelo cor- lidade, como a dos músculos extensores por
po, quer seja por meio da ação integrada dos paralisia dos espinhais lombares, insuficiên-
músculos operando para atuar contra a força cia dos músculos flexores, particularmen-
da gravidade, ou quando mantida durante a te dos retos abdominais, insuficiência dos
inatividade da musculatura dinâmica.1 músculos do glúteo, retração do iliopsoas e
A postura correta é aquela em que um peso das vísceras.6
mínimo de estresse é aplicado a cada arti- A hiperlordose é criada por abdominais
culação, necessitando de mínima atividade fracos e obliquidade pélvica e, se for supe-
muscular para ser mantida, em contraposi- rior a 20º, haverá um aumento de lordose
ção a uma postura defeituosa em que existe e, consequentemente, deslocamento do cen-
um aumento da sobrecarga articular.² tro de gravidade e realinhamento de todas
Contudo, possíveis fatores que contri- as curvas para uma compensação. Não há
buem para uma postura inadequada são: hiperlordose lombar sem anteroversão pél-
atitude mental, fraqueza muscular geral, vica, e não há anteroversão pélvica sem pos-
fadiga prolongada, dor localizada, estresse tura hiperlordótica.7
ocupacional e tensão localizada. Estes fa- A literatura aponta que as curvaturas
tores reduzem a eficiência do sistema mus- anormais da coluna vertebral interferem
cular, assim como uma noção errada sobre no sistema respiratório, pois estes desvios
uma postura correta pode contribuir para a proporcionam deficiência na expansibilida-
instalação de mal alinhamento estrutural. de torácica, interferindo negativamente na
Além disso, um fator danoso, exacerbado complacência tóraco-pulmonar e na ventila-
pela má postura, é a alteração na mecânica ção dos pulmões com diminuição da capa-
respiratória.3 cidade vital.8
Umas das alterações mais frequentes na A ventilação pulmonar depende da elas-
postura, que pode estar diretamente ligada ticidade pulmonar e da amplitude dos mo-
à mecânica respiratória, é a hiperlordose vimentos torácicos. O aumento do volume
lombar, que, no aspecto patológico, é ca- da caixa torácica deve-se, em grande parte,
racterizada pelo exagero na curva normal ao movimento do diafragma, que promove
encontrada na região lombar, havendo uma expansão do tórax em todos os sentidos.
curva no plano sagital com vértice anterior. Essa expansibilidade, que é mensurada por
De acordo com a Scoliosis Research Socie- meio da cirtometria torácica dinâmica, é
ty, ela pode variar entre 31º e 79º.4 Segundo proporcional à amplitude do movimento de
Morvan et al.,5 que estipulam valores menos elevação das costelas, e essa amplitude, por
amplos, para o gênero masculino o valor é sua vez, depende da posição da coluna ver-
41º±11º e, para o gênero feminino, 46º±11º. tebral. A melhor expansão é obtida quando
Esta acentuação pode ser causada por a costela atinge o mesmo plano da vértebra
malformação óssea, posturas viciadas negli- na qual está articulada, o que não acontece
gentes, falta de exercício físico, desgastes nas alterações posturais.9

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Os testes de função pulmonar são bas- diagnóstico fisioterapêutico de hiperlordose


tante precisos para verificar a eficácia de lombar em virtude de fraqueza abdominal e
técnicas, servindo como métodos auxiliares diafragmática.
na avaliação respiratória, além de fornece- Esses voluntários passaram por uma
rem medidas quantitativas que constituem, avaliação inicial, na qual foram incluídos
também, indicadores da função neuromus- ou excluídos do tratamento, respeitando os
cular. As medidas de pressão inspiratória critérios de inclusão (hiperlordose lombar,
máxima (PImáx) e pressão expiratória má- ausência de dor lombar, fraqueza abdomi-
xima (PEmáx) permitem quantificar a força nal, diminuição da força diafragmática, gê-
dos músculos respiratórios de forma prática nero feminino, sedentarismo, ter entre 17 e
e não invasiva.10 25 anos, apresentar índice de massa corpórea
Quando o encurtamento do diafragma (IMC) até 24,9 kg/m2) e exclusão (osteossín-
ocorre em sua porção esternal, provoca en- tese, presença ou suspeita de processos in-
curtamento de seu pilar, o que leva o tórax à flamatórios, presença ou suspeita de doenças
posição expiratória; o encurtamento da por- degenerativas, alterações nos hábitos de vida
ção costal leva as últimas costelas a adotarem e presença de doença pulmonar). Seguindo
uma posição inspiratória, e o encurtamento esses critérios, foi selecionado para o estudo
da porção lombar acentua a lordose lombar.9 um paciente que apresentava 21 anos, gênero
Portanto, o encurtamento da cadeia res- feminino, estudante, com IMC normal de 23
piratória pode levar ao aumento da lordose kg/m2, adequando-se ao projeto.
lombar e como a ventilação pulmonar está A voluntária foi informada dos objeti-
diretamente relacionada com as curvaturas vos e da metodologia à qual seria subme-
da coluna vertebral, pode-se concluir que a tida, esclarecendo-se o caráter não invasi-
respiração exerce um papel fundamental na vo dos procedimentos. Posteriormente ela
postura, uma vez que os músculos respira- assinou um termo de consentimento livre e
tórios estão ligados à coluna vertebral e às esclarecido, apresentado no primeiro dia do
costelas.9 O objetivo do estudo foi analisar se estudo, abordando os benefícios e riscos do
existe relação entre a síndrome da pelve cru- procedimento a ser adotado.
zada e a função respiratória em um indivíduo A avaliação fisioterapêutica foi consti-
do sexo feminino com hiperlordose lombar. tuída por: identificação; sinais vitais, como
pressão arterial sistêmica (PAS) e frequên-
Metodologia cia cardíaca (FC), por meio do equipamento
Omron® HEM-742; peso e altura, por meio
A presente pesquisa caracteriza-se por de balança antropométrica; e IMC, por meio
ser um estudo de caso, submetido e aprova- da relação entre a massa corporal expressa
do pela Plataforma Brasil, sob o número de em quilogramas e a estatura em metros de-
protocolo 19079713.2.0000.0108, obede- terminando, assim, o estado nutricional do
cendo à resolução 196/96 do Conselho Na- indivíduo.
cional de Saúde. Desenvolveu-se, primeira- Durante a avaliação, foi realizada aus-
mente, com uma triagem de indivíduos com culta pulmonar, com o intuito de detectar

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sons normais e patológicos produzidos nos Figura 1: Vista lateral


pulmões e nas vias aéreas, excluindo pos-
síveis alterações patológicas que poderiam
afetar os testes pulmonares. No que diz res-
peito à análise da expansão da caixa torácica,
foi realizada a cirtometria, na qual o exami-
nador passa a fita métrica em torno do tórax
em três níveis diferentes: 1) sob as axilas,
para a expansão apical (axilar); 2) na linha
mamilar, para a expansão da região torácica
média (mamilar/esternal); e 3) no nível do
processo xifoide, para a expansão da região
torácica inferior, sendo as medições feitas
após a expiração e a inspiração máximas.2
Por meio do manovacuômetro (da marca
Comercial Médica®) foi avaliado o grau de
força muscular respiratória. A PImáx foi
medida durante esforço iniciado a partir do
volume residual (VR), enquanto que a PE-
máx foi medida a partir da capacidade pul-
monar total (CPT).11 Foram realizadas três
aferições para o indivíduo, com intervalo de
um minuto entre elas, considerando-se para
análise a melhor medida obtida.
Na avaliação postural, a voluntária foi olhos abertos para o horizonte e não houve
submetida a uma sessão de fotos nas vis- interferência verbal para correção postural.
tas anterior e lateral esquerda, preconizan- O fio de prumo de 1 m foi colocado ao lado
do a visualização das curvaturas da coluna esquerdo, próximo à participante.
em vista frontal e sagital. Foram utilizadas A fotografia foi realizada com a parti-
pequenas bolas de isopor, preparadas pre- cipante em posição ortostática, tendo como
viamente com fita adesiva dupla face, uti- fundo uma parede de cor branca com uma
lizadas como marcadores e colocadas em demarcação colada a 2,38 metros de distân-
pontos anatômicos específicos: espinha ilí- cia até o tripé e a paciente sempre posicio-
aca anterossuperior (Eias), espinha ilíaca nada na letra F. A câmera fotográfica Sony®
posterossuperior (Eips) e trocânter maior, 10.2 megapixels foi girada e travada a 90º
como mostrado na Figura 1. da posição horizontal, com a finalidade de
A participante foi fotografada vestindo focar longitudinalmente o corpo do indiví-
obrigatoriamente top e short, descalça, com duo. Tanto as marcações dos pontos anatô-
os pés unidos e paralelos entre si, e os cabe- micos quanto o registro fotográfico foram
los foram presos. Foi orientada a manter os realizados por um avaliador.

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Para avaliação foi utilizado o Softwa- ponte posterior com elevação de membro
re para Análise Postural (Sapo). A análise inferior, prancha anterior, prancha anterior
das fotos obedeceu à seguinte sequência: com elevação de membro inferior, pon-
abertura da foto, calibração da imagem a te lateral e ponte lateral com elevação de
partir do fio de prumo e marcação dos pon- membro superior, sendo feitas cinco séries
tos anatômicos. de trinta segundos em cada posição, com in-
Para determinar a lordose lombar e a tervalos de repouso de dois a três minutos.
posição pélvica, um ângulo foi formado a Foram realizadas vinte sessões de apro-
partir de três pontos anatômicos: Eias, Eips ximadamente sessenta minutos, quatro ve-
e trocânter maior. zes por semana, sendo feita a reavaliação
Foram realizados testes de força muscu- após 10ª e 20ª sessões, utilizando-se os
lar, sendo eles: resistência abdominal em 60 mesmos parâmetros da avaliação inicial.
segundos,12 teste de Thomas,12 teste de Sho- Para a realização da postura, o terapeuta
ber13 e teste de força de glúteo máximo.14 utilizou comandos verbais e contatos manu-
Após a avaliação, com a análise dos ais, solicitando a manutenção do alinhamento
critérios de inclusão e exclusão e com base e as correções posturais necessárias, com o
nos objetivos do estudo, foi aplicado o tra- objetivo de otimizar o alongamento e o forta-
tamento referente à síndrome da pelve cru- lecimento, impedindo as compensações. To-
zada, na qual há uma inclinação anterior da das as medidas foram coletadas pelo mesmo
pelve em razão do encurtamento de múscu- pesquisador sob comando verbal homogêneo.
los, como os flexores do quadril (psoas, ilí- Os dados foram armazenados e tabula-
aco, sartório, reto femoral, grácil, pectíneo), dos no programa Microsoft™ Office™ Excel
iliopsoas, reto femoral, tensor da fáscia lata, 2007™, verificando possível efetividade do
adutores curtos e grupo eretor da espinha do tratamento proposto.
tronco e o enfraquecimento dos músculos
abdominais e glúteos, o que promove a fle- Resultados
xão da articulação dos quadris, provocando,
assim, a hiperlordose lombar.15 Em relação aos testes de força muscu-
Os exercícios realizados durante as lar, a paciente incluída no estudo apresen-
sessões foram: alongamento de ativo de tou resultados satisfatórios no final do tra-
paravertebrais e alongamento passivo de tamento, conforme a Tabela 1, havendo um
quadríceps, sendo realizados em duas séries ganho significativo no teste de resistência
de vinte segundos, com intervalo de repou- abdominal em sessenta segundos, obtendo
so de dois a três minutos, fortalecimento de um ganho de nove abdominais comparadas
isquiotibiais e glúteo, realizando três séries entre a primeira e a última avaliação. No
de doze repetições com intervalo de repou- teste de Thomas foi verificado um acrésci-
so de dois a três minutos e com progressão mo de 10º, apontando assim uma redução
da carga, e estabilização segmentar, tendo do encurtamento de quadríceps. O teste de
início com a conscientização abdominal e Shober, inicialmente, foi de 20 cm na dis-
pélvica, progredindo para ponte posterior, tância entre o terceiro dedo e o solo, fina-

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lizando com 13 cm, obtendo, assim, uma teração, pois a paciente conseguiu sustentar
diminuição de 7 cm. Por último, o teste de o membro na posição por vinte segundos,
força do glúteo máximo não apresentou al- considerado normal.

Tabela 1: Resultados obtidos em relação à força e resistência muscular


Primeira Última Avaliação
Avaliação
Resistência abdominal (repetições) 29 38
Teste de Thomas (graus) 80 90
Teste de Shober (cm) 20 13
Teste de glúteo máximo (segundos) 20 20

No teste de força respiratória, realiza- na PEmáx, aumentou de 45 para 80 cmH2O,


do por meio da manovacuometria, a PImáx mostrados no Gráfico 1.
aumentou de 65 para 90 cmH2O, enquanto
Gráfico 1: Análise inicial e final da PImáx e PEmáx
cm/H O
2

A cirtometria inicial foi de 68 cm e a fi- Em relação à análise postural, avaliada


nal, de 69 cm, obtendo uma diferença de 1 por meio do Sapo, verificou-se o ângulo de
cm no nível esternal, enquanto na axilar e inclinação anterior pélvica, obtendo-se os
mamilar não apresentou alteração, sendo de seguintes valores: 61º na primeira avalia-
82 cm e 83 cm, respectivamente. ção, 60º na segunda avaliação e 56,7º na
avaliação final.

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Discussão do quadril; assim, haverá um aumento da


curvatura lombar, sendo que esta alteração
A atitude postural pode levar a uma pode ser decorrente da fraqueza dos múscu-
série de compensações na coluna torácica, los abdominais (retos e oblíquos).17
cintura escapular e pélvica em razão das Tal desequilíbrio na região pélvica re-
ligações músculo-aponeuróticas do diafrag- sulta em um quadro clínico conhecido
ma com iliopsoas, transverso do abdômen como síndrome cruzada da pelve, na qual
e quadrado lombar; o encurtamento desse ela inclina-se anteriormente, desencadean-
músculo altera a posição da pelve e da co- do uma acentuação da lordose lombar, em
luna lombar, gerando anteroversão pélvica que alguns músculos encontram-se encur-
e hiperlordose.16 tados/rígidos, enquanto outros estão fracos
O aumento do ângulo de lordose lombar e inibidos.12 De acordo com a literatura,
é provocado pelo acréscimo da força e re- podem ocorrer três desvios pélvicos: sín-
tração dos flexores de quadril (psoas-ilíaco) drome cruzada da pelve anterior, posterior
e paravertebrais lombares (extensores da ou mista, sendo a anterior a mais comum.
coluna lombar), pela diminuição da força Nesse quadro clínico, os músculos psoas,
dos extensores de quadril (grande glúteo) reto femoral e espinhais tendem ao encurta-
e abdominais (flexores da coluna lombar) e mento, apresentando condições que favore-
pela retração dos isquiotibiais.4 cem as forças compressivas e microtraumas
Tal desequilíbrio muscular leva a pelve acumulativos sobre a região lombo-pélvica,
a um alinhamento postural bom ou defeitu- levando a uma desestabilização lombar e
oso. Os músculos que mantêm bom alinha- consequente quadro álgico.18
mento da pelve, tanto anteroposteriormen- Estudos norteiam que a função pulmonar
te quanto lateralmente, são de importância está diretamente relacionada com as curva-
vital na manutenção de um bom alinha- turas da coluna vertebral, levando a altera-
mento geral. Na ocorrência de um dese- ções respiratórias com a exagerada projeção
quilíbrio entre os músculos que se opõem, do abdome, decorrente ao deslocamento das
a posição em pé modifica o alinhamento vísceras, retificação do diafragma e a dimi-
da pelve afetando a postura das partes do nuição da efetividade do mesmo, interferin-
corpo acima e abaixo.17 do negativamente na complacência tóraco-
Contudo, os desequilíbrios nunca são -pulmonar e alterando, consequentemente, a
primários e, sim, consequência de uma cau- ventilação dos pulmões.8
sa localizada abaixo ou acima da cintura A principal contribuição às alterações
pélvica. Se localizada acima, o desequilíbrio dos volumes pulmonares é atribuída à geo-
pélvico compensa uma alteração lombar. Já metria da deformidade da caixa torácica, o
quando localizada abaixo, a desordem de- que leva também à diminuição da compla-
corre de um dos membros inferiores.18 cência da parede torácica e resulta em uma
A pelve inclina-se para frente, diminuin- má expansão do parênquima pulmonar, de
do o ângulo entre a pelve e a coxa anterior- tal forma que há uma redução dos valores de
mente, resultando em flexão da articulação fluxo expiratório máximo, capacidade respi-

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ratória máxima e capacidade vital, represen- estruturais de tais estruturas levam ao preju-
tando aumento do trabalho respiratório.19 ízo de tal pressão. Já a PImáx corresponde,
O movimento inspiratório proeminen- não só à força do músculo diafragma, mas
te do tórax superior influencia a mecânica também ao conjunto de todos os músculos
tóraco-abdominal, alterando o posiciona- respiratórios.25
mento do músculo diafragma e sua zona de A PImáx pode refletir a ocorrência de
aposição em razão da redução da pressão fraqueza diafragmática, levando a uma re-
intra-abdominal. Este fato levaria, então, ao dução dos volumes pulmonares e força mus-
desenvolvimento de deformidades toráci- cular respiratória.26 Em nosso estudo, pude-
cas, como a elevação das últimas costelas, o mos fazer a mesma observação, uma vez
deslocamento superior da caixa torácica e o que a pesquisada apresentava inicialmente
aumento da lordose lombar.20 diminuição da PImáx e de força muscular.
A efetividade do diafragma depende da Após a intervenção, obteve, progressiva-
estabilidade da parede abdominal, que pro- mente, aumento de ambos, assim como da
move a sustentação das vísceras durante a PEmáx, diminuição de anteroversão pélvica
inspiração, e depende também da estabili- e expansibilidade torácica.
dade dos paravertebrais lombares, sendo o Acredita-se que o aumento na expan-
local da inserção vertebral do diafragma.21 sibilidade torácica deve-se ao fato de que,
Os músculos respiratórios são funda- quanto mais alongado estiver um músculo
mentais na manutenção da mecânica res- dentro do limite de sua capacidade contrátil,
piratória e, em condições fisiopatológicas, maior será sua competência de gerar tensão,
a força muscular apresenta-se alterada, atingindo, assim, maiores volumes e capa-
refletida na diminuição das pressões respi- cidades respiratórias. Deve, também, ser
ratórias, assim como também relaciona os considerado que a contração dos músculos
valores baixos de PImáx e PEmáx com a de- abdominais aumenta o comprimento do dia-
ficiência da musculatura respiratória.22 fragma, colocando-o fisiomecanicamente
A avaliação da força muscular é de ex- em uma posição curva de tensão-compri-
trema importância para que se torne conhe- mento que lhe trará maiores vantagens me-
cida a capacidade do músculo respiratório de cânicas, inclusive pelo aumento da zona de
responder a uma efetiva contração, ou seja, aposição.27
realizar um adequado trabalho muscular.23 Contrapondo-se a isto, o encurtamento
As pressões respiratórias máximas têm muscular pode ser decorrente de diversos
sido utilizadas para mensurar a força dos fatores, tais como alinhamento postural in-
músculos respiratórios, a velocidade de correto, imobilização, fraqueza muscular e
contração por meio do fluxo aéreo alcança- envelhecimento. Quando um músculo perde
do e o encurtamento muscular pela variação sua flexibilidade normal, ocorre uma altera-
do volume pulmonar.24 ção na relação comprimento-tensão, inca-
A PEmáx é uma medida que indica a pacitando-o de produzir um pico de tensão
força dos músculos abdominais e intercos- adequado, o que desenvolve fraqueza com
tais. Contudo, as alterações funcionais e retração muscular, considerando que possí-

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veis mudanças no comprimento do músculo Uma alternativa coadjuvante ao trata-


refletirão em sua capacidade funcional.23 mento e prevenção da instabilidade lom-
Quando o músculo é imobilizado, sua bar é a estabilização segmentar vertebral
capacidade contrátil é alterada em razão (ESV), sendo este um método de fortale-
das modificações proteicas e do metabo- cimento baseado na conscientização da
lismo mitocondrial, resultando na diminui- contração muscular, no treinamento re-
ção do número de sarcômeros e aumento sistido dos estabilizadores lombares e na
na deposição de tecido conjuntivo, oca- estimulação proprioceptiva, baseando-se
sionando encurtamento muscular, além de no recondicionamento dos músculos esta-
limitação de mobilidade articular,23 o que bilizadores da coluna vertebral (transver-
corrobora o presente estudo, sendo que, so do abdômen e multífidos) em busca do
anteriormente à intervenção, o indivíduo controle e da coordenação do movimen-
apresentava encurtamento muscular apon- to. Nessa técnica, a contração muscular é
tado nos testes realizados e, após dela, ob- treinada, permitindo a restauração do au-
teve ganhos na mobilidade. tomatismo e da força dos estabilizadores
O alongamento muscular pode ser um em busca da reabilitação da coluna que se
meio de evitar o encurtamento de tal estru- encontra instável.29
tura, sendo que uma fibra muscular corre- Assim, tais exercícios terapêuticos po-
tamente tensionada promove o aumento do dem representar um importante papel na
número de sarcômeros em série, além de prevenção da instabilidade lombar, promo-
recuperar a extensibilidade dos ligamen- vendo um recondicionamento e a recupe-
tos e tendões, melhorando a amplitude de ração da força e resistência da musculatura
movimento. Nesse sentido, tais benefícios estabilizadora da coluna lombar, prevenin-
devem-se, possivelmente, à melhor intera- do o aparecimento de distúrbios posturais
ção entre os filamentos de actina e miosi- nessa região.30
na, em virtude do aumento do comprimento
funcional do músculo.28 Conclusão
O alongamento estático é o mais utili-
zado para obter aumento da flexibilidade e De acordo com a análise da produção
relaxamento, utilizando exercícios que po- estudada, foi possível constatar um au-
dem ser realizados de forma isolada ou de mento da força abdominal, força muscular
maneira global, envolvendo diversos seg- inspiratória, expiratória e expansibilidade,
mentos simultaneamente.23 decorrentes do melhor alinhamento pélvi-
Segundo Moreno et al.,22 a pressão má- co e diminuição da hiperlordose lombar,
xima gerada por um músculo reflete sua sugerindo sua utilização como recurso fi-
força. No estudo de Moreno, procurou-se sioterapêutico para a melhora da função
aplicar técnicas de alongamento para me- pulmonar e postural, já que se pode cons-
lhorar a relação comprimento-tensão das fi- tatar uma possível relação entre o segmen-
bras musculares, favorecendo a capacidade to lombar e a ação muscular inspiratória e
de expansão torácica. expiratória.

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