Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Gabriela, já qualificado nos autos, vem interpor através de seu advogado com procuração em anexo
RESPOSTA À ACUSAÇÃO, COM FUNDAMENTOS NOS ARTS. 396 e 396-A AMBOS DO CPP
Fatos
Gabriela, nascida em 24.04.1990 em situação de rua, não aguentava mais a sua situação e vendo o filho
chorar e ficar doente em razão da ausência de alimentação. Gabriela decidiu ingressar em um grande
supermercado da região, onde escondeu na roupa dois pacotes de macarrão, cujo valor totalizava R$18,00
(dezoito reais). Ocorre que a conduta de Gabriela foi percebida pelo fiscal de segurança, que a abordou no
momento em que ela deixava o estabelecimento comercial sem pagar pelos bens, e apreendeu os dois
produtos escondidos.
Em sede policial, Gabriela confirmou os fatos, reiterando a ausência de recursos financeiros e a situação de
fome e risco físico de seu filho. Juntado à Folha de Antecedentes Criminais sem outras anotações, o laudo
de avaliação dos bens subtraídos confirmando o valor, e ouvidos os envolvidos, sendo Gabriela denunciada
pelo Ministério Público pela prática de furto simples tentado, capitulado no artigo 155, caput, combinado
com o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.
A denúncia foi recebida em 18.01.2011, entretanto, como ela não tinha endereço fixo, não foi localizada
para ser citada, sendo que o processo prosseguiu regularmente sem suspensão esperando a localização de
Gabriela para citação.
Gabriela junto com seu advogado compareceu no cartório no dia 16.03.2015, para saber o prosseguimento
da ação penal a que respondia, sendo consequentemente citada bem como intimada para o oferecimento
da resposta à acusação.
Direito
Da preliminar de prescrição
O fato imputado à acusada ocorreu em 24 de dezembro de 2010, tendo Gabriela apenas 20 anos na
ocasião do evento. Aplicando-se a redução dos prazos de prescrição conforme o art. 115 do CP, devendo o
prazo ser contado pela metade.
Aplicando-se o art. 155, caput, do CP de crime de furto simples tentado a acusada, a pena máxima é de 4
anos, com a diminuição de um terço em razão da tentativa, chega-se a 2 anos e 8 meses segundo o inciso II
do referido artigo. Sendo assim, a prescrição de 8 anos (artigo 109, IV, do Código Penal). Em face do art.
115, o lapso prescricional final é reduzido para 4 anos.
Como a denúncia foi recebida em 18.11.2011, transcorreu lapso temporal de mais de quatro anos, razão
pela qual deve ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva estatal, com a consequente extinção da
punibilidade (artigo 107, inciso IV, do Código Penal) e absolvição sumária da acusada (artigo 397, inciso IV,
do Código de Processo Penal).
Do Princípio da insignificância
Por sua vez, a acusada é primária e portadora de bons antecedentes, como atesta a folha de antecedentes
criminais (sem outras anotações). Assim, requer-se a absolvição sumária da ré, em face da incidência do
princípio da insignificância, com base no artigo 397, inciso III, do Código de Processo Penal.
Do estado de necessidade
Na conduta de Gabriela, há uma causa manifesta de exclusão de ilicitude, o fato somente foi praticado pela
ausência de recursos financeiros e pela situação de fome e risco físico de seu filho.
Assim, deve incidir o estado de necessidade, disposto no art. 24 do CP. Gabriela não provocou por sua
vontade a situação de fome e risco físico de seu filho, alimentando-se a partir de ajudas recebidas de
desconhecidos. A sua situação se tornou de tal forma extrema que Gabriela precisou causar lesão de
pequeno valor a uma grande rede de supermercado. Assim, deve ser a ré absolvida com base no art. 397, I,
do Código de Processo Penal.
Pedido
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogado(a)
OAB/UF