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Dinâmica e intervenção psicológica

Dinâmica e intervenção psicológica


em uma equipe de voleibol masculina

CDD. 20.ed. 796.011 *Escola de Educação


Antonio Carlos SIMÕES* Física e Esporte, Uni-
796.325
Paulo Felix Marcelino CONCEIÇÃO* versidade de São Paulo.
Maria Aparecida CÂMARA NERI*
Luiz Carlos Delphino AZEVEDO JUNIOR*

Resumo
O comportamento de liderança consiste em um dos fatores que mais influenciam no esporte de alto
rendimento. As ações de comando representam um verdadeiro campo de forças na sustentação da
estrutura organizacional e funcional das equipes, constituindo uma das principais características da
personalidade de técnicos esportivos na implementação e manutenção de boas relações humanas e
boas relações operativas. Sob esses aspectos, o técnico, no papel de líder, desempenha uma função
integradora entre os componentes da equipe, não só porque implementa idéias, normas e valores, mas
também porque é depositário dos anseios e necessidades dos atletas. O principal objetivo deste estudo
foi investigar a forma pela qual os atletas descrevem o comportamento de liderança do técnico frente
à equipe (real-equipe), comparado à forma pela qual o técnico descreve a sua própria liderança (Ideal-
Próprio), durante um período de 10 meses, abrangendo o diagnóstico e a intervenção psicológica. Os
sujeitos da pesquisa foram: um técnico e 16 atletas de voleibol, sexo masculino, média de idade 25,6
anos. O sistema de avaliação foi o “ACS 3”, constituído por dois conjuntos de 30 questões descritivas e
objetivas do comportamento de técnicos-líderes. Os resultados indicaram que: a) existem tendências
conflitantes entre a auto-avaliação do técnico Ideal-Próprio e a avaliação dos atletas Real-equipe nas
dimensões envolvidas pelo comportamento de liderança dos técnicos esportivos: relações interativas e
operativas; b) o trabalho de intervenção psicológica propiciou um clima ambiental mais favorável,
frente às dificuldades interativas e funcionais envolvidas na equipe; c) padrões de comportamentos
restritivos e proibitivos tendem a mudar, tanto positivos como negativamente, no desenvolvimento do
processo de intervenção psicológica prevaleceram os aspectos mais positivos no final.

UNITERMOS: Psicologia do esporte; Equipe de voleibol; Comportamento grupal; Diagnóstico; Intervenção.

Introdução
O comportamento de liderança dos técnicos comportamento de uma classe de profissionais. Se
esportivos não é matéria de interesse apenas dos empregarem os mesmos estilos de comportamento de
profissionais do esporte. As discussões cobrem liderança frente às equipes, existe um problema que
todas as áreas de convívio humano - desde as tem permanecido sem resposta. Grande parte da
relações humanas até a maneira pela qual se literatura esportiva está centrada nas características dos
comportam frente às equipes, desde o papel que bons e maus técnicos, como líderes. Dizer, por
assumem como agentes educadores até exemplo, que todos os técnicos são eficientes, eficazes,
comportamentos de lideranças que descrevem seus proporciona uma base prática escassa para definir os
estilos autoritários ou democráticos de comandar atributos pessoais de bons ou maus profissionais.
equipes esportivas. Considerar que todo técnico é O clima organizacional de determinadas
autoritário e/ou liberal, seria generalizar o instituições, por exemplo, pode levar muitos

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técnicos a mudarem seus estilos de liderança ambientais determinadas pela interação das orientações
simplesmente para salvaguardar seus próprios dadas pelos líderes à seus liderados. Trata-se, portanto,
interesses. A ideologia de liderança dos técnicos do poder pessoal e das relações do técnico
parece pertencer a um conjunto de fatores inter- determinadas pela maneira, como se comportam à
relacionados que, juntos envolvem o todo ou pelo frente de seus atletas - e de como são aceitos pelas
menos uma parte substancial de um campo equipes como um todo organizado.
específico de atuação: o esporte de competição. O Comandar e liderar supõe valorizar intrinseca-
essencial está no fato do comportamento dos mente o relacionamento com outras pessoas. A
técnicos estarem ligados ao comportamento de seus implementação de padrões de organização, canais
liderados, suscitando uma série de questionamentos de comunicação e métodos de procedimentos pes-
sobre a capacidade que líder e liderados têm de se soais seriam os principais problemas das equipes,
relacionarem no âmbito de uma equipe esportiva. para cuja solução os líderes devem contribuir e pre-
Na prática, os professores / técnicos como líderes sume-se que essa contribuição seja maior do que a
não se limitam exclusivamente a formular estratégias, de qualquer outro componente da equipe.
técnicas e táticas - demonstram certos desempenhos Na definição do termo liderança, a dissonância
de condutas pessoais, que consideram duas dimensões conceitual é um dos dilemas que surge em razão do
específicas sobre o comportamento dos líderes: relações termo incorporar componentes descritivos e conceitos
humanas e relações voltadas à execução de tarefas. Estas de valor. A literatura demonstra que não existe um
dimensões de liderança são definidas, coordenadas e traço geral de liderança que poderia ser descrito em
alinhadas para estabelecer vínculos interpessoais entre termos de psicologia. STOGDILL (1981), por exemplo,
líderes e liderados quanto à transmissão de demonstrou que a idéia de liderança como traço de
conhecimentos e habilidades para corresponder às caráter têm produzido poucos resultados, muitas vezes
expectativas de cada componente das equipes. Uma contraditórios. Isso sugere que não existiriam traços
liderança bem-sucedida depende, segundo SOTO característicos que pudessem distinguir um líder de
(2000) de comportamentos e ações apropriadas e não seus liderados, tendo em vista que esses traços podem
de características pessoais. O autor se refere ao variar de uma situação para outra.
comportamento como algo que pode ser aprendido e Esta concepção sugere que os técnicos bem-su-
modificado, ao passo que, as características pessoais cedidos no comando das equipes esportivas pode-
são relativamente fixas. riam ser aqueles que adotam ações de conduta
As dimensões orgânicas e funcionais de uma equipe pessoal, que favorecem a manutenção de boas rela-
esportiva surgem como um modelo de realidade ções humanas e a manutenção de uma moral eleva-
psicossocial que complementa o conceito do da, além da consecução dos objetivos almejados. A
intercâmbio de comportamento mantido pelo líder e presença dos técnicos frente às equipes esportivas
pelos liderados SIMÕES (2001). O Ideal Próprio1 (dos deve ser vista, conforme RIOUX e CHAPPUIS (1972),
técnicos) e Real Equipe2 (dos atletas) representam uma do profissional capaz de favorecer o desenvolvimen-
dimensão ético-social-transcendente que toda equipe to das capacidades individuais dos atletas.
deve ter em sua visão de relações humanas e de relações GONZÁLES (1981) considera que o estilo de lide-
operacionais. O desempenho da conduta pessoal dos rança exercido pelos técnicos constitui um aspecto
técnicos estaria ligado, entre orientação às tarefas e às com poder de suscitar reações significativas na ca-
relações humanas, assinalando que os estilos de pacidade produtiva, bem-estar social e psicológico
liderança poderiam estar vinculados às diversas dos seus atletas. O nível de desenvolvimento grupal
situações esportivas. passaria, então, pela combinação específica das con-
A capacidade de comandar associada à sensação de dutas e atitudes dos técnicos e sua motivação de
bem-estar dos liderados, se destaca na estrutura desempenho frente às relações interativas e
orgânica e funcional das equipes esportivas. Esta operativas. O desempenho de conduta dos técni-
abordagem permite que os estudiosos das áreas da cos como líderes parece funcionar melhor quando
antropologia, sociologia, psicologia, entre outros conseguem manter boas relações humanas e boas
ramos do conhecimento, reúnam toda a informação relações na implementação de metas e objetivos
possível sobre o intercâmbio de comportamento comuns. A idéia de que o comportamento ideoló-
mantido entre dirigentes, técnicos e atletas gico de liderança de um técnico está estreitamente
profissionais. Esta concepção sugere que a coesão social associado aos comportamentos de seus liderados
e coesão de tarefas manifestem certas características suscita diversas possibilidades de análise.

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O modelo de liderança de trajetória-meta de mediante ações compartilhadas, condutas e atitudes


HOUSE (1971) citado por SOTO (2000) realça que a de interdependência. Essas ações podem modificar
tarefa dos líderes é utilizar a estrutura a natureza das relações quando associadas ao vencer
organizacional, apoios e recompensas para criar a “qualquer custo”.
meios adequados de trabalhos que facilitem seus LEWIN (1973) diz que todas as ações baseiam-se
liderados a cumprir com as metas e objetivos no terreno em que os indivíduos estão situados. O
pretendidos pelas organizações. É importante clima ambiental, portanto, pode determinar o ní-
mencionar esse ponto porque ajuda a explicar o vel de consciência cooperativa, o que os
fato de que existirá um modelo de relações pré- psicossociólogos denominam espírito de grupo. Os
concebidas, pondo em evidência extremos de técnicos com maior sensibilidade passam a serem
comportamentos mantidos entre o institucional, o vistos como líderes que compreendem os proble-
grupal e o individual, por essa razão, estas relações mas e as dificuldades relacionadas ao sucesso dos
podem facilitar e/ou dificultar a participação dos seus liderados. Isso sugere incluir todas as variáveis
indivíduos em projetos esportivos estabelecidos. comportamentais que possam determinar influên-
As evidências também indicam que a ideologia cias sobre desempenhos de condutas dentro das
de liderança de um técnico pode se tornar depen- equipes esportivas.
dente da constância do ambiente grupal. Os moti- Conforme PICHÒN-RIVIÈRE (2000) um grupo
vos presentes nas situações perceptivas podem levar definir-se-ia em torno de necessidades e desejos que
os indivíduos à realização e captação de determi- no processo operacional se tornam essenciais na
nados fatos daquilo que técnicos e atletas propor- dialética das relações entre os sujeitos que compõem
se-iam a desenvolver conjuntamente por essa razão, os grupos. Assim, o autor demonstra que o com-
a qualidade dos vínculos interpessoais pode deter- portamento de líder e liderados está associado de
minar certos padrões de comportamento dentro das maneira significativa ao clima ambiental
equipes. experienciado por esses agentes. Cada indivíduo
Nenhum técnico seria capaz de motivar alguém, seria influenciado por unidades sociais, a saber:
sem conhecer a estrutura orgânica e funcional de pelas instituições (dirigentes); pelos companheiros
sua equipe - sem conhecer aquilo que, COZAC (equipe) e pelas relações que permitem descrever
(2003) caracteriza como repertório das necessida- algumas das funções fundamentais que técnicos e
des de cada indivíduo. O contágio emocional dar- atletas ocupam nos níveis macro e micro das mani-
se-ia, segundo a definição de FREUD (1972), pela festações institucionais, grupais e pessoais.
indução dos estados emocionais dos indivíduos so- CARRON e HAUSENBLAS (2000) observam que os
bre os outros. técnicos devem desenvolver o espírito do “Nós” e
Os estados emocionais vinculados às percepções reduzir a importância do “Eu” . A posição e o pres-
caracterizariam a psicologia do comportamento das tígio social atribuído a um técnico bem-sucedido,
massas e ou das torcidas segundo SIMÕES e CON- de acordo com SIMÕES (1996), tendem a preservar
CEIÇÃO (2004). Desse modo, a sinergia constitui- os atributos pessoais de autoconfiança, liderança e
se em torno do afetivo relacional para determinar domínio situacional, e as expectativas do grupo se
o grau e a modalidade da tomada participativa de formulam com base em sucessos anteriores. O com-
decisões que devem ser estimuladas em diversas si- portamento, na percepção de DELLA TORRES (1986)
tuações esportivas competitivas. A relação entre téc- e SIMÕES , DE ROSE JUNIOR, KNIJNIK e CORTEZ
nicos e atletas pode assegurar a eficácia do grupo (2004), constitui um complexo balizado por moti-
pela coesão social e coesão de tarefas. No entanto, vos aprovativos (medalhas, prêmios, elogios, ascen-
a obtenção dessa sinergia passa pela forma que pro- são social) e punitivos (derrotas, vaias, desprestígio)
cedimentos e deveres são definidos para cada com- que não poderia ser decomposto senão pela análi-
ponente da equipe. se. Os técnicos líderes constroem cenários de so-
Os vínculos que tentam dar sentido às relações brevivência para si próprios e a seus liderados para
interativas e operativas, devem ser capazes de justificar suas ações de condutas. Todas decisões
motivar a todos, para que alcancem competência são alimentadas por uma ideologia que se define
social, satisfação pessoal e produtividade. A coesão em torno de uma ideologia própria de comporta-
social e a coesão de tarefas poderiam ser alcançadas mento de liderança.

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Dimensões de comportamento de técnicos como líderes


Há quem diga que a eficiência de muitas seleções e e metas que estabelecem à frente de suas equipes.
equipes depende da personalidade dos técnicos e atletas SIMÕES (2005) demonstrou, que diferentes estilos
envolvidos com os diferentes tipos de esportes. Luiz de liderança são empregados pelos professores /
Felipe Scolari, Telê Santana, Bernardinho, Gerson, técnicos líderes frente à equipes escolares - estilos,
Dunga, Oscar, entre outros, projetaram-se com tais como: autoritário-centralizador, autoritário-
imagens de grandes líderes no campo do esporte de participativo, autoritário não-participativo e ou
competição. WEINBERG e GOULD (2001) enfatizam, democrático-liberal.
por exemplo, que componentes mentais e emocionais CRATTY (1983) cita que as equipes mais bem-
superam os aspectos físicos e técnicos no campo dos sucedidas seriam aquelas cujos membros se conhecem
desempenhos individuais ou grupais. O sucesso ou suficientemente bem para tolerar suas virtudes e
fracasso dependeria de uma combinação de fatores fraquezas. Existem pesquisas que mostram a correlação
físicos, sociais e mentais que transcenderiam qualquer entre líderes carismáticos e o desempenho satisfatório
classificação. de suas equipes. Isso poderia explicar a razão de por
A ênfase sobre o comportamento ideológico de que Luiz Felipe Scolari (Felipão) quando comandou
liderança movimenta-se em várias direções: relações a Seleção Brasileira de Futebol na fase de classificação
humanas, tomadas de decisões, condutas, atitudes e Copa do Mundo de Futebol - realizada em 2002,
e estilos de liderança, freqüentemente utilizadas para foi um técnico que demonstrou possuir grande
caracterizar padrões consistentes de confiança em si mesmo, sua conduta otimista colocou
comportamentos na arte de liderar grupos e pessoas. em pauta o dom da eloqüência e pôde expor suas
Cada característica psicológica pode indicar, próprias idéias de maneira convincente que definiram
conforme STOGDILL (1981), fortes tendências e suas ações de comando. Conseguiu romper com
qualidades pessoais de liderança mas, insuficientes para paradigmas condicionados pela política e pelos
se encontrar pessoas com tendências a se tornarem regulamentos explícitos e implícitos do sistema
líderes. As lideranças participativas têm sido futebolístico brasileiro levando, seus atletas a adotarem
relacionadas aos bons desempenhos dos líderes e à certos padrões de comportamento, especialmente, no
satisfação dos liderados em determinados contextos que diz respeito à capacidade de se relacionarem. Em
situacionais. Os técnicos como líderes são pessoas situações difíceis, não se conformava, mas motivava a
inteligentes, com capacidade de comandar, persuadir si mesmo e todos os atletas para buscar novos caminhos
e tolerar com consciência suas condutas e atitudes, que levassem à superação das forças sociais externas
que os diferenciam de seus atletas como liderados. (meios de comunicação de massa, dirigentes) em prol
Os conceitos de influência são fundamentais para do êxito da equipe.
ordenar que suas equipes atinjam seus objetivos Os padrões definidos de organização, canais de
nem sempre fortalecidos. A habilidade de influen- comunicação e métodos de procedimentos pessoais
ciar associada à competência de persuadir são ca- podem ser considerados como fatores positivos à
racterísticas que distinguem o desempenho dos realidade enfrentada que não escapavam a seu
técnicos no processo das relações interativas e controle pessoal, em razão do estabelecimento de
operativas. Os estilos variam entre as ações de co- comportamentos indicativos de amizade, confiança
mando desencadeadas em função das relações mútua e respeito humano em suas relações com os
coesivas e de execução de tarefas. Significa que o atletas.
estilo de liderança de um técnico pode depender GOFFMAN (1995) cita que a representação social de
do fator ambiental - que levaria os técnicos a ma- um grupo surge como um paradigma associado à
nifestarem certas características de personalidade, dinâmica das relações humanas integradas e pelas
denominadas de traços de personalidade dos líde- condutas e atitudes pessoais que dão origem à interação
res, conforme SOTO (2000). grupal. A inconsistência moral e ética dos técnicos na
Esta teoria destaca a percepção dos técnicos implementação das normas de condutas, regras e
eficazes que, em geral, são considerados consistentes regulamentos, segundo HARRIS (1973) seria a principal
ou inconsistentes em suas ações de comando. É uma fonte das frustrações e tensões para os componentes
das explicações do por quê no campo dos esportes de equipes que aparecem como mini-sociedades,
de competição, os técnicos são percebidos como conforme (SIMÕES, 1990), em todos os níveis de
líderes comprometidos com as tomadas de decisões relacionamento de trabalho conjunto.

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RIOUX e CHAPPUIS (1972) descreveram que quan- o comportamento de liderança dos técnicos em
do um técnico assegura a permanência de boas re- conseqüência da orientação para a execução de ta-
lações humanas com seus atletas acabam se refas é bastante crítico em grupos com baixa coe-
tornando agentes moderadores de comportamen- são social. Demonstraram, ainda, que o grau de
tos dentro das equipes, especialmente, nos casos estresse influencia o perfil comportamental e a de-
dos conflitos dos atletas entre si - e dos atletas com cisão adotada pelos técnicos além das decisões au-
os próprios técnicos. Manter um projeto coletivo toritárias prevalecem sobre as democráticas em
requer que técnicos e atletas tornem-se conscientes várias situações esportivas, levando os técnicos a se
de pertencer às equipes e de bem conviver dentro preocuparem mais com a coesão da execução de
delas. A contingência de ajustamento desses perso- tarefas do que com as relações humanas.
nagens envolve capital intelectual e emocional das Os conceitos incorporados pelas dimensões de
equipes com base em resultados de alta comportamento dos técnicos como líderes levam a
interatividade e competitividade interna e externa. pensar na dissonância entre: a) como os atletas
A situação tem levado inúmeros pesquisadores comportam-se em posição de liderados em relação à
como W EINBERG e G OULD (2001), C ARRON e ideologia de liderança implementada pelos técnicos
HAUSENBLAS (2000), GILL (1998), SIMÕES (1990, como líderes; b) como os técnicos avaliam seu próprio
1993), C HELL ADURAI e C ARRON (1983) e comportamento como líderes frente a uma equipe no
CHELLADURAI e SALEH (1980) a demonstrarem que transcorrer de uma temporada esportiva. Estas são,
os técnicos como líderes desempenham um papel portanto, as razões pelas quais desenvolveu-se um
fundamental frente às equipes de alto rendimento. trabalho de acompanhamento psicológico de uma
CARRON e CHELLADURAI (1981) analisaram os cri- equipe masculina adulta de voleibol no transcorrer de
térios de eficácia subordinada (auto-afirmação, sa- uma temporada (10 meses acompanhados de um
tisfação e papel dentro dos grupos) concluíram que trabalho de intervenção psicológica).

Material e método
Fizeram parte do presente estudo um técnico e checando um dos cinco advérbios: sempre,
16 atletas de uma equipe de voleibol do mais alto freqüentemente, ocasionalmente, raramente e nunca.
nível técnico do Brasil, masculino, oriundos de di- As correlações entre os escores das duas dimensões
versas camadas sociais, com idade cronológica aci- têm uma amplitude entre - 0,38 e 0,45 - o nível de
ma dos 20 anos (média de 25,6 anos). Os dados confiabilidade adotado foi p < 0,5.
foram coletados durante os treinamentos e partici- O trabalho de acompanhamento psicológico foi
pação das equipes em jogos da Liga Nacional de desenvolvido, mediante dinâmicas de grupo volta-
Voleibol. O trabalho de acompanhamento psico- das à coesão social e coesão de tarefas e, por traba-
lógico foi desenvolvido por três profissionais (psi- lhos de intervenção psicológica realizados duas vezes
cólogos) das áreas do esporte e da psicologia em por semana, em uma sala especialmente preparada
um período de 10 meses. para tal objetivo. As avaliações serviram como mo-
Foram realizadas quatro coletas de dados, delos orientadores (diagnósticos e prognósticos)
utilizando o instrumento de pesquisa denominado para o desenvolvimento do trabalho, e para o re-
de Sistema de Avaliação ACS3 - desenvolvido e planejamento e conclusão dos trabalhos de inter-
validado para todo o território nacional, por SIMÕES venção psicológica. Cada encontro foi de quase 60
(2001). O módulo ACS 3 estuda a forma pela qual minutos. Técnicos e atletas eram sempre informa-
os atletas descrevem o comportamento ideológico dos a respeito dos métodos e técnicas de procedi-
de liderança de seus técnicos e a maneira como os mentos e dos objetivos de cada encontro.
técnicos descrevem suas próprias ideologias de Em todo o processo de desenvolvimento do
liderança frente aos liderados. Constituí-se um trabalho, os participantes comportaram-se de forma
conjunto de 30 frases curtas que avaliam duas condizente aos objetivos propostos, fato que
dimensões específicas do comportamento dos líderes: contribuiu decisivamente para mudanças de
relação interativa e operativa. Cada dimensão é comportamento em prol do sucesso da equipe. As
composta de 15 frases curtas - as respostas são dadas dinâmicas visaram despertar o sentido das

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representações sociais (papel de líder e liderados), eficácia de seu comportamento com relação a
fortalecimento dos vínculos interativos e operativos critérios específicos de desempenho. Assim como
em prol da eficácia coletiva. Além de dinâmicas o reconhecimento das próprias limitações,
que mantinham na linha de frente a importância deficiências, hábitos e tendências ao negativismo
de se distinguir entre o modo de proceder do técnico grupal frente às dificuldades encontradas no
e a maneira como se comportava e a avaliação da transcorrer da temporada.

Apresentação e discussão dos resultados


As avaliações do comportamento de liderança latentes tornavam-se manifestas com relação aos
descritas pelo técnico e as avaliações feitas pelos comportamentos adotados pelo técnico e atletas.
atletas nos levam a dizer que uma equipe se define As necessidades pessoais do líder estavam implícitas
por um conjunto humano em que há relaciona- em suas ações de comando, mas não eram explícitas
mentos observáveis e definíveis. A realidade social aos atletas. Em certas situações, as normas de condutas
e psicológica se mantém na linha de frente do nos- estabelecidas não se encaixavam devidamente com as
so pensamento, a importância de se distinguir en- metas da equipe como um todo organizado. As
tre as descrições de como um técnico se comporta mudanças de comportamento foram se concretizando,
e a avaliação do seu comportamento com relação a conforme as tomadas de decisão começaram a
critérios específicos de desempenho em níveis de fomentar a participação de todos em prol de vários
relações humanas e execução de tarefas. objetivos específicos. A falta de objetivos claros
O diagnóstico dessas características representam relacionados com o desempenho dos atletas servia
o primeiro passo para se analisar a estrutura orgâ- como ponto de discórdia para estabelecimento das
nica e funcional de uma equipe - cujo desempenho metas da equipe dentro da competição.
dentro das competições criam um clima ambiental As normas estabelecidas pelo poder maior em
de confiança ou desconfiança que colocam frente a relação ao menor guiavam os comportamentos dos
frente técnico e atletas. Esses personagens agem técnicos e dos atletas quanto às normas de condu-
pautados por um processo de ações de comando tas - que acabavam por produzir desaprovação da
que deve facilitar a ação de cooperação do grupo maioria dos membros da equipe. As interações pro-
dentro de parâmetros eficazes e eficientes. vocavam sentimentos de simpatia e antipatia entre
As atividades interativas e operativas são variáveis os membros da equipe, às vezes, a coesão social e
fundamentais nas vitórias nos jogos e nas demais coesão de tarefas rompiam-se, e colocavam em xe-
competições de alto rendimento. Logo, técnico e que as relações entre líder e liderados. Constatou-
atletas são agentes que formam e desenvolvem um se que técnico e atletas desenvolviam sentimentos
conjunto condicionante de relações sociais, hostis e estereótipos altamente desfavoráveis em
operativas, ideológicas e políticas que atuarão na relação à coesão grupal.
organização de uma equipe esportiva. Vimos que Na fase diagnóstica, o comportamento grupal foi
todos estavam centrados em objetivos e expectativas caracterizado por uma dissonância entre a forma pela
condicionadas em grande parte pelas exigências qual o técnico descrevia como se comportava e a forma
formais impostas pelo clube, da qual a equipe faz que os atletas descreviam seu comportamento de
parte. Registra-se que o clube estava sempre presente liderança à frente da equipe. As descobertas mais
às mudanças de comportamentos no transcorrer da importantes mostraram que o clima ambiental da
temporada esportiva. equipe era movido por forças sociais que
As emoções e os sentimentos disfóricos não desencadeavam comportamentos com tendências ao
permitiam que a equipe se articulasse e mantivesse negativismo. Os julgamentos feitos em relação ao
vínculos que pudessem satisfazer as necessidades de desempenho individual e grupal estavam alienados
seus membros. A manutenção de interesses pessoais com condutas e atitudes que contribuíam para
sobre o grupal provocava uma série de conflitos, quase acentuar a tendência de relações conflituosas.
todos dificultando entendimentos entre o que era O forte laço de amizade que unia alguns atletas,
proposto pelo líder e o que deveria ser cumprido pelos fazia com as chamadas panelinhas fossem sendo
liderados durante os jogos. Muitas manifestações criadas e se tornassem invisíveis às fronteiras das

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ações de cada componente. Os sentimentos de explicariam a coesão social e a coesão de tarefas de


apoio e proteção mútua chegavam a ser tão uma equipe.
influentes que o técnico precisava tomar decisões Na medida que a equipe desenvolve suas ativida-
para preservar sua condição de líder da equipe. des interativas e operativas, as posições do técnico e a
Algumas indicações foram altamente válidas para dos atletas como liderados complementar-se-ão pela
se avaliar o comportamento ideológico de liderança existência de certo grau de liderança. Os meios pelos
empregado pelo técnico como líder à frente da quais o técnico e os atletas se relacionam e interagem
equipe. Essas designações estão apresentadas nos determinam certas condições que colocam em pauta
dados do quadro a seguir: a ideologia de liderança e poder do técnico como lí-
der. SENGE1 (1992) citado por SOTO (2000, p.172),
QUADRO 1 - Comparação do comportamento entre a por exemplo, escreveu que: “um grupo de indivíduos
ideologia de liderança descrita pelo talentosos não produz necessariamente uma equipe
técnico e a forma pela qual os atletas
descreveram o comportamento do inteligente, assim como um grupo de atletas talentosos
técnico, durante o período de não produz necessariamente uma grande equipe
acompanhamento e de intervenção desportiva”.
psicológica. As observações das condutas de técnico e atletas
"Ideal próprio" "Real equipe" nas atividades interativas e operativas levaram-nos
Primeira Avaliação Democrático Autoritário ao desenvolvimento de inúmeras dinâmicas de gru-
(T1) liberal centralizado po - todas visando orientação constante aos atletas
Segunda Avaliação Democrático Autoritário e técnico, como líder da equipe, especialmente, so-
(T2) liberal centralizado bre os relacionamentos comportamentais que per-
Terceira Avaliação Democrático Autoritário mitiam uma aceitação plena às ações de comando
(T3) liberal centralizado empregadas como Ideal Próprio pelo técnico. Os
Quarta Avaliação Democrático Democrático procedimentos indicados nas diferentes fases con-
(T4) liberal liberal tribuíram decisivamente para uma maior aproxi-
mação entre líder e liderados.
Observa-se que os dados do QUADRO 1 A equipe que funcionava e organizava-se
oferecem um panorama geral da etiologia das objetivando somente ao alto desempenho, passou
tendências dissonantes entre a maneira pela qual o por várias fases de mudanças de comportamento
técnico descreve seu comportamento ideológico de no período de 10 meses de acompanhamento psi-
liderança (designado de Ideal Próprio) e a forma cológico. O primeiro passo foi identificar os méto-
pela qual os atletas descrevem o comportamento dos de procedimentos e canais de comunicação,
de liderança do técnico (referido como Real Equipe). que eram empregados pelo técnico à frente da equi-
A maneira como o técnico descreveu sua própria pe. Assim, as ações de comando do técnico em da-
ideologia de liderança tende para um estilo de das circunstâncias eram fortes, centralizadas, com
liderança de Líder Democrático Liberal - ao passo todas as comunicações partindo do líder que, cons-
que o estilo de liderança caracterizado pelos atletas tantemente, visava avaliar os desempenhos físicos,
é de um Líder Autoritário Centralizador. técnicos e táticos de seus atletas.
As evidências indicam que as relações interativas e A delineação das funções dos atletas e seus rela-
operativas são dimensões essenciais do comportamento cionamentos dentro da equipe eram ordenadas de
ideológico de liderança de um técnico esportivo com produtividade. Na medida que aumentava a res-
tendências dissonantes por parte de técnico e atletas ponsabilidade de um atleta, em particular, na
de avaliarem a contribuição do comportamento de operacionalização tática da equipe, criavam tensões
liderança do técnico, como líder na manutenção de em direção a um crescimento da equipe em seu
boas relações humanas e operativas. Conforme as “status” competitivo em geral. As diferenças de co-
opiniões de técnico e atletas, estas diferenças parecem branças entre os atletas criavam-se tensões em dire-
permitir ao técnico-líder uma medida de perspectivas ção à relacionamentos inconsistentes. A razão disso
de papéis conflitantes. Os padrões definidos de parece ser a dificuldade do técnico definir
organização, canais de comunicação, métodos de operacionalmente as dimensões relações interativas
procedimento com os comportamentos indicativos e operativas.
de amizade, confiança mútua e respeito humano O técnico que se julgava ser um líder
empregados pelo técnico seriam parâmetros que democrático-liberal, criava tensões entre os atletas

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em direção ao desempenho grupal que, por sua vez, consideravelmente para, estabilizar o equilíbrio
eram acompanhadas por uma perda de eficiência e afetivo relacional entre os componentes das equipes.
responsabilidade, uma perda da razão do “status” Por outro lado, haviam resistências quanto às
de líder, um desequilíbrio da função de líder, opiniões relacionadas com o estilo de liderança
originário dos fins grupais aos fins individuais dos empregado pelo técnico, que continuava mantendo
atletas. O estilo autoritário centralizador detectado um desempenho de conduta pessoal que incluía o
pelos atletas e o democrático liberal descrito pelo exercício de qualquer tipo de influência ou poder
técnico constituíam-se em um dos problemas que contra a vontade, desejo ou consentimento dos
assola a equipe sobre as condutas de líder e liderados atletas, mesmo quando em benefícios da equipe.
nas atividades de treinamentos e jogos oficiais. No desenvolvimento do trabalho, surgiram si-
A diversidade de condutas e as atitudes do téc- tuações em que as variáveis psicológicas (ansieda-
nico no dilema estilo de liderança “versus” desem- de, frustração, angústia) tornaram-se referências
penho da equipe foram se integrando perante as para a otimização do relacionamento entre líder e
tomadas de decisão. As forças sociais limitadoras liderados. O clima ambiental oscilou nas fases de
(institucional, grupal) e as forças sociais impulsoras preparação psicológica, nas quais as condutas eram
(individuais) foram sendo equilibradas conforme avaliadas visando a mudanças de comportamentos
o técnico e os atletas ajustavam-se à capacidade de em relação as ações de condutas pessoais.
se relacionarem. As relações verticais (relação dos As avaliações do comportamento de liderança
liderados com o líder) e horizontais (interação en- do técnico e dos atletas proporcionaram que o clima
tre os atletas) que, inicialmente, eram condiciona- ambiental da equipe evoluísse em torno das ambições
das pela política e pelos regulamentos (implícitos e da equipe dentro da competição. Percebeu-se que os
explícitos), começavam a contribuir para solucio- comportamentos indicativos de amizade, confiança
nar os problemas da equipe. mútua e respeito humano fortaleceram-se na relação
Na medida que o trabalho de acompanhamento técnico-atleta - relações que reforçaram a criação e o
psicológico avançava, técnico e atletas começaram a fortalecimento de laços de afiliação e pertença durante
apresentar comportamentos predominados por canais o transcorrer da temporada esportiva. A persuasão
de comunicação que realçam frases, do tipo: você está social tornou-se um tipo de influência facilmente
certo, estou de acordo e ou balançavam a cabeça e sorriam. percebível - usada por técnico e atletas visando a
Dinâmicas em forma de intervenção, reuniões e até o alcançar o que a equipe procurava, mas esta só teve
encaminhamento de atletas para tratamento maturidade suficiente para formar e sustentar vínculos
psicológico foram feitas para resolver os problemas interativos quando se sentiu motivada e ajustou-se à
psicológicos encontrados dentro da equipe - e nas ideologia de liderança do técnico como líder.
relações entre técnico e atletas. Os problemas interativos e operativos referidos
O trabalho de acompanhamento psicológico foram desenvolvidos, mediante dinâmicas que le-
permitiu, portanto, explorar o intercâmbio de varam em conta que a coesão social e de coesão de
comportamento que era mantido entre técnico e tarefas representavam o ponto central da evolução
atletas, já que a formulação de estímulos que pudessem das habilidades psicológicas para sustentar traba-
favorecer esse relacionamento mergulhava lho levado a cabo pelo técnico como líder. Estas
profundamente nas intimidades das relações humanas. dinâmicas levaram as generalizações sobre os efei-
A tolerância de liberdade de ação, por exemplo, tos de variações específicas no comportamento da
imprescindível para a coesão social e coesão operativa, equipe que permitiram uma compreensão mais
levava a equipe em questão a resultados negativos no ampla dos problemas envolvidos com a manuten-
começo da temporada. A suposição fundamental é ção de um moral elevado e boas relações humanas.
que o técnico-líder e atletas estavam motivados por Exemplo disso, foi observar o efeito que teria o com-
um único objetivo: conquistar espaço pessoal e portamento ideológico de liderança empregado pelo
ascender socialmente no mundo do esporte de técnico sobre o comportamento dos atletas, o mes-
competição, o que modificava o comportamento mo acontecendo quanto às reações dos atletas e da
desses personagens por meio de experiências pessoais equipe, diante das mudanças de comportamento
e pelas influências desfavoráveis. do técnico em face das exigências impostas pelo
As intervenções psicológicas com foco na voleibol como esporte de alto rendimento.
motivação, harmonia, intimidade e clareza dos O procedimento de observação traçado para atingir
procedimentos individuais contribuíram esses requisitos implicou a avaliação das relações

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Dinâmica e intervenção psicológica

interpessoais mantidas entre os membros da equipe, um companheiro de equipe e de ter confiança nele
na influência que exerciam na motivação e na indicam, medidas indiretas de atitudes baseadas na
capacidade da equipe para trabalhar conjuntamente maneira pela qual técnico e atletas percebem e julgam
para um objetivo comum. As medidas de percepção seus participantes, ou seja, a percepção interpessoal.
interpessoal baseadas nas semelhanças que os A FIGURA 1apresenta um conjunto de
indivíduos tinham entre si mesmo e outros e/ou entre avaliações perceptivas que contribuíram
si próprio e um companheiro proporcionaram decisivamente para identificar as relações
caracterizar o clima ambiental da equipe desde o interpessoais mantidas dentro da equipe,
psicodiagnóstico inicial até a fase de conclusão do conseqüentemente, do clima ambiental mantido
trabalho de acompanhamento psicológico. durante todo o trabalho de acompanhamento
As avaliações de preferências indicam a expressão psicológico e da equipe durante o transcurso de
aberta de um atleta ou técnica quanto à afinidade com toda a temporada esportiva de voleibol masculino.
120

100

80

Mais
60 colaborador

Menos
40 colaborador

Clima

20 ambiental

Índice

0 estatístico
T1 T2 T3 T4

FIGURA 1 - Avaliação da percepção que indicou a evolução do grau de coesão grupal da equipe, no período de
acompanhamento psicológico.

A FIGURA 1 demonstra que as relações manifestações de sentimentos persecutórios latentes


psicossociais, sóciodinâmicas e institucionais são di- e conflitos internos não devem ser revelados
mensões que influenciam o clima ambiental de equi- publicamente, realçam diferentes afirmações
pe de alto nível que, em situações sob controle de um descritivas de traços de personalidade. Isto
técnico, pode ser modificado com ajuda de um longo demonstrava que técnico e atletas mantinham certa
trabalho, de acompanhamento psicológico. Desde o distância psicológica quanto à coesão de tarefas e
psicodiagnóstico inicial até a fase final do trabalho coesão social.
houve uma evolução consistente de comportamento O clima ambiental (inicio do trabalho) era
que levou a equipe a notáveis êxitos em várias cir- norteado por um técnico fortemente diretivo, que
cunstâncias, tanto nas atividades de treinamento tomava para si a responsabilidade de designar tare-
como no acompanhamento avaliativo das relações fas e eleger aquelas referentes ao trabalho, além de
estabelecidas entre técnico e atletas. indicar as necessidades, conforme delineava os pas-
Os estímulos ambientais aumentavam a sos que deveriam ser seguidos pelos atletas. Perma-
possibilidade da ocorrência de percepções necia distante do grupo, demonstrava mais que
semelhantes que refletiam, em parte, as participava e liderou com freqüência as ações de
necessidades, os estados emocionais e as atitudes comando centralizadoras que considerava ser de-
de técnico e atletas. Descobriu-se que os atletas mocráticas e liberais. Isso indicava que os atletas
sentiam-se mais próximos dos companheiros de pareciam perder ou sacrificar algumas das relações,
quem mais gostavam do que daqueles que menos do ponto de vista pessoal, para aceitar recompen-
colaboram para o sucesso da equipe, pois sas por boas atuações dentro da competição.

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SIMÕES, A.C. et al.

Nesse processo, foram implementadas para ve- conduz à frente de uma equipe. Pelos dados
rificar se as decisões tomadas pela comissão técnica observados, houve uma mudança de comportamento
eram adequadamente compreendidas pelos atletas. em relação de como o técnico se comportava na fase
Reuniões regulares eram realizadas com o intuito inicial (diagnóstico) com as avaliações feitas depois
de avançar com o trabalho de acompanhamento de 60 dias de trabalho de intervenção e
psicológico. Esses encontros resultaram em uma acompanhamento psicológico. Conforme a opinião
mudança considerável de comportamento das lide- dominante da equipe, houveram mudanças de quase
ranças quanto à liberdade de ação que daria aos atle- 20% na forma, como ele deveria se comportar como
tas maior senso participativo e responsabilidades. líder.
O técnico começou a favorecer as discussões do No período compreendido entre as segunda e
grupo e as decisões às quais se deveriam chegar, assim, terceira avaliações, aconteceram alguns resultados
os atletas recebiam sua orientação, por essa razão, o negativos à equipe. Se aceita a hipótese de que a
técnico passou a ser mais aceito pelo grupo. Em ou- equipe sofreu um desgaste como uma
tras palavras, o técnico percebeu mais semelhan- minissociedade coesa, acentuou as preocupações do
ças entre si e seus atletas, fato que proporcionou técnico quanto aos canais de comunicação empre-
mudanças consideráveis no grau de coesão grupal. gados como Ideal Próprio. Este e outros resultados
Técnicos e atletas passaram a perceber os outros semelhantes levaram a interpretação de que as rela-
como semelhantes, companheiros próximos, que ções interativas e operativas estavam relativamente
desenvolviam ações interativas e operativas impor- distantes e os comportamentos indicativos de ami-
tantes que favoreciam uma evolução individual em zade, confiança mútua e respeito humano tende-
prol da eficiência na produção e consecução de ram a se tornar emocionalmente ligados à conduta
objetivos. Os dados indicam que houve uma me- de todos. Observou-se que, em uma fase de resul-
lhora acentuada 60% em relação ao grau de coesão tados negativos, a equipe exigia de cada compo-
grupal, desde o psicodiagnóstico inicial até o final nente uma intervenção específica com
do trabalho de acompanhamento psicológico. conseqüências psicológicas que influenciavam no
A mobilização de técnico e atletas em prol da equilíbrio dos atletas e do técnico. Por outro lado,
manutenção de um moral elevado e de boas rela- a conduta autoritária do técnico procurava assegu-
ções humanas provocou mudanças perceptivas pe- rar um processo de dependência quando a equipe
los atletas quanto à ideologia de liderança se encontrava ameaçada por pressões externas.
empregada pelo técnico frente à equipe. A respos- Como determinante primordial desse
ta mais plausível parece ser a tomada de consciên- relacionamento, o técnico teve seu comportamento
cia dos atletas e do técnico-líder, tendo em vista de liderança avaliado como negativo em 40%, essa
prevenir situações que poderiam resultar em uma avaliação incluiu a presença do técnico que não
moderada ou profunda distância psicológica. permitia a equipe aceitar suas ações de comando
A posição a que chegava é que o clima ambiental voltadas à centralização de poder legal e de
de uma equipe masculina adulta de voleibol define- influência frente aos atletas. A medida que o técnico
se como o quadro natural, onde se desenvolvem foi se conscientizando da necessidade de mudar sua
todas as manifestações interativas e operativas. É conduta, a fim de que coincidisse com as
constituído por elementos que se impõem aos expectativas dos atletas em relação aos objetivos
indivíduos e escapam a seu controle direto. Entre comuns da equipe, converteu-se em um líder
esses elementos, o clima organizacional e funcional indispensável.
da equipe e tudo aquilo envolto com as influências A imagem do técnico autoritário e centralizador
estabelecidas entre o poder maior em relação ao de poder foram se transformando, mediante a
menor, contém sentimentos, concepções, expectativa de que as estruturas vinculares,
características e comportamentos relacionados com internalizadas e articuladas pelo grupo poderiam
a ideologia de liderança dos técnicos como líderes. sustentar o projeto da equipe no transcorrer da
Embora os membros de uma equipe esportiva sejam temporada. Na última avaliação, por exemplo,
diferentes em suas percepções em relação ao houve melhora da avaliação do técnico em 20%,
desempenho da conduta de um técnico, seu reforçando a idéia de que técnico e atletas mantêm
comportamento ideológico de liderança poderia ser estreitas relações interpessoais, evidenciando
descrito por meio da forma, pela qual os atletas fenômenos psicológicos determinantes de padrões
percebem seu comportamento e a maneira como se interativos. Em tais situações, o desempenho da

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Dinâmica e intervenção psicológica

conduta da equipe estaria claramente influenciado A evidência indica que se pode aceitar a hipóte-
pelo risco do fracasso. Neste contexto, o técnico é se da tendência do técnico e dos atletas contribuí-
quem se apresenta como líder, responsável pela rem na manutenção de boas relações na produção
delineação de planos estratégicos e esquemas táticos. e consecução dos objetivos.

Perspectivas de conclusão
O trabalho de acompanhamento psicológico com Essa tendência mostra que o técnico
uma equipe adulta masculina de voleibol tornou-se autodescreveu-se com um estilo democrático liberal
significativo, pois mostrou como um grupo promove (de um líder que delega poderes), enquanto que os
e desenvolve relações humanas e operativas, ajudando atletas descreveram-no como um técnico associado
a compreender como técnico e atletas se inter-relacio- a um estilo de liderança autoritário centralizador
nam. O trabalho refletiu circunstâncias que colo- que provocava relações e reações de dependência
cam em pauta a ideologia de liderança de um relativamente fortes (tanto no sentido positivo
técnico frente a uma equipe de alto nível - do cli- como negativo), com respeito ao técnico como líder.
ma ambiental que condiciona as normas de con- O quadro alterou-se apenas na última avaliação,
dutas e atitudes dos indivíduos, no qual o vencer a quando se encerrou na fase final do trabalho de
qualquer custo está acima do interesse de todos. acompanhamento e intervenção psicológica.
Os resultados obtidos indicam que as relações Mudanças nas atitudes de técnicos e atletas e das
interativas e operativas são dimensões fundamentais características da equipe, tais como: harmonia, boas
do comportamento de liderança de um técnico como relações humanas e a clareza de procedimentos
líder, pois o sistema de avaliação ACS (módulos 2 e 3) acabaram se associando com o estilo de liderança
oferece uma técnica prática e útil para avaliar a forma, do técnico como líder.
pela qual os atletas descrevem o comportamento do Uma das principais suposições decorrentes do
técnico e o modo pela qual este descreve sua própria que se observou, com o tempo, uma equipe de alto
conduta frente aos seus atletas. nível pode apresentar um comportamento compa-
As evidências indicam que o clima ambiental re- tível com os desejos e necessidades de técnico e atle-
presenta um postulado básico que condiciona ques- tas. O argumento final é que a vida de uma equipe
tões sociais e psicológicas, desencadeadas por esportiva permanece um enigma mesmo quando
mecanismos que alteram o comportamento de téc- se apresenta com um comportamento altamente
nico e atletas, em um sistema de propriedade cole- produtivo na consecução de seus objetivos - quei-
tiva. Indicam que o trabalho desenvolvido durante ramos ou não - o clima ambiental é mais proble-
10 meses, tornou-se um instrumento altamente sig- mático do que se supunha.
nificativo na detecção de problemas psicológicos, Enfim, o clima ambiental de uma equipe pode
na orientação e no acompanhamento de compor- influenciar o técnico a mudar seu comportamento
tamentos durante os treinamentos e jogos. Mas exis- para salvaguardar os desejos e as necessidades de
te a tendência por parte de técnico como líder e bons relacionamentos. Se os técnicos esportivos ten-
atletas como liderados de avaliarem de forma derem a empregar os mesmos estilos de comporta-
dissonante a contribuição das dimensões do com- mento ideológico de liderança em diferentes tipos
portamento do técnico quanto ao estilo de lide- de esportes será uma questão empírica que perma-
rança empregado como Ideal Próprio. nece sem respostas no momento atual.

Abstract
Dynamic and psychological intervention in masculine volleyball team

The leadership behavior consists in one of the most important factors influencing the sport of high
level performance. The command’s actions are representative of true field of forces sustaining the

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organizational and functional structure of the teams, constituting one of the main characteristics of
the sportive technician’s personality in the implementation and maintenance of good human relations
and good operative relations. Under these aspects the technician as leader role plays a paper of integrator
function between components of the team, not only because he implements ideas, norms and values,
but also because is depositary of the yearnings and necessities of athletes. The main objective of this
study was to investigate the form which athletes describes the leadership behavior of technician in the
conduction of the team (real-equip), compared with the form, which the own technician describes his
proper leadership behavior (proper-ideal), during a period of ten months, involving diagnosis and
psychological intervention. The subjects’ research was: one technician and 16 volleyball athletes,
masculine, age 25,6. The system of evaluation was “ACS III”, an instrument constituted of two sets of
30 descriptive and objective questions of technician leadership behavior. The results had indicated
that: a) exists a conflictive tendency between the technician auto-evaluation (proper-ideal) and the
evaluation of the athletes (real-equip), in the involved dimensions of technician leadership behavior:
interactive and operative relations; b) the psychological work allowed a more favorable relation in the
institution ambit, involving interactive and functional difficulties of the equip; c) standards of restrictive
and prohibitive behaviors tends to change, in such a way positive as negative; during the development
process of psychological intervention, positives aspects had prevailed in the end.

UNITERMS: Sport psychology; Team of volleyball; Group behavior; Diagnosis; Intervention.

Notas
1. Ideal Próprio - maneira pela qual os professores / técnicos comandam suas equipes, descreve a ideologia de líder à
frente de uma equipe esportiva.
2. Real Equipe - forma pela qual os componentes de uma equipe descrevem o comportamento de liderança do seu técnico
como líder.
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ENDEREÇO
Antonio Carlos Simões
Departamento de Esporte Recebido para publicação: 20/03/2003
Escola de Educação Física e Esporte - USP
Revisado: 22/12/2005
Av. Prof. Melo Moraes, 65
Aceito: 27/03/2007
05508-030 - São Paulo - SP - BRASIL

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