não corre, não faz festinha para o dono... NÃO TEM MÚSCULOS! Como alguém pode Ensino de botânica voltado gostar de algo tão inerte?!” – Msc. Miguel José Minhoto. à educação ambiental Para muitos professores de Ciências e Biologia para a climatização da cidade. Podem ser reco- do Ensino Fundamental e Médio, é um desafio nhecidas algumas das principais espécies utilizadas cotidiano despertar em seus pupilos algum interesse na arborização brasileira, e os conceitos de nome pela Botânica. Não é à toa. Plantas geralmente não científico, fenologia e as famílias botânicas mais são dotadas do carisma e da grande capacidade de importantes, cada uma com suas principais movimentação concedida aos animais. Porém, mais características. Existem, no Brasil, guias de do que despertar o interesse dos alunos pelo estudo identificação das árvores plantadas em determinadas das plantas, é urgente estimular os estudantes na cidades contando com ilustrações e informações aplicação deste conhecimento para atuar na científicas, sendo que a escola ou o professor seriam conservação e preservação ambiental. Este breve os responsáveis por adquirir um exemplar desse artigo vem propor estratégias e sugerir idéias para material. Em Campo Grande, MS, Pestana e Sartori que a Botânica aplicada à educação ambiental possa (2006) efetuaram um levantamento das principais ser utilizada em escolas de Ensino Fundamental e espécies arbóreas utilizadas na arborização da porção Médio, na região da Bacia do Apa. central desta cidade e elaboraram uma chave de Uma estratégia inicial é fazer com que os identificação (um recurso que permite a pronta estudantes enxerguem a importância econômica dos identificação das espécies por meio de ques- vegetais. Isso pode ser feito trazendo-se para a sala de tionamentos do tipo “sim ou não”) para as mesmas. aula frutas, legumes e verduras, fazendo uma Projetos similares podem ser desenvolvidos em divertida aula de culinária (com direito aos alunos outros municípios, e os trabalhos já realizados, comerem o material de estudo!) acompanhada de utilizados como base parcial para as aulas. explicações sobre os tipos de vegetais. Por exemplo, Nessa etapa, é importante destacar detalhes pode-se explicar qual a diferença, em termos de fruto aparentemente sem importância, porém funda- (na linguagem botânica), entre um abacaxi, um mentais na identificação botânica, tais como: abacate, um caju e uma maçã. Nesta fase, já é possível características da folha (formato, tipo de borda, ponta apresentar aos alunos conceitos de órgãos vegetais e e base, pilosidade, etc.), da flor (coloração, número seus tipos. de pétalas, estames e carpelos, tipo de flor ou Depois, pesquisar vegetais úteis em outras áreas inflorescência – isto é, agrupamento de flores –, etc.), que não a alimentação pode enriquecer a aula. Por do tronco ou caule (textura, diâmetro, eventuais exemplo, visitas a uma praça ou ruas bem arborizadas marcas no caule, etc.), presença de látex (o “leite” que da cidade podem ser muito úteis para que os escorre de algumas plantas), arquitetura da copa, estudantes reconheçam a importância das árvores arranjo das folhas nos ramos, etc. Caso a escola, o 4 4 professor ou alguns alunos disponham, é interessante que sejam levados para o trabalho lupas, tesouras de Algumas sugestões para uma poda e sacos plásticos resistentes e transparentes, para melhor observação do material botânico e integração interdisciplinar possível coleta para análise mais detalhada na escola. • Português: origem e efetuar cálculos pluviométricos Finalmente, podem ser feitas visitas a reservas, significado indígena dos nomes e outros estudos relativos ao fazendas próximas e parques florestais, caso estes populares das plantas e animais clima da região (Matemática); existam, para que plantas nativas da região possam da região; levantamentos de identificar a localização da área lendas, histórias, contos e estudada no contexto da bacia ser observadas em seu habitat natural. Deve-se poesias regionais; explorar a hidrográfica a que pertence. explicar, então, porque as espécies nativas são língua latina (possível trabalho • História: execução de uma importantes para o bioma local, apesar de talvez não conjunto com professores de pesquisa histórica da região, inglês, espanhol e outras focada tanto no aspecto serem tão saborosas quanto as frutas cultivadas – línguas); lendário, quanto na ocupação exceto, é claro, os deliciosos frutos nativos – ou tão • Matemática: cálculo da área pelos indígenas, colonizadores bonitas quanto as árvores da cidade. de figuras regulares e e na devastação da mata irregulares (p.ex., capões); original (caso estes eventos Nessa fase, conceitos básicos de ecologia, como a estimativa da altura de árvores tenham ocorrido na área); inter-relação entre os vegetais e a fauna local e a ou rochedos; média aritmética identificar as espécies vegetais importância dessas plantas para o clima da cidade (p.ex., número médio de que tiveram importância arbustos em certa área) e econômica no passado – por podem ser explorados, preparando os alunos para um ponderada, cálculo de exemplo, a erva-mate e o efetivo trabalho de campo. superfície e volume; quebracho-vermelho na Bacia • Geografia: localizar em do Apa. mapas do Brasil e do estado a • Física e Química: física Passeando no matagal região explorada; identificar os aplicada aos fenômenos Espera-se que os alunos já tenham tido principais cursos d’água da naturais; pigmentos vegetais. região; planejamento conjunto •Artes: elementos de desenho considerável interesse pela Botânica no desenvol- de professores e alunos das em 2D e 3D; rudimentos de vimento das atividades anteriores. Agora vem o grand trilhas a serem percorridas; ilustração científica e botânica; finale. A visita efetiva a um remanescente de Cerrado busca por tipos de erosão; pigmentos vegetais (Química). ou Pantanal. Essa certamente será a etapa mais Recomenda-se a leitura da Coleção Valorizando a complicada, pois exigirá comprometimento e certo Biodiversidade no Ensino de Botânica (Editora UFMS, 2006). O auxílio financeiro por parte da escola, professor(es), livro Contextualizando a Botânica mostra como identificar e pais e alunos. É necessário que tudo seja combinado armazenar plantas e Síntese de Poesia apresenta poemas dedicados às plantas em geral e às formações vegetais do Mato Grosso do Sul. com a máxima antecedência possível, para que as Outra opção é o livro A Botânica no Ensino Básico: relatos de uma outras matérias não sejam muito prejudicadas. Uma experiência transformadora (RiMa, 2006). Veja também no site www.redeaguape.org.br/penaagua as referências deste artigo e um excelente sugestão é que o projeto seja arquitetado da poema para trabalhar em sala de aula. forma mais interdisciplinar possível, abrangendo e combinando o máximo de disciplinas, para que estas Extraindo a poesia vegetal não venham a ser prejudicadas em detrimento da aula Que tal fechar as atividades associando Botânica de campo de Ciências/Biologia – até porque a e Literatura? Ao final das atividades acima propostas vegetação é, também, objeto de estudo de outras os alunos podem desenvolver, durante as aulas de disciplinas, tais como Ecologia e Geografia (veja no Ciências/Biologia, inclusive com a participação da quadro sugestões para disciplinas distintas). disciplina de Língua Portuguesa, um conjunto de Uma excelente proposta apresentada pelo atividades relacionando o conhecimento científico WWF-Brasil e Instituto Ecoar é a atividade “Para acerca de determinada planta e poemas que abordem que serve esta planta”. A idéia é fazer com que os a natureza (veja sugestão de livro no quadro). Um alunos pesquisem, por conta própria, plantas de uso poema narrativo pode ser declamado pelos alunos, ou comum na região, por meio de entrevistas com a cantado como moda de viola, seguindo-se um população local e coletas e preparo de pequenas trabalho de exploração / identificação dos conceitos e coleções botânicas. O material botânico coletado conteúdos. Provavelmente, a leitura e discussão de deve ser armazenado em um local seco e fresco, para poemas permitirão um leque mais amplo de respostas que os alunos possam estudá-lo subseqüentemente. à questão inicial: “Como alguém pode gostar de algo Outra boa idéia é programar a visita a um tão inerte?”. herbário (uma “biblioteca ” de plantas conservadas e Lucas é biológo e mestrando em Biologia Vegetal/UFMS. Paulo Robson é professor de Prática classificadas) de instituições de pesquisa. de Ensino, do Departamento de Biologia da UFMS