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NOTA DO POVO INDÍGENA PURI SOBRE O INCÊNDIO NO MUSEU NACIONAL - UFRJ

Nós, indígenas remanescentes da etnia Puri, queremos manifestar publicamente nossa dor e indignação pelo
incêndio do Museu Nacional, ocorrido na noite do último domingo, dia 02 de setembro de 2018;

Por toda a perda de incontáveis peças e documentos de inigualável valor histórico, arqueológico, antropológico e
cultural.

Por toda a História e memória incineradas.

Por todas as narrativas que se perderam pra sempre.

Entre as áreas nas quais a instituição é importante referência, destacamos a Antropologia e a Linguística;
pesquisas de valor inestimável foram e vinham sendo desenvolvidas nessas áreas, a partir do incomparável acervo
que continha registros históricos, antropológicos e lingüísticos datando desde o século XVI, acerca dos povos que
ocupavam territórios que atualmente correspondem ao Brasil. Estudos realizados inclusive por estudantes
indígenas, com resultados necessários e positivos na vida e na garantia de direitos dessas comunidades étnicas –
entre eles a demarcação de terras.

A destruição do acervo da instituição é um duro golpe contra a educação, a cultura e a pesquisa científica neste
país; a nós indígenas, reflete como uma continuidade da destruição empreendida contra nós e a tudo que se
relaciona à nossa gente há 518 anos.

Entre as irreparáveis perdas ocorridas nessa tragédia estão o arquivo Curt Nimuendaju, contendo o original do
mapa étnico-histórico-linguístico com a localização de todas as etnias do Brasil datado de 1945; registros únicos
de história, cultura e cosmovisão de muitos povos indígenas; registros únicos da língua de nosso povo Puri e
outros. Isso soa como o terceiro ato de uma ópera de destruição que começou com o genocídio dos falantes dessas
línguas, e foi seguido pela proibição de que os poucos sobreviventes as falassem, as mantivessem vivas; agora
assistimos as chamas consumirem os registros dessas línguas, que em alguns casos é a única coisa que restou de
povos já extintos. Agora apagados de vez da História.

Na contramão da tentativa de aniquilação do nosso povo, nós Puris, que oficialmente estamos listados pela Funai
como etnia extinta, lutamos para reestrurar nossa cultura, vítima do etnocídio perpetrado pelo Estado Brasileiro,
e nessa luta a retomada da língua tem um papel basilar. Para uma língua como a nossa, proibida, interrompida por
um espaço de tempo, a pesquisa dos registros de nossa língua ancestral, é fundamental para que se empreenda a
revitalização do idioma. Uma das principais bases da pesquisa que nós Puris vimos realizando sobre a língua na
última década vem do acervo de Curt Nimuendajú, etnólogo alemão que percorreu terras indígenas brasileiras por
mais de quarenta anos, legando registros de valor incalculável; esse legado foi transformado em cinzas.

Enquanto alguns de nós, presentes no momento do incêndio, assistíamos impotentes à destruição do Museu
Nacional e toda a História e memória que ele abrigou, uma Puri levava as mãos à cabeça num gesto de
incredulidade, e pranteava pelas urnas funerárias indígenas que estavam sendo destruídas pelas chamas:

“Nos negligenciam e nos destroem em vida e ainda depois de mortos.”


Restos mortais de nossos ancestrais, retirados de seus locais de origem dos ritos funerários, profanados, por fim
incinerados pelo desprezo do Estado Brasileiro.

Nos solidarizamos com a indignação dos funcionários do museu que bradavam inconformados com a chegada
tardia do 1º caminhão pipa dos bombeiros, somente após toda uma grande parte do prédio, antes intacta, já ter
sido devastada pelas chamas.

Nos solidarizamos com a indignação da comunidade científica frente ao descaso dos governantes, que
independentemente de siglas e orientações ideológicas foram omissos, ao longo de vários anos, frente ao
desmonte de um dos mais importantes espaços de conhecimento do País, que há 14 anos já vinha expondo sua
precariedade, que desde 2014 não recebia o repasse de verba necessário à sua manutenção, que em 2015 chegou
a fechar as portas e este ano recorreu a uma “vaquinha virtual” para arrecadar recursos ao seu pleno
funcionamento.

Nos solidarizamos com vários cidadãos e cidadãs deste país, que também amargam a angústia da impotência
diante dos desmandos de seus dirigentes e supostas elites, aos quais importam investimentos mais rentáveis às
empreiteiras e aos donos do capital.

Nos solidarizamos com todos os enlutados pelo nosso passado e nosso futuro.

Desejamos que aqueles e aquelas com quem nos solidarizamos sejam igualmente solidários à dor indígena diante
daquelas chamas:

elas nos lembram as armas de fogo usadas no assalto à nossa terra e vida;

elas nos lembram os incêndios de aldeias, que assolaram nossos povos;

elas nos lembram o destino de nossas florestas, que foram nosso lar e alimento durante séculos;

elas nos lembram das nossas crianças e parentes queimados vivos ainda hoje;

elas nos fazem concluir que a sanha destruidora que nos assola há cinco séculos permanece viva.

Rio de Janeiro, 04/09/2018.

Associação Regional da Comunidade Remanescente de Índios Puris Padre Brito

GEIPÓ - Grupo de Estudos Indígenas Povos Originários

Movimento de Ressurgência Puri

Movimento Resistência Puri

Movimento Txemim Puri

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