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Opinião
Desistir da paz?
A Europa conheceu, num único século, guerras horrorosas, mas parece cansada da paz
que conseguiu.
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Tempos virão em que nem sequer será preciso pensar na reciclagem do exército. A
justiça estará ao serviço dos infelizes do povo. Aos violentos e aos ímpios a própria
palavra de Deus os modificará. A justiça e a lealdade serão a lei.
Até toda a natureza que se modificará. O lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá
com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir.
A vitela e a ursa pastarão juntamente, as suas crias dormirão lado a lado; o leão comerá
feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá
a mão na toca da víbora.
Não mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o
conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas o leito do mar. Nesse dia, a raiz
de Jessé surgira como a bandeira dos povos; as nações virão procurá-la e a sua morada
será gloriosa [2].
O profeta quer que Deus seja o Senhor do universo e prepare para todos os povos um
banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa
gordura, vinhos puríssimos. Destruirá a morte para sempre. Enxugará as lágrimas de
todas as faces. Alegremo-nos e rejubilemos porque nos salvou [3].
O profeta Baruc não anda longe destes delírios: Jerusalém, deixa a tua veste de luto e
aflição e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus. Cobre-te com o
manto da justiça. Deus te dará para sempre este nome: Paz da justiça e glória da
piedade. Levanta-te, Jerusalém, sobe ao alto e olha para o Oriente: vê os teus filhos
reunidos desde o poente ao nascente. Deus decidiu abater todos os altos montes, as
colinas seculares e encher os vales para se aplanar a pedra, a fim de que Israel possa
caminhar em segurança. Os bosques e todas as árvores aromáticas darão sombra a
Israel. Deus o conduzirá na alegria, com a misericórdia e a justiça [4].
Esta selecção mostra o que abundava e o que faltava. Abundava a guerra, a injustiça e a
fome que geravam a morte, a tristeza. Faltava a paz, o acesso à justiça para todos, a
comida e a alegria. Dizer as coisas assim prosaicamente é não dizer nada. É a linguagem
dos relatórios e das estatísticas. O próprio da linguagem simbólica, poética, é incendiar
a imaginação, tornar possível o inalcançável. Dir-se-á que é uma forma de resvalar para
a ilusão. Não creio que seja a linguagem do ópio. Não há ninguém que seja enganado
pela literatura e, sobretudo, pela poesia. Esta é a linguagem humana que nenhuma
riqueza ou pobreza poderá substituir. Fazer sonhar é o primeiro passo para a
necessidade de agir.
A religião em que foi educado não abafou a sua criatividade, a sua liberdade, sobretudo
quando essa religião matava a esperança dos mais pobres e criava toda a espécie de
exclusões. Os evangelistas pretendem mostrar que Jesus incarnava, de forma inovadora,
o anti-fatalismo dos profetas. Quando se dizia sempre assim foi, significava para o
Mestre: tem de mudar!
O versículo 10, que antecede esta passagem, faz uma declaração absolutamente
espantosa: nós somos poema de Deus [6]. Não estraguemos a dignidade deste poema,
escrita divina.
A Europa conheceu, num único século, guerras horrorosas, mas parece cansada da paz
que conseguiu.
Está mais do que demonstrada a ferocidade que pode ser desencadeada entre pessoas,
nações e povos. Essa todos os dias é patenteada, em diversos cenários de crueldade,
com meios de comunicação que a celebram e a incitam ao seu motor: o ódio do outro.
O Papa Francisco enviou uma carta à Universidade Lateranense sobre ciclos de estudos
interdisciplinares para multiplicar o número de pessoas especializadas nas Ciências da
Paz. Havendo tantos meios para criar incitamentos ao ódio e à violência é fundamental
preparar pessoas, grupos, instituições que tenham como objectivo a promoção da cultura
da paz.
[1] Is 2, 1-5
[2] Is 11, 1-10
[3] Is 25, 6-10
[4] Br 5, 1-9
[5] Cf Ef 2, 11-19
[6] Frederico Lourenço, em nota 2, 10 diz que, à letra, a tradução do grego é "nós somos
poema d’Ele", Carta aos Efésios, Bíblia, vol. II.