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MEMÓRIA, INTERDISCURSO: LIMITES E CONTRASTES

Freda INDURSKY
freda@orion.ufrgs.br
UFRGS

Situando a reflexão

O propósito deste trabalho é, em primeiro lugar, o de mostrar que a reflexão


sobre “memória” sempre esteve presente no quadro da Teoria da Análise do Discurso,
muito embora, nos textos fundadores, esta nomeação ainda não tivesse tido lugar.
Pensava-se sobre memória, mas sob outras designações, como, por exemplo, repetição,
pré-construído, interdiscurso. Estas noções foram formuladas no âmbito da Teoria da
Análise do Discurso e encontram-se reunidas em Semântica e Discurso (Pêcheux,
1975/1988). Todas remetem, de uma forma ou de outra, à noção de memória. Mais
exatamente, trabalham diferentes funcionamentos discursivos através dos quais a
memória se materializa no discurso. Vamos examinar estas noções e refazer o percurso
teórico em direção à noção de memória, sem, entretanto, procurar estabelecer uma
cronologia no interior desta trajetória.
O segundo propósito é o de comparar e contrastar memória discursiva e
interdiscurso para estabelecer suas especificidades.

Diferentes funcionamentos discursivos e sua relação com a memória

Inicio esta retomada pela noção de repetição. Pensar em discurso desvinculado


desta noção é impossível: os discursos se repetem e é em decorrência deste regime de
repetição que o discurso se produz. Se nos reportarmos a um dos textos fundadores da
Análise do Discurso, que Pêcheux assina juntamente com Fuchs (1975/1990),
poderemos constatar que o sentido se constitui a partir das relações de parafrasagem que
as diferentes expressões mantêm entre si no interior de uma FD ou, mais exatamente,
nas palavras dos autores, tais “relações interiores à matriz de sentido de uma Formação
Discursiva”. Ou seja: ao se referirem às relações parafrásticas que se estabelecem entre
diferentes expressões, os autores entendem que se retomam umas às outras, que se
repetem. Como é possível perceber, não falam de repetição, mas de matriz de sentido.
No entanto, para explicar como funciona uma tal matriz foi necessário mostrar que elas
estabelecem relações parafrásticas entre si. E isto nos leva à questão que estou querendo
situar aqui: à repetibilidade de certos sentidos. E mais: se a matriz de sentidos conduz à
repetibilidade, ela também coloca os limites desta repetibilidade: a matriz remete ao que
pode e deve ser dito no interior de uma FD. O que equivale a dizer que há sentidos que
aí não podem ser ditos e que permanecem fora da referida FD.
Assim, chegamos às primeiras reflexões em torno de memória: se há repetição é
porque há retomada/regularização de uma memória que é social, mesmo que esta se
apresente para o sujeito do discurso revestida da ordem do não-sabido. Em nosso
entender, se o discurso se faz no regime da repetição, tal repetição se dá no interior de
práticas discursivas que são de natureza social. São os discursos em circulação nas
práticas discursivas que são retomados e repetidos.
Mas é preciso interrogar um pouco mais esta repetibilidade: se o discurso se faz
no regime da repetição de certas práticas discursivas, cabe questionar qual é a natureza
desta repetição. Repetir, para a AD, não significa necessariamente repetir palavra por
palavra algum dizer, embora freqüentemente este tipo de repetição também ocorra.
Penso, por exemplo, nos provérbios. Sempre que os provérbios são mobilizados por um
sujeito do discurso, sua repetição se dá palavra por palavra. Por exemplo: “quem dá aos
pobres empresta a Deus”. Aqueles que se identificam com a moral religiosa que prega a
caridade repetem o provérbio, sem questionamentos. Mas a repetição, por vezes, pode
levar a um deslizamento, a uma re-significação. Vale dizer: o sujeito do discurso pode
contra-identificar-se ou mesmo desidentificar-se do discurso religioso e, assim
procedendo, faz o sentido derivar e tornar-se outro, como podemos verificar nos
provérbios que se seguem: “quem dá aos pobres, adeus”; “É dando que se engravida”;
e, ainda, “quem dá aos pobres cria o filho sozinha”.
Muitas coisas poderiam ser ditas a partir destes deslizamentos de sentido e o
mais simples seria recordar o que Pêcheux nos ensinou: “um enunciado é
intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, de deslocar
discursivamente de seu sentido para derivar para um outro” (Pêcheux, 1983/1990,
p.53).
Dessa forma, não se trata mais de buscar o sentido em uma matriz de sentido
inscrita no interior de uma FD, mas, sobretudo, de constatar que os sentidos, pelo
trabalho que se instaura sobre a Forma-Sujeito, podem atravessar as fronteiras de uma
FD e migrar para outra FD, inscrevendo-se em outra matriz de sentido e, nesse caso,
passam a ser determinados por outras relações com a ideologia. Percebe-se, pois, que o
fechamento das FDs não é rígido. Ao contrário. As paredes das FD são porosas, o que
permite sua permanente reconfiguração em função da conjuntura sob a qual elas
funcionam.
Tal movimentação nas filiações dos sentidos só é possível porque os sentidos, ao
migrarem, se re-significam. Isto indica também que as FD se relacionam entre si,
constituindo um complexo de Formações Discursivas das quais uma é dominante
(Pêcheux, 1975/1988, p. 162). E diz Pêcheux: “propomos chamar de interdiscurso a
esse “todo complexo com dominante” das formações discursivas, esclarecendo que
também ele é submetido à lei de desigualdade-contradição-subordinação que
caracteriza o complexo das Formações ideológicas”(id.ib.). Assim, das formações
discursivas, concebidas de forma bastante isolada, passa-se a pensar em um complexo
de FDs que se relacionam entre si.
Se, anteriormente, afirmei que cada FD funcionava como uma espécie de
memória para o sujeito que com ela se identifica, apontando-lhe o que pode e deve ser
dito e também excluindo o que não pode e não deve ser dito, agora é necessário pensar
como fica a relação do sujeito com esta memória bem mais ampla que o interdiscurso
representa. Antes, porém, de abordar esta questão, quero examinar duas outras noções
que fazem parte desta trajetória teórica em direção à formulação da noção de memória.
Refiro-me às noções de pré-construído e de discurso transverso, que se relacionam de
forma bastante forte com a noção de interdiscurso que acabamos de apresentar.
A partir dos estudos das relativas empreendidos por Henry (1975/1990), Pêcheux
& Fuchs (1975), foi desenvolvida uma reflexão muito profícua da qual resultou a noção
de pré-construído. Sem me propor a reproduzir aqui toda a reflexão empreendida, me
interessa mostrar que esta noção vai permitir melhor perceber os entrelaçamentos entre
repetição, memória e movimentação dos sentidos. Ou seja: todo o elemento de discurso
que é produzido anteriormente, em um outro discurso e independentemente, pode ser
entendido como um pré-construído. Segundo Pêcheux (1975/1988, p.164), “o pré-
construído é o “sempre-já-lá” da interpelação ideológica que fornece-impõe a
“realidade” de seu “sentido” sob a forma da universalidade”.
O pré-construído pode ser linearizado por uma operação de encaixe sintático no
interior do discurso do sujeito (um encaixe através de um pronome relativo, por ex., ou
uma nominalização, como no discurso soviético estudado por Sériot). Mas também
pode se dar através de uma articulação que apaga os limites entre o que foi formulado
pelo sujeito e o que foi trazido do interdiscurso. Esta segunda modalidade é o que
Pêcheux chamou de discurso transverso.
Sobre o funcionamento do pré-construído, Pêcheux (id.ib, p. 167) afirma que o
discurso do sujeito é “um efeito do interdiscurso sobre si mesmo, uma “interioridade”
inteiramente determinada do exterior”. E mais: para ele, isto é resultado do trabalho da
forma-sujeito que “tende a absorver-esquecer o interdiscurso no intradiscurso, de
modo que o interdiscurso aparece como puro já-dito do intradiscurso, no qual ele se
articula por co-referência” (idem, ib.p. 167). Ou seja: o pré-construído é um elemento
de saber proveniente do interdiscurso.
Como se vê, através do funcionamento do pré-construído, encontramos dois
funcionamentos discursivos diversos que mostram de que forma pode ocorrer a
repetibilidade. Por seu intermédio, podemos observar como elementos provenientes do
interdiscurso são discursivizados no discurso do sujeito. Vale dizer: estamos diante de
práticas discursivas no interior das quais saberes circulam e são
apropriados/discursivizados em diferentes discursos.
Mais acima, sinalizamos que o interdiscurso é resultante do complexo de
formações discursivas. Dizer isto mostra que o interdiscurso comporta todos os dizeres,
todos os sentidos e não apenas um. Ou seja: o pré-construído, no interior do
interdiscurso, não apresenta um, mas todos os sentidos que já lhe foram associados.
Então, para que o pré-construído seja dotado de “um” sentido (e não de todos), ele deve
passar por uma FD. Só então ele vai tomar um sentido e os demais serão esquecidos.
Para ilustrar o que estou dizendo, podemos retomar, mais uma vez, os provérbios que
apresentamos mais acima. Para que “Dar aos Pobres” assuma o sentido da moral
religiosa, é necessário que “dar aos pobres” saia do interdiscurso, onde todos os
sentidos são possíveis, já que o “interdiscurso funciona como a memória do dizer”,
como nos ensina Orlandi, e passe por uma FD religiosa. É aí que o sentido de “dar aos
pobres” é associado a “emprestar a Deus”. Isto nos mostra exatamente como o sentido
não é um a priori, mas, ao contrário, é resultante das relações de parafrasagem que se
dão no interior da FD.
E o que ocorre com os outros provérbios não é diferente. Tais sentidos são
associados a “dar aos pobres” na passagem do interdiscurso para uma FD diversa, talvez
mesmo antagônica à FD religiosa. É no interior desta outra FD que não tem, como um
de seus saberes, a prática da caridade, que sentidos como “adeus”, “engravida”, e ainda
“cria o filho sozinha” são associados a “dar aos pobres”. Creio que estes exemplos
ajudam a visualizar de que maneira um pré-construído como “dar aos pobres”,
proveniente do interdiscurso, é apropriado e como a forma-sujeito, que organiza os
saberes da FD, trabalha no sentido de incorporar/dissimular os elementos provenientes
do interdiscurso, inicialmente na FD, atribuindo-lhe sentido e produzindo o efeito de
evidência. E, a seguir, inserindo-o no discurso do sujeito por uma operação de
articulação. Ou seja: estas reescrituras nos permitem perceber que o pré-construído,
representado pelo provérbio original, ressoa apenas de forma transversa no discurso do
sujeito. Ou seja: o provérbio original não é retomado/repetido tal e qual. Ao ser
retomado, ele sofre um deslizamento que produz sua re-significação. Em função disso,
ele apenas faz “eco” na nova formulação que dele foi feita.
Dessa forma, percebe-se que as noções de pré-construído e de interdiscurso vão
trabalhando teoricamente e preparando a formulação da noção de memória.
Estas são as noções que foram construídas ao longo da década de 70 e que me
permitem afirmar, como fiz na abertura deste trabalho, que todas estas noções
constroem uma trajetória que conduz à formulação da noção de memória, que vai
ocorrer nos anos 80.

Memória e Análise do Discurso

Como já vimos, ao longo da primeira parte deste trabalho, a noção de memória


se faz presente através de várias noções produzidas ao longo da década de 70. E assim
chegamos aos anos 80 e, com eles, uma reflexão direta sobre memória inicia. É verdade
também que, de certa forma, permiti que algumas menções a estas formulações já
aparecessem na trajetória que empreendi, desde o início. Mas, elas entraram de
contrabando, como uma espécie de complemento ao que estava apresentando sobre a
noção de repetição e as demais que lá examinei.
Procuremos, então, estabelecer, como efeito de início para a formulação da
noção de memória no âmbito da Teoria da Análise do Discurso, o trabalho de Courtine
(1981) que revisita a Arqueologia do Saber de Foucault e retorna para a AD com a
noção de memória. Inspirado na reflexão de Foucault a propósito dos enunciados, vai
entender “que toda produção discursiva faz circular formulações anteriores, porque ela
possui em seu domínio associado outras formulações que ela repete, refuta, transforma,
denega... Isto é: em relação às quais esta formulação produz efeitos de memória
específicos” (idem, ib., p.52). E, desta forma, ele introduz a noção de memória
discursiva na teoria da análise do Discurso. E, mais adiante, ele assim a formula: “a
noção de memória discursiva diz respeito à existência histórica do enunciado no seio
de práticas discursivas, reguladas pelos aparelhos ideológicos” (id.ib., p.53). Para
Courtine interessa saber como o trabalho de uma memória coletiva, no âmbito de uma
FD, permite a lembrança, a repetição, a refutação, mas também o esquecimento destes
elementos de saber que são os enunciados.
Neste ponto, proponho-me retomar, uma vez mais, os provérbios que
examinamos na primeira parte deste trabalho. Como pudemos ver, o primeiro provérbio
que poderia sem pensado como uma formulação primeira, inscreve-se em uma FD
religiosa que pratica a caridade. Já os outros três provérbios, que reescrevem o primeiro,
inscrevem-se em uma outra FD que não pressupõe a prática da caridade. Tal fato mostra
que houve uma re-significação destes provérbios, mas o que não dá para afirmar é que a
memória da primeira formulação se apague frente ao surgimento de um novo sentido.
Ou seja, a memória funciona como pano de fundo para que se perceba que houve
ruptura com os sentidos estabelecidos, cristalizados e que novos sentidos foram
produzidos. Sem a memória social fazendo ressoar aí a moral religiosa vigente, a re-
escrita deste provérbio talvez não fosse interpretada como uma retomada da primeira
formulação. É a memória social que ressoa e trabalha por traz deste deslizamento e faz o
sentido primeiro reverberar por trás dos novos sentidos.
Deste encontro/desencontro entre o dizer cristalizado pelas práticas discursivas,
que fazem ecoar um sentido que circula na memória social, e sua re-significação pelo
sujeito do discurso, que se desidentifica ou, pelo menos, se contra-identifica com a
moral religiosa, dá-se a re-ignificação do provérbio. Em conseqüência disso, ele desliza
do discurso religioso para inscrever-se no discurso humorístico ou, pelo menos, em um
discurso que critica o primeiro. E para que esta re-significação ou esta crítica possa ser
assim interpretada, é preciso que o sentido primeiro ressoe junto com os novos sentidos,
funcionando o sentido primeiro como uma presença-ausente. É a memória discursiva
que aí ressoa. Segundo Pêcheux, a ruptura que está por trás desse deslizamento se dá
“no ponto de encontro de uma atualidade e uma memória” (Pêcheux, 1983/1990, p.17).
Ou seja: não dá para interpretar essa atualidade – quem dá aos pobres, adeus” - sem
mobilizar a memória – Quem dá aos pobres empresta a Deus.
De tudo quanto precede, podemos dizer que a repetição, seja reproduzindo
sentidos provenientes da memória social, seja transformando tais sentidos, ocorre no
ponto em que se dá o cruzamento do interdiscurso com o intradiscurso ou, se
preferirmos, no ponto de encontro de uma memória com uma atualidade.
Cabe ainda uma observação: quando a repetição se dá com deslizamento dos
sentidos, este deslizamento vem, nas palavras de Pêcheux (1983/1999, p.52), “perturbar
a memória”. Em trabalho anterior (Indursky, 2003, p.107), afirmo que quando ocorre o
rompimento com a repetibilidade, uma nova ordem de repetição se instaura, a qual é
responsável pela reorganização da memória social. Voltando uma vez mais aos
provérbios, podemos dizer que os três provérbios que re-significaram o primeiro
inscrevem-se numa ordem de repetibilidade diversa daquela que remete para a moral
religiosa. Ou seja: eles vêem perturbar a memória social. E faz-se necessário que esta
memória se reorganize para poder acomodar estes novos sentidos que também passam a
se inscrever no interdiscurso e a circular em práticas discursivas que mobilizam essa
memória social.

Interdiscurso e memória discursiva: intersecções e limites

Neste ponto, impõe-se uma comparação entre interdiscurso e memória


discursiva. Se o interdiscurso remete, como nos diz Orlandi, à memória do dizer, isto
significa que tudo o que já foi dito inscreve-se no interdiscurso e, se assim o é, é porque
o interdiscurso constitui um complexo de formações discursivas. Ou seja: todos os
sentidos já produzidos aí se fazem presentes. Por esta razão, aí se encontram todos os
sentidos e não apenas os sentidos que são autorizados pela Forma-Sujeito. E, se é assim,
nada do que já foi dito pode dele estar ausente. O interdiscurso não é dotado de lacunas.
Ao contrário. Ele se apresenta totalmente saturado. Esta é a natureza do interdiscurso:
reunir todas as vozes anônimas e todos os sentidos que já foram produzidos. E é por
comportar todos os sentidos que ele se distingue da memória discursiva.
Voltemos novamente a Courtine (1981, p. 53) e à sua formulação: “A noção de
memória discursiva diz respeito à existência histórica do enunciado no seio de práticas
discursivas reguladas pelos aparelhos ideológicos”. E, mais adiante, ele formula alguns
questionamentos, a saber: “como o trabalho de uma memória coletiva, no seio de uma
FD, permite a lembrança, a repetição, a refutação, mas também o esquecimento destes
elementos de saber que são os enunciados? Enfim, sobre que modo material uma
memória discursiva existe?
Se a memória discursiva se refere à existência histórica do enunciado no seio de
práticas discursivas reguladas pelos aparelhos ideológicos, isto significa que ela diz
respeito aos enunciados que se inscrevem nas FD, no interior das quais eles recebem seu
sentido. E mais: se a memória discursiva se refere aos enunciados que se inscrevem em
uma FD, isto significa que ela não cobre todos os sentidos, como é o caso do
interdiscurso, mas apenas os sentidos autorizados pela Forma-Sujeito no âmbito de uma
formação discursiva. Mas não só: a memória discursiva também diz respeito aos
sentidos que devem se refutados. Ou seja: ao ser refutado um sentido, ele o é a partir da
memória discursiva que aponta para o que não pode ser dito na referida FD. A memória
discursiva ainda tem um outro funcionamento: é em função dela que certos sentidos são
“esquecidos”, ou seja, certos sentidos que em um determinado momento podiam ser
produzidos no seio de uma FD, em função de mudanças conjunturais, não podem mais
ser ditos, atualizados, lembrados.
Dessa forma, constata-se que uma FD é regulada por uma memória discursiva
que faz aí ressoar os ecos de uma memória coletiva, social. Por outro lado, nem tudo
pode ser dito no interior de uma FD, de modo que a memória discursiva não é plena,
não é saturada, pois nem todos os sentidos estão autorizados ideologicamente a ressoar
em uma FD. Dessa forma, percebe-se que, assim como a FD é de natureza lacunar, a
memória discursiva também o é.
E há, ainda, uma outra constatação a ser feita: se determinados sentidos precisam
ser “esquecidos”, significa que eles desaparecem, sob o efeito da ideologia, do âmbito
de uma FD. E quando isto sucede, precisamos questionar se este desaparecimento
implica um “apagamento”. No meu entender, se o sentido não pode mais ser relembrado
no interior de uma FD, isto não significa que este sentido simplesmente desaparece. Ao
ser “apagado” de uma FD, ele não deixa de ter sido produzido e, por conseguinte, o
desaparecimento de um determinado sentido de uma FD não implica o apagamento
deste sentido ao nível do interdiscurso, que funciona como uma memória de todos os
dizeres. Um sentido pode ser, pois, esquecido ou interditado no âmbito de uma FD, mas
não pode ser apagado do interdiscurso, onde ele fica recalcado, podendo ser recuparado
pela mesma FD em outro momento, em outra conjuntura histórica, ou por outra FD.
Por tudo quanto precede, entendemos que tanto a memória discursiva como o
interdiscurso dizem respeito a uma memória coletiva, social, mas não se superpõem,
não se confundem. A memória discursiva está circunscrita a uma FD específica,
enquanto o interdiscurso representa a memória social referente a todas as FD que
compõem o complexo com dominante.

BIBLIOGRAFIA
COURTINE, J.J. Analyse du discours politique. Langages, Paris, Larousse, n.62, 1981.
HENRY, P. A ferramenta imperfeita: língua, sujeito e discurso. Campinas, Ed. da
UNICAMP, 1992.
INDURSKY, F. Lula lá: estrutura e acontecimento. Organon, Rev. do Instituto de
Letras, UFRGS, v.17, n.35, 2003.
ORLANDI, E. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, Pontes,
1999.
PÊCHEUX, M. & FUCHS, C (1975). A propósito da Análise do Discurso. In: GADET,
F. & HAK, T. Por uma análise automática do discurso. Campinas, Ed. da
UNICAMP, 1990.
PÊCHEUX, M. (1975). Semântica e Discurso. Campinas, Ed. da UNICAMP, 1988.
_____. (1983). Discurso: estrutura ou acontecimento. Campinas, Pontes, 1990.

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