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A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS ESCOLARES

VOLTADOS À APRENDIZAGEM E AO
DESENVOLVIMENTO DOS BEBÊS
Cláudia Inês Horn1, Pauline Osterkamp2, Soraine Teresa Krindges3

Resumo: Este artigo objetivou verificar de que forma os espaços e sua organização na escola podem
contribuir para o desenvolvimento e a aprendizagem de bebês, apresentando estudos, pesquisas e vivências
realizados a partir do Estágio Supervisionado na Educação Infantil I do Curso de Pedagogia do Centro
Universitário UNIVATES. A prática docente foi desenvolvida em uma turma de bebês de 0 a 1 ano, numa
Escola da Rede Privada do município de Teutônia/RS, no mês de outubro de 2013. Foram utilizados
como referenciais teóricos autores como: HORN (2004), SCHIAVO e RIBÓ (2007) e JANESCH
(2013), a fim de contribuir para que os profissionais da educação percebam que a organização dos espaços
da escola de Educação Infantil, principalmente o da sala de aula, contribui para que os bebês desenvolvam
sua curiosidade, exploração, estimulação dos sentidos, protagonismo e segurança. Constatou-se que é
possível pensar de outros modos a organização dos espaços escolares para os bebês.

Palavras-chave: Espaços escolares. Desenvolvimento infantil. Bebês.

THE ORGANIZATION OF EDUCATIONAL SPACES


ORIENTED LEARNING AND DEVELOPMENT OF
INFANTS
Abstract: This article aims to verify how the spaces and their organization in school may contribute to the
development and learning of infants, presenting studies, researches and experiences made in a supervised
internship in Early Childhood Education I, from Education Program at Centro Universitário Univates. The
teaching practice was developed in a group of infants from 0-1 year at a private school in the county of Teutônia/
RS/Brazil, in October 2013. The theoretical foundation were authors such as: HORN (2004), SCHIAVO and
RIBÓ (2007) and JANESCH(2013). In order to education professionals perceive that the organization of the
school physical spaces in early childhood education, especially in the classroom, help babies to develop their
curiosity, exploration, stimulation of the senses, leadership, security. Through these experiences and studies, it
appears that you can think of other ways the organization of school spaces of infants.

Keywords: School Spaces. Childhood Development. Infants.

1 Doutoranda em Educação – Unisinos. Mestre em Educação – Universidade Federal do Rio Grande


do Sul. Professora do Curso de Pedagogia – Centro de Ciências Humanas e Sociais do Centro
Universitário UNIVATES/Lajeado-RS-Brasil. Professora Orientadora do Estágio Supervisionado na
Educação Infantil I. E-mail: clauhorn@yahoo.com.br

2 Acadêmica do Curso de Pedagogia do Centro Universitário UNIVATES/Lajeado-RS-Brasil.


Professora de Educação Infantil e Séries Iniciais. E-mail: pauliny_osterkamp@yahoo.com.br

3 Acadêmica do Curso de Pedagogia do Centro Universitário UNIVATES/Lajeado-RS-Brasil.


Professora de Educação Infantil. E-mail: sorainek@yahoo.com.br

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 11, n. 2, p. 102-112, 2014. ISSN 1983-0882 102


Cláudia Inês Horn, Pauline Osterkamp, Soraine Teresa Krindges

1 INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta experiências e estudos, a partir da localização do Estágio
Supervisionado na Educação Infantil I do curso de Pedagogia do Centro Universitário
UNIVATES/Lajeado/RS, realizado em uma turma de Berçário (4 meses a 1 ano), numa
Escola da Rede Privada do município de Teutônia/RS. Tem como inquietação o fato de
que muitas escolas de educação infantil ainda realizam um trabalho assistencialista, não
sendo proporcionados momentos planejados e dirigidos pela maioria dos professores, na
medida em que eles voltam suas práticas ao cuidar - alimentação, higiene e descanso.
Esse contexto motivou esta pesquisa na tentativa de investigar de que forma é possível
organizar o espaço escolar, visando a ampliar e a promover estímulos aos bebês,
primando pelas suas interações, aprendizagem e desenvolvimento.
Tendo em vista essa inquietação, buscamos referenciais teóricos que auxiliassem a
responder a questão. Também realizamos observações e práticas na turma do Berçário
para analisar o trabalho desenvolvido pelas professoras da turma, para experienciar
atividades pedagógicas de exploração e estímulos e para compreender como o espaço
pode se tornar um agente educativo aos bebês.
A partir das observações realizadas na turma Berçário I, foi possível perceber que
a rotina do turno da tarde proporciona poucos momentos de estimulação para e com
os bebês, uma vez que os professores estão constantemente envolvidos com o cuidar.
A rotina observada (13h às 17h) consiste em: hora da soneca, alimentação e troca,
brincadeiras, janta, troca de fralda, hora da soneca. Foram poucos os momentos em que
as professoras estavam “livres” de seus afazeres assistencialistas, como alimentar, trocar
a roupa e a fralda, organizar a sala, entre outros, para brincar, estimular e potencializar
os interesses e as necessidades dos bebês.
A sala de aula da turma observada (Berçário I) é composta por onze berços,
dispostos ao redor da sala, encostados na parede; dois cercadinhos e uma espuma
redonda aonde são guardados os brinquedos; dois balanços de plástico; um trocador,
onde são feitas as trocas de roupa e fralda e onde são guardadas as mochilas dos bebês,
penduradas em ganchos na parede; um ambiente, dividido por um cercado, onde é
feita a preparação dos alimentos, a alimentação dos bebês, onde são guardados os babys
(balanço de pano) e onde há uma televisão e um rádio.
Percebeu-se que a sala de aula é pouco utilizada para estimular a aprendizagem
e o desenvolvimento dos bebês, sendo esta desprovida de recursos visuais, sonoros e
olfativos que possibilitem que os bebês interajam e desenvolvam suas capacidades.

2 BREVE TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL


Por muitos anos, a educação das crianças era responsabilidade exclusiva das
famílias. No Brasil, com o objetivo de diminuir a mortalidade infantil, a desnutrição,

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acidentes domésticos e auxiliar as mães pobres que trabalhavam fora de casa, surgiram
as creches, cujo caráter era apenas assistencialista, diferentemente de outros países, que
já possuíam creches de caráter pedagógico.
Somente a partir da Constituição Federal de 1988, a Educação Infantil foi inserida
no sistema de educação e passou a ter caráter também pedagógico, ou seja, além de
cuidar, as escolas também deveriam proporcionar momentos e atividades educativas às
crianças. Mais tarde surgiram outras leis e documentos para assegurar a qualidade da
Educação Infantil.
A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, conforme a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB) nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
artigo 29: “Tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco)
anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação
da família e da comunidade”. Portanto, a Educação Infantil não deve focar unicamente
seu atendimento às necessidades físicas das crianças, mas também proporcionar
momentos de desenvolvimento psicológico, intelectual e social.
No Brasil, a Educação Infantil é oferecida na modalidade creche, atendendo
crianças de até 3 anos, e na modalidade pré-escola, atendendo crianças de 4 a 5 anos.
De acordo com os dados do Censo Escolar de 2012 (MEC/INEP/DEED), 2.540.791
crianças estão matriculadas em creches, dos quais 60% frequentam escolas municipais
e 40% escolas privadas.
As Escolas de Educação Infantil têm se tornado, ao longo de sua trajetória histórica,
uma instituição que acolhe as crianças, uma vez que as famílias precisam sair para o
mercado de trabalho. Entretanto, para além de ser um lugar seguro de deixar as crianças
enquanto os pais trabalham, as instituições precisam voltar-se ao desenvolvimento das
crianças, organizando propostas pedagógicas adequadas aos interesses e necessidades
infantis. Nesse sentido, a educação infantil deve ser oferecida com qualidade,
proporcionando espaços e ambientes adequados, educativos e acolhedores para que as
crianças possam se desenvolver de forma integral.
Muitas escolas ainda acreditam que a creche não precisa proporcionar um ambiente
e proposta educativa, já que as crianças de até 3 anos necessitam de mais cuidados
assistenciais, porém há inúmeros estudos que apresentam que as crianças dessa faixa
etária também podem e devem ser estimuladas a aprender e a se desenvolver desde
cedo. Sendo assim, o artigo tem como objetivo apresentar a relevância dos modos como
pensamos a organização do espaço de forma a contribuírem para o desenvolvimento e
as aprendizagens dos bebês, assim como a possibilidade de vincular o cuidar e o educar
nas turmas com crianças de zero a um ano.

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3 A IMPORTÂNCIA DE EXPLORAR OS ESPAÇOS COM OS BEBÊS


Nas escolas infantis, os bebês passam a maior parte do tempo dentro da sala de
aula, já que as professoras estão constantemente envolvidas com o cuidar. Por isso, será
que esse ambiente não deve ser estimulador? E será que os outros espaços da escola
são importantes para que eles vivenciem diferentes experiências e enriqueçam suas
aprendizagens?
Sabemos que os cuidados assistenciais são muito importantes para que os bebês
tenham suas necessidades supridas, porém, além desses cuidados, é papel dos educadores
criarem oportunidades para que eles aprendam e se desenvolvam de forma integral.

A Educação Infantil não pode apenas priorizar os cuidados básicos da saúde,


alimentação, higiene e sono, nem ser um substituto da família, mas ampliar todos
estes itens, porque a criança é rica em conhecimento, cultura, criatividade e está
em constante desenvolvimento (SCHIAVO; RIBÓ, 2007, p.7).

Segundo Schiavo e Ribó (2007), é nos primeiros seis anos de vida que a criança
deve ser mais estimulada para que desenvolva seus diferentes sentidos, se torne ativa,
autônoma, segura, entre outros.

A oportunidade de a criança ser estimulada tem uma fase específica ou momento


no seu desenvolvimento e ela é essencial de zero a seis anos, enquanto seu cérebro
ainda está cheio de janelas abertas, prontas para os conhecimentos e informações.
A falta dos estímulos ou estímulos inadequados, nesta fase, pode trazer prejuízos
e perda de experiências e oportunidades. O trabalho integrado dos estímulos
afetivos, físicos, cognitivos e sensoriais, e a interação de todos com o meio social é o
que dá os instrumentos necessários à criança para a formação da sua personalidade
e para a construção do conhecimento; quando estimulada, a criança é mais ativa;
dinâmica; realiza melhor as atividades propostas; é mais segura; tem uma boa
socialização; é autônoma e tem personalidade (SCHIAVO; RIBÓ, 2007, p.8).

Os bebês conhecem o mundo a partir dos sentidos. Por isso, tudo o que há no
contexto escolar deve proporcionar um ambiente iluminado, aconchegante, estimulante,
como, por exemplo: a cor das paredes, os objetos disponíveis, os sons, os aromas, entre
outros. Portanto,

Os primeiros anos da infância são primordiais para que a criança esteja em um


ambiente estimulador, prazeroso e lúdico, com oportunidades para desenvolver
seus sentidos e habilidades. Quanto mais ela participa das experiências físicas,
afetivas e sociais, maiores serão o enriquecimento e o desenvolvimento de sua
inteligência (SCHIAVO; RIBÓ, 2007, p.4).

A sala de aula deve possuir espaços desafiadores para que os bebês possam explorar
e vivenciar diferentes sensações. Ao longo da nossa prática no Estágio Supervisionado

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na Educação Infantil I, procuramos disponibilizar aos bebês diferentes recursos: pano


com texturas anexado a um berço, possuindo diferentes sensações de texturas, como:
liso, áspero, macio, duro, e por meio do tapete das sensações contendo espelho, velcro,
argolas, sementes, botões costurados com barbante ou elástico.
Outra situação de aprendizagem desenvolvida que proporcionou diferentes
sensações e desafios foram as caixas personalizadas. Elas, foram cortadas em algumas
faces, em formatos de círculo, quadrado, triângulo e retângulo, por onde as crianças
podiam espiar, entrar e sair, e contendo diferentes materiais, como: lixa, feltro, cd,
papel celofane, E.V.A, chocalhos, potes com diferentes cheiros, espelho, cones, objetos
para serem anexados com velcro e imã, buzina, entre outros.
Durante a exploração desses materiais foi possível perceber que os bebês
manipulavam todos os recursos oferecidos de forma curiosa, colocando-os na boca,
puxando, sacudindo, abrindo, fechando, entre outros, construindo novas aprendizagens,
aprimorando seus sentidos, vivenciando diferentes desafios e experiências de sons,
sabores, aromas, cores e texturas.

A forma com que organizamos o espaço interfere de forma significativa nas


aprendizagens infantis. Isto é, quanto mais este espaço for desafiador e promover
atividades conjuntas, quanto mais permitir que as crianças se descentrem da
figura do adulto, mais fortemente se constituirá como parte integrante da ação
pedagógica (HORN, 2004, p.20).

Um ambiente estimulador possui diferentes recursos que permitem que a criança


se descentre da figura do educador, ou seja, que não precise da presença próxima do
adulto o tempo todo. Quando isso ocorre, o espaço se torna um grande aliado, onde as
crianças se sentem seguras para explorá-lo, mesmo sem as intervenções constantes do
adulto. Nesse sentido Horn (2004) contribui destacando que:

Os pesquisadores constataram que, quanto mais aberta e indefinida a estrutura


do espaço, maior a concentração das crianças em torno do educador. Os
diferentes cantos das salas de aula são separados por estantes, prateleiras, móveis,
possibilitando à criança visualizar a figura do adulto, mas não precisar dele
para realizar diferentes atividades. Nesse modo de organizar o espaço, existe a
possibilidade de as crianças se descentrarem da figura do adulto, de sentirem
segurança e confiança ao explorarem o ambiente, de terem oportunidades para
contato social e momentos de privacidade (HORN, 2004, p.33).

A partir das atividades desenvolvidas, foi possível constatar que o espaço


organizado de forma educativa auxilia o bebê a se descentralizar do educador, e,
também, que o espaço rico em materiais com diferentes estímulos diminui a agitação
e o choro dos bebês. Sendo assim, é necessário estarmos atentos às possibilidades que
permitam que os bebês habitem verdadeiramente os espaços que lhe são destinados
nos contextos escolares, espaços que na maioria das vezes, não são adequados para

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que possam interagir de forma construtiva com o que lhes é oferecido. Dal Prá (2011)
afirma o seguinte sobre essa situação:

Se o espaço escolar não for o espaço estimulador, envolvente e que desperte o


interesse das crianças de alguma forma, elas tentarão demonstrar suas insatisfações.
Essas insatisfações podem ser expressas em seus comportamentos, na forma
como se relacionam uns com os outros e com a educadora. Já sabemos que a falta
de atividades significativas, espaço e brinquedos adequados para brincar gera
ansiedade e agitação (DAL PRÁ, 2011 apud JANESCH, 2013, p.1).

Para evitar essa situação de choro e impaciência dos bebês, o espaço e a sua
organização devem ser convidativos para que a criança sinta-se motivada a interagir
com o que é disposto a ela de forma segura e autônoma.

É importante considerar que o modo de organizar os materiais e colocá-los em


locais ‘convidativos e acolhedores’ no espaço da sala de aula incita as crianças à
interação, motivando o protagonismo infantil nas ações que se desenvolvem na
sala de aula (HORN, 2004, p.85).

Foi possível constatar uma tranquilidade nos bebês durante as práticas de estágio,
pois eles interagiam com o ambiente de forma curiosa e permaneciam um longo tempo
explorando o mesmo material, descentrando-se da figura do professor e sentindo-se
seguros quando esse se afastava, confirmando assim, que a organização dos espaços
influencia no comportamento e nas atitudes dos bebês. Horn (2004, p.36) evidencia
que é preciso que o ambiente de uma escola infantil seja “acolhedor, através das cores,
dos objetos, dos aromas, da harmonia e da calma que tudo isso transmitirá às crianças”.
Por meio dos diferentes recursos oferecidos no espaço da sala de aula, a partir das
práticas do Estágio, como móbiles que vinham do teto ao chão com elástico, bambolê
com tiras de TNT pendurados, fotos anexadas aos berços, entre outros, observou-se
que quanto mais recursos são oferecidos às crianças para exploração mais elas interagem
com o espaço. Segundo Horn (2004, p.19), “é fundamental a criança ter um espaço
povoado de objetos com os quais possa criar, imaginar, construir e, em especial, um
espaço para brincar”, e também que

A beleza do ambiente e o desafio dos objetos, por si só, deveriam estimular as


crianças a agir. A condição fundamental da organização desse ambiente deveria
ser a harmonia, o colorido, a disposição de móveis e de objetos que convidassem as
crianças a interagirem, a brincarem e a trabalharem (HORN, 2004, p.32).

Além de a sala de aula ser um espaço educativo, acolhedor e convidativo, é


importante que os bebês também vivenciem outros espaços, fora da sala de aula, como
o solário e o pátio da escola. Durante as situações de aprendizagem desenvolvidas,
explorando outros ambientes, como: pátio, solário e pavilhão da escola, foi possível

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perceber uma grande alegria e fascinação nas crianças ao vivenciarem situações


pedagógicas fora da sala de aula, onde estão habituadas a permanecer durante a maior
parte do dia.

[...] Dar maior atenção às características sócio-físicas dos ambientes e às relações


entre estes e a criança, garantindo a ela oportunidades de contato com espaços
variados, tanto construídos pelo homem quanto naturais, é uma maneira
de proporcionar à infância condições plenas de desenvolvimento, gerando a
consciência de si e do entorno que são provenientes da riqueza experiencial
(ELALI, 2003 apud JANESCH, 2013, p.4).

Uma das atividades desenvolvidas no solário da escola foi a exploração de dois


túneis: túnel de tule e túnel de papelão. Logo que esses materiais foram oferecidos
aos bebês, eles, curiosos, foram explorá-los com muita alegria, inicialmente observando
os chocalhos pendurados no início e no decorrer dos túneis e, em seguida, passando
por eles sem dificuldade ou insegurança. Essa atividade foi tão interessante aos bebês
que eles não cansavam de passar e explorar os objetos pendurados nos túneis, como:
chocalhos, argolas, palitos de picolé de plástico, brinquedo de borracha, entre outros.
Outros espaços explorados foram o pavilhão e o pátio da escola. No pavilhão
(espaço interno da escola, amplo e coberto), que contém pula-pula, piscina de bolinha,
escorregador, cavalinho e diversos brinquedos, os bebês puderam brincar em um espaço
mais amplo e vivenciar novas experiências, como pular (sentados, deitados ou em pé
com apoio) com auxílio de um adulto, escorregar, brincar com as bolinhas e explorar
outros brinquedos, com os quais não estavam habituados a brincar diariamente.
No pátio, os bebês puderam vivenciar a emoção de entrar em contato com bolhas
de sabão e com o gramado, vivência que os possibilitou tocar, sentir e experimentar esse
universo. Durante essas situações pôde-se perceber grande empolgação nos bebês, pois
eles, constantemente, gargalhavam e soltavam gritos de alegria ao tentarem pegar as
bolhas que se aproximavam deles.
O vivenciar outros espaços para as crianças é algo muito significativo, pois elas
são, muitas vezes, obrigadas a permanecer dentro da sala de aula a maior parte do dia,
sendo privadas do contato com a natureza, com outras crianças, outros objetos e formas
de brincar.

A organização dos espaços e dos materiais se constitui em um instrumento


fundamental para a prática educativa com crianças pequenas. Isso implica que, para
cada trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais adequada de
organizar o mobiliário dentro da sala, assim como introduzir materiais específicos
para a montagem de ambientes novos, ligados aos projetos em curso. Além disso, a
aprendizagem transcende o espaço da sala, toma conta da área externa e de outros
espaços da instituição e fora dela. A pracinha, o supermercado, a feira, o circo, o
zoológico, a biblioteca, a padaria etc. são mais do que locais para simples passeio,
podendo enriquecer e potencializar as aprendizagens (BRASIL, 1998a, p.58).

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O espaço é algo projetado, por isso ele pode ser modificado de acordo com as
relações sociais vividas ali. A sala de aula, por exemplo, pode ser transformada de
tempos em tempos, proporcionando novas experiências, explorações e aprendizagens
aos que ali se encontram.

Criar um ambiente visual satisfatório não é uma tarefa que se faz uma só vez para
sempre, mas algo que precisa acontecer de forma continua. Da mesma forma que,
em nossos lares, fazemos constantemente pequenos ajustes e melhorias, mudando
quadros de um aposento para outro, mudando luminária ou uma planta, uma
creche parecerá convidativa e bem-cuidada somente se o mesmo tipo de processo
acontecer. (GOLDSCHIED; JACKSON, 2006, p.35).

Para enriquecer os espaços pedagógicos da escola, com diferentes tipos de


materiais, não é preciso um grande investimento da escola para adquiri-los, pois não
é necessário que haja brinquedos e instrumentos sofisticados. A sucata é um recurso
excelente que pode ser aproveitado para criar inúmeros brinquedos e que também
auxilia para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças e, muitas vezes, se torna
até mais atrativo a elas do que os brinquedos comprados. Sendo assim,

O professor pode organizar o ambiente com materiais que propiciem a descoberta


e exploração do movimento. Materiais que rolem pelo chão, como cilindros e
bolas de diversos tamanhos, sugerem às crianças que se arrastem, engatinhem
ou caminhem atrás deles ou ainda que rolem sobre eles [...]. Túneis de pano
sugerem às crianças que se abaixem e utilizem a força dos músculos dos braços
e das pernas para percorrer seu interior. Móbiles e outros penduricalhos sugerem
que as crianças exercitem a posição ereta, nas tentativas de erguer-se para tocá-los
(BRASIL, 1998b, p.35).

Todas essas experiências foram proporcionadas durante a prática docente na escola,


a partir de materiais confeccionados com sucata, como: cilindros de rolo de papel
higiênico, túnel de tule e de caixa de papelão com penduricos, instrumentos musicais
com latas e caixas e móbiles de diferentes materiais pendurados com elástico. Pode-
se observar que houve um avanço na motricidade de alguns bebês, pois eles ficavam
curiosos com os materiais oferecidos e tentavam arrastar-se, esticar e erguer-se para
explorá-los.
Por meio do Estágio Supervisionado na Educação Infantil foi possível concluir
que a forma com que o ambiente da sala de aula está organizado é fundamental para
enriquecer o desenvolvimento e a aprendizagem dos bebês. Nesse sentido, observou-se
que a organização desse espaço influencia nas relações estabelecidas entre os bebês,
pois, quando o espaço está organizado de modo a estimular os bebês, as relações e
interações entre criança-criança se fortalecem, uma vez que não ficam tão dependentes
do adulto.

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Observou-se ainda a relevância dos espaços fora da sala de aula, na medida em


que representam possibilidades em que os bebês podem sair das “quatro paredes” para
explorar outros ambientes, que geralmente são destinados e explorados pelas crianças
maiores. Esses momentos de saída da sala foram os mais animados, pois se percebeu
uma alegria enorme expressa pelos bebês. Também, a partir dos materiais oferecidos às
crianças, foi possível mostrar que as situações de aprendizagens proporcionadas a partir
do contato com materiais diversificados proveniente do descarte da sociedade, a sucata,
fazem diferença muito significativa no desenvolvimento das crianças.
A escola de Educação Infantil tem um papel fundamental em relação ao
desenvolvimento integral das crianças, complementando o papel da família, conforme
previsto na LDB. Portanto, além de suprir as necessidades básicas das crianças,
em relação aos cuidados, é preciso que sejam realizadas atividades educativas que
proporcionem avanços, aprendizagens e novas experiências, tudo regado com muita
brincadeira e ludicidade.
O espaço escolar tem muito a contribuir com esse papel, pois um ambiente
adequado, acolhedor, estimulador e educativo oferece possibilidades para que as
crianças aprendam e se desenvolvam, não necessitando do professor a cada instante,
pois não é apenas o professor que ensina. Tal como aponta Fortunati (2009)

O ambiente, enfim, tem que também conseguir transmitir de imediato, a quem


entra ocasionalmente na escola de educação infantil, a imagem de uma situação
organizada, calorosa e acolhedora, em que rapidamente se detectam as marcas
das experiências que as crianças e os adultos compartilham em seu interior
(FORTUNATI, 2009, p.66)

O ambiente pode representar a realidade vivenciada na escola, ou seja, a sala de


aula das escolas de Educação Infantil devem transparecer o trabalho desenvolvido
ali, pois, segundo HORN (2004), é a partir do ambiente escolar que percebemos a
concepção pedagógica da escola.

As escolas de educação infantil têm na organização dos ambientes uma parte


importante de sua proposta pedagógica. Ela traduz as concepções de criança, de
educação, de ensino e aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser
humano do educador, que atua nesse cenário. Portanto, qualquer professor tem,
na realidade, uma concepção pedagógica explicitada no modo como planeja suas
aulas, na maneira como se relaciona com as crianças, na forma como organiza seus
espaços na sala de aula (HORN, 2004, p.61).

Os espaços educativos em que não são visíveis as experiências das crianças talvez
não proporcionem experiências significativas que valham a pena serem mostradas ou
são pobres em situações de aprendizagem. A escola precisa acreditar no potencial do

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Cláudia Inês Horn, Pauline Osterkamp, Soraine Teresa Krindges

seu espaço e transformá-lo em prol do desenvolvimento das crianças, que permanecem


nesse ambiente a maior parte do dia.

É importante dizer que a grande maioria das crianças pequenas que freqüentam
esta instituição passa nela, aproximadamente, doze horas diárias. O tempo de
convívio com outras pessoas, outros objetos, outros espaços e outros tempos
torna-se muito reduzido. Este dado revela que o tempo-espaço da creche exerce
na vida da criança um papel fundamental e distinto dos demais tempos e espaços
(escola, família, rua, entre outros), exigindo que seja pensado, discutido e refletido
(BATISTA, 2008 apud JANESCH, 2013, p.3).

Sendo assim, a escola de Educação Infantil não é apenas um local seguro para
deixar as crianças enquanto os pais trabalham, ou seja, não é apenas um local que deve
prestar serviços assistencialistas garantindo a saúde das crianças, mas sim, deve ser
um local onde a criança possa aprender e se desenvolver de forma integral, a partir do
convívio e das relações sociais estabelecidas entre as pessoas e com o ambiente.

Se acreditamos que a criança aprende em interação com outras crianças, em um


meio que é eminentemente social, como consequência, a forma como dispomos
os móveis e os objetos na sala de aula, assim como os relacionamentos que se
estabelecem, serão fatores determinantes no desenvolvimento infantil (HORN,
2004, p.98).

Por fim, cabe ressaltar que a escola de educação infantil, além de cuidar das
crianças, deve ser um local que lhes proporciona inúmeras vivências e aprendizagens, e
que cabe aos profissionais refletirem sobre esse aspecto no Projeto Pedagógico da escola.
Para isso, um ótimo recurso a favor do professor são os espaços da escola, que, se bem
organizados, enriquecidos e estimulados, geram grandes aprendizagens e experiências
aos bebês.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Censo Escolar de 2012. Brasília: MEC/INEP/DEED, 2012. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/205847143/Resumo-Tecnico-Censo-Educacao-Basica-2012>.
Acesso em: 11 agosto 2013.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de


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BRASIL: Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a


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Caderno pedagógico, Lajeado, v. 11, n. 2, p. 102-112, 2014. ISSN 1983-0882 111


A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS ESCOLARES VOLTADOS À APRENDIZAGEM...

FORTUNATI, Aldo. A educação infantil como projeto da comunidade: crianças,


educadores e pais nos novos serviços para a infância e a família: a experiência de San Miniato.
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GOLDSCHMIED, Elinor. JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: O atendimento em


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