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Processo Civil – Tutela Coletiva

600.06
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários
e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Tutela Coletiva – Continuação ................................................................................ 2
1.1 Ações pseudoindividuais .................................................................................... 2
1.2 Classificação de Edilson Vitorelli ........................................................................ 3
2. Coisa julgada no processo coletivo......................................................................... 3
2.1 Limites da coisa julgada ...................................................................................... 4
2.2 Questões sobre o regime jurídico da coisa julgada coletiva .............................. 8
3. Relação entre demandas Coletivas e Individuais ................................................. 12
3.1 Sistemas de relação entre as demandas .......................................................... 12
3.2 Relações entre demandas no processo individual ........................................... 13
3.3 Relações entre demandas no processo coletivo (conexidade e litispendência)
14
3.4 Critério para a reunião/unificação de demandas coletivas relacionadas ........ 17
4. Competência nas ações coletivas ......................................................................... 18
4.1 Critério funcional .............................................................................................. 18
4.2 Critério material ............................................................................................... 21
4.3 Critério valorativo ............................................................................................. 24
4.4 Critério territorial ............................................................................................. 25
4.5 A inexistência de juízo universal para as ações individuais.............................. 26
5. Execução, liquidação e cumprimento de sentença .............................................. 26
5.1 Direitos difusos e coletivos ............................................................................... 27
5.2 Direitos individuais homogêneos ..................................................................... 30
5.3 Observações finais sobre liquidação e execução ............................................. 34
6. Prescrição e Decadência ....................................................................................... 36
7. Ação Civil Pública .................................................................................................. 40
7.1 Origem, previsão legal e sumular ..................................................................... 40
7.2 Tutela preventiva e tutela reparatória ............................................................. 42
7.3 Dano Moral Coletivo e Dano Social .................................................................. 44

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e na jurisprudência dos Tribunais.

1. Tutela Coletiva – Continuação


Em retorno ao tema da tutela coletiva, uma observação importante deve ser feita.
Imagine situação que envolva aplicação financeira com cláusula contratual abusiva (em
que haja publicidade enganosa). Observe-se que se trata de direito coletivo em sentido
estrito, pois pensar em anular a cláusula para aqueles que já aderiram aos contratos implica
em reconhecer que não se pode anular a cláusula para uns e não para os outros. Além disso,
as pessoas do grupo são ligadas por relação jurídica base (o contrato) e os contratantes são
determináveis. O pedido de anulação da cláusula em eventual Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público é pedido que envolve direito coletivo em sentido estrito, por óbvio.
Nesta mesma Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público, o pedido de anulação
da cláusula pode estar cumulado com o de indenização em favor daqueles que tiveram
aplicações financeiras reduzidas abusivamente em virtude da referida cláusula. O valor da
indenização dependerá do valor que cada indivíduo possuía aplicado.
Portanto, na mesma Ação Civil Pública, um pedido envolve direito coletivo em sentido
estrito (anulação da cláusula abusiva) e outro envolve direito individual homogêneo
(indenização em favor daqueles que tiveram aplicações financeiras reduzidas abusivamente
em virtude da referida cláusula).
É possível ainda que se peça na Ação Civil Pública a condenação para que não se
coloque essa cláusula em contratos futuros e para que se impeça a propaganda enganosa.
Neste caso, o pedido o pedido envolve grupo atualmente indeterminável (os futuros
contratantes) e tutela, dessa forma, direito difuso.
Segundo Nelson Nery Jr., na prática, o mesmo fato pode dar ensejo a ações coletivas
para a tutela de diferentes interesses, de modo que o que define se se trata de direito difuso,
coletivo ou individual homogêneo é o caso concreto, o direito afirmado na inicial, o tipo de
pretensão material e tutela jurisdicional pretendida (mas CUIDADO: um mesmo interesse não
pode ser simultaneamente difuso, coletivo e individual homogêneo).
Constitui erro comum supor que, em ação civil pública ou coletiva, só se possa discutir,
por vez, uma só espécie de interesse transindividual.

1.1 Ações pseudoindividuais


São ações individuais cujos resultados geram necessariamente efeitos sobre toda uma
coletividade quando a relação jurídica substancial é incindível.
Exemplo: indivíduo impetra Mandado de Segurança pedindo a anulação de prova de
concurso.

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Nessas hipóteses, Kazuo Watanabe defende a vedação dos processos individuais, o


que Fredie Didier descarta, por limitar o acesso à Justiça. A doutrina tenta corrigir essa falha
sistemática através do litisconsórcio ao propor a inclusão dos outros sujeitos que serão
afetados pela decisão (todos os que fizeram o concurso, para manter-se em continuação do
exemplo dado acima).

1.2 Classificação de Edilson Vitorelli


Edilson Vitorelli elabora uma teoria dos litígios coletivos, que busca classificá-los em
globais, locais e irradiados, de acordo com os impactos efetivamente provocados pela lesão.
Eis a divisão proposta pelo autor:
 Litígios coletivos de difusão global – são os litígios coletivos em que a lesão ou
a ameaça atinge os indivíduos de maneira uniforme e em que há baixo conflito
interno com maior possibilidade de autocomposição;
 Litígios coletivos de difusão local – são aqueles nos quais a lesão atinge um
grupo de pessoas com identidade comum ou de mesma perspectiva social.
Exemplo: comunidades tradicionais, minorias, trabalhadores, etc. Nessa
modalidade, é possível observar média conflituosidade; e
 Litígios coletivos de difusão irradiada – ocorre nos casos de lesão que atinge
pessoas de segmentos sociais diversos. Em razão da alta conflituosidade
presente nesses litígios, a probabilidade de autocomposição é reduzida e a
legitimidade, segundo o autor, deve ser dada a um órgão que possua atuação
mais abstrata e que não esteja ligado a um grupo específico (com pertinência
temática). No sistema brasileiro, esse órgão seria o Ministério Público.
Observe-se que a pretensão dessa tipologia é substituir o elenco de direitos coletivos
oferecido pelo Código de Defesa do Consumidor (difusos, coletivos em sentido estrito e
individuais homogêneos).

2. Coisa julgada no processo coletivo


Esse tema é o mais trabalhoso/complicado no processo coletivo.
É preciso fazer um paralelo com o processo individual. Relembre-se, para este fim, que
a definição de LIEBMAN propõe não se tratar de um efeito da sentença (os efeitos são
declaratórios, condenatórios ou constitutivos, conforme doutrina trinária), mas sim uma
qualidade dos efeitos da sentença que a torna insuscetível de revisão.
O Novo Código de Processo Civil assim dispõe:

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Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e
indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites
da questão principal expressamente decidida.

2.1 Limites da coisa julgada


O regime jurídico da coisa julgada é visualizado a partir da análise de três dados:
(i) limites objetivos – o que se submete a seus efeitos;
(ii) limites subjetivos – quem se submete a ela e;
(iii) modo de produção – como ela se forma.
O artigo 503 do NCPC define que a questão principal expressamente decidida é o que
se torna imutável.
No âmbito do processo individual, o regime jurídico da coisa julgada é assim definido:
 Limites objetivos: A coisa julgada limita-se a atingir o conteúdo disposto na
norma jurídica individualizada do DISPOSITIVO da sentença;
NCPC
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites
da questão principal expressamente decidida.

 Limites subjetivos: A coisa julgada produz efeitos INTRA PARTES.


NCPC
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando
terceiros.

 Modo de produção: A coisa julgada é PRO ET CONTRA, se formando


independentemente do resultado do processo.
Já no processo coletivo, a regra geral em relação aos limites objetivos continua a ser
aplicada. No entanto, a coisa julgada encontrará outros limites subjetivos. A coisa julgada será
erga omnes ou ultra partes (pois atinge terceiros), mas jamais intra partes (não poderá jamais
beneficiar apenas as partes envolvidas).
Neste caso, a ideia do processo coletivo é exatamente o oposto, visando abranger
também quem não foi parte, mas sempre tendo atenção para não interferir injustamente nas
garantias do indivíduo titular do direito subjetivo (que poderia ficar sujeito à “imutabilidade”

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de uma decisão da qual não participou) e não gerar a exposição indefinida do réu ao Judiciário,
nem violar a necessária estabilidade jurídica do Estado (que não pode revisar a todo tempo o
que já foi decidido).
Ademais, quanto ao modo de produção a coisa julgada só pode ser benéfica: secundum
eventum litis ou probationis. Assim, nem sempre haverá coisa julgada.
Regem o tema os artigos 103 e 104 do Código de Defesa do Consumidor, artigo 16 da
Lei de Ação Civil Pública e artigo 18 da Lei de Ação Popular. No direito brasileiro, à luz desses
dispositivos, o regime da coisa julgada nas ações coletivas é secundum eventum probationis,
que, para a doutrina, é espécie de coisa julgada secundum eventum litis.
CDC
CAPÍTULO IV
Da Coisa Julgada

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de


provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art.
81; (INTERESSES DIFUSOS)

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo


improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se
tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81; (INTERESSES
COLETIVOS)

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
(INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS)

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses


e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os


interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor
ação de indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da
Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código,
mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão
proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

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§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81,
não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão
os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta
dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

LACP
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência
de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)

LAP
Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto no caso
de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer
cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

O regime jurídico da coisa julgada no plano coletivo depende do direito envolvido:


 DIREITOS DIFUSOS
a) Sentença PROCEDENTE – Eficácia erga omnes (abrange toda a sociedade);
b) Sentença IMPROCEDENTE – Eficácia erga omnes, impedindo nova ação coletiva,
salvo no caso de falta de provas (secundum eventum probationis). Mas atente: a ação
individual nunca será prejudicada. No caso de falta de provas, é possível propor nova ação
coletiva.
 DIREITOS COLETIVOS
a) Sentença PROCEDENTE – Eficácia ultra partes (abrange toda a classe);
b) Sentença IMPROCEDENTE – Eficácia ultra partes (abrange toda a classe), impedindo
nova ação coletiva, salvo no caso de falta de provas (secundum eventum probationis). Mas
atente: a ação individual nunca será prejudicada. No caso de falta de provas, é possível propor
nova ação coletiva.
 DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
a) Sentença PROCEDENTE – Eficácia erga omnes (abrange toda a sociedade);

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b) Sentença IMPROCEDENTE – Eficácia erga omnes, impedindo nova ação coletiva,


mesmo no caso de falta de provas. Mas atente: a ação individual nunca será prejudicada.
Observe-se a ementa do Recurso Especial no qual se decidiu que nas ações coletivas
intentadas para a proteção de interesses ou direitos individuais homogêneos, a sentença fará
coisa julgada erga omnes apenas no caso de procedência do pedido. No caso de
improcedência, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes
poderão propor ação de indenização a título individual.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO COLETIVO. DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. MEDICAMENTO "VIOXX". ALEGAÇÃO DE DEFEITO DO PRODUTO. AÇÃO
COLETIVA JULGADA IMPROCEDENTE. TRÂNSITO EM JULGADO. REPETIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 81, INCISO III, E 103, INCISO III E § 2º, DO
CDC. RESGUARDO DO DIREITO INDIVIDUAL DOS ATINGIDOS PELO EVENTO DANOSO.
DOUTRINA. 1. Cinge-se a controvérsia a definir se, após o trânsito em julgado de decisão
que julga improcedente ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos, é
possível a repetição da demanda coletiva com o mesmo objeto por outro legitimado em
diferente estado da federação. 2. A apuração da extensão dos efeitos da sentença
transitada em julgado proferida em ação coletiva para a defesa de direitos individuais
homogêneos passa pela interpretação conjugada dos artigos 81, inciso III, e 103, inciso III
e § 2º, do Código de Defesa do Consumidor. 3. Nas ações coletivas intentadas para a
proteção de interesses ou direitos individuais homogêneos, a sentença fará coisa julgada
erga omnes apenas no caso de procedência do pedido. No caso de improcedência, os
interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor
ação de indenização a título individual. 4. Não é possível a propositura de nova ação
coletiva, mas são resguardados os direitos individuais dos atingidos pelo evento danoso.
5. Em 2004, foi proposta, na 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, pela
Associação Fluminense do Consumidor e Trabalhador - AFCONT, ação coletiva com o
mesmo objeto e contra as mesmas rés da ação que deu origem ao presente recurso
especial. Com o trânsito em julgado da sentença de improcedência ali proferida, ocorrido
em 2009, não há espaço para prosseguir demanda coletiva posterior ajuizada por outra
associação com o mesmo desiderato. 6. Recurso especial não provido. REsp 1302596 / SP

Observação: Fredie Didier tem posicionamento contrário (e mais coerente, segundo o


professor) de que, diante da integratividade do microssistema coletivo, também será
secundum eventum probationis a coisa julgada coletiva sobre os direitos individuais
homogêneos. Mas não é isso que prevalece.
Observação: quem ingressa como assistente litisconsorcial em Processo Coletivo sofre
a coisa julgada, ainda que lhe prejudique (inciso II, Art. 103, CDC).

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2.2 Questões sobre o regime jurídico da coisa julgada coletiva


 Incidência da coisa julgada coletiva sobre quem já tem ação individual em
curso
De acordo com o art. 104 do CDC, para o autor da ação individual já proposta
aproveitar o transporte in utilibus da coisa julgada coletiva, deverá requerer a suspensão da
sua ação individual em 30 dias, a contar da data em que o autor é avisado, nos autos da ação
individual, de que há uma ação coletiva (exercício da opção de ser excluído da abrangência da
decisão coletiva, chamado no sistema norte-americano do class action de right to opt out).
CDC
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão
os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta
dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Se eventualmente o autor pedir a suspensão da sua ação individual, e a ação coletiva


for julgada procedente, ele será beneficiado (mas não prejudicado). Caso não peça a
suspensão de sua ação individual, o autor não será beneficiado pela coisa julgada coletiva.
Assim, é possível extrair a regra implícita de que a coisa julgada individual prevalece
sobre a coisa julgada coletiva.
Essa suspensão da ação individual é faculdade da parte ou o juiz pode determinar de
ofício? A literalidade do art. 104 do CDC informa que a suspensão do processo é uma faculdade
da parte.
O Superior Tribunal de Justiça, ao decidir Recurso Especial representativo de
controvérsia, dispôs que seguindo o recurso o rito do art. 543-C do CPC, a ampliação objetiva
(territorial) e subjetiva (efeitos "erga omnes") da eficácia do acórdão decorre da própria
natureza da decisão proferida nos recursos especiais representativos de controvérsia,
atingindo todos os processos em que se discuta a mesma questão de direito em todo o
território nacional.
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC).
TEMA 710/STJ. DIREITO DO CONSUMIDOR. ARQUIVOS DE CRÉDITO. SISTEMA "CREDIT
SCORING". COMPATIBILIDADE COM O DIREITO BRASILEIRO.
LIMITES.
DANO MORAL.
I - TESES: 1) O sistema "credit scoring" é um método desenvolvido para avaliação do risco
de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas variáveis,
com atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito) 2)
Essa prática comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei
n. 12.414/2011 (lei do cadastro positivo). 3) Na avaliação do risco de crédito, devem ser
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respeitados os limites estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido


da tutela da privacidade e da máxima transparência nas relações negociais, conforme
previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011. 4) Apesar de desnecessário o consentimento do
consumidor consultado, devem ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados,
acerca das fontes dos dados considerados (histórico de crédito), bem como as informações
pessoais valoradas. 5) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema "credit
scoring", configurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC), pode ensejar a
responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do responsável pelo banco
de dados, da fonte e do consulente (art. 16 da Lei n. 12.414/2011) pela ocorrência de
danos morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou sensíveis (art. 3º,
§ 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011), bem como nos casos de comprovada recusa indevida de
crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.
II - CASO CONCRETO: A) Recurso especial do CDL: 1) Violação ao art. 535 do CPC.
Deficiência na fundamentação. Aplicação analógica do óbice da Súmula 284/STF. 2)
Seguindo o recurso o rito do art. 543-C do CPC, a ampliação objetiva (territorial) e
subjetiva ( efeitos "erga omnes") da eficácia do acórdão decorre da própria natureza da
decisão proferida nos recursos especiais representativos de controvérsia, atingindo
todos os processos em que se discuta a mesma questão de direito em todo o território
nacional. 3) Parcial provimento do recurso especial do CDL para declarar que "o sistema
"credit scoring" é um método de avaliação do risco de concessão de crédito, a partir de
modelos estatísticos, considerando diversas variáveis, com atribuição de uma pontuação
ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito)" e para afastar a necessidade de
consentimento prévio do consumidor consultado.
B) Recursos especiais dos consumidores interessados: 1) Inviabilidade de imediata
extinção das ações individuais englobadas pela presente macro-lide (art. 104 do CDC),
devendo permanecer suspensas até o trânsito em julgado da presente ação coletiva de
consumo, quando serão tomadas as providências previstas no art. 543-C do CPC (Recurso
Especial n. 1.110.549-RS). 2) Necessidade de demonstração de uma indevida recusa de
crédito para a caracterização de dano moral, salvo as hipóteses de utilização de
informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011). 3) Parcial
provimento dos recursos especiais dos consumidores interessados apenas para afastar a
determinação de extinção das ações individuais, que deverão permanecer suspensas até
o trânsito em julgado do presente acórdão.
III - RECURSOS ESPECIAIS PARCIALMENTE PROVIDOS.
(REsp 1457199/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 12/11/2014, DJe 17/12/2014)

 Incidência da coisa julgada coletiva sobre quem já tem coisa julgada


individual
Na superveniência de ação coletiva quando já há coisa julgada individual, ou seja, se a
ação individual já foi julgada improcedente (com trânsito em julgado) e depois veio uma

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coletiva procedente (difusos, coletivos ou individuais homogêneos), o indivíduo pode se


beneficiar dela? Há divergência:
Corrente 1 (Ada Pellegrini): O indivíduo não pode se beneficiar com a coisa julgada
coletiva superveniente.
Corrente 2 (Hugo Nigro Mazzilli): O indivíduo pode se beneficiar, com base em 2
fundamentos: (i) preservação da igualdade; (ii) como não houve opção para a parte suspender
a ação individual, em vista da inexistência de ação coletiva, ela deve ser beneficiada.
Não há jurisprudência sobre o assunto.

 Extensão territorial da coisa julgada coletiva


Segundo o artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública e 2º-A da lei 9.494/97, uma vez
proferida uma sentença no processo coletivo, a sentença só vale no território onde o juiz tem
competência.
Art. 16 da lei 7.347/85. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente
por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Art. 2º-A da lei 9.494/97. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta
por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados,
abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio
no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória
nº 2.180-35, de 2001)

Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá
obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos
respectivos endereços. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

A doutrina, de modo unânime/uniforme, estabelece que este artigo 16 é


inconstitucional e ineficaz. Ela critica esses dispositivos:
CASSIO SCARPINELA diz que esses dispositivos são formalmente inconstitucionais, pois
derivam de medidas provisórias (posteriormente convertidas em lei) que não atendiam aos
requisitos constitucionais da urgência e relevância.

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NELSON NERY JR., MAZZILLI E DIDIER dizem que esses dispositivos são materialmente
inconstitucionais pela falta de razoabilidade, pois o legislador confundiu dois institutos de
processo que não se confundem: coisa julgada e competência.
Muita atenção: o Superior Tribunal de Justiça (REsp 1243887/PR), através da sua Corte
Especial, fixou entendimento diverso daquele que era dominante. Atualmente, entende o
Superior Tribunal de Justiça que as sentenças e acórdãos nas ações civis públicas agora valerão
para todo o País, não tendo mais sua execução limitada ao município onde foram proferidas.
DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART. 543-C, CPC).
DIREITOS METAINDIVIDUAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO X BANESTADO. EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS. EXECUÇÃO/LIQUIDAÇÃO INDIVIDUAL.
FORO COMPETENTE. ALCANCE OBJETIVO E SUBJETIVO DOS EFEITOS DA SENTENÇA
COLETIVA. LIMITAÇÃO TERRITORIAL. IMPROPRIEDADE. REVISÃO JURISPRUDENCIAL.
LIMITAÇÃO AOS ASSOCIADOS. INVIABILIDADE. OFENSA À COISA JULGADA.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A liquidação e a execução individual de sentença
genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do
beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a
lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-
se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses
metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474, CPC e 93 e 103, CDC). 1.2. A
sentença genérica proferida na ação civil coletiva ajuizada pela Apadeco, que condenou
o Banestado ao pagamento dos chamados expurgos inflacionários sobre cadernetas de
poupança, dispôs que seus efeitos alcançariam todos os poupadores da instituição
financeira do Estado do Paraná. Por isso descabe a alteração do seu alcance em sede de
liquidação/execução individual, sob pena de vulneração da coisa julgada. Assim, não
se aplica ao caso a limitação contida no art. 2º-A, caput, da Lei n. 9.494/97. 2. Ressalva
de fundamentação do Ministro Teori Albino Zavascki. 3. Recurso especial parcialmente
conhecido e não provido. (REsp 1243887/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE
ESPECIAL, julgado em 19/10/2011, DJe 12/12/2011)

Pela nova sistemática, quando um direito coletivo for reconhecido pela Justiça, quem
se julgar beneficiado terá apenas de entrar com uma petição judicial informando que foi
favorecido por essa decisão. O beneficiário também poderá ajuizar o pedido na cidade onde
mora ou no local onde a sentença ou o acórdão foi proferido, conforme sua conveniência.
Em provas de concursos, recomenda-se adotar a ideia de que a liquidação e a execução
individual de sentença genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do
domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos
a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em
conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais
postos em juízo.

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e na jurisprudência dos Tribunais.

Porém, se a questão perguntar de acordo com a lei, o artigo 16 deve ser recordado,
apesar de afastado pela Corte Especial na decisão acima.
Pergunta-se: É possível realizar controle de constitucionalidade por meio de Ação Civil
Pública? Sim. Doutrina e Jurisprudência acordam que é possível, desde que não se trate de
controle abstrato.
Exemplo: pode-se condenar um agente em sede de Ação Civil Pública a se comportar
de determinada forma por se entender que norma “x” é inconstitucional. Trata-se de controle
difuso de constitucionalidade. Qual o efeito dessa decisão? Erga Omnes. Então, qual a
diferença entre os efeitos produzidos pela decisão desse exemplo e os efeitos de uma decisão
em sede de controle concentrado? Nenhuma.

 Teoria da relativização da coisa julgada


Aplica-se ao processo coletivo a teoria da relativização da coisa julgada (além de ser
perfeitamente cabível ação rescisória no prazo de 2 anos). Essa teoria define que, em virtude
dos avanços tecnológicos, é possível a rediscussão de questões já decididas, à luz da nova
ciência.
Exemplo: clássica é a questão da investigação de paternidade, com o surgimento do
exame de DNA. No processo coletivo, essa teoria se aplica, sobretudo, no âmbito do direito
ambiental.

3. Relação entre demandas Coletivas e Individuais


3.1 Sistemas de relação entre as demandas
No sistema brasileiro, o que define a relação entre demandas no Código de Processo
Civil é a Teoria da Tríplice Identidade (Artigo 337, § 2º, NCPC – identidade dos elementos da
ação: parte, pedido e causa de pedir).
NCPC
Art. 337 (...)
§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de
pedir e o mesmo pedido.

Esse critério da tríplice identidade não se aplica ao processo coletivo. No Processo


Coletivo, para que uma demanda seja considerada idêntica a outra, utiliza-se o critério da
Identidade da Relação Jurídica Deduzida.
A teoria da tríplice identidade é falha, razão pela qual, por vezes, os tribunais invocam
a italiana Teoria da Identidade da Relação Jurídica Material. Para essa teoria, o que distingue
as ações é a relação jurídica; direito material discutido. É a que se aplica ao processo coletivo.

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3.2 Relações entre demandas no processo individual


É possível que duas demandas possuam elementos em comum.
Identidade total: Havendo identidade total de demandas, é possível haver dois
fenômenos: coisa julgada ou litispendência. No processo individual, verificando-se qualquer
uma delas, o magistrado determina a extinção do processo sem julgamento do mérito.
NCPC
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
(...)
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
(...)

Identidade meramente parcial: Se houver identidade de pedido ou causa de pedir,


haverá o fenômeno da conexão; se o pedido de uma abrange o da outra e as partes e causa
de pedir são iguais, há o fenômeno da continência. Nestes casos, no processo individual, sendo
possível, o magistrado determinará a reunião das causas para julgamento em conjunto ou
suspensão de uma das causas, se não for possível a reunião. Observem-se os dispositivos do
Novo Código de Processo Civil que prescrevem a matéria:
NCPC
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou
a causa de pedir.

§ 1o Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um


deles já houver sido sentenciado.

§ 2o Aplica-se o disposto no caput:

I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato


jurídico;

II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.

§ 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de
prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente,
mesmo sem conexão entre eles.

Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade
quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange
o das demais.

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(...)

No processo coletivo, os efeitos das relações entre demandas são diversos, como a
seguir será descrito.

3.3 Relações entre demandas no processo coletivo (conexidade e litispendência)


No processo coletivo, quem define as consequências da identidade total ou parcial da
demanda é o sistema, de modo que ele pode dar soluções distintas caso a caso.

 Ação coletiva x ação individual


A ação coletiva não induz litispendência para a ação individual.
IDENTIDADE TOTAL (litispendência): NUNCA será possível a identidade total entre uma
ação individual e uma ação coletiva, já que as partes (legitimados coletivos) e o pedido (de
tutela de um interesse difuso ou coletivo ou, nos individuais homogêneos, de tutela genérica)
da coletiva são distintos das partes (indivíduo) e dos pedidos (pedido certo) da ação individual.
Em consequência, o artigo 104 do CDC afirma que as ações coletivas não induzem
litispendência para as ações individuais.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão
os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta
dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Embora o dispositivo não aluda às ações envolvendo direitos individuais homogêneos,


a rigor, nem mesmo nestes casos haverá litispendência entre ação coletiva e ação individual.
IDENTIDADE PARCIAL (conexão/continência): É possível a identidade parcial entre
uma ação individual e uma ação coletiva apenas no que diz respeito à CAUSA DE PEDIR. Neste
caso, haverá CONEXÃO, e não litispendência.
Exemplo: Uma ação individual proposta para discutir determinada relação de consumo
e uma ação coletiva proposta pelo Ministério Público para discutir objeto que possui a mesma
causa de pedir da ação individual.
No processo coletivo, ao contrário do que ocorre no processo individual, a
consequência da identidade parcial entre ação coletiva e ação individual não é a reunião das
causas, mas sim a suspensão da ação individual. Essa suspensão pode ser facultativa
(requerida pela parte – art. 104, CDC) ou obrigatória judicial (nas ações individuais
multitudinárias).

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e na jurisprudência dos Tribunais.

O exercício do right to opt out (quando, embora informado, o indivíduo não suspende
o curso de sua ação individual - art. 104 do CDC) não implica renúncia da situação jurídica
individual.

 Ação coletiva x ação coletiva


IDENTIDADE TOTAL (litispendência): É plenamente possível a identidade total de
elementos entre duas ações coletivas. Ex: uma ação popular para impedir a privatização de
uma empresa pública numa vara em SP e uma ação popular para discutir a mesma coisa em
uma vara no RJ.
É muito comum a existência de duas ações coletivas idênticas para a proteção do meio
ambiente (uma do MPE e outra do MPF).
Qual é a consequência da litispendência em ações coletivas?
1ª Corrente (WAMBIER, ANTONIO GIDI): O caso é de EXTINÇÃO da ação repetida, mas
a parte da ação extinta poderá ingressar como litisconsorte na ação que remanesceu.
2ª Corrente (ADA GRINOVER): O caso não é de extinção, mas sim de REUNIÃO para
julgamento conjunto (mesmo efeito da conexão e continência) ou, não sendo isso possível, a
SUSPENSÃO de uma delas. Essa posição é MAJORITÁRIA na doutrina.
Observações: Em ações coletivas com pedido e causa de pedir idênticos, há
litispendência ainda que os legitimados das ações sejam diferentes, aplicando-se, no caso, a
teoria da identidade da relação jurídica e não a teoria da identidade dos elementos da ação.
Assim, é suficiente a identidade da situação jurídica substancial deduzida.
É possível que haja, até, litispendência entre duas demandas coletivas que tramitem
por ritos diversos (ação civil pública e ação popular), já que a similitude do procedimento é
irrelevante diante da atipicidade da tutela jurisdicional coletiva (que define que qualquer
procedimento pode servir à tutela de um direito coletivo). É o que o Superior Tribunal de
Justiça denomina ação popular MULTILEGITIMÁRIA (STJ, Resp 401.964/RO Dj 11/11/2002).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE. MINISTÉRIO PÚBLICO. DANO AO ERÁRIO PÚBLICO.
1. Ausência de prequestionamento que induz ao não-conhecimento do recurso.
2. A matéria constitucional é insuscetível de apreciação pelo STJ.
3. O Ministério Público é parte legítima para promover Ação Civil Pública visando ao
ressarcimento de dano ao erário público.
4. O Ministério público, por força do art. 129, III, da CF/88, é legitimado a promover
qualquer espécie de ação na defesa do patrimônio público social, não se limitando à ação
de reparação de danos. Destarte, nas hipóteses em que não atua na condição de autor,
deve intervir como custos legis (LACP, art. 5º, § 1º; CDC, art. 92;
ECA, art. 202 e LAP, art. 9º).

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e na jurisprudência dos Tribunais.

5. A carta de 1988, ao evidenciar a importância da cidadania no controle dos atos da


administração, com a eleição dos valores imateriais do art. 37, da CF como tuteláveis
judicialmente, coadjuvados por uma série de instrumentos processuais de defesa dos
interesses transindividuais, criou um microsistema de tutela de interesses difusos
referentes à probidade da administração pública, nele encartando-se a Ação Popular, a
Ação Civil Pública e o Mandado de Segurança Coletivo, como instrumentos concorrentes
na defesa desses direitos eclipsados por cláusulas pétreas.
6. Em conseqüência, legitima-se o Ministério Público a toda e qualquer demanda que vise
à defesa do patrimônio público sob o ângulo material (perdas e danos) ou imaterial (lesão
à moralidade).
7. A nova ordem constitucional erigiu um autêntico 'concurso de ações' entre os
instrumentos de tutela dos interesses transindividuais e, a fortiori, legitimou o Ministério
Público para o manejo dos mesmos.
8. A lógica jurídica sugere que legitimar-se o Ministério Público como o mais perfeito órgão
intermediário entre o Estado e a sociedade para todas as demandas transindividuais e
interditar-lhe a iniciativa da Ação Popular, revela contraditio in terminis.
9. Interpretação histórica justifica a posição do MP como legitimado subsidiário do autor
na Ação Popular quando desistente o cidadão, porquanto à época de sua edição,
valorizava-se o parquet como guardião da lei, entrevendo-se conflitante a posição de
parte e de custos legis.
10. Hodiernamente, após a constatação da importância e dos inconvenientes da
legitimação isolada do cidadão, não há mais lugar para o veto da legitimatio ad causam
do MP para a Ação Popular, a Ação Civil Pública ou o Mandado de Segurança coletivo.
11. Os interesses mencionados na LACP acaso se encontrem sob iminência de lesão por
ato abusivo da autoridade podem ser tutelados pelo mandamus coletivo.
12. No mesmo sentido, se a lesividade ou a ilegalidade do ato administrativo atingem o
interesse difuso, passível é a propositura da Ação Civil Pública fazendo as vezes de uma
Ação Popular multilegitimária.
13. As modernas leis de tutela dos interesses difusos completam a definição dos interesses
que protegem. Assim é que a LAP define o patrimônio e a LACP dilargou-o, abarcando
áreas antes deixadas ao desabrigo, como o patrimônio histórico, estético, moral, etc.
14. A moralidade administrativa e seus desvios, com conseqüências patrimoniais para o
erário público enquadram-se na categoria dos interesses difusos, habilitando o Ministério
Público a demandar em juízo acerca dos mesmos.
15. O STJ já sedimentou o entendimento no sentido de que o julgamento antecipado da
lide, não implica cerceamento de defesa, se desnecessária a instrução probatória, máxime
a consistente na oitiva de testemunhas. In casu, os fatos relevantes foram amplamente
demonstrados mediante prova documental conclusiva. Releva notar, por oportuno, que a
não-produção de provas deveu-se por culpa exclusiva da Recorrente, que, instada a se
manifestar sobre a documentação, quedou-se inerte, muito embora a causa petendi
tenha sido elucidada pela prova documental existente nos autos e insindicável nesta via (
Súmula 07 ).
16. Recurso Especial parcialmente conhecido e improvido.

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(REsp 401.964/RO, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/10/2002, DJ
11/11/2002, p. 155)

IDENTIDADE PARCIAL (conexão/continência): Se pode haver identidade total,


também é possível a identidade parcial entre as ações. A consequência da
conexão/continência será a REUNIÃO das causas para julgamento simultâneo ou, se não for
possível, a SUSPENSÃO.
STJ. Súmula 489: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as
ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual.”

3.4 Critério para a reunião/unificação de demandas coletivas relacionadas


Nessa hipótese há duas ações coletivas litispendentes ou conexas/continentes, em que
o efeito será a reunião. A reunião ocorrerá tomando por base a prevenção.
Para as ações coletivas, a legislação dispõe no artigo 2º da Lei de Ação Civil Pública e
artigo 5º da LAP:
LACP
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único: A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
(Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

LAP
DA COMPETÊNCIA

Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação,


processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado,
o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao
Município.

§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito Federal, do


Estado ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou mantidas por essas pessoas
jurídicas de direito público, bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas
e os das pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou em relação às quais tenham
interesse patrimonial.

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§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra pessoas


ou entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver; quando interessar
simultaneamente ao Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado,
se houver.

§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações, que


forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos
fundamentos.

§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo


impugnado. (Incluído pela Lei nº 6.513, de 1977)

Afirma o Novo Código de Processo Civil:


Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.

Percebe-se que quando a Lei de Ação Civil Pública utiliza a propositura como critério,
o Novo Código de Processo Civil acaba unificando, no sentido de que se leva em consideração
o registro ou distribuição da petição inicial como critério para prevenção do juízo tanto no
processo coletivo como no processo individual.

4. Competência nas ações coletivas


Tudo o que se explica a seguir se aplica, como regra geral, para todas as ações coletivas.

4.1 Critério funcional


É possível definir a competência para as ações coletivas com base em um critério
funcional? Em regra não. Ora, a regra geral é que a ação coletiva se inicia em primeira
instância, conforme a origem do ato imputado, independentemente de quem seja a
autoridade impugnada: Presidente da República, Presidente das Mesas do Senado e Câmara,
Juízes, Prefeitos etc. Inclusive ações de improbidade.
Algumas exceções constitucionais podem ser apontadas.
Quando a ação popular interessar a totalidade dos juízes estaduais e/ou ficar
configurado, após o julgamento na primeira instância, o impedimento de mais da metade dos
desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorre a
competência do STF (art. 102, I, n, CF).
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

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(...)
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados.

Quando a causa substantivar conflito entre União e Estado-membro (Pet 3.674/QO, j.


04/10/2006).
EMENTA: Competência originária do Supremo Tribunal para as ações contra o Conselho
Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público (CF, art. 102, I, r,
com a redação da EC 45/04): inteligência: não inclusão da ação popular, ainda quando
nela se vise à declaração de nulidade do ato de qualquer um dos conselhos nela referidos.
1. Tratando-se de ação popular, o Supremo Tribunal Federal - com as únicas ressalvas da
incidência da alínea n do art. 102, I, da Constituição ou de a lide substantivar conflito entre
a União e Estado-membro -, jamais admitiu a própria competência originária: ao
contrário, a incompetência do Tribunal para processar e julgar a ação popular tem sido
invariavelmente reafirmada, ainda quando se irrogue a responsabilidade pelo ato
questionado a dignitário individual - a exemplo do Presidente da República - ou a membro
ou membros de órgão colegiado de qualquer dos poderes do Estado cujos atos, na esfera
cível - como sucede no mandado de segurança - ou na esfera penal - como ocorre na ação
penal originária ou no habeas corpus - estejam sujeitos diretamente à sua jurisdição. 2.
Essa não é a hipótese dos integrantes do Conselho Nacional de Justiça ou do Conselho
Nacional do Ministério Público: o que a Constituição, com a EC 45/04, inseriu na
competência originária do Supremo Tribunal foram as ações contra os respectivos
colegiado, e não, aquelas em que se questione a responsabilidade pessoal de um ou mais
dos conselheiros, como seria de dar-se na ação popular. (Pet 3.674/QO, j. 04/10/2006).

Obs.: Houve uma tentativa legislativa de se criar foro de prerrogativa de função na


improbidade administrativa. Essa tentativa se deu através da Lei 10.628/02, que alterou a
redação do art. 84 do CPP. O STF, contudo, no julgamento da ADI 2797, declarou
inconstitucional essa lei (só a Constituição pode criar foro privilegiado).
EMENTA: I. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe de âmbito nacional" (art. 103, IX,
CF): Associação Nacional dos Membros do Ministério Público - CONAMP 1. Ao julgar, a
ADIn 3153-AgR, 12.08.04, Pertence, Inf STF 356, o plenário do Supremo Tribunal
abandonou o entendimento que excluía as entidades de classe de segundo grau - as
chamadas "associações de associações" - do rol dos legitimados à ação direta. 2. De
qualquer sorte, no novo estatuto da CONAMP - agora Associação Nacional dos Membros
do Ministério Público - a qualidade de "associados efetivos" ficou adstrita às pessoas
físicas integrantes da categoria, - o que basta a satisfazer a jurisprudência restritiva-,
ainda que o estatuto reserve às associações afiliadas papel relevante na gestão da
entidade nacional. II. ADIn: pertinência temática. Presença da relação de pertinência
temática entre a finalidade institucional das duas entidades requerentes e os dispositivos
legais impugnados: as normas legais questionadas se refletem na distribuição vertical de
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competência funcional entre os órgãos do Poder Judiciário - e, em conseqüência, entre os


do Ministério Público . III. Foro especial por prerrogativa de função: extensão, no tempo,
ao momento posterior à cessação da investidura na função dele determinante. Súmula
394/STF (cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal). Lei 10.628/2002, que
acrescentou os §§ 1º e 2º ao artigo 84 do C. Processo Penal: pretensão inadmissível de
interpretação autêntica da Constituição por lei ordinária e usurpação da competência do
Supremo Tribunal para interpretar a Constituição: inconstitucionalidade declarada. 1. O
novo § 1º do art. 84 CPrPen constitui evidente reação legislativa ao cancelamento da
Súmula 394 por decisão tomada pelo Supremo Tribunal no Inq 687-QO, 25.8.97, rel. o em.
Ministro Sydney Sanches (RTJ 179/912), cujos fundamentos a lei nova contraria
inequivocamente. 2. Tanto a Súmula 394, como a decisão do Supremo Tribunal, que a
cancelou, derivaram de interpretação direta e exclusiva da Constituição Federal. 3. Não
pode a lei ordinária pretender impor, como seu objeto imediato, uma interpretação da
Constituição: a questão é de inconstitucionalidade formal, ínsita a toda norma de
gradação inferior que se proponha a ditar interpretação da norma de hierarquia superior.
4. Quando, ao vício de inconstitucionalidade formal, a lei interpretativa da Constituição
acresça o de opor-se ao entendimento da jurisprudência constitucional do Supremo
Tribunal - guarda da Constituição -, às razões dogmáticas acentuadas se impõem ao
Tribunal razões de alta política institucional para repelir a usurpação pelo legislador de
sua missão de intérprete final da Lei Fundamental: admitir pudesse a lei ordinária inverter
a leitura pelo Supremo Tribunal da Constituição seria dizer que a interpretação
constitucional da Corte estaria sujeita ao referendo do legislador, ou seja, que a
Constituição - como entendida pelo órgão que ela própria erigiu em guarda da sua
supremacia -, só constituiria o correto entendimento da Lei Suprema na medida da
inteligência que lhe desse outro órgão constituído, o legislador ordinário, ao contrário,
submetido aos seus ditames. 5. Inconstitucionalidade do § 1º do art. 84 C.Pr.Penal,
acrescido pela lei questionada e, por arrastamento, da regra final do § 2º do mesmo
artigo, que manda estender a regra à ação de improbidade administrativa. IV. Ação de
improbidade administrativa: extensão da competência especial por prerrogativa de
função estabelecida para o processo penal condenatório contra o mesmo dignitário (§ 2º
do art. 84 do C Pr Penal introduzido pela L. 10.628/2002): declaração, por lei, de
competência originária não prevista na Constituição: inconstitucionalidade. 1. No plano
federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da União são as
previstas na Constituição da República ou dela implicitamente decorrentes, salvo quando
esta mesma remeta à lei a sua fixação. 2. Essa exclusividade constitucional da fonte das
competências dos tribunais federais resulta, de logo, de ser a Justiça da União especial em
relação às dos Estados, detentores de toda a jurisdição residual. 3. Acresce que a
competência originária dos Tribunais é, por definição, derrogação da competência
ordinária dos juízos de primeiro grau, do que decorre que, demarcada a última pela
Constituição, só a própria Constituição a pode excetuar. 4. Como mera explicitação de
competências originárias implícitas na Lei Fundamental, à disposição legal em causa
seriam oponíveis as razões já aventadas contra a pretensão de imposição por lei ordinária
de uma dada interpretação constitucional. 5. De outro lado, pretende a lei questionada

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equiparar a ação de improbidade administrativa, de natureza civil (CF, art. 37, § 4º), à
ação penal contra os mais altos dignitários da República, para o fim de estabelecer
competência originária do Supremo Tribunal, em relação à qual a jurisprudência do
Tribunal sempre estabeleceu nítida distinção entre as duas espécies. 6. Quanto aos
Tribunais locais, a Constituição Federal -salvo as hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III -,
reservou explicitamente às Constituições dos Estados-membros a definição da
competência dos seus tribunais, o que afasta a possibilidade de ser ela alterada por lei
federal ordinária. V. Ação de improbidade administrativa e competência constitucional
para o julgamento dos crimes de responsabilidade. 1. O eventual acolhimento da tese de
que a competência constitucional para julgar os crimes de responsabilidade haveria de
estender-se ao processo e julgamento da ação de improbidade, agitada na Rcl 2138, ora
pendente de julgamento no Supremo Tribunal, não prejudica nem é prejudicada pela
inconstitucionalidade do novo § 2º do art. 84 do C.Pr.Penal. 2. A competência originária
dos tribunais para julgar crimes de responsabilidade é bem mais restrita que a de julgar
autoridades por crimes comuns: afora o caso dos chefes do Poder Executivo - cujo
impeachment é da competência dos órgãos políticos - a cogitada competência dos
tribunais não alcançaria, sequer por integração analógica, os membros do Congresso
Nacional e das outras casas legislativas, aos quais, segundo a Constituição, não se pode
atribuir a prática de crimes de responsabilidade. 3. Por outro lado, ao contrário do que
sucede com os crimes comuns, a regra é que cessa a imputabilidade por crimes de
responsabilidade com o termo da investidura do dignitário acusado. (ADI 2797 / DF -
DISTRITO FEDERAL)

Portanto, não há foro por prerrogativa de função em Ação de Improbidade


Administrativa.

4.2 Critério material


O critério material leva em consideração a matéria deduzida em juízo.
JUSTIÇA ELEITORAL (art. 121, CF): Em princípio, caberá ação coletiva na Justiça
Eleitoral, desde que a causa de pedir for os assuntos relacionados no art. 121 da CF.
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos
juízes de direito e das juntas eleitorais.

§ 1º Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais,


no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e
serão inamovíveis.

§ 2º Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no
mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na
mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.

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e na jurisprudência dos Tribunais.

§ 3º São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem


esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.

§ 4º Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando:

I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;

II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais;

III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou


estaduais;

IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou


estaduais;

V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de


injunção.

Uma controvérsia surge, no entanto, em razão do artigo 105-A da Lei 9.504/97 (Lei de
Eleições):
Art. 105-A. Em matéria eleitoral, não são aplicáveis os procedimentos previstos na Lei no
7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)

Essa limitação é incabível, segundo a doutrina. Não há como afirmar uma


jurisprudência firme sobre o tema, além de não ser comum o ajuizamento de ações coletivas
na seara da justiça eleitoral.

JUSTIÇA DO TRABALHO (art. 114, CR): É perfeitamente cabível ação coletiva na Justiça
do Trabalho. Basta ler a Súmula 736 do STF:
“Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o
descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos
trabalhadores.”.

Exemplo comum: Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho, para
a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados direitos sociais.
Outro exemplo: Ações de nulidade de cláusula de contrato coletivo ou convenção
coletiva.

JUSTIÇA FEDERAL: Aqui, a competência adota predominantemente o critério do


interesse direto e imediato da União, e não o critério da natureza do bem disputado. O que

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e na jurisprudência dos Tribunais.

define se a ação coletiva vai para a federal ou fica na estadual é o interesse das entidades
mencionadas no art. 109 da Constituição Federal.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa


domiciliada ou residente no País;

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou


organismo internacional;

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços


ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o


constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;

VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,


excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar;

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

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XI - a disputa sobre direitos indígenas.

§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.

§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que
for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados


ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e
segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada
essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e
julgadas pela justiça estadual.

§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal


Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da


República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

JUSTIÇA ESTADUAL: Merece atenção a redação da Súmula 150 do Superior Tribunal


de Justiça:
“Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a
presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.”.

De acordo com este enunciado, não é atribuição do juiz estadual julgar se entidade da
União tem ou não interesse na causa.

4.3 Critério valorativo


No âmbito nacional, o critério valorativo só serve hoje para decidir a competência dos
juizados. Com efeito, de acordo com o art. 3º, I da Lei 10.259/01, não cabe ação coletiva nos
juizados (cíveis ou federais).
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de
competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como
executar as suas sentenças.

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§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado
de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais
e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos,
coletivos ou individuais homogêneos;

4.4 Critério territorial


A posição que prevalece na doutrina, com larga vantagem, e também no Superior
Tribunal de Justiça é que qualquer que seja o interesse metaindividual (difusos, coletivos ou
individuais homogêneos), aplica-se a regra do art. 93 do CDC, que dispõe o seguinte:
Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça
local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito


nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de
competência concorrente.

Leia-se o que decidiu o Superior Tribunal de Justiça em sede de Recurso Especial:


PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO DE ÂMBITO
REGIONAL. COMPETÊNCIA DA VARA DA CAPITAL PARA O JULGAMENTO DA DEMANDA.
ART. 93 DO CDC.
1. O art. 93 do CDC estabeleceu que, para as hipóteses em que as lesões ocorram apenas
em âmbito local, será competente o foro do lugar onde se produziu o dano ou se devesse
produzir (inciso I), mesmo critério já fixado pelo art. 2º da LACP. Por outro lado, tomando
a lesão dimensões geograficamente maiores, produzindo efeitos em âmbito regional ou
nacional, serão competentes os foros da capital do Estado ou do Distrito Federal (inciso
II).
2. Na espécie, o dano que atinge um vasto grupo de consumidores, espalhados na grande
maioria dos municípios do estado do Mato Grosso, atrai ao foro da capital do Estado a
competência para julgar a presente demanda.
3. Recurso especial não provido.
(REsp 1101057/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
07/04/2011, DJe 15/04/2011)

Se o dano for local: a competência é do juízo do local do dano.

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Cuidado: no passado, a Súmula 193/STJ estabelecia: “compete ao Juiz Estadual, nas


Comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública,
ainda que a União figure no processo”.
Esse enunciado estabelecia hipótese de delegação de competência. Ocorre que, em
2000, o Superior Tribunal de justiça cancelou a Súmula.
Se o dano for regional (estadual): o foro é o da capital do Estado (para MAZZILLI e ADA
PELLEGRINI GRINOVER, a ação também poderia ser proposta no Distrito Federal,
alternativamente).
Se o dano for nacional: Possuem competência concorrente alternativa os foros do
Distrito Federal e da capital de quaisquer dos Estados envolvidos.

4.5 A inexistência de juízo universal para as ações individuais


Nos termos do art. 2º da Lei de Ação Civil Pública, a propositura da ação prevenirá a
jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto. Essa regra alcança as ações conexas ou continentes, bem
como os casos de litispendência. Contudo, ressalte-se que este dispositivo não instituiu um
juízo universal para as ações individuais, como se fosse um concurso de credores.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único: A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
(Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Na verdade, os lesados individuais não se submetem necessariamente ao juízo da Ação


Civil Pública para as ações individuais. O dispositivo referido apenas diz respeito à propositura
de ações no plano coletivo.

5. Execução, liquidação e cumprimento de sentença


Liquidação de sentença é a atividade judicial cognitiva pela qual se busca integrar uma
norma jurídica individualizada estabelecida em título judicial.
Salvo quando se tratar de sentença coletiva relacionada a direitos individuais
homogêneos (caso em que a liquidação deve ser buscada por cada um dos titulares
individuais, em processos autônomos), a liquidação coletiva pode ser buscada numa fase

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específica do próprio processo coletivo, sem necessidade de instauração de novo processo


apenas com esse objetivo.
Observe-se, ainda, que o NCPC prescreve que decisões interlocutórias proferidas na
fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença desafiam o agravo de
instrumento:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo
de execução e no processo de inventário.

5.1 Direitos difusos e coletivos


A sentença coletiva que discute direitos difusos e coletivos pode dar ensejo:
a) Liquidação/execução da pretensão coletiva: segue o padrão da liquidação de
sentença individual;
b) Liquidação/execução da pretensão individual: Em razão do transporte in utilibus.
Segue o modelo da liquidação de sentença genérica envolvendo direitos individuais
homogêneos.
Observação: não será o que se observa no caso dos direitos individuais homogêneos
em que a sentença é genérica e a liquidação é imprópria. Mais adiante se retornará a este
tema.

 Liquidação/execução da pretensão coletiva


Segue-se o regime padrão do Código de Processo Civil, como se de sentença individual
se tratasse.
Legitimados: Quais são os legitimados para promover a execução da pretensão
coletiva? A execução da pretensão coletiva tem por legitimados aqueles previstos no art. 15
da Lei de Ação Civil Pública. Assim, primeiro deverá executar o autor (qualquer legitimado, a
exemplo de uma associação, defensoria, pessoa jurídica de direito público etc.). Se não o fizer
em 60 dias, em razão do princípio da indisponibilidade da execução da pretensão coletiva,
deve fazê-lo o Ministério Público.
Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem
que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de
1990)

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Questão: A execução pode ser promovida por qualquer legitimado coletivo, inclusive
por aquele que não tenha sido autor da ação coletiva de conhecimento. CERTO.
Destinatário: O sistema estabelece (art. 13, Lei de Ação Civil Pública) que, havendo
condenação em dinheiro, a indenização pelo dano deve ser revertida ao fundo de reparação
de bens lesados (a Lei 9.008/95 regula o fundo federal gerido pela sociedade civil). Por
previsão legal, esse dinheiro deve ser usado exatamente para reparar os bens lesados e para
campanhas educativas. O problema é que esse dinheiro, ao entrar para um fundo, se torna
público, o que compromete a sua flexibilidade (sua utilização exige lei orçamentária), o que
deve ser mudado com a futura reforma da Lei de Ação Civil Pública.
Observação: Quando o dano for ao patrimônio público, esse dinheiro não irá para o
fundo, mas para a pessoa jurídica lesada (Exemplo: para a Prefeitura de Salvador).
Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a
um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus
recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. (Regulamento) (Regulamento)
(Regulamento)

§ 1o. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em


estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária. (Renumerado do
parágrafo único pela Lei nº 12.288, de 2010)

§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de


discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro
reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para ações de
promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da
Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de
Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou
local, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

Competência: Pela regra geral do processo civil, o juiz da execução é o juiz da ação
(condenação). Essa regra se aplica ao processo coletivo.

 Modelo de liquidação/execução da pretensão individual


Segue-se o modelo dos direitos individuais homogêneos.
Como isso se processa? Uma sentença em processo coletivo que discute direitos
difusos ou coletivos em sentido estrito pode gerar uma pretensão coletiva e também uma
pretensão individual. Exemplo: Ministério Público ajuíza ação coletiva alegando que empresa
X deve ser responsabilizada por dano ambiental causado. Da condenação à empresa para que
realize a reparação do meio ambiente pode existir uma pretensão coletiva (despoluição).
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e na jurisprudência dos Tribunais.

Nesse caso, a execução segue naturalmente como fase posterior à fase cognitiva. No entanto,
há possibilidade de pretensão individual ser derivada diretamente da mesma condenação
(uma indenização ou a despoluição de algo específico de sua casa).
Trata-se aqui do fenômeno da liquidação imprópria, em que se deve definir a
existência de nexo entre o que foi definido na sentença e o dano que se alega individualmente.
Nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas é patente a
necessidade de se promover a liquidação do valor a ser pago e a individualização do crédito,
com a demonstração da titularidade do direito do exequente. Isso porque a sentença de
procedência em ação coletiva tem caráter genérico, cujo cumprimento, relativamente a cada
um dos titulares individuais, pressupõe a adequação da condição do exequente à situação
jurídica nela estabelecida.
Nos termos do art. 103, § 3º, do CDC, é possível fazer o chamado transporte “in
utilibus” da coisa julgada. Assim, o prejudicado individual pode apresentar a sentença
proferida no processo coletivo perante o juízo cível, requerendo apenas a liquidação e o
pagamento (não necessita mais de certificação).
Art. 103, § 3° do CDC. Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com
o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização
por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

Legitimados: Vítimas e sucessores.


Destinatários do dinheiro: Vítimas e sucessores. Atente-se que os destinatários da
indenização só a receberão se houver uma prévia liquidação da sentença.
Diferentemente do que ocorre no processo individual, a liquidação no processo
coletivo não é só para apurar o quanto devido (quantum debeatur), mas também o nexo de
causalidade e o dano (an debeatur). Considera-se que não há verdadeiramente liquidação,
mas sim habilitação (ou “liquidação imprópria”, como prefere a Lei de Ação Civil Pública para
diferenciá-la da liquidação própria, que avalia apenas o quantum debeatur). Obviamente,
apesar de ter que provar o débito, o lesado individual não precisa mais comprovar a ação
culposa do condenado na ação coletiva.
Competência: Na execução da pretensão individual, há foros concorrentes. Com
efeito, poderão julgar essa execução:
a) O juízo da liquidação ou condenação (art. 98, § 2º, I, do CDC)
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata
o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sentença

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de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei
nº 9.008, de 21.3.1995)

(...)

§ 2° É competente para a execução o juízo:

I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução


individual;

b) O juízo do domicílio do lesado/sucessores (art. 101, I do CDC).


Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

5.2 Direitos individuais homogêneos


Nas ações envolvendo tais direitos, a sentença é genérica (art. 95, CDC). Por isso, a
liquidação aqui tem certas peculiaridades.
A execução, nos direitos individuais homogêneos, segue 3 modelos:
 Liquidação/execução da pretensão individual decorrente – Pelas vítimas e
sucessores, já liquidadas (art. 97 do CDC).
 Liquidação/execução da pretensão individual pelo ente coletivo – Pelos
legitimados coletivos em representação das vítimas já identificadas e já
liquidadas (art. 98 do CDC).
 Liquidação/execução da pretensão coletiva residual (fluid recovery) – Pelos
legitimados coletivos, indo a indenização para o FDD (art. 100 do CDC).

 Liquidação/execução da pretensão individual decorrente (art. 97 do CDC)


Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Aplica-se, aqui, tudo aqui que foi dito no modelo da pretensão individual dos direitos
difusos e coletivos (os legitimados são as vítimas e sucessores, que procedem à liquidação
imprópria, tudo como já exposto acima).
Em síntese, deve-se provar:
 O dano individual;

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 O nexo de causalidade;
 O montante do dano.

 Liquidação/execução da pretensão individual por entes coletivos (art. 98 do


CDC)
O art. 98 do CDC prevê a possibilidade de o legitimado coletivo promover a execução
das pretensões individuais já liquidadas.
Exemplo: sindicato promovendo a execução de verbas dos trabalhadores.
Atenção: somente as vítimas que já tiverem indenizações liquidadas serão abrangidas.
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata
o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sentença
de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei
nº 9.008, de 21.3.1995)

§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação,


da qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.

§ 2° É competente para a execução o juízo:

I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução


individual;

II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Legitimados: São todos aqueles legitimados coletivos para propor a ação civil pública
(art. 82 do CDC), que agem agora como representantes processuais, e não como substitutos
processuais.
Destinatários do dinheiro: São as vítimas e sucessores que já tiverem liquidado a
sentença coletiva. Se não tiver liquidação, não é possível essa ação de execução coletiva.
Observação: Em se tratando de direito individual homogêneo, não há o fundo especial a que
alude a Lei de Ação Civil Pública.
Competência: Como a execução é coletiva (apesar de a pretensão ser individual), é
competente o juízo da condenação.
Pergunta-se: existe alguma relação de preferência entre a execução coletiva ou
individual? No informativo n. 499/2012, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que sim.
Entendeu-se que, não obstante ser ampla a legitimação para impulsionar a liquidação e a
execução da sentença coletiva, admitindo-se que a promovam o próprio titular do direito
material, seus sucessores ou um dos legitimados do artigo 82 do Código de Defesa do
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Consumidor, o artigo 97 impõe uma gradação de preferência que permite a legitimidade


coletiva subsidiariamente, uma vez que, nessa fase, o ponto central é o dano pessoal sofrido
pelas vítimas (RESP 869.583).
PROCESSO CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE LIQUIDAÇÃO
DE SENTENÇA PROLATADA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. PRECEDÊNCIA DA LEGITIMIDADE DAS VÍTIMAS OU SUCESSORES.
SUBSIDIARIEDADE DA LEGITIMIDADE DOS ENTES INDICADOS NO ART. 82 DO CDC.
1. A legitimidade para intentar ação coletiva versando a defesa de direitos individuais
homogêneos é concorrente e disjuntiva, podendo os legitimados indicados no art. 82 do
CDC agir em Juízo independentemente uns dos outros, sem prevalência alguma entre si,
haja vista que o objeto da tutela refere-se à coletividade, ou seja, os direitos são tratados
de forma indivisível.
2. Todavia, para o cumprimento de sentença, o escopo é o ressarcimento do dano
individualmente experimentado, de modo que a indivisibilidade do objeto cede lugar à
sua individualização.
3. Não obstante ser ampla a legitimação para impulsionar a liquidação e a execução da
sentença coletiva, admitindo-se que a promovam o próprio titular do direito material, seus
sucessores, ou um dos legitimados do art. 82 do CDC, o art. 97 impõe uma gradação de
preferência que permite a legitimidade coletiva subsidiariamente, uma vez que, nessa
fase, o ponto central é o dano pessoal sofrido por cada uma das vítimas.
4. Assim, no ressarcimento individual (arts. 97 e 98 do CDC), a liquidação e a execução
serão obrigatoriamente personalizadas e divisíveis, devendo prioritariamente ser
promovidas pelas vítimas ou seus sucessores de forma singular, uma vez que o próprio
lesado tem melhores condições de demonstrar a existência do seu dano pessoal, o nexo
etiológico com o dano globalmente reconhecido, bem como o montante equivalente à
sua parcela.
5. O art. 98 do CDC preconiza que a execução "coletiva" terá lugar quando já houver sido
fixado o valor da indenização devida em sentença de liquidação, a qual deve ser - em sede
de direitos individuais homogêneos - promovida pelos próprios titulares ou sucessores.
6. A legitimidade do Ministério Público para instaurar a execução exsurgirá - se for o caso
- após o escoamento do prazo de um ano do trânsito em julgado se não houver a
habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, nos termos
do art. 100 do CDC. É que a hipótese versada nesse dispositivo encerra situação em que,
por alguma razão, os consumidores lesados desinteressam-se quanto ao cumprimento
individual da sentença, retornando a legitimação dos entes públicos indicados no art. 82
do CDC para requerer ao Juízo a apuração dos danos globalmente causados e a reversão
dos valores apurados para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (art. 13 da LACP), com
vistas a que a sentença não se torne inócua, liberando o fornecedor que atuou ilicitamente
de arcar com a reparação dos danos causados.
7. No caso sob análise, não se tem notícia acerca da publicação de editais cientificando os
interessados acerca da sentença exequenda, o que constitui óbice à sua habilitação na

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e na jurisprudência dos Tribunais.

liquidação, sendo certo que o prazo decadencial nem sequer iniciou o seu curso, não
obstante já se tenham escoado quase treze anos do trânsito em julgado.
8. No momento em que se encontra o feito, o Ministério Público, a exemplo dos demais
entes públicos indicados no art. 82 do CDC, carece de legitimidade para a liquidação da
sentença genérica, haja vista a própria conformação constitucional desse órgão e o escopo
precípuo dessa forma de execução, qual seja, a satisfação de interesses individuais
personalizados que, apesar de se encontrarem circunstancialmente agrupados, não
perdem sua natureza disponível.
9. Recurso especial provido.
(REsp 869.583/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
05/06/2012, DJe 05/09/2012)

 Liquidação/execução da pretensão individual residual (fluid recovery)


Conforme previsto no art. 100 do Código de Defesa do Consumidor para a sentença
genérica que veicula direitos individuais homogêneos, passado o prazo de 1 ano sem
habilitação de interessados (sem que requeiram a expedição do título no juízo coletivo e
promovam a liquidação em separado), poderão os legitimados coletivos fazer uma estimativa
de quanto seria a indenização devida individualmente, para cada um e executar.
Esse dinheiro todo é enviado para o fundo a que alude a Lei de Ação Civil Pública (já
que ninguém apareceu). Parte da doutrina entende que, essa regra, prevista apenas para os
direitos individuais homogêneos, também deve ser aplicada às condenações que envolvam
direitos coletivos em sentido estrito.
Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida. (Vide Decreto nº 407, de 1991)

Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela
Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985. (Vide Decreto nº 407, de 1991)

Em regra, a execução, nos interesses individuais homogêneos, não gera a destinação


da eventual indenização para um fundo especial. Isso somente ocorre se passado 1 ano sem
habilitação dos interessados.
Alguns autores sustentam que, uma vez indenizado o fundo, prescreveriam as
pretensões das vítimas, de modo que, após isso, não poderia haver novas execuções. Defende-
se que, não se habilitando a tempo, só por ação direta individual poderão os lesados discutir
seus prejuízos.
Observação: Fundo para reconstituir o bem lesado

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No que diz respeito à sua finalidade, o objetivo inicial do fundo criado na Lei de Ação
Civil Pública consistia em gerir recursos para a reconstituição dos bens lesados.
 Lesão a interesses indivisíveis: O produto irá para o fundo do art. 13 da Lei de
Ação Civil Pública e seu destino será decidido pelo respectivo conselho gestor,
para aplicação flexível, conforme mencionado acima.
 Lesão a interesses divisíveis: O produto é destinado entre os lesados.
 Lesão ao patrimônio público em sentido estrito: O destinatário é a Fazenda.

5.3 Observações finais sobre liquidação e execução


Observação nº 1: Cabe execução provisória no processo coletivo
Observação nº 2: Há ordem de preferência no pagamento das indenizações: primeiro
as indenizações individuais, depois as coletivas e por fim as difusas (art. 99, par. ún. do CDC).
Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação prevista na Lei n.°
7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do
mesmo evento danoso, estas terão preferência no pagamento. (Vide Decreto nº 407,
de 1991)

Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da importância


recolhida ao fundo criado pela Lei n°7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto
pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização pelos danos individuais,
salvo na hipótese de o patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para
responder pela integralidade das dívidas.

Se houver, ao mesmo tempo, uma sentença condenando uma empresa a reparar o


dano ao meio-ambiente e uma sentença a condenando a reparar o dano dos pescadores, esta
última terá preferência de pagamento (abre-se mão do coletivo para tutelar individual, por
opção política).
Observação: Custas e demais encargos da sucumbência (art. 18, Lei de Ação Civil
Pública)
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e
despesas processuais. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)

O art. 18 da Lei de Ação Civil Pública dispõe que, nas ações nela objetivadas, não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas,
nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado,
custas e despesas processuais.

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O que prevalece, portanto, é que o autor nunca fica sujeito aos ônus da sucumbência,
salvo, no caso das associações, se houver má-fé. Assim, se vencido for o MP, ele não deve
pagar honorários.
Mas cuidado, pois há algumas decisões do Superior Tribunal de Justiça que entendem
que a regra do art. 18 da Lei de Ação Civil Pública é aplicável apenas no processo de
conhecimento. No processo executivo deveria ser aplicada o regramento do CPC.
De acordo com a regra legal, tendo a associação autora agido de boa-fé, o Estado
suportará o ônus da sucumbência. Segundo entende o Superior Tribunal de Justiça (REsp
358828), essa regra não se aplica aos lesados, em suas ações individuais, ainda que baseadas
em título constituído no processo coletivo.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESPESAS PROCESSUAIS.
ISENÇÃO. ADIANTAMENTO. ARTIGO 18 DA LEI Nº 7.347/85.
PROCESSO DE EXECUÇÃO. NÃO CONHECIMENTO.
1. O artigo 18 da Lei nº 7.347/85 cuida apenas de dispensar o adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, não isentando a parte
vencida do pagamento ao final da causa. Isenta-se, contudo, a associação autora do
pagamento de honorários de advogado, custas e despesas processuais na hipótese de não
litigar de má-fé.
2. Proferida decisão favorável ao autor da ação civil pública, sua execução, levada a efeito
por seu beneficiário individualmente identificado, precisamente porque, já então, está-se
a tutelar direito eminentemente privado, exige o adiantamento das despesas processuais,
na forma estatuída pelo Código de Processo Civil, não se lhe aplicando o benefício
conferido pelo artigo 18 da Lei nº 7.347/85.
3. Recurso não conhecido.
(REsp 358.828/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em
26/02/2002, DJ 15/04/2002, p. 271)

Por óbvio, os réus serão obrigados a custear antecipadamente as despesas processuais


a que eles próprios derem causa. Essa diferença de tratamento é justificável, pois o legislador
quer facilitar a defesa dos interesses transindividuais em juízo.
Observe-se que são devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais da sentença coletiva, ainda que não embargadas.
Súmula 345 do STJ. São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não
embargadas.

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6. Prescrição e Decadência
A prescrição ocorre quando a pretensão é condenatória (veiculam direito subjetivo
stricto sensu). A decadência, por sua vez, é a perda do direito em ações constitutivas ou
potestativas (direitos-poder). As ações meramente declaratórias, por sua vez, seriam
imprescritíveis (Agnelo Amorim).
As ações coletivas caracterizam-se por veicularem uma terceira espécie de direitos
subjetivos lato sensu: os direitos-deveres, categoria na qual se insere grande parte dos direitos
fundamentais não patrimoniais. As ações que versam sobre esses direitos são
predominantemente mandamentais e executivas lato sensu.
As pretensões coletivas prescrevem?
A lei de ação civil pública não prevê prazo prescricional algum, havendo 3 correntes:
Corrente 1 (minoritária): Édis Milaré entende, tout court, que a ação civil pública é
imprescritível (está no rol de ações perpétuas), pois ela nunca tem interesse patrimonial.
Corrente 2 (majoritária na doutrina): Entende que a prescrição da ação civil pública é
definida pela pretensão de direito material discutida. Assim, a incidência da prescrição
dependeria da aferição da indisponibilidade dos interesses material judicialmente deduzidos.
Corrente 3 (Superior Tribunal de Justiça): Entende que, como não há previsão legal, a
integratividade do microssistema impõe a aplicação do prazo de 5 anos (da lei de ação
popular).
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ART. 23, I, DA LEI 8.429/92.
CITAÇÃO. ART. 219, §§ 2º e 3º, do CPC. SÚMULA 106/STJ.
1. A demanda ajuizada tempestivamente não pode ser prejudicada pela decretação de
prescrição, em razão da demora no cumprimento da citação, atribuível exclusivamente
aos serviços judiciários, ante a ratio essendi do teor da Súmula 106/STJ: "Proposta a ação
no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao
mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou
decadência". Precedentes do STJ: AgRg no REsp 286.297/RS, SEXTA TURMA, DJe
05/05/2008; REsp 704.757/RS, SEGUNDA TURMA, DJe 06/03/2008; REsp 798.827/RS,
PRIMEIRA TURMA, DJ 10/12/2007; e REsp 819.837/RS, PRIMEIRA TURMA, DJ 12/11/2007.
2. In casu, a ação civil pública foi ajuizada no quinquídio exigido pela Lei de Improbidade
Administrativa, uma vez que o mandato eletivo dos demandados, Prefeito e vice-Prefeito,
expirou em 31.12.1996, e a referida ação foi protocolizada em 28.10.2001, sendo
distribuída em 02.01.2002, consoante se infere do voto condutor do acórdão recorrido à
fls. 83/84.
3. Os embargos de declaração são cabíveis quando houver no acórdão ou sentença,
omissão, contrariedade ou obscuridade, nos termos do art. 535, I e II, do CPC, e para a
correção de erro material.

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4. Embargos de Declaração acolhidos para sanar a omissão, nos moldes acima delineados,
e negar provimento ao Recurso Especial, mantendo incólume o acórdão de fls. 206/220.
(EDcl no REsp 911.961/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
10/08/2010, DJe 30/08/2010)

O Superior Tribunal de Justiça, contudo, faz uma ressalva, dizendo que, em duas
situações, a Ação Civil Pública é imprescritível quando discute:
a) PATRIMÔNIO PÚBLICO, a luz do art. 37, § 5º da Constituição Federal. REsp
1.107.833/SP (recente, de 2009). 1
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. ART. 142 DA LEI N. 8.112/91. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. ART.
23 DA LEI N. 8.429/92 (LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – LIA). PRAZO
PRESCRICIONAL. EX-PREFEITO. REELEIÇÃO.
TERMO A QUO. TÉRMINO DO SEGUNDO MANDATO. MORALIDADE ADMINISTRATIVA:
PARÂMETRO DE CONDUTA DO ADMINISTRADOR E REQUISITO DE VALIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO. HERMENÊUTICA. MÉTODO TELEOLÓGICO. PROTEÇÃO DESSA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA. MÉTODO HISTÓRICO. APROVAÇÃO DA LIA ANTES DA
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 16/97, QUE POSSIBILITOU O SEGUNDO MANDATO. ART.
23, I, DA LIA. INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL ASSOCIADO AO TÉRMINO
DE VÍNCULO TEMPORÁRIO. A REELEIÇÃO, EMBORA NÃO PRORROGUE SIMPLESMENTE O
MANDATO, IMPORTA EM FATOR DE CONTINUIDADE DA GESTÃO ADMINISTRATIVA,
ESTABILIZAÇÃO DA ESTRUTURA ESTATAL E PREVISÃO DE PROGRAMAS DE EXECUÇÃO
DURADOURA.
RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR PERANTE O TITULAR DA RES PUBLICA POR
TODOS OS ATOS PRATICADOS DURANTE OS OITO ANOS DE ADMINISTRAÇÃO,
INDEPENDENTE DA DATA DE SUA REALIZAÇÃO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.
IMPRESCRITIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE,
PROVIDO (ART. 557, § 1º-A, CPC).
1. O colegiado de origem não tratou da questão relativa à alegada violação ao art. 142 da
Lei n. 8.112/91 e, apesar disso, a parte interessada não aviou embargos de declaração.
Assim, ausente o indispensável prequestionamento, aplica-se o teor das Súmulas 282 e
356 da Corte Suprema, por analogia.

1
Nota do Residente: No tocante a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito
civil, entendeu o STF, em repercussão geral, ser prescritível essa pretensão (STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 03/02/2016). Importante esclarecer que esse precedente fora construído em um
caso em que a Fazenda Pública buscava ressarcimento de um dano causado por um particular à um veículo do
Estado.
Por isso, CUIDADO! Quanto às ações de improbidade, conforme exposto no julgado do STJ nessa aula,
continua o entendimento no sentido da imprescritibilidade no que tange ao ressarcimento ao erário (STF. 1ª
Turma. AI 744973 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/06/2013) (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1442925/SP,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/09/2014).

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2. O postulado constitucional da moralidade administrativa é princípio basilar da atividade


administrativa e decorre, diretamente, do almejado combate à corrupção e à impunidade
no setor público. Em razão disso, exerce dupla função: parâmetro de conduta do
administrador e requisito de validade do ato administrativo.
3. Interpretação da Lei n. 8.429/92. Método teleológico. Verifica-se claramente que a
mens legis é proteger a moralidade administrativa e todos seus consectários por meio de
ações contra o enriquecimento ilícito de agentes públicos em detrimento do erário e em
atentado aos princípios da administração pública. Nesse sentido deve ser lido o art. 23,
que trata dos prazos prescricionais.
4. Método histórico de interpretação. A LIA, promulgada antes da Emenda Constitucional
n. 16, de 4 de junho de 1997, que deu nova redação ao § 5º do art. 14, da Constituição
Federal, considerou como termo inicial da prescrição exatamente o final de mandato. No
entanto, a EC n. 16/97 possibilitou a reeleição dos Chefes do Poder Executivo em todas as
esferas administrativas, com o expresso objetivo de constituir corpos administrativos
estáveis e cumprir metas governamentais de médio prazo, para o amadurecimento do
processo democrático.
5. A Lei de Improbidade associa, no art. 23, I, o início da contagem do prazo prescricional
ao término de vínculo temporário, entre os quais, o exercício de mandato eletivo. De
acordo com a justificativa da PEC de que resultou a Emenda n. 16/97, a reeleição, embora
não prorrogue simplesmente o mandato, importa em fator de continuidade da gestão
administrativa. Portanto, o vínculo com a Administração, sob ponto de vista material, em
caso de reeleição, não se desfaz no dia 31 de dezembro do último ano do primeiro
mandato para se refazer no dia 1º de janeiro do ano inicial do segundo mandato. Em razão
disso, o prazo prescricional deve ser contado a partir do fim do segundo mandato.
6. O administrador, além de detentor do dever de consecução do interesse público, guiado
pela moralidade – e por ela limitado –, é o responsável, perante o povo, pelos atos que,
em sua gestão, em um ou dois mandatos, extrapolem tais parâmetros.
7. A estabilidade da estrutura administrativa e a previsão de programas de execução
duradoura possibilitam, com a reeleição, a satisfação, de forma mais concisa e eficiente,
do interesse público.
No entanto, o bem público é de titularidade do povo, a quem o administrador deve prestar
contas. E se, por dois mandatos seguidos, pôde usufruir de uma estrutura mais bem
planejada e de programas de governo mais consistentes, colhendo frutos ao longo dos
dois mandatos – principalmente, no decorrer do segundo, quando os resultados concretos
realmente aparecem – deve responder inexoravelmente perante o titular da res publica
por todos os atos praticados durante os oito anos de administração, independente da data
de sua realização.
8. No que concerne à ação civil pública em que se busca a condenação por dano ao erário
e o respectivo ressarcimento, esta Corte considera que tal pretensão é imprescritível,
com base no que dispõe o artigo 37, § 5º, da Constituição da República. Precedentes de
ambas as Turmas da Primeira Seção 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
parte, provido.

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(REsp 1107833/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,


julgado em 08/09/2009, DJe 18/09/2009)

b) MEIO AMBIENTE. REsp: 1.120.117/AC, no qual o Superior Tribunal de Justiça diz


que o meio ambiente é o patrimônio das relações passadas e futuras e, portanto,
o direito ao meio ambiente é prevalente sobre os outros.
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - DIREITO AMBIENTAL- AÇÃO CIVIL PÚBLICA ?
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL ? IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO DO DANO
AMBIENTAL ? PEDIDO GENÉRICO ? ARBITRAMENTO DO QUANTUM DEBEATUR NA
SENTENÇA: REVISÃO, POSSIBILIDADE - SÚMULAS 284/STF E 7/STJ.
1.É da competência da Justiça Federal o processo e julgamento de Ação Civil Pública
visando indenizar a comunidade indígena Ashaninka-Kampa do rio Amônia.
2. Segundo a jurisprudência do STJ e STF trata-se de competência territorial e funcional,
eis que o dano ambiental não integra apenas o foro estadual da Comarca local, sendo bem
mais abrangente espraiando-se por todo o território do Estado, dentro da esfera de
competência do Juiz Federal.
3. Reparação pelos danos materiais e morais, consubstanciados na extração ilegal de
madeira da área indígena.
4. O dano ambiental além de atingir de imediato o bem jurídico que lhe está próximo, a
comunidade indígena, também atinge a todos os integrantes do Estado, espraiando-se
para toda a comunidade local, não indígena e para futuras gerações pela irreversibilidade
do mal ocasionado.
5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande amplitude, com
profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é objetiva,
fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da
culpa do agente causador do dano.
6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade
hermenêutica, está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito
inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de
não estar expresso em texto legal.
7. Em matéria de prescrição cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se
eminentemente privado seguem-se os prazos normais das ações indenizatórias; se o
bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois
sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se imprescritível
o direito à reparação.
8. O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os
poucos acobertados pelo manto da imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano
ambiental.
9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da
reparação, havendo elementos suficientes nos autos. Precedentes do STJ.
10. Inviável, no presente recurso especial modificar o entendimento adotado pela
instância ordinária, no que tange aos valores arbitrados a título de indenização, por
incidência das Súmulas 284/STF e 7/STJ.

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11. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido.


(REsp 1120117/AC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/11/2009, DJe 19/11/2009)

Atenção: o que prescreve é a via, e não o direito material. Portanto, a pretensão


individual não é condicionada ao prazo prescricional da pretensão coletiva.

Muito cuidado com o tema referente ao Patrimônio Público e anote-se que, por
enquanto, podemos dizer que a jurisprudência entende o seguinte:
• Ações de ressarcimento decorrentes de ato de improbidade administrativa:
IMPRESCRITÍVEIS (§ 5º do art. 37 da CF/88).
Observação: apesar de já existirem precedentes neste sentido, isso poderá ser alterado
pelo STF que irá novamente apreciar a questão em outro recurso extraordinário. O Ministros
Roberto Barroso e Marco Aurélio, por exemplo, indicaram que irão votar no sentido de que
mesmo as pretensões de ressarcimento nas ações de improbidade são prescritíveis.
• Ações de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil: estão
sujeitas à prescrição (são prescritíveis) (RE 669069/MG).

Ementa: CONSTITUCIONAL E CIVIL. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. IMPRESCRITIBILIDADE.


SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. 1. É prescritível a ação de
reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil. 2. Recurso extraordinário
a que se nega provimento. (RE 669069 / MG - MINAS GERAIS)

7. Ação Civil Pública


7.1 Origem, previsão legal e sumular
Em 1981, foi criada a Lei 6.938/81 (que trata da Política Nacional do Meio-ambiente).
O art. 14, § 1º deste diploma dispunha que, quando houvesse dano ao meio ambiente, o
Ministério Público poderia ajuizar uma tal de “ação civil pública”. Mas essa norma era
incompleta.
Assim, em origem, a Ação Civil Pública se voltava à proteção do meio-ambiente, tendo
como legitimado o Ministério Público.
Posteriormente, foi elaborado um projeto de lei, fruto do trabalho de dois grupos de
juristas: um grupo do Ministério Público do Estado de São Paulo(NELSON NERY, EDIS MILARÉ,
entre outros) e outro grupo da USP (DINAMARCO, ADA PELLEGRINI e KAZUO WATANABE). A
Lei 7.347/85 (atual Lei de Ação Civil Pública) é o resultado deste projeto de lei, que ampliou o
objeto da ação civil pública.
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A consolidação da ação civil pública ocorreu com a Constituição de 1988. Por fim, a
ação civil pública foi potencializada pelo Código de Defesa do Consumidor, lei 8.078/90. Hoje,
a Ação Civil Pública possui previsão em diversos diplomas: Estatuto da Criança e do
Adolescente, Estatuto da pessoa com deficiência (status de emenda constitucional), estatuto
do idoso etc.
Em relação à previsão sumular, merecem atenção as súmulas 643/STF e 329/STJ:
Súmula 643 do STF - O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil
pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.

Súmula 329 do STJ - O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública
em defesa do patrimônio público.

O objeto da ACP tem previsão nos artigos 1º, 3º e 11 da Lei de Ação Civil Pública. Com
efeito, a Ação Civil Pública tem por objeto a tutela preventiva (inibitória ou de remoção do
ilícito) ou ressarcitória (moral ou material) dos seguintes bens ou direitos metaindividuais:
a) Meio-ambiente (natural, artificial, cultural e do trabalho);
b) Consumidor;
c) a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
d) Ordem econômica;
e) Ordem urbanística;
f) Honra e dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos (novidade da Lei n.
12.966/2014);
g) Qualquer outro interesse ou direito metaindividual (difusos, coletivos ou individuais
homogêneos);
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº
12.529, de 2011).

l - ao meio-ambiente;

ll - ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)

V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).

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VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº
12.966, de 2014)

VIII – ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº 13.004, de 2014)

Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que
envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da
atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se
esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.

Observação1: Contra ato jurisdicional não se admite ação civil pública. Aquele tem
meios próprios de impugnação.
Observação2: A Ação Civil Pública não pode fazer às vezes de Ação Direta de
Inconstitucionalidade (controle concentrado), embora a inconstitucionalidade de
determinado ato normativo possa ser questão prejudicial. Cabe apenas como meio de
controle difuso.
Observação3: É perfeitamente admissível o manejo de Ação Civil Pública para o fim de
responsabilizar alguém por danos morais causados a quaisquer valores transindividuais de
que cuida a lei.

7.2 Tutela preventiva e tutela reparatória


Para MARINONI, as tutelas podem ser divididas em dois grandes grupos:
a) Tutela PREVENTIVA: Age antes da ocorrência do dano, buscando evitá-lo.
MARINONI divide essa tutela em:
1. Tutela inibitória: É a tutela que tem lugar ANTES DO ILÍCITO, evitando a
ocorrência do dano. Exemplo: impedir a importação de medicamento não
aprovado pela ANVISA.
2. Tutela da remoção do ilícito: É a tutela que tem lugar DEPOIS DE OCORRIDO O
ILÍCITO, MAS ENQUANTO AINDA NÃO OCORRIDO O DANO (o ilícito já

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e na jurisprudência dos Tribunais.

aconteceu, mas ainda não aconteceu o dano). Exemplo: cessar a distribuição


de medicamento já importado não aprovado pela ANVISA.

b) Tutela RESSARCITÓRIA: Ocorre depois do dano, com o objetivo de repará-lo.


Exemplo: a condenação para que se efetue o reflorestamento em outro lugar.
Questão: Existe dano moral coletivo?
Há duas posições:
a) NÃO: Essa posição já foi adotada pela 1ª Turma do STJ em alguns julgados (REsp
598.281/MG). O STJ entendeu que o dano moral é ofensa a direitos da
personalidade (honra ou dignidade da pessoa), e a coletividade não possui
personalidade (é ente despersonalizado).
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. DANO MORAL COLETIVO.
NECESSÁRIA VINCULAÇÃO DO DANO MORAL À NOÇÃO DE DOR, DE SOFRIMENTO
PSÍQUICO, DE CARÁTER INDIVIDUAL. INCOMPATIBILIDADE COM A NOÇÃO DE
TRANSINDIVIDUALIDADE (INDETERMINABILIDADE DO SUJEITO PASSIVO E
INDIVISIBILIDADE DA OFENSA E DA REPARAÇÃO). RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. (REsp
598.281/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/05/2006, DJ 01/06/2006, p. 147)

b) SIM: Prevalece na doutrina e na 2ª Turma do STJ essa posição, com o argumento


de que, embora a coletividade não possua personalidade, ela tem consciente
coletivo (valores não patrimoniais intrínsecos à coletividade), o qual pode sofrer
dano moral.
A 2ª Turma do STJ decidiu recentemente que é possível que a sentença condene o
infrator ambiental ao pagamento de quantia em dinheiro a título de compensação por dano
moral coletivo (REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013).
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO E EDIFICAÇÃO EM
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL.
DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI
6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL, DO
POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA
(INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD PRISTINUM STATUM. DANO AMBIENTAL
INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI DE INTRODUÇÃO AO
CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL.
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização
por danos ambientais causados pela supressão de vegetação nativa e edificação irregular
em Área de Preservação Permanente. O juiz de primeiro grau e o Tribunal de Justiça de
Minas Gerais consideraram provado o dano ambiental e condenaram o réu a repará-lo;

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e na jurisprudência dos Tribunais.

porém, julgaram improcedente o pedido indenizatório pelo dano ecológico pretérito e


residual.
2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei
7.347/85 e da Lei 6.938/81, de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de
indenizar (REsp 1.145.083/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
4.9.2012; REsp 1.178.294/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
DJe 10.9.2010; AgRg nos EDcl no Ag 1.156.486/PR, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima,
Primeira Turma, DJe 27.4.2011; REsp 1.120.117/AC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 19.11.2009; REsp 1.090.968/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe
3.8.2010; REsp 605.323/MG, Rel. Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori
Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 17.10.2005; REsp 625.249/PR, Rel. Ministro Luiz Fux,
Primeira Turma, DJ 31.8.2006, entre outros).
3. Recurso Especial parcialmente provido para reconhecer a possibilidade de cumulação
de indenização pecuniária com as obrigações de fazer e não fazer voltadas à recomposição
in natura do bem lesado, devolvendo-se os autos ao Tribunal de origem para que fixe, in
casu, o quantum debeatur reparatório do dano já reconhecido no acórdão recorrido.
(REsp 1328753/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
28/05/2013, DJe 03/02/2015)

Apesar de existirem precedentes da 1ª Turma em sentido contrário (AgRg no REsp


1305977/MG2, julgado em 09/04/2013), a posição majoritária (não pacífica) é no sentido de
ser cabível a condenação por dano moral coletivo.

7.3 Dano Moral Coletivo e Dano Social


Para João Lordelo, não há diferença entre os institutos do dano moral coletivo e o dano
social.
Uma parte da doutrina entende que dano moral coletivo envolve direitos coletivos em
sentido estrito ou direitos individuais homogêneos e a indenização seria destinado às vítimas
(caráter reparador). O dano social, por sua vez, envolveria os direitos difusos e seria destinado
ao fundo de reparação fluida (caráter punitivo).
Leia-se o precedente do Superior Tribunal de Justiça no qual se definiu ser nula, por
configurar julgamento extra petita, a decisão que condena a parte ré, de ofício, em ação
individual, ao pagamento de indenização a título de danos sociais em favor de terceiro
estranho à lide.
RECLAMAÇÃO. ACÓRDÃO PROFERIDO POR TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS.
RESOLUÇÃO STJ N. 12/2009. QUALIDADE DE REPRESENTATIVA DE CONTROVÉRSIA, POR

2
PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS MORAIS COLETIVOS. É inviável, em sede de ação civil
pública, a condenação por danos morais coletivos. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1305977/MG,
Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/04/2013, DJe 16/04/2013)

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e na jurisprudência dos Tribunais.

ANALOGIA. RITO DO ART. 543-C DO CPC. AÇÃO INDIVIDUAL DE INDENIZAÇÃO. DANOS


SOCIAIS. AUSÊNCIA DE PEDIDO.
CONDENAÇÃO EX OFFICIO. JULGAMENTO EXTRA PETITA. CONDENAÇÃO EM FAVOR DE
TERCEIRO ALHEIO À LIDE. LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA DEMANDA (CPC ARTS. 128
E 460). PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA. NULIDADE.
PROCEDÊNCIA DA RECLAMAÇÃO.
1. Na presente reclamação a decisão impugnada condena, de ofício, em ação individual,
a parte reclamante ao pagamento de danos sociais em favor de terceiro estranho à lide e,
nesse aspecto, extrapola os limites objetivos e subjetivos da demanda, na medida em que
confere provimento jurisdicional diverso daqueles delineados pela autora da ação na
exordial, bem como atinge e beneficia terceiro alheio à relação jurídica processual levada
a juízo, configurando hipótese de julgamento extra petita, com violação aos arts. 128 e
460 do CPC.
2. A eg. Segunda Seção, em questão de ordem, deliberou por atribuir à presente
reclamação a qualidade de representativa de controvérsia, nos termos do art. 543-C do
CPC, por analogia.
3. Para fins de aplicação do art. 543-C do CPC, adota-se a seguinte tese: "É nula, por
configurar julgamento extra petita, a decisão que condena a parte ré, de ofício, em ação
individual, ao pagamento de indenização a título de danos sociais em favor de terceiro
estranho à lide".
4. No caso concreto, reclamação julgada procedente.
(Rcl 12.062/GO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/11/2014,
DJe 20/11/2014)

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